proposta de reforma da parte geral do cÓdigo penal...

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1 PROPOSTA DE REFORMA DA PARTE GERAL DO CÓDIGO PENAL APRESENTAÇÃO Tendo em vista os debates desenvolvidos no Congresso Nacional sobre a reforma do Código Penal brasileiro, o Instituto Carioca de Criminologia (ICC) dá à publicação proposta de alteração da Parte Geral, elaborada há dezessete anos no ano 2000 por comissão que, dirigida por seu presidente Nilo Batista, contou também com a participação do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCrim). Formaram a comissão, da parte do ICC, além de seu presidente, os professores Juarez Tavares, Heitor Costa Junior e João Mestieri, a juíza Maria Lucia Karam e o advogado Carlos Eduardo Machado, e da parte do IBCCrim, o professor Sergio Salomão Scheicara, o desembargador Márcio Bartoli e o advogado Roberto Podval. A proposta, que, sem dúvida, permanece atual, teve por base o entendimento de que só haverá delito se a conduta incriminada produzir dano socialmente relevante ou perigo concreto a determinado bem jurídico. Em consequência, foram ajustados os fundamentos da responsabilidade penal no campo do injusto, de modo a delimitar o processo de imputação, bem como vincular a culpabilidade às condições reais do sujeito e aos princípios da dignidade humana, da intervenção mínima, da proporcionalidade e dos direitos civis e políticos consagrados nos documentos internacionais de proteção da pessoa, os quais devem servir de elementos de interpretação da lei penal. Nessa linha, cumpre assinalar, principalmente: a) a redefinição dos limites da causalidade, hoje só contemplados em face da proibição do regresso infinito; b) a especificação dos elementos dos crimes dolosos e culposos, tornando mais nítida sua identificação e separação; c) a atualização do estado de necessidade, com a adoção da teoria diferenciadora e, assim, vinculando-o ao critério de valoração do bem jurídico; d) a atualização da definição dos casos de inimputabilidade e das causas que excluem a culpabilidade, afastando-as de preceitos de pura moralidade. Por outro lado, sob a orientação de que os portadores de transtorno mental se encontram incapazes de compreender o verdadeiro significado social da proibição ou determinação da conduta e atendendo aos ditames da reforma antimanicomial

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PROPOSTA DE REFORMA DA PARTE GERAL DO CÓDIGO PENAL

APRESENTAÇÃO

Tendo em vista os debates desenvolvidos no Congresso Nacional sobre a

reforma do Código Penal brasileiro, o Instituto Carioca de Criminologia (ICC) dá à

publicação proposta de alteração da Parte Geral, elaborada há dezessete anos – no

ano 2000 – por comissão que, dirigida por seu presidente Nilo Batista, contou também

com a participação do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCrim). Formaram a

comissão, da parte do ICC, além de seu presidente, os professores Juarez Tavares,

Heitor Costa Junior e João Mestieri, a juíza Maria Lucia Karam e o advogado Carlos

Eduardo Machado, e da parte do IBCCrim, o professor Sergio Salomão Scheicara, o

desembargador Márcio Bartoli e o advogado Roberto Podval.

A proposta, que, sem dúvida, permanece atual, teve por base o entendimento

de que só haverá delito se a conduta incriminada produzir dano socialmente relevante

ou perigo concreto a determinado bem jurídico. Em consequência, foram ajustados os

fundamentos da responsabilidade penal no campo do injusto, de modo a delimitar o

processo de imputação, bem como vincular a culpabilidade às condições reais do

sujeito e aos princípios da dignidade humana, da intervenção mínima, da

proporcionalidade e dos direitos civis e políticos consagrados nos documentos

internacionais de proteção da pessoa, os quais devem servir de elementos de

interpretação da lei penal.

Nessa linha, cumpre assinalar, principalmente: a) a redefinição dos limites da

causalidade, hoje só contemplados em face da proibição do regresso infinito; b) a

especificação dos elementos dos crimes dolosos e culposos, tornando mais nítida sua

identificação e separação; c) a atualização do estado de necessidade, com a adoção da

teoria diferenciadora e, assim, vinculando-o ao critério de valoração do bem jurídico;

d) a atualização da definição dos casos de inimputabilidade e das causas que excluem a

culpabilidade, afastando-as de preceitos de pura moralidade.

Por outro lado, sob a orientação de que os portadores de transtorno mental se

encontram incapazes de compreender o verdadeiro significado social da proibição ou

determinação da conduta e atendendo aos ditames da reforma antimanicomial

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internacional, que viriam a ser posteriormente contemplados no Brasil pela vigente Lei

10.216/2001, a proposta excluiu os inimputáveis do âmbito penal, assim eliminando as

medidas de segurança, cuja imposição consequente ao reconhecimento do injusto por

aqueles praticado nitidamente viola o princípio da culpabilidade. Conforme a proposta,

uma vez afirmada judicialmente a inimputabilidade, competiria ao Ministério Público,

como curador supletivo especial, promover no âmbito civil as medidas eventualmente

necessárias ao tratamento do sujeito.

Sob a perspectiva do princípio da intervenção mínima, procedeu-se à

reformulação das normas de concurso de crimes, primeiramente, com a

regulamentação do concurso aparente de normas e, depois, com a unificação dos

concursos material e formal e a adoção para ambos do critério da exasperação.

Também se procedeu à reforma do tratamento do crime continuado, com a instituição

da teoria subjetiva e da pena unificada.

Acolhendo posicionamento já acentuado pela doutrina latino-americana, foram

reformulados ainda os parâmetros de individualização da pena, com a supressão de

preceitos relativos ao direito penal de autor. De conformidade com tal

posicionamento, a pena não poderá ter por base a personalidade e a conduta social do

agente. Neste campo, destaca-se, primariamente, o fim da figura da reincidência, cuja

repercussão sobre a pena aplicável viola, nitidamente, dentre outros princípios e

garantias fundamentais, a vedação de dupla punição pelo mesmo fato (ne bis in idem).

Por seu turno, no concurso de agravantes e atenuantes, ou de causas de

especial aumento ou diminuição de pena, estabeleceu-se, como regra, sua

compensação, estabelecendo-se ainda que a pena se aproxime da causa que mais

atenue e mais diminua.

Ainda no campo das sanções, vale mencionar a ênfase dada às penas restritivas

de direitos, que não mais funcionariam como meros substitutivos da pena privativa de

liberdade, mas, sim, como penas a serem cominadas autonomamente em uma

necessária modificação da Parte Especial, esforço que, no entanto, a referida comissão

não chegou a enfrentar.

Pretende-se, com essa publicação, apresentar à comunidade jurídica brasileira

outra visão da matéria penal, uma alternativa de lei voltada para a proteção do sujeito,

cujos temas e soluções deveriam ser objeto de apreciação por nossos congressistas.

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PARTE GERAL

TÍTULO I

DA APLICAÇÃO DA LEI PENAL

Anterioridade da lei penal

Art. 1º. Não há crime sem lei estrita anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal. § 1º. Não há crime sem dano socialmente relevante ou perigo concreto a um determinado bem jurídico. Não há pena sem a demonstração de sua necessidade. § 2º. Na interpretação da lei penal devem ser atendidos os princípios de proteção da dignidade da pessoa humana, de proporcionalidade, de intervenção mínima e outros decorrentes do Estado Democrático de Direito, assim como dos documentos internacionais de proteção dos direitos humanos, ratificados pelo Brasil. É vedado o recurso à analogia para definir, agravar ou qualificar crime, ou impor pena.

Lei penal no tempo

Art. 2º. Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixe de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. § 1º. A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado. § 2º. Podem ser combinados dispositivos de leis conflitantes no tempo, desde que essa combinação seja concretamente mais favorável ao agente.

Tempo do crime

Art. 3º. Considera-se praticado o crime no momento da ação ou da omissão, ainda que outro seja o momento do resultado.

