relato de pesquisa z csv et al - …revistapsicopedagogia.com.br/exportar-pdf/421/v22n69a09.pdf ·...

15
Rev. Psicopedagogia 2005; 22(69): 254-68 254 SOBRE OBRE OBRE OBRE OBRE A POS POS POS POS POSSIBILID SIBILID SIBILID SIBILID SIBILIDADE ADE ADE ADE ADE DO DO DO DO DO JOGO JOGO JOGO JOGO JOGO COMO COMO COMO COMO COMO MEDIADOR MEDIADOR MEDIADOR MEDIADOR MEDIADOR DA APRENDIZA APRENDIZA APRENDIZA APRENDIZA APRENDIZAGEM GEM GEM GEM GEM DO DO DO DO DO ADUL ADUL ADUL ADUL ADULTO TO TO TO TO Carolina Sophia Vila Zambotto – Psicóloga formada pela Universidade São Marcos. Marisa Irene Siqueira Castanho – Docente do curso de Psicologia da Universidade São Marcos; Orientadora da Pesquisa de Iniciação Científica. RELATO DE PESQUISA Correspondência Universidade São Marcos, Curso de Psicologia Rua Clóvis Bueno de Azevedo, 176 – Ipiranga – São Paulo – SP – Brasil – 04266-040 – Tel. (11) 3491-0500 E-mail: [email protected] / [email protected] Carolina Sophia Vila Zambotto; Marisa Irene Siqueira Castanho RESUMO – A pesquisa se propõe a pensar sobre a possibilidade do uso do jogo como mediador da aprendizagem do adulto considerando as novas propostas de educação continuada e da educação para o terceiro milênio, especificamente no que concerne à aprendizagem de adultos. Baseia-se na psicologia sócio-histórica e apóia-se em teóricos que pensaram o jogo e o desenvolvimento humano em uma perspectiva histórica (Vygotsky) e dialética (Wallon). Trata-se de pesquisa bibliográfica que utiliza como estratégia metodológica um levantamento bibliográfico dos artigos, cujos títulos fazem referência às propostas de educação e processos de ensino-aprendizagem do adulto, com foco na educação para o terceiro milênio; às expectativas em relação ao homem dentro destas propostas e ao jogo como recurso para o desenvolvimento esperado. Selecionaram-se as publicações a partir de 1990 dos periódicos com conceito nacional A na última avaliação da ANPED e ANPEPP. A análise do conteúdo do material coletado é o recurso utilizado na busca de indicadores sobre a importância do jogo como mediador da aprendizagem do adulto. Os resultados mostram que a bibliografia sobre os jogos está desvinculada à da educação dos adultos, indicando que as relações esperadas ainda estão por ser construídas. UNITERMOS: Jogos e brinquedos. Educação continuada. Adulto.

Upload: phungliem

Post on 01-Jan-2019

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

ZAMBOTTO CSV ET AL.

Rev. Psicopedagogia 2005; 22(69): 254-68

254

SSSSSOBREOBREOBREOBREOBRE AAAAA POSPOSPOSPOSPOSSIBILIDSIBILIDSIBILIDSIBILIDSIBILIDADEADEADEADEADE DODODODODO JOGOJOGOJOGOJOGOJOGO COMOCOMOCOMOCOMOCOMOMEDIADORMEDIADORMEDIADORMEDIADORMEDIADOR DDDDDAAAAA APRENDIZAAPRENDIZAAPRENDIZAAPRENDIZAAPRENDIZAGEMGEMGEMGEMGEM DODODODODO ADULADULADULADULADULTOTOTOTOTO

Carolina Sophia Vila Zambotto – Psicóloga formadapela Universidade São Marcos.Marisa Irene Siqueira Castanho – Docente do curso dePsicologia da Universidade São Marcos; Orientadorada Pesquisa de Iniciação Científica.

RELATO DE PESQUISA

CorrespondênciaUniversidade São Marcos, Curso de PsicologiaRua Clóvis Bueno de Azevedo, 176 – Ipiranga – SãoPaulo – SP – Brasil – 04266-040 – Tel. (11) 3491-0500E-mail: [email protected] / [email protected]

Carolina Sophia Vila Zambotto; Marisa Irene Siqueira Castanho

RESUMO – A pesquisa se propõe a pensar sobre a possibilidade do usodo jogo como mediador da aprendizagem do adulto considerando as novaspropostas de educação continuada e da educação para o terceiro milênio,especificamente no que concerne à aprendizagem de adultos. Baseia-se napsicologia sócio-histórica e apóia-se em teóricos que pensaram o jogo e odesenvolvimento humano em uma perspectiva histórica (Vygotsky) e dialética(Wallon). Trata-se de pesquisa bibliográfica que utiliza como estratégiametodológica um levantamento bibliográfico dos artigos, cujos títulos fazemreferência às propostas de educação e processos de ensino-aprendizagemdo adulto, com foco na educação para o terceiro milênio; às expectativas emrelação ao homem dentro destas propostas e ao jogo como recurso para odesenvolvimento esperado. Selecionaram-se as publicações a partir de 1990dos periódicos com conceito nacional A na última avaliação da ANPED eANPEPP. A análise do conteúdo do material coletado é o recurso utilizado nabusca de indicadores sobre a importância do jogo como mediador daaprendizagem do adulto. Os resultados mostram que a bibliografia sobre osjogos está desvinculada à da educação dos adultos, indicando que as relaçõesesperadas ainda estão por ser construídas.

UNITERMOS: Jogos e brinquedos. Educação continuada. Adulto.

JOGO E APRENDIZAGEM DO ADULTO

Rev. Psicopedagogia 2005; 22(69): 254-68

255

INTRODUÇÃOA questão central neste trabalho é pensar sobre

os processos de aprendizagem do homem adulto,face à complexidade e ao caráter de transi-toriedade que se imprime no cenário atual cujodesenvolvimento tecnológico e científico aceleraprocessos de produção, de comunicação e deaplicação dos conhecimentos em um ritmovertiginoso.

Tais demandas de desenvolvimento aceleradoda tecnologia e do conhecimento se agregam aosprincípios de uma sociedade neoliberal baseadano livre-mercado e na qual um mínimo depolíticas sociais e de intervenção do Estado,aliados a uma privatização generalizada daeconomia e dos bens de consumo, geram conco-rrência e competitividade entre as organizaçõespor um espaço no mercado. Como conseqüência,exige-se dos profissionais no mundo atual, quesejam homens autônomos, responsáveis,dinâmicos e abertos às transformações darealidade ao seu redor. Ou seja, existem múltiplasemergências e desafios ao homem que o colocam“diante de sua antiga necessidade de integrar, deconhecer, de organizar o que se encontra disperso,bem como de elucidar dúvidas e inquietações queadvêm de seu estar no mundo e da perplexidadediante dele”1.

Com o desenvolvimento cada vez mais velozda indústria e das tecnologias, e a ampla trocade informações proporcionada, principalmente,pela popularização da Internet, o mundo se vêdiante de uma nova realidade, mais complexado que a da ciência paradigmática vigente atéentão. Valoriza-se o conjunto de fatores e suasinter-relações, que devem ser necessariamentecompreendidos dentro de um contexto. Não hámais espaço para o pensamento estático efragmentado. A complexidade da realidadeatual, em que tudo é incerto, transitório eimprevisto, requer um homem que seja versátil,atento e esteja aberto às mudanças que acontecemao seu redor. É preciso ir além das leis da ordem

e do equilíbrio em direção a um diálogo entreopostos. Deste modo, acontece uma ruptura como pensamento moderno em que a diversidadesurge como o novo paradigma da pós-moder-nidade, que promove uma relação dialética entreoposições.

Nesse contexto, a educação aparece como umapossibilidade de luta, uma reivindicação para queo homem possa fazer parte desse movimento detransformação. E a educação de adultos assomacomo uma constante atualização e flexibilizaçãodos conhecimentos e das habilidades frente àproliferação de sentidos, o que exige cada vezmais da capacidade de assimilação psicológicado ser humano.

A educação é uma prática social e concreta,uma vez que ocorre em uma determinadasociedade e, portanto, se desdobra em um tempohistórico2. Deste modo, diante da nova realidade,as propostas educacionais devem procurarpromover um diálogo entre o indivíduo, a socie-dade e a natureza, buscando a integraçãoconstante do sujeito ao seu meio, concebendo-ocomo um indivíduo ativo na construção de seupróprio conhecimento.

