pythium insidiosum: avaliação de imunoterápico contra a infecção

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  • I

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

    FACULDADE DE VETERINRIA

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIAS VETERINRIAS

    PYTHIUM INSIDIOSUM: AVALIAO DE IMUNOTERPICO PARA

    EQINOS, UTILIZANDO-SE COELHOS COMO MODELO

    EXPERIMENTAL.

    Autor:

    Md. Vet. JANIO MORAIS SANTURIO

    Tese apresentada como requisito parcial

    para obteno do grau de Doutor em

    Cincias Veterinrias na rea de

    Micologia.

    Orientador:

    PROF. DR. LAERTE FERREIRO

    PORTO ALEGRE

    2004

  • II

    Autor: Md. Vet. JANIO MORAIS SANTURIO

    Ttulo: PYTHIUM INSIDIOSUM: AVALIAO DE IMUNOTERPICO PARA EQINOS, UTILIZANDO-SE COELHOS COMO MODELO EXPERIMENTAL.

    Aprovada em 04 fevereiro de 2004

    APROVADO POR:

    ____________________________________________________

    Prof. Dr. LAERTE FERREIRO

    Orientador e Presidente da Comisso

    ___________________________________________________

    Prof. Dr. DAVID DRIEMEIER

    Membro da Comisso

    ___________________________________________________

    Prof. Dr. MARIO CARLOS ARAJO MEIRELES

    Membro da Comisso

    ___________________________________________________

    Prof. Dr. SYDNEY HARTZ ALVES

    Membro da Comisso

  • III

    S237p Santurio, Janio Morais Pythium Insidiosum : avaliao de imunoterpico para eqinos, utilizando- se coelhos como modelo experimental / Janio Morais Santurio ; orientador Laerte Ferreiro. Porto Alegre, 2004. 71 f. : il. Tese ( doutorado ) Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2004. 1. Medicina veterinria 2. Medicina veterinria Micologia 3. Micologia - Medicina veterinria 4. Medicina veterinria Imunoterapia 5. Imunoterapia - Medicina veterinria 6. Pitiose Imunoterapia 7. Pitiose Imunoterpicos 8. Pitiose Vacina 9. Vacina Pitiose 10. Pythium insidiosum 11. Coelho - Animais para experincias 12. Animais para experincias Coelho I. Ferreiro,. Laerte *orientador II. Ttulo. CDU : 619 619:616.99 619:57.084

    Ficha catalogrfica elaborada por Rosa Maria Fristsch Feij CRB-10/662 Biblioteca Central - UFSM

  • IV

    DEDICATRIA

    Clris, Deise e Roberta, principalmente pela compreenso.

  • V

    AGRADECIMENTOS:

    - A Deus pela vida e suas circunstncias;

    - Ao meu orientador, colega e amigo Prof. Laerte Ferreiro, pela ajuda e

    compreenso em todos os momentos;

    - Aos Colegas Alexandre e Adriana Leal pela pacincia e auxlio no

    desenvolvimento experimental deste trabalho;

    - Ao Colega Prof. Sydney Hartz Alves pela colaborao nas aulas na graduao e

    pelo apoio nos momentos difceis;

    - Colega Prof. Agueda Castagna de Vargas por ter assumido as minhas tarefas

    de docncia durante meu afastamento;

    - Colega Prof Maristela Lovato Flores pelo auxlio decisivo nas aulas da

    graduao;

    - Prof. Virginia Peretti Torelly pelo auxlio nas tradues para a lngua inglesa;

    - Aos alunos bolsistas do Laboratrio de Pesquisas Micolgicas (LAPEMI) da

    Universidade Federal de Santa Maria, pela amizade e ajuda.

  • VI

    RESUMO:

    A pitiose uma doena granulomatosa, tendo como agente etiolgico Pythium

    insidiosum De Cock, 1987, que atinge eqinos, provocando quadro infeccioso na pele e

    tecido subcutneo , caninos com apresentao gastrintestinal e cutnea , bovinos com

    doena cutnea , felinos e humanos, com quadro clinico de arterite, queratite e celulite

    periorbital. Esta enfermidade mais prevalente em reas tropicais, subtropicais ou

    temperadas. Tambm animais silvestres podem se infectar pela doena. O gnero

    Pythium pertence ao Reino Stramenopila, Filo Oomycota, cujos membros caracterizam-

    se por produo de zosporos biflagelados durante a reproduo assexuada. O

    desenvolvimento de pitiose experimental nas espcies naturalmente infectadas no foi

    ainda relatado, mas os coelhos so sensveis inoculao de zosporos e podem ser

    usados como modelo experimental para estudo da pitiose. Este trabalho teve como

    objetivo avaliar a eficincia de 3 processos de produo de imunoterpicos contra

    pitiose, produzidos a partir do cultivo e posterior macerao ou sonicao, em coelhos

    infectados experimentalmente com 17.500 zosporos do oomiceto Pythium insidiosum

    (cepa CBS 101555). Todos os coelhos foram inoculados com zosporos 1 ms antes da

    aplicao dos imunoterpicos. Para avaliao dos imunoterpicos, os coelhos que

    desenvolveram leses foram divididos em 4 grupos de 5 animais: Grupo 1 Tratado

    com placebo; grupo 2 tratado com o imunoterpico sonicado; grupo 3 tratado com o

    imunoterpico misto e o grupo 4 - Imunoterpico macerado mecanicamente. Todos os

    animais receberam 8 doses do imonoterpico ou placebo com intervalos de 14 dias. Um

    ms aps a inoculao dos zosporos mveis, foram iniciadas as medies das reas

    inoculadas. Os resultados indicaram que o imunoterpico macerado, utilizado no grupo

    4, foi estatisticamente (P

  • VII

    Palavras-chave: : Pythium insidiosum, pitiose, fungo, coelho, imunoterapia, zosporo,

    Oomycota

  • VIII

    ABSTRACT:

    The pythiosis is a granulomatous disease, tends as aetiologic agent Pythium

    insidiosum De Cock, 1987, that reaches equine and provoking infectious picture in the

    skin and subcutaneous area, canine with gastrintestinal and cutaneous presentation;

    bovine with cutaneous disease, felines and human, with arteritis, queratitis and

    periorbital cellulitis. Pythiosis happening in tropical, subtropical or temperate areas of

    the world. Wild animals can also be infected by the disease. The genera Pythium

    belongs to the Kingdom Stramenopila, Philum Oomycota, whose members are

    characterized by production of biflagelated zoospores during the anamorphic

    reproduction. Experimental models of pythiosis in naturally infected species have not

    yet been reported but, rabbits may be inoculated with zoospores as an experimental

    model for studying the disease. The present study evaluates the efficacy of three

    different of immunotherapics in the rabbit model. Approximately 17,500 zoospores of

    oomycete Pythium insidiosum (CBS 101555 strain) were inoculated in each animal to

    generate the disease. Immunotherapics were produced from vortexed or sonicated

    cultures of the same strain. Four groups of 5 animals were employed: Group 1 =

    Placebo, Group 2= Sonicated Immunotherapic, Group 3= Mixed Immunotherapic,

    Group 4= Vortexed Immunotherapic. All rabbits were inoculated with viable zoospores

    one month before administration of the immunotherapics. Eight doses of

    immunotherapic or placebo were used in each animal with a 14 day interval between

    injections. Rabbits receiving the vortexed immunotherapic were most effectively

    protected, (P

  • IX

    SUMRIO:

    DEDICATRIA .............................................................................................................IV AGRADECIMENTOS: ................................................................................................... V RESUMO:.......................................................................................................................VI ABSTRACT: ................................................................................................................. VIII INTRODUO: .............................................................................................................11

    Objetivos: ....................................................................................................................13 1.1 Objetivo geral:.................................................................................................13 1.2 Objetivos Especficos:.....................................................................................14

    REVISO DA LITERATURA ......................................................................................15 1.1 Histrico e Taxonomia....................................................................................15 1.2 Pythium insidiosum.........................................................................................17 1.3 Epidemiologia .................................................................................................19 1.4 PITIOSE..........................................................................................................22

    1.4.1 Eqinos....................................................................................................22 1.4.2 Ces e Gatos............................................................................................25 1.4.3 Bovinos ...................................................................................................27 1.4.4 Humanos .................................................................................................28 1.4.5 Coelhos....................................................................................................29

    1.5 Histopatologia ...............................................................................................31 1.6 Diagnstico....................................................................................................31 1.7 Tratamento.....................................................................................................35 1.8 Imunoterapia..................................................................................................38

    ARTIGO PUBLICADO:.................................................................................................44 DISCUSSO ..................................................................................................................51 CONCLUSES: .............................................................................................................55 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS............................................................................56 ANEXOS ........................................................................................................................69

  • X

    LISTA DE FIGURAS:

    Figura 1: Imunoterpico contra pitiose nos eqinos PitiumVac........................13 Figura 2: Esporngio lobulado de Pythium insidiosum, cepa CBS 101555..........18 Figura 3: Fenograma UPGMA apresentando as interrelaes entre isolados

    de P. insidiosum. ..........................................................................................19 Figura 4: Eqinos em seu habitat no pantanal matogrossense..............................20 Figura 5: Esquema do ciclo biolgico do Pythium insidiosum .............................21 Figura 6. Eqino do pantanal com pitiose clssica na pata em processo de

    auto mutilao . .............................................................................................24 Figura 7: Leso atpica de pitiose no pantanal brasileiro .....................................24 Figura.8: Colite infecciosa de um co com pitiose.. .............................................27 Figura 9: Bovinos da raa nelore de 6 meses de idade com leso de pitiose .......28 Figura 10: Fibrogranuloma em coelho aps 30 dias de inoculao com

    17.500/mL zosporos de Pythium insidiosum . ............................................30 Figura 11 : Coelho com fibrogranuloma supurado aps 60 dias da

    inoculao com 17.500 zosporos/mL de Pythium insidiosum.. ..................30 Figura 12: Cultivo de P. insidiosum em caldo sabouraud a 37C........................34 Figura 13: Hifas de Pyhium insidiosum em cultivo em gar farinha de

    milho ............................................................................................................34 Figura 14: Cultivo de isolado de P. insidiosum, para produo induo de

    zoosporangnese. ..........................................................................................35 Figura 15: Hiptese proposta para os efeitos curativos dos imunoterpicos

    contra pitiose baseado em dados de humanos e eqinos...............................41 Figura 16: Eqino com pitiose clnica na pata (A) e o mesmo animal

    totalmente curado (B) aps receber 4 doses do imunoterpico PitiumVac......................................................................................................43

  • 11

    Pythium insidiosum: avaliao de imunoterpico para eqinos, utilizando-se coelhos como modelo experimental.

