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Programa de Leitura 2º Semestre de 2012 Tema: “Gestão Pública” Coletânea 1 TEMA 2: GESTÃO PÚBLICA COLETÂNEA Coletânea compilada por: Carlos Eduardo Pizzolatto Cláudia de Jesus Abreu Feitoza Eliana Maria Severino Donaio Ruiz Milena Moretto 2012

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Programa de Leitura – 2º Semestre de 2012Tema: “Gestão Pública” ‐ Coletânea 

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TEMA 2: GESTÃO PÚBLICA  

COLETÂNEA  

          

Coletânea compilada por:  

Carlos Eduardo Pizzolatto Cláudia de Jesus Abreu Feitoza 

Eliana Maria Severino Donaio Ruiz Milena Moretto 

          

2012   

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Programa de Leitura – 2º Semestre de 2012Tema: “Gestão Pública” ‐ Coletânea 

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SUMÁRIO   

  TEMA: GESTÃO PÚBLICA ................................................................................................................................  03 1  REPORTAGENS..................................................................................................................................................  03   Texto 1.1 –  Reportagem ‐ “Presidente Kennedy (ES)” ....................................................................................  03   Texto 1.2 – Reportagem ‐  “As prefeituras fazem a festa com os royalties do petróleo” ................................ 

Texto 1.3 – Reportagem – “O exemplo está ao Norte” .................................................................................... 05 09 

2       4  5     6   7 

ARTIGOS DE OPINIÃO ....................................................................................................................................... Texto 2.1 – Artigo de Opinião – “Corrupção cultural ou organizada? .............................................................. Texto 2.2 – Artigo de Opinião – “Cercando a teia da corrupção” .................................................................... Texto 2.3 – Artigo de Opinião – “Sobre política e jardinagem” ....................................................................... Texto 2.4 – Artigo de Opinião – “Breve história dos mensalões” .................................................................... Texto 2.5 – Artigo de Opinião – “Gestão é o remédio que a saúde precisa” ................................................... EDITORIAL ........................................................................................................................................................ Texto 3.1 – Editorial – “Despesa indisciplinada¨............................................................................................... LETRA DE MÚSICA ............................................................................................................................................ Texto 4.1 – Letra de Música – “Pega Ladrão!” ................................................................................................. CHARGES .......................................................................................................................................................... Texto 5.1 – Charge ............................................................................................................................................Texto 5.2 – Charge ............................................................................................................................................Texto 5.3 – Charge ............................................................................................................................................Texto 5.4 – Charge ............................................................................................................................................PENSAMENTO ...................................................................................................................................................Texto 6.1 – Pensamento ................................................................................................................................... TIRINHA ............................................................................................................................................................ Texto 7.1 – Tirinha ............................................................................................................................................ 

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   TEXTOS COMPLEMENTARES  Anexo 1 – Lei Complementar No. 101 de 04 de maio de 2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal)  Anexo 2 – Convenção Interamericana contra a Corrupção  Anexo 3 – Cartilha Olho Vivo no Dinheiro Público 

 

                       

    

 

  

 

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TEXTOS 1: REPORTAGENS 

 Texto 1.1 – Reportagem:  

Presidente Kennedy (ES): Mesmo com R$ 315 mi de royalties do petróleo em caixa, cidade tem falta de água e esgoto 

Prefeito que concorre à reeleição chegou a ser preso pela Polícia Federal 

O TRE (Tribunal Regional Eleitoral) do Espírito Santo autorizou a candidatura de Reginaldo Quinta (PTB), que está afastado do cargo. O Ministério  Público  do  Estado  investiga  superfaturamento  em  contratos  e  irregularidades  em  licitações.  Políticas sociais  como  concessão  de  cestas  básicas  e  transporte  gratuito  garantem  aprovação  do  chefe  do  Executivo  afastado,  de acordo com os moradores. 

Por Danillo Sperandio, Marcela Rahal e Priscila Tieppo 

Com 11 mil habitantes, o município de Presidente Kennedy, no sul do Espírito Santo, é o que mais recebe royalties do petróleo em todo o Estado. Nos últimos quatro anos (de janeiro de 2008 até junho deste ano), foram repassados cerca de R$ 315 milhões, segundo a ANP  (Agência Nacional do Petróleo). Mesmo assim, problemas como  falta de água  em  comunidades  afastadas  do  centro  e  ausência  de  saneamento  básico  (38%  das  casas  têm  saneamento básico, segundo o Censo de 2010 do IBGE) são evidentes e foram constatados pela reportagem nos três dias em que esteve na  cidade, dentro do projeto UOL Pelo Brasil  ‐‐que percorrerá municípios  em  todos os  Estados do Brasil durante a campanha eleitoral deste ano. 

O que são os royalties 

Royalty é uma palavra de origem inglesa que se refere a uma importância cobrada pelo proprietário de uma patente de  produto,  processo  de  produção, marca,  entre  outros,  ou  pelo  autor  de  uma  obra,  para  permitir  seu  uso  ou comercialização. No caso do petróleo, os royalties são cobrados das concessionárias que exploram a matéria‐prima, de acordo com sua quantidade. O valor arrecadado fica com o poder público. Segundo a atual legislação brasileira, Estados, municípios produtores e a União têm direito à maioria absoluta dos royalties do petróleo. A divisão atual é de 40% para a União, 22,5% para Estados e 30% para os municípios produtores. Os 7,5% restantes são distribuídos para  todos os municípios  e  Estados da  federação.  Estão  em discussão no  governo  e no Congresso propostas de mudanças na forma de distribuição desses recursos, e elas são alvo de muita polêmica tal o grau de interesse político que o assunto envolve. 

Presidente Kennedy, um dos cinco municípios do litoral do Espírito Santo beneficiados pelos royalties, recebeu, só no ano passado, por exemplo, R$ 98 milhões provenientes desses recursos, segundo a ANP. A cidade  já é beneficiada até  pela  exploração  de  poços  que  já  estão  produzindo  na  camada  pré‐sal.  Apesar  do  reforço  que  isso  dá  à arrecadação municipal e que coloca o município no alto do  ranking de PIB  (Produto  Interno Bruto) per capita no Brasil (R$ 71.942,58, segundo dados do  IBGE de 2009), a reportagem observou na cidade que a distribuição desta renda não se dá de maneira equilibrada. Os números também mostram o contraste: mais de metade dos moradores do município são beneficiários de algum programa social do governo, como o Bolsa Família. 

Presidente Kennedy ganhou destaque no noticiário nacional em abril deste ano com a prisão do prefeito Reginaldo Quinta  (PTB) e mais 27 pessoas, entre elas secretários, policiais, empresários e funcionários públicos, suspeitos de desviar R$ 55 milhões dos cofres da prefeitura. 

Quinta foi afastado do cargo e, mesmo sim, decidiu concorrer a um novo mandato. No último dia 23 de agosto, o TRE‐ES deferiu o pedido de candidato do prefeito por 4 votos a 2. Ele deixou a prisão no dia 13 de julho. Apesar do escândalo, Reginaldinho, como é conhecido na cidade, não teve sua popularidade afetada.  

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Mesmo se ficar provado que ele roubou, ele é muito bom prefeito   

Elba das Neves, lavradora 

A maioria dos moradores ouvidos pela reportagem aprova a administração e a política assistencialista do petebista, que concedia cestas básicas, transporte público gratuito, bolsas de estudo e construção de casas populares. 

Quinta chegou a contratar serviços de dez empresas na cidade, que geraram cerca de mil empregos. Mas, após a prisão do prefeito, os serviços  foram suspensos por determinação da  Justiça. “Ele deu um  falso desenvolvimento, deu muito emprego, mas agora deu esse problema e  todo mundo está desempregado”, diz a comerciante Creusa Leal Rocha. 

As  concessões  dadas  pelo  prefeito  afastado  também  são  investigadas  pelo Ministério  Público. Há  a  suspeita  de compra de votos. A Promotoria pede o ressarcimento de R$ 100 milhões aos cofres públicos. 

Reginaldinho não fala 

Antes da viagem para Presidente Kennedy, a reportagem agendou uma entrevista com Quinta, mas, ao chegar na cidade, o pedido não  foi atendido. Entre os dias 25 e 27 de  julho, quando o UOL esteve na cidade, o assessor do prefeito afastado não atendeu às ligações. 

