pythium insidiosum: avaliação de imunoterápico contra a infecção
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I
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE VETERINRIA
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIAS VETERINRIAS
PYTHIUM INSIDIOSUM: AVALIAO DE IMUNOTERPICO PARA
EQINOS, UTILIZANDO-SE COELHOS COMO MODELO
EXPERIMENTAL.
Autor:
Md. Vet. JANIO MORAIS SANTURIO
Tese apresentada como requisito parcial
para obteno do grau de Doutor em
Cincias Veterinrias na rea de
Micologia.
Orientador:
PROF. DR. LAERTE FERREIRO
PORTO ALEGRE
2004
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II
Autor: Md. Vet. JANIO MORAIS SANTURIO
Ttulo: PYTHIUM INSIDIOSUM: AVALIAO DE IMUNOTERPICO PARA EQINOS, UTILIZANDO-SE COELHOS COMO MODELO EXPERIMENTAL.
Aprovada em 04 fevereiro de 2004
APROVADO POR:
____________________________________________________
Prof. Dr. LAERTE FERREIRO
Orientador e Presidente da Comisso
___________________________________________________
Prof. Dr. DAVID DRIEMEIER
Membro da Comisso
___________________________________________________
Prof. Dr. MARIO CARLOS ARAJO MEIRELES
Membro da Comisso
___________________________________________________
Prof. Dr. SYDNEY HARTZ ALVES
Membro da Comisso
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III
S237p Santurio, Janio Morais Pythium Insidiosum : avaliao de imunoterpico para eqinos, utilizando- se coelhos como modelo experimental / Janio Morais Santurio ; orientador Laerte Ferreiro. Porto Alegre, 2004. 71 f. : il. Tese ( doutorado ) Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2004. 1. Medicina veterinria 2. Medicina veterinria Micologia 3. Micologia - Medicina veterinria 4. Medicina veterinria Imunoterapia 5. Imunoterapia - Medicina veterinria 6. Pitiose Imunoterapia 7. Pitiose Imunoterpicos 8. Pitiose Vacina 9. Vacina Pitiose 10. Pythium insidiosum 11. Coelho - Animais para experincias 12. Animais para experincias Coelho I. Ferreiro,. Laerte *orientador II. Ttulo. CDU : 619 619:616.99 619:57.084
Ficha catalogrfica elaborada por Rosa Maria Fristsch Feij CRB-10/662 Biblioteca Central - UFSM
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IV
DEDICATRIA
Clris, Deise e Roberta, principalmente pela compreenso.
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V
AGRADECIMENTOS:
- A Deus pela vida e suas circunstncias;
- Ao meu orientador, colega e amigo Prof. Laerte Ferreiro, pela ajuda e
compreenso em todos os momentos;
- Aos Colegas Alexandre e Adriana Leal pela pacincia e auxlio no
desenvolvimento experimental deste trabalho;
- Ao Colega Prof. Sydney Hartz Alves pela colaborao nas aulas na graduao e
pelo apoio nos momentos difceis;
- Colega Prof. Agueda Castagna de Vargas por ter assumido as minhas tarefas
de docncia durante meu afastamento;
- Colega Prof Maristela Lovato Flores pelo auxlio decisivo nas aulas da
graduao;
- Prof. Virginia Peretti Torelly pelo auxlio nas tradues para a lngua inglesa;
- Aos alunos bolsistas do Laboratrio de Pesquisas Micolgicas (LAPEMI) da
Universidade Federal de Santa Maria, pela amizade e ajuda.
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VI
RESUMO:
A pitiose uma doena granulomatosa, tendo como agente etiolgico Pythium
insidiosum De Cock, 1987, que atinge eqinos, provocando quadro infeccioso na pele e
tecido subcutneo , caninos com apresentao gastrintestinal e cutnea , bovinos com
doena cutnea , felinos e humanos, com quadro clinico de arterite, queratite e celulite
periorbital. Esta enfermidade mais prevalente em reas tropicais, subtropicais ou
temperadas. Tambm animais silvestres podem se infectar pela doena. O gnero
Pythium pertence ao Reino Stramenopila, Filo Oomycota, cujos membros caracterizam-
se por produo de zosporos biflagelados durante a reproduo assexuada. O
desenvolvimento de pitiose experimental nas espcies naturalmente infectadas no foi
ainda relatado, mas os coelhos so sensveis inoculao de zosporos e podem ser
usados como modelo experimental para estudo da pitiose. Este trabalho teve como
objetivo avaliar a eficincia de 3 processos de produo de imunoterpicos contra
pitiose, produzidos a partir do cultivo e posterior macerao ou sonicao, em coelhos
infectados experimentalmente com 17.500 zosporos do oomiceto Pythium insidiosum
(cepa CBS 101555). Todos os coelhos foram inoculados com zosporos 1 ms antes da
aplicao dos imunoterpicos. Para avaliao dos imunoterpicos, os coelhos que
desenvolveram leses foram divididos em 4 grupos de 5 animais: Grupo 1 Tratado
com placebo; grupo 2 tratado com o imunoterpico sonicado; grupo 3 tratado com o
imunoterpico misto e o grupo 4 - Imunoterpico macerado mecanicamente. Todos os
animais receberam 8 doses do imonoterpico ou placebo com intervalos de 14 dias. Um
ms aps a inoculao dos zosporos mveis, foram iniciadas as medies das reas
inoculadas. Os resultados indicaram que o imunoterpico macerado, utilizado no grupo
4, foi estatisticamente (P
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VII
Palavras-chave: : Pythium insidiosum, pitiose, fungo, coelho, imunoterapia, zosporo,
Oomycota
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VIII
ABSTRACT:
The pythiosis is a granulomatous disease, tends as aetiologic agent Pythium
insidiosum De Cock, 1987, that reaches equine and provoking infectious picture in the
skin and subcutaneous area, canine with gastrintestinal and cutaneous presentation;
bovine with cutaneous disease, felines and human, with arteritis, queratitis and
periorbital cellulitis. Pythiosis happening in tropical, subtropical or temperate areas of
the world. Wild animals can also be infected by the disease. The genera Pythium
belongs to the Kingdom Stramenopila, Philum Oomycota, whose members are
characterized by production of biflagelated zoospores during the anamorphic
reproduction. Experimental models of pythiosis in naturally infected species have not
yet been reported but, rabbits may be inoculated with zoospores as an experimental
model for studying the disease. The present study evaluates the efficacy of three
different of immunotherapics in the rabbit model. Approximately 17,500 zoospores of
oomycete Pythium insidiosum (CBS 101555 strain) were inoculated in each animal to
generate the disease. Immunotherapics were produced from vortexed or sonicated
cultures of the same strain. Four groups of 5 animals were employed: Group 1 =
Placebo, Group 2= Sonicated Immunotherapic, Group 3= Mixed Immunotherapic,
Group 4= Vortexed Immunotherapic. All rabbits were inoculated with viable zoospores
one month before administration of the immunotherapics. Eight doses of
immunotherapic or placebo were used in each animal with a 14 day interval between
injections. Rabbits receiving the vortexed immunotherapic were most effectively
protected, (P
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IX
SUMRIO:
DEDICATRIA .............................................................................................................IV AGRADECIMENTOS: ................................................................................................... V RESUMO:.......................................................................................................................VI ABSTRACT: ................................................................................................................. VIII INTRODUO: .............................................................................................................11
Objetivos: ....................................................................................................................13 1.1 Objetivo geral:.................................................................................................13 1.2 Objetivos Especficos:.....................................................................................14
REVISO DA LITERATURA ......................................................................................15 1.1 Histrico e Taxonomia....................................................................................15 1.2 Pythium insidiosum.........................................................................................17 1.3 Epidemiologia .................................................................................................19 1.4 PITIOSE..........................................................................................................22
1.4.1 Eqinos....................................................................................................22 1.4.2 Ces e Gatos............................................................................................25 1.4.3 Bovinos ...................................................................................................27 1.4.4 Humanos .................................................................................................28 1.4.5 Coelhos....................................................................................................29
1.5 Histopatologia ...............................................................................................31 1.6 Diagnstico....................................................................................................31 1.7 Tratamento.....................................................................................................35 1.8 Imunoterapia..................................................................................................38
ARTIGO PUBLICADO:.................................................................................................44 DISCUSSO ..................................................................................................................51 CONCLUSES: .............................................................................................................55 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS............................................................................56 ANEXOS ........................................................................................................................69
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X
LISTA DE FIGURAS:
Figura 1: Imunoterpico contra pitiose nos eqinos PitiumVac........................13 Figura 2: Esporngio lobulado de Pythium insidiosum, cepa CBS 101555..........18 Figura 3: Fenograma UPGMA apresentando as interrelaes entre isolados
de P. insidiosum. ..........................................................................................19 Figura 4: Eqinos em seu habitat no pantanal matogrossense..............................20 Figura 5: Esquema do ciclo biolgico do Pythium insidiosum .............................21 Figura 6. Eqino do pantanal com pitiose clssica na pata em processo de
auto mutilao . .............................................................................................24 Figura 7: Leso atpica de pitiose no pantanal brasileiro .....................................24 Figura.8: Colite infecciosa de um co com pitiose.. .............................................27 Figura 9: Bovinos da raa nelore de 6 meses de idade com leso de pitiose .......28 Figura 10: Fibrogranuloma em coelho aps 30 dias de inoculao com
17.500/mL zosporos de Pythium insidiosum . ............................................30 Figura 11 : Coelho com fibrogranuloma supurado aps 60 dias da
inoculao com 17.500 zosporos/mL de Pythium insidiosum.. ..................30 Figura 12: Cultivo de P. insidiosum em caldo sabouraud a 37C........................34 Figura 13: Hifas de Pyhium insidiosum em cultivo em gar farinha de
milho ............................................................................................................34 Figura 14: Cultivo de isolado de P. insidiosum, para produo induo de
zoosporangnese. ..........................................................................................35 Figura 15: Hiptese proposta para os efeitos curativos dos imunoterpicos
contra pitiose baseado em dados de humanos e eqinos...............................41 Figura 16: Eqino com pitiose clnica na pata (A) e o mesmo animal
totalmente curado (B) aps receber 4 doses do imunoterpico PitiumVac......................................................................................................43
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Pythium insidiosum: avaliao de imunoterpico para eqinos, utilizando-se coelhos como modelo experimental.
