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1 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA CÍVEL DO FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA – PARANÁ ASSOCIAÇÃO COMUNITÁRIA XXX, pessoa jurídica de direito privado sem finalidade lucrativa, de natureza associativa comunitária, inscrita no CNPJ/MF sob nº. .......... estabelecida à Rua .................. Curitiba, Paraná, neste ato representada pelo seu Presidente Sr. XXXX., brasileiro, casado, metalúrgico, portador do RG nº. e inscrito no CPF/MF nº. , residente e domiciliado à Rua ................Paraná, vem, por meio dos procuradores abaixo– assinados, instrumento de procuração anexado (doc. I), respeitosamente à presença de Vossa Excelência, com fulcro no art. 183 da Constituição Federal e artigos 10 a 12 da Lei Federal 10.257/2001 – Estatuto da Cidade, propor a presente AÇÃO DE USUCAPIÃO ESPECIAL COLETIVA DE IMÓVEL URBANO (Rito Sumário) contra os proprietários abaixo arrolados 1. XXX 2. XXXX

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Page 1: 28-Ação de usucapião coletivo PR - polis.org.br · assinados, instrumento de procuração anexado (doc. I), respeitosamente à presença de Vossa Excelência, com fulcro no art

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA CÍVEL DO

FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA –

PARANÁ

ASSOCIAÇÃO COMUNITÁRIA XXX, pessoa jurídica de direito privado

sem finalidade lucrativa, de natureza associativa comunitária, inscrita no

CNPJ/MF sob nº. .......... estabelecida à Rua .................. Curitiba, Paraná, neste

ato representada pelo seu Presidente Sr. XXXX., brasileiro, casado,

metalúrgico, portador do RG nº. e inscrito no CPF/MF nº. , residente e

domiciliado à Rua ................Paraná, vem, por meio dos procuradores abaixo–

assinados, instrumento de procuração anexado (doc. I), respeitosamente à

presença de Vossa Excelência, com fulcro no art. 183 da Constituição Federal

e artigos 10 a 12 da Lei Federal 10.257/2001 – Estatuto da Cidade, propor a

presente

AÇÃO DE USUCAPIÃO ESPECIAL COLETIVA DE IMÓVEL URBANO

(Rito Sumário)

contra os proprietários abaixo arrolados

1. XXX 2. XXXX

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Para reconhecimento do direito à aquisição originária da propriedade aos

moradores da Vila Eldorado, pelos fatos e fundamentos a seguir expostos:

I – DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA

A Associação de Moradores representa famílias de baixa renda da

comunidade do Jardim Eldorado conforme Laudo Social anexado no doc.

IV e tem objetivos unicamente associativos, sem finalidade lucrativa ou

econômica e, portanto, não possui condições de arcar com as custas

processuais e honorários advocatícios para propositura desta Ação de

Usucapião. Os advogados infra-assinados assumem o munus

gratuitamente, sem ônus à associação comunitária.

Ainda, a assistência judiciária e justiça gratuita para Ação de

Usucapião Especial Coletiva estão também previstas expressamente no

art. 12, §2º, da Lei Federal 10.257/2001, nestes termos:

Art. 12. São partes legítimas para a propositura da ação de usucapião especial urbana: (...) III – como substituto processual, a associação de moradores da comunidade, regularmente constituída, com personalidade jurídica, desde que explicitamente autorizada pelos representados. (...)

§ 2º O autor terá os benefícios da justiça e da assistência judiciária gratuita, inclusive perante o cartório de registro de imóveis.

A título informativo, entre os anos de 2006 e 2007, foi realizado um

completo levantamento sócio-econômico e topográfico-cadastral pela

equipe do Projeto de Regularização Fundiária Sustentável denominado

Projeto Direito e Cidadania, coordenado pela organização de direitos

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humanos Terra de Direitos, em convênio com Ministério das Cidades e

Caixa Econômica Federal, e parceria com entidades sociais do Paraná

(como Ambiens Cooperativa e Conselho Regional de Assistência Social do

Paraná), além da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Universidade

Positivo, que expôs de forma incontestável que os associados da Autora

caracterizam população de baixa renda, nos termos do art. 8º da Lei

Federal 11.481/20071. Desta forma, na condição de entidade associativa

comunitária, a Autora necessita dos benefícios da assistência judiciária

para garantir seu amplo acesso à justiça.

Estes benefícios podem ser atribuídos às entidades sem finalidade

lucrativa de caráter associativo ou assistencial, como ensina NELSON NERY

JUNIOR:

Desde que seja entidade assistencial sem fins lucrativos, a pessoa jurídica pode ser beneficiária da assistência jurídica ou judiciária (RT 539/184). (NERY JUNIOR, Nelson. Código de Processo Civil comentado e legislação extravagante. 7ª edição, revista e ampliada. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2003, p. 1.457.) grifo nosso.

Este também é o entendimento dos Tribunais Superiores brasileiros:

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. PESSOA JURÍDICA SEM FINS LUCRATIVOS. CONCESSÃO DE ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA INDEPENDENTEMENTE DE PROVA DE MISERABILIDADE. CABIMENTO. 1. É pacífico no Superior Tribunal de Justiça o entendimento de que as pessoas jurídicas sem fins lucrativos fazem jus ao benefício da assistência judiciária gratuita independentemente de prova, eis que em seu favor opera presunção de que não podem arcar com as custas e honorários do processo. Precedentes. 2. Recurso

1 Para fins de ações de regularização fundiária: Art. 8º Os arts. 1o e 2o do Decreto-Lei no 1.876, de 15 de julho de 1981, passam a vigorar com a seguinte redação: “Art. 1o Ficam isentas do pagamento de foros, taxas de ocupação e laudêmios, referentes a imóveis de propriedade da União, as pessoas consideradas carentes ou de baixa renda cuja situação econômica não lhes permita pagar esses encargos sem prejuízo do sustento próprio ou de sua família. § 2o Considera-se carente ou de baixa renda para fins da isenção disposta neste artigo o responsável por imóvel cuja renda familiar mensal for igual ou inferior ao valor correspondente a 5 (cinco) salários mínimos.

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especial conhecido e provido. (RECURSO ESPECIAL Nº 994.397 - MG (2006/0079720-3) RELATOR: MIN FERNANDO GONÇALVES, D. Julg. 04/12/2007).

PROCESSUAL CIVIL – ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA – SINDICATO – PESSOA JURÍDICA SEM FINS LUCRATIVOS – POSSIBILIDADE. 1. Esta Corte tem entendido ser possível a concessão do benefício da assistência judiciária gratuita a pessoa jurídica, desde que comprovado que não tenha ela condições de suportar os encargos do processo. 2. Revisão do entendimento da relatora a partir do julgamento do EREsp 653.287/RS. 3. Pessoas jurídicas com fins lucrativos fazem jus ao benefício da assistência judiciária gratuita desde que comprovem a dificuldade financeira porque a presunção é de que essas empresas podem arcar com as custas e honorários do processo. 4. Pessoas jurídicas sem fins lucrativos como entidades filantrópicas, sindicatos e associações fazem jus ao benefício da assistência judiciária gratuita porque a presunção é a de que não podem arcar com as custas e honorários do processo. Desnecessária a prova da dificuldade financeira para obter o benefício. 5. Recurso especial provido. (Processo REsp 642288/RS RECURSO ESPECIAL 2004/0018984-0 Relator(a) Ministra ELIANA CALMON (1114) Órgão Julgador T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento 15/09/2005 Data da Publicação/Fonte DJ 03.10.2005 p. 185) grifo nosso.

