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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIBA
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
DEPARTAMENTO DE ECONOMIA
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO PÚBLICA MUNICIPAL MODALIDADE A DISTÂNCIA
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
PROGRAMA DE ERRADICAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL-PETI
DESENVOLVIDO NO MUNICÍPIO DE GURINHÉM/PB: UM ESTUDO
DE CASO SOBRE O CONTEXTO SOCIOEDUCATIVO E
ASSISTENCIALISTA
Jociane Pâmera Coutinho da Silva
Pós-graduando lato sensu em Gestão Pública Municipal - UFPB
Rosângela Palhano Ramalho
Professora do Departamento de Economia - UFPB
RESUMO
Este artigo busca analisar uma das principais políticas públicas executadas no ramo da
proteção social à criança e ao adolescente em situação de risco, através do Programa de
Erradicação do Trabalho Infantil - PETI do município de Gurinhém – PB, com narrativas de
experiências vivenciadas pelas crianças e adolescentes das famílias contempladas pelo
programa. Será apresentada a importância do programa no contexto socioassistencial dos
usuários e suas famílias, averiguando as ações do PETI, tendo em vista sua contribuição no
processo de combate ao trabalho infantil, tomando como foco seu desenvolvimento através de
sua proposta na Lei e na prática cotidiana. A pesquisa conta com dados bibliográficos para dar
embasamento à análise contextual. Foi realizado um estudo de caso, através de uma entrevista
semi- estruturada, realizada com usuários, coordenadores e monitores do PETI em Gurinhém.
Na apuração das informações foi notória a falta de entendimento das famílias contempladas e
os próprios monitores e coordenadores sobre o contexto histórico do programa PETI. A
execução do programa ainda está presa aos aspectos emocionais, sendo as pessoas envolvidas
retratadas como a grande família PETI. Há falta de esclarecimento do significado das
propostas do programa, tanto em relação às famílias contempladas que sabem em partes quais
são seus deveres enquanto membro do PETI, quanto na parte pedagógica para que os
participantes sejam de fato inseridos no contexto social sendo capazes de detectar seu papel
perante a sociedade enquanto participantes ativos do programa.
Palavras chaves: Política Pública, Usuário, PETI.
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1 – INTRODUÇÃO
Este trabalho apresenta uma abordagem no contexto histórico do Brasil na luta
para erradicar as piores formas de trabalho infantil desde a década de 1980 aos dias atuais.
Que tem como meta analisar uma das principais políticas públicas executadas no ramo da
proteção social à criança e ao adolescente em situação de risco, e em particular, aquelas que
estão expostas ao trabalho infantil. A pesquisa tem como objetivo geral analisar o programa
de erradicação do trabalho infantil - PETI no município de Gurinhém – PB, através das
experiências vivenciadas pelas crianças contempladas pelo programa e suas famílias. Além
disso, lista-se como objetivos específicos: detalhar o programa PETI, levantar dados concretos
que contribuam para a discussão do perfil do público-alvo, e detectar quais os problemas e
desafios associados à gestão e implantação do programa no município.
Desde sua implantação no Brasil na década de 90 o programa PETI vem travando
uma luta constante no combate a exploração infantil, tirando meninos e meninas dessa
degradante desigualdade social de pobreza que os levam a viver perigosamente expostos na
rua ou em trabalhos escravos rotulados como situação de rico.
A desigualdade social é muito alta em nosso país. Segundo informações do Censo
Demográfico (2010) a pobreza atingiu 45% da nossa população que faz parte das famílias
com renda “per capita” de até meio salário mínino, percentual esse que cresce ainda mais nos
estados menos desenvolvidos do Norte e Nordeste. (UNICEF, s.d). Conseqüentemente essa
desigualdade é o principal fator que contribui para que crianças e adolescentes se tornem
alvos do trabalho infantil e da exploração. Dessa forma, é crescente o número de meninas e
meninos que ingressam nas várias situações de risco, muitas vezes em condições
extremamente penosas e degradantes.
No estado da Paraíba é notável o crescimento do Programa. No Município de
Gurinhém, o programa foi implantado no dia 13 de Abril de 2007, com um cotidiano
socioeducativo e assistencilaista atendendo 363 participantes de 7 a 15 anos, contendo 141
participantes da zona rural e 222 da zona Urbana. Como atividades são oferecidas, durante
todo ano, reforço escolar, atividades esportivas e oficinas de artes plásticas, música, dança e
teatro. Os gestores do programa no município afirmam expressar os resultados das reflexões,
participações e conclusões de forma coletiva com uma equipe comprometida com os
resultados educacionais que busca melhorar o processo de ensino-aprendizagem.
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Em seguida o trabalho apresenta alguns eixos temáticos que serviram de base para
a discussão sobre a temática central que trata da implantação do PETI e seu traçado histórico
no decorrer da década de 90 ate os dias atuais. O artigo Aborda no primeiro capítulo a questão
do trabalho infantil. No segundo, o PETI no Brasil em sua gênese e implantação. No terceiro,
apresenta princípios norteadores para implantação e execução do PETI no município de
Gurinhém, com narrativas de seu cotidiano no decorrer do ano de 2011. Apresentando
resultados da pesquisa de campo e da observação “in loco” no prédio do PETI em seu
cotidiano educacional, social e cultural.
2 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 A QUESTÃO DO TRABALHO INFANTIL: CONTEXTO HISTÓRICO
Do ponto de vista histórico, o trabalho infantil está inserido na cultura das
sociedades, através de valores transmitidos de pais para filhos com um meio de sobrevivência
diante do contraste socioeconômico.
Algumas culturas abraça o trabalho infantil como fator gerador que ajuda no
desenvolvimento do caráter humano permitindo que a criança não venha ingressar na
criminalidade por falta de ocupação. Estando assim, inserida no contexto social como cidadão
capaz de se tornar alguém de bem.
Durante todo contexto histórico as formas de trabalho infantil eram justificadas de
acordo com cada período vivenciado pela humanidade, como uma forma de lutar pela
sobrevivência. Em relatos científicos, meninos e meninas começaram trabalhar desde a época
da pré- história quando ajudavam nos serviços domésticos e na colheita, entre outros afazeres
que lhes eram atribuídos. Na época dos homens das cavernas as crianças ajudavam na
agricultura, participando do cultivo dos alimentos. Na Idade Média as crianças abandonaram
as atividades primárias e passaram a trabalhar com os artesões nas oficinas, aprendendo a
tecelagem, fabricação de utensílios e objetos de metal, de madeira e de couro.
