relatorio consultoria saf pae lago grande

Upload: paulo-eduardo-barni-barni

Post on 06-Jul-2015

445 views

Category:

Documents


3 download

DESCRIPTION

Cosultoria realizada em 2009 no Projeto Agro-extrativista - PAE Lago Grande - SANTARÉM, PARÁ.

TRANSCRIPT

Relatrio de consultoria Projeto Sade e Alegria CARACTERIZAO DA COBERTURA VEGETAL E PROPOSTA DE MODELOS DE SISTEMAS AGROFLORESTAIS PARA O PROJETO DE ASSENTAMENTO AGRO-EXTRATIVISTA LAGO GRANDE, SANTARM (PA): ESTIMATIVAS E PLANO DE MONITORAMENTO DOS ESTOQUES DE CARBONO Manaus-AM Setembro 2009 ii CARACTERIZAO DA COBERTURA VEGETAL E PROPOSTA DE MODELOS DE SISTEMAS AGROFLORESTAIS PARA O PROJETO DE ASSENTAMENTO AGRO-EXTRATIVISTA LAGO GRANDE, SANTARM (PA): ESTIMATIVAS E PLANO DE MONITORAMENTO DOS ESTOQUES DE CARBONO Consultores: Gabriel Cardoso Carrero Coordenao de Pesquisas em Ecologia-CPEC Paulo Eduardo Barni Coordenao de Cincias de Florestas Tropicais-CFT Instituto Nacional de Pesquisas da Amaznia Manaus-AM, Setembro 2009 iii SUMRIO Introduo Geral ................................................................................................................................... 1 rea do Projeto ................................................................................................................................. 2 Histrico da economia da regio ...................................................................................................... 4 Desmatamento ................................................................................................................................... 5 CAPTULO I ......................................................................................................................................... 7 Caracterizao da cobertura vegetal e uso da terra atual ............................................................. 7 CAPITULO II ...................................................................................................................................... 19 Estimativa de estoque de carbono da vegetao nativa e da vegetao secundria. ..................... 19 Estimativa de estoque de carbono da Floresta Densa .................................................................. 19 Estimativa de estoque de carbono dos Campos Naturais ............................................................ 20 Estimativa de estoque de carbono da Vegetao Secundria e das reas de roas ................... 21 Discusso dos resultados ................................................................................................................. 23 CAPITULO III .................................................................................................................................... 24 Modelo de reflorestamento e SAFs e as potencialidades para o mercado de carbono ................ 24 Polticas de crdito para SAFs ...................................................................................................... 27 Estimativas de estoque de carbono .................................................................................................... 28 Consideraes iniciais ..................................................................................................................... 28 Crescimento e produo florestal e de SAFs................................................................................. 29 Modelo de Sistema Agroflorestal sugerido ................................................................................... 30 CAPITULO IV .................................................................................................................................... 38 Plano de monitoramento dos estoques de carbono dos SAFs propostos ........................................ 38 Metodologia para inventrios e monitoramento de estoque de carbono .................................... 38 Procedimento de Campo ................................................................................................................. 39 Processo de Clculo e Anlise Estatstica ...................................................................................... 40 Benefcios ambientais e sociais ........................................................................................................... 45 Benefcios sociais ............................................................................................................................. 45 Benefcios ambientais ...................................................................................................................... 46 Concluso ............................................................................................................................................. 48 Recomendaes .................................................................................................................................... 49 Referncias Bibliogrficas .................................................................................................................. 50 ANEXO I. ............................................................................................................................................. 57 iv LISTA DE FIGURAS Figura01.Localizaodareadeestudo.Fontededadosdedesmatamento:Prodes(Brasil, INPE, 2009)............................................................................................................................3 Figura 02. Desmatamento acumulado no PAE Lago Grande e na rea Focal........................6 Figura 03. Taxas de desmatamento entre os anos de 2000 a 2007 no PAE Lago Grande e na rea Focal...............................................................................................................................6 Figura 04. Taxas de desmatamento no municpio de Santarm no perodo entre 2000 e 2008. Fonte de desmatamento nos trs grficos: Projeto Prodes (Brasil, INPE, 2009).....................6 Figura 05. Em A aspectos da vegetao secundria com 5 anos de abandono tendo o substrato inferiordominadoporpalmceas(curuemaraj)eosubstratosuperiorporvegetao lenhosa arborescente.EmBplantiodeseringueirascomhistricodefogodepelomenos10 anos atrs (informao dada pelo guia). Lago Central/Vila Amazonas..................................8 Figura06.Esta figurailustraoprocessodeformaodosmosaicosdevegetaosecundria na rea focal (comunidade Vila Amazonas) em funo do sistema de manejo de roas: Em A, em primeiro plano, roa de macaxeira com a presena de curu (Attalea spectabilis) prximo aosoloe aofundovegetaosecundriaantigaempousio;emBroademacaxeiratomada pelaregeneraoinicialcomdominnciadecuru,tendoaofundovegetaosecundria antiga; e em C aspecto da vegetao secundria de 2 a 3 anos de abandono aps a colheita da roa,compresenadecuruedomniodeVismiaspp.Osoloarenoso.Local:Vila Amazonas ...............................................................................................................................8 Figura07.Comunidadesamostradasnareafocal:VilaAmazonas,Atod,VilaGoretee Arimum.Ostringulosempretorepresentamospontosdecoletadedadosnastrilhas percorridas em campo em cada comunidade amostrada. ..........................................................9 Figura 08. Quantificao das classes de uso e cobertura da terra existentes na rea Focal.Fonte: Laboratrio de Geoprocessamento do Projeto Sade e Alegria......................................9 Figura09.EmAo consrcioentreseringueira(Heveabrasiliensis)e cacaueiro(Theobroma cacao); em B quintal com mltiplas espcies. O solo formado por terra preta de ndio (Vila Amazonas). ..............................................................................................................................10 Figura 10. Plantio de seringueira na sede da comunidade de Vila Amazonas em A e, amostras de artesanato feito pelos comunitrios, em B. .........................................................................10 Figura 11. Floresta dominada por babau em A aps passagem de fogo e em B Floresta Densa compalmeira.EmdestaquenocentrodafotorvoredecastanhadoPar(Bertholletia excelsa) dominando o dossel, em Atodi....................................................................................11 Figura 12. Vegetao secundria com 8 anos de abandono aps 4 anos de uso (A). Vismia spp domina a paisagem. Em B detalhe do solo arenoso (lixiviado) exposto, em Atodi..................11 v Figura13.Emprimeiroplano,emA,roademacaxeiratendoemsegundoplanovegetao secundriaantigaempousiocombordadegradadapelofogoeaofundocopasdervores remanescentesdaflorestaoriginal.EmBfrutoscadosdebabau(Orbignyaspeciosa) encontradosemreadeflorestaemregeneraodevidopassagemdefogo,emAtodi.No detalhe, fruto de babau cortado ao meio.................................................................................12 Figura 14. Plantio em sistema de circulo de bananeira ao lado da escola da comunidade de Atodi. Em A o sistema j consolidado com banana e batata doce. Em B, so usadas palhas em voltadosistemaparasombreamentoeproteodasmudasdebananaequiaboem desenvolvimento.......................................................................................................................12 Figura15.VistaparcialdeumaruadeVilaGoreteondesepodeverapresenadervores frutferasnos quintais das residncias, em A. Em B comunitrio desenvolvendo atividade de conserto de rede de pesca debaixo da sombra de uma rvore frutfera no quintal de sua casa. Em segundo plano v-se outro quintal com espcies frutferas................................................13 Figura16.Quintal commltiplasespciesdefrutferasemSAFs,emAe;emB,plantiode mudas de bananeira em sistema de crculo de bananeira. O uso de redes de pesca em desuso para conter o ataque de aves domsticas nos plantios ainda jovens. No segundo plano em B, ingazeiro com frutos..................................................................................................................13 Figura 17. reas com vegetao secundria em regeneraode uso comunitrio (Ae B) nos arredoresdacomunidadedeVilaGorete.Aquitambmsepodenotarafortepresenade palmeiras (A) se desenvolvendo junto com a vegetao herbcea. Em B, direita aps a roa, vegetao secundria de aproximadamente 10 anos de abandono............................................14 Figura 18. Aspectos dos campos naturais em Vila Gorete.......................................................14 Figura 19. Pastagem plantada com brachiara (Brachiara sp) em Vila Gorete com presena de palmeiras: babau (Orbignya speciosa), tucum (Astrocaryum aculeatum) e pupunha (Bactris gasipaes), em A. Em B detalhe de um tucumanzeiro com frutos na mesma pastagem...........15 Figura 20. Estrada de acesso s roas e estrada translago (estrada principal que corta toda extenso do PAE Lago Grande no sentido leste/oeste). Em A, entrada esquerda para roa de um comunitrio.........................................................................................................................15 Figura21.Povoamentodeinajs(Maximilianamaripa),emA,dominandoodosselderea de floresta primria com histrico de fogo. Em B detalhe do solo argiloso (latossolo amarelo) compactado na estrada, dificultando a drenagem da gua, em rea de floresta primria de Vila Gorete.......................................................................................................................................16 Figura 22. Vegetao secundria de aproximadamente trs anos de abandono com presena de Cecropiasp,eing,espciesindicadorasdesolospoucodegradados,emA.Vegetao secundria com presena de cips e palmeiras com 10 anos de abandono, em B....................16 Figura 23. rea sob efeito de inundao do lago Arimum, em A e palmeiras arborescentes de patau (Oenocarpus bataua) ocupando o estrato mais alto da Floresta-de-Galeria s margens do lago, em B, prximo sede da comunidade de Arimum.....................................................17 vi Figura 24. Principais usos dos campos naturais na comunidade de Arimum: em A, uso como pastagemparaogadoeemB,usoparaacoletadefrutos,sementesecascasfabricaode remdios caseiros. Detalhe em B de frutos de copaba do campo (Copaifera sp)....................17 