repensando as novas práticas anpocs 2008

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Repensando as novas práticas judiciais produzidas no Brasil

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  • Repensando as novas prticas judiciais produzidas no Brasil: Uma anlise do Prmio Innovare

    Francisco Ubiratan Conde Barreto Jnior Rodolfo Noronha

    Mestrandos do PPGSD Programa de Ps-Graduao em Sociologia e Direito UFF Universidade Federal Fluminense

    Resumo

    O Poder Judicirio vm despertando a ateno de diversos setores da sociedade e campos de conhecimento, no sendo mais objeto apenas do campo jurdico. O objeto desta pesquisa so as novas prticas judiciais, as influncias de outros campos e os objetivos perseguidos: de onde vm, como enxergam os problemas que enfrentam e para onde vo essas novas polticas judiciais.

    PALAVRAS CHAVES

    Poder Judicirio; Prmio Innovare; Polticas Pblicas

    ABSTRACT

    Keywords

    Judicial Power; Innovare Prize; Public Policy

    Introduo

    Em 1996, Joo Baptista Herkenhoff perguntava Para onde vai o Direito?. O subttulo, Reflexes sobre o Papel do Direito e do Jurista, apresentava suas intenes: debater sobre para onde, guiado por suas reflexes, deveria se direcionar a prtica jurdica. Referia-se ao papel do advogado, tanto quanto do jurista em uma sociedade ps-

  • abertura democrtica. O autor procurava debater tanto sobre o direito a ser operado (contedo), quanto pelas funes e habilidades de seus operadores principais.

    Dentre as reflexes presentes na referida obra, a que nos interessa no momento a importncia de se debater os caminhos destes trs atores jurdicos o ator da prtica jurdica, o formador de operadores e aquele que ocupa a funo de julgar, e em ltima anlise, a de dizer e aplicar o direito1. No obstante a importncia das demais, nossa concentrao estar voltada para o ltimo ator. Isto por que muito se tm discutido sobre o papel dos juzes; reforma do Poder Judicirio tem sido um importante item na pauta nacional. Seja o governo federal sinalizando claramente neste sentido especialmente com a criao da Secretaria de Reforma do Judicirio - sejam iniciativas dos prprios juzes. H ainda a interveno de elementos outros, externos estrutura judicial, que em muito influenciam os rumos e as formas dessa reforma.

    Iniciativas diversas de mudana, em si, no so problemticas. A soma dos esforos, idealmente, tende a construir um resultado final mais completo. Entretanto, uma anlise um pouco mais profunda sobre essas reformas silenciosas ou no revela que partem de anlises de problemas, muito diversas e at divergentes, em termos de forma como essas anlises so produzidas e contedo que tipo de percepo se extrai da observao da realidade. Ou seja, a observao do contexto qual o problema a ser enfrentado indica tambm caminhos diferentes quais as solues apontadas executadas. O que em si no parece um obstculo, na verdade, transforma o Poder Judicirio em territrio em disputa, com atores e conhecimentos ainda mais variados atuando de forma a, nem sempre dialogicamente, criar estruturas sobrepostas que seguem para rumos muito diferentes.

    O presente trabalho tem como objetivo, embora de forma muito pouco pretensiosa, analisar alguns destes caminhos hoje em curso. Longe de mapear o que h de novo em termos de polticas de prestao de justia, destina-se a observar algumas dessas novas direes, e a partir deste ponto, procura tecer consideraes tericas.

    1 No , propriamente, a discusso ora em tela, mas de fato se alimenta dela: a expresso jurisdio vem

    do latim juris dicto. Ou seja, aquele que tem jurisdio aquele que pode e s ele - dizer o direito.

  • 1. A reforma premiada

    Assim, a primeira parte do presente artigo se destina a apresentar um pouco mais detalhadamente mesmo que distncia algumas das iniciativas mais conhecidas em termos de novas polticas de prestao de justia, tentando identificar suas anlises de contexto e seus objetivos. Saber o que h de comum e de incomum - em termos de conceitos e prticas. Na impossibilidade de proceder pesquisa emprica, visitando in loco as iniciativas, fez-se uso de um instrumento que pde aproximar a investigao de seu objeto.

    Esse instrumento o Prmio Innovare, iniciativa de premiao a boas e inovadoras prticas judiciais. Trata-se de uma iniciativa do Centro Justia e Sociedade, da FGV DIREITO RIO. Seus apoiadores so: o Governo federal e o Ministrio da Justia, na forma de sua Secretaria de Reforma do Judicirio; a AMB Associao de Magistrados Brasileiros; a CONAMP Associao Nacional dos Membros do Ministrio Pblico; a Companhia Vale do Rio Doce (Vale); a ANADEP Associao Nacional dos Defensores Pblicos; e a AJUFE Associao Nacional de Juzes Federais.

