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FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ÁREA DE CONCENTRAÇÃO - POLÍTICAS PÚBLICAS E SAÚDE PROGRAMA DE ALIMENTAÇÃO DO TRABALHADOR - PAT ESTUDO DO DESEMPENHO E EVOLUÇÃO DE UMA POLÍTICA SOCIAL MARIA HELENA OLIVEIRA DA SILVA ORIENTADOR: PROF. DR. EDUARDO NAVARRO STOZ

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FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO - POLÍTICAS PÚBLICAS E SAÚDE

PROGRAMA DE ALIMENTAÇÃO DO TRABALHADOR - PAT

ESTUDO DO DESEMPENHO E EVOLUÇÃO DE UMA POLÍTICA

SOCIAL

MARIA HELENA OLIVEIRA DA SILVA

ORIENTADOR: PROF. DR. EDUARDO NAVARRO STOZ

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO - POLÍTICAS PÚBLICAS E SAÚDE

PROGRAMA DE ALIMENTAÇÃO DO TRABALHADOR - PAT ESTUDO DO DESEMPENHO E EVOLUÇÃO DE UMA POLÍTICA SOCIAL

MARIA HELENA OLIVEIRA DA SILVA

Orientador: Prof. Dr. Eduardo Navarro Stoz

Dissertação de Mestrado orientada pelo Professor Eduardo Navarro Stotz, como pré-requisito para a obtenção do grau de Mestre em Saúde Pública, pela Escola Nacional de Saúde Pública.

Rio de Janeiro, 04 de maio de 1998.

RESUMO

A proposta deste trabalho é analisar o desempenho de uma política social

específica – a política de suplementação alimentar do trabalhador inserido no

mercado formal de trabalho. Essa política, subsidiada pelo governo brasileiro

através do Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT), é estudada aqui com

base em dados consolidados no período compreendido entre 1977/95 e na

avaliação de atores relevantes.

Políticas de suplementação alimentar para trabalhadores urbanos foram

implementadas em nosso país desde o Estado Novo. Melhorias nas condições de

vida e saúde dos trabalhadores e aumento da produtividade são objetivos

recorrentes na definição dessas políticas ao longo da história.

Observamos que, em cada mudança nos contextos político e econômico, as

características dos programas foram alteradas, satisfazendo a interesses do Estado,

a interesses das classes dominantes e a pressões dos movimentos sociais.

O PAT alcança maior abrangência a partir de meados da década de 80. O

paradoxo de uma política que se expande em um contexto mundial de retração da

política social do Estado é examinado à luz das particularidades da conjuntura de

redemocratização no Brasil, a saber, da presença de um forte movimento operário-

sindical, lutando por objetivos econômicos, sociais e políticos específicos.

O Orietador deste foi o trabalho foi o Professor Doutor Eduardo Navarro Stotz, A tese possui 148 páginas, foi defendida e aprovada em 04/05/98. Sendo verdade, subscrevo-me:

______________________________ Maria Helena Oliveira da Silva

ABSTRACT

The proposal of this work is to analyze the performance of a specific social

policy – the food supplementation of the worker in the formal labor market. This

policy subsidized by the Brazilian government trough the Worker’s Feeding

Program (PAT), is studied here based on data consolidated on the period between

1977 and 1995 and on the valuation of relevant actors.

Feeding supplementation policies for urban workers have been

implemented in our country since the New State. Improvements in the worker’s

living and health conditions and increase of productivity are appealing objectives

on definition of these politics throughout the history.

We can observe that, in each change in the political and economical

context, the characteristics of the programs were altered, meeting the interests of

the State, the interests of the dominant classes and the pressures of the social

movement.

The PAT reaches a higher extension as of the mid 80’s. The paradox of a

policy that expands itself in a world context of retraction of the State social policy is

examined in the light of the particularities of the redemocratization conjecture in

Brazil, namely, the presence of a strong worker-union movement, fighting for

economical, social and political specific objectives.

1

SUMÁRIO

LISTA DE ABREVIATURAS......................................................................... 3

RESUMO...................................................................................................... 6

ABSTRACT................................................................................................... 7

INTRODUÇÃO.............................................................................................. 8

PRIMEIRO CAPÍTULO

ORIGENS DAS POLÍTICAS SOCIAIS DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO

1.1 - EVOLUÇÃO E CARACTERÍSTICAS GERAIS........................................... 19

1.2 - POLÍTICAS SOCIAIS DE SAÚDE E NUTRIÇÃO....................................... 22

1.3 - ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO – DISCURSO E PRÁTICA........................ 30

1.3.1 - SERVIÇO DE ALIMENTAÇÃO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.............. 32

1.3.2 - SERVIÇO TÉCNICO DE ALIMENTAÇÃO NACIONAL....................... 38

1.3.3 – COMISSÃO NACIONAL DE ALIMENTAÇÃO.................................... 41

1.4 - POLÍTICA SOCIAL DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO A PARTIR DA

DÉCADA DE 70 - INSTITUTO NACIONAL DE ALIMENTAÇÃO E

NUTRIÇÃO................................................................................................. 41

1.4.1 - POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE...................................................... 51

1.4.2 - PROGRAMA DE COMPLEMENTAÇÃO ALIMENTAR........................ 51

1.4.3 - PROGRAMA NACIONAL DE ALIMENTAÇÃO ESCOLAR.................. 52

1.4.4 PROGRAMA DE ALIMENTAÇÃO DO TRABALHADOR........................ 53

1.5 - POLÍTICAS SOCIAIS A PARTIR DA DÉCADA DE 80................................ 53

2

SEGUNDO CAPÍTULO

O PROGRAMA DE ALIMENTAÇÃO DO TRABALHADOR – PAT

(1977 – 1995)

2.1 - CARACTERÍSTICAS GERAIS................................................................ 64

2.2 - DESEMPENHO DO PROGRAMA – 1977/95.......................................... 77

2.3 - IMPACTOS SÓCIO-ECONÔMICOS....................................................... 88

TERCEIRO CAPÍTULO

ANÁLISE DO PAT SOB A ÓTICA DE DIFERENTES ATORES SOCIAIS

3.1 - REPRESENTANTES DO GOVERNO...................................................... 93

3.2 - REPRESENTANTES DOS TRABALHADORES..................................... 102

3.3 - REPRESENTANTES DO CONSELHO REGIONAL DE NUTRICIONIS

TAS DA 4 a REGIÃO................................................................................ 107

QUARTO CAPÍTULO

DISCUSSÃO

4.1 - ANALISANDO OS DADOS HISTÓRICOS.............................................. 111

4.2 - PAT: UMA ANÁLISE CRÍTICA................................................................ 121

CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................. 129

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................. 134

ANEXOS........................................................................................................... 138

3

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ARENA Aliança Renovadora Nacional

CAPs Caixa de Aposentadorias e Pensões

CDS Conselho de Desenvolvimento Social

CGT Central/Confederação Geral dos Trabalhadores

CGTB Central Geral dos Trabalhadores do Brasil

CIPA Comissão Interna de Prevenção de Acidente

CIPATR Comissão Interna de Prevenção de Acidente do Trabalhador

Rural

CLT Consolidação das Leis de Trabalho

CNA Campanha Nacional de Alimentação

CNME Campanha Nacional de Merenda Escolar

COBAL Companhia Brasileira de Alimentação

CONSEA Conselho Nacional de Segurança Alimentar

CRN Conselho Regional de Nutricionistas

CUT Central Única dos Trabalhadores

DIEESE Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócios

Econômicos

DNC Departamento Nacional da Criança

DRT Delegacia Regional do Trabalho

ENDEF Estudo Nacional de Despesas Familiar

FAE Fundo de Auxílio ao Estudante

FAO Food and Agriculture Organization

FIA Fundação Instituto de Administração

FIBGE Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

FISI Fundo Internacional de Socorro à Criança

FMI Fundo Monetário Internacional

IAPI Instituto de Aposentaria e Pensões da Indústria

4

IAPs Instituto de Aposentadorias e Pensões

INAN Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição

INPC Índice Nacional de Preços ao Consumidor

IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

ITA Instituto de Tecnologia Alimentar

LBA Legião Brasileira de Assistência

MEC Ministério da Educação e Cultura

MPAS Ministério da Previdência e Assistência Social

MS Ministério da Saúde

OIT Organização Internacional do Trabalho

OMS Organização Mundial de Saúde

ONU Organização das Nações Unidas

PAT Programa de Alimentação do Trabalhador

PCA Programa de Complementação Alimentar

PEA População Economicamente Ativa

PNAD Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio

PNAE Programa Nacional de Alimentação Escolar

PND Plano Nacional de Desenvolvimento

PNLCC Programa Nacional do Leite para Crianças Carentes

PNS Programa de Nutrição e Saúde

PNSN Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição

PROAB Programa de Abastecimento em Áreas de Baixa Renda

PROCON Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor

PRONAN Programa Nacional de Alimentação e Nutrição

PSA Programa de Suplementação Alimentar

PT Partido dos Trabalhadores

RAIS Relação Anual de Informações Sociais

SAPS Serviço de Alimentação da Previdência Social

SCA Serviço Central de Alimentação

SESMT Serviço Especial de Segurança e Medicina do Trabalho

SSST Secretaria de Segurança e Saúde no Trabalho

5

STAN Serviço Técnico de Alimentação Nacional

UFIR Unidade Fiscal de Referência

UNICEF United Nations International Children Emergency Found

USAID Agency for International Development

USP Universidade de São Paulo

6

RESUMO

A proposta deste trabalho é analisar o desempenho de uma política social

específica – a política de suplementação alimentar do trabalhador inserido no mercado

formal de trabalho. Essa política, subsidiada pelo governo brasileiro através do

Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT), é estudada aqui com base em dados

consolidados no período compreendido entre 1977 e 1995 e na avaliação de atores

relevantes.

Políticas de suplementação alimentar para trabalhadores urbanos foram

implementadas em nosso país desde o Estado Novo. Melhorias nas condições de vida e

saúde dos trabalhadores e aumento da produtividade são objetivos recorrentes na

definição dessas políticas ao longo da história.

Observamos que, em cada mudança nos contextos político e econômico, as

características dos programas foram alteradas, satisfazendo a interesses do Estado, a

interesses das classes dominantes e a pressões dos movimentos sociais.

O PAT alcança maior abrangência a partir de meados da década de 80. O

paradoxo de uma política que se expande num contexto mundial de retração da política

social do Estado é examinado à luz das particularidades da conjuntura de

redemocratização no Brasil, a saber, da presença de um forte movimento operário-

sindical, lutando por objetivos econômicos, sociais e políticos específicos.

7

ABSTRACT

The proposal of this work is to analyze the performance of a specific social policy

– the food supplementation of the worker in the formal labor market. This policy

subsidized by the Brazilian government trough the Worker’s Feeding Program (PAT), is

studied here based on data consolidated on the period between 1977 and 1995 and on

the valuation of relevant actors.

Feeding supplementation policies for urban workers have been implemented in

our country since the New State. Improvements in the worker’s living and health

conditions and increase of productivity are appealing objectives on definition of these

politics throughout the history.

We can observe that, in each change in the political and economical context, the

characteristics of the programs were altered, meeting the interests of the State, the

interests of the dominant classes and the pressures of the social movement.

The PAT reaches a higher extension as of the mid 80’s. The paradox of a policy

that expands itself in a world context of retraction of the State social policy is examined in

the light of the particularities of the redemocratization conjecture in Brazil, namely, the

presence of a strong worker-union movement, fighting for economical, social and political

specific objectives.

8

INTRODUÇÃO

Através de minha formação básica como nutricionista e posteriormente com o

embasamento teórico adquirido nos cursos de Especialização e Mestrado na área de

Saúde Pública, obtive as condições para um entendimento mais integrado do processo

saúde e nutrição, permitindo a compreensão da questão alimentar não só como uma

função biológica, mas também como um problema social.

Na sociedade brasileira, a prática do nutricionista na área de alimentação e

nutrição, geralmente esteve articulada às políticas estatais, entre as quais destacamos

duas que marcam, respectivamente, o processo de constituição e consolidação da

profissão: a criação do Serviço de Alimentação da Previdência Social – SAPS, e a

implementação do Programa de Alimentação do Trabalhador - PAT.

Este estudo de caráter histórico, foi orientado para descrever o desempenho da

política social de alimentação e nutrição, particularmente a de suplementação alimentar

voltada para o trabalhador a partir de 1976, através da análise do desempenho de um

programa específico, o PAT, analisando o discurso teórico e os resultados reais

atingidos.

A especificidade do Programa se dá tanto por suas características a nível de

população beneficiada, setor da economia com maior número de empresas cadastradas,

regiões com maior cobertura, a forma como se dá seu financiamento, quanto ao seu

desempenho nos diferentes contextos políticos, econômicos e sociais, ocorridos no

Brasil, ao longo de mais de vinte anos.

Para analisar o Programa em profundidade, tornou-se necessário fazer uma

retrospectiva histórica das políticas sociais de alimentação e nutrição a partir da década

de 30 (a nível federal), até chegarmos ao PAT, nosso objeto de estudo.

Na busca deste aprofundamento, foi preciso buscar um referencial teórico que

nos permitisse entender o significado real dos programas estatais de alimentação e

nutrição, isto é, quais as funções concretas desempenhadas pela política social de

alimentação e nutrição nas diferentes conjunturas políticas, especialmente no que diz

respeito às políticas de suplementação alimentar dos assalariados.

Essa perspectiva histórica que destacamos no presente estudo, mesmo

9

apresentando datas, fatos e nomes, certamente não foi suficiente para responder às

nossas inquietações em relação ao objeto de análise, porém entendemos que a história

é um processo, isto é, não está dada; que historizar um fato é revelar as determinações

e mediações que o compõe.

Nesse sentido, para situar o PAT no contexto das políticas sociais, tornou-se

necessário retroceder no tempo e através da literatura, resgatar a história sobre as

políticas estatais em seus momentos mais marcantes.

Através da literatura identificamos que a atuação do Estado no campo das

políticas sociais pode ser designada como um conjunto de determinações, muitas vezes

superpostas, satisfazendo ora a interesses gerais, ora a interesses específicos, tanto

dos setores dominantes quanto dos setores subalternos.

Segundo OLIVEIRA & TEIXEIRA (1985: 13) o Estado atua visando:

“...a garantia de condições mínimas de reprodução e manutenção da força de

trabalho e a socialização de seus custos; a resposta a pressões do

empresariado privado que atua na produção de bens e serviços consumidos

nesta área; a resposta a necessidades e/ou demandas de bens e serviços por

parte de setores subalternos".

A crescente intervenção estatal por meio das políticas sociais é uma das

manifestações contraditórias do capitalismo. O Estado intervém para atenuar os efeitos

negativos da socialização das forças produtivas e da apropriação privada da riqueza

social.

Nas sociedades capitalistas ocidentais a provisão de condições de vida

(alimentação, saúde, educação, habitação, saneamento, etc.) está relacionada a

trabalho e renda.

No caso de países em desenvolvimento as crises econômicas têm como

resultado o desemprego, considerado como estrutural. Os setores produtivos não

conseguem absorver, em ritmo adequado, o volume da força de trabalho lançado no

mercado anualmente.

A distribuição de renda é desigual, uma vez que os proprietários dos meios de

produção detém parcelas maiores dos produtos do trabalho, provocando a concentração

da renda.

O desemprego e a inadequada distribuição de renda são processos sociais que

10

levam à pobreza, as políticas sociais visam garantir minimamente as condições de vida

da população, assegurando a manutenção da estrutura social e respondendo às

pressões dos trabalhadores politicamente organizados.

Por serem resultantes de conflitos de interesses entre diferentes classes sociais

e por necessitarem de financiamento específico, apenas determinadas parcelas da

população são beneficiadas, geralmente aquelas que participam de parte do custeio.

Segundo FELICELLO (1995:91):

“...as políticas sociais representam a socialização de um gasto necessário à

reprodução da força de trabalho e ao controle da pobreza, embora possibilitem

paradoxalmente, o desenvolvimento da cidadania e de direitos sociais.

Na realidade brasileira, a participação do Estado nas condições de reprodução e

manutenção da força de trabalho, se deu ora pela ação policial, ora via assistência, ora

regulamentação das condições de trabalho e salário. Estas configurações do Estado,

foram produtos das lutas sindicais e partidárias e das respostas dadas pelos setores

dominantes que ao atender, ainda que parcialmente, determinadas reivindicações,

procuravam imprimir-lhes uma direção constitutiva de hegemonia.

A apreensão da categoria reprodução da força de trabalho, exige a

compreensão anterior do que seja força de trabalho; como se processa a transformação

da força de trabalho em mercadoria; como se determina o seu valor; enfim, como se

produz a força de trabalho para o capital.

Segundo GUADEMAR (APUD VASCONCELOS 1994: 49):

"...a produção da população para o capital, se verifica a partir da transformação

do ser humano (trabalhador) em força de trabalho, formalmente livre,

ocupacional e geograficamente móvel, entretanto, com absoluta necessidade de

realizar trabalho assalariado, única hipótese para continuar sua existência "

O salário é a quantidade de dinheiro que o trabalhador recebe pela venda de

seu trabalho, cujo valor deveria atender às necessidades quantitativas (atendimento às

exigências materiais mínimas e indispensáveis à sobrevivência: alimentação, habitação,

vestuário, saúde, educação, etc.), bem como às necessidades qualitativas que

correspondem à incorporação cultural de novas necessidades, historicamente

determinadas, ao padrão de vida da classe trabalhadora (VASCONCELOS, 1994: 50)

Entretanto, a característica do modo de produção capitalista, tende a comprimir

11

o salário a valores abaixo do custo de reprodução da força de trabalho, acarretando

entraves à própria reprodução do capital. É nesse sentido que surge a noção de salário

mínimo, definido oficialmente como o menor valor capaz de atender aos limites físicos

de reprodução da força de trabalho.

“A reprodução da força de trabalho é também uma necessidade geral do capital

para que este possa continuar o seu processo de reprodução. Para que isso

ocorra não é suficiente que apenas os capitalistas individualmente utilizem seus

próprios mecanismos de manutenção e reposição da força de trabalho, torna-se

necessário a intervenção do Estado.

A partir de ações estatais voltadas para o atendimento do trabalhador (saúde,

educação habitação, alimentação, transporte, lazer, etc.) tem sido evidenciada a

dimensão de manutenção do trabalhador; e a partir de ações voltadas ao grupo

materno-infantil, à educação, ao preparo técnico-profissional, tem sido

evidenciada a dimensão de reposição do trabalhador”.(OLIVEIRA APUD

VASCONCELOS, 1994 : 50 )

No caso específico da alimentação, vários mecanismos têm sido utilizados pelo

Estado através das políticas sociais, visando a manutenção da força de trabalho.

Estudos comprovam que quanto mais baixo é o nível de renda de determinado

grupo populacional, maior parte de seu orçamento é aplicado em gastos com a

alimentação e, dentro desta lógica estes gastos podem alcançar até 80% da renda total

da família. Na década de 70, a alimentação representava 74,8% para quem tinha uma

renda de 02 salários mínimos ( L'ABBATE, 1988 : 14)

As políticas sociais na área de alimentação tiveram início em 1940, com a

criação do SAPS, cujo objetivo era melhorar o estado nutricional dos trabalhadores

urbanos assegurados dos Institutos de Aposentadorias e Pensões - IAPs e das Caixas

de Aposentadorias e Pensões - CAPs.

Segundo KRAUSE & MAHAN (1991: 192), estado nutricional é o grau pelo qual

a necessidade fisiológica de nutrientes do indivíduo está sendo atendida através do

alimento que ele ingere. A influência da nutrição na saúde individual ou coletiva é

medida através da avaliação do estado nutricional.

Vários estudos sobre o estado nutricional e condições de vida dos trabalhadores

e suas famílias foram realizados a partir de 1930, sendo comprovada a relação direta

12

entre alimentação adequada e saúde, renda e rendimento no trabalho físico.

Estudos atuais comprovam que o desnutrido produz pouco, tem menor

resistência física e que os indivíduos em estado hipoglicêmico estão mais predisposto

aos acidentes de trabalho. A capacidade de trabalho de adultos desnutridos pode estar

muito reduzida e seus potenciais como sustentáculo da família e responsáveis pela

reprodução da força de trabalho podem estar afetados.

O estado nutricional do indivíduo portanto, é em grande parte responsável pelo

processo de acumulação do capital, seja aumentando a produção, seja diminuindo os

gastos com acidentes de trabalho, seja garantindo a futura força de trabalho.

Tomando-se como base o conceito geralmente aceito de que saúde é um estado

de completo bem-estar físico, mental e social, é possível afirmar a estreita correlação

existente entre nutrição e saúde pública.

A saúde física e a saúde mental dependem essencialmente do estado nutricional

do indivíduo, se desnutrido e faminto constituí um problema social sob vários aspectos: o

desnutrido tem uma maior predisposição às doenças infecciosas, portanto adoece mais

seguidamente; a evolução das doenças é mais rápida e assume maior gravidade do que

nas pessoas cujo estado nutricional é normal, tornando-se mais oneroso para o Estado.

Portanto a nutrição adequada em quantidade e qualidade está diretamente

relacionada com a imunidade, a morbidade e a mortalidade. (CHAVES, 1974: 75)

Ressaltamos que a ênfase dada às condições nutricionais do indivíduo, está

diretamente ligada ao fato de que ao tratarmos de uma política social voltada para a

população de baixa renda, estamos nos referindo ao trabalhador cuja ocupação, apesar

dos avanços tecnológicos, continua sendo muito desgastante. Podemos citar dentre

outros os empregados da construção civil, os trabalhadores rurais, os estivadores, os

operários cujo ambiente de trabalho proporciona um gasto energético muito grande

(câmaras frigoríficas, recapeamento de estradas), etc.

Nosso propósito neste trabalho, é analisar os programas estatais no campo da

alimentação e nutrição, especialmente as políticas sociais voltadas para a massa

assalariada, nas diferentes conjunturas vividas pelo país, de maneira sucinta.

O objetivo é estudar o PAT, programa integrante das políticas sociais

desenvolvidas no Brasil a partir da conjuntura política do regime militar, analisando o

desempenho do Programa desde sua criação, assinalando os períodos mais

13

significativos em termos de legislação e abrangência da população-alvo; classificando as

diferentes modalidades de atendimento; especificando o setor da atividade econômica

por região e por estado com maior número de beneficiários; buscando apreender a

avaliação dos diferentes atores sociais como os técnicos do governo, os representantes

dos trabalhadores e os representantes do Conselho Regional de Nutricionistas da 4a

Região.

Ao descrever a história das políticas sociais de alimentação e nutrição desde as

suas origens, optamos por dividi-la em fases distintas, de acordo com a literatura,

baseados nas conquistas dos trabalhadores urbanos, em termos de saúde, alimentação

e segurança no trabalho, ao longo do período em estudo.

Demos ênfase ao estudo no período a partir da redemocratização política

(1982), por ter representado um período no qual os governos implementaram políticas

sociais, voltadas para a reprodução da força de trabalho, num período inflacionário,

recessivo e de perda do poder de compra dos salários.

Nesse contexto político emergiu um conjunto de novos atores sociais,

articulados em torno de demandas no campo das políticas e necessidades sociais,

houve um processo de reformulação das estruturas legais e instituições prestadoras de

serviços sociais com vistas a superar a dívida social acumulada durante os anos de

autoritarismo. A questão social passou a ser a imagem substantiva da democracia.

(FLEURY 1994:219)

Optamos por estender nosso estudo até 1997, quando a maioria dos programas

estatais na área de alimentação e nutrição haviam sido extintos.

O PAT sofreu algumas alterações em seu desenho original tanto em termos de

legislação como em termos de população-alvo, porém continuou a ser ampliado mesmo

com o fim do II Programa Nacional de Alimentação e Nutrição - II PRONAN em 1989 e

em 1997 com a desativação do Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição - INAN.

Tentamos identificar em cada momento histórico a atuação estatal, confrontando

o discurso presente nas propostas governamentais e o que realmente vem sendo

realizado.

"O maior ou menor peso de cada uma destas linhas de determinação (sempre

presentes em seu conjunto) sobre a atuação concreta do Estado na chamada

área social, e nos diversos subsetores que a compõem, em cada contexto

14

concreto, é dado pelas oscilações subjacentes na correlação de forças entre os

diferentes setores interessados". (OLIVEIRA & TEIXEIRA, 1985:13)

É importante ressaltar que as oscilações a nível de atuação do Estado, não se

dão de forma direta e imediata, em determinadas conjunturas são mais marcantes, em

outras têm menor relevância.

Portanto, a explicitação de políticas sociais por parte do Estado decorre das

tensões geradas entre a acumulação de capital, as reivindicações das classes

trabalhadoras e as mediações feitas pelo Estado.

“As políticas sociais de alimentação e nutrição são definidas em função dos

movimentos de acumulação e reprodução do capital, dos movimentos das forças

sociais e das formas que assume o Estado em determinadas conjunturas”

(VASCONCELOS, 1988 : 5).

É a relação entre estes aspectos que será problematizada no presente estudo,

que tem por objeto o desempenho do PAT, enquanto política social focalizada.

Partimos então do pressuposto que o Estado só intervém na área de

alimentação e nutrição a partir de uma série de circunstâncias sociais, econômicas e

políticas, que determinam também a intensidade destas intervenções.

Particularmente interessa destacar o papel legitimador das políticas sociais, quer

dizer, no estudo em questão, a relação entre certas políticas e as mudanças na forma do

Estado. Na situação brasileira, significa tratar do processo de redemocratização política

e seus desdobramentos.

Como ocorre com os demais programas de alimentação do II PRONAN, não foi

feito um estudo sobre o alcance e resultados do PAT, especialmente sob a ótica de

atores sociais relevantes.

Embora vários estudos importantes tenham sido realizados, tais como:

Uma avaliação do PAT feita em 1982, pelo Instituto de Pesquisa Econômica

Aplicada – IPEA, demonstrou que não foram comprovados efeitos positivos sobre a taxa

de absenteísmo e produtividade. Nesse estudo foi feito um levantamento do

desempenho do Programa quanto ao número de empresas participantes por região e

setor econômico; número de beneficiários e nível salarial da população inscrita.

Em 1984 foi feita uma outra avaliação do PAT, pelo mesmo Órgão, o resultado

mostrou que o estado nutricional das crianças menores de cinco anos, filhos de

15

beneficiários do programa, apresentavam melhores níveis nutricionais do que o

esperado para a faixa de renda de seus pais.

Um estudo realizado no Município de São Paulo por CAMPINO et all (1985) teve

como objetivo principal a apresentação e a discussão dos resultados de uma pesquisa

realizada junto a 136 empresas para avaliar o funcionamento dos serviços de

alimentação e a qualidade dos alimentos por elas fornecidos. De acordo com o mesmo

estudo em relação aos efeitos do PAT, para a maior parte das empresas que a ele

aderiram, não houve nenhum impacto negativo na organização, sendo salientados os

impactos positivos relacionados à manutenção da lucratividade da empresa, entre os

quais maior produtividade, menor rotatividade e menor taxa de absenteísmo, melhoria

nas relações de trabalho e maior integração entre os trabalhadores.

O trabalho de BOSI (1988) mostrou a complexa rede de relações entre

programas e atividades dos técnicos, de um lado, assim como as contradições entre

discurso e prática institucional, de outro. A autora fez uma análise das políticas nacionais

de nutrição, sua articulação com o discurso biomédico, e as ligações entre poder de

estado, poder institucional e saber técnico-científico.

Outro estudo, realizado em Recife por uma equipe de nutricionistas, com

trabalhadores da construção civil, constatou o aumento da produtividade e a queda nos

índices de acidentes de trabalho ( IPEA/94)

MENDONÇA (1995) fez um estudo dos componentes (des) educativos presentes

nas políticas sociais voltadas para os trabalhadores, mais especificamente, nos

programas estatais no campo da alimentação, como o SAPS e o PAT.

VIANA (1996) fez uma análise do desempenho do nutricionista, enquanto

profissional da saúde e a importância do PAT para a categoria, como o maior segmento

de mercado de trabalho, esse estudo foi realizado no Pólo Petroquímico de Camaçari,

Bahia.

A escolha do tema justifica-se por um lado, pela ausência de um estudo

sistematizado sobre o desempenho do Programa e por outro, porque ao tratá-lo como

política social específica (alimentação e nutrição), subsidiada pelo governo, poderá

lançar luz sobre as relações entre políticas sociais e a legitimação política do Estado.

Em primeiro lugar examinamos o processo institucional e político de formulação

e operacionalização do PAT, o que significou analisar sob o ponto de vista legal pelo

16

menos, o início mais distante do processo de redemocratização, isto é, da liberação do

autoritarismo (1975/84)

Em segundo lugar, foi examinado o desempenho do Programa em termos de

evolução da conjuntura política. A eleição para governadores estaduais, o impacto dos

movimentos sindicais, a integração dos trabalhadores através do Partido dos

Trabalhadores - PT e a criação da Central Única dos Trabalhadores - CUT, foram

eventos consideráveis em termos de avanços políticos.

Ressaltamos, entre outros aspectos que :

a) nos anos que se seguem a 1982 aumentou fortemente o custo, em salários

mínimos da ração essencial, enquanto diminuiu o poder de compra do assalariado;

b) a população-alvo do Programa, até então restrita às grandes empresas

devido à modalidade de atendimento (serviço próprio), aumentou consideravelmente

com a introdução do tíquete-refeição

Em terceiro lugar, através de dados coletados no Ministério do Trabalho, foi feito

um levantamento do desempenho do PAT ao longo de 20 anos.

Em quarto lugar , buscamos apreender através de entrevistas, qual tem sido o

desempenho do Programa sob a ótica de atores sociais específicos.

Devido ao curto espaço de tempo destinado à elaboração da dissertação,

optamos por fazer uma investigação com a CGTB, representando os trabalhadores; com

a Doutora Eglacy Porto Silva e a Nutricionista Dulce Terezinha da Cunha, representando

os técnicos do governo e com a Coordenadora do Conselho Regional de Nutricionistas

do Rio de Janeiro da 4a Região – CRN 4.

A escolha por trabalhar com o eixo Rio /São Paulo, prendeu-se ao fato de que é

onde estão concentrados a maior parte dos usuários

Como estratégia para apreender a visão de cada representante realizamos

entrevistas por escrito, semi-estruturadas, aplicadas a partir de um pequeno número de

perguntas fechadas.

A entrevista foi usada como instrumento de coleta de dados e as informações

fornecidas pelos entrevistados foram analisadas levando em conta sua relação com o

Programa.

17

Foi uma tarefa difícil, os atores questionados foram sucintos demais ou

relutaram muito em responder às questões propostas (CUT), o que até certo ponto

limitou a pesquisa.

Em julho de 1997, através da Delegacia Regional do Trabalho - DRT do Rio de

Janeiro, obtivemos informações de que como representante do governo, a Doutora

Eglacy Coordenadora do PAT em Brasília, poderia fornecer dados importantes para a

pesquisa.

Em agosto, fizemos contato com a Coordenadora do Programa, enviamos a

proposta de nosso estudo e fomos prontamente atendidos.

Além do material com dados quantitativos enviado, a Coordenadora do PAT

respondeu às questões e indicou-nos a Nutricionista Dulce Terezinha, como depoente,

sugerindo que lhe enviássemos o questionário, pois a mesma acompanha o Programa a

bastante tempo e suas respostas poderiam ser relevantes para o estudo.

Dulce Terezinha, Coordenadora do Grupo de Pesquisa "Saúde e Alimentação do

Trabalhador", foi muito receptiva e consentiu em responder ao questionário.

Como representantes dos trabalhadores, a princípio elegemos a CUT e a CGTB,

porém só foi possível trabalhar diretamente com a última. Nossa proposta inicial era

trabalhar com as duas Centrais Sindicais, porém os representantes da CUT não

demonstraram o menor interesse pela pesquisa.

O primeiro capítulo desse estudo foi baseado numa revisão da literatura,

abordando os vários aspectos das políticas sociais voltadas para o trabalhador

assalariado, em termos de saúde e nutrição e como as mesmas têm sido utilizadas nas

diferentes conjunturas políticas.

Para analisarmos as ações do Estado em relação à saúde e segurança do

trabalhador e a criação de programas de alimentação, escolhemos o período

compreendido entre as décadas de 30 e 90, ressaltando apenas os períodos mais

marcantes.

No segundo capítulo, trabalhamos com dados oficiais do Ministério do Trabalho

sobre as características gerais do PAT, desempenho e impactos sócio-econômicos.

No terceiro capítulo transcrevemos (na íntegra) os dados relativos ao trabalho de

campo, bem como os relatos de pessoas com algum vínculo com o PAT, visando

18

apreender o ponto de vista das mesmas. As questões proposta foram relevantes para

lançar luz sobre o estudo, a partir dos pressupostos advindos do objeto de investigação.

À guisa de discussão, no quarto capítulo fizemos um balanço dos contextos

políticos econômicos e sociais ocorridos no Brasil e uma análise crítica do PAT,

considerando a legislação vigente, os dados quantitativos oficiais e as repostas dos

depoentes.

Na conclusão tentamos sintetizar o trabalho como um todo, ressaltando os

contextos em que as políticas sociais de saúde e nutrição voltadas para o trabalhador,

ora satisfaziam a interesses gerais ora a interesses específicos.

19

CAPÍTULO 1

ORIGEM DAS POLÍTICAS SOCIAIS DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO

1.1 - EVOLUÇÃO E CARACTERÍSTICAS GERAIS

Para que possamos lidar com as políticas públicas de alimentação e nutrição,

convém observar que ela é uma, dentre três formas distintas, através das quais os

alimentos e seu consumo pela população, foram tematizados e apropriados pelo Estado,

tornando-se problema e política pública. Esses três segmentos são compostos de partes

separadas, com pouca comunicação entre si e administradas em ramos diferentes do

aparato governamental. (COIMBRA, 1985: 73)

O primeiro desses segmentos, por ordem de aparecimento no tempo, é

constituído por iniciativas dirigidas à produção, à armazenagem, ao transporte e à

distribuição dos alimentos, designada como política de abastecimento alimentar, voltada

para a exportação e para o mercado interno. Do ponto de vista organizacional é uma

atribuição das burocracias do setor agrícola.