Figura25.AspectosdointeriordaFloresta-de-Galeria:emA,ocorrnciadecuruemrea maisabertadosistemaeemB,apresenadearvoresdeportemaiorinfestadasporcips proporcionando sombreamento e inibindo a regenerao do sub bosque.................................18 Figura 26. Em A, rea de vegetao secundria com 20 anos deabandono originada de roa oriundadeFloresta-de-Galeria.Osoloarenoso,hidromrfico,eaalturadavegetaono passa de trs metros.Em B, casa construda em rea de contato Floresta Densa com Floresta-de-Galeria..................................................................................................................................18 Figura 27. Acmulo do estoque de carbono estimado no SAF proposto................................35 Figura 28. IncrementoAnualem biomassa (m3.ha-1) estimado para o SAF proposto............35 vii LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Estimativa de estoque de biomassa seca (acima e abaixo do solo), carbono e dixido decarbono(CO2)daflorestadensadareaFocaldoPAELagoGrande.Valoresdentrode colchetes [valor] indicam o carbono por tipo florestal armazenado na biomassa seca acima dosoloemum(1)hectareeforadoscolchetesovalortotal(acimaeabaixodosolo).A biomassa acima do solo foi multiplicada pelo fator de 0,21 (Cairns et al., 1997), para se obter a biomassa da frao raiz (biomassa abaixo do solo)............................................................20 Tabela 2. Estimativa de estoque de biomassa seca (acima e abaixo do solo), carbono e dixido decarbono(CO2)doecossistemadeCampoNaturaldareaFocaldoPAELagoGrande. Valores dentro de colchetes [valor] indicam o carbono armazenado na biomassa seca acima do solo em um (1) hectare por tipo florestal e fora dos colchetes o valor total (acima e abaixo dosolo). A biomassaacima do solo foi multiplicada pelo fator de 0,21 (Cairns et al., 1997), para se obter a biomassa da frao raiz (biomassa abaixo do solo)......................................21 Tabela3.Percentualdeinclusodavegetaosecundria(x)emtrsclassesdeidade observadas nas quatro comunidades visitadas da rea focal.................................................21 Tabela 4. Valores de biomassa seca acima e abaixo do solo da vegetao secundria segundo Salomo et al. (1998) e as reas ocupadas por cada classe de idade na rea focal do PAE Lago Grande. Para os clculos da biomassa das reas de roas foram utilizados dados de Fearnside (1996)considerandoapaisagememequilbrio.Osvaloresdentrodoscolchetes[valor] referente biomassa calculada acima do solo e os valores fora dos colchetes so referentes biomassatotal,abaixo eacimadosolo,calculadautilizandoosvaloresdarazoraiz/tronco de Fearnside & Guimares (1996)...........................................................................................22 Tabela5.Estimativadebiomassatotal(acimaeabaixodosolo)davegetaosecundria, estoquedecarbonoeCO2eqsegundoSalomoetal.(1998).Considerou-seem45%o contedo de carbono da biomassa seca da vegetao secundria (Fearnside, 1996).............23 Tabela 6. Tabela resumo das estimativas de biomassa total (acima e abaixo do solo), carbono e CO2 equivalente da rea focal do PAE Lago Grande.........................................................24 Tabela 7. Espcies de rvores e palmeiras indicadas para o uso em sistemas agroflorestais no PAE Lago Grande....................................................................................................................31 Tabela 8.Estimativas de crescimento em volume, carbono e CO2-equivalente..................37 Tabela 9. Equaes alomtricas de rvores e palmeiras.......................................................43 Introduo Geral As polticas pblicas de desenvolvimento e colonizao na Amaznia brasileira tiveram um papel fundamental para alocar e moldar os usos da terra e a cobertura vegetal na regio. A partir do Programa Nacional de Integrao-PIN (Brasil, 1972) com a construo de estradas tornou possvel o acesso s reas de florestas de terra-firme, e com ele a migrao de milhes de agricultores das regies sul, sudeste e nordeste do Brasil. Uma estratgia geopoltca que visava ocupar o territrio e gerar excedentes agrcolas e de recursos naturais para a exportao (Becker, 2005), foi responsvel por dizimar povos indgenas atravs das doenas, e tambm por introduzir na regio modos de produo bastante diferentes daqueles utilizados pelos habitantes da floresta. Dentre as principais rodovias construdas no mbito do PIN esto a rodovia Transamaznica (BR-230) e a rodovia BR-163. Esta ltima conectada Cuiab no Mato Grosso a Santarm no Par, na regio do baixo rio Amazonas. Recentemente, a demanda por terras para expanso da soja tem aumentado os conflitos sociais, o desmatamento e a degradao dos recursos naturais na regio. O emprego de tcnicas de agricultura moderna e pecuria extensiva tambm vem aumentando consideravelmente com a chegada de famlias e empreendimentos que migraram com a expanso da fronteira agrcola. Essas tcnicas de produo visam o lucro e alm de demandarem grandes reas e concentrar os benefcios econmicos, acabam por gerar conflitos sociais. Alm disso, esses modos de produo utilizam defensivos agrcolas e fertilizantes para aumentar a produtividade, e tm potencial de comprometer o funcionamento de ecossistemas e ambientes adjacentes com o passar do tempo, comprometendo tambm os recursos utilizados por populaes tradicionais. A atividade econmica tradicional na regio do Baixo-Amazonas era at ento fundamentada somente na agricultura familiar e pesca, com tcnicas rsticas de manejo, carente de informaes e de recursos financeiros para garantir a sustentabilidade. A agricultura de pousio, com o corte e queima da floresta, o uso da terra por cerca de 3 a 4 anos seguido do abandono (regenerao secundria) por certo perodo e depois novamente o corte e queima, contribuiu para gerar um mosaico de vegetao em regenerao secundria de vrias idades na regio. Nas reas de fcil acesso por gua, o resultado uma maior densidade populacional, e assim, menor disponibilidade relativa de terras para agricultura. Independentemente da lucratividade das atividades agrcolas na regio, deve-se garantir a sustentabilidade longo prazo dos recursos naturais para as populaes tradicionais que ali residem. Atravs da capacitao e emprego de prticas de manejo sistemas de produo que sejam adequados s condies biofsicas amaznicas, pode-se garantir a segurana alimentar e a reproduo cultural e material de seus modos de vida, aumento a gerao de renda. O Ncleo de Economia da Floresta, do Projeto Sade e Alegria, atuando no Projeto de assentamento AgroExtrativista (PAE) do Lago Grande no municpio de Santarm, vm propondo alternativas menos impactantes ambientalmente quelas prticas agrcolas convencionais utilizadas nas comunidades. Com esse intuito j foram implantados pequenos projetos de produo sustentvel (agroecologia) e manejo florestal para a produo de cestarias artesanais e implantao de sistemas agroflorestais em vrias comunidades.Atualmente o Ncleo de Economia da Floresta pretende expandir suas atividades para 36 (trinta e seis) comunidades pertencentes ao PAE do Lago Grande, onde residem 1845 famlias, totalizando 8515 moradores. Nesse territrio de 72.694 ha (24,8%) da rea total do PAE do Lago Grande sero desenvolvidos projetos e atividades com potencial para a gerao de renda e melhoria na qualidade de vida de seus habitantes. Os projetos inicialmente 2 propostos para serem implementados so de Sistemas Agro-Florestais (SAFs), de reflorestamento, de Ecoturismo, de meliponicultura, criao de peixes e de galinhas. Neste contexto, o estudo tem como objetivo principal direcionar os arranjos organizacionais futuros para que a equipe do Ncleo de Economia da Floresta possa capacitar e assistir os comunitrios na implantao ou adaptao de modelos de uso da terra para a recuperao de reas degradadas. Estas aes visam, em primeiro lugar, buscar a segurana alimentar das populaes locais atravs da implantao de SAFs e de tcnicas de reflorestamento que utilizem espcies florestais frutferas, madeireiras e oleaginosas nativas da regio. Em um segundo momento, esses sistemas tambm seriam usados para a captao de recursos junto a rgos financiadores no mbito de projetos para o mercado de carbono dentro do mecanismo de REDD (Reduo de Emisses do Desmatamento e Degradao Florestal). Os mtodos de coleta de dados para este estudo consistiram em: (i) visita a quatro comunidades, representativas da variedade de ecossistemas e tipologias da vegetao da rea do projeto, (ii) caracterizao da cobertura vegetal da rea de estudos a partir dos dados coletados em campo (fotografias e GPS) e de dados secundrios; (iii) construo de modelos de estimativa de seqestro de carbono de reflorestamento e SAFs com espcies nativas, a partir de dados secundrios; (iv) proposio de um plano de monitoramento dos sistemas implantados visando a integridade dos mesmos e a sua eficincia na manuteno dos estoques e de seqestro de carbono. rea do Projeto O Projeto de assentamento Agroextrativista (PAE) Lago Grande foi criado a partir da Portaria N 31, de 28 de novembro de 2005 abrangendo uma rea de 2.503,44 km. Est situado na regio noroeste do Estado do Par, no municpio de Santarm, limitando-se ao norte pelo Lago Grande (rio Amazonas), a sul e sudeste pelos rios Arapiuns e Tapajs, respectivamente, e a oeste pelo meridiano de 55o e 50 minutos oeste (Figura 01). O PAE ocupa cerca de 11% do territrio do municpio de Santarm. Sua criao se deu aps anos de reivindicaes e debates das comunidades locais e dos movimentos sociais organizados junto s instituies governamentais competentes. No ato de criao (Dirio Oficial, 2005) foram previstos o estabelecimento de 4.600 unidades agrcolas familiares espalhados entre as 130 comunidades existentes, somando cerca de 5.000 famlias. O PAE Lago Grande possui extensas reservas de recursos naturais em reas de floresta densa de terra firme, reas de cerrado e de vrzea. Historicamente, os principais usos da terra no PAE Lago Grande consistem em prticas de pesca artesanal e agricultura familiar de subsistncia, com corte/queima e posterior abandono para pousio. Existe tambm a atividade pecuria realizada em pastagens naturais e plantada. Atualmente, atividades de artesanato tranado e de ecoturismo esto sendo bastante apoiadas pelo projeto Sade e Alegria nas comunidades com esse potencial. Com o objetivo de submeter um projeto ao fundo Amaznia, o ncleo de Economia da Floresta do Projeto Sade e Alegria elegeu uma rea focal dentro dos limites do PAE Lago Grande (Figura 01). Esta rea foi escolhida por representar as caractersticas heterogneas do PAE em termos de diversidade de composio dos sistemas florestais remanescentes. Tambm pela sua localizao mais prxima da sede municipal de Santarm, permitindo maior agilidade na assistncia aos projetos realizados na rea, uma vez que os deslocamentos so 3 feitos por pequenos barcos regionais. A rea compreende uma faixa estreita de terra que forma uma pennsula com 72.694 ha, margeada pelo rio Arapiuns em sua poro sudoeste, localizada entre a foz do rio Tapajs ao sul e o rio Amazonas ao norte, na sua poro centro-leste. Figura 01. Localizao da rea de estudo. Fonte de dados de desmatamento: Prodes (Brasil, INPE, 2009). Clima: A regio do baixo Rio Amazonas caracterizada por precipitao anual alta entre 1.750mm a 2.250mm, mas marcadamente sazonal. O municpio de Santarm apresenta seu perodo chuvoso concentrado de fevereiro a maio.Os meses de maro e abril so aqueles de maior precipitao relativa ao total anual com 358 mm (17,1%) e 361,9 mm (17,3%) respectivamente.Os meses de agosto, setembro, outubro e novembro apresentam precipitao mensal inferior a 4% do total anual, os meses mais secos do ano. A umidade relativa varia entre 78% em outubro para 89% em maio, com mdia de 84% (Barros, 1986). A temperatura mdia de 26 o C, e nunca apresenta valores inferiores a 20o C no ms mais frio do ano. O clima que prevalece na rea de estudo o Amw, tipo mono (Kppen, 1948) caracterizado por apresentar as maiores quedas pluviomtricas durante o outono (Brasil, RADAMBRASIL, 1976).

