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Universidade de Lisboa IGOT Instituto de Geografia e Ordenamento do Território ANÁLISE MORFOMÉTRICA DAS REDES DE POLÍGONOS EM PERMAFROST ADVENTDALEN,SVALBARD José Miguel Martins Alpendre Cardoso Dissertação Mestrado em Sistemas de Informação Geográfica e Modelação Territorial Aplicados ao Ordenamento 2014

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Universidade de Lisboa 

IGOT ‐ Instituto de Geografia e Ordenamento do Território 

ANÁLISE MORFOMÉTRICA DAS REDES DE POLÍGONOS EM 

PERMAFROST ‐ ADVENTDALEN, SVALBARD 

    

 José Miguel Martins Alpendre Cardoso 

   

 Dissertação 

 Mestrado em Sistemas de Informação Geográfica e Modelação Territorial Aplicados ao Ordenamento 

   

2014 

 

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Universidade de Lisboa 

IGOT ‐ Instituto de Geografia e Ordenamento do Território 

 

ANÁLISE MORFOMÉTRICA DAS REDES DE POLÍGONOS EM 

PERMAFROST ‐ ADVENTDALEN, SVALBARD 

 

 

 

José Miguel Martins Alpendre Cardoso   

 Dissertação 

 Mestrado em Sistemas de Informação Geográfica e Modelação Territorial Aplicados ao Ordenamento 

  

 Orientadores: 

Professor Doutor Gonçalo Brito Guapo Teles Vieira Doutor Pedro Miguel Berardo Duarte Pina 

  

2014 

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i  

Agradecimentos

 

Aos meus orientadores: 

Ao Professor Doutor Gonçalo Vieira, pelo  incentivo e  confiança depositada em mim. E pelo 

enorme contributo na realização da tese, do princípio ao fim.  

 

Ao Doutor Pedro Pina, pelo apoio, disponibilidade, pelos conhecimentos transmitidos e por ter 

acreditado sempre em mim.  

 

Aos meus colegas do AntECC, pela companhia e convivência, e por todo o apoio demonstrado. 

 

À Maura, pela contribuição com dados de base ao trabalho e pela companhia na campanha de 

campo em Svalbard. 

 

À  Professora  Doutora  Hanne  Hvidtfeldt  Christiansen  da  UNIS  ‐  The  University  Centre  in 

Svalbard, pelo apoio prestado na campanha de campo em Svalbard. O apoio logístico da UNIS, 

como instituição acolhedora, foi fundamental para a realização das campanhas de campo. 

 

A todos os amigos e família, de alguma forma, contribuíram para a realização deste trabalho, 

pela amizade e incentivo. Um obrigado especial à amiga Rita pela ajuda preciosa! 

 

Aos meus pais e à minha irmã que sempre me apoiaram e se orgulham de mim. 

 

À Sara por ter estado sempre ao meu lado. Por ter‐me dado forças para levantar a cabeça nas 

horas difíceis quando pensava que já não as tinha. Por tudo o que partilhámos e deixámos de 

fazer, para que este trabalho fosse realidade.  

 

 

 

Este trabalho teve o apoio da Fundação para a Ciência e a Tecnologia no âmbito do projecto 

ANAPOLIS  ‐  Análise  de  terrenos  poligonais  em  Marte  com  base  em  análogos  terrestres 

(PTDC/CTE‐SPA/099041/2008). A  campanha de  campo em Adventdalen  foi possível graças à 

bolsa de estudos Arctic Field Grant, financiada pelo Svalbard Science Forum (SSF). 

 

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ii  

Resumo

 

O permafrost dá origem a formas de relevo complexas e únicas, sendo os polígonos de 

cunha de gelo o acidente geográfico mais amplo, mais visível e mais característico das planícies 

com  permafrost.  Os  polígonos  são  formados  pela  abertura  de  fracturas  verticais  por 

contracção térmica, permitindo a  infiltração de água de fusão e a sua posterior recongelação 

no  interior  das  fendas.  Este  fenómeno,  que  se  repete  em  ciclos  sazonais  de 

congelamento/descongelamento ao longo dos anos, levando ao incremento de cunhas de gelo 

no  interior  das  fracturas  e  ao  desenvolvimento  de  redes  de  polígonos.  A morfologia  dos 

polígonos de cunha de gelo é controlada, por vários factores ambientais, que determinam as 

suas dimensões, forma e orientação, bem como pelo tempo desde o qual estes factores estão 

activos. 

Este  estudo  foi  realizado  nas  redes  poligonais  do  vale  Adventdalen  em  Svalbard. 

Parâmetros  morfométricos  das  redes  foram  calculados  para  mais  de  10.000  polígonos 

identificados através de detecção remota em imagens de alta resolução (quatro bandas RGB + 

NIR com 0,2 m / pixel). Paralelamente, várias destas áreas de polígonos foram estudadas in situ 

em  2010,  2011  e  2012.  Os  parâmetros  morfométricos  e  topológicos  das  redes  foram 

caracterizados  e  foram  utilizadas  análises  estatísticas  multivariadas  (análise  factorial, 

classificação hierárquica  e  análise discriminante) para os  classificar  e  identificar  sua  relação 

com  factores ambientais  locais. Com base na similaridade morfométrica  (dimensão,  forma e 

topologia) foram identificados seis grandes grupos de polígonos. A sua distribuição espacial em 

Adventdalen, no que  respeita à morfometria geral,  indica uma diferenciação de Oeste para 

Este. Os grupos localizados na parte ocidental do vale têm uma maior assimetria no tamanho 

do polígono,  enquanto mais  a  Este  foi  encontrada  uma distribuição mais uniforme da  área 

média do polígono, bem como maiores dimensões globais dos polígonos.  

A diferenciação espacial  identificada sugere um controlo espacial na morfometria dos 

polígonos,  provavelmente  influenciado  por  variáveis  geoecológicas,  que  podem  afectar  o 

crescimento e a forma dos polígonos. Os resultados da análise discriminante mostram que os 

factores geoecológicos (e.g. geologia, geomorfologia, declividade, índice de umidade, distância 

ao  rio/mar)  contribuem para classificar com  sucesso mais de 80% dos polígonos dentro dos 

seis principais grupos morfométricos. 

 

Palavras‐chave: Permafrost; polígonos de cunha de gelo; redes poligonais; parâmetros 

morfométricos; Adventdalen; Svalbard. 

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iii  

 

Abstract

 

Permafrost gives rise to a number of unique and complex landforms, being ice‐wedge 

polygons  the most  widespread, most  visible,  and most  characteristic  landform  of  lowland 

permafrost  terrain. The polygons are  formed by  the opening of vertical  fractures by  thermal 

contraction, allowing the infiltration of melted water and its subsequent refreezing inside the 

cracks. This phenomenon, which is repeated in seasonal cycles of freeze‐thaw over the years, 

leads  to  increasing  ice‐wedges  within  the  fractures  and  the  development  of  polygons 

networks. The morphology of the  ice‐wedge polygons  is controlled by various environmental 

factors which determine dimensions, shape, and orientation of polygons, as well as by the time 

those factors have been active. 

This  study  was  conducted  on  the  polygonal  networks  of  Adventdalen  in  Svalbard. 

Morphometrical  parameters  of  the  polygonal  network  were  calculated  for  over  10,000 

polygons  identified  using  very‐high  spatial  resolution  remote  sensing  imagery  (four‐bands 

RGB+NIR with 0.2 m/pixel). Several polygon areas were studied in the field in 2010, 2011 and 

2012.  Multivariate  statistics  (factor  analysis,  hierarchical  classification  and  discriminant 

analysis) were used  to describe  the polygon's morphometric parameters,  and  to determine 

their  relationship  to  local  environmental  controlling  factors.  Based  on  the  morphometric 

similarity  (dimension, shape and topology) 6 major groups of polygons were  identified. Their 

spatial  distribution  in  Adventdalen  highlights  a  general morphometric  zoning  from west  to 

east.  The  groups  located  in  the  western  part  of  the  valley  show  a  greater  asymmetry  in 

polygon size, while in eastern areas a more uniform distribution of the mean polygon area and 

larger overall polygon sizes were found.  

The  spatial  zoning  that  was  identified  suggests  a  spatial  control  on  polygon 

morphometry, probably  controlled by  geoecological  variables, which may  affect  the  growth 

and shape of polygons. The results from discriminant analysis show that geoecological factors 

(e.g.  geology,  geomorphology,  slope,  wetness  index,  distance  to  river/sea)  contribute  to 

successfully  classifying more  than  80%  of  the  polygons  within  the  6 major morphometric 

groups. 

 

Key  words:  Permafrost;  ice‐wedge  polygons;  polygonal  networks;  morphometric 

parameters; Adventdalen; Svalbard. 

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iv  

Índice

 

Agradecimentos ............................................................................................................................. i 

Resumo .......................................................................................................................................... ii 

Abstract ........................................................................................................................................ iii 

Índice ............................................................................................................................................ iv 

1.  Contexto e objectivos ............................................................................................................ 1 

2.  Introdução ............................................................................................................................. 1 

2.1.  O ambiente periglaciário e as redes poligonais ............................................................ 1 

2.1.1.  Permafrost e camada activa .................................................................................. 3 

2.1.2.  Polígonos de cunhas de gelo  e formação ............................................................. 6 

2.1.3.  Morfologia dos polígonos...................................................................................... 7 

2.1.4.  Desenvolvimento de uma rede poligonal ............................................................. 9 

3.  Quadro Físico de Adventdalen ............................................................................................ 11 

3.1.  Enquadramento geográfico ......................................................................................... 11 

3.2.  Enquadramento climático ........................................................................................... 13 

3.3.  Enquadramento geológico .......................................................................................... 13 

4.  Técnicas e Métodos ............................................................................................................. 16 

4.1.  Introdução ................................................................................................................... 16 

4.2.  Constituição de uma base de dados SIG para Adventdalen (Geodatabase) ............... 16 

4.2.1.  Mapas temáticos de base .................................................................................... 16 

4.2.2.  Ortorectificação das fotografias aéreas .............................................................. 21 

4.2.3.  O Modelo Digital de Terreno e modelos derivados ............................................ 23 

4.2.4.  Definição das redes de polígonos ....................................................................... 31 

4.2.5.  Geodatabase ....................................................................................................... 35 

5.  Resultados e discussão ........................................................................................................ 40 

5.1.  Introdução ................................................................................................................... 40 

5.1.1.  Caracterização morfométrica dos polígonos ...................................................... 40 

5.1.2.  Variáveis geoecológicas ....................................................................................... 43 

5.2.  Caracterização das redes poligonais ........................................................................... 44 

5.2.1.  Análise morfométrica das redes ......................................................................... 44 

5.2.2.  Análise geoecológica da diferenciação espacial morfométrica .......................... 50 

5.3.  Classificação e caracterização dos grupos morfométricos de redes de polígonos ..... 53 

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5.3.1.  Classificação morfométrica das redes de polígonos ........................................... 53 

5.3.2.  Caracterização dos grupos morfométricos de redes de polígonos ..................... 58 

5.4.  Variáveis geoecológicas e a variabilidade morfométrica no fundo de Adventdalen .. 67 

5.4.1.  Relação dos grupos morfométricos com as variáveis geoecológicas ................. 67 

6.  Conclusões .......................................................................................................................... 75 

7.  Referências bibliográficas ................................................................................................... 78 

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1  

1. Contextoeobjectivos

O  presente  trabalho  está  inserido  no  âmbito  do  projecto  ANAPOLIS  ‐  Análise  de 

Terrenos Poligonais em Marte com base em análogos terrestres (PTDC/CTE‐SPA/099041/2008) 

que  pretende  contribuir  para  uma melhor  caracterização  dos  terrenos  poligonais  de Marte 

através  da  análise  detalhada  de  análogos  terrestres.  Esta  analogia  é  utilizada  para minorar 

limitações tecnológicas e científicas tendo em consideração que a informação disponível sobre 

as redes poligonais de Marte resulta quase exclusivamente de produtos de detecção remota.  

Os polígonos de cunha de gelo são complexas formas de relevo que têm sido objecto 

dos mais variados estudos por serem excelentes indicadores da presença actual e passada de 

gelo no solo através da preservação da informação climática nas cunhas de gelo como formas 

de relevo relíquia no registo geológico (Levy et al. 2010). A sua  interpretação, tanto na Terra 

como em Marte, baseia‐se na  investigação  conjunta de áreas  como a geomorfologia,  física, 

monitorização ambiental, reconstrução paleoclimática e geoquímica. 

 

Este  trabalho  pretende  analisar  se  os  factores  geo‐ecológicos  de  âmbito  local 

contribuem para as variações na geometria dos  terrenos poligonais no vale Adventdalen em 

Svalbard. 

Os principais objectivos do trabalho são: 

1) Obter  informação  relativa  à  geometria  dos  polígonos,  bem  como  compilar  numa 

geodatabase toda a informação geográfica relativa às variáveis geo‐ecológicas; 

2) Caracterizar a variabilidade morfométrica das redes poligonais; 

3)  Caracterizar  o  enquadramento  geo‐ecológico  da  distribuição  espacial  das  redes 

poligonais; 

4) Determinar a influência dos factores ambientais, e quais as variáveis geo‐ecológicas 

mais relevantes, na predição da variabilidade morfométrica dos polígonos de Adventdalen. 

 

Este  estudo  é  um  importante  contributo  para  a  compreensão  da  influência  que  os 

factores ambientais poderão ter no desenvolvimento dos polígonos de cunha de gelo a nível 

local. 

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1  

2. Introdução

O  permafrost,  comummente  entendido  como  um  solo  permanentemente  gelado, 

constitui um importante elemento da criosfera global (Harris et al. 2009) (Ballantyne & Harris 

1994). Uma vez que é cientificamente definido como um solo que termicamente permanece 

abaixo  de  0°C  por  pelo menos  dois  anos  (Permafrost  Subcommission, NRC  Canadá  1988  in 

Harris et al. 2009), e por ter em amplas áreas do Ártico, um elevado teor em carbono orgânico, 

é  particularmente  relevante  para  o  estudo  das  alterações  climáticas  pela  sensibilidade  que 

apresenta às mesmas (Haeberli &Hohmann 2008 in Harris et al. 2009). Os polígonos de cunha 

de  gelo  representam  a  forma  de  relevo  mas  característica  das  planícies  com  permaforst 

(French 2007), sendo estes o foco principal desta dissertação. 

O  presente  capítulo  apresenta  uma  introdução  ao  ambiente  periglaciário, 

nomeadamente no que diz respeito: (1) ao permafrost e camada activa; (2) aos polígonos de 

cunha de gelo e  sua  formação;  (3) à morfologia dos polígonos e  (4) ao desenvolvimento de 

redes poligonais. Por  fim é apresentado o  contexto em que  se  insere esta dissertação e os 

objectivos correspondentes. 

 

2.1. Oambienteperiglaciárioeasredespoligonais

Cerca de 77% da água doce da Terra encontra‐se  congelada, estando a maior parte 

desse gelo concentrado na Gronelândia e Antártida  (Christopherson 2005). A esta porção da 

hidrosfera e água subterrânea que se encontra permanente congelada, dá‐se a designação de 

criosfera,  que  se  encontra  actualmente  a  sofrer  significativas  alterações  (Christopherson 

2005). De acordo com o mesmo autor, uma área de permafrost que não se encontre coberta 

por  glaciares  é  considerada  periglaciária.  Já  segundo  French  (2007),  existem  dois  critérios 

fundamentais para diagnosticar ambientes periglaciários: o congelamento e a fusão do solo; e 

a presença de permafrost. As áreas periglaciárias  com permafrost ocupam  cerca de 24% da 

superfície  terrestre  do  hemisfério  Norte  (French  2007),  sendo  que  as  mais  extensas 

encontram‐se no norte da Eurásia e na América do Norte (Figura 2‐1). 

 

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2  

 

Figura 2‐1 Distribuição da criosfera na Terra (H. Ahlenius, UNEP/GRID‐Arendal, 2007). 

 

Considerando a não uniformidade do clima periglaciário, French  (2007) propõe cinco 

grandes  categorias  de  clima  periglaciário,  tendo  por  base  os  critérios  de  insolação, 

temperatura e altitude. As referidas categorias são as seguintes: Climas do alto Árctico, Climas 

continentais,  Climas  alpinos,  Planalto  Qinghai‐Xizang  (Tibet)  e  Climas  de  baixa  amplitude 

térmica  anual.  French  (2007)  propõe  ainda  a  adição  de  uma  sexta  categoria,  que  permita 

contemplar  o  frio  intenso,  a  falta de  vento  e  aridez das  áreas  livres de  gelo do  continente 

Antárctico. 

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A  geomorfologia  periglaciária  tem  sido  considerada  como  uma  subdisciplina  da 

geomorfologia  relacionada  com  as  formas  de  relevo  e  os  processos  das  regiões  frias  não‐

glaciárias do mundo (Thorn & French 2006). Pode‐se considerar como foco da geomorfologia 

periglaciária o estudo dos processos de congelamento, bem como do gelo no  solo e  formas 

relacionadas, apresentando como  fim último a criação de modelos de evolução da paisagem 

de climas  frios  (Thorn & French 2006). Estes modelos  incorporam pressupostos relacionados 

com os processos envolvidos, velocidade de funcionamento e as taxas de erosão associadas, o 

transporte e deposição, e a  forma como a morfologia se altera ao  longo do tempo  (Thorn & 

French 2006). 

 

2.1.1. Permafrostecamadaactiva

A distribuição do permafrost é controlada por diversos factores específicos localmente 

que  incluem a condutividade  térmica e difusão dos materiais da Terra, vegetação, cobertura 

de neve e topografia, sendo o factor mais importante à escala local e regional o clima (French 

2007). 

O permaforst é  geralmente  classificado  relativamente  à  sua extensão, podendo  ser: 

contínuo (90‐100%); descontínuo (50‐90%), esporádico (10‐50%) ou isolado (0‐10%). Por áreas 

de  permafrost  contínuo  entende‐se  a  região  de  frio  mais  severo  e  perene  que, 

aproximadamente, afecta todas as superfícies com excepção de algumas zonas descongeladas, 

normalmente associadas a lagos ou rios. O permafrost descontínuo caracteriza‐se por manchas 

não  conectadas de permafrost. O permafrost esporádico ou  isolado  consiste geralmente na 

presença muito restrita de permafrost ou ocorrendo em ilhas isoladas, muitas vezes ocorrendo 

sob  sedimentos  orgânicos  turfosos  (French  2007). A  Figura  2‐2  apresenta  a  distribuição  do 

permafrost no hemisfério Norte. 

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4  

 

Figura 2‐2 Distribuição do permafrost no hemisfério Norte (Brown et al. 1998).  

 

As características do permafrost encontram‐se representadas na Figura 1‐3. Uma das 

principais é a existência de uma camada activa, correspondente ao sector do solo que congela 

e  funde  sazonalmente  e  que  se  encontra  acima  do  solo  permanentemente  gelado  (French 

2007).  Temperaturas  atmosféricas  mais  elevadas  induzem  o  aquecimento  do  permafrost, 

reduzindo a sua espessura e aumentando a espessura da camada activa. Por outro  lado, nas 

regiões com  temperaturas mais baixas, o permafrost é mais espesso. A camada activa é um 

sistema  dinâmico  e  aberto,  influenciado  por  perdas  e  ganhos  de  energia  no  ambiente 

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subsuperficial, e como tal, na generalidade o permafrost encontra‐se em desequilíbrio com as 

condições  ambientais  e  ajusta‐se  activamente  em  relação  às  alterações  climáticas 

(Christopherson  2005).  No  permafrost  importa  ainda  compreender  as  noções  de  topo  do 

permafrost, taliks e camada activa. 

