as (im) possibilidades de inclusÃo social no peti

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As (Im)Possibilidades de Inclusão Social No Programa De Erradicação Do trabalho Infantil em Sobral, Ceará, Brasil: A jornada ampliada e a relação com a escola regular The (Im) Possibilities Of Social Inclusion at PETI in Sobral, Ceará, Brasil: Broadened working day and the connection with regular School Andrea Abreu Astigarraga UEVA – Brasil Resumo

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Palavras chave: Trabalho Infantil; Políticas Sociais; Escola; Jornada Ampliada – Formação de Professores As (Im)Possibilidades de Inclusão Social No Programa De Erradicação Do trabalho Infantil em Sobral, Ceará, Brasil: A jornada ampliada e a relação com a The (Im) Possibilities Of Social Inclusion at PETI in Sobral, Ceará, Brasil: Mesmo focalizando nas “piores formas” de trabalho infantil, o Peti não transforma

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AS (IM) POSSIBILIDADES DE INCLUSO SOCIAL NO PETI EM SOBRAL, CEAR, BRASIL: A JORNADA AMPLIADA E A RELAO COM A ESCOLA REGULAR

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As (Im)Possibilidades de Incluso Social No Programa De Erradicao Do trabalho Infantil em Sobral, Cear, Brasil: A jornada ampliada e a relao com a escola regularThe (Im) Possibilities Of Social Inclusion at PETI in Sobral, Cear, Brasil:

Broadened working day and the connection with regular SchoolAndrea Abreu AstigarragaUEVA BrasilResumoO objetivo deste estudo expor algumas (im) possibilidades do processo de incluso scio-educacional de crianas do Programa de Erradicao do Trabalho Infantil (PETI). As principais fontes bibliogrficas foram: Graciani (1997); Gohn (1997); Enguita (1989); e o Manual Operacional do PETI (2000). A metodologia utilizada foi a pesquisa qualitativa de tipo etnogrfica, utilizando tcnicas de observao participante, entrevistas e anlise de documentos. Mesmo focalizando nas piores formas de trabalho infantil, o Peti no transforma significativamente as condies e perspectivas dos seus prprios beneficirios. Os ganhos obtidos poderiam caracterizar uma modalidade de educao compensatria. Pode-se questionar se polticas mais amplas e universais seriam mais eficazes. A anlise do discurso dos monitores da jornada ampliada e dos professores da escola regular demonstra que preciso esclarecer as concepes sobre trabalho e sobre explorao do trabalho infanto-juvenil, a necessidade de critrios mais claros para a seleo de monitores para a jornada ampliada, melhoria nas condies estruturais e nos recursos pedaggicos, necessidade de maior divulgao do Programa na comunidade escolar, articulao entre o Programa e escola regular, elaborao e acompanhamento de uma proposta pedaggica voltada para a incluso scio-pedaggica das crianas nas famlias e na escola, assim como, cursos de formao permanente para os monitores e professores.

Palavras chave: Trabalho Infantil; Polticas Sociais; Escola; Jornada Ampliada Formao de Professores

Abstract This study aims at showing some possibilities of the social-educational inclusion process, for children of the Child Labor Eradication Programme (PETI). The main bibliographic sources were: Graciani (1997); Gohn (1997); Enguita (1989); and PETI Operational Manual (2000). The methodology used was the ethnographic qualitative research, using techniques of participating observation, interviews and analysis of documents. Even focusing on the worst types of child labor PETI doesnt modify the conditions and perspectives of its own beneficiaries. The gains obtained could characterize a modality of compensatory education. Its possible to question, whether more enlarged universal policies could be more efficient. The analysis of monitors discourse of the broadened working day and of the teachers of regular school shows that its necessary to clarify the conceptions about work and about exploitation of child-juvenile labor, the necessity of clearer criteria to select monitors for the broadened working day, improvement in structural conditions and in pedagogical resources, necessity of better publicity of the program in the school community, connection between the program and regular school, elaboration and supervision of a pedagogical proposal intended for the social-pedagogical inclusion of children in their families and school, as well as, continuous training courses for monitors and teachers.

Key Words: Child labor; Social policies; School; Broadened working day; Teachers trainingEste artigo visa relatar o estudo sobre a atuao do Programa de Erradicao do Trabalho Infantil (PETI) no municpio de Sobral, no estado do Cear, especificamente a atuao dos monitores da jornada ampliada e dos professores da escola regular que trabalham com as crianas e os adolescentes vinculados a esse Programa. O objetivo foi analisar as (im) possibilidades do processo de incluso scio-educacional de crianas e adolescentes em situao de trabalho precoce. A pesquisa iniciou em 2002, um ano aps a implantao do programa no municpio. A metodologia utilizada pelas universitrias foi a pesquisa qualitativa de tipo etnogrfica, utilizando tcnicas de observao participante, entrevistas, estudo de documentos e anlise do discurso. Ela desenvolveu-se no perodo que compreende a orientao de iniciao cientfica s monografias de concluso de curso das alunas Letcia Santos e Emanuela Freitas do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual Vale do Acara (UEVA). A relevncia do estudo est em analisar a proposta e a prtica pedaggica do Peti, que pretende articular o ensino regular com a ampliao da perspectiva sociocultural na jornada ampliada. Como contribuio local, a pesquisa, alm de proporcionar s universitrias uma iniciao ao tema que poca era um tanto insipiente no curso de Pedagogia , ajudou a desencadear discusses em torno do delineamento da Pedagogia Social de Rua, sua importncia e caractersticas; a subsidiar a criao do ncleo de movimentos sociais, no mesmo curso; e, principalmente, contribuiu para a formao de educadores voltados especificamente para essa nova modalidade pedaggica.

