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Yasmin Rezende

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Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da UFMS

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Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da UFMS - 2

ara esta turma, encerra-se aqui a nossa experiência com o Projétil.Apesar do modelo de trabalho não se aproximar do que encontramos nomercado (mercado este que está muito distante do ideal), o ensaio é de sumaimportância para nossa formação acadêmica. Ao oferecer aos futurosjornalistas mais tempo para pensar nos assuntos que serão abordados, mesmoque indiretamente, aprendemos a valorizar o trabalho de pesquisa.

Aprendemos que o jornalista não é simplesmente aquele indivíduo quegosta e tem vocação para escrever. É um profissional que, além dessasqualidades, precisa ser inquieto; estar sempre em busca de novas fontes quelhe tragam novos fatos, e façam do seu texto a expressão mais próxima darealidade. Não se contenta em repassar uma informação sem que confirmesua veracidade, se suas origens são confiáveis e se todos os lados da históriaforam ouvidos igualmente.

Ao mesmo tempo, percebemos que as mesmas habilidades devem serdesenvolvidas com mesmo ímpeto seja qual for o meio de dissipação. Rádio,televisão, internet; o jornalista é talentoso com as palavras, curioso pornatureza e habilidoso por obrigação. Quando chegamos ao 5º semestre docurso, deparamo-nos com a dificuldade de conciliar a preocupação com aqualidade e a constante pressão do deadline. E entendemos porque um dosdois muitas vezes se perde entre os profissionais da área.

Como não podia deixar de ser, estampamos em nossa capa a insatisfaçãodo campo-grandense com a situação atual do país. Em um momento históricopara o Brasil, os cidadãos da cidade morena se uniram em dezenas de milharespara trazer às ruas as suas reivindicações e apontar o que está errado nocenário político.

Também trouxemos temas cotidianos. Temas que precisam ser debatidos,mas sem a necessidade de sensacionalismo que venha a encobrir o próprioconteúdo. Assim como tópicos que precisam justamente perder o rótulo“polêmico” e serem aceitos pela naturalidade que lhes convém (vide matériasobre união estável entre homossexuais).

Com esforço e procrastinação, qualidades comuns a quase todouniversitário, saímos com o sentimento de conclusão de mais uma etapacomo acadêmicos. Sem a necessidade de se sujar ou demonstrar cansaçopara trazer um bom conteúdo informativo, desejamos a você uma boa leitura!

Opinião

Izabela Sanchez

Todos estamos (inclusive os geral-mente mais desavisados e mal informa-dos), acompanhando o desenvolvimen-to das manifestações no Brasil. Osprotestos repudiando o aumento datarifa do transporte público esse anotiveram início em Porto Alegre (RS),seguidos por São Paulo, Rio de Janeiroe, posteriormente, todo o país. Mas “nãoé só pelos 20 centavos”... Será?

Na era do espetáculo e do simula-cro, tudo toma uma proporção maior doque na verdade tem. Com o boom das re-des sociais se organizando em prol doativismo, essa comunicação centrífugaacabou por pressionar os grandes veícu-los a saírem da tocaia e tomarem afrente... Ou atrás, ou os lados, vários lados.As imagens chocantes de tanta gente sa-indo às ruas despertaram no brasileiro umsentimento de fazer parte, que não erasentido a não ser que houvesse partidasde futebol. A grande massa virou bolo.Frases lugar-comum como “O giganteacordou” e “Verás que um filho teu nãofoge à luta” foram entoadas comintensidade, além do bom e velho Hinonacional, mesmo que cantado aostropeços.

Esse “despertar” brasileiro, a meu vertem dois lados, que devem ser analisados

com muito cuidado. Os protestos iniciaiseram e são sim por 20 centavos. Issosignifica que para uma massa de baixarenda no Brasil, o aumento das tarifasde ônibus foi o estopim de um profundodescontentamento com uma políticacorporativa e desigual que vigora no paísdesde o Brasil Império, mesmo com asubida de um partido popular no Brasil(PT).

É um movimento sim de esquerda,goste a boa classe média ou não. E issonão quer dizer que o cunho políticoacarrete um monte de pessoas a favorde um golpe comunista no Brasil. Asreivindicações de esquerda vão muitoalém disso. Seus ideais defendem averdadeira democratização e acesso aopróprio território, que de tão grande,precisa de reforma política radical. Elanão é “contra a corrupção”, ela é porum social mais igualitário, comum. Eessa parcela que protesta por essasquestões, não quer um volume gigantescode gente que desvia as manifestações deseus ideais, e dá brecha para a“direitização do movimento”.

A classe média sempre teve seusdireitos garantidos, e na verdade não seinteressa pelos 20 centavos. Quemprotesta por tudo, protesta por nada, equem vai pra muitos lados na verdadenão vai pra nenhum.

O pasodoble dosprotestos no Brasil

As matérias veiculadas nãorepresentam necessariamente aopinião da UFMS ou de seus dirigentes,nem da totalidade da turma.

As matérias veiculadas nãorepresentam necessariamente a opiniãoda UFMS ou de seus dirigentes, nem datotalidade da turma.

www.ufms.br/jornalismo

Jornal Laboratório do Curso de Comunicação Social – Jornalismoda Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – Produzido pelos acadêmicosdo 5º semestre, sob orientação dos professores Juliana Feliz (Redação Jornalística),José Marcio Licerre (Planejamento Gráfico), Mario Luiz Fernandes (Edição).Editor-chefe: João Marcelo Sanches. Editores de diagramação: Gabriel Cabral e GustavoArakaki. Produção: Amanda Amaral, Ana Lívia Tavares, Carla Scarpellini, Cecília Paes, DanielCampos, Gabriel Cabral, Gilvana Krenkel, Gustavo Arakaki, Izabela Sanchez, João MarceloSanches, Michel Lorãn, Thaís Pimenta e Yasmin Rezende.

Correspondência: Jornal Projétil – Curso de JornalismoCentro de Ciências Sociais – Cidade Universitária S/Nº

Cep 79070-900 – Campo Grande, MS.Fone (67) 3345-7607 – E-mail: [email protected]

Tiragem: 5000 exemplares. Impressão: Feitosa e Cie Ltda.

Editorial

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Gustavo ArakakiJoão Marcelo Sanches

Jovens com mochilas nas costas eskates nos pés; manifestações culturais empraças e outros espaços públicos; adescentralização da arte na cidade. Este éo cenário da cultura urbana que se desen-volve em Campo Grande, acompanhan-do de perto o crescimento estruturalsofrido pela capital sul-mato-grossensenos últimos anos. Nessa cultura, pichaçõese o grafite são colocados lado a lado e,respectivamente, como problema esolução para o problema da poluiçãovisual. Estaria essa dualidade correta,

analisando a existência de diferentesmotivações para cada qual?

O ato de escrever mensagens oudesenhar gravuras em lugares imprópri-os sobrevive sob os pontos de vista maisdiversos. O mais comum é que esta se-ria apenas mais uma forma de contra-venção, e um crime contra o patrimôniopúblico e privado. Mas há tambémquem enxergue de outro modo. “Cadaum tem uma forma de se expressar. Unsandam de skate, outros querem cantar,outros dançar; o ‘risco’ é mais uma for-ma de expressão. Começou na décadade 80, com proposta política mesmo,revolução, ‘abaixo a ditadura’. Os carasbotavam pra quebrar com o governo”

explica Max*, 19 anos.Pichador desde os 13 anos, Max

desenvolve a atividade de maneira dife-renciada. O “Rastro”, grupo depichadores do qual o rapaz faz parte,evita residências como alvos. O objeti-vo é tentar deixar a sua marca em luga-res altos e mais complicados de serematingidos, como marquises, construçõese prédios comerciais.

Segundo o jovem, o envolvimentocom o “pixo” veio de amigos que eleconheceu andando de skate, que tinhamo hábito de sair atrás de “picos para ris-car”. Em sua primeira experiência coma pichação, Max apenas acompanhou oprocesso. “Depois que eu subi nesse

pico, eu senti aquela adrenalina de subirum bagulho que não pode subir, riscarum bagulho que não pode riscar, aquilome instigou” afirma.

Os limites que separam as manifes-tações proibidas por lei de uma obra dearte são subjetivos. Por definição, o gra-fite (termo originado do italiano graffiti)agrupa trabalhos de maior interesse es-tético e mais elaborados, que são social-mente mais bem aceitos como uma ex-pressão artística contemporânea. A pi-chação, por outro lado, devido a suanatureza transgressora e muitas vezescrítica, é colocada como responsável peladegradação da paisagem urbana e fir-memente repreendida.

Contra aparede

Muro da Escola Municipal Maria Constância é alvo frequente de pichadores da Capital

Considerada uma agressão ao patrimônio público eprivado, pichação é suprimida pelo grafite

Ação de pichador no centro da Capital. Escrita final: Rastro e NRS // Imagens: João Marcelo Sanches e Gustavo Arakaki

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Cultura Urbana

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Desde a invenção da tinta spray, nadécada de 70, as pichações ganharammaior mobilidade e velocidade. Essaacabou se tornando uma característicadas ações, que por serem proibidas, sãofeitas normalmente à noite e em poucotempo. Em 2011, a venda de tinta emembalagens aerossol para menores de 18anos foi proibida.

De acordo com a legislação, emtodo território nacional o compradordeve apresentar documento que com-prove a sua maioridade, e o comercian-te precisa informar os dados do clientena nota fiscal. Além disso, o produtocontém a inscrição “Pichação é crime”na embalagem. Essa ressalva se aplicaapenas aos pichadores, uma vez que aalteração de uma lei de 1998 torna legal“a prática do grafite realizada com oobjetivo de valorizar o patrimônio pú-blico e privado mediante manifes-tação artística”, desde que haja consen-timento do proprietário.

Jussara Abgail*, 22 anos, é uma dasbeneficiadas por essa lei. A grafiteira jáesteve do outro lado. “Eu já pichei quan-do era mais nova, e a intenção era demarcar território mesmo, deixar minhamarca, tipo uma autoafirmação. Issoquando eu tinha por volta de 12 anos.Pichei na rua, pista de skate também, esempre era com esse intuito de deixar a‘tag’ ali, mostrando que eu tinha passa-do por lá” afirma a jovem.

A vocação para as artes de Jussaratornou a passagem para o grafite maisprazerosa. “Além de ser elaborado e ar-tístico, pelo menos no meu caso, tentopassar uma mensagem de positividade,e compor a imagem trabalhando a per-sonalidade de cada muro, fazendo ograffiti dançar com a parede, emanaruma expressão boa e agradável. Mes-mo que seja fazendo crítica, vejo que sea imagem é atraente, o olhar é dire-cionado e a mensagem absorvida.Quando é algo muito mal feito, nem dávontade de prestar atenção”.

