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Preservação do Patrimônio Histórico e Cultura na América do Sul Desafios e Soluções Organizado por World Monuments Fund Resumo de Palestras São Paulo, Brasil 11–14 de abril, 2002

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Page 1: Preservação do Patrimônio Histórico e Cultura na América ... 2002 abstract PORTUGESE... · Hernan Crespo-Toral Consultor Independente em Cultura e Desenvolvimento, Ecuador São

Preservação do Patrimônio Histórico e Cultura na

América do SulDesafios e Soluções

Organizado por World Monuments Fund

Resumo de PalestrasSão Paulo, Brasil

11–14 de abril, 2002

Page 2: Preservação do Patrimônio Histórico e Cultura na América ... 2002 abstract PORTUGESE... · Hernan Crespo-Toral Consultor Independente em Cultura e Desenvolvimento, Ecuador São

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Abertura e Boas Vindas3 Introdução, Hernan Crespo Toral, Consultor em Cultura e Desenvolvimento do Ecuador

Primeira Sessão: Critérios Para a Identificação de Locais com Patrimônio CulturalRelevante

5 Critérios Para Identificação De Monumentos Históricos: Como Conseguir Representatividade e Credibilidade Como Local de Patri-mônio Histórico, Herman Van Hooff, UNESCO

5 Patrimônio Histórico Moderno Na América Latina, Hugo Segawa, Docomomo

7 Os Sítios Urbanos Protegidos e o Programa Urbis, Carlos Henrique Heck, IPHAN

9 World Monuments Watch Program John Stubbs, WMF

11 Icomos, Iniciativas Relativas ao Patrimônio Ameaçado, Dinu Bumbaru, Representante Canadense do Icomos

Segunda Sessão: Divulgação e Consciência Coletiva Em Relação à Conservação e oDesenvolvimento do Patrimônio Histórico—Conservação Posta Em Prática

15 Igrejas de Madeira de Chiloé, Chile: A Tarefa Constante de Conservação, Hernán Montecinos, “Fundación Amigos de Las Iglesias de Chiloé”

16 Machupicchu: Ideais De Preservação Vis-á-Vis as Aspirações Democráticas, Mariana Mould De Pease, Instituto Nacional de Cultura do Peru

17 Os Sitíos Históricos Judaicos em Jodensavanne e Paramaribo, no Suriname, Rachel Frankle

19 Elevadores De Valparaiso: O Valor De Um Patrimônio Esquecido, Jaime Migone, Conpal

20 Destruição E Preservação De Arte Rupestre Na Bolívia, Matthias Strecker, SIARB

Terceira Sessão: Conservação Arquitetônica: Da Teoria à Prática22 Peru, “Los Pinchudos: Projeto De Conservação De Urgência Na Floresta Tropical,” Ricardo Morales Gamarra, ICAM

24 Teoria e Prática da Conservação: Soluções de Compromisso, A. Elena Charola, Universidade de Pennsylvania, USA

25 Chan Chan: Prblemática e Perspectiva na Aplicação da Teoria e Prática, Ana Maria Hoyle e Ricardo Morales Gamarra, ICAM

26 “Las Misiones Jesuíticas De Guaraníes y el Conjunto de San Ignácio Miní,” Ramon Gutierrez, CEDODAL

Quarta Sessão: Turismo Gerenciado, Promoção & Desenvolvimento28 Cuzco: Reflexções Sobre Sua Conservação, Roberto Samanez Argumedo, Arquiteto

29 Ilha da Pascoa, Chile, Angel Cabeza, CMN

31 Corredor Cultural: Processo de Revitalização Urbana, Augusto Ivan De Freitas Pinheiro, Instituto Light

32 Cartagena De Indias, Colômbia, Silvana Giaimo, Secretaria De Planejamento

Quinta Sessão: Alavancando & Financiando Parcerias34 Revitalização de Centros Históricos: RECIFE Silvia Finguerut e Romero Pereira, Fundação Roberto Marinho

37 A Conservação do Patrimônio Histórico Urbano na América Latina e no Caribe: Uma Tarefa de Todos os Actores Sociais, Eduardo Rojas, IADB

38 O Processo De Revitalização Do Centro Histórico De São Paulo, Marco Antonio Ramos De Almeida, Associação Viva O Centro

41 Huaca de la Luna: Uma Aliança Estratégica Para a Conservação do Patrimônio Cultural no Peru, Elias Mujica, Fundação Backus

42 O Centro Histórico de Quito: Um Breve Olhar ao Processo de Conservação, Reabilitação e Financiamento, Dora Arizaga, Ex-Diretora do Fundo de Salvamento do Patrimônio Cultural

Sexta Sessão: Resumo E Conclusões 44 “El Sin Valor De Los Valores”, Graziano Gasparini, Arquiteto e Professor, Universidade deVenezuela

50 Objetivos para a próxima década em matéria de conservação patrimonial na América do Sul, propostos no congresso:, John Stubbs, WMF

51 Conclusões, Gustavo Araoz, US/ICOMOS

Forum: Oportunidade Para Encontrar Representantes dE Instituições Financiadoras e Discutir Oportunidades Disponíveis de Financiamento para Con-servação do Patrimônio Cultural

54 Bonnie Burnham, World Monuments Fund

58 Robert Glick, American Express

59 Silvia Finguerut, Fundação Roberto Marinho

60 Eduardo Rojas, IADB

61 Regina Weinberg, Vitae

62 Herman Van Hooff, Unesco

63 Grupo de participantes

64 Diretoria de participantes

Sumário

Page 3: Preservação do Patrimônio Histórico e Cultura na América ... 2002 abstract PORTUGESE... · Hernan Crespo-Toral Consultor Independente em Cultura e Desenvolvimento, Ecuador São

Hernan Crespo-Toral

Consultor Independente em Cultura e Desenvolvimento, Ecuador

São grandes os desafios que enfrenta a conservação doPatrimônio Cultural na América do Sul, não somen-te porque a região atravessa uma das maiores criseseconômicas da História, como também, sobretudo,pela perda de valores éticos, o que influi diretamentena apreciação daquilo que implica a conservação etransmissão do patrimônio cultural. O patrimôniointangível é aquele que nos transmite o modo de sere sua expressão material, de alguma forma torna evi-dentes aqueles sinais de identidade que vieram forjan-do os povos através das idades. Os desafios aumentamse considerarmos os novos paradigmas difundidos pelosmeios de comunicação e o processo irreversível deglobalização, que em vez de contribuir para o fortale-cimento e universalização dos valores humanísticos,provoca em muitas ocasiões, a erosão das identidades,o agravamento das tensões sociais e acentua as dife-renças entre ricos e pobres. Torna-se, portanto, tare-fa muito difícil e complexa a conservação dos bens queconstituem os intangíveis das sociedades e que não são,por sua essência, exploráveis no sentido mais amplo dapalavra, que é o que propugna a sociedade contem-porânea.

Devido às grandes emergências que o Continenteteve que enfrentar, a Cultura não foi consideradacomo o ingrediente essencial do Desenvolvimento. Épor esse motivo que ficaram esquecidas ou foram adia-das as políticas que acrescentariam uma visão integralaos processos econômicos e sociais. Tampouco foidada a prioridade necessária às ações destinadas a favo-recer o desenvolvimento cultural, entre as quais ocupalugar de destaque a conservação e manutenção doPatrimônio Cultural. Isso fez com que os esforçosrealizados por muitos países nas décadas dos 70 e 80 doséculo passado, para a formação profissional no campoda conservação do Patrimônio Cultural e na execuçãode projetos destinados a garantir a sobrevivência devaliosas testemunhas de nossa herança cultural, não

tenham tido a continuidade desejada e com que hojecareçamos de profissionais e dos investimentos neces-sários por parte do Estado.

Predomina, no momento, uma visão pragmáticada conservação, que em princípio, é louvável, mas quepode ocasionar desvios daquilo que implica a trans-missão do acervo cultural e de seus valores autênticos.É lamentável, por exemplo, a mudança total de uso dealguns bairros dos centros históricos ocasionada pelodeslocamento de importantes núcleos da população,para transformá-los em estruturas urbanas fictícias,destinadas sobretudo, a fins turísticos e comerciais.Nesses processos, que se baseiam geralmente em inves-timentos municipais ou privados, com empréstimosbancários que devem ser “rentáveis”, existe o risco dese perder a originalidade do bem, característica essen-cial que o define como patrimônio cultural, se os pro-jetos de recuperação ou reabilitação não forem con-cebidos de forma integrada. O que vale dizer que paraa intervenção nos bens patrimoniais devem ser levadosem conta os aspectos éticos, históricos, sociais, eco-nômicos e culturais que garantam a conservação e umuso adequado dos bens na época contemporânea, suasustentabilidade e transmissão às novas gerações.

Os grandes desafios com que se defronta a Regiãodiante do crescimento desmesurado de suas cidades, oaumento da pobreza em proporções alarmantes (emalguns países atinge 80%), o desemprego ou sub-emprego, a emigração para os centros históricos coma conseqüente “ruralização”, o aumento da poluição,a depredação dos ecossistemas que rodeiam as cidades,exigem a adoção de medidas urgentes que tendam agarantir um Desenvolvimento Humano Sustentável. A“memória” que de alguma maneira nos repreende apartir dos bens culturais, deve servir para recordar-nosa qualidade humana que deve ter Desenvolvimentopara enriquecer uma globalização que, por ora, se nosapresenta como avassaladora e desumanizada.

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Primeira Sessão:

Critérios para a Identificação de Locais

Com Patrimônio Cultural Relevante

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A Convenção referente à proteção do patrimônio cul-tural e natural da humanidade foi aprovada pelaAssémbleia Geral da UNESCO em 1972. Assimsendo, o ano de 2002 será o ano em que se comemo-rará seu trigésimo aniversário. Nesses trinta anos aConvenção do Patrimônio da Humanidade tornou-seo mais bem sucedido instrumento legal universal acei-to internacionalmente para a proteção do patrimôniocultural e natural. Até hoje, 167 Estados aderiram àConvenção e seu instrumento mais importante, a Listado Patrimônio da Humanidade inclui, no presente,721 propriedades das quais 144 são naturais, 23 mistas– cultural e natural – e 554, cultural. Estas proprieda-des estão localizadas em 124 países.

Apesar do grande número de propriedades a Listado Patrimônio da Humanidade não representa comigualdade as várias regiões do mundo ou a grandevariedade de expressões culturais e sistemas naturaispara que possa ser realmente considerada universal.

Num esforço para corrigir este desequilíbrio, oComitê do Patrimônio da Humanidade lançou, em1994, uma Estratégia Global para uma Lista do Patri-mônio da Humanidade representativa. A EstratégiaGlobal incluía a revisão dos critérios para inscrição,assistência individual aos Estados para identificaçaodos locais para o Patrimônio da Humanidade, a pre-paração dos relatórios de indicação e um grandenúmero de reuniões com especialistas na matéria. Noentanto, o impacto da Estratégia Global foi limitado eos desequilíbrios estruturais da Lista, especialmenteem termos geográficos, não foram corrigidos.

Mas mesmo que a Lista do Patrimônio da Huma-

nidade fosse universal e representativa, seria digna deconfiança? Na prática: A listagem garante uma prote-ção adicional efetiva? A conservação é feita comonecessária? Os locais são administrados adequada-mente? Se todas as respostas fossem afirmativas, aindaassim seria necessário que o Comitê do Patrimônio daHumanidade examinasse anualmente o estado de con-servação de trinta e uma propriedades declaradas “emperigo” e de quase 100 outras que estão, de um modoou outro, ameaçadas?

O papel que o Comitê pode desempenhar na pre-servação do Patrimônio da Humanidade tem sido muitodiscutido. O que para uns é um delicado equilíbrioentre a soberania do Estado e a cooperação internacio-nal é, para outros, uma contradição fundamental e umponto fraco na formulação essencial da Convenção doPatrimônio da Humanidade. As longas discussões sobreos procedimentos e princípios para monitoramento epreparo dos relatórios, a inscrição dos locais na Lista doPatrimônio da Humanidade em Perigo e a eventual eli-minação de um local da Lista, mostra o quanto difícil éampliar a aplicação da Convenção, fazer crescer suacredibilidade e, ao mesmo tempo, respeitar os direitosde soberania e individualidade dos Estados.

Se a Convenção poderá ou não continuar a fazeruma contribuição importante e confiável, salvandolocais do abandono, falta de administração, deteriori-zação, crescimento urbano ou exploração do turismoinsensível, dependerá muito das soluções encontradaspara estas questões.

As opiniões expressas são do autor e não representam,

necessariamente a posição da Organização.

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Critérios Para Identificação De Monumentos Históricos: Como Conseguir Representatividade e Credibilidade Como Local de Patrimônio HistóricoHerman Van Hooff

Assessor para o Patrimônio da Humanidade na América Latina e Caribe,

Assessor para a Cultura no MERCOSUL - Escritório UNESCO – Montevideo, Uruguay

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Modern Heritage in Latin AmericaHugo Segawa

Arquiteto e Professor, Universidade de São Paulo - DOCOMOMO – São Paulo, Brasil

O patrimônio moderno está agorasendo discutido. Foruns importantescomo Conferências DOCOMOMO,ou debates no Centro do Patrimônioda Humanidade da UNESCO salien-tam as dificuldades para se avaliar osignificado e o escopo das proprieda-des da era moderna, ou talvez, o patri-mônio do século XX. Os diferentesprocessos de modernização ao redordo mundo exigem uma abordagemcuidadosa para definir critérios con-fiáveis que identifiquem os edifícios,complexos urbanos e paisagens aserem consideradas para proteção,conservação e nomeação. Este é umdesafio real na América Latina, devi-do a abordagens inadequadas, comocategorias de avaliação Eurocêntricas,que poderia levar a um erro de interpretação de aspec-tos importantes com relação às expressões culturais,científicas e tecnológicas peculiares ao sub-continen-te. Este trabalho pretende apresentar alguns exemplospara definir algumas nuances regionais a serem levadasem consideração, por meio da introdução de exemplosde alguns países latino-americanos.

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OS SÍTIOS URBANOS PROTEGIDOS E O PROGRAMA URBIS/IPHANCarlos Henrique Heck

Presidente, IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Brasil

O IPHAN tem realizado ações de preservação com oapoio das comunidades, dos governos municipais eestaduais e do Ministério Público. Encontram-se inscritos em seus livros de Tombo, e estão sob a tutela dainstituição, 1.005 bens, sendo que destes 59 são sítiosurbanos, como cidades, bairros, ruas e praças, com-postos por cerca de 20 mil imóveis. Estão ainda sob aproteção legal do IPHAN 12.495 sítios arqueológicosjá cadastrados, 225 mil objetos museológicos, extensadocumentação arquivística e bibliográfica, além deregistros fotográficos, cinematográficos e videográficos,sob a guarda de suas diversas unidades.

Essas unidades compreendem 14 SuperintendênciasRegionais, a Gerência Executiva de Brasília, 19 Sub-Regionais, os Museus Nacional de Belas Artes, His-tórico Nacional, Imperial, da República, da Inconfi-dência, Lasar Segall, Villa-Lobos, Raymundo Ottonide Castro Maya, de Biologia Professor Mello Leitão,o Paço Imperial, o Sítio Roberto Burle Marx, a Cine-mateca Brasileira e o Palácio Gustavo Capanema, aosquais se somam 18 Museus Regionais, nove CasasHistóricas, o Parque Nacional dos Guararapes, o Par-que Nacional da Tijuca e o Parque Monte Pascoal,ligados às Superintendências Regionais.

É da responsabilidade do Governo Brasileiro, pormeio do IPHAN, a preservação dos bens culturaisinscritos na Lista do Patrimônio Mundial da Unesco.São eles: o Conjunto arquitetônico e Urbanístico deOuro Preto/MG; o Centro Histórico de Olinda/PE;os remanescentes da Igreja de São Miguel das MissõesJesuíticas dos Guarani, em São Miguel das Mis-sões/RS; o Centro Histórico de Salvador/BA; o san-tuário de Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas doCampo/MG; os Sítios Arqueológicos do ParqueNacional da Serra da Capivara, em São RaimundoNonato/PI; o Conjunto Urbanístico, Arquitetônico ePaisagístico de Brasília/DF; o Parque Nacional doIguaçu/PR; o Centro Histórico de São Luís/MA; oCentro Histórico de Diamantina/MG; a Costa doDescobrimento, no sul da Bahia e norte do EspíritoSanto, abrangendo um total de mais de 15.700 edifi-cações a serem protegidas.

O IPHAN atua em quatro grandes áreas: Planeja-mento e Administração, Identificação e Documenta-ção, Proteção e Promoção.

Ao longo de mais de 60 anos, o Brasil passou porenormes transformações em suas áreas urbanas e a açãodo IPHAN, em todo o território nacional, assegurou apreservação de parcela significativa de nosso patrimôniocultural, salvando do desaparecimento um legado con-siderável para a cultura brasileira e contribuindo para acriação de uma consciência de preservação no país.

Iremos abordar neste Seminário Internacional algu-mas considerações sobre o nosso programa “URBIS”,que tem como objeto o restauro dos Sítios Urbanos,na preservação do patrimônio cultural urbano dosnúcleos tombados.

O Programa URBIS

Para o enfrentamento dessa questão, foi formulado eencontra-se em fase de implementação o Programa deReabilitação Urbana de Sítios Históricos – URBIS,que significa “da cidade/para a cidade”.

Este programa, de caráter multisetorial e focalizadoterritorialmente nesse setor urbano, estrutura-se emlinhas de atuação voltadas para o desenvolvimento deações que visam:

■ a informação como instrumento gerencial funda-mental para o tratamento a ser dado às interven-ções, ao seu monitoramento e à sua avaliação;

■ uma base legal e um sistema de financiamento dareabilitação urbana apropriado ao contexto dasáreas consolidadas das cidades;

■ o gerenciamento criativo e participativo das inter-venções; e

■ a capacitação das instituições públicas, do setorempresarial e da sociedade civil organizada na ges-tão do desenvolvimento sustentável da cidade, eno caso, em particular, da reabilitação urbana desítios históricos.

Desta forma, o URBIS é uma estratégia de atuaçãovoltada para a solução de problemas afetos ao patri-mônio nas cidades, constituindo-se como instrumen-to para o desenvolvimento de uma cultura urbanísti-ca do patrimônio e objetiva:

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■ contribuir para a preservação do patrimônio cul-tural brasileiro, considerando-o como recurso parao desenvolvimento das cidades;

■ recuperar as condições de habitabilidade dos sítioshistóricos, bem como estimular a sua revitalizaçãosocio-econômica e cultural;

■ proporcionar condições favoráveis para a melho-ria da qualidade de vida dos sítios históricos loca-lizados em áreas urbanas;

■ valorizar o patrimônio cultural enquanto fator decidadania e recurso efetivo para o desenvolvi-mento sustentável das comunidades detentorasdesse patrimônio.

Sua estratégia de atuação preconiza a construção deuma gestão compartilhada das ações e responsabilida-des de preservação do patrimônio cultural nas cidades,baseadas na instituição de:

Um Mecanismo de Gestão Compartilhada, mate-rializado na Comissão Gestora Local, destinado a pro-piciar a necessária e adequada articulação intergover-namental e interinstitucional e entre a AdministraçãoPública e a Sociedade, bem como a integração dasáreas setoriais tradicionais que incidem no urbano(habilitação, saneamento básico e transportes urbanos)às áreas de emprego e renda, educação, meio ambien-te, cultura e turismo,entre outras; e

Um Instrumento de Gestão Compartilhada, mate-rializado no Plano de Preservação, constituindo-se emum instrumento de natureza normativa, estratégica eoperacional para estes setores das cidades, destinado adefinir estrategicamente e físico-espacialmente as atua-ções na área, segundo os setores público, privado e coo-perativo e nos segmentos referentes, em princípio, a:

■ recuperação de edifícios públicos e privados parausos residencial, comercial, de serviços e mistos;

■ recuperação e/ou instalação de infra-estruturaurbana como saneamento básico, iluminaçãopública compatível, sistema viário, etc;

■ recuperação de espaços públicos, como áreas ver-des, parques, jardins, praças, alamedas, etc;

■ recuperação e/ou instalação de equipamentoscoletivos culturais como museus, bibliotecas, cine-mas, teatros, etc e/ou serviços públicos de proxi-midade, etc;

■ recuperação e/ou instalação de mobiliário urbanocompatível, como sinalização urbana, turística ecultural, luminárias, quiosques, paradas de ôni-bus, fontes, esculturas, bancos, etc;

■ estímulo à revitalização de atividades locais gera-doras de emprego e renda, associadas à dinamiza-ção sócio-cultural e econômica da área, com aten-ção especial às micro e pequenas empresas e aosetor cooperativo na formação e capacitação deempreendedores para a geração de negócios, comoo artesanato e o turismo cultural;

■ apoio à revitalização da capacidade instalada na área,mediante a implantação de oficinas-escolas paratreinamento e reciclagem da mão-de-obra em tare-fas de reabilitação urbana, como na formação ecapacitação de empreendedores para a geração denegócios voltados para aspectos e valores agregadosa esses sítios históricos, especialmente naqueles seto-res relacionados ao artesanato e ao turismo cultural.

A recuperação de um sítio histórico urbano não seesgota no restauro das edificações, mas sim na recu-peração das calçadas, vias públicas, praças, logradourospúblicos, parques e jardins, modernização dos setoriaisde infra-estrutura (linha de transmissão de energia,sistema de telefonia, trânsito, etc).

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O Programa World Monuments Watch e Seus CritériosJohn H. Stubbs

Vice Presidente de Programas, World Monuments Fund - New York, EUA

O programa da Lista dos Sítios MaisAmeaçados do World Monuments Watchfoi criado em 1995. Os dois principaisestímulos para a criação do programaforam: 1) o desejo de averiguar, de ummodo mais objetivo e digno de crédito “oque havia por fazer” no mundo, e 2) odesejo, por parte do WMF de ser maisempreendedor em um leque mais amplode atividades de conservação do patrimô-nio internacional, com a esperança dedesenvolver um modo de proceder maissistemático, ao invés de se limitar a abor-dar projetos de forma isolada, à medidaque se nos apresentavam e obter recursospara esses, tal como vinha fazendo a orga-nização desde 1965.O programa Watch é um plano de defesadestinado a elevar o nível de consciênciada comunidade internacional sobre a fra-gilidade e a importância de espaços impor-tantes do patrimônio arquitetônico. [Otermo sítio foi adotado pelo WMF paradesignar um local geográfico que possua traços intrín-secos (tais como características naturais) e extrínsecos(tais como associações simbólicas e alterações artísticas);pode aplicar-se indistintamente a uma construção, umrecinto edificado ou um espaço natural, ou ainda, auma combinação dos três.] Os sítios podem ser recin-tos monumentais célebres e perpétuos como HagiaSofia ou Machu Picchu, ou podem ser espaços menosconhecidos, mais frágeis, inclusive mais vulneráveisao desaparecimento, tal como a Paisagem Cultural deAbava, em Latvia, ou o parque nacional da Serra daCapivara, aqui no Brasil.O programa World Monuments Watch consiste deuma lista bianual de 100 locais gravemente ameaçados,que chegam ao conhecimento do WMF por meio deum processo de indicação. Qualquer pessoa pode apre-sentar uma indicação para a lista do WMWatch, nãosomente os administradores e especialistas do patri-mônio cultural, embora recomendemos aos não espe-cialistas que desejem realizar uma indicação, que ofaçam com a assistência de profissionais. A lista é con-feccionada de dois em dois anos por um comitê, que

é constantemente renovado, de noveespecialistas reconhecidos em todos osaspectos da conservação do patrimôniocultural. Três pessoas que tomaram partenesses comitês se encontram aqui hoje:Gustavo Araoz, Hernán Crespo Toral eHerman van Hooff.Cada indicação recebida é julgada segun-do três critérios fundamentais simples:

1 – relevância – o sítio deve ser reco-nhecido, ou reconhecível, como local deimportância nacional;

2 – urgência – o sítio tem que seencontrar em perigo iminente; e

3 – viabilidade – a pessoa que indicadeve ter uma proposta clara de como efe-tuar uma alteração positiva no local, casoeste seja selecionado para a lista.