INTRODUO:
A pitiose uma doena granulomatosa que atinge eqinos, provocando quadro
infeccioso na pele e tecido subcutneo, caninos com apresentao gastrintestinal e
cutnea, bovinos com doena cutnea, felinos e humanos apresentando quadro clinico
de arterite, queratite e celulite periorbital. mais prevalente em reas tropicais,
subtropicais ou temperadas (MEIRELES et al., 1993; MENDOZA et al., 1996;
SANTURIO et al. 1998; GROOTERS, 2003). causada pelo oomiceto pertencente ao
Reino Stramenopila, Pythium insidiosum (DE COCK et al., 1987, ALEXOPOULUS,
1996). Nas espcies no domsticas, o Pythium insidiosum foi reconhecido como causa
de doena pulmonar primria num jaguar (Pantera onca) da Amrica Central, alm de
leses cutneas e gastrintestinais em um urso de zoolgico e, tambm, como causa de
leso mandibular subcutnea em um camelo (GROOTERS, 2003).
A enfermidade nos eqinos caracteriza-se pela formao de granulomas com
infiltraes de eosinfilos, com a presena de massas necrticas denominadas de
kunkers (MENDOZA & ALFARO, 1986; MEIRELES et al, 1993; SANTURIO et
al.; 2003).
Os caninos so a segunda espcie mais atingida e as infeces caracterizam-se
pela formao de piogranulomas gastrintestinais e cutneos ( MILLER et al., 1983;
FOIL et al., 1984; BENTINCK-SMITH et al., 1989; HOWERTH et al., 1989;
FISCHER et al., 1994; GROOTERS, 2003). Em humanos, a doena comum no
sudeste da sia, principalmente na Tailndia. A doena apresenta-se nas formas
subcutnea, sistmica e oftlmica, sendo que as formas cutneas e sistmicas esto
associadas sndrome de e -talassemia, comuns nessa regio (IMWIDTHAYA,
1994a; IMWIDTHAYA, 1995).
Diversos protocolos para o tratamento da pitiose tm sido utilizados,
principalmente em eqinos, incluindo tratamento qumico (antifngicos), cirrgico e de
imunoterapia . A imunoterapia, proposta inicialmente por MILLER (1981), surgiu como
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uma alternativa concreta para o controle da doena e tem apresentado resultados
animadores (MONTEIRO, 1999; MENDOZA et al.2003).
O coelho o nico animal no qual se conseguiu reproduzir a pitiose cutnea a
partir da inoculao de zosporos produzidos por zoosporangnese em laboratrio
(MILLER & CAMPBELL, 1983b). Passa, ento, esta espcie animal a ser modelo
natural para testes com drogas e imunoterapia contra a pitiose.
Desde 1993, o Laboratrio de Pesquisas Micolgicas da Universidade Federal de
Santa Maria [LAPEMI] vem utilizando um imunoterpico (IMT) contra a pitiose em
eqinos, desenvolvido em conjunto com a Embrapa Pantanal. Este IMT, com o nome de
PitiumVac foi registrado no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), visando
a obteno de patente de inveno para a UFSM e EMBRAPA .Tambm este IMT est
em processo de registro junto ao Ministrio da Agricultura.
O IMT PitiumVac mostrou-se eficiente para eqinos com pitiose clnica , porm,
na tentativa de seu aperfeioamento, substituindo-se o processo de macerao das hifas,
pelo processo de sonio, empregano-se um disrruptor de clulas. Observou-se que este
IMT perdeu sua eficincia em mais de 70% dos eqinos tratados (OBSERVAES
PESSOAIS). Diante disso procurou-se investigar se as causas do baixo desempenho do
PitiumVac (figura 1 e anexo 2) estavam na liberao dos antgenos, desnaturao destes
ou em seu processo de liofilizao. Para tal, foram propostos 3 processos de preparo do
IMT os quais foram testados em coelhos infectados experimentalmente.
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Figura 1: Imunoterpico contra pitiose nos eqinos PitiumVac com
registro de inveno pertencente ao LAPEMI/UFSM e EMBRAPA (anexo 3).
Objetivos:
Este estudo foi objetivado a:
1.1 Objetivo geral:
Avaliar, na pitiose experimental em coelhos os imunoterpicos obtidos a partir
de 3 diferentes protocolos fundamentados na: a)sonicao das hifas de P.
insidiosum (cepa DMVP118/98 CBS 105555 anexo b)liquidificao ou
maceraomecnica das hifas c) imunoterpico misto, produzido com 50% de
sonio e 50% de macerao, comparando-os a um grupo controle tratado com
placebo.
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1.2 Objetivos Especficos:
1.2.1. Comparar a atividade dos diferentes imunoterpicos, atravs de medidas
da involuo dos fibrogranulomas da pitiose experimental em coelhos, aps
aplicao de 8 doses.
1.2.2. Avaliar, microscopicamente, as alteraes histopatolgicas da pitiose
experimental em coelhos, aps a aplicao dos diferentes imunoterpicos.
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REVISO DA LITERATURA
1.1 Histrico e Taxonomia
O agente da pitiose - Pythium insidiosum , atualmente, classificado como um
organismo zoosprico, habitante de solo e de gua. So conhecidas muitas espcies de
Pythium como patgeno de plantas importantes economicamente, mas P. insidiosum
o nico, dentro deste gnero, reconhecido como patgeno para mamferos.
Manifestaes clnicas de pitiose foram, pela primeira vez, diagnosticadas na ndia na
metade do sculo 19, por veterinrios ingleses. Eles observaram doena granulomatosa
cutnea crnica que denominaram bursattee (GROOTERS, 2003). No final do sculo
XIX, a etiologia fngica, baseada em dados histopatolgicos, foi proposta pelos
investigadores SMITH, (1884) e DROUIN, (1896). O primeiro isolamento desse
organismo filamentoso foi realizado, no incio do sculo XX, por DE HAAN &
HOOGKAMER (1901), a partir de granulomas subcutneos em eqinos na Indonsia,
Estes autores o classificaram como sendo um fungo zigomiceto ou ficomiceto baseados
apenas nas caractersticas morfolgicas da hifa vegetativa. Propuseram, tambm, o
nome hyphomycoses destruens para a doena, porm no conseguiram classificar o
agente etiolgico. Somente em 1961 foi possvel o isolamento e identificao do agente,
o qual recebeu o nome de Hyphomyces destruens, baseado no nome da doena sugerido
anteriormente (BRIDGES & EMMONS, 1961). Em 1964, EMMONS sugeriu o termo
ficomicoses para designar as micoses (humanas e animais) causadas por fungos com
hifas grandes e poucos septos, incluindo os gneros Absidia, Mucor, Rhizopus,
Basiodobolus, Entomophothora, Hyphomyces e Mortierella. Em 1974, foi possvel o
isolamento e a caracterizao mais detalhada do agente etiolgico a partir de eqinos
infectados, quando, ento, foi observada a sua capacidade de produzir zosporos
biflagelados a partir de isolados de eqinos originrios da Nova Guin. Baseados nessa
caracterstica, AUSTWICK & COPLAND, (1974) classificaram o H. destruens como
um fungo da famlia Pythiaceae, ordem Peronosporales e que deveria ser includo no
gnero Pythium. No entanto, a denominao Hyphomyces destruens continuou sendo
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utilizada nas descries da doena (McMULLAN et al., 1977; MURRAY et al., 1978;
GONZLEZ et al., 1979).
Em 1980, ICHITANI & AMEMIYA compararam um isolado de eqino com
outras espcies de Pythium, atravs de suas caractersticas reprodutivas (oognia e
zosporos), identificando o agente como Pythium gracile Middleton, 1943. Somente em
1987, DE COCK et al. ao analisarem isolados de eqinos, bovinos, ces e humanos,
oriundos de diferentes locais, concluram que tratava-se do mesmo organismo, que foi
denominado Pythium insidiosum. Nesse mesmo estudo, concluiu-se que essa nova
espcie era igual s anteriormente descritas, Pythium sp -Austwick e Copland; Pythium
gracile Ichitani e Amemiya; e Hyphomyces destruens Bridges e Emmons. Tambm
em 1987, Shipton (apud MENDOZA & MARIN, 1989) analisou um isolado de eqino
da Austrlia e classificou-o como uma nova espcie: Pythium destruens. No entanto, em
1989, provas sorolgicas realizadas com anti-soro produzido em coelhos e soro de
eqinos infectados, frente a antgenos de P. insidiosum (De Cock) e P. destruens
(Shipton), demonstraram o mesmo perfil antignico e estabeleceu-se a nomenclatura
definitiva para o agente etiolgico da pitiose: Pythium insidiosum (MENDOZA &
MARIN, 1989).
Embora o nome do agente tenha sido estabelecido, a sua classificao
taxonmica continuou sendo discutida nos anos seguintes. Segundo DE COCK et al.
(1987), os oomicetos so seres eucariotas produtores de zosporos biflagelos,
caracterstica comum ao Pythium insidiosum, incluindo-o na ordem Peronosporales,
filo Oomycota e reino Protista. MENDOZA et al. (1996), baseados em um estudo de
CORLISS (1994) sobre a classificao e caractersticas dos Protistas, apresentaram o P.
insidiosum como um organismo do reino Chromista, filo Pseudo-fungi, classe
Oomycetes, ordem Pythiales, e famlia Pythiaceae. Entretanto, estudos detalhados sobre
a classificao dos fungos, baseados em sistemtica filogentica e anlises moleculares,
entre outros, dividiram os organismos anteriormente classificados como fungos em trs
reinos: Fungi, Stramenopila e Protista (ALEXOPOULOS et al., 1996). Baseado nessa
nova classificao, o agente etiolgico da pitiose pertence ao Reino Stramenopila,
Classe Oomycetes, Ordem Pythiales, Famlia Pythiaceae, Gnero Pythium e espcie P.
insidiosum (MONTEIRO, 1999; LEAL, 1999). Estudos taxonmicos mais
aprofundados, baseados em anlises de sequenciamento de gene do RNA ribossomal de
P. insidiosum, confirmaram que os membros da classe Oomycetes so filogeneticamente
distantes dos membros do Reino Fungi e estariam relacionados de maneira mais
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prxima das algas que dos fungos (KWON-CHUNG , 1994). A distncia taxonmica
entre os oomicetos e os fungos esto retratados ao nvel celular atravs de diferenas na
parede e composio da membrana. A quitina, um componente essencial da parede
celular fngica, est geralmente ausente na parede celular dos oomicetos, onde
aparecem como componentes predominantes celulose e -glucana (HENDRIX, 1964).
