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  • Guia de Referncia A

    nti-Branqueam

    ento de Capitais e de Com

    bate ao Financiamento do Terrorism

    oSegunda Edio

    Guia de Referncia Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao

    Financiamento do TerrorismoSegunda Edio e Suplemento sobre a

    Recomendao Especial IX

    trabalho em cursopara discusso pblica

    www.amlcft.org

    Paul Allan Schott

    Guia de Referncia Anti-Branqueamento de Capitais e de

    Combate ao Financiamento do Terrorismo

    Segunda Edio

    e Suplemento sobre a Recomendao Especial IX

  • 13 4 5

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    27 28 29 30

    1. Colombia2. Botswana3. Singapore4. China5. New Zealand6. India7. Norway8. Tanzania9. Costa Rica10. Turkey11. Sri Lanka12. Ecuador13. Austria14. South Africa

    15. Zambia16. Thailand17. Brazil18. Trinidad and Tobago19. United States20. Malaysia21. Ethiopia22. Republic of Korea23. Czech Republic24. Dominican Republic25. BCEAO26. European Union27. England28. Kuwait29. Finland30. Japan

    Design and layout by James Quigley

  • Guia de Referncia A

    nti-Branqueam

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    bate ao Financiamento do Terrorism

    o

    Paul Allan Schott

    Guia de Referncia Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao

    Financiamento do TerrorismoSegunda Edio e Suplemento sobre a

    Recomendao Especial IX

    trabalho em cursopara discusso pblica

    Segunda Edio e Suplemento sobre

    a Recomendao Especial IX

    Guia de Referncia Anti-Branqueamento de Capitais e de

    Combate ao Financiamento do Terrorismo

    Segunda Edio

    e Suplemento sobre a Recomendao Especial IXwww.amlcft.org

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    1. Colombia2. Botswana3. Singapore4. China5. New Zealand6. India7. Norway8. Tanzania9. Costa Rica10. Turkey11. Sri Lanka12. Ecuador13. Austria14. South Africa

    15. Zambia16. Thailand17. Brazil18. Trinidad and Tobago19. United States20. Malaysia21. Ethiopia22. Republic of Korea23. Czech Republic24. Dominican Republic25. BCEAO26. European Union27. England28. Kuwait29. Finland30. Japan

    Design and layout by James Quigley

  • Guia de Referncia Anti-Branqueamento de Capitais e de

    Combate ao Financiamento do TerrorismoSegunda Edio

    e Suplemento sobre a Recomendao Especial IX

  • Guia de Referncia Anti-Branqueamento de Capitais e de

    Combate ao Financiamento do Terrorismo

    Segunda Edio e Suplemento sobre a Recomendao Especial IX

  • Guia de Referncia Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

    iv

    Copyright 2004

    Banco Internacional para a Reconstruo

    e o Desenvolvimento/ BANCO MUNDIAL

    1818 H Street, N.W.

    Washington, D.C. 20433, EUA

    Todos os direitos reservados

    Produzido nos Estados Unidos da Amrica

    Primeira tiragem da Segunda Edio e Suplemento sobre a Recomendao Especial IX,

    Abril de 2005

    Esta publicao destina-se a circular com o objectivo de fomentar a discusso e colher comentrios. O formato deste documento no foi, assim, preparado de acordo com os procedimentos apropriados para textos formais impressos e o Banco Mundial e o Fundo Monetrio Internacional (FMI) declinam qualquer responsabilidade associada a erros. Algumas fontes citadas neste documento podem ser de documentos informais e no se encontrarem facilmente disponveis.

    As afirmaes, interpretaes e concluses vertidas neste documento pertencem

    exclusivamente ao autor e de forma alguma devero ser atribudas ao Banco Mundial ou ao FMI, s suas organizaes filiadas ou aos membros das respectivas Direces Executivas ou aos pases que representam. O Banco Mundial e o FMI no garantem a exactido dos dados includos nesta publicao e declinam qualquer responsabilidade por quaisquer consequncias resultantes da sua utilizao.

    O material nesta publicao encontra-se protegido por direitos de autor. O Banco Mundial e o FMI encorajam a difuso deste trabalho e a autorizao para tal efeito , de uma forma geral, rapidamente concedida.

    A autorizao para fotocopiar quaisquer artigos para uso interno ou pessoal, para o uso interno ou pessoal de clientes especficos ou para fins educativos em sala de aula concedida pelo Banco Mundial, desde que seja efecuado o pagamento correspondente directamente ao Copyright Clearance Center, Inc., 222 Rosewood Drive, Danvers, MA 01923, EUA, antes de fazer as respectivas fotocpias.

    Para solicitar autorizao para reimprimir artigos ou captulos especficos, envie um fax com o seu pedido e todas as informaes necessrias para o Republication Department, Copyright Clearance Center, fax 978-750-4470.

    Todos os outros pedidos de informaes sobre direitos e licenas devem ser encami-nhados para o Banco Mundial, no endereo acima mencionado, ou enviados por fax para o nmero 202-522-2433.

    Paul Allan Schott Consultor junto do Sector Financeiro do Banco Mundial. Fotografias da capa: Comstock

    www.amlcft.org

  • Prefcio .........................................................................................................ix

    Agradecimentos ..............................................................................................xi

    Abreviaturas e acrnimos ..............................................................................xiii

    Introduo: Como utilizar este Guia de Referncia ..........................................xvii

    Parte A: O problema e a resposta internacional

    Captulo I: Branqueamento de capitais e financiamento do terrorismo: Definies e explicaes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . I-1

    A . O que o branqueamento de capitais? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . I-2B . O que o financiamento do terrorismo? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . I-4C . A ligao entre branqueamento de capitais e financiamento do terrorismo . . . . . . . I-5D . A magnitude do problema . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . I-6E . Os processos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . I-7F . Onde ocorrem o branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo? . . . . I-9G . Mtodos e tipologias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . I-9

    Captulo II: O branqueamento de capitais afecta o desenvolvimento . . . . . . . . . II-11

    A . As consequncias negativas para os pases em desenvolvimento . . . . . . . . . . . . . .II-12B . As vantagens de uma conjuntura eficaz ABC/CFT . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .II-17

    Captulo III: Organismos internacionais que definem padres normativos . . . . .III-11

    A . A Organizao das Naes Unidas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . III-22B . O Grupo de Aco Financeira sobre o Branqueamento de Capitais . . . . . . . . . . . . III-27C . O Comit de Basileia de Superviso Bancria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . III-33D . Associao Internacional dos Supervisores de Seguros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . III-36

    v

    ndice

  • Guia de Referncia Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

    E . Organizao Internacional das Comisses de Valores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . III-36F . Grupo Egmont de Unidades de Informao Financeira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . III-39

    Captulo IV: Organismos regionais e grupos relevantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .IV-43

    A . Organismos regionais do tipo GAFI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . IV-43B . Grupo Wolfsberg de Bancos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . IV-46C . Secretariado da Commonwealth . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . IV-50D . Organizao dos Estados Americanos CICAD . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . IV-51

    Parte B: Os elementos de um sistema eficaz ABC/CFT

    Captulo V: Requisitos para os ordenamentos jurdicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . V-53

    A . Criminalizao do branqueamento de capitais e do financiamento do terrorismo V-54B . Criminalizao do terrorismo e do financiamento do terrorismo . . . . . . . . . . . . . . . .V-67C . Apreenso e perda (ou forfeiture") . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .V-67D . Tipos de entidades e pessoas abrangidas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .V-71E . Regulamentao e superviso Normas de integridade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .V-75F . Leis conformes com a aplicao das Recomendaes do GAFI . . . . . . . . . . . . . . . .V-78G . Cooperao entre as autoridades competentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .V-78H . Investigaes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .V-79

    Captulo VI: Medidas preventivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .VI-81

    A . Identificao de clientes e vigilncia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . VI-82B . Requisitos de conservao de documentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . VI-96C . Comunicao de operaes suspeitas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . VI-98D . Comunicao de operaes em numerrio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . VI-104E . Equilbrio entre as leis da privacidade e os

    requisitos de comunicao e divulgao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . VI-106F . Controlos internos, cumprimento e auditorias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . VI-107G . Regulamentao e supervisoNormas de integridade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . VI-108H . Pessoas colectivas e entidades sem personalidade jurdica . . . . . . . . . . . . . . . . . VI-108

    Captulo VII: A Unidade de Informao Financeira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . VII-111

    A . Definio de Unidade de Informao Financeira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . VII-113B . Funes principais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . VII-114C . Tipos ou modelos de UIFs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . VII-119D . Outras funes possveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . VII-124

    vi

  • E . Organizao da UIF . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . VII-127F . Salvaguardas de privacidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . VII-129G . Informaes e retorno de informao (feedback) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . VII-132

    Captulo VIII: Cooperao internacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . VIII-135

    A . Requisitos prvios para uma cooperao internacional eficaz . . . . . . . . . . . . . . VIII-136B . Princpios gerais de cooperao internacional para o combate

    ao branqueamento de capitais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . VIII-139C . Cooperao internacional entre as UIFs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . VIII-140D . Cooperao internacional entre autoridades de superviso financeira . . . . . . . VIII-142E . Cooperao internacional entre autoridades policiais e judicirias . . . . . . . . . . VIII-145F . Consideraes para infraces fiscais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . VIII-147

    Captulo IX: Combate ao financiamento do terrorismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .IX-149

    A . Ratificao e aplicao de instrumentos da Organizao das Naes Unidas . . IX-150B . Criminalizao do financiamento do terrorismo e

    do branqueamento de capitais associado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . IX-152C . Congelamento e perda de bens relacionados com o terrorismo . . . . . . . . . . . . . . IX-153D . Comunicao de operaes suspeitas relativas ao terrorismo . . . . . . . . . . . . . . . IX-155E . Cooperao internacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . IX-156F . Sistemas alternativos de remessa de fundos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . IX-157G . Transferncias electrnicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . IX-159H . Organizaes sem fins lucrativos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . IX-160I . Transportadores de numerrio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . IX-161J . Questionrio de auto-avaliao sobre o financiamento do terrorismo . . . . . . . . . IX-165

    Parte C: O papel do Banco Mundial e do Fundo Monetrio InternacionalCaptulo X: Iniciativas do Banco Mundial e do Fundo Monetrio Internacional para o combate ao branqueamento de capitais e ao financiamento do terrorismo . . . . . . . . . . . X-167

