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SUMÁRIO SINOPSE.................................................................................................................................................................... INTRODUÇÃO.............................................................................................................................. 1 3 1.CONCEITO DE CRIME....................................................................................................... 2. PRINCÍPIOS..................................................................................................................................................... 10 2.1. Princípios básicos do Direito Penal......................................................................... 11 3.PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA................................................................................ 12 3.1. Origem Histórica...................................................................................... 12 15 3.2.Posição Jurídica sobre a insignificância.................................................................. 3.3. O conceito de Princípio da Insignificância e sua importância no Direito Penal brasileiro.................................................................................................... 16 4. O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA E OS DEMAIS PRINCÍPIOS NORTEADORES DO DIREITO PENAL............................................................................ 21 4.1. Princípio da legalidade............................................................................ 21 4.2. Princípio da Proporcionalidade............................................................. 22 4.3. Princípio da Fragmentariedade............................................................ 24 4.4. Princípio da Subsidiaridade................................................................. 25 4.5. Princípio da Lesividade.......................................................................... 25 4.6. Princípio da Adequação social............................................................. 26 4.7. Princípio da Intervenção Mínima........................................................... 27 5. A JURISPRUDÊNCIA BRASILEIRA E O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.......... 29 6. O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÃNCIA E OS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO.................................................................................................................. . 35 38 6.1. A aplicação do princípio da insignificância nos crimes complexos..... 41 7. RESTRIÇÕES AO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.............................................. 46 CONCLUSÃO.................................................................................................................... 50 BIBLIOGRAFIA............................................................................................................... 0

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SUMÁRIO

SINOPSE.................................................................................................................................................................... INTRODUÇÃO.............................................................................................................................. 1

3 1.CONCEITO DE CRIME.......................................................................................................

2. PRINCÍPIOS..................................................................................................................................................... 10

2.1. Princípios básicos do Direito Penal......................................................................... 11 3.PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA................................................................................ 12

3.1. Origem Histórica...................................................................................... 12

15 3.2.Posição Jurídica sobre a insignificância..................................................................

3.3. O conceito de Princípio da Insignificância e sua importância no Direito Penal brasileiro.................................................................................................... 16

4. O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA E OS DEMAIS PRINCÍPIOS NORTEADORES DO DIREITO PENAL............................................................................ 21

4.1. Princípio da legalidade............................................................................ 21

4.2. Princípio da Proporcionalidade............................................................. 22

4.3. Princípio da Fragmentariedade............................................................ 24

4.4. Princípio da Subsidiaridade................................................................. 25

4.5. Princípio da Lesividade.......................................................................... 25 4.6. Princípio da Adequação social............................................................. 26

4.7. Princípio da Intervenção Mínima........................................................... 27

5. A JURISPRUDÊNCIA BRASILEIRA E O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.......... 29 6. O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÃNCIA E OS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO...................................................................................................................

35

38 6.1. A aplicação do princípio da insignificância nos crimes complexos.....

41 7. RESTRIÇÕES AO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA..............................................

46 CONCLUSÃO....................................................................................................................

50 BIBLIOGRAFIA...............................................................................................................

0

CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES

METROPOLITANAS UNIDAS

CURSO DE DIREITO

O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA

NO DIREITO PENAL

NATÁLIA GONÇALVES COSTA

R.A.: 482.258/7

Turma: 3209A

Tel: (11) 3281-4292

Cel: (11) 7695-9125

E-mail: [email protected]

São Paulo

2007

1

2

NATÁLIA GONÇALVES COSTA

O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA

NO DIREITO PENAL

Monografia apresentada à Banca Examinadora do Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas, como exigência parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito, sob a orientação do Professor Leonardo Musumecci Filho

São Paulo

2007

3

BANCA EXAMINADORA:

_______________________________________ ______________ ( )

Professor Orientador: Leonardo Musumecci Filho

_______________________________________ ______________ ( )

Professor Argüidor:

_______________________________________ ______________ ( )

Professor Argüidor:

4

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus pais amados,

Francisco e Helena, a quem devo a minha infância maravilhosa, e tudo

o que sou, o que tenho e tudo que pretendo ter, pois dedicaram suas

vidas a me apoiar, me aconselhar, me confortar no momentos difíceis e

me acompanhar nessa jornada desafiadora.

Dedico ao meu irmão, Rômulo, por ser companheiro,

inteligente e ter um comportamento exemplar como pessoa. As minhas

irmãs queridas, que mesmo distantes, estão sempre presentes em meu

coração.

As minhas amigas Carol, Denise e Luciana, que

conheci no começo dessa jornada, que fizeram muita diferença em

minha vida, e que apesar da distância atual, são pessoas presentes e

mais que especiais pra mim. E a todos os meus amigos que fizeram e

fazem parte deste momento tão importante e que, espero, continuem

presentes ao longo da minha vida, dividindo alegrias, derrotas e

conquistas.

Aos meus amigos do trabalho, ótimos profissionais e

pessoas exemplares, pois neles me espelho e tenho um grande carinho,

admiração e respeito .

Natália Gonçalves Costa

5

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, agradeço a Deus, a quem devo a

saúde que tenho, os sonhos realizados, pedidos e preces ouvidas,

por me dar força para caminhar, batalhar e ver em tudo razão para

agradecer e viver com alegria.

Ao meu ilustre orientador, Professor Leonardo

Musumecci Filho, que aceitou com simpatia o desafio de orientar sua

aluna na presente obra, e que durante todo o processo de pesquisa me

aconselhou, acalmou e dividiu comigo um pouco de sua vasta

experiência e sabedoria.

6

SINOPSE

Ao longo dos séculos vários autores vem advertindo quanto

à necessidade de eliminar as pequenas questões do setor do ilícito penal, e que o

Direito Penal encontra-se carregado desde o início de sua aplicação.

O que se espera do Direito Penal é que ele exerça um

controle razoável da criminalidade . Contudo, sua aplicação desnecessária tem

dificultado o objetivo final, que é o controle social.

O presente trabalho, não tem a pretensão de abordar todos

os aspectos do tema proposto, tendo em vista a grandiosidade do assunto, mas si, a

finalidade de proporcionar uma visão atual de como o princípio da insignificância tem

sido aplicado e, principalmente, situá-lo como importante ferramenta do legislador, bem

como, do Juiz, na busca pela Justiça.

7

INTRODUÇÃO

Este trabalho visa definir e caracterizar o princípio da insignificância,

analisando os princípios que norteiam nosso ordenamento jurídico, principalmente na

esfera do Direito Penal, bem como, analisar uma aplicação deste princípio por nossos

Tribunais e Doutrina com vistas a não gerar a banalização criminosa e a injustiça na

condenação.

A escolha do tema se deu, tendo em vista que o princípio da

insignificância tem mostrado grande relevância para o cenário jurídico-penal, social e

político além de ser tema de discussão atual e recorrente em nosso ordenamento

jurídico, pois visa também evitar que casos de baixa ameaça a bens jurídicos

protegidos sobrecarreguem o tão assoberbado Poder Judiciário, vinculando-se, desse

modo, ao movimento que busca um direito penal mínimo, por isso, tem como causa e

conseqüência, a evolução do Direito Penal em nossa sociedade.

O trabalho foi dividido em 7 (sete) partes principais, quais

sejam: (i) o conceito de crime, definindo seus elementos como noções categoriais; (ii)

uma breve definição do objeto central do estudo, a Insignificância, definindo

inauguralmente a idéia de princípio e a identificação e análise dos Princípios

norteadores do nosso ordenamento jurídico penal; (iii) o estudo pormenorizado do

Princípio da Insignificância, sua origem histórica e sua abordagem pelo Direito pátrio;

sua caracterização geral com a apresentação dos requisitos e circunstâncias que o

marcam no mundo concreto; (iv) Uma comparação entre o Princípio da Insignificância

e os demais Princípios norteadores do Direito Penal especialmente o princípio da

intervenção mínima demarcando o território de um e de outro; (v) a aplicação e

abordagem do Princípio da Insignificância em nossa Jurisprudência, (vi) uma breve

abordagem a respeito da não aplicabilidade do Princípio da Insignificância nos crimes

contra o patrimônio, analisando a posição da Jurisprudência brasileira, principalmente

no que diz respeito ao crime de roubo e, finalizando (vii) críticas e restrições ao

princípio da insignificância por parte da doutrina e a jurisprudência contrária.

8

1) CONCEITO DE CRIME:

O direito é dinâmico e acompanha a evolução da sociedade,

sendo assim, o crime, por ser um fenômeno social, não pode ser apresentado como um

conceito único, imutável, estático no tempo e no espaço. Por estes motivos, o conceito

de crime sofreu algumas evoluções durante os séculos, o Código Penal vigente não

contém uma definição de crime, cabendo a doutrina discutir e aperfeiçoá-lo, como

lembra o Prof. Heleno Fragoso: "a elaboração do conceito de crime compete à

doutrina".

O "crime" passou a ser definido diferentemente pelas

dezenas de escolas penais. E, dentro destas definições, haviam ainda sub-divisões,

levando-se em conta o foco de observação do jurista. Surgem então, os conceitos

formal, material e analítico do crime como expressões mais significativas, dentre outras

de menor expressão. Como conceitua o Prof. Fernando Eleutério: “O conceito formal

corresponde a definição nominal, ou seja, relação de um termo a aquilo que o designa.

