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QUESTÃO DE DIREITO E JULGAMENTO EM TESE NELTON AGNALDO MORAES DOS SANTOS Juiz Federal, professor na Faculdade de Direito de Bauru, [TE, e mestre em Direito Processual pela Universidade de São Paulo 1. O PROBLEMA o Poder Judiciário brasileiro enfrenta séria crise resultante da constatação inarredável de que o serviço que presta é demasiadamente moroso. As estatísticas comprovam que o tempo de duração de um processo judicial é, de regra, muito grande. Entre o exercício do direito de ação e a efetivação da tutela jurisdicional medeia intervalo que pode ser de vários anos. Essa demora prejudica não a imagem da Justiça como - e principalmente - o compromisso que o Estado tem de proporcionar ao cidadão o acesso à ordem jurídica justa 1 . Na era da velocidade, em que tudo ou quase tudo se resolve instantaneamente, não mais se aceita que alguém tenha de esperar tanto tempo para receber o que o Direito lhe assegura. A dificuldade maior é, sabidamente, estrutural. A máquina judiciária não possui meios humanos e materiais para atender satisfatoriamente a demanda. A solução passaria, portanto, por 1 Sobre ° assunto, v. Kazuo Watanabe, Acesso à Justiça e Sociedade Moderna, in Participação e Processo, São Paulo, RT, 1988, p. 128.

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INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO

l grandeza do tema somente lentar, visto que estão em ~itos da Lei Maior, que por ser versados. (Curso de

, 1995, p. 136).

le que a lei mencionada no qntar. Resta, todavia, saber izante fica a depender da lis a esse respeito reina a lue a ausência da lei rão da norma imunizante (anto outros afirmam que à

a imunidade deve ser s máximos já definidos em ,RMS n° 2.623-l-RJ).

neste estudo se questionou, 'el que desobedecera uma ivale a incidir em no diz, expressívamente,

tucionais as leis ,.(" 16mJram.

QUESTÃO DE DIREITO E

JULGAMENTO EM TESE

NELTON AGNALDO MORAES DOS SANTOS

Juiz Federal, professor na Faculdade de Direito de Bauru, [TE, e mestre em Direito Processual pela Universidade de São Paulo

1. O PROBLEMA

o Poder Judiciário brasileiro enfrenta séria crise resultante da constatação inarredável de que o serviço que presta é demasiadamente moroso. As estatísticas comprovam que o tempo de duração de um processo judicial é, de regra, muito grande. Entre o exercício do direito de ação e a efetivação da tutela jurisdicional medeia intervalo que pode ser de vários anos.

Essa demora prejudica não só a imagem da Justiça como - e principalmente - o compromisso que o Estado tem de proporcionar ao cidadão o acesso à ordem jurídica justa1. Na era da velocidade, em que tudo ou quase tudo se resolve instantaneamente, não mais se aceita que alguém tenha de esperar tanto tempo para receber o que o Direito lhe assegura.

A dificuldade maior é, sabidamente, estrutural. A máquina judiciária não possui meios humanos e materiais para atender satisfatoriamente a demanda. A solução passaria, portanto, por

ense, p. 87, 1970.

1 Sobre ° assunto, v. Kazuo Watanabe, Acesso à Justiça e Sociedade Moderna, in Participação e Processo, São Paulo, RT, 1988, p. 128.

REVISTA JURÍDICA - INSTITUiÇÃO TOLEDO DE ENSINO NELTON AGNALDO MORAES DOS224

grandes investimentos, dependentes de vontade política que infelizmente não existe.

Para minimizar o problema, várias tentativas vêm sendo feitas, notadamente no campo legislativo. As recentes reformas processuais, a criação dos Juizados Especiais c a nova lei da arbitragem são claras mostras desse verdadeiro movimento contra a morosidade judicial.

No mesmo diapasão, os juízes também têm prestado sua colaboração, repensando as praxes cartoriais e racionalizando o serviço. A informatização das serventias e gabinetes, muitas vezes com recursos próprios dos magistrados e servidores, é digna dos maiores encômios.