    A . Aumentar o conhecimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .X-169B . Elaborao de uma metodologia universal de avaliao ABC/CFT . . . . . . . . . . . . .X-171C . Desenvolvimento de capacidades institucionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .X-172D . Investigao e anlise . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .X-175

    ndice

    vii

  • Guia de Referncia Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

    Anexos

    I . Stios de organizaes-chave, instrumentos jurdicos e iniciativas . . . . . . Anexo I-179II . Outros stios e fontes de informao teis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Anexo II-187III . Convenes Contra o Terrorismo da Organizao das

    Naes Unidas referidas na Conveno Internacional para a Eliminao do Financiamento do Terrorismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .Anexo III-189

    IV . As Quarenta Recomendaes sobre o Branqueamento de Capitais do Grupo de Aco Financeira e as Notas Interpretativas . . . .Anexo IV-191

    V . As Recomendaes Especiais sobre o Financiamento do Terrorismo do Grupo de Aco Financeira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Anexo V-225

    VI . Notas Interpretativas e Notas de Orientao relativas s Recomendaes Especiais sobre o Financiamento do Terrorismo e o Questionrio de Auto-Avaliao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .Anexo VI-229

    VII . Referncia cruzada das Quarenta Recomendaes no Guia de Referncia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Anexo VII-1

    VIII . Referncia cruzada das Recomendaes Especiais no Guia de Referncia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Anexo VIII-267

    Diagramas

    Os Processos do Branqueamento de Capitais e do Financiamento do Terrorismo . . . . . I-8

    viii

  • ix

    Prefcio

    Margery WaxmanDirectora de Programa e

    Assessora PrincipalIntegridade dos Mercados

    FinanceirosBanco Mundial

    R. Barry JohnstonDirector Adjunto

    Departamento de Sistemas Monetrios e Financeiros

    Fundo Monetrio Internacional

    Jean-Franois ThonyAssessor Geral AdjuntoDepartamento Jurdico

    Fundo Monetrio Internacional

    As tentativas de branqueamento de capitais e de financiamento do terro-rismo tm vindo a evoluir rapidamente nos ltimos anos como resposta directa ao aumento das medidas destinadas ao seu combate. A comunidade internacional tem sido testemunha da utilizao de mtodos cada vez mais sofisticados para movimentar fundos ilcitos atravs dos sistemas financeiros em todo o mundo e reconhece a necessidade de melhorar a cooperao multi-lateral para combater estas actividades criminosas.

    O Banco Mundial e o Fundo Monetrio Internacional elaboraram esta segunda edio do Guia de Referncia Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo com o fim de auxiliar os pases a entender os novos padres internacionais. Espera-se que o Guia de Referncia sirva como fonte nica e abrangente de informaes prticas para que os pases combatam o branqueamento de capitais e o financiamento do terroris-mo. Nele so analisados os problemas causados por estes crimes, as aces especficas que os pases devem tomar para os enfrentarem e o papel que as organizaes internacionais, como o Banco Mundial e o Fundo Monetrio Internacional, desempenham neste processo.

    Oferecemos esta nova verso como um utenslio para que os pases esta-beleam e melhorem os seus Sistemas jurdicos e institucionais e as suas medi-das preventivas em conformidade com as novas normas e melhores prticas internacionais. Esta segunda edio do Guia de Referncia e do Suplemento sobre a Recomendao especial IX ser tambm traduzida para rabe, chins, espanhol, francs, portugus e russo para melhor servir uma mais vasta audi-ncia .

    Considerando que as tendncias e tcnicas de branqueamento de capitais e de financiamento do terrorismo, assim como a correspondente resposta internacional, evoluem, pretendemos manter o Guia de Referncia sob revi-so, actualizando-o sempre que necessrio. Agradecemos o seu feedback e todas as recomendaes que possam servir para conferir a este Guia uma maior utilidade.

  • xi

    Esta publicao foi escrita por Paul Allan Schott, Consultor junto da Unidade de Integridade dos Mercados Financeiros, do Sector Financeiro do Banco Mundial. O autor est especialmente grato a Margery Waxman, Directora, Integridade do Mercados Financeiros, Banco Mundial, pelo seu apoio, encorajamento e pacincia na elaborao da primeira e segunda edio deste Guia de Referncia.

    O autor agradece aos seus colegas do Banco Mundial e do Fundo Monetrio Internacional pela disponibilidade na leitura das diversas verses preliminares da primeira edio e pelos conselhos e opinies que deram, com base nos seus trabalhos para o desenvolvimento e a aplicao do pro-grama conjunto do Banco Mundial/Fundo Monetrio Internacional para o combate ao branqueamento de capitais e ao financiamento do terrorismo: John Abbott, Maud Julie Bokkerink, Pierre-Laurent Chatain, Alain Damais, Ross Delston, Gabriella Ferencz, Ted Greenberg, Raul Hernandez Coss, Barry Johnston, Nadim Kyriakos-Saad, Samuel Maimbo, John McDowell, Bess Michael, Michael Moore, Pramita Moni Sengupta, Takashi Miyahara, Thomas Rose, Heba Shams, Jean-Franois Thony e Cari Votava.

    O autor agradece em particular a Joseph Halligan pelo seu traba-lho de actualizao do Guia de Referncia para incluir a reviso das 40 Recomendaes do GAFI e a Metodologia. Finalmente, o autor no poderia ter elaborado esta abrangente segunda edio sem o trabalho de membros dos quadros do Banco Mundial, que ajudaram a organizar meticulosamente o material, a verificar todas as referncias e a fazer com que esta publica-o se tornasse uma realidade: Oriana Bolvaran, Nicolas de la Riva, Martn Joseffson, Amanda Larson, Annika Lindgren, Maria Orellano, James Quigley, Dafna Tapiero, Emiko Todoroki e Tracy Tucker.

    Finalmente, o autor agradece tambm a Antnio Folgado, do GRIEC - Ministrio da Justia de Portugal e a Maria Clia Ramos, do Departamento Jurdico - Banco de Portugal, pelo apoio na meticulosa reviso da traduo para lngua portuguesa do Guia de Referncia.

    Agradecimentos

  • xiii

    ABC Anti-branqueamento de capitais

    AISS Associao Internacional dos Supervisores de Seguros

    As Quarenta Recomendaes As Quarenta Recomendaes sobre o Branqueamento de Capitais do GAFI

    AT Assistncia Tcnica

    Banco Grupo do Banco Mundial

    BCCI Bank Internacional de Crdito e Comrcio

    CFO Centro Financeiro Off-shore

    CFT Combate ao financiamento do terrorismo

    Comit de Basileia Comit de Basileia de Superviso Bancria

    Conveno de Estrasburgo Conveno Relativa ao Branqueamento, Deteco, Apreenso e Perda dos Produtos do

    Crime (1990)

    Conveno de Palermo Conveno das Naes Unidas contra a Criminalidade Organizada Transnacional (2000)

    Conveno de Viena Conveno das Naes Unidas contra o Trfico Ilcito de Estupefacientes e de Substncias

    Psicotrpicas (1988)

    COS Comunicaes de operaes suspeitas

    CSC Conhea o seu cliente

    CTC Comit de Combate ao Terrorismo do Conselho de Segurana das Naes Unidas

    EAP Estratgia de Assistncia ao Pas

    FMI Fundo Monetrio Internacional

    Fundo Fundo Monetrio Internacional

    Abreviaturas e acrnimos

  • Guia de Referncia Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

    GABCAOA Grupo Anti-Branqueamento de Capitais da frica Oriental e Austral

    GAFI Grupo de Aco Financeira sobre o Branqueamento de Capitais

    GAFIC Grupo de Aco Financeira das Carabas

    GAFISUD Grupo de Aco Financeira da Amrica do Sul sobre o Branqueamento de Capitais

    GAP Grupo sia-Pacfico sobre o Branqueamento de Capitais

    Grupo Egmont Grupo Egmont de Unidades de Informao Financeira

    Grupo Wolfsberg Grupo Wolfsberg de Bancos

    ME Memorando de entendimento

    MONEYVAL Comit Restrito dos Peritos de Avaliao das Medidas Anti-Branqueamento de Capitais do

    Conselho da Europa

    OEA Organizao dos Estados Americanos

    OICV Organizao Internacional das Comisses de Valores

    ONU Organizao das Naes Unidas

    ORTG Organismos Regionais do Tipo GAFI

    PC-R-EV Agora conhecido como MONEYVAL

    PTNC Pases e Territrios No Cooperantes

    RCNC Relatrio sobre o Cumprimento de Normas e Cdigos

    Recomendaes Especiais Nove Recomendaes Especiais do GAFI sobre o Financiamento do Terrorismo

    SITFs Sistemas informais de transferncia de fundos

    UIF Unidade de Informao Financeira

    UNSCCTC Comit de Combate ao Terrorismo do Conselho de Segurana das Naes Unidas

    xiv

  • xv

    Esta Segunda Edio do Guia de Referncia tem por finalidade servir como uma fonte nica e abrangente de informao para os pases que pretendam criar ou aperfeioar os seus sistemas jurdicos e institucionais des-tinados ao combate ao branqueamento de capitais (ABC) e ao combate ao financiamento do terrorismo (CFT). Esta problemtica tem vindo a adquirir uma relevncia crescente numa economia global em que os fundos podem ser fcil e imediatamente transferidos de uma instituio financeira para outra, incluindo transferncias para instituies em diferentes pases. A comunida-de internacional est confiante de que todos os pases estabeleam regimes eficazes ABC/CFT com capacidade para serem bem sucedidos na preveno, deteco e represso do branqueamento de capitais e do financiamento do terrorismo, combatendo, por esta via, as consequncias econmicas e sociais devastadoras resultantes destas actividades criminosas.

    A parte A deste Guia de Referncia descreve o problema do branquea-mento de capitais e do financiamento do terrorismo, as suas consequncias negativas e as vantagens de um regime eficaz. Identifica ainda os organismos internacionais que definem padres relevantes e discute as suas iniciativas especficas e instrumentos destinados a combater estas actividades.