No que diz respeito à educação de adultos,uma consulta aos relatórios internacionais daUNESCO3 possibilita situar o que seria aeducação de adultos: um conceito amplo, queenvolve desde a alfabetização até a integração eautonomia da mulher, passando pela desigual-dade e igualdade entre os diferentes gruposétnicos, a preparação para o trabalho, o ensinouniversitário e outros.

A leitura dos textos das conferências permitiuconstatar o que historicamente está presente emcada um dos momentos em que as conferênciasocorreram, como por exemplo: a preocupaçãocom uma educação libertadora das populaçõesdesfavorecidas, nas décadas de 60 e 70 do séculoXX4; um desvio do discurso para o desenvol-vimento de processos cognitivos próprios doadulto, com ênfase na necessidade de se difundir

ZAMBOTTO CSV ET AL.

Rev. Psicopedagogia 2005; 22(69): 254-68

256

os experimentos alcançados na educação deadultos que definem um modelo específico(andragógico) e diferente do utilizado naeducação de crianças e adolescentes (peda-gógico)5; uma ênfase nas capacidades ecompetências próprias do ideário pedagógicocontemporâneo manifestado no relatórioDelors apresentado à UNESCO em 19966; porúltimo, o destaque ao desenvolvimento de compe-tências técnicas e profissionais para tornar ossujeitos capazes de assumir responsabilidadesfrente a um mundo desafiador7.

Paradoxalmente, foi possível verificar que,embora a preocupação com a educação de adultosesteja presente desde 1949 na UNESCO, osrelatórios das reuniões internacionais pouco dãoconta das prerrogativas e da possibilidade deviabilização dessa educação. No último relatórioproduzido a partir de uma reunião8 para sediscutir o que já foi realizado em relação àspropostas feitas na conferência de 1997, existiuuma dificuldade em se definir aprendizagem deadultos, uma vez que ela está intimamente ligadacom o nível de desenvolvimento obtido por cadapaís, ou seja: se os países industrializados estãopreocupados com a operacionalização daaprendizagem ao longo da vida e em aperfeiçoara chamada ‘Sociedade do Conhecimento’, tendocomo prioridade o uso da informação e datecnologia e o treinamento da sua força detrabalho, os países em desenvolvimento aindaestão focados em erradicar o analfabetismo,deixando de lado o paradigma da aprendizagempermanente. O relatório afirma que falta umadocumentação sistemática (qualitativa equantitativa) acerca de experiências referentes àaprendizagem de adultos e há poucos indíciosde como as descobertas científicas influenciam aprática e as políticas a respeito do assunto, econclui: “ainda que uma nova visão a respeitoda aprendizagem de adultos esteja de fatosurgindo, o respectivo discurso e ação ainda sãoincongruentes”9.

No contexto brasileiro, ao examinar a legis-lação sobre a educação de adultos, encontra-sea mesma dificuldade em se definir o que é aeducação e a aprendizagem de adultos. Oartigo 37 da Lei de Diretrizes e Bases daEducação Nacional, Lei 9394/96 estabelece quea educação de jovens e adultos “será destinadaaos jovens e aos adultos que não tiveramacesso ou continuidade de estudos no ensinofundamental e médio na idade própria”10. Nãohá, contudo, uma especificação sobre como sedaria tal ensino.

No que diz respeito à educação profissional,diz a lei, no artigo 39: “a educação profissional,integrada às diferentes formas de educação, aotrabalho, à ciência e à tecnologia, conduz aopermanente desenvolvimento de aptidões paraa vida produtiva” e, em parágrafo único destemesmo artigo, lê-se que “o aluno matriculadoou egresso do ensino fundamental, médio esuperior, bem como o trabalhador em geral, jovemou adulto, contará com a possibilidade de acessoà educação profissional”11. Não há como saber,no entanto, o que se define por ‘trabalhador emgeral’. Tampouco se especifica em que nível eem que tipo de ensino se daria a educaçãoprofissional.

Dentre as várias tentativas de promover aeducação de jovens e adultos em nossa realidade,destacam-se o CEDI (Centro Ecumênico deDocumentação e Informação, atualmente AçãoEducativa) e as propostas educacionais de PauloFreire, visando a alfabetização, e as iniciativasdo SESI e do SENAC, voltadas à educaçãoprofissionalizante e à preparação do jovem e doadulto para a inserção no mundo do trabalho.

Desse breve levantamento apreende-se comoa educação e a aprendizagem de adultos aindaestão fragmentadas, não havendo documentaçãoa respeito, nem programas que considerem oadulto em seu aspecto global, sem dividi-lo emcategorias e especificações. O presente trabalhotenta encontrar um conhecimento de base,

JOGO E APRENDIZAGEM DO ADULTO

Rev. Psicopedagogia 2005; 22(69): 254-68

257

circunscrever um ponto anterior às especifi-cidades de cada uma das áreas da educação deadultos, buscando integrá-las.

A abordagem histórico-social e a concepçãodo homem como um organismo ativo no mundo,duplamente construído como processo e comoproduto, constituem o suporte desta pesquisa.Segundo esta perspectiva, o homem se constituipor meio de interações complexas mediadassimbolicamente, por excelência, pelo uso deinstrumentos e pela linguagem. O processo deaprendizagem é visto como uma modalidade deação que acompanha de maneira contínua toda avida do indivíduo e está inserido em um processomais amplo, o da Educação. A aprendizagempressupõe a relação de um indivíduo com o outro,que possui um conhecimento e possibilita suatransmissão através de signos, isto é, de repre-sentações que substituem os objetos, eventos ousituações do mundo real e permitem ao homemcriar, imaginar, libertar-se do espaço e tempopresentes.

No âmbito da psicologia, para a sustentaçãoteórica da pesquisa recorreu-se a autores quetrouxessem uma visão de desenvolvimento e deaprendizagem compatível com as demandaspsíquicas do sentir, do agir e do pensar, típicasdo homem no terceiro milênio. Assim, optou-sepor trabalhar com a teoria de Wallon sobre aconstituição da pessoa como síntese de ummovimento dialético em que as oposições entre ointerno e o externo, as emoções e a razão, oorgânico e o social são regidos pela ambigüidadee pelos conflitos entre os campos psicológicos daafetividade, da inteligência e da motricidade emseu esforço de integração12. Na mesma linha deanálise do desenvolvimento do psiquismohumano, concebido na interdependência entre anatureza e o ambiente físico e social, optou-sepor Vygotsky, que entende que a compreensãosobre o homem não poderá dissociar as condiçõesmateriais de existência nas quais se constituema atividade e a consciência13.

De acordo com a fundamentação teóricaadotada na pesquisa, tem-se que o homem vaiconstruindo sua existência concreta através daprática, de suas relações com a natureza, com asociedade e consigo mesmo, o que coaduna como panorama da pós-modernidade, onde oconhecimento é entendido como algo inacabadoe com as novas propostas educacionais nas quaispropõe-se pensar o homem como um ser integralem constante relação dialética com o meio em quevive, ser de razão e de emoção na construção doconhecimento.

A partir dessa perspectiva teórica, o jogo podeser concebido como uma “linguagem da emoção”,podendo, com isto, servir como canal de expressãoe de comunicação que se integra a outras formasde linguagem em direção a uma integração deaspectos afetivos, cognitivos e corporais, numrompimento com a linguagem racional epragmática usual; por outro lado, como atividademediadora de processos de desenvolvimento ede novas aprendizagens.

Mediação é “a ação que relaciona doiselementos, que serve de ponte, de passagem, deuma coisa a outra. De modo mais especificamentefilosófico, mediação é a relação concreta pelaqual um dado elemento viabiliza a realizaçãode um outro”14. O jogo como atividade eminen-temente humana instaura-se em um limiar entreo objeto e o símbolo, a realidade e o imaginárioe, nesse sentido, pode ser considerado como uminstrumento de mediação. Uma combinação dasconcepções sobre o jogo, localizadas nos doisautores pesquisados, permite entender como ocaráter ficcional do jogo, de aparente liberdade,pode se apresentar como recurso fundamentalpara o desenvolvimento do homem frente àsdemandas da atualidade. O uso de instrumentose de signos implica em alterar, fundamental-mente, as funções e os processos psicológicos,sua estrutura e o fluxo de ação. É através dosinstrumentos que podemos escapar docondicionamento direto dos estímulos e das

ZAMBOTTO CSV ET AL.

