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Raquel Afonso Caserta Eid
ESTRATÉGIAS NA PREVENÇÃO DE PNEUMONIA ASSOCIADA À
TRAQUEOSTOMIA EM UNIDADE DE SEMI INTENSIVA
Tese apresentada à Universidade Federal
de São Paulo – Escola Paulista de
Medicina, para obtenção do Título de
Mestre em Ciências.
São Paulo
Raquel Afonso Caserta Eid
ESTRATÉGIAS NA PREVENÇÃO DE PNEUMONIA ASSOCIADA À
TRAQUEOSTOMIA EM UNIDADE DE SEMI INTENSIVA
Tese apresentada à Universidade Federal
de São Paulo – Escola Paulista de
Medicina, para obtenção do Título de
Mestre em Ciências.
Orientador:
Dr. Alexandre Rodrigues Marra
São Paulo
Eid, Raquel Afonso Caserta
Estratégias na prevenção de pneumonia associada à traqueostomia
em Unidade de Semi Intensiva / Raquel Afonso Caserta Eid. – São Paulo,
2014.
xii, 58f.
Tese (Mestrado) – Universidade Federal de São Paulo. Escola Paulista
de Medicina. Programa de Pós-Graduação em Doenças Infecciosas e
Parasitárias.
Título em inglês: Successful prevention of tracheostomy associated
pneumonia in step-down units.
1. Traqueostomia. 2. Pneumonia/Prevenção e controle. 3. Unidades de
Terapia Intensiva.
iii
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO
ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA
DISCIPLINA DE DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS
Chefe da Disciplina:
Prof. Eduardo Alexandrino Servolo de Medeiros
Coordenador do Curso de Pós-graduação:
Prof. Ricardo Sobhie Diaz
iv
Raquel Afonso Caserta Eid
ESTRATÉGIAS NA PREVENÇÃO DE PNEUMONIA ASSOCIADA À
TRAQUEOSTOMIA EM UNIDADE DE SEMI INTENSIVA
Presidente da banca:
Dr. Alexandre Rodrigues Marra
BANCA EXAMINADORA
Dr. Sergio Barsanti Wey
Dr. Gustavo Janot de Matos
Dra. Luciana Chiavegato
Dra. Karina Tavares Timenetsky
v
Dedicatória
Aos meus pais,
Silvério e Regina
Ao meu marido Farid
E aos meus filhos
Ana Luiza e Murilo
por todo incentivo e apoio
durante esta fase da minha vida.
vi
Agradecimentos
Ao Dr. Alexandre Rodrigues Marra, pelo seu ensinamento, incentivo, apoio,
confiança e amizade nos momentos de convivência.
Ao Dr. Luis Fernando Aranha Camargo pelos seus inestimáveis ensinamentos e
que inconscientemente me incentivou na área de pesquisa.
A toda minha equipe de fisioterapia que contribuiu para que eu pudesse me
ausentar das minhas atividades diárias.
Ao Grupo de Controle de Infecção do HIAE, em especial, Claudia Vallone.
Ao Centro de Terapia Intensiva do Hospital Israelita Albert Einstein, que me
proporcionou desenvolvimento profissional.
vii
Sumário
Dedicatória ............................................................................................................................ v
Agradecimentos .................................................................................................................... vi
Lista de figuras ..................................................................................................................... ix
Lista de tabelas ...................................................................................................................... x
Lista de abreviaturas............................................................................................................. xi
Resumo ................................................................................................................................ xii
INTRODUÇÃO ..................................................................................................................
Objetivos .....................................................................................................................
REVISÃO DA LITERARTURA ..........................................................................................
Patogenia ...................................................................................................................
Pneumonias bacterianas ...................................................................................
Diagnóstico .................................................................................................................
Fatores de Risco .......................................................................................................
Relacionados ao hospedeiro ............................................................................
Relacionadas ao controle de infecção .............................................................
Relacionados a procedimentos ........................................................................
Aspirações de secreções ....................................................................
Cirurgias .............................................................................................
Medicamentos .....................................................................................
Sondas e posicionamento do paciente ................................................
Complicações da traqueostomia ...............................................................................
Patógenos ................................................................................................................
Prevenção de Pneumonia .........................................................................................
Medidas de Prevenção ....................................................................................
Decúbito elevado (30- 45°) ..................................................................
Interrupção diária da sedação e evitar o uso de agentes paralisantes
Aspiração de secreção subglótica contínua ........................................
Higiene oral com antissépticos (clorexidine veículo oral).....................
Outras medidas de prevenção .........................................................................
Circuito do ventilador ..........................................................................
Umidificadores ....................................................................................
Sistema de aspiração ..........................................................................
Evitar extubação não programada (acidental) e reintubação ...............
Monitorizar pressão do balonete (cuff) ................................................
viii
Utilização de ventilação mecânica não-invasiva (VMNI)......................
Traqueostomia precoce.......................................................................
Sonda enteral na posição gástrica ou pilórica .....................................
Intubação orotraqueal ou nasotraqueal ...............................................
Inaladores........................................................................................
Nebulizadores .................................................................................
Descontaminação Digestiva Seletiva (DDS) ....................................
Prevenção de administração de antibiótico intravenoso ..................
Auditoria ...................................................................................................................
MÉTODOS ......................................................................................................................
Local do estudo ........................................................................................................
Tipo de estudo e período ..........................................................................................
Definições .................................................................................................................
Definições quanto ao diagnóstico ....................................................................
Definições quanto à taxa de incidência de pneumonia .....................................
Critérios de inclusão .................................................................................................
Coleta de dados clínicos ...........................................................................................
Coleta de dados dos procedimentos .........................................................................
Métodos microbiológicos...........................................................................................
Análise estatística .....................................................................................................
RESULTADOS ...............................................................................................................
Resultados Microbiológicos ......................................................................................
DISCUSSÃO ...................................................................................................................
CONCLUSÕES ...............................................................................................................
ANEXOS .........................................................................................................................
REFERÊNCIAS ..............................................................................................................
Abstract
Bibliografia consultada
ix
Lista de figuras
Figura 1. Diagrama dos pacientes traqueostomizados em ambas as fases do estudo. ........
Figura 2. Densidade de incidência de pneumonia associada à ventilação mecânica em
pacientes traqueostomizados na semi intensiva por 1,000 ventilador-dia.
Fase 1: Jan 2007 à Out 2007; Fase 2: Nov 2007 à Ago 2008. ..............................
Figura 3. Taxa de utilização de traqueostomia (dias de traqueostomia/ pacientes dia)
na unidade de semi-intensiva. ..............................................................................
Figura 4. Densidade de incidência de pneumonia associada à traqueostomia (PAT) por
.000 traqueostomia dias e de pneumonia associada à ventilação mecânica
(PAV) por 1.000 dias de ventilação mecânica no período de janeiro de 2006
a agosto de 2009, na unidade de semi-intensiva. .................................................
x
Lista de tabelas
Tabela 1. Características dos patógenos identificados durante as duas fases do estudo
nos pacientes da unidade de semi-intensiva ........................................................
xi
Lista de abreviaturas
CDC Centers for Disease Control and Prevention
N Número
NNISS National Nosocomial Infections Surveillance System
RR Risco Relativo
UTI Unidade de Terapia Intensiva
PAV Pneumonia Associada à Ventilação Mecânica
SCIH Serviço de controle a infecção Hospitalar
VM Ventilação mecânica
PaO2 Pressão arterial de oxigênio
FiO2 Fração inspirada de oxigênio
DPOC Doença pulmonar obstrutiva crônica
pH potencial Hidrogeniônico
LBP Lavado broncopulmonar
AET Aspirado endotraqueal
EP Escovado protegido
IHI Institute for Healhcare Improvement
HME Heat Moisture Exchange
VMNI Ventilação mecânica não invasiva
TQT Traqueostomia
PAT Pneumonia associada à traqueostomia
MDI Metered Dose Inhaler
O Oxigênio
SARA Síndrome do desconforto respiratório agudo
Bilevel Ventilação com dois níveis de pressão
PCT Procalcitonina
PCR Proteina C Reativa
xii
Resumo
Introdução: Os cuidados na prevenção de infecções nas unidades de terapia
intensiva estão bem descritos e definidos, porém, a vigilância dos pacientes
internados em unidades de semi intensiva que necessitam de cuidados
intermediários e que dispõem de ventilação mecânica via traqueostomia por
equipamentos com 2 níveis de pressão, precisam ser compreendidos. Objetivo:
Avaliar o efeito das intervenções implementadas em uma unidade de semi intensiva
em dois diferentes períodos, na redução de pneumonia associada à traqueostomia.
Métodos: Estudo de coorte histórica (ou a quasi experimental study) conduzido em
uma unidade de terapia semi intensiva. Foram implementadas várias intervenções
para otimizar a prevenção de pneumonia associada à traqueostomia e avaliadas em
duas fases. De janeiro de a outubro de 2007 (fase 1), algumas práticas
recomendadas pelo Centers for Disease Control and Prevention (CDC) foram
implementadas e realizada a vigilância pela equipe do Serviço de Controle em
Infecção Hospitalar (SCIH) quanto aos casos de pneumonia associado à
traqueostomia. De outubro de 2007 a agosto de 2008 (fase 2) mantivemos as
mesmas práticas recomendadas pelo CDC, o acompanhamento pela mesma equipe
do SCIH, porém iniciamos a auditoria destes processos de materiais, com
intervenção à beira leito concomitantemente. Resultados: A densidade de
incidência de pneumonia associada à traqueostomia na semi intensiva por 1000
traqueostomias/dia foi de 6,0 na fase 1 e de 0,7 na fase 2. Ocorreu uma redução de
comparando a fase 1 com a fase 2. Conclusão: Estes resultados sugerem que
a redução na frequência de pneumonia associada à traqueostomia é um processo
contínuo que envolve a mensuração e a intervenção do desempenho
multiprofissional.
1 . I N T R O D U Ç Ã O
I n t r o d u ç ã o |
A pneumonia associada à ventilação mecânica (PAV) é definida como uma
infecção nosocomial que ocorre nos pacientes submetidos à ventilação mecânica por
um período superior a 48 horas. Admite-se hoje que além de ser a infecção mais
comum na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), a PAV na realidade está diretamente
relacionada ao uso de via aérea artificial, como o tubo orotraqueal ou a cânula de
traqueostomia (TQT). Este tipo de pneumonia está associado ao aumento no tempo
de duração da ventilação mecânica, no tempo de estadia na UTI e no hospital, e por
conseqüência, associada ao incremento nos custos à saúde e a uma maior
mortalidade (Heyland et al., 1999; Lorente et al., 2007a).
