práticas emergentes em psicologia

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Psicologia social

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  • v. 40, n. 4, pp. 473-477, out./dez. 2009

    Prticas emergentes em psicologia:

    atuao com agentes comunitrios de sadePamela Staliano

    Tereza Cristina Cavalcanti Ferreira de AraujoUniversidade de Braslia

    Braslia, DF, Brasil

    Angela Elizabeth Lapa ColhoUniversidade Catlica Dom Bosco

    Campo Grande, MS, Brasil

    RESUMONas ltimas dcadas, constatam-se iniciativas visando ampliar a atuao em sade pblica, incluindo-se aes de natureza comunitria. Considerando o interesse destas prticas emergentes, realizou-se um levantamento dos Trabalhos de Concluso de Curso (TCCs) sobre intervenes com Agentes Comunitrios de Sade (ACSs), do Municpio de Campo Grande, MS. A anlise apontou que os objetivos norteadores das propostas so sensibilizar para promoo e preveno em sade e estimular troca de experincias. Destacam-se o uso de tcnicas de dinmica de grupo e metodologias participativas. Os temas mais abordados envolvem relacionamento interpessoal, comunicao, auto-estima, desvalorizao profissional, rotina de trabalho, resoluo de conflitos, integrao, estresse, depresso e papel do ACSs. Verificou-se que a insuficincia na comunicao percebida como um fator que compromete a implementao de prticas humanizadas em sade. Tambm foram ressaltados entraves nas relaes interpessoais com supervisores e gerentes e outros ACSs. Sugerem-se levantamentos semelhantes com o propsito de sistematizar e aperfeioar prticas existentes.Palavras-chave: Sade pblica; agente comunitrio de sade; interveno.

    ABSTRACTEmerging practices in psychology: action with community health agentsIn past decades, initiatives have been made focusing on broadening action in public health, including of a community based nature. Taking into account the interest in these emerging practices, a study was made on the Conclusion Work (CW) focusing on Community Health Agents (CHAs) of the City of Campo Grande, MS. Analysis has pointed out that the guiding objectives are: promotion and prevention of health as well as stimulating exchange of experiences. Special importance has been given to the use of group dynamic techniques and participative methodologies. The themes that are more commonly tackled involve interpersonal relationships, communication, self-esteem, professional devaluation, work routines, conflict resolution, integration, stress, depression and the role of CHAs. It has been verified that an insufficiency in communication is commonly perceived as a disturbing factor in the implementation of humanized practices within health. Also, obstacles related to interpersonal relationships with supervisors and managers and other CHAs have been highlighted. It is suggested that similar studies take place with the aim of systematizing and improving the existing practices.Keywords: Public health; community health agent; intervention.

    RESUMENNuevas prcticas en psicologa: accin con agentes comunitarios de saludEn las ltimas dcadas, existen iniciativas para ampliar la labor en materia de salud pblica, incluidas las acciones de la comunidad. Teniendo en cuenta el inters de estas nuevas prcticas, hubo una encuesta de los Trabajos de Terminacin de Curso (TTCs) en las intervenciones con Agentes Comunitarios de Salud (ACSs). El anlisis mostr que los objetivos rectores de las propuestas son para crear conciencia y promover la prevencin en materia de salud y estimular el intercambio de experiencias. Entre ellos la utilizacin de tcnicas de dinmica de grupos y metodologas participativas. Los temas ms discutidos eran las relaciones interpersonales, la comunicacin, la autoestima, la devaluacin de la formacin, el trabajo de rutina, la resolucin de conflictos, la integracin, el estrs, la depresin y el papel de ACSs. Se constat que el fracaso en la comunicacin se percibe como un factor perturbador en la aplicacin de las prcticas en materia de salud humanizada. Tambin se pusieron de relieve los obstculos en las relaciones interpersonales con los superiores y otros ACSs. Las investigaciones sugieren que es similar con el objetivo de sistematizar y mejorar las prcticas existentes.Palabras clave: Salud pblica; agentes comunitarios de salud; intervencin.

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    INTRODUO

    A insero do(a) psiclogo(a) no campo da sade foi impulsionada pelas transformaes sociais e econmicas, intensificadas nas dcadas de 1970 e 1980, que exigiam um novo modo de fazer sade e passaram a orientar as polticas pblicas. De fato, o modelo assistencial-privatista, prprio do paradigma biomdico, mostrava-se cada vez mais insuficiente e deficitrio para enfrentar os problemas de sade e oferecer ateno integral aos cidados (Dimenstein, 1998; Oliveira et al., 2004).