A comissão de seleção também leva emconta outros fatores, como por exemplo asustentabilidade, a localização do sítio e otipo de ameaça que pesa sobre ele.

Foram recebidas em média 350 indica-ções para cada uma das quatro listas que já forampublicadas até esta data. Todas as indicações passadasvoltam a ser consideradas ao se preparar uma nova listae não é raro que um sítio aí figure mais de uma vez.Após preparada a nova lista, esta é dada a conhecer nomês de outubro dos anos ímpares. Nesse momento, opessoal do WMF e nossa rede de afiliados, sócios eassessores começa a trabalhar em colaboração com osautores das indicações, para obter uma mudança posi-tiva em cada um dos sítios listados.

Além de dar um maior destaque aos locais ameaça-dos pelo fato de figurarem na lista, o WMF atua juntoao Programa de Ajudas do World Monuments Watch.Quando o autor da indicação apresentou argumentosconvincentes para o financiamento do sítio, o depar-tamento de desenvolvimento do WMF se dedica areunir recursos para as obras a serem realizadas. Amaioria das contribuições oscila entre 10.000 e100.000 dólares. Algumas atingiram cotas de 500.000,ou inclusive de 1 milhão de dólares. Se somarmostodos os recursos obtidos por nossos diversos colabo-radores, o montante total de fundos gerados pelo

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Watch para sítios ameaçados alcança cerca de 70milhões de dólares.

O que mostram as listas do Watch

A última lista dos 100 Sítios Mais Ameaçados repre-senta uma ampla gama de locais, tipos de espaços etipos de problemas. Os sítios se encontram em 50 paí-ses diferentes, com a maior concentração na Europa eÁsia. Alegramo-nos, também, por estar trabalhandopela primeira vez em alguns países como Belorússia,Síria, Nigéria, Miamar e Japão.

O que especialmente nos chama a atenção é a varie-dade, mais ampla do que nunca, de tipos de problemasapresentados pela lista atual, na qual encontramosameaças naturais, que abrangem desde terremotos einundações, até danos ocasionados por insetos e amea-ças humanas, que vão desde o abandono até a des-truição intencional motivada por fatores religiosos epolíticos. As categorias dos monumentos são:

■ Locais sagrados■ Edifícios cívicos■ Jazidas arqueológicas■ Paisagens culturais e projetadas■ Conservação urbana■ Conservação de edifícios modernos■ Patrimônio industrial■ Locais de patrimônio autóctone e habitado

WMF e América do Sul

O livro recentemente publicado Trails to Treasures: A

Tour of South America’s Cultural Heritage (2002), retra-ta a rica diversidade do patrimônio arquitetônico e osdesafios com que se defronta sua conservação. Mais doque repassar aqui as realizações do programa WorldMonuments Watch na América do Sul até hoje – otema deste simpósio, com a presença de vários auto-res de indicações de sítios - queria expor os fatos a res-peito da conservação patrimonial na América do Sul,com os quais me deparei ao reunir documentaçãopara um livro. Esses fatos podem ser bem conhecidosdos historiadores da América da Sul, mas outrospodem não saber que:

1 – O mérito de iniciar a atividade de preservação

no mundo ocidental pode ser atribuído a André deMelo e Castro, conde de Galveias e vice-rei do Bra-sil em meados do século XVIII. Em 1742, intercedeupela conservação do Palácio das Duas Torres, cons-truído em Pernambuco (hoje Recife) por Maurício deNassau, em comemoração da luta portuguesa contra aEspanha.

2 – O termo “monumento natural” (Naturdenkmal)parece ter sido utilizado pela primeira vez pelo natura-lista alemão Alexander von Humbolt no livro sobresuas viagens pela região equatorial do novo continen-te. Von Humbolt relata que, na Venezuela, em 1800,encontrou uma árvore gigantesca antiquíssima, comuma copa de 59 metros de diâmetro, cuja dignidade esolenidade lhe causaram uma profunda impressão. Oshabitantes do lugar lhe informaram que qualquer pes-soa que danificasse esse monumento natural receberiaum castigo severo. O termo “monumento natural”estendeu-se posteriormente por toda a Europa.ii

Conclusão

Em vista dos fatos que ocorreram no mundo duranteo ano passado, parece-me apropriado concluir com otema do “terrorismo cultural”, uma questão que atémuito pouco tempo não havia sido abordada na Listado WMWatch. A destruição premeditada do WorldTrade Center em 11 de setembro, ocasionando amorte de cerca de 3.000 pessoas, foi um ato cruel einfundado que continua escapando à nossa com-preensão. Se bem que a destruição intencional de bensculturais como ato de declaração social ou políticanão seja algo de novo, é muito desalentador ver comose tem tornado mais comum nos últimos anos, e os trá-gicos efeitos que provoca.

Foi dito que a arquitetura é a expressão mais visívelda cultura humana. Portanto, se o patrimônio arqui-tetônico mundial ameaçado se encontra longe de ondenos encontramos hoje, como se estivesse bem aqui aonosso lado, nosso dever de procurar preservar o quefor possível é de importância capital. À luz dos recen-tes lembretes da fragilidade do patrimônio cultural domundo, devemos trabalhar cada vez mais unidos ecom mais eficácia para que nossos esforços surtam ummaior efeito.

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i John Celecia en “Conserving South America’s Natural Resources” (p.73) en Trails to South American Treasures, A Tour of South America’s Cultural Heri-tage World Monuments Fund, Nueva York, 2002

ii Rodrigo Melo Franco de Andrade, Brasil, Monumentos Arqueológicos, Ciudad de México: Instituto Panamericano de Geografía e Historia, 1952. Refs 1 y2, pág. 149 y 338, tal como aparece en Stephen W. Jacobs: Architectural Preservation: American Developments and Antecedents Abroad, disertación, Dept.of Art and Archaeology, Princeton University, New Jersey, 1966.

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ICOMOS – Patrimônio em Perigo, Escudo Azul e outras iniciativasDinu Bumbaru

Diretor de Programas, Héritage Montreal, Montreal, Québec (Canadá)

Membro do Comitê Executivo ICOMOS – Conselho Internacional para Monumentos e Sítios

As oportunidades para compartilhar experiências econhecimentos são tão essenciais como a ajuda a pro-jetos concretos para melhorar o estado de conservaçãodo patrimônio cultural em todo o mundo. Entre asprincipais missões do ICOMOS, uma rede interna-cional de profissionais reunidos em cerca de 130comissões científicas nacionais e internacionais, seencontra a promoção de intercâmbios como o querealizamos aqui hoje e a participação neles. É inegávelque temos um interesse comum em colaborar com ini-ciativas como os programas World Monuments Watche Patrimônio em Perigo, duas iniciativas que podemser consideradas complementares.

Fundado em 1965, por coincidência no mesmoano que o World Monuments Fund, ICOMOSobservou a evolução das práticas e dos princípios nocampo da conservação. Muitas dessas observaçõesforam formalizadas nas diferentes Cartas elaboradaspelos membros e comitês da organização e adotadaspor sua assembléia geral. Referidas Cartas são coadju-vantes de um desenvolvimento intelectual em proces-so de interação constante entre aspectos éticos, cien-tíficos, sociais, práticos e ambientais, que constituemuma fonte permanente de enriquecimento. Enquan-to organização não governamental de caráter interna-cional e reconhecida como assessora especial daUNESCO no âmbito do Convênio do PatrimônioMundial entre outros, ICOMOS se impôs uma sériede regras que assegurassem sua abertura e a de seuscomitês nacionais e internacionais, aos profissionaisdo setor da conservação, em especial à geração maisjovem de profissionais e pesquisadores de campo, quedarão forma ao futuro da conservação. Adotou tam-bém um enfoque prospectivo para prever as necessi-dades futuras e os desafios com que se defrontará opatrimônio cultural em um mundo em transformação.

Essa interação permanente levou a organização aestabelecer para si o padrão de trabalho geral sob o qualse realizam os objetivos de conservação – legislação,formação, educação do público ou programas dedesenvolvimento – assim como os casos concretos demonumentos, espaços ou sítios ameaçados de impor-tância patrimonial. A prática da conservação se baseia,tradicionalmente, em um ciclo de gestão de tarefas que

inclui inventário, desenvolvimento do projeto, obten-ção de recursos e as obras de conservação propria-mente ditas. Com freqüência, ainda que nem sempre,este ciclo inclui também a manutenção, um aspectoessencial da conservação, sobre o qual muitas vezes sepassa por alto.

Se bem que o futuro do patrimônio cultural tenhasido um elemento chave na fundação do ICOMOS, seutrabalho desde a década de 1960 até a de 1980 foi cen-tralizado no desenvolvimento de programas gerais, legis-lação e práticas profissionais. O interesse pelos fatores derisco sempre esteve presente, principalmente em formade simpósios e estudos de pesquisa realizados em cola-boração com a UNESCO e ICCROM em matéria deproteção de monumentos históricos contra abalos sís-micos. Em 1977, por exemplo, ICOMOS e UNESCOorganizaram um simpósio de especialistas em Antigua,Guatemala, sobre esse tema. Entretanto, somente quan-do ocorreram os devastadores terremotos que sacudirama Itália no fim da década dos anos 80, a Guerra doGolfo em 1990 e, sobretudo, o trágico desmembra-mento da antiga Iugoslavia, os membros do ICOMOSmanifestaram sua preocupação pelo patrimônio amea-çado por toda a sorte de situações. O bombardeio deDubrovnik, Croácia, no outono de 1991, foi um acon-tecimento especialmente grave que teve um grandeimpacto público. O ICOMOS na época colaboroucom a UNESCO enviando uma missão de especialis-tas que avaliaram os danos e ajudaram a determinar asnecessidades de reabilitação dessa cidade do PatrimônioMundial, que justamente acabava de reparar os danosprovocados pelo terremoto de 1979.

A partir desses acontecimentos, o ICOMOS, sob adireção de Leo Van Nispen, na ocasião seu DiretorGeral, iniciou uma cooperação com a UNESCO,ICM (museus), ICCROM e outras organizações.Com o tempo, o que se passou a chamar “grupo mistode trabalho” elaborou um Plano de preparação contraemergências de 5 pontos:■ Recursos e financiamento■ Equipes de resposta a emergências■ Documentação e pesquisa■ Educação e formação■ Conscientização do público

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O Objetivo principal era desenvolver – a partir dasredes profissionais existentes – uma rede ativa quepudesse melhorar a prevenção e a resposta. Em tem-pos em que se dedicava muita atenção às intervençõescurativas para proteger, restaurar ou reabilitar edifíciospatrimoniais, jazidas arqueológicas, monumentos epaisagens culturais, esse interesse pela avaliação dorisco e a ação preventiva supunha uma mudança deperspectiva e uma nova noção do tratamento do patri-mônio cultural. Estava ligado, também, ao interessepelo acompanhamento e manutenção como parte dosprocessos de gestão preventiva.

A partir de experiências nos EUA, Europa e Ásia,essa perspectiva levou à criação, em 1996, do Comi-tê Internacional do Escudo Azul (ICBS, em sua siglaem inglês), que agrupava as quatro organizações nãogovernamentais internacionais no âmbito do patri-mônio cultural, a saber, ICOMOS (sítios, monumen-tos, cidades e paisagens), ICOM (museus e coleções debens móveis), ICA (arquivos) e IFLA (bibliotecas). OICBS foi reconhecido agora como organização nãogovernamental associada na aplicação do 2o protoco-lo do Convênio de Haia para a proteção de Bens Cul-turais em Casos de Conflito Armado. Garante a coor-denação das quatro organizações não governamentaise seus respectivos comitês nacionais, para melhorar acapacidade de intervenção e participar de um esforçointernacional de solidariedade.

Em 1996, essas idéias continuaram a se desenvolverna Primeira Reunião de Cúpula sobre Patrimônio ePreparação contra Emergências, organizada pelo ICO-MOS Canadá na cidade de Québec e aberta a umaampla participação, que culminou na adoção da Decla-ração de Québec sobre Patrimônio e Preparação con-tra Emergências, cujos destaques são: consciência nocoletivo público e profissional; cooperação entre ins-tituições de defesa civil e de conservação; desenvolvi-mento da capacidade local e desenvolvimento doâmbito global de proteção do patrimônio. A Declara-ção de Kobe-Tóquio sobre Preparação contra Emer-gências de Bens Culturais, adotada em 1997, destacamais uma vez a necessidade de cooperação em nívelinternacional, nacional e local para evitar a perda dopatrimônio cultural antes, durante e depois de ocorri-da uma catástrofe de origem natural ou humana. Asautoridades e os colegas japoneses demonstraram umagrande resolução e uma atitude muito aberta ao faci-litar um estudo internacional dos efeitos do grande ter-remoto de Hanshin Awaji, em 1995, quanto ao patri-mônio cultural e a oportunidade de serem

compartilhadas experiências similares de todas as par-tes do mundo.

Patrimônio em Perigo

A preocupação pelo futuro do patrimônio cultural, osmonumentos e sítios de todo o mundo, levou o ICO-MOS a por em andamento o programa Patrimônioem Perigo. Após as discussões iniciais em Estocolmo em1998 e no Mexico em 1999, o programa foi iniciadoformalmente em março de 2000, com o envio de umacarta a todos os membros, comitês nacionais e interna-cionais, na qual eram convidados a elaborar relatóriossobre sítios, monumentos, cidades históricas e paisagensculturais ameaçadas. O primeiro Relatório Mundialsobre Monumentos e Sítios em Perigo do ICOMOS foipublicado em novembro de 2000 em Paris. O segun-do acaba de ser divulgado recentemente. Ambos podemser obtidos na página da Internet www.icomos.org. Emconjunto, constituem uma base de informações de cercade 126 relatórios nacionais (21 dos quais do continen-te americano), 15 relatórios do Comitê Científico Inter-nacional, pareceres de especialistas e relatórios de orga-nizações filiadas ao ICOMOS.

Os relatórios de Patrimônio em Perigo ofereceramao ICOMOS e seus afiliados uma avaliação global dastendências e ameaças ao patrimônio cultural, a partirde uma ampla gama de perspectivas. Os riscos detec-tados se classificam em quatro categorias: naturais (ris-cos ligados à Terra e ao clima, decomposição naturalde materiais...), desenvolvimento (pressão econômica,desenvolvimento urbano, mega-projetos, turismo,ameaças industriais, contaminação...),comportamentohumano (vandalismo, roubo, distúrbios, conflitos étni-cos, guerras...) e falhas nas políticas de conservação(legislação insuficiente, falta de formação e ética pro-fissionais...). A tabela seguinte ilustra, de um modomuito esquemático, os temas desses dois relatórios.

O segundo relatório também contém estudos deacompanhamento de casos expostos no primeiro rela-tório; por exemplo, o desenvolvimento de medidas deproteção para a paisagem cultural de Mount Royal emMontreal, Québec, Canadá, ou para o estádio olím-pico de Munique, Baveria, Alemanha.

A partir desses relatórios, o ICOMOS empreendeuações. Por exemplo, para abordar a complexa questãodo patrimônio do século XX – que não se deve limi-tar exclusivamente à arquitetura moderna – ICO-MOS adotou o Plano de Ação de Montreal. A ques-tão do patrimônio industrial será desenvolvida em

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conjunto com nossa organização afiliada TICCIH(Comitê Internacional para a Conservação do Patri-mônio Industrial). As questões referentes aos bensintangíveis e ao patrimônio autóctone serão abordadasna próxima assembléia geral, que está prevista para serrealizar em Zimbabwe, África.

O processo de Patrimônio em Perigo também per-mitiu ao ICOMOS (e a qualquer um que se detenhapara analisar os relatórios) detectar as prioridades estra-tégicas. Por exemplo, o ICOMOS tomou maior cons-ciência da importância do cuidado permanente com opatrimônio cultural através da manutenção, a partici-pação das comunidades locais, o seguimento coopera-tivo, os sinais de alerta, ou a formação e abertura aosjovens profissionais. Levou-nos a imaginar novos cam-pos de investigação e cooperação internacional, comoseria o caso do patrimônio das metrópoles ou cidadescapitais, bem como a grande diversidade de patrimô-nio rural em todo o globo. Levou-nos a pensar em ter-mos do contexto da conservação -- pessoas, lugares,políticas -- além dos objetos da conservação propria-mente ditos. O exame desses relatórios nos levou a um

maior reconhecimento da necessidade de se tirar omáximo proveito dos instrumentos internacionaiscomo o Convênio do Patrimônio Mundial de 1972,em especial o Artigo 5, que trata do quadro maisamplo de conservação em nível nacional e que se vêfreqüentemente eclipsado pela mais célebre Lista doPatrimônio Mundial.

Este exercício está sendo consolidado na forma deuma prática continuada que poderia ser descrita comoum observatório internacional do patrimônio cultural denatureza diferente. Ao apelar para a participação dosmembros internacionais do ICOMOS de uma manei-ra até hoje desconhecida, o programa Patrimônio emPerigo também constitui uma forma de desenvolveruma noção comum de cuidado e consciência em con-junto com os sócios institucionais, quer sejam de cará-ter governamental, como a UNESCO ou oICCROM, ou não governamental, como o TICCIH,DOCOMOMO ou, com é de se esperar, o WorldMonuments Fund e seu extraordinário programa basea-do em projetos do World Monuments Watch. Agoratrata-se de conseguir que tudo isso se torne realidade.

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Relatório 1 de Patr. em Perigo (2000) Relatório 2 de Patr. em Perigo (2001-02)

■ Manutenção, falta de fundos e recur-sos humanos

■ Mudanças na situação de propriedadee custódia

■ Práticas de conservação, falta ou insu-ficiência de normas de conservação

■ Impacto do turismo

■ Efeito da globalização no patrimônioe a diversidade cultural

■ Ações militares e mudanças políticas■ Migração forçada■ Legislação e devolução da responsabi-

lidade a autoridades locais sem recur-sos

■ Patrimônio religioso■ Casas, palácios, mansões, feudos, resi-

dências históricas■ Conjuntos urbanos■ Patrimônio autóctone■ Patrimônio industrial■ Patrimônio século XX■ Paisagens culturais■ Jazidas arqueológicas■ Valores intangíveis■ Contexto e arredores de edifícios ou

locais históricos■ Arquivos, coleções ou documentos

relacionados com edifícios ou sítioshistóricos

■ Patrimônio autóctone rural■ Patrimônio século XX■ Patrimônio industrial■ Patrimônio religioso■ Patrimônio arqueológico■ Paisagens culturais■ Patrimônio de povos indígenas■ Bens móveis relacionados com sítios

ou monumentos

Problemas/

Tendências

Tipos

observados de

patrimônio

cultural

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Segunda Sessão:

Divulgação e Consciência Coletiva

Em Relação à Conservação e o

Desenvolvimento DE Patrimônio Histórico

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AS IGREJAS DE MADEIRA DE CHILOé, CHILE: A TaREFA constante de conservaçãoHernan Montecinos Barrientos

Vice Presidente Executivo, Fundação “Amigos de las Iglesias de Chiloé” – Santiago, Chile

Na zona austral do Chile – entre osgraus 42 e 47 de latitude – se estendeo arquipélago de Chiloé, região declima frio e chuvoso, baías e estuáriosprofundos, bosques e campos ondula-dos, sempre verdes, e inumeráveis ilhasno mar interior. Constituiu, até a pri-meira metade do século XIX, “a últi-ma cristandade”, como foram deno-minados estes confins do mundoamericano; a missão circular jesuítaconstituiu, desde os primórdios doséculo XVII, o método mais eficaz deevangelização dos nativos e deu estru-tura ao espaço geográfico humanizado.

As capelas de Chiloé, construídas, mantidas e recons-truídas uma e outra vez pelas comunidades insulares,eram mais de 40, em meados do século XVIII, em1747 um registro enumerava 77 capelas, 92 no fimdesse século, cerca de 100 no início do século XIX,mais de 150 um século depois. Hoje, o número deigrejas da escola chilota não excede 60, sendo que des-tas, 40 se encontram em diferentes etapas de deterio-ração e a maior parte delas desaparecerá nos próximosanos, se não se contar com uma poderosa intervenção,como a que pretende realizar a Fundação “Amigos delas Iglesias de Chiloé” e o Bispado de Ancud, com asupervisão e apoio do Conselho de MonumentosNacionais, a participação do Ministério da Educação,a Diretoria de Arquitetura do Ministério de ObrasPúblicas e outros órgãos públicos e privados.

A missão circular, através da construção das capelas,é o fator determinante não só da configuração urbanados povoados chilotas, como também ainda, da urba-nização do território. O isolamento, a pobreza e aameaça das potências estrangeiras, impediram os espa-nhóis de impor um padrão de urbanização e, até certoponto, sua forma de vida. Boa parte da populaçãoeuropéia teve que assentar-se próxima aos indígenas,conviver com eles e aprender de sua sabedoria parasobreviver nesse meio. A linguagem nativa dominouem muitos campos de ação, por mais de um século. Amestiçagem foi tanto racial como cultural.

A estrutura urbana dos povoadoschilotas, sua relação com a paisagem aescola chilota de arquitetura emmadeira e a cultura chilota em suaíntegra, constituem uma síntese, que,por sua vez, reflete as potencialidadeshumanas: a de otimizar os recursosoferecidos pelo meio ambiente, a deaprender e relacionar-se com o outroe a de transcender sua existência ter-rena.

Desde a constituição da Fundação,no ano de 1993, esta tem mantidopresente a modalidade de um trabalhoenvolvendo as comunidades locais,

que foram quem, naquela época construíram essasigrejas e as mantiveram. Para tal fim, reativando eorganizando as estruturas tradicionais e incorporando-as nas tarefas de gestão e de intervenção. A fragilida-de da estrutura de madeira nas condições climáticas deChiloé só torna possível sua manutenção no tempopelo fortalecimento do patrimônio intangível que estápresente nas comunidades insulares.

Por conseguinte, as linhas de ação foram as seguintes:a.- A revitalização do patrimônio intangível, atra-

vés de programas específicos, com a participação ativado Ministério de Educação, organização comunitária,cursos, etc.

b.- Os trabalhos mais urgentes de intervenção nasigrejas com a finalidade de deter a deterioração que semanifesta em muitas delas e que compromete sua per-manência no tempo. Foram realizados trabalhos deconservação e restauração em 16 dessas igrejas e inter-venções menores em outras 10, etc.

c.- Tarefas específicas como a organização de umcurso itinerante para carpinteiros, que teve como fina-lidade formar artesãos nas técnicas tradicionais utiliza-das na construção das igrejas, sendo que atualmente seprocuram implementar projetos diversos que consi-derem as condições atuais de Chiloé, com respeito aofluxo turístico e sua administração nas comunidades, otratamento da madeira, uso de madeiras alternativas,prevenção de riscos, etc.

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Machu Picchu: Ideais patrimoniais diante aspirações democráticas.Mariana Mould de Pease

Assesora do Instituto Nacional de Cultura – Lima, Peru

História, arqueologia e antropologia

Machu Picchu, a cidadela construída durante oséculo XIV pelos Incas, na vertente orientaldos Andes – da mesma forma que outras cen-tenas de sítios arqueológicos pre-hispânicos,passou a fazer parte do Perú republicano deum modo ainda não estudado a partir daarqueologia e da antropologia. Por esse motivo,seu espaço dentro de nossa realidade política,econômica e social ao longo do século XX émuito pouco compreendida por locais e estran-geiros. Esta ignorância distorce o papel queHiram Bingham desempenhou a partir de 24 dejunho de 1911, ao converter-se para a mentalidadeocidental no descobridor científico da Cidadela e deseu entorno natural. Este desconhecimento humanís-tico e social gera, também, um uso turístico interna-cional que ultrapassa a capacidade do Estado Peruanopara promover a pesquisa e a conservação desse sítiohistórico para as gerações futuras.

