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7 * Mestre em Direito pelo Univem/Fundação - Marília, Especialista em Processo Penal pela PUC-SP, integrante do grupo de pesquisa “Direito e Cotidiano” - Programa de Mestrado do Univem/Marília, Professor de Direito Processual Penal, Direito Penal e de História do Direito. A REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL É MEDIDA RECOMENDÁVEL PARA A DIMINUIÇÃO DA VIOLÊNCIA ? ROBERTO DA FREIRIA ESTEVÃO * Procurador de Justiça no Ministério Público do Estado de São Paulo Introdução A discussão sobre a redução da menoridade penal no Brasil sempre volta à pauta após crimes que movimentam a opinião pública, nos quais menores de 18 anos se envolvem. Em datas mais recentes, têm-se dois fatos marcantes: o primeiro, em novembro de 2003, refere-se às condutas cometidas em Embu-Guaçu/SP por R. A. A. C., conhecido como “Champinha”, que, aos dezesseis anos de idade, juntamente com outros comparsas, matou a tiros e facadas os estudantes Liana Friedenbach e Felipe Caffé, depois de estuprar e permitir que outros estuprassem a jovem; o segundo, ocorrido no início de fevereiro de 2007, trata-se da brutal morte de João Hélio Fernandes Vieites, um menino de 6 anos que foi arrastado por 7 (sete) km, aproximadamente, pelo veículo que, após o violento roubo, era conduzido pelos seus praticantes, fatos pelos quais foram acusados alguns maiores, como Carlos Eduardo Toledo Lima, de 23 anos, e Diego Nascimento da Silva, de 18 anos, bem como o menor E., de 16 anos. No direito pátrio, como todos sabem, os menores de 18 anos são penalmente inimputáveis e ficam sujeitos às normas da legislação especial, conforme a dicção do artigo 228 da Constituição Federal. Com a mesma disposição, tem-se o artigo 27 do Código Penal. Alguns propõem a redução dessa idade para 16 anos, e outros, até para 14 anos. Há, inclusive, projetos de lei tramitando pelo Congresso Nacional que consubstanciam tais propostas. Será esse um caminho

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7 * Mestre em Direito pelo Univem/Fundação - Marília, Especialista em Processo Penal pela PUC-SP, integrante do grupo de pesquisa “Direito e Cotidiano” - Programa de Mestrado do Univem/Marília, Professor de Direito Processual Penal, Direito Penal e de História do Direito.

A REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL É MEDIDA RECOMENDÁVEL PARA A DIMINUIÇÃO DA VIOLÊNCIA ?

ROBERTO DA FREIRIA ESTEVÃO*

Procurador de Justiça no Ministério Público do Estado de São Paulo

Introdução

A discussão sobre a redução da menoridade penal no Brasil

sempre volta à pauta após crimes que movimentam a opinião pública, nos

quais menores de 18 anos se envolvem.

Em datas mais recentes, têm-se dois fatos marcantes: o

primeiro, em novembro de 2003, refere-se às condutas cometidas em

Embu-Guaçu/SP por R. A. A. C., conhecido como “Champinha”, que, aos

dezesseis anos de idade, juntamente com outros comparsas, matou a tiros

e facadas os estudantes Liana Friedenbach e Felipe Caffé, depois de

estuprar e permitir que outros estuprassem a jovem; o segundo, ocorrido

no início de fevereiro de 2007, trata-se da brutal morte de João Hélio

Fernandes Vieites, um menino de 6 anos que foi arrastado por 7 (sete) km,

aproximadamente, pelo veículo que, após o violento roubo, era conduzido

pelos seus praticantes, fatos pelos quais foram acusados alguns maiores,

como Carlos Eduardo Toledo Lima, de 23 anos, e Diego Nascimento da

Silva, de 18 anos, bem como o menor E., de 16 anos.

No direito pátrio, como todos sabem, os menores de 18 anos

são penalmente inimputáveis e ficam sujeitos às normas da legislação

especial, conforme a dicção do artigo 228 da Constituição Federal. Com a

mesma disposição, tem-se o artigo 27 do Código Penal.

Alguns propõem a redução dessa idade para 16 anos, e outros,

até para 14 anos. Há, inclusive, projetos de lei tramitando pelo Congresso

Nacional que consubstanciam tais propostas. Será esse um caminho

A redução da Maioridade Penal é medida recomendável para a diminuição da Violência?

indicado para o arrefecimento da violência no Brasil, ou a proposta

diminuição da idade para a inimputabilidade penal não passa de mais uma

falácia?

O professor da disciplina “Direito da Criança e do Adolescente”

na Escola Superior da Magistratura/RS, João Batista Costa Saraiva, Juiz de

Direito da Vara da Infância e Juventude naquele Estado da federação,

lembra que, em regra, no debate sobre o tema, existem duas posições

antagônicas: a dos seguidores da doutrina do direito penal máximo e a dos

adeptos do abolicionismo penal. A primeira defende a necessidade de

aplicação de mais elevadas penas privativas de liberdades e maior rigor nas

condenações por práticas delitivas; a segunda sustenta que o direito penal

está falido e que o problema da insegurança decorre mais de fatores

sociais, em face do que defende que a tutela de bens e direitos não deve

ser efetivada no campo penal, mas sim por outro ramo do direito (2003, p.

70).

Os argumentos mais lembrados pelos defensores da redução da

maioridade penal são os seguintes:

a) cada vez mais adultos se servem de adolescentes nas

ações criminosas, o que impossibilita a efetiva e eficaz ação da polícia e da

justiça;

b) quanto à capacidade para a responsabilidade penal, o

jovem pode votar aos 16 anos e hoje tem acesso a muitas informações, o

que propicia o seu precoce amadurecimento e, pois, condições para

responder penalmente por suas condutas;

c) é muito elevado o número de adolescentes que cometem

crimes graves, o que indica a necessidade de mudança no tratamento legal

a eles dispensado, que deve ser o previsto no Código Penal.

2

A redução da Maioridade Penal é medida recomendável para a diminuição da Violência?

Já outras vozes se colocam contra as propostas de redução e

argumentam que:

a) entre nós, a Constituição Federal impede a redução da

maioridade penal em face do disposto no artigo 228 c. c. o artigo 60, § 4°,

IV (cláusula pétrea);

b) a redução da maioridade para 16 anos não reduzirá a

criminalidade violenta;

c) é dever do Estado e da sociedade proteger as crianças e

os adolescentes, e não puni-los com maior severidade;

d) já não há vagas suficientes no sistema penitenciário. Com

eventual redução da maioridade penal esse quadro ficará ainda mais

caótico;

e) prender adolescente é colocá-lo na “universidade do

crime”.

A questão que se põe é: a simples redução da idade para a

imputabilidade penal, atualmente fixada em 18 anos, é a melhor solução

no combate à criminalidade e à violência, em especial nos grandes centros

urbanos?

1. O menor infrator na história do Brasil

As primeiras medidas educativas ou de política pública para a

infância brasileira foram a criação de algumas casas para abrigar crianças e

adolescentes. Assim tivemos: as “Casas de Roda” (Bahia - 1726), a “Casa

dos Enjeitados” (Rio de Janeiro - 1738), e a “Casa dos Expostos” (Recife -

1789).