A PAV é um tipo de infecção muito comum em UTI adulto e pediátrica
(Richards et al., 1999), com incidência de 9 a 27% dos pacientes intubados
(American Thoracic Society, 2005). Publicações recentes descrevem que a taxa
desta doença varia de 1 a 4 casos por 1.000 ventiladores-dia, porém pode exceder
10 casos por 1.000 ventiladores-dia na população de neonatal e em pacientes
cirúrgicos (Edwards et al., 2008). Os resultados de recentes iniciativas para melhoria,
sugerem que muitos casos de PAV poderiam ser evitados através da atenção no
processo de atendimento.
Estima-se que a mortalidade atribuída a PAV seja em torno de 24% entre 15 e
19 anos de idade, a 60% dos pacientes com 85 anos ou mais (Centers for Disease
Control and Prevention (US), 2013). Segundo o Institute for Healthcare Improvement
(IHI), a PAV é a principal causa de morte entre as infecções adquiridas no hospital,
superando a taxa de mortalidade gerada pela infecção de cateter central, sepse
grave e infecções do trato respiratório em indivíduos não intubados (Institute for
Healthcare Improvement, ). Além disso, a PAV está também associada à
considerável morbidade, incluindo o tempo de permanência no hospital e na UTI
(Heyland et al., 1999), a ventilação mecânica prolongada e aumento dos custos da
internação hospitalar (Heyland et al., 1999; Rello et al., 2002), a utilização em
excesso de medicamentos antimicrobianos, e conseqüente aumento nos custos
direcionados à saúde.
Em todos os pacientes ventilados mecanicamente, a incidência de PAV
aumenta com a duração de ventilação. O risco de PAV é mais elevado no início do
curso da internação hospitalar, e é estimada em 3% por dia, durante os primeiros 5
I n t r o d u ç ã o |
dias de ventilação, 2% por dia durante 5 dias a 10 de ventilação, e 1% por dia após
este período. Apesar de inúmeros estudos originais, revisões e meta-análises sobre
patogênese e estratégias de prevenção da PAV, ainda há muitas controvérsias a
este respeito (Lorente et al., 2007a).
Além do tempo de duração da ventilação mecânica, inúmeros fatores de risco
podem estar associados à PAV, incluindo a presença de doença pulmonar crônica,
sepse, síndrome do desconforto respiratório agudo (SARA), doenças neurológicas,
traumas, uso pregresso de antibióticos e transfusões de glóbulos vermelhos,
intubação orotraqueal prolongada, uso de alimentação enteral, episódio de
broncoaspiração, uso de agentes paralisantes, presença de doença subjacente e os
de extremos de idade (Kollef, 1993).
Caruso et al. demonstraram que as principais razões para a ventilação
mecânica prolongada são: pneumonia (28%), insuficiência respiratória hipoxêmica
9,1%), coma (21,8%), choque (10%), doenças neuromusculares (1,9%) e outros
(9,2%). Imunossupressão foi diagnosticada em 29,9% e foi associada com
leucopenia em 4,2%.
A intubação endotraqueal e a ventilação mecânica alteram os mecanismos de
defesa, funcionando como um canal direto de transporte de microrganismos,
principalmente pela inalação de aerossóis e gotículas contaminadas dos
umidificadores, pela manipulação excessiva pelas equipes através do contato com
as mãos (risco de transmissão cruzada de microrganismos) e pela aspiração de
microrganismos, onde o papel do cuff é fundamental.
A traqueostomia é um procedimento comum em pacientes sob ventilação
mecânica prolongada (definindo-se ventilação prolongada quando acontece acima
de 21 dias). Aproximadamente 10% dos pacientes graves em ventilação mecânica
são submetidos à traqueostomia. O fato é que o uso da traqueostomia facilita a
transferência do paciente para unidades de semi-intensivas ou unidades
respiratórias, o que explica ser a traqueostomia realizada de forma frequentemente
precoce, e diminui a possibilidade de reentubação por falha da extubação.
As complicações tardias da traqueostomia como: formação de tecido
granulomatoso, estenose de traqueia, traqueomalácia, fístula traqueo-esofágica,
pneumonia associada à ventilação mecânica e aspiração devem ser consideradas.
I n t r o d u ç ã o |
Recentemente, os hospitais têm criado um novo perfil de hospitalização, com
cuidados intermediários, entre UTI e enfermaria, para pacientes que saíram da fase
aguda da doença, porém necessitando de monitorização e continuidade de suporte
ventilatório.
Baseado nas medidas de prevenção de pneumonia associada à ventilação
mecânica (PAV) utilizada na UTI, que já estão bem descritas e estabelecidas na
literatura (Centers for Disease Control and Prevention (US), 2004; Institute for
Healthcare Improvement, , e a vigilância por auditoria de procedimentos, vimos
a necessidade de estendermos essa vigilância para a unidade de semi-intensiva nos
pacientes traqueostomizados com uso de ventilação mecânica com dois níveis de
pressão (Bilevel) ou em nebulização.
1.1 Objetivos
Avaliar o efeito das intervenções para reduzir a incidência de pneumonia
associada à traqueostomia na unidade de semi-intensiva.
Avaliar a incidência de pneumonia associada à traqueostomia.
Analisar os patógenos de maior prevalência na população estudada.
2 . R E V I S Ã O D A L I T E R A R T U R A
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2.1 Patogenia
2.1.1 Pneumonias bacterianas
No cenário das pneumonias, as bactérias invadem o trato respiratório inferior
mediante à aspiração de secreção presente na orofaringe, ou por inalação de
aerossóis contaminados, ou, menos frequentemente, por disseminação
hematológica, originada de um foco à distância. A translocação bacteriana, a partir
do trato gastrointestinal, tem sido considerada uma via alternativa de infecção,
através da aspiração. Estudos com marcadores radioisotópicos demonstraram que
45% dos adultos sadios aspiram durante o sono. Pacientes com maior probabilidade
de aspirar são os que apresentam anormalidades nos mecanismos de deglutição, os
que apresentam rebaixamento do nível de consciência, aqueles que são submetidos
a procedimentos invasivos do trato gastrointestinal ou das vias aéreas inferiores,
principalmente os pacientes em ventilação mecânica.
Os fatores que propiciam a colonização da flora bacteriana da orofaringe,
compreendem: pacientes em coma, hipotensão, acidose, uremia, alcoolismo,
diabetes mellitus, leucocitose, leucopenia, doença pulmonar, uso de antibióticos e
tubos nasogástricos ou endotraqueais.
A colonização por bacilos gram-negativos começa pela aderência destas
bactérias às células epiteliais da orofaringe ou da mucosa traqueo-brônquica, que
vai depender dos mecanismos bacterianos, das células do hospedeiro, e do
ambiente.
O estômago é considerado um reservatório de microrganismos com o
potencial de favorecer o surgimento de pneumonia, na dependência da condição do
hospedeiro e de eventuais intervenções com objetivos profiláticos ou terapêuticos.
Bactérias, muito raramente, mantém-se viáveis em meio a um pH<2. Quando o pH
for ≥ , os microrganismos multiplicam-se rapidamente no estômago, atingindo altas
concentrações. Tal multiplicação pode ocorrer espontaneamente (indivíduos idosos),
ou de forma induzida, na vigência de alimentação enteral e quando do uso de
antiácidos e antagonista de receptores histamínicos H-
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A inalação de aerossóis contaminados, usados para terapia respiratória, são
portas de entrada de bactérias para as vias aéreas inferiores. Os fluidos veiculados
são a forma de aerossóis nos circuitos da terapêutica inalatória podem conter
grandes concentrações de bactérias, chegando às pequenas vias aéreas. Este fato
é mais grave nos pacientes com traqueostomia, pela facilidade de acesso direto às
vias aéreas inferiores.
Por fim a pneumonia devido à disseminação hematogênica, a partir de um
sítio infectado, é rara.
2.2 Diagnóstico
A maioria dos epidemiologistas e profissionais dos grupos de infecção
hospitalar utilizam a definição de PAV apresentada pelo National Healthcare Safety
Network (NHSN), que utiliza três grupos de critérios: clínico, radiológico e
microbiológico para o diagnóstico. Alguns grupos também consideram a resposta de
biomarcadores como um ítem a ser analisado para o correto diagnóstico. Apesar da
padronização da definição da PAV, uma significativa influência inter-observador
pode confundir os achados do diagnóstico (Cook et al., 1998).
O primeiro passo para o diagnóstico da PAV é a suspeita clínica. A definição
mais aceita atualmente para a suspeita de pneumonia associada à ventilação
mecânica é a presença de alterações radiológicas associadas a mais dois dos
seguintes critérios: leucocitose (acima de 12000 cels/ mm ) ou leucopenia, (abaixo
de 4000 cels/ mm ), secreção purulenta e febre (37,8°C) ou hipotermia (< °C)
(Heyland et al., 2002). Lembrando-se que os infiltrados pulmonares evidenciados na
radiografia de tórax podem ser sensíveis, mas geralmente são inespecíficos.
O próximo passo é obter amostras de secreção de via aérea inferior para os
exames microbiológicos. Há muito tempo se discute a superioridade da coleta de
secreção traqueal através de técnica invasiva (via broncoscopia) versus não invasiva
(aspirado endotraqueal) para diagnóstico de pacientes com suspeita de PAV e da
utilidade de culturas quantitativas versus qualitativas (Heyland et al., 2002). O
Canadian Critical Care Trials Group realizou um dos maiores estudos a este
respeito e demonstrou que não há diferença na mortalidade, considerada nos 28
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dias subseqüentes à coleta, assim como no tempo de uso da antibióticoterapia e
permanência na UTI ou no hospital (Marra et al., 2009).
É importante lembrar que a PAV é uma doença multifocal e freqüentemente
afeta ambos os pulmões. Uma limitação da abordagem invasiva pode ser a
possibilidade de inoculação do pulmão saudável com o broncoscópio após a
amostragem do pulmão infectado. Atualmente existem vários cateteres que foram
validados para realizar a amostragem da secreção pulmonar e que podem ser
direcionados a um determinado pulmão, aumentando assim o rendimento
diagnóstico. Estas técnicas são muito valiosas na UTI quando não há disponibilidade
de um broncoscopista. É de suma importância que a introdução de novos
antibióticos tenha sido superior a 72 horas no momento da coleta de amostras da
secreção do trato respiratório inferior, pois esta conduta pode afetar a validade do
diagnóstico citológico e microbiológico com este tipo de exame (Valencia, Torres,
.
