propagação de ondas eletromagnéticas em meios anisotrópicos

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Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos: Dispositivos de Mach-Zehnder Filipe Manuel Costa Pereira Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores Júri Presidente: Professor Doutor Fernando Duarte Nunes Orientador: Professor Doutor António Luís Campos da Silva Topa Vogais: Professor Doutor António Armando Miranda Rodrigues da Costa Dezembro 2013

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Page 1: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios

Anisotrópicos:

Dispositivos de Mach-Zehnder

Filipe Manuel Costa Pereira

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia Eletrotécnica e de Computadores

Júri

Presidente: Professor Doutor Fernando Duarte Nunes

Orientador: Professor Doutor António Luís Campos da Silva Topa

Vogais: Professor Doutor António Armando Miranda Rodrigues da Costa

Dezembro 2013

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Page 3: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

Sem qualquer distinção entre as pessoas a quem direciono os meus agradecimentos e

o quanto lhes estou grato, seguirei apenas a ordem cronológica do meu trajeto até este

momento.

Gostaria de agradecer aos meus pais, que graças ao seu apoio moral, educativo e

económico tornaram tudo isto possível e sem nunca terem deixado de me incentivar.

À minha esposa, que nunca desistiu nem duvidou das minhas capacidades, estando

sempre ao meu lado com o seu apoio incondicional.

Ao meu filho, que pela sua existência me motivou na reta final desta minha maratona

académica.

Por fim mas não em último, ao Professor António Topa que com a sua compreensão e

ajuda tudo fez para que pudesse concluir esta etapa da minha vida.

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Page 5: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

Resumo

O trabalho do qual resultou esta Dissertação, teve por objetivo principal a realização

de um estudo aprofundado sobre a modelação de dispositivos óticos passivos,

controlados pelo efeito eletro-ótico linear.

No início abordam-se os meios anisotrópicos, avançando para um maior detalhe

relativamente ao efeito eletro-ótico e à modulação eletro-ótica. Por fim, estudaram-se os

diagramas de modulação para algumas configurações de acopladores direcionais e

interferómetros de Mach-Zehnder.

Com os diagramas de modulação obtidos, foi possível dimensionar para um dado

sistema de comunicações óticas, da forma mais adequada, os dispositivos eletro-óticos

necessários para o processamento do sinal de forma a serem obtidas as respostas

pretendidas, bem como avaliar o seu desempenho.

Neste contexto, foram estudados inicialmente os moduladores de fase e amplitude e

posteriormente o acoplador direcional, o acoplador de Mach-Zehnder de 3 e 4 acessos e

o interferómetro de Mach-Zehnder.

A simulação numérica efetuada, teve por base um ambiente de desenvolvimento em

MatLab, sendo considerado o mais apropriado à simulação de dispositivos físicos e

sistemas estudados.

Palavras-chave

Meios Anisotrópicos, Efeito Eletro-Ótico, Acoplador Direcional, Modulador,

Interferómetro de Mach-Zehnder

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Page 7: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

Abstract

The work that resulted in this thesis, had the main objective to carry out a detailed

study concerning the modeling of passive optical devices, controlled by the linear electro-

optic effect.

In the beginning was an approach to the anisotropic media, advancing to a greater

detail regarding the electro-optic effect and electro-optic modulation. Finally, it was

studied the modulation diagrams of some directional couplers configurations and Mach-

Zehnder interferometers .

With the obtained modulation diagrams, it was possible to dimension for a given

system of optical communications, by the most appropriate way, the required electro-

optic devices for processing the signal to obtain the desired responses, and evaluate its

performance as well.

In this context, it was studied initially the phase and amplitude modulators, and then

the directional coupler, the coupler Mach- Zehnder of 3 and 4 accesses and the Mach-

Zehnder interferometer.

The numerical simulation, was performed based on a develop environment in MatLab,

being considered the most appropriate for simulation of physical devices and studied

systems.

Keywords

Anisotropic Media, Electro-Optic Effect, Directional Coupler, Modulator, Mach-

Zehnder Interferometer

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i

Índice

Lista de Figuras .................................................................................................................................. iii

Lista de Siglas ...................................................................................................................................... v

Lista de Símbolos ............................................................................................................................... vii

Capítulo 1 – Introdução ...................................................................................................................... 1

1.1 – Enquadramento ..................................................................................................................... 1

1.2 – Estado Atual ........................................................................................................................... 2

1.3 – Objetivos ................................................................................................................................ 3

1.4 – Estrutura da Tese ................................................................................................................... 4

Capítulo 2 – Meios Anisotrópicos ....................................................................................................... 5

2.1 – Propagação da luz em meios anisotrópicos .......................................................................... 5

2.2 – Tensor Dielétrico ................................................................................................................... 6

2.3 – Elipsóide de índices ............................................................................................................... 7

2.4 – Classificação dos meios anisotrópicos ................................................................................... 9

Capítulo 3 – Efeito Eletro-ótico ........................................................................................................ 13

3.1 – Introdução ........................................................................................................................... 13

3.2 – Efeito de Pockels.................................................................................................................. 15

3.3 – Célula de Pockels ................................................................................................................. 16

3.4 – Efeito de Kerr ....................................................................................................................... 20

Capítulo 4 – Modulação Eletro-ótica ................................................................................................ 23

4.1 – Modulação de Amplitude .................................................................................................... 23

4.1.1 – Modulação Transversal ................................................................................................ 23

4.1.2 – Modulação Longitudinal ............................................................................................... 29

4.2 – Modulação de Fase .............................................................................................................. 31

Capítulo 5 – Dispositivos Fotónicos Passivos ................................................................................... 39

5.1 Acoplador Direcional .............................................................................................................. 39

5.1.1 – Acoplador Direcional 2×2 Uniforme ............................................................................. 40

5.1.2 Acoplador Direcional 1×2 Simétrico ................................................................................ 44

5.2 – Dispositivos Mach-Zehnder ................................................................................................. 46

5.2.1 – Modulador Interferométrico de Mach-Zehnder .......................................................... 47

5.2.2 – Acoplador de Mach-Zehnder ........................................................................................ 50

5.2.3 – Comparação entre acopladores de Mach-Zehnder de 3 e 4 acessos ........................... 54

5.3 – Acopladores de Mach-Zehnder e acopladores direcionais ................................................. 55

Capítulo 6 – Conclusões e Perspetivas de Evolução ......................................................................... 57

Referências ....................................................................................................................................... 61

Apêndice A – Niobato de Lítio .......................................................................................................... 63

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ii

Page 11: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

iii

Lista de Figuras Capítulo 2 - Meios Anisotrópicos Figura 2.1 – Elipsóide de índices de um meio anisotrópico………………………………………… 15

Capítulo 3 - Efeito Eletro-ótico Figura 3.1 – Célula de Pockels Transversal…………………………………………………………………. 22 Figura 3.2 – Célula de Pockels Longitudinal……………………………………………………………….. 23

Capítulo 4 - Modulação Eletro-ótica Figura 4.1 – Configuração do modulador eletro-ótico transversal, incluindo um

cristal e um par de polarizadores cruzados. O campo elétrico aplicado, paralelo ao eixo ótico do cristal, é transversal á direção de propagação……. 22

Figura 4.2 – Configuração do modulador eletro-ótico longitudinal, incluindo um cristal e um par de polarizadores lineares cruzados. O campo elétrico aplicado, paralelo ao eixo ótico do cristal, é coincidente á direção de propagação……………………………………………………………………………………………….. 23

Figura 4.3 – Célula de Pockels caracterizada pela matriz 6x3 (grupo de simetria 4-tetragonal)………………………………………………………………………………………………… 36

Figura 4.4 – Novo referencial dos eixos dielétricos principais……………………………………. 37 Figura 4.5 – Configuração do modulador eletro-ótico longitudinal de fase. O campo

elétrico externo, aplicado paralelamente ao eixo ótico do cristal, é coincidente com a direção de propagação………………………………………………… 40

Capítulo 5 – Dispositivos Fotónicos Passivos Figura 5.1 – Configuração de um acoplador direcional 2×2 Uniforme…………………….…. 44 Figura 5.2 – Potência ótica de saída em função da diferença normalizada entre as

constantes de propagação………………………………………………………………………… 46 Figura 5.3 – Diagrama de modulação do acoplador direcional 2×2 uniforme…………… 47 Figura 5.4 – Acoplador direcional 1×2 Simétrico………………….……………………………………. 48 Figura 5.5 – Potência ótica de saída em função da diferença normalizada entre as

constantes de propagação………………………………………………………………………… 49 Figura 5.6 – Diagrama de modulação do acoplador direcional 1×2 Simétrico……………. 50 Figura 5.7 – Modulador interferométrico de Mach-Zehnder em montagem

a) Vista de topo, b) Corte transversal………………………………………………………. 51 Figura 5.8 – Potência ótica de saída em função da diferença normalizada entre as

constantes de propagação………………………………………………………………………… 54 Figura 5.9 – Acoplador de Mach-Zehnder de 4 acessos…………………………………………….. 54 Figura 5.10 – Acoplador de Mach-Zehnder de 3 acessos…………………………………………… 56

