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A ula 7 Antonio Cardoso Filho O GÊNERO ÉPICO META Apresentar a origem e o desenvolvimento do gênero épico e suas consequências para a narrativa moderna. OBJETIVOS Ao final desta aula, o aluno deverá: - Identificar as fontes gregas do épico; - Descrever as características que dominam a narrativa épica; - Avaliar o distanciamento entre o narrador e o mundo épico narrado; - Reconhecer os valores éticos cultivados pela epopeia PRÉ-REQUISITOS Estudar o épico relacionando-o com o lírico facilita a compreensão. Então, é importante que você reveja a lição 6.

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Aula 7

Antonio Cardoso Filho

O GÊNERO ÉPICO

META

Apresentar a origem e o desenvolvimento do gênero épico e suas consequências para a narrativa moderna.

OBJETIVOSAo final desta aula, o aluno deverá:

- Identificar as fontes gregas do épico;- Descrever as características que dominam a narrativa épica;

- Avaliar o distanciamento entre o narrador e o mundo épico narrado;- Reconhecer os valores éticos cultivados pela epopeia

PRÉ-REQUISITOSEstudar o épico relacionando-o com o lírico facilita a compreensão. Então, é importante que

você reveja a lição 6.

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Teoria da Literatura I

Acabamos de estudar na aula passada a natureza do lírico. Agora vamos ver um pouco o estudo da poesia épica, tam-bém conhecida como poesia narrativa. Para começar nossa conversa, eu lhe digo que, etimologicamente, epopeia é um termo grego formado pela junção de epos com poieo. Epos significa palavra, canto, narrativa, recitação, e poieo significa fazer. Digo ainda que, da mesma forma que o texto lírico era feito em verso, o texto épico também utilizava o verso. Então, para se distinguir um do outro, só examinar a forma de composição não era suficiente. Precisava ser consid-erado o modo como o assunto era tratado e, nesse caso, o que se via na epopeia era a presença de personagem heróica, a universalidade do tema abordado e o caráter coletivo da ação. Tudo isso trabalhado para dar um tom grandioso à história ou à lenda que servia de motivo para a obra.

Ao gênero épico, entretanto, não pertence apenas a epopeia. Nele também se inclui a ficção de um modo geral. Apesar de esse gênero ser narrativo e, portanto, abarcar várias modalidades de texto, é muito comum ocorrer o seguinte: quando alguém fala em gênero épico, se pensa na epo-peia, e quando alguém fala em narrativa se pensa em romance, novela e conto. Mas, na verdade, todos eles estão dentro do espírito épico do texto, embora haja características particulares em cada uma dessas formas. São essas especificidades e vários outros aspectos do épico que passaremos a estudar agora.

INTRODUÇÃO

Corpo de Heitor sendo levado de volta a Tróia. Alto relevo romano em mármore (Fonte: http://pt.wikipedia.org).

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O gênero épico Aula 7O GÊNERO ÉPICO

O canto épico, ou dito de outra forma, a história heroica dos antigos vem dos hinos cantados nas festas de come-moração pela vitória de um chefe guerreiro, de um rei ou de outra figura de destaque. Esses cantos, que hoje chamamos poemas, na verdade eram narrativas de feitos grandiosos que contavam com o interesse do povo. Há nelas uma mistura de arte e política, porquanto se voltavam sempre para a nobreza do palácio onde também eram cultivados. Como sua organização se baseia em episódios sociais, o vigor textual decorre da continuidade da história e da força de significação que estrutura seus elementos, construindo um sistema coeso, e não apenas da múltipla variedade de suas formas. As personagens que povoam a história são deuses e homens. E neste último caso, homens cujo modo de vida se assemelha aos deuses no poder, na riqueza ou na grandeza de personalidade.