    O prmio j possui quatro edies2 (embora apenas trs publicadas), e a comisso julgadora variou de acordo com o ano de sua edio, mas mantendo as posies institucionais de diversas reas. A primeira edio contou com os seguintes jurados: Ministros Eros Grau e Joaquim Barbosa (Supremo Tribunal Federal); Joo Geraldo Piquet Carneiro (presidente do Instituto Hlio Beltro); Jos Paulo Cavalcanti Filho (presidente do Conselho de Comunicao Social do Congresso Nacional); Luiz Werneck Vianna (IUPERJ Instituto Universitrio de Pesquisa do Rio de Janeiro); Maria Teresa Sadek (pesquisadora do Centro Brasileiro de Estudos e Pesquisas Judiciais) e Roberto Irineu Marinho (presidente das Organizaes Globo). A segunda edio viu alterados apenas o representante do Supremo Tribunal Federal (Ministro Gilmar Mendes), e a incluso da Ministra Ftima Nancy Andrighi (Superior Tribunal de Justia); Ministro Ives Gandra Martins (Tribunal Superior do Trabalho); Desembargador Thiago Ribas Filho (Tribunal de Justia do Rio de Janeiro); e o Dr. Walter Cenevita (advogado). Para a terceira edio, acresceu-se ainda Adriana Burger

    2 Maiores informaes disponveis em www.premioinnovare.com.br, acessado em 20 de maro de 2008.

  • (Defensora Pblica do Estado do Rio Grande do Sul); e Srgio Renault (sub-chefe para Assuntos Jurdicos da Casa Civil, ex-secretrio de Reforma do Judicirio). Apesar de longa, essa apresentao do Prmio ora nossa base de dados para anlise se faz importante, pela necessidade de se demonstrar sua dimenso e abrangncia.

    Importante frisar que Joaquim Falco, diretor da FGV DIREITO RIO, afirma que existe mais de um Judicirio hoje em ao no Brasil.

    Analisando as prticas inscritas, facilmente se constata que existem dois Poderes Judicirios. H o conservador, avesso mudana, arraigado nos hbitos. E h o novo Judicirio, talvez ainda minoritrio, mas com certeza crescente e parceiro

    do futuro 3.

    Talvez mesmo observando apenas as iniciativas premiadas, possamos observar no dois, mas vrios Judicirios, fazendo anlises diversas de contexto, e em conseqncia, partindo por caminhos diferentes ao desempenhar prticas diversas para alcanar objetivos pouco semelhantes.

    2. Dados: chaves e eixos analticos

    Das centenas de aes inscritas por edio, 29 foram citadas na primeira publicao, 8 na segunda e 10 na terceira, divididas entre premiadas, menes honrosas e prticas finalistas (primeira edio; as demais edies contam com um nmero menor de prticas exatamente por que renem apenas as premiadas). O que se pretende nesta busca exploratria inicial identificar as caractersticas de cada prtica, e a partir de sua prpria descrio, identificar seus objetivos para, comparando-as, identificar semelhanas e diferenas. Portanto, esta uma pesquisa descritiva, no explicativa, visto que no se pretende avaliar tais aes, atribuir-lhes valores ou pontuao, rivalizando-se assim com a comisso julgadora. Ou seja, no se trata de apontar a

    3 CENTRO JUSTIA E SOCIEDADE DA ESCOLA DE DIREITO DO RIO DE JANEIRO DA

    FUNDAO GETLIO VARGAS (org.). A Reforma Silenciosa da Justia. Fundao Getlio Vargas. Rio de Janeiro, 2006. Pg. 6.

  • melhor ou pior, mas de destacar diversos pontos caractersticos em cada uma delas. E a assim, a partir dos resultados obtidos, partir para formulaes tericas e problematizaes.

    Para cumprir com tal tarefa, em primeiro lugar, foram criadas categorias, chaves de anlise para orientar a leitura e organizao das prticas. Essas chaves foram compostas a partir de perguntas, abaixo explicitadas. A partir dessa pr-organizao analtica, procedeu-se a leitura das prticas e construo das tabelas abaixo, onde se buscou dividir as aes, de acordo com a classificao da prpria publicao, e incluindo todas as prticas descritas nas trs edies disponveis em publicaes. O sistema classificatrio composto pelas chaves analticas acima citadas foi sendo construdo durante a primeira leitura (exatamente para se saber se as perguntas que seriam feitas poderiam ser respondidas com as informaes disponveis).

    Ressalte-se que a prpria disposio dessas publicaes menos acadmicas, mais institucionais possibilitou este tipo de anlise: como a inteno dessas edies era muito menos a reflexo acadmica, muito mais a disponibilizao de dados que possibilitassem a replicao da prtica, cada uma seguia organizada de forma a possibilitar essa sistematizao. E a sim, a partir desta sistematizao (que recebeu a organizao terica que est sendo agora exibida, mas que poderia ter recebido outra, de acordo com o olhar terico), tornou-se possvel realizar uma anlise acadmica sobre os dados expostos.

    Ento, a classificao foi composta a partir dos seguintes quesitos (referentes s colunas da tabela):

    a. Tipo de anlise: como a poltica pblica l o problema, o que a motivou a atuar. Divide-se em dois tipos: a.1: Leitura; a.2: Diagnstico. O primeiro se refere a um tipo de anlise intuitiva, sem critrios objetivos. O formulador da poltica olha no - sistematicamente para a realidade e dessa observao espontnea, cria uma poltica, uma resposta. A segunda se refere utilizao de dados empricos e de reflexo sistemtica e provocada por formulaes tericas pretritas para a formulao da

