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GRAZIELLE PERES GUIMARÃES AVALIAÇÃO DA PREVALÊNCIA DE INDIVÍDUOS PORTADORES DE ANEMIA FALCIFORME NO HOSPITAL DAS FORÇAS ARMADAS DE BRASÍLIA DF Projeto apresentado ao curso de graduação em Biomedicina da Universidade Católica de Brasília como parte do trabalho de conclusão de curso da disciplina TCC II. Orientadora: Profª. Msc. Cintia do Couto Mascarenhas. Co-orientador: Prof. Msc. Paulo Roberto Sabino. Co-orientador: Prof. Esp. Fábio de França Martins. Brasília 2010 Pró- Reitoria de Graduação Biomedicina Trabalho de Conclusão de Curso AVALIAÇÃO DA PREVALÊNCIA DE INDIVÍDUOS PORTADORES DE ANEMIA FALCIFORME NO HOSPITAL DAS FORÇAS ARMADAS DE BRASÍLIA DF Grazielle Peres Guimarães Orientadora: Profa. Msc.Cintia do Couto Mascarenhas Co-orientador: Prof. Msc. Paulo Roberto Sabino Jr Co-orientador: Prof. Esp. Fábio de França Martins Brasília - DF 2010

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GRAZIELLE PERES GUIMARÃES

AVALIAÇÃO DA PREVALÊNCIA DE INDIVÍDUOS PORTADORES DE ANEMIA

FALCIFORME NO HOSPITAL DAS FORÇAS ARMADAS DE BRASÍLIA – DF

Projeto apresentado ao curso de graduação em

Biomedicina da Universidade Católica de

Brasília como parte do trabalho de conclusão

de curso da disciplina TCC II.

Orientadora: Profª. Msc. Cintia do Couto

Mascarenhas.

Co-orientador: Prof. Msc. Paulo Roberto

Sabino.

Co-orientador: Prof. Esp. Fábio de França

Martins.

Brasília

2010

Pró- Reitoria de Graduação

Biomedicina

Trabalho de Conclusão de Curso

AVALIAÇÃO DA PREVALÊNCIA DE INDIVÍDUOS

PORTADORES DE ANEMIA FALCIFORME NO HOSPITAL DAS

FORÇAS ARMADAS DE BRASÍLIA – DF

Grazielle Peres Guimarães

Orientadora: Profa. Msc.Cintia do Couto Mascarenhas

Co-orientador: Prof. Msc. Paulo Roberto Sabino Jr

Co-orientador: Prof. Esp. Fábio de França Martins

Brasília - DF

2010

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Projeto de TCC II, de autoria de Grazielle Peres Guimarães, intitulado “Avaliação da

prevalência de indivíduos portadores de anemia falciforme no Hospital das Forças Armadas

de Brasília – DF”, apresentado como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em

Biomedicina da Universidade Católica de Brasília no segundo semestre de 2010, defendida e

aprovada pela banca examinadora abaixo assinada:

____________________________________________________

Profª MSc. Cintia do Couto Mascarenhas

Orientadora

Doutoranda pela Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP

Pesquisadora voluntária – UCB

_____________________________________________________

Prof. Dr. Anderson Ferreira da Cunha

Examinador

Professor Adjunto – UFSCAR

____________________________________________________

Profª. Drª. Rosangela Vieira de Andrade

Examinador

Ciência Genômicas e Biotecnologia – UCB

Brasília

2010

3

Aos meus pais, Roberto e Lúcia.

Ao meu irmão, Higor.

4

AGRADECIMENTOS

A Deus, por ser o meu amparo, minha fortaleza e por me capacitar a alcançar meus

objetivos.

Aos meus pais, Roberto e Lúcia, pelo amor incondicional e por estarem sempre ao

meu lado.

A professora Cintia Mascarenhas, pela orientação, apoio e confiança.

Ao professor Paulo Sabino, pela disponibilidade e paciência em me ensinar a lidar

com as dificuldades da pesquisa científica.

Ao professor Fábio de França, pelo incentivo e disponibilidade em compartilhar

conhecimentos.

As minhas grandes amigas e companheiras de graduação Camilla e Karoline que

sempre estiveram ao meu lado, tornando meus dias de universidade mais compensadores.

Aos meus grandes amigos Artur, Edmércia e Ana Vera, pelos anos de amizade,

paciência e por transformarem meu cansaço em momentos de muita alegria.

A todos os meus professores pelo conhecimento transmitido e dedicação para a minha

formação profissional e moral.

5

Resumo

Referência: GUIMARÃES, Grazielle Peres. Título: Avaliação da prevalência de indivíduos

portadores de anemia falciforme no Hospital das Forças Armadas de Brasília – DF. 55 folhas.

Trabalho de Conclusão de Curso (Biomedicina) – Universidade Católica de Brasília, Águas

Claras, 2010.

A anemia falciforme é caracterizada pela presença da hemoglobina S em homozigose

(HbSS) e está entre as hemoglobinopatias mais prevalentes no Brasil e no mundo, sendo

observada principalmente na população afro descendente. A polimerização da HbS

desoxigenada ocasiona deformação, maior rigidez e fragilidade do eritrócito, além de anemia

hemolítica e episódios vasoclusivos. A adesividade aumentada das células falcizadas e

leucócitos ao endotélio causa diminuição do fluxo sanguíneo na microcirculação, resultando

no principal evento da anemia falciforme, que é a vasoclusão.

O trabalho objetivou realizar a avaliação da prevalência de portadores da HbS no

Hospital das Forças Armadas de Brasília e correlacionar esses dados com outros estudos de

prevalência no Distrito Federal.

Foram avaliados 1181 pacientes no período de setembro a outubro de 2010, após a

aprovação do Comitê de Ética em pesquisa do HFA, e assinatura do termo de consentimento

livre esclarecido pelos pacientes. Dentre estes, 61 fazem parte da triagem realizada a partir do

hemograma, teste de falcização, eletroforese manual e confirmação pela eletroforese por

capilaridade, 1057 a partir dos resultados de exames de hemoglobina glicada do equipamento

D-10 (Bio-Rad®

), o qual inclui resultados para os demais tipos de hemoglobina, e 64

pacientes com exames cadastrados para realização de eletroforese por capilaridade no

equipamento Minicap (SEBIA®

).

Das amostras avaliadas, nenhuma apresentou homozigose para hemoglobina S

(HbSS), enquanto trinta e seis pacientes apresentaram traço falciforme (HbAS) e três

apresentaram hemoglobinopatia SC (HbSC), com prevalência de 3,05% para traço falciforme

e 0,25% para hemoglobinopatia SC.

Foi possível observar que a média de idade entre os pacientes que apresentaram

hemoglobina HbS foi de 44,36 anos. Já a distribuição quanto ao sexo mostrou maior

incidência de HbS em pessoas do sexo feminino, representando 61,54% (24), enquanto para o

sexo masculino foi de 38,46% (15). Houve o predomínio de alterações de frações

hemoglobínicas em indivíduos declarados de cor parda.

A prevalência de portadores de traço falciforme obtida foi compatível com a de outros

estudos realizados no Brasil e no mundo, apresentando semelhança especial com os dados

disponíveis do Distrito Federal. Observou-se que o número de casos de traço falciforme foi

maior em relação aos outros fenótipos anômalos encontrados, enquanto a hemoglobinopatia

SC foi encontrada em menor número de indivíduos.

Nossos resultados indicam que existe relação entre a ampliação da triagem

laboratorial, para hemoglobinopatias, e o aumento do número de casos de HbS. Apesar da

concordância dos resultados obtidos com os da literatura, sugere-se a realização de estudos

maiores que possam contribuir para o melhor conhecimento do perfil epidemiológico das

hemoglobinopatias na região do Distrito Federal.

Palavras-chave: Anemia falciforme. Traço falciforme. Hemoglobina S.

6

ABSTRACT

Referência: GUIMARÃES, Grazielle Peres. Título: Evaluation of the prevalence of

individuals with sickle cell disease in the Armed Forces Hospital of Brasilia - DF. 55 folhas.

Trabalho de Conclusão de Curso (Biomedicina) – Universidade Católica de Brasília, Águas

Claras, 2010.

Sickle cell anaemia is characterized by the presence of hemoglobin S homozygous (HbSS)

and is among the most prevalent hemoglobinopathies in Brazil and worldwide, and mainly

observed in the population african descent. The polymerization of deoxygenated HbS causes

deformation, rigidity and fragility of the erythrocytes, and hemolytic anemia and episodes

vasocclusives. The increased adhesiveness of sickled cells and leukocytes to the endothelium

causes decreased blood flow in the microcirculation, resulting in the main event of sickle cell

disease, which is the vasocclusion.

The work has aimed at assessing the prevalence of carriers of HbS in the Armed Forces

Hospital of Brasilia and correlate these data with other prevalence studies in the Distrito

Federal.

We evaluated 1181 patients during the period September to October 2010 following the

approval of the Committee of Ethics of HFA, and signing the consent form for patients.

Among these, 61 are part of the screening conducted from the blood count, sickling test,

manual electrophoresis and confirmation by capillary electrophoresis, 1057 from the results of

tests for glycated hemoglobin Equipment D-10 (Bio-Rad ®

), the which includes results for the

other types of hemoglobin, and 64 patients enrolled to carry out examinations by capillary

electrophoresis equipment Minicap (Sebia ®

).

Of the samples tested, none had homozygous hemoglobin S (HbSS), while thirty-six patients

had sickle cell trait (HbS) and three had hemoglobinopathy SC (HbSC), with a prevalence of

3.05% for sickle cell trait and 0.25% for SC hemoglobinopathy.

It was observed that the average age among patients with hemoglobin HbS was 44.36 years.

The distribution by sex showed a higher incidence of HbS in feminine, accounting for 61.54%

(24), while for masculine was 38.46% (15). There was a predominance of changes in

hemoglobin fractions of individuals declared brown.

The prevalence of patients with sickle cell trait result was compatible with other studies in

Brazil and worldwide, with particular similarity to the available data from the Distrito

Federal. It was observed that the number of cases of sickle cell trait was higher in relation to

other abnormal phenotypes found, while the SC hemoglobinopathy was found in fewer

individuals.

Our results indicate that there is a relationship between the expansion of laboratory screening

for hemoglobinopathies, and the increased number of cases of HbS. Despite the concordance

of results with the literature, it is suggested to carry out larger studies that could contribute to

a better understanding of the epidemiology of hemoglobinopathies in the region of the

Distrito Federal.

Keywords: Sickle cell disease. Sickle cell trait. Hemoglobin S.

7

LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Esquema de representação geográfica do gene da βS globina.

Identificação de áreas na África e Árabe-Índia (Linha pontilhada) de regiões que

apresentam índices expressivos de pessoas com anemia falciforme (linhas

vermelhas), situadas em maior parte da costa e parte central das regiões: Senegal,

Benin e Bantu................................................................................................................

