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1 Programa do II Governo Constitucional I — Introdução II — Enquadramento político-constitucional e pressupostos políticos III — Objectivos e políticas do Governo A) Consolidar o Estado democrático 1 — Organização e funcionamento do Governo 2 — Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira 3 — Poder local 4 — Reforma administrativa 5 — Comunicação social 6 — Garantia da igualdade perante a lei 7 — Condição feminina B) Organização da economia 1 — Introdução 2 — O papel do Plano e do mercado na regulação da economia 3 — Dinamização e racionalização do sector empresarial do Estado 4 — Estímulo ao sector privado 5 — Apoio ao sector da propriedade social, designadamente ao sector cooperativo 6 — Promoção e enquadramento do investimento estrangeiro C) Programa económico de estabilização para 1978 1 — Introdução, justificação e objectivos 2 — Política de balança de pagamentos 3 — Política orçamental 4 — Política monetária e financeira 5 — Política de combate à inflação e política de rendimentos 6 — Compatibilização do programa de estabilização com as perspectivas da política social e da política de desenvolvimento a médio prazo D) Política de desenvolvimento económico e social a médio prazo 1 — Adesão às comunidades europeias 2 — Estratégia do desenvolvimento 3 — Política de orientação do investimento 4 — Desenvolvimento regional E) Políticas sectoriais 1 — Introdução 2 — Agricultura e pescas 3 — Indústria e energia 4 — Comércio e turismo 5 — Transportes e comunicações

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Programa do II Governo Constitucional I — Introdução II — Enquadramento político-constitucional e pressupostos políticos III — Objectivos e políticas do Governo

A) Consolidar o Estado democrático

1 — Organização e funcionamento do Governo 2 — Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira 3 — Poder local 4 — Reforma administrativa 5 — Comunicação social 6 — Garantia da igualdade perante a lei 7 — Condição feminina

B) Organização da economia

1 — Introdução 2 — O papel do Plano e do mercado na regulação da economia 3 — Dinamização e racionalização do sector empresarial do Estado 4 — Estímulo ao sector privado 5 — Apoio ao sector da propriedade social, designadamente ao sector cooperativo 6 — Promoção e enquadramento do investimento estrangeiro

C) Programa económico de estabilização para 1978

1 — Introdução, justificação e objectivos 2 — Política de balança de pagamentos 3 — Política orçamental 4 — Política monetária e financeira 5 — Política de combate à inflação e política de rendimentos 6 — Compatibilização do programa de estabilização com as perspectivas da política social e da política de desenvolvimento a médio prazo

D) Política de desenvolvimento económico e social a médio prazo

1 — Adesão às comunidades europeias 2 — Estratégia do desenvolvimento 3 — Política de orientação do investimento 4 — Desenvolvimento regional

E) Políticas sectoriais

1 — Introdução 2 — Agricultura e pescas 3 — Indústria e energia 4 — Comércio e turismo 5 — Transportes e comunicações

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6 — Trabalho, emprego e formação profissional

F) Responder às necessidades básicas da população e promover a qualidade da vida

1 — Justiça 2 — Administração interna 3 — Educação e cultura 4 — Segurança social e saúde (situação e determinantes da acção) 5 — Habitação, obras públicas e ambiente 6 — Desalojados 7 — Reabilitação de deficientes

G) Política de independência nacional e de cooperação a favor da paz

1 — Defesa nacional 2 — Política externa 3 — Cooperação com os países de expressão portuguesa 4 — Política de emigração

IV — Considerações finais

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I — Introdução Nos termos do artigo 195° da Constituição, submeto à apreciação da Assembleia da República o Programa do I Governo Constitucional, a que tenho a honra de presidir. Dele constam, por imperativo constitucional, as principais medidas políticas e legislativas a adoptar e a propor ao Presidente da República ou à Assembleia da República. Às principais, pois, e não todas elas, já que, sendo o Governo, em princípio, um Governo de legislatura, ou seja, destinado a durar até ao termo da actual legislatura, nem deve levar-se o esforço de previsão até ao pormenor, nem espartilhar-se por antecipação a acção governativa com sacrifício da necessária liberdade de adaptação a situações novas, ainda que de algum modo previsíveis. Como instrumento que é de execução da Constituição, a primeira virtude do Programa há-de consistir em não repetir, por inútil, nem contradizer, por ilícito, as linhas programáticas da própria Constituição. O escrupuloso cumprimento desta, de par com uma fiel captação das directivas contidas na sua letra e no seu espírito, constitui, aliás, um elementar acto de fé democrática da parte de um Governo democrático constituído por Ministros para quem a democracia não é apenas um acto de coerência ideológica, mas uma vivência enraizada. Atitude de espírito que traz consigo, como lógica consequência, um profundo respeito pelos demais Órgãos de Soberania democraticamente constituídos e um escrupuloso acatamento da respectiva competência e dos inerentes poderes. Se bem que a Constituição consagre o princípio clássico da separação dos Órgãos de Soberania, não deixa de realçar também a sua interdependência. No actual esquema jurídico-institucional não se concebe um executivo divorciado dos demais poderes. E o I Governo Constitucional faz questão em inscrever no seu programa de acção, com toda a ênfase, o seu empenho na mais profícua cooperação com o Presidente da República, vértice da pirâmide constitucional e símbolo vivo da unidade nacional, com o Conselho da Revolução, garante do regular funcionamento das instituições democráticas, do cumprimento da Constituição e da fidelidade ao espírito da Revolução de 25 de Abril, com a Assembleia da República, encarnação da vontade popular, e com os tribunais, representantes do povo para a administração da justiça. Essa cooperação passa pelo mútuo respeito e pelo diálogo profícuo. Sendo o II Governo Constitucional basicamente constituído por membros do mesmo partido que assumiu a gestão do I — aliás com a presença de maior número de membros desse partido —, não se há-de estranhar que o novo Programa apresente, mais do que simples pontos de contacto, verdadeira similitude com o anterior Programa. Destinado o anterior a ser executado no decurso da actua legislatura, mantêm no geral plena actualidade as rubricas que não chegaram a ser executadas, sem prejuízo das necessárias correcções quanto às restantes, das inovações ditadas pela experiência entretanto colhida e pelas alterações de conjuntura entrementes verificadas. Por outro lado, há-de o actual Programa de algum modo reflectir o conteúdo programático do acordo político recentemente celebrado entre o Partido Socialista e o Partido do Centro Democrático Social, que viabilizou a actual fórmula governativa e de que o País teve oportuno conhecimento. Como decorrerá da sua leitura, trata-se de um Programa corajoso e leal, mais pormenorizado do que bastaria para dar satisfação às exigências constitucionais,

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nessa medida conscientemente mais flanqueado a eventuais críticas da oposição, das quais o Governo mais receia a falta do que a ocorrência. Desde que objectivas e tanto quanto possível alternizantes, como se espera de uma oposição consciente do seu papel e das suas responsabilidades, serão bem-vindas e enriquecedoras. O Partido Socialista, que já foi e volta a ser Governo, já demonstrou que preza e respeita a oposição como elemento imprescindível da acção democrática. Conseguido antes da aprovação do Orçamento corrente e do Plano para o exercício em curso, e também do Plano a médio prazo que a esta Assembleia compete aprovar, tem por isso asseguradas oportunidades de correcção e complementação, por via desses instrumentos. Assim, pode de algum modo converter-se em vantagem o facto de não ter podido ser precedido, como seria normal, do conhecimento do Orçamento e do Plano anual para o primeiro ano do mandato a que se reporta e do Plano a médio prazo destinado a cobrir todo o decurso desse mandato. Nem por isso haverá de confinar-se a um mero catálogo de inseguras intenções, antes nele se há-de encontrar a afloração das grandes linhas informadoras do Orçamento e do Plano, cujas propostas de lei o Governo se compromete a apresentar até 15 de Março. Para além do que consta deste Programa, constituirá sempre um dado adquirido o perfil político do Partido Socialista, desenhado através de uma já considerável experiência governativa, o pano de fundo do seu próprio programa político. O povo português, que por mais de uma vez o sufragou como o maior partido nacional, não vê nele uma abstracção ou uma incógnita portadora de riscos, mas algo de concreto, de politicamente definido, imbuído de sentido patriótico e da preocupação da defesa dos interesses nacionais até ao sacrifício conscientemente assumido.

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II — Enquadramento político e pressupostos políticos 1 — Inviabilizada pela recusa de confiança ao I Governo Constitucional, a fórmula governativa consistente num governo do Partido Socialista com independentes, ditada por bem compreensíveis preocupações de homogeneidade, a nova fórmula governativa patriotic amente encontrada — Governo de base PS com personalidades e apoio parlamentar maioritário e estável — muda o acento tónico da homogeneidade para a estabilidade. Ditada esta por bem conhecidas razões de aritmética parlamentar, garante ao Executivo uma sólida base de apoio parlamentar e social, e por via dela a tranquilidade necessária à programação e execução de medidas de recuperação económica e de progresso social menos flanqueadas às flutuações do voto parlamentar. Fundamental é, no entanto, a estabilidade social, sem a qual não é possível uma acção governativa eficiente. O País assistiu, visivelmente ansioso, ao desenrolar das negociações que conduziram à constituição do actual Governo. E embora os profissionais da insatisfação lancem já sobre ele, antes mesmo de começar a governar, pazadas de pessimismo e descrença, a maioria esmagadora dos portugueses deposita nele esperanças e concede-lhe o tempo e o crédito necessários a um juízo objectivo e fundado Nenhum governo pode, à partida, pedir mais. É assim de exigir um clima de paz social propício ao debate sereno e à solução construtiva dos grandes problemas nacionais, cuja ultrapassagem de algum modo divide os Portugueses. Com esse objectivo, o Governo não se limitará ao diálogo institucional com os demais Órgãos de Soberania. Esforçar-se-á por que a diálogo real ultrapasse o institucional e dialogará com o povo a todos os níveis, em especial com as classes trabalhadoras representadas nos sindicatos, nas comissões de trabalhadores, nas cooperativas, nas unidades de produção geridas por colectivos de trabalhadores. E fá-lo-á sem discriminações ideológicas ou outras, que a reconstrução do País exige o esforço e a vontade de todos os portugueses. A principal virtude da democracia é precisamente essa: fornecer aos que ideologicamente divergem instrumentos de concertação e de diálogo em clima de paz social. 2 — Um Governo e um povo que se propõem enfrentar com êxito uma crise que, sendo nossa, é também do mundo — o que a torna mais grave, dada a crescente interdependência dela. Essa crise deriva, nomeadamente: a) Da redução geográfica e económica de Portugal aos seus limites europeus, em consequência do fenómeno histórico e inelutável da descolonização — o País procura uma nova identidade; b) Da situação herdada: quarenta e oito anos de ditadura, com a consequente degradação do homem português e desgarramento da família portuguesa (um português, uma ilha); treze anos de guerras coloniais e desumanizantes; isolamento e descrédito internacional; c) Das profundas divisões existentes na sociedade portuguesa à partida para um projecto de reconstrução nacional: desorientação e desconfiança quanto aos caminhos da Revolução, confrontações virulentas e depredadoras de bens e valores;

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d) Da necessária reconversão de uma economia de exploração colonial numa economia de auto-suficiência e de uma economia de guerra numa economia de paz: perda de mercadas de oferta garantida de matérias-primas e baixo preço e de procura preferencial de produtos acabados; regresso maciço de portugueses residentes nas ex-colónias, com o consequente e abrupto crescimento em cerca de 8% da população portuguesa; licenciamento maciço de solda dos; e) Da recessão económica mundial: aumento vertiginoso do preço dos combustíveis e outros produtos que Portugal importa, estancamento dos fluxos migratórios (solução tradicional para as nossas crises de crescimento demográfico e de desemprego), contenção do turismo, oscilações monetárias, inflação induzida; f) Das profundas transformações económicas e institucionais ocorridas na sociedade portuguesa, com a consequente e abrupta ruptura dos necessários equilíbrios tradicionais: nacionalizações, Reforma Agrária, novas relações de trabalho, exploração reivindicativa por longo tempo violentamente contida e cujos excessos, aliás compreensíveis, contribuíram para o decréscimo da produtividade, para o absentismo, para a indisciplina no trabalho, enfim para a desorganização de importantes sectores produtivos; g) Da sabotagem económica (quanto pior melhor) reactivamente levada a efeito — ainda que por ausências ou omissões conscientes — pelos suportes empresariais do anterior regime; h) De uma compreensível preocupação dos sucessivos governos provisórios e, embora em menor parte, do I Governo Constitucional de pouparem o povo português a sacrifícios supostamente evitáveis e da consequente relutância em tomar determinadas medidas de austeridade que o tempo entretanto decorrido e a experiência medio tempore acumulada revelou necessárias à recuperação da economia. Tem-se hoje, no entanto, a clara consciência de que os sacrifícios inevitáveis não assumidos hoje terão de, agravados, ser suportados amanhã; i) De uma errada concepção, ainda generalizada, de que ao Estado compete resolver todos os problemas, de que, se não resolve, os governos não prestam e devem ser substituídos. Começa a ter-se a clara percepção de que o País são os seus cidadãos, de que o Governo não pode fazer tudo e de que não pode, nomeadamente, trabalhar pelos trabalhadores, ensinar pelos professores, estudar pelos estudantes. Impõe-se um esforço de mobilização nacional para as batalhas da reconstrução, do progresso e da paz. Só um Governo alheio às realidades e inconsciente das suas responsabilidades poderá prometer ao povo português um próximo futuro de fartura e de lazer. O actual Governo, bem ao contrário, exorta os Portugueses à assumpção consciente dos sacrifícios necessários e a não se deixarem embalar por demagógicas promessas de outras e fáceis soluções. O momento é grave, Portugal é de todos. 3 — Da forma como o actual Governo se propõe enfrentar e vencer a crise com que o país se debate trata o presente Programa. Mas, para além dele, existe todo um colectivo estado de espírito na nova equipa governativa: o de governar com determinação o com coragem, não recuando perante as medidas que se mostrem necessárias sem contemporizações demagógicas. Para o efeito, assumirá, patrioticamente, a impopularidade consequente, convicto embora de que a proverbial sabedoria dos Portugueses no seu íntimo o aplaudirá! Antecipa-se, no entanto, o enunciado de algumas grandes linhas de orientação política. E enunciando:

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a) Rigoroso respeito pela Constituição e pelo ordenamento jurídico-institucional dela decorrente; b) Opção europeia, com preservação da identidade e da soberania nacionais, sem prejuízo da valorização, no plano internacional, da nossa experiência africana; c) Desenvolvimento de uma política externa diversificada, fiel às alianças tradicionais, e empenhamento na intensificação das relações de amizade é cooperação com os estados de língua portuguesa; d) Intensificação do apoio às comunidades de emigrantes portugueses, na linha de um entendimento que sobrepõe o homem português ao território português; e) Desenvolvimento de uma política de defesa nacional no respeito das obrigações decorrentes da participação de Portugal na Organização do Tratado do Atlântico Norte; f) Realização de um sério esforço de modernização da sociedade portuguesa e de intenso aprofundamento da justiça social: combate à corrupção, à criminalidade, à discriminação e à desigualdade social; g) Combate vigoroso à crise económica e financeira, em ordem à criação de condições que permitam o incremento acelerado do bem-estar dos Portugueses e a defesa da sua qualidade de vida; h) Intensificação dos esforços tendentes a assegurar uma crescente participação dos cidadãos na vida colectiva e a promover uma descentralização efectiva das instituições políticas e administrativas, tendente à consolidação de um genuíno poder local democrático; i) Desenvolvimento sistemático da via do diálogo e da concertação na sociedade portuguesa, garantindo-se a continuação do restabelecimento da confiança recíproca entre trabalhadores e empresários; j) Intervenção activa dos parceiros sociais na elaboração das políticas e na génese das principais medidas que directamente os afectem, contribuindo-se pata o consenso indispensável à preservação de um clima de paz social e de esforço colectivo de reconstrução económica; l) Forte racionalização e dinamização do sector público produtivo, reforma em profundidade da administração pública central e intenso apoio à administração local autárquica; m) Reconhecimento do papel fundamental a desempenhar pela iniciativa privada nacional e, de que conforme com os objectivos da política económica, da importante função auxiliar do investimento estrangeiro; n) Viabilização de um sistema de coexistência emulativa entre os sectores público, privado o cooperativo e desenvolvimento da propriedade social, com as variações específicas decorrentes da Constituição; o) Consolidação, no respeito pela Constituição, das grandes reformas operadas pela Revolução, tais como a autonomia regional dos Açores e da Madeira, as nacionalizações, a Reforma Agrária, o controle da gestão, o direito à greve e todos os demais direitos e liberdades consignados no texto constitucional;

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p) Racionalização progressiva do aparelho do Estado, consabidamente pesado e inoperante, preocupação de que constituirão indicativos a redução do número de membros do Governo e a valorização dos mais elevados escalões da função pública. 4 — Esta amostragem de postulados destina-se a perfilar toda uma dinâmica de arranque, de recolagem ao pelotão do progresso, de reconquista do tempo perdido. Venceremos a crise.

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III — Objectivos e políticas do Governo

A) Consolidar o Estado democrático 1 — Organização e funcionamento do Governo Constituído basicamente por Ministros e Secretários de Estado filiados no Partido Socialista e por algumas personalidades do Centro Democrático Social e independentes, o II Governo Constitucional perde em homogeneidade o que ganha em apoio par lamentar e social e em emulação. Na linha da preocupação concentracionista que já havia conduzido a uma economia de dezoito postos governamentais aquando da constituição do I Governo Constitucional, o actual Governo abona-se desde já a uma economia de dois Ministros e espera-se que possa concretizar-se também uma redução do número dos Secretários de Estado. A experiência mostra, no entanto, que não são fáceis nem destituídas de riscos as eliminações ou concentrações espectaculares de departamentos governamentais. A partir de certo ponto, a concentração do Poder Executivo em poucas mãos é geradora de inoperância. E não se há-de esquecer que o sector público cresceu. Por outro lado, a extinção de departamentos governativos pressupõe a existência de uma administração pública altamente prestigiada e com níveis de eficiência e qualidade não existentes entre nós. Antes de se atingir a orgânica governativa ideal importa reestruturar os serviços públicos e dotá-los de dirigentes capazes de receberem as competências administrativas dos membros do Governo. Foram eliminados os cargos de Ministro de Estado e de Ministro sem Pasta, de algum modo ligados às personalidades que os ocupavam. A fim de coadjuvar directamente o Primeiro-Ministro manteve-se um cargo de Secretário de Estado e criou-se o lugar de Ministro adjunto do Primeiro-Ministro. Regressou-se à solução, abandonada seja especiais vantagens, da direcção unificada do sector económico e financeiro, através da concentração dos Ministérios do Plano e Coordenação Económica e das Finanças no actual Ministério das Finanças e do Plano. As ópticas económica e financeira, de especificas que são, correm o risco de divergir. Houve a preocupação de lhes salvaguardar a perfeita complementaridade que se faz mister. Regressou-se também à unificação das Obras Públicas e da Habitação, Urbanismo e Construção, autonomizados por razões de conjuntura próprias e problemática do VI Governo Provisório, no actual Ministério da Habitação e Obras Públicas. Criou-se o Ministério da Reforma Administrativa, em atenção à prioridade e importância de que se reveste a tarefa de reestruturação e racionalização da administração pública em gera l e do funcionalismo público em especial. O novo Ministério absorve as anteriores Secretarias de Estado da Administração Pública e da Integração Administrativa. Com a preocupação, que a experiência recomendou, de restringir o número de departamentos directamente dependentes da Presidência do Conselho de Ministros, coloca-se a Secretaria de Estado da Cultura na directa dependência do Ministério da Educação e Investigação Científica, que passa a denominar-se Ministério da Educação e Cultura.

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De igual modo a Secretaria de Estado da População e Emprego e a Secretaria de Estado do Ambiente, até agora dependentes da Presidência do Conselho de Ministros, são agora integradas no Ministério do Trabalho e no Ministério da Habitação e Obras Públicas, respectivamente. Enfim, a redução da presença de Ministros militares à pasta da Defesa não é senão o reflexo do desejo expresso das forças armadas de gradualmente reduzirem a sua intervenção no processo político subsequente à Revolução do 25 de Abril, numa atitude que a história registará como exemplo raro de fidelidade aos ideais democráticos, de espírito patriótico e de perfeita compreensão do relevante papel que lhes cabe. 2 — Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira 2.1 — A autonomia ínsita do regime político-administrativo dos arquipélagos dos Açores e da Madeira é hoje uma realidade em vias de consumação. Consagrada na Constituição, e traduzida nos estatutos provisórios elaborados, pelo VI Governo Provisório e sancionados pelo Conselho da Revolução, encontrou no I Governo Constitucional e continuará a encontrar no II o mesmo espírito que presidiu à elaboração do título VII da Constituição e ao texto daqueles estatutos, além de algumas personalidades que directamente intervieram nessa elaboração. A circunstância de os governos regionais terem sido constituídos segundo a vontade de um partido de oposição, maioritário nas duas regiões, e o aflorar de movimentos separatistas, ainda que carecidos de expressão e representatividade, criaram, por vezes, a aparência de situações de grave conflito entre os governos regionais e o Governo Central e entre as regiões e o continente. Impõe-se reconhecer que as divergências entre governos nunca assumiram as proporções de um conflito grave e que não era cogitável que, nas condições em que ocorreu, a transferência de poderes pudesse ter-se verificado sem uma certa vivacidade de posições e declarações. Mas o balanço é positivo e a autonomia que às regiões assegura a Constituição será em breve uma consumada realidade. À parte esporádicas confusões entre autonomia e independência (ainda que mitigada no aspecto de uma solução federativa), das quais os governos regionais sempre patrioticamente se demarcaram, e com as quais o Governo Central uma vez mais torna bem clara a sua intransigência até às últimas consequências, nunca esteve, nem está, nem estará em causa recusar às regiões de menor parcela que seja de autonomia que a Constituição e os estatutos próprios lhes asseguram. Pode é divergir-se no pormenor da interpretação dos poderes a transferir e a reter, ou sobre a melhor forma e oportunidade de sua transferência, o que não é senão normal e fácil de ultrapassar no plano, reconhecidamente existente, do patriotismo e da boa fé. Existem, aliás, ou estão em vias de funcionar, mecanismos de superação de quaisquer divergências de interpretação dos textos ou de concepção quanto à sua execução prática. O actual Governo confia nas virtualidades da autonomia político-administrativa ajustada à medida de condicionalismos geográficos, económicos, sociais e históricos que a determina. Essa medida está hoje fora de causa: é a consagrada na Constituição da República. Seria tão-pouco realista e patriótico ir além dela como ficar aquém.

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Posto isto, o actual Governo, tal como o anterior, entende que é aconselhável, pelo menos na actual fase de transição, que os cargos de Ministro da República continuem a ser desempenhados por personalidades militares e por isso independentes. 2.2 — Não caberia no âmbito do Programa do Governo Central, sem indefensável invasão de alheias esferas de competência, uma explanação pormenorizada de medidas a tomar com reflexo nas regiões, que naturalmente hão-de em alguma medida resultar da concertação entre o Governo Central e os governos regionais, ou no mínimo depender da prévia audição destes. Mais do que um catálogo de medidas, importa inscrever aqui a garantia de um estado de espírito. E esse é o de que, salvaguardados a unidade nacional e os laços de solidariedade entre todos os portugueses — que a Constituição deseja ver reforçados — e a integridade da soberania do Estado, um dos postulados daí decorrentes, o Governo da República, no uso da competência em relação ao todo nacional que a Constituição lhe confere, ou em relação às regiões que a Constituição lhe reserva, empenhar-se-á no desenvolvimento económico e no progresso social das regiões, cooperando com os respectivos governos no combate às assimetrias e desigualdades derivadas da insularidade. Com esse objectivo: a) Aguardará com vivo interesse a necessária aprovação dos estatutos político-administrativos definitivos das regiões, cuja iniciativa compete às respectivas assembleias regionais, em ordem à substituição dos estatutos provisórios aprovados em condições de assinalável precariedade pelo VI Governo Provisório, dado o limitado prazo estabelecido para o efeito pela Constituição — inferior a sessenta dias —, o que aliás torna incompreensível que não tenha sido fixado qualquer prazo para a aprovação dos estatutos definitivos. O novo texto contribuirá para clarificar situações e eliminar divergências de interpretação e aplicação dos estatutos provisórios; b) Procurará acelerar a concretização da transferência dos serviços periféricos e a devolução de poderes que, até ao presente, pertencem à esfera própria da Administração Central e que devam ser cometidos aos órgãos de Governo próprio das regiões autónomas, com salvaguarda dos direitos dos funcionários e agentes da administração pública; c) Promoverá o melhoramento das instalações e dos quadros do pessoal dos serviços periféricos não transferíveis para a esfera de competência dos governos regionais; d) Promoverá a clarificação das regras que disciplinam a organização dos orçamentos regionais e a sua inserção no Orçamento Geral do Estado nomeadamente no que respeita à aplicação nos orçamentes regionais dos mesmos princípios que vigoram para o OGE, incluindo nos orçamentos de despesas das regiões todos os encargos com os serviços periféricos, qualquer que seja a situação concreta em que se encontrem quanto à sua transferência, uma vez que aos mesmos são já afectadas as correspondentes receitas; e) Apoiará a concretização a curto prazo dos planos de infra-estruturas no domínio dos transportes aéreos e marítimos das e para as regiões, por forma a minimizar os efeitos económicos e sociais da insularidade e a facilitar as comunicações inter-ilhas;

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f) Dará apoio à total cobertura das regiões pela RTP e pela RDP e ao estudo da regionalização de emissões, sem prejuízo da programação a nível nacional; g) Efectivará, dentro do mais rigoroso acatamento da letra e do espírito da Constituição e dos estatutos, a participação das regiões autónomas nas negociações de tratados e acordos internacionais que digam directa mente respeito às regiões e nos benefícios delas decorrentes; h) Promoverá a descentralização económica, com reconhecimento efectivo dos direitos constitucionais das regiões autónomas, em matéria de legislação económica e de participação activa na definição e execução das políticas fiscal, monetária, financeira e cambial, bem como a elaboração dos planos nacionais de desenvolvimento; i) Promoverá e apoiará o de envolvimento regional, pelo esforço convergente do Governo da República e dos governos regionais, sem prejuízo da autonomia das regiões e no espírito do reforço da solidariedade nacional; j) Estudará a criação de uma zona de franquia aduaneira nas Regiões dos Açores e da Madeira, abrangendo os sectores comerciais e industriais. O estudo e a concretização de eventuais zonas francas deverão prever as acções para o efeito necessárias, tendo designadamente em conta as relações económicas entre o continente e as regiões e a integração europeia de Portugal; l) Estudo da criação, em cada região, de um conselho de política monetária e cambial nas delegações do Banco de Portugal, tendo em vista adaptar o funcionamento do sistema bancário e garantir a participação na definição e execução das políticas monetária e cambial, em termos adequados às necessidades da autonomia e do desenvolvimento regionais. 3 — Poder local 3.1 — O antigo regime, louvando-se na mais pura tradição bonapartista, esvaziou de conteúdo real as autarquias — designadamente o município, base da organização da sociedade portuguesa —, procedendo, de uma forma sistemática, à transferência das suas atribuições para o Estado, um Estado autocrático se citado em Lisboa, concentrado na quadra do Terreiro do Paço. 3.2 — A institucionalização e consolidação da democracia impôs a existência de autarquias fortes, livres e com autêntica capacidade de decisão. Devolveu-lhes o poder político, permitindo a livre eleição dos seus órgãos, reconheceu-lhes a faculdade de se administrarem por si próprias, no âmbito da comunidade nacional em que se integram e sem prejuízo, em qual quer caso, das obrigações gerais de tutela que ao Governo competem nos termos da lei. Concedeu-lhes ainda os meios e o poder financeiro indispensável para levarem a cabo a realização dessas atribuições. 3.3 — O Governo, no respeito estrito pela Constituição e pela lei, está decidido, naturalmente, a prosseguir e a desenvolver esta política, permitindo uma participação mais activa dos cidadãos na administração dos seus próprios interesses e promovendo uma descentralização mais intensa das estruturas administrativas: daí resultarão novas modalidades de democratização da sociedade portuguesa e, através de um aparelho administrativo mais eficiente, novos impulsos à aceleração do progresso do nosso país.

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3.4 — Com vista à realização deste objectivo genérico o Governo promoverá os estudos necessários para que em curto prazo sejam tomadas, entre outras, as seguintes medidas: a) Organização das grandes áreas metropolitanas de Lisboa e Porto através de uma remodelação completa das respectivas estruturas administrativas, por forma a transferir para centros de decisão supramunicipais eficazes as competências actualmente atribuídas aos órgãos próprios dos diversos municípios envolvidos; b) Apoio à intensificação das associações e federações de municípios, segundo modelos variados oferecidos à sua opção pela lei, e com adopção de regimes jurídicos adequados, que lhes garantam a necessária capacidade de actuação e assegurem o seu funcionamento regular; c) Acompanhamento de execução da reforma das finanças locais e gestão apartidária do fundo de perequação financeira; d) Progressiva supressão ou redução da intervenção dos serviços locais do Estado que possam com vantagem ser substituídos pela entrega das respectivas atribuições, por transferência ou delegação, às autarquias locais, ou respectivas federações e associações; e) Criação de novos bairros administrativos e proposta de redefinição das atribuições e competências do respectivo magistrado administrativo; f) Redefinição dos órgãos de apoio técnico às autarquias, designadamente dos GAT; g) Associação dos municípios à concepção e execução dos planos de desenvolvimento regional; h) De modo mais geral, valorização e revitalização do regionalismo que permita combater o hipertrofismo de Lisboa e Porto, estimu lando o crescimento de outros pólos urbanos. 3.5 — O Governo propõe-se acompanhar e apoiar nos factos a autonomia das autarquias, mormente dos municípios, revendo toda a legislação avulsa, complementar do Código Administrativo de 1940, que na prática a reduz, quando não a anula. 4 — Reforma administrativa 4.1 — Análise da situação e linhas gerais de orientação: 4.1.1 — O Governo reconhece a necessidade absoluta e urgente de planear e executar uma ampla e profunda reforma destinada a dotar o nosso país com uma administração pública humana, viva, coerente e eficiente, capaz de constituir um estímulo, em vez de travão, ao desenvolvimento económico e social e de responder com presteza ao movimento de integração económica europeia e ao respectivo condicionalismo. 4.1.2 — Com a criação do Ministério da Reforma Administrativa, o Governo pretende dar um passo decisivo no sentido da reforma que lhe deu o nome, empenhando-se, pela primeira vez, efectiva e globalmente, nesta tarefa, sem ignorar que o objectivo só pode ser alcançado a médio prazo e que envolve um grande esforço de investimento, sem dúvida reprodutivo, mas condicionado à actual exiguidade das nossas disponibilidades financeiras.

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4.1.3 — Se a reforma administrativa não é uma espectacular substituição das estruturas, de normas e de processos, mas antes uma acção reflexiva e continuada para manter em forma o eficaz funcionamento da Administração e a sua adequação às realidades e circunstâncias de cada momento, entende o Governo que estrategicamente convém lançar desde já todo um conjunto sistemático de providências tendentes a assegurar a renovação e o aperfeiçoamento da administração pública, no tríplice aspecto do rendimento do factor humano, da estrutura dos serviços e das técnicas do seu funcionamento, por forma a torná-la, por um lado, mais eficiente na prossecução dos seu fins, ou seja na promoção e orientação do progresso económico e social, e, por outro lado, mais coerente com os princípios a que se acha submetida: a) Programando providências tendentes a garantir um acatamento mais fiel e completo da lei; b) Incluindo regrai destinadas a assegurar o primado dos valores fundamentais segunda princípios de moralidade administrativa; c) Mantendo a superioridade da política em relação à tecnologia e assegurando a sobreposição com êxito do primado do interesse colectivo face à força dos grupos e à indisciplina dos indivíduos; d) Estruturando novas modalidades de audiência e de colaboração dos particulares no processo de preparação das decisões; e) Adoptando soluções e esquemas capazes de aperfeiçoar e aumentar os instrumentos de controlo da acção administrativa; f) Defendendo sistematicamente as superiores conveniências nacionais, tanto no plano da prossecução dos interesses gerais da colectividade como no da protecção dos interesses patrimoniais e dominiais do Estado. 4.1.4 — A reforma administrativa terá de ser global. E para isso deverá abranger os serviços do Estado, centrais e periféricos, os da administração local e regional e os dos organismos autónomos e empresas públicas. Nenhum sector da administração pública será excluído. O Ministério da Reforma Administrativa, como responsável pelo estudo, planeamento e lançamento da reforma administrativa, estabelecerá todas as necessárias ligações de estreita cooperação com os restantes departamentos ministeriais e sectores da administração pública e poderá promover nos mesmos a criação, e a reestruturação quando necessário, de serviços sectoriais de reforma, encarregados de colaborar com este Ministério quer na preparação das directivas genéricas a aprovar, quer aplicando as medidas globais que tiverem sido definidas, quer trazendo ao conhecimento do Ministério as experiências feitas no respectivo sector, as dificuldades encontradas e as sugestões a ter em conta. 4.1.5 — As críticas à Administração e as propostas para o seu aperfeiçoamento provêm dos mais variados sectores: dos particulares, como sujeitos de interesses ou apenas como cidadãos, dos políticos, da imprensa, dos próprios funcionários e dos governantes. Existe em todos a convicção generalizada de que importa melhorar a Administração nos diversos aspectos do rendimento ao factor humano, da estrutura dos serviços e sua organização, da sua gestão e funcionamento e da utilização racional do equipamento: a) Deficiências quanto ao factor humano:

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Desconhecimento da realidade humana da Administração quer do ponto de vista quantitativo quer qualitativo; Baixo nível das remunerações e das regalias de segurança social; Incipiência dos processos de recrutamento e selecção de pessoal, alicerçados predominantemente na livre escolha; Inexistência de uma política de emprego do sector público, movida por preocupações de reaproveitamento dos agentes integrados no QGA e de pleno emprego, em geral; Disparidade de situações; Desequilíbrios sectoriais; Opacidade excessiva dos quadros de pessoal, impeditiva de uma política de mobilidade departamental e interdepartamental; Ausência de motivações Insuficiente preparação profissional por parte da generalidade dos funcionários e agentes do Estado no tocante a conhecimentos relativos à Administração, por carências do sistema de ensino oficial, a todos os níveis, e por manifesta insuficiência de instrumentos de formação profissional; Carência de espírito científico e de capacidade de investigação, em parte pelos condicionalismos que as próprias estruturas lhes impõem; Insuficiente compreensão do meio socio-económico e do papel da Administração como agente do desenvolvimento; b) Deficiência da estrutura dos serviços e sua organização: Indefinição de um sistema integrado de inovação administrativa; Tendência generalizada para o empolamento das estruturas; Tendência para a criação de administrações paralelas; Disparidades quanto à inserção orgânica e à hierarquia de certos serviços homólogos, em Ministérios diferentes; Tendência para os excessos de proliferação das administrações de missão (gabinetes, comissões, grupos de trabalho) e sua não articulação com os serviços de linha; Má definição e consequente mau funcionamento dos órgãos de coordenação interministerial; Predomínio da estrutura vertical rígida, com a consequente indiferenciação orgânica de actividades de índole diferente: operativas, consultivas e instrumentais; Sobreposição e lacunas nas atribuições de numerosos serviços e faltas de clareza na sua relação com os objectivos a prosseguir;

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Ausência de uma definição rigorosa da competência de diferentes órgãos, especialmente no tocante à diferenciação vertical dos poderes de decisão; Excessiva concentração geográfica de serviços na capital e reduzido número em outros centros urbanos; Excessiva centralização de poderes de decisão e autoridade dos órgãos da Administração Central; Excessiva concentração de poderes de decisão nos níveis mais elevados da hierarquia, o que, entre outras consequências, origina uma acumulação de tarefas rotineiras naqueles escalões, em prejuízo de tarefas de concepção e orientação global; Indefinição de critérios relativamente às atribuições e características funcionais dos diferentes subsectores públicos, designadamente no que se refere à concessão de personalidade jurídica e de formas variadas de autonomia administrativa e financeira; Insuficiente avaliação dos factores psico-sociológicos que estão presentes nas organizações administrativas; Predomínio do espírito formalista, o que origina lentidão no processo de decisão e inadequada oportunidade de resposta às solicitações que a sociedade dirige à administração pública; c) Deficiências de gestão e funcionamento: Utilização predominante de estilos de direcção com escassez de fluxos de informação ascendente e não participativa; Ausência quase total de planeamento, a favor de normas empíricas de funcionamento dos serviços, com a correspondente improvisação de actuações pontuais, não programadas e não coordenadas; Inexistência de uma clara definição de objectivos a médio e a longo prazo; Manutenção de técnicas e concessões orçamentais antiquadas que não se orientam pela consecução de objectivos, não compreendem a reavaliação dos mesmos e não facilitam a determinação de custos operacionais nem o controle dos resultados; Ausência de mecanismos avaliadores da eficácia e eficiência dos serviços; Ausência de avaliação do binómio «custo/eficácia» na definição de objectivos e nas tomadas de decisão; Excesso de formalidades, exigências e burocracia; Número exagerado de diligências a efectuar e de licenças a obter, por cada acto a praticar ou actividade a exercer; Inconsideração do factor «custo de produção» e inexistência quase geral de contabilidade analítica; Incipiente utilização de técnicas modernas de recolha, registo, tratamento e transferência de informação;

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Morosidade na transmissão de informação pela complexidade dos circuitos e suportes informacionais, bem como pela inadequada repartição vertical e horizontal de competências; Excessivo formalismo do conteúdo da informação; Os centros de processamento automático de informação que se encontram disseminados pela administração pública não estão hierarquizados nem enquadrados numa orgânica para a informática; Os serviços da administração pública onde são inseridos os centros oferecem resistências fortes à passagem do processamento manual da informação para o processamento automático; A concepção das aplicações é dificultada pela relação entre utilizadores e informáticos, bem como pela escassez de analistas e programadores formados e actualizados pelas mais modernas técnicas de análise e codificação de programas; A produção dos centros corresponde a uma pequena parte (por volta de 36%) da utilização da capacidade produtiva; A optimização da produção nos centros é ainda dificultada muitas vezes pelo facto de não se estar à altura de garantir o funcionamento técnico dos sistemas informáticos, aproveitando toda a sua capacidade produtiva, por falta de analistas e programadores de sistemas, bem como de esquemas de manutenção dos equipamentos e, ainda, porque na aquisição dos equipamentos os centros dependem em grande parte dos fornecedores, de um modo geral as multinacionais da informática, as quais vendem por vezes equipamentos de elevado grau tecnológico para os quais não estão previstas medidas necessárias para os utilizar convenientemente; A informação produzida — ou o output do processo de produção — é, ainda, por vezes obtida fora de tempo, presumindo-se que contenha alguma percentagem de erros de difícil quantificação, dado que, de um modo geral, não se produzem os indicadores sobre o grau de fiabilidade dos sistemas instalados; A indefinição das necessidades dos gestores torna deficiente o desenho dos sistemas, de modo que a informação produzida é muitas vezes insuficiente ou menos indicada para a satisfação das necessidades reais, visto não estarem em muitos casos preparados para exigirem da informática tudo o que esta lhes poderia proporcionar; O ritmo a que se têm desenvolvido as despesas em informática de aluguer, compra e manutenção de equipamento, bem como de material, pessoal, serviços e outras na administração pública de 1971 a 1975, estima-se em 36,1 % (taxa de crescimento médio anual), tendo praticamente duplicado de 1973 para 1975, em que passaram de 278 400 para 529 800 contos; A inexistência de carreira e a falta de atractivo para exercer as funções informáticas devido às baixas remunerações praticadas e à formação proporcionada, comparativamente com o que se passa no sector privado e no sector público nacionalizado, justificam o menor nível do pessoal especializado, com incidência particular no domínio da análise; Deficiente utilização e produção dentro da administração pública de informação científica e técnica (ICT);

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Ausência de uma infra-estrutura para a racionalização, a nível nacional, da recolha, tratamento, armazenamento, difusão de informação científica e técnica; Insuficiente tecnologia no domínio das ciências da informação; Falta de pessoal qualificado, ao que não é alheia a estruturação vigente das carreiras de técnicos do ICT; Duplicação e/ou incorrecto dimensionamento das unidades de ICT existentes, consequência da sua criação não planificada; d) Deficiências quanto ao equipamento: Falta de definição de uma política governamental em matéria de instalações, pela existência de várias entidades intervenientes; Enorme dispersão, por um lado, dos serviços de cada Ministério, de que resulta a multiplicação nos diversos locais de serviços de apoio geral, com o consequente aumento de despesas, uma maior demora nas intercomunicações, baixa na produtividade e incomodidade para os utentes e, por outro lado, uma grande centralização dos serviços de utilidade pública em prejuízo das zonas habitacionais onde se deviam instalar; Não adopção sistemática dos métodos que façam preceder a instalação de serviços de um plano de implantação funcional dos postos de trabalho com vista a uma racional utilização dos espaços; Carácter obsoleto dos equipamentos utilizados na maioria dos serviços; Falta de racionalização na utilização comum dos equipamentos existentes na Administração, designadamente de produção e reprodução de documentos. 4.1.6 — Por outro lado, não se pode esquecer, num diagnóstico da situação actual, a diminuta participação dos cidadãos na Administração. Para o cidadão a administração pública é um instrumento e não um fim em si mesmo. Ora, como instrumento que é, o que importa é determinar conto é que é utilizada e para que fins. Estes são, fundamentalmente, preservar a dignidade e o valor da pessoa humana, assegurar o respeito dos direitos do homem e das liberdades fundai mentais e ainda favorecer o progresso social e instaurar melhores condições de vida. Se compete ao Governo a defesa intransigente destes princípios, eles têm de ser também estritamente observados pela função pública. Os funcionários têm de aceitar com coragem e lealdade o seu papel de servirem os seus concidadãos. Devem agir sempre de forma que nenhum particular, face à Administração, seja impedido de exercer os seus direitos, designadamente: a) O direito de ser tratado com justiça, imparcialidade e bom senso, no respeito da legalidade; b) O direito do recurso contra uma decisão injusta ou ilegal; c) O direito de participar, nos termos da lei, nos negócios públicos ao nível nacional, regional e local; d) O direito de ser informado, sempre que o requeira, do andamento dos processos que lhe respeitam.

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Porém, numa análise em linhas muito gerais da situação actual da no Administração, não podem deixar de ser apontadas mais as seguintes deficiências: Isolamento da Administração relativamente aos seus utentes, designadamente por falta de uma actuação coerente no domínio das suas relações com o público; Ausência de canais de informação que proporcionem o esclarecimento e compreensão das actividades estaduais e, simultaneamente, o acolhimento e participação dos interessados nas actividades administrativas; Ausência de um sistema integrado de informação administrativa; Deficiente informação ao público. 4.2 — Objectivos e medidas conducentes à reforma administrativa: 4.2.1 — Dos princípios gerais referidos e do diagnóstico da situação actual da nossa administração pública resultam as grandes linhas da reforma administrativa, dirigidas contra os males e deficiências apontados e que, além da pretendida dignificação da função pública, deverá assegurar uma mais efectiva participação e dinamização dos cidadãos na Administração e promoverá uma mais ampla descentralização das estruturas administrativas, com vista à obtenção de um aparelho administrativo mais racional e portanto mais eficiente. 4.2.2 — Para definir e promover esta política, o Governo, sem se abstrair do seu papel de principal motor do processo, utilizará a plena capacidade dos serviços centrais do Ministério e dos respectivos órgãos de planeamento, consulta, orientação, formação, coordenação e execução. Em certa medida caber-lhe-ão também funções de superintendência e de controlo. Porque a reforma administrativa é um grande empreendimento colectivo que interessa não apenas ao Governo e aos funcionários, mas aos interesses socio-económicos e ao público em geral, admite a criação de um órgão superior de consulta sobre as questões comuns à administração do Estado, em matéria de ordenamento de pessoal, organização, funcionamento e aperfeiçoamento técnico dos serviços. 4.2.3 — Além dos serviços deste Ministério, tem de haver nos demais Ministérios serviços sectoriais encarregados das necessárias ligações e colaboração na realização dos objectivos da reforma administrativa. Ulteriormente, avançar-se-á na criação dos instrumentos necessários à ligação com as administrações local e regional e com as administrações autónomas. 4.2.4 — Para dar corpo a todas as realizações que projecta e para obter a definição de uma carta orientadora assente numa política de conjunto, o Governo apresentará, ainda na actual sessão legislativa, à Assembleia da República uma proposta de lei de bases da reforma administrativa. 4.3 — Realizações específic as do Ministério: 4.3.1 — Funcionalismo público: a) Apresentação à Assembleia da República de uma proposta de lei de bases da função pública, após audiência prévia das organizações sindicais interessadas e em cumprimento, aliás, da Lei n.º 47/77, de 8 de Julho;

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b) Institucionalização da função do pessoal nos diferentes departamentos do Estado, em articulação com uma acção coordenada e uma política unitária; c) Melhoria, dentro das forças do Orçamento Geral do Estado, das condições económico-sociais dos funcionários, sem discrepância e tendendo para a paridade entre as remunerações públicas e privadas de cargos análogos, através da estruturação de carreiras, definição de uma política salarial e reforço da protecção social do funcionalismo; d) Definição e regulamentação da representação do pessoal que serve a função pública para efeitos de defesa dos seus direitos e interesses legítimos e garantias para o livre exercício da acção sindical; e) Criação de um registo central de pessoal, tendo em vista a recolha de elementos estatísticos sobre a função pública e a definição de indicadores de gestão que permitam a adopção de medidas de política de pessoal e de emprego da função pública e o desenvolvimento de uma gestão, ao nível departamental e interdepartamental, de sentido eminentemente previsional; f) Definição, programação e execução de unta criteriosa política de emprego da função pública, com vista ao pleno emprego dos seus agentes, no respeito pelos objectivos organizacionais e pelos princípios orientadores de uma política de desenvolvimento sócio-profissional dos funcionários públicos; g) Incremento da formação e aperfeiçoamento profissional dos funcionários. Neste domínio o Governo vai desenvolver esforços, quer através da criação de uma escola nacional de administração em conjugação com a Universidade, tendo em vista a preparação de quadros dirigentes e técnicos superiores, quer através da institucionalização de um sistema integrado de formação profissional vinculado à formação prévia, à formação-promoção e à formação-reconversão de pessoal, dos quadros técnico-secundário, administrativo e auxiliar e bem assim à formação de especialistas em áreas em que o sistema de ensino oficial se revele carenciado. No tocante ao primeiro projecto, o objectivo citado poderá ser complementado com a constituição de um centro de documentação, investigação e difusão no domínio da ciência da Administração, e bem assim por actividades de cooperação e de assessoria técnica à Administração na reorganização, modernização e introdução de novas técnicas de gestão nos serviços públicos; h) Revisão do Estatuto da Aposentação e actualização das pensões, tendo em vista um sistema integrado de segurança social; i) Racionalização e melhoria dos processos de recrutamento e selecção de pessoal da Administração e sua centralização, mor mente no tocante a categorias comuns à Administração; j) Tomada de medidas imediatas para, dentro das disponibilidades financeiras, dar cumprimento ao compromisso assumido pelo anterior Governo com o funcionalismo público no sentido da melhoria das suas retribuições; l) Aceleramento das medidas já tomadas com vista à integração global do pessoal do quadro geral de adidos até Junho de 1980; m) Definição de sistemas de concertação com as organizações sindicais representativas dos funcionários públicos;

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n) Revisão dos sistemas de assistência médica e medicamentosa e controlo eficaz da doença. Não se desconhecem as dificuldades quanto ao financiamento das soluções atrás apontadas e outras adiante referidas quanto ao conteúdo da programada reforma administrativa. De qualquer modo, não é de excluir a possibilidade de se encontrarem, através do próprio processo da reforma, novas receitas, provenientes, nomeadamente: a) Da racionalização dos contingentes de pessoal, como se referiu; b) Da elevação gradual das taxas devidas pela utilização dos serviços e bens da Administração, no âmbito de uma política económica global assente na verdade dos preços e dos custos de produção; c) De uma exploração mais dinâmica e actual no domínio público do Estado, e bem assim do respectivo património privado; d) De economias a efectuar com a mecanização dos serviços e, de um modo geral, com a sua racionalização e melhoria. 4.3.2 — Estrutura da administração pública a) Estudo da estrutura e orgânica do Governo e, designadamente, do número e designação dos Ministérios e Secretarias de Estado; b) Estruturação do Ministério da Reforma Administrativa; c) Valorização e revitalização dos serviços periféricos, mediante o estudo e adopção de um conjunto articulado de providências da desconcentração de natureza global que permitam combater a hipertrofia de Lisboa e estimular o crescimento das outras cidades e agregados populacionais; d) Ampla descentralização tendente a compensar a hipertrofia do Estado com o reforço da autonomia das autarquias locais; e) Estudo de modelos orgânicos de departamentos ministeriais; f) Definição dos regimes de autonomia administrativa e financeira e sua fiscalização; g) Prática e reforço da descentralização institucional; h) Definição dos critérios gerais e pressupostos que devem presidir à transformação de serviços burocráticos em empresas públicas, nos casos em que isso se justifique; i) Revisão e actualização do estatuto da concessão e seu incremento; j) Revisão do estatuto legal dos contratos administrativos, com vista à colaboração dos particulares na realização de determinadas tarefas ou para a satisfação de necessidades de natureza pública. 4.3.3 — Organização e gestão: a) Revisão da dependência de alguns serviços quanto a determinados Ministérios e sua ulterior transferência para outros em consonância com a sua actividade ou por

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razões de proximidade com serviços semelhantes; b) Estudo da reorganização interna dos diversos Ministérios segundo um esquema comum de normalização das respectivas leis orgânicas; c) Dignificação dos altos órgãos da administração pública, designadamente o Tribunal de Contas e a Inspecção-Geral de Finanças, e sua reorganização, aumentando-lhes as atribuições e competências e reforçando os respectivos meios de acção; d) Estudo da revisão e uniformização dos serviços gerais de inspecção; e) Intensificação das relações horizontais e de coordenação entre os diversos Ministérios; f) Revisão dos regimes de desconcentração de competências, por forma a libertar os escalões superiores de tarefas rotineiras e a promover, nomeadamente, o encurtamento dos níveis de decisão e o reforço das competências dos órgãos e serviços regionais e locais; g) Extensão dos princípios de organização aos sectores autárquico e autónomo da Administração, tendo, porém, o cuidado de não proceder por forma excessivamente generalizadora, mas de modo a receber a experiência das tradições locais; h) Redefinição do estatuto da delegação de poderes e sua utilização; i) Aperfeiçoamento dos processos de avaliação dos resultados económicos e sociais das acções realizadas pelo sector público; j) Adopção das medidas necessárias para a correcção da situação da informática no sector público com vista à melhor utilização dos recursos existentes; l) Promoção e desenvolvimento das actividades de informação geral do público acerca das estruturas, actividades, localização e outros elementos susceptíveis de melhorarem as suas relações com os serviços; m) Desenvolvimento e articulação das actividades e estruturas de documentação e informação científica e técnica nos serviços da administração pública. 4.3.4 — Equipamento e instalações: a) Colaboração com os diversos Ministérios na inventariação das necessidades dos serviços quanto a instalações adequadas e estabelecimento de um plano coordenado de prioridades; b) Coordenação do processo de arrendamento ou compra de imóveis para os serviços públicos c) Definição de um sistema central de coordenação das novas instalações que garanta a sua economicidade e adequação às necessidades dos serviços a implantar, suas estruturas e actividades, em conformidade com os programas funcionais de implantação dos respectivos postos de trabalho; d) Definição de regras tendentes ao estabelecimento de um planeamento previsional da implantação funcional dos serviços;

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e) Manutenção e dinamização do sistema de coordenação de aquisições e aproveitamento do material e dos serviços de informática (Decreto-Lei nº 384/77, de 12 de Dezembro); f) Informação e orientação geral dos serviços públicos acerca das inovações tecnológicas relativas aos equipamentos administrativos, bem como à sua utilização racional. 4.3.5 — Métodos de trabalho e racionalização: a) Incremento da mecanização dos serviços públicos; b) Estudos conducentes à análise e racionalização dos diversos circuitos administrativos; c) Contribuição para a aplicação dos métodos e princípios referidos nas alíneas a) e b) às actividades específicas de determinados Ministérios, designadamente quanto aos serviços públicos de maior significado ou utilidade para a generalidade dos cidadãos; d) Desenvolvimento de estudos de produtividade do sector público; e) Aumento de comodidade do público na utilização dos serviços; f) Incentivos à prática de simplificação do processo administrativo e à recolha de sugestões; g) Generalização dos serviços de informação ao público; h) Contribuição para o estudo e revisão do direito financeiro, em especial na parte relativa às regras orçamentais e de contabilidade pública; i) Sistematização e divulgação, com o apoio dos serviços interessados, de compilações oficiais de legislação sobre determinados serviços ou sectores para esclarecimento dos particulares (sinopses codificações parciais e textos únicos); j) Ultimação e rápida publicação, a título experimental, numa primeira fase, do código de procedimento administrativo; l) Desburocratização dos serviços e actividades administrativas, através de uma constante pesquisa e supressão das formalidades inúteis. 4.3.6 — Controlo da Administração: a) Instituição de adequados sistemas de controlo da eficiência da acção administrativa, me diante, designadamente, a modernização da actuação dos serviços de inspecção, a modernização e alargamento da função do Tribunal de Contas e a realização constante de inquéritos à gestão dos diversos departamentos; b) Estudo e aplicação de sistemas de análise do custo e eficiência dos serviços públicos; c) Generalização da obrigatoriedade de publicação de relatórios anuais dos diversos Ministérios e departamentos autónomos, e bem assim total publicidade e divulgação dos orçamentos e contas de todas as entidades e serviços públicos actualmente não abrangidos nas publicações financeiras do Estado;

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d) Aperfeiçoamento e simplif icação dos mecanismos existentes para controlo jurídico da Administração; e) Criação de mecanismos para o controlo da moralidade administrativa, prevenção de fraudes e outras formas de corrupção; f) Acatamento da acção do Serviço do Provedor de Justiça no que respeita ao combate às deficiências da Administração; g) Estudo e seguimento prático dos casos e soluções constantes dos relatórios anuais do Provedor de Justiça e do Tribunal de Contas e dos debates parlamentares sobre o Orçamento e as contas públicas, como forma de valorizar e aproveitar os meios de controlo político e administrativo da Administração; h) Criação, tratamento e manutenção de estatísticas oportunas e correctas sobre o aparelho administrativo adequadas à gestão e controlo da administração pública. 4.4 — Realizações do Ministério em colaboração com o Estado-Maior General das Forças Armadas: Sem prejuízo da independência das instituições militar consagradas na Constituição, o Governo promoverá, a nível horizontal, encontros regulares com os responsáveis pela reforma administrativa nos departamentos militares para troca de impressões e experiências para uniformização, na medida do possível e do desejável, de funções e estruturas, organização e métodos entre a administração militar e a civil e muito especialmente do pessoal civil das forças armadas. 4.5 — Realizações do Ministério em colaboração com a Assembleia da República e Presidência do Conselho de Ministros: Contributo para a institucionalização das relações entre a Assembleia da República e a administração pública como forma de aproximar o administrado do aparelho de Estado, para sobre ele fazer incidir a sua influência, e colaboração na reorganização dos serviços de apoio, instalações e funcionamento daquele Órgão de Soberania. Contributo para redefinição da orgânica da Presidência do Conselho de Ministros enquanto elemento de coordenação da acção governativa o centro do apoio ao Conselho de Ministros, e designadamente: a) Definição da estrutura do Governo; b) Funcionamento do Conselho de Ministros e dos Conselhos de Ministros restritos; c) Definição e organização das diferentes formas de apoio técnico; d) Racionalização e uniformização da função legislativa e regulamentar do Governo, nomeadamente através de um sistema de informação de todos os projectos de diplomas em elaboração nos diversos departamentos, para evitar duplicações, e do controlo dos custos de elaboração dos mesmos projectos e da sua duração; e) Racionalização, coordenação e controle das publicações do Estado e adopção de medidas conducentes à uniformização e simplificação de impressas.

