pragas - embrapa

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Frutas do Brasil, 38 Maçã Fitossanidade 10 PRAGAS Adalécio Kovaleski 2 INTRODUÇÃO Várias espécies de insetos e ácaros são encontrados associados à macieira no Brasil (Tabela 1). Sua importância econômica varia conforme o local e o ano. A maioria das pragas encontradas associadas à macieira no Brasil é origi- nária de outras regiões do mundo como a Ásia (ex.: grafolita) e a Europa (ex.: ácaro vermelho), e foram aciden- talmente introduzidas junto com a cul- tura. Um exemplo recente de introdu- ção de praga exótica é o da carpocapsa. Trata-se de uma espécie cosmopolita e, provavelmente, está sendo introduzida no Brasil proveniente da Argentina e do Chile. Algumas espécies utilizam a maçã apenas como fonte de alimento para os adultos (ex.: gorgulho-do-milho). Em outros casos, os frutos são usados como hospedeiros alternativos, em situ- ações de insuficiência de hospedeiros primários (ex.: moscas-das-frutas). O status de praga de uma espécie é dinâmico e depende de fatores intrínse- cos e extrínsecos ao sistema do pomar. Por exemplo, o ácaro-vermelho era uma praga limitante à produção da macieira há 20 anos, motivo pelo qual os produ- tores empregavam um volume muito grande de acaricidas. A demonstração de existência de linhagens de ácaros re- sistentes no Brasil levou à busca de no- vos métodos para controle. A partir de estudos sobre sua bioecologia e a de outras pragas, constatou-se que o ácaro- vermelho só apresentava importância econômica em pomares nos quais havia sido aplicado um volume grande de in- seticidas. Com a implementação de novos métodos de controle contra ou- tras pragas e a diminuição na carga de inseticidas, a densidade populacional dos inimigos naturais do ácaro pôde aumen- tar e, atualmente, ele é considerado uma praga secundária. A seguir, são apresentadas informa- ções gerais sobre dez pragas da macieira, sua situação atual no Brasil e um pano- rama geral do Manejo Integrado de Pragas. *N= nativo do Brasil, I= introduzido. **Recentemente detectada no Brasil, e está sob controle oficial. Fonte: elaborado por Adalécio Kovaleski. Tabela 1. Insetos e ácaros de importância econômica para macieira no Brasil. Nome comum 1. Mosca-das-frutas 2. Ácaro-vermelho 3. Lagarta-enroladeira 4. Grafolita 5. Grandes lagartas 6. Carpocapsa** 7. Cochonilha-piolho-de-são-josé 8. Pulgão-lanígero 9. Burrinho 10. Gorgulho-do-milho N/I* N I N I ? I I I N I Nome científico Anastrepha fraterculus (Wied.) Panonychus ulmi (Koch) Bonagota cranaodes (Meyrick) Grapholita molesta (Busck) Não se conhecem as espécies que causam dano à macieira Cydia pomonella (L.) Quadraspidiotus perniciosus Comstock Eriosoma lanigerum (Hausmann) Asynonychus cervinus (Boheman) Naupactus xanthographus (Germar) Sitophilus zeamais (Mots.) Ordem: família Diptera: Tephritidae Acari: Tetranychidae Lepidoptera: Tortricidae Lepidoptera: Tortricidae Lepidoptera: Noctuidae e Geometridae Lepidoptera: Tortricidae Hemiptera: Diaspididae Hemiptera: Aphididae Hemiptera: Aphididae Coleoptera: Curculionidae Coleoptera: Curculionidae

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Page 1: PRAGAS - Embrapa

Frutas do Brasil, 38Maçã Fitossanidade10

PRAGAS

Adalécio Kovaleski

2INTRODUÇÃO

Várias espécies de insetos e ácarossão encontrados associados à macieirano Brasil (Tabela 1). Sua importânciaeconômica varia conforme o local e oano. A maioria das pragas encontradasassociadas à macieira no Brasil é origi-nária de outras regiões do mundo comoa Ásia (ex.: grafolita) e a Europa(ex.: ácaro vermelho), e foram aciden-talmente introduzidas junto com a cul-tura. Um exemplo recente de introdu-ção de praga exótica é o da carpocapsa.Trata-se de uma espécie cosmopolita e,provavelmente, está sendo introduzidano Brasil proveniente da Argentina e doChile.

Algumas espécies utilizam a maçãapenas como fonte de alimento paraos adultos (ex.: gorgulho-do-milho).Em outros casos, os frutos são usadoscomo hospedeiros alternativos, em situ-ações de insuficiência de hospedeirosprimários (ex.: moscas-das-frutas).O status de praga de uma espécie é

dinâmico e depende de fatores intrínse-cos e extrínsecos ao sistema do pomar.Por exemplo, o ácaro-vermelho era umapraga limitante à produção da macieirahá 20 anos, motivo pelo qual os produ-tores empregavam um volume muitogrande de acaricidas. A demonstraçãode existência de linhagens de ácaros re-sistentes no Brasil levou à busca de no-vos métodos para controle. A partir deestudos sobre sua bioecologia e a deoutras pragas, constatou-se que o ácaro-vermelho só apresentava importânciaeconômica em pomares nos quais haviasido aplicado um volume grande de in-seticidas. Com a implementação denovos métodos de controle contra ou-tras pragas e a diminuição na carga deinseticidas, a densidade populacional dosinimigos naturais do ácaro pôde aumen-tar e, atualmente, ele é considerado umapraga secundária.

A seguir, são apresentadas informa-ções gerais sobre dez pragas da macieira,sua situação atual no Brasil e um pano-rama geral do Manejo Integrado dePragas.

*N= nativo do Brasil, I= introduzido.**Recentemente detectada no Brasil, e está sob controle oficial.Fonte: elaborado por Adalécio Kovaleski.

Tabela 1. Insetos e ácaros de importância econômica para macieira no Brasil.

Nome comum1. Mosca-das-frutas2. Ácaro-vermelho3. Lagarta-enroladeira4. Grafolita5. Grandes lagartas

6. Carpocapsa**7. Cochonilha-piolho-de-são-josé8. Pulgão-lanígero

9. Burrinho10. Gorgulho-do-milho

N/I*NINI?

III

NI

Nome científico

Anastrepha fraterculus (Wied.)Panonychus ulmi (Koch)Bonagota cranaodes (Meyrick)Grapholita molesta (Busck)Não se conhecem as espéciesque causam dano à macieiraCydia pomonella (L.)Quadraspidiotus perniciosus ComstockEriosoma lanigerum (Hausmann)Asynonychus cervinus (Boheman)Naupactus xanthographus (Germar)Sitophilus zeamais (Mots.)

Ordem: família

Diptera: TephritidaeAcari: TetranychidaeLepidoptera: TortricidaeLepidoptera: TortricidaeLepidoptera: Noctuidae eGeometridaeLepidoptera: TortricidaeHemiptera: DiaspididaeHemiptera: AphididaeHemiptera: AphididaeColeoptera: CurculionidaeColeoptera: Curculionidae

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DESCRIÇÃO DAS PRAGAS

Mosca-das-frutas

A mosca-das-frutas sul-americana éuma das pragas mais estudadas na regiãoprodutora de maçãs do Brasil. Trata-sede uma espécie nativa da América do Sule amplamente distribuída (por toda aAmérica do Sul, América Central, che-gando até o México e o sul do Texas,EUA). Em alguns locais, ela não apre-senta nenhuma importância econômi-ca direta, mas, no sul do Brasil, podecausar perdas significativas.

Sua importância como praga variano sul do Brasil. Nas regiões de Fraiburgoe São Joaquim, SC, embora a densidadepopulacional ultrapasse o nível de danoeconômico em vários momentos ao lon-go da safra, os danos em frutos ficam emtorno de 0,2%, enquanto na região deVacaria, RS podem atingir 1,0%.