Figura 2- Distribuição da Hb S em diferentes regiões brasileiras................................

Figura 3- Fisiopatologia da vasoclusão na anemia falciforme. (A) Substituição do

nucleotídeo (GTG GAG). (B) Polimerização da HbS, com ocorrência de

vasoclusão e hemólise intravascular . (C) Formação do eritrócito falcizado. (D)

Processo de vasoclusão mediado por eritrócitos falcizados, neutrófilos e

reticulócitos. EC= endotélio. R= reticulócito. ISC= célula irreversivelmente

falcizada. N= neutrófilo. RBC= célula vermelha..........................................................

Figura 4- Processo de adesão celular entre eritrócitos falcizados e endotélio

vascular. PS= fosfatidilsserina. TSP= trombospondina. FN= fibronectina. LM=

laminina. VWF= fator de von Willebrand. Ocorre aumento de moléculas de adesão

(α4β1, CD36, B-CAM/LU) em eritrócitos e reticulócitos na anemia falciforme

quando comparado com eritrócitos normais.................................................................

Figura 5- Representação de teste de falcização positivo em paciente com traço

falciforme......................................................................................................................

Figura 6- Diagrama eletroforético de paciente com traço falciforme pela técnica de

eletroforese por capilaridade. Concentração das frações de hemoglobina: HbA= 55,5

%, HbA2= 3,1 % e HbS= 41,4 %............................................................................

Figura 7- (A) Análise do gel de eletroforese manual de hemoglobina utilizando

tampão Tris-EDTA-Borato - pH 8,5. 1 a 3 e 5 a 9. Amostras com hemoglobina A

(banda mais escura) e hemoglobina A2 (banda mais clara). 10. Amostra controle -

paciente apresentando hemoglobinas A, A2 e F em níveis normais. (B) Em

evidência poço número 4 com amostra apresentando bandas de hemoglobina A

(banda mais escura), S e banda que sugere Hb A2 e HbC de acordo com o padrão de

bandas de hemoglobinas utilizado no estudo................................................................

Figura 8- (A) Análise do gel de eletroforese manual de hemoglobina utilizando

tampão Citrato pH 6,3. 1 a 3. e 5 a 9. Amostras com resultado de HbF e HbA. 10.

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8

Amostra controle - paciente apresentando hemoglobinas A, A2 e F em níveis

normais. (B) Em evidência poço número 4 com amostra apresentando bandas de

hemoglobina F, A, S e banda desconhecida em relação ao padrão de bandas de

hemoglobinas utilizado no estudo..............................................................................

Figura 9- Diagrama eletroforético de paciente com traço falciforme que apresentou

fração de hemoglobina variante pela avaliação de eletroforese por capilaridade. A

zona nove (Z9) mostra a concentração de hemoglobina A (66,9 %), a zona sete (Z7)

apresenta a concentração de hemoglobina F (0,2 %), a zona cinco (Z5) apresenta a

concentração de hemoglobina S (29,6 %) e o início da zona três (Z3) apresenta a

concentração de hemoglobina A2 (1,4 %) e o final desta zona (Z3) evidencia uma

fração de hemoglobina variante cuja a concentração foi de1,9%.................................

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38

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1- Distribuição quanto à cor da pele de pacientes com HbS...........................

Gráfico 2- Distribuição quanto à cor da pele entre pacientes do sexo masculino e

feminino que apresentaram HbS...................................................................................

Gráfico 3- Valores de concentração de hemoglobinas entre os 39 pacientes com

traço falciforme e hemoglobinopatia SC. Pacientes com traço falciforme

apresentaram índices maiores de hemoglobina A. Pacientes com hemoglobinopatia

SC apresentaram índices discretamente maiores de hemoglobina S em relação a

hemoglobina C..............................................................................................................

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34

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10

LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Quantidade de pacientes analisados no estudo segundo as técnicas

utilizadas................................................................................................................................

Tabela 2- Número absoluto de casos de portadores de traço falciforme e

hemoglobinopatia SC avaliados no laboratório de análises clínicas do Hospital das

Forças Armadas, de maio a agosto de 2010..........................................................................

Tabela 3- Média dos índices hematimétricos de pacientes que apresentaram HbS.............

Tabela 4- Dados quanto ao sexo, idade, cor da pele, concentração das frações de

hemoglobina e índices hematimétricos dos 39 pacientes que apresentaram traço

falciforme e hemoglobinopatia SC........................................................................................

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11

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 13

1.1 DADOS EPIDEMIOLÓGICOS ...................................................................................... 15

2. REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................................. 17

2.1 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS ..................................................................................... 21 2.1.1 Crises vasoclusivas ....................................................................................................... 22

2.1.2 Crises aplásticas ........................................................................................................... 22

2.1.3 Crise de sequestro esplênico ........................................................................................ 23

2.1.4 Crises hemolíticas ........................................................................................................ 23

2.2 DIAGNÓSTICO ............................................................................................................... 24

2.3 TRATAMENTO ............................................................................................................... 25

3. JUSTIFICATIVA ............................................................................................................... 26

4. OBJETIVOS ....................................................................................................................... 27

4.1 OBJETIVO GERAL ........................................................................................................ 27

4.2 Objetivos Específicos ........................................................................................................ 27

5. MATERIAIS E MÉTODOS .............................................................................................. 28

5.1 CONTAGEM AUTOMATIZADA DE CÉLULAS E ANÁLISE MORFOLÓGICA

POR MICROSCOPIA ........................................................................................................... 28

5.2 TESTE DE FALCIZAÇÃO ............................................................................................. 29

5.3 ELETROFORESE DE HEMOGLOBINA EM PH ALCALINO E ÁCIDO .............. 30

5.4 ELETROFORESE DE HEMOGLOBINA POR CAPILARIDADE ........................... 30

5.5 CROMATOGRAFIA LÍQUIDA DE ALTA PERFORMANCE – HPLC .................. 31

5.6 ANÁLISE DOS DADOS .................................................................................................. 32

6. RESULTADOS ................................................................................................................... 33

12

7. DISCUSSÃO ....................................................................................................................... 39

8. REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 43

ANEXOS ................................................................................................................................. 49

ANEXO A ................................................................................................................................ 49

ANEXO B ................................................................................................................................ 50

ANEXO C ................................................................................................................................ 51

ANEXO D ................................................................................................................................ 53

ANEXO E ................................................................................................................................ 55

13

1. INTRODUÇÃO

As hemoglobinopatias são doenças hereditárias caracterizadas pelo comprometimento

de grupamentos de genes, localizados no braço curto do cromossomo 16 e cromossomo 11,

responsáveis, respectivamente, pela síntese de cadeias globínicas do tipo alfa e beta das

moléculas de hemoglobina. Essas alterações podem causar modificações estruturais,

deficiência parcial ou total na síntese de cadeias globínicas, determinando o surgimento de

hemoglobinas variantes e das talassemias (SILVA, 2001; GALIZA NETO; PITOMBEIRA,

2003).

Assim sendo, as hemoglobinopatias, que correspondem a um amplo grupo de

alterações, são consideradas as doenças hematológicas de maior prevalência no mundo, sendo

apontadas como um problema de saúde pública mundial, devido ao aumento da freqüência e

das severidades apresentadas (FATTOUM, 2006).

No Brasil estas doenças também são um problema de saúde pública, devido ao alto

grau de miscigenação da população brasileira (RAMALHO, 2003). Segundo Bonini-

Domingos (2009), a incidência de determinadas hemoglobinopatias pode variar de acordo

com a fixação dos grupos raciais colonizadores de cada região.

Entre as hemoglobinopatias situa-se a anemia falciforme, que é caracterizada pela

presença em homozigose da hemoglobina S (HbSS) e é considerada uma doença muito

comum, de modo a apresentar expressiva distribuição em diferentes países, incluindo o Brasil

(GALIZA NETO; PITOMBEIRA, 2003).

A anemia falciforme é ocasionada pela substituição de um nucleotídeo adenina por

timina (A T), o que leva à troca de aminoácidos (ácido glutâmico valina) na posição 6

da cadeia globínica β. Esta doença possui considerável importância clínica, pois suas

peculiares manifestações, como úlcera de membros inferiores, priaprismo, complicações

cardíacas, pulmonares e neurológicas, são decorrentes tanto da anemia hemolítica crônica

quanto de fenômenos vasoclusivos, conduzindo a crises dolorosas agudas e ao dano tecidual

(SCHNOG et al., 2004; ZAGO, 2004; KATO et al., 2009).

A literatura destaca que esta doença possui diversos haplótipos, que são definidos

como distintas composições de sítios polimórficos de DNA presentes em uma região gênica

específica. Desta forma, os diferentes haplótipos associados ao segmento cromossômico da

beta-globina permitem a caracterização da presença da HbS em determinados grupos étnicos.

14

A classificação dos cinco haplótipos (Senegal, Benin, Banto, Asiático e Camarões)

característicos da anemia falciforme, foi estabelecida segundo a origem geográfica de cada

um (Figura 1) (BEZERRA, 2009).

Estudos apontam que os haplótipos: Senegal, Benin e Banto ocorrem com maior

frequência nas Américas, fato que pode ser explicado pelo grande tráfico de escravos. Já o

haplótipo Asiático apresenta maior incidência nas regiões da Arábia Saudita e Oriente Médio.

O haplótipo Camarões está limitado a regiões específicas da África (STUART; NAGEL,

2004). Assim, a origem multicêntrica desses haplótipos também pode estar relacionada à

grande variabilidade clínica da doença falciforme, que é correlacionada com a concentração

de hemoglobina fetal (HbF) presente em cada haplótipo ( SCHNOG et al., 2004).

Figura 1- Esquema de representação geográfica do gene da βS globina. Identificação de áreas na África e Árabe-

Índia (Linha pontilhada) de regiões que apresentam índices expressivos de pessoas com anemia falciforme

(linhas vermelhas), situadas em maior parte da costa e parte central das regiões: Senegal, Benin e Bantu. Fonte:

Adaptado de Stuart e Nagel (2004)

Os indivíduos que portam os haplótipos Senegal e Asiático possuem maior

concentração de HbF, o que determina a redução da gravidade dos sintomas do paciente. Os

portadores dos haplótipos Benin e Banto, por sua vez, apresentam níveis diminuídos de HbF,

ocasionando alterações clínicas mais severas. No Brasil existe o predomínio de indivíduos

com haplótipo Banto, compreendendo aproximadamente 66% dos casos de anemia

registrados. O restante dos casos está relacionado aos haplótipos Benin (32%) e Senegal (2%)

(ANVISA, 2002).

