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INTERLETRAS, ISSN Nº 1807-1597. V. 6, Edição número 25, Abril/Setembro 2017 - p 1 A REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL NO BRASIL: OLHARES DA ANÁLISE CRÍTICA DO DISCURSO Joe Graeff Filho* Arlinda Cantero Dorsa** Leandro Henrique Araújo*** RESUMO: É motivo de controvérsia nacional no meio social, político e acadêmico a Redução da Maioridade Penal no Brasil. O sistema adotado pelo Código de 1984, pela Constituição Federal do Brasil de 1988 e por fim complementada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990, passou a ser questionado pela sociedade, impulsionada por alguns veículos de comunicação, quanto à necessidade de redução da idade mínima para que o adolescente seja submetido a pena de prisão. Nesse contexto, a ausência de consenso sobre o tema da maioridade penal no Brasil despertou o interesse em analisar neste artigo, esse polêmico tema, a partir de três textos publicados na mídia eletrônica no uso de ferramentas da Análise Crítica do Discurso com base na construção teórica de Van Dijk (2013). Conclui- se que o domínio das estratégias discursivas permite ao leitor a possibilidade de não se sujeitar à mera condição de ouvinte leitor e sim à de ouvinte leitor crítico e reflexivo. Com relação à temática abordada, urge a reunião de esforços, a desburocratização do sistema, o reconhecimento de responsabilidades solidárias para salvaguardar os direitos de crianças e adolescente, para garantir a paz da sociedade como um todo. ABSTRACT: The reduction of the penal majority in Brazil is a cause of national controversy in the social, political and academic environment. The system adopted by the 1984 Code, by Brazil's 1988 Federal Constitution and finally complemented by the 1990 Child and Adolescent Statute, began to be questioned by the society, driven by some communication vehicles, regarding the need to reduce the minimum age for the adolescent to be sentenced to prison. In this context, the lack of consensus on the issue of the criminal majority in Brazil has risen, in this article, the interest in analyzing this controversial topic, based on three articles published in the electronic media in the use of Critical Discourse Analysis tools based on the theoretical construction by Van Dijk (2013). It is concluded that the domain of discursive strategies allows the reader the possibility of not subjecting himself to the mere reader listener condition, but to a critical and reflective reader listener position instead. With regard to the issue addressed, it is urgent to gather efforts, to reduce the system bureaucracy, to recognize the responsibilities to safeguard the children and aodlescents' rights, to ensure the peace of the society as a whole. PALAVRAS CHAVE: Redução da maioridade penal. Analise critica do discurso. Estratégias discursivas KEY WORDS: Reduction of the penal age. Critical speech analysis. Discursive strategies INTRODUÇÃO A maioridade penal aos 18 anos, mantida pela Lei 7.209/84 que modificou a Parte Geral do Código Penal de 1940, é motivo de grande controvérsia no meio social, político e acadêmico. Em 1984, o autor do anteprojeto de mudança da parte geral do Código Penal, o professor Nélson Hungria nas justificativas da Lei aduziu tratar-se a fixação da maioridade penal aos 18 anos uma questão de política criminal, considerando que o adolescente deve ser acometido a escola e não a prisão.

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INTERLETRAS, ISSN Nº 1807-1597. V. 6, Edição número 25, Abril/Setembro 2017 - p

1

A REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL NO BRASIL: OLHARES DA

ANÁLISE CRÍTICA DO DISCURSO

Joe Graeff Filho* Arlinda Cantero Dorsa**

Leandro Henrique Araújo***

RESUMO: É motivo de controvérsia nacional no meio social, político e acadêmico a Redução da

Maioridade Penal no Brasil. O sistema adotado pelo Código de 1984, pela Constituição Federal do

Brasil de 1988 e por fim complementada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990, passou a

ser questionado pela sociedade, impulsionada por alguns veículos de comunicação, quanto à necessidade

de redução da idade mínima para que o adolescente seja submetido a pena de prisão. Nesse contexto, a

ausência de consenso sobre o tema da maioridade penal no Brasil despertou o interesse em analisar

neste artigo, esse polêmico tema, a partir de três textos publicados na mídia eletrônica no uso de

ferramentas da Análise Crítica do Discurso com base na construção teórica de Van Dijk (2013). Conclui-

se que o domínio das estratégias discursivas permite ao leitor a possibilidade de não se sujeitar à mera

condição de ouvinte leitor e sim à de ouvinte leitor crítico e reflexivo. Com relação à temática abordada,

urge a reunião de esforços, a desburocratização do sistema, o reconhecimento de responsabilidades

solidárias para salvaguardar os direitos de crianças e adolescente, para garantir a paz da sociedade

como um todo.

ABSTRACT: The reduction of the penal majority in Brazil is a cause of national controversy in the social,

political and academic environment. The system adopted by the 1984 Code, by Brazil's 1988 Federal

Constitution and finally complemented by the 1990 Child and Adolescent Statute, began to be questioned

by the society, driven by some communication vehicles, regarding the need to reduce the minimum age

for the adolescent to be sentenced to prison. In this context, the lack of consensus on the issue of the

criminal majority in Brazil has risen, in this article, the interest in analyzing this controversial topic,

based on three articles published in the electronic media in the use of Critical Discourse Analysis tools

based on the theoretical construction by Van Dijk (2013). It is concluded that the domain of discursive

strategies allows the reader the possibility of not subjecting himself to the mere reader listener condition,

but to a critical and reflective reader listener position instead. With regard to the issue addressed, it is

urgent to gather efforts, to reduce the system bureaucracy, to recognize the responsibilities to safeguard

the children and aodlescents' rights, to ensure the peace of the society as a whole.

PALAVRAS CHAVE: Redução da maioridade penal. Analise critica do discurso. Estratégias discursivas

KEY WORDS: Reduction of the penal age. Critical speech analysis. Discursive strategies

INTRODUÇÃO

A maioridade penal aos 18 anos, mantida pela Lei 7.209/84 que modificou a Parte Geral

do Código Penal de 1940, é motivo de grande controvérsia no meio social, político e

acadêmico. Em 1984, o autor do anteprojeto de mudança da parte geral do Código

Penal, o professor Nélson Hungria nas justificativas da Lei aduziu tratar-se a fixação da

maioridade penal aos 18 anos uma questão de política criminal, considerando que o

adolescente deve ser acometido a escola e não a prisão.

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A idade foi o critério usado para definir a imputabilidade penal da pessoa, quando

ausente qualquer moléstia que acometa a capacidade cognitiva e volitiva do ser humano,

sem questionamentos, portanto, sobre ter o sujeito menor de 18 anos capacidade de

compreender ou se autodeterminar conforme a ilicitude de seus atos, ou seja, diante da

conduta que vai praticar.