Tambm os oomicetos diferem dos fungos quanto ao papel do ergosterol na membrana
celular, ou seja, nos primeiros ele no o principal esteride . Nenhum dos oomicetos
compartilham da mesma bioqumica dos esterides como os fungos. Espcies dos
gneros Pythium, Lagenidium, e Phytophthora possuem esterides auxotrficos, ou
seja, eles incorporam os esterides do ambiente em lugar de os produzirem como ocorre
com os fungos. Os esterides so importantes para produo de estruturas sexuadas in
vitro, mas no so necessrios para o crescimento da hifa vegetativa (GROOTERS,
2003).
1.2 Pythium insidiosum
O gnero Pythium pertence ao filo Oomycota, cujos membros caracterizam-se
por: 1) produo de zosporos biflagelados durante a reproduo assexuada); 2)
reproduo sexuada oogmica; 3) parede celular composta de -glucanas, celulose e
hidroxipolina; 4) talo diplide; 5) mitocndria com crista tubular; 6) caractersticas
moleculares e bioqumicas peculiares, como uma rota alternativa para sntese do
aminocido lisina (MOORE-LANDECKER, 1996; ALEXOPOULOS et al., 1996). Esse
gnero possui mais de 120 espcies distribudas em todo planeta, sendo a maioria
habitantes do solo e patgenos de plantas. Espcies de Pythium so a principal causa da
doena damping-off de plantas, ocasionando severos prejuzos em lavouras. Algumas
espcies tem sido estudadas para utilizao como controle biolgico de fungos
patgenos e larvas de mosquito, enquanto apenas a espcie P. insidiosum conhecida
como patgeno de mamferos. A identificao das espcies de Pythium no uma tarefa
fcil, pois est baseada principalmente nas caractersticas morfolgicas dos
zoosporngios (figura 2), zosporos, oognia e anterdio (ALEXOPOULOS et al.,
1996; MOORE-LANDECKER, 1996).
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Figura 2: Esporngio lobulado de Pythium insidiosum, cepa CBS 101555, produzido em meio de induo sobre folhas da grama Paspalum notatum. Este esporngio est em estgio intermedirio e tem 6 minutos de desenvolvimento (400x). [Foto LAPEMI].
SCHURKO et al. (2003), ao compararem 28 espcies de P.insidiosum originrias
das Amricas, sia e Austrlia, atravs de comparao do espao ribossomal
intergnico pela tcnica molecular de RFLP (restriction fragment-lenght
polymorphism) e anlise dos clusters (figura 3), demonstraram haver grandes
diferenas entre os isolados de P. insidiosum das 3 regies estudadas (figura 3) com a
possibilidade real de no serem todas a mesma espcie. Estes autores levantam a
possibilidade de uma reclassificao como sub-espcies, pois cada cluster dos isolados
representa populaes geneticamente distintas.
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Figura 3: Fenograma UPGMA apresentando as interrelaes entre isolados
de P. insidiosum. O hospedeiro e o pas de origem esto indicados entre parnteses (hospedeiro/Pas) com as seguintes abreviaes : Hospedeiro Ca, canino; Cq, Culex quinquefasciatus larva; Eq, eqino; Hu, humano; To, Tremarctos ornatus (spectacled bear); Pas AU, Austrlia; BR, Brasil; CR, Costa Rica; HA, Haiti; IN, ndia; JA, Japo; NG, Nova Guin; TH, Tailndia; US, Estados Unidos. (SCHURKO et al., 2003)
1.3 Epidemiologia
A pitiose ocorre em regies de clima tropical, subtropical e temperado, tendo
sido relatada nas Amricas, alguns pases europeus, sudeste asitico e Oceania
(CHAFFIN et al., 1995; FOIL, 1996; MENDOZA et al., 1996). No h predisposio
por sexo, idade ou raa e a fonte de infeco so os zosporos ambientais, no havendo
relatos de transmisso direta entre animais e entre animais e homens (MENDOZA et al.,
1996).
As condies ambientais so determinantes para o desenvolvimento do
organismo em seu ecossistema. Segundo MILLER & CAMPBELL (1982a), para a
produo de zosporos so necessrias temperaturas entre 30 e 40C e o acmulo de
gua em banhados e lagoas (figura 4). A grande maioria dos casos de pitiose foram
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observados durante ou aps a estao chuvosa. Baseados nos dados epidemiolgicos, os
autores acreditam na existncia de um perodo de incubao de vrias semanas. No
Pantanal brasileiro, a maioria dos casos de pitiose eqina so registrados entre os meses
de fevereiro e maio (vero-outono), perodo que corresponde ao pice das cheias (LEAL
et al., 2001). Grande parte dos 38 casos de pitiose observados por TABOSA et al.
(1999) na Paraba, foram registrados nos meses de julho a outubro, sete a dez meses
aps o incio das chuvas na regio.
Figura 4: Eqinos em seu habitat no pantanal matogrossense. Destaca-se a
macia proliferao de plantas aquticas onde se reproduz o P. insidiosum. (Foto SANTURIO et al. 2003)
Em 1983, MILLER props um ciclo ecolgico para descrever o comportamento
ambiental e a cadeia infecciosa desse organismo. O ciclo baseia-se na colonizao de
plantas aquticas, que servem de substrato para o desenvolvimento e reproduo do
organismo, formando os zoosporngios. Os zosporos livres na gua, movimentam-se
at encontrar outra planta (ou animal), onde se encistam e emitem tubo germinativo,
dando origem a um novo miclio e completando seu ciclo (figura5). Anlises in vitro
demonstraram a atrao dos zosporos por plos, tecidos animal e tecido vegetal, sendo
a quimiotaxia atribuda a algumas substncias presentes nesses tecidos. Uma substncia
amorfa liberada pelo zosporo aps o seu encistamento, a qual provavelmente
produzida em resposta ao fator quimiotxico do hospedeiro; essa substncia agiria como
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um adesivo para ligar o zosporo a superfcie do hospedeiro e permitir a formao de
tubo germinativo (MENDOZA et al., 1993).
Z o sp o r o s e m Z o sp o r o s e m g u a s p a ra d a s g u a s p a ra d a s
F o rm a oF o rm a o Z o o p o r n g io sZ o o p o r n g io se Z o sp o r o se Z o sp o r o s Z o sp o r o s liv r e sZ o sp o r o s liv re s
Z o s p o r o s a tr a d o s Z o s p o r o s a tr a d o s p a r a o s p e lo sp a r a o s p e lo sd o sd o s e q u in o se q u in o s
F ix a mF ix a m -- s e n u m a s e n u m a fe r id a e g e r m in a mf e r id a e g e r m in a m
Z o sp o r o s f ix a mZ o sp o r o s f ix a m -- s es en a s p la n ta s d a g u an a s p la n ta s d a g u a
G e r m in a m p la n taG e r m in a m p la n tah o sp e d e irah o sp e d e ira
M ic lio p la n taM ic lio p la n tah o sp e d e irah o sp e d e ir a
C r e s c im e n toC r e s c im e n tov e g e ta t iv ov e g e ta t iv on o s te c id o s n o s te c id o s (P I T IO S E )(P I T IO S E )
K u n k e rK u n k e r s o ltas o lta -- s es ed od o g r a n u lo m ag r a n u lo m a e c a ie c a in a g u an a g u a
C ic lo C ic lo N o r m a lN o r m a l
Figura 5: Esquema do ciclo biolgico do Pythium insidiosum adaptado de
MILLER (1983).
Essas observaes sustentaram a teoria de infeco, sugerindo que os cavalos em
contato com guas contaminadas poderiam atrair os zosporos, os quais germinariam a
partir de uma pequena leso cutnea (MILLER, 1983; MENDOZA et al., 1993). Outros
autores sugeriram a possibilidade de penetrao dos zosporos atravs dos folculos
pilosos, baseados na deteco de hifas no interior do folculo de bovinos infectados
naturalmente e no fato do quimiotaxismo ser mais ativo na regio localizada dentro do
folculo piloso (SANTURIO et al.,1998). Essa observao pode questionar a
necessidade de leso na pele para que ocorra a germinao dos zosporos. Por outro
lado, nos casos e relatos acompanhados no Brasil, foi possvel detectar diferenas na
suscetibilidade de equinos infeco. Comparando-se com os dados de pitiose humana,
onde a maior parte dos casos ocorrem em indivduos talassmicos, pode-se suspeitar da
presena de alguma(s) caracterstica(s) que torne alguns animais mais suscetveis. So
necessrias mais investigaes nesse sentido (SANTURIO et al., 2003).
No Brasil, a pitiose foi descrita em eqinos, bovinos e caninos, porm a maioria
dos casos relatados corresponde a leses cutneas em eqinos. O primeiro relato
ocorreu no Rio Grande do Sul, por SANTOS & LONDERO (1974). Os relatos de
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22
pitiose eqina no Brasil somam mais de 90 casos e foram descritos em vrios estados
como Rio Grande do Sul (SANTOS, et al., 1987; MEIRELES et al. 1993, SALLIS et
al., 2003), Mato Grasso do Sul (MONTEIRO, 1999; LEAL et al., 2001), So Paulo
(RODRIGUES & LUVIZOTTO, 2000), Par (TRY & CORA, 1997), Paraba
(TABOSA et al. 1999), Paran (HEADLEY & ARRUDA Jr, 2004) e Rio de Janeiro
(SANAVRIA et al., 2000). Alm dos casos descritos na literatura, existem informaes
de mdicos veterinrios de vrias regies do pas, demonstrando a presena da doena
em vrios estados. Esses relatos comprovam a provvel existncia da pitiose equina em
todo o Pas. Alm disso, o Pantanal brasileiro provavelmente o local de maior
incidncia e prevalncia de pitiose eqina do mundo (MENDOZA et al., 1996, LEAL et
al., 2001; SANTURIO et al., 2003). O Pantanal uma plancie inundvel de
aproximadamente 140.000 km2 e possui em torno de 139.760 eqinos (SILVA et
al.,1995). Embora no exista um levantamento preciso da incidncia no Brasil, a pitiose
equina representa um problema criao de eqinos, especialmente em regies
alagadias como no pantanal brasileiro.
