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  • ISBN 978-85-02-17123-7Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

    (Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Tasse, Adel elProcesso penal IV : jri /Adel el Tasse, Luiz FlvioGomes. So Paulo :Saraiva, 2012. (Coleo saberes dodireito; 13)1. Direito penal 2. Direitopenal Brasil I. Gomes,Luiz Flvio. II. Titulo. III.Srie.

    ndices para catlogo sistemtico:1. Processo penal : Direito penal 343.1

  • Diretor de produo editorial Luiz Roberto CuriaGerente de produo editorial Lgia Alves

    Editor Roberto NavarroAssistente editorialThiago Fraga

    Produtora editorial Clarissa Boraschi MariaPreparao de originais, Arte, diagramao e reviso Know-how

    EditorialServios editoriais Kelli Priscila Pinto e Vinicius Asevedo Vieira

    Capa Aero ComunicaoProduo grfica Marli Rampim

    Produo eletrnica Know-how Editorial

    Data de fechamento daedio: 25-4-2012

    Dvidas?Acesse: www.saraivajur.com.br

    Nenhuma parte desta publicao poder ser reproduzida por qualquermeio ou forma sem a prvia autorizao da Editora Saraiva. A violaodos direitos autorais crime estabelecido na Lei n. 9.610/98 e punido

    pelo artigo 184 do Cdigo Penal.

  • ADEL EL TASSE

    Mestre em Direito pela Universidade Estadual deMaring (2003). Adjunto da Universidade Tuiuti doParan.

    LUIZ FLVIO GOMES

    Jurista e cientista criminal. Fundador da Rede de EnsinoLFG. Diretor-presidente do Instituto de Pesquisa eCultura Luiz Flvio Gomes. Diretor do InstitutoLivroeNet. Foi Promotor de Justia (1980 a 1983), Juizde Direito (1983 a 1998) e Advogado (1999 a 2001). um dos coordenadores da Coleo Saberes do Direito.

    Conhea os autores deste livro:http://atualidadesdodireito.com.br/conteudonet/?ISBN=17122-0

    COORDENADORES

  • ALICE BIANCHINI

    Doutora em Direito Penal pela PUCSP. Mestre emDireito pela UFSC. Presidente do InstitutoPanamericano de Poltica Criminal IPAN. Diretora doInstituto LivroeNet.

    LUIZ FLVIO GOMES

    Jurista e cientista criminal. Fundador da Rede de EnsinoLFG. Diretor-presidente do Instituto de Pesquisa eCultura Luiz Flvio Gomes. Diretor do InstitutoLivroeNet. Foi Promotor de Justia (1980 a 1983), Juizde Direito (1983 a 1998) e Advogado (1999 a 2001).

    Conhea a LivroeNet:http://atualidadesdodireito.com.br/conteudonet/?page_id=2445

  • Agradeo Professora Alice Bianchini, querida amigae brilhante jurista, pela oportunidade de participar

    desta coleo, que amplia as possibilidades de acesso informao aos profissionais e estudantes do Direito.

    Adel El Tasse

    Nossos agradecimentos a Juliana Zanuzzo, quem seencarregou da pesquisa dos primeiros delineamentos

    de grande parte deste livro, e a Christiane de O. Parisi, quecolaborou para a pesquisa da jurisprudncia utilizada nesta obra.

    Luiz Flvio Gomes

  • Apresentao

    O futuro chegou.

    A Editora Saraiva e a LivroeNet, em parceria pioneira,somaram foras para lanar um projeto inovador: a ColeoSaberes do Direito, uma nova maneira de aprender ou revisar asprincipais disciplinas do curso. So mais de 60 volumes, elaboradospelos principais especialistas de cada rea com base em metodologiadiferenciada. Contedo consistente, produzido a partir da vivncia dasala de aula e baseado na melhor doutrina. Texto 100% em dia coma realidade legislativa e jurisprudencial.

    Dilogo entre o livro e o 1

    A unio da tradio Saraiva com o novo conceito de livrovivo, trao caracterstico da LivroeNet, representa um marcodivisrio na histria editorial do nosso pas.

    O contedo impresso que est em suas mos foi muito bemelaborado e completo em si. Porm, como organismo vivo, oDireito est em constante mudana. Novos julgados, smulas, leis,tratados internacionais, revogaes, interpretaes, lacunasmodificam seguidamente nossos conceitos e entendimentos (a ttulode informao, somente entre outubro de 1988 e novembro de 2011foram editadas 4.353.665 normas jurdicas no Brasil fonte: IBPT).

    Voc, leitor, tem sua disposio duas diferentesplataformas de informao: uma impressa, de responsabilidade daEditora Saraiva (livro), e outra disponibilizada na internet, que ficar

    por conta da LivroeNet (o que chamamos de

    )1 .

  • No 1 voc poder assistir a vdeos eparticipar de atividades como simulados e enquetes. Fruns dediscusso e leituras complementares sugeridas pelos autores doslivros, bem como comentrios s novas leis e jurisprudncia dostribunais superiores, ajudaro a enriquecer o seu repertrio,mantendo-o sintonizado com a dinmica do nosso meio.

    Voc poder ter acesso ao 1 do seulivro mediante assinatura. Todas as informaes esto disponveisem www.livroenet.com.br.

    Agradecemos Editora Saraiva, nas pessoas de Luiz RobertoCuria, Roberto Navarro e Lgia Alves, pela confiana depositada emnossa Coleo e pelo apoio decisivo durante as etapas de edio doslivros.

    As mudanas mais importantes que atravessam a sociedadeso representadas por realizaes, no por ideais. O livro que voctem nas mos retrata uma mudana de paradigma. Voc, caro leitor,passa a ser integrante dessa revoluo editorial, que constituiverdadeira inovao disruptiva.

    Alice Bianchini | Luiz Flvio GomesCoordenadores da Coleo Saberes do Direito

    Diretores da LivroeNet

    Saiba mais sobre a LivroeNethttp://atualidadesdodireito.com.br/?video=livroenet-15-03-2012

    1 O deve ser adquirido separadamente. Paramais informaes, acesse www.livroenet.com.br.

  • Sumrio

    Captulo 1 Origem

    Captulo 2 Composio do Tribunal do Jri

    Captulo 3 O Tribunal do Jri rgo da Justia Comum

    Captulo 4 Competncia do Tribunal do Jri

    Captulo 5 Garantias Constitucionais do Tribunal do Jri

    1. Plenitude de defesa

    2. Sigilo das votaes

    3. Soberania dos vereditos

    Captulo 6 Primeira Fase do Procedimento do Jri JudiciumAccusationis

    Captulo 7 Do Encerramento da 1 Fase do Procedimento doJri: pronncia, impronncia, absolvio sumria edesclassificao

    1. Da pronncia

    2. Princpio do in dubio pro stocietate

    3. Contedo da pronncia

    4. Proibio do excesso de linguagem (da eloqunciaacusatria)

    5. Emendatio libelli e mutatio libelli

  • 6. Participao de outras pessoas

    7. Precluso (no coisa julgada)

    8. Intimao da pronncia e seus efeitos

    9. Da priso e das medidas cautelares alternativas

    10. O que se entende por despronncia?

    11. Da impronncia

    12. Da absolvio sumria

    13. Da desclassificao

    14. Recursos cabveis

    15. Do libelo acusatrio

    Captulo 8 Preparao para Julgamento

    Captulo 9 O Desaforamento

    Captulo 10 Organizao da Pauta

    Captulo 11 Do Sorteio e da Convocao dos Jurados

    Captulo 12 Da Funo do Jurado

    Captulo 13 Da Composio do Tribunal do Jri e da Formaodo Conselho de Sentena

    Captulo 14 Da Reunio e das Sesses do Tribunal do Jri

    Captulo 15 Da Instruo em Plenrio

    Captulo 16 Dos Debates

  • Captulo 17 Do Questionrio e sua Votao

    Captulo 18 Da Elaborao da Sentena

    Captulo 19 Roteiro do Julgamento no Plenrio do Jri

    Captulo 20 Da Ata dos Trabalhos

    Captulo 21 Questes Controvertidas Relacionadas com oTribunal do Jri

    Captulo 22 Da Instruo em Plenrio

    Captulo 23 Recursos

    1. Apelao das decises do jri

    2. Protesto por novo jri

    3. Outros recursos

    Referncias

  • Captulo 1

    Origem

    O Tribunal do Jri tem como marco jurdico fundamental,no mundo ocidental, a Magna Carta do Rei Joo Sem Terra, de 1215.Seu art. 39 dizia: Nenhum homem livre ser detido ou aprisionado,ou privado de seus direitos ou bens, ou declarado fora da lei, ouexilado, ou despojado, de algum modo, de sua condio; nemprocederemos com fora contra ele, ou mandaremos outros faz-lo,a no ser mediante o legtimo julgamento de seus iguais e de acordocom a lei da terra (by the law of the land). O Tribunal do Jri e odevido processo legal, como se v, j se achavam contempladosneste histrico documento jurdico.

    Sua tradio, no entanto, muito mais antiga. Remonta Grcia (Tribunal de Heliastas), Palestina (Tribunal dos Vinte eTrs), a Esparta (Tribunal dos foros), Roma Antiga (Tribunal dosQuoestiones) etc. A Revoluo Francesa de 1789 o contemploucomo tribunal do povo em ateno aos ideais republicanos entoprevalecentes.

    No Brasil o Tribunal do Jri existe desde 18 de junho de1822. Surgiu originalmente para julgar os crimes de abuso daliberdade de imprensa, sendo composto inicialmente por 24 cidadosselecionados na sociedade (cidados bons, honrados, inteligentes epatriotas).

  • Com a CF de 1988 (art. 5, XXXVIII) o Tribunal do Jriganhou definitivamente o perfil de garantia individual, protegida porclusula ptrea (que assegura sua perpetuidade).

  • Captulo 2

    Composio do Tribunal do Jri

    O Tribunal do Jri formado por um juiz presidente e 25jurados, dos quais sete comporo o Conselho de Julgamento(legalmente chamado de Conselho de Sentena). O juiz presidente um juiz de direito (togado, concursado), enquanto o Conselho deSentena composto por sete pessoas previamente includas na listade jurados (que ser vista logo abaixo), independente da formaoprofissional. O Tribunal do Jri brasileiro, como se v, filia-se maisao sistema dos tribunais puros (composio preponderantementeleiga) do que do escabinado (composio mista entre juzes ejurados).

    So requisitos para o exerccio da funo de jurado: sercidado brasileiro, nato ou naturalizado, maior de 18 anos, residentena comarca e ter notria idoneidade moral. So impossibilitados deexercer tal funo: pessoa portadora de grande deficincia visual, osurdo-mudo, o analfabeto e todos aqueles que demonstrem justoimpedimento. Os que evidenciarem justo motivo estaro isentos documprimento da funo de jurado (que , em regra, obrigatria).

    A legislao anterior (antes da reforma vinda com a Lei n.11.689/2008) previa como limite etrio mnimo 21 anos paradesempenhar a funo de jurado. Sob severas crticas, a reforma doCPP de 2008 diminuiu para 18 anos a idade para compor o Conselhode Julgamento.

  • Se no caso concreto o juiz entender que o jurado, emboracom 18 anos de idade, no conta com maturidade suficiente para oexerccio da funo, poder recus-lo sem bice legal, pois o critrioetrio no foi contemplado pelo legislador no art. 436, 1, do CPP,que diz: Nenhum cidado poder ser excludo dos trabalhos do jriou deixar de ser alistado em razo de cor ou etnia, raa, credo, sexo,profisso, classe social ou econmica, origem ou grau de instruo.A lei no mencionou a idade. Logo, em casos excepcionais, podehaver recusa do jurado em razo da sua idade (ou da suamaturidade).