Com o passar dos anos e o aumento da prática de atos de violência realizados por

adolescentes, o sistema adotado pelo Código de 1984, pela Constituição Federal do

Brasil de 1988 e por fim complementada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente de

1990, passou a ser questionado pela sociedade, impulsionada por alguns veículos de

comunicação, quanto à necessidade de redução da idade mínima para que o adolescente

seja submetido a pena de prisão.

Várias críticas sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e seu caráter protecionista

começaram a ser tecidas fazendo brotar no Congresso Nacional diversos projetos de lei

e de emenda constitucional visando reduzir a maioridade de penal.

Após tramitar na Comissão de Constituição e Justiça - CCJ da Câmara dos Deputados

por décadas, em 19 de agosto de 2015, foi aprovada pela Câmara dos Deputados a

Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 171/93 que visa à redução da maioridade

penal para 16 anos em crimes hediondos, de homicídio doloso e lesão corporal seguida

de morte.

A matéria trata de modificação da Constituição Federal do Brasil e no caso foi

necessária sua aprovação em dois turnos na Câmara dos Deputados, pois, não foi

considerada como cláusula pétrea (imodificável) pela CCJ da Câmara. Para ser

efetivada ainda depende da aprovação em dois turnos no Senado Federal, casa

legislativa na qual se encontra atualmente.

A ausência de consenso sobre o tema da maioridade penal no Brasil despertou o

interesse em analisar neste artigo, esse polêmico tema a partir de três textos publicados

na mídia eletrônica no uso de ferramentas da Análise Crítica do Discurso com base na

construção teórica de Van Dijk (2013).

A questão foi e continua sendo alvo de calorosas discussões, políticas sociais e

acadêmicas, carregadas de conteúdo ideológico, o que indica como melhor categoria de

análise crítica do discurso a identificação das estratégias discursivas ideológicas.

Objetiva, portanto, analisar os referidos textos sob a ótica das estratégias discursivas

ideológicas a fim de se observar as controvérsias explícitas e implícitas nos discursos de

cada autor.

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A categoria analítica é composta de uma abordagem inicial de contexto, seguido pelo

destaque de macroestruturas, das intencionalidades presentes assim como das

microestruturas e finalizando com as inferências dos leitores/receptores buscando

evidenciar o que os textos possuem em comum, no que divergem e no que ampliam a

discussão temática. Para atingir o propósito ideado serão destacados de cada texto, cinco

macroestruturas, entendidas como as principais diante do enfoque ideológico

protagonizado no material sob análise e que constroem um sumário dos aspectos

defendidos pelos protagonistas.

1. DA SIGNIFICAÇÃO TEÓRICA DOS ELEMENTOS QUE INTEGRAM A

CATEGORIA.

Antes de ingressar na análise propriamente dita, é necessário traçar algumas

considerações teóricas sobre a Análise Crítica do Discurso - ACD.

A priori, é preciso ressaltar que a ACD não é um método aplicável ao estudo dos

problemas sociais, mas, de acordo com Van Dijk (2013) a ACD enfatiza que para cada

problema social, é necessário fazer uma análise, de tal modo que seja possível

selecionar das estruturas sociais e discursivas as que devem ser analisadas e

relacionadas.

Conforme as ideias postuladas pelo referido autor, os tópicos do discurso, definidos

como significados globais desempenham um papel fundamental na comunicação e

interação, e representam o que o discurso quer dizer. São, de acordo com Van Dijk,

definidos como macroestruturas semânticas que em conjunto com os significados locais

(microestruturas), descortinam as intencionalidades do texto. É por meio dos tópicos

que os falantes da língua instituem significados na produção e compreensão do discurso.

Ressalta-se a importância do estudo dos significados locais, que representam o tipo de

informação que influenciam mais diretamente os modelos mentais, as opiniões e

atitudes dos receptores. Os significados locais se referem, basicamente, ao léxico, à

coerência e às estruturas das proposições e outras relações existentes entre elas.

Em sua pesquisa, Van Dijk (2013) ainda destaca as diferenças existentes entre formas

discursivas globais e locais ou esquemas. As formas globais, ou superestruturas

consistem em categorias genéricas típicas. Já as locais são as que estão relacionadas à

sintaxe das sentenças e das relações formais entre orações ou sequências de orações.

Em uma análise de ACD é importante considerar que assim como existem diferenças

entre estruturas globais e locais, também existem diferenças entre as estruturas locais e

globais do contexto. As globais estão entrelaçadas com as estruturas históricas,

culturais, políticas e sociais presentes em um evento. A local é definida em termos de

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propriedade da situação interacional em que o evento ocorre. Igualmente, o contexto é

sobremaneira interessante e importante para a análise em ACD, tendo em vista que os

usuários da língua formam, além de modelos mentais da situação em que estão

interagindo, relações com os eventos ou as situações em que estão falando.

Dessa forma, a ACD, enquanto interessada na dimensão discursiva dos abusos de poder

praticados na sociedade, define em detalhes, as condições de violações dos direitos

humanos pelo discurso, sendo, ao mesmo tempo, cognitiva, social e política, mirando

seu foco no papel do discurso nos níveis local e global, na sociedade e nas suas

estruturas (VAN DIJK, 2013).

2. DO CONTEXTO DO TEMA: ANALISANDO OS TEXTOS

Para realizar a Análise crítica foram escolhidos três textos de sites da internet sendo o

primeiro de autoria de Fernando Capezi, retirado de sua própria página na internet,

intitulado “Redução da maioridade penal: uma necessidade indiscutível”.

O segundo texto, tem como autor Leonardo Sakamotoii e foi retirado de seu blog, tendo

como título “Como será o dia seguinte à redução da maioridade penal?”

O terceiro e último texto trata-se de uma matéria Jornalística da Agência Brasiliii de

autoria de Karine Melo, com a seguinte manchete: “Aprovada na Câmara, redução da

maioridade deve ser engavetada no Senado”.

2.1 AS MACROESTRUTURAS DOS TEXTOS

A seleção das macroestruturas seguiu, além da indicação contida nos títulos (tópico de

destaque), o grau de importância das afirmações, como meio de sumarizar os textos com

o objetivo de melhor entender suas propostas, atrelado às considerações de Van Dijk

(2013).

2.1.1 TEXTO DE FERNANDO CAPEZ

O texto propõe de modo imperativo a urgência de reduzir a maioridade penal no Brasil.

O autor defende de forma polarizada um único aspecto, a redução. Apresentando apenas

o lado positivo da redução da maioridade penal, deixa evidente em seu discurso que

essa medida é indiscutível e não deve mais ser protelada. A partir dessa compreensão

são apresentadas cinco macroestruturas que dão inteligibilidade ao texto:

M1– A necessidade de redução da Maioridade Penal é indiscutível.

M2– O menor de dezoito anos entende perfeitamente o que faz.

M3– O histórico de atos bárbaros, repugnantes, praticados por indivíduos menores de

18 anos é exemplo disso.

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M4– Aspectos políticos, ideológicos, biológicos e psicológicos não podem ser óbice à

redução da maioridade.

