distribuição dos royalties do petróleo no brasil
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Palavras Chave: Direito Constitucional – Direito do Petróleo – Distribuição dos Royalties– Função Social dos Royalties – Pacto Federativo– Ativismo Judicial. Key Words: Constitutional Law – Oil & Rights - Distribution of Royalties - Constitutional Principles - Social Function of Royalties - Federative Pact - Judicial Activism.TRANSCRIPT
FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS/IBMEC
Curso de Direito
“DISTRIBUIÇÃO DOS ROYALTIES DO PETRÓLEO NO BRASIL”.
LLUUÍÍSS OOCCTTAAVVIIOO CCAARRDDOOSSOO GGIILL PPIIMMEENNTTEELL
ORIENTADOR: DR. RODRIGO CÔRTES RONDON
Rio de Janeiro
2013.1
“DISTRIBUIÇÃO DOS ROYALTIES DO PETRÓLEO NO BRASIL”
LUÍS OCTAVIO CARDOSO GIL PIMENTEL
Trabalho de Conclusão de Curso de Direito, apresentada como pré-requisito à
obtenção do título de Bacharel em Direito da Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas/Ibmec
RJ.
Área de Concentração: Direito Constitucional e do Petróleo.
Professor Orientador: Dr. Rodrigo Côrtes Rondon
Rio de Janeiro
2013.1
FOLHA DE APROVAÇÃO
“DISTRIBUIÇÃO DOS ROYALTIES DO PETRÓLEO NO BRASIL”
LUÍS OCTAVIO CARDOSO GIL PIMENTEL
Trabalho de Conclusão de Curso de Direito, apresentada como pré-requisito à
obtenção do título de Bacharel em Direito da Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas/Ibmec
RJ.
Banca Examinadora:
_____________________________________________________
Professor Doutor RODRIGO CÔRTES RONDON
Orientador
_____________________________________________________
Professora Doutora CARLA IZOLDA FIÙZA COSTA MARSHALL
Examinadora
_____________________________________________________
Professor Mestre MAURÍCIO CARLOS ARAÚJO RIBEIRO
Examinador
FICHA CATALOGRÁFICA
FICHA CATALOGRÁFICA – GRADUAÇÃO EM DIREITO
1) Luís Octavio Cardoso Gil Pimentel;
2) Distribuição Dos Royalties Do Petróleo No Brasil
3) 2013;
4) Área de concentração: Direito Constitucional e do Petróleo.
5) Distribuição dos Royalties do Petróleo no Brasil;
6) A Constitucionalidade nos modelos distributivos dos royalties; A Justiça
nos critérios de distribuição dos royalties; o caráter compensatório do instituto; análise do
Pacto Federativo Brasileiro; direito adquirido e ato jurídico perfeito referentes aos contratos
celebrados sob a vigência de Leis distintas; os poderes majoritários e o poder
contramajoritário na análise do tema; as teses concernentes ao novo modelo de distribuição.
7) Direito Constitucional – Direito do Petróleo – Distribuição dos
Royalties– Função Social dos Royalties – Pacto Federativo– Ativismo Judicial.
8) A distribuição dos royalties do petróleo no Brasil como uma questão de
justiça federativa.
9) Graduação em Direito
.
1
DEDICATÓRIA
Dedico a presente monografia ao meu avô Jorge Pimentel, por ser um exemplo
vivo de integridade e ética na profissão e em sua vida pessoal. Ainda, não poderia deixar de
mencionar que sempre foi colaborativo e proativo, nunca deixando de prestar apoio a
ninguém, inclusive, sou extremamente grato à ajuda que me foi dada na antecipação do meu
ingresso no universo acadêmico.
2
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus avós Áurea, Dirson, Marlene e Jorge, por terem
desempenhado tão importante papel na minha formação como ser humano, sendo que cada
um colaborou e contribuiu de alguma forma igualmente relevante. Agradeço aos meus pais
Rita e Luís, pelos ensinamentos, apoio e educação providos desde sempre.
Agradeço aos meus irmãos Rafaela e Gabriel, por terem me ajudado e
continuarem ajudando em momentos decisivos, apesar das eventuais contendas. Agradeço
também aos demais parentes colaterais, que me apoiaram, ensinaram ou ajudaram de algum
modo, em especial, à minha tia Cristina, pessoa que sempre esteve presente e, também,
presenteando. Não poderia deixar de agradecer à minha tia Denise e ao meu tio Jorge, que de
igual modo, apesar da distância, sempre deram todo o apoio necessário.
Agradeço à minha namorada Beatriz, mais conhecida como Bia, por tudo o que
tivemos nesses últimos quatro anos e por ser a mais amável, caridosa e prestativa pessoa.
Apesar de não ser astrólogo e não poder predizer o futuro, sei que ela cumprirá todos os seus
objetivos e sonhos. Agradeço também a sua família por ter me acolhido, com boa vontade,
nesses anos todos.
Agradeço ao meu professor e orientador Dr. Rodrigo Côrtes Rondon, pela enorme
paciência, dedicação, debates e ajuda no presente trabalho, em sala de aula (por três vezes, em
três distintas matérias), no núcleo de pesquisa e na vida.
Agradeço à professora Dra. Carla Izolda Fiuza Costa Marshall por ter me
lecionado, dentre outras matérias, a eletiva de Direito do Petróleo, o que fez expandir meu
interesse e conhecimento sobre o tema, inclusive por meio de um trabalho que serviu de
subsídio para a presente obra.
Agradeço aos professores, em especial Daniel Santos, Raphael Sodré e Anselmo
Álvaro Martins, que em muito contribuíram para a minha formação antes de entrar para a
faculdade.
Agradeço também às professoras Liane Simoni, Simone Cuber, Isabella Bottino,
Adriana Ramos Costa, Marta Skinner, Ângela Fatorelli, Márcia Xavier, Patrícia Garcia,
Denise Soares, Maria Ignez Baldez, Rosângela Gomes, Flávia Cavazotti, Daniela Barcellos,
Márcia Fernandez e Beatriz Roland.
Agradeço igualmente aos professores Miguel Baldez, José Carlos Vasconcellos,
Vinícius Scarpi, Taiguara Líbano, Maurício Ribeiro, José Maria Machado Gomes, Arthur
Gueiros, Rubens Casara, José Eduardo Junqueira Ferraz, Edgar Lyra, Guilherme Lemos,
Byron Melo Rosa, Gilson Oliveira e Rafael da Mota Mendonça.
3
Agradeço aos amigos que participaram do grupo do trabalho sobre a Tese
Favorável à Nova Distribuição dos Royalties do Petróleo que em muito me ajudaram a
aprender sobre o tema e que cederam o parecer para ser usado na presente obra. São esses:
Rafaella Schwartz Jaroslavsky, Antônio Oliveira Filho, Bernardo Ortigão, Jonatham Marques
da Fonseca, Leonardo Rezende Cecílio, Luiz Felipe Lima e Pedro Onofre.
Agradeço as minhas amigas e aos meus amigos da escola, da faculdade, dos
estágios e as demais amizades. Na faculdade, agradecimentos especiais aos colegas de turma e
de períodos próximos; da Chapa A e a todos aqueles que emprestaram seus cadernos.
4
Epígrafe
Alea jacta est.
Júlio César, 49 a.e.v.
5
RESUMO
A presente obra concerne ao tema da distribuição dos royalties do petróleo no
Brasil, sendo essa observada por meio de sua perspectiva histórica, econômica, social e,
principalmente, jurídica. De modo a obter a resolução da controvérsia no corrente tema,
analisam-se os aspectos constitucionais e infracontistucionais mais relevantes, em acordo com
os mecanismos de interpretação do Direito. Assim, a análise que é submetida à regra
constitucional e a sua regulamentação legal, está em consonância com um estudo amplo do
ordenamento jurídico e as demais questões que o permeiam.
As principais teses referentes à vexata quaestio são trazidas a este trabalho, de
modo, a se ter um panorama do todo, onde se torna possível a construção de uma síntese
coerente com o que fora observado no presente estudo. Desse modo, evita-se retirar do
contexto não só jurídico, mas também social, que incide sobre o presente tema para que a
conclusão possa ser obtida de modo mais amplo e justo.
Palavras Chave: Direito Constitucional – Direito do Petróleo – Distribuição dos
Royalties– Função Social dos Royalties – Pacto Federativo– Ativismo Judicial.
6
ABSTRACT
The present work concerns the issue of petroleum royalties distribuition in Brazil,
being observed by its historic, economic, social and, mainly, legal perspectives. In order to
obtain the resolution of the dispute in the current issue, the most relevant constitutional and
infraconstitutional aspects are analyzed, in accordance with the law interpretation mecanisms.
Therefore, the analysis that is submited to the constituional rule and its legal regulation is in
accordance with an extensive study of the juridic ordainment and other issues that permeat it.
The main theses regarding vexata quaestio are brought to this work so as to have
an overview of the whole, where becomes possible a construction of a coherent synthesis with
what was observed in this present study. Thus, it is avoied removing from the context not only
legal, but also social, that comes to the present theme into wich the conclusion can be
obtained in a wider and fairer way.
Key Words: Constitutional Law – Oil & Rights - Distribution of Royalties -
Constitutional Principles - Social Function of Royalties - Federative Pact - Judicial Activism.
7
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ADI Ação Direta de Inconstitucionalidade
AIE Agência Internacional de Energia
ANP Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis
Art. Artigo
BBC British Broadcasting Corporation
Braspetro Petrobras Internacional S.A.
CNP Conselho Nacional do Petróleo
CNPE Conselho Nacional de Política Energética
CRFB Constituição da República Federativa do Brasil
Coord. Coordenador(a)
DF Distrito Federal
E&P Exploração e Produção
EC Emenda Constitucional
FPE Fundo de Participação dos Estados
FPM Fundo de Participação dos Municípios
ICMS Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços
IPTU Imposto Predial e Territorial Urbano
IPVA Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores
ISS Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza
MP Medida Provisória
MS Mandado de Segurança
OPEP Organização dos Países Exportadores de Petróleo
Orgs. Organizadores
PEC Proposta de Emenda à Constituição
Petrobras Petróleo Brasileiro S.A
PL Projeto de Lei
PPP Princípio do Poluidor-Pagador
PPSA Empresa Brasileira de Administração de Petróleo e Gás Natural S.A.
Proálcool Programa Nacional do Álcool
S.A. Sociedade Anônima
STF Supremo Tribunal Federal
8
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ......................................................................................................................9
CAPÍTULO 1 – JUSTIÇA FEDERATIVA: A QUESTÃO DA DISTRIBUIÇÃO DOS
ROYALTIES DO PETRÓLEO .............................................................................................12
1.1. INTRODUÇÃO ..............................................................................................................................12
1.2. HISTÓRICO ...................................................................................................................................12
1.3. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS E PACTO FEDERATIVO ..................................................18
1.4. ANÁLISE DO ART. 20 §1º, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO
BRASIL DE 1988 ..................................................................................................................................23
1.5. CONCLUSÃO PARCIAL ..............................................................................................................28
CAPÍTULO 2 – ASPECTOS JURÍDICOS DE FUNDO: O CONCEITO DE
ROYALTIES ............................................................................................................................30
2.1. INTRODUÇÃO ..............................................................................................................................30
2.2. ASPECTOS ECONÔMICOS E EXPLORATÓRIOS RELACIONADOS AO
PETRÓLEO NO BRASIL........................................................................................................30
2.3. ASPECTOS LEGAIS DOS ROYALTIES DO PETRÓLEO ..................................................33
2.4. FUNÇÃO SOCIAL DOS ROYALTIES DO PETRÓLEO ......................................................39
2.5. CONCLUSÃO PARCIAL ........................................................................................................44
CAPÍTULO 3 – JUDICIALIZAÇÃO DA DISTRIBUIÇÃO DOS ROYALTIES ............45
3.1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................................45
3.2.PANORAMA POLÍTICO ...........................................................................................................45
3.3. A TESE FAVORÁVEL AO NOVO MODELO DISTRIBUTIVO ......................................50
3.4. A TESE DESFAVORÁVEL AO NOVO MODELO DISTRIBUTIVO ........................56
3.5. CONCLUSÃO PARCIAL............................................................................................................61
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................63
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................68
9
INTRODUÇÃO
O termo “petróleo” é proveniente do latim petroleum que seria a junção das
palavras petrus e oleum, essas decorrem, por sua vez, do grego antigo transliterado para o
alfabeto romano na forma de petra e elaion o que significa justamente “óleo de pedra”. O
petróleo e gás natural também são conhecidos como hidrocarbonetos devido a sua
composição química baseada principalmente na ligação de átomos de carbono e hidrogênio.
Os hidrocarbonetos encontram-se tanto sob a terra, onshore, quanto sob o mar,
offshore, principalmente em bacias sedimentares. O seu surgimento dá-se em rochas
geradoras – ricas em matérias orgânicas -, sendo que dessas os hidrocarbonetos migram por
meio dos poros das rochas subjacentes para as rochas reservatórios – onde ficam armazenados
nos poros dessas – e tendem a alcançar a superfície, caso sua trajetória não seja interrompida
por uma rocha selante. A coloração do petróleo varia do negro ao âmbar, por isso, inclusive, é
conhecido também como “ouro negro”.
Portanto, sob a concepção da teoria orgânica do petróleo que sua matriz fóssil
é considerada não renovável, a sua natureza química e origem biológica formam justamente
as suas características vitais para a sociedade contemporânea – altamente baseada na
economia dos hidrocarbonetos – e, em consequência, o seu caráter estratégico sui generis que
faz parte de uma conditio sine qua non a sociedade contemporânea não consegue sobreviver,
pelo menos não do mesmo modo.
O atual trabalho visa o estudo do complexo panorama que envolve os
hidrocarbonetos de modo a auxiliar o entendimento acadêmico sobre a temática da
distribuição dos royalties do petróleo, não apenas sob o seu aspecto jurídico, mas de forma
consentânea à realidade aduzida pelas demais ciências naturais, sociais e humanas que
permeiam e influenciam diretamente o Direito. Assim, passa-se à apresentação dos demais
aspectos introdutórios do trabalho correlatos a presente obra.
O presente trabalho pretende avaliar o que está disposto na Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988 acerca dos assuntos concernentes aos royalties do
Petróleo, bens da União relativos aos hidrocarbonetos, valores, princípios e objetivos
constitucionais como base de interpretação da sistemática constitucional concernente ao
campo do Direito do Petróleo, tendo por base ainda uma análise econômica, ambiental, social
e histórica.
A justificativa para o presente estudo é a sua importância para que sejam
analisados sob um prisma jurídico, econômico e social, a essencialidade da divisão dos
10
royalties para a União, Estados, Municípios, Distrito Federal, organizações privadas e
cidadãos, posto que o tema em tela é de interesse de todos os brasileiros e poderá afetar a vida
de milhões, tanto positivamente quanto negativamente.
A atual obra tem por intuito apresentar uma conclusão sobre a distribuição dos
royalties do petróleo no Brasil, com base nos estudos realizados, para que dessa resulte uma
análise crítica, possibilitando uma proposta de resolução.
No primeiro capítulo, busca-se realizar uma análise histórica do tema, acerca
não somente da história geopolítica e jurídica do petróleo no Brasil, mas também quanto aos
conceitos de royalties ao longo do percurso histórico. A próxima pauta a ser analisada é uma
sucinta análise dos princípios constitucionais – com foco no princípio da Supremacia da
Constituição – e o Pacto Federativo, de modo a se introduzir os aspectos jurídicos gerais
concernentes ao tema. Ainda, para completar o sentido do primeiro capítulo na facilitação da
elucidação do conceito de justiça federativa em relação à distribuição dos royalties do
petróleo no Brasil, o art. 20, § 1º, da Constituição é submetido a detida análise, com base nos
princípios e valores constitucionais.
No segundo capítulo, onde se estudam os aspectos jurídicos de fundo
correlatos ao conceito de royalties, é introduzido com a apreciação dos aspectos econômicos
relevantes à cadeia produtiva do petróleo e gás no Brasil. Ademais, é feita, em sequência, uma
análise legal dos royalties do petróleo no Brasil e depois se observa a sua função social no
Brasil.
O terceiro capítulo tem por intuito a questão da judicialização da distribuição
dos royalties do petróleo, assim, tem por início a verificação do panorama político atual e do
papel contramajoritário do Judiciário em uma república democrática e federativa. A
posteriori, as teses relacionadas à distribuição dos royalties do petróleo no Brasil, contrárias e
favoráveis ao novo modelo instaurado pela novel legislação são postas em foco. Desse modo,
o estudo complementar de cada um dos capítulos possibilitará a presente obra a chegar a uma
conclusão baseada na técnica jurídica.
Ademais, a presente opus possui por intuito um distanciamento político das
questões tratadas, não tendo por escopo uma neutralidade, impossível de ser obtida, mas sim,
uma imparcialidade em relação à questão.
Outrossim, apesar de o tema já estar sendo amplamente discutido em caráter
nacional, possuindo, inclusive, teses jurídicas bem embasadas que são contra a presente
modificação, deverão ser avaliados o ponto e contraponto, não só as teses dos Estados e
Municípios confrontantes deverão ser avaliadas, mas também a tese da União e dos demais
11
Estados e Municípios também devem ser avaliados sob esse prisma jurídico, distante dos
debates meramente políticos dos nossos representantes políticos.
O presente tema está relacionado à ênfase em Direito Privado do Ibmec/RJ,
uma vez que as análises constitucionais do tema não determinam o caráter meramente de
Direito Público deste, já que a Constituição irradia sua força normativa para todos os ramos
do direito. Deste modo, o enfoque em Direito do Petróleo, Ambiental e Econômico do
presente trabalho está intrinsecamente relacionado com a referida ênfase.
A análise feita por este trabalho tem por finalidade os aspectos constitucionais
do tema e as consequências de determinados institutos na realidade orçamentária dos entes
federativos. Além da ótica histórica e jurídica, há também uma abordagem social e política
sobre o tema, visto que se procura dialogar sobre as intenções dos legisladores e do “Estado”,
as necessidades dos entes federativos, e também a percepção da sociedade sobre os royalties.
Ao analisar historicamente o tema, tratamos dos diferentes conceitos de
royalties ao longo do tempo, além de comentar especificamente sobre a história geopolítica e
jurídica do petróleo no Brasil. Além dessa análise, os aspectos concernentes à exploração,
produção, consumo, importação e exportação do petróleo no Brasil e no mundo também
foram estudados.
No presente trabalho são utilizados os seguintes tipos de pesquisa, quais sejam:
doutrinária, através da qual se pretende buscar as opiniões de renomados autores sobre o tema
pesquisado; jurisprudencial, a qual pretende determinar como os principais tribunais do país
vêm decidindo as questões abordadas no trabalho; política, buscando ver a base dos
argumentos que estão envolvendo o tema; social, ao se procurar o conhecimento dos
interesses do povo no assunto; midiática, ao analisar o que vem sendo produzido pelos meios
de comunicação sobre o respectivo objeto de discussão e filosófica, capaz de fornecer um
embasamento para o raciocínio sobre a controversa questão.
A pesquisa realizada tem cunho jurídico-operacional, buscando abordar o tema
no campo da dogmática jurídica e do ordenamento jurídico vigente, meios mais adequados
para sua realização em razão de possibilitarem uma visão ampla sobre as normas previstas e
as visões dos intérpretes do direito. Entretanto, possui também um viés social, político e
filosófico muito forte que servem como elementos agregadores e que auxiliam a pensar a
divisão dos royalties do petróleo.
As fontes de onde foram extraídos os dados para comprovar as hipóteses
abordadas no projeto podem ser resumidas nas seguintes espécies, quais sejam, bibliográfica,
jurisprudencial, política, legal, filosófica, social e midiática.
12
CAPÍTULO 1 – JUSTIÇA FEDERATIVA: A QUESTÃO DA
DISTRIBUIÇÃO DOS ROYALTIES DO PETRÓLEO
1.1. INTRODUÇÃO
O presente capítulo visa ao entendimento do que viria a ser o conceito de
justiça federativa e a sua aplicabilidade à distribuição dos royalties do petróleo no Brasil.