Na casa de Quinta, uma mulher, que se identificou como sobrinha dele, informou que o candidato não estava e que ele não concederia entrevistas. Nesta terça (28), a assessoria foi contatada mais uma vez. A reportagem enviou um e‐mail com perguntas, mas, até agora, não recebeu as respostas. 

Água, só em poço 

 

Casas populares construídas pela prefeitura para os moradores das comunidades quilombolas de Presidente Kennedy 

Cerca  de  73%  da  população  ainda  vive  na  zona  rural,  onde  não  há  rede  de  esgoto,  segundo  o  IBGE.  Em  uma comunidade quilombola visitada pela reportagem, por exemplo, ainda falta água. Os moradores chegam a ficar dias sem água esperando o carro pipa abastecer as caixas d´água. O esgoto vai direto para as  fossas construídas pelos próprios moradores no quintal das casas. 

Na praia das Neves, a quase 30 quilômetros do centro, a zeladora da igreja Nossa Senhora das Neves, Jovelina Alves Peres, conta que, vez ou outra, quando o carro pipa não passa, ela e a família precisam recorrer à cacimba (poço).  

“A gente  fica em  falta daquela água  tratada para beber, a gente  tem que beber água da cacimba. Agora, o padre chegou e mandou abrir um poço artesiano aqui [no terreno da igreja]”, contou. 

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A igreja de Nossa Senhora das Neves marcou a fundação da cidade em meados do século 17 

Com o afastamento de Quinta, o município ganhou um  interventor, em  julho deste ano, para administrar a cidade até a posse do novo prefeito, seguindo determinação do Tribunal de Justiça do Estado. O prefeito interino, Lourival do Nascimento, é um promotor de Justiça aposentado que, segundo ele, pretende investir no saneamento básico. 

“A nossa primeira preocupação é com o saneamento básico. Nós pretendemos  tentar porque é difícil, nós  temos apenas cinco meses. Vamos tentar abrir uma licitação justamente para fazer isso”, afirmou. 

Segundo Lourival, outra medida é colocar as “contas em dia”, isso porque a dívida na folha de pagamentos chega a RS 1,5 milhão. O  valor não pode  ser pago  com o dinheiro dos  royalties, de  acordo  com  a  lei.  Lourival diz que o prefeito afastado, além de aumentar o quadro de servidores, dava a bonificação máxima para os funcionários. 

Disponível em: http://eleicoes.uol.com.br/2012/uol‐pelo‐brasil/2012/08/28/com‐r‐315‐mi‐de‐royalties‐do‐petroleo‐faltam‐agua‐e‐esgoto‐em‐presidente‐kennedy.htm. Acesso em 29 ago. 2012. 

 Texto 1.2 – Reportagem:  

As prefeituras fazem a festa com os royalties do petróleo 

Um estudo exclusivo mostra como prefeituras mal preparadas ou corruptas desperdiçam a riqueza do petróleo e comprometem o futuro das cidades 

 Por Daniel Barros e Patrícia Ikeda, de EXAME 

 

  

Campos Dos Goytacazes, Carapebus, Presidente Kennedy e Guamaré ‐ No dia 2 de maio, o deputado federal Paulo Feijó (PR‐RJ) subiu à tribuna da Câmara, em Brasília, para parabenizar a prefeitura de Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro, por ter entregue à cidade o Centro de Eventos Populares Osório Peixoto — na verdade, um sambódromo. 

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Com  dimensões  equiparáveis  às  do  Anhembi,  na  capital  paulista,  a  passarela  pode  receber  40 000  pessoas,  o equivalente a quase 10% da população de Campos. O sambódromo foi entregue em março para o seu Carnaval fora de época, com mais de um ano de atraso. Consumiu 80 milhões de reais, 10 milhões a mais que o previsto. 

O dinheiro veio de uma fonte especial: os royalties do petróleo, uma espécie de participação na receita obtida com a extração diária de milhares de barris na bacia marítima que leva o nome da cidade. Para Feijó, o sambódromo é um exemplo:  “Isso  é  o  dinheiro  dos  royalties  bem  aplicado,  porque  resulta  em  melhor  qualidade  de  vida  para  a população”,  disse  o  deputado,  correligionário  da  prefeita  Rosinha Garotinho, mulher  de Anthony Garotinho,  ex‐governador fluminense. 

Orávio de Campos, secretário municipal de Cultura, defende a mesma tese: “O Centro de Eventos Populares era uma necessidade do município. Não podia deixar de ser  feito”. Como Campos é a cidade que mais recebe royalties do petróleo — quase 10 bilhões de reais na última década —, a  impressão que se tem é que a prefeitura  já resolveu problemas em áreas que costumam ser críticas, como saneamento, saúde e educação, e agora pode dedicar parte do caixa para tocar projetos mais festivos. 

Não é bem assim. De 2000 a 2009, a cidade caiu da 17a para a 42a colocação no ranking de desenvolvimento dos municípios  fluminenses.  Elaborado pela  Federação das  Indústrias do  Estado do Rio de  Janeiro, o  ranking  associa indicadores de educação, saúde, geração de emprego e renda da população. 

A  situação  da  educação  ilustra  bem  o motivo  da  perda  de  posições  na  lista.  Campos  tem  40  escolas  e  creches funcionando em casas alugadas — 17% da  rede municipal. Localizada a 20 quilômetros do sambódromo, a Escola Municipal de Campo Novo funciona numa casa de três quartos que é alugada há 18 anos. 

As 180 crianças que  lá estudam em dois  turnos contam com um único banheiro e não  têm nenhum  refeitório. A vizinha Escola Municipal Jacques Richer tem refeitório, mas ele está ocupado por uma sala de aula para abrigar os alunos de outra instituição, a Escola Municipal João Goulart, que estava caindo aos pedaços e foi demolida no final do ano passado. 

Hoje, além de conviver com a superlotação, a Jacques Richer tem turmas “multisseriadas” — os alunos do 4o e do 5o ano do ensino fundamental têm aula  juntos para “economizar” professores. O conteúdo que era para ser dado ao longo de um ano é achatado em um semestre. 

O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica de Campos, divulgado em 2010, foi o mais baixo do estado para os primeiros anos do ensino fundamental: nota 3,3. “Campos tem recursos de sobra, mas aplica de maneira errada”, diz Denise Terra, economista da Universidade Candido Mendes e especialista em aplicação de royalties. 

Infelizmente, a festa dos royalties não ocorre apenas em Campos. Bem  longe dali, em Guamaré, no Rio Grande do Norte, o dinheiro do petróleo embala uma  folia depois da outra. Nos últimos dez anos, a pequena  cidade a 170 quilômetros de Natal recebeu 202 milhões de reais em royalties. No mesmo perío‐ 

do, Guamaré  trocou de prefeito oito vezes. O Tribunal de Contas do Estado deu parecer contrário à prestação de contas de três deles. Um foi preso por desvio de verbas. Neste momento, o Ministério Público  investiga os gastos com festas dos dois últimos prefeitos. Auricélio Teixeira precisa explicar os 785 000 reais pagos a bandas no Carnaval de 2011. 

O atual prefeito, Emilson Borba Cunha, tirou do caixa 2 milhões de reais para animar o Carnaval deste ano e mais 2,2 milhões para bancar o oba‐oba no aniversário da cidade, ao som das vozes de Zezé di Camargo e Luciano, Fábio Jr. e Reginaldo Rossi. Guamaré tinha tudo para ser próspera. 

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Além  de  poços  de  petróleo,  tem  três  parques  eólicos,  um  terminal  aquaviário,  duas  usinas  de  biodiesel  e  uma refinaria da Petrobras, afora praias perfeitas para o turismo. Nos últimos quatro anos, o número de empresas locais dobrou para 266. Guamaré é hoje o 20o município do Brasil em PIB per capita: 90 230 reais, quase o triplo da renda paulistana. 

A prosperidade, porém, não passa de um efeito contábil,  fruto da divisão de um PIB  turbinado por uma pequena população de 12 000 habitantes. Não muito longe do centro estão comunidades como o Morro do Judas, um bairro com ruas de terra, sem água, luz e esgoto. 

Os moradores, como o agente de saúde Raurison Souza, precisam fazer gambiarras para garantir o mínimo de água em casa. A Petrobras chegou à cidade em 1982, mas até hoje a maior parte da população não tem qualificação para aproveitar as centenas de vagas abertas no setor de energia.  