M5– Só existem dois caminhos jurídicos: um plebiscito e uma nova Constituição.

2.1.2 TEXTO DE LEONARDO SAKAMOTO

A macroestrutura dessa reportagem refere-se à incerteza após a redução da maioridade

penal. Essa temática tem sido debatida e divide opiniões em pontos de vistas

polarizadores, ou seja, há os que a defendem veemente e os que são contra na mesma

intensidade. No título “Como será o dia seguinte à redução da maioridade penal” nota-

se de modo explícito a expressão clara de dúvida do autor, considerando que essa

redução pode vir a trazer grandes mudanças no tocante às leis e políticas públicas para

os adolescentes.

Considerando o título como o primeiro das macroestruturas do texto, são a seguir

expostos os tópicos que em conjunto com o tópico central representam o pensamento do

autor:

M1– Como será o dia seguinte à redução da maioridade penal?

M2– Problemas estruturais precisam de soluções estruturais e não medidas pontuais.

M3– Quem ganha com a redução da maioridade são os políticos, comunicadores e

falsos profetas que oferecem gratuitamente o discurso do medo.

M4– Há jovens que não têm nada a perder porque nada tiveram.

M5– É necessário garantir uma vida melhor para a juventude no Brasil de forma

racional e não transloucada.

2.1.3 TEXTO DA AGÊNCIA BRASIL

O título da matéria veiculada pela Agência Brasil demonstra de modo claro o

posicionamento do senado ao ser apresentada como “Aprovada na Câmara, redução da

maioridade deve ser engavetada no Senado” demonstrando que ainda que haja um

“sucesso” com a aprovação da legislação, esta provavelmente não será colocada em

prática. Anunciando uma vitória “fictícia”, a matéria ainda agrega o subtítulo “Após o

resultado da Câmara, o presidente do Senado, Renan Calheiros, voltou a dizer que é

contrário a proposta”.

A macroestrutura citada demonstra claramente o poder que o Senado tem de decisão,

ainda que uma legislação já tenha sido votada. Afirmando essa posição com a fala no

subtítulo do Presidente da Câmara. São destacadas do texto as seguintes

macroestruturas:

M1– Aprovada na Câmara, redução da maioridade deve ser engavetada no Senado.

M2– Presidente do Senado, Renan Calheiros, voltou a dizer que é contrário a proposta.

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M3– Senado Federal, que já votou a atualização do ECA (Estatuto da Criança e do

Adolescente).

M4– A proposta dos deputados deve ficar estacionada no Senado.

M5– A PEC que veio da Câmara é um retrocesso.

2.2 DAS INTENCIONALIDADES A PARTIR DAS MICROESTRUTURAS

A microestrutura permite a análise mais profunda do texto, especialmente pela

organização das ideias e os sentidos empregados a partir de cada palavra e significado

empregado ao texto, sendo possível identificar com maior clareza a intencionalidade e

os argumentos ideológicos que sustentam o texto.

2.2.1 TEXTO DE FERNANDO CAPEZ

O autor constrói seu texto utilizando estruturas locais muito fortes. Busca dominar o

cognitivo do receptor apontando como cerne de sua proposta a palavra indiscutível.

Com o fim de influenciar explícita ou implicitamente o leitor quanto à necessidade de

redução da maioridade penal, por meio de modelos mentais, relaciona os menores de

dezoito anos quando infratores a termos como: caráter criminoso, atos bárbaros e

repugnantes, garantia do ato de praticar estupro, homicídio, de ser atroz. Por outro lado,

justifica a necessidade de redução da maioridade à reparação das injustiças, à punição

na proporção do crime praticado, à população indefesa e aterrorizada.

No entanto, refere-se ao sistema de internação como fábrica de criminosos. Aponta as

discussões contrárias ao seu ponto de vista como estéreis e de cunho meramente político

e ideológico, propiciando uma representação negativa dos que discordam de suas ideias.

Quando o autor utiliza da palavra “indiscutível” ele conota um sentido de que não há

mais espaços para discussão e, portanto essa ação de reduzir a maioridade penal é a

única saída. No decorrer do texto é perceptível que o autor tem um posicionamento

meritocrata e que não vê outra saída além da proposta no título.

Essa linha de discurso se torna enfática no trecho:

Estamos “vendando” os olhos para uma realidade que se descortina: o Estado

está concedendo uma carta branca para que indivíduos de 16, 17 anos, com

plena capacidade de entendimento e volição, pratiquem atos atrozes,

bárbaros. Ora, no momento em que não se propicia a devida punição,

garante-se o direito de matar, de estuprar, de traficar, de ser bárbaro, de ser

atroz.

Fernando Capez realiza um discurso no trecho acima categórico e apelativo, tendo como

objetivo convencer o leitor que os adolescentes entre 16 e 17 anos tem a plena

convicção nos atos praticados, sendo assim, merecem ser penalizados de forma mais

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veemente. No mesmo sentido, o autor ainda coloca a posição do Estado corresponsável

por esta situação ao “conceder carta branca” aos adolescentes. É notável no discurso de

Capez seu cunho sensacionalista e que utiliza de palavras impactantes para fomentar ao

leitor o apoio a ideia defendida.

2.2.2 TEXTO DE LEONARDO SAKAMOTO

O Autor assume no texto uma postura polarizadora, extremamente contrária à redução

da maioridade penal. É possível perceber na forma como o autor disserta, sua

indignação e apropriação à causa como uma defesa a ser realizada no texto.

Usa como meio de expor as consequências da redução da maioridade várias figuras de

linguagem, com retórica simbólica tais como: “vamos nos enrolar em nosso cobertor de

ignorância e hipocrisia e sair quentinho pelas ruas achando que estamos seguros”,

“Santíssima Trindade do Medo”, “rosna diante do desconhecido”, “ancestrais que

tacavam pedras no escuro porque temiam a noite”. Faz uso de metáforas como: “tapar o

buraco deixado pela perda individual ou coletiva” ou “sede de vingança”. Da mesma

forma que Capez, Sakumoto usa termos fortes para influenciar o leitor: ignorância,

hipocrisia, falsos profetas, medo, sociedade maníaca.

O autor é taxativo ao afirmar que a justiça está sendo hipócrita e cometendo um

equívoco sem precedentes, caso a redução da maioridade penal seja aprovada.

De modo imperioso e irônico, o autor ainda chama as pessoas que são a favor da

redução como ignorantes, utilizando em sua frase uma metáfora para provocar ainda

mais o leitor, contando o sentido de que na ignorância é mais confortável. No terceiro

parágrafo Sakamoto expõe: “Problemas estruturais precisam de soluções estruturais e

não medidas pontuais. Não é simplesmente punindo o jovem em desacordo com a lei,

mas também criando condições para que ele não caia nas graças da criminalidade”.