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iv

Page 13: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

v

Lista de Siglas

- Niobato de Lítio

DWDM - Dense Wavelenght Division Multiplexing

EDFA - Erbium-Dopped Fiber Amplifier

WDM - Wavelenght Division Multiplexing

EO - Eletro-ótico

MZ - Mach Zehnder

ADM - Add/Drop Multiplexer

CP - Célula de Pockels

DFB Laser - Distributed Feed-Back Laser

DBK Laser - Distributed Bragg Reflector Laser

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vi

Page 15: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

vii

Lista de Símbolos

Deslocamento Elétrico

Campo Elétrico

Tensor da Permitividade Elétrica

Constante Dielétrica do Vácuo

Tensor de Impermeabilidades

Índice de Refração

Índice de Refração Ordinário

Índice de Refração Extraordinário

Tensor Eletro-ótico

Campo Elétrico à Entrada

Campo Elétrico à Saída

Campo Elétrico Máximo

Frequência Angular

Frequência Angular do Campo Modulante

Versor

Intensidade Luminosa à Entrada

Intensidade Luminosa à Saída

Atraso Diferencial de Fase

Componente Passiva do Atraso de Fase

Componente Comum do Atraso de Fase

Número de Onda no Vácuo

Número de Onda

Transmissividade

Tensão de Meia Onda

Valor Máximo da Tensão Modulante

Comprimento de Onda

Comprimento de Onda no Vácuo

Constante de Propagação Diferencial

Page 16: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

viii

Constante de Atenuação

Constante de Propagação

Matriz de Acoplamento

Potencia

Comprimento de Acoplamento

Refletividade

Potência Ótica

Velocidade de Propagação no Vácuo

Coeficiente de Acoplamento

Matriz de Transferência

Page 17: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

1

Capítulo 1 – Introdução

1.1 – Enquadramento

Com as telecomunicações a conquistarem um papel cada vez mais importante na

sociedade tecnológica é cada vez maior a procura de recursos digitais. A Internet,

telefone, televisão, videoconferência, telemedicina, teletrabalho e ensino à distância são

recursos cuja utilização introduziu novas questões tecnológicas e cientificas que são

necessárias resolver.

Nos últimos tempos observou-se um crescimento significativo da capacidade de

transporte, tanto em ritmos de transmissão como a nível de cobertura geográfica. A

procura de recursos digitais teve um incremento tal que ultrapassou a maioria das

previsões o que acabou por esgotar da capacidade de tráfego que os operadores

disponibilizavam. Para que as expectativas criadas nos consumidores não sejam

defraudadas em termos de serviços prestados, torna-se necessário aumentar a eficiência

de transmissão de dados. Isto pode ser conseguido com a criação de uma rede de acesso

que suporte elevados débitos e com o aumento da capacidade de transporte e de

encaminhamento da informação.

O início das primeiras aplicações comerciais de dispositivos óticos integrados em

sistemas de transmissão digital e analógico por fibra ótica foi dos acontecimentos mais

importantes que ocorreu na área da ótica integrada [1]. Tanto nos sistemas terrestres

como nos submarinos, ao contrário dos sistemas convencionais, nos quais a modulação

Page 18: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

2

da luz se faz por ação direta sobre o laser, os moduladores eletro-óticos baseados em

substrato de niobato de lítio têm sido extensivamente utilizados na codificação de sinais

digitais [2,3,4], sem que haja variação dinâmica do comprimento de onda das portadoras

luminosas (chirp).

Outra aplicação de extrema importância é a utilização de multiplexadores e

desmultiplexadores de comprimento de onda em sistemas de comunicação com WDM

(multiplexagem no comprimento de onda) para a combinação e separação das diversas

portadoras óticas nos transmissores e recetores [5]. Esta tecnologia tem tido grande

utilização nas ligações óticas ponto a ponto de portadora ótica para multiportadora.

Assim, a WDM surge como a evolução natural para as redes de transporte de informação

atuais, permitindo aumentar a capacidade disponível nas infraestruturas óticas.

1.2 – Estado Atual

A situação atual das telecomunicações óticas aponta para um desenvolvimento das

redes baseado na multiplexagem de comprimentos de onda. Estas redes são constituídas,

fundamentalmente, por ADMs óticos (optical Add/Drop Multiplexers) e Comutadores de

Cruzamento (cross-connects) óticos para o encaminhamento dos sinais WDM.

O facto de haver necessidade de recorrer a secções óticas espaciais mesmo com a

possibilidade de serem implementadas diversas arquiteturas, coloca os comutadores

óticos espaciais como elementos de extrema importância no futuro das redes óticas.

Estes dispositivos não são mais do que moduladores de intensidade e de fase. Sendo

eles agrupados de acordo com uma determinada arquitetura, realizam a condução e

modificação dos sinais óticos, independentemente da codificação de sinal utilizada [1].

No entanto, é importante referir que estas aplicações apenas foram possíveis devido

ao surgimento de materiais com excelentes propriedades eletro-óticas e acusto-óticas,

como o niobato de lítio. Nos últimos tempos as suas características têm sido reconhecidas

no que diz respeito à sua aplicação na construção de guias de onda por difusão, para a

realização de dispositivos óticos integrados [5]. Como as fibras óticas monomodais se

tornaram o principal meio de transmissão ótico e é neste modo que os dispositivos de

niobato de lítio se revelam mais eficientes, levou ao especial interesse no uso desta

Page 19: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

3

substância, tornando-se também uma das mais estudadas no contexto da investigação na

área da ótica integrada.

Com o maior conhecimento dos métodos de difusão de Titânio em niobato de lítio,

tornou-se possível construir guias de onda com perdas óticas reduzidas e estruturas

complexas, levando à produção de dispositivos como acopladores direcionais,

moduladores e comutadores de elevado desempenho, LASERs sintonizáveis e osciladores

óticos [1].

Recentemente, tem-se vindo a observar um crescimento considerável na investigação

da produção de dispositivos óticos ativos baseados em niobato de lítio e na sua dopagem

em Érbio de forma a permitir integrar dispositivos passivos e ativos num único substrato

[6,7]. O Érbio é bastante utilizado como elemento ativo em amplificadores de fibra-ótica

(EDFA, Erbium Doped Fibre Amplifiers) e no caso do niobato de lítio será possível atingir

concentrações mais elevadas permitindo uma maior absorção do sinal de bombagem e

consequente aumento de amplificação. As aplicações abrangem igualmente, o domínio

da transmissão por solitões.

1.3 – Objetivos

Neste trabalho é proposto o estudo de dispositivos presentes em redes baseadas na

tecnologia das fibras óticas. Com o grande desenvolvimento desta área, surgiu um

elevado número de dispositivos baseados na propagação em guias dielétricos planares

[8,9,10]. Esta tecnologia denominada Ótica Integrada é baseada na construção de

diversos elementos característicos de um sistema de comunicações óticas sobre um

determinado substrato dielétrico.

Propõe-se o estudo e a modelação de dispositivos fotónicos passivos baseados no

efeito eletro-ótico linear, fazendo-se uma análise da propagação de radiação ótica em

cristais na presença de campos elétricos externos aplicados. Deste modo, abordam-se as

propriedades eletro-óticas do niobato de lítio e a sua influência na propagação de ondas

eletromagnéticas. Serão considerados os tipos mais comuns de dispositivos, em particular

Page 20: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

4

os baseados em acopladores direcionais e em estruturas interferométricas, sendo

analisada a respetiva potência ótica na saída do guia.

1.4 – Estrutura da Tese

No Capítulo 2, estudam-se os meios anisotrópicos em geral. Foi deduzida a expressão

do tensor eletro-ótico e o respetivo elipsóide de índices para um cristal como o niobato

de lítio, para meios uniaxiais.

No Capítulo 3, foi estudado o efeito eletro-ótico e a sua utilização como mecanismo de

modulação de ondas luminosas. Com base no efeito de Pockels, foi deduzida a expressão

do tensor eletro-ótico e o respetivo elipsóide de índice para aplicação posterior no estudo

da resposta de um modulador de amplitude. Por fim, fez-se uma pequena abordagem ao

efeito de Kerr.