Reconhecimento

Os ovos são alongados e esbran-quiçados, depositados sob a epiderme defrutos em amadurecimento. Após aeclosão, as larvas passam por três está-dios, durante os quais se alimentam dapolpa dos frutos. As larvas são alongadas,ápodas e sem cápsula cefálica. As pupassão coarctadas, com o pupário subelípti-co, segmentado. Apresentam uma colo-

ração marrom e medem cerca de 2 mmde diâmetro e 5 mm de comprimento.Os adultos são de coloração geral ama-relo-castanho e as asas apresentam fai-xas alares características em forma de Se V (Fig. 1).

Bioecologia

Uma peculiaridade da mosca-das-frutas é que não existem populaçõesresidentes nos pomares de macieira. Issose deve à baixa adequação das maçãscomo hospedeiros larvais e às aplica-ções de inseticidas fosforados com açãode profundidade. O aumento popula-cional ocorre fora dos pomares, ou seja,em áreas de mata e fundos de quintaisonde estão presentes hospedeiros pri-mários da família Myrtaceae. Apósemergirem e amadurecerem sexualmen-te, os adultos dispersam para os poma-res, e as fêmeas ovipositam nos frutos.Isso explica a concentração do dano edas capturas em armadilhas, nas borda-duras dos pomares.

Danos

A mosca-das-frutas pode causar da-nos aos frutos desde 1,5 cm de diâmetroaté a colheita. Ocorrem três tipos dedanos em maçãs: a) punctura, que é umdano superficial provocado pela intro-

Fig. 1. Fêmea da mosca-das-frutas.

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Fig.2. Danos externos causados pela mosca-das-frutas.

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dução do ovipositor, b) galeria, formadainternamente pela larva enquanto sealimenta da polpa do fruto e c) polpadestruída ou presença de larva viva(Fig. 2 e 3).

Monitoramento

O monitoramento é efetuado comarmadilhas McPhail contendo suco deuva a 25% (Fig. 4). Essas devem serinstaladas após a florada da macieira,colocando-se em média, uma armadilhapara cada 2 ha. Embora se trate de umatrativo inespecífico e de um métodopouco prático, essa é a alternativa maisbarata e eficiente disponível no momen-to. O nível de controle adotado é de 0,5mosca por frasco por dia. Esse nível decontrole com base na média das armadi-lhas de todo o pomar poderá cair emdesuso, considerando que as populaçõesnão se distribuem homogeneamente nostalhões. O tratamento de todo o pomar(cálculo da média) incorre em dois er-ros: pulverizações desnecessárias emáreas no interior do pomar onde a popu-lação não atinge o nível de dano econô-mico; aplicações tardias nos pontos deentrada da praga no pomar, levando adanos mais elevados.

Controle químico

São utilizados dois métodos paracontrole químico: iscas tóxicas (atrati-vo alimentar + inseticida fosforado) eaplicações em cobertura. O primeiro éefetuado para diminuir a população deadultos no pomar, ou seja, para evitar aoviposição e o dano físico às maçãs,principalmente no período de cresci-mento dos frutos. Já, as aplicações emcobertura visam matar os ovos e osestádios imaturos presentes no interiordos frutos, já que pode ocorrer a forma-ção de galerias e o desenvolvimentolarval. São feitas aplicações semanais deiscas tóxicas e de quatro a seis aplicaçõesem cobertura por safra. Os inseticidasfenitrothion, methidathion e phosmetsão recomendados para controle porapresentarem ação de profundidade.

Outras alternativasde controle

A densidade populacional no po-mar poderia ser significativamente re-duzida caso se adotassem medidas decontrole nas áreas de mata onde ocorreo crescimento populacional da praga.O controle biológico com parasitóidese o uso de iscas tóxicas em estações deiscas (locais de alta concentração de isca

Fig. 3. Danos internos causados pela mosca-das-frutas(mancha-de-cortiça e podridão).

Fig.4. Armadilha modelo McPhail utilizadapara o monitoramento da mosca-das-fru-tas.

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tóxica) poderiam ter um efeito marcante,reduzindo a população no local de ori-gem e nos momentos em que ela seencontra mais suscetível. Produtosinibidores de oviposição seriam ideaispara evitar o dano externo provocadopelo ato de introdução do ovipositor nofruto.

Ácaro-vermelho

O ácaro-vermelho, Panonychus ulmi,é o ácaro fitófago de maior importânciaeconômica entre os que atacam a maci-eira. Essa espécie encontra-se distribuí-da na maioria das regiões do mundo,onde são cultivadas as rosáceas. No Bra-sil, o ácaro-vermelho também consta dalista das principais pragas da macieira.

Sua presença como praga impor-tante em pomares comerciais de maciei-ra mostra uma situação de desequilíbriopelo uso excessivo de agrotóxicos.A suspensão do uso desses produtos levaa diminuição da importância do ácaro-vermelho em 3 a 4 anos.

Reconhecimento

A fêmea adulta tem o corpo globoso,coloração vermelho-escura e mede cer-ca de 0,7 mm (Fig. 5). No dorso, apresen-ta tubérculos sobre os quais se inseremas setas dorsais. Os machos são maisdelgados e de coloração mais clara.A fêmea deposita, em média, 3 ovos pordia chegando a colocar 70 ovos durantesua vida.

Do ovo, nasce a larva de coloraçãoalaranjada, com três pares de pernas.Com o início da alimentação, adquireuma coloração verde-escura. As demaisfases jovens (protoninfa e deutoninfa)apresentam quatro pares de pernas.A coloração pode variar conforme adisponibilidade de alimento, mas temsempre a tonalidade esverdeada.

Na fase de deutoninfa já é possívela diferenciação sexual. Cada estádio ati-vo é seguido por um período de quies-cência (protocrisálida, deutocrisálida eteleiocrisálida).

Bioecologia

A fêmea fecundada coloca ovosque originam ambos os sexos. Quandonão há fertilização todos os ovos origi-nam machos.

Os ovos podem ser de verão e deinverno; as fêmeas são induzidas a colo-car ovos de inverno no estádio dedeutoninfa e são influenciadas pela tem-peratura, pelo fotoperíodo e por condi-ções de alimentação. Os ovos de verãosão depositados principalmente na faceinferior das folhas. Eles são levementeachatados nos pólos, distintamenteestriados e apresentam uma haste cen-tral. A coloração predominante é o ver-melho com variação da tonalidade.Os ovos de inverno são colocados emtroncos, ramos, ao redor das gemas, emrugosidades ou em pontos de inserção deramos, e apresentam uma coloraçãovermelho-escura (Fig. 6). As fêmeas tam-bém podem colocar ovos de inverno nasuperfície dos frutos, geralmente na re-gião peduncular ou calicinal. A eclosão

Fig. 5. Fêmeas adultas do ácaro-vermelho.

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de larvas oriundas dos ovos hibernantesocorre em sincronia com o início dabrotação da macieira, e a uniformidadedessa eclosão é maior em anos de inver-no mais rigoroso. As condições climáti-cas podem interferir no crescimentopopulacional da praga (Tabela 2).

A dispersão natural do ácaro-verme-lho é muito lenta. O vento, os pássaros, osequipamentos e os insetos são considera-dos disseminadores. A principal causa doestabelecimento de ácaros em pomares demacieira são as mudas que saem dos vivei-ros infestadas com ovos de inverno.

Danos

Os ácaros alimentam-se inserindoos estiletes através da epiderme folharretirando o conteúdo celular do mesófi-lo. Somente as células perfuradas comos estiletes são danificadas. O resultadodo ataque é o bronzeamento das folhas,diminuindo a atividade fotossinté-tica e favorecendo a queda prematura(Fig. 7 e 8). Pode ocorrer tambémuma redução no crescimento dos ra-mos, queda de frutos, diminuição da co-loração, afetando a frutificação da safraseguinte.

