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Destinos IMPROVÁVEIS Caron traficava droga aos 11 anos, Jimmy tornou-se sem-abrigo aos 13, Leßron ficou à guarda de outra família aos 10 e Amar'e perdeu o pai com 12 e viu a mãe ser presa por roubar comida. Hoje são milionários da NBA. Keyon, vítima de abusos sexuais em criança, desistiu Texto de Rui Antunes Caron Btltler estava fechado duas semanas na solitária de um centro de detenção de máxima segurança. Tinha 15 anos e coleccionava uma dúzia de passagens pela prisão. Pensava na vida que levava desde os 1 1, quando se ini- ciou no tráfico de droga. A mãe a salti- tar-lhe na cabeça. «Escrevi tantas cartas a djzer-lhe o quan- to gostava dela e que, se um dia saísse, nunca mais a iria magoar. Foi num des- ses momentos que percebi que podia fa- zer o que quisesse da vida», revelou o nor- te-americano no programa de Oprah Win- frey, em 2005, uma década após ter virado costas a um passado sombrio. «As minhas referências na altura eram proxenetas e traficantes de droga». Na prisão entusiasmara-se com o basque- tebol e, no regresso à liberdade, inscreveu- se na equipa do liceu. Começava a reden- ção: em sete anos, recebeu uma bolsa de es- tudo para entrar na universidade como basquetebolista promissor e chegou ã NBA, contratado pelos Miami Heat. passou pelos Washington Wizards, LA Lakers, Dálias Mavericks e, aos 32 anos joga nos LA Clippers, a trooo de seis mi- lhões de euros por época. Tem três filhos e é dono de seis restaurantes de fastfood. Um negócio que conhece desde criança, quan- do trabalhou no Burger King, e que agora tenta dominar como empresário: está a ti- rar gestão na Universidade de Duke. A nova época da NBA arranca terça- -feira e, entre as 30 equipas, mais jo- gadores que entraram na liga norte-ame- ricana de basquetebol contra todas as probabilidades. Jimmy Butler, dos Chicago Bulis, tornou- -se sem-abrigo à força aos 13 anos. Com o pai ausente desde que era bebé, ainda hoje não tem explicação para as últimas pala- vras que ouviu da mulher que o trouxe ao

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DestinosIMPROVÁVEISCaron traficava droga aos 11 anos, Jimmy tornou-se

sem-abrigo aos 13, Leßron ficou à guarda de

outra família aos 10 e Amar'e perdeu o paicom 12 e viu a mãe ser presa por roubar comida.

Hoje são milionários da NBA. Keyon, vítimade abusos sexuais em criança, desistiu

Texto de Rui Antunes

Caron Btltler estava fechado há duas

semanas na solitária de um centro de

detenção de máxima segurança. Tinha15 anos e já coleccionava uma dúzia de

passagens pela prisão. Pensava na vida

que levava desde os 1 1, quando se ini-ciou no tráfico de droga. A mãe a salti-

tar-lhe na cabeça.

«Escrevi tantas cartas a djzer-lhe o quan-to gostava dela e que, se um dia saísse,

nunca mais a iria magoar. Foi num des-

ses momentos que percebi que podia fa-

zer o que quisesse da vida», revelou o nor-

te-americano no programa de Oprah Win-

frey, em 2005, uma década após ter virado

costas a um passado sombrio. «As minhas

referências na altura eram proxenetas e

traficantes de droga».

Na prisão entusiasmara-se com o basque-

tebol e, no regresso à liberdade, inscreveu-

se na equipa do liceu. Começava a reden-

ção: em sete anos, recebeu uma bolsa de es-

tudo para entrar na universidade como

basquetebolista promissor e chegou ã

NBA, contratado pelos Miami Heat.

Já passou pelos Washington Wizards, LA

Lakers, Dálias Mavericks e, aos 32 anos

joga nos LA Clippers, a trooo de seis mi-lhões de euros por época. Tem três filhos e

é dono de seis restaurantes de fastfood. Um

negócio que conhece desde criança, quan-do trabalhou no Burger King, e que agoratenta dominar como empresário: está a ti-

rar gestão na Universidade de Duke.

A nova época da NBA arranca terça--feira e, entre as 30 equipas, há mais jo-

gadores que entraram na liga norte-ame-

ricana de basquetebol contra todas as

probabilidades.Jimmy Butler, dos Chicago Bulis, tornou-

-se sem-abrigo à força aos 13 anos. Com o

pai ausente desde que era bebé, ainda hojenão tem explicação para as últimas pala-

vras que ouviu da mulher que o trouxe ao

mundo: «Não gos-

to do teu aspecto.