    A parte B descreve os diversos elementos que integram um sistema jur-dico e institucional abrangente ABC e CFT para qualquer pas. Cada um destes componentes foi institudo pelo Grupo de Aco Financeira sobre o Branqueamento de Capitais (GAFI) e as outras organizaes internacionais emitentes de normas-padro e cada um dos elementos essencial para um regime abrangente e eficaz. Esta parte do Guia de Referncia constitui uma abordagem progressiva para alcanar o cumprimento das normas internacio-nais, embora no imponha os mtodos ou aces especficas que devem ser adoptados. Em vez disso, levanta as questes que devem ser abordadas e dis-cute as opes de que os pases dispem para resolver estes problemas.

    A parte C descreve o papel do Banco Mundial e do Fundo Monetrio Internacional (FMI) no esforo global e na coordenao da assistncia tcnica

    Introduo: Como utilizar este Guia de Referncia

  • Guia de Referncia Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

    disponvel para os pases, com o fim de os ajudar a alcanar o cumprimento dos padres internacionais.

    Cada captulo inclui uma anlise completa sobre os tpicos nele abrangi-dos (embora sejam feitas referncias a anlises pertinentes noutros captulos) com referncias detalhadas a antecedentes e materiais de fontes originais. Os anexos I, II e III apresentam citaes completas de materiais de refern-cia que so usados no Guia de Referncia ou que so, de qualquer forma, teis a um pas na abordagem das inmeras questes difceis associadas ao ABC e CFT. Para facilitar a tarefa, os Anexos IV e V incluem novamente as normas internacionais aprovadas pelo GAFI, respectivamente as Quarenta Recomendaes sobre o Branqueamento de Capitais (revistas em 2003), o Glossrio e Notas Interpretativas e as Nove Recomendaes Especiais sobre o Financiamento do Terrorismo. O Anexo VI inclui as Notas Interpretativas e as Notas de Orientao do GAFI relativas s Recomendaes Especiais sobre o Financiamento do Terrorismo e o Questionrio de Auto-Avaliao para os pases relativo ao financiamento do terrorismo. Finalmente, os Anexos VII e VIII incluem referncias cruzadas das Recomendaes do GAFI nas discusses do Guia de Referncia.

    Quando um pas avalia o seu sistema jurdico e institucional ABC e de CFT, pode optar por utilizar, como a sua prpria lista de verificao e meca-nismo de auto-avaliao, a Metodologia Abrangente ABC/CFT mencionada no Captulo X. Esta a mesma Metodologia utilizada pelo GAFI, pelos organismos regionais do tipo GAFI, pelo Banco e pelo FMI na realizao de avaliaes dos seus prprios membros ou de outros pases.

    xvi

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    Captulo I

    Branqueamento de capitais e financiamento do terrorismo: Definies e explicaes

    Para a maioria dos pases, o branqueamento de capitais e o financiamen-to do terrorismo colocam questes importantes relativas preveno, deteco e ao procedimento penal. As sofisticadas tcnicas utilizadas para branquear capitais e para financiar o terrorismo contribuem para aumentar a complexidade destas questes. Estas tcnicas so sofisticadas ao ponto de envolverem diferentes tipos de instituies financeiras; mltiplas operaes financeiras; intermedirios, tais como consultores financeiros, contabilistas, empresas de fachada e outros prestadores de servios; transferncias para, atravs de e provenientes de diferentes pases; e diversos instrumentos finan-ceiros e outros tipos de activos que podem acumular dividendos. No obstan-te, o branqueamento de capitais , fundamentalmente, um conceito simples. Trata-se do processo pelo qual os produtos de uma actividade criminosa so dissimulados para ocultar a sua origem ilcita. Em suma, o branqueamento de capitais envolve os produtos derivados de bens obtidos de forma criminosa e no propriamente esses bens.

    O financiamento do terrorismo tambm um conceito fundamentalmen-te simples. o apoio financeiro, por qualquer meio, ao terrorismo ou queles

    A. O que o branqueamento de capitais?

    B. O que o financiamento do terrorismo?

    C. A ligao entre o branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo.

    D. A magnitude do problema

    E. Os processos1. Colocao2. Acumulao3. Integrao

    F. Onde ocorrem o branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo?

    G. Mtodos e tipologias

  • Guia de Referncia Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

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    que incentivam, planeiam ou cometem actos de terrorismo. No entanto, mais difcil definir o conceito de terrorismo, pois o termo pode ter implica-es importantes de natureza poltica, religiosa e nacional de um pas para outro. O branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo apre-sentam muitas vezes caractersticas operacionais semelhantes relacionadas, na sua maioria, com a ocultao e a dissimulao.

    Os branqueadores de capitais enviam fundos ilcitos atravs de canais legais com o objectivo de ocultar a sua origem criminosa, enquanto os finan-ciadores do terrorismo transferem fundos, que podem ter origem lcita ou ilcita, de modo a ocultar a sua origem e uso final, que se traduz no apoio ao terrorismo. Mas o resultado o mesmo a recompensa.

    Quando os capitais so branqueados, os criminosos lucram com as suas aces; so recompensados ao ocultar o acto criminoso que gera os produtos ilcitos e ao dissimular as origens do que aparentam ser produtos legtimos. Da mesma forma, aqueles que financiam o terrorismo so recompensados ao ocultar as origens dos seus fundos e ao dissimular o apoio financeiro execu-o dos seus estratagemas e ataques terroristas.

    A. O que o branqueamento de capitais?

    O branqueamento de capitais pode ser definido de vrias maneiras. A maio-ria dos pases partilha a definio adoptada pela Conveno das Naes Unidas contra o Trfico Ilcito de Estupefacientes e Substncias Psicotrpicas (1988) (Conveno de Viena)1 e pela Conveno das Naes Unidas contra a Criminalidade Organizada Transnacional (2000) (Conveno de Palermo):2

    A converso ou a transferncia de bens, quando o autor tem o conhe-cimento de que esses bens so provenientes de qualquer infraco ou infraces [de trfico de drogas] ou da participao nessa ou nessas infraces, com o objectivo de ocultar ou dissimular a origem ilcita desses bens ou de ajudar qualquer pessoa envolvida na prtica dessa ou dessas infraces a furtar-se s consequncias jurdicas dos seus actos;

    A ocultao ou a dissimulao da verdadeira natureza, origem, loca-lizao, disposio, movimentao, propriedade de bens ou direitos a eles relativos, com o conhecimento de que provm de uma infraco

    1. http://www.incb.org/e/conv/1988/.2. http://www.undcp.org/adhoc/palermo/convmain.html.

  • Branqueamento de capitais e financiamento do terrorismo: Definies e explicaes

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    ou infraces ou da participao nessa ou nessas infraces; e A aquisio, a deteno ou a utilizao de bens, com o conhecimento,

    no momento da sua recepo, de que provm de qualquer infraco ou infraces ou da participao nessa ou nessas infraces.3

    O Grupo de Aco Financeira sobre o Branqueamento de Capitais (GAFI), que reconhecido como a organizao internacional que define os padres normativos para as iniciativas anti-branqueamento de capitais (ABC),4 define o conceito de branqueamento de capitais de forma concisa, como a utilizao e transformao deprodutos do crime para dissimular a sua origem ilcita com o objectivo de legitimar os proventos resultantes da actividade criminosa.5

    A infraco subjacente ao branqueamento de capitais a actividade cri-minosa que lhe est associada, que gera os produtos, os quais, quando bran-queados, constituem o crime de branqueamento de capitais. Nos seus termos, a Conveno de Viena limita as infraces subjacentes s infraces de trfico de drogas. Como consequncia, os crimes no relacionados com o trfico de drogas, como por exemplo a fraude, o rapto e o furto, no constituem infraces de branqueamento de capitais nos termos da Conveno de Viena. Todavia, com o passar do tempo, a comunidade internacional chegou con-cluso de que as infraces subjacentes ao branqueamento de capitais deve-riam ir mais alm do trfico de drogas. Assim, o GAFI e outros instrumentos internacionais ampliaram a definio utilizada na Conveno de Viena para as infraces subjacentes, incluindo outros crimes graves.6 Por exemplo, a Conveno de Palermo exige a todos os Estados Partes a aplicao da infrac-o de branqueamento de capitais, conforme definida na Conveno, ao maior nmero possvel de infraces subjacentes.7

    Nas suas 40 Recomendaes para o combate ao branqueamento de capitais (As Quarenta Recomendaes), o GAFI incluiu especificamente as definies tcnicas e jurdicas de branqueamento de capitais, estabelecidas nas Convenes de Viena e Palermo, e listou 20 categorias de infraces designa-das que devem ser includas como infraces subjacentes ao branqueamento de capitais.8

    3. Ver Conveno de Viena, artigos 3. (b) e (c)(i); e Conveno de Palermo, artigo 6. (i).4. Ver o Captulo III, B., GAFI.5. GAFI, Perguntas Frequentes, O que o branqueamento de capitais? http://www.fatf-gafi.org/

    document/29/0,2340,en_32250379_32235720_33659613_1_1_1_1,00.html#Whatismoneylaundering.

    6. Ver a discusso no Captulo V, A., 2., mbito da infraco subjacente.7. A Conveno de Palermo, Artigo 6. no 2 a), http://www.undcp.org/adhoc/palermo/convmain.

    html.8. As Quarenta Recomendaes, Rec. 1; http://www.fatf-gafi.org/dataoecd/38/47/34030579.PDF.

    Ver tambm o Captulo V, A., Criminalizao do branqueamento de capitais, neste Guia de Referncia.

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    B. O que o financiamento do terrorismo?

    A Organizao das Naes Unidas (ONU) realizou numerosos esforos, na sua maioria na forma de tratados internacionais, para combater o terroris-mo e os mecanismos utilizados para o seu financiamento. Mesmo antes do ataque de 11 de Setembro aos Estados Unidos, a ONU j havia adoptado a Conveno Internacional para a Eliminao do Financiamento do Terrorismo (1999), a qual estipula que:

    1. Comete uma infraco, nos termos da presente Conveno, quem, por quaisquer meios, directa ou indirectamente, ilegal e deliberadamen-te, fornecer ou reunir fundos com a inteno de serem utilizados ou sabendo que sero utilizados, total ou parcialmente, tendo em vista a prtica:a. De um acto que constitua uma infraco compreendida no mbito

    de um dos tratados enumerados no anexo e tal como a definida; ou

    b. De qualquer outro acto destinado a causar a morte ou ferimentos corporais graves num civil ou em qualquer pessoa que no participe directamente nas hostilidades numa situao de conflito armado, sempre que o objectivo desse acto, devido sua natureza ou con-texto, vise intimidar uma populao ou obrigar um governo ou uma organizao internacional a praticar ou a abster-se de praticar qualquer acto.

