processo civil iv - vol 2 5- co - saberes do direito

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Processo Civil IV

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  • ISBN 978-85-02-16921-0Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

    Montans de S, RenatoProcesso civil IV / RenatoMontans de S, RodrigodaCunha Lima Freire. SoPaulo : Saraiva, 2012. (Coleosaberes do direito ; 25)1. Processo civil 2.Processo civil - Brasil I.Ttulo. II. Srie.II. Srie.

    ndice para catlogo sistemtico:

    1. Brasil : Direito processual civil 347.9(81)2. Brasil : Processo civil 347.9(81)

  • Diretor editorial Luiz Roberto CuriaDiretor de produo editorial Lgia Alves

    Editor Roberto NavarroAssistente editorial Thiago Fraga

    Produo editorial Clarissa Boraschi MariaPreparao de originais, arte e diagramaao Know-how Editorial

    Servios editoriais Kelli Priscila Pinto / Vinicius Asevedo VieiraCapa Aero Comunicao

    Produo grfica Marli RampimProduo eletrnica Know-how Editorial

    Data de fechamento daedio: 25-4-2012

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    Nenhuma parte desta publicao poder ser reproduzida por qualquermeio ou forma sem a prvia autorizao da Editora Saraiva.

    A violao dos direitos autorais crime estabelecido na Lei n. 9.610/98e punido pelo artigo 184 do Cdigo Penal.

  • RENATO MONTANS DE S

    Especialista e Mestre em Direito Processual Civil pelaPUCSP. Professor da Rede de Ensino LFG ecoordenador da ps-graduao de Direito ProcessualModerno da Rede de Ensino LFG. Professor da ps-graduao da Escola Superior de Advocacia e daATAME/DF. Advogado.

    RODRIGO DA CUNHA LIMA FREIRE

    Mestre e Doutor em Direito Processual Civil pelaPUCSP. Professor e coordenador da ps-graduao daRede de Ensino LFG. Professor da graduao e domestrado da FMU/SP. Advogado.

    Conhea os autores deste livro:http://atualidadesdodireito.com.br/conteudonet/?ISBN=16909-8

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    Doutora em Direito Penal pela PUCSP. Mestre emDireito pela UFSC. Presidente do InstitutoPanamericano de Poltica Criminal IPAN. Diretora doInstituto LivroeNet.

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    Jurista e cientista criminal. Fundador da Rede de EnsinoLFG. Diretor-presidente do Instituto de Pesquisa eCultura Luiz Flvio Gomes. Diretor do InstitutoLivroeNet. Foi Promotor de Justia (1980 a 1983), Juizde Direito (1983 a 1998) e Advogado (1999 a 2001).

    Conhea a LivroeNet:http://atualidadesdodireito.com.br/conteudonet/?page_id=2445

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    Alice.Renato Montans de S

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    que chamamos de )1 .

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    Alice Bianchini | Luiz Flvio GomesCoordenadores da Coleo Saberes do Direito

    Diretores da LivroeNet

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  • Sumrio

    Captulo 1 Teoria Geral da Tutela Jurisdicional Executiva

    1. Introduo

    2. A execuo no Cdigo de Processo Civil classificao

    2.1 Quanto origem do ttulo

    2.1.1 Vasos comunicantes

    2.1.2 Quanto autonomia

    2.1.3 Quanto natureza da obrigao apresentada emjuzo

    2.1.4 Quanto estabilidade do ttulo

    2.1.5 Quanto condio financeira do executado

    2.1.6 Quanto forma de efetivao

    2.1.7 Aplicabilidade

    Captulo 2 Princpios da Execuo

    1. Princpio da autonomia da execuo

    2. Princpio da nulla executio sine titulo

    3. Princpio da patrimonialidade

    4. Princpio da disponibilidade da execuo

    5. Princpio da menor onerosidade da execuo

    6. Princpio da tipicidade da execuo

    7. Princpio da lealdade processual

    8. Princpio da responsabilidade objetiva do exequente

  • Captulo 3 Ttulo Executivo

    1. Introduo

    1.1 Taxatividade

    1.2 Vinculao

    2. Natureza jurdica

    3. Elementos do ttulo

    4. Classificao

    5. Ttulos judiciais (CPC, art. 475-N)

    6. Ttulos executivos extrajudiciais (CPC, art. 585)

    Captulo 4 Execuo Provisria

    1. Introduo

    2. Procedimento

    2.1 Aplicao subsidiria (CPC, art. 475-O, caput)

    2.2 Iniciativa do exequente (CPC, art. 475-O, I)

    2.3 Responsabilidade objetiva (CPC, art. 475-O, I)

    2.4 Efeito anexo (CPC, art. 475-O, II)

    2.5 Provimento do recurso (CPC, art. 475-O, II)

    2.6 Cauo (CPC, art. 475-O, III)

    2.6.1 Dispensa da cauo

    2.7 Documentao da execuo provisria

    2.8 Execuo provisria contra a Fazenda Pblica

    Captulo 5 Cumprimento de Sentena (Execuo de Ttulo ExecutivoJudicial) Pagamento de Quantia Certa

    1. Introduo

    1.1 Incio

  • 1.2 Multa do art. 475-J do CPC

    1.2.1 Natureza jurdica

    1.2.2 Termo inicial para a contagem da multa

    1.2.3 A multa do art. 475-J e a execuo provisria

    1.2.4 A multa e o pagamento parcial

    1.2.5 Dao em pagamento

    1.2.6 Valor da multa (base de clculo)

    1.2.7 Legitimidade e litisconsrcio

    1.3 Requerimento

    1.4 Honorrios advocatcios

    1.5 Demais questes do procedimento

    Captulo 6 Tutela Especfica das Obrigaes de Fazer, No Fazer eEntrega de Coisa Certa ou Incerta com Base em Ttulo ExecutivoJudicial (CPC, arts. 461 e 461-A)

    1. Obrigaes de fazer e no fazer (CPC, art. 461)

    1.1 Introduo a tutela especfica no Brasil

    1.2 Tutela especfica ou o resultado prtico equivalente

    1.3 Tutela antecipada (CPC, art. 461, 3)

    1.4 Mecanismos de efetivao da tutela especfica princpio daatipicidade dos atos executivos (CPC, art. 461, 5)

    1.4.1 Priso civil e priso penal como medidas deefetivao da tutela especfica

    1.5 Multa

    1.5.1 Introduo

    1.5.2 Multa coercitiva e multa sancionatria

    1.5.3 Caractersticas

  • 1.5.4 Legitimidade

    1.5.5 A multa e a improcedncia da demanda

    1.5.6 Fazenda Pblica e a incidncia da multa

    1.6 Perdas e danos

    1.6.1 Requerimento do autor (converso subjetiva)

    1.6.2 Impossvel a tutela especfica/resultado prticocorrespondente (objetiva)

    1.7 Defesa do executado

    2. Entrega de coisa certa ou incerta (CPC, art. 461-A)

    2.1 Introduo

    2.2 Questes processuais

    2.3 Procedimento

    2.4 Converso em perdas e danos

    Captulo 7 Liquidao de Sentena

    1. Introduo

    1.1 Economia e aproveitamento dos atos processuais

    1.2 Livre convencimento do magistrado (CPC, art. 131)

    2. Natureza jurdica

    3. Liquidao de ttulo executivo extrajudicial

    4. Liquidao no atual Cdigo de Processo Civil (modalidades)

    4.1 Introduo

    4.2 Fase de liquidao

    4.3 Processo de liquidao

    4.4 Liquidao incidental

    5. Espcies de liquidao

    5.1 Liquidao por clculos (liquidao extrajudicial)

  • 5.1.1 Definio

    5.1.2 Procedimento

    5.2 Liquidao por arbitramento (CPC, arts. 475-C e D)

    5.2.1 Definio

    5.2.2 Procedimento

    5.3 Liquidao por artigos (CPC, arts. 475-E e F)

    5.3.1 Definio

    5.3.2 Procedimento

    6. Deciso que julga liquidao de sentena

    7. Questes processuais pertinentes

    7.1 Legitimidade

    7.2 Competncia

    7.3 Procedimento sumrio

    7.4 Liquidao provisria

    7.5 Princpio da fidelidade do ttulo (CPC, art. 475-G)

    7.6 Liquidao com dano zero

    Captulo 8 Pagamento de Quantia Certa contra Devedor Solvente(Ttulo Executivo Extrajudicial)

    1. Introduo

    2. Fase inicial (proposio)

    3. Fase da penhora

    3.1 Introduo

    3.2 Ordem da penhora

    3.3 Efeitos subjetivos da penhora

    3.4 Modificaes na penhora

  • 3.5 Efeitos espaciais da penhora

    3.6 Penhoras especiais

    3.6.1 Penhora on-line

    3.6.2 Penhora de crditos

    3.6.3 Penhora sobre empresa e outrosestabelecimentos (CPC, arts. 677 a 679)

    3.7 Procedimento

    4. Moratria processual e avaliao

    4.1 Moratria processual

    4.1.1 Introduo

    4.1.2 Questes processuais pertinentes

    4.1.3 Descumprimento (CPC, art. 745-A, 2)

    4.2 Avaliao (CPC, arts. 680 a 685)

    5. Fase da expropriao

    5.1 Introduo

    5.2 Adjudicao

    5.2.1 Introduo

    5.2.2 Legitimidade

    5.2.3 Formalizao da adjudicao

    5.3 Alienao por iniciativa particular

    5.3.1 Introduo

    5.3.2 Legitimidade, prazo e preo

    5.3.3 Procedimento

    5.3.4 Especificamente sobre o corretor

    5.4 Alienao em hasta pblica (arrematao)

    5.4.1 Introduo

  • 5.4.2 Edital

    5.5 Usufruto

    5.5.1 Introduo

    5.5.2 Natureza jurdica

    5.5.3 Pressupostos

    5.5.4 Procedimento

    Captulo 9 Execuo de Entrega de Coisa Certa e Incerta com Baseem Ttulo Executivo Extrajudicial (CPC, arts. 621 a 631)

    1. Execuo de entrega de coisa certa

    2. Execuo de entrega de coisa incerta

    Captulo 10 Execuo de Obrigao de Fazer e No Fazer com Baseem Ttulo Executivo Extrajudicial (CPC, arts. 632 a 645)

    1. Execuo das obrigaes de fazer

    2. Execuo das obrigaes de no fazer

    Captulo 11 Defesas do Executado

    1. Embargos do devedor

    1.1 Embargos execuo

    1.1.1 Introduo

    1.1.2 Natureza jurdica

    1.1.3 Matrias arguveis

    1.1.4 Procedimento

    1.2 Embargos de segunda fase

    2. Impugnao

    2.1 Definio e natureza jurdica

  • 2.2 Matrias (fundamentos)

    2.2.1 Falta ou nulidade de citao se o processocorreu revelia (inciso I)

    2.2.2 Inexigibilidade do ttulo (inciso II)

    2.2.3 Penhora incorreta ou avaliao errnea (incisoIII)

    2.2.4 Ilegitimidade das partes (inciso IV)

    2.2.5 Excesso de execuo (inciso V)

    2.2.6 Qualquer causa impeditiva, modificativa ouextintiva da obrigao como pagamento,novao, compensao, transao ouprescrio desde que superveniente sentena (inciso VI)

    2.2.7 Especificamente sobre a hiptese do art. 475-N, 1, do CPC

    2.3 Procedimento

    3. Exceo executiva exceo de pr-executividade

    3.1 Introduo

    3.2 Cabimento e nomenclatura

    3.3 Procedimento

    Referncias

  • Captulo 1

    Teoria Geral da Tutela Jurisdicional Executiva

    1. Introduo

    A sociedade regida por uma srie de normas que incideminvariavelmente sobre a conduta humana. Algumas delas, como as que serelacionam moral, aos costumes ou religio, geram, para quem asdesrespeita, apenas uma desaprovao social. Contudo, o Estado estabeleceque a inobservncia referente a algumas regras de conduta pode acarretarmais do que uma mera censura. Assim, como todas as regras devem sercumpridas, necessrio se estabelecer um mecanismo para que se possagarantir o seu cumprimento no plano prtico. Esta forma de garantir arealizao da regra denomina-se sano.