Enquanto as empresas de petróleo  importam  trabalhadores de outros estados, um quarto da  cidade  trabalha na prefeitura, os analfabetos representam mais de um quinto da população (o dobro da média brasileira) e quase 10% vivem na extrema pobreza. O único  local onde os moradores poderiam obter alguma qualificação é no pequeno centro técnico do município, que oferece apenas 68 vagas em três cursos.  

Lucas Fenix de Oliveira, de 22 anos, até tentou entrar  lá, mas não conseguiu. Como as vagas são restritas, a escola não aceita que duas pessoas da mesma família estudem ao mesmo tempo. No caso de Oliveira, deram preferência ao irmão mais velho. Mas ele não desistiu de melhorar a formação. 

Após o  trabalho  como monitor ambiental numa  fundação,  faz bicos em um  supermercado e usa o dinheiro para bancar o curso de eletrotécnica, na cidade vizinha. O que prospera em Guamaré é o assistencialismo. Um total de 2 300 famílias recebe da prefeitura um cartão com 120 reais para gastar no comércio. 

Outras 267 estão no programa de auxílio‐aluguel. Há ainda 1 604 beneficiadas pelo Bolsa Família. Morando à beira do rio Aratuá, que contorna Guamaré, o pescador Toninho Fonseca e sua mulher acompanharam a transformação da terra natal nos últimos 30 anos. 

Criaram cinco  filhos com a  renda da pesca, a principal atividade da cidade antes da chegada da Petrobras. O que mudou para eles? O casal agora pode observar a cidade mais do alto, pois a casa ganhou um segundo piso erguido com restos de materiais abandonados por empresas. “O dinheiro que corre por aí não chega aos filhos de Guamaré”, diz Fonseca. 

Distorções 

Um estudo da consultoria Macroplan, obtido com exclusividade por EXAME,  indica que distorções observadas em Campos e Guamaré podem estar ocorrendo em muitos dos 905 municípios beneficiados por repasses da indústria do petróleo. O estudo avaliou as 25 cidades (16 no Rio de Janeiro, cinco no Espírito Santo e quatro em São Paulo) que mais receberam royalties de 2000 a 2010. 

No conjunto, elas arrecadaram, em  repasses do setor do petróleo, um  total de 27 bilhões de  reais no período. O dinheiro deveria ser aplicado para ampliar e aprimorar os serviços públicos, mas não foi o que se deu. Enquanto a arrecadação com royalties triplicou na década, o investimento das prefeituras cresceu apenas 24%. 

Isso explica em parte por que, na prática, a convivência com a cadeia do petróleo, que deveria impulsionar um ciclo virtuoso, tem contribuído para piorar a qualidade de vida em muitas localidades.  

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O que ocorreu é uma espécie de contrassenso. O dinheiro fez o produto interno bruto dos municípios crescer a taxas superiores às dos  respectivos estados. Mas a  renda da população não aumentou na mesma proporção e ainda é baixa. No conjunto das 25 cidades, quase 10% dos habitantes vivem com renda equivalente a um quarto do salário mínimo. 

É verdade que a chegada de novas empresas e o aumento dos investimentos elevaram a oferta de emprego formal — mas criaram efeitos colaterais. De 2003 a 2010, o número de postos com carteira assinada nas 25 cidades cresceu 65%, uma alta acima da média brasileira, de 49% no período. 

Mas os empregos em geral não foram ocupados com a mão de obra  local (que em sua maior parte não dispõe da qualificação exigida pela cadeia do petróleo). E  também não  foram suficientes para absorver o grande volume de migrantes  que  afluiu  para  essas  localidades.  Resultado:  90%  dos  municípios  tiveram  taxas  de  crescimento demográfico  superiores  à média de  seus  estados  e 80%  acumularam um  índice de desemprego  acima da média nacional.  

Como as cidades incharam, cresceu a demanda por serviços de saúde, saneamento, educação, treinamento de mão de obra e policiamento. A  falta de  trabalho e  a precariedade da  infraestrutura  contribuíram para o  aumento da violência. Hoje, 13 das 25 cidades têm taxas de homicídio acima das respectivas médias estaduais. 

Quatro  delas —  a  capixaba  Linhares  e  as  fluminenses  Búzios,  Cabo  Frio  e  Parati —  estão  na  lista  das  100 mais violentas do Brasil. “Esses municípios deveriam estar crescendo mais rapidamente e melhor do que os outros que não recebem royalties”, diz Alexandre Mattos, diretor da Macroplan e coordenador da pesquisa. 

“Mas não é o que está ocorrendo. Não há regras nem mecanismos de controle para a aplicação dos royalties, muito menos metas em relação aos benefícios que devem gerar.” 

Liberadas para fazer o que bem entendem com o dinheiro, as prefeituras deixam de lado investimentos que seriam importantes para o desenvolvimento local e consomem a maior parte com o custeio da máquina pública. Carapebus, no Rio de Janeiro, é um exemplo.  

Recebeu mais de 380 milhões de reais em royalties, mas nada lá lembra a pujança do petróleo. Ainda é uma cidade‐dormitório  para  quem  trabalha  em Macaé, município  vizinho  do  qual  se  emancipou  em  1997. O  poder  público responde por quase 90% dos postos de trabalho formal de Carapebus.  

A  falta  de mecanismo  de  controle  e  de  transparência  na  aplicação  dos  royalties  tem  outro  efeito  nefasto:  abre margem  para  a  corrupção.  Denúncias  de  desvio  de  recursos  são  recorrentes  nas  cidades  do  petróleo —  com repercussão sempre desagradável. 

A gestão pública e a economia do município de Presidente Kennedy, no Espírito Santo, perderam o rumo em abril, depois que uma operação da Polícia Federal, batizada de “Lee Oswald” (nome do acusado de matar John F. Kennedy em  1963,  ano  de  fundação  da  cidade  capixaba),  prendeu  o  então  prefeito,  Reginaldo  Quinta  (PTB),  e mais  27 pessoas, entre elas o presidente e o vice‐presidente da Câmara Municipal. 

O grupo é acusado de aplicar sobrepreços de até 80% em contratos de terceirização que somam 55 milhões de reais, o equivalente a um quarto do valor dos royalties recebidos pela cidade em 2010. Ao assumir a prefeitura, o vereador Jardeci Terra achou por bem romper e investigar os contratos com as empresas citadas no inquérito que investiga o caso. As terceirizações sob suspeita deixaram sem emprego cerca de 1 000 pessoas, o que provocou um baque no comércio da cidade, cuja população é de 10 000 habitantes. 

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Mesmo quando há acerto nas prioridades, a execução corre o risco de dar errado por falta de funcionários públicos competentes para gerenciar os projetos. Em 2001, Campos  lançou o Fundecam, um  fundo pelo qual a prefeitura oferecia empréstimos a juros baixos para as empresas que se instalassem na cidade. 

O objetivo era diversificar a economia, mas a avaliação das propostas e da  idoneidade dos tomadores do dinheiro era  falha. Ao  final,  a  taxa  de  inadimplência  do  fundo  superou  40%.  “Apareceu  picareta  do  país  inteiro  atrás  do dinheiro fácil do Fundecam”, afirma Roberto Moraes, engenheiro do Instituto Federal Fluminense, de Campos. 

“Não  houve  um  esforço  para  formar  uma  cadeia  produtiva.  As  empresas  escolhidas  eram  tão  diversas  quanto fábricas  de  fraldas  e  de macarrão.”  A  fábrica  de macarrão  a  que Moraes  se  refere  é  a  Duvêneto.  Ela  pegou empréstimos sucessivos, funcionou precariamente e fechou as portas em março, deixando uma dívida de 34 milhões de reais.  

Já a fábrica de refrigerantes do grupo Coroa, que deve 3,5 milhões à prefeitura, nem operou. O esqueleto do galpão industrial está abandonado às margens da rodovia BR‐101. 

A sucessão de descalabros que hoje se veem nas cidades beneficiadas pelos royalties deve servir de alerta: o Brasil precisa reavaliar o modelo de distribuição e de controle do uso da riqueza do petróleo. Como se  tem notado nas dicussões de governadores e prefeitos, a mera perspectiva de que essa riqueza tome mais corpo, caso se confirmem as previsões em relação à exploração do pré‐sal, já deflagrou uma guerra entre políticos pela partilha. 