No Capítulo 4, abordou-se a modulação eletro-ótica, realizando-se um estudo

completo de um modulador de amplitude e de um modulador de fase. Foram

desenvolvidas as expressões que descrevem a variação dos índices de refração ordinário

e extraordinário na presença de campos elétricos externos. Posteriormente deduziu-se a

expressão do tensor eletro-ótico e o respetivo elipsóide de índice, sendo que para cada

um dos casos foi deduzida a expressão para a tensão de meia onda calculando-se os

respetivos valores.

No Capítulo 5, analisaram-se os moduladores suportados em interferómetros de

Mach-Zehnder e baseados em acopladores direcionais. O estudo recaiu num modulador

ótico de amplitude, assente num interferómetro de Mach-Zehnder. Considerou-se

também a modulação de intensidade de feixes óticos, estudando-se a resposta de

dispositivos baseados em interferómetros de Mach-Zehnder e em acopladores direcionais

para estruturas de elétrodos convencionais e com inversão de fase.

Page 21: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

5

Capítulo 2 – Meios Anisotrópicos

2.1 – Propagação da luz em meios anisotrópicos

A generalidade dos meios para controlar e modificar as propriedades da luz é de

natureza anisotrópica [11,12]. Certos cristais, embora homogéneos são anisotrópicos, isto

é, as propriedades óticas através destes não são idênticas em todas as direções. Num

meio isotrópico, a aplicação de um campo elétrico induz uma polarização que é paralela a

esse mesmo campo e proporcional à suscetibilidade. No caso dos meios anisotrópicos, a

polarização não é necessariamente paralela ao campo elétrico aplicado, sendo sua

direção e magnitude dependentes da direção de aplicação do campo. Nestes casos, a

polarização elétrica é dada por

(2.1)

Em que é um tensor cartesiano de 2ª ordem que caracteriza a suscetibilidade

elétrica e é a permeabilidade elétrica do vazio.

Escrevendo a expressão (2.1) na forma matricial tem-se

(2.2)

Page 22: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

6

Sabendo que para o vácuo, o vetor deslocamento elétrico é dado por

(2.3)

Devido à interação do meio material com o campo eletromagnético, tem de se

introduzir o vetor polarização elétrica, resultando

(2.4)

2.2 – Tensor Dielétrico

Relacionando as equações (2.1) e (2.4), chega-se a

(2.5)

onde é a relação da permeabilidade do meio com a susceptibilidade e é o chamado

tensor dielétrico, dado por

(2.6)

Representando na forma matricial,

(2.7)

onde os elementos da matriz são números adimensionais. Quando toma valores reais

o tensor é simétrico, isto é

(2.8)

Page 23: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

7

Mesmo num meio anisotrópico, existem certas direções do espaço em que o ângulo

entre o campo elétrico e o deslocamento elétrico é nulo. A essas direções chamam-se

eixos dielétricos principais.

O sistema de eixos dielétricos principais permite representar o tensor na sua forma

mais simples, isto é, na sua diagonal,

(2.9)

2.3 – Elipsóide de índices

Como o índice de refração do meio depende de , ele também varia com a direção de

propagação e com a polarização da luz incidente. Na descrição da anisotropia elétrica é

também útil a definição do inverso do tensor dielétrico, conhecido por tensor de

impermeabilidade elétrica , tendo-se

(2.10)

No referencial (x, y, z) dos eixos dielétricos principais,

(2.11)

Os elementos são os índices de refração das polarizações características, que

fazendo ,

e , se representa

Page 24: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

8

(2.12)

O elipsóide de índices, que contém a informação referente ao índices de refração,

permite definir o meio de propagação, sendo dado por

(2.13)

ou seja,

(2.14)

A representação gráfica do elipsóide é mostrada na fig. 2.1, que tem como eixos

principais os índices de refração do material nas direções dos eixos dielétricos principais.

Fig. 2.1 – Elipsóide de índices de um meio anisotrópico

Page 25: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

9

2.4 – Classificação dos meios anisotrópicos

Tendo em conta as características dos meios materiais, estes podem ser classificados

em três grandes grupos:

a) Isotrópicos

b) Uniaxiais

c) Biaxiais

Sendo que tanto os uniaxiais como os biaxiais são tipos de meios anisotrópicos.

Nos cristais isotrópicos, os índices de refração nos três eixos principais são iguais e o

elipsóide reduz-se a uma esfera. O tensor dielétrico é da forma diagonal escalar

(2.15)

Para estes meios, qualquer direção constitui um eixo ótico. E entenda-se por eixo

ótico, uma direção do espaço segundo as ondas características (que mantêm a sua

polarização ao propagarem-se) têm a mesma velocidade de fase.

Num meio isotrópico ilimitado, a polarização de uma onda qualquer conserva-se ao

longo da propagação.

Quanto aos meios anisotrópicos, o campo elétrico de uma onda eletromagnética que

se propague nestes meios, pode ser decomposto em duas componentes. Uma no plano

xy (raio ordinário), que se associa a um índice de refração ordinário, . Outra

perpendicular a esta e à direção de propagação da onda (raio extraordinário), que se

associa a um índice de refração extraordinário, . Por darem origem a dupla refração, os

meios anisotrópicos são birrefringentes. Quanto a esta designação, pode ainda dizer-se

Page 26: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

10

que se trata de birrefringência linear ou circular, caso a polarização das ondas

características seja linear ou circular, respetivamente.

Embora haja diferenças de fase entre as componentes, causadas por velocidades de

propagação diferentes, existem direções onde todas as ondas com o mesmo

comprimento de onda se propagam com a mesma velocidade, independentemente da

polarização. Essas direções são os já referidos eixos óticos e a secção transversal a esses

eixos é um círculo.

Nos cristais anisotrópicos, as duas denominações já referidas distinguem-se pela

relação dos índices de refração. No caso dos meios uniaxias, , sendo o

tensor dielétrico

(2.16)

Aqui o elipsóide de índices é um elipsóide de revolução, a secção transversal no plano

é um círculo e apenas há um eixo ótico (alinhado segundo ).

Representando o tensor recorrendo às componentes ordinária e extraordinária da

onda eletromagnética, tem-se

(2.17)

Para meios biaxiais, , cujo tensor dielétrico é

(2.18)

Page 27: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

11

Nestes a secção transversal no plano é uma elipse e caracterizam-se por terem dois

eixos óticos (localizados no plano ), razão pela qual assumem a designação de meios

biaxiais.

Os cristais anisotrópicos podem ainda ser classificados pelos valores relativos entre os

índices de refração nos eixos principais. Quando num cristal uniaxial o valor de

o cristal é dito positivo e negativo quando . Ou, olhando para as componentes

ordinária e extraordinária da onda, se trata-se de um cristal uniaxial positivo e se

, o cristal é uniaxial negativo.

Num cristal biaxial, esta classificação é feita mediante a proximidade do índice aos

índices e . O cristal é positivo se é mais próximo de e negativo se mais próximo

de .

Page 28: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

12

Page 29: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

13

Capítulo 3 – Efeito Eletro-ótico

3.1 – Introdução

No capítulo anterior foi abordada a propagação da luz em meios anisotrópicos,

verificando-se que esta se reduz à combinação de dois modos caracterizados a partir do

elipsóide de índices.

Será agora considerada esta mesma propagação mas numa situação em que o meio

anisotrópico está submetido a um campo elétrico aplicado. Verificar-se-á que o campo

elétrico origina uma alteração nas dimensões e orientação do elipsóide de índices.

Este efeito é designado por efeito eletro-ótico, sendo que a relação entre o campo

elétrico e a variação no índice de refração faz-se de duas formas: linear e quadrático. O

efeito eletro-ótico linear, conhecido como o efeito de Pockels, quando atua num sólido,

este é dominante, e geralmente o efeito quadrático não é considerado por ser muito

reduzido. No entanto, o efeito linear não acontece em qualquer material, mas apenas

naqueles cujas redes cristalinas não exibam centro de simetria. Nestes casos, o efeito

quadrático, usualmente conhecido como efeito de Kerr, predomina.

O efeito eletro-ótico e as suas vertentes, linear e quadrática, têm a sua representação

num conjunto de coeficientes. São conhecidos por coeficientes eletro-óticos e traduzem a

Page 30: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

14

dependência do tensor de impermeabilidade elétrica com a redistribuição das cargas no

cristal resultante da aplicação do campo elétrico [9].

Este conjunto de coeficientes exprime-se habitualmente por

(3.1)

onde se ignoram as correções de ordem superior à segunda. Sendo que no segundo

membro da equação, temos o primeiro termo que evidencia o efeito eletro-ótico linear

ou efeito de Pockels e as constantes os seus coeficientes. O segundo termo o efeito

eletro-ótico quadrático ou efeito de Kerr e as constantes os seus coeficientes.