Solos: De acordo com o mapa de solos do projeto RADAMBRASIL (Brasil, RADAMBRASIL, 1976).o tipo de solo predominante no PAE Lago Grande o Latossolo Amarelo Distrfico de textura mdia com areias quartzosas e manchas de Latossolo Amarelo Distrfico de textura 4 argilosa apresentando concrees laterticas. Na rea do PAE h tambm a ocorrncia de solos de origem antropognica, denominados popularmente por terra preta de ndio. O relevo se apresenta ondulado a aplainado. Vegetao original: Segundo o Projeto RADAMBRASIL (1976), descrevendo a folha Santarm (SA.21 - Santarm), h ocorrncia de Floresta Densa, Floresta Aberta, Savana, reas de Tenso Ecolgica, Formaes Pioneiras Aluviais e reas Antrpicas. As reas de Floresta Densa so mais abundantes. As outras formaes, menos reas Antrpicas, ocorrem em pequenas manchas na rea do PAE. Sob a formao de Floresta Densa, geralmente ocupando as reas mais altas de terra firme, crescem espcies como castanha do Par (Bertholetia excelsa), Dinizzia excelsa e Cedrelinga catanaeformis. O estrato dominado se caracteriza por Manilkara spp, Protium spp e Pauteria spp. De acordo ainda com RADAMBRASIL (1976) estas florestas apresentam alto volume de madeira de grande valor comercial. Nas formaes de Floresta Aberta a copa das arvores no se tocam e o nmero de palmceas adultas igual ou superior a 50%, sendo o babau (Orbignya martiana) a espcie de palmeira mais abundante. Nas reas de Refgio Ecolgico a vegetao predominante herbcea e arbustiva, sendo as arbustivas representadas por Mirtceas, Euforbiceas e Clsias. Na formao Pioneira Arbrea h a ocorrncia de sumama (Ceiba pentandra), aacu (Hura creptans) e Calyocophylum spruceanum e, na sinsia codominante, Virola surinamensis, Tachigalia mirmecophila e Salix martiana (Fam. Salicaceae). Nas formaes Pioneiras Arbustivas, ocorrendo nas aluvies do rio Amazonas, encontran-se Machaerium lunatum, mais freqente, e Dalbergia monetria, alternando-se com Montricardia arborescens. As Formaes Secundrias, em diversos estgios de sucesso, so dominadas por cips e tiririca (), e se apresentam espcies pioneiras da famlia Melastomataceae, Cecropiaceae e do gnero Vismia.No estrato mais baixo dessa formao h o domnio do curu (Attalea spectabilis).Nos solos de Areias Quartzosas Distrficas, que geralmente se apresentam em manchas, h a ocorrncia de savanas (cerrado) onde o relevo se apresenta ondulado a aplainado, com presena de Florestas-de-Galeria. A vegetao de herbcea, com gramneas e ciperceas composta por capim-barba-de-bode (Aristida spp.), Andropogon spp., Bulbostylis spp. e Cyperus sp . geralmente utilizadas como pastagens para o gado. Na vegetao arbrea densa e aberta podem-se citar a presena de espcies como lixeira (Curatella americana ), pau-de-arara (Salvertia convalleriodora ), tarum tura (Vitex flaves), sucupira-do-campo (Bowdichia virgilioides ), pau-terra (Qualea grandiflora ) entre outros. Nas Florestas-de-galeria encontram-se buriti (Mauritia flexuosa Mart.), Envira (Xylopia sp.), aa (Euterpe oleracea ), anani (Simphoniasp.), ucuuba (Virolla sp.), pau-pombo (Tapirira sp.), parapar (Jacaranda copaia ), aacu (Hura creptans ) e ings (Inga spp). Histrico da economia da regio A regio de Santarm tem uma longa histria, com fases econmicas onde vrios produtos foram predominantes, dentre eles cana-de-acar, borracha, juta, madeira e peixe. Situada exatamente no meio caminho entre Manaus e Belm, tem sido estratgica como uma regio de comrcio. As fases econmicas consecutivas transformaram o municpio no principal centro comercial da regio do baixo Rio Amazonas. Nas ltimas dcadas a regio foi includa nos planos de desenvolvimento do governo como zona de expanso de produo agropastoril e de indstria da explorao madeireira. Recentemente, Santarm foi includa no plano federal de 5 grande escala para a expanso da produo de soja para a exportao (Prefeitura de Santarm, 1999). No final do sculo XIX, a explorao de borracha e o comrcio atraram uma onda de migrao para trabalhar nos seringais (Fonseca, 1996). Aps o trmino do primeiro boom da borracha em 1920, a juta (Corchorus capsularis) trazida da ndia se tornou a principal commodity por cerca de 40 anos at a dcada de 1980 (Gentil, 1988). Com maior oferta de juta do sudeste asitico fez preos e demandas carem, conjuntamente com a introduo do motor de barcos na dcada de 1970, a pesca se tornou a principal atividade de gerao de renda da populao local (McGrath et al., 1993). Com o declnio da produo pesqueira e a abertura das estradas estaduais, a atividade madeireira se intensificou nas florestas de terra firme (Barros e Uhl, 1996). Simultaneamente, a produo de farinha de mandioca sempre foi uma commodity com alta demanda no mercado local, base da alimentao na regio.Durante a dcada de 1990, a produo de culturas comerciais como feijo, milho e tomate aumentou gradativamente, juntamente com culturas permanentes e semi-permanentes de caf, banana, mamo e manga (IBGE, 1996). A produo bovina tambm aumentou nesse perodo. Embora padres do passado e do presente demonstram uma riqueza de recursos naturais comercializados, eles tem sido caracterizados pelo acesso desigual terra e aos recursos naturais, com formas diferentes de controle de mo de obra (Futemma e Brondzio, 2003). Desmatamento Segundo a metodologia do Prodes (Brasil, INPE, 2009) o desmatamento acumulado at 2007 no PAE Lago Grande alcanou 121.761 hectares, ou 41,5% da rea total. Somente entre 2000 e 2007 foram desmatados 11.830 ha no PAE (mdia de 1.690ha/ano). Na rea focal do projeto o desmatamento alcanou a superfcie acumulada de 33.361 ha at 2007, ou 46% de sua rea, sendo 4.173 ha no perodo entre 2000 e 2007 (35%), uma mdia de 596 ha por ano.As taxas de desmatamento apresentam padres semelhantes quelas observadas para todo o municpio de Santarm no perodo entre 2000 e 20081 (Figuras 02, 03 e 04). Esse padro sugere que o desmatamento praticado na rea do PAE Lago Grande parece ser dirigido pelos mesmos vetores que agem no municpio. As altas taxas de desmatamento ocorridas entre os anos de 2000 e 2002 podem ser um efeito da instalao do porto da Cargill, em Santarm (Projeto Sade e Alegria, com. pess.). Esse fato pode ter aumentado a presso de desmatamento sobre reas de florestas, para o plantio de soja, acarretando em aumento no desmatamento nas regies adjacentes como o PAE Lago Grande. As altas taxas de desmatamento observadas dentro do PAE Lago Grande no perodo entre 2000 e 2002 podem ser efeito das derrubadas da floresta visando demarcaes de posses por grileirosbem como para o avano dos plantios de soja (Sade e Alegria, 2007). Grileiros se apropriam da terra e podem explorar madeiras de alto valor comercial utilizando o dinheiro para investir na derrubada da floresta e no preparo da terra para agricultura ou pecuria (e.g., Perz, 2008). A partir de 2003 se observa uma queda bastante acentuada nas taxas de desmatamento, tanto para o PAE como para a rea focal. 1 Os dados de desmatamento acumulado por municpio at 2008 s foram disponibilizados pelo Inpe recentemente, aps a aquisio dos utilizados para derivar o desmatamento do PAE Lago Grande, que era acumulado at 2007.6 Figura 02. Desmatamento acumulado no PAE Lago Grande e na rea Focal. Figura 03. Taxas de desmatamento entre os anos de 2000 a 2007 no PAE Lago Grande e na rea Focal. Figura 04. Taxas de desmatamento no municpio de Santarm no perodo entre 2000 e 2008. Fonte de desmatamento nos trs grficos: Projeto Prodes (Brasil, INPE, 2009). 7 CAPTULO I Caracterizao da cobertura vegetal e uso da terra atual Nas comunidades tradicionais do PAE Lago grande os principais usos da terra observados correspondem produo agrcola voltada subsistncia. O manejo se caracteriza pela abertura de pequenas roas em rea de vegetao secundria e em reas de floresta primria.A criao de gado ocorre em pequena escala em pastagens naturais e cultivadas. O artesanato e a pesca complementam a renda familiar em algumas comunidades. Como resultado desses tipos de uso praticado por essas populaes, ao longo do tempo, se observa uma grande quantidade de reas sob regenerao, muitas delas bastante degradadas, observando-se, inclusive, presena constante de lacre (Vismia spp) e cips (Figuras 05 e 06). Essas reas so compostas por vegetao secundria de vrias idades (entre 2 a 20 anos) formando grandes mosaicos nas regies de entorno das reas das comunidades (Figura 07). Em algumas reas de vegetao secundria mais antiga o estrato inferior dominado por curu (Attalea spectabilis), palmeira de caule subterrneo; o estrato intermedirio e superior co-dominado por babau (Orbignya speciosa) e inaj (Maximiliana maripa). Formaes semelhantes foram observadas em algumas reas de floresta, um indicativo de histrico de fogo nessas reas de floresta adjacentes, um processo que foi confirmado pelos comunitrios. Provavelmente, grande parte da floresta remanescente adjacente s reas de uso das comunidades foi queimada algum dia no passado. Esse fato pode explicar, em parte, a grande diferena entre a contabilizao de desmatamento fornecida pelo Projeto Prodes (Brasil, INPE, 2009) da rea de estudo e aquela dada pelos tcnicos de SIG do Projeto Sade e Alegria. Na metodologia do Prodes as reas de floresta degradada por explorao madeireira intensa ou por incndios so contabilizadas como desmatamento. A explorao madeireira de alto impacto cria grandes reas de clareiras, que com a alta incidncia de luz resseca o solo, os galhos e folhas das rvores derrubadas e seriamente danificadas. A classificao automtica realizada a partir de imagens do sensor temtico (TM) do Landsat interpreta essas reas secas como solo exposto classificando-as como desmatamento. Um processo que gera efeito semelhante acontece com florestas acometidas por incndios. Dependendo a intensidade e durao do fogo, as grandes rvores acabam ressecando (perdendo as folhas) ou at morrendo, e so classificadas como rea desmatada. Pode ter havido tambm uma confuso na interpretao dos dados de satlite utilizando a metodologia do Prodes em relao ocorrncia de campos naturais na rea focal, considerando essas reas como desmatamento. Esse fato pde ser comprovado na visita de campo com o uso de GPS. No local de um Campo Natural aparecia como rea desmatada no mapa do Prodes, em laboratrio. 8 Figura 05. Em A aspectos da vegetao secundria com 5 anos de abandono tendo o substrato inferior dominado por palmceas (curu (Attalea spectabilis) e maraj) e o substrato superior por vegetao lenhosa arborescente. Em B, plantio de seringueiras com histrico de fogo de pelo menos 10 anos passados (informao dada pelo guia). Lago Central/Vila Amazonas. Figura 06. Esta figura ilustra o processo de formao dos mosaicos de vegetao secundria na rea focal (comunidade Vila Amazonas) em funo do sistema de manejo de roas: Em A, em primeiro plano, roa de macaxeira com a presena de curu (Attalea spectabilis) prximo ao solo e ao fundo vegetao secundria antiga em pousio; em B roa de macaxeira tomada pela regenerao inicial com dominncia de curu, tendo ao fundo vegetao secundria antiga; e em C aspecto da vegetao secundria de 2 a 3 anos de abandono aps a colheita da roa, com presena de curu e domnio de Vismia spp. O solo arenoso. Local: Vila Amazonas. 