    Nesse contexto de crise e transio conceitual e tcnica, ampliaram-se as expectativas e demandas de participao da Psicologia. Houve expanso do nmero de seus profissionais, sobretudo para composio de equipes multiprofissionais, e assim, muitos psiclogos, antes alheios assistncia pblica, ingressaram nos quadros funcionais do sistema de sade (Dimenstein, 1998; Oliveira et al., 2004).

    Nesse sentido, Spink (2003) comenta critica- mente:

    A psicologia chega tarde neste cenrio e chega mida, tateando, buscando ainda definir seu campo de atuao, sua contribuio terica efetiva e as formas de incorporao do biolgico e do social ao fato psicolgico, procurando abandonar os enfoques centrados em um indivduo abstrato e a-histrico to frequentes na psicologia clnica tradicional (p. 30).

    Assim, um dos desafios da Psicologia na esfera pblica consiste na adequao da atuao profissional desde a formao inicial. Miyazaki et al. (2002) alertam que os cursos de graduao, em sua maioria, no familiarizam seus alunos com as condies especficas do trabalho em sade, o que acarreta a busca por um aprimoramento ps-graduado (especializao, mestrado e doutorado).

    Diante dessas limitaes, prope-se que a grade curricular dos cursos de Psicologia inclua espaos para que a realidade emergente seja problematizada, ao mesmo tempo em que se possam planejar estratgias de insero, de tal maneira que o futuro profissional possa pensar criticamente a realidade social e conscientize-se do seu papel como agente facilitador da promoo da sade e qualidade de vida das comunidades e populaes (Freire e Grandino, 1999).

    Vale lembrar que, na esfera pblica, os profissionais de sade podem direcionar a ateno nos nveis primrio, secundrio e tercirio de atendimento, exercendo inmeras atividades, tais como: avaliao e acompanhamento de usurios (individual e em grupos); delineamento e implementao de programas

    de preveno; ensino, superviso e desenvolvimento de pesquisas. Em geral, o(a) psiclogo(a) realiza essas atividades como membros de equipes multiprofissionais em mltiplos contextos, como por exemplo, ambulatrio, enfermaria, servio de pronto atendimento e emergncia, unidades de terapia intensiva, centro cirrgico, centro de sade escolar, comunidade e instituies de ensino (Miyazaki et al., 2002).

    O(a) psiclogo(a) tambm vem desenvolvendo atividades mais sistemticas em Unidades Bsicas de Sade (UBSs), as quais costumam abranger: atendimento individual; visita domiciliar; interveno grupal com gestantes, portadores de doenas crnicas (diabetes, hipertenso), crianas, adolescentes, egressos de tratamento psiquitrico, cuidadores, familiares de pessoas com dependncia qumica. J no plano institucional esta modalidade de atuao nas UBSs pode incluir: reunio/orientao em equipes do Programa Sade da Famlia ou com Agentes Comunitrios de Sade (ACSs) e reunio de colegiado ou com a equipe geral da unidade (Freitas e Miriani, 2007; Miyazaki et al., 2002; Oliveira et al., 2004).

    Especificamente em relao atuao com os(as) ACSs, o(a) psiclogo(a) visa oferecer subsdios para um exerccio efetivo, o qual reside na interao consistente entre comunidade e servio de sade local, desenvolvendo atividades de preveno e promoo em sade, por meio de aes bsicas de sade, em visitas domiciliares e reunies de grupo (Brasil, 2002; Freitas e Miriani, 2007).

    Cabe esclarecer que o Programa de Agente Comunitrio de Sade (PACS), foi criado em 1991 e teve como meta principal inverter o modelo assistencial brasileiro, caracterizado por aes curativas de alto custo e baixo impacto na melhoria da qualidade de vida da populao. Em 2007, estimativas oficiais indicam que 211 mil ACSs esto cadastrados no territrio brasileiro, favorecendo uma cobertura populacional de 56,8%, o que corresponde a aproximadamente 107 milhes de pessoas (Ministrio da Sade, 20002007).

    Apesar do PACS ter sido criado h quase duas dcadas, a profisso do(a) ACS s foi regulamentada em 2002, pela Lei 10.501 que estabelece: o(a) profissional deve realizar aes bsicas de sade de acordo com seu nvel de competncia por meio de visitas domiciliares, reunies de grupos ou outras modalidades; desenvolver atividades de educao em sade na esfera individual e coletiva, bem como realizar outras atividades pertinentes sua formao; registrar as atividades desenvolvidas e, por ltimo, encaminhar as atividades coordenao municipal do PACS (Brasil, 20002002).