  • prtica. Ou seja, a primeira intuitiva, espontnea e a cientfica; a segunda forma de anlise cientfica, acadmica, empiricamente orientada; b. Protagonista da Anlise: refere-se a quem produziu esta anlise. Trs tipos de resposta eram possveis: quem produzia a anlise era o prprio juiz/rgo judicial; a produo era externa, ou seja, o formulador da poltica contava com o auxlio, direto ou no, de algum rgo ou agente externo (centros de pesquisa, universidades, pesquisadores individuais) e este sim produzia a anlise ou os dados que a possibilitavam; ou havia uma interao entre ambos, o anlise era produzida pelo formulador judicial, mas o auxlio prximo de agente externo; c. Objetivo principal: o que a prtica perseguia. Aqui, foram compostas tipificaes a partir da leitura da descrio das prticas. Ou seja, tentou-se resumir em um nmero limitado de categorias - que permitissem anlise e comparao os diversos objetivos narrados. Chegou-se aos seguintes (na contagem, permitiu-se e analisou-se a incidncia de mais de um objetivo): celeridade; decodificao de contextos especficos; informao/ capacitao; justia substantiva, ou seja, realizao prpria de justia4; e aumento de casos, ou seja, procura pelo Poder Judicirio; d. Meio: quais tipos de aes eram desempenhadas para realizar a poltica, ou seja, como se perseguia os objetivos descritos; e. Alimentao: como se d a transmisso de informao, e de que tipo, se a ao se alimenta de informao, prtica ou conhecimento externo para funcionar input e se a prtica fornece informao a algum sistema externo ao sistema jurdico output, ou seja, o que a prtica busca acrescentar a outras reas do conhecimento, da prtica social, ou simplesmente, da sociedade.

    Importante salientar que os indicadores foram operacionalizados a partir da leitura das prticas. Ou seja, a categorizao foi arbitrria embora orientada por leituras prvias e posteriores - e busca significar um resumo do que foi exposto pelas prprias aes.

    4 Ressalte-se mais uma vez de que no se trata de uma avaliao das prticas. Isto por que marcar a

    coluna justia substantiva no significa uma interpretao de qual prtica alcana propriamente este objetivo. Em primeiro lugar, posto que no se pode no momento, como j explicitado, verificar in loco as prticas apresentadas; em segundo lugar, por que tal tarefa resultaria em uma discusso sobre teoria de justia, e como tal, no perseguiria os objetivos do presente artigo. Aqui, marcou-se esta coluna to somente quando a publicao sobre a prtica manifesta assim o seu objetivo principal. Chama a ateno o fato de muitas delas no mencionarem a prestao de justia como objetivo, como ser observado. Mas tambm a necessidade de uma adjetivao do termo justia, como justia eficiente, ou justia clere.

  • Assim sendo, o presente artigo no as admite como sendo as nicas possveis, mas as mais claramente operacionalizveis.

    Essa categorizao (operacionalizao dos indicadores) buscou localizar alguns dos pontos comuns entre as aes analisadas, formulando eixos de anlise a partir do cruzamento do resultado obtido pela aplicao das chaves analticas. Uma das primeiras dificuldades enfrentadas foi exatamente encerrar em um mesmo quadro de indicadores aes to diversas, como juizados itinerantes e unidades de cumprimento de medidas scio-educativas.

    3. Resultados

    3.1 Objetivos principais convergncias e divergncias

    Como dito mais acima, o universo trabalhado foi de 47 prticas, cada uma com sua histria e complexidade. Para reduzir o apanhado de informaes acima em dados, vejamos nas tabelas a seguir alguns cruzamentos, para poder tirar algumas concluses preliminares. A Tabela 1 exibe as maiores ocorrncias, em termos de objetivos principais assinalados, divididas por edies e expostas em nmeros absolutos e relativos:

    Tabela 1: Maiores ocorrncias de objetivos principais - Prmio Innovare 5 Ocorrncias:

    Objetivos: N / % 6 1 edio 2 edio 3 edio

    N 19 4 6 CELERIDADE

    % 7 32% 29,00% 30%

    N 6 2 2 AUXLIO ADMINISTRATIVO

    % 10% 14,25% 10%

    N 3 1 2 DECODIFICAO DE CONTEXTOS ESPECFICOS % 5% 7,25% 10%

    N 12 3 0 INFORMAO / CAPACITAO % 20% 21,00% 0%

    N 8 2 7 JUSTIA SUBSTANTIVA

    % 13,50% 14,25% 35%

    N 11 2 3 AUMENTO DE CASOS

    % 19,50% 14,25% 15%

    5 Lembrando que, em algumas prticas, foram localizados mais de um objetivo.

    6 Referente ao total por edio.

    7 Aproximaes.

  • N 59 14 20 TOTAL:

    % 100,00% 100,00% 100,00%

    As maiores ocorrncias - ou seja, dentro do universo trabalhado, os objetivos mais perseguidos so a celeridade processual (29 ocorrncias, correspondente a 31,25% do total de ocorrncias de objetivos registradas), a promoo de justia substantiva (16 ocorrncias 18%) e o aumento de casos (16 ocorrncias 17%), ou seja, aumento de servios oferecidos a uma quantidade maior de pessoas. Note-se que a razo entre a primeira colocada (celeridade) e a segunda (justia substantiva) de 1,81 8. Ainda assim, os dados mostram que no possvel falar em apenas um ponto de chegada ou um caminho, uma anlise do problema que leva a um objetivo principal, mesmo que por prticas diversas. Verifiquemos agora, a partir da presena medida por edio, como se distriburam esses objetivos, no Grfico 1:

    Grf ico 1: Oco rrncia de o bjet ivo s po r edio

    05

    101520

    1 edio 2 edio 3 edio

    Aumento de casos

    Just iaSubst ant ivaInformao/ Capacit aoDecodif icao decont extosAux lioAdminist rat ivoCeler idade

    Houve uma diminuio das ocorrncias de celeridade (19, 4 e 6) e aumento de justia substantiva (7, 2 e 7), embora em nmeros relativos, a primeira tenha se mostrado constante (32%, 29% e 30%) enquanto que a segunda variou pouco (7%, 2% e 7%, novamente). Aqui, j se apresenta uma certa condio privilegiada da celeridade como objetivo das novas prticas. Note-se que caiu abruptamente, ao longo das edies, a ocorrncias de objetivos de informao/capacitao (12, 3 e 0, ou 20%, 21% e 0%).