    2. ...3. Para que um acto constitua uma das infraces previstas no n.o 1, no

    necessrio que os fundos tenham sido efectivamente utilizados para cometer a infraco contemplada nas alneas a) ou b) do n.o 1.9

    A dificuldade para certos pases consiste em definir o terrorismo. Nem todos os pases que adoptaram a Conveno concordam sobre quais os actos que devem ser considerados como terrorismo. O significado de terro-rismo no aceite universalmente tendo em conta as suas importantes impli-

    9. Conveno Internacional para a Eliminao do Financiamento do Terrorismo (1999), Artigo 2., http://www.un.org/law/cod/finterr.htm. As Convenes mencionadas no anexo na alnea a) do n. 1 esto identificadas no Anexo III deste Guia de Referncia.

  • Branqueamento de capitais e financiamento do terrorismo: Definies e explicaes

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    caes polticas, religiosas e nacionais, que diferem de pas para pas. O GAFI, que reconhecido tambm como a organizao internacional

    que define padres normativos para as iniciativas de combate ao financia-mento do terrorismo (CFT),10 no define especificamente o conceito finan-ciamento do terrorismo nas suas nove Recomendaes Especiais sobre o Financiamento do Terrorismo (Recomendaes Especiais)11 , elaboradas aps os acontecimentos de 11 de Setembro de 2001. No obstante, o GAFI recomenda aos pases que ratifiquem e apliquem a Conveno Internacional das Naes Unidas para a Eliminao do Financiamento do Terrorismo, de 1999.12 Assim, a definio acima mencionada a que foi adoptada pela maioria dos pases para definir o financiamento do terrorismo.

    C. A ligao entre o branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo.

    As tcnicas utilizadas para branquear capitais so essencialmente as mesmas utilizadas para ocultar as origens e os fins do financiamento do terrorismo. Os fundos utilizados para apoiar o terrorismo podem ter origem em fontes legtimas, em actividades criminosas ou em ambas. De qualquer forma, importante dissimular a fonte do financiamento do terrorismo, quer esta seja lcita quer ilcita. Se for possvel ocultar a fonte, esta continua dispon-vel para actividades de financiamento do terrorismo no futuro. Da mesma forma, para os terroristas, igualmente importante ocultar a utilizao dos fundos, para que a actividade de financiamento continue sem ser detectada.

    Por estas razes, o GAFI recomendou que todos os pases criminali-zem o financiamento do terrorismo, de actos terroristas e das organizaes terroristas,13 e que considerem tais infraces como infraces subjacentes ao branqueamento de capitais.14 Finalmente, o GAFI determinou que as nove Recomendaes Especiais, juntamente com as Quarenta Recomendaes sobre o branqueamento de capitais,15 constituem a estrutura bsica para a preveno, a deteco e a eliminao do branqueamento de capitais e do financiamento do terrorismo.

    Para combater o financiamento do terrorismo, necessrio tambm que

    10. Ver o Captulo III, B., GAFI.11. As Recomendaes Especiais esto reproduzidas no Anexo V deste Guia de Referncia.12. Id., em Rec. Espec. I.13. Id., em Rec. Espec. II.14. Id.15. Id., no pargrafo introdutrio.

  • Guia de Referncia Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

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    os pases considerem tornar mais abrangentes as respectivas estruturas ABC, para incluir as organizaes sem fins lucrativos, sobretudo as instituies de caridade, para assegurar que estas organizaes no sejam utilizadas, directa ou indirectamente, para financiar ou apoiar o terrorismo.16 As iniciativas de CFT exigem tambm uma anlise dos sistemas alternativos de transmisso ou de remessa de fundos, como os hawalas. Este esforo deve incluir uma anlise das medidas a tomar para impedir a utilizao destas entidades pelos bran-queadores de capitais ou pelos terroristas.17

    Como j referido, uma diferena significativa entre o branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo que os fundos envolvidos podem ter origem legtima ou ser provenientes de actividades criminosas. Entre as fontes legtimas podem figurar doaes ou contribuies monetrias ou de outros bens para organizaes como fundaes ou instituies de caridade que, por sua vez, as utilizam para apoiar actividades terroristas ou organiza-es terroristas. Consequentemente, esta diferena requer leis especiais para lidar com o financiamento do terrorismo. No entanto, quando os fundos uti-lizados para financiar o terrorismo tm origem em fontes ilcitas, estes fundos podem j estar includos no sistema ABC do pas, dependendo do mbito das infraces subjacentes ao branqueamento de capitais.

    D. A magnitude do problema

    O branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo, pela sua prpria natureza, esto orientados para o sigilo e no se prestam a anlises estatsticas. Os branqueadores no documentam a amplitude das suas opera-es nem divulgam o montante dos lucros; o mesmo ocorrendo com aqueles que financiam o terrorismo. Alm disso, ainda mais difcil fazer estimativas, j que estas actividades ocorrem a nvel global. Os branqueadores utilizam vrios pases para ocultar os seus proventos ilcitos, aproveitando-se das dife-renas existentes nos respectivos regimes ABC, nos esforos para a aplicao da lei e na cooperao internacional. Assim, no existem estimativas fiveis sobre a magnitude do problema de branqueamento de capitais e de financia-mento do terrorismo a nvel global.

    Em relao exclusivamente ao branqueamento de capitais, o Fundo Monetrio Internacional estimou que o valor total dos fundos branqueados

    16. Recomendaes Especiais, Rec. Esp. VIII.17. Recomendaes Especiais, Rec. Espec. VI.

  • Branqueamento de capitais e financiamento do terrorismo: Definies e explicaes

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    em todo o mundo pode variar entre 2% e 5% do produto interno bruto mundial. Com base em estatsticas de 1996, estas percentagens representa-riam cerca de 590 mil milhes de dlares a 1,5 bilhes de dlares.18 Assim, seja qual for a estimativa, a gravidade do problema enorme e merece a total ateno de cada pas.

    E. Os processos

    A preocupao inicial com o branqueamento de capitais surgiu aquando da sua primeira ligao com o trfico ilcito de estupefacientes. O objectivo dos traficantes de drogas era, regra geral, o de converter pequenas somas em numerrio em contas bancrias, instrumentos financeiros ou outros activos. Hoje, os proventos ilcitos tm origem numa vasta gama de actividades cri-minosas, entre elas - a corrupo poltica, a venda ilegal de armas e o trfico ilcito e a explorao de seres humanos. Independentemente da infraco, os branqueadores de capitais recorrem colocao, acumulao e integrao no processo de transformar o produto ilcito em fundos ou bens aparente-mente legtimos.

    . Colocao

    O primeiro estdio do processo envolve a colocao no sistema financeiro, geralmente por intermdio de uma instituio financeira, dos fundos obtidos de forma ilcita. Uma forma possvel depositar numerrio numa conta ban-cria. Grandes quantias de numerrio so divididas em quantidades menores, menos notrias, e depositadas, ao longo do tempo, em diversas dependncias de uma nica instituio financeira ou em vrias instituies financeiras. O cmbio de uma moeda noutra ou a converso de notas pequenas em notas de maior denominao podem ocorrer neste estdio. Alm disso, os fundos ilci-tos podem ser convertidos em instrumentos financeiros, tais como ordens de pagamento ou cheques, e combinados com fundos legtimos para no causar suspeitas. Outro mtodo de colocao possvel a compra de valores mobili-rios ou de contratos de seguros utilizando numerrio.

    18. Vito Tanzi, Money Laundering and the International Finance System [O Branqueamento de Capitais e o Sistema Financeiro Internacional], IMF Working Paper No. 96/55 (Maio de 1996), em 3 e 4.

  • Guia de Referncia Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

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    . Acumulao

    O segundo estdio do branqueamento de capitais tem lugar aps a entrada dos proventos ilcitos no sistema financeiro quando os fundos, valores mobi-lirios ou contratos de seguro so convertidos ou movimentados para outras instituies, distanciando-os ainda mais da sua origem criminosa. Nesta altura, os fundos podem ser utilizados para comprar outros valores mobili-rios, contratos de seguro ou outros instrumentos de investimento facilmente transferveis e, em seguida, vendidos atravs de outra instituio. Os fundos podem ser tambm transferidos por qualquer outra forma de instrumento negocivel, como cheques, ordens de pagamento ou ttulos ao portador, ou

    Os Processos do Branqueamento de Capitais e do Financiamento do Terrorismo

    Branqueamento de capitais Financiamento do terrorismo

    Dinheiro proveniente de um acto criminoso

    Bem legtimo ou

    dinheiro proveniente de um acto criminoso

    ColocaoO dinheiro depositado

    em contas

    ColocaoOs bens so inseridos no sistema nanceiros

    AcumulaoOs fundos so transferidos

    para outras instituies para dissimular a origem

    AcumulaoOs fundos so transferidos

    para outras instituies para dissimular a origem

    IntegraoOs fundos so usados

    para adquirir bens legtimos

    IntegraoOs fundos so distribudos

    para nanciar actividades terroristas

    Bem legtimoou distribuio

    $$$$$ $$$$$

    BancoBanco

    Instituionan.

    no bancria

    Comp. de seguros

    Sociedadede valores

    Banco

  • Branqueamento de capitais e financiamento do terrorismo: Definies e explicaes

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    ser transferidos electronicamente para outras contas em vrias jurisdies. O branqueador tambm pode dissimular a transferncia como um pagamento por bens ou servios ou transferir os fundos para uma empresa de fachada.

    . Integrao

    O terceiro estdio envolve a integrao dos fundos na economia legtima. Isto realizado com a compra de bens, como imveis, valores mobilirios ou outros activos financeiros e artigos de luxo.

    Estes trs estdios tambm esto presentes nos esquemas de financia-mento do terrorismo, excepto o facto de que o terceiro estdio (a integrao) envolve a distribuio de fundos aos terroristas e s suas organizaes de apoio, enquanto o branqueamento de capitais, como atrs referido, evolui na direco oposta a da integrao dos fundos de origem criminosa na econo-mia legtima.

    F. Onde ocorrem o branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo?

    O branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo podem ocor-rer e ocorrem em qualquer pas do mundo, em particular onde os sistemas financeiros so complexos. Pases com infra-estruturas ABC e CFT pouco rigorosas, ineficazes ou corruptas tambm se tornam potenciais alvos destas actividades. Nenhum pas se encontra a salvo.