Com a Revolução Industrial, houve uma reviravolta na sociedade, os homens
migravam do campo para a cidade para trabalhar nas grandes indústrias que acompanhavam o
crescimento veloz e feroz da humanidade. De uma hora para outra, foram deixados de lado os
direitos que eram concedidos às crianças de terem educação e lazer, em nome da
sobrevivência. As crianças passam a ser obrigadas a ingressar no mercado de trabalho
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assumindo atividades de seus pais, com o objetivo de aumentar a renda da família. Nesse
período constante preocupações por conter noticiários que relatavam que existia crianças a
partir de 5 anos de idade trabalhondo em fábricas de lã, algodão, minas de carvão, sendo
submetidas em situações de risco com jornadas de trabalho diário de 12 a 16 horas, sem
direito se quer de horário de descanso para alimentação ou para fazer suas necessidades
fisiológicas.
Na visão de Renato (2002, p. 19):
Os tempos atuais registram uma melhora significativa nas condições de vida
das crianças e dos adolescentes. Essa melhora, porém, e relativa. Varia de
país para país, de classe social para classe social, de família para família. No
Brasil, por exemplo, principalmente em suas regiões economicamente mais
atrasadas, não é difícil encontrar inúmeras crianças trabalhando em
condições bastante adversas à sua natureza de ser em processo de formação.
Cenas marcantes são vividas e relatadas insistentemente envolvendo crianças e
adolescentes em atividades indevidas de trabalho infantil. Cenas, sob todos os aspectos
inadmissíveis, mas, paradoxalmente, comum. Crianças trabalhando nas mais diversas
atividades, desde aquelas de menor taxa de insalubridade até as mais agressivas ao corpo e à
mente. (RENATO, 2002)
Para participar da constante luta em defesa das crianças é necessário que pessoas
e, principalmente representantes públicos, de organizações governamentais, ou não, possam
estar interessados em discutir e direcionar idéias que norteiem soluções para esta problemática
ainda tão presente na sociedade brasileira.
O debate no Brasil tem crescido, mas ainda não é o país da criança. (QUIRINO,
2011). Com o objetivo de solucionar o problema, no final da década de 1980 e início da
década de 1990, o país passa a tomar providências através de varias ações apoiada por órgãos
governamentais e não governamentais. No âmbito governamental as respostas às
manifestações vieram com surgimento de dois pilares: do Legislativo, com o Estatuto da
Criança e do Adolescente-ECA, na década de 1990, e a Lei Orgânica de Assistência Social-
LOAS em 1993, e do Poder Executivo a criação de programas, como o programa Brasil
Criança Cidadã, projeto do Centro de Assistência Integral a Criança (CAICs).
Nesta batalha em defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes que vivem na
vulnerabilidade social, cria-se sobre a responsabilidade da “Secretaria de Assistência Social”
do “Ministério da Prevenção e Assistência Social” o Programa de Erradicação do Trabalho
Infantil- PETI, que apresenta o objetivo de prevenir e eliminar o trabalho dessa faixa etária
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infanto-juvenil que vive em situação de vulnerabilidade e exploração com o trabalho infantil,
sendo retirados do convívio social e educacional. Passando a ser feito no próximo capitulo
uma explanação adentrado em seu contexto de luta e conquista para sua implantação.
Segundo a Política Nacional de Assistência Social (2004):
A vulnerabilidade constitui-se em situação, ou ainda em identidades, que
concorrem para a exclusão social dos sujeitos. Essas situações originam-se
no processo de produção e reprodução de desigualdades sociais, nos
processos discriminatórios, segregacionais engendrando em construções
sócio-históricas e em dificuldade de acesso às políticas públicas.
É possível observar que no século XXI, nos tempos atuais, mediante tantas
propostas em defesa desse público inocente que é acriança, a sociedade vem dando passos
largos, mostrando para o cidadão que o combate ao enfrentamento ao trabalho infantil ocupa
lugar de destaque na agenda Social do Governo Federal, consolidando com as atribuições do
Sistema Único de Assistência Social- SUAS, compondo o quatro de serviços
socioassistenciais.
No entanto, constantemente o trabalho infantil é justificado das mais diversas
formas. Em nosso Estado (Paraíba) é evidente que ainda não se erradicou por completo esses
inúmeros meios para a exploração infanto-juvenil. Crianças que estão passando pela vida sem
saber o que é gozar de seus direitos apresentados em tantas Leis. Meninos e meninas que
deixam de ter seu dia de estudo e lazer para ajudar no sustento da casa. Passando pela
experiência de trabalhar na feira carregando compras, vendendo nos bancos, juntando jornal,
latinhas, ajudando o pai no cultivo e na colheita, ajudando a mãe com a casa e as outras
crianças, pegando papelão para vender, sendo explorado sexualmente, vendendo drogas,
sendo objeto de negligência ou exploração para os pais ou traficantes...
No próximo tópico será apresentada uma explanação no contexto da luta em busca
da conquista para a implantação do PETI, política que já foi mencionada acima, e que iremos
ver que é uma das principais políticas de proteção social já criada nos últimos tempos.
2.2 O PROGRAMA DE ERRADICAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL - PETI NO
BRASIL: GÊNESE E IMPLANTAÇÃO
No decorrer dos anos, na década de 90, havia uma grande inquietação para com os
governantes representantes de determinados países em relação à realidade da exploração do
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trabalho infantil. Neste período foi detectado no Brasil, um grande índice de crianças em
vulnerabilidade social sendo expostas ao trabalho infantil. As pesquisas realizadas pela
Organização Internacional do Trabalho - OIT informaram nos teles jornais e dados do Fundo
das Nações Unidas para a Infância - UNICEF divulgavam inúmeras denúncias sobre o
trabalho de crianças. Tais fatos constatavam a necessidade da criação e implantação de
políticas públicas que pudesse atender a demanda de crianças e adolescentes que estavam
vivendo em estado de vida desumana, enfrentando a dura realidade da exploração do trabalho
infantil.
Além disso, o quadro de pobreza atingiu particularmente a população infanto-
juvenil no país. No Brasil, a situação do trabalho infantil é vergonhosa e deplorável, além de
ser ilegal, tendo em vista que se torna Lei no Estatuto da criança e do adolescente, no ano de
1990, que proíbe o trabalho infantil antes dos 14 anos, e após os 14 salvo na condição de
aprendiz. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística - IBGE de 1995, 7,5
milhões de crianças e adolescentes participaram do mundo do trabalho. Deste 3,5 milhões são
entre 5 a 14 anos. Além de ser ilegal, obtinham salários baixos e trabalhos escravos por conter
carga horária de 12 horas diárias. Um verdadeiro absurdo que merece ser combatido, mesmo
diante de tantas alegações estruturais sociais e familiares.
No ano de 1992, o Brasil passou a fazer parte do Programa Internacional para a
Erradicação do Trabalho Infantil - Ipec da Organização Internacional do Trabalho, e em
meados dos anos de 1994, foi criado e instalado o Fórum Nacional de Prevenção e
Erradicação do Trabalho Infantil, sobre a coordenação do Ministério do trabalho com apoio
do Fundo das Nações Unidas para a Infância - UNICEF, com a participação de organizações
não-governamentais, empresários, representantes de sindicatos, da Igreja, do poder
Legislativo e do Judiciário. Segundo Padilha (2006, p. 79):
No aspecto político, os grandes protagonistas da articulação foram o
Ministério do Trabalho, o Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do
Trabalho Infantil e a UNICEF, que tentaram envolver as forças antagônicas-
organismos de defensores da erradicação infantil e os empregadores da mão-
de-obra infantil. Deu-se, então, um embate entre interesses econômicos e
políticos, apresentando avanços e recuos na construção de um pacto político.