    Combinado com o objetivo celeridade, mormente veio precedido o diagnstico de que a morosidade judicial o principal problema, ensejando estratgias diversas. Quanto informao e capacitao, de certa maneira, representou uma surpresa, posto que bem afastada da viso tradicional de prestao jurisdicional. Surpresa, pois inicialmente

    8 Estamos utilizando alguns recursos estatsticos para realizar este estudo. Sendo assim, razo significa

    a quantidade de vezes que uma ocorrncias aparece a mais em relao a outra. o mesmo que dizer que celeridade ocorre 1,81 vezes mais (quase duas vezes mais) que justia substantiva.

  • relevante, mas abruptamente dispensvel. A celeridade pode ser vista como uma forma mais eficiente de fazer o que os juzes j fazem, aplicar a lei; mas a capacitao ou prestao de informaes tem relao com um outro tipo de leitura do problema e de que ponto se deseja alcanar. Em parte, os diagnsticos vinculados a esta marcao se referiam ao problema da desinformao. Por outro lado, algumas das marcaes destinavam-se a seguir por outro caminho: permitir que as prprias pessoas resolvessem seus problemas ou evitassem situaes que provocassem o Judicirio (o que coincidiu com o diagnstico de abarrotamento dos tribunais). J em relao ao aumento de casos, por sua vez coincidiu com o aumento de ofertas de servios pela prtica premiada. Surgiu principalmente quando as aes em questo somavam prtica judicial, ou se dedicavam exclusivamente, a servios tradicionalmente no-judiciais, como aes assistenciais e documentao civil bsica.

    Quanto relao entre justia substantiva e celeridade, na maior parte das vezes, ou a prtica simplesmente no tinha como foco a produo de justia, mas de quantidade de justia distribuda, ou aparecia como justia adjetivada. Este fato faz pensar que a justia tradicionalmente produzida j satisfatria, mas deve ser levada a mais pessoas. Ainda assim, de se considerar como muito importante a presena de prticas que mirem na produo de justia, e de um tipo de justia diferente. O exemplo mais concreto refere-se s aes relacionadas a unidades prisionais, para adultos ou jovens. A Tabela 2 demonstra o cruzamento entre objetivos (objetivos que apareceram marcados na mesma prtica):

    Tabela 2: Cruzamento de objetivos - Ocorrncia cruzada de mais de um objetivo

    Objetivos cruzados CELERIDADE AUXLIO ADMINISTRATIVO

    DECODIFICAO DE CONTEXTOS

    ESPECFICOS

    INFORMAO / CAPACITAO

    JUSTIA SUBSTANTIVA

    AUMENTO DE CASOS

    CELERIDADE 10 3 5 7 9

    AUXLIO ADMINISTRATIVO

    0 1 2 1

    DECODIFICAO DE CONTEXTOS

    ESPECFICOS 2 2 4

    INFORMAO / CAPACITAO 3 7

    JUSTIA SUBSTANTIVA

    3

    AUMENTO DE CASOS

  • No cmputo geral, Celeridade apareceu mais vezes (34). Em seguida, Aumento de casos (24) e Informao/capacitao (18 com a relativizao do dado, por edio, no grfico anterior). Os objetivos mais relacionados (marcao cruzada) foram: Celeridade e Auxlio Administrativo (10 vezes), o que relativamente simples de se explicar: este tipo de auxlio investimento em gesto, informatizao, uso de ferramentas e tcnicas administrativas mormente se destina agilizao e eficincia (fazer mais com menos). A segunda relao mais encontrada era entre Celeridade e Aumento de casos (9 vezes). Tambm parece reforar o que foi dito mais acima: a reflexo se d em torno do mais do mesmo, distribuir mais o mesmo servio. Pouco se reflete e relaciona sobre Justia substantiva: apareceu entre os menos relacionados: com Aumento de casos, por 3 vezes, e em igual nmero com Informao/capacitao, o que se pode compreender como a idia onde a democratizao do conhecimento de direitos auxilia produo de justia. Este objetivo (Informao/capacitao), por outro lado, apareceu relacionado com Aumento de casos por 7 vezes, o que parece indicar que esta mobilizao realizada pelo Judicirio de setores da sociedade se destina distribuio de mais justia mas ainda assim, mais do mesmo.

    Decodificao de contextos especficos ocupou posio marginal em todas as tabelas e grficos at aqui demonstrados. Parece que, de uma forma geral, a compreenso sobre os contextos especficos em que se atua entendido como importante por apenas algumas das prticas. Aparece relacionada apenas com Informao/capacitao (2 vezes) e Justia substantiva (tambm 2 vezes), o que parece, mesmo de ocorrncia residual, vincular a idia de justia idia de cidadania, mas entendendo esta como a construo do sujeito de direitos. O interessante aqui ver, mesmo que muito poucas vezes, o Judicirio assumir este papel.

    Os demais objetivos tambm parecem ter servido idia de celeridade: esta se combina com 5 deles, totalizando 34 marcaes. Combin-la com Justia substantiva parece demonstrar que a segunda apenas marginal, em nome da justia clere (adjetivada). No se est aqui atacando a necessidade de rapidez nos atos judiciais, mas a preocupao com uma justia igualmente eficaz, que atenda populao de forma

  • satisfatria (e no apenas por um nmero satisfatrio) no parece ser a preocupao da maior parte dos formuladores destas prticas de prestao de justia.

