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RELATÓRIO DE ATIVIDADES 2011

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RELATÓRIO DE ATIVIDADES 2011

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Índice

Introdução ................................................................................................................... 3

Eixo 1 – Alternativas para o desenvolvimento com Equidade e Sustentabilidade .........................................................................................................

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Eixo 2 – Democracia e Participação: fortalecimento da sociedade civil para a exigibilidade de direitos .............................................................................................

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Eixo 3 – Comunicação para o Fortalecimento de estratégias Políticas ................ 46

Eixo 4 – Agendas para uma Nova Sociedade .......................................................... 56

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Introdução

Ao mesmo tempo em que o Brasil passa por um crescimento econômico que redefine a posição de segmentos vulneráveis na sociedade e que o país ganha importância no contexto econômico e geopolítico global, ainda estamos em uma situação precária do ponto de vista da efetivação dos direitos e acesso a políticas públicas. Durante 2011, as ONGs viveram momentos difíceis do ponto de vista de sua sustentação econômica; e, do ponto de vista político, houve também um processo de criminalização dos movimentos sociais com conseqüências para a sociedade civil organizada. É verdadeiro afirmarmos que avançamos nos últimos anos na construção democrática a partir da sociedade. A realização de conferências (74 conferências, 40 temas inéditos) é um forte indicador, mas ainda encontramos resistência quanto à incorporação dos grandes temas estratégicos no debate nacional. Avançou-se também na construção de um marco regulatório para a organização da sociedade civil, mas o processo ainda está em andamento e não sabemos quais serão os resultados finais para o fortalecimento e radicalização da democracia brasileira. O Pólis nesse novo cenário tem desenvolvido várias ações de fortalecimento dos atores sociais e redes de defesa dos direitos de cidadania focando em instrumentos legais, pesquisas, produção de conhecimento, capacitação e mobilização de redes para a construção de direitos. Para o fortalecimento da sociedade civil, o Pólis contribuiu de várias formas no campo da regulação urbana e nos processos decisórios que institucionalizam a luta pelo direito à cidade. Destacamos a nossa participação na formulação da proposta de projeto de lei do Sistema Nacional de Desenvolvimento Urbano aprovado pelo Ministério das Cidades; a participação no Conselho Municipal de Habitação de São Paulo, exigindo junto aos movimentos sociais a moradia digna. Contribuímos também na construção da pauta de reivindicações apresentada pelo Fórum Nacional de Reforma Urbana ao governo, onde se destacam o controle social sobre as obras do PAC e do Programa Minha Casa Minha Vida e a aprovação da Emenda Constitucional PEC 285/2008, que inclui na Constituição Brasileira 1 % do orçamento no âmbito federal e 1 % do orçamento, no âmbito estadual e municipal, para moradia popular. Também contribuiu para o balanço de dez anos de implementação do Estatuto da Cidade por meio da realização e/ou participação em congressos, oficinas e seminários regionais em várias capitais reunindo urbanistas, arquitetos e gestores, em parceria com outras organizações. Ainda no fortalecimento da sociedade civil e sua representação destacamos a nossa presença nas conferências municipais de segurança alimentar de vários municípios e região metropolitana e na organização da Conferência Estadual de Segurança Alimentar e atuação no Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (FBSSAN). Atuamos na realização de campanhas para fortalecer a mobilização para a efetivação do direito à alimentação de todos os brasileiros, articulados com outras campanhas em curso - agrotóxicos, transgênicos e regulação da

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publicidade. Atuamos também na elaboração de propostas intersetoriais de políticas públicas de segurança alimentar no campo da cidadania alimentar e agricultura urbana. Em novembro de 2011 realizou-se a IV Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional para debater o Plano e o Sistema Nacional de Segurança Alimentar. O Pólis mobilizou redes internacionais focando na elaboração de estratégias para se contrapor à instalação de incineradores de lixo no país, tecnologia considerada, pelas redes com as quais o Instituto se articula, como de alto impacto social, ambiental e econômico. Também participou de Campanhas da Coalizão Nacional contra a Incineração de Lixo, tendo tomado a iniciativa de articular uma plenária na Câmara Federal dos Deputados para debater a questão da instalação de incineradores no país, tendo contado com a presença de representantes das redes Gaia - Alternativas à Incineração, Lacre - Rede Latinoamericana de Recicladores (Catadores) e France Liberté. É necessário destacar que o Pólis, no campo da disseminação de políticas públicas de reaproveitamento de resíduos sólidos urbanos, concluiu a terceira etapa da pesquisa Dimensões de Gênero no Manejo de Resíduos Sólidos Domiciliar em Cidades da América Latina, que revela a importância das mulheres catadoras na classificação de materiais recicláveis e que são as que praticam com maior qualificação a educação ambiental. Este é um projeto de pesquisa-ação, dentro do qual foram realizados debates com cidades da América Latina, envolvendo diretamente Lima, Montevidéu, Cochabamba e São Paulo. A pesquisa também resultará em plataforma com propostas de políticas públicas que promovam equidade de gênero no contexto do trabalho e da vida das catadoras e catadores na America Latina. Desenvolvemos também no âmbito do Observatório dos Direitos do Cidadão- através do Projeto Educação em Direitos Humanos e Políticas Públicas - projeto que busca qualificar as lideranças para a intervenção em políticas públicas para garantir direitos. Destacamos no campo da pesquisa o estudo Avanços e Desafios da Democracia Participativa: renovando utopias. Esse estudo busca avaliar a democracia participativa praticada na última década, comparar com as utopias que moveram a busca pela participação e apontar desafios e cenários possíveis, sempre em diálogo com redes e movimentos como a Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político. Ainda sobre o tema de participação, como coordenadores da rede mundial LogoLink – Citizen Participation and Local Governance, coordenamos um processo de sistematização dos 10 anos de existência da rede, o que gerou uma publicação sobre experiências de participação cidadã nos governos locais na América Latina, Ásia e Américas. Outros temas também ganharam presença no período em avaliação. O Pólis trabalhou no campo do fortalecimento de alternativas ao desenvolvimento a partir de temáticas das tecnologias de inclusão social, entendendo o uso tecnológico como disputa política; trabalhamos com um banco

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de tecnologias buscando disseminar este tipo de experiências que, em interação com comunidades, representam soluções de transformação social. Desenvolvemos também ações de mobilização de redes no campo das mídias livres e cidadania cultural centrando no direito à cidade, contribuindo para fortalecimento dos circuitos democráticos de circulação de informação de produção e cultura, dando visibilidade e maior abrangência e alcance de segmentos urbanos excluídos dos meios de comunicação. Ainda no campo das mídias, o Le Monde Diplomatique ampliou o seu raio de ação, com aumento de tiragem, dossiês especiais, interfaces web, aumento de vendas, trazendo temas desafiadores para o debate nacional e circulando entre atores relevantes das redes e movimentos sociais. O Pontão de Convivência e Cultura de Paz difundiu valores e metodologias de cultura de paz ao realizar encontros nacionais e internacionais de redes de paz com a participação dos mais importantes segmentos e atores de referência neste campo, e também ao capacitar os pontos de cultura para construir metodologias na resolução de conflitos. Destacamos também a presença de nossas ideias, reflexões, publicações, intervenções ao fortalecermos a nossa comunicação entendendo-a como um instrumento político e cultural interativo, em diálogo com a sociedade civil. A mudança do sítio, com ferramentas mais ágeis e modernas, facilitará uma presença maior no debate público e na circulação de informações na sociedade.

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Eixo 1 - Alternativas para o Desenvolvimento com Equidade e Sustentabilidade

Em 2011, o Pólis contribuiu para avançar os debates e influenciar diversos atores sobre os temas relativos ao desenvolvimento com equidade e sustentabilidade, principalmente nas áreas de segurança alimentar e nutricional, políticas públicas voltadas à questão do urbanismo, das políticas públicas de reaproveitamento de resíduos sólidos urbanos com sustentabilidade e inclusão das catadoras e catadores, e também nos debates sobre tecnologias sociais. Pólis organizou e participou de encontros sobre consumo responsável, alimentação adequada e saudável, dentre outros, influenciando atores chaves, como durante a IV Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, e também no processo de elaboração da conferência. Além de ter realizado também pesquisas sobre o tema. O Instituto também contribuiu com a formulação de políticas urbanas voltadas à distribuição equitativa dos benefícios da urbanização e a melhoria de vida nas cidades ao promover pesquisa, encontros e seminários sobre o tema, como, por exemplo, o seminário nacional de balanço dos 10 anos de Implementação do Estatuto da Cidade. Pólis deu continuidade também aos trabalhos que desenvolve sobre urbanização, regularização e integração de assentamentos precários, tendo papel importante no processo de regularização fundiária de Munk, por exemplo. Importante atentar que há mais de dez anos, o Pólis vem atuando na discussão sobre a alteração do arcabouço jurídico nos municípios do Brasil adaptando-os aos instrumentos trazidos pelo Estatuto da Cidade. A contribuição do Pólis à construção e disseminação de políticas públicas de reaproveitamento de resíduos sólidos urbanos com sustentabilidade e inclusão das catadoras e dos catadores tem sido de suma importância para a sociedade civil e movimentos sociais. Em 2011, foi concluída, por exemplo, a terceira etapa da pesquisa Dimensões de Gênero no Manejo de Resíduos Sólidos Domésticos em Cidades da América Latina, que traz interessantes análises sobre mulheres catadoras que desenvolvem predominantemente a classificação dos materiais recicláveis. Pólis, ao longo do ano passado, realizou também alguns encontros nacionais e internacionais para debater o tema de resíduos sólidos, dentre os quais se destaca o encontro voltado para elaborar estratégias de ação no combate à instalação de incineradoras de lixo. Válido atentar para a atuação importante do Instituto nas ações de mobilização em São Bernardo do Campo – SBC (município da região do Grande ABC, São Paulo), para impedir instalação de incineradora. O Instituto participou por mais de uma década do processo de elaboração da Política Nacional de Resíduos Sólidos, sancionada e regulamentada em 2010. Em 2011, contribuiu para a elaboração do Plano Nacional de Resíduos Sólidos, além de ter participado de diversos debates públicos sobre o tema.

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Finalmente, é importante atentar para o fato do Pólis ter continuado seu trabalho de melhora e atualização de banco de experiências de tecnologias sociais (www.tecnologiasocial.org.br) buscando a disseminação desse tipo de experiência. Abaixo apresentamos os resultados desse eixo e detalhamos os projetos e ações citados anteriormente. Resultado 1 - O Pólis contribuiu para a construção de novos paradigmas de desenvolvimento que garantam nexos sustentáveis entre espaços urbanos e rurais, políticas de segurança alimentar e de inclusão social. Dando continuidade ao trabalho desenvolvido pelo Pólis na temática dos grupos de consumo como estratégia de escoamento urbano de produtos provenientes da agricultura familiar orgânica, o Instituto Pólis participou da organização, juntamente com o Instituto Kairós, do Encontro dos Grupos de Consumo Responsável, em Parelheiros, no extremo sul da cidade de São Paulo. O encontro, realizado entre os dias 28 a 30 de agosto de 2011, buscou promover o diálogo entre diversas experiências brasileiras de prática do consumo coletivo, fenômeno que recentemente volta a ser discutido no Brasil como estratégia para fortalecer empreendimentos de economia solidária e da agricultura familiar. Estes, que se caracterizam por uma escala de produção pequena e pela organização autogestionária dos trabalhadores, não conseguem colocar seus produtos nos supermercados, que só incluem em suas gôndolas produtos advindos de grandes indústrias. Dessa forma, por meio de grupos de consumo, pessoas interessadas em comprar produtos da economia solidária se organizam para construir canais de comercialização diretos entre produtor e consumidor. O encontro contou com aproximadamente 50 participantes, vindos de 13 diferentes estados do Brasil, representantes de 13 Grupos de Consumo Responsável e de entidades parceiras. A partir do diálogo entre estes atores, o encontro buscou promover o reconhecimento dos sujeitos que atuam com consumo responsável, avançar na construção de uma identidade comum, avaliar as fragilidades e potencialidades das experiências e consolidar os consumidores organizados como atores políticos no movimento da economia solidária. Ao longo do encontro foram discutidos diversos temas relacionados a tais experiências, como a tecnologia da informação como ferramenta de gestão e comunicação para o consumo coletivo, a identidade e papel político dessas experiências no movimento de Economia Solidária, a educação para o consumo responsável a partir da discussão dos hábitos dos consumidores e a apresentação da Campanha Nacional de Comércio Justo e Solidário atualmente em construção pelo Faces do Brasil. Um destaque do encontro foi a proposta de criação de uma “Rede de Grupos de Consumo Responsável” envolvendo todas as experiências presentes e entidades parceiras que trabalham com a temática. Como fechamento das atividades, foi construído um plano de ação coletivo e os

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presentes ficaram de levar esta proposta para suas instituições pautando suas respectivas inserções na Rede. Uma das experiências presentes no encontro foi a Cooperecosol, uma iniciativa de consumo responsável que ocorre em Passo Fundo, no estado do Rio Grande do Sul, que foi recentemente estudada pelo Pólis no âmbito do Projeto Novos Paradigmas de Produção e Consumo. O projeto piloto demonstrativo de agricultura urbana, de base agroecológica denominado Cidadania e Autonomia Alimentar: uma experiência de agricultura urbana integrada e sustentável mencionado no relatório anterior, foi executado em 2011 e será relatado no Eixo 2, junto com as demais atividades de qualificação, articulação e mobilização das entidades participantes do Centro de Referência de Segurança Alimentar e Nutricional (CRSAN). Em relação à área de segurança alimentar e nutricional do Pólis, o ano de 2011 foi marcado pela mobilização da sociedade brasileira em torno da realização da IV Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional ocorrida entre 9 e 11 de novembro em Salvador/Bahia. Com o lema “Alimentação Adequada e Saudável: direito de todos”, a conferência se propôs a debater três eixos temáticos:

• Avanços, ameaças e perspectivas para a efetivação do direito humano à alimentação adequada e saudável e da soberania alimentar;

• Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (PLANSAN); • Sistema e Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional.

Lançado em agosto de 2011, o PLANSAN foi elaborado pelos 19 Ministérios que compõem a Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional (CAISAN), cumprindo a meta estipulada pelo Decreto 7.272 de 2010, que previa a sua publicação no prazo de um ano. Dentre as diretrizes do plano, cabe mencionar a diretriz 2, do objetivo 1, que prevê o “Fomento do abastecimento alimentar como forma de consolidar a organização de circuitos locais e regionais de produção, abastecimento e consumo para a garantia do acesso regular e permanente da população brasileira a alimentos, em quantidade suficiente, qualidade e diversidade, observadas as práticas alimentares promotoras da saúde e respeitados os aspectos culturais e ambientais”. Dentre as metas prioritárias para 2012-2015 do PLANSAN alinhadas a essa diretriz, consta a efetivação de uma “Política Nacional de Agricultura Urbana”, mas sem detalhamento quanto a sua forma de implantação. Na medida em que a metodologia de trabalho da IV Conferência previa a realização de Encontros Temáticos Nacionais preparatórios à etapa nacional, o Pólis, como membro do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA), em parceria com entidades do campo do Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (FBSSAN), articulou-se com entidades do Fórum Nacional da Reforma Urbana (FNRU) para a formação de um Grupo de Trabalho (GT). Este GT tem o intuito de desenvolver um conjunto de atividades para a realização do Encontro Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, no contexto da Política Nacional de

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Desenvolvimento Urbano (PNDU) com o objetivo de: ampliar o debate de SAN no contexto Urbano e elaborar uma agenda de temas a serem aprofundados; discutir os programas de SAN implementados no meio urbano; propor diretrizes para implementação de Políticas de SAN no meio urbano; mobilizar movimentos populares, organizações e fóruns urbanos; construir consensos, conclusões e recomendações para a IV CNSAN. É preciso salientar que a participação do Pólis nas atividades do GT do CONSEA demandou inicialmente uma integração das áreas de urbanismo e segurança alimentar da instituição, favorecendo um frutífero intercâmbio de conhecimentos e reflexões, com a participação do arquiteto Kazuo Nakano, técnico do Instituto, em todas as etapas do processo, inclusive como palestrante do Encontro Nacional. O encontro realizado nos dias 10,11 e 12 de agosto de 2011 tratou dos seguintes temas: acesso à terra e a produção de alimentos em áreas urbanas e periurbanas; acesso à alimentação adequada e saudável; questões de saúde e ambientais urbanas implicadas na efetivação do DHAA; integração das Políticas de SAN com as Políticas de Desenvolvimento Urbano. Importa enfatizar que a agricultura urbana foi a temática de maior destaque no Encontro Nacional, com apresentação de diversas experiências municipais e grande interesse por parte dos representantes presentes. Questões como a necessidade de aprofundamento da questão alimentar no planejamento urbano, a identificação das conexões possíveis entre a agenda do DHAA e a do Direito à Cidade, a importância de estreitar os vínculos entre os planos diretores e planos de SAN no nível municipal e em que medida os componentes dos Planos Diretores Municipais podem interagir com os Planos Municipais de SAN foram objeto de intensas discussões. Como resultado, os participantes do encontro elaboraram uma agenda de temas a serem aprofundados pela próxima gestão do CONSEA, que terá início em 2012. Além de incorporar as principais contribuições do encontro no documento base da conferência, o CONSEA distribuiu durante a IV Conferência um Caderno de Discussão contendo a versão integral do documento. Outro aspecto a ser ressaltado é que as entidades integrantes do Grupo de Trabalho responsável pela organização do Encontro Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional no contexto da Política Nacional de Desenvolvimento Urbano (PNDU), dentre elas o Pólis, produziram a revista SAN & CIDADES, cujo lançamento constituiu-se em uma das atividades integradoras da IV Conferência. Destaque-se que os processos de crescimento simultâneo da urbanização e da massificação do consumo, ocorridos nas últimas décadas, provocaram profundas transformações nos padrões de produção e consumo, com vistas a atender uma demanda crescente por alimentos, implicando na expansão de relações capitalistas no espaço rural, como resposta às necessidades do sistema urbano industrial.