A partir do segundo semestre de 1996, o Fórum Nacional lançou o Programa de
Ações Integradas, que traçou caminhos para a implantação do Programa de Erradicação e
Prevenção do Trabalho Infantil no país, orientado para o combate as chamadas piores formas
de trabalho infantil, ou seja, aqueles trabalhos considerados perigosas, desumanos, insalubres
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ou degradantes. Nesse período se dá início ao programa no Brasil. O PETI surgiu em razão de
constantes denúncias sobre o trabalho escravo em que crianças eram submetidas em vários
Estados, principalmente em trabalho de corte de cana e em carvoarias (PADILHA, 2006, p.
77). A partir deste índice, é detectado que a pobreza é um dos principais fatores dessa
desigualdade social que remete a criança e o adolescente ao trabalho. Nesse período as esferas
governamentais passam a se posiciona:
O governo Federal, em 1996, instituiu o Programa Vale Cidadania,
posteriormente denominado Programa de Erradicação do Trabalho Infantil-
PETI, em convênio com os governos estaduais e municipais, inicialmente do
Mato grosso do Sul, sendo, no ano seguinte, implantado na zona canavieira
de Pernambuco e na região sisaleira da Bahia, ficando restrito então a área
rurais. No entanto, jê em 1999, o programa foi estendido às crianças e aos
adolescentes trabalhadores residentes também em áreas urbanas,
principalmente para atender àqueles que trabalhavam nos Lixões
(PERNAMBUCO, Secretaria de Desenvolvimento social e Cidadania de PE,
2005).
O Programa de Erradicação do Trabalho Infantil- PETI aconteceu de forma
acelerada, sendo disseminado para outros Estados e municípios. No biênio 2001-2002 o
programa obteve avanços significativos abrangendo uma grande área territorial com
mudanças na implantação e execução do PETI. Em 2003, o programa sofreu um atraso no
repasse dos recursos para os municípios, sendo caracterizado por Silva (2004, p. 97), objeto
de muitos protestos por parte dos beneficiários em várias cidades brasileiras. Atualmente, o
programa PETI conta com a realidade da unificação dos programas nacionais de transferência
de renda, cujo processo se iniciou em julho de 2003. O programa contempla a política pública
de proteção da assistência social a crianças e adolescentes, atendendo de modo seletivo aos
beneficiários que vivem em situação de extrema pobreza em nosso país. Em 2005, foi
implantado em 26 Estados da Federação, além do distrito Federal, tanto em área rurais quanto
urbanas dando cobertura a 2.591 municípios (PERNAMBUCO, 2005).
Dando continuidade, no próximo capítulo faremos uma explanação dos
norteamentos que deram impulso a implantação e execução do PETI no município de
Gurinhém-PB, demonstrando qual percurso foi percorrido para efetivação de uma das
principais políticas públicas do quatro de proteção social para as crianças e adolescentes.
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2.3 PRINCÍPIOS NORTEADORES PARA IMPLANTAÇÃO E EXECUÇÃO DO PETI
NO MUNICÍPIO DE GURINHÉM - PB
O PETI é um programa do governo Federal articulado entre o governo estadual e
municipal. No âmbito federal se faz o repasse de verba para sua manutenção, o governo
estadual faz o monitoramento e o governo municipal executa. O programa compõe o Sistema
Único de Assistência Social (SUAS) com duas ações articuladas – o Serviço Socioeducativo
ofertado para as crianças e adolescentes afastadas do trabalho precoce e a Transferência de
Renda para suas famílias. O programa prevê também ações socioassistenciais com foco na
família, buscando potencializar através de sua função protetiva com vínculos familiares e
comunitários. O Ministério de Desenvolvimento Social- MDS explica que o principal objetivo
do PETI é contribuir para a erradicação de todas as formas de trabalho infantil no País,
atendendo famílias cujas crianças e adolescentes com idade inferior a 16 anos que se
encontrem em situação de trabalho, com acompanhamento familiar através do Centro de
Referência de Assistência Social - CRAS e Centro de Referência Especializado de Assistência
Social – CREAS.
Os municípios com grande índice de trabalho infantil têm suas demandas
validadas pela Comissão Estadual e são submetidas à Comissão Intergestora Bipartite (CIB)
da Assistência Social (formada por representantes do estado e municípios) para pactuação. A
partir daí, as necessidades pactuadas são informadas ao Ministério do Desenvolvimento
Social e Combate à Fome, com a relação nominal das crianças e adolescentes a serem
atendidos e as respectivas atividades econômicas exercidas que devem ser monitoradas pela
comissão municipal.
De acordo com informações do Portal da Transparência do ano de 2011 o papel da
Comissão Municipal de erradicação do trabalho infantil- PETI é Contribuir para os setores do
governo e da sociedade em torno da problemática do trabalho infantil para criar
procedimentos complementares ás diretrizes e normas do PETI que possibilite a participação
de todos envolvidos, juntamente com os orgãos gestores municipais da assistência social
priorizando o atendimento para o maior número possível de crianças e adolescentes a ser
atendido nos municípios. Apresentando flexibilidade na Participação da elaboração do Plano
Municipal de Ação Integrada, Interagindo com os diversos programas setoriais de orgãos ou
entidades executoras de políticas públicas que tratem das questões das famílias, das crianças e
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adolescentes, visando aperfeiçoar os resultados do PETI. Articular-se com organizações em
prol da defesa dos direitos da criança e do adolescente, para apoio logístico, com atendimento
para as demandas de justiça e assistência advocatícia, sugerindo a realização de pesquisas e
estudos, diagnósticos para análise da situação de vida e do trabalho das famílias
contempladas. Poder acompanhar o cadastramento das famílias, sugerindo critérios
complementares para sua seleção em conjunto com o órgão gestor municipal da Assistência
Social e supervisionar, de forma complementar, as atividades desenvolvidas pelo programa.
Quando necessário formular denuncias aos órgãos competentes, para que as denúncias e
reclamações sobre a execução do PETI possam ser investigadas e posteriormente acompanhar
o processo de mudança na retificação da execução.
Desse modo, no decorrer do processo de implantação as Secretarias Municipais de
Assistência Social ou órgão assemelhado que identificarem, em sua cidade, crianças e
adolescentes, na faixa etária compreendida entre 7 e 15 anos, que estejam trabalhando em
atividades inseridas nas categorias que caracterizam o trabalho infantil perigoso, penoso,
insalubre ou degradante, podem encaminhar às comissões Estaduais de erradicação do
trabalho Infantil as suas solicitações para implantação. E as cidades que já tem podem
solicitar a expansão do programa.