Lugar do crime

Art. 4º. Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria objetivamente produzir-se o resultado. Territorialidade

Art. 5º. Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional, ou a bordo de embarcações ou aeronaves brasileiras.

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Extraterritorialidade incondicionada

Art. 6º. Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no exterior, os crimes: I - contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; II – contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista ou fundação instituída pelo Poder Público; III - contra a administração pública, por quem está a seu serviço; IV - de genocídio, tortura ou racismo, quando o agente se encontrar em local sob jurisdição brasileira. Parágrafo único – O agente é julgado no Brasil ainda que condenado ou absolvido no exterior, quando não homologada a respectiva sentença estrangeira. Extraterritorialidade condicionada

Art. 7º. Aplica-se a lei brasileira aos crimes cometidos no exterior: I - que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; II – praticados por ou contra brasileiro. Restrições à aplicação da lei brasileira

Art. 8º. Salvo nos casos do art. 6º e de crime cometido a bordo de embarcações ou aeronaves de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro, a aplicação da lei brasileira aos crimes praticados no exterior fica sujeita às seguintes condições: I - entrar o agente no território nacional; II - ser o fato punível também no país em que foi praticado; III - estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição; IV - não ter sido o agente julgado no exterior, ou houver se subtraído ao cumprimento da condenação; V – não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável. Parágrafo único - Embora aplicável a lei brasileira, o crime será julgado segundo a lei estrangeira, quando essa concretamente seja mais favorável ao agente. Pena cumprida no exterior

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Art. 9º. A pena cumprida no exterior pelo mesmo fato atenua a pena imposta no Brasil, quando de natureza diversa, ou nela é computada, quando idênticas. Eficácia de sentença penal estrangeira

Art. 10. A sentença penal estrangeira pode ser homologada para produzir efeitos declaratórios específicos, quando não contradiga preceito de direito fundamental ou os termos da lei brasileira. Parágrafo único – A pedido da parte interessada, a sentença penal estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produza na espécie as mesmas consequências, pode ser homologada para obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições ou a outros efeitos civis. Execução à distância

Art. 11. As penas impostas no Brasil ou no exterior podem ser executadas no respectivo país de cuja autoridade emanou a sentença penal, observada a lei mais favorável ao condenado. Parágrafo único – A execução depende: I - da existência de tratado entre o Brasil e o país do qual emanou a sentença ou onde irá ser executada a pena; II - de compatibilidade entre a lei brasileira e a lei estrangeira; III - de homologação pelo Tribunal competente. Restrições à extradição

Art. 12. Sem prejuízo de outras restrições, não pode ser concedida a extradição de nacional, nem de asilado, ou de estrangeiro no caso de crimes políticos, religiosos, de opinião ou propriamente militares, ou daqueles cuja pena seja vedada no Brasil. Contagem de prazo

Art. 13. O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias, os meses e os anos pelo calendário comum. Frações desprezíveis da pena

Art. 14. Desprezam-se nas penas privativa de liberdade, privativas ou restritivas de outros direitos e pecuniárias as frações de dia e as da unidade monetária legal. Legislação especial

Art. 15. As regras gerais deste Código aplicam-se aos fatos que venham a ser incriminados por lei especial, se esta não dispuser de forma mais favorável.

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TÍTULO II

DO CRIME

CAPÍTULO I

DOS PRESSUPOSTOS DE PUNIBILIDADE

Relação de causalidade

Art. 16. O resultado, de que dependa a existência do crime, só é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação sem a qual o resultado não teria ocorrido. § 1º. A superveniência de causalidade relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, tenha produzido o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou. § 2º. A imputação é também excluída quando o resultado se situe nos limites normais e socialmente aceitáveis de risco, ou quando decorra de desvio causal tipicamente inadequado, ou quando o agente, com sua atuação, não tenha incrementado ou tenha diminuído o risco de sua produção. Igualmente, não haverá imputação por resultado desvinculado da atuação antijurídica anterior. Omissão de evitar um resultado

Art. 17. A omissão de impedir o resultado de um tipo legal de crime só é imputável a quem pode e deve concretamente evitá-lo, de modo que a violação do respectivo dever jurídico seja equivalente à sua produção por ação. § 1º. O dever de impedir o resultado só é imposto a quem: I - por determinação de lei ou de contrato, é obrigado a cuidado, proteção ou vigilância; II - por relações familiares, ou por qualquer outra forma, aceite exercer inequivocamente a proteção do bem jurídico; III - por deter a responsabilidade sobre fontes produtoras de risco, ou por haver praticado uma conduta precedente contrária ao dever e causadora do perigo da produção do resultado, seja obrigado a atuar imediatamente para evitar a lesão do bem jurídico. § 2º Salvo nos casos expressamente previstos na lei, a produção do resultado pertencente ao tipo legal de crime só é punível quando realizada por ação. Art. 18. Diz-se o crime:

Crime consumado

I – consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal.

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Crime tentado

II – tentado, quando, de acordo com o plano condutor da atividade e concretamente iniciada a execução da ação típica, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. Parágrafo único – A tentativa só é punível nos casos expressamente previstos em lei e com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços, podendo o juiz, conforme o caso, aplicar pena menos grave. Desistência voluntária e arrependimento eficaz

Art. 19. O agente que desiste, voluntariamente, de prosseguir na execução ou impede que o resultado se produza, só responde pelos atos já praticados. Parágrafo único – Aplica-se a regra deste artigo ao agente que tenha concretamente se esforçado para impedir a execução ou a consumação do crime, ainda que esse se execute ou se consume por ação de concorrente ou de outrem. Crime impossível

Art. 20. Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime. Parágrafo único – A tentativa é igualmente impunível se, em face da atuação instigadora da autoridade ou da montagem de algum aparato eficaz de vigilância, da consumação não puder resultar qualquer lesão ao bem jurídico. Crime doloso e culposo

Art. 21. O crime só é punível quando praticado com dolo, ou, nos casos expressamente previstos na lei, com culpa, não se admitindo responsabilidade objetiva. Crime doloso

§ 1º. O crime é doloso, quando: I – o agente representa todos os elementos pertencentes ao tipo legal de crime e atua com a intenção de o realizar; II – o agente atua com a intenção de realizar determinado resultado, nele incluindo os elementos pertencentes ao tipo legal de crime como consequência necessária de sua conduta; III – o agente representa os elementos de um tipo legal de crime como consequência provável de sua conduta e, diante das circunstâncias, atua conformando-se com sua realização. Crime culposo

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§ 2º. O crime é culposo quando o agente, com violação do dever de cuidado objetivo ao qual estava obrigado segundo as circunstâncias, realiza o tipo legal concretamente evitável, representando-o ou podendo representá-lo pessoalmente como possível. Fundamentos e limites de punibilidade

Art. 22. A punibilidade de uma conduta depende da realização de todos os seus pressupostos estabelecidos em lei estrita e somente é imputável a uma pessoa natural. A pena não pode ultrapassar a medida da culpabilidade, sendo vedada qualquer agravação que decorra da personalidade ou da conduta de vida do agente. Parágrafo único - Pelo resultado que qualifica o crime ou agrava a pena, só responde o agente que o houver realizado pelo menos culposamente. Causas legitimantes da conduta

Art. 23. Atua licitamente quem realiza o fato: I – em estado de necessidade; II – em legítima defesa; III – em estrito cumprimento de um dever legal ou no exercício regular de um direito; IV – com o consentimento ou no interesse do titular do bem jurídico. Excesso punível

§ 1º. Em qualquer das hipóteses deste artigo, o agente responderá pelo excesso doloso ou culposo. Se o excesso for doloso, a pena poderá ser atenuada; se culposo, será aplicada a regra do parágrafo único do artigo 28. Excesso exculpante

§ 2º. Não é punível o excesso, quando resulta de medo, perturbação de ânimo ou confusão determinada pelas circunstâncias. Estado de necessidade

Art. 24. Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, desde que igual ou superior ao direito sacrificado. Parágrafo único - Se o agente tinha o dever legal de arrostar o perigo, só pode alegar estado de necessidade se não lhe era razoável exigir-se o sacrifício do direito pessoal. Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena pode ser reduzida de um a dois terços. Legítima defesa

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Art. 25. Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem. Parágrafo único - Salvo no caso de extrema necessidade, não é reconhecível a legítima defesa quando o direito ameaçado é absolutamente desproporcional ao direito agredido, ou quando o agente tenha, de modo reprovável, provocado a agressão. Consentimento do ofendido

Art. 26. Além dos casos expressamente previstos, atua com consentimento quem realiza o fato sob autorização expressa ou tácita do titular do bem jurídico de que possa dispor.