 

 

Figura 2‐3 Relação entre permafrost, a camada ativa e taliks (Ferrians et al., 1969, cortesia do United States Geological Survey in French 2007).

 

O limite superior do permafrost é designado por topo do permafrost, sendo o setor do 

solo localizado acima deste, conhecido por camada activa (French 2007). Em certas áreas onde 

o permafrost é herdado de condições climáticas passadas, pode existir uma zona descongelada 

entre a base da camada que congela  sazonalmente e o  topo do permafrost, designada  talik 

(French 2007). Este é, aliás, o termo usado para designar também zonas descongeladas dentro 

e abaixo do permafrost. 

Os polígonos são estruturas formadas devido à ocorrência de processos de contracção 

térmica do permafrost abrindo  fendas verticais que podem  ser preenchidas por  sedimentos 

(sand‐wedges), ou por água líquida resultante da fusão do gelo e que posteriormente congela 

(ice‐wedges), ou ambos os materiais (Ulrich 2011). Os polígonos formam‐se em ambientes de 

permafrost contínuo e são o tipo mais comum de polígonos de contracção térmica nas regiões 

árcticas mais húmidas (French 2007), caso de Svalbard, região foco deste trabalho. 

 

 

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2.1.2. Polígonosdecunhasdegeloeformação

De  acordo  com  Härtel  (2011)  o  terreno  periglaciário  terrestre  é  muitas  vezes 

caracterizado  por  redes  mais  ou  menos  regulares  de  padrões  de  fracturas  com  forma 

poligonal. De acordo com a mesma autora, evidências demonstram que os referidos polígonos 

são  construídos  pela  interligação  de  fracturas  causadas  por  tensões  térmicas  em  solo 

perenemente  congelado,  fornecendo  evidências da  ocorrência de permafrost nos  casos  em 

que estas fendas são preenchidas com gelo. 

O fenómeno associado com a fracturação é expresso no tamanho de polígonos, largura 

da  abertura  da  fractura  e  profundidade  de  penetração,  na  natureza  dos  sedimentos  que 

preenchem a fractura e na inter‐relação entre o tempo da formação da fractura com o tempo 

de acumulação de sedimentos (Ulrich et al. 2011). 

As  fracturas  propagam‐se  lateralmente  podendo  formar  outras  células  poligonais 

delimitadas por outras  fracturas, células estas que podem variar entre alguns decímetros de 

diâmetro e alguns metros, sendo que raramente ultrapassam os dez metros (French 2007). O 

tamanho vertical de cada  fractura  individual encontra‐se  fortemente dependente do  regime 

climático  e  da  entrada  no  seu  interior  de  água,  gelo  ou  areia, bem  como  de  uma  série  de 

outros factores que vão determinar a forma de cada polígono individual (Härtel 2011).  

     A  formação  de  fracturas  encontra‐se  relacionada  com  a  rápida  redução  da 

temperatura do solo que consequentemente pode levar à sua contracção térmica provocando 

a formação de fissuras e fendas. O fenómeno acontece quando a água dentro das fracturas ao 

atingir a sua maior densidade a +4ºC começa a expandir‐se assim que o gelo é formado, mas 

contrai  a  temperaturas  abaixo  de  0°C  (French  2007). O  coeficiente  de  expansão  linear  das 

cunhas de gelo, dependente da  temperatura, diminui  rapidamente até 4 ºC, valor no qual a 

água  atinge  o máximo  de  densidade. A  continuação  da  redução  da  temperatura  causa  um 

rápido  aumento  do  coeficiente  de  expansão  linear,  isto  é,  o  volume  do material  aumenta. 

Quando o gelo é formado a 0°C ,o coeficiente diminui novamente e o gelo começa a contrair à 

medida que a densidade aumenta (Härtel 2011).  

É  hoje  relativamente  claro  que  a  fracturação  ocorre  geralmente  durante  o  final  do 

Inverno e que não está necessariamente relacionada com a redução extrema da temperatura 

mas sim a condições favoráveis definidas através da redução da temperatura a taxas de graus 

por dia (Fortier & Allard 2004) e a presença de um revestimento isolante de neve para manter 

grandes tensões. Contudo, pode e ocorre também sem a presença do revestimento de neve, 

se as taxas de arrefecimento forem suficientemente elevadas (A.L. Washburn 1979). 

Ainda de acordo com Härtel (2011), 90% das flutuações de temperatura no permafrost 

ocorrem  nos  10‐20  m  mais  superficiais,  e  abaixo  disso,  as  temperaturas  são  geralmente 

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estáveis (Lachenbruch 1966 in Härtel 2011). Consequentemente, a formação de fendas ocorre 

no topo do permafrost, ou na base da camada activa, o que explica porque se podem repetir 

fendas e a sua reativação (Härtel 2011).  

Após a  formação das  fissuras e  fracturas a subsequente reactivação das  fendas pode 

provocar  o  crescimento  lateral  e  vertical  se material  for  transportado  para  o  seu  interior 

impossibilitando  o  seu  fecho  (Härtel  2011).  Comumente,  este  preenchimento  das  fendas 

resulta da água descongelada sazonalmente a partir da parte superior da camada activa, que 

preenche a fenda e congela, formando um veio de gelo, que pode em seguida ser reaberto nos 

anos subsequentes e novamente preenchido. Este processo, após repetição ao longo de vários 

anos de reabertura, preenchimento e congelamento produz as formas denominadas cunhas de 

gelo (Figura 2‐4). 

 

 

Figura 2‐4 Processo de fracturação e subsequente formação de cunhas de gelo estratificadas através da repetição 

de ciclos de congelamento e fusão (adaptado de Lachenbruch 1962). 

 

 

2.1.3. Morfologiadospolígonos

Mackay  (2000)  propôs  um  sistema  de  classificação  de  polígonos  em  termos  de 

morfologia e sequência de desenvolvimento (Figura 2‐5). O sistema de classificação morfológica 

aplica‐se  a  áreas  planas  e mostra  em  perfil  as  fases  progressivas  de  evolução  desde  um 

polígono  incipiente,  até  ao  que  se  denomina  de  intermédio. Após  a  fase  de  crescimento  é 

representada a morfologia de aluimento denominada como Fase de Thermokarst. A sequência 

de  desenvolvimento mostra  a  subdivisão  para  um  polígono  primário,  geralmente  em  áreas 

planas e homogéneas, até à divisão terciária. 

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Figura 2‐5 Sistema de classificação para polígonos que ocorrem em áreas planas; as cunhas são ilustradas em 

perfil, a formação normalmente progride de um polígono incipiente para um intermédio; a fase de thermokarst 

(zonas com depressões, ou aluimento de solo associado à fusão) está dividida em polígonos High‐centred e 

walled, (adaptado de Mackay 2000 in Lousada 2012). 

 

 

Também Mackay (2000) apresenta uma representação do desenvolvimento de cunhas 

de  gelo  epigenética,  singenética  e  anti‐singenética  no  permafrost  terrestre  (Figura  2‐6).  As 

cunhas epigenéticas crescem em zonas estáveis onde a sedimentação e a erosão são baixas, ou 

seja, as cunhas crescem mais em  largura e menos em altura. As cunhas singenéticas crescem 

para  cima  em  áreas  onde  há  degradação  do  permafrost  por  sedimentação  ou  alterações 

climáticas evidentes. As cunhas anti‐singenéticas  crescem para baixo, em  locais de erosão e 

remoção de material. 

 

 

Figura 2‐6 Desenvolvimento de cunhas (a) epigenética, (b) singenética (c) anti‐singenética (Mackay 1990 adaptado de Härtel 2011). 

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2.1.4. Desenvolvimentodeumaredepoligonal

As cunhas de contracção térmica formam redes poligonais, ou tetragonais que cobrem 

áreas extensivas do Árctico e sub‐Árctico  (French 2007). As dimensões médias dos polígonos 

formados em sedimentos não consolidados podem variar entre os 15 e 40m (French 2007). Em 

rocha, os polígonos ou redes são menos desenvolvidos, mas onde ocorrem,  têm geralmente 

um diâmetro de 5‐15m (French 2007). 

Relativamente  ao  desenvolvimento  de  redes  poligonais  French  (2007)  apresenta 

também uma classificação de tipologias de acordo com a orientação dos polígonos e o tipo de 

intersecção das cunhas,  isto é, o valor do  seu ângulo  interno Figura 2‐7. Segundo o mesmo 

autor, as pesquisas de Lachenbruch (1962, 1966) revelam que as redes devem exibir tendência 

para formar  ligações ortogonais ao  longo do tempo.  Isto significa que uma rede  inicialmente 

com  mais  ligações  hexagonais  tenderá  a  transformar‐  se  numa  rede  com  mais  ligações 

ortogonais.  As  redes  orientadas  com  o  declive  do  terreno  surgem  normalmente  perto  de 

corpos de água (French, 2007). 

 

 

 

Figura 2‐7 Tipologias de redes poligonais em terrenos de permafrost (adaptado de French 2007). 

  

 Uma  implicação  da  rede  hexagonal,  e  de  intersecções  angulares  de  120°,  é  que  as 

fendas se desenvolvem numa série de pontos e que cada fenda se desenvolve mais ou menos 

simultaneamente  (French  2007),  inferindo  uma  sequência  evolutiva  na  qual  as  fendas 

primárias  são  seguidas  por  fissuras  secundárias  que  progressivamente  dividem  uma  área, 

demonstrando neste  caso uma  tendência para um padrão de  intersecção ortogonal  (French 

2007).  Lachenbruch  (1966)  classificou  a  rede poligonal  resultante  como  “sistema ortogonal‐

aleatório” em contraste com um “sistema ortogonal‐orientado”, este comummente observado 

na proximidade de grandes corpos de água (French 2007). 

Como apontado por French (2007), o tamanho do padrão poligonal está condicionado 

pela  severidade do  clima,  sugerindo que gradientes de  temperatura elevados  causam  redes 

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poligonais  menores.  Em  adição,  o  autor  reconhece  ainda  que  a  variabilidade  espacial  na 

cobertura de neve e vegetação influencia a dinâmica da fracturação. 

French  (2007) apresenta  como hipótese que os padrões hexagonais  se desenvolvem 

provavelmente melhor  sobre material  homogéneo  sujeito  a  longos  períodos  de  condições 

climáticas frias ininterruptas e uniformes, enquanto que os padrões ortogonais são imaturos e 

desenvolvem‐se sobre materiais heterogéneos que experimentaram alterações nas condições 

climáticas. 

   

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3. QuadroFísicodeAdventdalen

3.1. Enquadramentogeográfico

Adventdalen é um vale, com cerca de 2250 km2, localizado na parte central da ilha de 

Spitsbergen, pertencente ao Arquipélago de Svalbard, situado no Ártico (entre 74° e 81° N, e 

10°  a  35°  E)  (Figura  3‐1).  A  região  é montanhosa,  com  uma  altitude máxima  a  rondar  os 

1700m, é moderadamente glaciada e com uma sequência rochosa exposta com cerca de 3400 

m de espessura  (Major & Nagy 1972). Na  ilha de  Spitsbergen  a  topografia é dominada por 

montanhas separadas por grandes vales que podem estar  interligados. Os maiores vales são 

Sassendalen, Reindalen, Colesdalen e Adventdalen.  

 

 

 

 

Figura 3‐1 Enquadramento geográfico da área de estudo: localização do Arquipélago de Svalbard e 

localização do vale de Adventdalen (rectângulo vermelho) 

 

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Figura 3‐2 Área de estudo ‐ Mapa topográfico do vale de Adventdalen, sendo visível a rede de drenagem 

do rio Adventelva. 

 

Adventdalen  é um  grande  vale, de  fundo plano  e  largo  (Figura 3‐2).  Está  rodeado de 

vertentes  com  declives  acentuados  onde  ocorrem  diversos  processos  que  modelam  a 

paisagem. O rio Adventelva apresenta típicos canais entrançados, desenvolvendo‐se ao  longo 

de uma planície  fluvioglaciária particularmente activa na primavera e no  início do verão. No 

fim desta última estação, o transporte de sedimentos é muito limitado devido à diminuição do 

escoamento. No ano seguinte, com o início da fusão, os canais mudam de posição reiniciando‐

se a erosão e transporte (Piepjohn K. et al. 2012). É no vale de Adventdalen que se desenvolve 

a cidade portuária de Longyearbyen, e onde se localiza a UNIS‐University Centre at Svalbard. 

 

 

Figura 3‐3 Longyearbyen e ao fundo o vale de Adventdalen evidenciando o seu fundo plano e as vertentes côncavas. 

      

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3.2. Enquadramentoclimático

O clima em Svalbard é considerado ártico, em que a  temperatura média anual do ar 

varia entre cerca de –6  °C ao nível do mar até –15  °C nas altas montanhas  (Hauber & Reiss 

2011). Este tipo de clima apenas ocorre em latitudes polares e é caracterizado por dias muito 

curtos, com  fortes variações sazonais, grandes variações da  temperatura média mensal, mas 

poucas oscilações ao longo do dia (French 2007). Na região de Adventdalen, os meses mais frio 

(Fevereiro)  e  mais  quente  (Julho)  têm  temperaturas  médias  de  6,2  °  C  e  ‐15,2  °  C, 

respectivamente,  sendo  a  temperatura  média  anual  do  ar  para  1975‐2000  de  ‐5,8  °C 

(Christiansen  2005).  Adventdalen,  e  em  geral  a  parte  central  de  Spitsbergen,  considera‐se 

como  tendo  uma  variante  de  clima  polar  (semi)  árido.  É  uma  das  regiões mais  secas  de 

Svalbard, com uma precipitação anual de apenas cerca de 180 a 190 mm, predominantemente 

sob a forma de neve (Christiansen 2005). O clima é, portanto, relativamente seco e associado à 

baixa altitude, apenas 18% da  superfície na  região da cidade de Longyerbyen é  coberta por 

glaciares, o que é um valor relativamente baixo quando comparado com o resto de Svalbard, 

onde  os  glaciares  cobrem  cerca  de  60%  da  superfície  (Sørbel  et  al.,2000). Nos  Invernos  de 

Adventdalen, são comuns  fortes ventos de sudeste, resultando numa redução da camada de 

neve por deflação (Christiansen 2005). 

O arquipélago de Svalbard está situado numa zona de permafrost contínuo (Brown et 

al.  1998),  em  que  a  sua  espessura  varia  entre  100  m  nos  vales  maiores  até  450  m  nas 

montanhas (Ulrich 2011). Em Svalbard estima‐se que o permafrost se tenha iniciado a formar 

no Holocénico superior nos vales e nas zonas costeiras (Humlum et al. 2003). A temperatura 

do permafrost em Svalbard varia entre ‐2,3 e ‐5,6 ° C (Christiansen et al. 2010), e a espessura 

da camada activa varia de alguns decímetros e 1,5 m, dependendo da vegetação, da cobertura 

de neve e das condições de superfície (Sørbel et al. 2001). 

 

3.3. Enquadramentogeológico

O vale de Adventdalen é um vale largo que foi deglaciado há cerca de 10 Ka. A geologia 

é caracterizada por arenitos do Jurássico e do Cretácico, siltitos e xistos. A maioria dos relevos 

limítrofes ao  vale pertence às  formações de Helvetiafjellet e Carolinefjellet  (Dallmann et al. 

2001). No  fundo do vale existem depósitos de granulometria  fina, provavelmente derivados 

pela deflação e deposição  local de sedimentos fluviais, que vieram cobrir os terraços fluviais, 

tendo  sido  interpretados  como  Loess  por  Bryant  (1982)  e  Oliva  et  al.  (2014).  A  cobertura 

vegetal  irregular,  típica  tundra ártica, é dominada por musgos, herbáceas e arbustos rasos e 

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nas áreas mais secas e expostas, que são afetados pela acção do vento, a vegetação é muito 

escassa (Ulrich et al. 2011). 

A área tem registos que variam entre o Pérmico e o Eocénico, e as rochas apresentam‐

se com  idades gradualmente mais recentes para sul  (Dallmann et al. 2001). Os depósitos do 

Pérmico consistem sobretudo, em rochas marinhas carbonatadas, depositadas em ambientes 

costeiros.  Do  Triássico  ao  Cretácico,  os  sedimentos  são  dominados  por  argilas  e  siltitos 

marinhos,  reflectindo  assim  várias  sequências  do  desenvolvimento  da  bacia  sob  condições 

maioritariamente estáveis em termos da plataforma (Dallmann et al. 2001). A região situa‐se 

na margem  norte  de  uma  importante  bacia  do  Terciário  (CTB  ‐  Central  Tertiary  Basin),  no 

promontório de uma falha  inversa que atravessa Spitsbergen e que terá surgido no Eocénico 

(Dallmann et al. 2001). 

O  período  Quaternário  está  representado  em  Adventdalen  por  depósitos  não 

consolidados, de origem glaciária, fluvioglaciária e crioclástica (Major & Nagy 1972).  

O  fundo  do  vale  de  Adventdalen  é  caracterizado  pela  presença  de  pingos  e  de 

polígonos de cunha de gelo. Os polígonos de cunha de gelo variam de 10 a 80m de diâmetro, 

com fracturas de 1 a 6m de largura (Sørbel et al. 2001). As cunhas de gelo podem atingir 30 a 

500 cm de largura e penetrar 1 a 2 m no interior do permafrost (Sørbel & Tolgensbakk 2002). 

As  várias  redes poligonais  com  fendas de  contracção  térmica  acompanham mais ou 

menos a distribuição da  rede de drenagem. As  redes surgem predominantemente em zonas 

relativamente planas, mas algumas encontram‐se em vertentes e elevações até 500m (Sørbel 

& Tolgensbakk 2002). A  sua distribuição  surge em posições mais elevadas à medida que  se 

penetra  no  vale  para  montante.  Matsuoka  (1999)  e  Christiansen  (2005)  encontraram 

evidências de que a contracção térmica de algumas redes poligonais continua ainda a ocorrer 

presentemente. 

 

 

 

 

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Figura 3‐4 Polígonos de cunha de gelo numa das redes poligonais da área de estudo, no vale de Adventdalen. 

 

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4. TécnicaseMétodos

4.1. Introdução

O presente  capítulo  tem  como objectivo descrever os principais métodos e  técnicas 

realizadas  na  integração  de  dados  das  variáveis  numa  geodatabase  a  utilizar  no  presente 

trabalho, constituído pelos seguintes  itens: (1) mapas temáticos de base (2) ortorrectificação 

das  fotografias  aéreas  (3) modelo  digital  de  terreno  e modelos  derivados  (4)  definição  das 

redes de polígonos (5) geodatabase  

 

4.2. Constituição de uma base de dados SIG para Adventdalen

(Geodatabase)

Para o presente  trabalho procedeu‐se à  integração dos mapas de base em ambiente 

SIG,  e  foram  utilizados,  em  formato  raster,  a  fotografia  aérea  e  os  mapas  temáticos 

representativos da geologia e geomorfologia de Adventdalen. 

4.2.1. Mapastemáticosdebase

O  desenvolvimento  do  estudo  científico  da  Terra  na  avaliação  e  compreensão  dos 

recursos naturais (geologia, geomorfologia, pedologia, ecologia, etc.) incitou a necessidade de 

mapear  estes  elementos,  originando  os  mapas  temáticos.  São  mapas  com  um  objectivo 

específico dado que representam um único tema de informação (Burrough 1986). 