    INTRODUO:

    A pitiose uma doena granulomatosa que atinge eqinos, provocando quadro

    infeccioso na pele e tecido subcutneo, caninos com apresentao gastrintestinal e

    cutnea, bovinos com doena cutnea, felinos e humanos apresentando quadro clinico

    de arterite, queratite e celulite periorbital. mais prevalente em reas tropicais,

    subtropicais ou temperadas (MEIRELES et al., 1993; MENDOZA et al., 1996;

    SANTURIO et al. 1998; GROOTERS, 2003). causada pelo oomiceto pertencente ao

    Reino Stramenopila, Pythium insidiosum (DE COCK et al., 1987, ALEXOPOULUS,

    1996). Nas espcies no domsticas, o Pythium insidiosum foi reconhecido como causa

    de doena pulmonar primria num jaguar (Pantera onca) da Amrica Central, alm de

    leses cutneas e gastrintestinais em um urso de zoolgico e, tambm, como causa de

    leso mandibular subcutnea em um camelo (GROOTERS, 2003).

    A enfermidade nos eqinos caracteriza-se pela formao de granulomas com

    infiltraes de eosinfilos, com a presena de massas necrticas denominadas de

    kunkers (MENDOZA & ALFARO, 1986; MEIRELES et al, 1993; SANTURIO et

    al.; 2003).

    Os caninos so a segunda espcie mais atingida e as infeces caracterizam-se

    pela formao de piogranulomas gastrintestinais e cutneos ( MILLER et al., 1983;

    FOIL et al., 1984; BENTINCK-SMITH et al., 1989; HOWERTH et al., 1989;

    FISCHER et al., 1994; GROOTERS, 2003). Em humanos, a doena comum no

    sudeste da sia, principalmente na Tailndia. A doena apresenta-se nas formas

    subcutnea, sistmica e oftlmica, sendo que as formas cutneas e sistmicas esto

    associadas sndrome de e -talassemia, comuns nessa regio (IMWIDTHAYA,

    1994a; IMWIDTHAYA, 1995).

    Diversos protocolos para o tratamento da pitiose tm sido utilizados,

    principalmente em eqinos, incluindo tratamento qumico (antifngicos), cirrgico e de

    imunoterapia . A imunoterapia, proposta inicialmente por MILLER (1981), surgiu como

  • 12

    uma alternativa concreta para o controle da doena e tem apresentado resultados

    animadores (MONTEIRO, 1999; MENDOZA et al.2003).

    O coelho o nico animal no qual se conseguiu reproduzir a pitiose cutnea a

    partir da inoculao de zosporos produzidos por zoosporangnese em laboratrio

    (MILLER & CAMPBELL, 1983b). Passa, ento, esta espcie animal a ser modelo

    natural para testes com drogas e imunoterapia contra a pitiose.

    Desde 1993, o Laboratrio de Pesquisas Micolgicas da Universidade Federal de

    Santa Maria [LAPEMI] vem utilizando um imunoterpico (IMT) contra a pitiose em

    eqinos, desenvolvido em conjunto com a Embrapa Pantanal. Este IMT, com o nome de

    PitiumVac foi registrado no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), visando

    a obteno de patente de inveno para a UFSM e EMBRAPA .Tambm este IMT est

    em processo de registro junto ao Ministrio da Agricultura.

    O IMT PitiumVac mostrou-se eficiente para eqinos com pitiose clnica , porm,

    na tentativa de seu aperfeioamento, substituindo-se o processo de macerao das hifas,

    pelo processo de sonio, empregano-se um disrruptor de clulas. Observou-se que este

    IMT perdeu sua eficincia em mais de 70% dos eqinos tratados (OBSERVAES

    PESSOAIS). Diante disso procurou-se investigar se as causas do baixo desempenho do

    PitiumVac (figura 1 e anexo 2) estavam na liberao dos antgenos, desnaturao destes

    ou em seu processo de liofilizao. Para tal, foram propostos 3 processos de preparo do

    IMT os quais foram testados em coelhos infectados experimentalmente.

  • 13

    Figura 1: Imunoterpico contra pitiose nos eqinos PitiumVac com

    registro de inveno pertencente ao LAPEMI/UFSM e EMBRAPA (anexo 3).

    Objetivos:

    Este estudo foi objetivado a:

    1.1 Objetivo geral:

    Avaliar, na pitiose experimental em coelhos os imunoterpicos obtidos a partir

    de 3 diferentes protocolos fundamentados na: a)sonicao das hifas de P.

    insidiosum (cepa DMVP118/98 CBS 105555 anexo b)liquidificao ou

    maceraomecnica das hifas c) imunoterpico misto, produzido com 50% de

    sonio e 50% de macerao, comparando-os a um grupo controle tratado com

    placebo.

  • 14

    1.2 Objetivos Especficos:

    1.2.1. Comparar a atividade dos diferentes imunoterpicos, atravs de medidas

    da involuo dos fibrogranulomas da pitiose experimental em coelhos, aps

    aplicao de 8 doses.

    1.2.2. Avaliar, microscopicamente, as alteraes histopatolgicas da pitiose

    experimental em coelhos, aps a aplicao dos diferentes imunoterpicos.

  • 15

    REVISO DA LITERATURA

    1.1 Histrico e Taxonomia

    O agente da pitiose - Pythium insidiosum , atualmente, classificado como um

    organismo zoosprico, habitante de solo e de gua. So conhecidas muitas espcies de

    Pythium como patgeno de plantas importantes economicamente, mas P. insidiosum

    o nico, dentro deste gnero, reconhecido como patgeno para mamferos.

    Manifestaes clnicas de pitiose foram, pela primeira vez, diagnosticadas na ndia na

    metade do sculo 19, por veterinrios ingleses. Eles observaram doena granulomatosa

    cutnea crnica que denominaram bursattee (GROOTERS, 2003). No final do sculo

    XIX, a etiologia fngica, baseada em dados histopatolgicos, foi proposta pelos

    investigadores SMITH, (1884) e DROUIN, (1896). O primeiro isolamento desse

    organismo filamentoso foi realizado, no incio do sculo XX, por DE HAAN &

    HOOGKAMER (1901), a partir de granulomas subcutneos em eqinos na Indonsia,

    Estes autores o classificaram como sendo um fungo zigomiceto ou ficomiceto baseados

    apenas nas caractersticas morfolgicas da hifa vegetativa. Propuseram, tambm, o

    nome hyphomycoses destruens para a doena, porm no conseguiram classificar o

    agente etiolgico. Somente em 1961 foi possvel o isolamento e identificao do agente,

    o qual recebeu o nome de Hyphomyces destruens, baseado no nome da doena sugerido

    anteriormente (BRIDGES & EMMONS, 1961). Em 1964, EMMONS sugeriu o termo

    ficomicoses para designar as micoses (humanas e animais) causadas por fungos com

    hifas grandes e poucos septos, incluindo os gneros Absidia, Mucor, Rhizopus,

    Basiodobolus, Entomophothora, Hyphomyces e Mortierella. Em 1974, foi possvel o

    isolamento e a caracterizao mais detalhada do agente etiolgico a partir de eqinos

    infectados, quando, ento, foi observada a sua capacidade de produzir zosporos

    biflagelados a partir de isolados de eqinos originrios da Nova Guin. Baseados nessa

    caracterstica, AUSTWICK & COPLAND, (1974) classificaram o H. destruens como

    um fungo da famlia Pythiaceae, ordem Peronosporales e que deveria ser includo no

    gnero Pythium. No entanto, a denominao Hyphomyces destruens continuou sendo

  • 16

    utilizada nas descries da doena (McMULLAN et al., 1977; MURRAY et al., 1978;

    GONZLEZ et al., 1979).

    Em 1980, ICHITANI & AMEMIYA compararam um isolado de eqino com

    outras espcies de Pythium, atravs de suas caractersticas reprodutivas (oognia e

    zosporos), identificando o agente como Pythium gracile Middleton, 1943. Somente em

    1987, DE COCK et al. ao analisarem isolados de eqinos, bovinos, ces e humanos,

    oriundos de diferentes locais, concluram que tratava-se do mesmo organismo, que foi

    denominado Pythium insidiosum. Nesse mesmo estudo, concluiu-se que essa nova

    espcie era igual s anteriormente descritas, Pythium sp -Austwick e Copland; Pythium

    gracile Ichitani e Amemiya; e Hyphomyces destruens Bridges e Emmons. Tambm

    em 1987, Shipton (apud MENDOZA & MARIN, 1989) analisou um isolado de eqino

    da Austrlia e classificou-o como uma nova espcie: Pythium destruens. No entanto, em

    1989, provas sorolgicas realizadas com anti-soro produzido em coelhos e soro de

    eqinos infectados, frente a antgenos de P. insidiosum (De Cock) e P. destruens

    (Shipton), demonstraram o mesmo perfil antignico e estabeleceu-se a nomenclatura

    definitiva para o agente etiolgico da pitiose: Pythium insidiosum (MENDOZA &

    MARIN, 1989).

    Embora o nome do agente tenha sido estabelecido, a sua classificao

    taxonmica continuou sendo discutida nos anos seguintes. Segundo DE COCK et al.

    (1987), os oomicetos so seres eucariotas produtores de zosporos biflagelos,

    caracterstica comum ao Pythium insidiosum, incluindo-o na ordem Peronosporales,

    filo Oomycota e reino Protista. MENDOZA et al. (1996), baseados em um estudo de

    CORLISS (1994) sobre a classificao e caractersticas dos Protistas, apresentaram o P.

    insidiosum como um organismo do reino Chromista, filo Pseudo-fungi, classe

    Oomycetes, ordem Pythiales, e famlia Pythiaceae. Entretanto, estudos detalhados sobre

    a classificao dos fungos, baseados em sistemtica filogentica e anlises moleculares,

    entre outros, dividiram os organismos anteriormente classificados como fungos em trs

    reinos: Fungi, Stramenopila e Protista (ALEXOPOULOS et al., 1996). Baseado nessa

    nova classificao, o agente etiolgico da pitiose pertence ao Reino Stramenopila,

    Classe Oomycetes, Ordem Pythiales, Famlia Pythiaceae, Gnero Pythium e espcie P.

    insidiosum (MONTEIRO, 1999; LEAL, 1999). Estudos taxonmicos mais

    aprofundados, baseados em anlises de sequenciamento de gene do RNA ribossomal de

    P. insidiosum, confirmaram que os membros da classe Oomycetes so filogeneticamente

    distantes dos membros do Reino Fungi e estariam relacionados de maneira mais

  • 17

    prxima das algas que dos fungos (KWON-CHUNG , 1994). A distncia taxonmica

    entre os oomicetos e os fungos esto retratados ao nvel celular atravs de diferenas na

    parede e composio da membrana. A quitina, um componente essencial da parede

    celular fngica, est geralmente ausente na parede celular dos oomicetos, onde

    aparecem como componentes predominantes celulose e -glucana (HENDRIX, 1964).