    A incluso do nome do jurado na lista geral atribuio dojuiz presidente. Ele tambm poder modificar a lista de jurados deofcio ou por provocao de qualquer pessoa (CPP, art. 426, 1).Outra alternativa a interposio de recurso em sentido estrito paraafastar o nome de pessoa inapta ao exerccio da funo de jurado(CPP, art. 581, XIV).

    A reforma ocorrida no Tribunal do Jri (por fora da Lei n.11.689/2008) extinguiu a figura do jurado suplente, sendo agoraconvocados para o julgamento os 25 jurados titulares.

    No plenrio do jri os jurados sero alertados pelo juizpresidente sobre impedimentos, suspeio e incompatibilidades. Oimpedimento refere-se impossibilidade de atuarem no mesmoConselho de Julgamento as seguintes pessoas: marido e mulher;ascendente e descendente; sogro e genro ou nora; irmos e cunhados,durante o cunhadio; tio e sobrinho; padrasto, madrasta ou enteado;pessoas que mantenham unio estvel (CPP, art. 448).

    Tambm h impedimento para atuar no mesmo Conselho deJulgamento aos jurados que tiverem funcionado em julgamentoanterior do mesmo processo, independentemente da causadeterminante do julgamento posterior; no caso de concurso depessoas, houver integrado o Conselho de Sentena que julgou o outroacusado; tiver manifestado prvia disposio para condenar ouabsolver o acusado (CPP, art. 448).

    Se houver impedimento entre os jurados por conta deparentesco, atuar no julgamento aquele que tiver sidoprimeiramente sorteado. As partes e tambm o prprio jurado

  • podero suscitar o impedimento na primeira oportunidade. Nasituao de impedimento ou iseno tais jurados sero consideradosna contagem do qurum mnimo (que de 15 jurados) para a sessode julgamento (CPP, art. 463, 2).

    A legislao (CPP, art. 437) prev iseno do servio dojri, destacando-se as pessoas maiores de 70 anos de idade, desdeque a requeiram oportunamente. As demais situaes de isenosero estudadas oportunamente.

    Se o jurado se valer da chamada escusa de conscincia parano exercer o encargo, estar obrigado a prestar servio alternativo(CPP, art. 438).

    possvel que os jurados atuem em mais de um julgamentono mesmo dia, devendo, nesse caso, prestar novo compromisso.

  • Captulo 3

    O Tribunal do Jri rgo da Justia Comum

    O Tribunal do Jri no um rgo poltico, no pertencenteao Poder Executivo ou Legislativo. Ao contrrio, um rgo doPoder Judicirio, mais precisamente da Justia comum, estadual oufederal.

    No concurso entre a competncia do jri e a de outro rgoda jurisdio comum, prepondera a primeira (CPP, art. 78, I). Ouseja: a lei enfoca o Tribunal do Jri como rgo da jurisdiocomum (estadual ou federal).

    Os Tribunais do Jri estaduais (ou distrital) so organizadospor leis locais (respectivas). O Tribunal do Jri federal tem assentono art. 4 do Decreto-lei n. 253/67. As Justias especiais que possuemjurisdio penal (militar e eleitoral) no contam com Tribunal do Jri(que instituio tpica da Justia comum).

    O fato de o Tribunal do Jri estar previsto dentre os direitos egarantias fundamentais do cidado (CF, art. 5, XXXVIII) no oafasta da estrutura organizacional do Poder Judicirio, mesmoporque se trata de tribunal presidido por juiz togado. Ele no foilistado no art. 92 da CF (que cuida dos rgos judiciais), porm nempor isso pode ser admitido fora deste Poder. Sua localizao nocaptulo dos direitos e garantias fundamentais teve o propsito depreserv-lo com clusula ptrea (assegurando-lhe perpetuidade).

  • O Tribunal do Jri, em sntese, rgo da Justia comum.Ao lado desta, outras caractersticas do Tribunal do Jri no Brasil soas seguintes: a) os juzes (jurados) so tirados do povo; b) decidem osjurados por ntima convico; c) tratam matrias de fato (jurados) ede direito (o juiz presidente); d) h diviso de trabalho entre o juradoe o juiz presidente; e) tutela o direito de liberdade, visto que seencontra no art. 5, XXXVIII, da Constituio Federal; f)competncia para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida:homicdio doloso simples, privilegiado ou qualificado, auxlio aosuicdio, infanticdio e aborto e g) um rgo colegiado heterogneoe temporrio.

  • Captulo 4

    Competncia do Tribunal do Jri

    O Tribunal do Jri competente para julgar os crimesdolosos contra a vida (CF, art. 5, XXXVIII, d), na forma consumadaou tentada, comissiva ou omissiva. So eles: homicdio (simples,privilegiado ou qualificado), induzimento, instigao ou auxlio aosuicdio, infanticdio e aborto (CPP, art. 74, 1). Nota-se que acompetncia do Tribunal do Jri foi fixada em razo da matria(ratione materiae). competncia absoluta, portanto, porque relativa a competncia territorial.

    A competncia do Tribunal do Jri, alis, absoluta (porqueem razo da matria) e taxativa, ou seja, no admite interpretaoextensiva (cabendo ressalva em relao aos crimes conexos).

    Os crimes conexos aos supracitados (sobre conexo econtinncia ver CPP, arts. 76-78) tambm sero julgados peloTribunal do Jri. Em situaes de crimes conexos aos crimes dolososcontra a vida, o Tribunal do Jri atrair a competncia para si e,somente nesse caso, julgar crimes que ofendem outros bensjurdicos, que no a vida diretamente. Exemplo: crime de resistnciaou de trfico de entorpecentes conexo ao crime do jri. Cabe aoTribunal do Jri julgar os dois crimes (conexos) (CPP, art. 78, I).

    Nesse sentido:

  • (...) 1. Reconhecida a conexo entre o delito de roubocircunstanciado imputado ao ora Paciente e o crime dolosocontra a vida pelo qual o corru tambm foi denunciado,deve ser adotado o procedimento dos crimes decompetncia do Tribunal do Jri, inclusive quanto ao delitoconexo. Precedentes desta Corte e do Supremo TribunalFederal. (...) (STJ, HC 163.633/RJ, 5 T., rel. Min. LauritaVaz, j . 21-9-2010, DJe 11-10-2010).(...) 1. pacfico, na jurisprudncia desta Corte, competir aoTribunal do Jri o julgamento dos crimes conexos aos delitosdolosos contra a vida. Precedentes do STJ e do STF. (...)(STJ, HC 121.197/SP, 6 T., rel. Min. Og Fernandes, j . 29-9-2009, DJe 19-10-2009).(...) 1. firme a jurisprudncia deste Supremo TribunalFederal no sentido de que a competncia penal do Jri tembase constitucional, estendendo-se ante o carter absolutode que se reveste e por efeito da vis attractiva que exerce s infraes penais conexas aos crimes dolosos contra avida. Precedentes. (...) (STF, RHC 98.731/SC, 1 T., rel. Min.Crmen Lcia, j . 2-12-2010, DJe-020, 1-2-2011).

    Uma ressalva deve ser feita: crimes eleitorais e militares,ainda que sejam conexos com crimes dolosos contra a vida, por setratar tambm de competncia constitucional, no so julgadosnunca pelo Tribunal do Jri. So remetidos para a justia competenterespectiva (eleitoral ou militar), desmembrando-se os processos.Quando estamos diante de duas competncias constitucionais(previstas na CF), ambas devem ser respeitadas (separando-se osprocessos, apesar da conexo).

    Existe o Tribunal do Jri estadual assim como o federal. Esteltimo julga os crimes dolosos contra a vida enquadrados no art. 109da CF. Exemplo: homicdio doloso contra a vida de um juiz federalou delegado federal ou de um funcionrio federal (da Unio), emrazo das funes, ou homicdio cometido a bordo de avio ou navio(sempre ressalvada a competncia da Justia Militar). A bordo (deavio ou navio) significa dentro. Portanto, se o fato foi cometido na

  • escada de acesso ao avio ou ao navio, a competncia no daJustia Federal (porque nesse caso o fato no ocorreu a bordo).

    de se observar, contudo, que, ao longo do tempo, ajurisprudncia do STF e do STJ passou a entender que a competnciapara o julgamento dos crimes cometidos a bordo de navios eaeronaves (incluindo-se os dolosos contra a vida) pode ser da JustiaFederal ou da Justia Estadual, conforme cada situao. Ou seja: aCF foi sendo interpretada nos ltimos anos de forma a restringir oprograma da norma contemplada no art. 109, IX, da CF.

    Consoante o art. 5 do CP, aplica-se a lei brasileira, semprejuzo de convenes, tratados e regras de direito internacional, aocrime cometido no territrio nacional. Dispe o 1 do art. 5 que,para os efeitos penais, consideram-se como extenso do territrionacional as embarcaes e aeronaves brasileiras, de natureza pblicaou a servio do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bemcomo as aeronaves e as embarcaes brasileiras, mercantes ou depropriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaoareo correspondente ou em alto-mar. O 2 do art. 5 do CP declaraque tambm aplicvel a lei brasileira aos crimes praticados a bordode aeronaves ou embarcaes estrangeiras de propriedade privada,achando-se aquelas em pouso no territrio nacional ou em voo noespao areo correspondente, e estas em porto ou mar territorial doBrasil. Trata-se do territrio nacional por extenso ou fico. Destaforma, independentemente da bandeira do navio, se ele estancorado em territrio nacional, a competncia da justiabrasileira.

    O conceito de navio fornecido pelo Decreto n. 99.999, de11-1-1991. O entendimento, contudo, de que o navio umaembarcao de grande cabotagem, entendendo-se como tal anavegao feita entre dois ou mais Estados brasileiros, em virtudedo que o navio mais se afasta das costas nacionais, navegandomesmo pelo mar alto. E com melhor razo aqueles queempreendem viagens internacionais. O STJ foi mais exigente: navio a embarcao de grande cabotagem, autorizado e apto a realizarviagens internacionais, ex vi do inciso IX, art. 109, da CF (STJ,CComp 14.488/PA, rel. Min. Vicente Leal, DJ 11-12-1995).

  • Portanto, o STJ adotou um critrio para determinar se ocrime cometido a bordo de uma embarcao da competncia daJustia Federal ou da Justia Estadual: a cabotagem. Se o navio for degrandes propores (um transatlntico, por exemplo) e for capaz denavegar por guas internacionais, a competncia da JustiaFederal; caso contrrio (um iate de pequenas propores, um barco,uma marina etc.), a competncia se desloca para a Justia Estadual(STJ, CComp 43.404/SP). O critrio utilizado para esta diferenciao,certamente, foi a interpretao teleolgica, mtodo de interpretaoque determina que as normas devem ser aplicadas atendendo,fundamentalmente, ao seu esprito e sua finalidade. Chama-seteleolgico o mtodo interpretativo que procura revelar o fim danorma, o valor ou bem jurdico visado pelo ordenamento com aedio de dado preceito. Desta forma, vale-se o STJ desta espcie deinterpretao para depurar a competncia da Justia Federal,deixando a cargo dessa Justia somente os casos que envolvam bensjurdicos de maior gravidade.