§ 1º. O consentimento só produz efeitos se é prestado por pessoa maior de 12 (doze) anos, que pode discernir sobre seu sentido e extensão.

§ 2º. Ao consentimento real é equiparável o consentimento presumido, quando se pode objetivamente supor que o titular do bem jurídico teria consentido na atuação do agente, se tivesse conhecimento das circunstâncias do fato. Erro sobre os elementos do tipo

Art. 27. O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas não interfere na punição por crime culposo, se previsto em lei. Erro sobre causas legitimantes

Art. 28. Atua sem culpabilidade o agente que, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação fática ou jurídica que, se existisse, tornaria a ação legítima. Parágrafo único - Se o erro é evitável, o fato é punível com a pena prevista para o crime culposo correspondente, podendo o juiz diminuí-la de um a dois terços ou deixar de aplicá-la, em razão das dificuldades experimentadas pelo agente quanto ao conhecimento das circunstâncias fáticas ou jurídicas (art. 29, § 3º). Erro sobre a proibição

Art. 29. Atua sem culpabilidade o agente que, por erro inevitável acerca da existência, do conteúdo ou dos elementos integrantes da proibição de sua conduta, supõe atuar licitamente. § 1º. Se o erro é evitável, a pena será diminuída de um a dois terços, podendo o juiz deixar de aplicá-la, verificadas as condições referidas no parágrafo único do artigo 28. § 2º. O erro do agente acerca dos elementos que agravem ou qualifiquem um crime impede a aplicação da agravante ou qualificadora. § 3º. Na avaliação da evitabilidade do erro deve o juiz ponderar as circunstâncias pessoais do agente e as dificuldades reais de compreensão da proibição.

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Erro determinado por terceiro

Art. 30. Responde pelo crime terceiro que determina o erro. Causas de exculpação

Art. 31. A culpabilidade será excluída quando: I – em razão das circunstâncias, não for pessoalmente exigível ao agente conduta diversa ou, no caso do artigo 24, o sacrifício do direito ameaçado, ainda que inferior ao direito sacrificado; II – o agente realizar o fato sob o efeito de coação moral a que não podia pessoalmente resistir, ou em estrita obediência a ordem aparentemente legal de superior hierárquico; nesses casos, é punível o autor da coação ou da ordem; III - em razão de arraigada crença religiosa, convicção filosófica ou formação cultural, resultar impossível para o agente motivar-se de acordo com a norma; IV – as circunstâncias do fato indicarem que a reprovação do agente é desnecessária, porque a proteção do bem jurídico pôde ser suficientemente obtida através de meio menos gravoso. Inimputabilidade

Art. 32. É isento de pena o agente que, por grave transtorno mental, ou deficiência ou incompletude de desenvolvimento, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter criminoso do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Caso especial de inimputabilidade

§ 1º. É ainda isento de pena quem, em virtude de uma grave anomalia psíquica, cujos efeitos não domina, tenha, ao tempo da ação ou da omissão, acentuada diminuição da capacidade de entender o caráter criminoso do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento, de modo que resulte impossível ou incerta a avaliação dessa capacidade. Aplicabilidade da legislação especial

§ 2º. Declarada a inimputabilidade, o Ministério Público, na qualidade de curador especial supletivo, procederá, junto ao juízo cível, na forma da legislação especial. Imputabilidade diminuída

§ 3º. A pena será reduzida de um a dois terços, se o agente, apesar do transtorno mental, ou deficiência ou incompletude de desenvolvimento, podia, ao tempo da ação ou da omissão, entender parcialmente o caráter criminoso do fato ou parcialmente determinar-se de acordo com esse entendimento. Caso o agente necessite de tratamento especial, a pena será suspensa na forma do art. 51.

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Inimputabilidade por imaturidade

Art. 33. Os menores de 18 anos são inimputáveis, ficando sujeitos unicamente às normas da legislação especial.

CAPÍTULO II

DO CONCURSO DE AGENTES

Autoria

Art. 33 É autor quem executa diretamente o crime, controla sua execução ou determina dolosamente que outrem o execute. É igualmente autor quem divide com outrem a execução de crime doloso, de modo que esse constitua necessariamente um produto comunitário. Atuação em nome de outrem

Parágrafo único – Considera-se autor quem atua como titular de órgão de pessoa jurídica, associação ou sociedade de fato, ou como representante legal ou voluntário de outrem, ainda que o tipo legal de crime exija determinados elementos que só se verifiquem na pessoa do representado, ou subordine sua execução a interesse pessoal do agente, embora esse atue no interesse daquele. Instigação e cumplicidade

Art. 34. São partícipes o instigador e o cúmplice. § 1º. É instigador quem dolosamente induz outrem a executar um crime doloso. § 2º. É cúmplice quem dolosamente presta a outrem auxílio material para a execução de um crime doloso. Punibilidade do concurso de agentes

Art. 35. Cada autor ou partícipe será punido com as penas cominadas ao delito, segundo o grau de sua cooperação e sua própria culpabilidade, diminuindo-se a pena dos cúmplices de um a dois terços. Se o agente quis participar de crime menos grave, será punido com a pena deste. § 1º. Salvo no caso do artigo 17, §1º, ou de outra disposição em contrário, se a realização do tipo legal de crime depender de certas qualidades ou relações especiais do autor, essas serão estendidas a todos os partícipes que delas tenham conhecimento. A pena do partícipe não qualificado poderá ser atenuada. § 2º. A participação, em qualquer de suas formas, é impunível se o crime não chega pelo menos a ser tentado. São impuníveis, respectivamente, a instigação inócua, e a cumplicidade, se o crime é executado pelo autor sem a utilização do recurso material que lhe tenha sido prestado.

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CAPÍTULO III

DO CONCURSO DE CRIMES

Concurso aparente de crimes

Art. 36. Salvo nos casos expressamente previstos, o fato constitutivo de um tipo legal de crime que é etapa ou meio necessário de realização de outro, ou se inclua de qualquer forma no âmbito de sua realização típica, de modo que a proibição desse também compreenda a daquele, será absorvido pelo crime que depende de sua execução ou que lhe é abrangente. Parágrafo único – Se o fato constitutivo de um tipo legal de crime é previsto igualmente em outro que lhe acrescenta elementos especiais, somente é aplicável a disposição deste. Crime continuado

Art. 37. Há crime continuado, quando o agente, mediante duas ou mais ações ou omissões, pratica dois ou mais crimes idênticos ou que ofendam o mesmo bem jurídico, de modo que, pelas condições homogêneas de tempo, lugar, meio e maneira de execução ou outras semelhantes, e atendendo à finalidade das condutas, se possa considerar que os subsequentes são continuação do primeiro. Nesse caso, é aplicada a pena do crime mais grave, se diversas, ou qualquer delas, se idênticas. Parágrafo único – Nos crimes dolosos, praticados com violência ou grave ameaça a pessoas diversas, a pena é aumentada de um a dois terços. Concurso real de crimes