    A sano objetiva tornar real a vontade do Estado sem que setorne o cumprimento das regras apenas uma vontade em potencial.

    A sano jurdica uma espcie do gnero sano. Ela tem porobjetivo estabelecer o cumprimento de determinadas regras quandoenquadradas no processo. A sano poder ser penal ou civil. Se ocomportamento, dito ilcito, recebe da lei a definio de crime, pode-sedizer que a sano incidir sobre o agente na forma de punio.

    Contudo na esfera cvel a sano tem por escopo principal no apunio (que por vezes pode se manifestar em multa, como a dos arts. 14,18 e 600 do CPC), mas o cumprimento da obrigao por meio do seupatrimnio (execuo indireta) ou por meio de mecanismos para estimularo cumprimento espontneo ou o resultado prtico equivalente (execuodireta).

    Desta forma, enquanto na esfera penal a sano tem como efeitopredominante a punio, na esfera cvel a reparao.

  • Contudo a sano regra de carter genrico e abstrato. Somentepoder ser aplicada pelo Estado quando se puder comprovar a existnciade um direito (fato jurdico ocorrido) e a sua consequente previso noordenamento (fundamentao jurdica) comprovando a tipicidade.

    Assim o Estado cria mecanismos para que a parte possa levar estapretenso (fato) ao judicirio e estabelecer o devido enquadramento danorma geral (fundamento jurdico). Diante da subsuno do fato, normaest autorizada a incidncia da sano.

    Estes mecanismos objetivam eliminar as crises previstas noordenamento. As crises em que se pode levar a busca da tutelajurisdicional so de trs ordens: a) a crise da certeza jurdica (em que sedeseja um provimento declaratrio); b) a crise da situao jurdica (emque se requer um provimento constitutivo); e c) a crise do adimplemento(em que se postula um provimento condenatrio).

    As duas primeiras constituem tutelas autossuficientes, pois nodependem de ulterior atividade jurisdicional para a produo dos seusregulares (e definitivos) efeitos. A mera declarao ou a mera constituioj proporcionam, no plano prtico, a tutela pretendida (no se nega quetanto uma como outra conferem o efeito anexo de condenao em custas ehonorrios a ser executada nos termos do art. 475-J do CPC).

    A sano atua com a mera sujeio do agente nova situaojurdica, constatada ou decretada.

    Contudo, a crise do adimplemento somente poder ser cumpridacom a vontade do condenado. Como este agir no costuma ser realizadona prtica, a lei confere mecanismos para que, em atividade ulterior,viabilize-se a prtica de atos materiais tendentes ao cumprimento.

    Estes mecanismos, tendentes a proporcionar no plano prtico ocumprimento efetivo daquilo previsto no ttulo executivo, denominam-seexecuo. Portanto executar satisfazer. Execuo a prtica de atosdispostos pelo Estado para realizar materialmente o direito declarado nottulo. No se objetiva com a execuo conferir direitos (competnciaafeta aos processos/fases cognitivas e ao legislador quando cria a eficciaabstrata dos ttulos executivos extrajudiciais), mas apenas outorg-los aquem possui uma situao jurdica de vantagem.

    importante frisar, portanto, que a jurisdio no apenas dotadade instrumentos para declarar o direito (jurisdio), mas tambm parapermitir a efetivao do que foi decidido.

    Contudo, nem s as decises jurisdicionais conferem ao portadordo crdito o direito atuao da sano. A lei confere a determinadosatos/negcios jurdicos eficcia executiva para que se possa,independentemente da declarao da existncia do direito material,conferir ao titular da situao de vantagem prevista no ttulo (representativodo ato ou negcio) a atuao da sano.

  • 2. A execuo no cdigo de processo civil classificao

    Estabelecer uma classificao da tutela jurisdicional executiva amelhor forma de apresentar sua estrutura ainda que de maneiraperfunctria para que se possam compreender as questes que seroenfrentadas com mais profundidade no caminhar dos captulos.

    2.1 Quanto origem do ttulo

    Os ttulos executivos podem ser judiciais (CPC, art. 475-N) ouextrajudiciais (CPC, art. 585). Ttulos executivos judiciais so aquelesproduzidos dentro de um processo por meio de atividade jurisdicional. J osttulos executivos extrajudiciais so aqueles atos produzidos fora de umprocesso em que a lei confere eficcia executiva e foram formalizados porato de vontade das partes (ou somente de uma, como a certido da dvidaativa, CPC, art. 585, VII).

    Todos permitem a execuo forada. Tal equiparao se deu como Cdigo de Processo Civil de 1973, pois no regime anterior do CPC/39apenas os ttulos executivos judiciais poderiam ser executados de maneiradireta (ao executria). J os extrajudiciais eram apresentados em umprocesso hbrido: cognitivo-executivo (ao executiva).

    Contudo esta distino (topolgica por terem sido produzidos dentroou fora de um processo judicial) no plenamente satisfatria: e issoporque h ttulos produzidos dentro do processo considerados extrajudiciais(crdito dos auxiliares de justia aprovados por deciso judicial, CPC, art.585, VI) e ttulos que no foram produzidos por atividade jurisdicional (aomenos tpica se se considerar a arbitragem sucednea de jurisdio), comoa sentena arbitral (CPC, art. 475-N, IV).

    Assim esta primeira distino apenas um referencial. O melhormodo de distino destes ttulos pela forma como so executados: osextrajudiciais por meio de processo autnomo e os judiciais por meio decumprimento de sentena (a despeito de algumas sentenas como aarbitral, estrangeira e penal condenatria gerarem a criao de novoprocesso, na medida em que a sua criao se deu fora do ambiente cvel.Contudo, seu procedimento segue o cumprimento de sentena, e no asregras (que podem ser aplicadas subsidiariamente) previstas no Livro II doCdigo de Processo Civil).

    A classificao assume especial importncia a partir de 2005 coma ruptura da unidade procedimental para o cumprimento destes doisttulos. Antes, a execuo para estas duas modalidades de ttulo erauniforme. O executado era citado para pagar em vinte e quatro horas ounomear bens penhora. O que diferia um procedimento do outro era acognio nos embargos execuo: na execuo de ttulo extrajudicial acognio era livre, permitindo ao executado embargante suscitar quaisquer

  • matrias que entendesse necessrias para impedir a atuao do ttulo sobresua esfera jurdica.

    J os embargos de ttulo judicial (antiga redao do art. 741, CPC)possuam cognio limitada, na medida em que o executado j tivera navia de conhecimento a possibilidade de se insurgir contra o crdito que sematerializou naquele ttulo. Desta forma sua argumentao se limitava, emregra, a questes posteriores formao do ttulo.

    Esta diferena ainda sentida na redao dada ao art. 475-L, queregulamenta, desde 2005, as matrias veiculveis na impugnao contraexecuo baseada em ttulo judicial. O art. 745 tambm foi alterado, maspela Lei n. 11.382/2006.

    2.1.1 Vasos comunicantes

    O sistema processual executivo no pode ser visto como umcompartimento estanque. Tanto os diversos modelos executivos dependem(no plano procedimental) um do outro para sua efetiva realizao, como aexecuo (ao ou fase) depende das regras gerais da atividade cognitivapara suplementar aquilo que lhe omisso.

    Desta forma, dois artigos assumem especial relevncia noordenamento jurdico: os arts. 475-R e 598 do CPC. Estabelece o primeiroartigo: Aplicam-se subsidiariamente ao cumprimento da sentena, no quecouber, as normas que regem o processo de execuo de ttuloextrajudicial. E o segundo: Aplicam-se subsidiariamente execuo asdisposies que regem o processo de conhecimento.

    O que ocorre nessas duas regras o estabelecimento de vasoscomunicantes entre o Livro I do CPC, que regulamenta o processo deconhecimento, a parte de cumprimento de sentena, e o Livro II, que tempor objetivo disciplinar o processo de execuo.

    Nesses dois artigos permite-se colher material procedimental se, equando, houver necessidade. Desta forma, o cumprimento de sentena, adespeito de estar hospedado no Livro I, poder at mesmo peloautorizador art. 475-R socorrer-se do Livro II para regulamentarsituaes no previstas (v.g., fase da penhora, expropriao, pagamentoetc.). Assim, a via de mo dupla: a execuo de ttulo executivoextrajudicial poder utilizar-se de regras da fase de conhecimento oumesmo do cumprimento de sentena.

    Desta forma, a execuo de ttulo judicial, que durante 30 anosviveu no Livro II, ainda sofre os influxos procedimentais da execuo dettulo extrajudicial (CPC, art. 475-R). O contrrio igualmente verdadeiro:como a execuo de ttulo judicial procedimento mais novo e est maisrente s novas realidades sociais, nada impede que a execuo do Livro IIpossa tomar emprestados atos executivos criados para alimentar o

  • cumprimento de sentena (CPC, art. 598).Evidente que este transporte no incondicional e depende de

    chancela jurisprudencial. Desta forma, saber se a moratria processual(CPC, art. 745-A) se aplica execuo de ttulo judicial ou se aconstituio de renda (CPC, art. 475-Q) tem incidncia nas execues dettulo executivo extrajudicial.

    2.1.2 Quanto autonomia

    Conforme dito no item 2.1.1, at 2005 a execuo no estabeleciadiferenas entre os distintos ttulos executivos apresentados em juzo.Criava-se, por assim dizer, um modelo procedimental nico para ocumprimento, independentemente de sua natureza. A nica diferenaresidia na resistncia do executado: a despeito de a defesa ser a mesma(embargos execuo), a cognio do magistrado era livre quando setratava de ttulo executivo extrajudicial (CPC, art. 745) e limitada quandottulo judicial (CPC, art. 741), justamente por ter precedido anterior fase deconhecimento com ampla possibilidade de defesa.

