anelise cecÍlia coelho - limites e indisciplina na educaÇÃo infantil

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UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS UNISINOS ANELISE CECÍLIA COELHO LIMITES E INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Trabalho de conclusão de curso de especialização apresentado como requisito para obtenção de título de Especialista em Educação Infantil. Orientadora: MS.Marta Quintanilha Gomes São Leopoldo 2010

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O objetivo a que se propõe a presente monografia é discutir este problema das crianças na família e na escola de hoje. A partir de uma pesquisa bibliográfica foram abordados: a importância dos limites na educação, (in)disciplina no cotidiano escolar,a função da escola, a relação família e a escola.

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Page 1: ANELISE CECÍLIA COELHO - LIMITES E INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS – UNISINOS

ANELISE CECÍLIA COELHO

LIMITES E INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Trabalho de conclusão de curso de especialização apresentado como requisito para obtenção de título de Especialista em Educação Infantil.

Orientadora: MS.Marta Quintanilha Gomes

São Leopoldo

2010

Page 2: ANELISE CECÍLIA COELHO - LIMITES E INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Dedico a este trabalho a meus

pais e irmãos que me ajudaram e me

apoiaram durante a minha caminhada e

que sempre acreditaram no meu sonho.

Page 3: ANELISE CECÍLIA COELHO - LIMITES E INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

AGRADECIMENTOS

À DEUS, pela presença constante em minha caminhada.

À minha orientadora, Professora Marta Quintanilha Gomes, por me guiar por

caminhos repletos de possibilidades no campo de pesquisa e por acreditar em

mim.

À minha família agradeço pelo carinho, pela confiança e estímulos.

À todos, que de alguma forma, contribuíram com esta pesquisa, os meus sinceros

agradecimentos.

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RESUMO

Hoje em dia, um dos grandes desafios para nós educadores é sabermos lidar com

a falta de limites e indisciplina das crianças. O objetivo a que se propõe a

presente monografia é discutir este problema das crianças na família e na escola

de hoje. A partir de uma pesquisa bibliográfica foram abordados: a importância

dos limites na educação, (in)disciplina no cotidiano escolar,a função da escola, a

relação família e a escola. Noto que a tarefa educativa da família e da escola

passa, hoje em dia, por um momento de perda de referenciais. Os pais

apresentam muitas dúvidas sobre qual a melhor forma de educar os filhos, o que

contribui para a dificuldade em estabelecer a noção de limites. A escola, por sua

vez, também procura saída para “fugir” da culpa pelos possíveis fracassos

escolares de seus alunos, entre as desculpas mais freqüentes está a de

responsabilizar os pais pela falta de tempo no convívio com os filhos. Fato que

acaba gerando alunos com problemas de aprendizagem.

Palavras-Chaves: limites; indisciplina, escola e família.

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SUMÁRIO

1)INTRODUÇÃO................................................................................................ 5

2) A IMPORTÂNCIA DOS LIMITES NA EDUCAÇÃO........................................ 8

2.1) O que são limites?........................................................................................ 8

3) (IN)DISCIPLINA NO COTIDIANO ESCOLAR................................................ 14

3.1) A Função da Escola...................................................................................... 14

3.2) Família e a Escola......................................................................................... 19

3.3) Para educar não basta amar......................................................................... 23

4) CONCLUSÃO................................................................................................... 25

5) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................. 27

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1) INTRODUÇÃO

Cotidianamente ouvimos falar sobre as dificuldades que agentes

socializadores, como pais e professores tem ao gerenciarem limites em relação às

crianças. Pais estressados pelas tarefas profissionais ou mesmo domésticos tendem

a passar menos tempo com seus filhos e, freqüentemente, delegam a

responsabilidade de sua educação a terceiros, como a própria escola. Outros têm

tempo para seus filhos, porém, não sabem como administrar as dificuldades no

estabelecimento de limites.

As pessoas que convivem com as crianças, mais propriamente a família,

influenciam muito no seu comportamento, pois ela nasce no seio desta. São,

portanto, os pais os primeiros educadores. A ação da família começa desde o berço,

muito antes de entrarem para a escola.

Nos nossos dias, está cada vez mais difícil estabelecer disciplina e fazê-la

ser mantida. É que, hoje, a posição dos alunos é muito diferente das que

conheceram seus pais ou avós. Os alunos tornaram-se mais independentes, menos

dispostos a obedecer à autoridade dos adultos. Geralmente os pais necessitam

ausentar-se de casa para trabalhar e garantir uma melhor situação financeira para a

família, o que, quase sempre resulta em sentimento de abandono para a criança. E

os pais, sentindo-se culpados por sua ausência, acabam implementando uma

educação permissiva, onde as crianças não conhecem a frustração. O resultado

dessa mistura desastrosa é, certamente, a falta de limites.

Por que atualmente os alunos não obedecem a seus pais e nem os

educadores? Esta pergunta intriga vários profissionais na educação e alguns pais

preocupados com o futuro de seus filhos.

