projeto indisciplina na educaÇÃo infantil - justificativa

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1 JUSTIFICATIVA Esse projeto nasceu da necessidade de investigar sobre o tema indisciplina, pois é um dos temas atuais que mais preocupam os professores e todos os envolvidos no processo de ensino. Além de transformar – se em desordem, a indisciplina dificulta a relação com o professor, aluno e aprendizagem e pode apresentar sérias complicações no desenvolvimento cognitivo, moral e social. Assim, por meio do gerenciamento na Educação Infantil pode-se resguardar que todos os alunos estejam ativamente envolvidos nas tarefas. Deste modo o professor previne as questões que desestabilizam a disciplina da sala antes que elas ocorram. O professor torna-se proativo e deixa de ser reativo. É necessário que a criança inicie o seu convívio com regras. É interessante que, ao propor uma atividade, o professor já tenha preparado o material e o ambiente em que trabalhará com o grupo. Além disso, tem que pensar o tempo de duração das atividades. E a convivência necessita do estabelecimento de algumas regras. Por meio da disciplina, a criança comunica-se consigo mesma e com o mundo, aceita a existência dos outros, estabelece relações sociais constrói conhecimentos, desenvolve integralmente. A sala de aula é e sempre foi um espaço que expressa continuidade da vida, reflexo do entorno. Se assim não for, não será sala de aula verdadeira, não permitirá que o aluno contextualize em sua existência os saberes que ali aprende. (ANTUNES, 2005). Diante disso, gerou a seguinte problemática,Como resolver o problema da indiscipli na na sala de aula? É essencial que se restaure a disciplina em sala de aula, que se faça desse valor um objetivo a se perseguir, não para que a sala se isole da sociedade e também não para que a aula do professor fique mais confortável, mas antes para que ali ao menos se aprenda como tentar modificar o caos urbano que o desrespeito social precipitou. (ANTUNES, 2005) O aluno indisciplinado é aquele cujas ações rompem com as regras da escola, mas também aquele que não está desenvolvendo suas próprias possibilidades cognitivas, atitudinais e morais. (GARCIA, 1999). Então, o aluno disciplinado terá um bom rendimento na aprendizagem e no comportamento ético, ou seja, autocontrole, hábitos de obediência, controle da mente e do caráter, que contribuirá para o convívio em sociedade. Contudo, transformar a disciplina em um “valor”. Isto é, fazer com que seja vista como uma qualidade humana, imprescindível à convivência é fundamental para as boas relações interpessoais. Este projeto é relevante socialmente porque oportunizará maior reflexão no contexto da escola e cientificamente possibilitará compreender melhor o processo de indisciplina além de superar lacunas sobre o tema estudado. Este projeto será realizado na creche turma do pré I no CMEI – João Paulo I, localizado na Rua 13 S/N do bairro João de Deus. Envolvendo as disciplinas de Português, Matemática, Ciências e Artes com duração de quinze dias serão colhidas as informações com aprofessora da sala investigada e a coordenadora da instituição.

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Page 1: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

1 JUSTIFICATIVA

Esse projeto nasceu da necessidade de investigar sobre o tema indisciplina, pois é um dos

temas atuais que mais preocupam os professores e todos os envolvidos no processo de ensino.

Além de transformar – se em desordem, a indisciplina dificulta a relação com o professor,

aluno e aprendizagem e pode apresentar sérias complicações no desenvolvimento cognitivo,

moral e social.

Assim, por meio do gerenciamento na Educação Infantil pode-se resguardar que todos os

alunos estejam ativamente envolvidos nas tarefas. Deste modo o professor previne as

questões que desestabilizam a disciplina da sala antes que elas ocorram. O professor torna-se

proativo e deixa de ser reativo. É necessário que a criança inicie o seu convívio com regras.

É interessante que, ao propor uma atividade, o professor já tenha preparado o material e o

ambiente em que trabalhará com o grupo. Além disso, tem que pensar o tempo de duração

das atividades. E a convivência necessita do estabelecimento de algumas regras.

Por meio da disciplina, a criança comunica-se consigo mesma e com o mundo, aceita a

existência dos outros, estabelece relações sociais constrói conhecimentos, desenvolve

integralmente. A sala de aula é e sempre foi um espaço que expressa continuidade da vida,

reflexo do entorno. Se assim não for, não será sala de aula verdadeira, não permitirá que o

aluno contextualize em sua existência os saberes que ali aprende. (ANTUNES, 2005).

Diante disso, gerou a seguinte problemática,Como resolver o problema da indiscipli na na sala

de aula?

É essencial que se restaure a disciplina em sala de aula, que se faça desse valor um objetivo a

se perseguir, não para que a sala se isole da sociedade e também não para que a aula do

professor fique mais confortável, mas antes para que ali ao menos se aprenda como tentar

modificar o caos urbano que o desrespeito social precipitou. (ANTUNES, 2005)

O aluno indisciplinado é aquele cujas ações rompem com as regras da escola, mas também

aquele que não está desenvolvendo suas próprias possibi lidades cognitivas, atitudinais e

morais. (GARCIA, 1999).

Então, o aluno disciplinado terá um bom rendimento na aprendizagem e no comportamento

ético, ou seja, autocontrole, hábitos de obediência, controle da mente e do caráter, que

contribuirá para o convívio em sociedade.

Contudo, transformar a disciplina em um “valor”. Isto é, fazer com que seja vista como uma

qualidade humana, imprescindível à convivência é fundamental para as boas relações

interpessoais. Este projeto é relevante socialmente porque oportunizará maior reflexão no

contexto da escola e cientificamente possibilitará compreender melhor o processo de

indisciplina além de superar lacunas sobre o tema estudado.

Este projeto será realizado na creche turma do pré I no CMEI – João Paulo I, localizado na Rua

13 S/N do bairro João de Deus. Envolvendo as disciplinas de Português, Matemática, Ciências e

Artes com duração de quinze dias serão colhidas as informações com aprofessora da sala

investigada e a coordenadora da instituição.

Page 2: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

2 OBJETIVOS

2.1 GERAL:

Investigar o trabalho desenvolvido pelo professor para minimizar a indisciplina na sala de aula

da educação infantil, na creche do bairro João de Deus.

2.2 ESPECÍFICOS:

Verificar que atividades são utilizadas em sala de aula para desenvolver sentimentos e atitudes

necessários a convivência social.

Identificar as causas motivadoras para o comportamento indisciplinar.

Analisar fatores internos que podem interferi nas questões disciplinares da escola.

3 PROBLEMA

Page 3: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

Que fatores que geram a indisciplina numa turma do pré I da educação infantil, numa creche

em Petrolina?

3.1 QUESTÕES NORTEADORAS

Que atitudes docentes são usadas para melhoria comportamental dos alunos?

O que deve fazer a escola para desenvolver regras na convivência?

Que atividades são mais importantes para desenvolver a concentração e criatividade das

crianças?

4 DISCURSSÃO TEÓRICA

A Educação Infantil é o nível educacional que, é parte integrante da Educação Básica do País

destinada a todas as crianças de zero a cinco anos de idade. No entanto, este nível de ensino

nem sempre ocupou um espaço relevante na formação da criança, como nos dias de hoje. Seu

surgimento ocorreu lentamente e foi, durante o século XIX, mediante significativas

contribuições teóricas e das mudanças políticas e econômicas daépoca, que se iniciou seu

desenvolvimento.

É nesta fase que a criança aumenta suas relações sociais e adquire noções de convivência com

o coletivo. Começa também a desenvolver as noções de valores, de justiça e de moralidade, e

a aprimorar seu desenvolvimento aprendizagem, motor e cognitivo. Nesta primeira etapa da

Educação Básica, onde as crianças estão no início de seu desenvolvimento social, as noções de

disciplina já começam a ser expostas e os atos de indisciplina já começam a aparecer.

(OLIVEIRA, 2010)

A indisciplina na etapa da Educação Infantil é demonstrada de formas bem particular e

Page 4: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

diferente das que ocorrem em idades mais avançadas. Portanto, ao contrário do que alguns

possam pensar, ela já existe desde que a criança entra na escola e vira uma das maiores

preocupação dos professores desta etapa, que estão focados na estimulação do

desenvolvimento da criança como um todo e na educação para a cidadania.

Karlin e Berger (1977, p. 103) complementa, que “algumas crianças desde que começam a

freqüentar a escola, já demonstram algum tipo de indisciplina”. Então caberia ao professor

desta etapa criar possibilidades da criança se desenvolver para a vida em sociedade,

independente do histórico familiar de cada uma delas.

Assim como em qualquer outro lugar, o espaço da Educação Infantil também apresenta

diferentes demonstrações de indisciplina e que só podem ser percebidas se for considerado o

contexto em que elas ocorrem. Os entendimentos sobre a indisciplina, segundo Vergés(2003,

p. 31) variam, pois dependem da vivência familiar de cada criança, dos costumes, da crença e

da cultura em que a criança está inserida, assim como podem depender dos traços de

personalidade de cada uma, das fases do desenvolvimento em que está passando e, também,

da influência do professor, da escola e da metodologia de ensino utilizada. Há uma variedade

de causas e sentidos por trás das demonstrações de indisciplina escolar e, identificá-las é o

primeiro passo para inibi-las.

O importante é identificar o que envolve um ato de indisciplina para melhor compreendê -lo e

defini-lo, destacando se sua manifestação se trata de uma questão pessoal da criança, familiar,

relacional ou escolar. Vergés e Sana (2009, p. 35) sugerem:

O que devemos entender é que nenhum aluno nasce indisciplinado; ele se torna indisciplinado

em determinadas situações, dependendo do sentido da indisciplina para ele naquele

momento, com vários fatores que possam levá-lo a agir dessa forma.

Na Educação Infantil, de uma maneira geral, os atos indisciplinados envolvem a intolerância à

frustração, a necessidade de atenção, o egocentrismo – ainda característico da faixa etária em

que se encontram as crianças, o desinteresse pela aula, a exclusão do diferente, a falta de

limites definidos e a falta de orientação e consistência no ambiente familiar da criança.

(ESTRELA, 1992). Outro aspecto comumente envolvido nas expressões de indisciplina, nesta

fase, se refere ao desenvolvimento do esquema corporal que emalgumas crianças ainda não

está completo, assim, ainda apresenta um comportamento comunicativo devido à falta de

coordenação motora fina, principalmente. Nestes casos, as crianças são identificadas como

“estabanadas”, pisam nos pé das outras, gostam de brincar de luta, exigindo contato físico,

atingem os outros com peças de jogos, abraçam com força, podendo machucar o colega e

podem, até mesmo, ser identificadas como agressivas.

Nos outros casos, o aparecimento de indisciplina demonstra uma condição de aborrecimento,

como já citado, pode ser de ordem familiar, pessoal, relacional ou escolar, revelado como

desinteresse, desatenção, resistência, desrespeito e falta de empatia. Dessa forma percebe-se

que não é apenas o contexto familiar ou pessoal que determina a ocorrência dos atos de

indisciplina em sala de aula, como também, a própria sala de aula, o professor, a metodologia

de ensino e a relação pedagógica podem desencadear a indisciplina escolar. Segundo karlin e

Berger (1977, p. 20), quando a aula não está interessante e atraente para as crianças, elas

perdem o interesse ou ficam desmotivadas, o que as leva a agir de forma indisciplinada para

demonstrar que estão insatisfeita com alguma coisa.

Page 5: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

As demonstrações de aborrecimento que envolvem os atos de indisciplina nas crianças da

Educação Infantil podem ser caracterizadas por morder, beliscar ou bater no colega, brincar de

luta, destruir o material escolar, conversar enquanto a professora ou outro colega está

falando, apresentarum comportamento desafiador, fazendo caretas ou respondendo mal à

professora e não fazer a atividade proposta em sala de aula, se recusando ou resistindo a

participar.

É válido destacar que a agitação motora é uma característica própria ao comportamento das

crianças nesta faixa de idade que precisam brincar se movimentar e criar para extravasar a

energia. A movimentação e o barulho podem ser esperado. Neste sentido, Vergés (2003, p. 32)

afirma que:

a criança que questiona, pergunta e se movimenta em sala de aula, não pode ser considerada

indisciplinada, porque na construção do conhecimento, a criança precisa buscar as alternativas

para encontrar o melhor caminho para aprender. Agora, aquele aluno que não tem limites,

não respeita a opinião e os sentimentos dos colegas, esse sim, é um aluno que pode ser

considerado indisciplinado.

Os momentos de brincadeiras e jogos, no parquinho ou em sala de aula constituem,

facilmente, um campo de observação das manifestações de indisciplina, pois expressões de

intolerância à frustração e desrespeito são comuns nestes ambientes na Educação Infantil,

onde as crianças ainda estão desenvolvendo suas noções de moralidade. As crianças que não

têm limites estabelecidos e não respeitam os colegas, a professora e as regras, e brincadeiras,

elas freqüentemente apresentam comportamentos indisciplinados. Cabe a escola e ao

professor transmitir os valores e promover a aprendizagem das regras de convivência social, a

auto-regulagem e a autodisciplina.La Taille diz que “as crianças precisam aderir as regras que

implicam em valores e formas de conduta.” Em outras palavras, o pensador em consideração

estava dizendo que a educação deve começar desde os seus primeiros anos trabalhando,

temas concernentes ao assunto. É um meio de diminuir lá na frente os maus comportamentos

dos alunos.

As brincadeiras podem levar o acontecimento de conflitos, de desrespeito aos colegas e a

agressividade. Essa demonstração de intolerância e frustração que envolve o ato indisciplinado

implica, entre outros fatores, a relação que a criança tem com as regras, ou seja, a não relação

que a criança tem desenvolvida com a moral.

A indisciplina manifestada nesses momentos, além de perturbar o ambiente e as relações em

sala de aula, prejudica o desenvolvimento e o processo de aprendizagem da própria criança.

Estas crianças exigem maior atenção e estímulo para que possam se desenvolver moralmente

e, conseqüentemente, socialmente. O campo de relações sociais que a Educação Infantil

propicia, nas atividades, brincadeiras, lanche e higiene, recreio ou educação física, constitui o

ambiente que a criança necessita para desenvolver todas as suas competências e aprender a

conviver com o coletivo. Parte deste desenvolvimento está o desenvolvimento moral, que

envolve o processo de conscientização das regras na criança e que, conduz as crianças à

autonomia e à autodisciplina, faz com que as manifestações de indisciplina se tornem cada vez

mais improváveis.5 METODOLOGIA

Page 6: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

O trabalho será feito por meio de uma abordagem qualitativa, propondo entender como

resolver o problema da indisciplina no desenvolvimento cognitivo das crianças na educação

infantil, na creche – João Paulo l, e entender a vivencia do professor em relação a isso.

A pesquisa será realizada na creche turma do pré I no CMEI – João Paulo I, localizado na Rua 13

S/N do bairro João de Deus em Petrolina Pernambuco, serão investigada a professora e a

coordenadora pedagógica, para identificar como se processa a indisciplina na educação infantil

e que fatores geram a indisciplina.

Para a realização da pesquisa será utilizado o método qualitativo, sendo que esse tipo de

abordagem é essencial ao pesquisador, pois propicia uma interpretação melhor dos dados.

Segundo Rodrigues (2006), é utilizada para investigar problemas em beneficio de sua

complexidade. Assim esse tipo é caracterizado pela construção do conhecimento a partir de

hipóteses e interpretações que o pesquisador constrói.

O projeto empregará a entrevista não estruturada e observação não participante, bem como o

uso do questionário. Para a coleta de alguns dados para o trabalho, a pesquisadora observará

os sujeitos desse alvo, pois ́ ´ a observação consiste em uma técnica de coleta de dados a partir

da observação e do registro, de forma direta, do fenômeno ou fato estudado``. (BARROS;

LENFELD, 2010)

Justifica–se a escolha de entrevista por ser um meio em que o pesquisador obtém informações

maiscompletas e detalhadas. A entrevista é uma técnica utilizada para obter informações por

meio de uma conversa orientada com o entrevistado e deve atender a um objetivo

predeterminado. O questionário também é um instrumento de coleta de dados. Constituído

por uma lista de questões relacionadas com o problema de pesquisa, o questionário deve ser

aplicado a um número determinado de informantes. (BARROS; LENFELD, 2000).

O estudo também contará com o diário de campo, que é importante, pois é o registro de fatos

observados através de observações. (BARROS; LENFELD, 2000). O trabalho será direcionado

aos alunos da educação infantil, professor e coordenador.

Os dados serão analisados a partir de observação em sala de aula e entrevista com o professor

e coordenador, estabelecendo-se um confronto com as leituras realizadas sobre o tema.

Page 7: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

6 CRONOGRAMA

PERÍODO

AGOSTO

SETEMBRO

OUTUBRO

NOVEMBRO

DEZEMBRO

ETAPAS

Reestruturação do projeto

X

Pesquisa Bibliográfica

X

X

X

Page 8: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

X

X

X

X

X

X

X

Elaboração dos instrumentos

X

Teste dos instrumentos

X

Aplicação dos instrumentos

X

Observação das aulas – entrevistas

X

Page 9: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

X

X

Organização dos dados

X

X

Análise dos dados

X

X

Produção final Do TCC

X

X

REVISÃO

X

X

Page 10: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

IMPRESSÃOX

ENTREGA FINAL

X

REFERÊNCIAS

ANTUNES, Celso. A Arte de Comunicar,. Editora Vozes. São Paulo. 2005;

BARROS, Cridil Jesus da Silveira; LENFELDE, Neide Aparecida de Souza. Fundamentos de

metodologia cientifica. 2. ed. emp. São Paulo: Macron Books, 2000.

DE LA TAILLE, Yves. A indisciplina e o sentimento de vergonha. In: AQUINO, Júlio Groppa (Org.).

Indisciplina na escola: alternativas teóricas e práticas. 14. ed. São Paulo: Summus, 1996. p. 9 –

24.

ESTRELA, Maria Teresa. Relação pedagógica, disciplina e indisciplina na aula. 3. ed. Porto:

Porto, 1992.

GARCIA, Joe. Indisciplina na escola: uma reflexão sobre a dimensão preventiva. Revista

Paranaense de Desenvolvimento, Curitiba, n. 95, p. 101 – 108. Jan/Abr de 1999.

KARLIN, Muriel Schoenbrun; BERGER, Regina. Como lidar com o aluno problema.traduçao de

Ana Cecília de Carvalho Gontijo Belo Horizonte, interlivros,1977.

OLIVEIRA, Zilma de Moraes Ramos. Educação Infantil: fundamentos e métodos. 5. ed. São

Paulo: Cortez, 2010.

RODRIGUES, Auvo de Jesus. Metodologia cientifica. São Paulo: Avercampy 2006.

VERGÉS, Maritza Rolim de Moura; SANA, Marli Aparecida. Limites e indisciplina na educação

infantil. 2. ed. Campinas: Alínea, 2009.

VERGÉS, Maritza Rolim de Moura. Os sentidos da indisciplina na educação infantil, 2003.

Trabalho de Conclusão de Curso (Pedagogia) – Faculdade de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Tuiuti do Paraná, Curitiba, 2003.

Page 11: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Serrinha

2013

CRESCENCIANA JUNQUEIRA SANTOS

INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Artigo científico apresentado ao Instituto Pró Saber, como requisito parcial obrigatório para

conclusão do curso de Pós Graduação em Educação infantil.

Orientador: Wagner Reis

Page 12: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

Serrinha

2013

SUMÁRIO

RESUMO:

Com base nas metodologias aplicadas no ensino da Educação Infantil, discutiu-se ideias que se

considerem importantes para compreender situações de indisciplina com agressividade em

crianças nesta fase da educação. Como suporte teórico, o trabalho foi embasado em Rego,

Carvalho, Camargo, Cardoso, Winnicott, Içami Tiba. O estudo da origem da indisciplina e de

suas formas de manifestação na primeira infância pode nos fornecer elementos importantes

para a compreensão desse tema de modo a entender como essa mudança de comportamento

inicia e se transforma em indisciplina. Por assim ser, percebe-se que um estudo profundo

desses fenômenos pode auxiliar pais, professores e gestores a entenderem os elementos que

levam à prática da indisciplina e encontrar soluções para as mesmas.

Page 13: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

Será feita uma entrevista semi-estruturada estabelecendo questões/temas que devemser

colocadas aos participantes como instrumento que permite entrar em contato com as posições

singulares de cada indivíduo e deverão ser somados a outros indícios sobre o Fenômeno

estudado. Para tal entrevista serão utilizados dois tipos de questionários a serem aplicados na

Creche Criança Feliz I, Praça Agripino Macedo, S/N, Centro, Teofilândia - BA que atende

crianças na faixa etária de dois a seis anos de idade. Divisão dos questionários: Questionário I –

Pais ou responsáveis de alunos e Questionário II – Professores. É válido salientar que todo

trabalho foi precedido de autorização solicitada previamente a Coordenação da Creche citada

acima e das professoras de cada uma das turmas envolvidas, bem como, foi re alizado um

contato com os pais das crianças selecionadas para a participação deles e dos filhos na referida

pesquisa. Através dos dados levantados na pesquisa foi fácil verificar que existe uma

conformidade entre a família e o comportamento dessas crianças. As mais indisciplinadas são

exatamente as que não encontram em casa a segurança necessária para a formação da

personalidade e na falta dessa segurança, a criança manifesta rebeldia em sala de aula como

forma de chamar a atenção dos professores, visto que em casa ela não encontra apoio e

orientação necessária para a formação de sua educação como cidadão. Já a criança que vive

em um ambiente saudável onde é amparada e recebe total apoio eorientação da família,

torna-se uma criança tranquila e disciplinada. Considerando que a função da Instituição Infantil

é de promover o desenvolvimento integral das crianças em parceria com a família, observamos

durante essa pesquisa que, a Creche não possui pessoal habilitado para lidar com essa referida

adversidade que permeiam as Instituições de Educação Infantil. Sendo assim, decidi fazer meu

artigo seguindo essa linha, pretendendo com esse estudo buscar estratégias, de intervenção

educativa, que possibilite a essas crianças, experiências promotoras das capacidades e

habilidades em complementação a ação das famílias, buscando sempre respeitar a

particularidade de cada uma delas.

Palavra chave: Indisciplina; Educação Infantil; Creche; Família;

INTRODUÇÃO

Ao nos preocuparmos com o fator indisciplina na educação infantil, período em que a criança

se encontra em processo de formação, estaremos trabalhando na construção do próprio

sujeito, envolvendo valores e o próprio caráter necessário para o seu desenvolvimento

integral. Por essa razão tentaremos compreender, sentir, fazer e repartir esse processo de

formação. Há um ditado chinês que diz, “se dois homens vem andando por uma estrada, cada

um carregando um pão e, ao se encontrarem, eles trocam os pães, cada homem vai embora

Page 14: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

com um; porém, se dois homens vierem andando por uma estrada, cada um carregando uma

ideia e,ao se encontrarem, eles trocam as ideias, cada homem vai embora com duas”. Quem

sabe é esse mesmo o sentido do nosso fazer: repartir ideias para todos terem pão... (CORTELA,

1998, p. 159).

O presente estudo teve como objetivo identificar e compreender os diferentes tipos de

indisciplina apresentados por crianças de uma referida creche para intervir de forma benéfica.

Temos consciência de que as atitudes do docente na sala de aula e dos pais ou responsáv eis

em casa poderão interferir de forma positiva ou negativa no processo cognitivo e afetivo da

criança e para comprovar o que está sendo dito, realizou-se uma pesquisa de campo em uma

creche da zona urbana na cidade de Teofilândia-BA, que teve como objetivo específico: 1-

Analisar a história de vida e os diferentes comportamentos apresentados pelas crianças na

referida creche e em seu ambiente familiar, sejam eles observáveis diretamente ou inferidos a

partir de gestos, postura corporal ou outras formas de linguagem. 2- Conhecer a dinâmica

familiar de uma criança considerada indisciplinada e de outra considerada disciplinada. 3-

Buscar compreender quais aspectos influenciou essa criança a manifestar a indisciplina. 4-

Contribuir esclarecendo os motivos pelos quais os professores tem sido alvo de atos agressivos

dos alunos e ao mesmo tempo tentar intervir mostrando caminhos para que se possa corrigir

esse tipo de comportamento.

Durante a pesquisa,buscou-se teóricos que se aprofundaram ao tema indisciplina. Afinal o que

vem a ser indisciplina? Segundo o Dicionário Aurélio – ‘procedimento, ato ou dito contrário à

disciplina, desobediência, rebelião’.

O conceito de indisciplina, não é uniforme e nem universal. Ela se relaciona com o conjunto de

valores e experiências que variam ao longo da história, entre as diferenças culturais e numa

mesma sociedade, nas diversas classes sociais. “No plano individual, a palavra indisciplina pode

ter diferentes sentidos que dependerão das vivências de cada sujeito e do contexto e m que

foram aplicados.” (REGO, 1996, p.84).