Rev. Psicopedagogia 2005; 22(69): 254-68

258

pressões do meio e modificar nossa maneira deperceber o contexto em que estamos inseridos15.Para Vygotsky, a importância do jogo recai sobrea possibilidade do homem ir além do contatoconcreto com a realidade empírica, numadimensão do imaginário que abre as perspectivasde sua emancipação, uma vez que passa a atuarorientado pelas idéias e significados que advêmde sua relação com o mundo.

Na perspectiva histórica e dialética16, a relaçãodo homem com o mundo é sempre permeadapelo trabalho, que é o que distingue o ser humanode outros animais. Assim, a partir dessa pers-pectiva, o trabalho é considerado como uminstrumento de mediação entre o homem e omundo. É ele que permite que o ser humano sereconheça como tal. A era moderna foi calcadana supremacia da razão em detrimento da emoçãoe da subjetividade humanas, o conhecimento foisendo fragmentado a tal ponto que o homem nãopôde mais se reconhecer em seu próprio trabalho.

É nesse sentido que Wallon17 afirma que parao adulto o jogo é considerado como lazer e, poreste motivo, é visto como uma atividade oposta auma atividade séria, ou seja, ao trabalho.Entretanto, diz o autor: “O jogo não é essen-cialmente o que não exige esforço, por oposiçãoao labor cotidiano, porque o jogo pode exigir efazer libertar quantidades de energia muito maisconsideráveis do que as necessárias para umatarefa obrigatória (...). O jogo não utiliza apenasas forças deixadas sem emprego pelo trabalho.Em particular, nem sempre se trata de receber oequilíbrio entre aptidões desigualmente postasà prova: exercícios motores depois do trabalhointelectual ou no trabalhador intelectual;distrações intelectuais depois de um trabalhomanual ou no trabalhador manual (...)17.

Para Wallon, a emoção é a primeira forma deorganização da realidade e a base do desenvol-vimento humano, sendo que, no adulto, as emoçõesestão subordinadas ao controle das funçõespsíquicas superiores. Assim, o caráter ambíguo

do jogo o faz surgir como uma possibilidade dereintegrar os aspectos das esferas cognitiva,afetivo/emocional e biológica do homem.

No que diz respeito ao jogo como estratégiade ensino, Campos18 afirma que o jogo é umaestratégia diferenciada “porque ela traz emseu bojo o caráter dialético, instável, ambiva-lente, ativo e progressivo de uma relação como conhecimento em uma perspectiva de cons-trução”. É com base nesses termos que, napesquisa, o jogo foi pensado como mediador daaprendizagem do adulto.

O objetivo foi o de investigar se o jogo temsido considerado como ferramenta importante empropostas de educação e aprendizagem do adulto,bem como levantar indicadores a respeito daimportância do jogo para o desenvolvimento depropostas educacionais para essa população quecorrespondam às expectativas de formação dohomem para o momento atual.

MÉTODOPara a elaboração da pesquisa, inicialmente,

foi realizado um levantamento bibliográfico dostítulos de artigos em publicações feitas a partirde 1990, que obtiveram o conceito Nacional A naúltima avaliação da ANPED (Associação Nacionalde Pós-Graduação e Pesquisa em Educação), de2003, e da ANPEPP (Associação Nacional dePesquisa e Pós-Graduação em Psicologia), ano-base 2001. A opção por esses veículos como fontede informação se deu pela suposição de que essesperiódicos reúnem os trabalhos de grupos depesquisa relevantes, tanto na área da Educação,como da Psicologia que poderiam ser represen-tativos dos trabalhos publicados e das contri-buições atualizadas no campo do conhecimentoque é objeto deste estudo. O período de 1990 a2003 foi escolhido por se tratar de um momentosuficientemente abrangente dos fatos maisimediatos que culminaram com a revisão depolíticas educacionais como resposta às transfor-mações econômicas, políticas e sociais, como o

JOGO E APRENDIZAGEM DO ADULTO

Rev. Psicopedagogia 2005; 22(69): 254-68

259

caso do Brasil que teve uma nova Lei de Dire-trizes da Educação Nacional aprovada em 1994.

Foram consultados os sumários de todos osnúmeros dessas revistas e/ou periódicospublicados no período selecionado, a partir dosquais foi possível fazer um levantamento dostítulos dos artigos de interesse desta pesquisa.Tal levantamento foi orientado e organizado pelosseguintes critérios de leitura:

1. Propostas de educação e processos deensino-aprendizagem voltados para o adulto; ouseja, esperava-se selecionar artigos com algumareferência à educação e/ou aprendizagem deadultos.

2. Educação para o terceiro milênio eexpectativas em relação ao homem dentro dessaspropostas; isto é, esperava-se encontrar refe-rências aos processos educacionais esperadospara os dias atuais, como decorrência demudanças de paradigmas na área da ciência eda tecnologia, com repercussão na áreaeducacional.

3. Jogos como recurso educativo; ou seja, seo jogo aparecia como um recurso ou atividadevoltada para o desenvolvimento, a educação e/ou a aprendizagem e, em caso afirmativo, sobque perspectiva teórica.

Em um primeiro momento, a seleção dosartigos seria feita com base na associação dos trêscritérios. Tendo em vista que não foi encontradonenhum artigo que atendesse simultaneamentea todos os critérios de leitura, optou-se porselecionar os artigos que viessem a responder aum ou mais critérios.

O cumprimento dos passos e procedimentosdessa fase levou à seleção de cinco artigos nosperiódicos da ANPEPP e de oito artigos nosperiódicos da ANPED. Após a escolha dos textos,foi feita uma leitura dos artigos a fim de verificarsua aceitação ou não aceitação para esta pesquisa,com base nos critérios acima explicitados.

Uma vez realizada a seleção dos artigos,procedeu-se à leitura de cada um dos textos, comvistas à análise de conteúdo, de acordo comBardin19, buscando pôr em evidência algumascategorias, a partir dos critérios de leiturapreviamente discriminados.

A seguir, foi feita uma leitura exaustiva de cadaartigo, procurando respeitar a natureza do mesmo:texto teórico, relatório de pesquisa e assim pordiante. Esses conteúdos foram organizadospelos seguintes itens comuns: tema/problema;objetivos; perspectivas teóricas (englobando osprincipais conceitos trabalhados); procedimentosmetodológicos; resultados e conclusões.

Após essa organização dos artigos, realizou-se uma nova leitura do material produzido,buscando-se aprofundar a compreensão do temae identificar possíveis subtemas de cada artigo,bem como aprofundar a compreensão daperspectiva teórica, identificando os conceitos-chave a fim de que se pudesse proceder à análisee discussão dos conteúdos com base nesserecorte de dados.

RESULTADOS E DISCUSSÃOO Quadro 1 apresenta os cinco artigos

localizados nos periódicos da ANPEPP, sendo quetodos atenderam a pelo menos um dos critériospreestabelecidos. Quatro artigos foramselecionados com base no critério 3, referente aosjogos como recurso educativo, e um artigo combase no critério 1, referente às propostas deeducação e processos de ensino-aprendizagemvoltados para o adulto.

Dos periódicos de classificação Nacional A deacordo com a última avaliação da ANPED,inicialmente selecionaram-se oito artigos (Quadro2), dos quais, após uma leitura mais minuciosa,dois foram refutados por não atenderem a nenhumdos indicadores de leitura preestabelecidos. Doisartigos foram selecionados de acordo com ocritério 1, referente às propostas de educação eprocessos de ensino-aprendizagem voltados para

ZAMBOTTO CSV ET AL.

Rev. Psicopedagogia 2005; 22(69): 254-68

260

o adulto; um artigo foi selecionado com base nocritério 2, relativo à educação para o terceiromilênio e expectativas em relação ao homemdentro dessas propostas; dois artigos foramescolhidos com base no critério 3, relativo aosjogos como recurso educativo; e um artigo foiselecionado a partir dos critérios 1 e 2, jámencionados.

Os artigos selecionados eram de naturezadiversa originários de palestras, de pesquisas,de revisão de literatura e, para a continuidadeda análise, foi necessária uma compilação sobnovos critérios de leitura. Assim, cada texto foiorganizado pelos seguintes ordenadores: tema,subtema, perspectiva teórica e conceitos de base.