Ideais patrimoniais

Em 1983, o governo do Perú conseguiu inscreverMachu Picchu na Lista do Patrimônio Cultural eNatural da UNESCO e, desde então, este ícone doturismo internacional iniciou um processo lento masconstante, voltado para o Perú, pela incorporação dosideais patrimoniais universais à sua realidade humanae social circunjacente.

Na década de 1990, o governo autoritário de Alber-to Fujimori passou a manipular esses ideais patrimo-niais para beneficiar – específica e corruptamente – oGrupo PERUVAL, entregando-lhe em concessão otrem Cuzco-Águas Calientes, o hotel que se encontradentro da área protegida de Machu Picchu e, muitoespecialmente, a eventual construção de um teleféri-co que quadruplicaria o número de visitantes. Estaúltima concessão foi feita sem levar em conta as reco-mendações da UNESCO, pelo que a comunidadeconservacionista local e internacional se uniu pararepelir esse desafio ameaçador e corrupto.

Aspirações democráticas

Em novembro de 2000, Fujimori fugiu do país e oCongresso nomeou presidente o parlamentar cusque-nho Valentín Paniagua, cujo governo de transição sus-pendeu em maio de 2001 a construção do referido tele-férico. Em conseqüência disso, a WMF retirou MachuPicchu da Lista dos 100 Sítios em Maior Perigo.

Ainda quando o país vive um período de democra-tização das decisões de governo, com o presidente Ale-jandro Toledo (2001-2006), a falta de informação his-tórica, antropológica e arqueológica sobre MachuPicchu limita o desenvolvimento das aspirações demo-cráticas da população local. Essas limitações condicio-nam o acesso aos benefícios econômicos do turismopelo Caminho Inca, por exemplo, dos carregadores edistorcem as responsabilidades ambientais, sociais e polí-ticas dos transportadores turísticos pela rodovia HiramBingham, ou Zigzag. Paralelamente, a PERUVAL insis-te em fazer o teleférico “por detrás de Machu Picchu”,escapando assim de reconhecer a intangibilidade da áreaprotegida que tem a Cidadela como centro.

Este exposição estabelece a necessidade de que osperuanos, das mais diversas origens étnicas, assumam osideais patrimoniais seguidos pelo mundo após o fim da2a Guerra Mundial e que tornou possíveis a UNES-CO, ICOMOS, UICN, ICOM, ICCROM e oWMF, como uma busca de soluções para os problemasinerentes à conservação e uso social de Machu Picchu.

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Defesa e Consciência Pública Sobre Conservação eDesenvolvimento do Patrimônio - Caso: SurinamERachel Frankel

Arquiteta - AIA Architecture - New York, EUA

Em 1660, judeus se estabeleceram no Suri-name onde receberam privilégios incluindoisenções e imunidades tanto como umaminoria étnica quanto como cidadãosholandeses. Os judeus tiveram a oportuni-dade de viver suas vidas como um enclavereligioso-cultural autônomo.

As ruínas em Jodensavanne (a Savana dosJudeus) são da antiga sinagoga monumental,Beracha VeShalon (Benção e Paz), antescercada por uma grande praça na qual ascomunidades de plantações vizinhas se reu-niam. Construída em 1685, a sinagoga é aprimeira de importância arquitetônica doNovo Mundo. A sinagoga e sua imensapraça aberta foi construída no centro deuma cidade com projeto retilíneo. Jodensa-vanne é o primeiro e único exemplo deuma paisagem virgem na qual judeus doNovo Mundo tiveram a oportunidade de projetar deacordo com as suas necessidades, crenças e esperanças.

Os judeus de Jodensavanne localizaram sua sinago-ga de acordo com os princípios múdicos colocando asinagoga no alto de um morro e fazendo dela a cons-trução mais alta da nova cidade. Somado a isso, a sina-goga estava perto de um rio sendo isto convenientepor ter água corrente natural para os rituais de purifi-cação. O mais extraordinário ainda, no meio de mui-tas ameaças, os judeus de Jodensavanne projetaramsua cidade como um lugar de paz e esperança messiâ-nica, com estradas abertas e amplo acesso pelos quatrolados da sinagoga.

Apesar de ter sido dos judeus Sefardi de Jodensa-vanne o plano da cidade e de seus monumentos, foramseus escravos africanos da Guiné , África Ocidental quea construíram. Estes africanos, de certo modo, defini-ram a arte e a metodologia da construção.

Jodensavanne inclui dois cemitérios judaicos. Jun-tos eles tem , aproximadamente, setecentos túmulos demármore e arenito cinzento de fabricação européia.Epitáfios em hebreu, português, espanhol, holandês,aramaico e francês, inscritos com arte nas tumbas,prestam tributo aos mortos. Algumas tumbas têm ima-gens ilustrativas. Estes cemitérios serviram aos judeus

do Suriname, alguns de origem africana, por mais deduzentos anos. Hoje, eles revelam os hábitos culturais,crenças religiosas e estratégias políticas daqueles que aíestão enterrados.

Em Paramaribo existiram três congregações com asrespectivas sinagogas e quatro cemitérios judaicos.Hoje, somente uma sinagoga serve a congregação.Lamentavelmente a comunidade desistiu de uma dasconstruções históricas por um motivo secular e seuinterior está exposto em Israel.

Para mim, isto é apagar uma parte integral do patri-mônio do Suriname. Existiu por algum tempo, nofinal do século dezoito, outra Sinagoga em Paramari-bo. Pertencia aos judeus do Suriname de origem afri-cana, Darkhel Jesarim (Os caminhos dos Justos)

1997: Sob os auspícios do Ministério da Educaçãoe Desenvolvimento Comunitário da República doSuriname, uma equipe de pesquisadores inspeccio-nou e documentou os remanescentes da Beracha Ve

Shalom.1998: Uma expedição sob os auspícios da recém-

restaurada fundação para Jodensavanne documentou oprimeiro cemitério da cidade fundado em 1660. Osepitáfios de cada tumba, a arte e a arquitetura de cadatúmulo foram documentados e, de um levantamento

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arquitetônico do cemitério, foi feita uma planta emescala. A expedição também documentou a rápidadecadência de um cemitério que se pensou ser o localonde se enterravam os escravos de Jodensavanne eseus descendentes.

Ao contrário, nossa pesquisa sugere que o cemité-rio servia a uma das duas possíveis populações: Nãojudeus de Jodensavanne, a maioria uma mistura deSefardi e descendentes de africanos ou aquelas pessoasque se estabeleceram durante a instalação militar cha-mada “Cordon Pad” que cresceu depois da extinçãode Jodensavanne.

1999: Uma expedição sob os auspícios da Fundaçãodocumentou o segundo cemitério de Jodensavannefundado em 1685. Transcrições dos epitáfios e arte earquitetura de cada tumba foram documentados.

Além do trabalho em Jodensavanne, documentaçãoe preservação dos cemitérios judaicos de Paramariboestão sendo feitos.

Os achados destas expedições estão sendo produzi-dos e apresentados aos visitantes e estudiosos interes-sados.

Desafios na Preservação e Acesso a Jodensavanne:1. O local é distante e de difícil acesso.2. O turismo no Suriname é pouco desenvolvido.3. Suriname, uma república nascente, tem parcos

recursos para proteger seus monumentos.4. A escravidão praticada em Jodensavanne faz com

que este local seja evitado por judeus afro-americanos

e outros em busca de suas origens.5. Ao mesmo tempo que Jodensavanne como outros

locais judaicos de Paramaribo são parte integrante dopatrimônio nacional do Suriname, sua população des-cendente direta da comunidade judaica é mínima.

Metas:

1. Tornar os locais acessíveis e convidativos. A Funda-ção de Jodensavanne construiu um recinto adequado einstalou um pavilhão modesto para serem vistas futu-ras exibições. Este fundo vem de instituições corpora-tivas do Suriname beneficiadas com o desenvolvimen-to do turismo. Graças a uma doação do WMF aFundação está instalando um registro e criando umfolheto para visitantes..

2. Desenvolver e implementar um plano para aconservação dos locais e seus monumentos.

3. Informar ao público internacional e do Surinamesobre a importância patrimonial dos locais.

Obrigado ao WMF por incluir Jodensavanne nestaconferência.

Uma possível rede de locais judaicos na Amé-

rica do Sul.

Embora Jodensavanne e o patrimônio judaico noSuriname sejam únicos, eles se encaixam numa maior,porém ainda desconhecida, rede de monumentosjudaicos notáveis na América do Sul.

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ELEVADORES DE VALPARAíSO: “Valor de um Patrimônio Esquecido”Arq. Jaime Migone Rettig, PhD

Diretor Executivo, CONPAL - Santiago, Chile

Determinar o valor e a condição deum espaço com a vastidão e comple-xidade dos “Ascensores de Valparaí-so” não é tarefa fácil. São inúmerosos fatores que condicionam e defi-nem seu significado, valor e estado.Nos mais de cem anos de históriatranscorridos desde que foi colocadoem funcionamento o primeiro ele-vador, o do Cerro Concepción,também conhecido como elevadorTurri, os elevadores conheceramesplendor e fracasso, experimenta-ram modificações tecnológicas earquitetônicas, viram alterada suarelação com a trama urbana da cida-de e com os sistemas de transportepúblico da mesma e, finalmente,acumularam uma quantidade deexperiências que não foram fáceis dedesvendar. Entretanto, existe algo que não mudoucom o tempo, que é a relação dos elevadores com opovo de Valparaíso. Com efeito, os elevadores foram econtinuam sendo apreciados por todos os habitantes doporto e é ali, precisamente, que está seu maior signifi-cado: é um sistema vivo, ativo e querido por usuáriosregulares e visitantes esporádicos.Mais além dessa estranha mistura de emoção e ansie-dade que se experimenta nesse curto trajeto de eleva-dor, que range e estala na subida ou descida do morro,poucos conhecem sua história, o que significou suaimplantação no Chile, pouco antes de iniciar-se a pro-dução industrial do cabo de aço trançado na Inglater-ra, seu engenhoso sistema de funcionamento eletro-mecânico, a importância no entorno urbano ou suarelação com a rede de transporte público de Valparai-so. Mas ainda menos, podem sequer intuir o grau deligação afetiva do pessoal que, através de gerações,trabalhou nos elevadores ou o que significaram para asdiversas manifestações artísticas nacionais como fontepermanente de inspiração.Estas questões, enfim, foram as que nos pareceramfundamentais investigar, para dessa forma poder reu-nir os antecedentes que nos permitissem diagnosticaras condições do local, seus pontos fracos e potenciais,

assim podendo formular um con-junto de recomendações para suaproteção. O que procuramos é daruma resposta a perguntas tão sim-ples, mas tão cruciais como: “O quesão os elevadores?” “ Qual é seuvalor?” “ Em que estado se encon-tram?”, para a partir daí propor açõespara sua revitalização.É impressionante constatar a influên-cia que tiveram os elevadores de Val-paraíso nas diversas manifestaçõesartísticas chilenas. Como resultadode exaustiva recompilação, sem pre-cedentes, dentre obras literárias,musicais, plásticas, fotográficas ecinematográficas, apresenta-se ocapítulo “A Presença dos Elevadoresde Valparaíso na Arte Chilena”,dando conta de como e onde os ele-

vadores de Valparaiso deixaram sua impressão nas artesnacionais, constituindo-se até o dia de hoje em fontede inspiração para músicos, poetas, pintores, cineastas,fotógrafos e narradores. Suas obras reuniram a imageme a essência dos elevadores e as projetaram, tanto nopaís como no exterior, como a imagem-símbolo dacidade de Valparaiso.Todo o importante apoio recebido pelo World Monu-ments World através de seu programa World Monu-ments Watch, coordenado, executado e difundidopelo CONPAL-Chile, transcendeu de muito o espa-ço, onde, em uma primeira etapa concreta e efetiva, oconjunto de elevadores foi declarado “MonumentoHistórico” sob a Lei 17.289 de Monumentos doChile, ações que continuaram com a proposta àUNESCO de candidatura da cidade de Valparaiso alocal “Patrimônio da Humanidade”, pedido que seencontra nos trâmites finais de aprovação.Dessa forma, passamos de uma quase total ignorânciae desconhecimento de um espaço a uma quase inclu-são em uma lista de patrimônio mundial, gestões eações transcendentes que nos parecem de grandeimportância destacar e difundir, de forma a servirem deguia para outros conjuntos de valor que merecem suaatenção e apoio dentro de nosso continente.

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Destruição e Preservação De Arte Rupestre na BolIviaMatthias Strecker e Freddy Taboada

Sociedade de Arte e Investigação de Arte Rupestre da Bolívia (SIARB) - La Paz, Bolivia

Na Bolivia, as entidades estatais e regionaismuitas vezes carecem de políticas coerentescom respeito à preservação do patrimôniocultural, ou não contam com os recursoseconômicos necessários para por em práti-ca seus planos. Nesta exposição apresenta-mos as linhas gerais de um trabalho realiza-do pela Sociedade de Investigación del ArteRupestre de Bolivia (SIARB) nos últimos15 anos, dando ênfase a campanhas educa-tivas e tentativas de preservação e adminis-tração de sítios. Como entidade particular,nossa sociedade se encontra muito limitadaem seu trabalho. Entretanto, pensamos quenosso trabalho educativo e os projetos nosparques de Torotoro e Calacala podem ser-vir como modelo para outras regiões.

No Parque Nacional de Torotoro reali-zamos um projeto de proteção em 1991. Forampreenchidos com pedras naturais todos os buracos edesníveis na parte onde havia degraus em uma parederochosa (que antes possibilitava aos visitantes subirematé a altura das pinturas), transformando-a em umaparede vertical, impedindo assim que se chegue até osbeirais de arte rupestre. Foi utilizada argamassa decimento somente nos interiores das juntas e na partetraseira das pedras que foram colocadas. Procurou-sedar um aspecto natural às juntas. Em muitas partes foiusado barro para dar oportunidade à inclusão de vege-tação. Dessa maneira, foi possível tornar os murossemelhantes ao entorno natural

No caso do Monumento Nacional de Calacala,identificamos problemas para a preservação da arterupestre e a administração do parque arqueológico: osvisitantes sobem nas rochas e entram em uma gruta,afetando arte e suporte rochoso. Nos arredores, existempedreiras exploradas por habitantes da comunidade.Não existe uma documentação completa do sítio e desua arte rupestre. Falta uma infra-estrutura adequada noparque arqueológico e um plano de manejo para o par-que que também inclua seu entorno.

O projeto que estamos realizando, em colaboraçãocom a comunidade de Calacala e a Prefeitura deOruro, tem os seguintes objetivos: ■ Assegurar a preservação da arte rupestre de Cala-

cala através de uma proteção física adequada(cerca), uma administração efetiva e uma cons-cientização dos habitantes da comunidade sobreo valor desse patrimônio cultural e natural.

■ Garantir a conservação da arte rupestre de Cala-cala com um registro sistemático e documenta-ção das gravações e pinturas rupestres, comobase científica para sua análise e o planejamentode medidas posteriores.

■ Integrar os dados de arte rupestre em um estudoarqueológico e etno-histórico da região, quepermita explicar o desenvolvimento dos assenta-mentos humanos.

■ Aproveitar esse recurso cultural e natural de umaforma racional para o turismo, com uma infra-estrutura (passarela e centro de atendimento aoturista) e sinalização que facilitem as visitas aosítio e, ao mesmo tempo, forneçam amplasexplicações sobre seu significado.

■ Ampliar a oferta cultural e turística com circui-tos pelos arredores (turismo ecológico), ummuseu e centro de informações sobre o papeldos camelídeos nas culturas andinas.

■ Apoiar o desenvolvimento sustentável na regiãocom a implantação de oficinas e vendas de arte-sanato, baseadas em produtos de camelídeos einspirados na iconografia da arte rupestre local.

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Terceira Sessão:

Conservação: Da Teoria à Prática

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LOS PINCHUDOS: UM MONUMENTO ARQUEOLÓGICO PRE-HISPÂNICO EM PERIGO, PERU.Prof. Ricardo Morales

Diretor, Instituto de Conservação Ambiental Monumental - Trujillo, Perú

Referências Geológicas

e Históricas

Los Pinchudos é um dos sítios pré-hispânicos mais representativos daarquitetura funerária na selva altados Andes norte-orientais do Perú(2.800 m acima do nível do mar).Estima-se que suas oito tumbasdatem de entre 1200 e 1400 danossa era, fazendo parte da área cul-tural andino-amazônica conhecidacomo “los Chachapoyas” e queposteriormente foi novamente ocu-pada pelos Incas. Este extraordiná-rio conjunto apresenta relaçõesétnicas e culturais evidentes comoutros sítios urbanos como Pajatén,Cerro Central, Papayas e La Playa(Selva Alta), assim como Condor-marca e Kuélap (Serra).

Sua localização e característicasgeo-topográficas, próprias dos bos-ques nublados, são determinantesna problemática do conjunto, pois,foi construído em um estreito abri-go geológico que o protege par-cialmente das chuvas, localizado naparte central de uma escarpa dealtura impressionante (500 m. dealtura). O espaço é irregular, tem35 m. de comprimento por 4,50m. de profundidade média e umadiferença de níveis de 5,00 m entreo extremo leste (edifício 1) e ooeste (edifício 8).

Problemática

Tal localização gera um microclimaespecial, caracterizado por baixas equase estáveis porcentagens de humidade relativa, emcontraste com a elevada e permanente humidade dasáreas adjacentes. Este microclima seco provoca visíveiscontrações na argamassa de barro argiloso e sua separa-ção tanto das pedras estruturais como dos relevos e,

ainda, da frágil policromía. O fenô-meno é acentuado pela forte insola-ção, erosão eólica permanente e ascorrentezas pluviais sobre as superfí-cies pouco resistentes do rochedo.

As famosas esculturas de madei-ra, Los Pinchudos, vocábulo localque alude aos proeminentes órgãosgenitais dessas representações antro-pomórficas, não apresentam danospor ataque de insetos xilófagos,além do desenvolvimento demicroorganismos e a incidênciadireta do sol, que causou rachadu-ras em sua estrutura; entretanto, é ohomem o principal fator de dete-rioração e saques, associados ao seudescobrimento em 1967.

Diagnóstico: sistema de constru-ção em plano inclinado, de extremafragilidade e em risco iminente decolapso.

Âmbito Teórico e Metodologia

O projeto foi planejado e executa-do como uma intervenção deemergência, baseada nas seguintesconsiderações:

a) consolidação e estabilizaçãodo sistema de construção em seuestado atual;

b) abstenção de recriações estéti-cas e respeito absoluto aos contex-tos culturais afetados;

c) intervenção inter-disciplinare paralela de conservadores,arqueólogos e engenheiro, pedrei-ros especializados.

Processo de Conservação

As atividades foram executadas e reprogramadas emfunção da problemática revista in situ, do pouco espa-ço da área de trabalho e da quantidade de técnicos eauxiliares:

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a) Obras preliminares (acondicionamento e segu-rança da área na borda do precipício).

b) Documentação, Registro e Amostragem: levan-tamento dos edifícios em escala 1:10 (estado prévio,localização de amostras para análise, técnicas de cons-trução e murais, processo de conservação), registrofotográfico (em cores, slides e polaroid) e registro emfilme; retirada de amostras para análise de laboratório(argamassa, policromía, madeiras e pedras) e traçadosem material plástico transparente.

c) Pesquisa arqueológica anterior à intervenção dorestaurador;

d) Avaliação do estado de conservação erevisão/discussão da proposta de intervenção em 1998,ou seja, como aplicar a teoria à prática e decidir suasvariáveis in situ. Como não houve a aplicação de Sili-cato de Etila 40 e conservantes de madeira nas escul-turas, por julgar-se desnecessária.

e) Reforço estrutural preventivo de cimentos,muros e cobertas (escoramento, injeções de argamas-sa de barro estabilizado com cal, retirada de elemen-tos defasados após codificação e registro, etc.).

f) Limpeza de superfícies arquitetônicas e esculturase consolidação da cor;

g) Consolidação estrutural (calçamento com cimen-to, troca de vigas afetadas, re-enchimento de juntas deassentamento;

h) Endireitamento de seções instáveis e inclinadas.

i) Fechamento e controle do acesso com grade desegurança.

Conclusões

a) É o primeiro trabalho de pesquisa e conservaçãointegral nessa área cultural, tendo sido cumprida totale satisfatoriamente a programação, graças ao apoio doWorld Monuments Fund.

b) Esta experiência deve dar início à formulação deuma teoria, metodologia e tecnologia aplicada ao reco-nhecimento, intervenção e avaliação de outras estru-turas em áreas geográficas similares.

Recomendações

a) Consolidar a rocha calcária sobre a qual se localiza oedifício 8. As múltiplas fraturas e exposição direta àschuvas, ventos e insolação (que acentuam a meteori-zação da pedra) é um risco diante de eventuais abalossísmicos.b) Realizar um trabalho de monitoramento, avaliaçãoe manutenção em agosto de 2002.c) WMF deve flexibilizar suas normas, no que dizrespeito ao apoio econômico orientado para as neces-sárias pesquisas arqueológicas que precedam a inter-venção conservadora de monumentos em perigo,como é o caso de Los Pinchudos, laguna de los Cón-dores, Karajías, entre outros sítios.

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Teoría e práctica na conservação: soluções de compromissoDra. A. Elena Charola

Assessora científica independente; Professora, Programa de pós-graduação em Conservação

Histórica, GSFA - Universidade de Pensilvânia, Filadélfia

A atual abordagem para conservação do patrimônioarquitetônico é baseada nas noções de preservação pri-meiramente formuladas em relação à preservação deedifícios e monumentos históricos no século XIX. Narealidade, a percepção da necessidade de preservaçãoseguiu, em geral, uma importante mudança na socie-dade, como a preocupação com a conservação mos-trada pelo novo governo estabelecido após a revoluçãofrancesa ou o esquecimento do monumento em ques-tão por um longo período. Isto, ultimamente, é clara-mente mencionado pela Carta de Veneza (ICOMOSVenice Charter) quando se discute a salvaguarda dos”monumentos históricos de geração de povos” maistarde identificados como “edifícios antigos”

O Venice Charter e os documentos que o precede-ram e nos quais é baseado , foram escritos para orientarintervenções futuras e evitar “restaurações”, isto é,reconstruções como a feita no palácio Minoico emKnossos no começo do século XX. Deve-se conside-rar definitivamente o Venice Charter como um docu-mento de orientação e não, como um dogma, mesmotendo sido assim apontado por R. Lemaire, o relatordesse documento essencial. Isto é de máxima impor-tância quando confrontado com um problema de con-servação que exija implementação. Enquanto a imple-mentação real pede soluções técnicas apropriadas, aabordagem completa precisa respeitar os princípios bási-cos de conservação, isto é, um mínimo de intervenção,compatibilidade, releitura, o que, por sua vez, afetará aescolha de soluções técnicas que podem ser aplicadas.

Embora o Venice Charter tenha sido escrito dentrodo contexto da Europa Ocidental, é suficientementeamplo, permitindo adaptações nacionais – o texto afir-ma “cada país sendo responsável pela adequação doplano dentro da estrutura de sua própria cultura e tra-dições”. Isto, no entanto, significa que no nível nacio-nal ou melhor em nível regional – já que um país pode

apresentar várias culturas ao mesmo tempo -- umapolítica de conservação tem que ser estabelecida. Infe-lizmente, em geral, isto não acontece, por conseguin-te a abordagem para a conservação não segue critériosuniformes. Muitos exemplos dessa abordagem podemser citados em todo o mundo.

