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Capítulo 3 Regras e Objetivos: Estratégias Importantes para Influenciar Comportamento Considere um problema vivenciado por Jim Dawson, técnico do time de basquete da Clinton Junior High, em Columbus, Obio. Jim estava preocupado com o desempenho dos jogadores durante uma série de exercícios que utilizava para iniciar cada treino. Havia também um problema de atitude. “Alguns deles simplesmente não são jogadores de equipe”, refletiu Jim, no início da temporada. “Alguns deles realmente têm uma atitude ruim”. Com a ajuda do Dr. Daryl Siedentop, da Ohio State (Jniversity , o técnico Dawson desenvolveu um sistema motivacional no qual os jogadores poderiam ganhar pontos por realizar exercícios de ataque, de arremesso e de lances livres, no treino diário (Siedentop, 1980). Além disso, podiam ganhar pontos por serem “jogadores de equipe”, o que significava encorajar os companheiros de equipe com “comentários de apoio”. Eram deduzidos pontos, caso o técnico Dawson visse uma falta de “garra” ou “atitude ruim”. Esses pontos eram registrados por estudantes voluntários. Tudo isso foi explicado aos jogadores, em detalhes. No final de cada treino, o técnico informava aos jogadores a respeito dos pontos ganhos e elogiava aqueles que conseguiam muitos pontos e/ou mais pontos do que no treino anterior. Além disso, os jogadores que conseguiam determinado número de pontos tinham seus nomes afixados num local visível, no quadro Eagle Effort, no corredor que levava ao ginásio de esportes, e recebiam o prêmio Eagle Effort, durante um jantar no final da temporada. No geral, o sistema foi muito eficaz. O desempenho nos exercícios de ataque melhorou de uma média de 68 %, antes do sistema, para uma média de 80%. O desempenho nos arremessos melhorou de 37% para 51%. Os lances livres, nos treinos, melhoraram de 59% para 67%. No entanto, a melhora mais dramática foi na categoria de “jogador de equipe”: o número de comentários de incentivo aumentou rapidamente, a ponto dos voluntários não conseguirem registrá-los. Apesar de inicialmente alguns dos comentários parecerem bastante “forçados”, tornaram-se progressivamente sinceros no decorrer das sessões. Perto do final çla temporada, os jogadores apresentavam comportamentos de boa atitude, numa quantidade notável e, segundo o técnico Dawson, “Estávamos mais unidos do que eu jamais pudera imaginar”. 35

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Consultoria Em Psicologia Do Esporte, Orientações Práticas Em Análise Do Comportamento

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  • Captulo 3Regras e Objetivos: Estratgias

    Importantes para Influenciar Comportamento

    Considere um problem a vivenciado por Jim Dawson, tcnico do time de basquete da Clinton Junior High, em Columbus, Obio. Jim estava preocupado com o desempenho dos jogadores durante uma srie de exerccios que utilizava para iniciar cada treino. Havia tambm um problema de atitude. Alguns deles sim plesmente no so jogadores de equipe , refletiu Jim, no incio da temporada. Alguns deles realm ente tm uma atitude ruim.

    Com a ajuda do Dr. Daryl Siedentop, da Ohio State (Jniversity, o tcnico Dawson desenvolveu um sistem a motivacional no qual os jogadores poderiam ganhar pontos por realizar exerccios de ataque, de arremesso e de lances livres, no treino dirio (Siedentop, 1980). Alm disso, podiam ganhar pontos por serem jogadores de equipe, o que significava encorajar os companheiros de equipe com comentrios de apoio . Eram deduzidos pontos, caso o tcnico Dawson visse um a falta de garra ou atitude ruim . Esses pontos eram registrados por estudantes voluntrios. Tudo isso foi explicado aos jogadores, em detalhes. No final de cada treino, o tcnico inform ava aos jogadores a respeito dos pontos ganhos e elogiava aqueles que conseguiam muitos pontos e/ou mais pontos do que no treino anterior. A lm disso, os jogadores que conseguiam determ inado nmero de pontos tinham seus nomes afixados num local visvel, no quadro Eagle Effort, no corredor que levava ao ginsio de esportes, e recebiam o prmio Eagle Effort, durante um jantar no final da temporada. No geral, o sistem a foi muito eficaz. O desempenho nos exerccios de ataque melhorou de um a mdia de 68%, antes do sistema, para um a m dia de 80%. O desempenho nos arremessos melhorou de 37% para 51%. Os lances livres, nos treinos, melhoraram de 59% para 67%. No entanto, a melhora mais dramtica foi na categoria de jogador de equipe : o nmero de comentrios de incentivo aumentou rapidamente, a ponto dos voluntrios no conseguirem registr-los. Apesar de inicialmente alguns dos comentrios parecerem bastante forados, tornaram-se progressivam ente sinceros no decorrer das sesses. Perto do final la temporada, os jogadores apresentavam comportamentos de boa atitude, numa quantidade notvel e, segundo o tcnico Dawson, Estvam os mais unidos do que eu jam ais pudera im aginar.

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    Superficialmente, isso parece uma aplicao bem sucedida do reforamento positivo. M as uma anlise cuidadosa sugere que era preciso que houvesse algo mais. Os pontos no eram concedidos at o final de cada treino, e o prmio Eagle Effort dem orava ainda mais a ser atingido. M as voc pode recordar, do capitulo anterior, que os reforos positivos afetam diretamente os comportamentos que os precedem em at 30 segundos. Estava claro que este no era um exemplo do efeito de ao direta do reforamento positivo. Para com preender completam ente os princpios responsveis pela melhora do comportamento, voc precisa conhecer o comportamento governado por regras e o estabelecim ento de objetivos,

    Comportamento Governado por Regras

    N a psicologia com portamental, um a re g ra uma afirmao de que um comportamento especfico ter bons resultados numa determ inada situao. Quando ram os bebs, as regras no tinham significado para ns. M as, m edida que adquirimos a linguagem, aprendemos que seguir regras freqentem ente levava a reforos (p. ex.: Se voc arrumar seu quarto, poder assistir TV ) ou permitia-nos evitar eventos punitivos (p. ex.: Se voc no fizer suas tarefas de casa, ter que ficar at mais tarde na escola.). Assim, uma regra funciona como um SD, uma deixa de que a emisso do comportamento especificado pela regra levar ao reforo estabelecido na regra (ou uma deixa de que no seguir a regra levar a um evento punitivo) (M artin e Pear, 1996).

    s vezes, as regras identificam claram ente os reforos ou eventos punitivos associados ao seu cumprimento, como ilustrado nos exemplos acima. Em outros casos, as conseqncias esto implcitas. Caso o tcnico principal, durante um treino, chame o assistente com um tom de voz entusiasmado: Puxa! V enha ver isto!, o com portamento de ir at o tcnico principal provavelmente perm itir ao assistente ver algo interessante. Os reforos tambm esto im plcitos nas regras colocadas na form a de conselho. Por exemplo: o conselho Voc tem que assistir esse filme; voc vai adorar, sugere que faz-lo ser divertido. Por outro lado, regras dadas na form a de comando ou ameaa sugerem que o no- cumprimento ser punido. Por exemplo, o comando dado por um tcnico de futebol durante um treino: Quero todo mundo correndo pelo campo. Ai de vocs, se eu pegar algum se arrastando!, sugere que no correr levar a algo desagradvel (tal como correr voltas extras aps o treino).

    Regras que no identificam todos os trs aspectos (antecedente, comportamento e conseqncia) de uma situao de reforamento podem ser chamadas de regras parciais. Os exemplos das regras parciais, no pargrafo anterior, se concentram no comportamento. Outras regras parciais identificam o antecedente (p. ex.: rea fora dos limites no golfe), enquanto o comportamento (atirar a bola fora dos limites)

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  • Captulo 3 Regras e Objetivos: listraigias Importantes para influenciar Comportamento

    e as consequncias (penalidade em uma jogada e a bola deve ser batida a partir do local original) esto implcitas. Hm outros casos, as regras parciais identificam as conseqncias (p. ex., 1H prmio: $ 200.000), enquanto os antecedentes (o nosso torneio de golfe) e o comportamento (jogar golfe melhor do que os outros competidores) esto implcitos, Em razo de nossas diferentes experincias de aprendizagem, as regras parciais tambm controlam nosso comportamento.

    Comportamento Governado por Regras versus Aprendido pelas Contingncias

    Suponha que Pedrinho cochiche alguma coisa para sua irm ao assistir m issa com seus pais. A irm de Pedro o ignora (e sua me aperta sua mo com fora), e Pedro tem m enor probabilidade de cochichar comentrios jocosos na igreja. Agora, suponha que Pedrinho cochiche comentrios engraados para seus companheiros do time dente de leite de hquei, enquanto o tcnico est tentando explicar como executar uma jogada. Os companheiros de Pedro do risada, e seu com portam ento de cochichar fortalecido nesse contexto. Nestes exemplos, nos referiramos ao cochichar de Pedro como comportamento aprendido pelas contingncias comportamento que foi fortalecido (ou enfraquecido), em determ inados cenrios, devido ao efeito de ao direta das conseqncias, nesses cenrios. Suponhamos, agora, que o tcnico de Pedro, querendo reduzir seu cochicho perturbador, diga ao menino no incio de um treino: Se voc ouvir com ateno e no cochichar quando eu estiver falando com o time, teremos 5 minutos extra de jogo livre no final do treino. Durante o treino, Pedro repete a regra para si mesmo, com freqncia, passa todo o treino sem cochichar, e ele e o time ganham o reforo. Neste exemplo, ouvir o tcnico com ateno, sem cochichar, seria chamado de comportamento governado por regras com portam ento que controlado pelo enunciado de uma regra.

    O com portam ento aprendido pelas contingncias envolve conseqncias imediatas e, tipicam ente, fortalecido aos poucos, atravs de tentativa e erro. No caso do cochicho de Pedro, por exemplo, seu comportamento, inicialmente, ficou sob o controle de seus colegas de time, que serviram como SDs, durante vrias repeties onde houve reforo imediato para o cochicho. O com portamento reduziu-se gradualm ente na igreja, na presena de sua irm e de seus pais, que serviam como S Es, em virtude de vrias ocorrncias de extino. O com portamento governado por regras, por outro lado, muitas vezes envolve reforos atrasados e, com freqncia, leva a uma mudana im ediata de comportamento. Quando o tcnico de Pedro lhe deu uma regra a respeito de cochichar nos treinos, seu com portamento melhorou imediatamente. No foram necessrias algumas tentativas para dem onstrar evidncia de controle de estmulo, ainda que o reforo por seguir a regra fosse adiado at o final do treino.

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    O conhecimento a respeito do com portamento governado por regras nos perm ite explicar aplicaes que envolvem reforos, nas quais estes so bastante atrasados aps a ocorrncia dos com portam entos crticos, tal como no caso do program a de pontos do tcnico Dawson nos treinos de basquete. Uma vez que s eram concedidos aos jogadores no final do treino, os pontos estavam consideravelm ente atrasados em relao a vrios comportamentos (tal como o melhor percentual de arrem essos) que haviam ocorrido anteriormente naquele treino, Assim, o desempenho melhor no se devia aos efeitos de ao direta dos pontos, como reforos condicionados. Hm vez disso, os jogadores provavelm ente ensaiavam verbalm ente as regras durante os treinos, como: Se eu fizer mais arremessos, ganharei mais pontos , e essa auto-afirmao provavelmente exerceu controle governado por regras sobre a melhora do desempenho.