1.4 PITIOSE
1.4.1 Eqinos
A doena conhecida por outros nomes como hifomicose, zigomicose, dermatite
granular, bursattee, Florida leeches, granuloma ficomictico e swamp cancer
(CHAFFIN et al., 1995; FOIL, 1996); nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do
Sul o nome popular mais conhecido ferida da moda (LEAL et. al., 2001). O termo
hifomicose inclui outras doenas causados por fungos, especialmente Conidiobolus
ranarum e Basidiobolus haptosporum, alm de membros da ordem Mucorales
(BROWN & ROBERTS, 1988).
A espcie eqina a mais atingida pela pitiose, no havendo predisposio de
raa, sexo ou idade (MENDOZA & ALFARO, 1986; FOIL, 1996). As leses cutneas
so as mais freqentes e atingem principalmente as extremidades distais dos membros e
poro ventral da parede toraco-abdominal, provavelmente devido ao maior tempo de
contato com guas contaminadas com zosporos (MILLER & CAMPBELL, 1982a;
CHAFFIN et al., 1995). O zosporo de P. insidiosum em contato com uma ferida,
produz tubo germinativo com secreo de enzimas proteolticas que penetram
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ativamente no tecidos exercendo presso de 0,14N m-2 sobre eles para sua penetrao
(RAVISHANKAR et al., 2001; MACDONALD et al., 2002). Os sinais clnicos
caracterizam-se por leses ulcerativas granulomatosas, formando grandes massas
teciduais (5 a 500mm), com bordas irregulares, de aparncia tumoral e com hifas
recobertas por clulas necrticas, que formam massas branco-amareladas semelhante a
corais, chamadas internacionalmente de kunkers. Os kunkers variam de 2 a 10 mm
de dimetro, tem forma irregular, ramificada, com aspecto arenoso e penetram no tecido
granular, dentro de sinus formados ao longo do seu trajeto. O tamanho das leses
depende do local e durao da infeco e, apresentam secreo sero-sanguinolenta,
muco-sanguinolenta, hemorrgica e, s vezes, mucopurulenta que flui atravs dos sinus.
Os animais apresentam intenso prurido e normalmente mutilam a leso na tentativa de
aliviar o desconforto (Figura 6). Claudicao freqente nos cavalos atingidos nos
membros (MILLER & CAMPBELL, 1982a; MEIRELES et al., 1993; CHAFFIN et
al.,1995; MENDOZA et al., 1996; LEAL et al., 2001). A maioria dos casos descritos
relata apenas uma leso em cada animal, porm podem existir leses cutneas
multifocais, como as descritas por MILLER & CAMPBELL (1982a), MENDOZA &
ALFARO (1986) e CHAFFIN et al. (1992). Tambm a pitiose pode se disseminar para
rgos internos a partir de infeces sub-cutneas (REIS et al., 2003). Esses autores
detectaram infeco generalizada em 3 equinos no estado de Minas Gerais,
principalmente pulmes e fgado, sendo o achado de hifas confirmado atravs de PCR
do DNA ribossomal como P. insidiosum. Em 2001, LEAL et al., relatam casos atpicos
de pitiose eqina no pantanal brasileiro. Os animais mostram leses deformantes mas,
de forma diversa, no ocorre a sada constante de linfa e outros fludos corporais e o
tecido granulomatoso recoberto com pele escurecida e grossa (figura 7). Ao ser
pressionada a leso, facilmente consegue-se extrair kunkers com facilidade de onde
foram isoladas estruturas posteriormente identificadas como Pyhium insidiosum. Os
eqinos com tais leses atpicas de pitiose no apresentam emagracimento progressivo
e, aps um ano de observao as leses permanecem do mesmo aspecto e tamanho.
Segundo Leal et al. (2001), somente no pantanal brasileiro so registradas estas formas
bizarras da pitiose nos eqinos.
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24
Figura 6. Eqino do pantanal com pitiose clssica na pata em processo de
auto mutilao . Os eqinos com pitiose apresentam intenso prurido no local da leso.(Foto LAPEMI)
Figura 7: Leso atpica de pitiose no pantanal brasileiro descrita por LEAL
et al. (2001). Observa-se leso no supurativa, recoberta com pele escura e, sob presso, saem com facilidade kunkers. (Foto LAPEMI)
O envolvimento intestinal a segunda forma mais freqente da infeco pelo
Pythium insidiosum em eqinos. Os casos descritos apresentaram-se como episdios de
clica, cuja causa a presena de massas teciduais, com diminuio e obstruo do
lmen intestinal ou ambos. Os achados de necropsia e exciso cirrgica revelaram
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ulcerao intestinal e massas nodulares localizadas na parede do jejuno, podendo atingir
20cm de dimetro (SANTURIO et al., 2003).
Alm da pitiose cutnea e intestinal, outros rgos e tecidos podem ser atingidos
secundariamente s leses cutneas. As leses sseas descritas na literatura referem-se a
cavalos com leses cutneas crnicas, localizadas nos membros e com grande
proliferao do tecido granulomatoso. Estas leses sseas ficaram limitadas aos ossos
adjacentes s leses cutneas crnicas e, caracterizaram-se por exostoses, ostelises e
osteomielite no exame radiolgico alm da presena de granulomas com infiltrado de
eosinfilos com reas de necrose e massas necrticas contendo hifas no exame
histopatolgico (MENDOZA et al., 1988; ALFARO & MENDOZA, 1990; EATON,
1993).
Casos de metstase via sistema linftico para pulmes e linfonodos regionais j
foram relatados (CHAFFIN et al., 1996). Foram descritos casos nos linfonodos
cervicais inferiores, inguinais e submandibulares (CONNOLE, 1973; MURRAY et al.,
1978; LEAL et al., 1997), sendo sempre os responsveis pela drenagem linftica da
regio atingida pela leso cutnea. Os linfonodos atingidos apresentavam kunkers,
dos quais foi possvel o isolamento do agente etiolgico. Na maioria dos casos de
pitiose cutnea, os linfonodos regionais encontram-se aumentados. No entanto, esse
achado pode ser utilizado apenas como um indicativo de metstase. Em um estudo de
MILLER & CAMPBELL (1984), foram examinados os linfonodos de 15 cavalos com
pitiose e todos apresentavam-se aumentados e edematosos, porm em apenas trs
animais foi detectada metstase no linfonodo inguinal.
1.4.2 Ces e Gatos
Os caninos so a segunda espcie mais atingida pela pitiose, tambm nas formas
cutnea e gastrintestinal. A forma gastrintestinal a mais comum e manifesta-se com
distrbios digestivos como vmito, anorexia crnica, perda de peso, diarria (s vezes
sanguinolenta) e presena de massas nodulares, quando submetidos a palpao
abdominal (MILLER et al., 1983; BENTINCK-SMITH et al., 1989; FISCHER et al.,
1994; DYKSTRA et al., 1999; GROOTERS, 2003). Os ces afetados so normalmente
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oriundos de regies rurais ou estiveram, esporadicamente, em locais alagados como
audes e banhados (FOIL et al., 1984; FISCHER et al., 1994; DYKSTRA et al., 1999).
As leses gastrintestinais caracterizam-se pela formao de grandes massas nas paredes
do estmago e intestino que so compostas por inflamao granulomatosa e
piogranulomatosa com reas de necrose, intenso infiltrado eosinoflico e presena de
hifas (BENTINCK-SMITH et al., 1989; MILLER et al., 1983; MILLER, 1985;
FISCHER et al., 1994; LILJEBELKE et al., 2002). O trato digestivo superior tambm
pode ser atingido pela doena, em que PATTON et al. (1996) relataram 2 casos de
esofagite crnica devido infeco pelo Pythium insidiosum, enquanto HELMAN &
OLIVER (1999) descreveram um caso de pitiose canina com uma massa na orofaringe,
envolvendo a laringe e esfago cranial. J JAEGER et al. (2002) descreveram a
infeco no clon e metstases na prstata, com sinais hipertrofia do rgo e sintomas
de tenesmo de um co macho da raa Irish Setter com 4 anos de idade.
As leses cutneas apresentam-se como dermatite piogranulomatosa ulcerativa,
contendo reas de necrose infiltrada por neutrfilos e macrfagos e granulomas
eosinoflicos (FOIL et al., 1984; ENGLISH & FROST, 1984; HOWERTH et al., 1989;
DYKSTRA et al., 1999). Em 1997, LARSSON et al. relataram o primeiro caso de
pitiose canina no Brasil, afetando uma fmea com leso cutnea no membro posterior
direito e RIET-CORREA et al. (1998) e RECH et al. (2002) descreveram um caso de
pitiose entrica, em Pelotas e Santa Maria, RS, respectivamente (figura 8).
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Figura.8: Colite infecciosa de um co com pitiose. Observa-se formao de
massas tumorais e obliterao parcial do rgo. (Foto Setor de Patologia Veterinria, UFSM).
A pitiose em gatos rara, havendo poucos relatos na literatura. Um relato refere-
se a uma infeco nasal e retrobulbar, sem envolvimento de orgos internos, cujo
diagnstico baseou-se em imunohistoqumica, sorologia atravs de imunodifuso e
isolamento do agente (BISSONNETTE et al., 1991). FOIL apud MENDOZA et al.
(1996) mencionou a ocorrncia de novos casos de pitiose em gatos na Flrida.
1.4.3 Bovinos
A pitiose bovina tambm pouco freqente, havendo apenas dois relatos na
literatura. O primeiro na regio de Louisiana, EUA (MILLER et al., 1985) e o segundo
na regio do Pantanal, Brasil (SANTURIO et al., 1998). Esses relatos descreveram
leses cutneas, geralmente nos membros e caracterizadas por ulceraes, espessamento
da derme e edema na regio afetada (figura 9). A idade dos animais infectados variou
entre trs e nove meses de idade. Histologicamente, as leses apresentaram-se como
granulomas dermais multifocais rodeados por tecido conjuntivo fibroso. No centro dos
granulomas havia um pequeno nmero de hifas ramificadas, sem formao de
kunkers (MILLER et al., 1985; SANTURIO et al., 1998). Incrustao granular ao
redor de pores de hifas, sugestiva de deposio de complexos antgeno-anticorpo ou
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reao de Splendore-Heoppli, foi observada nos casos descritos por MILLER et al.