O conceito material corresponde a definição real, que procura estabelecer o conteúdo

do fato punível. O conceito analítico indica as características ou elementos constitutivos

do crime, portanto, de grande importância técnica”.1

Sabemos que a definição formal visa apenas o aspecto

externo do crime, podemos assim, citar alguns conceitos de crime, vejamos: “Crime é

qualquer ação legalmente punível”; 2 “Crime é toda ação ou omissão proibida pela lei

sob ameaça de pena”; 3 “Crime é uma conduta (ação ou omissão) contrária ao direito, a

1 Artigo extraído do site www.uepg.br – ELEUTÉRIO-Fernando. Análise do Conceito de Crime. Universidade Estadual de Ponta Grossa. Disponível em : http://www.uepg.br/rj/a1v1at09.htm. Acesso em: 20/01/2007. 2 MAGGIORE, Gioseppe. Diritto penalle.5.ed. Bolonha: Nicola Zanelli, 1951.v.1, p.189 3 FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de direito penal: parte geral.4.ed. Rio de Janeiro: Forense, 1980. p. 148

9

que a lei atribui uma pena”.4·, ou seja, apenas no aspecto formal, crime é a violação da

lei penal incriminadora.

O conceito material busca definir a razão que levou o

legislador a prever a punição dos autores de certos fatos e não de outros. Assim, temos

alguns conceitos materiais de crime: “Crime é a conduta humana que lesa ou expõe a

perigo um bem jurídico protegido pela lei penal”;5 “Crime é a ação ou omissão que, a

juízo do legislador, contrasta violentamente com valores ou interesses do corpo social,

de modo a exigir seja proibida sob ameaça de pena, ou que se considere afastável

somente através da sanção penal” 6, conclui-se assim, que no aspecto material

conceitua-se o crime como sendo uma ação ou omissão que se proíbe e se

procura evitar, ameaçando-a com pena, porque constitui ofensa (dano ou perigo)

a um bem jurídico individual ou coletivo.

Finalmente, o conceito analítico do crime, que visa apontar

elementos caracterizadores do crime. Onde surge a teoria tripartida identificando como

requisitos caracterizadores do crime a tipicidade do fato, a antijuricidade e a

culpabilidade.

Cumpre salientar que com relação a este conceito, há

divergências na doutrina. Alguns doutrinadores, como Julio Fabbrini Mirabete, Sérgio

Antonio Fabris e Damásio E. de Jesus, entendem que o fato culpável não é

pressuposto para configurar a existência do crime. Outros ainda entendem que, deveria

ser incluído neste conceito o elemento da punibilidade.

Vejamos algumas definições a respeito da teoria defendida

por estes Doutrinadores, a chamada teoria bipartida: “O crime é fato típico e ilícito, em

que a culpabilidade é o pressuposto da pena, e a periculosidade o pressuposto da

4 PIMENTEL, Manoel Pedro. O crime e a pena na atualidade. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1983.p.2 5 NORONHA, E. Magalhães. Ob.cit.p.105

10

medida de segurança”.7 Analisando a posição do doutrinador Damásio E. de Jesus,

encontramos a seguinte definição: “Crime é um fato típico e antijurídico”. 8 Para ele a

culpabilidade não é elemento ou requisito do crime. Ela somente funciona como

pressuposto da pena; e que o juízo de reprovabilidade não incidiria sobre o fato, mas

sim sobre o sujeito. Sendo assim, o fato culpável deve ser levado em conta somente no

momento da imposição da pena.

Explicarei brevemente os elementos considerados pela teoria tripartida,

qual seja, a que preconiza a existência de três elementos estruturais (Fato Típico, Fato

Antijurídico e Fato Culpável). Esta corrente é defendida por Aníbal Bruno, Magalhães

Noronha, Nelson Hungria, Cezar Roberto Bitencourt, Heleno Fragozo, Francisco de

Assis Toledo, entre outros.

Fato típico é definido como aquele previsto em norma Penal.

Por exemplo, aquele que, em uma loja, subtrai alguma mercadoria, comete o crime de

furto, posto que tal fato encontra-se previsto no artigo 155 do Código Penal.

Já o tipo penal é a descrição feita pela norma penal sobre a

conduta humana, correspondente ao crime. O tipo penal, descreve uma ação ou

omissão humana à que a lei impõe uma sanção.

Existem quatro elementos caracterizadores, que juntos,

formam o fato típico. São eles: conduta, resultado, tipicidade e nexo causal.

A conduta é a ação dirigida à produção de um resultado

consistente na violação ou na exposição a perigo de um bem protegido pela lei penal.

6 FRAGOSO, Heleno Cláudio. Ob. Cit. P. 149 7 FABRIS, Sergio Antonio. Teoria Geral do crime. Porto Alegre, 1991.p.36 8 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 1983.v1.p410

11

O resultado identifica-se como a conseqüência ou o efeito gerado pela

conduta. É a violação ao bem jurídico tutelado.

Já a tipicidade é a subsunção do fato à norma penalmente prevista. É o

perfeito encaixe entre o fato ocorrido e a norma.

E por fim, o nexo causal que é o fato sem o qual o resultado

não teria ocorrido. É tudo o que antecede o resultado e que seja imprescindível para

sua produção.

De acordo com Cezar Roberto Bitencourt: “Tipo é o conjunto

dos elementos do fato punível descrito na lei penal. O tipo exerce uma função

limitadora e individualizadora das condutas humanas penalmente relevantes”. 9

Desta feita, existe o crime quando previsto por lei expressa

(nullum crimen sine lege). Cumpre salientar que tal característica é trazida pelo

conhecido princípio constitucional da legalidade. Segundo este princípio, nenhum fato

poderá ser considerado como crime, sem que antes, este, tenha sido definido por lei

como tal, constitui uma limitação ao poder estatal de interferir na liberdade individual.

Deste modo, a norma penal incriminadora deverá ser imposta anteriormente a

ocorrência de determinado fato a que o Estado entenda como criminoso. Para que

assim, toda a sociedade saiba de que maneira poderá agir e de que maneira não

poderá agir.

Ainda sim, de acordo com os elementos que vimos

anteriormente, não é suficiente para a existência do crime, que o comportamento seja

apenas típico. É necessário que seja ilícito, proibido e que sobre ele incida a

9 CESAR, Roberto Bitencourt. Manual de Direito Penal. São Paulo, Revista dos Tribunais, 1997, página 222.

12

reprovação do ordenamento jurídico, o que nos leva ao segundo requisito: fato

antijurídico.

Segundo o Professor Damásio: “A conduta descrita em

norma penal incriminadora será ilícita ou antijurídica quando não for expressamente

declarada lícita. Assim, o conceito de ilicitude de um fato típico é encontrado por

exclusão: é antijurídico quando não declarado lícito por causas de exclusão da

antijuridicidade (Artigo 23 do Código Penal, ou normas permissivas encontradas em

sua parte especial ou em leis especiais.)”.10

Podemos dizer, então, que a ilicitude ou a também

chamada, antijuricidade, é a contrariedade entre o fato típico e o Direito.

A respeito do fato culpável, entende-se como sendo um

elemento subjetivo. É aquilo que se passa na mente do autor do crime.

Como afirma o doutrinador Francisco de Assis Toledo: “A

noção de culpabilidade está, pois, estreitamente vinculada à de evitabilidade de

conduta ilícita, pois só se pode emitir um juízo de reprovação ao agente que não tenha

evitado o fato incriminado quando lhe era possível fazê-lo”.11

Os graus da culpabilidade são: dolo ou culpa. Sendo que, o

agente agindo com a intenção de cometer um resultado criminoso qualquer, ou

assumindo o risco de cometê-lo, estará agindo com dolo. Já se o resultado criminoso

ocorreu em razão de o agente ter agido com imprudência, imperícia ou negligência,

estará agindo com culpa.

10 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal-Parte Geral. São Paulo, Saraiva, 1999, página. 151. 11 Francisco de Assis Toledo.Princípios Básicos de Direito Penal. Brasília, Saraiva, 2000, página 87.

13

A respeito deste elemento, o Professor Fernando Eleutério,

em seu trabalho já citado, trouxe as seguintes palavras: “A culpabilidade é a culpa em

sentido amplo, que abrange o dolo (artigo 18, inciso I, Código Penal); e a culpa em

sentido estrito (artigo 18, inciso II, Código Penal)”.12

E nesta linha afirma que a culpabilidade “resulta também da

união de três elementos: imputabilidade, consciência efetiva da antijuridicidade e

exigibilidade de conduta conforme ao Direito. Ou seja: deve o autor do delito ser

imputável; ter conhecimento ou possibilidade de conhecimento da antijuridicidade de

sua conduta; e ter condições de, no momento da prática daquele ato criminoso, ter

agido de modo diverso do qual agiu”.13

Deste modo, uma ação ou até mesmo omissão, somente

será considerada criminosa se for praticada por agente capaz, dotado de

responsabilidade penal.

É nesta valoração do comportamento do criminoso,

analisando principalmente o resultado de sua atitude que o princípio da insignificância

se baseia.