Desse modo, o histórico do petróleo no Brasil deve ser entendido para a formação de uma
base sólida para a presente problemática; a posteriori deverão ser analisados os princípios
constitucionais e o pacto federativo, de modo a auxiliar na concretização da percepção do que
seria o federalismo brasileiro e, por último, a análise do art. 20, § 1º, da Constituição da
República Federativa do Brasil de 05 de Outubro de 1988.
Dessarte, o capítulo inicial não objetiva o encerramento da discussão
envolvendo a distribuição dos royalties do petróleo no país, mas apenas a facilitar o
entendimento da questão ao lançar os seus alicerces. A vexata quaestio será analisada de
modo sistemático, ou seja, o presente capítulo faz parte de um sistema com os demais, de
forma a se perseguir um entendimento científico da questão. Por isso, os temas abordados nos
próximos itens poderão não ser totalmente abordados, mas, quando houver lacunas, essas
deverão ser abordadas de modo pertinente em outros tópicos no que for relevante ao assunto.
1.2. HISTÓRICO
Após a proclamação de independência em 1822, foi outorgada a Carta Magna
de 1824, sendo que mesmo após a mudança de poderes, continuou havendo a separação entre
o domínio dos bens do solo e subsolo, esse último passou da propriedade da Coroa Portuguesa
ao Estado Imperial Brasileiro.1 O histórico da indústria do petróleo no Brasil tem seu termo
inicial estabelecido em 1858, quando o Marquês de Olinda concedeu a José de Barros
Pimentel o direito de extrair betume de terrenos localizados nas margens do rio Maraú, na
Bahia. No ano de 1892 ocorreu a primeira sondagem profunda em território nacional,
inaugurando a prática exploratória no Brasil, em Bofete/SP.
As mudanças na legislação quanto à propriedade das riquezas existentes no
subterrâneo nacional só vieram a ocorrer após a proclamação da república. Em 1891, com a
1 TOLMASQUIM, Maurício Tiomno e PINTO JUNIOR, Helder Queiroz (organizadores). Marcos Regulatórios
da Indústria Mundial do Petróleo. Rio de Janeiro, Synergia: EPE, 2011. Pág. 241.
13
promulgação da Constituição Republicana, o Brasil adotou o modelo de acessão, onde as
propriedades do solo e subsolo eram unas, como era nos Estados Unidos. Nesse sistema, o
proprietário do solo é igualmente proprietário dos recursos minerais do subsolo.2
O desinteresse das grandes companhias de petróleo no Brasil – enquanto essas
construíam seus impérios pelo mundo, inclusive em outros países da América Latina – pode
ser explicado por: não reconhecimento de estruturas geológicas favoráveis a grandes
descobertas no território pátrio, com base na experiência internacional da época e o direito
uno do domínio sobre o solo e subsolo, presente na Constituição da República de 1891, que
implicava em discussões descentralizadas e dispersas com estados e particulares detentores de
terras, onde poderia haver atividades de pesquisa e lavra.3
Em 1934, foi promulgado o Código de Minas e esse estabelecia o retorno ao
direito dominial, velando assim pela separação da propriedade do solo em relação ao subsolo,
pertencendo desse modo à União os direitos sobre os recursos minerais do subsolo, tendo a
Constituição de 1934 o ratificado. Exceto pela criação do Conselho Nacional do Petróleo –
CNP e do princípio da nacionalização progressiva, removido em 1946, não houve grandes
mudanças na regulamentação do setor nem mesmo com o advento das Constituições de 1937
e 1946.4 No mesmo ano foi instaurada, sob a jurisdição do CNP, a perfuração de um poço de
petróleo em Lobato/BA.5
O CNP assumiu uma função tripla, pois deveria regular o setor petrolífero,
formular a política nacional sobre petróleo e executar diretamente para a União os trabalhos
de pesquisa em território nacional. O processo regulamentar do setor petrolífero não era um
mero fim em si, pois era também considerado o cenário mais abrangente da industrialização
brasileira nesse período, a fim de evitar gargalos na economia.6
Após a descoberta de petróleo em Lobato/BA (1939), foram empreendidos
novos esforços na região do Recôncavo Baiano e descobertos poços comerciais por lá, o que
levou o CNP, igualmente motivado pelas dificuldades de suprimento internacional de
derivados de petróleo causadas pela Segunda Guerra Mundial, a majorar a prioridade e levar a
debate as questões inerentes ao refino e distribuição do petróleo. Desse modo, foram
concebidas e construídas as primeiras refinarias brasileiras, nas décadas de 1940/1950.7
2Ibidem. Pág. 242.
3 Ibidem. Pág. 243.
4 Ibidem. Pág. 244.
5 Disponível em: < http://blog.planalto.gov.br/o-petroleo-no-brasil/>. Acesso em 23.04.2013.
6 TOLMASQUIM, Maurício Tiomno e PINTO JUNIOR, Helder Queiroz (orgs.), 2011. Pág. 245.
7 Ibidem. Idem.
14
Nesse período, em que era proibida a participação de estrangeiros nas
atividades do setor petrolífero no país e até mesmo após a retirada de tal vedação pela Carta
Magna de 1946, somente a Standard Oil demonstrou interesse em uma autorização para
pesquisa e lavra de petróleo no país. Foi em 1947 quando o projeto de lei do “Estatuto do
Petróleo” foi encaminhado ao Congresso Nacional que foi articulada a “Campanha de Defesa
do Petróleo” que preconizava que o setor dos hidrocarbonetos deveria ser exercido por meio
do monopólio estatal.8
O projeto inicial do governo Vargas, eleito, não previa o monopólio da
empresa brasileira de petróleo a ser criada.9 Essa emenda surgiu justamente da oposição
considerada conservadora e entreguista, representada pela União Democrática Nacional –
UDN. Após deliberações no Congresso Nacional com representantes do Executivo e
Legislativo nacional, o Presidente Getúlio Vargas veio a sancionar a Lei nº 2.004/1953 que
autorizava a criação da Petróleo Brasileiro S.A. – Petrobras, na forma de sociedade de
economia mista e com a delegação de exercer o monopólio da União nas áreas de pesquisa e
lavra do petróleo e gás natural, refino e transporte marítimo ou por dutos de petróleo e seus
derivados.10
O início da história da Petrobras está vinculado ao refino do petróleo, essa
construiu e adquiriu refinarias ao longo das décadas de 1960 e 1970 – até a crise internacional
do petróleo. O problema é que o Brasil nessa época importava o óleo leve – mais valioso -,
por isso nossas refinarias são adaptadas até hoje a esse tipo de óleo, contudo, a questão reside
na seguinte complexidade: com o petróleo do offshore brasileiro, passamos a produzir e a
exportar o petróleo pesado – mais barato – e a importar e refinar o leve – mais caro -, o que
gera há décadas distorções na balança comercial. Em 1962 foi estendido, via decreto, o
monopólio da atividade de importação e exportação de derivados à Petrobras e, em 1971, foi
criada a Petrobras Distribuidora, ou seja, o Estado Brasileiro passou a competir com as
companhias estrangeiras na única atividade que não era monopólio nacional.11
Na década de 1960, segundo o “Relatório Link”, não havia possibilidade de
descobrirem-se grandes reservas comerciais terrestres de petróleo, indicando que o Estado
Brasileiro deveria destinar os seus esforços ao possível petróleo offshore em águas rasas,
segundo tecnologia disponível na época. Decerto, foi por meio das empreitadas nos limites
8 Ibidem. Idem,
9 GAMBIAGI, Fabio e LUCAS, Luiz Paulo Vellozo (organizadores). PIRES, Adriano et alii. Petróleo: reforma
e contrarreforma do setor petrolífero brasileiro. Rio de Janeiro, ed. Elsevier, 2013. Págs. 4/5. 10
TOLMASQUIM, Maurício Tiomno e PINTO JUNIOR, Helder Queiroz (orgs.), 2011. Pág. 247. 11
GAMBIAGI, Fabio e LUCAS, Luiz Paulo Vellozo (orgs.), 2013. Pág. 11.
15
exploratórios marítimos que a Petrobras conseguiu mudar as perspectivas nacionais de
produção de combustível fóssil. Assim, a Petrobras desvendou, em 1968, o primeiro campo
de petróleo offshore brasileiro na costa do Sergipe, o campo de Guaricema.12
Oportuno recordar que durante o período pós-grandes guerras até a primeira
crise do petróleo, o preço do barril era extremamente baixo e o foco da Petrobras no
abastecimento de petróleo e derivados direcionava os esforços ao refino e distribuição, ainda
mais quando a empresa começou a exercer o monopólio nas atividades de importação e
exportação, criando na companhia uma aversão aos riscos decorrentes da Exploração &
Produção que era justificado pelos preços praticados até então.13
A política brasileira com ênfase no abastecimento começou a mudar no início
da década de 1970, após a criação da Organização dos Países Exportadores de Petróleo –
OPEP e após a primeira crise do Petróleo. Dessa maneira, o Governo Federal incitou
mudanças fiscais de modo a estimular a Petrobras a tomar maiores riscos na atividade de
exploração. Nessa época, o Brasil também começou a diversificar a sua matriz energética com
a criação do Programa Nacional do Álcool – Proálcool e também com investimento em usinas
hidrelétricas, como a binacional de Itaipu. Após as duas crises do petróleo da década de 1970,
houve um contrachoque com o desabamento dos preços dos hidrocarbonetos, o que tornou os
preços do etanol insustentáveis para a indústria alcooleira e o esvanecimento quase absoluto
da demanda por carros movidos a álcool.14
Os choques do petróleo tiveram importância fundamental para o investimento
em Exploração & Produção – E&P; a diversificação da matriz energética e para a
concretização da internacionalização da Petrobras, na forma da subsidiária Petrobras
Internacional S.A. – Braspetro (1978).15
Nessa época, cabe destacar os sucessos da Braspetro
no upstream no Iraque, o descobrimento simultâneo de Majnoon e da descoberta de Garoupa,
na Bacia de Campos..16
Contemporaneamente ao período acima destacado, aprovaram-se no Brasil os
contratos de risco em outubro de 1975. Assim, as companhias estrangeiras de hidrocarbonetos
exerceriam, sob sua conta e risco, as atividades de E&P em troca de participação nos
resultados, caso houvesse sucesso. Todo o petróleo deveria ser entregue à Petrobras, segundo
os termos do contrato. A E&P, por meio dos contratos de risco, foram permitidas entre 1975 e
12
TOLMASQUIM, Maurício Tiomno e PINTO JUNIOR, Helder Queiroz (orgs.), Págs. 250/251. 13
TOLMASQUIM, Maurício Tiomno e PINTO JUNIOR, Helder Queiroz (orgs.), Pág. 251. 14
GAMBIAGI, Fabio e LUCAS, Luiz Paulo Vellozo (orgs.), 2013. Pág Págs. 12/13. 15
TOLMASQUIM, Maurício Tiomno e JUNIOR, Helder Queiroz Pinto (orgs.), 2011. Pág. 251. 16
GAMBIAGI, Fabio e LUCAS, Luiz Paulo Vellozo (orgs.), 2013. Pág. 14.
16
1988 (quando a Constituição de 1988 vetou). Mesmo tendo sido perfurados 182 poços sob tal
tipo de contratação, somente o consórcio Pecten-Marathon-Shell obteve sucesso ao descobrir
o campo de Merluza, em 1979.17
A Petrobras desafiava as fronteiras da exploração em águas profundas e, com
isso, obteve enorme êxito ao descobrir campos relevantes como os de Albacora (1984) e
Marlim (1985). Após a reafirmação do monopólio nacional, estabelecido pela novel Carta
Constitucional, a Petrobras descobriu os enormes campos de Barracuda (1989) e Roncador
(1996).
Contudo, com a queda dos preços internacionais do petróleo – em seu
contrachoque – e a crise financeira nacional nos anos 1980 e 1990, a sociedade civil começou
a questionar sobre o exercício exclusivo do monopólio da União feito por meio da estatal
nacional.18
O entendimento de muitos era que a Petrobras já havia cumprido com o fim a que
fora destinada, ou seja, não era mais uma mera empresa nacional com o intuito de explorar
uma indústria nascente e que, portanto, já possuía condições de competir de forma paritária
com outras empresas do ramo.19
Nesse espírito, aduzia-se que as distintas interpretações geológicas e a atração
de capitais estrangeiros para o país contribuiriam para o alcance da autossuficiência nacional e
que uma estrutura de livre mercado e livre concorrência, portanto, mais competitiva, poderia
fomentar o desenvolvimento da Petrobras, uma vez que a essa seria possibilitado estabelecer
parcerias privadas, ampliar sua capacidade de obter financiamentos e investimentos e, por
fim, dotá-la de verdadeira autonomia empresarial.20
Nesse âmbito, o Congresso Nacional aprovou a EC nº 09/1995, flexibilizando
o monopólio no setor dos hidrocarbonetos, possibilitando a contratação, pela União, de outras
empresas que não a Petrobras para exercer a atividade econômica. Assim, o monopólio
continuou sendo da União com a EC nº 09/1995, mas ao mesmo tempo era permitido que as
atividades fossem contratadas junto a empresas com capital público ou privado.21
A Lei nº 9.478/1997, conhecida como “Lei do Petróleo”, veio a regulamentar
as alterações trazidas pela EC nº 09/1995, definindo, em seu texto original, que as
contratações feitas pela União poderiam “ser exercidas, mediante concessão ou autorização,
por empresas constituídas sob as leis brasileiras, com sede e administração no País”.
17
TOLMASQUIM, Maurício Tiomno e PINTO JUNIOR, Helder Queiroz (orgs.), 2011. Pág. 252. 18
Ibidem. 19
Ibidem. Págs. 252/253. 20
Ibidem. 21
Ibidem. Pág. 253.
17
Hodiernamente, o texto legal que regulamenta o art. 177, da Constituição, acrescentou o
regime de partilha de produção.22
A Lei do Petróleo também inovou ao criar o Conselho Nacional de Política
Energética – CNPE, vinculado ao gabinete da Presidência da República, e a Agência Nacional
de Petróleo – ANP. O CNPE é um órgão com a competência para propor políticas nacionais e
medidas específicas na área energética. A ANP é uma autarquia especial, agência reguladora,
vinculada ao Ministério de Minas e Energia, tendo como atribuições a promoção da
regulação, contratação e fiscalização das atividades econômicas integrantes da indústria do
petróleo, gás natural e biocombustíveis e a implementar as políticas energéticas do Governo
Federal.23
A referida legislação ratificou os direitos de a Petrobras continuar a exercer as
atividades de E&P nas áreas em que já estava operando, bem como nas atividades já exercidas
de downstream. Esse marco legal promoveu a ampliação das atividades de upstream a novos
componentes e estabeleceu o princípio do livre acesso a terceiros no downstream.24
Desde
então, as bacias sedimentares nacionais foram objeto de licitação de dez rodadas, excetuando-
se a Rodada Zero, do período transitório, e hoje está sendo realizada a 11ª Rodada de
Licitação.25
A abertura do mercado introduzida pela EC nº 09/1995 e consolidada pela Lei
nº 9.478/1997, não fez com que a proeminência da Petrobras diminuísse nos cenários nacional
e internacional. Na verdade, essa importância foi aumentada, pois os novos agentes que atuam
no setor petrolífero nacional possuem um duplo interesse no processo de entrada: nos curto e
médio prazos, esses agentes buscam compartilhar os riscos, custos e benefícios com a estatal
na experiência acumulada que essa tem na exploração e produção no offshore e, no longo
prazo, há o interesse na consolidação no mercado doméstico, uma vez que o tamanho e o
ritmo de elevação da demanda brasileira no mercado de derivados são muito atrativos para
esses agentes.26
A Emenda Constitucional nº 09/1995 e a Lei do Petróleo inovaram no
ordenamento jurídico pátrio, uma vez que por meio dessas foi possível concretizar princípios
constitucionais inerentes às liberdades, ao livre mercado, defesa da concorrência, função
22
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9478.htm>. Acesso em 26.04.2013.. 23
TOLMASQUIM, Maurício Tiomno e PINTO JUNIOR, Helder QueiroZ (orgs.), 2011. Pág. 254. 24
Ibidem. Pág. 255. 25
Disponível em:
<http://www.anp.gov.br/?pg=65521&m=&t1=&t2=&t3=&t4=&ar=&ps=&cachebust=1366695418805>. Acesso
em 23.04.2013. 26
Ibidem. Pág. 258.
18
social da propriedade, direito do consumidor, defesa do meio ambiente, isso tudo trazendo um
aumento na qualidade do setor petrolífero brasileiro e indústria nacional, conseguindo aplicar
a soberania nacional de um modo inteligente, em benefício dos nacionais e a estimulando o
desenvolvimento da indústria e economia nacionais que possibilitaram, por meio da higidez e
estabilidade econômicas, os programas de distribuição de renda que tentam reduzir a disparate
desigualdade econômica e social que assolam o país até os dias presentes.
1.3. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS E PACTO FEDERATIVO
Ab initio, cabe ressaltar que a discussão relativa ao petróleo, aos royalties e à
sua distribuição não é um simples debate de análise pura e ordinária do art. 20, § 1º, da
Constituição, nem de sua legislação regulamentar, não se trata de uma despretensiosa análise
hermenêutica, um simples silogismo, mas defende-se em ambas as frentes que é um embate
sobre o Pacto Federativo firmado em 1988 e demais princípios constitucionais. Outrossim, a
disputa está na análise dos dispositivos que regulamentam a distribuição dos royalties do
petróleo sob o prisma desses princípios constitucionais, evitando-se ao máximo o
entendimento como uma comum disputa política, mas entendendo-se como um litígio com
força jurídica, onde busca-se o que seria a justiça em sua concretude.
In casu, não seria possível afirmar que há como excluir por completo o
elemento político dessa contenda, mas deve-se entender que a política influencia diretamente
o direito e vice-versa. A contenda em comento está além das tradicionais disputas entre “base
aliada/governista” e “oposição”, está até mesmo além dos que seriam indecisos e muito além
das vinculações partidárias.
A lide nacional está dividida entre aqueles que são considerados
produtores/confrontantes, que não querem perder os direitos à compensação pelos riscos dessa
atividade em seus territórios e costas e aqueles que não são produtores nem confrontantes e
querem majorar a sua participação na “riqueza do petróleo”, encontrado em quantidades
nunca antes vistas nacionalmente, despertando a cobiça dos agentes políticos nacionais,
regionais e locais.
Todos querem voltar para as suas casas como “vencedores”, como garantidores
de um direito já existente – que, conforme alegam, se acabar levará os Estados e Municípios
produtores à bancarrota – ou como benfeitores de seus Municípios e Estados, garantindo uma
maior participação desses no cenário da riqueza nacional, ainda mais porque quanto mais
carente for o ente, maiores quantias ele teria que receber de royalties para se desenvolver.
19
Objetivamente, arguem a violação de princípios constitucionais implícitos e
explícitos, onde segundo a tese contrária à nova distribuição haveria uma violação ao
princípio da supremacia da Constituição nas alterações legislativas recentes e para os
defensores do novo modelo distributivo, não haveria violação, mas apenas uma maior
adequação aos valores emanados pelo preâmbulo e objetivos presentes no art. 3º, da Carta
Republicana. Ainda, o confronto entre os entes federativos agiganta-se de tal modo que
discute-se o pacto federativo republicano em ambas as teses. Desse modo, a presente opus
focará neste subcapítulo a discussão de alguns dos princípios referidos e, principalmente, a
questão do pacto federativo brasileiro, deixando maiores especificidades sobre alguns dos
argumentos para os subcapítulos concernentes às teses.