15

1.1 DADOS EPIDEMIOLÓGICOS

A expressiva heterogeneidade genética da população brasileira, resultante da

composição étnica diversificada de seus grupos formadores e do cruzamento entre eles,

possibilita tanto a interação de genes, como os responsáveis pela síntese de variantes

estruturais de hemoglobina, quanto a propagação destes genes para outras regiões e

populações do país, devido ao fluxo migratório vigente (BONINI-DOMINGOS, 2009;

SONATI; COSTA, 2008).

Desta forma, a grande freqüência e a importante repercussão clínica da doença

falciforme demonstram sua importância entre as hemoglobinopatias no Brasil e no mundo. O

que é enfatizado pela inclusão desta patologia em programas de saúde pública brasileiros,

como o PNTN (Programa Nacional de Triagem Neonatal), criado em 2001, e o Programa

Nacional de Atenção Integral as Pessoas com Doença Falciforme e outras

Hemoglobinopatias, criado em 2005, ambos do Ministério da Saúde (RAMALHO, et al.,

2003; BRASIL, 2005).

O reconhecimento das doenças falciformes como um problema de saúde pública no

Brasil foi determinante para a instituição tanto de programas de saúde publica quanto de leis

como, a Lei 14.482, de 16 de julho de 2007, que “torna possível a proposta de integralidade

das ações e da assistência aos portadores das doenças falciformes e outras

hemoglobinopatias”, o que torna possível, um melhor acesso aos serviços, a garantia da

informação e da qualificação dos profissionais que atendem essa população (BRASIL, 2008).

É importante ressaltar ainda, que este reconhecimento e conseqüente elaboração de

políticas públicas, como também da realização de medidas que visam o tratamento dos

portadores de doença falciforme, têm elevado de maneira significativa os custos financeiros

do governo federal (BRASIL, 2008).

A introdução da HbS no Brasil, determinada pela entrada maciça de escravos africanos

entre 1550 e 1850, configura a composição populacional, segundo o processo de

miscigenação das regiões brasileiras (RUIZ, 2007). De acordo com Cançado e Jesus (2007),

os estados que apresentam as maiores prevalências do traço falciforme são: Bahia (5,3%),

Pernambuco (4%), Rio de Janeiro (4%) e Minas Gerais (3%), enquanto os estados de São

Paulo (2,6%) e Rio Grande do Sul (2,0%) apresentam prevalência menor, o que confirma os

dados disponíveis sobre a distribuição histórica de povoamento geográfico brasileiro

(CANÇADO; JESUS, 2007) (Figura 2).

16

Na região Centro-Oeste, segundo Melo-Reis et al. (2006), o estado de Goiás possui

prevalência de 2,2% do traço falciforme, apresentando semelhança com os resultados dos

demais estados dessa região, como Mato Grosso do Sul (1,64%) (HOLSBACH, D. R. et al.,

2008) e Distrito Federal (3,23%) (DINIZ et al., 2009).

Figura 2- Distribuição da Hb S em diferentes regiões brasileiras. Fonte: Cançado e Jesus (2007)

Esses dados demonstram que existe freqüência similar de heterozigotos AS na

população brasileira (2% a 8%) (MURÃO; FERRAZ, 2007), quando comparada a algumas

regiões do continente africano como, a região Norte que apresenta prevalência entre 1% a 2%

e a região Sul com menos de 1%. Entretanto, é observada freqüência significativa na região

equatorial, variando de 10% a 40% de indivíduos com traço falciforme. De acordo com dados da

Organização Mundial da Saúde (OMS), aproximadamente cinco milhões de pessoas em todo

o mundo possuem anemia falciforme, sendo que 70% delas se encontram na África (OMS,

2006).

17

2. REFERENCIAL TEÓRICO

A anemia falciforme é a hemoglobinopatia de maior prevalência mundial, afetando,

sobretudo, pessoas afro descendentes (LOUREIRO; ROZENFELD; PORTUGAL, 2008).

Esta desordem é determinada pela presença de uma mutação pontual no gene da beta-globina,

que ocorre na posição 6 da sequência de aminoácidos, na qual uma base adenina (A) é trocada

por uma base timina (T) (GAG GTG), resultando na substituição de um ácido glutâmico

por uma valina (β6 Glu Val). O efeito dessa mudança de aminoácido é a formação de uma

hemoglobina variante, denominada hemoglobina S (HbS) (BALLAS; MOHANDAS, 1996).

Um dos resultados da troca do ácido glutâmico pela valina é a redução da solubilidade

da molécula de hemoglobina S (HbS) quando desoxigenada (BARBARINO; PLATT; KAUL,

2010). Tal fato, promove a união das moléculas de hemoglobina formando longas cadeias de

polímeros, que são estruturas tubulares formadas por filamentos de HbS dispostos em torno

de um eixo longitudinal do eritrócito (BOOKCHIN; LEW, 1996; VEKILOV, 2007).

O processo de polimerização da HbS promove a alteração tanto na forma do eritrócito,

surgindo o eritrócito falcizado, quanto na sua flexibilidade (ZAGO, 2004) (Figura 3). Assim,

a polimerização da HbS, quando está desoxigenada, constitui o evento fundamental da

patogênese da anemia falciforme, conferindo uma mudança na conformação do eritrócito que

perde sua forma de disco bicôncavo (BOOKCHIN; LEW, 1996).

Somente uma valina de cada tetrâmero de HbS polimerizada participa dos contatos

intermoleculares (ZAGO, 2004; BALLAS, 2005). Contudo, alguns fatores como a

concentração intra-eritrocitária da HbS e Fetal (HbF) e/ou associação com outras variáveis,

como doença falciforme associada a beta-talassemia, grau de desoxigenação das

hemoglobinas, pH, temperatura e formação de íons podem colaborar para a estimulação do

processo da polimerização (BALLAS, et al., 2010).

Os polímeros podem sofrer despolimerização quando são novamente reoxigenados,

revertendo a falcização da célula. Porém, repetidos episódios de falcização e reoxigenação do

eritrócito induzem a um estado irreversível da membrana celular alterada do eritrócito

(BALLAS, et al. 2010; ZAGO, 2004).

Além dos eventos intra-eritrocitários algumas variáveis extra-eritrocitárias também são

importantes para o desenvolvimento das manifestações clínicas, dentre as quais estão: o

número e atividade de leucócitos e plaquetas, quantidade de mediadores inflamatórios,

18

disponibilidade alterada de fatores vasomotores, grau de ativação endotelial e do sistema de

coagulação (BARBARINO; PLATT; KAUL, 2010; CAPPELLINI, 2007).

A polimerização além de ocasionar mudança estrutural do eritrócito também eleva a

expressão de marcadores de superfície na membrana do eritrócito falcizado, determinando um

aumento da aderência desses eritrócitos ao endotélio vascular, culminando no fenômeno

principal da anemia falciforme que é a vasoclusão (BALLAS; MOHANDAS, 1996; ROSSE

et al., 2000).

O processo da vasoclusão envolve diversas etapas, que se iniciam pela alteração da

adesão tanto de células falcizadas quanto de leucócitos ao endotélio vascular e também pela

interação direta entre os eritrócitos falciformes e os leucócitos aderentes, o que produz a

diminuição do fluxo sanguíneo tecidual (BARBARINO; PLATT; KAUL, 2010).

Nesse sentido, diversos estudos demonstram um aumento do número e das

propriedades adesivas dos leucócitos ao endotélio microvascular em indivíduos com anemia

falciforme. Os eosinófilos, por exemplo, aparecem em número elevado, evidenciando também

um aumento na expressão de vários tipos de moléculas de adesão, entre elas estão as

integrinas LFA-1, Mac-1 e VLA-4 que, promovem maior afinidade de adesão entre os

eosinófilos de indivíduos com anemia falciforme e a fibronectina. Outro fator relacionado à

elevação da adesividade desses à fibronectina é o aumento da produção de citocinas, em

especial a GM-CSF decorrente de processos inflamatórios (CANALLI et al., 2004).

Segundo Canalli et al. (2008), os neutrófilos de indivíduos com anemia falciforme

também apresentam maior capacidade em se aderirem a componentes da matriz extracelular

como, a fibronectina, e ainda a moléculas que são expressas por células endoteliais como, o

ICAM-1. Além disso, eles demonstram capacidade elevada de estimulação quimiotaxica, fator

importante para o desencadeamento do processo vasoclusivo (CANALLI et al., 2008).

Outro fator que contribui para o fenômeno de vasoclusão é a deficiência na produção

ou na ação do óxido nítrico (ON), aumentando o tônus vascular (TAYLOR et al., 2008).

Níveis alterados de ON estão diretamente relacionados com adesão celular, ativação

plaquetária e com os processos inflamatórios que ocasionam a vasoclusão. Esse distúrbio

vascular promove a diminuição do fluxo sanguíneo, contribuindo, concomitantemente, para a

desoxigenação dos eritrócitos e sua conseqüente falcização e obstrução do vaso (WEINER et

al., 2003). No entanto, estudos recentes indicam que a diminuição dos níveis de ON não

possuem um papel central no aumento das propriedades adesivas dos leucócitos, já a

diminuição dos níveis de GMPc pode aumentar significativamente a adesão endotelial

(CANALLI et al., 2008; ALMEIDA et al., 2008).

19

Figura 3- Fisiopatologia da vasoclusão na anemia falciforme. (A) Substituição do nucleotídeo (GTG GAG).

(B) Polimerização da HbS. (C) Formação do eritrócito falcizado. (D) Processo de hemólise intravascular e

vasoclusão mediada por eritrócitos falcizados, neutrófilos e reticulócitos. EC= endotélio. R= reticulócito. ISC=

célula irreversivelmente falcizada. N= neutrófilo. RBC= célula vermelha. Fonte: Adaptado, Bezerra (2009)

Segundo alguns autores as interações entre as células falcizadas, leucócitos e endotélio

vascular, são mediadas principalmente pela ativação exacerbada de algumas moléculas de

adesão da superfície dos eritrócitos falcizados (Figura 4). Dentre essas moléculas estão:

antígenos CD36, CD47, fator de von Willebrand (fvW), a proteína B-CAM/Lu (basal cell

adhesion molecule) e a integrina VLA4 (HILLERY, et al., 2000; ZAGO, PINTO, 2007;

CANALLI et al., 2008). É notado ainda que os reticulócitos, presentes em maior quantidade

nas doenças falciformes, apresentam maior expressão de antígenos CD36 e VLA-4, o que

também contribui para o aumento da adesão ao endotélio vascular (SONATI; COSTA, 2008).

20

Figura 4- Processo de adesão celular entre eritrócitos falcizados e endotélio vascular. PS= fosfatidilsserina.

TSP= trombospondina. FN= fibronectina. LM= laminina. VWF= fator de von Willebrand. Ocorre aumento de

moléculas de adesão (α4β1, CD36, B-CAM/LU) em eritrócitos e reticulócitos na anemia falciforme quando

comparado com eritrócitos normais. Fonte: Adaptado de Stuart e Nagel (2004).