Como incluso, entendemos o processo de reconhecimento e respeito das diferentes identidades das pessoas e a construo de culturas baseadas na dialtica entre identidade e diferena visando o benefcio da educao para todos. No entanto, preciso diferenciar o termo incluir de integrar.

Na integrao, preparamos um conjunto de meios e estratgias que permitem a uma pessoa integrar-se em uma realidade que no se pe em questo e que a acolhe sem se modificar. A incluso, pelo contrrio, considera que a instituio no pode permanecer olimpicamente serena, aguardando que cheguem at ela. Portanto, no processo de incluso, procura-se que a instituio assuma como seu patrimnio a cultura e as capacidades dos alunos que a freqentam, dando assim precocemente a todos uma experincia de convivncia, respeito e cooperao (Freitas, Krebs & Rodrigues, 2005, p.08).

No contexto da problemtica que envolve as discusses em torno das crianas e dos adolescentes oriundos do trabalho precoce, questionamos se poder haver uma instituio inclusiva em uma sociedade que no o ? Poder ser o Peti uma ilha de incluso em um mar de excluso social? Quais as (im) possibilidades da educao inclusiva no Peti de Sobral?

O Peti de SobralO Peti foi implantado em 1996, pelo Governo Federal. O programa tem como objetivo principal erradicar as consideradas piores formas de trabalho infantil no Pas, ou seja, atividades perigosas, penosas, insalubres ou degradantes (trabalho em carvoarias e olarias, corte de cana-de-acar, plantaes de fumo, lixes, venda ambulante, vigia de carros, entre outros). um programa de transferncia direta de renda do Governo Federal para famlias de crianas e adolescentes envolvidos no trabalho precoce. O Peti concede uma bolsa s famlias dessas crianas e adolescentes com inteno de substituir a renda provinda do trabalho precoce.

As famlias cadastradas no Programa tm o compromisso de matricular seus filhos na escola e incentiv-los a participar da jornada ampliada. Esta compreende atividades esportivas, ldicas e culturais, complementao dos estudos, educao ambiental e ligada rea da sade e alimentao. Alm do horrio escolar regular h, no mnimo, trs horas extras por dia de atividades da jornada ampliada.

Pretendemos verificar como se efetiva o Peti, que considerado um novo paradigma brasileiro de polticas sociais (Carvalho, 2003, p.07), especificamente no municpio de Sobral. Para tal, questionamos em que medida as atividades educativas esto respondendo s propostas do Peti? De que forma a organizao do trabalho est influenciando na formao educativa das crianas e adolescentes? Que limites e possibilidades os monitores e professores enfrentam no cotidiano da atuao pedaggica? Como se d a articulao entre o Peti e a escola regular?

Considerando-se que o Peti [...] um dos programas mais importantes da chamada rede de proteo social construda pelo governo federal na dcada de 90, com uma nova perspectiva de tratamento da questo social no Brasil [...] (Carvalho, 2003, p. 10), passamos a analisar a atuao desse Programa e da escola regular. Como o funcionamento da jornada ampliada? Quais as dificuldades e as solues encontradas pelos monitores e professores da escola regular? At que ponto essas dificuldades inviabilizam a proposta de incluso social das crianas e dos adolescentes egressos do trabalho infantil?

No Projeto Tcnico do Peti, realizado em 2001, as autoridades competentes da administrao local justificavam a criao do Programa no municpio, considerando que, em Sobral, [...] tem se tornado cada vez mais freqente o nmero de crianas e adolescentes que buscam sua prpria sobrevivncia e/ou de seu grupo familiar, nas ruas, praas e reas de maior concentrao populacional, atravs de biscates, vendas ambulantes, etc. ( Sobral, 2001, p. 05).

Na poca, as crianas e adolescentes trabalhavam no que se denomina no Peti de modalidades ambulantes, ou seja, catadores de lixo e ferro velho, flanelinhas, engraxates e vendedores. Alm das aes previstas pelo Programa (jornada ampliada, bolsa cidad e trabalho com as famlias), foram implantados escola de futebol, atendimento psicolgico e assistncia social. A jornada ampliada oferecida em seis ncleos, de acordo com o local de residncia das famlias cadastradas

A populao atendida pelo Peti de Sobral faz parte de um nmero considervel de crianas e adolescentes que estavam nas ruas vinculadas ao trabalho precoce para obteno de renda complementar ou total sua subsistncia e de sua famlia. So sujeitos deslocados de sua condio existencial, pois, de acordo com especialistas da rea, nessa fase da vida imprescindvel o convvio familiar, a experincia constante com o ldico e a escolarizao regular.

Na mesma ocasio da implantao do Programa, publicamos uma anlise dos dados estatsticos apresentados pela Secretaria de Ao Social, cujo indicador de 270 indivduos, entre crianas e adolescentes, parecia ser um nmero totalmente possvel de reinsero nas famlias e na escola regular, o que motivou uma aproximao maior do fato atravs da pesquisa emprica que passamos a descrever.