Os traços de cada ser humano estão vinculados ao aprendizado do seu grupo cultural. Diante

disso, é possível afirmar que o comportamento indisciplinado do indivíduo dependerá de sua

história e das características sociais em que está inserido. O ser humano vai adquirindo a

indisciplina através das influências que recebe no decorrer do seu desenvolvimento em seu

âmbito familiar ou no espaço escolar. De acordo com o sociólogo francês François Dubet

(1997), “a disciplina é conquistada todos os dias, é preciso sempre lembrar as regras do jogo,

cada vez é preciso reinteressá-los, cada vez é preciso ameaçar, cada vez é preciso

recompensar”. Isso nos faz analisar o quanto é importante o respeito às regras dentro de uma

instituição para que seu funcionamento seja positivo. Segundo Içami Tiba (1996) adisciplina

escolar é como um conjunto de regras que devem ser obedecidas tanto pelos funcionários

quanto pelos pais e alunos para que o aprendizado escolar tenha êxito. Portanto, a disciplina

escolar é uma qualidade de relacionamento humano entre o corpo docente e os alunos em

uma sala de aula.

Page 15: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

DESENVOLVIMENTO

A indisciplina representa uma grande ameaça à desobediência às regras estabelecidas. A

família transmite valores às crianças e a escola transmite conhecimento histórico, científico,

social e moral. As crianças que no seu seio familiar não são amadas e não compartilham

valores, consequentemente serão alunos com problemas afetivos e se sentirão desprotegidos,

com dificuldade de manter relações sociais positivas com os outros. Carvalho, (1996, p.138),

relata a importância de criar formas próprias de enfrentar os casos de indisciplina. De acordo

com Rego (1996) os chamados pais autoritários valorizam a obediência com normas e regras,

sem se preocupar em explicar às crianças os motivos das ameaças, dos castigos e das

imposições’. A importância que a educação familiar tem sobre o indivíduo, do ponto de vista

cognitivo, afetivo e moral é muito grande, porém, as influências que caracterizarão os jovens

ao longo de seu desenvolvimento não serão somente as vivenciadas na sua família, mas

também as aprendizagens dos diferentes contextos sociais, como naescola. Sendo assim, uma

relação entre professores e alunos baseada no controle excessivo, da ameaça, da punição ou

tolerância permissiva, provocará reações diversas. Para Rego (1996), a escola e os educadores

precisam adequar as suas exigências às possibilidades e necessidades dos alunos. Devem dar

condições para que os alunos construam e interiorizem os valores e as posturas consideradas

corretas na nossa cultura (atitudes de solidariedade, cooperação, respeito aos colegas e

professores). De acordo com Rego (1996), os educadores precisam ser coerentes entre sua

conduta e a que espera dos alunos, pois é através da imitação dos valores externos que a

criança aprende ser normal.

Donald Woods Winnicott, psiquiatra infantil, apresenta sua concepção de criança normal:

Uma criança normal se tem a confiança do pai e da mãe, usa de todos os meios possíveis para

se impor. Com o passar do tempo, põe à prova o seu poder de desintegrar, destruir, assustar,

cansar, manobrar, consumir e apropriar-se. Tudo o que leva as pessoas aos tribunais (ou aos

manicômios, pouco importa o caso) tem o seu equivalente normal na infância, na relação da

criança com seu próprio lar. Se o lar consegue suportar tudo que a criança pode fazer para

desorganizá-lo, ela sossega e vai brincar; mas primeiro os negócios, os testes tem que ser

feitos e, especialmente, se a criança tiver alguma dúvida quanto à estabilidade da

instituiçãoparental e do lar (que para mim é muito mais do que a casa). Antes de mais nada, a

criança precisa estar consciente de um quadro de referência se quiser sentir-se livre e ser

capaz de brincar, de fazer seus próprios desenhos, ser uma criança irresponsável. (WINNICOTT,

1946, p. 121)

Winnicott diz o quanto é importante o ambiente familiar para um perfeito desenvolvimento

psicológico da criança, pois, possibilitam um sentimento de segurança e de amparo e somente

Page 16: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

desse modo a criança vai se sentir a vontade porque por mais que ela fantasie seu mundo, o

ambiente se manterá estável. Todavia, quando isso não ocorre, a criança vai se tornar

indisciplinada e arredia em outros ambientes, no meio de outras pessoas para tentar

encontrar um quadro de referência:

Ao constatar que o quadro de referência se desfez, ela deixa de se sentir livre. Torna-se

angustiada e, se tem alguma esperança, trata de procurar um quadro de referência fora do lar.

A criança cujo lar não lhe ofereceu um sentimento de segurança busca fora de casa às quatro

paredes; ainda tem esperança e recorre aos avôs, tios e tias, amigos da família, escola. Procura

uma estabilidade externa sem a qual poderá enlouquecer. Fornecida em tempo oportuno, essa

estabilidade poderá ter crescido na criança como os ossos em seu corpo, de modo que,

gradualmente, no decorrer dos primeiros meses e anos devida, terá avançado da dependência

e da necessidade de ser cuidada, para a independência. É frequente a criança obter em suas

relações e na escola o que lhe faltou em seu próprio lar. (WINNICOTT, 1946, p. 121)

Essa citação reforça o motivo que leva uma criança a apresentar um comportamento hostil.

Winnicott vê isso como uma forma de comunicação da realidade interior dessas crianças, que

assim agem por desespero, tentando encontrar o sentimento de segurança que não encontrou

em seu lar. Winnicott cita outro ponto que ressalto a importância do ambiente familiar para a

criança:

De fato, é a partir das coisas aparentemente pequenas que ocorrem no lar e em torno dele

que a criança tece tudo que uma imaginação fértil pode tecer. O vasto mundo é um excelente

lugar para os adultos buscarem uma fuga para o tédio mas, geralmente, as crianças não sabem

o que seja o tédio e podem ter todos os sentimentos de que são capazes entre as quatro

paredes de seu quarto , em sua própria casa, ou apenas a alguns minutos da porta da rua. O

mundo será mais importante e satisfatório se for crescendo, para cada indivíduo, a parti r da

porta de casa, ou do quintal dos fundos... Sim, a imaginação de uma criança pode encontrar

amplo campo de atividade no pequeno mundo de atividade de seu próprio lar e da rua em

frente; e, de fato, é a segurança real propiciada pelo lar que libera a criança para brincar e

desfrutar de outrasmaneiras de sua habilidade para enriquecer o mundo saído de sua própria

cabeça. (WINNICOTT, 1945, p. 54)

Isso nos faz ver o quanto à criança se sente aceita e segura quando consegue experimentar

suas outras habilidades de imaginação e criação e assim ampliar seu conhecimento do mundo

e de si mesma. Os pais têm a função de dar amor, carinho e limites sem agredi-las:

Às vezes, a agressão se manifesta plenamente e se consome, ou precisa de alguém para

enfrentá-la e fazer algo que impeça os danos que ela poderia causar. Outras vezes os impulsos

agressivos se manifestam abertamente, mas aparecem sob a forma de algum tipo de oposto...

As aparências podem variar, mas existem denominadores comuns nos problemas humanos.

Pode ser que uma criança tenda para a agressividade e outra dificilmente revele qualquer

sintoma de agressividade, desde o princípio, embora ambas tenham o mesmo problema.

Acontece simplesmente que essas crianças estão lidando de maneiras distintas com suas

cargas de impulsos agressivos. (WINNICOTT, 1964, p. 97)

Ao analisarmos o que diz o psiquiatra infantil, podemos afirmar que a disciplina ou indisciplina

depende do ponto de vista de quem analisa a situação, depende do contexto e dos sujeitos

envolvidos. Porém, alunos e sociedade não podem esquecer que a finalidade principal da

escola é a preparação para o exercício da cidadania e para serem cidadãos, precisa de

conhecimento, respeitopelo espaço público, ética, normas e relações interpessoais. Paulo

Freire diz: “(...) bom senso. Autoridade não pode ser entendida como autoritarismo” (FREIRE,

1996, p. 14). O professor precisa perceber em certas ocasiões os pontos falhos do aluno e ao

invés de reprimi-lo, tem que ajudá-lo com humildade e tolerância. Temos sentimentos, desejos

Page 17: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

e necessidades e, esses sentimentos precisam ser respeitados tanto pelo educador quanto

pelo educando, pois a maneira como nos relacionamos é que mostra os resultados dessa

relação. Segundo Freire:

O professor autoritário, o professor licencioso, o professor competente, sério, o professor

incompetente, irresponsável, o professor amoroso da vida e das gentes, o professor mal

amado, sempre com raiva do mundo e das pessoas, frio, burocrático, racionalista, nenhum

desses passa pelos alunos sem deixar sua marca.(FREIRE, 1996, p. 73)

O professor traz dentro dele toda sua história de vida e desconhece totalmente a vida do

aluno. Segundo Charlot:

Um educador não é apenas uma criança de tal família, não é apenas o membro de um grupo

sócio cultural. Ele é também sujeito com uma história pessoal e escolar. É um aluno que

encontrou na escola tais professores tais amigos, tais aulas, e que teve surpresas boas e más. É

uma criança que cujos pais disseram que o que se aprende na escola é muito importante para

a vida, ou ao contrário, que não serve para nada. É umacriança que tem muitos irmãos ou

irmãs ou não, que são bem sucedido na escola ou não, e o que pode ajudar a criança ou não, ...

(CHARLOT, 2002. p. 28)

Ao refletirmos no que disse Charlot, todo educador precisa rever suas práticas pedagógicas. A

busca de especialização para atuar na Educação Infantil é muito importante para tentar

amenizar alguns problemas de indisciplina em sala de aula. Içami Tiba (1996) diz que os

grandes responsáveis pela educação dos jovens, a família e a escola, não estão sabendo

cumprir o seu papel. O que se observa hoje é a falência da autoridade dos pais em casa, do

professor na sala de aula e do orientador na escola. Para Içami, tanto os fatores externos

quanto os internos podem influenciar no comportamento de uma criança. Dependendo do

mimo e do trato, a criança pode ser mais ou menos indisciplinada. Toda criança ao sair do seio

familiar, entra em um mundo totalmente diferente e em virtude disso, o profissional da

educação, o professor, deve ser ético, humilde, conhecedor de seus limites. Içami Tiba faz

referência à geração de pais que confundem autoridade com autoritarismo e optam por não

colocar limites nos filhos: “Cabe os pais delegar ao filho tarefas que ele já é capaz de cumprir.

O que ele aprendeu é dele. A mãe deveria ficar orgulhosa pelo seu crescimento, em vez de se

sentir lesada por não ser mais útil.” (TIBA, 1996, p.35). É por isso que os pais nunca devem

fazertudo pelo filho, basta ajudá-lo até o ponto em que ele consiga realizar suas tarefas

sozinhos para adquirir auto-confiança e elevar sua auto-estima. Içami também cita: “Nenhuma

criança nasce folgada, ela aprende a ser. A indolência constante não é natural. Resulta da

dificuldade de realizar seus desejos. A criança só pode ser considerada folgada quando

conhece as suas responsabilidades e não as cumpre”. (TIBA, 1996, p.37). A partir do momento

que os pais não impõem limites e regras, o filho torna-se folgado: “O filho torna-se folgado

porque deixou de fazer o que é capaz e precisa executar, e a mãe torna-se uma sufocada

porque precisa dar tarefas que não lhe cabem mais, além de muitas outras atividades”. (TIBA,

1996, p. 39).

Hoje em dia, os pais estão permitindo perder a própria autoridade. Costuma-se ouvir muitos

pais se queixarem que os filhos querem a qualquer custo um determinado objeto, e os pais

que acostumaram a fazer todos os gostos do filho, sempre movido por uma desculpa, acaba

cedendo aos caprichos do filho mimando-o. Atualmente, com a perda da autoridade paterna,

os filhos é que se tornam implacáveis com os pais. Quando o pai tenta impor uma disciplina,

negando algo para o filho acostumado a ter de tudo, este vê o pai como um empecilho e tenta

eliminá-lo. Tiba relata que:

Page 18: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

“Nessas últimas décadas, a mulher emancipou-se e ganhou destaque sócio econômico,

profissional e cultural, mas namaioria o instinto materno ainda fala mais alto do que todas as

suas conquistas. Em virtude desse instinto é que ainda hoje as mulheres se sentem tão

culpadas por ficarem longe dos filhos.”(TIBA, 1996, p. 40)

Os pais, cada vez mais ausentes dos filhos devido à jornada de trabalho ou separações, estão

causando a desestruturação das famílias e assim, se sentem culpados. Esse sentimento de

culpa leva os pais a fazerem mimos tentando amenizar a situação, e isso obriga o educador à

capacitar-se, buscar habilidades e principalmente gostar de ser professor para lhe dar com

esse tipo de comportamento. A criança já vem de casa com seus mimos, todo folgado,

totalmente cheios de vontade. Segundo Rossini (2001), “crianças gostam de professores que

lhe dêem limites”. É preciso que o profissional da educação estabeleça regras, faça

combinados adotem um padrão básico de atitudes perante as indisciplinas mais comuns.

Quando um aluno não cumpre os combinados, ultrapassam os limites, ele não está

simplesmente desrespeitando um professor em particular, mas as normas da escola. Assim

cabe ao professor atuar com competência profissional e coerência, sentindo-se responsáveis

pelo que ocorre ao seu redor e os pais têm a grande responsabilidade de está ciente de tudo

que se passa com o filho na unidade escolar. Mas a realidade é totalmente diferente, pois, os

pais trabalham muito e têm menos tempo para dedicar à educaçãodos filhos e querem que a

escola assuma a função que deveria ser deles: a de passar para a criança os valores éticos e de

comportamento básicos.

Com o propósito de buscar formas e métodos que possam ajudar a amenizar esse tipo de

comportamento de forma saudável, devemos reforçar qual a principal função das instituições

de educação infantil: As crianças de zero a seis anos de idade têm necessidades específicas de

cuidados, cabendo aos seus responsáveis proporcionar situações que lhes auxiliem a adquirir

capacidades motoras (sentar, andar, controlar os esfíncteres ‘músculos circulares que aperta

as cavidades a que corresponde’) psíquicas, (falar, pensar) e sociais (estabelecer relações com

outras pessoas). Essas instituições de Educação Infantil são reconhecidas na Constituição

Federal de 1988 e dispõe seus objetivos e normas de funcionamento disciplinado pela Lei de

Diretrizes e Base da Educação Nacional. Segundo seu artigo 4º: “O dever do estado com a

educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de: [...]; IV – Atendimento

gratuito em creches e pré-escolas às crianças de zero a seis anos de idade”. (LDBEN nº

9394/96. Art. 04).

Quanto sua finalidade, oferta e forma de avaliação foram definidas da seguinte forma:

Art. 29. A Educação Infantil primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o

desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos

físico,psicológico, intelectual e social complementando a ação da família e da comunidade.

Art. 30. A Educação Infantil será oferecida em:

I- creches ou entidades equivalentes, para crianças de até seis anos de idade;

II- pré-escolas, para crianças de quatro a seis anos de idade.

Art. 31. Na Educação Infantil a avaliação far-se-á mediante acompanhamento e registro do seu

desenvolvimento, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental.

Conforme o que nos diz a LDBEN, os profissionais da área devem está revendo com frequência

suas práticas pedagógicas, ter como objetivo maior, propiciar um atendimento de qualidade,

socializar e nortear o trabalho educativo criando estratégias que melhorem as condições de

Page 19: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

trabalho já que as mães entregam seus filhos nas creches confiando nas boas condições e

cuidados em que os mesmos irão receber. Isso nos leva a acreditar o quanto é importante o

planejamento das atividades a serem desenvolvidas na instituição. Rego chama atenção a isso:

O comportamento indisciplinado está diretamente relacionado à ineficiência da prática

pedagógica desenvolvida: propostas curriculares problemáticas e metodologias que

subestimam a capacidade do aluno (assuntos pouco interessantes ou fáceis demais), [ ...],

constante uso de sanções e ameaças visando ao silêncio da classe, pouco diálogo etc. Isso

aponta que em toda indisciplina existe uma razão que precisa serinvestigada. (REGO, 1996, p.

100)

É muito importante inovar, criar, buscar incessantemente meios para não deixar o aluno

ansioso. Uma das formas de inovação é a inclusão de jogos no planejamento da creche.

Vejamos o que nos diz Freire:

Professores realmente preocupados com o desenvolvimento das características humanas, ao

invés de tentarem eliminar o caráter competitivo dos jogos, deveriam procurar compreendê-lo

e utilizá-lo para valorizar as relações. Creio ser mais educativo reconhecer a importância do

vencido e do vencedor do que nunca competir. (FREIRE, 1997, p. 153).

A inserção de jogos nas aulas de educação infantil é uma forma de fazer com que o aluno

trabalhe o corpo e a cabeça, podendo ser cooperativo ou competitivo, pois apesar dos jogos

cooperativos possuírem inúmeras vantagens, não pode, simplesmente, deixar de lado os jogos

com caráter competitivo, pois se eles forem trabalhados de maneira adequada, a criança

incorpora, igualmente, valores importantes para a vida, como a importância do vencedor e do

vencido, a cooperação entre os colegas e o respeito para com todos os jogadores.

O professor deve oferecer em seu planejamento oportunidades para estimular todos os

sentidos da criança, principalmente o tato, que transmite segurança, Carvalho e Rubiano

(1994) diz que “à medida que características físicas do ambiente convidam ao toque, aumenta

a sensação de segurança, permitindo ácriança explorar o espaço mais prontamente.” A

ludicidade é uma das maneiras de se explorar os sentidos das crianças. Ferreira diz:

Brincar é um dos meios de realizar e agir no mundo, não unicamente para as crianças se

prepararem para ele, mas, usando-o como um recurso comunicativo, para participarem da

vida quotidiana pelas versões da realidade que são feitas na interação social, dando significado

às ações. Brincar é parte integrante da vida social e é um processo interpretativo com uma

textura complexa, onde fazer realidade requer negociação do significado, conduzido pelo

corpo e pela linguagem.” ( FERREIRA, 2004, p. 84)

Toda criança usa a brincadeira como principal modo de ação. Elas não fazem distinção entre

brincar e levar a sério, não consegue separar o real do imaginário e acabam utilizando-as

naturalmente.

Ao considerar pertinentes essas reflexões, relatam-se os resultados obtidos na entrevista semi-

estruturada que permitiu refletir sobre a história de vida de dois alunos em seu ambiente

familiar e na Instituição de Educação Infantil (Creche Criança Feliz I , Praça Agripino Macedo,

S/N, Centro, Teofilândia –BA) que atende crianças na faixa etária de dois a seis anos de idade,

no qual os pais ou responsáveis dos referidos alunos responderam a um determinado

questionário e dois professores responderam a outro tipo de questionário.

É válido salientar que todo trabalho foi precedido deautorização solicitada primeiramente a

Coordenação da Creche. Ademais, antes de cada um dos procedimentos, foi solicitada a

autorização das professoras de cada uma das turmas envolvidas bem como foi realizado um

contato com os pais das crianças selecionadas para a participação deles e dos filhos na referida

pesquisa.

Page 20: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

Indisciplina de João Paulo: comportamento (relações no ambiente familiar e na creche).

A mãe de João Paulo, apesar de manter um contato frequente com o filho, está envolvida em

um ambiente de alcoolismo e de agressividade com o marido. O pai de João Paulo representa

uma ameaça constante, onde palavrões fazem parte do vocabulário dessa família. A mãe tem

três filhos e João é o segundo. Testemunha de constantes brigas dos pais, que utilizavam

armas frias, João já relatou detalhes dessas brigas na creche. Em virtude dessa total falta de

estrutura familiar, o mesmo chegou ao ponto de ameaçar matar a própria mãe caso ela não

desse o que ele queria.

Sabemos que para obter disciplina em qualquer ambiente em que vi vemos devemos falar de

respeito e cada pessoa vem junto com sua vida intelectual, afetiva e religiosa uma vida moral e

João, aos cinco anos de idade, não está tendo esse direito e, por conta disso, se tornou uma

criança excessivamente inquieta, agitada e indisciplinada, que se destaca do grupo pela

dificuldade de aceitar e cumprir as normas da creche devido a vivência e experiência de

suacasa. Ele não consegue produzir o esperado para sua idade, e isso representa um desafio

constante para professores e gestores da creche. Sua idade cronológica (a que fornece uma

estimativa aproximada do nível de desenvolvimento do indivíduo, que pode ser mais

precisamente determinado por outros meios, tais como idade óssea, dental, sexual e motora)

não condiz com a estrutura cognitiva prévia. O modo como João explorava os objetos, a

curiosidade diante de situações novas não indicavam um desenvolvimento cognitivo

adequado, sua inabilidade social comprometia todas essas qualidades. João não conseguia

dominar os conhecimentos escolares de reconhecimento de cores, de letras e números. Além

de todos esses problemas, João Paulo apresentava sérios transtornos; não conseguia controlar

os esfíncteres: fazia xixi na roupa, sujava sua cueca de côco, não tinha noção alguma de

higiene e o pior deles era a constante evacuação de fezes com um odor insuportável. No

decorrer dessa pesquisa a professora descobriu que João fazia as necessidades na cueca

porque a mãe não deixava utilizar o sanitário e mandava os filhos fazer as necessidades

fisiológicas no matagal que tinha próximo da residência e assim, na creche, João se sentia

amedrontado no momento de evacuar e com medo acabava defecando na cueca. Esse

constrangimento deixava-o aborrecido porque os colegas riam e isso o irritava levando-a a

cometer vários atos deindisciplina.

Através dos dispositivos legais da LDBEN e de alguns estudiosos da área como Carvalho e

Rubiano, (1994) e Faria, (1999) evidenciam a importância das Instituições de Educação Infantil

promoverem o desenvolvimento integral pela dupla função de cuidar e educar. O cuidar no

sentido mais amplo deve ser pensado como a necessidade de acrescentar no projeto

pedagógico das creches ações direcionado tanto para a satisfação das necessidades fisiológicas

e de higiene quanto para o desenvolvimento psicológico e emocional das crianças e para tanto

é preciso que essa instituição incremente atividades de “cuidado” para assegurar-lhe um

melhor desenvolvimento. Deve-se pensar em atividades de promoção e socialização.

Analisando as idéias de Winnicott quanto à tendência anti-social, a indisciplina de João Paulo

mostra como ele sempre busca chamar a atenção na creche já que em casa ele não encontra a

segurança e a aceitação necessárias para tranquilizá-lo e é preciso que os responsáveis

possuam firmeza e tranquilidade ao mesmo tempo, para proporcionar às crianças atividades

rotineiras capazes de transmitir segurança, sentimento de confiança básica tão fundamental

nas atividades cotidianas.

Disciplina de Tatiane: comportamento (relações no ambiente familiar e na creche).

Tatiane é uma criança modelo na creche. Sua obediência, sua educação, seu compromisso e

seu controle nos movimentos e na fala reforçam oconceito de aluna disciplinada. No entanto,

em casa ela se mostrava uma menina extrovertida, agitada e direta. Ela se encaixa na idéia de

Page 21: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

Winnicott quanto à criança “normal” que provoca, manobra tentando se impor.

Tatiane interagia e se relacionava bem com a turma, cumpria os combinados, contava suas

façanhas de final de semana, inventava histórias, repartia os brinquedos e sempre estava com

suas atividades de casa em dia.

A reflexão sobre a disciplina de Tatiane na creche e seu comportamento em casa reforça o

entendimento de que a criança deve está inserida em um ambiente saudável que lhe

proporcione maior satisfação e lhe dê limites: “Para chegar à birra, a mãe foi uma

indisciplinada: proibiu e deu, proibiu e deu. Desrespeitou suas proibições, ensinando seu filho

a fazer o mesmo: desrespeitá-la.” (TIBA, 1996, p. 38). Como Tatiane sempre encontrou em

casa um ambiente equilibrado, onde as regras eram sempre cumpridas e o lazer um direito

dela, não foi difícil para Tatiane se adequar aos combinados da creche. A mãe de Tatiane relata

que nunca deixou a filha ditar as regras, sempre teve autoridade para com a mesma e

concedia sempre o direito de ser criança alegre e feliz. Segundo Içami Tiba:

Quando os pais se submetem aos caprichos do filho, ele fica caprichoso também em relação às

outras pessoas. Seu pensamento pode ser traduzido assim: Se até meus pais que podem

mandar em mim não mandam, quem sãovocês para mandar em mim? Sentem-se então, o

poderoso da casa. (TIBA, 1996, p. 58)

Precisamos está nos policiando quanto educadores, pois, as crianças copiam o comportamento

dos adultos;

Filhos folgados e internamente inseguros fora de casa podem se submeter timidamente ao

primeiro que lhes colocar um limite, um amigo ou professor, por incapacidade de se defender.