O Quadro 3 apresenta os artigos de periódicosda ANPEPP cuja organização dos conteúdospermitiu encontrar dois grandes temas: o lugardo jogo na escola, para o qual selecionou-se umartigo; e o lugar da brincadeira na educaçãoinfantil, que foi localizado em quatro artigos.

O primeiro tema foi dividido em um únicosubtema: concepção de profissionais da educaçãosobre a importância do jogo na escola, que tempor fundamentação teórica autores que se baseiamna teoria interacionista de Jean Piaget. O mesmoartigo concebe o jogo como promotor do desen-volvimento da criança e facilitador da aprendi-zagem escolar; entretanto, não o conceitua.

O segundo tema, por sua vez, foi dividido emquatro subtemáticas, de acordo com os artigosselecionados: discussão de currículos da educaçãoinfantil na nova LDB; análise histórica dautilização do jogo na educação infantil; pers-pectiva sócio-construtivista e sua relação compráticas pedagógicas de educação infantil;elaboração de propostas, projetos e políticaspúblicas que integram o brincar como atividaderelevante e séria.

Analisando-se a perspectiva teórica adotadapelos autores dos textos, verifica-se uma ênfasena abordagem sócio-histórica de Vygotsky. Trêsartigos falam sobre a importância do brincar para

o desenvolvimento infantil. Um artigo afirma quea aprendizagem da criança é beneficiada desdeque haja conciliação entre propostas lúdicas epedagógicas. E um artigo traz uma revisãohistórica das funções atribuídas ao jogo.

De maneira geral, foi possível apreender dosartigos uma influência das concepções histórico-social e dialética na psicologia atrelada à áreada educação.

O Quadro 4 apresenta os artigos dos periódicosda ANPED organizados em quatro grandes temas:educação de jovens e adultos; propostas deeducação infantil; jogo; e processo de aprendi-zagem na criança, ênfase na leitura e na escrita.

O primeiro tema (educação de jovens eadultos) foi dividido em dois subtemas: educaçãobásica (alfabetização de adultos) e educação deprofessores. Dois dos artigos selecionadoscontemplam a primeira subtemática, enquantoobteve-se apenas um artigo que aborda osegundo subtema.

O segundo tema (propostas de educaçãoinfantil) foi dividido em dois subtemas encon-trados em um mesmo artigo: jogo e brincadeirana educação infantil; e práticas pedagógicas econcepções de professores de educação infantil.

O terceiro tema (jogo) foi dividido em umasubtemática: exploração do conceito de jogo,encontrada em um dos artigos selecionados.

O quarto tema (processo de aprendizagem nacriança; ênfase na leitura e na escrita) foi divididoem apenas um subtema: linguagem e formaçãode processo psicológicos superiores, encontradoem um artigo.

No que diz respeito à fundamentação teóricados artigos, percebeu-se que, de modo geral, aênfase é na perspectiva sócio-interacionista, comvisão histórica e dialética da educação e doprocesso de aprendizagem presente em cincoartigos.

Dois artigos consideram a brincadeira e obrinquedo como forma de educar crianças e umamaneira de alcançar formas mais complexas de

JO

GO E A

PREND

IZA

GEM

DO A

DU

LTO

Rev. Psicopedagogia 2005; 22(69): 254-68

26

1

Quadro 1 – Artigos encontrados em periódicos de classificação Nacional A de acordo com a última avaliação da ANPEPP(Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia) – ano-base 2001

A concepçãode educado-res sobre olugar do jogona escola

AntonioCarlosOrtega eClaudiaBroettoRosseti

Revistado Departa-mento dePsicologia daUniversidadeFederalFluminense,v.12, nº2 e 3,p.45-53, 2000.

Trabalho cujo objetivo é investigar a concepção de educadores sobre o lugar do jogona escola. Foram sujeitos deste estudo cem alunos de um curso de Especialização emPsicopedagogia, na cidade de Vitória – ES. Utilizou-se um questionário com questõesreferentes à concepção, importância e lugar do jogo na escola, bem como os possíveislimites de sua utilização. Verificou-se que, de maneira geral, todos os sujeitosconsideram importante a utilização de jogos na escola. Observou-se que a concepçãoe o lugar do jogo na escola aparecem mais relacionados à aprendizagem de conteúdose ao desenvolvimento da criança. A maioria dos sujeitos considera não haver limitesna utilização do jogo na escola. O fato dos educadores estarem em sala de aula ouatuarem como pedagogos, ou terem concluído a graduação há mais de dez anos oudurante a última década, não resultou em diferenças estatisticamente significantesna concepção desses profissionais sobre o lugar do jogo na escola.

Sim Critério 1

Atividadeslúdicas e aformação doeducadorinfantil

Ana SoaresJorge e VeraMariaRamos deVasconcellos

Revista doDepartamentode Psicologia –UFF, v.12 –nº 2 e 3, p.55-67, 2000.

Procurou-se discutir com as educadoras a importância do brincar na formaçãoda criança e na construção do conhecimento. Buscou-se deslocar o brincar dolugar secundário que normalmente ocupa no cotidiano da escola, planejando eestruturando com as professoras essas atividades não só dentro das salas comotambém nos espaços externos.

Sim Critério 3

A PerspectivaSócio-Construtivistana Psicologia ena Educação:O Brincar naPré-Escola

VanessaAlessandraThomazBoiko e MariaAparecidaTrevisanZamberlan

Psicologia emEstudo,Maringá, v.6,nº1, p.51-58,jan./jun.,2001.

O artigo aborda o sócio-construtivismo como sistema e seus principais pressupostos,e sua relação com práticas educativas, com a função da escola e do educador. A partirde diretrizes mais gerais, explicita a fundamentação para a proposição de um traba-lho pedagógico junto à criança na pré-escola, onde o brincar deve ser consideradoum componente curricular essencial.

Sim Critério 3

Jogo,Educação eCultura:“Senões eQuestões”

Marineide deOliveiraGomes

Psicologia emEstudo, c.5,nº 2, p.91-98,2000

O artigo objetiva situar a utilização do jogo na educação infantil, inserido no con-texto cultural dirigida à criança pequena. Para isso, recupera as funções atribuídasao jogo em nossa historia, analisa a produção de alguns brinquedos infantis usadospelas crianças brasileiras nas últimas décadas, a relação de crianças e professorescom os mesmos e a imagem de criança a eles subjacente. Aponta, como alternativacultural e educacional, o resgate dos jogos tradicionais infantis como forma deconstrução e/ou reconstrução de identidades individuais e coletivas, necessárias àformação de cidadão criativos e críticos.

Sim Critério 3

EducaçãoInfantil ePsicologia:Para quebrincar?

Eulina daRochaLordelo eAna MariaAlmeidaCarvalho

Psicologia:Ciência eProfissão /ConselhoFederal dePsicologia, 2392), p.14-21,2003

Discute-se o lugar da brincadeira no currículo da educação infantil. A partir danova LDB, coloca-se a tarefa de construir, ou reconstruir, em alguns casos,propostas de atendimento que contemplem as necessidades da criança emdesenvolvimento. A mudança constitui um problema face à tendência à aplicação,por analogia, de um modelo de instituição escolar a essa faixa etária, evidente naorganização do ambiente e das atividades proporcionadas à criança. Questiona-se avisão da brincadeira como meio através do qual a criança vai atingir objetivos esco-lares, representando uma visão de infância apenas como promessa de futuro, semimportância para o presente. Propõe-se uma orientação para a educação infantil queprivilegie um conceito de desenvolvimento como adaptação atual.

Critério 3Sim

Tí tu lo A u t o r Pub l i cação Resumo Selec ionado Cr i t é r io s

ZAMBOTTO CSV ET AL.