    3.2. Distribuio por Tribunal/rgo

    Vejamos agora a distribuio por tipo de rgo, tentando localizar alguma tendncia de predileo pela inovao:

    Tabela 3: Iniciativas por tipo de Tribunal / rgo executor:

    N Por tipo / Tribunal: 9

    1 edio 2 edio 3 edio

    Justia comum 25 5 2

    Justia do trabalho 3 0 2

    Justia federal 2 1 2

    Ministrio Pblico 10 0 2 2

    Defensoria Pblica 0 0 2

    TOTAL 30 8 10

    A iniciativa, na maior parte das vezes (e com as ressalvas apontadas nas notas de rodap), parece ser da Justia comum. Poucas foram as premiadas dentre os tribunais trabalhistas, igualmente falando dos juizados federais e dos rgos essenciais justia, lembrando que a diviso em categorias que inclussem, obrigatoriamente, o Ministrio Pblico, e a Defensoria Pblica s aconteceu na terceira edio. Tambm possvel, mas por enquanto no verificvel, que algumas iniciativas tenham seu nascedouro nas varas e juizados, mas ganhem institucionalizao ao receberem apoio ou serem incorporadas pela presidncia do tribunal.

    3.3. Input e Output: contaminao ou dilogo?

    Ao se falar sobre interferncia de outros tipos de conhecimento ou atuao na prtica judiciria, estamos nos referindo s influncias de outros campos no sistema jurdico. Partindo da intuio de que muitas dessas propostas inovadoras no foram despertadas

    9 Em alguns casos, a ao executada por mais de um tipo de tribunal; por duas vezes, um tribunal

    comum dividiu a execuo com outro tipo de Tribunal ou rgo. 10

    Quando se tratou de Ministrio Pblico do Trabalho, inclui-se na categoria "Ministrio Pblico".

  • apenas pelo interior do meio jurdico, mas tambm provocadas por outros meios, buscamos nas descries dos programas pistas que indiquem de onde podem ter partido essas influncias, e as chamamos de input. Roberto Fragale Filho explica que h uma contaminao do sistema jurdico por outros meios, e nem sempre o Poder Judicirio est apto a aplicar a resposta. O Judicirio ento se v como alvo de propostas, provocaes, especulaes sobre quais caminhos tomar, mas nem sempre ele mesmo protagonista destes novos caminhos. A resposta a essas provocaes se d de forma a afastar as interferncias externas e continuar exatamente no lugar onde se est, inerte, continuando-se a fazer o que j se faz, e s. Tais respostas so assim reunidas pelo citado autor: Na verdade, os esboos de resposta por ele oferecidos assumem uma postura marcada, de forma simultnea ou isolada, por traos defensivos (somos incompreendidos), autoritrios ( preciso enfatizar a disciplina judicial), corporativos ( preciso respeitar direitos adquiridos [ainda que eles sejam completamente estranhos ao bom senso]) e/ou hermtica (ou seja, impregnada de formalismo)11. O que o autor descreve um tipo de resposta resistente e inerte. E segue analisando as conseqncias desta inao: Com esses tipos de resposta, a lgica jurdica cede espao s lgicas econmica e poltica, possibilitando, assim, uma contaminao pelos nmeros, um processo de colonizao quantitativa do Judicirio 12.

    A entrada de conhecimentos no sistema jurdico no necessariamente um problema. Muitas das aes apresentadas no prmio Innovare demonstram este tipo de input. Entretanto, e este o alerta de Fragale Filho, depende de como o sistema judicial trata com essas novas entradas. Um exemplo marcante, e aqui sim vai uma crtica pesada a algumas das prticas do prmio, a profuso de quadros, tabelas e estatsticas que nada demonstravam a no ser o funcionamento do programa em questo. Uma destas prticas afirmava ter aumentado o nmero de casos atendidos mas a curva de processos se manteve descendente ( o caso especificamente do programa Juizado Central Criminal, promovido pelo TJDF). Fragale Filho alerta tanto para a inrcia frente provocao de outras lgicas, quanto s potencialidades do uso destes novos instrumentos, mas tambm ao afirmar que O impacto desta mtrica, embora

    11 FRAGALE FILHO, Roberto. Poder Judicirio: Os riscos de uma agenda quantitativa. Mimeo. Pg. 12.

    12 Idem.

  • considervel (...), no foi ainda adequadamente explorado pelo Judicirio 13. A anlise das presentes prticas no nos permite extrapolar os dados observados para o universo total de ocorrncias, mas nos permite seguir pistas. A Tabela 4 busca mostrar quantitativamente as identificaes de inputs encontradas, mas tambm os outputs interferncias do sistema judicial em outros sistemas, a sua sada da clausura para atuar em outras reas:

    Tabela 4: Ocorrncia de Input e Output N

    Ocorrncias: 1 edio 2 edio 3 edio TOTAL

    Input 27 7 7 41

    Output 13 2 2 17

    Ambos 13 2 1 16

    Dentre a totalidade dos casos observados (47), 41 apresentavam algum tipo de input, de aproveitamento de outras reas, outros conhecimentos. Entretanto, necessrio ainda seguir mais longe, saber que tipo de entrada essa. E como avalia Fragale Filho, como a lgica jurdica lida com a interferncia destas outras lgicas. Por enquanto, podemos apenas dizer que o nmero de ocorrncias considervel. Ainda assim, a relao entre o tribunal ou rgo com estes atores externos, conforme a Tabela 5, principalmente esttica: o sistema jurdico desloca suas aes, mas no a sua lgica, no necessariamente absorve novos conhecimentos e prticas.