O CD 36, juntamente com o complexo VLA4, promove a interação do eritrócito com o

endotélio e, quando isto ocorre, a molécula V-CAM1 (vascular-cell adhesion molecule 1) é

expressa no endotélio vascular em situações de hipóxia e por estímulo de citocinas (STUART;

NAGEL, 2004; ZAGO; PINTO, 2007). Além disso, o CD 36 liga-se a trombospondina (TSP),

derivada da ativação plaquetária, atuando como mediador entre reticulócitos e endotélio

(FONSECA, 2008).

A molécula B-CAM/Lu, por sua vez, promove interação entre as células e com a

matriz extracelular. Essa interação é realizada via receptor B-CAM/Lu, sendo importante para

os fenômenos de adesão, principalmente para a ligação do eritrócito falcizado com a proteína

laminina, que tem como principal função a adesividade (ZAGO; PINTO, 2007).

Outra molécula importante na anemia falciforme é a fosfatildisserina (PS) que se liga

ao complexo TSP presente no endotélio. O CD47 age como receptor da TSP, que promove a

ligação do eritrócito falcizado ao endotélio, estimulando a quimiotaxia dos leucócitos

(ZAGO; PINTO, 2007).

Vale ressaltar que o endotélio vascular é também anormal nas doenças falciformes,

segundo Sonati e Costa (2008), as células endoteliais possuem expressão elevada de

moléculas de adesão intercelular ICAM-1 e das moléculas de adesão vascular VCAM-1. Fato

que é ocasionado pelos níveis plasmáticos elevados de citocinas inflamatórias. Destaca-se,

21

ainda, algumas proteínas de adesão como a P-selectina, a E-selectina, a fibronectina, a

laminina, e a integrina αVβ3, que são capazes de interagir com receptores de adesão expressos

pelos eritrócitos falcizados e pelos leucócitos, desempenhando um papel importante na

vasoclusão (SONATI;COSTA et al., 2008).

Concomitante à adesão celular e a polimerização da desoxi-HbS ocorre um aumento

da permeabilidade da membrana do eritrócito falcizado ao sódio, potássio, magnésio e cálcio,

resultando em uma alteração no gradiente de concentração normal da célula, o que causa

desidratação e aumenta a concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM)

(BOOKCHIN; LEW 1996; RINEHART, et al. 2010).

2.1 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

Um evento característico da anemia falciforme é a anemia hemolítica resultante da

polimerização da hemoglobina, alteração de membrana e aumento de concentração de

hemoglobina corpuscular média (CHCM). Tais fatores propiciam o seqüestro e destruição

precoce das células falcizadas por meio do sistema monocítico fagocitário (ANVISA, 2002).

Esse sistema reconhece as imunoglobulinas, que estão presentes em níveis elevados na

membrana de células falcizadas, ocasionando a redução da vida média dos eritrócitos,

diminuição do hematócrito e hemoglobina além do aumento do número de reticulócitos

circulantes (ANVISA, 2002).

As etapas que fazem parte do processo de oclusão da microcirculação, com isquemia

de múltiplos órgãos, podem levar à cronicidade das lesões e ocorrência de significativas

manifestações clínicas típicas de pacientes com anemia falciforme. Dentre as manifestações

estão: crises dolorosas, aplásticas e de seqüestro esplênico, complicações cardíacas,

neurológicas, renais, pulmonares, oculares, ortopédicas e manifestações cutâneas (SCHNOG,

et al. 2004; ZAGO, 2004).

22

2.1.1 Crises vasoclusivas

A crise vasoclusiva, também denominada de crise dolorosa, é o evento mais comum

na anemia falciforme. A intensidade e o padrão da dor são bastante variados, indo desde

episódios agudos até episódios crônicos, muitas vezes, demandando atendimento hospitalar

emergencial (ANVISA, 2002).

De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), a crise

vasoclusiva consiste de “dor em extremidades, região lombar, abdome ou tórax, usualmente

associada a febre e urina escura ou vermelha”. As crises de dor frequentemente resultam de

necrose avascular da medula óssea, estando associadas ao aumento da pressão intramedular,

que é a causa mais freqüente de dor. Essa situação é evidenciada quando o paciente, após

análise laboratorial, apresenta necrose ou infiltrado neutrofílico em punção da região dolorosa

(ANVISA, 2002; STUART; NAGEL, 2004).

Stuart e Nagel (2004), relatam que indivíduos adultos com crises recorrentes de

vasoclusão, apresentando elevado grau de dor, tendem a possuir menor expectativa de vida,

comparado a indivíduos com menor nível de dor, indicando assim, que o aumento do estresse

oxidativo e inflamatório aceleram o processo de disfunção de determinados órgãos.

2.1.2 Crises aplásticas

Uma das manifestações agudas da anemia falciforme é a crise aplástica, que é oriunda

de uma insuficiência temporária da eritropoese, com diminuição da concentração de

hemoglobina e diminuição do número de reticulócitos, que ocorre geralmente nos primeiros

anos de vida (ZAGO, 2004). Porém, nos indivíduos com crise esta manifestação temporária é

suficiente para agravar o quadro de anemia, apesar da hiperplasia eritróide existente em

decorrência do mecanismo compensatório medular (STUART; NAGEL, 2004).

23

2.1.3 Crise de sequestro esplênico

A crise de sequestro esplênico representa uma das principais causas de morte na

primeira década de vida em pacientes com anemia falciforme (BALLAS et al., 2010). Ocorre

com maior freqüência após os seis meses de vida e tende a diminuir após os dois anos de

idade (ZAGO, 2004). No entanto, pode acontecer também em portadores de

hemoglobinopatia SC ou S/β-talassemia com incidência do primeiro evento mais tardiamente

do que na anemia falciforme (BALLAS et al., 2010).

Essa complicação leva a diminuição da concentração basal de hemoglobina que pode

chegar a 2g/dL, com reticulocitose (contagem de reticulócitos maior que 25% do valor

normal), trombocitopenia moderada ou severa, aumento rápido do baço, ocasionando choque

hipovolêmico, e hiperplasia da medula óssea. (DI NUZZO; FONSECA, 2004; BALLAS et

al., 2010).

A asplenia pode ser ocasionada em virtude de uma esplenomegalia decorrente da

congestão na polpa esplênica pelo bloqueio causado por grandes quantidades de eritrócitos

falcizados nos cordões esplênicos e sinusóides, e isso pode levar a ocorrência de infartos e

conseqüente atrofia e fibrose do órgão. Assim, devido às constantes agressões esplênicas tanto

a capacidade fagocítica mediada por proteínas que revestem microorganismos (opsoninas)

quanto a produção de anticorpos se tornam comprometidas, gerando a asplenia funcional (DI

NUZZO; FONSECA, 2004).

2.1.4 Crises hemolíticas

As crises hemolíticas, também definidas como crises hiper-hemolíticas, apresentam

redução acentuada de hemoglobina e elevada taxa de hemólise. Dessa forma, seu diagnóstico

é feito somente pela exclusão de outras causas de destruição de eritrócitos e pelo agravamento

da anemia. Frequentemente são associadas ao aumento de cerca de 25% na contagem de

reticulócitos e/ou presença de eritroblastos em sangue periférico (TAYLOR et al., 2008;

BALLAS et al., 2010).

24

Sabe-se, entretanto, que a ocorrência de hemólise na anemia falciforme pode variar de

indivíduo para indivíduo segundo a expressão de determinados moduladores como a HbF, a

interação com a α-talassemia e ainda, pela influência de diferentes genes importantes na

fisiopatologia da falcização celular (TAYLOR et al., 2008; STEINBERG, 2005).

2.2 DIAGNÓSTICO

As doenças falciformes abrangem um grupo de genótipos distintos, compreendendo

desde a homozigose da HbS, que define a anemia falciforme, até as co-heranças com outras

hemoglobinas variantes ou com a β-talassemia (β0 e β

+) (STUART; NAGEL, 2004).

A anemia falciforme e a associação da HbS com a β0-talassemia constituem as formas

mais graves de manifestações clínicas, sendo seguidas pela hemoglobinopatia SC e a Sβ+-

talassemia (POWARS et al., 2002).

Em virtude da ampla variabilidade de doenças falciformes é necessário um diagnóstico

sensível e específico, para correta detecção das variantes hemoglobínicas, de acordo com a

peculiaridade de cada genótipo. Normalmente o diagnóstico inclui hemograma, técnicas de

eletroforese de hemoglobina e quantificação de hemoglobina fetal (HbF) e HbA2. Além disso,

pode-se realizar testes mais sensíveis como, a reação em cadeia da polimerase (PCR) e

cromatografia líquida de alta performance (HPLC) (ANVISA, 2002).

Nos casos de associação de HbS com a HbC o diagnóstico deve ser realizado mediante

associação de técnicas de eletroforese alcalina e ácida, que possibilitam a visualização de

bandas em diferentes posições, segundo suas respectivas cargas elétricas. Nos casos em que o

padrão eletroforético da anemia falciforme é semelhante, HbS/β-talassemia, HbS/ βδ-

talassemia e HbS/PHHF (Persistência Hereditária de Hemoglobina Fetal), é indispensável o

emprego de técnicas mais sensíveis e específicas como a reação em cadeia da polimerase

(PCR), podendo ser útil a análise quantitativa de HbA2 e de HbF. Pois normalmente a HbA2

encontra-se aumentada (acima de 3,5%) quando existe relação com β°-talassemia, e reduzida

em casos de HbS/ βδ talassemia (ANVISA, 2002; SCHNOG, et al., 2004).

No diagnóstico neonatal é de suma importância levar em consideração os tipos de

cadeias globínicas que estão sendo expressas neste período, pois a síntese predominante é de

hemoglobina Fetal (HbF). Dessa forma, a porcentagem de hemoglobinas presentes após o

25

sexto mês de vida compreende 95% de HbA, 2 a 3% de HbA2 e 0 a 2% de HbF (SILVA,

2001). Entretanto, se houver diagnóstico positivo para doenças falciformes em neonatos, eles

precisarão de nova avaliação laboratorial após o sexto mês de vida (LEES; DAVIES;

DEZATEUX, 2000).

Devido à importância do diagnóstico precoce das hemogloblobinopatias em neonatos

no Brasil, o Ministério da Saúde as incluiu no Programa Nacional de Triagem Neonatal

(PNTN), tornando obrigatória a realização de testes para detecção de hemoglobinopatias no

teste do pezinho (RAMALHO, 2003).