Como educadora de escola de educação infantil noto reclamações e

relatos de educadores sobre a questão disciplinar, como uma das principais

dificuldades para o bom desenvolvimento no trabalho pedagógico.

Em conversas informais com educadores e colegas, pode-se dizer que há

um consenso em que um dos seus principais obstáculos de ensino seria a conduta

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desordenada dos alunos, como: bagunça, falta de limites, tumulto, desrespeito entre

colegas e professoras.

Muitas pessoas atribuem a culpa pelo comportamento indisciplinar dos

alunos à educação recebida pela família. Algumas crianças têm uma criação familiar

autoritária. Estes estão “acostumados” a serem surrados ou receberem castigos, por

isso não conseguem “ensinar-se” adequadamente aos ambientes ditos

democráticos. Em outros casos os pais acabam dando ampla liberdade a seus

filhos, o que os torna indisciplinados, mimados, que por sua vez, não se adéquam a

ambientes onde haja obrigação rotineira. Sentem-se frustrados quando não são o

centro das atenções. Ambos os casos geram conflitos que envolvem a criança, a

família e a escola. Uma grande parte dos alunos vem de lares desestruturados, isto

é: com pouca ou nenhuma condição financeira; famílias sem pai, sem mãe, sem a

clareza de quem são os seus cuidadores.

Após conversas com educadoras, acrescento que o problema da

indisciplina, também está associado a não valorização da escola por parte dos pais,

que dificilmente comparecem na escola, muito menos às reuniões, além de não

acompanharem as lições dos filhos.

Portanto, o objetivo a que se propõe a presente monografia é discutir o

problema dos limites e indisciplina na educação das crianças e na família de hoje.

A importância deste estudo recai no fato da questão da indisciplina e

limites estar bastante freqüente atualmente, e alguns professores não saberem

como lidar com ele. Eu, como professora de Educação Infantil, vivo e convivo com

limites e indisciplina no cotidiano escolar, e muitas vezes, me vejo sem saber o que

fazer, ou que atitude tomar perante tal situação.

Alguns defendem a educação de antigamente, onde as crianças não

podiam conversar à mesa e os mais novos respeitavam os mais velhos. Hoje as

crianças têm liberdade e autonomia pra fazer o que quiserem. Algumas pessoas

culpam os pais, outros dizem que são as crianças que se tornaram exigentes,

independentes. Limites e indisciplina podem ocorrer tanto na escola, nas salas de

aula e, até mesmo, nos meios sociais. Todos os envolvidos com a falta de limites e

indisciplina pensam e repensam as suas causas e tentam buscar soluções.

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Esta monografia abre um espaço para colocarmos em discussão algumas

perguntas em relação à educação de filhos hoje em dia. É importante desenvolver

reflexão a respeito dos problemas na educação atualmente: limites e indisciplina.

Identificar e problematizar “o que está por trás” do que pensamos e das nossas

ações, parece ser o melhor caminho para modificarmos nossas práticas e

buscarmos alternativas para resolvermos os nossos problemas no cotidiano.

A busca de respostas a estas questões de limite e indisciplina, ou o

resgate de alunos e educadores tem à frente um árduo caminho, mas é nas

reflexões que encontraremos, com certeza, bons resultados.

No primeiro capítulo abordei o conceito de limites conforme alguns

teóricos como: Içami Tiba, La Taille, Zagury, Aquino entre outros, e das primeiras

interações do indivíduo com a família no estabelecimento dos limites.

No segundo capítulo abordei a questão da (in)disciplina no cotidiano

escolar, enfatizando a função da escola na questão da (in)disciplina, da postura que

o educador e o educando apresentam na ação educacional.

Finalizo apontando algumas considerações finais que chego a partir

desse estudo. Pensadas como ambientes de convívio social, a família e a escola

desempenham papéis fundamentais no processo de construção dos limites infantis.

Papéis estes compartilhados, porém distintos.

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2) Importância dos limites na educação

2.1) O que são limites?

Hoje em dia a questão dos limites é um assunto que provoca muitas

reflexões, principalmente entre pais e educadores. Mas, afinal, o que são limites?

Segundo o dicionário Aurélio, limite significa:

a) linha de demarcação;

b) divisa, fronteira;

c) extremo, fim;

d) ponto que não deve ultrapassar.

Em outras palavras, limite é o conceito em que se deve ensinar, quais os

pontos que não podem ser ultrapassados, pois a partir daí, algumas conseqüências

podem acontecer e, fatalmente, outros, ao redor, podem ser afetados, positiva ou

negativamente.

Os limites têm a função de ensinar à criança o que é ou não permitido.