“A exploração do petróleo vive de ciclos de 20 a 40 anos, que um dia terminam”, diz Mattos, da Macroplan. “O ciclo do Brasil está apenas no começo e precisamos decidir como usar melhor os recursos, para que, ao final, tenhamos municípios pujantes, e não grandes  favelas.” O  risco é o desperdício proliferar — e o país  jogar  fora uma grande chance de dar um salto de qualidade.  Disponível em: http://exame.abril.com.br/revista‐exame/edicoes/1022/noticias/a‐festa‐dos‐royalties. Acesso em 25 ago. 2012.   

Texto 1.3 – Reportagem:  

O Exemplo está ao Norte 

Graças à boa gestão da riqueza do petróleo, Stavanger, na Noruega, foi de pequena produtora de sardinhas a pujante centro comercial 

Por Daniel Barros e Patricia Ikeda, de EXAME (22/08/2012) 

Além  de  fazer  uma  radiografia  do  uso  dos  royalties  do  petróleo,  o  estudo  da  consultoria Macroplan  obtido  por EXAME traz recomendações para mudar a atual realidade das cidades beneficiadas por esses repasses. A orientação mais  importante:  “É  preciso  fazer  um  plano  para  o  futuro   de  cada  uma,  e  essa  tarefa  não  cabe  apenas  ao município”, diz Alexandre Mattos, diretor da Macroplan. “Estados e governo federal precisam contribuir para que o bônus do petróleo possa melhorar o saneamento, as rodovias, a educação, a formação das pessoas”. Como exemplo para o Brasil, Mattos cita Stavanger, a capital do petróleo na Noruega. Quando o primeiro poço foi descoberto, em 1969, a cidade dedicava‐se a pescar e enlatar sardinhas e a construir barcos, atividade desenvolvida desde o século 19. Como ocorre hoje com as cidades brasileiras, Stavanger atraiu empresas do setor de petróleo de várias partes do mundo e viu a população crescer rapidamente. Mas  lá a riqueza foi aplicada para transformar a cidade em centro comercial e cultural. Junto com as empresas, vieram profissionais especializados de outros países. Boa parte se fixou 

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lá, não apenas transferindo conhecimento técnico, mas dinamizando a cultura  local. Atualmente 18% dos 126.000 habitantes  são  estrangeiros  que  formam  uma  pequena  babel  de  170  nacionalidades.  O  ambiente  criado  pela diversidade  fez com que Stavanger  recebesse da União Europeia, em 2008, o  título de capital cultural da Europa, apesar de a Noruega não fazer parte do bloco. O governo norueguês se preocupou em desenvolver a mão de obra e a indústria local, mas, nos primeiros  anos, como o paíse não tinha conhecimento no setor, fez da iniciativa privada uma  parceira.  “O  poder  público  concordou  que  as  empresas  treinassem  as  pessoas  e  importassem máquinas  e equipamentos”, diz o economista Petter Osmundsen, da Universidade de Stavanger. 

Numa segunda etapa, a cidade priorizou investimentos que beneficiassem a população no longo prazo. Um deles foi aprimorar  a  educação  desde  a  infância  até  a  idade  de  ingresso  no mercado  de  trabalho,  incentivando  o  ensino técnico, uma  tradição no mercado europeu, e  também a graduação. A universidade  local oferece cursos voltados para a área de óleo e gás, como geociência de engenharia do petróleo e tecnologia para exploração em alto‐mar. Preocupada em não se tornar dependente da cadeia de petróleo, a cidade atraiu empresas de setores tão distintos quanto varejo, hotelaria, serviços financeiros e construção  civil. Hoje, mais de 60% dos quase 25.postos de trabalho estão no  setor de  serviços e em  lojas. Stavanger  tem uma das menores  taxas de desemprego da Europa, 1,8% – inferior até à da própria Noruega, que está em 2,5%. 

A ideia mais engenhosa dos noruegueses para não apenas preservar, mas principalmente multiplicar os ganhos com petróleo,  foi a criação de um  fundo governamental com recursos do setor. O  fundo recebeu aporte  inicial de 336 milhões de dólares em 1996. Ao final de 2011, a reserva somava 542 bilhões de dólares. O fundo está sob a tutela do Ministério das Finanças, que deve  indicar as políticas de  investimento, mas quem gerencia a operação é o Norges Bank, o banco central. O governo não pode sacar o principal. Tem acesso a apenas 4% do retorno anual do fundo – uma regra austera que evita a tentação do desperdício e é essencial para preservar a riqueza do petróleo para as gerações futuras. Uma ideia que deveria inspirar o Brasil. 

Fonte: Revista EXAME, 22/08/2012, p. 192‐193. 

 

TEXTOS 2 – ARTIGOS DE OPINIÃO  Texto 2.1 – Artigo de Opinião:  

Corrupção cultural ou organizada?  

Por Renato Janine Ribeiro*  

Precisamos evitar que a necessária indignação com as microcorrupções “culturais” nos leve a ignorar a grande corrupção. 

 Ficamos muito atentos, nos últimos anos, a um  tipo de corrupção que é muito  frequente em nossa  sociedade: o pequeno ato, que muitos praticam, de pedir um favor, corromper um guarda ou, mesmo, violar a lei e o bem comum para obter uma vantagem pessoal. Foi e é  importante prestar atenção a essa  responsabilidade que  temos, quase todos, pela corrupção política ‐por sinal, praticada por gente eleita por nós.  

Esclareço  que,  por  corrupção,  não  entendo  sua  definição  legal,  mas  ética.  Corrupção  é  o  que  existe  de  mais antirrepublicano,  isto é, mais contrário ao bem comum e à coisa pública. Por  isso, pertence à mesma  família que trafegar pelo acostamento, furar a fila, passar na frente dos outros. Às vezes é proibida por lei, outras, não. 

Mas, aqui, o que conta é seu  lado ético, não  legal. Deputados brasileiros e britânicos fizeram despesas  legais, mas não  éticas.  É  desse  universo  que  trato.  O  problema  é  que  a  corrupção  “cultural”,  pequena,  disseminada  ‐que 

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mencionei  acima‐  não  é  a  única  que  existe.  Aliás,  sua  existência  nos  poderes  públicos  tem  sido  devassada  por inúmeras iniciativas da sociedade, do Ministério Público, da Controladoria Geral da União (órgão do Executivo) e do Tribunal de Contas da União (que serve ao Legislativo). 

Chamei‐a de “corrupção cultural” pois expressa uma cultura forte em nosso país, que é a busca do privilégio pessoal somada a uma relação com o outro permeada pelo favor. É, sim, antirrepublicana. Dissolve ou impede a criação de laços importantes. Mas não faz sistema, não faz estrutura. 

Porque há outra corrupção que, essa, sim, organiza‐se sob a forma de complô para pilhar os cofres públicos ‐ e mal deixa  rastros. A  corrupção  “cultural”  é  visível  para  qualquer  um.  Suas  pegadas  são  evidentes. Bastou  colocar  as contas do governo na  internet para  saltarem aos olhos vários gastos  indevidos, os quais a mídia apontou no ano passado. 

Mas nem a tapioca de R$ 8 de um ministro nem o apartamento de um reitor ‐gastos não republicanos‐ montam um complô. Não fazem parte de um sistema que vise a desviar vultosas somas dos cofres públicos. Quem desvia essas grandes somas não aparece, a não ser depois de investigações demoradas, que requerem talentos bem aprimorados ‐ da polícia, de auditores de crimes financeiros ou mesmo de jornalistas muito especializados. 

O  problema  é  que,  ao  darmos  tanta  atenção  ao  que  é  fácil  de  enxergar  (a  corrupção  “cultural”),  acabamos esquecendo a enorme dimensão da corrupção estrutural, estruturada ou, como eu a chamaria, organizada. 

Ora, podemos  ter  certeza de uma  coisa: um  grande  corrupto não usa  cartão  corporativo nem  gasta dinheiro da Câmara com a  faxineira. Para que vai se expor com migalhas? Ele ataca somas enormes. E só pode ser pego com dificuldade. 