    Por que as Regras Controlam nosso Comportamento?

    O comportamento governado por regras to comum na maioria de ns que nos quase impossvel imaginar qualquer pessoa respondendo, unicamente, com base no comportamento aprendido pelas contingncias. No incio de nossas vidas, no entanto, nosso comportamento operante foi inteiramente aprendido pelas contingncias. Por exemplo, a maioria dos pais usa o procedimento de modelagem para ensinar seus filhos a falar, Quando um beb comea a balbuciar, os pais geralmente reforam o comportamento com abraos e sorrisos. Pas que falam portugus tm probabilidade de ser especialmente atentos aos sons mmm e paa!>. Quando essas crianas eventualmente dizem M ama e Papa, essas aproximaes so fortemente reforadas. Em um estgio posterior, o reforamento dado depois que a criana diz mame e papai . O mesmo processo ocorre com outras palavras. E, embora esta descrio esteja supersimplificando a maneira como uma criana aprende a falar, ela ilustra a importncia do efeito direto do reforamento no processo pelo qual crianas normais gradualmente progridem do balbuciar para a fala infantil c, finalmente, para falar de acordo com as convenes sociais existentes. A medida que nossas habilidades verbais melhoram, aprendemos a seguir regras (Hayes, 1989; Skinner, 1957, 1969).

    E fcil com preender por que as pessoas aprendem a seguir regras que descrevem conseqncias de ao direta. Seguir a regra Experim ente esta sobremesa, est deliciosa , ser reforado imediatam ente pelo sabor da sobremesa. No seguir a regra Espere alguns minutos antes de beber seu caf; ele est extremamente quente, provavelm ente levar a uma punio bastante imediata. M as por que seguimos regras que identificam conseqncias muito atrasadas? H vrias possibilidades (M artin e Pear, 1996). Primeiro: em bora o reforo identificado numa regra possa ser atrasado para um indivduo, outras pessoas podem fornecer

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  • Captulo 3 Regras e Objetivos: Estratgias Importantes para Influenciar Comportamento

    consequncias imediatas caso o indivduo siga (ou no siga) a regra. N o exemplo do tcnico que forneceu a regra para Pedro, a respeito da possibilidade de ganhar mais tempo de jogo livre se escutasse com ateno, o tcnico talvez tenha dito, tambm, aps uma ocorrncia de ficar escutando em silncio por parte de Pedro: M uito bem. Continue assim e teremos jogos a mais no fim do treino.

    Segundo: um indivduo pode seguir uma regra e, ento, imediatamente fazer afirmaes reforadoras para si prprio, No caso de Pedro, por exemplo, depois de seguir a regra que serviu de S D para escutar atentamente as instrues do tcnico, ele pode ter pensado consigo mesmo: O jogo extra vai ser divertido. Alternativamente, no seguir a regra pode levar autopunio. Suponha, por exemplo, que um indivduo tome a resoluo de se exercitar antes do jantar, todas as noites. Se* ao chegar em casa vindo do trabalho, o indivduo se senta em frente ao aparelho de TV, em vez de se exercitar, ele pode pensar: No seja to moleiro. M antenha o seu plano; levante e faa exerccio! (Note que, enquanto essa auto-afirm ao pode servir de punio condicionada por sentar-se em frente ao aparelho de TV, sem se exercitar, tambm pode conter os ingredientes de uma nova regra: Se eu me exercitar, no serei um moleiro,)

    Uma terceira possibilidade que nossa histria de aprendizagem relacionada a emoes (discutidas em mais detalhes no Captulo 4) seja tal, que seguir regras seja automaticamente fortalecido e deixar de faz-lo seja automaticamente punido. Suponha, por exemplo, que uma estudante estabelea a seguinte regra para si mesma: melhor comear a estudar meu texto de psicologia do esporte agora ou irei mal na prova amanh. Talvez, devido sua histria de ser punida por deixar de cumprir compromissos, tal afirmao possa eliciar certa ansiedade. Quando ela comea a estudar, sua ansiedade decresce, e seu comportamento de seguir de regras mantido por condicionamento de fuga, Colocado de forma mais geral, um prazo que se aproxima faz com que a pessoa se sinta ansiosq., e responder de maneira a cum prir o prazo faz, ento, com que a pessoa se sinta mito melhor.

    Situaes em que as Regras so Especialmente teis

    Para que o reforam ento positivo aumente o comportamento de um indivduo, no necessrio que o indivduo esteja consciente disso ou indique uma com preenso sobre o porqu de ter sido reforado (Greenspoon, 1951), Afinal de contas, o princpio dem onstrou funcionar bastante eficazmente com animais que no falam (ao menos no em linguagem humana). No entanto, a adio, aos programas de reforamento, de instrues na form a de regras aum entar a eficincia de tais programas nas seguintes situaes (Baldwn e Baldwin, 1986; Skinner, 1969, 1974):

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    Quando uma mudana rpida dc comportamento e desejada. O uso correto das regras pode produzir m udana de comportamento muito mais rapidamente do que a modelagem ou encadeam ento ou experincias de tentativa e erro com reforamento e extino (M artin e Pear, 1996). Considere, por exemplo, o caso de uma jovem patinadora que fica extremamente nervosa logo antes de sua apresentao, em uma com petio importante. Conversando com seu psiclogo de esporte, a patinadora expressa suas preocupaes: Tom ara que eu no caia no giro duplo, Tom ara que eu no fique em ltimo lugar. E se eu no patinar bem ? Como o psiclogo de esporte pode ajudar a patinadora? Ele pode pedir patinadora para repetir, para si mesma, frases como: No ca em nenhum de meus saltos no treino e vou conseguir fazer o mesmo aqui, Vou me concentrar nas coisas que fao quando estou patinando bem, e vou fazer uma coisa de cada vez, Vou sorrir, me divertir e agradar os ju izes, e assim por diante. Neste exemplo, o psiclogo, essencialm ente, est tirando proveito do controle governado por regras. Basicam ente, a patinadora estava recebendo uma regra (i.e., Se eu me concentrar nas coisas em que penso quando estou patinando bem nos treinos, ento passarei, sem cair, por todos os pontos de minha coreografia, exatamente como fao no treino), Ensaiar a regra pode ajudar a patinadora a se concentrar nas deixas que norm alm ente lhe permitem saltar sem cair, em vez de se preocupar com o cair. (A afirmao da regra pode funcionar tambm como um estmulo condicionado para eliciar os sentimentos de relaxamento que eram tpicos dos treinos, como descrito no Captulo 4.)

    Quando as conseqncias que podem ser fornecidas para um comportamento so excessivamente atrasadas para refor-lo diretamente.No caso de Pedro, descrito anteriormente, o tcnico queria reduzir seus cochichos durante os treinos. O tcnico achou que perm itir mais tempo de jogo livre poderia ser um reforador adequado. M as jogar no final do treino estava consideravelm ente distante da escuta atenta de Pedro, anteriormente, durante o treino. Acrescentando uma regra: Se voc ouvir atentamente e no cochichar todas as vezes que estou falando com o time, teremos 5 minutos a mais de jogo no final do treino , o tcnico aumentou as chances do reforo atrasado ter um efeito de ao indireta sobre o com portamento desejado.

    Quando yoc quiser manter um comportamento para o qual os reforos naturais so imediatos, mas altamente intermitentes. Suponha que uma patinadora est aprendendo vrios saltos novos. Quando um salto novo termina sem queda, a patinadora se sente muito bem (i.e., o reforamento imediato), mas possvel que ela consiga isso apenas uma vez a cada dez ou quinze tentativas. Em outras palavras, o esquema de reforamento altamente intermitente. O tcnico pode aumentar a persistncia da patinadora, encorajando-a a ensaiar a regra: Seja persistente! Na prxima vez que tentar o salto, talvez o consiga.

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  • Captulo 3 Regras e Objetivos: Estratgias Importantes para Influenciar Comportamento

    Quando um comportamento especfico levar a um evento punitivo imediato e severo. As regras podem ajudar as pessoas a aprender comportamento adequado em situaes em que aprender s pela experincia pode ser extrem am ente custoso. No hquei no gelo, por exemplo, caso um jogador toque agressivam ente ou empurre um rbitro, o jogador pode ser expulso do jogo e receber uma suspenso longa, A maioria dos jogadores de hquei aprendem muito cedo a seguir a regra: Nunca toque num rbitro .

    Regras Eficazes e Ineficazes

    Na seo precedente, descrevi diversas situaes em que o uso de regras pode influenciar o desempenho esportivo, Muitos exemplos adicionais so apresentados no Captulo 5, que apresenta roteiros para ajudar os atletas a usarem a autoconversao para melhorar seu desempenho. Mas, para ser maximamente eficaz na ajuda aos atletas com sua autoconversao, vantajoso compreender quatro condies que afetam a probabilidade do comportamento de seguir regras.

    Comportamento especfico versus comportamento vago. A especificidade da descrio do comportamento, contida numa regra, pode afetar a probabilidade de a regra ser seguida. Uma vez que uma regra descreve o reforamento adequado para seu cumprimento, a regia que descreve comportamento de maneira vaga tem menor probabilidade de ser seguida do que uma regra que descreve um comportamento especfico. Dizer a patinadores jovens, por exemplo, que se tornaro patinadores melhores caso se esforcem nos treinos menos eficaz do que dizer-lhes: Se voc tentar completar pelo menos 60 saltos e giros, durante cada treino de 45 minutos, se tornar uma patinadora melhor do que se fizer menos do que isso.

    Conseqncias provveis versus improvveis. As regras tm probabilidade de ser seguidas caso identifiquem comportamento para o qual as conseqncias sejam altam ente provveis, ainda que possam ser atrasadas. Se eu disser a meu filho adolescente: Se voc cortar a grama na segunda-feira, lhe darei $ 10,00 no sbado , pode apostar que ele cortar a grama na segunda-feira. Ele sabe por experincias passadas, que, se eu lhe digo que pode ganhar $ 10,00 por cortar a grama na segunda-feira, manterei minha palavra. Por outro lado, as regras tm probabilidade de ser ineficazes caso descrevam conseqncias pouco provveis, ainda que essas conseqncias fossem imediatas, caso ocorressem (M allott, 1989, 1992). Para ilustrar este ponto, considere que a maioria das pessoas sabe que usar um colete salva-vidas ao praticar canoagem pode salvar suas vidas. E a maioria das pessoas sabe que usar um capacete ao patinar sobre rodas pode evitar leses cerebrais no caso de um acidente srio. Assim, por que tantas pessoas vo fazer canoagem sem colete salva-vidas ou patinar sem capacete? Uma das razes (que no envolve, necessariamente, regras) pode ser que o

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    comportamento seguro, desejado era tais casos, leva a punies razoavelmente imediatas (p. ex.: o colete salva-vidas e o capacete so quentes e desconfortveis). Outra razo que tais regras (i.e., usar um colete salva-vidas durante a canoagem e um capacete ao patinar com rodas) envolvem conseqncias de baixa probabilidade. M uitas pessoas j praticaram canoagem sem que a canoa jam ais tenha virado. E o patinador sabe que um acidente de patinao, grave o suficiente para causar leso cerebral, pouco provvel. No estou sugerindo que as regras no deveriam ser usadas em tais situaes. O patinador pode ser encorajado a repetir, antes de patinar: Se usar meu capacete posso evitar a possibilidade de uma leso cerebral sria. M as, para que um a regra seja eficaz, quando descreve conseqncias improvveis, talvez tenha que ser com plem entada por estratgias adicionais de controle de comportamento, tais como m odelao (ver Captulo 2), auto-monitoramento (ver Captulo 11) ou contrato com portam ental (ver Captulo 11).

