redução da maioridade penal

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ITPAC - INSTITUTO TOCANTINENSE PRESIDENTE ANTONIO CARLOS FAHESA - FACULDADE DE HUMANAS, EXATAS E DA SAUDE DE ARAGUAÍNA REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL Araguaína – TO

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Trabalho para ITPAC que traz um breve comentário sobre a redução da maioridade penal.

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Page 1: Redução Da Maioridade Penal

ITPAC - INSTITUTO TOCANTINENSE PRESIDENTE ANTONIO CARLOS

FAHESA - FACULDADE DE HUMANAS, EXATAS E DA SAUDE DE ARAGUAÍNA

REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL

Araguaína – TO

Junho - 2015

Page 2: Redução Da Maioridade Penal

1. INTRODUÇÃO

Atualmente, se tem discutido sobre a redução da maioridade penal de 18 (dezoito)

para 16 (dezesseis) anos. E, entre os diversos pontos que se têm analisado sobre tal tema,

encontra-se a discussão acerca da natureza jurídica de cláusula pétrea ou não do art. 228 da

Constituição Federal de 88 (CF/88), o que poderia impossibilitar tal alteração, em face ao

disposto no art. 60, § 4º, IV da Carta Suprema. As questões que envolvem a redução da

maioridade penal, inclusive, já passaram pela câmara dos deputados e está no senado federal

para votação.

A questão que se formula, então, é se de fato a natureza jurídica do citado dispositivo

constitucional seria a mesma das normas insculpidas no art. 5º da CF/88, que possuem o

cunho de garantia individual fundamental; ou se se trata apenas de uma regra de política

criminal, adaptável com o evoluir da sociedade, sem a cristalização do art. 60, § 4º, IV da

CF/88, o qual imporia a necessidade de uma nova Constituição Federal para que fosse feita

esta mudança, sob pena de ser ferido o Princípio do Devido Processo Legal, tornando tal

mudança inconstitucional.

Assim, a presente pesquisa visa identificar a natureza jurídica do art. 228 da CF/88, a

fim de se esclarecer definitivamente se, na Ordem Jurídica nacional, há a possibilidade de

ocorrer redução da maioridade penal para 16 (dezesseis) anos. Neste processo, se traçará o

que são materialmente as garantias individuais e o que é a política criminal.

Isto posto, contemporaneamente, tem sido observada uma progressão da violência

contra a vida cometida por menores, causando uma forte pressão midiática e social pela

punição penal de tais indivíduos. Neste sentido, é de suma relevância a análise acerca da

possibilidade ou não da redução da maioridade penal, como pré-requisito à discussão sobre

sua eficácia no combate à violência.

Por fim, o presente estudo, quanto aos objetivos, será de natureza exploratória, por

ser estudo preliminar para proporcionar familiaridade com o problema. E também explicativa,

visando elucidar os elementos e principais pontos sobre a matéria. Quando ao método, é uma

pesquisa bibliográfica, pois incide sobre as produções acadêmicas (Doutrina) e

Jurisprudenciais acerca das características essenciais das cláusulas pétreas em sentido

material, bem como das questões pertinentes à política criminal, sua natureza e conceito.

Page 3: Redução Da Maioridade Penal

2 ABORDAGEM CONSTITUCIONAL

Os Direitos Fundamentais são o conjunto de direitos e liberdades assegurados a todos

os membros da família humana, consistente no reconhecimento a favor dos indivíduos do

direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança, à propriedade, entre outros, todos com

fundamento na própria natureza humana.

Sua primeira e mais importante institucionalização deu-se na Declaração Universal

dos Direitos Humanos, da ONU, de 1948. Apesar de não se tratar de um Tratado

Internacional, constitui-se como uma orientação a ser seguida pelas nações vinculadas à

organização. E, de fato, todas as suas disposições já estão previstas na atual Constituição

Federal.

Tais direitos acham-se inclusos e positivados, na CF/88, em seus arts. 5º ao 17 –

Direitos e Garantias Individuais, Sociais e Coletivos, Nacionalidade, Direitos Políticos e

Partidos Políticos. Mas também se encontram espalhados em seu texto, sempre que neles se

encontrem referências a direitos que digam respeito à própria dignidade do ser humano.

