protagonismo judicial no trato dos direitos fundamentais

Upload: rafael-bezerra

Post on 10-Feb-2018

218 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 7/22/2019 Protagonismo Judicial No Trato Dos Direitos Fundamentais

    1/16

    P R OT A GO N IS M O J U DI CI A L N O T R AT O D O S D I RE I TO S F U ND A ME N TA I S: R E FL E X E SS OB RE O ( DE S) A RR AN JO B RA SI LE IR O

    J UD I CI A L L EA D ER SH I P I N T H E M A NA G EM EN T O F F UN DA M EN TA L R I GH TS : R E FL EC TI O NSO N T HE B RA Z IL I AN ( D IS ) A RR AN G EM EN T

    J OA NA D E S OU ZA M AC HA DO

    RESUMOE s t e a r t i g o p r o p e u m a r e f l e x o , d o p o n t o - d e - v i s t a d e m o c r t i c o , s o b r e o a r r a n j o b r a s i l e i r o e m m a t r i a d edireitos fundamentais. O artigo trabalha com a hiptese de que h uma espcie de protagonismo judicial notrato dos direitos fundamentais no Brasil, uma tendncia que reflete o deslocamento de importantes decisespolti cas da esfera pblica para a esfera judicial . Para tanto, o artigo adota o estudo das funes exercidaspelos direitos fundamentais como campo de investigao da hiptese formulada, em razo da forte conexoq u e m a n t m c o m o p r o b l e m a d a s e p a r a o d e p o d e r e s . E s s e e s t u d o i n v e s t i g a a s d i s t i n t a s r e l a e s q u e s etravam entre os poderes pblicos e a sociedade, a partir dos direitos fundamentais, e, assim, torna-se campof r t i l p a r a v e r i f i c a r o p a p e l q u e v e m s e n d o a t r i b u d o a o P o d e r J u d i c i r i o , c o m p a r a t i v a m e n t e a o s d e m a i s

    poderes, no implemento dos direitos fundamentais.PALAVRAS-CHAVES: DIREITOS FUNDAMENTAIS; DEMOCRACIA; PROTAGONI SMOJUDICIAL.

    ABSTRACTT h i s a r t i c l e c o n s i d e r s a r e f l e c t i o n , f r o m a d e m o c r a t i c p o i n t o f v i e w , o n t h e B r a z i l i a n a r r a n g e m e n t o n t h es u bj e c t o f fu n d am e nt a l r i g ht s . T he a r t i cl e wo r k s w i t h t he h y p o t he s i s of t h a t th e r e i s a s o r t o f j ud i c i a ll e a d e r s h i p i n t h e m a n a g e m e n t o f f u n d a m e n t a l r i g h t s i n B r a z i l , a t r e n d t h a t r e f l e c t s t h e d i s p l a c e m e n t o f i m p o r t a n t p o l i t i c a l d e c i s i o n s f r o m t h e p u b l i c s p h e r e i n t o t h e j u d i c i a l s p h e r e . T h u s , t h e a r t i c l e a d o p t s t h e

    st udy o f the f unct ion s p er fo rm ed by the f un da men tal r ig ht s as a f ie ld of r esear ch of t he f or mul at edh y p o t h e s i s , b y r e a s o n o f t h e s t r o n g c o n n e c t i o n t h a t i t m a i n t a i n s w i t h t h e p r o b l e m o f s e p a r a t i o n o f p o w e r s .This study investigates the various relationships which take place between public powers and society, fromt h e f u n d a m e n t a l r i g h t s , a n d , t h e r e f o r e , i t b e c o m e s a f e r t i l e g r o u n d f o r e v a l u a t i n g t h e r o l e t h a t h a s b e e na t t r i b u t e d t o J u d i c i a r y P o w e r , c o m p a r a t i v e l y t o t h e o t h e r p o w e r s , i n t h e i m p l e m e n t a t i o n o f f u n d a m e n t a lrights.

    KEYWORDS : F U ND AM E NT A L R I GH TS ; D EM O CR AC Y ; J U DI C IA L L EA D ER SH I P.

    1 I NT RO DU O: C OL OC A O D O P RO BL EM A

    A C on st i tu i o b ra si le ir a d e 1 98 8 co mu me nt e t om ad a c om o e xe mp lo d e p au ta c on st it uc io na l

    a la rg ad a, p or te r tr at ad o d e m od o m in uc io so de a ss un to s a nt es r eg ul ado s a pen as p el a l eg is la o

    i nf raco ns ti tu ci onal . Tr at a- se de uma t end nci a ent re as C ons ti tui e s mai s r ecent es , pr om ul ga das ,

    sobretudo, nos ltimos vinte anos [1] .

    Natur alme nte, essa nova agenda de tema s const ituc ionai s desenc adeou novas expec tati vas e novas

    preocupaes . Mas tambm os temas antigos, tradici onalmente constitu cionais, acabaram ganhando novo

    * Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 7347

  • 7/22/2019 Protagonismo Judicial No Trato Dos Direitos Fundamentais

    2/16

    f l eg o c om a s o p e s v ei cu la da s p el a C on st it ui o d e 1 98 8. o c as o d os d ir ei to s f un da me nt ai s.

    A C o n s t i t u i o b r a s i l e i r a e m v i g o r , a l m d e t e r p r e v i s t o n o v o s i n s t r u m e n t o s d e c o n c r e t i z a o d e

    d i r e i t o s f u n d a m e n t a i s , c o m o o m a n d a d o d e i n j u n o e o h a b ea s d a t a ; a n t ec i p o u e s c ol h a s p o l t ic a s e m

    ma tr ia d e g ast os p b li co s re lat iv os a d ir ei tos f un dam ent ai s. T ai s escol has t ra ze m im pac to s para a

    a r q u i t e t u r a d e p o d e r es e s t a t a i s , pa r a o m a n e j o d e p o l t i c a s p b l i c a s e , a n t e s d e r e p r e s e n t a r e m q u a l q u e r

    soluo cerrada, abrem espao para uma reflexo mais ampla sobre o prprio papel da Constituio, sobre a

    r el a o e nt re d ir ei to s f un da me nt ai s e a p ol t ic a.

    T al ve z p or ess e m ot iv o e st ej a em a sc en s o n o B ra si l u m m ov im en to d en om in ad o d en eo co ns ti t uc io na li sm o, q ue s e p ro p e, e xa ta me nt e, a a na li sa r a s c on se q n ci as q ue u m a C on st i tu i o

    s u b s t a n t i v a t r a z p a r a a c o n f o r m a o d a j u s t i a c o n s t i t u c i o n a l d e u m p a s . O s a d e p t o s d e s s e m o v i m e n t o

    r ei vi nd ic am , em f ac e d e t ex to s c on st it uc io na is s ub st an ti vo s, u ma p r ti ca j ur is di ci on al d if er en ci ad a,

    o ri en ta da p or d if er en te s p ar m et r os i nt er pr et at iv os , c om o p ri nc p io s e v al or es . N es se p as so , a c or re nt e c he ga

    a assumir, como decorrncia lgica de Constituies substantivas, uma espcie de protagonismo do Poder

    J ud ic i ri o n o q ua dr o d e u m E st ad o C on st i tu ci on al S oc ia l d e D ir ei to[2] .

    P or m , a t q ue p on to e ss e p ro ta go ni sm o n ec es s ri o e , m e sm o, d es ej ve l ? Es sa r ef le x o s ob re

    m o d e l o s d e j u s t i a c o n s t i t u c i o n a l , j v i s i t a d a p o r t a n t o s a u t o r e s , d e s p e r t o u , n o d i r e i t o c om p a r a do , u m acontraposio entre os modelos substancialista e procedimentalista, nas figuras, respectivamente, de Ronald

    Dworkin[3] e J r ge n H ab er ma s[4] .

    possvel apresentar o ponto de maior divergncia entre esses modelos, situando, de um lado, a idia

    substancialista, como aquela segundo a qual compete Constituio impor arena poltica um conjunto de

    d e c i s e s v a l o r a t i v a s e s s e n c i a i s e i d e n t i f i c v e i s ; e , d e o u t r o l a d o , a idia procedimentalista, c o m o a q u e l a

    segundo a qual compete Constituio assegurar o funcionamento do jogo poltico democrtico, cabendo,

    e m c ad a e ta pa h is t ri ca , m ai or ia p ol t i ca r ea li za r s ua s e sc ol ha s v al or at iv as[5] .

    No mode lo substancialista, em qu e o conjun to de valores sediad os na Const itui o se imp e ao

    cenrio poltico, surge como decorrncia lgica e essencial para tal imposio a figura do juiz como grande

    protagonista. Assim, os adeptos dessa corrente concentram- se em construir um adequado ideal regulati vo

    e m t o r n o d a f i g u r a d o j u i z , i s t o , u m m o d e l o d e j u i z h b i l a i n s p i r a r u m a prxis de justia constitucional

    a p r i m o r a d a , c o m o p r e t e n d e R o n al d D w o r k i n , p o r m e i o d a f i g u r a d o Juiz Hrcul es [6] . P o r s u a v e z , o s

    proce dime ntal ista s debr uam- se sobre a quest o deli bera tiva no jogo pol tico , no lhes sendo , port anto ,

    n ec es s ri a a c on st ru o d e u m i de al r eg ul at i vo d e j ui z.

    A n t e a a r q u i t e t u r a d e d i r e i t o s f u n d a m e n t a i s q u e v a i s e n d o d e s e n h a d a n o B r a s i l , a l i m e n t a d a p o r u m

    c r es ce nt e d es cr di t o n a p o l t i ca , o m od e lo p r oc e di m en t al i st a s o a d es p ro p os i ta d o, p o rq u e m e no s

    e n t u s i a s m a d o c o m a f i g u r a d o j u i z , l o g o e l a q u e t a l v e z s i n t e t i z e a n i c a s a d a a c u r t o p r a z o p a r a u m apossv el justi a const ituc ional brasi leir a. A despei to dessa impr esso, ampla mente difu ndida , ser que a

    r ea li za o d os d ir ei to s f un da me nt ai s d ev e p as sa r p or u m m od el o q ue g ir e e m t or no d a a re na j ur is di ci on al ?

    Co mo s er a bo rda do n o pr esent e ar ti go, d out ri na e j ur ispr ud nci a br asi lei ras so br e d ir ei tos

    fundamentais parecem assumir com certa naturalidade a idia de um protagonismo judicial, como caminho

    i n e v i t v e l n a b u s c a d e u m i d e a l d e j u s t i a , s e m m e n s u r a r o s p o s s v e i s i m p a s s e s q u e u m a i n c l i n a o t a l

    poderia apresentar.