Tendo a história ou a lenda como o apoio natural de sua elaboração, o épico trabalha a partir do racional, do lógico, da objetividade. Mas, meu caro aluno, não fique perturbado. Sei que você está pensando: mas não já foi ensinado que a literatura é subjetividade? Como dizer agora que o épico segue a objetividade? Perfeito! Você tem toda a razão! Por trás da literatura existe sempre uma subjetividade, e disso nenhum texto escapa. A questão da épica é que a preocupação do autor não está em mostrar sentimentos ou estados de espírito. O foco de interesse dele é apresentar os fatos como se eles tivessem vida própria, independentemente daquele que os conta. Por isso, no texto narrativo há sempre uma voz – o narrador – que se encarrega de contar os “fatos”. Usei aspas porque, a rigor, o que está sendo chamado de “fato” não passa de discurso, de linguagem em cujo seio se forma todo e qualquer referente de seu dito, de seu enunciado. A objetividade do gênero épico consiste no afastamento do eu interior e na consequente aproximação da realidade externa. Na épica, o sujeito (narrador) se afasta do mundo narrado e tende a desaparecer por trás da diegese. Não importa o que ele sente, mas o que ele mostra. O objetivo da epopeia é construir um mundo total e para isso necessita de fatos reais, de lendas ou de mitos.

Os povos têm orgulho de sua história e para louvá-la lançam mão de obras literárias grandiosas. São os famosos poemas épicos ou epopeias. Dentre os mais conhecidos estão:a) Ilíada e Odisséia de Homero, na Grécia. Estes são os textos mais antigos de que se tem notícia neste gênero (c. IX a.C.) e é a partir deles e de outros também que se iniciam os primeiros estudos sobre a literatura com Platão e Aristóteles; b) Eneida (século I a.C.) de Virgílio, em Roma. Trata da história de Eneias, um herói grego que sai de sua cidade, Troia, e viaja pela região do Lácio, hoje Itália, e se torna um ancestral dos romanos;

Ver glossário no final da Aula

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c) Paraíso Perdido (1667) de Milton, na Inglaterra. Poema baseado no livro do Gênesis; trata da queda de Lúcifer; d) Os Lusíadas (1572) de Camões, em Portugal. Trata das conquistas por-tuguesas.

No Brasil do século XVIII, temos O Uraguai (1769) de Basílio da Gama e Caramuru (1781) de Santa Rita Durão. Mas não são obras de maior sig-nificação se comparadas às primeiras.

A Ilíada e a Odisséia revelam a civilização grega antiga. A Ilíada apresenta as guerras entre gregos e troianos e é mesclada de reflexões sobre a vida hu-mana, incluindo as relações entre os homens e os deuses. A Odisséia mostra as peripécias da viagem de Ulisses ao retornar para sua casa. A fidelidade de Penélope, evitando seus muitos pretendentes, sempre na expectativa de que Ulisses, seu marido, voltaria. A Eneida mostra os feitos romanos. Os Lusíadas narram a grandeza das conquistas portuguesas e o poder do seu Império. Em Caramuru é apresentado o naufrágio de Diogo Álvares Correia e suas habilidades com a arma de fogo até conquistar a estima dos índios e ter na índia Paraguaçu a mulher amada. Ao autor de Caramuru falta criatividade e vigor na construção da realidade. Numa visão eurocêntrica das coisas,

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O gênero épico Aula 7Santa Rita Durão atribui a Paraguaçu uma fisionomia nada indígena, pelo contrário, vestiu-a com a roupagem da mulher branca:

Paraguaçu gentil (tal nome teve)Bem diversa de gente tão nojosa,De cor tão alva como a branca neve, E donde não é neve, era de rosa;O nariz natural, boca mui breve,Olhos de bela luz, testa espaçosa.

As grandes personagens da epopeia, ou seja, seus heróis, não desempenham uma função indi-vidual, por isso nunca podem ser tomados como perfis solitários de heróis. O objetivo da epopeia é sempre alcançar a coletividade, daí eles intera-girem livremente com as demais personagens e com os deuses a quem rendiam culto, demonst-rando a importância da submissão aos superiores como condição da ordem social e política. Os mitos que serviam de base aos poemas épicos em geral estão fundamentados em antigos mitos religiosos dos ancestrais. Sobre essa questão, há quem diga que o pensamento que fundamenta essas crenças religiosas provém da necessidade de sustentar a energia vital própria dos deuses e das personagens. Como acontece com os reis e os heróis, essas personagens participam da divindade, e é com essa força que o mundo, a natureza e o desenvolvimento dos povos podem ser colocados em um sistema organizado. Dessa força depende a continuidade do mundo e da sociedade, por isso não se pode deixá-la entrar em declínio, pois esse declínio seria a própria derrocada da humanidade.