Em resumo, a suspeita clínica de PAV pode ser considerada um bom ponto
de partida e os dados bacteriológicos podem não aumentar a precisão do
diagnóstico (Cook et al., 1998) já que a realização de técnicas invasivas em todos os
pacientes para obtenção de amostras de secreções das vias respiratórias inferiores
fornecem dados semelhantes a respeito do diagnóstico, mortalidade e utilização de
antibióticos. Ainda assim, há necessidade de confirmação diagnóstica para que se
evite o uso abusivo de antibióticos ou atrasos no tratamento da PAV (Valencia,
Torres, 2009) e esta precaução deve ser considerada como uma regra em pacientes
nos quais a colonização ou infecção por microorganismos multirresistentes são
potencialmente prováveis. As culturas quantitativas podem ser obtidas por diferentes
métodos, incluindo lavado broncoalveolar (LBA), LBA protegido (LBAp) ou aspiração
traqueobrônquica. Essas técnicas são equivalentes no diagnostico da PAV e a
rápida disponibilidade de dados citológicos, incluindo células inflamatórias e Gram
negativas, podem ser úteis na decisão da terapêutica inicial. A realização de
hemoculturas são relativamente insensíveis para diagnosticar pneumonia (Cook et
al., 1998).
A utilização de biomarcadores como a proteína-C reativa (PCR) e
procalcitonina (PCT), são promissoras para o diagnóstico de PAV, enquanto que a
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dosagem de fibra de elastina (EL) e de endotoxinas tem valor limitado. Mais estudos
são necessários para determinar completamente a precisão do diagnóstico destes e
de outros biomarcadores (Cook et al., 1998).
O diagnóstico tardio e subsequente atraso no início da terapêutica adequada
pode estar associada a piores resultados em pacientes com PAV. Por outro lado, o
diagnóstico incorreto pode levar a um tratamento desnecessário e
consequentemente a complicações relacionadas à terapia (American Thoracic
Society, 2005; Klompas et al., 2011). O diagnóstico precoce e preciso é, portanto
fundamental na condução de pacientes com PAV.
Fatores como estratégia de vigilância, técnicas de diagnóstico e diferenças
nos procedimentos microbiológicos e laboratoriais são os prováveis responsáveis
por algumas das diferenças nas taxas de PAV entre diferentes instituições (Klompas
et al., .
Avaliar o desempenho desses vários testes diagnósticos em pacientes com
suspeita de PAV é desafiador, pois a ausência de um bom padrão de comparação é
o principal fator limitante. Estabelecer um diagnóstico de PAV baseado em patologia
ou histologia acrescido da cultura do tecido pulmonar tem um considerável grau de
incerteza, no entanto, considera-se a melhor informação disponível, ou seja, o
"padrão ouro" (Klompas et al., 2011).
Além da dificuldade diagnóstica gerada pelo uso de exames pouco
específicos, o fato de a PAV ser uma doença multifocal e heterogênea aumenta
ainda mais a dificuldade em estabelecer o seu diagnóstico. Do mesmo modo, as
culturas podem perder o domínio da doença ativa (gerando resultados falso-
negativos), ou podem detectar áreas clinicamente benignas de colonização
bacteriana (produzindo resultados falso-positivos) (Torres et al., 1992).
A associação de comorbidades cardiorrespiratórias pode ser outra fonte de
viés no diagnóstico de PAV. Autópsias de pacientes sob ventilação mecânica com
suspeita de pneumonia frequentemente revelam um substancial ônus ou
coexistência de doenças pulmonares que também podem causar febre, insuficiência
de troca gasosa, aumento no volume da secreção pulmonar e opacidades ao exame
radiológico. Essas outras condições incluem doença tromboembólica, hemorragia,
dano alveolar difuso, fibrose, atelectasia, carcinoma, linfoma, e outros (Torres et al.,
R e v i s ã o d a L i t e r a t u r a |
1992; Fabregas et al., 1996). A alta prevalência de doenças pulmonares
coexistentes em pacientes mecanicamente ventilados complica ainda mais as
tentativas de diagnosticar clinicamente a PAV.
Como nenhum dos testes disponíveis, é capaz de fornecer o diagnóstico
preciso da PAV quando realizado isoladamente, uma estratégia diagnóstica
incorporando vários critérios, como a descrito abaixo parece ser uma boa opção
(Critérios Nacionais de Infecção do Trato Respiratório, ANVISA, 2009).
RAIOS X PACIENTE COM DOENÇA DE BASE COM 02 OU MAIS RAIOS X SERIADOS COM UM DOS SEGUINTES ACHADOS: - INFILTRADO PERSISTENTE NOVO OU
PROGRESSIVO - OPACIFICAÇÃO - CAVITAÇÃO - PNEUMATOCELE EM MAIORES DE 1 ANO
DE IDADE
RAIOS X - PACIENTE SEM DOENÇA DE BASE COM
OU MAIS RAIOS X SERIADOS COM UM DOS SEGUINTES ACHADOS:
- INFILTRADO PERSISTENTE NOVO OU PROGRESSIVO
- OPACIFICAÇÃO - CAVITAÇÃO - PNEUMATOCELE EM MENORES OU
IGUAL A 1 ANO DE IDADE
SINAIS E SINTOMAS IMUNOSSUPRIMIDOS PELO MENOS 0 DOS CRITÉRIOS ABAIXO: - FEBRE (TEMPERATUA AXILAR ACIMA DE 37.8ºC), SEM
OUTRA CAUSA - SURGIMENTO DE SECREÇÃO PURULENTA OU
MUDANÇA DAS CARACTERISTICAS DA SECREÇÃO OU AUMENTO DA SECREÇÃO OU AUMENTO DA NECESSIDADE DE ASPIRAÇÃO.
- PIORA DA TROCA GASOSA (PIORA DA RELAÇÃO PAO2/FIO2 OU AUMENTO DA NECESSIDADE DE OXIGÊNIO OU AUMENTO DOS PARÂMETROS VENTILATÓRIOS).
E PELO MENOS 0 DOS CRITÉRIOS ABAIXO: - SURGIMENTO DE SECREÇÃO PURULENTA
OU MUDANÇA DAS CARACTERISTICAS DA SECREÇÃO OU AUMENTO DA SECREÇÃO OU AUMENTO DA NECESSIDADE DE ASPIRAÇÃO.
- PIORA DA TROCA GASOSA (PIORA DA RELAÇÃO PAO2/FIO2 OU AUMENTO DA NECESSIDADE DE OXIGÊNIO OU AUMENTO DOS PARÂMETROS VENTILATÓRIOS)
CRITÉRIOS LABORATORIAIS E PELO MENOS 0 DOS CRITÉRIOS ABAIXO: - HEMOCULTURA POSITIVA, SEM OUTRO FOCO DE
INFECÇÃO - CULTURA POSITIVA DO LÍQUIDO PLEURAL - LAVADO BRONCOALVEOLAR MAIOR OU IGUAL A 10
UFC/ML OU ASPIRADO TRAQUEAL COM CONTAGEM DE COLÔNIAS MAIOR OU IGUAL A 10
UFC/ML
- EXAME HISTOPATOLÓGICO COM EVIDÊNCIA DE INFECÇÃO PULMONAR
- ANTÍGENO URINÁRIO OU CULTURA PARA Legionella spp.
- OUTROS TESTES LABORATORIAIS POSITIVOS PARA PATÓGENOS RESPIRATÓRIOS (SOROLOGIA, PESQUISA DIRETA E CULTURA). *
SINAIS E SINTOMAS PELO MENOS 0 DOS CRITÉRIOS ABAIXO: - FEBRE (TEMPERATUA AXILAR ACIMA DE
ºC), SEM OUTRA CAUSA - LEUCOPENIA (ABAIXO DE 4000
CELS/MM3) OU LEUCOCITOSE (ACIMA DE 12000 CELS/MM3)
PNEUMONIA DEFINIDA MICROBIOLOGICAMENTE
PNEUMONIA DEFINIDA CLINICAMENTE
R e v i s ã o d a L i t e r a t u r a |
Enfim, uma abordagem integrada deve ser seguida para o diagnóstico e
tratamento de pacientes com PAV, incluindo o início imediato de antibioticoterapia e
posterior adequação do esquema antimicrobiano, de acordo com a resposta clínica
ou os resultados das culturas bacteriológicas.
2.3 Fatores de Risco
Diversos fatores de risco têm sido responsabilizados pelo aumento do risco
de pneumonia, sobretudo em pacientes admitidos na unidade de terapia intensiva
(UTI) e sob ventilação mecânica. Estes fatores de risco podem estar relacionados às
condições clínicas do hospedeiro e às medidas de controle à infecção. A incidência
da pneumonia depende diretamente do perfil dos pacientes na UTI, pela utilização
de métodos invasivos e da ventilação mecânica, além do uso de terapia
imunossupressora, aumentando a suscetibilidade do hospedeiro às infecções
bacterianas e ao aumento de mortalidade (American Thoracic Society, 2005).
2.3.1 Relacionados ao hospedeiro
Diversas condições clínicas predispõem à colonização bacteriana e,
consequentemente, à pneumonia, sobretudo às que comprometem os mecanismos
de defesa do hospedeiro, como a idade avançada, doença aguda ou crônica grave,
coma, desnutrição, hospitalização prolongada, hipotensão, acidose metabólica,
tabagismo e a presença de inúmeras outras comorbidades. Dentre as principais
comorbidades, estão as alterações do sistema nervoso central, a Doença Pulmonar
Obstrutiva Crônica, o diabetes mellitus, o alcoolismo, a uremia e a insuficiência
respiratória.
2.3.2 Relacionadas ao controle de infecção
O controle inadequado das infecções nosocomiais pode determinar a
transmissão de patógenos, especialmente pelas mãos da equipe assistencial, ou
ainda pelo uso de equipamentos de terapia respiratória contaminados. Pacientes
R e v i s ã o d a L i t e r a t u r a |
sob ventilação mecânica tem 6 a 21 vezes maior risco de adquirir pneumonia,
comparados ao que não receberam suporte ventilatório invasivo. Este risco pode ser
atribuído durante a intubação principalmente quando o paciente tem alterações dos
mecanismos de defesa pela existência de doenças subjacentes. Além disso, as
bactérias podem aderir na parede do tubo, e estas são transportadas pelo fluxo
ventilatório e pela manipulação do tubo para o trato respiratório inferior. O risco de
pneumonia está também aumentado pelo acesso direto ao trato respiratório inferior
por vazamentos ao redor do cuff. Recomenda-se manter a pressão do balonete
(cuff) ao redor de 15-20 cmH O.
2.3.3 Relacionados a procedimentos
2.3.3.1 Aspirações de secreções
Pessoas sadias, normalmente, aspiram durante o sono (45% dos indivíduos),
porém, as secreções são eliminadas pelos mecanismos de defesa das vias aéreas.