Sakamoto demonstra em sua fala que a redução da maioridade penal é apenas um

problema pontual e que não resolverá o problema. Em seu discurso é possível notar que

o autor utiliza da representação social da juventude e da criminalidade como algo que

será colocado no mesmo contexto, caso a lei seja aprovada.

2.2.3 TEXTO DA AGÊNCIA BRASIL

A matéria pressupõe microestruturas discursivas de poder, dominação, e claramente um

posicionamento hierarquizado, bem como ideológico muito forte, apresentando termos

como: “o Presidente do Senado”, “Eu não sou a favor”, “o Senado já antecipou sua

posição”, “Meu sentimento é de que a ampla maioria dos senadores se opõe a ela”,

“com toda oposição da bancada do PT”, “acredito que será derrotada”.

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A postura de oposição também é demonstrada quando o texto se refere à proposta da

Câmara como um “retrocesso”. O uso de termos jurídicos negativos, próprios da

retórica ideológica quanto à proposta são percebidos no texto para influenciar no

convencimento quanto na impossibilidade de redução da maioridade penal:

inconstitucional, inconvencional, ineficaz.

Ao enunciar no título a palavra “engavetada”, esta simples afirmação traz para a

consciência coletiva do brasileiro uma séries de questões negativas quando se pensa nas

legislações brasileiras. Embora seja uma expressão comum utilizada, abrem-se

diferentes relações e situações que ela é empregada, especialmente no âmbito jurídico, o

qual no Brasil dispõe de diferentes recursos e possibilidades.

O ato de “engavetar um processo” é o mesmo que o dar como encerrado, entretanto,

pressupõe uma ação de poder realizado sobre este pelo sujeito que domina e ou

responde em última instância. A palavra pressupõe ainda uma forma arbitrária ou

“enrolar” algo que merece uma decisão, mas quem pode fazê-la não a faz.

Ademais o termo é confirmado na fala do Senador José Pimental que aduz: “a proposta

dos deputados deve ficar estacionada no Senado”.

2.3 DAS INFERÊNCIAS ANALÍTICAS

Inferências são processos mentais advindos de uma análise, no caso textual, que

permitem ao receptor partir da verdade exposta pelo Autor para a sua verdade que

consiste na crítica do discurso objeto de análise.

Ao abordar os textos escolhidos, optou-se inicialmente por realizar uma análise

individualizada de cada um para em um segundo momento realizar uma comparação

entre eles objetivando identificar o que os textos têm em comum, no que divergem e o

que apresentam de propostas para solucionar o conflito.

2.3.1 DAS INFERÊNCIAS AO TEXTO DE FERNANDO CAPEZ

O autor, dada à sua formação jurídica, apresenta um texto com escrita formal, porém de

fácil entendimento. Utiliza de palavras impactantes, seu texto tem energia, as frases se

conectam entre si prendendo o leitor. Entretanto, no mesmo sentido, o autor apela

constantemente para o convencimento por meio da comoção e ação em prol da redução

da maioridade penal.

Capez se coloca em uma posição de jurista com uma causa ganha e indiscutível.

Notadamente utiliza das técnicas adquiridas na militância como promotor de Justiça e

Professor universitário e se apresenta em uma situação de dominação, contestando o

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papel do Estado e também de outros profissionais e pesquisadores. Esse patamar fica

claro na frase abaixo: Dessa forma, não podemos mais insistir em discurso estéril, isto é, de que

prisão ou Fundação Casa (Fundação Centro de Atendimento Socioeducativo

ao Adolescente) não regeneram, ou de que o Estado deveria proporcionar

condições sociais e educacionais ao menor. É claro que essas medidas são a

pedra fundamental e estrutural de qualquer mudança social, mas não

justificam a resistência das autoridades em mudar a lei penal. Frise-se: os

indivíduos maiores de 16 e menores de 18 anos possuem, na atualidade, plena

capacidade de entendimento e de volição. Se não houver a redução da

maioridade penal ou o aumento do tempo de internação em unidades

Fundação Casa, o Estado, mais uma vez, será o maior responsável por

fomentar a “fábrica” de criminosos.

Na frase acima, o autor menciona novamente a omissão do Estado e apresenta como

solução para essa problemática a redução da maioridade penal. No mesmo sentido, ele

se contradiz, ainda que indiretamente, quando afirma que a prisão e a Fundação Casa é

“estéril”. Ora, se a fundação casa e a prisão é “estéril” porque ele defende essa ideia?

Demonstra então em sua fala, novamente, o discurso de dominação e autoritarismo ao

defender sua ideia apenas a partir de suas concepções.

O objetivo principal do autor é convencer o leitor sobre a necessidade e justiça na

redução da maioridade penal. O autor disserta de modo imperativo e seu discurso tem

como estratégia convencer o leitor de que os adolescentes que cometeram os crimes

devem ser punidos como adultos e não como adolescentes por compreenderem o que

faz.

O autor em distintos momentos do texto tenta convencer o leitor de que o Estado não

está do lado da sociedade, pelo contrário, está favorecendo as situações que os crimes

acontecem não punindo os adolescentes como eles “devem ser punidos”. Essa

abordagem demonstra que o autor tem como objetivo aproximar o leitor de um senso

comum, de que o Estado não representa de fato a população nos processos decisórios.

No texto ele não enfatiza nenhuma situação de exclusão que possa envolver o contexto

de criminalidade, pelo contrário, enfatiza somente o que é negativo ao que se refere à

inserção dos adolescentes nesse contexto.

Percebe-se que ele quer provocar o sentimento de punição e de meritocracia

independente do contexto desse adolescente. Induzindo o leitor de que o adolescente já

é um sujeito que está pronto, e não mais em construção quando diferentes fontes de

pesquisa dizem o contrário.

Nota-se que o texto de Capez é comum e com uma notada motivação para o leitor

“comprar sua ideia”, percebe-se essas características quando o autor apresenta palavras

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impactantes e logo as justifica responsabilizando os adolescentes e o Estado. O texto

não traz sequer um argumento científico que embase sua defesa, faz o oposto, menciona

a importância das inferências da sociologia, psicologia e outras áreas do conhecimento,

mas abdica de suas contribuições. Pauta-se apenas em suas convicções, deixando o seu

discurso arbitrário com entonação de persuasão e dominação.

A intencionalidade do discurso se pauta basicamente em convencer o leitor de que não

há outra saída, se não, a redução da maioridade penal, apresentando apenas culpados,

como os adolescentes e o Estado. O autor se coloca no papel de promotor de acusação,

julgando de forma generalista não apresentando outro discurso que não seja polarizador

e radical.

Nesta perspectiva o autor tenta minimizar todos os impactos negativos e da redução da

maioridade penal e maximiza somente o que lhe é conveniente utilizando a persuasão,

reiterando em cada parágrafo seu discurso de ideologia de exclusão, punição e de

domínio sobre a situação de forma prática.