A atuao dos professores da escola pblica

A obteno de dados com os professores da escola pblica foi realizada pela universitria Emanuela Freitas, atravs de entrevistas, e da realizao de uma oficina pedaggica. Partimos do pressuposto de que havia um processo de insero de crianas e adolescentes com experincia de trabalho precoce na escola regular e que esse processo era realizado pelos profissionais inseridos no Peti e na escola pblica. No entanto, quando estabelecemos o primeiro contato com a coordenadora pedaggica da escola para expor os objetivos e procedimentos da pesquisa, ela alegou que os professores desconheciam as propostas do Peti e no sabiam identificar os alunos inseridos no programa que freqentavam sua sala de aula, o que nos levou ao redimensionamento da abordagem adotada.

Ao invs de partimos da certeza que havia atuao e articulao para o acesso, a permanncia e o sucesso escolar da criana e do adolescente (Manual Operacional do Peti 2001, p.04), passamos ao dilogo e interao com os professores sobre o tema, a fim de trocar conhecimentos e propor idias sobre o processo de insero dos meninos. Afinal, como esse objetivo poderia ser alcanado se parte significativa da comunidade escolar desconhecia no s os alunos vinculados ao Programa, mas as prprias propostas pedaggicas contidas nele? Que conseqncias esse desconhecimento poderia trazer ao processo educativo dessas crianas e desses adolescentes?

O foco da pesquisa foi a concepo que os professores da escola pblica tinham sobre o Peti, sobre o trabalho infantil, as maiores dificuldades que encontram e a metodologia utilizada no ensino das crianas e adolescentes vinculadas ao Programa.

A maioria dos professores manifestou averso explorao do trabalho infantil e s conseqncias nefastas ao desenvolvimento das crianas e dos adolescentes, como podemos constatar no depoimento a seguir:

O trabalho infantil s prejudica a criana. Tenho um aluno que passava a aula toda dormindo. Pensei que ele tomasse algum remdio que o deixasse com sono e um certo dia perguntei: Por que voc passa a aula toda dormindo? E ele respondeu: Tia, eu trabalho at uma hora da manh e acordo s seis horas para vir aula (Professora A).

Vrios professores explicam, contextualizam o fenmeno do trabalho infantil como conseqncia da realidade estrutural capitalista da sociedade brasileira: O sistema capitalista empurra as crianas para o trabalho, ou Muitas vezes a criana obrigada a trabalhar por causa da necessidade de sobrevivncia, ou O trabalho infantil faz parte da desigualdade social.Percebe-se que h certa unanimidade entre os professores sobre os efeitos nefastos do trabalho precoce, as causas estruturais que empurram os meninos para ele e a necessidade de articulao entre o Peti e a escola para atingir os objetivos daquele. No entanto, um dos professores, ao expressar sua opinio a respeito do trabalho infantil, declara: O trabalho ensina a criana. Ela aprende que para vencer na vida preciso trabalhar muito..

Esse depoimento suscitou uma srie de questes, tais como: Qual a relao que existe entre trabalho e educao? O trabalho sempre ensina? Toda forma de trabalho negativa? Qual a concepo de trabalho e educao subjacente prtica pedaggica dos monitores da jornada ampliada e dos professores de escola pblica que ensinam crianas vinculadas ao Peti?

Se nos reportarmos aos princpios da perspectiva liberal de formao do trabalhador produtivo, identificaremos nessa fala um contexto subliminar de competio, a desigualdade social, a idia de trabalho como sacrifcio e uma educao voltada para o ensino profissionalizante. Ao contrrio da perspectiva socialista, onde o trabalho essencialmente um elemento constitutivo do ensino, ou seja, segundo Gramsci, estudo tambm trabalho. Pode ser que esses dois paradigmas antagnicos sobre educao e trabalho no estejam claros na elaborao feita pelo professor e ele se apie na opinio do senso comum sobre trabalho.

A concepo de formao humana reflete-se no contexto escolar. Se no incio das transformaes socioeconmicas a escola desligou-se de seus objetivos originrios de formao humanstica do homem integral, atualmente, em nosso contexto, ela no est muito diferente.

A carncia de boas escolas nas reas mais pobres, os contedos distanciados da realidade das crianas que vivem nessas reas, a falta de perspectivas para a continuidade dos estudos levam repetncia e evaso, contribuindo significativamente para o ingresso precoce no mercado de trabalho. (Mazzoti, 2002, p. 91).Os professores relacionam o tema com a participao dos pais e a atuao do Peti no processo escolar das crianas e dos adolescentes, avaliando que h necessidade de maior esclarecimento das famlias sobre o verdadeiro propsito do Peti, assim como uma atuao mais incisiva e afirmativa por parte da equipe que compe o Programa.

A falta de acompanhamento dos pais contribui para piorar ainda mais a situao desses alunos. O Peti, alm de trabalhar com a criana, tem que trabalhar com as famlias tambm. Muitas famlias acham que o Peti um projeto que vai sustentar a famlia e no nada disso. Elas acham que a criana sai da rua para ganhar aquela determinada quantia do Programa, mas a mesma criana pode deixar de ir para a escola no Sbado e no Domingo e voltar rua. Acho que esses pontos devem ser esclarecidos para as famlias. Essa criana precisa estar na escola e a famlia precisa acompanhar porque assim em toda democracia, existem direitos e deveres. Ento, o direito da criana estudar, o dever da famlia cuidar e o Peti est dando uma assistncia (Professora B).