    C onseqncias considerveis versus conseqncias pequenas, m as cum ula tivam en te significativas. As regras que descrevem conseqncias considerveis tm maior probabilidade de ser efetivas. No exemplo citado acima, envolvendo $ 10,00 para cortar a grama, $ 10,00 eram um a conseqncia considervel para uma adolescente, No entanto, uma regra tem m enor probabilidade de ser eficaz se a conseqncia for pequena, aps cada ocorrncia do com portamento de seguir regras, ainda que tais conseqncias, cumulativamente, possam ser significativas. Suponha, por exemplo, que um indivduo resolva: Vou parar de comer sobremesas e Vou me exercitar trs vezes por sem ana . Por que essas regras muitas vezes no so eficazes? Um a das razes (que no envolve, necessariamente, regras) que existem conseqncias de ao direta q u e . do apoio a um comportamento incompatvel com o cumprimento da regra. Com er uma sobremesa reforado imediatam ente pelo sabor delicioso. E exercitar-se com freqncia envolve punies bastante imediatas (sentir calor, transpirar e ficar cansado). Uma segunda razo para que essas regras no sejam efetivas que as conseqncias de uma nica ocorrncia do cum prim ento das mesmas so pequenas demais para se notar, tendo um a importncia apenas cum ulativa (M allott, 1989, 1992). Isto c, com cr uma nica sobremesa no cria problem as srios de sade; tais problemas ocorrem devido ao consumo de sobremesas extras em muitas ocasies. Da mesma forma, exercitar- se numa nica ocasio tem pouca probabilidade de produzir um benefcio observvel. o acmulo dos benefcios de exercitar-se com freqncia que, eventualmente, notado. As regras que descrevem conseqncias pequenas, que so prejudiciais ou benficas apenas depois de acumuladas (e que, portanto, ocorrem apenas aps um longo atraso espera), tm maior probabilidade de ser ineficazes, a no ser que sejam complementadas por estratgias adicionais de autocontrole, tais como modelao (ver Captulo 2), automonitoramento (ver Captulo 11) e contrato comportamental (ver Captulo 11).

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  • Captulo 3 Regras e Objetivos: Estratgias importantes para influenciar Comportamento

    prazos. Suponha que um instrutor de natao diga a um grupo de crianas, na piscina: Se vocs guardarem todo o equipamento, lhes trarei um chocolate na prxima semana . E provvel que as crianas guardem o equipamento, com um reforo to distante? E se o instrutor disser s crianas: Se vocs guardarem todo o equipamento imediatamente, trarei um chocolate na prxima semana . Ser que especificar imediatamente faria alguma diferena? Surpreendentemente, sim. Braam e M allott (1990) descobriram que, com crianas pequenas, regras para realizar um comportamento, sem prazo e com um atraso de uma semana no reforo, eram relativamente ineficazes, enquanto que regras para realizar comportamento com um prazo e um atraso de uma semana no reforo eram bastante eficientes. Aprendemos muito cedo que cumprir prazos tem probabilidade de ser reforado e que deixar de cumpri-los leva a aborrecimentos.

    Resumindo, regras que descrevem prazos para um comportamento especfico, que levar a resultados considerveis e provveis, com freqncia so eficazes, mesmo quando os resultados so atrasados. Por outro lado, regras que descrevem o comportamento vagamente, no identificam um prazo para o comportamento e que levam a conseqncias pequenas ou improvveis so, muitas vezes, ineficazes.

    Resumo das Diretrizes para o Uso Eficaz de Regras

    Aqui esto algumas diretrizes para o uso eficaz de regras (M artin e Pear, 1996):

    1. As regras devem estar ao alcance da compreenso do indivduo ao qual se aplicam,

    2. As regras devem identificar claramente:a) as circunstncias sob as quais o comportamento deve ocorrer;b) o com portam ento especfico que o indivduo deve realizar;c) um prazo para realizar o comportamento;d) as conseqncias especficas envolvidas no cumprimento das regras;e) as conseqncias especficas do no cumprimento das regras.

    3. As regras devem descrever resultados provveis e considerveis, em vez de resultados improvveis e pequenos. (Regras que descrevem conseqncias improvveis e/ou pequenas devem ser suplementadas com estratgias adicionais de controle com portamental, descritas no Captulo 11).

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    Objetivos

    No esporte, nos ltimos vinte anos, os programas de estabelecim ento de objetivos levaram a melhorias em reas tais como: numero de voltas completadas numa corrida; lances livres no basquete; saques no tnis e preciso no arco e flecha (Locke e Latham, 1990). Em geral, um objetivo descreve um n veL de j' desempenho em direo ao qual um indivduo ou um grupo devem Jxabalh ar. 1 j Colocado de form a diferente, um objetivo identifica ou envolve, tipicamente, comportamento especfico a ser realizado, as circunstncias sob as quais o comportamento deve ocorrer e as conseqncias do comportamento. Assim, de uma perspectiva com portamental, um objetivo uma regra. Por exemplo, se um jogador de basquete diz: Vou treinar lances livres at conseguir fazer 10 em seqncia, esse jogador identificou as circunstncias (treinar um lance livre), o comportamento (fazer 10 em seqncia) e, embora o reforo no esteja explcito, certamente est implcito (ento eu serei um jogador de basquete melhor e provavelmente marcarei maior percentagem de lances de falta, nos jogos). E, assim como o uso de regras, o estabelecim ento de objetivo muitas vezes aplicado para levar os atletas a melhorar seu desempenho, quando os reforos so atrasados (p. ex.: um jogador de basquete pode estabelecer objetivos de treinar antes dos testes de seleo para o time, mas a lista de jogadores selecionados pode dem orar vrios dias, depois do final dos testes) ou so imediatos, mas muito intermitentes (o jogador de basquete, inicialmente, talvez acerte apenas um em cada vinte lances livres).

    Estabelecimento Eficaz e Ineficaz de Objetivos

    A eficcia do estabelecim ento de objetivos, como estratgia de m elhora de desempenho, est bem comprovada, desde que uma srie de condies sejam atendidas (Locke e Latham, 1990; W einberg, Stitcher e Richardson, 1994).

    O bjetivos especficos so m ais eficientes do que objetivos vagos. Em vez de umobjetivo de ter um relacionamento melhor, por exemplo, um par de patinadores poderia concordar em dizer um ao outro, diariamente, pelo menos trs coisas que apreciam no outro e concentrar-se no que querem fazer, em vez de naquilo que no querem fazer em seu relacionamento. Outro exemplo: seria mais eficiente, para um corredor de meia distncia, estabelecer um objetivo de treinar o suficiente para correr 1000 metros. 20 segundos mais rapidamente do que o seu melhor tempo atual, do que estabelecer um objetivo de ser mais rpido .

    Objetivos relacionados ao aprendizado de habilidades especficas devem incluir critrios de proficincia. Um critrio de proficincia um roteiro

    ' especfico para realizar uma habilidade, de maneira que, caso seja seguido, a

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  • Captulo 3 Regras e Objetivos: Estratgias Importantes para Influenciar Comportamento

    habilidade provavelmente ser dominada. Isso significa que, caso o atleta tenha atingido o critrio de proficincia, dominou a habilidade suficientemente, de maneira que, se lhe pedirem para realiz-la posteriormente, a habilidade provavelmente seria realizada da forma correta. Um pressuposto relacionado a esse que, se o atleta conseguiu um critrio de proficincia durante os treinos, h grande probabilidade de que a habilidade seja executada corretamente durante uma competio. Exemplos de critrios de proficincia poderiam incluir: fazer seis putts de 4 ps, em seqncia, no golfe; bater 10 esquerdas paralelas seguidas, no tnis; converter 10 lances livres seguidos, no basquete; ou bater 5 bolas curvas seguidas, do meio do campo, no beisebol. Em outras palavras, os objetivos devem identificar determinada quantidade, nvel ou padro de desempenho.

    Os objetivos devem identificar as circunstncias ein que o comportamento desejado deve ocorrer. Para um lutador, um objetivo de praticar derrubar o oponente um tanto vago. Um objetivo de derrubar o oponente com um golpe de brao at que isso ocorra trs vezes em seqncia acrescenta uma dimenso de quantidade, Um objetivo de derrubar o oponente com um golpe de brao, at que isso ocorra trs vezes em seqncia, contra um oponente que oferece uma resistncia m oderada identifica as circunstncias envolvidas no desempenho.

    Objetivos realistas e desafiadores so mais eficientes do que objetivos tipo faa o melhor que puder. A frase Faa o melhor que puder muitas vezes dita a jovens atletas por tcnicos ou pais, logo antes de uma competio. Vrios estudos, no entanto, dem onstraram que objetivos tipo faa o melhor que puder no so to eficazes para melhorar o desempenho quanto os objetivos especficos. Talvez sejam ineficazes por serem vagos. Ou, talvez, os indivduos instrudos a sim plesmente fazer o melhor que puderem estabeleam objetivos relativamente fceis e, como sugerido por Locke e Latham (1990), objetivos difceis ou desafiadores podem produzir um desempenho melhor do que objetivos moderados ou fceis. Ou atletas jovens que esto com eando a com petir talvez interpretem o conselho do tcnico para fazer o melhor que puder como tendo o significado de: Tenho que fazer o melhor que j fiz em toda a m inha vida , e isso pode lev-los a sentir uma presso e uma tenso desnecessrias, podendo prejudicar seu desempenho. Ou, talvez, aqueles que identificam um objetivo especfico para um indivduo tenham maior probabilidade de fornecer, consistentemente, reforos de troca por atingir o objetivo, do que um objetivo de simplesmente fazer o melhor que puder . Isto , de uma perspectiva comportamental, se o objetivo for especfico, no haver duvidas sobre o mesmo ter sido atingido ou no. Se o objetivo for fazer o melhor que puder, no entanto, a pessoa que fornece os reforos de troca talvez nem sempre concorde que voc fez o melhor que podia, tendo assim menor probabilidade de reforar seu comportamento em tais situaes.

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  • Consultaria e/n Psicologia do Esporte

    O fato de se estar estabelecendo objetivos para um treino ou para o perodo que antecede uma competio um fator a ser considerado ao se tentar avaliar se um objetivo desafiador ou no. Para os treinos, os atletas devem ser encorajados a desafiar a si mesmos a apresentar alguma melhora em relao ao seu melhor desempenho anterior. Por exemplo: uma patinadora que aprendeu recentem ente a fazer um giro duplo e teve xito em uma de cada trs tentativas nos treinos poderia estabelecer um objetivo de realizar com xito duas tentativas em trs no prximo treino. M as, logo antes de uma competio, o estabelecim ento de objetivos desafiadores talvez no seja a melhor estratgia, dependendo do esporte, Na patinao artstica, por exemplo, totalmente irreal esperar que um patinador realize, num a competio, um salto que nunca realizou num treino. Caso uma patinadora seja capaz de patinar to bem na competio quanto vinha fazendo nas duas semanas que a antecederam, ento esse seria considerado um desempenho muito bem-sucedido, O estabelecim ento de objetivos realsticos, para competies, discutido em detalhe no Captulo 14.