 

Os mapas temáticos em formato raster representam uma estrutura de dados de fácil 

manuseamento  em  ambiente  SIG,  de  superfície  bidimensional  sobre  a  qual  os  dados 

geográficos  são  representados não de  forma  contínua, mas  sim de  forma quantitativa, que 

pode  ter  uma  influência  relevante  na  estimativa  de  comprimentos  e  de  áreas  quando  o 

tamanho  das  células  da  grelha  é  maior  em  relação  aos  elementos  a  ser  representados 

(Burrough 1986).  

A  integração dos mapas temáticos neste trabalho permitiu a  interpretação espacial e 

integração  das  unidades  qualitativas  em  ambiente  SIG.  Através  de  análises  espaciais  a 

informação  relativa aos mapas  foi  integrada numa  tabela de dados das variáveis preditivas, 

permitindo realizar análises estatísticas. 

No âmbito deste trabalho foram digitalizados o mapa geológico ‐ folha C9G (Major et 

al. 2001) (Figura 4‐1) e o mapa geomorfológico ‐ folha C9Q (Tolgensbakk et al. 2001) (Figura 4‐2) 

de Svalbard à escala 1:100 000 produzidos pelo Instituto Polar Norueguês (IPN). A digitalização 

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foi efectuada em scanner para grandes formatos e com uma resolução de 600 dpi, usando‐se o 

formato tiff.  

 

 

 

Figura 4‐1 Mapa geológico de Svalbard ‐ folha C9G ‐ Adventdalen. Instituto Polar Norueguês (IPN), 

elaborado à escala 1:100 000. 

 

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Figura 4‐2 Mapa geomorfológico de Svalbard ‐ folha C9Q ‐ Adventdalen. Instituto Polar Norueguês (IPN), 

elaborado à escala 1:100 000. 

 

Para utilizar estes mapas como fonte de  informação e  juntamente com outros dados 

espaciais  foi  necessário  proceder  a  um  processo  de  georreferenciação,  que  consistiu  em 

ajustar os mapas para o sistema de coordenadas utilizado no projecto WGS 1984 UTM Zone 

33N.  Para  este  processo  foi  usado  o  sofware  ArcGIS  10  através  de  uma  ferramenta  que 

consiste na obtenção de valores x e y para um ponto específico, designado ponto de controlo. 

Estes são  locais que oferecem uma feição física perfeitamente  identificável, tanto no mapa a 

georreferenciar como na  informação base, como  intersecções de estradas, edifícios, pista de 

aeroporto, entre outros, cuja identificação permitiu alinhar e ajustar no espaço bidimensional 

os mapas geológico e geomorfológico.  

A georreferenciação dos mapas temáticos teve como referência o mosaico construído 

para obter o maior ajustamento possível entre todos os arquivos raster e criar também uma 

maior relação nos formatos vectoriais a produzir. 

 

Digitalizaçãodasunidadesgeológicasegeomorfológicas

A obtenção das variáveis geologia e geomorfologia implicou a vectorização manual das 

respectivas  unidades  no  software  ArcGIS  com  base  nos  mapas  previamente  digitalizados, 

cobrindo toda a distribuição espacial dos polígonos (Figura 4‐3 e Figura 4‐5). 

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Como  resultado  da  vectorização  para  Adventdalen  estão  representadas  8  unidades 

geológicas  estão  representadas  as  idades  geológicas  para  cada  unidade)  e  11  unidades 

geomorfológicas.  

A vectorização desta cartografia temática tem sempre algum erro cartográfico associado, uma 

vez que a  informação raster original está à escala de 1:100 000 e a  informação é processada 

para  uma  escala muito maior.  Isto  significa  que  a  imprecisão  associada  à menor  escala  de 

trabalho da informação original provoca erros na informação processada a maior escala. 

 

 

Figura 4‐3 Unidades geológicas de Adventdalen. Vectorização elaborada a partir do mapa geológico de 

Svalbard, do Instituto Polar Norueguês (IPN), elaborado à escala 1:100 000. 

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Figura 4‐4 Tabela litoestratigráfica de Svalbard, cortada para o Período geológico de interesse (adaptado 

de (Dallmann et al. 2001) 

 

 

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Figura 4‐5 Unidades geomorfológicas de Adventdalen. Vectorização elaborada a partir do mapa 

geomorfológico de Svalbard, do Instituto Polar Norueguês (IPN), elaborado à escala 1:100 000. 

 

Os  mapas  geológico  e  geomorfológico  foram  utilizados  como  variáveis  ambientais 

neste trabalho com o pressuposto que o substrato e, consequentemente, o tipo de sedimentos 

exercem  influência  na  dinâmica  geomorfológica  e  na  formação  dos  polígonos  de  tundra, 

influenciando  também  a  retenção  de  água,  e  apresentando  diferentes  propriedades 

termofísicas  que  originam  diferentes  comportamentos  no  processo  de  congelação  (A.L. 

Washburn 1979).   

 

4.2.2. Ortorectificaçãodasfotografiasaéreas

A fotografia aérea constitui o objecto de base na detecção remota, e é utilizada desde 

sempre para estudos de fotointerpretação geológica e geomorfológica  (Vergara 1971) com a 

finalidade  de  identificar  e  classificar  objectos,  contribuindo  para  a  interpretação  da  sua 

génese.  O  processo  de  interpretação  implica  a  realização  de  tarefas  como  detecção, 

reconhecimento e  identificação,  análise,  classificação e determinação da exactidão  (Vergara 

1971, Fonseca & Fernandes 2004). 

A utilização de uma  fotografia aérea de elevada  resolução possibilita a  realização da 

delimitação  geométrica  dos  polígonos  com  grande  pormenor  e  qualidade.  Para  o  objectivo 

deste  trabalho, a  identificação da geometria dos polígonos ao  longo de Adventdalen contou 

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como informação base com um total de 53 imagens aéreas, em formato bruto, adquiridas ao 

Instituto  Polar  Norueguês  (IPN),  referentes  a  uma  campanha  fotogramétrica  realizada  em 

Julho de 2009. Cobrindo cerca de 20km de extensão do vale, as imagens têm uma resolução de 

0,2 metros por pixel e 4 bandas espectrais, três no visível (RGB) e a quarta no  infravermelho 

próximo.  

Dado  que  as  imagens  estavam  em  formato  bruto,  e  apresentam  uma  sobreposição 

entre 40% e 60%, foi necessário realizar um processamento prévio de ortorrectificação para as 

posicionar correctamente em termos geográficos, constituindo um mosaico contínuo ao longo 

do vale (Figura 4‐6). 

 

Ortorrectificação

Muitos factores contribuem para a qualidade geométrica de uma imagem de detecção 

remota. A  introdução de distorções geométricas durante a captura da  imagem é  inevitável e 

contribui para os erros de posicionamento geográfico. A geometria de aquisição de imagem, o 

relevo da área da imagem, a fidelidade do sensor óptico e a estabilidade posicional do sensor 

desempenham um papel na quantidade e tipo de erros que são introduzidos (EXELIS 2013). 

A ortorrectificação é um processo que remove as distorções geométricas e produz uma 

imagem com uma geometria planimétrica,  tal como um mapa. O processo consiste  também 

em atribuir às  imagens ortorrectificadas um  sistema de coordenadas  terrestre e a escala da 

imagem é constante ao  longo de toda a  imagem. As  imagens ortorrectificadas deverão estar 

também  livres  de  qualquer  tipo  de  artefactos,  tal  como,  objectos  inclinados  ou  elementos 

lineares  enviesados  devido  ao  deslocamento  do  relevo.  Estas  propriedades  fazem  de  uma 

ortofotografia um mapa preciso e uma ferramenta adequada para aplicações que necessitam 

de  informações  sobre  a  posição  exata  de  uma  área  específica  e  uma medição  precisa  de 

elementos. 

A  ortorrectificação  foi  realizada  no  âmbito  da  dissertação  de  mestrado  “Análise 

Geométrica  e  Topológica  de  Redes  Poligonais  de  Contracção  Térmica  em  Adventdalen, 

Svalbard,  Noruega”  (Lousada  2012).  Foi  usado  um  conjunto  de  informação  auxiliar  de 

referência, nomeadamente os parâmetros internos da câmara relacionados com a calibração: 

a distância focal, as coordenadas do ponto principal e as características do sistema de  lentes 

da câmara; juntamente com os parâmetros de orientação exterior das imagens, que indicam a 

posição e orientação da câmara no voo para cada  imagem, através das coordenadas centrais 

de projecção do centro da imagem (x0, y0, z0) e os ângulos de rotação fotogramétricos omega, 

phi, kappa, (ω,Φ,κ). Estes parâmetros foram a base ao processo de atribuição de coordenadas 

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correctas a cada uma das imagens juntamente com o Modelo Digital de Terreno (MDT) ASTER 

GLOBAL DEM, com 30m de resolução por pixel, da área de estudo como fonte de informação 

sobre o relevo, utilizado para que as deformações causadas por este sejam corrigidas. 

A  ortorrectificação  realizada  das  53  fotografias  aéreas  e  após  a  criação  do mosaico 

(Figura 4‐6), por meio do software ENVI, produziu um erro resultante variável de  imagem para 

imagem e visível especialmente nas áreas de sobreposição, correspondentes aos cantos, onde 

o erro pode variar entre 1 e 2 metros. Este erro é menorizado na região central das imagens, 

visto  que  foram  utilizadas  as  coordenadas  centrais  de  cada  imagem  nos  parâmetros  de 

orientação exterior.  

 

 

 

Figura 4‐6 Mosaico das fotografias aéreas de Adventdalen ortorrectificadas. 

 

4.2.3. OModeloDigitaldeTerrenoemodelosderivados

Grande parte da  informação utilizada para estudos no âmbito das ciências naturais é 

susceptível a ser georreferenciada e consequentemente objecto de análise em ambiente SIG, 

facultando um melhor e exaustivo reconhecimento da superfície terrestre. Com esta premissa, 

foram utilizadas variáveis extraídas através de métodos computacionais a partir do MDT, como 

também dos mapas temáticos digitais. De referir que o MDT descrito neste ponto é diferente 

ao  utilizado  no  processo  ortorrectificação  (ver  capítulo  4.2.2),  dado  que  foi  adquirido 

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posteriormente ao IPN um MDT com resolução espacial de 20m por pixel e precisão estimada 

de  5m.  Este  novo  MDT  permitiu  derivar  variáveis  com  um  melhor  detalhe  e  resolução, 

importante para obter uma análise estatística mais minuciosa.  

 

CaracterísticasdoModeloDigitaldeTerreno

O MDT  é  a  peça  chave  da  análise  geomorfométrica  e  cada  vez mais  utilizado  para 

análise visual da  topografia, paisagem e  formas de  relevo, para a modelação de processos à 

superfície,  bem  como  fonte  de  informação  para  elaboração  de  variáveis  preditivas  (Hjort 

2006). 

O MDT do  IPN  foi  fornecido em  formato raster, ou seja como produto  final, e sendo 

este formato o mais adequado para a representação espacial da elevação do terreno e análise 

espacial, não foi necessário realizar tarefas de preparação e de tratamento (Figura 4‐7). 

De acordo com Wilson & Gallant (2000) o MDT utilizado, com uma resolução espacial 

de 20m, corresponde a uma topo‐escala de pormenor, de grande  importância na solução de 

problemas  ambientais  com  aplicabilidade  nas  áreas  de modelação  espacial  hidrológica,  das 

propriedades do solo, correcções topográficas a dados de detecção remota e na extracção de 

aspectos topográficos da radiação solar. Em ambientes periglaciários a altitude permite inferir 

factores  ambientais  como  a  variação  da  temperatura,  a  neve,  energia  potencial  gravítica, 

intensidade  da  radiação,  intensidade  do  vento,  nebulosidade,  vegetação  ou  distribuição  de 

humidade (Etzelmüller & Sulebak 2000, Hjort 2006).  

 

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Figura 4‐7 Modelo Digital de Terreno do Instituto Polar Norueguês, com resolução espacial de 20m, para 

Adventdalen. 

 

ModelodeDeclives

O modelo de declives de Adventdalen  foi gerado através das  ferramentas do Spatial 

Analyst do ArcGIS 10 (Figura 4‐8), e utilizada, no presente trabalho como variável ambiental.  

O  declive  é  um  dos  atributos  topográficos  mais  frequentemente  usado  nos  mais 

diversos estudos, nomeadamente em estudos geomorfológicos e periglaciários  (Hjort 2006). 

Esta informação constitui uma forma de caracterização do terreno que permite relacionar com 

a  dinâmica  do  escoamento  superficial,  por  influenciar  a  distribuição  da  neve  e 

consequentemente a espessura da camada activa (Florinsky 1998).  

 

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Figura 4‐8 Modelo de declives para Adventdalen. Elaborado a partir do Modelo Digital de Terreno do 

Instituto Polar Norueguês, com resolução espacial de 20m. 

 

Modelodeexposições

O relevo e a respectiva orientação das vertentes influenciam a quantidade de radiação 

solar  recebida  na  superfície  e  portanto  a  temperatura,  a  direcção  do  escoamento  da  água 

superficial, bem como a forma e quantidade da acumulação da neve, o que faz com que numa 

região de permafrost  contínuo a  camada activa  seja normalmente mais  fina  (isolamento da 

neve) nas vertentes viradas a Norte (French 2007, Florinsky 1998).  

O modelo de exposições  foi,  igualmente, gerado através das  ferramentas do  Spatial 

Analyst do software ArcGIS 10 (Figura 4‐9). 

 

 

 

 

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Figura 4‐9 Modelo de exposições das vertentes de Adventdalen. Elaborado a partir do Modelo Digital de 

Terreno do Instituto Polar Norueguês, com resolução espacial de 20m. 

 

A  classificação  das  exposições  é  determinada  em  unidades  de  graus,  e  para  este 

trabalho, foi atribuído uma reclassificação de acordo com a direcção ordinal da  inclinação da 

superfície, respeitando o esquema de classificação padrão (Tabela 4‐1): 

 

Tabela 4‐1 Correspondência da classificação das exposições (em graus) e a direcção ordinal de inclinação da 

superfície. 

Intervalo da exposição cardial (°) 

Direcção da exposição cardial 

‐1 Plano

[0 ‐ 22,5[ Norte

[22,5 ‐ 45[ Nordeste

[45 ‐ 135[ Este

[135 ‐ 180[ Sudeste

[180 ‐ 225[ Sul

[225 ‐ 270[ Sudoeste

[270 ‐ 315[ Oeste

[315 ‐ 337,5[ Noroeste

[337,5 ‐ 360[ Norte

 

 

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Modelodecurvaturadoterreno

O modelo  de  curvatura  do  terreno  é  uma  ferramenta  utilizada  para  descrever  as 

características  físicas  da  topografia,  para  compreender  os  processos  de  erosão  e  de 

acumulação  de  água.  Este  modelo  foi  portanto  utilizado  para  determinar  as  superfícies 

convexas,  côncavas  ou  planas,  tendo  em mente  o  conceito  de  que  as  superfícies  côncavas 

representam  áreas  de  acumulação,  tanto  de  sedimentos,  como  de  água  e  de  neve, 

influenciado a espessura do solo e a distribuição da humidade e da própria neve (Hjort 2006, 

Etzelmüller & Sulebak 2000)   

O modelo foi calculado através das ferramentas do Spatial Analyst do software ArcGIS 

10  a  partir  do MDT  (Figura  4‐10).  Seguidamente  através  da  ferramenta  Raster  Calculator  do 

mesmo  software, o modelo  foi  reclassificado em  três  classes de  acordo  com  a  classificação 

descrita por Wilson & Gallant(2000): 

‐ Valores positivos: superfície convexa 

‐ Valores próximos de 0: superfície rectilínea  

‐ Valores negativos: superfície côncava 

 

 

Figura 4‐10 Modelo de curvatura do terreno para Adventdalen. Elaborado a partir do Modelo Digital de 

Terreno do Instituto Polar Norueguês, com resolução espacial de 20m. 

 

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Modelodeteordehumidadenosolo‐WetnessIndex(SWI)

Foi também calculado o mapa do teor de humidade no solo do SAGA (SWI) (Böhner et 

al. 2002) através do módulo Terrain Analysis do programa SAGA GIS  (Figura 4‐11). Este  índice 

descreve  a  tendência  de  acumulação  de  água  através  da  identificação  do  padrão  de 

escoamento a partir de cada uma das células e respectiva área de contribuição a montante da 

célula. É utilizado para quantificar o controlo topográfico nos processos hidrológicos e indicar a 

distribuição espacial da humidade e saturação do solo (Sørensen et al. 2006). A análise deste 

índice  pode  também  dar  indicações  acerca  da  possível  profundidade  do  nível  freático,  da 

distribuição do ar  frio durante episódios  com  inversão  térmica e da distribuição espacial da 

matéria orgânica  (Wilson & Gallant 2000). Quanto maiores os valores observados, maior é a 

presença de água no solo, bem como o teor de humidade. 

 

 

Figura 4‐11 Modelo de teor de humidade no solo para Adventdalen. Elaborado a partir do Modelo 

Digital de Terreno do Instituto Polar Norueguês, com resolução espacial de 20m. 

 

Modelodaheterogeneidadedoterreno‐TerrainRuggednessIndex(TRI)

O TRI é um  índice que permite a medição objectiva da heterogeneidade do  terreno 

através  do  cálculo  da  diferença média  da  elevação  entre  o  pixel  central  e  os  oito  pixels 

circundantes.  Este  índice  reflecte  o  potencial  do  relevo  para  a  acumulação  da  neve,  a 

concentração  de  matéria  orgânica  (Florinsky  1998)  e  ainda  a  variação  da  radiação  solar 

recebida, que varia com a rugosidade do terreno (Etzelmüller & Sulebak 2000). Quanto menor 

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for o valor de TRI, menor é a rugosidade e mais regular é o terreno (Riley et al. 1999) (Figura 

4‐12). Por  fim  referir que o TRI  foi calculado através do módulo Terrain Analysis do software 

SAGA GIS.  

 

 

Figura 4‐12 Modelo do índice de heterogeneidade do terreno para Adventdalen. Elaborado a partir do 

Modelo Digital de Terreno do Instituto Polar Norueguês, com resolução espacial de 20m. 

 

Distânciaàslinhasdeáguaeàlinhadecosta

A maior ou menor proximidade a corpos de água com elevada disponibilidade hídrica, 

como  lagos  e  rios,  condiciona  a  temperatura  e  tipo  de  substrato,  tendo  influência  no 

desenvolvimento  e  espessura  do  permafrost  (Migoń  2010).  Como  tal,  torna‐se  importante 

identificar  os  principais  locais  com  elevada  disponibilidade  de  água  no  estado  líquido  em 

Adventdalen, nomeadamente o rio Adventelva e respectivos afluentes, e proceder à respectiva 

vectorização. 

Já  a distância  à  linha de  costa  é utilizada  como  indicador de  continentalidade,  com 

reflexos nas temperaturas do ar e precipitação, mesmo numa distância de poucos quilómetros, 

influenciando as propriedades do permafrost (Campbell & Claridge 2009). 

Para a vectorização do rio Adventelva e afluentes foi utilizado um processo automático 

através das ferramentas do Spatial Analyst do ArcGIS 10 e aprimorado por interpretação visual 

do mapa topográfico à escala 1:100.000 e respectiva digitalização manual (Figura 4‐13). Para a 

vectorização por interpretação visual da linha de costa, foi utilizado o mesmo mapa. Com estes 

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limites  digitalizados,  procedeu‐se  à medição  da  distância mais  curta,  em  linha  recta,  entre 

estes e centróide de cada polígono, através da ferramenta Join Data do ArcGIS 10.  