O programa reconhece a criança e o adolescente como sujeito de direito,
protegendo-as contras as formas de exploração do trabalho e contribuído para o
desenvolvimento integral. Com isso, o PETI oportuniza o acesso à escola formal, saúde,
alimentação, esporte, lazer, cultura e profissionalização, bem como a convivência familiar e
comunitária.
Ao ingressar no Programa, as famílias tem acesso à transferência de renda do
Bolsa Família, quando atender aos critérios de elegibilidade. Às respectivas famílias também
é garantida a transferência de renda através do Programa. Assim, a articulação dos dois
programas fortalece o apoio às famílias, visto que pobreza e trabalho infantil estão
amplamente relacionados nas regiões de maior vulnerabilidade social do país. Para Brasil
(2004, p. 39):
O SUAS, cujo modelo de gestão é descentralizado e participativo, constitui-
se na regulação e na organização em todo o território nacional das ações
socio-assistênciais. Os serviços, programas, projetos e benefícios têm como
foco prioritário à atenção as famílias, seus membros e indivíduos e o
território como base de organização, passam a ser definidos pelas funções
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que desempenham, pelo número de pessoas que deles necessitam e pela sua
complexidade (...).
Em outras palavras a prioridade do PETI é viver em uma luta constante para
propiciar o bem estar das crianças e dos adolescentes, oferecendo-lhes condições favoráveis
de convivência e desenvolvimento sociocultural. Em resumo seus objetivos são: a) Retirar
crianças e adolescentes do trabalho infantil perigoso, penoso, insalubre e degradante; b)
Possibilitar o acesso, a permanência e o bom desempenho de crianças e adolescentes na
escola, por meio de atividades culturais, esportivas, artísticas e de lazer no período
complementar ao da escola, ou seja, na jornada ampliada; c) Proporcionar apoio e orientação
ás famílias por meios da oferta de ações socioeducativas; d) Promover e implementar
programas e projetos de geração de trabalho e renda para as famílias.
As famílias que compõe o perfil do programa são famílias que tem crianças entre
7 anos e adolescentes menores de 16 anos que trabalham em atividades perigosas, de extrema
periculosidade. Essas famílias têm prioridades no atendimento, por terem uma renda per
capita de até meio salário mínimo, em situações de extrema pobreza. A forma para detectar
quais são os trabalhos considerados perigosos para o trabalho infantil são:
1. Área urbana - Comércio em feiras e ambulantes; lixões; engraxates; flanelinhas;
distribuição de venda de jornal e revista; comércio de drogas; empacotador em
super mercados; ajudantes de feira; venda de latinhas e garrafas de refrigerantes e
outros.
2. Área rural - Culturas de plantação e cultivo de algodão, fumo, feijão, milho,
agricultura em geral; marcenarias; ajudantes de carpinteiros e mercearias.
O PETI busca atender o quatro de exigências que fazem parte dos princípios
norteadores do programa como política pública a ser executada através dos três eixos
governamentais. Uma vez implantado no município é necessário parcerias entre famílias
contempladas, coordenadores do programa, comissão fiscalizadora e órgão gestores para que
se possa permanecer desempenhando um bom trabalho com essas crianças e adolescentes
inseridas no âmbito social através das ações articuladas pelo programa.
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3 - PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Os procedimentos e instrumentos metodológicos utilizados para desenvolver a
execução da proposta de coleta de dados, com os beneficiários e com a equipe técnica de
coordenadores e monitores do PETI do município de Gurinhém-PB, baseou-se na proposta de
que, para se obter um bom êxito do projeto, em sua execução e análise, o ponto de partida
seria abordar os envolvidos do programa.
Para realizar a pesquisa, foi necessário recorrer a alguns autores que discutem a
problemática do trabalho infantil e do programa de erradicação do trabalho infantil-PETI,
como Brasil (2004), Padilha (2006), Silva e Silva (2004), Silva (2004), Quirino 92011),
Renato (2002), e pesquisas na internet no Portal do MDS e o Portal da Transparência, como
também analise no Plano de Ação do PETI do município de Gurinhém-PB de 2011. Na
pesquisa de campo, utilizou-se as abordagens quantitativa e qualitativa. Os instrumentos de
coleta de dados foram a pesquisa de campo participativa através de entrevista semi-
estruturada, questionário, fotografias e gravações em vídeo e áudio. A pesquisa foi realizada
no período de quatro meses, entre setembro e dezembro do ano de 2011, atendendo a 110
crianças e adolescentes, 3 coordenadores e 10 monitores, dividida em quatro momentos.
O primeiro passo com uma entrevista semi-estruturada com os coordenadores.
Segundo passo, aplicação de entrevista com as crianças e adolescentes, no terceiro, entrevista
com os monitores e no quarto passo uma observação no cotidiano do PETI.
A coleta de dados da pesquisa “in loco” foi realizada com referência ao sistema
pedagógico do programa atendendo a 50 crianças de 9 a 11 anos e 60 adolescentes de 12 a 14
anos, abrangendo um total de 110 beneficiários dos 363 beneficiários que atualmente são
atendidos pelo programa. Participaram da pesquisa 2 coordenadores, 1 adjunta e 10
monitores.
A entrevista semi-estruturada com os coordenadores possibilitou uma observação nas
falas e nas ações de cada um. A entrevista foi aplicada a três turmas de crianças e
adolescentes, atendendo a 110 beneficiários que estavam em aula. Foi também aplicado no
pátio do prédio, um jogo de perguntas e respostas, que possibilitou um apanhado no que seria
o programa para cada criança contemplada. A pesquisa de campo foi finalizada através da
observação que permitiu fazer uma leitura do cotidiano das ações do PETI.
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4 - ANÁLISE DE RESULTADOS
4.1 O COTIDIANO DO PETI NO MUNICÍPIO DE GURINHÉM-PB.
No município de Gurinhém-PB o Programa PETI tem a finalidade, juntamente
com as esferas governamentais, de vencer o desafio da exploração do trabalho infantil
precoce. De acordo com seu plano de ação de 2011, seu objetivo colabora com o apresentado
pelo programa, que é o de erradicar as chamadas pior formas de trabalho infantil no
Município. Para isso, assim como nos outros municípios, o governo federal concede através
do programa uma bolsa às famílias contempladas. Em contrapartida as famílias têm que
matricular seus filhos na escola e conscientizá-los sobre a importância de adquirir bons
hábitos educacionais, fazendo uso de ferramentas que favoreçam uma mudança na vida
econômica e financeira. Um dos pré-requisitos do programa PETI é a obrigatoriedade de 85%
de frequência, tanto na escola, quanto na jornada ampliada ofertada. Essa obrigatoriedade faz
parte da condicionalidade para que o beneficiário possa permanecer no programa gozando de
seus benefícios.