Entretanto, como as crianças usam tudo a seu favor, às vezes acontece o inverso: em casa se

submetem e descontam depois na escola.(TIBA,1996, p. 59)

Ao refletirmos sobre a vida dessas duas crianças, observa-se o quanto é importante se

conhecer a realidade dos alunos e como é importante se colocar nas atividades infantis

brincadeiras de faz-de-conta e jogos lúdicos para se garantir um desenvolvimento psicológico

saudável. Vygotsky (1984) considera as experiências sociais como um elemento que influencia

tanto na maturação e aprimoramento do desenvolvimento emocional quanto no

desenvolvimento intelectual.

Page 22: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com isso, ao realizar esse trabalho, gostaria de apresentar minha avaliação em relação ao que

diz os teóricos que me ajudaram a escrever esse artigo sobre a Indisciplina na Educação

Infantil. Rego (1996, p. 100) defende que “o comportamento indisciplinado está diretamente

relacionado à ineficiência da prática pedagógica desenvolvida: propostas curriculares

problemáticas[...], constante uso de sanções e ameaças, etc.” (REGO,1996, p. 100); Içami Tiba

(1996) argumenta a disciplina escolar é um conjunto de regras que devem ser obedecidas

tanto pelos professores quanto pelos alunos para que o aprendizado escolar tenha êxito.

Freire nos diz: “O professor tem que entender, em certas ocasiões, pontos falhos do aluno. Ao

invés de reprimi-lo, tem que ajudá-lo com humildade e tolerância.” (FREIRE, 1996). Os

estudiosos levam-nos a entender a importância das interações sociais como fonte de

desenvolvimento e transformação social. Os problemas estudados indicam que a infância é um

período peculiar, e por isso deve ser definido através da vivência de cada criança. De acordo

com os teóricos acima, ficou constatado que os professores devem buscar inovação,

habilidades, capacitação. Vejamos o que nos diz Freire:

Professores que ministram uma boa aula, uma aula que faça sucesso entre os alunos e pronto;

trata-se de uma preparação para a vida, de dar a eles condições de tornarem-se cidadãos

autônomos, oferecer conhecimentos que se incorporem à vida, possibilitando-os serem livres,

decidindo de acordo com a sua própria consciência, ou seja, educar é mais que transmitir

conteúdos, é ensinar a viver (FREIRE, 2005, p. 06).

Freire nos leva a ver que o professor deve demonstrar segurança naquilo que está fazendo,

para ser respeitado por seus alunos desde o primeiro dia de aula e paraisso faz-se necessário

um bom planejamento, ambiente adequado, estrutura, material didático suficiente e criação

de normas que possam ser cumpridas com eficiência.

Não basta apenas o professor está interessado na boa disciplina e no bom andamento do

aluno, mas, toda a creche juntamente com a família. É na sala de aula que se ajuda a construir

futuros cidadãos com personalidade, onde vão aprender a limitar seus instintos que são

impulsivos e necessitam de correção desde a primeira infância, a começar pela família.

Ao levar os pais a participar de encontros, palestras, reuniões e troca de experiências com

outros pais, eles sairão fortalecidos e sentirão que não estão sozinhos nessa luta. É

exatamente aí que entra a importância do Gestor. Ele precisa ter muita criatividade, iniciativa,

bom humor, respeito humano e disciplina para conscientizar os pais à frequentarem a

instituição que o filho estuda, com o objetivo de participar de eventos que os auxiliarão a

superar e resolver alguns problemas de indisciplina em seu ambiente familiar.

Tendo nesse artigo informações sobre o comportamento de duas crianças diferentes em seu

ambiente familiar e na creche, fica reforçada a necessidade de integração entre família e

instituição no que se refere à garantia de vínculos de qualidade. Para isso é preciso que se

criem políticas públicas concretas e urgentes para auxiliar e organizar melhor a atuação e

aintegração dessas instituições.

Vimos que o estudo da indisciplina e suas diferentes formas de manifestação na primeira

infância nos fornecem elementos importantes para auxiliar pais, professores e gestores a

encontrar soluções para as mesmas. Destaco a necessidade da sociedade e do estado agirem

de modo a subsidiar a atuação dessas instituições melhorando o processo pedagógico, criando

cursos profissionalizantes e estabelecendo medidas concretas para apoiar as famílias e

melhorar a qualidade de vida das pessoas.

Page 23: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

Por fim, recomendamos o aprofundamento de estudos sobre a indisciplina na Educação

Infantil que poderão trazer novos olhares, com novas abordagens e que esses possam servir

como alavanca propulsora de novas reflexões para essa questão polêmica, não como fórmula

mágica, mas, que seja questionada, provada e quem sabe, aprovada, já que o meu objetivo é

identificar e compreender os diferentes tipos de indisciplina apresentados pelas crianças das

creches para intervir de forma benéfica.

REFERÊNCIAS

BRASIL, S. F. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: n° 9394/96. Brasília: 1996.

CARVALHO, Ana Maria Almeida. Registro em vídeo na pesquisa em Psicologia: Reflexões a

partir de relatos de experiência. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 1996.

CARVALHO Mara; RUBIANO, Márcia. Organização do Espaço em Instituições pré-escolares.

Educação Infantil.São Paulo:Cortez ,1994.

CORTELLA, Mario Sergio. A escola e o conhecimento: fundamentos epistemológicos e políticos.

São Paulo: Editora Cortez, 1998.

DUBET, François. Quando o sociólogo quer saber o que é ser professor: entrevista com

François Dubet. São Paulo: Revista Brasileira de Educação, n. 5, maio/ago. 1997.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio. Rio de Janeiro: Editora Nova

Fronteira, 1986.

Page 24: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 23ª ed. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1996.

FREIRE, João Batista. Educação de Corpo Inteiro – Teoria e prática da Educação Física. São

Paulo: Scipione, 1997.

REGO, Tereza Cristina. A indisciplina e o processo educativo: Uma análise na perspectiva

vigotskiana. São Paulo: Vozes, 1945

ROSSINI, Maria Augusta Sanches. Pedagogia Afetiva. 4ª ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2001.

TIBA, Içami. Disciplina, Limite na Medida Certa. 38. ed. São Paulo: Gente 1996.

VIGOTSKY, L. S. A formação Social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984.

WINNICOTT , D. W. De novo em casa. Em: Privação e delinquência. 2ª ed. Rio de Janeiro:

Martins Fontes,1945.

WINNICOTT , D. W. Alguns aspectos psicológicos da delinquência juvenil. Em: Privação e

delinquência. 2ª ed. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 1946.

WINNICOTT , D. W. Raízes da agressão. Em: Privação e delinqüência. Agressão e suas raízes. 2ª ed. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 1964

1 INTRODUÇÃO

Com reflexões sobre a indisciplina na educação infantil, buscamos discutir sobre a necessidade

de ampliação da visão critica em relação à indisciplina, além de atentar para a questão do

papel da escola, pais e da relação professor-aluno nesta estabelecida.

A escola sofre reflexos do meio em que está inserida. O problema disciplinar é,

frequentemente, repercussão dos conflitos da família e do meio social envolvente.

As pessoas que rodeiam o aluno, mais propriamente as pessoas de família, influem muito no

seu comportamento, pois a criança nasce no seio desta, sendo, portanto, os pais os primeiros

educadores. A extraordinária influência dos que quotidianamente tratam com os alunos

reflete-se em muitos dos atos praticados por eles. A ação da Família começa desde o berço,

muito antes da ação da Escola. Sendo a importância da ação familiar na tarefa educativa

reconhecida pela Escola, impõe-se uma íntima colaboração, que deverá significar a ajuda

mútua na consecução do ideal educativo.

Para uma educação idealmente construída, a disciplina deveria ser conseqüência voluntária da

escolha livre e, como consequência da disciplina, a liberdade deveria enriquecer-se de

possibilidades, não sendo antagônicos os dois princípios de liberdade e de disciplina.

O clima da aula deve ser de liberdade e de tolerância, de modo a permitir que os alunos

tomem consciência dos seus valores e ajam em sintonia com eles. A autonomia conduz à

autodisciplina, não significando, no entanto, que o professor tenha uma atitude de

indiferença, ou de apatiaperante os alunos. Pelo contrário, as suas atitudes, embora

Page 25: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

democráticas, devem ser firmes.

Nos nossos dias, cada vez é mais difícil estabelecer a disciplina e fazê-la respeitar. Com o efeito

da evolução das condições gerais de vida, em todos os meios, as crianças tornaram-se mais

independentes, menos dispostas a obedecer à autoridade dos adultos.

Hoje, vive-se numa sociedade em que a unidade familiar se encontra desgastada, sem que o

lar possa oferecer aconchego, uma vez que os pais, graças às deslocações para o emprego e às

longas jornadas de trabalho que lhes asseguram a subsistência, deixam de estar presentes nos

momentos mais difíceis.

Este tema é, sem dúvida, demasiado vasto. Tendo em consideração a sua amplitude, serão

tratadas apenas algumas vertentes, não numa perspectiva de meta de chegada de

conhecimentos definitivos, mas de ponto de partida para outras abordagens interativas do ato

educativo. Como a indisciplina constitui, atualmente, uns dos problemas mais graves que a

Escola enfrenta, não podiam deixar de ser referidos, também, os efeitos negativos que ela

produz em relação aos docentes.

Portanto, o objetivo que ora se propõe o presente trabalho será identificar concepções de

disciplina e como professores, pais e alunos as incorporam no seu cotidiano.

Para tanto, tivemos como base os estudos de Groppa (1996) e de Estrela (1994), nos quais,

através da abordagem qualitativa, procuramos demonstrar as várias possibilidades de

entendimento sobre o tema proposto, além de discutir a questão da disciplina e da indisciplina

como elementopertencente ao processo educativo, e por isso mesmo, fomentador deste.

O presente trabalho consta de Introdução, na qual apresentamos o tema, a justificativa e os

objetivos da pesquisa.

Capítulo 1. A Trajetória da Pesquisa (justificativa)

Capitulo 2. Indisciplina escolar, no qual desenvolvemos reflexões acerca dos vári os aspectos

em que pode ser considerada a indisciplina e a disciplina, além dos efeitos sobre os docentes.

Capitulo 3. Onde fala da diferença entre autoridade e autoritarismo na prática do docente e

também do papel da escola e da relação professor-aluno.

Capitulo4. Referencial teórico (A Participação dos pais na Ed. Escolar)

CAPITULO I – A TRAJETÓRIA DA PESQUISA

1.1 JUSTIFICATIVA

Historicamente, a escola e a família, tal qual as conhecemos hoje, são instituições que surgem,

com o advento da modernidade, ambas destinadas ao cuidado e educação das crianças e

jovens. Na verdade, à escola coube a função de educar a juventude na medida em que o

tempo e a competência da família eram considerados escassos para o cumprimento de tal

tarefa. Os saberes diversos e especializados, necessários, à formação das novas gerações,

demandavam cada vez mais ao longo do tempo, um espaço próprio dedicado ao trabalho de

apresentação e sistematização de conhecimentos dessa natureza, diferente, portanto, daquele

organizado pela família.

No Brasil, a escola, como instituição distinta da família, construiu-se aos poucos, às custas das

pressões científicas e dos costumes característicos de uma vida mais

urbana.Aproximadamente dois séculos, sinalizaram para a necessidade de uma organização

voltada à formação física, moral e mental dos indivíduos; missão essa impossível para o âmbito

doméstico.

Esse modelo esteve a serviço, sobretudo durante o século XIX, da moldagem das elites

intelectuais nacionais. A escola era profundamente diferente da família e, oferecia à formação

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das crianças e dos jovens a uma educação da qual nenhuma outra instituição poderia se

ocupar. Os primórdios da República, na onda dos movimentos sociais, políticos e culturais que

marcaram a época, impuseram a necessidade de modernizar a sociedade e colocar a Nação

nos trilhos do crescimento, exigindo então um outro modelo e uma maior abrangência da ação

educacional.

Assim, como podemos observar, a discussão sobre a participação da família na vida escolar de

seus filhos não é recente. Há décadas que se vem refletindo sobre como envolver a família,

promover a co-responsabilidade e torná-la parte do processo educativo. Sem dúvida, tal

aproximação trata-se de uma difícil tarefa, isto, em função das inseguranças, incertezas e da

falta de esclarecimento sobre o processo educacional, suas limitações, bem como sua

abrangência.

Compor uma parceria entre escola e família pressupõe de ambas as partes, a compreensão de

que a relação família-escola deve se manifestar de forma que os pais não responsabilizem

somente à escola a educação de seus filhos e, por outro lado, a escola não pode eximir-se de

ser co-responsável no processo formativo do aluno.

A presente pesquisa justifica-se pela necessidade de contribuirno processo ensino-

aprendizagem da criança de zero a seis anos da Educação Infantil, e por entendermos que a

parceria entre a família e a escola é de suma importância para o sucesso no desenvolvimento

intelectual, moral e na formação do indivíduo nessa faixa etária.

Os paradigmas de interpretação e de gestão das realidades sociais defendem modelos

sistêmicos numa perspectiva de integração funcional em que a flexibilidade, a mudança e o

conflito são elementos que devem ser coagidos. Neste sentido, além do estudo das estruturas

e das funções da família e da escola, havemos de considerar, também, as transformações que

estão ocorrendo na sociedade moderna, nas suas instituições e conforme os quadros sociais

que estão instáveis, daí decorrentes que exigem uma compreensão dinâmica e respostas mais

articuladas.

1.2 EDUCAÇÃO INFANTIL

As preocupações com a educação infantil não é um fato recente, desde o inicio das civilizações

que ela tem seu papel na formação do indivíduo. O que mudou foi a maneira de pensar essa

educação.

Na Grécia antiga, o conhecimento era transmitido com o objetivo de elevação intelectual,

porém com o passar do tempo e muitos desgastes nas técnicas educacionais, levaram a

educação a ser resumida a transmissão de conhecimentos, e acessível apenas ás classes

abastadas. Porém com a criação da escola pública (séc. XVI) inspirada nas idéias alemãs,

tornou-se mais acessível á quase todos, porém a educação ainda não era de muita qualidade.

O progresso alcançado em poucos anos nos cuidados e educação das crianças, pode ser

atribuído mais a umdespertar de consciência do que á evolução das condições de vida. Não foi

apenas o progresso devido a higiene infantil que se desenvolveu em especial na última década

do século XVIII, a personalidade da própria criança manifestou-se sob novos aspectos,

assumindo a mais alta importância, como frisa MONTESSORI (1980):"Não é a criança física

,mas a psíquica que poderá dar ao aperfeiçoamento humano um impulso dominante e

poderoso."A concepção de educação infantil implantada no século XVIII,foi de suma

importância para a criança ,pois segundo o educador e fundador dos jardins-de-infância o

alemão FROEBEL (1782-1852) ,a infância é a fase mais importante e decisiva na formação de

pessoas ,e comparava-as a uma planta em sua fase de formação ,exigindo cuidados periódicos

para que cresça de maneira saudável .As técnicas utilizadas até hoje em Educação Infantil

Page 27: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

devem muito a Froebel ,pois para ele,as brincadeiras são os primeiros recursos no caminho da

aprendizagem.

É no período pré-escolar, que as crianças têm a oportunidade de trabalhar com conteúdos

adequados para sua idade, sendo manipulados de forma correta para serem absorvidos por

elas, trabalhar com atividades lúdicas, de forma com que esta contribua com seu

desenvolvimento, auxiliando com a construção do conhecimento, e assim, na formação da

criança, pois,já se sabe ,que a criança não aprende apenas com atividades formais e

sistematizadas .

A socialização é outra contribuição fornecida pela Educação Infantil, pois depois da família ,o

primeiro contato que a criança tem,é com um grupo estanho e acontece nascreches e pré –

escolas, oportunizando-as explorar o novo.

Enfim, a Educação Infantil tem um papel um papel significativo no mundo infantil, pois

apresentará atividades que iram auxiliar no seu desenvolvimento social, cultural, psíquico,

motor sensorial e cognitivo, construindo o aprendizado através das experiências vivenciadas

pela criança.

1.3 A EDUCAÇÃO INFANTIL COMO DIREITO DA CRIANÇA

As significativas mudanças ocorridas, no âmbito legal, social e educacional, determinando

novas diretrizes e parâmetros no atendimento á crianças de 0 á 3 anos de idade promoveram a

necessidade de reordenamento na estrutura funcional e organizacional dessas instituições ,e

principalmente naquelas voltadas para o atendimento de crianças vulnerabilizadas pela

situação pela situação de pobreza ,abrangendo além da assistência social , alcançar a

educação.

Estas mudanças se deram não apenas por movimentos sociais organizados, mas pela

promulgação da Constituição Federal de1988 (CF/98),na qual a criança é reconhecida em sua

cidadania ,e portanto como sujeito de direitos.

A CF/88 em seu artigo 208-IV determina que "o dever do Estado com a educação ás crianças

de 0 á 6 anos será efetivado mediante garantia de atendimento em creches e pré-escola."

Por sua vez, o Estatuto da Criança e do Adolescente, em 1990 retificou que é dever do Estado

assegurar..atendimento em creches e pré-escola ás crianças de zero a seis anos de

idade..(ECA,art54-IV).

A lei nº394, de 20 de dezembro de 1996 ,Lei de Diretrizes e Bases(LDB),em seu artigo 4°-

VI,confirmou ,mais uma vez,que o atendimento gratuito em creches e pré-escola é dever do

Estado.Deixou claro também que o atendimento a esta faixa etária está sob a incumbência dos

municípios(art.11-V) ,determinando que todas as instituições de Educação Infantil ,publicas e

privadas,estejam inseridas no sistema de ensino .Como parte integrante da primeira etapa da

educação básica,a Educação Infantil foi dividida em creche(zero a três anos) e pré -

escola(quatro á seis anos),conforme artigo 31-I da LDB/96.

CAPÍTULO II – FATORES CONDICIONANTES DA DISCIPLINA/INDISCIPLINA

São múltiplos os fatores que condicionam a disciplina, tanto no espaço sala de aula, como no

espaço Escola.

Segundo Domingues(1995), podem considerar-se fatores estruturais (escolaridade obrigatória,

número de alunos por turma, currículos escolares e autoridade do professor), fatores sociais

(representações sociais, subculturas docentes e discentes, e poderes dos professores e dos

alunos) e fatores pessoais (objetivos individuais, estilos de ensino e estratégias de

Page 28: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

aprendizagem).

2.1 INDISCIPLINA ESCOLAR

Neste momento, discorremos acerca das discussões em torno dos conflitos que permeiam a

educação formal e das várias tentativas de se estabelecer, ou ainda de se encontrar as causas

dos distúrbios no processo de aprendizagem, é que propomos, com este trabalho, confrontar

idéias que têm como fio condutor a questão da indisciplina na sala de aula, sob pensamentos

advindos do processo educativo como um todo.

É a partir da ótica panorâmica de Groppa (1996), a problemática gerada pela indisciplina na

escola esuas relações com os aspectos formadores do homem, tais como os psicológicos,

sociológicos, filosóficos, políticos e éticos, que desenvolvemos nossa pesquisa.

Indisciplina é sempre comportamento impróprio (desobediência, desrespeito ou

agressividade),seja na família quando uma criança faz algo de perigoso ,se ela for agredida ao

invés de orientada pode se tornar agressiva e expressar sua revolta em forma de

indisciplina.No esporte há regras mas se elas forem mal aplicadas também poderá gerar

indisciplina .O mesmo ocorre na escola,quando as regras de convívio não são bem elaborada

se esclarecidas:ocorre a indisciplina. Pois como diz FREIRE (1998): "Disciplina pronta não

existe, é preciso que todos os sujeitos envolvidos no processo educacional (pais, alunos e

escolas) participem da construção do sistema de disciplina".

Num país que prima pela desorganização, pelo desrespeito a todo e qualquer tipo de ordem

ou norma, que coloca interesses de algumas pessoas ou grupos minoritários poderosos acima

de valores humanos de dignidade, respeito e solidariedade, disciplinar é não só uma proposta

temerária, como um grande desafio.

A escola vem estruturada com uma série de regras,diferentes da disciplina da família, e

querendo enquadrar todos nessa regra.A escola toma a disciplina como regra e não como

objetivo educacional,como deveria.

De acordo com o pesquisador, o excesso de indisciplina na escola sugere que a inst ituição não

está cumprindo seu papel. "As escolas de hoje se dizem preocupadas com a formação cidadã

dos alunos e propõem o ensino de regras deconvivência social. Por isso, a indisciplina ou o

excesso dela demonstra fracasso no seu trabalho de socialização", argumenta. A indisciplina

afeta a vida escolar porque perturba a relação pedagógica, impactando negativamente o

aprendizado dos alunos. Segundo Campos, existem pesquisas que demonstram que os alunos

de periferia são mais afetados por esse distúrbio na relação de aprendizado. "Isso é mais uma

barreira, que se soma às outras que a gente já conhece", conclui.

A indisciplina em criança sem idade pré-escolar pode ocorrer também pelo fato de a aula ser

mal planejada ou não planejada, tendo em vista que nessa idade as atividades escolares

devem ser diversificadas e de curto tempo, pois a criança.

2.2 OS VÁRIOS ASPECTOS DA INDISCIPLINA

De acordo com os estudos de Groppa (1996), a problemática gerada pela indisciplina na escola

está relacionada com a interpretação e administração do ato indisciplinado. É o ponto em que

o educador, (por sentir a substituição da autoridade pela perplexidade), se perde e inicia a

busca por soluções imediatistas, uma vez que a linha divisória entre a indisciplina e a violência

é muito tênue.

Desse modo, é sob as considerações de Yves e de La Taille, que encontramos subsídios ou

argumentos, para tratar dos problemas relacionados à aprendizagem, (considerados na

Page 29: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

maioria das vezes sob uma visão simplista) à luz de uma ótica em que estão inseridos mais que

as questões escolares e são considerados os aspectos ou elementos formadores do homem.

Assim, a indisciplina passa a ser discutida sob dimensões humanas em que não cabemmais

julgamentos, rótulos ou justificativas culposas, e sim questionamentos, reflexões e a ampliação

do conhecimento acerca do homem contemporâneo, da disciplina, da aprendizagem e do

espaço e da identidade ocupados hoje pela escola.

Para La Taille (1996), trata-se de estender a indisciplina à articulação de várias dimensões em

que não cabem mais a normatização do tema apenas à questão moral, ao seu reducionismo

psicológico sob um único viés, assim como a indiferença pela complexidade que compõe. Sob

tal pensamento, o autor discorre que

[...] Se entendemos por disciplina comportamentos regidos por um conjunto de normas, a

indisciplina poderá se traduzir de duas formas: 1) a revolta contra estas normas; 2) o

desconhecimento delas. No primeiro caso, a indisciplina traduz-se por uma forma de

desobediência insolente; no segundo, pelo caos dos comportamentos, pela desorganização

das relações. (LA TAILLE 1996, p.10)

Sob tais considerações, é tecida a linha de pensamento na qual o autor observa que o

desconhecimento das normas, os conflitos comportamentais e o estremecimento das re lações,

atualmente revelam o quadro em que se encontra a educação brasileira.

Assim, o autor utiliza-se do texto de Yves e de La Taille, para questionar por que as crianças

não obedecem nem aos pais e nem aos professores e por que elas não têm limites.

Tal questionamento também é feito por Estrela (1994), sob o pensamento de que o problema

da disciplina na aula e na escola é um problema de prevenção e é a nível de prevenção, e não

da correção que a pesquisatem avançado e também fornecido material importante para a

reflexão e ação dos docentes.

Desse modo, a autora considera que, a escola enquanto sistema aberto em constante

interação com o meio sofre reflexo de todos os conflitos existentes, como por exemplo:

turmas numerosas, escolas superlotadas, nível de remuneração baixo dos docentes, o que

afasta do ensino os mais capazes, número elevado de alunos oriundos de meios

economicamente degradados.

No entanto, a manutenção da disciplina constitui uma preocupação de todas as épocas, a vida

do professor tem sido sempre amargurada pela indisciplina das crianças que perturbam

‘ordem instituída para seu próprio bem’.

Para Estrela (1994), é importante que tenhamos uma interpretação funcional da indisciplina,

que nos permita fazer distinção entre indisciplina na escola e outras formas de indisciplina

social e nesse sentido, a autora pontua que a indisciplina escolar não deve, portanto,

confundir-se com delinqüência.

Groppa (1996) argumenta que a disciplina pode ser entendida como condição necessária para

arrancar o homem de sua condição natural selvagem e nessa perspectiva, a permanência

quieta na sala de aula, serviria para ensinar a criança a controlar seus impulsos e afetos e não

para o bom funcionamento da escola, já que a questão organizacional da escola não depende

cem por cento do comportamento do aluno e sim da interação deste com o funcionamento de

suas políticas internas. Neste caso, existe um foco dispensado muito mais aos preceitos morais

da disciplina, do que a real dimensão em que esta se insere, uma vez que estetema não se

encerra no contexto escolar, ao contrário, este é apenas um reflexo da situação social vigente.

2.3 – EFEITOS DA INDISCIPLINA SOBRE O PROFESSOR

Page 30: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

A indisciplina produz efeitos negativos no aproveitamento escolar e na socialização dos alunos.