9 Figura 07. Comunidades amostradas na rea focal: Vila Amazonas, Atod, Vila Gorete e Arimum. Ostringulos em preto representam os pontos de coleta de dados nas trilhas percorridas em campo em cada comunidade amostrada. Na figura 08 so apresentadas as classes de uso e cobertura da terra em hectares da rea Focal, indicando tambm as porcentagens respectivas. Foi considerado que em apenas 21% da rea Focal (15.080 ha) a floresta original foi convertida em outros usos, contra 46% (33.361 ha) na metodologia do Prodes. A figura apresenta tambm percentuais das classes de floresta (62,7%: 45.557 ha), de campos naturais (7,9%: 5.802 ha) e de corpos dgua (8,6%: 6.257 ha). Figura 08. Quantificao das classes de uso e cobertura da terra existentes na rea Focal.Fonte: Laboratrio de Geoprocessamento do Projeto Sade e Alegria. 10 Nas sedes das comunidades visitadas h presena constante de rvores frutferas e de sombra, como manga, banana, seringueira (Hevea brasiliensis), abacate, ing (Inga spp) e outras frutferas nativas. Na Vila Amazonas, localizada na margem direita do rio Amazonas, os quintais das casas servem como quintal de produo (Figura 09), apresentando vrias espcies plantadas nos pequenos espaos em consrcio (Silva-Forsberg e Fearnside, 1997). H tambm a produo de artesanato (Figura 10) feito a partir de materiais coletados nas florestas e tambm em reas de vegetao secundria em pousio. Figura 09. Em A o consrcio entre seringueira (Hevea brasiliensis) e cacaueiro (Theobroma cacao); em B quintal com mltiplas espcies. O solo formado por terra preta de ndio (Vila Amazonas). Figura 10. Plantio de seringueira na sede da comunidade de Vila Amazonas em A e, amostras de artesanato feito pelos comunitrios, em B. Em Atodi e Vila Gorete a rea de Floresta Densa se apresenta menos fragmentada do que nas outras duas comunidades visitadas (Figura 11), onde reas de vegetao secundria (Vila Amazonas) e campos naturais (Arimum) so predominantes. Entretanto, em Atodi h muitas reas de vegetao secundria regenerando em solos arenosos degradados (Figura 12). As 11 florestas so usadas pelas comunidades, geralmente, para a coleta de produtos florestais no-madeireiros como frutos, cascas, leos, resinas, para fazer remdios e para alimentao, cips e palhas para o artesanato e produtos madeireiros para materiais de construo das casas e ranchos. Figura 11. Floresta dominada por babau (Orbignya speciosa) em A aps passagem de fogo e em B Floresta Densa com palmeira. Em destaque no centro da foto rvore de castanha do Par (Bertholletia excelsa) dominando o dossel, em Atodi. Figura 12. Vegetao secundria com 8 anos de abandono aps 4 anos de uso (A). Vismia spp domina a paisagem. Em B detalhe do solo arenoso exposto (lixiviado), em Atodi. As roas so feitas aps o corte e a queima da biomassa da vegetao secundria. Nesse caso o fogo pode sair do controle e adentrar em reas de floresta ou de vegetao secundria na vizinhana da roa (Figura 13A). Aps eventos de incndios no sub-bosque das florestas adjacentes, o babau (resistente ao fogo) passa a dominar o ambiente e aumenta sua 12 populao atravs da disperso de suas sementes (Figura 13B), bastante apreciada por roedores. Figura 13. Em primeiro plano, em A, roa de macaxeira tendo em segundo plano vegetao secundria antiga em pousio com borda degradada pelo fogo e ao fundo copas de rvores remanescentes da floresta original. Em B frutos cados de babau (Orbignya speciosa) encontrados em rea de floresta em regenerao devido passagem de fogo, em Atodi. No detalhe, fruto de babau cortado ao meio. Geralmente os quintais das casas de moradores de comunidades tradicionais esto ocupados por fruteiras de varias espcies.Na sede da comunidade de Atodi, ao lado da escola, um exemplo de plantio em sistema de crculo de bananeira2 (Figura 14), uma tcnica de plantio utilizada na prtica da permacultura (D. Pompermaier, com. pess). Figura 14. Plantio em sistema de circulo de bananeira ao lado da escola da comunidade de Atodi. Em A o sistema j consolidado com banana e batata doce. Em B, so usadas palhas em volta do sistema para sombreamento e proteo das mudas de banana e quiabo em desenvolvimento. Os quintais das casas em Vila Gorete tambm abrigam grande variedade de fruteiras como manga, caju, abacate, mamo, ing, coco da Bahia, laranja, entre outras (Figura 15A). Alm 2 Buraco aberto, geralmente nos fundos da casa, de aproximadamente 1 metro cbico, onde so jogados dentro todos os restos de lixo orgnico produzido pela famlia. As mudas de bananeira so plantadas em volta do buraco nas leiras ou monturos da terra retirada(D. Pompermaier, com. pess). 13 da produo de frutas, que garante a segurana alimentar das famlias, as grandes rvores frutferas servem tambm para sombra onde so desenvolvidas outras atividades dos comunitrios no seu dia-a-dia (Figura 15B). A figura 16A apresenta um plantio de mudas em SAFs em um quintal e, em 16B, apresenta um plantio em sistema de circulo de bananeira no quintal da casa de outro comunitrio. Figura 15. Vista parcial de uma rua de Vila Gorete onde se pode ver a presena de rvores frutferas nos quintais das residncias, em A. Em B comunitrio desenvolvendo atividade de conserto de rede de pesca debaixo da sombra de uma rvore frutfera no quintal de sua casa. Em segundo plano v-se outro quintal com espcies frutferas. Figura 16. Quintal com mltiplas espcies de frutferas em SAFs, em A e; em B, plantio de mudas de bananeira em sistema de crculo de bananeira. O uso de redes de pesca em desuso para conter o ataque de aves domsticas nos plantios ainda jovens. No segundo plano em B, ingazeiro com frutos. Nas comunidades tradicionais as reas de uso comuns esto localizadas prximas comunidade, ficando mais distantes aquelas reas destinadas ao uso por famlias individuais (Figura 17). Esse tipo de partio gerou uma srie de caminhos ou estradas de acesso em volta das comunidades recortando as reas de vegetao. 14 Figura 17. reas com vegetao secundria em regenerao de uso comunitrio (A e B) nos arredores da comunidade de Vila Gorete. Aqui tambm se pode notar a forte presena de palmeiras (A) se desenvolvendo junto com a vegetao herbcea. Em B, direita aps a roa, vegetao secundria de aproximadamente 10 anos de abandono. Na comunidade de Vila Gorete h tambm a presena de campos naturais e que os comunitrios usam como pastagem para o gado (Figura 18). Em reas de pastagens plantadas h ocorrncia de varias espcies de palmeiras crescendo junto ao capim (Figura 19). Figura 18. Aspectos dos campos naturais em Vila Gorete. 15 Figura 19. Pastagem plantada com brachiara (Brachiara sp) em Vila Gorete com presena de palmeiras: babau (Orbignya speciosa), tucum (Astrocaryum aculeatum) e pupunha (Bactris gasipaes), em A. Em B detalhe de um tucumanzeiro com frutos na mesma pastagem. Em Vila Gorete, por determinao dos comunitrios, na estrada principal que d acesso s roas foi preservada uma faixa de floresta de 50 metros em ambos os lados (Figuras 20 e 21), ficando proibida a derrubada da floresta dentro dessa faixa para o uso de roas. Assim, em intervalos regulares partem caminhos laterais que do acesso s roas localizadas para alm da faixa de floresta. As roas so feitas, geralmente, prximas a fontes de gua para facilitar, na colheita da macaxeira, o processamento da farinha (Silva-Forsberg e Fearnside, 1997). Figura 20. Estrada de acesso s roas e estrada translago (estrada principal que corta toda extenso do PAE Lago Grande no sentido leste/oeste). Em A, entrada esquerda para roa de um comunitrio. 16 Figura 21. Povoamento de inajs (Maximiliana maripa), em A, dominando o dossel de rea de floresta primria com histrico de fogo. Em B detalhe do solo argiloso (latossolo amarelo) compactado na estrada, dificultando a drenagem da gua, em rea de floresta primria de Vila Gorete. Figura 22. Vegetao secundria de aproximadamente trs anos de abandono com presena de Cecropia sp,e ing, espcies indicadoras de solos pouco degradados, em A. Vegetao secundria com presena de cips e palmeiras com 10 anos de abandono, em B. A comunidade de Arimum, entre aquelas que foram visitadas, foi a que apresentou maior rea ocupada por campos naturais nas adjacncias. As reas de vegetao secundria no entorno da comunidade sofrem tambm influncia do lago Arimum, determinando a composio de espcies da margem a qual freqentemente inundada (Figura 23). 17 Figura 23. rea sob efeito de inundao do lago Arimum, em A e palmeiras arborescentes de patau (Oenocarpus bataua) ocupando o estrato mais alto da Floresta-de-Galeria s margens do lago, em B, prximo sede da comunidade de Arimum. Os campos so, geralmente, utilizados como pastagem para o gado bovino (figura 24A) e eventualmente, para a coleta de frutos, sementes e cascas (Figura 24B). As Florestas-de-Galeria so utilizadas para a coleta de palhas (curu), madeira para moires de cercas e construes de ranchos e casas e tambm. As reas no inundveis das florestas de galeria so geralmente derrubadas para o estabelecimento das roas e pastagens plantadas (Figura 25 e 26). Figura 24. Principais usos dos campos naturais na comunidade de Arimum: em A, uso como pastagem para o gado e em B, uso para a coleta de frutos, sementes e cascas fabricao de remdios caseiros. Detalhe em B de frutos de copaba do campo (Copaifera sp). 