Iniciativas como essas precisam, contudo, respeitar alguns parâmetros. O legislador, ao reformar o ordenamento processual, não pode suprimir garantias constitucionais. Seria verdadeiro absurdo, p. ex.: retirar do réu o direito de defesa ou vedar a

I. .]. qualquer das partes a produção de provas, a pretexto de conferir

celeridade ao processo. Do mesmo modo, o juiz não pode, com o "

:; '~ fim de agilizar a prestação jurisdicional, desrespeitar o ordenamento jurídico.

É justamente nesse último ponto - a atuação do juiz no processo - que se prende a preocupação maior do presente trabalho. Com efeito, algumas práticas têm sido adotadas sem qualquer cuidado científico e, o que é pior, em prejuízo daquela que é a maior garantia do cidadão em relação ao serviço judiciário: o respeito ao devido processo legaF.

Somente a título exemplificativo, citam-se algumas distorções: a) o deferimento de liminares sem o exame do perigo da demora, ao argumento Uamais confessado) de que é preciso fazê-lo porque o acúmulo do serviço judiciário acarreta o prolongamento da tramitação do feito, retardando a prolação da sentença; b) a adoção da chamada falsa motivação, consistente na simples

2 v., a propósito, José Carlos Barbosa Moreira, A Motivação das Decisões Judiciais como Garantia Inerente ao Estado de Direito, in Temas de Direito Processual, segunda série, 2' ed., São Paulo, Saraiva, 1988.

afirmação de que o caso c quando o correto é demon extraídos dos autos, di enunciativa; e c) a posteq liquidação da sentença ou I

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deveras constrangedoras. Ca o pedido, condena o réu e, n autor não se enquadrava, pressuposta.

Para ilustrar o problema, que se acolheu a pretensão ( receberem um salário mínirr 201, § 50). Em muitos procE diferenças desde a prom percebendo-se, mais tarde, n que a data de início do bene Magna.

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NSTITUlÇÃO TOLEDO DE ENSINO

de vontade política que

~ntativas vêm sendo feitas, As recentes reformas

~speciais e a nova lei da rdadeiro movimento contra

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- a atuação do juiz no pação maior do presente s têm sido adotadas sem pior, em prejuízo daquela

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consistente na simples

ivação das Decisões Judiciais como reito Processual, segunda série, 2' ed.,

NELTON AGNALDO MORAES DOS SANTOS

afirmação de que o caso dos autos conforma-se ao modelo legal, quando o correto é demonstrar essa conformidade com elementos extraídos dos autos, de forma crítica e não meramente enunciativa; e c) a postergação da análise do fato para a fase de liquidação da sentença ou para a execução.

No primeiro caso, esquece-se que a liminar é medida de exceção, porquanto deferida com base em cognição parcial e sUl-r:ária; esquece-se que o processo também se dirige ao réu, que mUltas vezes sofre por longo tempo as conseqüências de uma medida indevidamente deferida; esquece-se que a configuração do perigo da demora exige, de regra, o receio de ineficácia do provimento final e não o simples inconveniente do retardamento.

No segundo exemplo, o erro é ainda mais grave. Ao dizer que defere uma liminar cautelar porque estão presentes o fumus boni juris e o periculum in mora, o juiz não motiva sua decisão, não dá as razões de seu convencimento, não demonstra como chegou a tal conclusão. Em outras palavras, o juiz quebra o dever insculpido no .art. 93, IX, da CF, violenta a consciência do justo e afronta, a maIS não poder, o Estado Democrático de Direito.

Finalmente, no terceiro caso, tem-se a cisão da atividade jur~~~icional de conhecimento, transformando a sentença em mera defImdora de teses jurídicas e expondo o Judiciário a situações dever~s constrangedoras. Casos há em que o juiz julga procedente o pedIdo, condena o réu e, na fase de liquidação, percebe-se que o autor não se enquadrava, concretamente, na hipótese fática pressuposta.