(1985). O relato de SANTURIO et al. (1998) menciona a cura espontnea das leses.
Figura 9: Bovinos da raa nelore de 6 meses de idade, com leso de pitiose
(SANTURIO et. al. ,1998)
1.4.4 Humanos
A maioria dos casos de pitiose humana foram observados na Tailndia e
esporadicamente, nos EUA, Austrlia, Haiti e Nova Zelndia. Os primeiros casos foram
relatados em 1986, por Thianprasit na Tailndia (apud MENDOZA et al., 1996).
Segundo IMWIDTHAYA (1994b), as infeces por Pythium insidiosum em humanos,
podem apresentar-se de trs formas: 1- Leses granulomatosas no tecido subcutneo de
pacientes talassmicos. 2- Forma sistmica, caracterizada por desenvolvimento de
arterite crnica, trombose arterial e gangrena, atingindo geralmente a extremidade dos
membros inferiores de pacientes talassmicos. 3- Ceratite; podendo ou no ser associada
talassemia.
SATHAPATAYAVONGS et al. (1989) relataram cinco casos de arterite, desses
relatos de arterite, dois evoluiram para a ruptura fatal da aorta, dois necessitaram a
amputao da perna afetada e um paciente foi curado com resseco do aneurisma. A
evoluo desses casos demonstra a gravidade da pitiose arterial em humanos. Dois
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fatores contribuem para importncia da pitiose humana na Tailndia: a prevalncia da
alfa e beta-talassemia e presena de grandes reas algadias utilizadas para agricultura
(IMWIDTHAYA, 1994b). TRISCOTT et al. (1993) descreveram dois casos de pitiose
subcutnea na Austrlia. As leses apresentaram-se na regio periorbital e o aspecto
histopatolgico apresentou-se similar ao das infeces em eqinos, porm no foram
detectados kunkers. Casos de ceratite, causada por Pythium insidiosum, foram
descritos na Nova Zelndia (MURDOCH & PARR, 1997) e Tailndia
(IMWIDTHAYA, 1995). No ano de 2002, HEALTH et al., relatam um caso de pitiose
pulmonar, em um menino com 12 anos de idade, portador de leucemia, que entrou no
hospital com sintomas de febre, tosse e dificuldade respiratria.
1.4.5 Coelhos
At o presente momento, no foi possvel reproduzir a enfermidade atravs de
infeco experimental nas espcies animais infectadas naturalmente. No entanto,
MILLER & CAMPBELL (1983) demonstraram a susceptibilidade de coelhos como
modelo experimental para a pitiose. Inoculao subcutnea de gua rica em zosporos
produziu ndulos que evoluiram para fibrogranulomas eosinoflicos. Os coelhos
inoculados por via intra-peritonial desenvolveram hepatite severa e peritonite, com
reas de necrose contendo hifas, reao granulomatosa com infiltrado de neutrfilos e
eosinfilos. As leses apresentaram caractersticas similares infeco natural dos
eqinos e o Pythium insidiosum foi isolado das mesmas (MILLER & CAMPBELL,
1983).
A inoculao subcutnea com zosporos provoca abscedao progressiva, mas
no ocorrem ulceraes comparveis com a doena natural nos eqinos, e tampouco a
formao de kunkers(figuras 10 e 11). No entanto, na avaliao leucocitria, o quadro
da pitiose em coelhos semelhante aos equinos, ou seja, ocorre progressiva leucocitose
com moderada neutrofilia e leve monocitose (MILLER & CAMPBELL, 1983;
MILLER & CAMPBELL, 1983b). Portanto esta espcie serve como modelo
experimental para estudo sorolgico e avaliao de imunoterapia (LEAL et al. 2002).
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Figura 10: Fibrogranuloma em coelho aps 30 dias de inoculao com
17.500/mL zosporos de Pythium insidiosum (foto LAPEMI).
Figura 11 : Coelho com fibrogranuloma supurado aps 60 dias da inoculao com 17.500 zosporos/mL de Pythium insidiosum. Grupo 2 inoculado com imunoterpico sonicado (foto LAPEMI).
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1.5 Histopatologia
Histologicamente nos eqinos, os kunkers apresentam-se como cogulos
eosinoflicos de tamanho variado e forma circular com contornos irregulares. Estes
cogulos so compostos de hifas, colgeno, arterolas e clulas inflamatrias,
especialmente eosinfilos. Em torno das hifas, os eosinfilos esto degranulados e em
direo a periferia os grnulos tornam-se mais evidentes. Na borda comum encontrar-
se eosinfilos intactos. A rea ao redor do cogulo composta por um exsudato
inflamatrio espesso de neutrfilos e eosinfilos. A rea entre os kunkers
caracterizada por inflamao granulomatosa e supurativa (MILLER & CAMPBELL,
1984; BROWN et al., 1988). Em cortes histolgicos corados com colorao especial de
prata, pode-se observar as hifas com paredes espessas, esparsamente septadas,
irregularmente ramificadas (normalmente em ngulo reto) e medindo de 2 a 6 m de
dimetro (MILLER & CAMPBELL, 1984; CHAFFIN et al., 1995).
Os achados histopatolgicos da pitiose intestinal eqina variam de tecido
conjuntivo fibroso com reas de necrose de coagulao e focos de mineralizao,
clulas inflamatrias (macrfagos e neutrfilos) degeneradas, sem infiltrado eosinoflico
(BROWN & ROBERTS, 1988), at ao granuloma eosinoflico crnico (ALLISON &
GILLIS, 1990; MORTON et al., 1991; PURCELL et al., 1994). As hifas so
visualizadas atravs da colorao especiais com sais de prata, medindo de 2 a 8 m de
dimetro, com parede espessa, raras septaes e ramificaes irregulares, geralmente
encontrados dentro de focos de mineralizao. Os kunkers, caractersticos das leses
cutneas no foram observados nos casos de pitiose intestinal (BROWN & ROBERTS,
1988; ALLISON & GILLIS, 1990; MORTON et al., 1991; PURCELL et al., 1994).
A histopatologia das leses da pele de coelhos inoculados via subcutnea,
apresentaram alteraes progressivas com necrose aguda acompanhada de infiltrado
granuloctico 3 dias aps a inoculao experimental. Vinte dias ps-inoculao, os
coelhos passaram a apresentar leses com abscesso eosinoflico fibrogranulomatoso
(MILLER & CAMPBELL, 1983).
1.6 Diagnstico
Tradicionalmente, o diagnstico da pitiose baseava-se nos aspctos clnicos,
histopatolgicos e no isolamento e identificao do agente atravs de suas
caractersticas culturais, morfolgicas e reprodutivas. A identificao precoce da
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doena, no entanto, torna-se difcil atravs desses mtodos. Atualmente, mtodos como
imunohistoqumica e tcnicas sorolgicas auxiliam e suportam um diagnstico precoce
e correto (MENDOZA et al., 1996). Em 1988, BROWN et al., descreveram pela
primeira vez o mtodo de imunohistoqumica para diagnstico da pitiose eqina, que foi
posteriormente utilizada por vrios autores (HOWERTH et al., 1989; FISCHER et al.,
1994; PURCELL et al., 1994). O diagnstico diferencial inclui habronemose, neoplasia,
tecido de granulao exuberante e granulomas fngicos e bacterianos (CHAFFIN et al.,
1992).
O desenvolvimento de tcnicas sorolgicas foi impulsionado por MILLER &
CAMPBELL (1982b), que desenvolveram tcnicas para o diagnstico e monitoramento
da resposta imunolgica em eqinos afetados. Esses autores desenvolveram as tcnicas
de imunodifuso em gel de gar (ID), fixao do complemento (FC) e um teste de
hipersensibilidade intradrmica (TI), para diagnosticar e avaliar a resposta imune
humoral e celular de cavalos com pitiose. Os testes realizados em cavalos com pitiose
clnica comprovada, diagnosticaram positivamente 100% (ID), 82% (FC) e 64% (TI)
dos casos. Esses dados comprovaram que o teste de ID apresenta alta sensibilidade e
especificidade para a deteco de anticorpos anti P. insidiosum (MILLER &
CAMPBELL, 1982b). O teste de FC foi utilizado somente na Austrlia, pois alm de
menos sensvel e especfico que ID, um teste difcil de realizar e requer pessoal
experiente para sua realizao (MENDOZA et al., 1996).
KAUFMAN et al. (1990) demonstraram a eficincia da ID para o soro-
diagnstico das zigomicoses causadas por Basidiobolus ranarum e Conidiobolus
coronatus em humanos e animais, assim como para pitiose e, comprovaram que o teste
eficiente para o diagnstico diferencial destas trs micoses em humanos e animais.
Outros autores tambm demonstraram a eficincia e utilidade da ID para o diagnstico
da pitiose.
MENDOZA et al. (1997) desenvolveram um teste de ELISA para o soro-
diagnstico de pitiose em humanos e animais, utilizando antgeno solvel de hifas
sonicadas. Amostras de soro de humanos e animais saudveis e com pitiose clnica
foram testadas e os resultados comparados com o teste de ID. Os resultados indicam que
o teste de ELISA eficiente para o diagnstico da pitiose, e possui especificidade
semelhante ID, porm com melhor sensibilidade. No Brasil, ROSA et al. (1999)
desenvolveram um teste ELISA para diagnstico de pitiose eqina e, ALVES et al.
(2001) desenvolveram a tcnica de ELISA-conta para deteco de soropositividade
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para pitiose, enquanto SANTURIO et al. (2001) descreveram a padronizao de teste
ELISA para deteco de IgG em coelhos imunizados com antgenos de P. insidiosum.
J, GROOTERS et al. (2002) desenvolveram teste de ELISA para diagnstico
sorolgico precoce de pitiose em caninos, enquanto KRAJAEJUN et al. (2002) fizeram
o mesmo para diagnstico de pitiose em humanos.