2.3 TRATAMENTO

O tratamento precoce é essencial para o aumento da sobrevida e do bem estar de

indivíduos portadores de hemoglobinas anormais. Todavia, os tratamentos não são curativos,

constituindo medidas que visam diminuir os efeitos da anemia crônica, crises de falcização e

susceptibilidade às infecções, que podem ser ocasionadas pela alteração imunológica e

asplenia funcional (DI NUZZO; FONSECA, 2004; ANVISA, 2002). Segundo a ANVISA

(2002), “deve ser realizada boa nutrição, profilaxia, diagnóstico e terapêutica precoce de

infecções”. Recomenda-se também evitar condições climáticas adversas e manter boa

hidratação, sendo necessário, ainda, o acompanhamento adequado em serviços especializados

e educação da família para melhor qualidade de vida do paciente (ANVISA, 2002).

Um dos medicamentos utilizados para o tratamento de doenças falciformes é a

hidroxiuréia (HU). Os efeitos benéficos para o seu uso devem-se à sua habilidade de reativar

genes γ globina e aumentar os níveis de HbF, o que reduz a polimerização da HbS nos

eritrócitos, proporcionando a diminuição dos eventos vasoclusivos e hemolíticos,

minimizando assim a freqüência das crises dolorosas (CANALLI et al., 2008; TAYLOR et

al., 2008).

Além da capacidade de aumentar a produção de HbF, a hidroxiuréia (HU) possui ação

antinflamatória e leucopênica, influenciando também, na hidratação do eritrócito, na adesão

endotelial e na produção de oxido nítrico (SONATI; COSTA, 2008).

26

3. JUSTIFICATIVA

A anemia falciforme é a hemoglobinopatia mais prevalente no Brasil e no mundo,

sendo observada principalmente na população afro descendente. Segundo o Programa

Nacional de Triagem Neonatal, estima-se que no Brasil, dos nascidos vivos, cerca de 3.500

possuam a doença falciforme e 200.000 possuam o traço falciforme (ARAUJO, 2007).

Devido à importância dessa doença como um problema de saúde pública no Brasil, ela

assume um lugar de destaque nos cuidados médicos, genéticos e psicossociais.

Portanto, a proposta de avaliação da prevalência de anemia falciforme na população de

Brasília-DF, contribuirá não somente para o melhor conhecimento do seu perfil

epidemiológico nessa região, mas também para que outras pesquisas sobre hemoglobinopatias

sejam desenvolvidas, no intuito de promover melhoria na qualidade de vida do paciente e

elaboração de medidas terapêuticas mais eficazes.

27

4. OBJETIVOS

4.1 Objetivo Geral

Avaliar a prevalência de indivíduos portadores de anemia falciforme no Hospital das

Forças Armadas de Brasília – DF.

4.2 Objetivos Específicos

- Diagnosticar indivíduos com anemia falciforme.

- Identificar a prevalência de anemia falciforme na população em estudo.

- Correlacionar os dados encontrados com os dados de outros estudos.

- Analisar o perfil das variáveis demográficas.

- Verificar se existe relação entre a ampliação da triagem laboratorial e o aumento da

freqüência de indivíduos portadores de anemia, traço e/ou associação falciforme.

28

5. MATERIAIS E MÉTODOS

O estudo foi realizado no período de maio a agosto de 2010, com pacientes atendidos

no Laboratório de análises clínicas do Hospital das Forças Armadas de Brasília-DF (HFA),

após a aprovação do Comitê de Ética em pesquisa do HFA, e assinatura do termo de

consentimento livre esclarecido pelos pacientes e controles (ANEXO A).

Foram selecionados 61 pacientes a partir da análise do eritrograma, teste de falcização,

eletroforese de hemoglobina e confirmação pela eletroforese por capilaridade. Além disso, foi

analisado o perfil hemoglobínico de 64 pacientes com exames cadastrados no laboratório para

realização de eletroforese por capilaridade no equipamento Minicap (SEBIA®

), e 1057

pacientes, cadastrados para realização do exame de hemoglobina glicada no equipamento D-

10 (Bio-Rad®

), o qual inclui resultados para os demais tipos de hemoglobina. Para estas

análises não foi possível o acesso aos dados dos hemogramas desses pacientes.

Tabela 1- Quantidade de pacientes analisados no estudo segundo as técnicas utilizadas.

Técnica N° de pacientes

*Hemograma 61

**Minicap (SEBIA®) 64

***D-10 (Bio-Rad®) 1057

TOTAL 1181

*Pacientes analisados a partir do hemograma, teste de falcização, eletroforese de hemoglobina manual e

confirmação pela eletroforese por capilaridade.

**Pacientes analisados a partir dos resultados de exames cadastrados para eletroforese por capilaridade no

equipamento Minicap (SEBIA®).

***Pacientes analisados a partir dos resultados de exames cadastrados para hemoglobina glicada no equipamento

D-10 (Bio-Rad®).

5.1 CONTAGEM AUTOMATIZADA DE CÉLULAS E ANÁLISE MORFOLÓGICA POR

MICROSCOPIA

As amostras de sangue periférico foram coletadas em tubos contendo anticoagulante

EDTA, seguindo para a realização do esfregaço sanguíneo utilizando 5µL de sangue e

coloração com corante Wright.

29

Para análise do eritrograma foram utilizados os valores de referência padronizados

pelo laboratório, de acordo com a idade dos pacientes (ANEXO B). A leitura dos índices

hematimétricos foi realizada por contador eletrônico de células (Beckman-Coulter®

), sendo

selecionados pacientes que apresentavam dosagem inferior a 12g/dL de hemoglobina e 35%

de hematócrito, valor aumentado de RDW e/ou presença elevada de eritroblastos e/ou

reticulócitos e, simultaneamente, foi feita análise morfológica das hemácias por microscopia

dos esfregaços sanguíneos com o propósito de identificar achados laboratoriais sugestivos da

presença de HbS em homozigose ou heterozigose. Foram selecionadas amostras de pacientes

que apresentavam anisocromia, anisocitose, policromasia e presença de drepanócitos. Um

grupo de indivíduos sabidamente saudáveis foi utilizado como controle para todas as técnicas

usadas nesse estudo.

5.2 TESTE DE FALCIZAÇÃO

Depois da triagem pela análise do hemograma foi realizado teste de falcização para a

avaliação qualitativa da presença ou ausência de HbS nos eritrócitos.

Em um tudo de hemólise, misturou-se 50 L de sangue e 100 L de solução de

metabissulfito de sódio a 2%. Foi colocada uma gota desta mistura em uma lâmina, que foi

coberta com uma lamínula e as bordas foram vedadas, para evitar a entrada de oxigênio.

Posteriormente, a lâmina foi conservada em câmara úmida e avaliada ao microscópio após 6,

24 e 48 horas para a verificação da existência de hemácias falcizadas.

O teste de falcização foi considerado positivo quando os eritrócitos dos pacientes

evidenciavam formas em foice.

Figura 5- Representação de teste de falcização positivo em paciente com traço falciforme.

Fonte: http://www.hemoglobinopatias.com.br/d-falciforme/diagnostico.htm.

30

5.3 ELETROFORESE DE HEMOGLOBINA EM PH ALCALINO E ÁCIDO

Para comprovar a existência de hemoglobinas anômalas, a eletroforese de

hemoglobinas foi realizada de acordo com os Protocolos de Metodologias Clássicas para o

Diagnóstico de Hemoglobinopatias da UNESP (Anexo C e D) com algumas adaptações.

A separação e indentificação da HbS e HbA foi feita inicialmente pela eletroforese em

pH alcalino utilizando tampão Tris-EDTA-Borato - pH 8,5. Após a análise da migração

eletroforética em pH alcalino, as amostras foram submetidas a eletroforese em pH ácido

utilizando tampão Citrato - pH 5,9 - no intuito de distinguir as HbS, HbD, HbC e HbE.

A partir das frações hemoglobínicas resultantes nos géis de agarose, realizou-se o

reconhecimento das hemoglobinas por meio da comparação dos padrões eletroforéticos

previamente conhecidos.

5.4 ELETROFORESE DE HEMOGLOBINA POR CAPILARIDADE

A análise de eletroforese por capilaridade foi utilizada em amostras que apresentaram

alterações significativas nas avaliações do hemograma, na eletroforese alcalina e ácida, e

também para aquelas já cadastradas no sistema do laboratório. Para esta análise utilizou-se o

equipamento Minicap (SEBIA®

), que possibilita a avaliação qualitativa e quantitativa dos

diferentes tipos de hemoglobinas através dos seus respectivos pontos isoelétricos.

Esta avaliação é realizada utilizando hemácias lavadas, com soro fisiológico, e

preparação automática do hemolisado, pelo equipamento. A seguir é feita uma diluição da

amostra em uma cúpula que contém uma cubeta ânodo. Na seqüência essa amostra diluída é

injetada no capilar por meio do contato da extremidade anódica desse capilar com a amostra

diluída. Logo após cerca de 10 a 20 µL desta amostra é aspirada para o interior do capilar. A

migração ocorre em capilares de silício sob temperatura constante que é controlada por um

sistema de efeito Peltier, no qual permite o aquecimento ou resfriamento do sistema de acordo

com a direção de passagem de uma corrente elétrica na junção de dois condutores metálicos

diferentes. Em seguida as hemoglobinas são separadas através de alta-voltagem e detectadas,

31

na extremidade catódica do capilar, por espectrofotometria com comprimento de onda de

415nm que é específico para hemoglobinas. Os resultados são transmitidos para o programa

PHORESIS, que identifica as frações de hemoglobina e gera os diagramas eletroforéticos.

Figura 6- Diagrama eletroforético de paciente com traço falciforme pela técnica de eletroforese por capilaridade.

Concentração das frações de hemoglobina: HbA= 55,5%, HbA2= 3,1% e HbS= 41,4%.

5.5 CROMATOGRAFIA LÍQUIDA DE ALTA PERFORMANCE – HPLC

Foi utilizado o sistema automatizado Bio-Rad D-10 Hemoglobin Testing System com o

kit de análise para HbA1c Reorder Pack, que permite a detecção e quantificação de forma

rápida e precisa de HbA, HbF, HbS e HbC.

As amostras de sangue total são lisadas, e em seguida injetadas na coluna, que é

carregada positivamente (catiônica). As interações iônicas com a coluna catiônica e eluição

com tampões de diferentes cargas elétricas e pH, promovem a formação de um gradiente

iônico que permite a separação das frações de hemoglobina. É utilizado um sistema de

fotômetro de filtro que monitora a eluição de hemoglobinas da coluna e detecta as alterações de

absorbância. Os resultados são exibidos na forma de um cromagratograma (absorbância versus

tempo de retenção a coluna).