Olhando para a expressão (3.1) como um desenvolvimento em série e, podendo-se

permutar os índices e dada a simetria do tensor , teremos os coeficientes dados

por

(3.2)

Sendo irrelevante a sequência de derivação, segue-se que os índices e podem

também ser permutados. Por consequência podemos afirmar que

(3.3)

Face a estas regras de permutação é conveniente, e habitual, para abreviar a notação,

introduzir os chamados índices contraídos

Page 31: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

15

(3.4)

A adoção desta notação permite a redução no número de coeficientes lineares de

27 para 18 e os coeficientes quadráticos de 81 para 36.

Na presença de um campo elétrico o elipsóide de índices é dado pela forma quadrática

(3.5)

sendo dado pela expressão (3.1). Quando o campo elétrico é removido, o elipsóide

de índices reduz-se à expressão (2.14), a forma simples apresentada no capítulo anterior.

3.2 – Efeito de Pockels

Existem cristais cujos índices de refração se modificam perante a aplicação de um

campo elétrico. Quando esta variação é diretamente proporcional ao campo elétrico,

teremos o conhecido efeito de Pockels, ou efeito eletro-ótico linear [11].

Este efeito representa o termo linear em da perturbação do tensor de

impermeabilidade, envolvendo apenas os coeficientes com desprezo do termo

quadrático, dada a pequenez relativa do campo elétrico aplicado face ao campo elétrico

interatómico (tipicamente da ordem de 100MV/cm).

Este efeito aparece em cristais anisotrópicos, dando a anisotropia aos fenómenos de

birrefringência já referidos.

Para além da anisotropia inerente ao meio, certos cristais uniaxiais podem ter uma

anisotropia extra, induzida pela aplicação do campo elétrico. Tendo em conta a direção

de propagação da luz, caso este campo elétrico seja aplicado na mesma direção, estamos

Page 32: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

16

perante o efeito de Pockels longitudinal. Se for aplicado perpendicularmente à direção de

propagação da luz, teremos o efeito de Pockels transversal.

Da expressão (3.5) e fazendo recorrendo a (2.14) e (3.1), desprezando então o termo

quadrático e temos

(3.6)

fazendo , e e usando os índices contraídos virá

(3.7)

Os eixos principais deste novo elipsóide não coincidirão com os eixos iniciais , ,

(para ), e dependerão do campo elétrico aplicado bem

como da natureza do material. O novo sistema de eixos principais pode ser obtido por

rotação da forma quadrática à sua expressão elementar

(3.8)

3.3 – Célula de Pockels

Uma célula Pockels é composta basicamente por um cristal eletro-ótico e dois

elétrodos, os quais fornecem meios de aplicar o campo elétrico externo através do cristal.

Estes elétrodos podem ser constituídos por placas metálicas, no interior das quais se

Page 33: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

17

insere o cristal, por filmes metálicos depositados pela técnica de evaporação, ou mesmo,

por tintas metálicas. A célula de Pockels pode ter duas configurações dependendo da

forma como esses elétrodos estão dispostos. Esta será transversal se o campo elétrico é

perpendicular à direção de propagação do feixe e será longitudinal se for paralelo. As

figuras 3.1 e 3.2 ilustram-se essas configurações onde P é um polarizador e A um

analisador onde o cristal está inserido.

Fig. 3.1 – Célula de Pockels transversal

Fig. 3.2 – Célula de Pockels longitudinal

Numa célula de Pockels longitudinal, é utilizado um elétrodo condutor

semitransparente para revestir as extremidades do cristal. Esta configuração proporciona

uma distribuição uniforme do campo elétrico, mas leva a perdas óticas, que por vezes não

são aceitáveis.

As células de Pockels têm diversas aplicações, sendo principalmente em moduladores

e sensores eletro-óticos. Ambas as estruturas requerem a incorporação de um sistema

Page 34: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

18

ótico adicional e são projetadas para que uma dada informação seja introduzida no feixe

ótico que se propaga através da célula.

Consideremos o exemplo de uma célula de Pockels transversal de Niobato de Lítio

( ) onde se tem o eixo como a direção de propagação do feixe ótico

monocromático e o eixo ótico do cristal uniaxial orientado segundo .

Considerando que as características de propagação de uma onda ótica num cristal são

completamente descritas pelo elipsóide de índices, o efeito da aplicação de um campo

elétrico externo é mais convenientemente expresso em termos das variações das

constantes do elipsóide de índices, representadas por

(3.9)

A variação linear dos coeficientes

, provocada por um campo elétrico

externo arbitrário, , será definida por

(3.10)

onde .

Apresentando esta equação na forma matricial, teremos

(3.11)

Page 35: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

19

A matriz de 6 x 3 é designada por tensor eletro-ótico e o seu formato é determinado

pela estrutura cristalina do meio. Neste caso específico do Niobato de Lítio, tem-se

, pelo que o correspondente tensor eletro-ótico

será definido por

(3.12)

Sabendo que o eixo é o eixo ótico da célula de Pockels constituída pelo cristal

uniaxial de Niobato de Lítio, e que o campo elétrico externo é orientado segundo ,

, o referencial ( ) é, de facto, o referencial dos eixos dielétricos principais.

Fazendo e

, tem-se e , e tendo em conta (2.14),

na ausência de campo aplicado, o elipsóide de índices é dado por

(3.13)

Tomando o tensor eletro-ótico correspondente e tendo em conta (3.9), (3.10) e

(3.11), o elipsóide de índices na presença de um campo externo será descrito pela

seguinte expressão

(3.14)

que, considerando que a polarização do campo externo aplicado está dirigida segundo e

o facto de o cristal ser uniaxial, se reduz á forma

Page 36: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

20

(3.15)

ou seja

(3.16)

em que

(3.17)

(3.18)

De notar que, como não existem termos compostos em , e na equação do

elipsóide de índices do Niobato de Lítio, os eixos principais de elipsóide permanecem

paralelos aos eixos e , quando é aplicado um campo elétrico externo ao longo da

direção do eixo .

3.4 – Efeito de Kerr

O efeito eletro-ótico quadrático, ou efeito de Kerr, normalmente é desprezável face

ao efeito eletro-ótico linear. No entanto, em meios óticos isotrópicos e cristais

centrossimétricos, o efeito de Pockels não existe sendo apenas dominante o efeito de

Kerr [5].

Para este tipo de meios, a presença de um campo elétrico

provoca o aparecimento de anisotropia. A equação do elipsóide de índices que traduz

Page 37: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

21

essa anisotropia obtém-se também da expressão (3.5), recorrendo a (2.14) e (3.1), sendo

que desta feita não existe termo representativo do efeito eletro-ótico linear. Assim,

igualando a zero os coeficientes lineares e usando para os coeficientes quadráticos a

notação de índices contraídos, temos

(3.19)

Dos 36 coeficientes que aparecem muitos são nulos, mas a quantidade depende das

propriedades de simetria cristalográfica de cada material.

Para campos elétricos intensos pode existir uma birrefringência induzida pelo

alinhamento das moléculas do meio. Quando um fluído isotrópico é submetido à ação de

um campo elétrico as suas moléculas tendem a alinhar-se com este. Neste caso a

substância comporta-se opticamente como se fosse um cristal anisotrópico uniaxial no

qual a direção do campo elétrico define o eixo ótico.

A magnitude da birrefringência induzida é proporcional ao quadrado do campo

elétrico, e escreve-se

(3.20)

onde é o comprimento de onda no vazio e a constante de Kerr que depende do

material em questão.

Page 38: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

22

Page 39: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

23

Capítulo 4 – Modulação Eletro-ótica

Os moduladores eletro-óticos são dispositivos essenciais nos sistemas de

comunicações óticos, uma vez que permitem converter um sinal elétrico modulante num

sinal ótico adequado para transmissão [10]. A modulação pode ser de amplitude, de

frequência ou de fase, ou ainda uma combinação destas várias alterações.

4.1 – Modulação de Amplitude

Existem dois métodos principais de modulação de amplitude: a modulação

transversal, que tem por base a construção de uma célula de Pockels transversal, e a

modulação longitudinal, que por sua vez se baseia também numa célula de Pockles, mas

longitudinal [5].

4.1.1 – Modulação Transversal

No caso da modulação transversal, o campo elétrico aplicado é dirigido

transversalmente à direção de propagação de luz no cristal. O esquema do modulador

transversal está representado na Figura 4.1 e tal como o nome pressupõe, tem por base a

célula de Pockels transversal. Aqui , e representam os eixos dielétricos principais do

elipsóide de índices com campo aplicado nulo (o eixo dos é o eixo ótico) [11].