Diante da fundamentação retro, e com fulcro nos artigos 2º a 4º da

Lei 1.060/50, e artigo 12, §2º, da Lei 10.257/2001, requer-se a concessão dos

benefícios da assistência judiciária e justiça gratuita, de modo a

contemplar todas as custas processuais.

II – DOS FATOS

A ocupação da enorme área ociosa que se pretende regularizar,

localizada na região da Cidade Industrial de Curitiba, zona oeste cidade

de Curitiba, ocorreu em 1989 por centenas de famílias oriundas de outras

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regiões de Curitiba e do Paraná2, que constituíram a hoje denominada

Vila Eldorado desde tal data, que é confirmada pelos moradores da Vila

Eldorado e de áreas vizinhas. A ocupação foi iniciada de forma pacífica e

sem posterior oposição à posse, e com único objetivo de estabelecer

moradia, e a data de ocupação.

Após a ocupação, a Vila se consolidou totalmente ainda na

década de 1990, conforme se pode comprovar pelas fotos aéreas

datadas de 1990, que demonstra a Vila Eldorado com seus limites atuais, e

de 1999 – fotos no doc. III, que confirma a continuidade dos limites da Vila

e a melhoria da qualidade da ocupação. A comparação entre as duas

fotos de 1990 e 1999 demonstra inequivocamente a utilização da posse de

toda a área desde, no mínimo, o ano de 1990.

Atualmente, a Vila é constituída por 323 (trezentas e vinte e três)

famílias titulares de posse ad usucapionem. A listagem dos moradores

titulares da posse está no doc. VIII à presente, sendo todos associados à

Autora.

A população da Vila Eldorado é de baixa renda, pois ao menos 33%

(trinta e três por cento) da população está abaixo da linha da pobreza

(menos de ½ salário mínimo per capita) – Laudo Social no doc. IV. Ainda, a

diferença de renda entre os moradores é mínima, sendo que aqueles que

se encontram acima do índice básico de pobreza não percebem mais de

1 (um) salário mínimo per capita, enquadrando-se no critério de

comunidade de baixa renda, com exigência de políticas públicas

adequadas.

Devido à sua constituição e características sociais, a Vila Eldorado é

classificada como um assentamento informal de baixa renda pelos órgãos

2 Segundo dados estatísticos do Cadastro Socioeconômico realizado pelo Projeto de Regularização Fundiária Sustentável, Convênio Terra de Direitos – Ministério das Cidades/CAIXA, constante do doc. III.

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oficiais e está delimitada no mapa temático de Ocupações Irregulares

(1999-2000) elaborado pelo IPPUC, constante do doc. IX, marcada como

assentamento sem regularização, cujo critério para caracterização é a

existência ou não de projeto de regularização elaborado pelo Poder

Público Municipal.

Para instruir a regularização jurídica dos terrenos e urbanização

completa da Vila, foi realizado um prévio levantamento socioeconômico e

fundiário, produzidos memoriais descritivos e promovida assessoria jurídica

para propositura desta Ação pelo Projeto de Regularização Fundiária

Sustentável com apoio financeiro e institucional do Ministério das Cidades,

Caixa Econômica Federal e Governo Federal. Como afirmado acima, o

Projeto de Regularização Direito e Cidadania é coordenado pela

organização Terra de Direitos, em convênio com o Ministério das

Cidades/Governo Federal, e esta fase do projeto se iniciou em 2006. O

Projeto tem por objeto a regularização fundiária da comunidade, para

possibilitar a posterior urbanização com instalação de esgotamento

sanitário, aprovação de projeto de parcelamento do solo, melhoria da

iluminação pública, equipamentos públicos etc., que deverão ser

implantados pela Prefeitura Municipal e Governos Estadual e Federal.

2.1. Consolidação e urbanização da Vila.

O levantamento dominial (dos atuais proprietários) realizado junto

aos Cartórios de Registro de Imóveis, à Companhia de Habitação Popular

de Curitiba (COHAB-CT) e à Prefeitura Municipal de Curitiba, identificou

que a área sobre a qual se estabeleceu a Vila Eldorado pertence a

diversos proprietários particulares. E está dividida em 101 lotes, constituídos

pelas matrículas de números 89.456 a 89.558 registradas junto ao Cartório

de Registro de Imóveis da 8ª Circunscrição de Curitiba, excetuando-se

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apenas as matrículas de números 89.473 e 89.502, cujas cópias seguem

anexas – doc. VI.

E embora sem implementação, antes da ocupação existia sobre

o local um projeto de loteamento registrado sob o nome de Cruzeiro do

Sul3, porém o mesmo não teve a infra-estrutura mínima legal implantada –

não foram abertas as ruas, nem demarcados os lotes, nem realizadas as

obras de escoamento das águas pluviais – sendo ineficaz, portanto, por

força da Lei Federal 6.766/79, artigo 18, inciso V – OU SEJA, O PROJETO

NÃO TEM VALIDADE E EFICÁCIA JURÍDICAS. Inclusive, a ocupação existente

em nada se assemelha ao projeto de loteamento, corroborando a não

implantação do mesmo, de modo que se configura apenas um

loteamento não implantado sobre o qual se estabeleceu um assentamento

informal de moradores de baixa renda originando a atual Vila Eldorado.

2.2. Da previsão de regularização fundiária especial no Zoneamento

Municipal vigente

O zoneamento urbano vigente em Curitiba na Lei Municipal

9.800/2000, diferentemente da previsão anterior que destinava a região da

CIC para incentivo à industrialização, definiu a região das Moradias

Sabará e outras ocupações irregulares como um setor destinado à

“ordenar a ocupação por meio da urbanização e regularização

fundiária”, sujeitando-se inclusive a parâmetros flexíveis de parcelamento,

uso e ocupação do solo.

Na Lei Municipal de zoneamento, estas áreas especiais são

classificadas como Setor Especial de Habitação de Interesse Social – SEHIS

– no qual o assentamento da Vila Eldorado e todas as demais vilas do

3 O loteamento sobre o qual se estabeleceu esta ocupação não deve ser confundido com o loteamento feito pela COHAB-CT em área adjacente, com o mesmo nome, Vila Cruzeiro do Sul. Existem, portanto, pelo menos dois loteamentos com este nome em Curitiba.

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Sabará estão enquadradas jurídica e urbanisticamente. Esta é definição

legal do Setor Especial, pelo art. 29 da Lei Municipal 9.800/2000 – doc. XIII:

Art. 29 – O Setor Especial de Habitação de Interesse Social – SEHIS compreende as áreas onde há interesse público em ordenar a ocupação por meio da urbanização e regularização fundiária, em implantar ou complementar programas habitacionais de interesse social, e que sujeitam a critérios especiais de parcelamento, uso e ocupação do solo.

Em resumo, o ordenamento jurídico-urbanístico municipal direciona

a área onde se situa a Vila Eldorado para a regularização fundiária,

através dos instrumentos como a Usucapião, com que se espera

provimento à presente para cumprimento da diretriz do planejamento

urbano de Curitiba de regularizar a situação destas famílias de baixa renda

e promover o cumprimento da constitucional função social das

propriedades em questão.

Para posterior regularização urbanística, o Poder Executivo deverá

executar todos os procedimentos legais necessários à aprovação de

projeto de loteamento e estabelecer normas especiais de tamanho de

lote e testada que respeitem o tipo da ocupação existente e as condições

de urbanização e preservação ambiental, como dispõem o art. 29 da Lei

Mun. 9.800/2000 e o art. 27 da Lei 11.266/2004 – Plano Diretor de Curitiba

(doc. XIII – art 337, CPC).