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Ao procurar uma maior produtividade e menor dependência dos fenômenos naturais, o processo de “industrialização” da agricultura se fez por meio da utilização intensiva de fertilizantes e defensivos químicos, de maneira que hoje o Brasil é o maior mercado de agrotóxicos do mundo. Importa destacar ao menos dois fatores decorrentes deste processo de unificação da agricultura com a indústria. Em primeiro lugar, no âmbito urbano, este processo impulsionou um modo de vida baseado no consumo excessivo de produtos industrializados com fortes repercussões na transformação dos hábitos alimentares. As características do perfil alimentar da população brasileira identificadas pela Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), de 2010, apontam os diversos problemas de saúde pública resultantes deste processo de transição. De acordo com a pesquisa ainda persistem percentuais de desnutrição, convivendo com o crescimento explosivo do sobrepeso e da obesidade, em níveis epidêmicos, além do aumento expressivo da incidência de doenças crônicas não transmissíveis (diabetes, hipertensão, câncer, doenças cardíacas, alergias, etc). Reconhecida como um fator protetor, o consumo adequado de frutas, verduras e legumes (cinco porções diárias) é realizado por apenas 20,9% da população. Nesse sentido, cabe lembrar a importância da implantação de estruturas de abastecimento para a criação de condições de acesso aos alimentos e controle dos preços. No entanto, o que ocorre é uma crescente oligopolização da rede varejista de supermercados, onde as cinco maiores redes detêm 46% do mercado, dificultando o acesso, principalmente para as populações que residem em periferias de regiões metropolitanas. A pesquisa sobre a situação da insegurança alimentar no Brasil, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, em 2009, baseada na Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA), apontou que do total dos domicílios urbanos, 29,4% estão em situação de insegurança alimentar. Tal quadro está associado ao segundo fator a ser mencionado, qual seja, a desigualdade e a insustentabilidade do padrão de desenvolvimento da urbanização. O inchamento das cidades e o crescimento de favelas são conseqüências não só da expulsão de grandes contingentes de trabalhadores do campo para as cidades, como da falta de planejamento urbano determinando a expansão das cidades sobre áreas rurais, a degradação ambiental, os impactos no clima, a segregação sócio-territorial, a desigualdade no acesso aos serviços e à infraestrutura principalmente nas periferias das grandes cidades e das metrópoles. Essa população não tem acesso à moradia digna e às políticas públicas que garantam o direito à cidade. Os dados do Programa Brasil sem Miséria mostram que a pobreza extrema é um fenômeno rural e urbano e atinge atualmente cerca de 16 milhões de pessoas, das quais 53% estão na área urbana. Ressalta-se o fato de que 71% dos extremamente pobres são negros. O último Censo 2010 apontou que em 2000, 81% dos brasileiros viviam em áreas urbanas, e agora já são 84% (IBGE, 2010). Os problemas resultantes da formação de grandes aglomerações

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em poucos territórios dizem respeito à saúde pública e ao meio ambiente a exemplo da poluição do ar, do solo, da água e ao aumento da violência urbana. Tal quadro de grandes transformações vem fortalecendo, no Brasil, nos últimos anos, a temática da Agricultura Urbana e Periurbana (AUP) com o objetivo de colaborar na geração de cidades sustentáveis, saudáveis e produtivas. Resultado 2 - O Pólis contribuiu para a formulação de políticas urbanas que promovam a distribuição equitativa dos benefícios da urbanização e a melhoria de vida nas cidades. Em 2011, referente às atividades sob o tema do planejamento territorial, procurando pesquisar, avaliar e formular políticas territoriais de forma a garantir o direito à cidade e o acesso à terra urbanizada, destaca-se que o Instituto Pólis organizou no âmbito da Pesquisa Nacional de Avaliação sobre os Planos Diretores Participativos um seminário nacional de balanço dos 10 anos de Implementação do Estatuto da Cidade que contou com participantes de diversos segmentos da sociedade e contou com transmissão online que possibilitou um número maior de pessoas com acesso aos debates e discussões do evento. O Pólis, em parceria com o Instituto Brasileiro de Direito Urbanístico – IBDU, investiu em congressos, seminários e oficinas regionais de balanço de Implementação do Estatuto da Cidade que foram realizados nos meses de agosto a novembro em Porto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador, Belo Horizonte, Fortaleza e Brasília. Estes eventos foram importantes para avaliar, nas diversas regiões do país, as questões e temas que precisam ser enfrentadas para os municípios adotarem em suas políticas urbanas a plataforma da reforma urbana contida no Estatuto da Cidade para a construção de cidades democráticas, justas e sustentáveis. O seminário ocorreu de 21 a 23 de fevereiro de 2011 em São Paulo. O Pólis, junto com o Ministério das Cidades e o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, reuniu urbanistas, arquitetos, juristas, gestores públicos e representantes de movimentos populares para debater os avanços e desafios na implementação do Estatuto da Cidade. Dentre os vários temas discutidos no seminário, alguns tiveram maior destaque como a regulação do uso e ocupação do solo e a relação com a questão ambiental urbana, e o planejamento e a gestão urbana no Brasil. Na discussão sobre a Regulação do Uso e Ocupação do Solo e a Questão Ambiental Urbana, Heloísa Costa (UFMG) abordou a questão sobre o avanço e a importância de apostar e revisar os Planos Diretores, assim como de articular as agendas urbanas e socioambientais para evitar tragédias. Silvano Silvério da Costa (Ministério do Meio Ambiente) tratou da revisão do Código Florestal enfatizando a necessidade de incorporar trechos da resolução CONAMA. Outro aspecto importante, trazido por Kazuo Nakano, do Pólis, foi a da mercantilização do espaço urbano que reproduz desigualdades socioculturais, contestando o modelo de verticalização em curso nas

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cidades brasileiras. Kazuo cobrou ainda papel mais contundente do Ministério das Cidades na efetivação da reforma urbana no país. Nabil Bonduki (FAU - USP) afirmou a importância de regularizar o uso e ocupação da terra, “que é um bem restrito e irreprodutivo”, sendo menos permissivo e impondo mais limites ao poder econômico. Importante também a discussão sobre as mudanças na forma de atuação dos movimentos populares após a implementação do Estatuto da Cidade, especialmente em contexto de acirramento dos conflitos urbanos e fundiários, tratada por Benedito Barbosa, da União Nacional Por Moradia Popular (UNMP). Na discussão sobre o futuro do Planejamento e da Gestão Urbana no Brasil, o Ministério das Cidades, representado por Daniel Montandon, enfatizou a necessidade de ações estratégicas do Poder Público e da sociedade para implementação dos Planos Diretores e a importância do debate para a atuação do Ministério das Cidades. Raquel Rolnik, relatora especial para o Direito à Moradia da ONU, chamou a atenção para o contexto internacional de hegemonia neoliberal que nega a moradia como direito humano fundamental e a transforma em ativo financeiro, afirmando ainda que se trata de modelo estrutural de desenvolvimento sustentado por um tipo específico de fazer política. As discussões do seminário e de outros encontros subsidiaram conteúdo dos textos da publicação Os Planos Diretores Municipais Pós Estatuto da Cidade: balanço crítico e perspectivas, realizada pela Secretaria Nacional de Programas Urbanos do Ministério das Cidades e Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional. Com base no balanço feito nestes eventos de avaliação da implementação do Estatuto da Cidade, foi possível destacar os seguintes temas para serem enfrentados pelos municípios: a definição dos critérios e requisitos para o cumprimento da função social da propriedade urbana, a identificação e delimitação dos imóveis urbanos que não atendem a sua função social, o ordenamento territorial das áreas rurais e das áreas de expansão urbana, o tratamentos dos assuntos de interesse metropolitano, a regulamentação dos instrumentos da edificação e parcelamento do solo, do imposto sobre a propriedade urbana progressivo no tempo, da desapropriação para fins de reforma urbana, da regulamentação de instrumentos voltados a recuperação da valorização decorrente dos investimentos públicos, dos mecanismos de participação pública na implantação de projetos de grande impacto urbano e ambiental como os megaeventos esportivos (Copa do Mundo de Futebol e Olimpíadas). Uma iniciativa importante de incorporação das contribuições que foram feitas no processo de discussão e revisão da lei nacional de parcelamento do solo, em especial no Conselho das Cidades, foi a edição pelo Governo Federal da Medida Provisória 547 de 11 de outubro que estabeleceu a exigência do plano de expansão urbana, quando o município constituir em seu território áreas de expansão urbana. Esta exigência visa exigir que a implantação de loteamentos ou condomínios nestas áreas somente poderão ocorrer se atenderem o que for estabelecido no plano de expansão urbana. Este instrumento é fundamental para garantir que a expansão urbana

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seja feita em consonância com as diretrizes da política urbana como o direito a cidades sustentáveis, funções sociais da cidade e função social da propriedade. Pólis desenvolveu também trabalho referente à Implementação de Programa Urbanização, Regularização e Integração de Assentamentos Precários. O novo assentamento pactuado com os envolvidos neste projeto, no qual se iniciará novo processo para a regularização fundiária, denomina-se Munk. Neste local foi construído empreendimento habitacional para atender a demanda da Favela Jóia, e é localizado na região oeste do município de São Paulo, próximo da Rodovia Raposo Tavares. O processo de redefinição desta área continua em tratativas com a Caixa Econômica Federal e o Ministério das Cidades e o trabalho deve ser realizado no primeiro semestre de 2012. Ainda no primeiro semestre de 2011 foi concluído o trabalho desenvolvido com a Secretaria de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia que resultou na elaboração e edição de dois manuais de orientação para a atuação dos municípios neste Estado: um sobre a política e instrumentos de regularização fundiária de interesse social e outro sobre a política de habitação de interesse social. Um resultado de grande importância ainda no primeiro semestre de 2011 foi o fim da pesquisa Urbanização e Preço da Terra nas Franjas Urbanas em Municípios do Estado de São Paulo. Esse trabalho, que se iniciou em 2009, buscou investigar o processo de valorização fundiária decorrente da conversão do uso do solo de rural em urbano em municípios paulistas. O ponto de partida é a necessidade de aprofundamento nas dinâmicas contemporâneas de conversão das terras rurais em urbanas em municípios brasileiros. É recorrente a imagem de que essa valorização é de forma geral muito significativa, acarretando normalmente grandes benefícios para proprietários. Entretanto, os estudos preliminares mostram que o panorama da conversão de terras rurais em urbanas é bastante diversificado, passando por processos de diversas qualidades e diferentes níveis de rentabilidade para os promotores. Na etapa final da pesquisa, foi realizado um evento com especialistas durante o XIV Encontro da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional - ANPUR, realizado entre os dias 23 e 26 de março no Rio de Janeiro. A discussão em relação aos resultados finais da pesquisa contou com a participação de Nabil Bonduki, Paula Santoro e outros pesquisadores nacionais e internacionais. Ao fim, o estudo foi publicado na internet e em versão impressa. Iniciado em agosto de 2010, o projeto para formulação de manual para gestão social da valorização imobiliária nos municípios do vetor norte da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) teve seu desenvolvimento continuado ao longo de 2011, tendo sido finalizado em dezembro do mesmo ano com um seminário final. O projeto consistiu em uma avaliação dos processos de crescimento urbano e do arcabouço jurídico dos municípios e do governo do Estado

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de Minas Gerais buscando a proposição de instrumento e de estratégias de gestão para a recuperação da valorização fundiária a partir dos investimentos públicos que estão sendo feitos. A Região Metropolitana de Belo Horizonte concentra vários problemas decorrentes de um histórico processo de produção desigual do espaço urbano. O Governo do Estado de Minas Gerais vem estruturando, em conjunto com os municípios que integram a RMBH, uma estrutura de gestão e mecanismos de planejamento e ação de forma a atuar neste processo de forma integrada. A formulação do Plano Integrado de Desenvolvimento da RMBH foi um importante instrumento de planejamento na região, sendo uma de suas diretrizes a recuperação coletiva da apropriação privada dos investimentos públicos. Como parte integrante destas ações, estruturou-se este manual, cujo objetivo é fornecer subsídios para a gestão da valorização da terra, com foco nos municípios do Vetor Norte da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). Tais municípios sofrem impactos de grandes obras e intervenções realizadas e previstas pelo poder público como, por exemplo, os projetos de adequação e complementação viária (Linha Verde e Contorno Viário Norte), o Centro Administrativo de Minas Gerais, o Aeroporto Industrial. Sem dúvida, tais investimentos vão provocar mudanças positivas e negativas nos núcleos urbanos daqueles municípios. Uma das mudanças que certamente irá ocorrer é o aumento na valorização imobiliária associada a melhorias nas condições de acessibilidade que, por sua vez, ampliam as demandas por novos padrões de uso, ocupação e parcelamento do solo urbano e rural. A recuperação da valorização fundiária urbana deve ser parte integrante de um processo de planejamento e gestão do território. As aplicações de normas, critérios e outros mecanismos na regulação fundiária devem envolver compreensão detalhada e abrangente dos processos de urbanização e seus desdobramentos em relação às mudanças produzidas nos solos urbanos e rurais. Neste sentido, o Pólis, por meio de contrato junto à Agência de Desenvolvimento da RMBH, estruturou o manual buscando o fornecimento de orientações direcionadas para um público leitor formado por técnicos de prefeituras municipais, membros de conselhos gestores, lideranças sociais e profissionais que trabalham com o planejamento e gestão urbana. Dentre outras informações, o manual traz conceitos teóricos e jurídicos que fundamentam a gestão social da valorização do solo, e estrutura problemáticas existentes no território, buscando trazer orientações sobre a aplicação dos instrumentos para a recuperação das mais valias fundiárias de imóveis urbanos. A oportunidade de desenvolver este projeto veio ao encontro do acúmulo do Instituto Pólis sobre este tema, sobre o qual já realizou oficinas e publicações, além de atuar na defesa de uma agenda pela implementação do Estatuto da Cidade e dos planos diretores participativos em todo o país. Ao mesmo tempo em que o Pólis debate sobre as formas de enfrentar as questões do crescimento desordenado, a partir do uso dos instrumentos do Estatuto das Cidades, há quase uma década vem atuando também na discussão sobre a alteração do arcabouço jurídico nos municípios do Brasil adaptando-os aos instrumentos trazidos pelo Estatuto da Cidade. A revisão

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do Plano Diretor e da Lei de Uso e Ocupação do Solo de São Bernardo do Campo é um dos exemplos de como é possível integrar as legislações urbanísticas e dar maior aplicabilidade à legislação urbana. O município de São Bernardo está nos limites da Área de Proteção e Recuperação dos Mananciais da Billings (APRM-B). A recém aprovada Lei Estadual nº. 13.579/2009 sancionada no dia 15 de julho de 2009 definiu novas normas e diretrizes urbanísticas para a região de interferência da Área de Proteção e Recuperação da Billings, através de um mapeamento de áreas e subáreas de ocupação dirigida - AOD. Estabeleceu ainda que os municípios cujos territórios inserem-se nesta área devem “remanejar seus parâmetros básicos em cada subárea das AOD”, bem como “compatibilizar as leis municipais de planejamento e controle do uso do solo, do parcelamento e da ocupação do solo urbano às disposições desta lei” (Art. 8°, §2°, itens 1 e 2). O trabalho realizado pelo Pólis atualizou a legislação urbanística, de modo a compatibilizar o macrozoneamento e o zoneamento do Plano Diretor à Lei Específica da Billings e redefiniu a delimitação e a caracterização das macrozonas e zonas às normas, diretrizes e parâmetros de planejamento e gestão estabelecidos para cada uma das áreas de intervenção da Lei Específica da Billings. A atualização e adequação do Plano Diretor e a revisão da lei de uso e ocupação do solo são pressupostos absolutamente necessários para que as atividades de licenciamento ambiental sejam atribuídas aos municípios, no âmbito de sua competência, considerando inclusive sua integração com as demais políticas territoriais, por meio da criação de espaços multidisciplinares de discussão de gestão do território. Além da nova legislação da Billings, outras leis e planos foram incorporados à nova legislação, como os Planos de Mobilidade Urbana, de Macrodrenagem e de Áreas de Risco, além de projeto referente ao Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) – Tamanduateí. O princípio fundamental da metodologia é a integração entre planejamento e gestão, considerando a participação social na elaboração de todas as etapas do Plano Diretor. A articulação entre planejamento e gestão se materializa no anseio pela implantação de uma gestão democrática municipal na formulação e implementação das políticas públicas. Ela é o elemento estrutural para atingir o propósito da implementação do Plano Diretor, com controle social. Tanto para o processo de construção do plano quanto para sua aplicação prática devem ser firmados pactos entre todos os agentes sociais, econômicos e políticos no sentido de explicitar seus interesses e, ao mesmo tempo, formular propostas para concretização das ações. O processo envolveu estudos, diagnósticos e propostas realizados em conjunto com os técnicos e responsáveis por meio de realização de oficinas de trabalho que foram desenvolvidas ao longo do processo de revisão do Plano Diretor. Além destes projetos, o Plano Plurianual, realizado de forma participativa pela Prefeitura de São Bernardo, foi um importante insumo para os futuros

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investimentos na cidade. O Pólis também teve atuação importante em outros temas relativos ao uso do solo. O Instituto esteve presente no Seminário Nacional em Defesa do Código Florestal ocorrido em maio de 2011. Durante o seminário, enquanto membro da coordenação do Fórum Nacional de Reforma Urbana (FNRU), o Pólis elaborou um manifesto em repúdio ao conjunto de alterações propostas no Código. Além disso, assinou o documento final desse seminário, tendo em vista a necessidade de construção de uma agenda ambiental para as cidades, que interessa não só aos movimentos populares e comunidades vulneráveis, mas a toda a população. O Fórum Nacional de Reforma Urbana se somou aos movimentos sociais do campo e da cidade na denúncia às mudanças propostas para o Código Florestal. Com isto firmou seu posicionamento crítico e reiterou os princípios do Direito à Cidade, da Função Social da Terra e da Propriedade Urbanas e da Gestão Democrática como nortes de um modelo de desenvolvimento urbano mais justo, igualitário e sustentável. O Instituto Pólis colaborou também diretamente na produção do manifesto As cidades para as bicicletas do FNRU, resposta ao atropelamento de 15 ciclistas ocorrido em Porto Alegre - RS. O referido manifesto fomentou o debate em torno do tema de o grande problema estar na questão da infraestrutura destinada aos ciclistas, que não estimula os ciclistas tradicionais a fazerem uso da bicicleta com maior intensidade, tampouco atrai os usuários de outros modos de transporte. Contribuiu, assim, para estimular cobranças a fim de que sejam elaboradas metas ousadas para os próximos anos, visando à ocorrência de uma mudança significativa na mobilidade por meio de bicicletas no país. Resultado 3 - O Pólis incidiu nos debates sobre o processo de requalificação de centros urbanos das metrópoles brasileiras a partir das agendas da inclusão social e da habitação popular Desde 2009, o Pólis, através do Projeto Moradia é Central, vem produzindo material (painéis, folders, publicações) para realizar debates e discussões sobre o acesso à moradia nas áreas centrais das regiões metropolitanas com os movimentos de moradia organizados e entidades não governamentais que atuam no país. Nas últimas décadas, bairros localizados em periferias e cidades dormitórios das regiões metropolitanas tiveram elevados índices de crescimento populacional. Enquanto isso, bairros centrais com boa infraestrutura, oferta de serviços públicos e trabalho tiveram redução da população. O ritmo deste processo de esvaziamento populacional das áreas centrais tem diminuído nos últimos anos e até apresentado reversão em alguns municípios como, por exemplo, São Paulo (conforme dados do IBGE), onde o crescimento econômico, especialmente do mercado imobiliário, tem aumentado o interesse e a disputa pelas áreas mais centrais. No entanto, a produção de habitação de interesse social continua seguindo a lógica de produção periférica da cidade. Esta forma de expansão urbana, patrocinada pelo Estado, tem tornado as cidades cada

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vez mais insustentáveis nos aspectos ambiental, de mobilidade, de gestão pública e em termos de qualidade de vida. Uma parcela significativa da população urbana acaba tendo como opção morar em locais distantes dos benefícios produzidos pela cidade, como escolas, hospitais, creches, sendo que muitas vezes é obrigada a viver em áreas de riscos físicos e sociais. Historicamente os trabalhadores de baixa renda priorizaram morar nos bairros centrais devido à maior oferta de trabalho na região, ao baixo custo de deslocamento e pela disponibilidade de serviços públicos. Por esses e outros motivos, se explica, desde o início da formação destes centros, a grande concentração de cortiços ou habitações precárias e coletivas. No entanto, os trabalhadores são explorados nos aluguéis de tais moradias, que possuem em geral péssimas condições de habitabilidade. Frente às restrições de infraestrutura sofridas pelas populações das periferias, à exploração nos cortiços do centro, ao grande número de imóveis vazios nas áreas centrais, já na década de 1980 inicia-se a discussão sobre o direito da população de baixa renda morar dignamente na região central. Como consequência, tomou força o processo de formação de organizações populares com o objetivo de viabilizar a luta pelo direito de morar dignamente. Esses movimentos se mantêm ativos em várias cidades brasileiras, promovendo ações que visam à efetivação do Direito à Moradia. Com os movimentos organizados1, o Pólis em conjunto com o Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos realizou um seminário nacional e uma publicação, dando continuidade ao Projeto Moradia é Central apoiado pela OXFAM. O Seminário Nacional: Lutas e Experiências pela Moradia Digna Nas Áreas Centrais, realizado em outubro de 2011, com as lideranças nacionais do movimento de moradia, realizou uma avaliação e elaborou propostas para serem discutidas nos estados, e nas redes e movimentos nacionais. O processo de renovação urbana nas cidades, o alto preço da terra e a crescente utilização de instrumentos de valorização imobiliária, promovidos pelo poder público, como as operações urbanas e as concessões urbanísticas, empurram a população de baixa renda para locais cada vez mais distantes das regiões centrais. Os movimentos populares vêm resistindo cada vez mais a este modelo neoliberal de apropriação do território. Neste sentido, o seminário nacional apontou encaminhamentos de modo a nacionalizar definitivamente o debate sobre áreas centrais, como um lugar onde a população de baixa renda possa morar, estudar, trabalhar, ter lazer, habitar. Para enfrentar estes desafios e caminhar no sentido de efetivar propostas, os movimentos populares e

1 Associação de Cortiços do Centro (ACC - Santos), Central de Movimentos Populares (CMP - Belo Horizonte, Fortaleza, Rio de Janeiro e Salvador), Chiq da Silva (RJ), FASE (PE), Frente de Luta por Moradia (FLM-SP), Fundação Bento Rubião (RJ), Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB - Fortaleza), Movimento dos Sem Teto de Salvador (MSTS- BA), Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST- PE), Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM - Curitiba, Porto Alegre e Rio de Janeiro), União dos Movimentos de Moradia (UMM-SP), União Metropolitana por Moradia Popular (UMMP- BH) e União Nacional por Moradia Popular (UNMP - São Paulo, Curitiba, Salvador e Recife).