Possuem cunho inalienável, devido à sua condição essencial à possibilidade de pleno

desenvolvimento da personalidade humana em todos os níveis.

Entre estes direitos, é assegurada aos previstos no art. 5º da CF/88 a garantia de não

supressão dos mesmos, por força do art. 60, § 4º da CF/88. Contudo, o texto legal não faz

expressa referência ao art. 5º. Ele dispõe, tão-somente, no inciso IV, que é absolutamente

vedada a deliberação a proposta de emenda que tenha como objeto a abolição dos direitos e

garantias individuais.

Quer isto dizer que, por exemplo, caso surja um forte movimento pela da pena de

morte em tempos de paz, como consequência de uma nova campanha midiática contra a

violência, tal posicionamento social não poderá chegar a ser implementado pelo Poder

Legislativo. Isto por que o art. 5º, XLVII, ‘a’ CF/88 veda expressamente as penas de morte.

Logo, por força do art. 60, § 4º, IV CF/88, é juridicamente impossível a instauração de tal

espécie de sanção penal na República Federativa do Brasil.

Se, mesmo assim, houver uma tentativa de imposição da pena de morte fora do caso

de guerra declarada, será cabível a propositura de Ação Direta de Inconstitucionalidade

perante o Supremo Tribunal Federal, nos termos do art. 102, I, ‘a’ CF/88, cuja legitimidade

ativa está disciplinada no art. 103 CF/88.

Tal medida judicial é um dos meios de controle concentrado e abstrato de

constitucionalidade. Suas características principais são a posterioridade à entrada em vigor do

Page 4: Redução Da Maioridade Penal

diploma legislativo (controle repressivo), a análise independente de qualquer caso concreto

(abstração), a cognição plena por parte dos Ministros (desvinculação à causa de pedir), com

eficácia.

Cumpre ressaltar a possibilidade de alteração dos efeitos da Ação Direta de

Inconstitucionalidade. É a chamada Modulação de Efeitos, que pode ser feita mediante

manifestação expressa e fundamentada da maioria dos Ministros do Supremo Tribunal

Federal.

Assim, a garantia de que o art. 60 será observado integralmente, não somente quanto

às cláusulas pétreas, mas também quanto ao procedimento legislativo, se dá através do

controle judicial de constitucionalidade. Contudo, ressalve-se, este não é o único meio. No

caso das emendas, também existe o controle político preventivo, exercido pelas Comissões de

Constitucionalidade e Justiça, bem como o direito líquido e certo dos parlamentares ao

Devido Processo Legislativo, defensável por meio de mandado de segurança no curso das

deliberações (art. 5º, LLXIX CF/88).

Porém, as limitações ocorrem apenas no sentido da supressão ou redução dos direitos

fundamentais. Isto quer dizer que alterações com vistas à ampliação de tais direitos estão de

acordo com a ordem constitucional. Assim, por exemplo, poder-se-á alterar o art. 5º, LXVII

CF/88 para dele retirar a possibilidade de prisão civil pelo depositário infiel.

À competência para a produção de Emendas Constitucionais dá-se o nome de Poder

Constituinte Derivado. A denominação advém do fato de estar vinculado e limitado pelo

Poder Constituinte Originário, único com as qualidades de absoluto e irrestrito, responsável

pela confecção da própria Constituição. Deste, literalmente deriva aquele, através do art. 60

da CF/88, e, por isso, possui as delimitações impostas pelo dispositivo constitucional.

Além dos limites expressos ao Poder Constituinte Derivado, existem igualmente as

restrições implícitas. Referem-se ao próprio art. 60, § 4º da CF/88, cuja alteração não é

permitida, pois se trataria de um meio escuso para se suprimir as cláusulas pétreas e,

posteriormente, reformar a Constituição no que o Poder Constituinte Originário não permitiu.

Convém se ressaltar que a competência do Poder Legislativo para a confecção de Emendas

Constitucionais igualmente não pode ser alterada, como limitação implícita.

É importante observar que pela redação da norma, face ao texto constitucional, não

há restrição ao mencionado dispositivo no sentido de se delimitar ao Capítulo I do Título II da

Carta Maior, o qual trata apenas dos Direitos e Garantias Fundamentais Individuais. Pelo

contrário, conforme o Supremo Tribunal Federal, em diversas decisões, tais direitos e

garantias acham-se espalhados no texto da Constituição Federal.