A narração acima demonstra o histórico e a atual situação social e

jurídico-fundiária da Vila Eldorado, no Bairro Sabará/CIC. A Associação

Comunitária Jardim Eldorado, substituta processual dos moradores,

demonstrará a necessidade da regularização fundiária através da

titulação coletiva e outorga de frações ideais nesta Ação de Usucapião

Especial Coletiva para possibilitar posterior urbanização definitiva e

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regularização urbanística com promoção da inclusão sócio-espacial4 dos

moradores à cidade de Curitiba.

III – DO DIREITO

3.1. DA EFETIVAÇÃO DO DIREITO HUMANO À MORADIA ADEQUADA AOS

MORADORES DO JARDIM ELDORADO ATRAVÉS DA REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA

O direito humano à moradia adequada5 é direito social

constitucional, e se constitui inequivocamente como um direito humano

alçado a direito fundamental pela ratificação dos tratados internacionais

pela República Brasileira6, e deve ser promovido pelo Estado, em caráter

prestacional, por força do dispositivo do art. 6º, caput, da Constituição da

República, que assevera:

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.

Dentre os institutos contidos no ordenamento jurídico brasileiro para

garantia deste direito, destaca-se a aquisição da propriedade por

Usucapião Urbana, conforme o art. 183 da Constituição da República de 4 A inclusão sócio-espacial é necessária para realização da justiça social nas cidades. A organização do território pelos agentes econômicos e pelo Estado na Região Metropolitana de Curitiba teve conseqüências desastrosas, como a geração de inúmeras áreas irregulares, que devem ser regularizadas e urbanizadas, para garantia dos direitos humanos dos moradores que são obrigados a residirem nestes espaços ainda sem a devida regularização da propriedade dos imóveis. 5 Os componentes do direito à moradia foram discriminados pelo Comentário Geral nº. 4, do Comitê Econômico e Social das Nações Unidas – ONU, os seguintes elementos compõem o direito à moradia: a) segurança jurídica da posse; b) disponibilidade dos serviços, materiais, benefícios e infra-estrutura; c) gastos suportáveis com aluguel; d) habitabilidade; e) acessibilidade; f) localização; e g) adequação cultural. 6 Pacto Internacional dos Direitos Humanos Econômicos, Sociais e Culturais, ratificado pelo Brasil pelo decreto 591/62, art. 11.

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1988. Esta modalidade de Usucapião tem como objeto a propriedade

urbana e de pequenas dimensões. A Lei Federal 10.257/2001 –

denominado Estatuto da Cidade – trouxe esta importante inovação no art.

10 que tange à modalidade coletiva para se reivindicar a Usucapião

Especial Urbana, intitulada Usucapião Especial Coletiva de Imóvel Urbano,

criada com a finalidade de regularização fundiária de áreas ocupadas

coletivamente por população de baixa renda.

A Usucapião Especial Coletiva de Imóvel Urbano é adequada às

características normalmente encontradas na localidade da Vila Eldorado

e outras semelhantes, como a irregularidade urbanística da não

identificação dos lotes ocupados por cada possuidor, bem como a

condição de pobreza da população beneficiada.

É indiscutível a importância da segurança jurídica da posse para a

concretização da regularização jurídica dos terrenos utilizados socialmente

pela população das periferias das cidades, para tanto, a titulação, ou

seja, a aquisição do domínio por parte da população é etapa

fundamental para a concretização do direito humano à moradia digna

para as populações de assentamentos informais.

A transferência do domínio significa, principalmente, a segurança da

posse para fins de moradia, permitindo que as demais medidas de

concretização da moradia digna possam ser aplicadas com segurança,

como afirma o doutrinador NELSON SAULE JÚNIOR:

“A Usucapião Especial Coletiva de Imóvel Urbano é um instrumento que reconhece juridicamente o direito à moradia da população de baixa renda, que ocupa coletivamente uma área urbana privada, preenchendo, em especial, o requisito deste direito da segurança jurídica da posse” (SAULE JÚNIOR, Nelson. A Proteção Jurídica da Moradia nos Assentamentos Irregulares. Porto Alegre: Sérgio Fabris Editor, 2004).

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Os moradores do Jardim Eldorado, situado no bairro CIC, em

Curitiba, habitam suas casas há quase 20 (vinte) anos, e cumprem os

requisitos para reivindicarem judicialmente a aquisição da propriedade no

local. Esta prerrogativa, mais que um direito de ação dos moradores da

Vila Eldorado, constitui-se como dever do Estado, concebido como união

de poderes, a fim de assegurar o direito à moradia digna, pregada pelos

artigos 1º, III e 6º da Constituição Federal da República.

3.2. DA ADEQUAÇÃO DA AÇÃO DE USUCAPIÃO ESPECIAL COLETIVA DE IMÓVEL

URBANO PARA REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA SUSTENTÁVEL DA VILA ELDORADO

A presente Ação de Usucapião Especial Coletiva de Imóvel Urbano

está sendo utilizada para a regularização fundiária definitiva que possibilite

o acesso dos moradores às políticas públicas e à urbanização da área

pelo Poder Público com implementação de saneamento básico, novos

equipamentos públicos etc., e conseqüente regularização urbanística da

Vila.

Para tanto, assegurou a Constituição Federal da República de 1988 –

no capítulo da Política Urbana – em seu art. 183:

Art. 183. Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinqüenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. § 1º - O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil. § 2º - Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez. § 3º - Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.

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A regularização fundiária é diretriz fundamental da Política Urbana

Brasileira e do Município de Curitiba para cumprimento da função social

da propriedade urbana (art. 182, CF), como dispõe o art. 2º, XIV, do

Estatuto da Cidade e art. 6º, II e 27, III da Lei 11.266/2004 – Plano Diretor de

Curitiba – doc. XIII:

E.C. Art. 2º A política urbana tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana, mediante as seguintes diretrizes gerais: (...) XIV – regularização fundiária e urbanização de áreas ocupadas por população de baixa renda mediante o estabelecimento de normas especiais de urbanização, uso e ocupação do solo e edificação considerada a situação socioeconômica da população e as normas ambientais;

Plano Diretor de Curitiba Art. 6º. A política de desenvolvimento urbano da Cidade de Curitiba deverá conduzir ao pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana mediante os seguintes objetivos gerais: (...) II - promoção da qualidade de vida e do ambiente, reduzindo as desigualdades e a exclusão social; Art. 27. São diretrizes gerais da política municipal de habitação de interesse social: (...) VIII - promover a regularização fundiária e a urbanização de áreas de assentamentos subnormais, adequando-as aos parâmetros urbanísticos e ambientais estabelecidos e incluindo-os no contexto da cidade formal;

A usucapião especial foi regulamentada na modalidade coletiva

pela Lei Federal 10.257/2001 – o Estatuto da Cidade, nos artigos 10 a 13,

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com objetivo principal de garantir a regularização de favelas e

assentamentos informais7. Nos termos desta inovação jurídica:

Art. 10. As áreas urbanas com mais de duzentos e cinqüenta metros quadrados, ocupadas por população de baixa renda para sua moradia, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, onde não for possível identificar os terrenos ocupados por cada possuidor, são susceptíveis de serem usucapidas coletivamente, desde que os possuidores não sejam proprietários de outro imóvel urbano ou rural. § 1º O possuidor pode, para o fim de contar o prazo exigido por este artigo, acrescentar sua posse à de seu antecessor, contanto que ambas sejam contínuas. § 2º A usucapião especial coletiva de imóvel urbano será declarada pelo juiz, mediante sentença, a qual servirá de título para registro no cartório de registro de imóveis. § 3º Na sentença, o juiz atribuirá igual fração ideal de terreno a cada possuidor, independentemente da dimensão do terreno que cada um ocupe, salvo hipótese de acordo escrito entre os condôminos, estabelecendo frações ideais diferenciadas. § 4º O condomínio especial constituído é indivisível, não sendo passível de extinção, salvo deliberação favorável tomada por, no mínimo, dois terços dos condôminos, no caso de execução de urbanização posterior à constituição do condomínio. § 5º As deliberações relativas à administração do condomínio especial serão tomadas por maioria de votos dos condôminos presentes, obrigando também os demais, discordantes ou ausentes. Art. 11. Na pendência da ação de usucapião especial urbana, ficarão sobrestadas quaisquer outras ações, petitórias ou possessórias, que venham a ser propostas relativamente ao imóvel usucapiendo. Art. 12. São partes legítimas para a propositura da ação de usucapião especial urbana:

7 Ou assentamentos subnormais, segundo classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE – segundo o qual assentamento com 51 famílias ou mais são assim denominados.