    Tambm os oomicetos diferem dos fungos quanto ao papel do ergosterol na membrana

    celular, ou seja, nos primeiros ele no o principal esteride . Nenhum dos oomicetos

    compartilham da mesma bioqumica dos esterides como os fungos. Espcies dos

    gneros Pythium, Lagenidium, e Phytophthora possuem esterides auxotrficos, ou

    seja, eles incorporam os esterides do ambiente em lugar de os produzirem como ocorre

    com os fungos. Os esterides so importantes para produo de estruturas sexuadas in

    vitro, mas no so necessrios para o crescimento da hifa vegetativa (GROOTERS,

    2003).

    1.2 Pythium insidiosum

    O gnero Pythium pertence ao filo Oomycota, cujos membros caracterizam-se

    por: 1) produo de zosporos biflagelados durante a reproduo assexuada); 2)

    reproduo sexuada oogmica; 3) parede celular composta de -glucanas, celulose e

    hidroxipolina; 4) talo diplide; 5) mitocndria com crista tubular; 6) caractersticas

    moleculares e bioqumicas peculiares, como uma rota alternativa para sntese do

    aminocido lisina (MOORE-LANDECKER, 1996; ALEXOPOULOS et al., 1996). Esse

    gnero possui mais de 120 espcies distribudas em todo planeta, sendo a maioria

    habitantes do solo e patgenos de plantas. Espcies de Pythium so a principal causa da

    doena damping-off de plantas, ocasionando severos prejuzos em lavouras. Algumas

    espcies tem sido estudadas para utilizao como controle biolgico de fungos

    patgenos e larvas de mosquito, enquanto apenas a espcie P. insidiosum conhecida

    como patgeno de mamferos. A identificao das espcies de Pythium no uma tarefa

    fcil, pois est baseada principalmente nas caractersticas morfolgicas dos

    zoosporngios (figura 2), zosporos, oognia e anterdio (ALEXOPOULOS et al.,

    1996; MOORE-LANDECKER, 1996).

  • 18

    Figura 2: Esporngio lobulado de Pythium insidiosum, cepa CBS 101555, produzido em meio de induo sobre folhas da grama Paspalum notatum. Este esporngio est em estgio intermedirio e tem 6 minutos de desenvolvimento (400x). [Foto LAPEMI].

    SCHURKO et al. (2003), ao compararem 28 espcies de P.insidiosum originrias

    das Amricas, sia e Austrlia, atravs de comparao do espao ribossomal

    intergnico pela tcnica molecular de RFLP (restriction fragment-lenght

    polymorphism) e anlise dos clusters (figura 3), demonstraram haver grandes

    diferenas entre os isolados de P. insidiosum das 3 regies estudadas (figura 3) com a

    possibilidade real de no serem todas a mesma espcie. Estes autores levantam a

    possibilidade de uma reclassificao como sub-espcies, pois cada cluster dos isolados

    representa populaes geneticamente distintas.

  • 19

    Figura 3: Fenograma UPGMA apresentando as interrelaes entre isolados

    de P. insidiosum. O hospedeiro e o pas de origem esto indicados entre parnteses (hospedeiro/Pas) com as seguintes abreviaes : Hospedeiro Ca, canino; Cq, Culex quinquefasciatus larva; Eq, eqino; Hu, humano; To, Tremarctos ornatus (spectacled bear); Pas AU, Austrlia; BR, Brasil; CR, Costa Rica; HA, Haiti; IN, ndia; JA, Japo; NG, Nova Guin; TH, Tailndia; US, Estados Unidos. (SCHURKO et al., 2003)

    1.3 Epidemiologia

    A pitiose ocorre em regies de clima tropical, subtropical e temperado, tendo

    sido relatada nas Amricas, alguns pases europeus, sudeste asitico e Oceania

    (CHAFFIN et al., 1995; FOIL, 1996; MENDOZA et al., 1996). No h predisposio

    por sexo, idade ou raa e a fonte de infeco so os zosporos ambientais, no havendo

    relatos de transmisso direta entre animais e entre animais e homens (MENDOZA et al.,

    1996).

    As condies ambientais so determinantes para o desenvolvimento do

    organismo em seu ecossistema. Segundo MILLER & CAMPBELL (1982a), para a

    produo de zosporos so necessrias temperaturas entre 30 e 40C e o acmulo de

    gua em banhados e lagoas (figura 4). A grande maioria dos casos de pitiose foram

  • 20

    observados durante ou aps a estao chuvosa. Baseados nos dados epidemiolgicos, os

    autores acreditam na existncia de um perodo de incubao de vrias semanas. No

    Pantanal brasileiro, a maioria dos casos de pitiose eqina so registrados entre os meses

    de fevereiro e maio (vero-outono), perodo que corresponde ao pice das cheias (LEAL

    et al., 2001). Grande parte dos 38 casos de pitiose observados por TABOSA et al.

    (1999) na Paraba, foram registrados nos meses de julho a outubro, sete a dez meses

    aps o incio das chuvas na regio.

    Figura 4: Eqinos em seu habitat no pantanal matogrossense. Destaca-se a

    macia proliferao de plantas aquticas onde se reproduz o P. insidiosum. (Foto SANTURIO et al. 2003)

    Em 1983, MILLER props um ciclo ecolgico para descrever o comportamento

    ambiental e a cadeia infecciosa desse organismo. O ciclo baseia-se na colonizao de

    plantas aquticas, que servem de substrato para o desenvolvimento e reproduo do

    organismo, formando os zoosporngios. Os zosporos livres na gua, movimentam-se

    at encontrar outra planta (ou animal), onde se encistam e emitem tubo germinativo,

    dando origem a um novo miclio e completando seu ciclo (figura5). Anlises in vitro

    demonstraram a atrao dos zosporos por plos, tecidos animal e tecido vegetal, sendo

    a quimiotaxia atribuda a algumas substncias presentes nesses tecidos. Uma substncia

    amorfa liberada pelo zosporo aps o seu encistamento, a qual provavelmente

    produzida em resposta ao fator quimiotxico do hospedeiro; essa substncia agiria como

  • 21

    um adesivo para ligar o zosporo a superfcie do hospedeiro e permitir a formao de

    tubo germinativo (MENDOZA et al., 1993).

    Z o sp o r o s e m Z o sp o r o s e m g u a s p a ra d a s g u a s p a ra d a s

    F o rm a oF o rm a o Z o o p o r n g io sZ o o p o r n g io se Z o sp o r o se Z o sp o r o s Z o sp o r o s liv r e sZ o sp o r o s liv re s

    Z o s p o r o s a tr a d o s Z o s p o r o s a tr a d o s p a r a o s p e lo sp a r a o s p e lo sd o sd o s e q u in o se q u in o s

    F ix a mF ix a m -- s e n u m a s e n u m a fe r id a e g e r m in a mf e r id a e g e r m in a m

    Z o sp o r o s f ix a mZ o sp o r o s f ix a m -- s es en a s p la n ta s d a g u an a s p la n ta s d a g u a

    G e r m in a m p la n taG e r m in a m p la n tah o sp e d e irah o sp e d e ira

    M ic lio p la n taM ic lio p la n tah o sp e d e irah o sp e d e ir a

    C r e s c im e n toC r e s c im e n tov e g e ta t iv ov e g e ta t iv on o s te c id o s n o s te c id o s (P I T IO S E )(P I T IO S E )

    K u n k e rK u n k e r s o ltas o lta -- s es ed od o g r a n u lo m ag r a n u lo m a e c a ie c a in a g u an a g u a

    C ic lo C ic lo N o r m a lN o r m a l

    Figura 5: Esquema do ciclo biolgico do Pythium insidiosum adaptado de

    MILLER (1983).

    Essas observaes sustentaram a teoria de infeco, sugerindo que os cavalos em

    contato com guas contaminadas poderiam atrair os zosporos, os quais germinariam a

    partir de uma pequena leso cutnea (MILLER, 1983; MENDOZA et al., 1993). Outros

    autores sugeriram a possibilidade de penetrao dos zosporos atravs dos folculos

    pilosos, baseados na deteco de hifas no interior do folculo de bovinos infectados

    naturalmente e no fato do quimiotaxismo ser mais ativo na regio localizada dentro do

    folculo piloso (SANTURIO et al.,1998). Essa observao pode questionar a

    necessidade de leso na pele para que ocorra a germinao dos zosporos. Por outro

    lado, nos casos e relatos acompanhados no Brasil, foi possvel detectar diferenas na

    suscetibilidade de equinos infeco. Comparando-se com os dados de pitiose humana,

    onde a maior parte dos casos ocorrem em indivduos talassmicos, pode-se suspeitar da

    presena de alguma(s) caracterstica(s) que torne alguns animais mais suscetveis. So

    necessrias mais investigaes nesse sentido (SANTURIO et al., 2003).

    No Brasil, a pitiose foi descrita em eqinos, bovinos e caninos, porm a maioria

    dos casos relatados corresponde a leses cutneas em eqinos. O primeiro relato

    ocorreu no Rio Grande do Sul, por SANTOS & LONDERO (1974). Os relatos de

  • 22

    pitiose eqina no Brasil somam mais de 90 casos e foram descritos em vrios estados

    como Rio Grande do Sul (SANTOS, et al., 1987; MEIRELES et al. 1993, SALLIS et

    al., 2003), Mato Grasso do Sul (MONTEIRO, 1999; LEAL et al., 2001), So Paulo

    (RODRIGUES & LUVIZOTTO, 2000), Par (TRY & CORA, 1997), Paraba

    (TABOSA et al. 1999), Paran (HEADLEY & ARRUDA Jr, 2004) e Rio de Janeiro

    (SANAVRIA et al., 2000). Alm dos casos descritos na literatura, existem informaes

    de mdicos veterinrios de vrias regies do pas, demonstrando a presena da doena

    em vrios estados. Esses relatos comprovam a provvel existncia da pitiose equina em

    todo o Pas. Alm disso, o Pantanal brasileiro provavelmente o local de maior

    incidncia e prevalncia de pitiose eqina do mundo (MENDOZA et al., 1996, LEAL et

    al., 2001; SANTURIO et al., 2003). O Pantanal uma plancie inundvel de

    aproximadamente 140.000 km2 e possui em torno de 139.760 eqinos (SILVA et

    al.,1995). Embora no exista um levantamento preciso da incidncia no Brasil, a pitiose

    equina representa um problema criao de eqinos, especialmente em regies

    alagadias como no pantanal brasileiro.