Page 40: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

24

Fig. 4.1 - Configuração do modulador eletro-ótico transversal, incluindo um cristal e um par de

polarizadores cruzados. O campo elétrico aplicado, paralelo ao eixo ótico do cristal, é transversal

á direção de propagação.

Sendo o campo , o elipsoide inicial transforma-se num novo, caracterizado

pelas direções , e .

Dada a posição do polarizador de entrada P, o campo elétrico da onda incidente no

cristal exprime-se por:

(4.1)

com

.

Mesmo após se aplicar o campo exterior, o eixo ótico da célula de Pockels é o eixo , o

feixe ótico excita uma onda polarizada segundo que se propaga com uma constante

de propagação e uma onda polarizada segundo que se propaga com uma

constante de propagação .

À saída do cristal de comprimento , tem-se

(4.2)

E à saída do analisador A, cruzado com o polarizador de entrada, transmite um campo

(4.3)

Page 41: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

25

Admitindo que por definição se tem,

(4.4)

(4.5)

Então tem-se que,

(4.6)

(4.7)

E usando estas equações,

(4.8)

ou seja,

(4.9)

Definindo a intensidade luminosa correspondente a como,

(4.10)

e a correspondente a como,

(4.11)

que relacionando ambas,

Page 42: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

26

(4.12)

Sendo a transmissividade da célula de Pockels representada na figura 4.1, esta é

dada por,

(4.13)

Aplicando uma tensão modulante entre a face de e a face

de de uma célula de Pockels de Niobato de Lítio, substituindo as equações (3.17) e

(3.18) em (4.4) tem-se o atraso diferencial de fase,

(4.14)

onde é a componente passiva do atraso e dada por,

(4.15)

Considerando que é uniforme entres as faces de e do cristal da célula

de Pockels, pode introduzir-se a tensão tal que,

(4.16)

Podendo simplificar-se a equação (4.14) a,

(4.17)

onde é para e é ,

Page 43: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

27

(4.18)

A esta tensão dá-se o nome de tensão de meia-onda e é um parâmetro

característico do modulador.

Quando o comprimento da célula de Pockels é aumentado em relação à sua largura

, o valor desta tensão reduz.

Através das equações (4.13) e (4.17), a partir da tensão modulante tira-se que

(4.19)

e que pode ser reescrita

(4.20)

Sendo a expressão exata da transmissividade para a tensão modulante aplicada e

onde se considerou

(4.21)

No entanto, a expressão dada pela equação (4.20) tem a desvantagem do termo

dependente do tempo não ser uma réplica da tensão aplicada . Contudo, é possível

superar esta desvantagem como se pode demonstrar.

Considerando,

(4.22)

Page 44: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

28

A equação (4.20) é

(4.23)

E supondo ainda que e e tendo em conta a equação (4.21),

reescreve-se com razoável aproximação

(4.24)

conseguindo assim que o termo dependente do tempo seja uma réplica da tensão

aplicada .

Porém, para que a equação (4.11) se verifique, é necessário que

(4.25)

para estar de acordo com a equação (4.15).

Na maioria das aplicações, este é impraticável ter este comprimento para o cristal

utilizado na célula de Pockels. Assim, pode assegurar-se de duas formas que

. A

primeira passa pela introdução de uma placa retardadora adicional entre a célula de

Pockels e o analisador. A segunda consiste em fazer a tensão modulante igual a

(4.26)

onde é uma tensão contínua.

Assim, a equação (4.17) resulta em

(4.27)

onde se simplificou com

Page 45: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

29

(4.28)

Basta assim fazer com que

, sendo

(4.29)

4.1.2 – Modulação Longitudinal

No caso da modulação longitudinal, o cristal é submetido a um campo elétrico

aplicado ao longo do eixo ótico, o eixo dos . O cristal é atravessado por luz que se

propaga também ao longo do eixo ótico. O esquema do modulador longitudinal está

representado na Figura 4.2 e tal como o nome pressupõe, tem por base a célula de

Pockels longitudinal.

À entrada existe um polarizador cujo eixo de transmissão coincide com o eixo dos .

À saída existe um polarizador cruzado com o primeiro, isto é, o seu eixo de transmissão

coincide com o eixo dos .

Fig. 4.2 - Configuração do modulador eletro-ótico longitudinal, incluindo um cristal e um par de

polarizadores lineares cruzados. O campo elétrico aplicado, paralelo ao eixo ótico do cristal, é

coincidente á direção de propagação.

Sendo a propagação ao longo do eixo ótico, os dois modos normais são degenerados

e o cristal comporta-se de forma isotrópica. A onda eletromagnética luminosa é do tipo

Page 46: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

30

ordinário, entra e sai do cristal com polarização linear segundo propagando-se com uma

velocidade de fase . Dada a posição do analisador a luz que dele emerge terá

intensidade nula, .

Quando se aplica um campo elétrico externo a situação modifica-se e a

intensidade luminosa à saída do conjunto vem modulada por .

Como a propagação no interior no cristal é segundo (direção de ) a interseção do

elipsoide pelo plano normal a define no plano uma elipse de semieixo e a

que correspondem dois modos normais com polarizações paralelas a e a .

o campo elétrico da onda incidente no cristal exprime-se por,

(4.30)

com

.

As componentes e propagam-se independentemente ao longo do cristal, de

comprimento , com constantes de propagação distintas, respetivamente e . O

campo da onda incidente à saída do cristal, em , é dado por

(4.31)

Deste campo, apenas é transmitido pelo analisador a projeção sobre o eixo dos :

(4.32)

Tendo em conta as equações (4.4) onde agora,

(4.33)

onde substituindo as equações (3.17) e (3.18)

Page 47: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

31

(4.34)

Admitindo uniformidade para o campo aplicado, o produto traduz a tensão elétrica

modulante entre as faces e . O valor desta tensão que traduz um atraso de

fase igual a é,

(4.35)

4.2 – Modulação de Fase

A modulação de fase é outro tipo de modulação e que se baseia na alteração de fase

da onda portadora. Este tipo de modulação constitui uma operação fundamental no

controlo dos dispositivos eletro-óticos. A variação do índice de refração, induzida por um

campo elétrico externo, produz uma variação de fase na onda luminosa que se propaga

num guia de ondas dielétrico pertencente ao dispositivo.

A célula de Pockels da Figura 4.3 é caracterizada pela matriz 6x3 (grupo de simetria 4-

tetragonal), com o coeficiente eletro-ótico dada por

(4.36)

Fig. 4.3 - Célula de Pockels caracterizada pela matriz 6x3 (grupo de simetria 4-tetragonal)

Page 48: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

32

Na ausência de campo elétrico aplicado, o cristal que constitui a célula de Pockels é

uniaxial sendo o seu índice de refração ordinário e o índice de refração

extraordinário.

Como o eixo ótico está alinhado com o eixo z, a equação do elipsoide de índices não

perturbada é dada por

(4.37)

e o elipsoide de índices modificado será dada por

(4.38)

como o campo elétrico aplicado está orientado segundo z,

(4.39)

Como na Equação (4.39), o termo cruzado não envolve o eixo , se for , o

novo referencial dos eixos dielétricos principais então deverá ter-se . Quanto aos

eixos serão de acordo com a Figura 4.4

(4.40)

Fig. 4.4 – Novo referencial dos eixos dielétricos principais

Page 49: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

33

Assim, da Equação (4.40), vem

(4.41)

(4.42)

(4.43)

Substituindo as Equações (4.41), (4.42) e (4.43) na Equação (4.38), tem-se

(4.44)

onde

(4.45)

(4.46)

Para que o termo cruzado da Equação (4.44) seja nulo é necessário ter-se

ou seja,

(4.47)

Tendo em conta a Equação (4.46), e atendendo à Equação (4.47), tem-se

(4.48)

Tira-se da Equação (4.45) que

Page 50: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

34

(4.49)

Pelo que

(4.50)

Por outro lado, tem-se

(4.51)

ou, de acordo com a Equação (4.47)

(4.52)

Logo, da Equação (4.50) e da Equação (4.52), tem-se que

(4.53)

Deste modo, como , a Equação (4.44) reduz-se a

(4.54)

em que

(4.55)

(4.56)

Page 51: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

35

Assim, substituindo a Equação (4.53) nas Equações (4.55) e (4.56), obtém-se

finalmente

(4.57)

(4.58)

pelo que o cristal se torna biaxial.

A configuração de um modulador de fase é a mesma de um modulador de amplitude

longitudinal, estando no entanto o polarizador de entrada alinhado com o eixo e o

analisador deixa de estar presente.

Uma montagem possível para modulação eletro-ótica de fase é a que se indica na

Figura 4.5 [11]

Fig. 4.5 – Configuração do modulador eletro-ótico longitudinal de fase. O campo elétrico externo,

aplicado paralelamente ao eixo ótico do cristal, é coincidente com a direção de propagação.