O programa foi implantado no município no dia 13 de Abril ano de 2007.
Atualmente atende 363 beneficiários, 222 são da zona urbana e 141 são da zona rural, com
público alvo entre 7 a 15 anos, em um prédio com boas instalações físicas, com 1 quadra
esportiva, 1 pátio, 6 salas, 3 banheiros, 1 cozinha, 2 almoxarifados (1 de alimentos e 1 para
material didático), 1 biblioteca e 1 sala da diretoria.
Durante todo o ano é executada uma grade curricular contendo atividades
socioeducativas voltadas para reforço escolar (Português, Matemática), atividades esportivas,
oficinas de artes plásticas, aulas de músicas, dança e teatro. O funcionamento propicia um
atendimento diário das 07h00min as 10h00min e de 13h00min as 16h00min, de segunda a
quinta. No período em que os beneficiários não estão na escola, às atividades pedagógicas de
ensino-aprendizagem são disponibilizadas no decorrer dos turnos com no mínimo uma hora
diária (PESQUISA DE CAMPO, 2011).
O espaço pedagógico dispõe de uma pequena biblioteca com livros acessíveis para
realização dos estudos e, sobretudo para atividade do cantinho da leitura, oficina de música
(oferecida duas vezes na semana com estudo da teoria musical com instrumento de flauta
doce). Uma vez por semana são oferecidas oficina de arte e dança (aulas de danças culturais,
regionais e hip-hop), esporte (Capoeira, futebol, basquete e outras práticas desportivas),
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palestras socioeducativas ministradas pela equipe do CRAS, sobre família, adolescência,
drogas, bullying, valores éticos e moras (respeito, namoro, sexualidade, solidariedade,
amizade...). De forma simultânea são oferecidas palestras de conscientização para os pais dos
participantes, para que possam conhecer os trabalhos que estão sendo oferecidos aos seus
filhos, e oportunizando o momento de interação com a equipe técnica do programa.
A equipe técnica de coordenadores e monitores do PETI do Município de
Gurinhém em seu Plano de Ação de 2011 afirma que:
Para alcançar os resultados esperados precisa tempo. No trabalho educativo
não é possível ter pressa! A equipe envolvida está ciente de que uma
mudança significativa na vida das nossas crianças e adolescentes precisa
anos de compromisso..., mas precisa começar! Precisa que alguém comece
sonhar com um mundo melhor, sonhar com crianças e adolescentes no pleno
gozo de seus direitos... E trabalhar, com ações concretas, para que este sonho
possa se tornar realidade.
As ações articuladas do programa, desenvolvidas no município, são construídas e
realizadas com a finalidade de alcançar as metas que fazem parte dos princípios norteadores
do programa. O plano referente a cada ano é constituído de ações pedagógicas que são
executadas durante todo o ano para formação do sujeito em prol de uma vivência digna em
sociedade, em uso de seus direitos relatados no Estatuto da Criança e do Adolescente-ECA.
O objetivo geral do Plano de Ação do PETI do Município de Gurinhém-PB é o de
oferecer para crianças e adolescentes um atendimento diário, que possa contribuir para
garantir os direitos deles e que seja realmente uma alternativa para retirá-los da rua e da
exploração do trabalho infantil. O Plano de Ação também enumera como objetivos
específicos: possibilitar um atendimento diário para 363 crianças e adolescentes da zona
urbana e rural do município de Gurinhém, possibilitar a permanência e o bom desempenho de
crianças e adolescentes que participam do PETI, enriquecer o universo informacional,
cultural, lúdico de crianças e adolescentes que participam do projeto oferecendo diversas
oficinas, promover ações para as famílias e para as demais pessoas do município que
interagem com crianças e adolescentes envolvidas no projeto e oferecer para crianças e
adolescentes oportunidade de lazer, educação e prevenção para a saúde e a não violência.
No decorrer do ano letivo a equipe técnica executa projetos didáticos pedagógicos
de intervenção, com temas do cotidiano dos participantes para garantir o desenvolvimento
moral, físico, psíquico, intelectual e social, das crianças e adolescentes. Tais projetos são
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desenvolvidos a curto e longo prazo, em seguido é exposto para toda comunidade um trabalho
final, com apresentações, visando socializar os participantes com o conhecimento científico,
popular e com a sociedade em que vivem. Também realizam festas comemorativas e eventos
culturais acompanhando as datas festivas abordada pelo calendário escolar, como: dia do
índio, carnaval, páscoa, festa junina, o dia nacional do combate ao trabalho infantil, dia 7 de
setembro, folclore, dia das crianças, dia do aniversário da cidade e a data natalina.
Diante do exposto sobre o cotidiano do programa PETI do município de
Gurinhém-PB, a adjunta coloca em sua fala que:
A proposta para organizar e fundamentar a metodologia pedagógica que
serve de norte na execução do ensino aprendizado do PETI são quatro
pilares: 1ª Aprender a conhecer: domínio de instrumentos de autonomia
intelectual; 2ª Aprender a fazer: domínio de meios para agir sobre a
realidade; 3ª Aprender a conviver: domínio de participação e solidariedade
em todas as atividades humanas; 4ª Aprender a ser: domínio de
autoconhecimento de sua personalidade e realização pessoal.
Para se desenvolver as atividades na zona rural acontece um processo itinerante, o
coordenador da zona rural, se desloca aos 4 núcleos (Boqueirão, Manecos, Matão e Riacho
Verde) com visitas periódicas e sistemáticas nas sedes onde o programa funciona, com o
objetivo de apoiar o processo de aprendizagem, orientando o monitor quanto aos
procedimentos relativos à rotina do programa. Nesta ótica é evitado o deslocamento das
crianças e adolescentes da zona rural para zona urbana para que participem das atividades do
cotidiano do programa, sendo oferecido em sua própria localidade.
Entre todas as atividades desenvolvidas no PETI no decorrer do ano três são de
fundamental importância a serem mencionadas e relatadas neste artigo através de relatos dos
coordenadores e da adjunta por terem papéis pedagógicos importantíssimos para o programa.
Uma é “O Dia Mundial De Combate ao Trabalho Infantil” o período da “colônia de férias” e a
“Cantata Natalina”. O ano é encerrado com o projeto da Cantata Natalina. No mês de
dezembro são realizadas atividades de final de ano. Todos que compõem a família PETI (fala
dos envolvidos no programa), se organizam no período de dois meses de antecedência para
preparação do projeto natalino, que requer muita articulação e interação para um trabalho de
mais de 3h de apresentação conjunta com um trabalho conhecimento, artes cênicas, teatro,
dança, em uma grande apresentação cultural que mobiliza o PETI de modo geral e a todos da
cidade.