Embora o ácaro-vermelho nãocause dano direto aos frutos, os ovosde inverno que as fêmeas deposi-tam na região do pedúnculo e nocálice preocupam sob o aspecto quaren-tenário.

Fig. 6. Ovos de inverno do ácaro-vermelho depositados notronco da macieira.

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Tabela 2. Duração média, em dias, dasfases de ovo à emergência do adulto dePanonychus ulmi criado em macieira emambientes com duas temperaturas.

Fonte: Kovaleski (1988) & Ribeiro (1988).

Fase

OvoLarvaProtocrisálidaProtoninfaDeutocrisálidaDeutoninfaTeleiocrisálidaOvo-adulto

219,01,51,21,11,21,41,216,4

265,30,60,70,70,80,91,010,0

Temperatura (°C)

Fig.7. Dano de ácaro-vermelho em folhasde macieira (bronzeamento das folhas).

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Monitoramento

O monitoramento é fundamentalpara definir áreas críticas de ataque e omomento adequado para efetuar o tra-tamento. Uma das alternativas demonitoramento é a retirada de oito adez folhas por planta em 1% das plantasdo pomar, considerando uma densidademédia de 1000 árvores por hectare.Deve-se contar o número de formasmóveis com o auxílio de uma lupa.Observando-se uma média de três a cin-co ácaros por folha, deve-se iniciar aaplicação de acaricidas. Outra forma deavaliar a população de ácaros é pelaamostragem seqüencial de presença-au-sência. Esse sistema dispensa a conta-gem de formas móveis bem como nãorequer um número fixo de plantasamostradas, sendo mais rápido para atomada de decisão. O levantamentopopulacional deve ser iniciado logo apósa queda de pétalas e a tomada de amos-tras repetida entre 10 e 14 dias se apopulação detectada estiver abaixo dosnúmeros da coluna “Não Trate” da Ta-bela 3, e entre 3 e 5 dias se a populaçãoestiver na zona de indecisão (Tabela 3).

Esse tipo de amostragem deve seraplicado em áreas pequenas, para iden-tificar os focos no pomar. Para efetuar aamostragem o monitor deve caminharem zigue-zague ou em forma de V, esco-

lhendo-se plantas ao acaso. As folhasdevem ser retiradas na altura média e aoredor da planta, dando preferência àque-las localizadas no terço médio do ramode crescimento do ano anterior, até queocorra o crescimento do ramo do ano.O controle deve ser iniciado quando72% das folhas apresentarem ácaros emSão Joaquim e 78% em Fraiburgo eVacaria.

Como a temperatura atua direta-mente no desenvolvimento, nos mesesmais quentes, deve-se dar maior atençãoao monitoramento, uma vez que o cres-cimento populacional é muito rápido.

Controle químico

O controle químico pode ser reali-zado em dois períodos:

• Controle de ovos de inverno: amacieira necessita de tratamentos queauxiliam na brotação (quebra dedormência). Um dos produtos utiliza-dos na quebra de dormência é o óleomineral, na dosagem de 3% a 5% queatua como um produto ovicida e reduza eclosão dos ovos de inverno.

• Controle durante a fase vegetativa:apresentam-se duas alternativas: a) se oprodutor optar pela aplicação doacaricida abamectin, deverá fazê-lo logoapós a queda das pétalas em mistura comóleo mineral a 0,25% sem levar emconsideração o nível populacional. Nestecaso, o levantamento de ovos de invernopoderá direcionar o tratamento para asáreas mais críticas. b) Levando-se emconsideração o nível populacional, ini-ciar o tratamento quando observar-se quecerca de 70% das folhas amostradas estãoinfestadas com ácaros. Nesta situaçãopodem ser utilizados os seguintesacaricidas: cyhexatin, fenpyroxemate,e pyridaben.

A eficiência desses produtos é rela-tiva em cada propriedade e depende domanejo dos acaricidas. Portanto, deve-

Fig. 8. Plantas com ataque intenso doácaro-vermelho (bronzemanto e queda dasfolhas).

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se evitar o uso contínuo do mesmoingrediente ativo ou do mesmo grupoquímico na mesma área, para evitar oureduzir a seleção de populações resisten-tes.

Outras alternativas de controle

O controle biológico apresenta-secomo uma alternativa, mas deve estarassociado a um bom manejo de insetici-das para as outras pragas. Várias espéciesnativas e introduzidas de ácaros preda-dores da família Phytoseiidae estão presen-tes e assumem importância no momen-to em que se reduz a eficiência dosacaricidas em virtude resistência. O casomais típico foi do acaricida clofentezineque, introduzido para uso em macieiraem 1988, cerca de 3 anos mais tarde, jánão controlava mais os ácaros, situaçãoque permanece até o momento.

Lagarta-enroladeira

A lagarta-enroladeira é uma pragarecente nos pomares de macieira doBrasil. Anteriormente, o inseto era co-nhecido como Phtheochroa cranaodes, entre-tanto, em 1986, a espécie foi transferidapara o gênero Bonagota, sendo esse o nomeválido atualmente.

As primeiras ocorrências foramobservadas na década de 80, sendo cons-tatado, na safra de 1984, o primeirogrande ataque, principalmente sobre acultivar Fuji, cuja produção é mais tar-dia. Nos últimos anos, entretanto, oinseto tem sido encontrado danificandoas principais cultivares de macieira plan-tadas na região Sul do Brasil. A identifi-cação, a síntese e o uso do feromôniosexual sintético associado ao conheci-mento de aspectos biológicos do insetoatualmente permitem reduzir os danos

Tabela 3. Amostragem seqüencial de presença-ausência de ácaro-vermelho Panonychus ulmi na cultura da macieira.

Planta(no)

12345678

9(1)

10111213141516171819202122

Número defolhas

examinadas510152025303540

45(1)

50556065707580859095100105110

Número acumuladode folhas com ácaro1 2 3 4 5

SJ(2)

28313538414548515558626569

FR/VA(3)

3135384246495357606468727579

Zona deindecisão

---------------

SJ(2)

37414548525660646871757983

FR/VA(3)

3943475256606468727680848892

Limite inferiorNÃO TRATE(se menor)

Limite superiorTRATE

(se maior)

Númeroacumulado de

folhas com ácaro

Data: Pomar: Talhão:

(1) Número mínimo de plantas a serem amostradas.(2) SJ= São Joaquim.(3) FR/VA= Fraiburgo/VacariaAvaliação n0:____________________Estádio fenológico:____________________Recomendação de tratamento: ( )Sim ( )NãoAmostrar novamente em:_____________ diasFonte: adaptado de Boneti et. al. (1999).

Pare a simulação

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17Frutas do Brasil, 38 Maçã Fitossanidade

a 1%. A lagarta-enroladeira está presen-te em todas as regiões produtoras demaçãs do Brasil. Também é encontradanos pomares de macieira da Argentina eUruguai. No Uruguai, a espécie é deno-minada erroneamente de Eulia salubricola.

Reconhecimento

Postura - caracteriza-se por formaruma massa contendo em média 40 ovos,a qual é recoberta por uma fina camadagelatinosa (Fig. 9). A coloração dos ovosé amarelada, ocorrendo um escureci-mento quando próximo à eclosão.

Lagartas - no primeiro ínstar,apresentam a cabeça escura e o restantedo corpo de coloração amarelo-clara.Com o início da alimentação, a colora-ção pode apresentar variação predo-minando uma tonalidade esverdeada(Fig. 10).

Pupa - inicialmente de cor esver-deada que se altera para o marrom-escuro próximo à emergência do adul-to.

Adulto - os adultos são de coloraçãocinza-clara, medindo cerca de 15 mmde envergadura e de 7 a 10 mm de com-primento (Fig. 11). Em geral, os ma-chos são menores e mais claros que asfêmeas.