O segundo segmento é formado pelas intervenções que têm como alvo a

verificação das condições em que se produzem e comercializam os alimentos, quanto

aos aspectos de qualidade, quantidade e preço, pode ser designado como política de

fiscalização de alimentos. Os produtos destinados à exportação são os mais bem

controlados e fiscalizados. (ibid)

O terceiro segmento dessa política é a designada como política de alimentação

e nutrição.

O motivo para a politização da questão da desnutrição de alguns segmentos de

uma sociedade, com a consequente definição de estratégias públicas de

complementação e suplementação alimentar foram variadas em seu momento formativo,

podiam ir desde a percepção da utilidade militar de uma juventude bem nutrida, à

expectativa de vantagens de produtividade de um operariado bem alimentado, papel

20

ideológico dos programas criados na Inglaterra, durante a Primeira Grande Guerra, até

por razões humanitárias no que se refere a programas de alimentação escolar, depois

que a educação básica foi se tornando compulsória (ibid :82).

A preocupação por parte dos educadores de todo o mundo, com o estado

nutricional de escolares, vem de longa data. Os antecedentes dos programas

institucionais de alimentação remontam, pelo menos, à metade do século XIX, quando a

Guarda Nacional de Paris estabeleceu um fundo para provimento de moços escolares e

às crianças carentes ( BERG APUD LEMOS, 1980 : 11).

No início do século XX, a preocupação militar acelerou a criação de programas

de alimentação infantil na Alemanha e Inglaterra, quando se verificou a rejeição de um

grande número de recrutas, ocasionada por incapacidade física.

A maioria das atividades referentes a programas de alimentação, tanto na

Europa quanto na América ou em países como o Japão e a Índia, eram de iniciativa

privada. No Brasil, a iniciativa partiu de um grupo de professores que instituíram a "sopa

escolar" (LOBATO APUD LEMOS, 1980: 13)

O que caracterizava essas estratégias nessa fase era, de um lado, a

multiplicidade e formas de execução e de outro, uma participação governamental

relativamente pequena, tipicamente eram estratégias públicas apenas no sentido de que

o Estado as encorajava e estimulava, cabendo a outras entidades, como empresas

escolas e hospitais todas as decisões substantivas mais relevantes, as que diziam

respeito ao que fornecer, a quem e em que quantidade e periodicidade. Todas as

estratégias baseavam-se em uma percepção vaga dos efeitos que um acesso ampliado

à alimentação trariam, muito mais pensados com o senso comum do que com uma

racionalidade técnica e científica (COIMBRA, 1985 :45)

A passagem para um formato efetivamente público, onde o Estado englobava e

dirigia todos os esforços na área, deu-se com a constituição de programas

governamentais de largo alcance e que teve como antecedente a definição da

alimentação como objeto de ciência, na verdade, de todo um novo ramo de

conhecimento que se organizava então, a ciência da nutrição (L'ABBATE,1988:90).

21

A multiciplicidade descrita só podia ser criticada e negada a partir de um saber

unificado, que não apenas mostrasse o inconveniente de se deixar ao senso comum a

responsabilidade de decidir sobre as questões mais fundamentais, mas que também

fosse capaz de oferecer uma resposta alternativa legitimada e tecnificada pela ciência.

(Grifos nossos)

O Estado precisava de uma nova racionalidade para absorver um tema

circunscrito até então ao espaço privado e ao mesmo tempo permitisse a estatização e a

reivindicasse como necessária.

A conjugação da existência de um saber dotado destas características, como

uma motivação imediata para a intervenção estatal, ocorreu na conjuntura da Primeira

Grande Guerra.

No período que vai de 1915 a 1935, generalizaram-se em todo o mundo

instituições acadêmicas de estudo da nutrição, fortemente imbricadas ao aparelho

estatal, tanto nos países desenvolvidos como na periferia, em geral associados a amplos

programas distributivos. Constituía-se em um trabalho de persuasão e convencimento

da necessidade de que a alimentação fosse racionalmente encarada, pelo Estado e pela

sociedade. Cabia portanto, iniciar uma cruzada que promovesse uma revolução

alimentar, o ponto de partida para a solução dos problemas de prosperidade, segurança

e bem-estar social. O Estado teria de desempenhar o papel de disseminar a palavra da

educação alimentar, através do exemplo prático, estabelecendo programas

governamentais cientificamente concebidos e executados. Para conduzi-los, foram

convocados pelo Estado, os portadores do saber nascente (COIMBRA, 1985:83).

Segundo OFFE (1984 :47):

“... cientifizar a política social é fazer com que especialistas científicos participem

decisivamente no desenvolvimento e na avaliação de programas políticos. Assim

sendo a cientifização da política social é antes de mais nada motivada por uma

série de funções manifestas que podem ser relacionadas com o problema da

conciliabilidade de reivindicações institucionalizadas com os meios disponíveis

para a satisfação e portanto, com o problema intra-estatal da consistência:

22

espera-se da ciência que formule recomendações para a realização mais

eficiente de programas. (Grifos do autor)

Segundo OLIVEIRA (1994) a política social aparece no capitalismo, construída a

partir das mobilizações operárias sucedidas ao longo das primeiras revoluções

industriais. A política social, compreendida como estratégia governamental de

intervenção nas relações sociais, unicamente pode existir com o surgimento dos

movimentos populares do século XX.

Assim o Estado, através das políticas sociais, mais especificamente no que diz

respeito à saúde e à alimentação, assume a responsabilidade com a reprodução da

força de trabalho, quando esta está socialmente ameaçada; quando a força de trabalho

está politicamente organizada ou por necessidades colocadas pelas mudanças no

processo de acumulação.

1.2 - POLÍTICAS SOCIAIS DE SAÚDE E NUTRIÇÃO NO BRASIL

No Brasil, as idéias da ciência da nutrição tomaram impulso no início dos anos

30. Por um lado, trazidas por médicos brasileiros depois de estágios e cursos em países

onde o processo de afirmação e institucionalização da nova concepção da alimentação

estava muito adiantado, por outro, elas foram trazidas pelo professor Pedro Escudero,

diretor do Instituto Nacional de Nutrição de Buenos Aires e principal inspirador e

coordenador dos programas de alimentação da Argentina, que visitou o Brasil em 1932

(COIMBRA, 1985 :83).

Com o surgimento da Nutrição como campo interdisciplinar de estudos, a

alimentação transformou-se em objeto de um saber científico e posteriormente em

objeto específico de uma política estatal. Porém, segundo análise de estudiosos sobre o

assunto, os avanços em relação à questão foram poucos.

Nos anos 1930/40, a sociedade brasileira defrontou-se com profundas

transformações, no contexto econômico, político e social. A política econômica

23

nacionalista, baseada no mecanismo de substituição de importações acelerou o

processo de industrialização.

A política de incentivo à industrialização e ao cultivo de produtos para a

exportação, propiciaram uma redução da produção e disponibilidade interna de

alimentos para a população de modo geral. A procura maior do que a oferta favorecia a

elevação dos preços dos alimentos básicos, aumentando a inflação e intensificando o

processo de empobrecimento dos trabalhadores urbano e rural.

O empobrecimento da classe operária trazia problemas para a classe

dominante, pelo perigo de uma crise social e política e também pela redução do

mercado consumidor interno dos produtos industrializados.

Em 1933 foram feitos estudos sobre as condições de vida das classes operárias

do Recife, o Promotor do inquérito foi Josué de Castro, sob o patrocínio do

Departamento de Saúde Pública do Estado, foram analisadas 500 famílias de operários.

Em 1935 esse estudo foi aprofundado sob o patrocínio do Departamento

Nacional de Saúde Pública, cujos resultados foram os seguintes:

Salário médio do trabalhador.....................3$700

Despesa média/família de 05 pessoas......3$866

O resultado era um déficit permanente, a importância recebida pelo trabalhador

em troca da força de trabalho era consumida com o aluguel do mocambo, alimentos

(charque, pão, feijão, farinha, café e açúcar), carvão e iluminação (CASTRO, 1977: 106)

Novas pesquisas foram realizadas em 1936. Em todos os estudos foi constatada

a precariedade da saúde e a deficiência alimentar da classe trabalhadora.

Os inquéritos e as pesquisas realizados, despertaram a consciência nacional

para o angustiante problema da desnutrição e suas implicações com o processo de

acumulação capitalista. Esses estudos procuravam avaliar e quantificar as carências

alimentares a partir da comparação entre as despesas familiares com alimentação e

24

outros gastos e, a impossibilidade das famílias investigadas se alimentarem

adequadamente com o salário que recebiam.

Esses estudos tiveram a grande importância de fornecer uma explicação

científica para a realidade que muitos já conheciam: a precariedade das condições de

vida, saúde e alimentação de certas camadas da população.

Dentro de um enfoque multisetorial, foram estabelecidas as relações entre renda

e alimentação; entre estado nutricional adequado do trabalhador e produtividade, com

reflexos no processo de acumulação capitalista.

As políticas sociais nos anos 40 se deram em torno especialmente, dos

trabalhadores urbanos, já que o processo de desenvolvimento industrial acelerado

requeria mão-de-obra que se adequasse às necessidades da produção. O sistema

público de proteção social se dicotomizou em assistência para os mais pobres e que não

faziam parte do mercado formal de trabalho e em previdência para os assalariados,

aqueles cidadãos com carteira assinada.

Segundo SANTOS (1987: 13), o ano de 1933 marcou o início de uma inflexão no

comportamento estatal cujo resultado foi a junção, sob jurisdição do Estado, das duas

ordens de problemas: o da acumulação e o da equidade. O autor refere-se à

acumulação como ações destinadas a aumentar a oferta de bens e serviços disponíveis

e por equidade como o ideal de reduzir ou extinguir desequilíbrios sociais. A reunião dos

dois problemas, seria consagrada pela Constituição de 1934, quando pela primeira vez,

foi introduzido um capítulo sobre a ordem econômica e social, reconhecendo os direitos

sociais. Caberia ao Estado legislar sobre o salário mínimo (s. m.), sobre a indenização

do trabalhador despedido e regular o exercício de todas as profissões.

De acordo com Lei n o 185 de 14 de janeiro de 1936 foi criada uma comissão

para estabelecer os valores para o s. m.

Em 30 de abril 1938 por força do Decreto-Lei 399 a Lei n o 185 foi aprovada e

estabelecida a chamada ração mínima essencial, composta de alimentos em quantidade

e qualidade necessários ao atendimento das necessidades nutricionais mínimas de um

25

trabalhador adulto, definidas a partir de inquéritos sobre as condições de alimentação no

Brasil.

A ração essencial foi considerada levando em conta os hábitos alimentares de

cada região do país, sendo portanto diferenciada em termos nutricionais e quantitativos,

o que tornava o valor calculado para o s. m. além de individual, também regional.

Somente em 1 o de maio de1940 foi instituído o s. m., através do Decreto-Lei n o 2.162.

(Grifos nossos)

De acordo com CASTRO (1977 : 113) a Legislação instituiu que o s. m. ,

equivaleria a remuneração mínima devida a todo o trabalhador adulto, sem distinção de

sexo, por dia normal de trabalho, deveria ser capaz de satisfazer as necessidades

normais de alimentação, habitação, transporte, vestuário, higiene. O s.m. seria

determinado pelo somatório dessas despesas.

Foi no período de 1930/37 que a maioria absoluta de todas as leis sociais teve

sua concepção e implementação decidida, regulamentada e fiscalizada. Assim apenas

uma única medida foi decretada após o golpe de 1937 ou Estado Novo, a lei do s. m.,

porém o processo de sua instituição teve origem na Constituição de 1934.

A instituição e regulamentação do s. m., representou uma forte mediação estatal

sobre a relação entre capital e trabalho, precedida por uma série de outras medidas

destinadas a institucionalizar o trabalho assalariado no país, e que se desdobrou até o

Decreto-Lei no 5.452 de 1943, criando a Consolidação das Leis do Trabalho - CLT .

A Legislação Social instituída no governo Vargas, voltada para o trabalhador

urbano combinava benefícios, repressão e controle da classe operária. A decretação do

s. m. , a instituição da carteira profissional, a criação e expansão dos IAPs por ramo de

atividade, a implantação do SAPS, a elaboração da CLT e a reforma da Lei de Acidentes

de Trabalho, foram medidas significativas em termos de legislação em torno dos

trabalhadores.(MENDONÇA, 1995 : 99)

O Estado no período em estudo, ao mesmo tempo que favorecia a

industrialização através de mecanismo de financiamento e investimentos, beneficiava os

26

trabalhadores urbanos, especialmente do setor industrial, difundia a ideologia da

colaboração de classes, porém alijava os trabalhadores rurais da Legislação Social, pois

só aqueles com carteira profissional assinada, o que era raro, seriam beneficiados.

Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, a

população urbana em 1940 correspondia a 31,24% da população total do país. O

percentual de assalariados era de 58%, ou seja apenas 18,11% dos brasileiros.

Segundo MENDONÇA (1995:105) as políticas sociais para os trabalhadores,

especialmente no período populista de Vargas, congregaram a oportunidade de forjar

uma relação estreita entre o Estado e os assalariados urbanos, criando respaldo popular

para governo. Embora, o populismo favorecesse a associação das políticas sociais

como benemerência estatal, ao mesmo tempo em que contribuía para a fragmentação

da luta sindical, a sua execução direta pelo Estado permitia sua percepção enquanto

uma política estatal pública, possibilitando a reivindicação de sua extensão a outras

categorias profissionais não beneficiadas.

O Decreto-Lei n 0 2.377, de 08 de julho de 1940, criou o imposto sindical

obrigando todo o empregado sindicalizado ou não, a pagar compulsoriamente um

imposto anual ao seu sindicato no valor de um dia de trabalho. O valor descontado da

folha de pagamento dos empregados, era depositado pelo empregador numa agência do

Banco do Brasil.

O sistema reservava ao Estado uma parcela do dinheiro arrecadado, sob a

rubrica de um Fundo Sindical equivalente a 20% do total, e mais 6% como pagamento

pelo serviço de agenciamento operado pelo Banco do Brasil. Aos sindicatos eram

destinados 54% do montante do imposto, o restante (20%) era distribuído entre as

federações (15%) e às confederações (5%). A expressão imposto sindical foi corrigida

para contribuição sindical, em 1966.

Para VIANNA (1976: 232-235), com o imposto sindical, os sindicatos se

transformaram em verdadeiras sucursais do poder público, se converteram em órgãos

paralelos do sistema previdenciário. Entre as atividades dos sindicatos podemos citar a

assistência médica, dentária, judiciária, à maternidade e o atendimento em escolas de

27

alfabetização, cooperativas de crédito e de consumo, colônias de férias, bibliotecas, etc.

Em suas funções mobilizadoras, o populismo consistia na técnica política

implementada, para desenhar o contorno final da obra iniciada em 1930 em relação às

classes subalternas. À decapitação das lideranças e ao desmonte implacável de suas

organizações livres, seguira-se a imposição da estrutura corporativa e o esforço

mobilizador do Estado.

Os sindicatos transformaram-se em apêndices do Ministério do Trabalho, já que

foram perdendo seu papel de reivindicação e pressão e passaram a ser instituições

prestadoras de serviços jurídicos, médicos e culturais, assumindo o papel de

colaborador do Estado, tendo inclusive que arrecadar e repassar o imposto sindical ao

governo.(FALEIROS, 1992:100)

Nesse contexto político e institucional, as condições de vida e saúde das classes

trabalhadoras agravaram-se drasticamente. Em 1940, segundo dados estatísticos 43,5%

das mortes eram causadas por doenças infecciosas e parasitárias. A esperança de vida

ao nascer era de 42,7 anos. Os índices de acidentes de trabalhos eram muito elevados,

as vítimas dependiam da polícia e das seguradoras; a polícia recebia a queixa e as

seguradoras encarregavam-se da indenização e dos cuidados de saúde. Nesse ano,

1.119 operários acidentados foram hospitalizados e 15.725 receberam cuidados

médicos, custando às companhias de seguro o total de 2 milhões de cruzeiros,

absorvendo 65% da arrecadação. As indenizações por morte atingiram o número de 133

e por incapacidade 1.331 trabalhadores.(SILVA, 1994)

“Embora poucos dados estejam disponíveis sobre o estado de saúde da classe

trabalhadora no período em estudo, pois informações consistentes a respeito do

assunto eram difíceis diante da fragilidade do sistema de registros e

comunicações que tradicionalmente caracterizou a área de saúde, mesmo assim

eles mostram que as condições de saúde não eram muito diferentes das

condições observadas no período republicano. Os registros de dados de

frequência de doenças eram muitos precários, quase limitados às notificações

internacionais e a algumas outras enfermidades transmissíveis, assim mesmo

28

nas grandes cidades. Nenhum indicador que pretendesse expressar as

condições de saúde da população brasileira era confiável, já que apenas uma

pequena proporção da população tinha acesso aos serviços de

saúde".(SABROZA, 1995 : 185)

O número de operários no país na época, era de 781.185, em quase 50.000

indústrias, o número de trabalhadores registrados não passava de 12,1% da população

operária. O índice de jovens com menos de 30 anos era de 43%, portanto os acidentes

atingiam mais significativamente esta faixa etária. Era grande a presença feminina na

indústria têxtil, 57,7% do total de trabalhadores desse ramo econômico. Apesar da

legislação federal, as condições de trabalho continuavam precárias e com alta incidência

de acidentes de trabalho.(SILVA, 1994).

Apesar das leis vigentes, era impossível obter-se uma cifra confiável do número

de acidentados. Os patrões não asseguravam os trabalhadores de forma universal e as

empresas não comunicavam os acidentes, os registros eram controlados pela polícia, o

que conferia um caráter criminoso ao acidente. Existia a prática particular entre patrão e

empregado, o fato não era comunicado oficialmente, havendo uma compensação

financeira para o empregado que entrasse em acordo, muitas vezes o trabalhador por

medo e por necessidade aceitava imposições descabidas.

“O desgaste sofrido pela força de trabalho e as revoltas populares obrigaram os

dirigentes capitalistas a desenvolver estratégias de intervenção no espaço

urbano, nas relações de trabalho nas fábricas e sobre o modo de transmissão

das doenças. Os avanços decorrentes das pesquisas em microbiologia,

imunologia e epidemiologia trouxeram o suporte teórico para o conjunto dessas

práticas sociais, que passou a ser identificada como saúde pública”.(SABROZA,

1995 : 181)

As ações de saúde pública concentravam-se nas campanhas de combate às

doenças infecciosas, coerentes com o perfil de mortalidade da época. As ações do

Estado em relação à saúde eram articuladas de acordo com o contexto econômico. Para

combater a malária e a febre amarela na região Amazônica, por exemplo, foi criado o

29

Serviço Especial de Saúde Pública, em convênio com o governo americano, pois era

onde se produzia a borracha usada na II Guerra.

Nos centros urbanos um grande número de pessoas estava excluído do

processo de produção e consumo, e tinha acesso limitado aos serviços de saúde. O

conceito de doenças de massa foi utilizado para incluir também os problemas de saúde

de grupos sociais urbanos que não conseguiram ser integrados no processo de

industrialização.

Esses grupos sociais foram beneficiados por determinadas políticas sociais

(assistencialistas), mas privados dos direitos plenos de cidadania.

Segundo SABROZA (1995:187), embora alguns medicamentos eficazes já

estivessem disponíveis, particularmente contra a tuberculose, a hanseníase e a sífilis,

devido ao fato de atuarem sobre o risco de evolução para formas mais graves e para

morte, eles não interferiram nos processos de produção das doenças. A redução da

mortalidade por tuberculose, mesmo após a introdução da quimioterapia na campanha,

não foi acompanhada de correspondente impacto na tendência da prevalência e da

incidência.

O período compreendido entre os anos 30 e 50 foi a conjuntura de ascensão e

hegemonia do Estado populista. Foram criados os institutos de seguridade social: os

IAPs, organizados por categorias profissionais, representando uma resposta do Estado

às constantes reivindicações dos trabalhadores desde o começo do século, por

benefícios pecuniários e assistência (SILVA, 1994 : 21)

Os IAPs foram criados num contexto econômico de crescimento industrial e num

momento de ampliação da participação do Estado nas políticas sociais, mecanismo de

controle necessário, para obter o apoio da classe trabalhadora e assegurar o processo

de industrialização.

Somente determinadas categorias (bancários, marítimos e comerciários) tinham

direito à assistência médica, cirúrgica e hospitalar, entretanto as despesas não poderiam

ultrapassar o teto de 10% da receita (em média) do exercício anterior. Os industriários

que representavam quase 50% da população dos institutos, praticamente não eram

30

beneficiados por esse tipo de serviço, pois de acordo com a Lei n o 367, de 31/12/36 que

criou o Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Industiários – IAPI, em seu artigo 1 o

definia o Instituto e apresentava-o como:

“...tendo por fim principal conceder aposentadoria aos seus associados e pensão

aos respectivos beneficiários”

Somente em 1950, em outra conjuntura, e mesmo assim sob enorme pressão

não somente dos associados mas também do Governo federal, foi que o IAPI após

muitas protelações, estabeleceria a prestação de assistência médica e hospitalar.

Hélio Beltrão foi o agente responsável pela implantação da assistência médica

do IAPI, na gestão Dutra, atuando contra as resistências da tecnocracia do Instituto.

1.3 - ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO - DISCURSO E PRÁTICA – A PARTIR DA DÉCADA DE 30

Em 1932, o Professor Annes Dias criou a primeira cátedra de Nutrição da

Faculdade de Medicina da Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro, da qual fizeram

parte jovens médicos como Josué de Castro, Peregrino Júnior e Seabra Velloso,

responsáveis pela tradução do Tratado de Alimentação de Pedro Escudero, médico e

nutrólogo argentino, que abordava os problemas alimentares numa perspectiva social.

(L'ABBATE, 1988 : 90)

Os estudiosos sediados no Rio constituíram-se na vertente social da Ciência da

Nutrição que se produziu em nosso país, e que seria hegemônica nesse período.

Em São Paulo, nesse mesmo ano, o Professor Moura Campos, da antiga

Faculdade de Medicina, atualmente incorporada à Universidade de São Paulo, sob

influência norte-americana, iniciou pesquisas do tipo experimental e laboratorial. Entre

os estudiosos paulistas podem ser citados Paula Santos e Dutra de Oliveira e entre os

cariocas destacamos Silva Mello e Alexandre Moscoso. Esse grupo constituiu a vertente

técnica da Ciência da Nutrição, sendo responsável pela publicação de várias pesquisas

sobretudo entre 1940/50 (L'ABBATE, 1988 : 90).

31

Em 1939 foram tomadas duas medidas governamentais: o Decreto-Lei n 0 1.228,

que estabeleceu a obrigatoriedade para as empresas com mais de 500 empregados

instalar refeitórios para os trabalhadores e a criação do Serviço Central de Alimentação -

SCA, no Instituto de Aposentadoria e Pensão da Indústria - IAPI (CASTRO, 1977 : 124).

Em 1940, após dois anos de estudo foi instituído o s. m. individual, isto é, visava

só o assalariado adulto, aos menores era permitido reduzir até a metade o valor do s.

m., para os trabalhadores ocupados em serviços insalubres era permitido aumentá-lo na

mesma proporção.

A decretação do s. m. foi um dos fortes incrementos para a acumulação

capitalista, na medida em que este foi estabelecido enquanto salário de subsistência,

isto é, capaz de garantir a reprodução da força de trabalho que o trabalhador poderia

vender, baseada nas suas necessidades básicas individuais. O preço do trabalho foi

determinado pelo preço dos meios de subsistência necessários. (Grifos nossos)

O conceito individual permaneceu até 1946, quando na Constituição em seu

inciso I do Art. 157, preceituou que o s. m. deveria ser capaz de satisfazer conforme às

condições de cada região, às necessidades normais do trabalhador e sua família

(CASTRO, 1977: 120)

Embora a Pesquisa do Serviço de Estatística e Previdência do Trabalho

anunciasse que o s. m. beneficiaria mais de 58% da população operária, constatou-se

porém, já na época de sua instituição, que em média mais 60% do s. m seriam gastos

exclusivamente com a alimentação do trabalhador, se apenas ele comesse a ração

essencial mínima, indispensável à sua subsistência (CASTRO, 1977 : 119).

A remuneração estabelecida que visava proporcionar uma alimentação mínima e

cobrir outras despesas do trabalhador, chegou defasada no tempo e em valores.

O Estado brasileiro em uma relativa crise de legitimidade, dado que abandonara

a tradição republicana de democracia e em plena vertigem organicista e fascista,

percebeu a conveniência política e ideológica de se tornar o guardião e o fiel de uma

boa alimentação para o povo, o seu povo (COIMBRA, 1985 : 85). (Grifos do autor)

32

Foram efetuados estudos pelo Ministério do Trabalho Indústria e Comércio,

objetivando melhorar a alimentação do trabalhador e consequentemente, sua resistência

orgânica e capacidade de trabalho. Assim, através da cooperação dos IAPs e das CAPs,

sob a jurisdição do Ministério do Trabalho Indústria e Comércio, cujos beneficiários

compreendiam a quase totalidade das classes operárias, decretou o Presidente da

República, Getúlio Vargas, no uso que lhe facultava o artigo 180 da Constituição, a

criação do SAPS.(CASTRO, 1977:122)

1.3.1 - SERVIÇO DE ALIMENTAÇÃO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL – SAPS

Visando então, a melhoria das condições de alimentação do trabalhador que não

poderiam ser satisfeitas através do próprio salário, foi criado o SAPS, pelo Decreto-Lei

n0 2478, de 05 de agosto de 1940, encarregado de fornecer alimentação aos

trabalhadores pertencentes aos IAPs, o eixo dorsal da política previdenciária brasileira e

que cobria os marítimos, os empregados da indústria, do comércio, da estiva, do setor

de transporte e cargas e do sistema bancário.

Josué de Castro, referiu-se à criação do SAPS como:

"...a fixação de mais uma etapa na Campanha pela boa alimentação, etapa que

se pode chamar de aplicação social, em que o governo se associa aos técnicos

para a solução do magno problema da alimentação popular, provando assim,

mais uma vez, o carinho e a estima que dedica ao trabalhador brasileiro".

(CASTRO APUD COIMBRA, 1985:85)

Assim em lugar de transferir à iniciativa privada, utilizadora da mão-de-obra, a

tarefa de melhorar os níveis de alimentação de seus empregados através de um salário

adequado, o Estado preferiu intervir, assumindo a tarefa de realizar tal missão

(CASTRO, 1977 : 125)

A partir da criação do SAPS (1940) é que podemos falar na alimentação e

nutrição como política pública no Brasil, iniciada com os trabalhadores urbanos. Só dez

33

anos mais tarde (1950) o grupo materno-infantil foi beneficiado e quinze anos depois as

crianças em idade escolar (1955). A defasagem de tempo na criação dos três programas

é sugestiva, de um lado, ela mostra que embora a desnutrição infantil fosse já então

considerada o problema mais grave dentro da área alimentar, os trabalhadores adultos

foram privilegiados, recebendo muito mais cedo atenção do Estado. Em parte isso

ocorreu da conexão imediata que se podia estabelecer entre tal iniciativa e o processo

de desenvolvimento, via ganhos em produtividade trazidos por uma nutrição racional

(ibid: 86)

O SAPS, a partir de estudos desenvolvidos na área de alimentação e nutrição

realizados principalmente por médicos, passou a fazer parte do cenário das instâncias

governamentais de formulação de políticas públicas, sendo enfatizada a necessidade de

melhorar o perfil de saúde da classe trabalhadora, através da incorporação de bons

hábitos alimentares.

O discurso hegemônico do período foi o de responsabilizar a população pelos

distúrbios nutricionais que apresentava e que as diferenças sociais poderiam ser

corrigidas através da educação nutricional. Segundo essa ótica, os programas de

suplementação alimentar e a educação nutricional resolveriam os problemas de

desnutrição e as diferenças sociais. Os eventuais fracassos seriam atribuídos a

resistência da população-alvo às mudanças de hábitos alimentares ou a falhas dos

educadores. Desse modo a educação nutricional teria a função ideológica de encobrir as

causas reais dos problemas nutricionais, já que o Estado, através dos programas de

suplementação alimentar estava tentando resolver a questão.

O problema alimentar, identificado como capaz de retardar o desenvolvimento

do país, marcou o início de uma nova racionalidade econômica, na qual a força de

trabalho passou a constituir-se um elemento-chave no processo de acumulação

capitalista. Ao mesmo tempo em que se expressava a demanda por novas normas de

produção e produtividade da indústria nacional, o controle da massa trabalhadora se

dava através da oferta de uma alimentação adequada e barata.

O Decreto-Lei que instituiu o SAPS, estabelecia em seu artigo 10 que o órgão

34

destinava-se, principalmente a assegurar condições favoráveis e higiênicas à

alimentação dos filiados dos IAPs subordinados aos respectivos Ministérios. (CASTRO,

1977)

A preocupação dos dirigentes do SAPS era transmitir conhecimentos sobre a

alimentação e o valor nutritivo dos alimentos através de boletins e das Visitadoras de

Alimentação, o objetivo era formar entre os trabalhadores e suas famílias uma

consciência alimentar e orientar a coletividade sobre os processos para o preparo de

uma refeição racional, nutritiva e econômica.

Os estudiosos da Nutrição acreditavam poder auxiliar o trabalhador a alcançar o

corretismo alimentar através do próprio exemplo dos restaurantes, onde existia silêncio,

ordem e asseio e onde a refeição, segundo esclarecimentos colocados no cardápio,

possuía todos os elementos nutritivos básicos para a saúde

As atividades do SAPS foram ampliadas e diversificadas, em 1945 o órgão

atendia: a um restaurante Central que fornecia 5000 refeições diárias, localizado na

Praça da Bandeira e a quatro restaurantes gregários: - na Imprensa Nacional (no

Centro); na União Nacional dos Estudantes (em Inhaúma); na firma Klabin & Irmãos e no

Cais do Porto. ( CASTRO, 1977)

O SAPS fornecia ainda: refeições para 55 firmas transportadas através de

caminhões-térmicos, especialmente construídos para assegurar a manutenção das

propriedades nutritivas e higiênicas dos alimentos, fiscalizava 45 restaurantes mantidos

por empresas e órgãos públicos, possuía um Restaurante-Escola, que além de servir de

escola, tinha também como objetivo proporcionar refeições sadias e baratas à classe

média (CASTRO, 1977).

Era claro o privilegiamento dos grandes centros urbanos, haja visto que onze

restaurantes se localizavam no Distrito Federal, três em São Paulo e cinco em cidades

menores. Os critérios adotados para a instalação desses restaurantes não eram

propriamente técnicos, São Paulo que congregava muito mais trabalhadores que o

Distrito Federal possuía um número bem menor de restaurantes. O ganho político com o

estabelecimento do laço simbólico entre o trabalhador e o Estado era evidente. Os

35

restaurantes do SAPS faziam com que se efetivasse a prática de estilo populista própria

do período.

O Serviço passou a diversificar suas atividades vendendo gêneros de primeira

necessidade aos trabalhadores a preço de custo, acrescidos de 10% de taxa de

administração, essa atividade era chamada de Seção de Subsistência, criada pelo

Decreto-Lei n o 4.859 de 21 de outubro de 1942, durante a Segunda Guerra Mundial. Os

alimentos eram vendidos em postos especiais, nos restaurantes próprios, sob convênio

ou ainda através dos sindicatos profissionais.

Em 1946 o SAPS mantinha 44 postos de subsistência: 14 no Distrito Federal, 6

no Espírito Santo, 12 em Minas Gerais, 6 no Estado do Rio, 3 no Rio Grande do Sul e 3

em São Paulo (L ‘ABBATE, 1988).

A localização da maior parte dos restaurantes e postos de subsistência era no

Distrito Federal - centro político e não em São Paulo - centro econômico. (L'ABBATE,

1988). (Grifos da autora)

Dante Costa formava em 1943 a primeira turma de Nutricionistas, nesse mesmo

ano foram criados cursos técnicos e profissionais na área de Nutrição. A primeira Escola

de Visitadoras da Alimentação foi criada em Fortaleza, Ceará, em 1945. Entre os

profissionais formados pelo SAPS, as Visitadoras da Alimentação eram as responsáveis

pela educação alimentar, inclusive no meio rural.

A amplitude de realizações do SAPS, segundo nutrólogos responsáveis pela sua

criação, especialmente nos últimos dois anos do governo Vargas, constituiu-se num

desvirtuamento do Órgão, cuja ampliação servia como meio de sustentação do

getulismo.

No período do governo Dutra 1946/51, houve um interesse menor pelo SAPS

como também pelos demais órgãos de políticas de alimentação.

Com a volta de Vargas ao poder e, sobretudo, a partir da mensagem

presidencial de 1952, estabelecendo a reserva de 3% sobre o valor total da arrecadação

36

do sistema previdenciário para o SAPS, evidenciava que sua importância política ainda

permanecia. Essa mensagem causou uma grande controvérsia no Congresso, pois

exatamente naquele momento o Legislativo discutia o projeto da Lei Orgânica da

Previdência Social - LOPS, a disputa foi tão acirrada que a LOPS nem sequer foi

discutida.

A LOPS só foi aprovada em 1960, no final da gestão de JK, em um período pré-

eleitoral.

Embora fosse bastante combatido pelo vulto das verbas que consumia e por

privilegiar somente empregados dos setores urbanos mais industrializados, a

rentabilidade política do SAPS junto às classes assalariadas era bastante grande.

Na Terceira Conferência Latino-Americana de Nutrição, realizada em Caracas,

Venezuela em 1953, dados estatísticos demonstraram o crescimento do SAPS entre

1951/1953.