Um teste de dot-blot modificado foi desenvolvido para deteco de IgG anti-
pythium em coelhos e eqinos. A tcnica desenvolvida utilizou sistema de
luminescncia qumica para visualizao da reao, no entanto, a tcnica pode ser
adaptada para um sistema de visualizao direta na membrana, podendo ser utilizada
como um teste de campo, pela sua especificidade, sensibilidade, praticidade e baixo
custo (LEAL,1999).
O sucesso no isolamento de P. insidiosum alto quando amostras de bipsias
forem armazenadas ou transportadas temperatura ambiente, com o acrscimo de
antibiticos, entre 1 e 3 dias antes de seu processamento no laboratrio. Quando o meio
de transporte da bipsia no contiver antibiticos melhor transport-la a 4C
(GROOTERS et al., 2002b). Estes dados sugerem que a inibio do crescimento
bacteriano, que contamina a amostra, aumenta as chances de isolamento de P.
insidiosum de tecidos infectados. Estes autores sugerem, tambm, o uso, como rotina
para isolamento do agente, de gar V8 (MILLER, 1955), acrescido de estreptomicina
(200g/mL) e ampicilina (100g/mL). Pedaos pequenos de tecido fresco , no
macerados, podem ser distribudos diretamente na superfcie do gar e incubado a 37C.
Crescimento tpico observado entre 12 e 24 horas aps (GROOTERS, 2003). A
identificao de isolados de P. insidiosum pode ocorrer atravs do aspecto da colnia e
na caracterstica das hifas. As colnias em gar V8, sabouraud dextrose (figuras 12 e
13) ou gar farinha de milho (CMA), apresentam-se submersas de colorao branca ou
hialina (DE COCK et al.,1987). Os zosporos podem ser produzidos, a partir do cultivo
de P. insidiosum com 1 a 2 dias de cultivo (figura 14), em folhas de grama estreis
sobre gar gua a 2% e incubao a 37C pelo perodo de 18 a 24 horas. Aps as folhas
infectadas pelo Pythium so colocadas em soluo de sais minerais diluda a 1%. Cerca
de 2-4 horas de incubao a 37C os zosporos crescem a partir de hifas terminais
(GROOTERS, 2003).
O sequenciamento gnico com amplificao do RNA ribossomal, regio ITS 1,
atravs de PCR (reao de polimerase em cadeia) uma ferramenta poderosa para
deteco e identificao de P. insidiosum (GROOTERS & GEE, 2002; REIS et al.,
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34
2003).
Figura 12: Cultivo de P. insidiosum em caldo sabouraud a 37C com
crescimento em 24 horas. (foto LAPEMI)
Figura 13: Hifas de Pyhium insidiosum em cultivo em gar farinha de
milho (400x) [foto LAPEMI]
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Figura 14: Cultivo de isolado de P. insidiosum, para produo induo de
zoosporangnese, em folhas de Paspalum notatum em gar gua a 2%, temperatura de 37C. direita crescimento em 24 horas e esquerda crescimento de 56 horas. (Foto LAPEMI).
1.7 Tratamento
O tratamento de infeces causadas pelo Pythium insidiosum em animais e
humanos complicado pelas caractersticas singulares do agente. O P. insidiosum
difere dos fungos verdadeiros na produo de zosporos mveis e na composio de sua
parede celular. Os fungos verdadeiros possuem quitina em sua parede, enquanto o
Pythium contm celulose e -glucanas. A membrana plasmtica no contm esterides,
como o ergosterol, que o componente-alvo de ao da maioria das drogas antifngicas
(FOIL, 1996). Devido essas caractersticas, no existe droga antifngica eficiente
contra o P. insidiosum (SATHAPATAYAVONGS et al., 1989; FOIL, 1996). Os
fitopatgenos do gnero Pythium so sensveis aos inseticidas normalmente utilizados
em plantas, porm esses compostos so txicos aos mamferos, impossibilitando seu uso
para o tratamento da pitiose (SATHAPATAYAVONGS et al., 1989). Um fungicida
utilizado em plantas (Metalaxil), foi testado no tratamento de ces, porm com
resultados pouco consistentes, em parte pela toxicidade do composto (FOIL, 1996).
O sucesso das diferentes formas de tratamento varivel e, em muitos casos
influenciado pelo tamanho e durao da leso, idade e estado nutricional do animal. O
tratamento tradicional da pitiose eqina cirrgico, sendo o procedimento mais
utilizado. A interveno cirrgica requer retirada de toda rea afetada, com margem de
segurana para evitar as recidivas, porm isso dificultado pelas estruturas anatmicas
envolvidas, principalmente nos membros (MILLER, 1981). O tratamento cirrgico
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apresenta bons resultados apenas em leses pequenas e superficiais, onde seja possvel a
retirada de toda rea afetada.
No tratamento qumico as drogas mais utilizadas at o momento foram a
anfotericina B, cetoconazole, miconazole, fluconazole e itraconazole, alm dos
compostos iodnicos como iodeto de potssio e sdio (SANTURIO et al.,2003).
McMULLAN et al. (1977), obteve 50% de eficincia associando a remoo cirrgica e
anfotericina B; 30% apenas com anfotericina B e 20% das ficomicoses subcutneas no
responderam aos tratamentos.
Segundo GONZALES et al. (1979) o tratamento das ficomicoses subcutneas
respondem ao iodeto de potssio mais eficiente quando usado aps a extirpao
cirrgica do granuloma. CHAFFIN et al. (1992) tambm relataram o sucesso do
tratamento cirrgico seguido de iodeto de sdio em um potro com pitiose cutnea.
Entretanto, MEIRELES et al. (1993) no obtiveram sucesso em dois eqinos tratados
com iodeto de potssio endovenoso, at mesmo quando associado cirurgia.
At o presente momento, nenhuma das terapias antifngicas propostas para a
pitiose canina (sistmica ou cutnea) apresentaram resultados satisfatrios (tabela 1),
entre as drogas testadas destacam-se a anfotericina B, iodeto de sdio, flurocitosina,
cetoconazole (ADER, 1979; ENGLISH & FROST, 1984; DYKSTRA et al., 1999). A
ltima droga testada foi o itraconazole (5mg/kg/60 dias), porm no apresentou
nenhuma melhora (DYKSTRA et al., 1999). Segundo HNILICA (1998), a cirurgia
continua como opo mais segura para o tratamento da pitiose canina.
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Tabela 1: Descrio de 15 casos de pitiose em ces, mostrando que o tratamento com
antifngicos no mostrou eficincia na cura da enfermidade (DYKSTRA et al., 1999).
Co (n)
Idade
(meses)
Raa
Sexo
Durao sinais
clnicos (meses)
Co nadava
Regularmente?
Terapia
Antifngica
Resultado
01 11 English Setter
F 4 + Itraconazole, Vacina pitiose
Eutanasia
02 11 Labrador M 3 + Cetoconazole, Itraconazole,
Nistatina lipossomica
Cirurgia
Curado aps 2 anos
03 24 German Shepherd
F Desconhecida Desconhecido Anfotericina B,
itraconazole, cirurgia
Eutansia
04 12 Mista F Desconhecida Desconhecido Itraconazole, cirurgia
Eutansia
05 9 Poodle M 2 Desconhecido Nenhuma Desconhecido06 9 German
Shepherd F 6 Desconhecido Nenhuma Desconhecido
07 48 Catahoula F 5 Desconhecido Nenhuma Desconhecido08 24 Sheltie F 1 Desconhecido Nenhuma Eutansia 09 24 Mista F 4 + Nenhuma Eutansia 10 36 German
Shepherd M 1,5 Desconhecido Cetoconazole Desconhecido
11 24 German Shepherd
M 6 + Cetoconazole Desconhecido
12 24 German Shepherd
F Desconhecida + Nenhuma Eutansia
13 12 German Shepherd
M 0,5 + Cetoconazole Eutansia
14 12 Labrador F 6 + Anfotericina B,
cetoconazole, itraconazole, vacina pitiose
Eutansia
15 48 Retriever Mix
M 3 Desconhecido itraconazole Eutansia
Os resultados obtidos com as drogas antifngicas so controvertidos, tanto no
tratamento clnico como nos testes de sensibilidade in vitro. Em um estudo de SEKHON
et al. (1992) os polinicos anfotericina B, hamycina e seus anlogos no apresentaram
atividade satisfatria, enquanto os azlicos fluconazole, cetoconazole e miconazole
inibiram os isolados de P. insidiosum testados in vitro, com o miconazole apresentando
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os melhores resultados. Em outro teste as drogas anfotericina B, flucitosina, miconazole
e griseofulvina no inibiram o crescimento do fungo, enquanto o itraconazole
apresentou atividade moderada e a terbinafina foi ativa contra o P. insidiosum testado
(SHENEP et al., 1998). De acordo com estes autores, a associao de terbinafina e
itraconazole apresentaram efeito sinrgico e foram utilizados, com sucesso, no
tratamento de um menino com infeco facial. Em outro relato, dois jovens com
infeco subcutnea na regio periorbital responderam bem ao tratamento com
anfotericina B (TRISCOTT et al., 1993), contrariando os resultados obtidos nos testes
in vitro. Tambm se obteve remisso clinica de um quadro de pitiose pulmonar, em um
menino com 12 anos de idade acometido de leucemia, aps 12 meses de tratamento com
itraconazole em combinao com anfotericina B lipossmica (HEALTH et al., 2002).
SEDRISH et al. (1997) relataram o sucesso do uso de raio laser vermelho de
alumnio, neodmio e trio como tratamento suplementar aps a remoo cirrgica de
leses de pitiose eqina.
Segundo HUBERT & GROOTERS (2002), a resseco cirrgica total do
granuloma combinada com imunoterapia especifica para P. insidiosum o tratamento
mais indicado para cura de pitiose clnica em eqinos.