Para ilustrar o problema, basta lembrar dos inúmeros casos em que se acolheu a pretensão de trabalhadores rurais, no sentido de receberem um salário mínimo a título de aposentadoria (CF, art. 2?1, § 5°). Em muitos processos, o INSS foi condenado a pagar dIferenças desde a promulgação da Constituição Federal, percebendo-se, mais tarde, na fase de liquidação ou na execução, que a data de inicio do benefício era posterior à edição da Carta Magna.

Outro exemplo é o entendimento, externado em alguns acórdãos de nossos tribunais, de que os extratos das contas

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REVISTA JURÍDICA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO 226

vinculadas ao FGTS não se afiguram como documentos essenciais ao julgamento de demanda que versa sobre definição de qual índice deve ser aplicado para a correção monetária do saldo das referidas contas uma vez que tais documentos terão utilidade apenas no momento da liquidação de eventual sentença procedente. 3 O argumento utilizado é o de que a prova é desnecessária, pois a questão é unicamente de direito. 4

Com todo o respeito que merecem tais decisões, parece que está havendo confusão entre questão unicamente de direito e julgamento em tese. É o que se tentará demonstrar a seguir.

2. O CONTEÚDO DA SENTENÇA

l.:. .1 A doutrina tradicionalmente fala em três espécies de processo, :,~:I conforme o tipo de tutela jurisdicional pretendida: processo de::i ~,.,'

~,/l,.,. conhecimento, processo de execução e processo cautelar. 5 ::[.'1

r'o Ensina Liebman6

que no processo de conhecimento o JUiZ '0 '" I, fórmula na sentença, em forma positiva (p. ex., Tício deve 100 \.,." liras a Caio) ou negativa (p. ex., Tício não deve 100 liras a Caio),

a regra jurídica concreta que disciplina o caso que constituiu o objeto do processo.

O mestre italiano ensina também que: além de acertar e declarar os direitos, é preciso fazer com que eles sejam satisfeitos; além de formular a regra jurídica concreta que

3 Ac. unân. da 2' Turma do Tribunal Regional Federal da 3' Região, na AC 03038200, reI. Juíza Sylvia Steiner, j. 18-3-97, DJU II de 2-4-97, p. 19.521.

4 V. ac. unân. da 4' Turma do Tribunal Regional Federal da 4' Região, na AC 0435778, reI. Juíza Silvia Goraieb, j. 26-9-95, DJU II de 20-12-95, p. 88.942. Na ementa consta que são "inúteis e desnecessdrios os extratos questionados na fase de instrução, e precipitada a pretensão do autor, que deve reservar-se para a liquidação de sentença, caso procedente a ação e se necessdrio for".

5 Com a inserção, em nosso ordenamento jurídico, da chamada ação monitória, parte da doutrina

fala em uma quarta espécie de processo - o processo monitório - que não se encaixaria em qualquer das figuras tradicionais. V. Cândido Rangel Dinamarco, A reforma do Código de Processo Civil, 4' ed., São Paulo, Malheiros, 1997, p. 229.

6 Enrico Tullio Liebmall, Manual de Direito Processual civil, 2' ed., Rio de Janeiro, Forense, trad. Cândido Rangel Dinamarco, 1985, v. 1, p. 164.

NELTON AGNALDO MORAES De

disciplina determinada ~ de traduzi-la em fatos existente, de modo a fa; Tício tenha efetivamente coisa móvel ou imóvel l

diante). 7 Essa é a função

Liebman acrescenta ql para poder iniciar o prOl acontecer que os meios n bens) fiquem expostos ú

alguma outra forma, se Justiça; ou, mais generü cujo reconhecimento se J iminente e irreparável. permitido pedir aos órli ponham a salvo as prove. forma aquela ameaça, de 1

conduzir a um resultado cautelar.