 

 

 

Figura 4‐13 Linhas de água e linha de costa mais próxima do vale de Adventdalen e representação da 

distância do centróides dos polígonos à linha de costa. Os elementos Linha de água e Linha de costa foram 

vectorizados através do mapa topográfico à escala 1:100.000. 

 

4.2.4. Definiçãodasredesdepolígonos

  Usando  como  referência  base  os  ortofotomapas,  foi  efectuada  manualmente  a 

digitalização  vectorial  dos  polígonos  (Lousada  2012)  através  do  programa  ArcGIS  10, 

identificando  ao  longo  de  Adventdalen  mais  de  10.000  polígonos  (Figura  4‐14).  No mesmo 

trabalho,  Lousada  (2012)  evidencia  que  a  vectorização  de  cada  polígono  só  foi  realizada 

quando era evidente a expressão das cunhas de gelo à superfície e não confundido com outro 

tipo de lineamentos, e só foram considerados os polígonos que estavam nitidamente fechados 

(todas as  suas arestas visíveis na  íntegra). As 4 bandas dos ortos permitiram uma utilização 

tanto em cor verdadeira como em falsa cor, facilitando uma melhor  identificação das cunhas 

dos polígonos. 

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Figura  4‐14 Modelo  digital  de  terreno  de  Adventdalen.  A)  Limites  dos  vários  grupos  de  polígonos 

digitalizados e redes poligonais B) Pormenor dos polígonos digitalizados (ortofotomapa como fundo). 

 

O mapeamento dos polígonos demonstrou ser uma  tarefa árdua e morosa, devido à 

distribuição espacial dos campos poligonais ao  longo dos cerca de 20km do vale. A primeira 

dificuldade foi localizar os polígonos durante o varrimento visual dos ortofotomapas, entre as 

escalas 1:7 500 e 1:10 000. Estas escalas de análise foram definidas pois permitiam um bom 

equilíbrio entre o tempo despendido e uma boa resolução espacial. Outra dificuldade, apesar 

da  boa  qualidade  dos  ortofotos  e  das  4  bandas  espectrais,  foi  identificar  a  expressão  das 

cunhas de gelo à superfície, que nem sempre era evidente, tornando difícil a interpretação da 

geometria dos polígonos. Dado que os maiores erros posicionais estão  localizados nas orlas 

das imagens ortorrectificadas e que cada uma destas tem uma sobreposição entre 40 a 60%, a 

digitalização  dos  polígonos  foi  direccionada  para  a  zona  central  de  forma  a  reduzir  o  erro 

espacial. 

A  validação da delimitação dos polígonos através das  ferramentas  SIG  foi efectuada 

através  de  reconhecimento  de  campo.  Foi  escolhida  uma  rede  para  ser  utilizada  como 

referência, sobre a qual  foi realizado  intensivo  trabalho de campo em 2010 e 2011 e depois 

estendido  a  outras  redes  em  2012.  O  trabalho  de  campo  realizado  foi  importante  para 

perceber  que  a  utilização  das  imagens  IPN  para  cartografar  todas  as  redes  poligonais  de 

 A) 

B) 

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Adventdalen  é  válida  e  que  embora  apresente  desvantagens,  estas  são  compensadas  pela 

facilidade de uso e fidelidade do mapeamento (Lousada 2012).  

A Figura 4‐15 ilustra a campanha de campo de 2012 no vale de Adventdalen, na qual tive 

oportunidade de participar. 

 

 

 

 

Figura 4‐15 Fotografias da campanha de campo de 2012 no vale de Adventdalen 

 

A análise em ambiente SIG da distribuição dos polígonos permitiu identificar áreas com 

redes  poligonais  bastante  extensas  e  com  grande  número  de  polígonos,  concentradas 

especialmente  no  fundo  do  vale,  bem  como  redes menores  dispersas,  principalmente  em 

sectores  de  vertente  (Figura  4‐14).  Nestes  sectores  de  vertente,  mais  erodidos  e 

consequentemente mais irregulares, a delimitação dos seus contornos é mais dificultada. Com 

base nesta organização, e tendo por objectivo estudar o conjunto de polígonos que formam as 

redes poligonais, aqueles foram agrupados originando 36 redes poligonais. As redes poligonais 

foram  delineadas  de  acordo  com  a  distribuição  espacial  e  concentração  dos  polígonos, 

podendo estas incluir vários “clusters” de polígonos. Para o estudo foram apenas consideradas 

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as redes que possuem um número de polígonos superior a 25, e nas quais todos os polígonos 

apresentam  vizinhos,  facultando  redes  poligonais  mais  completas  e  estatisticamente  mais 

significativas.  

 

Parâmetrosmorfométricosparacaracterizaçãodasredespoligonais

A forma como a fracturação ocorre é controlada por diversos factores ambientais e vai 

determinar a dimensão, a forma e topologia dos polígonos (Ulrich 2011). 

Para  cada um dos polígonos digitalizados de acordo  com a  sua geometria e  relação 

espacial foram calculados três tipos de parâmetros morfométricos (Tabela 4‐2): 

‐  Parâmetros  de  dimensão:  Correspondem  às  propriedades  geométricas  num  plano 

planimétrico dos polígonos  

‐ Parâmetros de forma: Caracterizam o formato específico dos polígonos  

‐  Parâmetros  topológicos:  Estes  parâmetros  expressam  como  os  polígonos  estão 

relacionados fisicamente uns com os outros dentro de uma rede poligonal. Para o cálculo dos 

parâmetros topológicos foi utilizado um algoritmo desenvolvido por Bandeira et al. (2008) que 

cria um processo automatizado para  identificar dentro do campo de polígonos os vizinhos e 

classificar a valência dos vértices. Foram excluídos da análise morfométrica todos os polígonos 

com um número de vizinhos igual a zero, correspondendo a polígonos isolados ou das camadas 

exteriores/limítrofes das redes poligonais. 

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Tabela 4‐2 Parâmetros de dimensão, forma e topológicos integrados no estudo dos polígonos. 

Parâmetros 

Unidades ou  Escala 

Fonte / Cálculo 

Dim

ensão 

Área (A)  metro²  ArcGIS 

Eixo Maior (E>)  metro  ArcGIS 

Eixo Menor (E<)  metro  ArcGIS 

Eixo Médio (Em)  metro 2

 

Perímetro (P)  metro  ArcGIS 

Form

Alongamento (Al)  de 0 a 1   

Compacidade (C)  de 0 a 1 2√

 

Circularidade (Cc)  de 0 a 1   

Topologia  Vértices (Vt)  numérico  Algoritmo 

Vizinhos (Vz)  numérico  Algoritmo 

 

 

4.2.5. Geodatabase

A  geodatabase  é  uma  forma  comum  de  organização  de  dados  e  uma  estrutura  de 

gestão  do  ArcGIS.  Tem  como  objectivo  criar  um  repositório  central  de  dados  permitindo 

organizar  todo  o  tipo  de  informações  geográficas  em  temas  de  dados  estruturados  com 

conteúdos e  representações de  camadas  temáticas específicas. O armazenamento de dados 

numa  geodatabase  fomenta  uma melhor  organização  da  informação  espacial  e melhora  as 

capacidades  de  gestão  de  dados.  A  estrutura  da  geodatabase  reflecte  esta  organização 

definindo  a  forma  como  os  elementos  geográficos  são  representados  para  cada  tema, 

agrupando  os  dados  individuais  em  conjunto  de  dados,  designados  por  feature  classes, 

atributos,  conjuntos  de  dados matriciais  e  relações  espaciais  entre  conjuntos  de  dados.  O 

design  da  geodatabase  permite  visualizar  cada  conjunto  de  dados  com  os  seus  elementos 

geográficos (pontos, linhas e polígonos) e correspondentes tabelas de atributos. 

Para  este  trabalho  todos  os  elementos  descritos  nas  secções  anteriores  foram 

compilados  e  armazenados  numa  base  de  dados  com  a  mesma  referência  espacial  para 

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permitir um fácil acesso e edição da  informação, constituindo a geodatabase de Adventdalen 

(Figura 4‐16). 

 

Feature datasetIceWedge_Adventdalen

Polygon feature class Poligonos

Point feature class Poligonos_centroides

Polygon feature class Redes_poligonais

Feature datasetVariaveisAmbientais

Polygon feature class Geologia_100k

Polygon feature class Geomorfologia_100k

Line feature class RiosAdventdalen_LinhaCosta

TableStats_Redes

TablePoligonos_Parametros

Relationship class

One to one

Stats_to_Redes

Relationship class

One to many

ParametrosMorfometricos

Relationship class

One to many

Polygon_to_Point

Relationship class

One to many

RedeID_to_Points

Relationship class

One to many

Geology_to_PolygonsGeomorphology_to_PolygonRiosAdventdalen_LinhaCosta

Estruturada Geodatabase

Raster datasetVariaveisAmbientais

Raster datasetMapaCurvaturaTerreno

Raster datasetMapaDeclives

Raster datasetMapaExposicaoCardeal

Raster datasetMapaGeologico_100k

Raster datasetMapaGeomorfológico_100k

Raster datasetMapaTerrainRuggednessIndex

Raster datasetMapaTopográfico_100k

Raster datasetMapaWetnessIndex

Raster datasetMDT

 

Figura 4‐16 Design da Geodatabase e respectiva estrutura 

 

Estruturadabasededados‐Polígonos

De modo a caracterizar cada um dos polígonos e a integrar os dados na geodatabase, 

usou‐se  o  ponto  central  de  cada  polígono  para  extrair  os  parâmetros  morfométricos,  a 

informação espacial e topográfica. Os dados foram  incluídos num único elemento geográfico, 

passando  assim  todos os  atributos,  relevantes para  a  análise  estatística,  a  estar  conciliados 

numa única tabela. 

A  Figura  4‐17  apresenta  a  estrutura  do  conjunto  de  dados,  tabelas  de  atributos  e 

respectivas  relações  espaciais  referentes  aos  elementos  geográficos  que  representam  os 

polígonos de cunha de gelo e as redes poligonais. 

 

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Figura 4‐17 Estrutura do conjunto de dados para os polígonos de cunha de gelo 

 

Estruturadabasededados‐Variáveisambientais

Todos os parâmetros ambientais obtidos para este estudo foram agrupados na geodatabase. A 

Figura 4‐18  representa a estrutura do  conjunto de elementos geográficos,  com as  respectivas 

tabelas de atributos, descrição dos subtipos e relações espaciais. O esquema e descrição dos 

layers temáticos utilizados como variáveis ambientais são apresentados na  

Figura 4‐19. 

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Figura 4‐18 Estrutura do conjunto de dados para as variáveis ambientais 

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Figura 4‐19 Esquema dos layers temáticos utilizados na geodatabase 

 

 

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5. Resultadosediscussão

5.1. Introdução

Os  processos  geomorfológicos  à  superfície  são  controlados  pelas  características  do 

terreno  e  do  clima  e,  em  particular,  pelo  respectivo  contexto  geomorfológico.  Significa 

portanto  que  as  formas  à  superfície  dependem  de  factores  ambientais,  que  controlam  a 

configuração  não  ao  acaso  de  algumas  estruturas. Deste modo,  o  estudo  dos  factores  que 

controlam  a  presença  das  formas  de  relevo  e  os  processos  geomorfológicos  nas  regiões 

periglaciárias  constitui  um  tema  importante  na  investigação  em  geomorfologia  periglaciária 

(Ballantyne e  Harris, 1994).  

O crescimento da utilização de métodos estatísticos para a  interpretação de relações 

existentes entre uma variável dependente e variáveis preditivas,  juntamente com a evolução 

das  ferramentas  SIG,  tem  facilitado  um  rápido  desenvolvimento  da  modelação  espacial 

aplicada à geomorfologia (Luoto e Hjort, 2004; Melo, 2009). 

O presente  capítulo  tem por objectivo  compreender a  relação geomorfométrica dos 

polígonos  com  as  condições  ambientais  por meio  de  estatística multivariada  baseada  em 

dados de alta resolução obtidos por detecção remota, e em dados topográficos modelados em 

ambiente SIG. 

5.1.1. Caracterizaçãomorfométricadospolígonos

O  estudo  dos  fenómenos  associados  à  formação  de  polígonos  de  cunha  de  gelo 

sempre  despertou  interesse  na  comunidade  científica  devido  a  estes  poderem  conter 

informação  sobre  climas  e  processos  geomorfológicos  passados  (Lanchenbruch  1966).  Nas 

últimas  décadas  prosperaram  os  estudos  acerca  destas  estruturas  devido  à  existência  de 

geoformas  semelhantes  em Marte  ( Mangold  2005; Bandeira  et  al.  2008;  Levy  et  al.  2010; 

Haltigin et al. 2010; Ulrich et al. 2011; Pina & Vieira 2012). O primeiro passo da maioria dos 

estudos passa por  caracterizar a morfometria dos polígonos e  redes poligonais, dado que a 

morfologia  dos  polígonos  está  relacionada  com  as  dinâmicas  climáticas  locais  e  regionais, 

reflectindo‐se nas diferenças de tamanho, forma e topologia (Ulrich 2011). 

Para este trabalho,  foi  igualmente caracterizada a geomorfometria dos polígonos em 

estudo,  para  o  qual  foram  seleccionados  um  total  de  9220  polígonos  (após  a  exclusão  das 

formações  com  um  número  de  polígonos  inferior  a  25  e  número  de  vizinhos  nulo).  A 

caracterização morfométrica dos polígonos foi realizada partindo dos parâmetros descritos na 

metodologia e resumidos na Tabela 5‐1. 

 

 

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Tabela 5‐1 Características estatísticas dos parâmetros morfométricos dos polígonos de Adventdalen 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A  dimensão  dos  polígonos  em  Adventdalen  apresenta  uma  grande  amplitude,  com 

áreas entre os 5m2  e os 17500m2, no entanto  a média  (408m2)  indica que os polígonos de 

maiores dimensões são menos frequentes (Figura 5‐1). 

 

  Parâmetros  Mínimo  Máximo  Média Desvio Padrão 

Dim

ensão 

Área (A)  5,74  17665,91  408,30  502,66 

Eixo Maior (E>)  4,12  190,48  26,31  13,71 

Eixo Menor (E<)  1,49  135,49  17,84  9,25 

Eixo Médio (Em)  3,04  162,99  22,08  11,18 

Perímetro (P)  11,25  548,99  75,86  38,17 

Form

Alongamento (Al)  0,19  1,00  0,69  0,14 

Compacidade (C)  0,48  0,96  0,85  0,05 

Circularidade (Cc)  0,23  0,92  0,72  0,09 

Topologia 

Vizinhos (Vz)  1  16  4,94  2,28 

Vértices (Vt)  1  13  4,06  1,79 

Valência dos vértices  Percentagem 

Trivalentes  78% 

Tetravalente  21% 

Pentavalentes  1% 

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Figura 5‐1 Caracterização geomorfométrica – números de polígonos e respectivos parâmetros de circularidade e média do número de vértices tetravalentes ‐ para o número total de polígonos estudados. 

 

A Figura 5‐1 mostra um gráfico  com a dimensão,  circularidade e média dos vértices 

tetravalente  dos  polígonos  de  Adventdalen  (divididos  através  do  método  de  classificação 

Natural  Breaks).  A  análise  do  gráfico  permite  ter  uma  percepção  sobre  a  distribuição  do 

número  de  polígonos,  relativamente  aos  restantes  parâmetros.  A  grande  maioria  dos 

polígonos  tem uma dimensão pequena ou pequena/média  (75 a 150; 300 a 500m2),  sendo 

que, por exemplo, quase 1800 polígonos apresentam uma área apenas entre 75 e 150m2. O 

gráfico  permite  verificar  que  para  polígonos  menores,  maior  é  o  número  de  vértices 

tetravalentes;  a  circularidade  não  apresenta  variações  muito  visíveis  mas  tende  a  ser 

ligeiramente  superior  nos  polígonos  menores  (para  o  último  intervalo  de  grandeza  este 

parâmetro é  considerado um outlier por  ser  só 1 polígono). No que  respeita ao número de 

vértices, o padrão observado parece  estar de  acordo  com  a  bibliografia, uma  vez que  está 

descrito que a fracturação secundária origina polígonos de menores dimensões e uma maior 

frequência  de  vértices  tetravalentes,  sendo  este  um  indicador  da  ortogonalidade  das  redes 

poligonais (Lanchenbruch 1966, French 2007). O inverso, ou seja, a diminuição da tetravalência 

dos vértices com o aumento do tamanho da dimensão, vai ao encontro da teoria da formação 

de polígonos, em que os primeiros polígonos  formados  são de maiores dimensões  com um 

menor  número  de  vizinhos  para  partilhar  os  vértices  e  à  medida  que  a  repetição  do 

congelamento  e  descongelamento  sazonal  forma  novas  fracturas  dentro  dos  polígonos, 

711

1794

1610

1084

1675

947

705

425

177

6823 1

0,00

0,20

0,40

0,60

0,80

1,00

1,20

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1600

1800

2000

Área (m²)

Circularidade

Média de vértices Tetravalentes por polígono

Número de polígonos

Área (m²)

Circularidad

e e M

édia de vértices 

Tetravalentes

Número de polígonos

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originando a sua subdivisão em polígonos menores e consequentemente um maior número de 

vizinhos com quem partilhar os vértices. Esta última condição não se verifica totalmente pela 

análise  do  gráfico,  dado  que  a  partir  da  classe  de  áreas  [1000‐1500[,  o  número  de 

tetravalentes começa a aumentar. Isto poderá dever‐se a um problema de amostragem, pelo 

facto de as classes de maiores dimensão apresentam um  reduzido número de polígonos em 

comparação com as classes de dimensão mais pequenas. 

Uma  elevada  percentagem  de  polígonos  mais  pequenos  e  com  maior  número  de 

tetravalentes  (Figura  5‐1)  pode  ainda  ser  um  indicador  da  fase  de  evolução  das  redes 

poligonais. Os polígonos com mais tetravalentes geralmente apresentam uma menor variação 

no tamanho dos polígonos, parecendo que tendem a estabilizar ou regularizar a fracturação. 

5.1.2. Variáveisgeoecológicas

Não existe um critério universal para a selecção de variáveis preditivas para as análises 

estatísticas, pelo que para este trabalho, a compilação das variáveis foi baseada na bibliografia 

e na compreensão global dos processos ambientais que estão na origem e desenvolvimento 

dos  polígonos  (Capítulo  2.1).  Assim,  como  variáveis  independentes  foram  utilizados  os 

modelos  elaborados  no  Capítulo  4.2.3,  nomeadamente  o  MDT,  declive,  exposição  das 

vertentes, curvatura do terreno, Wetness Index, Terrain Ruggedness Index, distância às  linhas 

de água e à  linha de costa, geologia e finalmente a geomorfologia (Tabela 5‐2). Para a análise 

estatística  foram  integradas  variáveis  independentes  contínuas  e  também  categóricas.  As 

variáveis geologia e geomorfologia foram analisadas como variáveis categóricas, em que cada 

uma  das  unidades  foi  inserida  individualmente  na  base  de  dados,  sendo  para  cada  ponto 

central dos polígonos atribuído um valor de presença (1) ou ausência (0). As outras variáveis 

categóricas, como a exposição e a curvatura do terreno, foram reclassificadas de acordo com o 

descrito no capítulo 4.2.3. 