Page 5: Redução Da Maioridade Penal

Ultrapassada a análise acerca do Poder Constituinte Derivado e das limitações

expressas e implícitas ao seu exercício, bem como da forma de controle sobre as Emendas

Constitucionais, cumpre agora adentrar superficialmente no tema dos Direitos Fundamentais.

Trata-se, neste momento, de análise constitucional, pois eles estão enunciados na Constituição

Federal, além de emanarem dos princípios e regimes adotados pela mesma, bem como de

tratados internacionais firmados pelo Brasil (art. 5º, § 2º CF/88).

É fato de que a evolução e o estabelecimento dos Direitos Humanos se deram de

forma histórica, o que é uma de suas características. Inclusive, classificam-se em gerações. A

primeira geração surge como um dever de abstenção do Estado na esfera do indivíduo, em

respeitar sua liberdade, e será estudada detalhadamente no próximo tópico.

A segunda geração se caracteriza como um atuar positivo do Estado. Tais direitos

consubstanciam os direitos sociais, que são o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a

previdência social, a educação, a assistência aos desamparados e a proteção à maternidade e à

infância (arts. 6º ao 11 CF/88). São os que buscam assegurar a igualdade.

Já a terceira geração, que também impõe uma atuação positiva do Estado, é aquela

que traz os direitos coletivos. Estes, desvinculados de um grupo social específico, têm como

titular toda a coletividade. São citados mais comumente os direitos ao meio ambiente

equilibrado e saudável, à qualidade de vida, à paz, à autodeterminação dos povos, à defesa do

consumidor, da criança e do idoso. Seu foco está na solidariedade ou fraternidade que deve

reger as relações humanas. Acham-se espalhados no texto constitucional.

Por fim, a quarta geração são os direitos das minorias, decorrentes da evolução da

sociedade e da globalização. O presente trabalho não se vincula a este conceito, que aqui é

citado apenas por ser adotado por expressiva parcela da Doutrina constitucionalista. Lidam

com assuntos relacionadas à informática, biociência, clonagem, eutanásia, células tronco; e os

direitos à democracia, à informação e ao pluralismo.

Há ainda parte da doutrina que faz referência a uma quinta geração, que seria o

direito à paz. Contudo, na verdade, está vinculado à terceira geração dos Direitos

Fundamentais, como exposto acima.

Além dos supracitados, também prevê a Constituição Federal de 1988 o direito à

nacionalidade, em seu art. 12. De fato, trata-se de um Direito Fundamental por encerrar

proteção indispensável à dignidade humana, uma vez que o apátrida não possui o direito a

nenhuma espécie de proteção de Estado algum.

Também constam os Direitos Políticos, nos arts. 14 a 16, pois a participação direta

ou indireta no governo de seu país é igualmente inalienável da condição humana, para que

Page 6: Redução Da Maioridade Penal

esta seja digna. Não sendo assim, estará o indivíduo submetido ao poder de forma ultrajante,

sendo compelido à rebelião e à revolta como forma de reaver sua liberdade e a observância de

seus direitos.

Como se pode observar, os Direitos Fundamentais, de certa forma, constituem um

retorno à ideia do Direito Natural, pois se vinculam à própria natureza humana (arts. 1º da

Declaração Universal dos Direitos Humanos). Quer isto dizer que tais normas emanam não da

vontade do legislador, mas da própria natureza das coisas, das quais não podem se separar.

Contudo, sua efetiva imperatividade depende de previsão expressa ou implícita, de

forma que, na atualidade, estão incorporados pelo Direito Positivo. Isto é salutar, porque

supera discussões desnecessárias à sua aplicação pelos tribunais.

Por fim, em face ao exposto e diante do art. 228 CF/88, objeto do presente estudo,

deve-se fazer a seguinte indagação: seria a inimputabilidade penal aos menores de 18

(dezoito) anos mera medida de política criminal ou se caracterizaria como um direito ou

garantia inerente a todo ser humano em todo local e em qualquer sociedade?

