recuperação da santa tecla

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A avenida Santa Tecla, principal acesso à zona urbana de Bagé, era motivo de preocupação para todos no município. Quer por sua insegurança, motivada pela falta de sinalização adequada, cruzamentos perigosos e pela possibilidade que oferecia àqueles que dirigiam perigosamente, em alta velocidade, quer por sua estética e falta de estrutura própria de uma via que deveria ser um dos grandes "cartões postais" da cidade. Este era um tema que me preocupava desde a década de 80, época em que exercia o mandato de vereador na Câmara Municipal. Minha preocupação com o assunto era tão grande que, em determinada época, solicitei um estudo ao saudoso Júlio Efraim Tripodi Lanza, meu assessor na Câmara de Vereadores, que fizesse um estudo no Detran para quantificar o número de acidentes registrados na Santa Tecla. Foi necessário pelo menos um mês de trabalho intenso, pesquisando uma a uma todas as ocorrências de trânsito do ano anterior em Bagé. O sistema não era informatizado e a Polícia não possuía estatísticas. O estudo constatou que 40% dos acidentes na zona urbana de Bagé ocorriam na Santa Tecla. Permito-me, aqui, abrir um parêntese Memórias de um tempo A luta pela Santa Tecla para lembrar, com muito carinho e respeito, da figura de "Don Júlio", companheiro histórico do PT de Bagé, homem cheio de utopias, que nos ensinou muito com sua maturidade. Apesar de sonhador, nas ações procurava o realismo e, com seus exemplos, ajudou em muito a construir o PT em nosso município. Hoje, se vivo fosse, deveria estar muito feliz com o belo trabalho que Mujica realiza à frente do governo do Uruguai, sua terra natal e o que Lula fez aqui, no Brasil, País que adotou e pelo qual foi adotado. Mas o que fazer para corrigir estes problemas? O município não tinha recursos suficientes para o investimento, já que se tratava de uma obra cara, coisa de pelo menos R$ 10 milhões. Mas, uma solução teria que ser dada, já que havíamos perdido muitas vidas naquela que se tornou a mais perigosa dentre todas as vias urbanas. Por ser municipal, não poderia receber recursos do governo Federal. Mesmo assim, fui ao Dnit, dirigido pelo meu amigo Hideraldo Caron, que já havia ajudado Bagé quando presidente do Daer, no governo do companheiro Olívio Dutra, cedendo máquinas da autarquia para que pudéssemos recuperar as estradas do interior na primeira colheita da safra no nosso governo, no verão de 2001. Hideraldo disse que só tinha um jeito:

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A avenida Santa Tecla, principal acesso à

zona urbana de Bagé, era motivo de

preocupação para todos no município.

Quer por sua insegurança, motivada pela

falta de sinalização adequada, cruzamentos

perigosos e pela possibilidade que oferecia

àqueles que dirigiam perigosamente, em alta

velocidade, quer por sua estética e falta de

estrutura própria de uma via que deveria ser

um dos grandes "cartões postais" da cidade.

Este era um tema que me preocupava desde

a década de 80, época em que exercia o

mandato de vereador na Câmara Municipal.

Minha preocupação com o assunto era

tão grande que, em determinada época,

solicitei um estudo ao saudoso Júlio Efraim

Tripodi Lanza, meu assessor na Câmara de

Vereadores, que fizesse um estudo no Detran

para quantificar o número de acidentes

registrados na Santa Tecla. Foi necessário

pelo menos um mês de trabalho intenso,

pesquisando uma a uma todas as ocorrências

de trânsito do ano anterior em Bagé. O

sistema não era informatizado e a Polícia não

possuía estatísticas. O estudo constatou que

40% dos acidentes na zona urbana de Bagé

ocorriam na Santa Tecla.

Permito-me, aqui, abrir um parêntese

Memórias de um tempo

A luta pela Santa Tecla

para lembrar, com muito carinho e respeito,

da figura de "Don Júlio", companheiro

histórico do PT de Bagé, homem cheio de

utopias, que nos ensinou muito com sua

maturidade. Apesar de sonhador, nas ações

procurava o realismo e, com seus exemplos,

ajudou em muito a construir o PT em nosso

município. Hoje, se vivo fosse, deveria estar

muito feliz com o belo trabalho que Mujica

realiza à frente do governo do Uruguai, sua

terra natal e o que Lula fez aqui, no Brasil,

País que adotou e pelo qual foi adotado.