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4.2 CONHECIMENTOS SOBRE OS OBJETIVOS E PRINCÍPIOS QUE NORTEIAM
O PETI
Na circunstância do entendimento sobre o conhecimento dos objetivos e
princípios que norteiam o programa, vale destacar que, entre as coordenadoras parecem ter
clareza do PETI em seu objetivo e significado, mas através de seus depoimentos é notório que
nem tudo está tão claro, pois não adentraram em seu contexto na lei, apenas em seu
conhecimento prévio do que seja e para que serve o programa. E para o coordenador este
conhecimento ainda esta em construção, pois ele diz que só está há 6 meses no programa e
ainda tem muito o que aprender. As outras duas coordenadoras usaram outra linguagem para
deixar explícito esse conhecimento:
“Trabalhar em um programa que evidencia a participação (inclusão) daquelas crianças
submetidas ao trabalho infantil a ter uma vida digna através o lúdico, com respeito ao
próximo e cidadania”. (Coordenadora 1)
“É um programa de ações, desenvolvido para ajudar as famílias carentes, erradicando o
trabalho infantil suprindo de alguma forma essa carência socioeconômica para inserção
da família no convívio social.” (Coordenadora 2)
Entre os monitores foi marcante a afirmação de que não conheciam bem o
programa em seu papel na lei, com seus fundamentos e seus princípios e objetivos descritos.
Mas este é apenas um conhecimento artificial e vários se apropriaram do que está descrito no
portal do MDS.
“O PETI é um programa de grande importância para a sociedade, pois é uma política
pública que é voltada para a erradicação o trabalho infantil, fato este, que é bastante
perceptível em nosso cotidiano”. (Monitor 1)
“É um programa social do governo federal, para erradicar o trabalho infantil, tirando as
crianças e adolescentes das ruas e reeducando-as”. (Monitor 2)
“É um programa que procura reinserir crianças no meio social sem que elas passe por
trabalhos exploratórios”. (Monitor 3)
“Significa dar apoio e colaborar para o crescimento das crianças e adolescente da
sociedade, sempre desenvolvendo ações e orientando-as para o caminho certo sem
exploração ou violência”. (Monitor 4)
“É um programa para prevenção e eliminação do trabalho infantil.” (Monitor 5)
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Estas foram algumas falas. Portanto, neste sentido, as concepções dos
coordenadores e monitores se apóiam no conhecimento restrito, elencando apenas uma
margem de 60% entre os dez monitores e três coordenadores entrevistados para
esclarecimento do conhecimento referentes aos objetivos e princípios do programa em sua
proposta na LEI.
Com os dados obtidos nos questionários utilizados com os participantes do
programa, através da linguagem escrita e oral, fica claro que é um pouco restrito o saber sobre
o conhecimento para com os princípios e objetivos do programa para com os próprios
beneficiários. Na observação com as crianças é possível destacar que muitos gostam muito do
programa das monitoras e de tudo que eles aprendem no PETI. Os adolescentes afirmam que:
“O PETI é tudo porque a gente aprende muito”. (Beneficiário 1)
“É um programa legal divertido que tem um espaço pra gente aprender várias coisas”.
(Beneficiário 2)
“O PETI pra me é ótimo, é um reforço para meus estudos e ajuda a crianças e
adolescentes a sair do trabalho infantil”. (Beneficiário 3)
“O PETI é maravilhoso e me tornou uma pessoa melhor”. (Beneficiário 4)
“É uma oportunidade única para os jovens que não tem oportunidades”. (Beneficiário 5)
“É educação, aprendizagem e lazer”. (Beneficiário 6)
“É um programa que incentiva a leitura, desenho, pintura, brincadeiras e jogos”.
(Beneficiário 7)
Para uma porcentagem de 100% das crianças que participaram do levantamento
de dados da pesquisa, é esse o entendimento que está imbuído nos participantes das famílias
contempladas pelo programa de Erradicação do Trabalho infantil- PETI do Município de
Gurinhém-PB.
4.3 PLANEJAMENTOS E ARTICULAÇÕES DAS AÇÕES PEDAGÓGICAS DO
PROGRAMA
Dando continuidade a apresentação dos dados obtidos através dos questionários
abordaremos nesse tópico a contribuição no planejamento e na articulação das ações
pedagógicas desenvolvidas no programa. Focando a parceria com a equipe pedagógica que
compõe o quatro de funcionários do PETI.
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Ao direcionar o questionamento para a participação da equipe técnica sobre os
objetivos proposto na execução do plano pedagógico do ano de 2011, foi unânime por parte
dos monitores afirmar que os objetivos foram realizados em partes.
Referente à disponibilização de capacitação para os monitores, todos
responderam:
“Sim, recebem de duas a três capacitações no decorrer do ano para melhorar e avaliar a
prática pedagógica”. (Monitores)
Quando questionados como são planejadas as ações socioeducativas do PETI, os
monitores relataram que:
“As ações são planejadas com toda equipe técnica do programa, com a interação da
comunidade, dos pais e dos alunos”. (Monitor 1)
“O planejamento é voltado para a necessidade da criança, através do reforço escolar e de
atividades lúcidas para o lazer e recreação”. (Monitor 2)
“São planejadas com foco nas ações pedagógicas que envolvam brincadeiras, jogos,
dança, teatro, pintura e etc. Sendo oferecido 2 horas aula para cada ação socioeducativa
em determinados dias específicos”. (Monitor 3)
“O planejamento tem um olhar voltado para as necessidades do nosso público alvo, como
reforço de Português e Matemática, recreação, aulas e dança e teatro. Socializando-as e
desenvolvendo-as.” (Monitor 4)
“São ações planejadas com todos os monitores, junto à coordenação, onde juntos
articulam as sugestões sobre as determinadas ações que vão se executada”. (Monitor 5)
Em relação aos aspectos da educação escolar, para o programa significou a
criação de uma “jornada ampliada” cujo sentido, no seu início era bastante confusa para os
monitores. A Coordenadora do PETI que está desde a Implantação do programa no município
mencionou que:
As orientações dadas para os monitores não apresentavam uma condução
clara do que deveria ser trabalhado nessa jornada; as questões relativas à
integração com o ensino regular no interior da escola também não eram
tratadas. A jornada ampliada era entendida no começo como um espaço para
brincadeiras, lazer; nenhuma atividade que lembre o ensino regular deveria
ser realizada. Num segundo momento, se entende que “a jornada ampliada”
deve ser constituída num momento de atividades lúdicas e pedagógicas e de
reforço escolar. (COORDENADOR 1)
Daí por diante trabalhar as ações socioeducativas de forma integrada entre família,
coordenadores e monitores, parecia ter sido a solução encontrada para que todos juntos
pudessem ter um bom êxito no cotidiano de cada profissional, de modo especial dos
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monitores que estão interligados diretamente com meninos e meninas das famílias
beneficiadas do programa.