Assim sendo, faz um destaque não discutido no texto sobre o método para redução da

maioridade ao citar como única forma de resolver juridicamente o problema ser um

plebiscito ou uma nova constituição. Tal apontamento não se harmoniza com o contexto

de suas intenções para constar da conclusão. Somente esta abordagem solta ao final, já

possibilitaria uma discussão profunda da questão jurídica sobre os aspectos

constitucionais da redução da maioridade penal que se contrapõe a PEC 171/93

aprovada na Câmara dos Deputados.

2.3.2 DAS INFERÊNCIAS AO TEXTO DE LEONARDO SAKAMOTO

Leonardo Sakamoto é o autor do blog “Sakamoto” o qual disserta sobre conteúdos em

sua maioria políticos e temas que geralmente são tabus para a sociedade, como a

transgressão de direitos humanos. O autor possui formação em jornalismo, doutorado

em Ciência Política e possui larga experiência em matérias vinculadas a direitos

humanos internacional, é professor do curso de Jornalismo da USP e diretor de uma

ONG.

No artigo em questão, o autor apresenta um discurso polarizador, assumindo a posição

de que todos que pensam a favor da maioridade penal são hipócritas e ignorantes,

deixando clara sua visão ideológica de esquerda.

No texto fica clara a energia que o autor coloca sobre o tema, proporcionando uma

discussão acalorada, com ironia e provocações, a ver-se:

Soluções vendidas, aliás, por esses mesmos atores sociais, ao custo de ''votem

em mim'', ''assistam ao meu programa'', ''venham à minha igreja”. [...]Desse

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ponto de vista, qual a diferença entre alguns dos membros dessa Santíssima

Trindade do Medo e aqueles que usam jovens para cometer crimes, uma vez

que ambos os grupos lucram horrores com a exploração da violência?

O texto apresenta por meio de diversas figuras de linguagem a revolta do autor e uma

necessidade de convencer o leitor de que a decisão que pode ser tomada no Congresso

Nacional não será a melhor para a sociedade. Que será uma decisão tomada pela

ignorância e para dar uma resposta punitiva a uma temática que merece ser tratada com

maior investimento nas políticas públicas.

Sakamoto ao introduzir em seu texto as expressões sensacionalistas vinculadas ao voto,

TV e igreja, está implicitamente, se referindo à bancada política que justifica suas

decisões no congresso a partir de suas características religiosas, como o caso de diversos

pastores que ocupam cargos em comissão de direitos humanos, que além de terem

cargos nas igrejas também possuem programas de TV.

Ao utilizar o termo “soluções vendidas” percebe-se que a conotação dessa frase remete

à ilusão, promessa de melhorias, ou algo que não foi estruturado a uma realidade

concreta, como um “modelo a ser utilizado”. Estes aspectos são comuns em certos

programas de rádio e televisão que espalham o medo, maximizando a ideia de terror

causado pelo adolescente infrator, sem ater-se as questões mais relevantes, capazes de

conduzir a reorganização da sociedade.

O autor se posiciona claramente, contra estes discursos religiosos que são utilizados

para manobrar uma massa da mesma forma que se é elaborado nas doutrinas da igreja,

pelo medo e repressão. Que por sua vez também realizam outras formas de violência e

exploração e “discípulos”.

Sakamoto convida o leitor a refletir que a aprovação dessa lei será para gerar certo

“status” aos proponentes e as mídias. Para o autor o problema é estrutural e não de

legislação. O autor evidencia que a decisão dessa lei está sendo tomada mais por um

sentimento de emoção do que pela razão.

O autor termina o texto, no último parágrafo com a frase: “o que escolheremos? o que

veremos no espelho no dia seguinte?”.

A frase traz uma última tentativa de reflexão do leitor para um comprometimento social.

Quando Sakamoto estrutura a frase no plural, ele infere a um pensamento de que todos

estão tomando uma decisão e que as consequências serão para toda sociedade.

2.3.3 DAS INFERÊNCIAS AO TEXTO DA AGÊNCIA BRASIL

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O texto da Agência Brasil apresenta de forma bem clara e simples que o Senado Federal

é contrário à redução da maioridade penal, já tendo se posicionado por outro caminho

mediano, representado pela modificação do Estatuto da Criança e do Adolescente, com

a ampliação do tempo de internação e do limite etário para esta internação. Apresenta a

proposta de recrudescimento na reprovação das infrações praticadas pelos menores, sem

perder as características de medida socioeducativa constante da legislação aplicada a

Criança e ao Adolescente.

São perceptíveis os argumentos da matéria, quando apresenta a fala do Presidente do

Senado: “Eu não sou a favor, mas não significa que a matéria não vá tramitar no Senado

Federal, que já votou a atualização do ECA [Estatuto da Criança e do Adolescente] que

eu acho que, do ponto de vista da sociedade, é uma resposta mais consequente”. A fala

do Senador, conhecido por seus posicionamentos irônicos, demonstra que ainda que a

proposta tramite no senado, outra decisão mais coerente já foi tomada. O senador se

coloca como porta voz da sociedade, afirmando que é contra e, de modo sutil, utiliza um

discurso político em prol da população, deixando evidente que a atualização do ECA é o

bastante para conter as infrações cometidas por adolescentes.

É preciso considerar nesse contexto também, as intencionalidades do Senador e o seu

papel de Presidente da Casa. Enquanto presidente espera-se que ele tenha uma decisão

menos punitiva e mais solidária ao outro, ainda que esta solidariedade se demonstre em

uma fala breve em “nome da sociedade”.

Na matéria, o líder do Partido dos Trabalhadores no Senado, Humberto Costa (PE),

infere de forma contundente que a proposta da Câmara é um “retrocesso” e que não

atingirá os votos necessários a sua aprovação. Impõe seu poder de dominação amparado

pela sua bancada petista.

Convergindo com os posicionamentos anteriores o discurso do Senador Pimentel,

mostra seu direcionamento ideológico de esquerda e sentimentalista, opondo-se

ferrenhamente contra o projeto de lei e trazendo em sua fala um breve diagnóstico da

situação. O Senador Pimentel em seu discurso realiza uma fala mais taxativa e

imperativa, ao afirmar que “o projeto ficará estacionado no Senado”. Essa fala apresenta

um discurso claro do partido o qual este é filiado, bem como o uso de expressões

religiosas que geram o sentimento de esperança e aproximação popular, características

que reafirmam o modo de diálogo dos partidos de esquerda, simples, com provocações

positivas baseadas na emoção. Ao contrário de Renan Calheiros, que demonstrou ter

ancorado seu discurso na legislação e na sociedade.