Sobretudo, tem a função fundamental de dar proteção e segurança. A função

protetora dos limites não se restringe apenas aos limites colocados com o objetivo

de evitar situações de perigo ou risco físico. Abrange algo bem mais amplo, tal como

proteger a criança contra o excesso de sentimentos de culpa ou remorso, que

podem advir do perceber que seus atos abalaram física ou emocionalmente aos

seus próximos. É necessário impedir os ataques físicos da criança, mas

reconhecendo seus sentimentos. Quando a criança sente raiva ou ódio com muita

intensidade, fica difícil na maioria das vezes frear-se sozinha. Precisa de ajuda para

canalizar a expressão desses sentimentos, de modo não destrutivo. E essa ajuda

significa firmeza e a segurança de limites bem colocados. Freqüentemente a criança

testa a consistência dos limites e a firmeza dos adultos ao aplicá-los, usando várias

manobras que variam desde a franqueza até a sedução.

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Como diz Içami Tiba (1996), “quem ama educa”. Por mais difícil que

pareça, a melhor maneira de educar é impor limites com afeto e carinho. Entenda-se

com isso que os pais devem sim ter autoridade para impor suas regras e seus limites

ao educar, e os professores devem manter as normas e os limites ao ensinar.

Segundo Içami Tiba:

“(...) Filhos precisam de pais para serem educados; alunos, de professores para serem ensinados. Estes até podem ser amigos, porém não mais do que pais; não mais amigos do que professores. Afinal, como educador, você não pode se esquivar à tarefa de apontar os limites necessários para que os jovens se desenvolvam bem e consigam se situar no mundo. (...)” (1996, p. 13)

Concordando com Içami Tiba (1996), De La Taille (1998) afirma que são

limites, portanto, que devem ser respeitados para garantir não apenas o próprio

bem-estar, mas também o bem-estar do outro. Esses são limites essencialmente

adquiridos pela convivência social.

No dia-a-dia, é impossível que a criança tenha total liberdade. É essencial

que a criança saiba o que pode e o que não pode ser feito.

As crianças precisam de regras vindas de seus educadores, que não

podem se abster da tarefa de colocar os limites necessários para que elas se

desenvolvam bem e consigam se situar no mundo.

La Taille, nos diz que:

”(...) Crescer, desenvolver, é superar limites. E como não é a pura maturidade biológica que leva a criança a crescer, seu desejo de fazê-lo é condição sine qua non (...)” (2003, p.23).

Nessa mesma linha de pensamento, Zagury nos relata que:

“(...) fazer a criança ver o mundo com uma conotação social (conviver) e não apenas psicológico (o meu desejo e o meu prazer são as únicas coisas que contam) (...)” (2003, p.23).

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No ponto de vista desses autores, é importante que os limites sejam

interpretados com um sentido positivo, que situa o indivíduo em suas relações

sociais e que auxilia na tomada de consciência, pela qual a sua posição é ocupada

na família, na escola e na sociedade.

Educar uma criança, não é apenas impor-lhe limites e sim ajudá-la

cognitivamente e emocionalmente. No entanto, há que se equilibrar a aplicação de

limites, uma vez que o excesso também poderá impedir o amadurecimento

individual.

Para criar uma relação saudável ao educar uma criança é fundamental

estabelecer regras claras, pois a autoridade deve existir de forma natural, sem

medos ou responsabilidades. As regras devem ser reconhecidas, tanto por aquele

que têm a função de propor-las, como pelos que devem atendê-las. Ao contrário do

autoritarismo, que impõe regras sem respeitar as características individuais.

Para Zagury:

“(...) se agirmos com segurança e firmeza de propósitos, mas com muito afeto e carinho, poderemos atingir nossos objetivos educacionais sem autoritarismo (...)” (2003, p.32)

De acordo com Araújo apud Aquino nos relata que:

“A criança começa a compreender a existência de regras sociais, mas acredita que quem sabe o que é certo ou errado são os adultos mais velhos, e não ela própria. (1996, p.107).

Como já vimos à responsabilidade por estarem ausentes por muito tempo,

faz com que os pais se abstenham de estabelecer regras básicas aos seus filhos.

Zagury nos diz que:

“É fundamental acreditar que dar limite aos filhos é iniciar o processo de compreensão e apreensão do outro (atualmente muita gente acredita que o limite provoca necessariamente um trauma psicológico e, em conseqüência, acaba abrindo mão desse elemento fundamental na educação). (...)” (2003, p.17).

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No ponto de vista da autora, quando a criança não tem limitado seu

comportamento, não aprende as regras, o que é certo ou errado na vida e na

sociedade, e acaba não respeitando os próprios, bem como os dos outros limites.

De acordo com La Taille:

“Se desde cedo à criança aprende que há limites a serem respeitados, aos poucos ela própria vai compreendendo que as regras são contratos estipulados para que todas as partes sejam beneficiadas.” (1995,p.120).

Sendo assim, são corretos os seguintes ensinamentos do professor Içami

Tiba:

“Cabe os pais delegar ao filho tarefas que ele já é capaz de cumprir. Essa é a medida certa do seu limite. É por isso que os pais nunca devem fazer tudo pelo seu filho, mas ajudá-lo somente até o exato ponto em que ele precisa, para que, depois, realize sozinho suas tarefas. É assim que o filho adquire auto confiança, pois está construindo sua auto-estima. O que ele aprendeu é uma conquista dele.” (1996, p.43).