    Objetivos pblicos geralmente so mais eficazes do que os objetivos privados.Em muitas reas da modificao de comportamento, os objetivos pblicos demonstraram ser mais eficazes do que os objetivos privados. Considere, por exemplo, o seguinte experimento realizado com trs grupos de estudantes que receberam, todos eles, o mesmo livreto de material para estudar. O primeiro grupo de estudantes participou de um programa de estabelecimento de objetivos pblicos. Cada estudante estabeleceu um objetivo referente quantidade de estudo e nota que esperava tirar no teste (a ser realizado no final do programa) sobre o material estudado. Cada um desses estudantes anunciou seus objetivos a outros membros de seu grupo. O segundo grupo de estudantes fez um estabelecimento de objetivos privados. Foram tratados como o primeiro grupo, mas mantiveram seus objetivos para si prprios e no contaram a ningum a respeito dos mesmos. O terceiro grupo de estudantes no foi solicitado a estabelecer objetivos. Era um grupo de controle que simplesmente recebeu o material para estudar, durante o mesmo perodo de tempo que os dois primeiros grupos, sabendo que fariam um teste no final do experimento. Os resultados: o grupo com objetivos pblicos teve notas 17% mais altas, em mdia, do que os outros dois grupos, que tiveram desempenhos aproximadamente iguais (Hayes et al., 1985). Hayes e colaboradores teorizaram que o estabelecimento de um objetivo pblico fornece um padro pblico em relao ao qual o desempenho pode ser avaliado e que isso implica em conseqncias sociais ao se atingir ou no o objetivo.

    At o momento no foram divulgados estudos bem controlados a respeito do estabelecimento de objetivos pblicos versus privados, no esporte. Em trs estudos que examinaram estratgias privadas de autocontrole para melhorar o desempenho dos treinos, num contexto esportivo, possvel que o estabelecimento de objetivos privados estivesse envolvido. Critchfield e Vargas (1991) descobriram que o auto- registro privado da quantidade de piscinas nadadas pelos membros de um time de

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  • Captulo 3 Regras e Objetivos: Estratgias Importantes para Influenciar Comportamento

    jovens nadadores melhorou o desempenho, quando comparado a uma condio de instruo apenas, mesmo quando foram tomadas medidas para limitar a modelao e outras influncias sociais sobre o desempenho. Wolko, Hrycaiko e M artin (1993) apresentaram resultados positivos com um procedimento de autocontrole privado para melhorar o desempenho de jovens ginastas durante os treinos. Os ginastas foram ensinados a estabelecer objetivos para cada treino, fazer um auto-registro e grficos do progresso nos treinos, oferecendo-se uma recompensa caso atingissem seus objetivos de treino. Campbell e Martin (1987), no entanto, descobriram que o estabelecimento de objetivos privados, juntamente com uma condio de a u t o monitoramento privado, no melhorou o desempenho de jovens tenistas durante os treinos, quando comparado a condies de treinamento padro. Mais uma vez, quero enfatizar que nenhum desses estudos comparou explicitamente apenas o estabelecimento de objetivos pblicos e privados para influenciar o desempenho. Outros componentes, como auto monitoramento, tambm estavam envolvidos.

    O estabelecimento de objetivos c mais eficaz quando esto includos prazos.Todos temos uma histria de sermos reforados por cum prir variados prazos e de encontrarmos aversividade quando prazos no so cumpridos. Utilizar essa histria aum enta a eficcia do estabelecim ento de objetivos (M artin e Pear, 1996). Suponha, por exemplo, que um patinador estabelea um objetivo de acrescentar um novo salto triplo ao seu programa, durante a prxim a temporada. Objetivos mais prximos podem incluir realizar apenas o salto triplo com xito nos treinos, at o final da primavera; fazer esse salto, aps patinar toda a coreografia no treino, at o final do vero; e realizar o salto durante o programa, numa com petio, at o segundo ms da temporada de outono.

    O estabelecimento de objetivos com feedback mais eficaz do que o estabelecimento de objetivos apenas. H maior probabilidade dos objetivos serem alcanados, caso o feedback indique um grau de progresso em direo a eles. Uma form a de fornecer feedback registrar em grfico o progresso que foi feito. Os indivduos que registram seu progresso em direo a um objetivo tm probabilidade de achar que as melhoras mostradas pelo grfico so reforadoras.

    O estabelecimento de objetivos mais eficaz quando os indivduos se comprometem com esses objetivos. Os objetivos tm probabilidade de ser eficazes apenas quando h um compromisso contnuo para com os mesmos, por parte dos indivduos envolvidos. Numa perspectiva com portamental, compromisso se refere a afirmaes ou aes, por parte da pessoa que estabelece o objetivo, de que o objetivo importante, que se esforar para alcan-lo e que reconhece os benefcios envolvidos em faz-lo.

    Pesquisadores da rea do autocontrole identificaram vrias estratgias para ajudar os indivduos a manter forte o seu compromisso. Primeiro: tornar pblico

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  • Consultoria cm Psicologia do Esporte

    o compromisso de se esforar em direo a objetivos especficos aumenta a quantidade de pessoas que podem lem brar o interessado de manter o programa, o que aum enta as chances de sucesso (Hayes et al., 1985; Shelton & Levy, 1981). Segundo: um atleta pode ser encorajado a reorganizar seu ambiente para que fornea lembretes freqentes sobre seu compromisso com o objetivo (W atson e Tharp, 1989). Exemplos disso incluem escrever os prprios objetivos em cartes e afix-los em locais visveis, tais como a porta da geladeira ou o painel do carro, e utilizar fotografias, de m aneira criativa, para lembrar os objetivos. Terceiro: pode-se rever freqentem ente os benefcios associados aos objetivos. Quarto: como os indivduos sem dvida se deparam com tentaes de desistir de seu objetivo, devem planejar antecipadam ente vrias formas de lidar com essas tentaes (p, ex.: ver M artin e Pear, 1996),

    Roteiro Resumido para o Estabelecimento de Objetivos

    Claramente, existem algumas formas de estabelecer objetivos que so mais eficazes do que outras para influenciar o comportamento. Se, por exemplo, um objetivo vago, sem prazo para ser cumprido e sem mecanismo &fee-dback para m onitorar o progresso, ento no provvel que influencie o comportamento. Se, por outro lado, voc utilizar o estabelecim ento de objetivos de acordo com o roteiro abaixo, ento ele pode ser uma estratgia eficaz de modificao de comportamento (M artin e Pear, 1996).

    1. Estabelea objetivos que sejam especficos, realistas e desafiadores,a. Se o objetivo envolve a aprendizagem de uma habilidade, ento deve ser

    includo um critrio de proficincia.b. Os objetivos para os treinos devem incluir algum elemento que ultrapasse

    as possibilidades atuais do indivduo, enquanto que os objetivos para competio devem estar dentro do mbito do desempenho ideal do indivduo nos treinos, principalm ente no caso dc esportes como patinao artstica, ginstica, saltos ornamentais e golfe.

    2. Devem ser identificadas as circunstncias sob as quais o comportamento (que leva ao objetivo) deve ocorrer.

    3. Deve haver conseqncias especficas no caso de se atingir o objetivo, ou no.

    4. Objetivos muito distantes devem ser subdivididos em vrios objetivos mais prximos.

    5. Caso o objetivo seja com plexo, o processo deve incluir um plano de ao para alcan-lo.

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  • 6 , Deve haver prazos para alcanar o objetivo.

    7 , Os indivduos envolvidos no estabelecimento de objetivos devem dem onstrar um compromisso srio com os mesmos.

    8, Deve haver um sistem a para o monitoramento do progresso em direo aos objetivos.

    9, Deve ser fornecido feedback positivo, medida que se progride em direo aos objetivos.

    Questes para Estudo

    1. Uma regra um SD? Por qu?

    2. D exemplos (diferentes dos do texto), no esporte, de regras parciais que:

    a) identificam apenas o antecedenteb) identificam apenas o comportamentoc) identificam apenas a(s) conseqincia(s)Em cada um dos casos, identifique os componentes implcitos da regra.

    3. Defina com portam ento aprendido pelas contingncias e d um exemplo, no esporte, que no seja do texto.

    4. Defina com portam ento governado por regras e d um exemplo, no esporte, que no seja do texto,

    5. Descreva duas diferenas tpicas entre comportamento aprendido pelas contingncias e governado por regras.

    6 . Identifique quatro situaes em que as regras so teis. D um exemplo de cada, no esporte, diferente dos do texto.

    7. D trs explicaes plausveis sobre o porqu de aprendermos a seguir regras que tm conseqncias atrasadas.

    8 . Por que a m aioria das pessoas no usa capacete ao andar de bicicleta, apesar de que faz-lo poderia evitar leses cerebrais num acidente grave?

    9. Por que, para muitas pessoas, a regra Vou me alimentar de maneira mais saudvel e perder peso to difcil de seguir?

    10. Em poucas sentenas, diferencie regras que muitas vezes so eficazes versus aquelas que muitas vezes so ineficazes no controle do comportamento.

    11. Num a perspectiva comportamental, um objetivo pode ser considerado uma regra. Explique essa afirmao com referncia a um exemplo no esporte.

    12. Relacione 8 afirmaes que resumam o estabelecimento eficaz de objetivos.

    Captulo 3 Regras e Objetivos: Estratgias Importantes para Influenciar Comportamento

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  • 13. O qu um critrio de proficincia? D um exemplo, no esporte, que no esteja no livro.

    14. Usando uma sentena para cada uma, relacione quatro razes que podem explicar por que objetivos desafiadores tm maior probabilidade de ser mais eficazes do que objetivos tipo faa o melhor que puder .

    15. De uma perspectiva com portamental, explique por que alcanar objetivos especficos pode ser mais consistentem ente reforado do que alcanar objetivos tipo faa o m elhor que puder.

    16. De acordo com Hayes e colegas, por que o estabelecim ento de objetivos pblicos tem probabilidade de ser mais eficaz do que o estabelecim ento de objetivos privados?

    17. De uma perspectiva comportamental, qual o significado de compromisso no contexto do estabelecim ento de objetivos? Ilustre com um exemplo da rea do esporte.

    18. Relacione quatro estratgias para ajudar um indivduo a m anter o compromisso de alcanar objetivos especficos.

    Consultoria em Psicologia do Esporte

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  • Captulo 5O Pensamento e o Desempenho

    Esportivo

    Tente o seguinte exerccio. Feche os olhos e imagine que voc est sentado(a) numa cadeira de praia, no seu jardim , num dia de vero. Imagine que voc olha para cim a e v um cu claro e azul e algumas poucas nuvens brancas e fofas. Provavelmente voc pode imaginar o cu azul e as nuvens com tanta clareza que consegue enxergar as cores. Um tipo de pensamento envolve im aginar coisas ue j foram vividas, imaginar to vividamente que quase parecem reais. Agora, considere um tipo diferente de pensamento. Voc est dirigindo numa estrada que lhe muito fam iliar e voc est sozinho. Voc com ea a pensar numa discusso que teve com algumas pessoas no trabalho. Ao reviver a discusso, subitamente voc percebe que esteve falando em voz alta por alguns segundos (talvez voc at d uma olhada para ver se outros motoristas esto vendo voc falar sozinho). C onversaes que temos com ns mesmos so outra form a de

    42e*isaim.QJA fim de ajudar os atletas a fazer seus pensamentos trabalharem em seu benefcio, til com preender muito bem esses diferentes tipos de pensamento. Vamos consider-los em maior detalhe.