Bioecologia

A espécie é considerada polífaga,atacando um grande número de plantascultivadas e silvestres. Até o momento,além da macieira, o inseto foi observadoalimentando-se de álamo, ameixeira,hortênsia, nabo, pereira, roseira, serralhae trevo. Os adultos possuem hábito cre-puscular e acasalam entre 17 e 21 horas.Os ovos são depositados na face supe-rior (lisa) das folhas de macieira e deoutras espécies hospedeiras. No campo,não se observam posturas sobre frutosda macieira. Após o período de incuba-ção que, em média, é de 8 dias, na tem-peratura de 25oC, as lagartas alojam-sena face inferior das folhas e, ao se alimen-

Fig.9. Postura da lagarta-enroladeira naface superior da folha de macieira.

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Fig.10. Lagarta-enroladeira.

Fig.11. Adulto da lagarta-enroladeira.Fo

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tarem, tecem uma espécie de túnel nosentido da nervura principal. Com o de-senvolvimento, as lagartas constroemabrigos juntando folhas, fixando-as aosfrutos e/ou abrigando-se entre eles (ca-chopas), na região do cálice ou dopedúnculo. Também é comum a lagartaefetuar um corte parcial do pecíolo.Com isso, a folha fica presa na planta,porém seca e enrola-se, formando umcartucho que serve de abrigo para oinseto. No quinto ínstar, a lagarta recor-ta a folha e forma uma espécie de “pas-tel”, abrigando-se no interior paraempupar. A duração do período de ovoa adulto é de cerca de 42 dias, quandocada fêmea deposita em média 200 ovos,distribuídos em aproximadamente cin-co posturas.

Na região de Vacaria, local onde aespécie apresenta maior importânciacomo praga, as fases de desenvolvimen-to podem ser encontradas durante todoo ano. No inverno, quando ocorre aqueda das folhas da macieira, as lagartassão encontradas nos hospedeiros alter-nativos, frutos mumificados e em folhasque ficam presas às plantas da macieira.Entretanto, as maiores populações, nor-malmente, ocorrem no período de de-zembro a maio, fase em que o insetotorna-se mais prejudicial, por causardanos diretamente aos frutos.

Danos

Os danos ocorrem nas folhas e nosfrutos da macieira (Fig. 12 e 13).O ataque às folhas não resulta em perdaseconômicas. Os principais prejuízos sãoaqueles causados pelas lagartas que ras-pam a casca das maçãs, depreciandocomercialmente os frutos. Os danos nosfrutos são superficiais e caracterizadospela presença de teia.

Nos últimos anos, o dano provoca-do foi superior ao ocasionado pela mos-ca-das-frutas, por causa do hábito dapraga. Nos pomares com presença cons-

tante de B. cranaodes, as perdas anuais naprodução situavam-se entre 3% e 5%.Considerando-se uma produção médiade 40 mil kg/ha, o dano representava de1,2 a 2 mil kg/ha a menos de frutoscolhidos para comercialização in natura,além do desequilíbrio causado no po-miecossistema e do impacto ambientalresultante da aplicação de inseticidasquímicos.

Monitoramento

O monitoramento pode ser reali-zado utilizando-se armadilhas comferomônio sexual sintético ou por ob-servações visuais das lagartas nas plan-tas. O feromônio sintético é impregna-do em septos de borracha, os quais sãocolocados em armadilhas do tipo Delta.

Fig.12. Danos da lagarta-enroladeira emfolhas da macieira.

Fig.13. Dano e presença da lagarta-enroladeira em maçã.

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Recomenda-se fixar as armadilhas nasplantas de macieira à altura de 1,8 m,distribuindo-as na densidade de uma paracada 5 a 7 ha, devendo-se instalar, nomínimo, duas armadilhas por área.O número de machos capturados deve seravaliado duas vezes por semana a partir domês de agosto. A armadilha Delta deve sertrocada sempre que for observada a perdana adesividade do piso. O septo contendoo feromônio sexual deve ser substituído acada 3 meses.

Controle químico

As ações de controle são tomadascom base nos dados do monitoramento.Adota-se o nível de 20 machos por arma-dilha por semana. Embora a colheita dacultivar Gala seja mais precoce, é im-portante que o monitoramento e o con-trole da praga sejam realizados nessacultivar até o encerramento da colheitada ‘Fuji’. Sem tratamento, as áreas da cv.‘Gala’ podem transformar-se em focos.Os inseticidas mais eficientes são oclorpyrifós e o tebufenozide. Esses pro-dutos são específicos para lagartas, sen-do o tebufenozide um regulador de cres-cimento. Outros inseticidas, como ofenitrothion, o methidathion e o phosmet,podem ser utilizados com uma eficiên-cia média.

Outras alternativas de controle

Como as lagartas apresentam ohábito de se enrolar entre folhas e/oucachopas de frutos, recomenda-se que,no momento do raleio, sempre que pos-sível, não sejam deixados mais do quedois frutos juntos, visto que há umacorrelação positiva entre número defrutos por cachopa e o dano. Os ini-migos naturais encontrados perten-cem à Ordem Hymenoptera (famíliasIchneumonidae e Chalcididae), que são,basicamente, parasitóides de lagartas.Estudos sobre o potencial de parasitismo

por Trichogramma ssp. (Hymenoptera:Trichogrammatidae) estão em andamen-to, analisando, principalmente, a efici-ência durante o outono quando os po-mares de macieira não recebem maistratamentos com inseticidas. A exposi-ção ao frio (0,5 ± 0,5ºC) por 25 dias emcâmaras de atmosfera convencional oucontrolada leva à mortalidade de 100%de lagartas de quarto ou quinto ínstar,indicando que esse tratamento pode vira ser regulamentado como quaren-tenário, visando à exportação de frutos.Novas alternativas, como o atrai-e-matae a confusão sexual, estão em desenvol-vimento, para diminuir a aplicação deinseticidas em cobertura.

O atrai-e-mata é um sistema quereúne o atrativo (feromônio) e o inseti-cida no mesmo ponto. Os machos sãoatraídos para o local por conta do atra-tivo e entram em contato com o inseti-cida. A confusão sexual consiste emsaturar o ambiente (pomar) com oferomônio da fêmea impedindo que omacho a localize. Sem a cópula, não háreprodução.

Grafolita

A grafolita ou a mariposa oriental,Grapholita molesta, é originária do Japão oudo norte da China. Aproximadamenteem 1900, já era uma praga de considerá-vel importância no Japão (1899) e naAustrália (1909). Em 1913, foi constata-da nos Estados Unidos. Em 1925, a suapresença foi detectada no Canadá. NaEuropa, foi constatada em 1920 na re-gião do Mediterrâneo e atualmente, estápresente em todo o continente Euro-peu, desde a Espanha até a Rússia, ondeé uma praga de importância primária.Na Ásia, está amplamente distribuídanas regiões onde são cultivadas asrosáceas. Na América do Sul, foi consta-tada primeiro no Brasil em 1929, no RioGrande do Sul, sendo introduzida noUruguai em 1932 e na Argentina em

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1936. No Chile, a grafolita somente foidetectada em 1971. Na região produto-ra de maçãs do Brasil, a grafolita é con-siderada praga de ocorrência esporádicana macieira, observando-se, no entanto,uma tendência a aumentar em im-portância econômica nas últimassafras. É uma praga limitante à produ-ção de pêssego e nectarina em algumasregiões.

Reconhecimento

Ovos - 0,7 mm de diâmetro, deforma redondo-ovalada e coloraçãobranca a acinzentado-pardacenta. Sãocolocados isoladamente e de difícilvisualização em campo.

Lagartas - até os 4 mm de compri-mento, são de coloração branco-cremea levemente amarelada, possuem cabe-ça e placa cervical negras. Nos estádiosfinais adquirem coloração rosada oucreme, chegando até 10 a 12 mm decomprimento. Apresenta pente analcom quatro a sete dentes.