    Mas, em sua prxis, os(as) ACSs se deparam com dificuldades e limites suscitados pela multiplicidade

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    de demandas da comunidade, as quais requerem amplitude e diversidade de conhecimentos e tcnicas. Ao que parece seu treinamento nem sempre propicia as competncias indispensveis reconhecidas at mesmo pelos(as) prprios(as) ACSs (Brasil, 2002; Levy, Matos e Tomita, 2004).

    Partindo dessa perspectiva, pode-se observar duas esferas muito prximas, uma composta pela conquista de novos mbitos de atuao do psiclogo(a), caracterizando as prticas emergentes e outra prpria da institucionalizao do(a) ACS. Enquanto na primeira, preciso se adequar a novas demandas, e para isso h a necessidade de reflexes na formao em Psicologia (Miyazaki et al., 2002; Freire e Grandino, 1999). Na segunda esfera, o(a) ACS precisa de respaldo para desenvolver de maneira otimizada suas atividades, ou seja, atender multiplicidade de questes provenientes da comunidade como apontam Levy, Matos e Tomita (2004). justamente no oferecimento desse auxlio aos ACSs pelos(as) psiclogos(as) que se caracterizam as interprticas, visando um melhor atendimento nos servios de sade.

    Em sntese, considerando, de um lado, a necessidade de conhecer melhor prticas emergentes da Psicologia no mbito da sade pblica, e de outro lado, a preocupao em ampliar a compreenso sobre o trabalho dos(as) ACSs, realizou-se um levantamento analtico dos Trabalhos de Concluso de Curso (TCCs), em Psicologia, de uma universidade da regio Centro-Oeste, que abarcaram estgios curriculares em UBSs.

    MTODO

    Realizou-se uma anlise documental, indicada quando o interesse do pesquisador estudar o proble- ma a partir da expresso dos indivduos, por meio de redaes, dissertaes, testes projetivos, dirios pessoais, cartas, entre outras fontes de dados (Ldke e Andre, 1986).

    Inicialmente, foram identificados os TCCs de- senvolvidos sob o prisma da Psicologia da Sade. Em seguida, selecionaram-se apenas os TCCs que descreviam atividades com os ACSs.

    Tambm foi elaborado um protocolo, organizado em trs eixos principais, visando a categorizao dos TCCs. O material assim coletado foi submetido anlise de contedo e, para tanto, adotaram-se as recomendaes de Franco (2008):

    1. Informaes gerais sobre o trabalho: ttulo, autor, ano e objetivo.

    2. Informaes sobre a UBS: bairro de localizao, tempo da oferta do estgio na UBS, dificuldades e facilidades encontradas e nmero de ACSs participantes.

    3. Caractersticas do trabalho: durao e frequncia do estgio em Psicologia, temas, tcnicas utilizadas e principais recomendaes do estagirio.

    RESULTADOS E DISCUSSO

    Entre 2003 e 2008, foram apresentados 70 TCCs que descreviam atividades desenvolvidas por esta- girios(as) de Psicologia em 9 UBSs, sendo que 29 eram efetivamente voltados para atividades em grupo com ACSs e abrangeram 440 participantes.

    Com a leitura dos TCCs, foi possvel destacar 5 objetivos norteadores das propostas, dentre eles, os mais incidentes foram: sensibilizar os ACSs para a preveno de doenas e promoo da sade nos cuidados com a sade, descrito em 14 trabalhos e, criar espaos onde os ACSs possam trocar experincias e discutir dificuldades, facilitando o desenvolvimento de seu trabalho, relatado em 9 trabalhos. Mas, nas UBSs em que o trabalho era desenvolvido h mais de um ano com o mesmo grupo de ACSs, foram mencionados objetivos mais elaborados, como por exemplo, possibilitar o desenvolvimento do empoderamento individual e profissional dos(as) ACSs.

    A anlise dos TCCs revelou ainda que as atividades realizadas pelos(as) estagirios(as) com os(as) ACSs so de carter grupal, variando quanto durao e frequncia, em funo das condies de cada ano e caractersticas de cada grupo. Assim, foram conduzidos grupos com intervalo semanal (n=20), quinzenal (n=5) e mensal (n=4), com durao de no mnimo 5 e no mximo 23 encontros, com uma mdia de 15 encontros.