À entrada da célula de Pockels tem-se

(4.59)

e à saída vem

Page 52: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

36

(4.60)

Para um campo aplicado da forma

(4.61)

obtém-se

(4.62)

em que

(4.63)

e

(4.64)

Fazendo

(4.65)

em que

(4.66)

vem ainda

(4.67)

Page 53: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

37

onde se introduziu a tensão de meia onda

(4.68)

As Equações (4.67) e (4.62) mostram, assim, como se obtém a modulação de fase com

um índice de modulação .

Page 54: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

38

Page 55: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

39

Capítulo 5 – Dispositivos Fotónicos Passivos

Foi abordado no capítulo anterior, a análise de um modulador de fase eletro-ótico

mas na maioria dos sistemas de comunicação óticos utilizados atualmente, a modulação

da portadora ótica é realizada com modulação de amplitude, sobre o nível de potência

que transporta. Uma vez que o efeito eletro-ótico apenas induz uma variação de fase do

feixe ótico propagante, a modulação de intensidade é baseada na interferência entre

modos óticos e implementada sobre estruturas dielétricas específicas.

Embora existam várias possibilidades, a análise que se segue focar-se-á nos

moduladores suportados em estruturas interferométricas de Mach-Zehnder e baseados

em acopladores direcionais [13, 14].

5.1 Acoplador Direcional

Acopladores direcionais são dispositivos que acoplam parte da energia transmitida

através de uma linha de transmissão para outra porta, muitas vezes utilizando duas linhas

de transmissão (guias) dispostas suficientemente perto para a energia que flui através de

uma das linhas se acople à outra.

Estes dispositivos são muito utilizados para comutação ótica. O acoplador direcional é

caracterizado pelo seu comprimento de interação , pelo comprimento de acoplamento

e pela diferença entre as constantes de propagação entre os dois guias.

Page 56: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

40

O comprimento de acoplamento é definido como o mínimo comprimento necessário

para obter uma completa transferência de onda de um guia para o outro quando não

existe diferença entre as constantes de propagação entre os dois guias.

A relação entre o comprimento de acoplamento e a constante de acoplamento , é

dada por . A característica de transmissão ótica depende do comprimento de

interação normalizado e da diferença entre as constantes de propagação dos dois

guias.

Com a introdução de elétrodos na região de acoplamento consegue-se obter

modulação das ondas devido ao efeito eletro-ótico. Ao aplicar-se uma tensão nos

elétrodos, altera-se o índice de refração dos guias o que irá conduzir a uma alteração nas

constantes de propagação das ondas nos dois guias [3, 4, 10].

As características de modulação do acoplador dependem da estrutura dos guias, do

comprimento de interação, da tensão aplicada e também da configuração de colocação

dos elétrodos na região de interação.

5.1.1 – Acoplador Direcional 2×2 Uniforme

Um acoplador direcional 2×2 uniforme apresenta uma configuração onde tanto na

entrada como saída dos guias de onda estão suficientemente afastados de tal forma que

não há acoplamento ótico dos campos entre si. Por outro lado na região central os dois

guias estão suficientemente próximos para haver acoplamento ótico. Para tal, é colocada

uma secção uniforme de elétrodos, normalmente numa configuração push-pull [3, 4, 10], e

quando é aplicada uma tensão, o campo elétrico vai introduzir uma alteração igual mas

em oposição de fase nas constantes de propagação dos dois guias , que irá originar

uma modulação das características óticas de transferência.

O esquema de um acoplador deste tipo é ilustrado da figura seguinte

Page 57: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

41

Fig. 5.1 – Configuração de um acoplador direcional 2×2 Uniforme

Usando a teoria do acoplamento modal (que não é abordada neste trabalho), as

características óticas de transferência podem ser analisadas do seguinte modo. Sendo

e a amplitude normalizada, complexa do campo nos dois guias de acoplamento

a uma distancia de propagação , temos que os campos de saída e estão

relacionados com os campos de entrada e e através da matriz de transferência

do acoplamento ótico

(5.1)

onde , são os elementos complexos da matriz de transferência dados por

(5.2)

(5.3)

sendo e .

Os termos , podem ser escritos em função do comprimento de interação

normalizado e da diferença normalizada entre as constantes de propagação ou por

outras palavras tensão aplicada normalizada

(5.4)

Page 58: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

42

(5.5)

onde

(5.6)

Assim, as potências óticas de saída do guia superior e do guia inferior

podem ser apresentadas em função do comprimento de acoplamento normalizado e

também da diferença normalizada entre as constantes de propagação (ou tensão aplicada

normalizada) .

Ao introduzir-se uma onda no guia superior e , a potência ótica de

saída do guia superior obtém-se,

(5.7)

Considerando uma operação de interrupção, o interruptor estará no estado direto

quando a potência ótica na saída se mantêm na totalidade no mesmo guia, e estará no

estado cruzado quando a potência ótica de saída é transferida na totalidade para o outro

guia. No caso do segundo modo de funcionamento, o comprimento de interação da

região de acoplamento é exatamente igual a um comprimento de acoplamento .

Na Figura seguinte é representada a potência ótica de saída em função da diferença

normalizada entre as constantes de propagação.

Page 59: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

43

Fig. 5.2 - Potência ótica de saída em função da diferença normalizada entre as constantes de

propagação.

Quando não há tensão aplicada, estamos no estado cruzado e a tensão necessária

para passar para o estado direto é dada pela condição de interrupção .

No caso geral de acopladores direcionais com um comprimento arbitrário nem

sempre é possível comutar totalmente a onda de um guia para o outro. As características

gerais de modulação de dispositivos arbitrários são melhor representada através de

diagramas de modulação e interrupção.

Pode construir-se o diagrama de modulação do dispositivo pela Equação 5.7 que

descreve a potência ótica de saída como função de e .

O diagrama de modulação do acoplador direcional 2×2 uniforme é apresentado na

figura 5.3. É possível ver através do diagrama de modulação que em certas situações é

impossível alterar o seu estado para comutado. Para este dispositivo ser um interruptor

2×2 é necessário que esteja no estado comutado quando não há tensão aplicada

Page 60: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

44

Fig. 5.3 - Diagrama de modulação do acoplador direcional 2×2 uniforme

5.1.2 Acoplador Direcional 1×2 Simétrico

Um acoplador direcional 1×2 simétrico apresenta uma configuração que consiste num

único guia de entrada e o qual se divide num par de guias de onda acoplados de

comprimento , com uma região de elétrodos de entrada. Devido à simetria da estrutura,

quando não é aplicada tensão nos elétrodos, a potência ótica na entrada é distribuída

igualmente e com a mesma fase pelos dois guias. Assim, para que funcione e ao contrário

do que acontece no acoplador direcional 2×2 e no interferómetro de Mach-Zehnder [2, 3,

4], não requer uma tensão constante DC.

Fig. 5.4 - Acoplador direcional 1×2 Simétrico

Page 61: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

45

Usando novamente a teoria do acoplamento modal, a potência de saída no guia

superior é dada por [1]

(5.8)

Para o funcionamento normal como modulador linear ou como interruptor ótico 1×2

o dispositivo é dimensionado de forma que o comprimento de interação seja

.

Na figura seguinte, é apresentada a potência ótica se saída em função da diferença

normalizada entre as constantes de propagação.

Fig. 5.5 - Potência ótica de saída em função da diferença normalizada entre as constantes de propagação.

Verifica-se que a onda é comutada entre os dois guias de saída através da aplicação

de uma tensão constante que conduza a . A condição de interrupção

para a onda entre os dois guias de saída é assim .

Page 62: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

46

Observa-se assim que, em comparação com a configuração estudada anteriormente,

a condição de interrupção é mais eficiente uma vez que para o acoplador direcional 2×2 é

.

Pode construir-se o diagrama de modulação do dispositivo pela Equação 5.7 que

descreve a potência ótica de saída como função de e e onde se pode verificar

que uma onda é completamente comutada entre dois estados quando o comprimento de

interligação normalizado and .

Fig. 5.6 - Diagrama de modulação do acoplador direcional 1×2 Simétrico

5.2 – Dispositivos Mach-Zehnder

Atualmente os dispositivos de Mach-Zehnder desempenham um papel muito

importante no campo das comunicações ótica. Por exemplo, é graças a eles que se

ultrapassam os efeitos negativos da modulação direta de lasers, o chirp. Os dispositivos

Mach-Zehnder são sempre compostos por vários elementos, mas todos eles têm um em

Page 63: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

47

comum, todos contêm um modulador de fase. Se este estiver situado entre duas junções

Y é denominado por Interferómetro Mach-Zehnder. Caso esteja entre dois acopladores é

chamado de Acoplador de Mach-Zehnder [5].