Rev. Psicopedagogia 2005; 22(69): 254-68

262

Qu

adro

2 –

Art

igos

en

con

trad

os e

m p

erió

dico

s de

cla

ssif

icaç

ão N

acio

nal

A d

e ac

ordo

com

a ú

ltim

a av

alia

ção

da A

NPE

D (

Ass

ocia

ção

Nac

ion

al d

ePó

s-G

radu

ação

e P

esqu

isa

em E

duca

ção)

– a

no-

base

200

3

Alf

abet

izaç

ão d

eA

dult

os: E

m B

usc

ade

um

a Pr

opos

taPo

lític

o-Pe

dagó

gica

Neu

sa J

unq

uei

raA

rmel

lini e

t alli

Revi

sta

Bras

ileir

a de

Estu

dos P

edag

ógic

os,

v.72

, n.1

70, p

.85-

88,

jan

/abr

.199

1

O es

tudo

ana

lisa

o pr

oces

so d

e alfa

betiz

ação

de a

dulto

s, b

usc

ando

conc

eitu

á-lo

e di

scu

tir a

lgu

mas

var

iáve

is e

açõe

s im

port

ante

s qu

efa

zem

par

te d

e su

a op

erac

iona

lizaç

ãoSi

mC

rité

rio

1

A A

lfab

etiz

ação

no

Con

text

o Lú

dico

Sóci

o-C

ult

ura

l

Mar

ia E

míli

aA

mar

al E

nger

sEd

uca

ção

– Po

rto

Ale

gre,

an

o X

V,n

.22,

199

2, p

.7-1

2

Este

estu

do co

nfig

ura

-se c

omo

um

a es

trat

égia

de p

esqu

isa

e a a

lfabe

tizaç

ão d

e adu

ltos m

argi

naliz

ados

do

proc

esso

de e

scol

ariz

ação

.O

alfa

betiz

ar p

esqu

isan

do v

is c

onst

ruir

e so

cial

izar

con

heci

men

tos e

cri

ar e

legi

timar

a a

lfabe

tizaç

ão d

e jov

ens e

adu

ltos

com

o ár

eade

con

heci

men

to n

o âm

bito

da

uni

vers

idad

e. A

con

sciê

ncia

da

rele

vânc

ia d

a qu

estã

o do

ana

lfab

etis

mo

no B

rasi

l e s

ua

redu

zida

ocu

paçã

o no

espa

ço a

cadê

mic

o fo

ram

dec

isiv

as p

ara

a op

ção

de p

esqu

isar

este

pro

blem

a.

Sim

Cri

téri

o 1

A c

ríti

ca d

am

oder

nida

de e

aed

ucaç

ão

Pedr

o L.

Goe

rgen

Pro-

Posi

ções

, v.7

,n

.2[2

0],

p.5-

28,

jun

./1

99

6.

Nes

te tr

abal

ho o

au

tor b

usc

a re

laci

onar

os c

once

itos d

e mod

erni

dade

e pó

s-m

oder

nida

de su

bjac

ente

s às a

bord

agen

s de J

. Hab

erm

ase J

.-F.

Lyot

ard

e exa

min

ar o

sign

ifica

do d

esta

refle

xão

para

o ca

mpo

educ

acio

nal.

Excl

uden

tes s

ob m

uito

s pon

tos d

e vis

ta, a

s pos

içõe

sde

stes

au

tore

s co

nver

gem

no

reco

nhec

imen

to d

a cr

ise

do c

once

ito

de r

acio

nalid

ade,

impe

rial

e m

onol

ógic

o, c

onsi

dera

do d

esde

am

oder

nida

de a

tábu

a de

sal

vaçã

o pa

ra a

hu

man

idad

e. N

a vi

são

de L

yot

ard,

est

e co

ncei

to s

e di

ssol

ve n

um

frag

men

tari

smo

sem

pers

pect

iva

e no

de H

aber

mas

é um

conc

eito

de d

eve s

er re

dim

ensi

onad

o co

mun

icat

ivam

ente

. A cr

ise d

o co

ncei

to tr

adic

iona

l de r

azão

,pa

ra is

so o

art

igo

quer

cham

ar a

ate

nção

, tem

impo

rtân

cia

radi

cal p

ara

a te

oria

e pr

átic

a pe

dagó

gica

s, u

ma

vez

que e

stas

se fu

ndam

,ai

nda

que

inco

nsci

ente

men

te, s

obre

o c

once

ito

mod

erno

de

razã

o.

Não

Con

ceito

s eau

tore

s qu

enã

o fo

ram

disc

utid

os n

oco

rpo

teór

ico

da p

esqu

isa

Edu

caçã

o no

Terc

eiro

Milê

nio

Mar

ia E

míli

aA

mar

al E

nger

sEd

uca

ção,

30,

1996

, p.

7-15

.Re

port

ando

-se

a as

pect

os d

a hi

stór

ia d

a ed

uca

ção

no B

rasi

l e a

s id

éias

sob

re m

oder

nida

de e

pós

-mod

erni

dade

, a a

uto

ra a

nalis

ape

rspe

ctiv

as q

ue

indi

cam

rum

os p

ara

a Ed

uca

ção

no te

rcei

ro m

ilêni

o.Si

mC

rité

rios

1 e

2

Prog

ram

as d

eEd

uca

ção

de J

oven

se

Adu

ltos

e P

esqu

isa

Aca

dêm

ica:

AC

ontr

ibu

ição

dos

Estu

dos d

eLe

tram

ento

An

gela

B. K

leim

anEd

uca

ção

e Pes

quis

a,v.

27, n

º2, j

ul./

dez.

2001

, p.

267-

281.

O o

bjet

ivo

dest

e art

igo

é int

rodu

zir e

lem

ento

s que

per

mita

m a

cons

truç

ão d

e um

a in

terf

ace e

ntre

pes

quis

a ac

adêm

ica

e os p

rogr

amas

de ed

uca

ção

bási

ca d

e jov

ens e

adu

ltos

. Dis

cute

con

trib

uiç

ões p

ara

esse

s pro

gram

as q

ue p

odem

ser e

ncon

trad

os n

os re

sult

ados

das

pesq

uis

as q

ual

itat

ivas

. For

am u

sado

s os

res

ult

ados

de

um

pro

jeto

de

cinc

o an

os d

e du

raçã

o so

bre

edu

caçã

o de

pro

fess

ores

, cu

joob

jeti

vo e

ra a

nalis

ar a

inte

raçã

o en

tre

prof

esso

r e

alu

no e

m s

alas

de

letr

amen

to d

e jo

vens

e a

dult

os. O

pro

jeto

foi c

ondu

zido

em

cont

exto

s na

tura

is c

om o

intu

ito

de c

ompr

eend

er a

rea

lidad

e so

cial

dad

a e

de n

ão e

stab

elec

er le

is g

erai

s. A

cre

dibi

lidad

e de

seu

sre

sult

ados

foi c

onst

ruíd

a a

part

ir d

a ob

serv

ação

de v

ário

s con

text

os e

a co

leta

de d

ados

foi r

ealiz

ada

por m

eio

de d

iver

sos m

étod

os,

desd

e a

pers

pect

iva

de a

lgu

ns p

arti

cipa

ntes

obs

erva

dos

dura

nte

um

long

o pe

ríod

o. A

bas

e em

píri

ca fo

i uti

lizad

a pa

ra a

valia

r as

reco

men

daçõ

es o

btid

as n

o do

cum

ento

en

com

enda

do p

ela

UN

ESC

O p

ara

o In

stit

uto

Inte

rnac

ion

al d

e Le

tram

ento

par

a se

rem

apre

sent

ados

no

Fóru

m M

und

ial d

e Edu

caçã

o oc

orri

do em

200

0, em

Dak

ar. E

sse d

ocu

men

to p

ropõ

e qu

e a a

tenç

ão c

ontin

uad

a ao

sal

uno

s do

s pr

ogra

mas

de

edu

caçã

o bá

sica

é u

m d

os m

aior

es d

esaf

ios

do n

ovo

milê

nio.

No

que

diz

resp

eito

ao

prob

lem

a da

eva

são

de a

dult

os d

os c

urs

os e

pro

gram

as, o

art

igo

disc

ute

os

fato

res

de m

otiv

ação

e d

e ac

essi

bilid

ade

apon

tado

s em

doc

um

ento

s of

icia

isco

mo

fato

res r

elev

ante

s par

a o

suce

sso

ou fr

acas

sos d

os p

rogr

amas

.

Cri

téri

o 1

e 2

Sim

Tít

ulo

Au

tor

Pu

bli

caçã

oR

esu

mo

Sel

ecio

na

do

Cri

téri

os

A B

rinc

adei

raIn

fan

til n

aEd

ucaç

ãoPr

é-Es

cola

r Pau

lista

e Pa

risi

ense

: O q

ue

pens

am so

bre e

las

os a

dult

os?

Gis

ela

Waj

skop

Pro-

Posi

ções

, v.7

,n

.3[2

1],

p.51

-34,

nov

./19

96.