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Tabela 5‐2 Variáveis preditivas utilizadas na análise estatística 

Parâmetros Classificação da variável 

Unidades ou Escala  Fonte / Cálculo 

Altitude  contínua  metros  MDT 

Declive  contínua  graus  MDT 

Exposição Cardial  categórica  orientação  MDT 

Curvatura do Terreno  categórica  curvatura  MDT 

SWI  contínua  numérico  MDT 

TRI  contínua  numérico  MDT 

Distância às linhas de água  contínua  metros  ArcGIS 

Distância ao mar  contínua  metros  ArcGIS 

Geologia  categórica  Unidade geológica  Mapa Geológico 

Geomorfologia  categórica Unidade 

geomorfológica 

Mapa 

Geomorfológico 

 

 

5.2. Caracterizaçãodasredespoligonais

5.2.1. Análisemorfométricadasredes

O  estudo  morfométrico  realizou‐se  com  a  totalidade  dos  polígonos  em  estudo, distribuídos pelas 36 grandes redes poligonais definidas (Tabela 5‐3). 

 

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Tabela 5‐3 Análise descritiva dos parâmetros morfométricos das redes poligonais 

A1 A2 A3 A4 A5 A6 A7 A8 A9 A10 A11 A12 A13 A14 A15 A16 A17 A18

N 53 39 160 92 29 768 121 2186 69 92 909 144 42 258 76 62 402 31

Área média (m²) 1427,04 1406,56 528,6 288,88 226,92 197,9 747,26 170,32 376,75 299,25 327,23 552,55 975,61 352,41 443,09 640,54 618,64 473,47

Área total (m²) 75633 54856 84575 26577 6581 151989 90419 372315 25996 27531 297448 79566 40976 90922 33675 39713 248694 14678

Perímetro 141,92 153,3 89,11 68,97 60,32 52,4 103,03 52,27 77,24 68,31 70,9 89,71 116,64 74,3 82,93 100,66 94,78 82,85

Eixo médio 40,83 44,38 25,58 19,84 17,15 15,21 30,29 14,98 22,39 19,68 20,53 26,01 34,45 21,79 23,81 28,88 27,83 24,32

Alongamento 0,67 0,63 0,65 0,67 0,7 0,7 0,7 0,7 0,66 0,7 0,67 0,66 0,72 0,7 0,67 0,7 0,69 0,67

Compacidade 0,83 0,8 0,82 0,84 0,84 0,85 0,85 0,85 0,85 0,83 0,85 0,83 0,85 0,86 0,84 0,83 0,86 0,86

Circularidade 0,7 0,65 0,68 0,71 0,71 0,72 0,72 0,72 0,73 0,69 0,73 0,69 0,73 0,74 0,7 0,7 0,73 0,74

Média nº de Vértices 3,4 3,51 3,96 3,43 2,9 4,48 3,11 4,33 3,68 4,2 4,49 3,6 3,12 4,73 3,21 2,98 3,85 2,48

% VERT3 Valências 78,33 76,64 84,23 83,54 85,71 74,06 86,17 66,33 87,4 73,06 73,73 86,71 84,73 87,88 72,54 89,19 91,99 74,03

% VERT4 Valências 21,67 23,36 15,77 16,46 14,29 25,94 13,83 33,04 12,6 26,94 25,78 12,33 15,27 12,12 27,46 10,81 8,01 25,97

% VERT5 Valências 0 0 0 0 0 0 0 0,62 0 0 0,49 0,96 0 0 0 0 0 0

Média nº de Vizinhos 4,132 4,333 4,588 4 3,31 5,639 3,537 5,815 4,145 5,326 5,691 4,118 3,595 5,306 4,092 3,306 4,162 3,129

A19 A20 A21 A22 A23 A24 A25 A26 A27 A28 A29 A30 A31 A32 A33 A34 A35 A36

N 54 65 75 44 466 604 223 302 528 140 271 46 161 382 52 41 183 50

Área média (m²) 503,31 99,1 582,98 452,35 744,52 493,87 536,18 501,91 604,87 737,82 606,93 538,01 481,27 374,94 620,61 646,58 493,29 142,25

Área total (m²) 27179 6441 43723 19903 346948 298299 119569 151578 319371 103295 164477 24748 77485 143226 32272 26510 90272 7113

Perímetro 88,6 39,79 97,22 85,14 106,58 83,19 91,8 87,46 96,04 105,87 96,13 91,83 87,2 73,26 97,99 98,61 86,8 44,86

Eixo médio 26,2 11,61 28,45 24,23 31,47 24,37 26,92 25,67 28,04 31,14 28,08 26,62 25,47 21,34 28,85 28,44 25,5 13,26

Alongamento 0,71 0,7 0,67 0,67 0,68 0,7 0,7 0,68 0,68 0,67 0,68 0,71 0,69 0,68 0,71 0,72 0,68 0,72

Compacidade 0,86 0,86 0,85 0,84 0,85 0,86 0,85 0,85 0,85 0,85 0,85 0,87 0,85 0,85 0,87 0,87 0,85 0,86

Circularidade 0,75 0,74 0,72 0,71 0,73 0,73 0,72 0,73 0,73 0,73 0,73 0,76 0,73 0,73 0,75 0,75 0,73 0,75

Média nº de Vértices 3,63 3,2 2,75 3 4,16 3,77 4,49 3,89 4,39 3,32 3,85 2,63 3,6 4,26 2,17 2,63 2,52 3,52

% VERT3 Valências 91,84 80,77 96,12 90,91 89,26 85,94 89,61 85,97 82,41 89,68 83,13 96,69 83,42 85,98 92,92 88,89 90,46 75

% VERT4 Valências 8,16 19,23 3,88 9,09 10,74 14,06 10,39 13,61 16,73 10,32 16,87 3,31 16,58 14,02 7,08 11,11 9,54 25

% VERT5 Valências 0 0 0 0 0 0 0 0,43 0,86 0 0 0 0 0 0 0 0 0

Média nº de Vizinhos 3,926 3,815 2,853 3,273 4,603 4,298 4,955 4,457 5,203 3,664 4,498 2,717 4,193 4,853 2,327 2,927 2,76 4,4

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Os valores médios dos parâmetros morfométricos permitem verificar que ao longo do 

fundo  de  vale  de  Adventdalen,  existe  grande  variedade  nas  características  das  redes 

poligonais. Veja‐se o caso do número de polígonos que as constituem (A5 = 29 e A8 = 2186), 

ou da diversidade de  tamanhos, variando entre 91m2 (A20) e 1427m2 (A1). Relativamente ao 

parâmetro dimensão, o facto mais  interessante é a existência de duas redes poligonais (A1 e 

A2) com valores muito superiores às restantes, sendo as únicas em que os polígonos têm uma 

área média superior a 1000m2. Este facto pode dever‐se aos polígonos de grandes dimensões 

apresentarem nesta  rede cunhas mais degradadas ou cobertas por vegetação dificultando a 

interpretação correcta por detecção remota da geometria dos polígonos, mas  também pode 

ser uma consequência das condições ambientais e topográficas. A existência de polígonos de 

grandes dimensões pode  sugerir que não ocorreu  fracturação  secundária,  seja por  ser uma 

zona em que a actividade de  fracturação esteja  inactiva ou menos activa, ou por a área em 

questão  não  reunir  as  condições  de  temperatura,  topografia  e/ou  de  tipo  de  solo,  não 

permitindo a ocorrência de novas fracturas. 

A  caracterização  topológica baseada na variável Número de Vizinhos apresenta para 

todas as 36 redes uma média de 4 vizinhos por polígono, embora exista uma grande amplitude 

de valores, variando estes entre 2,33 (A33) e 5,815 (A8). Observa‐se também que o Número de 

Vizinhos é maior com o aumento do número de polígonos da rede (Figura 5‐2). De acordo com 

Weaire (1974 ) e Pina et al. (2008), o Número de Vizinhos tem a tendência para aproximar‐se 

de 6 com o  incremento do número de polígonos,  isto por ser o valor determinado por uma 

rede infinita trivalente. Esta tendência verifica‐se para as redes de Adventdalen, suportada por 

84% destas apresentarem uma natureza trivalente. 

 

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Figura 5‐2 Relação entre o número de polígonos por rede poligonal e o Número de Vizinhos para as redes de Adventdalen 

 

Outro  resultado  interessante  que  a  análise  descritiva  permitiu  observar,  revelou‐se 

analisando a distribuição espacial dos valores médios dos valores de dimensão e de forma de 

cada  uma  das  redes,  permitindo  observar  uma  diferenciação  espacial  entre  as  redes  de 

polígonos  a  Oeste  e  as  redes mais  a  Este  (Figura  5‐3  e  Figura  5‐4).  Esta  divisória  situa‐se 

sensivelmente no sector central do vale, dividindo as redes em dois grupos, formando mais a 

Oeste um  sector  constituído por 15  redes,  totalizando 5038 polígonos e outro, mais a Este, 

com 4182 polígonos distribuídos por 21 redes. 

 

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Figura 5‐3 Variação espacial da variável Área das redes poligonais de Adventdalen 

 

A Figura 5‐3 e a Figura 5‐5 permitem observar a variação espacial dos valores médios 

da variável Área, é perceptível que o sector mais a Oeste apresenta uma maior assimetria de 

tamanho dos polígonos que constituem as redes, em que 3 das suas redes apresentam os 3 

maiores registos e a maioria das restantes representam as médias mais baixas. O sector a Este 

tem uma distribuição mais uniforme da Área média dos polígonos, observando‐se que as redes 

em termos de área têm tamanhos médios semelhantes e não sofrem grandes oscilações.  

 

 

Figura 5‐4 Variação espacial da variável Compacidade das redes poligonais de Adventdalen  

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Outra variável em que a diferenciação das redes é visível é a Compacidade. Analisando 

a distribuição do parâmetro é evidente a separação entre os dois sectores, verificando‐se que 

o sector Este apresenta valores médios de compacidade mais elevados que o sector a Oeste 

(Figura 5‐4 e Figura 5‐5). De  referir, que  tendo em conta  todo o espectro do parâmetro, os 

valores apresentados para a zona Este são bastante elevados, indicando que estes apresentam 

uma forma globalmente mais compacta e um pouco mais arredondada. 

  

 

Figura  5‐5  Diferenciação  espacial  das  redes  poligonais  (A1  a  A36)  de  Adventdalen  reflectida  nos parâmetros Área e Compacidade. 

 

Relativamente à variável topológica Número de Vizinhos, de acordo com a distribuição 

dos valores médios (Tabela 5‐3) não existe uma diferença evidente entre os sectores Oeste e 

Este,  apresentando  ambas  uma  distribuição  heterogénea  e  valores médios  de  Número  de 

Vizinhos por polígono de 4,5 para o sector Oeste e 3,8 para o sector Este. Já a variável Número 

de Vértices Tetravalentes apresenta valores médios mais elevados para o sector Oeste, em que 

20% dos vértices são  tetravalentes, sendo que para o sector a Este os mesmos representam 

13% dos casos. Uma maior frequência de vértices tetravalentes, para o sector Oeste, expressa 

uma actividade contínua da fracturação por contracção térmica na subdivisão progressiva do 

polígono  (Ulrich  2011),  formando  polígonos  de  forma  regular  e  de  menores  dimensões 

(Lanchenbruch 1966), o que  se  verifica para a maioria deste  sector  (ver  Figura 5‐3 e  Figura 

5‐5).  

0,78

0,79

0,8

0,81

0,82

0,83

0,84

0,85

0,86

0,87

0,88

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1600Área média (m²)Compacidade Oeste Este

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5.2.2. Análisegeoecológicadadiferenciaçãoespacialmorfométrica

Mediante a observação da diferenciação espacial mencionada no subcapítulo anterior, 

procedeu‐se  à  análise  de  possíveis  variações  geoecológicas  ao  longo  de  Adventdalen  que 

expliquem a diferenciação morfométrica encontrada. Para tal, foi realizada a análise estatística 

descritiva das variáveis geoecológicas para as 36 redes poligonais, mostrando a Tabela 5‐4 os 

valores médios para cada um dos  sectores. A análise dos valores aponta  também para uma 

distinção das variáveis geoecológicas ao longo do vale. 

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Tabela 5‐4 Áreas médias das variáveis geoecológicas nas redes de polígonos dos sectores Oeste e Este de Adventdalen 

Sector  Oeste 

Sector Este 

Geologia % 

Depósitos fluviais e fluvioglaciários  61,77  0,69 

Formação Rurikfjellet: argilito e siltito, arenito na zona superior  1,91  27,05 

Depósitos marinhos costeiros  35,29  0 

Formação Firkanten: arenito, siltito e argilito, com camadas carboníferas  1,03  0 

Formação Helvetiafjellet: arenito, siltito e argilito limitados, carvão pontualmente 

0  4,76 

Formação Agardhfjellet: argilito negro e siltito, algum arenito na zona inferior  0  64,26 

Formação De Geerdalen: arenito e argilito  0  0,95 

Formação Knorringfjellet: arenito, argilito e conglomerado  0  2,29 

Geomorfologia % 

Material fluvial, pré‐recente  67,43  0,14 

Material fluvial, recente  24,33  12,65 

Pingo  5,4  0 

Material fluvioglaciário  0  22,04 

Material de solifluxão  2,27  18,27 

Till  0,22  13,23 

Material de meteorização (crioclastia), autóctone  0  31,98 

Material de meteorização (crioclastia), alóctone  0  1,55 

Material de depósitos eólicos  0,3  0,13 

Material marinho, material de praia  0,05  0 

Exposição % 

Este  7,06  0,31 

Nordeste  12,64  0,66 

Noroeste  14,46  19,86 

Norte  14,86  21,55 

Oeste  17,5  8,76 

Sudeste  5,38  6,47 

Sudoeste  19,31  16,86 

Sul  8,8  25,55 

  Curvatura % 

Côncavo  46,94  49,10 

Convexo  51,38  50,31 

Plano  1,68  0,59 

Outras (valor médio) 

Altitude (m)  11,52  131,54 

Declive (º)  1,16  5,58 

SWI (escala numérica)  15,88  11,88 

TRI (escala numérica)  0,5  2,21 

Distância às linhas de água (m)  580,03  614,57 

 Distância ao mar (m)  4878,12  17169,15 

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O sector a Oeste  localiza‐se mais próximo da  linha de costa e na zona mais plana do 

vale, tendo uma altitude média a de cerca de 10m, estando as redes  intercaladas na rede de 

drenagem, que neste sector é mais densa. De acordo com Sørbel & Tolgensbakk  (2002) para 

esta secção, onde os polígonos se encontram mais próximos do nível do mar, a sua idade deve 

ser  relativamente  nova,  dado  que  estas  áreas  só muito  recentemente  emergiram  devido  à 

ocorrência de um ressalto  isostático, quando o nível do mar desceu para a posição actual há 

cerca  de  4300  anos  (Lønne  &  Nemec  2004).  Em  termos  geológicos  as  redes  deste  sector 

desenvolvem‐se  em  depósitos  do  Quaternário,  essencialmente  não  consolidados marinhos 

costeiros  (35%)  ou  fluviais  e  fluvioglaciários  (62%)  (Major  et  al.  2001).  Em  termos 

sedimentológicos,  os  depósitos  marinhos  costeiros  apresentam  uma  grande  variedade 

granulométrica, podendo  ser  constituídos por  argila,  silte,  areias  e  cascalho  (Major & Nagy 

1972). Os depósitos fluviais e fluvioglaciários são muito similares entre si (Sørbel et al. 2001), e 

constituídos por material ordenado de areia, cascalho e no caso dos fluviais, podendo conter 

seixos rolados (Sørbel et al. 2001). Relativamente à exposição do terreno, as redes apresentam 

uma primazia pelas orientações Sudoeste (19%) e Oeste (18%).   

Relativamente ao sector Este, as condições geoecológicas distinguem‐se das do sector a Oeste, 

apresenta maiores valores médios de altitude  (132m) e declives mais acentuados  (média de 

6º). Embora muitos polígonos sejam encontrados em Svalbard com declives até 25° (Sørbel & 

Tolgensbakk  2002),  este  factor,  juntamente  com  uma maior  rugosidade  do  terreno,  pode 

contribuir  para  um menor  número  de  polígonos  neste  sector.  A  exposição  dos  polígonos 

denota uma preferência pelas orientações Sul, Norte e Noroeste, que deverá estar relacionada 

com a própria orientação do vale. A maior altitude deste sector contribui  também para que 

não exista deposição Quaternária, essencialmente fluvial, e as unidades geológicas presentes 

são  a  Formação Agardhfjellet  a  uma  altitude mais  elevada  (64%)  e  a  Formação  Rurikfjellet 

(27%), para as altitudes mais baixas deste sector. Estas representam uma sequência marinha 

de argilito pertencente ao subgrupo Janusfjellet, com idades compreendidas entre o Jurássico 

Médio  (168,3 Ma)  e  o  Cretácico  Inferior  (129,4 Ma)  (Dallmann  et  al.  2001).  As  litologias 

presentes nas duas formações são argilito, siltito e arenito, sendo que as quantidades de siltito 

e arenito apresentam uma relação proporcional com a altitude (Major & Nagy 1972), portanto 

maiores  na  Formação  Agardhfjellet.  Para  as  altitudes  mais  elevadas  de  Adventdalen,  os 

polígonos em termos geomorfológicos ocorrem principalmente em material de meteorização 

(crioclastia), autóctone, e de acordo com Sørbel & Tolgensbakk 2002, o desenvolvimento de 

polígonos neste material  só ocorre onde o  leito  rochoso subjacente é de  Idade Cretácica ou 

mais  antiga,  tal  como  se  verifica  para  esta  secção.  A  unidade  material  de  meteorização 

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autóctone representa sedimentos que não foram afectados por processos gravíticos (Sørbel et 

al. 2001). 

A análise sedimentológica das redes poligonais (Lanchenbruch 1966) veio demonstrar 

relações  com  a  variação  granulométrica  e  o  estágio  de  desenvolvimento  da  rede, 

concretamente, uma correlação positiva entre a dimensão do detritos e a dimensão das redes, 

onde  locais com maior composição de depósitos de granulometria  fina apresentam padrões 

mais pequenos e regulares.  Isto vai ao encontro do observado na Figura 5‐5, em que para o 

sector Oeste, a dimensão média dos polígonos apresenta valores mais baixos (excluindo a A1 e 

a  A2  que  são  redes  poligonais  anormalmente  grandes  para  a  espectro  existente  em 

Adventdalen), e apoiado pelos estudos sedimentológicos efectuados por Ulrich (2011), Oliva et 

al.  (2014)  para  redes  poligonais  em  Adventdalen.  Estes  sugerem  que  no  sector  Oeste,  os 

polígonos desenvolvem‐se em  sedimentos de natureza mais  siltosa e de granulometria mais 

homogénea,  enquanto  para  o  sector  Este  apresentam  materiais  de  granulometria  mais 

grosseira e heterométrica, constituídos por areia e cascalho.  

 

5.3. Classificação e caracterização dos grupos morfométricos de

redesdepolígonos

5.3.1. Classificaçãomorfométricadasredesdepolígonos

 

a) Análise em Componentes Principais 

Não são conhecidos estudos de classificação das redes de polígonos terrestres no que 

respeita  à  sua morfometria.  Procurou‐se,  neste  capítulo,  criar  grupos  que  espelhassem  as 

semelhanças morfométricas  entre  as  36  redes  poligonais  identificadas  em  Adventdalen.  O 

primeiro  passo  consistiu  em  identificar,  de  entre  a  totalidade  das  variáveis morfométricas 

estudadas, quais as que mais contribuem para a definição de diferentes grupos baseados na 

similaridade morfométrica  de  cada  uma  das  redes  poligonais,  através  da  aplicação  de  uma 

análise factorial para o conjunto de valores médios das 36 redes. 