    A p r o p o s t a d e s t e a r t i g o v e r i f i c a r o s p r es s u p o st o s e a r g u m e n t o s d o d i s c u r s o q u e v a i a o s p o uc o s

    * Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 7348

  • 7/22/2019 Protagonismo Judicial No Trato Dos Direitos Fundamentais

    3/16

    produ zindo uma espc ie de senso comum ter ico [7] e m t o r n o d a c o n e x o e n t r e d i r e i t o s f u n d a m e n t a i s e

    protagonismo judicial, incrementando-se, assim, a possibilidade de uma interlocuo sensvel

    c om p le xi d ad e d a t e m t ic a f o ca da .

    Para tanto, ser revisitado um tpico especfico de direitos fundamentais, propcio expresso da idia

    d e u m p ro ta go ni sm o j ud ic ia l, qu al se ja , o t p ic o d a f un o p re st ac io na l e xe rc id a p el os d ir ei to s

    f u n d a m e n t a i s , f u n o q u e f a z s u r g i r , p a r a o E s t a d o , o b r i g a e s c o n s t i t u c i o n a i s p o s i t i v a s . A e s c o l h a d o

    tpico como campo de investigao do problema acima delimitado tomou como critrio a conexo por ele

    m an ti da c om o p ro bl em a d a s ep ar a o d e p od er es .O e s t u d o d a s f u n e s e x e r c i d a s p e l o s d i r e i t o s f u n d a m e n t a i s c o n s i s t e e m u m a a n l i s e d a s d i s t i n t a s

    relaes que se travam entre os poderes pblicos e a sociedade, a partir dos direitos fundamentais, e, assim,

    torna-se campo frtil para verificar o papel que vem sendo atribudo ao Poder Judicirio, comparativamente

    a os d em ai s p od er es , n a r ea li za o d os d ir ei to s f un da me nt ai s[8] .

    A p s a r ev is o c on ce it ua l pe rt in en te a o t p ic o e sc ol hi do , p er me ad a p or a po nt am en to s so br e a

    incorporao da idia do protagonismo judicial na arquitetura brasileira, sero refletidos os fundamentos e

    impasses desse discurso em matria de direitos fundamentais. Em todo o trajeto, ser adotado um ponto de

    v i st a i n te r no r e al i da de b r as i le i ra .

    2 F UN O P RE ST AC IO NA L D OS D IR EI TO S F UN DA ME NT AI S

    2 .1 P re ce de nt e d o e st ud o d as f un es

    G eo rg J el li ne ck , r en om ad o p ub li ci st a a le m o, em s ua o br a Si st em a d os d ir ei to s s ub je ti vo s

    pblicos[9] , f o r m u l o u i n s t i g a n t e t e o r i a q u e i d e n t i f i c a n a r e l a o t r a v a d a e n t r e E s t a d o e i n d i v d u o q u a t r o

    situaes jurdicas ( status) , e n v o l v e n d o t i t u l a r i d a d e d e d i r e i t o s e d e v e r e s , s i t u a e s q u e f a r i a m a e s f e r a d o

    E s t a d o e a d e c a d a t i t u l a r d e d i r e i t o f u n d a m e n t a l o r a s e d i s t a n c i a r e m , o r a m a n t e r e m p o n t o o b r i g a t r i o d e

    c o n ta t o , n a f o r ma a s e gu i r s i n t et i z a da .

    I - E m a l g u m a s c i r c u n s t n c i a s , o i n d i v d u o s e r i a e n v o l t o e m u m a r e l a o d e s u b o r d i n a o c o m o s

    poderes estatais, status subjectionis , na qual figuraria to somente como possuidor de deveres, oriundos da

    c om pe t nc ia e st at al d e v in cu la r j ur i di ca me nt e o i nd iv d uo , p or o rd en s e p ro ib i e s[10] .

    I I - O i n d i v d u o , e n q u a n t o d e t e n t o r d e p e r s o na l i d a d e, t a m b m f i g u r a r i a e m u m status negativus,

    s it ua o q ue l he a tr ib ui ri a u ma e sf er a i se nt a d e i nt er ve n e s e st at ai s, i so la nd o- o d a e sf er a d o E st ad o[11] .

    III - Outra qualidade de relao entre indivduo e Estado seria representada pelo status positivus , q u e

    c o n f e ri r i a a o p r i m e i r o a p o s si b i l i da d e j u r d ic a d e e x i g i r d o s e gu n do p r e st a e s p os it i va s, i s t o , e x i g i r a t u a o n o s e n t i d o d e c o n c r e t i z a r m e l h o r e s c o n d i e s d e v i d a , d e g a r a n t i r o s p r e s s u p o s t o s m a t e r i a i s d o

    prprio exerccio de liberdade[12] .

    I V - J e l l i n e c k r e c o n h e c e a i n d a u m stat us acti vus o u p o l t i c o a o i n d i v d u o , p e l o q u a l p a s s a r i a a s e r

    c on si de ra do t it ul ar d e c om pe t nc ia s p os ta s s ua p ar ti ci pa o a ti va n a f or ma o d a v on ta de p b li ca[13] .

    A partir dessa j clssica formulao dos quatro status, formou-se um consenso razovel no sentido de

    que os direitos f undamentais exercem mltiplas funes, entre el as, a funo pr estaci onal. Para um a

    c om p re en s o a de q ua d a d a f u n o p r es t ac i on al , f a z- s e n e ce ss ri o c on t ra p - la f u n o d e d e fe sa .

    * Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 7349

  • 7/22/2019 Protagonismo Judicial No Trato Dos Direitos Fundamentais

    4/16

    2.2 Multifuncionalidade dos direitos fundamentais

    A partir do j explicado status negativus, foi consolidada na Teoria dos Direitos Fundamentais a idia

    d e q u e t a i s d i r e i t o s e x e r c e m u m a funo de defesa , quando asseguram ao seu titular uma esfera individual

    d e a ut od et er mi na o, i s o l ad a d e i n ge r nc ia s d o E st ad o, s ej am d e o rd em l e gi sl at iv a, a d mi ni st ra ti va o u

    jurisdicional[14] . A p a l a v r a d e f e s a , m u i t o c o m u m e m v o c a b u l r i o b l i c o , e v i d e n c i a c o m c l a r e z a q u e o

    E st a do t om ad o, n e ss a p ri me ir a p er sp ec ti va , co mo u ma e sp c ie d e i ni m ig o, c uj as a es d ev em s er c on t ro l ad a s, e v it a da s, p o rq ue t e nd em a c o mp r om e te r a e sf e ra i n di v id ua l .

    A funo de defes a , c o n s i d e r a d a e m u m a d i m e n s o s u b j e t i v a , t r a z d i v e r s a s p r e t e n s e s a o t i t u l a r d e

    direitos fundamentais[15] . A p r i m e i r a a d e absteno. S e a a o d o E s t a d o t i d a c o m o p r e j u d i c i a l a o

    indivduo, surge ao mesmo, enquanto titular de direitos de defesa, a pretenso de que os poderes estatais se

    a bs te nh am d e a gi r. E ss a f un o c ri a, p or ta nt o, u ma o br ig a o d e n o f az er , d e n o i nt er fe ri r, p ar a o E st ad o.

    A b ar re ir a d e i so la me nt o c ri ad a i ni ci al me nt e p el a funo de defesa comumente no se mostra

    i m p e n e t r v e l . S u p o n h a - s e , p o r e x e m p l o , q u e f r u s t r a n d o a pretens o de absteno d o t i t u l a r d o d i r e i t o d e

    l i b e r d a d e d e i m p r e n s a , u m a d e t e r m i n a d a m e d i d a l e g i s l a t i v a v i e s s e a c e n s u r a r o c o n t e d o d e u m j o r n a l .A ss is ti ri a a e ss e t it ul ar , a in da , a pretenso de revogao e/ou de anulao dessa medida.

    G i l m a r M e n d e s s u b l i n h a t a m b m a s pretenses de considerao e d e defesa . A p r i m e i r a , s e g u n d o o

    a u t o r , i m p e a o s p o d e r e s e s t a t a i s a o b r i g a o d e c o n s i d e r a r a s i t u a o do e v e n t u a l a f e t a d o , d e r e a l i z ar

    ponderaes antes de/ao agir. Equivale a dizer que o Estado deveria empreender juzos conseqencialistas,

    a v a l i a n d o o a t o a s e r p r a t i c a d o t e n d o e m v i s t a a s s u a s p r o j e t v e i s c o n s e q n c i a s , a e x e m p l o d o q u e o

    S up re mo T ri bu na l F ed er al r ea li za a o p ro ce de r m od ul a o d e e fe it os d as s ua s d ec is e s[16] .

    J a segunda pretenso, a de defesa que, segundo o autor, impe ao Estado, nos casos extremos, o

    d e v e r d e a g i r c o n t r a t e r c e i r o s [17] e n q u a d r a - s e , s a l v o m e l h o r j u z o , n a l g i c a d e o u t r a f u n o e x e r c i d a

    pelos direitos fundamentais, a f un o d e p ro te o.

    A p a r t i r d a fun o de proteo, d ir ei to s f un da me nt ai s g er am p ar a o E st ad o o d ev er d e i m pe di r

    i nt er ven es de t er cei ros, pr ot egen do a esf er a de ao d o t it ul ar [18] . E mb o ra a f u n o e m ap r e o

    desencadeie problemtica interessante, ao trabalhar com a hiptese de o Estado ter que proteger um titular

    d e d ir ei to f u nd a me n ta l d e o ut ro t i t u l ar , n o s e r a m e sm a a p r of u n da d a n e ss e e s t ud o , p oi s n o g u ar d a

    c on ex o m ai s e st re it a c om a t em t ic a d a s ep ar a o d e p od er es , c om o a f un o a s eg ui r e nf oc ad a.

    A p a r t i r d o status positivus , por sua vez, a Teoria dos Direitos Fundamentais construiu a idia de que

    esses direitos tambm exercem uma funo prestacional [19] ou funo de garantia positiva [20] . Trata-se da

    h i p t e s e d e o t i t u l a r d e u m d i r e i t o f u n d a m e n t a l o b t e r a l g o a t r a v s d o E s t a d o , s e j a m e d i a n t e u m a m e d i d al e g i sl a t i va , a d m in i s t ra t i v a o u j u r i sd i c i on a l .