    A esta distino o STJ acrescentou as contempladas no CC116.011/SP, rel. Min. Gilson Dipp, julgado em 23-11-2011.Substancialmente enxerga-se outra ntida distino, que admite aseparao entre a competncia da Justia Federal e a competnciada Justia Estadual. Com efeito. No basta apenas o fato de que oeventual delito tenha sido cometido no interior de embarcao degrande porte. Faz-se necessrio que este se encontre em situao dedeslocamento internacional ou ao menos em situao de potencialdeslocamento. Ficou sublinhado no voto do relator o seguinte:

    Ao que se depreende dos autos, at o momento, que aembarcao encontrava-se ancorada, para fins decarregamento, o qual, inclusive, estava sendo feito porpessoas no caso as vtimas estranhas embarcao, vistoque eram estivadores e no passageiros ou funcionriosdesta (trechos do voto do relator).

    Desta forma, se o navio de grande porte encontra-se noporto ancorado, sem qualquer indcio de deslocamento internacional,

  • a competncia ser da Justia Estadual. Ao inverso, em se tratandode uma embarcao de grande porte, mas j iniciando a partida,partindo, ou j em alto-mar, no caso de ocorrncia de crime em seuinterior, a competncia da Justia Federal. O mesmo raciocnio seaplicar s aeronaves.

    Posio do STF: ressalte-se que o STF, em linhas gerais, temoutro entendimento a respeito do tema (STF, RHC 86.998,rel. Min. Crmen Lcia):

    da Justia Federal a competncia para processar e julgarcrime praticado a bordo de aeronave (art. 109, IX, da CF)[ou navio], pouco importando se esta encontra-se em ar ouem terra e, ainda, quem seja o sujeito passivo do delito.Precedentes. Onde a Constituio no distingue, nocompete ao intrprete distinguir (os grifos so nossos).

    Pensamos que as distines feitas pelo STJ condizem melhorcom os ditames do Direito e da Justia. No se pode confundir oprograma abstrato da norma (contida no art. 109, IX, da CF) com oseu mbito concreto de incidncia. O legislador, quando legisla,pensa em termos bastante abertos (abstratos). Cabe ao juiz, depois, irconcretizando o especfico mbito de incidncia de cada norma,distinguindo os casos. Desde que essas distines sejam feitas deforma razovel, no h como recusar a sua admissibilidade.

    A competncia do Tribunal do Jri estadual residual. O queno for da competncia do Tribunal do Jri federal passa para aesfera de competncia do estadual.

    A competncia do Tribunal do Jri pode ser ampliada porlei? Entendemos que sim. De se observar que a CF assegurou ainstituio do jri com determinada competncia mnima. Ela nodisse que o Tribunal do Jri seria competente somente nos casoscitados (crimes dolosos contra a vida). Alis, o fato de o Tribunal doJri julgar tambm os crimes conexos uma comprovaoinequvoca de que ele pode julgar outros delitos.

  • forte o entendimento doutrinrio no sentido de que acompetncia do Tribunal do Jri no pode ser restringida, mas nadah que impea sua ampliao (nesse sentido: STF, HC 101.542/SP).A competncia do Tribunal do Jri prevista na CF, destarte, amnima. O que ela no pode ser eliminada ou reduzida.

    O julgamento pelo Tribunal do Jri est protegido porclusula ptrea (CF, art. 60, 4, IV) e no pode ser afastado pela lei.No entanto, ao menos em tese, poder a competncia do jri serampliada, porque a CF fixou o mnimo. O legislador ordinrio noest, portanto, impedido de ampli-la.

    O Tribunal do Jri julga apenas crimes dolosos contra a vida,na modalidade tentada ou consumada, comissiva ou omissiva. Ocrime culposo, mesmo sendo contra a vida, da competncia do juizsingular. Tratando-se de crime doloso (intencional), ainda que sejano trnsito, a competncia do Tribunal do Jri.

    Alguns crimes, embora afetem por via reflexa o bemjurdico vida, no so da competncia do Tribunal do Jri. Porexemplo: leso corporal seguida de morte ou outros crimes comresultado morte (extorso mediante sequestro com resultado morte,estupro com resultado morte etc.).

    Nesse rol entram tambm os crimes preterdolosos (dolo noantecedente e culpa no resultado subsequente), assim como oscrimes dolosos cometidos por militares contra militares em servio(a competncia aqui da Justia Militar).

    Quando o militar mata dolosamente um civil ou outromilitar, fora das situaes previstas no art. 9 do CPM, a competncia do Tribunal do Jri. Com o advento da Lei n. 9.299/96, o militar quecometer um crime doloso contra a vida de civil ser julgado peloTribunal do Jri, e no pela Justia Militar, pois os crimes em questodeixaram de ser considerados crimes militares e passaram para acategoria dos comuns.

    Sobre a competncia para o julgamento dos crimes dolososcontra a vida cometidos por militar, vale conferir as ementas abaixo:

    (...) 1. A competncia para o julgamento dos crimes dolosos

  • contra vida cometidos por militar contra civil, ainda que noexerccio da profisso, da Justia Comum, pelo tribunal dojri (inteligncia dos artigos 9 pargrafo nico do CPmilitar, 82, caput e 2 do CPP Militar e 5, inciso XXXVIIIda CR). (...) (STJ, HC 84.123/RJ, 6 T., rel. Min. MariaThereza de Assis Moura, j . 26-2-2008, DJe 24-3-2008).

    (...) 1. Excetuadas as hipteses de crimes dolosos contra avida cometidos contra civil (cuja competncia , emqualquer hiptese, constitucionalmente atribuda ao Tribunaldo Jri), os crimes cometidos por militar contra civil podemter sua competncia deslocada para a justia castrense,desde que a conduta esteja tipificada na Lei Penal Militar etenha sido praticada no exerccio ou em razo do exercciodo servio militar.2. O simples fato de serem os pacientes policiais militaresno caracteriza vis attractiva para a Justia Militar Estadual.3. Como bem registrado pelas instncias ordinrias, no hnos autos informao de que os pacientes teriam cometidoos delitos no exerccio do servio militar. Nada existe nosentido de que se tenham aproveitado de patrulhamentoostensivo, do uso de farda, arma da corporao ou viaturasna prtica dos atos preparatrios e executrios do delito noarrebatamento da vtima e exigncia do resgate. (...) (STJ,RHC 29.350/SP, 5 T., rel. Min. Napoleo Nunes Maia Filho,j . 5-5-2011, DJe 13-6-2011).

    (...) 1. Ainda que se trate de crime doloso contra a vidacometido por militar contra outro militar, a competncia no atrada pela Justia Militar se os fatos no se enquadramnas hipteses do artigo 9 do CPM, que caracterizam o crimemilitar.2. Crime cometido fora do exerccio do servio, sem farda,e com motivao completamente alheia funo, a indicara ocorrncia de crime comum, e no militar.

  • 3. Competente o juzo da 2 Vara do Tribunal do Jri do ForoRegional de Santana Comarca de So Paulo, o juzosuscitante (STJ, CC 91.267/SP, Terceira Seo, rel. Min.Maria Thereza de Assis Moura, j . 13-2-2008, DJ 22-22008,p. 164).

    (...) 1. A Lei 9.299/1996 incluiu o pargrafo nico ao artigo9 do Cdigo Penal Militar, consignando que os crimes neletratados, quando dolosos contra a vida e praticados contracivil, so da competncia da Justia Comum.2. O mesmo diploma legal acrescentou, ainda, um pargrafono artigo 82 no Cdigo de Processo Penal Militar,determinando que a Justia Militar encaminhe os autos doinqurito policial militar Justia Comum, nos casos decrimes dolosos contra a vida cometidos contra civil.3. Diante de tais modificaes, esta Corte Superior de Justiaadotou o entendimento de que, diante da incidnciainstantnea das normas processuais penais disposta no artigo2 do Cdigo de Processo Penal, a Lei 9.299/1996 possuiaplicabilidade a partir da sua vigncia, de modo que todas asinvestigaes criminais e processos em curso relativos acrimes dolosos contra a vida praticados por militar contracivil devem ser encaminhados Justia Comum. (...) (STJ,RHC 25.384/ES, 5 T., rel. Min. Jorge Mussi, j . 7-12-2010,DJe 14-2-2011).

    Civil que mata dolosamente militar das foras armadas:competncia da Justia Militar Federal (no do Tribunal do Jri). Ajurisprudncia do Supremo Tribunal Federal no sentido de serconstitucional o julgamento dos crimes dolosos contra a vida demilitar em servio pela justia castrense, sem a submisso destescrimes ao Tribunal do Jri, nos termos do art. 9, inciso III, d, doCdigo Penal Militar (STF, HC 91.003).

    Existe polmica sobre a competncia para o delito degenocdio. O genocdio crime definido na Lei n. 2.889/56, que

  • assim dispe em seu art. 1:

    Art. 1 Quem, com a inteno de destruir, no todo ou emparte, grupo nacional, tnico, racial ou religioso, como tal:a) matar membros do grupo;b) causar leso grave integridade fsica ou mental demembros do grupo;c) submeter intencionalmente o grupo a condies deexistncia capazes de ocasionar-lhe a destruio fsica totalou parcial;d) adotar medidas destinadas a impedir os nascimentos noseio do grupo;e) efetuar a transferncia forada de crianas do grupo paraoutro grupo.

    Trata-se de crime que tutela a existncia de grupo racial e,por isso, tem carter coletivo ou transindividual. O crime degenocdio em si, considerado isoladamente, no atrai a competnciado Tribunal do Jri.

    Ocorre que uma das formas de praticar genocdio, deacordo com o art. 1, a, da Lei n. 2.889/56, por meio da morte demembros do grupo. Como se sabe, a competncia constitucional parao julgamento de crimes dolosos contra a vida do jri.

    Assim, o STF ao julgar o RE 351.487/RR sublinhou que,havendo concurso formal entre genocdio e homicdio doloso,compete ao Tribunal do Jri da Justia Federal o julgamento doscrimes de homicdio e genocdio, quando cometidos no mesmocontexto ftico.

    Confira-se a ementa do julgado:

    1. CRIME. Genocdio. Definio legal. Bem jurdicoprotegido. Tutela penal da existncia do grupo racial, tnico,nacional ou religioso, a que pertence a pessoa ou pessoasimediatamente lesionadas. Delito de carter coletivo ou

  • transindividual. Crime contra a diversidade humana comotal. Consumao mediante aes que, lesivas a vida,integridade fsica, liberdade de locomoo e a outros bensjurdicos individuais, constituem modalidades executrias.Inteligncia do art. 1 da Lei n. 2.889/56, e do art. 2 daConveno contra o Genocdio, ratificada pelo Decreto n.30.822/52. O tipo penal do delito de genocdio protege, emtodas as suas modalidades, bem jurdico coletivo outransindividual, figurado na existncia do grupo racial, tnicoou religioso, a qual posta em risco por aes que podemtambm ser ofensivas a bens jurdicos individuais, como odireito vida, a integridade fsica ou mental, a liberdade delocomoo etc.2. CONCURSO DE CRIMES. Genocdio. Crime unitrio.Delito praticado mediante execuo de doze homicdioscomo crime continuado. Concurso aparente de normas. Nocaracterizao. Caso de concurso formal. Penascumulativas. Aes criminosas resultantes de desgniosautnomos. Submisso terica ao art. 70, caput, segundaparte, do Cdigo Penal. Condenao dos rus apenas pelodelito de genocdio. Recurso exclusivo da defesa.Impossibilidade de reformatio in peius. No podem os rus,que cometeram, em concurso formal, na execuo do delitode genocdio, doze homicdios, receber a pena destes almda pena daquele, no mbito de recurso exclusivo da defesa.3. COMPETNCIA CRIMINAL. Ao penal. Conexo.Concurso formal entre genocdio e homicdios dolososagravados. Feito da competncia da Justia Federal.Julgamento cometido, em tese, ao tribunal do jri.Inteligncia do art. 5, XXXVIII, da CF, e art. 78, I, cc. art.74, 1, do Cdigo de Processo Penal. Condenao exclusivapelo delito de genocdio, no juzo federal monocrtico.Recurso exclusivo da defesa. Improvimento. Compete aotribunal do jri da Justia Federal julgar os delitos degenocdio e de homicdio ou homicdios dolosos queconstituram modalidade de sua execuo. (STF, RE351.487/RR, Plenrio, rel. Min. Cezar Peluso, 3-8-2006).