 

 

 

 

 

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Tabela 5‐5 A) Resultados da análise factorial para os grupos morfométricos de Adventdalen. A) Valores próprios da matriz de correlação amostral, juntamente com a proporção de variância explicada por cada factor e a proporção de variância acumulada pelos  factores, B) Matriz dos  loadings,  indicando o peso de cada variável para cada factor 

 

A) Variação total

explicada B)

Matriz dos factores após rotação

Factor 

Valores Próprios 

  

Factor 

Total % da 

Variância Cumulativo 

%   1  2  3 

1  5,96  45,83  45,83  Área  ,95  ,09  ,18 

2  3,57  27,44  73,28  Eixo Médio  ,97  ,04  ,24 

3  1,70  13,09  86,37  Eixo Menor  ,95  ,00  ,28 

4  ,86  6,65  93,02  Eixo Maior  ,97  ,06  ,21 

5  ,65  4,98  97,99  Perímetro  ,97  ,05  ,22 

6  ,23  1,78  99,77  Alongamento  ‐,63  ‐,47  ,39 

7  ,03  ,21  99,98  Compacidade  ‐,46  ‐,66  ,56 

8  ,00  ,01  99,99  Circularidade  ‐,45  ‐,66  ,56 

9  ,00  ,00  100,00  Vértices  ‐,36  ,82  ,42 

Método de extração: Análise de Componentes Principais. 

Vert3  ‐,21  ,61  ,62 

Vert4  ‐,40  ,69  ‐,17 

Vert5  ‐,18  ,44  ,11 

Vizinhos  ‐0,41  0,86  0,25 

 

 

Os  três  primeiros  factores  cumulativamente  correspondem  a  86%  da  variância 

morfométrica total, sendo que o primeiro equivale a 45,83%, o segundo a 27,44% e o terceiro 

a 13,09%, o que  reflecte uma elevada capacidade explicativa  (Tabela 5‐5 A). De acrescentar 

que  os  dois  primeiros  factores  revelam  uma maior  afinidade  por  dois  tipos  de  parâmetros 

morfométricos, os de dimensão e os topológicos (Tabela 5‐5 B). O primeiro factor, de acordo 

com o peso atribuído às diferentes variáveis, apresenta  scores  fortemente positivos para as 

variáveis de dimensão  (superiores a 0,9)  (Figura 5‐6), e deste modo pode‐se afirmar que os 

parâmetros dimensionais são os que mais contribuem para a definição dos diferentes grupos 

morfométricos. 

O segundo factor apresenta uma maior  influência dos parâmetros topológicos, sendo 

que as variáveis número de vértices e número de vizinhos são as que mais contribuem para a 

definição  do  factor,  com  pesos  superiores  a  0,80  (Figura  5‐6).  As  outras  variáveis  que 

contribuem também positivamente são o número de vértices trivalentes seguido dos vértices 

tetravalentes. 

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Figura 5‐6 Gráfico de projecção das variáveis para os 2 primeiros factores resultantes do método de Análise de Componentes Principais 

Relativamente  ao  terceiro  factor  principal,  observa‐se  que  são  os  parâmetros  de 

forma, circularidade (0,56) e compacidade (0,56), juntamente com os vértices trivalentes (0,62) 

que têm o maior peso. 

 

b) Análise hierárquica ascendente 

Com o objetivo de classificar as  redes segundo as suas características morfométricas 

procedeu‐se  à análise hierárquica para os  valores médios de  cada uma das áreas de  redes, 

resultando um dendrograma que exprime o grau de similaridade morfométrico dentro e entre 

os agrupamentos naturais formados do conjunto das 36 áreas de redes (Figura 5‐7). 

O  dendrograma  resultante  permite  observar  diversos  níveis  de  agrupamentos  até  à 

distância de ligação 25, expressando a relação morfométrica entre todas as redes poligonais. A 

escolha da medida de distância mais adequada para formar os clusters morfométricos baseou‐

se  na  análise  das  relações  entre  os  agrupamentos  e  respectivo  número  de  redes  que  os 

constitui, e com a premissa de evitar que a separação entre os agrupamentos corresponda a 

grandes distâncias de  ligação para não perder  a  identidade morfométrica, ou que  reflictam 

uma homogeneidade  interna muito grande  impossibilitando um diferenciação morfométrica. 

Por tal, decidiu‐se cortar o dendrograma à distância de ligação 5, formando uma classificação 

das 36 redes em 6 grupos morfométricos (Figura 5‐7). 

A  descrição  estatística  das  redes  (Tabela  5‐6)  permite  verificar,  tal  como  a  análise 

factorial  indicou,  que  para  a  classificação  morfométrica  obtida,  os  principais  critérios  de 

diferenciação são os parâmetros de dimensão. Esta diferenciação é explícita nos dois maiores 

agrupamentos  representados  no  dendrograma  (Figura  5‐7)  à  distância  de  ligação  25.  O 

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agrupamento  na  zona  inferior  (Tipo  A)  do  dendrograma  é  constituído  pelos  grupos 

morfométricos 3 e 4, apresentando valores de dimensão média dos polígonos das  redes de 

336  e  167  m2  respectivamente,  contrastando  com  o  agrupamento  superior  (Tipo  B), 

constituído  pelos  grupos  morfométricos  1,  2,  5  e  6,  que  apresentam  dimensões  médias 

superiores  a  500m2.  No  próximo  subcapítulo  serão  analisadas  com  mais  detalhe  as 

características morfométricas de cada grupo e a sua distribuição espacial.  

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Figura 5‐7 Dendrograma de similaridade morfométrica para as 36 redes poligonais de Adventdalen, calculado pelo método de Ward, com base numa matriz de distâncias euclidianas. A linha vermelha representa o corte à distância de ligação 5 definindo 6 clusters 

morfométricos (GM1 a GM6) 

 

 

GM1 

GM2 

GM3 

GM4 

GM6 

GM5 

Agrupamento  de  redes 

poligonais  de  menores 

dimensões (Tipo A)  

Área média <350m2 

Agrupamento de redes 

poligonais  de maiores 

dimensões (Tipo B) 

Área média > 450m2 

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5.3.2. Caracterizaçãodosgruposmorfométricosderedesdepolígonos

A Tabela 5‐6 e a Figura 5‐9 descrevem as características morfométricas e geoecológicas 

para  cada  um  dos  grupos  morfométricos.  A  distribuição  espacial  das  redes  poligonais 

classificadas para cada grupo morfométrico está representada na Figura 5‐8. 

GrupoMorfométrico1(GM1):

O grupo morfométrico 1 é constituído por apenas duas redes, uma com 39 e a outra 

com 53 polígonos, apresentando as redes poligonais de maiores dimensões, com a média de 

Área superior a 1400m2. Os polígonos destas redes podem ser designados por gigantes, tendo 

em conta o espectro dimensional para Adventdalen, apresentando uma Área média superior a 

1400m2. O tamanho dos polígonos que definem o grupo reflecte‐se nos parâmetros de forma, 

com valores baixos,  indicando baixas circularidade e compacidade. O número de vizinhos por 

polígono  para  este  grupo  é  o mais  baixo,  podendo  indicar  que  os  polígonos  são  bastante 

recentes não existindo ainda uma fracturação secundária, ou então, encontram‐se numa zona 

em  que  os  polígonos  não  estão  activos  ou  têm menor  actividade. O  trabalho  de  Sørbel & 

Tolgensbakk  (2002), afirma que para as áreas mais costeiras, onde o permafrost foi formado 

mais  recentemente,  os  polígonos  são mais  novos,  dando  força  à  hipótese  sugerida  de  as 

dimensões  maiores  dos  polígonos  e  respectivo  baixo  número  de  vizinhos  deste  grupo 

morfométrico  se  dever  a  uma  idade mais  recente  dos  polígonos  (a  Figura  5‐8  evidencia  a 

localização costeira do GM1). 

  Este grupo, por  ser o mais próximo da  linha de costa é  também o mais ocidental, e 

sujeito a maior controlo climático. Apresenta também vários outros  factores que o distingue 

dos demais, nomeadamente a menor altitude, ~6m, e a menor declividade, ~0,6°. Por outro 

lado apresenta os maiores valores de teor de SWI e maior percentagem de superfície plana, 

2,25% (Figura 5‐9). Localizado na extremidade Oeste do vale, os polígonos  localizam‐se sobre 

depósitos do Quaternário de proveniência costeira ou  fluvial, sendo estes últimos de origem 

pré‐recente,  ou  seja,  depósitos  localizados  em  superfícies  sem  condições  fluviais  activas 

presentemente (Dallmann et al. 2001, Sørbel et al. 2001). 

 

 

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Tabela 5‐6 Estatística descritiva dos parâmetros morfométricos para os 6 grupos morfométricos de redes de polígonos de Adventdalen, definidos na análise hierárquica 

Variáveis morfométricas

N redes

Área Eixo

Médio Eixo

Menor Eixo

Maior Perímetro Alongamento Compacidade Circularidade Vértices Vert3 Vert4 Vert5 VIZINHOS

Gru

po M

orfo

mét

rico

GM1

Min 

1406,56 40,83 32,69 48,96 141,92 0,63 0,80 0,65 3,40 2,66 0,74 0,00 4,13

Max  1427,04 44,38 34,32 54,45 153,30 0,67 0,83 0,70 3,51 2,69 0,82 0,00 4,33

Média  1416,80 42,60 33,51 51,70 147,61 0,65 0,82 0,67 3,45 2,68 0,78 0,00 4,23

Desvio Padrão  14,48 2,52 1,15 3,88 8,05 0,03 0,02 0,03 0,08 0,02 0,06 0,00 0,14

GM2

Min 

12 

443,09 23,81 19,41 28,21 82,85 0,65 0,82 0,68 2,48 1,84 0,09 0,00 2,72

Max  552,55 26,92 22,09 31,87 91,83 0,71 0,87 0,76 4,49 4,02 0,88 0,03 4,96

Média  499,83 25,39 20,52 30,27 87,22 0,69 0,85 0,72 3,40 2,93 0,47 0,00 3,88

Desvio Padrão  34,37 1,00 0,96 1,17 3,19 0,02 0,01 0,02 0,63 0,60 0,22 0,01 0,73

GM3

Min 

288,88 19,68 15,36 23,93 68,31 0,66 0,83 0,69 3,43 2,87 0,46 0,00 4,00

Max  376,75 22,39 18,30 26,47 77,24 0,72 0,86 0,74 4,73 4,16 1,16 0,02 5,69

Média  336,58 20,93 16,84 25,02 72,16 0,69 0,85 0,72 4,13 3,38 0,75 0,00 4,89

Desvio Padrão  37,66 1,09 1,16 1,06 3,41 0,02 0,01 0,02 0,49 0,46 0,31 0,01 0,69

GM4

Min 

99,10 11,61 9,48 13,74 39,79 0,70 0,84 0,71 2,90 2,48 0,41 0,00 3,31

Max  226,92 17,15 13,60 20,70 60,32 0,72 0,86 0,75 4,48 3,32 1,43 0,03 5,82

Média  167,30 14,44 11,76 17,12 49,93 0,71 0,85 0,73 3,68 2,78 0,90 0,01 4,60

Desvio Padrão  49,44 2,10 1,56 2,65 7,88 0,01 0,01 0,01 ,69 ,33 0,41 0,01 1,10

GM5

Min 

737,82 30,29 24,95 35,60 103,03 0,66 0,85 0,72 3,11 2,64 0,34 0,00 3,54

Max  975,61 34,45 26,87 42,04 116,64 0,70 0,85 0,73 4,16 3,71 0,48 0,00 4,60

Média  801,30 31,84 25,50 38,18 108,03 0,68 0,85 0,73 3,43 3,00 0,42 0,00 3,85

Desvio Padrão  116,27 1,81 0,92 2,74 5,94 0,02 0,00 0,00 ,50 ,50 0,06 0,00 0,50

GM6

Min 

582,98 27,83 22,43 33,15 94,78 0,67 0,83 0,70 2,17 2,02 0,11 0,00 2,33

Max  646,58 28,88 23,62 35,01 100,66 0,72 0,87 0,75 4,39 3,62 0,73 0,04 5,20

Média  617,31 28,37 22,82 33,92 97,34 0,69 0,85 0,73 3,23 2,86 0,37 0,01 3,61

Desvio Padrão  21,80 0,40 0,48 0,61 1,95 0,02 0,01 0,02 0,80 0,61 0,24 0,01 1,03

 

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  Figura 5‐8 Distribuição das redes de polígonos classificadas em grupos morfométricos ao longo de Adventdalen e áreas totais ocupadas pelos polígonos de cada GM para os sectores Oeste 

e Este do vale. 

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GrupoMorfométrico2(GM2):

O grupo morfométrico 2  integra 12  redes de polígonos,  sendo por  isso o grupo que 

inclui o maior número de redes e, dentro do Tipo B (agrupamento de maiores dimensões), é o 

que tem menores dimensões, apresentando valores médios para a variável Área de 500m2. A 

Figura 5‐8 mostra uma predominância das redes poligonais deste grupo no sector Este do vale. 

Os  valores  da  análise  descritiva  indicam  uma  grande  heterogeneidade  dos  valores  das 

variáveis,  que  pode  dever‐se  ao  elevado  número  de  redes  que  constitui  o  grupo.  Os 

parâmetros  de  forma mostram  uma  grande  amplitude,  indicando  que  os  polígonos  destas 

redes  apresentam  formas  variadas,  desde  o  mais  compacto  e  circular,  ao  mais  alongado 

(alongamento ‐ 0,65 a 0,71; compacidade ‐ 0,82 a 0,87; circularidade ‐ 0,68 a 0,76). Igualmente 

se observa esta amplitude de valores para outros parâmetros, como é o caso do número de 

vértices  trivalentes  (1,84‐4,02),  em  que  este  grupo  apresenta  os  valores mínimo  e máximo 

mais  baixo  e  mais  elevado,  respectivamente,  de  todos  os  grupos  morfométricos.  A 

heterogeneidade  deste  grupo morfométrico  torna  difícil  distingui‐lo  dos  demais,  sendo  as 

variáveis de dimensão as que melhor o caracterizam e definem.  

  Do ponto de vista geoecológico a heterogeneidade continua a persistir, apresentando 

uma  grande  variedade  de  unidades  geológicas  como  (Figura  5‐9).  A  Formação  geológica 

Agardhfjellet é a mais representativa do grupo, estando presente para as redes mais a Este (9 

redes) (como analisado no capítulo 5.2.2) juntamente com a unidade geomorfológica material 

de  meteorização  autóctone.  Já  para  o  sector  Oeste  (3  redes)  as  unidades  geológicas  são 

representadas por depósitos marinhos e fluviais, que de acordo com o mapa geomorfológico 

são constituídos por material fluvial pré‐recente e recente (materiais localizados nas planícies 

e  leques  aluviais  activos  (Sørbel  et  al.  2001)).  A  exposição  para  os  polígonos  deste  grupo 

apresenta  uma  predominância N  ‐ NW,  relevante  no  sentido  que  as  superfícies  com maior 

exposição N têm, em média para Adventdalen, uma temperatura do ar menor em 2,6°C que as 

superfícies com exposição predominantemente para Sul (Armbruster et al. 2007). 

   

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Figura 5‐9 Representação gráfica e descritiva das variáveis geoecológicas para cada um dos grupos morfométricos 

      Curvatura     

Altitude (m) 5,64 15,87 845,21

Declive (º) 0,63 0,31 2423,28

Altitude (m) 105,11 12,76 614,62

Declive (º) 5,25 2,06 14309,70

Altitude (m) 32,94 15,53 369,44

Declive (º) 1,80 0,76 7862,98

             Geologia Geomorfologia         ExposiçõesGM 1

Distância às linhas de água

Distância ao mar (m)TRI (escala)

SWI (escala)

SWI (escala)

TRI (escala)

GM 2

Distância às linhas de água

Distância ao mar (m)

GM 3

Distância às linhas de água

Distância ao mar (m)

SWI (escala)

TRI (escala)

Depósitos marinhos costeiros (DM)

Depósitos fluviais e gláciofluviais (DF)

Formação Carolinefjellet: arenito, siltito e argilito (FC)

Formação Helvetiafjellet: arenito, siltito e argilitolimitados, carvão pontualmente (FH)

Formação Rurikfjellet: argilito e siltito, arenito nazona superior (FR)

Formação Agardhfjellet: argilito negro e siltito,algum arenito na zona inferior (FA)

Formação Knorringfjellet: arenito, argilito econglomerado (FK)

Formação De Geerdalen: arenito e argilito (FG)

Unidades Geológicas:

Material de meteorização (crioclastia),autóctone W(aut)Material de meteorização (crioclastia),alóctone (Wall)

Till (Till)

Material de solifluxão (MS)

Material fluvial, recente (MFr)

Material fluvial, pré-recente (MFpr)

Material fluvioglaciário (Mfg)

Material de depósitos eólicos (Mde)

Unidades Geomorfológicas:

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      Curvatura     

Altitude (m) 46,92 14,60 421,68

Declive (º) 1,50 0,64 9574,23

Altitude (m) 59,25 14,60 798,56

Declive (º) 2,73 1,11 10907,21

Altitude (m) 141,78 11,57 709,48

Declive (º) 5,71 2,25 16946,29

GM 6

SWI (escala) Distância às linhas de água (m)

TRI (escala) Distância ao mar (m)

GM 5

SWI (escala) Distância às linhas de água (m)

TRI (escala) Distância ao mar (m)

             Geologia Geomorfologia         ExposiçõesGM 4

SWI (escala) Distância às linhas de água (m)

TRI (escala) Distância ao mar (m)

 

                                   

        

Figura 5‐9 Representação gráfica e descritiva das variáveis geoecológicas para cada um dos grupos morfométricos (continuação)

Depósitos marinhos costeiros (DM)

Depósitos fluviais e gláciofluviais (DF)

Formação Carolinefjellet: arenito, siltito e argilito (FC)

Formação Helvetiafjellet: arenito, siltito e argilitolimitados, carvão pontualmente (FH)

Formação Rurikfjellet: argilito e siltito, arenito nazona superior (FR)

Formação Agardhfjellet: argilito negro e siltito,algum arenito na zona inferior (FA)

Formação Knorringfjellet: arenito, argilito econglomerado (FK)

Formação De Geerdalen: arenito e argilito (FG)

Unidades Geológicas:

Material de meteorização (crioclastia),autóctone W(aut)Material de meteorização (crioclastia),alóctone (Wall)

Till (Till)

Material de solifluxão (MS)

Material fluvial, recente (MFr)

Material fluvial, pré-recente (MFpr)

Material fluvioglaciário (Mfg)

Material de depósitos eólicos (Mde)

Unidades Geomorfológicas:

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GrupoMorfométrico3(GM3):

O  grupo  morfométrico  3  está  inserido  no  agrupamento  das  redes  de  menores 

dimensões (Tipo A) e é o que apresenta uma Área média maior (337m2) dentro do mesmo. É 

constituído por 6 redes poligonais,  localizadas maioritariamente no sector Oeste (Figura 5‐8), 

encontrando‐se apenas uma delas no sector Este. As variáveis de  forma apresentam valores 

médios muito semelhantes aos  restantes GM  (exceptuando o GM1),  indicando que as  redes 

são muito  semelhantes  entre  si. Relativamente  aos  parâmetros  topológicos  verifica‐se  que, 

entre todos os GM, é o que tem maiores valores médios de 3 variáveis, o número de vértices 

por polígono (4,13), o número de vértices trivalentes (3,38) e o número de vizinhos (4,89). Estes 

resultados sugerem uma concordância com a  interpretação descrita no subcapítulo 5.1.1, em 

que Weaire 1974, Pina et al. 2008 afirmam que o Número de Vizinhos tem a tendência para 

aproximar‐se  de  6  com  o  incremento  do  número  de  polígonos,  isto  por  ser  o  valor 

determinado por uma rede infinita trivalente. 

