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Dentistry EDIÇÃO PORTUGUESA 24 www.dentistry.pt A faceta é um material restaurador com uma espes- sura muito fina de cerâmica, aproximadamente 0,5/0,7mm, que é aderida sobre a superfície do dente, deixando assim transparecer todo o corpo do dente, todo o seu valor. Este tratamento surgiu graças à adesão que permite a cria- ção de uma união química entre dois tipos de materiais distintos, neste caso a cerâmica aos tecidos mineralizados do dente: esmalte e dentina. (1) Para trabalharmos nas melhores condições, o ideal é que o desgaste dentário seja maioritariamente feito na superfície de esmalte, sem o envolvimento da dentina, por várias ra- zões, nomeadamente: • a baixa adesão dos materiais sobre a dentina, • o desconforto e aumento da sensibilidade do paciente • e, idealmente, a manutenção da mesma espessura de ce- râmica sobre toda superfície dentária. (2) Há dois tipos de facetas: compósito e cerâmica e, dentro do grupo das cerâmicas, o material poderá ser: cerâmica feldspática, dissilicato de lítio ou alumina. (3) A escolha do tipo de material depende de um estudo inicial rigoroso, tendo em conta: • a quantidade de dente remanescente, • a presença ou não de materiais restauradores, • a presença ou não de dentes descolorados e/ou manchados. Estudos a 20 anos da Universidade de Innsbruk, na Áus- tria, afirmam que as facetas são tratamentos com elevada previsibilidade e elevadas taxas de sucesso (93,5% a 10 anos). As taxas de insucesso, maioritariamente fracturas da cerâmica, estão associadas ao bruxismo, a dentes en- dodonciados e à descoloração marginal (mais relevante em pacientes que fumam). (4) Este tratamento não é só usado na presença de lesões cariosas, mas também com o intuito puramente estético. (5) Caso clínico Paciente de 33 anos, género feminino, com elevada exigên- cia estética. O principal motivo da consulta foi o desgaste dentário generalizado mas a paciente referia maior preo- cupação com a zona anterior. Da sua história clínica o mais relevante é o refluxo gástrico e o bruxismo. Inicialmente foi proposto fazer restaurações a compósito para compensar a falta de estrutura no terço incisal dos dentes da zona anterior (restaurações directas). Na zona posterior, restaurações indirectas, nomeadamente overlays para compensar a diminuição da DVO, mas a paciente não aceitou pois queria reabilitar os dentes com cerâmicas. Fo- ram então propostas facetas em cerâmica. Fez-se um enceramento para avaliar a quantidade de es- Manuela Ricardo. Médica Dentista, licenciada pela FMDUP e Formadora, Clínica Dentária dos Carvalhos, Centro de Formação FA. Fernando Almeida, PhD. FMDUP, Coordenador da Formação em Implantologia e Reabilitação Oral no Centro de Formação FA. Gestor clínico da Clínica Dentária dos Carvalhos, Clínica Infante Sagres e Labdent. Sónia Almeida. Técnica de Laboratório, Labdent. Com este artigo, a equipa da Clínica Dentária dos Carvalhos pretende mostrar todos os passos de execução das facetas enquanto tratamento estético de excelência, que permite devolver a beleza natural aos dentes. Facetas: tratamento estético de excelência Clínica Figura 1: Imagem inicial - repouso Figura 2: Imagem inicial - linha de sorriso Figura 3: Imagem inicial frontal Figura 4: Enceramento Figura 5: Guia de silicone Figura 6: Controlo de desgaste ABSTRACT Veneers are a cosmetic treatment excellence, which allows to restore the natural beauty of teeth. Being a delicate treatment, also requires a study and a thorough knowledge of the matter, it is necessary to fulfill a number of prerequisites and procedures. Veneers are defined as a minimally invasive treatment. With this article we intend to demonstrate all the steps for this kind of treatment. A r t i g o O r i g i n a l A r t i g o O r i g i n a l

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www.dentistry.pt

24www.dentistry.pt

A faceta é um material restaurador com uma espes-sura muito fina de cerâmica, aproximadamente 0,5/0,7mm, que é aderida sobre a superfície do

dente, deixando assim transparecer todo o corpo do dente, todo o seu valor.Este tratamento surgiu graças à adesão que permite a cria-ção de uma união química entre dois tipos de materiais distintos, neste caso a cerâmica aos tecidos mineralizados do dente: esmalte e dentina. (1)Para trabalharmos nas melhores condições, o ideal é que o desgaste dentário seja maioritariamente feito na superfície de esmalte, sem o envolvimento da dentina, por várias ra-zões, nomeadamente: • a baixa adesão dos materiais sobre a dentina, • o desconforto e aumento da sensibilidade do paciente• e, idealmente, a manutenção da mesma espessura de ce-râmica sobre toda superfície dentária. (2)

Há dois tipos de facetas: compósito e cerâmica e, dentro do grupo das cerâmicas, o material poderá ser: cerâmica feldspática, dissilicato de lítio ou alumina. (3)A escolha do tipo de material depende de um estudo inicial rigoroso, tendo em conta: • a quantidade de dente remanescente, • a presença ou não de materiais restauradores, • a presença ou não de dentes descolorados

e/ou manchados.