    Considerando que as operaes financeiras internacionais complexas podem ser abusivamente utilizadas para facilitar o branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo, os diversos estdios do branqueamento de capitais e do financiamento do terrorismo ocorrem em muitos pases diferen-tes. Por exemplo, a colocao, a acumulao e a integrao podem ocorrer em trs pases distintos. Alm disso, uma ou todas as fases podem tambm ser retiradas do local originrio do crime.

    G. Mtodos e tipologias

    Os capitais podem ser branqueados de vrias maneiras, desde o depsito de pequenas quantias em numerrio em contas bancrias sem nenhuma particu-laridade (para transferncia posterior) at compra e revenda de artigos de

  • Guia de Referncia Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

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    luxo, como automveis, antiguidades e jias. Os fundos ilcitos podem tam-bm ser transferidos atravs de uma srie de operaes financeiras internacio-nais complexas. Os branqueadores de capitais so muito criativos quando os supervisores detectam um mtodo, os criminosos rapidamente encontram outro.

    As vrias tcnicas utilizadas para branquear capitais ou financiar o terrorismo so geralmente denominadas mtodos ou tipologias. Os termos mtodo e tipologia podem ser utilizados indistintamente, sem qualquer diferena entre eles. impossvel descrever com preciso, num determinado momento, o universo dos diversos mtodos utilizados pelos criminosos para branquear capitais ou para financiar o terrorismo. Alm disso, provvel que os seus mtodos sejam diferentes de pas para pas, devido quantidade de caractersticas e factores nicos de cada pas, incluindo a sua economia, a complexidade dos mercados financeiros, o regime ABC, a eficcia das autori-dades policiais e o nvel de cooperao internacional. Acresce que os mtodos esto em constante mutao.

    Alm disso, vrias organizaes internacionais tm produzido excelen-tes obras de referncia sobre os mtodos e as tcnicas de branqueamento de capitais. O GAFI tem produzido documentos relativos aos mtodos nos seus relatrios anuais e no seu relatrio anual de tipologias.19 Os vrios orga-nismos regionais do tipo GAFI tambm disponibilizam informao sobre as vrias tipologias detectadas nas respectivas regies. Para obter informao mais actualizada sobre os mtodos e as tipologias de branqueamento de capitais, dever consultar os stios destas entidades.20 Alm destas, o Grupo Egmont preparou uma compilao de cem casos seleccionados de combate ao branqueamento de capitais com informao fornecida pelas Unidades de Informao Financeira que so membros deste organismo.21

    19. Ver, por exemplo, Relatrio 2003-04 do GAFI sobre as Tipologias de Branqueamento de Capitais, http://www.fatf-gafi.org/dataoecd/19/11/33624379.PDF, e relatrios anteriores, http://www.fatf-gafi.org/document/23/0,2340,en_32250379_32237277_34037591_1_1_1_1,00.html.

    20. Ver o Captulo IV para uma discusso dos organismos regionais tipo GAFI.21. http://www.fincen.gov/fiuinaction.pdf. Ver o Captulo III, F., O Grupo Egmont.

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    Oxito das iniciativas criminosas e das operaes de financiamento do terrorismo depende, em grande medida, do seu sucesso em ocultar as origens ou as fontes dos fundos e branquear os produtos, movimentando-os atravs dos sistemas financeiros nacionais e internacionais. A falta de um regime anti-branqueamento de capitais ou a sua existncia com deficincias ou corrupo num determinado pas oferecem aos criminosos e queles que financiam o terrorismo a oportunidade de actuar, utilizando os seus proven-tos financeiros para ampliar as suas aces criminosas e promover actividades ilegais, tais como a corrupo, o trfico de drogas, o trfico ilcito e a explo-rao de seres humanos, o trfico de armas, o contrabando e o terrorismo.

    Embora o branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo possam ocorrer em qualquer pas, as suas consequncias econmicas e sociais so particularmente significativas nos pases em desenvolvimento, j que estes mercados tendem a ser menores e, assim, mais vulnerveis s influncias cri-minosas e terroristas.

    O branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo tm tam-bm consequncias econmicas e sociais significativas para os pases com

    Captulo II

    O branqueamento de capitais afecta o desenvolvimento

    A. As consequncias negativas para os pases em desenvolvimento1. Aumentodocrimeedacorrupo2. Consequnciasinternacionaiseinvestimentoestrangeiro3. Instituiesfinanceirasdebilitadas4. Economiaesectorprivadocolocadosemrisco5. Iniciativasdeprivatizaoprejudicadas

    B. As vantagens de uma conjuntura eficaz ABC/CFT1. Combateaocrimeecorrupo2. Maiorestabilidadeparaasinstituiesfinanceiras3. Incentivoaodesenvolvimentoeconmico

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    II-12

    sistemas financeiros frgeis, pois estes tambm so susceptveis de ser pertur-bados por estas influncias. A economia, a sociedade e, em ltima instncia, a segurana dos pases utilizados como plataformas para o branqueamento de capitais ou para o financiamento do terrorismo1 so todas colocadas em perigo. Todavia, difcil avaliar a magnitude destas consequncias adversas, pois os impactos negativos no podem ser quantificados com preciso, quer em termos gerais para a comunidade internacional, quer para qualquer pas especfico.

    Por outro lado, um sistema eficaz anti-branqueamento de capitais (ABC) e de combate ao financiamento do terrorismo (CFT) oferece benefcios impor-tantes para o pas, quer a nvel nacional quer internacional. Entre estes bene-fcios destacam-se nveis mais baixos de criminalidade e de corrupo, maior estabilidade das instituies financeiras e dos mercados, impactos positivos sobre o desenvolvimento econmico e a reputao nacional na comunidade mundial, melhores tcnicas de gesto de risco para as instituies financeiras do pas e maior integridade do mercado.

    A. As consequncias negativas para os pases em desenvolvimento

    1. Aumento do crime e da corrupo

    O sucesso do branqueamento de capitais ajuda a rentabilizar as actividades criminosas: uma recompensa para os criminosos. Assim, sempre que um pas seja considerado um paraso para o branqueamento de capitais, pro-vvel que atraia os criminosos e promova a corrupo. Os parasos para o branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo apresentam:

    Um regime frgil ABC/CFT; Muitos ou alguns tipos de instituies financeiras no abrangidos pelo

    sistema ABC/CFT; Uma aplicao limitada, fragilizada ou selectiva das disposies ABC/

    CFT; Sanes ineficazes, incluindo disposies que tornam difcil a declara-

    o de perda; e

    1. Para uma anlise detalhada dos efeitos econmicos negativos do branqueamento de capitais, ver Brent L. Bartlett, Negative Effects of Money Laundering on Economic Development [Os Efeitos Negativos do Branqueamento de Capitais sobre o Desenvolvimento Econmico] (um Relatrio de Investigao Econmica elaborado para o Banco Asitico de Desenvolvimento, Junho de 2002). Ver tambm John McDowell e Gary Novis, Economic Perspectives [Perspectivas Econmicas], Departamento de Estado dos Estados Unidos (Maio de 2001).

  • O branqueamento de capitais afecta o desenvolvimento

    II-13

    Um nmero limitado de infraces subjacentes ao branqueamento de capitais.

    Quando o branqueamento de capitais frequente num pas, d origem a mais crime e corrupo. Tambm faz aumentar prticas de suborno, pontos de passagem crticos para o sucesso das tentativas de branqueamento de capi-tais, tais como:

    Os funcionrios e a direco das instituies financeiras, Advogados e contabilistas, Legisladores, Autoridades de aplicao da lei, Autoridades de superviso, Autoridades policiais, Ministrio Pblico, e Tribunais.

    Por outro lado, um sistema abrangente e eficaz ABC/CFT, em conjunto com uma execuo oportuna e uma aplicao eficaz da lei, reduzem signi-ficativamente os aspectos rentveis desta actividade criminosa, desencora-jando assim os criminosos e os terroristas a utilizar um pas. Isto espe-cialmente verdadeiro quando os produtos das actividades criminosas so eficazmente declarados perdidos como parte integrante do sistema jurdico ABC/CFT de um pas. O facto de um pas ser considerado um paraso de branqueamento de capi-tais ou de financiamento do terrorismo pode, por si s, ter consequncias negativas importantes para o seu desenvolvimento. As instituies financeiras estrangeiras podem optar por limitar as suas operaes com as instituies situadas em parasos de branqueamento de capitais; sujeitar estas operaes a um exame mais detalhado, aumentando os seus custos; ou simplesmente fazer cessar quaisquer relaes de correspondncia ou de concesso de crdi-to. At os negcios e as empresas legtimas situadas em parasos de branque-amento de capitais podem ser afectados pela reduo do acesso aos mercados mundiais ou pelo aumento dos custos nesse acesso em consequncia do exame mais detalhado sobre a titularidade, a organizao e os sistemas de controlo.

    Qualquer pas conhecido pela falta de rigor na aplicao do regime ABC/CFT ter uma menor probabilidade de receber investimentos privados

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    II-14

    estrangeiros. No caso das naes em desenvolvimento, a elegibilidade para receber apoio de governos estrangeiros provavelmente ser tambm seriamen-te restringida

    Alm disso, o Grupo de Aco Financeira sobre o Branqueamento de Capitais (GAFI) mantm uma lista de pases que no cumprem os requisitos ABC ou no cooperam suficientemente na luta contra o branqueamento de capitais. A incluso nesta lista, conhecida como lista de pases e territrios no cooperantes (PTNC),2 revela publicamente que o Pas referido no tem sequer em vigor os padres mnimos. Alm dos impactos negativos aqui men-cionados, os pases membros do GAFI podem tambm individualmente impor medidas especficas contra um pas que no tome providncias para corrigir as suas deficincias ABC/CFT.3 O branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo podem pre-judicar a solidez do sector financeiro de um pas, bem como a estabilidade das instituies financeiras individuais, de vrias formas. A apreciao que se segue centra-se nas instituies bancrias, embora as mesmas consequn-cias ou semelhantes possam aplicar-se tambm a outros tipos de instituies financeiras, tais como sociedades de valores mobilirios, companhias segura-doras e sociedades de investimento. As consequncias negativas, geralmente consideradas como riscos de reputao, operacionais, legais e de concentra-o, esto relacionadas. Cada um destes riscos tem os seus custos especficos:

    Perda de negcios lucrativos, Problemas de liquidez causados pela retirada de fundos, Cancelamento de acordos de correspondncia bancria, Custos de investigao e multas, Apreenso de activos, Prejuzos em emprstimos, e Diminuio do valor das aces das instituies financeiras.4

    O risco de reputao traduz-se no potencial que a publicidade negativa das prticas de negcio e associaes de um banco, seja ou no verdadeira, causa uma perda de confiana na integridade da instituio.5 Os clientes,

    2. Ver o Captulo III, GAFI, A Lista PTNC. 3. Id.4. Comit de Basileia de Superviso Bancria, Customer due diligence for banks [Medidas de

    vigilncia relativas clientela no que respeita aos bancos], (Outubro de 2001), pargrafos 8 a 17, http://www.bis.org/publ/bcbs85.pdf.