    Pensamentos como Imagens Mentais

    Todos ns, em algum momento, j tivemos a experincia de pensar com imagens e no com palavras. E ter uma boa capacidade de imaginar pode ser um trao valioso. A lbert Einstein, por exemplo, atribua os seus sucessos sua capacidade de pensar em form a de imagens. Pessoas que se saem bem em testes de criatividade tambm tendem a.ter uma boa imaginao (Shaw e Belmore, 1983). E muitos atletas de sucesso aprenderam a imaginar aspectos especficos de seu desempenho, em considervel detalhe, antes de agir. Jack Nicklaus, por exemplo, atribua muito do seu sucesso sua capacidade de formar um quadro mental de uma jogada de golfe logo antes de bater na bola (Nicklaus, 1974).

    Como aprendem os a pensar em forma de imagens? Uma parte da explicao i3Q

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    p ro v a v d m e A l .jd ^ jseu sistema visual, de_maneira~q.u

  • Captulo 5 O Pensamento e o Desempenho Esportivo

    levantando o brao esquerdo at a altura do ombro, tentando recapturar as sensaes como se realm ente estivesse executando esse ato, voc provavelmente seria capaz de faz-lo. Presum ivelm ente, esse comportamento operante encoberto -semelhante, em termos de suas variveis controladoras, ao comportamento de publicam ente mover seu brao at essa posio (Skinner, 1953). Em bora seja provvel que existam diferenas individuais considerveis na clareza com que as pessoas conseguem se imaginar executando as vrias habilidades que aprenderam, a capacidade de faz-lo extremamente valorizada por atletas de alto nvel (Orlick e Partington, 1988).

    Ensaio Mental

    Antes que os atletas possam usar a imaginao para melhorar o desempenho esportivo, precisam se tom ar hbeis em ensaio mental. O ensaio m ental ou treino inental^refe];-se.,ao processo de imaginar-se e sentir-se desempenhando ^Uia atividade.. Um ensaio mental, caso seja realizado como recom endado por especialistas em treinamento de imaginao para atletas (Smith, 1987; Vealey e W alter, 1993), provavelm ente incluir tanto a imaginao respondente como a imaginao operante. Considere, por exemplo, uma golfista imaginando a si mesma executando uma jogada de golfe. Em primeiro lugar, ela poderia se imaginar vivcnciando as deixas proprioceptivas ao assumir a postura adequada dos joelhos, etc. para a posio de bater na bola (imaginao operante); poderia imaginar que v a extrem idade do taco atrs da bola (imaginao respondente); poderia recordar as sensaes do backswing adequado (imaginao operante) e assim por diante. C^ensaijg...ruantajjdeye envolver todos os sentidos normalmente utilizados ao se executar realm ente a habilidade que est sendo mentalmente ensaiada.

    Roteiro para o ensino do ensaio mental. Os psiclogos do esporte geralmente recomendam que o prim eiro passo, ao ensinar os atletas sobre o ensaio mental,

    / e ja ajud-los a relaxar (Gould e. Damarjian, 1996; Smith, 1987). Uma reviso das pesquisas sobre o uso do ensaio mental em situaes de com petio descobriu que procedim entos que com binavam relaxamento e imaginao eram, em geral, superiores a quaisquer dos dois, isoladamente (Greenspan e Feltz, 1989). No entanto, a recom endao de se incluir o relaxamento nos procedim entos de ensaio mental no tem sido unnime (Murphy, 1994). A principal razo para se encorajar os atletas a relaxar, antes de iniciar o ensaio mental, para aum entar a probabilidade de que eles sejam responsivos s deixas que podem ser vivenciadas durante o ensaio mental. Se uma pessoa est ansiosa ou excitada, difcil para ela im aginar todas as deixas e sensaes normalmente vivenciadas ao se executar uma habilidade.

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  • . .. Estando em estado de relaxam ento, o atleta ceve recebei; deu enquanto que encorajar os atletas a imaginar que esto assistindo ao seu prprio desem penho chamado freqentem ente de imaginao externa. Pesquisas para tentar avaliar qual dos dois tipos de imaginao mais bem sucedido tiveram resultados ambguos, fazendo com que alguns pesquisadores recomendem que os atletas adotem, flexivelmente, o treinamento em ambas as estratgias (Gould e Demarjian, 1996), ou que se sintam livres para escolher a estratgia que melhor lhes convier (Hall et al., 1994). Na perspectiva da^anlise comportamental, os dois tipos de i m agina o de ve m s e r . .u til Hades. Os atletas devem - sr" "encorajados a sentir-se em ao (i.e., imaginao operante). Adicionalm ente, o sentido da viso deve ser envolvido durante o ensaio mental, mas os atletas devem ver aquilo que normalmente vem durante a ao, em vez de ver a si mesmos. Um a patinadora artstica, por exemplo, poderia imaginar que est vendo o pblico e os juizes, logo antes de ensaiar m entalm ente a sua apresentao. Um golfista poderia imaginar que est olhando para a bola de golfe e vendo a grama, logo antes de ensaiar mentalmente a tacada.

    )Aps o ensaio mental de uma habilidade, poderiam ser feitas vrias perguntas aos atletas para determ inar se o ensaio mental foi realista. Poder-se-ia perguntar ao atleta, por exemplo: No que voc se concentra ao executar essa habilidade? No que voc estava concentrado durante o seu ensaio mental? Que sensaes fsicas voc sentiu? O que voc imaginou que estava vendo? A sensao era como se voc estivesse realm ente executando a habilidade? As respostas do atleta provavelm ente permitiro que voc faa sugestes adicionais para ajudar a tornar o ensaio mental mais sem elhante ao evento real.

    Consultoria em Psicologia do Esporte

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  • Captula 5 O Pensamento c o Desempenho Esportivo

    Diversas instrues adicionais foram recomendadas para ensinar atletas a usar o ensaio mental (M oritz, Hall, M artin e Vadocz, 1996; Orlick, como mostrado cm Botterill, 1988; Smith, 1987)Os^atletas_devem comear a praticar esses exerccios de imaginao com habilidades que j executem ben^Pi habilidade ou evento imaginado deve aproxim ar-se do ritmo ou velocidade do desempenho

    teaX Devem tentar os exerccios de imaginao com habilidades mais avanadas apenas depois de pratic-los com habilidades mais ia c e is ^ b s atle.Uis devem sempre im aginar que. esto sendo bem sucedidos ao executar un"ui habililade. Os profissionais sugerem que a capacidade dc usar a imaginao pode ser desenvolvida consideravelm ente, devotando-se 10 a 15 minutos por dia a praticar com sucesso a imaginao.

    Imagens Mentais para Melhorar o Desempenho nos Treinos

    0 _ensaio meiital visto por muitas pessoas como uma ferram enta valiosa para melhorar o desempenho, esportivo. Numa pesquisa com 235 atletas olmpicos canadenses, 99% declararam utilizar o ensaio mental para m elhorai^ seu desempenho (Orlick e Partington, 1988). No entanto, devemos ser cautelosos ao defender o ensaio mental como tcnica de melhoria de desempenho. Digo isso por vrias razes. Em primeiro lugar, em oposio s Mgestes dos prim eiros defensores do ensaio mental (p. ex., Richardson, 1967j^esJudos m ajx icen tes indicam que o ensaio mental com binado com o treino fsico no mais eficaz para a aprendizagem de novas habilidades do que a mesma quantidade de treino fs icv ap en al (Feltz, Landers e Becker, 1988; Hird, Landers, Thomas e Horan, 1991 v ^ eg im d o j pjQuos dos estudm . sobre os efeitos do treino..mental sobre a aquisio de ...habilidades .Ibram realizados com a aprendizagem de habilidades esportivas reais por parte dos atletas, em contextos de campo em que so tipicamente ensinadas (Isaac, 1992). Em vez disso, a maicjga dos estudos utilizou tarefas novas empregadas em ambiente de laboratrio. Terceiro: quando os atletas esto ensaiando mentalmente uma determinada tarefa, poderiam, estar ensaiando tam bm regras que exeram controle de estmulo sobre o melhor lesempenho esportivo, e essa ltima possibilidade poderia ser a razo da melhora do desempenho observada aps utilizaes de ensaio mental (o controle

    'governado por regras sobre o com portamento foi discutido no captulo anterior). Essa possibilidade no foi avaliada em estudos de pesquisa sobre o trbino mental, sendo preciso ter cautela em recomendar uma tcnica sem uma com preenso slida dos mecanismos subjacentes sua eficcia.

    I No-M-d-v-ida-d que o treino fsico de um a.habilidade mais eficaz do que o/ tremo mental da mesma. No entanto, h algumas condies sob as quais o ensaio

    mental poderia m elhorar o desempenho. Utilizaremos os princpios do

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  • Consultoria em Psicologia do Exporte

    condicionamento operante e respondente para ajudar a com preender essas condies e utiliz-las para m elhorar o desempenho de atletas.

    Procedimento para Viso Condicionada

    Muitos NS (palavras cu azul)Pareamentos US (cu azul real para o qual a pessoa

    est olhando) UR (ver o azul)

    Resultado do Procedimento

    CS (palavras cu azul) CR (ver o azul)

    Nota: NS = estmulo neutroUS = estmulo incondicionadoUR = resposta incondicionadaCS = estm ulo condicionadoCR = resposta condicionada

    F IG U R A 5.1. Um exemplo de viso condicionada.

    Uso da imaginao para dar energia antes dos treinos. Atletas dedicados devotam centenas de horas prtica de habilidades esportivas. Portanto, possvel que, no incio de alguns treinamentos, um atleta se sinta aptico ou esteja de mau humor, provavelmente preferindo estar em outra parte. Os atletas de: alto nvel indiaram.que muitas, vezes usam a imaginao para se energizar antes dos treinos. Quando estava de mau humor imediatamente antes de um treino, um jovem patinador artstico, por exemplo, imaginava o dinheiro que receberia em contratos se ganhasse um campeorfato mundial. Pensar em utilizar o dinheiro para comprar um apartamento na Flrida, outro em Aspen e viajar com os amigos eliciava sentimentos prazerosos que deixavam o patinador num bom estado de nimo. Outra patinadora artstica poderia imaginar que estivesse no treino final antes de competir no campeonato nacional. Um jogador de hquei poderia imaginar que ainda haveria mais um treino antes da final do campeonato ou poderia visualizar um determinado adversrio que enfrentar no jogo de abertura.

    Revises mentais imediatas para aprender as sensaes das habilidades executadas corretamente. Caso um .a tle ta seja incapaz de_xecutar_jum a determ inada ao, ele ser incapaz de im aginar-ossentim entos adequados e as sensaes cinestscas (ou m emria muscular) para essa habilidade. Mas, desde que uma habilidade tenha sido executada corretamente por um atleta, algumas

    74

  • Ca plula 5 O Pensamento e o Desempenho Esportivo

    vezes, o ensaio mental pode ser usado para aumentar a consistncia do atleta em 'executar corretam ente essa habilidade (Felts e Landers, 1983). Em meu trabalho com jovens patinadores artsticos, por exemplo, sugiro a eles que utilizem repeties mentais instantneas para ajud-los a aprender a memria muscular \(^ para um novo salto. Um a repetio mental instantnea uma estratgia de ensaio mental para aprender as sensaes de uma habilidade executada corretamente. Logo depois que uma habilidade fi executada corretamente, um atleta poderia usar alguns segundos para ensaiar m entalmente a habilidade, tentando sentir tudo exatamente da mesma m aneira que sentiu quando a habilidade estava sendo executada. Os patinadores foram instrudos como segue:

    1. Escolha um salto que esteja treinando. Deve ser um que voc j conseguiu realizar algumas vezes, mas que ainda no est muito consistente. Na prxim a vez que voc realizar esse salto no treino e sentir que foi bom, patine im ediatam ente at a beirada da pista.