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I – o possuidor, isoladamente ou em litisconsórcio originário ou superveniente; II – os possuidores, em estado de composse; III – como substituto processual, a associação de moradores da comunidade, regularmente constituída, com personalidade jurídica, desde que explicitamente autorizada pelos representados. § 1º Na ação de usucapião especial urbana é obrigatória a intervenção do Ministério Público. § 2º O autor terá os benefícios da justiça e da assistência judiciária gratuita, inclusive perante o cartório de registro de imóveis. Art. 13. A usucapião especial de imóvel urbano poderá ser invocada como matéria de defesa, valendo a sentença que a reconhecer como título para registro no cartório de registro de imóveis. Art. 14. Na ação judicial de usucapião especial de imóvel urbano, o rito processual a ser observado é o sumário.

A utilização deste instrumento para regularização da Vila Eldorado é

indiscutivelmente adequada para satisfazer as necessidades humanas

elementares destes cidadãos e cidadãs que até agora tiveram seus

direitos negados pelo Poder Público.

Importante reafirmar o exposto nos fatos, que a posse foi

consolidada ao longo desses anos, aplicada pelos princípios da boa-fé,

de forma mansa, pacífica e ininterrupta. Inexistindo, inclusive, oposição

judicial à posse até o momento.

A Associação Comunitária, ora Autora, que perfaz os requisitos

processuais para substituir os moradores nesta demanda e para garantir a

declaração da aquisição do imóvel mediante esta modalidade de

Usucapião Especial Coletivo, com o que requer seja julgada procedente a

presente ação.

Veja-se o preenchimento de cada requisito legal, pontualmente:

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3.3. – DO PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS LEGAIS AUTORIZADORES DA

DECLARAÇÃO DA AQUISIÇÃO DAS PROPRIEDADES

A Autora e seus associados, como será detidamente demonstrado a

seguir, preenchem todos os requisitos objetivos e subjetivos da ação

usucapião especial coletiva para procedência da ação.

3.3.1. Da legitimidade ativa da Associação Comunitária Jardim Eldorado

A Associação Comunitária Jardim Eldorado está constituída desde

1990, registrada no 4º Ofício de Títulos e Documentos desde 21 de fevereiro

de 1990, como demonstra certidão do doc. II, com a finalidade principal

de mobilizar a comunidade para acionar suas demandas sociais, jurídicas,

econômicas, culturais e assistenciais.

A Assembléia Geral da Associação Comunitária Jardim Eldorado

realizada dia 22 de setembro de 2007, convocada para o fim de aprovar a

substituição processual pela Associação e a autorizá-la expressamente a

propor Ação de Usucapião Especial Coletiva de Imóvel Urbano dentre

outros pontos, aprovou por unanimidade dos presentes, tanto a

substituição processual dos moradores nos termos do art. 12, III, da Lei

10.257/2001, quanto a autorização para propositura da ação.

Para comprovação da referida autorização pelos moradores

legitimamente em Assembléia Geral autônoma, foram juntados no doc. II

os seguintes documentos:

a) Certidão de registro da Associação;

b) Ata de Fundação;

c) Estatuto Social atualizado;

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d) Ata da Assembléia de deliberação da propositura da Ação de Usucapião Coletiva;

e) Ata de eleição e regularidade da atual diretoria.

Os associados da Autora são todos moradores da Vila Eldorado e se

enquadram nos requisitos de população de baixa renda, cumprindo a

exigência específica do caput do Art. 10 do Estatuto da Cidade, conforme

se verifica no Laudo Social produzido por assistente social e psicóloga

social devidamente habilitadas juntado no doc. IV. A informação das

técnicas-sociais é fundamentada por levantamento socioeconômico8, que

aponta o alto índice de pobreza na comunidade, que pode ser

minimizada pela regularização definitiva da área do Jardim Eldorado.

3.3.2. Da legitimidade passiva dos Réus

Todos os Réus arrolados no pólo passivo para responderem à

presente são proprietários particulares dos imóveis sobre quais residem os

associados da Autora e foram qualificados pelo levantamento dominial

em anexo – doc. V. Os Réus nunca exerceram poder algum sobre suas

propriedades (conforme art. 1.196 e 1.228 do CC), que sempre foram

terrenos abandonados até a ocupação e transformação em bairro pelos

atuais moradores.

Devido à natureza particular das propriedades utilizadas, os

proprietários listados, nos termos dos artigos 1228 e 1241 do Código Civil e

Art 183, §3º, da Constituição da República, podem configurar no pólo

passivo da demanda, com o que se requer sejam citados para

responderem à presente, sob pena de revelia. 8 Dados estatísticos elaborados conforme cadastro socioeconômico realizado pelo Projeto de Regularização Fundiária Sustentável, Terra de Direitos – CAIXA.

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Sobre a citação dos Réus Sra. XXX, proprietária do imóvel registrado

sob a matrícula nº. XXX da 8ª Circunscrição Imobiliária de Curitiba,

residente e domiciliada em..........................., após inúmeras buscas e

tentativas de localização, não foi possível apresentar qualificação e

endereço residencial completos para citação, pois se encontram em lugar

ignorado, nos termos da lei. Desta forma, para regular composição do

pólo passivo da ação, requer-se, assim, que seja realizada a citação por

edital, conforme artigos 231, II, e 232 do Código de Processo Civil.

3.3.3. Da existência de posse contínua há mais de cinco anos.

A Vila Eldorado teve início, como se descreveu nos fatos, em 1989,

configurando desta forma mais de 18 (dezoito) anos de existência e

exercício ininterrupto da posse, o que é confirmado pela foto aérea do

IPPUC, que em 1990 (docs. III) já registrava a existência da ocupação nos

mesmos limites em que ela se configura atualmente. Outra foto, datada

de 1999 (doc. III), confirma a existência da Vila e o investimento por parte

dos próprios moradores desta Associação na melhoria das moradias e em

infra-estrutura para a comunidade.

O mapa do IPPUC que trata da Rede Integrada de Transporte – RIT,

tomando como fonte os dados da Urbanização de Curitiba S/A – URBS,

datados de 19969 (doc. X), já indica a existência de serviço de transporte

urbano alimentador com ponto final dentro Vila, confirmando sua

existência pelo menos desde 1996. Todas estas provas indicam que, ao

longo da década de 90, sempre houve nesta área uma ocupação

habitacional, confirmando de forma irrefutável que a ocupação existe há

9 Mapa RIT – Rede Integrada de Transporte do IPPUC, constante do doc. VIII desta petição. O referido mapa pode ser consultado no site: http://www.ippuc.org.br/informando/TEMATICOS/RIT_1996.pdf

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mais de 5 (cinco) anos. Mesmo os mapas oficiais da Prefeitura Municipal

de Curitiba, Instituto de Planejamento Urbano de Curitiba - IPPUC, URBS e

Companhia de Habitação Popular de Curitiba – COHAB-CT, confirmam a

existência da Vila Eldorado como ocupação irregular em 1999/2000 (doc.