Estes efeitos negativos exercem-se também sobre o professor, provocando nele desgaste físico

e psicológico, ansiedade, fadiga, tensão, perda de eficácia educativa, diminuição de auto-

estima, sentimento de frustração e desânimo e "stress". Este conjunto de fatores pode levar,

em último caso, ao abandono da profissão (Estrela, 1992).

Estes aspectos negativos atingem, sobretudo os professores menos experientes e menos

preparados pedagogicamente.

CAPITULO III - AUTORIDADE E AUTORITARISMO NA PRATICA DOCENTE

Muitas vezes a criança se depara com uma aula mal planejada ou não planejada, com

conteúdos incoerentes com sua idade e/ou realidade social da turma, e reage a isso com a

indisciplina, e os professores passam a usar seu cargo de autoridade, em forma de

autoritarismo, para inibir-los.

A autoridade por parte do professor é fundamental para controlar a disciplina, pois como

defende FREIRE (1989):"A criança entregue a ela mesma,dificilmente se disciplinará". Todavia,

ele também prega, que esta autoridade não deve se dar em forma de autoritarismo,pelo

contrario,o professor tem que respeitar as características sócio-culturais dos alunos.

Há uma necessidade de autoridade, pois sem essa não se faz educação; o aluno precisa dela,

seja para se orientar, seja para poder opor-se (o conflito coma autoridade é normal,

especialmente no adolescente), no processo de constituição de sua personalidade. O que se

critica é o autoritarismo, que é a negação da verdadeira autoridade, pois se baseia na

coisificação, na domesticação do outro.

A autoridade se define sempre em contextos históricos concretos. E o primeiro grande desafio

para o resgate da autoridade do professor é a necessidade de ressignificar o espaço escolar,

ganhar clareza sobre qual é de fato o papel da escola hoje, porque será justamente neste

espaço social que o professor deverá exercer sua autoridade, que obviamente carecerá de

sentido se a própria instituição não conseguir justificar sua existência. Um segundo desafio é o

professor conseguir se refazer, se reconstruir depois deste turbilhão todo a que foi - e ainda

está - submetido.

3.1 O PAPEL DA ESCOLA E A RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO

Ao abordar a questão do papel da escola na sociedade e sobre a responsabilidade desta em

relação à criação de espaços que proporcionam o exercício da cidadania, La Taille (1996),

considera o ‘olhar admirador’ dos dias de hoje, no qual o homem pós -moderno age de acordo

com a relação vergonha-sociedade, (já sofre as tiranias da intimidade e seu interesse diz

respeito à sua personalidade, a seus afetos), para situar o que ele denomina de declínio do

Homem-Público.

Nesse sentido, discorre sobre as conseqüências morais, que estas são naturais a este processo

do declínio, (não que o homem seja imoral), porém considera que sua ação moral fica

relutante em assumir certos valores que estariam contradizendo sua busca deprazer, o que lhe

seria mais autêntico.

Remetendo tais considerações à indisciplina em sala de aula La Taille, (1996), desenvolve seus

pensamentos sob idéia de que “Toda moral pede disciplina, mas toda disciplina não é moral.”

E desse modo lança o seguinte questionamento: “O que há de moral em permanecer em

silêncio horas a fio, ou em fazer fila?” La Taille (1999, p.19).

Nessa perspectiva, o autor enfatiza considera a importância e a necessidade do exame das

Page 31: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

razões de ser das normas impostas e dos comportamentos esperados sob o ângulo do

enfraquecimento da relação vergonha-moral, da atenção dada somente ao que é particular, do

direcionamento das motivações do ser humano ao desejo, da vergonha de ser velho e parecer

jovem e da desvalorização do estudo e da instrução.

Groppa (1999, p.23), defende uma linha de pensamento complexa em que “[...] para ser

cidadãos, são necessários sólidos conhecimentos, memórias, respeito pelo espaço público, um

conjunto mínimo de normas de relações interpessoais, e diálogo franco entre olhares éticos.

Não há democracia se houver completo desprezo pela opinião pública.”

Também as considerações de Estrela (1994), vêm de encontro à concepção humanista de que

é a partir de relações reais que o indivíduo pode aprender a lidar com as mais diversas

situações e considerando a escola como um espaço onde intencionalmente conhecimento e

cultura são exercitados, pode-se lidar com a indisciplina e construir um novo padrão de

disciplina.

Nestes termos, cada escola, cada sala de aula, é um espaço histórico-pedagógico; apesar das

modificações profundasque a escola sofreu na época contemporânea, existem nela, ainda,

heranças do magistrocentrismo tradicional em que o professor é o dono do saber, que

resistem à mudanças dos tempos e das vontades.

Para Groppa (1996), o ponto de vista psicológico entende o ‘reconhecimento da autoridade’

externa que é anterior à escolarização, daí porque a queixa dos educadores sobre a

inexistência, no sujeito da noção de autoridade e ainda que há de se pensar a estrutura escolar

juntamente com a familiar, pois são duas dimensões que se articulam.

Desse modo, a educação não é responsabilidade integral da escola, e sim, um dos eixos que

compõe todo processo. Entretanto, na relação professor-aluno, que ainda existe, percebe-se a

ênfase à normatização individual, esvaziando a escola de seu objetivo maior, que é o trabalho

de recriação do legado cultural, o que faz com que gaste-se muito mais energia e tempo com a

questão disciplinadora do que com a tarefa epistêmica fundamental.

No entanto, para o autor, investir numa sedimentação moral do aluno exigiria uma nova

posição consensual dos envolvidos sobre esta infra-estrutura psíquica e isto não existe. Assim,

a tarefa do professor, ao contrário, é bem definida e diz respeito ao conhecimento acumulado.

De acordo com os estudos aqui apresentados, procuramos atentar para a questão da disciplina

e da indisciplina em seus sentidos mais amplos, de modo que não pairasse a idéia de visão

reducionista entre um e outro tema. Buscamos, ainda, deixar implícitas reflexões acerca do

papel da escola e da importância da relação educador-aluno, para que afunção da escola se

cumpra.

Fica clara, portanto, que a indisciplina há que ser visto como um fenômeno próprio do homem

contemporâneo e das implicações advindas de seu meio social.

A grande questão, é que, quando se trata de observar a indisciplina no contexto escolar, mais

precisamente na sala de aula, entram em confronto a ótica da escola, (pautada em uma

educação tradicional, que tem o autoritarismo como base), a educação democrática

(defendida por vários estudiosos) e o aluno real, freqüentador da escola e que é fruto da

sociedade contemporânea e por isso mesmo, com anseios democráticos, libertadores,

autônomos.

Desse modo, o que deve ser mudado neste conflito, é ótica pela qual a disciplina e a

indisciplina são observadas.

Há então, que se ampliar as visões, os conhecimentos, as considerações, os estudos e as

relações, para que professores, alunos e cidadãos possam inter-relacionarem-se em uma

escola real, com valores reais, e que cumpra seu real papel que é o de fornecer espaços de

cultura e de vida para que o aluno que de lá saia, esteja pronto para praticar a cidadania

Page 32: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

apreendida do contexto escolar.

Nessa perspectiva, e de acordo com os autores aqui abordados, a indisciplina deixará de ser o

motivo das dores de cabeça dos educadores, para atuar como agente revolucionador e

construtor dos vários conhecimentos que o indivíduo necessita para viver em comunidade e

em comunhão consigo e com os outros.

CAPÍTULO IV - A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS NA EDUCAÇÃO ESCOLAR (REFERENCIAL TEÓRICO)

A escola pode ser pensada como o meio do caminho entre a família e asociedade.

Neste delicado lugar, tanto a família quanto à sociedade lançam olhares e exigências à escola.

No que se refere à família, é necessário dizer que a historiografia brasileira nos leva a concluir

que não existe um “modelo de família” e sim uma infinidade de modelos familiares, com

traços em comum, mas também guardando singularidades. É possível dizer que cada família

possui uma identidade própria, trata-se na verdade, como afirmam vários autores, de um

agrupamento humano em constante evolução, constituído com o intuito básico de prover a

subsistência de seus integrantes e protegê-los.

Estão presentes dessa maneira, sentimentos pertinentes ao cotidiano de qualquer

agrupamento como amor, ódio, ciúme, inveja, entre outros. Em relação às expectativas da

família com relação à escola com seus filhos encontram-se várias fantasias familiares como o

desejo de que a instituição escolar “eduque” o filho naquilo que a família não se julga capaz,

como, por exemplo, limite e sexualidade; e que ele seja preparado para obter êxito

profissional e financeiro via de regra ingressando em uma boa universidade.

A sociedade procura ter na escola uma instituição normativa que trate de transmitir a cultura,

incluindo além dos conteúdos acadêmicos, os elementos éticos e estruturais. É a partir daí que

se constrói o currículo manifesto (escrito em seus estatutos) e o currículo latente (o dia-a-dia).

(Outeiral apud Siqueira, 2002, p.01).

Embora bem delimitadas as diferenças entre casa e escola, passou-se a buscar mais o apoio

desta,entendendo-se a eficácia da ação normalizadora da escola sobre crianças e jovens

quando respaldadas pelo conhecimento e aquiescência da família. A despeito disso, reservava-

se à escola, 24 os direitos sobre o conhecimento científico acerca das áreas disciplinares, como

também sobre aqueles que diziam respeito aos processos de aprendizagem das crianças e

adolescentes, conhecimentos estes informados pela biologia, psicologia e ciências sociais

preservando a escola, desta forma, seu lugar de autoridade no gerenciamento das questões

pedagógico - educacionais.

Hoje vivemos um outro tempo, bem mais complexo, diverso e inquietante do que há algumas

décadas, a escola enfrenta, além do desafio frente ao domínio do conhecimento, em

permanente mudança, também o desafio da relação com seus alunos, sejam eles crianças

pequenas ou jovens.

Sem dúvida esse contexto é perspassado por questões de diferentes naturezas, entre as quais

os dilemas do desempenho curricular a ser proposto na contemporaneidade, os impasses da

escolha dos encaminhamentos metodológicos mais adequados as relações de ensino, os

limites e possibilidades da manutenção de uma relação professor aluno com qualidade e a

família é considerada peça chave nesse momento de crise.

Ao lado da família, a escola permanece sendo um espaço de formação que deve, para tanto,

repensar a sua ação formadora, preocupando-se em formar seus educadores para que os

mesmos reúnam recursos que os permitam lidar com os conflitos inerentes ao cotidiano

Page 33: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

escolar. É, portanto, na escola, refletindo sobre o que há para ser ensinadoàs crianças sobre a

metodologia que pode tornar mais coesa a ação do conjunto docente, que a escola poderá

encontrar saídas legítimas à superação dos problemas morais e éticos que assolam o seu dia-a-

dia. Nesse sentido, sem abdicar do lugar reservado ao ensino formal, é preciso que os espaços

destinados à formação dos educadores no interior da escola dêem, também, prioridade à

reflexão político-filosófica sobre os sentidos e possibilidades da ação educacional para que se

possa, desta feita, recuperar ou constituir um novo ideário para a escola.

A escola não é a única instância de formação de cidadania. Mas, o desenvolvimento dos

indivíduos e da sociedade depende cada vez mais da qualidade e da igualdade de

oportunidades educativas. Formar cidadãos na perspectiva aqui delineada supõe Instituições

onde se possa resgatar a subjetividade interrelacionada com a dimensão social do ser humano,

em que a produção e comunicação do conhecimento ocorram através de práticas

participativas e criativas.

Trata-se de uma instituição da sociedade na qual a criança atua efetivamente como sujeito

individual e social. É um espaço concreto e fundamental para a formação de significados e para

o exercício da cidadania: na medida em que possibilita a aprendizagem de participação crítica

e criativa, contribui para formar cidadãos que atuem na articulação entre o Estado e a

sociedade civil. Para a família, o ensino quanto mais individualizado, melhor para seu filho,

pois nessa conjetura vai haver a peculiaridade de melhor ajudá-los e a destacá-lo. As

preocupações transitam, portanto noâmbito do privado. Este enfoque mais social do que

individual, carrega objetivos éticos, pois a escola deve ser um espaço de valorização tanto da

informação, como da formação de seus alunos, dentro de uma estrutura coletiva.

A escola como instituição busca através de seu ensino, que seus alunos possam assumir a

responsabilidade por este mundo, como diz Arendt (apud Castro, 2002):

Ultrapassa os desejos individuais e esta responsabilidade só poderá advir, através do

enlaçamento entre conhecimento, e ação, entre o saber e as atitudes, entre os interesses

individuais e sociais. A escola , como um novo modelo, irá ampliar o mundo dos alunos,

convidando-os a olhar suas experiências com uma outra lente, que não a familiar, o que

alterará os significados já conhecidos. A escola pública tem mais fortemente, então, a

responsabilidade da apresentação de conceitos e conteúdos herdados de nossa cultura, pois

muitas crianças só terão acesso a esta herança, através de sua passagem pela escola, que deve

então, abrir caminhos de acesso à cultura de maneira igualitária para todos e neste sentido,

lutar contra os privilégios de uma classe social. Todo educador enquanto mediador do vínculo

entre aluno e a cultura, entre a escola e a família, está mergulhados e comprometidos nesta

rede de interesses dos dominantes e dos dominados.(p.01).

Existem escolas que trabalham visivelmente no objetivo de reprodução dos valores e

ideologias dominantes, outras tem uma posição mais crítica, mas todas assumem posições

políticas, pois a escolha dos conteúdos aserem ensinados, o estilo e o método deste ensino,

suas regras, sua maneira de avaliar, de receber a família etc., traduzem os objetivos das

instituições, deixando claras as opções e desvelando seus interesses mais específicos.

Partindo de um levantamento da história da participação da família na educação vimos que os

interesses das famílias foram acolhidos mais fortemente na escola brasileira, a partir das

décadas de 60/70, através do movimento de Renovação Pedagógica, que abriu uma grande

lacuna para a entrada de um olhar mais psicológico no âmbito escolar, ampliando a atenção

com cada criança, suas escolhas e desejos, seu tempo de aprender entre tantos.

Enfrentamos, porém, conflitos decorrentes da situação vivida, pois passamos de um valor

Page 34: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

centrado no conteúdo e no educador, para um valor centrado na criança e em seu processo de

aprender. O desafio das escolas hoje é sair dos extremos, buscando valorizar tanto a

informação, como a formação, tanto no educador como no educando, tanto o método como

os conhecimentos acumulados, resgatando a importância do grupo na construção de conceitos

e valores. Conforme esclarece Campos (1983):

A palavra família, na sociedade ocidental contemporânea tem ainda para a maioria das

pessoas, conotação altamente impregnada para a maioria das pessoas, conotação altamente

impregnada de carga afetiva. Os apologistas do ambiente da família como ideal para a

educação dos filhos, geralmente evidenciam o calor materno e o amor como contribuição para

o estabelecimento do elo afetivo mãe-filho,inexistente no caso de crianças institucionalizadas.

Um dos representantes deste ponto de vista foi Bowlby. (p.19).

A complexidade do processo de socialização é evidente e torna-se bastante expressiva dentro

do processo ensino-aprendizagem através de aspectos do tipo: imitação, identificação e mais

um conjunto de características determinadas pelo contexto familiar, que irão interagir no

desenvolvimento da criança dentro da instituição escolar.

De uma maneira geral, sobre a relação família e educação, afirma Nérici (1972)

A educação deve orientar a formação do homem para ele poder ser o que é da melhor forma

possível, sem mistificações, sem deformações, em sentido de aceitação social.

Assim, a ação educativa deve incidir sobre a realidade pessoal do educando, tendo em vista

explicitar suas possibilidades, em função das autênticas necessidades das pessoas e da

sociedade (...). A influência da Família, no entanto, é básica e fundamental no processo

educativo do imaturo e nenhuma outra instituição está em condições de substituí-la. (...) A

educação para ser autêntica, tem de descer à individualização, à apreensão da essência

humana de cada educando, em busca de suas fraquezas e temores, de suas fortalezas e

aspirações. (...) O processo educativo deve conduzir à responsabilidade, liberdade, crítica e

participação. Educar, não como sinônimo de instruir, mas de formar, de ter consciência de

seus próprios atos. “De modo geral, instruir é dizer o que uma coisa é, e educar e dar o sentido

moral e social douso desta coisa”. (p.12).

Por outro lado, Connel (1995) faz uma abordagem em que visualiza a família dentro deste

parâmetro sugerindo que a relação entre professores e pais deve ser entendida como uma

relação de classes. Assim, os pais da classe dominante vêem os professores como seus agentes

pagos: capazes e especialistas. Assim, esclarece Connel (1995):

A escola secundária é fortemente determinada pelo modo como age seu diretor. E isto

também é verdadeiro para a escola particular, mas acho que pela razão de o diretor da escola

particular prestar contas a um curador ou diretoria, existe mais pressão sobre ele para obter

resultados do que o diretor da escola secundária estadual que presta contas a uma Secretaria

de Educação. A escola particular produzirá em média melhores diretores porque se estes não

realizarem serão despedidos ou a escola irá decair muito rapidamente. (p.126).

Entretanto, Freire (2000) evidencia que ensinar exige compreender que a educação é uma

forma de intervenção no mundo, uma tomada de posição, uma decisão, por vezes, até uma

ruptura com o passado e o presente. Para este renomado pesquisador e educador, as classes

dominantes enxergam a educação como imobilizadora e ocultadora de verdades.

Page 35: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

A educação é uma forma de se intervir no mundo, dentro desta linha de pensamento de Freire

(2000), que fala de educação como intervenção. Ele se refere a mudanças reais na sociedade,

no campo da economia, das relações humanas, da propriedade, do direito ao trabalho, a terra,

a educação, a saúde, com referênciaà situação no Brasil e noutros países da América Latina.

Quanto mais criticamente a liberdade assuma o limite necessário, tanto mais autoridade ela

tem. Eticamente falando, para continuar lutando em seu nome, desta forma se posiciona

Freire (2000):

Gostaria uma vez mais de deixar bem expresso o quanto aposto na liberdade, o quanto me

parece fundamental que ela exercite assumindo decisões. (...). A liberdade amadurece no

confronto com outras liberdades, na defesa de seus direitos em face da autoridade dos pais,

do professor e do Estado. (p.119).

Castro (2002) em recente artigo: O Caos Institucional e a Crise da Modernidade se referem à

falta de parâmetros quanto ao papel que a escola deve assumir em uma sociedade em

permanente mudança e, em conformidade a isto, que sentido deve assumir a prática docente,

quando a própria produção e veiculação do conhecimento, assumem formas cada vez mais

fragmentáveis e, muitas vezes, dissociadas de qualquer significação ética, social e cultural?

Hoje, assistimos ao aprofundamento da desagregação social que impede a constituição de

qualquer consenso sobre os princípios e valores que deveriam reger as relações entre os

sujeitos e instituições sociais, dificultando a definição de qual deve ser e como deve ser forjado

nosso projeto de escola e sociedade.

(...) O tipo de escola e conhecimento que se funda com o capitalismo, legitima-se em um

modelo de arquitetura social voltada à satisfação dos direitos intelectuais de uma elite

econômica, amparada em sólidacomposição familiar que, a princípio, pode fornecer o lastro

moral, ético e civilizacional, necessários ao bom desempenho de todos aqueles que a

freqüentam. Hoje, contudo, a situação é outra. A sociedade pós-industrial alterou,

significativamente, sua maneira de operar e produzir mercadorias, conhecimentos e valores,

afetando diretamente a escola, afetando seus eixos paradigmáticos, tanto no que se refere à

sua organização funcional, curricular e metodológica, quanto aos princípios éticos e

participativos que sustentam sua prática cotidiana. Este panorama dificulta a definição de

rumos, a fim de que se possa determinar as metas a serem atingidas pela escola no campo dos

saberes, mas, também, no campo da participação dos diversos segmentos que a compõem,

principalmente dos pais.( Castro, 2000. p.01).

Atravessamos uma autêntica socialização divergente. Vivemos numa sociedade pluralista, em

que grupos sociais distintos defendem modelos de educação opostos, em que se dá prioridade

a valores diferentes e até contraditórios. Ou seja, a unidade racionalista representada por um

modelo unitário de escola está em crise, em função da ascensão de um paradigma educacional

que não pode mais colocar para debaixo do tapete, a diversidade sócio-cultural como

elemento central dos conflitos que marcam a escola nos dias de hoje.

Toda esta movimentação no plano social produz rupturas na forma como historicamente,

algumas instituições se organizam para gerar conhecimento, condicionar hábitos e impor

comportamento. Destas, as mais afetadas foram, com certeza, a família e a escola. Nãoé por

outra razão que hoje essas duas instituições se vêem compelidas a uma aproximação que, até

a alguns anos atrás, não seria possível ou mesmo desejável.

Tradicionalmente a escola olhou para a família com certa desconfiança e, quando não teve

Page 36: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

alternativa, apenas suportou a participação dos pais na condição de ouvintes comportados dos

relatos por eles produzidos, acerca da trajetória discipl inar e pedagógica dos alunos.

Raramente essa participação superou os limites de ação beneficente, envolvendo-se com a

parte organizacional do projeto curricular da escola. Para a escola, a família foi e é o locus de

construção de moralidade, base indispensável para a garantia do projeto moralizador e

civilizacional representado pela escola.

A família fez da escola, sobretudo na etapa que antecedeu a massificação do processo

institucional, uma instituição a serviço da monopolização do capital cultural nas mãos de uma

elite econômica reproduzindo, no plano educativo, as desigualdades do campo social.

Assistimos a uma reviravolta neste cenário decorrente da crise dos modelos forjados pela

modernidade. O modelo de família nuclear predominante até meados da década de 50 deu

lugar a novas formas de representação e organização parental com reflexos diretos no que

concerne às relações entre pais e filhos. Cresceu, vertiginosamente, o número de separações

entre casais, o que tem provocado a perda de referências ético-morais para uma parte

significativa de jovens e crianças.

Além disso, a crescente presença da mulher no mercado de trabalho e sua maior

independência darepresentação de mulher voltada à vida doméstica e à educação da prole

resultaram em certa lacuna com relação ao desenvolvimento afetivo, social e educacional das

novas gerações. Para completar este cenário, as mudanças tecnológicas que prometiam uma

maior disponibilidade de tempo para que os indivíduos se dedicassem a si mesmos e aos

outros, revelaram-se falsas; o trabalho e a velocidade cotidiana só fizeram afastar as pessoas

do convívio comunitário, isolando-as, cada vez mais e, conseqüentemente,

descompromissando-as das responsabilidades públicas, dentre as quais, destaca-se a formação

da juventude.

Os estudos realizados, em vários países, nas últimas três décadas, mostraram que, quando os

pais se envolvem na educação dos filhos, eles obtêm melhor aproveitamento escolar. De todas

as variáveis estudadas, o envolvimento dos pais no processo educativo foi a que obteve maior

impacto, estando esse impacto presente em todos os grupos sociais e culturais.

Quando falamos em colaboração da escola com os pais, estamos a falar de muitas coisas.

Desde logo, a comunicação entre o professor e os pais dos alunos aparece à cabeça,

constituindo a forma mais vulgar e mais antiga de colaboração.

Muitos professores não vão além dessa prática e, muitas vezes, limitam-se a ser os

mensageiros das más notícias. Talvez, por isso muitos pais olhem para a escola com um misto

de receio e de preocupação, porque só são chamados pelo professor quando os filhos revelam

problemas de aprendizagem ou de indisciplina. Mas há outras formas de colaboração. Por

exemplo, o apoio social epsicológico que a escola pode dar aos alunos e respectivas famílias

através dos serviços de apoio social escolar e dos serviços de psicologia e orientação

vocacional. Para muitas famílias no limiar da pobreza, esta é a única forma de colaboração

conhecida.

As famílias da classe média sempre praticaram uma outra forma de colaboração: o apoio ao

estudo, em casa. Essas famílias apóiam os filhos na realização dos trabalhos de casa e no

estudo recorrendo, muitas vezes, a professores particulares. Nos jardins de infância e nas

escolas do ensino básico, começa a ser comum à participação dos pais em atividades

escolares: festas, comemorações e visitas de estudo. Algumas destas formas de colaboração

têm efeitos expressivos na melhoria do aproveitamento escolar dos alunos, aumenta a

motivação dos alunos no estudo, ajuda a que os pais compreendam melhor o esforço dos

professores. Melhora a imagem social da escola, reforça o prestígio profissional dos

professores, ajuda os pais a serem melhores pais. Da mesma forma, estimula os professores a

Page 37: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

serem melhores professores.

Não há uma única maneira correta de envolver os pais. As escolas devem procurar oferecer

um menu que se adapte as características e necessidades de uma comunidade educativa cada

vez mais heterogênea. A intensidade do contato é importante e deve incluir reuniões gerais e

o recurso à comunicação escrita, mas, sobretudo os encontros esses agentes (escola e família).

Intensidade e diversidade parecem ser as características mais marcantes dos programas

eficazes.

Nada é pior para o bem estar e desenvolvimentodas crianças e dos jovens do que a ausência

de referências seguras e a privação do contato continuado e duradouro com adultos

significativos.