    Com a reforma empreendida especialmente pelas Leis ns.11.232/2005 e 11.382/2006, a execuo fundada em ttulo executivojudicial est hospedada no Livro I e, se fundada em ttulo executivoextrajudicial, no Livro II.

    A diferena entre as duas maior do que a mera separaogeogrfica: as execues fundadas em ttulo judicial so realizadas nomesmo processo em que ocorreu a cerificao do direito (fase cognitiva).Desta forma, no h um processo autnomo de execuo, mas uma faseexecutiva dentro de um processo j existente, permitindo a juno de duasatividades distintas dentro do mesmo processo (sincretismo).

    importante frisar que h situaes em que o ttulo executivojudicial ser instaurado em processo autnomo, justamente porque acertificao do direito no se deu no juzo cvel, mas l deve ocorrer a suarealizao prtica (v.g., sentena arbitral, estrangeira homologada pelo STJe penal condenatria CPC, art. 475-N, pargrafo nico).

    2.1.3 Quanto natureza da obrigao apresentada em juzo

    Essa classificao leva em considerao a obrigao posta emjuzo. O sistema processual brasileiro divide as obrigaes em trsmodalidades: fazer/no fazer, entrega de coisa certa/incerta ou entrega dedinheiro.

    Em virtude das vicissitudes apresentadas no direito material para asatisfao dessas distintas modalidades obrigacionais, o CPC apresentadiferentes modelos executivos: assim a execuo para pagamento de

  • quantia vem prevista nos arts. 475-J e 646 e seguintes do CPC; a execuode entrega nos arts. 461-A e 621 e seguintes do CPC; e a obrigao de fazere no fazer nos arts. 461 e 632 e seguintes do CPC.

    As obrigaes em dinheiro sofrem ainda uma subdiviso: emvirtude da natureza da prestao, a execuo de alimentos se submete aregime prprio conforme arts. 732 a 735 do CPC, bem como os arts. 16 a19 da Lei n. 5.478/68. E, em virtude da qualidade da parte, a execuocontra a Fazenda Pblica possui regime prprio nos arts. 730, 731 e 741 doCPC e art. 100 da Constituio Federal, e a execuo pela Fazenda Pblica regrada em legislao extravagante (Lei n. 6.830/80).

    Esta subdiviso tem importante relevncia no s napermissibilidade da prtica de atos executivos diferenciados como tambmna cumulao de pedidos na execuo. E isso porque o art. 573 do CPCestabelece que lcito ao credor, sendo o mesmo o devedor, cumularvrias execues, ainda que fundadas em ttulos diferentes, desde que paratodas elas seja competente o juiz e idntica a forma do processo. Este ,igualmente, o entendimento do STJ no Enunciado 27, que dispe: Pode aexecuo fundar-se em mais de um ttulo extrajudicial relativos ao mesmonegcio.

    A parte final do artigo regulamentada pela regra geral dacumulao prevista no processo de conhecimento, no art. 292, 1, III, doCPC.

    2.1.4 Quanto estabilidade do ttulo

    A estabilidade do ttulo traz importantes impactos ao procedimentoexecutivo, pois dependendo da sua mutabilidade a prtica dos atosmateriais est autorizada ou no. Desta forma a execuo pode serdefinitiva ou provisria (leia-se, o ttulo que aparelha a execuo pode serdefinitivo ou provisrio).

    Execuo definitiva a execuo completa e, por isso, no admitequalquer modificao no contedo do ttulo. Como consequncia lgica aexecuo que instrumentaliza a efetivao deste ttulo no sofre nenhumarestrio pelo ordenamento, permitindo a prtica de todos os atosnecessrios ao cumprimento e obteno da tutela jurisdicional.

    J a execuo provisria aquela com base em ttulo provisrio,pois ainda carece de ulterior certificao para que se torne definitivo. Estasituao ocorre: a) execuo de ttulo judicial: nas sentenas em que aapelao foi recebida somente no seu efeito devolutivo (CPC, art. 521) ou orecurso especial/extraordinrio recebido em seu regular efeito devolutivo(CPC, art. 542, 2); b) execuo de ttulo executivo extrajudicial: nassentenas de improcedncia dos embargos execuo recebidos no efeitosuspensivo (CPC, art. 587).

  • Por ser provisria, a lei no permite que a execuo chegue muitolonge, ou impe condies (cauo) para que possa alcanar o seu final talqual a definitiva. Desta forma o Estado estabelece algumas limitaes noprocedimento. Assim o levantamento de depsito em dinheiro e a prticade atos que importem alienao de propriedade ou dos quais possa resultargrave dano ao executado dependem de cauo suficiente e idnea,arbitrada de plano pelo juiz e prestada nos prprios autos (CPC, art. 475-O, 3).

    2.1.5 Quanto condio financeira do executado

    A situao financeira do executado importante para a adoo doprocedimento executivo. Dentro das obrigaes por quantia, possvelverificar duas situaes: a execuo por quantia certa contra devedorsolvente e a execuo por quantia certa contra devedor insolvente.

    A primeira execuo estabelecida nos arts. 646 e seguintes doCPC. Tem como pressuposto a existncia de patrimnio do executado pararesponder satisfao da dvida (CPC, arts. 591 e 592).

    Contudo possvel que o executado seja insolvente. Desta forma oordenamento processual estabeleceu um microssistema para regular estapeculiar hiptese (CPC, arts. 748 a 786).

    O regime diferenciado desta modalidade de execuo se justificana medida em que h maior passivo do que ativo, ou seja, h mais crditosdo que o acervo patrimonial do executado pode comportar. Desta forma seestabelece um mecanismo para proceder ao pagamento seguindodeterminada ordem (execuo concursal).

    2.1.6 Quanto forma de efetivao

    H duas tcnicas especficas para se proceder a execuo, sejaela de ttulo judicial ou extrajudicial: por meio de sub-rogao ou por meiode coero.

    Estas tcnicas tm como pressuposto a participao ou no doexecutado no cumprimento da execuo forada. E a sua existncia extremamente influenciada pela natureza da prestao que se apresentaem juzo. E isso porque h situaes em que o Estado no precisa de umato volitivo do executado para que a obrigao seja satisfeita. Desta formaa obrigao por sub-rogao perfeitamente aplicvel. Contudo outrastantas situaes dependem do concurso da vontade do devedor. Nessescasos, sendo imprescindvel a sua participao para com o cumprimento, omagistrado deve lanar mo de outros mecanismos como a coero.

    As medidas executivas acarretam relevante impacto no plano doprocedimento executivo, conferindo ou no maior liberdade ao magistradona prtica dos atos necessrios obteno da tutela jurisdicional executiva

  • (tipicidade).a ) Execuo por sub-rogao: aqui a vontade do executado no fator

    determinante para o cumprimento da tutela jurisdicional. Assim, oEstado estabelece a prtica de atos para que se retire o patrimniodo executado e converta em renda ao exequente. Chama-se sub-rogatria, pois a atividade estatal eminentemente substitutiva:substitui a vontade do executado com a prtica de atos para aobteno do prprio bem ou mesmo para a consecuo dapenhora. denominada execuo direta, pois atua diretamente naesfera jurdica do executado.As execues por sub-rogao (diretas) so efetivadas, em regra,

    por:1) Expropriao: converso do bem em dinheiro (que constitui a

    regra, nos casos de adjudicao [CPC, art. 685-A],alienao por iniciativa particular [CPC, art. 685-C],alienao em hasta pblica [CPC, art. 686] ou usufruto debem mvel ou imvel [CPC, art. 716]). Normalmente emexecues de quantia.

    2) Desapossamento: retirada do bem in natura das mos doexecutado ou terceiro para entrega ao exequente (busca eapreenso). Normalmente nas execues de entrega decoisa.

    3) Transformao: quando a execuo de obrigao de fazer setransforma em execuo de quantia, j que o terceiro (emvirtude da resistncia do executado) cumpre a obrigaoespecfica de resultado. Normalmente nas execues deobrigao de fazer e no fazer.

    b) Execuo por coero: nessa modalidade no h atividade substitutiva.O Estado no age de maneira dinmica, mas de forma esttica.Isso porque ao invs de sub-rogar-se na vontade do devedor, optaem criar estmulos para que o prprio executado cumpra aobrigao especfica. Denomina-se execuo indireta, pois ageindiretamente sobre a sua esfera jurdica.A execuo por coero atua no psicolgico do devedor,

    incentivando o cumprimento da prestao sem necessidade de um agir doEstado (esttica).

    Esta forma de execuo pode ser dividida em:1) Sano punitiva: a pena. Constitui uma situao de desvantagem ao

    transgressor caso no cumpra o preceito (v.g., astreintes , prisocivil).

    2) Sano premial: constitui a outorga de um benefcio ao executado caso

  • ele cumpra a determinao judicial (v.g., se houver o pagamentoespontneo da obrigao no prazo de trs dias, o devedor dequantia certa apenas arcar com metade dos honorriosadvocatcios da parte contrria CPC, art. 652-A, pargrafonico).A lei no s deixou in albis as tcnicas a serem utilizadas como

    tambm o momento e a intensidade com que elas incidiro. Desta forma omagistrado dever agir com extrema parcimnia, sopesando os valoresque esto em jogo para que no crie uma onerao excessiva a uma daspartes do processo (CPC, art. 620).

    A execuo coercitiva (indireta) pode ser:1) Coero patrimonial como a multa no caso de resistncia.2) Coero pessoal como a priso, no caso de alimentos.

    2.1.7 Aplicabilidade

    Tradicionalmente, a execuo por sub-rogao utilizada nasexecues por quantia certa, seja de ttulo judicial ou extrajudicial. Aexecuo por coero prefervel nas obrigaes de fazer ou no fazer(especialmente nas infungveis, como se ver abaixo) e as duas atividadesatuam com a mesma intensidade nas execues de entrega de coisa certaou incerta.

    A forma de execuo, como dito, exerce interessante reflexosobre a rigidez do procedimento. As execues por quantia, comonormalmente prescindem da vontade do executado, so marcadas por umprocedimento rgido, ou seja, o itinerrio para a satisfao do crdito j foipreviamente traado pelo legislador. A atividade do magistrado mais degestor do procedimento do que propriamente criador dos mecanismosexecutivos.

    Nas execues de tutela especfica (obrigao de fazer/no fazer eem menor escala nas de entrega de coisa certa/incerta), dependem maisda vontade do devedor. Desta forma, o Estado deve municiar o juiz commecanismos e opes abstratas para que ele magistrado possa, luz dascircunstncias do caso concreto, estabelecer a melhor forma de obtenoda tutela.