Conforme RIZZINI (2000), nas “Casas de Roda”, havia uma

espécie de roda giratória com parte dela no lado externo do imóvel e parte

no lado interno. A criança era deixada na parte que ficava do lado externo, 3

A redução da Maioridade Penal é medida recomendável para a diminuição da Violência?

sem que se pudesse identificar quem a abandonava, e, então, a roda era

girada, trazendo-a para o lado interno onde era recolhida pelos que

trabalhavam na Casa. Nessa “roda”, não eram deixadas apenas crianças

pobres, mas também aquelas oriundas de famílias ricas que precisavam

esconder os nascidos fora do casamento.

A respeito da idade, sabe-se que, durante a vigência das

Ordenações Filipinas, até 1830, a imputabilidade penal iniciava-se aos sete

anos. Ao menor não se aplicava a pena de morte - que à época existia -, e

sua reprimenda era reduzida (SARAIVA, 2003, p. 23).

Em seguida, nosso primeiro Código Penal, de 1830, adotou dois

critérios: fixou a idade de 14 anos para a plena imputabilidade penal (art.

10, § 1°) e adotou um sistema biopsicológico para a punição dos menores

de 14 anos (art. 13).

O Código Penal Republicano de 1890 previa, em seu artigo 27,

§ 1º, que irresponsável penalmente seria o menor com idade até 9 anos. O

maior de 9 anos e menor de 14 anos só não responderia penalmente se

tivesse atuado sem discernimento (art. 27, § 2° e art. 30). A partir de 14

anos, dava-se a maioridade penal.

E, hodiernamente, como já observado neste trabalho, a

maioridade penal é atingida aos 18 anos de idade, nos termos do disposto

no artigo 228 da Constituição Federal e no artigo 27 do Código Penal.

Quando se discute o tema em análise, um dos problemas que

se verifica é a confusão que se faz entre inimputabilidade e impunidade.

2. Inimputabilidade, sim; impunidade, não.

Muitos confundem inimputabilidade penal com impunidade por

crimes cometidos. Por isso, é bom lembrar que a inimputabilidade,

excludente da responsabilidade penal, jamais significa impunidade nem

irresponsabilidade pessoal ou social.

4

A redução da Maioridade Penal é medida recomendável para a diminuição da Violência?

Em boa parte, o clamor social em relação ao menor de 18 anos

que comete crimes surge da equivocada noção de que ele não responde

por seus atos. Até por isso, aparecem soluções totalmente desvirtuadas da

idéia de direito e de justiça, como os grupos de extermínio que matam

menores em nome de uma alegada defesa da sociedade sob a bandeira de

que “bandido bom é bandido morto”. Infelizmente, se esquecem das tristes

experiências vivenciadas entre nós durante as décadas ditatoriais.

O fato de o adolescente não responder por seus atos delituosos

de acordo com o Código Penal perante a Justiça Criminal não o torna

impunível nem o faz irresponsável. Antes, conforme o sistema adotado pelo

Estatuto da Criança e do Adolescente, os menores entre 12 e 18 são

sujeitos de direitos e de responsabilidades e, por isso, quando cometem

infrações, medidas sócio-educativas podem ser impostas, inclusive a

privação de liberdade - com o nome de “internação”, sem atividades

externas.

Ou seja, ao contrário da máxima sempre ouvida de que “para

menor não dá nada”, o ECA prevê medidas e, até mesmo, reconhece a

possibilidade de privação provisória de liberdade do infrator não

sentenciado (art. 108), para o que se exige o preenchimento de menos

requisitos do que os previstos no artigo 312 do Código de Processo Penal,

aplicáveis aos delinqüentes maiores de 18 anos, para o maior ser preso

provisoriamente ou assim mantido durante o trâmite da ação penal.

E não se pode deixar de registrar o outro lado da questão:

conforme uma pesquisa feita pelo “Instituto Latino-Americano das Nações

Unidas para Prevenção e Tratamento do Delinqüente”-ILANUD,

aproximadamente 10% do total de crimes são cometidos por pessoas que

contam com menos de 18 anos de idade; todavia, mais de 40% das

vítimas de homicídios são menores (fonte:

http://releitura.wordpress.com/tag/opiniao).

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A redução da Maioridade Penal é medida recomendável para a diminuição da Violência?

3. Critérios para a fixação da imputabilidade penal

O Código Penal de 1984 - parte geral ainda em vigor - adotou o

critério biológico e considerou os menores de 18 anos penalmente

inimputáveis.

Conforme o sistema penal pátrio, são considerados

inimputáveis aqueles que, ao mesmo tempo da ação ou da omissão: a)

mostram-se inteiramente incapazes de entender o caráter ilícito do fato

(capacidade de entendimento); b) ou de se determinar de acordo com esse

entendimento (capacidade de querer). Esses parâmetros levaram à

determinação da idade de 18 anos.

O professor Julio Fabbrini Mirabete observa a respeito da

imputabilidade:

De acordo com a teoria da imputabilidade moral (livre-arbítrio), o homem é um ser inteligente e livre, podendo escolher entre o bem e o mal, entre o certo e o errado, e por isso a ele se pode atribuir a responsabilidade pelos atos ilícitos que praticou. Essa atribuição é chamada de imputação, de onde provém o termo imputabilidade, elemento (ou pressuposto) da culpabilidade. Inimputabilidade é, assim, a aptidão pra ser culpável. [...] Há imputabilidade quando o sujeito é capaz de compreender a ilicitude de sua conduta e de agir de acordo com esse entendimento. Só é reprovável a conduta se o sujeito tem certo grau de capacidade psíquica que lhe permita compreender a antijuricidade do fato e também a de adequar essa conduta a sua consciência. Quem não tem essa capacidade de entendimento e de determinação é inimputável, eliminando-se a culpabilidade (MIRABETE, 2003, p. 217 - negritos nossos).

Em face dessas idéias que estão em consonância com o Código

Penal brasileiro, indaga-se: quais as condições que permitem verificar se

um indivíduo tem essa “aptidão para ser culpável”? Que critério é mais

adequado para aferir essa aptidão? Como saber se alguém possui a

capacidade de discernimento entre o certo e o errado? É possível medir sua

capacidade para comportar-se conforme o seu entendimento entre o certo

e o errado?

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A redução da Maioridade Penal é medida recomendável para a diminuição da Violência?

3.1 O problema do discernimento

É muito comum ouvir-se aqui e ali que, na atualidade, os

menores têm mais discernimento, pois recebem uma enorme quantidade

de informações e, assim, chegam mais cedo à maturidade. A premissa é

verdadeira, mas a conclusão não o é. Todos, hoje, têm muito maior acesso

a informações do que ocorria no passado. Porém, nem todas as

informações concorrem para a boa formação e amadurecimento; pelo

contrário, muitas delas são mais próprias para a deformação.

A premissa que colocam é desnecessária. É pensamento

comum que qualquer infante sabe distinguir entre o certo e o errado e,

normalmente, tem a capacidade de entender o caráter criminoso de

algumas condutas. A criança de pouca idade sabe que é errado matar, ferir

ou subtrair algum bem de outrem.