    1.4 PITIOSE

    1.4.1 Eqinos

    A doena conhecida por outros nomes como hifomicose, zigomicose, dermatite

    granular, bursattee, Florida leeches, granuloma ficomictico e swamp cancer

    (CHAFFIN et al., 1995; FOIL, 1996); nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do

    Sul o nome popular mais conhecido ferida da moda (LEAL et. al., 2001). O termo

    hifomicose inclui outras doenas causados por fungos, especialmente Conidiobolus

    ranarum e Basidiobolus haptosporum, alm de membros da ordem Mucorales

    (BROWN & ROBERTS, 1988).

    A espcie eqina a mais atingida pela pitiose, no havendo predisposio de

    raa, sexo ou idade (MENDOZA & ALFARO, 1986; FOIL, 1996). As leses cutneas

    so as mais freqentes e atingem principalmente as extremidades distais dos membros e

    poro ventral da parede toraco-abdominal, provavelmente devido ao maior tempo de

    contato com guas contaminadas com zosporos (MILLER & CAMPBELL, 1982a;

    CHAFFIN et al., 1995). O zosporo de P. insidiosum em contato com uma ferida,

    produz tubo germinativo com secreo de enzimas proteolticas que penetram

  • 23

    ativamente no tecidos exercendo presso de 0,14N m-2 sobre eles para sua penetrao

    (RAVISHANKAR et al., 2001; MACDONALD et al., 2002). Os sinais clnicos

    caracterizam-se por leses ulcerativas granulomatosas, formando grandes massas

    teciduais (5 a 500mm), com bordas irregulares, de aparncia tumoral e com hifas

    recobertas por clulas necrticas, que formam massas branco-amareladas semelhante a

    corais, chamadas internacionalmente de kunkers. Os kunkers variam de 2 a 10 mm

    de dimetro, tem forma irregular, ramificada, com aspecto arenoso e penetram no tecido

    granular, dentro de sinus formados ao longo do seu trajeto. O tamanho das leses

    depende do local e durao da infeco e, apresentam secreo sero-sanguinolenta,

    muco-sanguinolenta, hemorrgica e, s vezes, mucopurulenta que flui atravs dos sinus.

    Os animais apresentam intenso prurido e normalmente mutilam a leso na tentativa de

    aliviar o desconforto (Figura 6). Claudicao freqente nos cavalos atingidos nos

    membros (MILLER & CAMPBELL, 1982a; MEIRELES et al., 1993; CHAFFIN et

    al.,1995; MENDOZA et al., 1996; LEAL et al., 2001). A maioria dos casos descritos

    relata apenas uma leso em cada animal, porm podem existir leses cutneas

    multifocais, como as descritas por MILLER & CAMPBELL (1982a), MENDOZA &

    ALFARO (1986) e CHAFFIN et al. (1992). Tambm a pitiose pode se disseminar para

    rgos internos a partir de infeces sub-cutneas (REIS et al., 2003). Esses autores

    detectaram infeco generalizada em 3 equinos no estado de Minas Gerais,

    principalmente pulmes e fgado, sendo o achado de hifas confirmado atravs de PCR

    do DNA ribossomal como P. insidiosum. Em 2001, LEAL et al., relatam casos atpicos

    de pitiose eqina no pantanal brasileiro. Os animais mostram leses deformantes mas,

    de forma diversa, no ocorre a sada constante de linfa e outros fludos corporais e o

    tecido granulomatoso recoberto com pele escurecida e grossa (figura 7). Ao ser

    pressionada a leso, facilmente consegue-se extrair kunkers com facilidade de onde

    foram isoladas estruturas posteriormente identificadas como Pyhium insidiosum. Os

    eqinos com tais leses atpicas de pitiose no apresentam emagracimento progressivo

    e, aps um ano de observao as leses permanecem do mesmo aspecto e tamanho.

    Segundo Leal et al. (2001), somente no pantanal brasileiro so registradas estas formas

    bizarras da pitiose nos eqinos.

  • 24

    Figura 6. Eqino do pantanal com pitiose clssica na pata em processo de

    auto mutilao . Os eqinos com pitiose apresentam intenso prurido no local da leso.(Foto LAPEMI)

    Figura 7: Leso atpica de pitiose no pantanal brasileiro descrita por LEAL

    et al. (2001). Observa-se leso no supurativa, recoberta com pele escura e, sob presso, saem com facilidade kunkers. (Foto LAPEMI)

    O envolvimento intestinal a segunda forma mais freqente da infeco pelo

    Pythium insidiosum em eqinos. Os casos descritos apresentaram-se como episdios de

    clica, cuja causa a presena de massas teciduais, com diminuio e obstruo do

    lmen intestinal ou ambos. Os achados de necropsia e exciso cirrgica revelaram

  • 25

    ulcerao intestinal e massas nodulares localizadas na parede do jejuno, podendo atingir

    20cm de dimetro (SANTURIO et al., 2003).

    Alm da pitiose cutnea e intestinal, outros rgos e tecidos podem ser atingidos

    secundariamente s leses cutneas. As leses sseas descritas na literatura referem-se a

    cavalos com leses cutneas crnicas, localizadas nos membros e com grande

    proliferao do tecido granulomatoso. Estas leses sseas ficaram limitadas aos ossos

    adjacentes s leses cutneas crnicas e, caracterizaram-se por exostoses, ostelises e

    osteomielite no exame radiolgico alm da presena de granulomas com infiltrado de

    eosinfilos com reas de necrose e massas necrticas contendo hifas no exame

    histopatolgico (MENDOZA et al., 1988; ALFARO & MENDOZA, 1990; EATON,

    1993).

    Casos de metstase via sistema linftico para pulmes e linfonodos regionais j

    foram relatados (CHAFFIN et al., 1996). Foram descritos casos nos linfonodos

    cervicais inferiores, inguinais e submandibulares (CONNOLE, 1973; MURRAY et al.,

    1978; LEAL et al., 1997), sendo sempre os responsveis pela drenagem linftica da

    regio atingida pela leso cutnea. Os linfonodos atingidos apresentavam kunkers,

    dos quais foi possvel o isolamento do agente etiolgico. Na maioria dos casos de

    pitiose cutnea, os linfonodos regionais encontram-se aumentados. No entanto, esse

    achado pode ser utilizado apenas como um indicativo de metstase. Em um estudo de

    MILLER & CAMPBELL (1984), foram examinados os linfonodos de 15 cavalos com

    pitiose e todos apresentavam-se aumentados e edematosos, porm em apenas trs

    animais foi detectada metstase no linfonodo inguinal.

    1.4.2 Ces e Gatos

    Os caninos so a segunda espcie mais atingida pela pitiose, tambm nas formas

    cutnea e gastrintestinal. A forma gastrintestinal a mais comum e manifesta-se com

    distrbios digestivos como vmito, anorexia crnica, perda de peso, diarria (s vezes

    sanguinolenta) e presena de massas nodulares, quando submetidos a palpao

    abdominal (MILLER et al., 1983; BENTINCK-SMITH et al., 1989; FISCHER et al.,

    1994; DYKSTRA et al., 1999; GROOTERS, 2003). Os ces afetados so normalmente

  • 26

    oriundos de regies rurais ou estiveram, esporadicamente, em locais alagados como

    audes e banhados (FOIL et al., 1984; FISCHER et al., 1994; DYKSTRA et al., 1999).

    As leses gastrintestinais caracterizam-se pela formao de grandes massas nas paredes

    do estmago e intestino que so compostas por inflamao granulomatosa e

    piogranulomatosa com reas de necrose, intenso infiltrado eosinoflico e presena de

    hifas (BENTINCK-SMITH et al., 1989; MILLER et al., 1983; MILLER, 1985;

    FISCHER et al., 1994; LILJEBELKE et al., 2002). O trato digestivo superior tambm

    pode ser atingido pela doena, em que PATTON et al. (1996) relataram 2 casos de

    esofagite crnica devido infeco pelo Pythium insidiosum, enquanto HELMAN &

    OLIVER (1999) descreveram um caso de pitiose canina com uma massa na orofaringe,

    envolvendo a laringe e esfago cranial. J JAEGER et al. (2002) descreveram a

    infeco no clon e metstases na prstata, com sinais hipertrofia do rgo e sintomas

    de tenesmo de um co macho da raa Irish Setter com 4 anos de idade.

    As leses cutneas apresentam-se como dermatite piogranulomatosa ulcerativa,

    contendo reas de necrose infiltrada por neutrfilos e macrfagos e granulomas

    eosinoflicos (FOIL et al., 1984; ENGLISH & FROST, 1984; HOWERTH et al., 1989;

    DYKSTRA et al., 1999). Em 1997, LARSSON et al. relataram o primeiro caso de

    pitiose canina no Brasil, afetando uma fmea com leso cutnea no membro posterior

    direito e RIET-CORREA et al. (1998) e RECH et al. (2002) descreveram um caso de

    pitiose entrica, em Pelotas e Santa Maria, RS, respectivamente (figura 8).

  • 27

    Figura.8: Colite infecciosa de um co com pitiose. Observa-se formao de

    massas tumorais e obliterao parcial do rgo. (Foto Setor de Patologia Veterinria, UFSM).

    A pitiose em gatos rara, havendo poucos relatos na literatura. Um relato refere-

    se a uma infeco nasal e retrobulbar, sem envolvimento de orgos internos, cujo

    diagnstico baseou-se em imunohistoqumica, sorologia atravs de imunodifuso e

    isolamento do agente (BISSONNETTE et al., 1991). FOIL apud MENDOZA et al.

    (1996) mencionou a ocorrncia de novos casos de pitiose em gatos na Flrida.

    1.4.3 Bovinos

    A pitiose bovina tambm pouco freqente, havendo apenas dois relatos na

    literatura. O primeiro na regio de Louisiana, EUA (MILLER et al., 1985) e o segundo

    na regio do Pantanal, Brasil (SANTURIO et al., 1998). Esses relatos descreveram

    leses cutneas, geralmente nos membros e caracterizadas por ulceraes, espessamento

    da derme e edema na regio afetada (figura 9). A idade dos animais infectados variou

    entre trs e nove meses de idade. Histologicamente, as leses apresentaram-se como

    granulomas dermais multifocais rodeados por tecido conjuntivo fibroso. No centro dos

    granulomas havia um pequeno nmero de hifas ramificadas, sem formao de

    kunkers (MILLER et al., 1985; SANTURIO et al., 1998). Incrustao granular ao

    redor de pores de hifas, sugestiva de deposio de complexos antgeno-anticorpo ou

  • 28

    reao de Splendore-Heoppli, foi observada nos casos descritos por MILLER et al.