  Das variáveis ambientais estudadas salienta‐se a unidade geológica depósitos fluviais e 

gláciofluviais, estando presente em 67% dos polígonos deste grupo  (Figura 5‐9), sendo estes 

maioritariamente de origem fluvial pré‐recente (66%). Espacialmente é o GM que se encontra 

mais intricado na rede de linhas de água do vale (Figura 5‐8) e apresenta valores elevados de 

teor de humidade no solo (Figura 5‐9). 

 

GrupoMorfométrico4(GM4):

Comparando  com  todos  os  grupos  morfométricos,  o  GM4  apresenta  valores 

dimensionais muito baixos (Tabela 5‐6), com uma Área média de 167,3 m2, e um Perímetro de 

quase  50m.  A  reduzida  dimensão  dos  polígonos  reflecte‐se  nos  outros  dois  parâmetros 

morfométricos,  os  de  forma  e  os  topológicos.  Para  as  variáveis  de  forma  (alongamento, 

compacidade e circularidade) os valores médios são dos mais elevados e denotam uma maior 

homogeneidade  e  consequente  menor  variabilidade  dos  polígonos.  Para  os  parâmetros 

topológicos este GM é o que apresenta o maior número de vértices tetravalentes por polígono 

(1,43). A  relação de valores descrita é alusiva ao modelo definido por Lanchenbruch 1966 e 

French 2007, e expressa que a fracturação progressiva nas redes deste GM formou polígonos 

cada  vez  mais  pequenos,  mais  compactos  e  circulares,  originando  redes  de  padrão  mais 

regular e ortogonal e uma maior frequência de vértices tetravalentes. 

No que respeita à área total ocupada existe um claro predomínio da distribuição para 

o sector Oeste, constituído por 3 das 5 redes pertencentes a este grupo (Figura 5‐8). 

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  Relativamente  às  variáveis  ambientais este  grupo,  em  termos  gerais, é  concordante 

com os restantes grupos com redes predominantes no sector Oeste (GM1 e GM3), revelando 

baixa altitude, declive e rugosidade do terreno. As unidades geológicas predominantes são os 

depósitos fluviais e gláciofluviais e os depósitos marinhos costeiros (Figura 5‐9). Relativamente 

à curvatura do terreno este é o GM com maior percentagem de superfícies côncavas (~60%). 

 

GrupoMorfométrico5(GM5):

O grupo morfométrico 5 é composto por 4 redes de polígonos, sendo o grupo com a 

segunda maior Área média  (800m2),  e  é  também  dos mais  homogéneos,  denotando muita 

pouca variabilidade para os parâmetros de  forma e  topologia. Quanto à  forma, a Tabela 5‐6 

indica que os polígonos  deste GM  têm uma  circularidade  e  compacidade  alta,  com  valores 

médios de 0,85 e 0,73,  respectivamente. Os parâmetros  topológicos, em  geral,  apresentam 

valores com muito pouca variabilidade (Tabela 5‐6).  

  Espacialmente  este  GM  apresenta  duas  redes  em  cada  sector  e  localiza‐se 

exclusivamente na margem direita do  rio  (Figura 5‐8), portanto nos  terraços Norte do vale, 

conferindo uma exposição predominantemente orientada para Sul (~42%) e Sudoeste (~40%) 

(Figura 5‐9). Neste caso, ao contrário do GM2, estas exposições contribuem para um aumento 

médio da temperatura localmente de cerca de 2,6°C, chegando a verificar‐se em certas zonas 

uma diferença térmica de 6,6° para declives com exposição para Sul (Armbruster et al. 2007). 

Geologicamente, as redes deste GM distribuem‐se sobre a Formação Agardhfjellet no sector 

Este, e sobre depósitos fluviais e gláciofluviais a Oeste (Figura 5‐8 e Figura 5‐9). 

 

GrupoMorfométrico6(GM6):

O grupo morfométrico 6 é composto por 7 redes de polígonos e relativamente às suas 

propriedades  dimensionais,  verifica‐se  que  é  o  terceiro  grupo  com maior  Área média  dos 

polígonos  (617 m2)  com  a  característica de  apresentar  pouca  variabilidade  dimensional  dos 

polígonos que o constituem  (Mín. 583m2 ‐ Máx. 647m2)  (Tabela 5‐6). Quanto às variáveis de 

forma,  salienta‐se  que  tanto  a  compacidade  (0,87)  como  a  circularidade  (0.75)  apresentam 

valores máximos elevados relativamente aos outros GM. Por fim, para as variáveis topológicas, 

este  grupo  apresenta  uma  grande  variabilidade  do  número  de  vértices  e  de  vizinhos, 

apresentando para esta última variável o valor mínimo (2,33) mais reduzido, e o máximo (5,20) 

mais elevado de todos os GM. 

  As redes do grupo estão exclusivamente localizados no sector Este sendo o grupo com 

maior  continentalidade  (Figura  5‐8)  e  apresentam  preferência  pelas  formações  geológicas 

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Agardhfjellet (55%) e Rurikfjellet (29%). Comparativamente com todos os outros grupos, tem a 

maior  percentagem  de  superfície  convexa  (58%),  maior  altitude  média  (141m)  e  declive 

(5,71°), e inversamente tem o menor índice de teor de humidade do solo (11,57) (Figura 5‐9). 

 

 

O mapeamento dos grupos morfométricos no fundo do vale Advent e a análise da sua 

distribuição espacial  (Figura 5‐8) destaca uma  relação de alguns grupos com a diferenciação 

espacial morfométrica Oeste e Este mencionada anteriormente.  

Começando pelo agrupamento do Tipo A (GM com polígonos de menores dimensões), 

verifica‐se que a distribuição do GM3 encontra‐se quase na  sua  totalidade no  sector mais a 

Oeste  (468.474m2) contabilizando 5 redes poligonais, e 1 rede mais a Este. Para o GM4 esta 

relação espacial não é tão evidente, visto que a zona Oeste tem 3 redes e o sector mais a Este 

tem apenas 2 redes. De salientar que estas duas últimas redes são constituídas por um número 

muito  reduzido  de  polígonos,  dando  maior  expressividade  ao  sector  Oeste  (Área  total  = 

530.885m2) como representativa das redes poligonais do Tipo A. 

Por  sua  vez,  o  agrupamento  do  Tipo  B  (GM  com  polígonos  de maiores  dimensões) 

demonstra uma preferência espacial diferente no conjunto dos grupos morfométricos que o 

constituem. Analisando caso a caso, o GM1, constituído pelos polígonos gigantes e com duas 

redes,  ocorre  somente  no  extremo  ocidental  do  vale.  As  redes  poligonais  do  GM2  estão 

localizadas na  sua maioria no  sector  Este  (9  redes),  estando  escassamente  representadas  a 

Oeste (3 redes), ocupando 823.711m2 e 197.816m2 respectivamente. Já o GM5 não apresenta 

uma  diferenciação  longitudinal  clara,  estando  as  suas  4  redes  equitativamente  distribuídas 

pelos  dois  sectores,  Este‐Oeste.  Por  fim,  o  GM6,  com  7  redes  poligonais,  apresenta  uma 

distribuição  espacial  exclusiva  a  Este,  ocupando  uma  área  total  de  874.760m2.  Resumindo, 

para os GM do Tipo B, no  sector Este  surgem 18  redes, enquanto no  sector Oeste ocorrem 

apenas 7. Verifica‐se deste modo uma predominância espacial das redes poligonais do Tipo B 

para o sector Este. 

A organização espacial dos tipos de redes pode revelar‐se importante na análise sobre 

a  existência  de  uma  relação  dos  diferentes  grupos  morfométricos  com  as  variáveis 

geoecológicas, e se estas exercem  influência no crescimento e na  forma dos polígonos. Esta 

questão será abordada a seguir. 

 

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5.4. Variáveis geoecológicas e a variabilidade morfométrica no

fundodeAdventdalen

5.4.1. Relaçãodosgruposmorfométricoscomasvariáveisgeoecológicas

Para  avaliar  o  efeito  de  cada  uma  das  variáveis  geoecológicas  na  classificação 

morfométrica  obtida  no  subcapítulo  5.3.1,  aplicou‐se  uma  análise  de  variância  (One‐way 

ANOVA), depois de sujeitar os dados a transformação logarítmica. Esta transformação permite 

obter uma distribuição mais  simétrica,  e  contribui para  a obtenção de melhores  resultados 

através de vários métodos de análise estatística  (Field 2005). A utilização da ANOVA permite 

uma avaliação objectiva do significado de cada variável, sendo mais que uma simples análise 

descritiva  das  médias,  constituindo  a  base  para  seleccionar  as  variáveis  a  aplicar, 

posteriormente numa análise discriminante. 

O resultado da ANOVA (Tabela 5‐7) mostra que todas as variáveis são estatisticamente 

significativas para a classificação morfométrica  (p < 0,05), pelo que a selecção de variáveis a 

utilizar  foi  feita  com  base  no  valor  estatístico  de  F.  Este  índice  é  a  razão  entre  a  variação 

explicada  pelo modelo  e  a  variação  explicada  pelos  factores  não  sistemáticos,  e menores 

valores de F (mais próximo de 0), por definição, representam um efeito não significativo (Field 

2005). Por esta razão e através da observação do intervalo de valores das variáveis, não foram 

incluídos na análise discriminante as variáveis com os menores valores de F (neste caso F < 10), 

respectivamente  as  variáveis  de  exposição  Este  e Noroeste,  e  as  referentes  à  curvatura  do 

terreno, convexo, côncavo e plano.  

Após a remoção das variáveis mencionadas da base de dados,  foi calculada a  função 

discriminante para 28 variáveis geoecológicas que caracterizam cada um dos 9220 polígonos, 

classificados  nos  6  grupos  morfométricos.  De  referir  que  o  processo  de  análise  excluiu 

automaticamente  duas  variáveis  do  modelo  (Material  marinho,  material  de  praia,  e  a 

Formação  Knorringfjellet),  de  modo  a  optimizar  a  discriminação.  O  resultado  da  análise 

permitiu  identificar funções baseadas na combinação  linear das variáveis com capacidade de 

previsão, fornecendo a melhor discriminação entre grupos.  

 

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Tabela 5‐7 Parâmetros estatísticos e resultados na análise de variância (One‐way ANOVA) das variáveis geoecológicas segundo os grupos morfométricos 

     

1 2 3 4 5 6 F p

Geologia % 

Depósitos fluviais e fluvioglaciários

Média  0,58 0,08 0,74 0,02 0,79 0,04 2054,89 0,00

D.P. 0,50 0,26 0,44 0,13 0,41 0,19

Depósitos marinhos costeiros Média 0,36 0,12 0,05 0,86 0,00 0,00 2479,85 0,00

D.P. 0,48 0,32 0,22 0,35 0,00 0,00

Formação Carolinefjellet: arenito, siltito e argilito

Média 0,07 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 127,28 0,00

D.P. 0,25 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

Formação Helvetiafjellet: arenito, siltito e argilito limitados, carvão pontualmente

Média 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,05 86,11 0,00

D.P. 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,22

Formação Rurikfjellet: argilito e siltito, arenito na zona superior

Média 0,00 0,14 0,00 0,07 0,00 0,32 339,26 0,00

D.P. 0,00 0,35 0,00 0,26 0,06 0,46

Formação Agardhfjellet: argilito negro e siltito, algum arenito na zona inferior

Média 0,00 0,67 0,21 0,02 0,21 0,60 580,90 0,00

D.P. 0,00 0,47 0,41 0,13 0,40 0,49

Formação Knorringfjellet: arenito, argilito e conglomerado

Média 0,00 0,00 0,00 0,03 0,00 0,00 44,88 0,00

D.P. 0,00 0,00 0,00 0,16 0,00 0,00

Formação De Geerdalen: arenito e argilito

Média 0,00 0,00 0,00 0,01 0,00 0,00 18,41 0,00

D.P. 0,00 0,00 0,00 0,10 0,00 0,00      

     

Geomorfologia 

Material fluvial, pré-recente Média  1,00 0,11 0,72 0,00 0,78 0,00 2049,71 0,00

D.P. 0,00 0,32 0,45 0,00 0,41 0,00

Material fluvial, recente Média 0,00 0,23 0,06 0,52 0,00 0,04 566,79 0,00

D.P. 0,00 0,42 0,24 0,50 0,05 0,19

Pingo Média 0,00 0,00 0,00 0,00 0,01 0,00 14,58 0,00

D.P. 0,00 0,00 0,00 0,00 0,11 0,00

Material fluvioglaciário Média 0,00 0,28 0,00 0,00 0,09 0,14 212,85 0,00

D.P. 0,00 0,45 0,00 0,00 0,29 0,35

Material de solifluxão Média 0,00 0,13 0,00 0,29 0,06 0,17 147,87 0,00

D.P. 0,00 0,34 0,00 0,45 0,24 0,38

Till Média 0,00 0,03 0,04 0,10 0,02 0,17 117,01 0,00

D.P. 0,00 0,16 0,19 0,30 0,13 0,38

Material de meteorização (crioclastia), autóctone

Média 0,00 0,21 0,14 0,04 0,03 0,48 378,56 0,00

D.P. 0,00 0,40 0,35 0,20 0,17 0,50

Material de meteorização (crioclastia), alóctone

Média 0,00 0,01 0,03 0,00 0,00 0,00 32,62 0,00

D.P. 0,00 0,08 0,18 0,00 0,00 0,06

Material de depósitos eólicos Média 0,00 0,00 0,00 0,04 0,00 0,00 49,56 0,00

D.P. 0,00 0,07 0,00 0,19 0,00 0,00

Material marinho, material de praia

Média 0,00 0,00 0,00 0,01 0,00 0,00 11,00 0,00

D.P. 0,00 0,00 0,00 0,08 0,00 0,00      

  

Exposição  

Norte Média  0,17 0,15 0,06 0,29 0,12 0,19 62,01 0,00

D.P. 0,38 0,36 0,23 0,45 0,33 0,39

Nordeste Média 0,20 0,05 0,82 0,23 0,08 0,01 94,12 0,00

D.P. 0,40 0,21 0,27 0,42 0,26 0,07

Este Média 0,10 0,16 0,47 0,08 0,05 0,01 26,19 0,00

D.P. 0,30 0,12 0,21 0,27 0,22 0,09

Sudeste Média 0,13 0,03 0,06 0,06 0,07 0,77 9,73 0,00

D.P. 0,34 0,18 0,24 0,24 0,26 0,27

Sul Média 0,05 0,20 0,15 0,02 0,17 0,26 52,00 0,00

D.P. 0,23 0,40 0,35 0,15 0,38 0,44

Sudoeste Média 0,04 0,24 0,22 0,04 0,21 0,17 40,20 0,00

D.P. 0,21 0,42 0,42 0,19 0,40 0,38

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69  

 

 

A  análise  determinou  cinco  funções  discriminantes  estatisticamente  significativas  e  respectivos 

valores próprios  (Tabela 5‐8). Estes valores representam o rácio da variação entre os grupos pela variação 

dentro  dos  grupos,  quanto mais  afastados  de  1, maior  é  a  variação  entre  grupos  explicada  pela  função 

discriminante. Deste modo observa‐se que a função 1 é responsável por 52% da variância dos dados entre 

grupos,  a  função  2  por  27%,  e  com  menor  discriminação,  as  funções  3,  4  e  5  com  11%,  7%  e  3%, 

respectivamente. 

Tabela  5‐8  Funções  discriminantes  resultantes  da  análise  discriminante  aplicada  às  variáveis  geoecológicas  dos  polígonos classificados segundo o grupo morfométrico 

Função Discriminante

Valores Próprios

% Cumulativo 

1  2,68  52,3  52,3 

2  1,38  27,1  79,4 

3  0,57  11,1  90,5 

4  0,34  6,6  97,1 

5  0,14  2,9  100,0 

 

Para determinar a relação entre uma variável e a respectiva função discriminante foram analisados 

os coeficientes canónicos estandardizados (Tabela 5‐9), dado que estes são os únicos que permitem avaliar a 

comparação  e  a  interpretação  dos  coeficientes  discriminantes  (Geraldo  2005). Os  coeficientes  canónicos 

Oeste Média 0,15 0,17 0,22 0,06 0,16 0,13 24,34 0,00

D.P. 0,36 0,38 0,41 0,24 0,36 0,33

Noroeste Média 0,15 0,15 0,17 0,22 0,14 0,16 6,40 0,00

D.P. 0,36 0,36 0,37 0,41 0,35 0,37   

  Curvatura  Côncavo

Média  0,55 0,49 0,42 0,51 0,43 0,43 9,72 0,00

D.P. 0,50 0,50 0,49 0,50 0,49 0,50

Convexo Média 0,42 0,50 0,56 0,46 0,54 0,56 8,19 0,00

D.P. 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50

Plano Média 0,02 0,01 0,02 0,03 0,03 0,01 8,88 0,00

D.P. 0,15 0,08 0,15 0,16 0,17 0,09               

Altitude (m) Média  5,55 106,64 41,85 23,40 26,38 130,72 1438,05 0,00

Outras (valor médio) 

D.P. 0,68 66,83 51,93 30,23 37,08 44,92

Declive (º) Média 0,66 4,15 2,08 1,35 1,01 4,94 637,67 0,00

D.P. 0,46 3,46 3,09 0,96 1,68 3,14

SWI (escala numérica) Média 15,83 13,37 15,13 15,02 16,12 12,22 906,50 0,00

D.P. 0,37 2,27 2,83 0,98 1,57 1,94

TRI (escala numérica) Média 0,32 1,63 0,86 0,57 0,42 1,95 640,22 0,00

D.P. 0,15 1,30 1,26 0,36 0,65 1,17

Distância às linhas de água (m) Média 835,67 553,67 421,27 562,05 484,99 678,08 161,23 0,00

D.P. 124,22 380,25 210,50 148,73 263,58 367,05

Distância ao mar (m) Média 2396,79 15159,76 9236,36 6268,68 6631,83 16810,71 1547,70 0,00

D.P. 186,28 5046,52 5458,98 4256,05 4885,40 2733,81      

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expressam a medida relativa da importância das variáveis geoecológicas, e quanto maior for o coeficiente de 

uma variável numa função, maior será a sua contribuição na discriminação entre os grupos.  