18 Figura 25. Aspectos do interior da Floresta-de-Galeria: em A, ocorrncia de curu em rea mais aberta do sistema e em B, a presena de rvores de maior porte infestadas por cips, proporcionando sombreamento e inibindo a regenerao do sub-bosque. Figura 26. Em A, rea de vegetao secundria com 20 anos de abandono originada de roa oriunda de Floresta-de-Galeria. O solo arenoso, hidromrfico, e a altura da vegetao no passa de trs metros.Em B, casa construda em rea de contato Floresta Densa com Floresta-de-Galeria. As comunidades visitadas possuem amplas reas de vegetao secundria em pousio. Porm, com o uso intensivo, caracterizado pela revisita das mesmas reas ao longo do tempo, muitas delas se encontram bastante degradadas (Salomo et al., 1998). Essas reas podem ser recuperadas utilizando-se SAFs (Silva-Forsberg e Fearnside, 1997; Fearnside, 1998) e nas reas com vegetao secundria mais antiga podem ser usadas tcnicas e enriquecimento com plantio de mudas de espcies florestais nativas de valor comercial plantadas em linha (Lamprecht, 1990; Brienza Jr., 2003). A implantao de SAFs tem grande potencial para ser exitosa nas reas degradadas da rea focal do PAE Lago Grande como um todo. Isto se levando em conta a grande variedade de espcies frutferas manejadas pela populao local em vrios sistemas de plantios em uso nos quintais das casas e nas roas e o conhecimento e uso de espcies nas florestas e campos naturais locais. Como os comunitrios j apresentam um conhecimento das espcies da regio e exticas (principalmente frutferas) bem como do manejo e uso dessas, o projeto de SAFs tem grande potencial para ser factvel e implementado com sucesso.19 CAPITULO II Estimativa de estoque de carbono da vegetao nativa e da vegetao secundria As estimativas de biomassa e estoque de carbono da rea Focal do PAE Lago Grande foram realizadas atravs dos dados da classificao da vegetao realizada pelo projeto Sade e Alegria, utilizando as classes: Floresta Densa, Vegetao Secundria (capoeiras) e Campos Naturais. Os valores de biomassa acima e abaixo do solo e o estoque de carbono utilizados neste estudo para Floresta Densa e Campos Naturais foram obtidos dos dados do Primeiro Inventrio Brasileiro de Emisses Antrpicas de Gases de Efeito Estufa Relatrio de Referncia do Ministrio de Cincia e Tecnologia MCT, (2006). Os valores para a biomassa acima e abaixo do solo e carbono para a Vegetao Secundria e para as reas de roas foram derivados dos estudos de Fearnside & Guimares (1996), Fearnside (1996) e de Salomo et al. (1998). Estimativa de estoque de carbono da Floresta Densa Para florestas foram consideradas trs classes de vegetao, derivadas de estudos do Projeto RADAMBRASIL (Brasil, RADAMBRASIL, 1976) e agrupadas conforme MCT (2006). Para a biomassa acima do solo foi acrescentado a frao raiz (ou biomassa abaixo do solo) de 21% conforme Cairns et al. (1997). A estimativa para Floresta Densa Submontana de 317,4 toneladas de biomassa seca por ha, acima e abaixo do solo. Floresta Densa Aluvial contm 294 toneladas de biomassa seca por ha, acima e abaixo do solo e a classe Contato Floresta Densa c/ Refgio Ecolgico, apresenta valor de 292,7 toneladas biomassa seca por ha, acima e abaixo do solo (Tabela 1). Estes valores foram obtidos a partir das estimativas de contedo de carbono em MCT (2006). O fator usado para o clculo do contedo de carbono da biomassa seca, abaixo e acima do solo, foi de 48,5% conforme Silva (2007). Para converter o carbono em dixido de carbono equivalente (CO2 eq) multiplicou-se o carbono total pelo fator constante de 3,67 conforme IPCC, (2000).Para determinar as reas correspondentes a cada uma das trs classes acima citadas foram utilizadas operaes de lgebra de mapas em ambiente de Sistema de Informao Geogrfica SIG do software ArcGis 9.1. Nessas operaes, aps ter sido convertido do formato vetorial (shapefile) para o formato de grade de clulas (raster), o mapa de floresta fornecido pelo projeto Sade e Alegria foi cruzado com um recorte de um mapa classes de vegetao da rea Focal ainda no publicado. Esse mapa foi cedido por Reinaldo I. Barbosa e colaboradores, que derivaram a partir de mapas de vegetao do RADAMBRASIL e SIPAM um mapa de vegetao da Amaznia Brasileira na escala de 1:250.000. Dessa forma, somaram-se todos os pixels de cada classe do mapa resultante do cruzamento, transformando, em seguida, em superfcie de rea (ha). A partir dessas reas encontradas para cada classe foram realizados os clculos das estimativas tendo os respectivos valores de biomassa e carbono por hectare de cada classe de vegetao florestal. 20 Tabela 1. Estimativa de estoque de biomassa seca (acima e abaixo do solo), carbono e dixido de carbono (CO2) da floresta densa da rea Focal do PAE Lago Grande. Valores dentro de colchetes [valor] indicam o carbono por tipo florestal armazenado na biomassa seca acima do solo em um (1) hectare estimado pelo MCT (2006) e fora dos colchetes o valor total (acima e abaixo do solo). A biomassa acima do solo foi multiplicada pelo fator de 0,21 (Cairns et al., 1997), para se obter a biomassa da frao raiz (biomassa abaixo do solo). Classes Carbono rea por tipo vegetal Biomassa acima e abaixo do solo Carbono Total*CO2 eq _ tC/haHectaresToneladaToneladaTonelada Floresta Densa Submontana [127,21] 153,92 31.129,69,9 x 1064,8 x 10617,6 x 106 Floresta Densa Aluvial [117,81] 142,55 10.395,43,06 x 1061,5 x 1065,44 x 106 Contato Floresta Densa c/ Refgio Ecolgico [117,34] 141,98 4.032,01,18 x 106572.463,02,1 x 106 Total _ 45.557,014,12 x 1066,85 x 10625,14 x 106 *Fator de converso C CO2eq = 3,67 Estimativa de estoque de carbono dos Campos Naturais O mesmo procedimento realizado anteriormente com o mapa de floresta densa, foi realizado com o mapa da classe campo natural fornecido pelo projeto Sade e Alegria. Contudo, as classes de vegetao que incluem savana nas folhas do RADAMBRASIL no esto claramente delimitadas e geralmente so apresentadas em conjunto com classes de floresta ou de vegetao antropizada, gerando dificuldade na interpretao e, conseqentemente, na seleo da classe (e contedo de C respectivo) que representa a paisagem de savana na rea focal do PAE Lago Grande. Tendo em vista impossibilidade de separao dessas classes, optou-se por a simplificao dos clculos agrupando-a apenas de acordo com a classe dominante (~70%), uma vez que havia muitas classes de savana com pouca expressividade em quantidade de pixels e conseqentemente de rea. A classe selecionada foi Savana com Relevo Ondulado, contendo 71,53 toneladas de biomassa seca por ha, acima do solo, (Tabela 2) (MCT, 2006), j acrescida a biomassa da frao raiz de 21% (Cairns et al., 1997). Foi utilizado tambm o fator de 48,5% para obter o contedo de carbono a partir da biomassa seca, conforme Silva (2007). Para converter o carbono em dixido de carbono equivalente (CO2 eq) multiplicou-se o carbono total pelo fator de 3,67 conforme IPCC, (2000). 21 Tabela 2. Estimativa de estoque de biomassa seca (acima e abaixo do solo), carbono e dixido de carbono (CO2) do ecossistema de Campo Natural da rea Focal do PAE Lago Grande. Valores dentro de colchetes [valor] indicam o carbono armazenado na biomassa seca acima do solo em um (1) hectare segundo MCT (2006) e fora dos colchetes o valor total (acima e abaixo do solo). A biomassa acima do solo foi multiplicada pelo fator de 0,21 (Cairns et al., 1997), para se obter a biomassa da frao raiz (biomassa abaixo do solo). Classerea por tipo vegetal Biomassa acima e abaixo do soloCarbono*CO2 eq _ tC/haHectaresToneladaToneladaTonelada Savana com relevo ondulado [28,67] 34,69 5.802,0415.001,0201.275,4738.681,0 *Fator de converso C CO2eq = 3,67 Estimativa de estoque de carbono da Vegetao Secundria e das reas de roas Para realizar a estimativa de estoque de carbono existente na vegetao secundria da rea focal do PAE Lago Grande seguiu-se os seguintes passos: 1. A rea coberta pela vegetao secundria foi dividida em trs estratos distintos de idade: (i)- Vegetao Secundria em estgio inicial de regenerao, (ii)- Vegetao Secundria intermediria; (iii)-e Vegetao Secundria antiga. A vegetao secundria em fase inicial de regenerao, correspondeu a idade entre 0 e 5 anos de abandono (x 5), a vegetao secundria em fase intermediria correspondeu classe de idade entre 6 e 10 anos (5 < x 10) e a vegetao secundria antiga correspondeu classe de idade acima de 10 anos (x > 10 anos) (Tabela 3). Esses parmetros foram escolhidos objetivando a simplicidade dos clculos e tambm em funo de adequao aos dados da literatura. 2.Foi estimado o percentual de ocorrncia de diferentes classes de idade da vegetao secundria, a partir do observado durante a coleta de dados nas quatro comunidades visitadas, classificando-as dentro dos trs estratos pr-definidos no ponto 1 acima. Dessa maneira, os percentuais mdios estimados para as classes de idade da vegetao secundria foram para 5 (50%); entre 5 < x 10 (27%) e> 10 anos (23%). Esses percentuais foram ento transformados em rea e extrapolados para toda superfcie coberta por vegetao secundria da rea focal. Tabela 3. Percentual de incluso da vegetao secundria (x) em trs classes de idade observadas nas quatro comunidades visitadas da rea focal. Comunidadesx 55 < x 10x > 10 Vila Amazonas502525 Atodi543016 Vila Gorete602020 Arimum333333 Mdia502723 22 Fearnside (1996) estimou que em mdia 4% da rea desmatada acumulada at 1990 na Amaznia Legal brasileira eram ocupadas pela agricultura. Outros usos, como pastagens, culturas permanentes e capoeiras ocupariam os percentuais restantes. Para deduzir a rea desmatada ocupada pela agricultura na rea focal do PAE Lago Grande (3) foram atribudos 0,5 hectares de roa para cada famlia residente nessa rea (1.845). Esse valor relativamente baixo atribudo a cada famlia pode ser explicado pelo fato de que nem todas as famlias residentes na rea focal dependem diretamente da agricultura para viver (D. Pompermaier, comunicao pessoal). Atravs desse clculo foi estimado que 6,1% (923 ha) da rea classificada inicialmente como de vegetao secundria em regenerao estavam sendo ocupadas por reas de agricultura ou roas. Esse valor foi semelhante ao percentual de 6,2% encontrado para as reas de cultivo por Salomo et al. (1998), estudando a biomassa e estoque de carbono de florestas tropicais primria e secundria na Zona Bragantina, municpio de Peixe-Boi, Estado do Par.. Para efeito de distribuio da biomassa entre as classes de vegetao secundria e adequao aos dados da literatura foi atribudo para o estrato de 1 a 5 anos o valor da biomassa calculada para a vegetao secundria de cinco anos. Para o segundo estrato (entre 6 a 10 anos) foi atribudo o valor da biomassa calculada para a vegetao secundria de 10 anos. Para o estrato da vegetao secundria maior que 10 anos foi atribudo o valor da biomassa calculada para a vegetao secundria de 20 anos conforme Salomo et al (1998) (Tabela 4). Para as reas ocupadas por roas foram aplicados os clculos de biomassa para a paisagem em equilbrio segundo Fearnside (1996). Tabela 4. Valores de biomassa seca acima e abaixo do solo da vegetao secundria segundo Salomo et al. (1998) e as reas ocupadas por cada classe de idade na rea focal do PAE Lago Grande. Para os clculos da biomassa das reas de roas foram utilizados dados de Fearnside (1996) considerando a paisagem em equilbrio. Os valores dentro dos colchetes [valor] referente biomassa calculada acima do solo e os valores fora dos colchetes so referentes biomassa total, abaixo e acima do solo, calculada utilizando os valores da razo raiz/tronco de Fearnside & Guimares (1996). ClassesIdade rea ocupada (ha) 2Biomassa viva acima e abaixo do solo (t.ha-1) 1Razo Raiz/tronco x 55 anos7.078,523,430,42 5 < x 1010 anos3.822,457,20,3 x > 1020 anos3.256,197,20,2 reas de roa _923,00,7 _ Total _15.080 _ _ 1Fearnside & Guimares (1996).2Salomo et al. (1998) ( 23,43 = mdia entre Salomo et al., 1998 e Denich, 1991). Fearnside (1996). 