32

Neste cromatograma está definida a porcentagem de hemoglobina e o tempo de retenção

característico de cada molécula de hemoglobina à coluna. O tempo de retenção é determinado

a partir do tempo em que a amostra se liga a coluna até o momento em que está ligação é

rompida (Manual de Instrução BIO-RAD, 2003). O tempo de retenção estimado pra Hb S é de

4.57 ± 0.028 minutos (ONDEI et al., 2007).

5.6 ANÁLISE DOS DADOS

Os dados obtidos foram analisados com o auxílio programa Excel (Office 2007), que

foi utilizado para o cálculo da prevalência e da média para os índices hematimétricos e de

concentração de hemoglobinas, de acordo com o sexo, idade e cor da pele.

33

6. RESULTADOS

Foram avaliados 1181 pacientes no período de maio a agosto de 2010. Dentre estes, 61

fazem parte da triagem realizada a partir do eritrograma, teste de falcização, eletroforese

manual e confirmação pela eletroforese por capilaridade, 64 a partir dos resultados de exames

já cadastrados no equipamento Minicap (SEBIA®) e 1057 a partir dos resultados do D-10

(Bio-Rad®).

Os casos positivos para HbS foram divididos em dois grupos de pacientes: os

portadores de traço falciforme (HbAS) e os portadores de HbS em associação com outras

variantes estruturais de hemoglobina (HbSC, SE, SD). Das amostras avaliadas, nenhuma

apresentou homozigose S (HbSS).

Trinta e seis pacientes apresentaram traço falciforme (HbAS) e três apresentaram

hemoglobinopatia SC (HbSC), com prevalência de 3,05% para traço falciforme e 0,25% para

hemoglobinopatia SC (Tabela 2).

Foi possível observar que a média de idade entre os pacientes que apresentaram

hemoglobina HbS foi de 44,36 anos anos (com média de 50,21 anos para o sexo feminino e

35 anos para o sexo masculino). Já a distribuição quanto ao sexo mostrou maior incidência de

HbS em pessoas do sexo feminino, representando 61,54% (24), enquanto para o sexo

masculino foi de 38,46% (15) (Tabela 2). Houve o predomínio de alterações de frações

hemoglobínicas em indivíduos declarados de cor parda (Gráfico 1). A cor da pele de apenas

um paciente não foi informada.

Tabela 2- Número absoluto de casos de portadores de traço falciforme e hemoglobinopatia SC avaliados no

laboratório de análises clínicas do Hospital das Forças Armadas, de maio a agosto de 2010.

Tipo de Hemoglobina n Prevalência

% HbAS 36 3,05 HbSC 3 0,25

Total com HbS 39 3,30 *Outros 1145 96,95

HbS segundo o sexo n Frequência

% Feminino com HbS 24/39 61,54

Masculino com HbS 15/39 38,46

*Presença de 1110 pacientes com frações de hemoglobinas normais (HbAA), 18 pacientes com traço para

hemoglobina C (HbC), 16 pacientes com aumento de hemoglobina A2 e 01 paciente com Persistência Hereditária

de Hemoglobina Fetal (PHHF)

34

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

Branca Parda Negra Não declarado

12

18

7

1Qu

an

tid

ad

e d

e p

ac

ien

tes

Cor da pele

Gráfico 1- Distribuição quanto à cor da pele de pacientes com HbS. O número de pacientes declarados de cor

parda foi mais elevado do que para aqueles declarados de cor branca ou negra. Não foi declarada a cor da pele de

um paciente.

A distribuição quanto ao sexo e cor da pele predominante dos 39 pacientes, com

presença de HbS, está representada no Gráfico 2.

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

Branca Parda Negra Não declarado

4

8

3

0

9

10

4

1

Qu

an

tid

ad

e d

e p

ac

ien

tes

Cor da pele

Masculino

Feminino

Gráfico 2- Distribuição quanto à cor da pele entre pacientes do sexo masculino e feminino que apresentaram

HbS. O número de indivíduos de ambos os sexos foi similar para todos os tipos de a cor da pele.

Os valores de hemoglobina (Hb) dos 39 pacientes, com presença de HbS, variaram de

8,3 a 17,7g/dL (média 13,42 g/dL), o hematócrito (Hto) entre 24,9% a 49,8% (média 40,30%)

35

e o VCM de 67 a 102fL (média 87,47fL) para traço falciforme, enquanto para

hemoglobinopatia SC os valores de Hb, Hto e VCM permaneceram entre 10,3 a 11,4 g/dL

(média 10,87 g/dL), 30,4% a 34,8 (média 32,77%) e 87 a 93fL (média 88,33fL),

respectivamente (Tabela 3).

Tabela 3- Média dos índices hematimétricos de pacientes que apresentaram HbS.

Fenótipo

Hb

(g/dL)

Hto

(%)

RDW VCM

(fL)

HCM

(pg)

CHCM

(g/dL)

AS 13,42 40,30 15,34 87,47 29,08 33,27

SC 10,87 32,77 18,33 88,33 29,66 33,33

Nos pacientes analisados a partir do eritrograma e confirmação por eletroforese, foi

observado que, na maioria dos casos em que houve aumento do valor de RDW as alterações

morfológicas eritrocitárias, como anisocitose, também foram maiores. Percebemos uma maior

alteração (anisocitose, poiquilocitose, policromasia, presença de codócitos e esquisócitos) nos

pacientes em que foram detectadas frações de hemoglobina SC.

Do total de pacientes com HbS (39), 12 apresentaram anemia normocítica

normocrômica, destes 12 pacientes 8 apresentaram traço falciforme e 3 hemoglobinopatia SC

(Tabela 4).

36

Tabela 4- Dados quanto ao sexo, idade, cor da pele, concentração das frações de hemoglobina e índices

hematimétricos dos 39 pacientes que apresentaram traço falciforme e hemoglobinopatia SC.

Paciente Sexo Idade

(anos)

Cor HbA

%

HbA2

%

HbF

%

HbS

%

HbC

%

Hb

Var.

Hto Hb RDW VCM CHCM

1 *FN 11 P 66,7 33,3 12,4 37,9 15,1 68 33

2 FN 43 B 59,1 0,7 40,2 14,5 43 12,9 93 34

3 FN 40 P 56,5 1,4 0 42,1 13,9 42,1 14,1 88 33

4 FN 40 N 58,0 2,7 39,3 11,2 33,9 15,9 81 33

5 FN 26 P 54,8 3,3 0,7 41,2 13,8 41,1 13,1 87 34

6 MC 49 B 60,6 0,5 38,9 13,9 42,1 14,1 88 33

7 FN 64 P 62,8 37,2 13,2 39,9 14,7 87 33

8 *MC 66 P 61,9 0,6 37,5 15,3 46,3 13 89 33

9 FN 17 B 3,4 1,8 50,3 44,5 10,3 30,4 17 93 34

10 FN 74 P 57,0 40,7 15,7 45,6 13,4 84 35

11 MC 15 P 4,0 0,9 51 44,1 10,9 33,1 16,3 85 33

12 FN 67 P 55,5 3,1 41,4 11,1 31,6 13,2 92 35

13 MC 67 B 61,7 38,3 16,3 49,8 15 88 33

14 MC 1 P 43,4 1,2 46,7 8,7 10,1 31,5 19,5 81 32

15 FN 70 B 55,7 3,2 41,1 14,1 42 13,8 88 34

16 MC 48 N 55,0 3,4 41,6 15,8 48,1 14,1 89 33

17 MC 18 B 59,2 0,5 40,3 16 47,3 13,8 88 34

18 FN 66 N 60,2 0,6 39,2 11,8 37 13,4 97 32

19 MC 21 P 57,0 0,3 42,7 15,5 45,8 13,8 84 34

20 FN 64 B 79,5 2,5 18 8,8 28,9 38,4 67 30

21 FN 74 N 60,2 0,6 39,2 14,1 42,5 13,7 83 33

22 FN 70 B 60,1 0,3 39,6 14,3 43,2 13,4 95 33

23 FN 44 **nd 0,9 1,4 2,7 52,3 42,7 11,4 34,8 21,7 87 33

24 MC 51 P 61,8 38,2 14,2 42,6 14,2 88 33

25 FN 17 N 58,9 41,1 14,4 41,7 12,4 86 35

26 MC 30 B 59,6 0,5 39,9 16,7 48,7 14 88 34

27 MC 47 N 60,0 0,5 35,5 13,4 40,8 14,4 85 33

28 FN 55 P 61,1 1,1 37,8 12,4 37,5 13,1 88 33

29 FN 41 B 59,3 3,0 37,7 10,3 31,7 19,8 81 32

30 FN 49 P 55,4 3,3 41,3 8,3 24,9 18,3 98 33

31 FN 67 B 66,0 34 12,5 38 14,8 82 33

32 FN 74 P 61,5 38,5 13,5 41,7 15 87 32

33 MC 34 P 55,4 3,4 41,2 16 47,3 12,1 92 34

34 FN 32 B 66,9 1,4 0,2 29,6 1,9 10,3 31,5 21,4 98 33

35 MC 19 P 60,9 3,6 35,5 15,4 47,9 13,5 81 32

36 MC 59 N 55,1 3,4 41,5 15,4 45 12,3 94 34

37 MC 19

dias

P 43,4 1,2 46,7 8,7 9,9 29,2 20,8 102 34

38 FN 54 B 55,9 3,2 40,9 14,4 42,2 13 95 34

39 FN 46 P 60,0 0,3 39,7 14,2 40,6 14,6 87 35

Hb. Var.= Hemoglobina variante; *FN= Feminino e MC= Masculino; P=parda; B=branca;N=negra;**nd= cor não declarada.

37

Além disso, foi observado entre os 36 indivíduos com traço falciforme que a

concentração de HbS apresentou média de 37,82 %, enquanto para HbA obteve-se média de

59,06 % e HbF de 2,81 %. Já entre os 3 indivíduos com doença da HbSC obteve-se média de

51,2 % de HbS, 43,77 % de HbC e 1,8 % de HbF (Gráfico 3) Apenas em 19 dos 39 pacientes

foi possível a avaliação da HbA2, no entanto nestes indivíduos não houve aumento

significativo de HbA2. Não foi possível obter os valores de HbA2 nas amostras que foram

selecionadas a partir dos resultados da HPLC, devido ao Kit utilizado na rotina do laboratório.

Gráfico 3- Valores de concentração de hemoglobinas entre os 39 pacientes com traço falciforme e

hemoglobinopatia SC. Pacientes com traço falciforme apresentaram índices maiores de hemoglobina A.

Pacientes com hemoglobinopatia SC apresentaram índices discretamente maiores de hemoglobina S em relação a

hemoglobina C.

Verificou-se presença de hemoglobina variante, em um paciente com traço falciforme

(paciente 34 - Tabela 4), detectada por eletroforese em gel de agarose (poço número 4 -

Figuras 7 e 8) e confirmada pela eletroforese por capilaridade.