IX), sendo, portanto, provas mais que suficientes da existência da

ocupação e da posse contínua e de boa-fé para construção de

habitações há muito mais 5 (cinco) anos10. Desta forma, cumpre-se o

referido requisito para fins de usucapião especial.

3.3.4. Da posse contínua e sem oposição e da configuração do Animus

Domini pelos atuais possuidores.

Desde o início da ocupação em 1989, os moradores da Vila

Eldorado e sua Associação Comunitária têm movido todos os esforços

para consolidar a ocupação habitacional e a urbanização da Vila, o que

é demonstrado por meio dos investimentos, por parte dos Autores, na

melhoria das habitações existentes. Toda a infra-estrutura existente no

bairro, incluindo asfalto e “manilhamento”, e toda a construção das casas

foram realizadas exclusivamente pelos moradores, quer por meio de taxas

de infra-estrutura pagas diretamente à Prefeitura Municipal quer por meio

de mutirão da comunidade, mesmo sob as maiores dificuldades

financeiras, o que demonstra sua inequívoca intenção de morar

definitivamente sobre aquele espaço.

Assim, esses cuidados evidenciam verdadeiro ânimo de se tornarem

donos, o animus domini, com finalidade única e exclusiva de moradia

definitiva por parte das famílias dos moradores, que hoje representam uma

10 Mapa Ocupações Irregulares do IPPUC, constante do doc. IX desta petição. Todas as fontes, segundo o IPPUC, são de 1999/2000. O mapas podem ser consultados na internet: -http://www.ippuc.org.br/informando/TEMATICOS/OCP_IRREGULAR_2000.pdf -http://www.ippuc.org.br/informando/TEMATICOS/OCP_IRREG_REG_%20CIC.pdf

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população de aproximadamente 323 (trezentas e vinte e três) famílias e

1.290 (mil e oitenta) pessoas, conforme Laudo Social juntado no doc. IV11.

Ainda, quando da ocupação do imóvel e durante toda a utilização

entre 1989 e 2007, os moradores desconheciam totalmente a existência de

proprietários dos terrenos que ocupavam, visto que os “donos” nunca se

manifestaram e não se opuseram à utilização dos imóveis. Deste modo,

resta configurado o animus domini dos moradores possuidores dos imóveis

objeto da lide.

3.3.5. Da finalidade de utilização do terreno para moradia

A Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da Cidade reservam a

possibilidade da aquisição originária da propriedade na modalidade

especial urbana para os casos em que a posse sobre a área é exercida

com a finalidade de moradia, ou seja, qualificam o requisito formal da

posse determinando sua finalidade, para a redução do enorme déficit

habitacional de nosso país12. Trata-se justamente do caso que se verifica

na Vila Eldorado, onde incontestavelmente está constituída uma Vila

habitacional.

A moradia é evidentemente a única finalidade da ocupação, desde

seu início, há quase 20 (vinte anos). Ainda, a alta densidade populacional

e a análise técnica-social da Vila Eldorado demonstra que a destinação e

11 Dados estatísticos elaborados conforme cadastro socioeconômico realizado pelo Projeto de Regularização Fundiária Sustentável, realizado em convênio entre Ministério das Cidades/Caixa Econômica Federal e Terra de Direitos – organização de direitos humanos. 12 Sobre os objetivos do Estatuto da Cidade e do Instrumento do Usucapião Especial Coletivo de Imóvel Urbano, afirma José Roberto Bassul, em Estatuto da Cidade: Quem ganhou? Quem perdeu? Brasília: Senado Federal, 2005, página 131: O Estatuto da Cidade amplia a possibilidade de iniciativa para a usucapião coletiva, no sentido de facilitar a regularização fundiária de áreas de difícil individualização, como as favelas; e na página 153: dados do próprio IBGE e da Fundação João Pinheiro (FJP) quantificam o déficit habitacional brasileiro, nas cidades, em 7,9 milhões de moradias em 2006. Em 2005, o IBGE apurou que Curitiba possui déficit habitacional da ordem de 58.710 unidades.

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o uso são totalmente residenciais, com raros e pequenos comércios

conjugados localizados no piso térreo ou à frente das casas, indispensáveis

à subsistência da própria Vila. Presente, portanto, a finalidade de moradia

habitual dos moradores da Associação Comunitária exigida pelo art. 10 da

Lei 10.257/2001.

3.3.6. Dos imóveis urbanos usucapiendos auferidos pelo Levantamento nos

Cartórios de Registro de Imóveis.

Trata-se de bens imóveis de domínio particular, pertencentes a

pessoas que nunca exerceram sobre a área qualquer poder de posse

sobre os imóveis, e não propuseram ações possessórias ou reivindicatórias

em oposição ao exercício da posse dos atuais ocupantes. O imóvel possui

área superior a 250m² (duzentos e cinqüenta metros quadrados), como

exige o caput do Art. 10 do Estatuto da Cidade. A metragem da área

pode ser verificada pelo memorial descritivo anexado no doc. V.

Os imóveis encontram-se no perímetro urbano de Curitiba, já que o

território do Município de Curitiba é integralmente urbano, conforme art. 4º

da Lei 11.266/2006 (Plano Diretor de Curitiba).

Requer-se, desta forma, a declaração da aquisição originária dos

imóveis relacionados, particulares, para constituição de condomínio

especial em nome dos associados da Autora.

3.3.7. Da Impossibilidade de identificação do terreno ocupado por cada

possuidor

A modalidade de usucapião coletiva é destinada à regularização

de áreas de baixa renda, onde a ocupação habitacional usualmente

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ocorre de forma desordenada, ou ordenada pelos próprios moradores, à

revelia do parcelamento urbanístico e do registro do parcelamento em

matrícula do registro de imóveis. Neste sentido, o legislador abriu a

possibilidade de se considerar estado de composse da área nestes casos,

admitindo que seja usucapida a área toda pelos moradores

coletivamente. E ainda, substituídos (art. 6º, CPC e 412, III, Estatuto da

Cidade) pela associação comunitária correspondente.

Como ocorre na Vila Eldorado, o requisito é aplicável quando não

for possível identificar o terreno ocupado por cada possuidor (art.10,

Estatuto da Cidade), quando impossível de ser identificado perante o

parcelamento ou o registro do cartório de registro de imóveis, conforme o

objetivo da lei, na doutrina do insigne jurista FRANCISCO LOUREIRO:

A idéia do legislador foi a de alcançar aquelas situações em que pode haver posse materialmente certa, mas o seu objeto é fluido, as divisas movediças e, principalmente, o perfil urbanístico indesejável. Encaixam-se na situação aludida as chamadas ‘favelas’, ou outros núcleos habitacionais semelhantes, não dotados de planejamento ou de serviços públicos essenciais (LOUREIRO, Francisco. Usucapião individual e coletivo no Estatuto da Cidade. In: Revista Trimestral de Direito Civil. Rio de Janeiro: Padma, v.9, p.24-49, jan/mar. 2002) – grifo nosso.

O legislador usou a expressão ‘onde não for possível identificar os terrenos ocupados por cada possuidor’ porque viu o núcleo habitacional desorganizado como uma unidade, uma universalidade de fato, que somente ganha sentido destinação urbanística como todo, na impossibilidade de destacar parcelas individuais. O termo “terreno”, via de regra usado como sinônimo de lotes em loteamentos pressupõe espaço imóvel com divisas certas, frente para via pública e condições mínimas de urbanização. Logo, nos aludidos núcleos habitacionais não há propriamente terrenos identificados, mas sim espaços que não seriam passíveis de regularização pela via da usucapião individual (Direito à moradia e Segurança da Posse no Estatuto da Cidade. São Paulo: Editora Fórum, 2004, p. 96/97).

