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REFLEXÕES ACERCA DA ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO COTIDIANO DO PEDAGOGO ESCOLAR
Lourdes Margareth Calvi¹Maria Cristina Gomes Machado²
1 Introdução
O objeto deste texto consiste na reflexão acerca da organização do
trabalho cotidiano do pedagogo nas instituições escolares. Para o
desenvolvimento de nossa argumentação, cujo objetivo é propor elementos
para o planejamento do trabalho do pedagogo a ser cumprido a curto, médio e
longo prazo, partimos do pressuposto que a organização do trabalho
pedagógico na escola implica em refletir, discutir e explicitar os fins da
educação escolar.
A proposta justifica-se porque consideramos que a organização
pedagógica estabelecida coletivamente por cada comunidade escolar a partir
das reflexões, discussões e tomadas de decisões depende das suas
características, e devem estar registradas no Projeto Político Pedagógico.
Entendendo que não há construção isolada de um projeto de escola, de
educação e de sociedade, faz-se necessário que o processo seja coletivo e
permanente, exigindo a participação, o debate e o diálogo para agir, intervir e
lançar desafios, contribuindo com a busca de novos conhecimentos e práticas
na construção da escola pública com mais qualidade.
A importância e a necessidade da escola construir o seu Projeto Político
Pedagógico têm sido enfatizadas com bastante freqüência pela literatura
pedagógica preocupada, sobretudo, com a democratização dos espaços
escolares e a articulação da escola com a sociedade. A discussão coletiva na
construção do projeto político pedagógico constitui-se em referência
importante para que vários segmentos da escola descubram formas de
¹ Mestre em Educação pela Universidade Estadual de Maringá. Professora Pedagoga da rede pública de ensino do Estado do Paraná.² Professora Doutora Maria Cristina Gomes Machado, orientadora PDE - UEM.
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participação, muitas vezes, ainda não percebidas por eles. Além disso, pode
levar os indivíduos a constatarem que é possível interferir nas decisões que
vão orientar a organização do trabalho pedagógico como um todo.
Assim, a organização do trabalho pedagógico deve estar vinculada ao
debate acerca do modelo de gestão escolar, da construção cotidiana do Projeto
Político Pedagógico, da tomada de decisões nas instâncias colegiadas, da
formação continuada dos profissionais da educação, da transparência do uso
dos recursos públicos na escola, do acompanhamento da relação entre alunos,
funcionários, professores, direção, pais e comunidade, das questões como
evasão, repetência, baixo rendimento escolar, atendimento às pessoas com
necessidades educativas especiais e questões étnico-raciais, da formulação e
aplicação do Regimento Escolar, do cumprimento do Estatuto da Criança e do
Adolescente.
Por considerar que o trabalho do pedagogo consiste em atuar
efetivamente em todas estas questões que estão relacionadas com o
pedagógico, com o exercício cotidiano de busca de coerência entre a teoria e a
prática, faz-se necessário que o mesmo elabore um planejamento
estabelecendo planos de trabalho a curto, médio e longo prazo. Sendo assim, o
foco deste texto é o alcance do planejamento do pedagogo em relação ao
trabalho escolar, considerando a necessidade de sua articulação com as
estratégias de organização das atividades cotidianas da escola.
2 O dia-a-dia do pedagogo escolar
O cotidiano escolar deve ser organizado em função da aprendizagem e
do sucesso escolar do aluno, que se concretiza com base em diferentes
práticas educativas decorrentes da proposta curricular da escola. Entretanto,
ao nos inserirmos no cotidiano escolar, surgem vários questionamentos e
dentre eles o mais instigante é como promover as mudanças na educação?
Certamente a resposta para esta indagação não é facilmente encontrada,
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precisa ser constantemente investigada e ampliada, em função de diversas
situações problemáticas. Para tanto, é necessário identificar os desafios do
cotidiano, o que pode ser feito mediante investigação da própria ação e o
registro sistemático desse fazer, utilizando estratégias que possibilitem a
problematização, a busca e o compartilhamento de soluções.
Um dos questionamentos que é feito constantemente em relação a essa
mudança trata da organização do trabalho pedagógico. Como pode ser
organizado o trabalho pedagógico para que a escola cumpra sua função? Já
consideramos anteriormente que é função do pedagogo atuar efetivamente
em todas as questões que estão relacionadas com o pedagógico e com o
exercício cotidiano de busca de coerência entre a teoria e a prática.
Nosso propósito nesse texto não é recuperar a história e os percalços
que cercaram a existência e o exercício de dois profissionais dentro da escola,
o Orientador Educacional e o Supervisor Escolar. Entretanto, é importante
lembrar que o cotidiano de muitas escolas foi marcado pela presença desses
dois profissionais que dividiam o trabalho. O Supervisor que atendia os
professores e o Orientador que atendia os alunos. Nesse atendimento estavam
envolvidas ações como supervisionar, acolher, orientar, mas também, vigiar,
cobrar, punir, ameaçar. Dessa forma, cada profissional cumpria suas funções,
tarefas e atividades, separadamente. O ambiente e o trabalho da escola era
fragmentado e nenhum desses profissionais tinha a visão de conjunto da
escola, conseqüentemente, das ações educacionais e pedagógicas que
possibilitariam a formação do aluno, que deveria ser visto por inteiro (PLACCO,
2002, p. 96).
A herança histórica do pedagogo como controlador do processo escolar
foi substituída pela atuação de um multitarefa, um “faz tudo”. Na imposição do
fazer tudo, a tarefa principal, que é a organização do trabalho pedagógico, fica
em segundo plano. Torna-se difícil, realizar a organização do trabalho
pedagógico e atender as necessidades da escola, que chamamos de rotina
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escolar. Todos os dias o pedagogo é solicitado para a verificação de uniformes,
de alunos atrasados, dos que fogem da sala de aula, das discussões entre
professor e aluno, das agressões entre alunos, das agressões verbais entre
aluno e professor e, sobretudo, a tentativa de controlar a indisciplina de sala
de aula. Tarefas rotineiras e de difícil solução diante da forma de atuação
cotidiana do “apagar incêndios”.
Em ambas situações apontadas anteriormente o trabalho do pedagogo é
fragmentado. De acordo com Acácia Kuenzer, “a divisão do trabalho escolar
tem origem na separação entre a propriedade dos meios de produção e força
de trabalho, e não na divisão técnica do trabalho” (2002, p. 48).
Para essa autora, a fragmentação do trabalho pedagógico,
particularmente no âmbito do taylorismo/fordismo (que tem as linhas de
produção com tarefas bem definidas), ou seja, a divisão técnica, no
capitalismo, não é causa, mas sim conseqüência da contradição fundamental
entre capital e trabalho. Então, “a origem da fragmentação do trabalho não é a
divisão técnica, mas sim a necessidade de valorização do capital, a partir da
propriedade privada dos meios de produção” (KUENZER, 2002, p. 49).
A superação da fragmentação do trabalho pedagógico não é uma
questão meramente técnica que pode ser resolvida com outras formas de
organização do trabalho, como as do toyotismo, que substituem as linhas de
produção por células de produção, onde a especialização é substituída pela
multitarefa. Na escola, os especialistas – administrador, orientador e
supervisor – seriam substituídos pelos profissionais multitarefa. Segundo
Kuenzer (2002), isto não seria suficiente para a escola deixar de ser capitalista,
“a superação, portanto, da fragmentação do trabalho pedagógico só será
possível se superada for a contradição entre propriedade dos meios de
produção e força de trabalho” (KUENZER, 2002, p. 54).
Isso não significa que devemos aceitar as formas de fragmentação. É
muito importante que sejam desveladas essas formas de divisão de trabalho.
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Para tanto, o trabalho pedagógico deve ser ampliado por meio de decisões e
estratégias internas à escola, com clareza sobre seus limites, buscando
compreender como a fragmentação se faz presente no modo de organização
do trabalho, mesmo que não existam mais especialistas, substituídos pelo
pedagogo unitário.
No enfrentamento dessa situação de divisão dentro da escola,
experiências pedagógicas ocorreram, em vários momentos da história recente
da educação brasileira. Essas experiências pedagógicas e as práticas delas
decorrentes foram forjando propostas e saídas que deveriam culminar na
proposição de um trabalho diferenciado dos profissionais da educação. No
cotidiano da escola, “de forma coletiva e integrada, deveriam enfrentar as
dicotomias impostas a um processo que é uno: a orientação e a construção da
prática escolar, docente e não-docente, voltada para a formação do aluno”
(PLACCO, 2002, p. 96).
O pedagogo escolar defronta-se, diariamente, com uma série de
situações conflitantes e imprevisíveis que demandam sua atenção, impedindo-
o de discutir o trabalho a ser desenvolvido com o coletivo da escola e seguir
um planejamento definido. Envolvido com a rotina das questões que são “mais
urgentes”, o pedagogo vê as horas, os dias, os meses se passando e a
angústia aumentando porque ele não tem tempo para a organização do
trabalho pedagógico. Envolvido no “apagar incêndios”, não percebe que
grande parte desses problemas poderia ter melhor encaminhamento se
pensados dentro do contexto escolar e fazendo parte do planejamento desse
fazer diário. O pedagogo precisa procurar saídas e ousar com um trabalho
diferenciado para ir rompendo com as tarefas rotineiras descoladas de um
projeto maior.
Não há fórmulas, nem nos propomos aqui a receitá-las, mas sim
oferecermos elementos suficientes para incentivar a discussão, a reflexão e
possíveis mudanças. A única certeza que temos é que as saídas serão
construídas coletivamente. Um trabalho coletivo envolvendo todos os sujeitos
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da comunidade escolar que estabeleça pactos de relações democráticas pode
alcançar êxito. Nesse contexto, propostas de mudanças se apresentam como
necessárias e oportunas, quando se propõe melhorar os resultados da
aprendizagem dos alunos, por meio de um trabalho conjunto, consistente e
coerente com as demandas.
Por se tratar de mudanças planejadas, intencionais, voltadas para a
consolidação do trabalho pedagógico resultante de avaliações e críticas à ação
desenvolvida, o intento supõe amadurecimento de todos os profissionais da
educação. Ao pensar o processo de mudança a partir da escola, sob a
coordenação do pedagogo, é preciso considerar o estágio de desenvolvimento
dos professores, funcionários e a equipe pedagógica em termos de
conhecimento e compreensão dos fundamentos teóricos-metodológicos em
que se baseia a prática educativa. Implica dizer que é preciso prepará-los,
ajudá-los a compreender e analisar o próprio trabalho à luz da teoria. Infere-se
daí a importância da formação dos educadores no próprio local de trabalho a
partir da consciência crítica da sua prática.
A prática docente como fonte de conhecimento, refletida criticamente,
pode contribuir para o processo de formação continuada dos professores. Tal
reflexão produz melhores resultados quando estimulada e conduzida pelo
pedagogo estudioso, experiente, capaz de transformar o processo de reflexão
individual em um processo coletivo, de tal forma que a busca de novos
caminhos se transforme numa ação orientada para objetivos mais amplos
assumidos coletivamente pelo grupo.
A ação do pedagogo muitas vezes entendida como assessoria constitui a
melhor solução para esse trabalho, assumindo a responsabilidade pela
formação continuada dos profissionais da educação. De acordo com Libâneo
(2004), o pedagogo é o profissional que atua em várias instâncias das práticas
educativas, direta e indiretamente ligadas à organização e aos processos de
transmissão e assimilação de saberes e modos de ação, tendo em vista
objetivos de formação humana definidos em sua contextualização histórica.
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“Em outras palavras, pedagogo é um profissional que lida com fatos,
estruturas, contextos, situações, referentes à prática educativa em suas várias
modalidades manifestações” (LIBÂNEO, 2004, p. 52).
Conceber a ação do pedagogo, centrada na formação dos profissionais
da educação, não implica no abandono das tarefas rotineiras, mas indica um
redirecionamento do seu trabalho, cuja atenção deverá voltar-se para os
problemas que ocorrem na sala de aula, com professores e alunos, mas
principalmente com questões mais amplas que dizem respeito à escola,
tomando consciência das mudanças que se colocam como necessárias para a
educação. Significa pensar em pedagogos estudiosos, bem preparados,
atualizados e dinâmicos, sensíveis aos problemas dos professores e suas
dificuldades, mas, sobretudo, preocupados com o destino dos alunos e com a
responsabilidade da escola para com a comunidade.
Se perguntarmos ao pedagogo escolar quais são os maiores problemas
enfrentados no seu trabalho diário, ele explanará sobre problemas com alunos
e professores. Os problemas com alunos referem-se à indisciplina, àqueles que
chegam atrasados, gazeiam aulas, não entregam atividades solicitadas, faltam
nos dias de provas, comparecem para as aulas sem uniforme, não têm
organização para os estudos e apresentam dificuldades de aprendizagem.
Podemos observar nessa lista que, as dificuldades de aprendizagem e
necessidade de ajuda para a organização nos estudos, são problemas
apontados, costumeiramente, por último, quando deveriam estar em primeiro
plano.
Os problemas relacionados com os professores e listados pelo pedagogo
referem-se aos que não dominam o conteúdo da disciplina que lecionam, não
avaliam coerentemente, não controlam a disciplina dos alunos em sala de
aula, chegam atrasados para o trabalho, são faltosos, lecionam em várias
escolas e não se integram ao coletivo.
Entendemos que os problemas citados podem ser enfrentados com
propostas coletivas de encaminhamentos, muito embora os envolvidos
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considerem “seus casos” como particulares e mais urgentes. É possível discutir
os problemas rotineiros dentro de um processo organizado e planejado. Nada é
tão urgente – exceto problemas de saúde ou agressão física – que não possa
aguardar os ânimos se acalmarem e, serenamente, os problemas serem
discutidos e encaminhados em reuniões com propósitos bem definidos. Sendo
assim, sugerimos que o pedagogo, ao elaborar o planejamento do seu
trabalho, contemple duas grandes frentes articuladas a formação continuada e
a gestão democrática.
3 O planejamento
O planejamento da ação do pedagogo na escola é um avanço na
organização do trabalho pedagógico. Esse texto tem o intuito de apresentar ao
pedagogo alguns elementos que permitam melhor compreender os limites do
trabalho pedagógico e ampliar suas possibilidades de intervenção. Sob esse
ângulo, a reflexão preocupa-se em ressaltar a necessidade de o planejamento
do pedagogo orientar e articular-se ao Projeto Político Pedagógico da escola.
Em primeiro lugar, a escola elabora coletivamente o projeto político
pedagógico estabelecendo os termos de sua autonomia. O projeto político
pedagógico é o instrumento pelo qual a escola se reconhece como uma
entidade autônoma e dinâmica, determinando suas normas de funcionamento.
A autonomia na organização permitirá à escola definir sua identidade de
acordo com as suas necessidades e desejos de melhoria, contribuindo também
para efetuar a avaliação da sua gestão, entre outros (Vallejo, 2002, p. 36, 37).
Partindo dessas premissas, o pedagogo deve elaborar o seu planejamento
articulado com o projeto político pedagógico, discutindo com os demais
profissionais da escola.
Para Vallejo (2002, p. 53), “o planejamento é mais um processo contínuo
que uma atividade pontual e acabada num momento temporal. Para isso, é
preciso pensar em diversos tipos de planejamento segundo sua maior ou
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menor amplitude”. Ainda de acordo com esse autor, as razões fundamentais
da aparição do planejamento como sistema integrado, e como expressão de
diferentes momentos (especialmente a curto e longo prazo), se baseiam nas
transformações que presenciamos em todos os âmbitos relacionados à
instituição educativa e que se manifestam na vertiginosa evolução das
“mudanças sociais, econômicas, tecnológicas, na nova dimensão das
estruturas competitivas, de todos os efeitos que condicionam os prazos de
execução das ‘políticas e ações’ escolares a curto, médio e longo prazo”
(Vallejo, 2002, p.56). Vallejo estabelece como tempo do planejamento, a curto
prazo, o máximo de 1 ano; a médio prazo, entre 1 e 5 anos e, a longo prazo,
mais de 5 anos. (Vallejo, 2002, p. 59).
É importante ressaltar que sugerimos duas frentes de atuação
articuladas com as quais o pedagogo deve preocupar-se na elaboração de seu
planejamento, a formação continuada e o exercício constante da gestão
democrática. Nas duas frentes, o pedagogo engloba os temas como
concepções teóricas que estruturam o processo educativo, processos de
ensino e aprendizagem, conhecimento do conteúdo das disciplinas,
relacionamento entre alunos e profissionais da educação, dificuldades do
professor e do aluno no domínio do conteúdo, dificuldades no controle da
disciplina em sala de aula, agressões verbais e físicas, organização de grupos
de estudos de alunos, avaliação, inclusão, formação política para efetiva
participação no Conselho Escolar, Grêmio Estudantil, Conselho de Classe,
estudos sobre o Regimento Interno, Estatuto da Criança e do Adolescente e Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Leis que ampliam a democracia e
direitos humanos.
3.1 A formação continuada
O processo de estudo e discussão sobre a unicidade da ação do
pedagogo com os demais profissionais da educação, implica em refletir sobre a
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escola, seus desafios atuais, o preparo dos educadores para enfrentá-los e,
finalmente, o papel do pedagogo na articulação e na parceria para que um
processo pedagógico mais adequado às necessidades de formação dos alunos
possa ser desencadeado.
A busca de maior unidade na formação continuada, tomando a escola
como referência, pode ser o princípio da superação e avanços na construção
da unitariedade possível. A formação continuada é muito importante nesse
processo desde que ocorra na escola, articulando pedagogos, professores,
funcionários, pais, alunos e tomando como eixo o projeto político pedagógico
como totalidade. De acordo com Acácia Kuenzer (2002), a partir do projeto
político pedagógico “vão se definir dimensões disciplinares que poderão
justificar abordagens por área ou tema, mas tendo sempre a escola e o
trabalho pedagógico escolar como totalidade que define e ao mesmo tempo
articula as partes” (KUENZER, 2002, p. 71). Nessas experiências, o profissional
desenvolve sua identidade como profissional da escola, e não de especialista
em disciplinas ou função; seu trabalho passa a ser compreendido como parte
do trabalho escolar, o qual, tem que se articular ao trabalho dos demais
profissionais que atuam na escola. Assim compreendida, a formação
continuada passa a ter sentido, a estabelecer compromissos e cumplicidades,
a permitir o enfrentamento compartilhado de problemas que são comuns, e a
permitir mudanças significativas.
Para efetivar tais mudanças, a escola deve preocupar-se com a crescente
complexidade da sociedade e do conhecimento, com os problemas e as
contradições da escola e da prática escolar, ao lado das mudanças do perfil e
das necessidades dos alunos e da formação precária e inadequada dos
educadores. Estes são alguns dos desafios presentes no cotidiano da escola
exigindo ações e intervenções dos envolvidos no processo educativo.
Estes desafios nos apresentam o questionamento de como está o
preparo dos profissionais da educação no que tange à compreensão do
sistema de ensino; do processo de ensino e aprendizagem; dos processos de
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desenvolvimento e aprendizagem dos alunos; da preparação para lidar com o
outro, com conflitos e reações individuais e grupais, seja em sala de aula com
os alunos, seja com colegas, com outros educadores da escola ou com pais de
alunos. Assim, a questão ética da responsabilidade pela formação da e na
cidadania deve permear a formação continuada, expandindo as funções da
escola que pretende construir respostas à crescente precarização do trabalho e
à exclusão dos trabalhadores.
Para Libâneo e Pimenta (2002), a natureza do trabalho docente é
ensinar, como contribuição ao processo de humanização dos alunos
historicamente situados. Sendo assim, é importante que estes mobilizem os
conhecimentos da teoria da educação, do ensino e das áreas do conhecimento
necessários à compreensão do ensino como realidade social. Para tanto,
devem desenvolver a capacidade de “investigar a própria atividade (a
experiência) para, a partir dela, construírem e transformarem os seus saberes-
fazeres docentes, num processo contínuo de construção de suas identidades
como professores” (LIBÂNEO; PIMENTA, 2002, p. 44).
Dessa forma, a pesquisa pode ser focalizada pelo pedagogo como modo
de entender que o professor não é apenas sujeito, mas participante de
investigações, e que a escola não é apenas instância de ensino, mas também
de produção de conhecimento. De acordo com Mary Rangel, (2002, p. 95), “a
escola, como local de implementação do processo didático também é espaço
de pesquisa e aproveitamento dos seus objetos para estudos à luz de
fundamentos teóricos”. Sendo assim, o pedagogo pode coordenar pesquisas,
de modo que os problemas do cotidiano sejam aqueles que suscitem o estudo
sistematizado, desenvolvido em bases teórico-metodológicas. Então, a
pesquisa pode ampliar a compreensão do processo didático, propiciando
decisões fundamentais, perspectivas de avanços do conhecimento e das
práticas (Rangel, 2002, p. 95).
A atuação do pedagogo é imprescindível na ajuda aos professores no
aprimoramento do seu desempenho na sala de aula, em relação aos
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conteúdos, métodos e formas de organização da classe, na análise e
compreensão das situações de ensino com base nos conhecimentos teóricos,
ou seja, na vinculação entre a área do conhecimento pedagógico e o trabalho
de sala de aula.
Entretanto, conforme Libâneo (2004), quando se atribui ao pedagogo as
tarefas de coordenar e prestar assistência pedagógico-didática ao professor,
não está se supondo que ele deva ter domínio dos conteúdos-métodos de
todas as matérias. Esse autor aponta que a atribuição do pedagogo “vem dos
campos do conhecimento implicados no processo educativo-docente, operando
uma intersecção entre a teoria pedagógica e os conteúdos-métodos
específicos de cada matéria de ensino, entre o conhecimento pedagógico e a
sala de aula” (LIBÂNEO, 2004, p. 60). O pedagogo contribui nas situações em
que a atividade docente extrapola o âmbito específico da matéria de ensino,
ou seja, na definição de objetivos educativos, nas implicações psicológicas,
sociais e culturais no ensino, nas peculiaridades do processo de ensino e
aprendizagem, na detecção de problemas de aprendizagem entre os alunos,
na avaliação, no uso de técnicas e recursos de ensino, na coordenação da
elaboração de planos de ensino, na articulação dos conteúdos, na composição
de turmas, nas reuniões de estudo, nos conselhos de classe (Libâneo, 2004, p.
62, 63).
Libâneo (2004, p. 63) ressalta que “ter domínio de conteúdos e métodos
são tarefas diretamente ligadas às metodologias específicas das matérias e,
por isso são da competência do professor”. Obviamente o trabalho do
professor não deve se submeter ao controle do pedagogo. A organização do
trabalho escolar deve permitir um relacionamento de cooperação e respeito
entre esses profissionais, sem imposição de métodos e sem romper com as
formas de condução no processo de ensino e aprendizagem baseados nas
experiências individuais de cada um.
Pedagogos e docentes têm suas atividades articuladas por conta da
especialidade de cada um, da experiência profissional, do trato cotidiano das
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questões de ensino e aprendizagem das matérias, das reuniões de trabalho em
que o geral e o específico do ensino vão se interpenetrando. (Libâneo, 2004, p.
63).
O planejamento do pedagogo visando a formação continuada dos
professores deve ser elaborado de tal forma que contemple os estudos em
encontros quinzenais ou mensais por disciplina, área ou tema, durante a hora
atividade (ou em outros horários se os envolvidos preferirem). Para tanto, o
pedagogo deve ter envolvimento com a elaboração do horário destinado às
aulas, buscando agrupar em hora atividade os professores da mesma
disciplina ou área.
Os assuntos a serem estudados e discutidos nas reuniões quinzenais
poderão ser selecionados conforme as necessidades mais urgentes detectadas
na escola ou sugeridos pelos professores. Entretanto, é fundamental que nos
primeiros encontros sejam estudados o projeto político pedagógico da escola e
as diretrizes curriculares estadual das disciplinas.
O projeto político pedagógico da escola deve ser estudado, destacando
as concepções de homem, sociedade e educação e a perspectiva teórico-
metodológica assumidas pela escola nesse documento. A intenção do estudo
desses temas está vinculada à necessidade de avaliar se a escola desenvolve
o processo de escolarização de seus alunos baseada nas concepções de
homem, educação e sociedade, registradas no PPP e se educa conforme a
perspectiva teórico-metodológica afirmada no referido documento.
A intenção é que os encontros quinzenais ou mensais com os professores
para estudos contribuam, com o passar do tempo, com a diminuição das
discussões “descoladas” do contexto, ou seja, as reclamações feitas pelos
professores sobre os alunos durante o horário de intervalo das aulas e nos
corredores, durante as aulas. Possivelmente, após alguns encontros de
formação continuada, o pedagogo não será mais interrompido, em sua
atividade planejada, pela entrada intempestiva de alunos que foram
“enviados” pelos professores por causarem indisciplina em sala de aula. O
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percurso é longo, mas é possível de ser realizado. A persistência do pedagogo
em manter firme o propósito de executar o seu planejamento de trabalho deve
se sobrepor aos atropelos do cotidiano escolar.
A responsabilidade de manter latente no dia-a-dia escolar as discussões,
reflexões e pesquisas a cerca do processo pedagógico não é apenas do
pedagogo e professores, os funcionários, alunos e pais também devem estar
envolvidos.
Os funcionários das escolas, que durante muitos anos estiveram à
margem das discussões relativas ao processo pedagógico, atualmente estão
sendo convocados a contribuir. De acordo com Alves e Garcia (2002, p. 127),
os funcionários, “hoje também aprenderam a ser intelectuais, no sentido
gramsciano, de sujeitos que pensam o mundo em que vivem e que vão
construindo concepções de mundo e de homem em seu cotidiano”. Para essas
autoras, os funcionários não são tarefeiros, mas sim sujeitos que pensam ao
fazer, e que compreendem “haver saberes da prática nem sempre valorizados
em sociedades discriminadoras e excludentes como a nossa” (ALVES; GARCIA,
2002, p. 127). Como profissionais da educação, os funcionários precisam
ampliar a compreensão crítica da sociedade em que vivemos. Para tanto, é
importante que os funcionários tenham um espaço/tempo pedagógico para a
sua formação continuada. Os encontros de estudos com os funcionários
possibilita envolvê-los no processo de organização do trabalho escolar como
educadores por meio do estudo das concepções de homem, sociedade e
educação e a perspectiva teórico-metodológica inscritas no PPP da escola;
estudo do ECA, LDB e Regimento Interno; pesquisa, reflexão e discussão sobre
a organização de seu trabalho diário e relacionamento com alunos, pais e
professores; participação nas instâncias colegiadas, dentre outros.
Os encontros com os alunos podem ser organizados em períodos
mensais ou quinzenais com representantes de turmas, com as turmas, com
grupos de alunos ou em assembléias para a discussão do processo de ensino e
aprendizagem; dificuldades de aprendizagem; disciplina para os estudos;
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avaliação; inclusão; organização de grupos de estudos com monitoria; estudo
do Regimento Interno e do ECA; proposição e desenvolvimento de projetos;
discussão sobre repetência, evasão escolar; indisciplina; violência; saúde,
dentre outros assuntos que os alunos considerarem importantes.
As reuniões com os alunos e as conversas em sala de aula, permitem
conhece-los em situação de estudo. O que queremos dizer com isso é que o
pedagogo não precisa aguardar em sua sala que os alunos o procurem para
reclamar de professores, colegas ou funcionários. O contato diário entre o
pedagogo e o aluno, em sala de aula, é muito importante, nesses encontros o
pedagogo vai se colocando como parceiro, companheiro e não como
controlador.
As reuniões com os pais dos alunos e a comunidade merecem atenção
redobrada do pedagogo. As reclamações dos pedagogos sobre a ausência dos
pais nas reuniões convocadas pela escola são constantes. Muito já se falou e
escreveu sobre esse assunto, porém o problema persiste. Buscar alternativas
democráticas para solucionar ou pelo menos amenizar esse problema continua
sendo um desafio. Apontamos como sugestão que a escola não convoque os
pais apenas nos dias de entrega de boletins, mas também para encontros de
estudos do Estatuto da Criança e do adolescente; Leis que ampliam a
democracia; Lei 10.639/03; Lei Maria da Penha; discussões sobre temas
relacionados à crianças e adolescentes; saúde; direitos sociais; participação
em cursos, projetos e atividades pedagógicas.
3.2Gestão democrática
A autonomia da escola implica em uma organização escolar que permita
repensar os processos de gestão e a construção coletiva do projeto político
pedagógico de modo que a escola possa traçar seu próprio caminho. Então, a
autonomia da escola depende de uma reconfiguração das práticas e gestão e
dos processos de tomada de decisões.
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A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/96)
remete, à normatização da gestão democrática, garantindo dois instrumentos
fundamentais ao incremento da participação que são a elaboração do projeto
pedagógico da escola, contando com a participação de todos os profissionais
da educação e, a participação das comunidades escolar e local em conselhos
escolares ou equivalentes.
Estas são prerrogativas que buscam o estabelecimento de mecanismos
de participação efetiva no processo de construção de uma nova cultura no
cotidiano escolar, como expressão de um projeto coletivo que envolve as
comunidades local e escolar. Isso implica uma nova escola, onde novos
processos de participação na gestão devem ser implementados, envolvendo
comunidade, professores, funcionários, pais e alunos na definição das políticas
e na orientação para a gestão com autonomia para a escola.
A participação de todos os membros da escola nos processos decisórios
não exclui a necessidade de se planejar, de se administrar, de coordenar o
trabalho das pessoas, de fazer o acompanhamento e a avaliação sistemática
do trabalho escolar. De acordo com Libâneo (2002, p. 92), “autonomia e
participação não podem servir para deixar as escolas ao abandono,
funcionando às cegas. Por essa razão, é fundamental que a investigação
pedagógica se dedique a estudos sobre o tema da gestão das escolas”.
Entendemos a gestão democrática como um processo de aprendizado e
de luta política que não se limita na prática educativa, mas vislumbra, nas
especificidades dessa prática social e de sua relativa autonomia, a
possibilidade da criação e da efetivação de canais de participação, bem como
“de aprendizado do jogo democrático e, conseqüentemente, do repensar das
estruturas autoritárias que permeiam as relações sociais no seio das práticas
educativas visando à sua transformação” (Dourado, 2002, p. 156).
Nesse sentido, a construção de um processo de gestão escolar
democrática é sempre processual e se trata de uma luta política de
construção. Nas palavras de Vitor Paro (2004, p. 19), “democracia não se
¹ Mestre em Educação pela Universidade Estadual de Maringá. Professora Pedagoga da rede pública de ensino do Estado do Paraná.² Professora Doutora Maria Cristina Gomes Machado, orientadora PDE - UEM.
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concede, se realiza”. Nessa concepção, o primeiro ponto a ser destacado é que
a gestão democrática não é algo que se decreta (não basta estar na LDB), mas
é o resultado de ações construídas cotidiana e coletivamente. Ou seja, a
gestão é um processo de aprendizado e de luta política, um processo de idas e
vindas, encontrões e esbarrões, constituído pela articulação entre as diferentes
pessoas da comunidade escolar que vão moldando os aspectos desse
processo.
Para Dourado (2002, p. 158), a gestão escolar não é neutra, já que todas
as ações desenvolvidas na escola envolvem pessoas e tomadas de decisões.
Nesse sentido, ações simples, como limpeza e a conservação do prédio
escolar, até ações complexas, como as definições pedagógicas indicam uma
determinada lógica e um horizonte de gestão, pois são ações que expressam
interesses e compromissos que determinam o cotidiano escolar.
A democratização na e da escola implica articular mecanismos de
participação. Implica, portanto, a construção coletiva do projeto político
pedagógico; a consolidação do conselho escolar, grêmio estudantil e conselho
de classe participativo; a luta pela progressiva autonomia da escola; a
discussão de novas formas de organização do trabalho, de espaços e tempos
escolares; elaboração e desenvolvimento de projetos.
Como efetivar a democratização do cotidiano escolar? Eis aí um grande
desafio! Não é apenas elegendo, por meio do voto, a direção da escola que
podemos considerá-la democrática. Tão importante quanto o voto na eleição é
o exercício diário de realizar a gestão democrática. Apontamos anteriormente,
a necessidade do pedagogo atuar efetivamente em todas as questões
relacionadas com o pedagógico, incluindo as instâncias colegiadas, porque em
muitos casos, a participação efetiva dos representantes no Conselho Escolar1
depende, da formação continuada.
O cotidiano escolar é revelador. Ele nos revela como se dá a participação
dos conselheiros no Conselho Escolar, como são as reuniões que organizam 1 Para saber mais sobre Conselho Escolar, leia: ANTUNES, Ângela. Aceita um conselho? Como organizar o colegiado escolar. São Paulo: Cortez. Instituto Paulo Freire, 2002.
¹ Mestre em Educação pela Universidade Estadual de Maringá. Professora Pedagoga da rede pública de ensino do Estado do Paraná.² Professora Doutora Maria Cristina Gomes Machado, orientadora PDE - UEM.
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com seus pares para levar as propostas e deliberações ao Conselho. O
cotidiano escolar também revela como os integrantes do Grêmio Estudantil
estão empenhados em discutir com a direção da escola, espaços e tempos
escolares para realizar a formação política dos alunos por meio de palestras,
cursos, participação em congressos estudantis; preocupados com o processo
de ensino e aprendizagem dos alunos, com a evasão e repetência;
interessados em discutir com os profissionais da educação a organização da
biblioteca, sala de computação, banheiros, indisciplina, depredação do
patrimônio escolar, intervalo, falta de professores, cantina, dentre outros
setores; preocupados, principalmente, em discutir a participação dos demais
alunos nas reuniões, assembléias e Conselho de Classe.
O dia-a-dia do trabalho escolar revela como se dá a participação dos
funcionários nas decisões internas; o envolvimento deles com o processo de
ensino e aprendizagem dos alunos, evasão e repetência; revela a participação
dos pais na organização interna dos tempos e espaços escolares, na vida
escolar dos filhos, nas assembléias, palestras, cursos, projetos, atividades
pedagógicas. Finalmente, o cotidiano escolar revela, sobretudo, como a escola
organiza as reuniões com professores, com pais e com alunos, como realiza o
Conselho de Classe participativo. Tão importante quanto estimular a
participação no Conselho Escolar e Grêmio Estudantil é a realização do
Conselho de Classe participativo. Essas revelações do cotidiano devem instigar
o pedagogo a discutir coletivamente propostas de mudanças e a investir na
sua formação continuada.
Para preparar os encontros de estudos com os profissionais da educação,
alunos e pais, o pedagogo também necessita de tempo e espaço, durante o
seu período de trabalho, para estudos. Dessa forma, sugerimos que, o
pedagogo estabeleça, por meio de acordo com a direção e demais profissionais
da escola, o horário da sua hora atividade. O horário de estudos do pedagogo
deve ser publicado, ao lado do horário das aulas e hora atividades dos
professores. O objetivo dessa publicação é para que seja respeitado o horário
¹ Mestre em Educação pela Universidade Estadual de Maringá. Professora Pedagoga da rede pública de ensino do Estado do Paraná.² Professora Doutora Maria Cristina Gomes Machado, orientadora PDE - UEM.
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da hora atividade do pedagogo como são respeitados os horários de aula e
hora atividades dos professores.
Considerações finais
Em uma perspectiva de continuidade e não de finalização, desejamos que este
texto incentive o debate do pedagogo na (re)construção dos projetos da
escola, nos fundamentos teóricos e na prática educativa.
A partir do planejamento elaborado pelo pedagogo que, segundo
Dourado “é de aplicação possível, já que se situa numa perspectiva realista
sem esquecer as doses de utopia sempre necessárias em educação” (Vallejo,
2002, p. 23), propomos que se repense a escola, sem o pessimismo de novos
tempos que aceitam não haver alternativa ao projeto capitalista que se amplia,
ocupando novos espaços e impondo limites.
De acordo com Acácia Kuenzer, “a superação desses limites só é possível
pela categoria ‘contradição’, que permite compreender que o capitalismo traz
inscrito em si, ao mesmo tempo, a semente de seu desenvolvimento e de sua
destruição” (2002, p. 65). Ou seja, esse modo de produção é atravessado por
positividades e negatividades, avanços e retrocessos, que ao mesmo tempo
evitam e aceleram a sua superação. É com base nessa compreensão que se
deve analisar a unitariedade do trabalho escolar como possibilidade histórica
de superação da fragmentação. Na busca dessa superação, torna-se
necessária a ampliação do trabalho do pedagogo fundamentado no
conhecimento técnico e no compromisso político com a transformação,
articulados às demais formas de destruição das condições materiais que
geram a exclusão.
Por entender a escola como lugar de luta hegemônica de classes, de
resistência, de conquista da cultura e da ciência como instrumentos de luta
contra as desigualdades sociais impostas pela organização capitalista da
¹ Mestre em Educação pela Universidade Estadual de Maringá. Professora Pedagoga da rede pública de ensino do Estado do Paraná.² Professora Doutora Maria Cristina Gomes Machado, orientadora PDE - UEM.
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sociedade, é necessário pensar um novo cenário para ela, visando a sua
democratização. Isso implica em não perdermos de vista o importante papel
do pedagogo, na coordenação das atividades políticas e pedagógicas da
escola, entendo que a implementação da gestão democrática suscita o
estabelecimento de ações compartilhadas que resultem na participação de
todos na noção de efetividade social da escola, ou seja, de garantia de acesso
e de permanência com qualidade social para todos, nos diferentes níveis e
modalidades de ensino.
Referências
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DOURADO, Luiz Fernandes. A gestão democrática e a construção de processos coletivos de participação e decisão na escola. In: AGUIAR, Márcia Ângela da Silva; FERREIRA, Naura Syria Carapeto (Orgs.). Para onde vão a orientação e a supervisão educacional? Campinas: Papirus, 2002.
LIBÂNEO, José Carlos; PIMENTA, Selma Garrido. Formação dos profissionais da educação: visão crítica e perspectivas de mudança. In: PIMENTA, Selma Garrido (Org.). Pedagogia e pedagogos: caminhos e perspectivas. São Paulo: Cortez, 2002. LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e pedagogos, para quê? São Paulo: Cortez, 2004.
PARO, Vitor Henrique. Gestão democrática da escola pública. São Paulo: Ática, 2004.
PLACCO, Vera Maria Nigro de Souza. Formação de professores: o espaço de atuação do coordenador pedagógico-educacional. In: AGUIAR, Márcia Ângela
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da Silva; FERREIRA, Naura Syria Carapeto (Orgs.). Para onde vão a orientação e a supervisão educacional? Campinas: Papirus, 2002.
KUENZER, Acácia Zeneida. Trabalho pedagógico: da fragmentação à unitariedade possível. In: AGUIAR, Márcia Ângela da Silva; FERREIRA, Naura Syria Carapeto (Orgs.). Para onde vão a orientação e a supervisão educacional? Campinas: Papirus, 2002.
RANGEL, Mary. Supervisão: do sonho à ação – uma prática de transformação. In: FERREIRA, Naura Syria Carapeto (Org.). Supervisão educacional para uma escola de qualidade. São Paulo: Cortez, 2002.
VALLEJO, José M. Bautista. Uma escola com projeto próprio. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.
¹ Mestre em Educação pela Universidade Estadual de Maringá. Professora Pedagoga da rede pública de ensino do Estado do Paraná.² Professora Doutora Maria Cristina Gomes Machado, orientadora PDE - UEM.
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