Estudos a 20 anos da Universidade de Innsbruk, na Áus-tria, afirmam que as facetas são tratamentos com elevada

previsibilidade e elevadas taxas de sucesso (93,5% a 10 anos). As taxas de insucesso, maioritariamente fracturas da cerâmica, estão associadas ao bruxismo, a dentes en-dodonciados e à descoloração marginal (mais relevante em pacientes que fumam). (4) Este tratamento não é só usado na presença de lesões cariosas, mas também com o intuito puramente estético. (5)

Caso clínicoPaciente de 33 anos, género feminino, com elevada exigên-cia estética. O principal motivo da consulta foi o desgaste

dentário generalizado mas a paciente referia maior preo- cupação com a zona anterior. Da sua história clínica o mais relevante é o refluxo gástrico e o bruxismo.Inicialmente foi proposto fazer restaurações a compósito para compensar a falta de estrutura no terço incisal dos dentes da zona anterior (restaurações directas). Na zona posterior, restaurações indirectas, nomeadamente overlays para compensar a diminuição da DVO, mas a paciente não aceitou pois queria reabilitar os dentes com cerâmicas. Fo-ram então propostas facetas em cerâmica.Fez-se um enceramento para avaliar a quantidade de es-

Manuela Ricardo. Médica Dentista, licenciada pela FMDUP e Formadora, Clínica Dentária dos Carvalhos, Centro de Formação FA.

Fernando Almeida, PhD. FMDUP, Coordenador da Formação em Implantologia e Reabilitação Oral no Centro de Formação FA. Gestor clínico da Clínica Dentária dos Carvalhos, Clínica Infante Sagres e Labdent.

Sónia Almeida. Técnica de Laboratório, Labdent.

Com este artigo, a equipa da Clínica Dentária dos Carvalhos pretende mostrar todos os passos de execução das facetas enquanto tratamentoestético de excelência, que permite devolver a beleza natural aos dentes.

Facetas: tratamento estético de excelência

Clínica

Figura 1: Imagem inicial - repouso Figura 2: Imagem inicial - linha de sorriso

Figura 3: Imagem inicial frontal Figura 4: Enceramento

Figura 5: Guia de silicone Figura 6: Controlo de desgaste

ABSTRACT

Veneers are a cosmetic treatment excellence, which allows to restore the natural beauty of teeth. Being a delicate treatment, also requires a study and a thorough knowledge of the matter, it is necessary to fulfill a number of prerequisites and procedures. Veneers are defined as a minimally invasive treatment. With this article we intend to demonstrate all the steps for this kind of treatment.

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25Clínica

Figura 8b: Impressão do perfil de emergência

trutura que estava em falta e para determinar o melhor tratamento para a paciente.No enceramento foram incluídos os quatro inci-sivos. Os dentes 1.1 e 2.1 eram os dentes mais comprometidos a nível incisal e a principal quei-xa da paciente. O dente 1.2 já apresentava algum desgaste e o 2.2 foi incluído por exigência da paciente, que não queria ver nenhum sinal de desgaste e quis sempre materiais de excelência, cerâmicas.Numa segunda consulta foi feito um mock up, a partir do enceramento, e a paciente quis ime-diatamente avançar com o plano de tratamento. Este procedimento é muito simples e facilmente dá uma ideia ao paciente e ao médico dentista de como vai ficar o tratamento proposto. O encera-mento é a chave do tratamento.Fez-se um guia de silicone a partir do encera-mento. Este guia é recortado de forma a haver um controlo mais rigoroso do desgaste, uniforme em toda a superfície dentária, de aproximadamente 0,5mm.Para melhorar a visibilidade da zona de trabalho, neste caso de 1.2 a 2.2, colocou-se fio de retrac-ção 000, da forma mais atraumática possível, pa-ra facilitar a preparação junto à margem gengival.Para a redução axial usaram-se brocas cónicas: fi-na, média e grossa. Iniciou-se o desgaste na zona interproximal, e com uma broca fina fizeram-se sulcos proximais guia para a redução dessa zona. Seguidamente talharam-se três sulcos verticais vestibulares guia para a redução vestibular com a broca de diâmetro médio, controlando sempre a profundidade dos sulcos com a chave de silicone. Para a redução massiva vestibular utilizou-se uma broca de maior calibre, com o intuito de criar um espaço uniforme de 0,5-0,7mm, com precaução para não talhar uma superficie ondulada provo-cada pelos dos sulcos guia. O espaço necessário para o bordo incisal é de 1,5mm, sendo que nes-te caso quase não foi preciso desgastar devido ao desgaste natural da paciente. O controlo da redução incisal também se fez com a chave de silicone. A delimitação da linha de acabamento palatina, o último passo da preparação do dente, foi feita com uma broca esférica.No acabamento é importante que as preparações não apresentem ângulos agudos, procedendo ao polimento dos preparos com discos flexíveis.O desgaste dos dentes foi o mínimo possível para podermos trabalhar sempre sobre esmalte, e a ní-vel interproximal o desgaste foi feito até deixar de haver ponto de contacto entre os dentes.O molde foi feito com a técnica de duplo fio: ini-cialmente colocámos quatro fios 000 individuali-zados, e depois um só fio 00, a envolver os qua-tro dentes. Passados alguns minutos, removemos lentamente o fio 00 e colocámos simultaneamen-te o silicone light no espaço deixado pelo fio mais grosso. O silicone putty foi misturado, colocado