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Mas o que seria, exata enunciada na sentença do pl

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Sabe-se que a petição i consistente nos fatos efunde 282, UI). Deveras, o demar deles resulta uma conseqüên

7 Enrico Tullio Liebman, Manual..., cit., p,

8 Enrieo Tullio Liebman, Manual..., cit., p.

>TITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO NELTON AGNALDO MORAES DOS SANTOS 227

-am como documentos :te versa sobre definição t correção monetária do e tais documentos terão ~ão de eventual sentença

o de que a prova é ~e de direito. 4

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5Iocesso caute ar.

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Ida ação monitória, parte da doutrina lonitório - que não se encaixaria em )inamarco, A reforma do Código de I.

,2' ed., Rio de Janeiro, Forense, trad.

disciplina determinada situação, é necessário tratar de atuá-la, de traduzi-la em fatos reais, modificando a situação de fato existente, de modo a fazê-la ficar como deveria ser (fazer que Tício tenha efetivamente as 100 liras que lhe são devidas ou a coisa móvel ou imóvel que lhe deve ser entregue, e assim por

diante). 7 Essa é a função do processo de execução.

Liebman acrescenta que: no tempo que flui enquanto se espera para poder iniciar o processo, ou enquanto este se realiza, pode acontecer que os meios necessários a ele (isto é, as provas e os bens) fiquem expostos ao perigo de desaparecer ou de, por alguma outra forma, serem subtraídos à di.S'ponibilidade da Justiça; ou, mais genericamente, pode acontecer que o direito cujo reconhecimento se pede esteja ameaçado de um prejuízo iminente e irreparável. Nesses casos, à parte interessada é permitido pedir aos órgãos jurisdicionais que conservem e ponham a salvo as provas ou os bens, ou eliminem por outra :.

Iforma aquela ameaça, de modo a assegurar que o processo possa I. I,lconduzir a um resultado útil.

8 Isso se faz através do processo cautelar.

Em síntese, portanto, o processo de conhecimento formula, através da sentença, a regra jurídica concreta para o caso trazido a \Juízo; o processo de execução realiza o comando contido no título; e o processo cautelar assegura que o processo principal (de conhecimento ou de execução) produza um resultado útil.

Mas o que seria, exatamente, essa regra jurídica concreta, enunciada na sentença do processo de conhecimento?

Para respondermos a esta indagação, é preCISO relembrar algumas noções básicas de direito processual.

Sabe-se que a petição inicial deve conter a causa de pedir, consistente nos fatos e fundamentos jurídicos do pedido (CPC, art. 282, IH). Deveras, o demandante descreve os fatos e afirma que deles resulta uma conseqüência jurídica que o favorece. Em outras

7 Eurico TuIJio Liebman, Manual..., cit., p. 203.

8 Eurico Tullio Liebman, Manual..., cit., p. 216.

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palavras, o autor deve sustentar que os fatos narrados produzem uma repercussão no mundo do Direito.

Do mesmo modo, o juiz, ao acolher o pedido do autor, dirá que os fatos efetivamente se deram de acordo com a descrição feita na exordial e, mais do que isso, que eles se subsumem à norma jurídica prevista em abstrato. Ao afirmar isso, o juiz estará formulando a regra jurídica concreta, vale dizer, o comando jurídico para o caso concreto.

Por aí se vê, sem qualquer dificuldade, que a cognição do juiz não se resume apenas ao aspecto jurídico e tampouco ao fático. Mais uma vez socorremo-nos de Liebman para dizer que: o conhecimento do juiz tem necessariamente dois objetos diferentes:

a verificação dos fatos e a aplicação do direito. 9

Na sentença, o juiz faz uma valoração jurídica do fato, realizada conforme o direito vigente; do fato, tal como foi reconstruído, devem ser deduzidas as conseqüências estabelecidas abstratamente pelo

. . 10dlrelto.