Art. 38. Quando o agente, mediante uma ou várias ações ou omissões, pratica dois ou mais crimes, lhe é aplicada a pena mais grave, se diversas, ou qualquer delas, se idênticas, aumentada em ambos os casos de um a dois terços. Atendendo à gravidade dos crimes praticados e à culpabilidade do agente, a pena pode ser aumentada até o dobro, não podendo, porém, ser superior àquela que resultaria da soma das penas de cada um dos crimes. § 1º. Se as penas previstas para os respectivos crimes do concurso forem de natureza diversa, cada uma delas será aplicada separadamente. § 2º. A regra deste artigo é também aplicada no caso de haver o agente praticado qualquer outro crime anteriormente à sentença condenatória transitada em julgado, mas antes de ser a pena cumprida ou declarada extinta. Erro quanto à pessoa

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Art. 39. O erro quanto à pessoa não isenta de pena. Neste caso,não se consideram as condições e as qualidades do ofendido, senão da pessoa contra quem o agente quis praticar o crime. Erro na execução

Art. 40. Quando por acidente ou erro no uso dos meios de execução do crime, o agente, ao invés de atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa, sendo-lhe esse resultado pessoalmente previsível, responde, respectivamente, por crime doloso tentado e crime culposo; se, verificadas as mesmas condições, é também atingida a pessoa que o agente pretendia ofender, responde por crime doloso consumado e crime culposo. Na aplicação da pena, deve ser observada, em ambos os casos, a regra do artigo 38. Parágrafo único – Se a previsão do resultado que atinge pessoa diversa daquela que se pretendia ofender se der nas circunstâncias previstas no nº III do § 1º do artigo 21, o agente responde por dois crimes dolosos, aplicável a regra do artigo 38. Erro quanto ao objeto

Art. 41. Aplicam-se as mesmas regras do artigo 40 e seu parágrafo único, quando o agente, por acidente ou erro no uso dos meios de execução do crime, ao invés de realizar determinado resultado, alcança objeto essencialmente diverso. TÍTULO III

DAS PENAS

CAPÍTULO I

ESPÉCIES E FORMAS DE EXECUÇÃO DAS PENAS

Espécies de penas

Art. 43. As penas são: I – privativa de liberdade; II – restritivas de direitos; III – pecuniárias SEÇÃO I

DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE Execução da pena privativa de liberdade

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Art. 44. O condenado à pena privativa de liberdade conserva todos os direitos não atingidos pela perda da liberdade, estabelecendo a Lei de Execução Penal seus deveres e direitos específicos, as infrações disciplinares e respectivas sanções, bem como o procedimento a essas concernente. Regimes de cumprimento da pena privativa de liberdade

Art. 45. A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva, segundo o mérito do condenado, observados os seguintes regimes para seu cumprimento: I – regime fechado, no qual a execução da pena privativa de liberdade, fundada no encarceramento em tempo integral, far-se-á em estabelecimento penal de segurança máxima; II – regime semi-aberto, no qual a execução da pena privativa de liberdade, fundada na combinação entre o encarceramento e a realização de atividades externas, far-se-á em estabelecimento penal de segurança média; III – regime aberto, no qual a execução da pena privativa de liberdade, fundada na autodisciplina e senso de responsabilidade do condenado, far-se-á em casa de albergado ou no domicílio do condenado. Regimes iniciais de cumprimento da pena privativa de liberdade

Art. 46. O regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade será fixado de acordo com os critérios de necessidade e suficiência, estabelecidos no artigo 81. § 1º. O regime inicial fechado somente poderá ser fixado quando a pena imposta for superior a 10 (dez) anos de prisão, observada a detração (art. 80). § 2º. O condenado a pena igual ou inferior a 6 (seis) anos de prisão, observada a detração (art.80), deverá cumpri-la, desde o início da execução, em regime aberto. Regras dos regimes de cumprimento da pena privativa de liberdade

Art. 47. Os regimes de cumprimento da pena privativa de liberdade têm suas regras especificadas na Lei de Execução Penal, observadas: I – no regime fechado, a previsão de saída, em casos de justificada necessidade, com vigilância direta; II – no regime semi-aberto, a previsão de saídas periódicas, sem vigilância, para a realização de atividades destinadas a preparar o condenado para a vida em liberdade; III – no regime aberto, a previsão de recolhimento à casa de albergado ou ao domicílio à noite e em dias de folga. Progressão de regime

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Art. 48. A transferência para regime menos rigoroso far-se-á após o cumprimento de um sexto da pena no regime anterior, observados o mérito do condenado e os critérios estabelecidos na Lei de Execução Penal. Regressão de regime

Art. 49. A transferência para regime mais rigoroso somente se fará, caso demonstrada sua necessidade, se o condenado, deixando de cumprir as regras estabelecidas na Lei de Execução Penal para o regime em que cumpre a pena, frustrar os fins da execução. Alteração na execução da pena privativa de liberdade em razão de insuficiência de vagas

Art. 50. Não havendo vaga em estabelecimento penal destinado ao cumprimento da pena privativa de liberdade no regime inicial ou decorrente da progressão, a pena será cumprida em prisão domiciliar, enquanto persistir a insuficiência de vagas, observadas, quanto às saídas, as regras do regime correspondente e computado o tempo assim cumprido para todos os fins concernentes à execução. Parágrafo único. O número de presos em cada estabelecimento penal não poderá ultrapassar o número de vagas determinado de acordo com as diretrizes da Lei de Execução Penal. Alteração na execução da pena privativa de liberdade em razão de condições de saúde do condenado

Art. 51. Se, ao início ou no curso da execução da pena privativa de liberdade, o condenado for acometido de transtorno mental ou de grave enfermidade física, a pena será cumprida em prisão domiciliar ou, quando necessário ao tratamento médico adequado, em estabelecimento hospitalar, público ou privado. Parágrafo único. Sobrevindo a cura, voltará o condenado a cumprir o restante da pena no estabelecimento penal correspondente, computado o tempo cumprido em prisão domiciliar ou estabelecimento hospitalar para todos os fins concernentes à execução. Alteração na execução da pena privativa de liberdade em razão de gravidez ou parto

Art. 52. Se, ao início da execução, a condenada estiver grávida ou tiver tido parto recente, a pena privativa de liberdade será cumprida em prisão domiciliar, durante toda a gravidez e até que a criança complete um ano de idade. § 1º. Ocorrendo gravidez no curso da execução, a pena privativa de liberdade será igualmente cumprida em prisão domiciliar, pelo mesmo período estabelecido no caput deste artigo. § 2º. Findo o período estabelecido no caput deste artigo ou, se em seu curso, ocorrer perda do feto, morte da criança, ou sua entrega a cuidados de terceiro, a condenada voltará a cumprir o restante da pena no estabelecimento penal correspondente, computado o tempo cumprido em prisão domiciliar para todos os fins concernentes à execução.