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as entidades necessitam urgentemente superar a fragmentação das lutas locais, aumentar o grau de consciência da população em defesa da moradia no centro e reforçar a pressão por uma política de moradia massiva nestas regiões. Ainda sobre a discussão sobre a moradia em centros urbanos, Pólis incidiu também nos debates sobre o processo de requalificação de centro urbano de São Paulo, participando da III Jornada da Moradia Digna. Cumpre lembrar que o Pólis participa ativamente desde a I jornada. Em 27 de fevereiro de 2011, a III jornada reuniu cerca de 50 pessoas de movimentos populares ligados ao movimento de moradia e à Agenda 21. Pólis organizou uma oficina temática para discutir a habitação no centro da cidade de São Paulo. Integrantes da equipe do Pólis fizeram palestra sobre o tema e coordenaram oficina que discutia sobre os principais problemas e desafios no centro de São Paulo. Ao final do encontro, junto com os participantes, elaboraram propostas e estratégias que poderiam ser adotadas pelo movimento de moradia para enfrentar os problemas de habitação do centro de São Paulo. Dentre os pontos discutidos, pode-se citar alguns como: a necessidade de ser ter moradia social no Projeto da Nova Luz, o fomento necessário ao programa Minha Casa Minha Vida - Entidades (voltado a movimentos organizados), a importância de se ter programas da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) que efetivamente atendam a população de baixa renda, o uso da terra pública para produzir moradia, e o fundamental controle dos recursos públicos destinados à moradia social. Resultado 4 - O Pólis contribuiu para a construção e disseminação de políticas públicas de reaproveitamento de resíduos sólidos urbanos com sustentabilidade e inclusão dos catadores Foi concluída, no ano de 2011, a terceira etapa da pesquisa Dimensões de Gênero no Manejo de Resíduos Sólidos Domésticos em Cidades da América Latina e seus resultados foram apresentados em oficina realizada entre 20 e 22 de junho de 2011 em Lima (Peru), conforme figura abaixo.

Foro Gestión Municipal de Residuos Sólidos con Inclusión de las y los Recicladores (Catadores): experiencias internacionales, no dia 21 de junho, no Salão dos Espelhos na Prefeitura de Lima, com a

presença da prefeita Susana Villarán De La Puente.

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A pesquisa revela que são as mulheres catadoras que desenvolvem predominantemente a classificação dos materiais recicláveis. Esse trabalho revela-se como uma etapa central do processo de recuperação de resíduos, dadas as exigências do mercado de reciclagem, ou seja, pode ser considerado como uma qualificação. Além disso, as mulheres são as que praticam com maior intensidade e cuidado o trabalho de educação ambiental, que garante que a população separe seus materiais adequadamente, reduzindo a parcela de rejeitos nas cooperativas e associações de catadores. Entre outras descobertas tem-se também a continuidade do trabalho de recuperação de resíduos em períodos de crise como foi o caso entre 2008-2009, em que os preços pagos pelos recicláveis sofreram grande queda. São muitos os desafios em termos de políticas públicas que tragam melhores condições de trabalho e qualidade de vida para as catadoras. Exemplos destes desafios são: o desenvolvimento de um programa que contemple o conjunto da categoria e garanta equipamentos (caminhão, prensa, balança, equipamento de proteção individual-EPI, etc.) e remuneração pelo trabalho prestado à cidade, assim como serviços de creches, saúde, previdência social, além de políticas de habitação, e de proteção contra a violência que sofrem as mulheres. O “nó crítico” da divisão sexual do trabalho divulgado na pesquisa aparece na descrição da divisão das atividades: "os homens valorizam mais o sair coletando, pegar peso, prensar, negociar e vender e se consideram mais preparados para isso e as mulheres se situam nas tarefas de triagem, o que exige mais dedicação e atenção e também que fiquem tempo maior num determinado local. Essa divisão costuma ser naturalizada". Apesar dos representantes de indústrias recicladoras dizerem que as mulheres são naturalmente “caprichosas”, dedicadas e boas selecionadoras de materiais (a chamada “funcionalização das mulheres”), a pesquisa revela que os mesmos se esquivam de pagar melhor pelo trabalho de triagem. Ainda no contexto desta pesquisa, o Pólis realizou o Encontro Gênero e Resíduos Sólidos em cidades da América Latina com o objetivo de debater os resultados do estudo com representantes de instituições plurais tais como ONGs, academia, autoridades públicas (Coordenadoria dos Assuntos da População Negra e Coordenadoria da Mulher/Secretaria de Participação e Parceria; Departamento de Empreendedorismo/Secretaria Desenvolvimento Econômico e Trabalho; Coordenação da Vigilância em Saúde/Secretaria de Saúde; Coordenação de Proteção Especial/ Secretaria Desenvolvimento Social; Divisão Técnica de Educação e Divulgação/Secretaria de Serviços), além de representantes do Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis - MNCR, bem como associações e cooperativas de catadoras/es. Os trabalhos contaram com a presença da coordenadora geral da Sempreviva Organização Feminista (SOF), que analisou o documento e trouxe questões para uma leitura de gênero que enriqueceu o debate. As principais conclusões do debate apontam que a desigual divisão sexual do trabalho é uma das questões centrais que estruturam as relações de gênero no setor. As mulheres têm que “conciliar”

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e subordinar a rotina de seu trabalho aos afazeres doméstico, invisível socialmente, pois não é visto como trabalho; a desigualdade de gênero é um fenômeno milenar e está em todos os setores da sociedade. Esta desigualdade é uma construção social e não algo natural. A violência doméstica foi outro ponto debatido no evento. No debate, as catadoras explicitaram mais uma vez a defesa do direito à remuneração. Este projeto envolve quatro cidades da América Latina: Lima, Montevidéu, Cochabamba e São Paulo, e ao final do processo de debates das propostas e conclusões dos estudos de cada uma das cidades, será elaborada uma Plataforma com propostas de políticas públicas e ações que promovam equidade de gênero no contexto do trabalho, da vida doméstica e social das catadoras e catadores que atuam em cidades latino-americanas. Vale destacar que os conteúdos da pesquisa também foram alvo de debate em encontro promovido pelo Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR) do qual participaram 40 catadoras. A Coordenação da Vigilância em Saúde/Secretaria de Saúde - COVISA propôs ao Pólis desenvolver projeto em parceria para o enfrentamento predominantemente das questões que envolvem a saúde destes/as trabalhadores/as. Ainda no âmbito da pesquisa Dimensões de Gênero no Manejo de Resíduos Sólidos Domésticos em Cidades da América Latina, o Pólis foi convidado pela Organização Internacional do Trabalho - OIT para participar de visita técnica a três cooperativas de catadores de Diadema, município que integra a região do Grande ABC - São Paulo. Esta visita permitiu uma interlocução com esta instituição internacional sobre vários aspectos das políticas que viabilizam a integração deste segmento em sistemas de coleta seletiva, triagem e beneficiamento de materiais recicláveis. Um grande desafio na implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) é garantir que o modelo a ser implementado nos municípios seja voltado para o reaproveitamento de resíduos secos (reciclagem) e úmidos (compostagem e/ou biodigestão). Neste sentido, o Pólis co-promoveu a criação da Coalizão Nacional contra a Incineração de Lixo. No dia 7 de junho de 2011, o Pólis sediou encontro internacional com cerca de 50 pessoas de diversas redes e entidades ambientalistas, entre elas a Rede GAIA (Aliança Global para Alternativas à incineração) e Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis - MNCR, para elaborar estratégias de ação no combate a instalação de incineradoras de lixo. Neste contexto, definiu-se como primeira diretriz de ação desencadear ampla mobilização em São Bernardo do Campo – SBC (município da região do Grande ABC, São Paulo), por ser avaliado como um local emblemático, caso a Coalizão consiga impedir sua instalação. Isto seria um avanço na luta em São Paulo e no Brasil, porque seria afirmado o modelo com base na recuperação integral de resíduos com participação dos catadores. O Pólis participou de manifestação pública pelas ruas de SBC contra a instalação de um incinerador, no marco da primeira ação da Coalizão. O Grito contra a Incineração do Lixo em São Bernardo do Campo reuniu cerca de 300 pessoas no centro da cidade. Foram distribuídos

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materiais impressos esclarecendo a população sobre os danos causados com uma eventual implantação de incinerador de lixo na cidade. O ato também teve o objetivo de protocolar uma ação popular em nome de duas catadoras contra o projeto do incinerador no antigo lixão do Alvarenga, divisa de SBC com Diadema, uma área de mananciais (em processo de recuperação) onde há diversas nascentes de água. A iniciativa foi inédita, pois pela primeira vez duas catadoras ajuizaram ação popular contra uma prefeitura. A ação pediu a suspensão imediata do edital de licitação do incinerador que é chamado pela administração municipal de “Usina Verde”. Em defesa da implantação de alternativas sustentáveis do ponto de vista ambiental, social, econômico e de saúde pública, a Coalizão Nacional contra a Incineração do Lixo lançou Campanha contra os projetos de tratamento térmico dos resíduos sólidos para geração de energia que estão em processo de implantação em várias regiões do Brasil. A campanha foi lançada dia 30 de setembro de 2011, no marco do Dia de Ação Global contra a Incineração (Rede GAIA), em São Bernardo do Campo, no seminário técnico Resíduos Sólidos: alternativas sustentáveis, realizado na Universidade Metodista. O evento reuniu cerca de 170 pessoas, entre especialistas da área, movimentos sociais e juristas para debater o impacto da incineração de resíduos e alternativas sustentáveis de gestão de resíduos sólidos domiciliares. Foi lançado também o manifesto contra a incineração de Lixo, que traz as seguintes pautas: a incineração emite substâncias tóxicas que apresentam riscos à saúde pública e ao meio ambiente; provoca despesas públicas imensas; é das alternativas de gestão que menos gera postos de trabalho além de competir com os catadores de materiais recicláveis secos. O movimento elaborou também uma moção de repúdio à Prefeitura de São Bernardo do Campo, rejeitando a proposta apresentada pelo governo municipal de São Bernardo do Campo para implantação de uma usina de incineração, contrastando com as principais diretrizes da Política Nacional de Resíduos Sólidos que prevê como dever de prioridade a não geração (de resíduos), a reutilização, a coleta seletiva e reciclagem reconhecendo nos catadores de materiais recicláveis importantes agentes para efetivar a logística reversa. O Pólis, em nome da Coalizão Nacional contra a Incineração de Lixo, articulou na Câmara dos Deputados uma plenária para debater a questão da implantação de incineradores no país como alternativa tecnológica para gestão de resíduos sólidos. No dia 29 de novembro de 2011, reuniram-se representantes do Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis - MNCR, ONGs socioambientalistas, representantes de partidos e de parlamentares, representantes do governo federal, entre outros, para debater o tema. Participaram como expositores representantes do MNCR, do Movimento em Defesa da Vida do Grande ABC, da entidade France Liberté, da Rede GAIA - Rede Internacional Alternativas à Incineração (Chile), e da Rede Latinomaericana de Catadores – Lacre. A Lei 12.305/2010 que institui a PNRS, bem como o Plano Nacional, enfatiza a precaução e prevenção na gestão dos resíduos, a priorização em reduzir, recuperar e reciclar resíduos secos e

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úmidos, bem como a importância de se implementar programas, políticas e ações, em âmbito municipal e regional, que tragam soluções consorciadas e que integrem as associações e cooperativas de catadores. O Manifesto contra a Incineração do Lixo, organizado pela Coalizão Nacional Contra a Incineração de Lixo, foi lançado no evento. Este documento foi elaborado pela Comissão Técnica da Coalização, da qual o Pólis faz parte. Resultado 5 - O Pólis atuou em defesa da aprovação e regulamentação da Política Nacional de Resíduos Sólidos O Pólis participou por mais de uma década do processo de elaboração da Política Nacional de Resíduos Sólidos, sancionada e regulamentada em 2010. Em 2011, o governo federal abriu processo de consultas e audiências públicas no contexto da elaboração do Plano Nacional de Resíduos Sólidos, do qual o Pólis participou enviando (virtualmente) suas contribuições e propostas, que foram previamente debatidas e alinhadas com instituições da sociedade civil, ativas no campo, tais como IDEC, 5 Elementos, Ceadec e o próprio Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis - MNCR. Ainda no âmbito da construção participativa deste Plano, aconteceu em Brasília a Audiência Nacional Pública, cujo objetivo foi debater e colher propostas a partir dos resultados de cinco audiências regionais realizadas e também das contribuições enviadas pela internet, para posterior consolidação do Plano Nacional de Resíduos Sólidos (30/11 e 01/12). Neste evento, o Instituto Pólis defendeu posições, em alinhamento com instituições mencionadas acima e outras também presentes na audiência. Destaca-se, como uma das propostas relevantes levantadas pelo Pólis (e aprovada pelo coletivo presente na Audiência), a que se refere à criação do Fundo Nacional de Resíduos Sólidos Urbanos que propõe o que segue: que os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes que viabilizem financeiramente implantação e operação da coleta seletiva (secos) nos 5.564 municípios brasileiros (o setor empresarial deverá depositar sua cota parte, de acordo com as proporcionalidades estabelecidas por normatização especifica); os recursos do Fundo deverão ser repassados diretamente para fundos municipais, e seu uso exclusivo no desenvolvimento da cadeia produtiva da reciclagem, prioritariamente na estruturação das associações e cooperativas ou redes de catadores; também deverão ser criados fundos municipais geridos por colegiados paritários deliberativos (deverá ser garantida a participação de associações e cooperativas de catadores), segundo a proposta. A consolidação das propostas é atribuição do Comitê Interministerial da Política Nacional de Resíduos Sólidos (previsão de conclusão no primeiro semestre de 2012). Pólis levou seus posicionamentos sobre os principais pontos da PNRS em diversos debates públicos sobre o tema, destacando-se os seguintes eventos:

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• Audiência Pública promovida pela Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável para debater os principais desafios na implementação da PNRS, em Brasília (07/06/2011).

• Debate promovido pela Associação Casa da Cidade desafios da implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, que contou na mesa com a presença de Nabil Bonduki - Secretário de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano - Ministério do Meio Ambiente, Roberto Rocha - representante do MNCR e de Eduardo Ferreira - Ministério Público do Estado de São Paulo (02/08/2011). A política entrou em vigor no país com a Lei Federal Nº 12.305 em 2 de agosto de 2010. Ao completar um ano, o Pólis destacou que um dos grandes desafios coloca-se a partir do prazo que os municípios têm para cumprir com a meta de só destinarem rejeitos para os aterros sanitários até agosto de 2014. Diante deste prazo relativamente curto, e de 2012 ser ano eleitoral, a coordenadora do Pólis questionou como trabalhar uma perspectiva de que os municípios não adotem incineradores para resolver rapidamente a meta. Destacou também que as prefeituras têm que resolver neste prazo apenas a destinação da fração orgânica dos resíduos domiciliares gerados, podendo-se adotar tecnologias como a compostagem e a biodigestão como formas ambientalmente sustentáveis de recuperação deste resíduo. Os resíduos secos (embalagens de metais, papel/papelão, plásticos e vidros) são responsabilidade dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes. È responsabilidade das prefeituras, neste caso, apenas a coordenação da implementação dos sistemas de coleta seletiva e reciclagem (a não ser que os fabricantes queiram remunerar o poder público para tal, como previsto na lei). O Instituto Pólis, com aprovação da plenária, fez uma proposta para que o Secretário de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano, Nabil Bonduki, articule uma reunião junto à direção do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para que uma comissão de representação plural (ONGs, Ministério Público, MNCR, institutos de pesquisas, etc) possa levar os argumentos da sociedade sobre os problemas da incineração e assim convencer o banco a não financiá-la (02/08/2011).

• Café com Sustentabilidade, debate promovido pela federação dos Bancos - FEBRABAN sobre a implementação Política Nacional de Resíduos Sólidos, em que o Pólis fez a defesa de suas posições, enfatizando a importância de não se utilizar incineradores como solução para a destinação de resíduos. Entre as propostas sugeridas para atuação dos bancos estava o não financiamento deste tipo de tecnologias e abertura de linhas de financiamento para as empresas (geradores) implantarem a logística reversa com integração das associações e cooperativas de catadores, entre outras (19/09/2011).

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Resultado 6 - O Pólis contribuiu para a formulação e inclusão na agenda pública de novas propostas de políticas públicas de desenvolvimento local integradas vertical (políticas nacionais ou estaduais) e horizontalmente (consórcios e outras articulações supra municipais, etc.). Em 2010, o Instituto Pólis iniciou frente trabalho dentro de Eixo Alternativas para o Desenvolvimento a partir da temática das tecnologias sociais, ou tecnologias para a inclusão social. O conceito e as práticas em torno dessa temática se inserem no debate em torno das alternativas tecnológicas, que trata da oposição entre tecnologias tradicionais e modernas e analisa o uso tecnológico como uma disputa política. Nessa perspectiva, trabalhamos com dois conceitos para tecnologia social. O primeiro é o da Rede de Tecnologias Sociais, formulado da seguinte maneira: "Tecnologia Social compreende produtos, técnicas e/ou metodologias reaplicáveis, desenvolvidas na interação com a comunidade e que representem efetivas soluções de transformação social”. Ao longo de 2011, Pólis trabalhou com um banco de experiências de tecnologias sociais (www.tecnologiasocial.org.br), buscando melhorar e atualizar as informações ali contidas, buscando a disseminação desse tipo de experiência. O Instituto estive em contato com mais de 400 entidades, buscando verificar as condições de funcionamento de suas tecnologias sociais e incentivá-las a tornar o banco de experiências uma fonte de informação de consulta e pesquisa nessa temática. Essa trabalho gerou frutos e em 2012 pesquisa em parceria com a Fundação Banco do Brasil e a Unicamp será iniciada para investigar políticas públicas de tecnologias sociais. Ao analisar a relação existente entre política públicas e tecnologias sociais, os pesquisadores do Pólis se depararam com alguns dilemas que merecem ser melhor analisados de forma empírica. Um primeiro exemplo é como atingir o grau de escala de atuação exigidos para a ação estatal por meio de tecnologias sociais, que exigem um processo sociotécnico e o empoderamento dos próprios usuários. Um segundo exemplo é: como o Estado pode disseminar experiências de tecnologias sociais por meio de agentes do Estado que muitas vezes não possuem a proximidade necessária no território? Existem elementos de conflito que merecem ser investigados em maior detalhe nas práticas hoje existentes. Analisar de forma aprofundada essa relação entre tecnologias sociais e políticas públicas, as soluções encontradas e formuladas, os desafios gerados e arranjos construídos são alguns dos objetivos dessa pesquisa.