Assim, reconstruir os fatos sem aplicar a regra jurídica não é ~ "I

sentenciar, é relatar o resultado de uma investigação; do mesmo modo, individualizar uma regra jurídica sem afirmar que nela se f subsume o fato concreto não é sentenciar, é emitir um parecer sobre uma hipótese. Nenhuma dessas duas coisas pode ocorrer no processo. A função do juiz não é a de opinar, mas a de decidir.

3. O JULGAMENTO ANTECIPADO DO MÉRITO

o procedimento do processo de conhecimento desenvolve-se em quatro fases: a postulatória, a de ordenamento (também chamada de fase de saneamento), a instrutória (ou probatória) e a decisória.

Na primeira, estão compreendidas a petição inicial, a citação e a resposta do réu. Na segunda, têm lugar as providências

9 Enrico Tullio Liebman, Manual...• cit.• p. 165.

10 Enrico Tu11io Liebman. Manual.... cit., p. 166.

NELTON AGNALDO MORAES DOS ~

preliminares e o julgamen terceira fase compreende a quarta fase é representada p

Essas fases não são est entre uma e outra. Sabe-~

documental é feita, de reg resposta (CPC, art. 396); tê julgamento, conforme o est< do processo, com ou sem fases possui fins didáticos predominante.

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Se não for caso de extinçi. a possibilidade de o pedido depende de outras provas. ~

para receber pronunciamentc disposto no art. 330 do C mérito. Trata-se da forma contemplada no art. 269, I.

ll Ad · d .. -doutnna mo ema rejeita a noçao e melhor é dizer que o art. 330 do CPC pedido. V. por todos Cândido Rangel [ Fundamentos do Processo Civil Moder;

INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO NELTON AGNALDO MORAES DOS SANTOS 229

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DO MÉRITO

mhecimento desenvolve-se de ordenamento (também :trutória (ou probatória) e a

, petição inicial, a citação e ~m lugar as providências

preliminares e o julgamento conforme o estado do processo. A terceira fase compreende a produção das provas. E, por último, a quarta fase é representada pela sentença.

Essas fases não são estanques, isto é, não há limites rígidos entre uma e outra. Sabe-se, p. ex.: que a produção da prova documental é feita, de regra, com a petição inicial e a com a resposta (CPC, art. 396); também não se ignora que, na fase do julgamento, conforme o estado do processo, pode haver a extinção do processo, com ou sem julgamento do mérito. A divisão por fases possui fins didáticos e considera o critério da atividade predominante.

Interessa-nos tratar, neste item, do julgamento conforme o estado do processo e mais precisamente do julgamento

antecipado da lide. 11

Encerrada a fase postulatória e cumpridas as providências preliminares (se houver necessidade delas), o juiz procederá ao julgamento conforme o estado do processo (CPC, art. 328).

No julgamento conforme o estado do processo, o julgador adotará um dentre três caminhos: a extinção do processo (CPC, art. 329); o julgamento antecipado da lide (CPC, art. 330); ou o saneamento (CPC, art. 331).

O art. 329 reúne as hipóteses de extinção atípica do processo. O processo deverá ser extinto quando ocorrer qualquer das situações previstas nos arts. 267 e 269, 11 a V, do CPC.

Se não for caso de extinção atípica, o julgador deverá verificar a possibilidade de o pedido ser apreciado de pronto ou se ele depende de outras provas. Se concluir que o feito está maduro para receber pronunciamento acerca do pedido, o juiz aplicará o disposto no art. 330 do Código, julgando antecipadamente o mérito. Trata-se da forma típica de extinção do processo, contemplada no art. 269, I.

11 A doutrina moderna rejeita a noção de que a lide seja o objeto do processo. Desse modo. o melhor é dizer que o art. 330 do CPC contempla o julgamento antecipado do mérito ou do pedido. V. por todos Cândido Rangel Dinamarco, O Conceito de Mérito em Processo Civil, iu Fundamentos do Processo Civil Modemo, São Paulo, RT, 1986.