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4.6 — Realizações do Ministério em colaboração com outros departamentos ministeriais: 4.6.1 — O Ministério da Reforma Administrativa terá, no âmbito da sua competência, uma função adjuvante dos restantes Ministérios e propõe-se exercê-la em estreita cooperação com os mesmos. Assim, relativamente aos Ministérios das Finanças e Plano e da Administração Interna, o Ministério colaborará a) Na publicação de um livro branco com as várias hipóteses alternativas de regionalização, após o lançamento de questionários, inquéritos, sondagens e estudos, referindo sempre a necessária relação entre regiões-plano e regiões administrativas, a fim de colher os dados indispensáveis à apresentação de uma proposta final à Assembleia da República; b) No estudo da aplicação do novo sistema de finanças locais; c) Na adopção das medidas necessárias para a defesa e reintegração do domínio público e do património privado do Estado. 4.6.2 — Relativamente ao Ministério das Finanças e Plano, colaborar-se-á: a) No estudo da reorganização dos tribunais do contencioso tributário e aduaneiro; b) Na criação de serviços de auditoria para fiscalização das empresas públicas e organismos autónomos; c) No estudo e recolha de subsídios para a revisão da legislação orçamental e de contabilidade pública, com vista a permitir uma verdadeira gestão orçamental, possibilitada pelos progressos da economia financeira e reclamada pelas exigências de maior eficiência e rendimento da Administração; d) Na estruturação e dinamização da gestão patrimonial do Estado, e nomeadamente no levantamento do cadastro dos respectivos bens; e) Na reforma do Tribunal de Contas e da Inspecção-Geral de Finanças, nos termos atrás referenciados. 4.6.3 — Era estreita colaboração com o Ministério da Justiça, estudar-se-á: a) A análise do reordenamento judicial do território e a reorganização dos tribunais, nomeadamente à luz de uma óptica de racionalização administrativa; b) A simplificação processual e o embaratecimento dos processos; c) A revisão profunda do contencioso administrativo nos seus aspectos orgânico e processual; d) A reorganização dos serviços de registo e do notariado; e) A recolha de subsídios para a reorganização dos serviços de identificação e registos policiais. 4.6.4 – Relativamente ao Ministério da Administração Interna, colaborar-se-á:

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a) Na revisão do Código Administrativo no sentido de uma nova organização da administração local autárquica; b) Na revisão do ordenamento do território, designadamente da divisão municipal, e sua uniformização; c) Na definição do regime e estatuto de organização das grandes cidades, nomeadamente Lisboa e Porto; d) No apoio e estímulo à criação e dinamização de fórmulas de cooperação entre municípios, designadamente através das federações e uniões, de comunidades urbanas, consórcios, etc.; e) No estudo e adopção de um novo esquema tipo de organização dos serviços burocráticos e técnicos dependentes das câmaras municipais, admitindo modalidades diferenciadas, conforme as exigências e necessidades de cada ordem ou classe de concelhos; f) Na redefinição das formas e do regime da tutela administrativa; g) Na reformulação do sistema de inspecção da administração local; h) Na desconcentração do aparelho de Estado com reforço dos serviços periféricos; i) Na definição, atribuições e competência dos magistrados administrativos, como coordenadores dos serviços periféricos do Estado a nível local. 4.6.5 — Em estreita colaboração com o Ministério a da Educação e Cultura prosseguir-se-á a criação da escola nacional de administração, será ponderada a sua eventual integração na Universidade e, bem assim, contribuir-se-á para a reformulação e actualização do ensino do direito administrativo e da ciência da administração em Portugal. 4.6.6 — Em estreita colaboração com o Ministério da Habitação e Obras Públicas estudar-se-ão as diligências necessárias para a execução do plano de instalação dos serviços públicos, para construção, reparação, adaptação ou conservação dos edifícios aos mesmos destinados e para a aquisição de mobiliário e demais equipamento, ponderando em comum o melhor sistema de organização e apoio logístico aos diversos departamentos de Estado neste tipo de questão. 4.6.7 — Em estreita colaboração com o Ministério do Trabalho serão desenvolvidos esforços na coordenação da definição de uma política salarial e na fixação de benefícios complementares, na informação recíproca nas matérias da regulamentação geral das condições de prestação do trabalho e de direitos sindicais. 4.6.8 — Em estreita colaboração com o Ministério dos Assuntos Sociais promover-se-ão diligências com vista à definição de uma política coordenada de segurança social e de acção social complementar. 5 — Comunicação social 5.1 — No domínio da comunicação social, a política do I Governo Constitucional mover-se-á no respeito pelos seguintes princípios decorrentes da Constituição:

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a) Defesa intransigente do direito de livre expressão e criação, traduzido, nomeadamente, pelas liberdades de imprensa e de empresa editorial, pela ausência de qualquer forma de censura e pela independência dos meios e órgãos de comunicação social face aos poderes políticos e económicos; b) Total jurisdicionalização do conhecimento das infracções à lei cometidas no exercício do mesmo direito, através da sua apreciação apenas pelos tribunais judiciais; c) Defesa intransigente da possibilidade de expressão e confronto das diversas correntes de opinião nos meios e órgãos de comunicação social ao serviço do pluralismo ideológico e da concretização e defesa da sociedade democrática; d) Reconhecimento de que a detenção pelo sector público da totalidade ou parte do capital de empresas editoras de jornais e ou revistas, não resultante de medidas de nacionalização, não constitui uma situação irreversível. 5.2 — Na sequência dos princípios enunciados, o Governo, através de um conjunto de medidas a propor à Assembleia da República, promoverá: a) A reestruturação dos meios e órgãos de comunicação social estatizados, com vista ao seu equilíbrio económico-financeiro e à sua auto-suficiência, por forma a possibilitar-lhes uma posição de independência em face do poder económico e, consequentemente, do poder político; b) A regularização de direito e de facto das taxas, e respectivo sistema de cobrança, da televisão e da radiodifusão e a instituição de esquemas de apoio à imprensa de âmbito nacional e regional, na base de critérios legais objectivos e de carácter genérico; c) Formas de contributo e apoio à valorização profissional dos trabalhadores do sector da comunicação social, nomeadamente através da criação e instalação de uma escola de comunicação social, e do estímulo à definição, com a colaboração e o acordo das organizações de classe, de um corpo de normas de conduta deontológica; d) A regulamentação da actividade publicitária a partir de um novo conceito de publicidade e, no quadro das regras adoptadas nos países da Comunidade Económica Europeia, de um normativo deontológico valorizador do respectivo sector de actividade; e) A defesa de liberdade de opinião e de expressão do pensamento e das instituições democráticas através da proibição da difusão organizada da ideologia fascista e de quaisquer outras igualmente contrárias às liberdades democráticas e à Constituição; f) A definição de uma clara política de informação, nomeadamente através da articulação do papel que cabe ao sector público e ao sector privado da comunicação social, aos Conselhos de Informação e ao Conselho de Imprensa no artigo 38° da Constituição. 5.3 — Com vista à concretização destes objectivos, o Governo tomará, nomeadamente, as seguintes medidas:

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5.4 — No sector da radiotelevisão: a) Elaboração da proposta de lei da televisão, na qual serão nomeadamente regulados os direitos de antena e de rectificação; b) Elaboração da proposta de lei de revisão do estatuto da empresa pública Radiotelevisão Portuguesa, E. P.; c) Revisão das taxas de televisão e respectivo sistema de cobrança, apresentação à Assembleia da República de uma proposta de lei de isenções fiscais e estudo de um plano de reestruturação económica e financeira da empresa; d) Estudo, para concretização após o reequilíbrio financeiro da empresa, sem prejuízo de medidas transitórias inadiáveis, da reinstalação e do reequipamento do serviço de televisão; e) Apoio à formação profissional dos trabalhadores da televisão, em estreita colaboração com especialistas de instituições internacionais de que Portugal é membro, nomeadamente através de cursos de reciclagem e da atribuição de bolsas de estudo para estágios no estrangeiro ; f) Melhoria progressiva da cobertura televisiva do território português; g) Continuação do estudo da futura instalação da TV a cores, de acordo com as perspectivas financeiras da empresa após a regularização da cobrança das respectivas taxas; h) Valorização do segundo programa, por forma a dotá-lo de meios que o tomem alternativo e concorrencial do primeiro programa; i) Incentivo ao intercâmbio internacional e à co-produção com diferentes países e organismos de TV; j) Promoção, em cooperação com o Ministério da Educação e Cultura, de estudos conducentes à criação de um serviço público de televisão escolar e educativa. 5.5 — No sector da radiodifusão: a) Elaboração da proposta de lei da radiodifusão, na qual serão nomeadamente regulados os direitos de antena e de rectificação; b) Revisão do Estatuto da RDP e apresentação à Assembleia da República da consequente proposta de lei; c) Normalização da cobrança das taxas de radiodifusão; d) Estudo, para concretização após a normalização da cobrança das taxas, da reinstalação e do reequipamento do serviço de radiodifusão; e) Apoio à progressiva regionalização das emissões e à total cobertura radiofónica do território nacional; f) Apoio à formação profissional dos trabalhadores da radiodifusão, em estreita cooperação com especialistas estrangeiros, nomeadamente através de curso de reciclagem e da atribuição de bolsas de estudo para estágios no estrangeiro; -

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g) Reforço das emissões em onda curta, especialmente as destinadas aos emigrantes que não têm acesso a outros meios portugueses de comunicação social; h) Regulamentação da actividade das estações de radiodifusão local não abrangidas pelo decreto de nacionalização da rádio. 5.6 — No sector da imprensa: a) Proposta de lei de revisão da Lei de Imprensa à luz da experiência colhida durante a sua vigência, das disposições constitucionais e dos diplomas entretanto publicados com incidência na matéria nela regulada; b) Elaboração e apresentação à Assemb leia da República de uma proposta de lei estabelecendo formas de apoio genérico à imprensa regional e execução do esquema de apoio à imprensa em geral que resultar da discussão e votação pela Assembleia da proposta de lei apresentada pelo I Governo Constitucional; c) Elaboração e execução de um plano de valorização profissional dos trabalhadores da imprensa, em estreita colaboração com especialistas estrangeiros, nomeadamente através de um trabalho de reciclagem e, numa segunda fase, de formação profissional no âmbito da prevista escola de comunicação social; d) Reexame do problema do pluriemprego à luz da posição tomada peia Assembleia da República; e) Inventariação e aprovação de um esquema de utilização racional do equipamento das empresas jornalísticas do sector público; f) Racionalização da gestão das mesmas empresas e preenchimento dos respectivos órgãos; g) Redimensionamento dos quadros e serviços das empresas jornalísticas do sector público, com eventual despedimento colectivo dos excedentes insusceptíveis de utilização na mesma ou em outras empresas com garantia do pagamento das indemnizações previstas na lei; h) Definição de uma linha orientadora visando a não admissão de novos trabalhadores nas mesmas empresas, a benefício da admissão dos trabalhadores excedentários e em risco de despedimento, sem prejuízo da qualidade profissional indispensável ao nível das publicações, ao respeito do público e ao êxito comercial dos órgãos informativos; i) Aprovação do Estatuto do Jornalista e do Regulamento da Carreira Profissional dos Jornalistas, ponderadas as legítimas posições das organizações de classe e das instituições empenhadas na defesa da liberdade de expressão e do exercício do direito de informar e ser informado; j) Apoio à aprovação pelo respectivo Sindicato de um código deontológico que passe a reger os aspectos técnicos da conduta dos jornalistas e que eventualmente inclua adequadas sanções disciplinares aplicadas pela própria classe; l) Racionalização dos circuitos de distribuição das empresas do sector público; m) Apoio ao Conselho de Imprensa e estreita cooperação com o mesmo, no âmbito da respectiva competência;

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n) Irreversibilidade da inserção no sector público das Empresas Públicas Notícias e Capital e Século e Popular, sem prejuízo da sua eventual reestruturação jurídica e económica; o) Estudo da eventual desintervenção do Estado nas empresas do Jornal do Comércio, do Diário de Lisboa, do Jornal de Notícias e do Comércio do Porto; p) Eventual declaração das Empresas Públicas Notícias e Capital e Século e Popular em situação económica difícil e ulterior celebração, se julgada conveniente, dos correspondentes contratos de viabilização, com vista à sua reestruturação económica e ao seu saneamento financeiro, incluindo eventuais medidas de cisão e o reexame da suspensão das publicações da extinta Sociedade Nacional de Tipografia; q) Eventual declaração das empresas do Jornal do Comércio, do Diário de Lisboa, do Jornal de Notícias e do Comércio do Porto, que o requeiram, em situação económica difícil e ulterior celebração dos correspondentes contratos de viabilização julgados convenientes. 5.7 — Agências noticiosas estrangeiras: O Governo regulamentará a actividade das agências noticiosas estrangeiras em Portugal. 5.8 — Anop: a) Prosseguimento da reestruturação e valorização da Anop, nos termos dos objectivos constantes do seu novo estatuto, a ratificar pela Assembleia da República; b) Alargamento da sua rede de delegações e cor respondentes no território nacional, nos países de expressão portuguesa e em todos os demais onde o interesse das comunidades lusas o justifique, a começar pelos países de expressão portuguesa e pelos países com mais expressivos núcleos de emigrantes. 5.9 — Bloco Editorial Expresso e Regimprensa: Concretização da desintervenção do Estado nestas empresas após terminado o actual regime provisório de gestão, sua declaração em situação económica difícil e estudo da possibilidade do estabelecimento de ulteriores contratos de viabilização. 5.10 — Instituto de Sondagens da Opinião Pública: Orientação da sua estruturação no sentido da pesquisa de dados de preferência às sondagens de conteúdo ideológico, cuja comissão a uma entidade do sector público deve ser repensada. 5.11 — Medidas de carácter genérico: a) Reexame, e eventual alteração, da actual estrutura orgânica da Secretaria de Estado da Comunicação Social; b) Estudo dos aspectos que devem enformar o Estatuto da Informação a aprovar pela Assembleia da República e eventual apresentação à mesma de uma proposta de lei;

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c) Apertada cooperação com os Conselho de Informação, coadjuvando-os na sua missão de assegurarem a independência dos meios de comunicação social, de defenderem o pluralismo ideológico, o rigor e a objectividade da informação, e de impedirem a apologia ou a propaganda da ideologia fascista ou outras igualmente contrárias às liberdades democráticas e à Constituição, desde que por meios totalmente jurisdicionalizados e com base em critérios legais e objectivos; d) Institucionalização, ouvido o parecer e fomentado o contributo de organizações e sectores interessados de uma Escola de Comunicação Social, com eventual aproveitamento de estruturas e experiências existentes neste campo. A mesma deve ser dirigida à reciclagem dos actuais trabalhadores da comunicação social, numa primeira fase, e, logo que possível, à formação profissional de futuros trabalhadores. 6 — Garantia da igualdade perante a lei 6.1 — O I Governo Constitucional, na linha de acção política do primeiro, continuará a defender intransigentemente a legalidade democrática e o mais apertado cumprimento das leis e das decisões dos tribunais judiciais. Não está nem estará nunca em causa o mais escrupuloso respeito pelas liberdades e direitos funda mentais consagrados na Constituição da República e na Declaração Universal dos Direitos do Homem. Mas não se perderá de vista que uma coisa é o exercício de um direito, outra o seu abuso; uma a liberdade como conceito e como valor, outra a conciliação, no plano da vivência em sociedade, de liberdades individuais conflituantes. Evitar e resolver essa eterna crise de valores em confronto é a missão da lei. Daí que o acatamento desta surja como caminho e condição das sociedades politicamente organizadas. Após meio século de opressão, o povo português, no uso de liberdades por tanto tempo reprimidas e ansiadas, entrou, muito compreensivelmente, em crise de permissibilidade. Dai a generalização de um conceito excessivamente lasso de autoridade a todos os níveis, com os consequentes reflexos na preservação da ordem pública. Pertencem aos momentos mais vivos da crise o exacerbar de um certo anarco-populismo, a que não ficaram imunes as próprias forças armadas, aflorações de violência, sequestros de pessoas, retenções ilegais de bens e mercadorias, ocupações selvagens e ilegais de bens alheios, depredações ou mesmo destruições de bens e lugares, cedências gratuitas de bens destinados a venda, uma certa idiossincrasia contra as forças de segurança, julgamentos populares, etc. Não se há-de perder de vista que tudo isto aconteceu em período de inovação revolucionária e que a Revolução de Abril, à saída de tanta violência, tanta injustiça e tanta opressão, se saldou afinal por baixos custos em violência. Simplesmente, instituída a autoridade legítima na moldura das instituições democráticas, é no quadro dessas instituições e da lei que todos e cada um devem exercer os seus direitos e fazer valer as suas divergências. E o I Governo Constitucional demitir-se-ia das suas funções e competências se permitisse, sem uma eficaz intervenção, o prolongamento do clima que se seguiu ao derrubar das odiosas instituições do passado.

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Bem pelo contrário, é seu estrito dever, e vai cumpri-lo, assegurar o necessário clima de paz social, de ordem e de legalidade, sem o qual debalde se cogitará construir um futuro democrático, progressivo e justo. Para tanto faz-se mister: a) Intensificar a acção antiterrorista e anticriminal, predominantemente por meios preventivos, mas firmemente repressivos, dentro da lei, se necessário, cabendo aí um importante papel à Polícia Judiciária e às forças de segurança — PSP e GNR; b) Elaborar e propor à Assembleia da República uma lei penal de repressão do terrorismo, em concertação com outros países igual mente — quando não em maior grau — preocupados com o flagelo do bombismo, do sequestro, etc.; c) Programar uma acção global contra o incremento da criminalidade em geral e do tráfico e consumo da droga em especial, actuando a montante das acções delitivas através de medidas articuladas ao nível dos Ministérios para tanto vocacionados, de prevenção e repressão contra a vadiagem, a rufiaria e a prostituição; d) Organizar uma campanha de esclarecimento e mobilização das empresas e dos cidadãos em geral com vista à instituição de esquemas de autodefesa contra determinados tipos de delinquência; e) Estimular a criação — já em projecto — de um adequado serviço de pesquisa de informações no respeito pelas liberdades e garantias consagradas na Constituição e na lei; f) Defender intransigentemente a autoridade democrática e o prestígio dos agentes das forças de segurança. Defensores da ordem pública, os agentes das forças de segurança têm por missão, nobre mas não fácil num País que sofreu as inclemências de um penoso regime policial, defender a sociedade dos desvios de alguns dos seus elementos, os princípios de sã convivência social e o acatamento das leis dimanadas dos poderes constituídos. O cidadão deve, em relação a elas, cooperar, exigir e respeitar. O agente de segurança não poderá nem deverá tomar uma atitude passiva em face de condutas ilegais, delitivas ou meramente associais, como não deverá abusar da autoridade que lhe é conferida. 6.3 — O II Governo Constitucional dará continuidade à política do primeiro no domínio do combate ao tráfico e consumo ilícitos de drogas. Para tanto, apresentará cai breve à Assembleia da República uma proposta de lei penal com vista ao enquadramento legal das acções de prevenção e repressão daquele tráfico e consumo. Com o mesmo objectivo, ampliará a cobertura do País com centros de recuperação de drogados, reforçará os meios de acção do Centro de Estudos da Profilaxia da Droga e do Centro de Investigação e Controlo da Droga e accionará o Gabinete Coordenador do Combate à Droga, por forma a empenhar na batalha contra o tráfico e o consumo ilícitos todas as organizações e departamentos com possibilidades de intervenção a montante e a jusante. Continuará a adoptar uma atitude de estreita cooperação a nível internacional com os organismos especializados da ONU e do Conselho da Europa e com os países que

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nos precederam no combate ao flagelo, na sequência da compreensão, hoje generalizada, de que esse combate não pode ser travado isoladamente e com êxito ao nível de cada país. 7 — Condição feminina O direito das mulheres à plena igualdade com os homens no que se refere às liberdades cívicas, aos direitos económicos e às garantias sociais constitui um dos requisitos fundamentais da consolidação do Estado democrático. A consagração dessa igualdade exige a criação de mecanismos legais, bem como a tomada de outras medidas que visem a abolição das discriminações em função do sexo. Isto mesmo constitui, aliás, imperativo decorrente da Constituição, que às mulheres como aos homens, garante a mesma dignidade social e a igualdade perante a lei. Igualmente decorrente da Constituição é a nova concepção da maternidade considerada como valor social e consequente responsabilidade a ser assumida pela própria sociedade. O Governo tem consciência de que estes objectivos exigem acção persistente por parte da maioria dos departamentos do Estado, em especial daqueles em cujas atribuições se integra a resolução das questões mais prementes da condição feminina em Portugal, como sejam os que se ocupam do trabalho, da educação, da família, da segurança social, da saúde e da justiça. Nestes termos, o Governo, na sequência da actividade política implícita nas alterações introduzidas no direito da família por iniciativa do I Governo Constitucional, compromete-se a promover a melhoria da condição feminina como dimensão a ter em conta no exercício da sua actividade. Reconhece também que a redefinição do estatuto da mulher na sociedade portuguesa passa por uma gradual transformação das concepções acerca do papel das mulheres e dos homens na sociedade. À Comissão da Condição Feminina, recentemente institucionalizada, terá no domínio da consciencialização das mulheres um papel fundamental a desempenhar, além de lhe cumprir, em articulação com outros departamentos, nomeadamente os Ministérios e Secretarias de Estado que integram o seu conselho consultivo, fazer avançar, propor e coordenar as medi das que especificamente visem a inserção das mulheres no processo de transformação da sociedade portuguesa nos termos expressos no Decreto-Lei nº 485/ 77, de 17 de Novembro, que institucionalizou a referida Comissão. Embora a situação das mulheres seja condicionada por factores de toda a ordem a nível da estrutura social, é, no entanto, nas áreas do trabalho e da educação que a discriminação se manifesta de forma mais evidente. No que respeita ao trabalho, a igualdade de oportunidades e de remunerações, consignada na Constituição e em instrumentos internacionais, ainda um objectivo não alcançado relativamente às mulheres. No que respeita à educação, a perpetuação dos estereótipos relativamente aos papéis das mulheres e dos homens condiciona e limita as próprias mulheres na sua capacidade de intervenção e participação no processo de desenvolvimento da sociedade. Nestes domínios em

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particular se requerem, por isso, medidas eficazes e positivas que acabem com todas as formas de discriminação. A nível das estruturas existentes, o Governo propõe-se: a) Apoiar a Comissão da Condição Feminina e dotá-la de meios eficazes de intervenção e de acção, de modo que os objectivos que lhe são consignados no diploma que a institucionalizou sejam efectivamente alcançados; b) Promover e incentivar a colaboração de todos os departamentos do Estado cuja acção tem especial incidência na condição feminina, de modo que se verifique uma actuação coordenada nas medidas a tomar para a melhoria da situação das mulheres na sociedade portuguesa. Por outro lado, o Governo desenvolverá medidas conducentes às seguintes realizações específicas: a) Acções de educação e informação com o objectivo de introduzir uma nova concepção do papel das mulheres na sociedade; b) Legislação tendente a erradicar as discriminações em função do sexo no que respeita a formação profissional, acesso e promoção no emprego, condições de trabalho e, em especial, remunerações, bem como criar para o efeito mecanismos de controlo; c) Elaboração de um diploma reunindo as disposições fundamentais no que respeita à maternidade, considerada como função social, tendo especialmente em atenção o compromisso constitucional de ser assegurada a conciliação entre a maternidade e a realização profissional e a participação na vida cívica do País; d) Emitir sugestões para revisão dos programas de ensino, e em especial dos livros escolares, tendo em vista a sua utilização como instrumentos que veiculem concepções igualitárias das relações entre os indivíduos de dois sexos; e) Criação de condições para uma efectiva protecção da saúde materno-infantil; f) Instalação, à escala nacional, de um serviço de planeamento familiar, que permita o exercício de uma paternidade consciente, simultaneamente com a realização das campanhas de esclarecimento público: h) [está assim no original] Combate à exploração específica de que a mulher ainda é vitima, em virtude da prostituição ou de outras formas atentatórias da sua liberdade e dignidade; i) Regulamentação da publicidade com o objectivo de impedir a transmissão de imagens estereotipadas da mulher. Considerando que o ano de 1979 foi proclamado pelas Nações Unidas como o Ano internacional da Criança, o Governo compromete-se a apoiar a respectiva celebração. À Comissão da Condição Feminina caberá, como organismo de vocação interdepartamental também interessado nos problemas da infância, coordenar a nível oficial as iniciativas a levar a cabo, com o objectivo fundamental de sensibilizar os cidadãos para os direitos das crianças.

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B) Organização da economia 1 — Introdução Os pressupostos da formação do II Governo Constitucional, nomeadamente o respeito pela Constituição e pelo ordenamento jurídico dela decorrente e o desenvolvimento sistemático da via da concertação na sociedade portuguesa, indicam claramente a particular importância de se prosseguir na definição tão precisa quanto possível das regras de organização e funcionamento do sistema económico. O período já decorrido de normalidade constitucional assistiu à sistemática e persistente institucionalização das regras de jogo económico e social. Os factores de insegurança e de instabilidade terão vindo a ser reconduzidos a níveis relativamente aceitáveis para uma economia com grau de desenvolvimento e diversificação como a portuguesa, sem negar que existem aspectos por clarificar. Distinguindo entre a criação de condições suficientemente definidoras das regras de organização e funcionamento oferecidas à actuação dos agentes económicos para que possam racionalizar as suas decisões, beneficiar ou ser penalizados em função dos resultados alcançados pela actividade e que lhes sejam imputáveis, e o objectivo utópico de eliminar totalmente o «risco» da vida económica e social, compreende-se qual o sentido concreto do caminho que se prosseguirá. A sociedade portuguesa apresenta um quadro relativamente estável, um quadro de equilíbrio entre os vários parceiros sociais, de coexistência entre interesses divergentes que a prática tem obrigado a compatibilizar. O acordo político que alicerça o Programa do Governo reteve essas características fundamentais que consubstanciam um forte desejo de estabilização, claramente existente na sociedade portuguesa. Romper esse equilíbrio seria comprometer o esforço de estabilização e de normalização da economia portuguesa. As exigências do funcionamento da economia implicam, passados os momentos de crise ou de rotura estrutural, estabilidade e segurança. Procurar alterar os dados fundamentais da organização e funcionamento da economia portuguesa seria um incentivo à confrontação social e ao accionar das lutas sociais. Daí que os partidos políticos, cujo apoio dá consistência ao II Governo Constitucional, tenham posto uma particular ênfase, ao explicitar os pressupostos do seu acordo político, nos elementos de estabilidade e de convergência, ultrapassando naturais e legítimas divergências, com o objectivo patriótico de arrancar o País da situação de crise e de assim contribuir para a consolidação das instituições democráticas. A prova de que existe um quadro essencial de da organização e funcionamento da economia portuguesa resulta claramente da clarificação introduzida com a promulgação das leis relativas à delimitação dos sectores público e privado, às indemnizações devidas por força das nacionalizações efectivadas, as leis fundamentais disciplinadoras das relações de trabalho, a política de recondução a situações de normalidade dos regimes precários e transitórios relativos às empresas intervencionadas ou das situações decorrentes do processo da reestruturação agrária na zona da intervenção, os e promotores do movimento cooperativo, o aperfeiçoamento das regras do enquadramento do investimento estrangeiro e a clarificação das regras jurídicas que garantem uma actividade sindical democrática.

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Permanece a necessidade de prosseguir a acção até agora persistentemente desenvolvida, regulamentando, designadamente, as leis da delimitação dos sectores público e privado e das indemnizações, completando o quadro jurídico que clarifique definitivamente a economia portuguesa como uma economia mista, de coexistência concorrencial entre diferentes sectores institucionais, com modo de regulação assegurado por uma síntese entre os mecanismos de mercado e de planeamento adequada à nossa inserção finura na CEE. Por outro lado, há que abordar com realismo o problema das relações de trabalho, procurando num clima de diálogo encontrar as formas de promover o aumento de produtividade sem ferir os direitos constitucionais dos trabalhadores, mas criando um sistema viável de incentivos materiais e sanções sem o qual nenhuma economia pode funcionar com eficiência. 2 — O papel do Plano e do mercado na regulação da economia As características conc retas da economia portuguesa, diversificada, aberta ao exterior, admitindo a coexistência dos sectores público, privado e cooperativo, com um nível de desenvolvimento diferenciador em relação à generalidade dos países do Terceiro Mundo, num quadro político de democracia pluralista, claramente exigem tanto a utilização do funcionamento do mercado como da lógica do plano para a resolução dos problemas fundamentais que, aliás, se põem a qualquer economia. O peso maioritário do sector privado na economia portuguesa, a actuação das empresas públicas ou das unidades cooperativas que se defrontam e concorrem quer no que respeita aos factores de produção, quer no que se refere aos produtos, implicam o reconhecimento do mercado como fonte de dados importantes para a racionalidade da economia portuguesa, tornando-a flexível nos seus ajustamentos ou adaptações, evitando o voluntarismo prenunciador de objectivos irrealizáveis. Será objecto da política económica possibilitar o funcionamento dos mecanismos de mercado, tornando-os tão transparentes quanto possível e observando a sua lógica, mas evitando o aproveitamento da liberdade de decisão que lhes é inerente para a realização de fins socialmente injustificáveis e corrigindo a iniquidade da distribuição do rendimento a que, normalmente, podem dar lugar. Por outro lado, a equacionação das grandes escolhas estruturadoras do processo de desenvolvimento e, em particular, a orientação a dar ao padrão do investimento, com especial incidência nos grandes projectos, não podem também ser abandonadas aos simples mecanismos do mercado, antes têm de ser feitas no âmbito de verdadeiros planos que disciplinem a evolução global da economia. O acordo político subjacente à formação do II Governo Constitucional acolhe a ideia-força do plano em duas dimensões distintas: a) Um programa económico de estabilização para 1978, a concretizar no Plano e Orçamento para este mesmo ano; b) Um plano de desenvolvimento a médio prazo. A primeira dimensão é imperativo inadiável destinado a salvaguardar a própria viabilidade da nossa economia, a reconduzi-la a uma novo equilíbrio que desarme os mecanismos de descontrole que tendencialmente a dominam. Exigirá a mobilização do país, de todas as suas energias, para alcançar os objectivos de atenuação do desequilíbrio externo e de criação de novos empregos através de um esforço selectivo de investimento.

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Dai o reconhecimento pelos partidos que subscreveram o acordo subjacente a este Programa do Governo de que a política de 1978 terá de ter a sua expressão no Plano e no Orçamento para este mesmo ano. Mas este programa de estabilização, este reajustar das condições de equilíbrio da nossa economia com o inevitável cortejo de dificuldades e restrições, embora enquadradas por critério de justiça distributiva, só faz sentido desde que perspectivada numa óptica de desenvolvimento a médio prazo, onde padrões mais elevados de bem-estar e de justiça social, onde níveis mais completos de satisfações de necessidades básicas associados à disponibilidade de bens cultura is e de acrescidas possibilidades de realização pessoal e social justificam os sacrifícios que a curto prazo há que suportar. O desenvolvimento harmonioso dos sectores e regiões será garantido pelo Plano, que orientará, coordenará e disciplinará a organização económica e social do País, assegurando o mais racional aproveitamento dos escassos recursos disponíveis e garantindo condições a um mais rápido desenvolvimento que permita alcançar os níveis requeridos pelo nosso processo de adesão às comunidades económicas europeias. O Governo apresentará à Assembleia da República até 15 de Março uma proposta de revisão da proposta do Plano anual para 1978 apresentado pelo 1 Governo Constitucional. Até 15 de Outubro será enviada à Assembleia a proposta relativa às grandes opções do Plano a médio prazo, integrando também algumas perspectivas de mais longo prazo que sirvam de enquadramento e constituam um embrião do futuro Plano a longo prazo. Compete à Assembleia da República aprovar as grandes opções que fundamentarão a elaboração do plano a médio prazo. Os seus objectivos tornar-se-ão assim objectivos nacionais. Em complemento, o Governo apoiará a implementação e dará colaboração à orgânica de planeamento, dedicando particular atenção ao Conselho Nacional do Plano, órgão independente de participação de estruturas sociais representativas na sua elaboração, acompanhamento, execução e controlo. 3 — Dinamização e racionalização do sector empresarial do Estado 1 — A dinamização e racionalização do sector empresarial do Estado é um imperativo ditado quer pela posição importante que ocupa na economia, particularmente em termos de investimento, de contribuição para a produção nacional e de regularização do abastecimento e dos preços, quer pela sua influência na recuperação que é necessário intensificar. A natureza dos seus produtos, essencialmente voltados para a satisfação de necessidades colectivas, para os produtos estratégicos e para a obtenção de receitas para o Estado, revela bem a importância que é necessário atribuir ao sector público produtivo, a par com as empresas e organismos públicos dedicados à garantia do abastecimento e à estabilização dos preços. Diversos estrangulamentos, porém, -têm dificultado a criação de condições para a dinamização urgente destas empresas, particularmente no domínio da política de preços e tarifas, no campo do saneamento financeiro, do autofinanciamento e do crédito e, ainda, no âmbito da autonomia de gestão, na eficácia da orientação técnica e no enquadramento dos objectivos de planeamento das empresas no quadro mais geral da problemática nacional a nível global, sectorial ou regional.

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A existência de um significativo sector público produtivo, aliás comparável, em dimensões, a outros países da Europa Ocidental, não é em si mesma justificação para que a sua actividade não seja pautada por critérios de racionalidade económica indispensáveis numa economia em que coexistem diferentes sectores institucionais, pelo que às empresas públicas terão de ser asseguradas condições que possibilitem o seu normal funcionamento, a formação de excedentes económicos e novos investimentos produtivos, numa lógica de dinamização para a qual é indispensável uma realista política de preços e rendimentos e a adequada resolução dos problemas de autofinanciamento e crédito, particularmente quando estiverem em causa no vos projectos de expansão, com reflexos positivos em termos de balança de pagamentos e emprego. Assim, particular atenção será dada aos seguintes aspectos: a) Revisão dos mecanismos de tutela das empresas públicas por forma a garantir a necessária autonomia de gestão, desburocratizando processos, sem prejuízo da necessária responsabilidade dos gestores públicos pelo cumprimento de metas globais de gestão que garantam a adequação à actividade das empresas aos objectivos de política económica expressos do Plano e sem abdicar da indispensável avaliação e aprovação dos projectos de investimento do sector; b) Revisão da política de preços dos bens e serviços colectivos e de outros produtos estratégicos ou de interesse tributário, por forma a contribuir-se para a melhoria do equilíbrio económico-financeiro das empresas públicas, sem, no entanto, se permitir que, por essa via, se imputem aos utilizadores os custos de insuficiências de organização e gestão e de produtividade do trabalho que só pela reorganização interna das empresas e pelo maior empenhamento dos gestores e trabalhadores nas metas de produção poderão ser ultrapassadas; c) Racionalização dos gastos das empresas, nomeadamente numa perspectiva de economia de consumos importados, e o estabelecimento de esquemas de incentivo material que estimulem a capacidade de gestão e inovação técnica e administrativa e a intensificação da produção; d) Reestruturação da política de subsídios de exploração a cargo do Orçamento Geral do Estado, os quais deverão ser integralmente justificados e avaliados segundo critérios de benefícios sociais, assegurando-se dessa forma o equilíbrio financeiro das empresas que se enquadrem nessa situação, especial mente nas de transportes; e) Estabelecimento de objectivos de gestão e de produtividade com garantia de intervenção participante por parte dos trabalhadores, de maneira a assegurar, sempre que possível, excedentes financeiros de propriedade pública expressamente destinados ao investimento, com incidência especial na criação de novos empregos. Serão estudados, nomeadamente, esquemas incentivos materiais para gestores e trabalhadores que permitam premiar o esforço e a qualidade do trabalho individual; f) Fiscalização financeira de empresas públicas por meio de auditoria externa a levar a cabo por intermédio da acção de departamento especializado a criar na Inspecção-Geral de Finanças; g) Preparação, avaliação e aprovação de projectos de investimento integrados nos objectivos do Plano, podendo, no âmbito do Fundo Nacional de Desenvolvimento Económico, a criar, promover-se a obtenção de condições adequadas de financiamento, próprio ou alheio, e a atribuição de incentivos, em moldes contratuais.

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Este órgão — o Fundo Nacional de Desenvolvimento Económico — funcionará articulado à orgânica do planeamento, promovendo a política financeira do Estado junto das empresas públicas, com os recursos que puder mobilizar, nomeadamente as dotações do Orçamento Geral do Estado afectas a aumentos de capital e subsídios e transferências destinados àquelas empresas. Além disso, coordenará o seu endividamento junto das demais instituições financeiras, nacionais ou estrangeiras, e regulará, em estreita ligação com o Banco de Portugal, as emissões de títulos a colocar nos mercados de capitais, procurando-se por estas formas diversificar os meios financeiros a mobilizar para a dinamização e expansão das empresas públicas nas actuais condições da política monetária e financeira. Paralelamente, o Fundo Nacional de Desenvolvimento Económico integrará progressivamente os fundos autónomos sectoriais existentes e, por meio do estabelecimento de contratos, coordenará a atribuição de incentivos financeiros de diversa natureza ao lançamento de projectos públicos e privados. 2 — Para além das empresas públicas, o sector público detém hoje também um volume significativo de participações em empresas com estatuto de direito privado, as quais se encontravam, no entanto, dispersas por um número elevado de entidades, inseridas em sectores de actividade muito diversos. Estas entidades não dispunham, em muitos casos, de capacidade para a mirem por si sós poderes de orientação sobre as em presas e, quando dispunham, a multiplicidade de centros e de tipos de decisão não permitia o exercício de acções coordenadas, quer em matéria de subordinação a planos globais e sectoriais, quer em domínios cor rentes, como o da compatibilização de soluções para problemas concretos, de investimento e de financiamento, por exemplo. Para fazer face a esta situação foi oportunamente constituído o instituto de Participações do Estado, com atribuições muito latas em relação às participações do Estado, desde o reordenamento da estrutura de relações de dependência, orgânicas e funcionais, das entidades com que o sector público participa até à sua gestão propriamente dita. Em relação a esta matéria, o II Governo Constitucional dará prioridade e promoverá, nomeadamente, as seguintes medidas: a) Resolução rápida do problema das transferências de participações, para o que se definirão com rigor as condições de contrapartida; b) Dinamização do processo de reordenamento das participações com vista, nomeadamente: À posterior descentralização da sua gestão através de entidades de coordenação intermédia de âmbito sectorial; À passagem daquelas que, nos termos da lei, podem e devem ser cedidas ao sector privado, em particular no contexto da mobilização de indemnizações c) Clarificação e estabelecimento de normas de intervenção do IPE em domínios como: O apoio directo às empresas sob sua supervisão; A promoção de investimento; A dinamização de acções de formação;

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d) Revisão do Estatuto do Gestor Público vigente e adopção urgente de medidas de natureza transitória que assegurem condições de fixações e de estimulo à acção dos gestores públicos. 3 – Do sector empresarial do Estado, se bem que a título transitório, encontram-se ainda dependentes diversas empresas intervencionadas, nos termos dos diplomas que regulam tal matéria. Relativamente a estas empresas os «processos de desintervenção» iniciados no princípio do ano transacto, ao abrigo do Decreto-Lei nº 422/76, conduz já muitas empresas à sua situação inicial ou a outras previstas naquele diploma. Os processos de desintervenção, apoiados em esquemas já previstos para a recuperação das empresas intervencionadas que revelem potencialidades de viabilização ou relevante interesse económico e social, irão, por isso, prosseguir com a rapidez possível, sem que sejam privilegiadas quaisquer das formas de cessação das intervenções do Estado nas empresas, previstas naquele diploma, aplicando, em cada ano, as medidas legais nele contidas que se mostrarem mais adequadas no seu progresso e sem prejuízo da prévia consulta dos trabalhadores sobre a solução ma is aconselhável para a desintervenção. 4 — Estímulo ao sector privado A dimensão do sector privado, particularmente no domínio do emprego e da produção destinada à exportação e ao abastecimento interno, e o reconhecimento explícito que é feito de que a iniciativa privada exerce um papel fundamental para a prossecução da vocação económica do país e dos objectivos estratégicos definidos através do Plano para a economia e para a sociedade portuguesa justificam que se assegure ao sector privado condições de funcionamento e de estímulo ao seu desenvolvimento que permitam ultra passar estrangulamentos e desconfianças que afectam o ritmo de crescimento económico, a criação de novos empregos e a intensificação da produção e da exportação. A observância das regras de mercado como parâmetro indicador fundamental das decisões de investimento e de racionalidade económica impõe que as empresas privadas tenham de pautar a sua actuação por padrões de eficácia no domínio económico-financeiro e de organização e gestão, por forma a assegurarem condições para manutenção do emprego e para a sua expansão. Assim, especial atenção será dada aos seguintes aspectos: a) Um dos principais problemas que as empresas privadas evidenciam é a descapitalização, agravada em anos recentes pela acumulação de prejuízos e pela inflação. O esquema básico para ocorrer a esta situação assenta na figura dos contratos de viabilização, cuja lógica de aplicação pressupõe a existência de condições mínimas de viabilidade económica. Possibilitada a reavaliação de activos imobilizados e a consolidação de passivos por prazos que podem, por regra, atingir sete anos, a que se associam diversos incentivos fiscais e financeiros a cargo do Estado, o sector privado terá igualmente de contribuir para a viabilização das empresas por medo do comprometimento de recursos que evitem o seu excessivo endividamento com consequente dependência financeira.