    Ao contrrio da funo de defesa, essa funo cria para os poderes estatais obrigaes de fazer, e torna

    inconstitucional e, portanto, combatvel, no a ao estatal, mas, sim, a sua omisso. A lgica da liberdade

    e rant e o ( em f ac e d o) E st ad o s ub st i tu d a, n es se p ri sm a, p el a d a l i be rd ad e por intermdio do Estado[21] .

    T r a t a - s e d e u m v n c u l o p o s i t i v o p a r a o E s t a d o , n o s e n t i d o d e q u e p o r m e i o d a f u n o e m c o m e n t o

    t o r n a m - s e e x i g v e i s p r e s t a e s e s t a t a i s . E s t a s , p o r s u a v e z , p o d e m s e r d e d u a s n a t u r e z a s : ( 1 ) p r e s t a e s

    materiais, de execuo (aes fticas positivas) oferecimento de bens, servios a pessoas que no podem

    * Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 7350

  • 7/22/2019 Protagonismo Judicial No Trato Dos Direitos Fundamentais

    5/16

    a d q u i r i - l o s n o m e r c a d o ; ( 2 ) o u p r e s t a e s n o r m a t i v a s ( a e s n o r m a t i v a s p o s i t i v a s ) c r i a o d e n o r m a s

    jurdicas que tutelam interesses individuais[22] .

    A funo de garantia positiva, ou prestacional, invariavelmente associada a direitos de carter social,

    c o m o o d i r e i t o e d u c a o , d i r e i t o s h a b i t a c i o n a i s , d i r e i t o s a d e , e n t r e o u t r o s d i r e i t o s q u e p r e s s u p e m

    aes estatais que os concretizem. A conexo to reconhecida, que alguns autores passam a identificar os

    d i re i to s s o ci a is c o mo d i re i to s p r es t ac i on ai s[23] .

    [ .. ] a fi rm a- se a ex is t nc ia de d i re i to s o ri g in ri o s a pr es t a e s q ua nd o: ( 1 ) a p ar t ir d a ga ra nt iacons titucional de certos direitos ; (2) s e reconhece, s imultaneamente, o dever do Es tado na criao depres s up os tos materi ais , indis p ens vei s ao exerc cio efecti vo des s es direi tos ; (3) e a facul dade de oc id ad o e xi g ir , d e f or m a i m ed i at a, a s p re st a es c on st i tu t iv as d es se s d i re i to s[24] ( g r if o n o o r i gi n al ) .

    E m r a z o d a r e f e r i d a c o n e x o , o s a u t o r e s c o s t u m a m e s p e c i a l i z a r a d i s c u s s o s o b r e a e f i c c i a d o s

    d ir ei to s s oc ia is , t ra ta nd o- a c om o u m d os t em as m ai s d el i ca do s d e D ir ei to C on st it uc io na l.

    De acordo com Alexy, o tema se reveste de explosividade poltica, porque evidencia, como nenhum

    o u t r o , a r e l a o e n t r e r e s u l t a d o j u r d i c o e v a l o r a e s g e r a i s p r t i c a s o u p o l t i c a s [25] , i s t o , a t e n s o e n t r e

    direito e poltica.

    q u e f o r j a n d o o b r i g a e s c o n s t i t u c i o n a i s p o s i t i v a s p a r a o E s t a d o , a f u n o p r e s t a c i o n a l c o l o c a a

    problemtica da separao de poderes: se tais obrigaes so de fato vinculantes, so, via de conseqncia,

    judicializveis.

    O c o r r e q u e t a i s p r e s t a e s p o s s u e m u m a f o r t e i m p l i c a o f i n a n c e i r a e d e m a n d a m d e c i s e s p o l t i c o -

    o r a m e n t r i a s n o s e n t i d o d e o t i m i z a r o s r e c u r s o s p b l i c o s , s a b i d a m e n t e l i m i t a d o s , n a c o n c r e t i z a o d a s

    mltiplas necessidades coletivas. Se as prestaes envolvem decises polticas, sua concretizao torna-se

    refm da vontade de uma maiori a par lamentar? Tendo em vista a separao de poderes, qu al a

    intermediao jurisdicional possvel em tais hipteses?

    A n t e s d e i n t e n s i f i c a r a a b o r d a g e m v e r t i c a l d a t e m t i c a p r o p o s t a , f a z - s e n e c e s s r i o r e f l e t i r u m p o u c os ob re a s ua e xt en s o.

    2.3 A extenso da funo prestacional

    O estudo das funes exercidas pelos direitos fundamentais veio oportunamente substituir na doutrina

    contempornea o espao antes ocupado por estudos vol tados s geraes/dimenses dos direitos

    fundamentais.

    O estudo das geraes dos direitos fundamentais, a despeito do mrito de enfatiz-los como categoriash i s t r i c a s , t e m o g r a n d e r i s c o d e i n c u t i r a f a l a c i o s a i d i a d e q u e h u m a s u c e s s o s u b s t i t u t i v a e n t r e o s

    direitos, quando na verdade h uma acumulao [26] . A l m d i s s o , p o d e t a m b m s u g e r i r q u e a p r e c e d n c i a

    h i s t r i a s e j a a c o m p a n h a d a d e u m a p r e c e d n c i a n a r e l e v n c i a d e s s e s d i r e i t o s , d a n d o a z o v i s u a l i z a o d e

    uma hierarquia insustentvel entre os direitos. Talvez, porm, maior problema resida, mesmo, na premissa

    d e q ue a h is t ri a t en ha s eg ui do a m es ma t ri lh a e m d iv er sa s r ea li da de s.

    As geraes de direitos, amplamente difundidas em estudos de direitos humanos e fundamentais [27] ,

    g ua rd am nt ima c o ne x o c o m a s d iv er sa s d i me ns e s d e c i da da ni a, f or mu la da s p or T .A . M ar sh al l. Na

    * Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 7351

  • 7/22/2019 Protagonismo Judicial No Trato Dos Direitos Fundamentais

    6/16

    I n g l a t e r r a t e r i a m s i d o c o n q u i s t a d o s p r i m e i r a m e n t e o s d i r e i t o s c i v i s ( s c . X V I I I ) , e m s e g u i d a , o s d i r e i t o s

    polti cos (sc. XIX), e, finalm ente, os direit os sociais (sc. XX); rumo ao conceito ocidental de cidadani a

    plena[28] .

    O p on to d e c he ga da , o i de al d e c id ad an ia p le na , p od e s er s em el ha nt e, p el o m en os n a t ra di o o ci de nt ald e n t r o d a q u a l n o s m o v e m o s . M a s o s c a m i n h o s s o d i s t i n t o s e n e m s e m p r e s e g u e m l i n h a r e t a . P o d eh av er t am b m d es vi os e r e tr oc es so s, n o p re vi st os p or M ar sh al l[29].

    De acordo com a importante anlise de Jos Murilo de Carvalho, o Brasil se distancia pelo menos emdois aspectos dessa trilha geracional padro de direitos: (1) nfase maior em um dos direitos, o social; (2)

    s e q n c i a d e a q u i s i o d i f e r e n t e , c o m a p r e c e d n c i a h i s t r i c a d o d i r e i t o s o c i a l , i m p l a n t a d o e m p e r o d o

    ditatorial[30] .

    Essa leitura em alguma medida tambm encontrada na anlise de outro grande socilogo brasileiro,

    Luiz Werneck Vianna, que nos fala de uma de revoluo passiva brasileira [31] . Para esse autor, o Brasil

    at 1988 s havia experimentado revolues de cima para baixo, conquistas realizadas para a (e no pela)

    massa de cidados, processo este distante da lgica liberal em que a autonomia leva mobilizao poltica

    para o implemento de novas conquistas. Pe lo s ar gu men to s r ef er idos , r eaf ir ma- se que a i d ia de uma m ul ti funci onal id ade dos d ir ei tos

    fundamentais mais oportuna do que a esgotada frmula das geraes, se, ao contrrio desta, no pretender

    n eu t ra l iz ar o d i na m is m o i n er e nt e a o s d i re i to s f u nd a me n ta i s.

    Q u a n do , p o r m , n o e st ud o d as f u n e s, c o n s t r o em - s e a s s o c i a e s r g i d a s e n t r e u m a d e t e r mi n a d a

    funo e uma categoria de direitos, o engessamento coloca-se mais uma vez e com o risco de simplificaes

    indevidas.

    Na introduo do estudo da funo prestacional, foi sublinhado que a doutrina comumente a identifica

    como uma temtica atrelada aos direitos sociais. A conexo, to afirmada, pode induzir a concluso de que

    e n q u a n t o o s o u t r o s d i r e i t o s f u n d a m e n t a i s r e a l i z a m - s e a p a r t i r d e m e r a s a b s t e n e s d o E s t a d o , e , p o r t a n t o ,

    s em c us t os ; o s d i re i to s f u nd a me nt a is s o ci a is , e n qu a nt o d i re i to s p o si t i vo s , p r es t ac i on a is , t r az e m u m p r ob l em a

    e sp ec ia l d e e fi c ci a, r ef er en te a o s eu c us to f in an ce ir o.

    A p a r t i r d o s e s t u d o s d e H o l m e s e S u n s t e i n [32] , p o s s v e l r e u n i r e l e m e n t o s q u e v i a bi l i z am o ut r a

    concepo, m ais d in mi ca , sobr e d ir ei tos f undam en tai s. Os a ut or es d em ons tr am q ue t od os o s di r ei t os

    possuem uma faceta positiva, isto , demandam algum tipo de prestao pblica, representam algum custo,

    a i n d a q u e a p e n a s o d e m a n u t e n o d e u m s e r v i o d e j u s t i a e m q u e o d i r e i t o p o s s a s e r d i s c u t i d o [33] . A

    r i g o r , a s i m p l e s e x i s t n c i a d o E s t a d o e m e s m o a s u a o m i s s o r e p r e s e n t a m u m c u s t o f i n a n c e i r o , d e t a l h a d o

    n as p e as o r am en t ri as i ne xi st e, l og o, u m p ur o n o f az er .A s s i m , t o d o e q u a l q u e r d i r e i t o i n s e r e - s e e m u m a l g i c a o r a m e n t r i a , l g i c a d e e s c o l h a p o l t i c a . A

    conseqncia mais relevante dessa reformulao do estudo das funes a de que o obstculo financeiro se

    i m p e r e a l i z a o d e t o d o s o s d i r e i t o s f u n d a m e n t a i s e t r a n s p e a d i s c u s s o e n f r e n t a d a n e s s e e s t u d o p a r a

    a l m d os m ur os d a c at eg or ia d os d ir ei to s s oc ia is .