Geralmente as famlias so responsabilizadas no apenas por no dar assistncia ao aluno oferecer um acompanhamento individualizado nas tarefas escolares , mas tambm por contribuir para o desinteresse pela escola, na medida em que no estimulam nem cobram dos filhos um bom desempenho escolar. Mas, ao mesmo tempo, so reconhecidas em suas atitudes zelosas:

Os meninos do Peti, embora sejam meninos que trabalhavam, tm uma coisa interessante, tm alguns pais que quando a criana est na escola tm a responsabilidade de mant-los na instituio. bem verdade que a maioria das famlias dessas crianas no participa de sua vida escolar como deveriam, mas tambm existem aquelas que fazem questo de estarem presentes no desenvolvimento escolar de seus filhos (Professora C).

Alm disso, a sobrecarga fsica e mental que os meninos enfrentam no seu dia-a-dia, a falta de moradia adequada que oferea um ambiente de estudo apropriado e necessrio para a execuo das tarefas escolares, dentre outros fatores, exprimem as dificuldades encontradas para que possam investir nesse desejo de aprender algo na escola.

Os professores criticam a atuao do Programa e fazem sugestes para o funcionamento mais adequado com atividades informativas e formativas para os pais e para os profissionais da escola. Os professores denunciam a fragilidade do Programa, mas tm esclarecimento sobre a importncia de haver uma articulao mais eficiente e mais eficaz entre o Peti e a escola:

O Peti tem que ser levado mais srio pelos coordenadores. Estar mais dentro das escolas, trazer palestras, divulgar o trabalho nas reunies de pais, estarem presentes. Na nossa escola, ns temos uma grande quantidade de crianas e estamos percebendo que elas esto faltando muito s aulas. Sendo assim, eles teriam que ter mais responsabilidade porque o programa prev o recebimento da bolsa com a freqncia s atividades. A coordenao do Peti e a escola teriam que trabalhar juntas (Professora A).

Em relao ao processo de ensino-aprendizagem, os professores afirmam que so muitas as dificuldades encontradas pelos meninos para aprender e pelos professores para ensinar. Tambm a falta de disciplina, de motivao e o desinteresse contribuem para essas dificuldades, gerando o que os professores denominam atraso escolar: Alguns alunos demonstram dificuldade at mesmo em copiar o texto, demonstram certa dificuldade em se concentrar na hora da explicao e em alguns momentos demonstram desinteresse.Quando questionados sobre a relao entre as experincias curriculares e extracurriculares das crianas e dos adolescentes, os professores relataram que a escola trabalha em cima da realidade dos alunos (Professora D) Todas as experincias so importantes (Professora B) ou A escola respeita a individualidade de cada um e valoriza o que o aluno j aprendeu antes da escola (Professora A).No entanto, outros discordaram, afirmando que apenas alguns professores trabalham assim (Professora C) ou que alguns professores buscam fazer esse trabalho, explorando e valorizando essas experincias, mas no geral, a escola ainda deixa a desejar, pois muitas vezes sua proposta pedaggica no sai do papel (Professora D).O diagnstico sobre a realidade onde est inserido cada aluno e a incorporao de suas vivncias ao currculo oficial deveria ser feitos pelo professor no apenas como tarefa tcnica, mas tambm como compromisso poltico.

O problema de escolarizao de meninos de crianas e adolescentes com experincia de trabalho precoce encarado como descaso das autoridades pblicas com a educao infantil: Enquanto os defensores pblicos, vamos dizer, os prefeitos, os vereadores, no derem uma educao infantil de qualidade, ns teremos sempre problemas no ensino fundamental, porque como voc tratar de um paciente sem ir direto causa (Professora B).

A participao da escola para a formao humana considerada fundamental pelos professores. Quando indagados sobre isso, foram unnime em apontar a escola como a nica instituio capaz de transformar os meninos em verdadeiros cidados, fazendo-os conhecer seus direitos e deveres para com a sociedade.A escola o local onde esses meninos tm a oportunidade de ter acesso aos vrios tipos de conhecimentos pedagogizados [sic] pela escola e com o conhecimento que eles adquirem fora da escola, podero criar e construir novos conhecimentos. A escola tem um papel fundamental na formao desses jovens. Foi atribuda a ela no somente a formao intelectual, mas tambm a humana e a moral (Professora E).

No que diz respeito metodologia utilizada em salas de aula que contm crianas e adolescentes vinculados ao Peti, os professores afirmam no haver necessidade de uma metodologia voltada especificamente a eles:

O comportamento deles como de uma criana comum. Eles tm a mesma necessidade, dentro da escola, de brincar, de aprender, o comportamento o mesmo. rara a exceo de um que estava na rua, que usou droga, ento ele tem um comportamento diferenciado, mais agitado, a gente tenta conversar com ele. Tratar em termos de conversa diferente (Professora C).

No h necessidade de uma metodologia especfica aos meninos do Peti. Eles so crianas iguais s outras. Ento, no preciso ensinar diferente! (Professora A)

No h diferena entre esses alunos e os demais. Eles tm o mesmo tratamento, no diferenciado. A partir do momento em que eles deixam de trabalhar na rua, mesmo a gente sabendo que eles tm necessidades diferenciada dosdos diferenciadas dos demais. Mas dentro da escola ele um aluno como outro que no tem experincia de trabalho precoce (Professora D).