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Para o encaminhamento de recursos a afectar à elevação de capitais sociais de em presas privadas toma-se necessário dinamizar o mercado de capitais e regulamentar a mobilização das indemnizações, possibilitando, com urgência, as condições para a mobilização das indemnizações provisórias e a fixação dos valores definitivos das mes mas. Difícil será esperar, no entanto, que daquelas medidas venham a resultar recursos indispensáveis à reestruturação financeira das pequenas e médias empresas, particularmente se inseridas em sectores ou regiões em crise ou em estagnação. Por isso, irá ser estudada a criação de um fundo financeiro, a administrar pelo sistema bancário, destinado a adquirir obrigações participantes de empresas ou grupos de empresas de sectores ou regiões em crise, que celebrem contratos de viabilização ou participem em esquemas integrados de reconversão técnica e económica. Os recursos desse fundo poderão ser constituídos por uma emissão do obrigações avalizadas pelo IAPMEI a tomar firme pelos bancos nacionalizados, em condições normais de mercado, e cuja colocação junto do público será estimulada, particular mente nas regiões mais directamente beneficiadas; b) No domínio dos preços e custos, é indispensável atingir padrões relativamente concorrenciais a nível internacional evitando-se o aparecimento de empresas cuja viabilidade fique exclusivamente dependente de medidas temporárias de protecção ligadas à situação cambial. Daí que a viabilidade das empresas deva assentar no seu correcto dimensionamento, como forma de diluir custos fixos, e em níveis de produtividade global que permitam pagar salários justos, economizar consumos de matérias-primas e energia e garantir condições de expansão às empresas. Estes princípios constituirão critérios fundamentais para a concessão de crédito pelas instituições financeiras e fundamentarão as decisões que venham a tomar-se nomeadamente sobre os regimes de preços controlados. Em relação a este último aspecto, garantir-se-á que qualquer alteração a introduzir nestes preços deverá ser convenientemente justificada através das variações dos diversos componentes dos respectivos custos e tendo ainda em conta a parcela dos ganhos de produtividade que deve reverter em benefício dos consumidores. Ainda no domínio dos preços controlados, definir-se-ão, todavia, as taxas mínimas de lucro que os preços devem assegurar, com vista a salvaguardar a indispensável rentabilidade das empresas; c) A comercialização externa dos produtos portugueses terá de ser estimulada e promovida como forma não só de aumentar a colocação dos produtos tradicionais, como também de estimular a inovação, quer pela introdução de novos produtos, quer pela prospecção de novos mercados. Para tal, dinamizar-se-á o funcionamento dos departamentos oficiais envolvidos no processo de comércio externo, bem como se procederá à revisão de vária legislação referente a esta matéria, nomeadamente a do regime dos contratos de desenvolvimento para a exportação com vista a conferir-lhes uma maior operacionalidade e rapidez na respectiva tramitação burocrática; d) A legislação do trabalho, aprovada pela Assembleia da República, terá de ser aplicada num contexto de concertação e diálogo entre empresários e trabalhadores no âmbito da comunidade de interesses que deve ser a empresa e no propósito de dignificar as funções que cada um dos parceiros sociais têm a desempenhar na superação da crise económica com que o nosso país se debate;

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e) Será estudada a regulamentação de formas de trabalho temporário, condição de criação de emprego em certas actividades e de utilização das capacidades instaladas, conforme previsto, neste Programa, no capitulo referente ao trabalho, emprego e formação profissional, onde, aliás, se desenvolve o assunto abordado genericamente na alínea anterior; f) Será feito o levantamento de todo o vasto e complexo sistema de incentivos existentes na fiscalidade e na política de crédito, em ordem a simplificá-lo e a torná-lo mais acessível, operacional e selectivo, por forma a estimular as actividades mais relevantes para a realização dos objectivos da política económica, nomeadamente em matéria de equilíbrio externo e de criação de emprego; g) Proceder-se-á à passagem pata o sector privado das participações financeiras do Estado que, de acordo com a lei e a vocação económica do país, lhes possam e devam ser cedidas, nomeadamente no âmbito da mobilização das indemnizações, conforme se refere noutra parte deste capítulo. 5 — Apoio ao sector da propriedade social, designadamente ao sector cooperativo A Constituição reconheceu a importância do papel a desempenhar na sociedade pelo movimento cooperativo e proclamou a existência de um sector cooperativo entre aqueles que podem deter a propriedade dos meios de produção. Resultando as cooperativas de uma aliança de dois princípios fundamentais — o princípio da liberdade individual e o principio da democracia económica —, importa que a forma de propriedade dela resultante seja fomentada e protegida, nomeadamente através da sua ampla estruturação ao nível regional. O I Governo Constitucional criou um organismo que, sem pretensões de dirigir o movimento cooperativo, que se deseja espontâneo e autónomo, tem por missão apoiar eficazmente o fortalecimento e a expansão de todas as iniciativas cooperadoras que respeitem os principias cooperativos, tal como têm sido expressos pela Aliança Cooperativa Internacional e são evocados no texto constitucional. Ao Instituto António Sérgio do Sector Cooperativo (Decreto-Lei nº 902/76, de 31 de Dezembro, ratificado pela Lei nº 35/77, de 8 de Junho) foram atribuídas funções de estudo, planeamento, informação, formação e coordenação das iniciativas cooperativas. Para além das acções a desenvolver pelo Instituto António Sérgio, o Governo estimulará o desenvolvimento do sector constituído pelos bens e unidades de produção possuídos e geridos pelos cooperadores, em obediência aos princípios cooperativos e em articulação com o processo de planeamento global, sectorial e regional. Considerando, no entanto, que para o desenvolvimento deste sector, atrofiado durante muitos anos, é indispensável a adopção de condições e benefícios promocionais adequados, o II Governo Constitucional propõe-se codificar os apoios a conceder por parte das diversas entidades públicas, particularmente no domínio do auxílio técnico, do acesso ao crédito e do apoio ao reforço dos «fundos sociais».

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6 — Promoção e enquadramento do investimento estrangeiro Pode dizer-se que é hoje pacífica a ideia de que o investimento estrangeiro é necessário à resolução de alguns problemas importantes da economia portuguesa bem como à sua recuperação, na medida em que se traduza em reforço a poupança interna e assegure transferências de tecnologia que são indispensáveis em fases intermédias de desenvolvimento como a nossa. Nos últimos dois anos deram-se alguns passos importantes para a criação de um clima mais favorável para o investimento estrangeiro, nomeadamente através da delimitação das áreas de actuação dos sectores público e privado e da publicação do Código de Investimento Estrangeiro, de Agosto de 1977. No entanto, para que se possa desenvolver uma eficaz promoção do investimento estrangeiro é indispensável regulamentar a Lei das Indemnizações, encontrando um processo expedito e justo de resolver os casos contenciosos com investidores estrangeiros. O que está em causa não é tanto o montante (no caso dos investidores estrangeiros), mas, sobretudo, o clima de desconfiança gerado pelo adiar sucessivo de soluções nesta matéria. Far-se-á um esforço muito especial nesta matéria pelo que se criará uma task force centralizada no Ministério das Finanças, que apresente as soluções num prazo curto. O nosso Código é intencionalmente orientado para um sistema de autorização caso a caso, na linha das atitudes assumidas por países com o nosso grau de desenvolvimento económico e tecnológico, que não podem ter uma política liberal neste campo, sob pena de poderem ver os seus recursos dominados por critérios e interesses desintegrados de uma política de defesa dos objectivos nacionais. Por outro lado, tal situação de autorização, caso a caso, não pode levar a uma burocratização excessiva que os investigadores estrangeiros não aceitam nem compreendem, até porque encontram alternativas mais expeditas noutros países. Daqui resulta a necessidade evidente de promover a curto prazo: a) O funcionamento adequado dos departamentos oficiais que têm de se pronunciar sobre os pedidos de investimento estrangeiro; b) A definição dos sectores prioritários em que a autorização do investimento directo estrangeiro será sempre concedida, observados determinados requisitos; c) A realização de acordos bilaterais de protecção e investimentos com países que o pretendam; d) A adesão ao ICSID (International Center for Settlements of Investment Disputes), do Banco Mundial, com o objectivo de consolidar junto da comunidade internacional a política de abertura perante o investimento estrangeiro que o Código de 1977 iniciou. O Instituto do Investimento Estrangeiro lançará um programa de promoção do ‘investimento estrangeiro baseado nos seguintes pontos: a) Detecção dos principais estrangulamentos através da realização de inquéritos sistemáticos junto de investidores estrangeiros já existentes em Portugal; b) Realização de encontros com potenciais investidores nos países de maior interesse (países do Mercado Comum, Estados Unidos da América e Japão), sempre que possível em ligação com os canais do sistema bancário e em ligação com os serviços comerciais das embaixadas e com o Fundo de Fomento de Exportação;

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c) Edição selectiva de publicações que divulguem as vantagens que o investidor pode encontrar em Portugal e de monografias sectoriais com o objectivo de passar de uma promoção genérica a uma fase de promoção de oportunidades concretas de investimento.

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C) Programa económico de estabilização para 1978 1 — Introdução, justificação e objectivos É conhecida a situação extremamente difícil em que, do ponto de vista financeiro externo, se encontra a economia portuguesa. O desequilíbrio com o exterior condiciona fortemente a política económica e a sua atenuação é condição indispensável da sobrevivência do regime democrático. Reconhece-se que a situação exige um grande realismo na análise das condicionantes que limitam a capacidade de qualquer Governo para superar a crise financeira. Em relação à crise, as informações disponíveis permitem sublinhar os seguintes factos: a) É indispensável que, a curto prazo, Portugal diminua significativamente o défice da balança de transacções correntes, continuando, porém, a necessitar de avultados meios de financiamento externo. Tal diminuição será enquadrada numa estratégia de desenvolvimento a médio prazo; b) Apesar das várias tentativas feitas durante a vigência do 1 Governo Constitucional, não foi possível obter financiamentos externos no montante adequado sem que Portugal adoptasse um programa de estabilização económica. Todos os países que se mostraram dispostos a conceder tais financiamentos insistiram na vantagem de Portugal negociar tal programa económico com o FMI; c) A situação económica nos países com que Portugal mantém cerca de 80% do seu comércio externo limita as possibilidades de expansão das exportações portuguesas a curto prazo. A necessária procura de novos mercados exige um período mínimo de desenvolvimento e poderá não ter significativos efeitos durante o ano de 1978; d) Sendo impossível alterar a curto prazo as estruturas produtivas portuguesas, não se poderá diminuir substancialmente o elevado conteúdo directo e indirecto em importações da nossa actividade económica. Sem negar que se devem fazer esforços nesse sentido, a redução do volume de importações que este ano terá de ser atingida, qual quer que seja o método usado para a realizar, implicará sempre uma atenuação do ritmo de crescimento da economia; e) A adopção de uma política generalizada de restrições directas às importações, como forma de corrigir o deficit externo, não se ria em qualquer caso compatível com os compromissos internacionais do nosso país e com o facto de o desenvolvimento de Portugal exigir uma economia aberta ao exterior. É, pois, com base nas condicionantes apontadas que se aceitam as seguintes consequências: a) A necessidade de concluir com urgência as negociações com o FMI como forma de viabilizar a obtenção dos meios de financiamento externo necessários à nossa economia, designadamente com vista à concretização de um empréstimo de 750 milhões de dólares. Entretanto, na 2ª fase de negociações, Portugal dialogará com o FMI à luz do programa do II Governo Constitucional; b) A necessidade de aplicar em 1978 um programa de estabilização económica, cujas grandes linhas adiante se definem. Esse programa, ao pressupor uma redução do défice da balança de transacções correntes, implicará uma taxa moderada de crescimento do produto nacional, embora continuando a assegurar-se

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uma progressão superior à prevista para a generalidade dos nossos parceiros comerciais. O referido programa económico de estabilização deverá ter os seguintes objectivos: a) Redução adequada do défice da balança de transacções correntes; b) Controlo da inflação em níveis próximos de 20%; c) Criação de emprego por forma a, pelo menos, não permitir o agravamento do actual volume de desemprego. Não se desconhecem os riscos da aplicação, a uma economia como a portuguesa, de um programa de estabilização que utilize as clássicas medidas de política orçamental e monetária dirigidas à contenção de despesa interna. Sendo certo que a maior parte dos nossos problemas têm uma origem estrutural, um programa excessivamente deflacionista poderia eventualmente conduzir-nos a um círculo vicioso de estagnação que não permitiria sequer resolver, em última análise, o problema do desequilíbrio externo em bases sólidas, para além dos graves problemas sociais que poderia provocar no plano do desemprego. O programa de estabilização tem assim de inserir-se numa óptica de recuperação económica, reconhecendo-se que só nesse enquadramento, de uma política activa de médio prazo, será possível resolver eficazmente os nossos problemas. Esta é uma perspectiva em que o Governo insistirá nas negociações com o Fundo Monetário Internacional, sem negar a necessidade da política de estabilização de curto prazo. A única circunstância que nos permitiria prosseguir uma estratégia mais gradual de reequilíbrio da balança de pagamentos, com mais adequada salvaguarda dos objectivos de crescimento, resultaria da existência de garantias internacionais negociadas de financiamento extraordinário que nos assegurasse, no médio prazo, o montante de divisas indispensável a tal estratégia. Talvez que essa possibilidade tenha algumas hipóteses de surgir no contexto do processo de adesão às comunidades europeias. Na sua ausência, no entanto, seria seguramente irresponsável adoptar uma tal política que rapidamente nos conduziria a uma situação de ruptura após o esgotamento das reservas livres que nos restam. A aposta do programa de estabilização reside no facto de o mesmo poder contribuir para uma inversão de expectativas dos agentes económicos internos e externos, que tão negativamente pesam na Situação actual, podendo esperar-se que o restabelecimento da confiança na solidez da nossa economia, provada a nossa capacidade para a controlar, contribua para a melhoria da balança de capitais, bem como para o desenvolvimento das actividades que mais activamente podem contribuir para o reequilíbrio da balança de transacções correntes. Quanto mais rápidas e significativas forem estas reacções, que no plano interno exigem um esforço de mobilização nacional, mais depressa será possível superar as dificuldades conjunturais e aplicar uma política mais activa de desenvolvimento económico e social que, no entanto, também só poderá alcançar resultados verdadeiramente significativos se a conjuntura de crise económica internacional for definitivamente superada. Entretanto, dados os riscos apontados ao programa de estabilização, haverá que, na medida do possível, compatibilizar o respectivo conteúdo com as metas sociais e económicas de médio prazo. Isto supõe um esforço a realizar em várias áreas da política económica, no sentido de minimizar os possíveis efeitos negativos do pendor deflacionista que necessariamente tem uma política de estabilização.

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Até 15 de Março o Governo apresentará à Assembleia da República uma proposta de revisão do Plano anual para 1973 apresentado pelo I Governo Constitucional, que concretizará e quantificará os objectivos da política económica global para este ano. 2 – Política de balança de pagamentos A gravidade da situação económica portuguesa centra-se, sobretudo, na questão do desequilíbrio externo, que constitui a condicionante fundamental das políticas a adoptar. Na verdade, o endividamento externo e a utilização das nossas reservas de puro e divisas não pode continuar a processar-se ao ritmo do passado recente sem comprometer cada vez mais o futuro do País e acentuar a situação de dependência do exterior. Por outro lado, não será normalmente possível continuar a encontrar os financiamentos necessários para a manutenção do défice externo nos níveis actuais, pelo que há que reduzi-los por forma a assegurar que o seu peso relativo no produto nacional e no total das receitas de exportação vá diminuindo progressivamente e ajustá-los às possibilidades normais de obtenção de financiamentos externos compensatórios. Sublinhe-se que o que está em causa é essencialmente a redução do défice da balança de transacções correntes, que fornece, no fundamental, a medida do aumento anual da dívida externa do País, cujo crescimento é imperioso moderar. Para 1978 procurar-se-á atingir um défice de balança de transacções correntes significativamente menos elevado. Para os anos futuros haverá que programar uma redução gradual deste défice, tendo por objectivo aceitável de desequilíbrio externo em 1984. Para a prossecução destes objectivos são necessárias as seguintes políticas: a) Contenção do crescimento da despesa interna, a fim de diminuir o volume de importações; b) Política de promoção das exportações; c) Política de controlo das importações e de redução do conteúdo de importações na procura global, substituindo importações e alternando a composição dos vários componentes daquela procura através de medidas selectivas adequadas; d) Política cambial; e) Actuação sobre os movimentos de capitais e os fluxos de invisíveis correntes. O primeiro dos aspectos mencionados será realizado fundamentalmente através das políticas orçamental, monetária e de rendimentos, desenvolvidas em capítulos específicos deste Programa. As questões das alíneas b) e c) são abordadas no capítulo relativo à política de comércio externo, pelo que nesta parte se tratará apenas das duas restantes. 2.1 — Política cambial: Será necessário continuar a assegurar uma adequada flexibilidade à política de taxa de câmbio do escudo de modo a garantir ou melhorar a competitividade das nossas exportações e das produções nacionais sujeitas à concorrência das importações e,

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sobretudo, a estimular os novos investimentos nos sectores de exportação e de substituição de importações, assegurando-lhes a indispensável rentabilidade. Numa situação de grande desequilíbrio externo o de inflação interna mais elevada que no estrangeiro, a taxa de câmbio não se pode manter fixa indefinidamente sem comprometer de forma grave a rentabilidade e a competitividade do sector exportador da economia. Não se desconhece que as desvalorizações implicam riscos de agravamento das tensões inflacionistas e podem determinar a deterioração dos termos de troca, mas nas circunstâncias referidas não existe maneira adequada de as evitar, visto que nem a política generalizada de subsídios à exportação 6 exequível, nem a utilização de restrições directas às importações deixam de produzir também aumentos de preços e criar estrangulamentos na produção, para além de a sua adopção em termos amplos contrariar os nossos compromissos internacionais e a necessária abertura de economia ao exterior. Não se encontra cabalmente demonstrada pela experiência a superioridade de qualquer das diversas formas de fazer os ajustamentos cambiais (v. g. periódica ou gradualmente). A política de taxa de câmbio fixa, só ajustável de tempos a tempos, é aparentemente mais favorável ao controlo da inflação, dado que além do mais deveria obrigar o País a seguir uma política financeira mais prudente para defender a paridade, evitando défices importantes da balança de pagamentos. Mas a verdade é que numa situação que já é de desequilíbrio o ajustamento periódico de amplitude significativa de taxa de câmbio vem causar um poderoso impulso à taxa de inflação, muito para além do que, objectivamente, deveria ser a consequência nos preços internos do aumento dos preços das importações, dado que todos os agentes económicos aproveitam o pretexto para aumentar preços ou reivindicar maiores rendimentos. Uma abordagem mais flexível ao problema permite um processo de ajustamento mais contínuo às variações de custos dos bens importados e poderá ter efeitos menos significativos no processo inflacionista desde que se verifique a seguinte condição: ser objectivo da política económica o controlo dos factores internos da inflação, adoptando uma política adequada de taxas de juro, por forma a tornar mais possível que os ajustamentos cambiais andem ligeiramente abaixo e não acima das diferenças esperadas entre as taxas de inflação no País e no estrangeiro. Uma política de taxa de câmbio flexível não deve constituir, de facto, uma forma de permitir a adopção de políticas internas que favoreçam a inflação, sobretudo quando, ao mesmo tempo, como é o nosso caso, se verificam elevados défices da balança de pagamentos. Deste modo, o Governo procurará manter a política que tem vindo a ser seguida de depreciação gradual da paridade do escudo, tendo em conta as diferenças de taxas de inflação em Portugal e nos nossos principais parceiros comerciais, bem como a evolução, no tempo, da situação das reservas de ouro e divisas. 2.2 — Actuação sabre os movimentos de capitais e os fluxos de invisíveis correntes: a) Articulação da política de taxas de juro com o esquema de depreciação gradual do escudo por forma a assegurar que não exista estímulo económico à fuga de capitais; b) Combate mais eficaz à fuga de divisas através da prática de sub e sobrefacturação e do desenvolvimento do mercado negro de divisas. Neste contexto, o Governo apresentará à Assembleia da República uma proposta de lei relativa à emissão de títulos de dívida pública em moeda estrangeira;

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c) Revisão e codificação das disposições legais vigentes em matéria de operações cambiais ligadas a operações de invisíveis correntes e capitais por forma a permitir um melhor controlo, nomeada mente das transferências privadas para o estrangeiro, das contas das agências de viagens e das transferências para o pagamento de royalties e comissões; d) Divulgação dos esquemas existentes destinados a proteger a poupança dos emigrantes e a estimular o seu envio para o País. 3 — Política orçamental 3.1 — Orçamento: O Orçamento para 1978 do sector público administrativo (Orçamento Geral do Estado, fundos e serviços autónomos, administração local e segurança social) deverá obedecer aos seguintes princípios gerais: a) Equilíbrio do Orçamento corrente, por forma a contribuir para o aumento da taxa de poupança nacional, reduzindo as tensões inflacionistas e a pressão sobre a balança de pagamentos. Isto implica a estagnação, em termos reais, das despesas correntes com bens e serviços e a redução de subsídios e transferências, bem como um ligeiro aumento da carga fiscal; b) Adequação do défice global e, portanto, do défice do orçamento de capital às possibilidades de recurso ao crédito do sistema bancário (incluindo o Banco de Portugal), tendo em conta a limitação da expansão do crédito interno total e as necessidades do sector produtivo da economia, bem como as possibilidades de recurso à dívida pública subscrita por particulares e o endividamento externo. Até 15 de Março será apresentada à Assembleia da República uma proposta de lei de revisão da proposta de lei do Orçamento para 1978, a fim de ter em conta a perda de receita ocasionada pelo atraso da entrada em vigor das medidas fiscais propostas pelo anterior Governo, bem como algumas adaptações a introduzir no orçamento das despesas. 3.2 — Despesas públicas: A necessidade de reduzir o défice do Orçamento sem agravar excessivamente a carga fiscal impõe uma contenção dos gastos públicos, começando nesse domínio uma austeridade que sirva de exemplo e justificação aos sacrifícios que serão pedidos ao País. Adoptar-se-ão as seguintes medidas: a) Desenvolvimento das acções já em curso conducentes à criação de estruturas e normas de funcionamento, apoiadas por novas técnicas de gestão orçamental, visando o controlo das despesas segundo princípios de maior racionalidade económica. Completar-se-á, nomeadamente, o esforço de mecanização das operações orçamentais, que já hoje permite um acompanhamento mais actualizado e eficaz da execução orçamental; b) Criação de estruturas mais eficientes de fiscalização e controlo das despesas que penalizem as condições em que são realizadas e a sua efectiva necessidade em face dos objectivos que são prosseguidos. Não se poderá continuar sem um exame de economicidade das despesas, introduzindo novas metodologias de análise custos-benefícios ou custos-eficiência;

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c) Aperfeiçoamento dos procedimentos de inspecção e fiscalização das despesas públicas levados a cabo pela Direcção-Geral da Contabilidade Pública, pela Inspecção-Geral de Finanças e pelo Tribunal de Contas. Este último será sujeito a profunda reestruturação tendo em vista alargar as suas funções e os meios de que dispõe. Rever-se-á também a legislação sobre penalidades a aplicar em casos de abusos e fraudes; d) Criação de órgãos de gestão centralizada de algumas rubricas de despesas significativas: instalações, viaturas (aperfeiçoamento do existente), móveis, máquinas e outros equipamentos; e) Criação de uma ou mais comissões especiais de inspecção de carácter temporário para análise das despesas de alguns Ministérios ou serviços, tendo por objectivo a identificação de gastos supérfluos, de quadros de pessoal excessivos, de serviços ou unidades desnecessários por desactualização ou duplicação com outros entretanto criados. Trata-se de uma importante tarefa de economia orçamental que se articulará com o esforço de racionalização administrativa a empreender. Exame especial será feito às despesas de administração no estrangeiro, domínio onde nos últimos anos se tem multiplicado a criação de serviços e lugares; f) Elaboração e execução escrita do orçamento cambial dos serviços da Administração; g) Redução de subsídios e transferências, através do maior equilíbrio económico das empresas públicas, de concentração dos subsídios no «cabaz de compras» e de racionalização e controlo dos gastos da segurança social; h) Aplicação rigorosa do actual dispositivo que condiciona a admissão de novos funcionários públicos, promovendo transferências dos serviços com pessoal em excesso, por forma a permitir que não seja prejudicada a criação de novos serviços públicos considerados indispensáveis; i) Reforma da contabilidade pública no sentido da descentralização de competências e garantias de controlo da economicidade das despesas. 3.3 — Sistema fiscal: a) A reforma do sistema fiscal será dinamizada, procurando-se que, sem prejuízo da necessária arrecadação de receitas, se diminua o número de impostos, se simplifique o processo fiscal, se promova uma maior justiça fiscal (aperfeiçoamento, nomeadamente, da tributação dos rendimentos não sala riais) e se racionalize todo o sistema de incentivos e isenções fiscais, reduzindo-se o seu âmbito para que se tornem verdadeiramente selectivos no sentido de mais interesse à promoção do investimento e da expansão das produções de especial importância para o desenvolvimento do País. Há que corrigir inúmeras distorções geradas nos últimos anos pela legítima preocupação de aumentar as receitas, mas que criaram situações cai que os efeitos económicos dos impostos não são os mais convenientes. Nesse contexto se estudará também o problema das correcções a introduzir eventualmente em virtude do processo inflacionista, seja nos níveis de isenção ou nos escalões das taxas de alguns impostos sela em ligação com o problema da reavaliação dos activos fixos das empresas. Com efeito, a progressão na inflação faz aumentar automaticamente a carga fiscal, criando situações especialmente gravosas para os rendimentos do trabalho e em geral, para os tributados pelo imposto complementar, factor que contribui para a evasão e fraude fiscais, além de se estar provavelmente a correr o risco de criar desincentivos ao trabalho individual. Trata-se, portanto, de uma situação que merece análise ponderada, tendo sempre em conta que na actual conjuntura não se pode, porém,

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sacrificar o indispensável aumento de receitas. Procurar-se-á acelerar os trabalhos da revisão da pauta aduaneira tendo em vista a sua passagem a uma base ad valorem e a sua maior racionalidade económica. Lançar-se-ão os estudos necessários à introdução futura do imposto de transacções com base no valor acrescentado tendo em vista a nossa entrada na CEE. Final mente, será dinamizado o prosseguimento das tarefas relativas ao imposto único sobre o rendimento das pessoas físicas e das pessoas colectivas, procurando que antes do final do ano seja possível começar a discutir com a Assembleia da República as linhas gerais quanto ao tipo de imposto, conceito de rendimento, unidade familiar e determinação das taxas; b) Acréscimo das cobranças das receitas fiscais, quer por alargamento da matéria colectável, quer por actualização do seu valor, quer, ainda, por virtude do ligeiro alargamento da carga fiscal, mediante a aplicação de adicionais às taxas dos principais impostos directos e alguns indirectos, em particular das que incidem sobre produtos importados; c) Aperfeiçoamento do sistema de tributação de certos rendimentos não salariais, nomeada mente das profissões liberais revendo a legislação, quando necessário, para combater a fuga aos impostos através da criação artificial de sociedades com escassa actividade produtiva, da dedução de juros ao rendimento colectável e da imputação de gastos pessoais como custos de empresas; d) Intensificação do combate à evasão e fraude fiscais, designadamente com a atribuição do número fiscal e tratamento da liquidação dos impostos e por virtude da acção fiscalizadora, quer através dos Serviços de Prevenção e Fiscalização Tributária, quer da Inspecção-Geral de Finanças; e) Intensificação das acções de repressão do contrabando, das fugas à tributação indirecta e da prática da sub e sobrefacturação; f) Recuperação dos atrasos nas liquidações de impostos e na cobrança através dos serviços de justiça fiscal. 4 — Política monetária e financeira No contexto da política de estabilização a aplicar, a política monetária terá de ser mais restritiva que em 1977, o que implica o necessário reforço do seu carácter selectivo, por forma que a expansão controlada do crédito interno não provoque a redução do nível global do investimento, indispensável à criação de empregos, nem dificulte o crescimento previsto do produto nacional. Adoptar-se-ão as seguintes orientações específicas: a) A redução do défice da balança de pagamentos exige a contenção do crescimento do crédito interno total, a fim de condicionar a situação de liquidez da economia. Os tradicionais métodos que permite controlar a base monetária e, através desta, o crédito concedido pelo sistema bancário e a massa monetária global não se revelam, nas actuais circunstâncias, suficientemente eficazes para garantir a progressão, programada ao longo do ano, que será necessário assegurar a estes agregados monetários. Com efeito, a variação das reservas mínimas de caixa das instituições de crédito constituem um instrumento de manejo pesado que dificulta, se usado muitas vezes, a gestão das instituições, para além de não ser previsível com rigor o seu efeito quantitativo. Quanto aos mecanismos de refinanciamento pelo Banco Central, a sua eficácia também se reduz numa situação em que o mesmo repousa quase exc lusivamente

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no redesconto. Torna-se, pois, necessário adoptar uma política de enquadramento do cré dito, fixando limites quantitativos à expansão mensal do crédito concedido pelos bancos. Trata-se de uma medida aplicada em muitos países em situação de crise inflacionista ou de balança de pagamentos, mas que, pela sua natureza extrema e pelas dificuldades que cria no funcionamento do sistema bancário, é normalmente aplicada durante um período transitório, que, nalguns casos, se estendeu, no entanto, por alguns anos. A sua adopção entre nós, iniciada recentemente pelo Banco de Portugal a título indicativo, dada a existência de outros objectivos prementes de política económica, exige o reforço da selectividade da política de crédito. Esta selectividade deverá ser realizada através da política de redesconto, do esquema de bonificações às taxas do juro, da fixação de normas de gestão adequadas às instituições de crédito nacionalizadas e da eventual fixação de objectivos quantificados à aplicação de recursos pelas instituições para certas finalidades ou sectores de actividade (v. g. agricultura, pequenas e médias empresas, etc.). A minimização dos efeitos recessivos da restrição de crédito, sobretudo sobre as pequenas e médias empresas, exigirá também a prossecução de maior equilíbrio económico das grandes empresas públicas, o seu saneamento financeiro pelo aumento de capitais próprios, a obtenção de capitais por colocação de obrigações junto do público e um recurso acrescido ao crédito externo. b) Articulação e definição clara das directivas sobre selectividade do crédito, com o estabelecimento de normas mais operacionais e simplificadas para a política de refinanciamento do Banco de Portugal, consistente com os objectivos de estabilização e recuperação económica, garantindo o refinanciamento adequado das operações preferenciais de investimento e saneamento financeiro e de estimulo à produção com impacte na exportação e na substituição economicamente eficiente de importações; c) Estabelecimento de critérios objectivos de incentivo, pela via do crédito bonificado, para as actividades e operações prioritárias na óptica da política económica, assegurando-se que no domínio do investimento, os projectos significativos sejam sujeitos a avaliação económica correctamente fundamentada. Em articulação com os órgãos responsáveis pelo planeamento, mas respeitando a indispensável especificidade de perspectivas, proceder-se-á a uma normalização de critérios de apreciação dos projectos de investimento, públicos ou privados, para efeitos de concessão de crédito por pane de todas as instituições de crédito nacionalizadas; d) Definição de normas de gestão das instituições de crédito nacionalizadas que tenham em conta os objectivos selectivos da política monetária e de crédito. Sem prejuízo da autonomia de gestão dos bancos e da procura da rentabilidade das instituições, estas não devem subordinar a sua acção à maximização dos lucros, visto que devem constituir um poderoso instrumento de realização das metas da política económica global, pelo que devem definir-se indicadores de gestão que avaliem a sua verdadeira eficiência social. No contexto da política de selectividade do crédito, estudar-se-á, nomeadamente, a conveniência e a possibilidade de introduzir alguns objectivos à aplicação dos recursos das instituições por sectores ou actividades e cru percentagem dos recursos totais aplicados; e) Aperfeiçoamento do mercado monetário inter bancário e de esquemas administrados pelo Banco de Portugal que possibilitem aplicações monetário-financeiras para os excedentes de liquidez das instituições de crédito, nomeadamente pela criação de um mercado interbancário de títulos do Tesouro, eventualmente aberto a outras instituições financeiras;

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f) Articulação da política de taxas de juro e a política programada de ajustamento gradual da paridade externa do escudo, tendo como preocupações fundamentais a garantia das condições de competitividade para as exportações nacionais, os condicionalismos da inflação e dos movimentos de capitais e a rentabilidade normal dos investimentos, calculada a preços correntes. Serão explicitadas as necessárias garantias de que as taxas de juro de médio e longo prazo deverão ser revistas para baixo no decurso da vida das operações, no caso de se dar uma diminuição da taxa de inflação; g) Estudo aprofundado da reforma do sistema financeiro, analisando as lacunas existentes, definindo as necessidades de criação de novas instituições ou reestruturação das existentes, tendo em vista uma maior eficiência do sistema, diversificando instrumentos de aplicação financeira adequados à situação portuguesa, com vista a uma efectiva dinamização do mercado de capitais. Será regulamentada a criação de sociedades de investimento, de sociedades de desenvolvimento regional e de sociedades de leasing. Estudar-se-á a possibilidade de regulamentar a breve prazo a emissão de obrigações indexadas aos preços dos produtos (ou conjunto de preços) das empresas emitentes, em particular empresas públicas, como forma de diminuir a procura de cré dito bancário; h) Continuação da reestruturação do sistema bancário, estabilizando o número de bancos polivalentes actualmente existentes, prosseguindo a reorganização da cobertura bancária do país e racionalizando e diversificando os esquemas de captação de recursos, nomeadamente no exterior. 5 — Política de combate à inflação e política de rendimentos A aceleração do processo inflacionista após 1974 encontra fundamentalmente a sua explicação na estrutura geradora dos custos de produção na economia, considerando nessa estrutura todos os aspectos institucionais ou sócio-políticos que a condicionam. Os factores responsáveis por aquela aceleração foram, efectivamente, os fortes aumentos dos preços das importações e dos custos salariais num processo típico de inflação pelos custos, a que, em fase mais recente, se juntaram os efeitos de aumentos de margens de lucro e de uma intensa actividade especulativa alimentada por expectativas inflacionistas que determinam um aumento da procura monetária. Entretanto, após um brusco agravamento no 2° trimestre do ano passado, a inflação desacelerou no 2° trimestre para uma taxa que, calculada numa base anual, é próxima dos 20%. Esta desaceleração é o resultado dos factores inflacionistas de fundo presentes na economia, que evoluíram de forma mais moderada, quer os preços de importação, quer os custos salariais e as margens de lucro. Será certamente difícil manter esta tendência no futuro mais imediato, visto que a necessária revisão de alguns preços das empresas públicas dos bens integrados no «cabaz de compras» e o aumento de alguns impostos indirectos poderão provocar um novo degrau no processo inflacionista, semelhante ao que ocorreu em idêntico período do ano transacto. O objectivo de situar a inflação no decurso de todo o ano de 1978 em taxa próxima de 20% é, assim, uma meta exigente. Poderá, porém, ser alcançada desde que se saiba compreender que o provável aumento do índice de preços num primeiro momento não tem que ser, como não foi em 1977, um incremento sustentado que continuará durante os meses seguintes. Para que não prossiga é, todavia, necessário que se actue com determinação nos domínios da política económica que podem contribuir para o controlo do processo inflacionista. Estão em causa os seguintes aspectos:

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a) A política macroeconómica de regulação da procura global que fará diminuir as pressões inflacionistas localizadas e impedirá o aumento considerado nas margens de lucro; b) O aperfeiçoamento da política de controlo directo dos preços; c) A estabilização, na medida do possível, da depreciação do escudo para evitar o aumento excessivo dos preços das importações; d) A moderação dos aumentos salariais; e) A atenuação dos efeitos de alguns factores estruturais da inflação, como sejam as graves deficiências dos circuitos de distribuição e a insuficiência da produção interna de produtos alimentares. Assumem particular relevância neste enunciado os domínios relativos à componente autónoma de incrementos dos custos de produção, dado que, no caso de ela não ser controlada, mais profundo teria de ser o efeito deflacionista da política de contenção da despesa interna, com todos os riscos inerentes no plano do desemprego. Com efeito, caso não seja possível aplicar uma política de rendimentos moderadora do crescimento dos salários e das margens de lucro, a travagem da inflação só poderá ser conseguida à custa de um período de recessão e aumento do desemprego, o que importa evitar a todo o custo. Durante algum tempo alimentou-se entre nós a ideia de que a inflação era necessária para corrigir distorções ocorridas em 1974 e 1975, permitindo, por exemplo, absorver os prejuízos e dívidas acumulados pelas empresas. Essa ideia justificaria para alguns uma atitude de certa contemporização com o crescimento dos preços, atitude que não podemos perfilhar. O Governo está consciente dos graves inconvenientes de um processo inflacionista acelerado que justificam a atribuição de uma prioridade relativamente elevada ao objectivo da contenção do ritmo de crescimento dos preços. Podem citar-se os seguintes: a) A inflação é um processo socialmente muito injusto, pois a queda do poder de compra atinge predominantemente os membros da população de baixos rendimentos e com menor poder contratual; b) O elevado crescimento dos preços prejudica a acumulação produtiva essencial ao crescimento, porque: Afecta negativamente a taxa de poupanças, estimulando comportamentos de troca de activos monetário-financeiros por activos reais; Perturba todo o cálculo económico, alterando preços relativos e criando incerteza quanto à rentabilidade futura dos investimentos, incentivando as aplicações especulativas; Afecta a vida das empresas, distorcendo a respectiva contabilidade; c) A inflação põe em risco a competitividade externa do sector exportador, conduzindo à necessidade de fazer desvalorizações que podem criar círculos viciosos que dificultam a travagem do crescimento dos preços; d) A manutenção das altas taxas de inflação dificultaria a nossa integração plena na CEE.

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Para além das medidas orçamentais e de política monetária já referidas e destinadas à contenção da despesa interna e das políticas relativas aos circuitos de distribuição e ao sector agrícola, tratadas em capítulos próprios deste Programa, apontam-se seguidamente outras actuações relacionadas com o combate à inflação e à política geral dos rendimentos: a) Adopção de um código de preços que defina regras de conduta para as empresas quanto a cálculo de custos e margens de lucros, por forma a tornar verdadeiramente eficaz o sistema de controlo a posteriori em vigor; b) Manutenção da política de subsídios aos preços de alguns bens de consumo essenciais, de modo a assegurar a sua estabilidade durante o ano, após eventual ajustamento inicial (política do «cabaz de compras»); c) Implementação da política de salários, de actualização das pensões de reforma e de aperfeiçoamento da tributação dos rendimentos não salariais, referida nos capítulos próprios deste Programa. Em particular a política salarial moderada, procurando embora a manutenção do poder de compra real dos trabalhadores, será fundamental para o controlo do processo inflacionista. Não será possível, com efeito, considerar que a perda do poder de compra real suprida recentemente pelos salários é susceptível de ser recuperada no futuro próximo. O facto é que a situação, em particular da balança de pagamentos, infelizmente não o permite. Mesmo que a tentativa fosse feita, os resultados finais não a validariam e apenas se teria conseguido alcançar um nível de subida de preços mais elevado que o actual; d) Estudo da introdução de mecanismos correctores de algumas distorções geradas pelo processo inflacionista, designadamente no plano fiscal e da contabilidade das empresas, com particular relevância para o problema de reavaliação dos activos fixos das empresas, dados os elevados encargos financeiros originados pela política de taxas de juro adaptadas à inflação. 6 — Compatibilização do programa de estabilização com as perspectivas da política social e da política de desenvolvimento a médio prazo Conforme se sublinhou no início deste capítulo, constitui objectivo relevante da política a prosseguir a minimização dos efeitos negativos que a política de estabilização pode ter no domínio do desemprego e no processo de desenvolvimento a médio prazo. Importa, por isso, enumerar os aspectos mais importantes das políticas que procuram responder àquela preocupação, embora sem grandes desenvolvimentos, dado o seu tratamento específico noutros capítulos deste Programa: a) A promoção das exportações constitui um instrumento privilegiado de tornar compatíveis o crescimento e o reequilíbrio da balança. Dado que as importações representaram em 1977, em termos reais, volume mais ou menos equivalente ao de 1973, não é possível esperar que no futuro se possa contar com a sua redução continuada e significativa. Isto revela que a principal causa estrutural do défice se encontra do lado das exportações, pelo que, apesar das limitações impostas pela crise económica internacional, tudo deve ser tentado para criar novas linhas de exportação e conquistar novos mercados; b) O crescimento acelerado da produção interna de bens alimentares é uma condição fundamental da contenção do desequilíbrio externo;

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c) A política de investimento joga, no contexto referido, um papel absolutamente decisivo. Para além de privilegiar os sectores atrás apontados, a política de orientação de investimento deverá ser revista no sentido de desencorajar os projectos que apresentam um elevado conteúdo de importações e ou capital intensivo. Uma vez que o investimento é a componente da despesa interna com maior conteúdo de importações, a alteração da sua composição neste aspecto é um factor fundamental para compatibilizar o esforço de redução de importações com a manutenção ou elevação da taxa de investimento na economia. Quanto menos se actuar neste domínio da correcta avaliação dos projectos de investimento, mais profunda terá de ser a deflação geral a provocar para alcançar determinado objectivo para o de da balança de pagamentos. Alguns projectos deverão, pois, ser sacrificados ou adiados com determinação. A criação de um organismo encarregado de uma análise e avaliação económico-social de projectos de investimento aparece como absolutamente indispensável. Proceder-se-á, nomeadamente, ao reexame do projecto de Sines, do plano siderúrgico, do projecto de desenvolvimento da indústria petroquímica e do programa de investimentos no sector de transportes; d) A política de emprego, descrita em capítulo próprio deste Programa, procura, através de algumas medidas directas de promoção da criação de empregos, minorar os efeitos depressivos da política económica global; e) A selectividade das políticas monetária e fiscal constituirá uma dimensão essencial que terá em conta, no plano dos incentivos, a preocupação de favorecer o desenvolvimento das actividades que mais positivamente possam contribuir para a balança de pagamentos; f) Nos próximos anos a mobilização de recursos latentes poderá ter algum impacte na melhoria da balança de pagamentos e na situação do emprego. Eliminando desperdícios (v.g. de energia), inadmissíveis na conjuntura difícil que atravessamos, intensificando a utilização do stock de capital (v.g. trabalho por turnos), levantando estrangulamentos da produção mediante pequenos investimentos de capacidade e de organização, aumentando a produtividade física, poderemos obter ganhos de divisas e criar novos postos de trabalho; g) As expectativas dos agentes económicos sobre o futuro da inflação e da balança de pagamentos constituem hoje um inf luente factor de agravamento de ambos os problemas. As expectativas sobre o agravamento da inflação estimulam um comportamento de «fuga perante a moeda», trocando-a por bens e aumentando assim a procura pela variação da velocidade de circulação da moeda. As expectativas relativas à continuação das dificuldades de pagamentos externos conduzem a importações especulativas, formação excessiva de stocks, fuga de capitais, criação de mercado negro de divisas, etc. A existência de tais expectativas conduz mesmo a que certas medidas de política económica dêem origem a «efeitos perversos»: por exemplo, o aumento das taxas de juros é visto como prenúncio de novos aumentos a haver, acentuando-se os comportamentos que se procurava combater; as restrições às importações conduzem as empresas a empolar os seus pedidos de BRI, etc. É difícil quebrar este círculo de expectativas, que se auto-alimentam, mas, quando isto se consegue, as condições de êxito da política económica são largamente potenciadas e, sobretudo, podem evitar-se os sacrifícios inerentes a uma prolongada política de estabilização e realizar mais facilmente a compatibilização com os objectivos de médio prazo. Na actual situação portuguesa as condições para quebrar as expectativas existentes podem resumir-se nos seguintes aspectos, que constituem objectivos essenciais da acção do Governo e deste Programa:

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Estabilidade política e consequente fim da incerteza quanto às regras de funcionamento do sistema económico; Consistência e determinação na aplicação da política económica: as autoridades têm de ser acreditadas na sua resolução de levar até ao fim uma política definida; Existência de incentivos económicos adequados aos objectivos que se prosseguem: por exemplo, existência de activos financeiros atractivos na situação de inflação existente; correcta selectividade na política fiscal e de crédito; nível das taxas de juro, etc.; Existência de mecanismos de garantia mínima de defesa perante as distorções criadas pela inflação que permitam evitar os comportamentos de defesa e compensação que são o resultado das expectativas criadas: por exemplo, introdução de certos mecanismos de correcção monetária na contabilidade das empresas e no sistema fiscal.

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D) Política de desenvolvimento económico e social a médio prazo A estratégia de desenvolvimento a médio prazo (1979-1984) visará os seguintes objectivos económicos e sociais: Restabelecimento dos equilíbrios macroeconómicos fundamentais no contexto de um ritmo elevado de crescimento: redução do desequilíbrio externo, controlo da inflação e melhoria da situação do emprego. A economia deverá expandir-se a ritmos sucessivamente mais fortes ao longo dos vários anos do período, aceitando-se taxas de crescimento mais moderadas nos primeiros anos; Melhoria da satisfação das necessidades sociais, reduzindo as desigualdades verificadas em relação aos estratos economicamente desfavoreci dos e corrigindo os fortes desequilíbrios existentes a nível regional; Preparação da adesão à Comunidade Económica Europeia, tendo em conta as alterações que as estruturas produtivas terão de sofrer e as cor respondentes modificações de carácter social que a sociedade portuguesa enfrentará. A abertura ao exterior e a especialização da economia são dois vectores essenciais e interligados da vocação económica do País, tendo em conta os seus recursos e capacidades específicos. A visão do desenvolvimento que decorre destes pontos é a de que o crescimento tem que respeitar os equilíbrios económicos, encontra o seu sentido último na satisfação das necessidades e na melhoria do nível de vida da população e pretende a modernização da sociedade portuguesa no quadro de abertura à Europa, na qual nos pretendemos integrar. 1 — Adesão às comunidades europeias Esta perspectiva tem que constituir preocupação constante de toda a acção governativa nos vários domínios em que esta se exerce. São, com efeito, imensas e profundas as transformações que o processo de uma adesão à CEE implicará na nossa vida colectiva. O desafio que nos é levantado pela adaptação das nossas estruturas produtivas, institucionais e legais ao património comunitário que decorre dos tratados que instituíram as comunidades e do chamado direito derivado terá de ser respondido com um amplo esforço de inovação por parte dos agentes económicos e, em particular, da administração pública. O Governo intensificará a partir de agora as acções de divulgação e formação indispensáveis à preparação dos agentes económicos para as tarefas necessárias. Está previsto que a Comissão das Comunidades conclua o seu parecer sobre o nosso pedido de adesão em finais de Março próximo e pode esperar-se que, após algum tempo para apreciação e deliberação, o Conselho de Ministros das Comunidades venha a dar resposta positiva que possibilite a abertura de negociações no fim do ano em curso. Trata-se, necessariamente, de negociações complexas e demoradas, pelo que não é provável que a admissão de Portugal como país membro da CEE venha a concretizar-se antes dos primeiros anos da década de 80. Entrando em linha de conta com o período de transição que se seguirá à entrada de Portugal e durante o qual iremos progressivamente cumprindo as obrigações decorrentes dos tratados, vemos que estamos a uma distância de, pelo menos, dez anos até assumirmos o essencial à totalidade dessas mesmas obrigações, Pela contribuição que pode trazer à consolidação da democracia em Portugal, pelo

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profundo impacte inovador que fará ascender a nossa sociedade à plena modernidade, pelo poderoso acicate que constituirá ao nosso desenvolvimento, o projecto de adesão à CEE é o elemento estratégico decisivo que marcará a vida portuguesa nos próximos anos. Vasta obra para uma geração, nela terão que colaborar todos os portugueses, e nesse sentido o Governo não deixará de prosseguir nesta matéria uma política de abertura com a oposição e os parceiros sociais. Não se desconhecem as dificuldades que este processo levanta à nossa economia, mas mesmo em termos económicos não existia outra solução que permitisse juntar vantagens compensadoras aos possíveis inconvenientes do desarmamento alfandegário que, nos termos do acordo comercial existente, o país está já comprometido a realizar até 1985. Não será por virtude da adesão que Portugal verá dificultado o processo de desenvolvimento ou fixada para sempre a sua posição relativa na divisão internacional de trabalho a nível europeu. Contamos com a solidariedade e compreensão dos actuais países membros no contexto do grande projecto político que é o alargamento da Comunidade, contamos também com a capa cidade de trabalho dos Portugueses para tirarem partido das possibilidades que se nos abrem e garantimos a determinação que o Governo porá na defesa dos nossos interesses durante as negociações. Teremos, com efeito, de assegurar a necessária flexibilidade dos indispensáveis períodos de transição e adaptação, mais ou menos dilatados, que nos permitam suportar com segurança e vantagem o impacte da integração de uma economia num espaço económico mais desenvolvido. 2 — Estratégia do desenvolvimento O Governo apresentará à Assembleia da República o relatório das grandes opções do Plano a médio prazo até Outubro próximo, e é nesse documento que, naturalmente, se desenvolverá e concretizará a estratégia do desenvolvimento a seguir. Importa, porém, deixar aqui já expressas algumas ideias indicativas da visão do Governo sobre a matéria. Sendo Portugal um país de pequenas dimensões, com um mercado interno necessariamente reduzido, nunca o motor do seu desenvolvimento nem a orientação do seu aparelho produtivo e o seu padrão de crescimento poderiam ser determinados, directa e predominantemente, pela satisfação das necessidades de consumo interno através da oferta nacional. Aquela satisfação tem de obter-se como resultado de um processo de desenvolvimento cujo padrão tem de ter em conta a indispensável abertura da economia ao exterior e à consequente necessidade de especialização. Isto coloca o problema em termos de se partir para a definição da estratégia de desenvolvimento da análise dos factores determinantes das nossas vantagens comparativas que se encontram nos nossos recursos naturais, na qualidade e custo do trabalho nacional, na nossa localização geográfica e no grau de domínio das tecnologias. Estes factores situam-nos num estádio intermédio de desenvolvimento que não permite aplicar à economia portuguesa os raciocínios geralmente utilizados para analisar os problemas dos países desenvolvidos. Na determinação do padrão de especialização da nossa economia há que, evidentemente, ter em conta o factor estratégico fundamental que constitui a nossa entrada na CEE. A este respeito, há, porém, que afastar liminarmente duas concepções extremas: a de que a preparação da adesão à CEE implica que copiemos a estrutura produtiva dos países europeus mais desenvolvidos, fechando a malha do nosso tecido industrial com todas as indústrias de base, num processo inconsiderado de substituição de importações para o qual não temos dimensão

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suficiente, e a de que o que importa é atender à nossa complementaridade com a Europa, o que implicaria o congelamento da nossa posição subalterna no processo de divisão internacional do trabalho. Por outro lado, a nossa estratégia de desenvolvimento tem também de decorrer da necessidade de superação dos desequilíbrios económicos de fundo que marcam a nossa situação: o desequilíbrio expresso numa grave situação de desemprego estrutural, o desequilíbrio externo e os desequilíbrios regionais. Nenhum processo de crescimento é viável se não atender em particular aos dois primeiros. Deste modo, poderão enunciar-se alguns princípios gerais que deverão condicionar a definição concreta da nossa estratégia de desenvolvimento: a) O motor do desenvolvimento só pode ser constituído pelos sectores que produzem bens que são objecto de transacção com o exterior, seja para exportação, seja para importação. É esta a única forma de compatibilizar o crescimento com o reequilíbrio da balança de pagamentos. Por esta razão, entre outras, começa a ser preocupante verificar que no passado recente o emprego só aumentou praticamente no sector dos serviços, o que vem dando maior peso a actividades que não contribuem para a base material indispensável do processo de acumulação; b) Decorre do ponto anterior e da análise da problemática da nossa balança de pagamentos que a criação de um novo sector de exportação, diversificado e moderno, é uma condição imprescindível do nosso desenvolvimento. À semelhança do que já se fez para a substituição de importações, deverá ser criado um grupo de trabalho brevemente que promova o aparecimento de uma carteira de projectos neste domínio, A necessária reconversão e apoio aos sectores tradicionais de exportação não é suficiente para resolver o problema, dado que, em virtude da situação dos mercados inter nacionais, não será possível continuar a basear naqueles sectores, como na década de 60, o crescimento continuado das nossas exportações; c) A substituição de importações deve fazer-se basicamente nos sectores mais próximos da exploração dos nossos recursos naturais, nos sectores em que seja possível a existência de um elevado valor acrescentado nacional ou em que o fechar da malha industrial contribua para a verticalização da estrutura industrial. Em qualquer caso, os projectos de substituição de importações deverão sempre respeitar critérios de rentabilidade assegurada em termos de competitividade internacional. Assume, neste ponto, particular relevância a substituição de importações de bens alimentares, pelo que o desenvolvi memo do sector da agricultura e das pescas deverá ter uma elevada prioridade; d) Sem prejuízo da indispensável modernização tecnológica mínima, os projectos a promover, nomeadamente nos sectores referidos, deverão assegurar uma predominância de projectos trabalho-intensivos, sem o que não se poderá resolver o problema estrutural do desemprego. A promoção de indústrias de tecnologia intermédia para a exportação terá, neste plano, uma importância essencial. A preocupação expressa neste ponto terá de ser tanto mais acentuada quanto as possibilidades de emigração se revelarem limitadas pela situação internacional, embora se possam esperar algumas facilidades adicionais resultantes da nossa entrada na CEE; e) Deverá prosseguir-se uma política de localização dos investimentos que contribua para a gradual correcção das assimetrias regionais existentes;

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3 — Política de orientação do investimento No modelo de desenvolvimento acima esboçado, o elemento estratégico fundamental deverá ser uma cor recta política de investimento. A primeira prioridade consiste em proceder a uma avaliação em termos dos benefícios económico-sociais líquidos que um projecto de investimento gera para a economia no seu conjunto. Há que considerar todos os custos e benefícios implicados e valorizá-los com preços que traduzam a verdadeira escassez de recursos existente na economia que nem sempre se encontra expressa nos preços que vigoram no mercado. Por exemplo, numa situação de forte desequilíbrio externo, a escassez de divisas não é medida com rigor pela taxa de câmbio vigente e, quando existe uma grande escassez de poupança, as taxas de juro do mercado podem não a exprimir de forma integral. Sendo essa tarefa de avaliação absolutamente essencial, sobretudo para os projectos de certa dimensão, e não existindo anda um departamento especializado em funcionamento, será promovida a sua criação em ligação com a orgânica de planeamento, com o Fundo Nacional para o Desenvolvimento Económico e com a banca nacionalizada. Não se poderá continuar a admitir que se tomem decisões erradas neste domínio quando a situação do País é tão grave no plano da escassez de divisas e de capitais disponíveis. A este respeito há que dissipar a ideia errada, mas muito generalizada, de que, quando um projecto tem assegurado financiamento externo, pelo menos para a sua componente importada, não é necessário analisar os seus efeitos sobre a balança de pagamentos na mesma base dos restantes projectos. Esta noção é errada, pelas seguintes razões: porque, como se explicou no capítulo do Programa referente à balança de pagamentos, o que conta para o endividamento externo do país é a balança de transacções correntes e não a de capital; porque, ao utilizar capa cidade de endividamento externo do País, o projecto pode impedir a execução de outros mais vantajosos, e, finalmente, porque o empréstimo externo que financia o projecto terá de ser pago no futuro, pesando sobre a situação das reservas do país, e, consequentemente, tem de ser tratado, em relação ao problema de disponibilidade de divisas, como qualquer outro projecto. Da situação actual da economia portuguesa de défice da balança de pagamentos e de grave situação de desemprego, justifica-se tomar como critérios essenciais para a avaliação de projectos o conteúdo em trabalho e a poupança de divisas por unidade produzida a que os mesmos dão origem. Outro ponto importante da política de investimento diz respeito à inexistência de uma entidade de promoção de projectos que os conceba, os prepare em detalhe e os procure executar, pondo-os à disposição de empresas públicas ou privadas que se queiram lançar em novas actividades. O Governo procurará dar corpo, a breve prazo, a um órgão que preencha esta função de promoção do investimento em novas actividades contribuindo para a existência de uma carteira de projectos que mais interessem ao desenvolvimento do país. Obviamente que uma tal estratégia de desenvolvimento, baseada numa correcta política de investimento, torna necessária uma redefinição dos processos de financiamento do desenvolvimento. Para além do afluxo de capitais externos que haverá que mobilizar nas circunstâncias deficitárias da nossa balança de transacções correntes e que, justificadamente, deverão ser orientados para projectos que gerem acrescida capacidade de exportação ou substituição de importações, terá de ser desenvolvido um sério esforço de incentivo à formação de

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poupança interna e à sua adequada orientação para finalidades inseridas na estratégia definida. A diversificação dos instrumentos financeiros, nomeadamente através da gradual dinamização do mercado de capitas e de outras medidas referidas nos dois capítulos anteriores deste Programa, será tarefa a levar a cabo, por forma a incentivar os Portugueses residentes ou emigrantes a desviarem para a formação de poupança os recursos de que possam dispor para além dos padrões normais de consumo em Portugal. Tem-se perfeita consciência de que o esforço de investimento indispensável para que Portugal atinja níveis de desenvolvimento compatíveis com a adesão às comunidades europeias só será possível com uma forte contribuição de poupança interna, ainda que completada com a poupança externa que for possível atrair para o nosso país. Caso tal não seja alcançado, as metas de crescimento desejáveis só serão alcançáveis com uma pressão no nível dos preços internos, pelo que o Governo dará toda a prioridade e incentivo aos esquemas de formação e canalização de poupança para o investimento. 4 — Desenvolvimento regional Dada a importância de que este tema se reveste para o futuro dos Portugueses e para o nosso processo de desenvolvimento, expõem-se neste capítulo alguns princípios fundamentais que nortearão a actuação do Governo nesta matéria. As acções de fomento regional merecerão particular atenção por parte do Governo por forma a minorar os actuais desequilíbrios, em termos de estruturas produtivas e de níveis de vida, entre as várias regiões do país. Tendo em conta que se trata de desequilíbrios estruturais apenas passíveis de correcção num horizonte de longo prazo, o Governo terá de pautar as suas actuações por um quadro geral de ordenamento do território com vista ao pleno aproveitamento das potencialidades regionais existentes e à correcta fundamentação das grandes opções em matéria de distribuição especial dos investimentos. Como requisito indispensável do desenvolvimento regional, o Governo redefinirá as linhas fundamentais de actuação no domínio -das infra-estruturas básicas e de transportes, particularmente com o objectivo de romper com situações de isolamento das regiões do interior, em ligação com o aproveitamento de recursos regionais e a expansão organizada de centros urbanos, considerados de dimensão média à escala nacional. O Governo promoverá no imediato, e dentro das capacidades financeiras do País, adequadas acções tendentes à melhoria dos níveis de vida das populações residentes em regiões desfavorecidas, mediante uma racional distribuição de investimentos em equipamentos sociais (saúde, educação, cultura, etc.), conjugadamente com melhorias nas condições de acessibilidade no interior de cada região. Neste sentido particular, proceder-se-á à redefinição do plano de viação rural. Nas áreas de forte expansão urbana ter-se-á em coma a melhoria das condições do habitat, para o que se adoptarão medidas conducentes a uma mais eficaz gestão urbanística e dos transportes em meio urbano.