    Para que isso seja possvel, necessrio atribuir ao procedimentocerta dose de liberdade, o que acarreta flexibilidade procedimental eatipicidade dos atos jurisdicionais. Desta forma a participao do juiz naconcreo da norma muito maior do que nas execues tipificadas. Aquio magistrado se socorre do denominado poder geral de efetivao.

    Contudo esta regra no absoluta. facilmente verificvel nasexecues de quantia a presena de mecanismos coercitivos e, nas

  • execues especficas, mecanismos sub-rogatrios.Desta forma a reduo da verba honorria (CPC, art. 652-A,

    pargrafo nico) constitui medida coercitiva (sano premial) nasexecues de quantia. Da mesma forma que a busca e apreenso nasexecues de entrega consistem em atividade sub-rogatria. Nasobrigaes de fazer fungveis, possvel que o executado se recuse aocumprimento. Assim poder o magistrado designar terceiro para quecumpra a obrigao (CPC, art. 634), o que constitui medida sub-rogatria.

    Nas infungveis, como depende do executado, pois apenas elepoder cumprir a prestao (obrigao de meio, no de resultado),somente ser possvel a fixao de multa pecuniria ou converso emperdas e danos.

  • Captulo 2

    Princpios da Execuo

    Assim como o processo em geral iluminado por princpios quenorteiam a aplicao do direito, a execuo tambm alimentada pornormas de ordem principiolgica. Alm dos princpios gerais, aplicveisem toda esfera do processo (dispositivo, inrcia, devido processo legal,publicidade, entre outros), h a incidncia de determinados que decorremda peculiaridade da prpria execuo.

    1. Princpio da autonomia da execuo

    O CPC/73 foi todo moldado para que a execuo fosseconsiderada um processo autnomo. Seja pela estrutura estabelecida pelolegislador (afinal a execuo analisada em um livro autnomo doprocesso de execuo), seja pela inspirao do Cdigo em LIEBMAN,que propugnava a existncia de processos puros; assim, cada processoproduziria sua atividade especfica (executiva, cognitiva ou assecuratria)sem que houvesse interferncia de atividades exteriores (tanto que osembargos, para a maioria da doutrina, tm natureza de ao, j que aporo cognitiva da execuo deveria se desenvolver em demandaautnoma).

    Contudo, a partir de 1994, especialmente com o advento da tutelaantecipada (CPC, art. 273) e da tutela especfica (CPC, art. 461), oordenamento brasileiro passou a admitir que houvesse a juno de duas oumais atividades distintas dentro do mesmo processo. Desta forma aatividade que objetiva o reconhecimento do direito poderia se realizarconcomitantemente atividade da satisfao desse mesmo direito como naexecuo da tutela antecipada enquanto ainda se discutia, em cognio

  • exauriente, o direito a ser conferido.O mesmo ocorre com a tutela especfica do art. 461, em que se

    permite a prtica de atos de concretizao do direito dentro do mesmoprocesso que produziu a sentena, dispensando a execuo autnoma (sineintervallo).

    O legislador de 2005 (Lei n. 11.232/2005) apenas sublinhou essasituao ao permitir que a execuo da sentena se d no mesmo processoem que o ttulo foi formado. Assim, nesses casos mantm-se ainda a suaautonomia funcional, mas h uma mistura das atividades executiva ecognitiva.

    Em concluso, o ordenamento vem paulatinamente relegando aautonomia em detrimento do sincretismo. Mesmo nas execues de ttulosextrajudiciais em que inegavelmente h a instaurao de processoexecutivo , a cognio pode estar presente nas denominadas excees depr-executividade.

    2. Princpio da nulla executio sine titulo

    Como um desdobramento do princpio da autonomia, a execuose mostra diferente dos demais processos na medida em que seu ingressocom a prtica de atividades executivas somente poder ser efetivado coma existncia de um ttulo executivo.

    Como a execuo constitui processo extremamente agressivo esfera jurdica do executado, com a prtica de atos constritivos como apenhora e o arresto, sua existncia subordina-se presena do ttuloexecutivo judicial (CPC, art. 475-N) ou extrajudicial (CPC, art. 585).

    Esta teoria remonta formao do processo civil italiano,especialmente pela doutrina de Giuseppe Chiovenda. E isso porque, estandoas partes em situaes distintas na execuo, j que no h discusso dedireito, apenas invaso patrimonial na esfera do executado, necessrioque a prtica desses atos seja autorizada pela existncia do direito. E aexistncia do direito in casu se d pela existncia do ttulo executivo.

    Assim, no poderia haver execuo antes da certeza jurdica, poisno seria crvel imaginar a prtica de atos expropriatrios baseados emttulo sujeito a revogao ou modificao. Ademais, em reforo teoria daproibio da execuo sem ttulo, figura-se como norma norteadora,igualmente, o princpio da taxatividade dos ttulos executivos. E isso porquesomente pode existir ttulo com previso legal, seja no Cdigo de ProcessoCivil, seja em legislao extravagante. Assim, nem o juiz nem as partestm a possibilidade de criar ttulos.

    Contudo esta dicotomia entre execuo e cognio definitivaperdeu sua importncia especialmente aps as profundas alteraes porque passou o sistema processual civil; assim, a atual compreenso da regra

  • passa por uma interpretao sistemtica das mudanas empreendidas nocdigo.a) Primeiro porque a execuo provisria autoriza a prtica de atos

    executivos mesmo sem a definitividade, na medida em que orecurso poder alterar a realidade do ttulo.

    b) Segundo porque nas demandas que proferem sentenas executivas oumandamentais (arts. 461 e 461-A) a efetivao da deciso se dde ofcio pelo magistrado, sem a necessidade da demonstrao deum ttulo pelo exequente. Aqui no se forma ttulo, mas como asentena possui elevada carga executiva, autoriza-se o seucumprimento aps a certificao da sentena.

    c) Terceiro porque determinadas decises baseadas em cognio sumriapodem ser executadas, mesmo no havendo ainda a certeza dodireito. o que ocorre com a antecipao de tutela (CPC, arts.273, 3, e 301, 4) e os alimentos provisionais (CPC, art. 733).Aqui no importa o grau de cognio, mas, sim, a natureza dadeciso. At mesmo porque, conforme clssica lio de Liebman,no o trnsito em julgado que autoriza a produo dos efeitos dadeciso que podem, bem antes, incidir sobre o caso concreto.Seria, portanto, a deciso interlocutria que antecipa a tutela umnovo ttulo executivo no estabelecido pelo legislador?H duas correntes:1) A primeira defende que a deciso interlocutria seria uma

    exceo regra da nulla executio sine titulo, permitindo aexecuo excepcional sem ttulo, formando-se at aexistncia de um novo ttulo: princpio da execuo semttulo permitida. Desta forma, pela verossimilhana quedecorre da deciso concessiva da antecipao de tutela, aexecuo estaria autorizada at mesmo porque, enquantoa previso dos ttulos conferida de maneira abstrata pelalei, a deciso antecipada decorre da verificao de casoconcreto e, portanto, muito mais fiel existncia dodireito, o que confirma a opo poltica do legislador paraa existncia do ttulo (Jos Miguel Garcia Medina).

    2) A segunda defende que a regra do art. 475-N, I, do CPC(sentena proferida no processo civil que reconhea aexistncia de obrigao de fazer, no fazer, entregar coisaou pagar quantia) tem interpretao ampla, alcanandotambm as interlocutrias (Araken de Assis e SrgioShimura). H autores que entendem que se trata de outratcnica, apta definio de direitos, e, portanto, deve serconsiderada ttulo (Cassio Scarpinella Bueno).

  • O CPC, atento a essas alteraes no sistema, revogou o art. 583,que exigia a existncia do ttulo para aparelhar a execuo, sem prejuzode que, a sua existncia, seja regra (CPC, arts. 586 e 618, I). A mitigaodos rigores do princpio da nulla executio autoriza que o juiz no se limiteapenas aos ttulos abstratamente previstos em lei, bem como autoriza que ojuiz, persuadido das argumentaes convincentes trazidas pela parte,entenda ser ela merecedora da tutela executiva por meio de decisoconcessiva de tutela requerida.

    No atual sistema brasileiro, em que o magistrado tem importantepapel na concreo da norma, participando ativamente da soluo do caso(e no apenas aplicando a lei no caso concreto), a valorao do que podeou no ser executado regra importante para a efetividade processual.

    3. Princpio da patrimonialidade

    Pelo princpio da patrimonialidade, da responsabilidade ourealidade da execuo, os bens do devedor respondem para a satisfao docrdito: os presentes e futuros (CPC, arts. 591 e 646; e CC, art. 391).

    No Brasil a execuo eminentemente real, ou seja, recaisomente no patrimnio do executado. A configurao atual do princpio sedeu por longa evoluo histrica: no perodo Romano a execuo erapessoal e o devedor pagava com a vida pelo cumprimento das obrigaesat mesmo ameaa para compelir os familiares satisfao da obrigao.

    Esta evoluo chegou a um estgio to avanado que mesmo nopatrimnio do executado existem bens no suscetveis responsabilidadeexecutiva por afronta ao princpio da dignidade humana. Assim, so ashipteses de: a) impenhorabilidade prevista no CPC (arts. 649 e 650); b)impenhorabilidade do bem de famlia (Lei Federal n. 8.009/90); e c)impenhorabilidade quando o produto da execuo dos bens encontradosser totalmente absorvido pelo pagamento das custas da execuo (CPC,art. 659, 2).

    Contudo existem raras excees em que a incidncia da execuono ser no patrimnio do executado:1 ) Remoo do executado do imvel objeto de execuo: nesse caso o

    cumprimento da obrigao depende da retirada forada doexecutado do bem a ser expropriado.

    2) Priso civil: hoje o Brasil admite apenas uma hiptese de priso civil: nadvida de alimentos. A despeito de inserta na Constituio Federal,a priso do depositrio infiel no mais admitida, conformeentendimento do RE 466.343-1, tendo em vista os TratadosInternacionais ratificados no Brasil que restringem a priso civil aodevedor de alimentos.

    3 ) Presso psicolgica: a execuo indireta (execuo com emprego de

  • mecanismos para estimular o cumprimento espontneo daobrigao) uma forma de forar o devedor. Aqui, o Estadobusca mecanismos tpicos (CPC, art. 461, 4 a 6) ou atpicospara compelir o executado a cumprir a obrigao. A multa do art.475-J, a astreinte (art. 461, 4) e a possibilidade de reduo doshonorrios para metade no cumprimento espontneo (CPC, art.652-A) so exemplos da forma de execuo por coero (e nopor sub-rogao, mtodo tradicional).

    4. Princpio da disponibilidade da execuo

    A execuo no pode ser vista sob a tica da igualdade processualnos processos (fase) de conhecimento. O ttulo executivo portador deeficcia abstrata que permite ao credor auferir vantagem na obteno dodireito. Desta forma a isonomia trabalha de modo a criar regrasprocessuais que possam se adequar s particularidades deste tipo deprocesso.