12 Artigo extraído do site www.uepg.br – ELEUTÉRIO-Fernando. Análise do Conceito de Crime. Universidade Estadual de Ponta Grossa. Disponível em : http://www.uepg.br/rj/a1v1at09.htm. Acesso em: 20/01/2006 13 Artigo extraído do site www.uepg.br – ELEUTÉRIO-Fernando. Análise do Conceito de Crime. Universidade Estadual de Ponta Grossa. Disponível em : http://www.uepg.br/rj/a1v1at09.htm. Acesso em: 20/01/2006

14

2) PRINCÍPIOS

Princípio é, por definição, mandamento nuclear de um

sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre

diferentes normas compondo-lhes o espírito e servindo de critério para sua exata

compreensão e inteligência, exatamente por definir a lógica e a racionalidade do

sistema normativo, no que lhe confere à tônica e lhe dá sentido harmônico. 14

Segundo Miguel Reale são: “Verdades ou juízos

fundamentais, que servem de alicerce ou de garantia de certeza a um conjunto de

juízos ordenados em um sistema de conceitos relativos a dada porção da realidade. Às

vezes, também se denominam princípios, certas proposições que, apesar de não

serem evidentes ou resultantes de evidências, são assumidas como fundantes de

validez de um sistema particular de conhecimentos, com seus pressupostos

necessários”.15

Os princípios são de altíssima importância para a

sustentação de qualquer idéia, estudo ou ciência. Têm a mesma importância para o

sistema jurídico, pois servem de alicerce para suas idéias e para sustentar a

veracidade de suas fundamentações.

Segundo Maurício Antônio Ribeiro Lopes: “Violar um

princípio é mais grave do que transgredir uma norma. A desatenção aos princípios

implica ofensa não apenas a um específico mandamento obrigatório, mas a todo o

sistema de comandos.

14 Celso Antonio Bandeira de Mello, Curso de Direito Administrativo. São Paulo, Malheiros, 1999, 15 Miguel Reale apud Walter Rothenburg. Princípios Constitucionais. Porto Alegre, Sérgio Antônio Fabris, 1999, página 14 -15.

15

2.1)Princípios básicos do Direito Penal:

Os princípios são bases da norma jurídica, podem estar

positivamente incorporados, transformando-se em norma-princípio e constituindo

preceitos básicos da organização legal do Estado. Importantíssimo para se conhecer

um sistema jurídico, é analisar primeiramente os princípios que o respaldam.

Nilo Batista entende que são 5 (cinco) os princípios básicos

do direito penal. São eles: princípio da legalidade, da intervenção mínima, da

lesividade, da humanidade e da culpabilidade. 16

Porém, para o já citado autor Maurício Antônio Ribeiro

Lopes, os princípios básicos de Direito penal, dividem-se em Primários e Secundários,

onde na primeira categoria encontram-se os seguintes princípios: legalidade,

intervenção mínima, insignificância, taxatividade, lesividade, culpabilidade e

humanidade e na segunda categoria: princípio da proporcionalidade, individualização e

finalidade da pena.

16 Nilo Batista. Introdução Crítica ao Direito Penal Brasileiro. Rio de Janeiro, Revan, 1990.

16

3)O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA: 3.1) Origem histórica:

O princípio da insignificância surgiu na Europa ao término

da primeira guerra mundial onde, em virtude de problemas socioeconômicos, surgiu um

notável aumento de pequenos delitos de caráter patrimonial e econômico, surgindo a

chamada “criminalidade de bagatela”.

Essa origem fática relaciona-se com a existência de um dano patrimonial

mínimo, que não caracteriza prejuízo considerável a outrem. Por ser mínimo, é

considerado uma bagatela, não merecendo os rigores do direito penal.

Diomar Ackel Filho aponta a origem histórica do referido

princípio no direito romano. Em seu trabalho sobre o tema, sustenta que: “no tocante à

origem, não se pode negar que o princípio já vigorava no direito romano, onde o pretor

não cuidava, de modo geral, de causas ou delitos de bagatela, consoante a máxima

contida no brocardo: minimis non curat praetor”.17

Porém, tal visão é considerada um pouco precipitada pelo

autor Maurício Antônio Ribeiro Lopes, que declara em sua obra chamada “Princípio da

Insignificância no Direito Penal”, que não atribui de imediato a origem deste princípio

pelos romanos, uma vez que estes, possuíam bom desenvolvimento apenas no âmbito

17 Diomar Ackel Filho. O Princípio da Insignificância no Direito Penal. São Paulo, Revista Jurisprudencial do Tribunal de Alçada Criminal, 1988, página 73.

17

civil, não tendo a mínima noção do princípio da legalidade penal. Para ele, o brocardo

romano é apenas uma máxima, e não um estudo calculado.18

O princípio da insignificância teve sua evolução fortemente

ligada ao princípio da legalidade – nullum crimen nulla poena sine lege, passando por

transformações ao longo do tempo, tornando a mais forte e sólida garantia à liberdade

individual dentro de um Estado de Direito.

Com o passar dos anos, foi sendo justificada a concepção

do nullum crimen nulla poena sine iuria, ou seja, não há crime sem dano, sem

causação de um mal que represente a gravidade esperada para a incidência da pena

criminal.19

Nesta concepção podemos observar a preocupação dada a

evitar que lesões insignificantes aos bens tutelados sofram os rigores das sanções

penais.

Notamos que o princípio da insignificância é fortemente

ligado ao princípio da legalidade. Ganhando bastante força durante o período

iluminista, sendo, ao longo do tempo, agregado implicitamente através do princípio da

legalidade às constituições européias e americana, e de forma explícita pela

constituição Francesa, através da Declaração Universal dos Direitos do Homem e do

Cidadão, em 1789.

18 Maurício Antônio Ribeiro Lopes. O Princípio da Insignificância no Direito Penal. São Paulo, Revista dos Tribunais, 2000, página 41-42. 19 Maurício Antônio Ribeiro Lopes. O Princípio da Insignificância no Direito Penal. São Paulo, Revista dos Tribunais, 2000, página 45.

18

No plano doutrinário a este princípio ganhou ênfase com as

lições de Claus Roxin , que desde 1970 vem sustentando a construção de um novo

sistema penal, fundado na indivisibilidade entre Direito Penal e Política Criminal.

Embora a formulação do princípio da insignificância como

critério geral de exclusão as tipicidade seja de Roxin encontra-se vestígio dele já em

1903, na seguinte passagem de Franz Von Liszt, anotada oir Odone Sanguiné:

“ A nossa legislação faz da pena, como meio de luta, um

emprego excessivo. Se deveria refletir se não mereceria ser restaurado o antigo

princípio minima non curat praetor, ou como regra de direito processual (superamento

do princípio da legalidade), ou como norma de direito substancial (isenção de pena

pela insignificância da infração)” 20

Krupleman, foi um dos autores que mais atenção dedicou ao

princípio da insignificância, oferecendo a idéia de uma divisão em dois grandes grupos

: “independentes ou próprios” e “dependentes ou impróprios”. Os primeiros são aqueles

que nos quais concorrem todas as características do delito, mas produzem uma lesão

social escassa de importância; os segundos são aqueles outros cujos limites delituosos

não estão bastante bem definidos. Concluindo que os primeiros são, uma bagatela em

toda a sua essência e desenvolvimento, e os segundos, em tudo ao que se refere ao

seu desenvolvimento podem ser considerados de escassa importância, e, no que tange

a sua essência se resulta relevante. 21

20 Op. Cit. P. 40. 21 Die Bagatelledelikte, 1976, apud Teresa Armenta Deu, op. Cit. p. 23

19

3.2) A Posição jurídica sobre a insignificância

Uma das principais críticas doutrinárias sobre a aplicação do

Princípio da Insignificância reside na dificuldade de fixação de critérios precisos para a

caracterização do chamado delito de bagatela (Bagatelldelikte), pois tal conceito, não

está na dogmática jurídica.

Para o Prof. Carlos Mañas, em seu trabalho “O Princípio da

insignificância no Direito Penal” : o desvalor do evento deve ser considerado de acordo

com a importância dos vários bens jurídicos protegidos penalmente e da intensidade da

ofensa ocorrida, e o desvalor da ação, por sua vez, deve ser analisado segundo o grau

de probabilidade da conduta para a realização do evento, pois o direito penal, não

sanciona lesão ou colocação em perigo de um bem jurídico, mas só aquelas que

produzem graves conseqüências e resultem de ações especialmente intoleráveis.22

Consideraremos aqui, os dizeres de Maurício Antonio Ribeiro

Lopes como bem conceitua em sua obra: “ Os delitos de bagatela poderiam ser

aquelas infrações que individualmente consideradas produzem lesão de escassa

repercussão social, razão pela qual não se justifica uma reação jurídica grave”.

E por fim, objetivamente, Mirabete caracteriza a criminalidade de

bagatela, através dos seguintes elementos: a) escassa reprovabilidade; b) ofensa a

bem jurídico de menor relevância; c) habitualidade; d) maior incidência nos crimes

contra o patrimônio e no trânsito, alem de uma característica de natureza político –

criminal, qual seja, a da dispensabilidade da pena do ponto de vista da prevenção

geral, se não mesmo sua inconveniência do ponto de vista da prevenção especial.23

22 Carlos Vico Mañas. O princípio da insignificância no Direito Penal. Artigo extraído da Internet em 08/02/2006. Disponível em http://www.mt.trf1.gov.br/judice/jud4/insign.htm 23 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. São Paulo: Atlas. 2007. Vol. 1., p. 107

20

3.3) O conceito do Princípio da Insignificância e sua importância ao Direito Penal Brasileiro:

O princípio da insignificância não conta com reconhecimento

normativo explícito, não está previsto no nosso ordenamento jurídico, (salvo algumas

exceções no COM: art. 209, §6o , por exemplo – em caso de lesão levíssima,

autoriza que o juiz considere o fato como mera infração disciplinar .