  • Outros crimes tambm causam inquietao doutrina porescaparem da competncia do Tribunal do Jri. Dentre eles est olatrocnio. Em que pese j ter havido entendimento contrrio,destacando-se o de Basileu Garcia, prevalece a competncia do juizsingular para o julgamento do latrocnio, conforme texto da Smula603 do STF: A competncia para o processo e julgamento delatrocnio do juiz singular e no do Tribunal do Jri. Entende-seque o latrocnio um crime eminentemente patrimonial e que a vida atingida por complementariedade.

    Nesse sentido decidiu a 6 Turma do STJ:

    (...) 1. Os fatos descritos na denncia se amoldam ao tipopenal de latrocnio e, assim, no procede a assertiva de tratara espcie de crime de competncia do Tribunal do Jri. (...)(STJ, HC 133.364, 6 T., rel. Min. Celso Limongi, j . 15-2-2011, DJe 9-3-2011).

    A Constituio Federal excepcionou o foro por prerrogativade funo para determinados ocupantes de cargos pblicos,afastando (do Tribunal do Jri) o julgamento dos crimes tentados ouconsumados contra a vida em tais circunstncias. Exemplo: se umjuiz de direito comete um crime doloso contra a vida ser julgadopelo seu tribunal respectivo (no pelo Tribunal do Jri). O foro porprerrogativa de funo previsto na CF prepondera sobre acompetncia do Tribunal do Jri.

    O Pleno do STF j deliberou nesse sentido:

    (...) 1. O ru, na qualidade de detentor do mandato deparlamentar federal, detm prerrogativa de foro perante oSupremo Tribunal Federal, onde deve ser julgado pelaimputao da prtica de crime doloso contra a vida. 2. Anorma contida no art. 5, XXXVIII, da Constituio daRepblica, que garante a instituio do jri, cede diante dodisposto no art. 102, I, b, da Lei Maior, definidor da

  • competncia do Supremo Tribunal Federal, dada aespecialidade deste ltimo. Os crimes dolosos contra a vidaesto abarcados pelo conceito de crimes comuns.Precedentes da Corte. 3. A renncia do ru produz plenosefeitos no plano processual, o que implica a declinao dacompetncia do Supremo Tribunal Federal para o juzocriminal de primeiro grau. Ausente o abuso de direito que osvotos vencidos vislumbraram no ato. 4. Autos encaminhadosao juzo atualmente competente (STF, AP 333/PB, TribunalPleno, rel. Min. Joaquim Barbosa, j . 5-12-2007, DJe-065,11-4-2008).

    Vejamos quem no ser julgado pelo Tribunal do Jri nahiptese de cometimento de crime doloso contra a vida: o Presidenteda Repblica e o seu vice; deputados federais e senadores; ministrosdo Supremo Tribunal Federal; o Procurador-geral da Repblica; osministros de Estado; o comandante do Exrcito, Marinha e daAeronutica; ministros dos Tribunais Superiores; membros doTribunal de Contas da Unio; chefes de misso diplomtica decarter permanente e o advogado geral da Unio. Todos serojulgados pelo Supremo Tribunal Federal (CF, art. 102, I e II).

    J os governadores dos Estados e do Distrito Federal, osdesembargadores dos Tribunais de Justia dos Estados e do DistritoFederal, os membros dos Tribunais Regionais; os membros dosTribunais de Contas dos Municpios e os membros do MinistrioPblico da Unio que oficiem perante tribunais sero julgados peloSuperior Tribunal de Justia (CF, art. 105, I, a) (afastando-se acompetncia do Tribunal do Jri no caso dos crimes dolosos contra avida).

    A Constituio Federal tambm previu a competncia doTribunal de Justia do respectivo Estado para julgar: juzes de 1grau; membros do Ministrio Pblico e os prefeitos quandocometerem crime doloso contra a vida.

    Tratando-se de crime contra a vida praticado no mbito dosEstados, competente a Justia Castrense para julg-los, desde que:a) por militar em situao de atividade ou assemelhado, contra

  • militar na mesma situao ou assemelhado; b) por militar emsituao de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito administrao militar, contra militar da reserva, ou reformado, ouassemelhado, ou civil; c) por militar em servio ou atuando em razoda funo, em comisso de natureza militar, ou em formatura, aindaque fora do lugar sujeito administrao militar contra militar dareserva, ou reformado, ou civil (Redao da Lei n. 9.299, de 8-8-1996); d) por militar durante o perodo de manobras ou exerccio,contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil; e)por militar em situao de atividade, ou assemelhado, contra opatrimnio sob a administrao militar, ou a ordem administrativamilitar. De resto, qualquer crime praticado por militar contra civil,mesmo fardado e com a arma da corporao, ser da competnciada Justia Estadual, por meio de sua jurisdio especializada, oTribunal do Jri.

    Este entendimento foi sufragado pelo Supremo TribunalFederal (HC 91.003) ao indeferir habeas corpus em que se alegava aincompetncia da Justia Militar para processar e julgar civildenunciado por homicdio qualificado praticado contra militar, que seencontrava de sentinela em posto de vila militar, com o propsito deroubar-lhe a arma.

    O Tribunal Regional Eleitoral no mais tem competncia noscrimes contra a vida para julgar seus prprios ministros,competncia esta que se deslocou para o Supremo Tribunal Federal,e nem membros dos Tribunais Regionais Eleitorais, que foi deslocadopara o Superior Tribunal de Justia. Como o Tribunal RegionalEleitoral s julga crimes eleitorais, a sua competncia s se darquando houver conexo ou continncia com o crime contra a vida.Contudo, mesmo nesta hiptese, deve ser respeitada a competnciaconstitucional do jri, devendo haver separao do processo. O crimecontra a vida julgado no seu juzo constitucional, o jri, e o crimeeleitoral, julgado perante a Justia Eleitoral, havendo preservao,portanto, das competncias constitucionais.

    Por fim, a competncia do Tribunal de Justia para apreciaros crimes dolosos contra a vida vem prevista na Constituio Federal,nas Constituies Estaduais, nos Cdigos de Organizao Judiciria enos Regimentos Internos dos Tribunais, variando esta competncia de

  • Estado para Estado. Compete-lhe, pois: julgar os juzes estaduais,membros do Ministrio Pblico estadual e juzes auditores da JustiaMilitar. Em relao a estes vigora a competncia constitucional (CF,art. 96, III). Para outras competncias inseridas na ConstituioEstadual (salvo a de deputado estadual, que deve seguir o foro porprerrogativa de funo, ante o princpio da simetria), vigora aSmula 721. Portanto, procuradores do Estado, delegado geral edefensor pblico geral devem ser julgados pelo Tribunal do JriPopular, como j decidido pelo Supremo Tribunal Federal.

    Para o deputado estadual valem as mesmas prerrogativas dodeputado federal (CF, art. 27). Logo, caso ele cometa algum crimedoloso contra a vida ser julgado pelo Tribunal de Justia respectivo(no pelo Tribunal do Jri).

    No caso dos mandatos parlamentares (senador, deputadofederal, estadual ou distrital) a competncia por prerrogativa de foro(de funo), perdura enquanto no cessado o mandato, pois ela inerente ao cargo (funo), e no ao ocupante dele. Por fora darenncia, por exemplo, cessado o mandato, a competncia passapara o Tribunal do Jri.

    O envolvimento de corrus em crime doloso contra a vida,havendo em relao a um deles foro especial por prerrogativa defuno, previsto constitucionalmente, no afasta os demais do juiznatural, ut art. 5, XXXVIII, alnea d, da Constituio (STF, HC73.235). Em caso de coautoria em crime doloso contra a vida, oprivilgio de foro ostentado por um dos agentes, porquedesembargador, no atrai para competncia do Superior Tribunal deJustia o julgamento do outro envolvido, que deve ser julgado peloTribunal do Jri, seu juiz natural (STJ, Rcl 2.125/CE). A Smula 704do STF (que diz que no existe prejuzo para o corru quando ele julgado juntamente com quem goza de foro especial porprerrogativa de funo) deve ser bem compreendida: ela no valepara a hiptese do crime de competncia do Tribunal do Jri porque,neste caso, estamos diante de competncia constitucional. H, ento,um concurso entre uma competncia de foro especial e outraconstitucional. Ambas devem ser observadas. Ou seja: os processosso separados (respeitando-se as duas competncias constitucionais).O corru (sem foro especial) vai ser julgado pelo Tribunal do Jri.

  • Nesse sentido:

    (...) 1. A jurisprudncia desta Corte e do Supremo TribunalFederal tem proclamado que, em caso de crime dolosocontra a vida cometido por mais de uma pessoa, aquele queno ostenta foro por prerrogativa de funo deve ser julgadoperante o Jri Popular, em consonncia com o preceitonormativo do art. 5, XXXVIII, d, da Constituio Federal(STJ, HC 52.105/ES, 6 T., rel. Min. Og Fernandes, j . 10-5-2011, DJe 13-6-2011).

    No se pode confundir a situao do vereador com a dodeputado estadual, visto que o vereador no tem foro especial porprerrogativa de funo previsto na CF. Quando o foro especial porprerrogativa de funo vem fixado exclusivamente na ConstituioEstadual (ou Distrital), prepondera a competncia do Tribunal doJri. Nessa situao enquadram-se os vereadores.

    As Constituies do Piau e do Rio de Janeiro, por exemplo,preveem competncia por prerrogativa de foro aos vereadores. Casoesse vereador venha a praticar algum crime doloso contra a vida,prevalece a competncia do Tribunal do Jri que est contempladana CF (Smula 721 do STF). Ou seja: a competncia contemplada naCF prepondera sobre a competncia prevista exclusivamente naConstituio Estadual.