Este

art

igo

busc

a co

mpr

eend

er a

div

ersi

dade

das

pro

post

as p

ré-e

scol

ares

enc

ontr

adas

em

São

Pau

lo e

su

a re

laçã

o co

m o

sta

tus

dain

fânc

ia e

m n

ossa

soc

ieda

de, a

par

tir d

os v

íncu

los

entr

e br

inca

r e e

duca

ção

pres

ente

s em

alg

um

as in

stitu

içõe

s. P

ara

tant

o, a

nalis

adi

vers

as p

rátic

as p

edag

ógic

as e

conc

epçõ

es d

e pro

fess

ores

de e

duca

ção

infa

ntil

reve

lada

s em

três

pes

quis

as re

aliz

adas

no

perí

odo

de19

88 a

199

2. A

pri

mei

ra d

elas

foi d

esen

volv

ida

pela

aut

ora

para

a el

abor

ação

de s

ua d

isse

rtaç

ão d

e mes

trad

o, em

um

a es

cola

púb

lica

da á

rea

cent

ral d

o m

uni

cípi

o de

São

Pau

lo. A

seg

und

a re

fere

-se

ao D

iagn

ósti

co d

a Pr

é-Es

cola

no

Esta

do d

e Sã

o Pa

ulo

, rea

lizad

o no

ano

de 1

988,

em

93

mu

nic

ípio

s, p

ela

Secr

etar

ia d

o Es

tado

da

Edu

caçã

o. A

ter

ceir

a (M

atio

lli, 1

988)

en

trev

isto

u n

ove

mãe

spe

rten

cent

es à

s cam

adas

méd

ias d

a po

pula

ção,

mor

ador

as d

a ci

dade

de A

ssis

, no

inte

rior

de S

ão P

aulo

. Par

a se

rvir

de c

ontr

apon

to,

pela

dife

renç

a ev

iden

ciad

a, es

tabe

lece

com

para

ções

com

as p

rátic

as e

imag

ens d

e pro

fess

ores

de a

lgum

as es

cola

s mat

erna

is p

aris

iens

es,

anal

isad

as d

ura

ntes

um

a pe

squ

isa

real

izad

a pe

la a

uto

ra n

o La

bora

toir

e du

Jeu

et d

u J

ouet

, da

Uni

vers

idad

e de

Par

is X

III, d

ura

nte

o pe

ríod

o de

199

1-92

.

Cri

téri

o 3

Sim

O J

ogo

e a

Edu

caçã

o In

fant

ilT

izu

ko M

orch

ida

Kish

imot

oPr

o-Po

siçõ

es, v

ol.6

,n

.2[1

7],

p.46

-63,

jun

ho,

199

5.

O te

xto

disc

ute

o c

once

ito

de jo

go a

par

tir d

a fil

osof

ia a

nalít

ica

que

conc

ebe

o si

gnifi

cado

dos

term

os c

onfo

rme

o co

ntex

to n

o qu

alse

util

izam

. No

cam

po d

a ed

ucaç

ão in

fant

il, b

rinq

uedo

s e b

rinc

adei

ras d

epen

dem

da

conc

epçã

o qu

e se f

az d

e cri

ança

. Há

info

rmaç

ões

sobr

e ti

pos

de b

rinc

adei

ras

infa

ntis

com

o: jo

gos

de fa

z-de

-con

ta, c

onst

ruçã

o, tr

adic

iona

is e

de

regr

as.

Cri

téri

o 3

Sim

Esco

lari

zaçã

ota

rdia

de

hom

ens

em

ulh

eres

trab

alha

dore

s:re

cons

tru

indo

traj

etór

ias e

scol

ares

e ocu

paci

onai

s

Déb

ora

Maz

za,

Leila

Mar

ia F

erre

ira

Salle

s e

Mar

ia R

osa

R. M

. Cam

argo

Pro-

Posi

ções

, v.1

3,n

.2[3

8],

p.12

7-14

2, m

aio/

ago.

2002

.

O te

xto

refe

re-s

e a

um

a pe

squ

isa

em a

ndam

ento

com

du

as c

lass

es d

e al

fabe

tiza

ção

de a

dult

os q

ue

func

iona

m n

um

a Fá

bric

a de

Bala

s, si

tuad

a no

mu

nicí

pio

de R

io C

laro

, SP.

Os 3

1 al

uno

s qu

e com

põem

as c

lass

es sã

o fu

ncio

nári

os q

ue e

stu

dam

na

próp

ria

firm

a,fo

ra d

os s

eus

turn

os d

e tr

abal

ho. A

trav

és d

e qu

esti

onár

ios

e en

trev

ista

s in

divi

duai

s te

ntou

-se

reco

nstr

uir

as

traj

etór

ias

esco

lare

se

ocu

paci

onai

s de

stes

alu

nos,

hom

ens

e m

ulh

eres

, qu

e no

esp

aço

de tr

abal

ho e

stão

inve

stin

do ta

rdia

men

te e

m s

eus

proc

esso

s de

esco

lari

zaçã

o. A

pes

quis

a te

m r

evel

ado

que

os a

lun

os-t

raba

lhad

ores

têm

traj

etór

ias

de v

ida

mar

cada

s pe

la d

esco

nti

nu

idad

e e

irre

gula

rida

de es

cola

res.

O in

vest

imen

to es

cola

r tar

dio

refe

re-s

e, p

rim

eira

men

te, à

s dem

anda

s atu

ais d

e gar

antia

do

empr

ego,

mas

acab

am p

or in

terf

erir

na

reco

nstr

uçã

o da

au

tope

rcep

ção

e au

tono

mia

dos

su

jeit

os

Art

igo

não

cont

empl

an

enh

um

indi

cado

r de

leitu

ra p

ré-

esta

bele

cido

Não

JO

GO E A

PREND

IZA

GEM

DO A

DU

LTO

Rev. Psicopedagogia 2005; 22(69): 254-68

26

3

Quadro 3 – Tema/Subtema e Perspectiva Teórica/Conceitos – ANPEPP

Lugar dabrincadeirana educaçãoinfantil

Elaboração de propostas,projetos e políticas públicasque integrem o brincarcomo atividade relevante eséria

1 Desenvolvimento a partir da visão sócio-histórica de Vygotsky como algo não-linear,fechado e previsível; importância do contexto sócio-cultural para o desenvolvimento;aprendizagem da criança beneficiada desde que haja conciliação entre propostas lúdicase pedagógicas; educador como mediador da aprendizagem da criança; brincadeira comoconstituidora do sujeito, de sua subjetividade e de seu conhecimento de mundo.

Discussão de currículos daeducação infantil na novaLDB

1 Revisão de literatura do modelo de ativação intrínseca com base em autores americanos:Deci e Ryan; Fogel, Lyra e Valsinei; e outros, pelo qual propõe-se uma leitura crítica do sócio-interacionismo de Vygotsky e a maneira como seus pressupostos de desenvolvimento eaprendizagem (construídos em uma psicologia soviética) foram transpostos para a realida-de atual; processos cognitivos são construídos num meio histórico-cultural e mediadospelos agentes sociais que interagem com os indivíduos. Desenvolvimento como processoaberto e indeterminado; importância e papel da escola na qualidade do desenvolvimento.Aprendizagem e conhecimento governados por processos tácitos e abstratos, que prevale-cem sobre o explícito e o concreto. Brincar, movimentar-se, interagir com parceiros comoações intrinsecamente motivadas no ser humano, obrigatoriedade desses comportamentosna criança é incongruente com a própria noção de motivação intrínseca.

Análise histórica da utiliza-ção do jogo na educaçãoinfantil

1 Revisão de literatura que recupera as funções atribuídas ao jogo na História, analisa aprodução de alguns brinquedos infantis usados pelas crianças brasileiras nas últimasdécadas, a relação de crianças e professores com os mesmos e a imagem de criança a elessubjacente; associação do jogo à educação; distinção entre jogo, brinquedo e brincadeira:jogo está relacionado diretamente à imagem, ao significado que lhe é atribuído pela socie-dade, compreendendo um sistema de regras, materializado ou não na forma de um objeto;brinquedo se caracteriza pela ausência de um sistema de regras, como um suporte para abrincadeira e é um real transformado a partir da imagem que o fabricante de brinquedostem de infância; brincadeira apresenta-se como a descrição de uma conduta estruturada.