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Eixo 2 - Democracia e Participação: fortalecimento da sociedade civil para a exigibilidade de direitos

O eixo “Democracia e Participação: fortalecimento da sociedade civil para a exigibilidade de direitos” abrange as atividades do Instituto Pólis junto a redes de cidadania, organizações e movimentos sociais, nos níveis municipal, nacional e internacional, na luta em torno de direitos, da radicalização da democracia e do controle social das políticas públicas, buscando fortalecer tais atores. As contribuições do Pólis foram agrupadas em objetivos específicos com seus respectivos resultados a serem alcançados em quatro anos (2009-2012). Antes, porém, é preciso destacar alguns elementos da conjuntura de 2011, marcada fundamentalmente pelo início do governo da presidenta Dilma Roussef. Ainda que eleita sob a égide da continuidade, a mudança de estilo de comando, inicialmente provocou inquietações por parte da sociedade civil em relação ao lugar da participação e a relação a ser estabelecida com estas entidades em seu governo. O predomínio de denúncias de corrupção no cenário político envolvendo diversos ministérios e ONGs bastante enfatizadas pela mídia colaborou para a criação de um clima de criminalização dos movimentos sociais e das ONGs, com sérias conseqüências para o campo da sociedade civil organizada. No caso específico do governo de São Paulo, soma-se a isso a falta de disposição de diálogo da atual gestão com o governo federal e a visão política pouco permeável à participação autônoma da sociedade. Ainda assim, a capacidade de ação dos espaços de interlocução entre o governo e as organizações sociais explicitou-se na realização de inúmeras conferências, documentos e proposições. O ano de 2011 foi marcado pelo alcance de resultados positivos em indicadores de várias áreas, na atuação da sociedade civil na mobilização para a adequação de diversos marcos legais criados, e o aperfeiçoamento de alguns programas públicos, inclusive incorporando questões étnicas raciais e de gênero. Porém, ainda persistem graves ameaças à plena efetivação dos direitos fundamentais e ao acesso às políticas públicas. Os resultados iniciais da pesquisa Avanços e desafios da democracia participativa: renovando as utopias, desenvolvida pelo Pólis apontam a proliferação dos espaços participativos no decorrer dos oito anos do governo Lula, onde foram realizadas 74 conferências abarcando 40 temas até então inéditos, a exemplo das temáticas da juventude, promoção da igualdade racial, LGBT. Nesse sentido, houve uma diversificação dos temas em pauta, convivendo ao mesmo tempo com a impermeabilidade à participação em temas estratégicos, tais como assuntos econômicos, defesa, minas e energia, etc. No que se refere aos Conselhos Nacionais, houve uma ampliação dessas instâncias e a criação de novos conselhos. No entanto, considerando os 71 conselhos existentes no nível nacional, em apenas 12 deles a representação da sociedade civil é escolhida por meio de eleições.

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Em síntese, há muito o que avançar na problematização da participação nessas instâncias, inclusive cabendo indagar até que ponto essas instâncias abrem espaço para a inclusão de novas vozes e pautas. Ainda em relação aos limites à participação social, a sua viabilidade está condicionada à garantia de acesso por parte das organizações da sociedade civil aos fundos públicos. Nesse sentido, embora o governo da Presidenta Dilma reconheça o papel relevante das ONGs para a consolidação da democracia e a sua contribuição na elaboração de propostas e no monitoramento de políticas públicas em diversas áreas, a demora por parte do governo federal em cumprir com a proposta realizada durante a campanha de instituir um Grupo de Trabalho (GT) e também as recentes denúncias de irregularidades em alguns convênios estabelecidos entre organizações da sociedade civil e os ministérios vem causando profundo desgaste e comprometendo a imagem pública, inclusive de organizações que têm realizado há décadas trabalho sério, ético e competente. Cumpre lembrar ainda que o Grupo de Trabalho deveria ser composto por diversos setores governamentais, sob a coordenação da Secretaria Geral da Presidência da República e da Casa Civil, assim como de entidades representativas das organizações da sociedade civil, e teria o objetivo de elaborar proposta de legislação para o setor. As medidas estabelecidas pelo decreto 7.592, de 28 de outubro, que suspendeu os repasses para entidades sem fins lucrativos durante 30 dias, foi considerada arbitrária pela Abong, que integra a Plataforma por um Novo Marco Regulatório para as Organizações da Sociedade Civil (www.plataformaosc.org.br). Há grandes expectativas por parte destas organizações em relação à instituição e encaminhamento dos trabalhos deste GT estabelecido pelo Decreto Presidencial n. 7.568, de 16 de setembro de 2011, e formalizado durante o Seminário Internacional sobre o Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil (OSCs), realizado pela Secretaria-Geral da Presidência da República entre os dias 9 a 11 de novembro, em Brasília. De acordo com a Abong, em 2010:

dos “232,5 bilhões de transferências voluntárias do governo federal, 5,4 bilhões destinaram-se a entidades sem fins lucrativos de todos os tipos, incluídos partidos políticos, fundações de universidades e o Instituto Butantã, por exemplo. Foram 100 mil entidades beneficiadas, 96% delas por transferências de menos de 100 mil reais. Se juntarmos todas as denúncias contra ONGs publicadas na imprensa nos últimos 24 meses, as entidades citadas não passariam de 30, o que nos leva crer que além de desnecessária, a suspensão generalizada de repasses poderia constituir medida arbitrária e de legalidade questionável, que criminaliza a sociedade civil organizada”.

A Abong considera fundamental a elaboração de uma política pública de fomento à organização cidadã em nosso país, para que “as organizações da sociedade civil possam exercer seu legítimo

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e valioso papel no fortalecimento da democracia brasileira e na promoção de um desenvolvimento pautado pelos valores da justiça social e sustentabilidade ambiental”. Cabe menção à iniciativa inovadora realizada pela Secretaria Geral da Presidência da República em parceria com o Ministério do Planejamento de convocar os Conselhos Nacionais de políticas (Saúde, Segurança Alimentar, Juventude, Desenvolvimento Econômico e Social, Igualdade Racial, etc.) a discutirem propostas para o Plano Plurianual (PPA) 2012-2015 do governo federal. Em maio de 2011 foi realizado o Fórum Interconselhos do PPA, onde participaram mais de 200 representantes da sociedade civil nos Conselhos Federais e 65 representantes indicados por entidades da sociedade, muitas delas ligadas à ABONG - entre elas o Pólis. Neste Fórum, que durou dois dias, foram sistematizadas inúmeras propostas para o PPA; e, em outubro do mesmo ano, em novo Fórum, o governo apresentou a sua proposta, já encaminhada para o Congresso Nacional, procurando mostrar as propostas da sociedade que foram incorporadas. Para além dos resultados diretos, que podem não ter satisfeito parcela expressiva dos participantes, destaca-se a possibilidade de continuidade deste processo, através da consolidação de um mecanismo de monitoramento da implementação do PPA pelos Conselhos e, principalmente, do diálogo e interação entre os Conselhos Nacionais, e destes com os conselhos subnacionais e os múltiplos fóruns e articulações já existentes na sociedade. Importa destacar que esta iniciativa difere em qualidade organizativa daquela desenvolvida no início da primeira presidência de Lula, que apesar de ter contado com expressiva mobilização das entidades e movimentos sociais, acabou frustrando a todos. Pode-se alimentar algumas expectativas porque o PPA atual acentuou o enfoque territorial, facilitando a percepção dos possíveis impactos do Plano e também o seu monitoramento. Adicionalmente, o otimismo do Pólis pode ser atribuído ao importante papel desempenhado neste Interconselhos por um experiente educador popular, ex-presidente do CEAAL e que fez parte dos quadros da Escola de Cidadania do Pólis. De qualquer forma, a participação em iniciativas como essa ou nos Conselhos Nacionais que tomamos parte demonstram a importância da produção de conhecimentos que subsidiem o adensamento de processos participativos e de efetivo controle social sobre as políticas e assuntos públicos. A seguir apresentamos os resultados deste eixo para o ano de 2011. Resultado 1: O Pólis incidiu no fortalecimento e na autonomia de atores sociais e redes de defesa dos direitos da cidadania para atuarem em processos e instâncias de decisão de políticas públicas pela exigibilidade de direitos. No campo do Direito à Cidade, o Pólis promoveu uma oficina sobre os instrumentos legais jurídicos de defesa do direito à cidade nos projetos de grande impacto urbano e ambiental na

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“Terceira Jornada da Moradia” organizada pelos movimentos populares e Defensoria Pública do Estado de São Paulo no mês de fevereiro de 2011. Desde 2007, o Pólis é parte em 3 (três) ações judiciais, que pleiteiam: (1) a inclusão dos catadores de material reciclado na política de resíduos sólidos para a cidade, (2) a nulidade da revisão da legislação (Plano Diretor municipal), pois não havia ocorrido a devida participação da população, e (3) a não demolição de prédios de habitações de interesse social localizados na região central. O Instituto Pólis movimentou o judiciário contra essa demolição, dado que era para transformar o espaço em um grande estacionamento, sendo que os edifícios referidos localizavam-se em Zona de Interesse Social (ZEIs) e, portanto, deveriam cumprir com sua função de servir como moradia bem localizada à população de baixa renda. Essa ação perdeu em 2011 seu objeto principal já que os prédios foram demolidos em maio, entretanto ainda está na justiça a disputa (segunda instância) sobre a necessidade de que esse local permaneça servindo para habitação de baixa renda e não para um uso qualquer. Já a ação contra a revisão do Plano Diretor obteve vitória em primeira instância (decisão de 2010), entretanto a sentença está suspensa desde o início de 2011, pois a Municipalidade apelou para órgãos superiores, dando continuidade à disputa. Em 2010, o Pólis elaborou uma representação para o Ministério Público (fiscal da lei) contra a Lei Municipal 14.918/2009 que concedia benefícios em espaços da cidade de São Paulo para a iniciativa privada - instrumento conhecido como concessão urbanística - denunciando as irregularidades na lei que regulamentava esse instrumento na cidade de São Paulo. Esse questionamento foi aos poucos ganhando força entre a população, gerando diversas mobilizações ao longo de todo o ano de 2011 contra a implementação desse instrumento, sobretudo na região central da Luz e ações judiciais questionando, em especial, a inexistência de um processo participativo na elaboração do projeto da concessão urbanística. Estas ações deverão ser julgadas no ano de 2012 pelo Tribunal de Justiça. Referente à ação civil pública relacionada aos catadores de materiais recicláveis, apesar da vitória no judiciário, permanece até hoje dificuldade quanto à plena implementação da decisão judicial devido a atuação do Governo do Município de São Paulo. Em relação ao Observatório dos Direitos do Cidadão, um importante espaço de interlocução entre diferentes atores que interagem com as políticas da cidade, sofreu uma inflexão em 2011. O Colegiado de Gestão do projeto, instância que congrega representantes das coordenações da União dos Movimentos Populares de Saúde (UMPS), União dos Movimentos de Moradia (UMM), Central dos Movimentos Populares (CMP), Fórum Municipal de Assistência Social, Fórum Municipal dos Direitos da Criança e Adolescente, Pólis e IEE/PUC manteve suas reuniões periódicas, agora direcionadas à discussão dos eixos temáticos de um curso de formação voltado a multiplicadores e militantes dessas organizações. Assim, para além do compartilhamento das

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respectivas agendas de luta e da reflexão sobre os dilemas que se colocam para o controle social das políticas públicas, as atenções do Observatório convergiram para o projeto Educação em Direitos Humanos e Políticas Públicas. O projeto Educação em Direitos Humanos e Políticas Públicas, outra frente de trabalho desenvolvida pelo Pólis junto a esses atores sociais, vem ocupando uma centralidade na dinâmica do Observatório. O projeto desenvolvido em parceria com a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República e Movimentos Sociais e Fóruns da Cidade de São Paulo (Movimento Popular de Saúde, União dos Movimentos de Moradia, Central de Movimentos Populares, Fórum Municipal de Assistência Social, Fórum Municipal dos Direitos da Criança e Adolescentes), capacitou, ao longo de 2011, aproximadamente 350 lideranças de movimentos sociais para a conquista e exigibilidade dos direitos humanos de cidadania. Foram realizadas nove oficinas nas diferentes regiões da cidade de São Paulo, com objetivo de qualificar as lideranças para a intervenção nas políticas públicas, como forma de garantir os direitos. A apropriação do processo orçamentário se constituiu em uma das temáticas importantes no processo, com o intuito de qualificar a intervenção dos movimentos nas políticas públicas, na perspectiva da garantir os direitos em torno dos quais os movimentos se articulam. Para facilitar o papel educador e de multiplicação das lideranças envolvidas no processo, foi construído um material pedagógico com os conteúdos abordados nas oficinas, como subsídio a ser usado no processo de formação nos respectivos movimentos. A organização das oficinas em parceria com os movimentos e a formação de multiplicadores se constituiu em estratégia fundamental para fortalecer a atuação articulada e intersetorial dos movimentos sociais nas políticas públicas no Município de São Paulo. Nesta direção, o processo formativo desenvolvido nas oficinas tem propiciado o fortalecimento de uma atuação mais coesa dos movimentos nos diferentes espaços institucionais (conferências, conselhos, audiências públicas) e o levantamento de um conjunto de questões e demandas comuns aos movimentos nas diferentes regiões da cidade, com a intenção de construir uma “plataforma comum” dos movimentos para pautar as candidaturas na eleição municipal de 2012. Cabe destacar que além de participarem do colegiado de gestão do Observatório dos Direitos do Cidadão, a coordenação da União dos Movimentos Populares de Saúde continua se reunindo regularmente na sede do Pólis, que está situada estrategicamente diante do prédio que abriga a administração central da secretaria municipal de saúde. A UMPS tem cinco das vagas de usuários no Conselho Municipal de Saúde, e junto com outras entidades, principalmente sindicais, vem conseguindo manter este como o único conselho do município não submisso à administração. Mas isto não impediu o governo de implementar uma ampla entrega de hospitais e unidades básicas de saúde para as Organizações Sociais, que estão recebendo parcelas crescentes do orçamento público. Este processo de terceirização copia o modelo que vem sendo implantado há mais de uma década pela Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, atingindo uma escala

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inédita no país. Assim, a metrópole paulista caracteriza-se por um modelo de gestão da saúde pública totalmente fragmentada, bem distante das necessidades da população. O Pólis vem mantendo constante diálogo com a liderança do movimento popular, procurando contribuir na análise desta complexa realidade, tanto nas reuniões da coordenação quanto nos seus Encontros Anuais. Um pesquisador do Pólis atua há mais de um ano como consultor junto ao Conselho Estadual de Saúde, a convite da representação dos usuários, onde a UMPS tem duas vagas. No âmbito da cidade de São Paulo, a Rede Nossa São Paulo conseguiu aprovar uma Lei do Programa de Metas na cidade, que obriga o prefeito a apresentar um amplo conjunto de metas por subprefeitura a serem perseguidas pela administração, voltadas para a redução das desigualdades e a melhoria da qualidade de vida. O governo vem mantendo a divulgação periódica em seu portal sobre a evolução dessas metas, e é pressionado pela mídia e pelas entidades e movimentos da Rede a prestar contas pelo fracasso no cumprimento das metas. A boa repercussão obtida pela lei garantiu a apresentação de um projeto de lei com o mesmo teor no Congresso, obrigando todos os governantes a apresentarem um conjunto de metas urbanísticas, ambientais e sociais no início de suas gestões. A Rede também lançou neste ano o Programa Cidades Sustentáveis, um movimento internacional que apresenta um conjunto de instrumentos voltados para que as cidades possam se desenvolver nos campos econômico, social, cultural e ambiental de forma sustentável. Estimula na sociedade a consolidação de uma agenda-plataforma de cidade sustentável, e propõe que os candidatos aos governos municipais se comprometam com a implementação participativa desta plataforma. Ainda neste ano, a Rede e várias das organizações e pessoas integrantes da Rede se mobilizaram e apoiaram a realização do primeiro Fórum Social de São Paulo – abrangendo os municípios da metrópole paulista – que acabou acontecendo apenas no final de outubro, sob o lema “outra cidade é possível, urgente e necessária”. Foram realizadas várias oficinas e atividades autogestionárias, procurando refletir os princípios do Fórum Social Mundial. O Pólis continuou participando da Rede, tanto no seu Colegiado quanto nos GTs de Orçamento, Cultura e Democracia Participativa, mas ainda sem condições de assumir tarefas e compromissos nas ações da Rede como seria desejável. No campo da elaboração de conhecimento, a pesquisa Avanços e desafios da Democracia Participativa: renovando as utopias, iniciada em 2010 e apoiada pela Fundação Ford, já mencionada anteriormente, ganhou maior envergadura a partir do estabelecimento de uma parceria com o Inesc (Instituto de Estudos Socioeconômicos) e com o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Nesse novo desenho, o Pólis e o Inesc compartilham a coordenação do projeto, realizado com a participação de bolsistas do Ipea sediados em ambas instituições. Esse estudo busca contribuir para a análise crítica da democracia participativa no Brasil e para a elaboração de propostas concretas para o seu avanço, em estreito diálogo com a Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político.

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Esse projeto contempla duas frentes de investigação: uma centrada na avaliação crítica das instâncias de participação, outra com foco na (re)construção das utopias em torno da democracia participativa. A primeira frente de trabalho inclui a revisão da literatura produzida sobre a democracia participativa pelos diversos atores da sociedade civil envolvidos nesse processo; o mapeamento e perfil das Conferências Nacionais realizadas no decorrer do governo Lula (2003-2010) e dos Conselhos Nacionais em funcionamento nesse período; e a análise, a partir do olhar sobre três Conselhos Nacionais, de algumas questões caras aos espaços participativos: a configuração da representação (da sociedade civil e do governo), a interface entre instâncias de participação e os aspectos relacionados ao conflito de interesses e à construção de pactos. Os dados preliminares dessa frente de pesquisa foram apresentados e debatidos em uma oficina organizada pelo Ipea que reuniu a rede de pesquisadores participantes do projeto Governança Democrática no Brasil Contemporâneo: Estado e Sociedade na Construção de Políticas Púbicas, coordenado por essa instituição. Os resultados finais desse estudo foram discutidos junto aos integrantes da coordenação da mencionada Plataforma, contribuindo para o aprimoramento das propostas voltadas ao Fortalecimento da Democracia Participativa, um dos eixos da Reforma do Sistema Político defendida por essa articulação de organizações da sociedade civil. Alguns dos principais achados da pesquisa foram igualmente abordados no I Seminário Nacional de Participação Social, organizado pela Secretaria Geral da Presidência da República, contribuindo para o debate sobre o alcance das estruturas participativas e os desafios que se colocam para o efetivo controle social das políticas públicas. Entrevistas em rádio e mais de 100 pedidos de envio do relatório final do estudo atestam a pertinência dos conhecimentos produzidos e a sua estreita conexão com a agenda política dos atores engajados no adensamento da democracia brasileira. A riqueza dos dados e informações mapeados nessa etapa da pesquisa alimentou outras reflexões, elaboradas a partir da análise documental das deliberações de algumas conferências, especificamente aquelas relacionadas ao desenho institucional da participação e ao controle orçamentário. O resultado desse estudo, de caráter inicial e exploratório, encerra a segunda etapa da parceria Pólis, Inesc e Ipea e contribui para se pensar propostas para o avanço da democracia participativa. Todo material levantado nessa frente de pesquisa foi organizado sob a forma de um banco de dados e disponibilizado na internet. A iniciativa de socializar os esforços empreendidos pela equipe de pesquisadores se alinha e reforça o compromisso das instituições parceiras com a democratização da informação e se faz acompanhar pela expectativa de que os dados reunidos gerem novas análises e reflexões e assim contribuam para o debate sobre o alcance e os desafios das instâncias de participação.