Preliminarmente, antes da discussão dos demais princípios e do pacto
federativo, deve ser analisado o princípio da supremacia da Constituição, posto que é esse
princípio que estabelece a Constituição como norma fundamental e originária de todo o
ordenamento jurídico, nada estaria acima da Constituição, nada poderia violá-la. O
constituinte originário tem o poder de criar a Lei Fundamental, sendo irrestrito esse poder
(exceto para os defensores da cláusula implícita de vedação ao retrocesso social) e o poder
constituinte derivado deve respeitar os limites estabelecidos previamente. Assim, quando uma
nova Constituição entra em vigor, as normas anteriores incompatíveis com essa são
revogadas, enquanto as posteriores inadequadas devem ser declaradas nulas.27
Deve ser averiguado se ao introduzir nova norma no ordenamento jurídico,
essa norma estaria em conformidade com a Lei Fundamental. Afirma-se que a Constituição
Cidadã ao refundar o Estado brasileiro sobre as bases republicanas, democráticas e
federativas, teria estabelecido um pacto onde a boa-fé objetiva e a lealdade federativa,
norteariam o equilíbrio de interesses dos entes federativos. In casu, alega-se no pacto
originário, os Estados produtores de petróleo possuíam um direito histórico aos royalties do
petróleo e, pela sistemática adotada, também fariam jus à arrecadação de ICMS em relação ao
petróleo.28
No entanto, para diminuir as disparidades regionais e de modo a compensar os
ganhos e perdas, acordou-se que, nesse caso em específico, a arrecadação do referido tributo
seria feita no destino e não na origem (como era a regra). Assim, em nome da solidariedade
27
BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e Aplicação da Constituição: fundamentos de uma dogmática
constitucional transformadora. 07ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009. Páginas 165/166. 28
Petição Inicial da ADI nº 4917. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=4379376> . Acesso em
20.05.2013.
20
federativa, teria sido criada essa exceção constitucional – em relação à energia elétrica e ao
petróleo – para se balancear as arrecadações dos Estados. Portanto, argui-se que a redução dos
royalties sem a correspondente compensação com uma mudança na regra do ICMS, viria a
lesar os Estados produtores duas vezes. Por isso, argumenta-se que uma lei ordinária não
poderia violar uma avença constitucional que está na base do pacto federativo da atual Carta
Magna, pois seria inconstitucional por não observar uma clara decisão político-jurídica
materializada na CRFB/1988.29
Por outro lado, entende-se que não haveria uma ruptura com o pacto de 1988,
muito menos com a supremacia da Lei Maior. Avalia-se que nenhum possível acordo feito
antes da promulgação da Carta Magna possa ser maior do que essa, ou seja, o possível acordo
sobre a exceção da regra de arrecadação do ICMS não vincularia nem o constituinte derivado
nem os legisladores ordinários, uma vez que não seria caso de cláusula pétrea e que não é
aceita no Brasil a doutrina das normas constitucionais originárias inconstitucionais.
Desse modo, não haveria ofensa à Supremacia da Constituição mudar aspectos
regulamentares do art. 20, § 1º, sem mexer no art. 155, § 2º, X, “b”, ambos da Constituição.
Nesse sentido, entende-se inclusive que as recentes alterações estariam mais próximas da
vontade do constituinte originário, por estarem de acordo com os valores preambulares e com
o art. 3º, da Carta Magna, uma vez que supostamente propiciariam a isonomia, a redução das
desigualdades socioeconômicas e o desenvolvimento nacional. Assim, a novel legislação
estaria conforme as normas programáticas constitucionais.30
Previamente, cabe esclarecer que quanto ao princípio federativo é dada uma
tamanha importância a esse pela Constituição de 1988, uma vez que não é passível de
deliberação proposta de emenda que desvirtue o intuito federal do Estado Brasileiro (art. 60, §
4º, I, da CRFB/1988).31
O Estado Federal no Brasil prima pela descentralização dos poderes,
onde a União possui suas competências próprias enumeradas, os Municípios idem, os Estados
possuem competência residual e o Distrito Federal possui competência relativa tanto aos
Estados quanto aos Municípios.
A questão federativa presente na corrente discussão dá-se majoritariamente em
duas frentes, são essas: a concentração de poderes na União e a disputa entre os entes
federados por maiores verbas. Enquanto a arrecadação da União cresceu 25,9%, os repasses
29
Ibidem. 30
PIMENTEL, Luís Octavio Cardoso Gil et alii. Royalties do Petróleo: Argumentos favoráveis à distribuição
equitativa. In: Direito Societário II - Estudos e Pareceres. Coord. MARSHALL, Carla. Rio de Janeiro:
Qualitymark, 2013. No prelo. 31
MENDES, Gilmar Ferreira et alii. Curso de Direito Constitucional. 04ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009. Pág. 256.
21
da União aos Estados e Municípios cresceram apenas 15,3% (no período de 2007-10). Para
ilustrar, as transferências aos Estados e Municípios estavam entre 3,4% e 3,7% do Produto
Interno Bruto (no período de 2003-8), enquanto em 2009 foram de 3,0% e em 2010, foram
apenas 2,6% do PIB. Ainda assim, a Lei nº 12.351/2010 acrescentou um novo marco de
arrecadação para a União, concentrando cada vez mais os recursos nas mãos dessa.32
Nesse
sentido, resta indubitável na presente discussão que a disputa federativa maior não é a luta
existente entre os Estados e Municípios, uma luta fratricida, mas sim a contenda eterna
brasileira entre uma União centralizadora e os demais entes federados.
Não obstante, não há somente uma disputa por poderes e recursos entre a
União e demais entes federativos, mas também a disputa entre esses. O Brasil possui um
histórico de concentração de renda e recursos em pequenos “oásis” próximos uns aos outros,
nas mãos de poucos enquanto muitos não possuem acesso nem mesmo aos serviços públicos
mais essenciais. A Constituição Cidadã propôs uma ruptura com esse modelo, mas essa é
apenas uma meta futura, dependendo dos governantes para concretizar as ações previstas
pelas normas programáticas. As disparidades não são encontradas somente entre os
particulares, o “Reino da Belíndia” também está presente nas disparidades que há entre
Estados membros e Municípios.33
A forma federativa de estado adotada pelo Brasil serviria para garantir: o
equilíbrio político entre os Estados mais populosos e menos populosos – com a fixação de um
número de representantes máximo e mínimo por ente na Câmara dos Deputados e de um
Senado Federal de composição igualitária - e o equilíbrio financeiro mínimo, de modo a
compensar as desigualdades socioeconômicas dos entes federados por meio de repasses
constitucionais obrigatórios e voluntários (convênios).34
A vexata quaestio não está somente na tentativa de correção das disparidades,
mas nos meios implantados, pois a forma como elas vêm sendo empregadas nas últimas
décadas, provoca externalidades que ajudam a perpetuá-las. Ou seja, a política pública de
desconcentração de renda e descentralização do poder, muitas vezes acaba por favorecer a
concentração de renda e centralização do poder em elites clientelistas, afrontando assim o
pacto federativo idealizado. Inclusive, os Fundos de Participação dos Estados e Municípios
não serviriam para distribuir a renda entre os cidadãos, mas apenas acabam distribuindo a
32
FARIAS, Lindbergh. Royalties do Petróleo: As Regras do Jogo – para discutir sabendo. Rio de Janeiro: Agir,
2011. Págs. 63/64. 33
BACHA, Edmar Lisboa. O Rei da Belíndia. 1974. Disponível em:
<http://iepecdg.com.br/Arquivos/ArtigosBacha/Bel%EDndia.pdf>. Acesso em: 31.05.2013. 34
FARIAS, Lindbergh, 2011. Págs. 75/77
22
arrecadação para os entes, ou seja, muitas vezes, os recursos apenas alimentam a máquina
estatal e não cheguem a beneficiar diretamente a população, mas sim oligarquias clientelistas
Ademais, esse critério (do FPE) não estaria mais de acordo com a realidade contemporânea,
inclusive tendo sido declarado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal.35
O princípio federativo é formado por “um conjunto de normas constitucionais
mais específicas que tratam de temas como a distribuição de competências, os bens públicos
sob a titularidade de cada ente e também a repartição de receitas originárias e derivadas.”36
O
pacto federativo formado por essas normas delimitaria a esfera de autonomia de cada um dos
entes e o seu modo de convivência. O tratamento constitucional da matéria é comum, pois
trata da forma de Estado e evitaria que eventuais maiorias pudessem perverter o sistema para
a dominação dos demais entes minoritários.37
O art. 20, § 1º desempenharia uma função importante no equilíbrio federativo
expressado pela Carta Magna, pois a partir de uma desigualdade fática – as jazidas de petróleo
e outras riquezas estarem concentradas em territórios de determinados Estados – a
Constituição teria instituído um sistema de repartição de encargos e benefícios. Basicamente,
argui-se que: a titularidade dos bens é exclusiva da União, cabendo a essa o emprego em
benefício de todo o Estado Federal; os Estados e Municípios produtores (e confrontantes)
devem ser compensados pelos impactos e riscos inerentes à atividade exploratória, de modo
que não se onerem sozinhos do proveito de todos e a arrecadação do ICMS seria direcionada
aos Estados não produtores, por via de uma exceção constitucional (art. 155, § 2º, X, “b”, da
CRFB/1988). De modo que a supressão de um desses elementos – interdependentes entre si –
afetaria a sensível balança em que repousaria o pacto federativo.38
A agressão ao pacto federativo teria se dado quando foi efetivada a mudança
no sistema de compensação (pelos riscos e impactos, majoritariamente ambientais e
socioeconômicos), sem que nem ao menos houvesse uma mudança quanto ao regime especial
de tributação do petróleo, ou seja, sem que esse fosse arrecadado na origem, como funciona
em via de regra. O problema não é nem meramente a questão arrecadatória, onde os Estados
produtores (e confrontantes) estariam em dupla desvantagem, mas a intervenção na natureza
compensatória dos royalties pelos ônus decorrentes da atividade exploratória. Assim, não só
não há arrecadação, como esses Estados e Municípios seriam obrigados a suportar
35
FARIAS, Lindbergh. Págs. 79/83. 36
Petição Inicial da ADI nº 4917. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=4379376> . Acesso em
20.05.2013. 37
Ibidem. 38
Ibidem.
23
praticamente todo o ônus sozinhos, com riscos de sérios prejuízos econômicos e ambientais,
enquanto entes que não são diretamente afetados poderiam receber até muito mais àqueles
afetados.39
O desequilíbrio estaria claro, onde uma minoria produz e vive sob o impacto e
risco constante e uma maioria se beneficia, ou seja, a mensagem passada seria a de que 14
(quatorze) Estados poderiam impor a sua vontade aos outros 13 (treze) entes, podendo, por
exemplo, determinar o sequestro de verbas do bloco minoritário. Desse modo, indica-se que
haveria uma afronta ao princípio federativo, pois afetaria o equilíbrio entre os entes locais e
regionais, com a formação casuística e arbitrária de uma eventual maioria formada pelos
Estados não-produtores.40
Dessarte, o risco seria o de uma ditadura da maioria, em
contraposição a uma democracia plúrima que respeita os direitos das minorias.
O princípio federativo abarca a diminuição das desigualdades regionais, o
desenvolvimento nacional e a isonomia, a igualdade material.41
Para o equilíbrio do modelo
federativo é necessário que se cumpram os objetivos e valores da Carta da República,
expressos tanto em seu art. 3º quanto em seu preâmbulo e, também, os demais princípios, mas
o modo de se fazer deve ser ponderado, de modo a diminuir as externalidades negativas e
indesejadas e não se perpetuar os erros em um círculo vicioso.
Assim, deve-se atentar para o caráter compensatório dos royalties em questões
socioeconômicas, de infraestrutura e ambientais e, também, relevar o seu caráter social em
distribuição da riqueza nacional. Desse modo, pelo todo exposto, para se manter o equilíbrio
federativo, o ideal seria que a União abrisse mão de maiores parcelas, em coerência com o
Estado Federativo e descentralizado, e que os riscos e impactos da atividade fossem
proporcionalmente compensados, enquanto a riqueza nacional seria distribuída de modo
isonômico para os entes regionais e locais. Destarte, o fiel da balança federativa deverá ser a
União, evitando, assim, a disputa fratricida entre os Estados, Municípios e Distrito Federal. A
União deve diminuir a concentração de recursos para o bem geral da nação.
1.4. ANÁLISE DO ART. 20, § 1º, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA
DO BRASIL DE 1988.
39
Ibidem. 40
Ibidem. 41
MARSHALL, Carla (org.), 2013. No prelo.
24
O vigésimo artigo da Constituição da República Federativa do Brasil de 05 de
Outubro de 1988 dispõe sobre os bens pertencentes à União. O primeiro parágrafo do artigo
em comento é inerente aos temas relativos à participação no resultado e compensação
financeira da exploração dos hidrocarbonetos, recursos hídricos para fins de geração de
energia elétrica e de outros recursos minerais no respectivo território, plataforma continental,
mar territorial ou zona econômica exclusiva. In verbis:
“Art. 20,§ 1º - É assegurada, nos termos da lei, aos Estados, ao Distrito
Federal e aos Municípios, bem como a órgãos da administração direta da
União, participação no resultado da exploração de petróleo ou gás natural,
de recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica e de outros
recursos minerais no respectivo território, plataforma continental, mar
territorial ou zona econômica exclusiva, ou compensação financeira por essa
exploração.”
A vexata quaestio da distribuição dos royalties do petróleo tem em seu cerne o
art. 20, § 1º, da CRFB/88, pois aí está o embasamento jurídico, esse parágrafo deve ser
interpretado de modo sistemático e teleológico, em acordo com os demais princípios e regras
constitucionais e, a partir de sua interpretação, deve-se interpretar as demais normas
infraconstitucionais relativas ao tema.
Os argumentos aduzidos na exordial da ADI nº 491742
- impetrada pelo
Governador do Estado do Rio de Janeiro, perante o Supremo Tribunal Federal, onde se
vindica a declaração de inconstitucionalidade da Lei nº 12.734/2012, na parte em que altera
dispositivos das Leis nº 9.478/1997 e 12.351/2010 referentes à distribuição dos royalties do
Petróleo - quanto à interpretação do art. 20, § 1º, da CRFB/1988 serão analisados a seguir,
assim como outros elementos que divergem da teoria que está sendo adotada na peça.
Para Luís Roberto Barroso - procurador do Estado do Rio de Janeiro e autor
intelectual da referida peça -, o dispositivo legal em comento determina expressamente que os
Estados, Municípios e o Distrito Federal recebam uma “compensação financeira” quando
houver a ocorrência de exploração de petróleo e gás natural no “respectivo território,
plataforma continental, mar territorial ou zona econômica exclusiva”. Desse modo, segundo
42
Petição Inicial da ADI nº 4917. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=4379376>. Acesso em 20.05.2013.
25
seu entendimento, a Constituição faria uma associação direta e inequívoca entre o pagamento
da compensação e o fato de haver produção situada no ente.43
Aduz-se, ainda, que além da literalidade do dispositivo, a lógica da
compensação aos produtores (e confrontantes) seria decorrente de diversas razões objetivas,
igualmente baseadas na Carta Magna. Nesse sentido, alega-se que em qualquer hipótese e sob
qualquer denominação, a exploração do petróleo gera riscos e impactos sociais e ambientais
relevantes.44
Ademais, a regra do art. 20, § 1º existiria também para compensar pelo não
recebimento dos Estados produtores/confrontantes do ICMS dessa atividade, pois há uma
inversão lógica onde Estados de destino que recolhem o referido tributo. Dessarte, os
royalties e a participação especial teriam sido criados para comportar todos esses ônus
supracitados.45
Ainda, o dispositivo em comento foi regulamentado pelo art. 7º da Lei nº
7.990/1989, que teria reforçado o dever de se prestar uma compensação financeira aos
Estados e Municípios em cujo território se fizesse a lavra, bem como àqueles confrontantes às
áreas de produção offshore, estipulando percentual e critérios. Além disso, os royalties
devidos aos Estados e Municípios produtores foram matéria da Lei nº 9.478/1997, editada de
modo a complementar as inovações trazidas pela abertura de mercado possibilitada pela EC nº
09/1995.46
Na inicial, conclui-se que ao longo de mais de sessenta anos, na legislação
infraconstitucional e constitucional, sempre houve a vinculação da receita aos Estados e
Municípios produtores que, por sua condição especial, assumem os ônus e riscos decorrentes
da atividade exploratória mesmo em terra ou em mar.47
No entanto, apesar do brilhantismo dos argumentos constantes na exordial da
ADI, outros prismas devem ser considerados para que se possa submeter o art. 20, § 1º, da
CRFB/1988, a uma análise mais apurada. A dialética no presente tema é essencial para que
não se tirem conclusões precipitadas sobre um tema de tamanha relevância nacional. Desse
modo, serão considerados a seguir os argumentos daqueles que opinam pelo novo modelo de
distribuição dos royalties.
43
Ibidem. 44
Ibidem. 45
Ibidem. 46
Ibidem. 47
Ibidem.
26
Os defensores do novo modelo distributivo argumentam que, primeiramente,
deve-se considerar uma interpretação teleológica do dispositivo em tela, a fim de se alcançar o
mens legis. Ainda, aduzem que a interpretação dada pelos defensores do antigo modelo é
restritiva, pois ignora outros elementos do texto constitucional, promovendo a desigualdade
entre Estados produtores e não produtores, o que feriria os princípios federativo e isonômico
por conceber demasiados privilégios a uns poucos. Ademais, arguem que os benefícios e
participação especial recebida pelas regiões produtoras de petróleo são, em via de regra,
desproporcionais as suas populações.48
Aduzem ainda que as mudanças fáticas econômicas, exploratórias e
sociológicas devem ser consideradas para que se dê uma interpretação mais atual à
Constituição, de modo a se haver uma interpretação mais coerente com a realidade recente.
Desse modo, as inovações legais não feririam a Carta da República, seriam totalmente
compatíveis a uma nova interpretação baseada em uma nova realidade, posto que as
mudanças trazidas pela exploração principal do pré-sal – que será realizada basicamente na
plataforma continental e alto mar, bem longe da área territorial dos Estados e Municípios
confrontantes – poderão trazer apenas danos remotos àqueles confrontantes e outros.49
Afirmam ainda a necessidade de demonstrar que se devem distinguir os
conceitos de Estado “produtor” e Estado “confrontante”. Desse modo, diferencia-se o ente
produtor do confrontante para que possa ser dada uma interpretação mais coerente ao texto
constitucional, uma vez que o produtor seria apenas o ente federativo que detenha a produção
petrolífera realizada onshorre, ou seja, em terra, de facto no território em que estaria
localizado o poço ou campo de petróleo, enquanto isso, o ente tido como confrontante não
possuiria a exploração e produção em seu território, pois essas seriam realizadas na
plataforma continental, em alto mar.50
Alegam ainda que os impactos observados nos entes produtores, lato sensu,
seriam mais positivos do que negativos, de modo que a atividade de E&P de petróleo e gás
natural que ocorre onshore – em seu território - e offshore – nas áreas marítimas limítrofes –
trariam diversos benefícios para a população e economia local de modo direto e indireto,
gerando empregos, renda, mão-de-obra e maior arrecadação tributária. Ademais, na
eventualidade de ocorrer algum dano ambiental em determinado Estado ou Município, por
exemplo decorrente do vazamento de petróleo, seriam aplicadas elevadas sanções pecuniárias
48
MARSHALL, Carla (org.), 2013. No prelo. 49
Ibidem. 50
Ibidem.