Pupa - a pré-pupa tece um casulo deteia de seda em fendas da casca das árvo-res, nos pontos de inserção de ramos, naregião da base do pedúnculo do fruto ouno solo, sob a projeção da copa.

Adultos - coloração cinza-escura,com linhas onduladas escuras nas asas,em grupos de quatro bandas transver-sais. As asas anteriores cobrem todo ocorpo quando o inseto está em repouso.Os adultos medem de 10 a 12 mm deenvergadura. As asas posteriores sãopardacentas e uniformes. Os machossão menores que as fêmeas.

Bioecologia

O período de incubação é de 3 a 5dias, dependendo da temperatura.O período larval desenvolve-se em cin-

co estádios e também é afetado pelatemperatura, podendo levar de 11 a21 dias. A fase de pré-pupa demora de3 a 8 dias e a de pupa, de 7 a 12 dias.Os adultos possuem uma longevidademédia de 10 dias. G. molesta tem umlimiar de vôo ao redor de 15oC e não háatividades de acasalamento e ovi-posi-ção em temperaturas próximas ou abai-xo daquela. Durante o dia, a atividadeconcentra-se entre as 17h e as 21h. Comoas condições climáticas da região Sulnão são definidas (o inverno não é regu-lar), torna-se mais difícil estabelecer ocom-portamento padrão da praga, como a uti-lização de temperaturas-base e a cons-tante térmica para estimar os períodosde maior ocorrência. A espécie apresen-ta diapausa na fase de pré-pupa. A pri-meira geração anual emerge em agostoe pode haver de seis a sete gerações porano na região produtora de maçãs doBrasil. Do final de maio a agosto, ocorrediapausa na fase de pré-pupa.

Dano

O dano é causado exclusivamentepela lagarta. Em macieira, o ataque acon-tece tanto nos ponteiros quanto nosfrutos. No primeiro caso, pode ocorrerprejuízo econômico principalmente emviveiros de mudas, pomares em forma-ção e cultivares cuja melhor produçãode frutos acontece em gemas de ponta,como a Fuji. O dano aos frutos é facil-mente reconhecido pela presençade excrementos na superfície do fruto(Fig. 14) e pelas galerias tortuosas que aslagartas produzem ao se alimentarem dapolpa. O ataque pode ocorrer desde afrutificação até a colheita. Nesse caso, oataque pode não ser percebido no mo-mento da classificação, e frutos compresença da praga podem ser enviadospara o mercado.

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Monitoramento

O monitoramento de G. molesta éefetuado com armadilhas Delta, usandoferomônio sexual sintético como atrati-vo. A densidade de armadilhas é de umapara cada 5 a 7 ha e a substituição dosseptos deve ser efetuada a cada 30 dias ouconforme recomendação da empresafornecedora. As armadilhas devem serinstaladas no final do inverno (agosto/setembro), realizando-se duas inspeçõespor semana, retirando os machos captu-rados no piso das armadilhas.

Controle químico

As ações de controle são tomadascom base nos dados do monitoramento.Adota-se o nível de 20 machos por arma-dilha por semana. Os inseticidas maiseficientes são o clorpyrifós, o tebufe-nozide e o fenitrothion. Esses produtostêm a vantagem de ser específicos delagartas, sendo o tebufenozide um regu-lador de crescimento. Outros insetici-das, como o methidathion e o phosmet,podem ser utilizados com uma eficiên-cia média.

Outras alternativas de controle

Novas alternativas estão em desen-volvimento, visando diminuir a aplica-ção de inseticidas em cobertura comoo atrai-e-mata e a confusão sexual.Na confusão sexual está sendo utilizado,ainda de forma experimental, o

feromônio microencapsulado pulveri-zado sobre as plantas em mistura comágua.

Outras lagartas (Noctuidaee Geometridae)

Os termos “grandes lagartas” ou“outras lagartas” têm sido utilizadospara designar várias espécies de lagartas,principalmente das famílias Noctuidaee Geometridae, que causam o desfo-lhamento da macieira e danificam osfrutos, deformando-os e prejudicando acomercialização para consumo innatura. Poucas informações estão dis-poníveis em relação a esse grupo delagartas, desconhecendo-se, também,que espécies estão presentes nos poma-res comerciais.

As lagartas podem ser encontradasnos pomares, durante todo o períodovegetativo da macieira, observando-sedanos ainda durante o período defloração. Isso impede que medidas decontrole sejam tomadas, verificando-seuma perda na qualidade ainda durante afrutificação. Outro período importan-te de ataque é aquele que ocorre nacolheita. Tanto na floração quanto nacolheita, não há como efetuar tratamen-tos com inseticidas em virtude dos resí-duos que podem permanecer na fruta.

Danos

Nos levantamentos de danos feitospelo Programa de Produção Integrada,este grupo de lagartas causou danos sig-nificativos em virtude, provavelmente,do menor volume de inseticidas aplica-dos contra as outras pragas. Esse fatoalerta sobre a necessidade de se conduzi-rem estudos sobre essas lagartas. As gran-des lagartas também podem interferirno direcionamento dos trabalhos quevisam introduzir o uso de produtos es-pecíficos como os feromônios.

Fig.14. Dano de grafolita em maçãs (pre-sença de “serragem”).

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Os danos são externos e, quandoocorrem em frutos jovens, há a cicatri-zação; com o crescimento, observa-sesomente uma espécie de russeting(Fig. 15), podendo, também, ser confun-dido com dano de sarna curada. Danosem frutos mais desenvolvidos são cilín-dricos e profundos, o que os diferenciamdo provocado pelo ataque da lagarta-enroladeira (Fig. 16).

Monitoramento

Até o momento, não se dispõe deinstrumentos práticos para efetuar omonitoramento dessas lagartas. A alter-nativa utilizada atualmente é a observa-ção visual da presença de lagartas navegetação rasteira do pomar (plantasdaninhas), do dano em folhas e frutos damacieira. Em algumas situações, é reco-mendada a contagem de mariposas cap-turadas em frascos caça-mosca, estiman-do-se um período de 15 dias para ocor-rência de lagartas no pomar.

Controle químico

O controle é realizado com osmesmos produtos recomendados para ocontrole da lagarta-enroladeira, direcio-nando a aplicação para a macieira etambém para a vegetação presente entreas filas, utilizando, neste caso, produtosseletivos, para reduzir o impacto sobreos inimigos naturais.

Entre os principais estudos que de-verão ser conduzidos, estão:

• Identificação e flutuação popula-cional das espécies.

• Desenvolvimento de métodospara o monitoramento, associando-se aflutuação populacional com os perío-dos de dano em maçã.

• Efeito do manejo das plantas dani-nhas presentes no pomar sobre aincidência de danos causados por lagar-tas e o estabelecimento de inimigos na-turais.

Carpocapsa

A carpocapsa (Cydia pomonella L.),provavelmente originária da Eurásia, éa mais importante praga da maçã nasFig.16. Dano causado por outras lagartas (Noctuidae/

Geometridae) em frutos próximos à maturação.

Fig.15. Dano causado por outras lagartas (Noctuidae/Geometridae) em frutos verdes.

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principais áreas produtoras do mundo.Na América do Sul, ela está estabe-lecida na Argentina, no Uruguai e noChile.

No Brasil, foram identificados fo-cos nas áreas urbanas da região produto-ra de maçã (Caxias do Sul, Bom Jesus eVacaria, RS e em Lages, SC), não haven-do nenhum registro de captura em po-mares comerciais de macieira. O seuestabelecimento em áreas comerciais demaçã do Brasil causaria a desestruturaçãodo atual programa de manejo e o au-mento significativo do uso de defensivosagrícolas.

Atualmente, a C. pomonella é conside-rada uma praga quarentenária A2 para oBrasil. Para o seu controle, criou-seo Programa Nacional de Prevençãoe Controle, coordenado pelo Ministérioda Agricultura, Pecuária e Abasteci-mento e com apoio das instituições depesquisa, extensão e das associações deprodutores. O programa prevê ações con-tínuas de monitoramento em pomarescomerciais e áreas urbanas visando detec-tar os focos e a supressão populacional dapraga.