Hoje, a grafiteira enxerga a pichaçãocomo depredação de patrimônios públi-cos e uma poluição visual. Jussara acreditaque o grafite, sim, seja uma forma de arte.Desde que a proposta seja válida, ela éfavorável independente do ambiente serinterno ou externo, legal ou ilegal.

O pichador que é flagrado pratican-do o crime geralmente responde por van-dalismo e crime ambiental, com penas quevão de três meses a um ano de detenção.Ainda que exista uma tendência entre os

juízes de aplicar penas alternativas nestescasos, como prestação de serviçoscomunitários, os envolvidos quecostumam pichar em grupo podem seracusados por formação de quadrilha,gerando punições mais severas.

São riscos com que o pichadorFábio Pereira*, 21, convive diariamente.Fábio criou em 2007 juntamente comseu irmão a crew “Neurose” que alémde participar das ações com a Rastro,juntos formaram a griff (união de doisou mais grupos) nomeada “Os MalFalados”.

As opiniões de Fábio comple-mentam a de Max quando explica que apichação é uma mistura de revolta egosto. “Apesar do ‘apoio’ que atualmenteos órgãos públicos têm dado a arte derua, a polícia continua oprimindo atémesmo quem faz apenas graffiti,enquadrando, conduzindo a delegaciaacusando de vandalismo. Isso faz comque muitos migrem para o pixo, já quena pichação como é algo feito rapi-damente e em horários de poucomovimento na cidade, a expressão setorna mais livre e o flagrante na maioriadas vezes não acontece.”

Max ouvia muito dos amigos quedeveria aproveitar enquanto era menorde idade para fazer atividades ilícitas, umavez que serão presos e liberados empouco tempo. “O pessoal julga muito apichação como coisa de moleque, porque

o moleque não tem tanta noção. Eutambém não tinha, já risquei muita casade tiazinha, apanhei dos ‘homi’, tomeibanho de tinta. Só o tempo e a rua quepodem ensinar. Molecada faz um rolê semconsciência, pichando aonde não deve.Acabam sendo presos e passando essaimagem de ‘coisa de vagabundo’, devandalismo. Mas tem muito cara maisvelho que entende que tem a revolta portrás do movimento, e faz com outramentalidade”.

A impunidade com os infratores

também influencia na continuidade dopixo por parte dos mais novos. “Osmoleques menores assaltavam, faziam um

monte de coisa, aí ficavam um mês lá naUnei (Unidade Educacional deInternação) e saiam. Você fica lá na Uneisó gozando. Comendo, dormindo... esomos nós que pagamos tudo isso”, la-menta Max, que hoje se revolta ao enten-der que parte dos seus impostos acabadirecionada para despesas com estes ado-lescentes.

Com tantos empecilhos e dificulda-des para se pichar, fica claro que existe umamotivação diferente para assinar pelas ruasda cidade. “Aqueles que fazem o risco

mesmo, que formam uma grife; eles criamas letras deles e perdem tempo fazendoisso. O pixo tem uma estética, existemletras quadradas, redondas, espetadas... Eo cara vai subir em um prédio, com riscode cair e se quebrar, em vão? O cara tafazendo porque gosta mesmo, querdeixar a marca dele lá em cima pra passardepois e ver do que ele foi capaz. Assimcomo o graffiti, a pichação também é arte,e pra mim os dois são uma coisa só. Emais do que a revolta, que serve para ali-mentar a vontade de riscar, é tudo feitocom muito amor mesmo” enfatiza opichador.

Max criticou a tendência relaciona-da a este debate, de mostrar o grafitecomo algo superior à pichação. Ressal-tando que muitas vezes trabalhos consi-derados “comerciais” são enaltecidos emmatérias de jornais e sites, o rapaz acre-dita que tanto pichadores comografiteiros estão sendo mal representa-dos na mídia. “Tem uns ‘ramelão’ quealém de não fazer o graffiti, estão se pas-sando por uma coisa que não são, e fa-lando por uma coisa que eles não sa-bem. Galera dá a entender em entrevis-tas que o graffiti veio para acabar com a

Max e Fábio pertencem ao grupo OsMF e costumam sair juntos para pichar

“Os menores assaltam, aí ficam um mês lá naUnei só gozando. Comendo, dormindo...

e somos nós que pagamos tudo isso”

Max*, 19 anos

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pichação, quando na ver-dade ele veio da pichação,começou do risco. Isso épura hipocrisia”.

Para Fábio, a manei-ra com que alguns proje-tos estão sendo conduzi-dos não colaboram parao fim das pichações. “Jávi nego fazendo compe-tição de melhor graffiti,pagando R$4 mil proprimeiro lugar. Galera deverdade não participadisso não, é queimaçãoaté. Quem acaba indo láé artista mesmo, que nemse liga no movimento dacultura de rua, mas vai sópela grana. Não tá tiran-do ninguém do pixo prograffiti com isso”.

Quanto à revolta,ainda que nem sempreatravés de textos diretosque mostrem o descon-tentamento com algumasituação, o sentimentocontinua presente no atode pichar. Max afirmaque a periferia e a comu-nidade ficam em segun-do plano. Enquanto ogoverno faz projetoscontra a pichação, nada éfeito em termos de me-lhorias estruturais nosbairros mais afastados deCampo Grande. No JoséAbrão, por exemplo, on-de o rapaz mora, há umapraça com bancos que-brados, um matagal nolocal que deveria ser umcampo de futebol e umaquadra sem traves.

Sem opções para olazer ou a prática de es-portes, os jovens acabamrecorrendo ao vandalis-mo e às drogas. Naopinião de Max, prenderalguém que se desenvol-ve socialmente em umambiente assim não resol-ve. Se resolvesse, outroscrimes que têm a cadeiacomo punição não deve-riam ocorrer mais. “Combate-se a violênciacom violência, quando o

certo seria procurar saber o porquê daspichações, quais os fundamentos dequem picha e o que eles estão precisan-do”.*Os nomes são fictícios para preservar as fontes.

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Prefeitura promove projeto“Campo Grande Contraa Pichação”

Segundo a divisão de inteligência daGuarda Municipal de Campo Grande(GMCG) foi registrado um aumento sig-nificativo no numero de pichações pelacidade, promovida principalmente porjovens que disputam espaços públicos e/ou privados para deixarem a sua marca.

A Prefeitura da capital decidiu agiratravés do projeto “Campo GrandeContra a Pichação”, em parceria com aFundação Municipal de Cultura (Fundac)e a Guarda Municipal, lançado no últi-mo dia 27 de abril, na pista de skate daOrla Morena.

O objetivo é unir a educação, pormeio das escolas do entorno, os jovensfrequentadores da orla e a vizinhança,para conscientizar a população quanto àpreservação do patrimônio público. Paraisso, foi lançado o disque pichação, atra-vés do telefone 153 para que qualquercidadão que presencie atos de pichaçãopossa fazer uma denúncia.

Outra iniciativa foi o apoio ao gra-fite, com a presença de moradores, guar-das municipais, funcionários da DefesaCivil e da organização “Mãos que Aju-

dam”, além de artistas e grafiteiros queproporcionaram uma renovação na pista.As rampas e arquibancadas do local fo-ram pintadas de cinza, cobrindo picha-ções e até mesmo desenhos feitos ante-riormente, possibilitando aos presentesa oportunidade de refazer a sua decora-ção. O material utilizado foi doado pelaFundac.

Para mostrar o sentimento geral derepúdio às pichações, voluntários da re-gião auxiliaram na pintura dos muros daEscola Estadual Maria Constância deBarros Machado, que sempre foi alvodas latas de spray e contribuía para a po-luição visual da Orla Morena. O Institu-to Patrimônio Histórico Nacional(IPHAN) e os responsáveis pela Escolaforneceram tinta branca para quem qui-sesse ajudar na pintura.

Na noite do dia 23 de maio, a se-gunda edição do “Campo Grande Con-tra a Pichação” aconteceu no Teatro deArena da Orla. O presidente da Associa-ção de Amigos da Orla Morena, RicardoSanches, é favorável a ação da Prefeituraem combater a pichação. “Desde que foiconstruído este local vem sofrendo compichações. Este evento é fundamental paramantermos este local embelezado. Estoude acordo com a Guarda Municipal empromover a grafitagem, uma arte quedeixa o local mais bonito”, afirmouSanches, que esteve presente nas duas edi-ções do projeto.

Projeto Campo Grande contra a pichaçãoreúne artistas de rua na Orla Morena

Pichadores costumam treinar assinaturas para desenvolver suas “tags”

[email protected]@hotmail.com

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Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da UFMS - 6Maioridade penal

Gabriel Cabral

“Que sociedade é essaque faz com que um

adolescente de 12, 15anos cometa esses

crimes tão absurdos?”

Antônia Joana

A redução da idade penal é a solução para diminuir a violência?

SAS/

SEJ

USP

Internos disputamgincana na Unei

O envolvimento de menores de 18 anosem crimes violentos como amorte do estudante Victor Hugo Deppman,19, assassinado por um adolescente queestava a três dias de completar os 18,ressurge a discussão sobre a redução damaioridade penal.

Para diminuir a idade penal é preci-so alterar o código 228 da ConstituiçãoFederal de 1988, que diz: os indivíduoscom menos de 18 anos não estão sujeitosàs punições do Código Penal. Para isso énecessário ser aprovado por três quintosdo Congresso Nacional, pois todaProposta de Emenda à Constituição(PEC) precisa de no mínimo 60% deaprovação, tanto no Senado como naCâmara Federal.

Segundo o Estatuto da Criança e doAdolescente (ECA), o menor de idade

que comete um delito cumpre medidassocioeducativas que podem ser: adver-tência, obrigação de reparar o dano, pres-tação de serviços àcomunidade, liber-dade assistida, inser-ção em regime desemiliberdade einternação em esta-belecimento educa-cional.

O períodomáximo que o in-frator pode ficarinternado é de trêsanos. O governadordo Estado de SãoPaulo, Geraldo Alckmin, encaminhou aoCongresso uma proposta de deixar aConstituição como está, mas aumentaro tempo máximo de internação doadolescente infrator para oito anos. Nesse

caso, precisaria de maioria simples noCongresso para o projeto ser aprovado.

Foi criada uma comissão especialpara discutir o pro-jeto que prevê altera-ções no ECA. Umdos principais pontosseriam medidas maisduras para o adoles-cente reincidente ouque cometa crimeshediondos.