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Os relatórios produzidos encontram-se nos sítios do Pólis e do Inesc. Os principais resultados, incluindo o estudo sobre as utopias em torno da democracia participativa, serão publicados na forma impressa. Por fim, cabe destacar que tal processo de pesquisa foi pautado pela interação entre as instituições e bolsistas participantes, com aprendizados para todos os envolvidos. Os distintos acúmulos do Pólis e Inesc se refletiram positivamente no projeto, enriquecendo as discussões e as análises produzidas. Isso reforça o acerto desse desenho organizacional que aposta na construção coletiva de conhecimentos e na formulação conjunta de estratégias capazes de ampliar a repercussão dos resultados e a sua incidência política. Resultado 2 - O Pólis incidiu no fortalecimento de articulações entre atores sociais para atuar na formulação e implementação de políticas públicas de cultura, convivência e paz, na disseminação dos seus valores e construção de ações para a incorporação da cultura de paz na agenda pública nacional. Durante o ano de 2011 desenvolvemos propostas de capacitação de integrantes dos Pontos de Cultura - proposta em parceria com o Ministério da Cultura que visa fortalecer a diversidade cultural brasileira- que haviam participado dos processos de formação desde 2008. Realizamos três encontros regionais com o tema Políticas Públicas de Convivência e Cultura de Paz, incluindo tecnologias socioculturais. Estes encontros foram realizados em Belém/Pará, Curitiba/PR e Salvador/Bahia, reunindo multiplicadores de cultura de paz e convivência no território, potencializando o conhecimento dos ponteiros em torno das principais políticas públicas culturais nacionais e locais. Os encontros, realizados entre fevereiro e março, utilizaram-se de metodologias de troca de saberes e artemetodologia das auscultas, que estabelece como método um diálogo coletivo a partir de referências locais e da prática individual de cada participante. Realizamos também Encontros de Convivência e Paz nas Ruas, apropriação criativa do Espaço Público, onde realizamos dois encontros laboratoriais, um em São Paulo e outro no Rio de Janeiro, com teatro de rua, diálogos públicos e ausculta da população. Realizamos vivências lúdicas de convivência e paz na rua para apropriação criativa do espaço público. A idéia central foi estimular o diálogo do Pontão com a população em geral e avançar em metodologias de conversação com a população comum. O primeiro encontro, realizado em Santa Teresa, Rio de Janeiro, vivenciou tensões na relação com a associação de moradores e com a polícia que não autorizavam o evento. Superadas as tensões pelo diálogo, o encontro gerou rico material para se construir a convivência no espaço público e desenvolvimento de ações dialógicas sobre vários temas relacionados à convivência nas cidades. Em São Paulo, em parceria com diversos pontos de cultura, artistas, redes, a ação se deu em um programa de rádio: o áudio transmitido pela internet em tempo real promoveu entrevistas com os moradores de rua, artistas e participantes em geral. Na pauta, tratou-se da ocupação dos espaços

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públicos, questões como liberdade de expressão, direitos individuais e coletivos, convivência e cidadania. Os encontros geraram reflexões das redes participantes sobre o desafio de conviver nas cidades, o espaço público como lugar de intervenção cultural, de diálogos com a população através da arte e o fortalecimento da liberdade de expressão, da convivência e da cidadania cultural. Em abril, o Pólis coordenou e realizou junto com o Centro Cultural de Espanha em São Paulo/Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (AECID) o Encontro Internacional “En pie de paz” - Cultura de paz, políticas públicas e desenvolvimento cultural. Este evento internacional abriu um espaço de reflexão e debate sobre as práticas de Cultura de Paz, a efetivação de políticas públicas e o desenvolvimento cultural nesse campo a partir de questões conceituais e também de práticas de cultura de paz em andamento. O Encontro reuniu participantes do Brasil e de outros países iberoamericanos, incluindo pensadores, “artivistas”, agentes de cultura de paz, de direitos humanos e de gênero, que têm contribuído para a ampliação do tema e para a resolução não violenta de conflitos. Consideramos de suma importância trabalhar para a continuidade de atividades e projetos relacionados ao tema no contexto da Declaração da UNESCO sobre Cultura de Paz que completa 10 anos. Visando ampliar a atuação do Pontão no campo das políticas públicas nacionais realizamos o encontro A Paz como Cultura, em parceria com o Ministério da Cultura e com a participação das mais importantes redes de Cultura de Paz do país. Estiveram presentes representante da ONU, da representação local da Unesco, da Associação Palas Athena, do Instituto Sou da Paz, da Universidade da Paz, Umapaz, jovens da periferia, da Guarda Civil Metropolitana, do Centro de Educação Popular e Direitos Humanos( CDHEP), da representação do Ministério da Cultura e da Secretária de Cidadania Cultural do Ministério da Cultura, além de vários Pontos de Cultura da Cidade de São Paulo e de outros municípios. O resultado mais importante desta ação foi abrir a agenda do poder público nacional para a cultura de paz em diálogo com as redes mais importantes da sociedade voltadas para a construção da convivência e da cultura de paz. Por outro lado, buscou aproximar as ações da sociedade e do estado pertinentes às políticas públicas nessa área, no sentido de compreender e aprimorar os projetos públicos de cultura e qualificar o desenvolvimento humano, ampliando seu escopo e campo de atuação. O Pólis entende o mapeamento sociocultural como um instrumento de fortalecimento de atores, pois contribui para um melhor conhecimento do território, facilita as parcerias como fonte de convivência e interculturalidade. O mapeamento do projeto Santo Amaro em Rede (2008/2011) foi uma iniciativa do Serviço Social do Comércio - Sesc Santo Amaro, em São Paulo, e sua concepção e implantação foi realizada em parceria com o Instituto Pólis. Consiste no mapeamento das dinâmicas socioculturais da zona sul da Grande São Paulo e de alguns municípios adjacentes. Seus objetivos foram conhecer o território mais amplo em que o Sesc Santo Amaro se insere, identificar as dinâmicas socioculturais que ali acontecem, conhecer seus protagonistas e

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suas interações com o território, como também consolidar o projeto Santo Amaro em Rede – Culturas de Convivência; articular rede de parcerias entre Sesc Santo Amaro, entidades, grupos e artistas da região sul do município; dar visibilidade a novos protagonistas culturais locais; democratizar informações, difundir produções locais, fortalecer autonomia das dinâmicas e estabelecer uma rede de acesso universal de diálogos entre redes. O mapeamento serviu como um instrumento para dar maior visibilidade às dinâmicas que ocorrem no território e também para formar um panorama sobre a produção cultural local e suas reverberações, compondo um perfil sociocultural da região, quantitativo e qualitativo. O mapeamento das dinâmicas socioculturais realizado pelo projeto Santo Amaro em Rede levantou 323 dinâmicas socioculturais. Destas, 290 eram protagonizadas por grupos – coletivos, entidades, instituições etc. – e 33 por indivíduos. Quanto às áreas principais de atuação de todos os mapeados, a maior parte foi de linguagens artísticas com 135 mapeados; educação não formal com 117; tradição com 33; educação formal, compreendendo os Centros de Educação Unificados (CEUs) do território, com 14; esporte, 8 ; meio ambiente, 7; terceira idade, 6; e lazer, 3. O Projeto Santo Amaro em Rede: Culturas de Convivência criou uma interface gráfica sítio – hipermídia (ambientado no sítio do SESC) escolhida como forma de dar visibilidade ao mapeamento sociocultural realizado na região sul de São Paulo e como um meio de traduzir visualmente a complexidade sociocultural da zona sul de São Paulo e municípios adjacentes. Durante todo o primeiro semestre de 2011 trabalhamos na edição do Livro Arte: Santo Amaro em Rede, Culturas de Convivência, que organiza todo o material composto por textos da pesquisa, com ilustrações das bordadeiras da região de Santo Amaro, gravuras que reinterpretam os processos metodológicos e aportes conceituais do projeto. O lançamento está previsto para 2012. Este trabalho já apresenta resultados visíveis, pois contribuiu, segundo depoimento dos próprios grupos participantes da pesquisa, para melhor conhecer o território, ampliar o relacionamento entre o Sesc e os grupos da região e valorizar as dinâmicas socioculturais locais. Com esse trabalho, o Pólis desenvolveu propostas de trabalho em rede, facilitando e aproximando pontos de cultura, experiências, grupos socioculturais, gerando convivência e metodologias de cultura de paz. Alguns resultados são visíveis: incorporação do tema Cultura de Paz na agenda de Pontos de Cultura e do próprio Ministério da Cultura. Em 2011 realizamos o encontro A Paz como Cultura com a presença de 150 pessoas de redes nacionais e internacionais de cultura de paz em parceria com o Ministério da Cultura. Um resultado "invisível" observa-se nos debates culturais do país e em São Paulo, resultado não dimensionável do trabalho do Pólis nesse campo. Em 2012 iniciaremos um novo capítulo deste trabalho.

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Resultado 3 - O Pólis incidiu na incorporação dos instrumentos de proteção e exigibilidade dos DHESCA junto a organizações e redes da sociedade civil, governos e órgãos do poder judiciário. No segundo semestre de 2011, o Pólis esteve presente em seminários e reuniões de trabalho – enquanto membro da Plataforma DHESCA- discutindo com diversas organizações e redes da sociedade civil sobre a democratização da justiça e sobre a inter-relação entre os direitos humanos e o desenvolvimento. Tais encontros levaram à articulação de um novo grupo denominado Justiça e Direitos Humanos, do qual o Instituto faz parte para atuação em torno de uma modernização do poder judiciário, visando amplo acesso da população à justiça. Em outubro, o próprio Ministro da Justiça recebeu os membros desse grupo para discussão de duas das pautas: mecanismos para fortalecimento do Conselho Nacional de Justiça- CNJ e sobre as possibilidades de democratização da escolha dos Ministros do Supremo Tribunal Federal- STF. O CNJ tem impacto no bom funcionamento da Corregedoria de Justiça que possui competência para julgar magistrados fora dos espaços de poder político e econômicos locais, sendo um espaço valioso para melhoramento da nossa política de justiça. E foi durante essa reunião que o Ministério da Justiça se comprometeu a apresentar às organizações de direitos humanos uma proposta de incidência real e vinculante dessa temática na escolha dos ministros do STF. Colaboramos na construção das relações que se estabelecem entre as violações de direitos humanos documentadas pelas relatorias da DhESCA Brasil e o desenvolvimento da infraestrutura no país, refletindo sobre se é esse o modelo de desenvolvimento que queremos, fortalecendo um debate permanente com as organizações sociais de direitos humanos para incidirmos de maneira mais conjunta e contundente na preparação de eventos relevantes que ocorrerão em 2012 como COP-18 (onde os termos da nova fase do Protocolo de Quioto serão discutidos) e Rio + 20. Foi também objetivo dessas reuniões identificar, a partir dos casos concretos das violações de direitos humanos denunciados pelos relatores da plataforma e outras entidades, as estruturas e processos que sustentam um desenvolvimento excludente e predatório, tais como grandes obras para megaeventos esportivos, usinas hidrelétricas, pagamento de serviços ambientais, monocultura do etanol etc.. As reuniões também tinham o intuito de cobrar dos órgãos governamentais, como feito com a Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, uma atitude em relação às violações cometidas pelos próprios projetos do governo. Resultado 4 - A atuação do Pólis junto aos fóruns nacional, estaduais e locais de reforma urbana e direito à cidade contribuiu para construção democrática do sistema nacional de desenvolvimento urbano. O Pólis contribuiu com a formulação da proposta de projeto de lei do Sistema Nacional de Desenvolvimento Urbano (SNDU) que foi aprovado pelo Conselho das Cidades. O próximo passo

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será a elaboração, por parte do governo federal, da versão de projeto de lei do SNDU e o seu envio ao Congresso Nacional. No Conselho das Cidades, o Pólis apresentou e tem discutido uma proposta de resolução para regulamentar o estudo de impacto de vizinhança, instrumento de gestão democrática das cidades no Estatuto das Cidades. Essa proposta está sendo objeto de discussão e negociação com a Secretaria Nacional de Programas Urbanos e o Conselho das Cidades. O Pólis também colaborou com a elaboração de uma instrução normativa do Ministério das Cidades estabelecendo critérios e procedimentos para projetos que resultem em impactos socioambientais com recursos de programas federais como o PAC de habitação e saneamento, o PAC da Copa, e o PAC da mobilidade urbana. No que se refere à participação no Conselho Municipal de Habitação de São Paulo, o ano de 2011 foi o segundo ano do segundo mandato de representante do Pólis e a atuação foi marcada pela exigibilidade de direitos à cidade e à moradia digna junto com alguns representantes de movimentos de luta por moradia. Houve momentos de tensão entre esse grupo minoritário e representantes do governo municipal. Esse grupo exigiu discussões, propostas e encaminhamentos em relação à maior transparência pública no uso dos recursos públicos destinados à habitação além de uma política habitacional mais ampla, especialmente no que diz respeito às estratégias de provisão de terra urbanizada adequada para a produção de moradia de interesse social destinada à população de baixa renda. Os resultados em relação às essas exigências foram limitados, pois os dirigentes da Secretaria Municipal de Habitação de São Paulo insistiram em conduzir os trabalhos somente para aspectos pontuais relativos a uma ou outra obra habitacional. Para superar as dificuldades encontradas no Conselho Municipal de Habitação de São Paulo, a estratégia é buscar ampliar, na eleição para o próximo mandato, que se inicia em 2012, o número de representantes de movimentos e organizações que militam no Fórum Nacional da Reforma Urbana, do qual o Pólis faz parte. Ademais, pretende-se fortalecer a articulação e atuação conjunta desses representantes de modo a inserir pautas e trabalhar solicitações de votos com maiores alcances em relação ao atendimento das diferentes necessidades habitacionais existentes na cidade. Resultado 5 - O Pólis contribuiu para a implementação de políticas públicas participativas e voltadas à inclusão social e a garantia de direitos.

O Pólis concluiu para a Secretaria de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia elaboração e edição de dois manuais de orientação para a atuação dos Municípios, um caderno de orientação para a construção de políticas municipais de habitação de interesse social e um caderno de orientação para ações de regularização fundiária de interesse social. Como resultado dessa ação,

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todos os municípios da Bahia terão acesso ao passo a passo da aplicação da regularização fundiária, em linguagem acessível e objetiva.

No segundo semestre de 2011 concluímos a consultoria à Secretaria de Habitação do Município de Taboão da Serra no Estado de São Paulo para a elaboração do programa municipal de regularização fundiária de interesse social. O Instituto também sistematizou as experiências já realizadas e bem sucedidas do município.

Ainda em relação a este tema, o Pólis promoveu um curso de capacitação para os gestores e técnicos da Companhia de Habitação do Paraná – COHAPAR.

O Pólis também promoveu uma consultoria para a Petrobras Engenharia através da elaboração de um manual de orientação sobre a avaliação dos impactos sociais na implantação de tubulações para o transporte de gás e petróleo.

Resultado 6 - O Pólis contribuiu para a disseminação e maior adesão da plataforma da reforma urbana e do direito à cidade em articulação com o Fórum Nacional de Reforma Urbana.

Com relação aos conflitos fundiários urbanos foi retomado o Grupo de Trabalho de Conflitos Fundiários do Conselho das Cidades, que definiu um plano de trabalho tendo como primeira etapa um mapeamento dos conflitos fundiários. Foram realizadas reuniões com a Secretaria de Assuntos Legislativos e da Reforma do Judiciário do Ministério da Justiça para serem incorporadas medidas de prevenção de proteção dos direitos das comunidades e grupos sociais afetados em casos de conflitos fundiários. A atuação foi tanto para estas medidas serem incorporadas na revisão do Código de Processo Civil e numa instrução normativa do Conselho Nacional de Justiça. O Pólis também contribuiu com a realização da pesquisa sobre o regime jurídico dos bens imóveis da União na perspectiva destes imóveis serem destinados e utilizados para atenderem a função social da propriedade, que é um dos princípios fundamentais da plataforma da reforma urbana. Esta pesquisa foi feita com a PUC/SP e o IBDU – Instituto Brasileiro de Direito Urbanístico com o apoio do Ministério da Justiça - Projeto Pensando o Direito.

Na quarta jornada nacional da reforma urbana realizada em outubro de 2011 em Brasília, pelo Fórum Nacional da Reforma Urbana, o Pólis contribuiu com a pauta de reivindicações apresentadas ao Governo Brasileiro que podemos destacar as seguintes: 1. Exigência de participação popular e o controle social sobre as obras do PAC e do Programa Minha Casa Minha Vida; 2. Adoção de critérios adequados à realidade social das comunidades e grupos populares organizados para acesso aos recursos do Programa Minha Casa Minha Vida, em especial para acessar os recursos destinadas à população com as faixas de 0 a 3 salários mínimos; 3. Destinação de imóveis da União subutilizados e não utilizados para projetos de habitação de interesse social; 4. Aprovação da emenda constitucional PEC 285/2008, para incluir na

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Constituição brasileira a vinculação de 2% das receitas orçamentárias no âmbito federal e 1 % do orçamento no âmbito estadual e municipal para moradia popular; 4. Envio ao Congresso Nacional do projeto de lei que cria o Sistema Nacional de Desenvolvimento Urbano; 5. Medidas preventivas visando a proteção dos direitos humanos das comunidades e grupos sociais vulneráveis em casos de ameaças e situações de despejos e remoções decorrentes de Grandes obras como as Operações Urbanas ou Concessões Urbanísticas, Grandes Parques Lineares, Construção de Túneis e Viadutos, Projetos de Renovação Urbana, Obras do PAC, Grandes Obras Viárias e de Infra estrutura, Obras do Setor Privado como os Estádios para Copa do Mundo de 2014, bem como para construção de imóveis de alta renda.

Resultado 7 - O Pólis incidiu na ampliação da participação da sociedade civil na implantação do Sistema de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN) previsto na Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional. O Pólis consolidou a experiência do Centro de Referência de Segurança Alimentar e Nutricional - CRSAN na periferia do município de São Paulo. Com a intenção de contribuir no processo de mobilização nacional em torno da IV Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) realizada em novembro, em Salvador/ Bahia, cujo lema foi Alimentação Saudável: direito de todos, o Instituto Pólis desenvolveu em 2011 conjunto de atividades de formação com o objetivo de ampliar e qualificar a participação da sociedade civil. Dentre as atividades destacamos a participação na Conferência Municipal de São Paulo e nas Conferências Municipais de Diadema, Osasco, Embu das Artes e Guarulhos, municípios localizados na Região Metropolitana de SP. Cabe mencionar as iniciativas da Articulação Paulista de Segurança Alimentar, composta por diversos representantes da sociedade civil e das prefeituras da região Metropolitana de São Paulo e da qual o Pólis é membro, com vistas a viabilizar a realização da Conferência Municipal e Estadual em São Paulo. Dada a interrupção do funcionamento do Conselho Estadual em São Paulo, esta Articulação buscou o reconhecimento do Conselho Nacional de SAN e, de outro lado, realizou uma audiência pública em parceria com a Frente Parlamentar pela SAN de SP para questionar e pressionar o governo estadual a participar do processo de mobilização nacional em torno da IV conferência de SAN. Em função da ausência da participação do Conselho estadual, o Pólis atuou junto às organizações integrantes do Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional (COMUSAN) procurando trazer as informações e questões debatidas no nível nacional. Dada as divergências do presidente do COMUSAN de São Paulo em relação à mobilização nacional, em torno da temática da segurança alimentar e nutricional promovida pelo Consea Nacional, o Pólis fez tentativas constantes de inserir pautas condizentes com o objetivo do

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conselho, de propor, implantar e acompanhar o desenvolvimento da política municipal de SAN e da adesão ao SISAN. Também com essa intenção, participou na organização da Conferência Municipal e da Estadual. No campo da nutrição, procuramos difundir a visão do Direito Humano à Alimentação em palestras e seminários, a exemplo da participação nos Sesc de Santos e Consolação (20 e 26 de outubro), no estado de São Paulo; na Semana do Nutricionista da Faculdade de Saúde Pública (FSP/USP- 29 a 31 de agosto); no Curso de Pós Graduação da FSP/USP (9 de maio); no Seminário sobre Programas de Alimentação Escolar Sustentáveis como Estratégia de Segurança Alimentar e Nutricional e de Cumprimento do Direito Humano à Alimentação Adequada da Faculdade de Saúde Pública/USP (17 e 18 de outubro) procurando problematizar a incorporação da soberania e segurança alimentar e nutricional pelo setor. Como representante do Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (FBSSAN), o Pólis participou do diálogo promovido pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e pela Secretaria-Geral da Presidência da República com as redes de ONGs e movimentos sociais para apresentação e debate sobre o Plano Brasil sem Miséria no mês de maio. Também como representante do FBSSAN, participamos do debate sobre o Plano Nacional de Combate à Obesidade promovido pela Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional (CAISAN) que reúne 19 ministérios com ações relacionadas à questão alimentar. Além da participação nas reuniões da coordenação executiva, coube ao Pólis a responsabilidade de acompanhar as reuniões e o cronograma de atividades de mobilização da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, as reuniões com a Plataforma BNDES e a coordenação do Encontro Temático sobre Segurança Alimentar e Nutricional no contexto da Política Urbana, atividade preparatória da IV Conferência Nacional de SAN, descrita anteriormente nas atividades do Eixo 1 deste relatório. As organizações alinhadas ao Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (FBSSAN) participaram ativamente das Conferências Estaduais e Municipais procurando inserir no debate sobre o Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional e o Sistema de SAN (SISAN) questões ainda pouco esclarecidas como a participação do setor privado e os mecanismos de participação da sociedade civil no SISAN. No âmbito da Campanha “Direito Humano à Alimentação: Faça Valer”, organizada pelo CONSEA, MDS e Action Aid, com o objetivo de ampliar a participação da sociedade e fortalecer a mobilização para a efetivação deste direito para todos os brasileiros, o FBSSAN tem buscado influenciar no desenho da campanha para articular com outras campanhas que estão em curso, como: Campanha Contra os Agrotóxicos e pela Vida; Campanha contra os Transgênicos; Regulação da Publicidade de alimentos entre outros. Uma atividade importante do fórum no primeiro semestre de 2011 foi a participação nas atividades preparatórias e na coordenação do “Encontro de Diálogos e Convergências entre Agroecologia,