    Desta forma o final da execuo razoavelmente previsto pelolegislador: seu desfecho normal se d com a satisfao do crdito doexequente (CPC, art. 794). Apenas de maneira excepcional essa satisfaono possvel.

    Como se trata de um processo com objetivo unilateral, ou seja, ocumprimento da obrigao, a jurisprudncia e a doutrina desenvolveramum princpio denominado desfecho nico, na medida em que o direito dottulo somente poder ser outorgado ao exequente, e no ao executado.

    Como no h discusso de mrito propriamente dita na execuo,o executado obter, no mximo, a declarao de que o direito do credorno ser satisfeito, mas no uma deciso que declare a inexistncia docrdito. Evidentemente que esta regra cede passo em, pelo menos, duassituaes:1) Nas excees/objees de pr-executividade em que se permite a

    discusso do crdito por meio do incidente processual.2) Nas hipteses de extino da execuo por prescrio ou decadncia.

    em decorrncia do desfecho nico que se torna necessriosistematizar a questo que leva o nome do princpio a ser estudado nestetpico: a disponibilidade da execuo.

    Como no a tutela do direito material do devedor que est emjogo, ampla a disponibilidade do executado em desistir da execuo,mesmo sem a anuncia do executado (CPC, art. 569). O Estado cria umafico legal ao presumir que o executado obteve a mxima tutelajurisdicional possvel com a desistncia do processo executivo. Da oporqu de o regime da desistncia da execuo diferir dos ditames dadesistncia previstos na teoria geral que depende da anuncia da parte

  • contrria quando esta j estiver no processo (CPC, art. 267, 4).A desistncia no se confunde com a renncia ao crdito. Esta

    gera uma verdadeira remisso, encerrando a relao jurdica que uniacredor e devedor. Aquela a momentnea desistncia de cobrar o crdito,dando fim ao processo que instrumentalizava aquela cobrana. O meio decobrana foi extinto, mas mantm-se inclume a dvida subjacente.

    A desistncia pode ser total ou parcial conforme estabelece o art.569, CPC. Ser parcial quando o exequente desistir especificamente de umato da execuo, por exemplo, de uma penhora realizada, ou mesmodesistir da multa fixada pelo juiz, optando pela expedio de mandado debusca e apreenso.

    A disponibilidade, contudo, sofre algumas restries:a) No atinge o Ministrio Pblico, que tutela interesse pblico em juzo e,

    portanto, no poder usufruir da regra em virtude daindisponibilidade. Poder, contudo, escolher os meios de execuoque entenda mais adequados ao caso.

    b) Na desistncia no alcana o ato jurdico perfeito. Desta forma, se naobrigao de fazer fungvel terceiro j realizou a prestao, adesistncia se torna invivel, assim como nos casos em que o bemj fora arrematado em hasta pblica.

    c) Nas hipteses em que os embargos do devedor opostos pelo executadoversem sobre a matria de mrito (= existncia do crdito). Opargrafo nico autoriza que a desistncia se d quando ainterposio dos embargos veiculou somente matria processual(excesso de execuo, ilegitimidade de parte). Nesses casoshaver a extino do processo sem resoluo do mrito (CPC, art.267) com o pagamento, pelo credor, das custas e honorriosadvocatcios.E isso porque os embargos que discutem matria processual

    objetivam exatamente aquilo que a desistncia gerou: uma sentenaterminativa.

    Todavia, quando os embargos versarem sobre matria de mrito(compensao, novao, transao etc.), a extino dos embargos dependeda concordncia do executado-embargante. E isso porque a sentenaterminativa decorrente da desistncia no conceder toda tutela pretendida(inexistncia da obrigao). O desejo do executado que a deciso, nessashipteses, revista-se de coisa julgada material, impedindo posteriordiscusso sobre o crdito.

    Ademais evita que o exequente pudesse ardilosamente desistir daexecuo quando haveria potencialidade de sentena de procedncia nosembargos.

    Nessa hiptese, na recusa do executado-embargante, os embargos

  • permanecero vigentes, mas haver modificao na sua natureza (afinalno haver o processo a embargar, pois a execuo se encerrou).Tornar uma demanda autnoma, de natureza declaratria em que, emeventual apelao, no incidir a regra do art. 520, V, do CPC.

    Se se tratar de execuo com base em ttulo judicial, a defesa,denominada impugnao, constitui um incidente no curso do processo e adesistncia, invariavelmente, gerar a extino da impugnao,independentemente do seu contedo.

    Em qualquer caso a desistncia depende de homologao judicial(CPC, art. 158, pargrafo nico).

    5. Princpio da menor onerosidade da execuo

    Pelo princpio do executado (CPC, art. 612) a execuo criadapara satisfazer ao interesse do credor. Assim, o sistema da execuo todocriado para conferir condies ao exequente de obter o direito contido nottulo. Contudo, se de um lado a execuo deve produzir resultadossatisfatrios ao credor, de outro ela deve agir com limites, mantendo oequilbrio necessrio.

    A execuo no foi concebida para punir o executado, mas parapermitir a invaso (moderada) em sua esfera patrimonial ou jurdica demodo que concretize o direito previsto no ttulo.

    nesse momento que se avalia o princpio da menor onerosidade(ou gravosidade) da execuo. Preconiza o art. 620 que: Quando porvrios meios o credor puder promover a execuo, o juiz mandar que sefaa pelo modo menos gravoso para o devedor, mesmo que o credortenha feito o pedido da forma mais onerosa (CPC, art. 615, I). Trata-se demanifestao do princpio da proporcionalidade no processo executivo.

    Algumas manifestaes deste princpio so visualizadas no prprioCPC: a) impedimento de se arrematar bem por preo vil (art. 692); b)impenhorabilidade de alguns bens (arts. 649 e 650 e Lei n. 8.009/90); c)possibilidade de substituio do bem penhorado desde que no prejudique oexequente (art. 668); d) a moratria processual (art. 745-A); e) cnjuge,ascendentes e descendentes podem arrematar o bem mantendo-o naesfera familiar (art. 685-A, 2); f) alienao de parte do imvel se estevalor for suficiente para a satisfao da execuo (art. 702).

    Evidente que esta regra somente se aplicar se os meios colocados disposio forem todos igualmente eficazes, pois o interesse do credorno poder ficar prejudicado. Como se trata de princpio que objetivaconferir paridade de armas s partes, o que interesse pblico, poder serconcedido de ofcio, quando o credor determinar forma mais gravosa deprosseguir a execuo.

  • 6. Princpio da tipicidade da execuo

    A execuo nasce de um fato contrrio ao direito, e a finalidadedeste processo alterar este estado de fato, adequando-o a um corretoestado de direito. Contudo, para que isso seja possvel, o Estado estabeleceuno Cdigo de Processo Civil diversas formas de execuo. Tal diversidadede formas decorre do fato de que a execuo no visa a meras regrasprocedimentais para se declarar o direito, como se v na fase cognitiva.

    Mas, diversamente, na busca da satisfao h uma variante desituaes fticas que demandam uma variante de modelos executivosestabelecidos pelo legislador. Dois critrios foram estabelecidos:1 ) Situao patrimonial do executado: como nos modelos executivos, no

    mais das vezes, a execuo recai sobre o patrimnio do executado,deve ser levada em considerao a condio patrimonial, bemcomo a disponibilidade de estes bens responderem ao processo. por isso que o sistema divide em execuo por quantia certa contradevedor solvente e insolvente (concurso universal dos bens em quese d o rateio do que foi apurado entre os credores habilitados). Htambm a execuo distinta contra a Fazenda Pblica.Aqui no h se falar em insolvncia, mas indisponibilidade, na

    medida em que os bens pblicos so impenhorveis. Desta forma opagamento ser empreendido por precatrio (CF, art. 100).2 ) Natureza da obrigao: o segundo critrio leva em considerao a

    natureza da obrigao. Assim as obrigaes em dinheiro seguemum modelo rgido previamente estabelecido pelo legislador. J asdenominadas obrigaes especficas (fazer e no fazer e entregade coisa certa ou incerta) possuem modelo procedimental maisflexvel, tendo para a correta concreo da norma o auxliofundamental do magistrado. Mesmo dentro das obrigaes emdinheiro h uma distino conforme a natureza da prestao. Se aobrigao for de alimentos, alm das tcnicas tradicionais, h umincremento de outras medidas como a priso civil e o desconto emfolha de pagamento (CPC, arts. 733 e 734).O Brasil sempre viveu moldado pelo princpio da tipicidade da

    execuo. Este modelo determina prvia e abstratamente as atividades queseriam exercidas dentro do processo. Constitui um modelo procedimentalrgido marcado por etapas estabelecidas. Desta forma a esfera jurdica doexecutado somente poder ser atingida por meios executivos taxativamenteprevistos no ordenamento.

    Dois motivos levavam (e levam) existncia da tipicidade:a) Apego lei: o Brasil ainda guarda reminiscncia do pensamento liberal

    do sculo XIX, na medida em que o juiz possui mero poder deaplicar a lei. A tipicidade impede arbitrariedades como uma

  • espcie de garantia de processo justo e quo. Afinal, a lei jdecidiu o melhor caminho a ser seguido, e no cada juiz no casoconcreto.

    b) Segurana jurdica: saber previamente o itinerrio do processo ter aprevisibilidade da consecuo dos atos e a consequncia deles.Contudo se o credor vai ao judicirio diante do inadimplemento do

    devedor, certamente ele deseja ser atendido da mesma forma como sehouvesse o cumprimento voluntrio.

    Ademais impossvel ao legislador prever todas asparticularidades que podem ocorrer na efetivao dos direitos dentro daexecuo. Muitas vezes o arqutipo abstrato previsto pelo legislador no seamolda corretamente s circunstncias fticas do caso.

    Desta forma o ordenamento brasileiro vem cedendo passo tipicidade, fazendo uma reanlise do princpio, concedendo maiorespoderes ao magistrado para que possa praticar os atos executivos maisconsentneos realidade da situao, mesmo que sem previso legal.

    Assim o legislador tem em suas mos uma verdadeira clusulageral executiva para dispor dos instrumentos que entenda necessrios aocumprimento da obrigao. Afinal, de que adiantam amplos poderes paradecidir (certificao do direito) se, correspondentemente, no h amplospoderes para efetivar o que decidido?

    De duas formas pode haver a permissibilidade dos meios atpicos:a) falta de previso (a lei no estabeleceu o iter para obter aquelafinalidade); b) deformao (o ato tpico e previsto no capaz/suficientepara obter os fins que se pretende).

    A falta de previso legal no pode impedir que o magistrado sesocorra de algum meio para obter, de forma mais efetiva, a finalidadedaquele ato. Assim, a criao ou deformao de um meio para atingirdeterminado fim corresponde aos preceitos constitucionais, especialmentedo art. 5, XXXV.