Conforme da-dos da Deaij (Dele-gacia Especializadano Atendimento àInfância e Juventude),

em 2010 foram registrados 3239 boletinse 2011 foram 2990. Em 2012 foramregistrados 2400, desses 331 foramencaminhados a Unei (Unidade Edu-cacional de Internação). Neste ano já

foram registrados 1002 ocorrências.Segundo números da Secretaria

Nacional de Segurança Pública, no perí-odo de 2004 a 2010 foram registrados21. 289 atos infracionais de menores deidade em Mato Grosso do Sul. Umamédia de 3.041 por ano. Houve aumen-to no período entre 2004 e 2007 de 41%,foi de 2339 a 3295. Em 2008 teve umaredução, em 2009 voltou a aumentar e2010 registrou o maior índice 3535.

Rozeman Geise Rodrigues de Paula,delegada da Deaij, compara a redução damaioridade penal: “ela é como se fosse oanalgésico da dor do câncer, ela não resolveo problema da doença, só vai tirar a dor”.

Para o promotor de Justiça da In-fância e Juventude de Campo Grande,Sergio Harfouche, antes de reduzir a ida-de penal é preciso punir o adulto queenvolve a criança e o adolescente no cri-me, pois a pena aplicada ao indivíduo que

Uma questão de “escolha” Uma questão de “escolha”

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7 - Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da UFMS Maioridade penal

Medidas Socioeducativas

[email protected]

Tem como objetivo responsabilizar os maiores de 12 anos que cometem atosinfracionais e reintegrá-los à sociedade.

Medidas em meio abertoAdvertência - repreensão verbal, feita por juiz ou autoridade legal, que é

transformada em documento e assinada pelas partes envolvidas.Obrigação de reparar o dano - para casos de danos patrimoniais, o adoles-

cente pode restituir o bem material ou compensar o prejuízo à vítima de algumaoutra forma.

Prestação de serviços à comunidade - o adolescente realiza tarefas gratui-tas junto a entidades assistenciais, hospitais,escolas ou estabelecimentos simila-res; a jornada não deve exceder oito horas semanais e o período máximo dessamedida é de seis meses; ela não pode prejudicar a frequência do adolescente àescola ou à jornada normal de trabalho.

Rozeman de Paula defende a revisão da aplicação das medidas socioeducativas

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“Com 16 o cara

vota, faz sexo, sabebem o que está

fazendo”

João Batista dos Santos

“Com 16 o cara vota,faz sexo, sabe bem oque está fazendo.”

alicia o menor de idade é branda. “Cor-rupção de menor dá um ano, tráfico dedrogas dá cinco. Então ele prefere pegar a‘molecada’ e botar pra traficar”, ressalta.

Rozeman explica que aumentar a penapara diminuir criminalidade é uma questãocomplexa: “a gente vê países com pena demorte que os índices de criminalidade sãoaltíssimos”. Na opinião da delegada, aforma como a pena ou medida socio-educativa é aplicada que faz a diferença paranão reincidência, talvez seja necessárioreavaliar a forma de aplicação.

A estudante Victoria Ortiz Maga-lhães, 14 anos, acredita que a redução damaioridade diminuiria a violência, “masnão muito. Afinal o que adianta diminuira maioridade sendo que as leis sempretem como ‘manipulá-las’ e usá-las a favordo réu”, ressalta.

João Batista dos Santos, investigador

de polícia, é a favor da redução da idadepenal e acredita que isso é um avanço.Ele diz que os adolescentes estão cadavez mais precoces, a informação chegamuito rápido.“Com 16 o caravota, faz sexo, sabebem o que estáfazendo”.

O investigadorpropõe a reduçãoda idade penal para16 anos. Dos 14 aos16 ele cumpririamedidas socioe-ducativas e se a me-dida de internação for maior que doisanos, cumpre o resto na cadeia. JoãoBatista explica que tudo isso deve sercombinado com ação social. “Nãoadianta o Estado criar o indivíduo para

depois prendê-lo”.Segundo Harfouche, o fato de sa-

ber o certo e o errado não é suficientepara alguém ser responsabilizado penal-mente. “Quando uma criança mata umpassarinho ela sabe que está fazendo umabesteira”. A pessoa precisa saber que aqui-lo é errado e poder ser conduzir pautadanaquela regra.

Para Maria Carmen MatsunakaCarlino, presidente do Conselho Estadualdos Direitos da Criança e do Adolescente(CEDCA), as medidas socioeducativas eas políticas públicas precisam ser bemexecutadas e fiscalizadas isso não dependesó dos conselhos municipais, mas tambémdo poder público.

Harfouche afirma que a escola in-tegral é muito importante. Porque muitasvezes o pai e a mãe trabalham o dia todoe os filhos ficam expostos ao aliciamento.Ele explica que a evasão escolar é a portapara a criminalidade.

Para Antônia Joana Silva, conselheirado CEDCA, o que deveria ser discutidoé a questão: “o que faz com que um ado-lescente de 12, 15 anos cometa esses cri-

mes absurdos?”Joana ressalta

que o apelo consu-mista contribui paraessa situação. Porqueo adolescente precisater uma roupa de talmarca para ser acei-to num determinadogrupo. Isso tem le-vado adolescentes apraticar delitos.

Segundo a delegada, o perfil dosadolescentes que têm passagem pela Deaijsão jovens vindos de lares desestruturadose pais separados que não têm umaconvivência harmônica.

Carmen Matsunaka destaca a respon-sabilidade da família na educação, ela é amaior responsável. Mas quando falta escola,trabalho e políticas públicas a famíliacomeça a perecer e a criança, o adolescenteficam a mercê da mar-ginalidade.

Segundo o promotor Harfouche,um dos fatores para esse processo é afalta de autoridade dos pais com os fi-lhos e dos professores sobre os alunos, oque permite a ida desses jovens mais cedopara as ruas e criminalidade.

Carmen acredita que os três anos sãosuficientes para a recuperação dosadolescentes infratores e não é necessárioaumentar esse período. Para a delegada daDeaij, as medidas socioeducativas talvezprecisem ser revistas, “porque umadolescente de 17 anos e 11 meses, quemata, ele sofre a medida socioeducativa atéos 21. Ele vai ser solto e não vai ter reflexoesse ato infracional que ele praticou”.

O promotor questiona as medidassocioeducativas que, segundo ele, em suamaioria acaba na Liberdade Assistida(LA), pois muitos adolescentes cometemassassinatos e estão na LA.

Hilton Villasanti Romero, superinten-dente de medida socioeducativa afirmaque as em todas as sanções aplicadas aoadolescente existe um acompanhamentoe que não é por acaso que sai uma medidapara o adolescente.

Villasanti afirma que existem 270adolescentes internados em 10 unida-des no estado, em cinco cidades:Campo Grande, Dourados, TrêsLagoas, Corumbá e Ponta Porã. Se-gundo o superintendente a maioria épor envol-vimento com o tráfico deentorpecentes.

Liberdade assistida - um orientador voluntário acompanha o jovem, com oapoio de autoridade competente; caso necessário, o adolescente é inserido emprogramas de auxílio e assistência social; também é acompanhada a frequênciaescolar e, em caso de maiores de 16 anos, há encaminhamento para cursosprofissionalizantes.

Medidas em meio fechadoSemiliberdade - o adolescente deve pernoitar ou seguir determinada rotina

em instituições especializadas; pode realizar atividades externas, como estudos ecursos profissionalizantes.

Internação em estabelecimento socioeducativo - medida privativa de liber-dade, o jovem deve participar de atividades pedagógicas, profissionalizantes e es-portivas; a internação não pode exceder três anos e só deve ser aplicada em últimocaso - quando houver grave ameaça ou violência à pessoa, reiteração no cometi-mento de infrações graves ou descumprimento de outra medida socioeducativa.(fonte: ECA)

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Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da UFMS - 8Voluntariado

Engajamento é uma das palavras-chave para o voluntariado. Por defini-ção, voluntário é aquele que, com umgrande espírito cívico e interesse pesso-al, dedica parte do seu tempo livre, semremuneração, a diferentes atividades eque busca de alguma forma melhorar asociedade.

É o que a organização da sociedadecivil Fraternidade Sem Fronteiras (FSF)faz há três anos, em Maputo, Moçam-bique. Com o objetivo de lutar pelo bemestar dos mais necessitados, a entidadesurgiu em Campo Grande (MS) e tem aInternet, e a boa vontade dos voluntárioscomo as maiores aliadas.

A instituição se mantém graças àsolidariedade de pessoas que se cadas-tram no site e apadrinham uma criança,doando mensalmente R$50,00, o quegarante alimentação e educação. Ape-sar da quantia parecer pequena paramanter alguém por um mês, o dinheiroé suficiente, pois, o Real vale 13 vezesmais do que a moeda de Moçambique,o Metical.

Mas o que leva uma pessoa a dei-xar o conforto de sua casa, sua família epartir em direção a África, em busca deajudar ao próximo? Por que a África?

Para o fundador e presidente da or-ganização, Wagner Moura, a respostapoderia ser definida em poucas palavras:exercitar o sentimento de fraternidade.“Sempre tive vontade de ajudar, mas nãosabia ao certo como. Foi quando, poruma ação pessoal, fiz uma viagem paraa capital de Moçambique. Fiquei lá por15 dias, fiz um estudo da região e loca-lizei um grande índice de órfãos por cau-

sa do HIV. Quando voltei, senti que fa-zer algo por aquelas pessoas era meudever. Somos todos irmãos, era preci-so ajudar”.

Foi justamente essa necessidade denão existir fronteiras que fez do traba-lho um diferencial. A instituição possuidois Centros de Acolhimento em

Moçambique, que atendem em média250 crianças. São servidas duas refeiçõesdiárias, além de serem desenvolvidas ati-vidades lúdicas, noções sobre alfabeti-zação, higiene, ações esportivas e cultu-rais. Cada unidade conta com cincomonitores, todos eles africanos.

Aos poucos, o sonho de Wagner setorna maior e junto a ele um grupo deamigos também abraça a causa. A maio-ria já passou pela experiência de deixar seuslares em Campo Grande por alguns diase conhecer essa dura realidade de perto.Emocionado, o empresário Paulo Melo,um dos voluntários que há pouco retornou

Solidariedadesem fronteiras

Ana Lívia Tavares

Voluntários sul-mato-grossenses auxiliam crianças africanas

Aula de higienização em um dos Centros de Acolhimento, em Maputo

“A necessidade lá ainda consegue sermaior mesmo comparada ao

pior lugar do Brasil.”

Paulo Melo

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o/FSF

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9 - Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da UFMS Voluntariado

[email protected]

de Moçambique, relata com certa tristezao quanto essa experiência o fez ver sua vidade forma diferente. “A necessidade lá aindaconsegue ser maior, mesmo comparadaao pior lugar do Brasil”.