Quando os pais, por motivos relacionados com o mercado de trabalho e o afastamento do

local de trabalho da sua área de habitação, não dispõem de tempo para estar com os filhos,

deixando, por isso, de tomar as refeições em comum, as crianças e os jovens são obrigados a

crescerem com a ausência de referências culturais seguras. Essa ausência de referências faz

aumentar a necessidade de os professores criarem programas que aproximem as escolas das

famílias, contribuindo para a recriação de pequenas comunidades de apoio aos alunos que

sejam uma presença forte na vida deles.

Quando os valores da escola coincidem com os valores da família, quando não há rupturas

culturais, a aprendizagem ocorre com mais facilidade. Nas comunidades homogêneas, em que

os professores partilham os mesmos valores, linguagem e padrões culturais dos pais dos

alunos, está garantida a continuidade entre a escola e a família. Contudo, são cada vez mais as

escolas com populações estudantis heterogêneas, nas quais os professores e os pais têm raízes

culturais diferentes, provocando, nos alunos, dificuldades de adaptação.

Se tivermos presente a maneira como os alunos aprendem, torna-se evidente à importância da

continuidade cultural entre a escola e as famílias. O aluno aprende assimilando a informação

pela experiência direta com pessoas e objetos, ou seja, professores, pais, colegas, livros,

programas de televisão e Internet. Essa informação éincorporada nas suas estruturas mentais,

modificando-as, tornando-as mais complexas e abrangentes. É o desejo de adquirir sentido, de

tentar compreender, que leva o aluno a aprender.

Quanto mais rico e variado for o seu mundo familiar, mais oportunidades o aluno terá de

adquirir informação relevante. Os alunos movem-se para o estágio cognitivo que lhes está

mais próximo, quando reconhecem que há uma discrepância entre o que experenciam e o

sentido que estão a dar as novas informações. Mas o grau de discrepância não deve ser nem

muito elevado nem muito reduzido. Perante situações moderadamente discrepantes, o aluno

reorganiza a sua estrutura mental, quando descobertas acerca do desequilíbrio cognitivo, é a

necessidade do problema ser apropriado a capacidade da criança para resolvê-lo.

As afirmações anteriores ajudam-nos a compreender o que acontece a um aluno que chega a

uma escola que lhe oferece um currículo sem continuidades com a sua cultura familiar.

Diferenças de linguagem, de proximidade e de distância entre pessoas, de formas de

tratamento e de regras de comportamento tornam mais difícil que o aluno seja capaz de

aplicar as suas experiências e conhecimentos passados às novas aprendizagens escolares.

Confrontados com grandes descontinuidades entre a casa e a escola, incapazes de

compreenderem a cultura escolar e de aplicarem as suas experiências passadas aos novos

contextos, esses alunos podem rejeitar ou ignorar a nova informação. Quando isso acontece,

estão criadas as condições para que o aluno rejeite a cultura escolar. Essa rejeição

podeassumir várias formas: indisciplina, violência, abandono, passividade e resignação. Seja

qual for a forma assumida pela rejeição, os sinais dessa rejeição devem ser interpretados pelo

professor, cabendo lhe traçar um plano de ação que inclua a comunicação com os pais.

Page 38: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

O envolvimento dos pais nas escolas produz efeitos positivos tanto nos pais como nos

professores, nas escolas e nas comunidades locais. Os pais que colaboram habitualmente com

a escola ficam mais motivados para se envolverem em processos de atualização e reconversão

profissional e melhoram a sua auto-estima como pais.

O envolvimento familiar traz, também, benefícios aos professores que, regra geral, sentem

que o seu trabalho é apreciado pelos pais e se esforçam para que o grau de satisfação dos pais

seja grande. A escola também ganha porque passa a dispor de mais recursos comunitários

para desempenhar as suas funções, nomeadamente com a contribuição dos pais na realização

de atividades de complemento curricular.

Quando a escola se aproxima das famílias, registra-se uma pressão positiva no sentido de os

programas educativos responderem às necessidades dos vários públicos escolares. As

comunidades locais também ganham porque o envolvimento familiar faz parte do movimento

cívico mais geral de participação na vida das comunidades, sendo, por vezes, uma

oportunidade para os pais intervirem nos destinos das suas comunidades e desenvolverem

competências de cidadania.

Restou para a escola a responsabilidade de estabelecer a ordem neste caos e, como não lhe é

possível reorganizar o quadrofamiliar, resta-lhe abrir mais portas para tentar uma parceria

educativa com os pais, de modo que possa instituir uma nova estabilidade, que traga de volta,

à escola, a legitimidade que a crise da modernidade lhe retirou.

Sem dúvida que este estudo faz parte de uma nova etapa nas relações escola/família, em que

os papéis serão reconstituídos sob novas bases éticas, políticas e culturais.

4.1 CONTEXTUALIZANDO HISTORICAMENTE

Ao longo da história brasileira a família veio passando por transformações importantes que se

relaciona diretamente com o contexto sócio-econômico-político do país.

O Brasil - Colônia, marcado pelo trabalho escravo e pela produção rural para a exportação,

identifica-se um modelo de família tradicional extensa e patriarcal, no qual os casamentos

baseavam-se em interesses econômicos, que à mulher, era destinada a castidade, a fidelidade

e a subserviência. Aos filhos, considerados extensão do patrimônio do patriarca. Ao nascer

dificilmente experimentavam o sabor do aconchego e da proteção materna, pois eram

amamentados e cuidados pelas amas de leite.

A partir das últimas décadas do século XIX, identifica-se um novo modelo de família. A

Proclamação da República, o fim do trabalho escravo, as novas práticas de sociabilidade com o

início do processo de industrialização, urbanização e modernização do país constituem terreno

fértil para proliferação do modelo de família nuclear burguesa, originário da Europa. Trata-se

de uma família constituída por pai, mães e poucos filhos. O homem continua detentor da

autoridade e "rei" do espaçopúblico; enquanto a mulher assume uma nova posição: "rainha do

lar", "rainha do espaço privado da casa". Desde cedo, a menina é educada para desempenhar

seu papel de mãe e esposa, zelar pela educação dos filhos e pelos cuidados com o lar.

No âmbito legal, a Constituição Brasileira de 1988, aborda a questão da família nos artigos

5º, 7º, 201º, 208º e 226º a 230º, trazendo algumas inovações (artigo 226) como um novo

conceito de família: união estável entre o homem e a mulher (§ 3º) e a comunidade formada

por qualquer dos pais e seus descendentes (§ 4º). E ainda reconhece que: ''os direitos e

deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher''

(§ 5º).

Nos últimos vinte anos, várias mudanças ocorridas no plano sócio-político-econômico

relacionadas ao processo de globalização da economia capitalista vêm interferindo na

Page 39: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

dinâmica e estrutura familiar e possibilitando mudanças em seu padrão tradicional de

organização.

Conforme Pereira (1995), as mais evidentes são:

- Queda da taxa de fecundidade, devido ao acesso aos métodos contraceptivos e de

esterilização;

- Tendência de envelhecimento populacional;

- Declínio do número de casamentos e aumento da dissolução dos vínculos matrimoniais

constituídos, com crescimento das taxas de pessoas vivendo sozinhas;

- Aumento da taxa de coabitações, o que permite que as crianças recebam outros valores;

menos tradicionais;

- Aumento do número de famílias chefiadas por uma só pessoa, principalmente por mulheres,

que trabalham fora e têm menos tempo paracuidar da casa e dos filhos.

Entretanto, evidenciamos que essas mudanças não devem ser encaradas como tendências

negativas ou sintomas de crise. A aparente desorganização da família é um dos aspectos da

reestruturação que ela vem sofrendo. Por um lado, pode causar problemas, por outro,

apresentar soluções. Trata-se de um processo contraditório que ao mesmo tempo em que

abala o sentimento de segurança das pessoas com a falta ou diminuição da solidariedade

familiar, proporciona também a possibilidade de emancipação de segmentos tradicionalmente

aprisionados no espaço restritivo de muitas sociedades conjugais opressoras.

Com ele, também, os papéis sociais atribuídos diferenciadamente ao homem e à mulher

tendem a desaparecer não só no lar, mas também no trabalho, na rua, no lazer e em outras

esferas da atividade humana.

Embora, a cada momento histórico corresponda um modelo de família preponderante, ele não

é único, ou seja, concomitante aos modelos dominantes de cada época, existiam outros com

menor expressão social, como é o caso das famílias africanas escravizadas. Além disso, o

surgimento desta tendência não impedia imediatamente a outra, prova disto é que neste início

de século podemos identificar a presença do homem patriarca, da mulher "rainha do lar" e da

mulher trabalhadora. Assim, não podemos falar de família, mas de famílias, para que

possamos tentar contemplar a diversidade de relações que convivem em nossa sociedade.

Outro aspecto a ser ressaltado, diz respeito ao significado social da família e qual a sua razão

de existência.

SegundoKaloustian (1988), a família é o lugar indispensável para a garantia da sobrevivência e

da proteção integral dos filhos e demais membros, independentemente do arranjo familiar ou

da forma como vêm se estruturando. É a família que propicia os aportes afetivos e, sobretudo

materiais necessários ao desenvolvimento e bem-estar dos seus componentes. Ela

desempenha um papel decisivo na educação formal e informal, e é em seu espaço que são

absorvidos o valor ético e humanitário, em que se aprofundam os laços de solidariedade. É

também em seu interior que se constroem as marcas entre as gerações e são observados

valores culturais.

Gokhale (1980) acrescenta que a família não é somente o berço da cultura e a base da

sociedade futura, mas é também o centro da vida social. A educação bem sucedida da criança

na família é que vai servir de apoio à sua criatividade e ao seu comportamento produtivo

quando for adulto. A família tem sido, é, e será a influência mais poderosa para o

desenvolvimento da personalidade e do caráter das pessoas.

E evidenciado no nosso tipo de organização social, o papel crucial da família quanto à

proteção, afetividade e educação, A questão que colocamos a seguir é aonde buscar

fundamentação para a relação educação escola-família.

O dever da família com o processo de escolaridade e a importância da sua presença no

Page 40: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

contexto escolar é publicamente reconhecido na legislação nacional e nas diretrizes do

Ministério da Educação aprovadas no decorrer dos anos 90, tais como:

-Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8069/90), nos artigos 4º e5º;

-Política Nacional de Educação Especial, que adota como umas de suas diretrizes gerais: adotar

mecanismos que oportunizem a participação efetiva da família no desenvolvimento global do

aluno.

E ainda, conscientizar e comprometer os segmentos sociais, a comunidade escolar, a família e

o próprio portador de necessidades especiais, na defesa de seus direitos e deveres. Entre seus

objetivos específicos, temos: envolvimento familiar e da comunidade no processo de

desenvolvimento da personalidade do educando.

-Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei 9394/96), artigos 1º, 2º, 6º e 12°;

-Plano Nacional de Educação (aprovado pela Lei nº 10172/2002), que define como uma de

suas diretrizes a implantação de conselhos escolares e outras formas de participação da

comunidade escolar (composta também pela família) e local na melhoria do funcionamento

das instituições de educação e no enriquecimento das oportunidades educativas e dos

recursos pedagógicos.

E não podemos deixar de registrar a recente iniciativa do MEC – Ministério da Educação e

Cultura, que instituiu a data de 24 de abril com o Dia Nacional da Família na Escola. Neste,

todas as escolas deveriam convidar os familiares dos alunos para participar de suas atividades

educativas, pois conforme declaração do Ministro Paulo Renato Souza: “Quando os pais se

envolvem na educação dos filhos, eles aprendem mais".

Relacionados os sustentáculos formais da relação família/escola/educação, é importante

pontuar ainda alguns aspectos: em primeiro lugar, é preciso reconhecer que a

famíliaindependente do modelo como se apresente, pode ser um espaço de afetividade e de

segurança, mas também de medos, incertezas, rejeições, preconceitos e até de violência.

Em segundo lugar, na relação família/educadores, um sujeito sempre espera algo do outro. E

para que isto de fato ocorra é preciso que sejamos capazes de construirmos coletivamente

uma relação de diálogo mútuo, em que cada parte envolvida tenha o seu momento de fala,

mas também de escrita, no qual exista uma efetiva troca de saberes. A capacidade de

comunicação exige a compreensão da mensagem que o outro quer transmitir e para tal faz-se

necessário o desejo de querer escutar o outro, a atenção às idéias emitidas e a flexibilidade

para recebermos idéias que podem ser diferentes das nossas.

Assim, é fundamental que conheçamos os alunos e as famílias com as quais lidamos.

Sobretudo que conheçamos quais são suas dificuldades, seus planos, seus medos e anseios.

Enfim, que características e particularidades marcam a trajetória de cada família e

conseqüentemente, do educando a quem atendemos. Estas informações são dados preciosos

para que possamos avaliar o êxito de nossas ações enquanto educadores, identificar

demandas e construir propostas educacionais compatíveis com a nossa realidade.

Uma atitude de desinteresse e de preconceitos pode danificar profundamente a relação

família/escola e trazer sérios prejuízos para o sucesso escolar e pessoal dos educandos.

Geralmente, a família de educandos surdos espera e necessita da escola inúmeras

informações, apoio e orientação sobre como lidar com a situação deconvívio com uma pessoa

surda. A falta de atenção para esta demanda possivelmente terá conseqüências negativas para

educadores, educandos e familiares.

Enfim, muitos podem ser o significado da palavra participar. É preciso que conheçamos as

razões pelas quais as famílias não têm correspondido ao que nós educadores esperamos

enquanto sua participação na escola. Para tal, precisamos nos despir da postura de juízes que

condenam sem conhecer as razões e incorporarmos o espírito investigador que busca as

Page 41: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

causas para o desconhecido.

CONCLUSÃO

A partir das abordagens dispostas no presente trabalho, a presente pesquisa procurou tratar

da questão da indisciplina na escola e dos vários aspectos que estão relacionados a este tema.

Dar limites às crianças na Educação Infantil é iniciar o processo de compreensão e apreensão

do outro, ninguém pode respeitar seus semelhantes se não aprender quais são os seus limites,

e isso inclui compreender que nem sempre se pode fazer tudo que se deseja na vida. É de

suma importância uma análise conjunta: família e escola. Afinal, aos “pais” está subtendido

que são os responsáveis pela criança. A parceria entre família e escola é necessária para

detectar as possíveis falhas e tentar solucionar os problemas da disciplina.

A complexidade da vida moderna acaba delegando aos professores papeis antes só de

responsabilidade dos pais. A família de hoje conta muito com a escola, ou seja, com seus

professores na formação das crianças e dos jovens. Ela precisa estar informada sobre a l inha

de conduta que a escola tem com seusfilhos e, o que é fundamental, concordar com esta linha:

é preciso falar a mesma língua. Nos dias de hoje, o professor deve ser um “líder”, deve saber

também que liderança não se impõe, se conquista. Na sala de aula, ele representa a direção, a

própria família. Ali ele é o “dono da lei”. O educador necessita ter qualidades humanas

imprescindíveis como, por exemplo: equilíbrio emocional, responsabilidade, caráter, alegria de

viver, ética e principalmente gostar de ser professor. Além é claro de ter um maior

conhecimento sobre o manejo de sala e de como melhor se relacionar com o aluno. Também o

professor, tem um papel de mediador entre nossa realidade social e a função de educar.

Crianças gostam de professores que lhe dêem limites. Os professores bonzinhos nunca serão

respeitados; cairão no esquecimento com muita facilidade. Ele não deve permitir que somente

as crianças participem do processo de estabelecimento de regras, mas sim discutir o que é o

estabelecimento de regras, oferecer idéias de como criá-las, fixá–las por escrito na sala de aula

e envolvê-las no comprimento destas.

É importante que os professores adotem um padrão básico de atitudes perante as indisciplinas

mais comuns, como se todos vestissem o mesmo uniforme comportamental. Esse uniforme

protege a individualidade do professor. Quando um aluno ultrapassa os limites, não está

simplesmente desrespeitando um professor em particular, mas as normas da escola. Portanto,

faz necessário o professor ter a mentalidade aberta e acompanhar o processo de construção

do conhecimento, agindo como agente entreos objetos do saber e a aprendizagem, ser para o

aluno seu decifrador de códigos e receptador de suas muitas linguagens, significa estabelecer

limites e construir democraticamente uma interação onde em lugar de opressão e da

prepotência eleva-se a dignidade de quem educa, a certeza de quem planta amanhã.

Uma solução possível seria de revitalizar a confiança da família no seu papel de formadora e

trazê-la cada vez mais para dentro da instituição. Ao levar os pais a participar de encontros,

palestras, reuniões e troca de experiências com outros pais, eles saem fortalecidos e sentem

que não estão sozinhos nessa luta.

Enfim, não é apenas o professor que deve estar interessado na boa disciplina, mas toda a

escola como também na família, pois é na sala de aula que se ajuda a construir futuros

cidadãos com personalidade, onde vão aprender a limitar seus instintos que são impulsivos e

necessitam de correção desde a primeira infância.

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Page 42: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

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A INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

SUMÁRIO

Page 44: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

JUSTIFICATIVA

Durante os estágios observamos que em turmas do Ensino infantil há muitos casos de

indisciplina pudemos perceber que a indisciplina está associada diretamente a falta de limites

dos alunos.

A equipe pedagógica precisa ter uma postura mais firme diante dos alunos para a construção

de uma disciplina baseada no diálogo entre educador e educando visando a participação e o

compromisso de ambos. Observando o dia-a-dia das crianças e a atitude do professor

constatamos que os alunos veem de casa com problemas familiares, ou seja, a família também

está dentro deste contexto, pois é a base para que as crianças tenham bom comportamento

na sala de aula e na sociedade, como diz Paulo Freire (1998) “Disciplina pronta não existe, é

preciso que todos os sujeitos envolvidos no processo educacional participem da construção do

sistema de disciplina”.

De outras formas, a indisciplina também pode estar relacionada a aspectos desenvolvidos na

escola, com relações Professor-aluno e aluno-aluno.

Porém, existem várias causas para se chegar á indisciplina escolar como a conduta do

professor, à sua prática pedagógica e até mesmo as práticas da própria escola. Onde, a escola

tem como papel desenvolver estratégias para garantir atividades apropriadas ao processo

deensino-aprendizagem deixando de ser tão tradicional para buscar um pouco mais o lúdico

na sala de aula.

Os alunos precisam compreender que nem sempre podemos fazer tudo que queremos, e que

existem regras a se cumprir, seja na escola ou na vida.

O professor precisa ter autoridade, e não deve usá-la de forma abusiva, mas por ela,

apresentar suas idéias, conhecimentos e experiências, sem desrespeitar o conhecimento do

grupo, sempre os encorajando à participação, como sujeitos conscientes e responsáveis pelos

seus próprios processos de aprendizagem.

DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA

Na realização dos nossos estágios percebemos que os alunos não têm limites, e a indisciplina

está predominando em sala de aula. Os alunos são desordeiros, mau comportados,

desrespeitam os professores.

No entanto, a indisciplina pode ser definida pela instabilidade e ruptura no contato social da

aprendizagem. Sendo assim uma barreira que afeta a relação entre educadores e alunos.

Conquistar os alunos em sala de aula tornou-se um verdadeiro desafio para o ensino, tanto nas

instituições públicas quanto nas privadas.

Por que as crianças não obedecem e causam a indisciplina na sala de aula? Porque o problema

Page 45: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

vem de casa, alguns pais dão liberdade excessiva a seus filhos, criando filhos indisciplinados,

cheios de dengos que não sabem lidar com o não; que almejam ser o centro das atenções; os

indisciplinados também vêm de lares desestruturados, sãoagressivos e muitas vezes sem

perspectivas.

Portanto, é necessário disciplina, ordem, limites para estes alunos; aos educadores a missão de

compreender e considerar o educando como um ser em processo de desenvolvimento, com

desejos de integração no meio social. Aos pais (família) reavaliar se está realmente cumprindo

seu papel de fazer da criança um cidadão que respeita os limites impostos pela sociedade que

está inserido.

Ressaltando que a maior arma do professor é atrair estes indisciplinados ao invés de repudiá-

los, é cativá-los com as aulas transformando distração em atenção e consequentemente em

aprendizado.

REFERÊNCIAL TEÓRICO

A INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Naturalmente, o professor não deve permitir que as crianças discutam sobre normas e regras

no que diz respeito a indisciplina, afinal qual seria o método que as crianças usariam?

Provavelmente iriam querer uma sociedade com muita liberdade e com poucas regras, o que

sabemos que na prática não funciona desta maneira.

Sendo assim é importante que os professores adotem parâmetros de atitudes diante das

indisciplinas, e mostrem aos alunos que existem limites a serem seguidos. Quando o aluno

ultrapassar os limites, ele não está simplesmente desrespeitando um professor em particular,

ele estará quebrando as normas.

Aquino (1996. P. 98), afirma que, a tarefa de educar, não é responsabilidade da escola, é tarefa

da família, que aodocente cabe repassar seus conhecimentos acumulados, ele ainda aponta

que a solução pode estar na forma da relação entre professor e aluno, ou seja, a forma que

suas relações e vínculos se estabelecem, aponta também que a solução pode estar no

desenvolvimento do resgate da moralidade descente através da relação com o conhecimento

e que esse conhecimento deve ser construído socialmente, sem rigidez ou autoridade.

Portanto é necessário que o professor tenha a mente aberta e acompanhe o processo de

construção do conhecimento agindo como agente entre os objetos do saber, e a aprendizagem

será para o aluno seu decifrador de códigos e receptor de suas muitas linguagens.

Page 46: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

A indisciplina vem sendo vista como uma atitude de desrespeito, de intolerância ao acordo

firmado do não cumprimento de regras capazes de pautar a conduta de um indivíduo ou de

um grupo, é considerada também um reflexo da indisciplina generalizada em que se encontra

a humanidade atualmente, é o resultado de uma sociedade onde não existe mais respeito,

amor, a compreensão e o valor a família. Sendo assim é mais difícil estabelecer a disciplina e

fazê-la respeitar. Com as evoluções da vida em todos os sentidos, as crianças se tornaram mais

independentes dos adultos.

Sendo assim em relação aos conceitos mencionados, os pais optam por não colocar limites.

Outros alegam que a geração atual recebe outros tipos de modelo através da mídia e acabam

sofrendo sua influência paraessa abordagem liberal os pais estão sendo influenciados em

modelos liberais e terminam por assumir um papel mais “moderno” de educar.

Piaget (1973) defende que temos duas alternativas: “formar personalidades livres ou

conformistas”. Se o objetivo da educação for o de formar indivíduos autônomos e

cooperativos, então é necessário propiciar para que ele se desenvolva em um ambiente de

cooperação.

Nesta concepção cabe aos pais delegar ao filho tarefas que ele já é capaz de cumprir. Essa é a

medida certa do seu limite. No entanto os pais nunca devem fazer tudo pelo filho, mas ajuda-

lo somente até o exato ponto em que ele precisa, para que depois, realize sozinhas suas

tarefas. É assim que o filho adquire autoconfiança, pois está construindo sua autoestima.

Contudo é preciso que os pais tenham acima de tudo autoridade, e diálogo com eles.

Para Franco (1986, p.62):

Em geral, quando os educadores referem-se ao problema da disciplina na escola, normalmente

o reduzem a algo quem diz respeito somente ao aluno.

O problema da disciplina passa a ser entendido como o da indisciplina do aluno.

Franco (1986, p.62).

A indisciplina escolar que aos olhos de muitos sempre existiu e sempre vai existir, agora exige

um novo olhar.

Portanto a falta de compreensão por parte do professor das causas da indisciplina do seu

aluno pode ter uma grande repercussão negativa no seu desempenho docente.

Mesmo assim, não faltam denominações paraos específicos.

Nesse caso conforme o contexto sócio histórico vigente (Estrela, 1994). Sendo um problema

recorrente nas escolas nos dias atuais, há uma busca constante por parte dos estudiosos da

educação em colocarem em debate suas impressões a respeito da indisciplina.

De acordo com La Taille (1996) destaca dentre a possível tradução para a indisciplina o

desenvolvimento das normas vigentes.

Normalmente, toda instituição ou empresa tem um regimento a partir do qual se extraem as

orientações para a conduta de convivência do grupo naquele espaço. Portanto o autor

apresenta o tema da indisciplina a partir da disciplina e considerando como sendo perigoso.

A respeito disso Aquino (1996. P.43).

Com a crescente democratização politica dos pais e em tese, a desmilitarização das relações

sociais, uma nova geração se criou. Temos diante de nós um novo aluno, um novo sujeito

histórico, mas em certa medida, guardamos como padrão pedagógico a imagem daquel e aluno

submisso e temeroso.

Aquino (1996, p.13).

Nessa perspectiva é interessante ressaltar que as maiorias dos autores concordam quanto à

noção de exemplos prático do comportamento e falam alheios. A criança então estaria apenas

Page 47: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

repetindo as ações e falas observadas daqueles que estão a sua volta. O que se pode entender

que os exemplos dados pelos adultos, sejam eles familiares ou não, tem grande peso na

definição da representação e sua aplicação no seu dia-a-dia.