Perspectiva sócio-construti-vista e sua relação compráticas pedagógicas deeducação infantil

1

Lugar dojogo naescola

Concepção de profissionaisda educação sobre a impor-tância do jogo

1 Jogo como promotor do desenvolvimento da criança e facilitador da aprendizagem esco-lar; desenvolvimento com base em autores brasileiros que têm por base teórica JeanPiaget; texto parece referir-se ao jogo sem conceituá-lo.

Te m a Subt ema Nº de Artigos Perspectiva Teórica / Conceitos

Educação na perspectiva teórica sócio-construtivista de Vygotsky como processo dinâmi-co e dialético; teoria e prática permeadas pelo contexto social, cultural, econômico e polí-tico; educação como instrumento de constituição do sujeito. Brincar é atividade funda-mental da criança e representa um espaço privilegiado de interação infantil e de constitui-ção do sujeito-criança como sujeito humano, produto e produtor de história e cultura;brincadeira como meio de constituição da subjetividade e a forma pela qual a criançacomeça a aprender; brincadeira impulsiona o desenvolvimento; brincar como importantena pré-escola, pois propicia a construção de uma identidade infantil autônoma, crítica ecriativa. Desenvolvimento como processo eminentemente social e histórico, otimizadopela aprendizagem e conduzido pela colaboração de outra pessoa mais capaz. Conheci-mento como mapeamento das ações e operações conceituais que provaram ser viáveis naexperiência do indivíduo; para ser convertido em saber, conhecimento deve ser significadopela atribuição e uso da palavra. Aprendizagem como resultado adaptativo que temnatureza social, histórica e cultural e para que ocorra é necessária uma interação decaráter formativo e proposital. Professor como mediador que promove o aprendizado e odesenvolvimento do aluno.

ZA

MBO

TTO CSV ET A

L.

Rev. Psicopedagogia 2005; 22(69): 254-68

26

4

Quadro 4 – Tema/Subtema e Perspectiva Teórica/Conceitos – ANPED

Educação deJovens eAdultos

Educação básica (alfabeti-zação de adultos)

2

Ler e escrever na perspectiva teórica de Jean Piaget, Emília Ferrero e Paulo Freire; ênfasena realidade e contexto dos sujeitos; suposição de que o uso de elementos ou situações davida cotidiana dos sujeitos favorece uma aquisição não mecanicista da leitura e daescrita; alfabetização e/ou aprendizagem de adultos vista como processo de aculturaçãoe letramento; ênfase nas práticas discursivas e nas diferentes possibilidades de acessoaos grupos letrados; relevância dos programas de alfabetização de agências queefetivamente contribuam para a desideologização das práticas discriminatórias.

Educação de professores 1

Reflexão teórica do iluminismo com visão histórica, crítica e dialética da sociedade eda educação; educação inserida num contexto histórico-social; professor deve estarpreparado cultural, afetiva e cognitivamente para desafios da atualidade;pós-modernidade (novos paradigmas críticos na teoria educacional, que possam darconta da heterogeneidade dos discursos pedagógicos e curriculares e da complexidade daprodução de significados nas culturas pós-modernas) como base da reflexão sobre oprofessor atual (que integra o velho e o novo); visão freireana de que o educador precisafazer do seu discurso a sua prática.

Jogo e brincadeira naeducação infantil

Práticas pedagógicas econcepções de professoresde educação infantil

1

Revisão histórica (ou historicismo) do conceito de infância e do atendimento à infância;interacionismo em oposição às leituras metafísicas e naturalistas sobre desenvolvi-mento; a partir de Rousseau, na sociedade ocidental, a brincadeira aparece como umaforma de educar as crianças através da utilização de objetos, do imaginário e do corpo econfigura-se como uma maneira de introduzir os pequenos no mundo adulto, atravésde suas imagens e suas representações.

Exploração do conceitode jogo

1Propostas deeducação in-fantil

Linguagem e formaçãode processos psicológicossuperiores

1

Revisão de literatura sobre o processo de desenvolvimento humano a partir da perspec-tiva sócio-histórica de Vygotsky, Luria, Leontiev e Yudovich com ênfase na aprendiza-gem da leitura e da escrita; brinquedo como instrumento para alcançar formas maiscomplexas de vida mental; interação com o meio permite que a criança adquira umsistema lingüístico que supõe uma reorganização de seu processo mental.

Te m a Subt ema Nº de Artigos Perspectiva Teórica / Conceitos

Revisão de literatura sobre o conceito de jogo ao longo da História, processo denominadoFilosofia Analítica; identificação do significado do jogo nos diferentes períodos históricos(Idade Média, Renascimento, Modernidade) com ênfase na concepção cultural de equipa-rar o jogo ao espontâneo, ao não-sério, à futilidade ou, ainda, reivindicar o aspecto sériodo jogo e associá-lo à utilidade educativa; identificação das relações entre jogo e educa-ção; distinção entre jogo, brincadeira e brinquedo.

Processo dea p r e n d i z a -gem na crian-ça; ênfase naleitura e naescrita

Jogo

JOGO E APRENDIZAGEM DO ADULTO

Rev. Psicopedagogia 2005; 22(69): 254-68

265

vida mental. Um artigo versa sobre os diferentes

significados do jogo na história, bem como sua

associação e relação com a atividade educativa e

a educação. Três artigos discorrem sobre a

importância de se considerar a educação de

adultos inserida num contexto histórico-social.

Dois artigos falam sobre a alfabetização e/ou

aprendizagem de adultos como processo de

aculturação e letramento.

No que diz respeito aos temas e subtemas

encontrados nos diferentes artigos de

periódicos da ANPED, verificou-se uma certa

heterogeneidade. No entanto, a perspectiva

teórica, apesar de diversificada, tende a adotar

uma visão histórico-dialética do processo de

aprendizagem.

Quanto à utilização de jogos/brincadeiras

como recurso educativo, três artigos discorrem

sobre a importância de se atrelar atividades

lúdicas às propostas pedagógicas da educação

infantil, não havendo nenhuma ocorrência quanto

à utilização de jogos e/ou brincadeiras na

educação de jovens e adultos, tanto nos periódicos

da ANPED, quanto nos da ANPEPP.

Podemos destacar da pesquisa realizada o fato

de que em relação ao critério de leitura referente

às propostas de educação e processos de ensino-

aprendizagem voltados para o adulto, foram

encontrados apenas três artigos dentre os

periódicos pesquisados com base na última

avaliação da ANPED. Dentre estes artigos,

percebe-se que, quando se referem ao ensino e/

ou aprendizagem de adultos, há uma tendência

de se enfocar a alfabetização. Encontra-se aí uma

discrepância em relação ao discurso das confe-

rências internacionais cujas propostas e

prerrogativas de ensino discorrem sobre a

importância de se propiciar aos indivíduos uma

constante atualização de seus conhecimentos e

habilidades.

Por um lado, podemos supor que a ênfase

dada à alfabetização de adultos reflete o atual

cenário brasileiro em que parte da população

chega analfabeta à idade adulta, o que corrobora

com o relatório da UNESCO referente à reunião

ocorrida em Bankok, em 2003, de que países em

desenvolvimento ainda continuam focados em

erradicar o analfabetismo em detrimento de

colocar em prática o paradigma da aprendizagem

ao longo da vida.

Por outro lado, há de se pensar que acepção

de aprendizagem de adultos tem sido utilizada

pelos pesquisadores, uma vez que a UNESCO

tem exposto a dificuldade em se definir o termo,

que abrange desde a aquisição da capacidade

de leitura e escrita até a educação vocacional,

entre outros.

No que diz respeito à psicologia, constata-se

que o ensino e a aprendizagem do adulto não

estão sendo discutidos, uma vez que não foi

encontrada nenhuma ocorrência dentre os

periódicos da ANPEPP.

Quanto ao segundo critério de leitura,

referente à educação para o terceiro milênio e

expectativas em relação ao homem dentro

dessas propostas, apreende-se a discrepância

entre o discurso pedagógico vigente e o que

está sendo efetivamente pesquisado e discutido

a esse respeito. Dentre os artigos selecionados

para esta pesquisa não se obteve dados que

levem a afirmar que há uma preocupação em

investigar sobre a possibilidade e métodos de

aplicação de conhecimentos científicos à

educação de adultos, bem como suas possíveis

conseqüências.

O terceiro indicador de leitura, referente aos

jogos como recurso educativo, foi o com o maior

número de ocorrências. Entretanto, todos os

artigos se referem ao jogo voltado para a educa-

ção de crianças. Dos periódicos da ANPED, três

ZAMBOTTO CSV ET AL.