A África é considerada o continentemais pobre do mundo. Cerca de 1/3 deseus habitantes vive com menos de umdólar ao dia. O avanço de epidemias, aescassez de alimento e os conflitos étni-cos armados tornam essa região uma dasmais difíceis de se viver. Além disso, qua-se 2/3 dos portadores do vírus HIV doplaneta vivem naquele continente. O atraso

As crianças se divertem ao participar de atividades lúdicas, esportivas e culturais Todos os dias, crianças têm horário reservado para atividades de leitura, desenho e escrita

econômico e a ausência de uma socieda-de de consumo em larga escala colocamo mercado africano em segundo planono mundo globalizado. O ProdutoInterno Bruto (PIB) total da África é deapenas 1% do PIB mundial e o continenteparticipa de apenas 2% das transações co-merciais que acontecem no planeta.

Os trabalhadores da instituição sa-bem que ajudar esses órfãos a muda-rem de vida não é uma tarefa fácil, porisso buscam expandir o trabalho. O maisnovo projeto, o “Jovem Fábrica de Pão”,irá capacitar moradores locais da aldeia

para trabalharem numa padaria. Viabi-lizada graças à doação financeira devoluntários.”O objetivo é fazê-los cami-nhar com suas próprias pernas, dar con-tinuidade ao trabalho para que eles se tor-nem autossustentáveis”, afirma o advo-gado Ricardo Gomes, um dos parcei-ros deste trabalho.

A instituição também conseguiuuma grande parceria através do FestivalJonnySize. O evento aconteceu em Lon-drina (PR), em 16 de junho, Dia Mundi-al da Criança Africana e contou commais de 20 atrações musicais, entre elasos shows das bandas O Rappa e Pontode Equilíbrio. A organização do showdoará parte do dinheiro arrecadado para

financiar o novo projeto.E é assim, como uma corrente do

bem, por meio do compromisso e dasolidariedade de pessoas que acreditamem um mundo melhor, seja nos proje-tos que já desenvolvem em CampoGrande ou na África, que estas pessoasveem o próximo como seu semelhante.São voluntários que estão fazendo a di-ferença no mundo. “Meu próximo, meuirmão está dentro do planeta. O meular é a humanidade”, finaliza Ricardoquando alguém o pergunta: por que aÁfrica?

COMO AJUDAR ?Para se tornar um voluntário basta entrar no site

da ONG “Fraternidade Sem Fronteira”e se cadastrar para apadrinhar uma criança.

O padrinho/madrinha contribui com uma cota de R$ 50,00mensais, o dinheiro serve para manter a criança no projeto.

O endereço do site é www.off.org.br

Em um trabalho conjunto cuidam da limpeza do Centro de Acolhimento

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Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da UFMS - 10

Equoterapia,o que é isso?

Alternativa de tratamento com cavalos cresce no Brasilmotora não é recente, e a primeira refe-rência data de aproximadamente 400A.C., quando Hipócrates Loo, no “Li-vros das Dietas”, já aconselhava a equi-tação como tratamento da insônia, pre-venção de doenças, regeneração da saú-de e melhora do físico. Em 1901 foi fun-dado o primeiro hospital ortopédico domundo, o hospital de Oswentry (In-glaterra). Uma patronesse do hospitaldecidiu levar os seus cavalos para a ins-tituição a fim de quebrar a monotoniado tratamento dos mutilados de guer-ra, sendo este o primeiro registro deuma atividade eqüestre ligada a umhospital.

A Equoterapia foi reconhecidacomo método terapêutico em 1997 peloConselho Federal de Medicina. No Bra-sil, a partir dos anos 80, com a criaçãoda ANDE-Brasil, o tratamento tomoumaior impulso, mas somente nos últi-mos seis anos é que se pode notar um

para brincar com os amiguinhos. Na se-mana passada, ela se sentou no chãodo meu quarto para assistir televisãocomigo e meu marido. Foi muito emo-cionante para nós”, conta.

Neide Nasci-mento, mãe deJoão Pedro, de 12anos, afirma que ofilho evoluiu mui-to. “Com a ativida-de, o João desen-volveu o equilíbrioe melhorou muitoa atenção. Hoje, eletem percepção e se-gurança mais de-senvolvidas, o quenos deixa extrema-mente felizes econfiantes para o futuro”, comemora.

Segundo a Associação Nacional deEquoterapia (ANDE-Brasil), trata-se deum método terapêutico e educacional,

que utiliza o cavalo dentro de uma abor-dagem interdisciplinar, nas áreas desaúde, educação e equitação, buscandoo desenvolvimento de pessoas. Utiliza oanimal como agente promotor de gan-

hos físicos, psíqui-cos e sociais.

A atividade e-xige a atuação do cor-po inteiro e contri-bui para o desenvol-vimento de forçamuscular, relaxamen-to, da conscienti-zação do corpo eaperfeiçoento da co-ordenação moto-ra eequilíbrio.Ajuda, ainda, na so-cialização, autocon-

fiança e auto-estima, tudo proporcionadopela interação e cuidados com o animal.

O uso de exercícios com equinoscom a finalidade de reeducação psico-

Cecília Paes

Ainda pouco conhecida em Cam-po Grande, mas com destaque no Bra-sil nos últimos anos, a equoterapia éuma forma alternativa de terapia paragrande número de patologias, deficiên-cias e necessidades especiais. Em Cam-po Grande, são três os principais cen-tros de atendimento, dois particulares(Círculo Militar e Hípica Soberano) eum público federal (Polícia MilitarMontada).

As famílias dos praticantes temnotado a melhora nos quadros. Umamãe que preferiu não se identificar paranão expor a filha, de 5 anos, afirmouque a terapia com os cavalos mostrou-se fundamental para a reabilitação dacriança, que possui paralisia cerebral.“No início, ela não conseguia sustentaro pescoço nem o próprio peso para semanter sentada. Hoje, ela possui con-trole e coordenação melhores e já senta

“Método terapêutico eeducacional que utilizao cavalo dentro de uma

abordageminterdisciplinar.”

(ANDE - Brasil)

Cecíl

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Saúde

Continuação da Pag. 15

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Encarte da Edição no 78 do Jornal Laboratório Projétil

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João Marcelo Sanches

A insatisfação do povo brasileiro sematerializou em junho de 2013. Por todoo país se viam jovens, adultos e idosospelas ruas de suas cidades, reivindican-do o que lhes é de direito. E em CampoGrande não foi diferente. Durante trêsdias (20 a 22/06) a Capital aderiu à ondade protestos exigindo, além da diminui-ção das taxas de ônibus, outros direitosfundamentais que vêm sendo negadosaos seus cidadãos.

O Movimento Passe Livre (MPL),fundado no ano de 2005, em Porto Ale-gre, foi o que alavancou a onda de pro-testos. O grupo nacional, que defende aadoção de tarifa zero para o transporte

coletivo, chamou atenção dos brasileirosquando liderou manifestações contra oaumento das passagens de ônibus princi-palmente em São Paulo. O objetivo doMPL sempre foi muito claro: evitar osaumentos propostos, e posteriormentebuscar a isenção total de taxas no serviço.Mas a truculência da polícia ao tentarcontrolar os protestos despertou o senti-mento de revolta que há muito estavaadormecido em nossa sociedade.

A partir daí, todo brasileiro quis sefazer ouvido; trouxe seus anseios e difi-culdades para as ruas, para que seus gri-tos não fossem mais solitários, abafadose esquecidos. Para alguns, “o movimen-to ficou vazio”, perdeu a diretriz previ-amente definida. Sim, as frases prontas

e velhos clichês estavam presentes, masfazem parte de um movimento que pas-sou a ser abrangente. E antes um movi-mento que realmente conceba os diver-sos pontos de vista de uma sociedade ater algo menor e menos representativo.

O mais importante é que nós, bra-sileiros, saímos de casa por questões queestávamos acostumados a nos indignarpacificamente, assistindo aos noticiáriosem casa. Para alguns, discutir políticadeixou de ser um assunto maçante; ou-tros, talvez, percebam a importância defugir dos discursos prontos, como “eunão gosto de política” ou “todo políti-co é corrupto”, e manter-se aberto aestes debates; quem sabe descubram queo “apartidarismo” não é a solução, mas

sim o interesse em buscar um partidoque represente o indivíduo, para fazer adiferença na escolha de seus represen-tantes durante as eleições.

Por enquanto, fizemos história porcolocar cerca de 70 mil pessoas nas viasde Campo Grande, no dia 20 de junho,e milhares mais nos dois dias seguintes.Neste pequeno caderno fotográfico,trouxemos algumas imagens deste mo-mento que será lembrado por muitosanos. Ainda é cedo para saber o realimpacto do expressivo número que foialcançado, assim como não é corretoafirmar que o Gigante acordou. Es-pera-se que isso tenha sido só ocomeço, e podemos dizer quecomeçamos bem.

créditos das fotos: Daniel Lacraia, Michel Lorãn e Yasmin Rezende

Cidadania em práticaCidadania em práticaVEM PRA RUA !VEM PRA RUA ! 2

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VEM PRA RUA !VEM PRA RUA !3

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A concentração ocorreu na Praça do Rádio Clube e em frente à Câmara dos Vereadores,na Avenida Ricardo Brandão. Os manifestantes levaram diversos temas para serem debatidos.

VEM PRA RUA !VEM PRA RUA !4

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15 - Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da UFMS

dos para o trabalho com cavalos, paci-entes com alterações físicas, psicológi-cas e/ou mentais, com distúrbios deaprendizagem de diversas origens, comdificuldades em quesitos sociais comoproteção, promoção, prevenção e inclu-são, e indivíduos com ou sem distúrbiosque desejam fazer da equitação uma ati-vidade física e esportiva. São contra-in-dicados casos como de eplepsia não-con-trolada, instabilidades da coluna verte-bral ou cervical, escoliose em evolução,artrites e luxações, hemofílicos e leu-cêmicos (dependendo do caso).

A equoterapia do centro hípico doCírculo Militar de Campo Grande(CMCG) é desenvolvida há 10 anos, ehoje possui 15 pacientes fixos. Sua hí-pica está no bairro Taveirópolis, na Rua

da equoterapia, já que as longas filas deespera e o preço acabam por deses-timular este tipo de atividade. “A gentenão faz um trabalho social. É privado,porque a hípica não tem apoio de umaoutra entidade ou do governo”. Umadas sugestões feitas por ela é que oSistema Único de Saúde (SUS) ajude apagar a equoterapia, facilitando o aces-so de todos.