    A 5 Turma do STJ j decidiu que:

    (...) I. Em matria de competncia penal, o entendimentojurisprudencial dos Tribunais Superiores no sentido de queo foro por prerrogativa de funo, quando estabelecido naConstituio Federal, prevalece mesmo em face dacompetncia do Tribunal do Jri, pois ambos encontram-sedisciplinados no mesmo diploma legislativo.II. De outro lado, estabelecida a imunidade processual naConstituio do Estado, esta competncia no poder

  • prevalecer sobre a Carta Magna, norma de grau hierrquicosuperior. Inteligncia da Smula 721/STF.III. A garantia do cidado de ser julgado pelos seus paresperante o Tribunal do Jri prevalece sobre o foro especialpor prerrogativa de funo estabelecido em Constituioestadual, pois os direitos fundamentais inseridos no art. 5 daConstituio Federal, inalienveis e indisponveis, no podemser suprimidos nem mesmo pelo poder constituinte derivado,pois alado condio de clusula ptrea.IV. O verbete sumular n. 721/STF no conflita com apossibilidade de simetria que a Constituio Federal admitepara a Organizao da Justia Estadual (artigos 25 e 125, 1) e nem com a aplicao extensiva do art. 27, 1 aosDeputados Estaduais em determinados temas,particularmente no da inviolabilidade e da imunidade dosDeputados Federais.V. Abrangncia da prerrogativa de cargo ou funo naexpresso inviolabilidade e imunidade (art. 27, 1, da CF),autorizando s Constituies Estaduais a estender aosDeputados Estaduais as mesmas imunidades einviolabilidades, a compreendida a prerrogativa de foro.VI. Inaplicabilidade da Smula 721/STF aos DeputadosEstaduais, por extenso da garantia do art. 27, 1 daConstituio Federal.VII. Ordem concedida, nos termos do voto do Relator (STJ,HC 109.941/RJ, 5 T., rel. Min. Gilson Dipp, j . 2-12-2010,DJe 4-4-2011).

    Um caso especial de subtrao da competncia do Tribunaldo Jri reside na absolvio sumria (CPP, art. 415), que ser tratadamais adiante. Nesse caso, comprovada desde logo a noresponsabilidade penal do agente (inexistncia do fato, ouinexistncia do crime, ou inexistncia de responsabilidade por ele),impe-se ao juiz referida absolvio, visto que seria grande injustialevar ao plenrio do jri quem no deve ser penalmenteresponsabilizado.

  • Havendo concorrncia (concurso) entre o Tribunal do Jriestadual e o federal, prepondera este ltimo (que tem fora atrativa). que em matria de competncia a CF firmou vrias regrasexplcitas e adotou, quanto Justia Estadual, o critrio daresidualidade. A competncia da Justia Estadual residual. O queno se encaixa nas demais competncias, fica com a JustiaEstadual. Tratando-se de um crime comum federal (no dacompetncia do Tribunal do Jri) e outro da competncia do jriestadual, devem os processos ser separados. O crime dacompetncia da Justia Federal deve ser julgado por esta Justia; ocrime do jri deve ser julgado pelo Tribunal do Jri estadual (duascompetncias constitucionais: ambas devem ser observadas).

    O penalmente incapaz em razo da menoridade tambmno julgado pelo Tribunal do Jri. Assim, ato infracional queofende o bem jurdico vida dolosamente da competncia da Varada Infncia e da Juventude.

    A competncia do Tribunal do Jri constitui exemplo decompetncia funcional horizontal por objeto de juzo, ou seja, aolongo do processo o juiz togado cumpre determinadas funes,enquanto os jurados cumprem outras. Quem julga, no plenrio dojri, so os jurados (votando os quesitos pertinentes). Quem preside ojulgamento o juiz togado. Cada qual, horizontalmente, tem suacompetncia funcional.

    O foro (territorial) competente, de outro lado, o do localonde se consumou o crime (CPP, art. 70). Onde se consuma a morte.Nos casos de crimes plurilocais, em que a conduta se d numacomarca e o resultado morte em outra, h jurisprudnciaflexibilizando a regra do art. 70, para admitir como foro competenteo do local da conduta (no do resultado). Nesse sentido o julgamentodo STJ, no HC 196.458 (relacionado com o famoso caso Mizael, deGuarulhos/SP).

  • Captulo 5

    Garantias Constitucionais do Tribunal do Jri

    De acordo com a Constituio Federal (art. 5, XXXVIII),esto asseguradas instituio do jri as seguintes garantias: (a) aplenitude de defesa, (b) o sigilo das votaes e (c) a soberania dosveredictos.

    O julgamento pelo Tribunal do Jri no Brasil um direito euma garantia constitucionais, que no podem ser eliminados pornenhum ato legislativo. No pode ser objeto de deliberao qualquerproposta de Emenda Constitucional tendente a abolir os direitos egarantias individuais (CF, art. 60, 4, IV). Nem sequer por EmendaConstitucional o Tribunal do Jri pode ser eliminado. As suas trscaractersticas constitucionais proeminentes (plenitude de defesa,sigilo das votaes e soberania dos veredictos) sero analisadas emseguida.

    1. Plenitude de defesa

    No Tribunal do Jri o que vale a plenitude de defesa, noapenas a ampla defesa. Toda forma de defesa , em princpio,vlida, no procedimento do jri, incluindo a autodefesa (feita peloacusado), assim como a defesa tcnica (desenvolvida pelo defensor).Exemplo: o advogado pode fazer apelo emocional aos jurados paraconseguir a absolvio. Teses que normalmente no so aceitas pelo

  • juiz singular (por exemplo: coculpabilidade da sociedade) podem serinvocadas no plenrio do jri.

    Em julgamentos realizados pela 5 Turma do STJ foireconhecido que o direito plenitude de defesa garantido aos russubmetidos ao Tribunal do Jri:

    (...) 2. O direito plenitude de defesa garantido aos Russubmetidos ao Tribunal do Jri, cabendo ao magistradoincluir no questionrio tese levantada pelo Ru no momentode seu interrogatrio, ainda que no apresentada pela defesatcnica, sob pena de nulidade, nos termos do art. 484, incisoIII, do Cdigo de Processo Penal (com redao anterior vigncia da Lei n. 11.689/2008) e por fora do art. 482,pargrafo nico, do referido estatuto.3. No entanto, no caso em comento, no se observa dointerrogatrio do Ru qualquer tese relativa legtimadefesa, o que afasta a impugnao de nulidade por ausnciade quesito obrigatrio.4. Hiptese em que as demais alegaes relativas formulao dos quesitos constituiriam mera irregularidadesem aparente prejuzo para a defesa e, como no foramsuscitadas no momento oportuno, tornaram-se preclusas.5. Recurso parcialmente conhecido e, nessa parte,desprovido (STJ, REsp 737824/CE, 5 T., rel. Min. LauritaVaz, j . 19-11-2009, DJe 15-12-2009).

    (...) 1. A garantia constitucional ampla defesa nosprocessos judiciais, prevista no artigo 5, inciso LV, daConstituio Federal, engloba a autodefesa, exercida peloprprio acusado, e a defesa tcnica, a qual deve ser plena eefetiva, sob pena de ofensa ao aludido preceito. No caso doprocedimento do Tribunal do Jri, o direito defesa ganhadestaque at mesmo pela Carta Poltica, na qual se asseguraaos acusados pela prtica de crimes dolosos contra a vida aplenitude de defesa (artigo 5, inciso XXXVIII, alnea a).

  • 2. Embora haja entendimentos doutrinrios ejurisprudenciais em sentido contrrio, a falta deapresentao de alegaes finais, ainda que se trate doprocedimento do Tribunal do Jri, certamente no secoaduna com a aludida garantia constitucional, j que esta a oportunidade colocada disposio da defesa para quepossa arguir teses defensivas capazes de, inclusive, evitar asubmisso do acusado a julgamento pelos seus pares,exsurgindo, da, a sua imprescindibilidade.(...) 4. Ordem concedida para anular o processo desde a fasedas alegaes finais, inclusive, devendo os atos processuaisserem renovados de acordo com as alteraes feitas com oadvento da Lei n. 11.689/2008, conservando-se a situaoprisional do paciente (STJ, HC 101.635/SP, 5 T., rel. Min.Jorge Mussi, j . 1-9-2009, DJe 13-10-2009).

    A defesa plena no se esgota apenas nos argumentosjurdicos, e sim, tambm, em recursos psicolgicos emocionais, emteses culturais etc. Inclusive carta psicografada j foi admitida noplenrio do Tribunal do Jri (TJ/RS, Apelao Crime 70016184012, 1Cmara Criminal, rel. Des. Manuel Jos Martinez Lucas, j . 11-11-2009, www.tjrs.jus.br).

    A defesa no Tribunal do Jri deve ser ampla e efetiva, sobpena de dissoluo do Conselho de Julgamento. Caso o juiz presidenteentenda que o ru no foi devidamente defendido pode dissolver oConselho, marcando novo julgamento, com uma nova composio.No se pode contentar com apenas uma regular defesa. Omandamento constitucional a exige plena, para que o valor liberdadeno seja colocado em risco.

    A defesa, no Tribunal do Jri, no pode ser apenas formal.Tem que ser efetiva, real, eficaz, mesmo porque os jurados nofundamentam seus votos. Enquanto para os juzes togados vale oprincpio do convencimento motivado (decises fundamentadas),para os jurados rege o princpio da livre convico (deciso nofundamentada) (STJ, HC 82.023/RJ).

    A fase dos debates orais (em plenrio) desenvolve-se em

  • quatro etapas: sustentao oral da acusao, sustentao oral dadefesa, rplica (que facultativa) e trplica. A trplica (quepressupe o uso da rplica) , teoricamente, a ltima etapa da defesaoral. A polmica aqui a seguinte: pode a defesa (j que estfalando por ltimo) levantar tese nova, at ento no explorada?

    Na jurisprudncia h acrdos nos dois sentidos. Admitindoa inovao na trplica: STJ, HC 61.615/MS, rel. Min. Nilson Naves:Tribunal do jri (plenitude de defesa). Trplica (inovao).Contraditrio/ampla defesa (antinomia de princpios). Soluo(liberdade). 1. Vem o jri pautado pela plenitude de defesa(Constituio, art. 5, XXXVIII e LV). -lhe, pois, lcito ouvir, natrplica, tese diversa da que a defesa vem sustentando. 2. Havendo,em casos tais, conflito entre o contraditrio (pode o acusadorreplicar, a defesa, treplicar sem inovaes) e a amplitude de defesa,o conflito, se existente, resolve-se a favor da defesa privilegia-se aliberdade (entre outros, HC 42.914, de 2005, e HC 44.165, de 2007).3. Habeas corpus deferido.

    Em sentido contrrio: STJ, REsp 65.379/PR, 5 Turma, rel.Min. Gilson Dipp, j . 16.04.2002: I. No h ilegalidade na deciso queno incluiu, nos quesitos a serem apresentados aos jurados, tese arespeito de homicdio privilegiado, se esta somente foi sustentada porocasio da trplica. II. incabvel a inovao de tese defensiva, nafase de trplica, no ventilada antes em nenhuma fase do processo,sob pena de violao ao princpio do contraditrio. III. Recursodesprovido.

    Apesar das controvrsias, de acordo com nossa opinio noh nenhuma dvida de que a defesa pode sustentar tese nova natrplica. O impedimento significa cercear a plena defesaconstitucional. De qualquer modo, parece tambm no haver dvidade que a acusao tem que ter direito ao contraditrio, sob pena deanulao do julgamento.

    A primeira tese (que admite a inovao na trplica) atende oprincpio constitucional da plena defesa e pode ser conciliada com ocontraditrio (como veremos em seguida). A segunda tese viola oprincpio da plena defesa, em nome do contraditrio. Havendocoliso entre dois princpios constitucionais (entre duas garantias

  • constitucionais), a interpretao que deve preponderar nunca podeser a que elimina a incidncia deles (delas), ao contrrio, a queconcilia os princpios em conflito, no a que elimina os dois.

    De outro lado, o primeiro ponto de vista (conciliao dosprincpios antagnicos) o nico resultado que no conduz nulidadedo julgamento. O segundo posicionamento totalmente equivocadoporque, ao cercear a plenitude de defesa, leva nulidade dojulgamento.