    2. De p na lateral da pista, respire profundam ente algum as vezes, feche os olhos e tente imaginar como se sentiu ao term inar de realizar aquele salto.Em outras palavras, reviva o salto em sua mente. Mas imagine que realiza o salto trs vezes em seqncia e, em cada vez, concentre-se numa parte diferente do mesmo, como segue:

    a) Na prim eira vez que o imaginar, pense em como se sentiu durante a entrada para o salto. Pense em seu equilbrio, ombros e posio das mos e pernas, quando estava entrando no salto e preparando-se para saltar.

    b) Na segunda vez que se imaginar executando esse salto, pense na decolagem. Como se sentiu ao unir os braos e pernas? Suas costas estavam eretas e sua cabea erguida?

    c) N a terceira vez que pensar sobre o salto, concentre-se na aterrissagem. Voc flexionou o joelho e utilizou a perna livre e os braos para corrigir a rotao?

    3. Depois de imaginar as diferentes partes do salto, nas trs repeties mentais instantneas descritas acima, use alguns segundos e d um a olhada ao redor do rinque. Agora, feche os olhos e tente imaginar o salto mais uma vez. Desta vez, no se preocupe com determ inada parte dele, apenas tente sentir- se executando o salto na velocidade com que ele realmente ocorreu.

    Num estudo com 17 patinadores que participaram de um program a de psicologia do esporte, foi solicitado aos patinadores que avaliassem uma srie de com ponentes do programa, dentro de uma escala de 5 pontos em que 1 significava N o, 5 significava Sim e 3 significava Um Pouco . Em relao

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  • Consultoria em Psicologia do Esporte.

    a uma pergunta referente ao uso da imaginao nos treinos, para m elhorar os saltos, os patinadores lhe deram um a avaliao m dia de 3,8, quanto utilidade (M artin e Toogood, no prelo),A principal razo para recom endar que os atletas pratiquem urri ensaio com imagens, imediatam ente depois de executar corretam ente uma habilidade, -qu&, mais fcil .para o atleta recapturar a sensao de faz-lo corretam ente logo depois da execuo da habilidade, em vez de algum tempo depois, E ser capaz de ensaiar uma habilidade mentalmente, de m aneira correta, poder ento ser utilizado para m elhorar o desempenho nos treinos (Feltz e Landers, 1983) e em competies (como descrito mais adiante).

    Uso da imaginao, antes de executar uma habilidade anteriormente aprendida, para aumentar a probabilidade de execut-la corretamente. Emmuitos esportes, como patinao artstica, saltos ornamentais e ginstica, o objetivo do atleta ter um desempenho impecvel diante dos juizes. Para isso, 14m objetivo tpico chegar ao ponto em que as rotinas possam ser executadas perfeitam ente nos treinos, na prim eira tentativa,. Para aumentar a probabilidade de que isso venha a ocorrer, um patinador artstico poderia ensaiar m entalm ente um determ inado salto, antes de tent-lo, a fim de vivenciar a sensao adequada. A atleta dos saltos ornamentais e m edalha de ouro nas Olimpadas, Sylvia Bernier, ensaiava mentalm ente seus mergulhos, antes de execut-los nos treinos. A campe mundial de nado sincronizado, Carolyn W aldo, ensaiava mentalmente os movimentos artsticos difceis, antes de execut-los 11a piscina durante os treinos. M uitos atletas de alto nvel utilizam o ensaio mental de unia habilidade aprendida anteriorm ente, antes de execut-la nos treinos, a fim de aum entar a probabilidade de execut-la corretam ente na prim eira tentativa (para outros exemplos, ver Botterill, 1988).

    Visualizao para simular o ambiente competitivo (para promover a generalizao para a competio). Obviamente, o principal objetivo de um atleta, depois de um treinam ento considervel, ter um desempenho bem sucedido numa com petio. Quanto niais sem elhante p. ambiente de treino for, em relao ^ao^.ambient competitivo, maior a probabilidade de que os bons desempenhos sejam generalizados dos treinos para as competies. No Captulo12, discuto formas de planejar fisicam ente as condies dos treinos para simular as condies de competio. Uma alternativa que os atletas usem a im aginao para visualizar um ambiente com petitivo durante um treino e, depois, tentem um desempenho bem sucedido nesse treino. Suponha, por exemplo, que o primeiro buraco de um golfista, durante um torneio, tenha um canal de gua estreito esquerda e rvores direita. Enquanto faz algumas jogadas de treino, antes de dar a tacada inicial partindo do tee, 0 jogador poderia imaginai' que est de p junto ao prim eiro buraco, olhando para 0 canal. Poderia visualizar onde est a gua, esquerda, e a aparncia das rvores, direita. O golfista poderia ento repassar a rotina que norm alm ente precede a suas jogadas, treinando bater a bola

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  • por sobre a parte central desse canal imaginrio. O uso da imaginao para simular condies com petitivas durante os treinos discutido mais detalhadamente no Captulo 12.

    O termo .visualizao s vezes utilizado de maneira intercambivel corruensaio mental, No entanto, como visualizao tem maior probabilidade de ser interpretado por muitas pessoas como se referindo imaginao visual, deve se Restringir a situaes em que o uso da imaginao visual (em oposio experincia de sensaes cinestsicas)o .principal objetivo.

    Imagens Mentais para Melhorar o Desempenho Competitivo

    H vrias formas, que muitos atletas extrem am ente bem sucedidos relataram, de utilizar imagens mentais para m elhorar seus desempenhos em competies. Trs possibilidades so descritas abaixo.

    Uso de im agens p a ra co n tro le em ocional. No captulo anterior, descrevi como os efit^pulos .- q u e u - j^ e a d o s _ o r r r. ^ causadores de emoo passam a eliiar es&as mesmas. e.mopes., atravs de condicionamento pavloviano. Suponha, por exemplo, que uma criana estique o brao para tocar urri cachorro grande no mesmo momento que esse cachorro late muito alto, o que assusta a criana. Em funo do pareamento do latido alto com a viso do cachorro grande, a simples viso do cachorro grande pode passar a causar sensaes de medo (batim entos cardacos acelerados, choro, tremor, etc.) na criana. Como nossas em oes ficam sob o controle de vrios estmulos e cornq nossas imagens desses estm ulos so sim ilares aos estm ulos em si, podem os-invocar imagens desses estm ulos para eliciar vrias emoes. Agora, a simples idia de um cachorro grande provavelm ente far a criana sentir medo. Como mais um exemplo, pense na ltima vez em que voc ficou realm ente furioso ao discutir com algum. Tente im aginar onde estava, quem estava l, o que foi dito, as expresses no rosto da pessoa e como voc se sentiu naquela situao. Enquanto revive a cena, est com eando a se sentir zangado novamente? Se im aginar uma situao anterior em que vivenciou uma emoo forte, as imagens provavelm ente faro com que voc vivencie novam ente parte daquela emoo.

    Considere agora um exemplo no esporte. Suponha que um golfista est de p sobre um putt crucial de 4 ps, num green rpido, com um declive ngreme. Olhando para o putt, o golfista percebe que a bola poderia, com facilidade, rolar 6 ps alm, caso perca o putt. Essa imagem tem probabilidade de eliciar sentimentos de nervosism o e tenso, que podem interferir na suave tacada de putting que o jogador precisa executar. Por outro lado, ao olhar para a bola, o

    Captulo 5 O Pensamento e o Desempenho Esportivo

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    golfista poderia imaginar o percurso da bola ao rolar lentamente em direo ao buraco e poderia ver a concluso do putt. Essas imagens tm maior probabilidade de eliciar sentim entos bem diferentes. A mensagem b vi sLaqui^ gue o golfisla deve usar a imaginao para imaginar resultados positivos*para~as jogadas, a fim de eliciar emoes que t.m maior probabilidade de. apoiprar. a._ execuo adequada, em vez de im aginar resultados negativos, que provvel mente eliciariam emoes que prejudicariam o desempenho.

    Ensaio mental de uma habilidade logo antes de execut-la. Jack Nicklaus tem o melhor recorde entre todos os jogadores nos torneios principais. Ele sugeriu que o sucesso em qualquer jogada no golfe depende 10% da tcnica, 40% da preparao (p, ex.: seleo do taco para uma determinada jogada, etc.) e 50% do ensaio mental da forma adequada para a jogada (Nicklaus, 1974), Logicamente, no sabemos se as percentagens identificam precisamente os determinantes de seu sucesso. No entanto, sabemos que, durante uma rodada tpica, Nicklaus dizia que ensaiava mentalmente cada tacada, antes de execut-la. Primeiro, ele imaginava o pontoai vo onde queria que a bola casse (i.e,, imaginao respondente). Depois, visualizava o arco da bola atravessando o ar para aterrissar haquele ponto-alvo (novamente, imaginao respondente), A seguir, ele se imaginava executando o giro necessrio para produzir uma tacada que daria bola esse determinado padro de vo. Ao imaginar-se executando o giro, imaginava como se sentia durante a preparao, no backswing, no acompanhamento, na transferncia de peso e assim por diante (i.e,, imaginao respondente). Em outras palavras, no imaginava mentalmente a forma como outra pessoa poderia v-lo de fora; imaginava como se sentia internamente ao executar a jogada.

    M uitos atletas altam ente bem sucedidos aprenderam a ensaiar mentalmente, em considervel detalhe, aspectos especficos do desempenho, logo antes de execut-lo. Um patinador artstico provavelmente faz um ensaio mental de toda uma apresentao, durante os ltimos quinze minutos antes de competir. Um jogador de hquei no gelo poderia se visualizar numa variedade de situaes de jogo, antes de vestir seus equipam entos em dia de jogo. Poderia visualizar situaes no campo, tentando se sentir defendendo e criando um contra-ataque, vencendo uma disputa por um disco perdido, etc. Um jogador de basquete, logo antes de um jogo, poderia ensaiar mentalmente a execuo bem sucedida de um a ttica defensiva contra um adversrio (p. ex., ver Kandall, Hrycaiko, M artin e Kendall, 1990). Centenas de atletas recomendam o ensaio mental como uma tcnica eficaz para ajud-los a se preparar para competir utilizando m elhor sua capacidade (Orlick e Partington, 1988).