A Agência Brasil, sendo veículo de comunicação pública, quando constrói o texto que

rebate tema já aprovado pela Câmara dos Deputados, traz apenas vozes de Senadores

contrários à questão, mostra-se parcial a uma determinada representação. Isso fica mais

claro quando o suporte jurídico e humanístico ao posicionamento dos entrevistados é

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realizado pela OAB, pela Secretaria de Direitos Humanos e pela Secretaria Nacional de

Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente. Ou seja, a perspectiva do texto de

engavetar a proposta da Câmara passa a ideia de respaldo, respectivamente, da

Sociedade e do Poder Executivo.

2.4 DAS INFERÊNCIAS COMPARATIVAS ENTRE OS TEXTOS

Como já destacado alhures, o propósito deste subitem é apresentar os pontos que os

textos possuem em comum, no que divergem e quais propostas apresentam. Neste

sentido é possível verificar que os três textos entendem que existem problemas

relacionados à violência perpetrada por crianças e adolescente e que precisam de

soluções.

Quanto ao tema redução da maioridade penal, o texto de Fernando Capez é

indiscutivelmente favorável à redução, enquanto os textos de Leonardo Sakamoto e da

Agência Brasil são contra a redução da maioridade.

Capez vê no adolescente de 16, 17 anos de idade um sujeito já completo, capaz de

compreender e de se autodeterminar, devendo ser tratado por questão de justiça, igual

ao de dezoito anos ou mais e, portanto, passível ao cárcere. Do Texto da Agência Brasil

percebe-se o contrário, compreende o adolescente entre 16 e 17 anos como pessoa em

desenvolvimento sendo necessária sua educação como forma a atingir seu

desenvolvimento integral. Já Sakamoto reflete sobre a necessidade de mudança

estrutural e não pontual como propõe os outros dois.

Fernando Capez parte de um ideário positivista que vê no legalismo, na criminalização,

no recrudescimento da legislação a saída para o problema, ou seja, levar o adolescente

menor de dezoito anos para a prisão é o caminho para se fazer justiça.

Por outro lado, o Texto da Agência Brasil possui também um aporte legalista, menos

radical, combate à ideia carcerária e de solução pela prisão com uma proposta de

modificação da legislação atual, o ECA, porém mantendo as garantias a proteção

integral da criança e do adolescente, combinando a ampliação do acesso à educação

quando em internação.

Já Sakomoto, propõe que as mudanças devem ir além da alteração legislativa, com

ações efetivas que impeçam o adolescente de ficar a mercê da criminalidade,

transparece uma proposta que valoriza a busca social e científica para os problemas, que

concilia políticas públicas estruturadas no conhecimento real do problema e na busca de

solução conjunta entre todos os entes envolvidos, família – sociedade – Estado.

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CONSIDERAÇOES FINAIS

A Análise crítica do discurso objetiva verificar, como aponta Van Dijk (2013), as

distorções ideológicas contidas nos discursos, que são ancoradas em falas que

representam dominação, discriminação, exclusão, etc. impondo muitas vezes meias

verdades, conduzindo os receptores a se apropriarem de posicionamentos que lhe

retiram a capacidade de decisão.

O uso de estratégias discursivas tem o poder de remeter os sujeitos à mera condição de

ouvintes, donos de um falso livre arbítrio, conduzindo as massas conforme suas

representações mentais incutidas nas entrelinhas das diversas orações que integram um

texto.

Realizar uma análise crítica completa, com o uso de todos os recursos disponíveis,

vergastando todas as questões envolvidas em um texto é tarefa que beira o impossível,

principalmente quando considerada a abordagem de três textos diferentes, com

propostas, intenções variadas. Mas a seleção de categorias de análise por mais que não

espelhe o todo de um discurso, possibilita compreender e depreender seus significados.

No presente trabalho, que encerra uma caminhada pelos trilhos da Análise Crítica do

Discurso, foi possível aplicar ferramentas apreendidas e verificar as interfaces dos

textos que pretendem conduzir ao convencimento do leitor.

A menoridade penal de fato é questão que está muito longe de encontrar um porto

seguro e infalível. A cada nova infração hedionda cometida por pessoa menor de

dezoito anos, vozes clamam por soluções enérgicas e pontuais, movimentando o meio

social, político e acadêmico, justamente porque a questão mexe com as representações

mentais da população que diante ao terror é conduzida a posição de vítima que anseia

por vingança, sem perceber o contraponto das motivações e desconstruções humanas

advindas dos mais diversos meios sociais, a mazela humana fica em segundo plano.

Soluções pontuais realmente como aponta Sakamoto não resolverão o problema, como

de fato não resolvem qualquer problema. Urge a reunião de esforços, a

desburocratização do sistema, o reconhecimento de responsabilidades solidárias para

salvaguardar os direitos de crianças e adolescente, para garantir a paz da sociedade

como um todo.

ANEXOS

Texto 1 - Redução da maioridade penal: uma necessidade indiscutível- Fernando Capez.

A redução da maioridade penal, na atualidade, constitui tema bastante polêmico, devido aos aspectos

políticos, biológicos, sociais, filosóficos etc., que a matéria envolve. Disso decorre a dificuldade prática,

entre juristas e integrantes da sociedade como um todo, de se chegar a um consenso, a uma solução

unânime sobre o tema.Sabemos que a maioridade penal ocorre aos 18 anos, conforme determinação

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constitucional (CF, art. 228). Abaixo desse limite de idade, presume-se a incapacidade de entendimento e

vontade do indivíduo (CP, art. 27). Pode até ser que o menor entenda perfeitamente o caráter criminoso

do homicídio, roubo, estupro, tráfico de drogas, mas a lei presume, ante a menoridade, que ele não sabe o

que faz, adotando claramente o sistema biológico nessa hipótese.Nesses casos, os menores de 18 anos,

apesar de não sofrerem sanção penal pela prática de ilícito penal, em decorrência da ausência de

culpabilidade, estão sujeitos ao procedimento e às medidas socioeducativas previstas no ECA (Lei n.

8.069/90), em virtude de a conduta descrita como crime ou contravenção penal ser considerada ato

infracional (veja art. 103 do ECA). No caso de medida de internação, o adolescente é liberado

compulsoriamente aos 21 anos de idade.Na atualidade, porém, temos um histórico de atos bárbaros,

repugnantes, praticados por indivíduos menores de 18 anos, os quais, de acordo com a atual legislação,

não são considerados penalmente imputáveis, isto é, presume-se que não possuem capacidade plena de

entendimento e vontade quanto aos atos criminosos praticados.A grande questão é: como podemos, nos

dias de hoje, afirmar que um indivíduo de 16 anos não possui plena capacidade de entendimento e

volição?Estamos “vendando” os olhos para uma realidade que se descortina: o Estado está concedendo

uma carta branca para que indivíduos de 16, 17 anos, com plena capacidade de entendimento e volição,

pratiquem atos atrozes, bárbaros.Ora, no momento em que não se propicia a devida punição, garante-se o

direito de matar, de estuprar, de traficar, de ser bárbaro, de ser atroz.Mesmo considerando-se aspectos da

realidade educacional e a omissão do Estado em prover a orientação adequada para os jovens, ainda

assim, a redução da maioridade penal é medida justa. Até porque, se ponderarmos esses fatores, aquele

que praticou um crime com 18, 20, 21 anos, o fez porque não teve oportunidade, também, de emprego,

estudo etc. Por isso, tal argumento não pode ser levado em consideração para afastar a redução da

maioridade penal.Dessa forma, o que se pretende, na realidade, é o distanciamento desses discursos

ideológicos, políticos etc., a fim de proporcionar a retribuição penal na justa dimensão do crime cometido,

atendendo, inclusive, ao princípio da proporcionalidade insculpido na Constituição Federal, a qual exige

maior rigor penal para os casos de maior gravidade (art. 5.º, XLII, XLIII e XLIV).O intuito, portanto, da

redução da maioridade é o de reparar tão graves injustiças, de propiciar a punição na proporção do crime

praticado. Assim, um menor de idade que pratique um crime hediondo, como o que ocorreu no Rio de