    5. Id., pargrafo 11.

  • O branqueamento de capitais afecta o desenvolvimento

    II-15

    tanto os tomadores de emprstimos como os depositantes e os investidores, deixam de fazer negcios com uma instituio cuja reputao tenha sido prejudicada por suspeitas ou alegaes de branqueamento de capitais ou de financiamento do terrorismo.6 A perda de tomadores de emprstimos de alta qualidade reduz a rentabilidade das operaes de crdito e aumenta o risco da carteira de crdito. Os depositantes podem tambm retirar os seus fundos, reduzindo, por esta via, uma fonte de financiamento de baixo custo para o banco.

    Alm disso, os fundos depositados por branqueadores de capitais num banco no oferecem estabilidade como fonte de financiamento. Enormes montantes de fundos branqueados so muitas vezes levantados inesperada-mente de uma instituio financeira atravs de transferncias electrnicas ou de outro tipo, causando potenciais problemas de liquidez.

    O risco operacional traduz o potencial de prejuzo derivado da insufici-ncia ou deficincia dos procedimentos internos, da actuao de funcionrios, dos sistemas ou de acontecimentos externos.7 Como j foi referido, estes prejuzos verificam-se quando as instituies incorrem em custos mais eleva-dos pelos servios interbancrios ou de correspondncia bancria, ou quando estes servios so reduzidos ou cancelados. O aumento do custo dos emprsti-mos ou dos financiamentos pode tambm ser includo nestes prejuzos.

    O risco de natureza legal traduz o potencial de prejuzo decorrente de aces judiciais, sentenas desfavorveis, contratos no cumpridos, multas e sanes que do origem a despesas acrescidas para a instituio ou mesmo ao seu encerramento.8 O branqueamento de capitais envolve criminosos em quase todos os aspectos do processo. Consequentemente, os clientes legtimos podem tambm tornar-se vtimas de um crime financeiro, perder dinheiro e processar a instituio para serem ressarcidos dos prejuzos sofridos. possvel que as autoridades bancrias ou policiais realizem investigaes, provocando outras despesas, alm das eventuais multas ou outras sanes correspondentes. Alm disso, certos contratos podero no ser susceptveis de cumprimento, por terem sido fraudulentamente celebrados pelo cliente crimi-noso.

    O risco de concentrao traduz o potencial de perda resultante da expo-sio excessiva na concesso de crditos ou emprstimos concedidos a um s cliente.9 As disposies estatutrias ou regulamentares limitam, geralmente, o

    6. Id.7. Id., pargrafo 12.8. Id., pargrafo 13.9. Id., pargrafo 14.

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    grau de exposio de um banco a um nico devedor ou grupo de devedores relacionados. A falta de informao sobre um determinado cliente, os seus negcios ou a sua relao com outros devedores, pode colocar o banco numa situao de risco neste aspecto. Esta situao especialmente preocupante quando existem contrapartes relacionadas, devedores conjuntos e uma fonte comum de rendimentos ou activos para a liquidao dos compromissos. Podem ainda resultar prejuzos de contratos insusceptveis de cumprimento ou de contratos celebrados com pessoas fictcias.

    Os bancos e os seus depositantes esto protegidos quando so aplicados regimes eficazes de vigilncia da clientela.10 A identificao dos beneficirios efectivos de uma conta um aspecto crucial para um regime eficaz ABC/CFT. Estes procedimentos de identificao oferecem uma proteco contra relaes comerciais com pessoas singulares ou colectivas fictcias, sem um patrimnio considervel, tais como empresas de fachada, e contra criminosos ou terroris-tas conhecidos. Os procedimentos de vigilncia tambm ajudam a instituio financeira a compreender a natureza dos interesses comerciais do cliente e as questes financeiras subjacentes. Os branqueadores de capitais so conhecidos por utilizar empresas de fachada, por exemplo empresas comerciais que aparentam ser legtimas e participar em negcios legtimos, mas que na realidade so controladas por criminosos.

    Estas empresas de fachada misturam os fundos ilcitos com fundos leg-timos para encobrir os proventos ilcitos. O acesso das empresas de fachada aos fundos ilcitos permite-lhes subsidiar os seus produtos e servios, ofe-recendo-os a preos at inferiores aos do mercado. Como consequncia, as empresas legtimas tm dificuldade em competir com estas empresas de facha-da, cujo nico fim preservar e proteger os fundos ilcitos, e no propriamen-te gerar lucros.

    Ao utilizar empresas de fachada e outros investimentos em empresas legtimas, os produtos do branqueamento de capitais podem ser utilizados para controlar indstrias ou alguns sectores da economia em certos pases. As distores artificiais nos preos de bens e de mercadorias originam uma dis-tribuio indevida dos recursos, aumentando a possibilidade de instabilidade monetria e econmica.11 O fenmeno cria tambm uma via de evaso fiscal, privando assim o pas destas receitas.

    10. Ver o Captulo VI, Identificao de clientes e vigilncia.11. John McDowell e Gary Novis, Economic Perspectives

    [Perspectivas Econmicas], Departamento de Estado dos EUA, Maio de 2001.

  • O branqueamento de capitais afecta o desenvolvimento

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    Os branqueadores de capitais ameaam os esforos de muitos pases para reformar as suas economias atravs das privatizaes.12 Estas organizaes criminosas tm a capacidade de oferecer propostas superiores s de compra-dores legtimos de antigas empresas pblicas. Quando os produtos ilcitos so investidos desta forma, os criminosos aumentam o seu potencial para a prtica de outras actividades criminosas e de corrupo, e de privar o pas do que deveria ser uma empresa legtima, a operar no mercado e pagando os seus impostos.

    B. As vantagens de uma conjuntura eficaz ABC/CFT

    1. Combate ao crime e corrupo

    Um slido sistema institucional ABC/CFT, que inclua um amplo leque de infraces subjacentes ao branqueamento de capitais, ajuda a combater o crime e a corrupo em geral.13 A tipificao do branqueamento de capitais como crime proporciona outro meio para perseguir os criminosos, quer os que praticam os crimes subjacentes quer os que os auxiliam a branquear os fundos obtidos de forma ilegal. Da mesma forma, um sistema ABC/CFT que inclua o suborno como uma infraco subjacente e que seja eficaz reduz as oportunidades de os criminosos subornarem ou mesmo corromperem os fun-cionrios pblicos.

    Um regime eficaz ABC constitui, em si mesmo, um obstculo para as pr-prias actividades criminosas. Tal regime cria dificuldades para os criminosos retirarem benefcios dos seus actos. Neste sentido, a perda dos produtos do branqueamento de capitais crucial para o xito de qualquer programa ABC. A perda dos bens ou produtos do branqueamento de capitais elimina completa-mente estes lucros, reduzindo o incentivo prtica de actos criminosos. Assim, bvio que quanto mais alargado for o mbito das infraces subjacentes ao branqueamento de capitais, maior ser o potencial benefcio.

    2. Maior estabilidade para as instituies financeiras

    A confiana do pblico nas instituies financeiras e, portanto a sua esta-bilidade, reforada com prticas bancrias slidas, que reduzam os riscos

    12. Id.13. Ver o Captulo I, O que o branqueamento de capitais; ver tambm o Captulo V, Alcance da

    infraco subjacente.

  • Guia de Referncia Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

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    financeiros das suas operaes. Estes riscos incluem o potencial de perda em que os indivduos ou as instituies financeiras, poderem Incorrer devido a resultado de fraude ocasionada directamente por uma actividade criminosa, de falta de rigor nos controlos internos ou da violao de leis e regulamentos.

    Os procedimentos de identificao de clientes e de diligncia devida, tam-bm conhecidos como regras conhea o seu cliente (CSC), fazem parte de um regime eficaz ABC/CFT. Estas normas, alm de coerentes com o funciona-mento slido e seguro dos bancos e de outros tipos de instituies financeiras, permitem tambm o seu reforo. Estas polticas e procedimentos constituem um utenslio eficaz de gesto de riscos. Por exemplo, quando uma determi-nada pessoa singular ou colectiva proprietria de vrios negcios aparente-mente constitudos como entidades distintas e a instituio possui um amplo conhecimento das operaes do cliente em virtude dos procedimentos CSC, a instituio pode limitar a sua exposio ao devedor e, dessa forma, o seu risco de crdito. Tendo em conta os benefcios da gesto de risco dos procedi-mentos CSC, o Comit de Basileia de Superviso Bancria inclui uma poltica CSC nos seus Princpios Fundamentais de Superviso Bancria Efectiva, alm de razes relacionadas com o combate ao branqueamento de capitais.14

    Para alm dos benefcios da confiana do pblico, um regime eficaz ABC/CFT reduz a possibilidade de a instituio sofrer prejuzos ocasionados por fraude. A observncia dos procedimentos de identificao do cliente e a determinao do beneficirio efectivo permitem realizar uma vigilncia espe-cfica para as contas de maior risco e um acompanhamento preventivo de actividades suspeitas. Estes controlos prudenciais internos so coerentes com o funcionamento seguro e slido de uma instituio financeira.

    3. Incentivo ao desenvolvimento econmico

    O branqueamento de capitais exerce um efeito negativo directo no crescimen-to econmico ao desviar recursos para actividades menos produtivas. Os fun-dos ilegais branqueados seguem, na economia, um percurso diferente do dos fundos legais. Em vez de serem inseridos em canais produtivos que possibi-litem a realizao de outros investimentos, os fundos branqueados so colo-cados com frequncia em investimentos estreis para preservar o seu valor ou facilitar a sua transferncia. Estes investimentos incluem imveis, obras de arte, jias, antiguidades ou bens de consumo de valor elevado, como auto-mveis de luxo. Estes investimentos no geram produtividade adicional para

    14. Ver os Princpios Fundamentais de Superviso Bancria Efectiva, Princpio 15, Comit de Basileia de Superviso Bancria, www.bis.org/publ/bcbs30.pdf.