    3 . P R OT A GO N IS M O J U DI CI A L

    * Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 7352

  • 7/22/2019 Protagonismo Judicial No Trato Dos Direitos Fundamentais

    7/16

    3.1 Diagnstico do quadro brasileiro

    R ed im en si on ad a a ex ten so da funo p re st ac io na l, poss vel an al is ar o ar ranj o q ue v ai se

    desenhando no Brasil na empreitada da realizao dos di rei tos fundamentai s, a partir do seguinte

    q u e st i o n am e n to : q ua l o p a p el d o j u i z d i a n te d o s d i r e it o s p r e st a c i on a i s?

    E m u ma d em oc ra ci a, o o fe re ci me nt o d e b en s e s er vi o s, p or r ep er cu ti r e m d ec is e s d e g as to s p b li co s,

    normalmente compe uma pauta de deliberao poltico-majoritria. Se os recursos pblicos so escassos e

    as necessi dades pbl ica s so i nf ind ve is e, ai nda, ca mbi ant es; com pet e aos poderes dem oc rat ica men tel eg it i ma do s r ea li za re m a s e sc ol ha s d e c om o e mp re ga r o d in he ir o p b li co .

    Acontece que essa pauta deliberativa sofre em no raras vezes uma reduo pelo Poder Constituinte,

    na t entativa de resguardar direi tos mnimos s minorias pol t icas; como quando a Cart a Magna pr-

    d et er mi na o d e s t in o d e d et er mi na do s r ec ur so s p b li co s. A C on st it ui o br as il ei ra d e 1 98 8 f ar ta em

    e xe mp lo s d e c on di ci on am en to s c on st i tu ci on ai s s de ci s e s po l t ic o- or a me nt r i as , d et er mi na nd o a

    aplicao de percentuais m nimos dos r ecursos dos ent es feder ativos na concr eti zao de direi tos

    f u n d a m e n t a i s , c o m o o d i r e i t o e d u c a o [34] , s a d e [35] , e n o c u s t e i o d a s e g u r i d a d e s o c i a l c o m o u m

    todo[36] . ta mb m c er t o q ue a C on st it ui o n o d et er mi na co mo e ss es pe rc en tu ai s s er o a pl i ca do s, n o

    determina as aes exatas dos poderes pblicos, pois de outra forma os engessaria por completo. Porm, ao

    e s t i p u l a r p e r c e n t u a i s m n i m o s , c o n f e r e p a r m e t r o s o b j e t i v o s p a r a o c o n t r o l e d a s p o l t i c a s p b l i c a s . A i n d a

    q ue o s p ar m et ro s e m s i p os sa m s er q u es ti on ad os (t i do s c om o e xc es si v os o u i n co nv en ie nt em en te

    h om og n eo s pa ra d is ti nt as r ea li da de s fe de ra ti va s) ; a p os si bi li da de d e c on tr ol e p or e le s i na ug ur ad a

    inegvel.

    Quando presente uma determinao constitucional oramentria, o controle judicial, nos termos dessa

    d e t e r m i n a o , n o r e p r e s e n t a a p r i n c p i o u m p r o b l e m a s e p a r a o d e p o d e r e s , j q u e e s t a , p o r s u a v e z ,

    compreendida nos moldes da prpria Constituio. O problema se coloca de forma mais visvel na ausncia

    d es s es p a r m et r os o b je t iv o s e st r i to s d a C o ns t it u i o.

    T o m e - s e o e x e m p l o d o d i r e i t o e d u c a o . O a r t . 2 0 5 , d a C R / 8 8 s i t u a a e d u c a o c o m o u m d i r e i t o

    fundamental de todos, correlato a um dever do Estado. O art. 206, IV, CR/88, garante de forma irrestrita a

    educao infantil, em creche e pr-escola, s crianas de at 05 (cinco) anos de idade. A Constituio fixa,

    c o m o j m e n c i o n a d o , p e r c e n t u a i s m n i m o s a s e r e m a p l i c a d o s p el o s e n t e s f e d er a t i v o s n a m a n u te n o e

    desenvolvimento de ensino. Suponha-se que o ente federativo tenha formalmente empregado o percentual

    c o n s t i t u c i o n a l e , a i n d a a s s i m , n o h a j a v a g a s u f i c i e n t e p a r a t o d a s a s c r i a n a s . N e s s a h i p t e s e , o q u e s e r i a

    r e al m en t e e x ig ve l d o s P o de r es P bl i co s e , c o ns e qu e nt e me n te , j u di c ia l iz v e l?Na proposta de Alexy para os direitos fundamentais sociais, saber o que judicializvel saber qual

    o d i r e i t o d e f i n i t i v o d o t i t u l a r , i s t o , a q u i l o q u e e x i g v e l d o E s t a d o , s e m p o s s i b i l i d a d e d e m i t i g a e s .

    Segundo o autor, identificar os direitos que o indivduo possui em definitivo uma questo de ponderao

    d e p r i n c p i o s . T r a t a - s e , m a i s e s p e c i f i c a m e n t e , d e s o p e s a r , d e u m l a d o , o p r i n c p i o d a l i b e r d a d e f t i c a ; d e

    o u t r o , o s p r i n c p i o s f o r m a i s d e c o m p e t nc i a d e d e c i s o d o l e g i s l a d o r d e m o c r a t i ca m e n t e l e g i t i m a d o e o

    princpio da separao de poderes, bem como os princpios materiais referentes liberdade ftica de outros

    titulares e bens coletivos [37] .

    * Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 7353

  • 7/22/2019 Protagonismo Judicial No Trato Dos Direitos Fundamentais

    8/16

    Prescreve Alexy que uma posio jurdica est definitivamente tutelada e torna-se, portanto, exigvel

    d o E s t a d o , v i a a t i v i d a d e j u r i s d i c i o n a l , s e : ( i) o p r i n c p i o d a l i b e r d a d e f t i c a a e x i g e c o m m u i t a u r g n c i a ; e

    (ii ) o p r i n c p i o d a s e p a r a o d e p o d e r e s e d a d e m o c r a c i a , b e m c o m o o s p r i n c p i o s m a t e r i a i s o p o s t o s , s o

    afetados de forma relativamente atenuada com a interveno judicial. Para o autor, o que invariavelmente

    ocorre na hiptese de direitos fundamentais mnimos (os quais exemplifica com o mnimo vital, a moradia

    s i mp l es , a e du c a o e sc o la r , a ss i st nc i a m di c a m ni m a)[38] .

    Em sntese, para Alexy, a atividade jurisdicional em matria de direitos prestacionais s deve incidir,

    d e f o r m a l e g t i m a , n a h i p t e s e d e u m d i r e i t o f u n d a m e n t a l d e f i n i t i v o , i s t o , a q u e l e q u e r a z o a v e l m e n t ee x i g v e l d o E s t a d o . L a d o o u t r o , q u a n d o o d i r e i t o , e m b o r a v i n c u l a n t e , c o m o d e r e s t o s o t o d o s o s d i r e i t o s

    consagrados em uma Constituio, exprime um contedo prima facie, isto , ainda moldvel a partir de uma

    ponderao, que mensure a reserva do financeiramente possvel[39] ; no cabe a fiscalizao de um Tribunal

    Constitucional [40] .

    Adotando-se, por um momento, o modelo de Alexy, que permite, em ltima instncia, a interferncia

    jurisdicional na aplicao de direitos que demandam deliberaes poltico-oramentrias, j seriam obtidos

    parmetros suficientes para uma objeo ao protagonismo judicial operante no Brasil.

    D a nd o c o nt i nu i da d e a o e x e mp l o d o d i re i t o e du ca o, s up o nh a- s e u ma deciso judicial quec o n d e n a s s e u m m u n i c p i o a g a r a n t i r a g r a t u i d a d e d o a t e n d i m e n t o e m cr e c h e s , n o p r a z o d e 3 0 d i a s , e

    construir creches ou ampliar o nmero de vagas existentes, a fim de se atender a 100% da demanda [...], no

    prazo de 01 ano, fixada ainda multa diria de R$10.000,00 (dez mil reais) em caso de no

    cumprimento[41] .

    Uma deciso nos termos descritos dificilmente atenderia aos pressupostos colocados por Alexy, pois

    n o h a v e r i a q u e s e f a l a r p r o p r i a m e n t e e m u r g n c i a d i t a d a p e l o p r i n c p i o d a l i b e r d a d e f t i c a e a i n g e r n c i a

    judicial na competncia normativo-oramentria dos Poderes democraticamente eleitos Executivo e

    Legislativo seria de longe relativamente atenuada. No entanto, a hiptese no mera ilustrao, mas a

    t r a n s c r i o d e u m a d e c i s o d e p r i m e i r a i n s t n c i a , c o r r o b o r a d a p o r u m T r i b u n a l d e J u s t i a e a p e n a s f r e a d a

    e m Q ue st o d e O rd em f or mu la da a o S up re mo T ri bu na l F ed er al .

    No se trata de caso isolado no Brasil. O protagonismo judicial em matria de direitos prestacionais

    uma realidade to palpvel que contribuiu para a necessidade de que as leis de diretrizes oramentrias (em

    todos os nveis federativos) contivessem um anexo de r i scos fiscais, entre eles o risco de passivo

    c on ti ng en te d es pe sa s q ue p od em s ur gi r a p ar ti r d e a es j ud ic ia is , c as o t r an si te m e m j ul ga do[42] .

    A p r o j e o p o l t i c o - o r a m e n t r i a n o B r a s i l a t u a l m e n t e t o a f e t a d a c o m d e c i s e s j u d i c i a i s , q u e o s

    e n t e s f e d e r a t i v o s p r e c i s a m c o n s t a n t e m e n t e d e r e e s t r u t u r a e s o r a m e n t r i a s p a r a c o n t o r n a r o s i n m e r o s

    impactos decorrentes dessa atuao judicial [43] . A ttulo de exemplo, a Lei de Diretrizes Oramentrias doEstado de Minas Gerais relativa ao ano de 2010, j votada, detalha em seu anexo de riscos fiscais a projeo

    d e R $ 3 5 . 0 0 0 . 0 0 0 , 0 0 ( t r i n t a e c i n c o m i l h e s d e r e a i s ) p a r a c u s t e a r p o s s v e i s d e s p e s a s c o m p a g a m e n t o d e

    m e di c am e nt o s, d e te r mi n ad o p or d e ci s e s j u di c ia i s, s e e st a s p r od uz i re m c oi s a j u lg ad a[44] .