Janeiro, deverá responder pelo crime tal como um indivíduo maior de 18 anos.É extremamente injusto

que, após cometer tão bárbaro crime, seja liberado compulsoriamente aos 21 anos, nos termos do ECA, ao

passo que um indivíduo de 18 anos que tenha coparticipado do crime possa ficar segregado por até 30

anos em estabelecimento carcerário.E o que é pior: aos 21 anos, quando for liberado, esse indivíduo estará

novamente no seio da sociedade, voltando-se, outra vez, contra a população indefesa e aterrorizada.Há, no

entanto, mais uma alternativa para a solução desse problema, caso haja resistência na sociedade no

tocante à redução da maioridade penal. De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, no caso

de medida de internação, o adolescente é liberado compulsoriamente aos 21 anos de idade. Pois bem.

Seria viável uma modificação legislativa no sentido da alteração desse limite de idade, o qual passaria a

ser de 30 anos. Com isso, seria possível evitar o problema da liberação rápida do infrator e a sensação de

impunidade. Dessa forma, não podemos mais insistir em discurso estéril, isto é, de que prisão ou

Fundação Casa (Fundação Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente) não regeneram, ou de

que o Estado deveria proporcionar condições sociais e educacionais ao menor. É claro que essas medidas

são a pedra fundamental e estrutural de qualquer mudança social, mas não justificam a resistência das

autoridades em mudar a lei penal. Frise-se: os indivíduos maiores de 16 e menores de 18 anos possuem,

na atualidade, plena capacidade de entendimento e de volição. Se não houver a redução da maioridade

penal ou o aumento do tempo de internação em unidades Fundação Casa, o Estado, mais uma vez, será o

maior responsável por fomentar a “fábrica” de criminosos. A redução da maioridade penal, portanto, é

uma realidade, uma necessidade indiscutível. É assim nos países mais avançados da Europa, onde se fala

entre 14 e 16 anos. Embora haja projetos de lei para viabilizar a redução da maioridade penal, no entanto,

cremos que há ainda muita resistência no seio da sociedade, dados, como dissemos, os diversos aspectos

(políticos, ideológicos, biológicos, psicológicos etc.) que envolvem essa mudança. Ademais, para que

ocorra essa mudança, só existem dois caminhos jurídicos: um plebiscito, que é o caminho mais rápido, e

uma nova Constituição.

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Texto 2 - Como será o dia seguinte à redução da maioridade penal? Leonardo Sakamoto

O que vai acontecer tão logo o Congresso Nacional aprove a redução da maioridade penal para 16 anos?

Vamos nos enrolar em nosso cobertor de ignorância e hipocrisia e sair quentinho pelas ruas achando que

estamos seguros.Problemas estruturais precisam de soluções estruturais e não medidas pontuais. Não é

simplesmente punindo o jovem em desacordo com a lei, mas também criando condições para que ele não

caia nas graças da criminalidade.Caso contrário, o problema se reorganiza após a mudança da lei. Por

exemplo, trazendo jovens de 15 anos para fazerem parte de roubos e serem culpados pelos crimes. E,

assim, sobrevive.Quem ganha com isso? Políticos, comunicadores e falsos profetas que oferecem

gratuitamente o discurso do medo, viciando a sociedade, que depois ficará ansiosa para comprar as

soluções simplistas que prometem paz e tranquilidade.Soluções vendidas, aliás, por esses mesmos atores

sociais, ao custo de ''votem em mim'', ''assistam ao meu programa'', ''venham à minha igreja''.Desse ponto

de vista, qual a diferença entre alguns dos membros dessa Santíssima Trindade do Medo e aqueles que

usam jovens para cometer crimes, uma vez que ambos os grupos lucram horrores com a exploração da

violência?Há jovens que não têm nada a perder porque nada tiveram. E os que podem perder muito mas,

sinceramente, não se importam, porque nós não nos importamos como eles quando deveríamos.E há, é

claro, os casos patológicos, cuja prevenção é difícil ou mesmo impossível. Ou alguém acha que um

maluco que abre fogo contra uma igreja em nome da supremacia branca, como aconteceu nos Estados

Unidos, ou alguém massacra crianças de uma escola, como ocorreu em Realengo, no Rio de Janeiro,

pensa na punição que vai sofrer?Tenho medo de indivíduos que assaltam, roubam e matam, mas também

tenho medo de uma sociedade maníaca que não fala, apenas rosna diante do desconhecido. Pois essa

sociedade cisma em não se diferenciar de seus ancestrais que tacavam pedras no escuro porque temiam a

noite.Em momentos de emoção extrema, buscamos soluções simples para diminuir a perplexidade, saídas

para preencher a falta de sentido e tapar o buraco deixado pela perda individual ou coletiva.O problema é

que elas não são úteis para resolver problemas estruturais, nem mesmo para contribuir com os processos

simbólicos de luto e cura. Ajudam, contudo, naquela sede de vingança que carregamos desde sempre.