Se a resposta for pela primeira opção, ter-se-á a impossibilidade do Poder Legislativo

Derivado reduzir a maioridade penal, sob pena de se atacar tal alteração através de uma Ação

Direta de Inconstitucionalidade, por ofensa ao art. 60, § 4º, IV CF/88. É necessária, pois, uma

análise aprofundada acerca da natureza jurídica do disposto no art. 228 CF/88.

3 POLÍTICA CRIMINAL

Antes de se falar acerca da política criminal, é necessário se adentrar na própria

criminologia, aqui entendida como um ramo da sociologia, e não como um campo autônomo

de conhecimento. A criminologia é ciência social, ou não é ciência. Ciência social filiada à

Sociologia e não outra ciência social solta, desorientada, inoperante para figurar

na enciclopédia sociológica.

Noutras palavras, a criminologia se aproxima do delito para vê-lo em sua essência,

estudar a razão de seu surgimento no indivíduo e na sociedade que o cerca, suas

consequências, e o faz de forma direta, interessada em compreender o problema criminal e vir

a transformá-lo. Já o direito penal se restringe ao crime como ação ou omissão descrita na

norma, em busca da subsunção do fato à norma, segundo a teoria formal do delito: tipicidade

(arts. 13, 14, 17 a 22 do Código Penal), antijuridicidade (arts. 23 a 25 do Código Penal) e

culpabilidade (arts. 26 a 28 do Código Penal).

Page 7: Redução Da Maioridade Penal

A doutrina apresenta divergências sobre sua natureza científica, contudo, é certo que

apresenta método empírico de análise e observação da realidade, sendo prevalente a posição

aqui adotada. Mas, evidentemente, a criminologia é uma ciência humana, uma ciência do ser,

e não uma ciência exata.

Ciência empírica interdisciplinar que visa o estudo do crime, da pessoa do infrator,

da vítima e do controle social do comportamento delitivo, a fim de fornecer uma informação

válida e bem examinada sobre a origem, evolução e principais variáveis do crime considerado

como problema individual e social, assim como sobre os meios de sua efetiva prevenção e

técnicas de intervenção positiva no delinquente.

Inicialmente, acerca da política criminal, deve-se ressaltar que não se trata de ciência,

como a criminologia e o direito penal. É uma disciplina sem método próprio, disseminada

pelos diversos Poderes de todos os Entes da Federação. Assim, o legislador pode agravar as

penas de uma determinada conduta, de um lado, enquanto o governador pode aumentar o

efetivo policial em uma região com grande ocorrência de delitos, de outro. Em ambos os

casos, se trabalha na prevenção e na repressão da conduta delitiva.

Desta forma, a amplitude da política criminal é enorme. Infere-se da leitura da

doutrina que toda conduta pública cuja fundamentação é se evitar ou se reprimir de forma

mais eficaz um delito faz parte da política criminal: a criação de órgãos públicos como uma

Secretaria de Segurança, o aumento da iluminação durante a noite, o mapeamento da

criminalidade, a possibilidade ou não de progressão de regime nos crimes hediondos, as

decisões judiciais embasadas nos princípios da insignificância ou da adequação social, o toque

de recolher aos menores de 18 anos, etc.

A política criminal deveria ser, pois, resultado prático da criminologia. A partir do

estudo de todos os elementos que envolvam o crime, cabe ao Estado adotar as medidas

necessárias à sua redução e prevenção. Na prática, não é assim que se dá. O maior exemplo de

tal falha está no Movimento pela Lei e pela Ordem, muitas vezes adotado pelo legislador,

apesar da comprovação científica da ineficácia do agravamento das penas no combate à

criminalidade.

Um primeiro conceito de política criminal o define como conjunto de “princípios e

recomendações para a reforma ou transformação da legislação criminal e dos órgãos

encarregados de sua aplicação”. Surgem da ininterrupta mudança social com resultados que

tragam novas ou antigas propostas ao direito penal, das revelações empíricas possibilitadas

pelo desempenho das instituições que integram o sistema penal, dos avanços e descobertas da

criminologia.

Page 8: Redução Da Maioridade Penal

Contudo, as três definições acima apresentadas possuem enfoque na função

legislativa, a qual não esgota as possibilidades da política criminal, como visto. Apesar de ser

o viés conceitual predominante, não se demonstra como o mais completo.