23 A Tabela 5 apresenta os resultados dos clculos para biomassa, carbono e CO2eq para a rea focal a partir dos dados de Salomo et al. (1998). Discutindo os resultados da pesquisa Salomo et al. (1998) enfatizaram que os baixos valores encontrados na estimativa de biomassa (comparativamente com outros estudos semelhantes na Amaznia) se deveu ao fato da regio Bragantina ter um histrico de colonizao muito anterior, com vrios ciclos de cultivo, em relao s outras fronteiras agrcolas regionais mais recentes. A presso sobre a terra, causada pelo aumento da populao, fez diminuir os perodos de pousio da vegetao secundria tornando-a menos produtiva em termos de biomassa (ver Johnson et al., 2001). Tabela 5. Estimativa de biomassa total (acima e abaixo do solo) da vegetao secundria, estoque de carbono e CO2eq segundo Salomo et al. (1998). Considerou-se em 45% o contedo de carbono da biomassa seca da vegetao secundria (Fearnside, 1996). ClassesIdadereaBiomassaBiomassa total Carbono (45%)*CO2eq idadeanoshectares(t/ha-1)Toneladatoneladatonelada x 557.078,523,43165.84974.632,1273.899,6 5 < x 10103.822,457,2218.64198.388,5361.085,6 x > 10203.256,197,2316.493142.421,9522.688,2 rea de roas _923,00,7646290,71.067,0 Total _15.080 _701.629315733,11,16 x 106 *Fator de converso C CO2eq = 3,67 Discusso dos resultados Os resultados da estimativa de biomassa da Floresta Densa podem estar superestimados (Tabela 6). Isto se deve ao fato de o MCT (2006) se basear em dados dos inventrios do projeto RADAMBRASIL, conduzidos entre os anos de 1973-1984, em reas de florestas sem explorao madeireira. Por outro lado, esses inventrios desconsideram reservatrios de carbono da matria morta e lianas, o que pode equalizar as estimativas ou at superar o valor dos estoques (ver Nogueira et al, 2008).Os resultados de estimativa de biomassa dos campos naturais precisam ser vistos com cautela, j que existem poucos estudos na regio com boa resoluo para a escala do projeto e parcelas suficientes para diferenciar a biomassa e carbono. Os resultados da estimativa de estoque de carbono da vegetao secundria encontrados a partir dos dados de Salomo et al. (1998) podem ser considerados adequados para o cenrio da vegetao secundria na rea focal do PAE Lago Grande. Isto devido proximidade regional e tambm semelhana no longo perodo de ocupao entre o PAE Lago Grande e a Zona Bragantina. O incio da ocupao humana aps o descobrimento em Santarm remonta ao perodo colonial sendo que a regio do PAE Lago Grande serviu de refugio para os Cabanos quando estes fugiam da Coroa Portuguesa e, atualmente, abrigam tambm, remanescentes de comunidades quilombolas em suas proximidades (D. Pompermaier, com. pess.). Portanto, os primeiros ncleos populacionais na rea so datados daquela poca e pode ter havido uma dinmica semelhante no uso e intensidade no manejo da terra nessa regio, sendo comparvel, portanto, com a Zona Bragantina neste aspecto particular. 24 Tabela 6. Tabela resumo das estimativas de biomassa total (acima e abaixo do solo), carbono e CO2 equivalente da rea focal do PAE Lago Grande. Classes de Coberturarea por ecossistema Biomassa acima e abaixo do soloCarbonoCO2 eq% _ HectaresToneladaToneladaTonelada _ Floresta Densa45.557,014,12 x 1066,85 x 10625,14 x 10692,9 Campo Natural5.802,0415.001,0201.275,4738.681,02,8 Vegetao Secundria14.157,0700.983315.442,41.157.673,44,3 rea de roas923,0646290,71.067,00,004 Corpos d'gua6.257,0 ____ rea Focal72.696,014,85 x 1067,18 x 10627,05 x 106100 CAPITULO III Modelo de reflorestamento e SAFs e as potencialidades para o mercado de carbono Em 1992 foi estabelecida a Conveno Quadro das Naes Unidas sobre Mudana do Clima (UNFCCC) tambm chamada apenas de Conveno do Clima com o objetivo de fornecer diretrizes para os problemas climticos que afetam a sociedade humana. O Protocolo de Quioto (PQ) foi o principal instrumento criado, e impe metas de reduo de emisses de GEE aos pases industrializados (Pases inclusos no Anexo I3) de em mdia 5,2% com relao aos nveis emitidos em 1990. Contudo, somente os pases desenvolvidos tm metas de reduo obrigatrias at 2012. Como forma de incluir os demais pases, foi criado o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), que possibilita aos pases do Anexo I reduzir emisses fora de seu territrio, atravs de projetos voluntrios implantados em pases em desenvolvimento (IPCC, 2001). O MDL foi o grande responsvel para a criao dos mercados de carbono, utilizando como moeda os Certificados de Emisses Reduzidas - CERs. Atravs do MDL, desde 2004, 1663 projetos j foram registrados4no mundo todo5, dos quais 158 esto no Brasil (9.5% do total). Contudo, cerca de 2% dos projetos de MDL so de reflorestamento, com a grande maioria ocorrendo em atividades de eficincia energtica que substituem ou reduzem a emisso de GEE da queima de combustveis fsseis.Embora o Protocolo de 3 Para informao sobre o Protocolo de Quioto, acessar: http//:www.unfccc.int 4 Dentro do Ciclo de Aprovao de Projetos do MDL, o registro no Conselho Executivo (Executive Board) configura a aprovao oficial do projeto pela UNFCCC, garantindo que os crditos gerados sero vlidos no mercado internacional de carbono. 5 A lista com todos os projetos em anlise no Ciclo de Aprovao do MDL (CDM Pipeline), pode ser obtida em http://www.cd4cdm.org 25 Quioto seja importante, todas as redues de emisses que podem ser alcanadas por metas domsticas dos pases Anexo I ou pelos projetos do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo deixam fora cerca de 20 a 29% das emisses globais de GEE6 (2005, Houghton, 2005, Fearnside, 2000), exatamente aquelas oriundas do desmatamento de florestas tropicais e usos subseqentes em pases em desenvolvimento (Cenamo e Carrero, no prelo). Embora as emisses de desmatamento evitado tenham sido banidas da pauta das negociaes em 2001, quando foi assinado os Acordos de Marrakesh que definiu as regras de projetos elegveis para o MDL, o desmatamento vem ganhando fora e ser decidido como entrar na Conveno do Clima na Conferncia das Partes da UNFCCC em dezembro de 2009, que ocorrer em Copenhague. Esse mecanismo emergente foi denominado de Reduo de Emisses (de GEE) do Desmatamento e Degradao Florestal REDD. Durante a COP 13 em 2007, em Bali, ficou decidido que os projetos piloto de REDD seriam de alguma forma recompensado no mbito da Conveno. Os sinais positivos dados pela Conveno do Clima (UNFCCC) para a criao de um mecanismo de incentivos financeiros para REDD nos pases em desenvolvimento tm gerado uma boa resposta do mercado, que busca se antecipar a conveno atravs da implantao de iniciativas-piloto (Cenamo e Carrero, no prelo). Desde ento comearam a ser criados fundos para o desenvolvimento de projetos piloto de REDD, bem como o interesse de investidores privados que transacionam CERs no mercado voluntrio. Dentre os fundos para REDD nas florestas tropicais esto: O Fundo de Parceria para Carbono Florestal (Forest Carbon Partnership Facility - FCPF) do Banco Mundial, com oramento inicial de US$ 300 milhes para assistir a preparao e desenvolvimento de sistemas nacionais de REDD pases tropicais; Projeto do Prncipe Charles para Florestas Tropicais (Princes Rainforest Project): a tarefa revisar, criar e propor mecanismos prticos que reconheam o valor real dos servios fornecidos pelo ecossistema das florestas tropicais remanescentes no mundo, atravs de recursos financeiros usados para garantir e assegurar a subsistncia sustentvel dos habitantes das florestas, monitorar os ndices de desmatamento, influenciar polticas sobre mudana climtica e provocar mudanas positivas na produo de commodities diretamente relacionados ao desmatamento, como a carne bovina, a soja e o leo de palmeiras. Iniciativa da Noruega para o Clima e Floresta: o pas est disposto a despender at trs bilhes de coroas (cerca de US$ 600 milhes) anuais durante a prxima dcada. A contribuio visa promover redues efetivas e significativas nas emisses de CO2 do desmatamento em pases em desenvolvimento. Com o objetivo de proporcionar dados teis para a construo de um novo protocolo ps-2012, a Noruega desenvolve estreita cooperao com as organizaes internacionais pertinentes, inclusive os rgos da ONU, pases hospedeiros e outros pases doadores. No Brasil, R$ 1 bilho ser liberado para o Fundo Amaznia com o intuito de reduzir e combater o desmatamento. O Fundo Amaznia bem flexvel em relao abrangncia de atividades elegveis. Dentre essas atividades esto: 6 Cabe notar aqui que no iremos falar dos Estados Unidos, que ficaram fora do PQ e correspondema cerca de 30% das emisses globaisvlidas para o tratado.26 Gesto de florestas pblicas e reas protegidas; Controle, monitoramento e fiscalizao ambiental; Manejo florestal sustentvel; Atividades econmicas desenvolvidas a partir do uso sustentvel da floresta; Zoneamento Ecolgico Econmico, ordenamento territorial e regularizao fundiria; Conservao e uso sustentvel da biodiversidade; e Recuperao de reas desmatadas. A rea do projeto no PAE Lago Grande tem grande potencial de receber recursos para a implantao de sistemas agroflorestais, pois rene todos os condicionantes exigidos pelo Fundo Amaznia. O projeto para rea focal se encaixa em pelo menos cinco dos seis critrios estabelecidos como prioritrios pelo Fundo Amaznia para a aplicao de recursos e pelo menos em 10 dos 12 condicionantes mnimos exigidos dos projetos candidatos aos recursos destinados. As metodologias de estimativa e monitoramento de estoques de carbono pelo Fundo Amaznia so muito mais flexveis que os requisitos que vm sendo criados dentro do mercado da UNFCCC e outros padres de certificao como o Voluntary Carbon Standards- VCS, tornando-o projeto de implantao de SAFs no PAE Lago Grande elegvel para projetos dentro do mbito dos mercados de carbono. Os custos transacionais para o desenvolvimento de projetos de REDD dentro do VCS ou com a certificao do CCBA, por exemplo, so muito altos para um projeto de SAF no PAE Lago Grande. Assim, o Fundo Amaznia se caracteriza como a opo mais vivel para o projeto aqui proposto. Outra fonte potencial de recursos para a implantao de SAFs dentro do mbito dos mercados de carbono so as empresas privadas. Os projetos de pagamento por servios ambientais esto ganhando cada vez mais espao dentro dos mecanismos financeiros de mercado, especialmente voluntrios, que tm como foco principal captar recursos financeiros e canaliz-los para regies que sofrem intensa presso de atividades que degradam os recursos naturais renovveis. Dentre os exemplos de projetos deste tipo pode-se citar o Projeto de RED da RDS do Juma (IDESAM et al., 2008). Esse projeto foi desenvolvido atravs de um acordo entre a Rede Internacional de Hotis Marriot e a Fundao Amazonas Sustentvel- FAS. A FAS detm o direito de comercializar os servios ambientais das florestas inseridas dentro de Unidades de Conservao Estaduais do Amazonas. Assim, a rede de hotis comprar todos os crditos de carbono obtidos com RED na RDS do Juma para compensar as emisses de CO2 de seus clientes. Vale ressaltar que os clientes voluntariamente decidem se querem contribuir ou no. Esse mesmo modelo voluntrio de contribuio de clientes de grandes ou mdias corporaes pode ser um caminho com potencial para canalizar fundos para a conservao e restaurao florestal, bem como para a reduo do desmatamento. As empresas esto interessadas em oferecer