Texto 3 - Aprovada na Câmara, redução da maioridade pode acabar engavetada no Senado -

Karine Melo – Repórter da Agência Brasil

Depois da aprovação pelo plenário da Câmara dos Deputados, na última semana, da Proposta de Emenda

à Constituição (PEC) 171/93 que reduz, em alguns casos, a maioridade penal de 18 para 16 anos, a

responsabilidade por levar a discussão adiante está com os senadores, que precisam submeter o texto a

dois turnos de votação. A tarefa, no entanto, não será fácil. Após o resultado da Câmara, o presidente do

Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), voltou a dizer que pessoalmente é contrário a proposta."Eu não

sou a favor, mas não significa que a matéria não vá tramitar no Senado Federal, que já votou a atualização

do ECA [Estatuto da Criança e do Adolescente] que eu acho que, do ponto de vista da sociedade, é uma

resposta mais consequente", disse.Renan se referia ao PLS 333/15, que altera o ECA, de autoria do

senador José Serra (PSDB-SP), que teve o substitutivo do senador José Pimentel (PT-CE) aprovado pela

Casa. O texto aumenta o tempo de internação de jovens infratores que tenham cometido crimes hediondos

dos atuais três para até dez anos. Aprovada em julho pela Casa, a matéria seguiu para análise da

Câmara.O mesmo texto prevê uma alteração no Código Penal para agravar a pena do adulto que praticar

crimes acompanhado de um menor de 18 anos ou que induzir o menor a praticá-lo. A pena do maior será

de dois a cinco anos, mas poderá dobrar para os casos de crimes hediondos.Outro ponto proposto por

Pimentel prevê que os adolescentes passarão por avaliação, a cada seis meses, feita pelo juiz responsável

pelo caso. Assim, o magistrado poderá analisar e optar por liberar antecipadamente, se for o caso, o jovem

da reclusão. Nos centros de internação, os jovens também terão que estudar até concluir o ensino médio

profissionalizante e não mais somente o ensino fundamental, como é previsto no ECA hoje.Já a PEC

aprovada pelos deputados, prevê redução da maioridade nos casos de crimes hediondos – como estupro e

latrocínio – e também para homicídio doloso e lesão corporal seguida de morte. Os jovens de 16 e 17

anos deverão cumprir a pena em estabelecimento separado dos adolescentes que cumprem medidas

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socioeducativas e dos maiores de 18 anos.José Pimentel criticou a proposta de mudar a Constituição e

ressaltou que com a alteração no ECA, o Senado já antecipou sua posição sobre o assunto, sinalizando

que a proposta dos deputados deve ficar estacionada no Senado. "O texto que a Câmara aprovou

simplesmente pega esse menor e leva direto para dentro de um presídio, não tem a obrigação nem de

educar e nem de dar uma profissão. Já com o adulto que utiliza a mão de obra desse menor na

consumação de um crime, continua tudo como está. São visões diferentes para enfrentar o mesmo

problema", defendeu. Para o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE) , o destino da PEC na

Casa é claro: "aqui engaveta!". Outro líder, o do PT, senador Humberto Costa (PE), tem uma avaliação

parecida. Ele acha difícil o texto de redução da maioridade aprovado na Câmara avançar no Senado. “Não

acredito que essa PEC prospere no Senado. Meu sentimento é de que a ampla maioria dos senadores se

opõe a ela. Então não creio que essa PEC que veio da Câmara, que é um retrocesso, com toda oposição da

bancada do PT, vá andar no Senado. E, se andar, e vier a plenário, acredito que será derrotada. Não

conseguirá 49 votos favoráveis", disse o líder.A proposta aprovada pelos deputados também enfrenta

resistência da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). "A redução da maioridade penal é

inconstitucional, viola princípios de Direito Internacional, portanto ela é inconvencional e além de tudo

isso, não vai reduzir a criminalidade. Portanto, ela é materialmente ineficaz. Por esses motivos todos a

OAB é contra a redução da maioridade penal", explicou o presidente da comissão de Direito Penal do

Conselho Federal da OAB, Pedro Paulo de Medeiros.Sobre o texto aprovado pelo Senado, o advogado

disse que a entidade ainda não tem uma opinião formada porque ainda não foi provocada sobre o assunto,

mas lembrou que nas discussões sobre o tema na entidade, foi dito que um aprimoramento do ECA sobre

o assunto talvez fosse mais aconselhável do que a redução da maioridade penal.Para a Secretaria de

Direitos Humanos, não há necessidade de uma nova legislação para jovens infratores. “A gente é pioneiro

no mundo em relação a ter uma legislação própria para crianças e adolescentes. Temos que reconhecer

isso. Obviamente que ajustes são necessários em alguns aspectos, mas os mais importante é preservar o

melhor interesse da criança e do adolescente. O que precisamos é dar condições aos entes federados para

que eles apliquem a Lei”, ponderou o secretário substituto da Secretaria Nacional de Promoção dos

Direitos da Criança e do Adolescente, Rodrigo Torres. De 1993 até hoje, o Congresso acumula mais de

60 propostas envolvendo jovens infratores. Algumas alteram o Estatuto da Criança e do Adolescente para

endurecer as medidas socioeducativas nesses casos, outras sugerem a redução da maioridade penal.

Edição: Denise Griesinger

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Capez, F. Redução da maioridade penal: uma necessidade indiscutível. São Paulo: 2014. Disponível em: <http://www.fernandocapez.com.br/o-promotor/atualidades-juridicas/reducao-da-maioridade-penal-uma-necessidade-indiscutivel/>. Acesso em: 31 de outubro de 2016.

MELO, K. Aprovada na Câmara, redução da maioridade pode acabar engavetada

no Senado. Brasília: Agência Brasil, 2015. Disponível em:

<http://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2015-08/aprovada-na-camara-reducao-

da-maioridade-deve-ser-engavetada-no-senado>. Acesso em: 31 de outubro de 2016.

CÂMARA, DOS DEPUTADOS. PEC 171/1993.

<http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=14493>.

Acesso em: 31 de outubro de 2016.

INTERLETRAS, ISSN Nº 1807-1597. V. 6, Edição número 25, Abril/Setembro 2017 - p

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Sakamoto, L. Como será o dia seguinte à redução da maioridade penal? Disponível em: <http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2015/06/28/como-sera-o-dia-seguinte-a-reducao-da-maioridade-penal/>. Acesso em: 31 de outubro de 2016.

Van DIJK, T. A. Análise Crítica do Discurso multidisciplinar. Disponível em:

http://www.ucdb.br/docentes/main1.php?menu=arquivos2&pasta=39690. Acessado em:

01 de setembro de 2016.

i O autor é Deputado Estadual do Estado de São Paulo, professor de Direito Penal e Processo Penal e

Promotor de Justiça licenciado do Estado de São Paulo. ii O autor é Jornalista e Doutor em Ciência Política pela USP na qual também é professor do curso de

Jornalismo. iii São protagonistas da matéria, além da Repórter da Agência Brasil Karine Melo, o Presidente do Senado

Renan Calheiros (PMDB), o Senador José Pimentel (PT), o Senador Humberto Costa (PT), o Presidente

da Comissão de Direito Penal do Conselho Federal da OAB, Pedro Paulo de Medeiros, a Secretaria de

Direitos Humanos e o Secretário Substituto da Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Criança e

do Adolescente, Rodrigo Torres.

*Doutorando do PPGDL- Mestrado e Doutorado em Desenvolvimento Local. UCDB- MS. Coordenador

e docente do curso de Direito – UNIGRAN-MS .

**Coordenadora e Docente do PPGDL- Mestrado e Doutorado em Desenvolvimento Local – UCDB-MS.

Professora do curso de Direito. Doutora em Língua Portuguesa. (PUC-SP) .

***Doutorando do PPGDL- Mestrado e Doutorado em Desenvolvimento Local. UCDB- MS.