    O e s t a d o e m q u e s t o , a s s i m c o m o d e m a i s e n t e s f e d e r a t i v o s , j o b s e r v a a a p l i c a o d o s p e r c e n t u a i s

    m ni m os e x ig i do s p el a C on s ti t ui o n a r e a d a sa de ( a rt . 1 98 , 2 ) ; m as o br i ga d o a r ef a ze r s u as p r oj e e s

    e estratgias oramentrias para acatar as determinaes judiciais. A justia do caso concreto, comumente

    dirigida a interesses e garantias individuais, vai, assim, assumindo uma precedncia significativa em relao

    * Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 7354

  • 7/22/2019 Protagonismo Judicial No Trato Dos Direitos Fundamentais

    9/16

    s d ec i s e s p o l t i co - ma j or i t r ia s, q ue c o nt e mp l am n e ce ss i da d es c ol e ti v as .

    D i a n t e d o q u a d r o a t u a l n o B r a s i l , f o r o s a u m a v i s o b e m m e n o s o t i m i s t a d o q u e a l a n a d a p e l o

    s oc i lo go b ra si le ir o L ui z W er n ec k V i a n na . A o b r a do a u to r t r az i mp or ta nt es d ad os e l e it u r as so b re a

    judici aliza o da polt ica, os quais lhe permi tiram conclui r, nos limit es da dcada de 90, que o fenmen o

    e st ud ad o p el o a ut or n o r ep re se nt av a a s ub st it ui o d a p ol ti ca p el o j ud ic i ri o[45] .

    D e c i s e s j u d i c i a i s , c o m o a t r a n s c r i t a n e s s e t r a b a l h o , e o s r i s c o s f i c a i s m e n c i o n a d o s r e p r e s e n t a m a

    i m a g e m p o s s v e l d e u m q u a d r o d e p r o t a g o n i s m o j u d i c i a l , r e c u s a d o p e l o a u t o r p o c a d e s e u e s t u d o[46] .

    Tanto o fenmeno hoje notrio, que o Supremo Tribunal Federal, em inequvoco reconhecimento de que oJ u d i c i r i o b r a s i l e i r o v e m a s s u m i n d o t o t a l l i d e r a n a n o i m p l e m e n t o d o s d i r e i t o s f u n d a m e n t a i s , p e r c e b e u a

    n ec es si da de d e r ef le ti r j un ta me nt e c om a s oc ie da de s ob re o s p os s ve is r um os d es se q ua dr o d es af ia do r.

    Nos meses de abri l e maio do pres ente ano (200 9), desen volv eu-s e uma audi nci a pbl ica sobr e o

    t em a d a s a de , c on vo ca da p el o P re si de nt e d o S up re mo Tr ib un al F ede ral , o M in is tr o G il ma r F er re ir a

    M e n d e s , e x a t a m e n t e p a r a c o l h e r i n f o r m a e s d e e s p e c i a l i s t a s e i n t e r e s s a d o s n o s e t o r d e s a d e , a s q u a i s

    pudessem instruir os processos que se encontram em julgamento, no STF, acerca do direito sade[47] .

    D i a g n o s t i c a d o o q u a d r o , n e c e s s r i o r e t o m a r a q u e s t o i n i c i a l d o e s t u d o : a r e a l i z a o d o s d i r e i t o s

    f un da me nt ai s d ev e p as sa r p or u m m od el o q ue g ir e e m t or no d a a re na j ur is di ci on al ?3 .2 R ef le x es s ob re o ( de s) a rr an jo b ra si l ei ro

    O q u a d r o b r a s i l e i r o d e r e a l i z a o d e d i r e i t o s f u n d a m e n t a i s , r e t r a t a d o n e s s e e s t u d o , j n o s e a m o l d a

    nem mesmo a propostas que concebem uma judicializao da poltica como positiva ou necessria, como o

    m od el o d e A le xy a ca ba p or f az er n o c as o d e d ir ei t os p re st ac io na is d ef in it i vo s.

    Isso p or qu e a s i nt er ve n e s j udi ci ai s so no Br asi l em n m er o t o e xpr essi vo e em i nt en si dad e

    t am an ha , q ue t ra ns ce nd em e m m ui to a i d ia d e u ma j ud ic ia li za o m od er ad a. A cr es a -s e a in da o f at o d e q ue

    t ai s i nt er ve n e s, h oj e d et ec t ve is e nt re o s r i sc os f i sc ai s c or r iq ue ir os d as a dm in is tr a e s p b li ca s, a lt er am a s

    projees oramentrias, ditando a por vezes a precedncia de necessidades individuais, calculadas sem uma

    d ev i da e st r ut u ra t cn i ca p el o P o de r J u di c i r io , s ob r e n ec e ss i da de s c o le t iv as[48] .

    Talvez seja at possvel que as administraes pblicas consigam mensurar razoavelmente esses riscos

    f is ca is , to rn an do -o s m eno s s ub ve rs iv os ao e qu il b ri o f in an ce ir o; d es de q ue h aj a u m r ec uo d o P od er

    J ud ic i ri o n es sa b us ca d e j us ti a a q ua lq ue r p re o a p ar ti r d a t ut el a d os d ir ei to s f un da me nt ai s.

    No obstante, ser que a frmula do protagonsimo judicial, ainda que com maior moderao, a mais

    a de qu ad a r ea li za o d os d ir ei to s f un da me nt ai s, o p ar ad ig ma d e d ir ei to q ue d ev em os a ss um ir n o B ra si l?

    M o d e l o s d e j u s t i a c o n s t i t u c i o n a l q u e p e r m i t e m q u e o j u i z i n t e r f i r a e m p a u t as p o l t i c as m e d i a nt e

    ponderao de direitos fundamentais, como o de Alexy, encontram srias objees de ordemdemocrtica[49] . Jrgen Habermas, importante i nt er locutor d e Alexy, v na ponderao de direitos

    fundamentais um exame que retira a questo dos direitos do plano da validade e da correo, e a submete a

    u ma s en te n a d e v al or [50] .

    D e a c o r d o c o m H a b e r m a s , o r e c u r s o a v a l o r e s , c o m o r a z e s d e d e c i d i r , r e t i r a a r ac i o n a l i d a d e d o

    proc esso, perm ite ao jui z atua r conf orm e as suas conc ep es de bem; as quai s, em uma soci edade ps-

    convencional, no podem ser exatamente tidas como consensuai s[51] . As si m, as n or mas j ur di cas

    produzidas pelo procedimento democrtico so deslocadas por uma atividade judic ial de atrib uio de

    * Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 7355

  • 7/22/2019 Protagonismo Judicial No Trato Dos Direitos Fundamentais

    10/16

    sentidos ao texto constitucional diga-se, em certa medida, arbitrria , da qual emanam como vinculantes

    v al o re s s u po s ta m en t e c o mp a rt i l ha d os p el a c om u ni d ad e j u r d ic a.

    A partir da ponderao dos direitos, o juiz, em verdade, consegue neutralizar as balizas normativas e

    obter um amplo espao para identificar os valores de sua preferncia; mas o processo todo soa bem menos

    d es p t i co s o b o r e sg u ar d o d a p r et e ns a c on s en s ua l id a de em to r no d o s v a lo r es b u sc a do s . C o mo do a p li c ad o r

    d o d i r e i t o a c o m p e t n c i a d e d i z e r , e m l t i m a i n s t n c i a , o s i g n i f i c a d o d o s d i s p o s i t i v o s c o n s t i t u c i o n a i s , q u e

    s o m u i t o s n o o r d e n a m e n t o b r a s i l e i r o ; f i c a s u b m e t i d a a o s e u j u z o a m a i o r i a d a s d e c i s e s p o l t i c a s , s e n o

    t o da s , d o s p od e re s d e mo c ra t ic a me n te l e gi t im a do s .O j u i z e xe r ce c on f or t av el m en t e e ss e p ro ta go ni sm o n a r e al i z a o d o d i r e it o s o b a c re n a d e qu e

    r e s g u a r d a a C o n s t i t u i o , e n q u a n t o o r d e m o b j e t i v a d e v a l o r e s , e m e f e t i v a b u r o c r a c i a d a s a l v a o [52] ,

    hbi l em descartar u ma deciso pol tica, como a projeo oramentria, amadurecida em mei o s

    d el ib er a e s p ar la me nt ar es . E ss as d el ib er a e s, p or s ua v ez , s o d es ac re di t ad as , o ra c om j us ta c au sa , o ra p or

    pura estratgia, por uma mdia que acaba por beneficiar-se da incapacidade do cidado brasileiro de resistir

    s informaes que lhes so transmitidas. At que ponto a noo de poltica deve estar associada no Brasil

    i d i a d e c or r up o ?

    A c o r r u p o c a r a c t e r i z a - s e , p o r d e f i n i o , c o m o u m a p r t i c a o b s c u r a , p o u c o a p a r e n t e e , p o r e s s ar a z o , d e s a f i a d o r a s p r e t e n s e s p u n i t i v a s d o E s t a d o . S e n d o a s s i m , p a r a q u e s e j a d a d a c o m o p r e s e n t e , o u

    como no caso brasileiro, como enraizada na arena poltica, necessrio que passe pelo processo discursivo

    da desocultao, levado a cabo por uma comunidade de intrpretes do fenmeno da corrupo atores e

    i ns ti tu i e s p ol t ic as ; o pi ni o p b li ca f or ma da a p ar ti r d a a tu a o d a m d ia ; e o D ir ei to[53] .

    C o m o d e r e s t o p o d e a c o n t e c e r e m q u a l q u e r p r o c e s s o d i s c u r s i v o , d e s e c o g i t a r q u e a o m e n o s u m

    desses atores possa desenvolver uma ao estratgica, voltada puramente ao xito ou mesmo dominao e

    no p ropr iam ent e ao e nt en di men to[54] . S e a m d ia , im po rt an te p e a n es se p roc ess o, a li me nt a- se de

    acontecimentos, o discurso da corrupo pode ser convenientemente eternizado como permanente fonte de

    material de trabalho, tendo o efeito colateral de gerar ainda mais apatia ou at ojeriza poltica, acirrando as

    c r is es d e l e gi t im a o n a s d em o cr a ci a s r e pr e se nt a ti v as c o nt e mp or ne as[55] .

    E s s a p r e o c u p a o c o m u m d e s c r d i t o p o s s i v e l m e n t e m o l d a d o e m t o r n o d a a t i v i d a d e p o l t i c a r e c e b e

    destaque na obra de Jeremy Waldron. De acordo com esse autor, grande parte da Teoria do Direito toma a

    a r g u m e n t a o r e a l i z a d a n o C o n g r e s s o o u n o P a r l a m e n t o c o m o e x p l c i t a e d e s p u d o r a d a m e n t e p o l t i c a , e m

    u m a p a l a v r a : i n d i g n a . D e o u t r o l a d o , h u m a c o m u m s u p o s i o d e q u e a s d e c i s e s t o m a d a s p o r t r i b u n a i s ,

    n o s en do d ir et am en te ( ou i rr em ed ia ve lm en te ) p ol t ic as , po de m e xp re ss ar c er to e s p ri to s ub ja ce nt e d e

    l e ga l id a de , d e D i re i to[56] .