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A actuação sobre as estruturas produtivas regionais basear-se-á num aproveitamento mais intensivo das potencialidades agrícolas, nomeadamente pelo prosseguimento de aproveitamentos hidroagrícolas e reconversão de culturas; intensificação dos trabalhos de prospecção mineira e reactivação das indústrias extractivas; diversificação das actividades económicas regionais através da promoção industrial, destacando-se a continuação do programa de implantação de parques industriais; reestruturação de zonas de mono indústria, e apoio ao fomento de iniciativas no domínio da actividade turística. A par da promoção de alguns empreendimentos do sector empresarial do Estado com impacte regional, o Governo procederá à redefinição dos esquemas de incentivos ao fomento das actividades económicas, comando-se com o papel que necessariamente terá de ser desempenhado pela iniciativa privada, tendo em conta, designadamente, a necessidade de adaptação progressiva aos padrões praticados na Comunidade Económica Europeia. A par do indispensável apoio à administração local, em termos financeiros (nova lei das finanças locais) e técnicos, o Governo submeterá à Assembleia da República uma proposta de delimitação das regiões-Plano previstas na Constituição e dos órgãos de planeamento que as devem integrar. Considera-se esta medida como requisito necessário para a definição de uma estratégia de desenvolvimento regional que será considerado no âmbito do Plano a médio prazo. Finalmente, no que se refere às regiões autónomas, a transferência de serviços periféricos para os governos regionais será devidamente acompanhada por esquemas de apoio do Governo Central à realização de investimentos e acções de desenvolvimento que àqueles passarão a competir.

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E) Políticas sectoriais 1 — Introdução As políticas sectoriais que seguidamente se apre sentam devem ser apreciadas à luz da lógica da política económica global definida nos capítulos anteriores deste Programa. Quer isto significar que a preocupação da coordenação e inserção das políticas sectoriais na política global será uma dominante de actuação do Governo. Por outro lado, isso implica também que a execução do tempo das acções propostas em capítulos que se seguem ficará necessariamente sujeita a uma concretização detalhada e qualificada nos Planos anual e de médio prazo. 2 — Agricultura e pescas 2.1 — Agricultura 2.1.1 — Ao longo da vigência do I Governo Constitucional, nomeadamente durante os últimos catorze meses da sua existência, deram-se passos decisivos na criação das bases estruturais e institucionais necessárias para o debelar da crise que há mais de um quarto de século atinge o sector agrícola. No entanto, e porque esta é essencialmente do tipo estrutural, logo de solução necessariamente morosa, o sector continua a defrontar-se ainda hoje com um conjunto de problemas extremamente graves, reflexo de uma situação generalizada de crise, da qual não poderá libertar-se sem uma política de profundas transformações e de rápida modernização estrutural e tecnológica. 2.1.2 — Como indicador global, a reflectir a referida crise, aponta-se a evolução do P. A. B. Em mais de duas décadas, de 1950 a 1973, o produto agrícola (1) apenas triplicou, enquanto o dos restantes sectores económicos quase decuplicou. Em termos reais, o crescimento processou-se a uma taxa média anual de cerca de 1% (2). A análise comparativa da evolução dos principais agregados do produto (produção vegetal, animal e florestal) mostra que a referida situação estacionária é geral. À lenta evolução, em termos reais, contrapõe-se uma evolução bastante rápida, a preços correntes, circunstância que, em grande parte, denota a insuficiente oferta interna dos produtos oriundos do sector e as deficiências das respectivas estruturas produtivas. Os factos são bastante expressivos para se poder afirmar que o sector agrícola se mantém em constante atraso há longo tempo, mergulhado em profunda crise de graves repercussões na economia nacional, contribuindo significativamente para o agravamento da taxa de inflação, para o desequilíbrio da balança comercial e para o entravar do processo global de crescimento económico. A agricultura portuguesa mantém ainda baixos níveis de produtividade, utiliza predominantemente como factores produtivos a terra e o trabalho, actuando ambos sob fortes condicionantes fundiários e empresariais, e com acentuado desguarnecimento de capital e de tecnologia. Na sua generalidade o sector sobre vive mantendo sistemas de produção defensivos que se traduzem na subutilização dos recursos naturais e na prática predominante de uma economia de subsistência. Ora estes dois aspectos são incompatíveis com as necessidades e possibilidades de

1 P. A. B., ao custo dos factores, calculado a preços correntes. 2 Determinada a partir de valores calculados a preços constantes de 1963.

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desenvolvimento do país, pelo que a sua alteração se impõe no mais curto espaço de tempo possível. 2.1.3 — Em matéria demográfica, o sector teve de suportar durante demasiado tempo e suporta ainda hoje pesos excessivos de população activa (cerca de 30%) e sofreu, hemorragias profundas no mesmo âmbito. Os sucessivos surtos de emigração maciça e desordenada vêm originando um depauperamento da agricultura na qualidade dos seus efectivos humanos e na consistência do tecido social da sociedade rural, deixando-lhe em troca os problemas da quantidade. Segundo o último recenseamento do INE (1968), 44% dos empresários agrícolas eram analfabetos, 55% só sabiam ler e escrever, apenas 1% possuía curso superior ou secundário e 45% tinham mais de 55 anos. 2.1.4 — No campo das estruturas fundiária e empresarial, reconhece-se a existência de graves defeitos, que só agora em parte se vão resolvendo com situações de grandes extensões latifundiárias a par de explorações com severas limitações resultantes da insuficiente dimensão física e económica do número e dispersão das parcelas. Em consequência, a subutilização dos recursos naturais do território é um facto: em cerca de 3300 milhares de terras denominadas «aráveis», os pousios abrangem perto de 1 milhão de hectares. Do lado do minifúndio 50% das empresas tinham menos de 1 ha, isto é, metade das empresas agrícolas portuguesas situam-se na zona para a qual os elementos preço-crédito não fornecem estímulo apreciável. 2.1.5 — A modernização dos processos produtivos tradicionais realizou-se a ritmo muito lento, ou nem sequer iniciou em muitas zonas, tornando-se responsável pelos baixos níveis e ritmos de evolução da produtividade dó trabalho e da terra. Em 1973 o trabalho agrícola tem uma produtividade idêntica (22,8 contos por activo) à dos restantes sectores da economia duas décadas atrás, estimando-se em cerca de 9% a contribuição dada pelo sector para o acréscimo da produtividade do trabalho conseguido pela economia portuguesa no período de 1953-1973. A produtividade da terra, expressa em termos físicos, mantém-se para a maioria das culturas extremamente baixa e, de modo geral, inferior à da generalidade dos países com idênticas restrições de solo e clima. Devem referir-se as condicionantes estruturais e o insuficiente uso, pelas nossas empresas agrícolas, de fertilizantes, de correctivos e sementes seleccionadas, que estão na base da situação descrita. 2.1.6 — O enquadramento institucional do sector tem sido, por seu turno, um bloqueamento sério ao seu progresso: o sistema de crédito agrícola e a orgânica e condições de funcionamento do departamento do Estado para a agricultura têm aí pesadas responsabilidades. Evidente carência de coordenação, insuficiente cobertura do curto prazo, acentuada dispersão dos recursos financeiros existentes, critérios para a concessão e garantias requeridas, orientados preferentemente para o proprietário e para os tipos de garantias que melhor possam assegurar a reposição dos empréstimos em termos puramente financeiros, constituíram características perniciosas sempre presentes no sistema de crédito agrícola. No que respeita à orgânica institucional e funcionamento do sector público para a agricultura estão reconhecidas insuficiências cuja permanência para longos anos foi grandemente limitativa: ausência de um efectivo serviço de extensão rural, implantação regional insuficiente, falta de articulação da investigação com as necessidades da produção, ausência de mecanismos adequados de intervenção no que respeita ao ordenamento agrário e preservação dos recursos naturais, ausência de controlo no sistema de comercialização e preços.

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2.1.7 — Por último, a formulação da política económica em sedes exteriores ao sector tendeu sempre a cerceá-lo, esvaziando de conteúdo, por via de políticas comerciais e de transformação dos produtos que extraíam da agricultura o máximo do excedente económico, limitando as potencialidades próprias de investimento e dinamismo sectoriais. 2.1.8 — A Revolução de 25 de Abril de 1974, com a rotura que provocou no sistema de forças sócio-económicas até então existentes, marcou o início de um período de alterações estruturais que teve repercussões na agricultura. Há que reconhecer, no entanto, que, não obstante o aspecto promissor de muitas transformações verificadas, o errado seguimento que lhe foi dado e a permanência dos principais bloqueamentos continuam a limitar o progresso do sector. Assim: 2.1.9 — A sobrecarga da população activa agrícola agravou-se a partir de 1974. Apesar de ter descido, por forma visível, a imagem do desemprego sazonal dos trabalhadores rurais nas zonas de cultura extensiva do Sul, o subemprego e o desemprego oculto são ainda em 1976-1977 situações por de mais presentes no sector. 2.1.10 — Na zona de intervenção da Reforma Agrária, os tradicionais conflitos decorrentes de um aproveitamento anti-social dos recursos conduziram rapidamente a fortes modificações nas relações de propriedade e na própria estrutura fundiária. Mantêm-se, contudo, as principais características técnicas das antigas explorações: grandes áreas dedicadas à cultura extensiva tendendo para a monocultura cerealífera. Muito pouco se conseguiu ainda no sentido da melhor forma de utilização do solo, do melhoramento das tecnologias da produção e da consequente intensificação cultural e aumento da produtividade do trabalho. 2.1.11 — Na situação actual da agricultura portuguesa impõe-se, pois, definir e executar uma política clara e coerente de transformações estruturais em simultaneidade com a modernização tecnológica e empresarial do sector, de modo a possibilitar elevação dos níveis de produtividade dos principais factores de produção, requisito indispensável para se obterem respostas válidas e duradouras, tanto ao nível da economia do país como dos agricultores, através da elevação dos seus rendimentos e da melhoria das suas condições de vida. 2.1.12 — Permanece a incapacidade de resposta do sector à procura interna de produtos agro-alimentares, com os reflexos indesejáveis sobre o agravamento da taxa de inflação e de desequilíbrio da balança comercial: a importação de produtos agro-alimentares tem vindo sucessivamente a crescer de 1974 para cá. 2.1.13 — Ultrapassar a situação de crise e estagnação que muito sintetizadamente ficou referida é indiscutivelmente possível, sendo necessário, para o efeito, na sequência do que foi a acção dos últimos meses do I Governo Constitucional, e complementando essa acção: Ajustar, em coerência com a verdadeira natureza do problema agrícola actual, o conjunto de objectivos para o sector, devidamente inseridos nas opções de desenvolvimento para o País; Manter a estratégia que vem sendo seguida e que permitirá alcançar os objectivos fixados por forma continuada e compatível no médio e longo prazos, constituindo a política governamental para o sector; Definir as medidas específicas de política agrícola que, devidamente inseridas na estratégia e coerentemente compatibilizadas entre si, integrem a política actuante a

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curto e médio prazos, explicitando claramente os meios e os processos da respectiva implementação; Assegurar, por fim, que aquela implementação não sofra atrasos, paragens ou desvios ocasionados por factores externos localizados a montante dos responsáveis. 2.1.14 — Objectivos: a) Desenvolver o sector da agricultura, encarado como sector produtivo no contexto da economia nacional, tendo em conta o ritmo do processo de integração europeia; b) Satisfazer as necessidades básicas da população portuguesa no que se refere a bens alimentares e matérias-primas de origem agro-florestal; c) Reduzir o défice da balança de pagamentos, designadamente pela redução e substituição da importação de bens alimentares e do aumento da exportação de outros produtos oriundos do sector agro-florestal; d) Melhorar o nível de vida das populações rurais através do aumento do seu rendimento disponível e da transformação das suas condições de vida; e) Criar condições que tornem possível a participação dos agricultores no controlo, planeamento e gestão dos meios de produção e das estruturas comerciais no sector, nomeadamente através do fomento do associativismo agrícola. 2.1.15 — Medidas: A fim de atingir os objectivos referidos, a acção do Governo desenvolver-se-á dentro dos seguintes parâmetros: a) Aumento significativo da produção com se: No aperfeiçoamento e modernização das tecnologias de produção, tendo em conta a conservação e melhor exploração dos recursos naturais; Na progressiva racionalização da combinação dos factores produtivos, incluindo o trabalho, por forma a aumentar a respectiva produtividade; Na mais correcta adequação das culturas às potencialidades dos recursos naturais, o solo, o clima e a água, tendo por base um correcto ordenamento cultural do território; Na selecção dos programas de investigação aplicada no sentido de obter respostas concretas aos estrangulamentos da produção nacional; Na intensificação do aproveitamento dos perímetros de rega; Na expansão das áreas dedicadas à exploração de pastagens e forragens; Na expansão do património florestal em áreas que lhe são próprias. b) Correcção do sistema de comercialização através de: Aumento e diversificação das infra-estruturas de comercialização e armazenagem nos domínios público, cooperativo e privado;

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Aplicação oportuna de uma correcta política de preços; Melhoria dos sistemas de intervenção e de escoamento por parte do Estado para os principais produtos agrícolas. c) Desenvolvimento da capacidade de industrialização com apoio: - Na orientação da produção agrícola com vista à plena utilização da capacidade de transformação instalada; Na integração vertical ascendente em alguns ramos da produção. 2.1.16 — Tendo em conta estes parâmetros orientadores da política agrícola, esta integrará as seguintes disposições: a) No domínio das estruturas do Ministério: Montagem dos organismos e serviços de acordo com o disposto no Decreto-Lei nº 221/77, de 28 de Maio; Desenvolvimento acelerado dos serviços das direcções regionais de agricultura por forma a dotá-los da necessária capacidade de actuação junto do agricultor nos domínios da produção agrícola, pecuária e florestal e respectivas estruturas de apoio; Desenvolvimento dos serviços de extensão rural de modo a cobrir a área agrícola do País; Funcionamento dos serviços respeitantes à gestão do património fundiário e à estrutura agrária; Continuação da montagem dos métodos e processos de planeamento e de coordenação no MAP, com vista a estabelecer correcta e oportunamente a política agrícola; b) No domínio da estruturação agrária: Regulamentar as bases gerais da Reforma Agrária e continuar a sua aplicação; Desenvolver os regimes jurídicos e as instituições empresariais que decorrem das bases gerais da Reforma Agrária; Fomentar o associativismo da produção e a jusante da empresa agrícola, nomadamente na zona da propriedade minifundiária; Regulamentar e fazer aplicar a Lei do Arrendamento Rural; c) No domínio dos preços: Definir preços de orientação para os principais produtos da agricultura; Estabelecer em tempo útil os preços de intervenção para alguns dos produtos agrícolas; Contribuir para que se estabeleçam os preços adequados para os factores produtivos estratégicos na produção agrícola;

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Assegurar os mecanismos legais necessários ao eficaz funcionamento da política de preços; d) No domínio do crédito e seguros: Assegurar condições de crédito (taxas, prazos e montantes) para o sector da agricultura, compatíveis com as características do seu desenvolvimento; Utilizar o IFADAP como instituto financeiro especialmente vocacionado em matéria de crédito agrícola; Orientar a concessão do crédito para o fomento da produção em empresas agrícolas e agro-industriais com viabilidade económica e que explorem recursos nacionais; Privilegiar a concessão do crédito às em presas que detenham projectos de exploração capazes de assegurar o desenvolvimento correcto da respectiva actividade; Organizar e pôr a funcionar o seguro de colheitas e o seguro de crédito; e) No domínio da produção agrícola: Fomentar a produção de cereais principais e secundários, carne e leite, sementes de oleaginosas, leguminosas e tubérculos, de acordo com os princípios de ordenamento cultural definidos no relatório do Plano de médio prazo para o sector da agricultura; Expandir a produção florestal e silvo-pastoril nas áreas marginais para a produção agro-pecuária; Promover a reorganização da vitivinicultura nacional, tendo em atenção um correcto ordenamento cultural e o incremento de uma política de qualidade vinícola; Definir objectivos ao desenvolvimento da fruticultura e horticultura nacionais, tendo em conta as possibilidades dos mercados interno e externo; Reorganizar a produção olivícola nacional em face do ordenamento cultural e das exigências do respectivo mercado; Fomentar a produção nacional de sementes, plantas e propágulos; f) No domínio da comercialização e circuitos de distribuição: Colocar sob tutela do Ministério a totalidade dos organismos oficiais de intervenção nos mercados agrícolas a nível de produção; Reestruturar os organismos oficiais de intervenção nos mercados agrícolas, dotando-os de capacidade e eficácia no cumprimento das respectivas funções; Fomentar a criação de empresas e de infra-estruturas de comercialização cooperativas e públicas; Organizar o abastecimento dos factores de produção em quantidade e em tempo útil;

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Assegurar os meios legais necessários para a intervenção pública com vista à racionalização dos mercados agrícolas; g) No domínio das indústrias agrícolas: Apoiar a reorganização das empresas cooperativas nos domínios financeiro, económico e técnico; Fomentar o desenvolvimento das indústrias agrícolas e alimentares nos sectores onde a importação se revela mais grave; h) No domínio das infra-estruturas sociais: Colaborar com os respectivos Ministérios na procura de soluções para as carências existentes nas comunidades rurais, nos domínios da habitação, educação, cultura, saúde e segurança social; Estabelecer sistemas de formação profissional adequados às necessidades dos agricultores nacionais; Dinamizar as estruturas existentes, nomeadamente as Casas do Povo e outras de carácter associativo para o apoio ao desenvolvimento cultural das comunidades rurais. 2.2 — Pescas 2.2.1 — Situação: O Governo reconhece ao sector das pescas importância prioritária para a recuperação da economia portuguesa e propõe-se desenvolvê-lo aceleradamente. Desde há muito as pessoas portuguesas enfrentam dificuldades e padecem de deficiências que têm conduzido a um duplo resultado: a diminuição da: capturas e o aumento das importações. Não obstante, Portugal tem condições favoráveis para desenvolver as pescas e dispor de um forte sector pesqueiro. Para isso é necessário e urgente pôr as pescas portuguesas em ordem. É que o Governo vai fazer, com tenacidade. 2.2.2 — Objectivos: São os seguintes os objectivos globais da política pesqueira nacional: a) Aumento progressivo das capturas, até se atingir a cobertura das necessidades nacionais em peixe para consumo público directo, para abastecimento da indústria conserveira e para a fabricação de farinhas de peixe para as rações, reduzindo, assim, a nossa dependência externa em produtos da pesca e, consequentemente, as respectivas importações b) Fomento das exportações portuguesas de produtos da pesca, em particular de conservas de peixe e óleos de peixe. 2.2.3 — Medidas gerais:

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Para atingir os objectivos assinalados o Governo tomará as seguintes medidas de carácter geral: 2.2.3.1 — Estruturas administrativas: Adequação das estruturas administrativas do sector a uma perspectiva de desenvolvimento rápido das pescas. 2.2.3.2 — Projecto de desenvolvimento pesqueiro: O Governo elaborará um programa de desenvolvimento o longo prazo, global e integrado, do sector pesqueiro nacional e avaliará os investimentos necessários para o levar à prática. 2.2.3.3 — Investigação: a) Intensificação da prospecção e pesquisa dos recursos vivos da nossa zona económica exclusiva (200 milhas), onde se centrará, no futuro, o esforço da pesca nacional; b) Definição urgente de protótipos de barcos para os vários tipos de pesca praticados pelos pescadores portugueses; c) Avaliação do potencial pesqueiro das nossas costas e águas interiores; d) Estado do ordenamento futuro do sector pesqueira. 2.2.3.4 — Apoios financeiros e técnicos: a) Ampliação dos instrumentos de financiamento para o sector; b) Proposta à Assembleia da República de um esquema de benefícios fiscais para a importação de navios de pesca que possam servir de padrão para equipamentos para a construção ou renovação da frota nacional e para a indústria conserveira; c) Apoio técnico e financeiro às pequenas e mó dias empresas do sector, em especial nos campos do cooperativismo, associativismo 6 pesca artesanal. 2.2.3.5 — Trabalho e segurança social: a) Procura constante da criação de condições para o estabelecimento de um clima de entusiasmo pelo trabalho produtivo e de paz social; b) Aumento da produtividade de modo a permitir melhorias de remuneração dos factores produtivos; c) Progressiva redução das diferenciações salariais interprofissionais; d) Aproveitamento das capacidades produtivas não utilizadas, em ordem a evitar o subemprego e a criar novos postos de trabalho; e) Extensão a todos os trabalhadores dos benefícios da segurança social. 2.2.3.6 – Legislação: a) Revisão e coordenação da legislação pesqueira de modo a tomá-la actual e acessível;

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b) Reestruturação orgânica da Secretaria de Estado das Pescas; c) Iniciativas legislativas nas áreas carecidas de regulamentação, v.g., aplicação do frio aos produtos da pesca, fretamento de barcos de pesca estrangeiros e exercício da pesca por unidades estrangeiras na nossa zona económica exclusiva; d) Preparação de uma lei-quadro de fomento das pescas. 2.2.4 — Medidas específicas: Para realizar os objectivos programados o Governo promoverá ainda as seguintes medidas específicas: 2.2.4.1 — Pesca artesanal: Fomento da pesca artesanal, estabelecendo um esquema de apoio e incentivos, designadamente: fome cimento de projectos completos para barcos, aparelhos e aprestos, adaptados aos locais e tipos de pesca respectivos; facilitação de crédito para a construção, renovação e melhoramento das embarcações e aparelhos de pesca; estabelecimento de apoio de frio nas pequenas comunidades de pescadores artesanais; aumento das condições de segurança dos portos, barras e socorros; divulgação nos centros de pesca artesanal das facilidades concedidas pelo Estado à pesca artesanal. 2.2.4.2 — Pesca da sardinha e similares: a) Planear o lançamento, escalonado no tempo, de uma nova frota sardinheira, operacional, moderna e eficiente, que possibilite um melhor aproveitamento dos nossos recursos naturais; b) Melhorar as actuais condições de transporte, descarga e armazenagem do peixe; c) Acelerar a execução do programa de implantação dos entrepostos frigoríficos de apoio; d) Assegurar a utilização máxima das capturas para abastecimento público e para as indústrias de conservas e de farinhas e óleos de peixe; e) Promover incentivos ao alargamento do tempo do esforço de pesca para melhor utilização da capacidade produtiva da frota sardinheira existente. 2.2.4.3 — Pesca do atum: a) Lançamento urgente de Portugal na pesca oceânica do atum, quer com embarcações próprias, quer com navios fretados; b) Apoio à expansão da pesca artesanal do atum nos mares da Madeira e dos Açores. 2.2.4.4 — Pesca de arrasto: a) Utilização intensiva por Portugal da sua zona económica exclusiva; b) Manutenção, na medida do possível e conveniente, das posições portuguesas nas águas nacionais de outros países onde tradicionalmente temos pescado e procura de novas áreas;

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c) Tomada das providências que se mostrem adequadas à maior permanência dos navios nos pesqueiros, em ordem a um maior aproveitamento das suas capacidades produtivas; d) Elaboração de um plano de expansão e renovação da frota de arrasto, de modo a adequá-lo à nova realidade das 200 milhas e às restrições da pesca em mares alheios. 2.2.4.5 — Pesca do bacalhau a) Redução da frota nacional, de modo a adequá-la às quotas de pesca que nos são atribuídas, e reconversão para outras pescas, até onde possível, das unidades retiradas da pesca do bacalhau; b) Remodelação e modernização das unidades que continuem na pesca do bacalhau; c) Prática das acções convenientes à permanência da frota portuguesa nas áreas da pesca do bacalhau. 2.2.4.6 — Apanha de algas: a) Inventariação dos nossos recursos algológicos, como ponto de partida para a exploração racional dos recursos existentes; b) Incremento do aproveitamento das potencialidades conhecidas. 2.2.4.7 — Aquicultura: Considerando a importância que já hoje tem no mundo e sobretudo a que virá a ter no futuro, o Governo tomará as medidas que prepararão o arranque com segurança e em força da aquicultura em Portugal: reforma dos organismos oficiais existentes; recrutamento dos quadros científicos e técnicos necessários; inventariação das zonas da costa e águas interiores mais propicias à aquicultura; lançamento de um projecto aquícola modelo; recolha dos resultados das experiências alheias; divulgação das possibilidades da aquicultura, e apoio às iniciativas que surjam. 2.2.4.8 — Poluição aquática; O Governo, no plano interno, travará combate constante contra a poluição das águas marítimas e interiores, prevenindo a criação de fontes poluentes, particularmente em zonas que, pela sua riqueza piscícola ou aptidão para a aquicultura, devam ser mais defendidas, reprimindo com severidade as infracções; no plano externo cooperará com outras nações e organismos internacionais interessados no combate à poluição dos mares. 2.2.4.9 — Rede de frio: a) Continuação e alargamento do programa de implantação dos entrepostos frigoríficos nos principais centros pesqueiros e em pontos estratégicos do interior do País; b) Estabelecimento de instalações de frio em pequenas comunidades pesqueiras; c) Apoio financeiro e técnico às empresas do sector que pretendam dotar-se de instalações e transportes frigoríficos.

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2.2.4.10 — Conservas de peixe: a) Defesa da tradicional qualidade das conservas de peixe portuguesas e incremento da sua exportação; b) Resolução do problema do abastecimento de peixe à indústria conserveira, em primeira linha com peixe nacional e supletivamente com congelados importados; c) Apoio à modernização das fábricas de conservas; d) Funcionamento da warrantagem das conservas de peixe; e) Dinamização do Instituto Português de Conservas de Peixe, de forma a torná-lo um organismo moderno e eficiente de ajuda à indústria conserveira. 2.2.4.11 — Farinha de peixe: O Governo diligenciará dar solução prática ao abastecimento em matéria-prima das fábricas de farinha e óleo de peixe, com o que se conseguirá: a) Melhorar o aproveitamento da capacidade produtiva instalada, hoje utilizada em menos de metade; b) Minimizar a importação de farinha de peixe para rações, actualmente da ordem das 20 000 t/ano; e) Exportar mais óleo de peixe. 2.2.4.12 — Empresas nacionalizadas: As empresas nacionalizadas do sector das pescas constituem um problema grave, que se tem arrastado sem solução satisfatória (as capturas diminuem, o tempo de permanência nos pesqueiros é inaceitável, os prejuízos acumulam-se). O Governo tem a firme disposição de encontrar solução para esta situação. As empresas nacionalizadas do sector das pescas serão reorganizadas na sua estrutura económica e financeiramente, tendo em vista torná-las rentáveis e eficientes. 2.2.4.13 — Comercialização e distribuição do pescado: a) Reconhecendo que as causas principais das deficiências de que padece a comercialização de pescado resultam da insuficiência da produção e da carência da rede de frio de apoio ás pescas, o Governo centrará os seus esforços no aumento das capturas e na implantação da rede de frio; b) No que respeita à comercialização do peixe em fresco, será liberalizado o sistema em vigor de lota obrigatória; c) Quanto ao peixe congelado, serão revistos os preços de venda, de modo a compensarem os encargos da produção e distribuição, e serão tomadas medidas que impeçam a fraude da venda de peixe descongelado por fresco. 2.2.4.14 — Relações internacionais:

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O Governo, no domínio das pescas, continuará a política de manter relações com todos os países e de cooperação com os organismos internacionais que se ocupam da matéria e procurará alargar e aprofundar essas relações. Um especial empenhamento será posto na viabilização de formas de cooperação com os países de expressão portuguesa, sendo assegurada continuidade aos programas e diligências em curso. 3 — Indústria e energia 3.1 — Introdução: Em conjunto, as indústrias extractivas, a indústria transformadora e a energia contribuem actualmente em cerca de 36% para o P. I. B., absorvem cerca de 28% da população activa e contribuem com cerca de 44% na formação bruta de capital fixo. À semelhança dos restantes países europeus, a importância relativa da indústria na economia portuguesa é muito elevada, sendo primacial o seu desenvolvimento para, através do aumento da riqueza nacional, contribuir para a melhoria do nível de vida e do bem-estar social dos Portugueses. São objectivos gerais da política industrial: No médio prazo, as modificações estruturais da indústria, designadamente no que se refere à modernização e racionalização do aparelho produtivo, indispensável para permitir atempadamente o seu desenvolvimento e competitividade, de forma a permitir ao país reduzir a dependência externa nos seus aspectos financeiro, comercial e tecnológico e beneficiar em toda a sua ext ensão da potencialidade da integração na CEE; No curto prazo, para contribuir eficazmente para a atenuação do desemprego e do défice externo, principais pontos críticos da actual situação económica. Para atingir esses objectivos prevê-se como medidas globais de política industrial: a) Promover os investimentos, pondo em execução os projectos existentes e criando no vos projectos, procurando, em relação a estes últimos, dar prioridade aos investimentos de mão-de-obra intensiva, aos investimentos orientados para a exportação ou para a substituição de importações e retendo como critério de relevância na sua selecção e avaliação a minimização da componente externa; b) Promover os investimentos estrangeiros sempre que eles permitam o acesso a tecnologias e a mercados externos (com salvaguarda dos interesses dos investimentos nacionais), atribuindo prioridade aos que contribuam para nossa inserção prévia no quadro da CEE; c) Implementar o aproveitamento das capacidades existentes nos domínios de projecto, engineering e outros serviços e promover o seu desenvolvimento a par com o reforço e alargamento do sector produtivo de bens de equipamento, com vista a permitir maximizar imperativamente a participação da indústria nacional nos principais empreendimentos, linha, aliás, seguida pelos países da CEE indispensável à criação de uma base de desenvolvimento industrial dotada de alguma autonomia; d) Promover a descentralização regional da indústria, seleccionando áreas preferenciais para investimento e acelerando a constituição de parques industriais

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no quadro de uma política de ordenação do território; e) Promover a dinamização do sector empresarial do Estado, face ao carácter básico na estrutura produtiva e com vista à consecução dos objectivos atrás enunciados, implicando igualmente a reorganização intensiva das actividades produtivas com vista ao aumento da produtividade e da rentabilidade, numa base de descentralização e responsabilização; f) Promover o apoio e estimulo ao sector privado para que retome uma participação importante na formação bruta de capital fixo nos sectores a que tem acesso e tendo em conta os objectivos definidos pelo Plano com especial relevo para as pequenas e médias empresas com viabilidade económica: g) Promover a integração vertical mais completa da indústria e a reestruturação das pequenas e médias empresas com vista à sua viabilização económica; h) Promover o desenvolvimento do método contratualista entre o Estado e as empresas nacionais ou estrangeiras, com o objectivo concreto de desenvolvimento, de fomento de exportações e da criação de emprego; i) Promover a utilização plena das capacidades industriais, com simultâneo aumento da produtividade potencial existente; j) Promover o aproveitamento integral dos recursos naturais; l) Lançar as bases de um plano energético a longo prazo que garanta o abastecimento e promova os meios para a redução da dependência do petróleo como fonte primária. 3.2 — Indústria transformadora: 3.2.1 — Situação: A indústria transformadora só por si contribui com cerca de 33% para o PIB, absorve cerca de 28 % da população activa e contribuiu com cerca de 32 % para a formação brita do capital fixo. É responsável também por cerca de 86% das exportações e as importações industriais correspondem a cerca de 63% do total importado. O produto da indústria transformadora, que em 1975 diminuiu de cerca de 9,3 % (a preços constantes) em relação a 1974, cresceu em 1976 cerca de 5,9% em relação a 1975 e prevê-se que tenha crescido em 1977 de 7,6 % em relação a 1976. Sem atingir os valores médios do período de 1968 a 1973 que antecedeu a recessão mundial, a situação actual é de nítida recuperação. Tendo em atenção, no entanto, a actual dependência externa da indústria transformadora, o crescimento verificado em 1977 teve um peso excessivo sobre as importações, contribuindo seriamente para o agravamento do deficit da balança comercial. Nestas circunstâncias, no curto prazo tem de se aceitar uma taxa moderada de crescimento, embora se considere vital visar uma progressão superior à prevista para os restantes países da OCDE, de modo a conseguir-se reduzir o fosso que nos separa dos países da CEE. Para o próximo triénio esta taxa de crescimento terá de enquadrar-se no contexto das medidas macroeconómicas para atacar a crise, mas terá de expandir-se a taxas progressivamente mais fortes ao longo do período.

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A produtividade industrial é cerca de um terço da produtividade média europeia, basicamente pela insuficiente dimensão da maior parte das empresas e pelas deficiências estruturais da nossa indústria. Há cerca de 15 000 empresas na indústria transformadora e mais de 50% delas têm menos de dez trabalhadores. Há apenas algumas grandes empresas na indústria pesada, tende a sua importância sido reforçada por concentrações sectoriais das empresas nacionalizadas. Na quase totalidade das empresas privadas dominam as pequenas e médias empresas (cerca de 90% têm menos de cem trabalhadores), sendo a importância do sector privado relevante quer quanto ao em prego, quer quanto às condições de produção. A viabilidade económica das pequenas e médias em presas, sem organização, sem técnica evoluída e m equipamentos obsoletos, está fortemente comprometida dentro de uma política de adesão a espaços económicos mais vastos. As empresas, na generalidade, estão descapitalizadas e recorrem excessivamente ao crédito bancário, agravando portanto a sua estrutura de custos com elevados encargos financeiros. No que respeita ao sector nacionalizado, que abrange as indústrias de base (cimentos, siderurgia, celulose, construção naval e química de base), os tabacos e as cervejas, a situação ressente-se ainda de, após as nacionalizações, não terem sido imediatamente tomadas medidas de reorganização e de gestão adequadas, prevendo-se apenas em 1977 resultados próximos do equilíbrio económico. Há excedentes de mão-de-obra mal utilizados na produção, a produtividade e o absentismo melhora ram, mas continuam ainda insatisfatórios, mantendo-se uma certa indisciplina nas empresas, com desmobilização das chefias. 3.2.2 — Medidas a curto prazo: Estas medidas integram-se obviamente nas medidas de política globais atrás indicadas, pelo que se prevê estimular o aumento da produção, o aumento das exportações, a substituição das importações, estimulando as vendas, alargando mercados e utilizando melhor o parque industrial. Assim: a) Promover-se-á a celebração de contratos de viabilização para as pequenas e médias em presas com viabilidade económica; b) Promover-se-á o saneamento económico-financeiro das empresas públicas e do sector participado com viabilidade económica e a melhoria da sua gestão e das relações e condições de trabalho; c) Promover-se-á a actualização dos preços industriais tendo em atenção o aumento das matérias-primas e dos salários, procurando-se previamente actuar na estrutura dos custos para não só manter a sua competitividade como para conter a tensão inflacionista; d) Promover-se-á a utilização plena das capacidades industriais instaladas, através, nomeadamente, do estímulo ao trabalho por turnos, da criação do regime de prestação temporária de trabalho e de prémios de emprego; e) Promover-se-á a regularização da situação das empresas ainda intervencionadas nos ter mos dos mecanismos fixados na legislação promulgada (Decreto-Lei nº

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422/76, restituição das empresas aos seus titulares, transformação das empresas em sociedades de economia mista ou de capitais públicos, transformação em empresas cooperativas, declaração de falência, etc.); f) Promover-se-á a análise das carências e das potencialidades da produção nacional, no sentido de dimensionar melhor os sectores industriais e de detectar a possibilidade de lançar novos projectos numa óptica de substituição de importações e de suporte à expansão das exportações; g) Apoiar-se-ão acções de reconversão dos sectores em dificuldade, nomeadamente aqueles com viabilidade e tradição na exportação; h) Estabelecer-se-ão contactos regulares com os diferentes parceiros sociais, com vista a identificar e analisar os problemas funda mentais dos diferentes sectores industriais, com vista a encontrar medidas adequadas para a sua resolução; i) Após a reavaliação quanto à oportunidade e calendário ou execução de alguns projectos mais importantes à luz da política geral de investimento definida neste Programa, serão prosseguidos ou lançados a curto prazo e rio campo do sector empresarial do Estado projectos industriais, dos quais se destacam: Instalação de uma nova linha de pasta de papel utilizando os equipamentos já adquiridos pela Celangol; Construção de uma fábrica de cartão canelado com a capacidade de 25 000 t/ano; Construção de fábricas de amoníaco e urda com a capacidade diária de 1000 t de amoníaco, bem como de uma fábrica de ácido nítrico de 100 000 t/ano; Ampliação da Siderurgia Nacional, designadamente alto-forno, aciaria LD e laminagem; Construção, em Sines, das unidades petroquímicas seguintes: polietileno de baixa densidade (já encomendado), polietileno de alta densidade (já encomendado), polipropileno, cloreto de polivinilo, butadieno, borracha sintética; Construção, no Porto, de uma unidade de butadieno, tolueno e xileno; Construção de uma fábrica de fio de nylon de diversas qualidades; Nova linha de fabricação de cimento com capacidade da ordem de 1 milhão de toneladas por ano, a instalar em Souselas; Construção, em Sines, da nova fábrica de tratamento de pirites; Construção de uma fábrica de automóveis (viaturas R5 e R12), com a simultânea construção da fábrica de motores, fundição, fábrica de travões e outras unidades previstas no projecto automóvel; j) Prevê-se a possibilidade de lançar a curto prazo os seguintes projectos fabris integrados em planos sectoriais a desenvolver no Plano: Tractores; Motores diesel; Máquinas-ferramentas de elevada qualidade;

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Electrodomésticos; Equipamento agrícola; Produtos farmacêuticos; Volfrâmio metálico; Cloro e soda, a partir de sal-gema nacional; l) Na óptica da substituição de importações proceder-se-á à análise dos casos já detectados com vista a promover a concretização dos que apresentam maior viabilidade. Dentro deste esquema poderão vir a ser lançados a curto prazo empreendimentos nos campos da química tina, refrigeração e ar condicionado, equipamentos para construção de navios, desmantelamento de navios para o fabrico de sucata, material e equipamento hospitalar, produção de refractários de dolomite, perfis de grandes dimensões, fabric o de aços especiais, indústrias alimentares e instrumentação industrial. 3.2.3 — Medidas a médio prazo: A médio prazo procurar-se-á racionalizar e reestruturar o sector, visando nomeadamente a sua integração vertical, tendo em conta a integração euro peia. Promover-se-á a diversificação da estrutura industrial e o lançamento no País de indústrias de tecnologia intermédia adaptadas às necessidades de recuperação do deficit da balança de pagamentos e à criação de emprego. Na indústria ligeira serão promovidas reestruturações sectoriais e estimuladas as associações e fusões de empresas com a participação supletiva do Estado, de forma que se atinja a dimensão empresarial adequada à viabilidade técnica e económica. Deverão ser reorganizadas prioritariamente as indústrias têxtil, farmacêutica, de calçado, automóvel, da madeira e da cortiça, sem prejuízo de serem encetadas acções de reorganização noutros sectores. Dentro da política de maximizar a participação nacional no fabrico de equipamento destinados às grandes unidades industriais a construir nos próximos anos, impõe-se o desenvolvimento das capacidades existentes nos domínios de projecto, engineering e outros serviços e a reestruturação do sector produtivo de bens de equipamento, racionalizando as vocações das empresas existentes. Nesse sentido, continuar-se-ão os estudos em curso para ampliação e construção de novas unidades do sector de metalomecânica pesada e aumentar-se-á a capacidade de fabrico de aço fundido e de fabricações de grandes dimensões. A expansão e desenvolvimento do sector dos serviços deverá integrar as potencialidades criadas com os sectores básicos da indústria nacionalizada, de forma a implementar as possibilidades de exportação de unidades industriais tipo «chave na mão». A expansão industrial deverá visar uma taxa que na média do triénio não seja inferior a 10%, em conformidade com o Plano, de forma a permitir que Portugal venha a atingir níveis económicos mais próximos dos padrões europeus. Paralelamente à expansão industrial, promover-se-á a investigação científica e tecnológica, nomeadamente em ligação com as Universidades.