Diante da pergunta: Para você o que significa ser monitor do programa e atender
crianças que fazem parte desse índice de vulnerabilidade social do município? As respostas
que chamaram a atenção foram:
“Ser monitor é ser um educador, família e amigo dessas famílias carentes cuja
necessidade de amor e atenção é enorme”. (Monitor 1)
“É um desafio, como para qualquer profissional envolvido na educação e formação de
crianças e adolescentes que vivem na margem da sociedade”. (Monitor 2)
“Para me é muito importante poder contribuir com essas crianças, mostrando formas de
serem bem aceitas na sociedade e exercerem seus direitos quanto cidadãos”. (Monitor 3)
“É uma oportunidade única de ajudá-los a serem inseridos na sociedade”. (Monitor 4)
“Ser monitor é fazer parte dessa família PETI que nos estimula a lutar pela causa dos
direitos das crianças e dos adolescentes”. (Monitor 5)
“É saber lidar com situações diversas e manter sempre a calma para saber fazer a coisa
certa na hora certa”. (Monitor 6)
Ao analisar a fala dos monitores podemos observar que há uma grande satisfação
para com a forma desenvolvida pela equipe coordenadora para execução e articulação das
ações planejadas do programa no decorrer do ano de 2011. 80% dos monitores consideram
positiva a sua participação no PETI, a outra margem de 20% aja um trabalho árduo com
inúmeras implicações sociais e culturais que não são capazes de reconhecer o verdadeiro valor
do trabalho executado pelos monitores.
4.4 - CONTRIBUIÇÃO DO PETI NA VIDA DOS PARTICIPANTES
Ao avaliar os resultados obtidos com os questionamentos elencados para coleta de
dados com os usuários do programa de erradicação do trabalho infantil- PETI observa-se que
em sua totalidade expressam-se através de palavras explicando o que significa fazer parte do
PETI, destacando a importância do programa em sua vida.
Para 70% o programa é uma segunda casa, onde eles têm como se divertir,
aprender, comer e fazer atividades que em casa ele jamais teria como. Afirmaram que gostam
das aulas de reforço, da aula de dança, teatro, esporte e das oficinas que são oferecidas no
decorrer do ano letivo, se sentindo valorizados e reconhecidos através de seus próprios
esforços. “No programa eles podem desenvolver habilidades e aptidões que nem eles mesmos
sabiam que tinham” (Adolescente do PETI). O programa só veio a acrescentar em suas vidas,
oportunizando-os a ingressar em um mundo de aprendizagem contínua com um olhar para o
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novo, aprendendo a ser tolerante, solidário, companheiro e cidadão capaz de vivenciar uma
vida digna fazendo parte da sociedade, sendo retirados da margem e colocados no centro da
social como sujeitos de direitos e deveres.
Outros 20% por cento se colocam como adolescentes que estão lá por que não tem
outra coisa para fazer, aí é melhor está lá do que na rua. 10% não utilizaram argumentos,
apenas que está lá é bom.
Ao questionar os beneficiários das famílias contempladas sobre as atividades que
são executadas no Programa, e se elas os ajudam a crescer como pessoa e a se sentir parte da
sociedade eles declaram:
“Sim, eu gosto muito do PETI, das atividades e das festas. Foi no PETI que descobri meu
talento e mudei muito, me sinto mais feliz com o que faço o PETI agora”.(Beneficiário 1)
“O que aula de dança porque eu me divirto muito”. (Beneficiário 2)
“Sim, porque vai nos ajudar a crescer para sermos alguém na vida, para quando a gente
crescer podermos escolher o que queremos ser. Por exemplo: dançarino, jogadores, atores
e várias outras coisas”. (Beneficiário 3)
“Sim, uma pessoa boa e reconhecida na sociedade, pois participo do teatro”.
(Beneficiário 4)
“O PETI nos ajuda com o reforço escolar e passamos a ser uma pessoa mais educada”.
(Beneficiário 5)
“Ajuda a gente a nos sentir melhor e a abrir os nossos olhos para vida, e nos mostra que a
vida é bela”. (Beneficiário 6)
“Eu gosto das tarefas do PETI porque é muito fácil de aprender”. (Beneficiário 7)
Existe uma aceitação dos meninos e meninas para com as atividades executadas
no cotidiano dos participantes. Eles se sentem reconhecidos através dos projetos que são
desenvolvidos, tanto nas aulas de teatro quando nas outras atividades pedagógicas
desenvolvidas. E ao perguntar do que eles mais gostam das atividades desenvolvidas, 20%
gostam das aulas de reforço, 20% gostam das atividades de esporte, 40% das aulas de dança,
teatro e música e 20% das oficinas. E por unanimidade, gostam do período da colônia de
férias e do projeto da cantata natalina.
“Gosto da aula de matemática, pois gosto muito de matemática”. (Beneficiário 1)
“Gosto mais do coral e esporte”. (Beneficiário 2)
“Gosto da aula de dança”. (Beneficiário 3)
“Gosto do São João porque a gente apresenta a quadrilha em muitos lugares”.
(Beneficiário 4)
“A atividade que eu mais gosto é de pintar, porque é uma arte e uma criatividade”.
(Beneficiário 5)
“As oficinas são muito boas, gostei da de pintura em tela e bijuteria”. (Beneficiário 6)
“Sim, gosto de todas as atividades”. (Beneficiário 7)
“O que eu mais gosto é as aulas esportivas de vôlei e futebol”. (Beneficiário 8)
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Observar o dia a dia dos meninos e meninas que compõe o quatro do programa
PETI é estar sempre vivenciando desafios diários. O palco é o programa e os personagens
principais são os beneficiários e suas famílias que ao assistir uma peça, uma dança, na
conclusão de um projeto executado no programa se tornam militantes na luta contra o trabalho
infantil e abraçam a causa dos esforços na conquista dos monitores e coordenadores que
passam a fazer parte da família. E assim, todos ficam conhecidos como familiares da grande
família PETI, como e colocados pelos participantes e também pelos coordenadores e
monitores.
Como em todas as políticas públicas oferecidas pelas três esferas existem pontos
positivos e negativos. O positivo é que mesmo diante das falhas os participantes conseguem
aproveitar ao máximo o que os programas têm para oferecer de melhor, sem permitir que as
lacunas em sua execução seja alvo de desânimo para a participação. Os pontos negativo são
inúmeros por parte dos governantes, partindo da criação, implantação, execução ao repasse de
verba, que faz com que as atividades aconteçam de forma limitada com um mínimo de
conforto em um prédio razoável que não permite que todas as atividades pedagógicas possam
ocorrer em seu pleno desenvolvimento. Por exemplo, em Gurinhém-PB, de acordo com os
dados do IBGE de 2011 a cidade comporta 13.872 mil habitantes e o programa atende 363
crianças e adolescentes. Observa-se que, possivelmente, o número de crianças e adolescentes
atendidos não abrange todas as crianças e adolescentes que estão no perfil do programa.