Se lembrarmos que Al Capone acabou na cadeia por ter fraudado o Imposto de Renda, crime bem menor do que as chacinas que promoveu, é de imaginar que um megacorrupto tome cuidado com suas contas, com os detalhes que possam levá‐lo à cadeia ‐e trate de esconder bem os caminhos que levam a seus negócios. 

Penso  que  devemos  combater  os  dois  tipos  de  corrupção. A  corrupção  enquanto  cultura  nos  desmoraliza  como povo. Ela nos torna “blasé”. Faz‐nos perder o empenho em cultivar valores éticos. Porque a república é o regime por excelência da ética na política: aquele que educa as pessoas para que prefiram o bem geral à vantagem  individual. Daí a importância dos exemplos, altamente pedagógicos. 

Valorizar o laço social exige o fim da corrupção cultural, e isso só se consegue pela educação. Temos de fazer que as novas gerações sintam pela corrupção a mesma ojeriza que uma formação ética nos faz sentir pelo crime em geral. 

Mas falar só na corrupção cultural acaba nos  indignando com o pequeno criminoso e poupando o macrocorrupto. Mesmo uma sociedade como a norte‐americana, em que corromper o fiscal da prefeitura é bem mais raro, teve há pouco um governo cujo vice‐presidente favoreceu, antieticamente, uma empresa de suas relações na ocupação do Iraque. 

A corrupção secreta e organizada não é privilégio de país pobre, “atrasado”. Porém, se pensarmos que corrupção mata  porque  desvia  dinheiro  de  hospitais,  de  escolas,  da  segurança‐,  então  a  mais  homicida  é  a  corrupção estruturada. Precisamos evitar que a necessária indignação com as microcorrupções “culturais” nos leve a ignorar a grande corrupção. É mais difícil de descobrir. Mas é ela que mata mais gente. 

*Renato  Janine Ribeiro, 59, professor  titular de Ética e Filosofia Política do Departamento de Filosofia da USP. É autor, entre outras obras, de “República” (coleção Folha Explica, Publifolha). 

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Disponível  em:  http://miriampondian.blogspot.com.br/2011/11/corrupcao‐cultural‐ou‐organizada.html. Acesso  em 25 ago. 2012. 

Texto 2.2 – Artigo de Opinião 

 

Cercando a teia da corrupção   

GAUDÊNCIO TORQUATO*   

Os dois maiores problemas brasileiros são a segurança pública e a corrupção. A percepção da população, apurada por pesquisas de opinião, ampara‐se em fundamentos ligados à própria sobrevivência, no caso, fatores que abrigam os mecanismos de conservação do  indivíduo: os  impulsos combativo e alimentar. O primeiro explica que a vida do ser humano é uma  luta permanente contra a morte, um combate  ininterrupto contra os perigos. Daí a prioridade absoluta que deposita em propostas  ‐ meio,  recursos, ações, política  ‐ para  sua  segurança.  Já o  segundo  leva as pessoas a buscarem os  insumos e as condições que  lhes garantam bem‐estar  físico e espiritual para enfrentar os desafios. Nesse nicho entra a vertente da corrupção, percebida como o conjunto de desvios, contrafações e ilícitos que resultam na apropriação de recursos públicos destinados ao bem‐estar da coletividade. Em outros termos, os cidadãos  inferem que corruptos e corruptores surrupiam milhões de reais que  lhes pertenceriam, o que diminui a possibilidade  de  contar  com  um  bolso  mais  polpudo  e,  assim,  garantir  o  estômago  mais  saciado.  Sob  essa compreensão, que se pode depreender da visão de Serge Tchakhotine (A Mistificação das Massas pela Propaganda Política), a sociedade vê com alegria a notícia de que o Brasil dá mais um passo na guerra contra a corrupção. 

O motivo de esperança é a decisão da Comissão de Juristas do Senado que classifica como crime o enriquecimento ilícito de  servidores públicos,  sejam modestos  funcionários, políticos, dirigentes de  empresas  e órgãos ou  juízes. Trata‐se de mais uma ferramenta a ser incorporada ao Código Penal, que já contempla larga faixa de crimes contra a administração  pública,  como  peculato,  extravio,  sonegação,  inutilização  de  documentos,  emprego  irregular  de verbas ou rendas públicas, concussão, corrupção passiva, facilitação de contrabando ou descaminho, prevaricação, condescendência criminosa, advocacia administrativa, exploração de prestígio, corrupção ativa e outros dispositivos versando sobre o leque da corrupção. Pela decisão a ser encaminhada à Mesa do Senado, ao Estado caberá provar que  o  servidor  acumulou  bens  de  forma  ilegal,  fato  a  ser  investigado  a  partir  da  declaração  de  bens  do  agente público, que ele apresenta ao tomar posse e atualiza anualmente. 

O  fato é que, em meio a mais uma onda de denúncias de corrupção a  serem apuradas no âmbito da CPI mista  ‐ agrupando, desta feita, tráfico de  influência, fraude em  licitações, formação de quadrilha, entre outros crimes  ‐, o País continua a buscar as melhores  formas para combater essa mazela, que é uma das mais corrosivas do  tecido institucional.  Basta  lembrar  que  a  soma  alcançada  pela  corrupção  é  estimada  em  cerca  de  R$  70  bilhões, correspondendo a mais de 2,5% do produto  interno bruto. Fossem  investidos em educação, veríamos um salto de quase 50% das matrículas do ensino fundamental, chegando a 52 milhões, o dobro de leitos em hospitais públicos, restritos a 370 mil, e a construção de cerca de 3 milhões de moradias. Há uma consciência generalizada de que a sensível diminuição do PNBC ‐ o produto nacional bruto da corrupção ‐  implicará efetiva expansão do  índice global de felicidade coletiva, que se poderia constatar pelo alargamento das fronteiras assistidas por programas de saúde, educação, mobilidade urbana, segurança, moradias, saneamento básico. 

A criação de mecanismos para combate direto às  franjas da corrupção  tem vital  importância. Mas a estratégia da criminalização do enriquecimento ilícito poderá ser inócua ou não oferecer resultados satisfatórios se não abranger a bateria de  causas que  aciona  a  engrenagem de  corruptos  e  corruptores. Vejamos  como o pano de  fundo que acolhe o alfabeto da corrupção é mal alinhavado. O Estado brasileiro abusa do poder discricionário. Nos corredores dos edifícios públicos montou‐se gigantesca máquina burocrática ‐ quase sempre focada no lema "criar dificuldades para obter  facilidades"  ‐  na qual  se  avolumam  restrições  às  atividades  comerciais  e produtivas, protecionismo  e subsídios para uns e  regras duras para outros, excesso de  imposições de  licenças de  importação/exportação. Está 

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mais do que provado que economias abertas e antidiscriminatórias limitam as maquinações de "grupos da propina". Ali a taxa de corrupção é menor.  

A política salarial na administração pública também contribui para a expansão das teias corruptoras na medida em que estimula fontes alternativas de renda. Forma‐se ambiente favorável à parceria de interesses de grupos privados e administradores da res publica. Abre‐se uma janela para o ingresso de agentes da esfera política. E a competição política se  torna acirrada, exigindo de candidatos "muita bala" para enfrentar os embates eleitorais. A "munição" costuma sair dos arsenais de empresas que prestam serviços às três instâncias: União, Estados e municípios. 

A par desse feixe causal, espraia‐se a cultura de impunidade, que se ancora na desigualdade de direitos. A lição de Anacaris, o sábio grego, vem à tona: "As  leis são como teias de aranha, os pequenos  insetos prendem‐se nelas, os grandes  rasgam‐nas  sem  esforço".  Portanto,  a  corrupção,  cujos  efeitos  impactam  o  crescimento  econômico,  o desenvolvimento social, a competitividade empresarial, a legitimidade dos governos e a própria essência do Estado, é um cancro que precisa ser combatido de maneira sistêmica. Atacar seus efeitos, fechando os olhos para as causas, significa perpetuar o Brasil do eterno retorno. 

Emerge,  portanto,  a  equação  das  reformas  em  algumas  frentes,  a  começar  pela  via  administrativa  com  a implantação da meritocracia. Auditorias públicas com fiscais concursados, ao lado do TCU, se fazem necessárias para fazer varreduras constantes. A  sociedade  civil, por meio de entidades  sérias, ajustaria o  foco da  lupa. Só assim a conduta ética e o padrão moral haveriam de semear a administração pública. 