Os hospedeiros primários da pragasão: maçã, noz, pêra e marmelo, e ossecundários, pêssego, ameixa, nectarinae damasco.

Em maçã, o inseto tem a maiorsignificância econômica, sendo reconhe-cido como praga-chave em torno da qualse elabora todo o programa de controledas demais. O programa é relativamenterígido, baseado somente em inseticidasquímicos, o que tem criado, por sua vez,problemas com outras pragas, particular-mente por destruição da fauna benéficaque controla o pulgão-lanígero, o ácaro-vermelho e as cochonilhas. Sem a adoçãodesses tratamentos, o dano por carpocapsapode alcançar de 80% a 100% da produçãode maçãs.

Reconhecimento

Os adultos possuem de 15 a 20 mmde expansão alar. As asas anteriores sãoacinzentadas e, próximo da extremida-de, há uma mancha circular escurarodeada de escamas com coloração dou-rada (Fig. 17). As lagartas recém-eclodidassão claras e medem cerca de 1 mm,podendo, quando desenvolvidas, atingirentre 18 e 20 mm de comprimento. Têmcoloração rosada, não apresentando opente anal.

Fig.17. Carpocapsa adulto, lagarta e dano em maçã.

Bioecologia

O ciclo de vida da carpocapsa com-preende quatro fases: ovo, lagarta, pupae adulto.

Os ovos são depositados isolada-mente ou, muito raramente, em gruposde dois ou três, sobre os frutos ou nasuperfície das folhas próximas aos fru-tos. A quantidade de ovos que cada fê-mea coloca varia, havendo uma relaçãoentre peso da fêmea e número de ovos

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colocados, aceitando-se uma média de44 ovos/ fêmea. As fêmeas diapausantespossuem uma capacidade menor de pos-tura em virtude do peso inferior.O período de incubação varia de 6a 20 dias, dependendo da temperatura.

As lagartas passam por cincoínstares, em três a cinco semanas.O primeiro ínstar (recém-nascida) medecerca de 2 mm e, quando total-mente desenvolvida, de 12 a 19 mm.A lagarta, após a emergência, procuraimediatamente um fruto para penetrar.Esse período pode durar de poucos mi-nutos a alguns dias. A entrada no frutopode ser, principalmente, pelo cálice oupela região peduncular. Uma vez perfu-rado o fruto, a larva produz uma galeriaem direção às sementes, das quais passaa se alimentar. Completada a fase larval,ela trata de abandonar o fruto, constru-indo uma nova galeria de saída do frutopara empupar. Estudos mostram que20% das larvas da primeira geração en-tram em diapausa invernal. Já na segun-da geração, o número passa para 70% ena terceira chega a 100% de larvashibernantes.

A pupação pode ocorrer na regiãodo cálice ou no pedúnculo dos frutos, nabase dos principais ramos, em caixas decolheita e de armazenamento. O perío-do pupal dura de 7 a 30 dias.

Danos

A lagarta de carpocapsa ataca dire-tamente o fruto, o qual cai precocemen-te da árvore e apodrece. A lagarta pro-duz um pequeno orifício circular exte-rior e logo introduz-se abaixo da epider-me, construindo uma galeria em formaespiral; esta última, com um diâmetro de3 a 6 mm, é visível debaixo da casca feri-da, quando a penetração é recente. A la-garta dirige-se até os carpelos, consomeas sementes e posteriormente a polpa,

formando galerias mais amplas de saída.Serragem umedecida e excrementos sãosinais de sua presença (Fig. 18).

Fig.18. Carpocapsa – dano externo podeser confundido com o provocado pelagrafolita (presença de “serragem”).

Monitoramento

Mediante a instalação de ar-madilhas com atrativo sexual, pode-sedetectar a presença do inseto nospomares, bem como determinar osperíodos de vôo e os níveis de infestaçãopara o estabelecimento das medidas decontrole da praga.

Controle químico

Nos países onde a C. pomonella estáestabelecida, os períodos de controlepodem ser perfeitamente prognostica-dos segundo o vôo dos machos quandoeles marcam a maior intensidade emcada geração. São indicados pelo menostrês períodos de tratamento químicodirigidos contra as fêmeas em plenaoviposição, assim como contra aslagartas neonatas, antes de perfurem osfrutos.

No hemisfério sul, o primeiroperíodo se estende da última semana deoutubro à primeira de novembro, e osegundo, da primeira à terceira de de-

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zembro; o terceiro tratamento ocorreentre a segunda à quarta semana dejaneiro. Em alguns anos, pode serrecomendada uma quarta aplicaçãooptativa principalmente em cultivarestardias de maçã.

Outras alternativasde controle

Atualmente, várias publicaçõestratam do problema de resistência dapraga aos inseticidas fosforados e aospiretróides mais utilizados no controleda carpocapsa e como medida alternati-va ao controle químico com inseticidas,trabalhos vêm sendo desenvolvidos uti-lizando a técnica denominada confusãosexual. Essa prática visa reduzir o uso deinseticidas e retardar a ocorrência depopulações resistentes.

Erradicação

No Brasil o Programa de Preven-ção e Controle da Cydia pomonella adotoucomo medidas de supressão a erradicaçãode plantas hospedeiras das áreas urbanase a instalação de painéis contendoferomônio e impregnados com insetici-da. O sistema é denominado de atrai-e-mata ou aniquilamento de machos.Outros métodos possivelmente serãoadotados como a confusão sexual, a téc-nica do inseto estéril, a aplicação deinseticidas biológicos (carpovírus) e aliberação maciça de inimigos naturais.

Cochonilhapiolho-de-são-josé

A cochonilha piolho-de-são-josé,Quadraspidrotus perniciosus, caracteriza-sepor passar a maior parte da vida fixa aohospedeiro e protegida por uma carapa-ça ou escama.

Reconhecimento

A fêmea adulta apresenta uma co-loração amarelada e permanece prote-gida por uma escama arredondada deaproximadamente 2 mm de diâmetro.A carapaça do macho é menor e deformato oval, com cerca de 1 mm dediâmetro. O macho passa por uma faseintermediária semelhante à da pré-pupados holometábolos. O macho adultoapresenta asas anteriores membranosase frágeis e as posteriores atrofiadas.O corpo, de coloração amarelo-alaranjada, tem cerca de 1 mm. Os ocelos,facilmente visíveis, têm coloraçãoavermelhada. O tórax possui umesclerito de cor avermelhada que se apre-senta como uma banda transversal nainserção das asas.

Bioecologia

A fêmea é vivípara e, após a fecun-dação, origina ninfas migratórias que,após a dispersão, fixam-se no hospedei-ro, atrofiando as pernas. As ninfas pas-sam por dois ou quatro estádios de de-senvolvimento, antes de se tornaremfêmeas e machos adultos. No inverno, oinseto é encontrado sob as fases de ninfa,com escamas pretas, fêmeas fecundadase fêmeas virgens. Em regiões onde oinverno é ameno, pode-se observar acontinuidade do ciclo. Além da auto-dispersão, o vento, os pássaros e os inse-tos são grandes disseminadores dacochonilha; porém a mais importanteforma de dispersão é pelas mudas infes-tadas no viveiro. A primeira revoadados machos ocorre em setembro, e aprimeira ocorrência de ninfas migrató-rias é observada após a florada. A deter-minação do momento de emergênciados machos tem importância na previ-são da primeira geração de ninfas. Essamigração deve ocorrer quando houver

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um acúmulo de 400 horas de temperatu-ra superior a 10ºC, após o pico de vôodos machos. São observados, em geral,três períodos de vôos dos adultos: setem-bro, dezembro e março.