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Saúde e Justiça Ambiental, Soberania Alimentar, Economia Solidária e Feminismo”. Este encontro reuniu em setembro, em Salvador/BA, 300 pessoas integrantes das seguintes redes: Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), Associação Brasileira de Agroecologia (ABA-Agroecologia), Associação Brasileira de Pós Graduação em Saúde Coletiva (Abrasco), Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES), Rede Brasileira de Justiça Ambiental (RBJA), Rede Alerta contra o Deserto Verde (RADV), Marcha Mundial de Mulheres, Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB) e, Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (FBSSAN). O Encontro teve o objetivo de identificar e sistematizar casos emblemáticos que expressam as variadas formas de resistência das camadas populares em suas diferentes expressões socioculturais e sua capacidade de gerar propostas alternativas ao modelo de desenvolvimento hegemônico em nosso país. As redes e movimentos promotores do Encontro lançaram um manifesto político denominado “Carta de Salvador” e firmaram um compromisso de dar seguimento ao processo de criação de ambientes de diálogos e convergências a partir dos territórios, lugar onde as lutas se integram na prática. No nível internacional, o Fórum vem estabelecendo contato com a REDSAN dos Países Africanos de Língua Portuguesa por meio de um convite da ACTUAR (organização animadora da REDSAN/PALOP). A REDSAN é um espaço de articulação de organizações da sociedade civil, constituída oficialmente em 2007 durante a III Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional do Brasil que se realizou em Fortaleza. As organizações trabalham em conjunto para fortalecer o diálogo com os governos e organismos internacionais (FAO, CE, CPLP) no sentido de influenciar a agenda política para a segurança alimentar e o direito humano à alimentação no espaço lusófono. Recentemente um representante do Fórum participou da reunião da rede em Lisboa e um grupo de lá se organizou para participar da IV Conferência de SAN, em Salvador, inclusive desenvolvendo uma das atividades integradoras. A proposta da ACTUAR é de ampliar a REDSAN para o espaço lusófono através da inclusão de redes/organizações brasileiras, como também do Timor Leste e Portugal. No caso do Brasil a estratégia é de construir uma aproximação com as organizações que atuam no campo da soberania e segurança alimentar e nutricional à REDSAN PALOP, via FBSSAN para troca de experiências e debate sobre temas comuns. O FBSSAN iniciou também um diálogo com a Aliança Terra Cidadã (www.terre-citoyenne.or/es/) para avaliar a possibilidade de organizar conjuntamente uma atividade na Rio + 20. No Centro de Referência de Segurança Alimentar e Nutricional - CRSANS-BT, o Pólis também atuou no campo das políticas públicas municipais ministrando oficinas sobre a temática para a sociedade civil e técnicos governamentais. Essa formação foi decisiva para o maior envolvimento dos técnicos no processo e na participação das conferências municipal, estadual e nacional, trazendo para o espaço uma qualificação política e um maior envolvimento neste processo de

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implantação do SISAN, possibilitando o engajamento da sociedade civil e técnicos do governo para exigir do Estado a adesão ao sistema. Por meio de um processo permanente de articulação junto aos parceiros da coordenação executiva do CRSANS e da Rede local de SAN do Butantã, o Pólis colaborou na definição de pautas, das atividades, na divulgação e articulação dos atores locais e desenvolveu diversas atividades (oficinas, mutirões e grupos de trabalho) sobre temas relacionados à segurança alimentar e nutricional e agricultura urbana. Com a agricultura urbana foi possível envolver equipamentos públicos de saúde (Unidades Básicas de Saúde- UBS) na discussão em torno da segurança alimentar e das políticas públicas. No nível da região da subprefeitura do Butantã, o Pólis participou da Rede Butantã de Entidades Sociais, colaborando na inclusão de pautas relacionadas ao temas da segurança alimentar e agricultura urbana e acompanhando as discussões relacionadas a Operação Urbana Vila Sônia que se não for devidamente planejada e discutida pelos moradores da região trará inúmeros prejuízos socioambientais. Resultado 8 - O Pólis incidiu na construção do SISAN e na elaboração de propostas intersetoriais de políticas públicas em SAN contribuindo, entre outras coisas, para aproximar os produtores(as) rurais e os consumidores urbanos. Dada a ênfase da Instituição em questões urbanas, Pólis aprofundou estudos e elaborou projetos associados ao tema da agricultura urbana e periurbana, como um instrumento de aproximação entre produtores e consumidores, que além de promover a inclusão social, aproveita-se de forma eficiente e sustentável de recursos e insumos locais (solo, água, resíduos sólidos, mão-de-obra, conhecimentos), vinculando-se às dinâmicas urbanas de gestão territorial e ambiental das cidades. Nesse sentido, o Pólis desenvolveu o projeto Cidadania Alimentar e Agricultura Urbana junto ao Fundo Estadual de Meio Ambiente - FEMA 8. Este projeto contribuiu para o fortalecimento da temática na região por meio de um curso que teve duração de 10 meses e oficinas que possibilitaram a formação de multiplicadores, incluindo gestores públicos e agentes comunitários de saúde, além de lideranças comunitárias. A partir deste projeto foi possível difundir diversos temas relacionados como a agroecologia, a permacultura, meio ambiente e saúde ambiental e humana. Este projeto teve seu foco na saúde, a partir da mudança nos hábitos alimentares, mas a agricultura urbana possibilita inúmeras integrações e aplicações na vida individual e coletiva; faz relação com a economia solidária, geração de renda, meio ambiente e políticas urbanas, possibilitando um melhor aproveitamento dos espaços e equipamentos públicos para a implantação de hortas e espaços produtivos.

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A conscientização em torno da importância nas compras de produtos agroecológicos, livres de contaminantes químicos e dos benefícios de se comprar direto do produtor foram absorvidos pelos participantes que participaram das atividades do projeto. Com o objetivo de também se criar uma rede da agricultura urbana foi realizado constante diálogo com experiências semelhantes na cidade de São Paulo e nos municípios vizinhos, a exemplo de Embu das Artes que tem uma forte atuação com a Agricultura Urbana promovida por ONG local e pela própria prefeitura. Resultado 9 - O Pólis incidiu no empoderamento e na organização das mulheres, nos níveis local, nacional e regional na temática da soberania alimentar e nutricional. Os resultados foram alcançados em 2009. Resultado 10 - O Pólis incidiu no programa de coleta seletiva de São Paulo para a incorporação de uma parcela significativa dos catadores avulsos e organizados em cooperativas, de maneira a ter qualificado suas condições de trabalho. O Pólis participou de reuniões do Grupo de Resíduos Sólidos do Fórum Empresarial de Apoio à Cidade de São Paulo, iniciativa do Instituto Ethos, e apresentou aos seus membros pesquisa realizada em 2010 sobre o sistema de gestão de resíduos sólidos e suas alternativas, na perspectiva de mudança de padrão de gestão com integração das associações e cooperativas de catadores. Também propôs ao Ethos a realização de pesquisa sobre a visão dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes quanto ao modelo que consideram mais adequado para a implantação da logística reversa (responsabilidade estendida do produtor/gerador), lembrando que na Europa as grandes empresas multinacionais assumem esta responsabilidade sem a resistência que se percebe quando se trata de fazer o mesmo no Brasil. O recurso advindo deste setor poderá custear a implantação de sistema de coleta seletiva adequado em São Paulo, permitindo ampliar significativamente o número de catadores a ser integrado e a melhoria das condições de trabalho dos mesmos. A pesquisa foi lançada no final de 2011. Resultado 11 - O Pólis gerou indicadores para a gestão e monitoramento de resíduos sólidos domiciliares em São Paulo que se tornaram referência para outros municípios brasileiros. Já foi realizado e informado no Relatório 2010.

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Resultado 12 - O Pólis formulou ações e propostas para contrapor-se à implantação de incineradores em São Paulo e no Brasil - tecnologia poupadora de mão de obra e de alto impacto ambiental. Um grande desafio na implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) é garantir que o modelo a ser implementado nos municípios seja voltado para o reaproveitamento de resíduos secos (reciclagem) e úmidos (compostagem e/ou biodigestão). Neste sentido, o Pólis co-promoveu a criação da Coalizão Nacional contra a Incineração de Lixo. No dia 7 de junho de 2011, o Pólis sediou encontro internacional com cerca de 50 pessoas de diversas redes e entidades ambientalistas, entre elas a Rede GAIA (Aliança Global para Alternativas à incineração) e Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis - MNCR, para elaborar estratégias de ação no combate a instalação de incineradoras de lixo. Neste contexto, definiu-se como primeira diretriz de ação desencadear ampla mobilização em São Bernardo do Campo – SBC (município da região do Grande ABC, São Paulo) por ser avaliado como um local emblemático. Ademais, seria um avanço na luta em São Paulo e no Brasil, por afirmar um modelo com base na recuperação integral de resíduos com participação dos catadores. O Pólis participou de manifestação pública pelas ruas de SBC contra a instalação de um incinerador, no marco da primeira ação da Coalizão. O Grito contra a Incineração do Lixo em São Bernardo do Campo reuniu cerca de 300 pessoas no centro da cidade. Foram distribuídos materiais impressos esclarecendo a população sobre os danos causados com uma eventual implantação de incinerador de lixo na cidade. O ato também teve o objetivo de protocolar uma ação popular em nome de duas catadoras contra o projeto do incinerador no antigo lixão do Alvarenga, divisa de SBC com Diadema, uma área de mananciais (em processo de recuperação) onde há diversas nascentes de água. A iniciativa foi inédita, pois foi a primeira vez em que duas catadoras ajuizaram uma ação popular contra uma prefeitura. A ação pediu a suspensão imediata do edital de licitação do incinerador que é chamado pela administração municipal de “Usina Verde”. Pólis assinou a Ação Popular Ambiental, contra incineração do lixo. É importante atentar para o fato das 690 toneladas/dia de lixo geradas em SBC, o governo (Partido dos Trabalhadores) propõe-se a incinerar, no mínimo, 650 toneladas/dia. O Pólis fez uma fala durante o ato (21/07/2011). Uma outra iniciativa importante realizada pela Coalizão Nacional em defesa da implantação de alternativas sustentáveis do ponto de vista ambiental, social, econômico e de saúde pública foi o lançamento da Campanha contra os projetos de tratamento térmico dos resíduos sólidos para geração de energia que estão em processo de implantação em vária regiões do Brasil. A campanha foi lançada dia 30 de setembro de 2011, no marco do Dia de Ação Global contra a Incineração (Rede GAIA), em São Bernardo do Campo, no seminário técnico Resíduos Sólidos:

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alternativas sustentáveis, realizado pela Universidade Metodista. O evento reuniu cerca de 170 pessoas, entre especialistas da área, movimentos sociais e juristas para debater o impacto da incineração de resíduos e alternativas sustentáveis de gestão de resíduos sólidos domiciliares. Foi lançado também o Manifesto contra a incineração de Lixo apontando que: a incineração emite substâncias tóxicas que apresentam riscos à saúde pública e ao meio ambiente; provoca despesas públicas imensas; é das alternativas de gestão que menos gera postos de trabalho além de competir com os catadores de materiais recicláveis secos. O movimento elaborou também uma moção de repúdio à Prefeitura de São Bernardo do Campo, rejeitando a proposta apresentada pelo governo municipal para implantação de uma usina de incineração contrastando com as principais diretrizes da Política Nacional de Resíduos Sólidos que prevê como dever de prioridade a não geração, a reutilização, a coleta seletiva e reciclagem reconhecendo nos catadores de materiais recicláveis importantes agentes para efetivar a logística reversa. Em nome da Coalizão Nacional contra a Incineração de Lixo, o Pólis articulou na Câmara dos Deputados uma plenária para debater a questão da implantação de incineradores no país como alternativa tecnológica para gestão de resíduos sólidos. No dia 29 de novembro de 2011, reuniram-se representantes do Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis - MNCR, ONGs socioambientalistas, representantes de partidos e de parlamentares, representantes do governo federal entre outros para debater o tema. Participaram como expositores representantes do MNCR, do Movimento em Defesa da Vida do Grande ABC, da entidade France Liberté, da Rede GAIA - Rede Internacional Alternativas à Incineração (Chile), e da Rede Latinomaericana de Catadores - Lacre. A Lei 12.305/2010 que instituí a PNRS, bem como o Plano Nacional, enfatiza a precaução e prevenção na gestão dos resíduos, a priorização em reduzir, recuperar e reciclar resíduos secos e úmidos, bem como a importância de se implementar programas, políticas e ações, em âmbito municipal e regional, que tragam soluções consorciadas e que integrem as associações e cooperativas de catadores. O Manifesto contra a Incineração do Lixo, elaborado pela Comissão Técnica da Coalizão, da qual o Pólis faz parte, foi lançado no evento. Resultado 13 - O Pólis incidiu no fortalecimento de organizações e redes de jovens e para a elaboração de propostas para políticas públicas voltadas para as juventudes. O Pólis incidiu no debate sobre políticas públicas de cultura de convivência e paz junto a jovens de diversas regiões do país. Em 2011 o Pólis manteve sua atuação no Conselho Nacional de Juventude (CONJUVE) como representante do segmento “entidade de apoio no campo pesquisa”. Alternou a titularidade com o IBASE (Instituto Brasileiro de Análises Econômicas e Sociais), passando a assumir suplência.

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O Pólis priorizou a atuação na Comissão de Acompanhamento de Políticas e Programas (CAPP), onde contribuiu com a continuidade do processo de elaboração e finalização do documento Reflexões Sobre a Política de Juventude: 2002 - 2010, que traz um balanço sobre as políticas e programas voltados para a juventude. Como membro dessa comissão participou do Fórum PPA Interconselhos 2012 - 2015 realizado pela Secretária Geral da Presidência da República e o Ministério do Planejamento, onde contribuiu na elaboração de instrumentos de acompanhamento do Plano Plurianual do governo. Nessa mesma frente de atuação, o Pólis participou de um grupo de trabalho formado por membros da sociedade civil do Conselho e técnicos da Secretaria Nacional de Juventude para acompanhar a elaboração do PPA Juventude. Ainda como membro da CAPP/CONJUVE, o Pólis ajudou a estruturar o Seminário Sistema Nacional de Políticas Públicas de Juventude, realizado na sua sede em São Paulo. O seminário contou com a participação de membros da Comissão de Acompanhamento de Políticas e Programas (CAPP), e tratou das vantagens e desafios para se implementar o Sistema Nacional de Políticas Públicas de Juventude. Pólis realizou, em parceria com as organizações Ágere, Canto Jovem, Cedaps, Cipó, Escola de Gente, Ibase, IMAC, Instituto Aliança, Observatório Jovem do Rio de Janeiro/UFF e a UniRio o Seminário Políticas Públicas de Juventude: Reflexões, desafios e potencialidades. O Instituto coordenou também o debate sobre Juventude e Cidade na 2ª Conferência Estadual de Juventude. Além disso, contribuiu na formulação de elementos do Estatuto da Juventude, em tramitação no Congresso Nacional, e compôs o comitê mobilizador de senadores para aprovação do Estatuto da Juventude no Senado Federal. Pólis também colaborou com a Comissão Organizadora Nacional da 2ª Conferência Nacional de Juventude. Por fim, participou de oficina do Fórum Direitos e Cidadania (Governo Federal) para elaboração da Agenda de Enfrentamento à Mortalidade da Juventude Negra.

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EIXO 3 – Comunicação para o Fortalecimento de Estratégias Políticas

Este eixo tem como objetivo ampliar a interlocução pública com diferentes setores da sociedade com vistas ao fortalecimento de uma cultura de direitos e de valores que oriente a construção de uma sociedade justa, plural, solidária e sustentável.

Ao longo de sua história, o Pólis dialogou com diferentes atores do campo democrático e subsidiou com seus debates e publicações o aprofundamento da democracia na localidade e para a articulação de redes nacionais e internacionais. A Revista Pólis e os livros e textos difundidos têm contribuído com reflexões importantes para fortalecer a democracia local, governos e sociedade, em conexão com redes, “que se constituem a nova morfologia social de nossas sociedades; a difusão da lógica de redes modifica de forma substancial a operação e os resultados produtivos e de experiência, poder e cultura.” (Castells). Os documentos do Pólis circularam pelas mais importantes redes e movimentos sociais do país. Hoje temos 51 revistas, dezenas de livros e documentos publicados, opiniões difundidas via sítio e mais de duas centenas de Dicas -, difundindo experiências inovadoras de ação local. Publicamos também nestes anos 29 números do Boletim Repente, ferramenta de comunicação com os movimentos sociais e populares. Definitivamente chegou a Era da Comunicação, onde não se mede apenas a intervenção política, mas a qualidade e agilidade daquilo que os atores comunicam à sociedade. Parece claro que a democracia hoje passa pela qualificação e democratização dos meios de comunicação; estamos frente a uma oportunidade única de democratizar a informação e o conhecimento e, assim, ampliar o campo de acessos a valores democráticos e sustentáveis. Entendemos que uma das chaves da comunicação é combinar as formas tradicionais com as novas possibilidades do mundo digital e que o seu uso também muda comportamentos; que há uma nova consciência que surge na era digital de que todo o conhecimento é livre e partilhável e se constrói com outros atores. A partir de 2005, consolidamos o nosso sítio na internet, no qual estão disponíveis todas as reflexões, opiniões e publicações do Pólis. Com a criação do Notícias Pólis, hoje com 10 mil assinantes, tornamos a comunicação mais ágil e permanente. Iniciamos também a produção de filmes, pequenos vídeos de opiniões, sítio sobre mapeamentos socioculturais e audiovisuais, atividades periódicas do CineClube Pólis e apostamos no Pólis Digital – Mídias Livres e Cidadania Cultural, buscando colocar as mídias livres a serviço do direito à cidade e da cidadania cultural. O Instituto Pólis incorporou novas tecnologias no seu trabalho de comunicação, experimentou a feitura de entrevistas e coberturas audiovisuais no trabalho de jornalismo online, onde alguns dos eventos que o Pólis participou foram transmitidos no decorrer da sua realização no sítio e em redes sociais. Técnicas e equipamentos necessários para edição de vídeo e fotografia também

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foram incorporados pela equipe de comunicação. Esta equipe ampliou sua atuação por meio da criação do projeto Pólis Digital (www.polisdigital.com.br) uma plataforma colaborativa, física e virtual, que reúne produções em mídias livres que tratam sobre os temas relevantes da cidade e do contexto global. Uma vez por mês, reunimos no terraço do Instituto Pólis, com vista para o centro da cidade, grupos que apresentam seus trabalhos, que variam desde produções fotográficas a video-mappings, filmes e outras linguagens audiovisuais que dialogam com as temáticas trabalhadas pelo Instituto e relevantes para a cidade como: cultura livre e digital, bem comum e cidadania cultural, o direito à cidade, meio ambiente, cultura de paz, políticas públicas, entre outras. Ao final, promovemos um debate com convidados para tratar dos conteúdos apresentados. Os eventos são registrados e compartilhados na rede (polisdigital.com.br), onde o debate tem continuidade. Abaixo apresentamos a análise dos resultados desse eixo.

Resultado 1: O Pólis otimizou e articulou os diferentes instrumentos de comunicação existentes na organização, incorporou novas tecnologias, ampliando a sua repercussão na opinião pública.