    (1985). O relato de SANTURIO et al. (1998) menciona a cura espontnea das leses.

    Figura 9: Bovinos da raa nelore de 6 meses de idade, com leso de pitiose

    (SANTURIO et. al. ,1998)

    1.4.4 Humanos

    A maioria dos casos de pitiose humana foram observados na Tailndia e

    esporadicamente, nos EUA, Austrlia, Haiti e Nova Zelndia. Os primeiros casos foram

    relatados em 1986, por Thianprasit na Tailndia (apud MENDOZA et al., 1996).

    Segundo IMWIDTHAYA (1994b), as infeces por Pythium insidiosum em humanos,

    podem apresentar-se de trs formas: 1- Leses granulomatosas no tecido subcutneo de

    pacientes talassmicos. 2- Forma sistmica, caracterizada por desenvolvimento de

    arterite crnica, trombose arterial e gangrena, atingindo geralmente a extremidade dos

    membros inferiores de pacientes talassmicos. 3- Ceratite; podendo ou no ser associada

    talassemia.

    SATHAPATAYAVONGS et al. (1989) relataram cinco casos de arterite, desses

    relatos de arterite, dois evoluiram para a ruptura fatal da aorta, dois necessitaram a

    amputao da perna afetada e um paciente foi curado com resseco do aneurisma. A

    evoluo desses casos demonstra a gravidade da pitiose arterial em humanos. Dois

  • 29

    fatores contribuem para importncia da pitiose humana na Tailndia: a prevalncia da

    alfa e beta-talassemia e presena de grandes reas algadias utilizadas para agricultura

    (IMWIDTHAYA, 1994b). TRISCOTT et al. (1993) descreveram dois casos de pitiose

    subcutnea na Austrlia. As leses apresentaram-se na regio periorbital e o aspecto

    histopatolgico apresentou-se similar ao das infeces em eqinos, porm no foram

    detectados kunkers. Casos de ceratite, causada por Pythium insidiosum, foram

    descritos na Nova Zelndia (MURDOCH & PARR, 1997) e Tailndia

    (IMWIDTHAYA, 1995). No ano de 2002, HEALTH et al., relatam um caso de pitiose

    pulmonar, em um menino com 12 anos de idade, portador de leucemia, que entrou no

    hospital com sintomas de febre, tosse e dificuldade respiratria.

    1.4.5 Coelhos

    At o presente momento, no foi possvel reproduzir a enfermidade atravs de

    infeco experimental nas espcies animais infectadas naturalmente. No entanto,

    MILLER & CAMPBELL (1983) demonstraram a susceptibilidade de coelhos como

    modelo experimental para a pitiose. Inoculao subcutnea de gua rica em zosporos

    produziu ndulos que evoluiram para fibrogranulomas eosinoflicos. Os coelhos

    inoculados por via intra-peritonial desenvolveram hepatite severa e peritonite, com

    reas de necrose contendo hifas, reao granulomatosa com infiltrado de neutrfilos e

    eosinfilos. As leses apresentaram caractersticas similares infeco natural dos

    eqinos e o Pythium insidiosum foi isolado das mesmas (MILLER & CAMPBELL,

    1983).

    A inoculao subcutnea com zosporos provoca abscedao progressiva, mas

    no ocorrem ulceraes comparveis com a doena natural nos eqinos, e tampouco a

    formao de kunkers(figuras 10 e 11). No entanto, na avaliao leucocitria, o quadro

    da pitiose em coelhos semelhante aos equinos, ou seja, ocorre progressiva leucocitose

    com moderada neutrofilia e leve monocitose (MILLER & CAMPBELL, 1983;

    MILLER & CAMPBELL, 1983b). Portanto esta espcie serve como modelo

    experimental para estudo sorolgico e avaliao de imunoterapia (LEAL et al. 2002).

  • 30

    Figura 10: Fibrogranuloma em coelho aps 30 dias de inoculao com

    17.500/mL zosporos de Pythium insidiosum (foto LAPEMI).

    Figura 11 : Coelho com fibrogranuloma supurado aps 60 dias da inoculao com 17.500 zosporos/mL de Pythium insidiosum. Grupo 2 inoculado com imunoterpico sonicado (foto LAPEMI).

  • 31

    1.5 Histopatologia

    Histologicamente nos eqinos, os kunkers apresentam-se como cogulos

    eosinoflicos de tamanho variado e forma circular com contornos irregulares. Estes

    cogulos so compostos de hifas, colgeno, arterolas e clulas inflamatrias,

    especialmente eosinfilos. Em torno das hifas, os eosinfilos esto degranulados e em

    direo a periferia os grnulos tornam-se mais evidentes. Na borda comum encontrar-

    se eosinfilos intactos. A rea ao redor do cogulo composta por um exsudato

    inflamatrio espesso de neutrfilos e eosinfilos. A rea entre os kunkers

    caracterizada por inflamao granulomatosa e supurativa (MILLER & CAMPBELL,

    1984; BROWN et al., 1988). Em cortes histolgicos corados com colorao especial de

    prata, pode-se observar as hifas com paredes espessas, esparsamente septadas,

    irregularmente ramificadas (normalmente em ngulo reto) e medindo de 2 a 6 m de

    dimetro (MILLER & CAMPBELL, 1984; CHAFFIN et al., 1995).

    Os achados histopatolgicos da pitiose intestinal eqina variam de tecido

    conjuntivo fibroso com reas de necrose de coagulao e focos de mineralizao,

    clulas inflamatrias (macrfagos e neutrfilos) degeneradas, sem infiltrado eosinoflico

    (BROWN & ROBERTS, 1988), at ao granuloma eosinoflico crnico (ALLISON &

    GILLIS, 1990; MORTON et al., 1991; PURCELL et al., 1994). As hifas so

    visualizadas atravs da colorao especiais com sais de prata, medindo de 2 a 8 m de

    dimetro, com parede espessa, raras septaes e ramificaes irregulares, geralmente

    encontrados dentro de focos de mineralizao. Os kunkers, caractersticos das leses

    cutneas no foram observados nos casos de pitiose intestinal (BROWN & ROBERTS,

    1988; ALLISON & GILLIS, 1990; MORTON et al., 1991; PURCELL et al., 1994).

    A histopatologia das leses da pele de coelhos inoculados via subcutnea,

    apresentaram alteraes progressivas com necrose aguda acompanhada de infiltrado

    granuloctico 3 dias aps a inoculao experimental. Vinte dias ps-inoculao, os

    coelhos passaram a apresentar leses com abscesso eosinoflico fibrogranulomatoso

    (MILLER & CAMPBELL, 1983).

    1.6 Diagnstico

    Tradicionalmente, o diagnstico da pitiose baseava-se nos aspctos clnicos,

    histopatolgicos e no isolamento e identificao do agente atravs de suas

    caractersticas culturais, morfolgicas e reprodutivas. A identificao precoce da

  • 32

    doena, no entanto, torna-se difcil atravs desses mtodos. Atualmente, mtodos como

    imunohistoqumica e tcnicas sorolgicas auxiliam e suportam um diagnstico precoce

    e correto (MENDOZA et al., 1996). Em 1988, BROWN et al., descreveram pela

    primeira vez o mtodo de imunohistoqumica para diagnstico da pitiose eqina, que foi

    posteriormente utilizada por vrios autores (HOWERTH et al., 1989; FISCHER et al.,

    1994; PURCELL et al., 1994). O diagnstico diferencial inclui habronemose, neoplasia,

    tecido de granulao exuberante e granulomas fngicos e bacterianos (CHAFFIN et al.,

    1992).

    O desenvolvimento de tcnicas sorolgicas foi impulsionado por MILLER &

    CAMPBELL (1982b), que desenvolveram tcnicas para o diagnstico e monitoramento

    da resposta imunolgica em eqinos afetados. Esses autores desenvolveram as tcnicas

    de imunodifuso em gel de gar (ID), fixao do complemento (FC) e um teste de

    hipersensibilidade intradrmica (TI), para diagnosticar e avaliar a resposta imune

    humoral e celular de cavalos com pitiose. Os testes realizados em cavalos com pitiose

    clnica comprovada, diagnosticaram positivamente 100% (ID), 82% (FC) e 64% (TI)

    dos casos. Esses dados comprovaram que o teste de ID apresenta alta sensibilidade e

    especificidade para a deteco de anticorpos anti P. insidiosum (MILLER &

    CAMPBELL, 1982b). O teste de FC foi utilizado somente na Austrlia, pois alm de

    menos sensvel e especfico que ID, um teste difcil de realizar e requer pessoal

    experiente para sua realizao (MENDOZA et al., 1996).

    KAUFMAN et al. (1990) demonstraram a eficincia da ID para o soro-

    diagnstico das zigomicoses causadas por Basidiobolus ranarum e Conidiobolus

    coronatus em humanos e animais, assim como para pitiose e, comprovaram que o teste

    eficiente para o diagnstico diferencial destas trs micoses em humanos e animais.

    Outros autores tambm demonstraram a eficincia e utilidade da ID para o diagnstico

    da pitiose.

    MENDOZA et al. (1997) desenvolveram um teste de ELISA para o soro-

    diagnstico de pitiose em humanos e animais, utilizando antgeno solvel de hifas

    sonicadas. Amostras de soro de humanos e animais saudveis e com pitiose clnica

    foram testadas e os resultados comparados com o teste de ID. Os resultados indicam que

    o teste de ELISA eficiente para o diagnstico da pitiose, e possui especificidade

    semelhante ID, porm com melhor sensibilidade. No Brasil, ROSA et al. (1999)

    desenvolveram um teste ELISA para diagnstico de pitiose eqina e, ALVES et al.

    (2001) desenvolveram a tcnica de ELISA-conta para deteco de soropositividade

  • 33

    para pitiose, enquanto SANTURIO et al. (2001) descreveram a padronizao de teste

    ELISA para deteco de IgG em coelhos imunizados com antgenos de P. insidiosum.

    J, GROOTERS et al. (2002) desenvolveram teste de ELISA para diagnstico

    sorolgico precoce de pitiose em caninos, enquanto KRAJAEJUN et al. (2002) fizeram

    o mesmo para diagnstico de pitiose em humanos.