Se for esse o critério a ser adotado para a determinação da

idade da maioridade penal tem-se que muito sério ficaria o quadro, pois

não é demais lembrar que, no antigo Catecismo Romano, a idade da razão

era atingida aos 7 (sete) anos, e a partir desse marco a criança poderia

inclusive cometer um pecado tido como “mortal” (Catecismo da Igreja

Católica, 2000, n° 1.307, p. 361). Ou seja, se bastasse o discernimento,

poder-se-ia sustentar que à criança com sete anos de idade seria possível

imputar a prática de um crime, processá-la e julgá-la consoante as

disposições do Código Penal e Código de Processo Penal.

Ocorre que, conforme já se anotou neste trabalho, só é possível

falar-se na imputabilidade quando a pessoa tem capacidade de

compreender a ilicitude de sua conduta e de agir de acordo com esse

entendimento. Logo, a conduta só poderá ser tida como reprovável se o

seu autor possuir “certo grau de capacidade psíquica que lhe permita

compreender a antijuricidade do fato e também a de adequar essa conduta

a sua consciência. Quem não tem essa capacidade de entendimento e de

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A redução da Maioridade Penal é medida recomendável para a diminuição da Violência?

determinação é inimputável, eliminando-se a culpabilidade”, nas palavras

do professor Julio Fabbrini Mirabete (2003, p. 217).

Considerando-se esse parâmetro extraído do Código Penal

impõe-se a indagação: será que é possível afirmar com a necessária

segurança que o adolescente tem maturidade suficiente para não somente

entender o caráter ilícito de sua conduta, mas em especial para

determinar-se de acordo com esse entendimento? Sustentamos que não e,

assim, não se pode equipará-lo ao criminoso adulto, que já possui as

capacidades de entendimento e de determinação.

Muito mais adequado é que o adolescente infrator seja

trabalhado com eficiência para beneficiá-lo com os processos pedagógicos

indicados no ECA e, assim, modificar-se em suas condutas.

Como bem assevera Saraiva (2007), a experiência dos Juizados

da Infância e da Juventude no Rio Grande do Sul comprova que, quando

são observadas com seriedade as medidas previstas no ECA e aplicadas

com responsabilidade, “diversos adolescentes, internados por infrações

gravíssimas, como homicídio e latrocínio, têm logrado efetiva recuperação,

após um período de internação”. Nota-se ainda, que, obedecida a

progressividade no cumprimento das medidas sócio-educativas, os

menores infratores “têm passado da privação total de liberdade à semi-

liberdade e à liberdade assistida. Muitos passam algum tempo prestando

serviços à comunidade, numa forma de demonstrar a si próprios e à

sociedade que são capazes de atos construtivos e reparadores” (ibidem).

4. “Mapa mundi” da maioridade penal

Como são punidos os praticantes de crimes em outros países?

Quando o ser humano é considerado penalmente responsável?

8

A redução da Maioridade Penal é medida recomendável para a diminuição da Violência?

A maioridade penal aos 18 anos predomina na maioria dos

países. Todavia, há Estados que reduziram essa idade, conforme observa

Júlio Fabbrini Mirabete:

Esse mesmo limite de idade (18 anos) para a imputabilidade penal é consagrado na maioria dos países (Áustria, Dinamarca, Finlândia, França, Colômbia, México, Peru, Uruguai, Equador, Tailândia, Noruega, Holanda, Cuba, Venezuela, etc). Entretanto, em alguns países podem ser considerados imputáveis jovens de menor idade, como 17 anos (Grécia, Nova Zelândia, Federação Malásia); 16 anos (Argentina, Birmânia, Filipinas, Espanha, Bélgica, Israel); 15 anos (Índia, Honduras, Egito, Síria, Paraguai, Iraque, Guatemala, Líbano); 14 anos (Alemanha, Haiti); 10 anos (Inglaterra)” (MIRABETE, 2003, p. 216 - negritos nossos)

Tem-se, ainda: 11 anos (Turquia e alguns Estados do México),

10 anos (Ucrânia e Nepal), 9 anos (Etiópia), 8 anos (Escócia, Quênia e

Indonésia), 7 anos (Paquistão, Bangladesh, África do Sul, Nigéria, Sudão,

Tanzânia).

Convém observar, porém, que, em diversos desses países, o

que na realidade se vê não é a maioridade penal abaixo de 18 anos, e sim

a responsabilização penal juvenil com aplicação do Direito Penal Juvenil a

jovens adultos, como ocorre na Alemanha, em que maioridade penal se dá

aos 18 anos (tal qual a maioridade civil), mas, desde os 14 anos, o jovem

fica sujeito ao mencionado Direito Penal Juvenil, situação que, naquele

Estado, pode se estender até os 21 anos. Esse é o modelo adotado

também na Áustria, Escócia, Espanha, Estônia, França, Grécia, Inglaterra,

Suíça e Turquia, dentre outros, conforme anota Carlos Vásquez Gonzáles,

em seu “Derecho Penal Juvenil Europeo” (2005, p. 420).

Na Suécia, qualquer pessoa pode responder por conduta

criminosa a partir dos 15 anos de idade. Todavia, muito raramente um

menor de 18 anos é preso e, quando a privação de liberdade faz-se

necessária, o cumprimento ocorre em instituições especiais destinadas a

adolescentes (SARAIVA, 2006, p. 224).

9

A redução da Maioridade Penal é medida recomendável para a diminuição da Violência?

Nos Estados Unidos da América, a idade para a maioridade

penal varia de Estado para Estado. Na maioria deles, não há idade fixa, e o

juiz decide de acordo com o caso concreto se o jovem será julgado como

adulto. Mas, em alguns, como Califórnia, Arkansas e Wyoming, a idade de

imputabilidade penal está fixada em 21 anos.

Na Inglaterra, a partir dos 10 anos, o juiz decide a pena

considerando a gravidade do crime e o acusado pode ser julgado e

condenado como adulto, mas cumpre pena tão-somente em instituições

especiais.

A idade mínima para punição entre os franceses é 13 anos, mas

só entre 16 a 18 anos o infrator pode ser preso, o que se dá em

instituições especiais. Não há limite para as penas; todavia, são menores

do que as cominadas aos adultos.

Na Polônia, quando se trata de crimes de mais elevada

gravidade, como homicídio ou estupro, dos 16 aos 18 anos, o juiz decide se

o praticante do delito será julgado na condição de adulto ou como menor

não imputável.

Como se observa desses dados, em alguns países a legislação é

mais rígida em relação aos menores de 18 anos que cometem crimes. Nos

Estados Unidos, por exemplo, há mais de 200 mil adolescentes presos por

terem sido julgados e condenados como adultos.

Também, na Inglaterra a lei é mais dura em algumas situações;

porém, há movimentos populares pleiteando que seja suavizado o

tratamento legal aos menores praticantes de condutas criminosas.