Em 2011 demos continuidade ao trabalho de estruturação do novo sítio, instrumento mais importante para a nossa apresentação pública. Como apontado em relatório anterior, identificamos a importância de um sítio interativo, motivador de buscas como ferramenta central da nossa comunicação com a sociedade, capaz de traduzir acúmulos técnicos e políticos destes 25 anos de existência e valorizar a nossa própria história, projetando-a para o futuro, com novos cenários e horizontes. No novo sítio, lançado em 2012, as áreas situam-se dentro de um portal e o sistema de busca facilitará o acesso a informações desejadas e a totalidade do conhecimento existente no Pólis e suas principais redes de relações. Quanto ao processo de transição para o novo sítio, em 2011 efetuamos a cópia dos estudos e textos apresentados no atual sítio do Pólis. Este backup foi realizado manualmente pela área de comunicação e pelo Centro de Documentação e Informação (CDI), para que se pudesse realizar uma triagem dos diferentes materiais de acordo com as diversas temáticas de atuação do Instituto. Foram selecionados pela equipe do Pólis cerca de 700 arquivos para posterior publicação no novo sítio. Também mantivemos as suas visitas, sabendo-se que agora temos um instrumento para medi-las quando necessário e estabelecer padrões de comparação entre períodos. Com a ampliação da equipe e a existência de novos projetos foi necessário outra estrutura de informática. Em 2011 buscamos a melhoria da estrutura como um todo, pois ela permeia os avanços em todas as áreas do conhecimento. Para dar conta da nossa comunicação foi preciso mudar ou aprimorar vários equipamentos da instituição e promover levantamentos da situação

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atual da informática no Instituto. Seguem alguns dados e informações e algumas mudanças que consideramos relevantes para a saúde da comunicação: O Instituto Pólis é equipado por 38 computadores de mesa (Desktops) e nove notebooks. São máquinas com sistema operacional Canonical Ubuntu e com Microsoft Windows, em sua maior parte, com a versão Windows 7 acompanhadas por Microsoft Office 2007/2010. Além das alterações nos desktops/laptops, atualizamos os backups, aumentando a sua confiabilidade e integridade. Estamos também trocando os HDs de backups de 500 GB para 6000 GB, conforme o crescimento de 80% no espaço do servidor. Em setembro foi iniciado o processo de estruturação do servidor para hospedar o novo sítio do Pólis. Atualmente este servidor se encontra em ambiente de produção. (Para 2012 está sendo elaborado um plano de atualização tecnológica para realizar a troca e atualização dos equipamentos de rede, servidores e demais equipamentos.) Em 2011 também contemplamos o processo de desenvolvimento do novo sítio institucional, que foi especialmente desenvolvido na linguagem PHP e banco de dados MySQL, respeitando as especificações do Consórcio World Wide Web – W3C (comunidade internacional que desenvolve padrões com o objetivo de garantir o crescimento da web). Atualmente o sítio se encontra no servidor srv003 na empresa Dualtec, sendo alimentado para ser lançado no início de 2012. Tendo em vista o importante papel que a produção institucional vem exercendo ao longo destes 25 anos na formação de diversas lideranças em nível nacional, o Instituto Pólis disponibilizou, no final de ano de 2011, todas as publicações para download no novo portal, visando à democratização e o livre acesso à informação. Foram digitalizadas todas as Revistas Pólis esgotadas (de 01 a 37, mais dois exemplares especiais); também o Boletim Dicas – (1 a 100), para inserção no novo sítio. Também foram copiados para o novo sítio todos os arquivos do sítio atual, cerca de 1000 (podem ser acessados também assuntos secundários): publicações atuais, relatórios, artigos, noticias da conjuntura em interface com áreas de trabalho. Seguiram-se ajustes de layout e complementos de categorias necessárias para acessar buscas; novas potencialidades acrescidas, o que permitirá uma consulta rápida e recuperação das informações mais eficaz como: ferramentas tecnológicas para interação com o público, com áudio, vídeo e fotos; Youtube, Facebook, Twitter, Google Maps, para potencializar a comunicação, tanto pelas diversas linguagens multimídia, quanto pela informação instantânea. O novo portal será uma ferramenta de atuação direta no debate público trazendo o posicionamento do Pólis nas questões do momento e possibilitará uma informação ágil e a formação de atores organizados em redes e movimentos. O boletim virtual Notícias Pólis passou por uma reforma editorial no início do primeiro semestre de 2011. As edições semanais passaram a ser quinzenais. A equipe de comunicação foi ampliada e as matérias ganharam dimensões mais amplas, incluindo não apenas posições de especialistas do Instituto Pólis, como também dos atores sociais envolvidos nas atividades do instituto. Foram

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enviados 13 boletins virtuais Notícias Pólis até junho de 2011, somando 61 notícias no total. As notícias são replicadas em sítios de parceiros, difundidas nas redes sociais Facebook e Twitter e no sítio do Instituto Pólis. O Pólis ampliou também a participação e difusão de conteúdos nas redes sociais pela plataforma Facebook e Twitter. Atualmente a página social do Instituto Pólis no Facebook conta com 1800 seguidores e 2672 no Twitter. Disponibilizamos também suas notícias no sítio, além de outros conteúdos. Em 2011, até o mês de junho, tivemos uma média de 25.000 buscas mensais. Durante 2011 ampliamos e consolidamos os nossos instrumentos de comunicação, utilizando os recursos tecnológicos disponíveis e preparando um campo fértil para posteriores inserções na sociedade. Resultado 2: O Pólis conseguiu ampliar sua inserção junto a uma rede de mídias alternativas, estreitando o diálogo com os profissionais que têm convergência com o projeto político do Pólis. Ocorreram incidências nas diversas mídias: sítios, revistas, TVs, blogs, totalizando 125 inserções, com destaque para as áreas de Urbanismo, Resíduos Sólidos e Direito à Cidade; embora com alguns registros nas áreas de Cultura, Segurança Alimentar, Participação. As mídias que mais se destacaram foram sítios (57%), jornais (17%) e TVs (11%). O Pólis passou a ter também postura mais ativa em relação aos meios de comunicação buscando formar notícias, dar sugestões de pauta, por meio, dentre outras formas, de reuniões com a mídia, etc. Dos meios de comunicação os mais destacados foram: TVs abertas (Globo, SBT, Bandeirantes, Cultura, Câmara), jornais de grande circulação (O Estado de São Paulo, Diário de São Paulo, Folha de São Paulo), rádios (CBN, BandNews), sítios ( Agência Brasil, UOL, sítios de Prefeituras, da Associação Casa da Cidade, da Presidência da República, da Revista Veja, do Consea entre outros); blogs e portais. O Pólis levou seus posicionamentos em relação aos principais desafios para a implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos na grande mídia e em outros veículos institucionais, contribuindo para formação de opinião pública sobre as novas diretrizes para gestão de resíduos sólidos. Foram cerca de 30 inserções na mídia televisiva, virtual, escrita e rádio. O Pólis também se posicionou em relação aos principais temas urbanos da cidade de São Paulo e do país em relação ao ordenamento urbano, ocupação de imóveis ociosos, desequilíbrios ambientais da cidade e políticas públicas envolvendo populações de baixa renda. Estas notícias presentes na grande mídia e nas alternativas trouxeram grande repercussão ao debate, criando contrapontos ou enriquecendo o debate no campo urbano. Por outro lado, abriu-se uma rede de mídias alternativas com o Projeto Pólis Digital – Mídias Livres e Cidadania Cultural, que ampliou o raio de

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ação dessas mídias com Redes de Pontos de Cultura do país, como é o caso da Casa de Cultura Digital, Rede de Vídeo Popular, coletivos de jovens participantes de ocupação da região central da cidade de São Paulo. Devemos destacar o papel do Le Monde, que se relaciona com redes cada vez mais ampliadas de jornalistas e colaboradores, desenvolvendo diálogos permanentes com as mídias impressas, eletrônicas e audiovisuais. É necessário dizer que ainda não temos aproveitado todo o nosso potencial de aliados nos meios de comunicação, de forma a levar nossas reflexões e mensagens para o grande público. Isso acontecerá ao definirmos a comunicação articulada com uma agenda política, reforçando-a e conferindo-lhe visibilidade; não apenas de forma instrumental (como inserção nos veículos ou diálogo com jornalistas), mas também como elo das redes em conexão com a sociedade. Resultado 3: Aumento do número de leitores do jornal, passando dos atuais 35 mil para 60 mil leitores mensais O Jornal Le Monde Diplomatique Brasil (Diplô) ampliou o número de assinantes nos últimos anos, bem como o número de vendas em bancas. A efetivação dessa mudança deu-se pela ampliação de público crítico que passou a contar com publicações para a formação de opinião analítica e reflexiva sobre os desafios contemporâneos. O jornal também ampliou seu diálogo com os leitores a partir do fortalecimento de suas interfaces web, com maior dinamismo de matérias em seu sítio, bem como o uso das redes sociais e de um canal de TV web - a TV Diplomatique. O público médio leitor do jornal impresso e também da versão web está em aproximadamente 110 mil leitores/mês. Além de fazerem a compra em bancas, utilizam também as plataformas digitais do jornal que disponibilizam todo o seu conteúdo em licença Creative Commons. Essas plataformas permitem a livre circulação, compartilhamento e acesso aos conteúdos informativos, analíticos e reflexivos sobre o contexto da globalização e da circulação de bens simbólicos e de consumo. Os conteúdos são enriquecidos com o debate das alternativas a esse modelo atual de globalização, bem como de questões referentes à cultura, literatura, artes, mídia, filosofia, relações internacionais, economia e política. A premissa da sustentação econômica está sendo efetivada com um aumento de 15 % do número de vendas em bancas e a manutenção do banco de assinantes. O Diplô ainda efetivou um convênio com o Ministério da Cultura para a distribuição em bibliotecas públicas, pontos de cultura, pontos de leitura e universidades federais, totalizando a distribuição de 7 mil exemplares por mês, iniciado em fevereiro de 2011. Outra realização que merece destaque em 2011 foi a publicação de um especial chamado Dossiê Le Monde Diplomatique Brasil que teve início em janeiro de 2011. O Dossiê 1 – encarte especial do próprio jornal, abordou o tema Revolução Cultural na Internet: as transformações sociais oriundas do advento da internet e seus protagonistas são o destaque desta edição. As indagações

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que suscitam a publicação são: a internet é uma nova biblioteca global? A quem pertencem os direitos intelectuais de tudo que está online? E o jornalismo, que lugar ocupará em um mundo onde todos conseguem se comunicar e até mesmo noticiar os fatos a partir de suas próprias redes sociais? As relações humanas mudaram? Ainda sob forma de Encarte Especial, o Dossiê 02 (fevereiro de 2011) abordou o tema Batalha das Línguas, buscando debater a questão da linguagem não ser apenas um simples código de transmissão de mensagens, mas também uma forma de construir a identidade de cada indivíduo. Em março de 2011, o Dossiê 03 debateu o tema da Cultura, trazendo as manifestações de cultura pop de massa africana, a produção do cinema indiano, o videoclip árabe, manifestações culturais que não são tão conhecidas por nós brasileiros e que expressam a reapropriação regional de manifestações culturais globalizadas, atribuindo-lhes significados específicos nos contextos em que ocorrem. Em abril o Dossiê 04 abordou o tema da Transformação do Mundo, buscando debater a crise civilizatória em que vivemos, questionar o atual modelo de desenvolvimento globalizado, a produção da desigualdade, da exclusão social das maiorias e a imposição de padrões de consumo das minorias ricas que vão além da capacidade de suporte do próprio planeta. Urgentemente, a sociedade global precisa buscar novos paradigmas para alterar radicalmente os padrões de produção e consumo existentes. A partir de maio de 2011, o encarte transformou-se em novo produto do Le Monde Diplomatique Brasil, passando a ter 100 páginas, tiragem bi-mensal de 20.000 exemplares, distribuídos nacionalmente em bancas de revistas e lojas especializadas. O encarte é uma nova revista, com editoração gráfica e produção artística de ilustrações e fotografias que mobiliza nomes já consagrados na área. A revista Dossiê 05, que circulou nos meses de maio e junho de 2011, abordou o tema da África - Desafios da democracia e do desenvolvimento, trazendo para o debate os desafios do continente africano para os objetivos do milênio. A revista Dossiê 06, que circulou nos meses de julho e agosto, abordou o tema O despertar do Mundo Árabe, buscando debater o que mudou na região e em todo o mundo após as revoltas iniciadas no final de 2010 e conhecidas como Primavera Árabe. A revista Dossiê 07, que circulou nos meses de setembro e outubro, tratou do tema A volta das revoluções, trazendo o debate sobre a retomada desse tipo de transformação a partir das revoltas árabes ocorridas no início de 2011 e fazendo um resgate dos principais movimentos revolucionários da história da Humanidade. A revista Dossiê 08, que circulou nos meses de novembro e dezembro de 2011, abordou o tema Crise bancária – O roubo do século, trazendo para o debate as causas do colapso financeiro iniciado em 2008 nos Estados Unidos, cujas consequências são sentidas até hoje, seja pelos beneficiários do atual modelo, seja pelos prejudicados

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O Le Monde Diplomatique Brasil consolidou-se como instrumento de comunicação, constituindo-se referência para segmentos críticos ao modelo hegemônico atual e daqueles que desejam construir um mundo alternativo. No momento atual caminha fortemente para o desenvolvimento de temas de natureza cultural, compondo com temas econômicos, sociais e ambientais já incorporados em sua linha editorial. Os dossiês trazem temas contemporâneos e pouco tratados pela grande mídia. É de se destacar que sua produção tem sido distribuída também nas redes de Pontos de Cultura, Cultura de Paz, Arte e Cultura, Jovens etc. – fortalecendo a comunicação de temas relevantes com a sociedade. Resultado 4: Ampliação do público leitor dos conteúdos elaborados pelo Pólis e publicados em material impresso e no site institucional Em 2011 publicamos a cartilha e o DVD Conhecer para Lutar, que visa contribuir para a formação política dos moradores de rua e pessoas com trajeto de rua. Este trabalho foi desenvolvido em parceria com o Movimento de População de Rua. Com o Inesc desenvolvemos a pesquisa Governança Democrática no Brasil Contemporâneo, Estado e Sociedade na Construção de Políticas Públicas. Este trabalho desenvolve reflexões sobre o alcance e limites da estratégia participativa resgatando utopias que mobilizaram os atores sociais desde o momento da redemocratização. A plataforma tem um olhar crítico sobre o processo, visando criar novas estratégias e contribuir para a radicalização da democracia. A produção está no sítio do Inesc e do Pólis e será publicada em 2012. O Pontão de Convivência e Cultura de Paz se dirigiu aos três mil Pontos de Cultura do país com pequenas informações via Twitter, boletins quinzenais, sítio etc, sobre suas atividades regionais, conversas públicas de rua – Apropriarte – e ações regionais de formação de ponteiros em cultura de paz e tecnologias socioculturais. Em todos os Pontos de Cultura circularam edições do jornal Le Monde Diplomatique, vídeo, placa de cultura de paz, camisetas e outras peças. No sítio há uma Home Page para a Convivência e Cultura de Paz. Foram realizados também vídeo - conferências, e um vídeo institucional divulgado através de redes sociais. Importante atentar ainda para o fato das publicações do Pólis terem circulado por todo o país. O LogoLink, rede internacional de organizações que trabalham pela participação cidadã, coordenada pelo Instituto Pólis, desde 2007 (mais informações podem ser encontradas no sitio da rede: www.logolink.org) tem realizado conferências, comunicações e reuniões em todo mundo, através da internet. A produção do seu conhecimento também é permeada por essas tecnologias. Em 2011, LogoLink lançou seu boletim digital, publicado regularmente em inglês e espanhol, enviado a mais de 10 mil pessoas ao redor do mundo, o que ampliou bastante o alcance de seus debates sobre participação cidadã, democratização, transparência, dentre outros temas.

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Como já mencionado anteriormente, foram elaborados para a Secretaria de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia dois manuais de orientação para a atuação dos municípios neste Estado: um caderno de orientação para a construção de políticas municipais de habitação de interesse social e um caderno de orientação para ações de regularização fundiária de interesse social. Como resultado dessa ação, todos os municípios da Bahia terão acesso ao “passo a passo” da aplicação da regularização fundiária, numa linguagem acessível e objetiva. Em 2011 também organizamos publicação do Livro Arte do mapeamento sociocultural da região sul de São Paulo, envolvendo 323 grupos e atores da região. Esta publicação será efetivada em 2012. Ao mesmo tempo o Mapeamento Audiovisual da Cidade Tiradentes continuou em ação com acesso de moradores do bairro e redes culturais da cidade. O Centro de Documentação e Informação (CDI) deu continuidade ao seu trabalho de organização e oferta de informações para pesquisadores acadêmicos, órgãos públicos, ONGs, jornais etc. Em 2011, alguns dos temas procurados foram: movimentos sociais, regularização fundiária, estatuto da cidade e publicações, juventude, participação cidadã e outros. O CDI também distribuiu publicações editadas pelo Instituto para o público interno e externo. Ao todo foram distribuídos 2.475 exemplares para parceiros, colaboradores, movimentos, instituições e atividades internas e externas do Pólis. Destacam-se os temas urbanos e culturais. Entre as instituições alvo estão Articulação no Semi-árido Brasileiro, ASA, encontros regionais de Cultura, universidades federais, Ministério da Cultura, Centro de Referência do Butantã (Cultura Alimentar), Library of Congress Office, Prefeituras Municipais etc. Entre as publicações mais doadas destacam-se a Carta de Responsabilidades do Artista (321 exemplares); Arte e Cultura pelo Reencantamento do Mundo (242 exemplares); Novos Paradigmas de Produção e Consumo (240 exemplares); Planos Diretores, Processos e Aprendizados (238 exemplares). Em 2011, com o apoio do Prêmio Pontos de Mídia Livre, do Ministério da Cultura, foi construído um sítio próprio para o projeto, e também adquirida a infra-estrutura básica para a realização e registro das sessões, debates, o que fomentou o debate e reflexão coletiva em torno da produção colaborativa de conhecimentos sobre a Cultura Livre e Digital. O debate público foi alimentado com intuito de subsidiar formulações de políticas públicas de comunicação e cultura. O material impresso do Pólis, a presença do Boletim, ampliando seu público, as atividades presenciais e as publicações no sítio trouxeram novos públicos e ampliação do seu raio de ação. Todos os materiais publicados pelo Pólis estão acessíveis no sítio, bem como seus boletins quinzenais. Com o novo portal, estão disponíveis formas mais dinâmicas de comunicação, ali instaladas com linguagens multimídia, apoiadas por modernas ferramentas tecnológicas. A comunicação deverá ser potencializada e atingir um ainda maior número de atores nacionais e internacionais.

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Resultado 5: O Cine-Clube do Pólis e os recursos de comunicação comunitários (co-promovidos pela instituição) alimentaram articulações entre redes, movimentos, grupos e produtores de vídeos. Em 2011, o Pólis contribuiu para o fortalecimento dos circuitos democráticos de produção e circulação de informação e cultura, ampliando o alcance das produções e manifestações culturais de segmentos excluídos dos meios de comunicação. Seguem algumas atividades que foram desenvolvidas nesse sentido:

1. Construção (em parceria com a Casa de Cultura Digital), moderação e alimentação do sítio www.polisdigital.com.br, que publica notícias sobre as sessões realizadas assim como artigos e vídeos relacionados; oferece espaço para o debate público e recurso para compartilhamento em redes sociais. O sítio é uma extensão dos debates presenciais nas sessões no Pólis; o espectador pode resgatar informações perdidas durante o evento, podendo interagir e deixar sua contribuição sobre o tema através de comentários, ou até mesmo postagem de textos e vídeos na sessão “Publique”.