Para L'ABBATE (1988 : 105) o SAPS foi:

"...a primeira agência governamental de política de alimentação no nosso país,

suas funções mais imediatas e que merecem reflexão, pois como um órgão

destinado à execução de parte da política social do Estado, essas funções se

interrelacionam a uma determinada conjuntura econômico-social e política que

lhe imprime força e sentido, o Serviço foi gerado no âmbito da política de massa

ou populista, objetivando contribuir para estabelecer um laço simbólico entre as

classes trabalhadoras e o Estado, servindo para suavizar as tensões sociais,

contraproducentes em um contexto em que todos os esforços deveriam estar

voltados para o desenvolvimento econômico de base capitalista industrial sob a

vigência da ideologia nacionalista".

Segundo CASTRO (1977), o SAPS ao encarar o problema da alimentação do

povo brasileiro, especialmente do trabalhador, procurou ao mesmo tempo estudar o

homem e o alimento, as condições de nutrição e a situação econômica, os hábitos

alimentares do indivíduo e as particularidades bioquímicas dos elementos integrantes da

37

alimentação.

Através de inquéritos alimentares realizados em diferentes bairros da Capital da

República por pesquisadores ligados ao SAPS, especialmente onde era maior a

concentração da massa trabalhadora, foram apurados não só os hábitos alimentares, as

compras mais frequentes de alimentos, a quantidade e qualidade dos mesmos, o

número de pessoas da família dependentes do salário do trabalhador, o ganho da

família, suas condições econômicas, como também a situação higiênica do lar dos

trabalhadores. A atuação do SAPS envolvia também a família do trabalhador,

extrapolando suas funções institucionais.

A utilização do SAPS, especialmente do restaurante da Praça da Bandeira, onde

Vargas recebia visitantes estrangeiros, servia como vitrine do trabalhismo. Quanto aos

estudos ligados à alimentação, o Órgão executou um plano de trabalho que envolveu

não só a análise dos alimentos, tendo em vista o seu valor biológico e o planejamento de

cardápios racionais, como também realizou cursos especializados para a formação de

Nutrólogos e Nutricionistas.

Segundo L'ABBATE (1988 : 105), a força do SAPS no populismo, sobretudo de

Vargas, é apenas uma parte do seu significado. O papel do SAPS na perspectiva da

história da alimentação no Brasil foi primordial. Por suavizar tensões e criar um laço

simbólico entre os trabalhadores e o Estado. Apesar dos problemas administrativos,

denúncias de corrupção e práticas de clientelismo, o SAPS resistiu por vinte e sete anos.

Para COIMBRA (1985 : 86):

“... a motivação básica, à luz das informações disponíveis, parece inquestionável

estar no plano político, algo visível se olharmos o SAPS com cuidado.

Clientelisticamente administrado, gerando muito mais um discurso que uma

ação, pulverizando-se em inúmeras atividades, o SAPS foi uma agência

eminentemente ideológica, o que ajuda a entender porque o empresariado

pouco se preocupou em defendê-lo quando foi extinto em 1967”.

“O desaparecimento do SAPS no entanto, não invalida o fato de ter este Órgão

38

representado uma política desenvolvimentista, demonstrando que não importa o

modelo escolhido, o desenvolvimento não pode ser realizado sem uma

alimentação adequada, que se traduz em bem estar físico e intelectual,

responsáveis por uma sociedade de homens sadios”.(CASTRO, 1977)

Segundo COIMBRA (1985:78), foi a partir da criação do SAPS que originou-se a

política de alimentação e nutrição stritu sensu no País.

O Serviço foi extinto durante o regime militar, possivelmente pelo poder de

congregar a classe trabalhadora em seus restaurantes, facilitando os movimentos

sociais, reprimidos pelos governos da época.

A década de 60 assistiria a uma transformação fundamental quanto à

alimentação e nutrição do trabalhador, o tema desapareceu da agenda da política social

brasileira por dez anos, no período de recesso geral da cidadania representado pelo

autoritarismo instalado em 1964.

O SAPS conviveu com duas outras agências de política de alimentação: o

Serviço Técnico de Alimentação Nacional - STAN, de 1942 a 1945 e a Comissão

Nacional de Alimentação - CNA, de 1945 a 1972.

1.3.2 - SERVIÇO TÉCNICO DA ALIMENTAÇÃO NACIONAL –STAN

O STAN foi criado através da Portaria n 0 542 de 19 de outubro de 1942, como

Órgão da Coordenação da Mobilização Econômica, instituída em setembro do mesmo

ano, tinha poderes de Ministério, mediante o qual o governo coordenava todas as

atividades relacionadas aos assuntos econômicos nacionais, de um país em estado de

guerra. (IANNI APUD L'ABBATE, 1988 :106)

O STAN visava:

"...a obtenção de elementos e dados científicos seguros, com os quais pudesse

dar uma assistência técnica efetiva às fontes nacionais de produção de

alimentos, aos agricultores e aos industriais.

39

"...atender à necessidade de que se estabelecesse para todo o país um plano de

economia alimentar cientificamente dirigido". (L'ABBATE 1988 : 106)

Josué de Castro foi designado para dirigir e elaborar o regulamento do STAN,

segundo o qual contaria com uma Divisão Técnica (com quatro Consultorias: Política

Econômica da Alimentação; Produção Agrícola e Indústrias Alimentares; Investigações

Biológicas; Propaganda Alimentar e Organizacional) e uma Divisão Administrativa.

(COIMBRA APUD L'ABBATE 1988: 106)

O STAN, através da Consultoria Técnica da Produção Agrícola e de Indústrias

Alimentares incumbiu-se de orientar tecnicamente a produção agrícola e industrial de

alimentos, de acordo com as necessidades da nutrição nacional.

Os resultados práticos, de acordo com o Josué de Castro, desse apoio do STAN

à industrialização em grande escala de produtos alimentares, visavam os interesses da

coletividade. Pela primeira vez uma agência da política de alimentação se referia

claramente à indústria de alimentos como solução para o problema alimentar da

população, tendo início assim a colaboração entre os nutrólogos e a indústria.

(COIMBRA APUD L'ABBATE 1988 :107)

Para aperfeiçoar a indústria brasileira, aprimorar o desenvolvimento tecnológico

e implementar novos métodos de conservar alimentos, foi criado em 1944, o Instituto de

Tecnologia Alimentar - ITA.

A criação do Instituto foi de grande importância para o desenvolvimento da

Ciência da Nutrição no Brasil, considerado como um sinal eloquente da formação de um

anel burocrático entre os nutrólogos e a indústria. Todo o equipamento para o laboratório

de pesquisas foi doado pelos industriais do ramo de alimentos. (Grifos nossos)

Segundo Fernando Henrique Cardoso (1982), por anéis burocráticos entende-se

o estabelecimento de laços formais e informais entre indivíduos que representam os

interesses privados e os detentores de cargos importantes na burocracia pública,

produzindo-se dessa forma canais de influência sobre a formulação e execução de

políticas diretamente relacionadas aos interesses privados.

40

Para os nutrólogos do grupo de Josué de Castro o ITA representava :

"... o indício inegável do espírito de agregação, união e solidariedade das

indústrias brasileiras que demonstram à sociedade o equilíbrio financeiro e

humanístico em que geram seus múltiplos negócios (...) é assim uma pura

expressão do patriotismo sadio, de nacionalismo sem retórica". (Arquivo

Brasileiro de Nutrição, APUD L 'ABBATE 1988 : 108)

O STAN organizou a Campanha Nacional de Vitaminas visando implementar o

desenvolvimento das indústrias nacionais na produção de comprimidos de vitaminas e

instituiu através do Conselho Federal de Comércio Exterior, uma comissão para estudar

as bases de implantação da indústria de desidratação de produtos alimentares no Brasil

(L'ABBATE, 1988 : 109).

As atividades do STAN voltaram-se sobretudo para a área de Tecnologia

Alimentar, visando aumentar a produção interna de alimentos e de produtos

farmacêuticos.

Outra direção das atividades de Castro no STAN orientou-se para o

desenvolvimento de propostas relacionadas à educação alimentar, através de

campanhas educacionais difundidas para todas as camadas sociais por meio de

palestras radiofônicas e para as elites (médicos, químicos, higienistas, agrônomos,

tecnologistas alimentares, educadores e sociólogos) através de uma publicação

específica, os Arquivos Brasileiros de Nutrição, primeira revista sobre nutrologia editada

no país e cuja finalidade era estimular e divulgar as realizações nacionais no setor

científico de alimentação, ao mesmo tempo em que oferecia aos estudiosos um

panorama das mais recentes conquistas em nutrologia. Esses Artigos foram editados

durante vinte e quatro anos, de 1944 a 1968. (CASTRO, 1977 : 134) (Grifos nossos)

Entre os resultados da atuação do STAN destacamos: a portaria n 0 236 baixada

pela Coordenação em 12 de maio de 1944, obrigando a iodetação do sal de cozinha a

ser comercializado nas zonas de bócio endêmico e um projeto que não foi transformado

em lei, o enriquecimento do arroz com vitaminas.

41

A Coordenação da Mobilização Econômica, criada para enfrentar as

contingências da Segunda Guerra Mundial, foi extinta juntamente com STAN em 1945

(CASTRO, 1977:148).

O ITA que havia sido doado pelas indústrias ao STAN foi incorporado pela

Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro, sendo então

criado o Instituto de Nutrição.

O Decreto-Lei no 8.648 de 16 de janeiro de 1946 estabelecia:

"1 0 - Fica a Universidade do Brasil autorizada a incorporar o Instituto de

Tecnologia Alimentar, para o fim de constituir o Instituto de Nutrição.

2 o – A incorporação se fará sem ônus de qualquer espécie para a Universidade

do Brasil.

3 0 - O Governo Federal concorrerá para a manutenção do Instituto de Nutrição

somente a partir de 1947". (L' ABBATE, 1988: 117)

Josué de Castro permaneceu no Instituto de Nutrição até os anos 60, quando

teve seus direitos políticos cassados pelo regime militar, em 1964. Exilado na França,

esperou meses para que o Itamaraty revalidasse seu passaporte, mas seu pedido

sempre foi negado. Doente e deprimido, acabou morrendo em Paris sem poder retornar

ao seu país (Revista Veja, outubro/96).

1.3.3 - COMISSÃO NACIONAL DE ALIMENTAÇÃO - CNA

O Decreto-Lei n 0 7.328, de 17 de fevereiro de 1945, criou como Órgão do

Conselho Federal de Comércio Exterior, a Comissão Nacional de Alimentação - CNA,

destinada ao estudo de todos os assuntos relacionados à alimentação, com a finalidade

explícita de estudar e propor normas para a Política de Alimentação, vinculada ao

referido Conselho, foi transferida para o Ministério da Saúde e Educação, por força do

artigo 14 da Lei no 970, em 16 de dezembro de 1949. (CASTRO, 1977:142)

42

Instituída em 1945, a CNA só foi regulamentada em 1951 com a volta de Vargas

ao poder. O Decreto n 0 29.446, de 6 de abril de 1951, transformou a CNA em Comitê

Nacional da FAO - Food and Agriculture Organization (Organização de Alimentação e

Agricultura das Nações Unidas).

Segundo a FAO era necessário que os países latino-americanos

estabelecessem políticas e programas adequados de nutrição. A partir daí passou a

haver uma preocupação maior em elaborar o Primeiro Plano Nacional de Alimentação –

I PNA, fato que ocorreu em 1953.

A CNA estabeleceu o I PNA, cujas propostas partiram dos princípios

fundamentais de que o problema alimentar ou subnutrição deveria ser considerado o

problema no 1 de saúde pública no Brasil, com raízes mergulhadas na estrutura

econômica e social. Por ser um processo demorado e devido a gravidade da situação,

foram criados através da CNA programas para atender a desnutrição materno-infantil e

aos escolares; porém foi necessário que uma instância externa se dispusesse a pagar

os custos desses programas.

Em 1950 foi criado o programa na área materno-infantil e em 1954/55 foi criado

o programa da merenda escolar, ambos financiados pelo Fundo Internacional de

Socorro à Infância - FISI, ou United Nations Internacional Children Emergente Found -

UNICEF, criado pela Organização das Nações Unidas - ONU em 1946, para assistir às

crianças órfãs atingidas pela guerra na Europa.

Considerando a gravidade do problema alimentar da criança brasileira, o

governo pleiteou a ajuda do UNICEF para financiar os seus programas de proteção à

infância. Assim foram criados os programas de suplementação alimentar às gestantes e

nutrizes em 1950 e em 1954 às crianças em idade escolar.

O UNICEF intermediava a distribuição de alimentos entre o governo norte

americano e os países subdesenvolvidos (aqueles onde a emergência era permanente).

Foi com gêneros doados através desse Órgão que começaram os dois programas de

suplementação alimentar no Brasil.

A CNA assumiu o papel de orientação técnica e de assistência econômica, já

43

que suas atividades passaram a ser realizadas por entidades como o Departamento

Nacional da Criança - DNC e a Legião Brasileira de Assistência - LBA, entre outras.

Na realidade o único projeto concretizado pela CNA foi a Campanha Nacional da

Alimentação Escolar - CNAE, mesmo assim com o apoio e a participação efetiva do

UNICEF.

Com os militares no poder, a CNAE passou a ser dirigida por um general, cuja

missão era restabelecer as relações com a Agency for International Development -

USAID, administradora do "Programa de Alimentos para a Paz". Os entendimentos com

a indústria nacional foram ampliados através do fornecimento de alimentos formulados.

Durante quase trinta anos de existência a Comissão acabou por constituir-se

num elo de ligação entre a política de alimentação das décadas de quarenta e setenta,

representando uma mescla dos padrões de intervenção estatal utilizados num e noutro

contexto: a educação alimentar dos anos quarenta e a suplementação alimentar da

década de setenta.

Segundo L 'ABBATE (1989 : 129) na passagem de um para outro tipo de

intervenção se ganhou e se perdeu. Os ganhos dizem respeito à necessidade de que os

especialistas da nutrição tiveram de descer do sonho e da fantasia de querer reformar a

sociedade brasileira, através da educação nutricional, para o planejamento de propostas

possíveis de execução concreta, entre as quais o exemplo mais marcante é a CNAE, o

primeiro programa a utilizar sistematicamente a suplementação alimentar, e que só pôde

ser concretizado com a ajuda internacional, no começo através do UNICEF e da FAO

(década de 50) e mais tarde (década de 60), através do Projeto Norte Americano dos

Alimentos para a Paz.

As perdas dizem respeito à fragmentação interna em relação a aplicação das

políticas públicas às camadas da população que apresentam carências alimentares. Ao

privilegiar grupos considerados vulneráveis (gestantes, nutrizes, crianças de 0 a 6 anos

e escolares), enfatiza-se uma condição biológica de vulnerabilidade que, na verdade,

esconde uma situação de vulnerabilidade social. Embora a argumentação da

necessidade da suplementação para os grupos sensíveis ou vulneráveis tenha tomado

44

forma no discurso e propostas da política de alimentação dos anos setenta, foi na CNA a

partir de 1956, que ela teve início. (L'ABBATE, 1988: 129).

Criada para auxiliar o governo na formulação de uma política nacional de

alimentação e para coordenar vários órgãos da administração pública, a CNA nunca

chegou a cumprir satisfatoriamente as tarefas para as quais foi criada (L'ABBATE,

1988).

A degradação das condições de vida, saúde e nutrição da população menos

favorecida foram atestadas por inquéritos, inclusive por estudos de órgãos oficiais do

Estado Autoritário e por organismos internacionais. Os resultados dos inquéritos

nutricionais sobre o consumo alimentar e a prevalência de desnutrição, atestavam um

quadro alarmante.

Foi dentro deste contexto que a CNA foi substituída pelo Instituto de

Alimentação e Nutrição - INAN, como um dos Projetos-Impacto do governo Médici, os

objetivos da nova autarquia eram semelhantes aos da CNA.

1.4 - POLÍTICAS SOCIAIS DE NUTRIÇÃO E SAÚDE - DÉCADA DE 70

Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição - INAN

No decorrer de 1968, teve início a fase do chamado milagre econômico

(1968/73), o país apresentou taxas de crescimento expansionista, porém houve uma

grande ampliação da dívida externa brasileira. Com o primeiro choque dos preços do

petróleo em 1973, houve um declínio no crescimento econômico, aumento da taxa de

inflação e o fim do milagre brasileiro. (IUNES, 1995: 35)

Nos anos setenta ocorreu uma alteração radical de profundos impactos tanto

internos à política, quanto a nível da sociedade. As doações americanas de alimentos

foram canceladas. A necessidade de manter os dois programas de alimentação

existentes com gêneros obtidos no Brasil, para escolares e gestantes (nessa altura os

trabalhadores haviam sido excluídos da política alimentar) levou os responsáveis pela

45

política de alimentação a definir novos formatos de atuação. A CNAE estava em crise e

programa de atendimento ao grupo materno-infantil estava muito reduzido.

Na década de 70, despontou no cenário internacional o debate sobre a fome

mundial. A preocupação com a fome como problema social estava relacionada a

ameaça que esta representava à expansão do capitalismo ao minar sua força de

trabalho.

O Banco Mundial também demonstrava, através de pesquisas, um quadro

alarmante no Terceiro Mundo: uma proliferação crescente dos pobres absolutos (os que

recebem menos de 70 dólares por ano, per capita).

A FAO divulgou no período, inúmeras estatísticas mostrando as calorias e

proteínas consumidas pelos povos dos países do Terceiro Mundo.

Um estudo realizado pela FAO, baseado no padrão calórico instituído pelo

Órgão, no Nordeste brasileiro, demonstrava que os mais pobres se encontravam nos

limites mínimos de sobrevivência, enquanto os mais ricos se nutriam com cerca do

dobro de suas necessidades diárias porém, o número de famintos era muito maior.

É importante observar que o padrão calórico da FAO, baseia-se num homem e

numa mulher de referência hipotética. O homem de referência tem 25 anos de idade,

pesa 65kg , trabalha 8 horas por dia. .Suas necessidades calóricas são de 3.200

Kcal/dia. A mulher de referência tem 25 anos de idade, pesa 55 kg, dedica-se aos

afazeres domésticos ou trabalha em indústria leve, seu gasto energético é em média

2.300Kcal/dia.

Com a crise do capitalismo mundial e o fim do milagre brasileiro a perda salarial

das classes trabalhadoras, resultado do modelo econômico concentrador de renda,

diminuiu o poder de compra do assalariado, o item alimentação passou a ter um peso

cada vez maior no orçamento familiar.

O INAN foi criado pela da Lei 5829, de 30 de novembro de 1972, vinculado ao

Ministério da Saúde, e que passou a centralizar os planos e os programas de

46

alimentação, com o objetivo de formular a nível nacional uma política de alimentação e

nutrição e dar assistência ao governo na elaboração do Programa Nacional de

Alimentação e Nutrição - PRONAN.

Algumas metas propostas no Primeiro Plano Nacional de Desenvolvimento – I

PND (1972-1974), como as de apoiar as categorias de renda mínima, recuperar as

populações marginalizadas e transformar a economia de mercado da agricultura de

subsistência do Norte e do Nordeste, foram as medidas que de certa forma dirigiram as

propostas e programas do INAN.

Sob a tutela do INAN foi instituído em março de 1973, o I Programa Nacional de

Alimentação - I PRONAN, norteado pelo I PND, onde considerava-se que o

desenvolvimento social viria com o desenvolvimento econômico.

Os principais objetivos do I PRONAN eram promover a melhoria dos padrões

alimentares e nutricionais no Brasil, contribuindo para diminuir os efeitos da desnutrição,

para elevar os índices de aproveitamento escolar, para aumentar a produtividade da

força de trabalho e para melhorar as condições de acesso do homem na escala social.

(VASCONCELOS, 1988: 70)

O INAN propagava a idéia de que nutrição é desenvolvimento, a ideologia de

projeto impacto era explícita no I PRONAN, primeira política social do Órgão, cujas

atividades seriam executadas por intermédio de doze subprogramas, envolvendo várias

entidades públicas e privadas.

O I PRONAN por dificuldades técnicas e administrativas, não saiu do papel, a

causa do seu insucesso foi a crise institucional do INAN ocasionada por problemas

sérios de corrupção e irresponsabilidade, até hoje não esclarecidos a nível público.

(COIMBRA, 1985: 91)

Em meados de 1974, o INAN foi totalmente alterado, com a demissão da quase

totalidade da equipe inicial.

No II Plano Nacional de Desenvolvimento - II PND (1975/79), assinalava-se a

47

necessidade de manter acelerado o crescimento econômico, porém era preciso realizar

políticas redistributivas. Cabia ao Estado continuar promovendo a acumulação e ao

mesmo tempo intervir para que as classes subalternas prejudicadas com a política

econômica, não se subvertessem. Para dar conta dessa dupla intervenção, o meio

escolhido foi o estabelecimento de um plano de desenvolvimento no qual a política

social se tornasse um meio do Estado obter a adesão dos trabalhadores, sem descuidar

dos interesses do capital. Assim, no II PND planejou-se a estratégia de desenvolvimento

social, reforçando antigos planos e criando outros.

Após mais de um ano de estudos e debates foi lançado o II PRONAN, através

do Decreto n 0 77.116 de 06 de fevereiro de 1976, onde tomava corpo um novo enfoque

da alimentação e nutrição, constituía-se na materialização de um dos componentes

específicos contidos no II PND, o desenvolvimento social.

O II PRONAN foi levado a efeito pelo Conselho de Desenvolvimento Social -

CDS, Órgão integrado pelos Ministérios da Educação, da Saúde, do Trabalho e da

Previdência Social do Interior, chefiado pela Secretaria de Planejamento da Presidência

da República, tendo como objetivo dar à política social a emancipação no planejamento

e ação. (L 'ABBATE, 1988: 12)

A aprovação do II PRONAN foi viabilizada pelo fracasso das intervenções

anteriores, por pressões internacionais para o fortalecimento de programas de

alimentação nos países do Terceiro Mundo, pelo reconhecimento do agravamento dos

problemas alimentares, constatados através dos resultados do Estudo Nacional de

Despesas Familiar - ENDEF (1974/75), e especialmente pela aproximação das eleições

de 1976.

O ENDEF, principal fonte de informação sobre a desnutrição no Brasil, tanto a

nível regional como a nível nacional, além de dados financeiros, de despesas e gastos,

incluiu também medidas antropométricas, correlacionando-as com a quantidade de

alimentos consumidos. Os dados obtidos serviram de base para descrever os padrões de

consumo alimentar de cada região; analisar a situação dos recursos humanos no país;

48

estudar com detalhes o estado nutricional de mães e crianças e discutir a necessidade de

intervenções alimentares.

Com uma grande solenidade, marcada pela presença dos Ministros do CDS e de

todos os integrantes do Partido da Aliança Renovadora Nacional - ARENA, foi anunciado

o lançamento do II PRONAN pelo presidente Ernesto Geisel, como uma obra conjunta

do governo e do partido. (PELIANO, 1985: 192)

Dada a impossibilidade de atender, com ações específicas da área social, uma

população-alvo que correspondia a 60,2% da população total em 1976 (com renda até

02 salários mínimos), o II PRONAN, através de seus dirigentes selecionou três linhas

básicas de atuação: suplementação alimentar, racionalização de alimentos e

complementação alimentar.

Retomava-se assim o programa materno-infantil com a criação do Programa

Nacional de Saúde – PNS. Na mesma área e para o mesmo grupo populacional foi

criado o Programa de Complementação Alimentar - PCA .

Para o trabalhador de baixa renda foi criado o Programa de Alimentação do

Trabalhador - PAT, reconstituindo-se assim a tripla estruturação que a política perdera

com a extinção do SAPS.

A duração do II PRONAN estava prevista para o período de 1976/79, seus

programas entretanto, com alguma alterações vigoraram até 1985, quando foi lançado o

Programa Prioridades Sociais – PPS/85.

Criado durante o governo Geisel e apoiado pelo governo Figueiredo, o II

PRONAN teve aspectos positivos bastante relevantes: tratou a desnutrição como um

problema social, propôs medidas capazes de estimular e racionalizar o sistema de

produção e comercialização de alimentos básicos, ampliou a suplementação alimentar

para escolares e trabalhadores de baixa renda e subsidiou, com preços 50% menores

do que aqueles praticados por comerciantes locais a comercialização de alimentos aos

grupos vulneráveis, atendendo às propostas do Programa de Abastecimento em Áreas

de Baixa Renda - PROAB.

49

Segundo OLIVEIRA (1994:77):

“...no II PRONAN, o Estado utilizou uma técnica racional no planejamento das

políticas sociais de alimentação e nutrição, obedecendo a evidências científicas,

com propostas que se integravam num todo coerente priorizando a distribuição

de renda e a estrutura agrária, porém este planejamento técnico-científico não

deixou de ser ideológico”. (Grifos da autora)

Apesar dos pontos positivos o II PRONAN não foi capaz de solucionar o

problema da fome e da desnutrição, tanto pela insuficiência de recursos quanto pela

restrita atuação.

Segundo o Presidente Figueiredo (1985):

"...o encargo de equacionar a desnutrição, era um desafio gigantesco para o II

PRONAN, mesmo quando o governo, de forma integrada, reunisse todos os

seus esforços".

BOSI, concebe o II PRONAN:

"...como uma linha de frente que o Estado buscou para firmar sua continuidade

se legitimando frente aos grupos a ele subjugados, calcado na pretensa

racionalidade e neutralidade da ciência”

Segundo VASCONCELOS (1988), o II PRONAN apresentou:

"Um discurso inovador e progressista, com uma postura humanizante visando o

social (suas políticas) como algo intrinsecamente bom, ligado ao bem estar da

população que ficou à margem do crescimento econômico. Com este discurso

procurou-se garantir a paz, o equilíbrio social e a ordem vigente".

O II PRONAN concentrou-se em três linhas básicas de atuação:

1a Suplementação alimentar a gestantes, nutrizes e crianças de 0 a 6 anos,

escolares de 7 a 14 anos e a trabalhadores de baixa renda;

50

2a racionalização do sistema produtor de alimentos, com ênfase no estímulo do

pequeno produtor;

3 a atividades de complementação e apoio, basicamente destinados ao combate

às carências nutricionais específicas pelo enriquecimento de alimentos de

consumo corrente; ao apoio de estudos e pesquisas, inclusive tecnológicas, na

área de alimentação e nutrição; à capacitação e aperfeiçoamento de recursos

humanos; e ao desenvolvimento de adequada infra-estrutura de distribuição de

alimentos. destinadas ao combate de carências nutricionais específicas.

(VASCONCELOS, 1988: 75)

No período em estudo, aproximadamente 12 programas voltados para a

alimentação e nutrição estavam em execução. Neste trabalho trataremos apenas dos

programas de suplementação alimentar e em específico do Programa de Alimentação do

Trabalhador - PAT

Os programas de suplementação alimentar visavam :

a) Reduzir as carências nutricionais;

b) aumentar a resistência às doenças infecciosas e outras enfermidades;

c).melhorar a curto prazo de forma indireta, a distribuição de renda dos

segmentos mais carentes;

d) os alimentos oferecidos deveriam suprir cerca de 30% das necessidades

nutricionais dos beneficiários;

e) os hábitos alimentares deveriam ser respeitados, porém, em alguns casos

deveriam ser melhorados, através da educação alimentar

f) dependendo da disponibilidade e dos preços de mercado local, sempre que

possível deveriam ser utilizados alimentos in natura, adquiridos de pequenos

agricultores.

Vários setores se envolveram na primeira linha de atuação que reproduzia, pelas

51

suas características, a trajetória iniciada na década de quarenta e que se desdobrou em

subprogramas, tais como:

1.4.1 - PROGRAMA DE NUTRIÇÃO E SAÚDE – PNS

O PNS era coordenado pelo INAN/MS, em convênio com as Secretarias

Estaduais de Saúde, o programa visava o atendimento a gestantes, nutrizes e crianças

menores de sete anos, pertencentes às famílias de renda inferior a dois salários

mínimos. O atendimento era realizado nos postos de saúde, hospitais e instituições

beneficentes, através da distribuição de uma cesta básica de alimentos contendo arroz,

feijão, leite, farinha, fubá, açúcar e óleo.

A aquisição de alimentos era feita pela Companhia Brasileira de Alimentos -

COBAL que se responsabilizava ainda pelo beneficiamento, armazenagem e transporte

até as unidades de saúde, executoras a nível local.

A cobertura do programa passou de 1 milhão de beneficiários em 1976 para 2,4

milhões em meados de 1982, em 1983 atendeu a 4,2 milhões de pessoas do grupo

materno-infantil correspondendo a cerca de 20% da população-alvo. Apesar da

acentuada ampliação da cobertura populacional, houve uma acentuada redução da

quantidade e qualidade dos alimentos distribuídos pelo programa. O PNS teve início em

1980 e perdurou até meados de 1985, quando foi substituído pelo PSA - Programa de

Suplementação Alimentar.

1.4.2 - PROGRAMA DE COMPLEMENTAÇÃO ALIMENTAR – PCA

Desenvolvido pela Fundação Legião Brasileira de Assistência e Ministério da

Previdência e Assistência Social - LBA/MPAS, o PCA foi criado com o objetivo de

atender gestantes, nutrizes e crianças até três anos, de famílias de baixa renda, através

da distribuição de alimentos formulados : MO3 (vitamina tipo milk-shake), SSO3 (sopa

salgada) e CH3 (leite). Esses alimentos atendiam a 25% das necessidades nutricionais

52

do grupo beneficiado.

A aquisição era feita pela LBA, diretamente das indústrias do setor alimentício. O

PCA teve início em 1977 e atendeu até meados de 1983, cerca de 340 mil pessoas.

(COIMBRA, 1995: 33)

O PCA atendeu cerca de 1 milhão de beneficiários até meados de 1990, foi

desativado pelo governo Collor em 1991.

1.4.3 - PROGRAMA NACIONAL DE ALIMENTAÇÃO ESCOLAR - PNAE

O Ministério da Educação e Cultura e a Companhia Nacional de Alimentação

Escolar, atualmente Fundação de Alimentação Escolar, criou o Programa Nacional de

Alimentação Escolar - PNAE. Coordenado pela Fundação de Assistência ao Estudante e

pelo Ministério da Educação e Cultura - FAE/MEC, tem por objetivo assegurar a

suplementação alimentar às crianças do pré-escolar e do 1 0 grau de estabelecimentos

de ensino oficiais e filantrópicos.

Os produtos distribuídos variam entre alimentos formulados e alimentos básicos

de consumo tradicional. Desde sua instituição em 1955, o programa expandiu sua

cobertura gradativamente, atingindo cerca de 80% da população-alvo, porém em termos

nutricionais a cobertura no período foi de cerca 11% das necessidades do grupo alvo. A

partir de 1984 o programa sofreu alterações operacionais importantes, incorporando o

discurso da descentralização, regionalização, municipalização e participação

comunitária.

O melhor desempenho do programa foi em 1985, quando a relação

beneficiário/alimento atingiu 11,1Kg ano, atendeu a 21,7 milhões de crianças. Houve um

acentuado aumento do número de beneficiários em 1986, quando o PNAE passou a

atender os irmãos menores de 6 anos, o número de beneficiários atingiu 31,7 milhões de

crianças, representando na época 25% da população total do país.

53

1.4.4 - PROGRAMA DE ALIMENTAÇÃO DO TRABALHADOR - PAT

Coordenado pela Secretaria de Promoção Social do Ministério do Trabalho, o

PAT é destinado a subsidiar a alimentação do trabalhador. As refeições são distribuídas

nas próprias empresas ou através de cupons para serem utilizados em restaurantes

credenciados.

Este Programa por ser nosso objeto de estudo será analisado em detalhes a

partir do segundo capítulo .

1.5 - POLÍTICAS SOCIAIS A PARTIR DA DÉCADA DE 80

O segundo choque do petróleo em 1979 e o aumento dos juros da dívida

externa colocaram o Brasil em uma situação insustentável. Os anos 80 iniciaram-se com

uma nova tentativa de ajuste da economia, só que nos moldes do Fundo Monetário

Internacional - FMI. O país mergulhou numa profunda recessão, ocorreu um aumento

significativo nas taxas de desemprego, especialmente nos setores industriais.

A partir de 1979 uma série de alterações na política salarial, como a Lei no

6.708/79, que instituiu as correções semestrais baseadas no Índice Nacional de Preços

ao Consumidor - INPC de forma automática, independente de acordo ou dissídio e de

forma diferenciada para distintas faixas salariais, foi considerada como a medida de

arrocho salarial menos ruim. (VASCONCELOS, 1988 : 95) (Grifos do autor)

O ganho real dos mais pobres entretanto, foi parcialmente consumido devido à

recessão econômica e à explosão da inflação.

Na década de 80 à medida que os salários médios reais apresentavam uma

significativa estagnação, alguns dos benefícios mais populares como o vale-transporte e

o auxílio-alimentação tiveram um crescimento elevado. Esse tipo de benefício é

considerado como salário indireto e identificado pela maioria dos analistas, como HART

(1984) e WOODBURY (1983) (APUD ARBACHE, 1995: 1298), como um suplemento

fornecido aos empregados pelo empregador de forma voluntária ou negociada.

54

Em 1983, o governo emitiu vários decretos-lei, que ou acabavam com os

reajustes diferenciais e decretavam reajustes únicos ou alteravam a fórmula de cálculo

do INPC.

Em novembro de 1984, passou a vigorar a Lei n o 7.238, que estabelecia o

reajuste de 100% do INPC para a faixa salarial de até 03 salários mínimos e 80% para

as demais.

Segundo a Pesquisa Nacional de Amostras Domiciliares - PNAD/FIBGE, em

1983 - 47,5% da População Economicamente Ativa - PEA, recebiam menos de 01

salário mínimo e 82% recebiam até 03 salários mínimos, somente 3% da PEA recebiam

mais de 10 salários mínimos.

Entre 1980 e 1983, segundo dados do INAN, o aumento dos preços dos

alimentos básicos (Recife, Belo Horizonte) foi equivalente ao dobro dos reajustes do s.

m.

O Brasil possuía no período, 11 milhões de crianças carentes; 12 milhões de

trabalhadores sem terra e 8,7 milhões de bóia-frias.

Em 1984, 48% dos jovens alistados no serviço militar foram desqualificados por

apresentarem baixa estatura e baixo peso (SILVA, 1994)

O Plano Cruzado implantado em 1986, sob o governo civil visava conter a

inflação através do congelamento de preços e salários. Em poucos meses a inflação

voltava, novas tentativas para controlá-la foram implementadas, porém sem sucesso.

A Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição - PNSN (1989), mostrou que existiam

13 milhões de brasileiros maiores de 18 anos com baixo peso, sendo que destes

aproximadamente 20% pertencia a famílias com renda mensal de meio salário mínimo

per capita. Esse contingente de desnutridos (efetivos ou em potencial) encontrava-se

concentrado no Sudeste urbano (4,7 milhões) e no Nordeste (4,6 milhões ). (IPEA,1992:

6)

55

Em geral as condições de vida da população são tidas como problemas e a

proteção do Estado como prática legitimada pelas reivindicações sociais,

desenvolvendo-se então um conjunto de ações que visam naturalizar as condições

subalternas de trabalho ao capital. Os salários têm a função de manter o trabalhador e

de prover meios para a sua continuidade, isto é, a manutenção de sua família.

Entretanto desde a sua implantação em 1940, o salário mínimo praticamente nunca foi

capaz de atender a esses propósitos. (tabela 1)

Tabela 1 - Evolução do salário mínimo - 1940/97: médias anuais em R$

e % em relação ao valor de 1940

ANO V. ABSOLUTO %

1940 631,74 98,02

1945 431,99 67,02

1950 256,78 39,84

1957 790,50 122,65

1960 646,42 100,30

1970 444,26 68,93

1975 366,76 56,90

1980 398,16 61,78

1985 343,14 52,24

1990 187,47 29,09

1995 129,58 20,11

1997 112,00 17,50

Fonte DIEESE (adaptação) – 96/97/98.

Se considerarmos os períodos de 1970 a 1975, por exemplo, os números

mostram que houve uma redução de 29,09% e 41,12% respectivamente no valor do s.

m. real, tendo como referência o s. m. de 1940. Em 1997, de acordo com o DIEESE, a

perda salarial foi superior a 80% em relação a 1940.

56

A ração essencial mínima foi criada pelo Decreto-Lei 399 de 30/04/38,

atualmente denominada cesta básica, tem seu custo calculado pelo tempo que o

trabalhador de s. m. precisa trabalhar para comprá-la, conforme jornada legal de

trabalho. É composta de carne, leite, feijão, arroz, farinha, batata, tomate, pão, café,

banana, açúcar, óleo e manteiga. (DIEESE,1993)

Os dados do DIEESE sobre a evolução do valor real do s. m. e o tempo de

trabalho necessário para a aquisição da ração essencial mínima, atestam a queda do

poder de compra do assalariado. (tabela 2)

Tabela 2 - Tempo médio anual para a aquisição da ração essencial mínima * e

a relação entre o custo da ração e o s. m. - São Paulo – 1970/93.

Ano Tempo médio p/aquisição da ração

Custo da ração em s.m. (%)

1970 105h12 min. 43,84

1975 149h39 min 62,36

1980 157h22 min 65,57

1985 177h44 min 74,05

1990 203,h19min 92,42

1993 164h min 80,98

Fonte : DIEESE – São Paulo (1993)

Segundo dados do IBGE em 1995, mais de 25% dos assalariados ganhavam até

um salário mínimo e na Região Nordeste cerca de 50%, incluindo os servidores públicos

e militares, considerando apenas o trabalho principal dos assalariados.

Em um país em os 10% mais ricos detêm cerca de 48% do total de rendimentos

mensais de todos os ocupados, a redistribuição de renda é um imperativo social e a

57

valorização do s. m. é uma das políticas de renda mais eficientes para reduzir as

desigualdades sociais e regionais no país.(SERENO - 1o Secretário Nacional da CUT –

Resenha/Desep)

Segundo IUNES (1995 :51), a trajetória do perfil da distribuição da renda no

Brasil pode ser analisada por meio dos valores alcançados pelo coeficiente de Gini,

indicador de desigualdade na distribuição de renda e que varia de 0 a 1; onde 0

corresponde a perfeita igualdade e 1 a desigualdade absoluta. (tabela 3)

Tabela 3 - Coeficiente de Gini. Brasil (1960 a 1989)

Ano Coeficiente de Gini

1960

1970

1976

1980

1981

1983

1985

1986

1987

1988

1989

0,497 (1)

0,571 (2)

0,589 (1)

0,590 (1)

0,573 (2)

0,592 (2)

0,600 (2)

0,588 (1)

0,595 (2)

0,619 (2)

0,636 (2)

Fontes : (1) Reis, Rodriguez e Barros (1991); (2) IBGE Indicadores

Sociais, 1979,/1984.

Selecionamos três décadas 60, 70 e 80, para analisar, observamos que o

58

crescimento das desigualdades na década de 70 aumentou quase 15% em relação à

década de 60, com uma estabilização do coeficiente no final de 1970. Os anos 80

evidenciaram tendência a recrudescimento, quebrada em 1981, provavelmente por

causa da mudança da política salarial, e em 1986 por causa dos efeitos distributivos do

Plano Cruzado.

Conforme dados da tabela 3, nas últimas três décadas o país acumulou uma

elevação de 28% no índice de desigualdade.(IUNES, 1995: 52)

O grau de desigualdade social vinculado à concentração de renda foi um tema

bastante debatido na época da crise do regime militar e da redemocratização política

brasileira.

A defesa de políticas sociais redistributivas caracterizou o governo de transição

de Tancredo-Sarney sob os slongans “resgate da dívida social “ e “tudo pelo social”.

Não por acaso, a partir de 1985, as palavras fome e desemprego que estiveram

ausentes no discurso e planejamento do governo militar, embora agudizadas no período,

foram incorporadas aos instrumentos de política social no contexto da Nova República.

A recessão econômica, o aumento dos preços dos alimentos básicos em níveis

superiores aos da inflação e a política de compressão salarial, foram os elementos

responsáveis na determinação do processo de fome/desnutrição, segundo o discurso do

Programa das Prioridades Sociais para 1985 – PPS/85, justificando a adoção de

políticas sociais de suplementação, na área de alimentação e nutrição.

Na época aproximadamente 87 milhões de pessoas eram subalimentas e 11

milhões estavam desempregadas.

Era evidente no discurso e na prática do PPS/85, o resgate dos mecanismos

populistas visando estabelecer laços simbólicos entre o povo e o presidente, procurando

criar instrumentos de geração de legitimidade e hegemonia.

Assim podemos deduzir que as políticas sociais exercem papel importante na

manutenção da ordem e da estabilidade política, observamos também que durante as

crises econômicas e políticas houve uma expansão dos programas e uma maior

cobertura da população-alvo. (tabela 4)

59

Tabela 4 - Salário mínimo comparado com o valor de 1940 =100 e a evolução dos programas

de alimentação no período - 1940/97.

ANO % s. m.

real

Políticas sociais de alimentação e nutrição

1940 98,02 Serviço de Alimentação da Previdência Social – SAPS

1950 39,84 Nutrição Materno-Infantil

1952 98,77 Comissão Nacional de Alimentação – CNA

1954 111,04 Campanha Nacional de Alimentação Escolar- CNAE

1970 68,93 INAN(1972): PRONAN I e II, PNS, PROAB, PROCAB,PAT e CNAE

1980 61,29 Brasil – FAO: 40 maior exportador mundial, 8 a maior economia capitalista e

o 6 0 país em desnutrição.

Programas: PNAE, PSA, PCA,PNL,PAP, PCCNE e PAT

1990 29,09 INAN, PAT e PNAE

1996 19,38 INAN, PAT e PNAE

1997 17,50 PAT e PNAE, desativação do INAN

Fonte DIEESE (adaptação) – dados de 1980/90/98.

Segundo estimativas do IPEA, os gastos com área social durante a segunda

metade da década de 70 até 1980 tiveram uma rápida ascensão, a crise do início da

década de 80 levaram a cortes profundos na área, atingindo quase 27%.

“O entendimento dos efeitos da crise sobre a dinâmica das políticas sociais

passa antes de tudo, pelo conhecimento do comportamento dos gastos

governamentais com os programas sociais”. (OLIVEIRA, 1994: 54)

A partir de 1985, ocorreu uma recuperação no nível dos gastos sociais que

atingiram seu pico em 1990, com valores quase 21% superiores a 1980.

Durante a Nova república as causas básicas da fome não foram atacadas

porém, foram lançados programas paliativos para atenuar o problema. O volume de

recursos foi bastante ampliado, podemos citar seis programas federais de alimentação e

nutrição que tiveram destaque no período:

60

a) Rede Somar de Abastecimento, que deveria ser reestruturada e ampliada

juntamente com a COBAL;

b) PROAB - Projeto de Abastecimento de Alimentos Básicos – que deveria ser

absorvido pela COBAL. Em 1987 o programa assistiu a 3,4 milhões de beneficiários, foi

extinto em 1989 pelo governo Sarney;

c) PSA – Programa de Suplementação Alimentar, nova denominação do PNS –

Programa de Nutrição e Saúde que deveria limitar-se à distribuição de uma cesta básica

de alimentos a gestantes, nutrizes e crianças de 6 a 36 meses, concentrando o

atendimento nas áreas mais carentes do Nordeste e do Sudeste, cuja renda fosse de até

2 salários mínimos. A partir de 1986 o atendimento estendeu-se às crianças até 4 anos.

O PSA atingiu 9 milhões de beneficiários, foi desativado em 1992, pelo governo

Collor.

d) PNAE – Programa Nacional de Alimentação Escolar, que deveria implementar

alterações operacionais no sentido de aumentar a sua eficiência, ainda continua em

execução, com poucas mudanças.

e) Programa de Alimentos nas Creches-Casulo, desenvolvido pela LBA;

f) PAT - para os trabalhadores com renda até cinco salários mínimos.

Em 1989, restavam cinco programas de alimentação e nutrição: PSA, PNAE,

PCA, PAT e o Programa Nacional do Leite a Crianças Carentes - PNLCC, criado pelo

presidente Sarney.

O PNLCC, beneficiou cerca de 7,8 milhões de crianças em 1990, foi extinto em

1991 por Collor.

O fim da década de 80 foi marcado por inflação crescente e total descontrole

sobre as políticas econômicas, incapacitando os vários governos de implantar políticas

redistributivas. Os cortes impostos à área social nos anos de 1991 e 1992 trouxeram o

nível de gastos do setor para os valores do início da década de 80.

61

Dos programas existentes no início da gestão Collor restaram apenas o PNAE e

o PAT, e os programas criados para serem administrados pela LBA: Programa de Apoio

Nutricional - PAN e da Distribuição de Leite, voltados para gestantes, nutrizes e crianças

de 6 a 36 meses.

Para acompanhar criticamente as políticas implementadas pelo Presidente

Collor, nas principais áreas sociais, foi criado o Governo Paralelo, constituído por um

grupo de técnicos pertencentes ao Partido dos Trabalhadores - PT.

De acordo com o Governo Paralelo:

“...por considerar a alimentação como um direito elementar de todo ser humano,

confundindo-se com o próprio direito à vida, garantir esse direito é uma

responsabilidade pública que precisa ser assumida pela coletividade e pelas

instituições representativas, em especial pelo governo.

A amplitude da miséria torna mais urgente o enfrentamento da questão, à

medida que grande parte dos trabalhadores deixa de comprar alimentos básicos,

sendo excluída do acesso a produtos de preços elevados, consequentemente a

desnutrição e a fome atingem camadas cada vez mais extensas da população.

Diante desse quadro, o Governo Paralelo apresenta à sociedade brasileira, sua

Política Nacional de Segurança Alimentar, cuja proposta se baseia em uma

visão abrangente da problemática alimentar e busca superar as práticas

clientelísticas que têm caracterizado a maioria das ações governamentais nesta

e em outras questões de natureza social. Sob o enfoque deste documento, a

questão alimentar e nutricional deixará de estar à margem e sob controle

nominal da área da Saúde, tornando-se alvo de uma política global de governo.

A Política Nacional de Segurança Alimentar tem por objetivo obter uma

disponibilidade agregada nacional de alimentos que seja simultaneamente

suficiente, para atender à demanda efetiva e potencial; estável, na medida em

que busque neutralizar as inevitáveis flutuações cíclicas; autônoma, ao lograr a

auto-suficiência nacional nos alimentos básicos; sustentável, pois deve garantir o

62

uso a longo prazo dos recursos naturais; equitativa, ao possibilitar o acesso

universal ao mínimo nutricional, do ponto de vista quantitativo e qualitativo.

O caráter estratégico da Segurança Alimentar e a abrangência dos objetivos da

Política Nacional de Segurança Alimentar exigem a afirmação da

responsabilidade do Estado, materializada na constituição de um Conselho

Nacional de Segurança Alimentar que articule as ações dos diversos órgãos

públicos e possibilite a participação dinâmica de representantes da sociedade.

A Política de Segurança Alimentar tem como pressuposto que as chamadas leis

do mercado ou livre jogo das forças de mercado são incapazes de solucionarem

os problemas centrais do subdesenvolvimento, como são a fome, os

desequilíbrios sociais e regionais".

No governo Itamar a fome foi tratada com uma perspectiva mais ampla de

distribuição de renda e eliminação da pobreza, as propostas de retomada dos

programas sociais de alimentação desativados no governo anterior renasceram.

Nessa fase começou a se cogitar no governo uma concepção mais universalista

de cidadania. O primeiro pacote de medidas para combater a fome e o desemprego foi o

Programa do Leite, para gestantes e crianças desnutridas.

O presidente Itamar foi mais aberto às reivindicações da classe trabalhadora,

sem entretanto tomar iniciativas próprias. Num gesto assistencialista aceitou a proposta

do PT para combater à fome e à miséria, fato que constituiu um avanço e uma mudança

na história das políticas sociais de alimentação e nutrição.

No Plano de Cidadania Contra à Fome, à Miséria e Pela Vida, liderado pelo

sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, foi reivindicada a criação de um Conselho de

Segurança Alimentar - CONSEA, Órgão Consultivo da Presidência da República,

composto por representantes da sociedade civil e Ministros do Estado para discutir as

propostas de enfrentamento do problema alimentar no país.

Após mais três anos do governo de Fernando Henrique Cardoso, já é possível

63

demonstrar que os gastos sociais não foram prioritários. As altas taxas de juros

praticadas nos últimos anos, associadas ao crescimento da dívida externa implicaram no

aumento de recursos destinados ao pagamento de juros e encargos, reduzindo o

montante de investimentos. Em 1996, foram gastos 20 bilhões de reais em juros e

encargos da dívida, 4 bilhões em investimentos, destes, apenas 960 milhões foram

destinados à área social (educação, cultura, saúde e saneamento). (Resenha Desep n o

10)

A expressiva redução dos gastos sociais tem implicado na deterioração das

condições de vida da população brasileira. O controle inflacionário, tido como pré-

condição para tornar o orçamento público um instrumento de planejamento dos gastos

do governo, não tem sido suficiente para a ampliação do investimento na área social.

O INAN por não ter tido apoio político e autonomia financeira, compatível com a

natureza das atividades que lhe foram atribuídas, ficou restrito à rotina burocrática de

acompanhar seus programas. O INAN foi desativado em 2 de maio de 1997 por

Fernando Henrique Cardoso.

Mesmo tendo em vista o projeto de modernização que a longo prazo tem o

objetivo de aumentar a competitividade da indústria brasileira, é imprescindível o

investimento na qualificação da mão-de-obra, o que requer maior volume de recursos na

área social, especialmente na área educacional, alimentar e de saneamento básico.

64

CAPÍTULO 2

O PROGRAMA DE ALIMENTAÇÃO DO TRABALHADOR

2.1 – CARACTERÍSTICAS GERAIS – 1977/95

O Programa de Alimentação do Trabalhador - PAT foi criado pelo II PRONAN e

desenvolvido pelo Ministério do Trabalho através da Lei n o 6.321 de 14 de abril de 1976,

decretada pelo Congresso e sancionada pelo Presidente da República Ernesto Geisel.

Dirigido pela Secretaria de Promoção Social, o PAT só iniciou efetivamente as suas

funções em 1977, segundo a Legislação teria como alvo o trabalhador de baixa renda,

ou seja, aquele que recebesse até dois salários mínimos.

Das primeiras comissões do PAT, onde se destacaram profissionais como o ex-

ministro Arnaldo Prieto e o nutrólogo David Luiz Boianovsky, criador do Programa,

somente a Dr a Eglacy Porto Silva, que desde de agosto 1977 cuida da alimentação do

trabalhador, permanece atuante.

Para muitos analistas das políticas sociais, o PAT não se constituí propriamente

em uma política social stritu sensu e, sim num subsídio oferecido pelo governo federal

aos trabalhadores inseridos no mercado formal de trabalho, quer pela forma com se dá

seu financiamento, quer pela população atingida, isto é, selecionada.

Segundo FALEIROS (1995: 56), subsídio é uma medida de política social,

através da qual percebe-se uma forma de intervenção do Estado que se dá através de

crédito, desconto ou doação.

O custo do financiamento do Programa de Alimentação do Trabalhador é arcado

basicamente pelas empresas, pelos trabalhadores e pelo governo. As empresas

participantes do Programa têm direito a incentivo fiscal através de desconto do Imposto

de Renda devido.

De acordo com a Legislação, o incentivo fiscal refere-se à dedução do lucro

65

tributável para fins de Imposto sobre a Renda das Pessoas Jurídicas - IRPJ, do dobro

das despesas realizadas em programas de alimentação do trabalhador, desde que esta

dedução não ultrapasse 5% em cada exercício financeiro. A partir da Lei n o 9.532 de 11

de dezembro de 1997, a dedução passou a ser de 4%. A parcela cobrada ao trabalhador

pelo PAT não pode ser superior a 20% do custo da refeição, cabendo à empresa 32% e

ao governo 48%.

Considerando o custo de uma grande refeição (almoço, jantar ou ceia) em torno

de Cr$ 100,00 (preço em 1985), o trabalhador pagava Cr$ 20,00 e os restantes Cr$

80,00 eram divididos entre a Empresa e o Governo, na seguinte proporção: 60% (Cr$

48,00) a ser deduzido do Imposto de Renda e 40% (Cr$32,00) por conta da empresa.

Atualmente o valor máximo da refeição, para fins de cálculo do incentivo fiscal

equivale a três Ufirs conforme a Instrução Normativa DRF n o 16. O custo direto da

refeição deverá ser lançado em despesas operacionais e servirá de base para cálculo da

parcela de responsabilidade do assalariado e do empregador. O valor de três Ufirs é

usado apenas para cálculo do incentivo fiscal, a empresa poderá pagar mais, arcando

sozinha com a diferença.

Para fazer jus ao incentivo fiscal, a empresa beneficiária deverá ser inscrita no

Programa de Alimentação do Trabalhador, o formulário oficial (modelo em anexo) é

adquirido na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT, sem ônus para o órgão

gestor do PAT.

A remessa do formulário de adesão ao Programa, realizada entre 1/1 e 31/3,

garante os benefícios durante doze meses do ano em curso. Após 31/3 os benefícios

serão relativos à data da postagem até 31/12. A inscrição deve ser repetida anualmente.

As exigências nutricionais das refeições fornecidas pelo PAT para as refeições

maiores (almoço, jantar ou ceia), segundo a Legislação, deverão conter um mínimo de

1.400 calorias e 6% de NDpCAL (relação entre calorias totais e proteína líquida); as

refeições menores (desjejum e merenda) devem conter o mesmo percentual de NDpCAL

e o mínimo de 300 calorias

66

Inicialmente só as grandes empresas aderiram ao PAT, devido ao alto custo

para implantar um serviço de alimentação, levando em consideração o preço dos

equipamentos necessários para montar uma cozinha industrial. Atualmente o

atendimento se dá através de diversas modalidades de serviços, tais como:

a) - Sistema próprio (autogestão) – a empresa beneficiária assume a

responsabilidade pela contratação de pessoal, elaboração e distribuição das refeições

no local de trabalho).

De acordo com dados da Central Geral dos Trabalhadores/brasil - CGTB, em

1995 aproximadamente 2 milhões de trabalhadores foram beneficiados por esta

modalidade de atendimento.

b) - Serviços de terceiros – o fornecimento de refeições é formalizado através de

contrato firmado entre a empresa participante e concessionárias.

Quando a empresa beneficiária se utilizar do serviços de terceiros, deverá

certificar-se de que esses sejam registrados no PAT conforme as exigências contidas na

Portaria MTb n o 1.156, de 17/09/93. Esta modalidade dispõe das seguintes opções:

b.1) - Refeição transportada – as refeições são preparadas em cozinha

industrial, transportada até local do trabalho e distribuída aos empregados da empresa

participante.

b.2) - Administração de cozinha e refeitório - a empresa participante contrata os

serviços de uma terceira que utiliza as instalações da primeira, para preparar e distribuir

as refeições aos empregados.

Segundo dados da CGTB, em 1995 cerca de 2,3 milhões de trabalhadores

receberam alimentação através este sistema.

b.3) - Refeição-convênio - os empregados da empresa beneficiária recebem as

refeições em restaurantes conveniados com empresas operadoras de vales, tíquetes,

cupons, cheques etc., com valor suficiente para o consumo de uma refeição.

67

b.4) - Alimentação-convênio - a empresa contrata serviços de terceiros para

fornecer senhas, tíquetes, etc., utilizados pelos trabalhadores para comprar gêneros

alimentícios em supermercados filiados . Conforme dados do MTb, em 1995, mais de

5,1 milhões de trabalhadores foram beneficiados com os tíquetes-convênio.

b.5) - Cesta básica de alimentos - a empresa fornece a seus funcionários uma

cesta básica mensal, em quantidade e composição suficientes para garantir pelo menos

uma refeição diária, dentro dos valores nutricionais estipulados por lei.

A cesta básica de alimentos deverá garantir os valores nutricionais estipulados

por lei, de acordo com o tipo de refeição escolhida. Os valores de face de cada folha do

carnê de refeições-convênio devem assegurar a aquisição de pelo menos uma refeição

com os valores nutritivos recomendados.

Em relação às modalidades de atendimento, o sistema convênio corresponde

aquele com maior participação no número de trabalhadores beneficiados (55% em 1995,

sendo 44% para refeição/alimentação-convênio e 11% para cestas básicas), seguido

pelo sistema fornecedor ou de refeições coletivas (25%) e o sistema próprio

(20%).(gráfico 1)

Gráfico 1

Distribuição dos trabalhadores beneficiados por sistema de atendimento ( 1995 )

Cesta básica11%

Próprio20%

Fornecedor25%

Convênio refeição alimentação

44%

Fonte MTb/FIA/USP – 1996.

68

Essas novas formas de atendimento possibilitaram a adesão de pequenas e

médias empresas ao Programa.

As pessoas jurídicas que pretendam credenciar-se como fornecedoras ou

prestadoras de serviços de alimentação coletiva deverão requerer seu registro no PAT,

mediante preenchimento de formulário próprio oficial (anexo ), em 2 (duas) vias originais. O formulário e a documentação nele especificada serão encaminhados à SSST, por

intermédio da Delegacia Regional do Trabalho - DRT local.

A pessoa jurídica será registrada no PAT nas seguintes categorias: fornecedora

de alimentação coletiva; operadora de cozinha industrial e fornecedora de refeições

preparadas transportadas; administradora de cozinha da contratante; fornecedora de

alimentos in natura embalados para transporte individual (cesta de alimentos)

administradora de documentos de legitimação para a aquisição de refeições em

restaurantes ou estabelecimentos similares (refeição-convênio); administradora de

documentos de legitimação para a aquisição de gêneros alimentícios em

estabelecimentos comerciais (alimentação-convênio).

Não existe prazo definido para requerer o registro de fornecedores, a empresa

interessada poderá fazê-lo a qualquer momento. A empresa prestadora de serviços de

alimentação ou fornecedora que também beneficia seus próprios empregados com

qualquer modalidade de atendimento poderá preencher o formulário como empresa

beneficiária para usufruir dos incentivos fiscais previstos em lei.

A empresa fornecedora deverá anexar também modelo de documento de

refeição-convênio ou alimentação-convênio(frente e verso), para as que se enquadram

nestas modalidades; os dez cardápios mais utilizados, para aquelas que administram

cozinhas e refeitórios e para cozinhas industriais; discriminação e quantidade mensal da

cesta de alimentos, acompanhada de um cardápio analisado correspondente a uma

refeição diária e o (s) nome(s) do (s) nutricionista(s) responsável (eis) técnico (s),

número e região do CRN.

Cabe à prestadoras de serviços de alimentação coletiva garantir que os

restaurantes e outros estabelecimentos por ela credenciados se situem nas imediações

69

dos locais de trabalho; que os documentos de legitimação para a aquisição de refeições

ou gêneros alimentícios sejam diferenciados e regularmente aceitos pelos

estabelecimentos credenciados, de acordo com a finalidade expressa no documento; o

reembolso ao estabelecimento comercial credenciado dos valores dos documentos de

legitimação, será feito mediante depósito em conta bancária expressamente indicada

para esse fim; o cancelamento do credenciamento aos estabelecimentos comerciais que

não cumprirem as exigências sanitárias e nutricionais ou que por ação ou omissão

concorrerem para o desvirtuamento do PAT, através do uso indevido dos documentos

de legitimação ou outras práticas irregulares, será feito imediatamente após a

constatação da (s) irregularidade (s).

OBJETIVOS E FILOSOFIA DO PAT

Quando o PAT foi implantado era grande o arrocho salarial, a repressão e o

cerceamento à organização dos trabalhadores. A criação do Programa teve duplo

caráter, como proteção e valorização da força de trabalho, sem modificar o lucro da

Empresa e ao mesmo tempo garantindo a submissão do trabalhador.

Um documento técnico do Ministério do Trabalho datado de 1979, definia os

objetivos principais do PAT como: proporcionar disponibilidade maior e mais eficiente de

energia para o trabalho e concorrer para a melhoria do seu estado nutricional; dividir

transitoriamente entre o governo, a empresa e o trabalhador, o custo da energia

necessária para o trabalho. O Programa no início era visto tão somente como gerador de

energia para o capital.

O PAT atualmente tem como objetivo melhorar as condições de alimentação dos

trabalhadores, especialmente os de baixa renda, entre os quais as carências nutricionais

e alimentares são mais acentuadas, tanto pela baixa qualidade quanto pela pouca

quantidade dos alimentos adquiridos. O programa visa melhorar as condições de saúde

e alimentação da classe trabalhadora, com repercussões no aumento da produtividade,

na redução das taxas de acidentes de trabalho e na diminuição das taxas de

absenteísmo e sua elevação na escala social.

70

Dada a precariedade da renda de parcela considerável das famílias, muitas de

suas crianças ingressam muito cedo no mercado de trabalho. Do total de crianças e

adolescentes de 10 a 17 anos no país, 19,5% trabalham e estudam e 31% trabalham,

representando 12% do total das pessoas ocupadas do país. (IBGE 1995)

Como a maior parte deles provém de núcleos de baixa renda onde as condições

de alimentação e nutrição são precárias tanto em termos de proteínas quanto em

calorias, o Programa propicia uma alimentação equilibrada, primordial não só para a

melhoria da qualidade da mão-de-obra, como para a formação dos homens que

construirão o futuro do país.

As ações e dispêndios de recursos que objetivem melhorar as condições de

alimentação do trabalhador podem ser vistos sob dois enfoques: como consumo,

aumentando-se o bem-estar presente, ou como investimento, aumentando-se o bem-

estar futuro e a própria capacidade de produção da sociedade.

Medidas voltadas para a melhoria das condições nutricionais possuem papel

destacado como agentes de crescimento econômico e de desenvolvimento com justiça

social, na medida em que possuem a potencialidade de melhorar a distribuição de renda

de forma direta ou indireta, do nível de aprendizado, da qualificação do fator trabalho e

ainda, das condições de saúde do assalariado e sua família. (FIA/USP,1995:15)

Podemos admitir então que as condições de produção nos países em

desenvolvimento, caracterizadas por uma estrutura industrial e agrícola deficientes,

exigindo significativa mobilização da força de trabalho muscular no trabalho, o aumento

das disponibilidades calóricas é altamente compensador pelo retorno obtido em

produtividade.

Se considerarmos a queda no nível de investimentos públicos nas áreas sociais,

além do baixo poder aquisitivo do trabalhador, é possível supor que se torne cada vez

mais difícil para o mesmo manter uma nutrição adequada. O resultado de uma

alimentação deficiente provoca inúmeros problemas, não só os decorrentes da

desnutrição, como doenças profissionais, redução da capacidade física e da resistência

à fadiga, mas também os de ordem psicológica, que apresentam importantes reflexos

71

nos índices de acidentes de trabalho, rotatividade de mão-de-obra, absenteísmo,

produtividade, além da própria motivação e satisfação com o trabalho.

Fora essas dificuldades que afetam o ritmo normal de uma atividade produtiva

por parte do trabalhador mal alimentado ou desnutrido, uma preocupação adicional se

coloca, a carência de mão-de-obra qualificada no país pode constituir obstáculo para

absorção de novas tecnologias, impedindo a disseminação de condições que permitam

uma melhor competitividade dos produtos e serviços brasileiros.(FIA/USP,1996: 16)

Para que haja aumento de competitividade, deverão ocorrer mudanças no

comportamento do governo e das empresas, a capacitação da mão-de-obra torna-se

obrigatória frente as novas tecnologias produtivas, que cada vez exigem mais

qualificação profissional, transformando o capital humano no maior patrimônio disponível

do país.

O investimento na melhoria das condições de trabalho e de qualidade de vida do

brasileiro devem ser prioridade para o governo, empresas e instituições nacionais. O

resgate da dívida social e a criação de instrumentos para melhorar a qualidade da mão-

de-obra são os pilares para o aumento da produtividade do país. Porém, estudos

revelam que boa parte da população, em virtude da precariedade da renda familiar, está

sujeita a carências nutricionais, principalmente calóricas, o que repercute negativamente

tanto na vida como no desempenho profissional.(FIA/USP,1996:1)

Desta maneira, um círculo vicioso se forma: alimentação inadequada, gerando

uma força de trabalho de baixa produtividade; que dificulta o processo de difusão e

irradiação de técnicas mais modernas; que faz a nação perder espaço na economia

mundial e crescer pouco, com manutenção da concentração de renda e de baixos

salários; que impede uma melhor alimentação.

Cabe destacar que há uma correlação positiva significativa entre o nível de

renda, possibilitando uma boa alimentação, saúde e as condições de vida do ser

humano. Dados do IBGE revelam que a expectativa de vida de pessoas que vivem em

famílias com renda até 1 salário mínimo é de quase 60 anos, enquanto a das que têm

ganhos acima de 5 salários mínimos é de aproximadamente 74 anos, cerca de 15 anos

72

a mais de vida

A filosofia do PAT é considerar o ser humano como um recurso de produção,

englobando de forma integrada os conceitos de esforço físico, intelectual e social.

O Programa de Alimentação do Trabalhador, constitui-se na promoção de um

investimento pela empresa, no incremento da qualidade de vida do trabalhador e no

desenvolvimento da competitividade do produto nacional. (FIA/USP,1996: 1)

SÍNTESE DA LEGISLAÇÃO ATUALIZADA

A Lei n o 6.321, dispôs sobre a dedução do lucro tributável para fins de Imposto

sobre a Renda das Pessoas Jurídicas - IRPJ, o dobro das despesas realizadas em

programas de alimentação do trabalhador, desde que esta dedução não ultrapassasse

5% do lucro tributável da empresa em cada exercício financeiro isoladamente e

cumulativamente com a dedução de que trata a Lei no 6.297, de 15 de dezembro de

1975, a 10% do imposto devido. As despesas não deduzidas no exercício

correspondente poderiam ser transferidas para dedução nos dois exercícios financeiros

subsequentes.

Segundo a referida Lei os programas de alimentação deveriam conferir

prioridade ao atendimento dos trabalhadores de baixa renda e limitar-se aos contratados

pela pessoa jurídica beneficiária.

Ficou especificado que a parcela paga pelas empresas, nos programas de

alimentação não seria incluída como salário de contribuição.

O Presidente da República, Collor através do Decreto n o 5, de 14 de janeiro de

1991 regulamentou a Lei 6.321, e dispôs que as despesas realizadas durante o período-

base da pessoa jurídica passariam a constituir custo operacional.

Assim sendo as despesas admitidas na base do cálculo são aquelas que

venham a constituir o custo direto e exclusivo do serviço de alimentação, podendo ser

73

considerados, além da matéria- prima, mão-de-obra, encargos decorrentes de salários,

asseio, e gastos de energia diretamente relacionados ao preparo e à distribuição das

refeições; para efeito deste decreto, entende-se como prévia aprovação pelo Ministério

do Trabalho e da Previdência Social a apresentação de documento hábil a ser definido

em portaria dos Ministérios do Trabalho, da Previdência Social, da Economia, da

Fazenda e Planejamento e Saúde.

Segundo o Decreto acima citado, os trabalhadores de renda mais elevada

poderiam ser incluídos no programa de alimentação, desde que estivesse garantido o

atendimento da totalidade dos trabalhadores contratados pela pessoa jurídica

beneficiária que percebessem até 5 (cinco) salários mínimos.

A pessoa jurídica beneficiária passou a ser responsável por quaisquer

irregularidade resultantes dos programas executados. Portanto a execução inadequada

dos programas de alimentação do trabalhador, o seu desvio ou desvirtuamento de suas

finalidades acarretarão a perda do incentivo fiscal e a aplicação das penalidades

cabíveis.

O Presidente Collor, por meio do Decreto n o 349 de 21 de novembro de 1991,

estipulou que a quantificação do custo direto da refeição passasse a ser relativa ao

período de execução do programa, desde que aprovado pelo Ministério do Trabalho e da

Previdência Social, limitado ao máximo de 12 (doze) meses.

O Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, através do Decreto n o

2.101, de 23 de dezembro de 1996, estipulou que para a execução dos programas de

alimentação, a pessoa jurídica beneficiária pode manter serviço próprio de refeições,

distribuir alimentos e firmar convênio com entidades fornecedoras de alimentação

coletiva, sociedades civis, sociedades comerciais e sociedades cooperativas.