Tens de partir».Passou a dormir

na rua ou cm casa

de amigos. Andava

por sua conta. Até

que um dia foi de-

safiado para umconcurso de lança-

mentos triplos porum dos seus co-

nhecidos, Jordan líslie. A seguir veio o con-

vite para uns jogos de vídeo e, a certa altura,

Jordan e os seis irmãos começaram a insistir

com a mãe, Michelle Lambert, para que

Jimmy ficasse.

Michelle Lambert e o marido acabaram

por se render, impondo uma hora de reco-

lher e outras condições. «Disse-lhe que teria

de manter-se longe de problemas, ser apli-

cado na escola e servir de exemplo. E o

Jimmy fê-lo».

O sétimo rebento da família chegou com

17 anos e não brilhou o suficiente no bas-

quetebol de liceu para as universidades

lhe acenarem com bolsas de estudo. Mas

teve notas para entrar numa faculdade

próxima de casa e começou a dar nas

vistas nos jogos universitários. Com 23

anos, a NBA abriu-lhe a porta.«A vida ensinou-me que tudo é pos-

sível. Sei que posso ultrapassar o

que quer que seja se viver um diade cada vez», soltou Jimmy numa

reportagem da ESPN, em que pe-

diu para ninguém sentir penadele. «O que me aconteceu fez-me

ser como sou. Estou grato pelosdesafios que enfrentei». E porter entrado na vida de Michelle:

«Ela era simplesmente amoro-

sa. Adoro-a e falo com ela to-

das as manhãs. Vocês iriampensar que ela me tinha dado

à luz. Ela é a minha mãe». ?

Keyon Dooling só

teve coragem de

assumir que fora

abusado no dia em

que abandonou a

modalidade, há um

mês. Agora quergozar os quatrofilhos e fazer as

pazes com a vida

Leßron nasceu na pobrezaA mãe de Leßron James teve-o com 16

anos. Engravidou de um ex-condenado

que não ficou para ver o filho crescer.Com a morte da avó materna de Leßron,

pouco tempo depois, tudo se complicouna vida de Gloria James: nunca mnsp-

guiu ter emprego fixo e, incapazde pagar os alugueres, andou de

apartamento em apartamentoaté que teve de deixar o filho,com 10 anos, à guarda do treina-

dor de futebol americano.

Foram 18 meses de separação -até Gloria recuperar das suas fi-

nanças - que fizeram bem a Le-

Bron: deixou de faltar às aulas e

começou a evoluir no basquete-

bol, que viria a tornar-se a sua

modalidade de eleição.

Aos 17 anos, foi convidado

para um treino 'clandestino' com os Cleve-

land Cavaliers, o que custaria uma multa

superior a 100 mil euros ao treinador. E

aos 18 acabaria contratado por esta equi-

pa da NBA, sem passar pela universida-de. Era um prodígio e só em patrocínios

passou a ganhar mais de 70 milhões de eu-

ros na época de estreia. Hoie é a estrelados campeões Miami Heat

Em Nova lorque mora outro afortunado

inesperado. Amar'e Stoudemire perdeu o

pai aos 12 anos, vítima de ataque cardíaco,

e a mãe teve de roubar para o alimentar e

aos outros dois filhos. O que ganhava na

apanha da fruta não chegava para pagaras contas e passou muitas noites na prisão.

Enquanto o irmão mais

velho enfrentava outros

problemas com a justiça -foi condenado por crimes

relacionados com droga e

abusos sexuais -, Amar'e e

o irmão mais novo, nas au-

sências da mãe, andaramaos cuidados de um polícia

que vivia numa roulote, de

um treinador de basquete-

bol e de um reverendo que

já estivera preso três vezes.

A vida de nómada con-duziu-o a seis liceus diferentes, mas só pre-cisou de jogar dois anos a nível escolar

para convencer os senhores da NBA. De-

pois de lhe realizarem um teste psicológi-

co, os Phoenix Suns escolheram-no em

2002, num dia em que a presença da mãe

de Amar'e em Nova lorque implicou a vio-

lação da liberdade condicional que a impe-dia de sair da Florida.