    P ar a W al dr on , a c ar ic at ur a d a l eg is la o r ea li za da p ar a d ar c re di bi li da de i d ia d e r ev is o j ud ic ia l.A f r mu la c on si st e e m c on st ru ir u m r et ra to i de al iz ad o d o j ul ga r, i nc re me nt ad o c om a m f am a d o l eg is la r. A

    c r t i c a d e W a l d r o n p o d e s o a r c o m o v e r d a d e i r a t e o r i a d a c o n s p i r a o , s e t o m a d a e m r e a l i d a d e s c o m o a

    brasileira, aparentemente fartas em material hbil a justificar uma viso negativa da argumentao

    parlamentar.

    D e u m l a d o , p o r m , j s e a l e r t o u p a r a o s r i s c o s d o p r o c e s s o d i s c u r s i v o d e d e s o c u l t a o d o

    f en m en o d a c or ru p o ; d e o ut ro , m es mo q ue s e p ro du za a lg um a n o o d e v er da de e m t or no d a m - fa ma d o

    a m b i e n t e p o l t i c o , p o s s v e l e x t r a i r u m i m p o r t a n t e a r g u m e n t o d e f u n d o d a a n l i s e d e W a l d r o n : a i n d a q u e

    * Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 7356

  • 7/22/2019 Protagonismo Judicial No Trato Dos Direitos Fundamentais

    11/16

    h a j a i n d i c a d o r e s f t i c o s , e m d a d o c o n t e x t o , s o b r e a i n d i g n i d a d e d a l e g i s l a o , p o r q u a l r a z o a t e o r i a d o

    d i r e i t o l a n a - s e d e i m e d i a t o p r o d u o d e i d e a i s r e g u l a t i v o s p a r a a s d e c i s e s j u d i c i a i s e n o f a z o m e s m o

    para a deciso poltica?

    Para Waldron, a explicao est na crena, difundida entre os juristas, de que os tribunais colocam-

    se distantes desse tipo de poltica, pois esto comprometidos com o imprio do direito e no com o imprio

    d a m a i o r i a . A l e r t a o a u t o r , n o p o n t o , p a r a o f a t o d e q u e a s q u e s t e s d e j u s t i a t a m b m e n v o l v e m d i s p u t a s .

    Identifica como principal equvoco das teorias constitucionais contemporneas a indiferena ao desacordo

    moral, tpico de sociedades pluralistas. Segundo o autor, se no h acordo sobre questes de justia, sinald e q u e p r e c i s a m s e r t o m a d a s e m p r o c e s s o q u e p e r m i t a a m p l a p a r t i c i p a o s o c i a l [57] . P a r a D w o r k i n , a

    o mais adequado frum da moralidade poltica, porque se compromete com

    a b us ca d o m el ho r a rg um en to d e p ri nc p io . O b om a rg um en to l eg it im a a d ec is o[58] .

    W al dr on , a o f oc ar o d es ac or do ns it o s q ue st e s d e m or al i da de , c on si de ra a < > o f r um

    mais apropriado par a decises sobre os dir eitos, p oi s a contempla como o pr odut o de um processo

    deliberativo que no camufla as divises e conflitos que circundam as decises sobre justia. Aduz, ainda,

    q ue o s T r ib u na i s n o s e i mu ni z am d as d i sp u ta s s ob r e qu e st es s e j us t i a . S e h d es ac o rd o , h di s pu t a. C o mo

    t o da de ci s o c ol eg ia da , o s T ri b un ai s a ca ba m r es ol ve nd o a s d is pu ta s m or ai s p el a m al fa da da r eg ra d amaioria[59] .

    Nessa linha de raciocni o, por que a deciso majoritr ia de uma jurisdi o constituci onal deveria

    prevalecer sobre a deciso majoritria do Parlamento? Por que as cabeas a serem contadas seriam as de um

    pequeno grupo de juzes e no as dos cidados?

    4. CONSIDERAES FINAIS

    p os s ve l r et r at ar a s p ri nc ip ai s i d ia s d es en vo lv id as n o t ex to p or m ei o d as s eg ui nt es p ro po si es :

    I. O t e m a d a f un o p re s t ac i o n al d o s d i r e it o s f u n d am e n t ai s m o s t ra - s e, c o m o s e v i u, u m f r t i l c a mp o d e

    i n v e s t i g a o p a r a e s t u d o s q u e t e n h a m p o r o b j e t o a s e p a r a o d e p o d e r e s . A p a r t i r d a f u n o p r e s t a c i o n a l

    s u r g e m o b r i g a e s d e f a z e r p a r a o s p o d e r e s p b l i c o s , a s q u a i s , t e n d o c o m o f o n t e a p r p r i a C o n s t i t u i o ,

    tornam-se vinculantes.

    II. A s o b r i g a e s d e f a z e r i m p l i c a d a s p e l a f u n o p r e s t a c i o n a l e n v o l v e m p r e s t a e s m a t e r i a i s , q u e

    c o m p e m , v i a d e r e g r a , a p a u t a d e d e l i b e r a e s p o l t i c o - m a j o r i t r i a s . E m f a c e d a n a t u r e z a p o l t i c a d e s s a s

    d e l i b e r a e s , t o r n a - s e d e l i c a d o d e l i m i t a r o q u e o u n o j u d i c i a l i z v e l , em o b s e r v n c i a s e p a r a o d e

    poderes.

    III. A funo prestacional no exercida de forma exclusiva pelos direitos sociais, como normalmentese afirma. Todo direito tem um custo e demanda mais do que um puro no fazer do Estado; o que expande a

    problemtica da funo prestacional para todos os direitos fundamentais e afasta do estudo da

    m u lt i fu n ci o na l id a de d o s d i re i to s f u nd am e nt a is o e ng e ss am e nt o p r es e nt e n o e s tu do d a s g er a es .

    I V. A p a u t a p o l t i c a , em m a t r i a d e r e a l i z a o d e d i r e i t o s f u n d am e n t a i s , t e m s o f r i d o u m i m p a c t o

    profundo com as constantes interfer ncias do Poder Judiciri o, aferveis hoje em demonstrati vos de riscos

    f i s c a i s e m p e a s o r a m e n t r i a s . A s d e c i s e s j u d i c i a i s , a o t u t e l a r e m d i r e i t o s c o m o a e d u c a o e a s a d e ,

    a l i e n am - s e c o m a j u s t i a d o c a s o c o n cr e t o e v e i c ul a m d e t e r mi n a es a t m e s mo i n e xe q v e i s p a r a o s

    * Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 7357

  • 7/22/2019 Protagonismo Judicial No Trato Dos Direitos Fundamentais

    12/16

    a d m in i s t ra d o re s p b li c o s.

    V . Ai nda que a judi cializao da polti ca no Brasil passe a atender postulados como o da

    proporcionalidade, tal como proposto por Alexy, assumir um protagonismo judicial na criao do direito

    preten der substi tuir decise s polt icas democr ticas por juzos de prefer ncia de uma elit e de operad ores

    t cn i co s d o d i re i to .

    VI. Os esforos empreendidos com teorias que procuram justificar o protagonismo judicial no Brasil

    deveriam, em prol de um resgate do cidado da condio de mero e passivo jurisdicionado, ser substitudos

    pela reflexo sobre como reconectar direito e democracia. Este o desafio, para aqueles que sec om pr om et em c om u m d ir ei to p lu ra l e i nc lu si vo .

    5 . R E F ER N C IA S B I B LI O G R F I C AS

    ACKERMAN, Bruce. A nova separ ao de podere s. T r a d . : I s a b e l l e M a r i a C a m p o s V a s c o n c e l o s e N v i aM n ic a d a S il va . R io d e J an ei ro : L um en J ur is , 2 00 9.

    A LE XY , R ob er t. T e o r a d e l o s d e re c h os f u nd am e nt a le s . Madr id: C entro de est udi os pol ticos yc o n st i t u ci o n a le s , 2 0 0 2.C A NO T IL H O, J . J G o me s. Direito Constitucional e Teoria da Constituio. Coimbra: Almedina, 1993.CARVALHO, Jos Murilo de. Cidadania no Brasil : o l on g o c am i nh o . R i o d eJ a n ei r o : Ci v i l i za o b r a si l e i r a, 2 0 0 2.C IT TA DI NO , G i se l e. Pluralismo, direito e justia distributiva: e l e m en t o s d a f i l o s o f ia c o ns t i tu c i on a lc on te mp or n ea . R io d e J an ei ro : L m en J r i s, 2 00 4.

    C O M A N D U C C I , P a o l o . M o d e l o s e i n t e r p r e t a c i n d e l a C o n s t i t u c i n . I n : C A R B O N E L L , M i g u e l ( o r g . ) .T eo r a d el n eo con s t i t uci o n al i s m o. Madrid: Editorial Trotta, 2007, p. 41-67.

    D W O RK I N . R o n al d . Levando os direitos a srio. Trad.: Nelson Boeira. So Paulo: Martins Fontes, 2002._______. Imprio do Direito. T ra d. d e J ef fe rs on L ui z C am ar go . S o P au lo : M ar ti ns F on te s, 2 00 3._______. The moral reading of the constitution. In: Th e N ew Y or k Re vi ew o f

    Books, de 21 de mar o de 1996, p. 46-50.H A B ER M A S, J r ge n . Facticidad y validez. T r ad . : M . Ji m en e z R e do n do . M ad r id , T r ot t a, 1 99 8 ._______. Teora de la accin comunicativa: R ac io na li da d d e l a a cc i n y r ac io na li za ci n s oc ia l. T ra du o d eManuel Jimnez Redondo Jimnez Redondo.M ad ri d: T au ru s, 2 00 3, t .I .FILGUEIRAS, Fernando. Corrupo, democracia e legitimidade. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008.

    * Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 7358

  • 7/22/2019 Protagonismo Judicial No Trato Dos Direitos Fundamentais

    13/16

    H OL ME S, S te ph en ; S UN ST EI N, C as s. T he c os t o f r ig ht s. C am br i dg e: H ar va rd U ni ve rs it y P re ss , 1 99 9.M E N D E S , G i l m a r F e r r e i r a . Direit os Fundamentai s e Controle de Constitu cionalid ade: estudos de direit oconstitucional. So Paulo: Saraiva, 2004._______; COELHO, Inocncio Mrtires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Cursode Direito Constitucional. So Paulo: Saraiva, 2007.MOREIRA, Eduardo Ribeiro. Neoconstitucionalismo: a i n va s o d a C o ns t it u i o . S o P a ul o : M t o do , 2 00 8SCHFER, Jairo. Classificao dos direitos fundamentais: do sistema geracional ao sistema unitrio. Umaproposta de compreenso. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005.SCH WA BE, Jrgen. C i n q en t a a n o s d e j u r i s p r u d n ci a d o T r i b u n a l C o n s t i t u ci o n a l F ed er a l A l em o .M o n te v i d eo : K o n r ad - A de n a ue r - S ti f t u n g, 2 0 0 5.T AV A RE S , A nd r R a mo s . P r ef ci o . I n .: M O RE I RA , E du a rd o R i be i ro . Neoconstitucionalismo: a invaso daConstituio. So Paulo: Mtodo, 2008.V I AN N A, L ui z W e rn e ck et alli. (org. ) A j ud ic ia li za o d a p ol t ic a e d as r el a e s s oc ia is n o

    Brasil. Rio de Janeiro: E di t or a R ev an , 1 99 9 ( In tr od u o )._______. Caminhos e descaminho s da revoluo passiva brasile ira. Dados, R i o d e J a n e i r o , v . 3 9 , n . 3 ,1 99 6. D i sp on ve l em < ht t p: / /w ww .s ci el o. br /s ci el o. ph p? sc ri pt =s ci _a rt t ex t& pi d= S0 01 1-5 25 8 19 9 60 0 03 0 00 0 4& l ng =e n &n r m= i so >. A ce s so e m 1 5 d e a g os t o d e 2 0 08 .W A LD R O N, J e r em y . A dignidade da legislao. T ra d. : L u s C ar lo s B or ge s. S o

    P au l o: M a rt i ns F on t es , 2 00 3 ._______. Law and Disagreement. O x fo r d: o x fo r d U n iv e rs i ty P r es s , 2 0 01 .W A R AT , L u i s A l b e rt o . Introduo Geral ao Direito II. E p is t em o lo g ia j u r d ic ad a m o d er n i da d e. P or to A le gr e: S er gi o A nt on io F ab ri s, 1 99 4.

    * Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 7359

  • 7/22/2019 Protagonismo Judicial No Trato Dos Direitos Fundamentais

    14/16

    [1]COM ANDUCCI, P ao lo . M od el os e i nt er pr et ac i n d e l a C on st it uc i n. I n: C ARBON EL L, M ig ue l ( or g. ). Teora del neoconstitucionalismo. M a dr i d: E d it o ri a l T r ot t a, 2 00 7 , p . 5 2 .[2] T A VA RE S , A n dr R a mo s . P r ef ci o . I n .: M O RE I RA , E d ua r do R i be i ro . Neoconstitucionalismo: a invas o da Cons tituio. SoP a ul o : M t od o , 2 0 0 8.[3] DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a srio. T r ad .: N el so n B oe ir a . S o P au lo : M ar t in s F on t es , 2 00 2.[4] HABERMAS, Facticidad y validez. T r ad .: M . J im en ez R ed o nd o. M a dr id , T r ot ta , 1 99 8.[5] S o b r e o d e b a t e , c o n f e r i r a l e i t u r a p r e c i s a d e C I T T A D I N O , G i s e l e . Plura lismo , direi to e justi a distr ibutiv a: elementos daf i l os o f ia c o ns t i tu c i on a l c o nt e m po r ne a . R i o d e J a ne i r o: L m en J r is , 2 0 0 4.[6] O J ui z H r cu le s c or re sp on de a u m i de al r eg ul at iv o ( ab st ra o t e ri ca ), p ro po st o p or D wo rk in , i st o , u m j ui z c on tr a f t ic o, u maabs trao terica, que no guarda corres pondncia com qualquer juiz exis tente um juiz imaginrio, de capacidade e pacincias ob r e- h um a na s, q u e a ce i ta o d i re i to c o mo i n te gr i da d e . D WO R KI N , R on a ld . Imprio do Direito. T ra d. d e J ef fe rs on L ui z C am ar go .S o P a ul o: M ar t in s F on t es , 2 00 3 , p . 2 87 .[7] S ob re a i d ia d e se ns o c om um t e ri co , c f. W AR AT , L ui s A lb er to . Introduo Geral ao Direito II. Epistemologia jurdica damodernidade. P o rt o A le gr e : S e rg i o A nt on i o F a br i s, 1 99 4, p . 5 7 -1 00 .[8] Co mo o s p ob r es e s em e du ca o e st ar o r ar a me nt e e m u ma p o si o p as s ve l d e e xp r im i r o s s eu s i n te r es se s p ol ti co s c om g r an dee fe i to , u m l e gi sl a ti v o d em o cr at i ca me n te e l ei to e o e xe cu ti v o m u it a s v ez es s e f a r o d e o u vi do s m ou co s a nt e c ha ma da c on st i tu ci o na l

    para a jus tia dis tributiva, deixando a implementao de qualquer mandato textual de direitos pos itivos s clemncias s ens veis dopoder judicirio (ACKERMAN, Bruce. A nova separao de poderes. T r ad .: I s ab el l e M ar i a C am p os V as co n ce l os e N v i a M ni cad a S il va . R io d e J an ei ro : L um en J ur is , 2 00 9, p . 1 09 ).[9] J E L L I N E C K , G e o r g apud A L E X Y , R o b e r t . T e o r a d e l o s d e r e c h o s f u n d a m e n t a l e s . M a d r i d : C e n t r o d e e s t u d i o s p o l t i c o s yc o ns t it u c io n a le s , 2 0 0 2, p . 2 3 0 .[10] J ELLINECK, Georg apud ALEXY, Robert. O p. c i t., p. 230.[11] J ELLINECK, Georg apud ALEXY, Robert. O p. c i t., p. 231.

    [12] J ELLINECK, Georg apud ALEXY, Robert. O p. c i t., p. 231.[13] J ELLINECK, Georg apud ALEXY, Robert. O p. c i t., p. 231.[14] ALEXY, Robert. T eo r a d e l o s d er e ch os f u nd am en t al es . M a dr i d: C en tr o d e e st u di o s p ol ti co s y c on st i tu ci o na le s, 2 00 2, p . 2 3 1.[15] Cf. MENDES, Gilmar Ferreira. Direitos Fundamentais e controle de constitucionalidade: es tudos de Direito Cons titucional.S o P au lo : S ar ai va , 2 00 4, p . 0 3.[16] M od ul ar e fe it os d e u ma d ec is o p od er d et er mi na r o e sp a o t em po ra l d e s ua e fi c ci a, o q ue n or ma lm en te a tr el ad o a r az e s d es eg u ra n a j ur di c a o u d e e xc ep ci on a l i n te r es se s oc i al . P or e xe mp l o, a r eg r a, e m m at r i a d e c on tr o le a bs tr a to d e c on st i tu ci o na li d ad e, a d e q ue a d ec is o d o S TF t en ha e fe it os e x t un c, i st o , r et ro at iv os d at a d e p ub li ca o d a l ei q ue st io na da . P or m , n os t er mo s d o a rt .2 7, d a L ei 9 .8 68 , o rg o m x im o p od e e st ab el ec er q ue o m om en to d a e fi c ci a s ej a d is ti nt o, i st o , d if er id o o u m es mo r es tr in gi do .[17] M E ND E S, G i lm a r F e rr e ir a . O p. c it ., p. 03.[18] ALEXY, Robert. O p. c it ., p. 435.[19] Cf. ALEXY, Robert. Op. cit ., p. 345; CANOTILHO, J .J Gomes . Direito Constitucional e Teoria da Constituio. Coimbra:

    * Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 7360

  • 7/22/2019 Protagonismo Judicial No Trato Dos Direitos Fundamentais

    15/16

    A lm ed in a, 1 99 3, p . 4 02 .[20] M E ND E S, G i lm a r F e rr e ir a . O p. c it , p. 05.[21] M E ND E S, G i lm a r F e rr e ir a . O p. c it , p. 05.[22] ALEXY, Robert. O p. c it . , p . 1 80 .[23] ALEXY, Robert. O p. c it . , p . 1 80 ; C AN OT IL HO , J .J . G om es . O p. c it ., p. 402.[24] CANOTILHO, Op.cit., p. 427.[25] ALEXY, Robert. O p. c it ., p. 427.[26] C f . S C H F E R , J a i r o . Classificao dos direitos fundamentais: do s is tema geracional ao s is tema unitrio. Uma propos ta dec om pr ee ns o . P or t o A le gr e: L i vr ar i a d o A dv og ad o, 2 0 05 , p . 3 8- 4 0.[27] A do ta -s e, n o p on to , u ma e sc ol ha t er mi no l gi ca q ue r es er va o t em o di r ei to s h um an os a bo rd ag em q ue a ss um e u m p on to d ev i st a p r p r io d o D i re i to I n te r na c io n al , o u p r p r io d e u m a p er s pe c ti v a u n iv e rs al i st a d o s d i re i to s; e o t er m o d ir e it o s f u nd a me n ta i s ,

    a bo rd ag em q ue a ss um e u m p o nt o d e v is ta i n te rn o , c om pr o me ti d o c om d ad a o rd em j ur di ca i nt er n a e r es pe ct i va C on st it u i o .[28] C A RV A LH O , J o s M u ri l o d e . C i da d a ni a n o B r a s il : o l on go c am in ho . R io d e J an ei r o: C i vi li z a o b ra si l ei r a, 2 00 2 , p . 1 1.[29] C A RV A LH O , J o s M u ri l o d e . O p. c it . , p. 11.[30] C A RV A LH O , J o s M u ri l o d e . O p. c it . , p. 11.[31] V I AN N A, L u iz W er n ec k . C am i nh o s e d es ca m in ho s d a r e vo l u o p as si v a b r as i le i ra . Dados, R io d e J an ei ro , v. 3 9, n . 3 , 19 96 .Dis ponvel em . Aces s oem 1 5 d e a go st o d e 2 00 8.[32] H O LM E S, S t ep h en ; S U NS T E IN , C a ss . T he c os t o f r ig ht s. C a mb r i dg e : H a rv a r d U n iv e rs i ty P r es s , 1 9 99 .[33] Tome-s e como exemplo o direito fundamental de ir e vir, reconhecidamente um direito ligado s liberdades individuais . Ao m is s o p u ra d o E s ta d o s i mp l es m en t e i n vi a bi l iz a ri a o e xe r c c io d es se d i re i to , q u e p r es su p e s eg u ra n a p bl i ca e a p ar a to e s ta t al q u eo g ar an ta . S en do , a ss im , p od e- se m es mo a f ir m ar o c us to z er o d es se d ir e it o?[34] Art. 212 A Unio aplicar, anualmente, nunca menos de dezoito, e os Es tados , o Dis trito Federal e os Municpios vinte e