Essa relação de intercâmbio estreito entre o terrestre e o celeste vai-se fazer a partir de Homero que em sua obra humaniza os deuses, atribuindo a eles os sentimentos característicos dos homens. Se por um lado eles continuam deuses, por outro, são passíveis das mesmas reações humanas: paixão, ódio, inveja, dissimulação etc...

Quanto às características do épico, podemos resumi-las dizendo, de acordo com Emil Staiger que, diferentemente da poesia lírica, apoiada na recordação, a poesia épica baseia-se na apresentação. Nela, o autor se co-loca diante do mundo para mostrá-lo, registrar sua dinâmica, apontar seus caracteres, em síntese, para apresentá-lo.

Ver glossário no final da Aula

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Teoria da Literatura I

Como traços do estilo épico, Staiger apresenta: a simetria, o distan-ciamento, o desenrolar progressivo, a autonomia das partes, a ação, a grandiloquência.

Por simetria entende-se a tendência da epopeia para manter o equilíbrio de humor entre o sujeito que narra e o mundo narrado. Esse equilíbrio per-mite ao sujeito narrador um afastamento das oscilações dos sentimentos. Por isso Staiger (1975, p.77) equipara a simetria à inalterabilidade, dizendo:

A simetria equivale à inalterabilidade de ânimo do escritor que não é dado aos altos e baixos da inconstante “disposição anímica”. Homero ascende da torrente da existência e conserva-se firme, imutável frente às coisas. Ele as vê de um único ponto de vista, de uma perspectiva determinada.

Essa inalterabilidade não significa um desaparecimento do sujeito rela-tor, pois ele está presente e se faz notar na condição de narrador. Desse lugar, ele apresenta as personagens, faz comentários, elabora sínteses históricas dentre outras formas de denunciar sua presença. Em suma, ele aparece por trás do que diz. Examine esse trecho de Os Lusíadas (Canto I, primeira estrofe):

As armas e os barões assinalados,Que da ocidental praia lusitana,

Frontispício da primeira edição de Os Lusíadas (1572) (Fonte: http://www.universal.pt).

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O gênero épico Aula 7Por mares nunca de antes navegados,Passaram ainda além da TaprobanaEm perigos e guerras esforçadosMais do que prometia a força humana,E entre gente remota edificaramNovo Reino, que tanto sublimaram.

(Camões, Os Lusíadas, I, 1)

Esse como que alheamento do sujeito acarreta outra consequência: o distanciamento. Os fatos ficam distanciados da interioridade do poeta, de modo que os acontecimentos não surgem como recordação intimista, mas como rememoração de fatos e por essa memória o poeta faz o trabalho de reconstrução do mundo. “O longínquo é trazido ao presente, para diante de nossos olhos, logo perante nós, [aparecer] como um mundo outro maravil-hoso e maior.” (Staiger, 1975, p.79). Tentando ainda explicar a importância da memória na poesia épica, Staiger (1975, p.80) lembra que “o valor do rememorar épico [...] é justamente [...] vencer a terrível inconstância dos homens e das coisas” e já que o poeta não fica submetido às inconstâncias dos sentimentos, o mundo revelado tende a ganhar consistência de iden-tidade própria como se existisse independentemente do poeta. O que no lírico seria apenas estados de alma, no épico aparece como acontecimentos, como fatos reais.

Veja o que você vai entender agora sobre o desenrolar progressivo. O texto narrativo traz em sua constituição ações, e uma ação não se faz senão pela conexão com outras. Esse processo se dá necessariamente no tempo. Pouco a pouco os atos se encadeiam e as ações vão sendo mostradas. Note essas estrofes do poema Caramuru:

Canto II

XXXII

Quando Gupeva, manso, e diferente,Do que antes fora na fereza bruta,Convoca a ouvi-lo a multidão fremente,Que à roda estava da profunda gruta:Posto no meio da confusa gente,Que toda dele pende, e atenta escuta:Valentes paiaiás (diz desta sorte)Que herdais o brio da prosápia forte.