Qualquer intervenção destinada à conservação deum “monumento nacional” é complicada pelo fato deque esses monumentos estão geralmente sob jurisdiçãolegal de mais de uma instituição nacional e, também.pela falta crônica de fundos de que sofrem os órgãos degoverno ao redor do mundo, sem levar em conta opaís em questão. Nestas situações, a contribuição pro-vida por um doador particular pode ser valiosíssima.No entanto, é de máxima importância que doadoresparticulares contribuam com fundos, tanto para inter-venção real, quanto para os estudos preliminares indis-pensáveis, necessários para determinar a abordagemmais apropriada, teórica e técnica, que será adotadadurante a intervenção. Isto evitaria aqueles casos emque os patrocinadores “vem em socorro” a um monu-mento com uma solução, que antes de tudo, serve paradivulgar a especialidade do doador ou seus produtos.Em alguns casos, isto pode ser realmente uma boasolução, em outros pode resultar numa intervençãoduvidosa ou totalmente negativa.

Como esta situação pode ser melhorada? Enquan-to a solução dos problemas legais, burocráticos e eco-nômicos tem que ser deixada para cada governo, aque-les de nós preocupados com a conservação do nossopatrimônio podemos, principalmente, contribuir des-pertando a consciência. Com este propósito, o públi-co visado, quer seja por representantes do governo, oupessoas que vivam próximas do monumento em ques-tão, tem que entender o problema, isto é, porquê aconservação é importante e qual é a abordagem maisapropriada para conseguir isto.

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CHAN CHAN: PROBLEMÁTICA E PERSPECTIVAS NA APLICAÇÃO DA TEORIA À PRÁTICAAna Maria Hoyle e Ricardo Morales Gamarra

Diretora do Departamento de Cultura da Liberdade, Instituto Nacional de Cultura – Trujillo, Peru

Chan Chan, Patrimônio Cultural da Humanidade(UNESCO 1986), é o complexo arqueológico maisrepresentativo do urbanismo e da arquitetura pré-incana costa norte do Peru (900-1450 A.D.). Foi a capitaldo Estado Chimú e seus atuais 1.414 hectares de áreaprotegida constituem um extraordinário laboratóriopara a pesquisa científica em diversas especialidades,uma das quais, a Conservação.

Na verdade, Chan Chan foi e é uma escola de campo,onde se desenvolveu um processo de conservação dignodo mais completo estudo, monitoramento e diagnósti-co. Desde 1964 até hoje, trabalhou-se da prática à teo-ria e, nesta última década, iniciou-se um esforço inter-disciplinar para transformar essas experiências em teorias.Nesta primeira etapa o trabalho girou em torno do usode produtos naturais e químicos, bem como de diversastécnicas de consolidação e avaliação de seus resultados,para depois ampliar a aplicação daquela que ofereciamelhores garantias. Trata-se agora de planejar um tra-balho com base teórica e passar depois à prática.

Nesse processo devemos distinguir dois momentosou tendências muito acentuadas. Por um lado, a etapade reconstrução (1964-1972), pelo outro, a etapa deconservação (1974 até esta data). A primeira, de cará-ter cenográfico, substancialmente hipotética e mane-jada arbitrariamente pelos arqueólogos. A segunda,fundamentada no respeito à autenticidade dos con-textos culturais e arquitetônicos, à conservação doestado atual do documento e orientada para um inter-venção interdisciplinar. Os projetos arqueológicos sãoessencialmente conservacionistas.

Chan Chan constitui, por isso, um campo apropriadopara a Pesquisa Aplicada à Conservação do entorno,estruturas, relevos, gessos, policromias e pisos e istosomente é possível sob uma proposta integral, coerentee ambiciosa: o “Plano Mestre de Conservação e Mane-jo do Complexo Arqueológico Chan Chan”(INC 1999).

O documento indicado, formulado por uma equi-pe de planejamento inter-disciplinar e multisetorial,constitui uma ferramenta de gestão para a conservaçãointegral do monumento, o qual oferece uma respostaintegral à problemática diversa com que se defrontaChan Chan diante dos fatores de degradação naturaise antropológicos, bem como das atuais necessidades

sociais e culturais e de administração contemporânea.De tal modo que, o Plano Mestre, concebido sobre

a base de um diagnóstico pormenorizado das condiçõesdo sítio e seu contexto e a identificação de seu signifi-cado cultural, histórico, científico e social, integra todasas medidas necessárias para a conservação de tais valo-res que fazem de Chan Chan um local importante paraas gerações atuais e futuras. Nesta perspectiva, o Planocontempla a execução de sete programas e cento e cin-quenta e três projetos de pesquisa em diversos campos,a conservação de estruturas e do ambiente natural ao seuredor, bem como a valorização social nas cinco zonas deadministração do complexo e de acordo com sua natu-reza, aí incorporando a comunidade local através da par-ticipação efetiva de suas organizações representativas ea implantação de uma administração autônoma e des-centralizada da autoridade do INC local, devido à com-plexidade da problemática a ser enfrentada e à especia-lidade de suas atividades. É importante destacar que emtermos da conservação do monumento, o Plano Mes-tre cria o “Centro Panamericano de Conservación delPatrimônio de Tierra”, o mesmo que constitui o órgãointerno de projeção regional que desenvolverá os pro-gramas de pesquisa aplicada à conservação e monitora-mento ambiental da arquitetura construída com terra,com o que se obterá um importante avanço e contri-buição cientificamente sustentável neste campo.

Os programas do Plano, em conjunto, visam a con-servação e recuperação progressiva e global do com-plexo, no curto, médio e longo prazo, de acordo comum cronograma estabelecido em 10 anos, cujo desen-volvimento e execução sequencial se submete a umaavaliação permanente, mediante indicadores de moni-toramento, afim de aperfeiçoar sua planificação. O“Plano Maestro de Conservación y Manejo del Com-plejo Arqueológico Chan Chan”, concebido como uminstrumento de gestão para a conservação do monu-mento, reveste-se de uma metodologia pragmática quevaloriza o significado cultural do sítio em torno do qualse desenvolve o planejamento para a conservação. Naprática e no que diz respeito a seu desenvolvimento, deuresultados importantes, achando-se em processo de exe-cução os projetos de segurança, investigação, conserva-ção e valorização do complexo.

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AS MISSÕES JESUíTAS DE GUARANíS E O CONJUNTO DE SAN IGNÁCIO MINÍArq. Ramón Gutiérrez

Investigador Superior, Conselho de Investigações Científicas de Argentina; Diretor do Centro de Documentação de

Arquitetura Latinoamericana – CEDODAL, Buenos Aires, Argentina

Formadas a partir de 1610 e seguindo a experiênciaevangelizadora feita pelos jesuítas em Juli (Peru), desde1576, as missões dos índios guaranis constituíram umepisódio notável da colonização americana. Os indí-genas, em sua maioria nômades e caçadores, foramassentados em aldeias que ocupavam um extenso ter-ritório em áreas fronteiriças e alvos de conflitos entreEspanha e Portugal. Esta circunstância iria levar à des-truição de muitas aldeias e à migração e concentraçãodas trinta que subsistiram em torno dos rios Paraná eUruguai. Atualmente, ainda existem vestígios dessespovoados em territórios da Argentina, Brasil e Paraguai.

A peculiaridade da ação dos jesuítas com os guara-nis proveio da defesa de certos traços culturais que osidentificavam como “nação”. O principal desses foi oidioma guarani, que se manteve como característica deidentidade, apesar das ordens do Rei para que os índiosfossem instruídos em castelhano.

O sistema econômico de bens de comunidade, oplanejamento do território em atividades econômicascomplementares e o projeto dos povoados, que seafastava do traçado habitual das cidades espanholas,foram características excepcionais dessas missões jesuí-ticas, que mais tarde se repetiriam em conjuntos deMoxos e Chiquitos, hoje em território da Bolivia.

Dos remanescentes das 15 aldeias que ainda subsis-tem na Argentina, a maioria dos quais foi arrasada noinício do século XIX nas guerras de fronteiras, o maisimportante é o de San Ignácio Miní, que foi objeto detrabalhos de restauração desde o ano de 1944, uma vezque suas ruínas estavam incorporadas à frondosa selvaregional.

Trata-se do conjunto que conservou em melhorestado a estrutura urbana da grande praça, os restos dasportadas e muros laterais da igreja, construídos empedra talhada, bem como extensas zonas de moradiasindígenas que permitiam recriar a escala e cenário deuma das antigas missões.

Tanto os demais povoados em território argentinocomo os do Brasil (com excepção de San Miguel)

sofreram graves danos com as guerras locais e somen-te os oito localizados em território paraguaio se salva-ram de tais desastres.

San Ignacio Miní corresponde à primeira fase tec-nológica das construções missionárias, quando os jesuí-tas ainda não haviam descoberto as minas de cal que lhespermitiriam mais tarde construir com abóbadas de pedrae tijolos (como no caso de Trinidad, Jesús e San Cosmeno Paraguai). Utilizavam o antigo sistema regional deestruturas de sustentação de madeira e muros de pedrade simples fechamento, onde as esquadrias eram calça-das com pequenas pedras e uma argamassa de barro econchas moídas de baixo poder de ligação. O incêndiodo templo de San Ignacio pelos portugueses em con-fronto com o caudilho guarani Andresito fez com fos-sem queimadas as colunas de madeira e a coberta dotemplo, de tal maneira que restaram os altos murosinvadidos pouco a pouco pela selva.

Esses muros foram resgatados com cuidado exem-plar, sobretudo porque parte deles havia sido tomadapela vegetação que os desmoronava, enquanto suaaltura e a fraqueza da ligação, assim como a exposiçãoàs intempéries foi lavando as juntas e fraturando apedra. Isso exigiu atenção especial nos últimos anos,com escoramentos em San Ignacio Miní, devido àameaça de desmoronamento parcial de alguns deles.

A ação conjunta da Comissão Nacional de Monu-mentos (desde 1944) e, mais recentemente, a Direçãode Cultura da Província de Misiones, empreendeu,com execução pela Direção Nacional de Arquitetura,uma série de ações visando a valorização do conjun-to. Essas incluem desde um Centro de Interpretação,um Museu de sítio e um espetáculo de luz e som.Entretanto, o crescimento do povoado de San IgnacioMiní em torno do conjunto jesuítico não foi adequa-damente controlado e a poluição visual e a agressãoambiental do comércio, como também um turismonão devidamente aparelhado, continuam ameaçando apreservação adequada da área. Foram tentadas, recen-temente, com apoio internacional, medidas com afinalidade de consolidar os muros do templo queameaçam ruir.

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Quarta Sessão:

Turismo Gerenciado, Promoção

& Desenvolvimento

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O CASO DA CIDADE DE CUSCO: REFLEXÕES SOBRE SUA CONSERVAÇÃO Arq. Roberto Samanez Argumedo

Arquiteto - Cuzco, Peru

Dentro do panorama cultural que será analisado e deba-tido na conferência, ocupa lugar preferencial o caso deCuzco, por se tratar da cidade mais antiga e de maislonga continuidade urbana da América do Sul. Foi acapital do vasto território ocupado pela civilização Incae voltou a ser fundada como cidade espanhola em1534, acumulando testemunhos excepcionais em suahistória secular. Cidade singular por sua origem míti-ca e caráter sagrado na época pre-hispânica, recuperouseu auge e antigo esplendor no século XVII, adquirin-do um patrimônio edificado de qualidade significativa.

Com a independência do domínio espanhol, o esta-belecimento do livre comércio e as novas fronteiras,rompeu-se o circuito comercial que ligou o sul doPeru às jazidas minerais de Potosí. Cuzco perdeu suaimportância como centro mercantil e como sede defunções político-administrativas, caindo no ostracismoe no abandono. O século XIX foi, para a cidade, deesquecimento e postergação.

Com o despertar trazido pelo progresso do séculoXX, Cuzco se revelou como um centro urbano intac-to exibindo uma fisionomia colonial anacrônica, isen-ta da modernização produzida nesse século, da qual sevangloriavam as repúblicas sul-americanas. Em meadosdo século, a cidade teve que suportar uma catástrofenatural que afetou seu patrimônio arquitetônico e deuinício a uma etapa diferente, caracterizada pela perdade testemunhos irrecuperáveis de sua história, junta-mente com uma nova dinâmica de crescimento eaumento populacional.

Quando os proprietários e as camadas mais abasta-das abandonaram o centro da cidade, os setores demenor poder econômico e social o ocuparam, degra-dando-o e desprezando seu valor. A falta de interesse

e recursos econômicos por parte do governo central emunicipal, contribuiu para que essas propriedades nãotenham sido restauradas ou substituídas. Com o augeda indústria turística no último terço do século XX,tornou-se mais frequente a substituição tipológica comnovos materiais. O crescimento demográfico quecaracterizou a ocupação do centro histórico, começoua ser revertido pela substituição das funções de mora-dia por outras atividades ligadas ao turismo, surgindoa ameaça de alteração do uso, o despovoamento e aperda de tradições, festividades religiosas e costumesancestrais.

Na década dos anos setenta do século passado, seconcretizaram as iniciativas de organismos internacio-nais como a OEA e a UNESCO, para contribuir napreservação dos monumentos de Cuzco. Contou-secom a contribuição de inúmeros especialistas, algunsdos quais estarão presentes na Conferência que nosreúne. Nesse período, levou-se a cabo uma experiên-cia valiosa no campo da conservação e formação espe-cializada no âmbito de um ambicioso plano de desen-volvimento do turismo cultural. Em 1983, a cidade foideclarada Patrimônio Cultural da Humanidade, damesma forma que Quito, La Antigua, Guatemala eHavana, indicadas poucos anos antes.

A oportunidade que se nos oferece para olhar retros-pectivamente e fazer um inventário das vicissitudespelas quais passou a conservação da cidade nestes últi-mos trinta anos, permite-nos comentar os desacertos eas mudanças positivas, sobretudo na mentalidade eidentidade cultural. Organismos como o World Monu-ments Fund contribuíram para que a integridade deCuzco pareça menos ameaçada que antes e que obalanço geral neste novo milênio seja positivo.

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A CONSERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO NA ILHA DE PÁSCOAÁngel Cabeza

Secretário Executivo, Conselho de Monumentos Nacionais – Santiago, Chile

Quais são os desafios para a conservação do patrimônioda Ilha de Páscoa hoje e nos próximos anos? Que fer-ramentas institucionais e recursos possuímos paraenfrentar essa tarefa? Como conseguiremos que opatrimônio seja um aspecto importante das políticasnacionais e locais de desenvolvimento? Que aliançasdevemos promover em nível local, nacional e interna-cional para avançar na solução dos problemas? Comopor em prática nossa responsabilidade como país paraque o patrimônio da Ilha de Páscoa seja a base da iden-tidade cultural do povo rapanui e que seu estudo e con-servação sirva para seu futuro e que ao mesmo temposeja útil para construir novas pontes de entendimentoentre culturas diferentes?

Ilha de Páscoa ou Rapa Nui é uma rocha vulcâni-ca situada ao sul do oceano mais vasto do planeta, amilhares de quilômetros da terra mais próxima. A3.600 km do Chile continental, a 4.300 km de Tahi-tí. Seus primeiros habitantes foram um punhado demulheres e homens vindos da Polinésia, há poucomais de 1500 anos e que conseguiram desenvolveruma cultura surpreendente, em condições extremas deisolamento e falta de recursos. A magia desse triângu-lo de lava cativou gerações de pesquisadores e explo-radores das fronteiras da humanidade.

A história desse povo é fascinante, seu desenvolvi-mento, seus conflitos e sua quase extinção no séculoXIX. Seu passado nos surpreende a todos, porém,mais incrível é como um povo que em 1870 apenassuperava uma centena de pessoas, devido aos escrava-gistas e a doenças vindas do exterior, conseguiu evitarseu desaparecimento, salvar sua língua, reconstruir suaidentidade, revitalizar sua cultura e enfrentar com briorenovado seu futuro.

Por tudo isso, a conservação do patrimônio da Ilhade Páscoa e o uso que se faça dele deve estar entre asdecisões informadas e participativas tomadas pelo povorapanui e suas autoridades. Existe hoje a consciênciaclara, na maioria da população que vive na ilha, de queseu patrimônio arqueológico foi fundamental para res-gatar sua identidade e sustentar um turismo crescente,que é a base da economia local.

A conservação do patrimônio da Ilha de Páscoadurante o século XX concentrou-se em duas grandeslinhas complementares desde 1935, com a criação do

Parque Nacional Rapa Nui e a declaração da ilhacomo Monumento Nacional, como também pelodesenvolvimento de uma pesquisa científica mais sis-temática e a realização das primeiras restaurações emmonumentos.

Foram, sem dúvida, grandes conquistas para a épocae devemos ser gratos pelo que foi realizado por pes-quisadores e arqueólogos como Thor Heyerdahl, Wil-liam Mulloy e Gonzalo Figueroa. No presente, asações têm sido mais limitadas e de menor impacto,devido à falta de coerência das políticas públicas comrelação à Ilha de Páscoa e os poucos recursos humanose financeiros destinados para tal tarefa. Existem, porcerto, exceções, mas tem prevalecido a falta de coor-denação e os conflitos entre instituições e equipes depesquisadores.

Não obstante o que precede, tivemos algum pro-gresso nos últimos anos, como a elaboração do novoplano de manejo ou plano mestre do Parque Nacio-nal Rapa Nui, o qual inclui novos programas dedica-dos à identidade cultural e à participação local; nomesmo sentido, deve ser mencionada a criação doConselho de Monumentos Rapa Nui, com o qual seinicia a descentralização das decisões sobre a pesquisae a intervenção sobre o patrimônio arqueológico porparte do Conselho de Monumentos Nacionais; e adeclaração, por parte da UNESCO, como sítio dopatrimônio mundial.

Esses avanços, entretanto, são limitados pela falta deuma política integral para a Ilha de Páscoa, já que pre-domina o tratamento setorial e conjuntural dos pro-blemas. Para o Estado e a maior parte dos chilenos, a

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Ilha de Páscoa continua sendo algo exótico, desco-nhecido, difícil de entender e que surpreende peladiferença com o resto do país. Em poucas palavras, éa constatação de outro país dentro do país, é o reco-nhecimento da diversidade dos povos distintos quehabitam o Chile no norte, no sul, na polinésia e queo país é muito mais profundo e extenso em sua cultu-ra do que os vales do Chile Central.

Nesses desafios, as instituições e organismos inter-nacionais tiveram e têm um papel muito importante naIlha de Páscoa. A UNESCO, nos anos 60, teve umpapel muito ativo ao promover ações e hoje, nova-mente, será um fator para promover novas idéias,como o projeto de conservação do patrimônioarqueológico que este ano iniciamos, graças à contri-buição financeira do governo do Japão, durante doisanos.

Por seu lado, o ICCROM e o Fundo Mundial deMonumentos foram fundamentais para impulsionarum pensamento crítico na formação de nossos profis-sionais e no apoio financeiro de reuniões e projetosespecíficos. Como não reconhecer aqui o trabalho ededicação à conservação da Ilha de Páscoa de ElenaCharola, de Nicholas Stanley-Price e o apoio de Bon-nie Burnham. Tampouco podemos esquecer o traba-lho conjunto de Henry Cleere, do ICOMOS, paraque o Parque Nacional Rapa Nui fosse declarado Sítiodo Patrimônio Mundial pela UNESCO.

Que devemos fazer para potencializar essas expe-riências e integrá-las aos desafios atuais? Em primeirolugar, devemos ser capazes de desenvolver e manteruma política de Estado para apoiar a conservação dopatrimônio da Ilha de Páscoa e a cultura de sua popu-lação. Nisso estamos trabalhando em nível nacional etemos fé que em poucos anos mais conseguiremossuperar a institucionalidade fragmentada e políticasisoladas para a cultura e o patrimônio hoje existente noChile, não para concentrar o poder e ter uma só voz,mas sim para potencializar a participação, promover asdecisões locais e gerar mais possibilidades de apoio àcultura e ao patrimônio.

Em segundo lugar, devemos ter um plano de con-servação e desenvolvimento do patrimônio que nasçada própria gente da Ilha de Páscoa, o qual esteja inte-grado a um plano mestre de desenvolvimento da refe-rida ilha e que conte com todo o apoio científico e

político que for possível, com todo o respaldo inter-nacional que possamos obter.

Por certo, já contamos com parte do trabalho rea-lizado: nos anos setenta foi feito o primeiro plano demanejo do Parque Nacional Rapa Nui pela Corpora-ção Florestal Nacional, que administra o sistema deparques nacionais no Chile, graças ao apoio da FAO;na década dos noventa, elaboramos o segundo planode manejo do Parque Nacional Rapa Nui, graças aoapoio financeiro do Fundo Mundial de Monumentose com a participação das autoridades formais e tradi-cionais do povo rapanui. Ainda não fomos, porém,capazes de elaborar um plano geral para a Ilha em quetodas as iniciativas estejam coordenadas e que o pla-nejamento seja respeitado e que se atue como resulta-do disso.

Terceiro, precisamos gerar uma nova aliança com osorganismos e instituições internacionais comoUNESCO, ICCROM, ICOMOS, WMF, GettyConservation Institute e outros, para trabalhar com opovo rapanui na conservação e desenvolvimento deseu patrimônio. Devemos ser capazes de nos somarmose integrarmos nessa cruzada, devemos ser criativos edinâmicos em superar as contradições entre o públicoe o privado, entre o nacional e o internacional, entreo saber tradicional e o científico. Para isso é necessá-rio construir confiança, estabelecer uma agendacomum, fortalecer a amizade e as alianças, tanto entreas antigas instituições do patrimônio como com outrasentidades internacionais, como o Banco Mundial e oBanco Interamericano de Desenvolvimento.

Para alcançar o que foi acima mencionado, nossaestratégia será procurar concentrar-nos mais no pro-cesso que simplesmente no cumprimento de metas,estarmos mais focalizados na participação da comuni-dade que falar por ela, sermos mais flexíveis no plane-jamento, estar abertos a novas ideias e buscar todas asalianças possíveis.

Por conseguinte, reconhecemos que nossa tarefafundamental é convocar todas as iniciativas que bus-quem a proteção, conservação e valorização do patri-mônio cultural e natural da Ilha de Páscoa, tantonacionais como internacionais, sempre quando talobjetivo se cumpra a favor do desenvolvimento eidentidade do povo rapanui e resguardando um lega-do do qual também toda a humanidade é herdeira.

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Corredor Cultural: a reabilitação urbana em processo Augusto Ivan de Freitas Pinheiro

Secretário Geral, Instituto Light para o Desenvolvimento Urbano e Regional - Rio de Janeiro, Brasil

O projeto Corredor Cultural éum projeto de preservação erevitalização do Centro históri-co do Rio de Janeiro, desenvol-vido pela prefeitura da cidadedesde 1979. O projeto surgiunum período em que a preser-vação do patrimônio histórico eartístico era competência doorganismo federal e ainda muitovoltada para a proteção dos bensde importância nacional. A ori-ginalidade do projeto CorredorCultural foi a de ser um dos pio-neiros no país a tratar da preser-vação de conjuntos arquitetôni-cos de grande valor ambiental ede importância local, através dosinstrumentos de planejamento ezoneamento, de atribuiçãomunicipal. Ao longo de mais devinte anos o processo de preser-vação e revitalização do Centrodo Rio, iniciado com o projeto Corredor Cultural,afirmou-se como um processo irreversível de reabilita-ção urbana, tendo atravessado diferentes fases e estágios.

Inicialmente o projeto buscou divulgar e consolidaras idéias e a consciência da importância da preservaçãodo antigo sítio histórico, num amplo processo de dis-cussão com a população e com os diversos órgãosgovernamentais. Em seguida definiu e regulamentouos mecanismos legais da proteção, que atingiram quase3.000 prédios, dos quais cerca de 1.600 tiveram suasfachadas e telhados protegidos. Juntamente com a pro-teção foram fixados parâmetros para a recuperaçãoarquitetônica que envolveram desde instalações deletreiros nas fachadas até os procedimentos para licen-ciamento de obras nas áreas atingidas e os aspectos liga-dos às formas de gestão do projeto.