“A equoterapia tem que ser feita pelomenos uma vez por semana, mas temospessoas que fazem duas vezes, por exem-plo, depende da disponibilidade e da con-dição financeira da família. Da agendatambém, essas crianças têm horários mui-to cheios, porque fazem fisioterapia,fonoaudióloga, etc.”, conta Michelli. AHípica Soberano fica na Estrada NE-01nº 994, Chácara dos Poderes.

Na Polícia Militar, o atendimento étotalmente gratuito. Hoje, o centro fun-ciona com a capacidade máxima, rece-bendo 105 praticantes, de segunda a sex-ta-feira nos períodos matutino e vesper-tino. São atendidos pessoas com todosos tipos recomendados ao tratamento,em diferentes níveis de patologia ou de-ficiência. O projeto conta com o apoioda Caixa de Assistência aos Servidoresdo Estado de Mato Grosso do Sul(CASSEMS), que ajuda financeiramente

A fisioterapeuta e proprietária Michelli Carulina na Hípica Soberano

Cecíl

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Coronel Rogaciano Ferreira Mendes,244.

Na Hípica Soberano, a alternativaterapêutica é explorada desde 2005. Atu-almente, são cerca de 10 praticantes, en-tre portadores de Síndrome de Down,quadriplégicos, e pacientes com parali-sia cerebral, que pagam por sessão de30 minutos. O preço varia dependendodo caso. Devido a grande publicidadefeita pela Soberano, em março deste anoa hípica recebeu uma moção de congra-tulação da Assembleia Legislativa pelostrabalhos realizados na área equestre.

Em entrevista ao Projétil, a fisiote-rapeuta e proprietária Michelli Carulinacomentou a importância de uma aten-ção maior voltada para projetos finan-ceiros que apoiem o desenvolvimento

na manutenção geral (animais, profissi-onais e infraestrutura). Os profissionaissão contratados e mantidos a partir deum convênio com a Secretaria de Saúdedo Estado.

Segundo a soldado Rosa, fisiotera-peuta, o atendimento, que começou emsetembro de 2002, possui uma equipemultidisciplinar de 15 profissionais. “Naparte da manhã, somos quatro fisios, umpsicólogo, um fonoaudiólogo e umterapeuta ocupacional”, disse ela. Só sãoaceitos praticantes com parecer médicoe há uma fila de espera com cerca de 40pessoas. “Essa fila deve demorar em mé-dia um ano e meio, e fazemos avalia-ções a cada seis meses”, afirma. O en-dereço é Rua Félix Lima s/n (fim da Av.Hiroshima), no Parque dos Poderes.

Sobre as equipes multidisciplinaresnecessárias para esse tipo de terapia, apsicóloga Patricia Ribeiro afirma quedepois de analisada a documentaçãoque o paciente leva até a equipe, umaavaliação geral deve ser feita por pro-fissionais do grupo, cada um dentro dasua especialidade, dando seu parecer eos objetivos a serem alcançados ao lon-go do processo.

Hipoterapia - essencialmente na área da saúde, voltada para pessoas comdeficiências, onde o praticante não possui condições para se manter sozinho acavalo. Ele precisa de ajuda para conduzi-lo e, na maioria dos casos, tambémpara mantê-lo montado;

Educação e reeducação - quando o praticante exerce atuação sobre o animal,que atua como instrumento pedagógico. Neste caso, além dos benefícios físicos,as atividades são planejadas e desenvolvidas com o objetivo de favorecer aspectosespecíficos do desenvolvimento do sujeito, como a organização do pensamento;

Pré-esportivo - quando o praticante tem boas condições para estar a cavalo,podendo participar em competições hípicas na modalidade de adestramentoclássico; e

Programa esportivo - com a finalidade de preparar a pessoa com deficiênciapara competições paraequestres como Paraolimpíadas e Olimpíadas Especiais.

Mais informações sobre a prática em Campo Grande podem ser obtidaspelos telefones (67) 3321-6146 (Círculo Militar), (67) 3327-2565 (HípicaSoberano), e 3326-0253 (PMMS).

Existem quatro programas básicosde equoterapia:

Na Polícia Militar, o atendimento é totalmente gratuito.

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[email protected]

Saúde

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Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da UFMS - 16

Estranhosno ninho

Comportamento

Uma manhã clara. Lá fora o solcomeçava a dar sinais de que o dia seriaquente. Tudo claro. Sentada no banco àespera do médico, me perguntava o queestava por traz daqueles corredores. Aque lugares ou pessoas eles levavam.Aqui fora, tudo tão claro, dentro...nãoparecia tanto.

Distraída, nem percebi quando omédico veio e apertou minha mão. “Jávenho falar com você, tenho que aten-der um paciente”. Depois de alguns mi-nutos, ele volta, e atrás dele um rapaz, a

passos tortos, olhar inquieto e semblan-te bravo. Pode ser um deles, pensei.

O médico voltou e me conduziu auma sala logo no começo do corredor.“Esse é seu consultório Doutor?”. Elerespondeu que sim, fazendo um brin-cadeira sobre o “bom estado” do lo-cal. Cadeira rasgada, mesa pedindo apo-sentadoria, um consultório sem condi-ções de trabalho. Ele explica que assimé o “sistema público”.

Simpático, pergunta qual exatamen-te é o objetivo da entrevista.

-Quero saber como funciona umhospital público com internações psiqui-

átricas. Como é a rotina de quem viveaqui.

-Você entende que tem lugares aquique não posso mostrar a você, para pro-teger a intimidade dos meus pacientes.

-Tudo bem, doutor, mostre aquiloque eu possa ver.

Começamos a andar pelos corre-dores e logo senti uma atmosfera pesa-da, um ar pouco ventilado, luzes baixas.O médico havia avisado que o ambien-te seria assim. Paredes antigas, portas deferro trancadas que levam às alas, femi-ninas, masculinas, espaços de recreaçãoe refeitório. O hospital do Nosso Lar,

que hoje atende pelo SUS (Sistema Úni-co de Saúde) e por convênio, existe des-de 1966, e nunca passou por reformas.Possui 220 leitos para internações, 40 de-les atendem por convênio privado, e orestante pelo SUS. Lá estão os casos maisgraves, mais violentos, pacientes crôni-cos. A impressão é de ter entrado emum filme sobre internações mentais dadécada de 50.

Confesso que a vontade, na hora,foi sair correndo e desistir de encararaquele lugar. Havia cheiro de urina emtodos os ambientes e a dimensão deabandono era gritante. Entramos na ala

Estranhosno ninho

Izabela Sanchez

A realidade de quem é internado nos hospitais psiquiátricos públicos de Campo Grande

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17 - Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da UFMS Comportamento

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feminina. Mulheres com cabelos desgre-nhados. Algumas bravas, outras com ri-sos perdidos. Os quartos reuniam de trêsa quatro pacientes, quando na verdadedeveriam ter somente um. O banheiro?Coletivo e em péssimas condições. Asmulheres pareciam ter um encantamen-to pelo médico, o seguiam por todaparte. Na ala masculina, a mesma reali-dade.

Ninguém sabe o que acontecedentro desses lugares, qual seu ambi-ente, o tratamento dado às pessoas. Sãolugares escondidos. Foi o que me disseo paciente José*: “Tenho muito pra fa-lar, ninguém sabe o que acontece aqui”.E se os lugares visitados já denuncia-vam as condições de abandono, comoseriam os lugares proibidos de entrar?

A legislação sobre internações psi-quiátricas e saúde mental, passou poruma mudança proveniente da reformapsiquiátrica brasileira. Segundo o texto,o paciente deve ser tratado com huma-nidade e respeito, no interesse exclusivode beneficiar sua saúde. Sua recupera-ção deve ser alcançada através de umtratamento em rede, pela inclusão na fa-mília, no trabalho e na comunidade, comambiente terapêutico pelos meios me-nos invasivos possíveis, em serviços co-munitários de saúde mental. Não é bemo que acontece.

O médico me olhava a todo omomento, com certeza sabia do choquede realidade que eu tive naquele local.Dr. Kleber Francisco é medico psiquia-tra e atua nos hospitais Nosso Lar e SantaCasa, além de ministrar aulas para o cursode Medicina da UFMS (UniversidadeFederal do Mato Grosso do Sul). Paraele, o Movimento Antimanicomial bra-sileiro foi um golpe ideológico e políti-co que não atenta para a realidade dos

A Reforma Psiquiátrica no Brasil deve ser entendida comoum processo político e social complexo, com início na dé-cada de 70, quando são registradas várias denúnciasquanto à política brasileira de saúde mental em relação aosistema de privatização da assistência psiquiátrica porparte da previdência social, e também às condições (pú-blicas e privadas) de atendimento psiquiátrico à população.

O movimento antimanicomial compõe o cenário nacionalde luta em prol dos direitos dos usuários e familiares a umaatenção digna dos serviços de saúde. Tem como seu pre-cedente o Movimento dos Trabalhadores de Saúde Mental(MTSM), que surge no contexto da abertura do regime mi-litar, inicialmente presente nos pequenos cenários dedebate sobre a questão das péssimas condições dosistema de saúde vigente no País.

Reforma psiquiátrica brasileira Movimento antimanicomial brasileiro

casos. Por mais “bonito” que seja nopapel, segundo ele a realidade é outra. Aorientação da mudança legislativadetermina que quando houver no míni-mo 160 leitos, os hospitais devem dimi-nuir gradativamente esse número, am-pliando a rede de atendimento. MasKleber defende a opinião do Conselhode Medicina e da Associação de Psiqui-atria, para as quais a reforma das pró-prias instituições, com investimentos emelhores condições de tratamento, é maisurgente.

A rede de a-tendimento deveriacontar com asCAPS (Centros deAssistência Psicos-social), residênciasterapêuticas e as-sistência e preparoda família. CampoGrande, no entan-to, possui somentecinco CAPS, nú-mero inferior a de-manda da popula-ção e não contacom nenhuma re-sidência terapêuti-ca. O que acontecena prática é umavasta procura porinternações, que não encontra resposta,pois o número de leitos foi reduzido.

O ambiente externo do HospitalNosso Lar, mais parece um campo derefugiados. Mulheres, homens e idosos,todos juntos em um lugar aberto, ten-tando fugir da atmosfera densa das alasinteriores. Assim que nos viram, váriospacientes nos cercaram, por curiosida-de, medo, raiva. Cada semblante mos-trava um sentimento. Maria* veio agra-

decer a visita e nos contou que estavamuito melhor depois de medicada.

-Você acredita que está melhor poraqui?

-Muito, muito melhor. Antes dosremédios eu era violenta, agredia os ou-tros pacientes, me arranhava, agora es-tou muito tranquila.