Mas o que fazer para corrigir estes

problemas? O município não tinha recursos

suficientes para o investimento, já que se

tratava de uma obra cara, coisa de pelo

menos R$ 10 milhões. Mas, uma solução teria

que ser dada, já que havíamos perdido muitas

vidas naquela que se tornou a mais perigosa

dentre todas as vias urbanas. Por ser

municipal, não poderia receber recursos do

governo Federal. Mesmo assim, fui ao Dnit,

dirigido pelo meu amigo Hideraldo Caron, que

já havia ajudado Bagé quando presidente do

Daer, no governo do companheiro Olívio Dutra,

cedendo máquinas da autarquia para que

pudéssemos recuperar as estradas do interior

na primeira colheita da safra no nosso

governo, no verão de 2001.

Hideraldo disse que só tinha um jeito:

federalizar a Santa Tecla, o que era quase

impossível, pois, até então, o governo só havia

autorizado tal operação em uma única

oportunidade, para um município no interior

da Bahia. O presidente Lula, ao visitar esta

cidade, precisou percorrer uma estrada em

péssimas condições do Aeroporto até o centro

do município. Reclamou ao prefeito da má

conservação e o chefe do Executivo local

disse que não tinha dinheiro para executar as

melhorias necessárias. Lula, sensibilizado,

autorizou a federalização.

Determinei ao nosso coordenador de

Projetos, Márcio Pestana, que fosse para

Brasília, acampasse no Dnit e só voltasse com

uma alternativa. Ele estudou a legislação,

pesquisou processos e, em duas semanas, se

capacitou para montar o nosso Projeto de

Viabilidade Econômica, Financeira e

Ambiental, base para que a pretensão

obtivesse sucesso. Argumentamos, entre

outras coisas, que a Santa Tecla foi construída

pelo governo Federal, na época do presidente

Médici, que ela era o acesso à sede da

Unipampa, universidade que a União estava

instalando em nossa cidade e que a mesma

era fundamental para o desenvolvimento de

Bagé.

Memórias de um tempo

O projeto foi tão bem elaborado que

aprovamos a federalização da Santa Tecla.

Contratamos, então, uma empresa de

engenharia para fazer o projeto básico da

revitalização da avenida, que queríamos mais

bonita e mais segura. Projetamos a

drenagem, o recapeamento asfáltico, a

instalação de rótulas, a ciclovia, os canteiros

e, avançamos, colocando no projeto também

a reconstrução das calçadas que, pela

legislação municipal, deveria ficar por conta

dos proprietários dos imóveis. Houve, ainda, a

necessidade de algumas desapropriações. O

Dnit licitou a obra nos seus 8.8 quilômetros

de extensão (4,4 km no sentido centro/BR e

outros 4,4 no sentido contrário).

Um fato interessante é que pagamos o

projeto com o que arrecadamos de ISS da

empresa que ganhou a concorrência

promovida pelo Dnit. Foi, então, mais uma

obra que não custou nada para a população

de Bagé. Aliás, teve um custo sim: um cordeiro

de minha chácara que levei para o churrasco

na casa do senador Sérgio Zambiasi, em que

tratamos do assunto com o ministro dos

Transportes, Alfredo Nascimento. Duas HistóriasMinistro Nascimento que, aliás, foi

decisivo para esta conquista. Fomos, eu, o

prefeito da Hulha Negra, Marco Antônio Canto,

o deputado Paulo Pimenta e o então

proprietário do Frigorífico Pampeano, James

Cleary, a Brasília para solicitar ao ministro

recursos para a Santa Tecla e para a

construção do acesso à principal indústria do

nosso município vizinho. O ministro disse que

as prefeituras deveriam custear o projeto, com

o que ficaria mais fácil obter a verba e

ordenou ao Hideraldo que priorizasse as

nossas demandas, desde que, preenchidos os

requisitos legais. Voltei para Bagé e quase que

imediatamente contratamos a empresa para

executar o projeto básico. Fomos

contemplados com a modernização da Santa

Tecla e, só agora, o prefeito Erone Londero,

compreendendo a importância do Pampeano

Memórias de um tempo

*Esse texto faz parte de Memórias de Um Tempo, uma série publicada no Jornal Minuano de Bagé, em que procurei resgatar fatos de nossa gestão de oito anos na Prefeitura Municipal.

para o seu município, no primeiro ano do seu

mandato, elaborou o projeto que já

encaminhamos ao Daer, com boas

perspectivas do asfalto ser construído pelo

governo do estado.

Até hoje dou explicações ao meu sogro, o

Valdir Pilon, e ao Zago. Eles não entendem

como os engenhos deles são os únicos,

dentre todos os instalados na Santa Tecla, a

não contarem com uma rótula na frente, o

que facilitaria a entrada e saída de

caminhões. Digo a eles que esta era uma

decisão técnica, tomada pelos engenheiros

que projetaram a reconstrução da Santa

Tecla. Tecnicamente, em função da distância

entre uma e outra rótula, naqueles locais, não

era recomendado implantar rótulas. E nós não

implantamos.

TARSO Governador 13 • OLÍVIO Senador 131 • DILMA Presidenta 13