    Apenas guisa de exemplo os juzes adotavam a penhora on-line(CPC, art. 655-A) e a penhora de faturamento de empresas (CPC, art. 655,VII, e art. 655-A, 3), mesmo antes de sua normatizao com a LeiFederal n. 11.382, de 2006.

    Hoje a atipicidade vista com bastante vigor nos arts. 84 do CDC e461 e 461-A do CPC. Estes artigos autorizam que o magistrado possa tomara providncia mais adequada no caso concreto sem que fique preso previso abstrata do legislador divorciada das especificidades da causa.

    A atipicidade se mostra mais presente nas obrigaes especficasem que a vontade do executado essencial para a satisfao do direito (apintura de um quadro no pode ser obtida seno com o ato volitivo doagente, o que no ocorre com uma obrigao creditcia em que a

  • expropriao patrimonial satisfaz o crdito).No se descarta, contudo, a sua incidncia nas obrigaes de

    pagamento de quantia. Afinal no h nenhuma razo para criar esteprivilgio somente s obrigaes especficas.

    7. Princpio da lealdade processual

    Constitui princpio nsito ao direito processual em geral, nopodendo ser aplicado somente ao processo civil, tampouco execuo.Est estabelecido de forma genrica nos arts. 14 a 19 do CPC e de formaespecfica nos arts. 599, II, 600 e 601 quando se trata de execuo.

    O objetivo de se repetir norma genrica em procedimentoespecfico (mesmo havendo relao de suplementaridade entre os doislivros, CPC, art. 598) decorre de fato tpico da atividade executiva: comoseu objetivo a satisfao do crdito que se d, no mais das vezes, com aprtica de atos materiais na esfera do executado (penhora, arresto,desapossamento), nesse momento que o devedor pode utilizar de meiosinidneos para impedir a diminuio de seu patrimnio.

    Desta forma, por estar a atividade executiva mais favorvel prtica de atos de m-f, o ordenamento estabelece normas especficaspara apenar o executado na hiptese de improbidade processual.

    Preconiza o art. 600, CPC:

    Considera-se atentatrio dignidade da Justia o ato do executadoque:I frauda a execuo;II se ope maliciosamente execuo, empregando ardis emeios artificiosos;III resiste injustificadamente s ordens judiciais;IV intimado, no indica ao juiz, em 5 (cinco) dias, quais so eonde se encontram os bens sujeitos penhora e seus respectivosvalores.

    Algumas questes processuais pertinentes:a) Diverge a doutrina acerca da exaustividade do art. 600. Para alguns,

    trata-se de rol exaustivo, pois o inciso I (fraude execuo) noficaria limitado regra do art. 593, mas qualquer ato atentatrio dignidade da justia. Para outros, contudo, seria rolexemplificativo, abrangendo outras normas que explicitam amatria. Entende-se uma interpretao extensiva ao inciso I, atmesmo porque definir fraude no atividade legislativa.

  • b) Perceba que nessas hipteses a incidncia da multa ser maior do queaquela que se verifica na regra geral do art. 18, CPC. Aqui a multaser de at 20% (vinte por cento) do valor da obrigao, semprejuzo de outras sanes de natureza processual ou material.

    c) A multa ser revertida ao exequente.d) Conforme se depreende do caput do art. 600 seu destino a conduta do

    executado, pois este o maior interessado em criar embaraos jurisdio. Contudo, caso o exequente pratique conduta que atente dignidade da jurisdio, ser apenado conforme as regras dosarts. 14 e seguintes.

    e) Caso haja cumprimento parcial ou incorreto de um dos deveres inscritosno art. 600, a multa no pode ser diminuda, dado o cartersancionatrio da regra.

    f) O pargrafo nico do art. 601 assevera que O juiz relevar a pena, se odevedor se comprometer a no mais praticar qualquer dos atosdefinidos no artigo antecedente e der fiador idneo, que respondaao credor pela dvida principal, juros, despesas e honorriosadvocatcios. Trata-se de dispositivo extremamente difcil de serimplementado na prtica; contudo, uma vez estabelecido ocomprometimento, o fiador judicial ser legitimado passivo naexecuo (CPC, art. 568, IV).

    g) O art. 739-B do CPC trouxe novidade que objetiva racionalizar aaplicao da multa, permitindo que a cobrana da multa porlitigncia de m-f (arts. 17 e 18) seja promovida dentro daprpria execuo, mas em autos apartados. Desta forma, ao invsde propor nova demanda para se cobrar a multa imposta, poderser feita na prpria execuo, mas em autos apartados, o que trsapenas uma documentao de atos processuais em separado parafacilitar a instruo de uma e de outra: uma coisa a cobrana docrdito decorrente do inadimplemento, outra a sano impostapela m conduta do devedor.

    h) Apesar de o artigo em comento fazer meno apenas aos arts. 17 e 18,com muito mais razo se aplica no caso do art. 601 e nem haveriapor que se fazer tal distino. Se a incidncia do art. 601 (desdeque tipificada em uma das hipteses do art. 600) muito maiscorrente na execuo do que a dos arts. 17 e 18 (que tmaplicao supletiva), no haveria razo lgica em permitir essacobrana somente em processo autnomo se o objetivo da norma a racionalizao do tempo e a economia processual.

    i) Ainda como novidade desta mesma regra, a lei permite a compensaode crditos (CPC, art. 739-B, parte final). Seguindo a tendncia daceleridade, se porventura o executado possuir crdito para com oexequente, este poder ser compensado conforme art. 368 do

  • Cdigo Civil Brasileiro. Este crdito pode decorrer, v.g., de umaeventual procedncia dos embargos execuo (o que acarretacondenao de custas e honorrios ao exequente) ou qualquersano que o exequente tenha sofrido no curso do processo sujeitoa multa (v.g., averbao indevida prevista no art. 615-A, 4, doCPC).

    j) Nada impede a cumulao de duas sanes (ato atentatrio dignidadeda justia [601, CPC] + litigncia de m-f [18, CPC]). Desde quese trate de incidncias distintas, ou seja, pode ser o mesmo fato,mas que tenham decorrido incidncias diversas no mundo dodireito, possvel. Assim como possvel, igualmente, a aplicaoda multa sancionatria do art. 601, com a multa coercitiva do art.461, 4.

    8. Princpio da responsabilidade objetiva do exequente

    A despeito de a execuo estar regrada pelo princpio do desfechonico, no est ela a execuo isenta de ser injusta. E, sendo ela injusta,nasce ao executado o direito de ser ressarcido pelos eventuais danos quesofreu, at mesmo de ordem moral, pois o exequente respondeobjetivamente por eles.

    A execuo corre por responsabilidade do exequente. Dois artigosdo CPC consagram este princpio:a) Art. 475-O, I, que estabelece a execuo provisria. Como a execuo

    provisria corre por conta e risco do exequente, eventual reformada sentena dever obrig-lo a reparar os prejuzos que oexecutado sofreu.

    b) Art. 574. Este artigo determina que o credor ressarcir o devedor se,aps o trnsito em julgado da sentena, declarar, total ouparcialmente, a obrigao.Nesses dois casos a responsabilidade objetiva, ou seja, prescinde

    da prova de culpa para a configurao do dever de indenizar.Os embargos execuo, aes heterotpicas, objeo/exceo

    de pr-executividade ou impugnao so inaptos de per si de conferir aoexecutado a tutela de ressarcimento, da a necessidade de se cobrar estevalor.

    O ressarcimento ser efetivado dentro do mesmo processo em quea execuo foi processada. Esta indenizao ser cobrada via execuo,cujo ttulo executivo a sentena do magistrado que declarou ainexistncia da obrigao. Esta sentena, portanto, expedir um efeitoanexo que constitui o dever de indenizar.

    Contudo, o ttulo carece de liquidez, motivo pelo qual ser

  • necessria a apurao do quantum por meio de liquidao de sentena.Importante frisar que os danos no se limitam apenas quilo que a

    parte sofreu. Muitas vezes ser necessrio o retorno ao status quo ante.Assim , v.g., alm dos danos, o executado pode requerer a liberao dosbens dados em penhora.

  • Captulo 3

    Ttulo Executivo

    1. Introduo

    A execuo constitui processo ou fase diferenciada no nossoordenamento cuja funo tpica a prtica de atos materiais tendentes aconcretizar uma deciso judicial ou um documento que, aos olhos da lei,possua eficcia executiva. Estes atos podem ser de sub-rogao (execuoindireta) com a expropriao dos bens do executado ou de coero(execuo direta) com a prtica de atos tendentes a coagir o executado nocumprimento da obrigao (estipulao de multa, v.g.).

    Contudo, para que se ingresse com um processo to agressivo, queevidentemente diminui as potencialidades das garantias constitucionaisprocessuais (mxime as do contraditrio, da ampla defesa e da isonomia), necessrio que o demandante tenha um plus, algum instrumento que odiferencie e permita que tenha uma posio de vantagem sobre odemandado. Este instrumento, que servir como base para seu ingressonesse tipo de processo, denominado ttulo executivo.

    O ttulo executivo, como assevera parcela da doutrina, nopresume a existncia de um crdito. E isso porque a presuno j existe ouno. O juiz no vai fazer nenhuma investigao nesse sentido. O ttulo, issosim, afasta a necessidade de qualquer investigao acerca da existncia dodireito. Portanto, subtrai daquela relao jurdica a cognio acerca daexistncia dos fatos, pois este meio age como se fosse uma fotografia, j osrevela. H dois motivos:a) Prvia fase de conhecimento que deu ampla oportunidade de as partes

    se manifestarem.b) Mesmo sem essa prvia oportunidade, existem determinadas situaes

  • que indicam uma grande chance da existncia do direito. Assim,levando em conta os valores jurdicos envolvidos, elegeuabstratamente atos que, na experincia comum, normalmenteindicam a existncia do crdito. Da a expresso eficcia abstratado ttulo executivo. A eficcia abstrata, tambm denominadaindiscutibilidade intrnseca, projeta dois efeitos importantes para oprocesso:1) Limita a cognio do magistrado no plano horizontal, pois no

    pode/precisa discutir o direito material em que as partesdebatem.

    2) Impe uma estruturao especial no procedimento executivo,na medida em que no se tratando de procedimentovocacionado ao amplo contraditrio as oportunidades dedefesa sero mitigadas ou at mesmo diferidas para umprocesso autnomo (v.g., embargos execuo).

    No se pode entender que a existncia do ttulo pressupe ocrdito. Pensar desta maneira ignorar a dicotomia entre direito material eprocesso. No plano do processo o ttulo funciona como mecanismoautorizador para que se ingresse na via executiva, mesmo que ao final sedescubra a injustia da execuo (plano material).

    Existe de fato uma interdependncia entre os dois planos, mas node forma absoluta. Evidente que o ttulo s ter razo de ser (em carterfinalstico) se existir o crdito. Vale dizer, enquanto o ttulo existir serindependente do direito material subjacente.