Os Ministros de Estado do Trabalho e da Previdência Social - Reinhold

Stephanes, da Fazenda e Planejamento - Marcílio Marques Moreira e da Saúde - José

Goldemberg, dispõem sobre a Portaria Interministerial n 0 1, de 29 de janeiro de 1992 e

resolvem que :a Secretaria Nacional do Trabalho passa a ser o órgão gestor do

Programa de Alimentação do Trabalhador - PAT.

74

A Portaria n 0 13, de 17 de setembro de 1993, altera as Normas

Regulamentadoras – NR), nos 1, 24 e 28, e a NR Rural n 0 1 e determina que a

Secretaria de Segurança e Saúde no Trabalho – SSST, passa a ser o órgão de âmbito

nacional competente para coordenar, orientar, controlar e supervisionar as atividades

relacionadas com a segurança e medicina do trabalho, inclusive a Campanha Nacional

de Prevenção de Acidentes do Trabalho - Canpat, o Programa de Alimentação do

Trabalhador - PAT, e ainda a fiscalização do cumprimento dos preceitos legais e

regulamentares sobre segurança e medicina do trabalho ( urbano e rural) em todo o

território nacional.

Compete, ainda, à SSST conhecer, em última instância, dos recursos voluntários

ou de ofício, das decisões proferidas pelos Delegados Regionais do Trabalho, matéria

de segurança e saúde no trabalho.

A Norma Regulamentadora n 0 24, referente às condições sanitárias e de

conforto nos locais de trabalho, através dessa Portaria foi alterada, assim as empresas

urbanas e rurais, que possuam empregados regidos pela CLT e os órgãos

governamentais devem oferecer a seus empregados e servidores condições de conforto

e higiene que garantam refeições adequadas por ocasião dos intervalos previstos na

jornada de trabalho.

A empresa que contratar terceiros para a prestação de serviços em seus

estabelecimentos deve estender aos trabalhadores da contratada as mesmas condições

oferecidas aos seus próprios empregados. A empresa deverá orientar os trabalhadores

sobre a importância das refeições adequadas e hábitos alimentares saudáveis.

Na hipótese do trabalhador trazer a própria alimentação, a empresa deve

garantir condições de conservação e higiene adequadas e os meios para aquecimento

em local próximo ao destinado às refeições. Aos trabalhadores rurais e aos ocupados

em frentes de trabalho devem ser oferecidos dispositivos térmicos, em número suficiente

para todos os usuários.

Caberá à Comissão Interna de Prevenção de Acidentes - CIPA, à Comissão

Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho Rural - CIPATR, ao Serviço

75

Especializado em Segurança e Medicina do Trabalho - SESMT e ao Serviço

Especializado em Prevenção de Acidentes do Trabalho Rural - SEPATR, quando

houver, promoverem a divulgação e zelar pela observância desta norma.

Os sindicatos dos trabalhadores, que tiverem conhecimento de irregularidades

quanto ao cumprimento desta norma, poderão denunciá-las ao MTb e solicitar a

fiscalização dos respectivos órgãos regionais.

A Portaria Interministerial n 0 1, de 28 de janeiro de 1997, instituiu no âmbito do

MTb, a Comissão Tripartite com a finalidade de acompanhar e avaliar a execução do

PAT, propor o aperfeiçoamento da legislação relativa ao Programa, principalmente no

que tange ao credenciamento das empresas prestadoras de serviços de alimentação

coletiva (sistema convênio) e à definição das regras de utilização e aceitação dos

documentos de legitimação; elaborar estudos visando estabelecer regras para a

fiscalização e a aplicação de penalidades às empresas e estabelecimentos conveniados

que executarem de modo inadequado o PAT, propor diretrizes para o aperfeiçoamento

gradativo do documento de legitimação, visando a transformá-lo em cartão eletrônico;

avaliar as propostas de medidas legislativas encaminhadas ao MTb atinentes ao PAT;

elaborar o seu regimento interno, a ser aprovado pelo Ministro de Estado do Trabalho .

A Comissão Tripartite terá como integrantes: um representante do Ministério do

Trabalho, um representante do Ministério da Fazenda; um representante do Ministério

da Saúde; três representantes dos trabalhadores; três representantes dos

empregadores.

Os representantes do governo federal serão indicados pelos titulares dos

respectivos órgãos e designados pelo Ministro do Trabalho. Os representantes dos

trabalhadores e empregadores serão indicados pelas respectivas entidades

representativas de âmbito nacional e designadas pelo Ministro do Trabalho, para

mandato de dois anos, sendo permitida a recondução por igual período.

A Comissão poderá convidar, como observadores, representantes de outros

órgãos e entidades, cuja colaboração seja imprescindível para o cumprimento de suas

atribuições. Caberá à SSST prestar apoio técnico-administrativo necessário ao

76

funcionamento da Comissão.

É vedado à pessoa jurídica beneficiária: suspender, reduzir ou suprimir o

benefício do PAT a título de punição ao trabalhador; utilizar o Programa, sob qualquer

forma como premiação; utilizar o Programa em qualquer condição que desvirtue sua

finalidade.

A execução inadequada do PAT, acarretará o cancelamento da inscrição no

MTb, com a consequente perda do incentivo fiscal.

Para a execução do PAT, a pessoa jurídica beneficiária poderá manter serviço

próprio de refeição e/ou distribuição de alimentos, inclusive não preparados, bem como

firmar convênios com entidades que forneçam ou prestem serviços de alimentação

coletiva, desde que essas entidades estejam registradas no Programa e se obrigam a

cumprir o disposto na legislação do PAT e nesta portaria, condição que deverá constar

expressamente do texto do convênio entre as partes interessadas.

Quando a pessoa jurídica beneficiária fornecer a seus trabalhadores

documentos de legitimação (impressos, cartões magnéticos ou outros oriundos de

tecnologia adequada), que permitam a aquisição de refeições ou gêneros alimentícios

em estabelecimentos comerciais, o valor do documento deverá ser suficiente para

atender às exigências nutricionais do PAT.

Cabe às prestadoras de serviços de alimentação coletiva proceder à verificação

in loco das informações prestadas pelos estabelecimentos comerciais credenciados,

devendo o documento de recadastramento ficar à disposição da fiscalização. A pessoa

jurídica beneficiária deverá exigir que cada trabalhador firme uma declaração, que será

mantida à disposição da fiscalização, acusando o recebimento dos documentos de

legitimação, na qual deverá constar a numeração e a identidade da espécie dos

documentos entregues. Em caso de utilização a menor do valor do documento, o

estabelecimento comercial deverá fornecer ao trabalhador um contravale com a

diferença, vedada a devolução em moeda corrente.

O incentivo fiscal concedido às empresas registradas no PAT, estipulado em 5%,

77

pela Lei 6.321/76, de acordo com a Lei n o 9.532 de 11 de dezembro de 1997, passou a

ser de 4%.

2.2 – DESEMPENHO DO PROGRAMA – 1977/95

A análise efetuada a seguir, baseia-se em dados secundários relativos à

evolução do PAT, extraídos de relatórios do Ministério do Trabalho referentes ao período

de 1977 a 1994, com projeções feitas pela FIA-USP para o período de 1993 a 1995.

A estratégia adotada até 1980 limitava a participação das pequenas e médias

empresas, a cobertura do PAT concentrava-se nas grandes indústrias dos estados mais

desenvolvidos do país. O atendimento era destinado a todos os funcionários, através do

subsídio de cardápios diferenciados para as diretorias, funcionários graduados e

operários em geral, o que foi considerado como uma distorção, tendo em vista que os

grupos-alvos dos programas de alimentação eram os de baixa renda.

Observando os dados referentes à evolução do número de empresas

participantes do PAT no período, podemos destacar que o Programa apresentou

crescimento considerável, com cerca de 54,3 mil empresas participantes, o que

representava em 1995 aproximadamente 3% de cerca de 2 milhões de empresas

existentes no Brasil, o crescimento de participação de empresas verificado no período

de 20 anos de existência do PAT foi superior a 4.200%, correspondendo a um

crescimento médio anual da ordem de 23%, tendo atingido nos últimos anos taxas

bastante expressivas, indicando assim que o programa continua em expansão.

Esse crescimento corresponde a uma incorporação média ao PAT de cerca de

2.850 empresas por ano; comparando-se com o crescimento do número de

trabalhadores beneficiados, verifica-se que o número de empresas está crescendo a

uma taxa superior, indicando que estão entrando no Programa mais empresas de médio

e pequeno porte, comparativamente aos anos anteriores; vale ressaltar que nas

empresas de menor porte a remuneração média da mão-de-obra é inferior à das

78

empresas de grande porte, refletindo esse resultado que o PAT está atendendo a mais

trabalhadores de baixa renda. (tabela 5)

Tabela 5 - PAT: número de empresas participantes1977 - 1995

Ano Núm. De empresas participantes

1977 1.287

1978 1.862

1979 2.448

1980 3.091

1981 4.881

1982 6.162

1983 7.295

1984 7.412

1985 10.851

1986 12.523

1987 14.028

1989 30.928

1991 37.751

1992 39.181

1993 42.213

1994 45.779

1995* 54.526

Fonte - Ministério do Trabalho : Secretaria de Segurança e Saúde do

Trabalhador *1995 -1996 - Fonte : MTb/FIA-USP

O resultado referente à tendência de entrada há mais tempo no Programa de

empresas com maior número de trabalhadores, seguidas pelas empresas de menor

porte, provavelmente se deve ao fato de que as empresas maiores possuem mais

79

informações e percebem com maior facilidade os benefícios sócio-econômicos gerados

pelo Programa. (MTb)

Discordamos em parte da afirmativa acima, acreditamos que a entrada das

pequenas e médias empresas ocorreu principalmente graças às mudanças nas

modalidades de atendimento, como a refeição-convênio e a alimentação-convênio,

apesar das críticas quanto ao uso indevido dos referidos cupons, essas modalidades

possibilitaram a adesão de empresas de menor porte.

Quanto às grandes empresas, muitas já ofereciam alimentação aos seus

funcionários, segundo um estudo realizado por CAMPINO (1985), as grandes empresas

ligadas a grupos internacionais, já usavam essa estratégia desde de 1970. Ao

cadastrarem-se ao Programa foram duplamente beneficiadas pois passaram a receber

incentivo fiscal por uma despesa que já contabilizavam como gasto operacional. (tabelas

6, 7, figuras 1,2 e gráfico 2)

Tabela 6 - Evolução do número de empresas participantes do PAT por Região

ANO Sudeste Sul Nordeste C. Oeste Norte Total Variação % *

1977 898 291 65 31 2 1.287 ----------------

1980 2.118 591 258 80 44 3.091 140

1983 4.732 1.619 641 186 117 7.295 136

1986 9.259 896 1.516 513 339 12.523 72

1989 21.182 5.546 2.568 982 650 30.928 147

1992 24.964 6.846 4.172 2.005 1.194 39.181 27

1995 38.628 8.766 3.589 2.332 941 54.256 38

Fonte : MTb/FIA-USP - * Em relação ao período anterior. 1996.

80

Tabela 7 - Índices de crescimento da quantidade de empresas participantes por

Região (%) em relação a 1980

Ano Sudeste Sul Nordeste C. Oeste Norte Total

1980 100 100 100 100 100 100

1983 223 274 248 233 266 236

1986 437 152 588 641 770 405

1989 1.000 938 995 1.228 1.477 1.001

1992 1.179 1.158 1.617 2.506 2.714 1.268

1995 1.824 1.483 1.391 2.915 2.139 1.755

Fonte : MTb/FIAS-USP

Figura 1

Evolução do número de empresas participantes do PAT

1977 1980 1983 1986 1989 1992 1995

0

10

20

30

40

50

60

Mil

empr

esas

Fonte MTb/FIA/USP 1996.

81

Figura 2

Evolução do número médio de trabalhadores beneficiados por empresas

1977 1980 1983 1986 1989 1992 19950

100

200

300

400

500

600

No

méd

io d

e tr

ab.

Fonte MTb/FIA/USP – 1996.

Gráfico 2

Distribuição por região das empresas participantes do PAT

Sudeste71%

Sul16%

Nordeste7%

Centro - Oeste4%

Norte2%

Fonte MTb/FIA/USP – 1995.

82

Em média mais de 70% das empresas participantes do PAT se encontram na

Região Sudeste, contra apenas 7% no Nordeste.

Em termos específicos quanto aos resultados relativos à evolução da quantidade

de trabalhadores beneficiados, no período compreendido entre 1977 até meados da

década de 90, verificou-se que o Programa apresentou crescimento considerável,

beneficiando cerca de 9,5 milhões de trabalhadores. Segundo o MTb o número de

trabalhadores com carteira assinada em 1995 era de aproximadamente 24 milhões, ou

seja o percentual de trabalhadores inscritos no Programa era de 39,7%; considerando o

impacto do benefício sobre a renda familiar, cerca de 40 milhões de pessoas foram

atingidas de modo indireto. A taxa de crescimento da quantidade de trabalhadores

beneficiados foi superior a 1.200%, considerando-se o período de 20 anos de existência

do Programa, correspondendo a um crescimento médio anual na ordem de 15%.

(tabelas 8, 9, 10,11, figuras 3,4 e gráfico 3)

Tabela 8 - PAT: número de beneficiários participantes 1977 - 1995

Ano Número de Beneficiários 1977 767.811 1978 1.082.334 1979 1.264.947 1980 1.701.606 1981 1.917.391 1982 2.160.509 1983 2.281.075 1984 2.022.898 1985 2.584.322 1986 2.896.633 1987 3.458.124 1989 5.275.100 1991 6.822.917 1992 7.847.413 1993 7.174.318 1994 7.418.530 1995* 9.441.090

Fonte - Ministério do Trabalho : Secretaria de Segurança e Saúde

do Trabalhador *1995 -1996 - Fonte : MTb/FIA-USP

83

Tabela 9 – Número de beneficiários por região

Ano Norte Nordeste C. Oeste Sudeste Sul

1977 192 29.869 7.102 643.635 87.013

1978 10.823 43.293 64.938 844.194 119.053

1979 12.649 139.139 37.947 936.026 151788

1980 22.670 135.678 62.219 1.274.908 206.185

1981 38.348 134.218 76.696 1.399.702 268.436

1982 43.210 194.445 64.815 1.577.165 280.865

1983 54.873 191.179 74.915 1.506.390 453.718

1984 40.458 182.061 101.145 1.375.572 323.664

1985 103.394 284.273 77.529 1.809.010 310.116

1986 59.425 208.258 54.601 2.279.065 295.284

1987 69.162 207.486 69.162 2.488.832 484.134

1989 136.253 476.166 167.076 3.665.609 830.265

1991 178.404 679.855 291.104 4.687.565 985.989

1992 145.597 573.140 242.732 5.945.760 940.184

1993 163.404 660.675 357.241 4.937.372 1.055.626

1994 182.452 717.540 360.704 4.892.962 1.264.873

1995* 147.609 602.175 265.955 7.215.887 1.209.464

Fonte - Ministério do Trabalho : Secretaria de Segurança e Saúde do Trabalhado

MTb/FIA-USP* - 1996.

Tabela 10 - Trabalhadores beneficiados por Estado - Região Sudeste

Ano São Paulo Rio de Janeiro Minas Gerais Espírito Santo Total

1977 449.908 156.299 32.669 4.759 643.635

1991 3.046.147 1.028.870 535.072 77.476 4.687.565

1992 4.631.517 799.160 433.146 81.937 5.945.760

1993 3.357.863 879.582 583.983 115.944 4.937.372

1994 3.204.102 934.475 640.708 113.677 4.779.285

1995 * 3.606.549 1.037.671 765.949 147.926 5.558.095

Fonte MTB/*FIA/USP – 1996.

84

Tabela 11- Trabalhadores beneficiados pelo PAT por região em relação ao total de

trabalhadores do mercado formal em 1995

Região Total do mercado Formal Beneficiados pelo PAT

%. benef./total de trab. do mercado formal

Em 1.000 trab. % Em 1.000 trab. %

Sudeste 13.623 57,3 7.216 76,4 53,0

Sul 4.065 17,1 1.209 12,8 29,7

C.Oeste 1.450 6,1 267 2,8 18,4

Norte 856 3,6 147 1,6 17,2

Nordeste 3.781 15,9 602 6,4 15,9

Total 23.775 100 9.441 100 39,7

Fonte : FIA/USP - dados estimados

Figura 3

Evolução do número de trabalhadores beneficiados pelo PAT

19861977 1980 1983 1989 199519920

100020003000400050006000700080009000

10000

Mil

trab

alha

dore

s

Fonte MTb/FIA/USP – 1996.

85

Gráfico 3

Participação por região dos trabalhadores beneficiados pelo PAT ( 1995 )

Sul13%

Sudeste77%

Centro - Oeste3%

Nordeste5% Norte

2%

Fonte MTb/FIA/USP

A concentração de beneficiários do PAT tem sido de mais de 70% na região

sudeste.

Figura 4

% de trabalhadores beneficiados pelo PAT em relação ao total de mão-de-obra formal

1980 1983 1986 1989 1992 19950%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

45%

Fonte MTb/FIA/USP

86

Gráfico 4

Percentual de trabalhadores beneficiados pelo PAT por região em relação ao número total de trabalhadores ( 1995 )

Sudeste39%

Sul22%

Centro - Oeste14%

Norte13%

Nordeste12%

Fonte MTb/FIA/USP

O setor de atividade econômica com maior participação no programa é o

industrial (44%), seguido pelo de serviços (40%), comércio (8,6%), rural (5,4%) e outras

atividades (2%), em termos da quantidade de trabalhadores beneficiados. A tendência

observada é a de que o crescimento recente está se dando no segmento de serviços,

com redução paulatina da participação relativa do setor manufatureiro-industrial. O setor

de comércio é um dos setores de menor remuneração média da força de trabalho formal

(em torno de 2,5 s.m., dados da Relação Anual de Informes Sociais –RAIS). Neste setor,

antes da implantação do PAT praticamente inexistia qualquer auxílio para os

empregados tomarem refeição durante a jornada de trabalho. O setor com menor

participação no programa é o rural (5,4%), que corresponde àquele onde mais

recentemente se implementou o Programa, visando beneficiar os "bóias-frias". (gráfico 5)

87

Gráfico 5

Participação dos trabalhadores beneficiados pelo PAT por setor de atividade ( 1994 )

Industria44%

Serviço40%

Rural5%Comércio

9%

Outras atividades2%

Fonte MTb/FIA/USP – 1995.

A faixa de remuneração até 4 s.m. representa mais da metade (cerca de 55%)

dos trabalhadores beneficiados, evoluindo essa proporção para cerca de três quartos do

total (73%), quando se considera trabalhadores com remuneração inferior a 6 s. m. Esse

resultado indica claramente que o PAT beneficia os trabalhadores de baixa renda,

constituindo-se desse modo em um fator redistributivo da renda gerada. Dados da RAIS

evidenciam que em estabelecimentos com mais de 1.000 empregados a remuneração

média situa-se em torno de 5 s. m., decaindo para 3,8 s. m. em empresas na faixa de

100 a 250 empregados. Assim, à medida que está se acentuando o ingresso no

Programa de empresas de menor porte, mais estará se atingindo os trabalhadores com

menor renda média e, desse modo, maior o efeito redistributivo de renda gerado pelo

programa.(gráficos 6 e 7)

88

Gráfico 6 – 1988 - 1991

Remuneração média por porte do estabelecimento ( número de empregados ) - Em salários mínimos

0

1

2

3

4

5

6

Menos de 4 De 4 a 10 De 10 a 19 De 20 a 49 De 50 a 99 De 100 a 249 De 250 a 499 De 500 a 999 Mais de 1000

Salá

rios

- mín

imos

1988

1991

Fonte MTB/FIA/USP

Gráfico - 7

Trabalhadores beneficiados pelo PAT por faixa salarial

Até 2 s. m.22%

De 2 a 4 s. m.34%

De 4 a 6 s. m.18%

De 6 a 8 s. m10%

Mais de 8 s. m.16%

Fonte : Secretaria de Promoção Social do MTb – 1995.

2.3 - IMPACTOS SÓCIO-ECONÔMICOS

Nos Estados Unidos na década de 70, foram criados vários programas com o

objetivo de melhorar a qualidade de vida e as condições do exercício da atividade

profissional dos indivíduos, para isso foram carreados recursos e incentivos para

melhorar a alimentação, via nutrição balanceada, assim como melhor assistência à

89

saúde, dentre outros, esses foram importantes instrumentos utilizados para uma

capacitação mais adequada da força de trabalho norte-americana. Estudos revelaram

que o retorno deste tipo de investimento nesse país, foi extraordinário : cada US$ 1,00

aplicado nesses programas, fez retornar US$ 4,00.

Segundo a CGTB (1995: 1) e a FIA/USP (1996: 15), resultados divulgados em

Roma, em um seminário realizado pela FAO, OMS e OIT, abordando estudos sobre a

evolução econômica de 52 países, comprovaram que um aumento de 1% das calorias

disponíveis per capita correspondeu a um incremento de 2,27% na produtividade, índice

superior aos acréscimos na produtividade derivados de um aumento de igual percentual

nos investimentos em habitação, ensino superior e segurança social.

“A nutrição é um direito básico do cidadão. E a alimentação do trabalhador é

uma responsabilidade social da empresa. Cuidar da sobrevivência física de seus

empregados é o mínimo que o patronato tem que assumir”.(CGTB,1995: 1)

De acordo com a FIA/USP (1996) no início do PRONAN, estudos realizados

indicavam que 77% da população tinha deficiência calórica, com ingestão de calorias em

nível inferior ao mínimo recomendado pela Organização Mundial de Saúde – OMS.

A evolução muito lenta da elevação da renda disponível das famílias brasileiras,

que ainda continua muito baixa, permite inferir que as deficiências nutricionais ainda

devem persistir. Um dado concreto é que o gasto com o item alimentação, calculado a

partir da Cesta Básica do PROCON/DIEESE, da cidade de São Paulo, situou-se em

torno de R$ 108,00 em fevereiro de 1996, valor esse superior à renda líquida disponível

de milhões de brasileiros.

Cada vez mais a alimentação tem sido vista como um benefício reconhecido

pelos trabalhadores, que frequentemente a tem incluído como objeto de suas

negociações coletivas. Diversas categorias obtiveram em suas negociações de dissídio

nos últimos anos a oferta de alimentação pela empresa, através de tíquetes-refeição,

tíquetes-alimentação e cestas básicas

O PAT tem o mérito de buscar complementar as necessidades de alimentação

90

do trabalhador. No período estudado (1977/95), o Programa expandiu-se de forma

contínua, atingindo mais de 9,5 milhões de pessoas, o que representa 39,7% dos

trabalhadores formais, segundo estatísticas do Ministério do Trabalho e 15% da

População Economicamente Ativa - PEA. Sob esse aspecto, o Programa tem ainda um

grande potencial para crescimento, principalmente junto às pequenas empresas a partir

de uma maior conscientização dos empresários sobre os benefícios advindos de uma

nutrição adequada de seus empregados e de uma atuação mais determinada do

governo e das entidades que operam no setor.

O Programa beneficia o trabalhador, sua família, a empresa para quem presta

serviço, o mercado de trabalho e a sociedade de modo geral. Estima-se que o Programa

propicie atualmente uma demanda (consumo) de produtos agropecuários de mais de 1,9

milhões de toneladas por ano; um volume de negócios diretos de cerca de US$ 9 bilhões

anuais; estima-se ainda que o setor de alimentação tenha gerado 315 mil empregos

diretos; o setor fornecedor de insumos industriais como fogões, fornos, congeladores,

etc., tem evoluído bastante, gerando novas riquezas; o PAT propicia ainda uma

arrecadação considerável de tributos, estimada atualmente em cerca de US$ 1,5 bilhão

por ano; se considerar que muitas empresas não aproveitam ou aproveitam

parcialmente os incentivos fiscais previstos em lei, calcula-se que o montante de

recursos que o governo deixa de arrecadar com a renúncia fiscal, é significativamente

inferior ao volume de recursos que o próprio Programa gera em arrecadação de tributos.

Dados relativos ao período 1990/94, indicam que em média 5,5% das empresas

declarantes do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica – IRPJ utilizaram-se dos

incentivos fiscais, representando uma participação de 1% no montante do IR devido.

Segundos dados estimados da Secretaria da Receita Federal para 1995, a

renúncia fiscal anual correspondeu a R$ 13,5 milhões, equivalente a aproximadamente

1% dos impostos gerados pelo PAT. O volume do imposto não recolhido significa

apenas um montante de R$ 1,50 por trabalhador/ano, o que evidencia do ponto de vista

custo-benefício, que se trata de um Programa de grande impacto social, com um custo

insignificante do ponto de vista econômico.(Grifos nossos)

91

Segundo estimativa da CGTB (1995: 2) e FIA/USP (1996), o PAT significa

melhor distribuição de renda. Se considerarmos um trabalhador que ganhe até 4 salários

mínimos, que é a mediana da distribuição de renda dos trabalhadores beneficiados pelo

Programa, e que receba o almoço e o lanche pela empresa, há uma transferência de

renda de para esses trabalhadores de 18% sobre seus salários.

Para a sociedade, este trabalhador com melhor alimentação representa a

elevação do nível de saúde da população e redução de despesas bancadas pelo

governo com hospitais, ambulatórios, remédios e aposentadorias precoces por motivo

de saúde. Desse modo o PAT reduz por um lado, o custo social do trabalhador mal

nutrido, medido pelos impactos negativos sobre ele próprio, sua família, sua empresa e

a sociedade em geral, por outro lado, as próprias receitas fiscais geradas são superiores

aos custos de incentivo do Programa.

A SSST/MTb, Órgão gestor do PAT, estabeleceu como meta ampliar o número

de trabalhadores beneficiados pelo Programa no setor da construção civil e na área

rural, segundo o IBGE (1995) do total de 2.438.036 trabalhadores desses setores,

apenas 496.469 recebem refeições durante a jornada de trabalho. O objetivo da

Secretaria é dobrar este número a cada ano.

Pesquisas realizadas em Pernambuco demonstraram o efeito da fome crônica

nas estatísticas de acidentes de trabalho e, juntamente com estudos desenvolvidos em

outras regiões do país, evidenciaram também a influência do estado nutricional do

trabalhador na produtividade, particularmente na área de construção civil e área rural.

(CGTB,1995).

O setor da construção civil caracteriza-se pela absorção de um grande

contingente de trabalhadores com baixa escolaridade e precárias condições de vida. Os

estudos realizados mostraram que a maioria recebe menos de 02 s. m. e que a renda

per capita é muito inferior a 01 s. m. As despesas com a alimentação absorvem quase

toda a sua renda mensal. Através desses estudos, foram identificados dois horários de

pico para as ocorrências dos acidentes de trabalho o primeiro entre 08:00 e 10:00 horas,

cuja causa mais provável é o estado de hipoglicemia (baixa taxa de glicose no sangue)

em que se encontra esse trabalhador, após um espaço de tempo geralmente superior a

doze horas da sua última refeição. Em estado hipoglicêmico ocorrem tonteiras, fraqueza,

92

dificuldade motora, perda de reflexos. A prevenção é o fornecimento do desjejum no

local de trabalho.

Outro horário considerado crítico é entre 14:00 e 16:00 horas, pelo intervalo

prolongado sem ingesta alimentar e com grande dispêndio de energia no trabalho.

Geralmente a refeição é volumosa, porém não balanceada. O resultado é a chamada

lassidão pós-prandial. A prevenção é fornecer refeições balanceadas no próprio local de

trabalho. (CGTB,1995)

Em termos de ganho para o trabalhador, o PAT propicia melhoria nas condições

nutricionais e consequentemente mais saúde. As vantagens para a empresa ocorrem

por conta da dedução da alimentação do empregado, de até 4% do Imposto de renda,

como incentivo fiscal (Lei 9.532 de 11/12/97), isenção de encargos sociais (INSS),

relativos às despesas efetuadas com a alimentação oferecida.

93

CAPÍTULO 3

ANÁLISE DO PAT SOB A ÓTICA DE DIFERENTES ATORES SOCIAIS

3.1 – REPRESENTANTES DO GOVERNO

Neste capítulo apresentaremos as respostas de nossos depoentes ao

questionário enviado (anexo) e depoimentos sobre o Programa feitos por representantes

de diversas entidades, considerados por nós importantes para o estudo em questão.

O Dr. Boianovski, atualmente consultor de saúde do Banco Mundial e consultor

de marketing social em saúde e alimentação da Fundação Instituto da Administração –

FIA/USP, foi o responsável pela implantação do Programa de Alimentação do

Trabalhador em 1977. Em uma entrevista concedida à Revista Ticket (1996:19) fez o

seguinte comentário:

"...quando era assessor do Ministro Arnaldo Prieto em 1977, ao implantar o

Programa, visava a promoção da boa alimentação de três grupos diferentes de

trabalhadores: os rurais, os da construção civil e os urbanos, convicto de que

esse era um passo fundamental para a boa saúde. Na época, Firmin António,

apresentou um projeto que seria a solução para os trabalhadores urbanos: o

sistema de refeição-convênio, pelo qual as empresas seriam estimuladas a

investir no almoço de seus empregados, com refeições sendo oferecidas por

restaurantes conveniados ao sistema. O projeto foi uma das principais

contribuições para o desenvolvimento do PAT”.

O sistema de refeição-convênio só foi firmado a partir de 1980, essa modalidade

de atendimento foi decisiva na expansão do Programa.

94

Firmin António atualmente é presidente do Ticket-Grupo de Serviços,

responsável pelo lançamento do cartão eletrônico Ticket Restaurante SYSTEME TEC.

Trata-se sem dúvida, de um novo marco nesse segmento que possibilitará melhor

fiscalização e controle no uso do tíquete, motivo de muitas críticas feitas ao Programa.

Segundo Boianovski, o PAT é um programa inteligente, não depende de verba

do governo, não é objeto de orçamento, não exige administração, apenas fiscalização,

ou um monitoramento construtivo, como ele prefere dizer. (Grifos nossos)

Eglacy Porto, depois de exercer as funções de gerente, coordenadora,

assessora e chefe de divisão do Programa, por mais de vinte anos, tem uma justificativa

simples pela opção:

“Gosto de trabalhar para o PAT e para seu público”. (Revista Cozinha Industrial,

1991: 32)

Como depoente, Eglacy Porto, representando os técnicos do governo,

respondeu ao questionário que lhe foi enviado da seguinte forma:

“...o objetivo do governo ao instituir o PAT foi o de minimizar as carências

nutricionais do trabalhador, especialmente o de mais baixa renda, proporcionar

disponibilidade maior e mais eficiente de energia para o trabalho e,

consequentemente, concorrer para a melhoria do estado nutricional do

assalariado e dividir transitoriamente, entre o governo, a empresa e o

trabalhador, o custo da energia para o trabalho”.

Um documento técnico do MTb de 1979, definia os objetivos principais do

Programa como geradores de energia para o trabalho.

Segundo a depoente o PAT não sofreu alterações a nível estrutural desde sua

implantação. As mudanças que ocorreram foram operacionais, desburocratizantes, para

facilitar a adesão das empresas, tais como: simplificação de formulários, registro

facilitado para os fornecedores, aprovação automática, etc.

95

As mudanças ocorridas foram resultados de reuniões e seminários com diversos

setores da economia. O setor que mais tem pleiteado aumento de incentivos para sua

área é o da construção civil, onde ocorre grande carência alimentar e muito dispêndio de

energia por parte do operário

... “quanto ao desempenho do Programa o número de empresas cadastradas

(66.623 em 1996) e o número de beneficiários (8.872.855 em 1995) vêm

superando as metas anuais do Programa. A Secretaria, no entanto, empenha-se

cada vez mais para ampliar a política de alimentação do trabalhador, a fim de

aproveitar o potencial existente.

A divulgação é feita através de material impresso: folders (anexo), manuais de

instrução (anexo), legislação atualizada do programa (anexo), cartazes,

participação em feiras de alimentação, seminários, congressos, etc.

Os governos desde a criação do PAT, deram o apoio necessário ao seu

crescimento, conforme a realidade de cada período. Todos reconhecem que o

PAT é um programa de resultados positivos e bem sucedido.

Quanto à MP 1.522(i), medida que extinguiu o vale-refeição para o servidor

público, diz que a mesma não tem nenhuma relação com o PAT, pois o mesmo

se destina a pessoas jurídicas sujeitas ao imposto de renda, regido que é pela

Lei n o 6.321 de 14/04/76.

Quanto à proposta de permitir ao setor privado o benefício em espécie, ela será

objeto de avaliação da Comissão Tripartite criada em 28/01/97, através da

Portaria Interministerial n 0 01 do atual Ministro do Trabalho - Paulo Paiva e

instalada em 30/04/97”.

Eglacy Porto indicou-nos a professora Dulce Terezinha da Cunha para

responder às questões que lhe foram propostas, já que a mesma acompanha o

Programa há muito tempo.

96

Dulce Terezinha é professora adjunta IV da Universidade Federal de Goiás -

Faculdade de Nutrição e coordenadora do grupo de pesquisa: "Saúde e alimentação do

trabalhador" do Núcleo de Estudos e Pesquisa Aplicada em Nutrição - NEPAN.

"...o objetivo da criação do PAT, segundo a legislação e a literatura existentes foi

melhorar o estado nutricional do trabalhador, principalmente os de baixa renda,

na crença de que o trabalhador bem alimentado tem mais saúde e é mais

produtivo.

O Governo direcionou sua atenção para minimizar problemas sociais, agravados

por grande concentração de renda, os quais se refletem até hoje na dificuldade

do acesso ao alimento, oriundo também da falta de políticas eficazes de

alimentação e nutrição.

Nesta perspectiva, as empresas, embora questionem muito o PAT e até o

descartem, foram as maiores beneficiadas. Além dos incentivos fiscais e

dedução das despesas com a alimentação de seus trabalhadores, passaram a

ter energia humana imprescindível à produção de bens e serviços, também

subsidiada. Acrescenta-se ainda que o PAT evita transtornos junto ao INSS com

o fornecimento de refeição, pois o mesmo não é considerado salário direto.