Rev. Psicopedagogia 2005; 22(69): 254-68

266

textos se referem à importância e/ou relevância

do uso do jogo quando do processo de ensino-

aprendizagem de crianças. Um dos textos faz

uma revisão histórica do conceito de infância e

do atendimento à infância em que a brincadeira

aparece como forma de educar as crianças

através da utilização de objetos, do imaginário

e do corpo, além de configurar-se como uma

maneira de introduzir a criança no mundo do

adulto através de suas imagens e represen-

tações. O segundo texto traz uma revisão sobre

o conceito de jogo, identificando seu significado

em diferentes períodos históricos (Idade Média,

Renascimento e Modernidade) e sua relação

com a educação. O terceiro texto refere-se ao

processo de desenvolvimento humano a partir

da perspectiva sócio-histórica de Vygotsky,

Luria, Leontiev e Yudovich em que o brinquedo

aparece como instrumento para alcançar formas

mais complexas de vida mental.

Dentre os periódicos da ANPEPP, todos os

artigos selecionados se referem ao jogo, sempre

atrelado ao universo infantil. Nota-se que os

artigos publicados em periódicos da área de

psicologia possuem uma maior uniformidade em

relação ao tema, uma vez que estão voltados à

reflexão acerca do jogo como recurso do

desenvolvimento e se propõem a pensar sua

utilização em sala de aula.

Em síntese, da leitura e análise dos artigos

selecionados, constatou-se uma certa homo-

geneidade no que diz respeito à perspectiva

teórica seguida pelos autores dos artigos dos

periódicos da ANPEPP, que tendem a adotar

uma visão histórico-social. Há, ainda, uma

tendência em se conceber o jogo como

facilitador da aprendizagem e do desenvol-

vimento infantil. Quanto aos artigos de

periódicos da ANPED, há uma maior dispersão

no que se refere ao conteúdo dos textos. Tanto

os artigos da ANPED como os da ANPEPP

não apresentaram ocorrência no que diz

respeito à utilização do jogo na educação e

aprendizagem de adultos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A realização da pesquisa permitiu afirmar que

apesar de a demanda atual requerer um homem

dinâmico e constantemente atualizado, e a

educação ao longo da vida estar sendo ampla-

mente discutida como a grande proposta para o

terceiro milênio, poucos estudos têm sido

efetivamente realizados neste sentido. No

universo pesquisado, apenas dois textos abordam

propostas de educação de adultos.

Quando se fala em educação e aprendizagem

de adultos ainda se tende a concentrar as

pesquisas em sua alfabetização e letramento.

Com exceção de um artigo que fala sobre o ensino

do professor, não houve ocorrências quanto à

educação e aprendizagem de adultos em outros

contextos, o que mostra não apenas a dificuldade

em se levantar dados para realizar esta pesquisa,

mas também para a seleção dos artigos

encontrados e sua posterior reflexão. Não foi

localizado qualquer artigo que versasse sobre o

uso do jogo como recurso para o desenvolvimento

e aprendizagem do adulto.

O homem de hoje não tem apenas uma relação

direta com o ato físico e concreto. As contingências

atuais demandam, cada vez mais, um homem

dinâmico que esteja constantemente atrelado a

relações mentais e abstrações. O jogo, como

propiciador de um espaço no imaginário, permite

criar um espaço para a abstração. Muito tem sido

estudado acerca do jogo como recurso pedagógico

na educação infantil e facilitador da aprendi-

zagem da criança. Piaget, Wallon e Vygotsky,

entre outros, mostraram a importância do lúdico

para o desenvolvimento e o aprendizado infantis.

JOGO E APRENDIZAGEM DO ADULTO

Rev. Psicopedagogia 2005; 22(69): 254-68

267

Entretanto, para a realização da pesquisa não

foram encontrados estudos sobre a utilização do

jogo na educação de adultos.

Deste modo, verificou-se que embora as

propostas de educação para o terceiro milênio

tenham em seu bojo a idéia de uma educação

continuada e ao longo da vida, ainda permanece

SUMMARYAbout the possibility oh the game as mediator of adult learning

The research has as its goal to raise some thoughts about the usageof game/play as mediator of adult learning considering the new proposalsof lifelong learning and education for the third millennium, specificallyconcerning adult learning and education. It’s based on socio-historicalpsychology and on theoreticians who have considered game/play and thehuman development from a historical (Vygotsky) and dialectical (Wallon)perspective. It’s a bibliographical research that uses as a methodologicalstrategy a bibliographic uptake from articles which tittles have any sort ofreference to adult education and learning with focus on education for thethird millennium; expectations regarding mankind within these proposalsand game/play as a resource for the development expected from men in thenew millennium. Publications from 1990 were selected from periodicals whichhave been awarded with National A concept in the last evaluation fromANPED and ANPEPP. The analysis of the content found in the selectedmaterial is the resource used in order to find out some indexes about therelevance of game/play as mediator of adult learning. The results show thatthe bibliography about game/play is still not related to adult learning andeducation, indicating that the expected relations are yet to be built.

KEY WORDS: Play and playthings. Education, continuing. Adult.

a necessidade de se realizarem outras pesquisas

que possam vir a responder à questão orientadora

desta pesquisa, qual seja, a de que seria o jogo

um mediador importante para a aprendizagem

do adulto? Existe aí um amplo universo ainda a

ser explorado, seja pela psicologia, seja pela

educação.

ZAMBOTTO CSV ET AL.

Rev. Psicopedagogia 2005; 22(69): 254-68

268

REFERÊNCIAS

1. Morin E. A cabeça bem-feita: repensar areforma, reformar o pensamento. Rio deJaneiro:Bertrand Brasil;2000.

2. Severino AJ. Filosofia da educação: cons-truindo a cidadania. São Paulo:FTD; 1994.

3. UNESCO. Summary Report of the Interna-tional Conference on Adult Education.Disponível: http://www.unesco. org/education/uie/confintea/elsino_e.pdfAcessado em: 23.11.2003

4. UNESCO. World Conference on AdultEducation. Disponível: http://www.unesco.org/education/uie/confintea/montre_e.pdfAcessado em: 23.11.2003

5. UNESCO. Third International Conferenceon Adult Education. Disponível: http://www.unesco.org/education/uie/confintea/tokyo_e.pdf Acessado em: 23.11.2003

6. UNESCO. Cuarta Conferencia Internacionalsobre la Educación de Adultos. Disponível:http://www.unesco.org/education/uie/confintea/paris_s.pdf Acessado em: 23.11.2003

7. UNESCO. Quinta Conferencia Internacio-nal Sobre Educación de Adultos (ConfinteaV): Declaración de Hamburgo Sobre laEducación de Adultos. Disponível: http://www.unesco.org/education/uie/confintea/declaspa.htm Acessado em: 23.11.2003

Artigo recebido: 25/09/2005Aprovado: 05/11/2005

Pesquisa de Iniciação Científica realizada no Cursode Psicologia com bolsa-auxílio pela Coordenadoriade Pesquisa da Universidade São Marcos no período de2003 a 2005.

8. UNESCO. Recommitting on Adult Educationand Learning. Synthesis report of theCONFITEA V midterm review meeting.Disponível: http://www.eaea.org/doc/recommitting.pdf Acessado em: 23.11.2003

9. Delors J. Educação: um tesouro a descobrir.São Paulo:Cortez;1998.

10. UNESCO. Recommitting on AdultEducation and Learning. Synthesis reportof the CONFITEA V midterm reviewmeeting. Disponível: http://www.eaea.org/doc/recommitting.pdf Acessado em:23.11.2003

11. Niskier A. LDB – A nova lei da educação.5a. edição atualizada. Rio deJaneiro:Edições Consultor;1997.p.30.

12. Wallon H. A evolução psicológica da criança.Lisboa:Edições 70;1998.

13. Vygotsky LS. A função social da mente. SãoPaulo: Martins Fontes;1998.

14. Calvez JY. O pensamento de Karl Marx.Segundo volume. Porto:Livraria TavaresMartins;1959.

15. Campos MCA. A prática psicopedagógicado jogo e sua dupla função: aprender aaprender e aprender a ensinar. In: AmaralS, ed. Psicopedagogia: um portal para ainserção social. São Paulo:Vozes;2003. p.229.

16. Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa:Edições 70;1995.