E, para uma melhor análise do problema, em face das

propostas de diminuição da maioridade penal no Brasil, convém lembrar

que, na Espanha e na Alemanha, houve a redução dessa idade para 16;

mas, constatada a ineficácia da medida, alguns anos depois, em ambos os

10

A redução da Maioridade Penal é medida recomendável para a diminuição da Violência?

países, a imputabilidade penal retornou aos 18 anos. Na Alemanha,

atualmente, a legislação é até mais branda, pois, se o autor do crime

contar entre 18 e 21 anos de idade, o juiz pode decidir pela aplicação do

Código Juvenil, mais brando, ou pelo julgamento consoante a legislação

aplicada aos adultos.

No Brasil, entre 12 e 18 anos o autor de delitos fica sujeito a

medidas sócio-educativas e pode, inclusive, sofrer restrição de sua

liberdade em instituições próprias para adolescentes (correspondente ao

regime fechado dos adultos) por tempo máximo de 3 anos. Em seguida, o

juiz pode determinar sua colocação numa instituição de semi-liberdade

(correspondente ao regime semi-aberto dos adultos) por mais 3 anos.

5. Estatísticas a respeito de crimes praticados por menores de 18 anos no Brasil

Conforme o registro de Cláudio Augusto Vieira da Silva

(CONANDA, 2001, p. 14), dos crimes praticados no Brasil, tão-somente

10% são cometidos por adolescentes infratores, e, do total de crimes que

cometem, 90% são contra o patrimônio.

Na interessante obra “Desconstruindo o mito da impunidade:

um ensaio de direito (penal) juvenil” (2002, p. 35), o magistrado gaúcho

João Batista Costa Saraiva observa, ainda, que os delitos graves, tais como

homicídios, latrocínios e estupros, constituem 19% das condutas

criminosas dos adolescentes infratores, ou seja, menos de 2% dos delitos,

considerando-se que só 10% de todos os crimes são cometidos por

adolescentes.

O mais comum ato infracional praticado por menores de 18

anos relaciona-se ao patrimônio. Homicídios, latrocínios e estupros

ocorrem, porém, como visto no parágrafo anterior, em porcentual bem

pequeno dentro do quadro da criminalidade juvenil. Até por isso, ou seja,

por não serem práticas comuns, os meios de comunicação colocam como

11

A redução da Maioridade Penal é medida recomendável para a diminuição da Violência?

manchetes os crimes com violência cometidos por adolescente (SARAIVA,

ibidem, p. 37).

Os dados do “Instituto Latino-Americano das Nações Unidas

para Prevenção e Tratamento de Delinqüente” – ILANUD, não diferem

muito dos acima vistos:

Estudos já feitos pelo Ilanud (Instituto Latino Americano das Nações Unidas para prevenção do delito e tratamento do delinqüente) mostraram que os crimes graves atribuídos a adolescentes no Brasil não ultrapassam 10% do total de infrações. A grande maioria (mais de 70%) dos atos infracionais é contra o patrimônio, demonstrando que os casos de adolescentes infratores considerados de alta periculosidade e autores de homicídios são minoritários e o ECA já prevê tratamento específico para eles (ALVES, 2007).

De fato, na pesquisa realizada pelo referido instituto entre

junho de 2000 e abril de 2001 com 2.100 adolescentes acusados da prática

de ato infracional na capital de São Paulo, apenas 1,4% eram acusados da

prática de homicídio. Os índices oficiais da Coordenadoria de Análise e

Planejamento da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo–CAP

revelam que, no período de janeiro a outubro de 2003, os menores de 18

anos foram autores de apenas 0,97% dos homicídios dolosos em todo o

Estado de São Paulo. (Fonte:

http://www.risolidaria.org.br/estatis/view_grafico.jsp?id=200406080001).

Esses dados estatísticos mostram que é equivocada a idéia da

redução da idade penal como estratégia para reduzir a criminalidade

violenta, pois são cometidos por menores infratores menos de 2% de

delitos que têm essa natureza e seriam atingidos por eventual alteração no

artigo 228 da Constituição Federal e artigo 27 do Código Penal. Uma

reflexão não apaixonada e mais racional das pesquisas atrás anotadas leva

à conclusão de que 98% dos crimes de mais elevada gravidade são

cometidos por pessoas que contam mais de 18 anos de idade e que

recebem o tratamento previsto no Código Penal e leis penais especiais.

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A redução da Maioridade Penal é medida recomendável para a diminuição da Violência?

6. Motivos para as práticas infracionais.

Por que os menores inimputáveis praticam infrações?

A esse respeito foi realizada interessante pesquisa no Estado de

Santa Catarina, abordada por Henriqueta Scharf Vieira (1999, p. 48). São

vários os motivos, dentre os quais a influência de amigos, o uso de

substâncias entorpecentes, a evasão escolar e a pobreza:

Verifica-se que a influência de amigos, o uso de drogas e a

pobreza são as razões principais para a prática delituosa e se equilibram

em termos numéricos [...] As respostas demonstram a fragilidade do

adolescente à influência de terceiros e a íntima relação do ato infracional

com o uso de drogas. No Brasil, além das causas mencionadas, outra

grande causa da delinqüência juvenil é a falta de instrução e a evasão

escolar, uma vez que sem estar estudando, o adolescente acaba ocioso e

mais propenso a praticar atos infracionais.

Mário Volpi (1999, pp. 56-57) confirma o último dado ao

asseverar que a grande maioria dos adolescentes pesquisados - 96,6% -

não concluiu o ensino fundamental. A porcentagem de analfabetos é de

15,4% e, dos 4.245 adolescentes sujeitos dessa pesquisa, 2.498 - 61,2%,

portanto - não freqüentavam a escola por ocasião da prática do ato

infracional.

Assim, é possível sintetizar os motivos em: influência de

amigos, uso de entorpecentes, pobreza, falta de instrução educacional e

evasão escolar.

Esse é um dado de relevância para se discutir a questão da

criminalidade dos que contam com menos de 18 anos. Sabendo-se a

respeito dos motivos das práticas de infrações por menores, o melhor

caminho para redução dos índices dessa criminalidade é enfrentá-los e não,

simplesmente, reduzir a maioridade penal.

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A redução da Maioridade Penal é medida recomendável para a diminuição da Violência?

7. Penas X medidas sócio-educativas aplicáveis aos menores

O Estatuto da Criança e do Adolescente - Lei federal n° 8.089,

de 13 de julho de 1990 - considera criança “a pessoa até doze anos de

idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de

idade” (artigo 2°, “caput”).

Esse estatuto prevê a aplicação de medidas de proteção,

destinadas a crianças e adolescentes que tenham direitos reconhecidos

ameaçados ou violados, bem como à criança infratora, ou seja, aquela que

com idade inferior a 12 anos e que comete conduta prevista como crime ou

contravenção penal. São elencadas no artigo 101.

As medidas sócio-educativas são aplicáveis aos adolescentes

infratores, vale dizer, aqueles que estão na faixa dos 12 aos 18 anos e que

cometem crimes ou contravenções penais. O artigo 112 as elenca.

Observa-se, pois, que por meio dessas medidas os adolescentes são

punidos penalmente, num sistema que bem pode ser tido como “Direito

Penal Juvenil”.