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3.3 — Sector mineiro e indústrias extractivas: 3.3.1 — Situação: As indústrias extractivas, incluindo as minas e pedreiras, contribuem apenas com 0,6% para o PIB, com 0,4% de emprega e com 0,7% da formação bruta do capital fixo. O desenvolvimento deste sector assume, todavia, particular importância: por um lado, por se tratar do aproveitamento dos nossos recursos naturais e, por outro lado, porque abastece grande número de indústrias transformadoras. De salientar, ainda, a importância regional que normalmente assumem os empreendimentos mineiros. O sector mineiro constitui desde há muito um sector em crise generalizada, com estagnação ou regressão dos valores dos principais indicadores característicos relativamente à maioria das substâncias. A expansão rápida, até por razões de aumento de preço (caso do tungsténio), que se verificou nos últimos anos em certas substâncias com relevo no sector ocultou nos números globais a realidade descrita. A maioria das empresas não tem dimensão economicamente viável, aparecendo, por outro lado, quatro empresas que produzem mais de três quartos do produto mineiro. 3.3.2 — Medidas: a) Propor-se-á à Assembleia da República a revisão da Lei de Minas, de modo a proceder-se a uma adequada reestruturação e dinamização do sector; b) Para apoia r as empresas, para além das medidas aplicáveis já referidas em 2.2, será promovido o investimento e a melhoria das condições técnicas e sociais de exploração, de forma a aumentar a produtividade; c) Serão estimulados os projectos minerometalúrgicos com integração vertical que permitam a valorização dos produtos mineiros com o consequente desenvolvimento regional, diminuição das importações e aumento das exportações. Neste âmb ito assumem particular realce as pirites e o tungsténio; d) No campo das rochas ornamentais e particularmente dos mármores promover-se-á a reestruturação das empresas, quer no campo extractivo, quer transformador, e promover-se a exportação com condições acrescidas de transformação; e) Proceder-se-á a um estudo de mercado no sentido da utilização mais intensiva dos nossos minérios; f) Dar-se-á cont inuidade aos projectos de investimento em curso e ao lançamento de novos, destacando-se: O aproveitamento de minério de ferro de Moncorvo; O aproveitamento integral das pirites; O aumento da capacidade de extracção dos minérios de urânio;

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g) Proceder-se-á ao estudo do aproveitamento dos sienitos nefelínicos de Monchique e prosseguir-se-á o levantamento das nossas riquezas mineiras. 3.4 — Sector energético: 3.4.1 — Situação: A energia contribui com cerca de 2%, para o PIB, com 1% do emprego e com 12% na formação bruta do capital fixo. No período de 1960 a 1973 as necessidades energéticas cresceram a uma taxa média anual de 7,7%. A partir de 1973, com a «crise do petróleo», deu-se uma baixa nítida da taxa de evolução, mas já em 1977, com a retoma do investimento industrial e a melhoria do nível de vida, se verificaram taxas de crescimento da ordem dos 9%. A energia em Portugal é fundamentalmente originada pelo petróleo, o qual tem vindo a aumentar de importância pelo decréscimo simultâneo dos combustíveis sólidos (o petróleo passou de 63,4% em 1960 para 85,2% em 1976, decrescendo simultaneamente os combustíveis sólidos de 27,7% para 7,7%). No consumo, cerca de 80 % da energia são usados sob a forma de produtos refinados de petróleo, principalmente gases liquefeitos para uso doméstico ou industrial, gasolina para automóveis e aviões, gasóleo para barcos e transportes ferroviários e rodoviários e ainda fuelóleo pesado para certas indústrias. Os restantes 20% são utilizados sob forma de electricidade, sendo cerca de três quartos produzidos pelas centrais hidroeléctricas (em ano hidrológico médio) e cerca de um quarto em centrais térmicas, as quais consomem fuelóleo e carvão. A dependência externa é muito forte, pois todo o petróleo é importado e o preço deste, após 1973, subiu cerca de cinco vezes e meia. Assim, em 1978, o petróleo a importar vai-nos custar valores superiores a 20 milhões de contos. A capitação energética é baixa, sobretudo quando comparada com os restantes países (representa cerca de um quarto ou um quinto da média europeia). A capacidade actual de refinação, com o arranque da refinaria de Sines, é fortemente excedentária, e só próximo de 1990 o mercado interno garantiria a sua total utilização. 3.4.2 — Medidas: A energia é uma infra-estrutura básica para o desenvolvimento, pelo que o seu crescimento não só terá de acompanhar o desenvolvime nto do País, mas também contribuir para a melhoria do bem-estar das populações. Todavia, face ao seu peso na balança de pagamentos (cerca de 10 % das importações) há que promover a sua melhor utilização, com simultâneo incremento da sua utilização dos escassos recursos naturais de que dispomos. Com as centrais cuja construção está em curso está garantido o abastecimento até 1980. São de destacar as centrais hidroeléctricas do Pocinho e Crestuma (no rio Douro), Aguieira-Raiva (no rio Mondego) e Alqueva (no rio Guadiana) e as centrais térmicas de Setúbal e Barreiro. Para garantir o abastecimento posterior há que proceder ao lançamento em 1978 de novos projectos. Assim, acelerar-se-á o aproveitamento dos recursos

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hidroeléctricos, que são de construção prioritária. No domínio das centrais térmicas apresentar-se-á à Assembleia da República o Livro Branco sobre a energia nuclear, e na sequência da sua discussão será eventualmente iniciada a construção do primeiro grupo nuclear; de qualquer modo, prevê-se a necessidade da construção de uma central técnica intercalar, a fuel ou a carvão. Tendo em vista a diminuição da dependência externa, promover-se-ão medidas para me o aproveitamento da energia solar para aquecimento de água. Intensificar-se-á o acompanhamento de programas internacionais de estudo de formas não convencionais de produção de energia. Adoptar-se medidas Coordenadas e imperativas de poupança de energia. Para aumentar a segurança de abastecimento diversificar-se-ão as fontes de abastecimento de petróleo e procurar-se-á a melhoria das condições de abastecimento por compras bilaterais, procurando-se simultaneamente negociar contrapartidas que aumentem as exportações, nomeadamente de empreendimentos tipo «chave na mão». Apoiar-se-á a utilização da capacidade disponível de refinação, por exportação de produtos refinados ou contratos de processing. Continuar-se-á a prospecção de petróleo, nomeadamente no on-shore. Continuar-se-á a electrificação do país, melhorando-se a rede de transporte em alta e média tensão e incentivar-se-á a electrificação rural, com recurso ao regime contratualista, sempre que tal seja aconselhável. 3.5 — Medidas de carácter institucional: Na sequência da publicação do Decreto-Lei nº 548/ 77, de 31 de Dezembro, proceder-se-á à organização das estruturas do Ministério, de modo que no decorrer de 1978 todos os organismos se encontrem em funcionamento efectivo. No âmbito da reestruturação ter-se-á nomeadamente em conta a montagem de estruturas adequadas ao controlo e apoio às empresas públicas. Prosseguir-se-á a reorganização do sector eléctrico nacional, integrando, progressivamente, as redes de distribuição das autarquias locais e das concessionárias de pequena distribuição na Electricidade de Portugal — EDP, definindo-se simultaneamente a intervenção das populações nas decisões que ma as afectam. 4 — Comércio e turismo 4.1 — Linhas gerais de orientação: 4.1.1 — O comércio interno, o comércio externo e o turismo são elementos fundamentais da actividade económica do país, muito especialmente num momento em que o défice da balança de pagamentos atinge níveis incomportáveis e por isso existem fundadas razões no sentido da sua redução, pelo que as actividades comerciais constituem um elemento decisivo de dinamização do sector produtivo. 4.1.2 — Nestas condições, a actuação neste sector deve ser considerada como fundamental para o relançamento da economia portuguesa, no quadro da

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estratégia global de desenvolvimento. Neste contexto, há que lançar durante o 1° semestre do corrente ano as intervenções de fundo que permitam atingir os objectivos que venham a ser fixados para o médio prazo. O reequilíbrio gradual da balança de pagamentos pressupõe um aumento acelerado das exportações, bem como uma atenuação do ritmo de crescimento das importações. A expansão das exportações passa necessariamente pela intensificação do investimento em tecnologias intermédias voltadas à exportação, partindo-se do princípio de que é fundamentalmente nas indústrias de tecnologia intermédia que se encontram os produtos com maiores potencialidades de colocação no mercado externo. Além disso, o desenvolvimento deste tipo de indústrias, na medida em que tem uma componente mais atenuada de bens de equipamento importados, integrar-se-á na necessária atenuação do ritmo de crescimento das importações. Esta política de investimento em tecnologias intermédias, voltadas à exportação, será assim compatível com a escassez dos recursos disponíveis e com o objectivo da redução acelerada do desemprego. E o reequilíbrio gradual da balança de pagamentos implicará ainda: a) O aumento da produção interna agrícola, pecuária, florestal e piscícola, tendente à redução significativa da importação de produtos alimentares e matérias-primas essenciais ao abastecimento do país; b) A intensificação do aproveitamento da capacidade produtiva instalada, designadamente através da adopção de trabalho por turnos, melhorias na produtividade e viabilização de empresas; c) Uma política de racionalização e expansão do sector de transportes que facil ite um natural desenvolvimento da exportação e se torne em si mesma um elemento de poupança e captação de divisas; d) Uma expansão acelerada de actividade turística de forma a recuperar rapidamente a regressão verificada nos últimos anos e a relançar o turismo num ritmo de desenvolvimento adequado ao papel que este sector assumirá na diminuição do deficit da balança de pagamentos. 4.1.3 — Um segundo objecto prioritário é o controlo dos preços, dentro dos parâmetros fixados no programa de estabilização para 1978 e de acordo com uma política a médio prazo de redução progressiva e programada do ritmo de inflação. 4.1.4 — Os dois objectivos prioritários — reequilíbrio da balança de pagamentos e controlo dos preços — consideram-se elementos essenciais à nossa integração na Comunidade Económica Europeia. 4.1.5 — Incrementar as comunicações e facilitar as transacções económicas com o território de Macau, quer para desenvolvimento das suas potencialidades específicas, quer para melhorar as possibilidades de colocação de produtos portugueses era mercados do Oriente. 4.1.6 — Promover, para comodidade dos consumidores e garantia dos interessados, a actualização, compilação e divulgação de todas as leis, regulamentos e demais

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normas aplicáveis aos sectores do comércio interno, do comércio externo e do turismo, bem como — numa segunda fase — a sua codificação global. 4.2 — Comércio interno: 4.2.1 — Objectivos: a) Garantia de abastecimento dos produtos inerentes ao normal funcionamento das actividades económicas, tendo em conta as limitações decorrentes da redução do deficit da balança de transacções correntes; b) Em particula r, garantia do regular abastecimento público dos produtos alimentares e outros bens de primeira necessidade, dentro dos níveis que forem programados; c) Estabelecimento de uma política e de mecanismos de controlo de preços simplificados que procurem assentar na verdade dos preços e dos custos de produção e garantam a protecção do poder de compra das populações no que toca aos produtos de primeira necessidade; d) Montagem de sistemas de organização comercial que permitam a transparência dos circuitos de distribuição por forma a evitar estrangulamentos do abastecimento e o sobredimensionamento dos stocks; e) Fomento de um clima de compreensão e de confiança nos consumidores e nos intermediários que evite o açambarcamento e a especulação, esclarecendo o agravamento de restrições que para todos resultará das práticas incorrectas e ilegais de alguns; f) Aperfeiçoamento das estruturas de comercialização existentes e que venham a gerar-se, por forma a utilizar o comércio como elemento essencial da reconversão e dinamização das actividades produtivas. 4.2.2 — Medidas: a) Criar formas de cooperação sistemática com os Ministérios da Agricultura e da Indústria em ordem a fomentar a produção, quer pelo aumento da produtividade e pelo integral aproveitamento do aparelho produtivo existente, quer pela reconversão, com especial destaque para os sectores agrário e das pescas; b) Concertar, permanentemente, com o Ministério das Finanças as linhas gerais de orientação das políticas de crédito e fiscal, adequando-as aos objectivos estabelecidos, muito especialmente no que diz respeito ao aumento da rotação dos stocks: c) Organizar os circuitos de distribuição, de maneira a permitir uma grande facilidade de acesso da oferta aos diferentes mercados, a optimizar os preços obtidos pelos produtores, a reduzir o número de intermediários, a aumentar a produtividade da distribuição, a premiar a qualidade da produção e a manter uma grande transparência na for mação dos preços; d) Manter uma ligação permanente com as instituições representativas do comércio e das actividades produtivas e com as organizações dos trabalhadores, como fonte directa de informação e de prévia auscultação relativamente às decisões básicas a tomar, na convicção de que a acção governativa tem de confrontar-se, dia a dia, com o País real, e promover a concertação de interesses em causa;

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e) Promover sondagens e campanhas de esclarecimento da opinião pública que permitam um melhor conhecimento dos mecanismos de abastecimento e de formação de preços, bem como das hipóteses alternativas no que respeita aos hábitos de consumo; f) Criar tabelas de classificação dos produtos com o objectivo de facilitar as relações entre os produtores e o comércio, criando as condições diferenciais de preços de acordo com a qualidade e dando aos produtores indicações claras para optimização dos seus rendimentos; g) Clarificar, rapidamente, os problemas inerentes ao lançamento de uma rede de frio e de armazenamento que cubra minimamente o País, através de novas unidades, ou pelo correcto aproveitamento das existentes, numa primeira fase, sem prejuízo de um plano mais vasto a desenvolver posteriormente; h) Fomentar todas as formas de cooperação, quer entre produtores, quer entre comerciantes, no sentido de melhorar a sua produtividade e organização, as condições de higiene dos produtos, a regularidade do abastecimento e a normalização das mercadorias vendidas; i) Estabelecer normas que permitam desenvolver a actividade comercial por forma a satisfazer as reais necessidades dos consumidores e do público em geral, designadamente em matéria relativa a períodos de funcionamento dos estabelecimentos comerciais, sem prejuízo dos legítimos interesses dos trabalhadores; j) Manter a política de controlo e subsídios nos preços de alguns bens de consumo fundamentais («cabaz de compras»), com prioridade para os produtos alimentares e de maior significado; l) Adoptar um código de preços que defina regras de conduta para as empresas públicas, cooperativas e privadas, quanto a preços e margem de lucro, mantendo-se, como regra, o sistema de controlo a posteriori em vigor; m) Adoptar providências destinadas a orientar a actuação dos organismos de coordenação económica e afins para formas de intervenção essencialmente correctoras dos desvios ao funcionamento normal do mercado, sem prejuízo de acções mais profundas impostas pela actual situação económica do País; n) Reforçar e racionalizar as actividades de fiscalização económica, visando prioritariamente o controlo dos produtos alimentares e de outros bens de natureza essencial. 4.3 — Comércio externo: 4.3.1. — Objectivos: a) Aumento acelerado das exportações, apoiado por uma acção intensa de pesquisa de novos mercados e de novas oportunidades nos mercados tradicionais, bem como pelo estabelecimento e negociação de acordos bilaterais e multilaterais em matéria de trocas comerciais com o exterior; b) Atenuação do ritmo de crescimento das importações dentro de esquemas criteriosos e programados com antecedência que permitam aos diferentes agentes económicos conhecer exactamente os condicionalismos impostos à sua actividade e lhes concedam a possibilidade de recurso sempre que esses condicionalismos apresentem consequências excepcionalmente gravosas;

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c) Desenvolvimento de uma estratégia de aproximação à Europa na perspectiva de adesão ao Mercado Comum, procurando desde já, sempre que possível, adoptar esquemas de funcionamento idêntico aos praticados nos países da CEE. 4.3.2 — Medidas: a) Rever e aperfeiçoar de imediato o regime em vigor pata o licenciamento das importações (B. R. I.), mediante a adopção de um conjunto de normas, definidas sobretudo em função de categorias de produtos, que reduzam ao mínimo as demoras na outorga dos boletins e reforcem no máximo o grau de objectividade e de isenção no funcionamento do sistema; b) Simplificar o sistema de licenciamento da exportação (B. R. E); c) Lançar as empresas portuguesas numa campanha de conquista de novos mercados, impondo-se para tanto: A realização de estudos de mercado dos diferentes países e a sua divulgação nos meios empresariais portugueses; A criação de estímulos à exportação para os novos mercados; A constituição de empresas exportadoras (tradings) com o objectivo especifica de se implantarem nos novos mercados; A realização de acordos de compensação importação/exportação; A negociação de acordos comerciais com os países em causa que facilitem as trocas com o nosso país; d) Desenvolver um método contratualista entre o Estado e as empresas, nacionais e estrangeiras, com objectivos concretos de fomento das exportações. Prevê-se, desde já, o aperfeiçoamento do mecanismo dos contratos de desenvolvimento à exportação por forma a ter em conta, nomeadamente: Exportação de projectos e sua execução em sistema de chave na mão, aproveitando a capacidade tecnológica portuguesa; Novos investimentos realizados com base na mobilização de indemnizações que visem a exportação; Viabilização de empresas em dificuldades financeiras que tenham um valor significativo para a balança de pagamentos ou que, por reconversão, o possam vir a ter; Empresas que se disponham, num sistema de concertação social e nos termos da lei, a adoptar um regime de trabalho por turnos como forma de aumentar o volume das exportações e de atenuar o desemprego; e) Orientar e dinamizar o Instituto Português de Fomento da Exportação, num contexto de aproximação com os sectores produtivos que possibilite uma proveitosa compatibilização entre as acções do Instituto e as realidades empresariais; f) Estabelecer mecanismos que permitam o lançamento de uma actuação concertada com o Ministério dos Negócios Estrangeiros, optimizando as

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potencialidades de penetração no mercado externo, designadamente através do estabelecimento de acordos e do aproveitamento integral dos recursos disponíveis; g) Implementar, em conjunto com o Ministério dos Transportes, as acções tendentes a me lhorar e desenvolver os sistemas de transporte, no sentido de os tornar concorrenciais e por forma a poderem assumir um papel significativo na poupança e na captação de divisas; h) Fomentar uma política de substituição de importações, desde que conduza à criação de empresas convenientemente dimensiona das e competitivas ao nível da integração económica europeia; i) Assegurar que o Estado não intervirá no sector privado do comércio externo, a não ser a nível de enquadramento e planeamento, ou a título supletivo e correctivo, como nos casos, por exemplo, de ruptura de stocks de matérias-primas para a indústria ou de ruptura de abastecimento; j) Concertar, permanentemente, com o Ministério das Finanças as linhas gerais das políticas de crédito e fiscal, tendo em vista a sua utilização como instrumentos de dinamização da actividade exportadora e de controlo das importações. Será, nomeada mente, aperfeiçoado o sistema de draubaque, incluindo o draubaque indirecto; l) Promover a intervenção dos serviços do Ministério, directamente ou em colaboração com outras entidades, públicas e privadas, para garantir e atestar a qualidade dos produtos destinados à exportação; m) Dinamizar a acção do Centro Nacional de Embalagens em benefício da segurança e boa apresentação dos produtos a exportar, bem como da economia dos respectivos custos. 4.4 — Turismo: 4.4.1 — Objectivos: a) Aumento da actual capacidade hoteleira do continente e ilhas através do lançamento de novos projectos hoteleiros, do acabamento dos que se encontram interrompidos ou suspensos, bem como da ampliação das unidades existentes; b) Desenvolvimento de todas as potencialidades turísticas do País que até à data não tenham sido devidamente aproveitadas; c) Aproveitamento e valorização do património histórico e cultural como forma de atracção turística; d) Incremento acelerado do turismo externo através de uma acção intensa nos mercados internacionais; e) Intensificação de novas formas de turismo comercial em ordem a assegurar durante todo o ano níveis rentáveis de exploração; f) Articulação e integração, na medida do possível, dos planos de desenvolvimento turístico com as políticas de ordenamento do território, de equipamento social e de abastecimento; g) Correcção da estrutura financeira das empresas atenuando os seus graus de endividamento através de programas de reconversão, económica e financeiramente

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viáveis; h) Clarificação e resolução rápida da situação de empresas sob intervenção ou indirectamente nacionalizadas, tendo em conta que o sector turístico tem uma vocação privada; i) Melhoramento da produtividade do trabalho na indústria turística através de cursos de reciclagem e de formação, desde o trabalho básico e especializado à gestão e administração; j) Resolução dos problemas de desemprego ou de subemprego resultante da reconversão de empresas, através da colocação nas novas unidades do excedente de mão-de-obra. 4.4.2 — Medidas: a) Lançar imediatamente um programa de investimentos, com prioridade para os empreendimentos em curso, bem como para novos pro jectos em zonas de interesse turístico privilegiado. Com o objectivo de acelerar este programa deverá recorrer-se a projectos tipo já existentes e a um tipo de construção industrializada; b) Criar, com o objectivo de dissociar o binómio turismo-férias de sol, pólos de atracção adequados à realidade social portuguesa e que possam provocar fluxos turísticos regulares ao longo do ano; c) Promover a imediata construção de pousadas aproveitando e valorizando o património histórico do país; d) Desenvolver os potenciais turísticos que o país oferece, tais como o aproveitamento de termas e a criação de circuitos ou trajectos turísticos; e) Dinamizar e apoiar a actividade dos operadores turísticos portugueses; f) Criar as condições necessárias para um incremento do investimento estrangeiro no sector do turismo; g) Dinamizar e incentivar a criação de associações de empresas dos diversos ramos do sector do turismo; h) Promover um esquema que possibilite uma mais rápida e eficaz clarificação da situação das empresas sob intervenção ou indirectamente nacionalizadas; i) Conceder apoio técnico à indústria turística através da definição de padrões de gestão e da organização de cursos, designadamente de formação hoteleira e de gestores do sector turístico. A médio prazo encarar-se a criação de um curso superior de turismo j) Incrementar, em coordenação com as entidades exportadoras, a criação de centros comerciais permanentes que dêem a conhecer e fomentem a colocação das principais produções nacionais e do artesanato; l) Estimular a criação de novas regiões de turismo com base na adesão das autarquias lotais interessadas; m) Criar condições adequadas ao desenvolvimento do turismo juvenil; n) Criar intra-estruturas adequadas ao desenvolvimento do turismo da terceira

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idade; o) Explorar a viabilidade do lançamento de uma campanha de turismo de habitação, à semelhança do que acontece em diversos países da Europa, sem prejuízo do turismo tradicional. 5 — Transportes e comunicações 5.1 — Introdução: A política que o II Governo Constitucional adoptará no sector dos transportes e comunicações será a continuação lógica do Programa do I Governo. Verifica-se, com efeito, que não existem razões de peso para alterar uma linha de orientação que se mostrou correcta, embora, naturalmente, a própria experiência colhida nos últimos dezoito meses aconselhe que se façam alguns ajustamentos e se introduzam correcções de carácter pontual. Nestas circunstâncias, o Programa que agora apresenta para apreciação da Assembleia da Repúblic a limita-se a equacionar algumas ideias de base, funda mentais para a correcta caracterização e compreensão do modelo de política sectorial adoptado e que de corre, naturalmente, da constatação dos principais parâmetros internos e externos que balizam a vida portuguesa: desequilíbrio da balança de pagamentos, inflação, crise energética. Na sociedade moderna os transportes e comunicações desempenham um papel essencial, assegurando a efectivação dos fluxos de bens, de pessoas e de informações que se estabelecem entre as diversas regiões do espaço, reflexo das inter-relações originadas pela divisão técnica, social e espacial do trabalho. É, pois, finalidade dos transportes e comunicações assegurar a realização desses fluxos com eficácia, adequando-se à procura induzida pelo desenvolvimento económico e social do País. Por outro lado, tem o sector um papel activo e dinamizador da economia, podendo constituir uma fonte de receitas cambiais e contribuir para a atenuação dos graves desequilíbrios regionais. Apesar de recentes inflexões na política de transportes e comunicações é ainda generalizadamente ressentida a inadequação do sector à satisfação das necessidades da economia e de desenvolvimento social. Várias são as causas explicativas que poderão ser evidenciadas, desde a incorrecta perspectivação política da função dos transportes e comunicações no anterior regime até ao estrangulamento e deficiências, sobretudo de natureza institucional e estrutural que caracterizam o sector e que constituem as principais restrições da política sectorial, onde avulta a situação financeira das empresas de transportes. Este contexto implica que, naturalmente, no período a que se refere este Programa seja necessário proceder a ajustamentos tarifários, de modo que, de um modo mais preciso, os preços acompanhem os acréscimos dos custos de produção dos serviços. Far-se-ão, porém, todos os esforços no sentido de compensar os aumentos tarifários através de melhorias da qualidade de serviço, nomeadamente nos transportes urbanos, onde se reconhece que são possíveis sensíveis alterações do sistema de transportes existente. Partindo dos pressupostos referidos, indicam-se em seguida os grandes objectivos aos quais se deverá subordinar estritamente a política sectorial no período a que respeita este Programa.

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5.2 — Objectivos políticos de carácter sectorial: a) Incrementar o nível de mobilidade e comunicabilidade na sociedade portuguesa de modo que, tendencialmente sejam garantidas a todos os cidadãos condições iguais e independentes do seu nível de rendimento; b) Organizar o sistema de transportes no sentido de limitar o crescimento do consumo energético; c) Contribuir para atenuar o desequilíbrio da balança de pagamentos tornando o sector dos transportes e comunicações exportador de serviços, em estreita coordenação com as políticas de comércio externo e de turismo; d) Aumentar a oferta do sistema de transportes, prioritariamente através de investimentos de produtividade, orientando os investimentos de capacidade apenas para a satisfação de estrangulamentos evidentes do sistema; e) Assegurar os meios para uma política de independência nacional no domínio dos abaste cimentos essenciais e das ligações entre o continente e as Regiões Autónomas dos Açores e Madeira; f) Induzir o desenvolvimento da indústria nacional de material de transporte e de equipamento de telecomunicações; g) Incentivar a participação dos trabalhadores e utentes na gestão das unidades de produção, nomeadamente pela promoção de cooperativas de profissionais; h) Melhorar a produtividade, absorvendo o sub emprego do sector; i) Garantir a defesa do meio ambiente através da limitação da poluição, especialmente em meio urbano; j) Preceder ao saneamento financeiro das empresas por forma a alterar progressivamente a sua situação económica e financeira. 5.3 — Síntese das principais orientações de política sectorial: Para além das medidas a desenvolver no âmbito de cada função de transporte, das comunicações e da meteorologia, será levado a cabo um conjunto de medidas de carácter global que se prende essencialmente com as estruturas institucionais do sector. Assim, continuar-se-á a adequação, tanto do aparelho administrativo como do sector empresarial do Estado, à responsabilidade do sector público, o que implicará, entre outras acções, o completamento da reestruturação dos serviços da Administração Pública dependentes do Ministério dos Transportes e Comunicações e a publicação dos estatutos de algumas em presas tuteladas. Paralelamente, será desenvolvido um conjunto de medidas que visam a recuperação económica e financeira a médio prazo das empresas. Assim, promover-se-á o estabelecimento de acordos entre o Estado e as empresas públicas e mistas sub tutela, visando o reequilíbrio económico-financeiro destas, aplicar-se-ão critérios de financiamento, quer ao investimento, quer à exploração, adequados às características específicas do sector e promover-se-á a realização de contratos de transporte entre as empresas e as indústrias ou serviços públicos grandes geradores de tráfego de mercadorias.

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Serão também desenvolvidas medidas tendentes a melhorar o aproveitamento dos meios humanos do sector, nomeadamente por acções de reconversão de algumas categorias profissionais excedentárias, por acções visando a mobilidade interempresarial, e pela formação de quadros técnicos e empresários de transportes. 5.4 — Transportes interiores: Atendendo à situação de excesso da procura relativamente à oferta nos transportes interiores, considera-se prioritária a elevação do nível de serviço dos transportes para satisfação das necessidades básicas da população, devendo as medidas a adoptar, por um lado, respeitar o princípio da utilização intensiva das infra-estruturas existentes e, por outro, privilegiar os aspectos de concepção e organização do sistema de transportes. 5.4.1 — Transportes urbanos e suburbanos: Nos transportes urbanos e suburbanos, particularmente nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, prosseguir-se-á uma política de prioridade absoluta aos transportes públicos, incidindo: a) No enquadramento institucional, pela criação das comunidades de transportes, entidades onde o Estado e os municípios garantirão o planeamento, coordenação e gestão dos transportes; b) Nos investimentos em material circulante e sua exploração, pela expansão das frotas, reestruturação das redes e adequação de frequências; c) Nos investimentos em infra-estruturas, pelo aumento de capacidade das redes ferroviárias suburbanas e do Metropolitano de Lisboa e pelo completamento e melhoria das ligações rodoviárias; d) Na gestão da via pública, pela implementação de esquemas de circulação e estacionamento que permitam garantir o bom funcionamento dos transportes públicos; e) No sistema tarifário, pelo alargamento do sistema de passes sociais, nomeadamente à área metropolitana do Porto. 5.4.2 — Transportes interurbanos: Nos transportes interurbanos será desenvolvida a coordenação entre os diversos modos de transporte, nomeadamente pelo lançamento de uma rede nacional de serviços directos. Tal política passa ainda pelo incremento da função comercial do caminho de ferro, visando a captação de tráfegos vocacionais para aquele modo de transporte, pela melhoria dos acessos ferro viários às principais zonas industriais e portuárias e pela promoção de serviços devidamente coordenados entre rodovia e ferrovia. Os investimentos em infraestruturas e material circulante terão em atenção, por um lado, a coordenação intermodal e, por outro, a necessidade de melhorar as ligações rodo-ferroviárias às regiões do interior. A nível do enquadramento institucional, a política de coordenação implic ará revisões profundas da legislação no domínio do funcionamento e acesso ao mercado dos transportes terrestres. Destaca-se ainda, por essencial, a política de estabelecimento progressivo de uma rede de transportes escolares com prioridade para os municípios rurais situados nas

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zonas interiores. 5.4.3 — Trânsito e circulação rodoviária: No domínio da regulamentação do trânsito e da circulação rodoviária avultam entre as acções a empreender a publicação do novo Código da Estrada e respectivo regulamento e acções no âmbito do ensino da condução. Prosseguir-se-ão as campanhas de segurança rodoviária e colaborar-se-á com as entidades fiscalizadoras — GNR, PSP — através do fornecimento de material apropriado à sua missão. Desenvolver-se-á ainda uma campanha tendente a fazer cumprir, como se impõe, a legislação relativa a este domínio, considerando-se, desde já, a necessidade de agravar marcadamente as penas previstas na lei. 5.5 — Transportes marítimos: Em seguimento à descolonização e simultânea crise do comércio marítimo mundial, a adequação a novos mercados dos operadores marítimos tem vindo a processar-se a um ritmo que urge acelerar, pelo que o Governo tomará as medidas indispensáveis neste campo, procurando concretizar rapidamente a reestruturação empresarial da marinha de comércio. As relações de transporte entre o continente e as Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira, bem como o abastecimento de matérias-primas (cereais, minérios, petróleos, etc.) constituem preocupações prioritárias da polític a sectorial. Por outro lado, visando atenuar o desequilíbrio da balança de transportes, promover-se-á a melhoria da participação dos transportes nacionais nos fluxos de tráfego de importação e de exportação, bem como a sua penetração no mercado internacional. Valerá a pena destacar que no período de execução deste Programa se tomarão decisões relativas a: a) Expansão da frota existente, nomeadamente no domínio dos graneleiros, navios porta-contentores e outros cargueiros de pequena tonelagem; b) Especialização das unidades empresariais em conformidade com as características dos tráfegos a explorar. 5.6 — Sistema portuário: Quanto ao sistema portuário, as medidas a implementar visam a melhoria da gestão dos principais centros coordenadores de tráfego pelo aproveitamento mais racional dos recursos existentes; o incremento da competitividade internacional dos principais portos pelo estabelecimento de capacidade de resposta para eventuais procuras de transhipment e de feeder-services, e o desenvolvimento integrado dos portos, ou seja, o enquadramento de uma mesma lógica e política de desenvolvimento para o conjunto dos portos nacionais. Como medidas específicas salientam-se, pela sua importância, as seguintes: a) Reestruturação do sistema de prestação do trabalho portuário, nomeadamente através da criação do instituto do trabalho portuário e de centros coordenadores de trabalho portuário em Lisboa e Leixões, por forma a permitir a fixação da mão-de-obra e a sua remuneração em base mensal; b) Estabelecimento de um regime de concessões de terminais portuários de modo a incentivar a construção, o apetrechamento e a exploração de instalações e de

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serviços especializados; c) Continuação dos estudos sobre os planos de expansão dos portos de Lisboa e Leixões e respectivas tomadas de decisão sobre as opções possíveis, nomeadamente no que se refere a terminais especializados; d) Estruturação da Administração do Porto de Sines e) Consolidação e desenvolvimento da Dragapor, E. P.; f) Reestruturação dos serviços de pilotagem dos portos. 5.7 — Transportes aéreos: As medidas a tomar orientar-se-ão fundamentalmente pela necessidade de desenvolver a exportação de serviços através de uma maior implantação do operador nacional no mercado internacional, bem como de melhorar a participação dos Transportes Aéreos Portugueses no tráfego de importação e exportação, tendo em conta os fluxos de emigrantes, turístico e de comércio externo. Refira-se ainda, dada a real importância do problema, a necessidade de equacionar em termos realistas a vocação da transportadora nacional, nomeadamente no que respeita à eventual possibilidade de alargar o domínio geográfico da sua actuação, o que implicará o estabelecimento de novos acordos bilaterais de transporte aéreo. 5.8 — Aeroportos: Promover-se-á a melhoria de gestão dos principais centros coordenadores de tráfego, bem como o desenvolvimento de modo integrado da rede aeroportuária nacional e ainda a melhoria da segurança aérea. Destacam-se, dada a sua oportunidade e importância relativas, as seguintes medidas específicas: a) Desenvolvimento da empresa pública de aeroportos e navegação aérea recentemente constituída (ANA E. P.) responsável pela ampliação das infra-estruturas aeroportuárias de Faro, Porto, Madeira e Açores; b) Estudo e se das alternativas para o Aeroporto de Lisboa e respectiva tomada de decisão definitiva sobro esta matéria. 5.9 – Comunicações: As acções a desenvolver no domínio das comunicações orientar-se-ão fundamentalmente pelos objectivos de modernizar o serviço postal, a melhorar a qualidade do serviço e suprimir estrangulamentos nas redes de telecomunicações. Entre as acções a realizar avultam: Criação de um conselho nacional de telecomunicações que seja órgão consultivo do Governo para a coordenação das telecomunicações públicas e privadas e definição das políticas nacionais e internacionais do sector; Reestruturação, dinamização e melhor coordenação do sector; Racionalização e mecanização do serviço postal, quer por motorização da rede de distribuição quer pela introdução de novas tecnologias no tratamento do correio;

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Aceleração do investimento nas telecomunicações e expansão de capacidade de realização de em presas com vista à satisfação da procura e à modernização das redes telefónicas e de telex; Desenvolvimento de estudos tendentes à aplicação de novas tecnologias no domínio das telecomunicações, designadamente a comutação electrónica; Desenvolvimento das comunicações a longa distância, via satélite e cabos submarinos. 5.10 — Meteorologia e geofísica: As acções a empreender no âmbito da meteorologia e geofísica visam promover o apoio às actividades económicas, desenvolver a investigação numa perspectiva de aplicação dos resultados à economia nacional e à defesa do meio ambiente e ainda incrementar a cooperação nacional em projectos de investigação internacional. 5.11 — Transportes e comunicações entre o continente e as regiões autónomas: É objectivo da política de transportes e comunicações assegurar ligações eficientes com os Açores e a Madeira e entre as linhas daqueles arquipélagos, pelo que: a) Nos transportes marítimos será concretizada a reestruturação do tráfego entre o continente e os Açores e a Madeira e do tráfego entre as ilhas naqueles arquipélagos. Com efeito, pretende-se oferecer um conjunto de serviços mais adequados e regulares baseado na modernização e especialização dos meios de navegação e dos métodos operacionais. As acções a desenvolver deverão: Assegurar o transporte de mercadorias a granel ou em grandes partidas em navios de tipo graneleiro; Assegurar o transporte de carga geral em navios de linha com métodos modernos de movimentação de mercadorias, e dar à sua exploração as características de serviço regular; Conduzir à criação, no arquipélago dos Açores, de um serviço de feeder. b) Nos portos, em ligação com a política de transportes marítimos, será definido um programa de desenvolvimento e reequipamento dos principais portos de comércio dos Açores e da Madeira a funcionar como centros coordenadores de tráfego (Ponta Delgada, Praia da Vitória, Horta e Funchal) e à construção de instalações portuárias acostáveis nas restantes ilhas para a recepção/expedição de mercadorias, nomeadamente no Porto Santo; c) Nos transportes aéreos, serão realizados os estudos necessários à definição de uma política aérea para os Açores e à transformação da SATA, S. A. R. L., em empresa pública; d) Nos aeroportos serão modernizadas e amplia das as infra-estruturas aeroportuárias existentes nos Açores e na Madeira — Aeroportos da Madeira, de Santa Maria, de Ponta Delgada e da Horta — e desenvolvida a rede secundária de aeródromos dos Açores (S. Jorge e Graciosa) e elaborados os estudos tendentes à melhoria do apoio à navegação em colaboração com o Eurocontrol. Refira-se ainda que as ligações entre o continente e a Região Autónoma dos Açores

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são hoje asseguradas por um sistema de comunicações por satélite inaugurado no passado mês de Dezembro de 1977. Dada a saturação do satélite não foi possível, contudo, automatizar o serviço telefónico, problema que ficará resolvido no último trimestre de 1978 com a entrada em serviço do novo plano operacional INTELSAT. Entretanto serão colocados à disposição das ligações continente-Açores mais alguns canais telefónicos de modo a melhorar a qualidade do serviço. No que diz respeito à Região Autónoma da Madeira as ligações são actualmente garantidas por um sistema de cabo submarino cuja saturação se prevê para 1981. Torna-se necessário uma decisão a curto prazo quanto ao novo sistema a implantar, que deverá contemplar a transmissão de televisão, o que terá lugar até final do próximo mês de Abril, data em que se iniciarão os estudos e projectos relativos ao novo sistema, a colocar em serviço, o mais tardar, em 1981. 6 — Trabalho, emprego e formação profissional 6.1 — Introdução: Uma política social responsável não pode ser enunciada de forma teórica, nem concebida autonomamente. Terá antes de ser fortemente determinada pela estratégia definida para a política económica que visa resolver a crise. Ora, a saída da crise conjuntural da economia portuguesa passa não só pelo reconhecimento das principais condicionantes que lhe são postas, e em que avulta a sua estrutura, mas também pela admissão de alguns pressupostos políticos. A este respeito importa salientar: a) Que a política conjuntural de austeridade que se impõe de imediato não deve ser entendida como um fim em si, mas como uma condição indispensável para garantir no futuro próximo uma estratégia de expansão selectiva que permita a superação das causas da crise e o relançamento da economia em bases sólidas; b) Que a viabilização de um tal projecto passa pela estabilização das relações de trabalho e esta, para além do comprometimento responsável dos parceiros sociais e da actuação despartidarizada dos seus representantes, pela concretização de uma política social que, embora condicionada basicamente pela capacidade real do país e pela estratégia de desenvolvimento adoptada, deverá ser ousada, pondo o acento tónico em transformações de natureza qualitativa que, não afectando a canalização dos necessários recursos para o investimento, de alguma forma com pense os trabalhadores e a população em geral dos sacrifícios que lhes irão ser pedidos; c) Que a política de preços e rendimentos é um instrumento básico no contexto de um programa económico de recuperação, estabilização e minimização dos custos sociais decorrentes. Essa política deverá ter em conta: Por um lado, que o aumento de preços registado deverá ser contido, a nível significativamente inferior ao verificado no passado recente, sem prejuízo de se aceitarem alterações nos preços resultantes dos aumentos de custo; Por outro lado, que importa garantir a manutenção do rendimento disponível, em conjugação com uma política salarial que não agrave os custos unitários de produção nem prejudique a formação de poupança; Finalmente, que é imperioso implementar e melhorar a repartição funcional e pessoal do rendimento.

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6.2 — Trabalho: Na prossecução dos objectivos que visam a recuperação completa do sistema produtivo existente, a defesa e garantia dos direitos fundamentais dos trabalhadores, o Governo tomará, entre outras, as seguintes atitudes e medidas: 6.2.1 — Durante o ano de 1978: a) Esforço de manutenção da paz social e de estabilização das relações de trabalho com base na mobilização e responsabilização dos parceiros sociais para a obtenção de um «acordo ou contrato social» que, respeitando os direitos e os deveres constitucionais dos intervenientes nele, leve ao abandono de posições politicamente partidarizadas e radicalizadas e ao estabelecimento de regras que normalizem as relações entre si e com o Governo, com especial relevância no domínio dos preços e rendimentos, da contratação colectiva e na resolução dos conflitos de trabalho; b) Estabelecimento de um limite máximo ao crescimento era 1978 da massa salarial, que deverá situar-se inicialmente em níveis próximos dos 20% tendo em conta as diferentes condições económicas dos sectores e os respectivos acréscimos de produtividade. Os contratos colectivos a negociar entre os parceiros sociais, bem como outros instrumentos de regulamentação colectiva de trabalho, deverão no entanto prever ara ajustamento a meio da sua vigência que garanta a defesa do poder de compra dos trabalhadores contra imprevistas alterações significativas no ritmo da subida dos preços; c) Fixação de critérios para aplicação do crescimento da massa salarial, que tenham em conta a dimensão das empresas, as reais possibilidades económicas de cada sector e respectivos acréscimos de produtividade e leve ao progressivo nivelamento das as simetrias intersectoriais e interprofissionais; d) Actualização do salário mínimo nacional e das pensões de reforma, em particular das mais baixas, bem como de outras formas de rendimento mais atingidas pela inflação, compatibilizando a justiça social com, as possibilidades e necessidades da economia; e) Reforço das funções e condições de funcionamento do Conselho Nacional de Rendimentos e Preços, cujo prestígio e autoridade depende não só do Governo mas também, e em grande parte, dos parceiros sociais nele representados; f) Fixação de orientações aos representantes governamentais naquele Conselho em ordem a que no seu âmbito se estabeleça o espírito de concertação necessário à realização do referido «acordo ou contrato social, e a que este ali seja aprofundado, particularmente no que respeita à sua adequação à política de preços e rendimentos e ao estabelecimento das normas específicas do crescimento da massa salarial; g) Fomento do aproveitamento racional da capacidade produtiva instalada, designadamente através de medidas conducentes à redução do absentismo, ao estímulo da produtividade e do mérito e adequação dos horários de trabalho, nomeadamente através do trabalho por turnos e da definição do regime de prestação temporária de trabalho, nos casos em que se justifique; h) Dinamização da actuação da Inspecção-Geral do Trabalho, nomeadamente da sua actuação dissuasora, mas também e sempre que necessário da sua acção coerciva, particularmente no domínio do respeito pelas condições de trabalho em vigor, dos despedimentos sem justa causa e dos demais direitos fundamentais dos trabalhadores;

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i) Concretização da transferência dos tribunais de trabalho para o âmbito dos tribunais judiciais, ou seja para a esfera de acção do Ministério da Justiça, e cooperação na sua reestruturação; j) Reestruturação das comissões de conciliação e julgamento de forma a possibilitar o prosseguimento da actividade conciliatória, de acordo com a Constituição e o princípio do tripartidismo preconizado desde sempre pela OIT; l) Dinamização da já equacionada e iniciada política preventiva de segurança e higiene, quer através de aprovação e proposição à Assembleia da República de adequados instrumentos legislativos, quer ainda através de acções informativas e pedagógicas junto dos parceiros sociais; m) Transferência para a esfera de competência do Governo Regional dos Açores dos ser viços periféricos dependentes do Ministério do Trabalho, à semelhança do que se verificou já em relação à Região Autónoma da Madeira; n) Prosseguimento dos estudos era curso sobre: As diferentes convenções da OIT que Portugal ainda não ratificou, com vista à apresentação à Assembleia da República das correspondentes propostas de ratificação; A Carta Social da Europa, com vista à apresentação à Assembleia da República da respectiva proposta de adesão; A legislação laboral em vigor, visando estabelecer um conjunto coerente de legislação que, uma vez aprovada pela Assembleia da República, revogará, adaptará ou integrará a legislação avulsa em vigor. 6.2.2 — Até 1980: a) Desenvolvimento e aperfeiçoamento da política anteriormente definida; b) Aprofundamento do «acordo ou contrato social», particularmente no âmbito do Conselho Nacional de Rendimentos e Preços; c) Aperfeiçoamento das relações colectivas de trabalho numa perspectiva de concertação social e de uma cada vez menor intervenção administrativa: d) Progressivo nivelamento das assimetrias intersectoriais e interprofissionais, procurando atingir um sistema de indexação selectiva de salários; e) Estudo e lançamento a nível nacional de um sistema nacional de análise e qualificação de funções. 6.3 — Emprego: No domínio do emprego e no âmbito da política de estabilização paira 1978, apesar das fortes condicionantes impostas pela redução do défice externo e pelo combate à inflação, procurar-se-á seguir uma política de manutenção global do emprego e minimização dos custos sociais decorrentes. É todavia importante realçar que o desenvolvimento do nosso país, a partir dos anos 60, não gerou empregos em número significativo. Daí que a progressiva absorção dos excedentes de mão-de-obra, à medida que se ia reduzindo o

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subemprego na agricultura, não tenha sido feita pela criação de postos de trabalho na indústria ou nos serviços, mas à custa de uma emigração maciça, cujos níveis médios anuais oscilavam entre 100 000 e 150 000 pessoas. Se considerarmos o impacte da diminuição das saídas de trabalhadores portugueses para o estrangeiro, adicionado à redução drástica do contingente militar e ao regresso dos portugueses das antigas colónias, encontramos um número de pessoas activas muito superior ao número de desempregados que actualmente existe. Assim, quando se fala na manutenção da tendência global da recuperação do emprego quer-se referir este fenómeno de absorção que se tem vindo a estimular, conjugado com as medidas preconizadas na estratégia de desenvolvimento que, dada a extensão, apesar de tudo, dos problemas de emprego que se põem a curto e médio prazos, favorecerá, em face dos recursos disponíveis, um máximo de empreendimentos com alto coeficiente de emprego. Por outro lado, não se justificando a manutenção ou a criação de empregos não reais (isto é, sem serem necessários ou tendo características de subemprego), estes têm de resultar de actividades viáveis e competitivas. Esta estratégia, a conduzir directamente pela Secretaria de Estado da População e Emprego, traduzir-se-á fundamentalmente: a) Na continuação do apoio às pequenas e médias empresas; b) No reforço das medidas de apoio à manutenção em funcionamento das empresas que, embora em situação económica difícil, sejam susceptíveis de viabilização e possam contribuir para a estabilização do emprego, bem como às que se encontrem em processo de reconversão ou disso sejam susceptíveis; c) Na atribuição de prémios de emprego destina dos a apoiar a criação de novos postos de trabalho nas empresas que possam contribuir para o aumento das exportações, para a redução ou substituição das importações, para a melhoria da satisfação das necessidades essenciais da população ou ainda para apoio a empresas que fomentem projectos em áreas regionais desfavorecidas; d) Na racionalização da utilização das verbas do Fundo de Desemprego, de acordo com critérios ajustados às orientações da política económica, nomeadamente no que se refere a apoio às autarquias locais, pequenas e médias empresas e cooperativas; e) Na eliminação de práticas e situações de pluriemprego e de recurso sistemático a horas extraordinárias que prejudiquem quer a possibilidade de um mais elevado aproveitamento da capacidade instalada, quer a possibilidade de criação de empregos permanentes ou temporários; f) Na revisão e adaptação à nova política de emprego dos critérios de atribuição do subsidio de desemprego, em conjugação com outros benefícios sociais; g) Na reestruturação dos métodos de recolha estatística de emprego, em ordem a conhecer e dominar com maior precisão, quer quantitativa, quer qualitativamente, a oferta e procura de emprego e as suas tendências evolutivas, e visando o lançamento de uma política coordenada de gestão dos recursos humanos.

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6.4 — Formação profissional: No que respeita ao âmbito da formação profissional impõe-se que a política a seguir neste domínio responda às duas necessidades mais prementes que se nos deparam: A formação profissional dos jovens; A adequação da mão-de-obra disponível aos postos de trabalho a criar. Tendo isto em conta, as medidas a tomar serão: a) O estabelecimento do estatuto de aprendizagem, conjugado com a política nacional de educação no domínio da formação profissional elementar; b) O lançamento, com base naquele estatuto, de esquemas de emergência de formação profissional de jovens à procura de primeiro emprego; c) A criação de estímulos e apoios às empresas que se integrem naqueles esquemas, conjugados com uma adequada atribuição de subsídios através do Fundo de Desemprego e da segurança social; d) O lançamento de acções de formação, reconversão e reabilitação prioritárias visando a adequação da mão-de-obra disponível aos postos de trabalho a criar a curto prazo; e) O equacionamento e o lançamento de uma política de formação profissional nas suas várias modalidades: aprendizagem, reciclagem, reconversão, reabilitação, qualificação e aperfeiçoamento, com a responsabilização tanto quanto possível institucionalizada dos parceiros sociais, visando o aumento da produtividade, a melhor qualidade global da mão-de-obra e a sua adequação à reestruturação da economia portuguesa e à evolução tecnológica dos equipamentos.