Muitos deles, no entanto, não apre-sentam o mesmo comportamento cal-mo, e por vezes não respondem ao tra-tamento. Esse é, também, outro aspec-

to da divergênciaentre Ministério daSaúde e muitos psi-quiatras. Dr. Kle-ber, por exemplo,afirma que em al-guns casos, quandonão há resposta anenhum tipo demedicação e o paci-ente se torna umaameaça a si e aosoutros, são utiliza-dos métodos comoa eletroconvul-soterapia, popular-mente conhecidacomo eletro-choque. Com con-dições adequadas,como anestesia e

cuidado com o paciente, defende que éo único modo para que crises mais gra-ves se atenuem.

Quando estávamos saindo, um pa-ciente veio para nos agredir, e por pou-co não o fez. Em um dos quartos mas-culinos, estava Julio*, que uma vez ar-rancou a orelha de outro paciente comuma mordida. Olhando para ele, via-seuma criança com medo, babando, fa-lando com dificuldade, escondendo o

rosto.Na Santa Casa, o ambiente pareceu

mais leve. O hospital conta com 40 lei-tos e quartos para até duas pessoas combanheiro. O abandono, no entanto, tam-bém é evidente. Um local que foi o pri-meiro hospital geral do Brasil a oferecerinternações psiquiátricas, hoje mostra pa-redes velhas, condições físicas necessitan-do reforma.

Um médico recebe em média R$7,00 por uma consulta pelo SUS. Este ésó um dos exemplos da falta deinvestimento público e do abandono queesses locais receberam. Os pacientespossuem médicos, enfermeiros e fisio-terapeutas. Fazem atividades culturais erecreativas e recebem os medicamentos.Mas os profissionais são poucos e diari-amente têm que trabalhar em condiçõeslonge das ideais. Segundo o médico, éuma luta diária, de frustração e realiza-ção.

Nos olhares de cada pessoa, seja deMaria, José e Julio, de tantos outros es-tranhos uns aos outros, lutando com suasmentes e com sua realidade dentro des-ses dois hospitais, eu via a mesma coisa:um pedido de ajuda.

Se a lei diz que a reforma psiquiá-trica foi um movimento orientado pelaorganização de pacientes e usuários doshospitais, a realidade mostra que elesprecisam da atenção e da reivindicaçãode quem ainda pode contar com umamente saudável, de quem percebe as ca-rências de um sistema público nomanicômio.*Os nomes são fictícios para preservar as fontes.

“Confesso que avontade,

na hora, foi saircorrendo e desistir de

encarar aquelelugar. Havia cheiro

de urinaem todos os ambientes

e a dimensão deabandono

era gritante.”

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Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da UFMS - 18

Internet como sala de aulaAprender um idioma estrangeiro pode ser feito de qualquer lugar

A estudante Iasmin Amidem utiliza um curso online para estudar inglês

Michel Lorãn

Quando se pensa em estudar idi-omas, o que impede grande parte dosjovens de dar continuidade aos planosé a questão financeira. Estudar idiomasem escolas com rede de franquias nãoé um investimento barato. Mas comosobreviver num mercado de trabalhoonde saber um idioma a mais já não ésuficiente para garantir um bom cargo?

Muitas empresas exigem que seusempregados saibam ao menos inglês ouespanhol para que possam fazer partedos seus quadros de colaboradores. En-tretanto, muitos não têm tempo para irà escolas de idiomas. É o caso de CarlosRocha, que estuda por meio de umafranquia online: “Trabalho oito horaspor dia, além disso preciso cuidar daminha filha. Como a empresa exigiuque todos saibam falar inglês em umprazo de três anos, eu precisei buscaruma saída. Eu estudo todos os dias das19 às 20h. É uma rotina que eu preciseime adaptar.”

Recentemente, o governo federallançou o My English Online, que inte-gra o Programa Inglês sem Fronteiras(IsF). Essa é uma iniciativa do Ministé-rio da Educação destinada aos alunosde graduação e pós-graduação de insti-tuições de ensino superior públicas eprivadas brasileiras.

“Fiz 13 anos de inglês na CulturaInglesa. Uso a plataforma My EnglishOnline pra praticar o inglês, mas antesdesse nunca tinha usado nenhum outro.Eu acho bom, pelo menos para mimque só uso como um meio para prati-car.” é o que conta a universitária IasminAmiden.

A maior exigência de quem esco-lhe estudar online, é a disciplina nos es-tudos. Como nas escolas existem pro-fessores que cobram exercícios e trei-namento de conversação, nos estudosem domicilio é necessário o dobro deesforço para que não haja procras-tinação nas atividades. Muitas vezes hánecessidade de se fazer uma planilha deestudos.

Redes Sociais Colaborativas

Todos os dias, milhares de pesso-as ao redor do mundo aprendem ouaperfeiçoam os conhecimentos em lín-

guas estrangeirasatravés de redes so-ciais específ icaspara esse tipo depúblico.

No Brasil algu-mas redes se desta-cam e merecem re-conhecimento, entreelas: Livemocha eBusuu (Veja no qua-dro opções de sitepara estudar)

Nesse tipo deensino, nativos deum país ensinampessoas de fora oidioma que sabem,e se caso desejarem,podem aprender oidiomas de outroslugares.

O estudanteGustavo Goulart, éuma dessas pessoas

que estudam outros idiomas em umarede de aprendizagem colaborativa.

“Estudo inglês desde os 10 anos, esozinho. Pelos 15 eu comecei a ouvirmuita música, e literalmente dormir como dicionário, ver filmes com legenda eminglês e áudio em inglês. Já troquei cartascom pessoas de outros países e tambémuso o Skype para falar com nativos, poisisso ajuda muito.”

E não é só a língua inglesa queestá disponível. Você pode escolhermais de 50 idiomas para aprender,sem custo nenhum. A estudante dearquitetura, Driely Sol Zanatto, de-sejava aprender italiano. Começoua estudar pelo site Live´-mocha e,quando precisou fazer um teste depro-eficiência no idioma para con-correr a uma vaga de intercâmbiona Europa, foi classificada como in-termediária. Resultado satisfatóriopara garantir a vaga.

Os cursos começam com o bási-co e chegam até o avançado. Todospodem aprender idiomas de formagratuita e de qualquer lugar. É só ques-tão de disciplina e força de vontade.

Bons estudos.

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19 - Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da UFMS

Felipe Dib, campo-grandense de25 anos, é o criador do “VocêAprende Agora”, uma ferramenta queauxilia milhares de brasileiros a apren-der inglês de uma forma fácil e gra-tuita. Em entrevista para o Jornal Pro-jétil, diz como é possível aprenderinglês no conforto de casa e pelainternet.

1)Como surgiu a ideia de criarum site como o “Você AprendeAgora”?

Surgiu depois de um acidente decarro que sofri em uma rodovia deMato Grosso do Sul. Para agradecera Deus por aquele milagre, criei umcanal no YouTube chamado “VocêAprende Agora”, contatei umaprodutora e gravamos 23 aulas.Passados 40 dias, saí de viagemnovamente e sofri um segundoacidente, dessa vez uma colisão frontalque me deixou hospitalizado e commuitas fraturas. Ao voltar pra casa re-tomamos as gravações em cima dacama, onde eu estava (pernasfraturadas) e desde então já foram maisde 500 aulas disponibilizadas.

2) No ano de 2012 você ven-ceu o Prêmio Jovens Inspira-dores,promovido pela revista Veja e aFundação Estudar, na categoriaVoto Popular. Como foi chegar atéa final?

Foi um desafio. O PrêmioJovens Inspiradores é organizado poruma equipe de ponta que querselecionar os melhores talentos doBrasil. A semifinal ocorreu três diasdepois de uma cirurgia que fiz no pédireito, eu estava com o pé todoenfaixado e de muletas! Depois fuiselecionado para a final e napremiação tive a grata surpresa de sa-ber que eu tinha sido eleito com maisde 50% dos votos.

3) Em um mês o site passoude mil acessos para 100 mil. Qualo segredo?

Não sei se existe uma receita para

Jovem ensina inglês pela internet

isso. O que eu sempre fiz e faço no VocêAprende Agora é oferecer algo “top”grátis. Para isso há muito estudo e dedi-cação para que, em 3 minutos, o alunopossa entender o conteúdo e ir para apróxima aula.

4) Recentemente, o G1 de SãoPaulo indicou seu site como impor-tante plataforma de ensino gratui-to. Qual seu maior desejo e o que oinspira a manter o site?

A missão do Você Aprende Agoraé: “Não importa quem seja, nem ondeesteja. Se quiser falar inglês, irá falar!”. Omeu maior desejo é implantar nosso cursonas escolas públicas do Brasil e oferecera todos os alunos a oportunidade de fa-lar inglês e sonhar alto.

5) Na sua opinião, quanto tem-po em média alguém que queiraaprender inglês deve se dedicar aosestudos por semana?

10 minutos de inglês por dia é o

desafio do Você Aprende Agora. Nóssugerimos que nosso aluno assista cadaaula 3 vezes. Primeiro entende, depoisescreve tudo e por último repete o queeu estou dizendo em inglês. Feito isso ésó responder as 10 perguntas sobreaquela aula e ver que realmente apren-deu. É claro que temos alunos que são“super” dedicados e que assistem vári-as aulas por dia e, claro, aprendem bemmais rápido.

6) Hoje o site conta com mais de500 vídeos ensinando os brasileirosa falar inglês. Você tem alguma his-tória de algum usuário do “VocêAprende Agora” que já compartilhoua experiência de aprender inglês peloseu site?

Neste momento o site oferece 544aulas e 5440 exercícios, são várias as histó-rias de pessoas que aprenderam inglês como Você Aprende Agora. Recentemente re-cebi uma mensagem de uma aluna dizen-do que o grande amor de sua vida era um

indiano e que só agora ela conseguia fa-lar com ele, depois de estudar inglêsconosco. Na mensagem ela me pergun-tou se eu achava que ela deveria ir embusca de seu amor na India ou não. Oinglês proporciona isso às pessoas: opor-tunidades, experiências, uma vida commuito mais possibilidades!

7) Quais as novidades que osusuários da plataforma “Você deAprende Agora” podem esperar?

O novo desafio é desenvolver aideia na América Latina! As pessoaspediram uma versão espanhol-inglêspara o Você Aprende Agora. Estamostrabalhando para em breve colocar-mos no ar uma versão espanhol/inglês.para os países latino.

Já recebi propostas por parte dogoverno para implantarmos nas esco-las públicas do país. Estou contente eagora precisamos negociar com osprefeitos e governadores.