Ver glossário no final da Aula

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Teoria da Literatura I

XXXIV

Se ontem, do vil Sergipe surpreendidos,Vimos o grão terreiro posto a saco;Fomos cercados sim, mas não vencidos;Não foi vitória, foi traição de um fraco.Sabia bem por golpes repetidos,Com quanto esforço na peleja ataco;E como sem traição faria nada,Não tendo eu armas, vem com mão armada.

Como resultado desse desenrolar progressivo da ação, ocorre a au-tonomia das partes. Se no lírico vemos uma interrelação forte entre os elementos da composição construindo um universo denso e coeso, no texto épico ocorre uma independência maior das partes. Não que não haja uma perspectiva geral do conjunto; há, sim! Mas as particularidades de cada uma delas têm muita importância e com isso conferem um ar de autonomia, de valor por si mesmas. Se examinarmos o segundo e o terceiro dos dez cantos de Caramuru, chegamos ao seguinte:

Primeiro canto: Naufrágio de Diogo Álvares Correia (chamado pelos índios de Caramuru, que significa “Filho do Trovão”) e seus contatos com Gupeva – o cacique – com quem luta contra o chefe Sergipe.

Segundo canto: Aparece a índia Paraguaçu que se casará com Diogo.Terceiro ao quinto cantos: Exposição da lenda do dilúvio entre os habi-

tantes da selva e combates contra Jararaca, que simpatizava com Paraguaçu. Sexto e sétimo cantos: Diogo e Paraguaçu viajam para a França e se

casam em Paris. Episódio da morte de Moema, amante de Diogo, a qual, inconformada de ver Diogo ir embora com Paraguaçu, lança-se ao mar, tentando acompanhar o navio. Mas, já sem forças para continuar presa ao leme, submerge nas águas.

Cantos oitavo e nono: Retorno à Bahia e visões de Paraguaçu sobre os combates que iam ser travados contra os franceses e os holandeses.

Décimo canto: Chegada de Tomé de Souza – primeiro governador geral.

Em comentários muito sucintos, vimos as características gerais do texto épico e algumas oposições em relação ao texto lírico. No âmbito geral, podemos afirmar que o poeta épico narra ações sempre relacionadas a personagens da nobreza ou que pos-suem uma força de caráter reconhecida socialmente. Mas com a chegada do Cena do filme Caramuru, de Guel Arraes.

Ver glossário no final da Aula

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O gênero épico Aula 7século XVIII, a imitação dos padrões clássicos é posta em questão e novos modelos são adotados.

Na modernidade, o herói é destituído de sua posição de importância, e em seu lugar aparece o anti-herói, o homem vivendo suas lutas no co-tidiano, seus combates para vencer preconceitos, suas façanhas para viver o amor. Vemos, assim, a passagem das narrativas épicas para as narrativas romanescas. Destas novas formas narrativas, algumas podemos conhecer um pouco e é o que faremos na próxima aula.

CONCLUSÃO

Anarrativa épica consiste na existência de uma história con-tada por um narrador. Nessa história existem partes que têm uma independência muito maior do que ocorre no poema lírico, porque o poeta épico parte sempre de perguntas: Quem? Como? Onde? Quando? É o mundo como um cenário a ser observado e relatado, e isso ele faz basicamente através do uso de personagens, espaço e acontecimentos, com o tempo permeando essa estrutura tripartida. Toda essa estrutura é voltada para a apresentação, para a rememoração de acontecimentos. A historicidade é uma constante e a temática tem caráter universal. Embora feito por um sujeito, o texto épico procura a impessoalidade no trato com a história, o mito, a lenda, as realidades do cotidiano etc.