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F) Responder às necessidades básicas da população e promover a qualidade da vida 1 — Justiça 1.1 — Do programa do I Governo Constitucional elaborado e aprovado para um mandato institucional de quatro anos, uma parte considerável foi já cumprida, a começar, como seria normal, pela execução das tarefas e metas com prazo fixo. Cabe ao II Governo Constitucional, antes de mais, cumprir a parte daquele programa ainda não cumprida e incumbir-se das tarefas que entretanto se revelarem necessárias. Foi possível a atempada execução, entre outras, das seguintes rubricas programadas: a) Reforma dos Códigos Civil, de Processo Civil, Penal, de Processo Penal e Comercial, na parte relativa a direitos, liberdades e garantias consagrados na Constituição. Algumas dessas reformas, com destaque para o Código Civil, puderam, inclusivamente, ultrapassar aqueles domínios dando início à completa compatibilização daqueles diplomas com a letra e o espírito da Constituição; b) Publicação da Lei Orgânica da Procuradoria-Geral da República; c) Publicação da Lei Orgânica do Conselho Superior da Magistratura; d) Publicação da Lei Orgânica dos Tribunais Judiciais; e) Publicação do Estatuto dos Magistrados Judiciais; f) Aprovação da proposta de lei orgânica do Ministério Público; g) Aprovação da proposta de lei relativa à parte geral do novo Código Penal; h) Publicação do diploma de reestruturação orgânica da Polícia Judiciária; i) Aprovação da proposta de lei destinada à criação e estruturação do Centro de Estudos Judiciários; j) Aprovação do diploma que cria, no âmbito da polícia Judiciária, uma escola de polícia. O facto de terem sido tomadas estas medidas imprimiu ao Ministério da Justiça uma dinâmica que exige aturado esforço de prossecução e complementaridade, além da tarefa, não menos imperativa, de prosseguir com a execução da parte não cumprida do programa do I Governo Constitucional. 1.2 — No âmbito das sequelas das reformas já feitas e das medidas já tomadas, justificam uma referência sumária as seguintes tarefas: a) A instalação e activação do Centro de Estudos Judiciários; b) A instalação e activação da Escola de Polícia da polícia Judiciária; c) A extensa e profunda regulamentação dos três principais diplomas em que se desdobra a Reforma Judiciária, com destaque para os seguintes aspectos: Reordenamento judicial do território a propor à Assembleia da República, incluindo

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o número, a demarcação, a sede e o âmbito de jurisdição das circunscrições e tribunais; Regulamentação do recrutamento e funcionamento dos assessores populares previstos para alguns tribunais cíveis, para os tribunais do trabalho e para os tribunais de menores; Reformulação do sistema de recrutamento e selecção de jurados; Revisão do Estatuto dos Funcionários de Justiça; Regulamentação do processo de integração dos funcionários em serviço nos tribunais extintos ou integrados nos tribunais judiciais, ou seja, no âmbito do Ministério da Justiça; Alteração do processo relativo a acções que se inscreviam no âmbito dos tribunais marítimos; Revisão do Código de Processo dos Tribunais do Trabalho; Alteração do Código de Processo Civil em matéria de processo de jurisdição voluntária, assessoria técnica, processo de falência e processo relativo aos julgados de paz; Revisão do Código das Custas Judiciais; Alteração do Código de Processo Penal relativamente ao processo da competência dos julgados de paz; Regime transitório aplicável aos processos pendentes nos tribunais extintos ou integrados. Todos estes trabalhos terão de ser executados, com a publicação dos correspondentes diplomas, até à entrada em vigor da Lei da Reforma Judiciária, ou seja, até 31 de Julho de 1978. d) A revisão até 1 de Abril de 1978, data da entrada em vigor das alterações ao Código Civil, das normas legais consequentemente caídas em situação de desactualização, nomeadamente no domínio do processo civil, do registo civil, da jurisdição dos tribunais de família e de menores e dos serviços tutelares de menores. 1.3 — Para além dos trabalhos que constituem prolongamento lógico e exigência imperativa de diplomas legais já publicados ou aprovados, todo um vasto programa de acção aguarda concretização, com destaque para os seguintes trabalhos: a) Ultimação da proposta de lei relativa à parte especial do novo Código Penal, aprovada que seja, pela Assembleia da República, a parte geral; b) Estruturação e instalação dos serviços assistenciais exigidos pela entrada em vigor do novo Código Penal; c) Continuação do trabalho de revisão dos Códigos Civil, de Processo Civil, de Processo Penal e Comercial, com vista à sua actualização e adequação à letra e ao espírito da Constituição, na parte ainda não concretizada; d) Reforma do sistema prisional e penitenciário — Lei Orgânica dos Serviços

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Prisionais e Lei Orgânica Penitenciária —, exigida, além do mais, pela entrada em vigor do novo Código Penal, sem prejuízo da antecipação de uma acção reformadora de pequenos passos nesse domínio, com vista a alcançar, em melhores condições, os objectivos de reintegração social do delinquente, em conjugação de esforços com as restantes instituições de profilaxia social e de prevenção criminal. A reforma, globalmente considerada, implicará, nomeadamente, a reestruturação dos quadros, serviços e funções da Direcção-Geral dos Serviços Prisionais, a reestruturação dos institutos de criminologia, a reestruturação dos institutos de medicina legal, a estruturação de um gabinete de estudo e planeamento de estabelecimentos prisionais, a eventual criação de quadros centrais de segurança dos serviços prisionais e a melhoria dos quadros de especialistas médicos, psicólogos, professores e enfermeiros e em geral do pessoal de assistência dos serviços prisionais. e) Reestruturação e reorganização dos serviços tutelares de menores, na linha hoje prevalecente de que a prevenção da delinquência juvenil deve libertar-se cada vez mais das antigas concepções penais que ainda a inspiram, através de novas experiências de tratamento do menor tanto quanto possível em ambiente familiar, próprio ou alheio, ou em regime de semi- internato, prevendo a instalação de centros ou lares de pequena lotação e com uma distribuição geográfica racional, orientados no sentido da profissionalização dos jovens delinquentes ou em risco de delinquência. A reorganização dos serviços tutelares de menores, exigida, além do mais, pela adequação às novas disposições do Código Civil e da Lei Orgânica dos Tribunais, partirá da convicção de que o sistema tradicional se tem caracterizado — um pouco como por toda a parte — por uma assinalável desproporção entre os custos, que são elevados, e os resultados, que são diminutos. f) Reforma — já em curso — dos serviços de registos e notariado, a começar pela reestruturação da própria Direcção-Geral, e com especial incidência nos serviços centrais e nos serviços externos, estes com uma preocupação descentralizadora e dinamizadora norteada pela preocupação de promover uma rápida e cómoda utilização dos serviços pelos seus utentes: a generalidade dos cartórios ou está deficientemente localizada, ou carece do mínimo de condições de operacionalidade por carência de meios. Para além disso, e em medida que ultrapassa a reforma dos registos civil, predial, comercial, do notariado e da propriedade automóvel, exigida pelas inovações legislativas recentemente introduzidas nos principais códigos, há que preceder à reforma daqueles registos, em orcem a simplificar o seu formalismo e, pelo menos em relação ao registo automóvel, em ordem à sua automatização. Prevê-se ainda a publicação de um boletim destinado a divulgar a doutrina dimanada dos serviços técnicos e do conselho técnico. g) Continuação da acção de valorização e apetrechamento da polícia Judiciária, em instalações, meios humanos e materiais, na linha que tem vindo a ser seguida, nomeadamente após a publicação do seu novo diploma orgânico. Merecem destaque: A projectada aquisição de novas instalações para a Subdirectoria do Porto; A projectada libertação da parte do edifício de Lisboa ocupada pelo Centro de Informática (em instâncias de transferência para edifício próprio) e pelo Centro de Identificação Civil e Criminal;

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A extensão territorial da Polícia Judiciária em ordem à gradual cobertura de todo o País; O prosseguimento da mo ntagem do sistema de telecomunicações via rádio com repetidores em pontos estratégicos, a caminho de uma rede que permita a cobertura de todo o país, e da montagem de uma central telefónica em Lisboa, já em fase de adjudicação; Instalação e activação (já referida) da Escola de Polícia recentemente criada; Estabelecimento de uma ligação eficaz com a Guarda Fiscal, os serviços das alfândegas e o serviço de estrangeiros em matéria de controlo de portos, aeroportos e fronteiras; Estabelecimento de um órgão coordenador da actividade de prevenção criminal a cargo dos diversos organismos policiais e não policiais, sob a égide do Procurador-Geral da República; Ampliação e valorização dos quadros do pessoal, através de criteriosas medidas de recrutamento e reciclagem, por forma que a polícia Judiciá ria possa dar resposta adequada à crescente pressão das necessidades; Planificação de uma campanha geral de prevenção criminal integrada, com mobilização dos organismos para o efeito vocacionados dos órgãos de comunicação social e da generalidade dos cidadãos e das pessoas colectivas; Utilização efectiva e progressiva da informática, em estreita cooperação com o Centro de Informática do Ministério da Justiça, com vista à possível automatização das acções de investigação criminal; h) Apoio à mecanização de novas áreas de acção do Centro de Informática do Ministério da Justiça, a começar pela Polícia Judiciária, pelo registo automóvel e pelo registo criminal. O Centro foi já dotado de novas instalações e de mais poderoso equipamento do que se espera possa decorrer a cobertura de novas áreas e um mais eficiente tratamento das já cobertas; i) Reestruturação do Gabinete de Registo Nacional, com respeito pelo disposto nos artigos 33° e 35° da Constituição, com a necessária adequação da legislação ordinária em vigor. O Gabinete começou já a organizar o ficheiro do registo central das pessoas colectivas e equiparadas, imposto, entre outras razões, pelas novas exigências da planificação económica, e que desde já presta relevantes serviços em matéria fiscal e de controlo do crédito, Será ultimada a elaboração de uma proposta de lei de regulamentação dos ficheiros informáticos das pessoas singulares, na linha das recomendações constitucionais, indispensáveis, entre outras razões, para a execução do projecto de imposto único. O Gabinete prepara-se ainda para prestar apoio ao Ministério da Justiça nos domínios estatísticos e do planeamento. j) Reestruturação, já referida, dos actuais institutos de criminologia, eventualmente na base da sua fusão num único instituto nacional de política criminal, na linha da sugestão contida num projecto de lei apresentado à Assembleia da República pelo Grupo Parlamentar do Partido Social-Democrata. A este instituto será cometida a investigação sociológica das causas da criminalidade e o estudo dos dados

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estatísticas sobre esta, por forma a habilitar o Governo, em especial o Ministério da Justiça, a tomar me didas de prevenção criminal a montante da prática delitiva; l) A reforma dos serviços médico-legais, igualmente tendo em conta as sugestões comidas num outro projecto de lei do mesmo grupo parlamentar, em que se contêm subsídios de extrema utilidade para a remodelação orgânica e funcional dos actuais institutos de medicina legal; m) Reforço da eficiência funcional, aliás, razoável, dos serviços do Centro de Identificação Civil e Criminal. Impõe-se, nomeadamente: Instalar condignamente os serviços na previsão da sua expansão. As actuais instalações, no edifício da Polícia Judiciária, deverão passar a ser ocupadas por esta Mecanizar o serviço de registo criminal, em colaboração com o Centro de Informática, a começar pela mecanização de dados e passagens de certificados negativos; Criação de um gabinete especializado em dactiloscopia, com incidência na análise de cadastros; Adequação do quadro do pessoal à crescente procura de serviços e montagem de cursos de formação e aperfeiçoamento; n) Criação e instalação de um centro de direito comparado e de informação jurídica, destinado ao estudo e divulgação dos sistemas jurídicos dos países com os quais temos maiores afinidades culturais, nomeadamente dos países da Comunidade Europeia, ao estudo do direito internacional e à preparação, no aspecto jurídico, de tratados e acordos internacionais, e à divulgação, através de um ficheiro tão completo quanto possível, da legislação, doutrina e jurisprudência nacionais e estrangeiras. A comparatística, tendo por estrela polar a unificação dos sistemas jurídicos, constitui hoje uma instante preocupação dos países mais evoluídos o) Continuação do esforço de instalação ou reinstalação em condições condignas dos serviços dependentes do Ministério da Justiça, nomeadamente tribunais, conservatórias, centros de recuperação e estabelecimentos prisionais, bem como dos magistrados e funcionários judiciais, nomeadamente através da substituição das actuais Comissão das Construções Prisionais e Comissão Instaladora do Ministério da Justiça por um gabinete de estudo e planeamento dos edifícios do Ministério da Justiça. Este gabinete, que de há muito se impõe como um meio de obter consideráveis economias com a elaboração de projectos e a construção de edifícios, vê a sua necessidade reforçada pela prevista explosão do parque imobiliá rio da Ministério consequente da entrada em vigor da Reforma Judiciária; p) Revisão da Lei Orgânica do Ministério da Justiça, hoje inadequada à sua nova dinâmica e às alterações consequentes da Reforma Judiciária, que redimensionou a esfera da competência do Ministério, nomeadamente no sentido da restrição da acção da Direcção-Geral dos Serviços Judiciários e do alargamento das funções da Secretaria-Geral, a recomendar a fusão destes dois departamentos, bem como no sentido da criação do gabinete referido na alínea o); q) Revisão, em cooperação com a Ordem dos Advogados e a Câmara dos Solicitadores, do título V do Estatuto Judiciário, relativo ao mandato judicial, à orgânica daquelas Ordem e Câmara e aos direitos, deveres e disciplina dos advogados e solicitadores.

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2 — Administração interna 2.1 — O Programa do I Governo Constitucional contemplou várias medidas sob a alçada do MAI que podem no essencial agrupar-se em dois temas fundamentais: democratização do poder político e consolidação da autoridade democrática. Sobre a primeira já se enunciaram alguns princípios de política geral na rubrica «Poder local». Acrescenta-se agora ma is o seguinte: no âmbito das medidas de descentralização administrativa foram publicados os Decretos-Leis n°s 701—A/76 e 701—B/76, de 19 de Setembro, que disciplinaram as eleições para as autarquias locais, e foi apresentada à Assembleia uma proposta de lei sobre as atribuições das mesmas e a competência dos respectivos órgãos, que hoje se encontram reguladas pela Lei n° 79/77, de 25 de Outubro. Continua, porém, a reconhecer-se que o poder local para se constituir em realidade operante de efectiva participação popular na gestão dos interesses comunitários, não se basta com o estatuto legal que lhe consagra a respectiva autonomia. Esta terá de ser também encarada nos planos financeiro e técnico, como unanimemente se proclama, e nesse sentido foram concebidas e desencadeadas várias acções a que, pelo seu alcance e oportunidade, importa dar seguimento na parte ainda não consumada. E, assim: a) Publicar-se-á a regulamentação da Lei Orgânica do Ministério, através da qual serão definidas a composição e atribuições dos seus departamentos centrais e externos, estas com acção coordenadora, desconcentrada e descentralizada; b) Proceder-se-á para o efeito à regulamentação das comissões de coordenação técnica regional, com âmbito de actividades alargado e polivalente, em proveito específico das áreas que lhes estão afectas; c) Como providência tendente a melhorar a capacidade das autarquias, reforçar-se-á o apoio técnico que lhes vem sendo prestado ao institucionalizarem-se, por diploma que se encontra em elaboração, os gabinetes de apoio técnico e pela obtenção da cobertura completa do País, tendo em conta os bons resultados entretanto obtidos e as auscultações levadas a efeito; d) Prosseguir-se-ão os estudos relativos à criação do quadro técnico administrativo previsto no artigo 244° da Constituição; e) Aprovada que está, na generalidade, pela Assembleia da República, uma proposta de lei sobre finanças locais, aguarda-se a sua aprovação na especialidade para o desencadeamento coordenado de todo o com plexo processo de adaptação dos serviços centrais e locais aos novos princípios e métodos que venham a ser estabelecidos; f) Simultaneamente e em actividade complementar, promover-se-á a reforma da contabilidade municipal; g) Manter-se-á o programa de modernização da gestão autárquica e de formação, reciclagem e completamento dos quadros administrativos; h) Continuar-se-ão os trabalhos em curso sobre o ordenamento do território para correcção das assimetrias regionais: i) Em articulação com os competentes departamentos serão incrementadas as obras municipais, designadamente as de saneamento básico e de melhoramentos rurais e urbanos;

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j) Como experiência, que, entretanto, haverá interesse em aprofundar, de consolidação do poder local em nível e área supramunicipais, proceder-se-á ao estudo imediato de medidas concretas que reforcem a capacidade técnica e financeira dos órgãos de administração distrital; k) Accionar-se-á o processamento do diploma legislativo definidor de nova tabela de taxas e licenças a cobrar nos governos civis, corpos administrativos e administrações de bairro; l) Accionar-se-ão igualmente os diplomas referentes à definição dos critérios a seguir na criação de novas freguesias m) Serão ainda apresentadas propostas de lei que, tomando em conta a experiência recolhida, possibilitem até 31 de Dezembro de 1978 a revisão da Lei nº 79/77, de 25 de Outubro, e a publicação de legislação própria que substitua os Decretos-Leis nºs 701—A/76 e 701—B/76, de 29 de Setembro; n) Realizar-se-ão diligências para, em cooperação com os Ministérios da Reforma Administrativa e da Justiça, constituir uma comissão de juristas e técnicos da especialidade que se incumba de elaborar uma proposta de lei sobre as matérias que continuam a ser reguladas pelo Código Administrativo. 2.2 — O Decreto-Lei nº 308—A/75, de 24 de Junho, estabeleceu normas sobre a conservação da nacionalidade portuguesa pelos portugueses domiciliados em territórios ultramarinos tornados independentes, bem como sobre as condições em que tal nacionalidade pode ser perdida, conservada ou adquirida. Continuará o MAI, em colaboração com o Ministério da Justiça, a exercer um criterioso controlo do recurso ao artigo 5º desse diploma, que prevê a concessão da nacionalidade portuguesa em casos excepcionais, a cidadãos estrangeiros ou a apátridas que de outro modo não teriam via legal de acesso a ela. Por outro lado, e sem prejuízo da eventual proposta de revisão desse diploma, vai o MAI, uma vez mais em colaboração com o Ministério da Justiça, ultimar a proposta de revisão da lei geral sobre nacionalidade à luz das inovações da Constituição, a qual será apresentada em breve à Assembleia da República. 2.3 — A lei eleitoral relativa ao recenseamento que possibilitou as primeiras eleições livres realizadas em Portugal nos últimos cinquenta anos foi aprovada pelo Decreto-Lei nº 621—A/74, de 15 de Novembro. O tempo entretanto transcorrido, o substancial aumento da população portuguesa e o acesso ao direito de voto de cidadãos menores de 18 anos à data do recenseamento então efectuado, o sobrevindo falecimento de grande número de eleitores inscritos, a mudança de domicílio de tantos outros, enfim, a necessidade de introdução de melhorias tácticas ditadas pela experiência entretanto colhida, impõem que a Assembleia da República aprove uma nova lei do recenseamento, bem como uma nova lei eleitoral. Presente que está a primeira à Assembleia da República, continuarão no MAI os trabalhos tendentes a ultimar a preparação da segunda, que poderá constituir proposta de lei ou colaboração positiva e útil com a Assembleia da República, em cuja competência exclusiva se encontra tal matéria. 2.4 — A legalidade democrática, fundamento do próprio Estado, é condição e penhor da igualdade dos cidadãos perante a lei. Impõe-se reconhecer a obra realizada durante o I Governo Constitucional para o restabelecimento da autoridade democrática e garantia do livre exercício das liberdades fundamentais, sendo justo realçar a acção que vem sendo desenvolvida pelas forças de segurança na defesa das pessoas e na protecção dos seus bens.

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São, na verdade, incontestáveis os resultados obtidos em múltiplos domínios onde logrou afirmar-se o império da autoridade legítima e consolidar-se um clima generalizado de paz social e de tranquilidade pública. Não obstante, continua a manifestar-se uma preocupante escalada de alguns tipos de criminalidade, cuja violência repetidamente desafia os próprios alicerces da ordem constitucional. Na medida em que o seu recrudescimento é uma consequência da crise, por certo que a política global do Governo, propondo-se atacá-la nas suas causas profundas, constituirá relevante factor para o seu debelamento. Mas isso não impedirá que, no campo específico da prevenção e repressão criminais, se mobilizem todos os recursos disponíveis para mitigar sem demora os seus efeitos. Reputa-se perfeitamente adequada a esse fim a estratégia definida no Programa do 1 Governo Constitucional, de que se destacam sucintamente: a) A intensificação da luta contra o crime e, em especial, contra as acções terroristas ou outros tipos de crime organizado ou com recurso à violência. Cabendo aqui um decisivo papel às forças de segurança — PSP e GNR —, inscreve-se como preocupação dominante o reforço dos seus meios de actuação, humanos e materiais, programados e a programar, por forma a melhorar a cobertura das áreas em que se denuncia uma maior incidência das várias espécies de criminalidade. Continuar-se-á, entretanto, a participação na elaboração legislativa referente à segurança das instituições de crédito, à regulamentação da actividade das empresas priva das de segurança e ao combate à prostituição, ao proxenetismo, ao tráfico de droga, à vadiagem e à receptação; b) A oportuna publicação, após convalidação pelo actual Governo, do diploma que regulará e normalizará o exercício de venda ambulante; c) A defesa do prestígio das forças de segurança, enquanto participantes na garantia da ordem e das liberdades democráticas, e o desenvolvimento das relações de confiança, respeito e cooperação entre os seus agentes e o público. Para a consecução destes objectivos importa: Promover uma selecção rigorosa do pessoal e ministrar-lhe, para além de instrução técnica adequada, uma formação que comporte o esclarecimento intensivo da nova ordem constitucional; Atribuir-lhe uma remuneração compatível com as responsabilidades e os riscos decorrentes do exercício das suas funções; Instituir formas de responsabilização efic az pela actuação desenvolvida; d) O incremento das diferentes modalidades de apoio à população confiadas às forças de segurança, isoladamente ou em coordenação com o Serviço Nacional de Ambulâncias, bombeiros e outras instituições de índole humanitária. 2.5 — A legislação reguladora da entrada, permanência e saída de estrangeiros do território nacional encontra-se dispersa por vários textos, desactualizada e carecida de profunda reformulação. O I Governo Constitucional aprovou um diploma no qual se disciplina com rigor e actualidade o regime jurídico da entrada e saída de estrangeiros no território nacional, nomeadamente os documentos de viagem e vistos, autorizações de

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residência e os boletins de alojamento, fixando-se também as penalidades para as diversas infracções ali definidas. Vai o actual Governo convalidá-lo, após adequada revisão. 2.6 — Foi igualmente aprovada pelo I Governo Constitucional uma proposta de lei relativa à expulsão de estrangeiros do território nacional. A mais ampla permissibilidade tem, neste domínio, sido a regra. E a coberto dela temos sido vítimas de marginais das mais diversas origens que, a coberto da nossa hospitalidade e tolerância, engrossam as hostes da criminalidade. O II Governo vai enfrentar o problema sem tibieza, que seria imperdoável, e também sem gratuita sentimentalidade, que no caso seria descabida. 2.7 — Nos dois referidos diplomas são atribuídas funções particularmente importantes ao Serviço de Estrangeiros, o qual muito poderá contribuir, num futuro próximo, para que os estrangeiros e apátridas que se encontrem ou residam em Portugal, sem prejuízo dos direitos que constitucionalmente lhes são conferidos, não constituam um factor de perturbação social e susceptível de, em cada momento, poder ser fiscalizado e controlado pelo Estado Português. Também por essa razão se dará continuidade ao seu programa de cobertura eficaz de todo o território nacional. 2.8 — Impõe-se também, e disso curará o MAI elaborando as correspondentes propostas de lei, uma vez mais em colaboração com o Ministério da Justiça, regular em termos de actualidade ética e jurídica o direito de asilo e o estatuto do refugiado. 3 — Educação e cultura 3.1 — Orientações gerais: 3.1.1 — Objectivos: Na área da educação e cultura são objectivos a atingir, progressivamente e na medida do possível: Dotar o sistema escolar de coerência sequencial; Adequar as actividades educativas, nomeada mente o ensino, às necessidades do País; Lançar o sistema público de educação pré-escolar; Promover o efectivo cumprimento da escolaridade obrigatória; Modernizar os conteúdos do ensino e renovar os métodos pedagógicos; Melhorar a preparação profissional e a situação material dos docentes; Reforçar o apoio às actividades de investigação científica, nomeadamente no âmbito do ensino superior; Alargar e corrigir a rede escolar; Intensificar as acções de apoio social aos estudantes; Salvaguardar os direitos do ensino particular e cooperativo;

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Intensificar o ensino da língua e cultura portuguesas aos emigrantes; Reforçar o apoio à educação de deficientes e inadaptados; Combater o analfabetismo; Promover maior contacto entre os agentes culturais e a população; Defender e valorizar o património cultural português; Desenvolver as actividades de ocupação e de tempos livres da juventude; Promover a educação física e as actividades desportivas. 3.1.2 — Estrutura do sistema escolar 3.1.2.1 — No Programa do I Governo Constitucional consignou-se que só no corrente ano lectivo seria possível a apresentação de uma proposta de lei sobre as bases gerais do sistema educativo, que terá por finalidade dotar o sistema de coerência sequencial, sem prejuízo da necessária flexibilidade na execução do processo de reforma. Antes de essa proposta ser enviada à Assembleia da República convirá se inicie um debate público sobre as principais desarticulações e estrangulamentos do sistema escolar. Equacionados globalmente os grandes problemas estruturais e as respectivas implicações – no domínio da psicopedagogia, do desenvolvimento curricular, do equipamento escolar, da qualificação e habilitação profissional dos docentes, dos custos financeiros —, encontrar-se-ão reunidas condições para optar por algum dos diversos modelos possíveis. O Gabinete de Estudos e Planeamento do Ministério publicará um levantamento de alternativas para discussão pública. 3.1.2.2 — Aprovada a lei sobre as bases gerais do sistema educativo, será regulamentado no que respeita aos vários níveis e ramos. 3.1.2.3 — Deverá também estudar-se a vantagem de integrar no sistema geral de ensino os cursos oficiais civis e respectivas escolas, que, embora funcionando actualmente na dependência de outros Ministérios, são susceptíveis de conferir diplomas correspondentes a uma formação escolar bem definida, ainda que profissionalizante. 3.1.3 — Apoio técnico-pedagógico: Criação do Conselho Nacional de Educação, com o objectivo de dotar o Ministério de um órgão de consulta na definição da política educativa. 3.1.4 — Regionalização: Prosseguimento da transferência para as regiões autónomas dos serviços periféricos do Ministério, ultimando o adequado texto legal e preparando delegações de competência. 3.2 — Educação pré-escolar: 3.2.1 — Publicação de legislação que contemple as necessidades existentes e vise

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assegurar a correcta transição para o novo sistema escolar: a) Estatuto dos jardins-de-infância, para regulamentar o disposto no artigo 3° da Lei nº 5/77, de 1 de Fevereiro; b) Estatuto profissional e definição do quadro oficial de educadores de infância (a considerar no Orçamento Geral do Estado para 1979). 3.2.2 — Cumprimento da decisão de criar um ano preliminar à 1ª fase do ensino primário, destinado aos alunos que por qualquer motivo não tenham frequentado jardins-de-infância; neste caso, o ensino obrigatório iniciar-se-á aos 5 anos completados até 31 de Dezembro. Dispositivo legal adequado será proposto quando a experiência, a iniciar em 1978-1979, o justifique. 3.2.3 — Articulação entre os serviços do MEC e do MAS, colocando os jardins-de-infância sob tutela do MEC, sem prejuízo da salvaguarda de aspectos sociais pelo MAS. 3.2.4 — Estabelecimento de protocolos entre o MEC e as autarquias locais para concretizar a decisão de lançar estruturas de acolhimento para a segunda infância, conforme regulamento a fixar, de acordo com o artigo 4° da Lei nº 5/77, de 1 de Fevereiro. 3.2.5 — Assinatura de protocolos com estabelecimentos de ensino privado segundo o princípio da capitação familiar e aplicando as regras já fixadas. 3.3 — Ensino básico: Os problemas fundamentais do actual ensino primário residem nos seguintes factores: a) Dificuldades em se alcançar o efectivo cumprimento da escolaridade; b) Fraco rendimento escolar das crianças em certos meios, por desajustamento entre a sua vivência sócio-cultural, as exigências da vida escolar e a preparação dos professores; c) Inadequação e carência de espaços. Para resolver estas dificuldades está em curso ou projecta-se uma série de medidas e acções. 3.3.1 — Ensino primário: 3.3.1.1— Cumprimento, até 1980-1981, da determinação de entrada das crianças que completem 6 anos até 31 de Dezembro. 3.3.1.2— Eliminação do regime triplo (o que já está quase conseguido) e progressiva eliminação do regime duplo. 3.3.1.3 — Revisão dos programas em vigor, articulando-os horizontalmente (interdisciplinaridade) e verticalmente (com os outros graus de ensino, nomeadamente com o ensino preparatório). 3.3.1.4 — Acompanhamento das reformas pedagógicas recentes ou em curso, de modo a formular princípios orientadores.

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3.3.1.5 — Publicação, até 15 de Janeiro de 1979, dos novos programas escolares para a 1ª fase. 3.3.1.6 — Revisão do processo de avaliação no final da escolaridade primária, com eliminação do exame da 4ª classe. 3.3.2 — Ensino preparatório: 3.3.2.1 — Substituição progressiva do ciclo complementar do ensino primário e do ciclo preparatório TV pelo ensino preparatório directo, sem desaproveitar os meios de ensino à distância. 3.3.2.2 — Revisão de programas, a publicar até 15 de Janeiro de 1979, no sentido de uma maior interdisciplinaridade, e preparação dos professores para cumprimento do disposto legalmente (leccionação em mais de uma disciplina aos mesmos alunos), de modo a evitar-se que os alunos, que no ensino primário são ensinados apenas por um professor, passem subitamente a um regime de leccionação por nove docentes. 3.3.2.3 — Transformação da área de trabalhos manuais na área fundamental de observação vocacional, para o que se preparam fichas de observação individual dos alunos, que servirão como auxiliar na orientação vocacional no ensino secundário geral. 3.3.2.4 — Institucionalização de formas de acompanhamento dos alunos com dificuldade de aprendizagem. 3.3.2.5 — Aperfeiçoamento do processo de avaliação final do ensino preparatório. 3.3.3 — Escolaridade obrigatória: 3.3.3.1 — Continuidade da adopção de medidas que permitam garantir o cumprimento efectivo da escolaridade obrigatória de 6 anos. 3.3.3.2 — Promoção, tanto no plano da formação de professores como no do alargamento da rede escolar, da unificação da última fase do ensino básico. 3.3.3.3 — Lançamento de bases para a extensão da escolaridade obrigatória, de modo a nela incluir o curso geral do ensino secundário. 3.4 — Ensino secundário: 3.4.1 — Curso geral do ensino secundário A forma anárquica como se processou em 1975 a unificação dos dois ramos do ensino secundário liceal e técnico conduziu à improvisação, ano a ano, da sequência curricular. Sendo o objectivo fundamental do ensino unificado eliminar distinção entre o ensino liceal e o ensino técnico, e para se atingir uma estabilização do sistema, sem a qual a sua reforma não é possível proceder-se-á a: 3.4.1.1 — Revisão dos planos de estudo e dos conteúdos dos programas, de modo a garantir-se correcta articulação com os ensinos preparatório e secundário complementar. 3.4.1.2 — Revisão e dignificação dos trabalhos oficinais, passando a haver, a médio prazo, obrigatoriedade de opção por duas áreas especificas no 7º de escolaridade e

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por uma no 8°, redefinição dos grupos de opção do 9º ano com aumento do número de horas a eles dedicado. 3.4.1.3 — Adaptação da rede de oficinas escolares, tendo em vista, designadamente, as necessidades impostas pelo referido em 3.4.1.2. 3.4.1.4 — Continuação do processo da avaliação pedagógica do curso secundário unificado. 3.4.1.5 — Regulamentação das provas globais de avaliação final do curso unificado do ensino secundário, partindo do modelo de avaliação por níveis atingidos, expressa pela notação de aprovação de 3 a 5. 3.4.2 — Curso complementar do ensino secundário: 3.4.2.1 — Adopção do regime de tronco comum com cinco grandes áreas optativas: científico-naturais, científico-técnicas, económico-comerciais, humanístico-sociais e linguísticas e artísticas. 3.4.2.2 — Inclusão de uma componente vocacional, de modo a permitir aos jovens eficiente ingresso na vida activa. 3.4.2.3 — Promoção de uma forte selectividade nos cursos complementares do ensino secundário, diversamente do que convém nos níveis anteriores; manutenção da escala de 0 a 20. 3.4.2.4 — Extensão do curso para três anos, como resultado de evolução do actual ano propedêutico logo que possível. 3.5 — Ensino superior: 3.5.1 — Sistematização da articulação do ensino superior (universitário e não universitário) com o ensino secundário, nomeadamente com os cursos comp lementares. 3.5.2 — Elaboração do plano geral de organização, desenvolvimento e expansão do ensino superior, de acordo com o esquema estruturado a três níveis: ensino superior de curta duração, licenciatura e pós-graduação (mestrado, ou designação equivalente, doutoramento e agregação). 3.5.3 — Publicação do estatuto da carreira docente universitária e ampliação dos quadros de docentes das escolas universitárias. 3.5.4 — Elaboração e publicação do estatuto da carreira docente do ensino superior de curta duração. 3.5.5 — Elaboração e publicação do estatuto universitário e do estatuto do ensino superior não universitário. 3.5.6 — Criação do Conselho Nacional do Ensino Superior, com representação no Conselho Nacional de Educação, como órgão permanente de consulta da Direcção-Geral de Ensino Superior, para os estudos pedagógicos e científicos. 3.5.7 — Realização de estudos, em colaboração com os departamentos ministeriais próprios, de planeamento das necessidades do País em diplomados nas diferentes áreas científicas e profissionais, de acordo com os objectivos do Plano e respectiva

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programação, para definição do numerus clausus nos diferentes cursos e escolas do ensino superior. 3.5.8 — Execução do plano de criação de escolas superiores de educação e das escolas superiores técnicas no âmbito do ensino superior e de curta duração. 3.5.9 — Apreciação da validade científica e adequação social dos cursos professados nas escolas universitárias e, nos casos em que se justifique, consequente reconversão. 3.5.10 — Actualização dos planos de estudo dos cursos professados nas escolas do ensino superior, com base nos pareceres das comissões científicas interuniversitárias. 3.5.11 — Melhoria das condições de preparação dos docentes do ensino superior universitário pela progressiva generalização dos cursos de pós-graduação, pelo lançamento de projectos de investigação nas Universidades e pela aquisição e modernização de equipamento e instalações nas várias escolas, de modo a alcançar-se uma efectiva elevação de qualidade da docência e da investigação nas Universidades. 3.5.12 — Reformulação urgente das condições de funcionamento das Faculdade de Medicina. 3.5.13 — Instalação da Escola Nacional de Administração. 3.5.14 — Criação, em Lisboa, de um curso superior (de curta duração) de comunicação social e criação na Universidade Nova de Lisboa de cursos de pós-graduação no mesmo domínio. 3.5.15 — Reestruturação do ensino artístico. 3.5.16 — Reorganização administrativa das Universidades e outros estabelecimentos de ensino superior. 3.5.17 — Regulamentação das condições de frequência e aproveitamento dos cursos de ensino superior (universitário e não universitário). 3.5.18 — Definição do estatuto do trabalhador-estudante, com a criação de quotas de reserva nos cursos de admissão ao ensino superior e apoio na criação de cursos nocturnos para trabalhadores-estudantes, com horários reduzidos, mas mantendo a escolaridade total normal mediante o aumento da sua duração. 3.5.19 — Reformulação do estatuto dos alunos militares. 3.5.20 — Regulamentação do regime de prestação de serviços à comunidade por parte dias escolas do ensino superior e posterior incentivação desta actividade, com o propósito de valorizar a contribuição destas instituições para a resolução dos problemas nacionais, regionais e locais. 3.5.21 — Incentivação ao estabelecimento de acordos e convénios com instituições de ensino superior e de investigação científica, nacionais e estrangeiras, e permuta de docentes e investigadores no quadro de acordos e convénios. 3.5.22 — Estudo de adesão de Portugal às convenções sobre equivalência de graus e títulos académicos do Conselho da Europa.

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3.5.23 — Estruturação do recém-criado Gabinete de Actividades Culturais e Desporto Universitários para incentivar o apoio às iniciativas das associações de estudantes. 3.6 — Pessoal docente: 3.6.1 — Formação de docentes: O maior dos obstáculos à renovação do sistema escolar consiste na formação dos respectivos docentes. Importa diversificá-la e melhorá-la por meio de novos e reconvertidos estabelecimentos e acções de formação de professores. 3.6.1.1 — Conversão de algumas actuais escolas do magistério primário em escolas para formação de educadores de infância. 3.6.1.2 — Reforma das escolas do magistério primário. 3.6.1.3 — Lançamento, em área regional carecida, de um processo de formação profissional em serviço para docentes do ensino preparatório e secundário, que poderá ser progressivamente alargado no caso de se provar a sua validade. 3.6.1.4 — Continuação da experiência (em curso no Porto) de um curso de preparação de formadores do ensino preparatório e secundário, criando-se cursos congéneres desde que se encontrem as condições necessárias. 3.6.1.5 — Institucionalização de cursos de reciclagem para pessoal docente dos ensinos básico e secundário, periódicos e obrigatórios, combinando a preparação em regime intensivo, a autoformação com apoio à distância e a difusão periódica de informações pedagógicas e didácticas. 3.6.1.6 — Execução do plano de formação de professores do ensino básico, do ensino especial e de educadores de infância no ensino superior de curta duração. 3.6.1.7 — Definição de um sistema de formação de professores do ensino secundário, geral e complementar, incluindo a criação de cursos de formação de professores para o ensino vocacional, em conformidade com o programa do curso complementar do ensino secundário. 3.6.1.8 — Execução do plano para formação de docentes do ensino superior de curta duração. 3.6.1.9 — Criação de instituições especificamente destinadas à inovação pedagógica, nomeadamente: Um centro nacional de desenvolvimento curricular; Centros de formação pedagógica — estágio integrado em escolas secundárias e destinado à formação profissional dos docentes do ensino secundário—, que se prevê sejam continuados pelos futuros institutos superiores de ciências da educação. 3.6.1.10 — Melhoria das condições de preparação pedagógica e científica dos docentes do ensino superior. 3.6.2 — Situação profissional dos docentes:

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3.6.2.1 — Revisão e alargamento dos actuais quadros de todos os níveis de ensino. 3.6.2.2 — Elaboração dos estatutos da carreira docente dos diversos graus de ensino, mediante regulamentação das suas principais questões: condições de admissão, remuneração, horário de trabalho, contagem de tempo de serviço, faltas, etc. 3.6.2.3 — Regulamentação do sistema de fases e seu imediato descongelamento. 3.6.2.4 — Aperfeiçoamento das normas de colocação e movimentação dos docentes do ensino básico e secundário, nomeadamente mediante a introdução de contratos plurianuais renováveis. 3.6.2.5 — Realização anual programada de todo os concursos de colocação de docentes do ensino básico e secundário, com garantia de início regular do ano escolar, aperfeiçoando os esquemas já existentes. 3.6.2.6 — Lançamento, com base nos estudos da rede escolar e em coordenação com as autarquias locais, de acções destinadas à criação de condições de insta de docentes em zonas desfavorecidas e eventualmente construção de habitações ou residências. 3.7 — Infra-estruturas: 3.7.1 — Rede escolar 3.7.1.1 — Prosseguimento dos estudos necessários à definição dos princípios gerais da rede de estabelecimento para a educação pré-escolar e educação especial em ligação com a rede do ensino primário. 3.7.1.2 — Prosseguimento dos estudos em curso destinados a rever, com a participação das autarquias locais, o plano de construções para os ensinos primário, preparatório e secundário e a reformular os critérios da rede escolar. 3.7.1.3 — Reestruturação da rede de oficinas escolares, através, designadamente, da criação de unidades com direcção pedagógica e administrativa própria, de modo a fazer face à necessidade de diversificação vocacional na área curricular de trabalhos oficinais e às exigências do lançamento de novos cursos complementares do ensino secundário, com economiza dos meios imateriais e humanos e evitando que as opções dos alunos continuem a ser drasticamente condicionadas pelas vagas existentes. 3.7.2 — Instalações: 3.7.2.1 — Aperfeiçoamento, em articulação com os demais organismos, nomeadamente o Ministério da Habitação e Obras Públicas, do sistema de Construção escolar, de modo a criar estruturas capazes de responder a tempo e com eficácia às necessidades de expansão e conservação da rede física escolar. 3.7.2.2 — Elaboração de programas plurianuais de construção escolar, de modo a possibilitar a sua concretização em condições ajustadas às necessidades previsíveis. 3.7.2.3 — Prossecução de uma política de aproveitamento de edifícios adaptáveis e de construção de instalações provisórias em casos de carência de instalações definitivas.

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3.7.2.4 — Lançamento de um plano de reparações e beneficiações em colaboração com as autarquias locais e com o Ministério da Habitação e Obras Públicas, em especial nos estabelecimentos de ensino primário. 3.7.2.5 — Definição e actualização de tipologias para os edifícios dos vários níveis e ramos de ensino, de modo a garantir a sua adaptação à inovação pedagógica sem prejuízo da normalização da sua construção, com vista à redução de custos. 3.7.3 — Equipamento: mobiliário e material didáctico: 3.7.3.1 — Revisão das obsoletas tipologias existentes, em função da inovação pedagógica, devendo, sempre que possível, as aquis ições ser feitas à indústria nacional. 3.7.3.2 — Inventariação das carências existentes e lançamento de um programa das suas satisfações, tendo em conta as prioridades dos graus de ensino e a imprescindibilidade do equipamento. 3.7.3.3 — Fixação de normas de gestão pelos estabelecimentos de ensino do material existente e introdução de uma racionalização de aquisições e sua conservação, em conformidade com critérios económicos e de eficácia. 3.7.3.4 — Aperfeiçoamento das ligações do Ministério com a indústria nacional, de modo a habilitá-la a melhores condições de resposta às solicitações de equipamento escolar. 3.8 — Acção social: 3.8.1 — Criação de novas redes de transporte para os alunos do ensine primário que tenham de se deslocar por motivo do isolamento actual dos locais de residência ou da reorganização da rede escolar e extensão às áreas metropolitanas do transporte escolar para alunos dos ensinos preparatório e secundário, quando a carência de instalações escolares o torne necessário. 3.8.2 — Concessão progressiva do «suplemento alimentar» aos alunos do ensino primário e da Telesecola de modo a abarcar a sua totalidade até 1980. 3.8.3 — Reforço da rede de alojamentos escolares através do lançamento de novas residências e procura de soluções de alojamento não estatal. 3.8.4 — Reestruturação dos Serviços Sociais Universitários, criação de infra-estruturas de acção social nos centros de ensino superior que ainda as não possuem e racionalização das existentes. 3.8.5 — Regionalização do apoio social a docentes e estudantes, nomeadamente para nova rede do ensino superior de curta duração, em colaboração com os departamentos competentes da Administração Central e da administração local. 3.8.6 — Incremento do seguro escolar, nomeada mente com: a) Melhoria das condições de assistência aos sinistrados e extensão da população escolar abrangida; b) Estabelecimento de acordos ou protocolos com o Ministério da Defesa e o Ministério dos Assuntos Sociais para utilização de hospitais; c) Organização do sector de prevenção do seguro escolar, definição da política de

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prevenção e planeamento e execução das acções subsequentes. 3.8.7 — Reforço e dinamização das estruturas de saúde escolar em articulação com o Ministério dos Assuntos Sociais. 3.8.7.1 — Defesa e promoção de saúde integral de estudantes através da educação sanitária. 3.8.7.2 — Desenvolvimento das acções de recuperação de inadaptados escolares. 3.8.7.3 — Reforço do apoio às crianças portadoras de deficiências físicas ou psíquicas. 3.9 — Ensino particular e cooperativo: 3.9.1 — Aprovação urgente do Estatuto do Ensino Particular e Cooperativo, que incluirá o regime regulador das condições de criação e funcionamento de estabelecimentos de ensino particular e cooperativo, bem como da prestação de apoio técnico-pedagógico e financeiro a estabelecimentos de ensino, acompanhado da correspondente implantação de mecanismos eficazes de fiscalização. 3.9.2 – Determinação das condições de declaração de utilidade pública de centros educativos e sua regulamentação. 3.9.3 — Análise, com a participação das entidades oficiais e representativas interessadas, do regime fiscal em vigor para o ensino não público e preparação da sua revisão urgente. 3.10 — Ensino no estrangeiro: São objectivos essenciais nesta área a educação dos emigrantes e seus filhos em idade escolar e a difusão da língua e cultura portuguesas no estrangeiro. 3.10.1 — Educação de emigrantes: 3.10.1.1 — Estabelecimento de contactos com a finalidade de dotar de educadores de língua portuguesa os jardins-de-infância existentes nas zonas de forte concentração de emigrantes. 3.10.1.2 — Diligências para uma maior integração do ensino do Português no sistema escolar dos países de imigração. 3.10.1.3 — Reestruturação e alargamento da rede escolar e sua utilização em cursos para adultos. 3.10.1.4 — Publicação urgente do estatuto do professor no estrangeiro. 3.10.1.5 — Descentralização dos serviços e criação de novos lugares de coordenadores do ensino português no estrangeiro. 3.10.1.6 — Promoção de acções de reciclagem dos docentes em exercício. 3.10.1.7 — Incentivo ao ensino do Português fora do continente europeu e diligências no sentido de desenvolver curricula biculturais. 3.10.1.8 — Publicação de legislação que simplifique o actual sistema de equivalência de estudos no ensino não superior.

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3.10.2 — Difusão da língua e cultura portuguesas: 3.10.2.1 — Criação de novos leitorados e centros de apoio aos leitores e docentes portugueses ao estrangeiro. 3.10.2.2 — Publicação do estatuto do leitor. 3.10.2.3 — Apoio aos organismos internacionais de natureza cultural dedicados ao estudo e divulgação da cultura portuguesa. 3.11 — Educação especial: A estratégia neste domínio deverá incidir, fundamentalmente, nos seguintes aspectos: a) Criação de condições ambientais favoráveis ao desenvolvimento educativo dos deficientes e inadaptados; b) Formação de pessoal docente, educativo e técnico especializado; c) Melhoria das possibilidades de intervenção das estruturas existentes, a nível oficial e Considera-se necessário: 3.11.1 — Estabelecimento de uma política global e coordenada para educação especial em articulação com os organismos oficiais competentes. 3.11.2 — Publicação imediata de diploma reestruturando as bases gerais da educação especial. 3.11.3 — Definição de um sistema de observação e orientação educativa de crianças com insuficiências, inadaptações, deficiências ou precocidades. 3.11.4 — Criação e regulamentação de novos esquemas de formação de pessoal docente, educativo e técnico especializado, nomeadamente pela reestruturação dos cursos ministrados no Instituto de António Aurélio da Costa Ferreira. 3.11.5 — Definição de novas tipologias de equipamento para educação especial. 3.11.6 — Alargamento da rede de educação especial. 3.11.7 — Estabelecimento de mecanismos visando a intensificação das acções de apoio aos estabelecimentos particulares de educação especial. 3.11.8 — Desenvolvimento de projectos de inovação curricular sobre a temática dos deficientes e inadaptados, a introduzir, nomeadamente, nas escolas dos magistérios primário e infantil. 3.12 – Educação de adultos: A estratégia a desenvolver no domínio da educação de adultos terá de considerar fortemente prioritária a realização de acções no domínio da alfabetização. As acções a desenvolver com esta finalidade deverão basear-se na análise prévia das necessidades das populações e de acordo com as características diferenciadas das regiões onde estas se integram. Considera-se necessário:

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3.12.1 — Reestruturação dos serviços responsáveis pela política de educação de adultos. 3.12.2 — Utilização e desenvolvimento das estruturas regionais do MEC na execução dos programas de educação de adultos. 3.12.3 — Reforço do equipamento e meios audiovisuais e difusão do livro, como instrumento de desenvolvimento cultural e regional. 3.12.4 — Elaboração da legislação definidora das normas orientadoras da educação de adultos (conteúdos, métodos e sistemas de avaliação), numa perspectiva funcional, de acordo com as necessidades diversificadas das populações. 3.12.5 — Apoio e cooperação com as entidades oficiais e particulares, designadamente associações de educação popular que prossigam fins de educação de adultos e de desenvolvimento cultural. 3.12.6 — Ensaio da utilização de unidades móveis no combate ao analfabetismo, no âmbito da educação formal. 3.12.7 — Especialização de professores e formação de alfabetizadores, com recurso a técnicas pedagógicas adequadas à educação de adultos. 3.12.8 — Criação imediata de cursos de ensino preparatório, secundário e técnico em empresas industriais e comerciais para promover a frequência de cursos para adultos que abandonaram prematura mente a escola ou que precisam de aperfeiçoar os seus conhecimentos. 3.12.9 — Aprovação de planos curriculares (que entrarão em vigor, experimentalmente, em 1978-1979) para os cursos previstos no número anterior, bem como para os cursos supletivos, visando o aperfeiçoamento profissional e afastando a ideia de que aos adultos devem ser ministrados os mesmos programas que aos adolescentes que prosseguem uma escolaridade normal, apesar de cumprirem o mesmo grau de habilitação. 3.13 — Formação profissional: Considerando o ónus social da unificação prematura mas irreversível do curso geral do ensino secundário, a necessidade de conjugar a formação cultural de base e as exigências do trabalho nacional e os contingentes de jovens que sucessivamente abandonam o sistema escolar, adoptar-se-ão as seguintes medidas: 3.13.1 — Estabelecimento de eficaz articulação com o Ministério do Trabalho para, através dos centros de formação profissional, completar a formação profissional iniciada no curso geral do ensino secundário e realizar estágio para os alunos dos cursos complementares. A ligação entre a escola e as estruturas de apoio do Ministério do Trabalho permitirá, através de um planeamento adequado, combater, a médio prazo, as enormes dificuldades existentes no primeiro emprego. 3.13.2 — Criação de uma comissão permanente interministerial com o objectivo de estudar, planear e programar acções visando a coordenação entre o ensino, a formação profissional e o mercado do trabalho e de procurar soluções conjunturais para a situação de quantos, pretendendo ingressar no mercado do trabalho, possuem apenas a preparação do ensino secundário, sem formação específica para o exercício de qualquer profissão.

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3.13.3 — Sistematização das acções de formação profissional em funcionamento nos departamentos ministeriais de tutela e criação de um sistema de certificação que permita a permeabilidade com o sistema escolar. 3.13.4 — Desenvolvimento de programas de formação profissional subordinados aos planos de desenvolvimento regional. 3.14 — Investigação científica: 3.14.1 — Criação de mecanismos orientados para melhorar o grau de comunicação no seio da comunidade científica, bem como a relacionação entre esta e os sectores de actividade económica e social, visando imprimir finalidade e propósito nacional ao potencial de inovação e criatividade da sociedade portuguesa. 3.14.2 — Unificação das estruturas de coordenação no sector da investigação científica e desenvolvimento aplicado. 3.14.3 — Integração da JNICT no MEC. 3.14.4 — Formulação de um plano de reordenamento científico incluindo o planeamento e a programação da investigação científica realizada a nível das Universidades e escolas superiores, com consequente reestruturação dos centros de investigação, regulamentação das relações destes com os sectores de actividade económica e social e concessão de estímulos a linhas de investigação orientadas para a atenuação de importação de know-how. 3.14.5 — Reestruturação do INIC com o objectivo de o transformar no órgão de planeamento e coordenação de actividades de investigação desenvolvidas no âmbito das Universidades e escolas superiores e de apoio à preparação do pessoal docente e investigador. 3.14.6 — Reorganização da Junta de Investigações Científicas do Ultramar, de modo a transformá-la num órgão de cooperação nos domínios cultural e científico, em particular com os países de expressão portuguesa. 3.14.7 — Intensificação das relações das instituições de investigação do ensino superior e da Junta de Investigações Científicas do Ultramar entre si e com outras instituições de investigação nacionais e estrangeiras. 3.14.8 — Elaboração e publicação do estatuto da carreira de investigação, coordenado com o estatuto da carreira docente universitária. 3.14.9 — Criação, a partir do alargamento, inclusive no domínio das ciências sociais, do âmbito de actividade do Centro de Documentação Científica e Técnica, de um centro de documentação do ensino superior e de investigação científica com vista ao levantamento das publicações periódicas e não periódicas existentes nas bibliotecas de todas as escolas superiores e organismos de investigação dependentes do MEC, com elaboração de ficheiros e publicação de catálogos, por secções. 3.15 — Cultura: 3.15.1 — Património cultural: 3.15.1.1— No domínio das actividades arqueológicas: a) Reestruturação dos serviços de modo a possibilitar uma mais rápida efectivação

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de acções já programadas, nomeadamente a elaboração da Carta Arqueológica de Portugal; b) Apoio às entidades regionais ou locais interessadas na defesa, recuperação e conservação do património arqueológico. 3.15.1.2 — No domínio da etnologia: a) Prosseguimento da actividade de protecção aos bens do património etnográfico; b) Apoio à criação de novos modelos regionais ou locais; c) Apoio à publicação de estudos científicos e trabalhos de divulgação do referido património. 3.15.1.3 — No sector das bibliotecas e arquivos dar-se-á prioridade: a) À estruturação do curso de formação técnica de bibliotecários, arquivistas e documentalistas, de acordo com as novas técnicas existentes nestes domínios; b) Ao levantamento das potencialidades culturais das bibliotecas, arquivos e serviços de documentação para seu melhor aproveitamento em benefício das populações. 3.15.1.4 — No sector dos museus: a) Reestruturação, em novos moldes, do curso de conservador de museus; b) Reestruturação de todos os museus nacionais e planeamento de novos museus; c) Elaboração de uma carta museológica nacional; d) Estudo do regime da tutela dos palácios e monumentos nacionais do Estado. 3.15.1.5 — No domínio da musicologia: a) Prosseguimento das acções em curso tendentes à organização e enriquecimento do Arquivo de Música Impressa e Manuscrita; b) Incremento da actividade editorial, discográfica e de documentação; c) Intensificação dos trabalhos preliminares para a criação de museu da música. 3.15.1.6 — Realização de vários locais de cursos e seminários, especialmente destinados a agentes de ensino e outros interessados, com o objectivo de promover mais eficazmente a salvaguarda de património cultural. 3.15.1.7 — Estudo de medidas tendentes à recuperação pelo património artístico nacional de obras de arte saídas do País por motivos de instabilidade social. 3.15.1.8 — Reavaliação das tarefas da Comissão Organizadora do Instituto de Salvaguarda do Património Cultural e Natural, procurando-se uma melhor delimitação de competências em função dos objectivos atribuídos à Direcção-Geral do Património Cultural. 3.15.1.9 — Prosseguimento da colaboração com a Fundação Calouste Gulbenkian no Programa de Levantamento Cultural do país.