Os passos subsequentes foram a criação de estímulospara a conservação do patrimônio edificado, através delegislação fiscal específica; o estabelecimento de um

Escritório Técnico local, desti-nado a fiscalizar e orientar apopulação em relação aos traba-lhos de recuperação dos imóveis;o aprofundamento do conheci-mento da área e a democratiza-ção das informações e divulgaçãodos progressos alcançados peloprojeto, através de exposições,palestras, pesquisas e edição depublicações relativas ao assunto.

Consolidado o processo derecuperação dos imóveis, ini-ciou-se um período voltado àsmelhorias e à valorização dosespaços públicos, através de umintenso programa de obras queenvolveu desde a reurbanizaçãode ruas e praças, compreenden-do infra-estrutura, paisagismo,pavimentação, sinalização, ilu-minação de áreas públicas e demonumentos históricos, arbori-

zação e até o uso do espaço urbano através de modifi-cações nos sistemas de circulação de veículos, ampliaçãodos espaços dos pedestres, combate a estacionamentosirregulares e controle das atividades comerciais infor-mais. Os recursos financeiros, embora primordialmen-te públicos, também resultaram de um amplo aporte deparceiros privados.

O estágio atual mostra que mais do que um proje-to, a revitalização do área central da cidade, iniciadacom o Corredor Cultural resultou em um processo dereabilitação que atingiu todo o Centro da cidade. Aeste processo se juntaram outras instituições públicas dediferentes níveis de governo, originando o surgimen-to de inúmeros centros culturais instalados em edifi-cações históricas, antes degradadas ou ociosas e hojerecuperadas; a readaptação e a dinamização de museuse espaços culturais existentes e a volta dos investi-mentos privados, principalmente das atividades comer-ciais mais qualificadas ao Centro do Rio de Janeiro.

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GESTÃO DO TURISMO, PROMOÇÃO E DESENVOLVIMENTO EM CARTAGENA DE íNDIASSilvana Giaimo

Secretaría de Planejamento do Distrito Turístico e Cultural de Cartagena de Índias - Cartagena, Colombia

Cartagena de Índias, declarada Patrimônio Cultural daHumanidade pela UNESCO em 1984, conta com1.000.000 de habitantes no ano 2002, é a primeiracidade turística da Colômbia, o primeiro porto de cru-zeiros e se destaca no país por sua condição de cidadesegura. Por outro lado, é uma das cidades com maiornível de pobreza e tradicionalmente se tem caracteri-zado pela falta de cooperação entre os setores públicoe privado.

Com este entorno, a Prefeitura de Cartagena ante-cipa ações no âmbito de uma estratégia integral cujavisão para o ano 2011 se volta para ter uma cidade comprosperidade coletiva, com uma sociedade compro-metida com a preservação de seu patrimônio históri-co, cultural e natural; uma cidade construída para opovo, com uma administração pública transparente edescentralizada, reconhecida internacionalmente comocentro turístico, portuário e industrial do Caribe.

Para diminuir a pressão das funções urbanas no cen-tro histórico e aproximar o governo da comunidade,se desenvolve um programa de descentralização polí-tico-administrativa e territorial, mediante a construçãode sub-sedes administrativas em 4 zonas da cidadeque, combinadas com uma redistribuição do espaçopúblico, sejam o germe de novas centralizações. Para-lelamente, existe progresso em programas culturaisque dão um novo valor ao Centro Histórico paracidadãos e visitantes, como espaço coletivo no qual seexpressam a identidade local e a multiplicidade cultu-ral de nossa gente.

Busca-se aplicar este processo de descentralização àpromoção do turismo, para conseguir diversificar aoferta na busca de um maior equilíbrio do uso doterritório, do patrimônio e dos recursos naturais. Talenfoque se une a uma maior valorização do entornoambiental, como requisito para melhorar a qualidadeurbana, em função de se recuperar a relação da cida-de construída com a água, atributo natural que carac-teriza sua morfologia. Neste âmbito, os projetos prio-rizados respondem a critérios de impacto sobre opatrimônio histórico e natural, a sua capacidade parapotencializar atividades recreativas, turísticas e cultrais

e a seu grau de contribuição para o desenvolvimentosocial.

Os programas culturais são orientados para que ocidadão comum tome consciência do valor patrimo-nial e do significado de seu centro histórico, aumen-tando sua capacidade de contribuir para um saudávelequilíbrio das funções e as exigências do turismo.

A esse respeito se colocou em andamento o progra-ma “Põe teu coração no centro”, composto de váriasiniciativas, entre elas, a definição de corredores parapedestres em vias nas quais se localizam alguns dosespaços e imóveis mais significativos, não somente porseu valor arquitetônico e urbanístico, como tambémporque são centro de atividades urbanas, tais comopraças, parques, instituições governamentais, cartórios,Câmara de Comércio, biblioteca, bancos, igrejas, res-taurantes e estabelecimentos comerciais. A isso se acres-centa a dotação de equipamentos e mobiliário urbano.Faz parte fundamental desse programa a encenação depeças de teatro, realização de festivais e concertos nosespaços públicos do centro histórico, que propiciem aintegração dos cidadãos e uma maior equidade em suasoportunidades de acesso à cultura e à recreação.

As ações acima mencionadas se complementamcom uma reestruturação institucional de fundo para osetor turístico, abordada com a criação de corporaçõespúblico-privadas denominadas “Turismo Cartagenade Índias” e “Centro Histórico de Cartagena”, cujarepresentação por parte do setor público recai na pre-sidência do Prefeito e os responsáveis pelo planeja-mento, a segurança e a cultura; enquanto que o setorprivado se faz representar pelas agremiações turísticas,comerciais, sindicais e civís.

A cooperação entre iniciativa pública e privadaencontrou ajuda no convênio de competitividade como governo nacional, no qual se contemplam compro-missos de todos os setores para desenvolver o conjun-to de turismo. Sua ênfase deverá concentrar-se noturismo cultural para que, a partir da valorização e con-servação do patrimônio, também se possa gerar umdesenvolvimento equilibrado e uma melhor qualida-de de vida para os habitantes da cidade.

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Quinta Sessão:

Alavancando & Financiando PARCERIAS

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Revitalização de Centros Históricos: BAIRRO DO RECIFE - Do investimento cultural ao desenvolvimento econômicoSilvia Finguerut, Gerente Geral do Patrimônio e Ecologia, FRM- Fundação Roberto Marinho –

Rio de Janeiro, Brasil

Romero Pereira, Diretor de Ação Cultural - Coordenador do Projeto Tacaruna, Fundação Patrimônio

Histórico e Artístico de Pernambuco

O Bairro do Recife foi o núcleo inicial de assenta-mento da cidade do Recife e tem caraterísticas geo-gráficas muito peculiares, localizando-se numa ilha,atualmente ligada ao continente através de pontes. Foiali que colonizadores holandeses se instalaram ao noinício do século XVII, criando a Mauristaad, do prín-cipe Maurício de Nassau, que ali permaneceu porcerca de 20 anos.

A cidade ganhou elementos de defesa de seu espa-ço, verificada através de iconografia, pelo menos trêsmuralhas, de qualidade variável e que permitiu a suaconservação. Após a expulsão do s holandeses a cida-de estagnou e no início do século XX recebeu a aten-ção das autoridades implantando ali um projeto urba-nístico ao molde haussmanniano que é o atualpatrimônio preservado. A Rua do Bom Jesus, antigarua dos Judeus, preserva o mesmo traçado da épocacolonial.

A vocação portuária da região foi desenvolvida epreservada até meados do século XX, sofrendo umprocesso de degradação típico das grandes cidades apartir da década de 50;

A partir da década de 80 a Prefeitura do Recife deci-de pela sua revitalização e elabora um Plano de Ação,setorizando as diversas áreas da ilha e definido políticas

e determinando a preservação das áreas históricas.Na década de 90, a Fundação Roberto Marinho,

em parceria com a Prefeitura e da Akzo Nobel, deci-de promover um projeto de mobilização dos proprie-tários e inquilinos da Rua do Bom Jesus, oferecendouma série de incentivos para a recuperação do casariopreservado. Por outro lado, a Prefeitura iniciou umnovo Plano, desta vez voltado para a renovação eco-nômica da área, incentivando a implantação de res-taurantes e bares da área, buscando resgatar a vocaçãoboêmia da região. Essa ação recebeu um forte inves-timento em mídia de televisão e jornalística, gerandoa curiosidade da população e “ reconhecer” o MarcoZero da sua cidade.

As ações exemplares foram se sucedendo e tambémo investimento publico e privado na área. Foi funda-mental a visão da Prefeitura em levar para a região asmanifestações culturais locais, principalmente o Car-naval, resgatando a identidade da comunidade com oseu patrimônio material e imaterial.

Seguem os quadros dos projetos realizados pelaFundação Roberto Marinho, com diversos parceirosregionais e nacionais, o uso da mídia de televisão e osresumo dos resultados do desenvolvimento econômi-co da região durante a década de 90.

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SETOR PRIVADO

Organizações GloboAkzo NobelABN Amro BankCELPEPorto Digital

SETOR PÚBLICO

Prefeitura de RecifeGov. Estado PernambucoMinistério da CulturaEletrobrás/CELPE/CHESFIPHAN

ORGANIZAÇÕES SEM

FINS LUCRATIVOS

Associação de empresárioslocaisInstituto Cultural Bandepe

Difusão nacional e local Número aprox. de espectadores

Rede Globo de Televisão (principalmente)Canal Futura (educacional ou cabo/satélite)Canais Globosat (TV por subscrição)

161.000.00034.000.0006.000.000

PROJETOS

REDE DE PARCERIAS

APOIO DA MÍDIA: CAMPANHAS de TV

RevitalizaçãoCampanha de TV

RevitalizaçãoCampanha de TV

Mobilização Comunitária

RestauraçãoCampanha de TV

Rede elétrica e de fibra óticasubterrâneaRestauração

Cores da Cidade – Restauração de 32 prédios na RuaBom Jesus, antiga Rua dos Judeus

Cores da Cidade II - Restauração de 45 prédios nasredondezas

Fórum do Recife Antigo - Workshop, debates públi-cos etc

Teatro Apolo - etapas 1 e 2

Luz e Tecnologia no Recife Antigo

1993–96

1998

1999

2000

2000–2002

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CONCLUSÕES

O presente estudo procura demonstrar que a revitali-zação de centros históricos requer uma atuação contí-nua de médio e longo prazo dos agentes de preserva-ção e de atuação conjunta entre órgãos públicos esociedade civil. Por requerer investimentos consisten-tes, a elaboração de Plano de Ação é de fundamentalimportância de forma a que se possa aproveitar opor-tunidades que surjam ao longo do processo.

Por outro lado ressalte-se a importância de umaapreensão do Centro Histórico pela população local

através de do uso dos veículos de comunicação, commensagens de valorização e educativas, com a realiza-ção de eventos, trazendo de volta ao espaço, a popu-lação que o abandonou e resgatando o prazer da con-vivência nos espaços públicos e históricos.

A execução de ações exemplares por parte do PoderPúblico e da sociedade civil, principalmente aquelaorganizada, é da maior relevância para que o proces-so de revitalização efetivamente ocorra.

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DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO: 1993-1996

Área de Bom Jesusi 1993-1996

Recolhimento de ISS: 77%Valorização dos imóveis - 68%Imposto de Transmissão de Bens Imóveis - 732%

Bairro de Recife ii

3.000.000 de pessoas visitam anualmente o Bairro do Recife, atualmente o principal ponto turístico da cidade. Mais de 50 novas lojas e restaurantes na área da Rua Bom Jesus até 1997.A taxa atual de crescimento no Bairro do Recife é de aprox. 100 novos negócios por ano.

i Silvio Zanchetti/IDB Report 1997

ii Prefeitura da Cidade de Recife

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A PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO URBANO NA AMÉRICALATINA E CARIBE: UMA TAREFA DE TODOS OS ATORES SOCIAISEduardo Rojas

Especialista em Desenvolvimento Urbano, Banco Interamericano de Desenvolvimento - Washington, DC, EUA

A constatação do limitado alcance e sustentabilidadedo esforço de preservação do patrimônio históricourbano na América Latina e no Caribe nos leva a pro-por reformas nos métodos de ação e financiamento, demodo a envolver todos os atores sociais e destinar osbens preservados a usos de comprovada demandasocial. Com base em uma análise das múltiplas dimen-sões do valor do patrimônio e dos processos sociaisatravés dos quais se expressam tais valores, são identi-ficadas medidas para melhor alienar os interesses ebenefícios que obtenham os parceiros no processo de

preservação. Postula-se que, na medida em que aque-les que se beneficiam da preservação coincidam comos que a promovem e que pagam por ela, o processoserá mais sustentável e suscetível de ser ampliado deforma comensurável com a magnitude e valor dopatrimônio da região. A revisão crítica de alguns pro-jetos financiados pelo Banco Interamericano deDesenvolvimento, os quais podem ser consideradoscomo experimentos em ação, conduz a um modera-do otimismo quanto à viabilidade das reformas pro-postas.

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O Processo de Reabilitação do Bairro Histórico da Cidade de São PauloMarco Antonio Ramos de Almeida

Presidente da Diretoria Executiva, Associação “Viva o Centro”- São Paulo, Brasil

Vou me ater, aqui, ao foco desse segmento, que é aquestão da alavancagem de financiamento, montagemde parcerias e a viabilização de projetos, e não fazeruma exposição sobre o que está sendo feito na área cen-tral de São Paulo. Gostaria também de comentar otítulo da palestra, que fala em revitalização do Centro.Na realidade, não é bem o caso de revitalizar o Cen-tro, na medida em que ele é extremamente vivo edinâmico.

Tal como o consideramos, o Centro é formadopelos distritos Sé e República, somando uma árearelativamente pequena, de apenas 4,4 km2 frente aos1.000 km2 urbanos de São Paulo. No entanto, nessaárea diminuta se concentram 8% de todos os empre-gos formais da cidade, 40% da área construída ocupa-da pelo sistema financeiro, incluindo-se as bolsas deValores e de Mercadorias & Futuros. O Centro é des-tino de 22% das viagens feitas diariamente nos 39municípios que compõem a Grande São Paulo, o querepresenta um fluxo diário em torno de 2 milhões depessoas. Vê-se que, na realidade, não se trata de revi-talizar esse Centro, mas sim de requalificá-lo, de torná-lo mais eficiente, de ativar o seu potencial de geraçãode emprego e renda, de recuperar a sua função deimprimir identidade à metrópole.

O Centro recebe diariamente mais de um quinto dapopulação metropolitana e talvez seja um dos núcleoscentrais que mais atraem pessoas no mundo. Mas essamultidão se compõe basicamente das mesmas pessoas,que vão para lá para trabalhar e retornam aos seusbairros no final do expediente, diferentemente do quese vê em outras metrópoles, onde um grande volumede pessoas vai ao Centro para desfrutar suas atrações eviver seu ambiente cosmopolita e estimulante. Existemmuitos paulistanos que não conhecem o Centro, mui-tos turistas não são levados para conhecê-lo. O Cen-tro praticamente não é considerado uma área turísti-ca, o que é absurdo, porque no mundo inteiro oscentros são a âncora do turismo, com suas atividadesde cultura, lazer, comércio e serviços diferenciados,educação e entretenimento, que são as que hoje maisgeram emprego e renda no mundo. Quando se falaque, no ano passado, 22 milhões de turistas foram aParis, na prática significa que foram ao centro de Paris;

da mesma forma, 30 milhões de turistas que foram aNova York efetivamente foram a Manhattan. É issoque precisamos recuperar para São Paulo. A título deexemplo, o Teatro Abril, inaugurado há pouco tempo,atraiu só em sua primeira temporada, de poucos meses,perto de 250 mil pessoas, vindas do Interior, de outrosEstados e até de outros países, movimentando hotéis,restaurantes, cinemas, táxis, lojas, enfim, girandomilhões de reais.

Dito isso, devo falar um pouco sobre a AssociaçãoViva o Centro, que é uma entidade civil, uma ONG,criada pela iniciativa privada e por entidades da socie-dade civil há onze anos com o objetivo de tornar oCentro da metrópole mais eficiente e qualificado, ati-var seu potencial de gerar emprego e renda e recupe-rar seu valor de marca de São Paulo. Ao fundar aentidade, tínhamos consciência de estar iniciando umprocesso de 20 anos, dos quais dez para criar as con-dições de recuperação sustentável da área, e outros dezpara a implementação do projeto. Para isso precisáva-mos obter a adesão dos poderes públicos, da iniciati-va privada, da mídia, da universidade e da própriacomunidade local. E qual foi a estratégia adotada pelaAssociação? Basicamente a de ser uma entidade “agi-tadora”, no sentido de discutir e mostrar a importân-cia do Centro para o futuro da metrópole. Ela nãoquer ser condutora do processo, não existe para fazerprojetos, para isso há os órgãos governamentais e osescritórios privados. É verdade que a Associação che-gou a fazer alguns projetos, como o da Praça doPatriarca, encomendado em 1992 ao arquiteto PauloMendes da Rocha, e conduziu a elaboração dos pro-jetos básicos de reciclagem da Estação Júlio Prestes paraa criação da Sala São Paulo, mas trata-se de projetospontuais, de caráter indutor, o mesmo podendo-sedizer dos grandes diagnósticos que foram feitos pelaentidade através de consultorias especializadas. O obje-tivo da Associação é mobilizar cabeças e corações paraa importância dessa área, e então deixar que cada ins-tituição, empresa ou pessoa descubra o seu papel. Oque fazemos é agitação em torno do tema, ao mesmotempo procurando e articulando parceiros que desen-volvam essas ações. Assim surgiram projetos fantásticos,como o Complexo Cultural Estação Júlio Prestes, o

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Centro Cultural Banco do Brasil, o Teatro Abril, oMasp da Galeria Prestes Maia, o Shopping Light,representando volumes gigantescos de recursos. Aju-damos a Prefeitura a aprovar, no BID, financiamentoda ordem de 100 milhões de dólares para intervençõesurbanas no Centro. Além disso, ao longo desses dezanos, conseguimos a aprovação da Operação UrbanaCentro, uma lei que estabelece novos parâmetros emecanismos novos de uso e ocupação do solo naregião. Graças a ela pode-se aproveitar melhor o espa-ço aéreo e subterrâneo e garantem-se os instrumentospara a recuperação de todo o patrimônio histórico doCentro, que é constituído por mais de 700 edifíciostombados e importantes sítios históricos, monumen-tos, esculturas etc. Essa lei custou-nos cinco anos deintenso trabalho, mas recebeu a aprovação de 100% daCâmara Municipal, num raríssimo caso de consensoentre partidos de um extremo a outro do espectropolítico-ideológico. Nos pouco mais de dez anos desua existência, a Associação realizou numerosos deba-tes, seminários, estudos e diagnósticos, trazendo inclu-sive a experiência internacional, e depois a divulgaçãodos resultados das reflexões. A propósito, a Associaçãoedita a revista bimestral urbs, que traz os grandes temasdas metrópoles a partir de seu foco no Centro de SãoPaulo. Nossa equipe de jornalistas edita ainda doisboletins quinzenais, além de um site na Internet.Temos um departamento técnico que nos dá funda-mentação e orientação e, eventualmente, contrata-mos consultorias especializadas. Esta é a forma de agirda Associação. Se, via de regra, não elaboramos pro-jetos, por outro lado mantemos um programa, o únicode responsabilidade direta da Associação, o Programade Ações Locais. O que é esse programa? É basica-mente um trabalho visando a estimular a participaçãoda comunidade. O Centro tem a particularidade dereceber 2 milhões de pessoas por dia e de possuir ape-nas 65 mil moradores, comparativamente muito poucodiante da imensa população flutuante. Precisávamosconsolidar uma comunidade da área central, inclusivecom a participação desse contingente que nela nãoreside. Para tanto, dividimos o Centro em 50 micror-regiões —ruas, praças, fragmentos urbanos —, e esti-mulamos a comunidade a formar associações nestaslocalidades. Hoje contamos com associações em 43dessas microrregiões, batizadas de Ações Locais, coor-denadas e apoiadas pela Viva o Centro. Cada umadelas reúne de 10 a 12 diretores, num total de quase500 pessoas. São moradores, comerciantes, gerentes debancos, profissionais liberais e síndicos que participam

intensamente do cotidiano administrativo de seuentorno imediato. O programa inclui, ainda, a for-mação de Conselhos da Comunidade, cada qual reu-nindo de 10 a 30 conselheiros, de forma que temoshoje mais ou menos 1.500 pessoas envolvidas nesseprocesso. Com isso está se criando uma comunidadeforte, e esperamos que no prazo de um ano o Centroesteja totalmente coberto por núcleos de Ação Local,entidades hoje respeitadas pelo poder público por suaoperosidade e representatividade.

Além da comunidade, mobilizamos empresas que,no âmbito das Ações Locais, ajudaram a recuperardiversas áreas públicas do Centro, como o Vale doAnhangabaú, pelo BankBoston, a Praça Ramos deAzevedo, pelas Indústrias Votorantim, o monumentoa Carlos Gomes na mesma praça, pela Indústria Kla-bin, entre outros exemplos. O mesmo fizemos com osegmento governamental. Da mesma forma comoconseguimos que a Prefeitura criasse em 1993 o Pro-Centro, um programa de requalificação urbana e fun-cional da área, e que o Governo do Estado instituísseem 1992 um programa de segurança específico doCentro, denominado Centro Seguro, agora desen-volvemos tratativas com a Secretaria de Desenvolvi-mento Urbano da Presidência da República visando àcriação do Programa Federal de Apoio aos Centros dasMetrópoles e, a partir daí, estabelecer um núcleo emSão Paulo.

Creio que esses são os tópicos principais de umavisão abrangente da problemática do Centro, tal comoé enfrentada por seus atores sociais. O que mais seriapreciso acrescentar? Apenas gostaria de frisar que háuma fonte de recursos importante gerada pelas con-trapartidas financeiras pagas para construir acima dedeterminados limites ou pela regularização de imóveis,que vão para um fundo da Operação Urbana Centro,o qual é gerido por uma comissão específica, nãoexclusivamente do poder público, mas com a partici-pação da sociedade civil, e que está sendo responsável,por exemplo, pela reurbanização da Praça do Patriar-ca. Esse fundo já conseguiu arrecadar cerca de 10milhões de reais, valor significativo e que muito podeajudar na recuperação do Centro. Infelizmente, napassada gestão municipal, oito milhões de reais foramdesviados para o caixa único do Tesouro municipal,numa atitude absolutamente ilegal, mas confiamos emque tal valor acabará retornando a esse fundo.

Por fim, considero da máxima importância ressaltara inestimável e ativa participação da mídia no processode recuperação do Centro, lembrando que esta, que

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chegara a dar por consumada a irreversível decadênciada área, mudou completamente de atitude. Hoje amídia cobra dos poderes públicos mais atuação no Cen-tro e a Associação está sempre presente nos grandesmeios de comunicação. A Universidade também assu-miu a proposta, sendo que nas principais escolas de

arquitetura e urbanismo de São Paulo grande parte dostrabalhos de alunos refere-se ao Centro da cidade. São,mídia e Universidade, uma garantia de que a recupera-ção e o fortalecimento do Centro metropolitano de SãoPaulo constituem-se num fato irreversível e de grandeimpacto no destino da metrópole e do País.

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Huaca de la Luna: uma aliança estratégica para a conservaçãodo patrimônio cultural no PerúElías Mujica

Consultor para Patrimônio Cultural, Fundação Backus – Lima, Peru

A “Huaca de la Luna” é um dos trêsgrandes componentes do sítio arqueo-lógico conhecido como as Huacas deMoche (também conhecidas como asHuacas del Sol y de la Luna), a capitalda sociedade Moche que se desenvol-veu na costa norte do Perú, entre osanos 100 e 900 da era cristã.