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Livramento condicional

Art. 53. O livramento condicional será concedido quando, cumpridos mais de um terço da pena privativa de liberdade, o comportamento do condenado, durante a execução, indicar a desnecessidade da privação da liberdade. Regras de comportamento do condenado em livramento condicional

Art. 54. Durante o livramento condicional, que se estenderá pelo período restante da pena privativa de liberdade a ser cumprida, deverá o condenado observar as regras de comportamento fixadas na decisão que o conceder, entre aquelas previstas na Lei de Execução Penal. Revogação do livramento condicional

Art. 55. Revoga-se o livramento condicional: I - se o liberado for condenado, por sentença ou acórdão transitados em julgado, a pena privativa de liberdade por crime cometido durante sua vigência, hipótese em que o livramento condicional poderá ser novamente concedido quando atingida a metade do tempo de cumprimento da nova pena, uma vez acrescida ao restante da pena anterior; II – se o liberado for condenado, por sentença ou acórdão transitados em julgado, a pena privativa de liberdade por crime cometido antes de sua vigência, e a nova pena, somada ao restante do tempo da pena anterior, não ultrapassar o limite de um terço estabelecido para a concessão do livramento condicional, hipótese em que esse poderá ser novamente concedido quando atingido aquele limite; III – se o liberado for condenado, por sentença ou acórdão transitados em julgado, a pena que não seja privativa de liberdade, por crime cometido durante sua vigência, hipótese em que o livramento condicional poderá ser novamente concedido quando decorrido um terço do tempo restante da pena privativa de liberdade a ser cumprido; IV – se o liberado descumprir, injustificadamente, as regras de comportamento estabelecidas na decisão concessiva do livramento condicional, hipótese em que esse poderá ser novamente concedido quando decorrido um terço do tempo restante da pena privativa de liberdade a ser cumprida. § 1º. Em qualquer hipótese, o tempo em que o liberado esteve em gozo do livramento será computado como de cumprimento efetivo da pena privativa de liberdade. § 2º. O restante do tempo da pena privativa de liberdade será cumprido em regime aberto, exceto se, nas hipóteses dos incisos I e II, for fixado outro regime para o cumprimento da nova pena privativa de liberdade. Efeito do cumprimento do livramento condicional

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Art. 56. O término do período restante da pena privativa de liberdade, cumprido em livramento condicional, implicará a extinção da execução da pena. A existência de outro processo em curso em que o liberado figure como réu não terá qualquer repercussão sobre esse período. Suspensão condicional da execução da pena privativa de liberdade

Art. 57. A execução da pena privativa de liberdade, não superior a 4 (quatro) anos, será suspensa, por um período de prova de 1 (um) a 5 (cinco) anos, desde que as circunstâncias consideradas em sua fixação indiquem a adequação e suficiência da medida para a necessidade de punição, devendo o condenado, durante aquele período, cumprir as obrigações e regras de comportamento fixadas na sentença ou no acórdão condenatórios, entre as a seguir enumeradas. Obrigações do condenado

§ 1º. A suspensão condicional da execução da pena privativa de liberdade poderá ser condicionada ao pagamento possível, no todo ou em parte, ou garantia de pagamento por meio de caução idônea, da soma devida a título de ressarcimento do dano diretamente resultante do crime. Regras de comportamento

§ 2º. A suspensão condicional da execução da pena privativa de liberdade poderá ser condicionada: I – à apresentação periódica do condenado em Juízo, para informar sobre suas atividades; II – à imediata comunicação ao Juízo sobre qualquer mudança de residência; III – à prévia autorização do Juízo, para viagens por período superior a uma semana; IV – à proibição de frequência a determinados lugares. Descumprimento das condições da suspensão da execução da pena privativa de liberdade

Art. 58. Se, durante o período de prova, o condenado descumprir qualquer das condições impostas para a suspensão da execução da pena privativa de liberdade, poderá o juiz: I – advertir o condenado em audiência; II – exigir garantias de cumprimento das condições impostas; III – impor novas regras de comportamento, entre aquelas previstas no artigo anterior; IV – prorrogar o período de prova até a metade do prazo inicialmente fixado.

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Revogação da suspensão condicional da execução da pena privativa de liberdade

Art. 59. A suspensão condicional da execução da pena privativa de liberdade será revogada: I - se o beneficiário for condenado, por sentença ou acórdão transitados em julgado, a pena privativa de liberdade por crime cometido durante o período de prova; II – se o beneficiário for condenado, por sentença ou acórdão transitados em julgado, a pena privativa de liberdade por crime cometido antes do início do período de prova e a execução da nova pena não tiver sido suspensa. § 1º. Na hipótese do inciso I, se o beneficiário tiver sido condenado a pena privativa de liberdade, cuja execução tenha sido condicionalmente suspensa, o início do novo período de prova ficará postergado até a extinção da pena, cuja suspensão for revogada. § 2º. Na hipótese em que sobrevier condenação a pena não privativa de liberdade, por crime cometido durante a vigência do livramento, o juiz poderá prorrogar o período de prova até o fim do cumprimento da nova pena, instituir novas condições ou revogar o benefício, conforme as circunstâncias em que o crime fora praticado. § 3º. Na hipótese de condenação por crime cometido antes do início do período de prova, a pena privativa de liberdade cuja execução tenha sido suspensa, o tempo do novo período de prova somar-se-á ao restante do tempo do período de prova em curso. § 4º. Na execução da pena privativa de liberdade cuja suspensão for revogada será descontado tempo proporcional ao do período de prova decorrido até a revogação. § 5º. O restante do tempo da pena privativa de liberdade cuja suspensão for revogada será cumprido em regime aberto, exceto se, nas hipóteses de nova condenação a pena privativa de liberdade, for fixado outro regime para o cumprimento da nova pena. Cumprimento das condições da suspensão da execução da pena privativa de liberdade

Art. 60. O término do período de prova implicará a extinção da execução da pena. A existência de outro processo em curso em que o beneficiário da suspensão figure como réu ou a ocorrência de condenação por crime cometido antes do início do período de prova a pena não privativa de liberdade não terá qualquer repercussão sobre esse período. Parágrafo único. Completado o período de prova, sua prorrogação não poderá mais ser determinada.

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SEÇÃO II

DAS PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS Espécies de penas

Art. 61. As penas restritivas de direitos são: I – prestação social de serviços; II – interdição ou suspensão do exercício de funções públicas; III – interdição ou suspensão do exercício de profissão, atividade ou ofício; IV – interdição ou suspensão de autorização ou habilitação para dirigir veículo; V – interdição ou suspensão do exercício de atividade empresarial; VI – incapacidade de contratar com a Administração Pública; VII – interdição ou suspensão do exercício do pátrio poder, tutela, curatela ou guarda; VIII – exílio local; IX – limitação de fim de semana; X – admoestação. Prestação social de serviços

Art. 62. A pena de prestação social de serviços consiste na realização de tarefas gratuitas pelo condenado, conforme suas aptidões, em programas comunitários ou estatais, a entidades públicas ou privadas, credenciadas junto ao juízo da execução, cujos fins, não lucrativos, sejam de interesse da comunidade. § 1º. A prestação de serviços, em um total de 8 (oito) horas semanais, deverá ser cumprida de modo que não prejudique a jornada normal de trabalho do condenado, podendo realizar-se em dias úteis, sábados, domingos ou feriados, na forma determinada pelo juízo da execução. § 2º. Se, ao início ou no curso da execução da pena de prestação social de serviços, o condenado for acometido de transtorno mental ou de grave enfermidade física, a execução ficará suspensa, iniciando-se ou retomando-se seu curso quando sobrevier a cura, se não tiver ocorrido prescrição da pretensão executória (art. 114). § 3º. A execução da pena de prestação social de serviços também será suspensa se o condenado tiver que cumprir condenação a pena privativa de liberdade, em regime fechado ou semi-aberto, ou se lhe for imposta prisão provisória, iniciando-se ou

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retomando-se seu curso assim que ocorrer a soltura ou a transferência para regime aberto. § 4º. Ocorrendo descumprimento injustificado da pena de prestação social de serviços, o condenado ficará sujeito, alternativa ou cumulativamente, às seguintes medidas: I – advertência; II – condução coercitiva à entidade onde deve prestar os serviços; III – elevação do tempo de prestação dos serviços para até 12 (doze) horas semanais. Interdição ou suspensão do exercício de funções públicas

Art. 63. A pena de interdição ou suspensão do exercício de funções públicas impede o condenado de exercer, durante sua execução, cargo, função ou qualquer outra atividade pública, inclusive mandato eletivo, ou de habilitar-se ao seu exercício. Parágrafo único. A interdição ou a suspensão poderá ser plena ou parcial. A interdição plena recairá sobre todo e qualquer cargo, função ou atividade públicos. A interdição parcial, recaindo sobre cargo, função ou atividade determinados, não impede a habilitação ou a nomeação do condenado para cargo, função ou atividade que possam ser exercidos sem as condições de dignidade e confiança exigidos pelo cargo, função ou atividade cujo exercício foi vedado. Ao descumprimento da interdição ou suspensão do exercício de funções públicas se aplicam as regras dos incisos I e II do parágrafo único do art. 66. Interdição ou suspensão do exercício de profissão, atividade ou ofício