É importante dar limites as crianças pequenas, para que possam

aprender a respeitar os seus direitos e os direitos dos outros, o que ajuda na

convivência em grupo.

Disciplinar uma criança é ensiná-la a construir seus próprios limites. A

escola é uma instituição que pode ajudar os pais, mas não substituir.

Para Zagury:

“Quando os pais trabalham adequadamente nesse sentido e, a cada oportunidade que surge, calmamente (...), estabelecem limites – isto é, concordando e incentivando as atitude positivas e criticando as negativas –, com o passar de alguns anos, a criança terá aprendido as regras básicas de convivência e inicia de forma sólida o processo de socialização( ....)” (ZAGURY, 2002, p. 36)

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Para Tiba (2002), muitos pais culpam a escola pelo mau comportamento

da criança em casa, atribuindo-lhe o dever de educar a. Na realidade, essa idéia é

errônea e não deve prevalecer, pois cabe aos pais a formação do caráter, da auto-

estima e da personalidade da criança.

Se cada um cumprir seu papel, não serão necessárias cobranças e não

haverá uma sobrecarga nem da família e nem da escola. É preciso deixar bem claro

para a criança à função de cada um para que ela mesma possa buscar, de forma

correta, a ajuda para seus conflitos.

Ainda no pensamento de Tiba (2002) entende que se a união entre família

e instituição de ensino for firmada desde o início da vida escolar da criança, todos

irão ganhar. O mesmo ressalva ainda que, se a criança estiver bem, vai melhorar, e

se precisar de ajuda para resolver seus problemas a, receberá tanto da escola

quanto dos pais para solucioná-los.

Concordando com a concepção de Tiba (2002), Xavier (2002), diz que:

“(...) as relações entre escola e família necessitam ser aprofundadas e intensificadas, com contribuições mútuas, visto que os conceitos de autonomia e autoridade pressupõem a compreensão desses significados nas duas dimensões” (2002,p.83).

Os pais sempre serão responsáveis por seus filhos, ainda que eles

venham a freqüentar a escola cada vez mais cedo, como hoje em dia. É por isso que

a integração entre essas instituições deve ser, digamos de intimidade. Ainda de

acordo com Tiba (2002): Diante disso, destaca-se que é de fundamental importância

a integração dos pais no sistema educacional de seus filhos, e é através dessa

parceria que a instituição de ensino pode construir uma aliança com forte

embasamento.

Acredito que a questão dos limites deva ser entendida como um processo

de construção da criança, processo este que, na visão de Piaget (1994), nada mais

é senão o desenvolvimento moral da criança. Para o autor, o desenvolvimento moral

depende das relações sociais que a criança estabelece.

Por isso, penso que a educação moral deve pretender formar cidadãos

capaz de enfrentar desafios e mudanças na sociedade de forma ética e consciente.

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O mais importante em estabelecer limites na educação das crianças é

que se estará ajudando a se tornarem mais disciplinadas. Com o tempo, a criança

aprende a se conduzir na sociedade, adquire valores, respeito por si e pelos outros e

aprende a conviver em sociedade, o que será fundamental para o seu

desenvolvimento no ambiente escolar.

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3) (In)disciplina no cotidiano escolar

3.1) A função da escola

O que é disciplina e indisciplina? Segundo o dicionário Aurélio:

Disciplina:

• Regime de ordem imposta ou livremente consentida.

• Ordem que convém ao funcionamento regular duma organização

(militar, escolar, etc.).

• Relações de subordinação do aluno ao mestre ou ao instrutor.

• Observância de preceitos ou normas.

• Submissão a um regulamento.

Segundo Rego apud Aquino: “(...) Disciplinado é, portanto, aquele que

obedece, que cede, sem questionar, às regras e preceitos vigentes em determinada

organização (...)” (1996,p.85).

Indisciplina:

• Procedimento, ato ou dito contrário à disciplina; desobediência;

desordem; rebelião.

Ainda de acordo com Rego apud Aquino: (...) Nessa visão as regras são

imprescindíveis ao desejado ordenamento, ajustamento, controle e coerção de cada

aluno e da classe como um todo (“...)” (1996, p.85).

Um dos problemas que enfrentamos no nosso cotidiano escolar é a

indisciplina dos alunos nas salas de aula. A causa da indisciplina pode ser atribuída

à falta de imposição de limites por parte dos pais, da escola e da sociedade.

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Autores como Freud e Piaget, segundo La Taille (1996) apud Aquino,

concordam em situar a origem da moralidade na relação da criança com seus pais e

o importante sentimento de amor nesta relação.

Para Freud, de acordo com La Taille (1996) apud Aquino, a interiorização

das proibições paternas constitui-se uma imagem ideal de si (introjeção dos pais

idealizados) que servirá como medida empregada para avaliar o próprio valor como

pessoa.