  • O branqueamento de capitais afecta o desenvolvimento

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    a economia. O que ainda pior que as organizaes criminosas podem transformar empresas produtivas em investimentos estreis, administrando-as com o objectivo primordial de branquear produtos ilegais, e no com o pro-psito de gerar lucros. Uma empresa deste tipo no responde procura do consumidor ou a outras utilizaes legtimas e produtivas do capital. O facto de ter os recursos de um pas dedicados a investimentos estreis, em vez de investimentos que promovam outros fins produtivos, reduz a produtividade da economia no seu conjunto.

    A existncia de regimes slidos ABC/CFT constitui um desincentivo para o envolvimento da criminalidade na economia. Isto permite que os investi-mentos sejam utilizados para fins produtivos que respondam s necessidades do consumidor e contribuam para a produtividade da economia em geral.

  • III-21

    Em resposta crescente preocupao no que respeita ao branqueamento de capitais e s actividades terroristas, a comunidade internacional tem desenvolvido aces em vrias frentes. A reaco internacional , em grande medida, o reconhecimento do facto de que o branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo tiram proveito dos velozes mecanismos utiliza-dos para as transferncias internacionais, tais como as transferncias electr-nicas, para alcanar os seus propsitos. Assim, torna-se necessrio existir uma cooperao e coordenao transnacional articulada para conseguir frustar os esforos dos criminosos e dos terroristas.

    Os esforos internacionais comearam com o reconhecimento de que o trfico de drogas era um problema mundial e que apenas poderia ser enfren-tado com eficcia de uma forma multilateral. Desta forma, a primeira con-veno internacional referente ao branqueamento de capitais estabeleceu as infraces de trfico de drogas como as nicas infraces subjacentes. (Uma infraco subjacente aquela de cuja prtica resultam os produtos destinados ao branqueamento de capitais.) Considerando que a comunidade interna-cional est actualmente preocupada com vrios tipos de crime, a maioria dos pases passou a incluir uma ampla gama de infraces graves na lista de infraces subjacentes ao branqueamento de capitais.

    Captulo III

    Organizaes internacionais que definem padres normativos

    A. A Organizao das Naes Unidas1. AConvenodeViena2. AConvenodePalermo3. AConvenoInternacionalparaaEliminaodoFinanciamentodo

    Terrorismo4. Resoluo1373doConselhodeSegurana5. Resoluo1267doConselhodeSeguranaeResoluesquese

    sucederam6. ProgramaGlobalcontraoBranqueamentodeCapitais7. OComitContraoTerrorismo

    B. O Grupo de Aco Financeira sobre o Branqueamento de Capitais1. AsQuarentaRecomendaessobreoBranqueamentodeCapitais2. Acompanhamentodoprogressodosmembros3. Comunicaodastendnciasetcnicasdebranqueamentodecapitais

    4. AListaPTNC5. RecomendaesEspeciaissobreoFinanciamentodoTerrorismo6. MetodologiaparaavaliaesABC/CFT

    C. O Comit de Basileia de Superviso Bancria 1. DeclaraodePrincpiossobreoBranqueamentodeCapitais2. PrincpiosFundamentaisparaBancos3. Vigilnciarelativaclientela

    D. Associao Internacional dos Supervisores de Seguros

    E. Organizao Internacional das Comisses de Valores

    F. Grupo Egmont de Unidades de Informao Financeira

  • Guia de Referncia Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

    III-22

    Este captulo analisa as diversas organizaes internacionais que definem padres nesta matria. Tambm descreve os documentos e instrumentos cria-dos para fins de combate ao branqueamento de capitais (ABC) e ao financia-mento do terrorismo (CFT).

    A. A Organizao das Naes Unidas

    A Organizao das Naes Unidas (ONU) foi a primeira organizao interna-cional a realizar aces significativas para lutar contra o branqueamento de capitais a nvel verdadeiramente global.1 A ONU importante nesta matria por diversas razes. Em primeiro lugar, a organizao internacional com o maior nmero de membros. Fundada em Outubro de 1945, a ONU conta hoje com 191 Estados membros do mundo inteiro.2 Em segundo lugar, a ONU dirige activamente um programa de combate ao branqueamento de capitais, o Programa Global contra o Branqueamento de Capitais (GPML),3 com sede em Viena, na ustria, e parte do Gabinete sobre as Drogas e o Crime (ODC) da ONU.4 Em terceiro lugar, e talvez o aspecto mais relevante, a ONU tem a capacidade de adoptar tratados ou convenes internacionais que tm fora de lei num pas sempre que este assine, ratifique e aplique a conveno, de acordo com o seu sistema constitucional e ordenamento jurdi-co. Em certos casos, o Conselho de Segurana da ONU tem autoridade para obrigar todos os pases membros atravs de uma Resoluo do Conselho de Segurana, sem necessidade de qualquer outra aco individual por parte de um pas.

    1. A Conveno de Viena

    Como resultado da crescente preocupao com a intensificao do trfi-co internacional de drogas e o enorme montante de capitais relacionados que entram no sistema bancrio, a ONU, atravs do Programa das Naes Unidas para o Controlo Internacional das Drogas (UNDCP), promoveu um instru-

    1. Houve outras iniciativas internacionais, como as Medidas Contra a Transferncia e Guarda de Fundos de Origem Criminosa, adoptadas pelo Comit do Conselho da Europa, em 27 de Junho de 1980. No entanto, o objectivo deste Guia de Referncia no entrar nos detalhes da histria do esforo internacional no combate ao branqueamento de capitais.

    2. Lista dos Estados Membros: www.un.org/Overview/unmember.html.3. Ver http://www.imolin.org/imolin/gpml.html.4. O nome do UNDCP foi mudado para Gabinete para o Controlo da Droga e Preveno do

    Crime (ODCCP) em 1997 e, novamente, para Gabinete sobre as Drogas e o Crime (ODC) em Outubro de 2002.

  • Organizaes internacionais que definem padres

    III-23

    mento internacional para o combate ao trfico de drogas e ao branqueamento de capitais. Em 1988, esta iniciativa resultou na adopo da Conveno das Naes Unidas contra o Trfico Ilcito de Estupefacientes e de Substncias Psicotrpicas (1988) (Conveno de Viena).5 A Conveno de Viena, assim designada em homenagem cidade em que foi assinada, inclui sobretudo dis-posies para o combate ao comrcio ilcito de drogas e questes relaciona-das com a aplicao da lei; so partes da Conveno169 pases.6 Embora no use os termos branqueamento de capitais, a Conveno define o conceito e insta os pases a criminalizar esta actividade.7 No entanto, a Conveno de Viena limitada infraco de trfico de drogas como infraco subjacente e no aborda os aspectos de preveno do branqueamento de capitais. A Conveno entrou em vigor em 11 de Novembro de 1990.

    2. A Conveno de Palermo

    Com o objectivo de intensificar os esforos de combate criminalidade organizada internacional, a ONU adoptou a Conveno Internacional contra a Criminalidade Organizada Transnacional (2000) (Conveno de Palermo).8 Esta Conveno, tambm assim denominada em homenagem cidade onde foi assinada, contm uma ampla gama de disposies para o combate cri-minalidade organizada, comprometendo-se os pases que a ratificam a aplicar as suas disposies, atravs da aprovao de leis internas. No que concerne ao branqueamento de capitais, os pases que ratificarem a Conveno de Palermo ficam especificamente obrigados a:

    Criminalizar o branqueamento de capitais e incluir todos os crimes graves na lista de infraces subjacentes ao branqueamento de capitais, quer tenham sido cometidos dentro ou fora do pas, e permitir que o elemento intencional seja deduzido a partir de circunstncias factuais objectivas9;

    Estabelecer regimes de regulao para dissuadir e detectar todas as for-mas de branqueamento de capitais, incluindo medidas de identificao do cliente, conservao de documentos e comunicao de operaes suspeitas10;

    5. http://www.incb.org/e/conv/1988/.6. Em 1 de Agosto de 2004. Ver http://www.unodc.org/unodc/treaty_adherence.html.7. A Conveno de Viena, Artigo 3. (b) e (c) (i).8. http://www.undcp.org/adhoc/palermo/convmain.html.9. A Conveno de Palermo, Artigo 6.10. Id., Artigo 7. (1) (a).

  • Guia de Referncia Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

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    Autorizar a cooperao e a troca de informaes entre autoridades administrativas, de regulao, de aplicao da lei e de outras reas, a nvel nacional e internacional, e considerar a criao de uma unidade de informao financeira para recolher, analisar e disseminar informa-es11; e

    Promover a cooperao internacional12.

    Esta Conveno entrou em vigor em 29 de Setembro de 2003, aps ser assinada por 147 pases e ratificada por 82 pases13. A Conveno de Palermo importante, pois as suas disposies ABC adoptam a mesma estratgia previamente definida pelo Grupo de Aco Financeira sobre o Branqueamento de Capitais (GAFI) nas suas Quarenta Recomendaes sobre o Branqueamento de Capitais14.

    3. Conveno Internacional para a Eliminao do Financiamento do Terrorismo

    O financiamento do terrorismo j era uma preocupao internacional antes dos ataques aos Estados Unidos em 11 de Setembro de 2001. Em res-posta a esta preocupao, a ONU adoptou a Conveno Internacional para a Eliminao do Financiamento do Terrorismo (1999)15. Esta Conveno entrou em vigor em 10 de Abril de 2002, com 132 pases signatrios e 112 pases ratificantes16. (Ver o Anexo III deste Guia de Referncia para consultar uma lista das Convenes especificadas.)

    Esta Conveno impe aos Estados ratificantes a criminalizao do ter-rorismo, das organizaes terroristas e dos actos terroristas. Nos termos da Conveno, ilcito qualquer pessoa fornecer ou recolher fundos com (1) a inteno de que os fundos sejam utilizados ou (2) o conhecimento de que os fundos sero utilizados para a execuo de qualquer dos actos de terrorismo definidos nas outras convenes especificadas e includas em anexo a esta Conveno.