Huaca de la Luna é um edifíciomonumental, construído totalmentepor milhões de adobes de barro e pro-fusamente decorado com relevos poli-cromados e pintura mural, os primei-ros descobertos nesse gênero. Éformado por três plataformas de adobede forma piramidal e quatro grandespraças. O monumento foi abandona-do por volta do século X, emboratenha continuado sendo um espaçocerimonial de importância na culturalocal e utilizado como local para sepul-tamentos. Além dos processos de erosão causados pelosfenômenos naturais, foi intensamente saqueado duran-te a época colonial e republicana.

Os trabalhos em Huaca de la Luna são executadospela Faculdade de Ciências Sociais da UniversidadeNacional de Trujillo, sob a orientação do arqueólogoSantiago Uceda e do restaurador Ricardo Morales. Oprojeto foi iniciado no mês de maio de 1991, graças aoapoio da Fundação Ford. Conta, desde 1992, com opatrocínio principal da União de Cervejarias PeruanasBackus e Johnston e com o apoio complementar daMunicipalidade Provincial de Trujillo e do GovernoRegional La Libertad, além de outros patrocinadoresmenores.

O projeto Huaca de la Luna tem por objetivo últi-mo a conservação do monumento e a sua colocaçãoem uso social através de visitas de turistas locais, nacio-nais e internacionais. Para isso, está organizado emtrês grandes componentes: pesquisa arqueológica, con-servação do monumento e administração do sítio.

Dadas as características do monumento e a filosofia doprojeto, o maior investimento se concentra no com-ponente de conservação. É o único projeto peruano,com investimentos da iniciativa privada, que garantea conservação e exposição das estruturas, uma vez quedesde o início foi possível planejar dentro de um prazoadequado (7 a 10 anos), na medida em que o finan-ciamento básico estava assegurado.

A apresentação resumirá as realizações alcançadasem cada um dos três componentes, para demonstrar aqualidade científica dos trabalhos, como também ana-lisará os “indicadores de sustentabilidade” do projeto,para demonstrar o impacto obtido graças à aliançaentre instituição acadêmica/empresa privada/estado.Variáveis como “visitantes” e “recursos disponíveis”,medidas ao longo do projeto, permitem-nos predizerque uma aliança deste tipo, para executar uma propostaintegral de pesquisa/conservação/colocação em usosocial, é um modelo viável e bem sucedido para aconservação do patrimônio cultural.

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O Centro Histórico de Quito - Uma revisão rápida dos processosde conservação e reabilitaçãoDora Arízaga Guzmán

Ex-Diretora do Fundo de Salvamento do Patrimônio Cultural, Quito - Ecuador

Dispor de recursos financeiros para resgatar e conser-var o Patrimônio Cultural na América do Sul e Cari-be, torna-se um paradoxo, se considerada a vulnerabi-lidade de suas economias e as grandes dificuldades queenfrentam os países para atender aos inúmeros proble-mas sociais; a isso deve somar-se a percepção coletivade que a conservação do Patrimônio Cultural é umluxo inadmissível diante da resolução de outros tipos dereivindicações e necessidades prioritárias.Os escassos recursos de orçamento destinados à Cul-tura e à conservação do Patrimônio, ficam reduzidosà valorização do Patrimônio ligado ao turismo e aatos de “voluntarismo” político, com subvenções edoações para a restauração e intervenção de grandesmonumentos, ficando grande parte do Patrimôniocultural de nossos povos absolutamente desprotegida equase sem opção para sua permanência.

Essa realidade obriga a repensar a importância doPatrimônio Cultural e o papel que este desempenha naconstrução dos territórios, paisagens e identidades cul-turais, a olha-lo com uma nova sensibilidade e aencontrar as dimensões sociais, políticas e econômicasdo Patrimônio; ou seja, novos significados para “Patri-mônio Cultural” e como este se integra ao conceito de“Qualidade de vida” reclamada pela sociedade.

Isso tudo, por sua vez, conduz a novas visões emaneiras de administrá-lo, conceitos e formas quedeverão estar imersos e incorporados no conjunto dasmudanças sociais e econômicas vigentes por que pas-sam nossos países, implicando em que: ■ Sejam modificados e abandonados os conceitos

tradicionais da conservação do patrimônio cultu-ral per se e dos monumentos isolados;

■ Mudanças e reformas descentralizadoras sejamaproveitadas para conseguir que sua gestão e admi-

nistração sejam integrais;■ Seja tratado de uma maneira especial o financia-

mento dos processos de recuperação e conserva-ção. O trato das paisagens e territórios culturais éatípico dentro do sistema tradicional de financia-mento e de formulação de projetos.

■ Os investimentos públicos nos processos iniciais deconservação sejam subsidiados e suficientes parapotencializar as vocações dos locais e promover assinergias urbanas necessárias com geração deempregos, renda e atrativos para investimentosprivados.

Isto implicará em que as entidades responsáveis pelagestão, sejam estas nacionais, regionais e/ou locais, seconvertam em mediadores entre a gestão territorial e asatisfação das reivindicações comunitárias, com umaverdadeira política de recuperação e conservação doPatrimônio Cultural como garantia de melhora de qua-lidade de vida, pois, somente na medida em que oPatrimônio Cultural seja parte do desenvolvimento dospovos e participe das agendas sociais e econômicas dospaíses, a manutenção do Patrimônio Cultural deixará deser um ato exclusivo do “voluntarismo” político.

Neste contexto, as ações realizadas pela Municipa-lidade de Quito desde 1988, pretendem mostrar oesforço iniciado de um processo de recuperação inte-gral de suas áreas históricas, nas quais o governo muni-cipal trocou sua atitude passiva, controladora e nor-mativa por uma mais dinâmica e participativa, comconceitos de rentabilidade social e econômica, bus-cando fazer com que o processo de reabilitação setransforme em algo permanente e sustentável. O finan-ciamento conseguido tanto de recursos permanentescomo de outras fontes, demonstra uma das facetasdessa gestão.

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Sexta Sessão:

Resumo e Argumentos Finais

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PATRIMÔNIO MONUMENTAL NA AMÉRICA DO SUL: O SEM VALOR DOS VALORESArq. Graziano Gasparini

Professor titular de História da Arquitetura, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo –

Caracas, Universidade Central da Venezuela

À memória do Arq. Ignacio Solá-Morales, um dos poucos que

souberam escutar e dialogar com os monumentos.

Para tentar apresentar uma explicação da completasituação atual enfrentada pelos países da América doSul em seu desafio para conservar os testemunhos visí-veis e tangíveis de seu patrimônio cultural, de suascidades históricas e de seus monumentos, devemoslevar em conta que as dificuldades não podem ser atri-buídas somente à eterna queixa que alega falta derecursos, como também à afirmação de novas atitudes,critérios, políticas, enfoques e filosofias que o homemsul-americano assumiu diante de uma responsabilida-de cultural em crescente decadência e inquietantedesinteresse coletivo.

Não podemos desconhecer o fato de que váriosdos princípios que guiaram a tarefa conservacionista aolongo do século passado, sofreram mudanças conside-ráveis nestes últimos tempos. Mudanças de gosto, deapreciação, de valorização, de opiniões e de atitudes,tanto para o significado dos monumentos na vida atual,como para as novas situações culturais surgidas e asnovas propostas concebidas. Algumas válidas e outrasque podem ser repelidas e, entretanto, necessárias parademonstrar o lógico e o irracional da tão imprevisívelcondição humana diante de um mesmo problema.Nem todas são exclusivas da América do Sul e tam-pouco somente as más são sul-americanas. Toda atitu-de se define, manifesta e expressa dentro do ambien-te cultural ao qual pertence e, por isso, o nível culturalinflui nas atitudes de tal maneira que as condiciona.

Houve mudanças notáveis nas atitudes daquelesque, ao longo dos últimos anos, tiveram a responsabi-lidade de intervir nos Monumentos. Antes prevaleciamos princípios, as normas, as teorias conservacionistas, asproibições e os enunciados das Cartas de Atenas, deVeneza e de tantas cartas mais; hoje, ao contrário, seafirma a atitude daqueles que sabem entender o monu-mento, que o escutam e que sabem falar com ele. Oséculo XX foi o século DAS CARTAS, o século XXIserá o século DO DIÁLOGO entre o monumento eo interventor, posto que somente a arquitetura dessemonumento é que pode condicionar a intervenção.

A América do Sul padeceu um século de grandeconfusão e mediocridade em muitas intervenções desalvaguarda de seu patrimônio monumental; por causadaqueles que basearam sua maneira de agir nas men-sagens que vieram de longe, que cruzaram o Atlânti-co como se fossem Bíblia e, ao contrário, só eram ecosnão muito claros e, com freqüência, mal interpretados.

Hoje em dia, chamo a atenção para atitudes e situa-ções de mudança que direta ou indiretamente influemna maneira de enfrentar a conservação, restauração erevitalização. Algumas têm um caráter geral, outras sãoexclusivas da América do Sul e todas contribuem paraa definição de nossos problemas. Embora os temassejam diversos, somente quero referir-me a três desses.São os seguintes:

Critérios e atitudes em transformação nas açõesconservacionistas.

Monumentos, políticas e economias na América

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do Sul.O sem valor dos valores.A seguir, vou desenvolver os três pontos, destacan-

do o positivo e o negativo de cada um deles, a fim dediscernir como atuam e como afetam o trabalho con-servacionista do patrimônio monumental sul-ameri-cano.

1.- CRITÉRIOS E ATITUDES EM TRANSFOR-MAÇÃO NAS AÇÕES CONSERVACIONISTAS.

É o ponto que analisa a atitude recente do arquite-to que intervém nas atividades de conservação, res-tauração e revitalização. Uma posição já exposta emoutras reuniões internacionais e que teve no arquite-to espanhol Ignacio Solá-Morales um de seus maisfervorosos promotores.

Na entrada do século XXI devemos reconhecerque ainda não existe um entendimento claro de comoaplicar os inúmeros critérios herdados nos últimoscem anos; ainda não se conseguiu o equilíbrio neces-sário que permita a convivência de nossa contempo-raneidade nos testemunhos arquitetônicos e urbanosdo passado; ainda é muito imprecisa a noção de auten-ticidade e o respeito que esta exige; ainda não se enfa-tizou o fato de que é indispensável entender a mensa-gem da arquitetura de ontem, a fim de estabelecer odiálogo, em termos contemporâneos, entre o inter-ventor e o monumento. Abusa-se da palavraDIÁLOGO toda vez que uma medíocre arquiteturade hoje pretende conviver ao lado de uma obra dopassado; o diálogo resulta estéril, porque é antes ummonólogo sem sentido, vazio, presunçoso e, a miúdo,ofensivo para o monumento e a arquitetura. Deveficar bem claro que sem talento e sensibilidade éimpossível qualquer tentativa de diálogo satisfatório.

Todos os princípios e normas que herdamos seidentificam com o pensamento de determinadosmomentos e, por conseguinte, refletem as idéiasDAQUELES momentos. Fácil de entender, portanto,que estejam expostos a possíveis mudanças posteriores.A perpetuidade dos princípios e normas que nosencheram a cabeça, demonstrou não ser tão estável elongeva. Sua vigência é limitada porque também sãolimitados e cambiantes os ideais que sustentaram acultura arquitetônica dos últimos cem anos. Houve um

momento em que muitos acreditaram que o movi-mento moderno era o resultado lógico do pensamen-to racional e, ao contrário, foi somente mais um movi-mento. Todos os partidários da arquitetura “moderna”profetizaram o desaparecimento dos estilos históricos,sem dar-se conta que o modernismo era um estilo maise sem perceber que os edifícios do passado guardavamem sua humilhante letargia, as premissas de uma novamensagem para o futuro arquitetônico.

Não é de estranhar, portanto, que algumas das inter-venções que acataram os princípios da CARTA DEVENEZA, teriam hoje um enfoque diferente, porquea exigência do “contraste” imposta pelas idéias moder-nistas de há trinta e oito anos, perderam a transcen-dência diante da atitude mais ampla do pensamentoatual, que até aceita a outrora repudiada solução ana-lógica.

A pegada do gosto em moda em um DETERMI-NADO MOMENTO, nas obras de resgate de ummonumento é perigosa, porque pode prejudicar suaautenticidade e, além disso, não garante sua validadenos julgamentos da posteridade. Age-se de boa fé por-que se acredita estar em sintonia com os princípioscontemporaneidade (de nosso “momento”), mas, como passar do tempo fica evidente que aquilo foi somen-te uma tentativa de impossível coexistência. Já o des-tacou um notável conservador: “... não temos o direi-to de transmitir um patrimônio monumental adornadode formas e gostos passageiros, apoiado nas interven-ções de arquitetos e restauradores que pensam mais emsua própria exibição que na verdadeira imagem dopróprio monumento. Não.

Somos proprietários dessa cultura material que rece-bemos por herança, somos unicamente curadores eadministradores para garantir o acesso e desfrute de taisbens. Não temos direito de DESPERSONALIZA-LOS e é nossa obrigação transmiti-los às geraçõesfuturas nas melhores condições físicas possíveis....”

Entre as normas que orientam e aconselham sobrecomo agir para obter uma intervenção apropriada,NÃO HÁ UMA SÓ que possa garantir um resultadosatisfatório, porque nenhuma delas pode garantir aQUALIDADE da intervenção nem o TALENTO dointerventor. Que a restauração de um monumentocaia em mãos de um bom arquiteto ou de um mau,

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continua sendo um problema de boa ou má sorte. Éuma loteria e as loterias nada sabem da mensagem queemana desse testemunho material investido de umvalor específico de civilização, de cultura, de históriae de criatividade.

O talento e a sensibilidade do arquiteto interventorsão hoje mais importantes que os enunciados e asrecomendações. A filosofia conservadora, com todassuas implicações e idéias cambiantes, faz parte da cul-tura arquitetônica e qualquer arquiteto um poucoinformado a conhece de sobra, posto que desdeCamillo Boito até hoje se passou mais de um século.A filosofia é antiga, mas ao contrário, é sempre novoe diferente cada um dos casos que o arquiteto deveráenfrentar. Há que revisar vários MANDAMENTOS,começando com a abolição das proibições. Cito algunsexemplos: a UNESCO, na recomendação sobre aproteção no âmbito nacional, do patrimônio culturale natural (XVII Reunião, Paris, 17 de outubro a 21 denovembro de 1972), precisa que a conservação deverespeitar o aspecto tradicional e recomenda “evitartoda nova construção ou todo acondicionamento quepossa alterar as relações de volume ou de cor”. Tam-bém na “Carta do Restauro” italiana, promulgada nomesmo ano de 1972, se estabelecem proibições quehoje são inaceitáveis. Por exemplo, proíbe-se, indis-tintamente, reconstruir e completar de forma analógi-ca, o que poria em dúvida a reabilitação do teatroromano de Sagunto por Giorgio Grassi, que, elemesmo, qualificou de INTERVENÇÃOANLÓGICA. Redigir normas em termos proibicio-nistas não é indicado para uma disciplina que é quaseimpossível de regulamentar. Não existem fórmulasmágicas, senão novos parâmetros conceituais da teo-ria conservacionista. O proibido, como as reconstru-ções, os anexos, as obras miméticas, analógicas ou asem estilo, vão perdendo sentido de culpabilidade. Oproibido deve ser substituído pelo diálogo, porquetorna-se muito difícil regulamentar o que é facultati-vo do talento e da sensibilidade individual. A chave do“modus operandi” das intervenções está na própriaarquitetura do edifício e sempre será a arquiteturadesse mesmo edifício que irá condicionar a interven-ção.

O intransigente repúdio ao REFAZER ou COM-PLETAR o antigo deve ser atenuado quando se apre-sentam situações nas quais não se pode desconhecer ovalor emotivo e condicionante do monumento que seidentifica com a memória coletiva e com o valor psi-cológico da memória urbana. Às vezes não se pode

evitar o resgate de um monumento SÍMBOLO,insubstituível para a história de qualquer país, semrecorrer a soluções que figuram na lista do proibido edo que NÃO se deve fazer. Sobram os exemplos. Apersistência das formas é parte de nossa identidade esomente ela pode permitir que entendamos que mui-tas obras tachadas de FALSOS HISTÓRICOS, narealidade não o são. Não nos esqueçamos que sepodem cometer atos funestos tanto com imitaçõescomo com intervenções preocupadas em evidenciar AMARCA DE NOSSA ÉPOCA. A Carta de Venezadita em termos autoritários que: “...todos os comple-mentos reconhecidos como indispensáveis por razõesestéticas e técnicas devem distinguir-se da composiçãoarquitetônica e devem EXIBIR A MARCA DENOSSA ÉPOCA...” É um princípio mais perigosoque válido, porque resultou em um incentivo à auto-suficiência e à proliferação de intervenções, que emlugar de exibir a marca de nossa época, exibem amarca da mediocridade do autor. O princípio é ambí-guo e limita a intervenção a uma só opção: a deexpressar-se com o selo de nossa época, o qual, parasermos sinceros, é um risco, porque nem todos osmonumentos podem aceitá-lo. Raymond Lemaire,ilustre ex-presidente do ICOMOS, advertiu sobrequão difícil é conseguir uma convivência feliz. Disse:“...nossa arte contemporânea está tão afastada dos prin-cípios da arte de outras épocas, que a coexistênciaentre ambas não é cômoda e, raramente, harmonio-sa...”. Além disso, porque devemos aceitar como man-damentos bíblicos os enunciados da Carta de Venezaou de outras cartas? Há casos concretos que demons-tram o aspecto vago e duvidoso de muitas normas;casos nos quais a obra construída fala por si mesma esem possibilidade de semear dúvidas. Por exemplo,não HÁ MARCA DE NOSSA ÉPOCA nas inter-venções que resgataram da deterioração, do abandonoe do uso indevido várias obras arquitetônicas criadaspor mestres do século XX como Frank Lloyd Wright,Le Corbusier, Alvar Aalto, Mies Van Der Rohe eoutros. Os que intervieram com tanta devoção pararecuperar a Robie House de Wright e a Villa Savoyede Le Corbusier, para citar somente dois casos, o fize-ram com uma atitude de respeito pelas obras dos mes-tres, uma ação reverente que não admitiu modificaçõesnem adições; mais precisamente, foram eliminadas,em ambos os casos, as alterações modificadoras, a fimde recuperar o aspecto original dos anos 1909 e 1929,respectivamente. Quem teria o valor de acrescentarum toque DE NOSSA ÉPOCA em obras que tanto se

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identificaram com a personalidade de Wright e LeCorbusier? Nestes casos e em outros semelhantes,agiu-se com o mesmo critério que guia a restauraçãode uma de arte pictórica, ou seja, somente se restau-rou A MATÉRIA da obra de arte. Ninguém teve aousadia de alterar no mínimo que fosse, o conceituale a idéia de arquitetura que os dois mestres transmiti-ram em suas construções. Em outras palavras: as inter-venções foram exclusivamente técnicas e NÃO recla-maram a presença de um novo talento arquitetônico.A arquitetura já existia e tinha tanta força que somen-te aceitou uma reverente patologia.

Não devemos dar crédito às muitas recomenda-ções, normas e princípios. Não resolvem o essencial denossa tarefa e tampouco sugerem fórmulas que garan-tam a ação correta do arquiteto.

Então, que é o que realmente determina a valida-de de uma ação de resgate em uma obra do patrimô-nio monumental ou em um centro histórico? Que éque, em última instância, estabelece o positivo ounegativo de tal ação? Acaso mais teorias, mais normase mais cartas? NÃO! A única coisa que deixa umamarca evidente boa ou má é a intervenção. AINTERVENÇÃO acertada deixa sua impressão, damesma forma que a infeliz. Uma intervenção, quealém de resolver os problemas técnicos, obtenha aconvivência bem sucedida do desenho de hoje naarquitetura de ontem, é a meta principal do arquitetoque assume a responsabilidade de intervir em ummonumento. Uma responsabilidade grande, porqueninguém deve esquecer que intervir é também sinô-nimo de alterar. Uma responsabilidade que nem todospodem assumir, mas que, por infelicidade, todos seconsideram capacitados para assumir.

A aprovação de um projeto de restauração quequalquer dos tantos organismos estatais, municipaisou culturais contrata com um profissional, continua aser um risco, porque todas as credenciais legais que oacreditam como capacitado para isso, não servem paracredenciar e garantir seu TALENTO.

As normas, teorias, recomendações e cartas, cum-priram seu compromisso orientador. Todas contêmboas intenções e não se discute sua função pedagógi-ca, mas não são a panacéia que garante a validade daintervenção. Uma disciplina na qual cada caso é umcaso único e diferente, é difícil de administrar e quaseimpossível de regulamentar. Ficou demonstrado atual-mente que a distância entre os enunciados e a realida-de é sempre maior; hoje se afirma sempre mais anecessidade de perceber e compreender o que o

monumento nos comunica com seu silêncio elo-qüente, de honrar sua autenticidade. De sermosmodestos e não “prima donnas” e de deixar as inter-venções aos que tenham dado prova de ter talento parafazê-las. Percebe-se uma nova atitude do arquiteto esua responsabilidade profissional frente ao patrimôniomonumental: se conseguir estabelecer um diálogocom o monumento e interpretar o que este lhe pede,seu talento obterá um resultado válido e de qualidade.

MONUMENTOS, POLÍTICAS E ECONOMIASNA AMÉRICA DO SUL

Depois de haver percorrido a América do Suldurante 54 anos para ver, conhecer e estudar sua arqui-tetura e os monumentos de suas várias fases culturais,me dói observar que em grande maioria, os sul-ame-ricanos não dão a mínima importância à sorte de seupatrimônio monumental. Não digo uma tolice, sóemito uma observação que, lamentavelmente, se con-firma cada vez mais, porque não somente mudam asatitudes, como também os valores. O interesse dimi-nui, porque aumentam os problemas. Que proble-mas? Os que enfrentam milhões de pessoas para ten-tar viver decentemente e, em muitos casos, parasobreviver. A América do Sul foi sempre um conti-nente de situações críticas e de problemas, de diver-gências e de enfrentamentos, de enganos e de frustra-ções, de promessas não cumpridas, de políticos ineptos,ladrões ou palhaços, de desemprego e também defome. A América do Sul é terceiro mundo, com paí-ses eternamente em via de desenvolvimento, repúbli-cas de bananas e economias de enfarte.

A atitude em relação ao patrimônio monumentalvai mudando e somente interessa a um número de“quixotes”, cada vez mais reduzido. Nas Faculdades deArquitetura os temas prioritários são outros. A histó-ria da Arquitetura reduz sempre mais seus programas.Para que serve? É matéria que hoje interessa mais àsagências de viagens, o que explica por que os orga-nismos tutelares do patrimônio buscam apoio nosDepartamentos de Turismo.

O que é que vem acontecendo na América do Sulnas últimas décadas? É triste admiti-lo, mas o fatonovo que se está impondo é que os valores deixaramde sê-lo e vão sendo substituídos pelas necessidades.

Um exemplo eloqüente dessa situação caótica éapresentado em um artigo recente do conhecido escri-tor Mario Vargas Llosa quem, analisando a situação fis-cal desastrosa da Argentina, se pergunta: “...Como épossível que a Argentina, que teve há algumas décadas

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um dos níveis de vida maisaltos do mundo e que pareciadestinada, em mais algumasgerações, a competir com aSuiça e Suécia em desenvolvi-mento e modernidade, venharetrocedendo desse modo atése comparar em empobreci-mento, em desordem e ino-perância em matéria política eeconômica, com certos paísesafricanos?...” É uma tristeconstatação do que está ocor-rendo na Argentina, mas inde-pendentemente dos níveis degravidade, não se trata de umasituação exclusiva dessa Repú-blica. Não há país, ao sul doRio Grande, que não arrasteseu rosário de calamidadeseconômicas e políticas. Os que hoje estão melhor quea Argentina, também tiveram seu turno de anarquia,desintegração e penúrias. Este continente de revolu-cionários e ditadores, de salários miseráveis e dívidasinternacionais cujos juros consomem boa parte darenda nacional, luta cada vez mais para alcançar umavida normal em suas diversas Repúblicas. Se no extre-mo sul a crise artentina é o detalhe funesto, no extre-mo norte, na outrora próspera e rica Venezuela, per-guntamo-nos se é mais grave a situação política ou aeconômica.