27
e administrativas às concessionárias responsáveis pela exploração petrolífera, sem que
prejudicasse o ente afetado de acionar outros mecanismos jurídicos para reverter seus
prejuízos, inclusive podendo ser feito até mesmo pela sociedade civil diretamente afetada e
pelo Ministério Público.51
A tese favorável ao novo modelo esclarece que o petróleo deve ser tratado
como bem da União, pertencente a todos, tal como os royalties (acessórios) que decorrem de
sua exploração e produção. A distribuição desse valioso recurso deveria basear-se na premissa
fundamental do princípio da isonomia previsto no art. 5º, da CRFB/1988, almejando a
sociedade livre, justa e solidária; o desenvolvimento nacional e a redução das desigualdades
socioeconômicas regionais.52
Ressalte-se que é utilizado capital nacional nas pesquisas e atividades
relacionadas à E&P de petróleo e gás natural, estando a Petrobrás – sociedade de economia
mista da União – sempre presente nas rodadas licitatórias, como agente da União, por isso,
por causa do papel fundamental da União, entender-se-ia que a compensação financeira por
meio dos royalties deveria ser igualmente da União, ou seja, distribuída de modo equânime
entre todos os entes da federação. Para os adeptos dessa interpretação, esse novo modelo
distributivo dessas parcelas compensatórias, seria o “modelo de distribuição equitativa”.53
Basicamente, portanto, as análises pautadas no art. 20, § 1º, da CRFB/1988
estão pautadas em distintas interpretações do sistema constitucional e diferentes percepções
sobre a realidade fática que permeia o universo jurídico, sem, no entanto, feri-lo. Para uns, o
texto constitucional é explícito e o caráter dos royalties seria para compensar os possíveis
impactos daqueles diretamente atingidos pelas atividades exploratórias, para outros, o texto
constitucional é claro no sentido de que se trata de bens da União, de esforços comuns de
todos, do desenvolvimento nacional, isonomia, alcance social nacional e, portanto, o caráter
compensatório deve afetar a todos que participam desse esforço, beneficiando mais os
Estados e Municípios menos desenvolvidos economicamente.
As distintas perspectivas causam enormes confrontos políticos e jurídicos em
âmbito nacional, são diferentes interpretações sobre o caráter compensatório dos royalties,
são abordagens distintas quanto às finalidades, quanto aos recursos, ao Pacto Federativo, o
desenvolvimento econômico sustentável – em âmbito nacional -, o meio ambiente e a
valoração de qual impacto seria maior, mais tenebroso para a sociedade, aquele que seria uma
51
Ibidem. 52
Ibidem. 53
Ibidem.
28
divisão mais social do petróleo com base nos cálculos dos Fundos de Participação dos Estados
e Municípios ou uma divisão igualmente mais social com base nos impactos presentes e
futuros diretamente suportados regional e localmente.
Assim, qualquer que seja a resolução do conflito, o dilema reside nas
diferentes concepções de impacto econômico e social suportado pelos membros da federação
e o acordo só poderá ser alcançado com a participação de todos no processo, de modo
democrático e não necessariamente meramente majoritário. Desse modo, a judicialização da
questão política é importante para que um poder juridicamente técnico, a priori isento
politicamente e legítimo possa resolver a questão sem cair em populismo e demagogia, mas
de modo que esteja confortável tanto para por acaso ser majoritário ou até mesmo
contramajoritário, defendendo a verdadeira democracia.
Conclui-se que a interpretação final sobre o caráter compensatório dos
royalties e a consolidação de uma verdade jurídica será dada pela mais alta corte do país,
aquela que tem por função a guarda da Constituição. O caráter compensatório é entendido
pela maioria dos litigantes, no entanto, como se averiguou, o entendimento sobre o que seria
“compensatório” é distinto entre esses. No mais, outros elementos referentes à interpretação e
às teses que cercam o debate serão estudados em outro capítulo, apartadamente.
1.5. CONCLUSÃO PARCIAL
O presente capítulo dedicou-se inteiramente a aspectos introdutórios referentes
ao tema “da distribuição dos royalties do petróleo no Brasil”. Assim, foram apresentados os
aspectos históricos mais importantes concernentes ao tema, de modo sintetizado devido às
limitações metodológicas e em respeito ao que seria mais pertinente com o objeto e objetivo
desta obra. Dessa forma, analisou-se o histórico da indústria do petróleo por meio de alguns
de seus marcos para que fosse possibilitado o melhor entendimento da questão.
Os princípios constitucionais mais importantes, baseados principalmente na
Supremacia da Constituição, uma vez que outros foram observados em outros tópicos,
também foram objeto de análise para que fosse ampliado o entendimento sobre o tema, dessa
vez não por uma matriz meramente histórica, mas também por um viés constitucional. O
pacto federativo, muito importante para a presente discussão, foi estudado de modo a
possibilitar o entendimento dessa disputa, como uma disputa entre entes federativos que se
torna em uma contenda onde há partes que possuem interesses contrapostos sob a mesma
federação.
29
Decerto, pode-se afirmar que a Supremacia da Constituição e o Pacto
Federativo Brasileiro estão em posição de destaque no presente embate, desse modo, a disputa
não se caracteriza como meramente política, mas também jurídica. Inclusive, o Guardião da
Constituição já foi instado a se manifestar sobre o tema, pois os parlamentares vencidos no
processo legislativo e o Estado do Rio de Janeiro, afetado pelas inovações legislativas, já
impetraram Mandados de Segurança contra os antigos Projetos de Lei e Ação Direta de
Inconstitucionalidade contra a Lei nº 12.734/2012.
Ainda, resta afirmar que o estudo do art. 20, § 1º, da Constituição foi
importantíssimo para que se pudesse entender o presente objeto de estudo, uma vez que essa é
a principal regra constitucional sobre o tema em análise. Assim, após o entendimento
histórico da questão, o estudo dos principais princípios que incidem diretamente sobre a atual
disputa em torno da distribuição dos royalties no Brasil, deve-se observar o papel do art. 20, §
1º, como norma que incide diretamente sobre o tema e que deve ser interpretada com base em
critérios hermenêuticos coerentes com a sua gramática, história, função e sistema.
Deste modo, o atual capítulo insere a discussão dos royalties do petróleo para
que essa seja complementada pelos capítulos subsequentes nos estudos sobre os royalties e,
por último, a judicialização da distribuição desses.
30
CAPÍTULO 2 – ASPECTOS JURÍDICOS DE FUNDO: O CONCEITO DE
ROYALTIES
2.1. INTRODUÇÃO
O presente capítulo é inteiramente dedicado aos aspectos jurídicos de fundo
referentes ao conceito de royalties, com notável ênfase à aplicação desse regime jurídico ao
petróleo e gás. Por isso, de modo complementar ao capítulo anterior – no qual foi apreciado o
histórico do petróleo e analisados os princípios constitucionais e o pacto federativo brasileiro,
para, por fim, ser analisado o art. 20, § 1º, da CRFB/1988 - deverão ser observados os
aspectos econômicos e exploratórios relacionados ao petróleo, de forma a introduzir os
aspectos fáticos e não jurídicos concernentes aos royalties. Posteriormente, serão estudados os
aspectos legais envolvendo os royalties, com o estudo das recentes mudanças legislativas e a
função social desse mecanismo jurídico.
Assim, o segundo capítulo visa a aprofundar a discussão instaurada pelo
capítulo anterior - em que foram analisados os aspectos mais genéricos e principiológicos que
servem para embasar o presente estudo – e a complementar o estudo específico do tema por
meio dos conceitos averiguados, de maneira a estabelecer uma conexão coerente com o que
será tratado posteriormente na presente opus. Outrossim, o direcionamento específico
promovido pelos itens subsequentes serão consentâneos à busca pela justiça no tema.
2.2. ASPECTOS ECONÔMICOS E EXPLORATÓRIOS RELACIONADOS AO
PETRÓLEO NO BRASIL.
No Brasil, as reservas provadas de petróleo crescem a uma taxa média anual de
8,2% nas últimas três décadas, ou seja, sabia-se de 1,3 bilhão de barris de reserva em 1980 e
em 2009 já se estimava o valor de 12,9 bilhões de barris de reserva. A maioria das reservas
pátrias localiza-se em ambiente marinho, offshore, na Bacia de Campos, situada à costa
sudeste da nação.54
No entanto, mesmo com a elevada taxa de crescimento verificada,
hodiernamente, o Brasil ainda detém somente 0,9% do total das reservas mundiais provadas
de petróleo. Contudo, esse painel deve modificar-se, uma vez que os recentes recursos
54
TOLMASQUIM, Maurício Tiomno e PINTO JUNIOR, Helder Queiroz (orgs.), 2011. Pág. 261.
31
descobertos na região do pré-sal ainda não foram incluídos nas reservas provadas, devendo
ser incorporados somente após a declaração de comercialidade desses novos campos.55
A história de exploração nacional dos nossos recursos energéticos está
vinculada aos choques do petróleo ocorridos em 1973 e 1979, com a consequente elevação
dos preços, por isso, na década de 1980 os investimentos em exploração e produção foram
incentivados para fazer com que diminuísse a dependência energética brasileira às oscilações
e pressões da política econômica externa. Desse modo, em meados dos anos 1980 a Petrobras
concentrou os ânimos exploratórios, sobretudo nas áreas de águas profundas da Bacia de
Campos, o que resultou nas descobertas de enormes campos, tais como Albacora (1984),
Marlim (1985) e Barracuda (1989).56
Na década seguinte, a Petrobras deu prosseguimento a sua política de
investimento na produção de petróleo em águas ultraprofundas. Nesse sentido, ao final da
década a Petrobras destinava cerca de 69% dos investimentos às atividades de exploração e
produção, portanto o Brasil conseguiu alcançar o marco de 8,5 bilhões de barris de petróleo
em reservas provadas, ressalte-se que 90% dessas estavam em offshore.57
Após a Emenda Constitucional nº 09/1995 e a promulgação da Lei nº
9.478/1997, conhecida também como “Lei do Petróleo”, houve a flexibilização do monopólio
do petróleo, de forma que a União passou a poder contratar empresas privadas para que essas
realizassem atividades de pesquisa e lavra do petróleo e gás natural, refino de petróleo,
importação e exportação de petróleo, derivados e gás natural. Nessa época, sob fortes
influências neoliberais, o Estado Brasileiro visava fortalecer as atividades de regulação,
fiscalização e, primordialmente, a incorporação de capital privado nas atividades produtivas,
de modo que o Estado conseguisse obter maiores resultados sem ocasionar grandes danos ao
erário.58
Desse modo, com a flexibilização do monopólio e consequente abertura do
setor hidrocarbonífero nacional, em 1997, os investimentos nas atividades de exploração e
produção deixaram de fazer parte do estrito monopólio brasileiro para poderem ser realizados,
igualmente, por empresas estrangeiras. Desde 1999 até os dias hodiernos, as bacias
sedimentares pátrias foram objeto de dez rodadas licitatórias, nas quais os blocos foram
adquiridos tanto pela Petrobras como também por diversas outras companhias estrangeiras.59
55
Ibidem. 56
Ibidem. 57
Ibidem. Págs. 261/262. 58
GAMBIAGI, Fabio e LUCAS, Luiz Paulo Vellozo (orgs.), 2013. Págs. 56/57. 59
TOLMASQUIM, Maurício Tiomno e PINTO JUNIOR, Helder Queiroz (orgs.), 2011. Pág. 262.
32
Atualmente, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis,
doravante denominada como ANP, organiza a 11ª Rodada Licitatória, sendo que essa rodada
tem número recorde de empresas habilitadas, ao todo são 64. Nessa rodada, estão sendo
ofertados 289 blocos que estão distribuídos em 11 bacias sedimentares, sendo que desses
blocos 166 estão localizados offshore – 94 em águas profundas e 72 em águas rasas – e 123
onshore.60
Nas primeiras décadas do terceiro milênio, destaca-se para o cenário nacional a
descoberta de óleo e gás natural no bloco BM-S 11 da Bacia de Santos, localizado em águas
ultraprofundas. Nesse bloco, a pioneira área delimitada denominada “Lula” tem o valor
estimado de 6,5 bilhões de barris de óleo, sendo que essa descoberta é uma das maiores do
mundo desde que foi apresentada a de Kashagan, no Cazaquistão, em 2010.61
As grandiosas descobertas na camada do pré-sal que abrange as bacias de
Santos, Campos e Espírito Santo, todas no sudeste brasileiro, ainda não foram introduzidas às
reservas provadas, conforme afirmado anteriormente, pois ainda dependem que sejam
atestadas a comercialidade dos recursos ali presentes. Entretanto, a expectativa é que quando
essas reservas forem provadas, o país se posicione entre os dez maiores detentores de reservas
provadas no mundo.62
A produção de petróleo nacional cresce a uma taxa média de 6,6% a.a.
desde 1970, desse modo, a produção nacional passou de 200 mil bbl./dia para 02 milhões
bbl./dia em 2009. Em consonância com a localização da maioria das reservas pátrias, a
produção está igualmente localizada em áreas offshore, sobretudo na Bacia de Campos.63
Em paralelo à produção, a demanda por derivados nesse período cresceu a uma
taxa de 3,7% a.a., tendo sido esse crescimento amenizado pela comutação dos derivados por
gás natural e biocombustíveis (álcool e biodiesel). A demanda por combustíveis líquidos –
derivados e biocombustíveis – cresceu a uma taxa de 4,2% a.a. no respectivo período em
análise. Hodiernamente, a produção e demanda de petróleo nacional representam,
respectivamente, 2,5% e 2,4% do total mundial.64
Há estudos da AIE que afirmam que o país deverá ter o crescimento mais
acelerado na produção de petróleo fora do Oriente Médio nas próximas duas décadas. A
produção nacional diária deverá crescer 3,5 milhões de bbl./dia até o ano de 2035, sendo essa
60
Disponível em:
<http://www.anp.gov.br/?pg=65521&m=&t1=&t2=&t3=&t4=&ar=&ps=&cachebust=1366695418805>. Acesso
em 23.04.2013. 61
TOLMASQUIM, Maurício Tiomno e PINTO JUNIOR, Helder Queiroz (orgs.), 2011. Pág. 263. 62
Ibidem. 63
Ibidem. Págs. 263/264. 64
Ibidem. Pág. 264.
33
a segunda melhor performance mundial, restando atrás apenas do Iraque, cujo volume deve
crescer em 5,6 milhões de barris diários no período, alcançando o total de 8,3 milhões de
barris de petróleo por dia.65
O estudo da AIE revela ainda que a produção diária de petróleo no Brasil foi
de 2,2 milhões bbl./dia, deverá atingir o patamar de 4 milhões bbl./dia em 2020 e continuar
crescendo até alcançar o nível de 5,7 milhões bbl./dia em 2035. O desempenho nacional
previsto é considerado o melhor entre os países que não são membros a Organização dos
Países Exportadores de Petróleo. Ainda segundo o referido trabalho, a AIE apresenta
perspectivas mais conservadoras que a Petrobras no setor, no entanto, aduz que a produção
brasileira deverá representar mais que o dobro da produção mexicana, estipulada em 2,6
milhões bbl./dia no período em questão.66
A agência destaca que o aumento da produção brasileira deverá subir
consideravelmente graças às descobertas de gigantescas reservas na camada do pré-sal.
Quanto à demanda mundial de energia, o estudo afirma que essa deverá crescer em um
percentual superior a 33% até 2035, sendo que a China, Índia, países do Oriente Médio e
Brasil são os que impulsionam esse crescimento, pois representam mais de 60% desse. No
período em questão (2010 – 2035), a AIE afirma que o aumento da demanda energética do
Brasil deverá crescer em 69%, enquanto a chinesa, para fins comparativos, deverá crescer
60%.67
No entanto, espera-se que o Brasil saiba desenvolver as demais matrizes
energéticas de modo a não ficar dependente apenas dessa matriz fóssil e altamente poluente,
mas que seja capaz de criar, desenvolver, utilizar e vender uma tecnologia limpa necessária ao
desenvolvimento da economia nacional, sem que sejam sentidas as externalidades negativas
do impacto ambiental.
Isto posto, depreende-se que não somente houve um crescimento no número de
reservas comprovadas de petróleo nas últimas quatro décadas, como também houve um
enorme crescimento na produção nacional de petróleo e gás natural. Esses índices
acompanham os notórios crescimentos do produto interno bruto nacional, população
brasileira, escolarização e acesso a bens de consumo por meio da distribuição de renda.
2.3. ASPECTOS LEGAIS DOS ROYALTIES DO PETRÓLEO
65
Disponível em: < http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/11/121113_petroleo_brasil_dg.shtml>.
Acesso em 26.04.2013. 66
Ibidem. 67
Ibidem.
34
A origem etimológica da palavra “royalty” é a palavra inglesa “royal” que
possui o significado de “realeza” ou “relativa ao rei”, isso deve-se ao fato de que
originalmente o “royal” era o direito que os monarcas possuíam para receber pagamentos pela
extração de minérios feita em suas propriedades. Essa é uma das formas mais antigas de
pagamentos de direitos, seu uso pode também ser associado aos direitos autorais, propriedade
intelectual e patente industrial.68
No país, é comum utilizar a referida expressão quando se trata de recursos
energéticos, como por exemplo, o petróleo e o gás natural, e importa em compensação
financeira devida pelos concessionários que exploram e produzem tais fontes de energia,
primordialmente, aos Municípios, Estados e Distrito Federal, ou seja, aqueles diretamente
afetados pela atividade econômica exploratória.69
Na história recente, a cobrança dos royalties começou no Irã, em 1901,
quando foi concedida uma área que cobria três quartos do território nacional a um especulador
britânico, pelo prazo de seis décadas, em troca de um bônus e de um valor de 16% sobre os
lucros da empresa. No ramo dos hidrocarbonetos, crê-se que o pagamento dos royalties seja
devido por causa do privilégio de se usar ou desenvolver um recurso natural pertencente a
todos e não renovável. Inclusive, há aqueles que considerem os royalties pagos uma
subespécie tributária, uma forma de imposto, pois somente são pagos após a descoberta de
óleo ou gás natural, o que faz com que se depreenda que seria devido um pagamento ou
participação baseado nos direitos de produção.70
O tema quanto à natureza jurídica dos royalties ainda é controverso, no
entanto, apesar de parte da doutrina entender por sua natureza tributária, outra parte entende
que é o caso de obrigação legal-contratual, diferindo, desse modo, do regime jurídico
tributário.71
A definição normativa encontra-se disposta no art. 11, do Decreto nº 2.705/1998,
in verbis:
“Art 11. Os royalties previstos no inciso II do art. 45 da Lei nº 9.478, de 1997,
constituem compensação financeira devida pelos concessionários de
exploração e produção de petróleo ou gás natural, e serão pagos
68
TORRONTEGUY, Alessandra Fölkze. A Aplicação dos Royalties do Petróleo na Efetividade dos Direitos
Fundamentais Sociais. São Paulo. LTr, 2011. Pág. 35. 69
Ibidem. Idem. 70
NAVARRO, Carlos A. S. Royalties do petróleo, estudo do caso de Campos dos Goytacazes. Dissertação de
Mestrado em Economia Empresarial. Rui de Janeiro. Universidade Cândido Mendes, 2003, pág. 34 apud
TORRONTEGUY, Alessandra Fölkze, 2011. Pág. 36.
35
mensalmente, com relação a cada campo, a partir do mês em que ocorrer a
respectiva data de início da produção, vedada quaisquer deduções.”72
A definição da ANP sobre a natureza dos royalties do petróleo é a de que esses
funcionam como uma compensação financeira devida à União pelos concessionários que
exploram e produzem petróleo e gás natural, sendo essa distribuída entre os governos
municipais, estaduais, Comando da Marinha do Brasil, Ministério da Ciência e Tecnologia e
para um fundo especial, que beneficia todos os estados e municípios do Brasil.73
Esse
entendimento dos royalties como compensação financeira é o adotado no presente trabalho.
Os royalties do petróleo e gás foram introduzidos no ordenamento jurídico
brasileiro pela Lei nº 2.004/1953, essa fixava uma alíquota de 04% a ser paga aos estados e
01% aos municípios sobre o valor dos referidos hidrocarbonetos produzidos em seu território,
ou seja, onshore.74
Em 1985, com o início da produção offshore, foram estendidos os
pagamentos dessas compensações às regiões confrontantes aos poços na plataforma
continental.75
Hodiernamente, cerca de 90% da produção nacional encontra-se no mar,76
portanto são os royalties do petróleo e gás explorados e produzidos no offshore que são os
mais relevantes para a economia nacional.