Danos

O ataque pela cochonilha podeocorrer em troncos, ramos, folhas efrutos. O dano causa enfraquecimentodas plantas pela retirada da seiva, poden-do matar a planta. O sinal do ataque dacochonilha em troncos e ramos é a pre-sença de manchas violáceas sob a casca(Fig. 19). Nos frutos, o dano é caracteri-zado pela formação de áreas concêntri-cas, de coloração vermelha, em torno dacarapaça. Quando a cochonilha é retira-da o centro da área apresenta coloraçãoclara. O dano da cochonilha pode serconfundido com a ocorrência da sarnade verão (Venturia inaequalis).

servação das plantas do pomar. Duasépocas são importantes para localizarvisualmente a presença da praga nasplantas: colheita e poda. Por essa razão,o treinamento de colhedores e poda-dores é fundamental. O uso de armadi-lhas com feromônio permite detectar apresença da praga na área monitorada ea época de emergência dos adultos, masnão determina o local dos focos. Portan-to, a associação dos métodos demonitoramento é necessária para efetu-ar o controle localizado, na época ade-quada. A instalação das armadilhas deveocorrer em setembro e deve ser avaliadapelo menos uma vez por semana.

Controle químico

As épocas adequadas para o contro-le são:

• Durante o tratamento de quebrade dormência, adicionando-se ao óleomineral um inseticida fosforado;

• Quando ocorre a revoada dosmachos, detectada pela armadilha deferomônio;

• Quando há dispersão de ninfas.O uso de óleo mineral durante a

fase vegetativa não deve exceder 1% porcausa da fitotoxicidade, dando-se prefe-rência aos óleos minerais mais puros.

Outras alternativasde controle

O controle biológico com inimi-gos naturais pode auxiliar na reduçãopopulacional da praga, sendo o gêneroAphytis (Hymenoptera: Aphelinidae) omais comum.

Pulgão-lanígero

O pulgão-lanígero (Eriosomalanigerum) é assim denominado por apre-

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Monitoramento

O monitoramento pode ser reali-zado utilizando-se armadilhas comferomônio sexual sintético ou pela ob-

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sentar o corpo recoberto por filamentoscerosos de cor branca, produzidos pelasglândulas epidérmicas.

Reconhecimento

O inseto apresenta uma coloraçãocarmim. O pulgão-lanígero passa o in-verno na fase de ninfa, desprovida decerosidade. A reprodução é assexuadapartenogenética. Em regiões muito fri-as, pode ocorrer a forma sexuada dandoorigem a ovos de inverno, que são depo-sitados em hospedeiros alternativos.Como o olmo americano.

Bioecologia

É comum observarem-se colôniasatacando os brotos do porta-enxerto nosistema radicular. Essa era uma das for-mas mais comuns de dispersão da pragapor pomares novos, ou seja, por inter-médio das mudas. Quando o ataque émuito severo, as colônias podem serencontradas na região peduncular dosfrutos, sem, no entanto, causar danodireto. Ao final do inverno, as fêmeasvirginóparas ápteras começam a parirninfas que permanecem na mesma colô-nia. Quando aumenta a temperatura(novembro) ocorre a redistribuiçãoda praga na planta, observando-se a pre-sença de colônias tanto no sistemaradicular como no tronco e nos ramosda macieira.

Danos

O pulgão-lanígero alimenta-se daseiva, ocorrendo, nos locais de alimen-tação, nodosidades ou rugosidades, istoé, uma reação da planta às toxinas pro-duzidas pela praga. O rompimento dacasca expõe a planta à entrada de outraspragas e doenças. O ataque ao sistema

Fig. 20. Ataque do pulgão lanígero no sistema radicular ebrotos do porta-enxerto na macieira.

radicular induz a formação degalhas e reduz o sistema radicular, debi-litando as plantas. O ataque pode ocor-rer no tronco, nos ramos e nas raízes(Fig. 20).

Monitoramento

Não há um sistema de monito-ramento desenvolvido para avaliar adensidade populacional do pulgão-lanígero. Observações, no entanto, de-vem ser realizadas semanalmente, paraverificar a presença da praga, examinan-do-se a região do colo da planta, dasbrotações e dos ramos.

Controle químico

Medidas de controle químico sãonecessárias esporadicamente, sendo re-comendada a aplicação localizada deinseticidas. Essa aplicação deve ocorrerquando as plantas encontrarem-se ematividade, observando-se a carência doproduto.

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Outras alternativasde controle

O controle biológico por meio doendoparasita Aphelinus mali tem sido ca-paz de reduzir drasticamente a popula-ção, principalmente nos períodosem que não há intervenção de pesticidas.Os pulgões parasitados permanecemnas colônias e adquirem coloração pre-ta. O uso de porta-enxertos resistentes,como os da série MM (Merton Malling)e MI (Merton Immune), contribui parareduzir a incidência da praga nos poma-res comerciais. Os porta-enxertosEM (East-Malling) são considerados sus-cetíveis. A implantação de pomares emalta densidade, utilizando-se porta-en-xertos suscetíveis com M7 e M9, poderesultar no aumento da incidência dapraga.

Burrinho-da-macieira

Duas espécies estão presentes nospomares de macieira do Brasil, porémA. cervinus com uma freqüência maior.Em alguns países como o Chile, Naupactusxanthographus é uma praga importante davideira. A origem é neotropical, e estãodistribuídos, além do Brasil, na Argenti-na, no Chile e no Uruguai. O burrinho-da-macieira não apresenta importânciaeconômica no Brasil. Sua ocorrência éesporádica. O inseto é encontrado commaior freqüência em pomares antigos(10 a 15 anos) e tem uma distribuiçãolocal restrita, por apresentar baixa capa-cidade de deslocamento. A dispersãoocorre principalmente por meio dosbins de colheita. Pomares novos implan-tados em áreas com infestação podemsofrer problemas de crescimento. Nãohá estimativas dos prejuízos causadospelo burrinho.

Reconhecimento

Ovos - amarelados, achatados e deformato oval. São depositados emmassas de 45 a 50 ovos, revestidas porsubstância hialina aderente.

Larvas - ápodas, de coloração bran-co-leitosa com cápsula cefálica amarela-da e mandíbulas bem desenvolvidas.No primeiro estádio, medem de 1 a 2mm. No último estádio, as larvas deNaupactus chegam a 10 a 12 mm .

Pupas - livres, esbranquiçadas e comtraços dos adultos.

Bioecologia

Os adultos de Naupactus são aptésicose medem de 12 a 15 mm de comprimen-to. Apresentam coloração cinza. A fê-mea é um pouco maior e apresentaabdômen um pouco mais largo que omacho. Os adultos de A. cervinus sãomenores, medindo cerca de 7 mm, decoloração marrom. Em A. cervinus, a re-produção é partenogenética, uma vezque somente há fêmeas na população.O deslocamento desse inseto é muitopequeno, uma vez que apresenta asasfundidas. A emergência dos adultos ocor-re de novembro a abril. Alimentam-seda folhagem. Os ovos podem ser encon-trados na rachadura das cascas, nas fitasde arqueamento, em folhas secas enrola-das e muitas vezes presentes em folhascom ataque da lagarta-enroladeira.As larvas (ápodas) e as pupas vivem nosolo, na área do sistema radicular doshospedeiros. Nos pomares comerciaisde macieira, a maior densidade de adul-tos é observada durante ou após a colhei-ta provavelmente pela redução ou pelaausência da aplicação de inseticidas.O período de oviposição inicia cerca de20 dias após a emergência dos adultos.Esse período vai variar de acordo com a

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temperatura. Cada fêmea pode deposi-tar em média, 600 ovos, e o período deincubação dura de 15 a 20 dias. As larvasrecém-eclodidas caem ao solo, enterran-do-se rapidamente, e passam a alimen-tar-se das radicelas dos hospedeiros.As larvas localizam-se na região demaior disponibilidade de raízes (até± 80 cm), mas podem ser encontradas a1,40 m de profundidade. Uma vez com-pletado o desenvolvimento larval, elaconstrói no solo uma espécie de casulo,para pupar no seu interior. O ciclo deovo a emergência do adulto dura cercade 12 meses.