    Tabela 5: Relao entre o rgo judicial e outras reas (relao com o input) Ocorrncias:

    Tipo de relao: 1 edio 2 edio 3 edio TOTAL

    1. Equipe multidisciplinar inserida na equipe do projeto 13 2 5 20

    2. Encaminhamentos / parcerias 11 4 1 16

    3. Outros conhecimentos que interferem na produo da poltica 4 1 1 6

    Na tentativa de estabelecer, mesmo que arbitrariamente, graus de relao entre o Poder Judicirio e outros conhecimentos e prticas, poderamos dizer que o item 3 significa o mais prximo de uma relao de cooperao e conhecimento mtuo, de intercmbio de lgicas e produo do novo, de interdisciplinaridade, no lugar de multidisciplinaridade;

    13 Idem.

  • o item 2, o caso mais prximo de uso de outras reas pelo sistema judicial, sem interferncia destas em sua forma de agir; e o item 1 como um meio termo, algum grau de interferncia, j que significa, ao contrrio do item 2, algum dilogo, mas no a ponto de modificar sua prtica. Existem profissionais de outras reas, mas atuando dentro e separadamente da lgica jurdica. Pelo que se pde observar, as relaes entre o sistema judicial e outros sistemas esto muito mais, e concordando com Fragale Filho, para a contaminao e o uso do que para o dilogo. Talvez as respostas resistentes assinaladas pelo autor (defensivas, corporativas, autoritrias, e hermticas) acabam aqui se traduzindo na relao de uso e de parceria, sem dilogo. Cada um com suas funes, e com muito pouco em comum.

    Tambm chama a ateno a pequena quantidade de outputs (presena total de 17, lembrando, em um universo de 47 prticas), interferncias e provocaes do Judicirio em outras reas. Alguns juzes se colocaram como articuladores, mobilizando setores da sociedade (tanto para input como para output) e de fato levando diante os efeitos de seus programas. Outros pareceram consolidar de fato a relao de uso de outros conhecimentos: devem servir prestao jurisdicional, mas as aes judiciais no devem servir a mais nada.

    3.4. Pacificao social versus prestao de justia: um duelo real?

    Outra informao importante extrada das prticas analisadas a ocorrncia de projetos que, segundo suas palavras, visam a realizao da pacificao social. A Tabela 6 demonstra os programas em que este era um dos objetivos principais, ou ao menos argumentos aparentemente importantes para a prtica.

    Tabela 6: Ocorrncias de "pacificao social" dentre os objetivos: Edio: Prticas: rgo: Outros objetivos:

    Conciliao nos Feitos de Famlia TJMG Celeridade

    Justia Preventiva nas Escolas TJAP Celeridade Informao / capacitao

    Justia e Comunidade TJPA Celeridade Decodificao de

    contextos especficos

    Aumento

    de casos

    Judicirio Rio Abaixo Rio Acima TRT - 8 Regio Celeridade Decodificao de

    contextos especficos

    Aumento

    de casos

    1 edio

    Justia Cidad TJRJ Informao / capacitao Aumento de casos

  • Mediao Familiar TJSC Celeridade Justia substantiva

    Execuo Trabalhista TRT - 12 Regio Celeridade

    Conciliao de Primeiro Grau TJSP Celeridade 2 edio Novos Rumos da Execuo Penal TJMG Celeridade Auxlio administrativo

    A pacificao social vem relacionada com Celeridade em 8 das 9 vezes em que ocorre, e trs vezes relacionada com Aumento de casos. Ao que parece, a justia clere traz paz, na percepo destes formuladores. Aqui, precisamos compartilhar da dvida de Kim Economides: Mas estas reformas da terceira onda promovem o acesso justia ou o acesso paz? 14 Em comparao com as referncias justia substantivas, estas apareceram 17 vezes nas propostas analisadas; a paz social apareceu 9 vezes. Se analisarmos isoladamente a primeira edio, Justia substantiva apareceu 7 vezes paz social tambm. Somente em um dos casos ambas surgiram juntas. O alerta que este autor realiza no deve ser ignorado. H de se perquirir pela misso do Poder Judicirio. Alm disso, a pacificao social, ainda mais se relacionada com celeridade e aumento de casos por tantas vezes, como visto na tabela acima, expe a outro perigo, conforme explica Economides: a resoluo de disputas no pode ser necessariamente equiparada ao acesso justia, pois existe o perigo de serem oferecidas aos cidados as solues pacficas, (...), que, no entanto, permanecem aqum do resultado passvel de ser obtido caso os direitos legais fossem exercidos por intermdio do sistema judicirio formal 15. O alerta que, ao se priorizar a pacificao social, deixe-se de lado, em nome de uma justia clere, a justia substantiva. E pelo que se pde observar dentre as prticas premiadas, algumas delas prope algo muito parecido, se no coincidente, com essa substituio.

    3.5 Leituras e diagnsticos: formas de se observar a realidade

    Esta categoria procurou localizar como a observaod a realidade foi produzida. Em ltima instncia, a idia era captar a presena do uso de ferramentas cientficas e a incidncia da empiria como forma de orientao para a formulao de polticas, versus a espontaneidade e o achismo. No resultado final, a concluso sobre os dados indica

    14 ECONOMIDES, Kim. Lendo as ondas do Movimento de Acesso Justia: epistemologia versus

    metodologia? In: PANDOLFI, Dulce et al. Cidadania, Justia e Violncia. Fundao Getlio Vargas. Rio de Janeiro, 1999. Pg. 71 15

    Opus cit, pg 72.