 *GAUDÊNCIO TORQUATO é jornalista, professor titular da USP; é consultor político e de Comunicação.  Disponível em: http://oglobo.globo.com/pais/noblat/post.asp?cod_post=442507&ch=n. Acesso em 25 ago. 2012. 

 Texto 2.3 – Artigo de Opinião:   

TENDÊNCIAS/DEBATES (Folha de São Paulo, 19/05/2000) 

 Sobre política e jardinagem 

RUBEM ALVES* 

De todas as vocações, a política é a mais nobre. Vocação, do  latim "vocare", quer dizer "chamado". Vocação é um chamado  interior de  amor:  chamado de  amor por um  "fazer". No  lugar desse  "fazer" o  vocacionado quer  "fazer amor" com o mundo. Psicologia de amante: faria, mesmo que não ganhasse nada. 

"Política"  vem  de  "polis",  cidade. A  cidade  era,  para  os  gregos,  um  espaço  seguro,  ordenado  e manso,  onde  os homens  podiam  se  dedicar  à  busca  da  felicidade. O  político  seria  aquele  que  cuidaria  desse  espaço.  A  vocação política, assim, estaria a serviço da felicidade dos os moradores da cidade. 

Talvez por terem sido nômades no deserto, os hebreus não sonhavam com cidades; sonhavam com  jardins. Quem mora no deserto sonha com oásis. Deus não criou uma cidade. Ele criou um jardim. Se perguntássemos a um profeta hebreu "o que é política?", ele nos responderia: "A arte da jardinagem aplicada às coisas públicas". 

O político por vocação é um apaixonado pelo grande jardim para todos. Seu amor é tão grande que ele abre mão do pequeno  jardim  que  ele  poderia  plantar  para  si mesmo. De  que  vale  um  pequeno  jardim  se  a  sua  volta  está  o deserto? É preciso que o deserto inteiro se transforme em jardim. 

Amo a minha vocação, que é escrever. Literatura é uma vocação bela e  fraca. O escritor  tem amor, mas não  tem poder. Mas o político tem. Um político por vocação é um poeta forte: ele tem o poder de transformar poemas sobre jardins em jardins de verdade. 

A vocação política é transformar sonhos em realidade. É uma vocação tão feliz que Platão sugeriu que os políticos não precisam possuir nada: bastar‐lhes‐ia o  grande  jardim para  todos.  Seria  indigno que o  jardineiro  tivesse um 

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espaço  privilegiado, melhor  e  diferente  do  espaço  ocupado  por  todos.  Conheci  e  conheço muitos  políticos  por vocação. Sua vida foi e continua a ser um motivo de esperança. 

Vocação é diferente de profissão. Na vocação a pessoa encontra a felicidade na própria ação. Na profissão o prazer se encontra não na ação. O prazer está no ganho que dela se deriva. O homem movido pela vocação é um amante. Faz amor com a amada pela alegria de fazer amor. O profissional não ama a mulher. Ele ama o dinheiro que recebe dela. É um gigolô. 

Todas  as  vocações podem  ser  transformadas  em profissões. O  jardineiro por  vocação  ama o  jardim de  todos. O jardineiro por profissão usa o jardim de todos para construir seu jardim privado, ainda que, para que isso aconteça, ao seu redor aumentem o deserto e o sofrimento. 

Assim é a política.  São muitos os políticos profissionais. Posso, então, enunciar minha  segunda  tese: de  todas as profissões, a política é a mais vil. O que explica o desencanto total do povo, em relação à política. Guimarães Rosa, questionado por Günter Lorenz se ele se considerava político, respondeu: "Eu  jamais poderia ser político com toda essa charlatanice da realidade. Ao contrário dos "legítimos" políticos, acredito no homem e lhe desejo um futuro. O político pensa  apenas  em minutos.  Sou  escritor  e penso  em  eternidades.  Eu penso na  ressurreição do homem". Quem pensa em minutos não tem paciência para plantar árvores. Uma árvore leva muitos anos para crescer. É mais lucrativo cortá‐las. 

Nosso  futuro depende dessa  luta entre políticos por vocação e políticos por profissão. O  triste é que muitos que sentem  o  chamado  da  política  não  têm  coragem  de  atendê‐lo,  por medo  da  vergonha  de  ser  confundidos  com gigolôs e de ter de conviver com gigolôs. 

Escrevo para você, jovem, para seduzi‐lo à vocação política. Talvez haja um jardineiro adormecido dentro de você. A escuta  da  vocação  é  difícil,  porque  ela  é  perturbada  pela  gritaria  das  escolhas  esperadas,  normais,  medicina, engenharia, computação, direito, ciência. Todas elas são legítimas, se forem vocação. Mas todas elas são afunilantes: vão colocá‐lo num pequeno canto do jardim, muito distante do lugar onde o destino do jardim é decidido. Não seria muito mais fascinante participar dos destinos do jardim? 

Acabamos de celebrar os 500 anos do Descobrimento do Brasil. Os descobridores, ao chegar, não encontraram um jardim. Encontraram uma selva. Selva não é  jardim. Selvas são cruéis e  insensíveis,  indiferentes ao sofrimento e à morte. Uma selva é uma parte da natureza ainda não tocada pela mão do homem. 

Aquela selva poderia ter sido transformada num jardim. Não foi. Os que sobre ela agiram não eram jardineiros, mas lenhadores e madeireiros. Foi assim que a selva, que poderia ter se tornado  jardim, para a felicidade de todos, foi sendo transformada em desertos salpicados de luxuriantes jardins privados onde poucos encontram vida e prazer. 

Há descobrimentos de origens. Mais belos  são os descobrimentos de destinos. Talvez,  então,  se os políticos por vocação se apossarem do jardim, poderemos começar a traçar um novo destino. Então, em vez de desertos e jardins privados,  teremos  um  grande  jardim  para  todos,  obra  de  homens  que  tiveram  o  amor  e  a  paciência  de  plantar árvores em cuja sombra nunca se assentariam.  *Rubem Alves, 66, educador, escritor e psicanalista, é professor emérito da Universidade Estadual de Campinas. É autor de "Entre a Ciência e a Sapiência: o Dilema da Educação" (Edições Loyola), entre outras obras. 

 FONTE: Folha de São Paulo, 19/05/2000. 

        

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Texto 2.4 – Artigo de Opinião:  

Breve história dos mensalões  

CHICO ALENCAR* (23/08/2012) 

"O Código Penal é a causa de todos os crimes" Millôr 

 Mensalão não é  tipo penal. Mas os delitos de corrupção,  formação de quadrilha,  lavagem de dinheiro, evasão de divisas, peculato, gestão fraudulenta e caixa dois de campanha que essa marca de fantasia abriga são. Em variados graus, esses crimes estão presentes entre nós, em sucessivos escândalos, dos primórdios de nossa colonização até o Cachoeira/Delta do momento.   Do ponto de vista histórico, poderíamos numerar o julgamento em curso no STF como Ação Penal 500, e não 470... O Brasil formou‐se com estadania e sem cidadania, e a engrenagem dirigente, seja a da Ordem de Cristo aliançada com o  Estado  absolutista  português,  seja  a  dos  governos  republicanos,  favoreceu  o  patrimonialismo  de  grupos privilegiados.   Bem além do tráfico de influência que Caminha, escrivão da frota de Cabral, praticou junto a El Rei ‐‐pedindo o fim do degredo de seu genro‐‐, o que maculou a sociedade que aqui se forjava foi o tráfico de africanos escravizados, a concentração  fundiária e  a dizimação dos povos nativos. Corrupção  secular e estrutural, que nos  faz  sangrar até hoje.   O  Império manteve monocultura,  latifúndio e, como  rezava a Constituição outorgada em 1824, "o contrato entre senhores e escravos". Terras e vidas eram bens a serem surrupiados. A quadrinha popular denunciava: "Quem rouba pouco é ladrão/ quem rouba muito é barão".   A República Velha, patriarcal e coronelista, instituiu um sistema eleitoral baseado na fraude: currais eleitorais, voto de cabresto, eleições a bico de pena. Há dramática continuidade disso na atual campanha municipal: nas periferias e nos grotões, vicejam o compadrio, o mandonismo e a compra de votos.   A  partir  de  1930,  com  o  fortalecimento  do  setor  público  no  Brasil,  cresceram  as  oportunidades  de  corrupção  e aumentou também a reação a ela, inclusive da imprensa.   