    Um teste de dot-blot modificado foi desenvolvido para deteco de IgG anti-

    pythium em coelhos e eqinos. A tcnica desenvolvida utilizou sistema de

    luminescncia qumica para visualizao da reao, no entanto, a tcnica pode ser

    adaptada para um sistema de visualizao direta na membrana, podendo ser utilizada

    como um teste de campo, pela sua especificidade, sensibilidade, praticidade e baixo

    custo (LEAL,1999).

    O sucesso no isolamento de P. insidiosum alto quando amostras de bipsias

    forem armazenadas ou transportadas temperatura ambiente, com o acrscimo de

    antibiticos, entre 1 e 3 dias antes de seu processamento no laboratrio. Quando o meio

    de transporte da bipsia no contiver antibiticos melhor transport-la a 4C

    (GROOTERS et al., 2002b). Estes dados sugerem que a inibio do crescimento

    bacteriano, que contamina a amostra, aumenta as chances de isolamento de P.

    insidiosum de tecidos infectados. Estes autores sugerem, tambm, o uso, como rotina

    para isolamento do agente, de gar V8 (MILLER, 1955), acrescido de estreptomicina

    (200g/mL) e ampicilina (100g/mL). Pedaos pequenos de tecido fresco , no

    macerados, podem ser distribudos diretamente na superfcie do gar e incubado a 37C.

    Crescimento tpico observado entre 12 e 24 horas aps (GROOTERS, 2003). A

    identificao de isolados de P. insidiosum pode ocorrer atravs do aspecto da colnia e

    na caracterstica das hifas. As colnias em gar V8, sabouraud dextrose (figuras 12 e

    13) ou gar farinha de milho (CMA), apresentam-se submersas de colorao branca ou

    hialina (DE COCK et al.,1987). Os zosporos podem ser produzidos, a partir do cultivo

    de P. insidiosum com 1 a 2 dias de cultivo (figura 14), em folhas de grama estreis

    sobre gar gua a 2% e incubao a 37C pelo perodo de 18 a 24 horas. Aps as folhas

    infectadas pelo Pythium so colocadas em soluo de sais minerais diluda a 1%. Cerca

    de 2-4 horas de incubao a 37C os zosporos crescem a partir de hifas terminais

    (GROOTERS, 2003).

    O sequenciamento gnico com amplificao do RNA ribossomal, regio ITS 1,

    atravs de PCR (reao de polimerase em cadeia) uma ferramenta poderosa para

    deteco e identificao de P. insidiosum (GROOTERS & GEE, 2002; REIS et al.,

  • 34

    2003).

    Figura 12: Cultivo de P. insidiosum em caldo sabouraud a 37C com

    crescimento em 24 horas. (foto LAPEMI)

    Figura 13: Hifas de Pyhium insidiosum em cultivo em gar farinha de

    milho (400x) [foto LAPEMI]

  • 35

    Figura 14: Cultivo de isolado de P. insidiosum, para produo induo de

    zoosporangnese, em folhas de Paspalum notatum em gar gua a 2%, temperatura de 37C. direita crescimento em 24 horas e esquerda crescimento de 56 horas. (Foto LAPEMI).

    1.7 Tratamento

    O tratamento de infeces causadas pelo Pythium insidiosum em animais e

    humanos complicado pelas caractersticas singulares do agente. O P. insidiosum

    difere dos fungos verdadeiros na produo de zosporos mveis e na composio de sua

    parede celular. Os fungos verdadeiros possuem quitina em sua parede, enquanto o

    Pythium contm celulose e -glucanas. A membrana plasmtica no contm esterides,

    como o ergosterol, que o componente-alvo de ao da maioria das drogas antifngicas

    (FOIL, 1996). Devido essas caractersticas, no existe droga antifngica eficiente

    contra o P. insidiosum (SATHAPATAYAVONGS et al., 1989; FOIL, 1996). Os

    fitopatgenos do gnero Pythium so sensveis aos inseticidas normalmente utilizados

    em plantas, porm esses compostos so txicos aos mamferos, impossibilitando seu uso

    para o tratamento da pitiose (SATHAPATAYAVONGS et al., 1989). Um fungicida

    utilizado em plantas (Metalaxil), foi testado no tratamento de ces, porm com

    resultados pouco consistentes, em parte pela toxicidade do composto (FOIL, 1996).

    O sucesso das diferentes formas de tratamento varivel e, em muitos casos

    influenciado pelo tamanho e durao da leso, idade e estado nutricional do animal. O

    tratamento tradicional da pitiose eqina cirrgico, sendo o procedimento mais

    utilizado. A interveno cirrgica requer retirada de toda rea afetada, com margem de

    segurana para evitar as recidivas, porm isso dificultado pelas estruturas anatmicas

    envolvidas, principalmente nos membros (MILLER, 1981). O tratamento cirrgico

  • 36

    apresenta bons resultados apenas em leses pequenas e superficiais, onde seja possvel a

    retirada de toda rea afetada.

    No tratamento qumico as drogas mais utilizadas at o momento foram a

    anfotericina B, cetoconazole, miconazole, fluconazole e itraconazole, alm dos

    compostos iodnicos como iodeto de potssio e sdio (SANTURIO et al.,2003).

    McMULLAN et al. (1977), obteve 50% de eficincia associando a remoo cirrgica e

    anfotericina B; 30% apenas com anfotericina B e 20% das ficomicoses subcutneas no

    responderam aos tratamentos.

    Segundo GONZALES et al. (1979) o tratamento das ficomicoses subcutneas

    respondem ao iodeto de potssio mais eficiente quando usado aps a extirpao

    cirrgica do granuloma. CHAFFIN et al. (1992) tambm relataram o sucesso do

    tratamento cirrgico seguido de iodeto de sdio em um potro com pitiose cutnea.

    Entretanto, MEIRELES et al. (1993) no obtiveram sucesso em dois eqinos tratados

    com iodeto de potssio endovenoso, at mesmo quando associado cirurgia.

    At o presente momento, nenhuma das terapias antifngicas propostas para a

    pitiose canina (sistmica ou cutnea) apresentaram resultados satisfatrios (tabela 1),

    entre as drogas testadas destacam-se a anfotericina B, iodeto de sdio, flurocitosina,

    cetoconazole (ADER, 1979; ENGLISH & FROST, 1984; DYKSTRA et al., 1999). A

    ltima droga testada foi o itraconazole (5mg/kg/60 dias), porm no apresentou

    nenhuma melhora (DYKSTRA et al., 1999). Segundo HNILICA (1998), a cirurgia

    continua como opo mais segura para o tratamento da pitiose canina.

  • 37

    Tabela 1: Descrio de 15 casos de pitiose em ces, mostrando que o tratamento com

    antifngicos no mostrou eficincia na cura da enfermidade (DYKSTRA et al., 1999).

    Co (n)

    Idade

    (meses)

    Raa

    Sexo

    Durao sinais

    clnicos (meses)

    Co nadava

    Regularmente?

    Terapia

    Antifngica

    Resultado

    01 11 English Setter

    F 4 + Itraconazole, Vacina pitiose

    Eutanasia

    02 11 Labrador M 3 + Cetoconazole, Itraconazole,

    Nistatina lipossomica

    Cirurgia

    Curado aps 2 anos

    03 24 German Shepherd

    F Desconhecida Desconhecido Anfotericina B,

    itraconazole, cirurgia

    Eutansia

    04 12 Mista F Desconhecida Desconhecido Itraconazole, cirurgia

    Eutansia

    05 9 Poodle M 2 Desconhecido Nenhuma Desconhecido06 9 German

    Shepherd F 6 Desconhecido Nenhuma Desconhecido

    07 48 Catahoula F 5 Desconhecido Nenhuma Desconhecido08 24 Sheltie F 1 Desconhecido Nenhuma Eutansia 09 24 Mista F 4 + Nenhuma Eutansia 10 36 German

    Shepherd M 1,5 Desconhecido Cetoconazole Desconhecido

    11 24 German Shepherd

    M 6 + Cetoconazole Desconhecido

    12 24 German Shepherd

    F Desconhecida + Nenhuma Eutansia

    13 12 German Shepherd

    M 0,5 + Cetoconazole Eutansia

    14 12 Labrador F 6 + Anfotericina B,

    cetoconazole, itraconazole, vacina pitiose

    Eutansia

    15 48 Retriever Mix

    M 3 Desconhecido itraconazole Eutansia

    Os resultados obtidos com as drogas antifngicas so controvertidos, tanto no

    tratamento clnico como nos testes de sensibilidade in vitro. Em um estudo de SEKHON

    et al. (1992) os polinicos anfotericina B, hamycina e seus anlogos no apresentaram

    atividade satisfatria, enquanto os azlicos fluconazole, cetoconazole e miconazole

    inibiram os isolados de P. insidiosum testados in vitro, com o miconazole apresentando

  • 38

    os melhores resultados. Em outro teste as drogas anfotericina B, flucitosina, miconazole

    e griseofulvina no inibiram o crescimento do fungo, enquanto o itraconazole

    apresentou atividade moderada e a terbinafina foi ativa contra o P. insidiosum testado

    (SHENEP et al., 1998). De acordo com estes autores, a associao de terbinafina e

    itraconazole apresentaram efeito sinrgico e foram utilizados, com sucesso, no

    tratamento de um menino com infeco facial. Em outro relato, dois jovens com

    infeco subcutnea na regio periorbital responderam bem ao tratamento com

    anfotericina B (TRISCOTT et al., 1993), contrariando os resultados obtidos nos testes

    in vitro. Tambm se obteve remisso clinica de um quadro de pitiose pulmonar, em um

    menino com 12 anos de idade acometido de leucemia, aps 12 meses de tratamento com

    itraconazole em combinao com anfotericina B lipossmica (HEALTH et al., 2002).

    SEDRISH et al. (1997) relataram o sucesso do uso de raio laser vermelho de

    alumnio, neodmio e trio como tratamento suplementar aps a remoo cirrgica de

    leses de pitiose eqina.

    Segundo HUBERT & GROOTERS (2002), a resseco cirrgica total do

    granuloma combinada com imunoterapia especifica para P. insidiosum o tratamento

    mais indicado para cura de pitiose clnica em eqinos.