Para Piaget, conforme La Taille (1996) apud Aquino, a interiorização das

regras corresponde uma assimilação racional (críticas) destas e uma nova exigência

moral: a reciprocidade, respeitar e ser respeitado.

Segundo La Taille (1996) quando a disciplina é relacionada ao

cumprimento de normas, a indisciplina pode ter relação com a desobediência às

normas; porém, aponta que na observância destas pode revelar: a revolta contra as

normas ou o desconhecimento delas.

La Taille (1996) defende ainda, baseada na perspectiva piagetiana, que o

desrespeito às normas pode ser um sinal de autonomia, significando resistência às

imposições e ao autoritarismo.

A indisciplina escolar não envolve somente características encontradas

fora da escola como problemas sociais, sobrevivência precária e baixa qualidade de

vida, além de conflitos nas relações familiares, mas há aspectos envolvidos e

desenvolvidos na escola como a relação professor-aluno.

Para Piaget, como diz La Taille (1996), a cooperação, a solidariedade e o

respeito mútuo são valores que devem fazer parte do cotidiano escolar, das relações

interpessoais na escola.

Ser educador nunca foi uma tarefa fácil, hoje, porém, novas informações

vieram tornar o trabalho docente ainda mais difícil. A disciplina parece ter se tornado

particularmente problemática.

Avaliar as causas desses problemas é preocupação sobre a qual, hoje, se

debruçam todos os envolvidos com a educação, que desejam uma escola de

qualidade.

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Ao refletirmos na educação de qualidade, é preciso ter em mente que a

família esteja presente na vida escolar de todos os alunos, em interação entre

escola e família. Nesse sentido, escola e família têm uma grande tarefa, pois nela é

que se formam os primeiros grupos sociais de uma criança. Desde o nascimento a

criança é educada e orientada pelos seus familiares a construir valores que serão

importantes para a sua vida.

Apesar de crianças menores não compreenderem muito bem

algumasregras, o que muitas vezes, é traduzido pelo professor como desobediência,

não se pode utilizar de qualquer prática punitiva ou castigo, pois o que poderia ser

resolvido através de conversa, de diálogo, pode ser transformado em rebeldia, em

comportamento agressivo ou indisciplinado.

Segundo Tiba (1996); a disciplina escolar pode ser entendida ainda como

um conjunto de regras que devem ser obedecidas para o êxito do aprendizado

escolar. Ela é uma qualidade de relacionamento humano entre o corpo docente e os

alunos em uma sala de aula, e conseqüentemente, na escola.

O conceito desse autor considera que todos os envolvidos no processo de

ensino e aprendizagem devem obedecer às regras, mostrando não ser apenas

responsabilidade do aluno ou de sua família, mas também da escola.

Estas manifestações de indisciplina aumentaram com o passar do tempo.

Há hoje grandes reclamações dos profissionais de educação nos dias atuais. Muitos

professores estão cansados, muitas vezes doentes, física e mentalmente; os

sentimentos de frustrações e impotência nunca estiveram tão presentes como hoje

na vida escolar.

Segundo La Taille apud Aquino:

“(...) atos de indisciplina traduzem-se pelo desrespeito, seja de

colegas, seja do professor, seja ainda da própria instituição escola

(depredação das instalações, por exemplo). É certamente este

aspecto desrespeitoso de certos comportamentos discentes que

preocupa no mais alto grau os educadores.(...)” (1996, p.20).

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Limites e indisciplinas são freqüentes nas conversas e debates entre

educadores, pois tentam chegar a uma solução com relação a esta ou aquela

criança, ou simplesmente pelo fato de ter desafiado o professor em sala de aula, ou

ter provocado um colega ou por ter se recusado a fazer alguma tarefa.

Qual a relação entre limites ou indisciplina? Pode ser dizer que há uma

forte ligação entre os dois comportamentos, como um sendo conseqüência do outro.

A falta de limite e o excesso de indisciplina, que começam em casa e se estendem

na escola, muitas vezes, chegam a casos extremos como: violência (física ou

psicológica), empurrar ou bater nos colegas, destruir ou pegar seus materiais, sair

da sala de aula sem a permissão do professor. Nessa hora é que a preocupação dos

professores cresce e faz pensar sobre possíveis causas e soluções para estes

problemas.

Para Içami Tiba: “O exemplo é muito importante na Educação. Quem

sabe fazer, aprendeu fazendo” (1996, p.178).

A indisciplina poderia ser percebida antes de tornar-se um problema mais

sério de comportamento, como bagunça ou agressividade, o não acompanhamento

das aulas já é um início de indisciplina.

Segundo Xavier:

“(...) Estes alunos são descritos como quem não respeita regras e combinações, não atende ordens, não tolera frustração, não consegue se conter, não respeita o patrimônio”(...)”. (2002, p. 88)

O professor deverá fazer o seu papel, procurando manter a ordem e a

disciplina, cobrando a obediência às regras e normas da escola. O professor hoje

não pode ser um simples transmissor e sim um amigo, educador e orientador.