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~ 111 ,J'

Por fim, se não ocorrer qualquer das hipóteses previstas nos arts. 329 e 330, o juiz partirá para o saneamento do feito, encaminhando-o para a fase instrutória ou probatória (CPC, art. 331). Isso ocorrerá quando não ocorrer qualquer das situações dos arts. 267 e 269, II a V, e, mais, quando não for possível o julgamento antecipado.

Resta saber em que casos o juiz poderá julgar antecipadamente o mérito. A resposta advém do art. 330: a) quando a questão for unicamente de direito; b) quando os fatos já estiverem esclarecidos pela prova já produzida; c) quando ocorrerem os efeitos da revelia.

A questão será unicamente de direito quando o réu não houver discordado da versão fática trazida pelo autor. Nada impede que o réu admita os fatos mas divirja do autor no tocante aos respectivos efeitos jurídicos; o demandado pode aceitar os fatos, mas sustentar tese jurídica diversa daquela afirmada na petição inicial. Um exemplo: o autor descreve um fato e pede a aplicação de determinada lei ordinária; o réu admite que o fato ocorreu exatamente do modo referido pelo autor, mas nega a aplicabilidade da aludida lei, ao argumento de que esta fere o texto constitucional.

Num caso como esse, não há por que deixar de julgar o feito. 12

O juiz terá, apenas e tão-somente, de examinar as teses jurídicas das partes, a fim de concluir pela aplicabilidade ou não daquela lei, conforme ela seja ou não constitucional. Para decidir essa questão não é preciso realizar audiência de instrução e julgamento; o juiz julga antecipadamente o meritum causae.

Note-se, porém, que o juiz não se cingiu a individualizar a regra jurídica; ele a aplicou ao caso concreto. O juiz não precisou decidir (emitir juízo próprio de valor) sobre o fato, pois as partes estavam de acordo nesse particular. Mas é evidente que o juiz aplicou a regra jurídica ao caso concreto, pressupondo que o fato ocorreu de acordo com a versão única.

12 É claro que, se o fato não comportar confissão, não será possível o julgamento sem o exame das provas. A questão de fato fica pressuposta.

4. EXEMPLOS PRÁTICC

Ao início deste trabalh em que se tem confundido pronunciamento em tese.

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:TITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO

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NELTON AGNALDO MORAES DOS SANTOS 231

4. EXEMPLOS PRÁTICOS

Ao início deste trabalho, falou-se em duas situações práticas em que se tem confundido os conceitos de questão de direito e de pronunciamento em tese.

No caso das diferenças de aposentadoria, devidas aos trabalhadores rurais nos termos do art. 201, § 5°, da CF, o correto seria examinar a situação de cada autor, a fim de verificar se ele era aposentado e qual a data do início do benefício. Dizer, em milhares de processos, que o benefício é devido desde a promulgação da Constituição não é sentenciar o caso concreto, mas emitir um juízo hipotético, isto é, em tese.

Nas demandas referentes à correção monetária sobre as contas de Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, do mesmo modo, não há, data venia, questão unicamente de direito. A questão é de direito e de fato, pois é preciso verificar se, ao tempo em que teria I

I ocorrido o crédito a menor, o autor era titular de conta desse tipo e se nela havia saldo.

Em tese, abstratamente, pode ser que os trabalhadores tenham direito a tais diferenças. Mas será que aquele autor, precisamente aquele que titulariza o processo em exame, está na situação que \produza o direito a receber diferenças? Será que o demandante, no caso concreto, possuía conta de FGTS naquela época? E será que havia saldo nela?

Esse aspecto precisa ser verificado em cada processo e a respeito de cada um dos autores (já que é comum o litisconsórcio). E o único momento em que isso pode ocorrer é o do julgamento do processo de conhecimento. É na sentença, e somente nela, que o juiz se pronunciará sobre a tese jurídica e se o autor será, concretamente, beneficiado por ela.

Para decidir sobre esse aspecto fático, o juiz não pode contentar-se com a prova da opção pelo sistema do FGTS (feita, normalmente, pela juntada de cópia da Carteira de Trabalho), pois é possível que não tenha havido depósito. E o que importa não é saber se o autor era optante, mas descobrir se ele tinha conta de FGTS na época dos expurgos inflacionários. A melhor forma

.