Carrie cumpriu quatro meses de prisãopela ousadia, mas antes prometeu «o in-ferno» a um dirigente dos Phoenix se não

tratassem bem o filho. Pouco depois re-cebeu um Mercedes e uma casa junto à

de Amar'e. Os Phoenix trataram-no bem

e a NBA também. É agora, aos 29 anos,

BELEZA PROFISSIONALAO INTERVALO0 que começou como uma forme de organi-zar o apoto do púbteoôhpje um desporto na-dou* rosEuV^segundoaAssocteçao Nacio-

nal de CheertggtisrsMCA) norte-amertcana,80% das escolas públicas do país tem equh

pas do cheeríeeders, onde se encontram par-te dcs 34 ít#*^ de praticantes registados

no país. 0 desporto que se dedica a entreter

os espectadores nos tempos mortos de ou-tros desportos tem, desde os anos 90, direito

a transmissão na ESPNáo seu próprio cam-

peonato racional. E se a nfusl profissional ostá

entregue as mulheres (97%), nos cdógtos oshomens representam metade dos pratican-tes. É quase um regresso ao passado, já queatéa II Guerra Murrial era exclusivo a homens.

FranklnßooseveltouDvvJghtßsenhovverfo-

nxTidotsdosciuei7ccBj&rnospci7]ocnsuntar~

sltártos pela Casa Branca, como George W.

Bush vlriaafazer décadas mais tarde. N.E.L.

uma estrela dos New York Knicks, que

ganha 15 milhões de euros por época e

vive num apartamento com cabeleireiro

e estúdio de gravação, com vista para o

Empire State Building, em Manhattan.Mas Amar'e é mais do que um basquete-

bolista de sucesso: é dono de uma edito-

ra discográfica, criador de moda, actor e

escritor de livros infantis.

Foi na idade de ler histórias para crianças

que Keyon Dooling sofreu maus tratos que

o afectam até hoje. Em Setembro, a um mês

de começar mais uma época, a sua 13. a, de-

cidiu que já chegava de NBA.

O vice-presidente da associação de joga-

dores tinha renovado contrato com os Bos-

ton Celtics em Julho. Ao reflectir sobre a

vontade de abandonai; que já havia ponde-

rado em 2007, deu-se conta de como passa-

ra anos em negação.«VeitHne tudo à cabeça Tive de procurar

ajuda profissional e acabei no hospitaL Sou

um homem que foi abusado sexualmente e

emocionalmente, como tantos na NBA de

quem fui terapeuta. Nunca tive coragem de

oassumir porque bloqueei isso de tal forma

que nem sequer conseguia partilhar», desa-

bafou Keyon à cadeia de televisão CSNNE.

A exigência louca dos jogos dia-sim-día-

-não e das viagens intermináveis já não é

para ele. Amealhou 30 milhões de euros ao

longo da carreira e, aos 32 anos, prefere de-

dicar-se aos quatro filhos e fazer as pazes

com a vida. «Tenho todos os recursos que

preciso, sou um homem abençoado». A

NBA terá ajudado. •[email protected]

DOIS CONSAGRADOSE UMA PROMESSA

A um campeão que conta não só com o me-

lhor jogador da liga, Leßron James, mas

também com uma das mais assustadoras

irafcisda competição Oames, DwayneWa-

deeChrís Bosh), os LA Lakers respondem

na mesma moeda. A segunda equipa mais

titulada da NBA juntou Dwight Howard e o

veterano Steve Nash a Kobe Bryant Uma

aposta no sucesso imediato -visível tam-

bém na decisão de manter Pau Gasol- que

contrasta com o projecto de futuro iniciado

há um ano, após a salda do mítico treina-

dor Phil Jackson. 0 objectivo passa por ven-

cer no Oeste, para chegar a uma previsível

final frente aos MiamiHeat, que este ano se

reforçaram com um dos melhores lança-dores de triplos, Ray Allen. Mas para Kobe

tentar o 6.S títub da carreira na B.a final, os

Lakers terão de bater o último do trio de fa-

voritos - os OMahoma City Thunder. A equi-

pa onde brilha Kevin Durant foi semhfina-

Nsta em 2011 e chegou à final na útóma tem-

porada, perdendo para Miami. Mas a sua

urgência é menor, porque o trio formado

por Durant, Westbrook e Harden tem uma

média de idades de 24 anos, oferecendo

mais margem de erro do que os 28 em Mia-

mi e os 33 em LA.

MEL