Para as famílias das crianças e adolescentes que fazem parte do programa tudo é
muito bom, é como se o programa realmente atendesse a demanda de forma satisfatória, só
que, na realidade se sabe que ainda falta muito para que o programa possa atingir uma
porcentagem de 100% em seu atendimento. E para a equipe técnica tudo parece está muito
preso ao emocional, afetivo, deixando lacunas no lado profissional. É como se as reações e
ações pudessem suprir as lacunas enfrentadas no cotidiano.
5 – CONCLUSÕES
A pesquisa teve como objetivo geral analisar o programa de erradicação do
trabalho infantil - PETI no município de Gurinhém – PB, através das experiências vivenciadas
pelas crianças contempladas pelo programa e suas famílias. Além disso, lista-se como
objetivos específicos: detalhar o programa PETI, levantar dados concretos que contribuam
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para a discussão do perfil do público-alvo, e detectar quais os problemas e desafios associados
à gestão e implantação do programa no município.
Ao término da análise, decorrente do trabalho realizado no período de quatro
meses, com um estudo de caso no Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI do
município de Gurinhém-PB, revelou-se o processo de articulação entre as atividades
socioeducativas desenvolvidas no cotidiano no ensino regular e na jornada ampliada. O
programa atende 363 crianças e adolescentes do município com proposta pedagógica atrativa,
ajudando a superar dificuldades encontradas no convívio familiar e social das famílias
contempladas.
No que se refere a sua proposta na Lei, os monitores deixam claro em suas
colocações que nem sempre se atinge o esperado no aspecto pedagógico, pois as concepções
pedagógicas que deveriam nortear a implantação do programa não estão claras e objetivas
desde o início do programa, o que gerou um trabalho aleatório com dispersão de esforços e
confusão entre monitores na execução das propostas do programa.
Apesar das dificuldades existentes no início de sua implantação no município o
programa continua fazendo parte da vida dos meninos e meninas trazendo inovações com uma
criatividade que os conduz a identidade de si, desenvolvendo talentos e descobrindo aptidões
que de acordo com relatos nem eles mesmos conheciam.
O programa traz a proposta de erradicar o trabalho infantil através de ações
didáticas-pedagógicas que oportunizam as crianças se sentirem inseridas na sociedade através
da arte, esporte, lazer, música, dança e etc. Embora, no processo de observação é notória a
falta de entendimento em seu contexto histórico sobre o programa paras as famílias
contempladas. Do que seja o programa PETI em seu princípio na Lei e em sua atuação na
prática pedagógica cotidiana para com seus participantes. Podendo constatar ainda que tudo
esta muito preso ao emocional, visto como uma grande família PETI como foi mencionando
em algumas falas.
Em seu entendimento na Lei e em sua obrigatoriedade na execução da prática
educativa e socioassistencial percebemos que falta esclarecimento para se obter êxito em seu
desenvolvimento, tanto em relação às famílias contempladas, quanto na parte pedagógica para
que os participantes sejam de fato inseridos no contexto social sendo capazes de detectar seu
papel perante a sociedade enquanto participantes ativos do programa.
22
REFERÊNCIAS
BRASIL. Política Nacional de Assistência Social. Brasília, 2004.
IBGE,INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA:
http://www.ibge.gov.br/home/mapa_site/mapa_site
PLANO DE AÇÃO DO PETI DO MUNICÍPIO DE GURINHÉM-PB, 2011.
PADILHA, Mirim Damasceno, Criança não deve trabalhar: a análise sobre o programa
de erradicação do trabalho infantil e repercussão na sociabilidade familiar/ Recife:
CEPE, 2006.
PERNANBUCO, Secretaria de Desenvolvimento Social e Cidadania. Demonstrativo de
Expansão do PETI/2004. Recife-PE: 2004.
PETI de GURINHÉM: http://www.gurinhem.com/noticia?id=72
PETI GURINHÉM: http://www.dialogoroche.com.br/
PORTAL DO MDS: http://www.mds.gov.br/assistenciasocial/peti
QUIRINO, Wilson, Governo da Paraíba: Estatuto da Criança e do Adolescente 21 anos/
Paraíba: Ed. União, 2011.
RENATO, Gilson, Combate ao Trabalho Infantil: Uma Experiência que deu certo a
Paraíba. Ministério Público da Paraíba-PB/Unicef, 2002.
SILVA, Maria Ozanira da S. e. A política brasileira do século XXI: a prevalência dos
programas de transferência de renda. São Paulo: Cortez, 2004.
23
MINI CURRÍCULO
Nome: Jociane Pâmera Coutinho da Silva
Graduação: Curso de Pedagogia - Universidade Estadual da Paraíba – UEPB/CG
Pós Graduação: Especialização em Gestão Pública Municipal – Universidade
Federal da Paraíba-UFPB
Emprego Atual: Sec. Adjunta da Secretaria de Ação Social e Coordenadora
Pedagógica do Projeto Musical Vox Gaudium- (A Voz da Alegria) da Cidade de
Gurinhém-PB / Prefeitura Municipal. Coordenadora Pedagógica do Projeto
Musical Acordes – (Um toque de Vida) da cidade de Guarabira/ Particular.
Contato: [email protected]
24
APÊNDICES
Entrevista 1: Coordenador (a)
Nome:
Endereço:
E-mail: Fone:
1. O que é o PETI?
2. Quais os procedimentos metodológicos utilizados para o planejamento das ações
socioeducativas desenvolvidas no PETI? Quais ações são executadas?
3. Os profissionais do PETI recebem capacitação? Quais e Quantas no decorrer do ano?
4. Quais impactos sociais, econômicos e culturas que o Programa de Erradicação do
Trabalho Infantil- PETI é capaz de causar na vida das famílias contempladas pelo
Programa?
5. Existe uma interação contínua entre profissionais e os pais dos alunos do PETI?
6. O que você mudaria ou acrescentaria no programa?
Entrevista 2: Monitor (a)
Nome:
Endereço:
E-mail: Fone:
1. O que é o PETI na sua Visão Profissional?
2. Por ser uma política pública de prevenção e assistencialismo atende crianças em
situações de risco. Para você o que significa ser monitor(a) do Programa e atender
crianças que fazem parte desse índice de vulnerabilidade social do município?
3. Como são planejadas as ações socioeducativas do PETI?
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4. Há participação dos monitores na elaboração do plano de ação do programa?
Sim ( )Não ( )
5. Como se dá essa participação?
6. Vocês recebem capacitação no decorrer do ano?
7. Gostaria de dar propostas para melhorar a execução do Programa?
Entrevista 3: Beneficiários
Nome: ___________________________________________Idade:_____
1. O que é o programa PETI para Você?
2. Você gota das atividades que pratica no PETI? Qual a que você mais gosta? Porque?
3. As atividades executada no PETI ajuda você cresce como pessoa e a se sentir parte da
sociedade? Justifique.
4. Como você se sente fazendo parte do PETI?
5. Você mudaria algo no PETI? Porquê?