Que tem a ver tudo isso com os monumentos sul-americanos? Muito, quando a situação econômica devários países chega próxima aos 80% de miséria, qual-quer gasto destinado à conservação do patrimôniomonumental soa como um insulto. Pode parecer jus-tificável, no entretanto, não se justifica e tampouco semenciona que a politicagem, a demagogia, a impro-visação, a ineficácia, a incapacidade e os esquemasficam com a parte maior do bolo. Não nos esqueça-mos de que em muitas partes da América do Sul, acorrupção não é um delito, mas sim, uma atitude.Uma forma de vida.

Na formação de novas gerações nos temos descui-dado cada vez mais de ensinar o que representam e sig-nificam os monumentos e o vínculo que têm com aidentidade nacional. Como valores da memória cole-tiva de nossa cultura e de nossa história, os monumen-tos são também valores FRÁGEIS, quando os proble-mas da vida diária se tornam prioritários, é fácil que os

monumentos percam aficcionados e simpatizantes. Já odisse antes: as necessidades suplantam os valores.

Temos monumentos pré-colombinos, coloniais emodernos, que são patrimônio da humanidade. Seucuidado não pode depender de programas ESMOLA.Sermos orgulhosos deles também deve ser uma atitu-de. Uma forma de vida.

3. O SEM VALOR DOS VALORESO terceiro ponto se refere à decomposição dos valo-res vinculados a nosso patrimônio cultural, considera-do sempre como o testemunho tangível de nossa iden-tidade, história e cultura. Uma decomposição que nãosó é conseqüência de situações políticas ou econômi-cas, mas sim de modificações que afetam a forma devida, a maneira de julgar, de apreciar e de aceitar o queantes havíamos negado. Enfim, mudanças radicais emnossas atitudes, mudanças dos valores estéticos emudanças que prev6eem um futuro diferente.

Vamos perdendo esse prazer e essa emoção que sóa autenticidade era capaz de nos transmitir; a autenti-cidade de uma obra, de sua concepção, de suas formas,de seus materiais e de seu tempo no tempo, ou seja, detudo o que nos fazia perceber e sentir a presença atem-poral de quem a criou, de quem tocou as mesmaspedras que hoje também podemos tocar. São as pedrasde Teotihuacán, de Ouro Preto, de Quito, de SantoDomingo, do Morro de la Habana e de Sacsahuaman.Nomes que são arquiteturas vivas de nosso continen-te, monumentos que são história e identidade da Amé-

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rica do Sul e nosso patrimônio cultural.Vamos perdendo a emoção que eles nos transmi-

tiam, de respeitá-los e admirá-los, entendê-los e apre-ciá-los. Vamos perdendo interesse e ganhando indife-rença. Vamos alterando os padrões de nossa culturapara dar-nos conta, com atraso, que a palavraMÍSTICA perdeu valor.

O valor e o sabor da obra autêntica têm sempremenos amigos e mais partidários do simulacro, do queparece ser e só é ficção. Refiro-me à proliferação deuma arquitetura que somente atinge o nível da cari-catura e esterilidade criadora. Uma proliferação demau gosto que, com a promoção enganosa de novossubúrbios e das agências de REAL ESTATE, vai inva-dindo nosso entorno tanto na América do Norte comona do Sul. Uma invasão de casas em pseudo estiloMEDITERRÂNEO, pseudo estilo PROVENÇAL,em pseudo estilo ANTILHANO-CARIBENHO, ouem um POST MODERN que mais soa como POSTMORTEM se vai espalhando como um vírus de com-putadores e enchendo nossos olhos de EDIFÍCIOSque são DISPARATES, concebidos por profissionaisque se não perderam a dignidade, pelo menos perde-ram o juízo. Como estamos longe das casas de RichardNeutra no deserto californiano, das de Luis Barragánno México, das de Frank Lloyd Wright nos estadosUnidos ou as de Rogelio Samona na Colômbia.

Outro perigo “desejado” é o turismo. No passado,os monumentos eram restaurados por seus valores his-tóricos e arquitetônicos; hoje, se restauram para osturistas. Para que venha mais gente, para que deixemais dinheiro. Os cem milhões de turistas que a cadaano consomem os monumentos da Itália e da Espanha,são a inveja de muitos países e a desgraça de muitos ita-lianos e espanhóis. O turismo necessita dos monu-mentos porque representam um atrativo tão impor-tante como as praias e o sol do Caribe, como asgôndolas de Veneza, o Moulin Rouge em Paris, o car-naval do Rio, o tango de Buenos Aires e os cassinoshotéis de Las Vegas. A estes últimos quero dedicaralgumas linhas à parte, porque representam o exemplomais insultante de zombaria à autenticidade. Nemsequer podem ser considerados como cópias ou répli-cas. São somente monumentos ao triunfo da estupidezda ilusão falsificada e da mistificação cultural, aceitapela grande maioria daqueles que se conformam e

desfrutam do engano. É uma nova atitude: estar satis-feito com tudo aquilo que carece de valor.

O hotel THE VENETIAN é uma obra monstruo-sa, com 4.000 apartamentos, concebido pelos PAPA-RAZZI da arquitetura. Uma caricatura de Veneza,fora de escala e fora de todo entendimento, com suaponte de Rialto sobre um canal de asfalto transitadopor taxis e limusines. Até a água onde estão as gôndolastem um aspecto falso, pois mais parece uma piscina deHollywood que uma lagoa. Muito próximo dalí estáo Hotel Paris, que repete o mesmo esquema; não fal-tam a Torre Eiffel e o Arco do Triunfo, que mais pare-ce um arco à derrota arquitetônica. É também obri-gatório citar o hotel New York, New York, umamisturada dos mais emblemáticos edifícios de Manhat-tan, amparados pela inevitável estátua da Liberdade!!

O que acabo de expor nestas breves observações,deixa perceber que estamos enfrentando um momen-to de mudanças. O grave não são as cópias, as réplicas,o mau gosto ou o ridículo. O que preocupa é que umnúmero cada vez maior de pessoas aceite, sem ques-tioná-lo e sem analisá-lo, todo esse mundo de enganovisual, de falso estético, de valorizar as imitações e deaceitar a mentira como uma realidade quotidiana. Aomudarem as atitudes, as apreciações e os valores, tam-bém mudam as formas de vida, as manifestações cul-turais, as exigências, os julgamentos, a educação e osprincípios que nos ensinaram a diferenciar o que erabom e o que era mau. Não é a primeira vez que issoacontece na história, muito pelo contrário; a visão domundo de um homem do passado nunca pode ser amesma de qualquer momento posterior. Isto é muitobem captado pela arquitetura através das mudançasque denominamos ESTILOS. Toda mudança culturalproduz situações novas positivas e negativas. Surgemnovas formas, novas idéias, novos critérios, novos gos-tos e novas atitudes.

É difícil determinar e prever, caso sejamos teste-munhas de uma mudança, qual será a orientação, aqualidade ou o aspecto negativo dessa mudança. Nãoquero ser pessimista, mas não se pode desconhecer edeixar de constatar que o nível cultural em geral, estábaixando, os valores vão perdendo valor e são substi-tuídos por uma das pragas que mais ofendem nossaidentidade cultural: a mediocridade.

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Objetivos para a próxima década em matéria deconservação patrimonial na América do Sul,

propostos no congresso:

1. Exercer pressão para que a conservação patri-monial receba maior atenção nos programas polí-ticos e de governo.

2. Estreitar os vínculos com as áreas relacionadas dasociologia, a antropologia cultural e a educação.

3. Desenvolver um maior número de planos decolaboração nacionais e internacionais e criarnovas organizações.

4. Favorecer uma maior cooperação entre os dife-rentes grupos internacionais.

5. Documentar e caracterizar eficazmente exemplosde ótimas práticas em conservação patrimonial.

6. Reforçar e promover mais extensamente a con-servação de: patrimônio industrial, patrimôniomoderno e arquitetura vernacular, assim como asmanifestações do patrimônio cultural de minoriasétnicas e/ou religiosas.

7. Designar e fazer respeitar áreas protegidas aoredor de sítios históricos importantes.

8. Melhorar a aplicação das leis existentes de pro-teção do patrimônio cultural.

9. Trabalhar para melhorar a conservação e apre-sentação de exemplos de diversidade humana eambiental.

10. Trabalhar para reconciliar a teoria, a prática e asCartas internacionais sobre conservação patri-monial no contexto sul-americano.

11. Identificar e fazer uso de incentivos adicionaispara a conservação patrimonial.

12. Encontrar formas mais eficazes de homogeneizaros métodos de gestão patrimonial dos diferentesgovernos e órgãos de supervisão de projetos.

13. Buscar exemplos por todo o mundo de práticasótimas de gestão no setor do turismo do patri-mônio cultural.

14. Desenvolver formas para analisar e expressar osbenefícios econômicos da conservação do patri-mônio cultural.

15. Aumentar a participação da sociedade na con-servação patrimonial.

16. Continuar melhorando a formação dos gestoresdo patrimônio cultural, em todos os níveis.

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Algumas Breves Conclusões sobre a ConferênciaGustavo Araoz

Diretor Executivo, U.S. ICOMOS – Washington, DC.

Durante os últimos dois dias, ouvimos com grandeadmiração uma seqüência de excelentes apresentaçõese experiências que expressam o compromisso que exis-te na América do Sul com a conservação do patrimô-nio cultural. Mais de uma vez tivemos prova irrefutá-vel de que esse compromisso existe não somente porparte dos profissionais, especializados no campo, comotambém se difunde por toda a população em geral, quecada dia tem uma expressão mais forte e decisiva sobreo futuro de seu passado. A maturidade das experiênciasaqui compartilhadas, a complexidade das soluções queforam implementadas para o resgate de monumentosem grande risco e o mesmo refinamento das técnicasque foram utilizadas para apresentar-nos tais experiên-cias, não podem senão deixar-nos com uma sensaçãobasicamente otimista quanto ao futuro da conservaçãona América do Sul – o tema desta conferência. Isto nãosignifica que o caminho a percorrer será fácil. Comoem outras partes do mundo, a conservação do patri-mônio neste continente continuará sendo sempre debaixo para cima; entretanto, a determinação e o talen-to que presenciamos nesta reunião em São Paulo éum alento para todos aqueles que, como nós, trabalhamcom o patrimônio, e a confirmação de que não temostrabalhado em vão. Por isso, quero felicitar tanto osorganizadores da conferência por sua visão, como osrelatores e conferencistas por sua tenacidade e inteli-gência.

Nesse sentido e cumprindo a responsabilidade quenos foi confiada pelos organizadores da conferência,pudemos resumir as seguintes tendências e necessida-des que foram surgindo das apresentações duranteestes dois dias de trabalho.■ Repetidamente, os conferencistas e a assembléia

reconheceram o papel central que desempenhouo programa Watch do World Monuments Fundno resgate dos sítios patrimoniais em grande peri-go por toda a América do Sul. Este êxito foi atri-buído à natureza particular do programa, espe-cialmente quanto a seu acesso universal, aberto aqualquer grupo interessado, o que elimina a neces-sidade de intermediários; seus critérios simples deentender; e o enfoque do programa propriamen-te dito, sobre a viabilidade das soluções propostas;

■ Muitas vezes durante a conferência, reconheceu-se que a participação pública em todas as etapas doprocesso da conservação e resgate de sítios patri-moniais é absolutamente imperativa para se per-mitir que as comunidades e outros interessadospossam expressar os valores e o significado de cadasítio para si e para seus antepassados, passando afazer parte do processo de tomada de decisõessobre o futuro de seu meio ambiente;

■ Surgiu uma visão mais realista do papel quedesempenham os governos quanto a suas limita-ções para atuar e implementar projetos, enfatizan-do-se que, apesar disso, ainda têm a responsabili-dade de estabelecer o âmbito geral para aconservação do patrimônio da nação: de definir ocampo, os jogadores e as regras do jogo, obser-vando-se, ao mesmo tempo, que muitos governosestão se redefinindo, nesse sentido, como tam-bém a seus programas;

■ Esse corte do cordão umbilical de dependência dogoverno, que se pode identificar como uma mani-festação de amadurecimento no campo do patri-mônio cultural, criou a necessidade de formarnovas alianças estratégicas com grupos no setorpúblico e no privado, que tradicionalmente nãotêm participado do processo de conservação;

■ Nesse sentido, reconheceu-se que já não somos osúnicos árbitros quanto ao que se vai conservar,como tampouco de como e quando, mas antes,somos mais um personagem em uma equipe novade conservação, com uma natureza bastante com-plexa e que abrange toda a sociedade;

■ Por esse motivo, expressou-se a necessidade deiniciar um processo de introspecção entre aquelesque nos dedicamos ao patrimônio cultural e à suaproteção, para que possamos redefinir o papel querepresentamos nessa nova equipe de tomada dedecisões, de tal forma que seja importante e res-peitado;

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■ Foi detectado um ressurgimento, no setor domecenato e da filantropia no continente em gerale em quase todos os países em particular, fazendo-se mais urgente a necessidade de criar mecanismoslegais mais eficazes que lhes dêem um maior pesoem sua atuação;

■ Notou-se também, a necessidade iminente dereforçar os organismos não governamentais, tantonacionais como internacionais, já que essas ONGsespecializadas são fundamentais no desenvolvi-mento e implementação de métodos mais eficazespara a vigilância e tutela do patrimônio, porémvivem com o perigo de que, se forem fracas, esta-rão destinadas a desaparecer;

■ Reafirmou-se que a ação heróica – mas inteli-gente e informada – de uma só pessoa ou grupoisolado pode ainda mudar o curso quanto ao res-gate de um sítio patrimonial em grande perigo,sempre que se reconheça tudo o que foi acimaobservado;

■ Manifestou-se que a comunidade da conservaçãono continente exige um reconhecimento por suamaturidade, que inclui o direito a interpretar emprimeiro lugar, de dentro, o significado de umsítio patrimonial e só então, submete-lo a outrasinterpretações por grupos mais afastados oualheios;

■ Houve consenso quanto à necessidade de ampliaro grupo de disciplinas que tradicionalmente têmconstituído a equipe de conservação e proteção,acrescentando-lhe novas especialidades em finan-ças, política, etnografia, administração empresarial,etc;

■ Como no passado, reiterou-se uma vez mais quea tarefa da conservação e o uso a que forem dedi-cados os sítios patrimoniais têm que preencheruma função social concreta e, ao mesmo tempo,têm que ser sustentáveis, para que referidos sítiospossam ser transmitidos às gerações vindouras emseu pleno estado de autenticidade e integridade;

■ Reconheceu-se também, que a solução para oproblema da pobreza está estreitamente ligada àconservação dos centros urbanos de valor patri-monial e que as soluções para esse têm que ofere-cer soluções para aquela;

■ Identificou-se a urgência de se desenvolveremindicadores com os quais se possam medir a eficá-cia da gestão dos organismos tutelares e a viabili-dade econômica da valorização desses sítios;

■ Quanto ao turismo, reconheceu-se que, da mesmaforma que na conservação do patrimônio em si,exige um cuidadoso planejamento e manejo, demaneira que não sejam erodidos os valores patri-moniais e que a população local e as comunidadestradicionais imediatas continuem tendo um papelpredominante dentro de seu meio ambiente.

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FORUM:

OportunidadE PARA ENCONTRAR

Representantes de InstituIÇÕes

FINANCIADORAS e Discutir oportunidades

de financiamento para conservaÇão do

Patrimônio Cultural

14 de abril, 2002Radisson Hotel Faria Lima, Salão de Atos

Bonnie Burnham y John Stubbs, World Monuments Fund

Robert Glick, American Express

Silvia Finguerut, Fundação Roberto Marinho

Eduardo Rojas, Banco Interamericano de Desenvolvimento

Gina Machado, Fundação Vitae

Herman van Hooff, UNESCO

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World Monuments Fund Apresentado por Bonnie Burnham, Presidente, e John Stubbs, Vice Presidente de Programas

O que é o World Monuments Fund (Fundo Mun-

dial para os Monumentos)?

World Monuments Fund (WMF) é uma organizaçãoprivada internacional que colabora com sócios do setorpúblico e privado para proteger o patrimônio da huma-nidade estimulando a conservação e preservação deobras de arte e arquitetura de importância histórica ecultural em todo o mundo.

Diferencia-se do Programa de Patrimônio Mundialda UNESCO – adotado em 1972 – porque este pro-grama é um acordo de cooperação entre os governospara designar sítios do patrimônio cultural do planeta.O WMF é uma organização independente do setorprivado, que trabalha com ONGs, fundações, empre-sas e pessoas físicas, bem como com organismos gover-namentais, sendo sua finalidade principal a conserva-ção e a proteção.

O WMF trabalha de 3 maneiras: atua como defen-sor de sítios ameaçados (por exemplo, através de sualista Watch os 100 Sítios Mais Ameaçados e de sim-pósios e projetos de demonstração); apoia o trabalhode campo em conservação com bolsas e ajudas, querplanejando, dirigindo ou administrando projetos decampo diretamente; atua também como educador dopúblico em geral e profissional, através de publicações,exposições e ciclos de conferências, assim como daparticipação em foros e seminários profissionais.

Quando nasceu o WMF e quem o fundou?

Em 1965, fundado pelo coronel James A. Gray (1909-1994), quem teve a feliz idéia de criar a primeira orga-nização privada do mundo para colaborar na conser-vação da arte e da arquitetura mundiais.

Com que orçamento conta o WMF? De onde

procede seu financiamento? Que dimensões tem

a organização do WMF?

O orçamento para 2002 é de 15,5 milhões de dólares,com praticamente sua totalidade proveniente de fon-tes privadas, principalmente de seus patronos, funda-ções, empresas e particulares.

O WMF é uma organização internacional com sedecentral em Nova York e escritórios em Londres, Paris,Veneza e afiliados independentes na Grã Bretanha,França, Portugal e Espanha.

O quadro de pessoal do WMF em Nova York é de22 pessoas; os escritórios europeus contam com umpessoal mínimo. Os afiliados têm conselhos de admi-nistração e funcionários independentes, se bem que oWMF tenha pessoal remunerado somente na Grã Bre-tanha (aproximadamente 7 funcionários).

Podem ser feitas doações a uma região espe-

cífica do mundo ou a um projeto determinado?

Podem ser feitas doações ilimitadas ao programageral de conservação do WMF.

As doações de grande monta podem ser destinadasa projetos diretamente supervisionados pelo WMF ouque figurem na lista do World Monuments Watch.

O pessoal do WMF colabora com os doadores naseleção de projetos que respondam a seus interesses.

Como o WMF seleciona os projetos? A que tipo

de projetos dá seu apoio?

O WMF recebe um grande número de pedidos atra-vés de seu processo de indicações para o programaWatch: organizações, governos e pessoas físicas quetrabalham no campo da conservação em todo omundo, apresentam locais que reúnem os três critériosde relevância, urgência da ameaça e viabilidade dasolução proposta.

Outros projetos chegam ao WMF através de seuPrograma Europeu de Conservação Kress e do Pro-grama do Patrimônio Judeu. Ambos funcionammediante um processo aberto de solicitações.

O programa Challenge de Robert W. Wilson paraa conservação financia muitos dos projetos da listaWatch; entretanto, outros projetos importantes che-gam à carteira do WMF a partir de fontes indepen-dentes que trabalham neste campo. Por outro lado, opessoal do WMF também dedica parte de seu tempoa pesquisar novos projetos para este programa.

Além desses programas gerais de ajuda, o WMFcolabora também em obras de conservação com con-tribuições pontuais.

O WMF seleciona seus projetos com o intuito deabranger todas as regiões do mundo e um amploespectro de intervenções.

O WMF colabora em projetos de documentação einspeção, trabalho de campo, pesquisa sobre a forma-

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ção, planejamento estratégico, obtenção de recursos,apoio econômico e defesa. O WMF promove a utili-zação de projetos como eixo central de programas dedesenvolvimento responsáveis.

O que é o programa Watch? Quanto dinheiro

recebe cada ano?

Com o financiamento inicial do American Express, oWMF colocou em marcha o programa WORLDMONUMENTS WATCH em 1995. Trata-se de umprograma em escala mundial que alerta sobre sítios dopatrimônio cultural que se encontram gravementeameaçados em todo o mundo. A cada dois anos, o pro-grama Watch publica uma Lista dos 100 MonumentosMais Ameaçados e, quando está a seu alcance, canali-za a ajuda econômica necessária para sua preservação.

São recebidas indicações de todas as partes domundo, sendo estas examinadas por um comitê deespecialistas independentes do campo da conservação.

A cada ano é concedido um mínimo de 1 milhão dedólares em forma de ajuda a projetos selecionados daLista do Watch. O número de projetos que recebemajuda a cada ano oscila entre 12 e 25.

Desde a entrada em funcionamento do projeto,foram mais de 275 auxílios concedidos a 144 sítios de65 países em um total de 22 milhões de dólares, entreos que se contam 5 milhões doados pelo AmericanExpress. Além disso, foram arrecadados outros 81milhões em forma de doações diretas aos sítios amea-çados por parte de governos, empresas, particulares einstituições como o Banco Mundial, o qual destinamais de 50 milhões de dólares para a conservação desítios patrimoniais.

Qual o montante dos recursos destinados pelo

WMF a cada ano?

Programa Watch do World Monuments Fund: 1milhão de dólares por ano, procedente de recursos doAmerican Express.

Programa Europeu de Conservação Kress: 400.000dólares por ano;

Programa do Patrimônio Judaico: de 100.000 a200.000 por ano;

Programa Challenge de Robert W. Wilson: emprincípio, até 10 milhões de dólares por ano em auxí-lios que igualam os concedidos por organismos locais;o total de financiamento mais recente foi de 5,2milhões de dólares.

Qual é a distribuição geográfica do trabalho do

WMF?

Aproximadamente 60% do trabalho do WMF se rea-lizam na Europa; 25% na Ásia; 13% na América e 2%na África e Oriente Médio.

Em quantos sítios trabalha o WMF ao mesmo

tempo? Qual é o projeto mais antigo dentre os

que tem atualmente o WMF?

A carteira de projetos ativos do WMF em 2001 é for-mada por 48 projetos de conservação em 23 países,com um orçamento acumulado que ultrapassa os 43milhões de dólares.

O WMF orquestrou grandes projetos em 77 paísescomo, por exemplo, o templo de Preah Khan na cida-de histórica de Angkor, Cambodia; a igreja de S. Tro-phime em Arles, França; a torre de Belém, Lisboa,Portugal e inúmeros sítios em Veneza.

O WMF trabalha já há muito tempo em projetos delonga duração em Veneza, Pompéia e Angkor.

Como consegue o WMF estar em tantos lugares

do mundo e se encarregar de tantos projetos

com um orçamento tão reduzido?

A capacidade do WMF de manter uma carteira de pro-jetos de tal magnitude em todo o mundo com orça-mentos anuais modestos (tão somente 11 milhões dedólares em 2001) é possível, graças à obtenção de recur-sos de outras fontes de financiamento – públicas e pri-vadas – e trabalhando com uma multidão de parceirosem conservação e financiamento em todo o planeta.

O WMF conta com uma rede de sócios financeirospúblicos e privados, bem como com uma extensaequipe de assessores: arqueólogos, conservadores, téc-nicos em meio ambiente e urbanistas.

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Síntese de programas básicos e financiamento –Programas globais

World Monuments WatchCriado em 1995

Objetivo:

Alertar sobre sítios do patrimônio cultural em perigoem todo o mundo e canalizar a ajuda econômicanecessária para sua preservação, através da publicaçãobienal de uma Lista dos 100 Sítios Mais Ameaçados

Critérios:

■ Relevância■ Urgência da ameaça■ Viabilidade do projeto proposto

Como funciona:

O pessoal do WMF, especialistas, e assessores de reco-nhecida idoneidade examinam as indicações.