Art. 64. A pena de interdição ou suspensão do exercício de profissão, atividade ou ofício impede o condenado de exercer, durante sua execução, profissão, atividade ou ofício determinados que dependam de licença ou autorização do poder público, ou de habilitar-se ao seu exercício. Parágrafo único. Ocorrendo descumprimento da restrição aplicada o condenado ficará sujeito, alternativa ou cumulativamente, às seguintes medidas: I – advertência; II – pagamento de multa diária, em valor estabelecido entre 1/30 (um trigésimo) e 1 (um) salário mínimo mensal vigente ao tempo de sua fixação, até que cesse o exercício indevido da profissão, atividade ou ofício; III – interdição do local onde indevidamente exercida a profissão, atividade ou ofício, ressalvado o direito de terceiros. Interdição ou suspensão de autorização ou habilitação para dirigir veículo

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Art. 65. A pena de interdição ou suspensão de autorização ou habilitação para dirigir veículo inabilita o condenado a dirigir veículo automotor, durante sua execução. Parágrafo único. Ocorrendo descumprimento da restrição aplicada o condenado ficará sujeito às seguintes medidas, alternativa ou cumulativamente impostas: I – advertência; II – apreensão do veículo utilizado, ressalvado o direito de terceiros, correndo por conta do condenado as despesas com o depósito. Interdição ou suspensão do exercício de atividade empresarial

Art. 66. A pena de interdição ou suspensão do exercício de atividade empresarial inabilita o condenado a exercer, durante sua execução, funções de administração, direção ou representação de pessoas jurídicas que desenvolvam atividade empresarial de qualquer natureza. Parágrafo único. Ocorrendo descumprimento da restrição aplicada o condenado ficará sujeito, alternativa ou cumulativamente, às seguintes medidas: I – advertência; II – pagamento de multa diária, em valor estabelecido entre 1/3 (um terço) e 3 (três) vezes o salário mínimo mensal vigente ao tempo de sua fixação, até que cesse o exercício indevido. Incapacidade de contratar com a Administração Pública

Art. 67. A pena de incapacidade de contratar com a Administração Pública inabilita o condenado, durante sua execução, a celebrar contratos com órgãos da Administração Pública, excetuadas as hipóteses em que sua finalidade seja a de obter prestação de um serviço público. Interdição ou suspensão do exercício do pátrio poder, tutela, curatela ou guarda

Art. 68. A pena de interdição ou suspensão do exercício do pátrio poder, tutela, curatela ou guarda priva o condenado, durante sua execução, do exercício dos direitos inerentes ao pátrio poder e o inabilita, durante a execução, a exercer ou a ser nomeado para o exercício da tutela, curatela ou guarda. Parágrafo único – Em caso de descumprimento da interdição ou suspensão prevista neste artigo, aplicam-se as regras previstas nos incisos I e II do art. 64. Exílio local

Art. 69. A pena de exílio local consiste no impedimento do condenado de residir ou estar, ainda que transitoriamente, durante sua execução, em bairro, município ou região onde praticado o crime ou onde residam o ofendido ou seus familiares.

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Parágrafo único. Ocorrendo descumprimento da restrição aplicada o condenado ficará sujeito, alternativa ou cumulativamente, às seguintes medidas: I – advertência; II – retirada coercitiva do local. Limitação de fim de semana

Art. 70. A pena de limitação de fim de semana consiste na obrigação do condenado de frequentar, durante sua execução, aos sábados e domingos, ou em outros dias de folga, por 4 (quatro) horas diárias, cursos, palestras ou outras atividades educativas, em instituições públicas ou privadas credenciadas junto ao juízo da execução. § 1º. Aplicam-se à pena de limitação de fim de semana as regras previstas nos §§ 2º e 3º do artigo 62. § 2º. Ocorrendo descumprimento injustificado da pena de limitação de fim de semana, o condenado ficará sujeito, alternativa ou cumulativamente, às seguintes medidas: I – advertência; II – condução coercitiva ao local onde deve assistir ao curso, palestra ou outra atividade educativa; III – elevação do tempo de frequência ao curso, palestra ou outra atividade educativa para até 6 (seis) horas diárias. Admoestação

Art. 71. A pena de admoestação consiste na solene censura ao condenado, feita em audiência. A censura, fundando-se no crime praticado, não poderá conter referências negativas à pessoa ou ao modo de vida do condenado. Parágrafo único. Se o condenado não comparecer à audiência, poderá ser conduzido coercitivamente. Nova condenação no curso da execução

Art. 72. Excetuadas as hipóteses previstas no § 3º do artigo 62 e no § 1º do artigo 70, nova condenação por crime cometido antes ou durante a execução de pena privativa ou restritiva de direitos nenhuma repercussão terá sobre sua execução. Parágrafo único. Nas hipóteses previstas no § 3º do artigo 62 e no § 1º do artigo 70, o tempo cumprido antes da suspensão, será integralmente computado na pena. SEÇÃO III

DAS PENAS PECUNIÁRIAS

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Espécies de penas

Art. 73. As penas pecuniárias são: I – multa; II – prestação social de bens.

Multa

Art. 74. A pena de multa consiste no pagamento da quantia estabelecida em dias-multa, recolhendo-se seu valor a fundo destinado à proteção de vítimas e à reparação de danos resultantes de crimes. § 1º. A execução da pena de multa far-se-á na forma estabelecida na Lei de Execução Penal, admitido o pagamento em parcelas mensais e o desconto em folha de pagamento, cuja incidência não poderá recair sobre os recursos indispensáveis ao sustento do condenado e de sua família. Não se executa a pena de multa a condenado insolvente. Sobrevindo a solvência, a execução será retomada, desde que em período de tempo inferior a 2 (dois) anos. § 2º. É vedada a conversão da pena de multa em pena de qualquer outra natureza. Prestação social de bens

Art. 75. A pena de prestação social de bens consiste no fornecimento mensal de bens, quantificados de acordo com a capacidade econômica do condenado, a entidades públicas ou privadas, credenciadas junto ao juízo da execução, cujos fins, não lucrativos, sejam de interesse da comunidade. Aplicam-se à pena de prestação social de bens, no que couberem, as regras de execução previstas no § 1º do art. 74. Parágrafo único. O descumprimento injustificado de qualquer prestação poderá importar o vencimento das prestações restantes, procedendo-se à execução sobre seu valor total correspondente, na forma prevista para a pena de multa. CAPÍTULO II

DA COMINAÇÃO E DA APLICAÇÃO DAS PENAS Cominação das penas

Art. 76. A pena privativa de liberdade e as penas restritivas de direitos e pecuniárias são, isolada, alternativa ou cumulativamente, previstas na sanção correspondente a cada crime. Limites da pena privativa de liberdade

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Art. 77. A pena privativa de liberdade não poderá ter duração superior a 20 (vinte) anos, nem inferior a 1 (um) mês. § 1º. Ocorrendo condenações a penas privativas de liberdade cuja soma ultrapassar 20 (vinte) anos, será feita sua unificação, de modo a atender ao limite máximo previsto neste artigo. § 2º. Sobrevindo condenação a nova pena privativa de liberdade por crime cometido após o início do cumprimento de pena privativa de liberdade inicialmente imposta ou unificada, far-se-á nova unificação, desprezando-se, para esse fim, o tempo já cumprido. § 3º. Sobre a pena unificada no limite máximo de 20 (vinte) anos incidirá o cálculo referente a todos os benefícios da execução. § 4º. Ocorrendo condenação à pena privativa de liberdade não superior a 6 meses, essa será convertida em pena de prestação social de bens por igual período. Limites das penas restritivas de direitos