Se ns criarmos uma metodologia para os meninos do Peti, ns teremos que criar uma metodologia para os meninos da Bolsa Escola, etc. Eu entendo que corre-se o corre-se o riscocorisco de se criar vrias metodologias dentro de uma escola s, e pode-se perder e no chegar a um objetivo geral (Professora B).

A criao de uma metodologia especfica pode suscitar nos demais alunos algum tipo de preconceito, pois toda a diferena sempre questionada e com relao aos meninos do Peti, essa diferena poderia gerar preconceito (Professora E).

Esses depoimentos expressam certa confuso nos conceitos de igualdade antropolgica e diferenas socioeconmicas e culturais criadas ao longo da histria, em decorrncia do sistema capitalista estruturado em classes sociais antagnicas. No h dvida de que o lugar das crianas na escola. Mas em uma escola que esteja preparada para receber essa diferena em seu seio quase sempre normatizante, ou seja, uma escola que possa se adequar s reais demandas da criana e do adolescente oriundos do trabalho precoce.

Para Ramos (1999, p. 38), [...] essas crianas e jovens precisam mais do que igualdade de oportunidades. Carecem de programas especiais de recuperao do atraso escolar e ateno individual por parte das escolas. Na opinio de Graciani (1997, p. 165):

[...] a educao escolar da criana de rua trabalhadora se relaciona muito mais com o acesso escola. As condies intra e extra-escolares no favorecem o sucesso da criana das classes populares nas sries iniciais da escolarizao, principalmente as crianas de rua. A escola pblica no est preparada para lidar com a realidade do trabalhador-aluno, muito menos o advindo da rua.Portanto, uma relevante discusso sobre incluso social e educacional. necessria a elaborao e construo de uma Pedagogia Social que abranja segmentos da sociedade excludos do processo educativo regular, principalmente na formao de professores para que tenham subsdios terico-prticos em sua atuao.

A jornada ampliada do PetiA monografia da universitria Letcia Santos abordou o estudo da jornada ampliada em dois ncleos do Peti: um no centro da cidade e outro no bairro Sinh Sabia. Aps um ano de funcionamento, no havia levantamento estatstico sobre o perfil da populao atendida pelo Programa, o que a levou a se dedicar mais s observaes participantes nos ncleos onde a jornada ampliada era desenvolvida para conhecer melhor as crianas e adolescentes. Eles no diferem muito das crianas e dos adolescentes atendidos nos demais programas do pas. Pertencem classe social pobre, a maioria tem pais com baixo ndice de escolarizao, muitos desempregados, vrios adictos de drogas e muitas famlias chefiadas por mulheres provedoras do lar.

Inicialmente, a aproximao com as crianas e os adolescentes no foi fcil. A percepo inicial deles era que a universitria estivesse no ambiente para fiscaliz-los ou puni-los por algum comportamento realizado no local. Muitas vezes se sentiam invadidos pela presena de pessoas estranhas ao cotidiano e diziam diretamente que no gostavam da universitria. Mas a metodologia do tipo etnogrfica oportunizou a aproximao e convivncia com eles e com os monitores dos ncleos.

Os ncleos e o perfil das crianas e dos adolescentes

No ncleo do S.O. S Criana, localizado no centro de Sobral, havia 41 crianas e adolescentes entre sete e quinze anos, sendo a maioria do sexo masculino. Entre os monitores, esse ncleo era considerado o pior para trabalhar porque nele estava os adolescentes mais problemticos, mais barra pesada. So crianas e adolescentes agitados, hiperativos e de emoes fortes e variadas, que oscilam repentinamente entre alegrias e agressividades. Freqentemente questionam e parecem no depositar muita confiana no que os monitores dizem. Suas descrenas so fruto da descontinuidade dos programas sociais anteriores pelos quais passaram e pela permanncia de sua situao existencial que se arrasta e pouco muda. Isso se expressa na baixa auto-estima expressa em vrias situaes.

Percebeu-se que as crianas e os adolescentes ficavam ressentidos com a grande descontinuidade de monitores, muitos trabalhavam no mximo dois dias e desistiam. Os equipamentos estavam muito danificados. Os meninos ameaavam agredir sexualmente meninas e monitoras. A grande maioria dos monitores era composta por mulheres e ficavam assuntadas, no se sentiam aptas a trabalhar com o grupo atendido pelo ncleo do centro da cidade e, em certa ocasio, solicitaram um guarda municipal para o local, to grande era a insegurana. Toda essa situao aumentava o sentimento de rejeio e gerava situaes agressivas e constrangedoras.

No ncleo do Bairro Sinh Sabia, havia 20 crianas e adolescentes considerados mais tranqilos e menos agressivos. Demonstravam muito interesse pela aula de percusso, mas havia descontinuidade nas aulas porque o monitor de msica no entrava em acordo com a Prefeitura em relao ao seu salrio. Um dos objetivos da jornada ampliada [...] fomentar e incentivar a ampliao do universo de conhecimentos da criana e do adolescente por meio de atividades culturais, desportivas e de lazer (Manual Operacional do Peti, 2000, p.10). No entanto, percebeu-se nos ncleos pobreza na oferta de atividades e de monitores para o desenvolvimento dessas atividades.

Sobre o nvel de escolarizao dos meninos e adolescentes, mais de 50% estavam freqentando a srie fora da sua faixa etria. Mesmo os que freqentavam escola regular, cursando a srie de acordo com a faixa etria, apresentavam muita dificuldade na aprendizagem, tanto na leitura quanto na escrita.