Acriança dificilmente poderá descobrir valores diferentes daqueles que são vigentes nos

ambientes que o cerca. As estruturas sociais complexas e desequilibradas é nos lúcido

perguntar se a criança fará sempre a melhor escolha.

Estrela (1994, p. 24).

Diante dessas definições a cerca da indiscipl ina percebemos que as crianças seguem o modelo

que eles observam, ou seja, ela imita a própria sociedade o que afeta a tomada de decisão de

quem precisa se impor, no caso dos pais e dos professores. Desta forma a indisciplina está

cada vez maior na escola, porque as crianças utilizam-na como meio para que o adulto perceba

que elas existem.

O que é indisciplina?

É um “fenômeno relacionado e interativo” que se concretiza no descumprimento das regras

que prescindem orientam e estabelecem as condições das tarefas na aula e, ainda, no

desrespeito de normas e valores que fundamentam o convívio entre pares e a relação com o

professor, enquanto pessoa e autoridade.

A respeito disso (Tiba 1996, p.125) afirma:

Haverá interesse do aluno pelo conteúdo do programa escola sempre que houver uma

correlação entre este e o dia-a-dia do estudante. O professor sábio estabelece tal correlação.

(Tiba 1996, p.125)

Alguns estudiosos ressaltam que a grande causa da indisciplina é o fato da escola ter parado

no tempo. O seja estes estudiosos alegam que o modelo quadro e giz já não funcionam Sob

esta visão os alunos querem aulas dinâmicas e criativascom o uso de novidades.

Indisciplina por quê?

A indisciplina na escola e na sala de aula vem sendo uma preocupação de sempre, é hoje um

tema escrito na agenda de todos quando se refletem sobre a educação dos jovens.

Professores, políticos administradores da educação e jornalistas, sobretudo, afirmam a

instabilidade da situação e vão abrangendo acusações fáceis, tantas vezes sem sequer terem

feito algum esforço sério para compreender o fenômeno e as respectivas causas. Por isso é

importante encarar o assunto seriamente, identificando todos os fatores que se conjugam

para produzir a chamada indisciplina escolar.

Segundo D’ Antola (1989, p.86).

O aluno que é deixado de lado, ocupado com tarefas que não lhe interessa, pode tender para

duas atitudes extremas: ou se torna apático e se sente diminuído e alheio aos trabalhos

escolares, ou se torna revoltado, chamando para ser ouvir.

(D’Antola, 1989, p.86)

Dessa forma a escola, mesmo dentro dos parâmetros da sociedade estará contribuindo para a

transformação social e estaria ajudando para a melhoria da qualidade de ensino e para a

socialização do saber. Desta forma a indisciplina resulta de fatores estruturais e sociais e

pessoais deve ser estudada a três níveis; O do ministério da educação, o da escola e os dos

Page 48: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

atores. Enquanto produtores de três tipos de regras, legais, institucionais e sociais,

respectivamente.

Sociedade e família

A sociedade é outro fator queinfluência na indisciplina dos alunos. Percebe-se na sociedade

brasileira, mudanças profundas tais como aceleração do processo da industrialização, a

expansão das telecomunicações, crise ética (levar vantagem em tudo, corrupção, desemprego

subemprego, gastos elevadíssimos, falta qualidade da propaganda nos meios de

comunicações).

Sob esta visão esse caminho deveria partir de um trabalho em conjunto entre escola, família, e

sociedade para sonar os problemas disciplinares. É indispensável uma participação coletiva dos

elementos que fazem parte da escola, na construção de regras gerais que a escola tenha e

deva ter para um bom desempenho dos membros pertencentes à escola, inclusive os pais e a

sociedade em geral.

É um processo longo e difícil, mas se essas regras forem bem elaboradas, discutidas e

colocadas em prática realmente colheremos bons resultados.

Na opinião de Tiba (1996, p.169).

Há pais que por manter seus filhos na escola, acham que esta é responsável pela educação dos

mesmos. Quando a escola reclama de maus comportamentos ou das indisciplinas dos alunos,

os pais jogam a responsabilidade sobre a escola.

(Tiba1996, p. 169).

Por sua vez, a família não está cumprindo sua tarefa de estabelecer limites e desenvolver

hábitos básicos. Ou seja, os pais, precisam ser, mas autoritários e terem diálogos com seus

filhos e não ceder aos caprichos deles.

No que á sala de aula diz respeito, a indisciplina está muitorelacionado com a relação que se

estabelece no interior da aula e esta relação depende sobre tudo da motivação dos alunos

para os conteúdos aprendizagem e do clima relacional.

O professor tem um papel essencial como fonte emissora de informação que os alunos vão

transformar em conhecimento. Alguns estudantes adoram ou detestam determinadas

matérias, justamente por causa do professor.

(Tiba, 1996, p.125).

Sob esta visão o professor é um emissor de conhecimentos, mas também precisa deixar seu

lado autoritário e permitir uma participação mais ativa do aluno em sala de aula.

É preciso não esquecer alguns traços essenciais da situação do aluno na escola:

Frequentar a escola por obrigação legal ou por força de condicionamentos sociais e familiares

e não voluntariamente.

É incluído em agrupamentos (turmas) que se não constituem de forma voluntari amente.

O seu papel é definido por um conjunto de obrigações: Aprender matérias que não escolheu

realizar atividades impostas, propostas aceitar ser vigiado nos seus comportamentos.

Fatores relacionados à causa da indisciplina na educação infantil.

Podemos ressaltar a falta de acompanhamentos dos pais no que diz respeito a limites e as

normas estabelecidas pela escola e sociedade. Hoje a punição é cada vez mais rara, tanto na

Page 49: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

escola como em casa. Os pais têm larga parcela de culpa, no que diz respeito à i ndisciplina

dentro da classe. È uma situação cada vez mais comum, elestrabalham muito e tem menos

tempo para dedica-se culpados pela omissão, evitam dizer não aos filhos e espera que a escola

assuma a função que deveria ser deles, a de passar para a criança os valores éticos de

comportamentos básicos.

O modo como algumas crianças aprendem a obter atenção e reconhecimentos, por exemplo,

representa uma situação muitas vezes comum de indisciplina no continuo casa-escola. Uma

possibilidade, aqui, reside em aprender a obter atenção sobre si através de condutas

intempestivas. Esta aprendizagem tende a ser mais efetiva à medida que pais e professores

dediquem uma atenção diferenciada, mais intensa, a condutas indisciplinadas.

Portanto os pais e professores precisam cumprir seu papel e trazer as crianças cada vez mais

para dentro da instituição, fazendo com que eles se sintam seguros e fortalecidos, nesta luta

educacional e social.

Pois como diz Paulo Freire (1998) “disciplina pronta não existe, é preciso que todos os sujeitos

envolvidos no processor educacional participem da construção do sistema de disciplina”. Ou

seja, todas as sociedades, família e professores andam junto um é à base do outro para uma

boa disciplina.

Nível cultural dos pais no desenvolvimento

O nível cultural dos, pois também influência a criança, pois ela sempre quer imitá-los. Tal

imitação depende muito do nível em que ela vive. Havendo uma imitação negativa, por

exemplo, falar errado ou expressar-se de forma diferente, travacomo consequência o processo

de construção da identidade e consequentemente na formação da personalidade do individuo

no ambiente social que está inserido. Paro (1973) diz, “a criança é considerada indisciplinada

quando apresenta privação cultural”.

Quando não frequenta pré-escola como prevenção dos problemas infantis. Seria por tanto

aquela criança sem orientação, que fica o dia todo, na rua sem, fazer absolutamente nada. O

ambiente sócio-moralmente praticado. Isso porque o ambiente sócio-moral e toda a rede de

relações entre pessoas em sala de aula. Essas relações para todos os aspectos das experiências

da criança na escola.

Vinte passos para combater a indisciplina com alunos

1º- Estabeleça regras claras.

2°- Faça com que seus alunos as compreendam.

3º Determine uma sanção para a quebra das mesmas.

4º- Determine uma recompensa para seu cumprimento.

5º- Peça apoio de seus colegas de equipe.

6º- Estabeleça estratégias em conjunto com a equipe; os alunos precisam perceber a

hegemonia das atitudes.

7º- Respeite seus alunos.

8º- Ouça-os.

9º- Responda ao que lhe for perguntado com educação e paciência.

10º- Elogie boas condutas.

11º Seja claro e objetivo em suas intervenções.

12º- Deixe claro o que é errado é o comportamento, não o aluno.

13º- Seja coerente em suas expectativas.

Page 50: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

14°- Reconheça os sentimentos de seus alunos e respeite-os.

15º- Não diga o que fazer: permita que cheguem às suas próprias conclusões.16°- Não

descarregue a sua metralhadora de mágoas em cima deles.

17º- Encoraje-os sempre.

18º- Acredite no potencial de cada um e no seu.

19º- trabalhe crenças negativas transformando-as em positivas.

20°- Seja afetivo.

CONCLUSÃO

A reflexão sobre indisciplina se expande e não se esgota inúmeros teóricos se debruçam em

pesquisas para desmistificar e melhorar a indisciplina na sala de aula.

A partir dos estudos e das observações realizadas nos estágios percebemos que os alunos não

têm limites e a indisciplina está predominando nas salas de aula.

No entanto está ficando cada vez, mas difícil para os educadores lidarem com essas situações.

O que chamou a atenção foi a falta de respeito dos educandos com os professores.

Com base na pesquisa voltada para indisciplina na educação infantil, considera-se que os

educadores veem a indisciplina como um ponto negativo na aprendizagem dos alunos.

Diante desse, olhar o professor desenvolve suas atividades pedagógicas de forma lúdica para

que os alunos brinquem e aprendam ao mesmo tempo deixando as conversas paralelas, e se

envolvendo no assunto da classe escolar e ao mesmo tempo brincando e aprendendo. A

intensidade e o caráter da indisciplina, hoje, parecem indicar menos a necessidade de

inovação da escola.

Ao observar os contextos no qual se inseri indisciplina, percebe-se que é necessário que o

gestor, pais, sociedade tenham concepções inovadorase cumpram cada um com seus deveres

e a escola reúna os professores e juntos preparem aulas flexíveis dinamicamente adequadas às

necessidades dos educandos para assim melhorar essa indisciplina.

Page 51: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AQUINO, Júlio Groppa (organizador). Indisciplina na escola – Alternativas teóricas e práticas. 4ª

EDIÇÃO. São Paulo: Summus Editorial, 1996, p.43 à 98.

D’ ANTOLA, Arlete (org.). Disciplina na escola São Paulo: E.P.U., 1989 p.79-90.

ESTRELA, Maria Tereza. Disciplina e Indisciplina nas principais correntes pedagógicas

contemporâneas. In: __ Relação pedagógica, disciplina na aula. Porto: Editor Ita das 1994, p.15

á 26.

FRANCO, Luiz Antônio Carvalho. A indisciplina na escola. Revista Ande. Ano 6. Nº 11, 1986, p.

62 a 67.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia 33ª ed. São Paulo: Paz e Terra 1998, p.61 a 90.

FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. São Paulo: Paz e Terra, 1991, p. 79.

LA TAILLE, Yves de. A indisciplina e o sentimento de vergonha. In: Aquino, Júlio Groppa. (org.).

Indisciplina na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo Summus 1996, p.09 à 23.

PARO Vitor Henrique. Qualidade do ensino: a contribuição dos pais. S.1: Ed. Xamã, 2000.

PIAGET, Jean. Para onde vai á educação. Rio de Janeiro. Livraria José Olímpio (Ed. Orig. 1948),

1973.

TIBA Içam. Disciplina – Limite na medida certa. São Paulo: Editora Gente, 1996 8ª edição. P.

117 a 169.

Introdução

Em um concurso para professores de ensino fundamental e educação infantil realizado na

cidade de São Paulo em 2010 do qual participei, houve uma pergunta sobre indisciplina. Nesta

questão foi descrita uma situação na qual uma criança de quatro anos havia rasgado todos os

trabalhos dos colegas e, com o ocorrido, a professora colocou a criança sentada em um lugar

para “pensar”. O que se queria saber era se a professora havia agido pedagogicamente ao

Page 52: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

tomar essa atitude.

Esse fato inquietou-me muito, pois nunca dei aula para crianças e, embora se ouça muito

sobre indisciplina, nunca me questionei sobre o que faria a esse respeito, muito menos o que

seria “pedagogicamente correto”. Percebi que sabia muito pouco sobre indisciplina na

educação infantil, e de maneira geral, resolvi fazer esse trabalho de pesquisa para saber mais

sobre o assunto e, principalmente, como agirei quando estiver em sala de aula.

O tema desse trabalho é, portanto, sobre indisciplina na escola, mais especificamente sobre as

atitudes tomadas pelos professores para resolverem questões de indisciplina na educação

infantil. Por isso, levanta-se a seguinte questão para orientar esta pesquisa: como os

professores poderiam solucionar problemas de indisciplina na educação infantil por meio da

construção de limites bem claros?

Defende-se o posicionamento segundo o qual o professor deve mostrar-se firme,expressando

autoridade, mas também é importante que evite o autoritarismo que, de certa forma, rebaixa

o aluno. A imposição de limites e o respeito às regras, porém, devem ser colocados às claras.

Muitas vezes o professor quer resolver a questão da indisciplina com autoritarismo assim

como seus professores agiam no tempo em que estudavam. Não acreditando muito que o

problema da indisciplina possa ser resolvido, muitos professores não procuram buscar suas

causas, colocando a culpa, simplesmente, na família ou na sociedade.

No intuito de direcionar essa pesquisa à finalidade proposta, traçam-se objetivos para

consolidá-la tais como expor uma síntese do panorama geral da indisciplina nas salas de aula,

abordar os motivos das dificuldades que os professores enfrentam para solucionar problemas

de indisciplina, refletir sobre as atitudes dos professores em relação à indisciplina na educação

infantil, revelar como as crianças adquirem a sua autonomia e propor aos professores algumas

atitudes que visem solucionar problemas de indisciplina.

É justo que se pergunte pela relevância de tal empreendimento, ou seja, de se gastar tempo e

energia com o tema aqui discutido. Porém, ele é importante pela sua atualidade, pois está

vinculado à realidade do professor que, em sala de aula, enfrenta diariamente desafios com

comportamentos indesejáveis das crianças na educação infantil e, muitas vezes, não sabem o

quefazer. Através desse trabalho, procurar-se-á auxiliar o profissional da educação que deve

lidar com a realidade da indisciplina em sala de aula diariamente.

Que este texto possa servir de instrumento de reflexão que leve à prática de ensino “ordeiro”

através da “desordem”; de ensino que, pela irreverência da “indisciplina” das crianças,

subverta o caos em oportunidade de aprendizagem e de crescimento.

A presente pesquisa se divide em três capítulos: no capítulo 1 (“apresentando a realidade”),

apresentará definições de “disciplina” e de “indisciplina”, bem como esses temas no cotidiano

escolar; no capítulo 2 (“refletindo sobre um mundo em transformação”), procurará

compreender o indivíduo no contexto da sociedade, da família e da escola, e sobre a própria

criança nesse contexto, a partir da teoria de Jean Piaget ao abordar os conceitos de

heteronomia e autonomia, e de Lev Semyonovitch Vygotsky e sua teoria interacionista. E,

finalmente, no capítulo 3 (“o professor e a indisciplina em sala de aula”), abordará o tema

“autoridade ou autoritarismo”, seguido da questão relativa à construção da identidade da

criança. E, finalmente, do modo como o professor poderá lidar com esse assunto.

CAPÍTULO I

apresentando uma realidade

É comum hoje em dia referir-se à escola como o lugar caracterizado pela indisciplina, o que

Page 53: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

tem levado muitos profissionais da educação à completa desilusão emrelação ao exercício da

docência. Parece que não há mais jeito, que nada que se faça dará bons resultados em relação

a esse aspecto. É necessário, porém, que se tenha em mente que todo problema, mesmo o

que parece insolúvel, pode ter solução ou ao menos ser trabalhado de forma construtiva

quando se reflete sobre ele. E para começar tal exercício, nada melhor do que dar nome ao

problema, ou seja, defini-lo.

Portanto, se um dos problemas que acontecem em sala de aula é o da indisciplina, é

importante que se deixe bem claro o que se entende por esse termo. Daí este capítulo ter

início na definição de “disciplina” e de seu oposto, a “indisciplina”.

1 — Definindo os termos

Costuma-se ouvir que tal aluno é “indisciplinado” ou que falta “disciplina” na escola. O que tais

termos significam ou, em outras palavras, o que as pessoas que os empregam querem dizer? O

que esperam?

1.1 — Disciplina

É possível defini-la segundo o dicionário, como o “conjunto das obrigações que regem a vida

em certas corporações, em assembleias etc. Submissão a uma regra, aceitação de certas

restrições. Ensino, instrução, educação” (FERNANDES, 1993).

Vasconcellos (1998) apresenta a forma idealizada de disciplina que tanto o professor almeja da

parte dos alunos em sua aula: que eles se comportem; que venham, de maneira específica, a

proceder conforme o desejo do professor. Assim, ele localiza bem a questão da“disciplina” ao

associá-la à “obediência”.

Mas “disciplina” não deixa de ser um conceito um tanto vago e passível de inúme ras

interpretações. Depende do tempo e do lugar em que é empregado. E também possui uma

compreensão que expressa interesses sociais e políticos bem definidos. Para Groppa Aquino

(1996), por exemplo, a disciplina escolar que caracterizava a escola na primei ra metade do

século 20 (e depois) não deixava de representar uma instituição de caráter elitista e

conservador, da qual ainda existe o vestígio e que causa o saudosismo. Não deixava, porém, de

manifestar-se ideologicamente através do controle dos corpos dos alunos e do feitio pouco (ou

nada) democrático por não permitir que esses se expressassem, mas que estivessem

completamente submissos às ordens do professor, denominado pelo autor citado de “general

de papel”. Também Vasconcelos (1998) aponta para uma razão sócio-política de se pensar e

defender um tipo de disciplina que prive o aluno o direito de construir autonomia que o levará

a ser cidadão consciente e participativo na vida social; como ele escreve: “na nossa realidade,

no sentido geral, disciplinar corresponde a adequação à sociedade existente; significa, pois,

inculcação, domesticação, resignação à exploração, etc.” (VASCONCELLOS, 1998)

Não se pode deixar de definir disciplina, também, como sendo uma habilidade interna de cada

pessoa que a ajuda a cumprir suasobrigações, é um autodomínio, é a capacidade de utilizar a

sua liberdade pessoal para poder, livremente, atuar na vida diária, tendo a possibilidade de

superar os seus condicionamentos internos e os externos, que se apresentam.

1.2 — Indisciplina

É definida, segundo o dicionário Aurélio, como “desordem; desobediência; rebelião”

(FERNANDES). Pode ser entendida também como “falta de limite dos alunos, bagunça,

tumulto, mau comportamento, desinteresse e desrespeito às figuras de autoridade da escola e

também do patrimônio” (MACHADO). Com isso a indisciplina é sempre um comportamento

impróprio que pode chegar até a agressão.

Page 54: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

Rego (1996) aponta que o conceito de indisciplina é dinâmico, pode variar conforme a

situação, mediante os valores de uma cultura, o momento histórico, não somente difere entre

uma sociedade e outra, mas se modifica em uma mesma sociedade em seus diversos aspectos,

sejam eles relativos às classes sociais, sejam em instituições diversas e também em uma

mesma camada social. E continuando o conceito de indisciplina no plano individual: “a palavra

‘indisciplina’ pode ter diferentes sentidos, que dependerão das vivências de cada sujeito e do

contexto em que for aplicada”. Mas o que vem a ser um aluno indisciplinado? A mesma autora

responde a essa pergunta escrevendo que esse sujeito é aquele que não tem limites, que não

sabe respeitar as pessoas, suas opiniões e sentimentos, não secolocando em seu lugar. Ele

apresenta dificuldade em se relacionar com os demais convivendo de forma cooperat iva e

nem mesmo consegue dialogar para entender o ponto de vista da outra pessoa.

Com a definição do conceito de indisciplina, a autora relata a complexidade dessa palavra e

demonstra que este não é um termo consensual e que necessita de maiores pesquisa sobre o

assunto.

É preciso saber o que realmente alguns professores entendem por esses termos aplicando-os

em sala de aula.

2 — Disciplina e a indisciplina no dia a dia

Para muitos professores, o conceito de disciplina se revela quando as crianças se mantê m

sentadas, não conversam alto e não atrapalham o professor na hora que ele está falando ou

explicando algo.

Vaz, na pesquisa que realizou com o tema “A ‘criança-problema’ e a normatização do cotidiano

da Educação Infantil” (2005), apresenta os procedimentos de ADIs, nas creches, e professoras,

nas EMEIs, em relação ao comportamento disciplinar das crianças, procedimentos estes que

envolvem as restrições a que as crianças são submetidas, o controle das conversas sem

objetivos em sala de aula e até os momentos de atividades recreativas regulamentadas. Nos

depoimentos das ADIs e professoras parece ser inconcebível punir severamente as crianças

pela sua “indisciplina”, exceto em casos extremos, como a autora escreve:

Criança disciplinada severamente, sem direito a voz, pareceser considerado algo inapropriado

“pedagogicamente”, algo que as ADIs somente admitem em casos extremos, quando, como

forma de castigo, excluem do grupo a criança que precisa “pensar sobre o que fez”. O mais

comum é a educadora se utilizar da estratégia de chantagem afetiva, em que a criança, com

medo de perder o afeto da “tia”, cede ao controle.

Nesses depoimentos, as ADIs e professoras também relatam que a conversa também serve

para controlar e disciplinar as crianças, o que acontece “na roda” de conversa dedicada para

este fim, na qual elas ouvem como devem ou não se comportar. Para elas, é necessário que as

crianças fiquem “sossegadas” e “obedientes” para que ocorram o seu desenvolvimento e a sua

aprendizagem.

Ao definir os conceitos de disciplina e indisciplina e a maneira como se manifestam no dia a dia

da sala de aula, resta saber os motivos que levam a situação de indisciplina. É o que será

discutido no próximo capítulo.

Page 55: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

CAPÍTULO II

Indisciplina, por quê?

Deve-se perguntar pelos motivos que têm levado a situações de indisciplina em sala de aula. O

quadro é conhecido: alunos falando alto ou gritando, saindo de seus lugares, jogando papel

uns nos outros e o(a) professor(a) nervoso(a), às vezes gritando, tentando colocar orde m na

turma. Qual o motivo desse comportamento das crianças?

Neste capítulo, procurar-se-á chegar a respostas para a perguntacolocada em seu título. Para

isso, será necessário refletir sobre situações que não são as mesmas de quando o(a)

professor(a) era aluno(a)... Em outras palavras, grandes mudanças têm ocorrido em todos os

âmbitos da sociedade e da cultura, verdadeiras transformações no modo como se vive, se vê o

mundo e com ele se relaciona. Daí a subdivisão do primeiro item em três pontos básicos, que

poderão ser considerados fundamentais para se compreender o comportamento das crianças

em sala de aula; pontos esses que visam ao “lugar” da criança. São eles: a sociedade, a família

e a escola.

Em um segundo momento, o foco será colocado sobre a criança, considerando seu

desenvolvimento, a aquisição da “autonomia” e, consequentemente, a sua relação com a

discussão a respeito da disciplina em sala de aula.

2.1 — Refletindo sobre um mundo em transformação

Falar de mundo em transformação é dizer que as coisas já não são como costumavam ser.

Muitos valores, costumes, atitudes, visões de mundo, têm sido questionados, abandonados ou

alterados na segunda metade do século XX. Tais processos de mudança também alcançaram

três elementos essenciais que são importantes para a reflexão sobre a disciplina em sala de

aula: a sociedade, a família e a escola.

2.1.1 — Sociedade

Embora haja uma espécie de “saudosismo” em relação a como a escola mantinha a disciplina

de seus alunos no passado, é preciso que osprofessores e demais profissionais da educação

tenham consciência de que o “mundo” está em constante movimento. Em outras palavras, a

sociedade tem passado por mudanças consideráveis que têm afetado diretamente o

comportamento dos alunos e das alunas. E parece inútil aos professores tentar manter o

antigo comportamento disciplinar nos dias de hoje.

O assunto relacionado à sociedade e suas transformações é vastíssimo de maneira que, neste

item, é possível apenas esboçar algumas considerações.

O aspecto “saudosista” presente nas expectativas de muitos professores ocorre pelo fato de

eles idealizarem o sistema educacional de outrora ao compararem-no com o que consideram a

“anarquia” disciplinar atual.