WMF forma um comitê de seleção com nove peri-tos, para avaliar as indicações e selecionar os 100 sítios.Os membros do comitê representam áreas de especia-lidade baseadas nos tipos de indicações recebidas.

Nos comitês de edições anteriores participaramarquitetos, historiadores, restauradores e arqueólogos,com uma experiência que abrange todos os continen-tes e épocas históricas e que representam instituiçõescomo UNESCO, ICOMOS, ICCROM, o Institutode Conservação Getty, a Universidade de Harvard e oColégio Universitário de Londres.

Publicaram-se listas em 1996, 1998 e 2000. A listade 2002 será divulgada em novembro de 2001.

Financiamento:

1995: Ajuda de American Express em 5 milhões dedólares ao longo de 5 anos, que proporciona 1 milhãopor ano para os sítios selecionados pelo Watch (apro-ximadamente entre 12 e 25 a cada ano).

A ajuda se renovou por um segundo período de 5anos em 2000.

O American Express também oferece uma ajudasuplementar ao programa, para publicidade, gastos deimprensa e apoio administrativo.

Desafio de Robert W. Wilson –Conservar Nosso PatrimônioCriado em 1999

Objetivo:

Proporcionar financiamento substancial ao WMF paratrabalhos de campo em conservação, freqüentementecomplementando os sítios do World MonumentsWatch.

Identificar sócios locais de financiamento para gerarnovas fontes de recursos financeiros fora dos E.U.A.para projetos de conservação.

Critérios:

Sítios importantes identificados pelo WMF e que tam-bém sejam de interesse do doador.

Existência de recursos de financiamento equiva-lentes, procedentes de sócios que não sejam dosE.U.A.

Como funciona:

O WMF identifica sítios e sócios em potencial, atravésda lista do Watch e outros recursos nesse âmbito.

Os possíveis sítios são aprovados pelo doador.O WMF estabelece acordos de colaboração finan-

ceira com sócios que contribuem com recursos equi-valentes. Entre os sócios estão a Fundação Aga Khane o BANAMEX.

Os programas de conservação são negociados eadministrados pelo WMF em colaboração comONG’s e conservadores.

O WMF e seus sócios fazem entrega dos recursos,segundo o calendário de atuação estabelecido decomum acordo.

Financiamento:

Robert W. Wilson concede até 10 milhões de dólaresao ano para projetos internacionais de conservaçãoarquitetônica, segundo um sistema de financiamentoequivalente por parte de sócios de fora dos E.U.A. Até2005, proverá um total de 50 milhões de dólares. Atéo início de 2001, o programa conta com sócios definanciamento equivalente em 22 países. Obteve apro-ximadamente 10 milhões de dólares em ajudas diretas eoferecido mais de 20 milhões em recursos adicionais.

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Síntese de programas básicos e financiamento –Programas por áreas

Programa Europeu deConservação da FundaçãoKress OrigensCriado em 1987

Objetivo:

Os projetos são inscritos como de interesse principal daFundação Samuel H. Kress, pela arte européia e seucontexto geral.

Critérios:

■ Conservação de monumentos, sítios e obras dearte in situ.

■ Colaborações institucionais entre Europa e E.U.A,em projetos de conservação, interpretação e edu-cação.

■ Projetos de conservação em colaboração com oWorld Monuments Fund.

Entre os projetos pode figurar a colaboração em tra-balhos de campo, congressos, cursos de formação,missões de pesquisa, intercâmbios profissionais, publi-cações e exposições que interpretam a conservaçãopatrimonial e outras atividades.

Como funciona:

O WMF é o administrador deste programa de ajuda.As contribuições para projetos de até 50.000 dóla-

res são concedidas pelo WMF; as ajudas que ultrapas-sem 50.000 precisam da aprovação do Patronato daFundação Kress.

Já receberam apoio mais de 100 projetos de con-servação em 31 países.

Financiamento:

A Fundação Kress contribui com 400.000 dólaresanuais durante os anos de 2001-2004 para ajudas aprojetos.

Programa de Ajuda aoPatrimônio JudeuPrograma criado em 1988, sob a direção de Ronald S.

Lauder

Objetivo:

Responder ao abandono generalizado do rico patri-mônio judeu em todo o mundo. A abertura da Euro-pa Central e Oriental em 1990, aumentou esse desafio.

Critérios: (dá-se prioridade de financiamento à)

■ Sinagogas de importância histórica■ Sinagogas com uma congregação ativa■ Sinagogas que prestam homenagem à vida dos

judeus do passado.

Como funciona:

Inicialmente, o programa concentrou-se em dezimportantes sinagogas, seis das quais já foram total-mente restauradas: na Polônia, Grécia, Índia, França eMarrocos, incluindo a Sinagoga do Templo de Craco-via, Polônia e a Sinagoga Paradesi de Cochin, Índia.

A partir de 2001, transformou-se em um programaaberto de solicitação de ajudas anuais para dar apoio ao:planejamento, estabilização, assistência técnica, edu-cação, interpretação e conservação.

Financiamento:

Ronald S. Lauder contribui com financiamento bási-co. Busca-se financiamento de outras fontes. Será for-necido um total anual de 100.000 a 200.000 dólarespara ajudas durante os anos 2001-2004. O montanteda cada ajuda oscila entre 10.000 e 50.000 dólares.

NOTA: Além desses programas básicos, o WMF

também apoia outros projetos.

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American Express, através das iniciativas filantrópicasque empreende em todo o mundo, pretende ser umbom cidadão naqueles lugares em que desenvolve suaatividade empresarial e nos quais trabalham e vivemseus empregados. Situado na sede central de NovaYork, o Programa Filantrópico é composto pela Fun-dação American Express, criada em 1954 e que con-cede bolsas e ajuda para fins beneficientes, culturais,educativos e o Programa de doações da Entidade Ame-rican Express para ajuda a projetos especialmente sele-cionados.

A ajuda é concedida dentro do âmbito de três temasque refletem as prioridades de financiamento do Ame-rican Express: Independência Econômica, PatrimônioCultural e Serviço à Comunidade.

No item Independência Econômica, revestemespecial interesse as iniciativas que promovam, sus-tentem e desenvolvam a auto-suficiência econômica.Entre essas se contam o apoio a programas destinadosà juventude, insistindo especialmente na transição daescola para o mundo do trabalho e as experiências noemprego; programas de conscientização sobre opçõesprofissionais e de ocupação para pessoas que se defron-tam com obstáculos importantes para encontraremprego e programas de educação sobre aspectos fun-damentais de economia e empresa, a importância dapoupança, as bases da gestão econômica pessoal equestões de consumo a isso relacionadas. Entre nossasiniciativas de independência econômica estão os pro-gramas de viagens e turismo para estudantes de esco-la secundária de nove países e uma iniciativa a isso rela-cionada, a Academia de Viagens e Turismo dos EstadosUnidos. No total, esses programas escolares incluemmais de 50.000 estudantes.

Um objetivo do item Patrimônio Cultural doAmerican Express é proteger o entorno cultural e edi-ficado para ser desfrutado pelos habitantes locais evisitantes de hoje, a fim de conservá-lo para as geraçõesfuturas. Este programa insiste na conscientização dopúblico sobre a importância da conservação históricae ambiental; a preservação e gestão de importanteslocais turísticos; o apoio direto a instituições culturaisimportantes e a projetos destacados de artes plásticas ecênicas que sejam representativos de culturas nacionais,regionais ou locais; e a acessibilidade das artes e a ajudaa organizações para atrair novos públicos. Uma ini-ciativa a destacar neste âmbito é o programa WorldMonuments Watch, um compromisso de 10 milhõesde dólares ao longo de 10 anos com o World Monu-ments Fund, para ajudar a salvar o patrimônio mundialmais ameaçado.

Os fundos destinados a Serviço da Comunidade

financiam em primeiro lugar as iniciativas voluntáriasde funcionários do American Express em suas comu-nidades locais, principalmente através do programainterno Fundo para a Ação Voluntária Global. A tra-dição da entidade de buscar assistência para as vítimasde catástrofes em todo o mundo, através de auxílio àCruz Vermelha norte-americana e a outros organismosde ajuda a vítimas, também fica compreendida nesteâmbito. Outras ajudas que se oferecem sob a categoriade Serviço à Comunidade são as que se realizam porrecomendação dos funcionários do American Express.

Para mais informações:www.americanexpress.com/corp/philanthropy.tel.: 1-212-640-1041email: [email protected]

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A FILANTROPíA EMPRESARIAL DEAMERICAN EXPRESSApresentado por Robert Glick, Diretor de Comunicações e Assuntos Públicos

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FundaçÃO Roberto MarinhoApresentado por Silvia Finguerut, Gerente Geral do Patrimônio e Ecologia

Durante 25 anos, a Fundação Roberto Marinho vemtrabalhando para estabelecer consórcios, impulsionan-do e promovendo iniciativas públicas e privadas, tendocomo objetivo a valorização e revitalização do patri-mônio cultural brasileiro. Nosso foco principal é bus-car patrimônios exemplares e representativos de nossadiversidade cultural e, assim, transformá-los em sítiosacessíveis à população local. Do mesmo modo, procu-ramos salientar aspectos da sustentabilidade econômi-ca desses monumentos, principalmente para assegurarsua conservação e a manutenção de suas atividades.Tudo isso, através de uma série de projetos e progra-mas educativos que possam criar uma cidadania vin-culada à identidade cultural de nosso povo.

Mantida pelas Organizações Globo, o maior grupode comunicações do país, a Fundação Roberto Mari-

nho oferece como contrapartida, a coordenação e exe-cução do projeto, juntamente com o equacionamen-to da gestão institucional. Isto, ligado a uma forte visi-bilidade referente às diversas empresas do grupo. Aindahoje, buscam-se alternativas de incentivos fiscais para ossócios, a fim de conseguir resultados atraentes e acer-tados, do ponto de vista de marketing internacional.Dessa maneira, as empresas associadas podem realizarprojetos de investimento social, ao mesmo tempo sebeneficiando do fortalecimento de sua imagem.

Para mais informações:www.frm.org.brtel: 55-21-3232-8815email: [email protected]

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Enfoque do Banco Interamericano de Desenvolvimentocom relação à preservação do patrimônio urbano.

Apresentado por Eduardo Rojas, Epecialista em Desenvolvimento Urbano

Dadas as limitações do conhecimento a respeito davinculação entre preservação do patrimônio e o desen-volvimento sócio-econômico, o Banco Interamerica-no de Desenvolvimento tem procedido com cautelano momento de considerar pedidos de financiamen-to de projetos de proteção do patrimônio urbano. OBanco se concentrou em projetos que tenham relaçãodireta com seu mandato de acelerar o desenvolvi-mento econômico e social e satisfaçam seus critérios deavaliação técnica, econômica, institucional, financei-ra e ambiental. Para decidir a elegibilidade dos proje-tos que lhe são apresentados, o Banco aplica critériosbaseados nas experiências internacionais bem sucedi-das, bem como em suas próprias políticas e diretrizesoperacionais. Esses critérios indicam que são interes-santes para o Banco os projetos que:

■ Implantam modelos de preservação capazes desobreviver no longo prazo e se converter em auto-sustentáveis.

■ São adotados pelas comunidades beneficiárias ouproprietárias dos bens patrimoniais.

■ Abrem canais de participação à filantropia privadacomo alternativa de financiamento público para ossubsídios que se fazem necessários para tornar asintervenções sustentáveis.

■ Promovem a colaboração público-privada na exe-cução e financiamento da preservação.

■ Melhoram o ambiente regulatório e as funçõespúblicas relativas à preservação.

■ Evitam perdas irreversíveis de ativos patrimoniais.■ Do mesmo modo, há projetos que não são atraen-

tes para o Banco, portanto:■ Financiam atividades que o mercado pode sus-

tentar mais eficazmente.■ Propõem ações isoladas.■ Distribuem de forma desigual o custo da preser-

vação entre os atores envolvidos e os beneficiários.

Para mais informações:www.iadb.orgtel: 202- 623-2129email: [email protected]

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A Missão e criaÇão dA vitae Apresentado por Gina Machado, Gerente de Projetos - Área Cultural

Vitae é uma associação civil sem fins lucrativos queapóia projetos nas áreas de Cultura, Educação e Pro-moção Social. A programação desenvolvida por Vitaee por suas congêneres, Fundação Antorchas na Argen-tina e Fundação Andes no Chile, é patrocinada pelaFundação Lampadia, sediada em Liechtenstein. Ao ins-titui-las, em 1985, com recursos da venda de empre-sas do grupo Hochschild, que atuavam principalmen-te na America do Sul, os fundadores destas organizaçõesdecidiram destinar os frutos de seus investimentos aosprogramas de educação, cultura e promoção social, noBrasil, na Argentina e no Chile.

Vitae realiza projetos próprios e financia projetos deinstituições públicas ou privadas sem fins lucrativos,dando prioridade àqueles que tenham função catalisa-dora, possam servir de modelo a outras organizações,tenham efeito multiplicador e perspectivas concretasde continuidade, uma vez cessado seu patrocínio.

Na área da Cultura, as linhas de ação de Vitae con-centram-se em dois segmentos distintos: apoio siste-mático a ações de identificação, preservação e difusãodo patrimônio cultural brasileiro, envolvendo a capa-citação de recursos humanos e o desenvolvimento deprojetos vinculados a instituições culturais (museus,bibliotecas, arquivos, centros culturais e centros dedocumentação); e incentivo à educação musical, assimcomo à criação e pesquisa no campo das artes.

Ações na área de patrimônio cultural

Programa de Apoio a Museus, estruturado por meio deuma chamada anual de projetos, com o objetivo deapoiar o desenvolvimento de ações museológicas nasáreas de preservação, documentação, exposições delonga duração e projetos educativos.

■ Apoio a bibliotecas, arquivos e centros de docu-mentação no desenvolvimento de projetos de pre-servação de livros, documentos, mapas, fotografias,partituras musicais, filmes e vídeos.

■ Capacitação de recursos humanos e apoio à pro-dução e difusão de conhecimentos aplicáveis àpreservação de bens culturais.

■ Inventários de bens móveis e integrados perten-centes a monumentos tombados, de reconhecidointeresse histórico e/ou artístico. Este trabalho érealizado em cooperação com o IPHAN – Insti-tuto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

Para mais informações:www.vitae.org.brtel: 55-11-306-5299email: [email protected]

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UNESCOApresentado por Herman van Hooff, Assessor para o Patrimônio da Humanidade na América Latina e Caribe,

Consultor para a Cultura no MERCOSUL

Assistência internacional segundo o Convênio

do Patrimônio Mundial

O Fundo do Patrimônio Mundial, criado em 1972pelo Convênio do Patrimônio Mundial, recebe a maiorparte de sua receita das contribuições obrigatórias dosEstados Participantes e de contribuições voluntárias.Outras fontes de receita são os fundos em fideicomis-so doados por países para fins específicos e o lucroobtido com a venda das publicações do PatrimônioMundial.

Os Estados Participantes podem solicitar assistênciainternacional ao Comitê do Patrimônio Mundial apre-sentando um pedido através do Centro do PatrimônioMundial da UNESCO. Os formulários podem serbaixados da Internet acessando o endereço www.unes-co.org/whc e devem ser apresentados por meio doscanais competentes (Comissão Nacional da UNESCOou a Delegação Permanente da UNESCO) a:

Centro do Patrimônio Mundial da UNESCO7, place de Fontenoy75352 Paris 07 SPFRANÇA

O Comitê do Patrimônio Mundial aplica condiçõesmuito rigorosas e os pedidos devem ajustar-se a cate-gorias claramente definidas: assistência preparatória,cooperação técnica, assistência de emergência, assis-tência educativa, promocional ou de formação.

A assistência preparatória se destina à preparação deinventários de prováveis sítios do Patrimônio Mundial(listas provisórias), indicações para a Lista do Patrimô-nio da Humanidade e pedidos de cooperação técnica,incluídos os cursos de formação. Poderá ser prestadaassistência preparatória para reuniões regionais organi-zadas a fim de assegurar, por exemplo, que lá onde exis-tam sítios similares em países vizinhos, os sítios sele-cionados para indicação possuam um valor dePatrimônio Mundial.

A cooperação técnica responde aos pedidos de ajudade Estados Participantes para projetos destinados a salva-guardar bens já inscritos na Lista do Patrimônio da

Humanidade. Esta ajuda pode ser em forma de estudosou de fornecimento de especialistas, técnicos ou material.

A assistência de emergência é prestada a sítios quese encontrem em perigo iminente devido a gravesdanos provocados por incidentes repentinos como des-lizamentos de terras, incêndios, explosões, inundaçõesou início de uma guerra. A assistência de emergênciapode ajudar a elaborar um plano de urgência para pro-teger um bem ameaçado ou tomar outras medidasurgentes para proteger o sítio.

A formação tem um papel fundamental na conservaçãodo patrimônio cultural e natural. Ao longo dos anos, nocampo do patrimônio natural, foram destinados recursospara cursos de formação em gestão de pântanos, planeja-mento de territórios selvagens, engenharia florestal eagro-florestal, educação ambiental e gestão de áreas pro-tegidas em terras áridas. Quanto à conservação de sítiosculturais, o Fundo do Patrimônio Mundial ofereceuassistência técnica através da concessão de bolsas de pes-quisa e da organização de cursos de conservação arquite-tônica, urbanismo em cidades históricas, conservação depedra e madeira e restauração de mosaicos e pinturasmurais. É dada prioridade ao treinamento para grupos emnível local ou regional, embora não se descarte a possi-bilidade de oferecer cursos de reciclagem ou intercâmbiode experiências sobre o terreno, em nível individual.

Promoção do Patrimônio Mundial: Outra tarefaessencial é a sensibilização pública com respeito aoConvênio do Patrimônio Mundial e seus objetivos. Issoassume duas formas: promover o conceito de Patri-mônio Mundial mediante informação para o públicoem geral, ou grupos com interesses específicos e desen-volver programas e materiais educativos para escolas euniversidades. Os Estados Participantes podem solici-tar ajuda econômica ao Fundo do Patrimônio Mundialpara atividades educativas, informativas e promocionais.

Para mais informações:www.unesco.org/whctel: 598-2-413-2075email: [email protected]

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GRUPO DE PARTICIPANTEs

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De trás para frente; esquerda para direita:

Fileira 4: Jaime Migone, Dinu Bumbaru, Matthias Strecker, Wilson Stanziani, Eduardo Rojas, Ricardo Morales, Herman van Hooff

Fileira 3: Romero Pereira, Rachel Frankel, Gustavo Araoz, Lucio Machado, Hernán Crespo Toral, Silvia Finguerut, Graziano Gasparini, Eugenio Lins

Fileira 2: John Stubbs, Norma Barbacci, Marco Antonio Ramos de Almeida, Roberto Samanez Argumedo, Elena A. Charola, Silvana Giaimo, Bonnie Burnham, Hernán Montecinos, Mariana Mould de Pease, Angel Cabeza, Ramón Gutierrez, Elías Mujica

Primera Fileira: Jordi Juan Tresseras, Dora Arizaga, Gina Machado

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RELAçãO DE PARTICIPANTESAlmeida, Marco Antonio

Ramos de

Associação Viva o CentroSão Paulo, SP, BrasilPhone 55-11-3106-8205Fax [email protected]

Araoz, Gustavo

UNESCO/ICOMOSWashington, DC, USAPhone 202-842-1859Fax [email protected]

Arizaga, Dora

Quito, EcuadorPhone [email protected]

Barbacci, Norma

World Monuments Fund95 Madison AvenueNew York, NY, USAPhone 646-424-9594Fax [email protected]

Boclin, Ana Carolina

Rio de Janeiro, [email protected] 55-21-2704-9881

Bumbaru, Dinu

ICOMOSQuebec, CanadaPhone 514-286-2662Fax [email protected]

Burnham, Bonnie

World Monuments Fund95 Madison AvenueNew York, NY, USAPhone 646-424-9594Fax [email protected]

Cabeza, Angel

Consejo Nacional de MonumentosSantiago, ChilePhone 56-2-3605211Fax [email protected]@oris.renib.

Charola, A. Elena

University of PennsylvaniaPhiladelphia, PA, USAPhone 215-386-6307Fax [email protected]

Crespo-Toral, Hernan

UNESCOQuito, EcuadorPhone 593-2244-7231 Fax [email protected];[email protected]

de Freitas Pinheiro, Augusto Ivan

Instituto Light para o Desenvolvi-mento Urbano e RegionalRio de Janeiro, RJ, BrazilPhone 55-21-2211-8941 Fax [email protected]

Finguerut, Silvia

Roberto Marinho FoundationRio de Janeiro, RJ, BrasilPhone 55-21-3232-8815Fax [email protected]

Frankel, Rachel

International Survey of JewishMonumentsNew York, NY, USAPhone 212-683-1067Fax [email protected]

Gasparini, Graziano

Caracas 1010, VenezuelaPhone 582-951-0353; 212-249-0340Fax 58-212-951-2750

Giaimo, Silvana

Cartagena de Indias, ColombiaPhone 57-5-6645741/57-5-6645926Fax [email protected]

Glick, Robert

American ExpressNY, NY, USAPhone 1-201-209-5593Fax [email protected]

Gomes Machado, Lucio

São Paulo, SP, BrasilPhone [email protected]

Gutierrez, Ramón

CEDODALBuenos Aires, [email protected]

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Heck, Carlos Henrique

IPHAN - Instituto do PatrimônioHistórico e Artístico NacionalBrasília, DF, BRAZILPhone 55-61-414-6282Fax [email protected]

Hoyle, Ana María

Instituto Nacional de Cultura Trujillo, PeruPhone 51-44-248-744Fax [email protected]@chanchan.rcp.net.pe

Lins, Eugenio

Universidade Federal da Bahia-CEABLauro de Freitas, BA, BrazilPhone 55-71-235-7614 Fax [email protected]

Machado, Gina

VitaeSão Paulo, SP, BrazilPhone 55-11-3061-5299 Fax 55-11-3083-6361 [email protected]

Migone, Jaime

CONPAL-ChileSantiago, ChilePhone 56-2-325-2375Fax [email protected]

Montecinos, Hernán

Fundación Amigos de las Iglesiasde ChiloéSantiago, ChilePhone 56-2-222-3890Fax 56-2-222-3890

Morales Gamarra, Ricardo

Instituto de ConservaciónAmbiental MonumentalTrujillo, PeruPhone 51-44-205846Fax [email protected]

Mould de Pease, Mariana

Organización para la Cultura, el Desarollo y el TurismoLima, PeruPhone 51-14-445-7069Fax [email protected]

Mujica, Elias

Fundacion BackusChorrillos, Lima, PeruPhone [email protected]

Pereira, Romero

Fundação Patrimônio Histórico eArtístico de PernambucoRecife, PE, BrasilPhone 55-81-3427-4424Fax 55-81- 3228 [email protected]

Rojas, Eduardo

IADB-Inter American Develop-ment BankWashington, DC, USAPhone 202-623-2129, 1969Fax [email protected]

Samanez Argumedo, Roberto

Cusco, PeruPhone 5184- 221-632Fax [email protected]@yahoo.com

Segawa, Hugo

DOCOMOMO Brasil/ USPSão Paulo, SP, BrasilPhone 55-11-5531- 7853Fax 55-11-553- [email protected]

Strecker, Matthias

Sociedad de Arte Investigación delArte Rupestre de BoliviaLa PazPhone 591- 2- 271-1809Fax 591- 2- [email protected],[email protected]

Stubbs, John

World Monuments Fund95 Madison AvenueNew York, NY, USAPhone 646-424-9594Fax [email protected]

Tresserras, Jordi Juan

Universidad de BarcelonaBarcelona, SpainPhone 34-93-4022569Fax [email protected]; [email protected]

Van Hooff, Herman

UNESCOMontevideo, UruguayPhone 598-2-707-2023Phone [email protected]