    De modo geral, os temas tratados foram propostos pelos(as) prprios(as) ACSs nos primeiros encontros. Assim, ao longo dos seis anos de atuao, foram mais frequentemente abordados: relacionamento interpessoal (n=18), comunicao (n=17), autoestima (n=14), desvalorizao profissional (n=11), rotina de trabalho (n=11), resoluo de conflitos (n=9), autoconhecimento (n=9), integrao (n=8), estresse (n=7), depresso (n=6), papel do ACS (n=6). Nas UBSs, nas quais o trabalho j havia sido realizado no ano anterior, foram repertoriados temas mais elaborados e voltados para a atuao dos(as) ACSs. Provavelmente, em razo da superao de dificuldades de relacionamento e de comunicao e amadurecimento da experincia grupal, os(as) estagirios(as) descreveram em seus TCCs que foi possvel tratar temas como: empoderamento, papel do agente no Sistema nico de Sade (SUS) e na comunidade, tica no trabalho, falta de preparo para uma atuao eficaz, significados atribudos sade e doena, violncia na comunidade, relao familiar.

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    Dentre as temticas mais enfatizadas, interessante explicitar que:

    relacionamento interpessoal: compreende di- ficuldades com supervisores e gerentes das UBSs e integrantes do grupo de ACSs. Tais entraves so percebidos pelos(as) ACSs como fatores que comprometem seu desempenho com a comunidade;

    comunicao: para os(as) ACSs, a falta e a falha na comunicao dificultam prticas humanizadas em sade.

    As tcnicas empregadas pelos(as) estagirios(as) consistiram, basicamente, em grupos operativos, grupos de apoio e grupos focais. Outras metodologias participativas tambm foram adotadas: desenhos, dramatizaes, pinturas, rodas de conversa, oficinas, debates, etc. Tais modalidades de interveno oportunizaram maior envolvimento dos(as) ACSs, favorecendo a troca de experincias. Tcnicas de relaxamento e palestras ministradas por outros profissionais (nutricionistas, mdicos, educadores fsicos, fisioterapeutas) foram utilizadas.

    Essas tcnicas utilizadas pelos(as) alunos(as), tambm vm sendo empregados por psiclogos(as) e outros profissionais da sade que atuam na ateno bsica, como se pode notar no estudo de Campos e Reboreto (2002), com grupos de ACSs do PSF do municpio de Conchas-SP. Neste estudo os autores adotaram procedimentos de investigao e interveno, tais como, tcnicas grupais, vivncias, jogos, textos e casos para discusso e reflexo da prtica profissional, com a finalidade de estudar o movimento grupal e contribuir no seu desenvolvimento, bem como, fortalecer vnculos entre os membros do grupo.

    Constatou-se que, dos 22 TCCs que informaram alguma dificuldade na execuo das propostas, a maioria relata desinformao e incompreenso por parte dos gerentes das UBSs e enfermeiros responsveis pelas equipes de ACSs sobre a atuao do(a) psiclogo(a) em sade pblica de modo geral, no apenas na atuao com os ACSs. Em algumas situaes, solicitou-se inclusive que os(a) estagirios(as) atendessem individualmente os(as) ACSs e alguns usurios da UBS. possvel supor que tais expectativas errneas do papel do(a) psiclogo(a) sejam um reflexo das limitaes ainda existentes na formao do profissional salientadas anteriormente (Freitas e Miriani, 2007; Miyazaki et al., 2002). Certamente, tais percepes compartilhadas pelos demais profissionais de sade tornam mais desafiadora a implantao de novas prticas em Psicologia, redundando em falta de preparo e experincia do profissional dessa rea frente s questes da esfera pblica e comunitria.

    Outra dificuldade bastante evidenciada nos TCCs refere-se falta de infraestrutura para as atividades grupais programadas pelos(as) estagirios(as), uma vez que os cursos, de modo geral, preparam os(as) alunos(as) para que lidem com situaes e usurios ideais, e quando estes se deparam com as situaes reais, muitas vezes, no conseguem reagir e responder efetivamente frustrao. Aqui, cabe um alerta para a reflexo de como as grades curriculares e os professores dos cursos, em especial, de Psicologia, esto orientados para fomentar o posicionamento crtico e estratgias de soluo de problema neste contexto. Aproximadamente 70% delas foram feitas em um Ponto de Apoio (PA), local designado para reunies dos(as) ACSs com a enfermeira responsvel. Em geral, o PA trata-se de associao de moradores, salo de Igreja, centro de mltiplo uso. Assim, tanto as prprias UBSs, quanto o PA, no se mostraram adequados para o tipo de trabalho realizado pelos(as) estagirios(as), foi preciso superar esse outro obstculo de adaptao, para o qual muitas vezes os(as) alunos(as) podem estar pouco preparados.