1.8 Imunoterapia
Uma alternativa para o tratamento da pitiose eqina foi proposto por MILLER,
(1981), que desenvolveu um imunobiolgico (imunoterpico) a partir de culturas do
prprio agente, no qual utiliza-se um macerado de hifas, sonicadas e acondicionados em
frascos. O ndice de eficincia da imunoterapia foi em torno de 53% e 75% quando
associado a cirurgia (MILLER, 1981; MILLER & CAMPBELL, 1982b)
No decorrer da dcada de 80 e 90 vrios autores utilizaram a imunoterapia, cada
um com modificaes na tcnica originalmente descrita por MILLER. Em 1986,
MENDOZA & ALFARO utilizaram como antgeno apenas o sobrenadante das culturas,
objetivando diminuir a reao no local de aplicao. Foram utilizados cinco animais
para o teste, dos quais trs foram recuperados. MENDOZA et al. (1992a), compararam
duas vacinas para tratamento da pitiose equina, em 71 cavalos infectados. Uma vacina
utilizou massa celular como antgeno e a outra utilizou um antgeno solvel
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concentrado. As duas vacinas apresentaram resultado positivo em cavalos com leses
com menos de dois meses, com 60% e 70% de eficincia, respectivamente (tabela 2).
MONTEIRO (1999) relatou o teste de eficincia de um imunobiolgico
(PitiumVac) para o tratamento da pitiose equina, produzido a partir de culturas do
Pythium insidiosum, baseando-se na metodologia descrita por Miller (1981). O ndice
de cura variou de 50% a 83,3% entre os grupos tratados (figura 16) .
Em 1998, THITITHANYANONT et al. descreveram o uso de um imunoterpico
em um menino talassmico de 14 anos de idade, infectado pelo P. insidiosum. Aps
insucesso com tratamentos a base de anfotericina B, iodetos, cetoconazole e cirurgia, a
cura foi obtida aps duas aplicaes (100l) do imunoterpico, com intervalo de 14
dias.
Apesar dos estudos sobre a doena e a imunoterapia, ainda no h um completo
conhecimento dos mecanismos envolvidos na infeco por Pythium insidiosum, em
parte pelas diferenas entre o Pythium insidiosum e os fungos patognicos para os
mamferos. De acordo com MILLER (1981), o carter progressivo da doena em
eqinos imunocompetentes sugere uma resposta imunolgica inadequada ou um
bloqueio na resposta imunolgica. Esse autor acredita que mesmo sendo antignicas, as
hifas no so completamente reconhecidas pelo hospedeiro, devido marcante reao
inflamatria. Em 1996, MENDOZA et al. props o possvel mecanismo imunolgico
desencadeado na pitiose eqina. No incio da infeco, as hifas de P. insidiosum
liberariam antgenos solveis que estimulariam a produo de IgE. Essas
imunoglobulinas ligariam-se a superfcie das hifas e ativariam os mastcitos, que
liberariam seus fatores quimiotxicos para atrair eosinfilos para o stio da infeco. Os
eosinfilos ligar-se-iam a poro Fc das IgE nas hifas e eventualmente degranulariam,
protegendo a hifa do sistema imune. O mecanismo proposto seria semelhante ao
relatado nas infeces parasitrias. Segundo os autores, h evidncias da presena de
antgenos solveis dispersos na leso e no apenas no interior dos kunkers. Mais
tarde, no ano de 2003, MENDOZA et al. ampliam sua hiptese conforme o esquema da
figura 15.
As explicaes para cura induzida pela imunoterapia so apenas propostas,
baseadas nas caractersticas clnicas, histopatolgicas e sorolgicas da infeco e seu
tratamento. Acredita-se que os antgenos citoplasmticos expostos ao sistema imune dos
animais via vacinao originariam uma resposta humoral e celular capaz de combater a
infeco natural. A resposta humoral pode ser demonstrada pelos testes de
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imunodifuso e Western immunoblot, enquanto que a resposta celular pode ser
evidenciada pelo teste de hipersensibilidade intradrmica e alterao no infiltrado
inflamatrio (MENDOZA et al., 1996). Segundo MENDOZA et al. (1992b), o soro de
equinos infectados, testados pelo immunoblot, demonstraram a presena de trs
protenas imunodominantes (28, 30 e 32 kDa) e, amostras de soro eqino obtidas um
ano aps a cura pela imunoterapia tambm apresentaram anticorpos contra esses trs
antgenos.
Trabalho com western immunoblot (LEAL, dados no publicados) sugere a
presena de 5 antgenos imunodominantes e na avaliao de soro equino pr e ps-
tratamento com imunoterpico, no apresentou alteraes no perfil de IgG durante a
imunoterapia. Isso questiona sobre a real importncia desses antgenos
imunodominantes na cura dos eqinos.
MILLER (1981) props dois modelos para explicar a ao dos anticorpos. O
primeiro seria um mecanismo de citotoxicidade dependente de anticorpo e mediado por
clulas, que envolveria linfcitos, macrfagos e talvez eosinfilos ligados a anticorpos,
sobretudo IgG. O segundo modelo proposto envolveria anticorpos e o sistema
complemento, os anticorpos especficos estimulados pela vacina ativariam o sistema
complemento, danificando a parede celular e promovendo a lise do agente.
MENDOZA et al. (1996) acreditam que os mecanismos envolvidos na cura pela
imunoterapia, baseiam-se principalmente na resposta celular. Isto sustentado pelas
alteraes teciduais aps incio da imunoterapia, com mudana de inflamao
eosinoflica no inicial para uma resposta mononuclear, mediada por macrfagos e
linfcitos T. Os autores acreditam que os antgenos presentes no imungeno induziriam
esta alterao no padro inflamatrio, culminando com a cura dos animais. Entretanto,
NEWTON & ROSS (1993) verificaram que o nvel de anticorpos anti-Pythium aumenta
em eqinos doentes submetidos imunoterapia. De acordo com os autores, o aumento
do nvel de anticorpos auxiliaria na cura.
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Tabela 2: Efeitos de imunoterpicos em diversos processos de fabricao:
Processo fabricao de
imunoterpico contra pitiose
Animais
testados (n)
Doses
(n)
Cura
(%)
Autores
Hifas sonicadas 30 equinos 3 53 Miller, 1981
Antgenos solveis 5 equinos 3 60 Mendoza &
Alfaro, 1989
Hifas liquidificadas ou maceradas
liofilizadas
110 equinos 6 83 Monteiro, 1999
Antgeno solvel + hifas
sonicadas
18 equinos 3 72 Mendoza et al.
2003
Antgeno solvel + hifas
sonicadas
6 ces 4 33 Mendoza et al.,
2003.
Figura 15: Hiptese proposta para os efeitos curativos dos imunoterpicos contra pitiose baseado em dados de humanos e eqinos (MENDOZA et al. 2003). A Pitiose quando o hospedeiro entra em contato, atravs de uma ferida, com zooporos de P. insidiosum, formado um tubo germinativo que penetra mecanicamente no tecido. Uma vez nos
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tecidos, as hifas de P. insidiosum liberam exoantgenos [pontos grandes no desenho] denominados de antgenos de apresentao celular(APC). Os APC liberam IL4 (interleucina 4) que estimula a atrao dos linfcitos T auxiliar (Th0), que tambm estimulam linfcitos Th2 , que por sua vez induzem a produo de mais IL4 e IL5. As IL4 regulam a expresso de Th1 (seta pontilhada) e estimulando, por sua vez, clulas B para produo de IgE, IgM e IgG que uma vez precipitados so detectados por testes de diagnstico. As IL5 e IgE desencadeiam a mobilizao de eosinofilos e mastcitos para o local da leso (seta). Estas clulas vo degranular (so responsveis pelas leses teciduais) sobre as hifas de P. insidiosum, provocando o fenmeno de Hoeppli-Splendore que, mais tarde, ir desenvolver os kunkers na pitiose eqina, somente (seta). As hifas de P. insidiosum multiplicam-se no interior dos kunkers onde produzem exoantgenos em grande quantidade; um evento que, no final, bloqueia a resposta imune devido ao Th2. Quando os imungenos do imunoterpico so injetados no hospedeiro com pitiose (parte superior direita do esquema), os antgenos que esto presentes no seu APC so distintos que na infeco natural. Os APC liberam interferon (INF ) que ativam Th0 para Th1. O Th1 ativado produz mais IFN e, tambm, IL2. Por sua vez, IL2 e INF iro ativar mediadores de clulas mononucleares como resposta imune (CMI) composta por linfcitos T e macrfagos que danificam de destroem a hifa de P. insidiosum (seta). No est claro se durante a imunoterapia, as IL2 e IFN tambm estimulariam linfcitos B para produzir IgG protetores. A produo de IFN , no local da infeco, pelos APC e o Th1 produzidos, iro resultar numa menor transformao Th2. Portanto, a atrao de Th1 e o bloqueio de Th2 poderia explicar porque eqinos, ces e humanos com pitiose so curados aps injees com imunoterpicos.
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A
B
Figura 16: Eqino com pitiose clnica na pata (A) e o mesmo animal totalmente curado (B) aps receber 4 doses do imunoterpico PitiumVac, produzidas a partir de hifas maceradas (liquidificadas) de Pythium insidiosum (cepa DMVP 118/98 CBS 101555) [Foto LAPEMI].
Os imunoterpicos em uso podem ter sua atuao prolongada e potencializada
atravs de adjuvantes, como ficou demonstrado por LEAL et al. (2002) em uso em
coelhos.
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ARTIGO PUBLICADO:
O artigo Three types of immunotherapics against pythiosis insidiosi developed
and evaluated, publicado na Revista Vaccine vol.21 p. 2535-2540, em 2003, anexado
nas pginas seguintes, a ncora desta tese e comprova que a sonicao no bom
mtodo para disponibilizar todos os antgenos do Pythium insidisum.
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DISCUSSO
A imunoterapia uma ferramenta teraputica muito utilizada em vrios campos da
medicina, inclusive, com testes iniciais, para controle de algumas neoplasias em
humanos.
Epidemiologicamente a pitiose est relacionada aos ambientes alagados em funo
da multiplicao do agente Pythium insidiosum ocorrer na gua. Por isso regies como o
pantanal brasileiro e campos de cultivos de arroz do sudeste asitico a doena ser muito
prevalente. No primeiro local atacando eqinos e nos campos de cultivo em humanos
que ficam parcialmente imersos nas guas das lavouras a repicarem mudas de arroz.