A diversidade política, ampliada a partir de 1945 ‐‐ainda que com o longo intervalo trevoso e de corrupção oculta da ditadura  civil‐militar de 1964‐‐ metabolizou maléfica  criatividade para  a  consolidação do que hoje  se  chama governabilidade.   

O  presidencialismo  de  coalizão  é  de  cooptação.  Repasse  de  dinheiro,  oferta  de  cargos  e  liberação  de  emendas cristalizam o adesismo atávico que permeia nossa tradição política.   O  processo  de  privatizações,  sob  a  capa  da  modernidade,  nos  anos  1990,  foi  eivado  de  desvios  e  falta  de transparência.  Mas  não  carimbemos  a  roubalheira  como  característica  nacional.  Favorecimento  a  grandes conglomerados,  aplicações  em  paraísos  fiscais  e  manipulação  de  taxas  de  juros  para  ganhos  financeiros  são fenômenos mundiais. Quanto mais nossa economia se internacionaliza, mais internalizamos essa dinâmica nefasta.  Espera‐se que o Supremo fixe um marco histórico que, vivificado por uma nova consciência cidadã, condene esses crônicos abusos na conquista e no exercício do poder.   

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O  sistema  político,  que  a  representação  parlamentar  não  ousa  reformar,  é  indutor  de  corrupção,  cuja  porta  de entrada é o financiamento milionário das campanhas.  Não é da natureza das empresas fazer doações, e sim investimentos.   Urge reagir ao fatalismo do "é assim mesmo" ou à legitimação do ilegítimo "todos fazem", como sempre alega o PT. O  Brasil  está  diante  de  uma  encruzilhada:  pode  afirmar  o  princípio  da  ética  na  política  ou  naturalizar  a  sua degradação.   A saída depende de uma postura institucional que demanda lastro cultural e pessoal. Que vigore a Carta Magna de artigo único atribuída a Capistrano de Abreu (1853‐1927): "Todo brasileiro deve ter vergonha na cara".  

*CHICO ALENCAR, 62, professor de história, é e deputado federal pelo PSOL‐RJ.   Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/1141702‐tendenciasdebates‐breve‐historia‐dos‐mensaloes.shtml. Acesso em 25 ago. 2012.  

Texto 2.5 – Artigo de Opinião:  

Gestão é o remédio que a saúde precisa 

Por Natalia Cuminale  

Criado em 1988, o Sistema Único de Saúde tinha um objetivo claro: universalizar o atendimento aos brasileiros, que, em troca, pagam altos impostos. Como é de conhecimento público, não foi isso o que aconteceu. Passados 22 anos, usuários enfrentam filas e esperam meses e até anos para conseguir realizar uma cirurgia eletiva ‐ os procedimentos não emergenciais. Seria ainda pior se parte da população ‐ 26,3% ‐ não tivesse abandonado o SUS, pagando um valor extra por planos privados de saúde. 

Especialistas  são  unânimes  quanto  ao  remédio  que  poderia  curar  o  SUS:  mais  dinheiro.  Nas  contas  de  Ligia Giovanella,  pesquisadora  da  Escola Nacional  de  Saúde  Pública  Sergio Arouca,  ligada  à  Fundação Oswaldo  Cruz,o Brasil  precisaria  ao menos  dobrar  os  recursos  destinados  ao  setor. Mas  não  é  fácil,  uma  vez  que  boa  parte  do Orçamento  federal é comprometida com outras despesas. E não é  tudo. Além de mais dinheiro, o SUS precisa de mais gestão. "É necessário um reordenamento do destino dos atuais gastos, priorizando o investimento em setores que dinamizem o  setor", diz  Lígia Bahia, professora de  Saúde Pública da Universidade  Federal do Rio de  Janeiro (UFRJ). 

O desejado choque de gestão deveria começar pela própria administração do sistema, defendem especialistas. "Os gestores  do  SUS  são,  em  sua  maioria,  indicados  por  motivos  políticos,  mas  a  saúde  é  uma  área  que  requer conhecimento técnico amplo em todas as etapas: planejamento, execução e avaliação dos resultados", diz Newton Lemos,  consultor  em  Serviços  de  Saúde  da  Organização  Mundial  da  Saúde.  "Não  é  uma  coisa  que  qualquer profissional – que não de carreira – pode fazer". 

Outro  alvo  de  mudanças  seria  o  programa  Saúde  da  Família,  que  fornece  atendimento  básico  à  população previamente  inscrita. Atualmente,  apenas 50% das  famílias brasileiras  fazem parte do programa  ‐ o  ideal  seriam 80%. Atender mais gente demandaria mais médicos, estrutura e, portanto, recursos? Óbvio. Contudo, nas contas dos especialistas, o  investimento seria compensado pela economia advinda dos frutos do atendimento preventivo. Por exemplo:  ao  invés  de  um  cidadão  procurar  um  hospital  quando  já  se  encontra  doente,  o  que  demanda  um tratamento caro, ele receberia cuidados permanentes e prévios. 

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"Estender o acesso ao médico da família é uma estratégia  importante", afirma Gastão Wagner de Souza, professor da  Universidade  Estadual  de  Campinas  (Unicamp)  e  ex‐secretário  executivo  do Ministério  da  Saúde.  "Cidadãos inscritos nesse programa  recebem atendimento clínico, o que diminui a busca desnecessária por especialistas e a realização de exames. Você gasta menos, com resultados melhores". 

Por  fim, nunca é demais  lembrar: em matéria de dinheiro público, é preciso endurecer a  fiscalização dos gastos. "Precisamos  fortalecer  os  conselhos  de  saúde,  que  exercem  tal  controle",  completa  Maria  Fátima  de  Souza, coordenadora do Núcleo de Estudos em Saúde Pública da Universidade de Brasília (UnB). 

Curar o SUS deverá ser uma tarefa cada vez mais importante nos próximos anos. Isso porque é provável que parte da classe média, que atualmente, conta com planos privados, migre para o sistema público. Segundo projeção realizada pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) e pelo Procon, se mantidos os atuais níveis de reajustes de mensalidades nos próximos 30 anos, as tarifas deverão subir mais de 120% acima da inflação medida pelo Índice de Preços  ao Consumidor Amplo  (IPCA).  É  verdade que  a maior parte dos planos  são  custeados parcialmente pelas empresas. Contudo,  é provável que  aumentos  como os  estimados pelo  Idec/Procon não  sejam  assimiláveis nem mesmo pelas companhias. 

Há algumas alternativas ao sistema, menos uma: a criação de mais impostos para alimentar a saúde ‐ a exemplo do que ocorreu no passado  com a CPMF.  "No  curto prazo, os políticos que  só pensam em  seu mandato encontram resultados  com  a  medida. Mas,  no  médio  e  longo  prazos,  é  preciso  lembrar  que  novos  tributos  diminuem  o crescimento  econômico",  explica  Marcos  Bosi  Ferraz,  diretor  do  Centro  Paulista  de  Economia  da  Saúde,  da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). 

Disponível em: http://veja.abril.com.br/noticia/saude/gestao‐e‐o‐remedio‐que‐a‐saude‐precisa. Acesso em 30 ago. 2012. 

  TEXTO 3 ‐ EDITORIAL  Texto 3.1 – Editorial  

Despesa indisciplinada 

A bandeira mais vistosa dos militantes pela educação é o aumento de verbas, e a opinião pública costuma aplaudir qualquer recurso adicional com essa finalidade. Dados recentes recomendam rever e aprimorar esse conceito.  

Tem havido forte expansão dos gastos em educação, nos três níveis de governo. Desde meados da década passada, por exemplo, foram de 3,9% para 5,1% do PIB, nível similar ao de países desenvolvidos.  

As despesas da União mostram que persiste a tendência de alta. Neste ano, o Ministério da Educação (MEC) chegou a assumir a inédita condição de pasta com maior volume de investimentos (obras e aquisição de equipamentos).  

Uma parte do crescimento decorre da meritória iniciativa do Fundeb, o fundo de financiamento da educação básica ampliado para abarcar o ensino infantil e médio. Outros propulsores do gasto, contudo, flertam com o desperdício, a ineficiência e o clientelismo.  