    Tecnicamente e garantistamente superiora, muito superiora,portanto, a primeira tese, cabendo ao juiz disciplinar e proporcionaro contraditrio, no caso de tese nova na trplica, visto que no existepreviso legal para esse incidente. Razoabilidade eproporcionalidade o que se espera dele. A concesso de algunsminutos extras para a acusao para fazer cumprir o princpio docontraditrio nos parece uma medida muito salutar (que faz parte dopoder geral de cautela do juiz).

    2. Sigilo das votaes

    O sigilo das votaes exige, desde logo, aincomunicabilidade entre os jurados (sobre o fato em julgamento). Osistema jurdico brasileiro distinto do norte-americano. proibidoqualquer tipo de comunicao ou de dilogo sobre a deciso a sertomada, sobre as impresses pertinentes ao caso em anlise ou sobreeventuais dvidas sobre o fato sob julgamento.

    Os jurados votam em sigilo, sem qualquer possibilidade decomunicao ou discusso entre eles sobre o caso. No possvelidentificar o voto de cada jurado. A votao ocorrer no plenrio dotribunal, esvaziando-o previamente, ou em sala especial, na presenados jurados, do juiz presidente, do defensor, do membro doMinistrio Pblico, do assistente ou querelante e do escrivo e oficialde justia (CPP, art. 485).

    Em que pese o manto do sigilo das votaes, os juradospodero se comunicar sobre assuntos triviais, no relacionados aojulgamento. Mas nenhum jurado est autorizado a tentar influenciaroutro jurado sobre o resultado da votao.

  • A 5 Turma do STJ ressaltou o sigilo das votaes emjulgamento de outubro de 2011:

    1. (...)2. A Constituio Federal, em seu art. 5, inciso XXXVIII,alneas b e c, conferiu ao Tribunal do Jri a soberaniados seus veredictos e o sigilo das votaes, tratando-se deexceo regra contida no inciso IX do art. 93, razo pelaqual no se exige motivao ou fundamentao das decisesdo Conselho de Sentena, fazendo prevalecer, portanto,como sistema de avaliao das provas produzidas a ntimaconvico dos jurados.3. Aps a produo das provas pela defesa e pela acusaona sesso plenria, a Corte Popular to somente respondesim ou no aos quesitos formulados de acordo com a livrevalorao das teses apresentadas pelas partes. Por estarazo, no havendo uma exposio dos fundamentosutilizados pelo Conselho de Sentena para se chegar deciso proferida no caso, impossvel a identificao dequais provas foram utilizadas pelos jurados para entenderpela condenao ou absolvio do acusado, o que tornainvivel a constatao se a deciso baseou-seexclusivamente em elementos colhidos durante o inquritopolicial ou nas provas produzidas em juzo, conformerequerido na impetrao.4. Alm disso, da leitura das atas de audincias acostadas aosautos, observa-se que os depoimentos das testemunhasforam renovados em juzo com o respeito ao contraditrio,provas estas que seriam idneas a serem utilizadas pelosjurados para entender pela condenao do acusado, razopela qual no se vislumbra a mcula aventada. (...) (STJ, HC209.107/PE, 5 T., rel. Min. Jorge Mussi, j . 4-10-2011, DJe19-10-2011).

    O STF j entendeu que o jurado poder fazer uso do telefonecelular, desde que no exteriorize qualquer referncia ao julgamento

  • (STF, AO 1.046). Uma ligao para um familiar para cuidar deassunto particular, por exemplo, no seria causa de nulidade, pois noviolaria o sigilo das votaes.

    A quebra do sigilo das votaes, uma vez constatadoprejuzo, dar ensejo nulidade do julgamento.

    O sigilo da votao constitui justificativa para a existncia da(combatida) sala secreta, que nunca foi julgada inconstitucional peloSTF. Na sala secreta so procedidas as votaes dos quesitos. Avotao (o voto) sigilosa (sigiloso), mas no o julgamento, que celebrado com a presena do juiz e das partes. A sala secreta criticada porque violaria o princpio da publicidade.

    A polmica sobre o sigilo das votaes tanta que parte dadoutrina brasileira afirma ser desnecessria a existncia de salaespecial, sendo certo que a presena do pblico nada atrapalharia adeciso dos jurados. Porm, em que pese entendimento contrrio, alei delimita os participantes do momento da votao, excluindo aplateia do referido ato, sob pena de nulidade (CPP, art. 485).

    De acordo com nossa opinio, deve ser mantida a atualestrutura sigilosa na votao, j que os jurados no possuem amesma segurana que os juzes togados. So pessoas do povo queno contam com nenhuma proteo especial. So, ademais, maissuscetveis a influncias externas. A atual regulamentao davotao sigilosa no inconstitucional (ao contrrio, conta comproclamao explcita na CF art. 5, XXXVIII, b).

    Antes da reforma do procedimento do jri levada a cabopela Lei n. 11.689/2008, a divulgao do resultado unnime dojulgamento (7 x 0) violava o sigilo das votaes (porque se descobriao sentido do voto de cada um dos jurados). Atualmente, alcanando-se o quarto voto em determinado sentido (sim ou no), o juiz nomais proclamar o teor dos votos restantes (CPP, art. 489).

    A deciso no Tribunal do Jri tomada por maioria (quatrovotos), de modo que alcanada a deliberao majoritria no maispersiste razo para a continuao da abertura dos demais votos pelojuiz presidente.

    controvertido na doutrina at quando perdura o sigilo das

  • votaes. Com certeza o sigilo est garantido at o momento dafinalizao das votaes de todos os quesitos. Mas no convenienteque esse sigilo seja quebrado em relao ao pblico, depois devotados todos os quesitos, antes da leitura da sentena no plenrio dojri.

    3. Soberania dos vereditos

    Por veredito (ou veredicto) entende-se a deciso tomadapelos jurados, no Tribunal do Jri. A deciso do juiz (monocrtico) denominada sentena ou deciso interlocutria. A deciso colegiada(nos tribunais) se exterioriza por meio de um acrdo.

    A soberania dos veredictos significa que somente os jurados,e mais ningum, so os competentes para o julgamento da causa.So os juzes naturais naqueles casos submetidos a julgamento noTribunal do Jri. Os juzes ou tribunais no podem substituir osjurados nessa tarefa (STF, HC 85.904/SP).

    Como os jurados devem julgar? Eles devem examinar ocaso com imparcialidade e proferir a deciso de acordo com aconscincia de cada um e os ditames da justia (CPP, art. 472).Note-se que o CPP no estabeleceu que o julgamento deve seguir osexatos termos da lei. Quando a lei conflita com o direito, vale odireito. Quando o direito conflita com a justia, vale a justia. Hsituaes em que, embora no comprovada cristalinamente alegtima defesa ou uma excludente de culpabilidade, ainda assim osjurados absolvem o acusado (esse foi o caso de Severina Maria daSilva, que mandou matar o prprio pai, que a estuprou desde os 9anos de idade, tendo com ela 12 filhos. Quando ele tentou estuprar afilha de 11 anos, Severina mandou mat-lo e acabou sendo absolvida 4 Vara do Tribunal do Jri em Recife, j . 25-8-2011,www.diariodepernambuco.com.br).

    A deciso dos jurados no pode ser modificada pelo juizpresidente do Tribunal do Jri (ou por qualquer outro tribunal), aindaque a entenda desarrazoada e dela discorde. Trata-se de decisosoberana. Logo, o mrito da deciso dos jurados no pode seratingido.

    Mas a soberania dos vereditos encontra limite e

  • flexibilizada quando a deciso deles manifestamente contrria prova dos autos. Nesse caso cabe recurso de apelao (CPP, art. 593,III, d). Em situaes excepcionais, inclusive reviso criminal (CPP,art. 621).

    Quando a deciso dos jurados contraria totalmente a provados autos (CPP, art. 593, III, d), um novo julgamento ser realizado,com a convocao de novos jurados. O Tribunal recursal, nessecaso, rescinde (anula) o primeiro julgamento (STJ, HC 37.687/SP) edetermina a realizao do segundo.

    Nesse sentido:

    (...) 1. A determinao de realizao de novo julgamentopelo Tribunal do Jri no contraria o princpio constitucionalda soberania dos vereditos quando a deciso formanifestamente contrria prova dos autos. Precedentes. 2.Concluir que o julgamento do Tribunal do Jri que absolveuos Pacientes no teria sido contrrio prova dos autos e queo Conselho de Sentena teria optado pela verso dos fatos dadefesa impe, na espcie vertente, revolvimento do conjuntoprobatrio, o que ultrapassa os limites do procedimentosumrio e documental do habeas corpus. 3. Ordemdenegada (STF, HC 108.996/BA, 1 T., rel. Min. CrmenLcia, j . 18-10-2011, DJe-212, 8-11-2011).

    (...) 1. A teor do entendimento desta Corte, no manifestamente contrria prova dos autos a deciso dosjurados que acolhe uma das verses respaldada no conjuntoprobatrio produzido.2. Demonstrada, pela simples leitura do acrdo impugnado,a existncia evidente de duas verses, a deciso dos juradosh que ser mantida em respeito ao princpio da soberania dosvereditos (CF art. 5, inciso XXXVIII, alnea c).3. Somente nas hipteses em que a tese acolhida peloConselho de Sentena no encontra mnimo lastro probatrionos autos que se permite a anulao do julgamento, nos

  • termos do disposto no art. 593, inciso III, do Cdigo deProcesso Penal, situao em que os jurados decidemarbitrariamente, divergindo de toda e qualquer evidnciaprobatria, o que, definitivamente, no corresponde ao casovertente. Precedentes.4. Ordem concedida para cassar o acrdo impugnado,restabelecendo a deciso dos jurados, pela absolvio doPaciente (STJ, HC 116.924/SC, 5 T., rel. Min. Laurita Vaz, j .4-8-2011, DJe 31-8-2011).

    correto afirmar, portanto, que o Tribunal recursal profere,nessa situao, um juzo rescindente (anulao ou resciso doprimeiro julgamento), mas no um juzo rescisrio (que significa asubstituio da deciso dos jurados pela deciso do Tribunalrecursal). O Tribunal recursal rescinde o primeiro julgamento, masno julga o mrito do caso, substituindo com sua deciso a dosjurados.

    O Tribunal recursal, quando julga recurso contra as decisesdo Tribunal do Jri, s est autorizado a fazer juzo rescisrio(judicium rescisorium) naquela parte da sentena que dacompetncia exclusiva do juiz togado. Exemplo: correo de umapena mal fixada pelo juiz presidente do jri.

    A soberania dos veredictos no tem carter absoluto. Arecorribilidade das decises do Tribunal do Jri est devidamenteassegurada no nosso ordenamento jurdico. Mas o habeas corpus no o instrumento adequado para combat-las, salvo quando existepatente constrangimento ilegal. A apelao recebida no seu efeitodevolutivo, sendo certo que a fundamentao do recurso contra asdecises do jri vinculada. Alis, dispe a Smula 713 do STF que oefeito devolutivo da apelao contra as decises do jri adstrito aosfundamentos da sua interposio.

    Reforando a soberania dos veredictos, certo que se tornouincabvel a interposio do protesto por novo jri, aps o advento daLei n. 11.689/2008. Sobre a retroatividade ou no dessa alteraoexiste polmica. Primeira corrente: a lei nova irretroativa porqueferiria a ampla defesa (ela no tem cunho s processual, e sim

  • tambm penal, na medida em que est tolhendo um recurso e apossibilidade de um novo julgamento, que jamais pode trazerprejuzo ao ru); para a segunda corrente a mudana no temqualquer efeito penal (no norma de contedo misto). Tratando-sede norma que rege o recurso, esta norma tipicamente processual,sendo retroativa e aplicando-se de forma imediata (CPP, art. 2).Tambm tem incidncia imediata a nova forma de intimao dasentena de pronncia, evitando a paralisao do processo noscrimes inafianveis.