    cinco por cento, no mnimo, da receita res ultante de impos tos , compreendida a proveniente de trans ferncias , na m a nu t en o ed e se n vo l v im e n to d o e n si n o ( g r if o n o ss o ).[35] Ar t. 1 98 , 2 - A U ni o , o s E st ad os , o D is tr it o F ed er al e o s M un ic p io s a pl ic ar o , a nu al me nt e, e m a e s e s er vi o s p bl i co s d esade r ec u rs os m ni m os d er i va do s d a a pl i ca o d e p er ce nt u ai s c al c ul ad o s s ob re [ .. . ] ( g ri f o n o ss o) .[36] Art. 195 A s e gu r i da d e s o ci a l s er financiada por toda a s ociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, medianterecurs os provenientes dos oramentos da Unio, dos Es tados , do Dis trito Federal e dos Municpios e das s eguintes contribuiess o ci a i s [ . . .] ( g r if o n o ss o ).[37] ALEXY, Robert. O p. c it ., p. 494.[38] ALEXY, Robert. O p. c it . , p. 494.[39] O a rg um en to da < >, e xt re ma me nt e i mp or tan te a n li se da p os si bi li da de de r eal iz a o d o s d i re it o sf un da me nt ai s n o a pe na s o s s oc ia is , c om o j s e r es sa lt ou i na ug ur ad o n a f am os a d ec is o n u m er u s c l a us u s ( B VE R FG E 3 3 , 3 0 3,d e 1 8/ 07 /1 97 2) ; e m q ue o T ri bu na l C on st it uc io na l F ed er al A le m o c on sa gr ou o e nt en di me nt o d e q ue e mb or a o d ir ei to d e a ce ss o a o

    e ns in o s up er io r s ej a t ut el ad o n a C on st it ui o, e nc on tr a- se s ob a < >. I st o , a in da h q ue s e e st ab el ec er o q ue oindivduo pode, racionalmente falando, exigir da coletividade. O aces s o irres trito ao ens ino s uperior configura razo prima facie,t e n d o o T r i b u n a l c o n s i d e r a d o c o m o d i r e i t o d e f i n i t i v o d o t i t u l a r o d e h a v e r u m p r o c e s s o s e l e t i v o c o m o p o r t u n i d a d e s s u f i c i e n t e s .C o n c l u i u o T r i b u n a l , e m i m p o r t a n t e l i o , q u e o p e n s a m e n t o d a s p r e t e n s e s s u b j e t i v a s i l i m i t a d a s s c u s t a s d a c o l e t i v i d a d e incompatvel com a idia do Es tado s ocial (SCHWABE, J rgen. Cinqenta anos de jurisprudncia do Tribunal Constitucional

    Federal Alemo. M o nt e vi d eo : K o nr a d -A d en a ue r - St i f tu n g, 2 0 0 5, p . 6 5 6- 6 6 7) .[40] ALEXY, Robert. O p. c it . , p. 495.[41] Q ue st o d e O r de m e m P et i o 2 83 6- 8/ Ri o d e J an ei r o, S T F, R el at o r: M in . C ar l os V el lo so . D J 1 4. 03 . 20 03 .[42] Art. 4 , 3 , da Lei de Res pons abilidade Fis cal (LC 101/2000) A lei de diretrizes oramentrias conter Anexo de Ris cosF i sc a is , o n de s er o a va li ad os o s p a ss i vo s c o nt i ng e nt e s e o u tr o s r i sc o s c ap az es d e a fe ta r as c o nt a s p bl i ca s, i nf or ma nd o a s

    providncias a s erem tomadas , cas o s e concretizem.[43] A i d e n t i f i c a o d e s t e s r i s c o s s e f a z a p a r t i r d o l e v a n t a m e n t o p e l a A d v o c a c i a G e r a l d o E s t a d o d a s a e s q u e t r a m i t a m n a

    jus tia e que podero impactar o Tes ouro Es tadual (LDO/2010, Anexo III, Es tado de Minas Gerais . Dis ponvel em. Ace s s o e m 25 de a gos to de2 00 9, p . 6 ).[44] L DO /2 01 0, A ne xo I I I, E st ad o d e M in as G er ai s. O p. c it ., p. 7.[45] V IA NN A, L ui z W er ne ck [ et a l. ]. A judicializao da poltica e das relaes sociais no Brasil. Rio de J aneiro: Revan, 1999,

    p.260.[46] V IA NN A, L ui z W er ne ck [ et a l. ] . O p. c it . , p.259.[47] O contedo produzido pela ocasio d a audincia pblica da sade encontra-se disponvel em.[48] Sobre es s e as pecto, o Minis tro de Es tado da Sade, J os Gomes Temporo, em s eu dis curs o na audincia pblica da s ade,diante da inafas tabilidade da judicializao da s ade, s ublinhou a neces s idade de ins titucionalizar uma aces s ria tcnica ao PoderJ ud i ci ri o p ar a q u e c on t or n e c om r a ci o na l id a de o s d e sa f io s q u e l h e s o d i re ci o na d os c om a s d e ma n da s d os j ur i sd i ci o na do s e m t o rn o

    * Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 7361

  • 7/22/2019 Protagonismo Judicial No Trato Dos Direitos Fundamentais

    16/16

    do direito sade. Discurso disponvel em.[49] Me sm o q ue u ma c or te c on st it uc io na l e st iv es se d is po st a a l ev ar t ai s g ar an ti as t ex tu ai s a s r io , a os j u ze s f al ta ri a a c ap ac id ad eteraputica de ordenar grandes apropriaes oramentrias neces s rias para trans formar direitos pos itivos em realidades s ociais .

    No final do dia, as garantias cons titucionais de es tado s ocial no mereceriam o papel no qual elas foram es critas (ACKERMAN,Bruce. O p. c it . , p. 109).[50] HABERMAS, J rgen. Between facts and norms: C on tr ib ut io ns t o a d is co ur se t he or y o f l aw a nd d em oc ra cy . 4th p r i nt i n g. T r a ns .W i ll i am R e hg . C a mb r i dg e : M I T , 2 0 01 , p . 35 4 - 35 5 .[51] HABERMAS, J rgen. Op.cit., p .3 5 5.[52] V IA NN A, L ui z W er ne ck [ et a l. ] . O p. c it . , p. 257.[53] FILGUEIRAS, Fernando. C o r ru p o , d e mo c ra c ia e l e gi t i mi d ad e . B el o H or iz on te : E di t or a U FM G, 2 00 8, p .1 69 .

    [54] HABERMAS, J rgen. T e or a d e l a a c ci n c o mu n ic a ti v a: R ac i on al i da d d e l a a cc i n y r a ci o na l iz ac i n s oc i al . Tr ad . : M a nu elJ i m ne z R ed on do , M a dr i d: T au r us , 2 0 03 , t . I, p . 3 70 .

    [55] FILGUEIRAS, Fernando. O p. c i t. , p. 172.[56] N in gu m p ar ec e t er p er ce bi do a n ec es si da de d e u ma t eo ri a o u d e u m t ip o i de al q ue f a a p el a l eg is la o o q ue o j ui z- mo de lo d eR o n a l d D w o r k i n , H r c u l e s , p r e t e n d e f a z e r p e l o r a c i o c n i o a d j u d i c a t r i o [ . . . ] n o a p e n a s n o t e m o s o s m o d e l o s d e l e g i s l a on o r m a t i v o s o u a s p i r a t r i o s d e q u e p r e c i s a m o s , m a s a n o s s a j u r i s p r u d n c i a e s t r e p l e t a d e i m a g e n s q u e a p r e s e n t a m a a t i v i d a d el e g i s la t i v a c o m u m c o m o n e g o c i a t a , t r o c a d e f a vo r es , m a n o b r a s d e a s si s t n c i a m t u a , i n t r i g a p o r i n t e r e s s e s e p r oc e di m en t ose l e i t o r e i r o s n a v e r d a d e , c o m o q u a l q u e r c o i s a , m e n o s d e c i s o p o l t i c a c o m p r i n c p i o s ( W A L D R O N , J e r e m y . A dignid ade dalegislao. T r ad .: L u s C ar l os B or ge s. S o P au l o: M a rt i ns F o nt es , 2 0 03 , p . 2 ) .[57] T he re a r e m a n y o f u s, a n d w e d is ag re e a b o ut j u s ti c e ( WA LD RO N, J e r em y . Law and Disagreement. O xf or d: o xf or dU n iv e rs i t y P r e ss , 2 0 01 , p . 1 ) .[58] D WO RK IN , R on al d. T h e m o ra l r e ad i ng o f t h e c on s ti t ut i on . I n : T he N ew Y or k R ev ie w o f B oo ks , de 2 1 d e m aro de 199 6, p. 46 -

    50.[59] W h e n c i t i z e n s o r t h e i r r e p r e s e nt a t i v e s d i s a g r e e a b o u t w h a t r i g h t s w e h a v e o r a b o u t w h a t t h o s e r i g h t s e n t ai l , i t s e e m ss omething of an ins ult to s ay that this is not s omething they are to be permitted to s ort out by majoritarian proces s es , but that thei ss ue i s t o b e a ss ig ne d i ns te ad f or f in al d et er mi na ti on t o a s ma ll g ro up o f j ud ge s. I t i s p ar ti cu la rl y i ns ul ti ng w he n t he y d is co ve r t ha tt he j ud ge s d is ag re e a mo ng t he ms el ve s a lo ng e xa ct ly t he s am e l in es a s t he c it iz en s a nd r ep re se nt at iv es d o, a nd t ha t t he j ud ge s m ak et he ir d ec is io ns , t oo , i n t he c ou rt ro om b y m aj or it y- vo ti ng . T he c it iz en s m ay w el l f ee l t ha t i f d is ag re em en ts o n t he se m at te rs a re t o b es et tl ed b y c ou nt in g h ea ds , t he n i t i s t he ir h ea ds o r t ho se o f t he ir a cc ou nt ab le r ep re se nt at iv es t ha t s ho ul d b e c ou nt ed ( WA LD RO N,Jeremy. Law and Disagreement. Op. cit., p. 15) .