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No governo federal sob o PT, saltou de 136 mil para 186 mil o quadro de docentes e técnicos administrativos das universidades federais, onde a proporção de 13 alunos por professor está entre as mais baixas do país e do mundo. Elas contam com R$ 22,5 bilhões no Orçamento atual; cinco anos atrás, eram R$ 15,9 bilhões, em valores corrigidos.  

O MEC também dedica cifras crescentes a intervenções diretas no ensino básico. Decide, por conta própria e a partir de pleitos regionais, sobre miudezas como compra de móveis para escolas e reformas de quadras esportivas.  

Operações  do  gênero,  que  invadem  a  competência  federativa  de  Estados  e  municípios,  preponderam  no investimento recorde de R$ 6 bilhões da pasta (janeiro a julho).  

Exemplos assim dão sinal do que poderia acontecer se fosse levada a sério a virtualmente irrealizável meta de aplicar 10% do PIB na educação pública, aprovada por comissão especial da Câmara.  

Em vez de disciplinar despesas, Brasília produz más ideias. A última, do ministro Aloizio Mercadante, é trocar a prova em que  se baseia o  índice que  apontou estagnação do ensino médio no país, depois que  a nota dos  alunos,  ao contrário do gasto, parou de aumentar.  

Disponível  em:  http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/1143564‐editorial‐despesa‐indisciplinada.shtml.  Acesso  em 27 ago. 2012. 

 FONTE: Folha de São Paulo, 27/08/2012. 

 TEXTO 4 – LETRA DE MÚSICA  Texto 4.1 – Letra de Música  

Pega ladrão!  

(Gabriel O Pensador/Tiago Mocotó/Aninha Lima/Liminha)  

 

"‐ Vossa Excelência, agora explique, mas não complique! 

‐ Vossa Excelência, eu já expliquei! Eu não vi essa lista. 

Eu afirmo com a mais absoluta certeza e sinceridade 

Que eu nunca vi essa lista! 

Não sei dessa lista, não quero saber e tenho raiva de quem sabe! 

Quem disser que eu vi essa lista é um mentiroso, 

E vai ter que provar! E se provar, vai se ver comigo!" 

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Pega ladrão! No Governo! 

Pega ladrão! No Congresso! 

Pega ladrão! No Senado! 

Pega lá na Câmara dos Deputados! 

Pega ladrão! No Palanque! 

Pega ladrão! No Tribunal! 

É por causa desses caras 

Que tem gente com fome 

Que tem gente matando 

Etc e tal... 

REFRÃO: 

Pega, pega! 

Pega, pega ladrão! 

Pega, pega! 

Pega, pega ladrão! 

Pega, pega 

Pega, pega ladrão! 

A miséria só existe porque tem corrupção! 

Pega, pega! 

Pega, pega ladrão! 

Pega, pega! 

Pega, pega ladrão! 

Pega, pega 

Pega, pega ladrão! 

Tira do Poder, Bota na prisão! 

E você que é um simples mortal 

Levando uma vidinha legal 

Alguém já te pediu 1 real? 

Alguém já te assaltou no sinal? 

Você acha que as coisas vão mal? 

Ou você tá satisfeito? 

Você acha que isso é tudo normal? 

Você acha que o país não tem jeito? 

Aqui não tem terremoto 

Aqui não tem vulcão 

Aqui tem tempo bom 

Aqui tem muito chão 

Aqui tem gente boa 

Aqui tem gente honesta 

Mas no poder é que tem gente que não presta 

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"Eu fui eleito e represento o povo brasileiro. 

Confie em mim que eu tomo conta do dinheiro." 

REFRÃO  

Tira esse malando do poder executivo! 

Tira esse malandro do poder judiciário! 

Tira esse malandro do poder legislativo! 

Tira do poder que eu já cansei de ser otário! 

Tira esse malandro do poder municipal! 

Tira esse malandro do governo estadual! 

Tira esse malandro do governo federal! 

Tira a grana deles e aumenta o meu salário! 

"‐ Tá vendo essa mansão sensacional? 

Comprei com o dinheiro desviado do hospital. 

‐ Ah! E o meu cofre cheio de dólar? 

É o dinheiro que seria pra fazer mais uma escola. 

‐ Precisa ver minha fazenda! Comprei só com o dinheiro da merenda! 

‐ E o meu filhão? Um milhão só de mesada! 

E tudo com o dinheiro das crianças abandonadas. 

‐ E a minha esposa não me leva à falência 

Porque eu tapo esse buraco com o rombo da Previdência. 

‐ Vossa excelência, cê não viu meu avião? 

Comprei com uma verba que era pra construir prisão! 

‐ E a superlotação? 

‐ Problema do povão! Não temos imunidade? Pra nós não pega não." 

REFRÃO  

A miséria só existe porque tem corrupção 

Desemprego só aumenta porque tem corrupção 

Violência só explode porque tem tanta miséria e desemprego 

Porque tem tanta corrupção! 

"Todos que me conhecem sabem muito bem que eu não admito 

O enriquecimento do pobre e o empobrecimento do rico." 

E você, que nasceu nesse país 

E que sonha e que sua pra ser feliz 

Você presta atenção no que o candidato diz? 

Ou cê vota em qualquer um, seu babaca? 

E depois da eleição você cobra resultado? 

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Ou fica ai parado de braço cruzado? 

Cê lembra em quem votou pra deputado? 

E quem você botou lá no Senado? 

REFRÃO  

"‐ Como vocês suspeitavam, eu realmente vi essa lista. 

Eu vi, mas não li. E digo mais, eu engoli. 

Pra que ninguém lesse também. E foi com a melhor das intenções. 

Burlei a Lei, mas com toda honestidade! 

‐ Vossa Excelência engoliu a lista? 

‐ Bem, eu a coloquei para dentro do meu organismo, 

Num lugar seguro e escuro. De modo que pra todos os efeitos, 

Sendo assim desta maneira, eu me reservo ao direito 

De não dizer nada mais. Tá tudo publicado nos anais. 

‐ Mas ontem o senhor falou que não viu a lista. 

Hoje o senhor fala que viu a lista. E amanhã o senhor... 

‐ Ah! Amanhã ninguém lembra mais! 

E o caso da lista vai entrar prá lista dos casos, 

Os casos que ficaram pra trás..." 

Disponível em: http://letras.mus.br/gabriel‐pensador/73483/. Acesso em 25 ago. 2012.  

TEXTOS 5 – CHARGES   Texto 5.1 – Charge: 

Disponível em: http://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/9037‐charges‐agosto#foto‐179492. Acesso em 29 ago. 2012. 

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Texto 5.2 – Charge: 

Disponível em: http://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/9037‐charges‐agosto#foto‐176665. Acesso em 29 ago. 2012. 

Texto 5.3 – Charge: 

Disponível em: http://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/9037‐charges‐agosto#foto‐173853. Acesso em 29 ago. 2012. 

    

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Texto 5.4 – Charge:  

  

Disponível em: http://www.igepri.org/observatorio/?p=5139. Acesso em 25 ago. 2012.  

TEXTO 6 – PENSAMENTO  Texto 6.1 – Pensamento  

"A corrupção não é uma invenção brasileira, mas a impunidade é uma coisa muito nossa." 

Jô Soares 

 TEXTO 7 – TIRINHA  Texto 7.1 – Tirinha  

  Disponível em: http://centraldastiras.blogspot.com.br/2010/09/mafalda‐politica‐economica.html. Acesso em 31 ago. 2012. 

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 TEXTOS COMPLEMENTARES  (ANEXOS 1, 2 e 3)   

Anexo 1 – Lei Título: Lei Complementar No. 101 de 04 de maio de 2000.  Disponível em: file:///C:/2012_aaPROGRAMA%20DE%20LEITURA%202SEM/GEST%C3%83O%20P%C3%9ABLICA/Lcp101.htm. Acesso em 19 ago. 2012.  

Anexo 2 – Convenção Título: Convenção Interamericana Contra a Corrupção Disponível em: http://www.cgu.gov.br/oea/convencao/arquivos/convencao.pdf . Acesso em 19 ago. 2012.  

Anexo 3 – Cartilha Título: Cartilha Olho Vivo no Dinheiro Público  Disponível em:  http://www.cgu.gov.br/publicacoes/CartilhaOlhoVivo/Arquivos/CartillhaOlhoVivo_baixa_V2.pdf . Acesso em 19 ago. 2012.