Assim, a fim de englobar toda sua amplitude, pode-se afirmar que a política criminal

é uma ferramenta utilizada pelos três Poderes da República a fim de:

(1) orientar os atos públicos em sentido lato destinados à redução, prevenção ou

repressão das condutas penalmente típicas;

(2) estabelecer os pressupostos para a aplicação das penas face à relevância da

conduta e às condições pessoais do agente, bem como;

(3) quais ações e omissões devem ser tipificados, e

(4) qual o tratamento a ser dispensado ao delinquente.

4 POSICIONAMENTO A FAVOR E CONTRA

A Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara dos

Deputados aprovou nesta terça-feira (31/03) a PEC 171/93, que reduz a maioridade penal de

18 para 16 anos. Foram 42 votos a favor e 17 contra.

A Câmara criará uma comissão especial para analisar a proposta. Só depois de ser

votada duas vezes na Câmara e de passar pelo Senado (também em duas votações) é que

poderá, se for aprovada, virar lei. A tramitação da PEC ainda pode ser questionada no STF

(Supremo Tribunal Federal).

4.1 Contra

A partir dos 12 anos, qualquer adolescente é responsabilizado pelo ato cometido

contra a lei. Essa responsabilização, executada por meio de medidas socioeducativas previstas

no ECA, têm o objetivo de ajudá-lo a  recomeçar e a prepará-lo para uma vida adulta de

acordo com o socialmente estabelecido. É parte do seu processo de aprendizagem que ele não

volte a repetir o ato infracional.

Por isso, não devemos confundir impunidade com imputabilidade. A imputabilidade,

segundo o Código Penal, é a capacidade da pessoa entender que o fato é ilícito e agir de

acordo com esse entendimento, fundamentando em sua maturidade psíquica.

Page 9: Redução Da Maioridade Penal

O Brasil tem a 4° maior população carcerária do mundo e um sistema prisional

superlotado com 500 mil presos. Só fica atrás em número de presos para os Estados Unidos

(2,2 milhões), China (1,6 milhões) e Rússia (740 mil).

O sistema penitenciário brasileiro NÃO tem cumprido sua função social de controle,

reinserção e reeducação dos agentes da violência. Ao contrário, tem demonstrado ser uma

“escola do crime”.

Portanto, nenhum tipo de experiência na cadeia pode contribuir com o processo de

reeducação e reintegração dos jovens na sociedade.

Muitos estudos no campo da criminologia e das ciências sociais têm demonstrado

que NÃO HÁ RELAÇÃO direta de causalidade entre a adoção de soluções punitivas e

repressivas e a diminuição dos índices de violência.

No sentido contrário, no entanto, se observa que são as políticas e ações de natureza

social que desempenham um papel importante na redução das taxas de criminalidade.

Dados do Unicef revelam a experiência mal sucedida dos EUA. O país, que assinou a

Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança, aplicou em seus adolescentes, penas

previstas para os adultos. Os jovens que cumpriram pena em penitenciárias voltaram a

delinquir e de forma mais violenta. O resultado concreto para a sociedade foi o agravamento

da violência.

A educação é fundamental para qualquer indivíduo se tornar um cidadão, mas é

realidade que no Brasil muitos jovens pobres são excluídos deste processo. Puni-los com o

encarceramento é tirar a chance de se tornarem cidadãos conscientes de direitos e deveres, é

assumir a própria incompetência do Estado em lhes assegurar esse direito básico que é a

educação.

As causas da violência e da desigualdade social não se resolverão com adoção de leis

penais mais severas. O processo exige que sejam tomadas medidas capazes de romper com a

banalização da violência e seu ciclo. Ações no campo da educação, por exemplo,

demonstram-se positivas na diminuição da vulnerabilidade de centenas de adolescentes ao

crime e à violência.

Precisamos valorizar o jovem, considerá-los como parceiros na caminhada para a

construção de uma sociedade melhor. E não como os vilões que estão colocando toda uma

nação em risco.

O Brasil não aplicou as políticas necessárias para garantir às crianças, aos

adolescentes e jovens o pleno exercício de seus direitos e isso ajudou em muito a aumentar os

índices de criminalidade da juventude.