O professor e a escola devem ter por objetivo central a transmissão e

recriação do conhecimento construído socialmente. O grande problema, segundo

Aquino (1996) é que o professor mantém-se rígido em seu lugar de autoridade.

Concordando com Aquino (1996), Guimarães (1996) apud Aquino,

também defende essa idéia e aponta que o professor considera que sua posição

normalizadora será suficiente para apaziguar os conflitos. Segundo Guimarães

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(1996) o professor deveria deixar de “ocupar” seu lugar, para que os alunos possam

viver com mais intensidade a misteriosa relação que une o lugar-escola e o nós-

alunos.

A criança que não teve carinho, limite e equilíbrio na família, buscam-nos

na escola. Com isso, o educador não deve deixar impune um comportamento

agressivo, porque a melhor forma de demonstrar carinho por uma criança é saber

dizer não, na hora certa. A mesma deve ter em mente que toda regra estabelecida

ou limite deve ser respeitado.

Para Rego (1996), a escola e os educadores precisam adequar as suas

exigências às possibilidades e necessidades dos alunos. Devem dar condições para

que os alunos construam e interiorizem os valores e as posturas consideradas

corretas na nossa cultura (atitudes de solidariedade, cooperação, respeito aos

colegas e professores).

Entretanto, Aquino (1996) aponta que a solução pode estar na forma

como se dá a relação professor – aluno, ou seja, nos vínculos que se estabelecem

nas relações cotidianas. Aponta como solução o desenvolvimento de um trabalho

fundado no resgate da moralidade discente, através da relação com o

conhecimento.

Na maioria das vezes, o professor não pode continuar culpando a

sociedade ou a família da indisciplina das crianças, e também não pode deixar que

elas desrespeitem as regras escolares. Por isso, é importante explicar aos alunos

porque as regras existem, para que servem e de que modo elas podem ser

colocadas em prática.

Para Rego (1996) segundo Aquino, a escola e os educadores precisam

adequar suas exigências às possibilidades e necessidades dos alunos. Devem dar

condições para que as crianças construam e interiorizem os valores e as posturas

consideradas corretas na nossa cultura (atitudes de solidariedade, cooperação,

respeito aos colegas e professores). Os alunos precisam ter oportunidade de

conhecer e discutir as regras estabelecidas e as conseqüências caso sejam

infringidas.

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Não se trata de definir o que é permitido fazer na sala de aula e na

escola, mas abrir um diálogo entre professores e alunos para estabelecer o que é

bom para todos. Quer dizer, de acordo com a realidade de cada espaço escolar.

Além de estabelecerem coletivamente as regras no ambiente escolar, o

professor pode ajudar seus alunos a lembrá-las sempre que possível, para que as

estabeleçam melhor e entendam seu significado, que é o de firmar os direitos e

deveres de cada um, e não apenas uma proibição. Por isso se torna mais fácil

ensinar às crianças o que deve ser feito, ao invés de, proibi-la de fazer algo errado,

sem ao menos explicá-las o porquê.

3.2) Família e a Escola

Essa é a relação mais contraditória, porque apesar de ambas terem como

objetivo central a educação de uma criança, os papéis de cada uma devem ser

individual durante este processo. A família, de maneira generalizada, procura

algumas obrigações da educação do filho à escola e ao professor, eximindo-se do

seu papel fundamental de cúmplice da instituição de ensino na educação da criança.

Os professores, frente a essa nova obrigação, se vêm forçados a responder pelo

comportamento positivo ou negativo do aluno.

Infelizmente, alguns pais não se conscientizam da importância do apoio

deles junto à instituição escolar do filho e não conseguem ver que a escola possui

outros objetivos a serem desenvolvidos para seus filhos. Isso não quer dizer que a

escola não deva se preocupar com o desenvolvimento afetivo e as relações de

vínculo desenvolvidas pelos alunos, mas de forma diferente da família a escola

utiliza critérios específicos para avaliar o desempenho, a maturidade e

desenvolvimento desta criança. São essas características que os pais não

conseguem entender. Ao deixar seus filhos na escola, os pais passam toda a

responsabilidade de educação desta criança aos educadores e à instituição e caso o

filho apresente um comportamento “inadequado”, os pais culparão a escola, os

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professores, mas nunca colocarão a culpa em si mesmos ou assumirão o fato de

contribuir para algumas atitudes do filho.

Segundo Rego, apud Aquino:

“(...) A escola se vê, assim, desvalorizada e isenta de cumprir o seu papel de possibilitadora e desafiadora (ainda que não exclusiva) do processo de constituição do sujeito, do ponto de vista de seu conhecimento” (1996,p.45).

A escola, por sua vez, também procura saída para “fugir” da culpa pelos

possíveis fracassos escolares de seus alunos, entre as desculpas mais freqüentes

está a de culpar os pais pela falta de tempo no convívio com os filhos. Fato que

acaba gerando alunos com problemas de aprendizagem.