O interferómetro permite que a modulação de fase sofrida pelo sinal de entrada

através do modulador de fase seja transformada em modulação de intensidade no sinal

de saída. No caso da comunicação digital, utilizam-se moduladores de amplitude em

configuração de Mach-Zehnder. As gerações mais modernas destes dispositivos já estão

disponíveis comercialmente até 40Gbits/s, sendo as principais aplicações os sistemas de

comunicação transoceânicos, as modernas gerações da SONET e as redes de CATV [1]. O

interferómetro de Mach-Zehnder pode ser usado como filtro ótico ou como um

interruptor.

5.2.1 – Modulador Interferométrico de Mach-Zehnder

Na Figura seguinte é mostrado o diagrama de um modulador de amplitude ótica

utilizando interferómetro Mach-Zehnder.

Fig. 5.7 – Modulador interferométrico de Mach-Zehnder em montagem

a) Vista de topo, b) Corte transversal.

Page 64: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

48

Está em configuração push-pull de forma a minimizar o efeito eletro-ótico necessário

para induzir uma determinada diferença de fases entre os dois braços [10]. Os braços do

interferómetro são constituídos por dois guias dielétricos de niobato de lítio ( )

orientados longitudinalmente segundo .

Existem dois elétrodos metálicos do tipo strip-line entre os guias e onde é aplicada a

tensão modulante , originando um campo elétrico transversal alinhado segundo

(direção do eixo ótico do material) no interior dos guias. As ondas, à saída dos braços do

interferómetro, apresentam uma desfasagem proporcional à tensão modulante .

Conforme se representa na Figura 5.7 os campos aplicados aos guias têm polaridade

oposta

(5.9)

No caso do niobato de lítio, o elipsoide de índices é alterado por um campo elétrico

segundo , de acordo com a Equação (3.15). A alteração não é ao nível da orientação dos

eixos do elipsoide mas sim nas suas dimensões. Contudo, mantém o seu carácter uniaxial

[11].

Admitindo que os guias dielétricos são percorridos por ondas TE polarizadas segundo

, com propagação ao longo de , para ambos os guias ter-se-á em conta apenas a onda

extraordinária. No entanto, como o substrato dos guias dielétricos é de material eletro-

ótico (suscetível de alterar o respetivo índice de refração por aplicação dum campo

elétrico), os índices de refração são distintos devido às orientações opostas do

campo externo aplicado:

(5.10)

onde e

.

Page 65: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

49

Concluído o percurso na região perturbada (de comprimento ) as ondas emergem

dos dois braços do interferómetro apresentando uma desfasagem

(5.11)

onde se considera (sendo a distancia inter-elétrodos).

Pode modular-se a intensidade da radiação à saída do dispositivo controlando o valor

de . Para

(5.12)

obtêm-se , e intensidade de saída nula.

Para uma dimensão típica, e , para uma radiação com

, de acordo com o valor dado pelos coeficientes eletro-óticos para o niobato de

lítio, obtém-se um valor para a tensão de meia-onda de .

No início a potência ótica é dividida igualmente pelos dois braços, sendo que em cada

um deles as ondas propagam-se independentemente. Num dos braços está aplicada uma

tensão modulante retangular e quando , o campo elétrico é nulo e os dois braços

têm o mesmo comprimento. Os feixes secundários percorrem o mesmo comprimento

ótico e recombinam-se em fase produzindo interferência construtiva:

Quando (com escolhido de forma apropriada), o feixe do braço superior

é afetado. As suas características de propagação alteram-se e sai da região perturbada

com um atraso de fase de 18 ⁰. Assim, ao recombinar-se com o feixe do braço inferior

produz interferência destrutiva . Isto leva a que a potência ótica não

fique confinada no guia de saída, sendo assim perdida por radiação no substrato.

A potência ótica normalizada na saída do guia, pode ser escrita em função da

alteração introduzida pelo efeito eletro-ótico na diferença da constante de propagação

entre os dois guias

Page 66: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

50

(5.13)

A diferença de propagação , é linearmente proporcional à tensão aplicada . A

condição de interrupção (switching) é dada por .

Na Figura 5.8, é apresentada a potência ótica de saída em função da diferença

normalizada entre as constantes de propagação. Para , a potência ótica é máxima

à saída do interferómetro, e nula para .

Fig. 5.8 - Potência ótica de saída em função da diferença normalizada entre as constantes

de propagação.

5.2.2 – Acoplador de Mach-Zehnder

Aqui serão estudados os acopladores de Mach-Zehnder de 4 e de 3 acessos,

comparando ambos os dispositivos.

Começando pelo acoplador de Mach-Zehnder de 4 acessos, apresentado na figura 5.9.

Page 67: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

51

Fig. 5.9 - Acoplador de Mach-Zehnder de 4 acessos

Apesar de apresentar um comportamento diferente, este dispositivo é semelhante ao

interferómetro. Neste dispositivo, tanto a saída como a entrada são terminadas por

acopladores direcionais, e o núcleo é um modulador de fase. Como é sabido, os

acopladores direcionais integrados são dois guias de ondas óticos paralelos separados por

uma distância reduzida, para que os campos nos dois guias possam interagir através dos

campos evanescentes [2, 3].

Tendo em conta que os acopladores são iguais e simétricos, para este caso, a matriz

de transferência tem a seguinte forma

(5.14)

A potência ótica relativa á porta cruzada é

(5.15)

E a potência ótica relativa á porta direta é

(5.16)

O dispositivo apresenta, então, estado cruzado para ∆φ=2mπ

Page 68: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

52

(5.17)

E estado direto para

(5.18)

Observa-se que o dispositivo apresenta estados cruzados e estados diretos perfeitos

quando os acopladores direcionais se comportam como divisores de potência perfeitos,

isto é, para valores .

Caso os acopladores direcionais não sejam divisores de potência perfeitos, para

o estado direto mantem-se perfeito mas o mesmo não acontece com o estado

cruzado. Assim conclui-se que o acoplador de Mach-Zehnder de 4 acessos, mantêm

estados diretos perfeitos, mas apresenta como desvantagem o facto de apresentar

estados cruzados imperfeitos.

Um acoplador Mach-Zehnder de 3 acessos, apresentado na figura 5.10

Fig. 5.10 - Acoplador de Mach-Zehnder de 3 acessos

Consiste num modulador de fase no núcleo, entre uma junção Y no lado de entrada e

um acoplador direcional na saída.

A matriz de transferência do acoplador é dada por

Page 69: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

53

(5.19)

sendo os coeficientes são dados por

(5.20)

(5.21)

O parâmetro representa as densidades de fase do acoplador simétrico no lado de

saída.

A troca de fase dentro do modulador de fase é dado por

(5.22)

sendo seguido depois por dois guias de onda óticas paralelas do mesmo tipo. A constante

de propagação do modo do guia é dada por , e a diferença do caminho físico entre os

dois guias de onda do modulador de fase é .

A potencia ótica relativa do estado direto á entrada do modulador de fase é dado por

(5.23)

Assume-se, para simplificar, que o acoplador simétrico comporta-se como um divisor

de potência ( em que ).

Então o dispositivo apresenta estado direto para

Page 70: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

54

(5.24)

e estado cruzado para

(5.25)

Para o modulador de fase o dispositivo comporta-se como um divisor de

potência.

Verifica-se que o estado direto e o estado cruzado são perfeitos, se o acoplador

simétrico no lado da saída for um divisor perfeito de potência ( ). Se esta

condição não for verificada, o nível mínimo da potencia relativa do estado cruzado é igual

ao nível mínimo da potencia relativa do estado direto, e dado por

(5.26)

onde representa a diferença das densidades de fase do acoplador direcional do valor

ideal ( ).

5.2.3 – Comparação entre acopladores de Mach-Zehnder de 3 e 4 acessos

Fazendo a comparação entre os acopladores Mach-Zehnder de 3 e 4 acessos, nota-se

que caso os acopladores direcionais sejam divisores de potência perfeitos, para os

estados direto e cruzado, tanto um como outro dispositivo apresentam a mesma

característica de filtro.

Caso o acoplador direcional seja imperfeito, o acoplador Mach-Zehnder de 3 acessos

exibe uma relação de extinção decrescente que é equilibrado para ambos os acessos de

saída.

Por outro lado, no acoplador Mach-Zehnder de 4 acessos, se os acopladores

direcionais não forem divisores de potência perfeitos, por exemplo para , os

Page 71: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

55

estados diretos mantêm-se perfeitos mas não acontece o mesmo com os estados

cruzados.