Groppa Aquino (1996:43) observa que o perfil da escola não corresponde mais àquele

idealizado, porque a “democratização política do país” e a “desmilitarização das relações

sociais” abriram espaço para uma nova escola e um novo aluno. Ele escreve: “temos diante de

Page 56: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

nós um novo aluno, um novo sujeito histórico (...)”. Dessa forma, a hierarquização anterior deu

lugar a um tipo de relação professor a aluno no qual aquele não é mais considerado o detentor

do saber, enquanto esse deveria ser apenas a pessoa que absorve conhecimento. Ele (GROPPA

AQUINO, 1996:43) ainda escreve:

É presumível, portanto, que as relações escolares fossem determinadas em termos de

obediência e subordinação. O professor não era sóaquele que sabia demais, mas que podia

mais porque estava mais próximo da lei, afiliado a ela. Sua função precípua, então, passa a ser

a de modelar moralmente os alunos, além de assegurar a observância dos preceitos legais

mais amplos, aos quais os deveres dos escolares estavam submetidos.

O mundo tem mudado, princípios e valores também mudaram, dando origem a um novo

tempo, no qual crianças e adolescentes têm assumido novos “lugares” na sociedade.

Vasconcellos (1998:23-24) explica que tais mudanças têm ocasionado vários elementos que

afetam diretamente as pessoas, como “crise ética”, “concentração de renda”, “economia

recessiva” “desemprego” e “subemprego”. Com tudo isso, gerou-se uma “crise dos sentidos e

dos limites” (VASCONCELLOS, 1998:24-26), que repercute na escola, ou melhor, na sala de

aula.

2.1.2 — Família

Mudanças sociais implicam em transformações em todos os âmbitos da sociedade, inclusive o

da família. Considerando a natureza social do indivíduo, a família é o “lugar” por excelência

onde ele desenvolve, em grande medida, sua identidade.

Atualmente, a estrutura familiar tradicional tem deixado de ser um paradigma em relação à

realidade social vigente. A família dita “nuclear” não apresenta mais o caráter normativo de

tempos atrás. Segundo Clarice Ehlers Peixoto, no prefácio que escreve ao livro de François de

Singly (2007:16) e sintetizando a própria opinião destesociólogo: “a família muda de estatuto

ao se tornar um espaço relacional mais do que uma instituição”.

Em outras palavras, já não se pensa como família apenas na existência de um grupo composto

por pai, mão e filhos; atualmente, devido às mudanças no papel da mulher (nesse caso, aos

próprios movimentos feministas), sua emancipação (devido ao trabalho em cujo mercado ela

tem se inserido e ao controle da contracepção), e a tantos outros fatores (por exemplo, o

crescente número de divórcio), “família” passa a se referir à vivência de uma pessoa na sua

relação com outras, mesmo não possuindo laços sanguíneos.

Nesse contexto, inserem-se as crianças que frequentam as escolas. Elas também trazem suas

histórias de vida, produtos dos relacionamentos familiares e extrafamiliares; e assim vivem

seus relacionamentos intraescolares.

A partir dessa nova realidade que se estabelece no âmbito escolar, surge a apreensão dos

professores relativa à “indisciplina” dos alunos e a culpa que lançam na família, como lugar de

desagregação, desestruturação etc.

Partindo de uma visão caracterizada pelos estudos de Vygotsky, Rego (1996:95-97) salienta a

importância da família como contexto ou meio de interação da criança. Dessa forma, o caráter

indisciplinado ou disciplinado do aluno também se relaciona com seu desenvolvimento no

meio histórico-cultural a que pertence. E, aqui, leva em conta o papel dos pais

comoeducadores (REGO, 1996:97):

A família, entendida como o primeiro contexto de socialização, exerce, indubitavelmente,

grande influência sobre a criança e o adolescente. A atitude dos pais e suas práticas de criação

e educação são aspectos que interferem no desenvolvimento individual e, consequentemente,

influenciam o comportamento da criança na escola.

Page 57: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

A partir daí, a autora apresenta três modelos de pais: os “autoritários”, os “permissivos” e os

“democráticos”. Os primeiros restringem seus filhos exigindo deles um comportamento

“exemplar”, de maneira que são inibidores das crianças e de suas iniciativas; o segundo grupo

refere-se àquele tipo que não impõe regras aos filhos, permitindo que eles façam o que

queiram; o terceiro grupo trabalha com as crianças de maneira a respeitar sua liberdade, mas

se importam mais em desenvolver nos filhos senso de responsabilidade (REGO, 1996:97-98).

Resumindo, o conceito de “família” atualmente deve levar em conta a multiplicidade relacional

em que se inserem as crianças; consequentemente, seus valores, crenças e comportamentos.

2.1.3 — Escola

“Ir à escola pra quê?” Podemos começar essa reflexão sobre as mudanças na escola com essa

pergunta que, há algumas décadas atrás, seria fácil de ser respondida. Vasconcellos (1998)

apresenta mudanças fundamentais que têm ocorrido no Brasil, no que se refere à escola e ao

professor, nos últimos 30/40 anos.Começa relatando que, antes, a escola era valorizada

socialmente e vista como uma forma de ascensão social; o professor era valorizado, possuía

certo “status”, sendo considerado um mediador da ascensão social, e sua formação era mais

consistente em relação a sua realidade; a remuneração do professor era mais condizente com

sua função; ele era visto pela escola como uma pessoa privilegiada para a transmissão de

informações; a escola tinha total apoio da família em relação à educação de seus filhos; a

“clientela” que freqüentava a escola também tinha mais facilidade em acompanhar os

conteúdos que ali eram ensinados.

Em contraste com esse passado, Vasconcellos (1998:22-23), aponta as transformações radicais

nas últimas décadas, como o aumento do número de escolas para suprir a demanda por um

lado, e queda da qualidade do ensino, do outro; aumento de vagas no Ensino Fundamental e

Médio nas escolas públicas e no Ensino Superior, nas escolas particulares; a formação do

professor um tanto vaga e fragmentada; a “diminuição drástica do salário do professor”; falta

de condições de trabalho no que se refere ao material pedagógico, equipamentos, instalações

etc.

Os dados acima descritos, e que denunciam o que o autor denomina de “crise de identidade

da escola”,revelam as dificuldades que os profissionais da educação têm sentido em relação a

como lidar com os novos tempos e, de maneira específica, com o“novo aluno”

(VASCONCELLOS, 1998:25).

Groppa Aquino (1996:43) tece certas críticas ao modelo tradicional de escola:

Também é possível deduzir que a estrutura e o funcionamento escolares de então espelhavam

o quartel, a caserna; e o professor, um superior hierárquico. Uma espécie de militarização

difusa parecia, assim, definir as relações institucionais como um todo.

Também ele considera esse modelo “elitista e conservador” (GROPPA AQUINO, 1996: 44). Isso

significa que é necessário repensar o nosso modo de ver a escola, não mais segundo a forma

antiquada e conservadora, mas, sim, como espaço democrático da inclusão das maiorias antes

excluídas do processo educacional.

A reflexão sobre as transformações ocorridas na sociedade, na família e na escola auxilia

quando se trata de entender qual a relação do desenvolvimento da criança e sua autonomia

com todas as consequências dessas mudanças. Por isso, uma abordagem à questão relativa a

esses assuntos se faz necessária ao se estudar o tema de disciplina em sala de aula.

2.2 — A criança

Page 58: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

Após algumas considerações sobre três aspectos considerados importantes em relação à

educação formal das crianças, ou seja, sobre a sociedade, a família e a escola, cabe agora um

espaço para a reflexão a respeito do desenvolvimento da criança, no sentido de compreendê -

la cada vez mais como sujeito do processo educacional e, por conseguinte, como o

elementofundamental para a questão da disciplina em sala de aula, é claro.

Dois teóricos são muito importantes quando se fala em desenvolvimento infantil, para

compreendê-lo no contexto da escola e da disciplina: Jean Piaget (1896-1980) e Lev

Semyonovitch Vygotsky (1896-1934).

2.2.1 — Jean Piaget

A obra desse pesquisador é fundamental para se refletir a respeito do comportamento da

criança em sala de aula. Primeiramente porque esse ambiente acolhe pessoas com diversas

experiências que deverão ser trabalhadas pelo professor pedagogicamente; mas também

porque, na sala de aula, há o ambiente para a contribuição da formação da autonomia dos

alunos.

Baseado em pressupostos kantianos, Piaget desenvolveu a teoria de que a formação da

moralidade da criança se caracteriza por três “momentos”: o da anomia, o da heteronomia e o

da autonomia.

A anomia diz respeito à fase da criança recém-nascida, que não está submetida a nenhuma

regra, mas, completamente, a um estado de egocentrismo, sendo ela o “centro” do mundo e

cujas necessidades devem ser satisfeitas. Como define Araújo (GROPPA AQUINO, 1996:107):

Utilizando o exemplo da criança recém-nascida, ela encontra-se na anomia, num estado de

egocentrismo radical em que não se diferencia do mundo, sem perceber a existência dos

outros, sem saber que existem regras de convivência social — coisas que devem ou não ser

feitas.

É importante observar que odesenvolvimento do juízo da criança também é compreendido por

Piaget sob o pano de fundo dos trabalhos de Durkheim e de Bovet. Não entrando aqui nos

detalhes elaborados por cada um, basta, porém, perceber o que eles têm em comum:

“consideram o sentimento do bem e a consciência do dever como aspectos essenciais para se

compreender a ação miral” e mais: “quando Durkheim e Bovet fortalecem o papel da

autoridade como única fonte para a sua constituição da moral, acabam por submeter o bem

ao dever”. Com isso Piaget demonstra a sua cumplicidade com os autores citados em relação à

moral autônoma, resultado da ação da criança em ultrapassar a moral do dever, heterônoma,

que procede da autoridade da pessoa adulta. Esse é um desenvolvimento interno, segundo o

qual a criança se sente obrigada a “agir autonomamente de acordo com o bem” (GROPA

AQUINO, 1996: 109). Essas são as conclusões de Piaget concernentes ao assunto; como ele

escreve (PIAGET, 1994:91):

Em suma, quer nos coloquemos num ou noutro dos dois pontos de vista de Durkheim e de

Bovet, é preciso distinguir, para compreender os fatos, dois grupos de realidades sociais e

morais: coação e respeito unilateral, de um lado, cooperação e respeito mútuo, de outro (...).

Piaget escreve a respeito da convivência com os “outros”, isto é, na família, na sociedade,

como o contexto de onde a criança aprende regras mediante a coação. Ele a define

como“unilateral” por se caracterizar pela ordem imposta pelos adultos. Dessa forma, o

pequenino passa da anomia para a heteronomia.

Mas, o último estágio relativo ao desenvolvimento do juízo moral é significativo quando se

trata de estabelecer a autonomia da consciência que agirá, não mais pelo dever, mas por saber

Page 59: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

o que é certo e errado, e por respeito aos outros.

Kamii (1994:106), quando escreve sobre a autonomia como finalidade da educação tendo em

vista a teoria de Piaget, formula um questionamento sobre como alguns adultos podem se

tornar moralmente autônomos:

A resposta de Piaget para essa pergunta era a de que os adultos reforçam a heteronomia

natural das crianças, quando usam recompensas e castigos, e estimulam o desenvolvimento da

autonomia quando intercambiam pontos de vista com as crianças.

Na sequência, ela demonstra as consequências da punição e da troca de ponto de vista com a

criança. Em relação à punição, esta tem como consequência o fato da repetição do ato pela

criança, mas desta vez evitará ser pega, pois o medo está em ser descoberta; a criança se torna

uma criança conformista, obedecendo cegamente ao que lhe é imposto e, com isso, não

precisará tomar decisões, bastando obedecer; e a revolta como sendo mais uma das

consequências da punição. Esta última pode se apresentar quando as crianças, que sempre

foram punidas, mas que sempre tiveram um bom comportamento (talvez pormedo de serem

castigadas ou por serem conformista) resolvem se revoltar, cansadas de obedecer a outros e

decidindo seguir por conta própria, apresentando características de indisciplina contra aqueles

aos quais se submeteram, pais e professores. Esta atitude faz com que elas saiam do

conformismo, mas não de maneira autônoma e sim com sentimento de revolta, pois há uma

“vasta diferença entre autonomia e revolta”. Com isso nota-se que a punição reforça a

heteronomia e não permite que as crianças desenvolvam a autonomia (KAMII, 1994:106-108).

Segundo a autora, Piaget diz que não se pode “evitar totalmente a punição”, isto é , não é

possível permitir que a criança faça o que bem quiser, tendo em vista os perigos de algumas

ações, e se ela o fizer, terá as suas consequências. Dessa forma faz uma “distinção entre

punição e sanções por reciprocidade”. Punir, para Piaget, é não fazer relação entre o ato

praticado e o castigo: “privar a criança da sobremesa por dizer mentiras é um exemplo de

punição, pois a relação entre mentira e sobremesa é arbitrária”. Já sanções por reciprocidade,

relacionam o ato com a “consequência” do mesmo. É nesse ponto que se deve aplicar a “troca

de ponto de vista com a criança” para o desenvolvimento da autonomia. Kamii aponta quatro

dos seis exemplos de sanções dadas por Piaget, entre elas: “exclusão do grupo”: isolando a

criança do grupo quando esta não se portaadequadamente, atrapalhando os demais; “apelar

para a consequência direta e material do ato”: quando se diz que não se poderá acreditar mais

na criança quando esta disser uma mentira; “privar a criança da coisa que ela usou mal”:

quando a criança usa determinados brinquedos, por exemplo, e a professora coloca regras

para que sejam obedecidas e a criança não as cumpre, ela é impedida de se utilizar novamente

do brinquedo até que se julgue que ela é merecedora. E por fim o quarto exemplo é o da

“reparação”: quando a criança, por exemplo, estraga um trabalho de um colega e a professora

pede que o culpado a ajude a consertá-lo. A autora finaliza essa colocação sobre o último

exemplo dizendo que “quando as crianças não têm medo de ser punidas, elas se manifestam

espontaneamente e fazem a reparação.”(KAMII, 1994:107-111).

Ao se abordar o assunto da indisciplina em sala de aula, a obra de Piaget sobre a formação

moral da criança se torna relevante ao proporcionar ao professor instrumental importante

para a compreensão e, mais que isso, o discernimento do aluno como pessoa, talvez

“indisciplinada”, mas não “imoral” (Araújo, 1996:110), já que ele traz seus valores, oriundos

das relações familiares e extra-escolares.

E, também, tal conhecimento poderá ser útil ao professor em sala de aula para realizar seu

projeto pedagógico no sentido de estimular o aluno a desenvolver consciência autônoma, ou

seja, queo leve a ser uma pessoa de boa convivência social, que respeite as pessoas porque

Page 60: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

isso é o certo a fazer e não porque seja obrigado a tal, e que contribua para uma sociedade

melhor. Nesse caso, o ambiente de sala de aula será adequado como o “espaço da

autonomia”. Mas isso será discutido detalhadamente no capítulo III.

2.2.2 — Lev Semyonovitch Vygotsky

Grande estudioso e representante do “interacionismo”, tendência que acredita que a pessoa

se desenvolve na interação, na ação recíproca, com a sociedade, sendo ela, portanto,

fortemente marcada pela história e pela cultura na qual se criou.

Rego (1996:91-95) apresenta alguns aspectos do pensamento do escritor russo que são

fundamentais para se compreender a formação da pessoa. São eles: a linguagem, “o papel

mediador exercido por outras pessoas nos processos de formação dos conhecimentos,

habilidades de raciocínio e procedimentos comportamentais de cada sujeito” e a

“internalização” desses conteúdos.

Em A formação social da mente, Vygotsky apresenta sua teoria concernente à formação do

que ele denomina “funções psicológicas superiores”. Após apresentar dados extraídos de

experiências realizadas por ele e sua equipe, e de discutir resultados apresentados em

pesquisas de outros cientistas, ele enfatiza como a mente da criança se desenvolve, em seus

primeiros anos, no contato com outras pessoas que contribuem e incentivam o seu

avançopara estágios superiores — de maneira particular, isso ocorre com a brincadeira

(VYGOTSKY, 2007:107-124) e com a linguagem, mediante a qual a criança internaliza “as

formas culturais de comportamento” (VYGOTSKY, 2007:58).

Quando se fala sobre indisciplina em sala de aula, os postulados de Vygotsky são muito

importantes para a compreensão da criança como pessoa que tem interagido com um

contexto social que, de certa forma, tem lhe provido de conteúdos com os quais se

relacionam. Como afirma Rego:

(...) É possível afirmar que um comportamento mais ou menos indisciplinado de um

determinado indivíduo dependerá de suas experiências, de sua história educativa, que, por sua

vez, sempre terá relações com as características do grupo social e da época histórica em que

se insere.

Assim, o contexto social, histórico e cultural, mais o desenvolvimento da criança ao apreendê -

lo por intermédio da linguagem (sobretudo na internalização de signos lingüísticos) e do

brinquedo, são fatores importantes para a compreensão do aluno, não no sentido de se acusar

tal e tal ambiente como o “responsável” por sua “indisciplina”, mas como importante

instrumento pelo qual seja possível a construção de “pontes” que visem à formação do aluno

mediante sua interação com o ambiente escolar. É o que também será discutido no próximo

capítulo.

cAPÍTULO iii

O professor e a indisciplina em sala de aula

Depois da tentativade se definir “disciplina” e “indisciplina’ (o que foi realizado no capítulo I) e

de procurar entender os motivos que levam á indisciplina em sala de aula (capítulo II), é

importante que se reflita a respeito das atitudes do professor frente ao problema, de modo

que sua reação seja construtiva e inserida em um projeto pedagógico que vise o

desenvolvimento dos alunos. Para tanto, três pontos de discussão serão abordados neste

capítulo por se entender serem relevantes: primeiramente uma reflexão sobre os conceitos

“autoridade” e “autoritarismo”; a seguir, outra discussão a respeito da importância de se

compreender como se dá a construção da identidade da criança; e, como terceiro ponto, de

Page 61: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

que maneira o professor poderá usar a indisciplina como instrumento pedagógico.

3.1 — Autoridade ou autoritarismo

É comum a confusão que ocorre entre “autoridade” e “autoritarismo”. Quantas vezes, em sala

de aula, o segundo conceito é aplicado pelo professor imaginando que está expressando o

primeiro. Por isso, é relevante uma reflexão sobre ambos, para que o professor tenha

consciência e a habilidade necessária para interagir e/ou reagir aos alunos ditos

“indisciplinados”.

A concepção que normalmente se tem de autoridade em sala de aula relaciona-se ao da

posição do professor como alguém que impõe a ordem e o respeito mediante sanções e gritos.

Geralmente, esse conceito vincula-se a uma ideia deescola que pertence ao passado, a outra

realidade, quando os alunos eram controlados pelo sistema escolar em seus corpos e falas,

como bem aponta Groppa Aquino (1996) ao mostrar, como exemplo, o sistema escolar como é

apresentado pelas Recomendações disciplinares de 1922. Tal descrição é considerada pelo

autor citado como “militar” e expressava, na figura do professor, a encarnação da ordem e da

disciplina. Como ele escreve (GROPPA AQUINO 1996:43):

É presumível, portanto, que as relações escolares fossem determinadas em termos de

obediência e subordinação. O professor não era só aquele que sabia mais, mas que podia mais

porque estava mais próximo da lei, afiliado a ela. Sua função precípua, então, passa a ser a de

modelar moralmente os alunos, além de assegurar a observância dos prece itos legais mais

amplos, aos quais os deveres escolares estavam submetidos.

Tal conceito, porém, traz problemas sérios à formação dos alunos porque idealiza um sistema

escolar do passado (e, diga-se de passagem, deficiente) em relação a uma realidade

completamente diferente. Eis aqui a grande questão: tratar uma situação do presente com

“soluções” do passado.

Em outras palavras, o que está descrito acima se define como “autoritarismo” e não como

“autoridade”.

Ainda nesse sentido, Araújo (1996), tendo por base os conceitos de heteronomia e de

autonomia em Jean Piaget, apresenta uma crítica ao modo que eleentende ser “autoritário” e

que caracteriza muitas posturas e ideais de professores, quando esses entendem que uma

classe “disciplinada” é a que corresponde a seus interesses

Como vimos no capítulo I, no qual Vaz apresenta o resultado de entrevistas efetuadas com

ADIs,em creches, e professoras de EMEIs a respeito da disciplina das crianças, que, segundo a

qual, ela constata a ênfase teórica numa formação democrática com o objetivo de fazer com

que a criança atinja a autonomia. É preciso salientar o que Vaz escreve sobre a “ênfase

teórica”, pois, muitos professores conhecem a teoria de como se deve agir em sala de aula,

mas na hora de por em prática a coisa é outra: agem de maneira autoritária, impondo a sua

vontade, pensando que estão exercendo sua autoridade. Vaz, porém, percebe na prática os

procedimentos que envolvem as restrições a que as crianças são submetidas acabam

enquadrando as crianças num sistema normativo que as desconsidera como crianças “reais”

em nome de uma idealização que se faz delas, caracterizando o processo educativo como

“passagem” de um nível a outro. Como a autora observa: “A ideia de ‘passagem’, recorrente

nas representações das professoras e ADIs, sugere não existir, nessas práticas, tempo e espaço

para a criança de ‘aqui, agora’ ”. (VAZ, 2005)1.

A esse respeito D’Antola (1989:50) também observa que:

(...) nossas escolas têm uma tradição autoritária. Nelas, opoder de decisão está sempre

colocado na autoridade hierarquicamente superior e as relações se dão de cima para baixo.

Page 62: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

(...) Ora, os alunos são os sujeitos a quem as ações da escola se destinam. Por que não tomam

parte nas decisões que os envolvem?

A resposta convencional é a de que só os educadores têm competência para decidir o que é

melhor para os alunos (...).

Será que as relações de poder em nossas escolas estão funcionando de acordo com esses

padrões de competência?2

E logo a seguir a autora responde negativamente, pois mostra como o procedimento desses

profissionais da educação ainda se prende a um modelo tradicional autoritária que não traz

benefícios aos alunos em termos de desenvolvimento saudável.

Daí ela observar em vários professores a diferença entre teoria (democrática) e prática

autoritária (D’Antola, 1989) e propõe o que ela denomina de “clima democrático”, no qual,

deverá existir a participação e a voz do aluno até na elaboração de regras a serem seguidas na

escola. Nesse contexto, o professor continua sendo o educador, possuindo autoridade, mas

usando dela de forma respeitosa em relação ao aluno e não impositiva e ditatorial, como

ocorre no caso de autoritarismo do modelo escolar tradicional.

Abrir espaço para o diálogo e a cooperação entre alunos e professores, não significa minimizar

a autoridade desses últimos, nem cair na anarquia. Significa apenas respeitar econsiderar os

alunos como sujeitos do aprendizado e não apenas objetos passivos do ato de “aprender”.

Essa é a opinião de outro educador que deixou suas marcas na história: Paulo Freire. Para ele,

“autoridade”, por um lado, não significa “autoritarismo” e, por outro, não quer dizer

“libertinismo”.

Paulo Freire discute a respeito desses limites entre um conceito e outro. Em outras palavras, é

necessário não confundir “liberdade” com “desordem”. Como ele escreve (FREIRE, 1996:105):

O grande problema que se coloca ao educador ou à educadora de opção democrática é como

trabalhar no sentido de fazer possível que a necessidade do limite seja assumida eticamente

pela liberdade. Quanto mais criticamente a liberdade assuma o limite necessário tanto mais

autoridade tem ela, eticamente falando, para continuar lutando em seu nome.

E mais adiante (FREIRE, 1996:108), afirma esta ideia:

O que sempre deliberadamente recusei, em nome do próprio respeito à liberdade, foi sua

distorção em licenciosidade. O que sempre procurei foi viver em plenitude a relação tensa,

contraditória e não mecânica, entre autoridade e liberdade, no sentido de assegurar o respeito

entre ambas, cuja ruptura provoca a hipertrofia de uma ou de outra.

Se autoritarismo não deve caracterizar a relação entre professor e aluno, autoridade e,

portanto, limites, são fundamentais para o exercício de relações democráticas na escola,

asquais beneficiarão alunos e professores.

3.2 — Construindo a identidade da criança

Ao refletir a respeito do tema “autoridade ou autoritarismo”, tinha-se em mente “preparar o

terreno” para se discutir sobre a relação do professor com os alunos em sala de aula. A

aplicação da autoridade, porém, deve-se ao conhecimento (quanto mais melhor) da criança e

do desenvolvimento de sua identidade. E esse é o assunto deste item.

Após apresentar a aplicação que Jean Piaget faz dos conceitos kantianos de heteronomia e

autonomia, Araújo (1996:114) defende que o professor contribua, em sala de aula, para que os

alunos construam uma identidade autônoma, pautada nos “ideais democráticos de justiça e

igualdade”. Para esse autor, tais princípios são aplicáveis quando o professor dá a liberdade

Page 63: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

para os alunos participarem ativamente da elaboração de regras e de um comportamento

cooperativo, fazendo-os sentirem que também são respeitados. Ao mencionar duas posturas

do professor existentes no contexto de sala de aula, a autoritária e a democrática, ele escrev e

(ARAÚJO, 1996:111):

Acredito que se deve buscar uma perspectiva que rompa essa dicotomia. De acordo com o

referencial teórico apresentado, isso só será possível com a democratização das escolas, a

partir de relações de respeito mútuo e reciprocidade que modifiquem a visão sobre o papel

que as regras devem exercer nas instituições.