No existem relatos de pitiose humana no pantanal brasileiro, provavelmente devido aos
hbitos dos habitantes da regio, onde as pessoas quase no tm contato direto com a
gua de crregos e lagoas. No existem lavouras na regio e a imerso na gua evitada
devido presena de piranhas (OBSERVAO PESSOAL).
Diversos processos de produo de imunoterpicos foram desenvolvidos para
combater a pitiose clnica em eqinos no final do sculo XX (MILLER, 1981,
MENDOZA et al. 1986, MONTEIRO, 1999). Esses processos foram desenvolvidos
utilizando-se metodologias distintas para a liberao dos antgenos de Pythium
insidiosum que modificam a resposta imune dos animais infectados. Um mtodo
utilizado foi o de sonicao das hifas cultivadas em caldo Sabouraud, com auxlio de
disrruptor ultra snico de clulas (MILLER, 1981; MENDOZA et al., 2003); outro
mtodo foi a utilizao das protenas solveis retiradas de filtrado da massa micelial
(MENDOZA et al., 1992a) e um terceiro mtodo com a macerao ou liquidificao das
hifas sob cultivo em caldo Sabouraud, seguida de extrao dos antgenos atravs de ter
sulfrico, filtragem do produto macerado e secagem por liofilizao (MONTEIRO
1999). A inovao positiva em relao aos protocolos de vacinas de Miller (1981) e
Mendoza (1992a), est em que os produtos testados neste experimento foram
liofilizados, ficando os imunoterpicos com prazo de validade acima de 1 ano, alm do
processo de liberao de imunognicos ocorrerem a partir da massa micelial macerada
ou liquidificada. Normalmente, a produo de um imunoterpico requer a mais segura e
correta identificao do agente imunognico. Neste caso do imunoterpico, produzido
no LAPEMI/UFSM, tem-se a certeza absoluta de que nos processos de fabricao foi
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utilizadado um isolado de P. insidiosum a partir de um potro com pitiose clnica no
municpio de Jaguari, RS. A cultura utilizada teve sua identificao confirmada deste
isolado no Centrabraalbureau voor Schimmelcultures - CBS da Holanda, recebendo o
registro CBS 101555 (anexo 1). Recentemente Shurko et al., (2003), utilizaram este
isolado CBS 101555 para estudar as diferenas moleculares entre cepas de P.
insidiosum originrias da sia, Austrlia e Amricas. O isolado em CBS 101555
mostrou, nesta publicao, o mesmo perfil molecular de isolados de eqinos da Costa
Rica e Estados Unidos.
De acordo com Miller (1981) o mecanismo de ao dos imunoterpicos contra
pitiose estaria baseado na exposio de antgenos estimulantes de resposta a base de
anticorpos solveis e complemento que, na infeco ativa, normalmente no seriam
expressos. Conforme este autor, a infeco natural pelo oomiceto P. insidiosum,
induziria o hospedeiro a engendrar uma resposta macia mobilizao de eosinfilos ,
provocando, ento, a formao de kunkers. Os kunkers so uma capa esinofilica
que protege as hifas do ataque da imunidade celular e impedindo a regresso da
estrutura granulomatosa. As afirmativas de Miller (1981) foram confirmadas, de
maneira detalhada por Mendoza et al. (2003), onde estes autores afirmam que a resposta
alternativa doena pelo imunoterpico seria o estmulo produo de linfcitos T
auxiliares do tipo 1 (Th1), mobilizadores de clulas mononucleares da resposta imune,
principalmente macrfagos, linfcitos alm da substncia interleucina 2 (IL2), em vez
da resposta clssica do organismo animal infeco natural ao Pythium, composta por
linfcitos T auxiliares tipo 2 (Th2) com a mobilizao de eosinfilos e mastcitos,
induzindo somente ao desenvolvimento de kunkers. Esta afirmativa foi confirmada na
histopatologia das leses dos coelhos inoculados com Pythium insidiosum, neste
trabalho. Nos grupos 3 e 4 (os coelhos em processo de cura que recebiam imunoterpico
misto e macerado, respectivamente) foram detectados junto ao foco de necrose a
presena macia de macrfagos, linfcitos, clulas plasmticas, clulas gigantes e
escassos eosinfilos. A resposta imune eficiente ao ataque de fungos e oomicetos
realmente atravs de linfcitos T auxiliares, estimulados principalmente por antgenos
oriundos de epitopos da membrana fngica. Quem deu passo importante no
esclarecimento destes mecanismos imunolgicos que corrobora os dados da frase
anterior, foram Pinto et al. (2000) que permitiram a fabricao de vacina contra o fungo
Paracoccidioides brasiliensis ao trabalharem com paracoccidioidomicose murina. Estes
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autores descobriram a existncia, na membrana do Paracoccidioides brasiliensis, de
uma protena antignica denominada GP 43, que realmente induz resposta imune
consistente contra a paracoccidioidomicose.
Por outro lado, ao se observar a tabela 2 ficam dois questionamentos, pois os dados
de eficincia dos imunoterpicos em eqinos apresentados por Miller (1981) e Mendoza
et al. (1992a) e Mendoza et al. (2003) em ces , no foram satisfatrios. E que os dados
em eqinos vacinados com imunoterpico contra Pythium, avaliados por Monteiro
(1999), foram satisfatrios com 83% de cura. Primeira pergunta: Se o imunoterpico
realmente modifica a resposta imune, conforme a hiptese de Mendoza et al. (2003),
porque os ndices de cura foram to baixos? Segunda pergunta: Porque o imunoterpico
desenvolvido no LAPEMI e testado por Monteiro (1999) foi muito mais eficaz que os
demais?
A resposta para estas perguntas est no experimento agora mostrado nesta tese, ou
seja, o experimento que avaliou 3 processos diferentes de exposio dos antgenos
mostrou de forma inequvoca que a raiz do problema est no processo de sonicao que
desnatura os antgenos citoplasmtico que iro provocar uma modificao na resposta
imune do animal. Isto confirma os resultados de baixa eficincia do imunoterpico
desenvolvido por Miller et al. (1981) onde foram liberados os antgenos atravs de
sonicao. O imungeno desenvolvido por Mendoza et al. (1992a), no mostrou
eficincia devido a sua constituio a base de antgenos solveis diludos no meio de
cultivo. Conforme ficou demonstrado por Pinto et al. (2000), os antgenos que induzem
proteo esto na membrana e no citoplasma, necessitando, ento, que as hifas sejam
rompidas e os antgenos separados. Os processos de sonicao podem, devido a sua
elevada freqncia snica, provocar a desnaturao de protenas de P. insidiosum e,
entre elas, os antgenos que provocam a resposta diferenciada (PAL et al. 2001). Isto
pode explicar o melhor desempenho do IMT PitiumVac, produzido no LAPEMI/UFSM.
Nos nossos protocolos de imunoterapia ainda no sabemos quais os antgenos
especficos que induziria uma resposta efetiva, pois a constatao de que 3 antgenos
dominantes seriam a fonte de proteo ainda pouco consistente; mas, em razo dos
resultados ruins do grupo 2 (coelhos que receberam imunoterpico sonicado), eles
seriam desnaturados pelo uso da sonicao. No entanto, quando o miclio foi inativado
com ter sulfrico e macerado atravs de liquidificao, no houve desnaturao de
antgenos , como indicam os resultados dos grupos 3 e 4 , onde o grupo 4, aps 8 doses
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com intervalo de 14 dias entre aplicaes, (coelhos que receberam o imunoterpico
macerado ou liquidificado) este grupo 4, mostrou-se mais eficiente em controlar a
infeco dos coelhos. Resultados semelhantes, em relao eficincia da vacina
liquidificada, foram encontrados por Pal et al. (2001) ao utilizarem protocolos com
vacinas sonicadas e maceradas em camondongos a partir de protenas de membrana de
Chlamydia trachomatis. O processo de liquidificao resulta num IMT que tem
mostrado efetividade em outros testes desenvolvidos, principalmente em eqinos
naturalmente infectados por Pythium insidiosum, com leses de qualquer tamanho ou
idade (OBSERVAO PESSOAL).
Quadro de semelhante eficincia se repetiu nos coelhos deste experimento, mesmo
sem a presena de kunkers. As mesmas leses foram tambm encontradas por Miller
e Campbell (1983). Isto permite confirmar que os coelhos se constituem em bons
modelos para estudo da pitiose. Ademais, ainda no se conseguiu a doena experimental
em eqinos ou qualquer outro animal, com exceo de coelhos.
Por outro lado, a importante publicao de Shurko et al., no ano de 2003, levanta
um novo questionamento sobre a etiologia da pitiose em diferentes continentes. Ficaram
demonstradas as diferenas genticas entre os isolados de P. insidiosum, ou seja, as
grandes diferenas entre os isolados inferem a uma concluso de que, no mnimo,
possam existir algumas variedades ou sub-espcies de P. insidiosum; e no seria
demasiado afirmar que existam outras espcies de Pythium produzindo o quadro clnico
da pitiose em animais e humanos nos diversos continentes.
Os dados gerados nesta tese podem inferir que, no futuro, novas perspectivas se
abrem para o estudo da pitiose e seu controle. Pode-se destacar que o aperfeioamento
da imunoterapia com o uso de uma padronizao de procedimentos em sua produo, ou
seja, ruptura das hifas de P. insidiosum cultivadas, atravs de macerao por
liquidificao e posterior precipitao das protenas com ter sulfrico, seguida de
liofilizao, so os primeiros passos que sedimentam a busca de novas perspectivas. O
nosso plano de pesquisa almeja que, nos anos futuros, ocorra a descoberta dos antgenos
especficos que realmente induzam resposta imune diferenciada, onde a cura ocorra
em no mnimo 95% dos animais doentes e submetidos imunoterapia. Outro objetivo
que ser buscado o aperfeioamento dos estudos sobre a resposta imune dos animais
com pitiose clnica. Deste entendimento vir, com certeza, a produo de uma vacina e
no apenas de um imunoterpico, que capacitar os animais para uma proteo
preventiva da doena por um determinado perodo de tempo.
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CONCLUSES:
1. Dentre os processos de produo de imunoterpicos contra a pitiose equina, o nico
realmente eficiente foi o macerado, onde houve uma diminuio da rea das leses em
71,8% (P
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56
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