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26 Clínica

na moldeira e levado à boca da paciente.Fez-se uma muralha a partir do enceramento, e nela co-locou-se o material provisório, sempre de incisal para cervical, para evitar bolhas. Aplicou-se bastante vaseli-na nos preparos e levou-se a muralha à boca. Depois do material estar endurecido, removeram-se os provisórios delicadamente dos preparos, eliminaram-se os excessos e cimentaram-se com um cimento provisório.A avaliação do aspecto da faceta é um passo pré-cimen-tação muito importante para verificar cracks, textura su-perficial, etc..A remoção dos provisórios deverá ser feita muito delica-damente para não lesionar a gengiva. A eliminação dos resíduos de resina do coto deve ser realizada com cure-

tas. Seguidamente fez-se a verificação do assentamen-to e adaptação marginal da faceta: tanto no modelo de gesso como em boca. As facetas devem ter liberdade de movimento e espaço para o cimento resinoso. Primeiro avaliaram-se as facetas individualmente e só depois em conjunto. De seguida fez-se o isolamento absoluto de pré-molar a pré-molar para haver espaço para realizar este procedi-mento tão exigente.Fez-se o acondicionamento da faceta, com a aplicação do ácido fluorídrico a 10% na face interna e passou-se por água abundantemente. Para remover os resíduos, colo-cou-se a peça no ultra-sons com água destilada durante quatro minutos. Seguiu-se o processo de silanização, com a aplicação do silano na superficie interna da faceta e se-cagem, repetindo-se este processo três vezes. Finalmente, foi aplicado o bonding na peça, sem polimerizar (normal-mente todo este processo é realizado pela assistente).Simultaneamente à preparação da faceta, fez-se a prepa-ração das peças dentárias. O acondicionamento ácido foi feito com o ácido ortofosfórico. Aplicou-se o adesivo sem polimerizar e aspirou-se o excesso de bonding. Este passo deverá ser efectuado simultaneamente com a colocação do bonding na faceta.Na cimentação da faceta propriamente dita: aplicou-se o

cimento de resina na peça e colocou-se seguindo o maior eixo do dente com uma suave pressão digital. Fez-se a remoção dos macro-excessos com uma sonda periodontal (paralela à margem) e a remoção dos micro-excessos com pincel (movimentos paralelos à margem). A fotopolimeri-zação fez-se segundo as regras: na superfície palatina du-rante 90 segundos, mesiovestibular e distovestibular por 60 segundos. Cobrimos as margens com gel de glicerina para optimizar a polimerização e aplicámos a luz duran-te 30 segundos. No final passou-se abundantemente por água.Como a paciente apresentava sinais de bruxismo, desgas-te dentário e dor muscular à palpação, logo após a cimen-tação das facetas foram feitos moldes para colocação de goteira oclusal.

ConclusãoApesar do protocolo para execução de facetas ser bastante complexo, como demonstrámos neste artigo, os resultados são muito satisfatórios. A imitação da natureza é uma mais--valia para o nosso tratamento. n

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Figura 8: Aplicação do ácido fluorídricoFigura 7: Preparos Figura 9: Ultra-sons (4 minutos)

Figura 10: Preparo para faceta do 21 Figura 11: Ácido ortofosfórico no preparo do 21 Figura 12: Fotopolimerização da faceta sobre 21

Figura 13: Imagem final com abre bocas Figura 14: Imagem final da linha sorriso Figura 15: Imagem da vista lateral

Figura 16: Imagem da vista oclusal