Nos indivíduos com distúrbio de deglutição, alterações neuromusculares, ou
sedados estão predispostos à aspiração mais frequente e haverá maior dificuldade
de remover essas secreções. A presença de distensão abdominal e a instalação de
sondas nasogástricas e de cânulas endotraqueais podem induzir à aspiração.
2.3.3.2 Cirurgias
O maior risco em se adquirir pneumonia nos pós-operatório são os pacientes
obesos, com idade acima de 70 anos, ou que tem DPOC associado. Cirurgias
abdominais altas e torácicas podem levar à dificuldade de tossir, por dor e por
alterações diafragmáticas, o que contribui para colapso alveolar, atelectasias e
acumulo de secreção pulmonar, bem como tempo cirúrgico prolongado.
R e v i s ã o d a L i t e r a t u r a |
2.3.3.3 Medicamentos
A utilização de sedativos e bloqueadores neuromusculares propicia a
retenção de secreções e favorece a aspiração. O uso inadvertidamente de
antibióticos está associado a um maior risco de pneumonia, resultando em maior
impacto na morbimortalidade por selecionar germes multirresistentes.
Indivíduos em uso de antiácidos e antagonistas-H2 estão predispostos à
pneumonia, conforme demonstram vários estudos, porem existem controvérsias
sobre este assunto. A correlação está entre a elevação do pH e o aumento do
número de bactérias no suco gástrico. Com pH abaixo de 3,5, raras bactérias são
encontradas, porem, com o pH ≥ a concentração de bactérias sofre multiplicação
progressiva.
2.3.3.4 Sondas e posicionamento do paciente
Pacientes em ventilação mecânica geralmente utilizam sonda enteral para
suporte nutricional ou por distensão abdominal. Sua presença promove estagnação
de secreções e maior colonização da orofaringe. Estas sondas e cânulas também
são fatores responsáveis pelas sinusites nosocomiais.
O controle da infusão da dieta enteral é primordial para se evitar risco de
distensão abdominal, aspiração e pneumonia.
Nestas condições, o posicionamento do paciente em supino é um grande
contribuidor das aspirações.
2.4 Complicações da traqueostomia
A traqueostomia está entre os procedimentos cirúrgicos mais comumente
realizados em pacientes críticos nas unidades de terapia intensiva que necessitem
de suporte ventilatório prolongado. Na maioria das vezes está indicada para facilitar
o desmame difícil e a higiene das vias aéreas, além de permitir a fala e a
alimentação, oferecendo maior conforto, mobilidade e segurança para o paciente.
(Kollef et al., 1999).
R e v i s ã o d a L i t e r a t u r a |
Está associada a complicações agudas, como sangramentos, infecções,
obstrução da cânula e decanulação acidental, e complicações tardias. As
complicações tardias podem ocorrer em 65% dos pacientes, sendo as mais
frequentes, estenose traqueal, traqueomalácia, fístula traqueo-esofágica, pneumonia
e aspiração (Epstein, 2005).
O risco de se desenvolver pneumonia hospitalar não muda em relação ao
tempo de traqueostomia (Griffiths et al., 2005).
Alguns estudos sugerem que a traqueostomia pode reduzir a incidência de
PAV. Moller e colaboradores demonstraram em seu estudo que a traqueostomia
precoce diminuiu a incidência de PAV, tempo de VM, tempo de internação na UTI e
internação hospitalar. Porém no estudo de Ibrahim et al. a presença da
traqueostomia foi fortemente associada ao desenvolvimento de pneumonia, com
uma razão de chances de 6,7.
No estudo de Georges e colaboradores, a PAV ocorreu em 26% dos 137
pacientes estudados, sendo que metade destes foram diagnosticado com 5 dias do
procedimento de traqueostomia. Os fatores de risco foram febre e colonização
bacteriana traqueal no momento do procedimento (Georges et al., 2000).
A broncoaspiração é uma das complicações da traqueostomia que pode
facilitar o desenvolvimento de pneumonia. Tolep e colaboradores demonstraram em
seu estudo que 50% dos pacientes traqueostomizados tinham sinais clínicos de
aspiração com balonete (cuff) inflado, e geralmente estas aspirações são
assintomáticas (aspiração silenciosa) (Tolep et al., 1996).
2.5 Patógenos
Os principais agentes causadores da pneumonia associada à ventilação
mecânica são: Staphylococcus aureus, Pseudomonas aeruginosa, e
Enterobacteriaceae. Estes se diferenciam de acordo com os pacientes em uma UTI,
duração de permanência na mesma e uma precoce terapia antimicrobiana.
Outra pesquisa foi feita com a finalidade de determinar o impacto dos
microrganismos multirresistentes na morbimortalidade de pacientes com PAV. Esta
R e v i s ã o d a L i t e r a t u r a |
surgiu em 91 pacientes, e em 82,4% dos casos foram causados por microrganismos
multirresistentes, onde o Staphylococcus aureus foi o causador de 27,5% dos casos
de PAV e a Pseudomonas aeruginosa por 17,6%. A PAV foi de início recente em
36,3% e de início tardio em 63,7%. Em 56% dos pacientes com pneumonia por
microrganismo multirresistente o tratamento empírico foi inadequado. Houve
mortalidade de 61,3% dos pacientes com a pneumonia por patógenos
multirresistentes (Far et al., 2001).
Um estudo brasileiro mostrou que 82,4% das PAV foram causadas por
microrganismos multiresistentes, sendo que o Staphylococcus aureus oxacilina
resistente foi isoladamente o agente mais prevalente (Teixeira et al., 2004). No
entanto, baseando-se nos dados do projeto SENTRY, a Pseudomonas aeruginosa
permanece como a bactéria que mais frequentemente causa PAV. Estes dados
demonstram a variabilidade entre os hospitais e unidades, bem como o risco de
tratamentos inadequados ao se adotar dados de prevalência de outros locais, como
base para elaboração de protocolos de tratamento empírico.
2.6 Prevenção de Pneumonia
Sendo a PAV uma doença de alta incidência e com impacto importante sobre
a mortalidade e morbidade dos pacientes, torna-se necessário a adoção de medidas
dirigidas à sua prevenção, o que pode fornecer uma grande vantagem em
comparação ao tratamento. Nos últimos anos os ensaios clínicos têm avaliado
inúmeras medidas de prevenção da PAV e diferentes recomendações por categoria
como Consenso Europeu, Centro de controle e prevenção de doenças (CDC),
Sociedade Canadense de Cuidados e a Sociedade Americana de Tórax.
Atualmente, a utilização de bundles grupo de medidas, “pacotes” para a
melhoraria dos procedimentos de saúde é muito comum. Segundo o IHI, algumas
recomendações devem ser seguidas para que haja efetiva prevenção da PAV. Para
tanto foi criado o “Ventilator Bundle”, que é um grupo de práticas baseadas em
evidencias, quando implementadas juntas em pacientes com ventilação mecânica
resulta em uma redução dramática na incidência de PAV. O Ventilator Bundle possui
4 componentes: cabeceira elevada à 30°- 45°(posicionamento no leito), a avaliação
R e v i s ã o d a L i t e r a t u r a |
diária para extubação, o despertar diário com protocolos padronizados para a
descontinuação da sedação, profilaxia de úlcera péptica e de trombose venosa
profunda (Institute for Healthcare Improvement, .
Deve-se destacar que o benefício deste bundle não é a curto prazo. A
implementação de programas preventivos e eficazes depende de esforço constante
e podem aumentar os custos iniciais, mas trará uma maior qualidade assistencial e
redução nos custos associados à saúde a longo prazo.
2.6.1 Medidas de Prevenção
2.6.1.1 Decúbito elevado (30- 45°)
Manter pacientes em posição de semi-recumbente, ou seja, com elevação da
cabeceira em 30 a 45°, salvo na existência de contra-indicação, tem demonstrado
associação com um risco reduzido de aspiração pulmonar.
A utilização do decúbito elevado reduz o risco de aspiração do conteúdo
gastrintestinal ou orofaríngeo e de secreção nasofaríngea, por este motivo, diminui a
incidência de PAV especialmente em pacientes recebendo nutrição enteral (Uckay et
al., 2008).
Outra razão para o acréscimo desta intervenção é a melhoria dos parâmetros
ventilatórios quando na posição semi-recumbente. Por exemplo, os pacientes nesta
posição apresentam um maior volume corrente quando ventilados com pressão de
suporte e redução no esforço muscular e na taxa de atelectasia (Uckay et al., 2008).
Segundo o Institute for Helthcare Improvement - IHI, inúmeras
recomendações podem ser seguidas para facilitar a implantação desta intervenção,
a exemplo destas, está a inclusão da intervenção na folha de controle da
enfermagem e estimular a notificação clínica caso a cama pareça não estar na
posição adequada (Kollef et al., 1999; Centers for Disease Control and Prevention
(US), 2004).
R e v i s ã o d a L i t e r a t u r a |
2.6.1.2 Interrupção diária da sedação e evitar o uso de agentes paralisantes
A utilização da interrupção diária da sedação e a avaliação da prontidão do
paciente para a extubação são parte integrante do pacote de medidas para
prevenção de pneumonia associada à ventilação mecânica (PAV) e têm sido
correlacionadas com uma redução do tempo de ventilação mecânica e, portanto a
uma redução na taxa de PAV (Kollef et al., 1999).
Apesar dos benefícios gerados pela interrupção diária da sedação, esta
intervenção pode apresentar alguns riscos. O exemplo disso está na extubação
acidental, no aumento do nível de dor e ansiedade e na possibilidade de assincronia
com a ventilação, o que pode gerar períodos de dessaturação.
É importante implantar um protocolo de avaliação diária da sedação, avaliar a
prontidão neurológica para extubação, incluir precauções para evitar a extubação
acidental, tais como maior monitorização e vigilância, avaliação diária multidisciplinar
e implementação de uma escala a fim de evitar aumento da sedação (Lorente et al.,
2007a, .
2.6.1.3 Aspiração de secreção subglótica contínua
A presença do tubo endotraqueal em pacientes em ventilação mecânica
contribui para o desenvolvimento de pneumonia. O tubo endotraqueal facilita a
colonização bacteriana da árvore traqueobrônquica e predispõe aspiração da
secreção contaminada pela diminuição do reflexo de tosse, acumulo de secreção
acima do balonete e a própria contaminação do tubo (Kollef et al., 1999; Georges et
al., 2000; Babcock et al., 2004).
A utilização da cânula orotraqueal com um sistema de aspiração de secreção
subglótica contínua ou intermitente é recomendada para pacientes que irão
permanecer sob ventilação mecânica acima de 48hs.
Uma recente meta análise concluiu que este sistema é eficaz na prevenção
de PAV e está associada a redução do tempo de VM e tempo de internação na UTI
(Muscedere et al., 2011).