Figura 7- (A) Análise do gel de eletroforese manual de hemoglobina utilizando tampão Tris-EDTA-Borato - pH

8,5. 1 a 3 e 5 a 9. Amostras com hemoglobina A (banda mais escura) e hemoglobina A2 (banda mais clara). 10.

Amostra controle - paciente apresentando hemoglobinas A, A2 e F em níveis normais. (B) Em evidência poço

número 4 com amostra apresentando bandas de hemoglobina A (banda mais escura), S e banda que sugere Hb A2

e HbC de acordo com o padrão de bandas de hemoglobinas utilizado no estudo.

HbA

HbS

Hb A2

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

Traço falciforme Hemoglobinopatia SC

59,06%

0,30%2,81% 1,80%

37,82%

51,20%47,77%

Conc

entr

ação

de

Hb

Fração de hemoglobina

HbA

HbF

HbS

HbC

Hb Variante

38

Figura 8- (A) Análise do gel de eletroforese manual de hemoglobina utilizando tampão Citrato pH 6,3. 1 a 3. e 5

a 9. Amostras com resultado de HbF e HbA. 10. Amostra controle - paciente apresentando hemoglobinas A, A2 e

F em níveis normais. (B) Em evidência poço número 4 com amostra apresentando bandas de hemoglobina F, A,

S e banda desconhecida em relação ao padrão de bandas de hemoglobinas utilizado no estudo.

Na eletroforese por capilaridade esta hemoglobina variante ocupou a zona três e

apresentou concentração de 1,9%, enquanto os demais tipos de hemoglobina evidenciaram

concentração de 66,9% para HbA, 1,4% para HbA2, 0,2% para HbF e 29,6% para HbS (Figura

9). De acordo com o equipamento utilizado (Minicap - SEBIA®) os possíveis nomes desta

hemoglobina variante são: hemoglobina O-arabe, hemoglobina Chab (E-Keelung) e

hemoglobina E-Saskatoon (JOUTOVSKY; NARDI, 2004; CODRINGTON et al., 1989;

THEODORIDOU et al., 2003).

Figura 9- Diagrama eletroforético de paciente com traço falciforme que apresentou fração de hemoglobina

variante pela avaliação de eletroforese por capilaridade. A zona nove (Z9) mostra a concentração de

hemoglobina A (66,9%), a zona sete (Z7) apresenta a concentração de hemoglobina F (0,2%), a zona cinco (Z5)

apresenta a concentração de hemoglobina S (29,6 %) e o início da zona 3 (Z3) apresenta a concentração de

hemoglobina A2 (1,4%) e o final desta zona (Z3) evidencia uma fração de hemoglobina variante cuja a

concentração foi de1,9%.

HbF

HbA

HbS

Hb Variante

HbC

39

7. DISCUSSÃO

O estudo realizado buscou avaliar a prevalência de indivíduos portadores da HbS na

população atendida pelo Hospital das Forças Armadas de Brasília, com o intuito de verificar

se existe relação entre a freqüência de indivíduos portadores de anemia, traço e/ou associação

falciforme com a ampliação da triagem laboratorial para hemoglobinas anormais.

Os resultados, indicaram prevalência de 3,30% de indivíduos portadores da HbS na

população estudada, sendo que dentre estes observou-se prevalência de 3,05% de traço

falciforme. A prevalência observada é compatível com a relatada em estudos semelhantes

realizados na população do Distrito Federal, os quais evidenciaram prevalência de 2,06% de

traço falciforme em doadores de sangue e de 3,23% em recém-nascidos (VERAS et al., 1998;

DINIZ et al., 2009).

Acredita-se que a alta prevalência de portadores de traço falciforme no Distrito

Federal é decorrente de sua posição geográfica (DINIZ et al., 2009), pois está situado,

relativamente, próximo (em um raio de 1300 km) a estados que registram as maiores taxas de

traço falciforme, de acordo com outros estudos, e que demandam grande contingente

migratório. Entre estes estados incluem-se Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia, o qual

possui elevados índices de indivíduos com anemia falciforme, cerca de 10% de sua

população, principalmente na cidade de Salvador.

Podemos dizer também que existe a possibilidade de que estes altos índices de traço

falciforme encontrados no Distrito Federal sejam resultantes do grande fluxo migratório de

pessoas da região Nordeste durante o período de construção de Brasília (DINIZ et al., 2009).

Assim, de acordo com Diniz et al. (2009), o Distrito Federal ocupa a quarta posição entre as

unidades federativas que apresentam os maiores índices de traço falciforme.

A análise das variáveis demográficas, como sexo e idade, indicou que existe maior

freqüência de casos de traço falciforme entre pessoas do sexo feminino, cuja média de idade

foi de 50,21 anos. O resultado aponta que a maior parte da população feminina estudada não

se encontra em idade reprodutiva, diminuindo assim, a chance de surgirem novos portadores

do traço falcêmico. Em caso de união de mulher portadora de traço falciforme com outro

portador heterozigoto AS ou portador que possua outras variantes estruturais da hemoglobina,

os descendentes poderão apresentar traço ou anemia falciforme, ou associação da HbS com

uma hemoglobina variante, como no caso da hemoglobinopatia SC.

40

Embora a presença de HbS não apresente relação com o sexo, observou-se no estudo

que a prevalência de pacientes com HbS do sexo feminino foi superior a encontrada em

pacientes do sexo masculino. Os resultados corroboram os obtidos por Loureiro e Rozenfeld

(2005) e contradizem os resultados do trabalho realizado em recém-nascidos de Fortaleza, no

qual foram analisados 389 pacientes e foi relatada maior prevalência de HbS em pacientes do

sexo masculino, compreendendo 6,3% dos pacientes avaliados (PINHEIRO et al., 2006).

Entretanto cabe notar que o presente estudo contou com maior número de pessoas do sexo

feminino, o que pode ter influenciado a maior prevalência em indivíduos do sexo feminino.

De acordo com dados do Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE) do ano de 2000, a distribuição da população residente na região Centro-Oeste segundo

a cor da pele mostra que 46,2% das pessoas se declararam brancas, 49,42% pardas e 3,53%

negras. Já a comparação entre as variáveis cor e sexo mostrou que entre pessoas do sexo

masculino, 44,98% são de cor branca, 50,35% de cor parda e 3,83% de cor negra e para

pessoas do sexo feminino, observou-se as seguintes porcentagens 47,41%; 48,50% e 3,23%,

respectivamente (IBGE, 2000). Os resultados obtidos permitem notar que a presença da HbS

na população estudada obedeceu às características relativas à cor da pele para esta região

segundo o IBGE. Concluímos então, que a triagem de hemoglobinopatias não deve se basear

apenas em relação à etnia do indivíduo, no que se refere à região Centro-Oeste. Pois dentre os

39 pacientes que apresentaram traço falciforme ou hemoglobinopatia SC, 13 se declararam

com cor de pele branca.

Quanto aos achados hematológicos para os portadores de traço falciforme, percebeu-se

que grande parte dos casos (27 de um total de 39) não apresentaram valores alterados de Hb,

Hto, VCM, RDW e HCM, sendo similares, portanto, a outros resultados descritos na literatura

(MURÃO et al., 2007; TRIPETTE et al., 2009). Do mesmo modo, observou-se a discreta

alteração morfológica eritrocitária e também, concentração de HbA maior do que a de HbS,

revelando que os resultados são compatíveis com as características da heterozigose AS.

Entre os casos de hemoglobinopatia SC, no entanto, os achados hematológicos

revelaram índices diminuídos de hemoglobina e hematócrito, fato que está relacionado ao

grau leve de anemia presente nos pacientes. Entretanto, a presença de anemia em pacientes

com hemoglobinopatia SC ocorre em menor intensidade do que nos portadores de anemia

falciforme (NAGEL; FABRY; STEINBERG, 2003; TRIPETTE et al., 2009). Nesse sentido,

os resultados desses dois parâmetros estão de acordo com dados de Tripette et al. (2009), pois

os valores de Hb e Hto apresentaram médias menores para a hemoglobinopatia SC (Hb

10,87g/dL; Hto=32,77%) e também para o traço falciforme (Hb 13,4g/dL; Hto=40,30%),

41

obedecendo à forma de classificação clínica de cada fenótipo de acordo com os valores

diminuídos de hemoglobina e hematócrito (SS<SC<AS) (TRIPETTE et al., 2009).

É importante lembrar que a apresentação clínica da hemoglobinopatia SC é

considerada mais branda do que a anemia falciforme (NAGEL; FABRY; STEINBERG,

2003).

Outro achado relevante foi o aumento do RDW proporcional a expressividade das

alterações morfológicas do eritrócito. As alterações morfológicas encontradas podem sugerir

que as células SC apresentaram certo grau de densidade, proporcionando, assim, aumento da

incidência de células com formas alteradas, fato que foi constatado por Nagel e colaboradores

(2003) em estudo anterior. Ao contrário do que foi indicado por Ballas et al. (1987) não foi

observada microcitose ou hipercromia nas células SC, o que indica que não houve

desidratação intensa do eritrócito, sendo a microcitose e a hipercromia evidenciadas como

efeito secundário da desidratação (BALLAS et al., 1987).

O valor médio do CHCM dos três pacientes com hemoglobinopatia SC, foi menor

(33,33pg) do que a média de 37pg indicada em outros estudos (ROMERO et al., 2004),

sugerindo que no período de avaliação do eritrograma dos pacientes, não houve relação direta

com o aumento da densidade e desidratação do eritrócito, indicando menor probabilidade de

ocorrer formação de polímeros devido ao efeito da concentração de HbS na célula SC.

O valor do VCM entre estes pacientes, com hemoglobinopatia SC, permaneceu

normal, corroborando os estudos que estimam as alterações mais frequentes entre os

indivíduos que carregam o gene da βS globina, pois se sabe que este índice pode estar normal

ou diminuído nesta doença (HASHMI et al., 2008).

A concentração média da HbS e HbC nos indivíduos que apresentaram dupla

heterozigose foi de 51,2% para Hb S e de 43,77% para HbC, evidenciando maior

concentração de HbS, o que reforça os dados de estudos prévios, os quais relatam que

pacientes com hemoglobinopatia SC apresentam níveis de HbS superiores ao de HbC

(ONDEI et al., 2007).

Notou-se também que a média de concentração de HbS, que foi de 36,71% nos

pacientes com traço falciforme e de 51,2% nos pacientes com a hemoglobinopatia SC,

coincidiu com as médias descritas pela literatura: 40% e 50%, respectivamente. Dessa forma,

os dados obtidos corroboram a observação de Nagel et al. (2003) de que existe semelhança

entre o traço falciforme e hemoglobinopatia SC, pois pacientes com essas alterações genéticas

possuem níveis de HbS menores do que aqueles que são portadores de anemia falciforme,

cujo índice de HbS varia de 90% a 95% (HASHMI et al., 2008). No entanto, o conhecimento

42

de que ocorre maior desidratação nas células SC, comparada às células AS, demonstra uma

das diferenças entre o traço falciforme e a hemoglobinopatia SC, o que pode ser evidenciado

de acordo com suas respectivas características clínicas, sendo a hemoglobinopatia SC

considerada moderadamente severa, enquanto a heterozigose AS é considerada assintomática

(NAGEL; FABRY; STEINBERG, 2003).