Coube a doutrina, com o passar dos anos, o trabalho de

estudar, definir e conceituar referido princípio.

Assis Toleto apresenta seu entendimento relacionando o

referido princípio com a “gradação qualitativa e quantitativa do injusto, permitindo que o

fato insignificante seja excluído da tipicidade penal” 24

Para Diomar Ackel Filho “O princípio da insignificância pode

ser conceituado como aquele que permite infirmar a tipicidade de fatos que, por sua

inexpressividade constituem ações de bagatela, despidas de reprovabilidade, de modo

a não merecerem valoração da norma penal, surgindo, pois como relevantes”.25

Para Carlos Vico Mañas o princípio da insignificância é “um

instrumento de interpretação restritiva, fundado na concepção material do tipo penal,

por intermédio do qual é possível alcançar, pela via judicial e sem macular a segurança

jurídica do pensamento sistemático, a proposição político-criminal da necessidade de

24 Princípios básicos de direito penal, São Paulo: Saraiva, 1989.p.121-122 25 Diomar Ackel Filho. O princípio da insignificância no direito penal. São Paulo. Julgados do Tribunal de Alçada Criminal de São Paulo, 1998, página 73.

21

descriminalização de condutas que, embora formalmente típicas, não atingem de forma

relevante os bens jurídicos protegidos pelo direito penal”.26

E segundo Francisco Assis de Toledo, “a gradação

qualitativa e quantitativa do injusto permite que o fato penalmente insignificante seja

excluído da tipicidade penal”.27

Luiz Regis Prado e Cezar Roberto Bitencourt, concluíram

que a insignificância da ofensa afasta a tipicidade do crime.28

Já Alberto Silva Franco entende que o princípio da

insignificância relaciona-se com a antijuridicidade material.29

O princípio da insignificância é um instrumento de

interpretação restritiva do direito penal, que busca descriminalizar condutas que

embora sendo típicas não atingem de maneira relevante os bens jurídicos protegidos

pelo direito penal. Paulo Queiroz assim conclui:

“É para obviar os excessos da imperfeição da técnica

legislativa, que acaba, na prática, por permitir incida o direito penal sobre condutas

socialmente insignificantes, que se impõe a aplicação desse princípio. Trata-se, como

diz Vico Manãs, de um instrumento de interpretação restritiva, fundada na concepção

material do tipo penal, por intermédio do qual é possível alcançar, pela via judicial e

sem fazer periclitar a segurança jurídica do pensamento sistemático, a proposição

político-criminal da necessidade de descriminalização de condutas que, embora

26 Carlos Vico Mañas. O princípio da insignificância no Direito Penal. Artigo extraído da Internet em 08/02/2006. Disponível em http://www.mt.trf1.gov.br/judice/jud4/insign.htm 27 Francisco de Assis Toledo. Princípios Básicos de Direito Penal. São Paulo, Saraiva, 1994, página 134. 28 Cezar Roberto Bitencourt e Luiz Prado Regis. Elementos de direito penal: parte geral. São Paulo, Revista dos Tribunais, 1995, página 52.

22

formalmente típicas, não atingem de forma relevante os bens jurídicos protegidos pelo

direito penal” 30

Roxin introduziu a idéia de proporção que a pena deve

conter em relação à gravidade do ilícito penal. Nos casos de ínfimo abalo ao bem

jurídico, a substância do injusto é tão pequena que não subsiste nenhum porquê à

aplicação de pena, de modo que a mínima sanção penal seria patentemente

desproporcional à real significância material do episódio.

Nas palavras de Roxin, "só pode ser castigado aquele

comportamento que lesione direitos de outras pessoas e que não é simplesmente um

comportamento pecaminoso ou imoral; (...) o Direito Penal só pode assegurar a ordem

pacífica externa da sociedade, e além desse limite nem está legitimado nem é

adequado para a educação moral dos cidadãos"

Cabe destacar também, os dizeres de Francisco Assis de

Toledo: “ O direito penal, por sua natureza fragmentária, só vai até onde seja

necessário para a proteção do bem jurídico. Não se deve ócupar de bagatelas”. .31

Entende-se assim, que o princípio da insignificância atua de maneira a

afastar a tipicidade de fatos que, num primeiro momento, se moldam ao fato típico,

porém, em razão da sua inexpressividade, por oferecer nenhuma, ou mínima ofensa

aos bens tutelados, não causam uma reprovabilidade social, não se fazendo

necessária à aplicação dos rigores penais.

29 Conclusão apresentada em voto proferido em julgamento. Apelação criminal nº 283.949. São Paulo, JutaCrim, Lex, 69, página 441-442. 30 QUEIROZ, Paulo de Souza. Do caráter subsidiário do direito penal. Belo Horizonte: Del Rey, 1998, p. 125. 31 Princípios básicos do direito penal. São Paulo. Saraiva. p. 133.

23

O princípio da insignificância se baseia na valoração do

comportamento praticado pelo criminoso, não se bastando da análise de sua conduta,

mas principalmente do prejuízo causado por ela (concepção material da tipicidade).

Este princípio se assemelha a um limite tático da norma

penal (em termos de suficiência qualitativa-quantitativa), isto é, a perceptibilidade da

agressão ao bem é considerada como requisito implícito do crime, em ausência do

qual, no caso concreto, a pena não se legitima nem sob o perfil substancial nem sob o

perfil teleológico.32

Por meio deste princípio se busca atingir a proporção justa

entre o crime cometido, bem como o prejuízo causado, e a pena aplicada. Além do

mais, possibilita o desafogamento do sistema jurídico penal brasileiro, possibilitando

um melhor funcionamento deste, de tal maneira a proporcionar à sociedade um sistema

judiciário rápido, efetivo e justo.

32 Maurício Antônio Ribeiro Lopes. Princípio da Insignificância no Direito Penal. São Paulo, Revista dos Tribunais, 2000, Página 118.

24

4) O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA E OS DEMAIS PRINCÍPIOS NORTEADORES DO DIREITO PENAL

Alguns autores sustentam a inaplicabilidade do princípio da

insignificância por não estar previsto na legislação, como afirma Vani Benfica. Porém,

não é o que defende este trabalho, pois é sabido que existem princípios normativos e

princípios doutrinários, como é o caso do princípio da insignificância, o que não quer

dizer que este seja menos importante ou que haja qualquer tipo de hierarquia entre

eles.

Sendo assim, importante relacionar este princípio com os

demais que norteiam o Direito Penal, como o princípio da legalidade,

proporcionalidade, fragmentariedade, subsidiaridade, adequação social, lesividade e da

intervenção mínima.

4.1) Princípio da Legalidade

O princípio da legalidade, ou da reserva legal, está previsto

no art. 1º do Código Penal Brasileiro, e segundo ele, nenhum fato pode ser

considerado crime e nenhuma sanção penal pode ser aplicada, sem que antes haja lei

anterior que o defina como crime com sua respectiva pena.

Dessa definição, surge o nullum crimem nulla poena, que

diz que não há crime sem dano relevante a um bem jurídico penalmente protegido. E

como conseqüente desdobramento deste, surge o nullum crimen nulla poena sine iuria,

25

ou seja, não há crime sem dano, sem causação de um mal que represente a gravidade

esperada para a incidência da pena criminal.33

Sendo assim é notória a necessária relação do princípio da

legalidade com o princípio da insignificância, posto que traz em seu conteúdo o

espírito deste.

4.2) Princípio da Proporcionalidade

O princípio da proporcionalidade configura instrumento de

salvaguarda dos direitos fundamentais contra a ação limitativa que o Estado impõe a

esses direitos.

Segundo Germana de Oliveira Moraes, ele visa ampliar o

controle jurisdicional sobre a atividade não-vinculada do Estado, vale dizer, sobre os

atos administrativos que envolvam o exercício de juízos discricionários ou a valoração

de conceitos jurídicos verdadeiramente indeterminados (conceitos de prognose),

possibilitando a contenção do exercício abusivo das prerrogativas públicas.34

O princípio da insignificância relaciona-se com o princípio da

proporcionalidade, uma vez que, como fundamento do princípio da insignificância está

a idéia de proporcionalidade entre a sanção atribuída e a gravidade do crime cometido.

33 Maurício Antônio Ribeiro Lopes. O Princípio da Insignificância no Direito Penal. São Paulo, Revista dos Tribunais, 2000, página 45. 34 Controle Jurisdicional da Administração Pública, 1a edição, Dialética, 1999, pp. 75-83.

26

Maurach, ao relacionar a proporcionalidade com o princípio

da insignificância, afirma que:

“Aplicar um recurso mais grave quando se obtém o mesmo

resultado através de um mais suave: seria tão absurdo e reprovável criminalizar

infrações contratuais civis quanto cominar ao homicídio tão só o pagamento das

despesas funerárias”35

Neste sentido, havendo ínfimo prejuízo ao bem protegido,

aplica-se o princípio da insignificância, posto que a conduta realizada não possui

suficiente poder lesivo para atingir o bem jurídico tutelado, não podendo então, ser

aplicada uma sanção, uma vez que a menos delas seria deveras gravosa do que o

dano provocado pelo ato delituoso.