R e v i s ã o d a L i t e r a t u r a |
2.6.1.4 Higiene oral com antissépticos (clorexidine veículo oral)
O entendimento que a PAV é propiciada pela aspiração do conteúdo da
orofaringe amparou a lógica de se tentar erradicar a colonização bacteriana desta
topografia com o objetivo de reduzir a ocorrência de PAV.
Diversos estudos têm demonstrado diminuição das pneumonias associadas à
ventilação mecânica quando a higiene oral é realizada com clorexidine veículo oral
(0,12% ou 0,2%). Muitos protocolos preconizam a higiene da cavidade oral com
clorexidine oral, formulação de 0,12%, com uma pequena esponja, evitando lesões
da cavidade, três a quatro vezes ao dia. O profissional deve ficar atento para os
quadros alérgicos, irritação da mucosa ou escurecimento transitório dos dentes
(Chlebicki, Safdar, 2007).
2.6.2 Outras medidas de prevenção
2.6.2.1 Circuito do ventilador
Recomenda-se a troca de circuito entre pacientes e quando houver sujidade
ou mau funcionamento do equipamento (Centers for Disease Control and Prevention
(US), 2004).
2.6.2.2 Umidificadores
Umidificadores passivos (filtros trocadores de calor e umidade - HME)
ganharam ampla aceitação nos cuidados da prática clínica; no entanto, não existe
nenhum consenso sobre sua superioridade em termos de prevenção PAV, tempo de
internação e mortalidade, em comparação com umidificadores ativos (umidificadores
aquecidos) (Garner et al., 1988; American Thoracic Society, 2005).
A preferência do sistema passivo de umidificação das vias respiratórias em
pacientes mecanicamente ventilados é devido à facilidade de manuseio e ausência
de condensados nos circuitos além do relativo baixo custo. Umidificadores
aquecidos pode ser a preferência em pacientes com copiosa quantidade de
R e v i s ã o d a L i t e r a t u r a |
secreções respiratórias, hemoptise abundante, ou naqueles com maior
susceptibilidade à atelectasias, porém, a água e condensados formados são
possíveis fontes de microrganismos.
Recomenda-se a troca dos umidificadores passivos não antes de 48 horas
sendo que o manual canadense de prevenção de pneumonia recomenda a troca
entre 5 a 7 dias (Centers for Disease Control and Prevention (US), 2004; Lorente et
al., 2007b).
2.6.2.3 Sistema de aspiração
Em relação ao sistema de aspiração de secreções das vias respiratórias de
pacientes mecanicamente ventilados, não existe diferença na incidência de PAV
quando foram comparados os sistemas de sucção aberto ou fechado (Marra et al.,
.
Existe uma possível vantagem do sistema fechado em relação à manutenção
da pressão positiva das vias aéreas. Além disso, este tipo de sistema de aspiração
pode ser útil em pacientes infectados com patógenos multirresistentes, como a
Staphylococcus aureus ou Mycobacterium.tuberculosis (Garner et al., 1988; Dodek
et al., 2004).
2.6.2.4 Evitar extubação não programada (acidental) e reintubação
A reintubação está associada com o risco de PAV devido ao aumento do risco
de aspiração de patógenos da orofaringe para vias aéreas baixas. O risco de
desenvolver PAV aumenta com o tempo de VM, portanto, recomenda-se que o tubo
endotraqueal seja removido assim que as condições clínicas se estabeleçam e a
duração da entubação pode ser reduzida por protocolos de sedação e aceleração do
desmame, utilização da ventilação não invasiva e a monitorização da frequência de
extubações acidentais (eventos/100 dias de tubo endotraqueal) (Garner et al., 1988;
Kollef et al., 1999; Lorente et al., 2007b).
R e v i s ã o d a L i t e r a t u r a |
2.6.2.5 Monitorizar pressão do balonete (cuff)
A manutenção da correta pressão do balonete (cuff) nos pacientes
submetidos à ventilação mecânica é essencial. Excessiva pressão pode
comprometer a microcirculação da mucosa traqueal e causar lesões isquêmicas,
porém se a pressão for insuficiente, pode haver dificuldade na ventilação com
pressão positiva e vazamento da secreção subglótica por entre o tubo e a traqueia.
A pressão do balonete do tubo orotraqueal ou da traqueostomia deve ser o
suficiente para evitar vazamento de ar e a passagem de secreção (microaspiração)
que fica acima do balonete. Recomenda-se, portanto, que esta pressão permaneça
entre 20 e 25cmH O (Garner et al., 1988; Weber et al., 2007).
2.6.2.6 Utilização de ventilação mecânica não-invasiva (VMNI)
O uso de VMNI tem demonstrado redução na incidência de VAP comparado
com ventilação mecânica invasiva em pacientes com falência respiratória. A VMNI
tem sido uma alternativa efetiva nos pacientes com insuficiência respiratório devido
a edema agudo pulmonar cardiogênico ou na doença pulmonar obstrutiva crônica, e
no desmame da VM. O uso da VMNI não está recomendado para pacientes
comatosos (Garner et al., 1988; Kollef et al., 1999; Lorente et al., 2007b).
2.6.2.7 Traqueostomia precoce
Não existe diferença na incidência de PAV entre traqueostomia precoce e
tardia, portanto não se recomenda a traqueostomia precoce na prevenção de PAV.
(Garner et al., 1988; Lorente et al., 2007b; Weber et al., 2007).
2.6.2.8 Sonda enteral na posição gástrica ou pilórica
O refluxo gastroesofágico pode contribuir para a aspiração de conteúdo
colonizado para vias aéreas inferiores e consequente aumento no risco de PAV.
R e v i s ã o d a L i t e r a t u r a |
Apesar disso, existem pacientes que se beneficiariam com o uso da sonda em
posição pós-pilórica, como pacientes que necessitam de posição prona para
ventilação, pacientes queimados e pacientes com lesão cerebral grave e pressão
intracraniana elevada (Centers for Disease Control and Prevention (US), 2004;
Weber et al., 2007).
2.6.2.9 Intubação orotraqueal ou nasotraqueal
A intubação nasotraqueal aumenta o risco de sinusite, o que pode
consequentemente aumentar o risco de PAV, portanto recomenda-se a intubação
orotraqueal (Kollef et al., 1999; Lorente et al., 2007b).
2.6.2.10 Inaladores
O manual de prevenção de pneumonia publicado em 2003, pelos Centers for
Disease Control and Prevention - CDC recomenda a troca de inaladores a cada
procedimento e utilizar o processo de desinfecção estabelecido na sua instituição.
Além de só utilizar líquidos estéreis para a inalação (Centers for Disease
Control and Prevention (US), 2004).
2.6.2.11 Nebulizadores
O cuidado com nebulizadores está diretamente relacionado à manipulação do
dispositivo e da água utilizada. As recomendações oficiais não são muito claras, pois
não existem trabalhos criteriosos que façam a análise desta questão.
Segundo manual de prevenção de pneumonia publicado em 2004 pelos CDC,
nebulizadores, tendas e reservatórios em uso no mesmo paciente deveriam sofrer
processo de desinfecção de nível baixo ou intermediário diariamente. Por outro lado,
no mesmo manual, citado como um assunto não resolvido está a orientação de que
não há rotina para troca destes dispositivos, a não ser quando trocados entre
pacientes (Centers for Disease Control and Prevention (US), 2004).
R e v i s ã o d a L i t e r a t u r a |
2.6.2.12 Descontaminação Digestiva Seletiva (DDS)
A colonização da orofaringe tem sido identificada como um fator independente
de risco de PAV. A redução da frequência de infecções do trato respiratório tem sido
alcançada através de antibióticos profiláticos como a descontaminação seletiva do
trato digestivo e a descontaminação seletiva da orofaringe, com a combinação de
drogas sistêmicas e tópicas. No entanto o uso de antibióticos profiláticos aumenta a
resistência aos patógenos, principal desvantagem desta intervenção. No uso tópico
utiliza-se pasta de polimixina E, tobramicina e anfotericina B, aplicada na cavidade
oral quatro vezes ao dia. Estes mesmos antibióticos são administrados via sonda
gástrica por 4 vezes ao dia, por quatro dias. Jonge e colaboradores demonstraram
em um estudo randomizado redução na mortalidade na terapia intensiva e hospitalar
nos pacientes submetidos a descontaminação seletiva, porém, não há
recomendação para a DDS utilizando antibióticos tópicos ou intravenosos (Garner et
al., 1988; Kollef et al., 1999; Centers for Disease Control and Prevention (US), 2004;
de Smet et al., .
2.6.2.13 Prevenção de administração de antibiótico intravenoso
A administração prolongada de antibióticos tem sido associada com alto risco
de PAV. Devido ao desenvolvimento de resistência microbiana, não se recomenda a
administração preventiva de antibióticos intravenosos (Garner et al., 1988; Kollef et
al., 1999).
2.7 Auditoria
A pneumonia nosocomial é especialmente problemática, pois está associada
ao aumento de mortalidade, aumento do tempo de permanência em UTI e de
ventilação mecânica, maior necessidade de traqueostomia, e significantemente
aumento dos custos hospitalares. Eventos adversos associados à pneumonia
nosocomial tem aumentado a pressão no sistema hospitalar para prevenir esta
infecção (Uckay et al., 2008). Algumas recomendações devem ser consideradas:
R e v i s ã o d a L i t e r a t u r a |
Implementação de guidelines de prevenção de PAV baseados em evidências
(Bundle ventilator).
Monitorizar a frequência de PAV e o programa de implementação das
prevenções através de auditorias sistemáticas.
Fazer os ajustes de acordo com a incidência de PAV.
Integrar a prevenção de PAV com programas de melhorias de qualidade.
Educação continuada para o time multiprofissional, incluindo um programa
específico e campanhas para higiene das mãos.
3 . M É T O D O S
M é t o d o s |
3.1 Local do estudo
O estudo foi desenvolvido no Hospital Israelita Albert Einstein localiza-se na
capital do Estado de São Paulo. É um hospital geral, que presta assistência médica,
tanto à população local, quanto aos outros municípios do estado e do país. Tem
caráter particular e filantrópico, atende uma parcela dos pacientes internados
provenientes do Sistema Único de Saúde (SUS), especificamente pacientes em
programa de transplante de órgão sólidos. A capacidade é de aproximadamente 620
leitos. Possui uma unidade de terapia intensiva adulto geral, com 41 leitos, uma
unidade de terapia intensiva pediátrica, com 07 leitos, além de 4 unidades de semi-
intensiva, com 102 leitos, sendo uma com especialidade Cardiológica e outra
Neurológica.
Especificamente o estudo foi realizado em 2 unidades de semi-intensiva do 7°
andar com 41 leitos gerais.