Neste sentido:

Não se pode ignorar que o Estatuto da Criança e do Adolescente instituiu no país um sistema que pode ser definido como de Direito Penal Juvenil. Estabelece um mecanismo de sancionamento, de caráter pedagógico em sua concepção e conteúdo, mas evidentemente retributivo em sua forma, articulado sob o fundamento do garantismo penal de todos os princípios norteadores do sistema penal enquanto instrumento de cidadania, fundado nos princípios do Direito Penal Mínimo (SARAIVA, 2002, p. 45).

Na aplicação dessas medidas sócio-educativas, o juiz considera

as características da infração penal cometida pelo adolescente, as

circunstâncias familiares, bem como a disponibilidade de programas

específicos para ser ele atendido, visando à reeducação e à ressocialização.

Também, é considerado o denominado princípio da imediatidade, vale

14

A redução da Maioridade Penal é medida recomendável para a diminuição da Violência?

dizer, a aplicação da medida logo após a prática do ato (VOLPI, 1999, p.

42).

Consoante o sistema adotado no ECA, as medidas sócio-

educativas não devem ser aplicadas isoladamente, sem que se considerem

as circunstâncias sociais, culturais e econômicas em que está envolvido o

menor infrator. Ademais, é necessário que o Estado tenha políticas públicas

voltadas às crianças e adolescentes, pois limitar-se à aplicação das

medidas previstas contraria a finalidade de reeducação e ressocialização,

além do caráter retributivo que lhe são inerentes.

O artigo 112 do ECA prevê as seguintes medidas: advertência,

obrigação de reparar o dano, prestação de serviços à comunidade,

liberdade assistida, inserção em regime de semi-liberdade, internação em

estabelecimento educacional e qualquer uma das previstas no artigo 101, I

a VI.

Quanto à reparação do dano, medida altamente pedagógica,

nota-se que raramente é aplicada. Henriqueta Sharf Vieira, a esse respeito,

anota quanto à pesquisa realizada em Santa Catarina:

A medida sócio-educativa de obrigação de reparar o dano,

embora simples, de fácil aplicação e bastante pedagógica, não foi muito

usada nas Comarcas pesquisadas. [...] Tal fato reflete, talvez, um certo

esquecimento por parte de Promotores de Justiça e Juízes da Infância e

Juventude dos benefícios desta, ressalvada, é claro, a possibilidade do

adolescente em compensar o prejuízo causado (VIEIRA, 1999, p. 59).

A prestação de serviços à comunidade “consiste na realização

de tarefas gratuitas de interesse geral, por período não excedente a 6

(seis) meses, junto a entidades assistenciais, hospitais, escolas e outros

estabelecimentos congêneres, bem como em programas comunitários ou

governamentais” (artigo 117 do ECA). É a medida mais aplicada nas Varas

15

A redução da Maioridade Penal é medida recomendável para a diminuição da Violência?

da Infância e Juventude, pois possibilita aos adolescentes a reeducação

sem a necessidade da infrutífera privação de liberdade.

Outra medida prevista é a liberdade assistida que tem “o fim de

acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente” (artigo 118 do ECA). Tem

como objetivo a (re) integração familiar e comunitária. É executada com o

apoio de assistentes sociais e técnicos especializados (VOLPI, 2002, p. 24).

Deve-se observar que a liberdade assistida não atinge suas finalidades sem

a existência de programas específicos voltados ao necessário

acompanhamento, auxílio e orientação ao adolescente.

A semiliberdade “pode ser determinada desde o início ou como

forma de transição para uma medida própria do regime aberto (de

liberdade), possibilitada a realização de atividades externas,

independentemente de autorização judicial”, consoante dispõe o artigo 120

do ECA. Quando aplicada, o adolescente não sofre a total restrição à

liberdade de locomoção, pois trabalha e estuda durante o dia e recolhe-se

em entidade específica durante a noite. Pode ser a forma inicial de sanção

ao adolescente, aplicada pelo juiz depois de apurada a prática infracional,

ou pode ser concedida como benefício de alteração de regime, de

internação para a semiliberdade, como a progressão do regime fechado

para o semi-aberto prevista no artigo 33 do Código Penal aos praticantes

de crimes maiores de 18 anos.

O problema mais sério em relação a essa medida de

semiliberdade é a omissão do poder público em construir unidades

especiais para abrigar os adolescentes no período noturno e para aplicar as

medidas pedagógicas durante o dia (VOLPI, 2002, p. 26).

A internação consiste na privação de liberdade do adolescente

infrator e fica “sujeita aos princípios de brevidade, excepcionalidade e

respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento”, consoante

prevê o artigo 121 do ECA.

16

A redução da Maioridade Penal é medida recomendável para a diminuição da Violência?

O tempo mínimo de internação é de 6 (seis) meses, e o

máximo, de 3 (três) anos (artigo citado, §§ 2° e 3°), após o qual “o

adolescente deverá ser liberado, colocado em regime de semiliberdade ou

de liberdade assistida”, conforme a dicção do § 4° do mesmo artigo.

Esse dado, relativo ao tempo de internação, é relevante para a

discussão da necessidade da redução da maioridade penal. Conforme

dispõe o artigo 112 da Lei das Execuções Penais (Lei n° 7.210/84), o

criminoso adulto cumpre a pena progressivamente e pode ser transferido

para o regime de menor rigidez depois de descontar 1/6 da reprimenda.

Um simples raciocínio leva ao seguinte resultado: para um criminoso adulto

cumprir 3 (três) anos no regime fechado, ao qual corresponde a medida de

internação, sua pena de reclusão não pode ser inferior a 18 (dezoito) anos.

Ora, muito raramente, o maior de 18 anos praticante de um

delito recebe pena nesse quantum. A título de exemplo, pode-se citar o

praticante de roubo com emprego de arma de fogo, pois, em regra, sua

pena é aplicada em 5 (cinco) anos e 4 (quatro) meses de reclusão.

Também, é de ser lembrada a pena aplicável ao maior que pratica estupro

com violência presumida, que pode ter como vítima mulher de até de 14

anos, delito que os Tribunais pátrios vêm entendendo como não hediondo.

A pena, em regra, é fixada em 6 (seis) anos de reclusão. Nesses dois

exemplos, em tese, é possível a determinação do regime inicial semi-

aberto para o cumprimento da privação de liberdade (regime que

corresponde à semiliberdade aplicável aos adolescentes infratores), e

mesmo que, na condenação, seja fixado o regime inicial fechado, depois de

cumprir menos de um ano da reclusão, no primeiro exemplo, e um ano, no

segundo, o sentenciado já preencherá o requisito objetivo/temporal para

ser progredido ao regime de semiliberdade.

Vale dizer, comparando-se os dois sistemas de punição

constata-se que, concreta e efetivamente, o menor infrator é mais

severamente apenado do que o maior praticante da mesma espécie de 17

A redução da Maioridade Penal é medida recomendável para a diminuição da Violência?

crime, que geralmente é condenado à pena inferior a 18 anos de reclusão

e, pois, poderá ficar detido no regime fechado menos de 3 (três) anos - 1/6

da pena conforme o artigo 112 da LEP, enquanto o menor poderá cumprir

até 3 (três) anos de medida de internação - a que corresponde o regime

fechado.