    Por que o ensaio mental de uma habilidade bem treinada, logo antes de uma competio, aum enta a probabilidade de essa habilidade ser executada de maneira ideal? A imaginao pode ajudar a recordar as sensaes cinestsicas associadas a um desempenho qualificado. Isso, presumivelmente, aumenta a

  • Captulo 5 O Pensamento e o Desempenho Esportivo

    probabilidade de se voltar a ter essas sensaes ao tentar executar a habilidade corretamente. Eis aqui um exemplo. Suponha que uma jogadora de golfe esteja prestes a dar a tacada inicial a partir do tee, num buraco muito difcil, num campo onde joga com freqncia. Se bater para a direita, a bola sair do limite.O desejo de bat-la para a esquerda faz com que encurte a preparao, exagere num movimento de fora para dentro (para uma pessoa destra), batendo de forma que a bola term ine onde a golfista no gostaria direita, com problemas. Imagine, agora, a prxim a vez em que a golfista for jogar nesse buraco. Que pensamentos provavelm ente estaro em sua cabea logo antes do teel Provavelmente a memria de sua ltim a jogada nesse buraco, quando ficou com problemas na direita. M as, logicamente, no essa a memria que ela quer. Uma soluo? A jogadora poderia pensar na ltim a vez em que fez um a grande jogada com o taco que est usando agora. Poderia visualizar o buraco e sentir a preparao que fez, imaginar sua colocao, o ritmo e a sensao de uma batida suave com excelente resultado. Agora, poderia se preparar e fazer a jogada, num buraco difcil, com essa imagem em mente. Desta forma, est usando o ensaio mental para recordar os sentimentos e a memria m uscular de uma jogada bem sucedida com esse mesmo taco. Um a segunda explicao para os benefcios do ensaio mental de uma habilidade, logo antes de executar essa habilidade numa competio, que o ensaio mental poderia ajudar a minimizar as distraes. \W

    Uso de im agens p a r a a ju d a r a e lim in a r d istraes. Imediatamente antes de um atleta entrar em ao, as distraes podem ser especialmente perturbadoras para o desem penho qualificado. Coisas como tentativas de manipulao psicolgica por parte dos adversrios, preocupao a respeito de um desempenho inferior, preocupao com o que os outros vo dizer quando um atleta perde etc., j destruram muitos atletas. O ensaio mental de uma habilidade, logo antes de execut-la numa com petio, poderia ajudar a minimizar as distraes. O atleta que est ensaiando m entalmente um determinado desempenho tem menor probabilidade de ter pensam entos negativos que possam causar excesso de nervosismo e tenso, prejudicando o desempenho. Colocado de maneira diferente, um atleta que est ensaiando mentalmente uma habilidade est concentrado naquilo que quer fazer, em vez de se preocupar com o que no fazer,o que um dos com ponentes da autoconfiana (como discutido mais detalhadam ente no Captulo 13).

    Pensamento como Autoconversao

    Voc j viu uma criana de 3 ou 4 anos brincando sozinha? provvel que voc tenha observado a criana falando alto, sozinha, enquanto brinca. Agora, vou colocar meu caminho aqui, a criana poderia dizer enquanto brinca numa pilha de areia. Droga, meu caminho encalhou r^A criana est pensando alto, com palavras. Grande parte de nossos pensamentos so formados de coisas que dizemos ns

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    mesmos chamadas de autoconversao. Pensar alto provavelmente algo que aprendemos a fazer quando crianas porque nos ajuda a realizar tarefas de forma mais eficiente (Roberts, 1979). Quando comeam a freqentai' a escola, as crianas muitas vezes repetem as regras em voz alta, para si mesmas, para se ajustar a tarefas difceis (Roberts e Tharp, 3980). Quando chegam idade de 5 ou 6 anos, no entanto, j aprenderam a utilizar a fala subvocal, no sentido de que sua autoconversao ocorre num nvel sub-audvel (Vygostsky, 1978). p re n d em o s a falar silenciosamente com ns mesmos, numa idade muito precoce, em grande parte porque encontramos punies ao falar alto (Skinner, 1957). Os professores, por exemplo, solicitam que as crianas pensem consigo mesmas na escola porque pensar alto perturba os outros alunos. E as reaes naturalmente constrangidas de terceiros nos ensinam, como adultos, a manter ocultos certos pensamentos. Quando voc vai a uma festa, ao ser apresentado anfitri, sua primeira reao poderia ser: Nossa, que vestido horrvel! Mas, provavelmente, voc no dir isso em voz alta; em vez disso, voc o dir para si mesmo ou pensar isso. OpiQ grande parte dg,que4?finsaniQs..,

    ! ..se passa num., nvel. que... no JL Qbsen^vel^or outras pessoas, nas refcrimcxs.a.isso j como comportamento privado, Embora a.autoconversao privada, seja mais. difcilI de estudar por hao poder ser observada diretamente, pressupomos que seja a mesmaI cpisa que falar em voz alta, jslo , que os princpios do condicionamento operante j descritos no Captulo 2 se aplicam autoconversao privada.da mesma forma que se , .aplicam ao comportamento pblico,

    Com freqncia, um exemplo daquilo que chamamos de pensamento inclui tanto imaginao quanto autoconversao. Para ilustrar, considere os possveis pensamentos de uma patinadora artstica, logo antes de entrar no rinque para se apresentar numa competio. E suponha que a patinadora caiu durante um salto triplo na competio anterior. A patinadora poderia dizer a si mesma: Tom ara que eu no caia novamente no salto triplo! (pensamento operante ou autoconversao privada). Ela consegue se lembrar claramente de si mesma na competio anterior (pensamento respondente ou viso ou imaginao condicionadas). Pensamentos a respeito da experincia aversiva provavelmente eciariam sentimentos desagradveis (uma resposta respondentemente condicionada, como descrito no captulo anterior).

    Os atletas podem- ser ensinados a usar sua autoconversao para melhorar o desempenho em cinco reas: controlar suas emoes e/ou humor; interromper pensamentos negativos; melhorar sua capacidade de concentrao; resoluo de problemas e planejamento; e melhoria da aquisio de habilidades e do desempenho.

    Autoconversao para Controlar Emoes e/ou Humor

    Imagine um atacante, no futebol americano, preparando-se mentalmente para perseguir o jogador que recebe e passa a bola, logo antes desta ser lanada. O atacante pensa:

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  • Captulo 5 O Pensamento e o Desempenho Esportivo

    Vou partir pr cima dele! Vou lhe arrancar a cabea! Esse cara j era! Esse tipo de autoconversao provavelmente ajudar o atacante a se sentir agressivo. Ou considere um corredor de curta distncia que pensa na palavra explodir, enquanto aguarda, na posio de largada, pelo tiro do juiz; ou uma patinadora que diz a si prpria, durante sua apresentao: com graa, com elegncia, sinta a msica, paia ajudar a criar o estado de nimo adequado msica e coreografia. Evidentemente, nossa autoconversao

    hpode servir de estmulos condicionados para eiciar vrias emoes (Staats, 1968; ! i Staats, Staats e Crawford, 1962).

    Palavras que eliciam emoes ou sentimentos associados a um bem sucedido desempenho anterior so chamadas de palavras de niin. No hquei no gelo, por exemplo, o uso de palavras de nimo pode ajudar o jogador a manter a intensidade num nvel adequado. Ao adentrar o rinque para dar incio a uma partida, o jogador pode ensaiar rapidam ente algumas palavras de nimo. As palavras de nimo usadas por alguns dos jogadores profissionais de hquei com os quais trabalhei incluam; seja agressivo, mexa os ps, jogue duro, carga m xim a . Palavras assim tm probabilidade de ajudar os atletas a jogar com o nvel de intensidade desejado. Por outro lado, jogadores profissionais de golfe com os quais j trabalhei, geralmente querem criar um estado de nimo muito diferente. Querem se sentir relaxados e sob controle. Tm maior probabilidade de utilizar uma autoconversao do tipo: bata s-u-a-v-e-m-e-n-t- e, aproveite o m om ento, mantenha o controle, e sinta o ritm o.

    11 Algumas palavras podem funcionar tanto como palavras de nimo quanto como regras parciais. Por exemplo: quando o jogador de hquei pensa mexa os ps , essas palavras poderiam eliciar alguns dos sentimentos associados a patinar rpido e ter um bom desempenho, no passado. M as tambm envolvem uma regra parcial. A regra com pleta seria: Se eu mover meus ps de m aneira rpida, manterei um a boa velocidade e criarei oportunidades de um tiro a gol .

    Autoconversao para Interromper Pensamentos Negativos

    Como mostrado anteriormente, a autoconversao pode ser usada para aum entar as emoes desejadas. M as, s vezes, ocorre o problema oposto. s vezes, q atleta sentir em oes negativas ou ter pensamentos perturbadores dos quais gostaria de se livrar. O jogador de hquei que h algum tempo no faz um gol, pr'xem plo, pode ficar to obcecado em marcar que esquece de se concentrar nas aes (tal como abrir espao para receber um passe, dom inar um passe, etc.) que resultam em gol. Ou um patinador artstico que caiu num determ inado salto, durante uma competio importante, pode reviver essa experincia freqentem ente, o que produz ansiedade e interfere com o desempenho futuro.

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    Ou uma ginasta, durante um treino, pode ficar to preocupada e to zangada consigo mesma (devido a um movimento difcil que nao consegue executar), que o treino inteiro arruinado.Uma estratgia para ajudar os atletas a interrom per tais pensamentos. ^liajTiiida de parada de pensamento. Parada de pensamento u.m procedimento desenvolvido pelo terapeuta comportamental Joseph W olpe (1958), para ajudar a pessoa que se engaja em pensamentos privados persistentes e perturbadores,.xjue^ no consegue controlar. O procedimento, envolve ensinar o atleta a gritar

    CD T are!, silenciosam ente, a fim de interrom per os pensamentos desagradveis. Para ensinar essa tcnicao atleta instrudo inicialm ente a fechar os olhos e imaginar uma determ inada ena, tal como estar sentado na areia.observando as ondas morrendo na praia^Q uando o atleta tiver a cena bem clara em sua mente, grite bem alto para ele: Pare! Logicamente, seu grito serve para interrom per os pensamentos do atleta (e, provavelm ente, tambm para assust-lo). A seguir, explique ao atleta que voc quer que ele feche os olhos e grite Pare!,,quando.., voc lhe tocar o ombro. Depois, instrua o atleta a imaginar outra cena, tal como olhar para um cu azul com algumas nuvens brancas e fofas. Depois de permitir que o atleta imagine a cena vividamente, por alguns segundos, bata de leve no ombro do atleta. R epita esse processo mais duas vezes. D epois-dessas -trs-'1 tentativas., repita o processo novamente, mas, desta vez, nstrua.~o atleta~a gritar Pare!, silenciosam ente, para si prprio, e no em voz alta (pode faz-lo sem mover a boca). Depois de vrias repeties desse tipo, o atleta ser capaz de interrom per tem porariam ente qualquer pensamento, gritando silenciosam ente a palavra Pare! para si mesmo.

    A parada de pensamento, somente, no tem probabilidade de ter muito sucesso ilf^ longo prazo porque, embora interrompa temporariamente os pensamentos negativos, estes provavelmente retornaro. ISfo entanto, a interrupo de pensamento combinada com substituio por pensamentos alternati vos.desejveis pode ter bom resultado na eliminao de pensamentos problemticos (Cautela, 1983; Wolpe, 1990), como mostra o caso de Carol. Sou um fracasso, M e sinto feia e intil. Fico muito deprimida e no quero fazer nada. E da eu comeo a chorar, explicou Carol a seu psiclogo. As vezes, no trabalho, quando comeo a pensar em Fred, vou para o banheiro e choro. As vezes, no consigo parar de chorar por mais de uma hora . Carol e Fred estavam noivos h trs anos. Mas, desde o rompimento h trs meses, Carol vinha tendo perturbadores pensamentos obsessivos a respeito de Fred e, particularmente, sobre si mesma. Carol concordou em iniciar o seguinte procedimento. Cada vez que tinha um pensamento do tipo que a fazia chorar, teria que parar o que estava fazendo, juntar as mos, fechar os olhos e gritar silenciosamente Pare! para si mesma. Depois, teria que abrir os olhos e pegar algumas fotografias em sua bolsa. As fotografias estavam arrumadas numa determinada ordem e presas com um elstico. Com a orientao de seu psiclogo, ela havia escrito afirmaes especficas no verso de cada uma delas. Com as fotografias voltadas para baixo, ela devia olhar para o verso da primeira e

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  • Captulo 5 O Pensamento e o Desempenho Esportivo

    ler: Sou dona de mim mesma. M inha vida est minha frente. Posso fazer o que quiser. Virava a foto e via um retrato seu no aeroporto. A foto fora tirada logo antes de uma viagem que fizera sozinha no ano anterior. Ela se divertira muito. Nos segundos seguintes, ela pensava no quanto gostaria de viajar novamente e no quanto se divertira na viagem anterior. Carol continuava dessa maneira com as fotografias restantes. Aps o procedimento inteiro, que era completado em aproximadamente dois ou trs minutos, Carol registrava seus pensamentos num carto e voltava s suas atividades normais. O procedimento teve bastante sucesso. Nas trs semanas seguintes, seus pensamentos positivos aumentaram gradativmente e os pensamentos tristes a respeito de Fred ocorreram cada vez menos. A combinao da interrupo do pensamento, depois dos pensamentos indesejveis, com a substituio por pensamentos alternativos desejveis foi bem sucedida (M artin, 1982).