3.2 Tipo de estudo e período
Estudo de coorte retrospectivo (quasi-experimental study) realizado em 2
unidades de semi-intensiva do 7º andar do Hospital Israelita Albert Einstein, no
período de janeiro de 2007 a agosto de 2008.
A fase 1 foi do período de janeiro de 2007 a outubro de 2007, a fase 2 foi do
período de novembro de 2007 a agosto de 2008.
3.3 Definições
Foram utilizadas as seguintes definições neste estudo:
3.3.1 Definições quanto ao diagnóstico
O Serviço de Controle de Infecção do Hospital realiza busca ativa nas
unidades de semi-intensiva de todos os pacientes admitidos neste setor, sendo que
M é t o d o s |
utilizam o diagnóstico para PAV nos pacientes traqueostomizados de acordo com as
definições do CDC.
3.3.2 Definições quanto à taxa de incidência de pneumonia
A incidência de pneumonia foi expressa em casos de pneumonia por 1.000
traqueostomias/dia, como em casos de pneumonia por 1.000 ventiladores/dia.
3.4 Critérios de inclusão
Foram incluídos todos os pacientes traqueostomizados com e sem ventilação
mecânica com dois níveis de pressão (Bilevel) da listagem diária fornecida pelo
Setor de Controle de Infecção Hospital (SCIH) durante o período de janeiro de 2007
a agosto de 2008.
3.5 Coleta de dados clínicos
Foram levantados os seguintes dados dos pacientes, através da planilha de
banco de dados do SCIH:
Data
Idade
Óbitos
Numero de traqueostomias
Numero de pacientes traqueostomizados em ventilação mecânica
Incidência de pneumonia associado à ventilação mecânica.
Características dos patógenos
3.6 Coleta de dados dos procedimentos
Na fase 1, foram implementados procedimentos de prevenção a pneumonia
associada a ventilação mecânica adaptado do CDC : cabeceira elevada acima de
M é t o d o s |
30°, troca de circuito do ventilador com 15 dias, drenagem e descarte do
condensado do circuito do ventilador 3 vezes ao dia, durante as sessões de
fisioterapia. Neste período a conformidade dos procedimentos não foram
monitorados e auditados.
Na fase 2, utilizamos a mesma prática de controle de prevenção a pneumonia
associada a ventilação mecânica, porem incluímos a auditoria das conformidades
dos procedimentos.
A auditoria de materiais respiratórios foi implementada em novembro de 2007
com o intuito de gerar melhorias na assistência à saúde e reduzir as taxas de
pneumonia associada à ventilação em unidade de terapia semi-intensiva.
Os procedimentos que fizeram parte das auditorias do pacote de prevenção à
pneumonia foram:
Cabeceira elevada acima de 30°
Troca de circuito ventilatório, checagem da anotação em prontuário da data
programada de troca
Troca de filtro higroscópico a cada 48 horas
Condensado do circuito
A auditoria foi realizada duas vezes por semana, em dias aleatórios e sem
conhecimento da equipe assistencial. No processo de coleta dos dados foram
diferenciados os indivíduos que possuem somente a via aérea artificial, ou seja,
traqueostomia, ou a presença deste tipo de dispositivo associado ao ventilador
Bilevel. Toda a equipe foi treinada a respeito deste pacote para a prevenção da PAV
na semi-intensiva e foi informada e orientada a cada não-conformidade observada
durante a realização da auditoria. Além disso, os acompanhantes dos pacientes
auditados também foram orientados quanto à importância da implementação do
pacote.
Semestralmente estes dados auditados eram revisados pela equipe
multiprofissional do Grupo de Suporte à Infecção para reforçar a importância do
pacote e pontos de possível melhoria.
3.7 Métodos microbiológicos
M é t o d o s |
Todos os isolados foram identificados por métodos manuais ou automatizados
e confirmados usando o sistema Vitek 2 (bioMérieux Vitek Inc., Hazelwood, MO)
3.8 Análise estatística
As análises estatísticas foram realizadas utilizando o programa SPSS, versão
. As comparações entre os períodos de estudo foram realizadas utilizando o
teste exato de Fisher. Um modelo linear generalizado foi usado para modelo de
Poisson distribuição de dados de contagem, considerando o número de casos de
pneumonia (variável dependente) e os pré- e pós-intervenção (variável
independente). Todos os testes de significância estatística foram bi caudados e com
um nível de significância de 0,05.
4 . R E S U L T A D O S
R e s u l t a d o s |
Na fase 1, obtivemos os dados somente das taxas de pneumonia pois neste
período não havia auditoria das medidas de prevenção à pneumonia.
Foram analisados os dados de 247 pacientes traqueostomizados (Figura 1),
com média de idade de 72,6 anos, dos quais 178 (72%) submetidos à ventilação
bilevel, com um total de 4630 traqueostomias/dia dos quais 3429 (74%) associados
ao uso de ventilação bilevel.
Foram diagnosticados 29 eventos de pneumonia associada à traqueostomia,
14 destes pacientes com traqueostomia (82,4%) tiveram 25 eventos de pneumonia
associadas à ventilação bilevel. Três destes pacientes traqueostomizados (17,6%)
tiveram 4 casos de pneumonia associado a nebulização. Não tivemos nenhum óbito
do total destes pacientes. Tivemos, portanto, uma taxa de pneumonia associada à
traqueostomia de 6.0/ 1000 traqueostomias/dia.
Fase 1: Jan 2007 à Out 2007; Fase 2: Nov 2007 à Ago 2008
Figura . Diagrama dos pacientes traqueostomizados em ambas as fases do estudo.
Na fase 2, tivemos 250 pacientes traqueostomizados (Figura 2), com média
de idade de 75 anos, um total de 4605 traqueostomias/dia, dos quais 166 (66%)
faziam uso de ventilação bilevel ( ventiladores/dia). Neste período, foram
diagnosticados 3 eventos de pneumonia associado a ventilação bilevel, em 3
pacientes, refletindo uma taxa de apenas 0.7/ 1000 traqueostomias/dia. Tivemos 2
óbitos nesta fase.
Traqueostomia N=247
Com ventilação mecânica
N=
Sem ventilação mecânica
N=
Pneumonia N=
(25 casos de pneumonia)
Sem Pneumonia
N=
Pneumonia N=
(4 casos de pneumonia)
Sem Pneumonia
N=
Traqueostomia N=
Com ventilação mecânica
N=
Sem ventilação mecânica
N=
Pneumonia N=
(3 casos de
pneumonia)
Sem Pneumonia
N=
Pneumonia N=
Sem Pneumonia
N=
Fase 2 Fase 1
R e s u l t a d o s |
Na fase de intervenção, foram auditadas 486 observações. Em 362 casos
75% de conformidade em condensado no circuito ventilatório, 65% de conformidade
nas observações de cabeceira elevada acima de 30°, 73% de conformidade no
período de troca de circuito, 90% nas trocas de filtros umidificadores.
Na regressão linear utilizando o método de Poisson, tivemos uma redução
significativa de pneumonia associada à traqueostomia, de 2,9 (95% CI: 1,84- 3,96)
antes da intervenção para 0,29 (95% CI: 0,01- , , P<.001) pneumonia por 1.000
traqueostomias/dia depois da intervenção. Avaliamos também através de analise
estatística por regressão múltipla para PAV em pacientes com traqueostomia/1.000
ventiladores/dia, houve uma redução significativa de PAV, de 7,0 (95% CI: 0,32-
1,25) por 1.000 ventiladores/dia depois da intervenção com valor de P< .001.
Tivemos dois picos na frequência de PAV em 2007 (maio e agosto), porém não
encontramos nenhuma explicação para este aumento (Figura 2).
Figura . Densidade de incidência de pneumonia associada à ventilação mecânica em pacientes traqueostomizados na semi intensiva por 1,000 ventilador-dia. Fase 1: Jan 2007 à Out 2007; Fase 2: Nov 2007 à Ago 2008.
A frequência de traqueostomia (traqueostomias-dia/pacientes-dia) na unidade
de semi-intensiva aumentou de 0,13 para 0,39 entre 2000 e 2008, respectivamente
(Figura 3). A incidência de PAV permaneceu em 2007 (6,04/1.000 ventiladores/dia) e
reduziu após implementação de auditorias sistemáticas de medidas de prevenção a
pneumonia de 0,71 e 2,3 por 1000 ventiladores/dia, em 2008 e 2009,
respectivamente (Figura 4). Não encontramos diferença entre pacientes com
R e s u l t a d o s |
repetição de pneumonia associada à ventilação mecânica ou pneumonia associada
à traqueostomia.
Figura . Taxa de utilização de traqueostomia (dias de traqueostomia/ pacientes dia) na unidade de semi-intensiva.
*dados de PAV não foram coletados em 2006
Figura . Densidade de incidência de pneumonia associada à traqueostomia (PAT) por 1.000 traqueostomia dias e de pneumonia associada à ventilação mecânica (PAV) por 1.000 dias de ventilação mecânica no período de janeiro de 2006 a agosto de 2009, na unidade de semi-intensiva.
4.1 Resultados Microbiológicos
Taxa de Utilização de Traqueostomia na Semi Intensiva Adulta
0,130,19
0,220,19
0,270,32
0,37 0,39 0,39
0,00
0,10
0,20
0,30
0,40
0,50
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
3,64
5,53
0,55 1,3
*
6,04
0,71
2,3
0
1
2
3
4
5
6
7
2006 2007 2008 2009
Densidade de incidência de PAT por 1.000 traqueostomia/dia e de PAV por 1.000 ventilador/dia
PAT
PAV
R e s u l t a d o s |
Como visto na tabela 1, 90% de todos os microorganismos identificados na
fase 1 foram bactérias gram negativas. Na fase 2, 100% dos microorganismos
identificados foram bactérias gram-negativas (Tabela 1). A maior prevalência dos
patógenos foram Pseudomonas aeruginosa, seguido de Klebsiella pneumoniae.
R e s u l t a d o s |
Tabela . Características dos patógenos identificados durante as duas fases do estudo nos pacientes da unidade de semi-intensiva
Semi Intensiva
Fase 1 Fase 2
Patógeno N % N %
Gram-positivos - -
Staphylococcus aureus - -
Gram-negativos
Acinetobacter baumannii - -
Escherichia coli - -
Klebsiella pneumoniae - -
Achromobacter xylosoxidans - -
Pseudomonas aeruginosa
Total de agentes identificados
Fase1: Jan 2007 a Out 2007; Fase 2: Nov 2007 a Ago 2008.