Ou seja, é falaciosa a argumentação fundada na alegada

impunidade do menor infrator que, na prática, fica em regime fechado

(internação) por tempo superior àquele a que se submete o maior que

comete a mesma espécie de crime.

E, quanto à idade máxima para o menor cumprir a medida de

internação, recentemente, o Supremo Tribunal Federal entendeu que o

prazo máximo é de 3 (três) anos e que é possível sua transferência para o

regime de semiliberdade, que pode perdurar até a liberação compulsória

aos 21 anos.

Para conferir:

Medida Sócio-Educativa de Liberdade e Maioridade. A Turma denegou habeas corpus em que se pretendia a extinção de medida sócio-educativa de semiliberdade imposta ao paciente, sob a alegação de que, abstraída a internação, cuja duração tem como limite os 21 anos de idade, a medida sócio-educativa de liberdade não poderia ir além da maioridade penal — 18 anos, sob pena de afronta ao princípio da reserva legal estrita. Entendeu-se que, em razão de o Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA não cominar abstratamente limite máximo de duração da medida sócio-educativa de semiliberdade (art. 120, § 2º) — com exceção do disposto no art. 121, § 3º e no art. 122, § 1º, quanto ao prazo máximo de internação —, independentemente de o adolescente atingir a maioridade civil, a medida de semiliberdade, assim como se dá no caso da internação, tem como limite temporal a data em que o adolescente completa 21 anos (art. 121, § 5º). Asseverou-se, no ponto, que, no caso de imposição de medida de internação, atingido o período máximo de 3 anos (art. 121, § 3º), o adolescente poderá ser transferido para o regime de semiliberdade, que pode perdurar até a liberação compulsória aos 21 anos. Considerou-se que a projeção da medida sócio-educativa de semiliberdade para além dos 18 anos decorre da remissão às

18

A redução da Maioridade Penal é medida recomendável para a diminuição da Violência?

disposições legais atinentes à internação. Ressaltou-se, ademais, não existir no ECA norma expressa no sentido da extinção da medida sócio-educativa de semiliberdade quando adolescente completa 18 anos. Salientou-se, por fim, que a aplicação dessa medida para além dos 18 anos decorre de texto normativo expresso, tendo em conta, principalmente, o fato de o legislador, no que se refere às medidas sócio-educativas (ECA, artigos 112 a 121), ter disciplinado de forma idêntica apenas as restritivas de liberdade (semiliberdade e internação). (STF, Segunda Turma, HC 90.248/RJ, relator o eminente Ministro Eros Grau, j. em 13.3.2007 - Informativo 459 do STF - março de 2007).

Medida Sócio-Educativa e Advento da Maioridade. A Turma, por maioria, indeferiu habeas corpus em que se pleiteava a extinção da medida sócio-educativa de semiliberdade aplicada ao paciente que, durante seu cumprimento, atingira a maioridade penal. No caso, o paciente fora condenado ao cumprimento de internação por ofensa aos artigos 12 e 14 da Lei 6.368/76 e ao art. 16 da Lei 10.826/2003 e progredira para a semiliberdade, regime no qual completara 18 anos. Alegava-se, na espécie, que o paciente não estaria mais sujeito às normas do Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA, por ter atingido a maioridade penal. Sustentava-se, com base no art. 121, § 5º, do ECA (“§ 5º - A liberação será compulsória aos 21 (vinte e um) anos de idade.”), que não poderia ser imposta medida sócio-educativa aos maiores de 18 anos, salvo na hipótese de prosseguimento da internação. Inicialmente, ressaltou-se que a incidência do ECA dependerá da idade do agente no momento do fato e que o princípio da legalidade estrita não se aplica às medidas sócio-educativas, por não serem, tecnicamente, penas. Aduziu-se, também, que a medida de semiliberdade não comporta prazo determinado, aplicando-se, no que couber, as disposições relativas à internação, e que não poderá ter duração superior a 3 anos, implicando liberação compulsória quando o sócio-educando atingir a idade de 21 anos. Nesse sentido, asseverou-se que o ECA possui objetivos, estrutura e sistemática distintos do Código Penal e visa preservar a dignidade do menor infrator, protegendo-o dos rigores das sanções de natureza penal, e promover a sua reinserção no convívio social. Assim, em observância ao que prevê o art. 121 do ECA, bem como aos princípios da brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, que regem o instituto da internação, entendeu-se correta a manutenção do paciente no regime de semiliberdade, ainda que já tenha completado 18 anos. Vencido o Min. Marco Aurélio que deferia o writ por vislumbrar no art. 121, § 5º do ECA dispositivo consentâneo com Código Civil vigente à época em que editado o ECA, vindo a referência aos 21 anos de idade ser revogada com o advento

19

A redução da Maioridade Penal é medida recomendável para a diminuição da Violência?

do novo Código Civil, que reduziu a maioridade civil. (STF., Primeira Turma, HC 90.129/RJ, relator o eminente Ministro Ricardo Lewandowski, j. em 10.4.2007. STF - informativo 462 - abril de 2007).

No mesmo sentido, também do STF: HC 91.276 e HC 91.490,

ambos julgados em 05 de junho de 2007 pela Segunda Turma.

Como se vê, é falsa a idéia de que o menor infrator fica na

impunidade.

Também, não pode ser aceito o argumento de que a redução da

maioridade penal é necessária, uma vez que se têm tornado comum os

criminosos maiores se servirem de menores para as práticas delitivas.

Ora, é entendimento quase unânime entre os penalistas, os

filósofos, os psicólogos e os sociólogos que a pena privativa de liberdade

está falida, não (res) socializa e nem exerce função pedagógica. Essa

constatação não ocorre apenas no Brasil. Como bem lembrou o

desembargador do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, Dr. Amilton

Bueno de Carvalho, em palestra ministrada no Congresso Nacional “Arautos

do Direito” (Marília - agosto de 2007), na Suécia, os presídios têm boa

estrutura e o grau de reincidência é de 70%; na Inglaterra é de 69%, e, no

presídio Bangu I - Rio de Janeiro, o índice é de 70%. “Os que pretendem

cometer um crime, não vão deixar de fazê-lo com medo da pena”

(CARVALHO, 2007).

Esse quadro leva à constatação de que os defensores da

redução da menoridade penal tencionam estender aos menores utilizados

por maior em práticas criminosas o mesmo sistema que não o atinge (ao

maior mandante).

Outro dado de interesse refere-se ao tempo de prestação

jurisdicional, ou seja, à resposta da justiça à coletividade em face do crime

cometido. Não raras vezes, enquanto o co-autor adolescente foi privado de

20

A redução da Maioridade Penal é medida recomendável para a diminuição da Violência?

sua liberdade, julgado e sentenciado, já em cumprimento da medida

imposta pelo Juízo da Infância e da Juventude, em relação ao maior

praticante do mesmo crime o processo sequer foi concluído e, por excesso

de prazo, não é incomum esse maior estar em liberdade.

A título de exemplo, pode-se o invocar gravíssimo crime do

qual resultou a morte de João Hélio Fernandes Vieites, no Rio de Janeiro: o

menor E. foi julgado e condenado em 22 de março de 2007 (cerca de um

mês e meio após os fatos) pela Justiça da Infância e Juventude. E, só

recentemente, os maiores co-autores foram julgados pela Vara da Justiça

Criminal.