A atuao dos monitores: limites e possibilidades

O Manual Operacional do Peti indica que a seleo dos profissionais [...] de absoluta competncia do municpio que se responsabilizar pelos monitores que trabalharo na jornada ampliada. Os critrios de seleo, no entanto, devem ser negociados com a Secretaria Estadual de Educao. (Manual Operacional do Peti, 2000, p. 29). As monitoras, no entanto, foram recrutadas para o trabalho no Programa de maneira diversa. Uma trabalhava na antiga Fundao para o Bem-Estar do Menor do Cear (FEBEMCE) e recebeu o convite diretamente da secretria de ao social do municpio. A outra se tornou monitora por indicao de um amigo: Eu conhecia o coordenador da Associao Benedito Tonho. Ele falou do programa para mim e por eu j ter experincia com esse tipo de trabalho, ele me indicou. A falei com a coordenadora do Peti, ela me entrevistou e a em menos de uma semana ela me chamou para trabalhar no Peti (Monitora B).

Mediante tais depoimentos, verifica-se que no ficam bem esclarecidos os critrios adotados pelo Programa local para seleo dos monitores e coordenadores.

A entrevista prevista na pesquisa foi realizada apenas com uma das monitoras do Peti devido incompatibilidade de horrios entre a universitria e uma das monitoras. A pergunta inicial foi sobre a concepo da monitora sobre o Programa e sobre a jornada ampliada. admirvel a falta de clareza de suas idias sobre o Programa. Percebe-se isso na utilizao da palavra erradicar: O Peti para mim, o prprio nome j diz, erradicao do trabalho infantil. Realmente eu estou tentando erradicar essas crianas [sic] da melhor maneira possvel (Monitora A). E, quanto jornada ampliada:

A jornada ampliada funciona da seguinte maneira, sendo para atender a sociedade ao todo, ela significa o todo, o adolescente. A jornada ampliada faz vice-versa com a escola. O diretor pergunta se o menino est na escola, pergunta qual a dificuldade que a gente pode ajudar e nas reunies ele convida a gente e a gente convida o diretor (Monitora A).As atividades na jornada ampliada previstas pelo Peti, ou seja, atividades que envolvam o desenvolvimento ldico e cultural, esportivo, educao para a sade, ambiental e complemento nos estudos praticamente no foram realizadas durante o perodo de observao.

Ao ser questionada sobre as maiores dificuldades enfrentadas em sua atuao, a monitora citou a carncia de monitores capacitados para atuar no Programa, o valor irrisrio do salrio, o atraso no pagamento dos monitores, a dificuldade em desenvolver atividades planejadas devido ao elevado nmero de crianas e adolescentes com faixa etria variada, a precariedade dos equipamentos, a falta de recursos pedaggicos, a falta de acompanhamento e o aparente desinteresse da coordenao local pelos assuntos ocorridos nas jornadas ampliadas. Este ltimo aspecto parece ser um dos mais problemticos:

O ponto positivo da jornada a alimentao, o material e um pouco de apoio da coordenao central. O ponto negativo a falta de contato da coordenao local com a gente. Ela falha em tudo com a gente, em quase tudo. Quando a gente chama para uma reunio elas falam que so muitos os problemas e que no somente no nosso plo que tem problema. Ento elas dizem que resolvem na medida do possvel. O nosso plo precisa de uma ateno maior que no meu ponto de vista no d para esperar e claro que atrapalha... se no d pra elas resolverem, atrapalha a gente. Por exemplo, se ns estivermos fazendo uma programao, acontece um incidente com o menino, a gente passa pra elas, aquele incidente vai ficar parado por algum tempo, at elas se desocuparem do que elas esto fazendo para atender a gente, a atrapalha (Monitora A).

Sobre a atuao pedaggica, a monitora descreve um comeo difcil, por ter iniciado trs meses depois de o Programa entrar em funcionamento, mas, principalmente, pelo comportamento dos meninos, que inviabilizam o andamento das atividades, inclusive a resoluo das tarefas da escola regular:Ento, quando eu cheguei, as crianas eram totalmente rebeldes, daquelas que quando chegava perto, a reao delas era tapa, belisco e agora eles esto mais calmos. No sei te responder se pelo convvio com a gente ou se alguma produo minha. Porque agora eles j conversam, j sentam um pouco, antes eles no sentavam nenhum minuto, agora j sentam 40, 50 minutos. Eles j atendem, j obedecem. Agora no quebram mais as coisas e, se quebram, assumem, acusam quem foi que quebrou. J tem uma mudana tima. O nico problema so os bagunceiros que toda sala tem. Eles brincam, brincam, brincam. A, quando resolvem fazer o dever da escola j tarde demais. s vezes, nem deixam eu fazer, nem fazem, a sempre fica para o outro dia (Monitora A).

Se no depoimento acima h indcios de uma postura pedaggica espontanesta, no depoimento posterior, fica clara a referncia a procedimentos da escola tradicional (castigos, recompensas e suspenses):

Para conquistar a ateno dos meninos, para os danados eu dei o castigo de no dar ouvidos ao que eles queriam. Sempre eu fazia dando alguma coisa em troca. Por exemplo, faz a tarefa, vai brincar mais cinco minutos no recreio. Uma vez dei uma semana de suspenso a um menino porque ele me chamou de macaca. Pedi que a me dele viesse falar comigo, mas ela no veio. Passou a semana de suspenso e ele voltou pra sala de novo (Monitora A).