No entanto, são reais as vantagens do Programa para ambos os segmentos a

serem beneficiados, empregador/empregado, porém estas poderiam ser mais

evidenciadas, aprimoradas e ampliadas se houvesse uma divulgação eficaz e

contínua do PAT, bem como mecanismos que viessem a contribuir para seu

fortalecimento, incluindo melhor adequação e qualidade dos incentivos e

benefícios”.

Há preocupação por parte de alguns empresários de que o PAT sirva de

instrumento para a fiscalização mais rigorosa em relação a impostos e outros aspectos

contábeis da Empresa. Tal fato não pode ser ignorado por aqueles que discutem o PAT,

para garantir maior adesão das empresas.

De acordo com Dulce Terezinha sem alterar a essência de seus objetivos o PAT

vem sofrendo algumas alterações, as quais lhe parecem positivas, entre as quais

destacam-se: maior facilidade de cadastramento, devido a simplificação do formulário

inicial e dos procedimentos exigidos; possibilidade de atendimento a totalidade dos

97

trabalhadores de uma empresa (desde que todos que recebem até 05 s.m. sejam

beneficiados); inclusão da modalidade de cesta de alimentos ou alimentação-convênio;

alterações na NR 24 e nas disposições gerais referentes às exigências do PAT; maior

controle da refeição convênio; criação da Comissão Tripartite para avaliação e

acompanhamento do PAT.

Para ela não há dúvidas quanto a necessidade de uma maior cobertura para os

trabalhadores de baixa renda, com necessidade urgente de sua ampliação nos setores

de construção civil e das atividades rurais.

A classe trabalhadora tem material de divulgação e esclarecimento produzidos

principalmente pela CGTB pela CUT.

Por parte do setor industrial existe farto material elaborado por empresas do

sistema de refeições-convênio, ou a pedido de suas associações.

Quanto às empresas beneficiárias, acredita que apenas uma ou outra tome

iniciativa de passar alguma informação sobre o Programa.

Seu conhecimento frente ao PAT prende-se mais a reconhecê-lo como parte de

seu objeto de trabalho, como nutricionista. O Programa é conteúdo curricular da área

que coordena: Alimentação Institucional.

“... minha preocupação maior em relação ao PAT, prende-se à atualização da

legislação, das normas, dos benefícios, do desenvolvimento de pesquisas sobre

o atendimento a essas recomendações e de estudos para avaliar o Programa

quanto aos aspectos sociais e nutricionais, na perspectiva de contribuir para a

obtenção de subsídios por melhores condições de saúde e alimentação para o

trabalhador”.

A depoente faz correlações interessantes entre os diferentes contextos políticos

ocorridos no Brasil a partir do regime militar e a evolução do Programa:

“...o PAT foi criado em 1976, no período do regime militar, teve início efetivo em

1977. Baseando-se na livre adesão das empresas e dos trabalhadores,

apresentou grande crescimento em 1982, após a implantação do tíquete-

refeição. Desde a sua criação concentrou-se na Região Sudeste, nos primeiros

anos a adesão maior se deu nas empresas de grande porte.

98

No período correspondente à Nova República ocorreu uma diminuição no ritmo

de crescimento que o caracterizou nos anos anteriores, e o agravamento de sua

concentração na Região Sudeste.

Nos anos 90 um maior número de empresas de menor porte ingressaram no

Programa representando quantidade média reduzida de trabalhadores

beneficiados, indicando que um número cada vez maior de pequenas empresas

estão aderindo ao PAT.

Na Era Collor o quadro foi semelhante ao período anterior, agravado pela

conjuntura econômica recessiva e inflacionária, quando muitas empresas

recuaram.

Houve porém, um reconhecimento da importância estratégica de aumentar a

abrangência do PAT nas empresas de pequeno porte.

No governo Itamar foi criado o Conselho de Segurança Alimentar – CONSEA

(1993/1994) e o PAT foi revalorizado enquanto prioridade. Os valores do custo

unitário da refeição passaram a ser atualizados a um nível mais compatível com

os valores reais de mercado”.

Em 1993 foi criada a Comissão Técnica (MTb e IPEA), para coordenar

discussões entre empresas e trabalhadores envolvidos no PAT, com propostas

de ampliação, aperfeiçoamento e flexibilização do Programa. Contudo, há muito

a ser discutido para se garantir um aumento considerável da cobertura do PAT,

afim de que sejam incorporados os setores mais carentes.

No governo Fernando Henrique Cardoso foi criado o Programa Comunidade

Solidária (1995) que integrou várias prioridades do CONSEA, dando novo

destaque ao PAT.

Como meta do Programa Comunidade Solidária tem-se a ampliação da

cobertura do PAT em quatro anos (até 1998) para 13 milhões de trabalhadores

do setor formal, quase o dobro do total de 1995.

Tal impulso dado ao Programa (1993/95) colide com a política da Receita

Federal que desde janeiro/92 manteve a fixação do custo máximo da refeição em 3

Ufirs, para cálculo do incentivo fiscal dedutível do imposto de renda das empresas

beneficiárias, fazendo com que preço médio da refeição popular fique muito abaixo do

99

preço de mercado. Com menor margem de dedução fiscal, diminui o incentivo para

adesão de novas empresas ao Programa.

Observamos através da literatura que a partir da criação de tíquete, vale ou

cupom, formas de refeição-convênio, ocorreu uma acrescente proliferação de serviços

de alimentação coletiva fora do controle legal.

“... partir de 1995 destacam-se três orientações básicas de reformulação do

PAT:

- a proposta de reforma geral do PAT baseada no princípio da soberania do

consumidor, que quer transformar os benefícios do PAT (inclusive os tíquetes)

em dinheiro depositado na conta individual do trabalhador, para que cada qual

decida livremente sobre seus dispêndios com alimentação. Abrange propostas

mercadológicas de reforma do PAT. (grifos da depoente)

Tal seria por exemplo, o encaminhamento sugerido por Elio Gaspari

(FSP04/12/96), na severa crítica que faz ao caráter de atravamento comercial

que as operadoras do sistema, supostamente legitimadas pelo MTb, estariam

imprimindo ao funcionamento do mercado de tíquetes-refeição. (Grifos da

depoente)

Em suma, o articulista propõe que o governo deveria apenas garantir ao

trabalhador um auxílio-refeição em reais, deixando a seu critério gastá-lo”. (grifo

da depoente)

“... - reformas evolucionárias do PAT via MTb, vertente de reformas pontuais

motivada pela urgência de aperfeiçoar o Programa mediante a correção jurídica

e operacional de algumas limitações e distorções observadas”.

Esta vertente reafirma a concepção da cesta básica estabelecida pelas suas

normas fundantes (Lei n 0 6.321/76 e Decreto n o 05/91), tais como o caráter não

obrigatório de incentivo fiscal às empresas beneficiárias; a dedução do Imposto sobre a

Renda dimensionada em 4% do imposto devido em cada exercício; a prioridade ao

atendimento aos trabalhadores de baixa renda (até 5 s. m. ), sem a qual não cabe

adiantar atendimento aos de renda superior a este nível; o fortalecimento do papel de

coordenação geral e regulação da política do PAT ao MTb, descentralizando o máximo

possível as tarefas operacionais de execução e fiscalização do Programa.

100

“... - as reformas via Congresso estão relacionadas com a emergência de uma

reforma do PAT, proveniente do andamento das discussões sobre a necessidade de

aumentar os rigores da regulamentação das empresas prestadoras de serviços de

alimentação coletiva.

Parece tratar-se de uma concepção geradora de propostas menos radicais do

que as propostas mercadólogicas, porém mais controladas do que as concebidas pelo

MTb. (grifo nosso)

“...quanto à MP 1.522(i) que extinguiu o vale-refeição para o funcionalismo

público e pretende aumentar o incentivo fiscal para o setor privado, se o mesmo

conceder em pagar o valor correspondente em moeda corrente, posso dizer que

o PAT é um programa que beneficia o trabalhador através de incentivos fiscais

para a empresa beneficiária. Não sei como discorrê-lo frente às empresas

públicas, para as quais sem dúvida há necessidade de alguma forma de

beneficiar o funcionalismo de baixa renda, para melhorar sua alimentação, mas

para tal o PAT não se enquadra”.

Quando se verifica que cerca de 2/3 dos trabalhadores do setor privado formal

(especialmente os de menor remuneração e os vinculados às empresas de menor porte

) ainda não foram incorporados ao PAT, é difícil avaliar se um sistema alternativo de

benefício pecuniário direto para a alimentação realmente seria mais eficaz do que as

modalidades atuais.

Até que ponto a frágil cultura alimentar dos trabalhadores brasileiros poderia ser

atropelada por outras solicitações de consumo em detrimento de uma alimentação

balanceada?

“...espero que a reformulação do PAT se dê frente as orientações evolucionárias

via MTb e aos estudos via Congresso. Para tal, é de suma importância os

estudos e discussões da Comissão Tripatite, formada por representantes do

governo (Ministérios do Trabalho, da Fazenda e da Saúde), representantes dos

trabalhadores e representantes dos empregadores.

A tecnologia exige especialização e produtividade cada vez maiores da mão-de-

obra, transformando o trabalhador no maior patrimônio do país

101

Em função da baixa renda familiar, boa parte da população brasileira apresenta

uma nutrição deficiente, comprometendo sua qualidade de vida e seu

desempenho profissional, portanto a alimentação do trabalhador deve ser vista

como fundamental para a competitividade, tanto do país quanto das empresas

nele instaladas.

Para o Secretário da Secretaria de Saúde e Segurança no Trabalho - SSS/T,

Zuher Handar (1997):

...” o sistema de relações do trabalho no Brasil vem passando, já há algum

tempo, por um franco processo de transformação, na direção de um modelo

mais democrático que contemple a participação de todos os atores sociais na

busca de soluções para os conflitos que estão presentes nessa relação,

colocando a todos o desafio de construir esse novo paradigma.

Indiscutivelmente, tem se tornado mais evidente nestes últimos anos, que a

questão da saúde do trabalhador também faz parte desse processo e que se

deve utilizar do mesmo instrumento de participação para a solução dos grandes

problemas que afligem todos os setores da economia.

O quadro histórico de acidentes e doenças do trabalho que se apresenta cada

vez mais preocupante, já não pode ser resolvido com as soluções

tradicionalmente propostas, pois não mais possibilitam mudanças efetivas.

É necessário portanto, que toda a questão de saúde e segurança no trabalho

seja acompanhada de um novo modelo de atuação, em que a participação ativa

e decisiva dos trabalhadores e empregadores é de fundamental importância para

a melhoria da qualidade de vida no trabalho.

Entendendo que a alimentação do trabalhador contribui para a melhoria da

qualidade de vida no trabalho, a política de alimentação do trabalhador deve

estar inserida nesse processo de forma articulada com a participação dos atores

sociais.

102

Acreditamos na parceria governo-empresa-trabalhador, estrutura em que se

sustenta o PAT, para podermos reverter a situação da carência alimentar de

nossos operários”.

3.2 – REPRESENTANTES DOS TRABALHADORES

Para Antônio Neto, presidente da CGTB o PAT é uma conquista dos

trabalhadores segundo ele: (1995)

“...os trabalhadores brasileiros já conquistaram e escreveram nas leis muitos

direitos fundamentais. Na área de segurança e condições de trabalho, por

exemplo, sem dúvida hoje a situação é bem melhor do que há duas ou três

décadas. O empresário sabe que precisa fornecer os equipamentos de

segurança, para que o trabalhador produza mais, melhor e com segurança, é um

direito do trabalhador.

Mas isso ainda é insuficiente. O trabalhador ainda precisa conquistar outros

direitos. E o empresário moderno sabe que nos dias de hoje o sucesso de seu

empreendimento depende de uma parceria efetiva com o trabalhador. Nesta

combinação de direitos e parceria está a chave para o encaminhamento

adequado dos problemas e dos conflitos entre capital e trabalho.

Assim, por que não incluir, também, entre os direitos fundamentais a

alimentação do trabalhador? E aqui não se deve falar em alimentação como uma

fonte de energia para o trabalho.

Este conceito está superado pelo próprio desenvolvimento da sociedade. Deve-

se falar em alimentação como uma responsabilidade social do empresário.

Como uma ferramenta indispensável ao trabalho. De que adianta o trabalhador

estar bem equipado e em segurança para desempenhar suas funções, se a falta

de alimentação não lhe dá forças suficientes para sustentar os equipamentos ou

a máquina que deve operar?

103

Existem hoje no Brasil cerca de 8 milhões de trabalhadores que poderíamos

chamar de diferenciados. São aqueles atingidos pelos benefícios do Programa

de Alimentação do trabalhador, o PAT. Eles chegaram ao PAT de diversas

maneiras – por iniciativa das empresas, por pressão dos empregados, por

acordo coletivo de seus sindicatos, como é o caso de muitas categorias

profissionais em todo o Brasil. Estes trabalhadores e suas empresas formam

hoje a face mais moderna, menos arcaica, de um país que ainda convive com 32

milhões subnutridos.

Por isso, o alcance do PAT ainda é pequeno, diante de 30 milhões de brasileiros

com carteira assinada. É preciso fazer com que o Programa chegue a todos

eles. Até porque, entre outras virtudes, O PAT tem uma inédita – é um programa

social que funciona praticamente sem a necessidade de interferência do estado.

Ele não compra, não distribui, não diz a quem deve ser oferecido. Apenas

concede o incentivo e motiva as empresas. Empresários e trabalhadores, de

acordo com a evolução do mercado, é que regulam o desenvolvimento do

programa. Isso quer dizer: não há possibilidade de burocracias, tráfico de

influências, vícios ou corrupção, pragas que têm contaminado muitos programas

sociais do governo”.

A luta pela conquista da cesta básica já faz parte das reivindicações dos

trabalhadores. Um exemplo positivo foi o da atuação do Sindicato dos Trabalhadores

nas indústrias da Construção Civil de São Paulo, Osasco e Região: aumento salarial e

vale-refeição ou cesta básica. (CGTB,1995)

O Sindicato dos Gráficos de Jundiaí (SP), presididos por Adão Rosa Pinheiro,

iniciou um processo de negociações junto às empresas da região para a conquista da

cesta básica, os resultados têm sido muito proveitosos. (Informativo Gráfico 1995)

Em algumas empresas como a Globo e a Araguaia, ocorreram greve, em outras

o processo foi de negociação direta. Em ambos os casos o Sindicato dos Gráficos saiu

vitorioso, pois o benefício foi conquistado.

“A Central Geral dos Trabalhadores do Brasil – CGTB, entende que entre suas

104

responsabilidades junto ao trabalhador está a de lutar pela ampliação do PAT e

de seus beneficiários. Num país tão rico, o terceiro exportador mundial de

produtos agrícolas, não é possível admitir a existência de milhões de

subnutridos. Com um povo faminto, nenhum país se desenvolve. A fome é

incompatível com justiça social”.

A CGTB refere-se ao PAT como uma parceria que interessa a empregados,

empregadores e governo. O trabalhador vê o fornecimento de refeições como um

benefício e uma valorização de seu trabalho por parte da empresa. O trabalhador

beneficiado pela conquista social do PAT ganha melhor condição de trabalho, nível de

renda mais alto, via salário indireto e não onera seu salário porque o ganho com a

alimentação não é rendimento tributável. As empresas que fornecem refeições são mais

valorizadas por seus empregados, a rotatividade é reduzida, o número de faltas por

doenças e acidentes de trabalho são menores.

De acordo com a CGTB, as empresas que participam do PAT também ganham:

entre outras vantagens melhoram o nível de renda e a qualidade de vida de seus

empregados, aumentam suas condições de disputar os bons profissionais do mercado

porque pagam melhor, oferecendo mais benefícios e não oneram suas folhas de

pagamentos, porque o PAT é um benefício, e benefício é isento de encargos sociais”.

O governo contribui com a renúncia fiscal, dando incentivo às empresas

participantes do Programa, mas ganha com o crescimento da economia, com maior

recolhimento de impostos e com a redução de encargos de atendimento médico-

previdenciário de trabalhadores mal nutridos, e por isso mais sensíveis a doenças e

acidentes de trabalho.

Valdir Carlos Sarapu, colaborador do Departamento Técnico da CGTB, foi o

nosso depoente, representando os trabalhadores, de acordo com sua opinião:

“... o objetivo do governo ao instituir o PAT foi o de buscar novos mecanismo

para implantar formas de alimentação aos trabalhadores no local de trabalho que

permitissem superar o simples estágio de refeição em forma de marmita. (Grifos

do depoente)

105

Naturalmente, o PAT sofreu várias alterações ao longo dos anos. Elas se

deveram basicamente, devido ao aparecimento de operações que surgiram por

conta da necessidade do mesmo se adaptar às diversas realidades em que se

encontram o trabalhador em seus locais de trabalho, porte das empresas,

localização geográfica das mesmas, formas de produção, serviços, etc.

Em suma, como o PAT tem uma filosofia não ortodoxa, ele permitiu grande

liberdade de atuação aos diversos componentes que dele fazem parte

(trabalhadores, empresas, empresas prestadoras de serviço ao PAT), sem que o

governo tivesse um papel intervencionista na parte operacional.

Quanto ao desempenho: a principal crítica que se pode fazer ao PAT é que ele

não conseguiu atingir a todos os trabalhadores assalariados brasileiros (apenas

25 milhões dos 60 milhões de trabalhadores com carteira registrada).

Quanto a cobertura: até o presente momento o PAT é um programa de cidades

de grande porte e só agora começa a se interiorizar (mesmo assim nas cidades

maiores).

O PAT é um programa que corre permanente risco de desaparecer pois,

constantemente surgem forças dentro do governo que fazem oposição a ele.

Durante o governo Collor o Programa correu enorme risco de ser puramente

eliminado, isso só não aconteceu por intervenção direta do Presidente Itamar.

Setores importantes do governo ainda continuam questionando a existência

desse tipo de programa.

Em relação à divulgação o MTb dá apoio burocrático. As empresas operadoras

do PAT, por razões comerciais são as principais interessadas em sua ampliação

já que ele move verdadeira indústria para garantir a alimentação de milhões de

trabalhadores que se beneficiam com o PAT. E os sindicatos por sua vez,

funcionam como agentes ativos de implantação do PAT, atualmente a questão

da alimentação no local de trabalho está obrigatoriamente incorporada na

reivindicação salarial.

A CGTB é uma das únicas entidades que sempre investiu no PAT e sobretudo

em sua ampliação. Desde de 1991 ela se ocupa deste trabalho, realizando

inúmeras publicações voltadas para os sindicatos e trabalhadores, além de ter

106

realizado dezenas de encontros e seminários em quase todos os estados da

federação.

Para a CGTB o PAT sempre foi visto como um programa positivo e de interesse

para o trabalhador. Quanto às demais Centrais, temos notado que algumas têm

vindo a público defendendo o Programa nos momentos em que ele sofre uma

ameaça mais forte; temos visto também, que há uma Central que oficialmente é

contra o PAT por discordar conceptualmente dele.

O futuro do Programa é incerto, ao longo dos anos o PAT sempre sofreu

momentos de investidas contra sua existência pelos mais variados motivos. Em

cada ataque sempre há um novo argumento usado para tentar eliminá-lo.

Já se foi o tempo em que se acreditava que o Estado pudesse colaborar com a

questão de condições de bem estar social, por isso é bem possível que um belo

dia o Presidente convoque o Congresso extraordinariamente, e numa simples

penada faça o PAT desaparecer sem ele tenha conseguido atingir o seu

principal objetivo que é o de permitir que cada trabalhador brasileiro tenha uma

alimentação condigna durante o desgaste de suas forças físicas no desempenho

do trabalho”

As alterações propostas para o PAT, no pacote de Medidas Provisórias,

especialmente a MP 1.522 (i), para o presidente da Força Sindical Luiz Antônio de

Medeiros penaliza os trabalhadores sendo bastante criticada sindicalista.

Na Plenária Nacional da Força Sindical realizada nos dias 16 e 17 de outubro de

1996, Medeiros, Valdir Vicente da CGT e outros representantes de entidades sindicais

protestaram diante da ameaça do Governo Federal em anular, o que eles consideram

direitos e conquistas históricas dos trabalhadores.

“...o PAT é uma conquista do trabalhador brasileiro e programas semelhantes

existem em vários países do mundo. A sua concepção precisa ser preservada,

pois objetiva a maior geração de energia humana como fator de

desenvolvimento, sem onerar o trabalhador com seus custos.

Lamentavelmente, o governo, por motivos ainda não inteiramente esclarecidos,

107

tomou a decisão de desmantelar o Programa. Para tanto, vem usando pretextos

frágeis e articulando uma campanha de desmoralização ao PAT, ao invés de

aprimorá-lo, tomando medidas para corrigir os seus desvios e combater de

forma implacável a ação perniciosa dos “tiqueteiros”.

O Programa existe há mais de vinte anos e atende hoje, com acentuado grau de

eficiência, a mais de dez milhões de assalariados, sendo na sua grande maioria

companheiros de baixa remuneração. Outra consequência da nova opção criada

pelo governo, será a onda de desemprego, a curto prazo, de pelo menos

300.000 trabalhadores empregados em bares, restaurantes, hotéis, cozinhas

industriais e similares. O sistema de tíquetes ou vales é hoje responsável pela

movimentação de mais de 50% dos estabelecimentos populares dos grandes

centros urbanos.

A verdade é que pela proposta encaminhada ao Congresso, a possibilidade de

transformação do benefício em dinheiro, e ainda limitado o seu valor, acabará

por extinguir, num curto espaço de tempo, todos os atuais benefícios de

alimentação conquistados por nossos acordos coletivos, em muitos anos de

luta”.

3.3 - REPRESENTANTES DO CONSELHO REGIONAL DE NUTRIÇÃO

4 a REGIÃO – CRN 4

Os depoentes do CRN-4, foram Valéria Christina Menezes, gerente de

acompanhamento profissional e Willian Dimas Bezzerra da Silveira.

“O momento de luta da classe trabalhadora por melhores salários pressionou o

governo a criar medidas que favorecessem formas de salários indiretos como o

Programa em questão, sendo reforçado pela função tutelar do Estado e empresa

em aumentar a força produtiva do trabalhador.

Quanto às possíveis alterações no objetivo inicial, a desinformação e a falta de

108

interesse dos segmentos envolvidos, faz com que o PAT venha se distanciando

das metas originais, devido à mera questão cartorial, sem a preocupação técnica

com a alimentação fornecida aos trabalhadores.

As empresas de vale-refeição modificaram o comportamento o que deveria ser

função institucional passou a ser comercial, sem comportar em sua dinâmica

uma avaliação criteriosa na condução real da saúde do trabalhador. Agrava-se o

fato da tênue preocupação técnica da qualidade dos estabelecimentos

cadastrados para o atendimento.

Tratar da saúde do trabalhador com um programa que basicamente não obriga

os empregadores a participarem, mas favorece com incentivos fiscais, parece de

difícil compreensão. Entendemos que o ser humano possui constante

insatisfação e busca sempre por melhores condições de vida porém, sem o

devido acompanhamento profissional não percebe a manipulação dos

segmentos superiores nas negociações ao longo de todo este tempo. Hoje, o

enxugamento das empresas brasileiras quanto à estrutura física e ao número de

funcionários tem feito cair sensivelmente o percentual de trabalhadores que

recebem alimentação de forma orientada, através dos serviços próprios da

empresa.

A terceirização no Brasil carece de organização e fiscalização, o que

compromete a qualidade da alimentação servida.

Quanto à empresa contratante paga sua parte, para eximir-se da

responsabilidade com a saúde dos trabalhadores, dando mais importância ao

custo da refeição ao invés de procurar informar-se do que é realmente

necessário ao trabalhador, em termos energéticos. Salientemos que o problema

agrava-se porque a maioria dos trabalhadores recebem salários muito baixos,

muitas vezes a única refeição balanceada é a recebem no trabalho.

Nos últimos quinze anos a crescente terceirização, a implantação de empresas

de tíquetes-refeição, os valores insuficientes dos vales, muitas vezes utilizados para

satisfazer outras necessidade, têm desvirtuado o Programa.

109

O volume de negociação financeira das empresas de tíquetes fragilizou o

sistema no governo Itamar, após a mudança no cenário quanto a ciranda

financeira, ocasionando falência de grandes empresas, verificou-se naquele

momento que a preocupação era unicamente com o risco de descrédito em todo

sistema”.

Quanto aos meios de comunicação utilizados para a divulgação do PAT,

segundo eles os segmentos envolvidos não encontram espaço e oportunidade de

entendimento dentro da própria organização, buscando na maioria das vezes se

resguardar e não avançar. Os trabalhadores através da CGTB ainda têm participado de

fóruns de discussão exprimindo opinião, porém sem avanços significativos.

As ações do CRN- 4, assim como de todos os segmentos, são esparsas por não

encontrar receptividade do governo e das empresas, na preocupação real com a

alimentação do trabalhador.

“...procuramos realizar fóruns de discussões a fim de contribuir com a percepção

técnica do exercício profissional. A capacidade de influência do Conselho é

muito pequena, se dando dentro da sua política de acompanhamento

profissional ao nutricionista que se encontra atuando neste segmento.

Hoje a saúde e a alimentação são vistas como pontos de negociações dos

trabalhadores. Seria muito interessante aprofundar esta questão para a melhoria

plena das condições de vida e saúde do trabalhador.

Quanto MP 1.522, exprimir qualquer opinião neste setor é complicado, mas o

volume do funcionalismo público tende a balançar as empresas que mantém

como único contratante o setor público. Quanto ao setor privado mais uma vez o

governo trata as empresas de forma isolada do momento político econômico do

país, sendo impossível prever as consequências”.

Para medir a aceitação do sistema de tíquete-refeição/alimentação, a

Associação das Empresas de Refeição e Alimentação Convênio para o Trabalhador –

ASSERT, encomendou ao IBOPE uma pesquisa de opinião pública sobre a utilização

110

dos tíquetes. A pesquisa foi realizada em dezembro de 1995.

Foram realizadas 1500 entrevistas, em nove regiões metropolitanas do Brasil

que confirmaram o elevado grau de satisfação com o benefício tíquete-

refeição/alimentação. Mais de 60% dos entrevistados teriam de voltar a levar marmita,

se o benefício passasse a ser pago em dinheiro.

111

CAPÍTULO 4

DISCUSSÃO

4.1 - ANALISANDO OS DADOS HISTÓRICOS

Através da literatura consultada foi possível relacionar a herança social negativa

que nos foi legada e o processo de desenvolvimento industrial implantado no Brasil,

baseado em moldes capitalistas, fruto de arranjos institucionais, com o Estado atuando e

intervindo em setores considerados de baixa rentabilidade econômica como a saúde, a

alimentação e a educação.

O modelo de desenvolvimento econômico brasileiro provocou uma profunda

heterogeneidade estrutural, onde setores econômicos e regiões com características

próximas dos países desenvolvidos convivem com setores e regiões extremamente

pobres.

O modelo nacional de produção que levou à exclusão econômica um grande

contigente populacional e concentrou os meios de produção e riquezas nas mãos de

determinadas frações da sociedade, tem sido garantido pelo poder político. O que nos

leva a dizer que a produção das desigualdades sociais tem sido fruto da organização

econômica e política.

Na era republicana as questões sociais foram tratadas como caso de polícia e

como assistencialismo. A preocupação com a conservação e reprodução da força de

trabalho não se fazia presente. A oligarquia rural embasada na ideologia do liberalismo

dispensava a intervenção estatal na questão social. O estado só intervinha em

momentos em que a repressão policial se fizesse necessária. A pobreza no campo e no

latifúndio era controlada pela solidariedade e pelo assistencialismo. A concepção de

povo passivo e elite benevolente impedia a construção da cidadania.

112

Com a evolução econômica e social e o surgimento de grupos e classes sociais,

características do desenvolvimento urbano-industrial, surgiu a política social, sob a

forma de previdência social voltada para os trabalhadores das indústrias e das ferrovias,

com o objetivo de manter a paz social e controlar as categorias.

A partir de década de 20, foi construída uma legislação de seguros sociais

trabalhistas, sob diferentes regimes políticos, que de modo geral excluíam a participação

política dos trabalhadores e da população. Para muitos analistas a legislação foi utilizada

como instrumento político de controle social e de reafirmação do Estado paternalista,

provedor e benevolente.

A intervenção estatal via política social, decorrente da crescente necessidade

social, tem sido determinada tanto pelo processo de acumulação capitalista quanto pela

elevação do nível da luta de classes. A intervenção estatal sobre as questões sociais foi

e ainda continua sendo multideterminada.

Os interesses das classes dominadas foram tratados a princípio, como capazes

de mobilizar o operariado emergente e a política social como meio de cooptação desse

operariado, reforçando a dominação de classes e legitimando o exercício do poder

estatal.

A ascensão de Vargas ao poder representou a mudança do domínio oligárquico

para o aparelho estatal, capaz de incorporar as demandas das camadas médias e da

burguesia industrial emergente, sem ferir os interesses dos setores agrários.

As políticas sociais surgiram como mecanismo de mediação entre o Estado e a

sociedade e expressavam a materialização de uma correlação de forças. O Estado e as

políticas sociais passaram a ser compreendidos como uma coalizão de classes que

incluía a burocracia estatal, a burguesia industrial e os trabalhadores urbanos

organizados.

Com a criação dos IAPs a questão social passou a ser responsabilidade do

Estado que deixou de ser um observador passivo. A intervenção estatal através da

política social e da legislação trabalhista visava incorporar controlada e seletivamente a

113

classe trabalhadora inserida nos setores mais dinâmicos da economia, cujo poder de

barganha era maior. Esta forma de cooptação dos trabalhadores, transformando

benefícios sociais em privilégios fornecia à classe trabalhadora uma identidade

fragmentada e atrelada ao poder estatal.

Esse padrão de política social, cujo mentor era o Estado e mediante o consenso

da sociedade de que a proteção social era uma necessidade, não foi orientado pelos

princípios de universalização e garantia do mínimo vital, mas pela diferenciação das

categorias de trabalhadores estabelecidas por uma relação contratual. Os benefícios

concedidos a certas frações da classe trabalhadora eram vistos como privilégios e não

como direitos universais de cidadania.

A segmentação política da classe operária em categorias funcionais, regulada

pela condição de inserção no mercado de trabalho e sancionada pelo Estado, foi

denominada por SANTOS (1979) sob o conceito de cidadania regulada, ou seja,

regulada pela condição de inserção no mercado de trabalho e sancionada pelo

Estado.(Grifos nossos)

A politização das relações sociais e o mecanismo institucional previdenciário

foram fundamentais na cooptação dos trabalhadores urbanos ao projeto estatal. O

resultado desse processo foi a criação e consolidação do sistema previdenciário,

embora pouco abrangente, representou um avanço significativo nas melhorias das

condições de vida da população coberta pelo sistema.

Para enfrentar o problema alimentar do trabalhador, peça indispensável ao

processo de industrialização que se iniciava, o Estado passou a intervir para melhorar os

níveis de alimentação da mão-de-obra utilizada pela iniciativa privada.

As atividades estatais de suplementação e complementação alimentar de

determinados grupos populacionais que não foram incorporados de forma satisfatória ao

processo de desenvolvimento econômico, fortaleceu um dos traços estruturais da

economia brasileira, em que o custo da reprodução da força de trabalho foi parcialmente

transferido ao Estado.

Sob o enfoque de políticas sociais compensatórias, o Estado passou a assumir a

114

responsabilidade de cuidar para que alguns dos consumidores mais prejudicados pela

dinâmica do mercado tivessem acesso à alimentação.

Sobre as ações estatais na área de alimentação e nutrição, voltadas para os

trabalhadores urbanos pertencentes aos IAPs ou às CAPs, salientamos o SAPS,

particularmente nos anos de 1940/50 por conterem a sua criação e devido à importância

do Órgão, tanto em termos de atenção do Estado, quanto em termos de verbas

aplicadas no setor.

No final da década de 50, a política de alimentação e nutrição no Brasil estava

delineada com três programas básicos, cada um com características bastantes

peculiares: o SAPS, para os trabalhadores urbanos, financiado com recursos nacionais,

integrado à política previdenciária, servindo como instrumento ideológico. O materno-

infantil, na área de saúde pública, apoiava-se em uma rede pré-existente de postos de

puericultura, distribuía principalmente leite em pó. O Programa de Alimentação Escolar,

o maior em cobertura, com frequente utilização de alimentos industrializados. Ambos

financiados com recursos internacionais.

Os instrumentos da política de alimentação e nutrição estavam articulados e

dependentes de organizações internacionais como a ONU, o FISI, o Programa de

Alimentos para a Paz e o Programa Mundial de Alimentos – PMA.

O período compreendido entre 1940/60, caracterizou-se pela tentativa de

implantação um projeto de desenvolvimento moderno integrado à ordem capitalista. A

economia brasileira passou por um processo de grande desenvolvimento econômico e

uma acelerada urbanização.

Maior disponibilidade de emprego, remuneração garantida e direitos sociais (s.

m., férias, previdência social e educação pública), foram fatores que incentivaram o

êxodo rural.

Segundo dados do IBGE em 1940 a população urbana correspondia a 31,24%

da população total, em 1960 esse percentual passo para 44,67%.

Os gastos com assistência médica cresceram muito. Em 1950 os gastos giravam

em torno de 7,3% da receita do exercício anterior; em 1960 passaram de 19.%, dados

que refletem as pressões por cuidados médicos no processo de urbanização.

A substituição do populismo pela ditadura militar deu origem a uma nova

configuração política, cujas características foram a exclusão política e econômica dos

115

setores populares do novo pacto do poder e a desmobilização e despolitização da

sociedade, através da repressão.

A partir da década de 70, a capacidade receptora de migrantes nacionais

diminuiu ocorrendo uma deterioração da vida urbana (aumento da miséria, da pobreza e

da criminalidade). Os efeitos negativos da urbanização acelerada só foram atenuados

graças a investimentos públicos em infra-estrutura.

A população urbana atingia a cifra de 52.084.984 ou seja, 55,92%da população

total do país.