Para Rego segundo Aquino:

“(...) A escola, por sua vez, também precisa de regras e normas orientadas do seu funcionamento e da convivência entre os diferentes elementos que nela atuam. (...)”. (1996,p.86).

Ressalvo, que o principal para a escola, professores e pais é descobrir

algo real para ser determinado como causador desses problemas de aprendizagem,

que prejudicam as crianças.

O que pode observar-se é que a escola e a família, cada qual com seus

valores e objetivos particulares na educação de uma criança, constituem uma

estrutura essencial, onde quanto mais diferentes são, mais carecem uma da outra.

Dessa forma, cabe a toda sociedade, não só à educação, transformar através de

pequenas ações o cotidiano da escola e da família, para que esta compreenda a

importância dos objetivos traçados pela escola, assim como o seu lugar de

responsável neste processo.

É essencial essa transformação, para que não só os alunos, mas a família

e a própria instituição possam estabelecer uma ligação de colaboração entre si.

Entretanto, esta colaboração só será concretizada, caso os pais compreendam que

a escola não deve exercer a função moral da família. Seria necessário, então, que a

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escola solicitasse projetos de conscientização junto às famílias de seus alunos,

salientando a importância do dever de cada um no desenvolvimento da criança e

que embora essa parceria escola e família seja essencial, cada um desses setores

deve conservar suas particularidades.

Assim sendo, a escola, deve sempre envolver a família dos educandos

em atividades escolares. Não para falar apenas dos problemas que envolvem a

família atualmente, mas para ouvi-los e tentar engajá-los em algum movimento

realizado pela escola como: projetos, festas, desfiles escolares, etc.

A escola deve aproveitar todas as oportunidades de contato com os pais,

para passar informações relevantes sobre seus objetivos, recursos, problemas e

também sobre as questões pedagógicas e envolver os familiares na elaboração da

proposta pedagógica pode ser a meta da escola que pretende ter um equilíbrio no

que diz respeito à disciplina de seus educandos. Só assim, a família irá se sentir

comprometido com a melhoria da qualidade escolar e com o desenvolvimento de

seu filho como ser humano.

Quando se fala em vida escolar e sociedade, não há como não citar Paulo

Freire, quando diz que:

“a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda. Se opção é progressista, se não se está a favor da vida e não da morte, da eqüidade e não da injustiça, do direito e não do arbítrio, da convivência com o diferente e não de sua negação, não se tem outro caminho se não viver a opção que se escolheu. Encarná-la, diminuindo, assim, a distância entre o que se diz e o que se faz". (1999,p.18).

É importante que o projeto inicial se faça levando em conta os grandes e

sérios problemas sociais tanto da escola como da família. A escola tem necessidade

de encontrar formas variadas de mobilizações e de preparo dos alunos, dos pais e

da comunidade, associando os diversos espaços educacionais que existem na

sociedade.

No Parágrafo único do Capítulo IV do Estatuto da Criança e do

Adolescente (BRASIL, 1990), encontramos que "é direito dos pais ou responsáveis

ter ciência do processo pedagógico, bem como participar da definição das propostas

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educacionais", ou seja, trazer as famílias para o convívio escolar já está prescrito no

Estatuto da Criança e do Adolescente o que está faltando é concretizá-lo, é pôr a Lei

em prática. Família e escola são pontos de apoio ao ser humano; são sinais de

referência existencial. Quanto melhor for a parceria entre ambas, mais significativos

serão os resultados na formação do educando. A participação dos pais na educação

dos filhos deve ser constante e consciente. Vida familiar e vida escolar são

simultâneas e complementares.

Convidar a família nas ações dos projetos pedagógicos significa ressaltar

ações em seu favor e lutar para que possa dar vida às leis. Mais do que criar um

novo espaço para tratar das questões da família ou da escola, a própria escola deve

articular seus recursos institucionais, de maneira a assegurar que as reflexões, os

debates, os estudos e as propostas de ação possam servir de fundamento para que

o desenvolvimento social se realize por meio de práticas pedagógicas educativas

efetivas.

Uma vez que todos os campos da educação estejam conscientes de seus

papéis, a escola poderá contribuir para o aprimoramento da competência cognitiva e

afetiva da criança, contando com a ajuda da família. Esta também poderá contar

com o apoio da escola, a fim de melhorar o relacionamento com os filhos. Dessa

forma a criança se sentirá capaz e protegida para aprender.

Quando a criança entra na escola, começa a aprender a enfrentar a vida

por conta própria. E, se os pais persistem em interferir nesse método, só um sai

perdendo: a criança. Quase todos os pais têm a "mania" de perguntar aos filhos

como foi o dia na escola. Isto é positivo, ajuda-o a sentir que a escola é importante

para a família, porém, quando isto se torna uma cobrança, onde o filho é obrigado a

falar sobre a escola, se transforma em um desrespeito. É preciso que os pais

respeitem isto. Quando a criança não quer comentar sobre a escola, não significa

que não goste dela.