5 . D I S C U S S Ã O
D i s c u s s ã o |
Estudos recentes têm demonstrado benefícios significativos em
traqueostomia precoce em termos de melhoria dos resultados clínicos, reduzindo a
duração da ventilação mecânica, diminuindo permanência na UTI e também na
aquisição de PAV, além da redução do uso de sedação, permitindo uma mobilização
mais precoce desses pacientes (Georges et al., 2000; Moller et al., 2005). A maioria
dos autores acredita que a traqueostomia proporciona maior conforto para o
paciente gravemente doente quando comparado com a intubação traqueal, a
possibilidade de comunicação, a ingestão oral, melhor higiene oral, facilidade de
desmame da ventilação mecânica e diminuição do trabalho respiratório e a
resistência das vias aéreas (Georges et al., 2000; Blot et al., 2008).
A longo prazo pacientes em ventilação mecânica possuem alto risco para
desenvolver pneumonia nosocomial e traqueobronquite. Em geral, a frequência de
infecções aumenta com o tempo de ventilação mecânica, sendo o risco maior na
primeira semana de intubação em pacientes com doença aguda. Pacientes com
traqueostomia possuem maior risco de pneumonia, traqueobronquite, infecções do
estoma, e infecções de tecidos moles (Kollef et al., 1999; Epstein, 2005). Em
pacientes traqueostomizados, as secreções estão sujeitas à evolução da flora
normal de patógenos mais virulentos. A maioria das infecções do trato respiratório
inferior é precedida pela colonização das vias aéreas com bactérias gram-negativas
entéricas. Os organismos mais comumente cultivados de estomas da traqueostomia
e tubos são Pseudomonas aeruginosa e Staphylococcus aureus. A taxa de
colonização é elevada nestes doentes, mesmo na ausência de uma infecção
sistêmica.
Nosso estudo demonstrou que, apesar do aumento no uso de traqueostomia
na semi-intensiva a implementação de medidas preventivas simples, teve uma
redução significativa nas taxas de pneumonia associada à traqueostomia. Portanto,
a criação de uma equipe multidisciplinar para acompanhar o cumprimento dessas
unidades aumenta muito a prevenção da infecção. O Sistema de Vigilância de
Infecção Hospitalar Nacional (NNISS), realizada pelo CDC tem como alvo de
vigilância as infecções hospitalares principalmente as infecções associadas com
dispositivos invasivos em unidades de terapia intensiva. Esta vigilância tem sido
aplicada em semi-intensivas com os pacientes que são mais complexos e que
D i s c u s s ã o |
exigem procedimentos mais invasivos, e exigindo uma maior atenção à prevenção
de infecções. Vigilância em unidades semi-intensivas não é um dos componentes do
NNISS. No entanto, desde 2005, o National Healthcare Safety Network (NHSN)
introduziu a vigilância em semi- intensivas para pneumonia associada a dispositivos
(Edwards et al., 2008).
Com as mudanças na distribuição de leitos hospitalares ao longo dos anos,
tem havido um aumento nos pacientes que necessitam de cuidados semi-intensivos.
Esses pacientes podem necessitar de suporte ventilatório mecânico crônico e,
portanto, maior cuidado respiratório. Neste estudo, as recomendações do CDC para
prevenir PAV foram seguidas na unidade semi intensiva incluindo a drenagem do
condensado dos circuitos dos ventiladores quando necessário, e a higiene das mãos
antes e depois do contato com o equipamento ou com os pacientes (Centers for
Disease Control and Prevention (US), 2004; Dodek et al., 2004).
Tem sido demonstrado que as medidas simples para prevenir pneumonia em
pacientes com ventilação mecânica não foram suficientes para reduzir a pneumonia
associada à traqueostomia (PAT), mas a sua implementação com o envolvimento de
uma equipe multidisciplinar e o cumprimento de monitoramento levam a uma
melhoria bem-sucedida. Este é outro exemplo da desconexão que muitas vezes
existe entre a teoria e a prática, a menos que o cumprimento é monitorado e o
feedback fornecido aos profissionais de saúde de linha de frente. Ao contrário das
UTIs que têm um pacote de medidas fortemente recomendados, como o bundle de
ventilação ("VAP zero"), as semi-intensivas não têm medidas específicas
estabelecidas para a prevenção de infecções nesse tipo de pacientes (Edmond,
2009; Marra et al., 2009). Entretanto, as intervenções da UTI podem ser aplicadas
no ambiente de semi-intensiva.
Uma das principais dificuldades no processo de controle de pneumonia
nosocomial está inicialmente no diagnóstico, bastante controverso nos artigos
publicados (Schurink et al., 2004).
Atrasos no início da antibioticoterapia adequada pode gerar aumento da
mortalidade e, portanto, a terapia não deve ser adiada em função da realização de
estudos diagnóstico em pacientes que estão clinicamente instáveis (Kuti et al., 2008;
D i s c u s s ã o |
Valencia, Torres, 2009). Um exemplo disto é a presença de disfunção múltipla de
órgãos.
Garrard e A'Court recomendam vigilância constante da coleta de
secreção por se tratar de uma técnica simples, barata e bem tolerada, além de
observação diária das manifestações clínicas para possível identificação precoce da
PAV. Uma meta-análise recente (Shorr et al., 2005) com um total de 628 pacientes
mostrou que a realização de estratégias invasivas para o diagnóstico de PAV não
alterou a mortalidade. Em um ensaio multicêntrico, randomizado, envolvendo 740
pacientes que estavam recebendo ventilação mecânica com suspeita de PAV após 4
dias na UTI (Canadian Critical Care Trials Group, 2006) foram submetidos à coleta
de lavado brônquico pulmonar com cultura quantitativa ou aspiração endotraqueal
sem cultura quantitativa. A terapia antibiótica empírica foi iniciada em todos os
pacientes até que os resultados das culturas estivessem disponíveis. Ao final, notou-
se que não houve diferença significativa nos tempo de uso dos antibióticos, no
tempo de internação na UTI e no tempo de internação hospitalar. A explicação mais
provável para isto é que o inicio precoce da cobertura antimicrobiana é suficiente
para aumentar a sobrevida (Canadian Critical Care Trials Group, 2006; Valencia,
Torres, 2009).
Em resumo, os critérios clínicos podem ser úteis no diagnóstico da PAV, no
entanto, a grande variabilidade inter-observador deve ser levada em consideração. A
análise de dados bacteriológicos pode não aumentar a precisão do diagnóstico em
relação ao diagnóstico clínico. Culturas quantitativas obtidas por diferentes métodos,
incluindo lavado broncoalveolar (LBA) ou aspirado traqueobrônquico parecem ser
bastante equivalentes no diagnóstico da PAV. Hemoculturas positivas são
relativamente infrequentes para diagnosticar pneumonia (Camargo et al., 2004). A
rápida disponibilidade de dados citológicos, incluindo células inflamatórias e
coloração por Gram pode ser útil para a decisão terapêutica inicial, além disso,
procalcitonina (PCR) e proteína C reativada (PCT) são biomarcadores promissores
no diagnóstico da PAV (Póvoa, 2008, 2010).
Enfim, uma abordagem integrada deve ser seguida para o diagnóstico e
tratamento de pacientes com PAV, incluindo o início imediato de antibioticoterapia e
D i s c u s s ã o |
posterior retificação de acordo com a resposta clínica ou os resultados das culturas
bacteriológicas.
Nenhuma das várias combinações dos critérios de diagnóstico de pneumonia
até hoje é mais sensível ou específica para o diagnóstico da PAV, comparada com o
diagnóstico histopatológico (padrão ouro). Em 2008, o Forum de Qualidade Nacional
solicitou ao CDC que revisasse a definição de PAV, e um grupo de trabalho foi
organizado. O CDC iniciou esforços para modificar a vigilância da PAV e melhorar a
sensibilidade do diagnóstico. Em abril de 2013, o CDC publicou um algoritmo no
qual inclui a definição dos eventos associados à ventilação mecânica com o objetivo
de mensurar as complicações que ocorrem com os pacientes em ventilação
mecânica (Muscedere et al., 2013). Esta nova estratégia visa diminuir as
manipulações de definição e índices baixos de PAV. Por outro lado, estas definições
foram criadas para serem parâmetros de melhora da qualidade interna de um
serviço. Dentro dos critérios de avaliação a radiografia não é utilizada em nenhuma
fase, pela falta de especificidade, subjetividade na interpretação de cada
profissional. O algoritmo usa as seguintes abordagens:
1) complicações associadas ao ventilador (VAC). A sua definição visa
identificar episódios sustentados de deterioração respiratória, identificando eventos
infecciosos e não infecciosos.
2) infecções relacionadas às complicações associadas ao ventilador (iVAC).
Nesta etapa são identificados subgrupos das complicações que são potencialmente
relacionados à infecção, identificando assim, infecção pulmonar ou extrapulmonar
que leva a deterioração respiratória.
3) possível e provável PAV. Possível PAV é definida pela presença de
secreção purulenta ou cultura positiva do trato respiratório baixo; a provável PAV é
definida pela presença de secreção purulenta e cultura quantitativa e semi
quantitativa positiva do trato respiratório baixo.
Esta nova definição tem como razão a antecipação das intervenções, no
entanto este algoritmo não está claro se será útil para avaliar ainda mais o impacto
das intervenções na prevenção de PAV, como a higiene bucal ou a aspiração de
secreção subglótica. Outra limitação é a falta de uma abordagem na vigilância de
PAV em neonatos e crianças.
D i s c u s s ã o |
A proposta requer uma maior proximidade da equipe multiprofissional,
particularmente com o fisioterapeuta e com o SCIH.
O acúmulo de secreção proveniente da orafaringe ou do trato gastrointestinal
no espaço subglótico pode ser demonstrado pela quantificação do material obtido
pela aspiração deste local (Greene et al., 1994). A contaminação endógena ou
exógena dessa secreção é praticamente inevitável e a sua relação com o início da
PAV já está bem documentada (Mahul et al., 1992). Por este motivo, uma das
formas de prevenção da PAV inclui o impedimento de vazamento de secreção entre
o tubo e a parede traqueal e a aspiração ou esterilização dessa secreção (Ramirez
et al., 2007).
Para evitar microaspiração de secreções respiratórias subglóticas foram
desenvolvidas cânulas orotraqueais com sistema de aspiração de secreção
subglótica (CASS) contínua ou intermitente (Valles et al., 1995). No entanto, embora
estes sistemas sejam eficazes na prevenção de PAV, eles não podem impedir um
início tardio da pneumonia (Dezfulian et al., 2005). Da mesma forma, novos
materiais foram desenvolvidos para a fabricação do balonete (cuff) do tubo
orotraqueal. Um destes materiais é de poliuretano, que sendo mais fino do que os
polivinílicos evitam o vazamento de secreções ao longo do tubo (Poelaert et al.,
. Um estudo publicado por Lorente et al. (2007b) avaliaram a eficácia do tubo
orotraqueal com balonete de poliuretano e sistema de aspiração de secreção
subglótica versus o tubo orotraqueal com balonete de polivinílico e sem aspiração
subglótica em pacientes que necessitariam de ventilação mecânica por mais de 24h
e demonstraram que os tubos convencionais foram um fator de risco para a PAV.