Por fim, destacamos posição do Superior Tribunal de

Justiça, que acata a tese de que a pena deve ser proporcional ao delito praticado,

como observa-se no voto do Exmo. Sr. Min, Fernando Gonçalves:

“O ato dos réus em apanhar quatro minhocuçus não tem

relevância jurídica. Incide aqui o princípio da insignificância, porque a conduta dos

acusados não tem poder lesivo suficiente para atingir o bem jurídico tutelado pela Lei n

5.197/67. A pena por ventura aplicada seria mais gravosa do que o dano provocado

pelo ato delituoso.”36

4.3) Princípio da Fragmentariedade

35 MAURACH apud VICO MAÑAS, Carlos. O princípio da Insignificância no Direito Penal.Op cit. 36 Jurusprudência do STJ, CC 2023/MG, Rel, Min. Fernando Gonçalves, DJU 23.08.99

27

Analisando o caráter fragmentário do Direito penal,

entendemos que o crime é sempre um fato ilícito para o direto penal, porém, nem todo

fato ilícito agrega todos os elementos necessários para se encaixarem como um fato

típico penal.

Sendo assim, não há necessidade do direito penal, cuidar

de questões de bagatelas, casos leves que sequer causam quaisquer prejuízos aos

bens tutelados.

Destacando mais uma vez as palavras de Vico Mañas,

temos a relação deste princípio com o princípio da insignificância:

“O princípio da insignificância surge justamente para evitar

situações dessa espécie, atuando como instrumento de interpretação restritiva do tipo

penal, com o significado sistemático e político – criminal de expressão de regra

constitucional do nullum crimen sine lege , nada mais faz do que revelar a natureza

subsidiária e fragmentária do direito penal”37

Entendemos assim, que o Direito Penal deve ocupar-se com

casos que seja evidente a ameaça grave aos bens jurídicos tutelados pelo Estado e

pela norma, deixando assim, os casos bagatelares, que podem ser reparados

civilmente no seu aspecto ameaçador.

4.4) Princípio da Subsidiariedade

37 VICO MAÑAS, Carlos. O princípio da insignificância do Direito Penal. Ob.Cit.

28

Do princípio da subsidiariedade, depreende-se a idéia de

que a norma penal sancionadora só deverá ser aplicada caso não haja nenhum outro

ramo do Direito capaz de resolver o conflito.

Nesse raciocínio, o direito penal só deverá atuar quando

nenhum outro ramo do direito puder atuar. Quando fracassarem as demais formas de

proteção oferecidas pelos outros âmbitos do direito, ou seja, ele só deve ser aplicado

subsidiariamente.

4.5) Princípio da Lesividade

Pelo princípio da lesividade temos que o crime é uma

conduta que só tem razão de ser quando esta conduta lesa ou expõe a lesão um bem

jurídico tutelado pelo Direito. Uma conduta pode ser imoral e escandalosa, mas se não

tutelar um bem jurídico penal não será crime

O princípio da insignificância possui uma importante relação

com este princípio , posto que através deste o direito penal só pode ser utilizado se

afetar bens jurídicos relevantes. Para que possa ocorrer a intervenção penal, a conduta

realizada deve causar um lesividade tal que justifique tamanha intervenção.

Sendo assim, através deste princípio só poderão ser

penalizados aqueles comportamentos que lesionem direitos de outrem e que não

sejam apenas comportamentos imorais, posto que cabe ao direito penal assegurar a

ordem pacífica externa da sociedade, não devendo atuar além deste limite.

As condutas individuais, que se caracterizem por imorais,

esdruxulas, mas que não afetam de maneira substancial os bens jurídicos tutelados

29

pelo Estado, não possuem a lesividade necessária para legitimar a intervenção do

direito penal.

4.6) Princípio da adequação social

Resumidamente, este princípio traz a idéia de que devem

ser penalizados apenas condutas que possuem uma certa relevância social.

Essa teoria surgiu com Welzel, para ele não são

consideradas típicas condutas que se movem por completo dentro do marco de ordem

social normal da vida, por serem consideradas toleráveis pela sociedade. 38

O princípio da adequação social relaciona-se com o da

insignificância na medida em que exclui, desde logo, a conduta do âmbito de incidência

do tipo, situando-a entre os comportamentos atípicos, ou seja, como comportamento

normalmente tolerados, afastando estes comportamento da aplicabilidade de pena.

4.7) Princípio da Intervenção Mínima

Segundo René Ariel Dotti, o princípio da intervenção

mínima:

“visa restringir a incidência das normas incriminadoras após

casos de ofensas aos bens jurídicos fundamentais, reservando-se para os demais

ramos do ordenamento jurídico a vasta gama de ilicitudes de menos expressão, em

termos de dano ou perigo de dano. A aplicação do princípio resguarda o prestígio da

38 WELZEL, apud SANGUINÉ, Odone. Observações sobre o Principio da Insignificância. Fascículos de Ciências Penais, Porto Alegre, Fabris, v.3, n.1, p 36-50.

30

ciência penal e do magistério punitivo contra os males da exaustão e da insegurança

que a conduz a chamada inflação legislativa” 39

Entende-se por meio deste princípio que a intervenção do

direito penal a determinado fato só se faz aceitável em casos de ataques relevantes

aos bens jurídicos tutelados pela norma estatal.

Igualmente ao que ocorre com o princípio da insignificância,

este princípio não é explícito nas legislações penais e constitucionais contemporâneas,

porém, devido ao seu vínculo com os demais princípios normativos, deve ser aplicado

de igual maneira, sem qualquer hierarquia.

Além, disso, a sanção penal estabelecida para cada delito

deve ser aquela “necessária e suficiente para a reprovação e prevenção do crime”,

conforme expressão acolhida pelo art. 59 do CP, evitando-se o excesso punitivo

sobretudo com a utilização abusiva da pena privativa de liberdade. 40

Na mesma linha do principio da legalidade, que impõe limites

ao arbítrio judicial, o principio da intervenção tem o intuito de limitar ou eliminar o

arbítrio do legislador, impedindo que o Estado, obedecendo a reserva legal, crie penas

imperfeitas e cruéis.

Assim, implica definir o princípio da intervenção mínima

como regra de determinação qualitativa abstrata para o processo de tipificação das

condutas. O princípio da insignificância, por sua vez, é definido como regra de

determinação quantitativa material ou intelectual no processo de interpretação da lei

penal para confirmação do preenchimento integral do tipo.

39 Idem. Alternativas para o Direito Penal e o Principio da Intervenção Mínima.Op. cit., p. 402. 40 MIRABETE, Fabbrini Julio, Manual de Direito Penal, Vol. 1, Atlas, São Paulo, p. 108.

31

Enquanto o princípio da intervenção mínima está

diretamente ligado aos critérios do processo legislativo de elaboração de leis penais,

sendo sua utilização judicial mediata, cabível como recurso O princípio da

insignificância é de utilização judicial imediata como forma de determinar a existência

do crime em face da tipicidade material e da ilicitude concreta.

32

5) A JURISPRUDÊNCIA BRASILEIRA E O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA

Sabe-se que a primeira aplicação do principio da

insignificância deu-se expressamente pelo Supremo Tribunal Federal em julho de 1988

(RHC n 66.869-1, 2 turma, votação unânime). Tratava-se de ação penal com o

fundamento de que uma equimose (de 3 centímetros de diâmetro), decorrente de um

acidente automobilístico , que não acarretou em nenhuma conseqüência funcional e

tinha como argumento da Procuradoria- Geral da Republica que a lesão preenchia os

requisitos necessários para a existência da tipicidade penal, apesar disso, a ação foi

arquivada pois escapava

ao interesse punitivo do Estado em virtude do principio da insignificância

Com a evolução da sociedade, a criminologia descobriu que

a prisão, decorrente de penas restritivas de liberdade, traz um aspecto mais do que

negativo para o indivíduo e consequentemente para a sociedade, devendo assim, ser

usado em último caso. Quando o Estado encarcera um indivíduo, traz para a vida dele

a distância social, a escassez de oportunidades legítimas, traz uma nova identidade

delinqüente que muitas vezes, favorece a sua entrada e permanência numa carreira

criminosa, atingindo assim , o objetivo contrário, porém inevitável.

Analisando nossa jurisprudência, podemos notar que o

princípio da insignificância vem sendo frequentemente aplicado por Tribunais

superiores em vários tipos de delitos (formai, materiais, de dano, de perigo, doloso,

culposo), pois tem sido utilizado como instrumento de interpretação restritiva da norma

penal, alcançando a descriminalização de condutas que, conquanto aparentemente

típicas, não lesam de forma significativa um bem jurídico tutelado.