Instigar a criança, na fase escolar, é um beneficio para a vida toda,

porque a criança passa a entender que nem tudo é como ela quer, na hora que quer,

e que existem fatores externos e hábitos que são importantes para o futuro.

No momento em que os pais e a escola tiverem essa consciência, com certeza que

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ela conseguirá de forma didática e carinhosa, passar para seu filho, a importância

desses hábitos e rotinas estabelecidos.

3.3) Para educar não basta amar

A família e a escola formam um grupo. É fundamental que ambas

abracem os mesmos princípios e critérios, bem como a mesma direção em relação

aos objetivos que desejam atingir. Ressalta-se que mesmo tendo objetivos em

comum, cada uma deve fazer sua parte para que atinja o caminho do sucesso, que

visa conduzir crianças a um futuro melhor.

A escola é uma instituição que complementa a família e juntas tornam-se

lugares agradáveis para a convivência de nossos alunos. A escola não deveria viver

sem a família e nem a família deveria viver sem a escola. Uma depende da outra na

tentativa de alcançar o maior objetivo, qual seja, o melhor futuro para as crianças.

Portanto, pais e educadores necessitam serem grandes e fiéis

companheiros nessa caminhada da formação educacional do ser humano.

Para terminar, como educadora, deixo algumas sugestões para as

famílias que tiverem a oportunidade de ler essa monografia:

-Trabalhe junto com a escola. Escola e família têm papeis diferentes, mais

um objetivo comum. Respeite o espaço de cada um;

-Confie na escola e caso tenha dúvidas resolva-as com a escola e não

com outros pais ou com seus filhos;

-Fazer palestras na escola para pais sobre: - Impor limites, respeitar

limites;

-Diferenças entre: obediência e responsabilidade, educar e criar filhos;

- Os pais devem ser mais presentes na escola, participar de todas as

atividades quando forem convidados;

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- Trocas de idéia entre pais, alunos e professores, favorecendo assim

uma ponte de ligação que dê a ambas as parte, o reconhecimento de fatores

importantes como valores, ética e respeito;

- Diálogo tanto com o aluno quanto com os pais poderiam acontecer

freqüentemente ou sempre que necessário na escola. Os mesmos podem falar o

que estão achando do trabalho da escola ou sugerirem o que pode ser melhorado.

Nas conversas os pais poderiam ser orientados sobre a importância de

compartilharem efetivamente do processo de ensino dos filhos e estimulados a

serem companheiros da escola.

Deste modo, a importância desta monografia é que, família e escola

possam ser parceiros nas decisões estabelecidas e procurarem agir de forma

consciente e responsável, tendo em vista a melhoria da qualidade do processo

ensino aprendizagem e o bem estar de alunos, professores e família.

- Impor limites,

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CONCLUSÃO

Ao término deste trabalho, podemos dizer que a falta de limites têm sido

uma das causas da indisciplina na sala de aula. Vários são os responsáveis por isso:

a família, a escola, o professor e o próprio aluno.

Esta monografia não procurou culpados para atual situação de

Indisciplina e limites, traz apenas algumas reflexões que deveriam fazer parte dos

processos de educação.

Na verdade, não é o aluno ou a escola que podem ser considerados

indisciplinados, mas sim as relações e situações que se estabelecem no ambiente

escolar.

Para entendermos como a indisciplina é causada no cotidiano escolar,

faz-se necessária uma compreensão de todos os envolvidos, ou seja, a sociedade, a

família, a escola, o professor e o próprio aluno.

Há também uma necessidade da escola interagir com a família do aluno,

tornando-se participativa em seu meio sócio-familiar. A família do aluno tem grande

participação na indisciplina, muitos pais são omissos em relação à escola, muitos

são geradores de conflitos para seus filhos e muitos não ensinam a disciplina dentro

de casa, fazendo com que este aluno leve para a sala de aula fatores determinantes

para a indisciplina. A escola também tem sua parcela de culpa, pois muitas vezes

omite algo que os alunos fizeram na instituição.

Com isso, acredito que, como ambiente de convívio social, a família e a

escola desempenham papéis fundamentais no processo de construção dos limites

infantis. Papéis estes compartilhados, porém distintos. Acredito nisso porque, a partir

de minhas experiências, como profissional da área de educação infantil desde o ano

de 2004, percebo que não estão claros os papéis da família e da escola no que dizer

respeito à educação das crianças e a construção de limites. Pais e professores

mostram dificuldades em delimitar seus papéis apresentando muitas dúvidas em

relação ao que seja dar limites às crianças. Vejo que a tarefa educativa da família

passa, atualmente, por um momento de perda de referenciais. Os pais apresentam

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muitas dúvidas sobre qual a melhor forma de educar os filhos, o que contribui para a

dificuldade em estabelecer a noção de limites.

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