    11. Id., Artigo 7. (1) (b).12. Id., Artigo 7. (3) e (4).13. Em 1 de Agosto de 2004. Ver http://www.unodc.org/unodc/crime_cicp_signatures_convention.

    html.14. Ver a Anlise neste Captulo, GAFI.15. http://www.un.org/law/cod/finterr.htm.16. Em Maro de 2004. Ver, http://www.unausa.org/newindex.asp?place=http://www.unausa.org/

    policy/newsactionalerts/advocacy/fin_terr.asp.

  • Organizaes internacionais que definem padres

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    17. http://www.un.org/aboutun/charter/index.html.18. http://www.state.gov/p/io/rls/othr/2001/5108.htm.19. http://www.un.org/Docs/scres/1999/sc99.htm.20. http://www.un.org/Docs/scres/2000/sc2000.htm.

    4. Resoluo 1373 do Conselho de Segurana

    Ao contrrio de uma conveno internacional, que requer a assinatura, a ratificao e a aplicao por um pas membro da ONU para ter fora de lei nesse pas, uma Resoluo aprovada pelo Conselho de Segurana, em resposta a uma ameaa paz e segurana internacional, nos termos do Captulo VII da Carta da ONU, vinculativa para todos os pases membros da ONU17. Em 28 de Setembro de 2001, o Conselho de Segurana da ONU adoptou a Resoluo 137318, que obriga os pases a criminalizar as aces de financiamento do terrorismo. Alm disso obriga os pases a:

    rejeitar todas as formas de apoio a grupos terroristas; eliminar a concesso de refgio ou apoio a terroristas, bem como con-

    gelar os fundos ou bens das pessoas, organizaes ou entidades envol-vidas em actos terroristas;

    proibir a prestao de auxlio activo ou passivo a terroristas; e cooperar com outros pases em investigaes penais e trocar informa-

    es sobre planos de actos terroristas.

    5. Resoluo 1267 do Conselho de Segurana e Resolues que se sucederam

    O Conselho de Segurana da ONU tambm tomou medidas nos termos do Captulo VII da Carta da ONU, exigindo que os Estados membros con-gelem os bens dos Talibs, de Osama Bin Laden, da Al-Qaeda e de entida-des de que so proprietrios ou por eles controladas, conforme designados pelo Comit de Sanes (agora denominado Comit 1267). A primeira Resoluo 1267, de 15 de Outubro de 1999,19 era relativa aos Talibs e foi seguida da Resoluo1333, de 19 de Dezembro de 200020, relativa a Osama bin Laden e Al-Qaeda. Resolues posteriores criaram mecanismos de monitorizao (Resoluo 1363, de 30 de Julho de 200121), combinaram as listas anteriores (Resoluo1390, de 16 de Janeiro de 200222), estabeleceram algumas excluses (Resoluo 1452, de 20 de Dezembro de 200223) e adop-taram medidas para melhorar a aplicao (Resoluo 1455, de 17 de Janeiro de 200324).

  • Guia de Referncia Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

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    O Comit 1267 emite a lista de indivduos e entidades cujos bens deve-ro ser congelados, tendo adoptado procedimentos para fazer aditamentos ou excluses lista, com base em pedidos dos Estados membros. A lista mais recente est disponvel no stio do Comit 1267.25

    6. Programa Global contra o Branqueamento de Capitais

    O Programa Global contra o Branqueamento de Capitais (GPML) encontra-se sob a alada do Gabinete sobre as Drogas e o Crime (ODC) da ONU.26 O GPML um projecto de investigao e assistncia, que tem como objectivo aumentar a eficcia da aco internacional contra o branqueamento de capitais, oferecendo informaes tcnicas especializadas, formao e conse-lhos a pedido dos pases membros. Os seus esforos centram-se nas seguintes reas:

    Aumentar o nvel de consciencializao das pessoas chave nos Estados membros da ONU;

    Ajudar a criar sistemas jurdicos com o apoio de modelos de legislao quer para pases com direito consuetudinrio quer para os de tradio romano-germnica;

    Desenvolver a capacidade institucional, especialmente com a criao de unidades de informao financeira;

    Facultar formao para reguladores jurdicos, judiciais e policiais, e para os sectores financeiros privados;

    Promover uma abordagem regional para a resoluo de problemas; desenvolver e manter relaes estratgicas com outras organizaes; e

    Manter uma base de dados e realizar anlises das informaes relevan-tes.

    Assim sendo, o GPML uma fonte de informao, de conhecimentos especializados e de assistncia tcnica para a criao ou o aperfeioamento da infra-estrutura ABC de um pas.

    21. http://www.un.org/Docs/scres/2001/sc2001.htm.22. http://www.un.org/Docs/scres/2002/sc2002.htm.23. http://www.un.org/Docs/scres/2002/sc2002.htm24. http://www.un.org/Docs/sc/unsc_resolutions03.html.25. http://ods-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/N99/300/44/PDF/N9930044.pdf?OpenElement26. Programa Global contra o Branqueamento de Capitais, http://www.imolin.org/imolin/gpml.

    html.

  • Organizaes internacionais que definem padres

    III-27

    7. O Comit Contra o Terrorismo

    Como j foi referido, em 28 de Setembro de 2001, o Conselho de Segurana da ONU adoptou uma Resoluo (Resoluo 1373) em resposta directa aos acontecimentos de 11 de Setembro de 2001.27 Esta Resoluo obrigou todos os pases membros a tomar medidas especficas para combater o terrorismo. A Resoluo, que vinculativa para todos os pases membros, tambm criou o Comit Contra o Terrorismo (CTC), incumbindo-o de monitorizar o desempenho dos pases membros no desenvolvimento de uma capacidade mundial de combate ao terrorismo. O CTC, composto por 15 membros do Conselho de Segurana, no uma entidade responsvel pela aplicao da lei; no aplica sanes nem se encarrega do procedimento penal ou sanciona pases especficos.28 Pelo contrrio, o Comit procura estabele-cer um dilogo entre o Conselho de Segurana e os pases membros sobre a forma de alcanar os objectivos da Resoluo 1373.

    A Resoluo 1373 insta todos os pases a submeter um relatrio ao CTC, sobre as iniciativas tomadas para aplicar as medidas da Resoluo, e a apresentar regularmente relatrios de progresso. Neste sentido, o CTC solicitou que todos os pases efectuassem uma auto-avaliao da legislao vigente e dos mecanismos existentes para combater o terrorismo, de acordo com as obrigaes da Resoluo 1373. O CTC identifica as reas em que um determinado pas necessita reforar as suas bases e infraestruturas jurdicas e faculta assistncia aos pases, embora o prprio CTC no preste assistncia directa.

    O CTC mantm um stio com um directrio para os pases que procu-ram assistncia para melhorar as suas infra-estruturas de combate ao terroris-mo.29 O directrio contm modelos de legislao e outras informaes teis.

    B. O Grupo de Aco Financeira sobre o Branqueamento de Capitais

    27. Resoluo 1373 do Conselho de Segurana da ONU.28. Ver http://www.un.org/sc/ctc.29. Id.

  • Guia de Referncia Anti-Branqueamento de Capitais e de Combate ao Financiamento do Terrorismo

    III-28

    Criado em 1989 pelos pases do G-730, o Grupo de Aco Financeira sobre o Branqueamento de Capitais (GAFI) um organismo intergoverna-mental cujo objectivo o de desenvolver e promover uma resposta internacio-nal para o combate ao branqueamento de capitais.31 Em Outubro de 2001, o GAFI alargou o seu mandato para incluir o combate ao financiamento do terrorismo.32 O GAFI um organismo que elabora polticas, reunindo peri-tos em questes jurdicas, financeiras e de aplicao da lei para levar a cabo a reforma de leis e regulamentos nacionais em matria ABC e CFT. Entre os actuais membros do grupo figuram 31 pases e territrios e duas organiza-es regionais.33 Alm destes, o GAFI trabalha em colaborao com vrios organismos34 e organizaes35 internacionais. Estas entidades gozam do esta-tuto de observador junto ao GAFI, que no lhes d direito a votar, mas per-mite-lhes plena participao nas sesses plenrias e nos grupos de trabalho.

    As trs funes principais do GAFI no tocante ao branqueamento de capitais so:

    30. Id. Os pases do G-7 so a Alemanha, Canad, Estados Unidos, Frana, Itlia, Japo e Reino Unido.

    31. Sobre o GAFI e o Financiamento do Terrorismo, em http://www.fatf-gafi.org/pages/0,2966,en_32250379_32236947_1_1_1_1_1,00.html

    32. Id., em Financiamento do Terrorismo.33. Os 31 pases e territrios membros so: frica do Sul, Alemanha, Argentina, Austrlia, ustria,

    Blgica, Brasil, Canad, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Finlndia, Frana, Grcia, Reino da Holanda, Hong Kong-China, Irlanda, Islndia, Itlia, Japo, Luxemburgo, Mxico, Noruega, Nova Zelndia, Portugal, Reino Unido, Rssia, Singapura, Sucia, Sua e Turquia. As duas organizaes regionais so a Comisso Europeia e o Conselho de Cooperao do Golfo.

    34. Os organismos internacionais so os organismos regionais do tipo GAFI (ORTGs), que tm forma e funes similares s do GAFI. Certos membros do GAFI tambm participam nos ORTGs. Estes organismos so: Comit MONEYVAL (anteriormente conhecido como PC-R-EV) do Conselho da Europa, Grupo Anti-Branqueamento de Capitais da frica Oriental e Austral (GABCAOA), Grupo sia-Pacfico sobre o Branqueamento de Capitais (GAP), Grupo de Aco Financeira das Carabas (GAFIC) e Grupo de Aco Financeira da Amrica do Sul sobre o Branqueamento de Capitais (GAFISUD). Para uma anlise destas organizaes, ver o Captulo IV, Organismos regionais e grupos relevantes, Organismos regionais do tipo GAFI. O GAFI tam-bm trabalha com o Grupo Egmont.

    35. As organizaes internacionais que tm, entre outras misses e funes, uma especfica anti-branqueamento de capitais, so: Associao Internacional dos Supervisores de Seguros (AISS), Banco Africano de Desenvolvimento, Banco Asitico de Desenvolvimento, Banco Central Europeu (BCE), Banco Europeu de Reconstruo e Desenvolvimento, Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Banco Mundial, Europol, Fundo Monetrio Internacional (FMI), Gabinete das Naes Unidas sob