    Autoconversao para Controle de Ateno ou Concentrao

    A. capacidade- de_se_ concentrar durante uma competio esportiva; de dar ateno s deixas adequadas durante a competio; e de manter o enfoque durante toda a competio amplamente reconhecida como um importante determinante do sucesso. Mas como definimos esses termos?

    A concentrao (discutida mais detalhadam ente no Captulo 13) refere-se, ei;n parte, ao controle de estm ulo exercido por deixas relevantes do ambiente sobre com portamentos esportivos qualificados. Qs termos dar ateno e enfocar podem ser usados de m aneira intercam bivel, sendo referentes ao com portamento de voltar-se para S Ds relevantes (como discutido no Captulo 13). Robert N ideffer (1981, 1985, 1993) desenvolveu uma estratgia til para analisar a resposta do atleta em termos de quatro grandes categorias de controle de estmulo, como ilustrado na Figura 5-2.

    As d.ioiensQes .dQ controle de_ estmulo (ampla ou restrita; interna ou externa) devem ser imaginadas como contnuas e. no como quatro categorias distintas. No entanto, sao miR.fornia til de isolar alguns dos SDs que exercem o.n.trole sobre o desempenho esportivo. \ontrola de estmulo externo amplo] indica que, em algumas situaes ..esportiyas, o atleta deve responder a uma srie de deixas ^xternas diferentes, num curto perodo de tempo. Exemplos disso incluiriam: um lanador, no futebol americano, tentando escolher algum para receber a bola e, ao mesmo tempo, percebendo a aproximao dos atacantes adversrios; um jogador da defesa preparando uma jogada, no hquei, enquanto percebe a posio dos companheiros e dos adversrios no rinque; e um jogador de basquete tentando armar uma jogada quando os oponentes esto fechando a rea de defesa.

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    Controle cle estmulo externo restrito jrefere-se a uma habilidade esporti yL sob ontrole de estm ulo de um determinado estmulo externo, assim como a ' capacidade do atleta de ignorar uma variedade de deixas potencialm ente listrativas. Exemplos disso incluem um batedor se concentrando na bola de beisebol, desde o ponto em que deixa a mo do arremessador at que chegue base; um tenista olhando a bola desde que esta deixa a raquete do adversrio, at que ele prprio faa contato com a bola numa tentativa de devolv-la; um goleiro, no hquei, concentrando-se no disco, em vez de se deixar distrair pelo movimento dos jogadores deslizando na rea do gol.

    Controle de estmulo interno amplo refere-se a pensamentos sobre problemas... complexos, que ocorrem na ausncia de quaisquer SDs externos bvios; ..fais pensamentos so freqentem ente chamados de anlise, planejamento e resoluo i de problemas, Um tcnico de futebol, por exemplo, poderia rever mentalmente, durante o intervalo, as diferentes' formaes defensivas dos adversrios e recordar as jogadas ofensivas que foram executadas, com e sem sucesso, contra essas formaes.

    A ltima categoria, controle de estmulo interno restrito, refere-se a situaes em qye uma habilidade esportiva fica sob controle de uma deixa interna-especfica. Um atleta dos saltos ornamentais, por exemplo, poderia se concentrar em conseguir uma determ inada sensao cinestsica como deixa para terminar um mortal de frente, logo antes de atingir a gua. Um patinador artstico poderia se concentrar na sensao de estar diretamente sobre o p de decolagem no incio de um salto.

    Qurantc uma apresentao esportiva, o atleta tem probabilidade de alternar entre' as diferentes categorias de controle de estmulo, e a autoconvers.ao pode. ser usada para facilitar as mudanas adequadas de foco d e ^ e ti^ . Examinaremos como uma golfista pode usar a autoconversao para alternar entre as quatro categorias de controle de estmulo, durante a execuo de uma jogada (ver, tambm, Nideffer, 1993).

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  • Captulo J O Pensamento e o Desempenho Esportiva

    Externo

    Controle de estmulo externo amplo

    Amplo

    Controle de estmulo interno amplo

    Controle de estmulo externo restrito

    Restrito

    Controle de estmulo interno restrito

    Interno

    FIG U R A 5.2. Categorias de controle de ateno estabelecidas por Robert N ideffer (1981).

    Suponha que a golfista bateu a bola a partir do tee. Quando ela se aproxim a de sua bola que est na parte lisa do campo, entre os buracos, sua ateno tem que ficar sob controle de estm ulo externo amplo, pois ela precisa considerar uma ampla gama de deixas externas os perigos, as reas seguras, o vento, a posio, a distncia para a prxim a tacada etc. Na presena dessas deixas externas amplas, ela tem que escolher o taco adequado para a jogada. Sim plesm ente dizer A VPD, enquanto se aproxim a da bola, lem braria jogadora de sempre checar a rea de aterrissagem , o vento, a posio e a distncia, antes de selecionar o taco para a jogada. A seguir, enquanto est de p atrs da bola para ensaiar a jogada, seu comportamento pode m udar para o controle de estm ulo interno amplo. Isto , ela poderia se lembrar de uma jogada sem elhante que realizou com sucesso num. buraco anterior. Poderia, ento, se concentrar em alguns pensamentos sobre o swing e poderia respirar profundam ente algumas vezes para relaxar. Frases como: igual anterior e sinta o swing poderiam lembrar a golfista de se concentrar nas sensaes musculares adequadas durante o swing de ensaio. Depois, ao se preparar para a jogada, sua ateno passa para controle externo restrito. E la tem que se concentrar principalm ente na direo que quer dar bola e na colocao

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    adequada dos ps para conseguir bater a bola nessa direo. A palavra preparar seria a deixa para a preparao adequada, e a frase olho na bola poderia servir de deixa para que a jogadora se concentrasse na bola logo antes do swing. Finalmente, seu com portam ento tem probabilidade de passar para uma combinao de controle interno restrito e externo restrito. Logo antes do swing, cia precisa se concentrar na bola e se desligar de todas as outras distraes. Nesse ponto, ela tem probabilidade tambm de usar apenas um pensamento sobre o swing, tal como suave.

    A autoconversao pode ser usada para ajudar o atleta a colocar sey comportamento sob o tipo adequado de controle de ateno. Um jogador de golfe, por exemplo, tem probabilidade de melhorar a consistncia de suas jogadas, tendo determ inados lembretes para cada uma das quatro partes da rotina que antecedem a jogada, como descrito acima. Um a patinadora artstica pode usar a autoconversao para o controle de estmulo interno restrito, durante um programa que visa a concentrar a ateno na execuo de determinados saltos, de uma m aneira especfica; e para o controle de estm ulo externo amplo, visando a se lembrar de apresentar o program a para os juizes e para a audincia a fim de maximizar os pontos artsticos. Um jogador de hquei no gelo poderia usar a autoconversao, entre os shifts, para ajudar a concentrar a ateno para o prximo shift. Como exemplos disso, poderamos ter: No nosso campo, serei agressivo e atacarei na frente , e No campo deles, colocarei presso sobre o jogador que estiver com o disco .

    Autoconversao para Resoluo de Problemas e Planejamento

    Atletas dedicados so indivduos extrem am ente ocupados, que enfrentam outros problemas alm da necessidade de aprender novas habilidades nos treinos e execut-las nas competies. Esses problemas podem variar entre se....relacionar com os companheiros de time; equilibrar cuidadosam ente o tempo .dedicado ao esporte, escola, ao trabalho e a uma vida social razovel; e achar um lugar para morar, caso estejam cursando uma faculdade longe de casa. Uma parte importante do pensamento eficaz aprender a dar seguimento ao raciocnio lgico para solucionar satisfatoriam ente tais problemas. < D Zurilla (1986) delineou cinco passos da resoluo racional de problemas, cada um deles envolvendo planejamento atravs de autoconversao.

    1. Orientao geral. O atleta deve ser ensinado a reconhecer os problemas e a perceber, desde o incio, que possvel lidar com eles agindo de maneira sistemtica, em vez de impulsivamente. Para ajudar, o atleta poderia anotar num carto .um conjunto de auto-afirmaes especficas que poderri ser usadas como

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  • Captulo 5 0 Pensamento e a Desempenho Esportivo

    lembrete paia abordar os problemas de maneira lgica. Essas afirmaes poderiam incluir: Sei que posso resolver isto se avanar passo a passo. Deixe- me ver como posso refrasear isto como um problema a ser solucionado . Sei que posso solucionar este problema de maneira lgica se seguir os cinco passos,

    2. Definio do Problema. () atfcta deve descrever o problem a da maneira maisflrecisa-pQSsfvel e. situao especfica em que o problem apcorre. Com freqncia, a definio inicial de um problem a bastante vaga. Num caso que encontrei, por exemplo, com uma jovem patinadora artstica, ela descrevia seu problem a como: Tenho estado muito aborrecida ultim am ente e isso est interferindo nos meus treinos . Aps discutirmos o problema, descobriu-se que sua me, que com parecia a muitos dos treinos, freqentem ente fazia com entrios inquietantes a respeito do progresso das outras com petidoras, mas raram ente elogiava a prpria filha. Isso influenciava a patinadora, fazendo com que se preocupasse com o que as concorrentes estavam fazendo nos treinos, em vez de se concentrar e de se sentir bem com sua prpria patinao.

    3. Gerao de Alternativas. Depois de definir o problem a com preciso, o atieta deve ser encorajado a debater vrias idias e sugestes possveis. As solues, possveis pensadas pela patinadora mencionada acima foram: a) usar a autoconversao para se colocar num bom estado de humor, no incio de cada treino; b) esforar-se mais nos treinos, na esperana de que sua me fizesse com entrios positivos sobre seu progresso, em vez de se concentrar constantem ente no progresso das concorrentes; c) durante os treinos, lembrar a si mesma, continuam ente, que No posso controlar o que elas fazem, s posso controlar o que eu fao; d) conversar com sua me e explicar o problema; e e) pedir a seu psiclogo do esporte para conversar com sua me a fim de discutir o problema.

    4. Tomada de Decises. Q passo seguinte encorajar o atleta a exam inar as alternativas, elim inando cuidadosam ente as que so obviamente inaceitveis. No exemplo acima, a opo b foi eliminada, porque a patinadora j se esforava muito nos treinos, e a opo d foi eliminada, porque ela sentia que no conseguiria falar com a me sem que a discusso evolusse para uma briga sria. Foi dem onstrado que, para alguns problemas, escrever as conseqncias positivas e negativas das alternativas restantes, a curto e a longo prazos, melhorou a satisfao com a tomada de decises; aumentou a probabilidade de manuteno das mesmas; e levou a escolhas mais produtivas e menos desapontam entos (Janis e Mann, 1977; Janis e W heeler, 1