A respeito da metodologia utilizada na jornada ampliada, a monitora declara que so organizadas de acordo com as datas comemorativas, e, de acordo com sua descrio, so extrovertidas, sem um planejamento prvio, com carter espontanesta:Da forma mais extrovertida possvel, deixo vontade, brinco e minhas tarefas so bem soltas, trabalho com pinturas, por exemplo. Dou um tema para eles desenharem, mas no cobro aquele trabalho bem feito. Se for o dia do ndio, eles vo desenhar qualquer ndio possvel, seja ele vestido com penas ou sem penas. So as datas comemorativas que eles vo desenhar (Monitora A).

O mesmo procedimento reforado durante as atividades extras curriculares, por exemplo, na Casa da Cultura do municpio, no Beco do Cotovelo e na Feira Municipal do Artesanato. A monitora conta que, durante essas atividades, o comportamento das crianas e adolescentes, no incio, [...] foi horrvel, uma humilhao. S que a gente insistiu e agora eles esto sendo premiados pelo comportamento. Tem baguna, mas j diminuiu. baguna normal de menino.. Ao avaliar o seu perodo de um ano nas atividades da jornada ampliada, a monitora afirma:

Houve um ndice de 80% no aproveitamento e no comportamento dos meninos e meninas desde a sua chegada ao ncleo porque no incio das atividades, eles eram desrespeitosos, indisciplinados e bastante ouriados. Agora eles j conversam, j sentam, j obedecem.

Eu analiso o meu trabalho de um tempo para c muito dificultoso pelo fato de ter 70 meninos e monitor nenhum fica. Ento, eu sozinha no posso fazer muita coisa. Eu preciso dividir a turma porque tm meninos pequenos. Ou eu atendo os pequenos ou os grandes (Monitora A).

E sugere que para haver um melhor aproveitamento das crianas e adolescentes na jornada [...] seria melhor ter confeco de algum material, trabalho artesanal, desenhos, dana, educao artstica.

A atuao da escola pblica analisada pela monitora como incua por no efetivar seu objetivo de educar e alfabetizar os meninos, projetando essa responsabilidade nos profissionais do Peti:

A escola no ajuda porque ela faz deles como peteca. O Peti no uma escola, como o prprio nome diz uma erradicao [sic]. A gente est l acompanhando, complementando, tirando dvidas, dando temas transversais para que eles no fiquem de manh na escola e tarde tambm. Ento, a escola regular no procura saber se aquele menino est realmente aprendendo de verdade. Empurra para o pessoal do Peti, ento o Peti est tendo uma responsabilidade muito grande de reeduc-los, de alfabetiz-los porque a maioria dos meninos e meninas no sabe ler e escrever (Monitora A).

Por fim, a monitora declara ter participado apenas de um curso de capacitao, no incio do Programa, e que, apesar de estar previsto nas diretrizes do Peti, no foi oferecido nenhum outro.

Partindo de uma perspectiva dialtica que implica na tentativa de compreenso total da realidade, operando com o movimento que vai do todo para as partes (estudos macrossociais), e das partes para o todo em realidades especficas (microssociais) , concordamos com Carvalho (2003) que, no que se refere ao Peti no mbito nacional, reafirma-se a importncia do combate ao trabalho precoce, cuja face cruel o Programa tornou mais evidente, desmistificando e combatendo, inclusive, a sua naturalizao como sina das crianas pobres. Sendo assim, a retirada de crianas e adolescentes de ocupaes penosas e degradantes, em vrios municpios brasileiros, viabilizando sua permanncia na escola e, atravs da jornada ampliada, o seu acesso s atividades recreativas, esportivas e culturais, ampliando o seu capital cultural e seus horizontes, no pode ser menosprezada. Mas, pode-se questionar se polticas mais amplas e universais seriam mais eficazes, como um programa de renda mnima para as famlias condicionadas freqncia de seus filhos escola e pesados investimentos para a melhoria desta.

Como foi visto, mesmo focalizando nas piores formas de trabalho infantil (quando todas elas tendem a ser negativas), o Peti deixa de lado uma grande parcela da sua clientela potencial e no transforma significativamente as condies e perspectivas dos seus prprios beneficirios. Os ganhos obtidos quanto nutrio, estmulos socioculturais e a prpria escolarizao tendem a ser relativamente restritos e temporrios, o que poderia caracterizar uma modalidade de educao compensatria.

Freqentando a escola pblica com pouca qualidade (que no estimula a permanncia e a dedicao) e trabalhando no turno complementar, ao ingressar no Peti, as crianas e os adolescentes apresentam um atraso escolar que raramente pode ser compensado, ainda que a jornada ampliada funcionasse como um suporte para a escola. Ao atingir a idade-limite para a permanncia no Programa, a maioria no chega a concluir o ensino fundamental e, aps o desligamento, sem maiores perspectivas e tendo que contribuir para a subsistncia da famlia, poucos continuam a estudar, persistindo com baixos nveis de escolaridade, restritas oportunidades ocupacionais e reproduzindo o ciclo de pobreza do pas. O Peti contribui para o alvio dessa pobreza, mas sem efeitos expressivos sobre a sua superao.

Observaes finais

Sem desconsiderar o contexto macroestrutural do Brasil, cujas polticas de atendimento s crianas e aos adolescentes egressos do trabalho infanto-juvenil esto inseridas, focamos nossa anlise no aspecto formativo oferecido a esses sujeitos.