  • que o achismo em muito supera a empiria: 69,39% das anlises eram leituras, contra 30,61% das prticas forma formuladas com base em dados empricos, como na Tabela 7:

    Tabela 7: Presena de Leitura e Diagnstico - Nmeros absolutos e relativos

    LEITURAS DIAGNSTICOS TOTAL TOTAL 1

    edio 2

    edio 3

    edio TOTAL 1

    edio 2

    edio 3

    edio N

    absolutos 34 22 6 6 15 8 3 4 49 N

    relativos 100,00% 64,70% 17,65% 17,65% 100,00% 53,39% 19,92% 26,69% 100,00%

    Ainda possvel, com base no Grfico 2, comparar-se o ritmo de um e de outro de acordo com a edio do Prmio: h, claramente, um esforo mais recente em se utilizar, nas polticas analisadas, dados empricos; mas este esforo ainda tmido, o que pode significar uma preponderncia da anlise espontnea sobre a avaliao cientfica.

    Grfico 2: Presena de Leituras e Diagnsticos comparada por Edio

    22

    6 6

    8

    3 4

    05

    101520253035

    1 edio 2 edio 3 edio

    DIAGNSTICOSLEITURAS

    Os riscos desta tendncia so enormes: se uma ao planejada a partir do feeling de uma pessoa, nada impede que o mesmo feeling de outra faa cessar a poltica pblica. Poltica pblica orientada pelo achismo significa pouca institucionalidade: em sendo o juiz promovido ou transferido, as chances da prtica j que baseada na precariedade da intuio ser interrompida so muito grandes.

    Outro risco preocupante se relaciona com os custos de uma poltica pblica da dimenso das registradas pelo Innovare: pode-se estar perseguindo moinhos de vento ao se mirar

  • em drages. Tal qual o personagem de Cervantes, que enxergava o que queria ver, possvel (embora as limitaes que o modelo de anlise ora executado proporcionam no permita extrapolar os dados nem afirmar com absoluta certeza) que se esteja seguindo intuies e mirando em problemas que no meream tantas atenes ou recursos. Desperdia-se assim o errio pblico, tanto quanto esforos humanos e materiais. Se no podemos, come estes dados, afirmar que isto acontece, ao menos podemos dar o alerta de que pode acontecer.

    3.6 Autor da anlise x modo de anlise

    Assim, nos cabe aprofundar a percepo sobre como essa anlise (mais intuitiva que cientfica) feita, ou ao menos por quem feita. Inicialmente, localizou-se quem fazia privilegiadamente a anlise: se o Judicirio/ formulador judicial da prtica (rgos essenciais justia includos) ou se agentes externos especializados ou ao menos dedicados realizao de diagnsticos. Ou ainda, se a maior ocorrncia era a de parcerias entre os primeiros e os segundos.

    O segundo esforo seguiu no sentido de se relacionar o tipo de autor de anlises mais comum com o tipo de anlise produzida, se leitura ou se diagnstico. A Tabela 8 nos ajuda a entender:

    Tabela 8: Protagonista da anlise POR TIPO DE ANLISE - Desconsiderando diagnsticos superficiais

    LEITURA DIAGNSTICO

    TOTAL* 1 edio 2 edio 3 edio TOTAL* 1 edio 2 edio 3 edio

    Anlise produzida pelo rgo/tribunal/juizes 33 20 6 7 8 6 1 1

    Anlise produzida por pessoa/instituio externa 1 1 0 0 4 2 2 0

    rgo/tribunal/juizes + agentes externos 0 0 0 0 1 0 0 0

    * O nmero de leituras parece no bater com o Grfico 1 (16); essa diferena foi encontrada pois uma das prticas (p.ex., Centro de Recuperao Regional de Paragominas) produziu leitura e diagnstico

  • mais comum que a anlise seja intuitiva, como visto mais acima; e tambm mais comum, segundo estes dados, que a anlise seja feita pelo prprio judicirio/ rgo essencial justia (39 ocorrncias) do que realizada por ator externo (5 ocorrncias) ou em parceria (1).

    Quando a anlise intuitiva (leitura), feita na maior parte pelo prprio juiz/defensor/promotor (97,05% das leituras); quando emprica (diagnstico), a presena de auxlio de rgo externo (ncleo universitrio, centro de pesquisa, etc.) maior, mas ainda pequena (33,33%); O nmero global de anlises feitas pelo prprio rgo (tribunal/rgo como protagonista da anlise) tambm maior (89,13%%).

    3.7 Possibilidade de comparao e de verificao de resultados: presena de dados ps-prtica

    Buscou-se ainda verificar que meios as prticas mantinham disponveis para que se pudesse realizar verificao de resultados, ou seja, se a prtica permitia avaliar o efeito de sua interveno da realidade.

    Este no era um critrio ou campo de preenchimento necessrio, ou seja, requisito para o Innovare. Entretanto, razovel pensar que existe uma diferena entre afirmar que a prtica importante gera efeitos positivos na sociedade, e mostrar que ela de fato importante. Essa relao entre um e outro demonstrada na Tabela 9 e no Grfico 3:

    Tabela 9: Presena de dados "ps-prtica" Disponibilizao de dados quantitativos sobre a prtica

    DADOS "PS-PRTICA" DISPONVEIS? EDIES

    SIM NO 1 edio 19 10 2 edio 4 4 3 ediao 5 5 TOTAL 28 19

  • Grfico 3: Presena de Dados Ps-Prtica - Comparao entre Edies

    19

    4 5

    10

    4 5

    05

    101520253035

    1 edio 2 edio 3 ediao

    NOSIM

    A maior parte das prticas apresenta dados16 aps o seu incio (59,57%); mas uma parte dos dados superficial (35,71%), nem permite comparao com o perodo anterior prtica.