    A 5 Turma do STJ entendeu que:

    (...) 1. A recorribilidade se submete legislao vigente nadata em que a deciso foi publicada, consoante o art. 2 doCdigo de Processo Penal. Incidncia do princpio tempusregit actum.2. O art. 4 da Lei n. 11.689/2008, que revogouexpressamente o Captulo IV do Ttulo II do Livro III, doCdigo de Processo Penal, afasta o direito ao protesto pornovo jri quando o julgamento pelo Conselho de Sentenaocorrer aps a sua entrada em vigor, ainda que o crimetenha sido cometido antes da extino do recurso.3. Recurso desprovido (STJ, RHC 26.033/RO, 5 T., rel. Min.Laurita Vaz, j . 28-6-2011, DJe 1-8-2011).

    No caso da apelao, a soberania dos veredictos assegurada com a devoluo dos autos ao jri para que profira novojulgamento, sendo lcita, no caso da apelao fundada no art. 593,inciso III, letra d, a opo por parte dos jurados de uma das versescontidas no processo. No se admite, porm, a deciso arbitrria,completamente divorciada da prova dos autos, visto que esta fere oprincpio da soberania dos veredictos, e tampouco quando nos autostenha uma nica verso.

    Tambm revela respeito soberania dos veredictos o fato dea deciso de pronncia no permitir o excesso de linguagem do juiz,ou seja, o juiz no pode fazer juzos de mrito, como se fosse

  • condenar. A competncia para o julgamento dos jurados, no dojuiz.

    A soberania dos veredictos fundamental, mas ela no podeexterminar nem arrefecer o direito plenitude de defesa ou oprincpio da presuno de inocncia. Ademais, o que est em jogo a liberdade do sujeito, direito fundamental de todo ser humano, razopela qual a soberania dos veredictos no absoluta, em princpio.

    A soberania deve ser respeitada quando os jurados decidempela segunda vez no mesmo sentido. Agora, mesmo que a decisoseja contrria s provas dos autos, no cabe novo recurso deapelao. A apelao, por esse motivo, s cabe uma vez.

    Celebrado o segundo julgamento, caso a deciso dos juradosseja absolutria, nada mais pode ser feito, visto que no ordenamentojurdico brasileiro no cabe reviso criminal contra o ru. Se adeciso injusta condenatria, cabe reviso criminal. A sentenacondenatria, como se v, no gera coisa julgada soberana.

    Em sede de reviso criminal, alis, quando surge prova novarelacionada com a inocncia do ru, os tribunais acabam absolvendoo acusado, sem mandar o caso para novo julgamento. O tribunalconta aqui com a possibilidade do juzo rescisrio (seu acrdosubstitui a sentena anterior). O correto seria a designao de novojri, mas, como esto em jogo os valores da liberdade e dadignidade, delibera-se prontamente a absolvio, sem novojulgamento pelo Tribunal do Jri. Salienta-se que a garantia dareviso criminal (pro reo) maior que a garantia do julgamento peloreferido tribunal.

  • Captulo 6

    Primeira Fase do Procedimento do Jri JudiciumAccusationis

    O procedimento do jri escalonado ou bifsico. A primeirafase denominada judicium accusationis ou instruo preliminar (ou,ainda, fase da formao da culpa ou sumrio da culpa). A segundafase chamada de judicium causae, que constitui o momento dojulgamento do processo.

    Nucci entende que o procedimento do jri, sobretudo depoisda reforma da Lei n. 11.689/2008, conta, na verdade, com trs fases,visto que o CPP, agora, teria dado ntida autonomia para apreparao do processo para o julgamento em plenrio (CPP, art. 422e ss.). Formao da culpa, preparao do processo e o julgamentopropriamente dito seriam as trs fases do procedimento.

    Formalmente podemos afirmar que o procedimento do jritem trs fases. Mas a doutrina e a jurisprudncia majoritriascontinuam falando em duas fases. Nossa posio: o procedimento dojri conta com duas fases (formao da culpa e julgamento docaso), sendo a segunda antecedida de uma etapa de preparao.

    A primeira fase (judicium accusationis) ocorre perante o juizsumariante (juiz togado que preside a instruo preliminar) quedecidir se o fato criminoso em anlise tem ou no viabilidade(plausibilidade), se ou no da competncia do Tribunal do Jri, sedeve ou no ser levado ao julgamento dos jurados.

  • A deciso do juiz que encerra essa primeira fase ser (a) depronncia, (b) de impronncia, (c) de absolvio sumria ou (d) dedesclassificao do crime. Em casos excepcionais pode haverdeciso mista: pronncia de um crime e impronncia do outro, porexemplo. Pronncia de um ru e impronncia do outro.

    Na hiptese de pronncia, logo que preclusas as viasrecursais, ter incio a fase preparatria do julgamento em plenrio,a ser celebrado pelo Conselho de Julgamento, sob a presidncia dojuiz togado.

    Quando do encerramento da primeira fase do procedimentovigora o juzo de probabilidade, ou seja, havendo provas mnimassobre a materialidade (existncia do crime) e autoria, suficientespara conferir justa causa ao prosseguimento da ao penal(relevantes para no se dizer que se trata de uma acusaotemerria, totalmente infundada), o juiz dever pronunciar oacusado, deixando a deciso de certeza (alm da dvida razovel)para o Conselho de Julgamento.

    O judicium accusationis acontece da seguinte maneira: umavez oferecida a denncia pelo Ministrio Pblico ou a queixa peloofendido ou seu representante legal (a queixa, nesse caso, diz respeito ao penal privada subsidiria da pblica CPP, art. 29), o juizsingular dever decidir pela rejeio preliminar da pea acusatria(CPP, art. 395) ou pelo seu recebimento (se presentes as condiesda ao e pressupostos processuais).

    A acusao poder arrolar at o mximo de oitotestemunhas, na denncia ou na queixa. Caso haja mais de oitotestemunhas, pode a acusao pedir para que sejam ouvidas comotestemunhas do juzo. O juiz decidir, nessa situao, se ouve ou notais testemunhas.

    Se a denncia for recebida, ser o acusado citado pararesponder a acusao por escrito, ou seja, para apresentar sua defesapreliminar, no prazo de 10 dias (CPP, art. 406).

    importante lembrar que se a denncia tratar de crimedoloso contra a vida conexo com infrao de menor potencialofensivo, haver desmembramento dos processos. Cpias dos autos

  • sero remetidas ao Juizado Especial Criminal para deciso sobre ainfrao de menor potencial ofensivo.

    Apesar de existirem posicionamentos no sentido contrrio,prevalece o entendimento de que a competncia do Juizado Especial absoluta. Logo, celebra-se o desmembramento dos processos,processando-se a infrao de menor potencial ofensivoseparadamente.

    O instituto da suspenso condicional do processo tambmpoder ser proposto ao acusado da prtica de crime doloso contra avida. Ser vivel nos seguintes crimes (cuja pena mnima no superior a um ano): aborto provocado pela gestante ou com o seuconsentimento (CP, art. 124); aborto provocado por terceiro com oconsentimento da gestante (CP, art. 126); tentativa de infanticdio(CP, art. 123); tentativa de aborto provocado por terceiro sem oconsentimento da gestante. Havendo aceitao, o processo ficarsuspenso, nos termos do art. 89 da Lei n. 9.099/95.

    Aps o recebimento da denncia, o marco inicial do prazopara a apresentao da defesa (resposta escrita) ser a partir doefetivo cumprimento do mandado, no da data da sua juntada aosautos (CPP, art. 406, 1). Cuidando-se de prazo processual, no secomputa o dia do incio e conta-se o dia do vencimento.

    No caso de citao invlida ou de citao por edital, conta-seo prazo (para a apresentao da defesa escrita preliminar) da data docomparecimento, em juzo, do acusado ou de defensor constitudo(CPP, art. 406, 1).

    O acusado poder ser citado por hora certa, que acontecequando ele deliberadamente se oculta para no ser citado (CPP, art.362). O processo ser suspenso se o acusado for citado por edital edeixar de comparecer ou no apresentar advogado constitudo para acausa (CPP, art. 366).

    Na resposta acusao (defesa prvia) toda matriarelevante para a defesa poder ser alegada pelo acusado, comoquestes preliminares e teses relativas ao mrito da causa. Poderoferecer documentos e justificaes, apontar provas que pretendeproduzir e indicar at oito testemunhas que devero ser intimadaspara posterior audincia.

  • A qualificao das testemunhas com a indicao do local noqual podero ser encontradas nus da defesa (CPP, art. 406, 3).Caso a defesa queira arrolar mais de oito testemunhas, as excedentes(a oito) podero ser ouvidas como testemunhas do juzo, desde que ojuiz entenda ser o caso.

    Prev a legislao processual que as matrias relacionadass excees (CPP, arts. 95 a 112) sero processadas em apartado(CPP, art. 407). So questes incidentais que vo ser processadasseparadamente, respeitando-se o contraditrio e a ampla defesa.

    Como se v, na resposta o acusado poder arguirpreliminares que, como o nome indica, so todas as matrias de fatoou de direito que a parte tem interesse em levar ao conhecimento dojuzo, em primeiro lugar. Exemplificando: se o crime est prescrito,no adianta discutir o mrito, devendo a defesa tcnica arguir estefato como preliminar, que pode extinguir o processo sem julgamentodo mrito. Pode ainda arguir excees, que so formas de defesaindireta no processo penal. As excees sero processadas emapartado, nos termos dos arts. 95 a 112 do CPP.

    A manifestao da defesa agora uma pea imprescindvel.Se o acusado permanecer inerte, um defensor ser nomeado parapatrocinar os seus interesses, tendo o prazo de 10 dias (CPP, art. 408).Isso era diferente na legislao anterior que previa a faculdade daapresentao da defesa prvia. Antes era facultativa, agora obrigatria.

    No julgamento do RHC 22.387, a 5 Turma do STJ decidiuque:

    (...) 1. De acordo com o sistema da instrumentalidade dasformas, abertamente adotado pela jurisprudncia dosTribunais Superiores, no se declara a nulidade do ato sem ademonstrao do efetivo prejuzo para a parte em razo dainobservncia da formalidade prevista em lei. Precedentes.2. Na hiptese dos autos, os patronos da recorrente deixaramde demonstrar qual o efetivo prejuzo suportado pela defesacom a omisso do defensor dativo, j que, antes do advento

  • da Lei n. 11.719/2008, a defesa prvia no era consideradapea obrigatria, razo pela qual a sua falta, por si s, noimplica na nulidade do processo. Precedentes.3. Ademais, quedando-se os causdicos sem apontar quaisquestionamentos seriam relevantes para a sustentao datese defensiva, invivel o reconhecimento do alegadoconstrangimento ilegal, nos termos do entendimento jconsolidado nos Tribunais Superiores, retratado no enunciadoda Smula n. 523 do Supremo Tribunal Federal.4. Recurso improvido (STJ, RHC 22.387/SP, 5 T., rel. Min.Jorge Mussi, j . 4-2-2010, DJe 10-5-2010).