Page 10: Redução Da Maioridade Penal

O que estamos vendo é uma mudança de um tipo de Estado que deveria garantir

direitos para um tipo de Estado Penal que administra a panela de pressão de uma sociedade

tão desigual. Deve-se mencionar ainda a ineficiência do Estado para emplacar programas de

prevenção da criminalidade e de assistência social eficazes, junto às comunidades mais

pobres, além da deficiência generalizada em nosso sistema educacional.

A Proposta de Emenda Constitucional quer alterar os artigos 129 e 228 da

Constituição Federal, acrescentando um paragrafo que prevê a possibilidade de desconsiderar

da inimputabilidade penal de maiores de 16 anos e menores de 18 anos.

E o que isso quer dizer? Que continuarão sendo julgados nas varas Especializadas

Criminais da Infância e Juventude, mas se o Ministério Publico quiser poderá pedir para

‘desconsiderar inimputabilidade’, o juiz decidirá se o adolescente tem capacidade para

responder por seus delitos. Seriam necessários laudos psicológicos e perícia psiquiátrica

diante das infrações: crimes hediondos, tráfico de drogas, tortura e terrorismo ou reincidência

na pratica de lesão corporal grave e roubo qualificado. Os laudos atrasariam os processos e

congestionariam a rede pública de saúde.

No Brasil, o gargalo da impunidade está na ineficiência da polícia investigativa e na

lentidão dos julgamentos. Ao contrário do senso comum, muito divulgado pela mídia,

aumentar as penas e para um número cada vez mais abrangente de pessoas não ajuda em nada

a diminuir a criminalidade, pois, muitas vezes, elas não chegam a ser aplicadas.

Pode-se anotar assim, 5 argumentos contra a redução da maioridade penal:

A redução da maioridade penal fere uma das cláusulas pétreas (aquelas que não

podem ser modificadas por congressistas) da Constituição de 1988. O artigo 228 é claro: “São

penalmente inimputáveis os menores de 18 anos”;

A inclusão de jovens a partir de 16 anos no sistema prisional brasileiro não iria

contribuir para a sua reinserção na sociedade. Relatórios de entidades nacionais e

internacionais vêm criticando a qualidade do sistema prisional brasileiro;

A pressão para a redução da maioridade penal está baseada em casos isolados, e não

em dados estatísticos. Segundo a Secretaria Nacional de Segurança Pública, jovens entre 16 e

18 anos são responsáveis por menos de 0,9% dos crimes praticados no país. Se forem

considerados os homicídios e tentativas de homicídio, esse número cai para 0,5%;

Em vez de reduzir a maioridade penal, o governo deveria investir em educação e em

políticas públicas para proteger os jovens e diminuir a vulnerabilidade deles ao crime. No

Brasil, segundo dados do IBGE, 486 mil crianças entre cinco e 13 anos eram vítimas do

Page 11: Redução Da Maioridade Penal

trabalho infantil em todo o Brasil em 2013. No quesito educação, o Brasil ainda tem 13

milhões de analfabetos com 15 anos de idade ou mais;

A redução da maioridade penal iria afetar, preferencialmente, jovens negros, pobres e

moradores de áreas periféricas do Brasil, na medida em que este é o perfil de boa parte da

população carcerária brasileira. Estudo da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos)

aponta que 72% da população carcerária brasileira é composta por negros.

 

4.2 A favor

A mudança do artigo 228 da Constituição de 1988 não seria inconstitucional. O

artigo 60 da Constituição, no seu inciso 4º, estabelece que as PECs não podem extinguir

direitos e garantias individuais. Defensores da PEC 171 afirmam que ela não acaba com

direitos, apenas impõe novas regras;

A impunidade gera mais violência. Os jovens “de hoje” têm consciência de que não

podem ser presos e punidos como adultos. Por isso continuam a cometer crimes;

A redução da maioridade penal iria proteger os jovens do aliciamento feito pelo

crime organizado, que tem recrutado menores de 18 anos para atividades, sobretudo,

relacionadas ao tráfico de drogas;

O Brasil precisa alinhar a sua legislação à de países desenvolvidos com os Estados

Unidos, onde, na maioria dos Estados, adolescentes acima de 12 anos de idade podem ser

submetidos a processos judiciais da mesma forma que adultos;

A maioria da população brasileira é a favor da redução da maioridade penal. Em

2013, pesquisa realizada pelo instituto CNT/MDA indicou que 92,7% dos brasileiros são a

favor da medida. No mesmo ano, pesquisa do instituto Datafolha indicou que 93% dos

paulistanos são a favor da redução.