Assim, conclui-se que, embora o acoplador de Mach-Zehnder de 4 acessos mantenha

estados diretos perfeitos, tem a desvantagem de apresentar estados cruzados

imperfeitos.

5.3 – Acopladores de Mach-Zehnder e acopladores direcionais

Comparando os acopladores de Mach-Zehnder com os acopladores direcionais

simétricos, os acopladores de Mach-Zehnder aparentam apresentar apenas

desvantagens, uma vez que os acopladores direcionais simétricos exibem estados

cruzados e diretos perfeitos independentemente dos parâmetros dos materiais.

Mas nos acopladores Mach-Zehnder nem tudo são desvantagens. Estes dispositivos

têm também vantagens importantes como:

- a integração em outros dispositivos de vários tipos;

- a fabricação dos moduladores de fase è muito mais fácil comparativamente com

acopladores direcionais (principalmente devido ao controlo das tolerâncias de fabrico

necessários para os acopladores direcionais simétricos) [2, 3, 4].

Page 72: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

56

Page 73: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

57

Capítulo 6 – Conclusões e Perspetivas de Evolução

6.1 - Conclusões

O trabalho apresentado neste relatório teve como principal objetivo, desenvolver

uma análise aprofundada e sistemática para o problema da modelização de dispositivos

óticos integrados passivos, controlados pelo efeito eletro-ótico linear de Pockels.

Apresentaram-se, em seis capítulos, temas relacionados com os meios anisotrópicos,

efeito eletro-ótico, modulação eletro-ótica e dispositivos de Mach-Zehnder.

No Capítulo 2, estudam-se os meios anisotrópicos em geral. Em particular, foi

estudada a relação entre vetores deslocamento elétrico e campo elétrico num meio

anisotrópico sem perdas através do tensor dielétrico. Foi deduzida a expressão do tensor

eletro-ótico e o respetivo elipsóide de índices para um cristal como o niobato de lítio,

para meios uniaxiais.

No Capítulo 3, foi estudado o efeito eletro-ótico e a sua utilização como mecanismo

de modulação de ondas luminosas. No início foi apresentado um estudo analítico do

efeito de Pockels, tendo sido desenvolvidas as expressões que descrevem a variação dos

índices de refração ordinário e extraordinário do niobato de lítio na presença de campos

elétricos externos. Com base no efeito de Pockels, foi deduzida a expressão do tensor

eletro-ótico e o respetivo elipsóide de índice para aplicação posterior no estudo da

Page 74: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

58

resposta de um modulador de amplitude. Por fim, fez-se uma pequena abordagem ao

efeito de Kerr.

No Capítulo 4, abordou-se a modulação eletro-ótica, realizando-se um estudo

completo de um modulador de amplitude e de um modulador de fase. No modulador de

amplitude, embora se tenha abordado também a configuração longitudinal, foi usada

uma configuração transversal. Já no modulador de fase, usou-se uma configuração do

modulador longitudinal de uma Célula de Pockels do grupo de simetria 4-tetragonal.

Foram desenvolvidas as expressões que descrevem a variação dos índices de refração

ordinário e extraordinário na presença de campos elétricos externos. Posteriormente

deduziu-se a expressão do tensor eletro-ótico e o respetivo elipsóide de índice, sendo que

para cada um dos casos foi deduzida a expressão para a tensão de meia onda calculando-

se os respetivos valores.

No Capítulo 5, analisaram-se os moduladores suportados em interferómetros de

Mach-Zehnder e baseados em acopladores direcionais. O estudo recaiu num modulador

ótico de amplitude, assente num interferómetro de Mach-Zehnder, que reparte a

potência do sinal aplicado à entrada pelas duas secções transversais do circuito. Os dois

sinais são sujeitos ao efeito eletro-ótico que após a integração de ambos dará origem a

um sinal modulado em amplitude. Conclui-se assim que, ao otimizar a tensão a aplicar e

com o correto funcionamento do modulador, resulta o sinal de saída modulado da

interferência construtiva e destrutiva entre sinais. Considerou-se também a modulação

de intensidade de feixes óticos, estudando-se a resposta de dispositivos baseados em

interferómetros de Mach-Zehnder e em acopladores direcionais para estruturas de

elétrodos convencionais e com inversão de fase.

6.2 - Perspetivas de Evolução

Com o estudo aprofundado dos dispositivos fotónicos passivos simples, este revela-se

uma mais-valia para o progresso, expansão e desenvolvimento das redes de

telecomunicações que utilizam as fibras óticas.

Page 75: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

59

Sendo que esta dissertação se centrou nos dispositivos passivos, seria interessante

avançar para o estudo de dispositivos ativos, tais como EDFAs e LASERS. Com isso poderia

orientar-se o trabalho futuro para a criação de uma plataforma de análise com

capacidade de integrar dispositivos ativos e passivos em simultâneo.

Nesse campo, seria possível obter resultados mais precisos com a introdução de

elementos não lineares nos modelos e a simulação de sistemas suportados na

transmissão de solitões [5].

Outra área de extrema importância é a dos sistemas de transmissão na tecnologia

DWDM, onde dispositivos como multiplexadores, desmultiplexadores e LASERs DFB e DBR

têm vindo a assumir um papel cada vez mais significativo nas redes de comunicações

óticas [1].

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60

Page 77: Propagação de Ondas Eletromagnéticas em Meios Anisotrópicos

61

Referências

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Press, New York, USA, 1997

[2] R. März, Integrated Optics - Design and Modelling, Artech House, Boston, pp. 169-

250, 1995.

[3] K. J. Ebeling, Integrated Optoelectronics, Springer-Verlag, Berlin, 2nd ed., pp. 109-

173, 1992.

[4] T. Tamir, ed., Guided-Wave Optoelectronics, Springer-Verlag, Berlin, pp. 74-86,

1988.

[5] J. A. Brandão Faria, Ótica Fundamentos e Aplicações, Instituto Superior Técnico,

Lisboa, Setembro de 1994

[6] João G. Reis, Análise e Simulação de Componentes Fotónicos Passivos,

Universidade de Coimbra, 1999

[7] Paulo S. André, Componentes optoelectrónicos para redes fotónicas de alto

débito, Universidade de Aveiro, 2002

[8] C. Vassallo, Optical Waveguide Concepts, Elsevier, Arnsterdam, pp. 27-35, pp. 180-

187, 1991.

[9] A. Yariv and P. Yeh, Optical Waves in Crystals, Wiley, New York, pp. 425-469, 1984.

[10] H. Nishihara, M. Haruna, and T. Suhara, Optical Integrated Circuits, McGraw Hill,

New York, 2nd ed., pp. 46-95, 1989.

[11] C. R. Paiva and A. L. Topa, Meios Anisotrópicos, Instituto Superior Técnico, Lisboa,

Junho de 2003

[12] J. M. Torres Pereira, Propriedades Óticas dos Materiais, Instituto Superior

Técnico, Lisboa, 2004

[13] A. Yariv, Optical Electronics, Holt, Rinehart and Winston, New York, 4th ed., pp.

490-536, 1991.

[14] H. A. Haus, Waves and Fields in Optoelectronics, Prentice-Hall, Englewood Cliffs,

New Jersey, pp. 197-253, 1984.

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62

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63

Apêndice A – Niobato de Lítio

Como sabemos, o niobato de lítio é o material de substrato mais utilizado em ótica

integrada por exemplo em multiplexers e demultiplexers controlados do ponto de vista

eletro-ótico, guias de onda óticos e moduladores. De seguida são apresentados algumas

das características do niobato de lítio.

Chemical Formula Crystal Class Trigonal, 3m

Lattice Constant, a=5,148 c=13,863

Molecular Weight 147,9

Density, at 283 K 4,644

Transmittance range, 350-5500

Dielectric Constant at 100 KHz (perpendicular), ( (parallel)

85,29

Melting Temperature, K 1530

Curie Temperature, K 1415

Thermal Conductivity, at 300 K 5,6

Thermal expansion, at 300 K (perpendicular) ( (parallel)

Specific Heat, cal/(g K) 0,15

Hardness (Mohs)

Bandgap, eV 4,0

Solubility in water None

Color None

Electro-Optical Coefficientes, pm/V at 633 , high frequency

SAW Velocity, m/s 3490-3890

Nonlinear Optical Coefficients, p/m/V at 1064

Synchronism Width: temperature,

spectral, angle,

0,6 2,3 47

Optical Damage Threshold at 1064 , ,

250

Optical Homogeneity Absorption Loss at 1064 Birefringence Gradient

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64

Refractive Indices at 20

Wavelength,

0,43584 2,39276 2,29278

0,54608 2,31657 2,22816

0,63282 2,28647 2,20240

1,1523 2,2273 2,1515

3,3913 2,1451 2,0822