Houve uma expansão quantitativa do emprego urbano e contenção das reformas

sociais estruturais, principalmente a agrária.(Grifos nossos)

Os baixos salários e as precárias condições de vida deterioravam a saúde e a

capacidade física dos assalariados e seus dependentes, aumentando à demanda aos

serviços de saúde.

Concordamos com ABRANCHES (1985), do autoritarismo à transição

democrática, as políticas sociais não atingiram uma grande massa de despossuídos que

continuaram na miséria absoluta e que constituíam no período a 50% da população

brasileira.

As políticas de saúde exprimiam-se através de uma dicotomia institucional: o

modelo campanhista que predominava nos órgãos de saúde pública do Ministério da

Educação e Saúde e o modelo curativista dominante nos serviços previdenciários,

ambos ineficazes frente aos crescentes problemas de saúde das populações urbana e

rural.

Acentuaram-se algumas tendências relativas à organização do sistema de

saúde, entre as quais podemos citar: extensão da cobertura previdenciária, abrangendo

a quase totalidade da população urbana e parte da população rural, e o desenvolvimento

da prática médica orientada em termos da lucratividade e da viabilização de um

complexo médico-industrial.

Ao final da década esse modelo mostrava-se totalmente inadequado à realidade

nacional.

A partir de meados de 70, teve início a articulação de um movimento social pela

saúde, o Movimento Sanitário, cujo objetivo era a Reforma Sanitária. O projeto de

reforma tinha como demandas: a extensão do direito à saúde para toda a população e

116

que o Estado assumisse o papel de regulamentador e financiador das ações de saúde a

partir de um Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde – SDUS.

A estatização da dívida externa (1979/80) minou as bases financeiras do Estado,

deprimiu o gasto público (investimentos), aprofundou a crise econômica e concentrou

mais a renda, ocasionando a crise social brasileira. Os efeitos do baixo crescimento

industrial foram nocivos para o emprego da mão-de-obra com acentuada diminuição do

emprego formal e deterioração dos salários.

Essa situação repercutiu na esfera econômica também em termos de consumo,

devido aos baixos níveis salariais da maior parte da população.

A política econômica de ajuste à crise ocasionaram cortes nos gastos destinados

à área social que por sua vez agravaram mais o problema estrutural da pobreza.

No processo de redemocratização política, final dos anos 70 e início dos 80,

constituíram-se em um marco na política brasileira, as forças sociais, representadas

pelos sindicatos, entidades profissionais, associações de bairro, movimentos contra a

carestia, partidos políticos empreenderam uma luta política exigindo do regime militar

eleições diretas para presidente. A proposta de Geisel, diante da mobilização da

sociedade era a de fazer uma abertura lenta, gradual e segura (GERSCHMAN, 1995:65)

No período registraram-se as primeiras greves de oposição ao regime militar,

assinalamos as greves do setor médico. Houve um aumento das demandas por

habitação, saúde, saneamento, educação. O resultado da política econômica do regime

não afetou só a classes operária, mas também a classe média.

No início dos anos 80 tornaram-se evidentes, a nível mundial, a crise econômica

e a retração das políticas sociais, com reflexos negativos nas economias dos países em

desenvolvimento.

No Brasil a crise econômica, as altas taxa de inflação e desemprego, a

intervenção da sociedade através dos movimentos sociais e sindicais, foram fatores que

contribuíram para a crise do regime militar.

O senso demográfico de 1980, revelou notável piora nos níveis de vida da

população, aumento do emprego informal e maior concentração da renda individual.

117

Em relação a alimentação e nutrição, consideramos importante analisar as

políticas adotadas a partir de 1972. A intervenção estatal na área de alimentação no

período, consolidou-se sob a tecnocracia da ditadura militar através da criação do INAN

e dos PRONAN I e II.

Em 1974/75, foi realizado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística - FIBGE, o Estudo Nacional de Despesas Familiares - ENDEF, apesar do

processo de censura porque passou, os resultados atestavam que cerca de 67% da

população brasileira tinha um consumo calórico inferior ao recomendado pela FAO.

A atuação do Estado no sentido de neutralizar a crise, gerada pela recessão

econômica (1980/84), sobre as condições de alimentação e nutrição, deu-se através da

suplementação alimentar dirigida a determinados grupos ou categorias populacionais.

Enquanto instrumento de redistribuição de renda, é possível observar que o

impacto dos programas específicos de alimentação e nutrição foi absorvido pelos

decorrentes ajustes implementados no setor econômico, o volume de recursos

destinados aos programas de nutrição sofreu uma queda acentuada no período.

A estratégia global da economia, voltada para o mercado externo e subsidiada

pelos baixos salários do setor urbano, levou a um desestímulo à produção de alimentos

para o consumo interno, o resultado foi uma queda anual per capita de 1,94%.

Quanto à saúde houve uma centralização e concentração do poder institucional.

A orientação política nacional de saúde estava direcionada para o privilegiamento da

prática médica curativa, individual e assistencialista, em detrimento das medidas de

saúde pública de caráter preventivo e de interesse coletivo.

Generalizou-se a demanda social por consultas médicas como resposta às

graves condições de saúde da população, resultado de uma política concentradora,

centralizadora, privatizante e ineficaz.

A partir de 1983, a sociedade civil organizada passou a exigir novas políticas

sociais que pudessem assegurar plenos direitos de cidadania aos brasileiros, inclusive o

direito à saúde.

O período de transição democrática deflagrado em 1985, caracterizou-se

inicialmente pela recuperação econômica, pela queda das taxas de desemprego e pela

elevação do poder aquisitivo, graças ao sucesso inicial do Plano Cruzado, quadro que

118

foi revertido logo após as eleições de 1986.

Em 1987, com a retomada do processo recessivo, o salário mínimo atingiu o

nível mais baixo de sua história, em paralelo ao incremento das taxas de desemprego e

a elevação da inflação.

A Nova Constituição Brasileira promulgada em 5 de outubro de 1988, introduziu

um conceito ampliado de saúde expresso no artigo 196, a saúde passou a ser entendida

como direito de cidadania e dever do Estado, mediante políticas sociais e econômicas

visando a redução do risco de doenças e outros agravos.

O acesso universal e igualitário às ações e serviços para a promoção, proteção

e recuperação da saúde seriam garantido por uma rede regionalizada e hierarquizada,

constituindo o sistema Único de Saúde - SUS.

Em relação à saúde, estudos realizados têm demonstrado que nas causas de

morte da população brasileira, progressivamente e acompanhando o processo de

industrialização, houve uma substituição gradativa, porém não completa, da contribuição

das doenças infecto-contagiosas pelas doenças cardiovasculares, tumores, mortes

violentas, representadas por acidentes de trânsito, homicídios e acidentes de trabalho.

No modelo de desenvolvimento adotado no país, não foram superadas as condições de

pobreza e subdesenvolvimento, mas apenas acrescentados novos riscos e novas

formas de morrer.

Nos primeiros dois anos da Nova República observou-se uma elevação dos

recursos destinados aos setores sociais. Tornou-se evidente a tentativa do governo

Sarney de estabelecer laços simbólicos com o povo, a partir do discurso sobre as

prioridade sociais e do tudo pelo social, buscando criar instrumentos geradores de

hegemonia. Observou-se uma expansão da cobertura populacional dos antigos

programas e a criação de outros (Grifos nossos).

Nos dois últimos anos da Nova República o INAN sofreu um esvaziamento

político, financeiro e ameaças de extinção, porém respaldado pelas recomendações da

Primeira Conferência Nacional de Alimentação e Nutrição, realizada em 1987, pelas

pressões do Movimento Nacional de Combate à Fome e à Miséria, e pelas denúncias de

Núcleos de Pesquisas da área, foi constituído um Conselho Técnico-Científico com o

objetivo de repensar o papel do INAN e suas linhas de atuação

De junho a setembro de 1989, o Órgão conseguiu implementar em conjunto com

119

a Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE e o Instituto de

Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA, a Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição –

PNSN.

Na campanha eleitoral de 1989 os progressistas propagavam a necessidade de

reformas estruturais e o resgate da dívida social, os liberais conservadores anunciavam

a morte da inflação e a modernização rápida.

A vitória de Collor e a implementação de sua política econômica foram um

verdadeiro desastre. Apesar da estabilização, a inflação e alta das taxas de juros

retornaram. Houve um drástico corte dos gastos públicos, reduzindo investimentos e

salários, ocasionando uma nova recessão econômica, concentração de renda e

aumento da pobreza.

A divulgação através da mídia de que 32 milhões de brasileiros encontravam-se

em estado de extrema pobreza, mobilizou a sociedade e através do sociólogo Herbert

de Souza, o Betinho, foi criado o movimento pela Ação da Cidadania Contra à Fome e à

Miséria e pela Vida.

Os ostensivos níveis de corrupção de Collor conduziram-no ao desfecho do

impeachment. No final de 1992, o vice-presidente Itamar assumiu a presidência, dando

sequência à política neoliberal de seu antecessor.

A gestão de Itamar Franco caracterizou-se pela ausência de definições

articuladas em uma proposta de governo e de políticas que viabilizassem o

aprofundamento do processo democrático sob a perspectiva da distribuição de renda e

justiça social.

Segundo dados do IBGE (1992), os 10% mais pobres recebiam apenas 0,8% da

renda; os 10% mais ricos 49,7% (62 vezes mais que os mais pobres), e desses 1%

recebiam 145,6% (182 vezes mais que os mais pobres). A relação população pobre sobre

população total era de 24,8% em 1980 (29,5 milhões de pessoas), passou para 27% (39,2

milhões de pessoas).

Diante da necessidade de ações que pudessem traduzir-se em benefícios

imediatos e diretos para a população mais carente e diante da experiência bem-sucedida

da Ação da Cidadania Contra à Fome e à Miséria e pela Vida, com o apoio do Conselho

Nacional de Segurança Alimentar, foi criado o Programa de Combate à Fome e à Pobreza

– Comunidade Solidária, que sistematizou e ampliou a iniciativa anterior.

120

O princípio básico do Programa foi o da participação e parceria solidária da

comunidade e do governo. Ainda não foi feita uma avaliação do desempenho do Programa.

A PNAD de 1996 revelou que o número de pessoas com renda entre 0,5 e 01 s.

m. somava 15.534.103 de brasileiros, destes 11,11 milhões viviam nas cidades. O número

de trabalhadores com salários abaixo da metade do s. m. s atingiu a cifra de 3.322.841,

desses 1,25 milhões estavam na zona rural.

Em 1996, 62.558972 das pessoas de 10 anos de idade ou mais ocupadas, aquelas

que recebiam até 05 s. m. representavam em dados percentuais que 66,7% do total da

população ocupada. Para o Presidente FHC, esses resultados apontavam uma melhora na

distribuição de renda. (tabela 12)

Tabela 12 - Pessoas ocupadas no mercado formal - 1996 No absolutos % S. M

13.825.533 22,1 Até 01 12.762.030 20,4 01 e 02 7.569.635 12,1 02 e 03 7.569.635

42

Milhões 12,1

67%

03 e 05 6.381.015 10,2 05 e 10 2.877.712 4,6 10 e 20 1.376.297 2,2 + de 20 62.558.972 73,5 Fonte IBGE – 1996. Sem rendimentos – 15,1%; sem declaração – 1,2%

Segundo dados do MTB, nesse período 9.500 mil trabalhadores estavam inscritos

no Programa de Alimentação do Trabalhador, desses 55% (5.130 mil) recebiam até 4 s. m. ou

seja 12% da população-alvo, estimada em 42 milhões de trabalhadores.

O plano de Fernando Henrique Cardoso, através da sua política de estabilização

está ocasionando arrocho salarial, agravamento na distribuição de renda, aumento das

taxas de desemprego, aumento do emprego informal e recrudescimento da crise social.

Para cada um dos períodos estudados procuramos traçar um breve perfil do

contexto econômico (política salarial, inflação e poder de compras do assalariado),

contexto político (as estrutura do poder, movimentos sociais e grupos sociais

hegemônicos) e contexto social (condições de vida da população de modo geral e em

121

específico dos trabalhadores assalariados).

Foi através da polarização destes contextos que buscamos analisar as políticas

de suplementação alimentar, particularmente do trabalhador assalariado, a partir do

momento em que este voltou a receber a atenção do Estado, com a criação do PAT.

4.2 - PROGRAMA DE ALIMENTAÇÃO DO TRABALHADOR - PAT: UMA ANÁLISE CRÍTICA

Através das informações coletadas ao longo dessa pesquisa, observamos que

as políticas sociais de alimentação e nutrição voltadas para o trabalhador são definidas

por analistas e atores sociais, ora como instrumentos de manutenção e reprodução da

força de trabalho, ora como mecanismos ideológicos, utilizados pelo Estado em

momentos de crises econômica, política ou social.

Ao analisarmos as políticas sociais de suplementação alimentar a partir de 1940,

constatamos que realmente em determinadas conjunturas o Estado ao assumir a

responsabilidade com a alimentação do assalariado urbano buscava estabelecer laços

simbólicos com a massa assalariada e garantir o processo de acumulação capitalista.

Ao confrontarmos o SAPS e o PAT, assinalamos diferenças marcantes tais

como: a forma de financiamento, a modalidade de atendimento, grau de intervenção

estatal, entre outras.

O SAPS era totalmente financiado pelo Estado, altamente centralizado, o

atendimento dava-se através de restaurantes localizados em pontos estratégico,

comprovadamente clientelista, foi gerado no âmbito da política de massa, foi usado

como meio de sustentação do getulismo, muito oneroso para os cofres públicos, era

visto como um privilégio do trabalhador urbano inserido no mercado formal. Considerado

com agência ideológica, realizou inquéritos alimentares, foi responsável pela formação

de nutrólogos e nutricionistas, deu grande ênfase à educação nutricional, suavizou

tensões sociais, tinha um grande poder de congregar a classe trabalhadora, só teve

expansão significativa durante os anos 40/50, o empresariado pouco se preocupou em

defendê-lo quando foi extinto.

122

Para COIMBRA (1985), foi a partir da criação do SAPS que originou-se a política

de alimentação stritu sensu no Brasil.

O PAT é financiado pelo empregador e pelo empregado, a participação do

Estado se dá por meio de renúncia fiscal, possui várias modalidades de atendimento, é

descentralizado, foi criado durante o regime militar, expandiu-se muito no período da

transição democrática, num contexto de retração das políticas sociais, quase foi extinto

no governo neoliberal de Collor, tem sido interpretado como um direito adquirido, tem

feito parte da pauta de negociações entre patrões e sindicatos dos trabalhadores.

O próprio empresariado reconhece a necessidade de uma da alimentação

adequada, tanto é, que muitas empresas embora não sejam cadastradas ao PAT,

fornecem refeições aos seus empregados. Assim sendo setor privado passou a adotar

um modelo de política pública, por ter sido considerado exitoso.

Vários estudos sobre o PAT têm sido realizados, especialmente em momentos

de crise, ou seja, quando o governo ameaça extinguí-lo. Esses estudos geralmente são

encomendados por técnico do governo com o intuito de comprovar que o PAT ainda se

faz necessário ou por proprietários das empresas de refeição-convênio, alimentação-

convênio, etc.

Para muitos analista o PAT não pode ser considerado como uma política social

stritu sensu.

As semelhanças entre o SAPS e o PAT ocorrem por conta do público-alvo, isto

é, o trabalhador de baixa renda, devidamente regulamentado, por consolidar a profissão

do nutricionista, as críticas características aos dois programas são em relação à

corrupção e desvios dos objetivos, entre outras.

Quanto aos outros programas de suplementação alimentar criados pelo II

PRONAN, eram financiados ou administrados pelo governo, todos já foram extintos, o

programa de alimentação escolar ainda sobrevive, no entanto, é importante lembrar que

esse programa foi criado pela CNA, em 1955, apenas foi reformulado pelo II PRONAN.

123

O PAT teve um aumento significativo em termos de cobertura a partir da década

de 80, num momento em que a crise econômica mundial levou os países

industrializados a cortarem drasticamente os gastos na área social.

No Brasil houve uma redução da atuação do Estado no financiamento de

políticas sociais, especialmente até meados de 80. No entanto, conforme dados do MTb

a expansão do Programa pode ser observada através da tabela 6 (p: 78, deste trabalho),

tanto em número de empresas cadastradas quanto de beneficiários inscritos.

A expansão do PAT ocorreu fora do contexto mundial, aparentemente na

contramão da história.

Na chamada Nova República, apesar do discurso de tudo pelo social, a única

referência feita ao Programa foi a de que o MTb deveria reestudá-lo, propondo as

eventuais alterações que se fizessem necessárias, mesmo assim o Programa teve um

crescimento significativo.

Em 1986 o PAT nem sequer foi mencionado, não fez parte da agenda do

governo, seu desempenho no entanto, foi bastante elevado tanto a nível de cobertura

populacional quanto ao número de empresas participantes.

No governo Collor, por oferecer incentivos fiscais, esteve na iminência de ser

extinto, só não foi porque a equipe que coordena o PAT, mobilizou-se e provou que a

renúncia fiscal é superada pelos impostos arrecadados. A maioria dos programas de

suplementação alimentar foram extintos. Em 1998 os únicos programas de alimentação

a nível federal em execução, são o PNAE e o PAT.

No governo Itamar o PAT foi revalorizado enquanto prioridade, graças às

pressões da sociedade civil organizada, do PT e das Centrais Sindicais. A flexibilização

para a adesão possibilitou a entrada de pequenas empresas.

No governo Fernando Henrique Cardoso, a meta do Programa Comunidade

Solidária prevê a ampliação da cobertura do PAT até 1998, para 13 milhões de

trabalhadores do mercado formal, quase o dobro do total de 1995.

Em 11 de outubro de 1996, foi editado um pacote constituído por duas Medidas

Provisórias e cinco Decretos. Dentre as medidas de ajuste propostas, a MP n o 1.522

124

(letra i) - transforma o vale-refeição em auxílio-alimento pago em pecúnia, de caráter

indenizatório, não caracterizável como salário in natura, e que não servirá de base de

cálculo para contribuição previdenciária e imposto de renda. Essa alteração atingiu todos

os servidores públicos federais, a proposta do governo para as empresas privadas é

aumentar o incentivo fiscal para aquelas que passarem a pagar o valor do vale-refeição

em dinheiro.

Destacamos as três orientações básicas de reformulação do PAT, a primeira

baseada no princípio da soberania do consumidor, quer transformar os benefícios do

PAT em dinheiro, objetivo alcançado através da MP 1.522/96, para os servidores público

e em estudo para o setor privado. A segunda, via MTb, prevê reformas pontuais

motivada pela urgência de aperfeiçoar o Programa mediante distorções observadas. A

terceira são as reformas via Congresso relacionadas com a emergência de uma reforma

do PAT sobre a necessidade de aumentar os rigores da regulamentação das empresas

prestadoras de serviços de alimentação coletiva. (Grifos nossos).

Dados do NEPP demonstravam que em 1984, 68% dos beneficiários

concentravam-se na região Sudeste. Em 1985, 70% e 1986, 79%, apesar das

orientações governamentais. De acordo com os dados coletado observamos que o

quadro não mudou, em 1995 o total de beneficiários (em torno de 77%) ainda se

localizavam na mesma região.

Muitas críticas têm sido feitas a esse modelo de política social. As críticas mais

relevantes têm sido em relação à concentração de beneficiários e das empresas

cadastradas situarem-se nas regiões Sudeste e Sul, regiões mais ricas, nos estados

mais desenvolvidos e nas grandes empresas, onde geralmente o salário é mais alto.

O sistema de vale-refeição, adotado em 1982, tem acarretado problemas

passíveis de críticas: falta de pessoal para fiscalizar os restaurantes, o que implica em

ausência de controle sobre a qualidade das refeições servidas, desvio e fraudes.

Segundo MONTEIRO (1995: 122-124):

“...inquéritos representativos da população adulta brasileira realizados em 1974

(ENDEF) e em 1989 (PNSN), revelaram um declínio pronunciado e generalizado

125

na proporção de indivíduos com baixo índice de massa corporal e, nessa

medida, indicam a redução substancial da prevalência de adultos submetidos à

deficiência energética crônica. Entre as muitas possibilidades para justificar esta

sensível melhora no estado nutricional de adultos, em relação ao consumo o

alimentar, cumpre notar que subsídios fiscais concedidos às empresas pelo

Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT), iniciado no país em 1977,

determinaram que parte considerável dos trabalhadores urbanos fosse

favorecida com refeições oferecidas no local de trabalho ou vale-refeição.

Estima-se que, em 1989, o PAT tenha beneficiado mais de cinco milhões de

trabalhadores, ou cerca de 20% da população empregada no país”.

Os resultados da PNSN (1989), demonstraram uma acentuada melhora no

estado nutricional de adultos, observamos entretanto, através da mesma pesquisa, que

os hábitos alimentares dos brasileiros mudaram em relação a 1974/75, quando foi

realizado o ENDEF.

Os resultados da PNSN demonstraram uma redução importante na prevalência

de adultos desnutridos, teoricamente parte dessa melhora no quadro nutricional poderia

ser justificado pela redução da pobreza no país, o que determinaria o aumento no

consumo de alimentos.

Dados publicados pelo IBGE sobre a frequência da pobreza absoluta, mostram

uma redução na proporção de brasileiros vivendo abaixo da linha de pobreza, aqueles

com renda inferior a 25% do s. m. legal.

Enquanto em 1970 quase 60% da população encontrava-se em situação de

extrema pobreza, em 1987 essa proporção era de 14%.

Como o denominador utilizado para a obtenção desses dados é o s. m.

determinado pelo governo e cresce menos que o numerador (rendas e salários obtidos

pelos agentes econômicos no mercado), um reajuste salarial abaixo da inflação do

período poderia colocar muitas pessoas artificialmente acima da linha de pobreza.

De acordo com dados da PNSN, houve um aumento na ingestão de açucares e

gorduras, fatores responsáveis pela obesidade e sua consequências, como diabetes,

hipertensão arterial e doenças cardíacas.

126

Houve uma substituição gradativa, porém não completa, das doenças infecto-

contagiosas pelas doenças crônico-degenerativas, ou seja, não foram superadas as

condições de pobreza e subdesenvolvimento, mas apenas acrescentados novos riscos e

novas formas de adoecer e de morrer.

Algumas críticas feitas ao PAT podem ser consideradas construtivas, como: a

necessidade de reformulação do Programa, maior controle e fiscalização das empresas

fornecedoras de alimentos e das responsáveis pela elaboração de tíquetes, ampliação

da cobertura para áreas mais carentes, como as da construção civil e rural e das

pequenas e micro empresas, tanto dos grandes centros das regiões mais desenvolvidas

quanto das cidades menores nas regiões mais atrasadas.

Segundo os técnicos do Governo Paralelo:

..."o presidente Collor, insistindo na aplicação dos nocivos princípios neoliberais,

prioriza os programas voltados à garantia de mercado às indústrias modernas de

alimentos (via Programa de Suplementação Alimentar – merenda escolar), e ao

subsídio direto ao capital por intermédio do PAT. Em paralelo, continuam a ser

montados programas de distribuição de cestas de alimentos (industrializados),

em bases clientelistas que vêm gerando episódios de escândalo e corrupção. Os

programas sociais de alimentação e nutrição desenvolvidos no Brasil têm

funcionado primordialmente como: mecanismo econômico de garantia de

mercado para determinados produtores de alimentos e de subsídio ao grande

capital; mecanismo político de cooptação dos movimentos sociais, buscando

atrair apoio às iniciativas governamentais; mecanismo ideológico de mistificação

através de ações paternalistas que não tocam nas raízes do problema e

terminam legitimando as estruturas sócio-econômicas geradoras da fome.

Esses técnicos fazem críticas a diversos programas de alimentação. Em relação

ao PAT dizem que devido às regras de operação, há exclusão do trabalhador do setor

informal, não atinge os mais necessitados nem as regiões mais pobres. Em 1989,

enquanto 1% dos beneficiários tinham renda até 2 salários mínimos, 40% estavam na

faixa acima de 5 salários mínimos. Dos usuários do Programa, mais de 70% se

127

encontravam na Região Sudeste, contra apenas 7% no Nordeste.

Ressaltamos que através dos dados obtidos tornou-se possível refutar algumas

destas críticas como: o percentual de 1% certamente refere-se ao total de trabalhadores,

pois em 1990 o percentual de beneficiários inscritos e que recebiam até 02 s. m. era de

22,4% e os que recebiam até 04 s.m. era de 33,1%. Diante do exposto podemos afirmar

que 55,5% dos trabalhadores inscritos recebiam até 04 s. m.

A concentração dos usuários na Região Sudeste pode estar relacionada ao fato

de que a maioria das empresas de grande porte situam-se nessa região. É interessante

lembrar que segundo a PNSN, em 1989, um contingente de desnutridos efetivos ou em

potencial (4,7 milhões de pessoas maiores de 18 anos) concentravam-se nesta região.

Quanto ao subsídio, que a princípio era de 5% do lucro tributável da empresa

cadastrada, a partir de dezembro de 1997 passou para 4%; como o governo fixou o valor

da refeição em 3 Ufirs, tanto para o desconto em folha, do empregado, quanto para

abater no IRPJ. Com essas medidas, o empresariado paga a maior parcela, mesmo

porque, o valor estipulado pelo governo está muito abaixo do preço de mercado por

refeição.

IUNES (1995:54) refere-se ao PAT, como o maior programa federal da área de

alimentação e nutrição, em termos de recursos por pessoa assistida. No entanto, por

estar voltado à população adulta e beneficiar sobretudo trabalhadores urbanos do setor

moderno da economia, seu impacto sobre o problema da desnutrição é escasso.

Salientamos no entanto, que os trabalhadores urbanos beneficiados pelo

Programa, em sua maioria recebem até 05 s. m., que as condições de vida desses

assalariados continuam precárias, além disso o número de subnutridos, isto é, aqueles

que mesmo dentro dos padrões normais no índice de massa corporal, não têm acesso a

uma alimentação adequada em termos nutricionais, a ingestão calórica de carboidratos

e gordura, cujo preço é mais acessível, leva à obesidade e suas consequências.

As respostas de nossos depoentes, praticamente apontam para os mesmos

desvios, uns com críticas mais contundentes outros assinalando a necessidade de

reestruturação do Programa, porém foi consenso geral de que o mesmo ainda se faz

128

necessário, haja visto que o valor do salário mínimo é incapaz de cobrir às necessidades

básicas do assalariado, sendo essa forma de salário indireto muito importante para

suprir suas carências alimentares e nutricionais .

129

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante da pesquisa realizada observamos que nos diferentes contextos políticos

estudados, os programas de alimentação voltados para o trabalhador têm sido utilizados

como instrumento de cooptação das classes trabalhadoras urbanas, principalmente do

operariado.

Quanto à organização dos serviços de saúde, não só do trabalhador, mas da

população como um todo, obedeceu a um padrão característico, sendo muito marcante

a multiplicidade de órgãos e funções.

As origens dos serviços hoje pertencentes ao Ministério da Saúde, remontam aos

programas de combate às epidemias que ocorreram no início do século, pois até então os

cuidados com a saúde estiveram a cargo das instituições religiosas caritativa. O Estado

só passou a atuar, quando as epidemias passaram a ameaçar as exportações

internacionais.

A reforma sanitária de Oswaldo Cruz, centralizou o comando sanitário, através de

medidas severas e compulsórias, como o combate a vetores e a imunização obrigatória,

caracterizando o controle social do Estado sobre a sociedade.

O surgimento do proletariado urbano e da classe média, representada pelas

burocracias civil e militar, estabeleceu uma nova demanda em termos de saúde. Não se

tratava de evitar apenas uma epidemia que dizimava as cidades, mas também para

atender aos apelos políticos e econômicos da recuperação da saúde do trabalhador, essa

nova demanda não modificou os serviços de Saúde Pública existente, a solução

encontrada foi criar uma nova instituição; a Previdência Social, com características muito

distintas da primeira.

Os serviços da seguridade social e particularmente os de assistência médica,

cumpriram um duplo papel no contexto sócio-político então vigente, como instrumento de

política social e como medicina da mão-de-obra formalmente integrada no mercado de

trabalho. Em 1966, com a fusão dos vários Institutos num único Órgão, o Instituto

130

Nacional de Previdência Social – INPS, foi feita a opção pela compra de serviços do setor

privado.

Ao lado dos serviços de Saúde Pública, das organizações filantrópicas, da

Previdência Social, também se desenvolveram os serviços e a produção de insumos com

fins lucrativos, como clínicas, hospitais e indústrias multinacionais de medicamentos.

Em meados de 70 uma nova proposta começou a ser elaborada, baseada na

necessidade de transformação da situação e visando atingir a meta de “Saúde para todos

no ano 2000”, mandamentos preconizados pela OMS, sancionados na Conferência de

Alma Ata, em 1978.Tornava-se necessária uma ação planejada do Estado, para por meio

das políticas, desenvolver o Sistema Nacional de Saúde.

O colapso do regime autoritário deu início à fase de transição democrática,

caracterizada pela irrupção das demandas contidas e utilização das políticas estatais para

a promoção da distribuição da renda. No entanto a crise econômica mundial que começou

em meados de 70 nos países centrais, refletiu-se de forma aguda na década de 80 para

os países periféricos.

No caso brasileiro, ocorreu uma redução do gasto público nos setores sociais, a

partir da receita recessiva do Banco Mundial, concentração de renda, crescimento da

pobreza em números absolutos, paradoxalmente houve melhorias nos padrões de

nutrição, alguns avanços nas condições habitacionais, de saneamento e infra-estrutura e

no acesso de educação e saúde.

Nos anos 80, o agravamento das carência sociais e o afrouxamento do regime

autoritário, possibilitaram a eclosão de uma série movimentos populares contra à

exclusão social. O papel do Movimento Sanitário foi muito importante, sobretudo no início

dos anos 80, por participar ativamente no processo de formulação e implementação das

políticas de saúde.

A participação social se institucionalizou na esteira do processo de

redemocratização do país, superando o caráter de Estado politicamente autoritário e

socialmente excludente. A categoria central passou a ser a sociedade, a participação

social passou a ser vista como cidadania.

Ao longo das décadas 70/80 o Sistema Previdenciário sofreu várias mudanças

institucionais. Porém nenhum arranjo deu conta de evitar a crise do sistema.

Com o advento da Nova República em 1985, abriu-se espaço para um processo

131

de reformas para reverter o modelo então vigente. A adoção de algumas teses do

Movimento Sanitário, pelo governo, tornou viável a realização, em março de 1986, da

VIII conferência Nacional de Saúde. Foi um evento inédito, pois pela primeira vez na

história das políticas de saúde, a sociedade civil organizada foi convocada para debater

programas e políticas de governo. (CARVALHO,1995)

Somente com a Constituição de 1988 foi criado o Sistema Único de Saúde SUS,

considerado como um grande avanço político, democrático e social e na área de

promoção, proteção e recuperação da saúde. A Lei Orgânica da Saúde – LOS (n o

8080 set/90 e a de n o 8142 de dez/90), foi o instrumento jurídico fundamental para a

formulação e tentativa de implantação do SUS. A saúde ficou definida como um direito

social universal, garantido pelo Estado.

Três questões relacionadas à saúde merecem destaque na década em estudo, a

primeira foi o crescimento das taxas de mortalidade por violência. Mais do que uma

questão do setor saúde, a violência urbana ou rural tornou-se um indicador do

acirramento das tensões sociais; a segunda o aparecimento da AIDS, até hoje sem uma

terapia eficaz, alterou também o quadro de incidência das doenças infecciosas,

especialmente a tuberculose; a terceira foi o envelhecimento da população, com aumento

da expectativa de vida do brasileiro, trazendo novos desafios para o setor saúde, relativos

às doenças comuns da idade. (MINAYO 1995:13)

O perfil do Brasil de acordo com o BIRD, indica mudanças no panorama sócio-

econômico a partir do Plano Real. Em 1995/96 houve um aumento médio de 4% do

consumo, a expectativa de vida passou de 63 anos em 1980 para 67 em 1996. A

queda nos níveis de mortalidade infantil diminuiu de 95 para cada mil nascidos vivos

em 1970, para 36 por mil em 1996. (O GLOBO: 17/04/98:25)

Diante do quadro otimista de aumento da expectativa de vida, queda nas taxas de

mortalidade infantil, deparamo-nos com o fracasso no controle de enfermidades

infecciosas que já deveriam estar erradicadas, tais como a dengue, a tuberculose a

hanseníase, entre outras.

Em relação ao número de pessoas vivendo abaixo do nível de pobreza, o quadro

também não é nada animador, pois de acordo com dados divulgados em abril de

1998, pelo Banco Mundial (BIRD), quase metade da população brasileira (43,5%) era

constituída por pobres em 1995, vivendo com menos de US$ 2 por dia. Isso equivale

132

a um contingente de 70 milhões de pessoas, desse grupo 38 milhões estavam na

miséria absoluta, sobrevivendo com menos de um dólar diário.

Para o IBGE, em 1994 - 33,4% da população vivia abaixo da linha da pobreza;

caiu para 27,8% em 1995, e para 25,1% em 1996. Observamos que o parâmetro do

órgão nacional para medir a pobreza no país é o s. m.

Só a melhoria dos níveis de renda e a garantia de acesso à saúde, emprego,

alimentação, educação, moradia e saneamento irão resolver os problemas da fome e da

desnutrição no país. Apesar disso as dificuldades para enfrentar, a curto prazo, os

problemas estruturais que conduzem à miséria tornam necessárias ações

compensatórias para melhorar as condições de vida das populações carentes. Cabe

então ao governo, dentro de uma política social, investir em programas voltados para os

menos favorecidos.

É consenso geral que alimentação adequada constitui condição necessária para

uma sociedade poder desenvolver-se; sendo um investimento com maturação a médio e

longo prazos, seu impacto está em legar às gerações futuras um patrimônio genético e

sócio-econômico-cultural mais evoluído.

No Brasil, a alimentação está acima de quase todas as necessidades, inclusive a

habitação. Favorecidos por um inverno menos rigoroso que nos países europeus, os

trabalhadores brasileiros podem morar em submoradias, porém, não sobrevivem e nem

produzem se não tiverem uma alimentação mínima essencial.