Sobre aquestão de cooperação, De La Taille (2000:113) escreve que a criança deve viver em

ambientes que não apenas sejam dirigidos pela autonomia, mas que proporcionem a sua

participação na mudança dos destinos dos próprios ambientes. O autor deixa claro que é a

partir da cooperação que a criança terá incorporado a autonomia em sua personalidade, pois

“só assimilamos o que experimentamos”. Cooperar neste caso não teria o sentido de “ajudar”

e sim, de fazer junto com o outro, ser autor em união com o outro e, ao estabelecer essas

relações de cooperação e de construção de regras, a criança envolve toda a sua personalidade

e passa a respeitar essas regras construídas conjuntamente. É por meio da cooperação que a

“criança aprende a organizar seus argumentos e a escutar e compreender os das outras

pessoas”. A cooperação para De La Taille, portanto, significa “acordo, diálogo, envolvimento e

compromisso. E autonomia é respeito pelo outro e exigência de ser respeitado”.

Quando o autor escreve que a autonomia é respeito pelo outro, ele se refere ao surgimento de

um sentimento advindo da admiração, da dependência e do medo: o respeito, o qual a criança

sente pelos pais quando estes a submetem “às suas ordens, às suas vontades, às suas

punições” e “ao respeitar os pais, tende a assumir seus valores e a obedecer às suas ordens.

Ora, o sentimento do respeito moral equivale ao sentimento de obrigatoriedade” (De LaTaille,

2000:92). Sendo assim, a criança se sente no dever de respeitar o outro. Esse sentimento de

respeito, como coloca o autor, tem origem na relação entre o adulto (pais e/ou professores) e

a criança, quando aquele exerce sobre esta a função de autoridade, colocando valores e

limites às suas ações. De La Taille enfatiza que o desenvolvimento da criança em direção a

autonomia nasce dessa relação, que para Piaget, é “pedagogia necessária para a entrada da

criança no mundo da moralidade“ e que também depende de outras relações e maneiras de

colocá-los (De La Taille, 2000:92-93).

Antes de abordar tais relações, De La Taille deixa claro que, embora a criança deva ter

experiências de relações de autoridade com uma educação “bem pensada e bem feita desde a

mais tenra idade”, isso não impede que um adolescente, que não teve essas experiências, não

possa ter a sua educação modificada radicalmente frente a novas situações, decorrentes das

relações com o outro e com acontecimentos na sociedade, a qual também interfere na sua

formação e que “exige” essa mudança.

As relações entre o adulto e a criança, e a maneira de colocar os limites, abrangem três tipos

de educação que se referem ao tema “autoridade” e “autoritarismo”: a “educação autoritária”

(caracterizada pela “imposição de regras”, castradora, no indivíduo, de qualquer autonomia); a

“educação por ameaça de retirada de amor” (chantagememocional que certos pais e

professores fazem com a criança para que ela lhes seja submissa) e a “educação elucidativa”

(que consiste em ordem e/ou repreensão que traz os motivos e as consequências das atitudes

censuradas) (De La Taille, 2000:95-96).

Segundo De La Taille, a “educação elucidativa” possui três dimensões fundamentais para que o

desenvolvimento moral da criança ocorra de modo satisfatório. Primeiramente, é importante

que a criança experimente os valores que lhe são transmitidos nos relacionamentos com seus

Page 64: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

pais e professores (em outras palavras, eles devem viver o que ensinam). Também é de se

esperar que ela participe de atividades de cooperação, como já mencionado anteriormente. E,

finalmente, que pais e professores trabalhem a afetividade das crianças, valorizando o bem e

rejeitando o que for prejudicial ao seu convívio com o outro (De La Taille, 2000).

Esse trabalho de explicação das razões da ordem e da repreensão é uma forma que se

aproxima mais de uma educação democrática, sem autoritarismo e sim, com autoridade,

embora não seja uma relação autêntica de democracia, pois ordem e repreensão são

colocadas para a criança sem a participação da mesma, no entanto, possibilitam que ela

alcance e valorize a igualdade essencial para a autonomia.

3.3 — Um novo olhar sobre a “indisciplina”

O ponto a que se quer chegar neste trabalho de pesquisa é justamente o de propor

aosprofessores algumas atitudes que visem solucionar problemas de indisciplina.

Groppa Aquino argumenta que é necessário que as escolas re-criem seus conteúdos e

métodos para que se tornem interessantes para os alunos (AQUINO:52-53). E o professor teria

como papel tornar concreto, na escola e para os alunos, todo aparato conceitual que deverá

ser utilizado. E, dessa forma, disciplina não deverá ser considerada sinônimo de “silêncio”, mas

de aprendizagem, mesmo por meio de um comportamento que se expresse como “barulho” e

“agitação”. Ele escreve:

É presumível, portanto, que uma nova espécie de disciplina possa despontar em relações

orientadas desta maneira: aquela que denota tenacidade, perseverança, obstinação, vontade

de saber. Um outro significado muito mais interessante para o conceito de disciplina, não?

(AQUINO, 1996:53).

Tal abordagem ao tema torna-se interessante por manifestar uma representação do ambiente

escolar mais próximo da realidade atual.

Também foi possível perceber como os novos tempos demandam novas formas de se lidar

com a indisciplina em sala de aula, considerando todas as mudanças ocorridas na sociedade e,

consequentemente, na família e na própria escola. Seguem algumas observações.

É possível que, em muitos casos de indisciplina em sala de aula, o problema esteja no método

pedagógico usado pelo professor. Deve-se perguntar como ele faz o planejamento de sua aula,

se orealiza, ou se tem por hábito improvisá-lo. O “diz-que-diz” sem objetivo específico torna a

aula entediante e, claro, muitos alunos não agüentam ficar parados.

Também é importante que o professor acredite no que faz. Sem essa fé e o amor à sua

profissão, ele mesmo poderá contribuir, sem o querer, para que a aula se torne um “inferno”.

Abrir espaços para a interação dos alunos e aproveitar suas energias para a elaboração

conjunta e a realização de projetos pedagogicamente viáveis. Assim, como escreve Groppa

Aquino (1996:53):

(...) A partir daí, o barulho, a agitação, a movimentação passam a ser catalisadores do ato de

conhecer, de tal sorte que a indisciplina pode se tornar, paradoxalmente, um movimento

organizado, se estruturado em torno de determinadas ideias, conceitos, proposições formais.

Gentile (2002) entra na questão do agir democrático na relação do professor e aluno. Esse

modo não se limita a lidar com o problema de disciplina e indisciplina, mas de compreender o

aluno como ser humano que traz sua própria formação sócio-cultural e familiar. A partir dessa

disposição, compete ao professor construir pontes que façam a ligação entre ele e a pessoa do

aluno em um processo de interação em que ambos contribuam para a efetivação do

amadurecimento e desenvolvimento do aluno. Cabe ao professor se dispor a conhecer e

Page 65: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

sensibilizar-se com a necessidade do aluno, procurando dialogar,discutir sobre o caso de

indisciplina e, se preciso for, aplicar sanções que dizem respeito ao ato em questão. Segundo a

autora (GENTILE, 2002)3:

O professor precisa desempenhar seu papel o que inclui disposição para dialogar sobre

objetivos e limitações e para mostrar ao aluno o que a escola (e a sociedade) esperam dele. Só

quem tem certeza da importância do que está ensinando e domina várias metodologias

consegue desatar esses nós. (...) O truque é transformar a contestação em aliada, dando

atenção ao jovem e ajudando-o a entender o que o incomoda.

Nesse contexto, não caberia mais ao professor “colocar a criança sentada em um lugar para

pensar”, pois, consciente de seu papel como educador, ele sabe das implicações desse ato,

que não proporciona a autonomia da criança por ser uma atitude autoritári a, não a respeita

como um ser em formação e impede o seu desenvolvimento.

Vasconcellos (s/d)4 em seu artigo Os Desafios da Indisciplina em Sala de Aula e na Escola, dá

algumas sugestões a respeito do procedimento do professor em relação ao aluno: cuidar para

não cair em modismos, mas levar ideias a sério; a necessidade de se estabelecer “sentido e

exigência” na construção de um projeto pedagógico que seja relevante para a realidade dos

alunos e para o próprio professor, considerando a formação crítica de cada um no que se

relaciona aos diversos aspectos de sua vida; estabelecer “sentido para oestudo”

(VASCONCELLOS:243), percebendo o professor qual seja a importância que sua função de

educador e que a própria escola possuem para a transformação da realidade ( VASCONCELLOS:

243-244)5.

Um ponto que se torna relevante para Vasconcelos6 é o tema do respeito. O professor

conseguirá lidar melhor com a questão de indisciplina em sala de aula, e, portanto, com o

estabelecimento de disciplina ao ganhar o respeito de seus alunos mediante a confiança neles

como pessoas que têm capacidade de crescer e produzir. Isso significa mudança de

perspectivas metodológicas, passando de uma visão “metafísica” do ensino (“isso é ou não é”)

para uma dialética (“isso é e não é”) (VASCONCELLOS:246-247).

Levando a sério o seu papel de educador inserido na realidade de seus educandos, verá o

mestre que essa interação e a abertura de espaço para atuação (“indisciplinada”) deles, agora

utilizada no projeto pedagógico por meio de elaboração conjunta de regras, de atividades etc.,

apenas mostrará com maior clareza a autoridade que ele tem em relação aos alunos, o que

criará um ambiente no qual ele será respeitado (VASCONCELLOS7).

É claro que a discussão em torno da autoridade do professor e do autoritarismo, realizada no

início deste capítulo, também terá aqui o seu desfecho. Com base no respeito e no modo sério

com que demonstrar sua atenção à importância de seu papel de educador, o professor

exercerá legítimaautoridade, como pessoa que agirá segundo “a necessidade do grupo

naquele momento e tendo em vista, com muita clareza, os objetivos que se buscam, para ter

critérios de orientação para a tomada de decisão” (VASCONCELLOS: 248)8.

Page 66: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

Considerações finais

Utopia é o lugar que não existe, um ideal com o qual sonhamos, mas nem por isso pode

continuar deixando de existir, é preciso ter o olhar voltado para esse “lugar”, o horizonte a ser

alcançado, para que se seja impulsionado pela vontade de chegar lá, procurando caminhos

que permitam atingir esse alvo essa meta.

Pode-se dizer que esse é o caminho proposto por essa pesquisa: contribuir com algumas

observações para que o professor venha a lidar com o problema da indisciplina em sala de

aula.

Diante da questão da disciplina e da indisciplina em sala de aula, e de sua dura realidade para a

maioria dos professores, buscou-se delimitar o problema perguntando como os professores

poderiam solucionar problemas de indisciplina na educação infantil, por meio da construção

de limites bem claros. Abordaram-se as causas de comportamentos indisciplinados em sala de

aula, e considerou a formação da criança em seu contexto mais amplo, ou seja, o da sociedade

e, consequentemente, da família e da escola.

Delimitado o problema, buscaram-se para ele possíveis soluções mediante uma reflexão sobre

autoridade e autoritarismo, a construçãoda identidade da criança e os procedimentos que

seriam interessantes para que o professor lidasse com a questão da indisciplina em sala de

aula. Constatou-se a necessidade da re-elaboração de conteúdos e métodos pela escola e

pelos professores, da paixão do professor pelo que faz, da abertura de espaços para a

interação com os alunos, implicando em ações conjuntas de cunho democrático, pelas quais se

deixaria evidente a responsabilidade dos alunos para eles mesmos, ao lidar com situações de

disciplina e, principalmente, para cultivar o respeito uns com os outros

Não existem fórmulas mágicas para a resolução de problemas dessa ordem; mas, pode haver

força de vontade no potencial transformador do diálogo, da amizade e da responsabilidade. O

caminho não é curto e muito menos fácil, porém, faz parte de um processo de pequenos

passos, mas de passos concretos, decisivos, conscientes e crendo que a disciplina em sala de

aula, iniciando-se pela educação infantil, poderá deixar de ser uma utopia, transformando-se

em possibilidade.

Referências Bibliográficas

Livros

AQUINO, Julio Groppa. Indisciplina na escola: alternativas teóricas e práticas. 10ª ed. São

Paulo: Summus, 1996.

ARAÚJO, Ulisses Ferreira de. Moralidade e indisciplina: uma leitura possível a partir do

referencial piagentiano. In AQUINO, J.R.G. (Org.) Indisciplina na escola: alternativas teóricas e

práticas. 10ª ed. São Paulo:Summus, 1996. p. 103-115.

DE LA TAILLE, Yves. Limites:três dimensões educacionais. 3ª ed. São Paulo: Editora Ática, 2000.

FREIRE, P. et al . Disciplina na escola: autoridade versus autoritarismo. São Paulo: EPU, 1989.

________. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1996. (Coleção leitura).

PIAGET, Jean. O juízo moral na criança. 4ª ed. São Paulo: Summus, 1994.

REGO, Teresa Cristina R. In AQUINO, J.R.G. (Org.) Indisciplina na escola: alternativas teóricas e

práticas. 10ª ed. São Paulo: Summus, 1996. p. 83-101.

SINGLY, François de. Sociologia da família contemporânea. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2009. .

(Família, geração e cultura).

VASCONCELLOS, Celso dos S. Disciplina: construção da disciplina consciente e interativa em

Page 67: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

sala de aula e na escola. São Paulo: Libertad – Cadernos pedagógicos da Libertad, 1998.

VYGOTSKY, Lev S. A formação social da mente. 7ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007

(Psicologia e pedagogia).

Dicionário

FERNANDES, Francisco. Dicionário brasileiro Globo. 30ª ed. São Paulo: Globo, 1993.

Documentos eletrônicos

GENTILE, Paola. A indisciplina como aliada. Revista Nova Escola, 2002. Disponível em:

. Acesso em: 06 mar. 2010.

VAZ, Solange. A criança problema e a normatização do cotidiano da educação infantil. Centro

de Estudos Sobre Intolerância - Maurício Tragtenberg, s/d. Disponível em: . Acesso em: 02 out.10.

INDISCIPLINA E LIMITES NA EDUCAÇÃO INFANTIL:

São José dos Campos

Junho / 2012

Universidade Anhanguera – Uniderp

Centro de Educação a Distância

Heloisa Helena Pontes do Amaral – 2314341809 – SJC

Kleber Alexandre de Paula – 4336819542 – SJC

Márcio Francisco Martins – 3306507054 – SJC

Maria Cristina Ramos Marinho – 2307349443 – SJC

Thalita de Castro Braga Vilas Boas – 2320370304 – SJC

INDISCIPLINA E LIMITES NA EDUCAÇÃO INFANTIL:

Page 68: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

Trabalho de Projeto Multidisciplinar I apresentado à professora Maria Clotilde Bastos da

Faculdade Anhanguera – Uniderp, polo de São José dos Campos – SP para fins de avaliação

parcial nesta disciplina do curso de pedagogia.

São José dos Campos

Junho / 2012

APRESENTAÇÃO.

Este trabalho trata-se de um projeto para alunos da Educação Infantil sobre Indisciplina e

Limites, um contexto muito rico, porém pouco usado nos dias de hoje.INTRODUÇÃO.

Foi feita uma pesquisa à respeito de tema: “Indisciplina e Limites na educação Infantil. Tema

este muito comentado nas escolas, porém pouco praticado. Talvez por medo, falta de

informações concretas, insegurança por parte dos educadores.

Hoje é gritante a falta de disciplina das crianças na Educação Infantil, muitas vezes as

justificativas dadas são: hiperativismo, carência familiar, falta de convívio social, falta de status

entre outras mais.

Os professores não conseguem impor regras em uma sala de aula, sentem muitas dificuldades

quando se deparam com situações de agressividade, principalmente com crianças na faixa

etária entre 03 e 06 anos.

Page 69: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

OBJETIVO.

Nosso objetivo é fazer com que o leitor tenha em mão métodos simples, mas eficaz para

aplicar no dia a dia em suas aulas.

JUSTIFICATIVA.

Atualmente nossas crianças encontram-se totalmente sem limites, nossos educadores

encontram-se encurralados diante de tantas “leis”, que muitas vezes não ajudam, somente

complicam. Vivemos numa sociedade que cada vez mais pede por ética. Mas como agirmos

diante de tais situações, onde a lei muitas vezes favorece o aluno, deixando o professor sem

ação?

Nossa proposta é convencer o professor que ele pode e develevar para sala de aula métodos

que o auxiliará em suas dúvidas, e também conscientizar a família sobre a importância do

convívio escola-família.

Page 70: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.

O educador e psicólogo francês, Yves de La Taille tem várias matérias sobre o assunto, entre

elas:

Labirintos da Moral, Mario Sérgio Cortella e Yves de La Taille, 112 págs., Ed. Papirus.

Limites: Três Dimensões Educacionais, Yves de La Taille, 152 págs., Ed. Ática, tel. 0800-115-

152, Moral e Ética - Dimensões Intelectuais e Afetivas, Yves de La Taille, 192 págs., Ed. Artmed.

Vergonha, a Ferida Moral, Yves de La Taille, 288 págs., Ed. Vozes,

Page 71: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

METODOLOGIA.

Foi usado como base de estudo para nosso projeto a experiência do educador e psicólogo

francês, Yves de La Taille. Várias entrevistas dada por ele sobre o contexto.

Yves é especialista em moral, e em uma de suas palestras fala sobre exemplos de pais e falhas

das escolas no ensino de ética. Ele afirma que as crianças são observadoras, e mesmo não

sendo capazes de raciocinar ou fazer deduções com aquilo que estão vendo elas percebem as

contradições entre o discurso dos pais e sua prática. A criança guarda tudo, e com o tempo

constrói seus próprios costumes.

As escolas de hoje não conseguem aplicar a ética para seus alunos, o que se tem são regras

emexcesso. Se por acaso acontecer uma situação fora do que se tem previsto na escola, todos

se perdem, não sabem como agir.

A indisciplina existe quando a postura do aluno é gerada e alimentada no interior da escola.

Precisamos construir um ambiente cooperativo e respeitoso entre professor e aluno e unir

escola e família, pois assim poderá atingir passos importantes para se vencer a indisciplina.

A personalidade da criança é formada por características hereditárias juntamente com o

ambiente familiar.

A agressividade da criança muitas vezes é associada pela: falta de carinho no âmbito familiar,

ou até mesmo quando a família é desestruturada emocionalmente acaba refletindo no

desenvolvimento emocional da criança. Se a criança receber agressão seu comportamento

com os colegas será também de agressividade.

Hoje o que se percebe é que os adultos estão preocupados somente com questões individuais,

ou seja, passam grande parte do tempo fora de casa tentando realizar seus desejos, (às vezes

por necessidade, precisam trabalhar) e acabam inconscientemente, abandonando seus f ilhos,

deixando que outras pessoas façam o papel de “família”.

Na Educação Infantil a palavra LIMITE tem vários significados. Começa no potencial de cada

criança com o grupo e vai até sua tolerância e aceitação com as regras impostas.

Na criança o limite só é alcançado quando se tem um autoconhecimento. O pedagogotem o

papel de dar condições para que a criança adote uma disciplina própria.

A criança traz para sala de aula tudo o que sente tudo o que vivencia em família.

Na sala de aula, em todo momento é cobrado a disciplina e também em qualquer situação

lúdica, pode ser trabalhado o conceito limite, portanto cabe ao professor mediar as relações e

as atitudes das crianças durante as brincadeiras.

A criança quando é indisciplinada não aceita os limites, não cumpre as regras, e por muitas

vezes é agressiva com os colegas.

Para se tentar amenizar a situação devemos como pedagogos, nos unirmos e tentarmos um

trabalho conjunto juntamente com os pais, afinal tudo é iniciado em “casa”, e nós não temos

autoridade diante dos alunos.

Segundo Vasconcellos:

[...] o professor com autoridade é também aquele que deixa transparecer as razões pelas quais

a exerce: não por prazer, não por capricho, nem mesmo por interesses pessoais, mas por um

compromisso genuíno com o processo pedagógico, ou seja, com a construção de sujeitos que,

conhecendo a realidade, disponha-se a modificá-la em consonância com um projeto comum

(1995, p. 44).

Devemos trazer os pais para participar mais ativamente com seu filho, na vida escolar. Fazê -los

entender a importância da presença familiar para a criança. Conscientizá-los que a disciplina é

indispensável para o desenvolvimento da criança, é extremamente importantepara seu

Page 72: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

crescimento e seu desenvolvimento social, e que ensinar a criança a seguir regulamentos e

regras ajuda a adaptar-se ao mundo e a ter um comportamento aceitável. Sendo assim a

criança terá noção dos direitos dos outros e passará a respeitá-los.

Fazê-los entender que a disciplina se constrói pela interação do sujeito com outros e com a

realidade, até chegar ao autodomínio e que é muito importante a maneira como a família

valoriza a educação.

Para Vasconcellos:

A construção do relacionamento humano é fundamental para o processo educativo. Os

próprios alunos percebem que uma classe unida, onde há calor humano, respeito, aceitação, é

motivo de “dar gosto vir para a escola”, ajudando, inclusive, cada um a lidar com seus defeitos,

com seus limites. Não podemos perder de vista que a construção do conhecimento em sala de

aula necessita da construção da pessoa e esta depende da construção do coletivo, base de

toda construção (1995, p. 81).

Professores, pais e alunos devem refletir sobre a indisciplina e apresentar pontos diferentes à

ser trabalhados de maneira conjunta na luta pela qualidade educativa e pela criação de um

ambiente adequado ao processo de ensino e aprendizagem.

Segundo Freire:

“Ninguém disciplina ninguém. Ninguém se disciplina sozinho. Os homens se disciplinam em

comunhão, mediados pela realidade” (1981, p.79).

Para que possamos realizar nossoprojeto seguiremos as seguintes etapas:

1ª Etapa: Trazer para escola os pais juntamente com seus filhos, realizando palestras sobre

falta de disciplina de uma forma dinâmica onde haja interação entre todos.

2ª Etapa: Trabalhar com as crianças por meio de jogos educativos, sempre trabalhando a

disciplina para que percebam a importância da mesma.

3ª Etapa: Fazer peças de teatro envolvendo as crianças para que elas percebam na prática

como deve ser uma criança disciplinada.

4ª Etapa: Elaborar cartazes com imagens das crianças que se destacarem disciplinadamente

durante o mês em cada sala, e incentivar os outros para que eles também possam estar nos

cartazes.

Page 73: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

CRONOGRAMA.

MÊS / ETAPAS

1º mês

2º mês

3º mês

4º mês

1ª Etapa: Interação: pais – filhos – escola.

Uma vez a cada 15 dias, durante o 1º mês.

2ª Etapa:

Jogos educativos.

Uma vez por semana, durante o 2º mês.

3ª Etapa:

Teatro na escola.

Uma vez a cada 15 dias, durante o 3º mês.

4ª Etapa:

Mural com cartazes.

Uma vez no mês, durante os quatros meses.

Trazer para escola os pais juntamente com seus filhos, realizando palestras sobre falta de

disciplina de uma forma dinâmica onde haja interação entre todos.

Trabalhar com as crianças por meio de jogos educativos, sempre trabalhando a disciplina para

que percebam aimportância da mesma.

Fazer peças de teatro envolvendo as crianças para que elas percebam na prática como deve

Page 74: PROJETO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL - justificativa

ser uma criança disciplinada.

Elaborar cartazes com imagens das crianças que se destacarem disciplinadamente durante o

mês em cada sala, e incentivar os outros para que eles também possam estar nos cartazes.

ORÇAMENTO.

Para realização das etapas será preciso:

Cartazes

Fotos dos alunos.

Vídeos educativos

Palestrantes.

Grupos de teatros.

BIBLIOGRAFIA.

TAILE, Yves de La. As Crianças notam contradições éticas. Disponível em: , Acesso em 30 mai.

2012.

TAILE, Yves de La. Nossos alunos precisam de princípios, e não só de regras. Disponível em: <

http://revistaescola.abril.com.br>, Acesso em 30 mai. 2012.

TAILE, Yves de La. Disponível em: < http://2.forumcec.org.br/convidado/yves-de-la-taille/>,

Acesso em 01 jun. 2012.

TODERO, Francieli, Disponível em: , Acesso em 01 jun. 2012.

Revista do Educador, ano4 - nº42 julho 2006. Editora Lua

Revista do Educador, ano5 - nº59 dezembro 2007. Editora Lua.

Projetos Escolares Educação Fundamental, ano3 - nº27. Editora On line.

Projetos Escolares Educação Infantil, ano3 - nº29. Editora On line.

Revista Nova Escola, Educação Infantil, edição especial nº9, editora Abril 2006. CHALITA, Gabriel, Educação: A solução está no afeto. 6. Ed. São Paulo: Gente, 2002.

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