Como conceito geral, pode-se dizer que a epopeia é um texto literário organizado segundo os critérios de uma narrativa em tom grandioso onde são trabalhados acontecimentos pautados em fatos reais, lendários, místicos e com personagens de heróis ou deuses.

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Teoria da Literatura I

RESUMO

• Como você viu durante esta aula, a epopeia é uma narrativa feita em tom grandioso por um narrador que apresenta histórias de personagens moralmente elevadas.• Um texto épico traz a figura do narrador que mantém um distanciamento do mundo narrado, daí a objetividade com que se dá a narrativa.• A essência do épico está na apresentação, porquanto, ao procurar manter um afastamento do mundo narrado, aquele que narra não tem nos próprios sentimentos o elemento principal do texto.• As características principais do texto épico são: a) presença de ação; b) simetria: inalterabilidade de humor do narrador; c) distanciamento: o nar-rador procura apresentar o mundo externo, do lado de fora do seu íntimo, como se ele nada tivesse a ver com o que conta. O que se passa no seu interior não importa; d) desenrolar progressivo: as ações vão se dando sucessivamente, num encadeamento; e) autonomia das partes: cada parte tem uma organização que lhe dá auto-suficiência histórica e estrutural e, portanto, poderia existir por si mesma. Essa capacidade é sua autonomia; f) estilo grandioso: o estilo é grandioso pela escolha do tema, pelo caráter das personagens centrais e pelos recursos linguísticos de que o narrador lança mão na composição do texto.

ATIVIDADES

Vamos supor que você foi convidado pelo seu professor para dar uma aula sobre o gênero épico para seus colegas. Considerando essa hipótese, retome esse texto e selecione também mais um texto sobre o mesmo assunto em algum livro de teoria da literatura. Veja algum que você tem ou recorra à biblioteca. Munido desses textos, prepare um esquema de exposição, lembrando-se de que, como professor, você deve ser didático, ou seja, deve ter um roteiro simples e objetivo para que suas explicações possam se fazer de modo gradativo e claro. Não esqueça que o desejo maior do professor é que seus alunos aprendam de forma mais rápida e mais eficaz, por isso você vai selecionar apenas os pontos mais importantes do assunto.

Uma vez feito seu esquema de exposição, envie ao professor-tutor. Então, mãos à obra!

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O gênero épico Aula 7

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

Você viu que ao gênero épico pertence todo texto literário que relata uma ação. A Ilíada é um grande exemplo de epopeia que envolve combates e feitos heroicos.

PRÓXIMA AULA

Novas formas narrativas lhe serão mostradas na próxima aula.

REFERÊNCIAS

AGUIAR E SILVA, Vítor Manuel. Teoria da literatura. 8 ed. Coimbra: Almedina, 1997.STAIGER, Emil. Conceitos fundamentais da poética. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1975.STALLONI, Yves. Os gêneros literários. Rio de Janeiro: Difel, 2001.TAVARES, Hênio. Teoria literária. 11 ed. Belo Horizonte: Vila Rica Edi-toras Reunidas, 1996.

GLÓSSARIO

Diegese: É um conceito de nar-ratologia, estudos literários, dramatúrgicos e de cinema que diz respeito à dimensão ficcional de uma narrativa. A diegese é a realidade própria da narrativa (“mundo ficcional”, “vida fictícia”), à parte da realidade externa de quem lê (o chamado “mundo real” ou “vida real”). Termo de origem grega divulgado pelos estruturalistas franceses para designar o conjunto de ações que formam uma história narrada segundo certos princípios cronológicos.

Nojosa: Desgostosa, pesarosa.

Taprobana: Ilha do Ceilão, hoje Sri-Lanka, país asiático. Até antes das grandes conquistas marítimas, era o limite do mundo conhecido.

Gupeva: Cacique com quem Diogo Álvares (o Caramuru) se une para lutar contra Sergipe.

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Fereza: Perversidade, crueldade.

Paiaiá: Povo indígena, já extinto, que vivia na costa da Bahia.

Brio: Coragem, valentia, sentimento da própria dignidade.

Prosápia: Raça

Sergipe: Chefe indígena.

Grão: Grande