Entende-se, contemporaneamente, que os royalties são devidos à sociedade
pela exploração de recursos naturais escassos e não renováveis, portanto deve ser em prol
dessa sociedade que o administrador deve gerir tais recursos. Simplesmente, deve-se à
sociedade, pois a exploração desse recurso natural não renovável deverá voltar à coletividade
como meio de compensar aqueles que fazem parte de um processo civilizatório destinado ao
desenvolvimento econômico, só que, no entanto, agregado às severas consequências sociais,
uma vez que o bônus dessa exploração está aliado ao ônus que a sociedade deverá suportar.77
Segundo Serra e Leal, há uma confusão interpretativa quanto à natureza dos
royalties, esse mecanismo não deve ser interpretado como uma compensação sobre os
71
MENEZELLO, Maria D’Assunção Costa. Comentários à Lei do Petróleo: Lei Federal n. 9.478, de 6 de
Agosto de 1997. São Paulo. Atlas, 2000. Pág. 139 apud TORRONTEGUY, Alessandra Fölkze. A Aplicação
dos Royalties do Petróleo na Efetividade dos Direitos Fundamentais Sociais. São Paulo. LTr, 2011. Pág. 36. 72
Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D2705.htm>. Acesso em 24.04.2013. 73
Disponível em:
www.anp.gov.br/?pg=46167&m=&t1=&t2=&t3=&t4=&ar=&ps=&cachebust=1367056025979. Acesso em
27.04.2013 via aparelho celular. 74
Ibidem. 75
LISBOA, Márcia. Petróleo: A Festa dos Royalties e outras riquezas. Revista Ramos, maio de 2003. Pág. 26.
apud TORRONTEGUY, Alessandra Fölkze, 2011. Pág. 37. 76
TOLMASQUIM, Maurício Tiomno e JUNIOR, Helder Queiroz Pinto (orgs)., 2011. Págs. 261/262. 77
TORRONTEGUY, Alessandra Fölkze., 2011. Pág. 37.
36
impactos negativos do adensamento causados pelo célere crescimento das áreas produtoras (e
confrontantes) de petróleo e gás natural, posto que haveria clássicos benefícios decorrentes
dessa situação, como: o incremento da renda provocado pelo adensamento populacional,
revertendo-se em uma maior base de arrecadação para os cofres públicos. Para eles, os
royalties distribuídos aos entes federativos têm como função equacionar um problema de
justiça intergeracional, ou seja, compensá-los dos impactos causados por uma trajetória
econômica embasada em um recurso não renovável, por isso haveria a necessidade de atrelar
a aplicação de seus investimentos a uma diversificação na escala produtiva.78
De modo
coerente, com os argumentos esposados anteriormente, conclui Torronteguy, verbis:
“[...] os Estados e municípios estariam preparados para o fim da era
petrolífera, pois se deve levar em conta que a utilização deste recurso deve
ter como premissa uma estrutura social que sobreviva sem ele, por meio
de investimentos que possam, no futuro, ser efetivos sem o seu
recebimento”.79
(grifos nossos)
Desse modo, percebe-se que os royalties decorrentes da exploração e produção
de petróleo e gás natural não devem ser considerados como um fim em si mesmo, muito
menos como uma verba devida meramente aos entes federativos, uma vez que esses recursos
devem ser utilizados de modo a se perseguir a equidade intergeracional e de modo a se
beneficiar a sociedade, não a máquina administrativa. O Estado age de modo a gerir os bens
dessa coletividade, não podendo jamais dispor de seus interesses, essa gestão é um poder-
dever onde deve sempre se buscar as melhores técnicas administrativas no intuito de se atingir
o interesse público.
Ainda, devido ao caráter compensatório dos royalties sugere-se a sua relação
intrínseca aos direitos fundamentais sociais, desse modo, seria aplicável a vedação ao
retrocesso social. No entanto, há discussão quanto à aplicabilidade desses recursos na
efetivação dos direitos fundamentais sociais e, a consequente, incidência da cláusula do não
retrocesso, uma vez que haveria omissão legislativa em relação à determinação do destino
desses recursos, havendo apenas vedação de sua destinação a situações numerus clausus.80
O
art. 8º, da Lei nº 7.990/1989, assim estipula:
78
LEAL, J. Agostinho e SERRA, Rodrigo V. Uma investigação sobre os critérios de repartição dos royalties
petrolíferos. In PIQUET, Rosélia. Petróleo, royalties e região. Rio de Janeiro. Garamond, 2003, pág. 163 apud
TORRONTEGUY, Alessandra Fölkze, 2011. Págs. 37/38. 79
TORRONTEGUY, Alessandra Fölkze, 2011. Págs. 38. 80
TORRONTEGUY, Alessandra Fölkze, 2011. Págs. 39/41.
37
“Art. 8º O pagamento das compensações financeiras previstas nesta Lei,
inclusive o da indenização pela exploração do petróleo, do xisto
betuminoso e do gás natural será efetuado, mensalmente, diretamente aos
Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios e aos órgãos da Administração
Direta da União, até o último dia útil do segundo mês subseqüente ao do fato
gerador, devidamente corrigido pela variação do Bônus do Tesouro Nacional
(BTN), ou outro parâmetro de correção monetária que venha a substituí-lo,
vedada a aplicação dos recursos em pagamento de dívida e no quadro
permanente de pessoal.
§ 1º Não se aplica a vedação constante do caput no pagamento de dívidas
para com a União e suas entidades.
§ 2º Os recursos originários das compensações financeiras a que se refere
este artigo poderão ser utilizados também para capitalização de fundos
de previdência.”” (grifos nossos)81
Para melhor ilustrar as recentes mudanças legislativas no que diz respeito à
distribuição dos royalties do petróleo no Brasil, segue a tabela abaixo:82
Tabela 1 – Regime de Concessão
REGIME DE CONCESSÃO
Lei nº 9.478/97 (redação
anterior)
Lei nº 12.734/2012
Royalties: Lavra em terra ou em
lagos, rios, ilhas fluviais e
lacustres.
Royalties de até 5% Royalties de até 5%
Estados produtores: 70%
Municípios produtores: 20%
Municípios com instalações:
10%
Estados produtores: 70%
Municípios produtores: 20%
Municípios com instalações:
10%
Parcela que superar os 5% Parcela que superar os 5%
Estados produtores: 52,5%
Municípios produtores: 15%
Municípios com instalações:
7,5%
União: 25%
Estados produtores: 52,5%
Municípios produtores: 15%
Municípios com instalações:
7,5%
União: 25%
81
Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7990.htm>. Acesso em 30.05.2013. 82
Petição Inicial da ADI nº 4917. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=4379376> . Acesso em
20.05.2013.
38
Royalties: Plataforma
continental, mar territorial ou
ZEE
Royalties de até 5% Royalties de até 5%
Estados confrontantes: 30%
Municípios confrontantes: 30%
Municípios com instalações:
10%
União: 20%
Fundo (todos menos União):
10%
Estados confrontantes: 20%
Municípios confrontantes: 17%
(->) Reduções até 4% (2019)
Municípios afetados: 3%
(->) Redução para 2% (2017)
União: 20%
Fundo – Estados e DF: 20%
(->) Aumentos até 27% (2019)
Fundo – Municípios: 20%
(->) Aumentos até 27% (2019)
Parcela que superar os 5% Parcela que superar os 5%
Estados confrontantes: 22,5%
Municípios confrontantes:
22,5%
Municípios afetados: 7,5%
União: 40%
Fundo (todos menos União):
7,5%
Estados confrontantes: 20%
Municípios confrontantes: 17%
(->) Reduções até 4% (2019)
Municípios afetados: 3%
(->) Redução para 2% (2017)
União: 20%
Fundo – Estados e DF: 20%
(->) Aumentos até 27% (2019)
Fundo – Municípios: 20%
(->) Aumentos até 27% (2019)
Participação Especial Estados confrontantes ou
produtores: 40%
Municípios confrontantes ou
produtores: 10%
União: 50%
Estados confrontantes ou
produtores: 34%
(->) Reduções até 20% (2018)
Municípios confrontantes ou
produtores: 5%
(->) Reduções até 4% (2019)
União: 42%
(->) Aumentos até 46% (2016)
Fundo – Estados e DF: 9,5%
(->) Aumentos até 15% (2019)
Fundo – Municípios: 9,5%
(->) Aumentos até 15% (2019)
Desse modo, depreende-se que as inovações legislativas reduziram o caráter
39
compensatório pelos ônus decorrentes dos impactos e riscos da exploração nos Municípios e
Estados afetados, majorando a arrecadação dos Fundos de Participação dos Estados e
Municípios, onde haveria uma, alegada, redistribuição da compensação com o viés social, no
sentido da isonomia e desenvolvimento nacional.
2.4. FUNÇÃO SOCIAL DOS ROYALTIES DO PETRÓLEO.
A função social dos royalties deverá ser abordada no presente item, posto que
esse conceito, que foi sutilmente pincelado em outros subcapítulos, merece atenção especial
para a elucidação do que poderia ser uma justa distribuição dos royalties do petróleo segundo
o modelo federativo brasileiro. Dessarte, a análise de seu caráter eminentemente
compensatório deverá auxiliar a uma decisão, não desprovida de conteúdo axiológico, sobre
qual seria a sua melhor destinação no sentido de se cumprir os preceitos expressos pela Carta
Magna.
A Lei Fundamental do Estado organiza as atividades políticas; cria
mecanismos que permitem o funcionamento do Estado soberano e, no caso dos federativos,
de seus entes autônomos e impõe limites ao Leviatã e garante direitos negativos e positivos,
fundamentais individuais e sociais, aos indivíduos que estejam submetidos a sua soberania.
Desse modo, não só o particular – cidadão ou não – está submetido à Carta Magna, mas,
principalmente, o Estado Democrático de Direito deverá sempre atuar em consonância com os
limites impostos pela Norma Fundamental. Assim, enquanto o princípio da legalidade para o
indivíduo funciona de modo a permitir que esse faça tudo aquilo que não lhe for proibido,
para o Estado esse princípio restringe a sua atuação a tudo o que lhe for expressamente
autorizado.
Por isso, a função social da propriedade deve ser igualmente aplicada ao
Estado, não se restringindo meramente às relações entre particulares. Assim, o art. 20, da
Constituição in totum deve ser observado em consonância com o sistema formado pelos arts.
5º, XXII e XXIII; 37, caput e 170, III; 173, § 1º, I, todos da Lei Maior. Assim, a função social
da propriedade do petróleo e de seus royalties deverá ser garantida sob os princípios que
regem a atividade estatal na gestão do bem coletivo.
Os royalties são mecanismos historicamente compensatórios - conforme
observado previamente -, onde remunerava-se o Rei ou o Estado pela concessão de um direito
de exploração de um bem seu. A evolução histórica desse instituto o desatrelou da figura do
soberano, mas, mesmo em seu aperfeiçoamento, manteve como uma de suas características
40
principais a remuneração devida ao Estado pela exploração de um bem por esse gerido. Desse
modo, deve-se à coletividade, como detentora do bem, uma compensação financeira – a ser
gerida pelo Estado – pelo uso e apropriação de um bem não renovável e escasso, de modo a se
garantir um equilíbrio socioeconômico em vista aos impactos sociais, econômicos e
ambientais ocasionados pela atividade econômica e, igualmente, por aqueles que serão
gerados e, ainda, por aqueles eventuais, dos quais não há certeza, mas possibilidade de serem
produzidos.
Assim, a função social desse bem é inerente à equidade intergeracional, posto
que a sociedade deveria ser compensada por uma trajetória econômica fundada em um recurso
não renovável.83
Dessa forma, ainda há a possibilidade de interpretação dual quanto a quem
deveria ser compensado, se a ênfase dessa deveria se dar em relação à sociedade como um
todo ou com o foco maior naqueles que são diretamente afetados pela atividade exploratória.
O modelo brasileiro de distribuição dos royalties contempla as duas posições, ou seja, atinge
tanto aqueles que são diretamente afetados quanto aqueles que podem vir a sofrer
indiretamente os efeitos. No entanto, até as recentes inovações legislativas – questionadas no
Supremo Tribunal Federal – a ênfase maior estava na compensação daqueles diretamente
afetados, mas, hodiernamente, o direcionamento principal está naqueles indiretamente
afetados.
O princípio da solidariedade entre gerações deve guiar a destinação das verbas
dos royalties, de modo a não se punir as futuras gerações por políticas e decisões que não
foram debatidas por essas. Os interesses dessas estão presentes nos três campos a seguir:
alterações irreversíveis dos ecossistemas terrestres em decorrência da atividade humana;
esgotamento dos recursos derivado de um uso não racional ou incônscio em relação a sua
renovação e necessidades futuras e riscos duradouros.84
Assim, faz parte da função social
dos royalties o atingimento dos interesses das gerações vindouras.
O princípio do desenvolvimento sustentável deve ser igualmente observado no
tratamento dos royalties do petróleo, uma vez que esse, em suas três vertentes (ambiental,
social e econômica), deve ser observado na destinação das compensações relativas à E&P do
petróleo. Assim, deve-se preservar ao máximo os recursos não renováveis – e onerar a sua
exploração em prol da coletividade -, proteger os mais vulneráveis aos efeitos dos impactos
83
LEAL, J. Agostinho e SERRA, Rodrigo V, 2003, pág. 163 apud TORRONTEGUY, Alessandra Fölkze, 2011.
Págs. 37/38. 84
CANOTILHO, José Joaquim Gomes e LEITE, José Rubens Morato (orgs.). Direito Constitucional
Ambiental Brasileiro. 5ª ed. São Paulo: Saraiva. 2012. Págs. 30/31.
41
ambientais e degradação dos recursos naturais e, por fim, auxiliar na promoção de atividades
econômicas duradouras, buscando-se, igualmente, a internalização de seus custos.85
Ainda, a função social deve ser analisada sob o prisma da prevenção, pois os
riscos decorrentes da atividade são notórios e devem ser compensados, para que não se onere
demasiadamente aqueles sujeitos aos impactos causados – ou possíveis – da atividade. Nesse
esteio, mesmo que se argumente – como os defensores do novo modelo distributivo – que
com as inovações tecnológicas e com os novos marcos exploratórios encontrados no pré-sal,
tornariam quaisquer riscos quase que nulos, in dubio pro ambiente, ou seja, deve no mínimo a
função compensatória ser observada sob o prisma do princípio da precaução.86
Ademais, ressalte-se que os royalties e os princípios suprarreferidos estão
diretamente relacionados ao princípio do poluidor-pagador (PPP), assim a ideia expressa pelo
PPP está diretamente relacionada ao dever de se arcar com as externalidades negativas por ele
produzidas. O PPP atua principalmente na prevenção e precaução, antes da ocorrência do
dano e independentemente da existência de vítimas. Assim, esses agentes não devem arcar
somente com o que se espera que possa resultar em termos de dano, mas com os custos das
políticas de prevenção e precaução – o que o estimularia a buscar novas tecnologias menos
lesivas ao meio ambiente. Desse modo, pelo menos parte dos fundos alimentados pelos
royalties deveriam ser vinculados às despesas públicas relativas ao meio ambiente.87
Deve-se observar a função social ambiental da propriedade no que diz respeito
à exploração do petróleo e gás, pois é imperioso que se evite que os benefícios sejam gozados
por poucos, enquanto os prejuízos seriam sentidos pela coletividade. Outrossim, a política da
distribuição dos royalties deve estar em consonância com o direito fundamental à proteção
ambiental, isto posto dá-se a esse direito a aplicabilidade imediata.88
Não é possível
desvincular os royalties desses direitos da coletividade.
O Estado Brasileiro não possui apenas o dever de não degradar em relação ao
meio ambiente, mas possui também o dever de zelar por ele, não deixar que o degradem,
como gestor dos bens coletivos. Dessarte, a sua função reguladora deve ser sempre no
sentido de resguardar os direitos fundamentais ambientais, no intuito de se proteger o
interesse da coletividade a um ambiente saudável. Não deve agir de modo contrário a esse
direito fundamental jamais e, como direito fundamental, deve também atuar na sua
prossecução. O Estado deve atuar de forma a garantir a qualidade de vida e a saúde dos seres
85
Ibidem, Pág. 81. 86
Ibidem, Pág. 70/74. 87
Ibidem, Pág. 76/79. 88
Ibidem, Pág. 96/99.
42
viventes em seu território – humanos ou inumanos. O Estado também possui suas
responsabilidades como sujeito poluidor, não podendo se eximir dessas, buscando sempre
mitigar ao máximo as suas ações que danifiquem o meio ambiente.89
Desse modo, deve ser feita a análise dos royalties sob o prisma vislumbrado
pela interpretação sistemática dos arts. 225; 5º, XXIII e §§ 1º e 2º e 20, § 1º, todos da
Constituição. Assim, não deve ser ignorada a relevância da questão ambiental e econômica –
conforme citado anteriormente – para o presente tema, não se devendo esquecer a função
social desse mecanismo jurídico na efetivação de direitos fundamentais ambientais (de
aplicabilidade imediata).
Não obstante, a função social dos royalties do petróleo e gás natural deve ser
coerente com os valores emanados pelo preâmbulo constitucional – sem força normativa,
apenas viés hermenêutico; com o art. 1º, caput e inciso III e com os objetivos firmados pelo
art. 3º da Carta da República. Dessarte, os royalties devem ser utilizados de modo a respeitar
todo o sistema normativo expresso na Carta Magna, a começar pelos valores determinados no
preâmbulo, in verbis:
“Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional
Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o
exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o
bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores
supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos,
fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e
internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob
a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA
FEDERATIVA DO BRASIL”.90
(grifos nossos)
Desse modo, dentro do contexto do Estado Democrático de Direito, destinado
a assegurar a efetivação dos direitos sociais e individuais, a segurança, o bem-estar, o
desenvolvimento, a igualdade e a justiça, em uma sociedade fraterna e plural, que busca a
solução pacífica de suas controvérsias, deve-se observar o pacto federativo brasileiro e a
função social dos royalties do petróleo. A dignidade da pessoa humana, expressa no art. 1º,
89
Ibidem, Pág. 100/101, 113/119 e 129/131. 90
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em
30.05.2013.
43
III, da CRFB/1988, também deve ser norteadora para a aplicação dos royalties, mesmo que
haja omissão legislativa nesse sentido.
O art. 3º, da Lei Maior, como norma programática não poderá jamais ser
descumprido, desse modo, a função social dos royalties perpassa pelos objetivos ali
expressos, pois está dentro do seu alcance o auxílio à consecução dessas assertivas
constitucionais. Assim dispõe o referido dispositivo:
“Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do
Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais
e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor,
idade e quaisquer outras formas de discriminação.”
Assim, devido às enormes expectativas nacionais em torno da grandeza das
reservas nacionais, exploração e produção desse bem, essas, se cumpridas, poderão ajudar no
cumprimento dos objetivos constitucionais expressos no art. 3º, da Constituição, de modo
mais real e certeiro do que se imaginava até então. A riqueza gerada pelo petróleo, se bem
aproveitada e destinada (com vista em sua escassez), poderá auxiliar o desenvolvimento
nacional e a erradicação da pobreza e das desigualdades sociais e regionais. No entanto, é
necessário que a sociedade permaneça livre, justa e solidária e não promova nenhuma forma
de discriminação negativa, ou seja, será necessário um consenso quanto ao pacto federativo e
a distribuição das receitas provenientes dessa riqueza.
Por fim, percebe-se que todos os entes federativos precisam desses recursos e
devem participar dessa riqueza para melhor atender à população, no entanto, o caráter
compensatório dos royalties deverá ser medido também, primariamente, para compensar às
populações vulneráveis ao impacto socioeconômico e ambiental por ele gerado. Assim, evita-
se a figura do free rider, pois apesar de haver ônus e bônus para toda a nação, uns sofrem os
impactos antes e com muito maior intensidade que os demais – que poderão nem perceber.
Desse modo, como o ônus de um proveito geral pode ser muito maior para certas populações
locais, deve-se ter em mente esse cálculo na equação da proporcionalidade dos valores a
44
serem destinados para que se cumpra com cada uma das funções sociais que os royalties do
petróleo possuem. Devendo, inclusive, vedar-se o retrocesso social.
2.5. CONCLUSÃO PARCIAL
O Brasil de hoje possui tecnologia e capacitação humana para se tornar um dos
maiores produtores de petróleo do mundo nas próximas décadas. O fato incontroverso é que
90% da exploração de oil & gas ocorre no offshore, assim a região costeira, principalmente
nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo, é a mais afetada pela atividade. O
pré-sal não mudará em nada esse cenário, na verdade, apenas ampliará os impactos nessa
região, pois os novos campos estão contíguos ao litoral desses três Estados.