    Portanto, o ttulo executivo condio necessria e suficiente parapermitir a atividade executiva independentemente da constatao daexistncia ou no do direito material nele contido.

    necessria, pois sem o ttulo executivo no h se falar emexecuo (com as devidas ressalvas estabelecidas no captulo sobreprincpios nulla executio...), conforme arts. 586 e 614, I, do CPC, e a suafalta gera nulidade (CPC, art. 618, I).

    suficiente, pois apenas com o ttulo j se podem desencadear osatos para a satisfao da pretenso executiva.

    1.1 Taxatividade

    Seguindo a tradio do direito italiano e portugus, ser ttulo noordenamento brasileiro no significa ostentar alguma caracterstica queautorize ao exequente optar pela via executiva (este pode ser um predicadopara que o legislador o eleja ttulo). Para ser ttulo, necessrio previsoem lei (nullus titulus sine legis). A definio do que venha a ser ttulo no

  • matria da cincia do direito, mas do direito positivo. E isso porque ttulosomente ttulo quando a regra assim o prev. O cheque hoje no nossoordenamento ttulo; poder amanh, por opo do legislador, no mais s-lo. Nem por isso alterou sua natureza jurdica (documento representativode um crdito).

    1.2 Vinculao

    O respeito ao ttulo deve ser absoluto. No se pode permitir a ummagistrado, que discorda da opo legislativa, elevar ao status de ttulodocumento que no tenha essa previso. Igualmente no se permite quedesconsidere um ttulo previsto como tal sob o argumento de que ali noesto presentes os requisitos necessrios para permitir a tutela executiva(eficcia abstrata).

    2. Natureza jurdica

    H trs principais correntes que explicam a natureza do ttuloexecutivo.a) Documento: a primeira define o ttulo como documento. Esta a teoria

    defendida por Francesco Carnelutti. documento porque serve deprova existncia do crdito. Seria uma espcie de prova legal(porque sua eficcia estaria prevista em lei), o nico meio hbil dedemonstrar a existncia do crdito. Uma espcie de bilhete para aexecuo.

    b) Ato: a segunda define o ttulo como ato. Esta teoria seguida por EnricoLiebman. o ato constitutivo da concreta vontade do Estado.Quando surge, tem vida prpria independente da existncia docrdito. Na execuo o juiz no tem que examinar provas nemformar sua convico, mas unicamente deferir o pedido se estiverbaseado em ttulo hbil. A existncia ou no do crdito no podeinfluir no desenvolvimento da execuo. O autor critica a teoria dottulo como documento na medida em que est muito arraigada aodireito material. Pressupe-se sempre que o crdito existevolvendo a uma teoria concreta da ao. O documento seriaapenas a materializao deste ato jurdico. Tambm a segueCndido Dinamarco.

    c ) Mista: esta teoria trata o ttulo como um instituto bifronte: ao mesmotempo ato e documento. A lei, analisando caso a caso, verificarquando o elemento ato ou o elemento documento prevalecero.Desta forma privilegia-se o ato na execuo de contrato delocao, mas leva-se em conta predominantemente o documentonos ttulos de crdito. Esta teoria defendida por GiuseppeChiovenda. No Brasil, seguida por Srgio Shimura e Vicente Greco

  • Filho.A teoria do documento, a nosso ver, no deve ser seguida por

    quatro importantes motivos conforme entendimento de Alexandre FreitasCmara:1 ) Alterao do conceito de prova: o objetivo da prova so as alegaes

    sobre o fato, e no o direito. Ao afirmar que o ttulo prova aexistncia do direito, altera ilegitimamente a definio de prova.

    2) Se fosse de fato prova, esta deveria ser valorada e julgada na execuopara que se constatasse a existncia ou no do crdito. Contudo noh esta valorao.

    3 ) H confuso entre a forma do ato jurdico e seu contedo. No Brasilsempre se exige do ttulo a forma escrita. Isso no quer dizer queseja condio sine qua non. A doutrina lembra a existncia dettulo verbal (contrato de locao no CPC/39, art. 298, IX). Destaforma no se pode defender a teoria documental se pode haverttulo que no seja por escrito.

    4 ) Teoria concreta. importante frisar que os embargos procedentestornando a execuo extinta no desnaturam a existncia do ttuloexecutivo (da o erro da teoria documental).

    3. Elementos do ttulo

    A obrigao que representa o ttulo tambm deve ser lquida, certae exigvel. Correta, neste sentido, a pequena, mas importante, modificaoestabelecida pelo legislador ao art. 586 com a redao da Lei n.11.382/2006.

    E isso porque a redao anterior estabelecia que estes atributos(certeza, liquidez e exigibilidade) eram do ttulo, e no da obrigao em si. importante falar desses elementos:

    Certeza: a certeza no tem referibilidade com a existncia do direito.No concerne ao grau de convico acerca da razo. At mesmoporque, de regra, no matria que no se discute em execuo.Ademais o contraditrio pode provar que a execuo ilegtima.Refere-se a certeza, portanto, definio de seus elementos.Deve-se demonstrar a existncia do crdito (mesmo que severif ique , a posteriori, sua inexistncia) e as pessoas nelaparticipantes.

    Liquidez: a liquidez estabelece o quanto ou o que se deve. Importantefrisar que no necessrio precisar o quantum debeatur demaneira exata. A mera possibilidade de determinao por meio declculos j torna o ttulo lquido. Desta forma o mero

  • estabelecimento do valor por clculos aritmticos no pode serenquadrado como liquidao por clculos (CPC, art. 475-B), comopretendeu fazer o legislador.

    Exigibilidade: constitui a falta de impedimento que impea aeficcia do ttulo. Esta eficcia se d: i) pelo vencimento; ii) pelotrnsito em julgado; iii) pela recepo de recurso sem efeitosuspensivo; ou iv) pela ausncia de termo/condio imposta obrigao. importante ressaltar que a certeza e a liquidez so elementos

    intrnsecos ao ttulo e que a exigibilidade elemento de fora.

    4. Classificao

    Os ttulos executivos podem ser judiciais (CPC, art. 475-N) ouextrajudiciais (CPC, art. 585). Ttulos executivos judiciais so aquelesproduzidos dentro de um processo por meio de atividade jurisdicional. J osttulos executivos extrajudiciais so aqueles atos produzidos fora de umprocesso em que a lei confere eficcia executiva e foram formalizados porato de vontade das partes (ou somente de uma, como a certido da dvidaativa, CPC, art. 585, VII).

    Todos permitem a execuo forada. Tal equiparao se deu como Cdigo de Processo Civil de 1973, pois no regime anterior do CPC/39apenas os ttulos executivos judiciais poderiam ser executados de maneiradireta (ao executria). J os extrajudiciais eram apresentados em umprocesso hbrido (cognitivo-executivo) (ao executiva).

    Contudo esta distino (topolgica de ter sido produzido dentro oufora de um processo judicial) no plenamente satisfatria: e isso porqueh ttulos produzidos dentro do processo considerados extrajudiciais (crditodos auxiliares de justia aprovados por deciso judicial, CPC, art. 585, VI)e ttulos que no foram produzidos por atividade jurisdicional (ao menostpica se se considerar a arbitragem sucednea de jurisdio), como asentena arbitral (CPC, art. 475-N, IV).

    Assim esta primeira distino apenas um referencial. O melhormodo de distino destes ttulos pela forma como so executados: osextrajudiciais por meio de processo autnomo e os judiciais por meio decumprimento de sentena.

    5. Ttulos judiciais (CPC, art. 475-N)

    I A sentena proferida no processo civil que reconhea a existncia deobrigao de fazer, no fazer, entregar coisa ou pagar quantia.

    Aparentemente, a Lei n. 11.232/2005 conferiu relevantescontornos para aquela que constitui a principal sentena executvel no

  • ordenamento brasileiro. A reforma colocou os operadores de direito apensar: quis a lei ampliar a incidncia da executoriedade para as sentenasdeclaratrias? importante fazer algumas consideraes sobre o tema.

    Como dito, h, na doutrina e jurisprudncia, acesa discussoacerca da reforma legislativa empreendida pelo legislador de 2005 (LeiFederal n. 11.232). E isso porque a redao originria do revogado art. 584,I, do CPC estabelecia que somente as sentenas condenatrias poderiamestar sujeitas execuo, seguindo a clssica tradio cannico-romana.Contudo, a redao do art. 475-N, I, criou polmica ao estabelecer comottulo executivo judicial a sentena proferida no processo civil quereconhea a existncia da obrigao de fazer, no fazer, entregar coisa oupagar quantia.

    As sentenas declaratrias esto, com a nova redao, sujeitas execuo?

    Uma premissa. Como se estabeleceu no captulo sobre sentena,as sentenas declaratrias e constitutivas consistem em sentenasautossuficientes na medida em que prescindem de ulterior atividade parasua concretizao no mundo prtico. A sentena, por si s, bastante.Quando muito essas sentenas podem produzir (como de fato produzem nomais das vezes) um efeito anexo permitindo a condenao das custas ehonorrios advocatcios.

    J as sentenas condenatrias dependem de ulterior cumprimento,pois se estabelece um direito a prestao. Esta prestao, quando resistida(CPC, art. 580), autoriza a prtica de atos de modo a satisfazer o quantodeterminado no ttulo. Este cumprimento se d por meio de execuotpica. Para aqueles que defendem a classificao quinria, as sentenasexecutiva e mandamental so, ao lado das sentenas condenatrias,ineficazes de per si, e necessitam igualmente de ulterior fase decumprimento. A diferena que sua efetivao se d, em regra, por meiode execuo atpica de coero ou sub-rogao.

    Uma constatao: quando da alterao empreendida pelolegislador, o texto originrio aprovado na Cmara dos Deputadosestabelecia a locuo sentena condenatria. Contudo, no Senado, foiobjeto de emenda que estabeleceu esta nova redao. Sendo nova,obrigatoriamente deveria retornar Cmara, por fora do art. 65,pargrafo nico, da Constituio Federal, por no se tratar de meraemenda de redao.

    Desta forma, h apenas duas sadas para o imbrglio legislativocausado: i) ou o dispositivo est eivado de inconstitucionalidade formal, namedida em que no houve o devido retorno Cmara, violando obicameralismo; ii) ou se trata somente de emenda de redao e no teve,portanto, o condo de alterar o significado da expresso condenatria.

    Contudo, a despeito das premissas fixadas, trs correntes tentam

  • explicar a mudana empreendida pelo art. 475-N, I:U m a primeira corrente estabelece que a redao do novo

    dispositivo ampliou as hipteses de sentenas executveis, encartandotambm as sentenas declaratrias. Desta forma as sentenasdeclaratrias, que antes estavam impedidas por expressa autorizao legal,hoje no possuem mais esse bice e, portanto, uma vez cerificado o direitoobrigacional, livre est o caminho para atuao da sano.