[email protected]

O professor Felipe Dib disponibiliza uma vídeo aula por dia, que já somam mais de 540 aulas.

Aprendizado à distância

Repro

duçã

o/You

Tube A missão do

Você Aprende Agora é:

“Não importaquem seja, nem onde esteja.

Se quis alar inglês,irá falar!”.

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Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da UFMS - 20

Gilvana KrenkelYasmin Rezende

Bem-Vindos. Nossa missão é des-vendar como em um tempo de modis-mos, onde vários estabelecimentosabrem e fecham a cada seis meses emCampo Grande, o bar da Aguena man-tém um público fiel há mais de cincodécadas.

Chegamos em uma esquina da ruaAquidauana, no centro da cidade. Cons-truções antigas, em uma área considera-da perigosa, tornam o local aconchegan-te. Por volta das 18 horas, o bar já tinhaos seus frequentadores mais assíduos,

divididos entre jogadores de bozó edominó, e os que estavam ali só parabeber a primeira do dia. Às 20 horas, asmesas na rua e na estreita calçada come-çavam a ficar cheias. Seja de pé, próxi-mo ao balcão ou sentados nas mesasamontoadas, o ambiente foi dominadoaos poucos por diferentes personalida-des, de idosos, jovens a mães acompa-nhadas de seus filhos ainda pequenos.

O céu denso das 22 horas, encobriaum novo perfil: local animado, cercado deuma energia que contagiava qualquer umque chegasse ali. Sem nenhuma mesadisponível, as pessoas se dividiam peloscantos e no meio da rua, sem se incomoda-rem com a falta de conforto.

Até então, nada de tão diferente. Eraapenas mais umboteco de esquina.Porém, quandoquase desistíamosde tentar desvendaras razões daquelelocal ter sobrevivi-do ao tempo, umato inusitado acon-teceu, que passava aimpressão de sercombinado. Inicia-va uma performan-ce musical. Um fre-guês, desses quepassam todos os finais de semana ali, co-

Simplicidade e tradição são as razões que transformam o boteco em quase uma extensão da própria casa

Botecode Esquina

meçou a tocar um samba ao violão.Aos poucos, os

fregueses se uniramem uma só voz,cantando uma me-lodia bastante co-nhecida. As mesas járapidamente afasta-das, formavam umpalco para os dan-çarinos que surgi-ram.

Os presentesnão se sentiam maisdivididos pelas me-

sas, e por algumas horas eram tomadospor uma energia contagiante.

Boemia

Gilva

na K

renk

el

“Eu gosto de boteco,gosto de poder sentarcom os amigos e poder

rir alto sem mepreocupar com

etiquetas”.Rafael Kadico

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21 - Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da UFMS

As mesas já rapidamente afastadas, formam um palco para os dançarinos que surgem.

O Bar Aguena, também conhecidocomo “Bar do Pedrão”, é somente umdos vários botecos tradicionais que resis-tiram ao decorrer das décadas. Não épossível dizer se o que cativa é a simplici-dade do local – copos americanos, mesasgastas pelo tempo ou clássicos petiscos -envolvidos pelas luzes amareladas dospostes que remetem ao passado, criandoum clima de nostalgia.

O que na década de 60 era uma mer-cearia de frutas, café e outras especiarias,tornou-se aos poucos um ponto de en-contro para quem gosta de uma boa con-versa. Mas a transição entre uma peque-na venda, para um dos mais tradicionaisbares da Capital, só se concretizou quan-do o personagem principal dessa historiaentrou em cena.

Dona de um sorriso contagiante, a

esposa do proprietário do bar, LúciaAguena tomou as rédeas do negócio.Empreendedora nata, seu tratamentopessoal aos fregueses se tornou o pontochave de sucesso do local. Além docarisma, outro destaque são os seusquitutes, como o famoso quibe e o clás-sico pastel de carne e queijo, resultado deanos de aperfeiçoamento da primeirareceita.

O bar é também um ambiente deintensa troca cultural, onde conversasdescontraídas de frequentadores, comoartistas, músicos e cineastas, lançam idéiase projetos. A partir de maio de 2012, quan-do foi sede de uma edição do Sarobá(evento que mistura todas as artes em umlugar só), o bar ganhou outros ares, rece-bendo um público mais jovem.

A estudante de Publicidade e Pro-paganda, Maisse Cunha, é uma freqüen-tadora recente. “Venho aqui há mais oumenos seis meses, e o que mais me agradaé alto astral da galera. É difícil atualmenteum bar ser tão agradável quanto este.Aqui não tem briga, o preço da cerveja écamarada e para se fazer amizades é umpulo. Acho o lugar ideal pra quem procuradiversão sem frescuras” conta Maisse.

O estudante Rafael Kadico, tambémdescreve sua proximidade com o bar. “Asimplicidade daqui torna tudo sensacio-nal. Gosto desse clima descontraído. AAguena também é super simpática, metrata com uma hospitalidade enorme todavez que venho. Impossível não adoraraqui, de verdade”.

O som da música e o barulho doambiente produzem uma sinfonia agra-dável. Quase uma ordem para se juntar atoda aquela mistura. Vários personagensse estampam nos rostos dos fregueses.Parece que em algum ponto da noite cadaum permite ser o que quiser, desde can-tor, a jogador de dominó. Não queremosdespedidas, queremos continuar ali, ven-do e vivendo esse cenário enriquecedor.

Não há dúvidas, voltaremos.

Lúcia Aguena, esposa do proprietário do bar Interior do Bar, mesa de bozó e dominó

[email protected][email protected]

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Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da UFMS - 22Casamento

Perguntas movem a evolução hu-mana e hoje não seria diferente. A po-pulação e as autoridades debatem, en-tre outras questões, se casais do mesmosexo têm direito a união civil legal re-conhecida pelo Estado. Que critérioshistóricos, sociológicos e psicológicosconvêm levar em consideração quandose fala de novas formas de vinculaçãoafetiva? Várias nações já deram suas res-postas.

Desde 2001, quinze países permi-tem que pessoas do mesmo sexo se ca-sem em todo o seu território: Argenti-na, Bélgica, Canadá, Dinamarca, Fran-ça, Islândia, Nova Zelândia, Noruega,Países Baixos, Portugal, Espanha, Áfri-ca do Sul, Suécia, Uruguai, alguns esta-dos dos Estados Unidos e, recentemen-te, o Brasil.

Para Marco Antonio Souza Filho,20 anos, e Leonardo Palmieri Blini, 18

anos, casal que mantém um relaciona-mento há dois anos e meio, e moramjuntos há pouco mais de cinco meses, aunião civil é um assunto nas conversasdo dia-a-dia, mas não está nos planos acurto prazo.

Os dois estudantes também traba-lham e já dividem as responsabilidadese despesas da casa. “Discutimos sobreo assunto, mas não fazemos questão numfuturo próximo, pois achamos que nãoé o casamento que consolida umarelação. Morar junto é o suficiente paraseguirmos nossos planos por enquanto”,diz Leonardo.

Mas o reconhecimento da união ci-vil facilita alguns aspectos da vida a dois,acredita Marco Antonio: “quem sabe umdia a gente se case oficialmente, quandoamadurecermos, terminarmos a facul-dade, sermos mais independentes e as-sim pudermos comprar nossa casa oucarro, por exemplo, é mais confortávelque nossa relação seja oficializada, para

facilitar nossas conquistas”.A união oficializada e a possibilida-

de de realizar uma cerimônia ainda é osonho de muitos casais. O “1º CasamentoCivil Homoafetivo Comunitário deMato Grosso do Sul”, que foi organiza-do pela Comissão de Diversidade Se-xual da Ordem dos Advogados do Bra-sil, Seccional Mato Grosso do Sul (OAB/MS), Governo do Estado e movimen-tos sociais, aconteceu no dia 07 de julhoe reuniu onze casais previamente cadas-trados, todos formados por mulheres.

A comemoração em grande estilojá teve outra data anteriormente escolhi-da, dia 12 de junho, Dia dos Namora-dos, mas teve que ser adiado por receiode que algumas manifestações contrári-as pudessem ocorrer. A nova data e olocal da cerimônia foram divulgadospoucos dias antes do evento, que acon-teceu sem dificuldades.

Um dos casais que participou docasamento coletivo é formado por

Karine Keyzy Lemes, 33 anos, e FlaviaFernandes da Costa, 39. Elas estão jun-tas desde 2008, ano em que também es-tabeleceram uma união estável.

Para Karine, a importância do ca-samento é primordial. “Nosso relacio-namento é de muita parceria, pois alémde sermos casadas, somos muito ami-gas. Parte da decisão de oficializar aunião veio da família, pois tenho doisfilhos, de 14 e 16 anos, e todos preferi-mos cultivar o relacionamento comoum casal comum, casando e obtendoos mesmos direitos de um casal hete-rossexual”.

O dia do casamento foi de muitaexpectativa para as duas, os amigos e afamília, que apoiam totalmente a rela-ção. “Foi uma correria, com preparati-vos, convidados e afins. Deu um frio nabarriga e a ansiedade foi enorme. Umdia de muita emoção, só por imaginarque agora quando nos perguntarem doestado civil, podemos dizer com todas

Direitode dizerSIM!

Amanda AmaralCarla Scarpellini

Mato Grosso do Sul oficializa uniãocivil entre pessoas do mesmo

sexo e realiza 1º Casamento CivilHomoafetivo Comunitário do Estado

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Karine Lemes e Flavia da Costa oficializaram sua união em cerimônia coletiva realizada no dia 28

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23 - Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da UFMS Casamento

[email protected][email protected]

as letras e comprovar: somos sim, casa-das!”, exclama Laura, com a felicidadede qualquer recém-casada.

O primeiro casamento entre duaspessoas do mesmo sexo já havia acon-tecido em Mato Grosso do Sul, na ci-dade de Dourados, interior do Estado,no dia 08 de junho, também entre duasmulheres. A motorista Maria de LurdesDino Nogueira e a funcionária pública,Elza Soares Moreira, oficializaram aunião após 12 anos juntas.

Mas nem todos entendem a garan-tia dos diretos dos homossexuais comoum avanço ou uma conquista justa. An-tes mesmo das decisões terem sido ofi-cialmente tomadas, várias manifestaçõesjá haviam se espalhado pelo país e peloEstado. A maioria delas é conduzida ecomposta por movimentos religiososque, baseados nas crenças, doutrinas einterpretações das mesmas, defendema preservação da “família tradicional”.