    1.8 Imunoterapia

    Uma alternativa para o tratamento da pitiose eqina foi proposto por MILLER,

    (1981), que desenvolveu um imunobiolgico (imunoterpico) a partir de culturas do

    prprio agente, no qual utiliza-se um macerado de hifas, sonicadas e acondicionados em

    frascos. O ndice de eficincia da imunoterapia foi em torno de 53% e 75% quando

    associado a cirurgia (MILLER, 1981; MILLER & CAMPBELL, 1982b)

    No decorrer da dcada de 80 e 90 vrios autores utilizaram a imunoterapia, cada

    um com modificaes na tcnica originalmente descrita por MILLER. Em 1986,

    MENDOZA & ALFARO utilizaram como antgeno apenas o sobrenadante das culturas,

    objetivando diminuir a reao no local de aplicao. Foram utilizados cinco animais

    para o teste, dos quais trs foram recuperados. MENDOZA et al. (1992a), compararam

    duas vacinas para tratamento da pitiose equina, em 71 cavalos infectados. Uma vacina

    utilizou massa celular como antgeno e a outra utilizou um antgeno solvel

  • 39

    concentrado. As duas vacinas apresentaram resultado positivo em cavalos com leses

    com menos de dois meses, com 60% e 70% de eficincia, respectivamente (tabela 2).

    MONTEIRO (1999) relatou o teste de eficincia de um imunobiolgico

    (PitiumVac) para o tratamento da pitiose equina, produzido a partir de culturas do

    Pythium insidiosum, baseando-se na metodologia descrita por Miller (1981). O ndice

    de cura variou de 50% a 83,3% entre os grupos tratados (figura 16) .

    Em 1998, THITITHANYANONT et al. descreveram o uso de um imunoterpico

    em um menino talassmico de 14 anos de idade, infectado pelo P. insidiosum. Aps

    insucesso com tratamentos a base de anfotericina B, iodetos, cetoconazole e cirurgia, a

    cura foi obtida aps duas aplicaes (100l) do imunoterpico, com intervalo de 14

    dias.

    Apesar dos estudos sobre a doena e a imunoterapia, ainda no h um completo

    conhecimento dos mecanismos envolvidos na infeco por Pythium insidiosum, em

    parte pelas diferenas entre o Pythium insidiosum e os fungos patognicos para os

    mamferos. De acordo com MILLER (1981), o carter progressivo da doena em

    eqinos imunocompetentes sugere uma resposta imunolgica inadequada ou um

    bloqueio na resposta imunolgica. Esse autor acredita que mesmo sendo antignicas, as

    hifas no so completamente reconhecidas pelo hospedeiro, devido marcante reao

    inflamatria. Em 1996, MENDOZA et al. props o possvel mecanismo imunolgico

    desencadeado na pitiose eqina. No incio da infeco, as hifas de P. insidiosum

    liberariam antgenos solveis que estimulariam a produo de IgE. Essas

    imunoglobulinas ligariam-se a superfcie das hifas e ativariam os mastcitos, que

    liberariam seus fatores quimiotxicos para atrair eosinfilos para o stio da infeco. Os

    eosinfilos ligar-se-iam a poro Fc das IgE nas hifas e eventualmente degranulariam,

    protegendo a hifa do sistema imune. O mecanismo proposto seria semelhante ao

    relatado nas infeces parasitrias. Segundo os autores, h evidncias da presena de

    antgenos solveis dispersos na leso e no apenas no interior dos kunkers. Mais

    tarde, no ano de 2003, MENDOZA et al. ampliam sua hiptese conforme o esquema da

    figura 15.

    As explicaes para cura induzida pela imunoterapia so apenas propostas,

    baseadas nas caractersticas clnicas, histopatolgicas e sorolgicas da infeco e seu

    tratamento. Acredita-se que os antgenos citoplasmticos expostos ao sistema imune dos

    animais via vacinao originariam uma resposta humoral e celular capaz de combater a

    infeco natural. A resposta humoral pode ser demonstrada pelos testes de

  • 40

    imunodifuso e Western immunoblot, enquanto que a resposta celular pode ser

    evidenciada pelo teste de hipersensibilidade intradrmica e alterao no infiltrado

    inflamatrio (MENDOZA et al., 1996). Segundo MENDOZA et al. (1992b), o soro de

    equinos infectados, testados pelo immunoblot, demonstraram a presena de trs

    protenas imunodominantes (28, 30 e 32 kDa) e, amostras de soro eqino obtidas um

    ano aps a cura pela imunoterapia tambm apresentaram anticorpos contra esses trs

    antgenos.

    Trabalho com western immunoblot (LEAL, dados no publicados) sugere a

    presena de 5 antgenos imunodominantes e na avaliao de soro equino pr e ps-

    tratamento com imunoterpico, no apresentou alteraes no perfil de IgG durante a

    imunoterapia. Isso questiona sobre a real importncia desses antgenos

    imunodominantes na cura dos eqinos.

    MILLER (1981) props dois modelos para explicar a ao dos anticorpos. O

    primeiro seria um mecanismo de citotoxicidade dependente de anticorpo e mediado por

    clulas, que envolveria linfcitos, macrfagos e talvez eosinfilos ligados a anticorpos,

    sobretudo IgG. O segundo modelo proposto envolveria anticorpos e o sistema

    complemento, os anticorpos especficos estimulados pela vacina ativariam o sistema

    complemento, danificando a parede celular e promovendo a lise do agente.

    MENDOZA et al. (1996) acreditam que os mecanismos envolvidos na cura pela

    imunoterapia, baseiam-se principalmente na resposta celular. Isto sustentado pelas

    alteraes teciduais aps incio da imunoterapia, com mudana de inflamao

    eosinoflica no inicial para uma resposta mononuclear, mediada por macrfagos e

    linfcitos T. Os autores acreditam que os antgenos presentes no imungeno induziriam

    esta alterao no padro inflamatrio, culminando com a cura dos animais. Entretanto,

    NEWTON & ROSS (1993) verificaram que o nvel de anticorpos anti-Pythium aumenta

    em eqinos doentes submetidos imunoterapia. De acordo com os autores, o aumento

    do nvel de anticorpos auxiliaria na cura.

  • 41

    Tabela 2: Efeitos de imunoterpicos em diversos processos de fabricao:

    Processo fabricao de

    imunoterpico contra pitiose

    Animais

    testados (n)

    Doses

    (n)

    Cura

    (%)

    Autores

    Hifas sonicadas 30 equinos 3 53 Miller, 1981

    Antgenos solveis 5 equinos 3 60 Mendoza &

    Alfaro, 1989

    Hifas liquidificadas ou maceradas

    liofilizadas

    110 equinos 6 83 Monteiro, 1999

    Antgeno solvel + hifas

    sonicadas

    18 equinos 3 72 Mendoza et al.

    2003

    Antgeno solvel + hifas

    sonicadas

    6 ces 4 33 Mendoza et al.,

    2003.

    Figura 15: Hiptese proposta para os efeitos curativos dos imunoterpicos contra pitiose baseado em dados de humanos e eqinos (MENDOZA et al. 2003). A Pitiose quando o hospedeiro entra em contato, atravs de uma ferida, com zooporos de P. insidiosum, formado um tubo germinativo que penetra mecanicamente no tecido. Uma vez nos

  • 42

    tecidos, as hifas de P. insidiosum liberam exoantgenos [pontos grandes no desenho] denominados de antgenos de apresentao celular(APC). Os APC liberam IL4 (interleucina 4) que estimula a atrao dos linfcitos T auxiliar (Th0), que tambm estimulam linfcitos Th2 , que por sua vez induzem a produo de mais IL4 e IL5. As IL4 regulam a expresso de Th1 (seta pontilhada) e estimulando, por sua vez, clulas B para produo de IgE, IgM e IgG que uma vez precipitados so detectados por testes de diagnstico. As IL5 e IgE desencadeiam a mobilizao de eosinofilos e mastcitos para o local da leso (seta). Estas clulas vo degranular (so responsveis pelas leses teciduais) sobre as hifas de P. insidiosum, provocando o fenmeno de Hoeppli-Splendore que, mais tarde, ir desenvolver os kunkers na pitiose eqina, somente (seta). As hifas de P. insidiosum multiplicam-se no interior dos kunkers onde produzem exoantgenos em grande quantidade; um evento que, no final, bloqueia a resposta imune devido ao Th2. Quando os imungenos do imunoterpico so injetados no hospedeiro com pitiose (parte superior direita do esquema), os antgenos que esto presentes no seu APC so distintos que na infeco natural. Os APC liberam interferon (INF ) que ativam Th0 para Th1. O Th1 ativado produz mais IFN e, tambm, IL2. Por sua vez, IL2 e INF iro ativar mediadores de clulas mononucleares como resposta imune (CMI) composta por linfcitos T e macrfagos que danificam de destroem a hifa de P. insidiosum (seta). No est claro se durante a imunoterapia, as IL2 e IFN tambm estimulariam linfcitos B para produzir IgG protetores. A produo de IFN , no local da infeco, pelos APC e o Th1 produzidos, iro resultar numa menor transformao Th2. Portanto, a atrao de Th1 e o bloqueio de Th2 poderia explicar porque eqinos, ces e humanos com pitiose so curados aps injees com imunoterpicos.

  • 43

    A

    B

    Figura 16: Eqino com pitiose clnica na pata (A) e o mesmo animal totalmente curado (B) aps receber 4 doses do imunoterpico PitiumVac, produzidas a partir de hifas maceradas (liquidificadas) de Pythium insidiosum (cepa DMVP 118/98 CBS 101555) [Foto LAPEMI].

    Os imunoterpicos em uso podem ter sua atuao prolongada e potencializada

    atravs de adjuvantes, como ficou demonstrado por LEAL et al. (2002) em uso em

    coelhos.

  • 44

    ARTIGO PUBLICADO:

    O artigo Three types of immunotherapics against pythiosis insidiosi developed

    and evaluated, publicado na Revista Vaccine vol.21 p. 2535-2540, em 2003, anexado

    nas pginas seguintes, a ncora desta tese e comprova que a sonicao no bom

    mtodo para disponibilizar todos os antgenos do Pythium insidisum.

  • 45

  • 46

  • 47

  • 48

  • 49

  • 50

  • 51

    DISCUSSO

    A imunoterapia uma ferramenta teraputica muito utilizada em vrios campos da

    medicina, inclusive, com testes iniciais, para controle de algumas neoplasias em

    humanos.

    Epidemiologicamente a pitiose est relacionada aos ambientes alagados em funo

    da multiplicao do agente Pythium insidiosum ocorrer na gua. Por isso regies como o

    pantanal brasileiro e campos de cultivos de arroz do sudeste asitico a doena ser muito

    prevalente. No primeiro local atacando eqinos e nos campos de cultivo em humanos

    que ficam parcialmente imersos nas guas das lavouras a repicarem mudas de arroz.