A União é a proprietária dos recursos naturais da plataforma continental e da
zona econômica exclusiva (art. 20, V, da Constituição); do mar territorial (art. 20, VI, da
CRFB/1988) e do petróleo e gás (art. 20, § 1º, da Carta Magna). A titularidade da União sobre
esses bens não está sob discussão, mas a titularidade apesar de absoluta gera deveres
decorrentes de seus efeitos que estão expressos na própria Carta Magna, no art. 20, § 1º, in
fine. A União deverá compensar os que forem afetados pela exploração dessa atividade
submetida a seu monopólio (flexibilizado pela EC nº 09/1995). Assim, sem a atividade
exploratória, a União não deverá compensar, mas havendo a exploração, esse dever é anexo.
A exploração do petróleo no mar brasileiro é incontroversa, a titularidade
desses bens pela União também, assim como a constitucionalidade e a legalidade do regime
de royalties pagos aos entes afetados por essa atividade econômica. A natureza do instituto
dos royalties é clara e constitucionalmente compensatória, não há como apartar o seu caráter
compensatório do instituto constitucionalizado. A questão que depende de hermenêutica é o
que seria esse seu caráter compensatório e a quem deve ser dirigida essa compensação.
Atualmente, está havendo uma rediscussão nesse modelo existente há décadas no país e a
análise de sua função social é imperativa para que seja dada a finalidade mais justa ao referido
instituto.
45
CAPÍTULO 3 – JUDICIALIZAÇÃO DA DISTRIBUIÇÃO DOS
ROYALTIES
3.1 INTRODUÇÃO
O presente capítulo visa a apresentar a judicialização da distribuição dos
royalties do petróleo, desse modo, discutir-se-á o panorama político e jurídico concernente ao
debate atual do tema e, em seguida, serão apresentadas as teses que se apresentam de modo
favorável e desfavorável em relação a presente problemática. Desse modo, este capítulo
complementará os dois anteriores, sendo apresentadas as teses e os aspectos mais relevantes
para contextualizar a questão.
Assim, o terceiro capítulo visa não mais a uma discussão meramente técnica e
mais afastada do tema, como, por força metodológica, ocorreu nos capítulos anteriores. O
presente apresentará os aspectos específicos referentes ao tema e, com isso, apresentará
pontos-de-vista parciais, de todos os prismas relevantes, para que se possa encerrar o debate
sobre o tema e se chegar a uma conclusão com o máximo possível de equidade.
3.2 PANORAMA POLÍTICO
O presente tópico servirá para contextualizar o cenário da discussão que gira
em torno da distribuição dos royalties do petróleo no Brasil contemporâneo. A sociedade
brasileira, de um modo geral, acredita que política é algo “feio”, algo “sujo”, pois os piores
exemplos éticos da política nacional aparecem nas capas dos jornais, nas chamadas de rádio e
televisão. As notícias ruins da política nacional entram na casa de todos hoje em dia, pois
gozamos de liberdade de imprensa.
Previamente, no primeiro capítulo, foi analisado o pacto federativo, o princípio
federativo, depreendeu-se que a República Federativa do Brasil é formada pela união
indissolúvel de seus entes federativos (União, Estados, Distrito Federal e Município – art. 1º,
caput, da CRFB/1988), em que cada ente possui atribuições próprias, sendo algumas
compartilhadas. A forma federativa de Estado não pode ser abolida nem por Emenda
Constitucional, na forma do art. 60, § 4º, I, da CRFB/1988. Ademais, outra divisão importante
para a República é a divisão em três poderes harmônicos e independentes entre si, são esses
os Poderes Legislativo, Executivo e o Judiciário (art. 2º, da Constituição). A separação dos
46
poderes também é considerada cláusula pétrea, por força do art. 60, § 4º, III, da Carta Magna.
A presente questão da distribuição dos royalties do petróleo não é meramente
uma disputa política, mas também uma disputa jurídica, como examinado no presente estudo.
O conflito federativo não é o único em questão, mas há também aqui um conflito entre os três
poderes e, principalmente, a contenda encontra-se focada entre o Poder Legislativo e o Poder
Judiciário. A vexata quaestio é tão importante para a República e seus habitantes, pois essa
passa por inúmeros princípios constitucionais e hermenêuticos, por questões orçamentárias,
por disputas entres entes federativos, divisão dos poderes (a judicialização da política e a
politização do judiciário), pela democracia (maioria e defesa dos direitos das minorias) e por
noções e ideais de justiça.
O debate político em torno das Emendas “Ibsen” na Câmara dos Deputados e
“Simon” no Senado Federal foi no mínimo acirrado. Por essas emendas, se pretendia que as
participações ou compensações dispostas no art. 20, § 1º, não caberiam mais aos entes
federativos mais afetados, mas seriam distribuídas, indistintamente, com base nos critérios
dos Fundos de Participação dos Estados e Municípios.91
A Emenda “Ibsen” chegou a ser
questionada judicialmente no Supremo Tribunal Federal, via Mandado de Segurança nº
28.590, em razão de alegado vício procedimental para o seu oferecimento, entretanto, o writ
foi negado pelo Min. Eros Grau. Ainda, foram impetrados os Mandados de Segurança nº
31.034 e 31.031, onde se alegariam vícios de inconstitucionalidade, pois deveriam ser feitas
as alterações legislativas por meio de emenda ao art. 20, § 1º, da Constituição e, remotamente,
feriria a cláusula pétrea da forma federativa de Estado.92
O MS nº 31.031 ainda pende de análise, mas o MS nº 31.034 já foi julgado
pelo Min. Ricardo Lewandowski, com fundamento em não existir controle de
constitucionalidade preventivo no país; o STF não pode intervir no processo legislativo, pois
isso importaria em uma violação à separação dos poderes e por incompatibilidade com a
jurisprudência dominante do Sumo Areópago.93
Posteriormente, em Agravo Regimental94
, o
Ministro Relator julgou prejudicado o Agravo Regimental em razão da perda superveniente
do objeto do mandamus – uma vez que houve a promulgação da Lei, não se discutindo mais o
91
Petição Inicial da ADI nº 4917. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=4379376> . Acesso em
20.05.2013. 92
MARSHALL, Carla (org.), 2013. No prelo. 93
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Min. Rel. Ricardo Lewandowski. MS nº 31.034/DF. Publicado em DJe-
046: 06.03.3012. 94
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Min. Rel. Ricardo Lewandowski. MS nº 31.034 AgR/DF. Publicado em
DJe-028: 13.02.2013
47
Projeto de Lei e, sim, a Lei - e, também, porque não caberia Mandado de Segurança contra lei
em tese, conforme a Súmula 266 da Suprema Corte. Apesar de aprovadas pelo Congresso
Nacional, essas emendas foram vetadas pelo Presidente Luís Inácio Lula da Silva, que veio a
suprimir o art. 64 do texto aprovado.95
A posteriori, o Projeto de Lei nº 2.565/2011 veio como proposta a não suprimir
in totum os royalties dos entes produtores, mas intendeu a reverter a lógica compensatória,
retirando do centro os Estados e Municípios mais afetados, centrando nos entes mais
necessitados de repasses federais. Esse PL foi sancionado e convertido na Lei nº 12.734/2012
que foi parcialmente vetado pela Presidenta Dilma Roussef, com o intuito de não se afetar as
concessões em curso e por desatender a finalidade compensatória o mandamento do art. 20, §
1º, da Carta Magna, tendo por fundamento a contrariedade do interesse público e,
principalmente, a inconstitucionalidade na parte submetida ao veto presidencial. Com o veto
da Presidenta da República, a questão ficou de ser analisada pelo Congresso Nacional, para
que se decidisse se o veto seria derrubado ou não. Entretanto, o embate político estava tão
acirrado que foi impetrado Mandado de Segurança pedindo que os vetos fossem analisados
em ordem, sendo que havia mais de 13 anos96
e 3.000 vetos97
a serem votados, caso se tivesse
que cumprir a ordem. A medida liminar que havia sido concedida pelo Ministro Luiz Fux, foi
revertida pela maioria da corte do Supremo Tribunal Federal.98
Não obstante, a maioria parlamentar foi capaz de derrotar o veto,
transformando em Lei o trecho vetado. Ainda, além de ter vetado parte do que é atualmente a
Lei nº 12.734/2012, a Presidenta da República editou a Medida Provisória nº 592/2012, que
adotaria um regime de divisão dos royalties muito similar ao da referida lei.99
Assim, a
questão está bem emaranhada nos três poderes republicanos e em todos os entes federativos
da nação. O Estado do Rio de Janeiro ajuizou a Ação Direta de Inconstitucionalidade nº
4.917, tendo por objeto a inconstitucionalidade da Lei nº 12.734/2012, na área em que se
alteram os dispositivos da Lei do Petróleo e da Lei do Pré-Sal referentes à distribuição dos
95
Petição Inicial da ADI nº 4917. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=4379376> . Acesso em
20.05.2013. 96
Disponível em: < http://exame.abril.com.br/economia/noticias/stf-derruba-liminar-que-impedia-analise-de-
veto-sobre-royalties-2?page=1>. Acesso em 04.06.2013. 97
Disponível em: < http://www1.folha.uol.com.br/poder/1241997-analise-de-vetos-dos-royalties-no-congresso-
comeca-em-clima-tenso.shtml>. Acesso em 04.06.2013. 98
Disponível em: < http://exame.abril.com.br/economia/noticias/stf-derruba-liminar-que-impedia-analise-de-
veto-sobre-royalties-2?page=1>. Acesso em 04.06.2013. 99
Petição Inicial da ADI nº 4917. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=4379376> . Acesso em
20.05.2013.
48
royalties do petróleo. Ademais, também impugnou, na mesma ADI, a referida MP nº
592/2012, em particular seu art. 2º, que daria nova redação aos arts. 48-A, 49-A e 50, § 5º, da
Lei nº 9.478/1997.100
No presente momento político nacional, os entes federativos estão em colisão
por causa de um tema – a distribuição dos royalties do petróleo – enquanto os três poderes,
principalmente o Legislativo e o Judiciário, enfrentam-se em muitas frentes. O enfrentamento
está em questões de peso para a sociedade brasileira, assim, o Supremo manifesta-se em
omissões legislativas como a greve do servidor público; em questões que afetam a
Administração Pública Direta e Indireta, como no caso do nepotismo; em questões que
descontentam um enorme seguimento religioso – e politicamente representado – da
população, como o caso da Lei de Biossegurança e células-tronco embrionárias, união estável
homossexual e aborto de feto anencefálico; em assuntos que contrariam interesses de muitos
da própria classe, como na polêmica sobre o Conselho Nacional de Justiça; em matérias que
envolvem os partidos políticos e políticos, como a cláusula de barreira, a Lei da Ficha Limpa
e o mandato pertencer à legenda; onde há divergências filosóficas e políticas amplas na
sociedade, como o caso das Ações Afirmativas, demarcação de Terras Indígenas (Raposa
Serra do Sol) e “Marcha da Maconha” e, por último, em ações que envolvem o julgamento de
políticos pertencentes ao Executivo e/ou ao Legislativo, como o caso da Ação Penal nº 470
(“Mensalão”), onde houve uma condenação a importantes dirigentes políticos – ainda não
transitada em julgado – e uma querela sobre a cassação dos parlamentares quando
condenados. Ainda, o Supremo Tribunal Federal manifestar-se-á em um caso que há grave
divisão entre os entes federativos, entre os agentes políticos e a sociedade, esse Tribunal
deverá dar a última palavra na divisão dos royalties do petróleo. Por parte do Legislativo, há
Propostas de Emenda à Constituição que visam reduzir os poderes do Supremo, submeter
parte de suas decisões à revisão dos legisladores e até o não cumprimento de determinadas
decisões. A PEC nº 33/2011 é uma das medidas mais polêmicas que afetam as delicadas
relações entre os poderes Legislativo e Judiciário.101
O ativismo judicial decorre da sociedade que recorre ao Judiciário para que
esse aprecie questões relevantes concernentes aos seus direitos, possibilitadas pelo Direito de
Petição (art. 5º, XXXIV, “a”, da CRFB/1988), pelo Acesso à Justiça e Inafastabilidade do
Poder Judiciário da apreciação das questões (art. 5º, XXXV, da Constituição), quando
100
Ibidem. 101
Disponível em:
<http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=876817&filename=Tramitacao-
PEC+33/2011>. Acesso em 05.06.2013.
49
impulsionado a sair de sua inércia. Desse modo, a sociedade e os políticos clamam por
respostas dos intérpretes das Leis e do Guardião da Constituição quanto aos seus direitos, o
que acaba por ser um dos fatores do ativismo judicial – que pode ser desde a obrigação de
pagamento de internação em hospitais públicos, pagamentos de remédios e tratamentos pelos
entes federativos, como a equiparação de direitos civis, o julgamento de políticas de inclusão
e interferências no processo político.
O ativismo pode ser maior ou menor dependendo dos juízes, desembargadores
e ministros que recebem as demandas. Em muitos casos, ocorre uma judicialização da política
e, também, claramente uma politização do Judiciário – onde magistrados votam conforme
suas afiliações políticas, fenômeno que não é exclusivo do Brasil, tendo por exemplo a
disputa presidencial nos EUA entre Al Gore e Bush, em que foi discutida a questão do voto
proporcional e do colegiado, onde venceu o candidato que possuía mais ministros indicados
por seu partido.
No Brasil, há a tripartição de poderes interdependentes e harmônicos entre si,
onde há dois poderes com representantes diretamente eleitos pelo povo e exercem um
mandato eletivo certo e um poder em que os representantes não são eleitos – são concursados
ou indicados - e gozam de garantias constitucionais como inamovibilidade, irredutibilidade
dos subsídios e vitaliciedade. A vexata quaestio sobre a distribuição dos royalties e pacto
federativo reside, em boa parte, aqui: na democracia não como a simples vontade da maioria,
mas como respeito às minorias, garantida pelo poder contramajoritário, não eleito.
Desse modo, provocado o Supremo Tribunal Federal pela ADI nº 4.917,
deverá decidir de modo coerente com o modelo federativo e democrático brasileiro. A sua
representatividade não depende do aval ou não das ruas, os ministros devem decidir de acordo
com as suas consciências e notório saber jurídico – em acordo com as especificações técnicas
e, sendo o caso, concedendo oitiva para manifestações de interessados via amicus curiae (não
vinculantes). O pacto federativo estará sob análise, assim, o Guardião da Constituição deverá
zelar por essa e fundamentar sua resposta (art. 93, IX, da CRFB/1988), agradando ou não as
maiorias ou minorias que anseiam por uma definição da questão.102
O STF deverá analisar o pacto federativo, que não está baseado meramente em
um princípio majoritário, onde a maioria poderia tudo, não, esse pacto está lastreado no
interesse da unidade e da coletividade dos entes federativos. Não poderia a maioria dos
102
MENDONÇA, Eduardo e BARROSO, Luís Roberto. STF entre seus papéis contramajoritário e
representativo. Revista Revista Consultor Jurídico, 03.01.2013. Disponível em:
<http://www.conjur.com.br/2013-jan-03/retrospectiva-2012-stf-entre-papeis-contramajoritario-representativo>.
Acesso em: 05.06.2013.
50
Estados, por exemplo, submeter a uma minoria ao sequestro de suas verbas à força, só por se
tratar de maioria, isso seria inconstitucional.103
Na democracia há questões que não estão
sujeitas às barganhas políticas, os direitos, mesmo que de uma minoria, devem ser
preservados, ainda que uma maioria se oponha violentamente. Os limites à maioria são
aqueles que impedem um Estado Democrático de Direito de se transformar numa ditadura da
maioria, onde os direitos das minorias são vilipendiados, o exemplo mais notório e infame
que temos é o do nacional-socialismo germânico. A democracia não se sustenta nem nos
privilégios de uma minoria, como no Apartheid Sul-Africano, nem nos privilégios de uma
maioria em detrimento da minoria, como houve em muitos Estados Europeus nas décadas de
1930/1940. Na democracia contemporânea, os direitos de todos – maioria e minoria – são
preservados, não podendo um grupo dominar o outro.
Deve-se majorar a precaução na ADI em comento, pois as expectativas
orçamentárias de muitos Municípios e Estados estão em questão, onde os mais afetados são
aqueles que sofrem com os impactos da produção.104
O direito à compensação deve ser
analisado de modo a se entender a nova ótica para as questões futuras, mas deve-se analisar
esse direito em relação àqueles entes que já possuíam uma justa expectativa de receber essas
rendas, nos moldes da legislação e entendimentos que vigoravam a época da celebração dos
contratos de concessão e das renegociações das dívidas. Deverá ser definido o telos dos
royalties, talvez divididos em dois momentos – passado e futuro – para que haja o mínimo
impacto possível para todos, respeitando-se os direitos à compensação ambiental, social e
financeira e também à participação dessa riqueza.105
3.3 A TESE FAVORÁVEL AO NOVO MODELO DISTRIBUTIVO.
Hodiernamente, a tese favorável ao novo modelo distributivo dos royalties do
petróleo é defendida, em via de regra, pelos entes federativos não produtores nem
confrontantes, assim como pela União, de maneira mais velada, principalmente, por meio dos
agentes políticos dos demais entes federativos. Desse modo, essa tese encontra o respaldo da
maioria política nacional, com grande representatividade nas duas casas legislativas,
principalmente, no Senado.
103
Petição Inicial da ADI nº 4917. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=4379376> . Acesso em
20.05.2013. 104
Ibidem. 105
Disponível em: < http://oglobo.globo.com/temor-com-perda-de-royalties-faz-municipios-suspenderem-obras-
6823067> .
51
Os defensores do novo modelo denominam-no de “distribuição equitativa dos
royalties do petróleo”106
e fundamentam a tese – de modo mediato – nas forças sociais que
constituiriam o poder. A interpretação dada do art. 20, § 1º, da CRFB/1988 seria com base
principal nos quatro objetivos fundamentais que constituem a República Federativa do Brasil
que estão presentes no art. 3º, da Constituição, quais sejam: I) construir uma sociedade livre,
justa e solidária; II) garantir o desenvolvimento nacional; III) erradicar a pobreza e a
marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais e IV) promover o bem de todos,
sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação.107
Nesse sentido, entender-se-ia por uma interpretação teleológica e sistemática
da norma, conforme ressaltado pelos defensores da tese. No caso, o telos estaria presente nos
objetivos constitucionais cristalizados no art. 3º e incisos da Constituição. Aduz-se que a
análise sistemática e teleológica deve ser observada de acordo com o espírito legislativo
emanado pelo preâmbulo e pelos objetivos republicanos presentes no referido artigo da Carta
Magna.108
Afirma-se que a interpretação do art. 20, § 1º, da CRFB/1988 dada pelos
defensores do antigo modelo seria restritiva da norma em questão, uma vez que entenderia a
compensação sendo devida apenas aos entes federativos diretamente afetados pelos impactos
da exploração e produção de hidrocarbonetos. Desse modo, entender-se-ia uma violação aos
princípios federativo e isonômico, por determinar extensas regalias a uns poucos, enquanto a
maioria da nação não perceberia os bônus da atividade exploratória, restando apenas os ônus
do investimento e da transação de um bem da União. Ainda, ressalta-se que a criação desses
benefícios seria desproporcional ao tamanho territorial e populacional dos entes afetados, em
contraposição com os demais membros da federação.109
Alega-se, ainda, a necessidade hodierna de uma ruptura com o modelo
histórico, que perpetuaria as desigualdades – sendo incompatível com o mandamento
constitucional – e inadequado à realidade contemporânea da exploração no offshore em
posições afastadas, em alto mar, pertencentes à União, assim como o bem explorado e que
com o novo tipo de exploração e com as tecnologias introduzidas nas últimas duas décadas,
mitigariam enormemente os riscos e impactos aos Estados e Municípios costeiros. Assim,
com o novo marco regulatório do pré-sal, as mudanças legislativas no modelo de
106
MARSHALL, Carla (org), 2013. No prelo. 107
Ibidem. 108
Ibidem. 109
Ibidem.