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3.15.1.10 — Colaboração com os organismos internacionais (UNESCO e Conselho da Europa). 3.15.2 — Acção cultural: 3.15.2.1 — Literatura: a) Promoção de uma actividade editorial que divulgue os clássicos portugueses antigos e modernos e os melhores autores estrangeiros; b) Estudo de medidas de estímulo à criação literária e ensaística nacional. 3.15.2.2 — Música: a) Prosseguimento do programa de descentralização de actividades musicais; b) Prosseguimento do plano de apoio às bandas filarmónicas e aos grupos corais amadores; c) Prosseguimento do plano de edições discográficas de obras musicais quer do património nacional quer do património universal; d) Estímulo à criação musical encomendando obras a compositores portugueses. 3.15.2.3 — Artes plásticas: a) Divulgação das artes plásticas portuguesas, através de edições de monografias, colecções de diapositivos, diaporamas, exposições itinerantes e outros meios; b) Criação de infra-estruturas para realização de manifestações artísticas; c) Apoio à criação artística, patrocínio de iniciativas e fornecimento de material técnico-didáctico; d) Organização de exposições nacionais e temáticas de artes plásticas; e) Estudo da definição do estatuto profissional do artista plástico. 3.15.2.4 — Bailado: Promoção de digressões da Companhia Nacional de Bailado. 3.15.2.5 — Teatro: a) Promoção da dramaturgia portuguesa através da publicação de peças de autores nacionais e da realização de cursos de dramaturgia; b) Criação de um centro de documentação teatral e promoção da publicação de livros técnicos de teatro; c) Organização de digressões teatrais que divulguem obras de qualidade de autores nacionais entre os núcleos de portugueses na emigração; d) Inicio dos estudos preparatórios para a criação do museu do teatro português; e) Lançamento, em Lisboa, da Companhia Nacional de Teatro I e preparação da

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constituição, no Porto, da Companhia Nacional de Teatro II em colaboração com a Câmara Municipal daquela cidade; f) Apoio ao teatro amador e profissional através da organização de cursos e da distribuição de subsidies; g) Elaboração da nova Lei do Teatro. 3.15.2.6 — Cinema: a) Estímulo à exibição do cinema de qualidade; b) Criação de circuitos complementares de cinema; c) Apoio à produção de filmes portugueses; d) Garantia de uma difusão adequada de filmes portugueses, designadamente através de medidas mais favoráveis à sua distribuição e exibição comerciais; e) Promoção da exibição de filmes portugueses no estrangeiro e apoio País, de ciclos, mostras e semanas do cinema estrangeiro; f) Apoio à actividade cine-clubista e ao cinema amador; g) Criação de equipas de cinema ambulante que atenuem o isolamento cultural de muitos concelhos do país; h) Levantamento das carências, reorganização e reactualizações das infra-estruturas técnicas existentes no país (estúdios e laboratórios); i) Apoio ao reapetrechamento e alargamento do parque de salas existente; j) Apoio à criação de modernas infra-estruturas técnicas cinematográficas; l) Reestruturação da Cinemateca Nacional; m) Elaboração de legislação que regule a actividade cinematográfica. 3.15.2.7 — Circo: Estímulo à difusão de espectáculos de circo dadas suas características eminentemente artisticamente polivalentes. 3.15.2.8 — Direito de autor a) Conclusão do anteprojecto de revisão do Código do Direito de Autor; b) Criação do Centro de Informação sobre o Direito de Autor; c) Defesa da integridade e genuinidade da obra caída no domínio público; d) Liberalização do direito de edição de obras que não sejam reeditadas em prazos a definir; e) Criação de um serviço de cobrança de direitos de autor de utilização facultativa; f) Continuação do estudo relativo à instituição de taxas sobre a utilização de obras

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caídas no domínio público com vista a aumentar as receitas do Fundo de Fomento Cultural e a criar o Fundo de Auxílio aos Autores; g) Actualização dos serviços de depósito legal das obras impressas e fonográficas editadas em Portugal; h) Adopção das providências adequadas para fazer cessar as violações à legislação em vigor sobre o direito de autor. 3.15.2.9 — Revisão do regime legal aplicado à importação de publicações. 3.15.2.10 — Animação cultural: prosseguimento da execução do projecto de criação de uma rede de centros culturais em intima colaboração com os órgãos distritais e municipais do poder local e outros serviços do Ministério. 3.15.2.11 — Cooperação com os meios de comunicação social no planeamento e execução de programas culturais, assegurando o pluralismo das tendências. 3.15.2.12 — Dinamização de programas de difusão da cultura portuguesa no estrangeiro, designadamente nos países com os quais foram, ou serão, estabelecidos acordos, convénios ou intercâmbios no plano cultural. 3.15.2.13 — Participação na vida das organizações internacionais cujos objectivos se relacionem ou visem domínios culturais, nomeadamente a UNESCO e o Conselho da Europa. 3.16 — Apoio ao associativismo juvenil: Neste domínio serão estimuladas, dentro de uma perspectiva democrática e sem qualquer forma de dirigismo, as actividades que favoreçam o espírito de iniciativa, o associativismo juvenil, a criatividade, a consciência critica e a participação responsável dos jovens na vida colectiva. Neste sentido, procurar-se-á levar a cabo, de forma coordenada e planificada mas descentralizada, acções que tenham por objectivo promover e apoiar: 3.16.1 — Desenvolvimento de actividades de natureza cultural e artística no campo de teatro, da música, do cinema, do jornalismo, da etnografia, da arqueologia, das artes plásticas, etc. 3.16.2 — Incremento das iniciativas juvenis com pro jecção social, que visem a instalação de novos centros culturais, o estímulo à ocupação de tempos livres em actividades de interesse social, o apoio às colónias de férias, bem como outras actividades de ar livre. 3.16.3 — Formação de animadores, monitores e outros técnicos necessários ao desenvolvimento de diversas formas de associativismo juvenil, nomeadamente nas zonas mais carenciadas. 3.16.4 — Convívio entre a juventude dos meios rurais e urbanos e com as comunidades de emigrantes. 3.16.5 — Estabelecimento de formas eficazes de articulação entre os organismos públicos e entidades privadas cuja acção, de um modo ou de outro, se relaciona com os assuntos da juventude com vista a uma melhor racionalização e aproveitamento das estruturas existentes, nomeadamente na prevenção e combate à droga.

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3.16.6 — Divulgação de estudos e documentação sobre matérias que interessem à divulgação cultural e à valorização humana dos jovens. 3.16.7 — Participação de movimentos e associações juvenis em reuniões internacionais, na medida das disponibilidades financeiras. 3.16.8 — Manutenção e funcionamento de instalações e infra-estruturas regionais de apoio às actividades juvenis. 3.17 — Educação física e desportos: 3.17.1 — Incentivo do desenvolvimento desportivo visando fundamentalmente um aumento progressivo do número de praticantes, atendendo a uma relação justa e equilibrada com a qualidade; com esta finalidade levar-se-ão a efeito acções simultâneas que influenciem os principais factores de desenvolvimento desportivo — actividades desportivas, formação de quadros, instalações e equipamento e orgânica desportiva —, na perspectiva de alteração da situação desportiva. 3.17.1.1 — Promoção de uma íntima coordenação entre os organismos governamentais e não governa mentais, numa perspectiva de economia de meios e recursos. 3.17.1.2 — Apoio às iniciativas de democratização das organizações desportivas não governamentais viabilizando uma actualização da orgânica desportiva que permita uma descentralização coordenada. 3.17.1.3 — Revisão dos critérios de apoio ao desporto federado, tendo em atenção a programação das actividades e modalidades desportivas prioritárias, privilegiando o aumento do número de praticantes e a melhoria da qualidade desportiva. 3.17.1.4 — Montagem de novas estruturas de apoio às áreas federada e de recreação quer a nível central quer a nível regional. 3.17.1.5 — Sensibilização das populações para a prática desportiva, correctamente entendida e apoiada desde já por campanhas motivadoras. 3.17.1.6 — Promoção do programa para áreas especiais, entre as quais e designadamente a intensificação da prática desportiva para deficientes. 3.17.1.7 — Implantação do Instituto Nacional dos Desportos e definição das grandes linhas orientadoras da formação de técnicos desportivos e sua hierarquização, respeitando as áreas e tipo de intervenção. 3.17.1.8 — Formação de quadros que permitam dar resposta ao processo de desenvolvimento desportivo nos domínios da animação, orientação e especialização. 3.17.1.9 — Formulação de um plano nacional de instalações desportivas e estabelecimento de uma íntima coordenação dos sectores intervenientes na execução da política de instalações, difundindo documentação que estabeleça as normas e tipologia dos equipamentos desportivos integrados no equipamento social de apoio às populações, nomeada a escolar. 3.17.1.10 — Promoção de estudos respeitantes à normalização do apetrechamento desportivo, às possibilidades de fabrico nacional e à definição da política de importação.

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3.17.1.11 — Execução de uma política de instalações desportivas que atenda à exiguidade de recursos, à prioridade escolar (pequenos recintos), a uma perspectiva comunitária (parques desportivos), às áreas de taxa deficitária (instalação desportiva por habitante) e que evolutivamente dê resposta a um quadro desportivo que vai da animação à alta competição. 3.17.1.12 — Promoção de estudos de direito desportivo que possibilitem adequado apoio à orgânica desportiva nacional. 3.17.1.13 — Promoção de acções de acordo com a política desportiva dos países do Conselho da Europa, nomeadamente Carta Europeia do Desporto para Todos (programas em curso e outros que venham a ser discutidos e estabelecidos). 3.17.1.14 — Descentralização correcta e equilibrada do processo desportivo, programando e efectivando a regionalização em consonância com a que for definida nos campos sócio-económico e administrativo pelos órgãos constitucionais competentes. 3.17.1.15 — Continuação do intercâmbio desportivo internacional e desenvolvimento da acção de cooperação já iniciada com os novos países de expressão portuguesa. 3.17.2 — Prosseguimento da estruturação e fomento das actividades gimnodesportivas no âmbito escolar, procurando, designadamente: 3.17.2.1 — Empenho de dotar as escolas do país, em especial as do ensino primário de uma área mínima destinada à prática gimnodesportiva e fomentando, simultaneamente, a integração da escola numa perspectiva comunitária. 3.17.2.2 — Intensificação de acções de formação, informação e reciclagem no sentido de possibilitar melhores meios aos docentes. 3.18 — Administração do sector: 3.18.1 — Descentralização: Prosseguimento da desconcentração dos serviços do Ministério, como primeira e necessária fase do processo de descentralização, criando órgãos próprios a partir das actuais direcções de distrito escolar e delegações de zona escolar, de âmbito actualmente limitado ao ensino primário. 3.18.2 — Serviços centrais: 3.18.2.1 — Continuação da reorganização dos serviços centrais e revisão da Lei Orgânica do Ministério, a os quadros próprios da Secretaria de Estado da Cultura: 3.18.2.1.1 — Reorganização da Secretaria-Geral. 3.18.2.1.2 — Reorganização dos serviços de inspecção pedagógica e administrativa, adaptando-os às exigências de uma política de desconcentração 3.18.2.1.3 — Criação, a partir dos órgãos parcelares existentes, de um órgão único de gestão orçamental do Ministério. 3.18.2.1.4 — Criação de organismos coordenadores da educação pré-escolar e da educação especial.

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3.18.2.1.5 — Obtenção de novas instalações e equipamento para o Instituto de Tecnologia Educativa, de modo a apetrechá-lo para as actuais exigências do ano propedêutico e para a intensificação de acções de formação do pessoal docente. 3.18.2.1.6 — Reestruturação da revista Escola Democrática 3.18.2.1.7 — Publicação do Boletim Geral do Ministério. 3.18.2.2 — Desenvolvimento da aplicação de técnicas de gestão mais eficazes e simplificadas: 3.18.2.2.1 — Criação de um serviço de informática, utilizando equipamento disponível no Ministério ou em outros Ministérios, como instrumento de gestão financeira e de controlo orçamenta e gestão de pessoal (docente e não docente), instalações e equipamento. 3.18.2.2.2 — Formação do pessoal técnico e administrativo, integrada na política geral de valorização da função pública. 3.18.2.2.3 — Regularização do sistema de promoções em conformidade com a política geral da função publica, sem prejuízo da finalização rápida do «processo de correcção de injustiças». 3.18.2.2.4 — Adopção de técnicas de gestão quantificada, com fixação de indicadores de avaliação de resultados. 3.18.2.2.5 — Estabelecimento de regras de coordenação do funcionamento dos vários serviços centrais e de articulação destes com os serviços dependentes, incluindo os estabelecimentos de ensino. 3.18.2.2.6 — Incremento, devidamente preparado, das delegações de competência de modo a conferir às direcções-gerais maior capacidade de decisão. 3.18.2.2.7 — Prosseguimento de melhor distribuição do equipamento, de modo a suprir carências e evitar duplicações. 3.18.2.2.8 — Regulamentação adequada de métodos de aquisição de equipamento. 3.18.2.2.9 — Incremento de medidas de controlo orçamental, em obediência a princípios de austeridade e rentabilidade social das despesas. 3.18.3 — Serviços dependentes: 3.18.3.1 — Reorganização de funcionamento de alguns estabelecimentos de ensino — «estabelecimentos modelo» — para posterior generalização a todos os restantes. 3.18.3.2 — Criação de quadros de pessoal administrativo e auxiliar ajustados aos estabelecimentos de ensino, tendo em consideração, quanto ao pessoal administrativo, a necessidade crescente de atribuir às escolas funções hoje centralizadas e, no referente ao pessoal auxiliar, o actual desequilíbrio na sua distribuição. 3.18.3.3 — Finalização dos estatutos do pessoal administrativo e do pessoal auxiliar. 3.18.3.4 — Elaboração de estudos necessários à publicação de um estatuto do

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pessoal técnico das escolas. 3.18.3.5 — Intensificação dos programas de formação dirigidos ao aperfeiçoamento do pessoal. 4 — Segurança social e saúde (situação e determinantes da acção) De um considerável número de expressas disposições constitucionais, particularmente dos artigos 63° e 64°, decorrem directamente algumas implicações cuja profundidade se impõe dimensionar coerentemente no conjunto das linhas de força que devem enformar o programa do Ministério dos Assuntos Sociais. De entre estas implicações sublinham-se, como mais relevantes, as seguintes: a) O reconhecimento do direito de todos à saúde e à segurança social, isto é, à efectiva realização de um conjunto de direitos sociais fundamentais, determinados por necessidades sociais colectivas, que, por sua vez, definem as condições e limites de resposta a direitos individuais a garantir por estes sectores. Isto supõe — além da afirmação da saúde e da segurança social como necessidades básicas da população e como aparelhos institucionais de resposta devida pelo Estado a todos os cidadãos em termos de prestações e de equipamentos e serviços sociais — a eliminação progressiva da relação individualizada entre as contribuições dos trabalhadores e a resposta social correspondente, e bem assim a eliminação de todo o conceito de assistência pública como forma institucionalizada de caridade; b) A responsabilidade do Estado, no quadro das funções que lhe são próprias, na organização, coordenação e financiamento de um serviço nacional de saúde e de um sistema de segurança social. Isto supõe — além da primazia dos Poderes Públicos na definição das bases fundamentais daqueles serviço e sistema, reconhecendo-se o carácter imperativo das necessidades sociais nos planos e programas daqueles Poderes — a afirmação da responsabilidade colectiva frente às necessidades e carências de cada pessoa e de cada grupo social e o enquadramento da acção das instituições privadas de solidariedade social em termos dos fins a prosseguir, mediante a sua subordinação à lei e à fiscalização pelo Estado; c) A organização de um sistema unificado, descentralizado e participado de segurança social, envolvendo a estruturação progressiva de um novo aparelho orgânico e funcional a todos os níveis de actuação do sector; uma efectiva descentralização, desconcentrando os poderes decisórios e aproximando das concretas necessidades da população as respostas devidas pelo sector; a institucionalização de estruturas de participação por forma que as entidades interessadas na acção do sector possam intervir na definição das carências, nas propostas de solução e no exercido da gestão; d) A criação progressiva de um serviço nacional de saúde, a que tenha acesso todo o cidadão, que preste serviço de qualidade nos campos inseparáveis da promoção, prevenção, cura e recuperação, mediante a unificação, na mesma área de comando e programação, de todos os órgãos ou sistemas prestadores de serviços de saúde; a descentralização do planeamento, administração e avaliação das actividades de saúde, regionalizando o processo decisório e deixando aos órgãos centrais apenas as suas indispensáveis funções normativas, objectivo básico a prosseguir mediante acção integradora das ADSS (administrações distritais dos ser viços de saúde) e o estabelecimento, a nível distrital, de uma malha de serviços ambulatórios e hospitalares mais funcional e mais económica; encorajamento à participação

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comunitária, ao nível regional e local, na resolução dos seus próprios problemas de saúde; e) O reconhecimento da interdependência e da necessidade de conjugação de esforços entre as políticas de saúde e segurança social e as outras políticas sectoriais, em geral, e o conjunto da política económica, em particular. Isto supõe — além do reconhecimento da conexão entre a evolução da saúde e segurança social e o desenvolvimento das forças produtivas — a necessidade de conjugação de objectivos, meios e medidas de execução entre estas áreas de política social e outros sectores, em termos de metas globais de: Satisfação de necessidades básicas da população e redução das desigualdades em relação aos estratos economicamente mais desfavorecidos; Correcção das desigualdades na repartição do rendimento; f) Cooperação com os Ministros da República e governos das regiões autónomas ao estudo e resolução dos problemas específicos da segurança social e saúde. 4.1 — Segurança social: Não obstante o esforço desenvolvido em termos da progressiva generalização, uniformização e melhoria dos esquemas de prestações sociais, da integração orgânica e funcional, da racionalização da gestão e do melhor aproveitamento da totalidade dos meios afectos à acção do sector, subsiste a necessidade de corrigir importantes situações de injustiça e desprotecção acumuladas ao longo do tempo, de consolidar e desenvolver as medidas já iniciadas e em curso e, de um modo geral, pôr em prática novas medidas que, a curto e médio prazos, concorram para a eficaz realização dos fins fundamentais de protecção dos cidadãos na doença, velhice, invalidez, viuvez, orfandade e desemprego, bem como em todas as outras situações de falta ou diminuição de meios de subsistência ou de capacidade para o trabalho. Simultaneamente, e mediante ajustada protecção do sistema de segurança social no conjunto das metas fundamentais e globais da política social, impõe-se que a realização dos fins daquele sistema se enquadre num conjunto articulado de providências e esforços intersectoriais que tenham em vista o reconhecimento do valor social da maternidade, os direitos de protecção social da mulher trabalhadora, das crianças e jovens e da família e bem assim a realização de uma política digna de terceira idade e de prevenção, tratamento, reabilitação e integração dos deficientes. Terão, evidentemente, de ser tomadas em devida conta as limitações financeiras do País, em geral, e do sector, em particular. Limitações cuja atenuação, no âmbito do sector, será procurada e realizada me diante uma rigorosa disciplina orçamental com contenção de gastos acessórios e eliminação de abusos que se verifiquem quanto a alguns esquemas de prestações. 4.1.1 — Objectivos: A acção a desenvolver pelo sector de segurança social enquadra-se, pois, nos seguintes objectivos principais: a) Prosseguir e consolidar o processo de reestruturação dos órgãos, serviços e Instituições do sector, por forma a dotá-los de um aparelho orgânico e funcional que garanta a resposta integrada do sistema às necessidades sociais e a eliminação de estruturas com actuações paralelas e ou sobrepostas, racionalize a organização

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e funcionamento dos serviços e assegure uma efectiva me lhoria de eficácia e eficiência do conjunto das actuações aos níveis central, regional e local; b) Redefinir os esquemas de prestações de segurança social, quer os de base pecuniária (subsídios, abonos e pensões), quer os que se objectivam em serviços e equipamentos sociais, em termos de melhoria da qualidade de vida da população — pela consolidação do processo de generalização da cobertura dos riscos e carências sociais básicas e pela integração, uniformização e melhoria dos regimes dispersos, insuficientes e incompletos ainda existentes—, atentas as prioridades a conferir, quanto aos estratos economicamente mais débeis, à correcção das desigualdades na repartição do rendimento e dos desequilíbrios regionais, designadamente no que se refere a equipamentos sociais; c) Consolidar a unificação e racionalização da gestão financeira do sector, pela estruturação progressiva de um sistema de financiamento apto a corresponder equilibradamente à generalização e melhoria da natureza e conteúdo das respostas do sector, considerando o accionamento de mecanismos eficazes no domínio da repartição dos rendimentos e do funcionamento do princípio da responsabilidade colectiva; d) Redefinir os instrumentos de regulamentação do trabalho do pessoal do sector, por forma a permitir, além da racionalização da gestão, a melhoria de rendimentos dos meios humanos exigidos pelo funcionamento do sistema unificado da segurança social. 4.1.2 — Medidas globais: 4.1.2.1 — Quanto à reestruturação orgânica: a) Regulamentação do Decreto-Lei nº 549/77, de 31 de Dezembro, que institui a estrutura orgânica e a estrutura participativa do sistema de segurança social e estabelece as coordenadas das relações funcionais entre os órgãos, serviços e instituições definidos a nível central, regional e local; b) Desencadeamento do processo da implantação e início de funcionamento do novo aparelho orgânico do sistema de segurança social em obediência aos princípios de unificação, descentralização e participação. 4.1.2.2— Quanto a prestações, serviços e equipamentos sociais: a) Preparação dos dispositivos legais tendentes ao estabelecimento de um esquema mínimo de protecção social; b) Redefinição de algumas modalidades de intervenção da segurança social e da titularidade do direito a certas prestações, procurando estabelecer um carácter sistemático, uma equilibrada relação entre as prestações pecuniárias, as prestações em serviços e os equipamentos sociais da responsabilidade do sector; c) Desenvolvimento das medidas tendentes a melhorar a eficácia das prestações de substituições dos rendimentos do trabalho em ordem à manutenção do nível de vida do agregado familiar, designadamente pela aproximação dos níveis daquelas prestações aos dos rendimentos substituídos, em especial no que respeita às pensões; d) Prosseguimento e intensificação das acções tendentes à harmonização dos regimes de protecção social dos trabalhadores que exercem a sua actividade em situação de dependência do Estado ou de organismos ou entidades públicas ou

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privadas, tendo especialmente em conta os regimes que abrangem os trabalhadores da função pública e os trabalhadores rurais, e, por outro lado, os regimes que abrangem os restantes trabalhadores, por forma a, tendencialmente, integrar em pleno a totalidade dos trabalhadores portugueses em regimes de protecção coordenados e articulados entre si; e) Consolidação do processo de revisão das condições de atribuição das prestações de segurança social, tendo em vista, em perspectiva unificada, a sua gradual harmonização nos diferentes regimes, designadamente nos dos trabalhadores da função pública e, prioritariamente, dos trabalhadores rurais; f) Prosseguimento e intensific ação de alargamento da rede de equipamentos sociais específicos para a primeira e segunda infâncias, para a juventude, para a terceira idade e para deficientes, em articulação com respostas alternativas às necessidades e carências destes escalões etários, e tendo em vista a gradual superação de pesados desequilíbrios e desigualdades regionais neste domínio; g) Revisão da legislação aplicável às instituições privadas de solidariedade social não lucrativas, em particular as Misericórdias, e racionalização do apoio técnico e financeiro à acção dessas instituições, atento o papel que desempenham em contributo para a realização dos fins do sistema unificado de segurança social; h) Continuidade e intensificação de esforço de alargamento da rede de convenções bilaterais de segurança social para os trabalha dores migrantes portugueses e de adesão de Portugal a instrumentos multilaterais de protecção social aos mesmos trabalhadores; i) Revisão global dos regimes de protecção nos riscos profissionais tendo em vista, nomeadamente através de legislação unificada e completa nos aspectos de prevenção, reparação e reabilitação, a sua integração na segurança social; j) Início de uma intensa acção de informação e esclarecimento da população quanto aos seus direitos e deveres em face do sistema de segurança social, designadamente no que se refere às prestações, serviços e equipamentos da responsabilidade deste sector. 4.1.2.3 — Quanto ao sistema de, financiamento: a) Consolidação do processo de integração e unificação da gestão financeira do sector, tendo em vista os objectivos de racionalização e máximo aproveitamento dos meios disponíveis; b) Intensificação das acções tendentes à recuperação de dívidas, designadamente pela revisão da legislação em vigor. 4.1.2.4 — Quanto aos recursos humanos: Harmonização dos instrumentos de regulamentação do trabalho do pessoal do sector, atenta a necessidade de estruturação unificada de carreiras, de uniformização e racionalização da gestão e do máximo aproveitamento dos meios humanos ao serviço da segurança social. 4.1.3 — Medidas especificas: 4.1.3.1 — Reestruturação orgânica: A necessidade, urgência e consequente prioridade na execução de medidas de

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reestruturação orgânica e funcional a todos os níveis de actuação do sector prende-se não só com a objectiva situação das estruturas existentes, mas também com o facto de a concretização de tais medidas representar condição determinante da eficácia de outras, designadamente as referentes a aprofundados trabalhos de redefinição dos esquemas e da política de prestações, serviços e equipamento do âmbito de segurança social. Paralelamente, a aceleração destas providências organizativas representa ainda condição inafastável da imperiosa regionalização da acção do sector e sua efectiva descentralização, com os consequentes crescimentos de eficácia operacional, celeridade e aproximação das respostas devidas a toda a população. Assim, a par do prosseguimento da acção já em curso serão executadas, no decorrer de 1978, as seguintes medidas: a) Elaboração, até ao fim do 1° semestre, doe decretos regulamentares que permitam a implantação e o início de funcionamento dos órgãos e serviços integrados que constituem o novo aparelho orgânico unificado central do sistema de segurança social, nos termos da respectiva lei orgânica; b) Elaboração dos decretos regulamentares referentes à organização, competência e modo de funcionamento dos centros regionais de segurança social, criados pelo referido diploma, e cujo início de implantação se desencadeará a partir do principio do 2° semestre. Assim se arrancará decisivamente para uma efectiva descentralização, desconcentrando os poderes decisórios e pondo em funcionamento, a nível distrital, órgãos dotados de autonomia administrativa e financeira que, com os serviços locais deles dependentes, assumirão as tarefas de execução dos fins do sistema em contacto directo com as populações, suas necessidades e carências. c) Elaboração, em simultaneidade com a execução da medida anterior, do decreto regulamentar referente às estruturas participativas, criando-se, assim, as vias de participação institucionalizada das entidades e sectores interessados no funcionamento do sistema de segurança social nos diferentes níveis da sua actuação; d) Conclusão dos trabalhos e aprovação do novo diploma aplicável às instituições privadas de solidariedade social não lucrativas, atenta a sua importância, designadamente das Misericórdias, concorrendo subsidiariamente para a realização dos fins do sistema de segurança social; e) Idem no que se refere às instituições de natureza mutualista. 4.1.3.2 — Prestações, serviços e equipamentos sociais: A acção a prosseguir neste domínio terá necessariamente em conta a garantia de continuidade dos direitos que vêm sendo assegurados, as melhorias condicionadas pelos meios disponíveis e o arranque pata medidas inovadoras de fundo. Estas, porém, intimamente articuladas com a consequência das medidas organizativas em curso e a intensific ar. Assim, em 1978 serão executadas as seguintes medidas. 4.1.4 — De âmbito geral: a) Recolha e tratamento de toda a legislação existente e dos trabalhos já realizados por comissões específicas, tendo em vista os objectivos globais de unificação dos instrumentos reguladores dos esquemas de prestações e, em especial, o início dos trabalhos de elaboração do Código de Segurança Social;

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b) Aprovação do diploma e início de vigência do novo regime de protecção social dos trabalhadores rurais; c) Definição de um modelo de esquema mínimo de protecção social universalmente garantido, tendo em conta os recursos existentes, 4.1.5 — Infância e juventude: a) Articulação das prestações e subsídios destinados à infância e juventude, independente mente das suas actuais fontes de financiamento, e promoção da coordenação dos objectivos daquelas prestações e subsídios com os decorrentes da acção ligada a equipamentos e serviços para a infância e juventude; b) Reconhecimento gradual do direito ao abono de família aos descendentes e equiparados de todos os trabalhadores abrangidos pelos esquemas de segurança social; c) Estudo tendente à actualização do montante do abono de família; d) Estudo do alargamento do abono de família aos descendentes do trabalhador com mais de 14 e menos de 21 anos que se encontrem à procura do primeiro emprego e que provem dispor da uma capitação de rendimentos inferior a determinado limite; e) Intensificação das acções de alargamento da rede de equipamentos sociais para a infância e juventude, com particular e prioritária incidência em creches, mas considerando ainda os equipamentos específicos para crianças e jovens privados de meio familiar normal, socialmente desajustados e deficientes. Articulando a acção a desenvolver no âmbito destes equipamentos com a política de prestações de base pecuniária prosseguirá o esforço de adopção de soluções alternativas ou complementares, designadamente no que se refere a amas, colocações familiares e implantação de centros de animação infantil. Paralelamente serão revistas e melhoradas as condições de apoio técnico e financeiro a instituições privadas de solidariedade social não lucrativas com actividades neste domínio. 4.1.6 — Doença: a) Definição de valores máximos e mínimos para os subsídios de doença, expressos, em princípio, em percentagem dos salários máximo e mínimo nacionais; b) Revisão da protecção social nas doenças de longa duração, nomeadamente quanto à indexação do subsídio na doença, em situações que ultrapassem os trezentos e sessenta dias de baixa subsidiada, ao nível dos salários correntes; c) Atribuição dos subsídios por doença, tuberculose e maternidade aos trabalhadores rurais, sendo uniformizados os montantes fixos, que passam a funcionar como subsídios mínimos garantidos; d) Consideração da equivalência à entrada de contribuições, de um período de cessação de actividades da mãe beneficiária para assistência ao filho no primeiro ano de vida; e) Atribuição de subsídio no montante igual ao de maternidade às mulheres em situação de inactividade por ameaça de aborto clinicamente comprovado;

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f) Revisão dos mecanismos de controlo de baixas de doença, mediante a adopção de medidas que os tome m mais eficazes, actuantes e disciplinadores. 4.1.7 — Acidentes de trabalho e doenças profissionais: Desencadeamento e intensificação do processo de revisão global dos esquemas de modalidades de protecção social dos acidentes de trabalho e doenças profissionais, tendo em atenção a superação de lacunas e distorções existentes, a necessidade de alargamento daquela protecção a todos as actividades e o seu enquadramento no âmbito dos fins fundamentais do sistema de segurança social. 4.1.8 — Desemprego: Estudos conducentes à definição de vias efectivas de articulação do desemprego com o sistema de segurança social, com revisão das condições de atribuição do subsídio aos trabalhadores mais idosos, nomeadamente no que respeita aos períodos máximos de concessão. 4.1.9 — Família e continuidade: a) Revisão das condições de atribuição das prestações de dividas por morte, visando a garantia de direitos à pessoa ou pessoas que viviam em economia conjunta com o trabalhador, independentemente de vinculo familiar, e em coordenação com o subsídio complementar de despesas de funeral; b) Fixação de limites máximos e mínimos, entre os quais se terá de situar o montante do subsídio por morte de harmonia com o resultado da revisão prevista no parágrafo anterior; c) Revisão do âmbito de atribuição das pensões de sobrevivência; d) Revisão das condições de atribuição do complemento da pensão do cônjuge a cargo e a sua atribuição aos trabalhadores rurais; e) Estudo da necessária articulação entre as prestações familiares de base contributiva prévia com os subsídios e de natureza assistencial destinados a cobrir situações de carência económica por forma a eliminar situações de sobreposição de benefícios ou lacunas graves traduzidas em inexistência de meios de subsistência; f) Estudo de mínimos vitais familiares, envolvendo necessariamente uma conjugação intersectorial de esforços; g) Apoio à intensificação de acções de desenvolvimento comunitário e animação sócio-cultural, designadamente através da reestruturação da acção das Casas do Povo. 4.1.10 — Invalidez e reabilitação: a) Estudos tendentes à articulação de protecção na invalidez com as restantes modalidades de protecção e redefinição do seu enquadramento na segurança social; b) Estabelecimento de esquemas especiais de segurança social para deficientes em trabalho protegido ou irrecuperáveis para a actividade profissional; c) Atribuição de subsídio mensal vitalício aos grandes deficientes a partir da idade de escolaridade obrigatória, por direito próprio e em acumulação com o abono de

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família; d) Colaboração com o serviço de reabilitação, formação e colocação profissional no sentido de se alcançar, sempre que possível, a recuperação do trabalhador vitima de acidente de trabalho ou doença profissional, mantendo-o como elemento válido da sociedade; e) Mediante conjunção intersectorial de esforços, serão postas em prática medidas relacionadas com equipamentos específicos de reabilitação. 4.1.11 — Terceira idade: a) Actualização dos montantes das pensões por velhice, invalidez e sobrevivência; b) Uniformização e melhoria das pensões dos trabalhadores rurais, acabando-se com a diferenciação entre as pensões para homens e para mulheres; e atribuição do complemento a grandes inválidos; c) Estabelecimento de um montante uniforme para os titulares de pensão social; d) Acompanhamento da execução da nova regulamentação do abono de família para ascendentes e preparação da gradual substituição desta prestação por outras adequadas e eficazes, nomeadamente a pensão social; e) Adopção de medidas eficazes para a redução dos tempos de demora na atribuição das pensões e inicio do seu pagamento e disciplina na sua concessão; f) Transferência para o departamento de pensões e para as instituições distritais de segurança social do processamento das pensões dos trabalhadores rurais; g) Realização de estudos conducentes à revisão da situação dos pensionistas que exercem profissões remuneradas; h) Intensificação do esforço que vem sendo desenvolvido no que se refere a equipamentos sociais para a terceira idade — lares e centros de dia, oficiais — e o de instituições privadas de solidariedade social não lucrativas, esforços a que se conferirá carácter de primeira prioridade, designadamente no que se refere ao aumento e cobertura territorial e à aplicação de soluções que evitem a marginalização do idoso em relação à família e à comunidade. Os centros de dia e o apoio domiciliário à família e à comunidade representam, assim, nota dominante do conjunto destas medidas. 4.1.12 — Trabalhadores migrantes a) Alargamento da rede de convenções bilaterais de segurança social com países de destino de trabalhadores migrantes portugueses, como a Suécia e Inglaterra, e início das conversações tendentes à celebração de novas convenções com o Canadá, a Venezuela e a Noruega. Revisão e melhoria de convenções anteriormente celebradas; b) Prosseguimento, no âmbito das relações com o Conselho da Europa, dos trabalhos relacionados com ratificação dos acordos provisórios europeus relativos aos regimes de segurança social, Convenção Europeia sobre Assistência Social e Médica, bem como com a assinatura da Convenção Europeia de Segurança Social; c) Intensificação das acções relativas à protecção social dos trabalhadores portugueses nos países membros da CEE, na decorrência da definição das

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modalidades de aplicação do Protocolo Adicional de 20 de Setembro de 1976 ao Acordo Comercial de 1972, na parte relativa à cooperação sobre a segurança social aos trabalhadores migrantes. 4.2 — Saúde: 4.2.1 — A política de saúde a concretizar pelo II Governo Constitucional pautar-se-á pela progressiva mas firme concretização dos princípios constitucionais, tendo cru conta quer a situação já conseguida pelo I Governo Constitucional, quer os condicionalismos de ordem económico-financeira, quer ainda as limitações dos recursos humanos susceptíveis de mobilizar a curto prazo em algumas áreas de actuação. A despeito da acção desenvolvida pelo I Governo Constitucional, a qual deverá ser confrontada com a situação herdada do período anterior ao 25 de Abril, o sector poderá caracterizar-se, em linhas gerais, da forma seguinte: a) Predomínio acentuado das estruturas organizativas verticais que continuam a obliterar os esforços desenvolvidos no domínio da descentralização, desconcentração e regionalização dos serviços e a provocar a concorrência das estruturas de coordenação; b) Insuficiente hierarquização dos diversos níveis de actuação e continuação, embora atenuada, de sobreposição de competência dos serviços; c) Permanência de distorções quantitativas, qualitativas e geográficas na rede de serviços; d) Desenvolvimento ainda insuficiente das acções de prevenção, profilaxia, educação para a saúde e integração na comunidade que, em conjugação com a medicina curativa, constituem um todo indissociável; e) Existência de estratos residuais da população ainda não abrangidos por um esquema de protecção na doença e permanência de esquemas diferenciados de prestações; f) Permanência de serviços de saúde não militares fora do âmbito da Secretaria de Estado da Saúde; g) Existência de desvios nos recursos humanos do sector, quer no que respeita à distribuição geográfica, quer no que concerne às diversas profissões; h) Necessidade de promulgar o estatuto unificado e integrado dos profissionais do sector; i) Inadequação dos esquemas de formação de base e pós-graduada dos técnicos do sector; j) Verificação de níveis de consumo exagerados no campo da medicina curativa; l) Inexistência de um sistema de informação de saúde; m) Não definição explícita do papel das actividades privadas do sector. Apesar das iniciativas já promovidas, toma-se tarefa inadiável definir, em concreto, as bases jurídicas, técnicas, administrativas e financeiras do Serviço Nacional de

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Saúde que permitam consolidar as alterações qualitativas já verificadas e superar as carências diagnosticadas. 4.2.2 — Política global de saúde: Atento à importância do sector para uma melhoria da qualidade de vida dos cidadãos, com reflexo no seu quotidiano, e que não se compadece de forma alguma com soluções de continuidade, o Governo propõe-se promover e implementar uma política nacional de saúde, designadamente através de: a) Elaboração, a curto prazo, de legislação que defina as bases do Serviço Nacional de Saúde, adaptada às peculiaridades das diversas áreas do continente e das regiões autónomas; b) Atribuição de prioridade ao nível da prestação de cuidados primários de saúde, articulados com os cuidados diferenciados, e de vigilância e preservação do meio ambiente, assegurando as acções de promoção de saúde, prevenção das doenças evitáveis, diagnóstico e tratamento rápido dos doentes e reparação das sequelas das doenças; c) Universalização do direito à saúde, assegurando progressivamente à população, em todas as fases da vida, níveis de saúde próprios da nossa época, designadamente através da diminuição dos índices de mortalidade infantil, doenças infecciosas e parasitárias, doenças de infância e da idade escolar e das doenças de trabalho; d) Adopção de providências imediatas de natureza programática que, sem comprometerem o desencadeamento oportuno das necessárias medidas de fundo, assegurem uma alteração qualitativa substancial da situação actual, nomeadamente nos domínios da moralização e racionalização de consumos, obtenção de economias de emala, dos gastos da administração e de funcionamento dos serviços; e) Envolvimento da população, desde os indivíduos às famílias, às comunidades e aos grupos sociais, no interesse pelos serviços de saúde, que a todos pertencem, e na promoção da melhoria do seu funcionamento; f) Implementação de medidas de diagnóstico precoce e de vigilância médico-preventiva regular com vista a impedir o agravamento das perturbações de saúde típicas das sociedades industriais, e com reflexos já entre nós; g) Aperfeiçoamento dos mecanismos institucionais de coordenação/cooperação com outros sectores responsáveis por programas concorrentes para a melhoria da saúde; h) Saneamento financeiro progressivo dos serviços do sector face aos fornecedores de bens, materiais e serviços, nomeadamente os analistas, os radiologistas e as farmácias; i) Revisão da legislação de enquadramento das actividades termais. 4.2.3 — Objectivos e medidas: a) Construir progressiva e pragmaticamente o Serviço Nacional de Saúde; b) Obter uma melhoria qualitativa e quantitativa dos serviços oferecidos à população, designadamente através de uma moralização do funcionamento dos

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serviços de cuidados de saúde; c) Criar duas redes de serviços — primários e diferenciados — hierarquizadas e funcionalmente articuladas entre si; d) Melhorar a adequação dos meios humanos às necessidades e implementar uma gestão previsional de quadros; e) Atribuir progressivamente ao Estado a responsabilidade pelo financiamento dos serviços de saúde; f) Racionalizar os consumos e os gastos, em geral, de modo a obter-se um acréscimo de economicidade e utilização dos recursos mobilizadores para o sector. 4.2.4 — Área organizacional: Medida global. — Elaboração da Lei Orgânica da Secretaria de Estado da Saúde, que será enformada pelos princípios da descentralização, da desconcentração, da regionalização e da integração nos diversos níveis e da hierarquização destes. Medidas específic as: Transferência progressiva para o âmbito da SES dos serviços de saúde actualmente dependentes dos outros departamentos; Revisão da legislação actualmente aplicada às ADSS, tendo em vista facultar-lhes os instrumentos indispensáveis à prossecução das suas finalidades; Institucionalização de uni órgão central responsável pela coordenação, orientação e avaliação da gestão financeira do sector; Criação de uma estrutura central responsável pelas tarefas que constitucionalmente incumbem ao sector no campo farmacêutico; Definição da colaboração com o MEC, no ensino médico pré-graduado, reformulando diplomas inadequados; Desencadeamento de acções que, limitando os inconvenientes da actual estrutura a nível central, facilitem a transição para novas soluções organizativas no âmbito da lei orgânica, adequando de imediato a capacidade de resposta ao nível de exigências provocadas pela criação das ADSS. 4.2.5 — Área de recursos humanos: Medida global. — Conclusão da reformulação das carreiras e da formação e aperfeiçoamento profissionais dos trabalhadores do sector, de acordo com as necessidades e possibilidades do País. 4.2.6 — Medidas específicas, quanto a carreiras: Definição das carreiras médicas; Reformulação das carreiras de enfermagem; Definição de carreiras da administração de saúde; Reformulação da carreira do serviço social;

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Definição da categoria de técnico de saúde materno-infantil e planeamento familiar. 4.2.7 — Medidas específicas, quanto à formação de base: Colaboração com o MEC na reestruturação dos cursos de medicina, adequando-os às novas necessidades nacionais e exigências do funcionamento dos serviços; Incremento da criação e formação de técnicos de saúde. 4.2.8 — Medidas específicas, quanto a ensino pós-graduado: Reestruturação dos internatos em articulação com a reestruturação do curso de medicina e as necessidades reais dos serviços de cuidados primários; Reordenamento das especialidades médicas, adequando-as a um novo perfil evolutivo da procura de cuidadas de saúde e à evolução tecnológica; Programar a formação nas especialidades médicas de acordo com as carências do país e tendo em conta a cooperação internacional. 4.2.9 — Medidas especificas, quanto a formação permanente: Definição de uni sistema de formação contínua, com especial atenção para os profissionais da Início de um programa de reciclagem dirigido ao pessoal de enfermagem actualmente actuando no âmbito dos SMS, de modo a prepará-lo para uma integração adequada aos centros de saúde reestruturados. 4.2.10 — Área de gestão administrativa e financeira: Medida global. — Alteração substancial dos conceitos, métodos e instrumentos de gestão predominantes no sector. 4.2.11 — Quanto ao financiamento: Medida global. — Promover, na medida das possibilidades existentes, o progressivo financiamento dos serviços de saúde por intermédio do OGE e subsidiariamente por receitas próprias provenientes de taxas moderadoras. Medida específica. — Estabelecer critérios e circuitos de financiamento dos serviços e estabelecimentos a diversos níveis. 4.2.12 — Quanto à gestão financeira: Medida global. — Planificação da gestão dos recursos financeiros mobilizados para o sector e definição das normas de execução daqueles. Medidas específicas: Elaboração de um plano de contas para o sector Estabelecimento de indicadores de gestão; Aperfeiçoamento do orçamento unificado do sector;

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Promoção de uma gestão e de uma execução orçamental descentralizadas, reservando para o nível central o controlo o a avaliação de resultados; Prossecução de um maior rigor no controlo de execução orçamental. 4.2.13 — Quanto à avaliação e controlo de resultados: Medida global. — Institucionalização do princípio da avaliação sistemática. Medidas específicas: Efectivação de estudos de gestão financeira comparada entre serviços de saúde; Definição de indicadores e outros instrumentos de análise para avaliação dos serviços e programas der saúde, 4.2.14 — Quanto a outros métodos e instrumentos de gestão: Medidas específicas: Implantação progressiva do Plano Director de Informática; Definição e progressiva implantação de um sistema de informação para a saúde; Desencadeamento de acções visando a desburocratização dos serviços. 4.2.15 — Serviços prestadores de cuidados de saúde; Medidas globais: Aprovação e implantação progressiva do Plano Director dos Serviços de Saúde, que contemplarão, designadamente, a hierarquização das redes de serviços de cuidados primários e de cuidados diferenciados e as suas ligações com os níveis de administração; Medidas tendentes à conclusão da cobertura de assistência materno-infantil a nível de cuidados primários até 1980; Desenvolvimento da valência de saúde mental, nomeadamente através do alargamento da rede de serviços de saúde mental, da beneficiação e alargamento da capacidade das unidades para tratamento de doença de evolução prolongada, do alargamento de serviços especializados não hospitalares, do alargamento e aperfeiçoamento dos serviços de saúde mental infantil e juvenil e da beneficiação e alargamento da capacidade de internamento nos hospitais distritais. Medidas específicas: Escolha dos distritos de Vila Real, Guarda e Beja como zonas-piloto de implantação acelerada do Serviço Nacional de Saúde; Desencadeamento, com o apoio técnico internacional, de planeamento das áreas metropolitanas de Lisboa e Porto. 4.2.16 — Cuidados primários: Medidas globais: Conclusão da rede de centros de saúde até 1980-1981, designadamente através da fusão das unidades médico-sociais, actuais centros de saúde e outros serviços

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locais (como, por exemplo, o SLAT e o IAP); Descentralização para as ADSS da programação dos centros de saúde, com observância das normas definidas a nível central; Intensificação do reordenamento da rede de serviços de cuidados primários em articulação com a rede de serviços de cuidados diferenciados, de modo a obter rapidamente uma racionalização das mesmas; Criação de «serviços de permanência» nas áreas de grande concentração urbana, como medida tendente a reforçar a segurança da população e evitar o acesso indiscriminado à urgência hospitalar; Reorganização das actividades do planeamento familiar, integrando-as na valência de saúde materna; Criação nas zonas-piloto de Vila Real, Guarda e Beja — no âmbito dos CS — de serviço extensivo de medicina no trabalho em articulação com os serviços competentes do Ministério do Trabalho e da Secretaria de Estado da Segurança Social; Criação da valência de saúde escolar no âmbito dos centros de saúde, em cooperação com o MEC; Intensificação das acções de protecção materno-infantil através da melhoria do funcionamento dos serviços e reciclagem de pessoal de enfermagem; Desenvolvimento dos cuidados de saúde especialmente dirigidos à população idosa; Abertura à comunidade através de campanhas de educação sanitária, visitas do domicílio e reuniões, etc.; Utilização intensiva das instalações e equipamentos existentes nos serviços, nomeadamente através da generalização do período de trabalho para dois turnos. 4.2.17 — Cuida dos diferenciados: Medidas globais: Promoção da melhoria da qualidade dos serviços prestados nos aspectos médico, administrativo e de conforto, aumentando-lhes gradualmente a eficiência; Continuação dos programas de construção, ampliação, reconversão e beneficiação dos hospitais centrais, regionais e distritais; Alargamento do horário de funcionamento das consultas externas como forma de contribuir, designadamente, para o descongestionamento da «urgência» e para a possibilidade de reorganização das mesmas consultas; Intensificação da utilização do equipamento sofisticado existente, quer através de um reordenamento daquele equipamento, quer através da formação e fixação de pessoal necessário; Melhoria da eficiência e eficácia dos serviços de apoio; Desenvolvimento das acções de medicina física e reabilitação em articulação, designadamente, com o Secretariado Nacional de Reabilitação e a Secretaria de

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Estado da Segurança Social; Revisão dos quadros de pessoal médico dos hospitais distritais; Abertura imediata dos concursos de provimento de vagas; Criação de actividade específica relacionada com a geriatria; Criação de centros de perinatologia, cobrindo as necessidades específicas de assistência materno-infantil. 4.2.18 — Área de investigação: Medidas globais: Maximização dos programas e projectos de investigação, designadamente através de uma melhor coordenação das entidades susceptíveis de as levar a cabo, e que possibilitará um aproveitamento adequado dos recursos existentes; Implantação da investigação sobre serviços de saúde. 5 — Política de habitação, obras públicas e ambiente A inclusão da política de ambiente nas atribuições específicas do Ministério responsável pela política de habitação e obras públicas permite dotar de coerência, à luz de uma filosofia de arranjo do espaço, as acções ligadas à urbanização, à habitação, às construções de equipamento e obras públicas e à defesa do meio ambiente. O agrupamento das áreas afins das políticas ligadas ao meio físico será útil por permitir, no âmbito do Plano, uma actuação mais coerente entre os objectivos e metas da política global com os programas de regionalização. Será também possível uma maior capacidade de intervenção, permitindo a coordenação mais fácil de acções em domínios até agora dispersos, pondo-se termo a uma separação que razões conjunturais e a necessidade de dinamizar alguns serviços impuseram, mas que neste momento não subsistem. A situação habitacional constitui um dos problemas mais instantes da vida portuguesa, já que uma fracção importante da população vive em situação gravosa de alojamento. Impõe-se a adopção de uma política tendente a reduzir progressivamente as carências e a melhorar as conduções de vida e conforto, não deixando de ter presente que as necessidades habitacionais correspondem, em parte significativa, a camadas populacionais de fraca capacidade económica. As graves carências em equipamentos sociais e infra-estruturas colectivas são conhecidas e estão diagnosticadas, designadamente pelos trabalhos desenvolvidos pelo I Governo Constitucional. As acções a desenvolver no domínio das obras públicas terão, evidentemente, de dispor de suporte interdepartamental onde intervirão os Ministérios responsáveis pelas respectivas políticas sectoriais, coordenadas a nível de decisão pelo Plano no âmbito do qual se fará a afectação dos recursos necessários. À indústria da construção cabe uma posição relevante no conjunto da actividade económica global, caracterizando-se por fortes efeitos intersectoriais e sobre o mercado de emprego. A agregação, a nível ministerial, da habitação, do equipamento e obras públicas permitirá um melhor enquadramento deste sector e a