Manifestantes de igrejas evangéli-cas se reuniram em 8 de junho, no cen-tro de Campo Grande, para protestarcontra a união homoafetiva. Cerca de200 pessoas saíram às ruas condenan-do a união de pessoas do mesmo sexocomo o início da destruição da estru-tura familiar. Alguns manifestantes atélevantavam cartazes oferecendo a“cura” para a homossexualidade atra-vés da religião.

Outra manifestação, intitulada de“Marcha pela Família”, aconteceria nodia 12 de julho, com a presença do pas-tor, deputado federal e presidente daComissão de Direitos Humanos Mar-co Feliciano (PSC-SP). O evento, orga-nizado pelo vice-prefeito da Capital etambém pastor evangélico, GilmarOlarte (PP), teve de ser adiado pois aagenda do deputado estaria lotada. Amarcha agora deve acontecer no feria-do do dia 26 de agosto, aniversário deCampo Grande.

O adiamento da marcha não im-pediu o acontecimento da “Parada daCidadania Contra Feliciano”, que defen-de os direitos dos homossexuais.

Segundo o Juiz de Direito da 1ºVara de Família de Campo Grande,David de Oliveira Gomes Filho, as res-postas contrárias vindas de determina-da parte da sociedade são naturais e es-peradas. “A gente deve respeitar a posi-ção de todo mundo, até aquelas que sãocontrárias a nossa, porque nós vivemosnum país livre e o bonito da democra-cia é justamente isso”.

O juiz ressalta que essa oposição ésaudável. “Quando alguém diz ‘você estáerrado’, você para, reflete e analisa parasaber se o que você fez é realmente cer-to. Se você entender que o que fez é er-rado, você está tendo uma oportunida-de de consertar o erro, se você entenderque está correto, terá mais força, argu-mentos e certeza de que o que fez é oque deveria ser feito. Estranho seria senão tivesse manifestação social nenhu-ma, alguma coisa estaria errada, não se-ria normal”.

Por dentro da Lei

Segundo o 3º parágrafo do Artigo226 da Constituição da República Fede-rativa do Brasil, de 1988, “para efeitoda proteção do Estado, é reconhecida aunião estável entre o homem e a mulhercomo entidade familiar, devendo a leifacilitar sua conversão em casamento”.

A interpretação do artigo parece serclara e direta, mas não foi no óbvio quecorregedora-geral de Justiça, desem-bargadora Tânia Garcia de FreitasBorges, pen-sou ao assi-nar o provi-mento nº 80,que regulari-za o casa-mento civilh o m o a -fetivo emMato Gros-so do Sul, re-gulamenta-do no dia 25

de março de 2013 pe-lo Tribunal de Jus-tiça de Mato Grosso do Sul (TJ/MS).

Tudo teve início quando um reque-rimento foi enviado para a CorregedoriaGeral de Justiça pela Defensoria Públicado Estado, em conjunto com alguns mo-vimentos sociais ligados à defesa dos di-reitos dos homossexuais e o Centro deReferência em Direitos Humanos para aPrevenção e Combate à Homofobia(CENTRHO).

Um dos papéis da Corregedoria doTribunal de Justiça é fiscalizar e orientaros cartórios de registro civil, judiciais eextrajudiciais. A determinação, que tevecomo base a mesma Constituição Fede-ral - fundamentada nos direitos huma-nos - e a Ação Direta de Inconstitu-cionalidade 4277, julgada pelo SuperiorTribunal Federal que reconheceu a uniãodas pessoas de mesmo sexo em 2011,procurou garantir o direito de igualdadeperante a lei, sem distinção ou preconi-zação da dignidade, uniformizando oposicionamento em todo o Estado.

“É nosso dever institucional resol-ver os conflitos que chegam até nossos

tribunais, in-dependenteda orientaçãosexual doj u r i s -dicionado, oque englobatambém a de-fesa dos direi-tos dos ho-mossexuais,em seus vári-os desdobra-

mentos”, en-fatiza a cor-regedora-gerale desem-bargadora Tânia Garcia deFreitas Borges. “Não podemos ignoraras novas nuances que ocorrem entre apopulação, e isso envolve também osnovos modelos de famílias existentes, taiscomo a homoafetiva e a monoparental”,acrescenta.

É nisto que o Juiz David de Olivei-ra Gomes Filho também acredita. “Navida prática essas relações já existem e,existindo essas relações, existem tambémos conflitos”, como os gerados no de-sejo de adoção, na divisão de bens e naobtenção de direitos em caso de sepa-ração ou morte de uma das partes en-volvidas. O objetivo é facilitar judicial-mente a decisão sobre esses conflitos,acompanhando as decisões tomadas emtodo o país. “Se passou a dar uma inter-pretação pra norma, mais coerente coma realidade social”, explica.

Prova de que o assunto que envol-ve é debatido pelas autoridades brasilei-ras e está em avanço, é a decisão toma-da pelo Conselho Nacional de Justiça(CJN) que proíbe a recusa da celebra-ção do casamento civil entre pessoas domesmo sexo ou da conversão de uniãoestável de homossexuais em casamento.A decisão foi anunciada pouco mais deum mês após a medida ser tomada emMato Grosso do Sul, que foi o primei-ro estado do Centro-Oeste, e um dosprimeiros em todo o país, a oficializar aunião civil homoafetiva.

“Não podemos ignorar asnovas nuances da população,

isso envolve também osnovos modelos de famílias.”

Tânia Garcia

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Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da UFMS - 24

Daniel CamposThaís Pimenta

O primeiro beijo de Amanda* foiaos 18 anos. Felipe*, atrás da escola, ex-perimentou o seu primeiro beijo aos 16anos. Ela estranhou o beijo. Ele depoisdo primeiro, partiu para o segundo e pre-cisou do terceiro para ter uma quebra debloqueio. Amanda, hoje com 20 anos,considera que, atualmente, os beijos estãomelhores. Felipe no auge dos seus 19 anos,defende a teoria que nós gostamos da-quilo que é parecido com a gente. Esseprimeiro beijo é o dado em uma pessoado mesmo sexo, em um momento curi-oso de Amanda e Felipe.

Ambos veem com naturalidade obeijo entre pessoas do mesmo sexo.Compartilham da opinião que não hánada de diferente nisso, ou que há umarelação com bissexualidade. São experi-mentações, curiosidade e um desbloqueiopessoal.

Por mais que não gostem de rótu-los, apreciam o termo heteroflexíveis -ou bicuriosos-, criado para caracterizarpessoas que se declaram heterossexuais,mas ficam com pessoas do mesmo sexo.O relacionamento sexual entre eles não énecessário. Não é o prazer que conduz aescolha do parceiro, e sim, a curiosidade.

“Eu não me excito quando beijohomens, é completamente diferentequando beijo mulheres”, afirma Felipe, arespeito de sua flexibilidade com parcei-ros. Amanda explica que o toque de umhomem e mulher é diferente. “Com ohomem você sente uma coisa mais calientepor causa da pegada, as mulheres têmuma coisa mais carinhosa”, diz.

E essa diferença é justamente o quecaracteriza essa nova sexualidade. Oheteroflexível não acredita ser gay, poisestá apenas experimentando, e nãovivendo intensamente uma relação ho-mossexual. Só depois de provar e desco-brir que gosta de pessoas do mesmo sexoque é possível se sentir gay ou bissexual.

Em entrevista a revista Galileu, apsicoterapeuta e sexóloga Mara Pusch, da

Universidade Federal de São Paulo(Unifesp), acredita que esse grupo é ge-ralmente formado por adolescentes ejovens, na faixa dos 20 e poucos anos,que escancararam um comportamentoque sempre existiu na sociedade.

“Tem a ver com a curiosidade típicadessa faixa etária”, diz Mara. Segundo asexóloga, não é que agora todo mundotenha começado a beijar pessoas do mes-mo sexo, eles só estão mais explícitos.“Hoje em dia, há mais liberdade. A soci-edade aceita muito mais esse comporta-mento”, analisa.

Para a psicóloga e sexóloga Caroli-na Valdes, todos são curiosos às diversasopções existentes. Ela explica que a ques-tão da sexualidade é definida quando oindivíduo está em período de desenvol-

vimento, que geralmente condiz com aadolescência. É nessa fase que as escolhase os gostos são definidos.

Segundo o sociólogo e professor daUniversidade Federal de Mato Grosso doSul, Aparecido Francisco dos Reis, asexualidade em si é muito inconstante. “Asidentidades sexuais e afetivas são diferentesde outras identidades como apersonalidade. Pode ser algo transitório jáque grande parte de gays, lésbicas, travestistiveram experiências heterossexuais”.

O fato é que, culturalmente, ainda écomplicado admitir com certa naturali-dade que os homens podem sim – porque não? – querer beijar outros homenssem que isso o caracterize como gay ou“enrustido”.

“O mundo é machista, a norma é

ser heterossexual, uma norma patriarcal.Segundo algumas religiões a mulher existeem razão do homem, eles não são iguais.O prazer masculino se impõe ao feminino,então se existe um menor preconceito deduas mulheres se beijarem em público emoposição a dois homens se beijando sedeve a esse machismo. Se elas podem setocar e se beijar é pelo prazer deles e issoé muito visto nos filmes eróticos atuais”,explica Aparecido.

Felipe vê que mulheres se beijando ésocialmente mais aceito que homens. Elaspodem se beijar, se abraçar, expressar maisseus sentimentos. “Quando isso acontececom homens, é visto de uma formaestranha, de maneira errônea, como separa fazer isso fosse necessário ser gay”,comenta.

Outro ponto a ser considerado é queo beijo se configura a partir de cada cul-tura. O que é tratado com estranheza emnosso meio, em outras partes do mundoé tratado com naturalidade. Carrega emsi, um ato de amor, carinho, ou simples-mente, uma forma de cumprimento. OLíbano e a Rússia são exemplos disso.Dois homens da mesma família se cum-primentam com beijos, demostrandoafeto entre eles.

Nas artes, o beijo entre pessoas domesmo sexo, vem ganhando mais espa-ço. Na música algumas cantoras comoMadonna e Katy Perry expõe com na-turalidade que ficam com outras mulhe-res. Versos como “I kissed a girl and Ilike it” (eu beijei uma menina e eu gosteidisso) foram cantados diversas vezespela juventude feminina sem o menorpudor. E os homens? Casos de perso-nagens curiosos ainda são timidamentemostrados em seriados, como TonyStonem na série inglesa ‘Skins’, que teveseus momentos com Maxxie, a princí-pio de maneira estritamente descom-promissada e sexual.

Por que é difícil para a sociedade aceitar que homens tem o direito de serem curiosos?

Thaís

Pime

ntaCada vez mais os jovens procuram explorar sua sexualidade

Bicuriosidade masculinaSexualidade

[email protected]@gmail.com