8/15/2019 Qual o Significado Das Cinzas

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Qual o significado das cinzas?

Na quarta-feira que marca o início da quaresma a Igreja propõe em sua liturgia que os fiéis cubramsua cabeça com cinzas. Qual seria o significado deste gesto? Qual a origem deste rito?

A origem deste rito remonta a muitos séculos. Com efeito, encontramos diversas vezes no AntigoTestamento o uso das cinzas como sinal de dor e humilhação:

Conhecia-te só de ouvido, mas agora viram-te meus olhos: por isso, retrato-me e faço penitênciano pó e na cinza.

Muitos séculos depois a prática permaneceu dentro do cristianismo e os penitentes públicos, que por

algum pecado considerado gravíssimo tinham recebido penas que deveriam cumprir diante de seusirmãos na fé, pediam perdão revestidos de sacos e com a cabeça coberta de cinzas, como sinal desua contrição.

Porém, como todos os homens são pecadores essa cerimônia foi estendida a todos os fiéis pararecordar o preceito da penitência, pois

Todos têm necessidade de se renovar a cada dia para evitarmos a ferrugem inerente à nossacondição mortal, e não há ninguém que não deva se esforçar para progredir no caminho daperfeição; por isso, todos sem exceção, devemos empenhar-nos para que, no dia da redenção,pessoa alguma seja ainda encontrada nos vícios do passado.

Deste modo, a meditação de dois grandes baluartes de nossa vida espiritual são propostos atravésdas cinzas: a humilhação e a dor.

Ora, a humilhação é necessária para que cresça em nós a virtude da humildade, sem a qual torna-se impossível até mesmo iniciar uma vida espiritual e receber a graça. Com efeito, ela:

expulsa a soberba, a que Deus resiste, e nos torna submissos e sempre dispostos a receber oauxilio da graça, por eliminar a inflação da soberba. Por isso, diz a Escritura: Deus resiste aossoberbos e dá a sua graça aos humildes. E neste sentido a humildade é considerada ofundamento do edifício espiritual.

Assim, sem humildade não é possível que Deus infuda em nós sua graça e a faça crescer, pois anossa soberba impede a graça de ser nutrida e desenvolvida pelo Sol da Justiça. Por isso, járeconhecia São Gregório Magno que a soberba é a “mãe e a rainha de todos os vícios” que levou à

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condenação o primeiro homem e o maior de todos os Anjos.

Portanto, é necessário que pratiquemos constantemente atos de humildade a fim de fomentar estavirtude e reconhecer nossa pequenez, o que fazemos quando:

considerando os nossos defeitos, colocamo–nos, conforme a nossa condição, em situação ínfima;assim, Abraão disse ao Senhor: Falarei ao Senhor, ainda que eu seja cinza e pó.

Um segundo ponto que as cinzas nos recordam é a dor. A dor requer duas condições: a perda deum bem e a percepção desta perda. Portanto, sentimos dor quando algum bem nos é retirado epercebemos esta perda.

Ademais, a dor pode ser tanto externa quanto interna. Externa quando nosso corpo sofre um mal,como um ferimento; interna quando nossa alma se entristece ou sofre.

Ora, as cinzas são o produto da destruição de alguma coisa pelo fogo. Assim, servem para nosrecordar o processo de morte e destruição que devemos nos submeter para que possamos seguir ao Cristo e alcançar a Ressurreição.

É um processo doloroso, pois não poucas vezes sofremos para fazer oposição as nossas paixões,aos nossos egoísmos, aos nossos caprichos e para praticar o bem obtendo muitas vezes comorecompensa perseguições, insultos, incompreensões, ódio e inimizades.

Há ainda um terceiro significado das cinzas: a fragilidade da criatura humana que torna-se manifestacom a morte.

Com efeito, ao receber as cinzas ouvimos “lembra-te que és pó, e ao pó hás de tornar” ou“convertei-vos e crede no Evangelho”. A primeira admoestação nos recorda que existe um inimigoque todos teremos de enfrentar e que inevitavelmente seremos derrotados; a segunda, nos recordao que devemos fazer para que esta derrota seja instrumento para uma nova vida de união comDeus.

Quando formos pó ficaremos sob os pés de todos, até mesmo dos animais. Quando formos póperderemos tudo aquilo que conquistamos, seja fama, glória, poder, riquezas ou prazeres. Quandoformos pó perceberemos que deveríamos fizemos muitas coisas vãs e deixamos de fazer muitasnecessárias.

Por isso, as cinzas recordam a fragilidade humana e nos propõe que vivamos sempre diante domomento de nossa morte e que julguemos cada um de nossos atos presentes como seestivéssemos à porta do julgamento.

Com efeito, quem ousaria enfrentar seu juíz neste momento derradeiro? Quem teria coragem detransgredir e ofender Nosso Senhor Jesus Cristo? Quem recusaria arrepender-se e confessar seuspecados naquele momento? Quem viveria relaxado como se sua vida não pudesse ser perdida dali

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a poucos instante? Quem presumiria que poderia salvar-se por seus próprios caminhos e ilusõesnestes momentos?

Por isso Dom Bosco propunha a seus queridos jovens esta saudável reflexão:

Considera portanto, meu filho, que a tua alma deverá separar-se do corpo; mas não sabes se amorte te assalta na tua cama, ou durante o trabalho, ou na rua, ou em outra parte. A ruptura deuma veia, um catarro, uma hemorragia, uma febre, uma chaga, uma queda, um terremoto, umraio, bastam para te tirar a vida. Isso pode acontecer daqui a um ano, daqui a um mês, a umasemana, a uma hora e talvez ao terminar a leitura desta consideração. Quantos se deitaram ànoite cheios de saúde e de manhã foram encontrados mortos! Quantos acometidos de algumataque morreram de repente! E depois para onde foram? (…) Dizei-me, filho, se tivesses quemorrer neste instante, o que seria de tua alma? Ai de ti, se não te manténs sempre preparado!Quem não está hoje preparado para bem morrer, corre grande perigo de morrer mal. (…) Agorao demônio,para induzir-te a pecar, procura arrancar-te deste pensamento e levar-te a escusar atua culpa, dizendo-te não ser enfim tão grande mal aquele prazer, aquela desobediência, aquelaomissão da missa nos domingos; mas na hora da morte descobrir-te-á a gravidade destes e deoutros teus pecados, pondo-os diante de ti. E que haverás de fazer tu então, no ponto de teencaminhares para tua eternidade?

Portanto, que possamos humilhar-nos reconhecendo nossa fragilidade de modo que nossa vida sejauma constante preparação para voltarmos ao pó de onde viemos. Que a dor da contrição estejasempre presente em nossa alma e a dor das mortificações estejam sempre em nosso corpo. Sóassim poderemos aproveitar-nos do mistério das cinzas para cresce na graça, na virtude e nasabedoria.