REVISTA JURÍDICA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO 232

(embora não se possa dizer que seja a única) de provar isso é, sem dúvida, a da juntada dos extratos.

Lembre-se que a demanda é instaurada em face da Caixa Econômica Federal (e não do empregador) e que o fato constitutivo do direito é a não-incidência do índice devido de correção monetária sobre o saldo da conta. Se não havia conta ou se não havia saldo, o pedido deverá ser julgado improcedente, visto não existir qualquer diferença a receber. Não havendo crédito, a pretensão do autor deverá ser rejeitada, no mérito. O autor não terá direito a receber qualquer importância da Caixa Econômica Federal. 13

O que se tem visto, todavia, é, repita-se, que alguns juízes e tribunais, ao argumento de que a questão é unicamente de direito, julgam apenas a tese jurídica, sem examinar concretamente o aspecto fático. Em tais casos, data venia, não há sentença, mas

I mero parecer sobre hipótese. I A, ::1 I,

... :,~

Com efeito, o dispositivo dessas sentenças fica condicionado à existência de conta e de saldo. É como dizer: se o autor possuía conta de FGTS e se nela havia saldo nas épocas dos expurgos,

r,·~f haverá crédito a receber. Ora, a sentença do processo de '~~:jr' conhecimento já deve definir tais questões. A sentença deve

acertar a controvérsia, declarando se havia conta e saldo. O Código de Processo Civil, aliás, proíbe a prolação de sentença condicional (CPC, art. 460, parágrafo único).

A única coisa que pode ficar pendente é a verificação do quantum debeatur. O juiz pode remeter para a fase da liquidação da sentença a apuração do valor da condenação; nunca poderá, contudo, postergar para outro momento a verificação da existência de conta e de saldo.

A adoção do sistema de julgamento, em tese, traz vários inconvenientes. Imagine-se que o juiz acolha a tese jurídica esposada na inicial e relegue para a liquidação ou para a execução

13 A ausência de conta ou de saldo tem levado alguns a pensar que o caso é de carência de ação por falta de interesse de agir. Não é possível concordar com isso. Se não há crédito, o pedido improcede.

NELTON AGNALDO MORAES DOS ~

a verificação do fato. O di pedido, condenando-se a C das custas do processo e de

Suponha-se que, mais sentença, se perceba que o , FGTS no período pertinen autor, então, poderá perg vencedor? A Justiça não di pedido não foi julgado proC(

Além disso, se o autor nã causa injusta à demanda. Cc custas do processo? Não hOl só: na demanda condenatór improcedente, pela indemon do autor. E este é que deveri

Nem se diga que a exis objeto de impugnação na COI exigem prova documental, u] documentada. Não é possíve saldo pelo simples silêncio sabe que a inicial quase nu possui os extratos, deve soli fornece, o interessado deve cabíveis para obtê-los. Mas [ da CEF, que o autor era titula

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INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO NELTON AGNALDO MORAES DOS SANTOS

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ita-se, que alguns juízes e 10 é unicamente de direito, ~xaminar concretamente o mia, não há sentença, mas

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havia conta e saldo. O le a prolação de sentença lico).

dente é a verificação do r para a fase da liquidação ondenação; nunca poderá, a verificação da existêncía

lto, em tese, traz vários z acolha a tese jurídica idação ou para a execução

a verificação do fato. O dispositivo consignará a procedência do pedido, condenando-se a Caixa Econômica Federal ao pagamento das custas do processo e de honorários advocatícios.

Suponha-se que, mais tarde, já transitada em julgado a sentença, se perceba que o autor da demanda não possuía conta de FGTS no período pertinente. Não haverá crédito a receber. O autor, então, poderá perguntar: mas eu não fui considerado vencedor? A Justiça não disse que eu tinha algo a receber? Meu pedido não foi julgado procedente?