No período investigado, amparados pela vasta literatura consultada e o grande

número de documentos pesquisados podemos concluir que o programa destinados à

suplementação alimentar do trabalhador de baixa renda, o PAT, precisa ser reformulado

e reorientado para que possa atingir seus objetivos e evitar distorções no atendimento,

isto é, facilitar a adesão das micro empresas; aumentar a cobertura para os

trabalhadores da construção civil, da área rural, e nos Estados menos desenvolvidos da

federação, através de campanhas de esclarecimento aos empresários, lideres sindicais

e trabalhadores; avaliar a possibilidade de atender aos trabalhadores do setor informal;

incentivar o uso do cartão magnético, para evitar desvios dos tÍquetes e fraudes.

Os resultados obtidos em termos de melhoria no estado nutricional de adultos

133

beneficiados pelo PAT, tem sido comprovado através de estudos comparativos entre o

ENDEF (1974/75) e a PNSN (1989). Podemos citar como exemplo o trabalho de

MONTEIRO (1995).onde o autor cita o PAT como um dos determinantes na sensível

melhora do estado nutricional dos trabalhadores adultos urbanos.

Observamos também o empenho que a equipe de técnicos do governo que

coordenam o PAT, tem demonstrado tanto em termos de manutenção do Programa

quanto na implementação de novos projetos para aperfeiçoá-lo.

A atuação governamental no setor deve ser mantida, haja visto que é uma

alternativa para a elevação da renda do assalariado, pois o salário mínimo nunca foi tão

baixo, o que nos permite supor ser difícil a manutenção de um padrão adequado de

alimentação de grande segmento da população.

Além do benefício direto de gerar produtividade, iniciativas como o PAT tem

papel de destaque no desenvolvimento com justiça social, resultando para a população

em: melhor distribuição de renda; melhor condição de saúde; melhor qualificação

profissional; melhor nível de aprendizado; melhor condição de trabalho, bem-estar e

desempenho muito mais satisfatório.

Pelo exposto, acreditamos que o PAT ainda continua com a função definida

pelos objetivos de sua criação, enquanto a situação sócio-econômica do país não

apresentar sensíveis mudanças, embora não tenha sido criado em caráter permanente,

ainda se faz necessário na atual realidade.

De acordo com Anna Maria de Castro :

"não importa o modelo escolhido, o desenvolvimento não pode ser realizado sem uma alimentação adequada, que se traduz em bem estar físico e intelectual, responsáveis por uma sociedade de homens sadios "

134

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138

ANEXOS

139

LEGISLAÇÃO

O Programa de Alimentação do Trabalhador - PAT, foi criado pelo INAN/MTb,

através da Lei n o 6.321 de 14 de abril de 1976, decretada pelo Congresso e sancionada

pelo Presidente da República Ernesto Geisel.

O artigo 2 o dispõe que os programas de alimentação deverão conferir prioridade

ao atendimento dos trabalhadores de baixa renda e limitar-se-ão aos contratados pela

pessoa jurídica beneficiária.

Parágrafo único - o Ministério do Trabalho articular-se-á com o Instituto Nacional

de Alimentação e Nutrição - INAN, para efeito de exame e aprovação dos programas a

que se refere a presente lei.

No Artigo 3 o fica especificado que a parcela paga pelas empresas, nos

programas de alimentação não será incluída como salário de contribuição.

Portaria Interministerial n o 326, de 7 de julho de 1977 :

Os Ministros de Estado da Fazenda – Mário Henrique Simosen; do Trabalho –

Arnaldo da Costa Prieto e da Saúde Paulo de Almeida Machado, no uso de suas

atribuições, e considerando que o montante do incentivo fiscal introduzido pela Lei n o

6.321, e regulamentada pelo Decreto n0 78.676, de 8 de novembro de 1976, pode ser

igual ou inferior a 5% (cinco por cento ) do imposto de renda devido, dependendo do

comportamento do custo direto das refeições servidas no exercício social e do imposto

devido no exercício financeiro correspondente; e considerando que está em

conformidade com os objetivos da referida legislação o disciplinamento dos custos das

refeições de modo a que, mesmo em casos especiais, a parcela relativa ao incentivo

não apresente distorções no universo dos trabalhadores atendidos e das pessoas

jurídicas beneficiárias.

O Presidente da República, Ernesto Geisel, sanciona e o Congresso Nacional

decreta a Lei n 0 6.542 de 28 de junho de 1978, que dispões sobre incentivos fiscais

para programas de formação profissional e alimentação do trabalhador nas áreas da

SUDAM e da SUDENE com a seguinte redação:

140

Art. 1 0 - as pessoas jurídicas beneficiadas com isenção de renda na forma do

artigo 23 do Decreto-Lei n 0 756 de 11 de agosto de 1969, na redação dada pelo

Decreto-lei n 0 1.564 de 29 de julho de 1977, e que executarem programas de formação

profissional e de alimentação do trabalhador, de acordo com as Leis n os 6.297 de 15 de

dezembro de 1975, e 6.321 poderão utilizar os incentivos fiscais previstos nas referidas

leis, calculados dentro dos limites nelas fixados, considerando o imposto que seria

devido, caso não houvesse a isenção.

Parágrafo único – a base de cálculo para o incentivo será o total dos dispêndios

comprovadamente realizados em conformidade com projetos previamente aprovados

pelo Ministério do Trabalho.

Art. 2 0 – a utilização dos incentivos facultada no artigo anterior far-se-á

mediante constituição de crédito para pagamento do imposto sobre produtos

industrializados devido em razão das operações da pessoa jurídica.

Parágrafo único – caso não haja possibilidade de aproveitamento dos incentivos

na forma deste artigo, a pessoa jurídica fará jus a ressarcimento da importância

correspondente com recursos de dotação orçamentária própria do Ministério do

Trabalho.

A apresentação prévia dos programas de formação profissional deverá ser

efetuada ao Conselho Federal de Mão-de-Obra, em Brasília, e os programas de

alimentação do trabalhador às Delegacias Regionais do Trabalho, em seus estados de

localização.

Os Ministros de Estado da Fazenda e do Trabalho, no uso de suas atribuições e,

tendo em vista o disposto nos artigos 2 0 e 3 0 da Lei n 0 6.542, através da Portaria

Interministerial n 0 3.396 de 11 de outubro de 1978, resolvem:

1 - A utilização do incentivo fiscal previsto nas leis 6.297 e 6.321, por pessoas

jurídicas que tenham empreendimentos industriais ou agrícolas nas áreas de atuação da

SUDAM e da SUDENE e que gozarem de isenção do imposto de renda, far-se-á em

conformidade com a regulamentação das Leis citadas através dos Decretos n 0s 77.463

141

e 78.676 e normas complementares.

2 - Os limites de dedução do imposto de renda previstos nas leis de regência

dos incentivos ( programas de formação profissional e programas de alimentação do

trabalhador) serão em função do imposto que seria devido, caso não houvesse a

isenção prevista no Decreto-Lei n 0 1.564, o respectivo valor será deduzido do que for

devido pelas pessoas jurídicas beneficiárias.

O Presidente da República, Fernando Collor, no uso da atribuição que lhe

confere o artigo 84, inciso VI, da Constituição dispõe sobre o Decreto n 0 5 de 14 de

janeiro de 1991 que regulamenta a Lei 6.321, revoga o Decreto n 0 78.676/76 e decreta :

Art. 10 A pessoa jurídica poderá deduzir, do imposto de renda devido, valor

equivalente à aplicação da alíquota cabível do imposto de renda sobre a soma das

despesas de custeio realizadas, no período-base, em programas de alimentação do

trabalhador, previamente aprovados pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social

- MTPS, nos termos deste regulamento.

As despesas realizadas durante o período-base da pessoa jurídica passam a

constituírem custo operacional; as despesas admitidas na base do cálculo são aquelas

que vierem a constituir o custo direto e exclusivo do serviço de alimentação, podendo

ser considerados, além da matéria- prima, mão-de-obra, encargos decorrentes de

salários, asseio, e gastos de energia diretamente relacionados ao preparo e à

distribuição das refeições; para efeito deste decreto, entende-se como prévia aprovação

pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social a apresentação de documento hábil

a ser definido em portaria dos Ministérios do Trabalho, da Previdência Social, da

Economia, da Fazenda e planejamento e Saúde.

Art. 2 0 Para os efeitos do artigo 2 0 da Lei n 0 6.321, os trabalhadores de renda

mais elevada poderão ser incluídos no programa de alimentação, desde que esteja

garantido o atendimento da totalidade dos trabalhadores contratados pela pessoa

jurídica beneficiária que percebam até 5 (cinco) salários mínimos

Art. 3 0 Os programas de alimentação do trabalhador deverão propiciar

142

condições de avaliação do teor nutritivo da alimentação.

Art. 4 o A pessoa jurídica beneficiária poderá manter serviço próprio de refeições,

distribuir alimentos e firmar convênio com entidades fornecedoras de alimentação

coletiva, sociedades civis e sociedades cooperativas.

Parágrafo único - a pessoa jurídica beneficiária será responsável por quaisquer

irregularidade resultantes dos programas executados na forma deste artigo.

Art. 5 0 , 6 0,e 7 0 já constavam de leis anteriores. Art. 8 0 - a execução

inadequada dos programas de alimentação do trabalhador, o seu desvio ou

desvirtuamento de suas finalidades acarretarão a perda do incentivo do incentivo fiscal e

a aplicação das penalidades cabíveis.

O Decreto n 0 349, de 21 de novembro de 1991, o Presidente da República,

Fernando Collor altera o Decreto n 0 5 e acrescenta outro parágrafo ao artigo 2 0 do

Decreto anterior, com a seguinte redação : a quantificação do custo direto da refeição

far-se-á conforme o período de execução do programa aprovado pelo Ministério do

Trabalho e da Previdência Social, limitado ao máximo de 12 ( doze ) meses.

Os Ministros de Estado do Trabalho e da Previdência Social - Reinhold

Stephanes, da Fazenda e Planejamento - Marcílio Marques Moreira e da Saúde - José

Goldemberg, no uso de suas atribuições dispõem sobre a Portaria Interministerial n 0 1,

de 29 de janeiro de 1992 e resolvem :

Art. 1 0 A Secretaria Nacional do Trabalho é o órgão gestor do Programa de

Alimentação do Trabalhador - PAT.

Art. 2 0 A adesão ao Programa consistirá na apresentação do formulário oficial (

anexo) instruído com os seguintes elementos :

a) identificação da empresa beneficiária;

b) número de trabalhadores beneficiados no ano anterior;

c) número de refeições maiores e menores no ano anterior;

143

d) tipo de serviço de alimentação e percentuais correspondentes ( próprio,

fornecedor, convênio e cesta básica);

e) número de trabalhadores beneficiados por faixas salariais; e

f) termo de responsabilidade e assinatura do responsável pela empresa.

Art. 3 0 A adesão ao PAT deverá ser efetuada de 1 0 de janeiro a 31 de março de

cada ano, para ter validade máxima de 12 (12) meses, até 31 de dezembro do mesmo

ano.

Art. 40 Os programas de alimentação do trabalhador ficam automaticamente

aprovados mediante a apresentação e registro ma Empresa Brasileira de Correios e

Telégrafos - ECT, do formulário oficial, pré-franqueado pela ECT, sem ônus para o órgão

gestor do PAT.

Parágrafo único - o comprovante de registro na ECT deve ser conservado na

contabilidade da empresa beneficiária para efeitos legais.

Art. 5 0 Para efeito do disposto no artigo 3 0 do Decreto n 0 5 , os programas de

alimentação do trabalhador observarão:

a) o almoço, jantar e ceia deverão conter um mínimo de 1.400 calorias e 6% de

percentual protéico (NDpCAL);

b) desjejum e merenda deverão conter um mínimo de 300 calorias e 6% de

NDpCAL;

c) As cotas de cesta básica deverão corresponder aos valores diários citados

nas alíneas a e b deste artigo.

O Diretor do Departamento da Receita Federal, em exercício, João Bosco

Martinato, no uso de suas atribuições dispõe sobre o cálculo do benefício relativo ao

PAT através da Instrução Normativa n 0 16, de 20 de fevereiro de 1992, e resolve :

Art. 1 0 A partir de 1 0 de janeiro de 1992, para efeito de utilização do incentivo

144

fiscal de que trata a Lei 6.321/76, o custo máximo da refeição previsto na Portaria

326/77, será de 3,00 Unidades Fiscais de Referência - Ufir.

Art. 2 0 O valor do incentivo fiscal por refeição, dedutível do imposto de renda,

deverá ser calculado mediante a aplicação da alíquota do imposto sobre 2,40 Ufir.

A Portaria n 0 13, de 17 de setembro de 1993, altera as Normas

Regulamentadoras - NR (a que se refere a portaria n 0 3.214, de 8 de junho de 1978), nos

1, 24 e 28, e a NR Rural n 0 1. A Secretária de Segurança e Saúde no Trabalho - Ivone

Gorgosinho Baumecker, Substituta, no uso de suas atribuições resolve :

Art. 1 0 Os itens 1.3 e 1.4 da NR n 0 1, aprovada pela Portaria MTb n 0 3.214, de

28 de junho de 1978, passam a vigorar com a seguinte redação :

1.3 A Secretaria de Segurança e Saúde no Trabalho - SSST é o órgão de âmbito

nacional competente para coordenar, orientar, controlar e supervisionar as atividades

relacionadas com a segurança e medicina do trabalho, inclusive a Campanha Nacional

de Prevenção de Acidentes do Trabalho - Canpat, o Programa de Alimentação do

Trabalhador - PAT, e ainda a fiscalização do cumprimento dos preceitos legais e

regulamentares sobre segurança e medicina do trabalho (urbano e rural) em todo o

território nacional.

1.3.1 Compete, ainda, à Secretaria de Segurança e Saúde no Trabalho - SSST

conhecer, em última instância, dos recursos voluntários ou de ofício, das decisões

proferidas pelos Delegados Regionais do Trabalho, matéria de segurança e saúde no

trabalho.

1.4 A Delegacia Regional do Trabalho - DRT, nos limites de sua jurisdição, é o

órgão regional competente para executar as atividades relacionadas com a segurança e

medicina do trabalho, inclusive a Canpat, o PAT e ainda a fiscalização do cumprimento

dos preceitos legais e regulamentares sobre segurança e medicina do trabalho.

Art. 2 0 O subitem 24.3.15.4 da NR n 0 24, passa vigorar com a seguinte redação

;

145

NR n 0 24 - CONDIÇÕES SANITÁRIAS E DE CONFORTO NOS LOCAIS DE

TRABALHO :

24.3 - Refeitórios - subitem 24.3.15.4 Em casos excepcionais, considerando

condições especiais de duração, natureza do trabalho, exiguidade de área,

peculiaridades locais e tipo de participação no PAT, poderá a autoridade competente em

matéria de segurança e medicina do trabalho dispensar as exigências dos subitens

24.3.1 e 24.3.15.2, submetendo sua decisão à homologação do Delegado Regional do

Trabalho.

Art. 3 0 Fica acrescentado, após o subitem 24.5.31, da NR n o 24, um item 24.6,

com a seguinte redação:

24.6 - Condições de Higiene e Conforto por Ocasião das Refeições.

24.6.1 As empresas urbanas e rurais, que possuam empregados regidos pela

CLT, e os órgãos governamentais devem oferecer a seus empregados e servidores

condições de conforto e higiene que garantam refeições adequadas por ocasião dos

intervalos previstos na jornada de trabalho.

24.6.1.1 A empresa que contratar terceiros para a prestação de serviços em

seus estabelecimentos deve estender aos trabalhadores da contratada as mesmas

condições oferecidas aos seus próprios empregados.

24.6.2 A empresa deverá orientar os trabalhadores sobre a importância das

refeições adequadas e hábitos alimentares saudáveis.

24.6.3 Na hipótese do trabalhador trazer a própria alimentação, a empresa deve

garantir condições de conservação e higiene adequadas e os meios para aquecimento

em local próximo ao destinado às refeições.

24.6.3.1 Aos trabalhadores rurais e aos ocupados em frentes de trabalho devem

ser oferecidos dispositivos térmicos que atendam ao disposto neste item, em número

suficiente para todos os usuários.

146

24.6.3.2 Os recipientes ou marmitas utilizados pelos trabalhadores deverão ser

fornecidos pelas empresas, devendo atender às exigências de higiene e conservação e

serem adequados aos equipamentos de aquecimentos disponíveis.

24.6.4 Caberá à Comissão Interna de Prevenção de Acidentes - CIPA, à

Comissão Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho Rural - CIPATR, ao Serviço

Especializado em Segurança e Medicina do Trabalho - SESMT e ao Serviço

Especializado em Prevenção de Acidentes do Trabalho Rural - SEPATR, quando

houver, promoverem a divulgação e zelar pela observância desta norma.

24.6.5 Os sindicatos dos trabalhadores, que tiverem conhecimento de

irregularidades quanto ao cumprimento desta norma, poderão denunciá-las ao MTb e

solicitar a fiscalização dos respectivos órgãos regionais.

24.6.6 As empresas que concedem o benefício da alimentação aos seus

empregados poderão inscrever-se no PAT, obedecendo aos dispositivos legais que

tratam a matéria.

Art. 4 O atual item 24.6 da NR n 0 24 - disposições gerais - é remunerado para

item 24.7, mantida a mesma redação.

Art. 5 A redação do item 1.3 da Norma Regulamentadora Rural n 0 1, aprovada

pela Portaria n o 3.067, de 12 de abril de 1988, passa a vigorar com a seguinte redação:

1.3 A SSST é o órgão de âmbito nacional competente para coordenar, orientar,

controlar e supervisionar as atividades relacionadas com a segurança e higiene do

trabalho rural, inclusive a Canpat Rural e o PAT na área rural.

A Portaria Interministerial n 0 1, de 28 de janeiro de 1997 - Os Ministros de

Estados do Trabalho - Paulo Paiva; da Fazenda - Pedro Malan e da Saúde - Carlos

César Silva de Albuquerque, no uso de suas atribuições legais, resolvem:

Art. 1 0 Fica instituída, no âmbito do MTb, a comissão Tripartite com a finalidade

de acompanhar e avaliar a execução do PAT.

147

Art. 2 0 Compete à Comissão :

I - Acompanhar e avaliar a execução do PAT;

II - Propor o aperfeiçoamento da legislação relativa ao PAT, principalmente no

que tange ao credenciamento das empresas prestadoras de serviços de alimentação

coletiva ( sistema convênio) e à definição das regras de utilização e aceitação dos

documentos de legitimação;

III - Elaborar estudos visando estabelecer regras para a fiscalização e a

aplicação de penalidades às empresas e estabelecimentos conveniados que executarem

de modo inadequado o PAT, conforme preceitua o art. 8 0 do Decreto n o 5 , de janeiro

de 1991;

IV - Propor diretrizes para o aperfeiçoamento gradativo do documento de

legitimação, visando a transformá-lo em cartão eletrônico;

V - Avaliar as propostas de medidas legislativas encaminhadas ao MTb atinentes

ao PAT;

VI - Elaborar o seu regimento interno, a ser aprovado pelo Ministro de Estado do

Trabalho .

Parágrafo único - Os estudos e sugestões serão submetidos à apreciação dos

Ministros de Estado do Trabalho, da Fazenda e da Saúde.

Art. 3 0 integram a Comissão:

I - Um representante do Ministério do Trabalho, que a presidirá, o atual

presidente é Zuher Handar.

II - Um representante do Ministério da Fazenda;

III - Um representante do Ministério da Saúde;

IV - Três representantes dos trabalhadores;

148

V - Três representantes dos empregadores.

1 o Os representantes do governo federal serão indicados pelos titulares dos

respectivos órgãos e designados pelo Ministro do Trabalho.

2 0 Os representantes dos trabalhadores e empregadores serão indicados

pelas respectivas entidades representativas de âmbito nacional e designadas pelo

Ministro do Trabalho, para mandato de dois anos, sendo permitida a recondução por

igual período.

3 0 A participação na Comissão Tripartite será considerada serviço público

relevante, não ensejando qualquer remuneração.

Art. 4 0 A Comissão poderá convidar, como observadores, representantes de

outros órgãos e entidades, cuja colaboração seja imprescindível para o cumprimento de

suas atribuições.

Art. 5 0 Caberá à SSST prestar apoio técnico-administrativo necessário ao

funcionamento da Comissão.

O Ministro de Estado do Trabalho, Paulo Paiva, no uso das atribuições que lhe

confere o art. 9 0 do Decreto n 0 5, de 14 de janeiro de 1991, que regulamenta a lei n 0

6.321, de 14 de abril de 1976, resolve:

I - O OBJETIVO DO PAT :

Art. 1 o O PAT tem por objetivo a melhoria da situação nutricional dos

trabalhadores, visando promover sua saúde e prevenir as doenças profissionais.

II - DAS PESSOAS JURÍDICAS BENEFICIÁRIAS

Art. 2 0 Para inscrever-se no Programa e usufruir dos benefícios fiscais, a

pessoa jurídica interessada deverá requerer, em formulário próprio, à SSST, a sua

inscrição, conforme modelo oficial (anexo) a ser adquirido na Empresa Brasileira de

correios e Telégrafos - ECT.

149

1 0 A cópia do formulário e o respectivo comprovante de postagem à SSST

deverão ser mantidos nas dependências da pessoa jurídica, matriz e/ou filiais, `a

disposição da fiscalização.

2 0 A documentação relacionada aos gastos com o programa e aos incentivos

dele decorrentes será mantida à disposição da fiscalização, de modo a possibilitar seu

exame e confronto com os registros contábeis e fiscais exigidos pela legislação

pertinente.

Art. 3 0 As pessoas jurídicas beneficiárias poderão incluir no PAT, trabalhadores

de renda mais elevada, desde que esteja garantido o atendimento da totalidade dos

trabalhadores que percebam até 5 (cinco) salários mínimos, independentemente da

duração da jornada de trabalho

Art. 4 0 A Comissão poderá convidar, como observadores, representantes de

outros órgãos e entidades, cuja colaboração seja imprescindível para o cumprimento de

suas atribuições.

Art. 5 0 Caberá à SSST prestar apoio técnico-administrativo necessário ao

funcionamento da Comissão.

O Ministro de Estado do Trabalho, Paulo Paiva, no uso das atribuições que lhe

confere o art. 9 0 do Decreto n 0 5, de 14 de janeiro de 1991, que regulamenta a lei n 0

6.321, de 14 de abril de 1976, resolve:

I - O OBJETIVO DO PAT :

Art. 1 o O PAT, tem por objetivo a melhoria da situação nutricional dos

trabalhadores, visando promover sua saúde e prevenir as doenças profissionais.

II - DAS PESSOAS JURÍDICAS BENEFICIÁRIAS

Art. 2 0 Para inscrever-se no Programa e usufruir dos benefícios fiscais, a

pessoa jurídica interessada deverá requerer, em formulário próprio, à SSST, a sua

inscrição, conforme modelo oficial (anexo) a ser adquirido na Empresa Brasileira de

150

correios e Telégrafos - ECT.

1 0 A cópia do formulário e o respectivo comprovante de postagem à SSST

deverão ser mantidos nas dependências da pessoa jurídica, matriz e/ou filiais, `a

disposição da fiscalização.

2 0 A documentação relacionada aos gastos com o programa e aos incentivos

dele decorrentes será mantida à disposição da fiscalização, de modo a possibilitar seu

exame e confronto com os registros contábeis e fiscais exigidos pela legislação

pertinente.

Art. 3 0 As pessoas jurídicas beneficiárias poderão incluir no Par, trabalhadores

de renda mais elevada, desde que esteja garantido o atendimento da totalidade dos

trabalhadores que percebam até 5 ( cinco) salários mínimos, independentemente da

duração da jornada de trabalho.

Parágrafo único .O benefício concedido aos trabalhadores que percebam

até cinco salários mínimos não poderá, sob qualquer pretexto, ter valor inferior aquele

concedido aos de renda mais elevada.

Art. 4 0 A participação financeira do trabalhador fica limitada a 20% do custo

direto do benefício concedido.

Art. 5 0 As pessoas jurídicas beneficiárias que participam do PAT, através de

serviços próprios ou de terceiros, deverão assegurar que a refeição produzida ou

fornecida contenha o seguinte valor nutritivo, cabendo-lhes a responsabilidade pela

fiscalização permanente dessas condições:

I - Refeição menor (desjejum, merenda): deverá conter um mínimo de 300

calorias ( trezentas) e 6% ( seis) de NDpCAL (relação entre calorias e proteína liquida).

II - Refeição maior - (almoço, jantar, ceia): deverá conter um mínimo de 1400

(mil e quatrocentas) calorias e 6% de NDpCAL.

1 0 - Independentemente da modalidade adotada a pessoa jurídica poderá

151

oferecer aos seus trabalhadores uma ou mais refeições diárias.

20 - Quando a distribuição de gêneros alimentícios consistir benefício adicional

àqueles referidos nos incisos I e II deste artigo, os índices de NDpCAL deste

complemento poderão ser inferiores a 6% (seis).

Art. 6 0 É vedado à pessoa jurídica beneficiária:

a) suspender, reduzir ou suprimir o benefício do PAT a título de punição ao

trabalhador;

b) utilizar o Programa, sob qualquer forma como premiação;

c) utilizar o Programa em qualquer condição que desvirtue sua finalidade;

Art. 7 A execução inadequada do PAT, acarretará o cancelamento da inscrição

no MTb, com a consequente perda do incentivo fiscal, sem prejuízo do dispositivo no art.

8 0 , parágrafo único, Decreto n 5 0 de 14 de abril de 1991.

III - DAS MODALIDADES DE EXECUÇÃO DO PAT

Art. 8 0 Para a execução do PAT, a pessoa jurídica beneficiária poderá manter

serviço próprio de refeição e/ou distribuição de alimentos, inclusive não preparados, bem

como firmar convênios com entidades que forneçam ou prestem serviços de alimentação

coletiva, desde que essas entidades estejam registradas no Programa e se obrigam a

cumprir o disposto na legislação do PAT e nesta portaria, condição que deverá constar

expressamente do texto do convênio entre as partes interessadas.

Art. 9 0 Quando a pessoa jurídica beneficiária fornecer a seus trabalhadores

documentos de legitimação (impressos, cartões magnéticos ou outros oriundos de

tecnologia adequada) que permitam a aquisição de refeições ou gêneros alimentícios

em estabelecimentos comerciais, o valor do documento deverá ser suficiente para

atender às exigência nutricionais do PAT.

Parágrafo único. Cabe à pessoa jurídica beneficiária orientar devidamente seus

trabalhadores sobre a correta utilização dos documentos referidos neste artigo.

152

IV - DAS PESSOAS JURÍDICAS FORNECEDORAS E PRESTADORAS DE

SERVIÇOS DE ALIMENTAÇÃO COLETIVA

Art. 10 0 As pessoas jurídicas que pretendam credenciar-se como fornecedoras

ou prestadoras de serviços de alimentação coletiva deverão requerer seu registro no

PAT, mediante preenchimento de formulário próprio oficial, em 2 (duas) vias originais,

conforma modelo anexo a esta Portaria.

Parágrafo único. O formulário e a documentação nele especificada serão

encaminhados à SSST, por intermédio da DRT local.

Art. 11 . A pessoa jurídica será registrada no PAT nas seguintes categorias ;

I - fornecedora de alimentação coletiva

a) operadora de cozinha industrial e fornecedora de refeições preparadas

transportadas;

b) administradora de cozinha da contratante;

c) fornecedora de alimentos in natura embaladas para transporte individual

(cesta de alimentos).

II prestadora de serviço de alimentação coletiva:

a) administradora de documentos de legitimação para a aquisição de

refeições em restaurantes ou estabelecimentos similares (refeição-convênio) ;

b) administradora de documentos de legitimação para a aquisição de

gêneros alimentícios em estabelecimentos comerciais (alimentação-convênio).

c) Parágrafo único. O registro poderá ser concedido nas duas modalidades

aludidas no inciso II, sendo neste caso, obrigatória a emissão do documentos de

legitimação distintos.

V - DA OPERAÇÃO DAS PESSOAS JURÍDICAS PRESTADORAS DE

SERVIÇOS DE ALIMENTAÇÃO COLETIVA

153

Art. 12 . Cabe à prestadoras de serviços de alimentação coletiva:

I - Garantir que os restaurantes e outros estabelecimentos por ela credenciados

se situem nas imediações dos locais de trabalho;

II - Garantir que os documentos de legitimação para a aquisição de refeições ou

gêneros alimentícios sejam diferenciados e regularmente aceitos pelos estabelecimentos

credenciados, de acordo com a finalidade expressa no documento;

III - Reembolsar, a o estabelecimento comercial credenciado, os valores dos

documentos de legitimação, mediante depósito em conta bancária expressamente

indicada para esse fim;

IV - Cancelar o credenciamento dos estabelecimentos comerciais que não

cumprirem as exigências sanitárias e nutricionais e, ainda, que por ação ou omissão

concorrerem para o desvirtuamento do PAT, através do uso indevido dos documentos

de legitimação ou outras práticas irregulares, especialmente :

a) a troca do documento por dinheiro em espécie ou mercadorias, serviços

ou produtos não compreendido na finalidade do PAT;

b) A exigência de qualquer tipo de ágio ou a imposição de descontos sobre o

valor do documento de legitimação;

c) O uso dos documentos de legitimação que lhes forem apresentados para

qualquer outro fim que não o de reembolso direto junto à prestadora do serviço,

emissora do documento, vedada a utilização de quaisquer intermediários.

Art. 13. As prestadoras de serviços de alimentação coletiva deverão solicitar

novo registro junto ao PAT/SSST, no prazo de 90 (noventa) dias contados da publicação

desta Portaria.

Art. 14. As prestadoras de serviços de alimentação deverão providenciar, dentro

de 180 (cento e oitenta) dias contados da publicação desta Portaria, o recadastramento

de todos os estabelecimentos comerciais junto a ela credenciados, mediante o

154

preenchimento de documento que contenha as seguintes informações:

I - Categoria do estabelecimento credenciado, com a indicação se:

a) comercializa refeições (restaurantes, lanchonete, bar ou similar) ou

b) comercializa gêneros alimentícios (supermercado, armazém, mercearia,

açougue, peixaria, hortimercado, comércio de laticínios e/ou frios, padaria, etc.).

II - capacidade instalada de atendimento, com informação do número máximo de

refeições/dia, medida da área de atendimento ao público, número de mesas, cadeiras ou

bancos e o número de lugares possíveis em balcão, no caso do inciso I, alínea "a";

III - capacidade instalada de atendimento, com indicação da área e

equipamentos, como caixas registradoras e outros, de modo a permitir que se verifique o

porte do estabelecimento, no caso do inciso I, alínea "b".

Parágrafo único .Cabe às prestadoras de serviços de alimentação coletiva

proceder à verificação in loco das informações prestadas pelos estabelecimentos

comerciais credenciados, devendo o documento de recadastramento ficar à disposição

da fiscalização.

VI - DOS DOCUMENTOS DE LEGITIMAÇÃO

Art. 15. Nos documentos de legitimação de que tratam o art. 9 0 e o art. 11 0

deverão constar :

a) razão ou denominação social da pessoa jurídica beneficiária;

b) numeração contínua, em sequência ininterrupta, vinculada à empregadora;

c) valor em moeda corrente no País;

d) nome, endereço e CGC da prestadora do serviço de alimentação coletiva ;

e) prazo de validade, não inferior a 30 (trinta) dias nem superior a 15 (quinze)

meses;

155

f) a expressão "válido somente para pagamento de refeições" ou válido

somente para aquisição de gêneros alimentícios", conforme o caso.

Parágrafo único. Na emissão dos documentos de legitimação deverão ser

adotados mecanismos que assegurem proteção contra a falsificação

Art. 16. A pessoa jurídica beneficiária deverá exigir que cada trabalhador firme

uma declaração, que será mantida à disposição da fiscalização, acusando o

recebimento dos documentos de legitimação, na qual deverá constar a numeração e a

identidade da espécie dos documentos entregues.

Art. 17. Em caso de utilização a menor do valor do documento, o

estabelecimento comercial deverá fornecer ao trabalhador um contravale com a

diferença, vedada a devolução em moeda corrente.

VII - DAS DISPOSIÇÕES FINAIS

Art. 18. As empresas fornecedoras ou prestadoras de serviços de alimentação

coletiva que não observarem o disposto nesta Portaria terão seu registro no PAT

cancelado.

Art. 19. As dúvidas e os casos omissos serão dirimidos pela SSST.

Lei n o 9.532, de 11 de dezembro de 1997 - reduz o valor do incentivo fiscal

concedido às empresas registradas no PAT de 5% para 4% do lucro tributável.

156

ROTEIRO DOS QUESTIONÁRIOS

SINDICATO DOS TRABALHADORES, SINDICATO PATRONAL E

TÉCNICOS DO GOVERNO

Identificação do depoente (nome, cargo e função)

1 - Segundo sua concepção:

a) Quais foram os objetivos do governo quando instituiu e elaborou o PAT?

b) Segundo o objetivo inicial, o Programa sofreu alterações? Quais ?

c) Qual a sua opinião sobre o PAT quanto ao desempenho (em relação ao estado

nutricional do trabalhador, queda nas taxas de absenteísmo e acidentes de

trabalho, e outros aspectos que considerar relevantes); cobertura (região, tamanho

das empresas, média salarial dos trabalhadores); e alterações ocorridas durante os

governos Sarney, Collor, Itamar e Fernando Henrique Cardoso ?

2 - Quais os meios utilizados pelos representantes do governo, das empresas e dos

trabalhadores para divulgar o Programa?

3 - Qual o nível de participação da entidade com relação ao PAT? (Reivindica? Opina

sobre a formulação ou modificação? Influencia no modo de implantação?)

4 - Qual a importância do PAT para (Centrais Sindicais e Governo)?

5 - Qual o futuro do PAT, levando em consideração o item i da MP 1.522/96 que

extinguiu o vale refeição para o funcionalismo público e pretende aumentar o estímulo

fiscal para o setor privado, se o mesmo concordar pagar em moeda corrente o valor

correspondente?