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Na Vila Eldorado, ora em exame, os lotes ocupados por cada

possuidor não são individualizáveis, e obviamente também ainda não

existe projeto de loteamento aprovado.

Neste diapasão, pode-se afirmar que não existe situação em que

seja totalmente impossível de se individualizar a área ocupada, mesmo as

favelas de ocupação mais caótica possuem uma configuração tal que

cada família está em seu barraco. Mesmo que “empilhadas”, há certa

delimitação na situação das moradias. Há, neste meio termo, níveis de

planejamento decorrentes da organização popular, mas contraditórios

com a ordem jurídica estabelecida, isto é, vias com dimensão abaixo

daquela definida em lei, lotes menores que o mínimo legal, entre outras

situações, MAS QUE NECESSITAM DA DEVIDA INTERVENÇÃO DO PODER

JUDICIÁRIO E DO PODER EXECUTIVO PARA SEREM REGULARIZADAS EM

BENEFÍCIO DOS MORADORES DE BAIXA RENDA.

Trata-se, portanto, para fins de legislação, de áreas sem

planejamento e sem urbanização, ainda que exista relativa organização,

como asfaltamento de vias e delimitação por meio de muros. Fato é que o

imóvel não se encontra devidamente delimitado – isto é, não está

loteado.

A lei reconhece a existência de separação entre as moradias, sem

impedir a propositura da ação, já que o art. 10, §3º, da Lei 10.257/2001

admite a atribuição de frações ideais diferenciadas, que se deve dizer que

sempre apresentará certa delimitação, mas diz respeito especificamente

da situação urbanística da Vila e da irregularidade ante as normas

vigentes.

A jurisprudência nacional é pacífica no sentido do reconhecimento

da composse e legitimação processual da Associação de Moradores

nestas situações, como se pode verificar do julgamento da Usucapião

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Especial Coletiva pelo MM. Juiz Elson Zopellaro Machado, Vara de

Fazenda Pública de Olinda – Pernambuco – doc XIII:

Da exegese dos textos regulamentadores exsurge clara a intenção do legislador de estabelecer, na hipótese do Art. 10 e seus parágrafos, um condomínio especial indivisível, administrado pela maioria dos votos dos condôminos aquinhoados, pela decisão judicial, com uma fração ideal de todo o terreno usucapido, uma vez impossível a identificação e particularização dos espaços ocupados por cada possuidor, como acontece nas aglomerações de casebres e comunidades carentes outras, que crescem desordenadamente tanto no sentido horizontal como no vertical. (Sentença. Comarca de Olinda/PE – Vara da Fazenda Pública Processo nº 2003.008384-4).

A situação é precisamente esta, tanto que a lei impõe aos

assentamentos informais enquadrados na usucapião especial coletivo que

somente poderão desconstituir o condomínio após a devida implantação

de plano de urbanização (§4º do Art. 10 do Estatuto da Cidade),

estabelecendo a relação fundamental entre: a) a falta de urbanização e

b) a regularização fundiária por meio da usucapião coletiva.

Acerca da impossibilidade desta individualização das posses, o

jurista NELSON SAULE JÚNIOR assevera:

A caracterização da posse coletiva e o preenchimento dos demais requisitos constitucionais são os elementos suficientes para a aplicação do Usucapião Urbano Coletivo, com base no artigo 10. Esta modalidade de usucapião será um instrumento muito importante para a regularização fundiária, por meio da aquisição do domínio pleno pelos moradores dos núcleos de favelas, ou de lotes populares subfracionados adquiridos pela população de baixa renda em áreas urbanas que se caracterizam como loteamentos urbanos irregulares ou clandestinos”. (A proteção jurídica da moradia nos assentamentos irregulares. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2004, p. 390) – grifo nosso

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Desta forma, presentes os requisitos da aquisição coletiva da

propriedade pela Autora, requer-se o recebimento e processamento da

presente para posterior procedência e titulação coletiva.

3.3.8. Da inexistência de outro imóvel urbano ou rural em nomes dos atuais

possuidores – Associados da Autora

A Associação de Moradores na condição de substituta processual

declara que os moradores substituídos e listados na Relação de

Possuidores Titulares (doc. VIII) não são proprietários ou concessionários de

outro imóvel urbano ou rural, nem foram alguma vez beneficiados por uma

ação de usucapião, cumprindo os requisitos do Art. 183 da Constituição da

República e do Art. 10 do Estatuto da Cidade.

A relação de moradores para discriminação dos possuidores titulares

que declaram não serem proprietários de qualquer imóvel urbano ou rural

segue na relação realizada por profissional habilitada – doc. VIII – bem

como serão os mesmos a serem beneficiados por frações ideais atribuídas

pelo Exmo. Juiz sendo procedente a ação.

Como se trata de prova negativa, visto que não há possibilidade

jurídica e fática da demonstração pela Associação de certidões de todos

os cartórios para 323 (trezentos e vinte e três) titulares e seus cônjuges.

Portanto, a declaração da inexistência de imóvel em nome dos

Associados é suficiente para a alegação, necessitam os Réus produzirem

prova em contrário se assim entenderem.

Desta forma decidem os Tribunais Brasileiros, como demonstra a

decisão proferida no julgamento unânime do Agravo de Instrumento n°.

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70002404697 da 18ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do

Sul, relatado pelo Des. André Luiz Planella Villarinho:

No presente caso, tratando-se de prova negativa de propriedade na hipótese de usucapião constitucional urbano, entende-se que o ônus deste elemento probatório não é do autor, uma vez que como acima exposto, trata-se de prova negativa e de difícil obtenção, face o sistema registral de nosso país.

Este também é o entendimento de insigne jurista JOSÉ CARLOS DE

MORAES SALLES:

Verifica-se, pois, que se trata de prova negativa, de produção praticamente impossível. Parece-nos, por isso, que bastará ao autor alegar a sua condição de não proprietário urbano ou rural, competindo ao réu, comprovar, se for o caso, a inverdade da afirmativa do prescribente, por incumbir-lhe o ônus da prova quanto à existência de fato impeditivo do direito do autor (art. 333, inc. II, do CPC). (Usucapião de Bens Imóveis e Móveis. 5ª Edição. São Paulo: Editora RT, 1999, p. 231). grifo nosso.

Preenchidos todos os requisitos constitucionais e infralegais, requer-se

o conhecimento da ação e procedência para aquisição originária das

propriedades ocupadas socialmente, e determinação da constituição de

registro imobiliário coletivo em nome dos associados relacionados no doc.

VIII.

IV. DA DESCRIÇÃO DOS IMÓVEIS E DOS LIMITES DA VILA

O Memorial Descritivo, constante do doc. V, elementar para

definição dos limites da sentença, e a planta de situação, foi elaborado

por profissional habilitado contratado com recursos oriundos do Programa

de Financiamento para Regularização Fundiária Sustentável, firmado entre

Ministério das Cidades/CAIXA e Terra de Direitos, que possibilitou a

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continuidade da regularização fundiária desta área de Curitiba. Os

imóveis se encontram na região da CIC, Moradias Sabará, à direita da

Rodovia Juscelino Kubitschek, nesta definição:

Partindo do ponto 1, situado no limite com MORADIAS SÃO NICOLAU, definido pela coordenada 7.178.911,353 m Norte e 665.714,784 m Leste, deste segue até o ponto 2, definido pela coordenada 7.178.911,548 m Norte e 666.011,926 m Leste, deste confrontando neste trecho com MORADIAS SÃO NICOLAU, chega-se ao ponto 3, definido pela coordenada 7.178.908,541 m Norte e 666.110,813 m Leste, deste confrontando neste trecho com BOSQUE SÃO NICOLAU, chega-se ao ponto 4, definido pela coordenada 7.178.937,438 m Norte e 666.131,893 m Leste, deste confrontando neste trecho com BOSQUE SÃO NICOLAU, chega-se ao ponto 5, definido pela coordenada 7.178.950,354 m Norte e 666.141,124 m Leste, deste confrontando neste trecho com BOSQUE SÃO NICOLAU, chega-se ao ponto 6, definido pela coordenada 7.178.995,855 m Norte e 666.180,357 m Leste, deste confrontando neste trecho com BOSQUE SÃO NICOLAU, chega-se ao ponto 7, definido pela coordenada 7.179.029,910 m Norte e 666.207,761 m Leste, deste confrontando neste trecho com BOSQUE SÃO NICOLAU, chega-se ao ponto 8, definido pela coordenada 7.179.040,349 m Norte e 666.216,787 m Leste, deste confrontando neste trecho com MORADIAS SEVILHA, chega-se ao ponto 9, definido pela coordenada 7.179.033,641 m Norte e 666.226,390 m Leste, deste confrontando neste trecho com MORADIAS SEVILHA, chega-se ao ponto 10, definido pela coordenada 7.179.030,751 m Norte e 666.232,150 m Leste, deste confrontando neste trecho com MORADIAS SEVILHA, chega-se ao ponto 11, definido pela coordenada 7.179.030,321 m Norte e 666.253,290 m Leste, deste confrontando neste trecho com MORADIAS SEVILHA, chega-se ao ponto 12, definido pela coordenada 7.179.057,928 m Norte e 666.253,216 m Leste, deste confrontando neste trecho com MORADIAS SEVILHA, chega-se ao ponto 13, definido pela coordenada 7.179.054,422 m Norte e 666.343,506 m Leste, deste confrontando neste trecho com MORADIAS SABARÁ, chega-se ao ponto 14, definido pela coordenada 7.179.009,416 m Norte e 666.345,999 m Leste, deste confrontando neste trecho com MORADIAS SABARÁ, chega-se ao ponto 15, definido pela coordenada 7.178.978,653 m Norte e 666.360,144 m Leste, deste confrontando neste trecho com MORADIAS SABARÁ, chega-se ao ponto 16, definido pela coordenada 7.178.957,651 m Norte e 666.361,201 m Leste, deste confrontando neste trecho com MORADIAS SABARÁ, chega-se ao ponto 17, definido pela coordenada 7.178.939,174 m Norte e 666.337,256 m Leste, deste confrontando neste trecho com MORADIAS SABARÁ, chega-se ao ponto 18, definido pela coordenada 7.178.938,511 m Norte e 666.328,900 m Leste, deste confrontando neste trecho com MORADIAS SABARÁ, chega-se ao ponto 19, definido pela coordenada 7.178.973,311 m Norte e 666.304,310 m Leste, deste confrontando neste trecho com MORADIAS SABARÁ, chega-se ao ponto 20, definido pela coordenada 7.178.970,941 m Norte e 666.287,430 m Leste, deste confrontando neste trecho com MORADIAS SABARÁ, chega-se ao ponto 21, definido pela coordenada 7.178.968,675 m Norte e 666.280,409 m Leste, deste confrontando neste trecho com MORADIAS SABARÁ, chega-se ao ponto 22, definido pela coordenada 7.178.928,861 m Norte e 666.307,690 m Leste, deste confrontando neste trecho com MORADIAS SABARÁ, chega-se ao ponto 23, definido pela coordenada 7.178.911,580 m Norte e

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666.305,465 m Leste, deste confrontando neste trecho com LOTE I.F. 89.160.057, chega-se ao ponto 24, definido pela coordenada 7.178.902,086 m Norte e 666.288,994 m Leste, deste confrontando neste trecho com LOTE I.F. 89.160.057, chega-se ao ponto 25, definido pela coordenada 7.178.894,212 m Norte e 666.270,974 m Leste, deste confrontando neste trecho com LOTE I.F. 89.160.057, chega-se ao ponto 26, definido pela coordenada 7.178.885,645 m Norte e 666.264,390 m Leste, deste confrontando neste trecho com LOTE I.F. 89.160.057, chega-se ao ponto 27, definido pela coordenada 7.178.880,037 m Norte e 666.257,199 m Leste, deste confrontando neste trecho com LOTE I.F. 89.160.057, chega-se ao ponto 28, definido pela coordenada 7.178.871,470 m Norte e 666.238,952 m Leste, deste confrontando neste trecho com LOTE I.F. 89.160.057, chega-se ao ponto 29, definido pela coordenada 7.178.870,981 m Norte e 666.233,640 m Leste, deste confrontando neste trecho com LOTE I.F. 89.160.057, chega-se ao ponto 30, definido pela coordenada 7.178.869,711 m Norte e 666.220,990 m Leste, deste confrontando neste trecho com LOTE I.F. 89.160.057, chega-se ao ponto 31, definido pela coordenada 7.178.866,951 m Norte e 666.196,660 m Leste, deste confrontando neste trecho com LOTE I.F. 89.160.057, chega-se ao ponto 32, definido pela coordenada 7.178.868,363 m Norte e 666.140,776 m Leste, deste confrontando neste trecho com LOTE I.F. 89.160.057, chega-se ao ponto 33, definido pela coordenada 7.178.853,716 m Norte e 666.102,794 m Leste, deste confrontando neste trecho com LOTE I.F. 89.160.057, chega-se ao ponto 34, definido pela coordenada 7.178.838,687 m Norte e 666.096,287 m Leste, deste confrontando neste trecho com LOTE I.F. 89.160.057, chega-se ao ponto 35, definido pela coordenada 7.178.832,593 m Norte e 666.090,430 m Leste, deste confrontando neste trecho com LOTE I.F. 89.160.057, chega-se ao ponto 36, definido pela coordenada 7.178.830,108 m Norte e 666.082,886 m Leste, deste confrontando neste trecho com LOTE I.F. 89.160.057, chega-se ao ponto 37, definido pela coordenada 7.178.828,185 m Norte e 666.063,641 m Leste, deste confrontando neste trecho com LOTE I.F. 89.160.057, chega-se ao ponto 38, definido pela coordenada 7.178.823,829 m Norte e 666.055,708 m Leste, deste confrontando neste trecho com LOTE I.F. 89.160.057, chega-se ao ponto 39, definido pela coordenada 7.178.820,462 m Norte e 666.011,028 m Leste, deste confrontando neste trecho com LOTE I.F. 89.160.057, chega-se ao ponto 40, definido pela coordenada 7.178.809,231 m Norte e 666.005,469 m Leste, deste confrontando neste trecho com LOTE I.F. 89.160.057, chega-se ao ponto 41, definido pela coordenada 7.178.803,840 m Norte e 665.999,235 m Leste, deste confrontando neste trecho com LOTE I.F. 89.160.057, chega-se ao ponto 42, definido pela coordenada 7.178.803,451 m Norte e 665.982,429 m Leste, deste confrontando neste trecho com LOTE I.F. 89.160.057, chega-se ao ponto 43, definido pela coordenada 7.178.798,347 m Norte e 665.972,772 m Leste, deste confrontando neste trecho com LOTE I.F. 89.160.057, chega-se ao ponto 44, definido pela coordenada 7.178.797,597 m Norte e 665.963,379 m Leste, deste confrontando neste trecho com LOTE I.F. 89.160.057, chega-se ao ponto 45, definido pela coordenada 7.178.803,191 m Norte e 665.941,495 m Leste, deste confrontando neste trecho com LOTE I.F. 89.160.057, chega-se ao ponto 46, definido pela coordenada 7.178.800,622 m Norte e 665.920,092 m Leste, deste confrontando neste trecho com LOTE I.F. 89.160.057, chega-se ao ponto 47, definido pela coordenada 7.178.793,314 m Norte e 665.899,850 m Leste, deste confrontando neste trecho com LOTE I.F. 89.160.057, chega-se ao ponto 48, definido pela coordenada 7.178.785,073 m Norte e

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665.863,726 m Leste, deste confrontando neste trecho com AREA 2, chega-se ao ponto 51, definido pela coordenada 7.178.778,940 m Norte e 665.838,982 m Leste, deste confrontando neste trecho com AREA 2, chega-se ao ponto 52, definido pela coordenada 7.178.731,477 m Norte e 665.795,110 m Leste, deste confrontando neste trecho com o Lote AREA 2, chega-se ao ponto 64, definido pela coordenada 7.178.730,425 m Norte e 665.744,147 m Leste, deste confrontando neste trecho com AREA 2, chega-se ao ponto 49, definido pela coordenada 7.178.761,811 m Norte e 665.689,471 m Leste, deste confrontando neste trecho com RUA JAIR SILVEIRA, chega-se ao ponto 1, ponto inicial da descrição deste perímetro.