    Ato contnuo apresentao da defesa, ser dada vista aoMinistrio Pblico para manifestao sobre preliminares edocumentos no prazo de 5 dias (CPP, art. 410). Trata-se de novidadetrazida pela reforma de 2008. a oportunidade de o rgo acusadorrebater essencialmente matria preliminar e prova documentaljuntada. A legislao anterior no previa tal possibilidade.

    Aps a manifestao do Ministrio Pblico, no prazomximo de 10 dias, ser designada audincia, sem prejuzo darealizao das diligncias requeridas pelas partes. O prazo citado valetanto para o acusado preso como para o em liberdade (CPP, art.410).

    Na audincia de instruo sero tomadas as declaraes doofendido, quando possvel, e ainda acontecer a inquirio dastestemunhas arroladas pela acusao e pela defesa, seguida dosesclarecimentos dos peritos, acareaes e reconhecimento depessoas e coisas, para posterior interrogatrio do acusado e debates(CPP, art. 411). A legislao prev que a instruo processual ocorranuma nica audincia.

    A ordem da oitiva das testemunhas dever ser respeitada, ouseja, primeiramente sero ouvidas as de acusao e depois asarroladas pela defesa (CPP, art. 411). Se a defesa concordar com ainverso, no h que se falar em nulidade. Ademais, ainda queocorra a inverso, sem o assentimento da defesa, a nulidade(relativa) s ser declarada se demonstrado o prejuzo.

  • Em outras situaes, por exemplo a oitiva de testemunhamediante carta precatria, a inverso na ordem dos depoimentos nogera nenhum tipo de nulidade.

    Nesse sentido, j decidiu a 5 Turma do STJ:

    (...) INVERSO DE OITIVA DAS TESTEMUNHAS.CARTA PRECATRIA. INOCORRNCIA DENULIDADE. PRECEDENTES. CONSTRANGIMENTOILEGAL NO CARACTERIZADO.1. Esta Corte de Justia firmou o entendimento de que ainverso da oitiva de testemunhas de acusao e defesa noconfigura nulidade quando a inquirio feita por meio decarta precatria, cuja expedio no suspende a instruocriminal. (...)3. Ordem denegada (STJ, HC 167.900/MG, 5 T., rel. Min.Jorge Mussi, j . 279-2011, DJe 13-10-2011).

    Em que pese a determinao legal no sentido de que aaudincia de instruo acontea num s ato, caso o nmero detestemunhas e/ou de acusados seja excessivo, o juiz poder designaroutra ou outras, ou seja, quantas necessrias. perfeitamentepossvel o uso da videoconferncia para oitiva da vtima, detestemunhas e para o interrogatrio do acusado, se for o caso.

    As perguntas sero feitas pelas partes diretamente vtima,quando presente, sem interferncia do magistrado, exceto paraimpugnar (e expurgar) perguntas indutivas ou impertinentes.

    No momento da oitiva da vtima, o juiz dever verificar se apresena do acusado poder causar humilhao ou temor ou graveconstrangimento vtima, quando ento poder determinar que seproceda oitiva dela por videoconferncia. No sendo possvel avideoconferncia, determina o art. 217, de forma bastantequestionvel (em termos de garantias relacionadas com o direito depresena), que o acusado seja retirado da sala, permanecendo seuadvogado para o acompanhamento do procedimento.

    A inquirio das testemunhas tambm feita diretamente

  • pelas partes, sem a interveno do magistrado. O objetivo manter afidedignidade das perguntas elaboradas, sem interlocutores (semintermedirios).

    As testemunhas devero ficar separadas umas das outrasenquanto no forem ouvidas, a fim de evitar a influncia nodepoimento de cada uma delas. Aps os esclarecimentos do perito,ser o momento da inquirio dos assistentes tcnicos, desde quetenham sido indicados no momento oportuno pelas partes.

    Em momento anterior ao interrogatrio do acusado, tem-sea oportunidade de acareaes e reconhecimento de pessoas e coisas(CPP, art. 411). Em seguida, ser ouvido o acusado. Em taloportunidade as partes faro as perguntas para o magistrado, que asrepassar ao acusado (aqui est previsto o sistema presidencialista).Caso as perguntas sejam feitas diretamente ao ru, no h comovislumbrar qualquer tipo de nulidade. Se houvesse, seria relativa (queexige arguio em tempo certo e comprovao do prejuzo).

    Aps o interrogatrio do ru vem a fase dos debates, tendocada parte 20 minutos, prorrogveis por mais 10, momento em quesero apresentadas as ltimas alegaes da defesa e acusao. Otempo individual, ou seja, havendo mais de um acusado, cada qualter em seu favor 20 minutos (prorrogveis por mais 10). Aoassistente de acusao (devidamente habilitado) sero reservados 10minutos para manifestao aps a interveno do Ministrio Pblico.

    A lei prev, de acordo com a complexidade da causa, apossibilidade de substituio dos debates orais por memoriais, quedevem ser apresentados no prazo de 5 dias, para cada parte (CPP,art. 403, 3). Trata-se de ato discricionrio do juiz, porm tem sidoa regra em muitas varas criminais do pas.

    Em princpio nenhum ato ser adiado, exceto se forimprescindvel para o deslinde do feito, razo pela qual o magistradodeterminar a conduo coercitiva de quem deva comparecer emjuzo (CPP, art. 411, 7).

    A lei processual ainda prev que a testemunha quecomparecer em juzo ser ouvida, mesmo que a audincia sejaredesignada para outra data (CPP, art. 411, 8).

  • Concludos os debates, o juiz prolatar sua deciso, naprpria audincia, salvo impossibilidade de faz-lo prontamente.Parte da doutrina entende que a manifestao da defesa facultativano momento dos debates, sendo que sua ausncia no ensejariaqualquer tipo de nulidade. Considerando-se, no entanto, que deverdo membro do Ministrio Pblico tal manifestao, a omisso dadefesa pode dar ensejo futura nulidade do processo, por violaoao princpio da plenitude de defesa. Defesa omissa no ,evidentemente, defesa plena.

    Na hiptese de concesso de prazo para apresentao dememoriais pelas partes, a deciso poder ser proferida no prazo de10 dias, conforme previso legal (CPP, art. 411, 9).

    O STJ j decidiu, por exemplo, que macia ajurisprudncia segundo a qual, no procedimento do jri, no h falarem nulidade quando foi dada oportunidade para a defesa semanifestar, na forma do que previa a antiga redao do art. 406 doCdigo de Processo Penal, e esta se quedou inerte.

    Dispe a lei que nenhum ato ser adiado, salvo quandoimprescindvel prova faltante, determinando o juiz a conduocoercitiva de quem deva comparecer. Trata-se de regra importante,que visa a garantir a celeridade do processo e sua razovel durao.A testemunha que comparecer ser inquirida, independentemente dasuspenso da audincia, observada em qualquer caso a ordemestabelecida no caput do art. 411 do CPP.

    A audincia una, uma vez que todos os atos processuaisocorrem na audincia de instruo e julgamento, inclusive a decisojudicial, que pode ser proferida em audincia ou no prazo de 10 dias,ordenando que os autos para isso lhe sejam conclusos. Caso hajanecessidade de ouvir uma testemunha essencial ao processo, o juizmandar conduzi-la coercitivamente, suspendendo a audincia. Seesta no for localizada, e a parte insistir na sua oitiva, a audinciaser cindida (dividida). Trata-se de uma exceo unicidade daaudincia. A regra, no entanto, a incindibilidade da audincia.

    Dispe o art. 412 que o procedimento ser concludo noprazo mximo de 90 (noventa) dias (cuida-se de prazo imprpriocuja violao no gera sano). No que se refere ao limite temporal

  • de 90 dias para o trmino da primeira fase, cumpre observar que elenem sempre observado na prtica, em razo do excesso deprocessos. Esse excesso deve ser justificado e no pode serdesarrazoado (porque todo ru tem direito de ser julgado em prazorazovel). Tratando-se de ru preso, todo excesso no justificado oudesarrazoado configura constrangimento ilegal, que implica o devidorelaxamento da priso.

    Encerrada a instruo probatria, observar-se-, se for ocaso, o disposto no art. 384 do CPP. Cuida de forma expressa olegislador dos casos em que ocorra a mutatio libelli, ou seja, seentender cabvel nova definio jurdica do fato, em consequnciade prova existente nos autos de elemento ou circunstncia dainfrao penal no contida na acusao, o Ministrio Pblico deveraditar a denncia ou queixa, no prazo de 5 (cinco) dias, se em virtudedesta houver sido instaurado o processo em crime de ao pblica,reduzindo-se a termo o aditamento, quando feito oralmente. Trata-sede caso em que a classificao do tipo bsico ou mesmo derivadomuda durante a instruo criminal, como no caso de ausncia daelementar influncia do estado puerperal no crime de infanticdio,nos casos em que a me mata o prprio filho. Comprovada aausncia da elementar, o crime transmuda-se para homicdio, quedever ser objeto de nova denncia pelo Ministrio Pblico. Amutatio libelli tambm ser possvel no caso de incluso dequalificadora, por serem extenso do tipo penal. Pacfico naJurisprudncia do STJ que se os fatos narrados na denncia, de formaexplcita ou implcita, autorizam a nova definio jurdica, ocorre aemendatio libelli, e no a mutatio libelli, tendo em vista que o ru sedefende da imputao ftica, e no da imputatio iuris (STJ, HC86.197).

    A mutatio libelli aplica-se ainda que o fato ou circunstnciano esteja de forma explcita na denncia, em fato implcito oumesmo na ausncia de qualquer fato explcito ou implcito (STJ, HC58.833).

    Aplica-se ao processo penal brasileiro o princpio daidentidade fsica do juiz, ou seja, o magistrado que presidiu ainstruo processual dever prolatar a deciso.

  • Se o juiz que proferir a deciso no for o mesmo querealizou a instruo processual, a nulidade s ser declarada se ficarcomprovado o prejuzo ao acusado, pois o entendimento queprevalece nos Tribunais Superiores de que tal situao configuraapenas nulidade relativa.

    Da deciso de pronncia cabe recurso em sentido estrito(CPP, art. 581, IV), que veremos detalhadamente adiante.

    As nulidades relativas ocorridas na primeira fase do jri(judicium accusationis) devem ser arguidas at a fase dos debatesorais, na audincia una, sob pena de precluso; as nulidades relativasda segunda fase, do judicium causae, devem ser alegadas na fase dapreparao do julgamento, assim que comear o julgamento eforem apregoadas as partes; as nulidades ocorridas durante ojulgamento, assim que ocorrerem, com registro na respectiva ata. Asnulidades posteriores pronncia devem ser arguidas logo depois deanunciado o julgamento e apregoadas as partes, nos termos do art.571, inciso V, do Cdigo de Processo Penal, sob pena de precluso.As nulidades na pronncia sero articuladas como matriapreliminar no recurso em sentido estrito.

  • Captulo 7

    Do Encerramento da 1 Fase do Procedimento doJri: pronncia, impronncia, absolvio sumria edesclassificao

    1. Da pronncia

    Ocorre a deciso de pronncia quando o juiz,fundamentadamente, admite a existncia de provas sobre amaterialidade do fato, assim como a suficincia dos indcios deautoria ou de participao (CPP, art. 413).

    Cuida-se de deciso interlocutria mista no terminativaporque no encerra o processo, e sim apenas uma fase (a primeira)do procedimento do jri. No se trata, portanto, de sentena (sim, dedeciso).

    Materialidade do fato significa a evidenciao, no processo,do corpo de delito (conjunto dos vestgios deixados pelo crime), ouseja, comprovao da existncia d