A partir da etnografia educacional e da anlise do discurso dos professores e monitores que atuam no Peti de Sobral, podemos inferir que existe uma lacuna entre a compreenso e a prtica pedaggica nos profissionais ligados ao Programa, sejam coordenadores, monitores ou professores. A proposta formativa que se vislumbra teoricamente como progressista, humanista, emancipadora, na prtica cotidiana esbarra em diversos obstculos. Entre eles, a no apropriao dos profissionais destes pressupostos, provocando equvocos e incoerncias entre a proposta e a prtica cotidiana. A anlise do discurso dos professores da escola pblica e dos monitores da jornada ampliada do Peti de Sobral deixa algumas lies, como a necessidade de critrios mais claros para a seleo de monitores para a jornada ampliada, melhoria nas condies estruturais e nos recursos pedaggicos da jornada, necessidade de maior divulgao do Programa na comunidade escolar, maior atuao dos coordenadores, articulao entre o Programa e escola regular, elaborao e acompanhamento de uma proposta pedaggica voltada para a incluso scio-pedaggica das crianas e dos adolescentes nas famlias e na escola, assim como, cursos de formao permanente para os monitores e professores.

Dessa forma, o que poderia ser uma possibilidade de minimamente concretizar o princpio da disposio da Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional sobre a escola em tempo integral, acaba dando continuidade s prticas apoiadas em concepes conservadoras que ao longo da histria buscamos eliminar.Referncias Bibliogrficas:Brasil (2000). Ministrio da Previdncia e Assistncia Social. Manual Operacional do PETI. Braslia.

IV Conferncia Nacional dos Direitos da Criana e do Adolescente. Diretrizes nacionais para a poltica de ateno integral infncia e adolescncia. 2001/2005. Braslia, outubro de 2002. No Word Wibe Web: www.anped.gov.br

Carvalho, I. M. M. Algumas lies do programa de erradicao do trabalho Infantil. Scielo (Scientific Eletronic Library Online): No Word Wide Web:www.scielo.br Revista Eletrnica de Cincias Sociais, 2003. S/d

Cruz, Roberto Moraes. Formao profissional e formao humana: os (des) caminhos da relao homem-trabalho na modernidade. In: AUED, B. (Org.). (1999). Educao para o (des) emprego. Petrpolis-RJ: Vozes, p. 01-150.

Castro, M. R. (1997). Retricas de rua: educador, criana e dilogos. Rio de Janeiro: Ed. Universitria Santa rsula; Amais Editora.Damasceno, M.N & Sales, C.V (Coords.). (2005). O caminho se faz ao caminhar: Elementos tericos e prticas na pesquisa qualitativa. Fortaleza CE - Brasil: Editora da UFC; Coleo Dilogos Intempestivos. Graciani, Maria Stela. (1997). Pedagogia social de rua: anlise e sistematizao de uma experincia vivida. So Paulo: Cortez.Freitas, S.; Krebs, R & Rodrigues, D. (Orgs.). (2005). Educao inclusiva e necessidades educacionais especiais. Santa Maria: Editora da Universidade Federal de Santa Maria RS - Brasil.Mazzotti, Alda Judith. (1996). Representaes dos educadores sociais sobre os meninos de rua. Revista Brasileira de Estudos Pedaggicos, Braslia, DF, v. 77, n. 187, p. 477-496, set./dez.

Mazzotti. (2002). Repensando algumas questes sobre o trabalho infanto-juvenil. In: Revista Brasileira de Educao ANPED RJ, Editora Autores Associados, jan./fev./mar/abr., n.19.Sobral, Prefeitura Municipal. (2001). Projeto Tcnico do Peti. Prefeitura Municipal de Sobral

Ramos, Lilian Maria. (1999). Educao de Rua: o que o que faz o que pretende? Rio de Janeiro: Amais Editora.

Notas:

A Jornada ampliada do PETI no municpio de Sobral - CE, de Letcia Gomes dos Santos, e Concepo dos professores sobre o PETI em uma escola pblica de Sobral - CE, de Emanuela Cristina Gomes Freitas, concludas em 2003.

O programa prov a Bolsa-Cidad, que garante R$25,00 a cada criana que freqenta escola, nas zonas rurais, e R$40, 00, s crianas nos centros urbanos. As crianas e adolescentes precisam ter freqncia escolar de no mnimo 75% e cada famlia pode receber benefcios por at trs crianas. Tambm h trabalho de gerao de renda para as famlias com cursos profissionalizantes, alm de assessoria tcnica e programa de crdito popular.

Associao Comunitria Benedito Tonho, no Bairro Campo dos Velhos; Plo de Atendimento do Bairro Dom Expedito; Casa de Passagem Joo e Maria, no Centro da cidade; Unidade Produtiva So Paulo, no Bairro Padre Palhano; Associao Comunitria da Cohab II, no Bairro Sinh Sabia; e Plo de Atendimento do Bairro Expectativa.

A oficina pedaggica realizou-se na Escola Ivonir Aguiar, no dia 31 de maio de 2003, com 20 professores graduados, dos quais 80% ps-graduados, indicados pela coordenadora pedaggica da escola como professores de crianas e adolescentes vinculados ao PETI.

Nota Sobre a Autora:

Andrea Abreu . Astigarraga. UEVA, Brasil

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