Tabela  5‐9  Coeficientes  canónicos  estandardizados  para  cada  uma  das  variáveis  geoecológicas  classificadas  segundo  o  grupo morfométrico e respectiva relação com as funções discriminantes 

Coeficientes canónicos estandardizados da função discriminante

1 2 3 4 5

Geologia 

Depósitos fluviais e fluvioglaciários 0,186 1,940 3,611 1,296 -0,473

Formação Rurikfjellet: argilito e siltito, arenito na zona superior

0,611 1,797 0,969 0,620 0,330

Depósitos marinhos costeiros -0,505 1,207 2,219 0,077 ,399

Formação Carolinefjellet: arenito, siltito e argilito 0,002 0,104 0,166 -0,005 0,625

Formação Helvetiafjellet: arenito, siltito e argilito limitados, carvão pontualmente

0,257 0,605 0,570 0,413 0,113

Formação Agardhfjellet: argilito negro e siltito, algum arenito na zona inferior

1,881 2,117 1,080 0,474 0,289

Formação De Geerdalen: arenito e argilito 0,011 0,000 0,025 0,011 -0,004

Geomorfologia 

Material fluvial, pré-recente 1,681 ,728 -,163 -,938 1,875

Material fluvial, recente 0,551 0,436 0,033 -0,297 0,453

Pingo 0,273 0,073 -0,029 -0,104 0,138

Material fluvioglaciário 0,534 0,346 -0,258 0,041 0,562

Material de solifluxão 0,334 0,152 -0,156 0,445 0,429

Till 0,310 0,014 -0,077 0,548 0,475

Material de meteorização (crioclastia), autóctone 0,486 0,164 0,022 0,936 0,666

Material de meteorização (crioclastia), alóctone 0,204 -0,086 0,193 0,136 0,158

Material de depósitos eólicos 0,028 0,016 -0,036 0,005 0,082

    Exposição 

Norte -0,007 -0,029 0,018 -0,100 0,069

Nordeste 0,041 -0,019 0,015 0,029 0,059

Este 0,081 0,067 0,056 -0,106 -0,105

Sul 0,037 0,108 0,133 -0,182 -0,053

Sudoeste -0,071 0,189 0,132 -0,133 0,065

Oeste -0,007 -0,029 0,018 -0,100 0,069

 Outras

Altitude -0,368 0,734 -1,311 -0,593 -0,542

Declive -0,164 0,238 -0,089 -0,303 -0,208

SWI -0,570 0,387 -0,386 -0,392 -0,799

TRI -0,041 0,142 -0,119 0,006 0,063

Distância às linhas de água 0,069 -0,214 -0,076 0,100 0,372

Distância ao mar -0,936 0,966 3,675 -0,330 0,473

 

 

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O melhor modelo discriminante, a Função 1, indica a variável Formação Agardhfjellet (1,881) como a 

que  mais  contribui  positivamente  para  a  discriminação  dos  grupos,  juntamente  com  a  variável 

geomorfológica material  fluvial  pré‐recente  (1,681).  Já  a  variável  com maior  peso  negativo,  ou  seja,  que 

contribui  mais  de  forma  inversa,  é  a  distância  ao  mar.  Isto  indica  que  esta  última  está  inversamente 

correlacionada com a Formação Agardhfjellet, o que faz sentido uma vez que esta formação está presente a 

maiores altitudes e mais longe da costa.  

Os coeficientes canónicos estandardizados mostram que as variáveis geológicas depósitos fluviais e 

fluvioglaciários, depósitos marinhos, as Formações Rurikfjellet e Agardhfjellet, mais as variáveis altitude e 

distância  ao  mar  (todos  com  valores  superiores  a  0,7),  são  as  que  constituem  os  preditores  mais 

significativos para as funções discriminantes 2 e 3 (Tabela 5‐9). 

Para a função discriminante 4 as variáveis com maior contribuição positiva são os depósitos fluviais e 

fluvioglaciários (1,296) e o material de meteorização autóctone (0,936), e com peso discriminatório negativo 

a variável material fluvial, pré‐recente (‐0,938). E finalmente a função 5, já com pouco peso discriminatório 

no modelo (2,9%), referir a variável que mais contribui inversamente, ou seja com peso negativo, é o índice 

de humidade do solo. 

De  referir que  às  variáveis de exposição não  revelaram  coeficientes  canónicos  relevantes  (Tabela 

5‐9), não tendo portanto peso na discriminação da morfometria dos polígonos. 

Tabela 5‐10 Análise das funções discriminantes para os respectivos grupos morfométricos 

 

 

 

 

 

 

 

Grupo Morfométrico 

Função 

1  2  3  4  5 

1  1,546 -2,103 -2,039 -0,800 3,567

2  -0,663 1,227 -0,265 -0,845 -0,072

3  0,798 -0,122 1,451 -0,023 0,147

4  -3,884 -2,174 0,020 0,026 -0,080

5  1,575 -0,761 -0,522 0,108 -0,195

6  -0,943 1,508 -,255 1,038 0,141

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Figura 5‐10 Coeficientes canónicos das funções 1 e 2 e funções 2 e 3, para os 6 grupos morfométricos e respectivo centróide do grupo 

 

A Tabela 5‐10 apresenta os valores médios discriminantes de cada grupo morfométrico para cada 

uma das funções, designados por centróide do grupo. Quanto maior for a diferença dos valores médios dos 

grupos para cada uma das funções, menor será o erro na classificação. A Figura 5‐10 mostra os coeficientes 

canónicos  das  funções  1  e  2  e  das  funções  2  e  3,  para  os  9220  polígonos  classificados  nos  6  grupos 

morfométricos e quanto maior for a distância entre os centróides do grupo maior é a discriminação. 

A análise da Tabela 5‐10 e da Figura 5‐10  indica que a função 1 discrimina essencialmente o GM4, 

dos GM 3, 5, e 1, sendo que estes 3 aparecem muito próximos. Os grupos parecem ter sido principalmente 

diferenciados pelos parâmetros dimensionais, uma vez que o GM4 apresenta polígonos de dimensões muito 

mais inferiores aos restantes grupos referidos (Tabela 5‐6). 

A  forte  discriminação  do  GM4  pode  ser,  numa  primeira  análise,  explicada  pela  área  ocupada  e 

distribuição ao  longo do vale,  i.e, este GM está praticamente concentrado no sector Oeste e com a maior 

área  total  ocupada  (do  sector)  (Figura  5‐8),  o  que  lhe  pode  conferir  elevada  homogeneidade  de 

características, mais facilmente explicadas pelas variáveis ambientais.  

De  acordo  com  os  coeficientes  canónicos  as  variáveis mais  discriminantes  para  o  factor  1  são  a 

formação  Agardhfjellet  e  material  fluvial,  pré‐recente.  Analisando  então  as  unidades  geológicas  e 

geomorfológicas que caracterizam cada grupo, a percentagem de  formação Agardhfjellet poderá estar na 

explicação  da  diferenciação  entre  o  GM4  (6%)  e  o  GM5  (50%);  o  GM3  apresenta  também  uma  baixa 

percentagem desta unidade. Sendo o GM4 e o GM3 os que têm menor dimensão média de polígonos, pode 

indicar que a maior presença da formação Agardhfjellet não privilegia a fracturação secundária, originando 

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polígonos de maiores dimensões. Este facto é verificado pelas elevadas percentagens desta formação para 

os GM2, 5 e 6, caracterizados por terem polígonos de maiores dimensões (estes grupos foram classificados 

no agrupamento do Tipo B). Relativamente à presença de polígonos na unidade material fluvial, pré‐recente, 

esta diferencia o GM4  (20%) dos GM1  (100%) e GM3  (66%). Esta variação entre o GM4 e o GM1 poderá 

explicar  a  diferença  na  dimensão  dos  polígonos,  que  correspondem  aos mais  pequenos  e  aos maiores 

respectivamente. No entanto, esta diferença dimensional não se verifica entre o GM4 e o GM3 (ambos com 

polígonos de reduzidas dimensões), o que poderá estar a ser compensado pela facto de o GM4 apresentar 

também  percentagens  consideráveis  de  materiais  com  a  mesma  origem  e  granulometria  semelhante 

(material fluvial, recente 34%). O GM3 e GM4 para além de serem os que apresentam polígonos de menor 

dimensão, evidenciam ainda dos mais elevados valores médios de vértices tetravalentes por polígono (0,75 e 

0,90 respectivamente); ou seja, os resultados parecem indicar que é a combinação dos materiais fluviais que 

privilegia a fracturação progressiva levando a formar polígonos menores e a consequente tetravalência.   

De  referir que os centróides mostram que o GM1 apresenta valores discriminatórios elevados em 

todas  as  cinco  funções,  positivos  ou  negativos.  Este  facto  vem mais  uma  vez  evidenciar  a  presença  de 

outliers neste grupo, que pode distorcer a análise dos  resultados. Seria  interessante, em estudos  futuros, 

compreender  este  melhor  este  grupo  morfométrico  e  de  forma  pode  estar  a  enviesar  os  restantes 

resultados. 

A função 2, com uma capacidade discriminatória mais baixa (27%), distingue o GM 2 e 6 dos GM 1 e 

4.  Esta  diferença  é  principalmente  devida  às  variáveis  formação  Agardhfjellet  (com  o  coeficiente  mais 

elevado para a função 2 (2,117) e depósitos fluviais e fluvioglaciários (1,940), o que parece discriminar uma 

distribuição Este/Oeste, que se deve à distribuição espacial das unidades geológicas referidas (i.e: GM 2 e 6 

encontram‐se predominantemente no sector Este, onde se encontra a formação Agardhfjellet. Os GM 2 e 6 

são  de  facto  grupos  morfometricamente  muito  semelhantes,  pertencendo  ambos  ao  Tipo  B  (grandes 

dimensões), o que mais uma vez parece  indicar que esta  formação geológica não privilegia a  fracturação 

secundária;  também  fortemente evidenciado pelo  reduzido número de  vértices  tetravalentes  (GM2 0,47, 

GM6 0,37).  Já os GM 1 e 4 estão associados a materiais de granulometria mais  fina  (depósitos  fluviais  e 

fluvioglaciários), e isso explica a dimensão reduzida dos polígonos do GM4 (a falta de evidência para o GM1 

pode dever‐se a ser um grupo "outlier").  

Esta relação entre a  localização de materiais de granulometria mais fina nas partes mais baixas do 

vale e a presença de polígonos mais pequenos vs formações de granulometria mais homógenea nas áreas 

médias do  vale  e  com polígonos maiores  já  foi  referenciada para  Svalbard  (Ulrich  et al. 2011)  e  está de 

acordo com a sugestão de Lanchenbruch (1966). 

A  função  3  apresenta pouca  capacidade discriminante, o que  é  também  visível na projecção dos 

coeficientes canónicos na Figura 5‐10, verificando‐se apenas algum distanciamento entre o GM1 e o GM3. 

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De referir que a variável distância à linha de costa apresenta valores discriminatórios elevados para 

as três primeiras funções, o que pode estar a reflectir os zonamentos Este/Oeste, bem como a distribuição 

espacial das unidades geológicas e geomorfológicas. 

 

Tabela 5‐11 Predição obtida a partir da análise discriminante aplicada aos parâmetros geoecológicos que caracterizam cada um dos polígonos em função dos grupos morfométricos 

Resultados da Classificação

  Grupo 

Morfométrico 

Grupo predito 

1  2  3  4  5  6  Total 

Grupo actual 

1  80 (87,0%)  0  0  0  12 (13,0%)  0  92 

2  0  1085 (53,5%)  120 (5,9%)  25 (1,2%  322 (15,9%)  476 (23,5%)  2028 

3  0  39 (2,2%)  1439 (79,9%)  78 (4,3%)  196 (10,9%)  50 (2,8%)  1802 

4  0  15 (1,6%)  0  817 (89,6%)  0  80 (8,8%)  912 

5  0  76 (2,6%)  57 (1,9%)  0  2725 (92,25%)  97 (3,3%)  2955 

6  0  79 (5,5%)  46 (3,2%)  4 (0,3%)  0  1302 (91,0%)  1431 

 80,8% dos grupos originais corretamente classificados 

 

O  modelo  discriminante  realizado  para  os  9220  polígonos  estudados  discrimina  correctamente 

80,8% da classificação respeitante aos 6 grupos morfométricos formados, sendo que todos os grupos, com 

excepção do grupo 2, apresentam valores superiores a 75%,  já o grupo 2 somente 53,5% é correctamente 

predito  (Tabela  5‐11).  A  baixa  percentagem  de  predição  verificada  para  o  GM2  poderá  dever‐se  à  sua 

elevada heterogeneidade morfométrica (Capítulo 5.3.2). 

 

Avaliando  as  análises  efectuadas,  os  dados  apontam  para  uma  forte  relação  da  geometria  dos 

polígonos com os diversos factores ambientais de âmbito  local, evidenciada pela classificação com sucesso 

de 80% dos polígonos nos respectivos grupos. Este estudo permitiu identificar a variável geológica Formação 

Agardhfjellet  e  a  unidade  geomorfológica  Material  fluvial,  pré‐recente  como  as  variáveis  que  melhor 

diferenciam  os  grupos morfométricos,  juntamente  com  as  variáveis  depósitos  fluviais  e  fluvioglaciários  e 

ainda a distância à linha de costa. 

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6. Conclusões

 

Para  mais  de  10.000  polígonos  identificados  ao  longo  de  Adventdalen  foram 

calculadas,  em  ambiente  SIG,  as  suas  características  morfométricas  com  o  propósito  de 

determinar  a  relação  da  variabilidade  dimensional  dos  polígonos  com  os  factores  locais  de 

controlo  ambiental.  Estas  características  foram  o  ponto  de  partida  para  construir  uma 

geodatabase com todos os elementos geográficos e atributos relativos aos polígonos de cunha 

de  gelo  e  respectivas  redes  poligonais,  como  também  de  todo  o  conjunto  das  variáveis 

geoecológicas adquiridas e calculadas. A geodatabase  foi um  importante  instrumento para a 

fluência das análises realizadas, permitindo um fácil acesso, análise e edição da informação. 

A análise descritiva utilizada permitiu caracterizar os polígonos mapeados ao longo de 

Adventdalen,  consoante  os  parâmetros  de  dimensão,  forma  e  topologia.  Os  resultados 

permitiram realçar que existe uma grande amplitude dimensional, com áreas entre os 5m2 e os 

1750m2, para um valor médio de 408m2 indicando uma maior predominância dos polígonos de 

menor  e média  dimensão.  Verificou‐se  também  que  os  polígonos  de menores  dimensões 

(<300m2) estão associados a um maior número de vértices tetravalentes por polígono (>0,60), 

o que é um indicador de redes de padrão ortogonal. 

O desenho das redes poligonais facultou a identificação de uma diferenciação espacial 

morfométrica, entre o sector mais a Este do vale e o sector correspondente ao fundo do vale 

mais  para  Oeste.  Para  as  21  redes  localizadas  no  sector  Este  verifica‐se  que  têm  pouca 

variabilidade dimensional, sendo predominante as áreas entre 375 m2 e 650m2. Já as variáveis 

de dimensão para o  sector mais a Oeste  revelam que as 15  redes poligonais presentes  têm 

uma maior assimetria. Para este sector observa‐se a existência de duas redes poligonais (A1 e 

A2)  com  dimensão  dos  polígonos  muito  superior  (>1400m2),  e  as  restantes  redes 

tendencialmente são constituídas por polígonos de menor dimensão  (8 redes com dimensão 

de Área de polígono < 400m2). Verifica‐se que o número de vizinhos por polígono é maior no 

sector Oeste  (4,5  contra 3,8) para  as  redes  com maior número de polígonos e de menores 

dimensões.  Para  estas  redes  revela‐se  também  uma  maior  frequência  de  vértices 

tetravalentes, o que expressa uma actividade contínua de fracturação secundária promovendo 

uma subdivisão progressiva, constituindo polígonos de menores dimensões e de forma regular. 

As condições geo‐ecológicas de Adventdalen espelham também a diferenciação entre o sector 

Este e o Oeste,  reforçando a  ideia de que a variabilidade morfométrica é  influenciada pelas 

condições locais.  

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Para determinar quais os  factores geoecológicos que exercem uma maior  influência 

para  determinadas  características  morfométricas,  foi  criada  por  meios  estatísticos  uma 

classificação das  redes poligonais em grupos baseado nas similaridades morfométricas. Os 6 

grupos morfométricos resultantes apresentam uma predisposição espacial e revelam que são 

os  parâmetros  dimensionais  e  topológicos  que  melhor  definem  as  redes  poligonais.  A 

caracterização  dos  grupos  morfométricos  definidos,  de  destacar  o  GM1  por  apresentar 

polígonos de dimensões excepcionalmente grandes. Estes polígonos, apesar da sua dimensão, 

apresentam  um  número  elevado  de  vértices  tetravalentes,  o  que  em  teoria  não  seria 

esperado,  dado  que  a  prevalência  de  vértices  tetravalentes  está  associada  à  fracturação 

secundária  que  origina  polígonos  de  menores  dimensões.  Seria  interessante,  em  estudos 

futuros, uma análise mais detalhada deste sector, com  levantamentos detalhados de terreno 

que permitam aferir variáveis não integradas no presente trabalho. 

Com  o  objectivo  de  analisar  os  factores  geoecológicos  que  exercem  uma  maior 

influência  na  predição  das  diferentes  características  morfométricas  dos  polígonos  que 

constituem os grupos morfométricos, procedeu‐se a uma análise estatística discriminante. O 

melhor modelo discriminante,  (Função 1 responsável por 52% da variância),  indica a variável 

Formação Agardhfjellet (1,881) como a que mais contribui positivamente para a discriminação 

dos  grupos,  juntamente  com  a  variável  geomorfológica material  fluvial  pré‐recente  (1,681). 

Verificou‐se que a função 1 discriminou essencialmente o GM4, dos GM 3, 5, e 1. A função 2, 

com uma capacidade discriminatória mais baixa (27%), distingue os GM 2 e 6 dos GM 1 e 4. De 

uma forma geral, a discriminação dos grupos evidenciou potenciais relações entre a dimensão 

média  dos  polígonos,  a  tetravalência,  a  distribuição  e  as  unidades  geológicas  e/ou 

geomorfológicas onde aqueles se encontram. 

Os  resultados  do  modelo  discriminante  realizado  para  a  totalidade  dos  polígonos 

estudados, permitiram predizer correctamente cerca de 80% da classificação respeitante aos 6 

grupos morfométricos. Com  excepção do  grupo morfométrico  2,  todos os  restantes  grupos 

apresentam valores discriminantes superiores a 75%.  

Deste  modo  os  resultados  deste  estudo  parecem  indicar  uma  forte  relação  da 

geometria  dos  polígonos  com  os  factores  ambientais,  tendo  sido  identificadas  como  as 

variáveis  mais  discriminantes  a  Formação  geológica  Agardhfjellet  e  depósitos  fluviais  e 

fluvioglaciários,  juntamente  com  a  unidade  geomorfológica Material  fluvial,  pré‐recente,  e 

ainda a distância à linha de costa.  

De destacar a importância e utilidade dos Sistemas de Informação Geográfica para este 

tipo  de  estudos  de  redes  poligonais  em  permafrost,  permitindo  efectuar  uma  análise 

quantitativa espacial de um número significativo de redes e de polígonos, situação que até ao 

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momento  não  tem  praticamente  expressão  na  literatura.  A  utilização  de  ferramentas  SIG 

possibilitou assim, a  integração espacial e manipulação dos dados vectoriais dos polígonos e 

redes poligonais. Permitiu também integrar dados de variáveis ambientais em formato raster e 

realizar  processamentos  geográficos  para  obter  nova  informação  relevante.  A  combinação 

através  de  relações  espaciais  de  dados  em  formato  raster  com  informação  vectorial 

permitiram construir bases de dados completas e rigorosas, que constituíram o suporte para a 

análise estatística das condicionantes geo‐ecológicas na morfometria dos polígonos.  

 

 

 

 

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