Anexa-se também como prova a Planta de Situação da Vila

Eldorado marcado em vermelho como lote 01, no doc. V, com correta

restituição e espacialização das matrículas existentes atualmente e a

definição da gleba onde se situa a Vila Eldorado. A Autora pretende

usucapir a gleba circundada de vermelho na planta anexa.

Toda a área do Lote 01 a ser usucapida totaliza 80.737,15 (oitenta mil

e setecentos e trinta e sete) metros quadrados, conforme Memorial

Descritivo anexo no doc. V, portanto, cada uma das 323 (trezentas e vinte

e três) famílias titulares de posse utilizam uma área menor que 250

(duzentos e cinqüenta) metros quadrados.

Desta forma, resta cumprida a caracterização da área a ser

usucapida, com o que requer a aquisição originária da área descrita no

doc. V e conseqüente determinação de registro de frações ideais de

condomínio especial e abertura de nova matrícula registral em nome das

os titulares de posse.

4.1. Descrição dos confrontantes aos imóveis objetos da usucapião coletiva

A localização dos confrontantes pode ser verificada na relação e

quadro esquemático constantes do doc. VII, sendo os confinantes que

confrontam os imóveis em cada um dos lados do perímetro são:

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a) linha constituída pelos fundos dos lotes inscritos sob as matrículas

89.456 até 89.487, 89.495 e 89.501:

................................................................................

b) os confinantes do lado esquerdo, correspondente à Vila Bela Vista, são:

.............................................................

................................................................................

c) o confinante inferior da Vila Eldorado, proprietário da matricula

relativa à atual Vila Cruzeiro do Sul é:

...............................................................................................................

d) O confinante do lado direito da Vila Eldorado é a Estrada Velha do

Barigüi, via pública de propriedade do Município de Curitiba, cuja sede

administrativa esta estabelecida à Avenida Cândido de Abreu, nº. 817,

Centro Cívico, CEP 80.530-908, Curitiba, Paraná.

Desta feita, requer-se a citação pessoal dos confrontantes acima

relacionados nos termos do art. 942 do CPC, para assegurar regular

instrução processual.

V. DA SENTENÇA PARA AQUISIÇÃO DO DOMÍNIO DAS ÁREAS OCUPADAS PELOS

ATUAIS POSSUIDORES-ASSOCIADOS

Como restou comprovado o preenchimento de todos os requisitos

autorizadores da procedência da Usucapião Especial Coletiva, exigidos

pelos artigos 10 a 14 da Lei 10.257/2001, é devida a sentença de

procedência para registro de título no Cartório de Registro de Imóveis,

através de Carta de Sentença, atribuindo igual fração ideal de igual

metragem de terreno a cada um dos 323 (trezentas e vinte e três) titulares

de posse, em regime de condomínio especial.

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Neste diapasão, os julgados sobre a matéria assim compreendem a

titulação, como a citada decisão do Magistrado Pernambuco Sr. Dr. Juiz

Elson Zopellaro Machado, da Vara de Fazenda Pública de Olinda:

Com estes fundamentos de fato e de direito, julgo procedente em parte o pedido nestes autos formulado pela ASSOCIAÇÃO DOS MORADORES DA VILA MANCHETE, para declarar apenas o domínio útil dos seus associados, aqueles elencados no cadastro de fls. 36 a 64 e concomitantemente na certidão de fls. 161 a 170v, sobre a gleba e área descritas na exordial e delimitada conforme as plantas de fls. 34 e 35, atribuindo a cada um deles, como requerido, a fração ideal de 80,00 m2 (oitenta metros quadrados), destinando o remanescente das áreas aos logradouros públicos, praças, postos de saúde e de segurança, escola, creche, centro comunitário e desportivo e demais obras de infra-estrutura, servindo esta Sentença de título hábil para a transcrição no Registro Geral de Imóveis e para a constituição do Condomínio Especial, acompanhada dos competentes Mandados, como também para se firmar Termo de Aforamento perante a Prefeitura Municipal de Olinda/PE.

Com o que se requer a procedência integral da ação para

possibilitar a regularização fundiária da Vila Eldorado.

VI. DOS PEDIDOS FINAIS

Conforme fundamentação e documentação anexa, que

comprovam o preenchimento dos requisitos processuais e materiais para

reconhecimento do direito à aquisitiva originária das propriedades

discriminadas, para garantia do direito à moradia adequada e à

propriedade para os moradores da Vila Eldorado, requer-se:

I. O recebimento e determinação de processamento

desta Ação pelo rito sumário, nos termos do art. 14 da Lei

10.257/2001;

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II. Concessão da justiça gratuita aos moradores, com fulcro

na prerrogativa prevista pelo art. 12, § 2º, da Lei Federal

10.257/2001 – Estatuto da Cidade, e pelo caráter assistencial e

associativo da Autora;

III. Citação dos proprietários dos imóveis usucapiendos para,

querendo, e no prazo legal, responderem à ação, sob pena de

revelia;

IV. Citação por edital dos Réus Idalina Cordeiro Marques, João

Cordeiro e Ladislau Jusvin, nos termos do art. 231, inc. II do CPC;

V. Citação dos confrontantes discriminados no doc. VII, nos

termos 942 do CPC;

VI. Citação por edital dos eventuais interessados;

VII. Intimação através de carta da União, Estado e Município

de Curitiba;

VIII. A intimação do representante do Ministério Público do

Estado do Paraná, conforme o art. 12, § 1º, da Lei 10.257/2001;

IX. Designação de Audiência de Conciliação, de acordo

com o rito sumário e art. 277 do CPC;

X. A procedência da presente Ação, para reconhecimento

da aquisição originária da propriedade em nome dos

associados substituídos pela Autora descritos no doc. VIII,

através de sentença com determinação de abertura de nova

matrícula registral e atribuição de igual fração ideal a cada um

dos titulares de unidade autônoma, perante o Cartório de

Registro de Imóveis competente, com instituição de condomínio

especial, nos termos do art. 10, parágrafos 2º, 3º e 4º, da Lei

Federal 10.257/2001;

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XI. Condenação dos Requeridos em custas e honorários

advocatícios sucumbenciais, nos termos da lei processual;

Requer ainda a produção de todos os meios de prova em direito

admitidos, especialmente a prova documental e testemunhal, cujos

nomes estão arrolados abaixo (art. 276, CPC) e que deverão ser intimados

para comparecerem em audiências;

Dá-se à presente o valor de R$1.000,00 (mil reais) para efeitos fiscais.

Curitiba, 30 de novembro de 2007.

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Rol de testemunhas – Rito Sumário: