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Universidade Eduardo Mondlane Faculdade de Ciências Departamento de Ciências Biológicas Accademos O Supervisor Como Redigir Trabalhos Científicos Por Edgar Manuel Cambaza (MSc) Maputo, Fevereiro de 2015

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Um bom livro para quem quer escrever um bom trabalho de pesquisa, sobretudo se for em ciências biológicas ou naturais.

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Page 1: O Supervisor

Universidade Eduardo Mondlane

Faculdade de Ciências

Departamento de Ciências Biológicas

Accademos

O Supervisor

Como Redigir Trabalhos Científicos

Por Edgar Manuel Cambaza (MSc)

Maputo, Fevereiro de 2015

Page 2: O Supervisor
Page 3: O Supervisor

Ficha técnica

Título: Accademos: o Supervisor

Autor: Edgar Manuel Cambaza

Todos os direitos reservados. Esta obra não deve ser vendida nem alterada e

o seu conteúdo deve ser devidamente referenciado quando usado. Para fins

comerciais, nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou transmitida

por quaisquer formas ou meios, electrónicos ou mecânicos, incluindo

fotocópias, gravações ou qualquer outro tipo de arquivamento de

informações, sem autorização escrita e assinada do autor.

Foto de capa: Edgar Cambaza

Contacto: +258 82 4494050 (telemóvel)

[email protected] (endereço electrónico)

Atenção: esta obra não segue o novo Acordo Ortográfico.

Declaração de honra

Eu, Edgar Manuel Cambaza, declaro que este trabalho, intitulado Accademos:

o Supervisor, foi inteiramente feito por mim e que a informação aqui apresentada

corresponde à minha compreensão e sensibilidade sobre a realidade. Todo o conteúdo

extraído directa ou indirectamente de outras obras apresenta referências aos devidos

autores. Deste modo, responsabilizo-me por toda ou qualquer consequência moral ou

legal advinda da sua publicação.

Agradecimento e dedicatória

Agradeço e dedico este livro a todos os que moldaram o meu pensamento.

Tive a sorte de ter encontrado grandes mestres e pupilos dedicados, que me fazem

sentir um homem de sucesso. Só não vou escrever nomes porque a lista não acaba e

todos merecem ser mencionados em primeiro lugar. Deste modo, mencionarei todo o

Departamento de Ciências Biológicas da Universidade Eduardo Mondlane (UEM),

Centro de Ciências Forenses da Universidade da Austrália Ocidental, Centro de

Biotecnologia da UEM, Instituto Nacional da Saúde, Hospital Militar de Maputo,

Centro de Exames Médicos e muitos outros parceiros.

Page 4: O Supervisor
Page 5: O Supervisor

Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza i

Lista de abreviaturas

CDC – Centro de Controlo de Doenças

coord. – coordenador (es)

DCB – Departamento de Ciências Biológicas, Faculdade de Ciências,

Universidade Eduardo Mondlane

DSD – Direcção de Serviços de Documentação

ECA – Ensaio Clínico Aleatório

FAEF – Faculdade de Agronomia e Engenharia Florestal

GPS – Sistema de Posicionamento Geográfico

HACCP – Hazard Analysis of Critical Control Points

INS – Instituto Nacional da Saúde

OMS – Organização Mundial da Saúde

ONG – organização não-governamental

SI – Sistema Internacional de Pesos e Medidas

UEM – Universidade Eduardo Mondlane

UP – Universidade Pedagógica

URL – endereço único de páginas da internet

Lista de tabelas

Tabela 1. Lista de verbos frequentemente usados para a construção de

objectivos. ................................................................................................ 53

Tabela 2. Exemplo de cronograma de actividades. .......................................... 72

Tabela 3. Exemplo de uma tabela de orçamento. ............................................ 72

Tabela 4. Critérios de qualidade para avaliar fontes de informação na internet.

................................................................................................................ 107

Tabela 5. Lista de algumas das bases de dados académicas e científicas

gratuitas mais populares no Mundo. ...................................................... 110

Lista de figuras

Figura 1. Hierarquia da evidência: investigações com localização superior

indicam maior força de evidência. Imagem de Sampaio and Mancini

(2007). Não entrei em detalhes sobre as características de cada um destes

tipos de estudo mas há muito material acessível sobre o assunto,

começando pelo próprio artigo onde tirei a imagem. .............................. 11

Page 6: O Supervisor

ii Edgar Manuel Cambaza

Figura 2. Instrução para a quebra de secção. Note-se outras opções, como a

quebra de página. ..................................................................................... 23

Figura 3. Como formatar a mancha gráfica e os parágrafos. ........................... 24

Figura 4. Definir os níveis dos títulos. Note-se a opção à direita no menu em

evidência, destacada dentro de um quadrado. .......................................... 26

Figura 5. Alinhamento do título com o texto. Na imagem à esquerda vê-se

como abrir a janela para a formatação do título e à direita vê-se como se

alinha o texto. ........................................................................................... 26

Figura 6. Exemplo da primeira e segunda capa de um trabalho de fim do curso

no DCB. Trabalho de Mutombene (2014). .............................................. 28

Figura 7. A opção “borders” na barra de ferramentas. ................................... 29

Figura 8. A janela usada para definir as características das bordas. ................ 29

Figura 9. Como ajustar as bordas ao texto. Na opção “measure from” escolha-

se “margin” em vez de “edge of page”. ................................................... 30

Figura 10. Observe-se os ícones de cabeçalho (“header”) e rodapé (“footer”)

na barra de ferramentas. ........................................................................... 31

Figura 11. Ao editar-se o cabeçalho, surge uma opção de configurações na

barra de ferramentas (“header and footer”). Observe-se que em “options”

há uma opção “link to previous” (ligar à secção anterior). Quando não

seleccionada instrução permite que o cabeçalho (ou rodapé) seja diferente

do cabeçalho da secção anterior. .............................................................. 32

Figura 12. O ícone de paginação (page #), próximo de cabeçalho e rodapé. .. 33

Figura 13. Janela básica para a formatação da paginação. .............................. 33

Figura 14. Janela para a formatação avançada da paginação. .......................... 34

Figura 15. Observe-se as opções de “table of contents”, que originam o título.

.................................................................................................................. 35

Figura 16. Como actualizar o índice. ............................................................... 36

Figura 17. Grelha para a criação de tabelas. .................................................... 36

Figura 18 Para seleccionar toda a tabela, aproxima-se o cursor da tabela e

automaticamente aparece um ícone de movimentação no canto superior

esquerdo. É só clicar no ícone que a tabela fica toda marcada como

seleccionada. Extracto do trabalho de Anapakala (em preparação). ....... 38

Page 7: O Supervisor

Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza iii

Figura 19. Como inserir legenda. Depois de fazer o clique direito (ou algo

correspondente) sobre a figura ou tabela seleccionada, vê-se a opção

“insert caption” (inserir legenda). ............................................................ 38

Figura 20. Onde se definem as características básicas de uma legenda. ......... 39

Figura 21. Como formatar o texto das legendas. O estilo “caption” (legenda)

encontra-se na barra de ferramentas. ....................................................... 39

Figura 22. Função que permite enquadrar uma imagem em relação ao texto. 40

Figura 23. Janela para a introdução de referências cruzadas. .......................... 41

Figura 24. Janela de configuração das tabelas e figuras. ................................. 43

Figura 25. Pirâmide de autoridades para discussão. ........................................ 81

Figura 26. A estrutura teórica da conclusão deve-se assemelhar a uma

ampulheta. ................................................................................................ 83

Figura 27. Exemplo de um cartaz. Neste caso, não há bibliografia porque todo

o texto foi produzido pelos autores sem a consulta de terceiros. ........... 101

Figura 28. Página do Comité de Ética da UEM. ............................................ 120

Figura 29. Como aceder à plataforma da ética. À esquerda, pode-se ver o link

que dá acesso à plataforma e à direita, a página de criação de conta e

login. ...................................................................................................... 120

Lista de suplementos

Suplemento 1. Tabelas. .................................................................................. 107

Suplemento 2. Como submeter documentos ao Comité de Bioética ............. 119

Suplemento 3. Sobre o autor .......................................................................... 123

Page 8: O Supervisor

iv Edgar Manuel Cambaza

Prefácio

Eu iniciei o trabalho de supervisão em 2008, assim que entrei para o

Departamento de Ciências Biológicas (DCB) da Faculdade de Ciências, Universidade

Eduardo Mondlane (UEM). Eu acabava de me licenciar e tinha algumas dificuldades,

mas fiz os possíveis, com o valioso apoio da doutora Cristina Beatriz. Em poucos

anos fui fazendo este trabalho e melhorando e hoje não há nada que eu mais goste no

contexto académico. Agora, é-me tão natural quanto respirar ou cantar e agradável

como uma bela sinfonia.

A minha experiência permitiu-me ver que tudo o que um supervisor precisa é

de mostrar o caminho do estudante em busca do conhecimento e ajudá-lo a organizar

as ideias. Ele é como um instrutor que se senta no banco de passageiros e vai dizendo

ao estudante como ele deve dirigir a viatura. O supervisor não deve ser

necessariamente dono do conhecimento, do mesmo modo que o instrutor do código de

estrada não é dono da estrada. Ele deve saber identificar os caminhos e desbravá-los

quando necessário para que o estudante possa passar.

Contra factos não há argumentos. O número crescente de profissionais que

supervisionei no fim da licenciatura permite-me medir o valor desta profissão

fabulosa. Tenho até estudantes que continuaram os estudos com sucesso, fazendo o

mestrado e até foram admitidos para programas de doutoramento. A primeira vez em

que trabalhei com quatro estudantes no mesmo ano fiquei receoso que não fosse ser

eficiente, mas tal receio acabou. Supervisão não é mais do que uma gestão de ideias,

pensamentos, conhecimentos. É tão possível supervisionar um bom número do

mesmo modo que um treinador instrui uma equipa inteira de futebol, incluindo os

suplentes. Ele não precisa de saltar tanto quanto o guarda-redes ou rematar com a

mesma força do avançado. Só deve saber ensinar como fazê-lo. Uma vez percebendo

as regras do jogo tudo fica admiravelmente fácil.

Não é preciso ser-se excepcional para se conceber e escrever documentos

científicos. É só necessário cumprir-se rigorosamente com algumas instruções. É

preciso saber-se comunicar. Há bons cientistas que se comunicam mal e maus

cientistas que sabem-se expressar. É necessário que se tenha a humildade de se aceitar

que o processo de aprendizagem nunca acaba.

Como supervisor, aprendo mais do que ensino. Ao orientar o estudante, acabo

entrando em contacto com muito conhecimento. Em primeiro lugar, devo estar por

cima do assunto para esclarecer as suas dúvidas. Em segundo, há circunstâncias em

Page 9: O Supervisor

Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza v

que estudante não consegue encontrar informação e eu me vejo obrigado a ajudá-lo.

Neste processo, muito acaba entrando para o meu repertório. Por último, devo

fiscalizar a sua actividade académica, confrontando a sua produção com o que já

existe e a minha experiência pessoal.

Vou chamar a minha metodologia de HACCP 1 . Prefiro assegurar que o

estudante comece bem para que não cometa erros básicos nas etapas mais adiantadas.

Procuro pensar nos erros mais comuns e evitá-los. No que respeita às normas, faço

questão de impor que sejam respeitadas devidamente a todo ou qualquer momento.

Quando o estudante as cumpre só resta discutir o mais importante – a ciência.

Este documento chama-se O Supervisor mas é, na verdade, destinado ao

estudante que quer saber como bem escrever um documento científico. O livro em si é

um supervisor destinado a fazer companhia ao estudante durante a elaboração do seu

documento de culminação do curso. Estou a tentar partilhar os seis anos que dediquei

à orientação dos “novos cientistas”. Tenho a boa ventura de transmitir o que produzi

no contacto com mais de trinta estudantes que acompanhei desde o momento em que

o seu trabalho era apenas uma ideia, passando pela etapa da proposta até à elaboração

do relatório final, usado como requisito para a obtenção da licenciatura.

Preferi não me perder em consultas exaustivas para a elaboração deste

documento para não cair na redundância de ecoar o vasto material sobre escrita

científica. Livros técnicos sobre o assunto não faltam, sobretudo agora em que

testemunhamos a revolução da informação e comunicação. Exijo que o meu livro seja

como um diálogo com o estudante, com o conhecimento das suas verdadeiras

dificuldades. Procurei basear-me no que sei sobre o Regulamento de Culminação dos

Cursos de Licenciatura do DCB (2013), obras que supervisionei ou estou a

supervisionar como exemplos e uma ou outra referência necessária.

Agora, chega de palavras e vamos ao que interessa!

Edgar Cambaza

O autor

1 Hazard Analysis of Critical Control Points – análise feita para verificar que

riscos apresentam os pontos mais críticos durante a produção de alimentos e como

minimizá-los. Por outras palavras, ela permite antecipar e evitar os problemas durante

a produção.

Page 10: O Supervisor

vi Edgar Manuel Cambaza

Índice

1 Introdução .................................................................................................... 1

2 Alguns elementos comuns ou estéticos dos trabalhos académicos .............. 3

2.1 Idioma, linguagem e ortografia ............................................................. 3

2.1.1 Ideias básicas ................................................................................. 3

2.1.2 Sugestões........................................................................................ 5

2.2 Rigor científico ..................................................................................... 6

2.2.1 O valor do rigor científico.............................................................. 6

2.2.2 Minhas recomendações para garantir o rigor científico ................. 7

2.3 Tema e título do trabalho ...................................................................... 8

2.4 O que consultar, como consultar e como referenciar os autores ........... 9

2.4.1 Como selecionar fontes de informação .......................................... 9

2.4.2 Estilo de citação e bibliografia ..................................................... 13

2.4.3 Atenção ao plágio ........................................................................ 17

2.5 Notas de rodapé................................................................................... 18

3 Aspectos técnicos de formatação e acessórios ........................................... 21

3.1 Formatação no Word........................................................................... 22

3.1.1 Criação de secções ....................................................................... 23

3.1.2 Tipo de letra e mancha gráfica ..................................................... 24

3.1.3 Formatação dos títulos ................................................................. 25

3.1.4 Capa ............................................................................................. 27

3.1.5 Cabeçalho e rodapé ...................................................................... 30

3.1.6 Paginação ..................................................................................... 32

3.1.7 Índice............................................................................................ 34

3.1.8 Tabelas e figuras .......................................................................... 36

3.1.9 Anexos ......................................................................................... 43

4 Proposta de projecto ................................................................................... 46

4.1 Elementos pré-introdutórios................................................................ 47

4.2 Introdução ........................................................................................... 47

4.2.1 Generalidades ............................................................................... 47

4.2.2 Problema ...................................................................................... 50

4.2.3 Justificativa .................................................................................. 51

Page 11: O Supervisor

Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza vii

4.3 Objectivos ........................................................................................... 52

4.4 Hipóteses, expectativas ou perguntas de pesquisa .............................. 54

4.4.1 Hipóteses ...................................................................................... 54

4.4.2 Expectativas ................................................................................. 56

4.4.3 Perguntas de pesquisa .................................................................. 58

4.5 Área de estudo ou local de actividade ................................................. 59

4.5.1 Área de estudo.............................................................................. 59

4.5.2 Local de actividade ...................................................................... 62

4.6 Material e métodos/metodologia......................................................... 63

4.6.1 Material ........................................................................................ 64

4.6.2 Procedimento ............................................................................... 65

4.7 Resultados esperados .......................................................................... 70

4.8 Cronograma e orçamento .................................................................... 71

4.8.1 Cronograma de actividades .......................................................... 71

4.8.2 Orçamento .................................................................................... 72

4.9 Bibliografia ......................................................................................... 73

4.10 Anexos .............................................................................................. 73

5 Relatório de pesquisa ................................................................................. 74

5.1 Elementos pré-introdutórios................................................................ 74

5.1.1 Agradecimento ............................................................................. 74

5.1.2 Dedicatória ................................................................................... 75

5.1.3 Epígrafe ........................................................................................ 75

5.1.4 Declaração de honra ..................................................................... 75

5.1.5 Resumo (e palavras-chave) .......................................................... 76

5.2 Introdução ........................................................................................... 77

5.2.1 Generalidades ............................................................................... 77

5.2.2 Problema ...................................................................................... 77

5.2.3 Justificativa .................................................................................. 77

5.3 Revisão bibliográfica .......................................................................... 77

5.4 Objectivos ........................................................................................... 77

5.5 Hipóteses, expectativas ou perguntas de pesquisa .............................. 78

5.6 Área de estudo ou local de actividade ................................................. 78

5.7 Material e métodos .............................................................................. 78

Page 12: O Supervisor

viii Edgar Manuel Cambaza

5.8 Resultado............................................................................................. 78

5.9 Discussão ............................................................................................ 79

5.10 Conclusão .......................................................................................... 82

5.11 Limitações/constrangimentos do estudo ........................................... 84

5.12 Recomendações................................................................................. 85

5.13 Bibliografia ....................................................................................... 86

5.14 Anexos .............................................................................................. 86

6 Relatório de estágio.................................................................................... 87

6.1 Capa e elementos pré-introdutórios .................................................... 87

6.2 Apresentação e caracterização de unidade de estágio ......................... 87

6.3 O programa de estágio ........................................................................ 87

6.4 O apoio que a unidade de estágio concedeu ao estudante .................. 88

6.5 Revisão bibliográfica sobre a temática tratada no estágio .................. 89

6.6 Actividades desenvolvidas .................................................................. 89

6.7 Análise crítica da unidade de estágio .................................................. 89

6.8 Conclusões .......................................................................................... 91

6.9 Recomendações................................................................................... 91

6.10 Bibliografia ....................................................................................... 92

6.11 Anexos .............................................................................................. 92

7 Monografia ................................................................................................. 93

7.1 Início e corpo ...................................................................................... 93

7.1.1 O que se deve ter em conta .......................................................... 93

7.1.2 Sobre as revisões críticas ............................................................. 94

7.2 Conclusão ............................................................................................ 98

7.3 Recomendações................................................................................... 98

7.4 Bibliografia ......................................................................................... 98

7.5 Anexos ................................................................................................ 98

8 Outros documentos .................................................................................... 99

8.1 Apresentação em PowerPoint ............................................................. 99

8.2 Cartaz ................................................................................................ 101

9 Comentário final ...................................................................................... 104

10 Obras referenciadas .................................................................................. 106

Page 13: O Supervisor

Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza ix

Suplemento 107

Page 14: O Supervisor
Page 15: O Supervisor

Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 1

1 Introdução

A escrita científica pode ser definida como a documentação de um projecto de

produção de conhecimento, seja ele uma pesquisa, um estágio, uma revisão crítica da

literatura ou outra modalidade. Tal documentação deve estar coerente e ser

suficientemente precisa para que qualquer pessoa letrada2 tenha a capacidade de ler e

entender. Ela pode-se apresentar em vários tipos de publicações tais como ensaios,

dissertações e teses, artigos científicos, papéis de conferências, posters, etc. Todos

eles têm características específicas mas partilham a necessidade de se respeitar a

coerência, o rigor científico e os elementos de ortografia e gramática.

Não existe uma maneira única de escrever, mas existem elementos

comummente tomados como normas. Cada escola ou disciplina pode ter o seu estilo e

existem até modelos internacionalmente conhecidos. Tais estilos apresentam uma ou

outra diferença no modo de apresentação, certamente relacionada com o que é mais

relevante para cada escola ou disciplina, mas o resultado final deve ser um documento

de fácil legibilidade e consulta e, acima de tudo, autoexplicativo de modo a exigir

pouco de consulta de outros documentos para que o próprio possa ser entendido pelo

público.

Neste livro, dá-se ênfase à preparação de documentos de dissertação de cursos

de licenciatura, sobretudo os mais frequentes nos cursos da Universidade Eduardo

Mondlane (UEM): relatórios de pesquisa, estágio e monografias. Existe um estilo

particular do Departamento de Ciências Biológicas (DCB), semelhante ao da

Faculdade de Agronomia e Engenharia Florestal (FAEF). É este estilo que vou focar.

Entretanto, alguns aspectos ainda não foram uniformizados. Mas não se duvide que

seja apenas uma questão de tempo até que se normalize tudo definitivamente ou se

adopte outra norma de acordo com a conveniência.

Começo por falar sobre alguns elementos exigidos em obras académicas, tal

como aspectos de ortografia, rigor científico, etc.. Depois, debruço-me sobre como

escrever a proposta de um projecto. Pode ser frequente eu enfatizar pesquisa como

exemplo, porque ela é uma tradição no DCB. Em seguida, falarei sobre a redação de

vários tipos de relatórios: de pesquisa, estágio e revisão crítica da literatura

2 Seja ela leiga ou especialista na matéria.

Page 16: O Supervisor

2 Edgar Manuel Cambaza

(monografias). Por fim, falo sobre a apresentação em PowerPoint e a elaboração de

cartazes.

Page 17: O Supervisor

Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 3

2 Alguns elementos comuns ou estéticos dos trabalhos académicos

Nesta secção, serão descritos alguns elementos que devem constar no trabalho

e requerem atenção especial, quer por serem exigidos, por serem usados comummente

ou ainda simplesmente por serem boas sugestões. Para os que não constam no

Regulamento de Culminação de Cursos de Licenciatura do DCB (2013), é desejável

que um dia constem porque alguns são tão frequentes que às vezes são exigidos por

docentes. Dir-se-á que o senso comum também desempenha um papel importante e

por isso também será levado em conta.

2.1 Idioma, linguagem e ortografia

2.1.1 Ideias básicas

Os trabalhos de licenciatura do Departamento de Ciências Biológicas (DCB)

são geralmente escritos na língua portuguesa. As palavras e expressões latinas e

noutros idiomas devem estar em itálico, exceptuando nomes próprios, acrónimos ou

siglas. Os nomes de obras também devem estar em itálico e com as iniciais dos

substantivos em letras maiúsculas.

A escrita deve respeitar a Gramática Portuguesa. Eventualmente, dever-se-á

respeitar o novo Acordo Ortográfico, mas até ao momento em que estou a digitar

Portugal é o único país a usar o acordo. Deve-se respeitar a sintaxe, a ortografia e

morfologia. Actualmente, este requisito pode ser facilmente cumprido com a ajuda

dos correctores ortográficos dos computadores, apesar de muitos já estarem alinhados

ao novo Acordo Ortográfico.

O texto académico tende a ser impessoal3. O regulamento do DCB (2013) não

fala sobre o assunto mas os textos académicos têm sido assim. Por exemplo, em vez

de se dizer “eu fiz”, diz-se “foi feito”. Não tenho uma posição fixa neste assunto e os

académicos encontram-se divididos quanto a este ponto. Há argumentos fortes para os

dois lados, mas sinto que os académicos só não discutem muito porque há matérias

muito mais relevantes. Eu poderia divagar neste assunto mas prefiro ser prático: o

discurso impessoal predomina e há docentes que levam isto muito a sério, pelo que

recomendo que o estudante use este tipo de discurso evitando qualquer motivo para a

3 Eu sei: “porque o doutor diz que o texto é impessoal se este mesmo

documento tem um discurso pessoal?” Boa pergunta. Porque é um texto de escrita

livre, mesmo sendo académico. Pelo mesmo motivo, usei muito pouca bibliografia.

Isto é uma obra literária, embora predomine conteúdo técnico e tenha uma estrutura

rigorosamente académica.

Page 18: O Supervisor

4 Edgar Manuel Cambaza

perda arbitrária de pontos. Quando muito, conversa com o teu supervisor sobre o

assunto.

Um bom texto científico deve ter linguagem breve, clara e directa. Por

concisão, entenda-se o uso dos termos correctos para se dizer o que se pretende.

Consulte-se dicionários ou enciclopédias se necessário. Um discurso breve é mais

eficaz e construtivo. Falar bem não é falar muito. Não se desperdicem palavras, por

mais que sejamos tentados em florear o texto. Palavreado só perturba a paciência dos

académicos. Por fim, o texto claro não abre espaço para ambiguidades ou mal-

entendidos. O cientista não deve pensar que todos têm a mesma capacidade e

preparação para ler textos como ele. Um texto sem concisão, brevidade e clareza

deteriora o interesse do leitor.

A linguagem deve ser formal e técnica, de acordo com a disciplina. A

linguagem deve ser formal para se evitar as ambiguidades dos vícios de linguagem.

Evitem-se expressões retóricas e idiomáticas, a menos que sejam inevitáveis. Por

exemplo, os respondentes de uma entrevista podem usar calões ou gírias. Se não for

possível revisitá-los em busca de esclarecimento, é recomendável manter-se os termos

usados seguidos por “[sic]”4.

Prefira-se palavras portuguesas sempre que possível, mesmo que não seja raro

usar-se as estrangeiras em textos da língua portuguesa. Por exemplo: prefira-se nomes

como OMS ou ONU em vez de WHO ou UN, respectivamente; prefira-se ADN e

ARN em vez de DNA ou RNA; correio electrónico em vez de email. Mas atenção:

existe, por exemplo, email como endereço ou correio. Nestes casos, podemos traduzir.

Por outro lado, existe o email como a própria mensagem. Nestes casos, use-se a

expressão estrangeira até que haja um bom substituto.

Há também palavras que ainda não foram formalmente aportuguesadas (novas

tecnologias, por exemplo) ou que sempre foram usadas noutros idiomas (por exemplo,

internet, GPS, PCR). Nestes casos não há alternativa senão usá-la, respeitando a regra

descrita no parágrafo acima. Há também circunstâncias em que as palavras novas

podem criar alguma confusão ou mal-entendidos. Por exemplo: “Colocar o rato na

grelha” pode ter significados diferentes dependendo do contexto. “Rato” pode ser o

animal ou dispositivo do computador. “Grelha” pode ser a de cozinha, uma tabela no

4 Expressão latina usada em parentes rectos indicando que determinada

palavra incomum foi redigida com fidelidade.

Page 19: O Supervisor

Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 5

computador ou qualquer outro objecto com quadradinhos5. Assim, pode ser que às

vezes convenha usar “mouse” em vez de “rato”. Mas estes casos são muito raros e o

Português é suficientemente rico para se escrever confortavelmente.

As abreviaturas requerem cuidado. Sempre que possível é desejável que se

evite, a não ser que se tratem daquelas universalmente conhecidas ou altamente

inconvenientes de se usar por extenso (por exemplo: UNESCO, FRELIMO). Certas

palavras devem ser escritas de maneiras específicas. Por exemplo, pH deve sempre

apresentar a inicial em minúscula seguida pelo “H” em maiúscula, independentemente

se estiver ou não no início de uma frase6.

2.1.2 Sugestões

As formas ativas das frases são geralmente melhores que as passivas. Por

exemplo, em vez de "O método foi validado por Artur" prefiram "Artur validou o

método". Contudo, há casos muito particulares diferentes. Por exemplo, em vez de

dizer "O Governo aprovou a lei" é melhor "A lei foi aprovada" (sem mencionar o

Governo). Ou, em vez de "O docente não deu aula aos estudantes" é muito melhor

"Não houve aula". Procura sempre este cuidado para evitar frases gigantescas e

desnecessárias.

Evite-se ao máximo nomes compostos, porque comprometem a boa

fluência da frase. Se isto é repetido frequentemente, o texto torna-se

entediante. Por exemplo, "A organização responsável pela implementação

das medidas necessárias para que a anemia estivesse sob controlo terminou

o projecto". Tudo isto para dizer que “A organização terminou o projecto

de controlo da anemia”. São essas coisas vezes que nos fazem desistir de

ler um texto. Não é confortável processar-se muita informação

desnecessária antes de entender a principal ideia da frase. O verbo de

acção (predicado) não deve estar longe do início da frase;

Evite-se juntar muitas ideias na mesma frase. Exemplo: "O método será

validado, a experiência será realizada de noite, o objectivo será encontrar a

causa da doença e isso será uma mais valia para o nosso país". Quando

estamos a ler a última, esquecemo-nos da primeira. De acordo com Miller

(1956), o cérebro humano foi concebido para processar uma a três ideias

5 Isto aconteceu comigo ao redigir este documento. 6 pH é uma grandeza química que indica o nível de acidez de uma solução.

Page 20: O Supervisor

6 Edgar Manuel Cambaza

de cada vez, cinco a sete com dificuldade e no máximo nove. Dez, já se

trata de um massacre;

Atenção aos advérbios e locuções adverbiais. Muitas palavras ou

expressões como “naturalmente” e “apesar de tudo” são boas para textos

livres e artísticos mas desnecessárias em textos académicos. Às vezes são

mesmo inconvenientes ou podem baixar a qualidade do texto,

comprometendo o rigor científico. Por exemplo, antes de usares palavras

como “obviamente” deves considerar a possibilidade de algumas pessoas

não considerarem as mesmas coisas óbvias como tu.

Assim, não é necessário escrevermos tudo o que encontramos pela frente, nem

tentar enfeitar muito as frases. De que vale escrevermos tanto o que ninguém se vai

lembrar? Repito: falar bem não é falar muito.

2.2 Rigor científico

2.2.1 O valor do rigor científico

Rigor científico é o respeito pelos elementos de que indicam a precisão da

informação exigida por uma comunidade académica ou científica. Por exemplo, um

mapa sem escala que respeite o Sistema Internacional de Pesos e Medidas (SI) tem

fraco rigor científico; o mesmo problema pode ser visto em cálculos de peso, altura ou

velocidade sem unidades, desrespeito de normas em vigor, métodos não validados,

escritas ilegíveis, imagens incompreensíveis, grandezas arbitrárias, abreviaturas sem

esclarecimento, ideias aparentemente alheias sem referências ou qualquer outro

aspecto do trabalho que ponha em causa a sua aceitabilidade pela comunidade

científica.

Quem não respeita o rigor científico está-se a excluir automaticamente da

comunidade. Só os adivinhos e videntes podem fazer isto. O rigor científico para o

cientista é o que a fita métrica é para o alfaiate. Por mais requintado que seja o seu

gosto e apurada que seja a sua intuição, ele dificilmente fará bons trabalhos e, mesmo

fazendo, terá problemas em conquistar a confiança das pessoas. O rigor é a língua que

o cientista deve falar para ser ouvido pelos demais.

Há diferenças entre aquele que entende as ciências e o cientista. Por mais sábia

ou inteligente que seja a pessoa, por maiores que sejam as suas habilidades com os

reagentes, se ela não souber comunicar efectivamente as suas descobertas ou o seu

Page 21: O Supervisor

Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 7

aprendizado não será digna do título de cientista. Por outras palavras, saber e saber

fazer não são suficientes. Há que saber ser. Tive estudantes brilhantes e promissores

que tiveram dificuldades em escrever o trabalho do fim do curso e alguns nem

percebiam bem porquê. Eis a resposta: porque já não se estava a avaliar se eles

entendiam de bioquímica, fisiologia ou genética. Estava-se a avaliar a capacidade

destes comunicarem com a comunidade científica. Para um candidato a músico, dir-

se-ia: já não estamos a tentar ver se sabes ler pauta ou distinguir tons, mas se

consegues compor e tocar uma música. No fim de tudo, é isso que importa, não é?

2.2.2 Minhas recomendações para garantir o rigor científico

Adianto que estas recomendações são arbitrárias, sem ciência alguma e

baseadas na minha experiência. Ninguém é obrigado a segui-las mas, se alguém

perguntar quem sugeriu, digam que fui eu. Eu tenho estado a dizer aos meus

estudantes para evitar que uns façam trabalhos de alta qualidade e outros não. Assim,

garanto sempre um mínimo que tem sido aceitável no seio dos docentes.

2.2.2.1 O que fazer

Cada parágrafo que redigires deverá ter no mínimo 5 referências

académicas exclusivas (que não estejam nos outros parágrafos). Depois

podes acrescentar outras, mas sempre académicas;

Evita ao máximo fontes não académicas;

Procura usar as tuas próprias palavras mas coloca as devidas referências

para evitar o plágio;

Usa frases curtas, claras e diretas (se excederes 30 palavras ou duas linhas,

a frase já é longa). O ideal é menos do que 20 palavras. Não precisas de

escrever tudo o que encontras, com detalhes. Mantém o trabalho e a

linguagem simples. Não precisas de provar a ninguém que tens muito

conhecimento;

Parágrafos com 5 a 9 linhas são o ideal. Evita exceder 10 a menos que haja

grande necessidade. Dá uma vista ao artigo de Miller (1956);

Se vires conceitos muito complexos, deixa de lado ou procura alternativas.

Isso só trará dificuldades ao leitor e provavelmente provocar desinteresse.

A ciência vem para facilitar a vida, não para dificultar.

Page 22: O Supervisor

8 Edgar Manuel Cambaza

2.2.2.2 O que evitar

Artigos científicos e obras académicas com mais de cinco anos. Prefira-se

os com menos de três (exceto os de revisão);

Artigos de revisão, documentos oficiais e livros publicados há mais de dez

anos, a não ser que tenham valor histórico ou sejam indispensáveis;

Livros, documentos do Governo, ONGs e artigos ou teses de licenciatura

moçambicanos com mais de trinta anos, salvo a circunstância que

mencionei logo acima;

Alguns blogues e websites. Se estas fontes te parecerem indispensáveis,

consulta o teu supervisor sobre o assunto ou contacta-me através do

[email protected]. Procura ler também o ponto 2.4.1, onde me

debruço sobre onde encontrar a informação de melhor qualidade e como

lidar com as fontes electrónicas.

2.3 Tema e título do trabalho

A escolha do tema depende, em parte, dos interesses do supervisor, dos

orientadores ou do estudante. Para o estágio, a escolha estará relacionada com as

actividades da unidade, o que é provavelmente mais fácil. Para o caso de pesquisa,

tudo depende dos interesses e das oportunidades. Para os que pretendem fazer

monografias, há mais possibilidades ainda com o tamanho da imaginação, desde que

as temáticas sejam plausíveis e relevantes. Discutir-se-á mais sobre pesquisas, mas

grande parte destes aspectos podem ser aplicáveis para as outras modalidades.

Não há uma regra exacta para se escolher um tema. Tudo pode ser estudado na

natureza e sociedade. Absolutamente tudo. A diferença pode estar na relevância. Vou

roubar o “teste das quatro perguntas” do Rotary Club como um bom ponto de partida

para a reflexão sobre como escolher um tema. As perguntas (adaptadas) são: é

possível fazer esta pesquisa? A pesquisa, em si, respeita a ética e as leis no nosso

contexto? Ela vai promover melhor entendimento sobre o tópico entre os académicos

ou melhores relações entre estes? Será o tema benéfico a todos os envolvidos? O facto

de Moçambique se encontrar em desenvolvimento traz grandes vantagens para quem

pretende desenvolver estudos. Por isso, por enquanto, ainda temos um grande número

de temas em praticamente qualquer área de conhecimento.

O título deve reflectir o que se pretende fazer. Deve ser claro, preciso e

cientificamente rigoroso. A pessoa que lê o título deve ter uma percepção clara sobre

Page 23: O Supervisor

Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 9

o que o estudante pretende fazer. Deve-se evitar exagerar ou escrever um título

excessivamente modesto. Deve haver realismo. Quanto mais preciso, melhor.

Não há um número ideal de palavras do título, mas é seguramente um exagero

exceder-se vinte e cinco. A experiência tem-nos mostrado consistentemente que é

possível resumir-se sem se comprometer o conteúdo. Se vires que não consegues

resumir mais o título, conversa com o teu supervisor.

2.4 O que consultar, como consultar e como referenciar os autores

Mesmo que tenhamos boas ideias, é necessário explorar as dos outros. Os

cientistas tendem a respeitar melhor aqueles que demonstram que leram e entenderam

algumas obras de referência no ramo de estudo e que, acima de tudo, estão a dar

continuidade ao tradicional trabalho da comunidade científica. Assim, espera-se que

um documento científico tenha referências a outras obras algures ao longo do texto.

Aliás, a abundância de referências sugere que o estudante pesquisou muito sobre

assunto antes de escrever e que ele esta profundamente envolvido no estudo.

Concluindo, procura explorar documentos relacionados com o assunto que estás a

estudar, sobretudo aqueles elaborados pelas autoridades mais reconhecidas.

Uma advertência: desde já, adianto que um estudante universitário

moçambicano deve entender inglês. Não é necessário ser um Shakespeare, mas muito

vantajoso entender inglês. Graças à actividade científica de brasileiros, portugueses,

alguns moçambicanos ou lusófonos7, temos alguma informação no nosso idioma, mas

esta é muito limitada. Para piorar, mesmo os cientistas lusófonos escrevem

frequentemente em inglês para publicar nas revistas internacionais. Logo, é com dor

no coração que anuncio a necessidade de se aprender o inglês como mais-valia para o

sucesso académico.

2.4.1 Como selecionar fontes de informação

Os documentos científicos podem receber informações de praticamente todo o

tipo de plataforma de comunicação, desde livros, revistas, mapas, seminários, jornais,

filmes, comunicações pessoais, etc.. Obviamente, cada fonte terá o seu peso,

profundamente associado ao rigor e à qualidade com as quais foi produzida, validada

e como foi transmitida. Todas as obras consultadas devem ser rastreáveis e

preferencialmente académicas.

7 E também espanhóis, cubanos, argentinos, mexicanos, etc. também ajudam,

uma vez que o castelhano não é um grande problema para nós.

Page 24: O Supervisor

10 Edgar Manuel Cambaza

Para que uma referência seja rastreável, é necessário que o estudante inclua no

documento informações suficientes para que o leitor a possa encontrar a partir dos

canais comuns de busca. Os elementos de rastreabilidade dependem da obra mas é

frequente registar-se o autor, ano de publicação, título da obra e da obra mãe8, e

outros detalhes mais específicos que podem incluir as páginas em da revista em que se

encontra um artigo ou o endereço online de alguma página.

Uma obra académica é aquela que respeita o rigor científico, geralmente

produzida por académicos ou pesquisadores e publicada em plataformas educacionais

ou científicas. Alguns exemplos típicos são artigos científicos de revistas com revisão

de pares, livros didácticos ou de referência para certas disciplinas, papéis de

seminários ou posters.

Além de fontes académicas, prefira-se também as governamentais, de algumas

organizações internacionais sem fins lucrativos como a OMS ou UNESCO. Na

internet, prefira-se os domínios edu (educacional), gov (governamental) e org (de

organizações sem fins lucrativos) antes de com (comercial). Mas atenção: ignorar o

domínio com (ou qualquer outro) pode ser um erro muito grave. Os antes

mencionados são apenas os mais seguros, mas não necessariamente os únicos cujo

conteúdo é fiável. Por exemplo, grande parte das revistas científicas encontram-se em

bases de dados como www.sciencedirect.com ou www.springer.com. Mas é também

verdade que o mesmo domínio apresenta muitos sites que simplesmente não são

académicos, tais como redes sociais, motores de busca ou alguns blogues. Frise-se

que org também pode albergar informação cuja origem pode ser discutível (por

exemplo, Wikipédia – www.wikipedia.org). Então, como avaliar a fiabilidade de uma

fonte?

A Tabela 4 do Suplemento 1 detalhes sobre como avaliar uma fonte da

internet9 e por isso aqui vou explorar o assunto superficialmente. No mínimo, uma

boa fonte deva apresentar todos os elementos de rastreabilidade acima mencionados.

O autor deve apresentar contacto (endereço, telefone, email, etc.). O autor é

académico (docente, pesquisador, estudante, etc.)? Observa se o documento apresenta

rigor científico. A plataforma – o site, portal ou local ou local onde ele foi adquirido –

8 Para casos, por exemplo, de capítulos de livros ou artigos em revistas

científicas. Há casos em que só se menciona a obra mãe. 9 Por analogia, é possível usar critérios semelhantes para avaliar outras fontes,

não necessariamente electrónicas.

Page 25: O Supervisor

Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 11

é académica ou educacional ou dedicada à ciência? Tem alguma reputação nesse

sentido? A informação que lá consta é coerente, consistente e bem contextualizada?

Desconfiemos de sites que apresentam publicidades (ads) de carros japoneses,

produtos de beleza, anabolizantes ou programas para fazer o computador funcionar

melhor. Isso é tão estranho como comprar um livro de bioquímica numa mercearia.

O peso das evidências também conta. Quanto maior o cuidado na produção de

uma informação, maior o seu valor. Por exemplo, aquele que descreve uma gaivota é

diferente de quem descreve centenas delas. E quem observa uma vez difere de quem

repete a experiência e observa em épocas diferentes do ano, compara com

observações dos outros, etc.. Prefira-se aquele que traz informação mais completa e

consistente. Existe uma pirâmide que mostra a hierarquia das evidências com base no

peso (Figura 1). Ela foi desenvolvida para contextos de biomedicina mas enquadra-se

perfeitamente noutras disciplinas. Por exemplo, um ensaio clínico compara-se à

observação cuidadosa de indicadores do estado de algum objecto e as conclusões que

de lá advém.

Figura 1. Hierarquia da evidência: investigações com localização superior indicam maior força de

evidência. Imagem de Sampaio and Mancini (2007). Não entrei em detalhes sobre as características de cada um

destes tipos de estudo mas há muito material acessível sobre o assunto, começando pelo próprio artigo onde tirei a imagem.

Page 26: O Supervisor

12 Edgar Manuel Cambaza

De acordo com a hierarquia, prefira-se artigos de revisão porque estes são os

melhores. Estamos a falar de um documento feito com base na análise crítica dos

resultados de várias pesquisas de alta qualidade. Em princípio, este trabalho é feito

por um especialista que explora cuidadosamente uma problemática, respeitando

meticulosamente a informação produzida por outros com similar rigor. Os detalhes

deste tipo de actividade serão descritos no capítulo sobre monografias. É comum as

revistas científicas apresentarem pelo menos uma revisão em cada número e existem

até revistas que só apresentam revisões.

Entretanto, o “padrão” do estudo académico é o uso de artigos científicos,

independentemente da força de evidência. O mais importante é estar claro em que

cada autor se baseou para escrever o seu artigo. Uma vantagem dos artigos sobre os

demais documentos científicos é a revisão “double blinded”10 de pares e o facto de

serem lançados em periódicos, pelo que existem sempre actualidades sobre um ou

outro assunto. Um livro académico editado tende a ter informação muito consistente e

fidedigna mas pode tender a apresentar mais a informação consensual e menos

conflitos por razões didácticas e, uma vez que não aparecem frequentemente como os

periódicos, corre muitas vezes o risco de não estar devidamente actualizado. É sempre

bom prestar atenção em aspectos como o ano de publicação e quão actual é a edição.

É necessário que se preste atenção noutras formas de valor que um ou outro

documento pode ter. Por exemplo, talvez valha a pena dar alguma prioridade a em

documentos desenvolvidos no mesmo contexto com o nosso. Por exemplo, se estamos

a estudar a epidemiologia de uma certa doença em Moçambique, é bom que se dê

alguma prioridade em estudos da mesma natureza desenvolvidos no nosso país,

mesmo que sejam antigos ou desenvolvidos em condições aquém das desejáveis. Isto

é particularmente relevante se estivermos a dar continuidade a alguma pesquisa.

Factores como o meio natural e social podem ter grande impacto sobre as variáveis

que pretendemos observar e, nestes casos, quão aplicável a Moçambique será um

10 Nota 1: Neste tipo de revisão, o autor não sabe quem faz a revisão e o

revisor não sabe quem escreveu o artigo até que este seja publicado. Isto evita

preconceitos ou conflitos pessoais entre os especialistas envolvidos na publicação. É

pela mesma razão que em citações e bibliografias usa-se iniciais dos nomes dos

autores, de modo que não se sabe se são do sexo masculino ou feminino. Nota 2:

Existem casos de revisão double blinded em que a experiência é replicada para se

verificar os resultados da experiência. Estes artigos apresentam a notação “R”

(experiência replicada).

Page 27: O Supervisor

Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 13

estudo de ponta desenvolvido num contexto geográfico completamente diferente do

nosso?

Além das bases de dados da Tabela 5, no Suplemento, o site da Direcção de

Serviços de Documentação (DSD) da UEM (http://www.dsd.uem.mz) apresenta links

para:

O Repositório Saber, com uma colecção de teses, dissertações e

monografias moçambicanas, de várias instituições de ensino superior

incluindo a UEM e Universidade Pedagógica (UP);

Uma biblioteca digital que também dá acesso ao Repositório Saber, assim

como teses e dissertações Brasileiras e Portuguesas, além de outras bases

de dados;

Periódicos electrónicos de origens diversas, incluindo a Revista Científica

da UEM e muitas outras internacionais. Também dá acesso a portais e

bases de dados onde grande parte destas revistas se encontram hospedadas.

Além de todas estas bases de dados, podes sempre consultar o teu supervisor

ou orientador, docentes e pesquisadores para saberes onde podes encontrar a melhor

informação sobre o assunto que pretendes estudar. Estas pessoas são geralmente mais

experientes e às vezes já possuem em mãos a informação que procuras. Além disso,

elas podem ter acesso a bases de dados de outras universidades que frequentaram ou

organizações com as quais colaboram. Com tanta informação científica de alta

qualidade à disposição, não se justifica a preguiça pela qual muitos estudantes

limitam-se a buscar banalidades através do Google, da Wikipédia ou ferramenta

semelhantes. Por mais irónico que pareça, as pessoas mais experientes é que têm

melhor capacidade de explorar estes recursos porque melhor conhecem os autores, as

escolas de pensamento, revistas, etc.. A qualidade do material que utilizas define a

qualidade do trabalho que fazes e, no fim, a tua qualidade como académico ou

profissional.

2.4.2 Estilo de citação e bibliografia

O DCB tem um estilo próprio que se assemelha ao APA11. Este estilo é

partilhado pela Faculdade de Agronomia e Engenharia Florestal (FAEF) e

possivelmente outras unidades orgânicas. O estilo do DCB está descrito na parte final

11 Da revista de Associação dos Psicólogos Americanos. Foi o estilo que

escolhi para fazer a referenciação neste documento.

Page 28: O Supervisor

14 Edgar Manuel Cambaza

do seu Regulamento de Culminação de Curso (DCB, 2013). O respeito e a boa

apresentação das citações e da bibliografia são exigidos como parte do rigor técnico e

científico, pelo que a tolerância deve ser zero para quem faz mal. Por outras palavras,

esta parte deve estar perfeita.

As referências no texto são feitas de duas estruturas básicas:

Tudo entre parênteses (Apelido, ano). Esta estrutura é usada quando o

texto principal não menciona o autor como parte do discurso, isto é, o

estudante escreve o que tem de escrever e depois introduz a referência. Por

exemplo: “Um livro académico editado tende a ter informação muito

consistente (Cambaza, 2015)”. Note-se que a referência não faz parte da

frase;

A estrutura Apelido (ano). Esta estrutura é usada para fazer menção ao

autor no texto. Por exemplo: “Cambaza (2015) afirma que um livro

académico editado tende a ter informação muito consistente” ou “de

acordo com Cambaza (2015), um livro académico editado tende a ter

informação muito consistente”. Note-se que o autor é mencionado como

parte integrante da frase.

Em princípio, a escolha de uma ou outra estrutura depende meramente de

como o estudante prefere escrever. O mais importante é que se procure uma boa

fluência textual. Não há problema em usar as duas estruturas ao longo de um texto,

desde que nenhuma frase contenha as duas em simultâneo (seria estranho). Sugiro que

o estilo “Apelido (ano)” seja mais usado naqueles casos em que várias ideias são

retiradas de um mesmo autor. Por exemplo, se um parágrafo inteiro advém das suas

ideias. Isto acontece frequentemente quando se trabalha com livros ou artigos de

revisão, que contêm muita informação em torno de determinado assunto. Um bom

parágrafo poderia ser introduzido usando-se “Segundo Cambaza (2015)...”. Pode-se

continuar adiante com “O mesmo autor acrescentou que...” e assim em diante. Isto

evita o carácter redundante que surgiria se estivéssemos a usar a outra estrutura,

sobretudo não houver qualquer outro autor referenciado no mesmo parágrafo.

Os autores podem ser individuais, em grupos (dois ou mais indivíduos) ou

colectivos (organizações)12. A referenciação de autores individuais é feita como acima

12 Atenção para certos artigos que apresentam muitos autores porque às vezes

são trabalhadores de uma mesma organização. Por exemplo, há trabalhos da OMS ou

Page 29: O Supervisor

Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 15

exemplificado. Para grupos de autores há duas possibilidades, dependendo do caso. Se

forem dois, é só escrever só escrever o apelido de um, seguido por “e” e o apelido do

outro [por exemplo: “as indústrias alimentares devem respeitar as aspirações públicas

(Cambaza e Lee, 2013)”; “Segundo Cambaza e Lee (2013), as indústrias...”]. Se

forem mais do que dois, usa-se a expressão latina “et al.” (de et alii = e outros) depois

do primeiro apelido [exemplo: “as indústrias alimentares devem respeitar as

aspirações públicas (Cambaza et al., 2013)” ; “Segundo Cambaza et al. (2013), as

indústrias...”]. Se for um autor colectivo, trata-se como o individual [por exemplo, “a

anemia por deficiência do ferro é a mais frequente (OMS, 2001)”; “A OMS (2001)

declara que a anemia...”]. É possível combinar-se autores individuais e colectivos [por

exemplo: “Gieseker e CDC (2004) reportaram um surto de aflatoxicose...”; “Houve

um surto de aflatoxicose (Gieseker e CDC, 2004)].

Tem sido aceitável usar-se o URL no lugar da referência no texto (sem se

precisar sequer de escrever a data) e até da bibliografia, mas este procedimento é

pouco profissional. O problema é que ele nos dá pouca informação sobre quem pode

ser o autor ou quem publicou o material e, a menos que tenhamos acesso à internet, é

muito difícil avaliar-se a fonte.

Se dois documentos forem citados ao mesmo tempo, devem ser colocados em

ordem crescente de datas, isto é, do mais antigo ao mais actual. Se dois autores

tiverem publicado no mesmo ano, coloque-se os nomes em ordem alfabética. Se o

mesmo autor publicou duas vezes no mesmo ano, usa-se a notação a, b, c... (ver mais

adiante, na explicação sobre a bibliografia.

Cuidado com a referenciação cruzada13. Da mesma maneira que buscamos

ideias dos autores, eles também buscam-se entre si. Eventualmente, podemos tirar

ideias similares de dois autores que parece que chagaram à mesma conclusão, quando

um está a usar a ideia do outro ou ambos estão a tirar de um terceiro. Assim, pode

parecer que estamos a explorar vários autores quando na verdade é só um. Por isso é

que vale sempre a pena procurar fontes primárias, isto é, os autores que produzem as

ideias pela primeira vez. Se não conseguimos, podemos partir para as secundárias e

terciárias e assim sucessivamente, prestando sempre atenção em quem copiou quem.

do CDC em que aparecem os nomes de todos os indivíduos envolvidos na pesquisa.

Nestes casos, podemos usar o nome da organização e evitar o tormento de escrever

nomes de dezenas de autores. 13 Não confundir com as referências cruzadas mencionadas no próximo

capítulo, que servem para indicar tabelas e figuras do texto.

Page 30: O Supervisor

16 Edgar Manuel Cambaza

Há pouca necessidade de se fazer referências do tipo “X, citado por Y”. Além

de tirar a estética do texto, não é assim tão adequado para as ciências naturais. Isso

pode ser mais útil em trabalhos de letras e ciências sociais, onde é muito importante

saber quem disse o quê.

Use-se a comunicação pessoal como o último recurso possível e é necessário

deixar-se claro que se trata deste tipo de fonte. Exemplo: “as chuvas torrenciais

Chókwè ocorrem anualmente (Cambaza, 2015, em comunicação pessoal)” ou

“Cambaza (2015, em comunicação pessoal), afirmou que as chuvas...”

De acordo com o regulamento do (DCB, 2013), o estilo apresenta as seguintes

características:

Artigo: Apelido, N., N. Apelido e N. Apelido (ano). Título do artigo.

Nome da Revista Científica, volume (número): página-página.

Site: Apelido, N., N. Apelido e N. Apelido (ano). Nome da página

(exemplo: as borboletas). Nome do Site (exemplo: Wikipédia).

www.url_da_página.edy, pesquisado a dia/mês/ano.

Livro: Apelido, N., N. Apelido e N. Apelido (ano). Nome do Livro,

volume, edição. Publicador. Cidade. (número de páginas)p.

Capítulo de livro: Apelido, N., N. Apelido e N. Apelido. Nome do

capítulo, in: Apelido, N., N. Apelido e N. Apelido (coord.)14 (ano). Nome

do Livro, volume, edição. Publicador. Cidade. pp. página-página.

Nas referências de livros inteiros não se põe "pp.". Isso é usado para artigos ou

capítulos de livros.

Para livros, teses, etc. (obras inteiras) é p. (página);

pp. - de página x à página y

O "p." também é usado para o que realmente se chama de citação. As

citações devem vir entre aspas. Por exemplo, "A anemia é uma forma de

subnutrição" (Alberto et al., 2009, p. 16). Notem que, neste caso, o "p."

vem antes do número.

Além disto, observem-se as seguintes notas:

Nomes de artigos, páginas e capítulos de livros são escritos normalmente

(sem sublinhar, colocar a negrito ou em itálico);

14 Podem ser coordenadores, editores, autores, etc.. É uma questão de prestar

atenção no que diz o livro.

Page 31: O Supervisor

Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 17

Nos títulos de livros, jornais ou websites as iniciais devem estar a

maiúscula;

Não se põe nada a negrito ou itálico senão nomes científicos. Contudo, o

regulamento diz que os nomes dos livros, jornais ou websites são

sublinhados;

A lista de obras deve estar em ordem crescente dos nomes dos autores. Se

um mesmo autor publicou pelo menos duas obras no mesmo ano, estas

podem apresentar a notação alfabética a, b, c... juntamente com o ano. Por

exemplo: Mendes (2013a), Mendes (2013b), etc.. Se chegar a z (o que é

raro), passa-se para aa, ab, ac... e assim em diante;

Comunicações pessoais não são registadas a bibliografia;

Evitem-se documentos cujo autor não esteja identificado e prefira-se os

com data (ano de publicação). Ainda assim, quando não se conhece o

autor, pode-se escrever “Anónimo no lugar dos nomes”. Deve-se escrever

“em preparação” nas obras não publicadas. Escreve-se isto entre

parênteses, exactamente onde estaria a data da publicação. Quando a data é

desconhecida, faz-se o mesmo tratamento, escrevendo-se “data

desconhecida”;

Detalhes como volume, edição e páginas podem não constar da

bibliografia quando não encontrados. Mais grave é a falta de título. Nestes

casos, é bom investigar no arquivo como o documento foi catalogado. Por

exemplo, se for de um website, o URL pode ajudar. Entretanto, este tipo de

situação deve ser evitado ao máximo se houver alternativas.

A característica mais importante da bibliografia é a coerência. Mais vale um

erro repetido sistematicamente do que dois modelos usados simultaneamente, por

mais correctos que estejam. Siga-se as instruções que deixei acima com rigor.

2.4.3 Atenção ao plágio

Plágio é o uso de ideias alheias sem o devido reconhecimento. Ele é

considerado uma ofensa muito séria no mundo académico e jornalístico. Há pessoas

que são expulsas de universidades por causa disso. Jayson Blair, jornalista premiado

do New York Times, perdeu o emprego e todos os prémios. Uma estudante do

departamento teve um processo de quase um ano por causa disso. O documento

académico deve ser sempre original! Por isso:

Page 32: O Supervisor

18 Edgar Manuel Cambaza

Evite-se copiar oito palavras seguidas do mesmo documento, mesmo que

se esteja a traduzir. Nem mesmo usar-se sinónimos. É preferível ler, pensar

e escrever. Não há problema se as frases saem. Mas isso não significa que

não se deve fazer referência;

Se eventualmente se pretende copiar palavras do original (às vezes são

muito bem ditas), ponha-se entre aspas. Como opinião pessoal, acho que

isso compromete a estética;

O trabalho deve ser original em;

A referência deve ser feita em frente à ideia extraída e é tolerável no fim

da frase. Nunca no fim do parágrafo como se fosse referência a frases

anteriores;

Faça-se referência à obra de onde tirara a informação e não às suas fontes.

Isso também é plágio. Imagine-se que o autor que copiou tenha

transformado os dados de acordo com a conveniência ou inventado as

referências. A própria escolha e gestão de referências é parte integrante da

obra;

Não se tenha medo de escrever o que se pensa sem referências, sobretudo

se for senso comum, cultura geral ou indiscutível (por exemplo, os

pássaros voam, PCR é reação em cadeia da polimerase, Darwin descobriu

a seleção natural – apesar de esta última ser discutível);

Ideias muito antigas (exemplo: John Snow descobriu a causa da cólera em

1854) ou que foram ouvidas no jornal ou noticiário (por exemplo, houve

cheias no Chókwè) não precisam de referência porque são de domínio

público.

É extremamente trabalhoso seguir estas regras mas no fim vale a pena. E quem

bem segue pode-se orgulhar de cada palavra da declaração de honra dos relatórios de

culminação e assiná-la com toda a convicção.

2.5 Notas de rodapé

As notas de rodapé fazem parte da Gramática Portuguesa, embora não estejam

mencionadas no regulamento de culminação do DCB (2013) 15 . Elas são uma

ferramenta muito preciosa e utilizada em meios académicos e profissionais de todo o

15 Faz sentido. Não é função do regulamento ensinar a língua portuguesa, mas

é parte do bom-senso exigir-se o uso correcto do idioma.

Page 33: O Supervisor

Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 19

Mundo. No rodapé são colocadas ideias que podem comprometer a boa fluência

textual mas são interessantes ou importantes para a melhor compreensão. São uma

forma de anexo, mas tão pequena que não precisa de ser colocada como suplemento

no fim do trabalho. Se estas notas não são utilizadas no rodapé, o estudante só pode

mantê-las no texto (por exemplo, entre parênteses), ignorar tais ideias ou mandar para

o anexo. Manter todas as ideias no texto pode não ser uma ideia porque este vai

perder a fluência e tornar-se desinteressante, ignorá-las pode implicar a perda de

informação muito valiosa e mandá-las para o anexo pode ser desnecessário por serem

textos muito curtos.

Vamos fazer uma analogia. Estamos numa expedição pelo rio Umbeluzi com o

Doutor Salomão Bandeira. Enquanto caminhamos, tens um bloco de notas numa mão

e uma caneta na outra. Estes objectos são usados para realizar a principal tarefa, que é

fazer apontamentos com base naquilo que o Doutor Bandeira diz e mostra. Além

disso, tens uma pasta com material que podes consultar se necessário. Por exemplo,

tem o livro Árvores da África Austral, dos van Wyk, os teus cadernos, comida, etc.

Este é o anexo, que não abrirás frequentemente as deves carregar. Além disso, tens o

binóculo e a máquina fotográfica pendurados no teu pescoço, o telefone no bolso,

talvez um leitor de GPS no cinto e outros artifícios pendurados pelo teu corpo. Estes

não estão sempre nas tuas mãos, como o bloco de notas, mas sabes que poderás

precisar com certa frequência e terás acesso com esforço mínimo. Estes elementos

seriam como as notas de rodapé.

De facto, as notas de rodapé transcendem a língua portuguesa ou as latinas,

constando de numerosos clássicos até documentos actuais consensualmente aceites

como de sublime qualidade. Aliás, é uma competência académica saber distinguir o

que fica no texto daquilo que vai para o rodapé ou anexo. O Word apresenta a função

“footnote” (nota de rodapé), geralmente no menu “inserir”.

Além desta função, ele apresenta as notas de fim do documento (“endnote”).

Este tipo de anotação é colocado na mesma posição do anexo e até pode estar dentro

deste. Ele apresenta pequenas observações ou referências, como as de notas de

rodapé, mas todas concentradas num único texto suficientemente grande para manter

no anexo. A vantagem é que podem ser postas no anexo, mas não são muito práticas

quando há realmente necessidade de se ler estas notas como acompanhantes do texto.

Deste modo recomendo aos estudantes que tirem proveito das notas de rodapé

sempre que estas lhe pareçam necessárias. Mas cuidemos para não encher o trabalho

Page 34: O Supervisor

20 Edgar Manuel Cambaza

destas anotações porque tal prática em excesso, por mais que melhore a fluência do

texto como tal, pode comprometer a fluência da leitura. Nenhum leitor deseja

interromper a leitura com frequência, olhar para a base da página e voltar. Assim,

utiliza com moderação.

Page 35: O Supervisor

Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 21

3 Aspectos técnicos de formatação e acessórios

Procura manter o trabalho simples e organizado. Evita detalhes

desnecessários, porque estes podem ser motivos fúteis de desagrado de um ou outro

supervisor. Considera o documento como uma tarefa exigida pelo teu chefe. O que

ele espera é honestidade e profissionalismo. Escrever um documento científico é

como confeccionar um bolo – quem não aquece devidamente terá um bolo cru; quem

exagera queima o bolo. Aposta num conteúdo bom, relevante e bem apresentado.

Atenção: não confundas simples com despachado. Fazer algo simples e à medida é

como produzir um bloco para colocar na parede. O bloco precisa de ter o tamanho

exacto. Se despachamos o bloco comprometemos a qualidade da parede.

Procura ler o Regulamento de Culminação de Estudos (DCB, 2013) e respeitar

tudo o que ele exige. A desobediência das normas é acto de negligência.

Uma recomendação: organiza tudo no início. Os elementos que

incondicionalmente estarão no fim do trabalho podem ser adiantados. Assim, não se

perde muito tempo. Além disso, será muito mais fácil conversar com o supervisor se o

trabalho já estiver minimamente estruturado. Por exemplo, o regulamento já dá uma

ideia clara sobre a organização dos trabalhos. Já se sabe como serão as capas dos

trabalhos, quais serão as secções e como estará organizada a paginação. Na última

secção, pode-se colocar o título no cabeçalho, o nome do autor e a página no rodapé.

A segunda secção também já pode ter paginação. Todo o texto, a partir da segunda

secção, já se sabe que deve estar justificado.

Os trabalhos são feitos inteiramente usando-se a fonte Times New Roman com

12 pt. Exceptuem-se casos em que se usam letras gregas representando grandezas ou

unidades de medidas ou circunstâncias às quais não há alternativa senão usar-se tipos

particulares de letras.

Os parágrafos têm frequentemente tido duas estruturas:

O afastamento na primeira linha, de 1,27 cm, sem separação entre os

parágrafos;

Nenhum afastamento na primeira linha, mas com afastamento de 12 pt

entre os parágrafos.

Se for para respeitar as normas da Gramática Portuguesa, escolha-se o

primeiro tipo de parágrafo. Entretanto, é comum encontrar-se o outro estilo na

literatura e há outros departamentos que usam. Até que o regulamento do DCB (2013)

Page 36: O Supervisor

22 Edgar Manuel Cambaza

decida, deve haver tolerância dos estudantes assim como dos docentes diante de

qualquer um dos estilos. De qualquer modo, é recomendável que o estudante pergunte

ao supervisor que estilo ele tem usado com mais frequência.

A mancha gráfica deve ser em formato de prosa, com texto justificado. A

separação é de uma linha e meia. No subtítulo seguinte, dedicado à formatação no

Word, estes aspectos serão explicados com maior detalhe.

3.1 Formatação no Word

O Microsoft Office Word tem sido incomparavelmente o programa mais usado

para a produção de documentos escritos. Há alternativas, tais como o OpenOffice ou o

KOffice. Similarmente, há quem use outros sistemas operativos e versões do Office

com uma ou outra diferença comparando com aquele concebido para o Microsoft

Windows. Quem se sente mais confortável com estes programas ou sistemas

operativos pode, naturalmente, aplicar o que se diz aqui no seu próprio contexto.

Explicarei para o Windows ou Macintosh mas o que aqui se aplica também vale para

outros sistemas.

Isto está longe de ser uma lição de informática e por isso tentarei ser breve,

cingindo-me ao que é mais relevante e suficiente para se escrever bem os documentos

científicos, de acordo com as normas.

Muitos estudantes veem-se obrigados a recorrer a artifícios para enfrentar as

dificuldades de formatação do texto. Por exemplo, às vezes eles separam o trabalho

em documentos separados porque não conseguem manipular as variações na

paginação. Mas isso não é necessário. Porque saltar de documento em documento

para ler o mesmo trabalho? É muito mais prático preparar completamente o

documento e... escrever! Quando o documento está completo, não é sequer necessário

saltar linhas para criar espaços entre textos e títulos ou passar o texto para outra

página. Há truques brilhantes, mas o Word tem elementos que permitem evitá-los e

escrever muito melhor.

Ao abrir o Word, tem-se uma página branca e geralmente uma formatação

básica que já vem da indústria. Vamos trabalhá-la passo a passo até que fique ao

nosso gosto. É até possível formatar-se definitivamente para que não tenhamos de

fazê-la todas as vezes que queremos escrever um documento ou escrever por cima de

um documento antigo. A estratégia que aqui apresento garante alguma eficiência de

Page 37: O Supervisor

Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 23

modo que o estudante passe menos tempo preocupado com a organização e se

dedique mais à própria ciência. Vamos começar?

3.1.1 Criação de secções16

A primeira coisa a fazer é preparar as secções, antes mesmo de escrever

qualquer palavra. Secções são trechos autónomos do documento, que podem

funcionar como se fossem documentos distintos. Por exemplo, é possível conferir a

cada a sua própria paginação, o seu rodapé e cabeçalho. A primeira coisa a fazer é

saltar duas linhas e quebrar a página (Ctrl + Enter). A nova página será a segunda

capa. Depois de saltar novamente duas linhas e fazer uma quebra de secção. Para

quebrar a secção, procure-se page setup (ou similar) > quebra > quebra de página17

(Figura 2). A secção que surge é dedicada aos elementos pré-introdutórios (listas de

abreviaturas, figuras, tabelas, índice, etc.).

Figura 2. Instrução para a quebra de secção. Note-se outras opções, como a quebra de página.

Salte-se duas linhas novamente e quebre-se novamente a secção. Esta será a

última, dedicada ao corpo do trabalho e possivelmente ao anexo. Para se criar novas

16 Publiquei uma explicação sobre a quebra de secções no Youtube. O link é

https://www.youtube.com/watch?v=dpFChKcGgCQ&feature=youtu.be. 17 Cada versão de Word tem as suas próprias características mas é geralmente

no page setup e break onde se encontra a section break.

Page 38: O Supervisor

24 Edgar Manuel Cambaza

páginas em cada secção é só fazer quebras de página (Ctrl + Enter). Não é necessário

saltar as linhas (Enter) até atingir as novas páginas18.

3.1.2 Tipo de letra e mancha gráfica

Em seguida, escolha-se o tipo de letra e a mancha gráfica que vão preencher a

maior parte dos documentos. Para isso, faça-se um clique direito sobre o tipo normal

de letra no menu de estilos da grande barra de ferramentas (Figura 3). Seleccione-se a

opção modificar. A maior parte das alterações pode ser feita na janela que aparece. É

só escolher o tipo de letra (Times New Roman), tamanho (12 pt), a mancha gráfica

(justificado) e separação entre as linhas (1,5).

Figura 3. Como formatar a mancha gráfica e os parágrafos.

18 Embora a quebra de página saltando as linhas seja eficaz, este processo pode

criar problemas na navegação do documento que podem até passar para outros

formatos (por exemplo, pdf).

Page 39: O Supervisor

Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 25

No canto inferior direito, tem-se o acesso a um menu que dá acesso a uma

janela onde se formata os parágrafos. De acordo com os modelos que têm vindo a ser

usados pode-se:

Criar um afastamento de primeira linha e (1,27 cm) e eliminar o

espaçamento entre os parágrafos. Este é o estilo presente na Figura 3 e foi

usado na elaboração desta obra. Na figura, observe-se a secção

“identation”, onde se seleccionou a opção “first line” (primeira linha) e

“spacing”, onde as opções “before” e “after” apresentam 0 pt (nenhum

espaço entre os parágrafos);

Não criar afastamento de primeira linha e manter o espaço entre

parágrafos. Para tal, onde se observa “first line” na figura, seleccione-se

“none”. No que diz respeito ao afastamento entre os parágrafos,

acrescente-se 12 pt na opção “after”.

3.1.3 Formatação dos títulos

Os títulos podem ser formatados nesta etapa. Não é necessário que já haja

títulos para se formatá-los. Pode-se preparar de antemão e introduzi-los com a

formatação que desejamos. Todos os títulos e subtítulos a partir da introdução à

bibliografia devem estar a 12 pt, enumerados e a negrito. Não é obrigatório nem que

os títulos estejam inteiramente escritos com letras maiúsculas. É raro os docentes se

preocuparem com este facto mas, até que esteja escrito no regulamento, não é

necessário escrever-se deste modo.

Os subtítulos apresentam as mesmas características dos títulos mas a

enumeração apresenta dois níveis separados por pontos. O primeiro é o do nível acima

e em seguida vem o número de ordem. Os subtítulos vão até quatro níveis. Evite-se

níveis mais abaixo19 mas, em casos extremos, pode-se usar outras notações tais como

o uso de letras ou simplesmente um texto a negrito ou itálico. O mais importante é

manter-se a coerência no texto e usar-se consistentemente as mesmas notações.

A partir do seguinte exemplo, poder-se-á formatar os títulos e subtítulos. Se

não sabemos até que nível de subtítulos vamos descer, podemos configurar três ou

quatro. Para definir-se os níveis, há um ícone que fica geralmente perto dos usados

19 O Word apresenta um número ilimitado de níveis. O quarto nível como

limite para os trabalhos do DCB devem-se ao facto de não ser prático exagerar-se.

Page 40: O Supervisor

26 Edgar Manuel Cambaza

para introduzir marcadores ou enumeração aos parágrafos. Este, porém, define a

enumeração dos títulos (Figura 4).

Figura 4. Definir os níveis dos títulos. Note-se a opção à direita no menu em evidência, destacada dentro de um quadrado.

Uma vez seleccionada a opção correcta, ainda há necessidade de se alinhar os

títulos com o texto. Para quem usa o alinhamento de primeira linha também deve ter

os títulos e subtítulos a 1,27 cm da margem esquerda, exactamente como neste

documento. Os que não criam este afastamento e mantém o espaço entre os parágrafos

podem saltar esta etapa.

Observe-se a Figura 5. A formatação dos títulos assemelha-se à dos

parágrafos. Com um clique direito sobre os estilos selecciona-se modificar.

Figura 5. Alinhamento do título com o texto. Na imagem à esquerda vê-se como abrir a janela para a formatação do título e à direita vê-se como se alinha o texto.

Page 41: O Supervisor

Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 27

Uma vez aberta a janela, clica-se sobre um ícone que mostra uma seta virada à

direita apontando um parágrafo. O mesmo procedimento pode ser usado para todos os

níveis de subtítulos.

É comum estudantes (e docentes) saltarem uma linha ao terminarem um

capítulo ou subcapítulo, logo antes do título seguinte. É um procedimento prudente

para aproximar cada título do respectivo texto mas não é necessário. O Word já foi

programado para que os títulos apresentem esses espaços, isto é, o título mantém-se

automaticamente mais próximo do texto relacionado. Literalmente, não há motivo

para saltar linhas em parte nenhuma do trabalho, excluindo a capa. Não te esqueças

que mesmo para quebrar as páginas só precisas de ligar Ctrl + Enter.

É uma boa ideia adiantar desde já os títulos que sabemos que estarão no

trabalho. Por exemplo, já sabemos que o trabalho terá introdução, objectivos, área de

estudo/local de actividade, etc. Quem ainda não está bem esclarecido pode ver nos

capítulos seguintes, que mostram como se deve organizar uma proposta ou um

relatório. Pode-se também cada título na sua respectiva página. Não nos esqueçamos

que para saltarmos as páginas não precisamos de saltar parágrafos até chegarmos às

páginas seguintes. É só quebrarmos.

3.1.4 Capa

As capas são os rostos dos trabalhos aqui apresentados. Por isso, não deve ser

subestimada. Existem elementos da capa exigidos pelo regulamento, há outros que

convém ou frequentemente utilizados e considere-se também a mera estética. Mesmo

que o conteúdo seja mais importante, a capa é a primeira parte do trabalho que o leitor

vê. Querendo como não, ela pode afectar a sua disposição para ler o resto. Uma boa

capa compara-se a uma pessoa bem vestida, causando boa impressão. Assim, é

importante que se respeite a apresentação do trabalho, começando pela capa.

Um bom exemplo da primeira e segunda capa está na Figura 6. É importante

que se respeitem as exigências do regulamento mas alguns apectos dependem

meramente do bom gosto do estudante. É desejável que o estilo de texto da capa

concorde com o resto do trabalho, mas não é necessário o espaço de primeira linha. É

desejável que o estudante elimine este aspecto logo antes de começar a fazer a capa.

A primeira capa deve apresentar, de cima para baixo: o nome da universidade,

da faculdade, do departamento, curso, tipo de actividade (por exemplo, “Relatório de

Culminação do Curso”), tema, nome do estudante, data (Figura 6). A segunda

Page 42: O Supervisor

28 Edgar Manuel Cambaza

apresenta os mesmos elementos mas acrescenta-se os nomes dos supervisores depois

do nome do estudante. Note-se que deve estar claro quem é o estudante e quem são os

supervisores.

Figura 6. Exemplo da primeira e segunda capa de um trabalho de fim do curso no DCB. Trabalho de Mutombene (2014).

Tem sido comum a apresentação do logótipo da universidade antes mesmo do

nome da instituição. Não é rara a apresentação do ícone de Eduardo Mondlane do

lado oposto. Os nomes da instituição e a data estão frequentemente centralizados. É

comum estes estarem destacados através do negrito, um tamanho superior ao de

grande parte do texto comum do documento ou letras maiúsculas. O título também

tem sido destacado através de negrito ou letras com tamanho superior às de outras

partes. Muitas vezes, o nome dos docentes está do lado direito, ao lado do nome dos

discentes.

Há estudantes que apresentam uma figura por cima ou debaixo do tema. O uso

da arte abre espaço para a abstração mas espere-se que a figura apresente alguma

relação notória com o tema. Uns apresentam fotografias que mostram a realidade

abordada. Outros podem mostrar um ícone, símbolo, sinal, índice ou seja qual for o

signo. O mais importante é que a figura seja interessante e pertinente.

É também comum o uso de bordas. Estas têm sido frequentemente abstractas,

resumidas em um conjunto de linhas, mas recomende-se o cuidado descrito no

parágrafo acima. Por exemplo, é impertinente uma borda de cerejas se o trabalho fala

Page 43: O Supervisor

Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 29

sobre baleias. Para fazê-las, é importante que o cursor esteja nas páginas das capas.

Elas são introduzidas através da opção comummente chamada “borders and shading”

(Windows) ou “borders” (Macintosh) (Figura 7).

Figura 7. A opção “borders” na barra de ferramentas.

Este ícone abre uma janela com três separadores/botões logo em cima (Figura

8). Seleccione-se a opção “page border”. Nesta, pode-se escolher o tipo de borda, ao

gosto do estudante. Só apelo ao bom senso antes de qualquer extravagancia.

Figura 8. A janela usada para definir as características das bordas.

Há dois aspectos a levar em conta. Em primeiro lugar, assegura-te de que as

bordas são apenas para a secção das capas. Para tal, verifica bem onde vem escrito

“aplicar a” ou “apply to” e escolhe “esta secção” ou “this section”. Em segundo lugar,

é importante que as bordas estejam em mais próximas do texto do que os limites da

Page 44: O Supervisor

30 Edgar Manuel Cambaza

folha. Se as bordas estiverem mais próximas dos limites da folha, há riscos de saírem

da área de impressão.

Para tal, clica-se no botão de opções e, na janela que surge, escolher “ajustar a

borda ao texto” ou, no exemplo da Figura 9, escolhe-se “medir (a borda) a partir da

margem”. Uma vez terminada esta etapa, já se tem a borda.

Figura 9. Como ajustar as bordas ao texto. Na opção “measure from” escolha-se “margin” em vez de “edge of page”.

3.1.5 Cabeçalho e rodapé

O cabeçalho e rodapé20 não são obrigatórios mas fazem muita diferença21.

Graças a estes, não precisamos de consultar frequentemente a capa para nos

lembrarmos do título do trabalho e nome do autor. Uma vez que não há normas

específicas até ao momento em que acabei de escrever este documento, o estudante

pode organizar como quiser mas, mais uma vez, apelo ao bom senso. Não vamos

20 Excluindo a paginação, que fica no rodapé. Esta será abordada

separadamente. 21 Atenção: a secção das capas não precisa de cabeçalho nem rodapé.

Page 45: O Supervisor

Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 31

fazer cabeçalhos e rodapés que distraem ou desconcentram o leitor. Não os julgo.

Simplesmente não me parecem profissionais. É como ver um ministro com panque,

piercings e tatuagens.

A maneira mais simples de se fazer cabeçalho ou rodapé é simplesmente

clicando duas vezes o topo ou a base da página, respectivamente. Alternativamente,

eles podem ser acedidos a partir da barra de ferramentas (Figura 10). Uma vez que

ambos funcionam da mesma maneira, vou-me cingir a falar do cabeçalho. Quando se

está a editar o cabeçalho, o cursor encontra-se lá e as escritas do texto principal

tornam-se pálidas22. O cabeçalho apresenta três posições básicas para a introdução do

texto: esquerda (pré-definida), central e direita. Para saltar da esquerda para o centro é

só utilizar a tecla Tab. A mesma serve para pular do centro à direita.

Figura 10. Observe-se os ícones de cabeçalho (“header”) e rodapé (“footer”) na barra de ferramentas.

Eu vejo frequentemente cabeçalhos com apenas o tema do trabalho

centralizado mas não é raro ver-se este à esquerda com o ano à direita. Eu recomendo

o mesmo tipo de letra com o resto do trabalho por uma questão de coerência, mas

ligeiramente menor (talvez a 10 pt). Quando o cabeçalho e rodapé aparecem a 12 pt e

a impressora produz uma escrita muito escura, às vezes o cabeçalho pode-se

confundir com o texto principal, parecendo que faz parte deste.

Quando o cabeçalho e o rodapé são introduzidos, eles aparecem em todo o

trabalho incluindo a capa. Para evitar isto, deve-se desligar o cabeçalho (ou rodapé)

das secções anteriores. Quando se clica duas vezes no cabeçalho ou rodapé, surge um

separador “header and footer” ou “cabeçalho e rodapé” na barra de ferramentas

(Figura 11). Para que o cabeçalho ou rodapé não apareça nas capas, é necessário

assegurar-se que a opção “link to previous” não esteja seleccionada. Isto deve ser feito

isoladamente para o cabeçalho ou rodapé. É possível um estar ligado e o outro não.

22 Se o estudante obviamente não notará este fenómeno se não tiver começado

a escrever.

Page 46: O Supervisor

32 Edgar Manuel Cambaza

Figura 11. Ao editar-se o cabeçalho, surge uma opção de configurações na barra de ferramentas (“header

and footer”). Observe-se que em “options” há uma opção “link to previous” (ligar à secção anterior). Quando não seleccionada instrução permite que o cabeçalho (ou rodapé) seja diferente do cabeçalho da secção anterior.

Uma nota para o título no cabeçalho: não é estético um cabeçalho de duas ou

três linhas e por isso evitem-se títulos muito longos. O ideal é uma linha. Há revistas

científicas que optam por usar reticências em títulos ou resumi-los para lidar com este

problema. Alguns estudantes preferem diminuir o tamanho das letras. A minha

primeira recomendação vai ao próprio tema. Se não for excessivamente longo, já se

corta o problema pela raiz. No entanto, se houver dificuldade nesta etapa, é

imprescindível que se mude no cabeçalho. Pessoalmente, acho que a técnica das

reticências deixa o leitor desnecessariamente curioso, distraindo mais do que

informando, além de não parecer adequado para um texto científico 23 . Diminuir

demais o tamanho das letras (abaixo de 9 pt) pode não ser prático. Um resumo bem

feito resolve o problema sem comprometer o rigor científico e esta é a minha

sugestão. Não entrarei em detalhes sobre como resumir porque levaria muito tempo,

mas o levantamento das palavras-chave seria um bom começo. Não tenhas medo de

comprometer ligeiramente a precisão do tema, desde que não mude o sentido.

Devemos manter na cabeça que o cabeçalho é mais um lembrete do que a mera

repetição do título.

O rodapé usa a mesma lógica mas os estudantes têm estado a escrever os

nomes completos à esquerda e à direita fica a paginação. Uns começam pelo apelido

mas é provável que grande parte escreva normalmente. Seja como for, o cabeçalho e

rodapé deveriam ser normalizados para evitar-se variações arbitrárias.

3.1.6 Paginação

Os números das páginas são colocados no lado direito do rodapé. As capas não

devem ter paginação. A segunda secção apresenta paginação em numeração romana

23 Talvez seja ideal para um texto literário.

Page 47: O Supervisor

Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 33

usando-se letras minúsculas (i, ii, iii, iv, etc.). Esta secção vem logo depois da capa

até à página logo antes da introdução24. A partir da introdução, a paginação usa a

numeração regular (1, 2, 3, 4, etc.).

Grande parte dos estudantes já sabe como paginar, mas vou acrescentar aqui

alguns detalhes. Geralmente, o ícone de paginação fica próximos daqueles para

cabeçalho e rodapé (Figura 12). Afinal de contas, o número de página faz parte do

rodapé. Atenção: a paginação deve ser feita por cada secção.

Figura 12. O ícone de paginação (page #), próximo de cabeçalho e rodapé.

O ícone de paginação abre uma janela (Figura 13) onde o estudante selecciona

a posição em que estará o número de página. No nosso caso, ela deve estar no rodapé

(bottom of page) e à direita (right). Assegura-te de que a opção “show number on first

page” esteja seleccionada, senão o a primeira página de cada secção não estará

paginada. Além disto, há opções avançadas necessárias. Para tal, clique-se sobre o

botão “format”.

Figura 13. Janela básica para a formatação da paginação.

A janela que se abre (Figura 14), pode-se escolher o formato do número. Ao

formatarmos a segunda secção seleccionamos i, ii, iii, etc. Se for a terceira,

seleccionamos, 1, 2, 3, etc.. Mais abaixo, seleccione-se “start at” (começar a partir de)

em vez de “continue from previous section” (dar continuidade à secção anterior).

24 No modelo do DCB, esta corresponde à última página do índice.

Page 48: O Supervisor

34 Edgar Manuel Cambaza

Deste modo, a paginação recomeça assim que inicia a secção. Assegura-te de que a

paginação de cada secção deve iniciar com o primeiro número da ordem.

Figura 14. Janela para a formatação avançada da paginação.

3.1.7 Índice

Uma vez tendo-se os títulos e a paginação feita, já se pode fazer o índice25. É

provável que a paginação não venha a ser a definitiva, uma vez que ainda não há texto

até aqui. Assim, far-se-á o índice mas o estudante não se deve esquecer de actualizá-lo

assim que termina todo o trabalho.

O índice fica logo no fim da segunda secção, antes da introdução. Entre o

índice e a introdução, fica a quebra que separa a segunda e terceira secções. Espera-se

que os títulos do índice partam desde a introdução ao último do trabalho. Incluam-se

até quatro níveis, mas não há problema se for mais prático um título de apenas três

níveis (se, por exemplo, o índice cobrir mais do que três páginas26).

O índice pode ser encontrado, às vezes como “tabela de conteúdos” (Figura

15). Cada versão do Word terá uma configuração específica mas é geralmente fácil

encontrar a opção para o índice. Existem ícones demonstrando os diferentes estilos de

índice. O regulamento não especifica nenhum, mas recomendo ao estudante que faça

o mais simples possível e que combine com o resto do texto. É só clicar no ícone que

o índice aparece onde se encontra o cursor.

25 O bom senso é importante. O índice vem para facilitar a consulta, sobretudo

quando o trabalho é longo ou complexo. Talvez não valha a colocar índice (ou mesmo

capa) num trabalho com menos de cinco ou seis páginas. 26 Mais do que duas já são inconfortáveis.

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Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 35

Figura 15. Observe-se as opções de “table of contents”, que originam o título.

O índice aparece com um título, que pode estar em inglês. O estudante só

precisa de traduzir manualmente e conferir a aparência dos demais títulos. Mas

atenção a dois aspectos:

O título do índice pode aparecer com a enumeração dos demais títulos. É

comum ele aparecer como 1, seguido por 2 na introdução, etc.. Elimina

esta enumeração. A introdução deve ser 1;

Não é bom configurar o título do índice como heading 1. Aliás, resolvendo

este problema resolve-se também o acima mencionado. O índice lista os

títulos (headings) que configuraste acima. Se o próprio índice apresentar

esta característica, ele próprio pode aparecer na lista, o que não faz

sentido. Recomendo que o estudante defina o texto do título como

“normal” e depois defina “manualmente” como ele deve ficar.

Se observares a Figura 15 virás, na extremidade direita, o botão “options”

(opções). Noutras versões do Word tal função está possivelmente numa posição

diferente. Seja como for, esta permite definições avançadas do índice. Recomendo

que o estudante explore esta parte com mais cuidado, mas as instruções até aqui

apresentadas já permitem que o estudante faça um bom índice.

De tempos em tempos, e principalmente no fim, é bom que o estudante

actualize o índice. Para tal, pode usar o botão direito do rato sobre o índice e

seleccionar a opção update field (actualizar campo) (Figura 16). Em seguida, aparece

uma janela a perguntar se o estudante deseja actualizar apenas os números das páginas

ou todo o índice. Se ele está seguro que não alterou nenhum título, pode apenas

actualizar os números de páginas. Por vias das dúvidas, é muito mais prudente

seleccionar-se sempre “actualizar todo o índice”.

Page 50: O Supervisor

36 Edgar Manuel Cambaza

Figura 16. Como actualizar o índice.

3.1.8 Tabelas e figuras

As tabelas e figuras são introduzidas de maneiras diferentes, mas o tratamento

das legendas apresenta aspectos comuns. Não vou entrar muito em detalhes sobre

quando e onde apresentar um ou outro tipo de tabela ou figura (talvez noutra ocasião).

Só digo que uma tabela muito simples ou figura pouco ilustrativa são desnecessárias.

Se forem muito grandes ou complexas a ponto de comprometer o fluxo normal do

texto, talvez fiquem melhor no anexo. O bom senso conta. Primeiro vou explicar

como se introduz e depois como escrever as legendas.

Vou começar por falar sobre as tabelas. Para a introdução de uma tabela, usa-

se um ícone que dá acesso a uma grelha (Figura 17).

Figura 17. Grelha para a criação de tabelas.

Page 51: O Supervisor

Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 37

Arrastando o mouse pela grelha, as células vão mudando de cor. Estas

correspondem ao número de linhas e colunas que se pretende dar à tabela. Se as linhas

ou colunas forem insuficientes, ainda pode-se clicar no link “insert table” (inserir

tabela), que permite que o estudante escolha o número de linhas e colunas que desejar.

Se a tabela for copiada de alguma autoridade, deve-se escrever debaixo dela

qual é a fonte no modelo autor (ano) e, logicamente, esta obra deve constar da lista

de obras consultadas (bibliografia), no fim do corpo do trabalho27.

As figuras podem ser fotos, desenhos (incluindo mapas) ou diagramas28. Em

todas as versões do Word, estes podem ser encontrados no menu “insert” (inserir).

Nas versões recentes para o Microsoft Windows, ele encontra-se como separador da

principal barra de ferramentas. No Macintosh, o “insert” encontra-se no menu

principal do programa, geralmente no topo do ecrã, ou no separador “home” da barra

normal de ferramentas. Nesta versão, há um separador específico para tabelas, um

para gráficos e um para esquemas. No Windows, estes separadores aparecem quando

a figura é introduzida, para permitir a sua edição.

Não entrarei em detalhes sobre como introduzir cada tipo de figura, mas

asseguro que é muito fácil e intuitivo e se um estudante tiver duvidas, não precisa de

hesitar em contactar-me através do [email protected]. Nalguma

circunstância futura farei questão de aprofundar este assunto.

Antes de colocares uma figura, pensa na relevância e no impacto que esta vai

causar sobre os leitores. Há figuras bonitas e tentadoras que não trazem subsídio

algum ao trabalho. Seja qual for o recurso alternativo ao texto, procura por aquele

cuja ausência implicaria explicações fastidiosas.

Talvez seja mais interessante debruçar-me sobre as legendas. Para as tabelas, a

legenda deve ficar por cima e para as figuras por baixo. Insere-se as legendas das

tabelas e figuras da mesma maneira. Entretanto, a tabela é necessário seleccionar-se

toda a tabela para se inserir as legendas. Tal selecção pode ser feita colocando-se o

cursor do rato sobre a tabela até que apareça um pequeno ícone no canto superior

esquerdo da tabela (Figura 18).

27 Se houver anexo, logo antes deste. 28 Atenção: existem fotos e desenhos de diagramas e até mesmo de tabelas. No

que respeita aos diagramas, não há problemas porque o tratamento de fotos, desenhos

e diagramas é parecido. Mas as fotos e os desenhos de tabelas recebem o tratamento

característico de tabelas.

Page 52: O Supervisor

38 Edgar Manuel Cambaza

Figura 18 Para seleccionar toda a tabela, aproxima-se o cursor da tabela e automaticamente aparece um

ícone de movimentação no canto superior esquerdo. É só clicar no ícone que a tabela fica toda marcada como seleccionada. Extracto do trabalho de Anapakala (em preparação).

Tal ícone serve para movimentar a tabela mas, simplesmente por clicá-lo,

seleccionas toda a tabela. Uma vez seleccionada a tabela ou o gráfico, faz-se o clique

direito, onde aparece a opção “inserir legenda” (Figura 19).

Figura 19. Como inserir legenda. Depois de fazer o clique direito (ou algo correspondente) sobre a figura ou tabela seleccionada, vê-se a opção “insert caption” (inserir legenda).

Em seguida, abre-se uma janela onde é possível definir-se as características

das legendas (Figura 20).

Page 53: O Supervisor

Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 39

Figura 20. Onde se definem as características básicas de uma legenda.

Na janela, pode-se escrever o texto da legenda, o rótulo (“label”), a posição e

organizar outros detalhes. Se o sistema estiver em inglês, terá rótulos como “table” e

“figure” em vez de “tabela” ou “figura”, respectivamente. Para mudar para português,

é só introduzir o novo rótulo em “new label” e definir se a legenda deve estar por

cima ou por baixo da tabela ou imagem. Não te esqueças: tabela – por cima; figura

– por baixo.

É comum o Word ter legendas coloridas (por exemplo, azuis) e a negrito como

predefinição. O estilo das legendas não consta do regulamento até ao momento, mas

sugiro que se faça exactamente como o texto normal do documento, possivelmente

com tamanho reduzido, em torno de 10 pt.

Na barra de ferramentas, onde estão os botões de “estilos” (styles), encontra-se

também o de “legendas” (caption) (Figura 21). É só fazer o clique direito e definir

todas as características como se faz com o texto normal e o título.

Figura 21. Como formatar o texto das legendas. O estilo “caption” (legenda) encontra-se na barra de

ferramentas.

Page 54: O Supervisor

40 Edgar Manuel Cambaza

O afastamento de primeira linha também deve estar nos trabalhos em que

estiver a ser usado. Recomendo que se crie um espaço (ver a formatação dos

parágrafos) depois da legenda, para que não esteja muito próxima do texto que segue.

Mais uma vez, não é preciso saltar linhas para fazer isto. Já não é tempo de trabalhar

como amador.

Agora, alguns apelos à estética:

Sempre que possível, usa o mesmo estilo de tabelas ou figuras, no que se

refere aos traços e às cores. Uma salada mista denota desorganização e

incoerência;

Procura colocar as figuras alinhadas com o texto. Para tal, há uma função

com um ícone cercado pelo texto. No Word 2013 para Windows, aparece

logo ao clicar-se a figura como um ícone no canto superior direito,

parecendo um arco envolvido por texto (Figura 22)29. Esta função, permite

que o estudante escolha como prefere enquadrar a imagem em relação ao

texto. Ao selecionar-se “alinhada com o texto” (in line with text), a

imagem vai-se comportar como o resto do texto, fazendo parte de um

parágrafo, não havendo texto em torno dela, por frente ou por trás.

Figura 22. Função que permite enquadrar uma imagem em relação ao texto.

3.1.8.1 Referências cruzadas

Regra básica: não pode existir tabela, figura ou anexo sem referência

cruzada30. Estes elementos dão suporte ao texto principal e só podem ser apresentados

se em concordância com partes específicas deste. As referências cruzadas no texto são

aquelas que apelam o leitor a observar uma tabela, figura ou algo em anexo. Podem

ser simples ou compostas. Simples quando indicam directamente o elemento e

29 O ícone pode não aparecer quando o documento não está no formato docx.

Nestes casos, é só fazer o clique direito e o ícone vai aparecer, ou procurar na barra de

ferramentas. Noutras versões do Word o ícone pode ser ligeiramente diferente, por

exemplo, com a silhueta de um cão envolvido por texto ou ainda acompanhado de

nomes diferentes como “wrap text” ou “layout”. 30 A não ser o cronograma ou orçamento da proposta.

Page 55: O Supervisor

Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 41

compostas quando, por exemplo, a tabela ou figura está dentro do anexo. No caso das

referências compostas é necessário mencionar as duas (por exemplo: ver figura x no

anexo y).

Um detalhe: cuida para que o elemento referenciado esteja o mais próximo

possível da referência. Se for tecnicamente impossível colocar na mesma página, que

não esteja muito longe. Ninguém quer ver uma referência e depois saltar duas

páginas. Além disso, é muitas vezes mais prático ler um texto a olhar para o objecto

ou fenómeno que ele descreve.

É muito melhor elaborar referências cruzadas automáticas porque assim o

estudante não tem de estar a corrigi-la sempre que introduz uma tabela ou figura

destinada a ficar antes das outras. É muito laborioso rever todas as legendas sempre

que se tem de acrescentar apenas uma.

Para introduzires as referências cruzadas, faz-se o seguinte:

1. Coloca o cursos na parte do texto onde pretendes colocar a referencia;

2. Procura a opção “cross-reference” (referência cruzada), geralmente na

barra de ferramentas ou no menu “inserir”, perto da função para inserir

legendas. Isto abrirá uma janela (Figura 23);

Figura 23. Janela para a introdução de referências cruzadas.

3. No canto superior esquerdo, onde está escrito “tipo de referência”

(reference type), selecciona a opção “figura” ou “tabela”, dependendo

daquilo que pretendes referenciar;

4. Selecciona-se a legenda desejada;

Page 56: O Supervisor

42 Edgar Manuel Cambaza

5. No canto superior direito, escolher “letreiro e número” (label and number)

6. Ligar o botão “inserir” (insert) e fechar a janela.

3.1.8.2 Listas de abreviaturas31, tabelas e figuras

O índice não é a única lista de conteúdos. As de abreviaturas, tabelas e figuras

encontram-se na mesma secção, logo antes do índice32. Elas devem apresentar títulos,

como sempre, mas é melhor que estes sejam formatados como texto normal e depois

postos a negrito. Isto porque eles não devem aparecer no índice.

A lista de abreviatura é simples. É só escrever normalmente. Recomendo que

seja feita à medida que o estudante vai escrevendo de modo que, assim que encontra

uma abreviatura aponta na lista. Outras recomendações:

Ela deve estar em ordem alfabética, para facilitar a consulta;

Não precisa de incluir notações matemáticas e estatísticas, siglas do SI

nem símbolos químicos, grandezas (convencionais) ou fórmulas. Se te vês

obrigado a utilizar medidas fora do SI (por exemplo, de uma régua ou

balança americana), cria um anexo a explicar como converter;

Prefira-se trabalhar com nomes em português (por exemplo, como já foi

mencionado, OMS em vez de WHO);

Não precisa de negrito ou qualquer tipo especial de formatação. É só

escrever a palavra, hífen e a explicação.

A lista de tabelas e figuras assemelham-se ao índice, indicando em que página

se encontram os respectivos elementos. Elas baseiam-se no conteúdo da legenda e,

por isso, recomendo que se evite à medida do possível, legendas excessivamente

extensas. Ambas listas são introduzidas através da função “index and tables” (índice e

tabelas). Ela abre uma janela onde se pode configurar vários tipos de mapas de

conteúdos do documento (Figura 2).

31 Não confundir abreviaturas com acrônimos. Acrônimos são abreviaturas,

mas nem todas as abreviaturas são acrônimos. 32 Obviamente, estas listas só existirão se os respectivos elementos existirem.

Page 57: O Supervisor

Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 43

Figura 24. Janela de configuração das tabelas e figuras.

Selecciona-se o separador “Table of figures” (tabela de figuras). O mais

importante é definir qual será o tipo de legenda “caption label”, que permite ao

estudante escolher se vai fazer uma lista de figuras ou tabelas. Depois de tudo, é só

clicar em “OK” e já está. Estas listas não vêm com título, pelo que o estudante é que

deve colocar. Novamente, não uses Heading 1 para tal, mas sim um texto normal que

vais depois colocar a negrito.

Se não houver tabela ou figura, o campo em que deveria aparecer a lista vai

indicar que há um erro. Isso não é problema. Assim que colocares as tuas tabelas ou

figuras, é só voltares para a lista e actualizar, da mesma maneira que se faz com o

índice.

3.1.9 Anexos

Alguns trabalhos precisam de anexos, onde fica informação suplementar. Por

exemplo, há tabelas indispensáveis ou valores de referência cujo leitor deve consultar

para entender melhor o documento mas que não são realmente assunto central do

trabalho. Há também tabelas tão grandes que comprometeriam o fluxo normal do

texto ou figuras cuja ausência não faz tanta diferença. Pensa assim: se fosses obrigado

a reduzir o conteúdo do teu trabalho, começarias pelo anexo.

3.1.9.1 Como organizar os anexos

Já vi vários tipos de anexos (uma vez que as regras não estão estabelecidas)

mas recomendo o mais simples possível e algo que esteja de acordo com o resto do

trabalho. Organiza um anexo que respeita o estilo ou a estética, as fontes, os

Page 58: O Supervisor

44 Edgar Manuel Cambaza

parágrafos e a mancha gráfica do resto do texto. Não é por ser anexo que as regras

devem mudar.

Se o anexo for muito simples, uma característica que vale a pena mencionar é

que ele não precisa da enumeração característica dos títulos, mas deve apresentar o

mesmo tipo de formatação (“Heading 1”). Ele pode ter subtítulos, que podem ou não

estar enumerados, mas não devem aparecer no índice – deste modo, não devem

apresentar o estilo “Heading”, embora se possa conferir o aspecto dos títulos normais

do trabalho. Há quem organize o anexo em secções chamadas, anexo 1, 2, 3..., o que

parece uma boa ideia. Estes podem ser divididos em anexo para tabelas, figuras,

textos/métodos/documentos, etc.. Organizando-se assim, a referência no texto pode

ser normal (por exemplo, tabela x; o método para a produção de y) e indicar-se que

está no anexo.

3.1.9.2 Tabelas e figuras no anexo

Mesmo no anexo, as tabelas e figuras continuam com a sua enumeração

normal, com as suas legendas e, acima de tudo, bem organizadas. Há aquela tendência

em não se fazer grandes arranjos no material do anexo, por outras palavras, é

frequente estudantes despacharem-no assumindo que se trata dos detalhes menos

relevantes do trabalho.

Pois eu digo que não é uma boa ideia negligenciar esta parte porque

supervisores, orientadores e especialistas estão mais interessados no resultado mais do

que em qualquer outra parte do trabalho. Parta-se do princípio de que os especialistas

conhecem a disciplina e estão dentro do assunto, não precisando tanto de rever as

bases que predominam nos capítulos introdutórias senão para constatar se estão ou

não bem apresentadas. Muitos métodos não requerem tanta atenção porque estão bem

estabelecidos e o estudante só vai repeti-los num novo contexto (às vezes), sobretudo

aqueles que vêm em manuais de instruções dos kits das multinacionais. Talvez o

método seja mais relevante de se ver na proposta. A principal novidade que vem no

relatório está no resultado e talvez daí em diante33. Deste modo é natural que tutor ou

33 O “talvez” é importante na frase. O resultado é, de longe, a parte mais

importante de um relatório de pesquisa. No relatório do estágio, depende porque são

as impressões do estudante – discussão das observações, análise crítica do estágio,

conclusão e recomendações – que nos dizem até que ponto ele conseguiu se integrar

na unidade e compreender a ciência envolvida. Nas monografias, toda a revisão crítica

é relevante, tanto em estrutura como conteúdo.

Page 59: O Supervisor

Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 45

avaliador consulte o anexo se o resultado fizer referência a este. O anexo pode e deve

ser avaliado, tanto em termos de organização como conteúdo.

Constatei nalguns trabalhos que os estudantes excluem da lista das tabelas ou

figuras aquelas que constavam do anexo. Em vez disto, colocam as legendas destes

elementos na lista de anexos. Isto é compreensível mas incorrecto. É natural que tudo

o que consta do anexo deve estar na lista de anexos, de algum modo. Por outro lado, é

imprescindível que todas as tabelas e figuras devem constar das respectivas listas.

Incondicionalmente! Eis as instruções: faz a lista de tabelas e figuras como foi acima

explicado e não se fala mais no assunto; quanto ao anexo, faz uma lista de elementos

anexados e baseia-te nos subtítulos que tiveres criado lá (por exemplo, tabelas,

figuras, fórmulas, documentos, etc.).

Há várias maneiras de se fazer uma lista automática de anexos. Em condições

normais, o estudante poderia configurá-la na função “field” (campo), frequentemente

encontrado no menu “insert” (inserir), mas tenho uma solução bem mais simples e

rápida. Podem chamá-la de truque. É só colocar o cursor na posição em que se

pretende colocar o subtítulo do anexo. Pode-se até escrever o subtítulo, mas o cursor

deve continuar no parágrafo. Em seguida, é só entrar na função “insert caption”

(inserir legenda). Tecnicamente, criar-se-á uma legenda que não acompanha nenhuma

tabela ou figura. A janela que aparece é a descrita na Figura 20. Clicando no botão

“new label” (novo nome), escreve “anexo” na janela que aparecer. Dá o devido título.

Ao aceitar tudo, as letras vão aparecer com o tamanho e formato das legendas de

tabelas e figuras. Acerta “manualmente” para que se pareça com os títulos34. Voila!

Para fazer referência ao anexo no texto, segue as instruções do ponto 3.1.8.1 acima,

sobre referências cruzadas; para fazer lista de anexos, segue instruções semelhantes às

do ponto 3.1.8.2 sobre lista de abreviaturas, tabelas e figuras. Obviamente, em todos

os casos deve-se escolher o campo “anexo”.

34 Se mudares nos “estilos” da barra de ferramentas, vais alterar as

características das legendas das tabelas e figuras, também, e não é isso que desejamos.

Page 60: O Supervisor

46 Edgar Manuel Cambaza

4 Proposta de projecto

É na proposta (também conhecida como protocolo) que o estudante diz o que

vai fazer como trabalho de culminação do curso. É importante que esteja detalhada de

modo que qualquer pessoa possa reproduzir a actividade e produzir resultados

similares. A proposta pode ser feita no fim de um curso de licenciatura ou como

requisito para a inscrição de uma formação baseada em pesquisa (por exemplo,

muitos mestrados e doutoramentos).

Uma proposta deve conter35:

1. Introdução, com generalidades, problema, justificativa e objectivos;

2. Hipóteses e/ou previsões;

3. Área de estudo e/ou local de actividade;

4. Material e métodos/metodologia;

5. Resultados esperados (facultativo);

6. Cronograma;

7. Orçamento;

8. Bibliografia;

9. Anexo (facultativo).

O prato forte da proposta é a metodologia, mas é importante que tudo o resto

esteja bem redigido. É a metodologia que diz o que será feito durante a actividade,

enquanto as outras partes assistem de maneiras particulares esta componente da

proposta. Por exemplo, a introdução trará o contexto – sobretudo para quem está

pouco familiarizado com o assunto – os objectivos dizem em poucas palavras o que

será feito, etc.. As hipóteses e previsões dão uma vista sobre o que pode vir a

acontecer, sustentado por alguma teoria. Tirando a bibliografia, os resultados

esperados e o anexo, o resto dá-nos uma ideia do ambiente e os recursos necessários

para a realização do estudo. O clímax de tudo é, sem dúvida a metodologia, onde se

explica clara e sucintamente o que será feito.

Não existem palavras específicas ou “ideais” para organizar uma boa proposta,

mas há princípios, algumas regras, boas práticas e ideias construtivas. O bom-senso

também conta muito, mas o regulamento está acima de tudo. Vou apresentar aqui o

35 De acordo com as normas de culminação dos cursos do DCB. Ainda assim,

estas regras são aplicáveis para trabalhos de muitas outras instituições. Uma

particularidade dos trabalhos do DCB é a introdução mais extensa do que o comum,

contendo elementos da revisão bibliográfica, e a ausência da revisão.

Page 61: O Supervisor

Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 47

que deve ser feito, o que convém ou simplesmente algumas sugestões com base na

experiência pessoal.

4.1 Elementos pré-introdutórios

Os protocolos têm tido poucos elementos pré-introdutórios quando

comparados aos relatórios. Eles apresentam as capas, as listas de abreviaturas, tabelas,

figuras, componentes do anexo e índice (ver como elaborar estes elementos no

capítulo anterior).

4.2 Introdução

Há três elementos necessários para a introdução: (1) o contexto teórico onde se

enquadra o assunto que se pretende explorar, (2) o problema e (3) a justificativa. No

protocolo do DCB não se costuma a escrever a revisão bibliográfica num capítulo

isolado, pelo que ela consta da introdução. Como resultado, a introdução passa a ter

três a cinco páginas em vez de uma ou duas.

A informação deve partir da área de conforto de um leitor leigo até à de

desconforto de um especialista. Por outras palavras, o princípio da introdução deve ser

mera cultura geral e no fim deve constar o desconhecido, onde os mais versados na

área ainda não chegaram, estão a tentar chegar ou poucos chegaram mas ainda

predomina a insegurança.

Atenção: falar bem não é falar muito. A simplicidade é o auge da sofisticação!

O texto científico é para instruir, não impressionar. Se for para impressionar, se calhar

uma música ou pintura será mais eficaz. Não te esqueças que deves ser breve, claro e

directo. Não fales menos do que deves porque o teu trabalho ficará pobre. Não fales

mais do que deves porque parecerás inseguro ou que estás a divagar. Evita

informação irrelevante para o teu trabalho. E evita redundância – o que está dito,

está dito!

4.2.1 Generalidades

Esta é a primeira parte da introdução, onde consta a informação básica para a

compreensão do assunto central. Em princípio, ela vai ocupar duas a três páginas e o

leitor, depois de ler, já deve ter uma compreensão clara do tópico. Por exemplo, ao ler

o título, um leitor leigo que também leu esta secção já deve perceber o que o título

diz.

Page 62: O Supervisor

48 Edgar Manuel Cambaza

Vou apresentar aqui o que tenho dito aos estudantes para redigirem nesta

parte. Tenho trabalhado muito com estudantes dos ramos de Saúde e Biologia

Aplicada, mas vou tentar adequar a explicação para qualquer que seja o ramo. Das

etapas abaixo mencionadas, cada uma vai corresponder aproximadamente a um

parágrafo36:

1. Contexto. Em poucas palavras, escreve alguma informação sobre a origem

da problemática que pretendes explorar. Esta informação pode consistir de

algum historial onde se mostra como a problemática se encontra

enquadrada na sociedade, no ambiente, etc.. O contexto pode ou não estar

associado ao parágrafo seguinte;

2. O parágrafo do “o quê”. Definição do objecto de estudo, que pode ser

uma espécie de animal ou planta, uma doença, um fenómeno ou qualquer

outra coisa. Esta definição pode vir acompanhada sobre a essência do que

vem por detrás do objecto, isto é, uma descrição que nos pode dar uma

ideia mais concreta do que se passa. Vale a pena dizer também, em poucas

palavras, qual é a importância do objecto ou fenómeno;

3. O parágrafo do “como/porquê/para quê”. As circunstâncias em que

ocorre o objecto ou fenómeno ou as suas causas. Por exemplo, podem ser

as circunstâncias que propiciam a ocorrência de uma doença (ou quem é

mais susceptível de contrair) ou o habitat natural de um ser vivo. Se o

assunto fosse a produção de um alimento, falaríamos sobre quem produz,

em que circunstâncias, porquê e para quê;

4. O parágrafo do “onde”. É aqui que se descreve onde (geograficamente) o

fenómeno ou objecto ocorre e em que quantidade, proporção ou amplitude.

Se for doença, vamos falar da epidemiologia incluindo informações como

incidência ou prevalência. Se for um ser vivo, vamos falar sobre a

ocorrência geográfica37. Se for um fenómeno, vamos dizer em que áreas

acontece e onde ele é mais notório (ou zonas de risco, para calamidades).

Vale também a pena falar aqui sobre o impacto socioeconómico ou

36 Respeitem-se as boas regras de escrita que descrevi no capítulo 2. 37 Não se confunda a “ocorrência” neste ponto e no anterior. No anterior, era

ocorrência em termos de condições em que o objecto ou fenómeno ocorre. Neste

parágrafo, já se trata meramente de distribuição geográfica.

Page 63: O Supervisor

Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 49

ecológico do objecto ou fenómeno tendo-se em conta as suas dimensões

globais (ou no universo considerado pelo estudante);

5. Os parágrafos do “como encontrar ou visualizar”. Neste parágrafo,

descreve-se como observar o objecto ou fenómeno. Existem geralmente

duas vertentes, embora às vezes só uma delas: (a) qual o material usado

para encontrar ou observar; (b) o que observar para termos a certeza que é

ele. A primeira vai-nos descrever os métodos para diagnosticar uma

doença ou encontrar ou estudar um ser vivo, um ciclone, etc. Não é

necessário entrar-se em detalhes, somente mencionar os métodos. Vale a

pena em seguida dizer qual é o princípio do método que será usado no

estudo em questão. A segunda vertente foca aspectos como os principais

sintomas de uma doença, as características distintivas que têm sido

observadas para identificar certos seres vivos, etc.;

6. O parágrafo de “o que fazer em circunstâncias normais”, por exemplo,

como se pode evitar uma doença, conservar um habitat, evitar uma

calamidade natural. É aqui que se vai falar sobre como garantir que uma

situação desejável perdure;

7. O parágrafo do “como lidar com cada caso”. Este é o parágrafo das

soluções a curto e médio prazo, onde quer que haja problemas, isto é,

como aliviar a preocupação nos casos individuais em torno do objecto ou

fenómeno em estudo. Se for uma doença, vai-se falar sobre os tratamentos,

se for uma espécie ameaçada, vai-se falar restauração de habitats naturais

ou infraestruturas depois de uma calamidade, etc.;

8. O parágrafo do “como controlar todos os casos”. Este parágrafo está

profundamente relacionado com o anterior mas trata-se de um nível mais

estratégico, mais abrangente. Por exemplo, se no ponto 6 estivermos a

falar de como tratar uma doença a nível do paciente, aqui já se fala de

como controlar a doença num país inteiro. Quais os planos, as estratégias

que um governo pode usar? Se estivemos a falar sobre como um guarda

pode proteger os rinocerontes num parque, aqui falar-se-á sobre como

pode Moçambique mobilizar recursos para evitar a caça furtiva. Se no

ponto 6 era para pensar localmente, aqui a ideia é pensar globalmente;

9. Os parágrafos do “o que se está a fazer sobre o assunto”. Não importa

simplesmente o que se pode ou não fazer. De tudo o que se pode fazer, o

Page 64: O Supervisor

50 Edgar Manuel Cambaza

que realmente está a ser feito, de um modo geral? Quem está a fazer?

Como? Porque se está a fazer assim? Está a resultar? Até que ponto?

10. O parágrafo de “e no nosso contexto”. Este ponto é como o anterior mas

considera-se o que está a ser feito no contexto em que estamos inseridos.

Tal contexto pode ser a nossa área geográfica – zona climática, continente,

país, província, se na costa ou no interior, etc. –, a faixa etária que estamos

a observar, ou um aspecto que particulariza o estudo que se pretende

desenvolver. As perguntas do ponto anterior também são aplicáveis aqui.

Mais uma vez, atenção à redundância! Pode ser que uma informação seja

encaixável em dois pontos diferentes das generalidades. Isto pode acontecer quando a

informação está muito misturada ou estruturada de forma diferente à aqui descrita. É

desejável que o estudante separe a informação e coloque cada “fatia” no lugar certo.

Se não puder, que use o bom-senso para colocar no local que lhe pareça mais

adequado, mas nunca repita noutra parte do texto. Este trabalho é mais como um

quebra-cabeças em que as peças são ideias (trechos de informação), muitas vezes de

fontes diferentes. Cada peça deve estar só e somente no seu nicho.

4.2.2 Problema

Na verdade, há sempre dois problemas básicos:

O problema do objecto ou do fenómeno que se pretende estudar – vou

designá-lo crise objectiva;

O problema em termos de conhecimento sobre o fenómeno ou objecto –

designarei crise cognitiva.

Embora a crise objectiva seja a mais relevante para a sociedade, é na cognitiva

que o estudante se deve concentrar. Afinal de contas, a academia visa produzir

conhecimento. É certo que a resolução da crise cognitiva favorece à minimização e

eliminação da objectiva, mas os valores intelectuais são ainda a prioridade da

universidade. Assim, o problema só está bem esclarecido no momento em que o

estudante acaba de explicar que conhecimento em falta interessa para a pesquisa.

Talvez por isto em vez de “problema” devêssemos usar o termo

“problemática”. Ele é sempre composto, complexo de natureza. E é frequente a

preocupação apresentar origem e consequências multifactoriais. A descrição de cada

crise pode ser motivo para escrever um ou dois parágrafos, dependendo da dimensão:

Page 65: O Supervisor

Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 51

1. É melhor que se descreva muito bem a crise objectiva, em primeiro lugar.

O que é que está a acontecer com o objecto ou fenómeno que vale a pena

estudar? O que está por detrás disto? Qual a gravidade? O esforço para

lidar com ele tem sido suficiente? Porque é que o problema persiste?

Evite-se repetir o conteúdo do fim das generalidades. Enquanto lá dizemos

o que está a acontecer, aqui procuramos responder porque estamos

preocupados;

2. Por fim, a crise cognitiva. Qual a preocupação académica por detrás deste

problema? Porque é que a falta de conhecimento sobre o assunto pode

constituir um problema? Até onde foi o esforço dos investigadores da área

e porque a dúvida persiste?

4.2.3 Justificativa

A justificativa serve para dizer porque este estudo é relevante. Não te esqueças

que o estudo responde à crise cognitiva, não a objectiva – ele visa produzir

conhecimento em torno de alguma problemática, não necessariamente resolver o

problema. Logo, deves explicar porque estás a estudar o assunto.

Eu agrupo a justificativa em três grandes grupos de ideias (geralmente em um

parágrafo ou aproximadamente para cada):

1. Há interesse geral por estudos como este. Se demonstro que autoridades

prestigiadas têm feito esforço para a resolução da problemática que abordo

no estudo, não só mostro que não estou sozinho na causa como ainda que

faço parte de um projecto maior em busca da solução para o problema.

Como evidências, posso mencionar programas governamentais, ONGs não

lucrativas e de outras instituições. É aqui que se pode falar, por exemplo,

dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio ou Programa (ODM) de

Acção para a Redução da Pobreza (PARP). Obviamente, não é só falar.

Trabalha sempre com referências bibliográficas;

2. Está-se a caminhar em busca da solução mas o problema persiste. Os

progressos são encorajadores aos olhos do leitor e a persistência do

problema sugere que a caminhada continua. Para descrever os progressos,

busque-se evidências científicas da literatura. Eu geralmente sugiro a

referência aos estudos mais relevantes, sobretudo em contextos próximos

daquele que o estudante pretende explorar. Para falar sobre a persistência

Page 66: O Supervisor

52 Edgar Manuel Cambaza

do problema é só procurar os pontos fracos de cada um dos estudos: é

recente? Usa métodos melhores que o nosso? É do nosso contexto

(geográfico, económico, sociopolítico)? As medições foram bem feitas?

As interpretações também? Pensa em todas as possíveis lacunas que o

estudo pode apresentar. Atenção, esta parte pode-se confundir com a

apresentação do problema (sobretudo a crise cognitiva). A diferença é que

em quanto lá foca-se o problema como uma preocupação, aqui realça-se o

facto de os cientistas estarem a caminhar para a sua solução e só não a

terem encontrado ainda;

3. Este trabalho representa um passo em busca da solução. Quando

mostramos problemas no sistema, a pergunta que se segue é: o que fazer?

É aqui que vens com a solução. Nesta etapa, tenta demonstrar que a tua

pesquisa vem para ajudar a resolver o problema à medida que trará

conhecimento para tomadas mais informadas de decisões. Não é

necessário exagerar nem dizermos que vamos mudar o Mundo.

Sinceridade e realismo são a chave da credibilidade. Termina a

justificativa explicando quem poderá tirar proveito dos resultados do teu

estudo. Abre a mente e pensa em todos os que podem ser público-alvo,

desde estudante que quer dar continuidade à tua pesquisa ao cientista em

busca de respostas, o cidadão curioso ou o político se quer informar antes

de participar de deliberações.

4.3 Objectivos

Objectivos são um mapa de ideias sobre o percurso que vamos percorrer até

que o estudo esteja completo. Tal como um mapa, têm princípio, meio e fim.

Entretanto, iniciamos o mapa dizendo qual é o destino – objectivo geral – e depois

descrevemos o percurso – objectivos específicos. Obviamente, no fim do o fim do

trajecto é o próprio destino, o que significa que o último objectivo específico tende a

assemelhar-se ao geral.

Vamos pensar assim: o objectivo geral diz em poucas palavras tudo o que

pretendemos fazer; os específicos dizem a mesma coisa com um pouco mais de

detalhe. A metodologia repete a informação com muito mais detalhe. É como se

estivéssemos a abrir um leque. Quanto maior a precisão, melhor a qualidade do mapa.

A precisão depende da escolha das palavras.

Page 67: O Supervisor

Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 53

Para não perdermos tempos com bolodórios, observa a Tabela 1, que apresenta

os verbos usados para a elaboração de objectivos. Pronto! Parto do princípio que o

léxico tenha deixado de ser um problema. Contudo, acho que este nem chega a ser o

principal problema dos estudantes. O que os tem realmente preocupado é que verbo

escolher para que tipo de actividade.

Tabela 1. Lista de verbos frequentemente usados para a construção de objectivos.

Tipo de objectivo Verbos

Geral Analisar, avaliar, caracterizar, discutir, diagnosticar,

investigar, implantar, estudar, promover, pesquisar,

realizar, determinar

Específico Indicar, desenhar, colaborar, cotejar, descrever,

desenvolver, utilizar, divulgar, elaborar, empreender,

explicar, evidenciar, facilitar, focalizar, fornecer,

identificar, interpretar, investigar, levantar, localizar,

promover, realizar, reconhecer, reunir, sugerir, tratar,

verificar

Fonte: Adaptado de Bueno (2015).

Para escreveres bem os objectivos, penso que valha a pena conheceres a

taxonomia dos objectivos educacionais, ou de Bloom. Ela é usada pelos docentes

considerando o tipo de conhecimento que eles pretendem transmitir aos estudantes.

De um modo semelhante, podes usar para definir os objectivos, considerando que

pretendes transmitir algum tipo de conhecimento.

Antes de se apresentar objectivos, é importante ter-se em conta alguns

aspectos. Um objectivo deve ser:

Executável – não percas tempo se não há condições para realizar um

objectivo. Pensa sempre em actividades que podem ser realizadas;

Realístico – evita exageros. Pode até ser possível que executes uma

determinada actividade, procura sempre fazer o que podes realizar com os

recursos disponíveis dentro do prazo que tens;

Mensurável – devem existir elementos, ou indicadores, que mostrarão

claramente se atingiste ou não cada objectivo. Assim, cada objectivo deve

ser concebido de modo a produzir duas possibilidades: poder ou não ser

concretizado.

Page 68: O Supervisor

54 Edgar Manuel Cambaza

Em condições normais, um objectivo deveria também apresentar o prazo para

o seu cumprimento, mas esta prática não tem sido aplicada nas propostas do DCB.

Entretanto, o cronograma desempenha este papel, como viremos mais tarde.

Geralmente, cada objectivo é iniciado pelo verbo de acção no infinitivo e deve

deixar claras as variáveis a analisar. Quanto mais precisa a informação, melhor (por

exemplo, “Avaliar o estado nutricional de adultos da Cidade de Maputo de 2000 a

2014 com base no índice de massa corporal”).

4.4 Hipóteses, expectativas ou perguntas de pesquisa

A escolha da modalidade que nos vai conduzir em torno da teoria que vamos

explorar deve ser tão lógica quanto o meio de transporte para uma viagem. Sabemos

que é mais prático usar um carro pela estrada, barco pela água e avião pelo ar e a

relação custo-benefício vai determinar como gerir a situação. Do mesmo modo, é

possível formular-se hipóteses, apresentar-se expectativas e elaborar-se perguntas de

pesquisa para virtualmente qualquer estudo, mas cada um destes elementos é mais

prático em determinadas circunstâncias. Não escolhas arbitrariamente porque corres o

risco de fazer algo muito inadequado.

4.4.1 Hipóteses

4.4.1.1 Quando formular hipóteses

Tenho constatado algumas dificuldades na formulação das hipóteses, tanto em

docentes como estudantes. O uso de hipóteses tem parecido arbitrário com crescente

exigência. Isso é natural, porque milhares de hipóteses rondam em torno de cada

teoria (um tema geralmente gira em torno de uma teoria). Mas não há problemas,

porque trarei uma visão sobre o que o estudante deve ter em mente ao formular uma

hipótese.

Nem sempre as hipóteses são necessárias. Antes de decidires se vais usar ou

não, reflecte sobre os seguintes aspectos:

Para que haja uma hipótese, deve haver tese. A hipótese (do grego

ὑπόθεσις – fundação do argumento) vem como uma ferramenta para

validar esta tese. A tese é uma afirmação clara enunciando determinada

teoria (exemplo: As mortes de Chitima foram causadas por

envenenamento);

Page 69: O Supervisor

Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 55

Hipóteses são para estudos cujo resultado é simples, claro e com apenas

duas possibilidades bem distintas;

As hipóteses são mais práticas de se utilizar em estudos seriados,

caracterizados por uma dicotomia e nunca estudos isolados.

O tipo de pesquisa que tem predominado no DCB não é adequado para a

formulação de hipóteses porque há tendências a testar-se um número elevado de

variáveis. Por outras palavras, um mesmo trabalho pode apresentar inúmeras teses.

Como consequência, o estudante vê-se obrigado a escrever uma hipótese qualquer “só

para o inglês ver” ou a formular o que arbitrariamente se chamou “hipóteses

secundárias”. Isto é ridículo porque vai contra o próprio conceito de hipótese: ela

deve ser simples, clara e dicotómica. Não existe uma hipótese primária, secundária ou

o tanas. O que existe são centenas de hipóteses que podem sustentar uma teoria, talvez

umas mais ousadas do que as outras. Se vês que o teu trabalho tem muitas variáveis, e

que estas dariam origem a várias hipóteses, considera a possibilidade de apresentar

expectativas ou perguntas de pesquisa.

4.4.1.2 Como formular as hipóteses

Observa bem os objectivos e com base neles podes formular algumas

hipóteses. Se pegares no objectivo principal logicamente vais explorar a raiz do

problema.

1. Selecciona duas variáveis que pretendes relacionar. Vou usar o trabalho da

Mirella, minha ex-estudante, como exemplo. Duas variáveis seriam VHS e

idade;

2. Qual é a suspeita? Exemplo: VHS e idade são directamente proporcionais.

Porquê? Porque, por exemplo, Cavanaugh (2003) observou – hipótese

alternativa;

3. Se não soubéssemos nada sobre o assunto, qual seria a primeira ideia na

cabeça? Exemplo: VHS e idade não têm relação até que se prove ao

contrário – hipótese nula;

4. É só escrever. Mas, antes, devemos fundamentar. Primeiro, fundamenta-se

a hipótese nula (não se sabe de nada até que se prove ao contrário).

Depois, a alternativa (segundo Cavanaugh, são directamente

proporcionais).

Page 70: O Supervisor

56 Edgar Manuel Cambaza

Deve haver cuidado para não se fantasiar muito ao postular-se hipóteses.

Como cientistas, devemos ser muito prudentes e manter sempre “os pés em terra”. Há

uma ferramenta abstracta denominada “navalha de Ocam”. De acordo com ela, as

melhores hipóteses a considerar tendem a ser aquelas que levantam o menor número

possível de suposições. Por outras palavras, escolham-se as ideias mais simples antes

de qualquer extravagância.

4.4.1.3 Vamos ver o exemplo completo

A informação sobre a VHS em adultos da Cidade de Maputo é limitada.

Entretanto, há estudos que sugerem que a VHS aumentam com a idade (Gonçalves e

Gomes, 2012; Shteinshnaider et al., 2010; Cavanaugh, 2003). Deste modo:

H0: É improvável que o de Westergren em indivíduos adultos da Cidade de

Maputo mostre alguma relação entre a idade e VHS;

HA: Um teste Westergren em adultos da Cidade de Maputo demonstrará

que a VHS e a idade são directamente proporcionais.

É só isso. Fundamentar a nula, a alternativa e depois expor as duas.

4.4.2 Expectativas

Sinto a necessidade de distinguir as expectativas (ou previsões) de hipóteses,

visto que ambas consistem de especulações em torno de um resultado:

Expectativas são as ideias mais intuitivas sobre quais podem ser os

resultados da pesquisa. Diga-se que se a hipótese segue a lógica e

tentativa-erro, as expectativas seguem uma intuição informada;

As expectativas abraçam uma teoria e caminham com ela, enquanto as

hipóteses a desafiam. Se formos a ver, a hipótese nula representa o status

quo, onde o conhecimento se encontra no momento, enquanto a alternativa

traz a novidade. Nas expectativas, é o ponto de vista alternativo, produzido

pelas nossas tendências, que conduz o nosso fio de pensamento;

A hipótese sustenta uma teoria. A expectativa confirma uma ou mais

hipóteses.

Vou dar um exemplo. Quando Cristóvão Colombo encontrou a América, ele

tinha em teoria de que a Terra era esférica. Como hipótese alternativa, se ele seguisse

Page 71: O Supervisor

Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 57

sem parar através do mar para o oeste, reencontraria a terra firme38. A expectativa que

ele tinha era de encontrar a Índia.

Para expores as tuas expectativas, é importante que estejas bem informado

sobre o assunto que pretendes explorar. As expectativas são ideais para quem já e

encontra dentro de uma linha de pesquisa, devidamente informado sobre os debates

centrais da sua disciplina. Por exemplo, ele pode já ter observado os resultados de um

estudo semelhante, mesmo que tenha sido num contexto diferente. Nestes casos, as

expectativas tornam-se até intuitivas à medida que se vai pesquisando.

O que ter em conta para saberes quando trabalhar com expectativas? Reflecte

sobre os seguintes pontos:

Já houve muita pesquisa sobre o assunto que estás a explorar e até já tens

fortes evidências daquilo que vais encontrar. Trazes certeza para um

caminho parcialmente trilhado em vez de desbravá-lo por tentativa-erro.

Pensa nesta lógica: se não tens conhecimento algum sobre o assunto, deves

esperar por tudo e se tens todo o conhecimento, não há expectativa mas

sim certeza. A expectativa só surge quando há algum conhecimento e

dúvida;

A expectativa aplica-se bem em casos de transferência de tecnologias, por

exemplo. Ela vai prever a eficiência ou eficácia de algo que foi usado num

outro espaço ou tempo, ou que foi melhorado nalgum aspecto que

intuitivamente deve funcionar. A expectativa é mais aguçada do que a

hipótese no sentido de que ela foca um só resultado em vez de dois (não há

dicotomia). Ela tende a ser muito mais específica. Por exemplo, Cristóvão

Colombo esperava encontrar a Índia e não qualquer outro território;

A expectativa é mais prática para repetir um estudo, possivelmente com

alguma diferença no local, método, etc.. Aplica-se bem a estágios,

repetindo o que os outros já fizeram e esperando os mesmos resultados e a

consolidação de conhecimentos bem estabelecidos.

É necessário que a expectativa esteja bem fundamentada, do mesmo modo que

as hipóteses. Obviamente, não é necessário argumentar tanto sobre o que acontece se

a expectativa não se concretizar, embora seja uma vantagem apresentar-se as

38 A nula era obviamente a contrária, de que não haveria nada além do mar,

partindo-se da teoria predominante de que a terra era plana e a Europa, Ásia e África

constituíam um grande arquipélago no meio de um oceano infinito.

Page 72: O Supervisor

58 Edgar Manuel Cambaza

limitações da possibilidade aguardada. Ainda assim, é imprescindível que se recorra a

evidências ou plausibilidade com o maior peso possível.

4.4.3 Perguntas de pesquisa

Seguindo a lógica anterior, se as hipóteses são construídas pela lógica e

tentativa-erro, as expectativas pela intuição informada, de onde vêm as perguntas? Da

dúvida.

As perguntas são despidas de qualquer suposição, embora possam exibir

eventualmente a dicotomia – sim ou não – como as hipóteses ou um número reduzido

de respostas possíveis. Mas esta modalidade oferece maior liberdade na busca de

informação, sobretudo quando se elaboram perguntas abertas. Mas atenção: a abertura

para a subjectividade torna as perguntas frequentemente adequadas para pesquisas

qualitativas. Para se elaborar perguntas de pesquisa, é importante ter-se em conta os

seguintes aspectos:

Evite-se qualquer assunção. As perguntas são feitas exactamente para que

o próprio estudo responda, sem influência do pesquisador. Enquanto a tese

é uma resposta por avanço e as expectativas suposições, a presente

ferramenta cinge-se em manter a nossa mente aberta até que acabe o

estudo;

As perguntas de pesquisa adequam-se a estudos imprevisíveis, cujos

resultados podem admitir muito mais do que duas possibilidades;

Os estudos conduzidos por questões são frequentemente complexos,

subjectivos e multifactoriais. Se for bem consistente e bem desenhado, não

precisará de ser feito em partes, pelo que um pode responder

definitivamente certas questões, a não ser que se trate de variáveis que

flutuam ao longo do tempo.

As perguntas de pesquisa não precisam sempre de fundamentação, mas devem

ser adequadas para as circunstâncias a investigar. Se vamos trabalhar com

respondentes de um questionário ou uma entrevista, é necessário que tais perguntas

tenham um enquadramento prático na pesquisa, no contexto. Deste modo, é desejável

que se conheça o público-alvo, possivelmente através de uma prévia pesquisa

documental.

Page 73: O Supervisor

Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 59

4.5 Área de estudo ou local de actividade

A informação sobre a área de estudo e o local de actividade podem ser a boia

de salvação se os resultados do estudo forem inconsistentes com a lógica ou as

evidências da literatura. É muito importante conhecer-se o contexto físico em torno do

estudo que pretendemos fazer. O simples facto de se esquecer uma janela aberta pode

resultar na contaminação de amostras no laboratório e comprometer uma experiência

muito promissora.

4.5.1 Área de estudo

A área de estudo é aquela onde é feita a amostragem. Para quem vai fazer a

amostragem no campo, isto está muito claro. Entretanto, há casos em que o

pesquisador colecta informação na base de dados de uma instituição. Não deve haver

confusão entre área e estudo e base de dados. A informação parte da área de estudo e

depois pode talvez ser armazenada banco. Ao retirar a informação do banco, o

estudante deve prestar atenção à fonte primária da informação.

A área de estudo pode ser qualquer tipo de ecossistema ou entidade

geográfica. É importante localizá-la mas é mais importante ainda descrevê-la. A área

pode ser natural (floresta, costa, a Lua, o espaço, etc.) ou artificial (jardim, cidade, um

campo de ensaios, etc.). Ela deve ter tamanho, limites. Vale a pena mencionar-se o

que está à volta porque pode ter algum impacto, a não ser que haja um factor muito

forte de isolamento. Quais as características da tua área de estudo? É habitável?

Habitada? Se o objecto de estudo for o céu, talvez valha a pena dizer visto de que

ponto e este pode ser a área de estudo. Mesmo que a área não afecte a dinâmica dos

astros, as suas nuvens e tudo o resto pode afectar significativamente a observação do

pesquisador ou estudante.

Procura colocar a informação mais relevante para o teu estudo. Não precisas

de descrever toda a geografia da zona que pretendes estudar, senão acabas escrevendo

um livro. Aspectos respeitantes à localização – geográfica e astronómica – devem

sempre constar e, se possível, um mapa. Informação básica como clima e hidrografia

é bem-vinda, embora nem sempre obrigatória. Vale também a pena falar sobre a

política e dinâmica populacional, sobretudo se for uma área densamente habitada (por

exemplo, cidade). Mas quaisquer outros dados que pretendas trazer à tona, pensa na

relevância para as variáveis que pretendes observar e as próprias condições de

observação. Por exemplo, talvez não valha a pena apresentares a pirâmide

Page 74: O Supervisor

60 Edgar Manuel Cambaza

populacional de Inhaca se o que pretendes estudar é a desova das tartarugas ou a

dança das abelhas. Talvez não valha a pena falares sobre o relevo ou tipo de solo se

estiveres a estudar a coinfecção entre HIV e hepatite. Pensa naquilo que pode ter

impacto sobre a tua experiência porque esses são aspectos a levar em conta se os teus

resultados forem imprevisíveis. Tenta imaginar como seria uma linha grossa se fosse

ampliada.

Se apresentares um mapa, presta atenção ao rigor científico. A escala e a rosa-

dos-ventos39 são fundamentais. Um mapa sem estes elementos é como um carro sem

volante. As coordenadas geográficas são também uma grande vantagem. Por questões

de coerência, procura introduzir um mapa no idioma do teu texto, mesmo que para tal

tenhas de fazer um esforço extra. Cuidado com mapas de fontes duvidosas, por mais

interessantes que pareçam. Como é que te vais defender se houver algum problema? E

hoje em dia, há sempre alternativa porque o Google Maps, por exemplo, é uma

ferramenta acessível a todos e academicamente aceitável (para não dizer excelente).

Um estudo pode incluir várias áreas. É natural que um estudo seja feito em

várias áreas e assim até tem-se a vantagem de se poder compará-las. As regras

aplicáveis para o caso de uma área são as mesmas para várias, mas há aspectos a

considerar:

As informações sobre as duas áreas devem ser igualmente bem

apresentadas à medida do possível. Não fica bem detalhar-se uma área e

falar-se superficialmente sobre a outra. Tudo o que se explora numa deve

ser explorado noutra, a menos que não exista. Até é interessante que o

autor comece por fazer algumas comparações relevantes;

Se as áreas forem adjacentes e muito parecidas, considera a possibilidade

de considera-las como apenas uma, sobretudo se não houver uma forte

separação política ou administrativa. Se o clima, a vegetação, os solos ou

até mesmo grupo étnico que lá habita forem os mesmos, poupa-se muito

tempo e palavras se a área for fundida e descrever-se tudo. Em seguida,

pode-se mencionar que ela apresenta a divisão que pretendemos ressaltar;

Se as áreas corresponderem a grande parte de uma maior, talvez valha a

pena considerar se o estudo não pode representar a área maior. Por

39 As escalas e a rosa-dos-ventos devem estar embutidas no mapa. Procura

mapas com escalas nítidas ou pelo menos perceptíveis.

Page 75: O Supervisor

Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 61

exemplo, um estudo feito em sete províncias (≈ 70% do país) pode ser

representativo para todo Moçambique. Um estudo feito em cinco países da

África Austral – sobretudo se cobrirem os extremos e o centro da região –

pode ser suficiente para que se use o nome desta área. Além disso, é

politicamente mais prudente olhar para um fenómeno e dizer “isto

acontece nesta área” em vez de considerar que “esta área é assim”.

Considera também olhar para conjuntos de áreas como grupos

determinados (por exemplo, zona sul de Moçambique, Europa Central,

Médio Oriente, vale do Zambeze, etc.).

A forma como se apresenta a área de estudo depende de quem vai ler o

trabalho. Isto veio-me à consciência quando estive na Austrália a pesquisar sobre

Maputo. Senti que era difícil descrever a Cidade de Maputo sem falar de Moçambique

e o seu contexto sociopolítico, económico e social. E não podia ignorar este facto

porque muita gente não conhecia Moçambique, por lá. Há quem até pense que África

é um país cuja capital é África do Sul. Se eu tivesse assumido uma postura moral e

lógica assumindo que não sou culpado pela sua ignorância a respeito da geografia

teria corrido o risco de a minha pesquisa ser mal entendida e avaliada. Isto também

aplica-se ao cuidado que se deve ter com o uso inadequado de nomes informais. Nem

todos conhecem os nomes locais de certas áreas, por mais que isso te pareça absurdo.

Nem todas as pesquisas precisam de área de estudo. Se estivermos a estudar

fenómenos universais, a validar um método em laboratório ou se a origem dos

indivíduos que estamos a estudar for imprecisa, talvez não precisemos de área de

estudo. Não há necessidade, por exemplo, se a minha experiência está apenas rever

uma teoria que parte-se do princípio que ocorre da mesma maneira em qualquer lugar

(pode ser um modelo matemático ou o funcionamento de um biorreactor comercial), a

verificar se um teste rápido de HIV ou hepatite funciona. Há também casos de estudos

feitos em determinadas enfermarias quando não há registo da proveniência dos

pacientes40 – neste caso, a nossa enfermaria será a referência mas está mais para local

de actividade do que área de estudo. Não cometamos o erro de pensar que as amostras

do Hospital de Mavalane são apenas oriundas de Mavalane.

40 Por mais estranho que pareça, isto acontece muito nos nossos hospitais.

Page 76: O Supervisor

62 Edgar Manuel Cambaza

4.5.2 Local de actividade

O local de actividade tem estado a ganhar dominância nos trabalhos de

Ciências Biológicas à medida que aumentam estudantes de Biologia e Saúde 41 e

Biologia Aplicada. Isto faz sentido, porque estas são ciências de laboratório. A

imagem do biólogo está a migrar do cientista com estilo de escuteiro, a caminhar

pelas matas, ao vestido de bata branca como médico, que passa todo o dia num

laboratório. O observador de borboletas está-se a transformar no sequenciador de

ADN. A área de estudo está-se a transformar em todo o planeta, como uma “aldeia

global” e a ciência está agora a ser cada vez mais feita nas bancadas de laboratórios e

cabines de fluxo laminar.

Durante muito tempo, o local de actividade foi descrito em “material e

métodos”, partindo-se de princípio que este era um dos requisitos para a realização do

estudo. Há certamente muitos órgãos académicos que trabalham assim e não é raro

ver esta estrutura em trabalhos do DCB. Mas tem-se estado também a separar a

descrição do local de actividades da metodologia num capítulo distinto. Quando há

uma área de estudo, estas duas secções podem ser combinadas em “área de estudo e

local de actividade”.

A lógica do local de actividades é a mesma da área de estudo – procura

apresentar a informação mais relevante, que pode ter impacto directo ou indirecto

sobre o teu trabalho. Por exemplo, se for um laboratório, vale a pena falar sobre os

recursos humanos e materiais, incluindo informações tais como a vocação da unidade

e biossegurança. O local de actividades é muito importante. Não são raras

experiências que correm mal por meros problemas administrativos ou logísticos.

Começa por introduzir o local, contar algum historial, dizendo quem criou o

laboratório ou a instituição e porquê. Vale a pena dar uma vista na visão e na missão.

Mas não exageres. Um parágrafo de cinco a sete linhas é capaz de ser suficiente. Em

seguida, diz onde está localizado e em que tal área pode influenciar a actividade da

instituição. Lembra-te que às vezes até a instituição é instalada numa área por haver

algo conveniente. Não é difícil imaginar porque o INS, Hospital Central, Ministério

da Saúde, Faculdade de Medicina da UEM e algumas clínicas, farmácias, etc. estão na

mesma área. Podes também falar sobre algum programa conhecido de pesquisa ou

extensão que a instituição está a realizar.

41 Será brevemente conhecido como Biomedicina.

Page 77: O Supervisor

Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 63

No que respeita aos recursos humanos, menciona as pessoas que estão no teu

ramo de pesquisa e áreas afins, sobretudo os que estão a trabalhar directamente

contigo. Fala do seu nível de formação e das suas competências. Espere-se que o

estudo se faça com maior cuidado se tiver assistência de especialistas do ramo,

sobretudo os mais experientes ou com uma formação mais consistente.

Os recursos materiais são também relevantes. Quais são os espaços do

laboratório ou da instituição? Qual o espaço dedicado ao trabalho que se vai fazer? O

local está suficientemente equipado para a actividade? O laboratório é certificado

como seguindo normas que regem o tipo de actividade42? Existem programas de

controlo de qualidade (interno ou externo)? Mas não se confunda esta secção com a

que vem à seguir, sobre o material que vais usar para a experiência. Aqui a ideia não é

fazer uma lista de material nem dizer a quantidade. O mais importante é dar o leitor a

conhecer o que a instituição é capaz de fazer.

4.6 Material e métodos/metodologia

Esta é a secção mais importante de um protocolo. Apenas com esta parte nas

mãos, o estudante pode fazer o trabalho naturalmente e sem ela o protocolo não

funciona. É aqui que se diz detalhadamente o que deve ser feito durante o estudo e

como os resultados serão apresentados.

Os nomes “material e métodos” ou “metodologia” têm sido escolhidos

arbitrariamente, o que não tem parecido um problema. O que vejo é que o nome

“metodologia” era usado com mais frequência no início mas agora o outro está-se a

tornar mais frequente – mesmo nas revistas científicas internacionais. Mesmo assim,

as revistas internacionais não têm estado a descriminar frequentemente o material

numa lista (a não ser algum muito especial), pelo que se deduz a partir da descrição

dos procedimentos. O nome “metodologia”, pela etimologia [do latim methodus

(método) + grego logion (essência, fundamento)], era certamente mais usado quando

grande parte dos cientistas desenvolvia e validava sozinho o método que haveria de

utilizar, pelo que devia sempre dizer qual era o princípio por detrás deste. Hoje em

dia, o equipamento já vem todo validado e existem kits comerciais que poupam o

cientista de todo este processo, pelo menos nas pesquisas quantitativas. Os kits são um

sucesso tal que um estudante já pode praticamente copiar o procedimento de qualquer

42 Por exemplo, ISO/IEC 17025.

Page 78: O Supervisor

64 Edgar Manuel Cambaza

autor do ramo. O que se chama verdadeiramente “metodologia” está a tornar-se raro e

a ser paulatinamente substituído por “material e métodos”.

4.6.1 Material

O material a ser utilizado deve ser apresentado de forma sucinta. Faz uma lista

explicando qual o material e a quantidade. Há estudantes que dividem esta secção em

subtítulos tais como “equipamento de protecção individual”, reagentes, maquinaria,

etc., o que parece boa ideia. Atenção a marcas e nomes comerciais ou vernaculares.

Em todos estes casos, procura deixar claro do que se trata. Não é má ideia especificar

os modelos da maquinaria ou dos instrumentos porque assim todos podem saber mais

concretamente com o que se trabalhará. Não precisas de colocar em itálico nomes

como Eppendorf, Erlenmeyer, Bunsen, Gram ou Petri porque são substantivos

próprios. Entretanto, palavras como kit ou pH meter devem estar em itálico porque

são palavras comuns “emprestadas” da língua inglesa.

Há material que não precisa de ser apresentado na proposta. Isto não é um

grande problema porque muitos estudantes percebem quase instintivamente o que

incluir como material num protocolo experimental. O material de escritório, tal como

caneta, bloco de notas, o papel, etc. não precisa de ser mencionado, em parte porque é

sempre utilizado e porque a sua ausência não compromete necessariamente o

desenrolar de estudos experimentais. Além disso, a ciência só é completa quando

escrita ou registada de qualquer outro modo para a posterioridade. Não é necessário

mencionares o laptop nem a impressora que vais usar 43 . Tecnicamente, deves

apresentar o material indispensável para a tua experiência: vestuário especializado

(máscaras, luvas, etc.), material e instrumentos para o processamento das amostras, de

medição e de impressão ou apresentação dos resultados.

Se o teu estudo não envolve laboratório nem trabalho de campo, não precisas

de apresentar o material. Os “trabalhos de escritório”, cujo esforço é essencialmente

intelectual, não precisam de apresentação do material. Este tipo de trabalhos pertence

ao grupo que não pode apresentar como nome da secção “material e métodos” e sim

“metodologia”. Mas isto não significa de modo algum que estes trabalhos apresentam

43 Contudo, deve-se mencionar os computadores ou as impressoras acoplados

aos instrumentos de processamento das amostras. Por exemplo, o citómetros de fluxo

FACSCalibur estão acoplados a computadores e impressoras especializados para

comandar as operações e imprimir os resultados.

Page 79: O Supervisor

Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 65

menor qualidade. Aliás, como já disse acima, um bom artigo de revisão pode ser mais

relevante do que uma dezena de pesquisas de campo isoladas.

Às vezes, é necessário prestar algum esclarecimento sobre certo material a ser

usado. A experiência de um protocolo deve ser replicável por parte de quem estiver

interessado. Deste modo, é importante que qualquer cientista – ou candidato – possa

reproduzi-la com o menor esforço de pré-investigação possível. Assim, todo o

material deve estar apresentado de modo compreensível e as misturas incomuns ou

complexas podem precisar de uma explicação sucinta sobre como são preparadas com

base em substâncias mais simples e acessíveis. Recomendo que esta explicação esteja

no anexo.

4.6.2 Procedimento

Vale a pena falar sobre o controlo de qualidade antes de descrever qualquer

actividade. Não é prudente utilizarmos instrumentos não calibradas ou reagentes fora

do prazo. Fala sobre o controlo de qualidade, indicando a validade, fiabilidade,

precisão e exactidão do instrumento que vais utilizar. Até que ponto as medições

correspondem à realidade? Diz como se calibram os instrumentos e da periodicidade

desta prática. Usa-se material certificado de referência44? Além disso, assegura-te de

que a tua experiência apresentará uma amostra positiva e uma negativa. A primeira

apresenta o elemento que garantirá que o resultado da experiência será sempre

positivo, demonstrando assim que os instrumentos estão a funcionar. A segunda está

“em branco”, produzindo um resultado negativo – esta demonstra que a amostra não

está contaminada.

É necessário que se deixe claro que tipo de estudo se está a fazer: prospectivo,

retrospectivo ou misto, descritivo ou experimental, transversal ou longitudinal, etc. [a

pirâmide da Figura 1 apresentam o exemplo de alguns modelos. Ver também o artigo

de Sampaio and Mancini (2007)].

A metodologia deve estar detalhada e respeitar o rigor científico. Se for

baseada nalgum documento, deve-se fazer referência45. É necessário dizer tudo o que

será feito incluindo a duração de cada etapa, passo a passo. Respeite-se a ordem

cronológica porque a experiência deve ter princípio, meio e fim. No entanto, não é

44 Amostras preparadas por entidades acreditadas internacionalmente para

certificar-se que laboratórios distintos produzam resultados similares e aceitáveis. 45 Por questões práticas, podes dizer logo no início em que te vais basear para

realizar a tua experiência.

Page 80: O Supervisor

66 Edgar Manuel Cambaza

necessário enumerar o texto em etapas. Escreve tudo como se fosse uma boa

narrativa, mas sem figuras de estilo. Ambiguidade é a última coisa que se quer num

texto académico, sobretudo quando se pretende descrever aspectos muito concretos.

A análise estatística deve estar descrita e detalhada na metodologia. Não basta

apenas dizeres qual o teste ou pacote estatístico que vais usar. Isso é o mesmo que

dizer que vou ao Chókwè de Toyota. Não é suficiente para os outros saberem como

chegar lá. É necessário indicar todo o caminho com o mesmo nível de detalhe usado

para a descrição da experiência. Sabendo quais as variáveis que vais utilizar, é fácil

saberes como processar a informação.

Os verbos devem estar no futuro. A proposta é um plano e por isso fala

daquilo que irá acontecer. É comum estudantes escreverem instruções no presente,

como se faz com as receitas de bolo, mas não é assim que se deve fazer.

4.6.2.1 Amostragem

Amostragem é o processo pelo qual buscamos a informação necessária para o

nosso estudo, para produzirmos informação. A sua natureza depende do estudo.

Amostra é parte de alguma população cujas características precisamos de conhecer. A

população pode ser de qualquer coisa: plantas, animais, água, pedras ou seja qual for

o nosso objecto de estudo. Mas atenção:

Amostra é mera fonte de informação. Nem sempre é necessário carregar

indivíduos inteiros para o nosso laboratório. O mais importante é obter o

suficiente para conseguires observar as variáveis que procuras. Pode ser

uma simples amostra de sangue, a folha ou o fruto de uma planta, cabelo,

foto ou até opinião sobre um assunto. O auge da excelência é poupar o

máximo possível de recursos mas obter amostras suficientemente boas

para um estudo de alta qualidade;

A amostra deve ser representativa. Se estás a estudar uma população

heterogénea, o ideal é cobrir aqueles que apresentam grande parte das

características, das variáveis que pretendes estudar. Por exemplo, se estás a

estudar os hábitos alimentares da Cidade de Maputo e entrevistas os

primeiros dez indivíduos que encontras, o que farás se quase todos forem

vegetarianos? O que farás se forem diabéticos? Ou se estiverem sob dietas

especiais? Não é difícil conceber uma amostra representativa. Falarei

abaixo com mais detalhe, mas há princípios a tomar em conta. Por

Page 81: O Supervisor

Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 67

exemplo, a amostra é mais representativa quanto maior for, quanto maior a

área que cobrir, quanto mais dispersa for pela área, se for feita

aleatoriamente, etc.. Há uma máxima de Bruce Lee que nos pode ajudar a

pensar: a amostra deve ser “como a água, que toma a forma de todos os

objectos onde a colocamos”;

O processo de amostragem não deve danificar ou alterar substancialmente

a estrutura da população. Se isso acontece, o que é que estamos a estudar?

É preciso ter-se muito cuidado com isso, sobretudo em pesquisas

qualitativas ou quando o objecto é muito sensível. Se vamos entrevistar

pessoas, é que saibamos interagir com elas. Se é material vivo, é bom que

saibamos manter a integridade. Se for inerte, devemos saber conservar;

Cuida para que a amostra não se altere substancialmente durante o

processo de colecta, transporte ou armazenamento. Ainda estamos no

ponto anterior. Mesmo que a amostra não seja perecível, é ainda

importante garantirmos que se trata de uma amostra fidedigna, isto é, que

na hora da análise represente o que realmente estamos a estudar e ainda

assim forneça-nos o tipo de informação que estamos à procura;

Nem todas as amostras produzem informações extrapoláveis. Existem

estudos de caso, baseados num único sujeito, por exemplo. Por mais

elucidativos que estes sejam, são vulneráveis a erros de julgamentos se

tentamos generalizar as observações para uma população inteira. Um

estudo destes só pode ser qualitativo e demonstrativo de que existe uma

situação como a descrita. Foi num estudo desta natureza que Einstein

demonstrou a veracidade da teoria da relatividade;

Nem todos os estudos precisam de amostras. Um exemplo típico são as

revisões críticas, descritas no DCB como monografias. Diga-se que os

estudos mais abstractos, que focam mais o mundo das ideias e menos o

físico. Por isso, não te preocupes se o teu estudo não apresentar alguns dos

elementos mais comuns nos trabalhos dos teus colegas. Existem centenas

de maneiras de se buscar conhecimento e todas elas são relevantes.

Há uma questão que tem aparecido com certa frequência: como determinar o

tamanho de uma amostra? Vou deixar aqui alguns comentários:

Page 82: O Supervisor

68 Edgar Manuel Cambaza

1. Nem sempre é necessário. Só se calcula quando se está a estudar uma

população. A maioria dos trabalhos enquadra-se neste grupo. No entanto,

não é necessário para quem quer validar um método ou testar uma teoria.

Por exemplo, por exemplo, quem quer ver se um teste rápido funciona ou

se um microrganismo é resistente a um antibiótico. Nesses casos, procura-

se o número mínimo de amostras com significância estatística (geralmente

8);

2. Quando se estuda uma população, determina-se o tamanho considerando-

se um determinado intervalo de confiança (IC). Vamos pensar assim: IC é

o número de vezes que a experiência deve ser repetida para que os

resultados sejam idênticos, sem tirar nem por. Vocês têm a liberdade de

escolher o valor, mas 4 a seis são frequentes. O IC é muito poderoso. Por

exemplo, uma população de 15.000.000 de habitantes e IC = 4 só precisa

de uma amostra de 600 pessoas;

3. Uma vez com o IC podem calcular o tamanho da amostra com base no

Sample Size Calculator (AAPOR & AMA, 2012), um website em que se

calcula quase instantaneamente o tamanho da amostra. Ele é altamente

credenciado e foi internacionalmente premiado. Não te esqueças de fazer

referência ao site. Alternativamente, podes ler alguns livros ou artigos de

estatística a respeito. Alguns exemplos são as publicações de Eng (2003),

Israel (2013) e Naing, Winn, and Rusli (2006), gratuitamente encontradas

na internet e cujos títulos constam da bibliografia deste documento. Se

preferes o conforto do idioma de José Craveirinha, podes ler o artigo de

Miot (2011). Os princípios usados para estudos de saúde aplicam-se aos

demais;

4. O tamanho do controlo: o mínimo é 8. Pronto! Explicação: o controlo é

usado para certificar se o método está a funcionar e enquadram-se no que

eu disse no ponto 1.

Em trabalhos de saúde, ou outros semelhantes, é necessário que se considerem

os critérios de inclusão dos sujeitos experimentais. Isto é muito importante para se

evitar que factores indesejáveis influenciem o estudo. Por exemplo, se estamos a

estudar a sintomatologia de uma doença, não podemos ter sujeitos positivos para outra

doença com sintomas e sinais semelhantes. Além disso, o critérios de inclusão

Page 83: O Supervisor

Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 69

permitem “afunilar” melhor o grupo-alvo e a focar o cientista nos sujeitos que mais

interessam.

Os aspectos éticos também são importantes. Um trabalho científico não deve

infringir as leis nem causar danos físicos desnecessários nem morais à sociedade ou

ao ambiente. Embora o aparelho legal moçambicano ainda esteja a desenvolver, o

respeito pela ética e boa conduta fazem parte das competências de um cientista. Exijo

que os meus estudantes, sobretudo de saúde, incluam uma pequena secção a falar

sobre ética no seu trabalho e que nela conste uma expressão mais ou menos como a

seguinte:

Por questões éticas, garantiu-se a confidencialidade dos indivíduos envolvidos,

substituindo-se os nomes por códigos numéricos. Além disso, o estudo não faz distinção de

raça, religião, etnia ou inclinações políticas, não é patrocinado por nenhum grupo de interesse

nem tem o potencial de ferir sensibilidades. O género foi estudado por propósitos meramente

académicos46.

A preocupação com a ética é tão grande que é necessário submeter-se

trabalhos que envolvam seres humanos ao Comité Institucional de Bioética em Saúde

da Faculdade de Medicina & Hospital Central de Maputo (CIBS FM&HCM). Vou

deixar as instruções para a submissão dos protocolos ao comité no Suplemento 2,

mas preste-se atenção que este aplica-se aos trabalhos feitos no Hospital Central, na

Faculdade de Medicina da UEM ou conduzidos em coordenação com estas

instituições. É possível que através de memorandos outras organizações recorram aos

seus serviços. Com o tempo, é provável que surja um comité maior e capaz de avaliar

outros aspectos relacionados com ética, higiene e segurança na ciência.

4.6.2.2 Experiência

Um conselho: lê muito bem o documento de onde estás a tirar a informação.

Procura ver se condiz exactamente com o que pretendes fazer, em termos de recursos

e as respectivas quantidades. Tenta verificar se o método vai-te permitir obter as

variáveis que procuras. Recomendo que pesquises bem para perceber o papel de cada

46 A última frase, sobre o género, pode ser usada para mencionar qualquer

outra variável que venha a ser usada mas que pode, nalguns contextos, causar algum

desconforto moral. De qualquer modo, toda a expressão pode ser rearranjada de modo

a enquadrar-se no tema a ser estudado. Nalguns temas relacionados com o ambiente,

talvez valha a pena, por exemplo, deixar-se claro que não se vai danificar espécies

ameaçadas ou comprometer o bom funcionamento de um ecossistema.

Page 84: O Supervisor

70 Edgar Manuel Cambaza

reagentes que vais utilizar, porque assim podes até perceber melhor como usá-los com

maior eficiência.

É também importante falares sobre os resultados e sobretudo as suas

propriedades como variáveis: se serão contáveis ou não, discretas ou contínuas,

ordinais ou cardinais, etc.. Se algo será medido ou observado, o que se deve ter como

elemento de análise no fim. O resultado será impresso, fotografado ou simplesmente

observado? Ele aparecerá temporariamente ou definitivamente? É preciso ter-se uma

ideia concreta porque só assim o pesquisador saberá como lidar com ele.

A descrição das análises estatísticas (quando necessárias) constam desta parte

do protocolo. Tal como todo o resto da experiência, elas devem ser descritas

detalhadamente. É comum os estudantes mencionarem um ou dois testes de hipóteses

sem sequer detalhar para que servirão, mas assim a pesquisa não será totalmente

reprodutível. A estatística começa com o lançamento dos dados, seguido por testes de

hipóteses e descrições das observações. É desejável que o estudante deixe claras as

regras de decisão e sugira as implicações teóricas daquilo que acabou de observar. Há

vários pacotes estatísticos, alguns dos quais muito específicos para uma ou outra

actividade. Dois pacotes frequentemente utilizados são o Microsoft Excel e o SPSS,

mas há outros (Stata, Statistica, Epi Info, etc.). Quem quiser ver algumas

demonstrações básicas sobre o uso do SPSS pode consultar as explicações que deixei

no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=RDHd3_JOpKU e

https://www.youtube.com/watch?v=s7aVh7tsFp8.

4.7 Resultados esperados

Esta parte não tem sido obrigatória de se apresentar em grande parte dos

trabalhos do DCB. Entretanto, é importante para relatórios de estágio. Pense-se que

esta ferramenta é aplicável a trabalhos cujos resultados são previsíveis, isto é, quando

o pensamento é construído a partir de expectativas. Não é adequado a estudos em que

se propõe hipóteses ou lança-se perguntas de pesquisa porque estaríamos a forçar um

ponto de vista sobre casos em que se deve manter a mente aberta.

Há uma pergunta que pode naturalmente surgir daqui: se já apresentei as

expectativas, que diferença estas terão com os resultados esperados? A resposta

simples é que a diferença está no nível de detalhe, de aprofundamento. Da mesma

maneira que a metodologia é uma ampliação dos objectivos, os resultados esperados

Page 85: O Supervisor

Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 71

são uma ampliação das expectativas. Até hoje, ainda não vi resultados esperados bem

apresentados. Todos têm estado a despachar ingenuamente (sem ofensa, colegas).

Não nos esqueçamos que resultados esperados são, antes de tudo, resultados.

Só não são os factuais. Deste modo, eles devem ser apresentados à medida do possível

tão bem detalhados quanto aqueles que serão os resultados no relatório. Se for para

incluir gráficos e tabelas, que assim seja, desde que estejam bem fundamentados. Se

for para ocupar uma ou dez páginas, isso só depende daquilo que o pesquisador se

propôs a estudar. Condolências para quem tiver proposto um assunto muito exigente.

Se os resultados esperados exigem fundamentação, é natural que apresentem

referências a diversas autoridades, raciocínio lógico e todos os elementos para que se

mostrem plausíveis.

4.8 Cronograma e orçamento

O cronograma de actividades e o orçamento tem sido frequentemente

apresentados em tabelas não legendadas. Geralmente, não intervenho sobre este facto

mas defendo que não haveria problema algum se estes elementos apresentassem

legendas, até porque em regra todas as tabelas e figuras devem apresentar. Por outro

lado, estas secções tendem a ser diferentes da maioria. Por exemplo, não são

acompanhadas de texto e, por extensão, estas tabelas não são referenciadas.

De qualquer modo, estas particularidades não têm constituído qualquer

problema prático, uma vez que sempre se sabe onde encontrá-los. Além disso, para

que legendar tabelas cujo conteúdo já é bem conhecido? Seja como for, o mais

importante é um diálogo constante com os docentes da disciplina de culminação do

curso de modo a evitar-se mal-entendidos sobre o assunto.

4.8.1 Cronograma de actividades

O cronograma apresenta as etapas através das quais o estudo será realizado ao

longo do tempo. É frequente indicar-se em meses, provavelmente por causa da

natureza de diversas actividades, mas o cronograma é uma ferramenta aberta para

qualquer modelo eficaz de apresentação, desde que corresponda a verdade e seja

consideravelmente fácil de se perceber. Além disso, ele é altamente dependente das

etapas. Um exemplo simples de cronograma é a Tabela 2, abaixo.

Page 86: O Supervisor

72 Edgar Manuel Cambaza

Tabela 2. Exemplo de cronograma de actividades.

Actividades/Meses Jul Ago Set Out Nov Dez

Colecta de dados

Análise

Redacção do relatório final

Revisão do texto

Entrega do relatório

Fonte: Chambisse (2014).

Atenção para não incluir a elaboração do protocolo no cronograma. Isto

simplesmente não faz sentido porque o protocolo é aprovado depois da entrega. E só

se entrega quando está pronto. Como é que vais entregar um protocolo que diz que ele

ainda será elaborado? Aliás, não vejo razão alguma para se mencionar o protocolo no

cronograma. Ele deve listar as etapas do estudo em si até à entrega do relatório.

4.8.2 Orçamento

Orçamento é a lista detalhada do material que precisarás para o teu estudo e o

respectivo custo (observa a Tabela 3). Desta vez, não só incluis o material para

concretizares a experiência (em caso de pesquisa), como ainda tudo o resto incluindo

os recursos de escritório, transporte, contingências, dinheiro de bolso, etc..

Tabela 3. Exemplo de uma tabela de orçamento.

Itens Custo unitário (Meticais) Quantidade Total (Meticais)

Consumíveis de escritório Não aplicável Não aplicável 3 000,00

Impressão de documentos Não aplicável Não aplicável 2 500,00

Comunicação Não aplicável Não aplicável 1 700,00

Transporte 100 Não aplicável 1 500,00

Dinheiro de bolso Não aplicável Não aplicável 2 000,00

Subtotal 10 700,00

Imprevistos (15%) 1 605,00

Total 12 305,00

Fonte: Chambisse (2014).

Mas atenção:

Não te esqueças de nada. Se submetes um orçamento incompleto a um

financiador corres o risco de teres de procurar sozinho os recursos que

faltam;

Page 87: O Supervisor

Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 73

Não faças da tua experiência uma fonte de rendimento. Não incluas no

orçamento dinheiro que não seja para o projecto;

O orçamento não deve incluir salários, a não ser que precises de

subcontratar alguma entidade para a prestação de algum serviço

necessário para o estudo;

Não precisas de incluir o que terás gratuitamente. Por exemplo, podes estar

a trabalhar no meio de um projecto já custeado. O exemplo da tabela acima

é bom, dado que a pesquisadora eliminou todo o material do laboratório

que foi financiado pela própria instituição de onde ela obteve os dados

para o estudo.

4.9 Bibliografia

Ler 2.4.2 – Estilo de citação e bibliografia, na página 13.

4.10 Anexos

Ler 3.1.9 – Anexos, na página 43.

Page 88: O Supervisor

74 Edgar Manuel Cambaza

5 Relatório de pesquisa

Uma vez que muitos elementos encontrados neste tipo de documento já foram

mencionados, vou-me dedicar sobretudo aos que não existem no protocolo. Nas

secções comuns, vou fazer referências de modo que encontres facilmente a

informação.

5.1 Elementos pré-introdutórios

O relatório de pesquisa apresenta mais elementos pré-introdutórios do que o

protocolo. Estes incluem todos do protocolo (4.1 – Elementos pré-introdutórios, na

página 47) e outros, típicos do documento que reflecte a conclusão de um projecto:

agradecimento, dedicatória, etc.. Quem lê tem também uma visão de detalhes não

científicos do projecto incluindo o sentimento do estudante.

5.1.1 Agradecimento

Geralmente, não digo aos estudantes como escreverem esta parte nem leio até

que o presidente do júri (do grupo que vai avaliar o trabalho) me entregue de volta a

versão final. Na verdade, esta é última parte que leio por duas razões:

A escrita deve ser livre, de acordo com o sentimento do estudante. Cada

um sabe a quem e como agradecer;

Só posso ver o meu nome no agradecimento no fim de tudo, quando este

não puder ser alterado. Não é que isso possa influenciar o meu julgamento,

mas prefiro não correr remotamente o risco de comprometer a minha

imparcialidade.

Só apelo ao estudante que respeite devidamente a Gramática Portuguesa e

escreva frases bem construídas com a clássica estrutura sujeito + predicado +

complemento directo/indirecto + restantes complementos (se necessário). É

também um bom gesto de cortesia dizeres às pessoas porque agradeces.

Quando digo que a escrita é livre, é mesmo! Podes usar os calões, as gírias e

os estrangeirismos que quiseres, mas atenção: não subestimes o impacto que eles

podem ter na tua reputação. É certo que qualquer docente sensato não vai avaliar esta

secção sentimental com um olho académico, mas ninguém quer saber das tuas

bebedeiras com os bradas ou circunstâncias embaraçosas. Realisticamente, tudo isto

pode afectar como as pessoas falem contigo, mesmo que mostres a mais sofisticada

retórica científica no corpo do texto. Por isso, a modéstia é sempre uma boa atitude.

Page 89: O Supervisor

Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 75

5.1.2 Dedicatória

A dedicatória é também de escrita livre e depende da criatividade.

Basicamente, o que se aplica para o agradecimento é válido para esta parte. A grande

diferença é que o remetente da dedicatória não tem necessariamente de ser alguém

que te ajudou a escrever o relatório. Dedicas a quem quiseres, movido pelos teus

sentimentos. Podem até ser pessoas já mencionadas no agradecimento. Esta parte é,

obviamente a mais pessoal e muitos estudantes dedicam à família ou outras pessoas

muito chegadas.

5.1.3 Epígrafe

A epígrafe é um pequeno texto – provérbio, parábola, etc. – colocado numa

página por razões meramente estéticas. Não é obrigatório mas confere alguma beleza

ao relatório. Pode ser a citação de um filósofo antigo, poeta, uma autoridade ou até

pessoal. Seguramente, ainda estamos no âmbito da escrita livre.

Uma boa epígrafe vai abrir a mente do leitor e convidá-lo à exploração da

dissertação (ou tese), sobretudo se em sintonia com a temática central. Ele pode

mostrar a imaginação ou criatividade do estudante, a sua sensibilidade ou até reflectir

quão nobres são as suas aspirações.

Entretanto, por favor, procura reconhecer devidamente as autoridades se a

ideia não for tua. Nem é necessário colocares o nome na bibliografia (fica

descansado), mas não dói nada mencionares quem disse as palavras bonitas. Aliás,

quem não ficará impressionado ao saber que tens estado a ler Platão ou Kant?

5.1.4 Declaração de honra

A declaração de honra representa um termo de responsabilidade em que o

estudante assume a autoria da dissertação (ou tese), afirma que as ideias extraídas de

outros autores estão acompanhadas pelo devido reconhecimento e que os resultados

da pesquisa são verdadeiros. Ela é, literalmente, um atestado de originalidade. Uma

vez assinada, ela confere protecção legal do estudante como autor pode ser usado em

contextos jurídicos caso haja alguma implicação relacionada com o seu conteúdo.

Uma boa declaração pode ter uma expressão como a seguinte:

Eu, (nome), declaro que este trabalho, intitulado (título), foi inteiramente feito por

mim e que os resultados aqui apresentados correspondem à realidade. Ele foi elaborado sob

supervisão de pelo menos um profissional que confirmou a sua fidedignidade e prontidão para

a publicação. Todo o conteúdo extraído directa ou indirectamente de outras obras apresenta

Page 90: O Supervisor

76 Edgar Manuel Cambaza

referências aos devidos autores. Deste modo, responsabilizo-me por toda ou qualquer

consequência moral ou legal advinda da sua publicação.

Em seguida, deves assinar a declaração. O trabalho não pertence a ninguém

até que tenha sido assinado. Há universidades em que até ensaios e pequenos

trabalhos feitos durante o curso exigem a assinatura do estudante, exactamente para

protegê-lo e evitar o plágio.

O trecho que incluí, no exemplo acima, mencionando o supervisor, não tem

sido incluída nas declarações do DCB, mas devia. A lógica dela é que há quem se

possa defender em caso de fraude, dizendo que cometeu ingenuamente, por falta de

conhecimento sobre as leis. Parta-se de princípio que um profissional esteja mais

familiarizado com a lei de propriedade intelectual.

5.1.5 Resumo (e palavras-chave)

Se durante o trabalho lutaste pare ser breve, claro e directo, aqui deves ser

mais breve, mais claro e mais directo. Um bom resumo não precisa de exceder 250

palavras. Escreve o essencial. Evita advérbios como “sensivelmente” ou expressões

como “… é interessante saber-se que…”. Elas são inúteis e só aumentam o volume do

teu texto, por mais agradáveis que pareçam. Usa a voz activa sempre que puderes. Ela

aumenta a dinâmica do texto e reduz o esforço de leitura.

Começa por usar tuas próprias palavras. Pensa no que dirias se tivesses um

máximo de dois minutos para explicares a tua experiência a um público leigo. Em

poucas palavras, expõe o problema, o principal objectivo, o objecto de estudo (ou os

sujeitos), a metodologia, os resultados, a conclusão e principais recomendações. É

natural que tenhas medo de negligenciar um ou outro detalhe, mas a experiência

mostra que é possível resumir todo ou qualquer estudo.

No DCB não se tem usado palavras-chave mas elas são uma mais-valia para o

trabalho. Esta pequena lista, logo debaixo do resumo, apresenta as principais palavras

ou expressões que os leitores devem usar como referência em busca da pesquisa ou

trabalhos relacionados. Elas são “pistas” deixadas intencionalmente para quem te

quiser seguir. Assegura-te de que estás a produzir as pistas certas. Pensa nas

principais variáveis envolvidas no teu estudo, no público-alvo, na área de estudo e

outros elementos que farão aquele que busca o teu trabalho no Google encontrá-lo.

Não enchas o teu trabalho de palavras-chave. Quatro a seis podem ser uma boa ideia.

Page 91: O Supervisor

Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 77

Os resumos predominantes nos artigos científicos apresentam apenas um

parágrafo, mas há outros – abstracts plus – que são miniaturas do trabalho,

apresentando uma clara divisão entre os principais capítulos (introdução, objectivo

central, metodologia, etc.).

5.2 Introdução

5.2.1 Generalidades

Esta parte é mais simples quando comparada à do protocolo. É só questão de

apresentar os pontos 1, 2, 9 e 10 da secção 4.2.1 sobre Generalidades, na página 47. O

mais importante é trazer o leitor ao contexto do tópico que o estudante esteve a

pesquisar. Grande parte da informação anteriormente nesta parte da introdução vai à

revisão bibliográfica.

5.2.2 Problema

Ler 4.2.2 – Problema, na página 50.

5.2.3 Justificativa

Ler 4.2.3 – Justificativa, na página 51.

5.3 Revisão bibliográfica

Esta secção, o estudante mostra o quanto se apresenta informado sobre o

tópico, trazendo noções, controvérsias, pontos de vista de vários autores e como o seu

trabalho se encaixa no meio da produção científica geral. Aqui, preste-se mais atenção

aos pontos 3 a 8 da secção 4.2.1 sobre Generalidades, na página 47.

Esta secção não pode exceder 25% de todo o texto do relatório. O problema é

que nela predominam informações advindas de outros autores. Se esta secção torna-se

grande em demasia compromete a originalidade do relatório. Tecnicamente, não é

plágio mas considera-se47 . O mais importante a saber é que não é politicamente

correcto fazer isso.

5.4 Objectivos

Ler 4.3 – Objectivos, na página 52.

47 Este tratamento é específico para relatórios e trabalhos de estágio, onde

espera-se que o maior contributo advenha das observações do próprio estudante. Os

trabalhos de monografia devem aceitar um volume maior de informação alheia, mas

sempre devidamente referenciada.

Page 92: O Supervisor

78 Edgar Manuel Cambaza

5.5 Hipóteses, expectativas ou perguntas de pesquisa

Ler 4.4 – Hipóteses, expectativas ou perguntas de pesquisa 54.

5.6 Área de estudo ou local de actividade

Ler 4.5 – Área de estudo ou local de actividade, na página 59.

5.7 Material e métodos

Basicamente, o que deves ter em conta é que o estudo já foi feito e tu só estás

a reportá-lo. Deste modo, todas as acções devem-se encontrar no pretérito, como

numa boa narrativa. Tirando isso, esta secção é idêntica à descrita para o protocolo,

no ponto 4.6 (Material e métodos/metodologia), página 63.

5.8 Resultado

Não basta apenas dizeres o que observaste na experiência. A qualidade dos

resultados também é importante. Se usaste um método e algumas ferramentas de

validação, tais como calibragens ou controlos, é importante dizer o que aconteceu

com estes elementos. Nas análises estatísticas, não basta apenas fazer as descrições ou

apresentar os resultados dos testes de hipótese. O nível de significância dá-nos a

ideia do rigor na medição. Se for fixo para todo o trabalho, podes anunciar no início

do resultado que tudo foi feito assim. O nível descritivo p é também importante para

se ter uma ideia de até que ponto as descrições podem corresponder à realidade.

Eis as dicas que tenho dado aos meus estudantes: evita pôr duas ferramentas

(gráficos e tabelas) com a mesma informação básica no texto. A mais resumida fica

no texto e a detalhada vai para o anexo, com referência no texto. Podes usar a tua

própria linguagem mas, para cada gráfico/tabela, num ou dois parágrafos, recomendo

que:

1. Reapresentes o problema geral numa frase simples e directa. Exemplo:

Explorou-se a questão sobre o impacto da estação do ano sobre o nível de

hemoglobina.

2. Apresentes o resultado do teste de hipótese que dá relevância estatística à

comparação. Exemplo: De acordo com uma análise qui-quadrado a alfa =

0,05, há diferenças significativas entre os níveis de hemoglobina nas

estações distintas do ano.

3. Faças uma "introdução" do gráfico/tabela, como as variáveis foram

comparadas e as unidades usadas. Exemplo: O gráfico de caixas 3 aborda

Page 93: O Supervisor

Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 79

este assunto através da comparação dos níveis nos diferentes meses. É

possível observar os intervalos de confiança, as médias...

4. Os casos mais extremos, facilmente notáveis, se observa-se algum padrão

ou alguma tendência, etc.

5. Um parecer sobre o que o gráfico/tabela contém num contexto mais

teórico. Não tenhas receio em dar opinião, desde que não seja muito

radical ou irrealista. Não te esqueças que o teu trabalho é produzir teorias.

Esgota cada assunto, mas mantém o texto impessoal.

Nota: No ponto 5 ainda não iniciaste a discussão mas terás dado uma

apreciação completa sobre as tuas observações antes de comparares com outros

autores. Segue todos estes pontos sistematicamente para cada análise, mas usa a tua

própria retórica. Quando tiveres esta parte concluída, o resto será muito mais fácil.

É lógico que as etapas podem ser ligeiramente diferentes variando de pesquisa

para pesquisa. Por exemplo, há pesquisas qualitativas ou de catalogação, em que pode

não se recorrer à estatística. Há casos em que a informação não é produzida em

gráficos ou tabelas, mas em fotos ou outros tipos de ferramentas. O mais importante é

seguir um raciocínio lógico que cubra, à medida do possível, etapas similares às em

cima descritas. Quem tiver dúvidas sobre o assunto poder-me-á contactar através do

[email protected] ou através do Facebook.

5.9 Discussão

Deves discutir todos os teus resultados. Tudo! Nem que discutas

sistematicamente, parágrafo por parágrafo dos resultados. Mesmo aqueles que não

focam directamente o problema que pretendes estudar. Eventualmente, essa pode até

ser a parte mais interessante para alguns leitores. Por exemplo, em estudos de

epidemiologia, vale sempre a pena considerar aspectos demográficos (sexo, idade,

residência, etc.). Sempre recordo aos estudantes que uma experiência pode até ser

comprometida pelo facto de o técnico do laboratório ter-se esquecido das chaves ou o

termiciclo ter avariado e, querendo como não, esse tipo de erro pode-nos perseguir até

ao fim. Este tipo de assunto não deve ser ignorado, mesmo que não tenha ciência.

Para cada resultado, faz o seguinte:

1. Repete a ideia central do resultado.

2. Diz o que ele sugere. Não tenhas receio de dar a tua opinião, desde que

esteja bem fundamentada.

Page 94: O Supervisor

80 Edgar Manuel Cambaza

3. Procura as limitações da tua ideia (o que pode não estar correcto) ou se há

algum problema nas observações. Aqui já podes verificar se algum autor

também observou esse problema. Por outras palavras, tenta ver se há algo

a contrariar o teu resultado e autores que pensam assim.

4. Procura os pontos fracos daqueles que não te apoiam. Exemplo: Os

estudos podem ser antigos, de áreas diferentes, grupo-alvo diferente,

metodologias com problemas, amostras menores, etc. A lógica disto é

tentares defender porque tu estás provavelmente certa e eles errados.

5. Observa os pontos fortes e argumentos a teu favor. Procura também os

autores que te apoiam. Esta secção deve ser pelo menos o dobro em

conteúdo (número de autores, etc.) comparando com os que estão contra.

Não te esqueças que pretendes reforçar a tua posição.

6. O teu parecer final sobre o respectivo resultado. Procura ser precisa, clara,

directa e, acima de tudo, procura valorizar o que observaste. Faz isso para

todos os resultados e a tua discussão vai ficar impecável. Para cada

resultado, deves ter pelo menos cinco autores na discussão (dois contra e

três a favor). Quantos mais, melhor.

Vendo assim, parece fácil, mas há uma pergunta que os estudantes fazem

frequentemente: o que fazer quando não se encontra referências suficientes para a

discussão? A pergunta é pertinente e legítima porque, em Moçambique, as ciências

encontram num estado embrionário e há uma falta quase generalizada de informação

científica local. Mas isso é o que gosto de chamar “crise dos pioneiros”. O pioneiro

está condenado a um “isolamento intelectual” pelo facto de ninguém mais ter

explorado o assunto. Eu dou sempre a mesma resposta: “Parabéns! És um pioneiro!”

O vazio que o estudante sente parte do pensamento erróneo de que ele só pode

usar livros e artigos científicos. Estes devem ser prioritários mas de modo algum

devem ser a única fonte. Um dia, a doutora Cristina Beatriz me disse “quem não tem

cão , caça com gato”, isto é, na falta do melhor, o pior serve. Se a lógica for só

procurar, os artigos e livros, haverá certamente “becos sem saída”. Mas existem

centenas de fontes: jornais públicos, a experiência pessoal, bom-senso, etc.

Para lidar com esta situação, criei a pirâmide de autoridades (Figura 25), que

representa uma hierarquia de tipos de fontes a selecionar para discussão com base no

peso.

Page 95: O Supervisor

Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 81

Figura 25. Pirâmide de autoridades para discussão.

Em primeiro lugar, vamos procurar evidências. Estas podem ser vistas, por

exemplo, nos documentos científicos e governamentais: artigos, livros etc.. Vamos

também enquadrar a experiência pessoal nesta categoria, sobretudo se for indiscutível.

Que artigo convenceria a um habitante do Chókwè que nunca houve inundação

naquele município. As evidências são mais consistentes do que qualquer teoria, por

mais que a contrariem. São as teorias que devem ser construídas com base nas

evidências e não ao contrário.

Se o estudante não encontra evidências suficientes para apoiar uma hipótese,

ele pode buscar, opiniões de especialistas, isto é, a sensibilidade construída por

especialistas com base nas suas experiências pessoais. Quem trabalha na UEM bem

sabe que há trabalhos fantásticos não publicados e especialistas que foram produzindo

um vasto conhecimento que permanece no silêncio das gavetas. Deste modo, vale a

pena ouvir a voz dos académicos, sobretudo os mais experientes.

Se não for possível explorar-se as fontes académicas sobre o assunto, podemos

observar o que têm dito a imprensa sobre o assunto. Mesmo que estas fontes não

sejam baseadas no método científico, os jornalistas que se importam com a reputação

dificilmente mentem, por mais que possam omitir ou exagerar em prol do

sensacionalismo. Os comunicados de autoridades administrativas, ou decretos, mesmo

sendo documentos governamentais, se não tiverem sido claramente baseados em

elementos científicos, podem ser enquadrados nesta categoria.

Evidências

Opiniões de especialistas

Documentos da imprensa e sociopolíticos

Lógica

Opinião pessoal

Page 96: O Supervisor

82 Edgar Manuel Cambaza

Na ausência de qualquer documentação, o estudante pode recorrer à lógica. É

aqui onde pode entrar o raciocínio e os cálculos para ajudar a esclarecer os pontos

onde o conhecimento não chega. É por esta razão que o estudante deve desenvolver a

capacidade de deduzir e induzir as ideias que tem para os cenários mais prováveis de

se encontrar. Se a inteligência desempenha um papel na vida académica do estudante,

é aqui que ela tem mais relevância.

Por fim, se a lógica não trouxer as respostas que o estudante procura, ele ainda

tem a alternativa mais elementar: a própria opinião. É difícil de crer que um estudante

que se tenha debruçado profundamente em torno de um conjunto de disciplinas

relacionadas durante alguns anos não tenha qualquer opinião sobre os tópicos dessas

disciplinas. Ainda assim, é preciso ter-se cuidado com as plausibilidade de tais

opiniões, isto é, é importante conhecer-se as dimensões e limitações das ideias que

temos.

Só finalmente faltando a opinião pessoal é que podemos dizer que nenhum

comentário pode ser traçado em torno de um assunto. É provável que nunca se chegue

a este extremo mas é natural não se ter certos conhecimentos. Não se deve ter

vergonha nem inventar absurdos. Aliás, a falta de certos conhecimentos pode indicar a

necessidade de criação de todo um campo de conhecimentos. Por isso, orgulha-te se

fores pioneiro.

5.10 Conclusão

Finalmente, chegou a hora do veredicto! Se a pesquisa fosse um julgamento, a

conclusão seria a leitura da sentença, depois de teres escutado os jurados (na

discussão). Como juiz, deves ser claro e directo para evitar mal-entendidos. Além

disso, deves ser justo às constatações, realista, imparcial e sério. É o momento de

“colocar o preto sobre o branco” e dizer “sem rodeios” o que aprendeste com o

trabalho.

Esta parte do trabalho requer muita concentração por ser sensível. Desmarca

todos os compromissos, vai para um lugar silencioso, prepara um café e umas

bolachas e concentra-te48. Se não gostas de café, pode ser sumo ou chocolate quente.

Se sentes que não é um bom dia, vai “tchilar” ou ver novela e volta quando tiveres

melhor disposição.

48 Mas nunca de madrugada. Já existem morcegos que bastem e com a ébola

só têm estado a receber conotação negative.

Page 97: O Supervisor

Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 83

Todo o trabalho foi feito para chegares aqui. E é aqui que viremos se o dardo

que lançaste acertou o alvo. Por outras palavras, este deve ser o melhor pedaço de

escrita que alguma vez produziste até ao momento, bom em todos os aspectos. Nem

interessa o resultado. Mesmo que não encontres nada, deves ter algo a dizer e tal

mensagem deve ser bem escrita. Pensa assim: não encontraste porque não existe ou

algo correu mal? Se algo correu mal, o que foi? Porquê? Há sempre algo a dizer. Uma

conclusão mal escrita denota fraco poder de julgamento.

A conclusão responde aos objectivos, às hipóteses, expectativas ou perguntas

de pesquisa. Seja qual for o elemento que escolhemos, devemos estar certos que este

cobriu toda a temática da pesquisa. Por exemplo, a formulação das hipóteses, no

DCB, geralmente não cobre toda a problemática, pelo que a melhor ideia

(honestamente) seja ignorá-las sumariamente. Se tens dúvidas sobre o papel que as

tuas hipóteses, expectativas, etc. se enquadram na tua pesquisa, envia-me um email:

[email protected] e vamos discutir. Cada caso é um caso.

O fluxo das ideias de uma conclusão deve ser como uma ampulheta. Observa a

Figura 26, abaixo.

Figura 26. A estrutura teórica da conclusão deve-se assemelhar a uma ampulheta.

Reflexão sobre o objectivo geral

Revisão do problema cognitivo

Breve revisão do resultado

Reflexões sobre os objectivos

específicos:

1o

2o

etc.

Page 98: O Supervisor

84 Edgar Manuel Cambaza

No momento em que pomos a ampulheta a funcionar toda a areia está na

cabine de cima e, através do canal, ela cai para a outra. Isto é, temos areia em pouca

quantidade, depois em pouca e novamente em grande. Do mesmo modo, o início e o

fim da conclusão devem ter maior peso. De acordo com o modelo, estes são os passos

que deves seguir49:

1. Revisita brevemente o problema cognitivo (a dúvida que motivou a

pesquisa);

2. Em seguida, revisita o resultado e deixa claro o seu enquadramento face ao

problema. Se possível, trás algumas ideias da discussão para discriminar

até que ponto o resultado pode corresponder à verdade. Todo este processo

ajuda a relocalizares-te antes de tomares a tua posição definitiva;

3. Põe os objectivos específicos diante de ti. Falo a sério! Literalmente, põe

uma cópia impressa do teu protocolo ao teu lado e relê os objectivos. Vais

escrever esta parte da conclusão enquanto olhas para eles. Para cada

objectivo, diz em poucas palavras para onde cada variável50 está a apontar,

ciente de todo o conhecimento que adquiriste durante a discussão. Não te

preocupes com todo o palavreado da discussão (ler 5.9, que começa na

página 79). Apenas precisas da sexta etapa. É sensato reservar um

parágrafo para cada objectivo;

4. Por fim, só precisas de fazer com o objectivo geral o mesmo que fizeste

com os outros. Esta é a conclusão da tua conclusão!

Não entres em pânico se as tuas conclusões não forem de acordo com o que

esperavas. A natureza sabe ser, às vezes, imprevisível. Comporta-te como um

jornalista, comprometido com a verdade e a comunidade científica receber-te-á de

braços abertos.

5.11 Limitações/constrangimentos do estudo

Nas limitações, menciona todas as coisas desejáveis que não pudeste fazer no

trabalho. Menciona as causas e agravantes de todos os problemas. Olha para os

49 Cada um vai corresponder a aproximadamente um ou dois parágrafos,

dependendo das circunstâncias. 50 Procura ser sistemático e olha para cada variável. Tenta ser o mais

qualitativo possível, isto é, procura explorar mais o significado das observações em

vez de meramente mencioná-las. Já não se está à procura de meros números ou

nomes. Quer se saber o que tais contagens ou designações representam no contexto da

ciência, sociedade, ambiente, etc..

Page 99: O Supervisor

Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 85

artigos de referência para o teu tópico, porque eles certamente apresentarão um ou

outro elemento que gostarias de ter introduzido na tua pesquisa. Pergunta aos teu

orientador, supervisor, técnico do laboratório ou outro especialista que te apoiou na

pesquisa. A sua experiência os permite pensar melhor naquilo que poderia ter sido

mais adequado para o tipo de pesquisa que pretendes fazer.

Enquadram-se também nas limitações os sujeitos que não colaboraram

devidamente no estudo, comprometendo o desempenho. Similarmente, certos estudos

requerem permissão de um comité de ética ou outro tipo de autoridade. Pode até ser a

própria instituição onde o estudante se encontra a estagiar a fazer certas exigências ou

restringir o uso de determinados recursos. Ou até pode ser o exemplo já mencionado,

de que o simples facto de o técnico ter-se esquecido das chaves do laboratório pode

comprometer o trabalho, principalmente se for um estudo que acompanha factores

periódicos ou muito dependentes do tempo.

Fala também dos riscos nos aspectos que correram bem mas envolveram

vulnerabilidades. Por exemplo, podes falar de reagentes cujo prazo expirou ou

estavam quase, mesmo que tenham sido aparentemente eficazes. Fala de grandes

riscos que poderão constituir um problema no futuro. Por exemplo, é relevante saber-

se sobre o reagente que está para acabar ou a máquina à beira da avaria.

5.12 Recomendações

Esta é a continuação lógica do texto sobre limitações ou constrangimentos.

Nesta etapa, deves explicar como evitar ou eliminar os factores que comprometeram a

experiência se um dia alguém estiver a pesquisar em torno da mesma temática. O que

deve a pessoa fazer para que o seu estudo tenha maior qualidade. As recomendações

estão mais voltadas ao problema cognitivo, isto é, a aspectos relacionados com

pesquisa, não necessariamente sobre como curar uma doença ou proteger uma espécie

ameaçada, a não ser que a tua pesquisa tenha sido para responder a estas questões.

Ainda assim, não negligencies as recomendações para a sociedade civil e todos

os grupos que podem tirar proveito delas. Entretanto, não sejas mais um eco que se

limitará a dizer o que as pessoas gostam de ouvir. As recomendações devem partir da

experiência que adquiriste com a pesquisa. Não há nada mais ridículo do que

recomendações sem relação com o trabalho, sobretudo se de algum modo contradizem

os resultados. Nestes casos, é até preferível não escreveres nada. Uma frase

Page 100: O Supervisor

86 Edgar Manuel Cambaza

frequentemente atribuída a Lincoln ou Mark Twain diz “mais vale ficares calado e

suspeitarem que és tolo do que falares e tirarem as dúvidas”.

Mas não acabemos esta secção com pensamentos negativos. O mais importante

é criares uma plataforma intelectual para que o próximo pesquisador – que podes ser

tu – tire o melhor proveito. E não te esqueças, mais uma vez, de ser breve, claro e

directo.

5.13 Bibliografia

Ler 2.4.2 sobre Estilo de citação e bibliografia na página 13.

5.14 Anexos

Ler 3.1.9 sobre Anexos na página 43.

Page 101: O Supervisor

Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 87

6 Relatório de estágio

No estágio profissional, todos saímos a ganhar. A unidade de estágio beneficia

de mão-de-obra qualificada, frequentemente não remunerada, o estudante ganha

experiência e a universidade produz mais um quadro. Acima de tudo, o estudante

entra em contacto com o mercado de trabalho, conhecendo aqueles que poderão ser os

seus futuros colegas. Nalgumas circunstâncias, não raras, o estudante acaba

trabalhando definitivamente na unidade de estágio, o que é bom para si e para as

relações entre a universidade e a instituição que o acolhe.

Em termos de rigor e estrutura, este relatório apresenta muitas semelhanças

com o de pesquisa. Acaba-se tornando mais semelhante ainda porque os docentes que

acompanham a culminação dos cursos de biologia preferem que o estagiário também

pesquise na sua unidade51. Assim, o relatório de estágio terá duas componentes: a

discrição das actividades como estagiário e a análise de algumas das variáveis

produzidas durante o treinamento.

6.1 Capa e elementos pré-introdutórios

Ver como conceber a capa no ponto 3.1.4 (página 27) e os elementos pré-

introdutórios nos pontos 4.1 (página 47) e 5.1 (página 74). Preste-se atenção que na

capa, declaração de honra, etc. é importante deixar-se claro que se trata de um

relatório de estágio e não de pesquisa ou qualquer outro tipo de documento.

6.2 Apresentação e caracterização de unidade de estágio

Esta parte não difere da apresentação do local de actividades apresentado no

ponto 4.5.2, página 62.

6.3 O programa de estágio

Em princípio, programa do estágio é fornecido pela unidade com o

conhecimento do supervisor. Honestamente, acho que esta parte também deveria

constar na proposta de estágio e lá seria bem mais relevante. De qualquer modo, não

há grandes problemas partindo-se do princípio que a proposta apresenta um

cronograma de actividades. Esta secção pode revisitar o cronograma e dizer o que foi

feito, quando e onde.

O programa é mais detalhado do que o cronograma mas menos do que a

metodologia. Seria um casamento dos dois elementos. Apresenta datas concretas,

51 E levam muito a sério esta exigência. É melhor cumprires.

Page 102: O Supervisor

88 Edgar Manuel Cambaza

como a cronologia e a lista das principais actividades, como a metodologia, mas não

apresenta o material utilizado. No que respeita as datas, tende a ser mais preciso do

que o cronograma, indicando todas as datas. Além disso, o programa vai indicar as

formações, palestras e os seminários que o estudante frequentou, as viagens e os

locais onde realizou as diferentes actividades, etc.. Mas não exageres a ponto de

mencionar as conversas com o supervisor ou orientador, as compras de reagentes que

fizeste ou os cortes de bolo no fim do mês.

6.4 O apoio que a unidade de estágio concedeu ao estudante

É muito importante saber-se qual foi o subsídio material e intelectual que a

unidade te ofereceu de modo a aprimorar as tuas aptidões profissionais. Isto é

importante para a avaliação do relatório na universidade porque o este não pode ser

desvalorizado se as condições do estágio forem precárias, nem supervalorizado pelo

facto de ter estado num laboratório muito sofisticado, quando tudo o que ele

realmente fez foi observar uma máquina a fazer todo o trabalho.

Procura ser realista e divide o apoio em material, financeiro e humano (mão-

de-obra ou assistência). Em termos de material, fala do espaço, transporte,

equipamento, reagentes, fichas e obras didácticas (mesmo em formato electrónico), e

tudo o resto que for aplicável. Diz também se tal material foi suficiente para as

actividades ou tiveste, de algum modo, de acrescentar 52 . Em termos de recursos

financeiros, diz qual o valor e os propósitos para os quais eles foram dados.

Competências como disciplina e responsabilidade podem ser avaliadas através da tua

capacidade de gerir tais valores53. Em termos de assistência e orientação, menciona

quem te apoiou, indicando as credenciais da pessoa (formação, experiência, cargo,

etc.) e como. Os orientadores e técnicos valorizam muito o teu trabalho porque, além

de mestres, eles são testemunhas. Além disso, é altamente desejável que te tenhas

52 Mas atenção! Há que o laboratório não dar o suficiente e há que ele dar mas

tu decidires aumentar só para que a tua experiência tenha mais “substância”. Por

exemplo, há laboratórios que usam o material mais barato ou antigo para propósitos

de treinamento como forma de preservar aquele usado profissionalmente. Se o

laboratório está a fazer um favor, devemos respeitar a sua necessidade de minimizar

os gastos. 53 Procura ser honesto porque o trabalho não será aceite no departamento para

a apresentação sem a aprovação e avaliação por escrito do teu orientador da unidade

de estágio. Isto também sugere que pode não ser uma boa ideia falares mal da

unidade, mesmo que sejas obrigado a apresentar no fim uma apreciação crítica.

Page 103: O Supervisor

Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 89

socializado com muitos profissionais e o teu trabalho será provavelmente melhor com

o apoio destas pessoas.

6.5 Revisão bibliográfica sobre a temática tratada no estágio

Esta não difere muito da revisão bibliográfica do relatório de pesquisa, na

secção 5.3, página 77.

6.6 Actividades desenvolvidas

Em termos práticos, o que se quer aqui é uma lista dos materiais e todos os

procedimentos laboratoriais praticados durante o teste. Esta é a parte mais parecida

com o capítulo sobre “material e métodos”. Por esta razão, repito o que escrevi na

secção sobre o relatório de pesquisa:

“Basicamente, o que deves ter em conta é que o estudo já foi feito e tu só estás a

reportá-lo. Deste modo, todas as acções devem-se encontrar no pretérito, como numa boa

narrativa. Tirando isso, esta secção é idêntica à descrita para o protocolo, no ponto 4.6

(Material e métodos/metodologia), página 63.”

6.7 Análise crítica da unidade de estágio

Outro benefício da unidade de estágio por ter acolhido o estudante é a sua

opinião, como uma pessoa de fora cujo conhecimento sobre as bases da disciplina

ainda se encontra “fresco”. Espera-se que a sua opinião seja “virgem”, despida dos

“vícios” do mercado do trabalho, resultantes de imperativos sociopolíticos e

financeiros. Se ele se tiver comportado bem, não será movido por qualquer rivalidade,

inveja ou qualquer tipo de preconceito.

É aqui que que deve constar a tua percepção e sensibilidade sobre a

experiência que teve no estágio. Deves ser imparcial e deixar críticas construtivas.

Não sejas muito severo porque o teu orientador vai-te avaliar e ninguém gosta de

pessoas rudes ou arrogantes. Além disso, não te esqueças que há muito poucos

laboratórios com as condições ideais para pesquisas da qualidade mais desejável. Não

sejas muito superficial e “agradável” porque notar-se-á que estás a mentir. Procura ser

honesto, modesto e realista, como um bom profissional. No fim de tudo, é isso que os

empregadores procuram e os avaliadores apreciam.

A análise da unidade de estágio assemelha-se a uma revisão crítica e espera-se

que não cubra menos do que uma página. Deste modo, ela deve apresentar um

encadeamento bem estruturado de ideias. É preciso que esteja claro se as metas, em

Page 104: O Supervisor

90 Edgar Manuel Cambaza

termos de aprendizagem54, foram atingidas e que factores influenciaram o alcance ou

não de tais metas. Depois da reflexão, o estudante dá uma apreciação sobre o que o

estágio significou para si e o quanto foi importante para a sua formação. A análise

crítica deve conter os seguintes elementos:

1. Contexto – narra sobre a motivação para fazer o estágio, porque escolheste

esta instituição, quanto tempo durou e outros aspectos que pareça

interessante mencionar;

2. Plano – o que pretendias aprender com o estágio e porquê. Que relevância

teria o estágio para a tua formação? Que visão tinhas no início sobre a

unidade de estágio? O que esperavas sobre o local, o ambiente e as

condições? E sobre os recursos (materiais, electrónicos, financeiros, etc.)?

Sobre os trabalhadores, incluindo técnicos e o teu orientador, o ambiente

de trabalho e a relação entre as pessoas?

3. Discussão sobre o aprendizado – menciona o que aprendeste de mais

relevante em termos técnicos, tecnológicos e sociais. Existem três tipos de

competência que deves aprender: saber, saber fazer e saber ser. O saber já

vem contigo da faculdade mas espera-se que consolides alguns

conhecimentos. No estágio, está em voga o saber fazer mas não se negue

que seja uma oportunidade única para aprender a ser um indivíduo

integrante da classe profissional que anseias. Discrimina muito bem onde

falarás sobre cada tipo de competências e fala sobre os prós e contras. Para

cada, diz o que poderia ter sido melhor, o que foi aceitável, bom ou

excelente;

4. Discussão sobre a unidade – fala sobre como a unidade alterou a sua visão

sobre a disciplina e como o conhecimento é produzido. Gostaste do local?

Até que ponto era como esperavas? O que achas que deve ou não mudar?

Notaste alguma evolução, algum crescimento – em recursos humanos ou

materiais – durante o tempo em que lá estiveste? Havia alguma perspectiva

de crescimento, segundo o chefe do departamento? O que achaste do local,

do equipamento? Os instrumentos eram calibrados diariamente? E com

material de referência certificado? O local está integrado nalgum programa

54 Usei o termo “metas” para não se confundir com os objectivos do estudo

feito durante o estágio. Espera-se que o estudante adquira certas competências depois

do estágio e estas é que devem ser analisadas na revisão crítica.

Page 105: O Supervisor

Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 91

de controlo de qualidade? Eles apresentaram as normas (escritas) e os

protocolos antes de qualquer actividade? Como é que eles lidavam com

aspectos como assepsia e boas práticas laboratoriais? Eles deram alguma

pré-formação sobre as actividades? Sobre biossegurança primeiros

socorros? Que impressão tiveste sobre o ambiente de trabalho? Sobre os

técnicos? Sobre o teu orientador? Ele era muito presente? Deu-te

oportunidade para realizares tudo sozinho? Eles apresentavam a formação

e as competências que esperavas ver neles? A relação entre eles e o teu

supervisor foi boa, poderia ter sido melhor ou não notaste interacção entre

eles?

5. Parecer geral sobre a unidade – até que ponto a unidade parece estar

preparada para resolver os problemas com os quais se comprometeu? E

que potencial notaste a curto e longo prazo? Que aspectos que esperavas

mostraram-se como sendo a realidade? E o que não te agradou tanto? A

unidade é excelente, boa ou razoável55? Recomendarias a unidade a outro

estudante do teu ramo?

6.8 Conclusões

A conclusão de um relatório do estágio, de acordo com as exigências práticas

do DCB, deve responder a duas perguntas básicas:

Como foi o estágio? A perspectiva crítica do estágio, no ponto 6.7 acima,

pode-te ajudar a responder esta questão. Procura dizer em um parágrafo

como correu o estágio e o que significou para ti. Não precisas de rebuscar

toda a perspectiva crítica. Toma o último ponto (5 – “parecer geral sobre a

unidade”) como base para a tua reflexão.

Que conhecimento produziu o estudo que desenvolveste na unidade?

Esta parte da conclusão pode ser idêntica ao que escrevi no ponto 5.10, na

secção sobre o relatório de pesquisa.

6.9 Recomendações

Ler sobre recomendações em 5.12, na página 85.

55 Não se confunda esta apreciação com a anterior, sobre as competências

adquiridas.

Page 106: O Supervisor

92 Edgar Manuel Cambaza

6.10 Bibliografia

Ler 2.4.2 sobre Estilo de citação e bibliografia na página 13.

6.11 Anexos

Ler 3.1.9 sobre Anexos na página 43.

Page 107: O Supervisor

Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 93

7 Monografia

A monografia é outra modalidade do DCB que permite terminar o curso como

requisito parcial. Esta fundamenta-se no facto de que um licenciado deve ter a

capacidade de fazer a apreciação crítica de um problema integrando adequadamente

as teorias e os conceitos do seu ramo. Além disso, espera-se que ele possa escrever

com rigor científico, demonstrar a criatividade, actualidade do seu conhecimento e o

domínio de tecnologias de informação e comunicação.

Monografias bem feitas têm o potencial para constituírem trabalhos de alta

qualidade, talvez até intelectualmente mais ricos do que os relatórios de pesquisa e

estágio 56 . Elas carregam a vantagem de se basear em dados já trabalhados e

“amadurecidos” de artigos, relatórios e outros tipos de documentos, estando desde o

princípio um degrau acima de todos. Este posicionamento as eleva a um patamar mais

alto da abstracção, sobretudo quando utiliza informação de qualidade, em quantidade

e, sobretudo, bem explorada.

7.1 Início e corpo

7.1.1 O que se deve ter em conta

Há muitos aspectos em comum com o relatório de pesquisa. Por exemplo, os

elementos pré-introdutórios (ver o ponto 5.1 na página 74) e a introdução (ponto 5.2

na página 77) assemelham-se. Recomendo também uma revisão bibliográfica idêntica

(ponto 5.3 da página 77) antes da principal análise documental.

O corpo principal apresenta a estrutura do corpo de um livro, sendo a

organização dos títulos e das ideias ao teu critério, desde que tenha lógica e respeite o

rigor científico. É bom iniciar com uma secção de perguntas (ver 4.4.3, na página 58),

como acontece numa típica pesquisa qualitativa. Não nos esqueçamos que o trabalho

procurar respostas em torno de algum assunto aparentemente mal esclarecido.

A chave para escrever uma boa monografia é conhecer bem a estrutura de uma

revisão crítica e encontrar a bibliografia mais adequada para a discussão. A

monografia não é mais do que um conjunto de revisões críticas da produção

56 Mas esteja claro que a qualidade varia muito de trabalho para trabalho e

depende do acesso a determinadas informações e da capacidade de pesquisa

bibliográfica do estudante. Além disso, o facto de se tratar de uma monografia não

garante que a análise será impecável, do mesmo modo que um estares ao volante de

um Mercedes não garante que vais dirigir bem.

Page 108: O Supervisor

94 Edgar Manuel Cambaza

académica de determinadas autoridades. Quem domina este tipo de análise tem a

força motriz para escrever indefinidamente textos de alta qualidade.

7.1.2 Sobre as revisões críticas

Pensa na monografia como um debate em que tu és o moderador, ou um

julgamento é que és o juiz. De qualquer modo, tens grupos de autoridades que

defendem pontos de vista contraditórios 57 . No fim, és obrigado a apresentar um

veredicto com base nas alegações e evidências. Para se evitar a anarquia, escolhe-se

determinadas autoridades – uma de cada posição – reconhecidas como referências no

tópico. São sobretudo os argumentos destas que serão apresentados e confrontados

com pontos de vista de outros autores. Por fim, fazes a síntese que será o

conhecimento que pretendes produzir.

Procura ser extremamente crítico. Como disse Karl Marx, questiona tudo.

Tudo! Duvida até da tua própria sombra. Pensa sobre o que dizem (e o que não

dizem) as autoridades e orienta-te com as perguntas dos jornalistas:

Quem diz? – O autor está identificado? Desconfia de quem não estiver.

Além de identificado, deve apresentar o contacto. É vantajoso quando

conhecemos o publicador e o local onde o podemos encontrar. É cientista?

O que é? Deves ter cuidado com opiniões fomentadas por interesses. Não

sejas ingénuo a ponto de acreditar que todos são igualmente honestos. Por

exemplo, um político pode não pensar como um ambientalista 58 . Um

empresário de fast food não vai pensar como um nutricionista. Mesmo

cientistas muito bem reputados podem ser influenciados por financiadores,

por exemplo. Vai sempre aos agradecimentos para ver quem pode estar por

detrás de uma pesquisa. Além disso, autores podem ser influenciados por

sentimentos como vergonha, orgulho, etc.. Será um pesquisador sénior

com décadas de trabalho capaz de renunciar tudo o que fez e conseguiu ao

descobrir que esteve sempre errado?

57 Tais posicionamentos não têm necessariamente de ser dois, como acontece

com as hipóteses. É natural que uma pergunta possa ter três ou mais respostas

alternativas. Explora todas ou pelo menos as seguramente mais plausíveis (mas deves

explicar por “1 + 1 = 2” porque tais respostas são mais aceitáveis). 58 Se assim fosse, não teríamos os afogamentos ou o fim de mangais na Costa

do Sol.

Page 109: O Supervisor

Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 95

O que diz? – É uma ideia plausível? Está bem fundamentada? A ideia é

imparcial? Cuidado com propagandas 59 , que podem possuir vários

formatos, até os mais inimagináveis;

Quando? – Dá prioridade a publicações mais recentes, a não ser que

estejas à procura de documentos históricos, clássicos ou que haja poucos

documentos recentes com bom nível de evidência ou boa qualidade de

informação. A antiguidade de um documento é algo a criticar, sobretudo se

estiveres a estudar variáveis que mudam substancialmente ao longo do

tempo. Muitos concordariam que a realidade de hoje não é exactamente a

de ontem;

Onde? –A opinião é de alguém que tenha pesquisado na tua área de

estudo? Se não, pelo menos tal área apresenta alguma semelhança natural

ou socioeconómica? E não é simplesmente o espaço físico. As diferenças

genéticas e culturais entre as populações também devem ser levadas em

conta. Amostras de um hospital podem ser diferentes das que encontramos

em escolas, serviços públicos e na população, em geral. Assim, lança um

olhar crítico sobre os locais onde estudou cada autoridade;

Como? – A mensagem está clara? Completa? Atenção, que há aspectos

relevantes que podem ter sido omitidos. Quantos não escondem os

resultados indesejáveis da sua experiência? Além disso, há que avaliar o

veículo de comunicação. A publicação foi num contexto académico?

Apresenta rigor científico? São apresentadas evidências convincentes?

Atenção a documentos muito bonitos e estruturados que não constituem a

verdade. Na década de cinquenta, a BBC publicou um vídeo que

convenceu muitas pessoas adultas que o esparguete crescia em árvores, por

mais absurdo que isto possa parecer (MySwitzerland, 2013);

Porquê? – Não te iludas com as mais nobres justificativas, porque neste

mundo hipócrita justificar é o que as pessoas melhor sabem fazer. O que

foi que motivou cada autoridade a adquirir a sua postura ou o seu

59 Não confundir com publicidades. Enquanto a publicidade é feita para

promover um produto ou serviço (comercial), a propaganda é feita para incutir ideias

nas pessoas e fomentar determinadas atitudes. A propaganda pode ser política,

religiosa, cívica ou social (por exemplo, para pagares a taxa da rádio), ambientalista,

desportiva (para apoiares uma equipa), etc..

Page 110: O Supervisor

96 Edgar Manuel Cambaza

posicionamento intelectual? Terá sido a mesma motivação com a tua?

Nem todos fazem a mesma coisa com a mesma razão. É muito natural

numa equipe um indivíduo ser movido pela curiosidade enquanto o

companheiro só está a pensar no dinheiro. Que desempenho terá o

ganancioso assim que consegue o seu dinheiro? E que impacto terá isso

sobre os resultados? E o que impede que ele manipule os resultados “para

o inglês ver”, se os seus interesses apontarem para essa direcção? Então,

embora seja difícil, tenta sempre perceber quais podem ser verdadeiras

intenções do pesquisador;

Para quê? – Outra pergunta a fazer a uma opinião que estás a criticar é

“onde é que o autor pretende chegar com tal ideia”? Para ajudar a

comunidade ou a si mesmo? Procura ser realista. Não me é raro aparecer-

me de tempos em tempos um estudante a despachar o trabalho para acabar

rapidamente o curso. Outros agem da mesma maneira por terem recebido

uma proposta de emprego. Até que ponto podemos confiar na opinião de

alguém que tenha trabalhado assim? Alguém me chamou “sonhador” por

aceitar desafios que a maioria teme ou não entende. Em vez de ofendido,

fiquei feliz porque trabalhar com entusiasmo, paixão e coragem é uma

virtude. Prefiram pesquisadores assim e não aqueles que só pensam em

benefícios materiais.

Cada revisão crítica deve apresentar as seguintes etapas60:

1. Contexto – debruça-te sobre o assunto partido da formulação do problema

central a estudar na monografia à pergunta de pesquisa que originou esta

revisão. Por outras palavras, tenta explicar qual a relação entre o tema que

escolheste e este aspecto em particular que estás prestes a discutir;

2. Ponto de vista do autor – menciona o documento que usarás como

referência para a revisão, identifica o autor (é cientista, político, jornalista,

militar, civil, etc.?) qual o seu assunto central, como ele abordou a

temática que estás prestes a discutir (experiência ou opinião; num jornal,

numa revista científica, etc.) e qual o seu ponto de vista. Em que se baseou

para tomar esta posição?

60 Vimos algo semelhante na análise crítica do estágio (ponto 6.7, página 88).

Page 111: O Supervisor

Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 97

3. Argumentação – quem diz? O que diz? Em que se baseia? Tenta explorar

bem cada argumento, talvez num parágrafo inteiro. Usa a pirâmide que

sugeri para a discussão (ver Figura 25 e o texto relacionado em 5.9). Evita

trazer autores que só vão repetir ideias dos outros sem acrescentar nada61.

Isso é uma perda de tempo, como uma discussão em que todos ecoam o

primeiro que falou. Não mistures opiniões opostas. Primeiro, apresenta

todas a favor e em seguida as contra62;

4. Síntese – nesta etapa, produzes textos de reflexão explorando o melhor de

cada opinião, respeitando o “peso” que ela teve em todo o contexto

teórico. É como se usasses as melhores peças de carros diferentes para

construir um carro mais interessante. A síntese tem de ser coerente e

plausível com a realidade. É provável que algumas opiniões não tenham

enquadramento na síntese, enquanto as restantes tenham mas com

diferentes;

5. Conclusão – responde à pergunta de pesquisa de acordo o que aprendeste

de toda a análise crítica. Fala também das implicações da tua conclusão na

natureza e sociedade;

6. Recomendações – o que deve ser feito diante do problema analisado,

tendo-se em conta a conclusão. O que poderá ser feito diferentemente se

alguém quiser fazer uma pesquisa documental em torno da mesma

temática? E o que deve ser feito como passo seguinte, uma vez concluída

esta etapa?

Sejamos metódicos. Cada pergunta de pesquisa vai requerer revisões críticas –

uma para cada posicionamento alternativo sobre o tópico em questão. Quanto maior o

número de perguntas, maior a quantidade de revisões. Evita as circunstâncias

repetitivas que podem surgir pelo facto de reusares o conteúdo de um ou outro artigo.

Procura ser imparcial e moderado. Estas competências estão entre as

principais de um bom académico. Não caias em radicalismos arbitrários na ilusão de

impressionares os avaliadores como “o grande crítico”. É provável que cries o efeito

61 É sempre melhor privilegiar aqueles que chegaram às mesmas conclusões

por caminhos diferentes. 62 Dica: põe em maior quantidade ou peso alguma posição, se a pretendes

favorecer. Este é o local ideal para tal.

Page 112: O Supervisor

98 Edgar Manuel Cambaza

oposto. A História tem-nos mostrado frequentemente que atitudes radicais só criam

problemas.

7.2 Conclusão

Ler sobre conclusão em 5.10, na página 82. Mas preste-se atenção que em vez

responder a objectivos (menos frequentes neste tipo de actividade), a conclusão da

monografia vai-se debruçar sobre as perguntas centrais do estudo.

7.3 Recomendações

Ler sobre recomendações em 5.12, na página 85.

7.4 Bibliografia

Ler 2.4.2 sobre Estilo de citação e bibliografia na página 13.

7.5 Anexos

Ler 3.1.9 sobre Anexos na página 43.

Page 113: O Supervisor

Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 99

8 Outros documentos

8.1 Apresentação em PowerPoint

PowerPoint está na moda. Ninguém é obrigado a utilizá-lo, mas é quase

impensável uma apresentação sem este aplicativo do Microsoft Office. Quando bem

utilizado, pode tornar memorável a apresentação dos resultados de algum estudo.

Não vou perder muito tempo a explicar o que é PowerPoint e como se utiliza,

mas vou deixar algumas recomendações para quem vai apresentar o trabalho do fim

de curso:

Não faças mais do que quinze slides – só tens vinte minutos. Eu sei que

queres mostrar muita coisa, mas não é prático. Com quinze slides, podes

apresentar pelo menos um por minuto e ainda sobra tempo para casos em

que vais demorar um pouco mais. Já vi casos ridículos de estudantes que

criam muitos slides e (por regra) não conseguem apresentar tudo. Outros

cometem o erro depois de avisados. É para rir ou para chorar?

Tens direito de ficar nervoso, mas não deixes que isso estrague a

apresentação – controlar o nervosismo é mais do um acto de coragem. É

uma responsabilidade. A bagagem do cientista inclui a capacidade de

comunicar e pode ser que as apresentações te persigam por toda a vida. Por

isso, habitua-te. Já vi muitos truques para controlar o nervosismo – desde

beber água fresca, massajar áreas com muitos nervos, etc. – mas quem vai

fazer isso durante toda a vida? Eu recomendo o truque mais simples do

Mundo – parares de fingir que não estares nervoso, porque isso chega a ser

ridículo. Todos sabem esperam que fiques nervoso e isso é normal. Até os

presidentes ficam (quem tem dúvidas que pergunte Nyusi). Treme e chora,

só não desmaies. Com a experiência, cedo ou tarde superarás os nervos;

Explora bem os recursos visuais – usa tabelas, figuras, vídeos, sons, etc..

Usa criativamente as ferramentas de comunicação de modo a entreter a

audiência. Não sejas pouco académico mas faz uma apresentação

memorável. Traz alguns artefactos e modelos, desde que não produzam

odores desagradáveis ou outros tipos de embaraços. Nós temos cinco

sentidos que podem ser bem aproveitados. Quem se esquecerá da

apresentação sobre o malambe, se o estudante tiver trazido algumas

amostras para a audiência provar? Por outro lado, quem se lembrará de

Page 114: O Supervisor

100 Edgar Manuel Cambaza

mais uma apresentação previsível e funesta, dominada pelo medo de se

soltar a imaginação?

Escreve pouco texto – leitura exige silêncio e concentração, o que

contraria a essência de uma apresentação. Não há nada pior do que ler e

simultaneamente escutar alguém. Nessas situações, vejo-me obrigado a

escolher e a componente oral tende a ser sacrificada. Escreve muito pouco

texto, apenas quando não é possível recorreres a recursos gráficos e

visuais. Não tenhas medo de esquecer as coisas. Sei que muitos

estudantes enchem os slides de texto por medo de se esquecer aspectos

importantes. Mas a minha experiência diz que isso raramente acontece.

Vai por mim: só te esquecerás de coisas irrelevantes. Além disso, quando

os slides estão cheios de texto, a consequência lógica é passares o tempo

todo a ler;

Não te limites a ler os slides – ao leres os slides, não só parecerás

inseguro. Acabarás interagindo pouco com a audiência. Além disso, se

vais simplesmente reproduzir o que dizem os slides, não será melhor

passares o texto para o pessoal e poupares-te da leitura?

Não informa, comunica – não “despejes” a informação a assumir que

todos estão a entender. Vais parecer aquele docente que chegava, punha-se

a falar e ia embora, sem se importar se os estudantes aprenderam ou não.

Em vez disso, vai perguntando algumas vezes se as pessoas estão a

entender, sobretudo quando falas sobre assuntos complicados. E quando

perguntares se entenderam, não olhes para um dos teus colegas. É lógico

que entendem porque são do teu ramo. Olha para familiares e convidados.

Por mais que finjam estar a entender, pelo menos descobres que estão

atentos;

Apresenta como se fosse para leigos – seguindo a linha do pensamento

acima, também precisas de ser breve, claro e directo nas apresentações.

Usa linguagem simples, que possa ser entendida por todos. Pensa em

filmes, por exemplo. Pensa na decepção de um filme cujo conteúdo não

entendes, sobretudo se pagaste os zilhões para ver no cinema do shopping

em 3D. É assim que se sentirá a audiência se usares palavras difíceis sem

Page 115: O Supervisor

Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 101

esclarecê-las. Além disso, estás-te a preparar para servir a um país cuja

maioria nem sequer sabe ler;

Mantém o contacto visual com o público – olha para a audiência. Vai

olhando para uns e outros à medida que falas. No fim, é desejável que

tenhas olhado para todos. Nunca dês as costas ao público. Só parecerás

inseguro. A maior piada seria fazeres isso e descobrires que estás sozinho

na sala. Uns dizem para não olhares para ninguém. Assim não despertarás

a simpatia de ninguém e não poderás monitorar o ânimo da audiência.

Outros dizem para olhares para uma só pessoa. Não faz isso, que só vais

assustar o coitado.

8.2 Cartaz

O cartaz é um documento científico que exige muita criatividade e capacidade

de sintetizar informação. É necessário um alta capacidade de sumarização, de mapear

ideias e uma certa sensibilidade para a estética ou bom-gosto. Ele deve ser

suficientemente para atingir as emoções do leitor, mas também rigorosamente

científico e bem-estruturado para produzir respeito no seio da comunidade científica.

Figura 27. Exemplo de um cartaz. Neste caso, não há bibliografia porque todo o texto foi produzido pelos autores sem a consulta de terceiros.

Page 116: O Supervisor

102 Edgar Manuel Cambaza

O tamanho, as cores e orientação (retrato ou paisagem) são ao critério do

estudante63, mas é importante ter-se em conta alguns aspectos. Quanto maior melhor,

mas tenta garantir que as pessoas possam lê-lo há pelo menos dois metros. Se for para

usar A4, talvez um panfleto seja mais interessante. A3 é maior mas talvez se destaque

com muita dificuldade numa exposição com certo número de cartazes. Quanto às

cores, evita radicalidades. Cores berrantes podem não conferir um aspecto académico

ao teu cartaz ou “roubar a atenção” que deveria ser dedicada à leitura. Procura usar

um bom contraste de cores entre as letras e o fundo de modo que o texto esteja bem

legível. A disposição retrato/paisagem é opcional, mas o bom senso é importante.

Reflecte sobre o melhor formato capaz de acolher o conteúdo do teu trabalho,

incluindo os gráficos e as figuras.

O bom texto do cartaz pode ter o tamanho do resumo aumentado (abstract

plus), com palavras entre 200 e 250. Não há norma qualquer sobre a elaboração de

cartazes no DCB, mas deve-se pensar nas circunstâncias em que eles são

apresentados. Deve ser muito raro alguém dedicar muito tempo à leitura do cartaz no

meio de uma feira, por exemplo. Deves preparar um texto claro, directo e, acima de

tudo, breve. A beleza do teu trabalho deve ser capaz de atrair a atenção de um leitor e

o seu texto deve ter a capacidade de informá-lo rapidamente. Assim, um bom cartaz

deve constituir uma experiência rápida e memorável para o leitor e este é o poder

deste tipo de documento: em poucos segundos podes conquistar a admiração e o

respeito eterno de algum colega.

O cartaz não é necessariamente uma miniatura do teu relatório. É um

documento independente e autoexplicativo. Ele não é “filho” do teu relatório, mas sim

“irmão”, porque ambos foram “paridos” pelo teu estudo. Não há problemas em

refazeres os mapas, gráficos ou as tabelas, se necessário. A lista de referências pode

ser diferente. Até podes pesquisar de novo, se necessário.

Tal como outros documentos académicos, o cartaz tem princípio, meio e fim.

No cabeçalho tem geralmente o nome da instituição em que o estudo foi realizado, o

título, os nomes do autor e a data. É desejável que se coloque, nalgum canto, o

contacto do autor correspondente64 . Coloca as principais secções de um relatório

(Figura 27). Por exemplo, se for de pesquisa, apresenta a introdução (com o principal

63 A não ser que o objectivo seja expor nalgum evento com exigências

específicas. 64 A pessoa a quem podemos fazer perguntas a respeito do cartaz.

Page 117: O Supervisor

Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 103

objectivo escrito no fim), área de estudo (o mapa já basta, se bem visível),

metodologia, resultados (tabelas e figuras), conclusão, recomendações, bibliografia e

agradecimentos.

Page 118: O Supervisor

104 Edgar Manuel Cambaza

9 Comentário final

Pronto! Falei! Agora chega! Só darei estes dedinhos de prosa porque fica mal

não me despedir. É uma tradição entre os círculos académicos e científicos deixar-se

aquelas palavras que devem ser lembradas. Eu sou tradicionalista nalguns aspectos,

embora não pareça. Assim, estás convidado a acompanhar as palavras que se seguem.

Consulta o teu supervisor sempre que a dúvida bater as portas. Não esperes até

que estejas sob pressão para consultares o teu supervisor. Além de seres obrigado a

disputar a tua vez com os colegas, o tu supervisor pode estar ocupado nessa época.

Outro problema pode surgir se esperares demais e algo passar do prazo, estragar-se ou

alguém viajar e comprometer a tua experiência. Não deixes nada para depois. É muito

melhor apresentares a tua dúvida enquanto ainda está “fresca”.

Lê atentamente o Regulamento de Culminação do DCB (2013) (ou do teu

departamento, se não estiveres nas biologias da UEM) e cumpre com tudo o que é

exigido. Não há nada pior do que trabalhar com um estudante que não conhece o

regulamento. Isso não só denota negligência como falta de interesse pelas normas. O

regulamento é supremo e está acima das instruções de qualquer supervisor, orientador

ou docente. Ignora tudo o que o contraria e usa-o como teu escudo se te sentires

injustiçado.

Este livro não vem para contrariar ninguém. Se o teu supervisor não for de

acordo com um ou outro aspecto do livro, respeita-o. Há um velho provérbio que diz

“não discutas com o teu mestre senão ele come os frutos e dá-te as sementes”. Pensa

no livro como um professor e o supervisor como o teu pai. O professor ensina e,

mesmo estando certo, quem toma as decisões é o pai. Os progenitores têm sempre as

suas razões para impor certas coisas. O bom filho deve ouvi-los. Se os pais forem

loucos, só posso desejar as mais profundas condolências ao rebento.

Descansa quando estiveres sem pachorra para escrever. Não há nada pior do

que escreveres quando a inspiração já não está em dia. É como espremeres uma

laranja que já não tem sumo – ainda acabas bebendo ácido cítrico. Eu exijo sempre

alguma criatividade dos meus supervisionados. O texto deve ter beleza e criar gosto

na leitura. Uma mente cansada tem dificuldades em conceber algo original, pelo que

recomendo o total repouso nessas circunstâncias. John Nash, um matemático

premiado, esperou tempo considerável por uma “ideia original” que revolucionou a

economia e valeu-lhe um prémio Nobel.

Page 119: O Supervisor

Accademos: o Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 105

Como cientista, mantém a mente sempre aberta para novos conhecimentos,

mesmo que estes contrariem a tua visão sobre o Mundo. Aprende a defender as tuas

ideias enquanto não houver uma melhor, mas não confundas firmeza com cabeça

dura. Atenção, que esta é a essência do saber ser cientista. Não te afeiçoes aos

conhecimentos porque eles não têm amigos nem inimigos. Se estiveres errado, aceita

e muda de ideias. Tens direito de não saber algumas coisas. Nas escrituras sagradas,

temos em Provérbios 9:7 “corrige o tolo, que ele vai-se revoltar” e em 9:9 “instrui ao

sábio, que ele se tornará mais sábio”.

Exercita a leitura. Há uma tendência quase generalizada em se subestimar a

leitura. A leitura é como exercícios físicos – melhoramos com a prática. Um bom

leitor desenvolve a capacidade de compreensão e raciocínio. Lê tudo o que te

interessar, pelo menos dez páginas por dia. É desejável que tenha conteúdo científico

ou didáctico, mas pode naturalmente se uma revista Maria ou Patinhas. Quem não

tem prática enfrenta um duplo desafio – o primeiro é a leitura e o segundo é a ciência.

Para qualquer problema, não hesites em contactar-me através do endereço

electrónico [email protected]. Também podes-me encontrar no Facebook,

Tweeter, etc. além do site www.accademos.com (em construção), onde pretendo

colocar material similar a este e outro científico. Podes usar o Whatsapp, só não sei se

estarei sempre disponível. Não tenho bolodórios e aquela frescura desnecessária de

uns e outros supervisores. Até que eu entre para a política, não há razão para te

assustares comigo. Não sou mais nem menos especial do que ninguém. Sou apenas

um “tipo porreiro”. Trata-me como amigo. Tchau!

Page 120: O Supervisor

106 Edgar Manuel Cambaza

10 Obras referenciadas

AAPOR, & AMA. (2012). Sample Size Calculator. The Survey System. Retrieved

25/07, 2013, from http://www.surveysystem.com/sscalc.htm

Anapakala, E. M. (em preparação). Perfil de Sensibilidade aos Antibióticos de

Escherichia coli isolada de Pacientes com Infecção Urinária atendidos no

Laboratório de Análises Clínicas Zenith. (LSc research), Universidade

Eduardo Mondlane.

Bueno, F. P. (2015). Elaboração de objetivos - geral e específicos. Curso de Turismo

- Trabalho de graduação I, (MAT03092013174529). Centro de Ensino

Superior do Amapá, Amapá.

Chambisse, I. (2014). Prevalência da Neutropenia e Tendências na População Adulta

da Cidade de Maputo. (LSc Research Proposal), Universidade Eduardo

Mondlane, Maputo.

DCB. (2013). Regulamento de Culminação de estudos nos Cursos de Licenciatura

ministrados no Departamento de Ciências Biológicas. Maputo: Departamento

de Ciências Biológicas, Faculdade de Ciências, Universidade Eduardo

Mondlane.

Eng, J. (2003). Sample size estimation: how many individuals should be studied?

Radiology, 227(2), 309-313. doi: 10.1148/radiol.2272012051

Israel, G. D. (2013). Determining sample size PEOD6. Gainesville, FL 32611:

Institute of Food and Agricultural Sciences (IFAS), University of Florida.

Miller, G. A. (1956). The magical number seven, plus or minus two: some limits on

our capacity for processing information. Psychological Review, 63, 81-97.

Miot, H. A. (2011). Tamanho da amostra em estudos clínicos e experimentais. J Vasc

Bras, 10(4), 275-278.

Mutombene, M. L. B. (2014). Efeito do Extracto de Acridocarpus natalitius, Casearia

gladiiformis e Cissampelos hirta sobre o Perfil Migratório e Activação das

Células Mononucleares do Sangue Periférico. (LSc internship report),

Universidade Eduardo Mondlane, Maputo.

MySwitzerland. (2013). BBC: Spaghetti-Harvest in Ticino. Youtube. Retrieved

18/02, 2015, from https://http://www.youtube.com/watch?v=tVo_wkxH9dU

Naing, L., Winn, T., & Rusli, B. N. (2006). Practical issues in calculating the sample

size for prevalence studies. Archives of Orofacial Sciences, 1, 9-14.

Sales, R. d., & Almeida, P. P. d. (2007). Avaliação de fontes de informação na

internet: avaliando o site do NUPILL/UFSC. Revista Digital de

Biblioteconomia e Ciência da Informação, 4(2), 67-87.

Sampaio, R. F., & Mancini, M. C. (2007). Estudos de revisão sistemática: um guia

para síntese criteriosa da evidência científica. Brazilian Journal of Physical

Therapy, 11, 83-89.

Sevene, E. (2014). Lista de Documentos a Submeter para Revisão de Protocolos.

Maputo.

Tomaél, M. I., Catarino, M. E., Valentim, M. L. P., Júnior, O. F. d. A., Silva, T. E. d.,

Alcará, A. R., . . . Godoy, P. A. d. (2001). Avaliação de fontes de informação

na internet: critérios de qualidade. Informação & Sociedade: Estudos, 11(2),

1-14.

Page 121: O Supervisor

Accademos: O Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 107

Suplemento

Suplemento 1. Tabelas.

Tabela 4. Critérios de qualidade para avaliar fontes de informação na internet.

Critérios Subcritérios

Informação de

identificação

Endereço electrónico do site e da fonte de informação

E-mail do site (organização que disponibiliza a fonte)

Título da fonte de informação

Endereço electrónico da fonte de informação

Objetivos da fonte e a que público se destina

Disponibilização de informações adequadas sobre a fonte

Identificação da tipologia da fonte e de sua origem

Consistência

das

informações

Cobertura da fonte

Validez do conteúdo

Resumos ou informações complementares

Coerência na apresentação do conteúdo informacional

Oferta de informações filtradas ou com agregação de valor

Apresentação de informação original

Confiabilidade

das fontes

Dados completos de autoria (como mantenedor)

Autoria reconhecida em sua área de actuação

Organização que disponibiliza o site

Conteúdo informacional relacionado com a área de atuação do autor

Observância de outras informações como: referências bibliográficas dos trabalhos do autor; endereço para contacto com

autor; origem da informação

Verificação de datas

Page 122: O Supervisor

108 Edgar Manuel Cambaza

Links

Links internos

Clareza para onde conduzem

Tipos disponíveis

Atualização dos links

Links externos

Clareza para onde conduzem

Devem apontar apenas para sites confiáveis

Tipos disponíveis mais comuns: informações

Complementares, ilustrações, portais temáticos, etc.

Revisão constante dos links

Facilidade de

uso

Links Que possibilitem fácil movimentação

Que possibilitem avançar e retroceder

Quantidade de cliques para aceder a fonte e a

informação

Da página inicial até a fonte são recomendados três cliques

Da fonte à informação são três ou menos cliques

Disponibilidade de recursos da pesquisa na fonte

Função de busca

Lógica booleana

Índice

Arranjo

Outros

Recursos auxiliares à pesquisa

Tesauros, listas, glossários, mapa do site, guia, ajuda na

pesquisa, outros

Instruções de uso

Manuais da fonte de informação para download ou impressão

Layout da

fonte

Os media utilizados devem ser interessantes

Tipos de media utilizados

A harmonia entre a quantidade dos media

Coerência entre as vários media

Imagens com função de complementar o conteúdo e não apenas

ilustrar

Pertinência com os propósitos da fonte

Legibilidade

Clara identificação das imagens

Page 123: O Supervisor

Accademos: O Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 109

Na estrutura do layout e arranjo é importante que

Haja coerência na utilização de padrões

Os recursos sirvam a um propósito e não apenas decoração

As imagens facilitem a navegação

O design do menu seja estruturado para facilitar a busca

A criatividade contribua para a qualidade

Evite-se o frame, que limita o uso da fonte

Restrições

percebidas

Pequena quantidade de acessos simultâneos

Alto custo de acesso à fonte de informação

Mensagens de erro durante a navegação

Direitos autorais impedindo o acesso à informação completa

Suporte ao

usuário

Contacto com o produtor da fonte

Informações de ajuda na interface

Outras

observações

percebidas

Recursos que auxiliam o deficiente no uso da fonte

Opção de consulta noutras línguas

Fonte: Tabela de Sales and Almeida (2007), baseados em Tomaél et al. (2001).

Page 124: O Supervisor

110 Edgar Manuel Cambaza

Tabela 5. Lista de algumas das bases de dados académicas e científicas gratuitas mais populares no Mundo.

Nome Disciplina Descrição Fornecedor

AGRIS: Agricultural

database Agricultura

Apresenta literatura sobre agronomia,

engenharia florestal, pecuária,

ciências aquáticas e pesqueiras,

nutrição humana e extensão de mais

de 100 países participantes.

O material inclui uma literatura mista

exclusiva que inclui relatórios

técnicos e científicos não publicados,

teses, papéis de conferencias,

publicações governamentais e mais.

Oferecido pela Organização das Nações

Unidas para a Alimentação e Agricultura

(FAO). http://agris.fao.org AGRIS

Analytical sciences

digital library Química analítica

National Science Digital Library e

Analytical Chemistry Division da

American Chemical Society

Arnetminer Ciências de computação Serviço online usado para a mostra e

busca de redes sociais académicas Tsinghua University

arXiv

Física, matemática, ciências

de computação, ciências

não-lineares, biologia

quantitativa e estatística

Cornell University

Astrophysics Data

System Astrofísica, geofísica, física Harvard University

AULIMP: Air

University Library's

Index to Military

Periodicals

Ciências militares Air University

Page 125: O Supervisor

Accademos: O Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 111

BASE: Bielefeld

Academic Search

Engine

Multidisciplinar Bielefeld University

Bioinformatic

Harvester Biologia, bioinformática

Um meta motor de busca para 50

grandes projectos e bases de dados

Disponível a partir do Liebel-Lab KIT

Karlsruhe Institute of Technology

CHBD: Circumpolar

Health Bibliographic

Database

Medicina University of Calgary

ChemXSeer Química Pennsylvania State University

Citebase Search Matemática, ciências de

computação e física

Índice semiautónomo de pesquisas

gratuitamente dispostas online University of Southampton

CiteSeerX

Ciências de computação,

estatística, matemática, com

trabalhos multidisciplinares

Pennsylvania State University

CiteULike Ciências de computação

CogPrints:

Cognitive Sciences

Eprint Archives

Ciências (geral) University of Southampton

DBLP Ciências de computação

Lista compreensiva de artigos de

grandes conferências e revistas

científicas sobre computação

University of Trier, Germany

Directory of Open

Access Journals Revistas científicas

O Directório de Revistas Científicas

de Acesso Gratuito (DOAJ)

apresenta mais de 10.000 revistas de

acesso gratuito (Setembro de 2014)

em várias áreas de pesquisa

Lund University

EconBiz Economia EconBiz apoia pesquisas e o ensino

da economia com um ponto central

Produced by the ZBW- German National

Library of Economics– Leibniz

Page 126: O Supervisor

112 Edgar Manuel Cambaza

de entrada para todos os tipos de

informações específicas de assuntos e

acesso directo a textos completos

Information Centre for Economics

(ZBW)

ERIC: Educational

Resource

Information Center

Educação

Education literature and resources.

Provides access to over 1.3 million

records dating back to 1966.

Literatura e recursos de educação. Dá

acesso a mais de 1,3 milhões de

registos que partem desde 1966

Produzido pelo United States Department

of Education. Também disponível através

da subscrição em OCLC, CSA.

GENESIS História feminina

Descrições de coleções de histórias

das mulheres a partir de fontes do

Reino Unido, assim como websites

sobre a história das mulheres

London Metropolitan University

Google Scholar Multidisciplinar Google

GoPubMed Medicina

GoPubMed, o primeiro motor de

busca baseado no conhecimento para

a indústria das ciências da vida

Transinsight

HubMed Medicina Uma interface alternativa para a

literatura médica da PubMed Alf Eaton

Index Copernicus Ciência multidisciplinar

A base de dados de revistas

científicas – a IC Master List –

contém mais de 2.500 revistas

científicas de todo o Mundo,

incluindo 700 revistas da Polónia. As

revistas registadas nesta base de

dados recebem uma parametrização

rigorosa e multidisciplinar que

confere alta qualidade. O Ministério

da Ciência e do Ensino Superior

Index Copernicus International

Page 127: O Supervisor

Accademos: O Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 113

reconheceu a IC Journal Master List

colocando-a na lista de bases de

dados premiadas, pelo que a presença

dos jornais nesta base de dados

implica pontuação adicional no

processo de avaliação do Ministério

Information Bridge:

Department of

Energy Scientific

and Technical

Information

Multidisciplinar

A Information Bridge: DOE

Scientific and Technical Information

oferece acesso público gratuito a

mais de 266.000 documentos

completos e citações bibliográficas

da literatura usada para a produção

do relatório de pesquisa do

Departamento de Energia (DOE). Os

documentos são primariamente de

1991 em diante e foram produzidos

pelo DOE, a comunidade contratada

pelo DOE e/ou bolseiros do DOE.

Documentos de legado são

acrescentados, tornando-se

disponíveis em formato electrónico

United States Department of Energy,

Office of Scientific and Technical

Information

Jurn Multidisciplinar

Jurn é um motor de busca gratuito

para a busca e descarga de trabalhos

académicos gratuitos e completos.

Em 2014, o Jurn expandiu-se para

além das revistas científicas de artes

e letras, acrescentando a ecologia,

ciências gerais, biomédicas, gestão e

economia

Jurn

Page 128: O Supervisor

114 Edgar Manuel Cambaza

MedlinePlus Medicine

Produced by the United States National

Library of Medicine, the United States

National Institutes of Health, and the

United States Department of Health and

Human Services

Mendeley Multidisciplinar

O catálogo de pesquisa Mendeley é

uma base de dados de documentos de

pesquisa oriundos de muitas fontes.

Os pesquisadores já enviaram cerca

de 100 milhões de documentos para o

catálogo com contribuições

adicionais vindo directamente de

repositórios de como Pubmed Central

e Arxiv.org ou web crawls.

Mendeley

Microsoft Academic

Search

Ciências de computação e

uma certa quantidade

dedicada a ciências de

informação

Oferece muitas formas inovadoras de

se explorar papéis científicos,

conferencias, revistas científicas e

autores

Microsoft

National Criminal

Justice Reference

Service

Criminologia, sociologia

Resumos de artigos académicos,

relatórios de agências e ONGs e

publicações de conferencias

United States Department of Justice,

Office of Justice Programs

NBER: National

Bureau of Economic

Research

Economia National Bureau of Economic Research

OAIster Multidisciplinar OCLC

OpenSIGLE Literatura mista Apresenta literatura mista europeia Institut de l'information scientifique et

technique

PhilPapers Filosofia PhilPapers

POPLINE Estudos de população, A POPLINE® contém a coleção Knowledge for Health, Center for

Page 129: O Supervisor

Accademos: O Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 115

planeamento familiar, saúde

reprodutiva

mais compreensiva de literatura

relacionada com população,

planeamento familiar e a reação entre

saúde reprodutiva e

desenvolvimento. Como um recurso

internacional, a POPLINE ajuda

gestores de programas, fazedores de

normas e fornecedores de serviços

em países em desenvolvimento e

agências que apoiam o

desenvolvimento ou organizações no

acesso a artigos científicos e outras

publicações, técnicas, científicas ou

publicações dos programas

Communication Programs, Johns

Hopkins Bloomberg School of Public

Health

Psychology's

Feminist Voices Psicologia

Um arquivo digital online de

multimédia que contém os perfis de

250 psicólogas feministas que

moldaram e continuam a transformar

a disciplina da psicologia. Os perfis

estão organizados em duas secções:

“O passado das Mulheres” e a

“Presença Feminista”. Todos os

perfis da secção de Presença

Feminista contêm transcrições

originais de entrevistas e vídeos com

a psicóloga a discutir o seu

desenvolvimento feminista e a sua

carreira académica

Baseado na York University, Toronto,

Canada.

PubChem Química National Center for Biotechnology

Page 130: O Supervisor

116 Edgar Manuel Cambaza

Information e a U.S. National Library of

Medicine

PubMed Biomedicina National Institutes of Health e a U.S.

National Library of Medicine

PubPsych Psicologia

A PubPsych é um sistema de

exploração de recursos psicológicos.

Ela oferece uma selecção

compreensiva e balanceada de

recursos de um número crescente de

bases de dados internacionais com u

foco europeu, cobrindo as

necessidades dos psicólogos

académicos e profissionais

Leibniz Institute for Psychology

Information

RePEc: Research

Papers in Economics Economia Volunteer Collaboration

Retina medical

search Biomedicina

Recursos biomédico com foco

especial em profissionais de

medicina. Apresenta um motor de

busca de material médico eliminando

material a nível dos pacientes

Retina medical search

SafetyLit Multidisciplinar

Citações e resumos de artigos

científicos e relatórios de

pesquisadores trabalhando em mais

de 35 disciplinas profissionais

distintas (arquitetura – zoologia),

relevantes para a prevenção de danos,

violência e automutilação

Graduate School of Public Health, San

Diego State University e o Department of

Violence and Injury Prevention da

Organização Mundial da Saúde

SciDiver.com Multidisciplinar A SciDiver é um motor de busca de

documentos académicos de ciências SciDiver.com

Page 131: O Supervisor

Accademos: O Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 117

físicas. O serviço mantém

actualmente um índice associado ao

arXiv, o serviço dedicado a

matemática, física, astronomia,

ciências de computação, finanças

quantitativas e disciplinas

relacionadas; a expansão para outros

repositórios espera-se no decurso da

continuação do desenvolvimento do

site

SciELO Artigos científicos

A SciELO é uma base de dados

bibliográfica originalmente brasileira

e um modelo para a publicação

cooperativa electrónica nos países em

desenvolvimento. Ela contém 985

revistas científicas de diferentes

países com acesso gratuito e

universal com textos completos

FAPESP, CNPq e BIREME

Science Accelerator Multidisciplinar

Um portal de resultados da pesquisa

e desenvolvimento da DOE e

principais realizações da organização

United States Department of Energy,

Office of Scientific and Technical

Information.

Science.gov Multidisciplinar

Um portal para informação científica

governamental e resultados de

pesquisa. A Science.gov permite a

busca de 45 bases científicas e 200

milhões de páginas de informação

científica num só motor, e é um

portal de mais de 2000 websites

científicos

Science.gov Alliance, 18 organizações

técnicas e científicas de 14 agências

federais que contribuem para a

Science.gov. O United States Department

of Energy, Office of Scientific and

Technical Information serve como o

agente operativo da Science.gov

Page 132: O Supervisor

118 Edgar Manuel Cambaza

SearchTeam Multidisciplinar

Os estudantes podem buscar juntos e

em colaboração artigos e recursos

científicos

Zakta

SPIRES-HEP Física (alta energia) Stanford Linear Accelerator Center e

parceiros

SSRN: Social

Science Research

Network

Ciências sociais

Contém uma base de dados de

resumos e uma colecção de

documentos académicos, organizados

de acordo com disciplinas

Social Science Electronic Publishing, Inc.

SSRRN: Social

Science Research

Resources Network

Ciências sociais Apresenta conjuntos de dados e

códigos estatísticos

Social Science Research Resources

Network

The Collection of

Computer Science

Bibliographies

Ciências de computação Alf-Christian Achilles

VET-Bib Ciências sociais e educação Literatura sobre educação e ensino

vocacional europeu (VET)

European Centre for the Development of

Vocational Training

WorldWideScience Multidisciplinar

A WorldWideScience é um portal

global de ciências composto por

bases de dados e portais científicos.

A WorldWideScience acelera

descobertas científicas e o progresso

oferecendo buscas direccionadas de

bases de dados de todo o Mundo. A

WorldWideScience multilíngue

oferece busca e tradução em tempo

real de literatura científica

multilíngue globalmente dispersa

A WorldWideScience Alliance, uma

parceria multileateral, consiste de países

membros participantes e oferece uma

estrutura de governação para a

WorldWideScience. O United States

Department of Energy, Office of

Scientific and Technical Information

serve como agente operativo da

WorldWideScience

Page 133: O Supervisor

Accademos: O Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 119

Suplemento 2. Como submeter documentos ao Comité de Bioética

As instruções abaixo são baseadas em documentação de Sevene (2014).

A. Lista de documentos a submeter

Carta a solicitar a revisão científica do protocolo;

Carta de cobertura da instituição;

Carta de cobertura do local onde vai-se realizar o estudo;

Cópia física e electrónica65 do protocolo completo do projecto, contendo:

o Capa com o título, investigadores, instituições, introdução,

objectivos, métodos, resultados esperados e prováveis benefícios

do estudo e proposta de orçamento por rubricas;

o Folha de informação ao participante e folha de consentimento

informado;

o Instrumentos de recolha de dados.

Declaração de suporte do supervisor a dizer que o protocolo está apto a ser

avaliado;

Curriculum vitae do investigador principal;

Declaração de conflito de interesse;

Declaração do cumprimento da conduta ética.

B. Procedimento de envio de documentos via RhinoEthics

1. Abrir o navegador;

2. Ir ao endereço http://medicina.uem.mz;

3. Seleccionar o separador “comité de ética” (Figura 28);

65 A versão electrónica deve ser enviada a [email protected] ou

[email protected].

Page 134: O Supervisor

120 Edgar Manuel Cambaza

Figura 28. Página do Comité de Ética da UEM.

4. Quase ao fundo da página, do lado direito, clica no link “acessar”, que

abrirá a página para criar uma conta/fazer login na plataforma da ética66.

Figura 29. Como aceder à plataforma da ética. À esquerda, pode-se ver o link que dá acesso à plataforma e à direita, a página de criação de conta e login.

5. Uma vez tendo a conta, o resto do processo é intuitivo. Ao submeteres pela

primeira vez, clica em “submissão de novo protocolo”, se quiseres

emendar o protocolo, clica “submissão de emenda/subestado/extensão” e

também tens a opção de renovar o protocolo.

Em caso de dúvidas, contacta o Dr. Jatito Sacara através do seu endereço

electrónico: [email protected].

66 Podes não encontrar a página exactamente como aqui explicada, porque

existem épocas de submissão de protocolos, mas é só ficares atento e ir abrindo a

página de tempos em tempos.

Page 135: O Supervisor

Accademos: O Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 121

C. Modelos de documentos do Comité de Ética

C. I. Declaração de Conflitos de Interesse

Eu, (nome), investigador principal do estudo “(título do protocolo)”, declaro

que participei na elaboração do protocolo de pesquisa e estarei directamente

envolvido na recolha de dados, analise e apresentação dos resultados da pesquisa

acima citada, Esta pesquisa não trará nenhum beneficio financeiro. Não existe

nenhum vinculo com companhias farmacêuticas que produzam fármacos ou outras

tecnologias usadas no estudo. Esta pesquisa e levada a cabo pelo seu interesse

científico e pela sua importância para a saúde publica (acrescentar outras áreas se

aplicável). Assim declaramos que não antevemos nenhum tipo de conflito de interesse

em relação à pesquisa que lidero com a investigador principal.

Maputo, aos (dia) de (mês) de (ano)

____________________________

Assinatura

(Investigador principal)

C. II. Termo de Compromisso do Investigador

Eu, (nome), investigador principal do estudo (título do

protocolo),comprometo-me, em cumprir todos os requisitos éticos nacionais e

internacionais estipulados para pesquisa envolvendo humanos, respeitar a autonomia

individual dos participantes do estudo, maximizar os benefícios e minimizar os riscos,

bem coma proteger a privacidade e manter a confidencialidade de todos os

participantes da pesquisa. Comprometo-me igualmente em não efetuar qualquer

alteração ao protocolo aprovado pelo Comité Institucional de Bioética em Saúde da

Faculdade de Medicina & Hospital Central de Maputo (CIBS FM&HCM), do

consentimento informado de cada participante ao meu estudo e processar toda

informação obtida com toda a confidencialidade. Finalmente, comprometo-me que

todos os dados recolhidos no âmbito deste estudo não serão usados para qualquer

outros fins que não sejam os referidos no protocolo de pesquisas submetidos ao

CNBS.

Maputo, aos (dia) de (mês) de (ano)

Assinatura

Page 136: O Supervisor

122 Edgar Manuel Cambaza

_____________________________

(Investigador principal)

Page 137: O Supervisor

Accademos: O Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 123

Suplemento 3. Sobre o autor

Edgar Manuel Cambaza é Mestre em

Ciências dos Alimentos, depois da sua Licenciatura

em Ciências Biológicas orientadas à Biologia

Aplicada. Foi um dos candidatos selecionados para

o Programa de Doutoramento em Ciências de

Sustentabilidade da Biosfera na Universidade de

Hokkaido, Japão.

Leciona Micologia e Biotecnologia

Bacteriana e Micológica (Microbiologia Aplicada)

no Departamento de Ciências Biológicas da Universidade Eduardo Mondlane (UEM).

Além destas disciplinas, já lecionou Biologia do Desenvolvimento, Genética Clássica,

Zoologia dos Vertebrados, Bioquímica e Biologia Celular. Também supervisionou

estudos de Biologia Molecular, Imunologia e Microbiologia.

Actualmente, encontra-se a supervisionar pesquisas em Hematologia,

Nutrição, Biologia Molecular, Tratamento de Resíduos, Parasitologia e

Microbiologia. Já esteve envolvido na supervisão de várias pesquisas da UEM em

parceria com a Coca-Cola Sabco, o Departamento do Imunologia do Instituto

Nacional da Saúde, Centro de Biotecnologia da UEM, Laboratório Nacional de

Referência de Tuberculose, Comunidade Santo Egídio e Laboratório de Microbiologia

do Hospital Militar de Maputo.

Pesquisas

Cambaza, E. (2013). Double Burden of Malnutrition since the Beginning of

the Millennium in Adults from Maputo City. Dissertação de Mestrado.

The University of Western Australia.

Cambaza, E. (2013). Estudo dos níveis de hemoglobina e prevalência de

anemia na população adulta da Cidade de Maputo. Accademos, 1: 1-30.

Cambaza, E. (2013). O desporto e o índice de massa corporal em jovens

adultos da Cidade de Maputo. Accademos, 1: 31-54.

Cambaza, E., Beatriz, C., Neves, L., e Pedro, O. (2008). Detecção Molecular

de Erlichia ruminantium nos Três Estágios de Desenvolvimento de

Page 138: O Supervisor

124 Edgar Manuel Cambaza

Amblyomma hebraeum. Relatório de Culminação de Licenciatura

em Ciências Biológicas. Universidade Eduardo Mondlane.

Supervisão

Mutombene, M. L. B., Cambaza, E. M., Matavele, R. J. e Castiano, C.

(2014). Efeito do Extracto de A. natalitius, C. gladiiformis e C. hirta

sobre o Perfil Migratório e Activação das Células Mononucleares do

Sangue Periférico. Relatório de Culminação de Licenciatura em

Biologia e Saúde. Universidade Eduardo Mondlane.

Selemane, U. R., Cambaza, E. M. (2014). Estudo de Prevalência da

Esquistossomiase no Bairro da Matola A na Cidade da

Matola. Relatório de Culminação de Licenciatura em Biologia e Saúde.

Universidade Eduardo Mondlane.

Chaguala, V., Cambaza, E. M., Dumbo, J. (2014). Análise de Parasitoses

Intestinais nas Crianças dos 0 aos 4 Anos de Idade que Frequentam as

Creches da Cidade da Matola. Relatório de Culminação de Licenciatura

em Biologia e Saúde. Universidade Eduardo Mondlane.

Pale, M., Cambaza, E. M. (2014). Estudo da Velocidade de

Hemossedimentação e Prevalência de Níveis Patológicos em Adultos da

Cidade de Maputo. Relatório de Culminação de Licenciatura em

Biologia e Saúde. Universidade Eduardo Mondlane.

Maphossa, V., Cambaza, E. M. (2014). Estudo do Impacto do Nível

Académico sobre o Índice de Massa Corporal em Jovens Adultos da

Cidade de Maputo. Relatório de Culminação de Licenciatura em

Biologia e Saúde. Universidade Eduardo Mondlane.

Mendes, I., Cambaza, E. M. (2013). Avaliação do Hematócrito e

Hemoglobina, Prevalência e Estimativas (2008 – 2017) das taxas de

Anemia em Indivíduos dos 18 aos 60 anos de Idade da Cidade de

Maputo. Relatório de Culminação de Licenciatura em Ciências

Biológicas. Universidade Eduardo Mondlane.

Sineque, A. R., Cambaza, E. M. (2013). Sazonalidade da Prevalência da

Anemia em Adultos da Cidade de Maputo, Moçambique. Relatório de

Page 139: O Supervisor

Accademos: O Supervisor Como Redigir Documentos Científicos

Edgar Manuel Cambaza 125

Culminação de Licenciatura em Ciências Biológicas. Universidade

Eduardo Mondlane.

Mabasso, A., Cambaza, E. M. (2013). Perfil Hematológico em Indivíduos dos

16 a 59 anos de Idade na Cidade de Maputo. Relatório de Culminação

de Licenciatura em Ciências Biológicas. Universidade Eduardo

Mondlane.

Augusto, M. G., Cambaza, E. M., Parruque, M. M., Viegas, S., e Cadir, N.

(2013). Avaliação do MGIT TBc na Identificação Rápida do

Complexo Mycobacterium tuberculosis no Laboratório Nacional de

Referência da Tuberculose de Maputo. Relatório de Culminação de

Licenciatura em Ciências Biológicas. Universidade Eduardo Mondlane.

Zita, E. A., Cambaza, E. M., e Sitoe, N. (2012). Avaliação e Comparação da

Testagem de Proficiência de FACSCalibur e FACSCount na Contagem

de Linfócito TCD4 em Laboratórios de Moçambique Durante o Período

de 2009 a 2011. Relatório de Culminação de Licenciatura em Ciências

Biológicas. Universidade Eduardo Mondlane.

Mombi, S. E., Cambaza, E. M., Macucule, P., e Neves, L. (2011). Avaliação

de Resistência ao Aceturato de Diminazeno em 4 Isolados do

Trypanosoma congolense, usando os Métodos SDMT e PCR-RFLP.

Relatório de Culminação de Licenciatura em Ciências Biológicas.

Universidade Eduardo Mondlane.

Semo, A. C., Cambaza, E. M., Ceffa, S., e Paturso, G. (2010). Diagnostico

Precoce do HIV-1 em crianças nascidas de mães em terapia

antiretroviral nas Cidades da Matola e Maputo. Relatório de

Culminação de Licenciatura em Ciências Biológicas. Universidade

Eduardo Mondlane.

Nhavene, E. P. F., Cambaza, E. M., Matavele, R. J., e Manhiça, I. (2010).

Impacto da Co-Infecção HIV-1/ HTLV-1 sobre a Frequência de

diferentes Subpopulações Linfocitarias em Crianças Infectadas pelo

HIV-1 na Enfermaria Pediátrica do Hospital Geral de Mavalane.

Relatório de Culminação de Licenciatura em Ciências Biológicas.

Universidade Eduardo Mondlane.

Luís, L. A., Cambaza, E. M., e Neves, L. (2010). Epidemiologia e Diagnostico

Molecular da Parvovirose Canina em Maputo (Cidades de Maputo e

Page 140: O Supervisor

126 Edgar Manuel Cambaza

Matola). Relatório de Culminação de Licenciatura em Ciências

Biológicas. Universidade Eduardo Mondlane.

Jossefa, A. A, Beatriz, C., e Cambaza, E. (2009). Análise Microbiológica dos

Refrigerantes da Coca-Cola Sabco, Maputo. Relatório de Culminação

de Licenciatura em Ciências Biológicas. Universidade Eduardo

Mondlane.

Muchanga, C., Beatriz, C., e Cambaza, E. (2009). Avaliação da Eficácia dos

Métodos Sorológico e Baciloscopia na Detecção Precoce da Infecção

por Mycobacterium tuberculosis, no Laboratório de Análises Clínicas

do Hospital Militar de Maputo. Relatório de Culminação de

Licenciatura em Ciências Biológicas. Universidade Eduardo Mondlane.