5 MINHA OPINIÃO CONTRA NA DEFESA CONTRA A REDUÇÃO DA

MAIORIDADE PENAL

Meu posicionamento quanto a redução da maioridade penal é negativa, pois, não

acredito que a redução da maioridade penal vá resolver o problema da criminalidade, uma

vez, que é necessário maior investimento do governo na educação e conscientização da

juventude, pois, uma vez que haja uma educação de maior qualidade, automaticamente haverá

Page 12: Redução Da Maioridade Penal

um maior preparo do jovem para o mercado de trabalho, para que pense duas vezes antes de

agir maliciosamente ou utilizado o erro como forma de obter sucesso.

A questão da redução da maioridade penal, envolve muitos fatores, e como tem sido

discutido na mídia nos últimos meses, os quais, observam que a redução não resolverá o

problema dos jovens ingressando cada vez mais cedo no mundo do crime. Ações

socioeducativas, controle e defesa da união familiar serão diferenciais para o sucesso na

redução de jovens na criminalidade.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na verdade, não há diferenças entre os estabelecimentos prisionais e aqueles

previstos na lei como educativos aos adolescentes infratores. E isto é inaceitável por que,

entre os presos adultos, o Poder Executivo e, absurdamente, o Judiciário[29] ignoram em

absoluto a existência do art. 5º, XIL da CF/88, que lhes assegura o respeito à integridade

física e moral. E entre os menores internados têm-se exatamente a mesma vivência dos

estabelecimentos de segurança máxima, sem nenhuma espécie de vontade política em

contrário.

No final, seja no presídio ou nos estabelecimentos (não) educacionais, a privação de

liberdade aliena, não socializa nem educa. Serve apenas para marginalizar, retribuir e

desumanizar. Funcionam como escola do crime, em que os detidos possuem todo o tempo

disponível para aprenderem uns com as experiências dos outros, bem como para serem

abusados e sofrerem violências.

Em relação ao presente estudo, não cabe dizer se é ou não positiva a alteração da

maioridade penal, mas se conclui que ela é possível, através de uma Emenda Constitucional.

Entretanto, deve ser profundamente ressaltado que tal mudança não pode advir do movimento

pela lei e ordem, irrefletido, desesperado, irracional, tão propagado pela grande mídia.

O fato é que a sociedade evolui e uma pessoa de 16 anos hoje em dia não é mais

como a de anos atrás. Não há de se fundamentar a redução com base na escalada da violência,

mas tão-somente perante a constatação, se esta ocorrer, por exemplo, de que uma pessoa de

16 anos possui completa lucidez do caráter ilícito de seu comportamento e capacidade de se

comportar conforme tal entendimento.

Contudo, esta não é a postura adotada atualmente. O indivíduo menor de 18 anos é

considerado como possuidor de um potencial de mudança maior que o adulto. Seu problema

Page 13: Redução Da Maioridade Penal

se foca em sua natureza que, devido à idade, é inclinada a não ser sociável. O problema então

se torna não sua punição, mas o acerto de sua educação – o que, de fato, não é feito.

Exclui-se, pois, a visão que estabelece a maioridade penal aos 18 anos como cláusula

pétrea com base no art. 60, § 4º, IV da CF/88. Com isso, de um lado, se perde pela

possibilidade de uma redução enfocada na campanha do terror provocada pelos grandes meios

de comunicação, em atitude sensacionalista e irrefletida.

Mas por outro, é positivo que não seja uma cláusula pétrea, pois possibilita alterações

embasadas em critérios científicos, capazes de gerar resultados mais eficazes no combate à

criminalidade, inclusive suas causas. Neste ponto, não significa a mera redução da idade,

necessariamente; mas, por exemplo, a implantação de um critério biopsicológico.

Cristalizar a maioridade penal seria não uma medida de proteção à sociedade, nem ao

indivíduo. Se evidenciado, através do estudo e da pesquisa, que a melhor política é a redução

da maioridade penal, esta deve ser feita. E nosso ordenamento jurídico não apresenta óbices a

tal medida.

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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