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definição de uma política sectorial integrada que dinamize as estruturas produtivas da construção, as indústrias de materiais e componentes e a capacidade técnica no domínio do projecto e consultadoria. 5.1 — Objectivos políticos sectoriais: Neste enquadramento, consideram-se como principais objectivos norteadores da actividade do MHOP: Implementação de um planeamento e gestão urbanística eficazes, que assegurem o efectivo comando da Administração sobre os processes urbanísticos e a necessária protecção do meio ambiente; Cobertura progressiva das carências habitacionais, em especial as dos estratos da população menos favorecidos e ma l alojados, através do estabelecimento de um adequado ritmo de construção e recuperação de habitações, visando uma melhoria significativa das condições gerais do habitat; Execução, nos prazos, custos e qualidade adequados, das obras públicas solicitadas pelos outros departamentos, nomeadamente da agricultura e energia, saúde, educação e transportes, e implementação dos programas de saneamento básico e de equipamento rural e urbano que satisfaçam as necessidades básicas de salubridade e bem-estar das populações; Utilização máxima da capacidade de produção da indústria de construção no sentido da obtenção do pleno emprego e criação de novos postos de trabalho, no quadro de uma progressiva reorganização das estruturas produtivas sectoriais. 5.2 — Orientações gerais de política sectorial: As orientações decorrentes do Programa do I Governo Constitucional permanecem pertinentes, pelo que os objectivos referidos reforçarão as linhas de actuação que vinham sendo desenvolvidas. No domínio do planeamento e da administração urbanística essa orientação será prosseguida através do controlo do uso do solo urbano, da reorganização dos circuitos administrativos a fim de simplificar o sistema decisório e de acções de planeamento de nível municipal, intermunicipal ou sub-regional. Nesta matéria assume m papel de relevo a participação das populações, par intermédio dos seus representantes ou directamente. Igualmente se impõe a promoção da desconcentração e descentralização da administração urbanística, complementada com uma coordenação interdepartamental a nível regional dos serviços que têm implicação no uso e reorganização do território. A política habitacional não apontará apenas para a construção e recuperação do maior número possível de alojamentos, mas implicará necessariamente que sejam facilitadas as condições de acesso das famílias de menores rendimentos ao mercado da habitação e que as realizações a promover considerem a gravidade relativa das necessidades de construção numa óptica de diminuição das assimetrias regionais. Assim, para além do desenvolvimento da promoção habitacional pública estabelecer-se-ão mecanismos de apoio a formas específicas de promoção privada, nomeadamente de habitação social com revitalização do sistema de casas de renda limitada. Merecerão especial apoio as iniciativas do sector cooperativo e as formas de associação dos sectores público e privado, designadamente através dos contratos-programa. Proceder-se-á ainda a uma regionalização dos órgãos da administração pública no sector habitacional, estimulando e apoiando as realizações

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das câmaras municipais no contexto de um planeamento habitacional a nível nacional. A realização de infra-estruturas e equipamentos sociais terá de se inserir na problemática do desenvolvimento regional e do ordenamento do território, articulado a nível nacional pelo Plano. Nessa óptica, a execução de programas de obras públicas deverá vir a competir de forma uniforme exclusivamente ao MHOP o que obrigará a alteração da orientação em certas áreas. No que especificadamente se refere às infra-estruturas rodoviárias a realizar pelo MHOP, requere-se que seja feita a nível nacional uma programação com um cenário de longo prazo, de forma a garantir a superação das dificuldades existentes no sistema viário nacional, resolvidas até agora de forma pontual. A orientação básica para a indústria de construção deverá prosseguir o reforço e a melhoria da cobertura territorial da capacidade produtiva instalada, cujo aproveitamento se procurará adequar às necessidades existentes. Impõe-se, por outro lado, uma actuação concertada em vários domínios, no sentido de se virem a obter acréscimos de produtividade e economias de escala que limitem uma evolução incontrolada dos custos de construção. A instalação de um clima de confiança no sector é condição indispensável a que este possa desempenhar o papel determinante que lhe cabe, pelo que deverão tomar-se em consideração as especificidades próprias deste tipo de actividade. 5.3 — Ordenamento físico e ambiente: Uma política relativa ao ambiente e qualidade de vida e à preservação do equilíbrio ecológico, como prevista na Constituição da República, necessitava obviamente de se inserir numa política de ordenamento físico do território. O próprio desenvolvimento económico e social não poderá realizar-se de forma harmónica, mantendo «em situação de estabilidade a relação dialéctica entre o homem e o ambiente» e assegurando «uma utilização racional e equitativa dos recursos e bens naturais e um desenvolvimento regional harmónico»; sem o domínio do suporte físico. Torna-se, portanto, necessário integrar o arranjo físico do espaço no ordenamento do território de forma coerente com a estratégia do Plano, entrando em linha de conta com as características biofísicas de cada região e as potencialidades existentes em equipamentos e estruturas produtivas. O trabalho desenvolvido no âmbito do I Governo Constitucional permitiu justamente reconhecer a profunda degradação do meio ambiente e ecológico do País, a incoerência dos tecidos urbanos com muitas situações de difícil, se não impossível, recuperação. Desta situação decorre a necessidade de estabelecer uma política de ordenamento físico do território, a formular em ligação e a partir das autarquias municipais no âmbito do Plano, de forma coerente com os grandes objectivos nacionais e o desenvolvimento regional, contribuindo designadamente para: Um maior equilíbrio da rede urbana do País, dotando as populações de equipamentos sócio-económicos mínimos, concentrados em pontos acessíveis; A expansão descentralizada das zonas de indústrias e de serviços; O desenvolvimento dos espaços de povoamento rural, ligado à reestruturação dos

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recursos de expansão agrícola e à melhoria da condição de vida local; Melhoria da acessibilidade das pessoas e dos bens, articulando a política de transportes e de usos do solo; A definição da localização das expansões urbanas necessárias, respeitando as zonas a proteger ecologicamente ou a preservar por razões de defesa do ambiente, assim como as prioridades de economia de infra-estruturas e equipamentos, A realização de uma política de ordenamento físico do território e de protecção do ambiente terá como instrumento estruturante o planeamento urbanístico. Neste âmbito será necessário: Promover o desenvolvimento desconcentrado das estruturas de planeame nto urbanística, de forma a ser possível a evolução programada dos aglomerados urbanos e o estabelecimento de uma hierarquização da rede urbana que contribua para a atenuação das assimetrias regionais; O apoio ao processo de descentralização, desde logo ao nível municipal, com o reforço dos meios financeiros, técnicos e executivos que permita, nomeadamente, uma permanente ligação do planeamento urbanístico local à gestão do mesmo; O lançamento de programas actualizados de ordenamento urbano, se possível a nível concelhio; O apoio às estruturas da administração local na definição e controlo da utilização do solo urbano e no desenvolvimento de programas de obtenção de terrenos urbanísticos adequados: A elaboração de planos de áreas interconcelhias, após selecção, a nível interparlamentar e no quadro do Plano, das àreas-problema, dando especial prioridade ao controlo do desenvolvimento urbanístico nas áreas metropolitanas A elaboração de uma lei-quadro do urbanismo clarificando a competência das várias instâncias e definindo as normas de orientação que permitam dar aos planos urbanísticos um carácter essencialmente estratégico; A definição da forma institucional de participação das populações no processo de planeamento urbanístico. No domínio da política do ambiente, o Governo dinamizará as entidades já existentes com competência específica e adoptará as seguintes acções em domínios prioritários: Estabelecimento do quadro legal adequado que formule os princípios orientadores da execução da política do ambiente; Programa de protecção e melhoria do ambiente, incluindo modelos de previsão para estudo dos estuários, acções de protecção de bacias hidrográficas e redes de vigilância necessárias à luta contra a poluição; Desenvolvimento e regulamentação das acções do Fundo Nacional do Ambiente; Programa de investigação e desenvolvimento tecnológico no domínio do ambiente, designadamente ligados ao aproveitamento de fontes limpas de energia; Reforço das acções de divulgação, participação e formação da população em geral e

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da juventude em particular com vista a uma execução eficaz da política do ambiente, a níveis nacional, regional e local. Finalmente, e tendo em conta a necessidade de harmonizar as medidas de protecção e melhoria do meio ambiente com as grandes linhas de ordenamento físico do território, o Governo promoverá as medidas que a Assembleia da República aprove, em ordem a garantir o uso racional dos recursos naturais e o equilíbrio ecológico. 5.4 — Habitação: O objectivo central da política de habitação a prosseguir pelo Governo não poderá deixar de ser o de proporcionar habitação condigna à generalidade das famílias portuguesas. Conhecida como é a situação de carência existente, avaliada em mais de 500 000 fogos, e sabendo-se que esse défice se tem agravado nos últimos anos, paralelamente à existência de limitações significativas nos recursos disponíveis, não é possível pensar na satisfação plena das necessidades de alojamento fora de um contexto de médio e longo prazos. A solução do problema habitacional português comporta dificuldades que a maioria dos países, com situações comparáveis, não conseguiram ainda vencer, agravada no nosso caso pela desproporção entre as carências e os níveis dos rendimentos familiares. Impõe-se, no entanto, uma actuação imediata e decidida na procura de soluções adequadas para o problema. Neste sentido, e na sequência das medidas já adoptadas pelo I Governo Constitucional, será promovida uma política habitacional coerente e concertada, apoiada num planeamento urbanístico definido, de uma estratégia de ordenamento físico, como já referido, e englobando: A execução de uma política de solos que permita a obtenção dos terrenos necessários à construção de habitações e equipamentos: A realização dos programas de infra-estruturas e saneamento básico que tornem os terrenos aptos à execução dos programas habitacionais; A disponibilidade de projectos de construção adequados, em tempo e qualidade, aos volumes habitacionais a realizar: A construção em ritmo compatível com a urgência e extensão das actuais carências; A recuperação e aproveitamento do parque habitacional existente sempre que se imponha económica e socialmente; A definição e melhoria das condições de acesso aos alojamentos existentes e a produzir (aquisição ou arrendamento). Ainda no âmbito da política habitacional serão revistos os esquemas de financiamento da construção da habitação, procurando maximizar-se a realização dos programas de construção, face aos meios financeiros disponíveis. A execução desta política requer também que se possa contar com uma indústria

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de construção eficiente e bem dimensionada, e que se garanta ainda a disponibilidade de materiais de construção em volume e qualidade adequados aos programas de construção. Neste contexto, julga-se que será possível contar com elevada participação da iniciativa privada e cooperativa para a realização do programa habitacional, sem prejuízo de se exigir maior eficácia à iniciativa do sector público, em particular no que respeita: À promoção da construção de habitações sociais; À melhoria dos alojamentos existentes e desenvolvimento de programas de renovação urbana e recuperação de áreas degradadas; Ao apoio às cooperativas sem fins lucrativos; À dinamização de formas especificas de promoção privada, designadamente revigorando a figura dos contratos de desenvolvimento. O Governo garantirá condições mais favoráveis ao movimento cooperativo habitacional, designadamente no que se refere à formação de novas cooperativas e ao desenvolvimento das existentes, colaborando activamente na realização dos seus programas através de diferentes incentivos e apoios financeiros. Integrada no âmbito da política habitacional, o Governo promoverá ainda a realização dos programas de saneamento básico, quer nas novas áreas a urbanizar, quer nas zonas degradadas ou deficientemente urbanizadas, e dos programas de equipamento rural e urbano essencial à vida da população. Os programas de saneamento básico terão de satisfazer as necessidades primárias de salubridade e bem-estar das populações, quanto a abastecimento de água potável, drenagem e depuração de águas residuais, limpeza pública, remoção e tratamento dos lixos, o que torna indispensável o estabelecimento de estruturas que permitam a sua concretização. Nesse sentido será incrementada a realização dos diversos empreendimentos requeridos a nível local e promovidas as acções necessárias para se dispor das estruturas regionais que coordenem a realização e a exploração dos sistemas ligados ao saneamento básico. Os programas de equipamento rural e urbano, incluindo os que completam as acções de renovação urbana e de recuperação de zonas degradadas, destinam-se a cobrir as necessidades de equipamentos sociais e colectivos indispensáveis à vida dos aglomerados habitacionais e a garantir essa prioridade a acessibilidade da população aos centros de serviços, de cultura e de lazer. Finalmente, o Governo dará particular atenção à reestruturação dos serviços de administração pública envolvidos na execução da política habitacional e de infra-estruturas básicas no sentido de dotá-los de uma maior operacionalidade e simplificando os circuitos de decisão, em paralelo com o reforço da capacidade de actuação das autarquias locais que, nesta matéria, deverão desempenhar um papel cada vez mais importante. Nestes termos promover-se-á: A reestruturação do Fundo de Fomento da Habitação, com o desenvolvimento e implementação de direcções regionais, responsáveis executivas da promoção

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habitacional pública, em articulação com as autarquias locais, cabendo aos ser viços centrais as tarefas de planeamento, Programação e controlo das realizações; Implementação de serviços municipais de habitação com o objectivo de garantir, a nível local, uma adequada caracterização das necessidades de habitação e gestão do parque público imo biliário, com vista ao apetrechamento das câmaras municipais em meios técnicos financeiros e administrativos que lhes garantam uma capa cidade crescente de intervenção; A institucionalização de órgãos técnicos a nível regional que coordenem a actuação dos vários serviços nos domínios do equipamento rural e urbano, saneamento básico e viação rural, visando uma melhor articulação da administração local e da Administração Central. Serão ainda promovidas as seguintes medidas legislativas como suporte dos programas a executar: a) Reformulação do quadro legal relativo à matéria geral de inquilinato e os regimes de arrendamento urbano e de habitação social; b) Estabelecimento de diplomas regulamentares, nomeadamente sobre: A revisão da actual legislação de arrendamento urbano, de modo a obter critérios justos de fixação das rendas de casa; Regulamentação de categorias únicas de habitação social; Revisão e actualização da legislação que suporta o regime de casas económicas e reformulação do sistema de habitações de renda limitada; Adequação da legislação existente sobre cooperativas de habitação; c) Revisão e actualização da regulamentação técnica das edificações no sentido de, sem prejuízo da qualidade devida, embaratecer os custos de construção e integrar as novas técnicas construtivas; d) Adopção de medidas que reduzam o número de fogos devolutos e garantam a sua utilização ao serviço de uma política de habitação; e) A reformulação da legislação de solos, face à experiência recente, regulamentando, nomeadamente, alguns aspectos nas matérias de direito de superfície, da propriedade plena e a revisão do regime de mais-valias fundiárias. 5.5 — Equipamentos e obras públicas: Trata-se de uma área em que o MHOP terá uma responsabilidade predominantemente executiva, colaborando na programação e promovendo a realização de obras definidas por outros departamentos governamentais. Assim, ao MHOP competirá a execução de obras relativas a empreendimentos diversos no âmbito dos sectores produtivos (agricultura, silvicultura e pecuária, energia, turismo), dos sectores sociais (educação, saúde, habitação e urbanismo) e nas infra-estruturas económicas (transportes, comunicações e meteorologia, circuitos de distribuição), para além de promover a construção de edifícios destinados à instalação dos serviços públicos. O aproveitamento do património existente será uma preocupação constante,

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traduzida no lançamento de acções visando a recuperação e a conservação de equipamentos degradados, sempre que tal se revele socialmente rentável. A actividade governativa, nesta área, visará: A satisfação das necessidades primárias das populações em infra-estruturas básicas e equipamentos sociais; A execução de infra-estruturas necessárias à actividade económica; A contribuição para a correcção dos desequilíbrios regionais. No que se refere às construções escolares, desenvolver-se-ão os programas de construção de edifícios para os diversos graus de ensino, de acordo com a programação das necessidades definidas pelo MEC. Prevê-se a manutenção a curto prazo de um elevado volume de construções, designadamente nas regiões do país de mais carência. Em relação às construções hospitalares será prosseguida a realização do plano de cobertura sanitária do país definido pelo MAS, criando-se as estruturas necessárias ao funcionamento descentralizado. Designadamente será implementada a reconversão de hospitais centrais, dinamizando-se neste contexto os trabalhos respeitantes ao Hospital de Coimbra. Prosseguir-se-á a construção das instalações necessárias aos centros de saúde de apoio local, com vista a uma cobertura sanitária do país mais homogénea e de maior acessibilidade. No que respeita à rede rodoviária, e tendo em conta a necessária racionalização dos investimentos definidos no Plano, ter-se-á em vista: Na rede fundamental, garantir a melhoria das ligações de interesse nacional e inter-regional, além das ligações aos eixos internacionais, promovendo-se ainda a conservação e modernização da rede existente; Na rede secundária, assegurar a ligação interaglomerados de acordo com prioridades definidas por critérios demográficos, económicos e sociais e que tenham em conta a actual ocupação do solo. Quer na construção quer na conservação das redes municipais será dado amplo apoio das estruturas centrais às estruturas de administração local no sentido de racionalizar e compatibilizar o funcionamento adequado das estruturas de circulação rodoviárias. Na generalidade da rede rodoviária será necessário garantir a existência de características funcionais que tenham em conta a actual conjuntura de crise de energia e eventual compressão de tráfego em determinados eixos, a correcção de traçados e a melhoria de segurança. No que se refere a recursos e aproveitamentos hidráulic os e tendo em conta a satisfação das necessidades do País no domínio dos recursos hídricos, será dada prioridade ao estabelecimento do Plano Nacional de Água. No âmbito desse Plano prosseguirá a realização dos empreendimentos em curso ou programados, designadamente os planos de rega, de aproveitamentos hidroagrícolas e eléctricos, e ter-se-ão em conta os ajustamentos necessários dos acordos internacionais no domínio de gestão de água. Serão ainda incrementados os estudos relativos ao levantamento das disponibilidades e necessidades de água e à definição de uma nova política de utilização de água.

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Em relação a edifícios públicos e monumentos nacionais serão promovidas as medidas necessárias para evitar a degradação dos edifícios existentes e para a construção de instalações indispensáveis à criação de condições dignas de trabalho para a função pública, designadamente dos órgãos regionais e locais, com vista à modernização dos serviços. Far-se-ão, por outro lado, todos os esforços necessários para evitar a perda iminente e a degradação evolutiva de grande parte de boas peças do nosso património artístico e cultural. 5.6 — Indústria de construção: A indústria de construção apresenta características específicas que a tornam um sector relevante no conjunto da actividade económica global, desempenhando, em particular, um papel fundamental na concretização das actividades de todos os órgãos executivos da área de intervenção do MHOP. Contudo, tem-se caracterizado por uma estrutura e orgânica produtivas que se não vêm revelando eficazes e suficientes para a satisfação das solicitações que a dimensão das carências sectoriais lhe põem. Na realidade, permanecem sem alterações significativas alguns dos aspectos determinantes da sua estrutura empresarial e organizativa, já referidos no Programa do I Governo Constitucional, designadamente o seu excessivo fraccionamento, sem possibilidades de acesso a métodos mais evoluídos de construção e gestão, paralelamente a uma forte concentração territorial, que tem dificultado, a nível regional, um maior volume de lançamento de obras. Por outro lado, alguns dos factores condicionantes extrínsecos mantêm-se, nomeadamente a rigidez de oferta do sector de materiais e componentes de construção, motivada quer por desajustamentos próprios, quer pela desarticulação dos circuitos de comercialização. De referir, no entanto, a experiência recente nas tentativas de exportação de bens e serviços neste domínio, que veio revelar a capacidade concorrencial de algumas empresas de construção e projectos, que deve continuar a ser encorajada e incentivada, quando se traduz em instrumentos correctores da nossa balança de pagamentos. Torna-se, assim, importante rever todos os estrangulamentos detectados, que não têm permitido um desenvolvimento sectorial harmónico, pelo que importará estimular e desenvolver as estruturas produtivas da indústria da construção, indispensáveis ao cumprimento dos programas fundamentais, à satisfação das necessidades básicas do povo português e ao relançamento da própria economia do país. Para isso, serão empreendidas acções a vários níveis, por forma que a reestruturação empresarial se processe através do ajustamento fácil e económico das empresas, com um máximo de benefícios sociais, em termos de custos e de novos postos de trabalho, e ainda no sentido de realizar o propósito de redução das carências existentes. Deste modo e no que se refere à indústria da construção, tendo em vista o enquadramento e dinamização deste sector produtivo, serão adoptadas, em termos gerais, as seguintes medidas de actuação: Ajustamento da capacidade produtiva às necessidades decorrentes do actual nível de carências, divulgando-se em tempo oportuno os programas de obras do sector público e promovendo a adjudicação de trabalhos agrupados geograf icamente, no

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sentido de criar regionalmente volumes de trabalho atractivos às médias e grandes empresas do sector; Melhoria das condições concorrenciais, permitindo o acesso das pequenas e médias empresas a grandes empreendimentos através de uma contratação fraccionada em empreitadas de dimensão adequada; Estímulo do desenvolvimento de formas de associativismo ou fusão de empresas, tendo em vista um reajustamento da dimensão da estrutura empresarial e sua especialização; Revisão da actual estrutura de concessão de alvarás, tendo em atenção não só a estrutura empresarial existente, como a necessidade de definição de acesso ao sector e posterior controlo da capacidade técnica; Simplificação dos processos e das modalidades de contratação de empreitadas por parte do sector público e do processo de pagamento das obras realizadas e homogeneização dos critérios de fiscalização, adiantamentos, processamentos e liquidação de autos, prazos e penalizações; Reformulação da actual estrutura de revisão de preços, tendo em consideração os aspectos liga dos à construção de índices, sua periodicidade e regionalização, cálculo e liquidação das revisões e actualização e complemento das actuais fórmulas de revisão; Apoio à racionalização dos sistemas construtivos actuais e à adopção progressiva de novas técnicas de construção, com vista a um aumento da produtividade, melhoria do produto final e abaixamento dos custos de construção; Promoção de acções de formação e implementação de métodos de contabilidade normalizada e dinamização de cursos de formação profissional, tendo em vista uma melhoria de estrutura de qualificação do sector, quer do pessoal operário, quer ao nível de gestão; Estabelecimento de adequadas condições de financiamento à produção; Incentivo, através de apoios de ordem diversa, às empresas do sector para aumento da exportação de serviços; Estabelecimento e divulgação da programação das necessidades de materiais de construção a médio prazo e, se possível, a nível regional, que permita a reestruturação e desenvolvimento da indústria de materiais de construção e uma correcta cobertura territorial, dinamizando a melhoria dos circuitos e sistemas de comercialização dos principais materiais consumidos; Promoção da normalização das dimensões e qualidade de materiais, elementos e componentes, tendo em atenção as capacidades tecnológica e produtiva instaladas, e incentivação do aproveitamento dos recursos e potencialidades nacionais disponíveis, adequando os programas à substituição de importações; Ainda neste domínio, dada a importância social que o problema pode assumir, promover-se-ão acções tendentes à recuperação económica de empresas em situação difícil, ou com estatuto não definido, designadamente através da dinamização de contratos de viabilização ou pela sua reconversão em formas institucionais adequadas.

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6 — Desalojados Por decreto-lei de 10 de Setembro de 1976, o I Governo Constitucional, em obediência ao seu programa e tendo em atenção que a política de integração dos desalojados dos antigos territórios ultramarinos sob administração portuguesa terá de ser concebida e executada com a globalidade da política económica e social do país, sem discriminação entre sectores da população economicamente mais desfavorecidos, sejam ou não desalojados, criou o Comissariado para Desalojados. Completando e coordenando a actuação dos departamentos oficiais com intervenção no problema dos desalojados, o Comissariado continuará a nortear a sua acção em ordem à prossecução dos seguintes objectivos: a) Passar-se de uma política de assistência aos desalojados a uma política tendente à sua integração na sociedade portuguesa; b) Valorizar e utilizar a capacidade de iniciativa e a competência profissional da generalidade dos desalojados; c) Só recorrer à emigração a título excepcional e com a prévia garantia de encaminhamento e acolhimento dos países de destino; d) Descentralizar as acções contribuintes de uma solução global, através de comissões regionais, distritais e concelhias; e) Conjugar o custo das soluções com os meios financeiros e técnicos disponíveis, através de uma cuida planificação a médio prazo; f) Corrigir distorções injustas na distribuição dos meios disponíveis e reduzir, tanto quanto possível, ocorrência de subsídios puros sem carácter reprodutivo, quando não prejudicial da reprodutividade normal inerente aos meios transitoriamente utilizados, nomeadamente instalações hoteleiras necessárias à retoma da indústria turística. A caracterização de toda uma problemática densa e complexa, as acções entretanto desencadeadas, os esforços diversificados nos domínios social e económico, em suma o quadro em que se desenrolam os programas e o conhecimento dos resultados alcança dos, impõem a continuidade das bases programáticas antes definidas. Neste sentido, a acção do Comissariado para os Desalojados prosseguirá em duas áreas distintas mas convergentes, em termos de integração: Dinamização dos programas em curso, com base nas disponibilidades financeiras existentes; Transferência racional e tão rápida quanto possível das tarefas que vêm sendo especificamente desenvolvidas pelo Comissariado para os serviços públicos normalmente competentes. Relativamente aos programas em curso importa aperfeiçoar o programa de crédito, dinamizar o programa de habitação, nomeadamente o crédito para habitação própria, reforçar os controlos do programa de alojamento, reduzindo ao máximo a população desalojada nesta situação. Entende o Governo que a solução dos problemas postos pela integração dos desalojados está em bom caminho, sendo certo, porém, que um abrandamento

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prematuro no esforço que tem vindo a ser realizado neste domínio poderá acarretar consequências altamente nefastas e comprometedoras dos resultados amplamente positivos até agora alcançados. Impõe-se, pois, que as acções até agora desenvolvi das prossigam se possível a níveis mais intensos e mais rápidos, para o que se procurará manter e eventualmente reforçar o apoio, sobretudo de ordem financeira, das instâncias internacionais. 7 — Reabilitação de deficientes 7.1 — O Programa do I Governo Constitucional reconheceu a marginalização a que na sociedade portuguesa têm sido votados os deficientes, constituindo tal facto, para além de uma flagrante injustiça de carácter social, um verdadeiro atentado aos direitos fundamentais de todo o cidadão. Com efeito, quer os serviços públicos quer as instituições de natureza privada ligados à reabilitação têm desenvolvido uma actuação que, embora meritória, fica muito aquém do que seria legítimo esperar neste domínio, que interessa e respeita a centenas de milhares de portugueses. Por outro lado, o espírito assistencial que tem presidido, no nosso país, às acções de reabilitação e o carácter supletivo da actuação do Estado têm de ser para sempre banidos, pelo que o Governo enfrentará o problema com uma filosofia nova e de acordo com o projecto constitucional da sociedade portuguesa. No panorama da reabilitação em Portugal, cabe referir a situação actual dos serviços públicos, das instituições privadas, das cooperativas e do movimento associativo de deficientes. Muito embora se tenha vindo a assistir, em alguns serviços, a uma sensível melhoria da qualidade das prestações que lhes são exigíveis e às tentativas de reajustamentos orgânicos e funcionais, a situação gemi não é satisfatória, sendo detectáveis: a) Incapacidade de, pela escassez de dimensão dos aparelhos existentes, haver resposta adequada às múltiplas carências da população deficiente; b) Inexistência de estruturas e de respostas político-administrativas em domínios em que as necessidades sociais são flagrantes; c) Diminuta rendibilidade social e económica dos serviços em geral pela não integração das acções que desenvolvem em sistema que planifique e coordene a intervenção de cada um; d) Errado posicionamento de alguns serviços relativamente à organização administrativa vigente; e) Insuficiência dos quadros de pessoal existente e da sua valorização e a fraca preparação profissional de algumas categorias; f) Inadequação orgânica e funcional da maioria dos serviços face às necessidades para cuja satisfação foram criados. 7.2 — No domínio das instituições privadas e das cooperativas pode observar-se:

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a) Meritória actividade de grande parte das instituições particulares sem fins lucrativos, desprovidas, todavia, de meios humanos, técnicos e financeiros necessários ao desenvolvimento da sua acção; b) Diversas instituições de fins lucrativos, de existência necessária, dada a insuficiência de estruturas análogas no sector público, com labor genericamente meritório, mas a preços incomportáveis; c) Surto de um movimento cooperativo nos domínios da reabilitação e do ensino especial, resultante da exiguidade da resposta pública às necessidades da população e da onerosidade das estruturas privadas, que tem sido apoiado pela Administração e por esquemas de segurança social. 7.3 — Relativamente ao impulso que o movimento associativo dos deficientes tem vindo a conhecer, é o mesmo determinado pela justa convicção de que a existência de uma política nacional de reabilitação pressupõe a acção interventora e crítica dos principais interessados, que, com determinação, se constituem parte activa neste processo. 7.4 — Face à situação descrita, e dada a necessidade de implantação de uma política global e integrada de reabilitação, o Governo reitera, ria sua essência, as considerações sobre o problema expressas no Programa do 1 Governo Constitucional. Com efeito, a criação de um instituto público, instrumento do Governo para a definição e execução de uma política nacional de reabilitação e integração social dos deficientes, constitui a única estratégia possível para o integral aproveitamento dos recursos nacionais disponíveis, a planificação e a coordenação das acções, condições de eficácia de uma tal política. 7.5 — Com a criação do Secretariado Nacional de Reabilitação (Decreto-Lei nº 346/77, de 20 de Agosto) dotou-se o País de um organismo capaz de dar resposta a todos os problemas que se nos deparam no domínio da reabilitação de deficientes. Com efeito, a estrutura orgânica do Secretariado Nacional de Reabilitação, nomeadamente a do seu Conselho Nacional de Reabilitação, as ligações estabelecidas com titulares dos Ministérios mais directamente interessa dos na definição e execução da política de reabilitação e integração social dos deficientes e as amplas atribuições que lhe são cometidas garantem a eficácia do trabalho que o Secretariado Nacional de Reabilitação desenvolverá e a sua permanente identificação com a acção governativa global. 7.6 — Não querendo o Governo antecipar-se às propostas que lhe venham a ser apresentadas pelo Conselho Nacional de Reabilitação, e para além de medidas pontuais que a acção governativa aconselhe, enuncia-se, porém, desde já, como prévia e necessária à definição de uma política global de reabilitação, a efectivação do que se segue: a) Elaboração de definições tipológicas de deficiência e dos níveis de gravidade das lesões, visando-se, assim, estabelecer âmbitos de incidência das medidas a adoptar; b) Promoção de um recenseamento nacional dos deficientes e criação de um aparelho de despiste permanente; c) Levantamento dos recursos afectos ou susceptíveis de afectação à reabilitação dos deficientes;

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d) Definição das competências próprias e dos âmbitos de intervenção dos Ministérios e Secretarias de Estado no processo multidisciplinar de reabilitação de deficientes e consequente reordenamento e apetrechamento das estruturas administrativas; e) Definição de uma política global de apoio às iniciativas particulares que se situam neste domínio e consequente integração destas na planificação das acções que vier a ser elaborada. 7.7 — O Governo, tendo embora presente a grave crise que o País atravessa, expressa a sua firme disposição de utilizar os recursos necessários ao desenvolvimento de uma política nacional de reabilitação e integração sócio-laboral dos deficientes, cidadãos que têm pleno direito a uma reparação da sociedade portuguesa, da qual têm sido elementos marginalizados e desprotegidos.

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G) Política de independência nacional e de cooperação a favor da paz 1 — Defesa nacional 1.1 — No âmbito da política de defesa nacional entende-se como essencial a consideração das seguintes grandes tarefas: a) Estudar, em permanência e em diálogo contínuo com a Assembleia da República — Órgão de Soberania com exclusiva competência para legislar sobre a organização da defesa nacional e deveres dela decorrentes — uma política de defesa nacional que concorra para a garantia e a consolidação da independência nacional, assegure a unidade do Estado, a integridade do território e a defesa da democracia política e faça respeitar a legalidade democrática; b) Desenvolver uma política de defesa nacional com respeito pelas obrigações decorrentes da participação de Portugal na Organização do Tratado do Atlântico Norte; c) Articular, em ligação com o Ministério dos Negócios Estrangeiros, por forma sistemática e oportunamente adequada, a política de defesa nacional e as grandes linhas de acção da política externa portuguesa; d) Colaborar na preparação dos mecanismos legais e organizativos que permitam, a médio prazo e dentro dos esquemas constitucional mente previstos, a normal e indispensável subordinação das forças armadas ao poder político, de modo a viabilizar uma unidade de responsabilização na definição das grandes linhas de orientação da política de defesa nacional; e) Assegurar a ligação entre os diferentes departamentos governamentais e as forças arma das de modo que estas possam, oportuna e eficientemente, continuar, intensificar e desenvolver a sua colaboração nos programas de reconstrução nacional. 1.2 — Para a consecução das referidas tarefas torna-se necessário, no quadro governamental afecto à defesa nacional: a) Colaborar, da forma que a Assembleia da República, através da sua comissão de defesa, julgue mais conveniente, no estudo e na discussão de uma proposta de lei sobre «organização da defesa nacional», de modo que aquele Órgão de Soberania a possa aprovar no mais curto espaço de tempo; b) Promover, em ligação com os restantes departamentos governamentais e as forças armadas, uma mais intensa e adequada participação nos diversos organismos, militares e civis, da Organização do Tratado do Atlântico Norte; c) Contribuir para a definição — em ligação com o Conselho da Revolução e o Estado-Maior-General das Forças Armadas — de conceitos de acção estratégico-militares visando a independência nacional e o fortalecimento da nossa integridade territorial, perfeita mente integrados numa estratégia global e racional e adequadamente articulados com as responsabilidades decorrentes da nossa participação em sistemas internacionais de segurança; d) Coordenar as actividades governamentais que visam a preparação moral, técnica, administrativa e económica da Nação para situações de emergência grave, incluindo — em ligação com o Conselho da Revolução — o planeamento da

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necessária organização da direcção político-militar e o da mobilização, civil e militar, de pessoas e bens; e) Colaborar na institucionalização — logo que estejam criadas as condições sociais indispensáveis e de estabilidade do mercado de emprego e haja capacidade de resposta por parte da administração pública — de um «serviço nacional» obrigatório, pessoal e geral, que deverá englobar o serviço militar, o serviço em organismos de protecção civil e o serviço cívico nacional; f) Colaborar — em ligação com o Estado-Maior-General das Forças Armadas e os departamentos governamentais interessados — na promoção social do cidadão, enquanto na prestação do respectivo serviço militar obrigatório, criando condições de promoção profissional e literária, que orientem aqueles militares, social e profissionalmente, no seu regresso à vida civil; g) Pormenorizar, com os departamentos governamentais interessados, nova colaboração a prestar pelas forças armadas — ou o reforço da que já vem a ser dada — no domínio da reconstrução nacional. Dadas as missões específicas das forças armadas, entende-se que a sua participação neste campo apenas será possível através de tarefas pontuais ou pequenos programas de realizações, todos devidamente integrados no plano do departamento governamental responsável por cada um dos sectores tratados; h) Assegurar a integração da actividade de cooperação de carácter militar com os novos Estados de expressão portuguesa no quadro da política geral de cooperação definida e conduzida pelo Governo; i) Criar condições que permitam incrementar a já importante actividade desenvolvida no âmbito de «protecção civil» contra calamidades naturais e outras, assegurar a sua articulação com os serviços municipais ou locais a isso destinados e prever mecanismos de colaboração com as forças armadas ou a sua própria absorção por estas em situações em que a mesma se justifique. 2 — Política externa 2.1 — Orientações fundamentais: Após a descolonização, que pôs fim a um círculo histórico da vida portuguesa, Portugal encontra-se envolvido num processo de afirmação da sua nova maneira de estar no mundo e de redescoberta da sua vocação nacional. O aumento das inter-relações políticas, culturais e económicas com os restantes povos é uma forma de reforçar, por contraste, a identidade nacional e de evitar os riscos e perigos inerentes ao isolacionismo nacionalista. No respeito pelas linhas definidas na Constituição em matéria de relações internacionais, a política externa do Governo visará, a esta luz, contribuir para o reforço do prestígio e da independência nacionais e para concretização dos grandes objectivos do desenvolvimento económico e social do país. Os dois vectores essenciais da vocação económica de Portugal — a abertura ao exterior e a especialização — deverão reflectir-se de forma sensível na acção diplomática, constituindo um quadro de referência permanente de toda a política externa. O pragmatismo na tentativa de obtenção do máximo de resultados úteis ao progresso do país, o realismo no aproveitamento das vantagens decorrentes da necessária diversificação das nossas relações internacionais e o empenhamento na

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defesa da autonomia de uma própria capacidade de decisão serão valores constantes da política externa do Governo. Os grandes objectivos da política económica e social, designadamente com vista à modernização da sociedade portuguesa, ao reequilíbrio da balança de pagamentos, constituirão, assim, uma preocupação dominante da actividade diplomática. Defende-se, em consequência e particularmente, que esta se reforce como ponta de lança para a abertura de novos mercados e para a criação de esquemas favoráveis à obtenção de reciprocidades para as importações portuguesas. A solidariedade na defesa da paz, da segurança e dos direitos fundamentais do homem na Europa e no Mundo será, igualmente, orientação do Governo Português na ordem externa. O respeito pelos compromissos decorrentes da assinatura do Acto Final de Helsínquia bem como a participação activa na ONU e nas suas agências especializadas constituirão elementos importantes para o posicionamento externo de Portugal. Este posicionamento decorre das instituições democráticas, a nível da política interna, ao mesmo tempo que sobre ela influi em termos necessariamente constitutivos. Em todas as circunstâncias, Portugal contribuirá para o respeito das normas do direito internacional e das tradições da vida internacional, que constituem um dos mais caros apanágios da nossa civilização. Destes princípios, tanto quanto do respeito pelas obrigações históricas e pelos compromissos assumidos por Portugal, deverão decorrer as prioridades e o estilo da política externa portuguesa. 2.2 — Prioridades: Especial prioridade continuará a ser conferida à opção europeia de Portugal. O processo inicial com o pedido de adesão à CEE e com a admissão no Conselho da Europa será desenvolvido com firmeza, à luz do empenhamento de Portugal na construção da unidade europeia. Nesta perspectiva, o Governo é favorável à declaração da aceitação pelo Estado Português da competência da Comissão Europeia dos Direitos do Homem quanto a petições individuais e da jurisdição obrigatória do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem. E é, do mesmo modo, favorável à progressiva harmonização da nossa legislação com as normas vigentes na CEE, no quadro da revisão do direito português e no respeito pelos dispositivos constitucionais. Entretanto, Portugal continuará interessado no aprofundamento de iniciativas a desenvolver com os seus parceiros da EFTA, sem prejuízo dos esforços com vista à integração no Mercado Comum. Em estreita complementaridade com a opção europeia, Portugal reforçará as amizades tradicionais da Nação Portuguesa. Serão assim mantidas e desenvolvidas as relações singulares que mantemos com o Reino Unido, a França, a República Federal da Alemanha, o Canadá, a Venezuela e os Estados Unidos da América. Quanto a este último, serão em particular retomadas, com carácter de urgência, as negociações sobre o Acordo das Lajes, delas participando, também, o Governo Regional dos Açores. As solidariedades naturais, por vizinhança, com a Espanha, e por afinidades históricas e culturais, com o Brasil, que mantemos desde há muito, impõem o

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desenvolvimento autónomo de modelos de cooperação com esses dois países. A recente assinatura do Tratado de Amizade e Cooperação com a Espanha será, a este título, um útil instrumento de concertação. Na convergência entre a opção de Portugal e a fidelidade a amizades tradicionais, a presença activa do nosso país na Aliança Atlântica deverá continuar a ser um factor positivo para a paz e a segurança inter nacionais. O eventual enfraquecimento da NATO, em face da permanência e até do revigoramento do Pacto de Varsóvia, longe de contribuir para o desejável desaparecimento gradual e simultâneo dos blocos político-militares, constituiria um perigoso factor de instabilidade e insegurança internacionais. Portugal de verá, assim, quer no plano político, quer no plano militar, desempenhar um papel activo e solidário no seio da Aliança Atlântica. Toda a acção de política externa terá ainda em conta a necessidade da diversificação das relações internacionais com vista, nomeadamente, à preservação do modelo convivencial de que é protagonista, na História, a vocação ecuménica do povo português e, na política, o regime democrático instaurado em 25 de Abril. A esta luz, as relações com os países do Leste Europeu, designadamente com a Roménia, a Jugoslávia e a União Soviética, serão dinamizadas. Particular atenção será dada à ampliação das nossas relações com o Japão e dos esforços tendentes ao estabelecimento de relações diplomáticas com a República Popular da China. O Governo estará, entretanto, aberto a examinar a possibilidade e o interesse de estabelecer formas especiais de cooperação cultural com a União Indiana. A resolução por meios políticos da questão de Timor continuará a merecer o empenhamento do Governo Português. A diversificação das relações internacionais terá, enfim, em conta, por um lado, o papel muito especial do Mundo Árabe no contexto internacional e, por outro, os objectivos económicos da política externa portuguesa. Reafirma-se, neste quadro, o interesse de Portugal pelo estabelecimento de relações diplomáticas com a Arábia Saudita. 2.3 — Organização: A organização dos meios ao serviço da política externa obedecerá aos seguintes objectivos fundamentais: a) Assegurar uma correcta coordenação da representação portuguesa em organismos internacionais; b) Adoptar mecanismos selectivos na participação de Portugal em organismos internacionais, tendo em atenção a política de austeridade; c) Garantir uma resposta pronta, dinâmica e eficaz da parte portuguesa no plano de assistência externa ao nosso país; d) Melhorar o apoio à acção diplomática portuguesa, designadamente nos domínios da informação e especialização dos agentes diplomáticos e consulares; e) Acautelar a dignidade e a eficiência das representações portuguesas no estrangeiro através da criteriosa mobilização, racionalização e coordenação dos necessários recursos materiais, técnicos e humanos. Em concerto, importará evitar que a escassez de meios disponíveis para

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representação de Portugal no estrangeiro venha a traduzir-se em insuficiências tais que invalidem o próprio esforço a desenvolver no âmbito da política externa ou que comprometam os resultados a alcançar em domínios essenciais para a recuperação económica de Portugal. 3 — Cooperação com os países de expressão portuguesa 3.1 — O relacionamento e cooperação com os novos Estados africanos de expressão portuguesa ocupará lugar específico e de particular relevo no âmbito da nossa política externa. Manteve-se e reforçou-se durante o Governo anterior bom entendimento com a Guiné, com Cabo Verde e com S. Tomé e foram dados passos significativos no sentido da aproximação com Angola e Moçambique. 3.2 — O II Governo Constitucional vai continuar a seguir activamente essa política, tendo em conta a necessidade de a fundamentar numa nova filosofia de cooperação que respeite escrupulosamente as soberanias nacionais e seja reciprocamente enriquecedora. 3.3 — No sentido de apoiar e coordenar esta política o MNE procurará dar unidade às relações com esses Estados, para o que será criada uma direcção-geral encarregada dos assuntos de cooperação com os aludidos países. 3.4 — Para conferir bases adequadas à cooperação, na medida em que a mesma envolve apoio técnico qualificado e transferência de tecnologias, o Governo Português procurará dimensionar os institutos com essa vocação, designadamente nos sectores de tecnologia, da educação, da medicina, do desenvolvimento agrário, etc. 4 — Política de emigração A protecção aos emigrantes portugueses será um factor de preocupação constante do Governo. 4.1 — Na ordem externa, e no quadro do contactos a desenvolver entre o Governo Português e os Governos dos países de imigração, serão objectivos a prosseguir, designadamente: a) Velar pelo integral cumprimento dos acordos já estabelecidos com a França, principal país de destino, da emigração portuguesa; b) Estabelecer ou negociar acordos já existentes na perspectiva de conseguir para as comunidades portuguesas emigradas melhores condições de vida e de trabalho, tendo em conta os problemas que quotidianamente se colocam àquelas, não esquecendo a sua equiparação tendencial e progressiva aos trabalhadores das comunidades de acolhimento. Assim, no seguimento de diversas intervenções junto das autoridades da RFA e da Venezuela iniciar-se-á desde já a renegociação do acordo à emigração com aquele país e a negociação de um acordo com a Venezuela Por outro lado, o Governo efectuará as diligências necessárias à entrada em vigor dos acordos já negociados, na vigência do anterior Governo, com a Bélgica e o Luxemburgo. Finalmente, deverão ser envidados todos os esforças para melhorar ou estabelecer convenções de segurança social entre outros países, com a Bélgica e a Holanda, no primeiro caso, e com a Venezuela, Grã-Bretanha e Canadá, no segundo.

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Par outro lado, e no plano multilateral, tendo em conta a tomada de consciência e o interesse que várias organizações inter nacionais têm vindo a dedicar às questões de emigração, assume particular relevância a participação activa de Portugal nestas, sempre que possível buscando o interesse concertado dos países de emigração, sobretudo da Europa. Destas organizações destacam-se em especial a ONU, o BIT, a OMS e o Conselho da Europa. No que respeita a esta última dar-se-á especial atenção às diligências que conduzam à aplicação da Convenção sobre o Estatuto Jurídico do Trabalhador Migrante a um maior número de países membros. Prosseguirão, entretanto, no âmbito das relações com o Conselho da Europa, e como se refere no capítulo do Programa relativo a segurança, social e saúde, os trabalhos relacionados com a ratificação dos acordos provisórios e europeus relativos aos regimes de segurança social, convenção europeia sobre assistência social e médica, bem como a assinatura da convenção europeia de segurança social. Pelo que respeita à CEE, na perspectiva da adesão de Portugal, e no âmbito das negociações a estas relativas, procurar-se-á o estatuto que, inserido na regulamentação comunitária, melhor sirva os interesses nacionais e dos emigrantes. Enfim, os interesses e as capacidades dos próprios emigrantes merecerão especial atenção e carinho por parte do Governo. Será intensificada a informação aos emigrantes, pela melhoria dos meios de actuação já postos em prática, procurando-se que esta atinja de forma objectiva maior número possível de destinatários. Procurar-se-á ainda o desenvolvimento das acções culturais que visem a promoção cultural e a manutenção dos laços entre emigrantes e Portugal. Merecerá especial cuidado o desenvolvimento da política de ensino do Português no estrangeiro, através de um esforço das estruturas já criadas e do aperfeiçoamento e intensificação de acções interministeriais. Com vista a minorar, e, se possível, resolver, os problemas e carências mais fortemente sentidas nos países de acolhimento, o Governo intensificará decididamente o apoio social e jurídico às comunidades, designadamente através de maior eficácia nos serviços consulares e de todos os outros agentes já existentes. Será dada especial atenção ao associativismo entre os emigrantes, fomentando-se, designadamente na sua forma federativa. Para o efeito, promoverá o Governo o apoio económico que permita a criação e manutenção de associações. 4.2 — Na ordem interna e na perspectiva da tendência natural do regresso a Portugal, haverá que consolidar duas linhas de actuação fundamentais: a) A intransigente defesa dos direitos e da propriedade privada dos emigrantes em Portugal; b) A adopção de planos e medidas que permitam e motivem a readaptação económica profissional dos emigrantes, designadamente através do fomento da aquisição de habitações, da formação de empresas e da plena utilização das capacidades profissionais adquiridas no estrangeiro.

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IV — Considerações finais

É fora de dúvida que o II Governo Constitucional, mais ainda do que o primeiro, interpretou latitudinariamente a prescrição constitucional que o vincula a fazer constar do seu programa apenas «as principais medidas políticas e legislativas a adoptar ou a propor ao Presidente da República ou à Assembleia da República para execução da Constituição». O presente programa é algo mais do que isto. E reflecte cristalinamente a circunstância de o II Governo Constitucional ter sido constituído, não só com inclusão de elementos que fizeram parte do primeiro, mas à base do mesmo partido em que o primeiro se baseou. Em política a continuidade conta. E conta, antes de mais, o que contam a experiência e o fundado conhecimento dos problemas resolvidos e a resolver. Para o actual Gabinete, governar não é uma aventura em risco de inconsequência. É antes, e em grande medida, o aproveitamento, a bem do país, de experiências acumuladas e ilações tiradas. O Programa que o Governo apresenta à Assembleia da República, ou seja, ao País, constitui, sem dúvida, o mais sério e completo inventário de problemas, e respectivas soluções, tentado desde a revolução de Abril. Peca, porventura, por desculpável e bem intencionado excesso. Nunca por defeito. Talvez possa apontar-se-lhe o senão de uma excessiva ambição quanto à capacidade de realização de qualquer Governo numa dada unidade previsional de tempo. Nunca, porém, o pessimismo doentio de quem parte derrotado. O II Governo Constitucional parte animado de optimismo construtivo, se bem que consciente da gravidade da crise que lhe cabe enfrentar e resolver. Dada a magreza do período que a Constituição faculta à elaboração dos programas do Governo, não se hão-de estranhar algumas repetições inúteis em tomo de preocupações dominantes e até algumas assimetrias do desenvolvimento entre os diversos capítulos: antes de ser do Governo, colegialmente considerado, que o discutiu e aprovou, o Programa foi de cada Ministro ou departamento que para ele contribuiu. Reflecte assim, de algum modo, idiossincrasias que, em alguma medida, resistiram às preocupações de harmonização e equilíbrio da equipa coordenadora. A verdade é que um programa de Governo não é uma lei — essa mesma não inalterável — nem um rígido espartilho fechado a adaptação e inovações, certo como é que a vida é sempre mais imaginativa do que os homens. Uma última nota: não escapará por certo a ninguém a preocupação iminentemente pragmática com que se busca o desenho de soluções para os principais problemas nacionais. O objectivo principal é sempre um só: resolvê-los com justiça e com acerto no quadro dos interesses nacionais e no respeito pela Constituição, com todas as virtualidades que ela contém. Do mérito do Programa falarão os resultados da política que nele se desenha. Ao povo caberá, na devida oportunidade, julgar esses resultados.