Apesar da heterozigose AS raramente apresentar complicações, um estudo anterior

sugere que a ocorrência da viscosidade aumentada do sangue, ocasionada por determinadas

situações de estresse, contribui para a ativação de maior número de selectinas que, são

capazes de desencadear perturbações significativas da microcirculação (TRIPETTE et al.,

2009).

Este fato chama a atenção no presente estudo em virtude da população analisada, que é

composta por indivíduos que estão constantemente submetidos a fatores ambientais e físicos,

considerados de risco para aqueles que portam o gene da β S globina, por se tratar de militares.

Os resultados sugerem que a prevalência encontrada foi compatível com a de

resultados de outras investigações realizadas no Distrito Federal e no Brasil. Assim, é

importante considerar a necessidade de ampliação do rastreamento das hemoglobinopatias na

rotina laboratorial, e do aumento da realização de novos estudos com amostras mais

significativas.

Nesse sentido, com a realização de estudos futuros, almeja-se contribuir para o melhor

conhecimento do perfil epidemiológico das hemoglobinopatias na região do Distrito Federal.

Além disso, visa-se auxiliar o diagnóstico e o esclarecimento sobre medidas profiláticas e

terapêuticas, com o intuito de promover a melhoria na qualidade de vida do paciente e, ainda,

despertar o interesse de segmentos governamentais para a elaboração de medidas explicativas

e de conscientização da sociedade em geral.

43

8. REFERÊNCIAS

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ZAGO, M. A. Hematologia: Fundamentos e Prática. Rio de Janeiro, Atheneu. 2004.

49

ANEXOS

ANEXO A

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO

Eu, __________________________________________________________________

( )(Concordo) ( )(Discordo) que o material coletado para realização dos exames

constantes nesta guia, assim como os resultados destas análises, os quais estarão

armazenados nas bases de dados do LAC, sejam utilizados na composição de pesquisas

e outros trabalhos executados pelo laboratório com finalidades acadêmicas e científicas,

inclusive para publicação, desde que seja preservado o sigilo da minha identidade.

50

ANEXO B

Valores de referência dos índices hematimétricos adotados pelo laboratório.

Idade Erit

Hb

g/dL

Hto

%

RWD

VCM

fL

HCM

pg

CHCM

g/dL

Cordão 3,9 – 5,5 13,5 – 19,5 42 - 60 11,5 – 15,4 98 - 118 31 - 37 30 - 36

1 a 3 dias 4,0 - 6,6 14,5 - 22,5 45 - 67 11,5 - 15,4 95 - 121 31 - 37 29 - 37

3 dias a 1

semana

3,9 - 6,3 13,5 - 21,5 42 - 66 11,5 - 15,4 88 - 126 28 - 40 28 - 38

1 a 2 semanas 3,6 - 6,2 12,5 - 20,5 39 - 63 11,5 - 15,4 86 - 124 28 - 40 28 - 38

1 semana a 1

mês

3,0 - 5,4 10,0 - 18,0 31 - 55 11,5 - 15,4 85 - 123 28 - 40 29 - 37

1 a 2 meses 2,7 - 4,9 9,0 - 14,0 28 - 42 11,5 - 15,4 77 - 105 26 - 34 29 - 37

3 a 6 meses 3,1 - 4,5 9,5 - 13,5 29 - 42 11,5 - 15,4 74 - 108 25 - 35 30 - 36

6 meses a 2

anos

3,7 - 5,3 10,5 - 13,5 33 - 39 11,5 - 15,4 70 - 86 23 - 31 30 - 36

2 a 6 anos 3,9 - 5,3 11,5 - 13,5 34 - 40 11,5 - 16,0 75 - 87 24 - 30 31 - 37

6 a 12 anos 4,0 - 5,2 11,5 - 15,5 35 - 45 11,5 - 15,4 77 - 95 25 - 33 31 - 37

12 a 18 anos

Homens 4,5 - 5,3 13,0 - 16,0 37,0 - 49,0 11,5 - 15,4 78 - 98 25 -35 31 - 37

Mulheres

4,1 - 5,1 12,0 - 16,0 36,0 - 46,0 11,5 - 15,4 78 - 102 25 - 35 31 - 37

> 18 anos

Homens 4,5 - 5,9 13,5 - 17,5 41,0 -53,0 11,5 - 15,4 80 - 100 26 - 34 31 - 37

Mulheres

4,0 - 5,2 12,0 - 16,0 36,0 - 46,0 11,5 - 15,4 80 - 100 26 - 34 31 - 37

51

ANEXO C

ELETROFORESE DE Hb EM pH ALCALINO (Protocolos de Metodologias Clássicas

para o Diagnóstico de Hemoglobinopatias- UNESP, 2003)

Amostra: sangue total com EDTA

Material necessário:

Filme de agarose para separação eletroforética das Hb em pH alcalino (Hb alcalina)

Seringa micro-volume

Tampão alcalino TRIS pH 9,5 ±0,2 CELMGEL

Hemolisante (do Kit)

Corante Ponceau S (5,0 g CELM + 50,0 g de ácido tricloroacético)

Descorante para eletroforese de Hb (100mL ácido acético glacial + 50 mL metanol

P.A, completando com água até 1000mL)

Placas de Petri

Secador

Aparelho CELM FEA® – 250

Procedimento

Preparação do hemolisado

Centrifugar parte do sangue total com EDTA ou heparina e desprezar o plasma.

Lavar hemácias com solução salina 0,9% ( para cada 100µL de hemácias acrescentar

200µL de solução fisiológica) até obter sobrenadante límpido.

Misturar partes iguais das hemácias e hemolisante (para 100µL de hemácias 100µL de

hemolisante), em um tubo de ensaio.

Agitar vigorosamente em vortex por aproximadamente 30 segundos.

Determinar a concentração de hemoglobina no aparelho de hemograma e ajustar a

concentração de Hb em aproximadamente 1g/dl, diluindo com água destilada ou deionizada

até atingir concentração desejada.

O hemolisado obtido é estável por 24 horas quando armazenado entre 2 e 8º C.

Eletroforese

Com seringa de micro-volume, pipetar 1,0µL de cada hemolisado em uma cavidade

numerada no gel alcalino.

52

Ligar o aparelho CELM FEA® – 250 e ajustar para 30 minutos e 150 volts.

Colocar o gel alcalino no porta filme, coincidindo os pólos positivos e negativos do

filme e da cuba.

Colocar 80 mL de tampão alcalino gelado (2 a 8ºC), na cuba para cobrir o eletroldo

metálico.

Colocar o porta filme com o gel alcalino dentro da cuba ligá-la.

Após os 30 minutos deve-se desligar e retirar o porta-filme da cuba e deixar escorrer o

excesso de tampão em papel toalha.

Retirar o gel alcalino e colocá-lo a 60ºC (secador) até secar completamente, por

aproximadamente 15 minutos.

Mergulhar o gel em placa Petri, contendo o corante Ponceau S, por 10 minuto, sem

agitação.

Retira-lo do corante Ponceau e colocá-lo em outra placa contendo o descorante (ácido

acético / metanol), por 10 minutos.

Repetir o procedimento acima com descorante limpo por 10 minutos.

Completar a descoloração deixando o gel alcalino mergulhado por 10 minutos ou até

sua total descoloração em ácido acético 5,0%.

Secar completamente o gel alcalino à 60ºC (secador).

53

ANEXO D

ELETROFORESE DE Hb EM pH ÁCIDO (Protocolos de Metodologias Clássicas

para o Diagnóstico de Hemoglobinopatias- UNESP, 2003)

Amostra: sangue total com EDTA

Material necessário:

Filme de agarose para diferenciação da Hb S, C e F(Hb ácida)

Seringa micro-volume

Tampão citrato pH 6,3 ±0,2 CELMGEL

Hemolisante (do Kit)

Corante Amido-Black (Negro amido 0,1% em ácido acético a 5%)

Descorante para eletroforese de Hb (ácido acético a 5%)

Placas de Petri

Secador

Aparelho CELM FEA® – 250

Procedimento

Preparação do hemolisado

Centrifugar parte do sangue total com EDTA ou heparina e desprezar o plasma.

Lavar hemácias com solução salina 0,9% ( para cada 100µL de hemácias acrescentar

200µL de solução fisiológica) até obter sobrenadante límpido.

Misturar partes iguais das hemácias e hemolisante (para 100µL de hemácias 100µL de

hemolisante), em um tubo de ensaio.

Agitar vigorosamente em um vórtex por aproximadamente 30 segundos.

Determinar a concentração de hemoglobina no aparelho de hemograma e ajustar a

concentração de Hb em aproximadamente 1g/dl, diluindo com água destilada ou deionizada

até atingir concentração desejada.

O hemolisado obtido é estável por 24 horas quando armazenado entre 2 e 8º C.

Eletroforese

Com seringa de micro-volume, pipetar 0,5µL de cada hemolisado em uma cavidade

numerada no gel ácido. Aguardar alguns segundos para que o hemolisado penetre no gel e

aplicar mais 0,5µL do hemolisado.

Ligar o aparelho CELM FEA® – 250 e ajustar para 55 minutos e 50 volts.

54

Colocar o gel ácido no porta-filme, coincidindo o pólo positivo da cuba com o pólo

negativo do gel ácido.

Colocar 90 mL de tampão citrato pH 6,3 ±0,2 gelado (2 a 8ºC), na cuba para cobrir o

eletroldo metálico.

Colocar o porta filme com o gel alcalino dentro da cuba ligá-la.

Após os 55 minutos deve-se desligar e retirar o porta-filme da cuba e deixar escorrer o

excesso de tampão em papel toalha.

Retirar o gel ácido e colocá-lo em uma placa de Petri com o corante Amido-Black por

5 minutos, sem agitação.

Retira-lo do corante Amido – Black e colocá-lo em outra placa contendo o descorante

(ácido acético 5%), por 5 minutos.

Retirar o excesso de descorante do gel e colocá-lo à 60º (secador) até secá-lo

completamente, por aproximadamente 15 minutos.

Completar descoloração deixando o gel ácido mergulhado em ácido acético 5% até

que o fundo fique transparente, se necessário trocar o descorante.

Colocar o gel ácido em uma placa de Petri com água destilada por 2 minutos.

Secar completamente o gel ácido a 60ºC (secador).

55

ANEXO E