Com relação ao furto, temos como exemplo o seguinte

julgado trazido pelo Superior Tribunal de Justiça:

33

HABEAS CORPUS. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA EVIDENCIADA DE PLANO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. APLICABILIDADE.FURTO DE PEQUENO VALOR TENTADO. BEM SUBTRAÍDO. PANELA DE PRESSÃO. 1. O pequeno valor da res furtiva não se traduz, automaticamente, na aplicação do princípio da insignificância. Há que se conjugar a importância do objeto material para a vítima, levando-se em consideração a sua condição econômica, o valor sentimental do bem, como também as circunstâncias e o resultado do crime, tudo de modo a determinar, subjetivamente, se houve relevante lesão. 2. Consoante se constata dos termos da peça acusatória, o valor da res furtiva pode ser considerado ínfimo, tendo em vista, outrossim, as condições econômicas da vítima. Além disso, o fato não lhe causou qualquer conseqüência danosa, uma vez que a Paciente foi presa em flagrante antes de consumar o delito, de posse da coisa, justificando, assim, a aplicação do Princípio da Insignificância ou da Bagatela, ante a falta de justa causa para a ação penal. Precedentes. 3. Vislumbra-se, na hipótese, verdadeira inconveniência de se movimentar o Poder Judiciário já tão assoberbado na tutela de bens jurídicos mais gravemente lesados. 4. Ordem concedida para determinar o trancamento da ação penal por falta de justa causa.

Bem como, jurisprudência do Tribunal de Justiça de Goiânia:

“FURTO QUALIFICADO. APELAÇÃO DE ACUSAÇÃO. BORIJÃO DE GÁS. CRIME DE BAGATELA. PEQUENO VALOR DA “RES” EM RELAÇÃO AO PATRIMONIO DAS VITIMAS. APREENSÃO E DEVOLUÇÃO IMEDIATAS. AUSÊNCIA DE PREJUÍZO APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICANCIA Absolvição – O furto de um botijão de gás sem prejuízo, ínfimo que seja para a vítima, diante da imediata apreensão e devolução, decorrente do flagrante sem também, maiores conseqüências ao adquirente do bem furtado, é fato de nenhuma relevância social do caro mecanismo judiciário num direito penal clássico como o nosso”

Com relação ao crime de descaminho, encontramos os seguintes exemplos de

julgado:

34

RECURSO ESPECIAL. PENAL. DESCAMINHO. VALOR

INFERIOR AO PREVISTO NO ART. 20 DA LEI N.º

10.522/02. DESINTERESSE PENAL. PRECEDENTES.

1. Se a própria União, na esfera cível, a teor do art. 20 da Lei n.º 10.533/2002,

entendeu por perdoar as dívidas inferiores a R$ 2.500,00 (dois mil e quinhentos

reais), não faz sentido apenar os recorridos pelo crime de descaminho, pelo fato

de terem introduzido no país mercadoria estrangeira sem o recolhimento de

tributo inferior ao mencionado valor.

2. Caracterizado o desinteresse penal, em virtude da irrelevância jurídica do bem para a tutela penal. Precedentes do STJ. TRF 4ª REGIÃO - RECURSO CRIMINAL EM SENTIDO ESTRITO Nº 1999.71.00.031569-2/RS (DJU 24.01.2001, SEÇÃO 2, p. 240) DESCAMINHO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA JURÍDICA. O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA JURÍDICA É AQUELE QUE PERMITE INFIRMAR A TIPICIDADE DE FATOS QUE, POR SUA INESPRESSIVIDADE, CONSTITUEM AÇÕES DE BAGATELA, DESPIDAS DE REPROVABILIDADE, DE MODO A NÃO MERECEREM VALORAÇÃO DA NORMA PENAL, EXSURGINDO, POIS, COMO IRRELEVANTES. A TAIS AÇÕES FALTA JUÍZO DE CENSURA PENAL. Nos casos dos crimes de contrabando e descaminho - art. 334, do Código Penal -, quando pequena a quantidade de mercadorias apreendidas e pequeno o seu valor, esta Turma os têm considerado como delitos de bagatela. Assim o faz em analogia à jurisdição cível, considerando que o Fisco tem adotado o montante de R$ 1.000,00 (um mil reais) como parâmetro mínimo a ensejar a persecução em juízo dos valores a ele devidos. Se, manifestamente, o erário admite que não há interesse em cobrar judicialmente valores devidos até R$ 1.000,00 é porque efetivamente a existência de débitos próximos deste patamar não chegam a comprometer o bem jurídico tutelado.

Percebemos abaixo, a aplicação do princípio da insignificância também no caso

de crime contra o sistema financeiro nacional:

35

JURISPRUDÊNCIA EMEN. 3636/2002: PENAL. CRIME PREVIDENCIARIO (CP, art. 168-A). VALOR ATÉ R$ 5.000,00. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICANCIA (PORTARIA 4.190/99-MPAS). TRF 4ª REGIÃO - RECURSO CRIMINAL EM SENTIDO ESTRITO Nº 2000.72.01.003148-6/SC (DJU 10.06.02, SEÇÃO 2, P. 495, J. 25.06.02)EMENTA PENAL. PROCESSO PENAL. OMISSÃO NO RECOLHIMENTO DE CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. PORTARIA Nº 4.910/99. MPAS. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA PENAL. APLICAÇÃO. PRECEDENTES. QUARTA SEÇÃO DESTE TRIBUNAL. APLICA-SE O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA JURÍDICA COMO CAUSA EXCLUDENTE DE TIPICIDADE, QUANDO O CRÉDITO PREVIDENCIÁRIO NÃO ULTRAPASSAR O VALOR EQUIVALENTE A R$ 5.000,00 (CINCO MIL REAIS) CONFORME EXPLICITA A PORTARIA N° 4.910, DE 04 DE JANEIRO DE 1999, DO MPAS, TENDO EM VISTA A INEXISTÊNCIA DE DANO AO ERÁRIO E POR NÃO OFENDER OU COLOCAR EM PERIGO O BEM JURÍDICO PENALMENTE TUTELADO, NÃO PODENDO POR ISSO, SER CONSIDERADO COMO FATO PENALMENTE TÍPICO.

Com relação aos crimes previdenciários, também percebemos a aplicação do

princípio conforme decisão proferida pelo Tribunal Regional Federal - 4º região:

TRF 4ª REGIÃO - RECURSO CRIMINAL EM SENTIDO ESTRITO Nº 2001.70.00.012667-1/PR (DJU 20.02.02, SEÇÃO 2, P. 1156, J. 04.02.02) EMENTA OMISSÃO DO RECOLHIMENTO DE CONTRIBUIÇÕES

PREVIDENCIÁRIAS. DÉBITO INCLUÍDO NO REFIS DE R$ 550,23. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.

1. Se O débito confessado for igual ou inferior a R$ 5.000,00 (cinco mil reais) ou 5.117,71 ufires, mesmo que incluído no REFIS, uma vez que a Portaria n° 4.940/99, de 04 de janeiro de 1999, do MPS estipula que a dívida ativa do :(NSS de valor inferior ao referido não será ajuizada, fica configurada hipótese de atipicidade. 2. No caso dos autos o montante devido é de R$ 550,23 equivalente à 517 ,08 ufires; estando, portanto, abaixo do valor limite perseguido pelo Fisco. 3. Recurso do MPF desprovido. Habeas Corpus concedido de ofício para trancar a ação penal por falta de justa causa.

Com relação aos crimes praticados contra a fauna e o meio ambiente,

encontramos as seguintes decisões:

36

TRF 3ª REGIÃO - APELAÇÃO CRIMINAL N° 98.03.099575-8/SP (DJU 28.06.01, SEÇÃO 2, P. 487, J. 08.05.01) RELATOR: JUIZ FEDERAL AUXILIAR FERREIRA DA ROCHA APTE(S). : A.B.O. : J.B. APDO(S).: JUSTIÇA PUBLICA ADV(S). : ARNALDO DOS SANTOS EMENTA PENAL E PROCESSUAL PENAL. CRIME CONTRA A FAUNA. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. I - As normas previstas na Lei 5.196/76 e 9.605/98, visam tutelar a fauna silvestre e o equilíbrio ecológico, incriminando as condutas lesivas a tais bens. O abate dos três (3) animais descritos na peça acusatória são insuficientes a abalar o equilíbrio ecológico, de modo que a conduta do apelante não afetou potencialmente o meio ambiente e nem colocou em risco a função ecológica da fauna, impondo-se a aplicação do princípio da insignificância. II - Recurso provido. Jur. ementada 341/2001: Princípio da insignificância. Permite infirmar a tipicidade de fatos que, por sua inexpressividade, constituem ações de bagatela, despidas de reprovabilidade, de modo a não merecerem valoração da norma penal, exsurgindo, pois, como irrelevantes.

TRF 4ª REGIÃO - APELAÇÃO CRIMINAL N° 2000.04.01.127508-0/SC (DJU 06.06.2001, SEÇÃO 2, P. 1440, j. 08.03.01) PENAL. MEIO AMBIENTE. LESÃO INSIGNIFICANTE. I. A posse de um quilo de camarão mesmo quando pescado em local interditado por órgão competente, não constitui conduta lesiva ao meio ambiente. 2. Aplicação do princípio da insignificância penal.

E por fim, demonstra-se a aplicação do princípio da insignificância nos crimes de trânsito:

ACIDENTE DE TRÂNSITO- LESÃO CORPORORAL CULPOSA – DELITO ATRIBUÍDO À MÃE VÍTIMA – INEXPRESSIVIDADE DA LESÃO – APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA – FALTA DE JUSTA CAUSA PARA A AÇÃO PENAL – TRANCAMENTO DETERMINADO – RECURSO DE HABBEAS CORPUS ´PROVIDO. Ementa Oficial: Falta de justa causa. Indiscutível a insignificância da lesão

37

6) O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA E OS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO

O Estado cria normas com o intuito de preservar a ordem e

promover a paz social, prevendo sanções que serão aplicadas caso ocorram fatos

contrários ao tipo penal estabelecido.