52
compensação não seriam somente razoáveis, como desejáveis. Inclusive, esses defendem a
distinção conceitual entre Estados “produtores” e “confrontantes”.110
Os parlamentares que patrocinam essa tese arguem que o novo critério seria
mais isonômico, pois não se concederia privilégios específicos dos royalties a apenas uma
minoria de estados “produtores” – três Estados no Sudeste do Brasil correspondem pela
maioria do petróleo do offshore nacional -, enquanto os demais Estados, Municípios e Distrito
Federal não se beneficiariam da política energética de cunho nacional, sobre bens que
pertencem à União, à coletividade e não a um punhado de entes. Ademais, esses entes
beneficiados pelo antigo modelo são, em via de regra, aqueles que já possuem uma alta
capacidade fiscal, onde há a maior concentração de riqueza no país. Desse modo, o “Brasil
rico” ficaria cada vez mais distante do “Brasil pobre”, uma vez que os royalties deveriam ser
usados para reduzir as disparidades regionais e a sua distribuição ser no sentido do
desenvolvimento nacional, não meramente regional ou local.111
O novo marco regulatório faria jus aos avanços na indústria do petróleo,
conforme já esclarecido anteriormente e, ainda, seria coerentes com as descobertas e
tecnologias exploratórias que inexistiam na década de 1980, quando o Brasil começou a
descobrir e a explorar os grandes campos comerciais da Bacia de Campos. A flexibilização do
monopólio idealizada pela EC nº 09/1995 e efetivada pela Lei do Petróleo, em 1997, já teriam
sido grandes marcos importantes para a indústria hidrocarbonífera nacional da época. Essas
inovações legislativas já teriam trazido profundas mudanças, como também os Contratos de
Risco teriam inovado na década de 1970. Argui-se que o legislador nacional deve estar atento
às mudanças fáticas sociais, econômicas, políticas e econômicas para poder elaborar normas
compatíveis com o seu tempo, sem – é claro – jamais desrespeitar a vontade emanada pelo
poder constituinte originário.112
Desse modo, consentâneo às mudanças e à realidade de nossos tempos –
segundo os defensores do novo modelo distributivo -, o legislador teria o poder-dever de
alterar a legislação já consagrada em tempos passados para adequá-la a uma nova realidade,
respeitando uma manifestação do mens legis pelo desenvolvimento nacional, erradicação da
pobreza e redução das desigualdades formal e material. Assim, arguem que essa riqueza
deveria ser revertida em prol de todos os integrantes da federação, principalmente daqueles
110
Ibidem. 111
Ibidem. 112
Ibidem.
53
mais necessitados economicamente.113
Outrossim, aduzem que os entes “produtores” continuarão a receber de modo
especial em relação aos “não produtores”, mas essa fórmula seria revista para se reduzir as
discricionariedades e discrepâncias existentes no atual cálculo. Igualmente, não restariam
prejuízos aos “produtores”, uma vez que a renda do pré-sal viria a cobrir as perdas de
arrecadação no novo modelo distributivo, pois tratar-se-ia de um volume nunca antes visto,
onde mesmo com a diminuição da destinação de recursos, haveria ainda uma quantidade
similar de royalties à anterior, devido a sua magnitude.114
Os patrocinadores do novo regime reforçam a ideia de que a exploração de
petróleo nacional encontra-se em plataforma continental, muito distantes das regiões
costeiras, não havendo, portanto, como se atribuir ao território de um determinado Estado ou
Município, não só por se localizar em um espaço longínquo e profundo da terra dos Estados e
Municípios, mas também por causa da menor probabilidade de se afetar apenas esses entes
que consideram o alto mar e a plataforma continental como uma extensão – imprópria – de
seu território, já que as correntes marítimas estariam muito além dessas simples projeções das
divisas de cada um. Ainda, considera-se remota a possibilidade de dano aos entes costeiros,
tidos por “produtores”. Argui-se que a compensação deveria ocorrer com base em danos
efetivamente ocorridos, não em bases genéricas, inespecíficas, sem um razoável critério
científico que só serviriam para perpetuar as iniquidades existentes.115
Aduz-se que a União estaria abrindo mão de uma parte vultuosa de seus
direitos à percepção dos royalties para destiná-los ao desenvolvimento dos Municípios e
Estados, investindo no país como um todo. Alega-se que a nova distribuição seria mais justa
socialmente e economicamente, posto que todos os entes acabam arcando com as atividades
exploratórias por meio da União e da Petrobras e, desse modo, deveriam ser beneficiados por
essas atividades pertencentes à coletividade. Essa nova lógica inverteria a tradicional
concentração de recursos e permitiria aos entes com menos recursos à participação da
prosperidade trazida pela indústria petrolífera.116
Combate-se o argumento de que os royalties serviriam para compensar a perda
do ICMS incidente sobre o petróleo que é cobrado no destino e não na origem – uma exceção
constitucional presente no art. 155, § 2º, X, “b” -, pois as atividades de E&P aumentariam a
base de arrecadação e gerariam desenvolvimento direito e indireto às regiões consideradas
113
Ibidem. 114
Ibidem. 115
Ibidem. 116
Ibidem.
54
“produtoras”. As atividades indiretas aumentariam o comércio e incrementaria os demais
setores da economia local e regional, gerando renda, circulação de mercadorias e serviços e
empregos para a população local. Desse modo, os impactos da atividade exploratória seriam
mais benéficos a maléficos para os entes confrontantes ou produtores. No geral, as
arrecadações tributárias aumentariam com a circulação de mercadorias, serviços e pessoas por
essas áreas, ou seja, haveria um incremento na arrecadação de ISS, IPTU, IPVA etc. Ainda,
defende-se que como seria possível que uns poucos Estados ditassem as regras arrecadatórias
constitucionalizadas sobre o ICMS de um bem que pertence à União, ou seja, considerar-se-ia
essa hipótese como uma violação ao modelo federativo refundado em 1988.117
Sustenta-se que a justificativa - dos defensores do modelo anterior – de que
“haveria de se compensar os governos locais e regionais por gastos com infraestrutura e
prevenção de acidentes, além de eventuais danos ambientais causados pela exploração
petrolífera” não se sustentaria, pois uma considerável porção da infraestrutura criada para
auxiliar essa atividade, como a modernização de portos e estaleiros e a construção e
manutenção de estradas, seria fornecida ou subsidiada pela União ou pelas empresas
exploradoras, principalmente a Petrobras. Entende-se, mais uma vez, que quanto aos danos
ambientais haveria outros mecanismos legais concernentes à prevenção e compensação
desses.
Ainda, afirma-se que o argumento de que “as alterações nas regras serviriam
apenas para uma política distributiva demagógica, onde os recursos oriundos do pré-sal
serviriam basicamente para o custeio de uma pesada máquina estatal” não teria fundamento,
pois denotar-se-ia um forte preconceito em relação aos Estados e Municípios menos
desenvolvidos, pois boa parte dessas receitas seriam destinadas às áreas da educação, saúde,
infraestrutura social e econômica, meio ambiente e adaptação às transformações climáticas.
Outrossim, esses entes poderiam dispor de mais recursos para suprir as necessidades em áreas
que são negligenciadas devido às carências orçamentárias.118
Deste modo, seguem afirmando que as normas constitucionais apontam em
direção à justiça social e ao desenvolvimento socioeconômico e que o prisma pelo qual se
deve partir para analisar essa matéria é o nacional e não o regional ou local, pois tratam-se de
bens da União, na forma do art. 20,V, VI e § 1º, da CRFB/1988, devendo-se observar dentro
desse sistema composto a titularidade dos bens e o modo pelo qual devem ser tratados. Ainda,
a competência legislativa sobre esses bens de titularidade da União deve ser tratada nas
117
Ibidem. 118
Ibidem.
55
esferas políticas e legislativas nacionais, onde há a representatividade dos brasileiros como
um todo e não se restringindo a um grupo de Estados e Municípios produtores e/ou
confrontantes.
Igualmente, defende-se que as administrações direta e indireta nacional fazem
a gestação desses recursos de hidrocarbonetos em terra, mar ou nas camadas de pré-sal, ou
seja, a União diretamente e por meio de sua autarquia (a ANP) e por meio de suas empresas
Petrobras e PPSA, direcionam, regulamentam e atuam diretamente no setor. Por isso também,
os critérios e as escolhas seguiriam diretrizes supraestaduais e supramunicipais, sendo as
diretrizes e decisões nacionais. Os princípios norteadores que emanam da Carta Magna,
direcionariam o legislador a uma visão menos restritiva do termo “compensação” e levaria a
uma distribuição “equitativa”, sendo essa atual mais coerente com o telos e a interpretação
histórica da Constituição (averiguável no discurso de promulgação)119
que a forma anterior.
Para esses, o modelo antigo seria inconstitucional e o novo completamente conforme a
Constituição.120
Sustenta-se que apesar de o preâmbulo constitucional não possuir valor
normativo, esse possuiria valor hermenêutico. Desse modo, depreender-se-ia que o art. 20, §
1º, deveria ser interpretado a luz dos valores por aquele emanados, quais sejam: a instituição
de um Estado Democrático com o intuito de assegurar o bem-estar, o desenvolvimento, a
igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem
preconceitos. Argumentam ainda que a defasagem dos critérios de distribuição dos Fundos de
Participação dos Estados e Municípios jamais poderia obstar a efetivação de um direito por
isso, devendo os critérios ser ajustados pelas vias legais.121
Por fim, terminam a tese não só com uma interpretação sistemática dos
princípios constitucionais expressos principalmente no preâmbulo e arts. 1º e 3º, da CR/1988,
mas também com critérios históricos e econômicos baseados numa interpretação dessas
normas. Afirma-se que a interpretação do modelo distributivo anterior era restritiva e
dificultava a efetivação dos objetivos constitucionais, sendo que o novo modelo estaria em
119
GUIMARÃES, Ulysses in Discurso do Deputado Ulysses Guimarães, Presidente da Assembléia Nacional
Constituinte, em 05 de outubro de 1988, por ocasião da promulgação da Constituição Federal. Disponível
em:
<https://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&cad=rja&ved=0CDEQFjAA&url
=http%3A%2F%2Fwww.pmdb-
rs.org.br%2Fmemoria%2Ffl_adm%2Fuploads%2Farquivos%2Farquivo_20.doc&ei=vaR3UZDaAYbM9ASo7o
DIBg&usg=AFQjCNFP0u_X-78IgNb6oxsuuLewpLbBzQ&sig2=4F8iceCLLn-
h98hx0U7p6A&bvm=bv.45580626,d.eWU>. Acesso em 24.04.2013. 120
MARSHALL, Carla (org.), 2013. No prelo. 121
Ibidem.
56
conformidade desses e permitiria um crescimento econômico e distribuição de renda no
Brasil, corrigindo desigualdades e injustiças socioeconômicas históricas em caráter nacional,
sem beneficiar apenas determinados setores.122
3.4 A TESE DESFAVORÁVEL AO NOVO MODELO DISTRIBUTIVO.
A Tese Desfavorável ao novo sistema encontra amplo apoio político e jurídico
nos Estados e Municípios que serão diretamente afetados com as mudanças legislativas no
setor, ou seja, essa possui por base de defesa os entes federativos que perderão capacidade
orçamentária e que, ao mesmo tempo, são aqueles que sofrem diretamente os impactos da
atividade petrolífera, por serem produtores ou confrontantes.
Basicamente, há duas teses aqui, uma genérica que aduz a
inconstitucionalidade pela violação do sentido e alcance do art. 20, § 1º, da CRFB/1988
devido à natureza compensatória dos royalties e violação do pacto federativo originário e, por
conseguinte, do princípio da supremacia da Constituição e do princípio federativo.
Afirmando, nesse segundo fundamento que o pagamento de royalties e a fórmula de cobrança
do ICMS sobre o petróleo no destino – e não na origem – formam um sistema que integra o
pacto constituinte entre Estados produtores e não-produtores, desse modo, a lei ordinária
jamais poderia alterá-lo (art. 155, § 2º, X, “b”, da CRFB/1988). A segunda tese é subsidiária e
mais específica, essa afirma que haveria violação ao direito adquirido e a violação ao ato
jurídico perfeito e aos princípios da segurança jurídica, da responsabilidade fiscal e da boa-fé
objetiva no caso da aplicação da nova regra aos royalties derivados das concessões instituídas
nos termos da legislação anterior.123
O foco da presente opus será na primeira tese, mais
genérica e abrangente.
Os primeiros argumentos relacionados a uma simples análise do art. 20, § 1º,
da CRFB/1988 já foram previamente observados no primeiro capítulo da presente obra, dessa
forma, os demais e mais aprofundados fundamentos serão observados nessa seção. Dessarte,
será avaliada a tese da invalidade global das alterações no regime jurídico dos royalties do
petróleo relativa ao fundamento da violação ao sistema formado pelos arts. 20, § 1º e 155, §
2º, X, “b”, ambos da Constituição da República, enquanto os fundamentos baseados nos
122
Ibidem. 123
Petição Inicial da ADI nº 4917. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=4379376> . Acesso em
20.05.2013.
57
princípios federativo e da supremacia da Constituição – que também endossam a presente tese
- serão abordados de modo mais breve, posto que também já foram previamente abordados.
Segundo a tese principal arguida pelos denunciantes do novo regime, o art. 20,
§ 1º, da CRFB/1988, apenas teria constitucionalizado um regime vigente desde o início da
exploração petrolífera.124
O pertencimento do bem pela União (arts. 20, IX, e 176, caput, da
CRFB/1988) não é posto sob dúvida pelos defensores dessa tese, mas é feita a ressalva – por
esses – que a sua produção geraria uma série de ônus e riscos para os entes locais, onde seria
feita a exploração. Desse modo, defendem que a Carta Magna exigiria que os Estados e
Municípios produtores sejam compensados, estabelecendo um elo claro entre o envolvimento
na atividade produtiva e o direito à compensação. Por isso, não se trataria de uma benesse da
União ou de boa-vontade do legislador federal a concessão da compensação. Inclusive, o
Supremo Tribunal Federal em 2003 já teria entendido que o pagamento da compensação seria
um “direito subjetivo dos Estados onde se dá a produção de petróleo” e a Presidência da
República teria adotado a mesma orientação em sua mensagem de veto ao projeto de lei que
culminou na lei atacada.125
Os defensores da presente tese aduzem que possuem respaldo de todos os
quatro tradicionais elementos da interpretação jurídica, quais sejam: elemento gramatical,
elemento histórico, elemento teleológico e elemento sistemático. Portanto, todas essas
afirmações deverão ser analisadas na presente obra para que se possam avaliar melhor os
argumentos trazidos a lúmen pelos defensores do modelo antigo em contraposição às
alegações dos defensores do novo modelo.
Os adeptos da tese em questão defendem que há o elemento gramatical
favorável à legislação anterior sobre o tema. A redação do art. 20, § 1º, não poderia ser mais
clara no sentido da compensação aos entes produtores para os adeptos dessa corrente. Desse
modo, interpretar-se-ia que só seria cabível a compensação (dos efeitos) aos Estados que
detenham a exploração em seus territórios. Refuta-se a argumentação de que o “mar” não
faria parte do território dos entes afetados, pois o direito à compensação aos seria sobre a
exploração em terra firme, na plataforma continental, no mar ou na zona econômica
exclusiva, sendo necessária uma mera projeção geográfica e geoeconômica desses Estados e
Municípios para que estejam incluídas as atividades no offshore. A interpretação da
compensação também é dada no sentido de se compensar as arguidas perdas de arrecadação
124
Ibidem. 125
Ibidem.
58
de ICMS por causa do sistema especial de arrecadação tributária disposto no mandamento
constitucional, como se verá mais adiante.126
O elemento histórico seria resultante do fato que o art. 20, § 1º,
constitucionalizou um regime existente desde 1953 – art. 27, da Lei nº 2.004/1953 -, quando
foi autorizada a criação da Petrobras pela referida Lei. Desde a instituição do referido marco
legal, os royalties teriam sempre se destinado a compensar os Estados produtores, tendo essa
lógica sendo estendida à exploração marítima quando essa teria tido início (art. 1º, da Lei nº
7.453/1985), tendo sido reforçada pelo art. 7º, da Lei nº 7.990/1989 e pela Lei nº 9.478/1997.
Entender-se-ia sob essa ótica que se o constituinte quisesse alterar radicalmente o tratamento
da vexata quaestio – autorizando a livre distribuição dos royalties -, deveria ter disposto
expressamente de modo contrário. Contudo, a natureza compensatória das participações teria
sido expressamente constitucionalizada, desse modo, o elo histórico não teria se rompido.127
A interpretação teleológica dada ao tema por esses, seria a de que a função
expressa do art. 20, § 1º, seria a compensação dos entes federados pelos impactos ambientais
e socioeconômicos causados ou majorados pela atividade petrolífera, uma vez que essa
produziria uma elevada majoração na demanda por serviços públicos e atividades
governamentais. Afirma-se também que são notórios os elevados impactos e riscos ambientais
impostos aos Estados e Municípios confrontantes às áreas de produção, apoiando-se em casos
pretéritos nacionais e internacionais que geraram consequências negativas e prejuízos
incalculáveis aos povos e entes políticos que se situavam próximo às costas afetadas. Por
último, ressaltar-se-ia a questão da tutela ambiental, por meio da preservação da integridade
do meio ambiente – como um direito fundamental – e o respeito à equidade intergeracional.128
Destarte, segundo a interpretação dada pelos defensores dessa tese, por fim,
estaria presente o elemento sistemático, uma vez que a Constituição seria um sistema e,
desse modo, seus dispositivos devem ser interpretados com unidade e harmonia. Aduz-se que
não seria possível interpretar o art. 20, § 1º, da CRFB/1988, sem levar em conta a disciplina
específica do ICMS em operações com petróleo, já que teria sido estabelecida uma
desequiparação em desfavor dos Estados produtores – já que o ICMS incidente sobre a
mercadoria em operações interestaduais com petróleo só é recolhido no Estado de destino e
126
Ibidem. 127
Ibidem. 128
Ibidem.
59
não no de origem. Desse modo, apesar de haver perdas com a falta de arrecadação de ICMS
nos Estados de origem, haveria certa compensação fornecida pelo art. 20, § 1º.129
Dessa forma, a novel legislação feriria o sistema existente entre os arts. 20, §
1º e 155, § 2º, X, “b”, da Constituição. Afirma-se, ainda, que caso fosse afetado o art. 20, § 1º,
deveria ser igualmente afetado o art. 155, § 2º, X, “b”, ambos da Constituição, uma vez que a
essa participação prevista teria como objetivo compensar o ICMS perdido pelos Estados
produtores e os ônus gerados pela exploração petrolífera. Assim, sugeriu-se que o legislador
federal deveria prever a título de participação uma projeção do ICMS deixado de arrecadar
pelos referidos Estados, acrescidos de um adicional proporcional aos riscos e ônus da
atividade – com base em trabalho estatísticos. Em suma, os Estados produtores já sofreriam
sozinhos com os riscos da empreitada exploratória nacional sem nem arrecadar ICMS
decorrente da atividade, portanto retirar essas compensações deixaria esses Estados em dupla
desvantagem – a arrecadação do Estado do Rio de Janeiro, por exemplo, com os royalties e
Fundo de Participação dos Estados já é menor do que seria arrecadado somente com o ICMS
sobre essa operação.
A tese também é defendida com base nos princípios estudados anteriormente,
quais sejam: princípio da supremacia da Constituição e princípio federativo. No caso do
princípio da supremacia da Constituição, arguir-se-ia que como toda a interpretação
constitucional tem tal princípio por base, as mudanças legislativas recentes estariam
confrontando o pacto constitucional originário, de modo a violar um acordo feito na matriz da
Carta Magna, onde foi estabelecida, por meio de um acordo político-jurídico, uma regra
especial para a arrecadação de ICMS e compensação histórica pelos riscos e ônus da atividade
petrolífera. Desse modo, as recentes mudanças legislativas estariam violando a solidariedade
legislativa originária e, por conseguinte, a Constituição.130
Ainda, afirmar-se-ia que há a violação do pacto federativo originário, pois a
Constituição da República teria instituído um sistema de encargos e benefícios, onde a
titularidade do petróleo e gás seria da União, e não dos Estados e Municípios, mas caberia a
essa empregar os recursos em benefício de todo o Estado Federal; os Estados produtores
teriam que ser compensados do ônus e risco da exploração, de modo a não suportarem
sozinhos os prejuízos, enquanto o bônus seria do proveito e todos e a regra especial de ICMS,
direcionada aos não-produtores, por meio de exceção expressa ao regime geral de incidência
do referido tributo. Assim, haveria uma interdependência entre esses três elementos, fazendo
129
Ibidem. 130
Ibidem.