    Apesar dos relatos de desconforto e frustrao, os(as) estagirios(as) tambm foram capazes de reconhecer aspectos positivos e fatores facilitadores da proposta de atuao com os(as) ACSs. Assim, a maioria comentou o grande interesse dos(as) ACSs em participar, os quais ressaltaram inclusive as poucas oportunidades de aprimoramento oferecidas pela prpria UBSs ou pelas instncias responsveis pelo acompanhamento de seu trabalho.

    importante enfatizar que uma anlise dos TCCs, ao longo dos anos, permitiu verificar que as UBSs que haviam sido contempladas com a atuao dos(as) estagirios(as) de Psicologia, no ano seguinte, gerente, enfermeiros e ACSs mostravam-se mais receptivos e participativos, o que provavelmente pode ser atribudo satisfao com o trabalho realizado, sugerindo disposio para continuidade das aes.

    A categorizao das recomendaes apresentadas ao final dos TCCs evidenciou a importncia da continuidade do programa com os(as) ACSs, visto pelos alunos de Psicologia como estratgia relevante para preveno de doenas e promoo da sade. Enfatizaram, ainda, as contribuies da atuao do(a) psiclogo(a) nas UBSs e particularmente no que concerne capacidade de fomentar a troca de saberes, gerar reflexes e estimular dilogos para o fortalecimento do trabalho dos(as) ACSs e de outros profissionais das UBSs.

    De acordo com os relatos de suas vivncias, os(as) estagirios(as) avaliaram que a interveno grupal contribuiu para um melhor desempenho dos(as) ACSs na comunidade. Esse dado corrobora outros estudos que afirmam o fortalecimento de vnculos entre

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    membros de grupos e aperfeioamento no atendimento da populao com o uso de tcnicas semelhantes (Campos e Reboredo, 2002; Costa-e-Silva, Rivera e Hortale, 2007).

    Sugeriram ainda estratgias de valorizao da profisso do agente, sobretudo em funo de seu papel de articulador entre o cidado, a comunidade e os servios de sade (Bornstein e Stotz, 2008; Morosini, Fonseca e Pereira, 2007).

    CONCLUSES

    Com a caracterizao do perfil dos TCCs apresentados por alunos(as) de Psicologia de uma universidade da regio Centro-Oeste, na rea da sade pblica, foi possvel refletir sobre alguns aspectos da atuao dos(as) estagirios(as), e por conseguinte, enquanto profissionais.

    Os resultados revelam que o papel do(a) psiclogo(a) na sade e sua efetiva contribuio para os servios de sade ainda no esto claros, nem mesmo para outros profissionais da sade, o que se reflete em entraves na consolidao da participao desse profissional em equipes interdisciplinares.

    Em geral, os objetivos que vm norteando as propostas de atuao em Psicologia frente o(a) ACS esto basicamente voltados melhoria das atividades que este profissional desenvolve na comunidade, como a sensibilizao para a preveno de doenas e promoo da sade e possibilidade de criar espaos para a troca de experincia e discutir dificuldades que permeiam o trabalho do(a) ACS.

    Nesse sentido, o levantamento realizado refora a relevncia da atuao em sade pblica e comunitria e indica a necessidade de mais estudos que sistematizem prticas emergentes em Psicologia e possibilitem aperfeioamentos.

    Conhecer melhor o trabalho dos(as) ACSs per- manece como objetivo importante para o setor. Nesse sentido, sugerem-se investigaes sobre a problemti- ca da comunicao, em especial com a adoo de metodologia participativa e observacional.

    REFERNCIAS

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    Recebido em: 11/05/2009. Aceito em: 03/12/2009.

    Autoras:Pamela Staliano Doutoranda do Programa de Ps-Graduao em Processos de Desenvolvimento Humano e Sade da Universidade de Braslia.Tereza Cristina Cavalcanti Ferreira de Araujo Professora da Universidade de Braslia. < [email protected]>.Angela Elizabeth Lapa Colho Professora do Programa de Mestrado em Psi- cologia da Universidade Catlica Dom Bosco. .

    Enviar correspondncia para:Pamela Staliano Av. Afonso Pena, 1557, apto 203, bloco A CentroCEP 79.002-070, Campo Grande, MS, BrasilE-mail: [email protected], [email protected]