produtos que agreguem maior responsabilidade scio-ambiental, e projetos de Sistemas Agroflorestais incorporam ambos os benefcios. Nesse produto tambm pode ser includo o pagamento direto aos produtores de sistemas agroflorestais como forma de valorao dos servios ambientais que os SAFs fornecem em relao paisagem degradada que ocuparia a rea sem o projeto. As reas degradadas na rea focal tm grande potencial para serem utilizadas em reflorestamentos e em SAFs e serem elegveis para projetos geradores de CERs. Os benefcios advindos da implantao desses sistemas para o meio ambiente e para as comunidades humanas residentes na rea seriam evidentes. Projetos de reflorestamento e SAF`s so elegveis dentro do RED desde que comprovem alguma adicionalidade, ou seja, 27 tem que comprovar algum benefcio percebido pelo projeto alm daquele que a regenerao faz por si s de forma natural. Dessa maneira, reas onde a vegetao secundria j se encontra em estgio avanado de regenerao ou reas no degradadas, no seriam elegveis, visto que o carbono acumulado nas florestas secundrias da Amaznia supera o acumulado em SAFs. Tambm, os recursos financeiros auferidos pelo projeto no podem servir para financiar outros projetos ou aes causadoras de emisses de carbono em outro local, fora da rea de influncia do projeto eleito (MMA, 2008). Polticas de crdito para SAFs De acordo com Couto (2004) as razes para no utilizao das fontes de crdito pelos produtores familiares na Amaznia implantarem e manterem sistemas agroflorestais residem, fundamentalmente, nos agentes intermedirios das polticas de fomento. Por ocasio da tomada de crdito, no seriam os produtores que definiriam quais investimentos pretenderiam realizar, nem o gestor da poltica de pblica, mas sim o agente financeiro o qual faz as opes que julga mais lucrativas e seguras e que possuam um padro tecnolgico que permita a responsabilizao do tomador de emprstimo na aplicao dos insumos e cumprimento de itinerrio tcnico convencionados pelos centros de pesquisa oficiais. Dessas injunes derivariam pelo menos dois problemas. Primeiro, os projetos financiados seriam elaborados (em sua maioria) sem a participao dos produtores e de forma padronizada o que conseqentemente causaria distores tcnicas e econmicas em sua implantao e funcionalidade. Esses projetos geralmente no condizem com (ou no conseguem abranger) a experinciaou a disponibilidade de mo de obra que as famlias produtoras possuem, com os recursos naturais existentes, com os canais de comercializao e infra-estrutura disponveis e com o calendrio agrcola regional. Segundo, o agente impe o crdito vinculado, onde grande parte dos recursos financeiros disponibilizado no primeiro ano do projeto, condicionado a aquisio de determinados insumos e equipamentos ou animais, muita vezes com fornecedores definidos, a compra em geral orientada pelo tcnico agrcola, cujo pagamento s pode ser feito pelo banco diretamente ao fornecedor, contra a apresentao da respectiva nota fiscal. O dficit na gerao do conhecimento, orientada por uma abordagem dos sistemas agroflorestais de maneira integrada aos vrios componentes do sistema de produo, aos fatores sociais, ao meio fsico e seu entorno, de sorte a corresponder lgica da produo familiar, , sem dvida, um dos principais gargalos para a concepo e aceitao de projetos adequados realidade scio-econmica-ambiental das famlias postulantes s linhas de crdito disponveis. Tambm a inabilidade de extensionistas em conceber, junto com os agricultores, projetos confiveis que incorporem o saber local, tem sido motivo de precauo por parte dos pretendentes ao crdito e, muitas vezes, de desistncia. Por outro lado SabogolAlmeida (2004) chamaram a ateno de que importante selecionar bem os agricultores que estejam realmente interessados na atividade de implantao de projetos de recuperao de reas degradadas para que esses tenham maiores chances de sucesso. Ainda segundo esses autores, o fato de o recurso financeiro poder ser a fundo perdido atrai muitos agricultores, mas h a necessidade de dedicao como qualquer outra atividade. Os autores frisaram ainda que os coordenadores devem ter a sensibilidade de selecionar aqueles agricultores que se comprometam com os objetivos do projeto. O mesmo pode-se dizer dos projetos de reflorestamento e de SAFs no contexto do Fundo Amaznia. 28 Estimativas de estoque de carbono Estimativas do contedo de carbono presente na vegetao so realizadas atravs de anlises destrutivas de amostras representativas de uma determinada formao florestal observando sua idade, histrico de uso anterior, solo, clima, etc (mtodo direto). A partir dos resultados dessas amostras so derivados parmetros alomtricos de caractersticas dos indivduos amostrados, como Dimetro a Altura do Peito (DAP) e altura (H), por exemplo. Em posse dos dados pode se fazer extrapolaes para o restante da populao amostrada ou para outras populaes semelhantes por meio de modelos ou equaes matemticas (mtodo indireto) utilizando parmetros ajustados (Vieira et al., 2008). De forma semelhante, porem com parmetros prprios, so feitas estimativas de carbono estocado na serapilheira (camada de galhos, folhas, frutos, etc. acima do solo da floresta), nas razes abaixo do solo e tambm do carbono armazenado no prprio solo (humus). O somatrio de todos esses sumidouros representam o estoque de carbono do sistema e podem ser expressos em toneladas por hectare ou outras unidades conforme a convenincia. Consideraes iniciais Sistemas Agroflorestais (SAFs) so importantes como uma estratgia para o seqestro de carbono, com potencial estocagem nas mltiplas espcies e no solo. SAFs tambm so aplicveis em terras degradadas e podem aumentar a biodiversidade animal e vegetal ao passo que restauram as caracterscas do solo e da vegetal florestal. O potencial parece ser substancial, mas ainda parece no ter sido reconhecido, ao menos no explorado. O delineamento e manejo nas prticas agroflorestais pode tornar SAFs sumidouros de carbono efetivos. Como em outros usos da terra, a extenso de C seqestrado depender da quantia de carbono na biomassa viva, no carbono que permanece no solo e no carbono seqestrado nos produtos madeireiros. Alm disso, SAFs podem ter um efeito indireto no balano de carbono, pois contribuem para diminuir a presso sobre florestas naturais ao passo que oferecem madeira, frutos, fibras e tambm produtos agrcolas. Outro efeito indireto de agroflorestas a adoo de tecnologias para a conservao do solo, que pode aumentar o estoque de carbono tanto nos solos quanto nas rvores (Montagnini e Nair, 2004). A premissa bsica para o potencial de seqestro de carbono envolve os processos ecolgicos e biolgicos da fotossntese, respirao, e decomposio (Nair e Nair 2003). Em sntese, o carbono seqestrado a diferena entre o carbono ganho pela fotossntese e o carbono liberado pela respirao de todos os componentes do ecossistema. O ganho ou perda de carbono no sistema representado pela produtividade primria lquida (PPL) do ecossistema (Aber e Melillo, 1991). Assim prticas que aumentam a PPL do ecossistema e/ou retornam uma grande poro de material para o solo tem o potencial de aumento o estoque de carbono tambm no solo. Contudo, a literatura para seqestro de carbono em SAFs incipiente se comparada quela para plantaes de rvores, ainda mais para a regio amaznica. Considerando o potencial de seqestro de carbono tanto de plantios florestais como de SAFs so baseados principalmente no componente arbreo lenhoso, interessante considerar algumas informaes obtidas com plantios florestais para relacion-los com SAFs. A variao grande quando se considera o potencial de seqestro de C das diferentes espcies de rvores utilizadas em plantios florestais, regies e prticas de manejo.A variao nas condies ambientais pode afetar o potencial de seqestro de C dentro de uma rea geogrfica 29 relativamente pequena. Alm disso, prticas de manejo como a adio de fertilizantes podem aumentar facilmente o seqestro de carbono de espcies como o eucalipto (Koskela et al. 2000). Contudo, o uso de espcies nativas para o reflorestamento mnimo, e espcies de rvores exticas predominam tanto em plantios industriais como rurais ao redor do globo (Evans, 1999). A adoo de SAFs se restringe a pequenos ou mdios produtores onde o reflorestamento prtica em pores de terras degradadas, freqentemente utilizando espcies em reposta a incentivos governamentais (Piotto et al., 2003). A eficincia relativa de espcies nativas e exticas em termos de potencial de acmulo de carbono tem sido investigada em alguns estudos. Aqui, vamos nos focar em estudos voltados regio neotropical, especificamente a Amaznia. Estudos demonstram que o sistemas de consrcio entre o cacaueiro (Theobroma cacao) e seringueira (Hevea brasiliensis) tem boa produo e estocam quantias considerveis de carbono. Sendo considerados com potencial de aprovao pelo Mecanismo de Desenvolvimento Limpo MDL, no mbito da Conveno Quadro das Naes Unidas sobre Mudanas Climticas sob o protocolo de Kioto (Cotta et al, 2006) Crescimento e produo florestal e de SAFs Os SAFs apresentam mudanas contnuas na composio de espcies e heterogeneidade de fatores ambientais e genticos envolvidos em cada sistema. Essas caractersticas fazem com que informaes sobre a produtividade de cada sistema e a decomposio dos valores e tratos culturais envolvidos no possam ser acessados com preciso. Procurou-se buscar os exemplos mais sucedidos economicamente, sendo tambm os sistemas que evitaram interaes negativas entre as espcies, contribuindo para a produtividade geral do sistema. Segundo Bernardes et al. (2009) o ambiente edafo-climtico, a escolha das espcies e sua distribuio espacial e temporal podem minimizar a competio dentro de um SAFs. Podem, inclusive, maximizar a complementaridade entre as espcies no uso dos recursos pelas plantas do sistema. Existem espcies nativas que de acordo com a literatura pesquisada apresentam grande potencial para produo de madeira (Clay et al, 2000). Dentre elas, algumas que foram plantadas em monocultivos geralmente houve uma reduo de quantidade de nutrientes no solo, enquanto que em plantios mistos (4 espcies) Montagnini e Porras (1998) verificaram que a qualidade do solo pode aumentar, e na maioria dos casos as taxas de crescimento so menores em plantios puros que em mistos. O consrcio com espcies florestais pode ser feito com a combinao algumas espcies florestais, desde que no mnimo uma espcie fixe nitrognio (leguminosa), uma seja crescimento rpido, e outra de crescimento lento (Montagnini e Porras, op. Cit.). Sugere-se ento realizar alguns plantios consorciados com espcies nativas, como forma de avaliar a sua viabilidade econmica, j que esses plantios consorciados agregariam maior diversidade biolgica, e assim fornecendo ndices maiores para o pagamento por servios ambientais. O clculo do carbono seqestrado para os SAFs no pode ser obtido de forma direta, e buscou-se valores na