Como se verifica na prática, a resposta da Justiça à coletividade

nos casos de crimes cometidos por menores tem sido muito mais rápida e

eficaz. Se a certeza da pena é tida como um dos fatores de prevenção,

pode-se dizer que essa certeza está mais presente em relação aos menores

do que aos maiores de 18 anos.

8. A “Justiça Instantânea” em Porto Alegre

Quando se reflete a respeito da eficácia e eficiência nas ações

do poder público em relação às infrações cometidas por menores, não se

pode deixar de lembrar o projeto desenvolvido pelo Tribunal de Justiça do

Rio Grande do Sul, denominado “Justiça Instantânea”, criado pela

resolução nº 171/96-CM. Trata-se de um centro de atendimento que iniciou

suas atividades em 08 de maio de 1996, no qual a Polícia, o Ministério

Público, a Defensoria e o Judiciário atuam de forma integrada, no mesmo

imóvel, possibilitando a decisão quase que imediata nos casos de flagrância

levados pela polícia civil ou militar. Em relação às apurações que se iniciam

por notitia criminis, ainda que sem a mesma celeridade, observa-se bom

nível de eficácia.

Esse modelo está em conformidade com a dicção do artigo 88,

inciso V, do Estatuto da Criança e do Adolescentes: uma das diretrizes da

21

A redução da Maioridade Penal é medida recomendável para a diminuição da Violência?

política de atendimento ao adolescente infrator é “a integração operacional

de órgãos do Judiciário, Ministério Público, Defensoria, Segurança Pública e

Assistência Social, preferencialmente em um mesmo local, para efeito de

agilização do atendimento inicial a adolescente a quem se atribua autoria

de um ato infracional” (grifos nossos).

O Juiz da Infância e da Juventude do Rio Grande do Sul, José

Antônio Daltoé Cezar (2007), noticia que, no caso de flagrante delito, o

adolescente é encaminhado à Delegacia que, constatando a prática do

crime, imediatamente comunica os pais ou os responsáveis pelo infrator e

os chama para lá comparecerem. Assim, acompanharão todos os atos do

procedimento até o seu final. Em seguida, o menor é encaminhado ao

Ministério Público que, após ouvi-lo, encaminha-o à Justiça Instantânea. O

representante do Parquet propõe a remissão - com ou sem aplicação de

medida sócio-educativa - ou oferece a representação, que pode incluir o

pleito de internação provisória. A audiência se realiza desde logo, na

presença do defensor. O menor é ouvido e, se o Órgão do Ministério Público

fez a proposta de remissão, ela pode ser homologada se aceita, com a

imediata aplicação da medida sócio-educativa indicada. Se houve a

representação da Promotoria de Justiça com o pleito de internação

provisória, este é julgado e, em seguida, o processo é distribuído a uma

das Varas da Infância e da Juventude de Porto Alegre. Ao Magistrado

também é possível, desde logo, conceder a remissão e aplicar a medida

cabível, declarando extinto o processo de conhecimento, nos termos da

previsão contida no artigo 186, § 1°, do ECA.

Ainda no mesmo artigo “Projeto Justiça Instantânea”, conforme

anota o Juiz articulista, nos casos de flagrante, em regra, toda a

investigação precedente ao processo, a instrução e a aplicação de medida

sócio-educativa se fazem de forma imediata - excepcionada a situação em

que há internação provisória ou expectativa de privação de liberdade, em

que o contraditório se efetiva de outra forma -, “quase que 100% dos

22

A redução da Maioridade Penal é medida recomendável para a diminuição da Violência?

casos são resolvidos no mesmo dia ou, não sendo isso possível, em um

prazo não superior a 48 horas”. E, na grande maioria dos atos infracionais

os procedimentos são iniciados e terminam na Justiça Instantânea,

noticiando-se que “no ano de 2003 foram 78,80%” (negritamos).

Conforme assegura o Juiz da Infância e Juventude no Rio

Grande do Sul, João Batista Costa Saraiva (2007), no artigo “A idade e as

razões: não ao rebaixamento da imputabilidade penal”, o resultado desse

modelo, em Porto Alegre, é a redução da reincidência e também a

mudança no perfil dos menores infratores, constatando-se que muitos

adolescentes da classe média são levados a juízo, o que raramente se

verificava antes da implantação da “Justiça Instantânea”. Esse dado

enfatiza outro aspecto muito positivo para qualquer área da justiça: com

esse modelo em comento, não se pode dizer que a justiça só existe para os

pobres.

9. O projeto “virada social” em São Paulo

Implantado em março de 2007, o projeto “Virada Social”

consiste em ações integradas de cidadania, no Jardim Elisa Maria, região da

Brasilândia, zona norte da capital paulista, local de elevados índices de

criminalidade.

Por meio desse projeto várias ações são realizadas, em

diferentes áreas, como a educação, o lazer, a cultura, a cidadania, o

trabalho, a saúde, os esportes e a segurança. Houve reformas nas

escadarias das vielas e foram efetivados investimentos em iluminação

pública.

Há, ainda, a previsão de construção de uma Escola Municipal de

Ensino Fundamental, de uma praça, além da canalização de córrego e da

revitalização de ruas.

23

A redução da Maioridade Penal é medida recomendável para a diminuição da Violência?

Consoante noticiou o jornal “O Estado de São Paulo”, edição de

6 de setembro de 2007, uma das principais metas do Governo do Estado e

da Prefeitura Municipal é reduzir os índices de criminalidade na região.

Outro ponto fundamental relacionado ao projeto refere-se ao

conjunto de ações voltadas ao treinamento e à capacitação dos jovens. Os

diferentes cursos promovidos por esse projeto, como culinária, garçom e

garçonete, administração, confeitaria, administração e eletricista, além de

outros, despertaram o interesse de aproximadamente 550 jovens, que

estão em treinamento, e do total de participantes, apenas 5 (cinco) não

estudam, de acordo com as informações colhidas pela articulista.

E mais, consoante a mesma publicação já mencionada, o

Secretario de Segurança Pública de São Paulo asseverou que, o Jardim

Elisa Maria e entorno, possuem um perfil preocupante com relação ao

Índice de Vulnerabilidade Juvenil (IVJ) e por essa razão, o local foi

escolhido para ser pioneiro nesse tipo de projeto. Como resultado, “a

secretaria informa que de março até o final de julho, quando foram

iniciadas as ações voltadas para a população e a integração com o

policiamento ostensivo, houve no local redução de 80% no número de

homicídios dolosos e 18% nos roubos, em comparação com o mesmo

período do ano passado. ‘Garantir segurança pública também é uma ação

social. Depois que a polícia deixa o local, é preciso que o estado continue a

mostrar presença, para que o crime organizado não preencha esse espaço

com assistencialismo’, destacou o secretário Ronaldo Marzagão” (LOPES,

2007 - grifos não constantes do original).

Constata-se, nesse projeto, o enfrentamento de várias das

causas de criminalidade juvenil já analisadas neste trabalho, tais como a

pobreza, a falta de instrução educacional e a evasão escolar, com efetiva e

significativa redução nas práticas de infrações penais com violência ou

grave ameaça à pessoa.