    Esta corrente entende que o sistema permitiu, propositadamente,que fossem includas no rol dos ttulos executivos as sentenas declaratriasque reconhecessem os elementos da obrigao (quem deve, a quem sedeve e quanto se deve). Assim defendem que essas sentenas declaratriastm fora executiva, pois que possuem os dois requisitos da execuo: ottulo (pressuposto terico) e o inadimplemento (pressuposto prtico).

    Esta corrente defendida por Humberto Theodoro Jnior eMarcelo Abelha Rodrigues.

    U m a segunda corrente defende que a alterao foi apenasredacional. Desta forma as sentenas declaratrias e constitutivascontinuam no sujeitas execuo. A expresso condenatria no maissubsiste na medida em que o legislador (aparentemente) adotou aclassificao quinria das sentenas e, portanto, no se poderia denominarapenas condenatria se outras sentenas tambm so carecedoras deexecuo (mandamentais e executivas).

    A lei fala em reconhecimento da obrigao, mas alia ainda oefeito executivo a esse reconhecimento. Obrigao relao jurdica daqual uma pessoa pode exigir determinada prestao de outra, ficando essavinculada ao dever de prestar.

    Assim, para se cogitar o reconhecimento da obrigao, indispensvel o reconhecimento do inadimplemento, pois o juzo no podeefetivar uma sentena sem que tivesse operado intelectivamente a respeitoda existncia da obrigao e da transgresso.

    Difere da mera declarao a que alude o art. 4 mesmo naquelasem que j tenha ocorrido a leso a direito (pargrafo nico do referidoartigo), pois ainda nessa questo o autor no coloca no tablado dasdiscusses o inadimplemento. Seu interesse se limita em declarar aexistncia (ou inexistncia) da relao jurdica com vistas a erradicar acrise de incerteza, sem se preocupar com o inadimplemento. Portanto aquino se visa a abrir caminho para os meios de coao.

    Tendo o art. 4 limitado textualmente a declarao, no se podefalar em execuo, j que o demandado deve ter apenas uma posiopassiva (respeitar o preceito), e no uma ativa (prestar).

    Alm disso, importante asseverar sobre a questo daprescritibilidade da pretenso, pois sendo ela declaratria, sua pretensoseria imprescritvel. E isso porque a prescrio se aplica, exclusivamente,

  • nos casos referentes a uma prestao e a decadncia, nos casos desujeio (direitos potestativos). Se as declaratrias no geram o efeito decobrar uma prestao e, tampouco, o de criar um estado de sujeio, noh lugar para permitir a incidncia de prazo decadencial ou prescricional.

    Ademais a sentena condenatria necessita que o exequente tomealguma providncia para a satisfao do direito do autor, enquanto nasentena declaratria a mera prolao da sentena j basta.

    Uma das palavras atribuveis ao reconhecer no dicionrio ,j ustamente, declarar. Todavia o apego semntico no deve ser fatorpreponderante para a tomada de posio.

    O ordenamento mantm o comando da tutela condenatria e esta que abre o caminho para a execuo forada (o art. 475-J, que falaem devedor condenado). Trata-se de sentena condenatria, pois no huma sentena de reconhecimento na classificao das sentenas na cinciado processo.

    Obrigao a relao jurdica na qual uma pessoa pode exigir daoutra determinada prestao, vinculando a ltima ao dever de prestar.

    O mesmo no ocorre com as sentenas meramente declaratrias,mesmo aquelas autorizadas por lei ajuizadas aps o evento leso (CPC, art.4, pargrafo nico). E isso porque no ser objeto de cognio oinadimplemento, mas somente a declarao da existncia ou inexistnciada relao jurdica com vistas a erradicar a incerteza. Aqui no se requeradimplemento, apenas declarao. A funo jurisdicional se esgota com adeclarao emitida.

    Os incisos do caput j do os contornos do litgio na medida emque limitam o pedido/deciso declarao. Assim, incompatvel asentena meramente declaratria com execuo.

    Como assevera bem Carlos Alberto Alvaro de Oliveira, odemandado deve ter apenas uma posio passiva (respeitar o preceito) eno uma ativa (prestar).

    Esta diferenciao importante at mesmo para afastar qualquerresqucio acerca da prescritibilidade das sentenas que reconhecem aobrigao de pagar. E isso porque em se considerando declaratrias,apenas, forosamente e por uma questo de coerncia lgica, assumir-se-ia a posio de que as sentenas de reconhecimento seriam imprescritveis,o que seria pensar um absurdo.

    Assim, podemos concluir que a declarao prevista no art. 4 diferente do reconhecimento do art. 475-N. Uma apenas declara aexistncia ou no de uma relao jurdica; a outra declara a existncia deinadimplemento. A sentena que reconhece a obrigao diferente dasentena condenatria, pois no exorta o sucumbente a alguma condutatpica.

  • Desta maneira a alterao foi mais de forma do que de contedo.Este posicionamento defendido por Araken de Assis, Eduardo Talamini eNelson Nery .

    U m a terceira corrente entende que a sentena declaratriasempre pde ser executada, desde que nela estejam contidos todos oselementos necessrios caracterizadores da relao obrigacional (certeza,liquidez e exigibilidade). defendida por Teori Zavaski e Fredie Didier.

    Estes autores entendem que pode configurar ttulo executivoqualquer fenmeno que se ligue pretenso executiva e que asseguresuficiente certeza acerca do direito. Este poder dado ao legislador porque possvel a ele atribuir a qualquer fenmeno jurdico que tenha pretensoexecutiva eficcia de ttulo executivo.

    Alegam que a sentena declaratria de inexistncia julgadaimprocedente poder ser ttulo executivo para a outra parte, pois oselementos executrios esto ali presentes.

    A lei na verdade ampliou o espectro de abrangncia do vocbulocondenao para qualquer situao em que se der reconhecimento auma obrigao exigvel, portanto que tenha eficcia executiva. Inclusive asdeclaratrias.

    Assim j existia na consignao em pagamento, oferta dealimentos, desapropriao judicial, entre outras. Estas so tpicas sentenasdeclaratrias que geram decises com fora para desencadear execuo.

    No entendimento de Fredie Didier, se uma deciso judicialreconhece a existncia de um direito a prestao j exercitvel (definiocompleta da norma jurdica individualizada), em nada ela se distingue deuma sentena condenatria, em que isso tambm acontece.

    Neste mesmo sentido, Teori Albino Zavascki assevera que se anorma jurdica individualizada est definida de modo completo, porsentena, no h razo alguma lgica ou jurdica, para submet-la, antesda execuo, a um segundo juzo de certificao, at porque a novasentena no poderia chegar a resultado diferente do da anterior, sob penade comprometimento da garantia da coisa julgada, asseguradaconstitucionalmente.II A sentena penal condenatria transitada em julgado.

    Os crimes em geral podem gerar dever de indenizar na esferacvel, tanto em dinheiro como em restituio ou mesmo fazer ou no fazer.

    A sentena penal produz um efeito secundrio que aformalizao de ttulo executivo a ser cumprido na esfera cvel.

    Ao contrrio da cvel, a sentena penal s constitui ttulo executivoaps o trnsito em julgado. Pelo princpio da presuno de inocncia (art.5, LVII, CF), ela s pode produzir efeitos quando se tornar definitiva.Assim no cabe execuo provisria de sentena penal.

  • H entendimento doutrinrio minoritrio no sentido de que asentena penal no teria natureza de ttulo executivo, mas mera viabilidadede se ingressar com liquidao de sentena no cvel para apurar o valordevido. E isso porque o juzo penal fixa apenas a culpa, sendo dacompetncia do juzo cvel a apurao dos valores devidos.

    Desta forma, dificilmente haver sentena penal que independa deprvia liquidao (geralmente por artigos) para apurao deste valor (tm-se, verdade, algumas excees como a devoluo do produto do crime(CP, art. 91, II, b) e cobrana de multa penal (CP, art. 51)).

    Insta ressaltar ainda que se trata de liquidao muito maisminuciosa, pois o juzo cvel ter contato com a questo pela primeira vez eno pode exercer seu juzo sobre a questo que se deu, repise-se, em outraesfera.

    A reforma penal empreendida pela Lei n. 11.719/2008 trouxeimportantes modificaes no plano da eficcia civil da sentena penal.

    Especialmente os arts. 63, pargrafo nico, e 387, IV, do Cdigode Processo Penal, que estabelecem a possibilidade de o juiz penal fixarum valor mnimo (que se trata de uma faculdade, e no um dever). Fixadoo valor mnimo e tendo transitado em julgado a sentena, o ttulo executivoj conter um valor que poder ser ampliado ou mantido pelo juzo penal.Acreditamos que o valor no poder ser diminudo por duas questes deordem lgica:1) Se o juzo cvel no tem competncia para alterar a condenao

    estabelecida pelo juzo penal, consequentemente no ter paraalterar este valor.

    2) Os arts. 63, pargrafo nico, e 387, IV, do Cdigo de Processo Penalestabelecem regra no existente no anterior sistema: a fixao devalor pelo juzo penal que antes se limitava apenas emestabelecer a condenao. Nesse caso ampliou-se a competnciamaterial deste juzo. Sendo competncia material, no pode serderrogada em razo de ser absoluta.A execuo da sentena penal no juzo cvel no admite

    reinvestigar a discusso da culpa, pois esta j foi aferida no juzo penal (daa desnecessidade de ingressar com processo de conhecimento).

    A vtima do crime tem duas opes: ajuizar ao com pedidoreparatrio desde logo na esfera cvel ou aguardar a formao de ttuloexecutivo na ao criminal. Em havendo aes simultneas, o juiz podersuspender o feito cvel, aguardando o julgamento do criminal (CPC, art.110).

    Se a penal for julgada antes (procedente) e transitar em julgado,haver carncia de ao superveniente da cvel, salvo se for apenas paraapurar o quantum debeatur, pois a vtima j ter obtido o que pretendia do

  • processo de conhecimento.Se a cvel for julgada antes (improcedente) h duas correntes:

    1) A primeira corrente entende que a sentena penal, por si s, suficientepara ensejar a execuo, ainda que exista sentena civil dispondoo contrrio (Humberto Theodoro Jnior e Slvio de FigueiredoTeixeira).

    2) A segunda corrente assevera que a sentena penal encontra bice nacoisa julgada material que reveste a sentena civil deimprocedncia. Enquanto esta no for rescindida, aquela no podeembasar a execuo cvel (Srgio Shimura).H limitao subjetiva quanto eficcia da sentena penal no

    mbito cvel: apenas o condenado. No esto no ttulo (= sentena) demaispessoas que potencialmente poderiam ser responsabilizadas no plano cvel(pais, tutor, empregador, preponentes). Desta forma a nica maneira de seresponsabilizarem judicialmente estas pessoas ser por meio de ingresso deao cognitiva com esta finalidade (CC, art. 932).

    Por fim, h de se enfrentar a situao da reviso criminal queabsolve o condenado: como ficaria a questo da execuo no cvel?

    Se a execuo ainda no iniciou ou est em curso, haver perda dettul