Sem dúvida, um dos campos do Direito Penal, que mais

gera conflitos quanto a aplicabilidade do Princípio da Insignificância é o que diz

respeito aos delitos patrimoniais.

Neste sentido, o Código Penal Brasileiro, em sua maioria,

vincula os crimes patrimoniais com aqueles que violam o direito de propriedade, como

reconhece o Art. 5º, caput, da Constituição Federal.

Para Rodrigues Devesa, a propriedade deve ser entendida

como o conjunto indeterminado de relações jurídico-patrimoniais que geralmente tem

valor econômico, isto é, a consideração da propriedade como expressão equivalente a

elementos integrantes do patrimônio, já que não é possível falar-se de delitos contra o

patrimônio como tal unidade. 41

Já para Muñoz Conde, a propriedade entendida como o

conjunto indeterminado de relações jurídico-patrimoniais que tem um valor econômico,

não é mais do que o que se entende por patrimônio.42

41 Curso de derecho penal español,: parte especial, Madrid: Dyckinson, 1990. p. 349, et seq. 42 El delito de alzemiento de bienes, p. 33,

38

Deixando de lado as questões terminológicas que há anos

vêm ocasionando discussões, destacamos a posição dominante da doutrina que

entende que os delitos contra o patrimônio em sua totalidade se dirigem normalmente

contra determinados direitos particulares integrantes do mesmo: o que sucede é que

estes direitos particulares não aparecem incluídos no tipo legal, pelo que todos eles (a

totalidade deles) podem ser objeto de ataque.

Assim, devido a ausência de conceito expresso jurídico-

penal sobre propriedade, levaremos em consideração o entendimento dado pelas

doutrinas alemã e espanhola, que são as mais adiantadas neste aspecto, e entendem

que para determinar a existência de uma lesão penalmente relevante contra aquela há

de se observar a posição jurídica do proprietário, titular do objeto atacado, e aceitar-se

a presença de dita lesão quando se menospreze o direito de propriedade, tal como se

concebe no ordenamento civil.

Neste sentido, apenas aqueles bens jurídicos que escapam

de uma tutela eficaz do outro Direito ganham a propriedade de servir como escopo

justificante do Direito Penal.

Como sabemos, alguns poucos ilícitos civis são levados a

esfera de delito, então, na exata medida em que um ilícito civil não se mostre superior,

deve ser suficientemente grave para merecer resposta de um Direito de ordem punitiva

para ser desconsiderado como delito em sentido material.

Há uma concepção material de propriedade e somente esta

pode ser objeto de abrangência do Direito Penal.

Acordamos então, com Mauricio Antonio Ribeiro Lopes, que

entende que a projeção de um conceito jurídico-economico de patrimônio sobre os

39

delitos contra a propriedade abre uma via para atender critérios que ponderam um

entendimento fundamentalmente econômico da propriedade, que permite negar sua

lesão quando, apesar do ataque à relação de domínio de um sujeito, este não

experimenta prejuízo econômico algum.

O que nos leva a entender que se afasta, quase que

definitivamente, a proteção penal dos objetos que têm, apenas, valor de afeição. E

destacamos episódio citado por Maurício A R. Lopes, em sua obra:

“Registramos em nossa memória episódio lamentável

ocorrido numa zona muito pobre do interior paulista, onde um Promotor de Justiça

ousou oferecer denúncia e um Juiz de Direito ousou mais ainda ao condenar por furto

uma pessoa que subtraíra, supõe-se que para si, uma pequena coleção de “santinhos

de lembrança de primeira comunhão” de uma filha de uma conhecida beata da região.

Por sorte o furto foi reconhecido como de coisa de pequeno valor. Mas terá

efetivamente algum valor tal “santoteca”. 43

É neste sentido, que surge a concepção de Berard, que

invoca os já citados princípios da subsidiariedade e de lesividade para insistir que a

tutela penal deve limitar-se a proteger as condições básicas para a coexistência

humana frente a ataques que a ponham em perigo, mas não frente a meros

menoscabos formais sem transcendência social real.

Conclui-se assim, que podemos considerar atípico um

comportamento quando não haja lesão alguma dos interesses econômicos do titular do

bem atacado sob a perspectiva geral dos usos sociais.

43 LOPES, Mauricio Antonio Ribeiro. Principio da Insignificância no Direito Penal, São Paulo. p. 167.

40

6.1 – A aplicação do Princípio da Insignificância nos crimes complexos Como vimos anteriormente, e lembrado por Rogério Grecco,

o fato natural, para ser qualificado como típico, há de não só estar previsto em lei

como delito, mas ainda se revelar como fato lesivo ao bem jurídico tutelado, no caso

concreto. E justamente dentro da tipicidade material que surge o princípio da

insignificância.44

Entretanto, a Jurisprudência sempre foi avessa à aplicação

do princípio da insignificância nos chamados crimes complexos, como é o caso do

crime de roubo.

São complexos crimes que encerram dois ou mais tipos em

uma única descrição legal (crime complexo em sentido estrito) ou os que, em uma

figura típica, abrangem um tipo simples, acrescido de fatos ou circunstâncias que, em

si, não são típicos (crime complexo em sentido amplo). E como exemplo de crime

complexo em sentido estrito, o saudoso mestre paulista cita o roubo, "que nada mais é

que a reunião de um crime de furto (art. 155) e de ameaça (art. 147) ou lesão (art.

129), ofendendo o patrimônio e a liberdade psíquica da vítima ou sua integridade

corporal". 45

Entretanto, a jurisprudência sempre foi contra a aplicação do

princípio da insignificância para crimes praticado com violência ou grave ameaça, e

neste sentido, cumpre salientar dois julgados do STF:

O primeiro, RE-AGR 454394 / MG, julgado em 02/03/2007, da

relatora do Min. Sepúlveda Pertence, é categórico: "1. Princípio da insignificância e

44 GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Parte Geral. 3ª ed., Rio de Janeiro, Ed. Ímpetus, 2003, p. 176. 45 MIRABETE, Julio Fabrini. Manual de Direito Penal, Parte Geral, Ed. Atlas, São Paulo. p. 124.

41

crime de roubo É da jurisprudência do Supremo Tribunal que o princípio da

insignificância não se aplica ao delito de roubo (v.g. AI 557.972, 2ª T., 07.03.03,

Ellen Gracie, DJ 31.03.06)" (negritamos). O segundo, AI-AgR 557972 / MG, julgado em

07/03/2006, relatado pela Min. Ellen Gracie, vai além e explicita: "Inaplicável o

princípio da insignificância ao delito de roubo (art. 157, CP), por se tratar de crime

complexo, no qual o tipo penal tem como elemento constitutivo o fato de que a

subtração de coisa móvel alheia ocorra "mediante grave ameaça ou violência a

pessoa", a demonstrar que visa proteger não só o patrimônio, mas também a

integridade pessoal.

Como dito no capítulo anterior, não resta dúvida de que o crime de

roubo, previsto no Art. 157. do CP, o ponto da discussão existe quando este crime é

praticado para a subtração de bens que são extremamente insignificantes para o

direito penal, com o reconhecimento de sua insignificância para a configuração do

delito de furto.

Apenas como exemplos, lembramos aqui que o Supremo Tribunal

Federal, já reconheceu a insignificância do furto de garrafa de vinho (HC 88393/RJ),

um boné (HC 84687/MS) e até de bens subtraídos em estabelecimento militar, que

totalizavam R$ 154,57 (RHC 89624/RS).

O que queremos dizer é que, já que tanto furto quanto roubo são

crimes contra o patrimônio, não se pode, dentro do mesmo quantitativo, ter-se

determinado bem insignificante para um delito e relevante para outro. Por se tratarem

de crimes contra o patrimônio, se a coisa há de ser considerada insignificante pela

tutela penal, pouco importa qual delito temos em tela, seja furto, seja roubo, seja

extorsão, dano, apropriação indébita etc. No caso, sendo o patrimônio lesado

irrelevante para o direito penal, aplica-se a insignificância, seja pelo princípio da

intervenção mínima, da subsidiariedade, da fragmentariedade.

42

Concluindo e exemplificando com o crime mencionado, entendemos que

o crime de roubo tutela o patrimônio e a liberdade pessoal, e não o patrimônio ou a

liberdade pessoal. Desta forma, desconsiderado o patrimônio, por sua insignificância

material, resta averiguar a lesão ao outro bem tutelado. Restando algum delito, pune-

se o agente pelo remanescente. Não sendo a conduta residual asseverável,

reconhece-se a atipicidade da conduta.

43

7) RESTRIÇÕES AO PRNCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA

Apesar de sua freqüente aplicabilidade por nossos

Tribunais, ainda persistem algumas críticas e restrições ao Principio da Insignificância.