Além disso, se o autor não possuía conta, a Caixa não terá dado causa injusta à demanda. Como, então, será possível impor-lhe as custas do processo? Não houve crédito a menor. A resposta é uma só: na demanda condenatória, o pedido deveria ter sido julgado improcedente, pela indemonstração do fato constitutivo do direito do autor. E este é que deveria suportar os ônus da sucumbência.

Nem se diga que a existência de conta e de saldo deve ser objeto de impugnação na contestação. Esses fatos são do tipo que exigem prova documental, uma vez que não há conta bancária não documentada. Não é possível presumir a existência de conta e de saldo pelo simples silêncio da demandada, mormente quando se sabe que a inicial quase nunca indica o saldo. Se o autor não possui os extratos, deve solicitá-los à Caixa. Se a Caixa não os fornece, o interessado deverá lançar mão dos meios jurídicos cabíveis para obtê-los. Mas não é possível presumir, pelo silêncio da CEF, que o autor era titular de conta de FGTS.

Por tudo isso, andou bem o Superior Tribunal de Justiça ao decidir que os depósitos em contas vinculadas ao FGTS constituem pressuposto indispensável ao reconhecimento do direito às diferenças de correção monetária não creditadas em razão dos expurgos inflacionários e por isso a existência deles nos períodos respectivos deve ser provada no curso do processo de conhecímento" e que "não discrepa disso a decisão que admite, como prova dos depósitos, em substituição aos extratos de contas, outros documentos emitidos pela Caixa Econômica

;ar que o caso é de carência de ação por :om isso. Se não há crédito, o pedido

233

REVISTA JURÍDICA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO 234

Federal contendo dados que permitem a conclusão de que havia depósitos na época referida pela petição inicial. 14

Entendendo desse modo, o Superior Tribunal de Justiça observa a melhor técnica, cumpre as finalidades do processo de conhecimento e age de modo que a prestação jurisdicional seja útil e eficaz.

5. CONCLUSÃO

Diante do que foi dito, o que se conclui é o seguinte:

a) a sentença deve conter a regra jurídica concreta para o caso trazido a exame; isso se obtém pela aplicação da regra jurídica, prevista em abstrato no ordenamento jurídico, ao fato reconstruído pela prova;

I b) o juiz não pode limitar-se a pronunciar-se sobre a tesei ~: jurídica discutida pelas partes, postergando a análise do fato para a :t liquidação da sentença ou para a execução; II

-:t c) dentre as hipóteses que autorizam o julgamento antecipado do mérito está a questão unicamente de direito, que surge quando

'~Jf' as partes controvertem apenas a respeito do aspecto jurídico da causa de pedir, sem dissentirem quanto ao fato;

d) mesmo quando julga antecipadamente o mérito, entendendo que a questão é unicamente de direito, o juiz aplica a regra jurídica ao caso concreto; nesse caso, o julgador pressupõe que o fato ocorreu de acordo com a versão única, jamais relegando sua análise para momento posterior;

e) agindo desse modo, o sentenciante desenvolve atividade útil e de acordo com a melhor técnica, colaborando para a eficiência e rapidez da prestação jurisdicional.

14 Ac. unân. da 2' Turma do Superior Tribunal de JustÍça, no Agravo regimental no agravo de instrumento n. 0135783, reI. Min. Ari Pargendler,j. 19-5-97, DJU de 9·6-97, p. 25.528.

f.

PrOfessor de

A lei não esgota o Di. música. Interpretar é reo textos da lei, são processl inextensíveis de exprimir. 1

1. INTRODUÇÃO

As leis são formuladas visando a estender a todos, palavras: a norma procede generalidade, referindo-se a casos concretos.2

Quem tem a tarefa de pa da norma jurídica ao fato d: juiz, tabelião, advogado, aplicação do direito é, p

1 Mário Moacyr Porto. A E!'lélica do Dir,

2 Alípio Silveira, Helmenêulica /to Direi,