60
que a supressão de uma parte afetaria todas as demais. Dessarte, conclui-se que a Lei nº
12.734/2012 efetivou uma ruptura do pacto federativo, concedendo benefícios enormes
benefícios àqueles que não suportam os ônus da atividade e onerando demasiadamente
aqueles que sofrem impacto direto. Inclusive, defende-se que haveria um risco da ditadura da
maioria, conforme já foi mencionado previamente.131
A tese menor defendida por aqueles que são desfavoráveis às mudanças
implementadas, firma-se na invalidade da aplicação das novas regras aos royalties derivados
das concessões instituídas nos moldes da legislação pretérita. As mudanças legislativas
violariam o direito adquirido (art. 5º, XXXVI, da CRFB/1988), uma vez que atingiria o
direito adquirido às participações atreladas às concessões já celebradas nos termos das normas
vigentes ao tempo da celebração. Desse modo, também afetar-se-ia o ato jurídico perfeito,
pois estariam sendo violados os contratos concebidos sob a vigência da legislação anterior.
Por conseguinte, o princípio da segurança jurídica também estaria sendo violado, pois essas
mudanças bruscas naquilo pactuado anteriormente estariam em desacordo com tal princípio.
Ainda, argui-se que não haveria como conceber a boa-fé ou qualquer tipo de
lealdade federativa nesses termos, pois o “contratante invoca seu poder de império para
violar um ato jurídico perfeito de forma especialmente grave, impedindo sua contraparte de
arcar com as obrigações pactuados entre ambos”.132
Ademais, a mudança da regência
legislativa nos contratos já celebrados violaria a responsabilidade fiscal, pois violaria a
legítima expectativa dos Estados produtores em relação aos efeitos jurídicos de situações
gestadas no passado, interferindo no equilíbrio orçamentário. Inclusive, em alguns casos esse
desequilíbrio orçamentário gerado seria ainda mais grave, pois estar-se-ia interferindo a
amortização da dívida estadual de determinados Estados, onde – por meio de contratos
celebrados com a União – ficou firmado que parte dessas compensações seria usada para o
adimplemento de dívidas com a União.133
Por fim, conclui-se, na tese subsidiária, que há a possibilidade de interpretação
conforme a Constituição da norma introduzida pela Lei nº 12.734/2012, uma vez que deve-se
sempre buscar dentre as interpretações cabíveis aquela que não fere a Carta da República e,
isto posto, não estaria expresso na novel legislação que essa afetaria as concessões existentes,
ao menos no que diz respeito às participações devidas aos Estados produtores. Portanto, não
há previsão para afetar as concessões prévias em relação aos Estados, havendo dispositivo
131
Ibidem. 132
Ibidem. 133
Ibidem.
61
explícito em relação aos Municípios, desse modo, em relação aos Estados, é cabível a
interpretação conforme a Constituição na percepção de royalties. No entanto, essa
interpretação não seria cabível em relação aos Estados quando se trata das chamadas
participações especiais, já que há previsão de retroatividade expressa, não havendo
possibilidade de interpretação conforme a Constituição, sendo, portanto, caso de declaração
de inconstitucionalidade da norma contida no art. 50-B, da Lei do Petróleo (com redação dada
pela Lei nº 12.734/2012).134
3.5 CONCLUSÃO PARCIAL
O presente capítulo dispôs-se a conectar a questão histórica, econômica,
jurídica – de princípios e regras – expostas nos dois primeiros capítulos com o atual aspecto
político e judicial do embate dos entes federativos em torno da distribuição dos royalties do
petróleo, baseado em critérios majoritários contra os históricos elementos sociais que visavam
compensar àqueles que estavam mais próximos aos impactos e riscos ocasionados pela
atividade petrolífera.
Assim, estudou-se o panorama político para que se pudesse entender melhor
essa discussão assaz complexa, onde envolvem-se, estranham-se e emaranham-se os três
poderes que compõem a República. Dessarte, depreendeu-se que o povo soberano e
representado nas três esferas, não é só a maioria, mas também as minorias e essas devem ter
seus direitos preservados tanto quanto as maiorias. Não obstante, uma república só de
maiorias ou de minorias nunca será democrática, pois a democracia não está expressa em
números, não é só feita de votações, mas é baseada na equidade. Seria equânime atingir o
direito adquirido e às justas expectativas orçamentárias de Estados e Municípios, em prol da
maioria? In casu, pode-se afirmar que não seria.
As teses favoráveis e contrárias à nova distribuição dos royalties do petróleo
devem ser analisadas em dois momentos – passado (contratos licitados em acordo com a
legislação anterior) e futuro (contratos licitados em acordo com a novel legislação). No
entanto, apesar de ser juridicamente distinta a questão dos contratos de concessões passadas e
futuras, cada qual com base em legislações diversas, a questão resolver-se-á na prática da
análise se é constitucional a alteração no modelo compensatório promovido pela novel
legislação. Dessa forma, a questão maior englobará a tese menor – que diz respeito à
134
Ibidem.
62
aplicação da Lei em contratos celebrados sob a égide de outro diploma legislativo, atacando,
assim, o ato jurídico perfeito – e as questões por essa última suscitadas não precisarão ser
analisadas. Com isso, deve-se adotar dois mecanismos, onde solvendo-se o primeiro num
sentido, o segundo (acessório) não será submetido à apreciação.
Nesse sentido, a contenda encontra-se em seu devido lugar no universo
jurídico, pois o ciclo democrático iniciado pelos poderes Legislativo e Executivo (na edição,
na elaboração, votações, sanção, veto e derrubada e promulgação) será perfectibilizado pelo
Judiciário ao aplicar seu razoável entendimento à norma que está sendo vindicada pelos
Estados e Municípios produtores em confronto claro com aqueles que pretendem se beneficiar
de repasses sociais baseados em critérios do Fundo de Participação dos Estados e do Fundo de
Participação dos Municípios. O papel do Supremo Tribunal Federal para decidir a lide que
guarda esperanças nacionais, regionais e locais e, talvez, elementos sociais que permitam o
fratricídio por questões concernentes aos direitos em voga, não será brando e deverá ser
executado da forma mais técnica e clara possível no interesse da federação, na proteção da
Constituição Cidadã.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A distribuição dos royalties do petróleo no Brasil, não se trata apenas de uma
simples questão legal, orçamentária nem de uma simples análise sobre a perpetração de
violações às regras constitucionais e aos seus princípios. A presente questão apresenta-se
acima disso, não acima da Constituição, mas acima da comum valoração que se dá aos
princípios e regras, pois no fundo trata-se de uma discussão sobre a Justiça, sobre diferentes
ideais do que poderia ser considerado justo ou injusto, não abstratamente, mas aplicado ao
caso em tela, dentro do panorama que o engloba.
O histórico brasileiro inserido em um contexto global é uma das portas que
permite uma maior análise do que poderia ser considerado justo dentro dos padrões históricos
conhecidos. A observação da história é demasiadamente complexa, pois não é o caso apenas
de se relatar fatos, mas sim de apresentação de versões que devem possuir verossimilhança
em relação aos fatos históricos, essas não estão livres de conteúdo axiológico por parte de
seus contadores e intérpretes. Decerto, busca-se dentro das versões históricas, uma
interpretação mais isenta dos valores de seus contadores, ainda mais quando esses fizeram
parte dessa história.
Por mais que tenhamos tido democracias e lutas por liberdades, o modelo
federativo brasileiro sempre foi demasiadamente centralizador e, mesmo após 1988, ainda o é.
A União concentra a arrecadação tributária no país e é essa que acaba sustentando inúmeros
Estados e Municípios, fazendo repasses. Os governadores e prefeitos, por mais que sejam
chefes-do-executivo regionais e locais, devem sempre tentar manter uma boa relação com a
União, pois dela dependem financeiramente. A luta pela liberdade não se esgotou no Brasil
atual, ela continua firme, forte e mais presente do que nunca. O federalismo é obstado por
questões de ordem legal, por questões tributárias e práticas, o federalismo, para nós, significa
liberdade.
A pergunta feita por políticos, constitucionalistas e pelo povo é: o pacto
federativo está prestes a ser rompido com a nova distribuição dos royalties do petróleo?
Conforme foi estudado, o petróleo e gás natural são bens pertencentes à União, a maior parte
das reservas nacionais conhecidas e provadas encontra-se no offshore brasileiro, ou seja, em
bens igualmente pertencentes à União. No entanto, o art. 20, § 1º, da Carta Magna, nosso
Contrato Social, faz a ressalva que a União deverá conceder participação especial e
compensações pela exploração desses recursos próprios. Assim, indubitável é o dever
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constitucional anexo à exploração, dever esse existente desde antes da atual Constituição,
antes previsto em Lei, constitucionalizado em 1988 dado a sua tamanha importância nacional.
Por qual motivo, qual seria o telos da constitucionalização do instituto
referido? A exploração do petróleo onshore ou offshore – como existe em grandes escalas
desde antes mesmo da Constituição de 1988 – gera impactos e riscos óbvios até mesmo para
aqueles que são minimamente conscientes apenas quanto a fatos jornalísticos contemporâneos
a sua vivência. Esses impactos e riscos devem ser compensados por quem tem o direito de
exploração, pois senão haveria uma verdadeira injustiça em relação àqueles que sofrem com
esses. O meio ambiente é bem de todos e zelar por esse é dever, igualmente, de todos, sendo
objeto de inúmeras deliberações, conferências e tratados internacionais. Por que o meio
ambiente é tema de tantas discussões internacionais? Porque as consequências das políticas
locais, regionais e nacionais não são estanques, passam facilmente as fronteiras dos países,
essas não respeitam os limites das cartas políticas. Qual seria a pertinência disso para o
presente tema? O vazamento de petróleo no Golfo do México, por exemplo, a milhares de
milhas da Costa Americana, afetou diversos Estados dos Estados Unidos da América e,
também, a outros países na região, isto é, pelo impacto imediato contabilizado, sem contar
com os impactos que podem ser sentidos posteriormente pelo assassínio de determinadas
algas, peixe, plânctons, fitoplânctons etc.
E no Brasil? A exploração do petróleo e gás natural ocorre em 90% dos casos
no offshore, na costa brasileira, e, majoritariamente, os megacampos tradicionais e os do pré-
sal foram identificados em área marítima contígua que afeta principalmente os Estados de São
Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo, principalmente, as áreas costeiras e os Municípios
costeiros desses Estados. Apenas tratando da questão ambiental, percebe-se que os impactos
mais diretos são sofridos pelos entes e população que se situam próximos à área de
exploração, pois suas praias ficam vulneráveis, o que ocasiona inúmeras consequências no
ambiente saudável e digno que esses deveriam desfrutar, prejudicando não só a dignidade
dessas populações, como a busca pela felicidade – princípio constitucional implícito,
possibilitado pelo art. 5º, § 2º, da Constituição -, e, também, o turismo – impactando direta e
indiretamente -, a pesca, os recursos ambientais etc.
Os impactos são diversos para os entes e populações afetados, há, por
exemplo, o impacto socioeconômico, uma vez que a estrutura, principalmente, municipal,
muitas vezes não estaria preparada para a migração populacional e econômica de um
momento para o outro. A migração populacional pode dar-se não só no momento em que se
inicia a exploração, como também em seu termo final. Por isso também, esses entes (regionais
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e locais) e essas populações vulneráveis aos impactos sociais – que podem gerar não só o
aumento de esgoto, lixo, despesas sociais, prestação de serviço público e o aumento da
violência, como problema social e de segurança pública – devem também receber um
tratamento distinto, devem perceber a compensação pelos danos causados e possíveis.
A precaução e a prevenção devem ser observadas, como institutos do direito
ambiental, assim como a equidade intergeracional, em que há uma preocupação com as
gerações futuras pelas escolhas, usos e até o fim de uma atividade econômico – importante
local e regionalmente – pela exploração total de um bem reconhecidamente escasso. As
externalidades negativas por essa exploração devem ser computadas e pagas, de modo, a zerar
as suas consequências negativas, de modo que a sociedade não pague por um custo de uma
exploração não internalizado. O free rider não deve ser incentivado pelos agentes políticos
nacionais, ou seja, apesar de o impacto ser de uns somente, outros agentes – sem ônus, pelo
menos não proporcional – possuem uma bonificação a custa daqueles mais impactados. As
lições de direito econômico e ambiental são claras para a interpretação da função
compensatória dos royalties do petróleo e não devem ser mal interpretadas ou esquecidas para
se satisfazer o interesse de uma maioria.
O posicionamento passa a ficar claro no sentido de que a compensação deve se
dirigir de um modo, ao menos, proporcional àqueles impactados e sob risco da atividade
econômica. A função compensatória é clara nesse sentido, se compensa em decorrência de
danos concretos e possíveis, na medida de suas extensões. Assim, por mais que o Brasil todo
possa estar arcando com os custos dessa atividade, por mais que os bens sejam da União,
todos devem ser compensados de modo proporcional aos ônus que assumem, inclusive,
involuntariamente. Os royalties do petróleo lato sensu já geravam receitas aos Fundo de
Participação dos Estados e Fundo de Participação dos Municípios - inclusive, os critérios
utilizados nesses fundos já estariam defasados e já foram declarados inconstitucionais pelo
Supremo Tribunal Federal -, corrigindo os vícios nesses fundos, revendo a política nacional
em busca de se remunerar a União por um bem seu, no entanto, na medida em que se
possibilite compensar os impactos aos entes afetados diretamente pela Exploração &
Produção (em primeiro lugar) e se seguir as políticas públicas (e econômicas) que visem a
fazer uma compensação social, com base nos objetivos do art. 3º, da Carta da República, por
meio dos fundos distribuídos (com critérios atualizados) na medida das necessidades de cada
ente (em segundo lugar).
Assim, a proposição de uma nova distribuição mais “social” dos royalties do
petróleo no Brasil, deve atender aos fins do instituto, onde primeiro observa-se quem de facto
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sofre os impactos da atividade e, como aspecto acessório, deverá observar (como já era feito
no modelo anterior) a possibilidade de redistribuir as riquezas nacionais, de modo a fornecer
maiores meios para os entes mais necessitados. A destinação dos royalties tanto na parcela
que vai para a União, quanto na parcela que vai para os Estados e Municípios produtores –
onde os confrontantes também se encontram, pois a produção, logística e impactos ocorrem
em seus territórios – e aos entes de acordo com os repasses dos Fundos de Participação,
deverá ser seriamente fiscalizada para que não haja desvios e se cumpra a finalidade a que se
destina.
A proposta baseada na legislação atual, que inovou no tema, fere frontalmente
o pacto federativo brasileiro. A persecução nacional deve ser em torno de se luta histórica por
liberdade e o federalismo é baseado nessa liberdade descentralizadora, pela proposta vigente,
há maior centralização dos recursos pela União (de modo indireto) e a ditadura da maioria é
formada para usurpar os direitos de uma minoria vulnerável. A federação não é o governo da
maioria sobre a minoria, não é o jugo dos mais fortes, mas é baseada no Império das Leis,
onde deve-se respeitar os direitos de todos, inclusive, das minorias, não podendo nem pelo
voto feri-los. Vinte e cinco Estados da Federação mais o Distrito Federal não poderiam juntar-
se para usurpar as verbas devidas ao Estado de São Paulo, só porque é o Estado mais próspero
do país, por exemplo, isso não seria constitucional, não seria justo, iria contra a autonomia do
Estado de São Paulo, contra o Pacto Federativo e uma série de outros direitos. O Príncipe
idealizado por Maquiavel não deve atacar os bens de seus súditos, pois há limites para que se
mantenha o estado das coisas, para que não haja rebeliões. O Leviatã formado pelo Contrato
deve ser contido pelo Contrato.
No caso das concessões em curso – celebradas sob a égide de diploma
legislativo pretérito -, não se pode de jeito nenhum afetar as expectativas orçamentárias, o
direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a segurança jurídica com a introdução de um novo
modelo. As mudanças no cenário político nacional não devem afetar a segurança jurídica e a
expectativa orçamentária desses entes, esse precedente seria péssimo. O Supremo como Poder
Contramajoritário deverá fazer valer a democracia brasileira para que não nos tornemos um
Estado de Exceção legalmente constituído, votado e plebiscitário, onde a força de uma
maioria pode provocar danos imensuráveis a uma ou mais minorias
Pode-se criar um país de “Omelas”, onde devido a uma política utilitarista,
trancafiar-se-iam os entes afetados nos porões do Brasil, sem direitos, para que fosse
maximizada a felicidade e proveito geral, de uma maioria, em sacrifício daqueles? Não, esse
não é o modelo de justiça federativa que deve ser adotado. O que seria justo para o caso em
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tela? Acredita-se que deve ser adotada uma reflexão sobre a justiça de modo a se imaginar o
que seria equânime sob um “véu da ignorância”, nos termos de Rawls, para que se pense o
que seria mais justo para todos, ou seja, onde a escolha do indivíduo se basearia em uma
escolha onde esse não sabe quem é, onde está e que posição ocupa na sociedade.
Provavelmente, a escolha se daria no sentido do princípio da diferença, onde só seriam
permitidas as desigualdades econômicas e sociais que visassem ao benefício dos membros
menos favorecidos da sociedade, sem criar uma nova classe de vulneráveis. Dessarte, com
base nessa visão de justiça, seria mais racional e cumpriria igualmente o telos aristotélico da
norma, se a compensação devida na forma de royalties do petróleo e gás fosse direcionada
principalmente àqueles mais afetados pelos impactos e riscos da atividade, ou seja, aos
Estados e Municípios produtores.
Os argumentos expostos acima ainda são reforçados pelo pacto originário,
onde se criou um sistema entre os arts. 20, § 1º e art. 155, § 2º, X, “b”, da Constituição.
Jamais os Estados vulneráveis poderiam ser duplamente prejudicados, uma vez que não fazem
jus às receitas tributárias – por meio de uma exceção constitucional – que enriqueceria a
arrecadação desses membros da federação e, ainda, sendo tolhidos os direitos constitucionais
à compensação pelos impactos e riscos inerentes à atividade exploratória de proveito nacional
ao qual estão submetidos e não possuem poder nem força decisória para cessá-la.
Destarte, a presente tese não pode ser concluída com o acovardamento e, sim,
após o estudo e os entendimentos históricos; dos princípios constitucionais; do pacto
federativo; análise do art. 20, § 1º, da CRFB/1988 e suas interpretações; aspectos econômicos
vinculados à exploração; aspectos legais dos royalties e sua função social; entendimento do
panorama político e debate das teses deve ser concluída sem receio de que por mais que
possam ser efetuadas mudanças em numerários, por mais que possam ser mudados alguns
critérios, pela sua função social, seu sentido de ser, os royalties são devidos principalmente e,
neles deve ter seu foco, aos entes e populações afetados pela atividade de proveito geral.
Por fim, entende-se que nem o panorama político atual nem o futuro deverão
afrontar um direito dos povos, deverão perpetrar o retrocesso social, pois a justiça nos
royalties do petróleo e em sua distribuição está diretamente ligada aos direitos fundamentais
ambientais, sociais e individuais. O pacto federativo foi firmado e a luta pela liberdade no
Brasil é também a luta pela correta distribuição dos royalties do petróleo, visando o
atingimento do fim a que se destinam. As mudanças podem vir a ser necessárias e desejáveis,
sim, mas não no modelo atual, onde prejudica-se e perverte-se o sentido original da vontade
legislativa expressa no pacto firmado pelo constituinte originário
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