literatura que mais se adquam s necessidades da regio do projeto. Baseado em taxas de crescimento e produo de madeira, e assumindo que a razo do contedo de C no fuste das rvores 1:2 (0,5), a mdia de armazenamento de carbono em prticas agroflorestais tem sido estimada em 50 t C por ha em regies midas (Schroeder, 1994). Atravs do estabelecimento de sistemas baseados em rvores em pastagens 30 degradadas, culturas anuais e campinas, o tempo mdio de estoques de C na vegetao aumentaria tanto quanto 50 t C por ha em 20 anos (ICRAF-International Centre for Research in Agroforestry). Uma projeo de estoques de carbono em SAFs para pequenos proprietrios nos trpicos indicou um seqestro de carbono entre 1,5 a 3,5 t C ha.ano-1, e triplicando os estoques de C num perodo de 20 anos, para 70 t C por ha (Watson et al., 2000). Kirby e Potvin (2007) estudando a variao no armazenamento de carbono entre espcies de rvores comparando sistemas agroflorestais com monocultivo, concluram que expandindo os SAFs para dentro de reas de pastagens pode seqestrar quantidades significantes de carbono, ao mesmo tempo em que prove maior biodiversidade ao sistema. Isso teria mais vantagem do que fazer um sistema de reflorestamento com uma s espcie, simplesmente. Modelo de Sistema Agroflorestal sugerido Pressupostos do modelo O modelo sugerido deve ser realizado em reas degradadas onde a regenerao secundria no atingiria o seu desenvolvimento habitual. O SAF poderia ser tambm implantado em reas de regenerao secundria que foram abandonadas no ano anterior ou que ainda existe a produo de mandioca ou macaxeira. Dessa maneira, economiza-se mo de obra e aproveita-se a rea j limpa ao mesmo tempo em que se utiliza uma rea que tem pequena quantidade de carbono estocada em sua vegetao. Para o SAF proposto ser elegvel para obter receitas de CERs de um projeto de reflorestamento dentro do MDL ou de mecanismos voluntrios de carbono, ele no poderia ser implantado em reas em regenerao secundria em pleno desenvolvimento ou j em estgio avanado, j que essas apresentam quantidades de carbono estocado maiores que os SAFs atingiriam (Schroth et al, 2002). Tambm, reas em regenerao secundria que foram intensamente utilizadas e queimadas podem estar sofrendo um efeito de tamponamento. Existem reas que aps 21 anos de abandonadas ainda apresentam manchas sem rvores (Wandelli, 2009). Deve-se realizar uma identificao das espcies e da estrutura da capoeira a ser reflorestada para se utilizar da melhor forma dos processos naturais, ou para romper efeitos de tamponamento no processo sucessional. Um exemplo de tamponamento pode ser quando espcies de coa-coa (Solanum sp.), borreria (Borreria verticilata e B. allata) e Rolandra fruticosa impedem o desenvolvimento de arbreas pioneiras (Wandelli, 2009). Por outro lado, o modelo de SAFs pode ser atribudo esquemas de incentivo atravs de pagamento por servios ambientais aos comunitrios que aderirem aos SAFs. Vale ressaltar que o SAF escolhido no compreende espcies semi-anuais ou semi-perenes como a pimenta-do-reino ou o maracuj. Alm do cacau (Theobroma cacao) o SAF proposto compreende espcies arbreas e palmeiras arborescentes que produzem produtos madeireiros e no-madeireiros como sementes, frutos, leos, fibras e palhas (Tabela 7) que alm de aumentar a segurana alimentar das famlias, representa menor risco ao produtor com uma produo diversificada que no pode ser afetada totalmente por variao de preo nos mercados nem por pragas ou doenas especficas a cada espcie. Ao mesmo tempo, o modelo de SAF aqui proposto demanda menor mo de obra se comparado a SAFs compostos com culturas como guaran, caf, pimenta-do-reino e maracuj. O anexo I apresenta as caractersticas das espcies, usos e informaes silviculturais encontradas na literatura. Tabela 7. Espcies de rvores e palmeiras indicadas para o uso em sistemas agroflorestais no PAE Lago Grande. Palmeiras apresentam um alto contedo de lignina em sua liteira, a razo C:N carbono;nitrognio) bastante alta, o que acarreta em taxas lentas de decomposio. Ademais, o contedo de nitrognio e fsforo nas folhas extremamente baixo (Sierra, 2009). A adio de grande quantidade de palmeiras em SAFs parece no ser o mais indicado para o rpido aumento da biomassa do sistema. Contudo, palmeiras apresentam caractersticas relevantes quando consideramos a utilizao de seus frutos e de suas folhas, para alimentao e para matria primas utilizadas pelas comunidades tradicionais locais. O modelo sugerido compreende 4 espcies arbreas de espcies nativas mais o cacaueiro e 4 espcies de palmeiras arborescentes. Para facilitar o entendimento e visualizar as diferentes contribuies de cada componente, sero apresentados os 3 componentes separadamente, e depois o modelo de SAF completo. Espcies lenhosas nativas O clculo do crescimento de biomassa e respectivo estoque de carbono seqestrado atravs do SAF utilizou dados de crescimento de espcies florestais nativas de trabalhos sobre o tema que utilizaram o mesmo tipo de solo (Latossolo), realizados em regies de precipitao mdia anual semelhante. Dentre eles, cabe citar trabalhos realizados na Costa- Rica, com plantio misto de espcies nativas (Montagnini et al 1995; Montagnini e Porras, 1998; Piotto et al., 2003; Redondo-Brenes e Montagnini, 2006) que apresentam dados de biomassa de plantaes de at 13 anos. Esses plantios mistos apresentaram crescimento e produtividade similares ou maiores que as mesmas espcies cultivadas em plantaes puras (Montagnini e Porras, 1998; Piotto et al, 2003, Petit e Montagnini, 2004), contribuindo tambm para a recuperao da fertilidade do solo em pastagens abandonadas (Montagnini e Porras, 1998).Para modelar o crescimento em biomassa das espcies florestais do sistema foi considerado o trabalho de Souza et al (2008), que analisa o crescimento de 9 espcies florestais nativas regio amaznica. Dessas nove espcies, 6 sero utilizadas no modelo de SAF para o PAE Lago Grande. As espcies avaliadas no experimento foram selecionadas com base na rapidez de crescimento, adequao condio de pleno sol e potencialidade para uso como fonte de matria-prima. Dentre elas esto: andiroba (Carapa guianensis); castanha-do-Brasil (Bertholettia excelsa); copaba (Copaifera multijuga); cumaru (Dipteryx odorata); jatob (Hymenaea courbaril) e taxi-branco (Sclerolobium paniculatum). Tambm, muitas das espcies que sero utilizadas tm potencial de crescimento em solos degradados (Brienza-Junior et al., 1985; Lorenzi, 1992; Carvalho, 1996; Costa et al., 1999; Clay et al., 2000; Santos, 2000; Lorenzi, 2002; Brienza-Jnior, 2003; Cordero e Boshier, 2003; Sampaio et al., 2005; Souza et al. 2008). O modelo do componente lenhoso do SAF composto por 4 espcies florestais foi determinado considerando as taxas de crescimento de cada espcie, as suas formas, valores econmicos e de uso, e o potencial de recuperar o solo. Esse modelo foi baseado em modelo utilizado por Montagnini et al. (1995). Para o SAF aqui proposto, um grupo de 4 espcies ser plantado em fileiras de 6 X 6 metros, sendo que ter que ser composto de no mnimo uma espcie fixadora de nitrognio (leguminosa), uma espcie de crescimento lento, e uma espcie de crescimento rpido. Esse modelo deve utilizar um desenho sistemtico que maximiza as interaes entre as espcies. rvores individuais devero ser plantadas alternadamente em cada fileira. A ordem da sequncia das espcies ser invertida na fileira subseqente, conforme o exemplo a seguir: 33 1324 2413 1324 2413 Aadiodeespciesleguminosasextremamentenecessria.Estasespciestmgrande capacidadedefixaodenitrognioedeciclarofosfatodosolo,vistoquepossuem associaocombactriasfixadorasdenitrognioedefosfato.Oplantiodeveserfeitono incio do perodo das chuvas. Para acelerar o processo de fixao, deve-se incorporar cepas de bactriasfixadorasatravsdatransposiodepequenasquantidadesdesolodereasde florestasparaasreasaseremreflorestadas.OIngaedulisemexperimentonaCostaRica reciclou27kgdefsforoplantadasemfaixasde4metrosdelargura(CorderoeBoshier, 2003) e a planta nativa que melhor respondeu semeadura direta em experimento (Brienza-Jnior,2003).Emboranoindispensvel,recomenda-seousodefertilizantesuperfosfato triplo (cerca de 50 gramas)sendo utilizado diretamentena cova, apenas no plantio inicial. A adubaoverdecomcoberturadosoloporgalhosefolhasextremamenterecomendada.A adubaoverdedemonstrouserextremamenteefetivaemplantiosdecastanha-do-par (BertholletiaexcelsaH.B.)plantadaemsolosdegradadosnaAmazniacentral,aumentando as taxas fotossintticas em 177% e as taxas de crescimento (dimetro e altura) em 12 vezes do que quando no foi utilizada a adubao verde (Ferreira, 2009). Palmeiras arborescentes As espcies de palmeiras variam grandemente em densidade, como tambm dentro da mesma espcie pode-se encontrar dentro de uma mesma espcie, variaes entre 0,25 e 1 t/m3 (Brown, 1997). Tambm, a biomassa das folhas devem ser includas, sendo que elas variam entre 10% e 65% da quantidade da biomassa do caule (Ginoga et al, 1999). Entretanto, esse fato minimizado quando se utiliza apenas palmeiras arborescentes, como o caso do modelo aqui adotado. Em estudo de uma plantao em monocultura de palmeiras de 25 anos de idade, Lubis et al. (1994) encontrou o valor de 250 m3/ha. Em outro estudo, Ginoga e colaboradores (1999) encontraram um valor de carbono de aproximadamente 60 tC aos 25 anos de idade, considerando os mtodos tradicionais utilizados de corte e queima que a antecederam. Entretanto, estimativas de crescimento de biomassa e carbono de palmeiras dentro de sistemas agroflorestais so totalmente inexistentes, tornando impossvel considerar o incremento de biomassa de componente separadamente. O modelo de plantio para as palmeiras segue a mesma distribuio que o modelo das espcies arbreas apresentados anteriormente, utilizando tambm uma combinao de 4 espcies por hectare com o mesmo espaamento de 6 X 6 metros, mas com cada fileira sendo ocupada por apenas uma espcie. Dessa maneira, rvores e palmeiras se intercalariam, e restaria um espao entre colunas a cada duas fileiras, onde seria plantado o cacaueiro, conforme o esquema abaixo: 34 A1P1A3P1A2P1A4P1 P2CP2CP2CP2C A2P3A4P3A1P3A4P3 P4CP4CP4CP4C Onde A1-A4 so rvores de 4 espcies diferentes, conforme citado acima. P1-P4 so palmeiras de 4 espcies diferentes, e C o cacaueiro. Comessearranjoentreecombinaodeespcies,emcadahectareseroplantadas278 rvores lenhosas nativas, 555 Palmeiras e 278 rvores de cacau, totalizando 1111 plantas. AliteraturasobrecrescimentodeSAFsescassa,eosestudosqueexistemnofornecem informaessuficientessobreoscomponentesdosistemaeostratosculturaiseinsumos envolvidos.AlgunstrabalhosdeplantiosdervoresnativasdaAmazniademonstram viabilidade no crescimento de muitas das espcies sugeridas para nesse estudo. Cabe ressaltar o plantio apresentado em Schroth et al, (2002), onde SAFs de multi-estratos apresentam taxas de crescimento relativamente maiores que monoculturas e combinam um sistema de cicl