2. Construção de página do projeto em rede social virtual (Facebook), assim como nas plataformas virtuais Youtube e Vimeo. A rede social Pólis Digital se compromete não apenas em difundir a agenda política e cultural do projeto como também conteúdos e informações de outras organizações que participam e contribuem para o debate em torno da cultura livre e digital. Nesse projeto foi lançado o filme A Arte e a Rua (co-produzido pelo Pólis e LISA – Laboratório de Imagem e Som em Antropologia da USP ) e promovido debate com convidados, em parceria com Ponto de Mídias Livres Pombas Urbanas e LISA – Laboratório de Imagem e Som em Antropologia (USP) em Cidade Tiradentes – Zona Leste – São Paulo. O mesmo filme foi apresentado no Centro Cultural Matilha Cultural com a participação de 60 pessoas, entre elas jovens da periferia de São Paulo que participaram do filme. O debate foi registrado e estará na plataforma virtual do projeto em 2012.

3. Sessão ao ar livre e debate com convidados no Instituto Pólis – Primavera Digital – Mídias Livres e os Indignados, com parceria do Ponto de Mídia Livre “De rua na rua pra rua” (Centro de Convivência É de Lei) e do Cineclube do Centro Franciscano. Esta foi a sessão inaugural no terraço do Instituto Pólis, ao ar livre e contamos com três projeções simultâneas. Foi proposto formato novo para sessões de vídeos, mais vinculado com a linguagem e formato de “navegação” das mídias livres e da internet. Ademais, foram reunidos dois acervos de vídeos e um de fotos relacionados com o tema dos levantes mundiais contemporâneos e também da relação das lutas sociais com as redes sociais e as novas tecnologias. Para o debate depois das sessões participaram Silvio Caccia Bava (editor chefe do Jornal Le Monde Diplomatique Brasil e coordenador de projeto no Pólis), Aldo Sauda (internacionalista e colaborador da

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Revista Caros Amigos no Cairo), Makarand Paranjabe (poeta indiano e integrante da Rede Mundial de Artistas) e Caio Castor (integrante do Movimento Comboio e Ocupa Sampa).

4. Produção de vídeos e pesquisa sobre o tema Mídias Livres e os indignados. A equipe do projeto realizou uma gravação sobre o tema no vale do Anhangabaú onde estavam acampados integrantes do Movimento Ocupa Sampa, reivindicando melhoras sociais, orquestrados com os levantes no mundo, como o Ocupe Wall Street, Plaza del Sol e os levantes árabes.

5. O Pólis participou do I Fórum da Internet no Brasil (http://forumdainternet.cgi.br/). O Fórum foi um importante momento político e histórico do país no que diz respeito a extensão da banda larga, debate sobre interesses divergentes e convergentes envolvidos, entraves políticos e econômicos, reformas e contra-reformas do direito autoral e a reflexão mais geral sobre o destino mundial da propriedade intelectual e a relação com outro setores do poder público no Brasil. Segue o link para vídeo realizado pela equipe durante o evento: http://vimeo.com/34041817

6. O Instituto Pólis participou do 3º Festival internacional de Cultura Digital Rio de Janeiro (http://culturadigital.org.br/). O Festival, já bastante conhecido pela repercussão internacional que teve na edição em 2010, contexto em que foi elaborado de forma colaborativa o primeiro marco civil regulatório da internet, contou com palestras e fóruns de discussão em torno da cultura livre e digital. A equipe do projeto Pólis Digital registrou parte do evento e irá compartilhar esses registros na rede no início de 2012 (momento de edição e publicação dos eventos e ações desenvolvidas em 2011). As atividades do Pólis Digital/ Cineclube dialogaram amplamente com conteúdos das redes digitais e presenciais: construíram novas ferramentas de comunicação, ampliaram parceiros e mobilizaram jovens para mostras de produção comunitária de mídias. Consideramos que este resultado foi atingido plenamente, e contribuiu também para uma percepção maior de nossos parceiros e do próprio Pólis sobre a importância da comunicação para o fortalecimento da democracia e seus atores, principalmente os mais jovens.

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Eixo 4 - Agendas para uma Nova Sociedade O Instituto Pólis participa ativamente de um momento singular na história da sociedade brasileira; período de mudanças que impactam diretamente sobre a vida das cidades e na participação democrática: o crescimento da economia de mercado, com inclusão de segmentos no mundo do consumo, assim como mudanças culturais marcadas pelo fortalecimento da diversidade cultural do país. As cidades ganham cada vez mais importância e os conflitos se multiplicam sem condições de evitar a desigualdade no acesso aos direitos à cidade. Ao mesmo tempo as realidades globais impõem novos ritmos e desafios ao mundo econômico, social, ambiental e cultural. Assim, trata-se de uma complexa construção de agenda, envolvendo atores tradicionais e novos voltados para a construção de cidades democráticas, justas e sustentáveis. A questão do direito à cidade nos planos nacional e internacional orientaram a construção da Agenda para a Nova Sociedade em 2011. Participamos e influenciamos os debates do Fórum Social Mundial em Dakar e de eventos preparatórios para a Conferência Rio+20. A questão democrática também orientou a construção da Agenda em vários espaços (conforme relatam os vários eixos). A Rede Logolink Participation and Local Governance, coordenada pelo Pólis, esteve presente em atividades que visam fortalecer a participação cidadã e a governança local democrática e pautar o conceito do direito à participação e o controle social no plano internacional. Apresentamos abaixo os resultados desse eixo. Resultado 1 – Incorporação do direito à cidade nos eixos estratégicos da agenda urbana regional e internacional No primeiro semestre de 2011 houve uma iniciativa no Fórum Social Mundial, realizado em fevereiro em Dakar, Senegal, tendo como uma dos temas o direito à cidade e a articulação por uma Assembléia Mundial dos Habitantes (uma das iniciativas do Fórum Social Urbano realizado no ano de 2010 no Rio de Janeiro). O Pólis contribuiu nas discussões preparatórias no fórum de articulação das redes que atuam internacionalmente com a plataforma da reforma urbana como a HIC – Habitat International Coalition. Como um dos resultados desta articulação no Fórum Social Mundial em Dakar foi elaborado o documento Convergencia de los habitantes por el derecho al hábitat que definiu o dia 3 de outubro (Dia Mundial do Habitat) como momento estratégico de mobilização internacional dos movimentos sociais urbanos. No caso do Brasil, o Pólis participou da Quarta Jornada Nacional da Reforma Urbana realizada no dia 4 de outubro de 2011, em Brasília, organizada pelo Fórum Nacional da Reforma Urbana.

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Resultado 2 - O Pólis ampliou a sua interlocução e o intercâmbio de experiências com movimentos sociais organizações não governamentais, organismos governamentais e instituições regionais e internacionais sobre os componentes e formas de proteção e implementação do direito à cidade Com relação a articulação internacional da plataforma do Direito à Cidade, foi definido que a Conferência da Rio + 20 em 2012 é um espaço privilegiado para inserir esta temática na agenda mundial sobre o meio ambiente, tendo como documentos referenciais a Carta mundial do Direito à Cidade e a Carta do Rio de Janeiro sobre o Direito à Cidades Sustentáveis aprovada no Fórum Urbano Mundial de 2010. O Pólis com este objetivo participou de eventos nacionais preparatórios da Rio + 20, e contribuiu com a proposição do seminário sobre a Agenda da Reforma Urbana e Rio + 20, realizado no Fórum Social Mundial Temático, em janeiro de 2012 em Porto Alegre. Resultado 3 - Consolidação do Observatório Internacional do Direito à Cidade como instrumento de diálogos, debates e disseminação do direito à cidade O Observatório Internacional do Direito à Cidade cumpriu a sua agenda em 2010, conforme descrito no relatório anterior. Atualmente busca inserir a pauta do direito à cidade nos fóruns da Rio+20. Resultado 4 - O Pólis ampliou o seu diálogo e o intercâmbio de experiências com os membros das redes para as responsabilidades humanas e dos artistas. Durante o ano de 2011, Pólis participou do Projeto Apropriarte, como mencionado anteriormente no Eixo 3, que consistiu em realizar conversas sobre a ocupação dos espaços públicos (por exemplo, a rua) por meio da arte e metodologias de cultura de paz. Ocorreram eventos tanto na Lapa, na cidade do Rio de Janeiro, como na Praça da República, em São Paulo. Participaram destas ações vários Pontos de Cultura de ambas cidades, bem como artistas, que debateram publicamente sobre a questão da responsabilidade dos artistas na ocupação do espaço público. Durante os eventos, foram distribuídas aos participantes publicações sobre o tema bem como a Carta de Responsabilidade dos Artistas. Resultado 5 - Articulação da rede para responsabilidades humanas do artista no Brasil e articulação entre o International Drama, Theater and Education Association (IDEA) e a Rede Mundial de Artistas em Aliança. O Pólis também debateu a questão da responsabilidade humana dos artistas nos encontros regionais dos Pontos de Cultura, durante eventos realizados em Curitiba, Salvador e Belém. Nesses encontros, discutiu-se sobre a questão do desenvolvimento cultural local, as tecnologias socioculturais para a construção da cultura de paz e a responsabilidade do artista nestes cenários, conforme apresentado anteriormente no Eixo 2.

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Resultado 6 - Compartilhamento de agendas e plataformas entre organizações da sociedade civil brasileira, latino-americana e dos países africanos para a promoção da cidadania, democracia e direitos humanos por meio de políticas públicas. Em 2011, o Pólis debateu amplamente os sentidos da democracia, participação, governança local e direitos humanos em diversos espaços. A rede global Logolink – Learning Initiative on citizen participation and local governance, coordenada pelo Pólis desde 2007, contribuiu imensamente para o compartilhamento de agendas e plataformas sobre esses temas entre organizações da sociedade civil do Brasil, América Latina, África e Ásia. É importante lembrar que LogoLink é uma rede global de organizações da sociedade civil, instituições de pesquisa e governos criada para estimular e apoiar organizações da sociedade civil e redes com o intuito de que se engajem na participação cidadã e controle social das políticas públicas no nível local. Como uma rede única que trabalha para promover a participação cidadã e governança local democrática, com parceiros tanto no Sul como no Norte Global, LogoLink tem contribuído para a promoção global de debates de suma importância e estratégicos para aprofundar e promover a democracia. Em junho de 2011, LogoLink realizou seu 10º Encontro Anual dos Parceiros da rede (Annual Partners Meeting) em Kathmandu, Nepal, no qual os membros da rede e parceiros da América Latina, África e Ásia debateram os desafios atuais para a democracia e suas implicações para o futuro da sociedade civil. Temas como a crise financeira global, os caminhos insustentáveis para o crescimento econômico; declínio da legitimidade das instituições de governança global, a urbanização da pobreza; demandas dos novos movimentos sociais; e o surgimento de redes globais foram destacados como principais desafios. Identificou-se ainda a importância de estabelecer agenda comum de defesa dos direitos humanos ou junto a sociedade civil, em que a governança democrática local desempenhe papel importante. Os membros e parceiros do LogoLink produziram uma agenda política e conceitual que pautará a ação da rede nos próximos anos: ampliar o conceito do direito à participação e do controle social como fundamentais para consolidação de democracias efetivamente participativas. Dias antes do 10º Encontro, PRIA, parceiro regional do LogoLink na Ásia, organizou em Kathmandu com apoio da LogoLink o seminário internacional Asian Regional Conference on Effective Local Governance: Accountability, Participation and Inclusion (Conferência Regional Asiática sobre Governança Local Efetiva: Responsabilidade, Participação e Inclusão). Nesta Conferência os membros do LogoLink tiveram a oportunidade de participar como palestrantes em diversos painéis, compartilhando experiências das Américas, África e Ásia com participantes provenientes principalmente de países do sul da Ásia. O evento foi concebido como fórum para o debate sobre resultados de pesquisas empíricas, aprendizagens a partir de práticas e experiências de exercício e instrumentos de controle de políticas públicas. Além disso, o encontro

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também teve objetivo de formar coalizão regional com organizações da sociedade civil que participaram do evento e que tratam dos temas de governança local, participação cidadã e responsabilidade democrática (democratic accountability). Ademais, a conferência buscou informar aos participantes sobre a implementação de políticas públicas e promover a troca de experiências de práticas democráticas que possam fortalecer ações locais em vários países. As discussões do encontro giraram em torno de três temas principais: 1) desenvolvimento de capacidades, 2) responsabilidade democrática e 3) participação do cidadão e inclusão social. No total, mais de 100 pessoas de 24 países da Ásia, das Américas, da África e Europa participaram do encontro. Em parceria com o Instituto Pólis e China Participatory Urban Governance Network (CCPG), com apoio da ActionAid International, LogoLink também promoveu projeto de troca de conhecimento e experiências entre América Latina e China. As Lectures on Latin American innovations on local governance consistiram em diversas palestras e reuniões sobre democracia e governança local na América Latina. Os encontros ocorreram em diferentes instituições de três dos principais centros urbanos chineses: Beijing, Chengdu e Shangai. As instituições foram escolhidas por seu prestígio e influência, principalmente aquelas das cidades de Beijing e Shanghai. O renomado professor de Pós-Graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Ladislau Dowbor, acompanhado do coordenador do CCPG na época, Ming Zhuang, ficou de 2 a 3 dias em cada cidade para realizar as palestras, visitas e conversas informais com diversos setores da sociedade chinesa. Foram ao todo 10 palestras para um público de cerca de 500 participantes. Este projeto possibilitou a troca de experiências e conhecimentos entre dois países do sul global de crescente importância no cenário internacional, Brasil e China. Os parceiros na China e suas redes reconheceram a necessidade de conhecer melhor as experiências locais inovadoras em gestão democrática e participativa do Brasil e da América Latina. Possibilitou, portanto, ampliar o acesso a um tipo de conhecimento e experiência muito distintos produzidos e realizados em contextos sociais, econômicos e políticos diferentes do contexto norte-americano e europeu (em geral só tinham acesso a estas realidades). Assim, novos conceitos em temas de governança local, democracia, economia, de uma perspectiva latino-americana, foram apresentados ao público chinês, composto tanto de representantes do governo, pesquisadores, acadêmicos, como da sociedade civil organizada. A experiência de discutir tais temas a partir da experiência latino-americana foi de fato inovadora e bem acolhida dada a demanda de conhecer realidades com desafios similares aos da China. Em outubro de 2011, o Instituto Pólis e outros membros do LogoLink participaram do Oslo Governance Forum em Oslo, Noruega. O evento foi organizado pelo Grupo de Governança Democrática do PNUD, em colaboração com o Fundo das Nações Unidas para Democracia (UNDEF), ActionAid, Aliança ACT, Instituto do Banco Mundial e PRIA (membro do LogoLink). Com participantes do mundo inteiro, o encontro reuniu membros da sociedade civil (principalmente de

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países do sul global), autoridades governamentais e de organizações internacionais para discutir participação, accountability e democracia frente à crise econômica, ecológica e de governança da atualidade. A principal questão da conferência foi: como “renovar processos de governança e instituições democráticas para uma nova era”? Além disso, a conferência também contribuiu para apontar os desafios e o papel do PNUD neste contexto de crise. Em geral, as iniciativas promovidas pelo Pólis e LogoLink contribuíram para compartilhar novas agendas, plataformas e práticas sobre temas como a participação cidadã, aprofundamento dos processos democráticos, responsabilidade democrática (democractic accountability), governança local, influenciando lideranças, autoridades governamentais, acadêmicos e ativistas de todo o mundo. Contribuíram ainda para promover debates e ampliar o leque de visões e práticas de governança local, como no caso do tema da governança urbana, a gestão participativa dos orçamentos públicos, prestação de serviços públicos, a intersecção entre o desenvolvimento local, participação e responsabilidade democrática e igualdade de gênero. Resultado 7 - O Pólis produziu novos conhecimentos sobre os desafios da conjuntura, contribuindo para a atualização da agenda dos atores que se articulam em defesa da radicalização da democracia, da ampliação dos direitos e da sustentabilidade. Nos últimos dois anos, LogoLink e Pólis desenvolveram a iniciativa de Sistematização e Disseminação de Conhecimento sobre Governança Democrática Local de 10 anos do LogoLink. Em 2011, a rede finalizou o processo que foi implementado em duas etapas: (a) mapeamento e organização da produção de conhecimento do LogoLink nos últimos 10 anos, e (b) sistematização sobre as mais importantes contribuições que a rede fez no campo da governança democrática local. No final deste processo, LogoLink foi capaz de estabelecer uma agenda conceitual e política resumida na publicação Citizen Participation in Challenging Contexts: LogoLink, 10 years, 10 countries, 10 organizations (Participação Cidadã em contextos desafiadores: LogoLink, 10 anos, 10 países, 10 organizações). Os resultados obtidos desta iniciativa foram: 1) sítio atualizado com toda a produção do LogoLink; 2) sistematizado conhecimento produzido por cada região do LogoLink; 3) criada uma linha do tempo com as discussões conceituais do LogoLink nos últimos 10 anos; 4) criado um banco de dados de todos os parceiros locais e regionais de LogoLink; 5) publicada Citizen Participation in Challenging Contexts: LogoLink, 10 years, 10 countries, 10 organizations. Esta publicação traz análise perspicaz e crítica sobre a participação cidadã e controle social nas Américas, África e Ásia, nos últimos 10 anos. Traz à luz processos difíceis de democratização e descentralização em nível local em todo o mundo. Cada capítulo foi escrito por uma organização parceira do LogoLink e editado pela equipe de Coordenação Internacional da rede. A versão completa de cada artigo estará também disponível online no sítio do LogoLink (www.logolink.org). A publicação pretende inspirar cidadãos e cidadãs, parceiros, amigos ao redor do mundo para

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participar em iniciativas que reforcem a responsabilidade democrática e a participação cidadã. A publicação já está disponível tanto na forma impressa como digital. Os novos conhecimentos produzidos pelo Pólis e LogoLink estão disseminados nesta publicação e também por meio de seus sítios. Como mencionado anteriormente no Eixo 3, a rede tem ainda um boletim criado em 2011 para disseminar o conhecimento produzido dentro da rede e para debater os desafios atuais de governança local, a responsabilidade democrática (democractic accountability) e a participação cidadã, como já mencionado anteriormente no Eixo 3. Tanto a publicação Citizen Participation in Challenging Contexts: LogoLink, 10 years, 10 countries, 10 organizations como as novas ferramentas de comunicação do LogoLink e do Pólis têm sido importantes instrumentos de disseminação de novos temas e agendas, contribuindo com o debate no âmbito global e local sobre os temas acidam citados. Resultado 8 – O Pólis contribuiu, no âmbito das comemorações dos 25 anos, para a atualização e re-formatação de agendas políticas para uma nova sociedade O Pólis, como parte do processo de reflexão sobre as novas agendas políticas para uma nova sociedade, iniciou uma leitura crítica de sua produção de conhecimentos e também escuta de protagonistas que participam ou participaram da história do Instituto. Uma historiadora, contratada para esta atividade, entrevistou 26 pessoas. A ideia é produzir insumos para que a instituição possa analisar e avaliar sua trajetória e a partir daí contribuir para debate público quanto aos novos desafios da contemporaneidade, identificando as questões que no presente mobilizam e provocam a sociedade civil. É interessante atentar para o fato da estruturação do Pólis como instituto se confundir com a própria história do processo de redemocratização do país. Neste sentido, analisar sua trajetória implica também em compreender a natureza das forças e dos conflitos em disputa na longa transição da ditadura para a democracia. Para colher e analisar este material, foram realizadas diversas atividades: organização e compilação de material documental sobre a história da instituição; elaboração de uma linha do tempo e texto breve sobre a história do Pólis para efeito de publicização; produção e captação de 26 depoimentos orais com profissionais que estiveram e/ou ainda estão engajados nas linhas de frente dos projetos e programas desenvolvidos; elaboração de texto histórico extenso que poderá ser utilizado em uma publicação ou em uma exposição comemorativa dos 25 anos. A pesquisa que subsidiou a produção das fontes orais foi realizada no acervo do Centro de Documentação e Informação - CDI do Instituto Pólis, em bibliotecas universitárias, nas hemerotecas e também nos acervos pessoais dos entrevistados. Os depoimentos foram transcritos, revisados e estão sendo editados. O texto final está também sendo elaborado. Todo o material compilado e produzido ao longo da pesquisa - linha do tempo, texto breve, coleção de fontes orais e transcrições na íntegra, texto histórico - ficará armazenado e disponibilizado para consulta no CDI do Pólis.