    Note-se que uma das prticas17 que tornavam disponvel dados pr e ps (ou seja, possibilitavam uma anlise quantitativa) afirmava, como resultado positivo, a diminuio de casos, mas mesmo uma leitura rpida das tabelas apresentadas demonstravam que, na verdade, os casos aps a implementao da prtica haviam aumentado...

    Consideraes finais

    Novas polticas de prestao de justia compem um terreno vasto, a ser explorado. Pelo momento, pudemos apenas observar um universo limitado, mas representativo, com a chancela de uma escolha como o prmio Innovare. E a partir da, j se pode perceber que no se trata de uma reforma do Judicirio o que se est compondo, mas vrias. Cada uma olhando para trs e para frente de maneiras bem diversas. A nfase na celeridade flagrante. Prticas localizadas nos mesmos estados ou regies, e portanto integrantes de contextos muito semelhantes, fazem anlises completamente diversas do problema, e consequentemente, seguem caminhos igualmente diversos. Na obra j citada, Fragale Filho compe trs tipos ideais, com base nas diversas vises da reforma

    16 No se limitou aqui aos dados quantitativos, mas tambm realizao e disponibilizao de dados por

    outros caminhos, como a anlise qualitativa. 17

    Pareceu cordial no apont-la diretamente; mas a prpria ocorrncia alarmante.

  • do Judicirio18. A viso corporativo-conservadora, a viso do Judicirio democrtico, e a viso do Judicirio mnimo. Tais prticas aqui narradas corroboram com estes tipos, embora lhe acrescentem alguns dados a mais. As respostas so muito diversas para se afirmar que h alguma unicidade. Pelo contrrio, muitas vezes essas mesmas prticas no se comunicam, no se colocam para o debate. Um dos problemas nessa(s) reforma(s) a ausncia do dilogo. Ao se colocar como resistente s demais lgicas, o Judicirio no responde s suas interferncias, que continuam em ao. No essa postura que o proteger nem deve proteger da influncia de outros sistemas. A questo so as bases em que essa troca, essa interferncia se d. Como novo tipo de resposta, o uso destas outras reas, cada um com suas funes, mas nada de dilogo. Os riscos so enormes. Ao dar estes tipos de respostas, o Judicirio, alm de perder grandes chances de transformao positiva, acaba por consolidar uma prtica de isolamento contrrio a alguns dos objetivos de diversas aes, a aproximao entre a sociedade e o Poder Judicirio. Quanto mais hermtico, mais distante. Mesmo que atenda em praas aos sbados.

    Outra preocupao que surge a partir da anlise destes dados a nfase em se fazer mais do mesmo. No entra em discusso, em muitas das prticas, o tipo de servio prestado, mas a sua quantidade. o prprio conceito de qualidade do servio que est em jogo. aceitvel que a prestao jurisdicional clere e eficiente, com economia de recursos e de tempo, muito melhor que uma justia lenta e ineficaz. Mas ainda h pouca discusso sobre o que se est distribuindo, e como se est distribuindo.

    Estas linhas buscaram responder em parte pergunta com a qual iniciamos este texto, a indagao que h mais de dez anos atrs se fazia Joo Baptista Herkenhoff: para onde vai o direito? Algumas direes foram rastreadas, mas a concluso final traz notcias interessantes ao mesmo tempo intrigantes: so vrias as direes, o que pode significar pluralidade ou conflito. Especialmente se lembrarmos que a justia substantiva recebeu pouca ateno da maior parte das aes aqui analisadas, quase to pouca quanto a decodificao de contextos especficos. Poderamos tentar explicar este fato pela atual satisfao dos juristas (ao menos os formuladores das polticas em questo) com o produto que oferecido; pela compreenso de que este produto adequado em qualquer

    18 FRAGALE FILHO, Roberto. Poder Judicirio: Os riscos de uma agenda quantitativa. Mimeo. Pg. 3.

  • contexto, bastando que seja clere. O conhecimento tcnico se afirma aqui como onipotente, solitrio, auto-suficiente.

    BIBLIOGRAFIA

    CENTRO JUSTIA E SOCIEDADE DA ESCOLA DE DIREITO DO RIO DE JANEIRO DA FUNDAO GETLIO VARGAS (org.). A Reforma Silenciosa da Justia. Fundao Getlio Vargas. Rio de Janeiro, 2006.

    __________________________________________. A Reforma Silenciosa da Justia. Fundao Getlio Vargas. Volume II. Rio de Janeiro, 2007.

    __________________________________________. A Reforma Silenciosa da Justia. Fundao Getlio Vargas. Volume III. Rio de Janeiro, 2007B.

    ECONOMIDES, Kim. Lendo as ondas do Movimento de Acesso Justia: epistemologia versus metodologia? In: PANDOLFI, Dulce et al. Cidadania, Justia e Violncia. Fundao Getlio Vargas. Rio de Janeiro, 1999.

    FRAGALE FILHO, Roberto. Poder Judicirio: Os riscos de uma agenda quantitativa. Mimeo.

    HERKENHOFF, Joo Baptista. Para onde vai o Direito? Reflexes sobre o papel do direito e do jurista. Livraria do Advogado Editora. 2 edio. Porto Alegre, 1997.