24

A redução da Maioridade Penal é medida recomendável para a diminuição da Violência?

O projeto em comento é mais uma demonstração de que o

melhor caminho para ser trabalhada a questão da delinqüência em geral e

a juvenil, não é a redução da maioridade penal, mas sim a implementação

de políticas públicas que atinjam as razões que levam ao cometimento de

crimes.

10. A falência do sistema penitenciário como argumento

Como já observado anteriormente neste trabalho, agentes do

direito, sociólogos, assistentes sociais, psicólogos, psiquiatras e filósofos,

quase que a uma só voz, sustentam que a pena privativa de liberdade está

falida, pois não recupera, nem (res) socializa e também não se presta à

prevenção. De fato, quem comete um crime não reflete, naquele momento,

a respeito da pena prevista no Código Penal ou na Lei Penal Especial.

Sobre a situação penitenciária brasileira, merece transcrição o

posicionamento do Ministro do Supremo Tribunal Federal, José Celso de

Mello Filho:

A organização penitenciária brasileira é um instrumento de degradante ofensa às pessoas sentenciadas. O condenado é exposto a penas que não estão no Código Penal, geradas pela promiscuidade e pela violência. O sistema penitenciário subverte as funções da pena. Assim, deixa de cumprir sua meta básica, que é a de ressocialização (MELLO FILHO, 1997).

Não obstante as propostas para a redução da maioridade penal

contarem com forte apoio popular, há outra séria preocupação se qualquer

delas for acolhida: se os presídios são tidos como faculdades do crime,

colocar neles os adolescentes infratores, em companhia de adultos,

redundaria na rápida integração desses menores nos grupos de

organizações criminosas. E convém lembrar que os dois grupos que

atualmente mais amedrontam o Rio de Janeiro e São Paulo (“Comando

Vermelho” e “PCC”) nasceram justamente dentro dos nossos presídios.

Hoje, muito mais do que “universidades do crime” os presídios do nosso

25

A redução da Maioridade Penal é medida recomendável para a diminuição da Violência?

sistema penitenciário são verdadeiras “pós-graduações no crime”,

indicativo muito sério e que demonstra não ser recomendável a redução da

maioridade penal.

A isso se acrescente o significativo déficit de vagas no sistema

penitenciário pátrio. É de todos conhecida a realidade que mostra a

existência de milhares de mandados de prisão para serem executados, sem

muito esforço nesse cumprimento, inclusive por falta de vagas nos

presídios. Diante desse quadro, sem que o Estado tenha condições de

efetivar prisões de maiores delinqüentes, com que autoridade poderia

reduzir a maioridade penal, sabendo-se que essa medida não concorreria

para a redução da criminalidade violenta?

É insensato sustentar a falência do nosso sistema prisional e

nele querer inserir os menores de 18 anos. Se isso ocorresse, dentro de

alguns anos, qual seria a situação brasileira em relação à criminalidade?

Que resultados a sociedade colheria do envolvimento e convivência dos

menores de 18 anos com integrantes dos grupos organizados que se

formam dentro dos estabelecimentos penitenciários?

A propósito, para resgatar um importante pedaço da história do

direito no Brasil, não é demais registrar que em sua obra “Direito Penal da

Emoção” (1992), Maria Auxiliadora Minahin lembra que é necessário

defender a conquista da inimputabilidade dos menores de 18 anos e, ao

fazê-lo, cita Bento Faria que, ao comentar o artigo 30 do Código Penal de

1890, que fixava a inimputabilidade dos jovens até 14 anos, relata várias

decisões dos tribunais determinando a soltura de menores recolhidos em

prisões de adultos por falta de instituições adequadas. Essa observação

leva à indagação: depois de aproximadamente 117 anos, tempo em que

houve inquestionáveis conquistas humanitárias no Brasil, é razoável o

retrocesso que significaria a redução da maioridade penal?

Conclusão

26

A redução da Maioridade Penal é medida recomendável para a diminuição da Violência?

Nas pesquisas realizadas, a maioria da população brasileira tem

se manifestado a favor da redução da maioridade penal, talvez sem mais

aprofundada reflexão e muito em decorrência dos clamores veiculados nos

meios de comunicação. O povo é induzido na crença de que essa medida

poderia devolver a paz social por todos desejada, além de imaginar que ela

seria a mágica solução para o gravíssimo problema da segurança pública,

no Brasil. Essas premissas constituem grave equívoco, como esperamos ter

contribuído para entendê-lo.

A questão, nos debates, sempre fica centrada na redução da

maioridade penal e no aumento do prazo de internação dos menores

infratores. Todavia, há um outro ponto importante a ser debatido: é o da

recuperação de menores infratores, esta sim, uma medida que concorrerá

para a redução da criminalidade e da violência, além da coragem para

admitir que a miséria e a falta de educação são das maiores razões das

práticas de infrações penais pelos adolescentes.

Destarte, em vez de redução da maioridade penal impõe-se a

adoção de uma séria política de segurança pública, que se mostre ágil,

integrada e suficientemente ampla, na qual devem ser incorporados todos

os aparelhos do Estado e de suas instituições, sendo indispensável o

envolvimento dos vários setores da sociedade: empresários, organizações

não governamentais, igrejas, associações e outros órgãos que a integram.

A idéia da redução da maioridade penal é “saída” muito fácil

aos legisladores e para os administradores públicos. A sociedade cobra, e o

legislativo atua, popularescamente, aprovando a medida “desejada”.

Assim, as vozes que clamavam voltam ao silêncio, como se o grave

problema da criminalidade violenta estivesse resolvido.

Se adotada, inquestionavelmente, o problema continuará

presente, em face de suas causas que não são combatidas com seriedade.

Em conseqüência, num futuro breve poderá surgir outra proposta de

27

A redução da Maioridade Penal é medida recomendável para a diminuição da Violência?

redução da idade para a imputabilidade penal, quem sabe a 12 (doze)

anos, e mais adiante para 10 (dez). Quem sabe não chegará o dia em que

alguns justifiquem a punição de nascituros, especialmente se pobres suas

genitoras.

Nos momentos de crises decorrentes de acontecimentos que

marcam mais profundamente a coletividade, exige-se o exercício de maior

ponderação, até porque, como já se sabe entre nós, medidas paliativas não

são eficazes, e isso se confirma com a denominada Lei dos Crimes

Hediondos, que não reduziu suas práticas.

Não podemos concordar com “soluções mágicas” que não

concorrem para o enfrentamento de problemas, como o da criminalidade

violenta. A proposta de redução da maioridade penal se enquadra nesse rol

de medidas que de nada valem para a sociedade.

Mais razoável é exigir que o Poder Público cumpra com as

obrigações impostas no Estatuto da Criança e do Adolescente, consoante as

políticas públicas e os princípios previstos na Constituição Federal, o que

propiciará a recuperação de menores infratores. E, para crimes de

extremada violência, como os dois lembrados no início deste trabalho,

quem sabe uma solução mais adequada seja alterar a lei ordinária (ECA),

para possibilitar o aumento do tempo máximo de internação

independentemente de atingida a maioridade penal.

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