Art. 78. Os limites máximos das penas restritivas de direitos, previstas nos incisos I a IX do artigo 61, são: I – para a interdição ou suspensão do exercício de funções públicas, 12 (doze) anos; II – para a interdição ou suspensão do exercício de atividade empresarial e para a incapacidade de contratar com a Administração Pública, 10 (dez) anos; III – para a interdição ou suspensão do exercício de profissão, atividade ou ofício, 8 (oito) anos; IV – para a interdição ou suspensão do exercício do pátrio poder, tutela, curatela ou guarda e para a interdição ou suspensão de autorização ou habilitação para dirigir veículo, 6 (seis) anos; V – para a prestação social de serviços e para o exílio local, 4 (quatro) anos; VI – para a limitação de fim de semana, 2 (dois) anos. Parágrafo único – As penas restritivas de direitos, quando aplicadas, cumulativamente, com a pena privativa de liberdade, serão executadas depois de cessada a execução dessa, computados os tempos da suspensão condicional da pena ou do livramento condicional. Limites das penas pecuniárias

Art. 79. Os limites das penas pecuniárias observam os seguintes limites:

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I – a pena de multa será cominada entre o mínimo de 10 (dez) e o máximo de 360 (trezentos e sessenta) dias-multa, não podendo o valor do dia-multa ser inferior a 1/30 (um trigésimo) do salário mínimo mensal vigente ao tempo do fato, nem superior a 30 (trinta) vezes este salário; II – a pena de prestação social de bens terá a duração máxima de 4 (quatro) anos, não podendo o valor dos bens a serem mensalmente prestados ser inferior a 1/30 (um trigésimo) do salário mínimo mensal vigente ao tempo do fato, nem superior a 5 (cinco) vezes este salário. Detração

Art. 80. O tempo de prisão provisória, no Brasil ou no exterior, será assim computado na pena: I – se for imposta condenação a pena privativa de liberdade, cada dia de prisão provisória corresponderá a um dia da pena; II – se for imposta condenação a qualquer das penas restritivas de direitos, previstas nos incisos I a IX do artigo 61, cada dia de prisão provisória corresponderá a vinte dias da pena; III – se for imposta condenação a qualquer das penas pecuniárias, cada dia de prisão provisória corresponderá a trinta dias da pena. § 1º. O cômputo na pena do tempo de prisão provisória dar-se-á sem prejuízo do recebimento da indenização devida por excesso, abuso ou ilegalidade dessa medida cautelar. § 2º. Serão, da mesma forma, computados na pena que se refira a crime anteriormente cometido, sem prejuízo do recebimento da indenização devida pelo excesso, abuso ou ilegalidade da medida cautelar: a) o tempo de prisão provisória cumprido em outro processo, em que tenha sido declarada a absolvição ou a extinção da punibilidade; b) o excesso de tempo de prisão provisória cumprido em outro processo, em que tenha sido imposta condenação. Fixação da pena

Art. 81. O juiz, atendendo à medida da culpabilidade e demonstrando a necessidade, suficiência e proporcionalidade da punição, estabelecerá: I – as penas aplicáveis dentre as cominadas; II – a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos;

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III – o regime inicial de cumprimento de pena privativa de liberdade, bem como, na hipótese do regime aberto, o lugar de sua execução; IV – a suspensão condicional da execução de pena privativa de liberdade. Circunstâncias atenuantes

Art. 82. São circunstâncias que sempre atenuam a pena: I – ter o agente menores oportunidades e espaço social; II – ter o agente cometido o crime sob a influência ou por provocação do ofendido; III – serem de menor intensidade o dano ou as consequências resultantes do crime; IV – ter o agente procurado, por sua espontânea vontade, evitar ou minorar o dano ou as consequências resultantes do crime; V – ser o agente menor de 21 (vinte e um) anos, na data do fato, ou maior de 70 (setenta) anos, na data da sentença; VI – ter o agente cometido o crime sob coação resistível ou sob a influência de pessoa de quem dependia ou a quem devia obediência; VII – ter o agente cometido o crime sob a influência de multidão em tumulto, se não o provocou; VIII – no que concerne às penas pecuniárias, ter o agente situação econômica desfavorável. Atenuante genérica

Art. 83. A pena poderá ser ainda atenuada em razão de circunstância relevante, anterior ou posterior ao crime, embora não prevista expressamente em lei. Limite da atenuação

Art. 84. A incidência de circunstância atenuante poderá reduzir a pena para quantidade inferior ao limite mínimo cominado para o crime. Arrependimento especial

Art. 85. Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa de que resulte prejuízo econômico, individual, coletivo ou institucional, a reparação do dano ou a restituição da coisa, antes do início da ação penal, extingue a punibilidade da conduta (art. 92, VIII); se a reparação ou a restituição são efetivadas no curso da ação penal, antes da sentença condenatória, diminuem a pena de metade, podendo o juiz substituir a pena cominada por pena menos grave ou deixar de aplicá-la.

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Parágrafo único. Havendo razões para supor que a reparação do dano ou a restituição da coisa estão em vias de se verificar, ou estando em curso pagamento parcelado do valor do dano, o juiz poderá adiar a prolação da sentença pelo prazo de um ano ou até a data da última parcela prevista, suspenso o curso do prazo de prescrição da pretensão punitiva (art.103, III). Circunstâncias agravantes

Art. 86. São circunstâncias que agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime: I – a intenção de facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime; II – o cometimento do fato mediante traição, emboscada, ou outro recurso que dificulte ou impossibilite a defesa do ofendido; III – o emprego de veneno ou de outro meio insidioso; IV – o emprego de tortura ou de outro meio que cause sofrimento desnecessário ao ofendido; V – o emprego de fogo, explosivo, ou de outro meio de que podia resultar perigo comum; VI – o abuso de autoridade ou a prevalência de relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade; VII – o abuso de poder ou a violação de dever legal referente a cargo, ofício, ministério ou profissão; VIII – ser o fato cometido contra criança, velho, enfermo ou mulher grávida; IX – estar o ofendido sob a imediata proteção da autoridade; X – a execução do crime em ocasião de incêndio, naufrágio, inundação ou qualquer calamidade pública ou de desgraça particular do ofendido. Agravantes no caso de concurso de agentes

Art. 87. A pena será ainda agravada em relação ao agente que: I – promove ou organiza a cooperação no crime ou dirige a atividade dos demais agentes; II – coage outrem à execução material do crime; III – executa o crime ou nele coopera mediante paga ou promessa de recompensa.

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Limite da agravação

Art. 88. A incidência de circunstâncias agravantes não poderá elevar a pena a quantidade superior ao limite máximo cominado para o tipo legal de crime. Cálculo da pena

Art. 89. A pena-base será fixada observando-se os critérios do artigo 81; em seguida, serão consideradas as circunstâncias agravantes e atenuantes; por último, as causas especiais de majoração e minoração. Parágrafo único. No concurso de circunstâncias agravantes e atenuantes, serão aplicadas primeiro as agravantes e, em seguida, sobre a pena agravada, as atenuantes, da mesma forma se procedendo no concurso de causas especiais de aumento e diminuição da pena. Havendo mais de um agravante ou atenuante ou mais de uma causa de especial aumento ou diminuição, o juiz deverá compensar umas por outras e aplicar apenas uma delas, devendo a pena aproximar-se da causa que mais atenue ou mais diminua. CAPÍTULO III

CONSEQÜÊNCIAS SECUNDÁRIAS DA PENA Perda de instrumentos do crime

Art. 90. A imposição da pena, por sentença ou acórdão transitados em julgado, implicará a perda, em favor da União ou do Estado-membro, dos instrumentos utilizados na prática do crime, quando consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte ou detenção constitua fato ilícito. Perda de produtos do crime

Art. 91. A imposição da pena, por sentença ou acórdão transitados em julgado, implicará a perda, em favor da União ou do Estado-membro, do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido com sua prática, ressalvados os direitos do ofendido ou de terceiro de boa-fé. TÍTULO IV

DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE Extinção da punibilidade

Art. 92. Extingue-se a punibilidade: I – pela morte do agente; II – pela anistia, graça ou pelo indulto;

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III – pela retroatividade da lei que não mais considere o fato como criminoso; IV – pela prescrição, decadência ou perempção; V – nas ações penais condenatórias de iniciativa do ofendido ou condicionadas à sua representação, pela renúncia ao exercício dos direitos de representação ou de ação penal, pelo perdão aceito e pela conciliação; VI – pela retratação do agente, nos casos em que a lei a admite; VII – pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei; VIII – nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa de que resulte prejuízo econômico, individual, coletivo ou institucional, pela reparação do dano ou pela restituição da coisa, antes do início da ação penal condenatória. IX – pelo integral cumprimento da pena. Extinção da punibilidade em hipóteses de concurso de crimes

Art. 93. No caso de concurso de crimes (Capítulo III do Título II), a extinção da punibilidade incidirá sobre cada um isoladamente. § 1º. A extinção da punibilidade de crime que é pressuposto, elemento constitutivo ou circunstância agravante de outro não se estende a este. § 2º. Nos crimes conexos, a extinção da punibilidade de um deles não impede, quanto aos outros, a agravação da pena resultante da conexão. Conciliação

Art. 94. Nas hipóteses de crimes em que atingido, exclusivamente, bem jurídico individual, de que seu titular possa dispor, o exercício do direito de ação penal condenatória será de iniciativa do ofendido ou condicionado à sua representação, procedendo-se à audiência de conciliação, na forma estabelecida na lei processual penal. Decadência

Art. 95. Salvo disposição expressa em contrário, o ofendido decai dos direitos de representação ou de ação penal condenatória se não os exercer dentro do prazo de 6 (seis) meses, contado do dia em que veio a saber quem seria o autor do alegado crime ou, na hipótese de iniciativa subsidiária, do dia em que esgotado o prazo para oferecimento da denúncia. Renúncia tácita

Art. 96. Importa renúncia tácita aos direitos de representação ou de ação penal condenatória a prática de ato incompatível com a vontade de exercê-los, não a

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implicando, todavia, o fato de o ofendido receber indenização do dano causado pelo alegado crime. Perdão

Art. 97. O perdão concedido a qualquer dos réus ou querelados a todos aproveita; havendo, no entanto, pluralidade de ofendidos, o perdão concedido por um não prejudica o direito dos outros. Perdão após o trânsito em julgado

Art. 98. Nos crimes em que atingido, exclusivamente, bem jurídico individual, de que seu titular possa dispor, o perdão poderá ser concedido mesmo depois do trânsito em julgado da sentença ou do acórdão condenatórios, devendo ser ouvido o ofendido antes de se iniciar a execução da pena. Perdão tácito

Art. 99. Importa perdão tácito a prática, no processo ou fora dele, de ato incompatível com a vontade de prosseguimento da ação penal condenatória ou de início da execução da pena, não o implicando, todavia, o fato de o ofendido receber indenização do dano causado pelo crime alegado ou reconhecido. Prescrição da pretensão punitiva

Art. 100. A prescrição, antes do trânsito em julgado da sentença ou do acórdão condenatórios, salvo o disposto nos §§ 1º e 2º deste artigo, regula-se pelo máximo da pena cominada ao crime, verificando-se: I – em 20 (vinte) anos, se o máximo da pena é superior a 12 (doze); II – em 16 (dezesseis) anos, se o máximo da pena é superior a 8 (oito) anos e não excede a 12 (doze); III – em 12 (doze) anos, se o máximo da pena é superior a 4 (quatro) anos e não excede a 8 (oito); IV – em 8 (oito) anos, se o máximo da pena é superior a 2 (dois) anos e não excede a 4 (quatro); V – em 4 (quatro) anos, se o máximo da pena é igual a 1 (um) ano ou, sendo superior, não excede a 2 (dois); VI – em 2 (dois) anos, se o máximo da pena é inferior a 1 (um) ano, bem como nas hipóteses de penas restritivas de direito ou pecuniárias. § 1º. Tornando-se a sentença condenatória irrecorrível para a acusação, ou sendo improvido seu recurso, a prescrição regular-se-á pela pena aplicada, verificando-se nos mesmos prazos estabelecidos nos incisos I a VI deste artigo.

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§ 2º. O prazo de prescrição, de que trata o parágrafo anterior, pode ter por termo inicial a data do fato. Termo inicial do prazo de prescrição da pretensão punitiva

Art. 101. O prazo de prescrição da pretensão punitiva começa a correr: I – do dia em que o alegado crime se consumou ou, na hipótese de tentativa, do dia em que cessou a atividade executiva; II – nos crimes de tipos permanentes, do dia em que cessou a permanência. Interrupção do prazo de prescrição da pretensão punitiva

Art. 102. O curso do prazo de prescrição da pretensão punitiva interrompe-se: I – pelo recebimento da inicial da ação penal condenatória; II – pela pronúncia; III – pela sentença condenatória recorrível; IV – pelo acórdão condenatório, quando reformar sentença absolutória ou se tratar de ação penal originária § 1º. A interrupção do prazo de prescrição produz efeitos relativamente a todos os participantes do crime. § 2º. Operada a interrupção, todo o prazo começa a correr, novamente, a partir do dia da interrupção. A duração total do processo não pode ultrapassar, porém, mais de 1/3 (um terço) além dos prazos previstos no art. 100. Suspensão do prazo de prescrição da pretensão punitiva

Art. 103. O curso do prazo de prescrição da pretensão punitiva suspende-se: I – enquanto não resolvida, em outro processo, questão prejudicial; II – enquanto não comparecer ao processo, nem constituir advogado, o réu citado por edital; III – enquanto perdurar o prazo de adiamento da sentença, previsto no parágrafo único do artigo 85. IV – enquanto não for concedida licença para o processo, no caso de agente detentor de imunidade; § 1º. O prazo de prescrição volta a correr a partir do dia em que cessar a causa da suspensão.

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§ 2º. A suspensão do prazo de prescrição não poderá se estender por tempo superior a um período prescricional em abstrato, estabelecido de acordo com as regras do artigo 100. Prescrição da pretensão executória

Art. 104. A prescrição, depois do trânsito em julgado da sentença ou do acórdão condenatórios, regula-se pela pena imposta, verificando-se nos mesmos prazos previstos no artigo 100. Parágrafo único. Nas hipóteses em que a pena tenha sido parcialmente cumprida, a prescrição da pretensão executória regula-se pelo tempo que resta a ser cumprido. Termo inicial do prazo de prescrição da pretensão executória

Art. 105. O prazo de prescrição da pretensão executória começa a correr do dia em que transita em julgado a sentença ou o acórdão condenatórios. Interrupção do prazo de prescrição da pretensão executória

Art. 106. O curso do prazo de prescrição da pretensão executória interrompe-se pelo início ou reinício do cumprimento da pena. Suspensão do prazo de prescrição da pretensão executória

Art. 107. O curso do prazo de prescrição da pretensão executória suspende-se enquanto o condenado estiver cumprindo outra pena que impeça a execução simultânea, ou enquanto estiver submetido a prisão provisória que inviabilize o cumprimento da pena. Parágrafo único. O prazo de prescrição volta a correr a partir do dia em que cessar a causa da suspensão. Redução dos prazos de prescrição

Art. 108. São reduzidos da metade os prazos de prescrição quando o agente era, ao tempo do crime alegado ou reconhecido, menor de 21 (vinte e um) anos, ou, na data da sentença ou do acórdão, maior de 70 (setenta) anos. Perdão judicial

Art. 109. Além das hipóteses expressamente previstas, o perdão judicial poderá ser concedido sempre que circunstância relevante evidenciar a desnecessidade da aplicação ou da execução da pena.