    No existem relatos de pitiose humana no pantanal brasileiro, provavelmente devido aos

    hbitos dos habitantes da regio, onde as pessoas quase no tm contato direto com a

    gua de crregos e lagoas. No existem lavouras na regio e a imerso na gua evitada

    devido presena de piranhas (OBSERVAO PESSOAL).

    Diversos processos de produo de imunoterpicos foram desenvolvidos para

    combater a pitiose clnica em eqinos no final do sculo XX (MILLER, 1981,

    MENDOZA et al. 1986, MONTEIRO, 1999). Esses processos foram desenvolvidos

    utilizando-se metodologias distintas para a liberao dos antgenos de Pythium

    insidiosum que modificam a resposta imune dos animais infectados. Um mtodo

    utilizado foi o de sonicao das hifas cultivadas em caldo Sabouraud, com auxlio de

    disrruptor ultra snico de clulas (MILLER, 1981; MENDOZA et al., 2003); outro

    mtodo foi a utilizao das protenas solveis retiradas de filtrado da massa micelial

    (MENDOZA et al., 1992a) e um terceiro mtodo com a macerao ou liquidificao das

    hifas sob cultivo em caldo Sabouraud, seguida de extrao dos antgenos atravs de ter

    sulfrico, filtragem do produto macerado e secagem por liofilizao (MONTEIRO

    1999). A inovao positiva em relao aos protocolos de vacinas de Miller (1981) e

    Mendoza (1992a), est em que os produtos testados neste experimento foram

    liofilizados, ficando os imunoterpicos com prazo de validade acima de 1 ano, alm do

    processo de liberao de imunognicos ocorrerem a partir da massa micelial macerada

    ou liquidificada. Normalmente, a produo de um imunoterpico requer a mais segura e

    correta identificao do agente imunognico. Neste caso do imunoterpico, produzido

    no LAPEMI/UFSM, tem-se a certeza absoluta de que nos processos de fabricao foi

  • 52

    utilizadado um isolado de P. insidiosum a partir de um potro com pitiose clnica no

    municpio de Jaguari, RS. A cultura utilizada teve sua identificao confirmada deste

    isolado no Centrabraalbureau voor Schimmelcultures - CBS da Holanda, recebendo o

    registro CBS 101555 (anexo 1). Recentemente Shurko et al., (2003), utilizaram este

    isolado CBS 101555 para estudar as diferenas moleculares entre cepas de P.

    insidiosum originrias da sia, Austrlia e Amricas. O isolado em CBS 101555

    mostrou, nesta publicao, o mesmo perfil molecular de isolados de eqinos da Costa

    Rica e Estados Unidos.

    De acordo com Miller (1981) o mecanismo de ao dos imunoterpicos contra

    pitiose estaria baseado na exposio de antgenos estimulantes de resposta a base de

    anticorpos solveis e complemento que, na infeco ativa, normalmente no seriam

    expressos. Conforme este autor, a infeco natural pelo oomiceto P. insidiosum,

    induziria o hospedeiro a engendrar uma resposta macia mobilizao de eosinfilos ,

    provocando, ento, a formao de kunkers. Os kunkers so uma capa esinofilica

    que protege as hifas do ataque da imunidade celular e impedindo a regresso da

    estrutura granulomatosa. As afirmativas de Miller (1981) foram confirmadas, de

    maneira detalhada por Mendoza et al. (2003), onde estes autores afirmam que a resposta

    alternativa doena pelo imunoterpico seria o estmulo produo de linfcitos T

    auxiliares do tipo 1 (Th1), mobilizadores de clulas mononucleares da resposta imune,

    principalmente macrfagos, linfcitos alm da substncia interleucina 2 (IL2), em vez

    da resposta clssica do organismo animal infeco natural ao Pythium, composta por

    linfcitos T auxiliares tipo 2 (Th2) com a mobilizao de eosinfilos e mastcitos,

    induzindo somente ao desenvolvimento de kunkers. Esta afirmativa foi confirmada na

    histopatologia das leses dos coelhos inoculados com Pythium insidiosum, neste

    trabalho. Nos grupos 3 e 4 (os coelhos em processo de cura que recebiam imunoterpico

    misto e macerado, respectivamente) foram detectados junto ao foco de necrose a

    presena macia de macrfagos, linfcitos, clulas plasmticas, clulas gigantes e

    escassos eosinfilos. A resposta imune eficiente ao ataque de fungos e oomicetos

    realmente atravs de linfcitos T auxiliares, estimulados principalmente por antgenos

    oriundos de epitopos da membrana fngica. Quem deu passo importante no

    esclarecimento destes mecanismos imunolgicos que corrobora os dados da frase

    anterior, foram Pinto et al. (2000) que permitiram a fabricao de vacina contra o fungo

    Paracoccidioides brasiliensis ao trabalharem com paracoccidioidomicose murina. Estes

  • 53

    autores descobriram a existncia, na membrana do Paracoccidioides brasiliensis, de

    uma protena antignica denominada GP 43, que realmente induz resposta imune

    consistente contra a paracoccidioidomicose.

    Por outro lado, ao se observar a tabela 2 ficam dois questionamentos, pois os dados

    de eficincia dos imunoterpicos em eqinos apresentados por Miller (1981) e Mendoza

    et al. (1992a) e Mendoza et al. (2003) em ces , no foram satisfatrios. E que os dados

    em eqinos vacinados com imunoterpico contra Pythium, avaliados por Monteiro

    (1999), foram satisfatrios com 83% de cura. Primeira pergunta: Se o imunoterpico

    realmente modifica a resposta imune, conforme a hiptese de Mendoza et al. (2003),

    porque os ndices de cura foram to baixos? Segunda pergunta: Porque o imunoterpico

    desenvolvido no LAPEMI e testado por Monteiro (1999) foi muito mais eficaz que os

    demais?

    A resposta para estas perguntas est no experimento agora mostrado nesta tese, ou

    seja, o experimento que avaliou 3 processos diferentes de exposio dos antgenos

    mostrou de forma inequvoca que a raiz do problema est no processo de sonicao que

    desnatura os antgenos citoplasmtico que iro provocar uma modificao na resposta

    imune do animal. Isto confirma os resultados de baixa eficincia do imunoterpico

    desenvolvido por Miller et al. (1981) onde foram liberados os antgenos atravs de

    sonicao. O imungeno desenvolvido por Mendoza et al. (1992a), no mostrou

    eficincia devido a sua constituio a base de antgenos solveis diludos no meio de

    cultivo. Conforme ficou demonstrado por Pinto et al. (2000), os antgenos que induzem

    proteo esto na membrana e no citoplasma, necessitando, ento, que as hifas sejam

    rompidas e os antgenos separados. Os processos de sonicao podem, devido a sua

    elevada freqncia snica, provocar a desnaturao de protenas de P. insidiosum e,

    entre elas, os antgenos que provocam a resposta diferenciada (PAL et al. 2001). Isto

    pode explicar o melhor desempenho do IMT PitiumVac, produzido no LAPEMI/UFSM.

    Nos nossos protocolos de imunoterapia ainda no sabemos quais os antgenos

    especficos que induziria uma resposta efetiva, pois a constatao de que 3 antgenos

    dominantes seriam a fonte de proteo ainda pouco consistente; mas, em razo dos

    resultados ruins do grupo 2 (coelhos que receberam imunoterpico sonicado), eles

    seriam desnaturados pelo uso da sonicao. No entanto, quando o miclio foi inativado

    com ter sulfrico e macerado atravs de liquidificao, no houve desnaturao de

    antgenos , como indicam os resultados dos grupos 3 e 4 , onde o grupo 4, aps 8 doses

  • 54

    com intervalo de 14 dias entre aplicaes, (coelhos que receberam o imunoterpico

    macerado ou liquidificado) este grupo 4, mostrou-se mais eficiente em controlar a

    infeco dos coelhos. Resultados semelhantes, em relao eficincia da vacina

    liquidificada, foram encontrados por Pal et al. (2001) ao utilizarem protocolos com

    vacinas sonicadas e maceradas em camondongos a partir de protenas de membrana de

    Chlamydia trachomatis. O processo de liquidificao resulta num IMT que tem

    mostrado efetividade em outros testes desenvolvidos, principalmente em eqinos

    naturalmente infectados por Pythium insidiosum, com leses de qualquer tamanho ou

    idade (OBSERVAO PESSOAL).

    Quadro de semelhante eficincia se repetiu nos coelhos deste experimento, mesmo

    sem a presena de kunkers. As mesmas leses foram tambm encontradas por Miller

    e Campbell (1983). Isto permite confirmar que os coelhos se constituem em bons

    modelos para estudo da pitiose. Ademais, ainda no se conseguiu a doena experimental

    em eqinos ou qualquer outro animal, com exceo de coelhos.

    Por outro lado, a importante publicao de Shurko et al., no ano de 2003, levanta

    um novo questionamento sobre a etiologia da pitiose em diferentes continentes. Ficaram

    demonstradas as diferenas genticas entre os isolados de P. insidiosum, ou seja, as

    grandes diferenas entre os isolados inferem a uma concluso de que, no mnimo,

    possam existir algumas variedades ou sub-espcies de P. insidiosum; e no seria

    demasiado afirmar que existam outras espcies de Pythium produzindo o quadro clnico

    da pitiose em animais e humanos nos diversos continentes.

    Os dados gerados nesta tese podem inferir que, no futuro, novas perspectivas se

    abrem para o estudo da pitiose e seu controle. Pode-se destacar que o aperfeioamento

    da imunoterapia com o uso de uma padronizao de procedimentos em sua produo, ou

    seja, ruptura das hifas de P. insidiosum cultivadas, atravs de macerao por

    liquidificao e posterior precipitao das protenas com ter sulfrico, seguida de

    liofilizao, so os primeiros passos que sedimentam a busca de novas perspectivas. O

    nosso plano de pesquisa almeja que, nos anos futuros, ocorra a descoberta dos antgenos

    especficos que realmente induzam resposta imune diferenciada, onde a cura ocorra

    em no mnimo 95% dos animais doentes e submetidos imunoterapia. Outro objetivo

    que ser buscado o aperfeioamento dos estudos sobre a resposta imune dos animais

    com pitiose clnica. Deste entendimento vir, com certeza, a produo de uma vacina e

    no apenas de um imunoterpico, que capacitar os animais para uma proteo

    preventiva da doena por um determinado perodo de tempo.

  • 55

    CONCLUSES:

    1. Dentre os processos de produo de imunoterpicos contra a pitiose equina, o nico

    realmente eficiente foi o macerado, onde houve uma diminuio da rea das leses em

    71,8% (P

  • 56

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