Este tema merece considerações como o custo desses novos tubos (Smulders et al.,
, a ocorrência de aspiração de mucosa ou a oclusão do sistema (Dragoumanis
et al., 2007), e se a melhor forma de executar a aspiração subglótica é a contínua ou
a intermitente. Em qualquer caso, a cânula com aspiração subglótica parece ser uma
medida preventiva eficaz.
A tendência da utilização deste sistema de aspiração vem se fortalecendo,
hoje com evidencia forte recomendada pela Sociedade Americana do Tórax. Em
uma metanálise de 13 estudos randomizados concluíram uma redução significativa
D i s c u s s ã o |
de PAV, do tempo de ventilação mecânica, e do tempo de internação na UTI
(Muscedere et al., 2011).
Sabemos que a colonização bacteriana na superfície interna do tubo
orotraqueal é um fator de risco para PAV (Inglis et al., 1995)..Alguns estudos têm
analisado a eficácia do tubo orotraqueal revestido com prata, já que esta substância
tem largo espectro de atividade antimicrobiana e reduz a aderência bacteriana aos
dispositivos in vitro. Kollef et al. realizaram um estudo multicêntrico,
prospectivo, randomizado e controlado para determinar se o tubo revestido com
prata reduziria a incidência microbiologicamente confirmada de PAV. Após
randomização de 2003 pacientes com ventilação mecânica superior a h, os
autores notaram que as taxas de PAV foram inferiores nos indivíduos em uso deste
tipo de tubo. Apesar disso, ainda há controvérsias nos resultados em relação ao
tempo de duração da intubação orotraqueal, tempo de permanência na UTI e no
hospital, na mortalidade e na frequência e na gravidade de eventos adversos (Kollef
et al., 2008). Novamente, esta medida pode ser recomendada para o subgrupo de
pacientes com alto risco de desenvolvimento de PAV.
Fourrier e colaboradores demonstraram associação entre a colonização de
placa dentária e patógenos aeróbios e subseqüente desenvolvimento de pneumonia
nosocomial (Fourrier et al., 1998). Além disso, uma meta-análise realizada em 2007
concluiu que o uso de clorexidine provoca redução de 30% na incidência de PAV por
causar descontaminação oral. Este benefício demonstrou menos aparente nos
indivíduos que necessitaram de ventilação mecânica prolongada (Chlebicki, Safdar,
.
Por este motivo, deve-se efetuar higiene oral regularmente (Yoneyama et al.,
com o uso de solução anti-séptica (DeRiso et al., 1996), porém a frequência
dessa higienização pode ser variável. Apesar da comprovada redução na incidência
de PAV após o uso de clorexidine oral, ainda não há estudos que demonstrem
alteração na mortalidade (Chlebicki, Safdar, 2007).
Embora muitos estudos têm investigado a gestão e prevenção de pneumonia
associada à ventilação mecânica, poucos têm se focado em traqueobronquite
associada à ventilação mecânica. Nseir et al. apresentaram dados
interessantes de um estudo controlado randomizado de terapia antimicrobiana para
D i s c u s s ã o |
tratamento de traqueobronquite. Os pacientes randomizados para terapia antibiótica
apresentavam mais dias livres de ventilação mecânica (p <0,001), menos episódios
de PAV (13 % versus 47 %, P <0,001), e uma menor taxa de mortalidade na UTI
% versus , P = 0,05) do que aqueles sem antibioticoterapia. Embora este
estudo tenha limitações, os dados sugerem que a traqueobronquite pode ser um
importante fator de risco para PAV. Mais importante ainda, a antibioticoterapia
direcionada para tratamento de traqueobronquite pode melhorar os resultados dos
pacientes e se tornar um novo paradigma para a prevenção ou o tratamento precoce
da PAV.
Embora a pneumonia associada à ventilação mecânica tenha sido o principal
foco de cuidados em pacientes críticos, talvez o foco também seja que se deve
incluir a traqueobronquite associada à ventilação mecânica, o que pode ser um
precursor para PAV.
A maioria das bactérias entram no trato respiratório inferior através de
secreções da orofaringe ao redor do balonete do tubo endotraqueal, resultando em
colonização, traqueobronquite, ou PAV. Apesar da PAV exigir um novo e persistente
infiltrado na radiografia de tórax, a sensibilidade e especificidade dos raios-x são
variáveis, o que dificulta a discriminação entre traqueobronquite e PAV.
A'Court et al. estudaram a história natural da colonização em pacientes
sob ventilação mecânica utilizando uma série de lavados brônquicos com culturas
quantitativas coletadas a cada 48 horas. Estes investigadores relataram um aumento
significativo na contagem de colônias menores do trato respiratório que começaram
dois dias antes do aparecimento clínico da PAV, que pode ter representado ou
traqueobronquite ou PAV precoce não detectada pela radiografia de tórax.
Existem várias limitações do nosso estudo. Primeiro este não é um estudo
randomizado, mas um estudo de séries temporais. Desenhos de estudo quase
experimentais são frequentemente utilizados quando não é logisticamente viável
conduzir um ensaio clínico controlado. Assim, outros fatores não mensuráveis
podem ter ocorrido coincidentemente com as intervenções que ocorreram desde
novembro de 2007, resultando em uma diminuição nas taxas da pneumonia
associada à ventilação mecânica (PAV) com equipamento com 2 níveis de pressão
(Bilevel) nas semi-intensivas. No entanto, isso parece improvável, já que não houve
D i s c u s s ã o |
diminuição nas taxas de PAV ao longo dos últimos anos (Figura 1) e empregada a
regressão linear por Poisson, que controlou as tendências seculares que possam ter
ocorrido na ausência da intervenção. Em segundo lugar, não foram coletados dados
de pré-intervenção, anterior a fase I e, portanto não podemos fazer esta análise
comparativa do impacto das auditorias antes deste período e após o período da
intervenção. Em terceiro lugar, o processo de desmame, não foi registrada no grupo
ventilado. Nós rotineiramente verificamos a pressão do balonete da cânula de
traqueostomia, mas não temos esta informação durante o período de estudo. Os
pacientes receberam nutrição enteral (tubo de gastrostomia ou naso-enteral). Em
quarto lugar, não é uma rotina para os pacientes em ventilação receber medicação
broncodilatadora via inalador dosimetrado, no entanto, alguns pacientes receberam,
mas não temos esses dados. Quinto, não temos dados sobre a adesão à
higienização das mãos (por observadores) na semi-intensiva durante este tempo.
Temos dados sobre adesão à higienização usando contadores eletrônicos
desde Março de 2007 (Marra et al., 2008). Finalmente, como a intervenção foi
realizada em um único centro médico, estes resultados não podem ser
generalizados para outros hospitais. Apesar das limitações, este estudo ampliou o
apoio ao conceito de que o controle das taxas de PAV requer múltiplas medidas de
desempenho e os esforços de melhoria da qualidade.
A sustentabilidade nas taxas de pneumonia em chegar a zero é difícil, porém
possível. Em publicação anterior (Marra et al., 2009), nós demostramos que isso só
foi possível quando o cumprimento do pacote de prevenção VAP excedeu 95%.
Acreditamos também que a obtenção do compromisso de todos os membros da
equipe da UTI acabou por ser um fator de nosso sucesso na implementação desses
procedimentos ao longo dos anos (Caserta et al., 2012).
Klompas e colaboradores têm chamado a atenção para os problemas que
podem surgir quando usamos PAV como um indicador de qualidade, incluindo
dificuldades com a subjetividade implícita na definição PAV atual. Além disso,
Edmond apontou que a abordagem de "chegar à zero" pode estar associada com
eventos adversos não intencionais. Mesmo que nós consideramos importante relatar
taxas de PAV, acreditamos que devemos divulgar continuamente as nossas
conformidades e não conformidades nas medidas de prevenção e os eventos
D i s c u s s ã o |
adversos associados com a ventilação mecânica em pacientes internados na UTI e
semi-intensivas.
A redução da PAV a zero é dificultada pelo tempo médio de permanência
hospitalar, traqueostomia, pacientes ventilador-dependentes frequentemente
colonizados por organismos multi-resistentes. No entanto, acreditamos que o
objetivo deve ser o de conduzir essas taxas de infecção ao mínimo possível.
6 . C O N C L U S Õ E S
C o n c l u s õ e s |
Neste trabalho podemos concluir que as intervenções na prevenção de
pneumonia associada à ventilação mecânica adaptadas e extrapoladas da UTI para
unidade de semi-intensiva tiveram impacto significativo na incidência de PAT. Esta
redução na frequência de pneumonia associada à traqueostomia é um processo
contínuo que envolve a mensuração e a intervenção do desempenho
multiprofissional.
Conseguimos conhecer a maior prevalência dos patógenos nesta população,
nos direcionando para a melhor estratégia de prevenção e tratamento dos pacientes
traqueostomizados em ventilação com dois níveis de pressão.
7 . A N E X O S
A n e x o s |
Anexo 1 - Artigo Publicado
A n e x o s |
A n e x o s |
A n e x o s |
A n e x o s |
A n e x o s |
8 . R E F E R Ê N C I A S
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Abstract
Background: Prevention of healthcare associated infections (HAIs) is well described
in critical care. However, surveillance in step-down unit (SDU) patients who need
intermediate care with bi-level mechanical ventilation pressure through tracheotomy
needs to be better understood. We evaluated the implementation of preventive
measures in SDU over two different periods on device (bi-level mechanical
ventilation) associated pneumonia. Methods: A quasi-experimental, interrupted time
series study was conducted in SDUs. Interventions were implemented to optimize the
prevention of pneumonia associated with tracheostomy and evaluated in two phases.
From January to October of 2007 (phase1), some practices recommended by the
CDC were implemented and the epidemiology unit carried out surveillance for
pneumonia associated with tracheostomy. From November of 2007 to August of
2008 (phase 2) the same practices recommended by CDC were followed, but in
addition the assessment of these processes as well as bedside interventions were
initiated. Results: The mean incidence density of tracheostomy associated
pneumonia per 1,000 tracheostomy days in the SDUs was 6.0 in phase 1, and 0.7 in
phase 2, p=0.002. Conclusion: Reducing pneumonia associated with tracheostomy
is a continuous multidisciplinary process that involves the measurement of multiple
performance metrics.
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