A mais comum é o fato deste Princípio não estar previsto

em nossa, sendo, pois, criação doutrinaria, recebe oposição por parte da doutrina,

sendo até apontado como contribuição ao Estado de insegurança,

Ocorre que, como bem frisa o já citado Carlos Vico Mañas: “

O princípio da insignificância nada mais é do que uma importante construção

dogmática, como muitos outros princípios deveras importantes para o ordenamento,

com base em conclusões de ordem político-criminal, que procura solucionar situações

de injustiça provenientes da falta de relação entre a conduta reprovada e a pena

aplicável.”46

O princípio da insignificância tem o mesmo caráter

regulador que as causas supralegais de exclusão da ilicitude existentes, cabendo ao

aplicador do direito, ao aplicá-lo, julgar o conteúdo da insignificância.

Esta crítica não deve prosperar, pois como já vimos em

capítulo anterior, não há e nem deve haver hierarquia entre os princípios, ainda que

previstos ou não em nossa legislação,

46 Carlos Vico Manãs citando Odone Sanguiné. Observações sobre o princípio da Insignificância. Fascículos de Ciências Penais. Artigo extraído da internet em 08/02/2006. Disponível em http://www.mt.trf1.gov.br/judice/jud4/insign.htm

44

Outra resistência à sua aplicabilidade, está relacionada com

a dificuldade para caracterização do chamado delito de bagatela.

A respeito desta problematização, Carlos Vico Mañas, em

seu artigo “O Princípio da Insignificância no Direito Penal”, apresenta a referida

consideração:

“A doutrina e a jurisprudência têm conseguido elaborar, de

acordo com os limites de interpretação permitidos, critérios razoáveis de delimitação

das condutas que devam ser consideradas significantes, sob a ótica de um direito

penal fragmentário e subsidiário, fugindo do empirismo e da exacerbação da análise do

“caso a caso”.47

Para precisar a global insignificância da conduta, devem ser

acrescidos os critérios do desvalor da ação, do resultado e do grau de lesividade ou

ofensidade ao bem jurídico tutelado. “Deve-se considerar, ainda, uma antecipada

mediação da pena, analisando-se a necessidade de sua imposição, já que poderá não

redundar em qualquer benefício para a sociedade ou para o próprio autor do delito”.48

É claro que, na prática, na aplicação deste princípio deve

agir-se com cautela, considerando insignificante aquilo que realmente o é, sempre

observadas as circunstâncias objetivas e subjetivas que circundam o caso concreto,

impedindo o desvirtuamento do real alcance do instituto e transformação de seu

conteúdo em porta aberta para a impunidade.

47 Carlos Vico Mañas citando Odone Sanguiné. O princípio da insignificância no Direito Penal. Artigo extraído da internet em 08/02/2007. Disponível em http://www.mt.trf1.gov.br/judice/jud4/insign.htm 48 Carlos Vico Mañas citando Odone Sanguiné. O principio da insignificância no Direito Penal. Artigo extraído da internet em 08/02/2007. Disponível em http://www.mt.trf1.gov.br/judice/jud4/insign.htm

45

Outro ponto criticado seria a incompatibilidade do referido

princípio com sistemas penais que tipificam condutas de menor potencial ofensivo,

sustentando que, em casos tais, a interpretação restritiva importaria numa analogia

contra legem e assim, numa violação ao principio da legalidade.

Todavia tal crítica não deve prosperar, posto que não há

qualquer empecilho a que, efetuada a valoração da ofensa, reconheça-se que, de tão

ínfima, sequer se adeqüe aos tipos penais privilegiados ou mesmo aos

contravencionais.

Importante lembrarmos que no Brasil existem tais

tipificações privilegiadas, como também a lei de contravenções penais, que trata de

infrações penais de menor lesividade.

Importante lembrar também da existência da Lei 9.099 de

1995, conforme nos traz o artigo 98, I, CF:

“Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os

Estados criarão:

I – juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos, competentes

para a conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de menos

complexibilidade e infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os

procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a

transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau.”

Em razão deste artigo constitucional, que prevê a criação

dos juizados especiais para cuidar de “infrações de menos potencial ofensivo”, os

críticos do princípio continuaram a insistir em sua crítica.

46

No entanto, não há que se prosperar, posto que referido

artigo constitucional confirma a validade do princípio da insignificância, pois não

determina que se devam criminalizar casos de bagatela, mas apenas estabelece

diretrizes destinadas a regular o processo e julgamento dessas ofensas menores.

Ademais, as infrações de menor potencial ofensivo são

infrações que possuem pouca relevância, mas ao atingir o bem jurídico tutelado,

causam reprovação da sociedade. Sendo assim, tal fato é de competência dos

Juizados Especiais. Já nos casos conhecidos como crime de bagatela, a infração

possui pouca ou até mesmo nenhuma reprovabilidade social, pois o bem jurídico

tutelado não fora atingido de maneira significativa, assim, neste caso, o direito penal

não deverá intervir. Respeitando assim os princípios da mínima intervenção,

fragmentariedade e subsidiariedade.

Desta feita, entende-se que o princípio sobrevive mesmo

após a criação da Lei dos Juizados Especiais Criminais, já que esta disciplina apenas

as infrações de menor potencial ofensivo, que são infrações penais e, não os crimes de

bagatela, em que não há a ocorrência de crime, uma vez que o fato tem sua tipicidade

material afastada.

47

CONCLUSÃO

A caracterização e o estudo do conceito do princípio da

insignificância, se fez necessário n início do trabalho para compreendermos, definirmos

e assim podermos discutir o assunto abordado.

Assim, em relação ao crime, no seu aspecto material,

pudemos identificar a existência de três elementos caracterizadores: fato típico, fato

antijurídico e fato culpável, que nos traz a chamada teoria tripartida, hoje, reconhecida

pela doutrina.

Pois bem, nessa linha, entendemos que fato típico é todo

ato que está previsto em norma penal incriminadora. Fato antijurídico é todo ato que é

contrário às normas de Direito e considerados pela sociedade como sendo ilícitos. Fato

culpável é um elemento subjetivo, que pressupõe a responsabilidade do agente sobre o

fato típico e antijurídico por ele realizado.

Frente à estes conceitos, o princípio da insignificância deve

ser analisado como sendo um descaracterizador da tipicidade.

Vimos que o princípio da insignificância afasta a tipicidade

da conduta que não seja lesiva à vida em sociedade. Desta forma, o ato praticado pelo

agente continua sendo antijurídico, por se tratar de uma conduta reprovada pela

sociedade, porém, diante da insignificância da lesão causada, o ato deixa de ser

punível sob o rigor da lei penal.

48

Sabemos que o princípio da insignificância não está

previsto expressamente em nosso ordenamento jurídico. Sendo assim, não existe um

conceito expresso definido por lei, por isso, coube à doutrina conceituá-lo.

Em seguida, abordou-se a correlação do princípio da

insignificância com os demais princípios de Direito Penal, sendo tais princípios

interdependentes. Conforme abordado no presente trabalho, os princípios relacionados

de forma mais visível com o princípio da insignificância são: princípio da legalidade,

princípio da intervenção mínima, princípio da lesividade e princípio da

proporcionalidade. Porém por suas particularidades e independência, não pode ser

atribuídos aos princípios qualquer tipo de hierarquia ou subordinação.

Diante dessas premissas, pudemos concluir que todo ato ou conduta

humana, para ser crime, deve estar previsto em lei penal incriminadora e deve causar

um mal que represente a gravidade esperada para a incidência da pena criminal. Da

mesma forma, o sistema jurídico deve buscar a proporção justa entre o crime cometido,

o prejuízo causado e a pena a ser aplicada, sempre levando em consideração se o

bem tutelado pela norma penal foi ou não violado.

Nesse contexto, o princípio da insignificância vem mais

como uma necessidade do nosso ordenamento jurídico penal, do que como mera

construção doutrinária, como alegado por alguns críticos desse princípio.

O princípio da insignificância, sendo um instrumento descriminalizador ou

uma técnica de desconsideração judicial da tipicidade, busca ressaltar o caráter

fragmentário e subsidiário do direito penal, (norteado pelo principio da intervenção

mínima) atingindo a proporção justa entre o crime cometido, bem como o prejuízo

causado, e a pena aplicada.

49

Além disso, possibilita o desafogamento do sistema jurídico

penal brasileiro, e um melhor funcionamento deste, de tal maneira a proporcionar à

sociedade um sistema judiciário rápido, efetivo e justo. Despertando a importância da

idéia de se estabelecer uma política criminal eficiente, objetiva, protetora da sociedade

e não do interesse de poucos.

Vimos também que só devem ser levados a Justiça Penal,

casos que outras esferas do Direito não poderiam sanar, situações que se encaixam

perfeitamente na norma penal e que por ela, devem ser regradas.

Pelo princípio da insignificância considera-se atípica a

conduta que, apesar de se amoldar à prática prevista no tipo penal, não possui

lesividade suficiente para atingir o bem jurídico tutelado. Assim, se uma determinada

conduta supostamente criminosa, de tão tênue, não é suficiente para lesar o bem

jurídico tutelado, estamos diante do chamado crime de bagatela e, por força do

princípio da insignificância, reconhecemos a atipicidade da conduta.

Por meio da elaboração deste estudo, pudemos notar a grande

importância do principio da insignificância para a adoção de uma política criminal justa,

baseada nos princípios básicos de direito penal e protetora da sociedade e não do

interesse de poucos, pois verificamos que a sua aplicação contribui para a correta

compreeensão, interpretação e atuação do Direito Penal, instituindo um sistema judicial

penal justo e efetivo, trazendo para a sociedade um sentimento de paz e segurança.

50

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