Danos

O burrinho não causa danos a fru-tos: a larva se alimenta das raízes e osadultos, das folhas. O dano provocadopelos adultos ao se alimentarem dasfolhas pode ser reconhecido pelas bor-das recortadas. Esse tipo de dano nãorepresenta prejuízo para o produtor.O dano mais importante é aquele causa-do pela larva no sistema radicular pois,além de debilitar a planta, as áreas lesa-das provavelmente favorecem a entradade patógenos associados a podridões deraízes.

Monitoramento

Não existem métodos específicospara o monitoramento do burrinho-da-macieira. Uma armadilha, que consistede uma caixa de madeira de 40 x 60 cm,coberta com tela, foi desenvolvida nofinal da década de 80. Instaladas no níveldo solo, as armadilhas podem ser efici-entes para monitorar a emergência doburrinho-da-macieira sob a copa de ár-vores hospedeiras. Outra alternativa é ouso de rede entomológica colocada soba copa das plantas, e sacudindo os ramosda macieira.

Controle químico

Normalmente não são efetuadostratamentos específicos para o seu con-trole. Os inseticidas fosforados aplica-dos para o controle de outras pragas sãoeficientes para reduzir a população. Parao controle de adultos, foram estudadosdiversos inseticidas, sendo os fosforadosos que apresentaram maior eficiênciaresidual. Não foram desenvolvidos estu-dos visando estabelecer o momento ade-quado de controle (nível de controle)por ser considerada uma praga de baixaprevalência.

Outras alternativasde controle

Foram desenvolvidos trabalhos depesquisa para o controle de larvas eadultos. Observou-se que, em condiçõesde laboratório, os fungos Metarhiziumanisopliae e Beauveria bassiana apresentaramuma alta mortalidade de larvas.

Gorgulho-do-milho

O gorgulho-do-milho (Sitophiluszeamais) é uma praga comum emgrãos armazenados e tem causadodanos significativos à fruticulturabrasileira. Embora seja consideradauma praga secundária ou de ocorrên-cia esporádica e localizada, ela causamuita preocupação aos produtores demaçã principalmente por não haversistemas eficientes de monitoramento.Os pomares de Fraiburgo, SC, sãoos mais atacados, provavelmentepor estarem localizados em uma regiãoonde há predominância de peque-nos produtores de milho e muitosgalpões nas imediações dos pomarescomerciais de maçã.

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Reconhecimento

Os adultos são pequenos besouros,com cerca de 3 mm de comprimento,e de coloração castanho-escura. Apre-sentam quatro manchas vermelhas nosélitros. Os adultos apresentam a cabeçaprolongada para frente (rostro), ondesão inseridas as peças bucais.

Bioecologia

O ciclo de vida é relativamentelongo, e as fêmeas podem sobreviver até140 dias. Em macieira, tem sido observa-do somente dano causado por adultos eainda não foi observada a reprodução emmaçã. O ataque ocorre na região pedunculare na área de contato entre frutos.

Danos

O dano é caracterizado por peque-nas perfurações na casca, com uma pro-fundidade de 1 a 2 mm. Quando o ataqueé intenso, podem formar galerias e sealimentarem da polpa. A presença dapraga nos pomares é variável. Possivel-mente períodos com baixa oferta demilho nos depósitos provocam disper-são antecipada, podendo-se observardanos a partir de dezembro. Entretanto,o ataque maior ocorre durante a colhei-ta da maçã.

Monitoramento

Não há um sistema de moni-toramento desenvolvido. Trabalhosutilizando feromônio e extratos de plan-tas foram testados sem resultado positi-vo. Foram capturados adultos em arma-dilhas que continham aproximadamen-te 0,5 kg de milho em grão. Sabe-se queessa não é a forma mais prática demonitoramento, mas é a única disponí-vel no momento. Outra alternativa é a

observação semanal das cachopas.O inconveniente é que quando o insetoé detectado, o dano já ocorreu.

Controle químico

O comportamento do gorgulho namacieira torna seu controle muitodifícil. O ataque também não é genera-lizado, no entanto ainda não é possíveldefinir áreas críticas quando o produtorse baseia exclusivamente nos danos dasafra anterior. Outro fator que dificultaseu controle é que o ataque ocorre du-rante o período de colheita. Os produ-tos com melhor eficiência são os fosfo-rados, com carência de 15 dias e residualinferior a 5 dias.

Outras alternativasde controle

Uma das alternativas viáveis é ocontrole do gorgulho nos galpões demilho da região através da fumigação.

MANEJO INTEGRADO DEPRAGAS

O controle das pragas da macieirano Brasil evoluiu bastante nos últimos20 anos, como resultado de um maiorconhecimento sobre a bioecologia daspragas. O primeiro avanço refere-se àadoção de métodos para monitoramentodas principais pragas (mosca-das-frutas,lagarta-enroladeira, grafolita e ácaro-vermelho). Isso possibilitou uma mu-dança na administração das aplicaçõesde inseticidas, anteriormente feitas semcritérios e de acordo com o calendário.Atualmente, os produtores têm consci-ência de que algumas aplicações de inse-ticidas devem ser feitas em pontos loca-lizados do pomar, como no caso damosca-das-frutas.

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A constatação da presença da carpo-capsa na área urbana de Vacaria, Caxiasdo Sul, Bom Jesus e Lages impulsionouo desenvolvimento de tecnologias decontrole de pragas da macieira baseadasno uso de feromônios sexuais sintéticos.Inicialmente usados no programa desupressão populacional da carpocapsa,visando à sua erradicação, eles passarama ser usados também para moni-toramento e controle de outros tortri-cídeos em macieira. Esse foi um passoimportantíssimo em direção ao estabe-lecimento de um programa de MIP.

Na Fig. 21, estão representadas asespécies de importância econômica paramacieira no Brasil. A década de 70corresponde ao período da introduçãoda cultura no país, quando o foco dasatenções estava na implantação e nacondução do pomar. Nessa época, comoa fitossanidade era um assunto de poucarelevância, várias pragas foram inadver-tidamente introduzidas. Já, na década de80, passou a haver uma preocupaçãocom problemas fitossanitários, decor-rente da busca por frutos de melhorqualidade externa. Nessa ocasião, asprincipais pragas foram identificadas.

Até então, o ácaro-vermelho era amaior preocupação dos produtores, sen-do considerado um fator limitante àprodução. Para seu controle, eram fei-tas cerca de cinco aplicações de acari-cidas. Essa situação culminou com aconstatação de populações resistentesaos produtos utilizados, que se torna-ram obsoletos.

Outras pragas foram registradas nacultura na época (Fig. 21), sendo a mos-ca-das-frutas e a lagarta-enroladeira con-sideradas as mais importantes.Os estudos sobre a bioecologia dessaspragas foram intensificados na décadade 90, resultando no desenvolvimentode métodos mais seletivos para controlee em uma melhor administração dasaplicações de inseticidas químicos.

A grafolita, praga primária do pesse-gueiro, foi definida como praga da maci-eira apenas no final da década de 80, e astécnicas empregadas para seu moni-toramento e controle evoluíram parale-lamente às da lagarta-enroladeira.

A diminuição no volume de inseti-cidas aplicados contra a lagarta-enro-ladeira, a mosca-das-frutas e a grafolitateve conseqüências sobre as populaçõesde outras pragas. No caso do ácaro-ver-melho, houve um restabelecimento deinimigos naturais, de modo que o ácaroé, atualmente, considerado uma pragasecundária. Houve, no entanto, um au-mento na incidência de dano por outraslagartas em pomares com menor cargade inseticidas. Portanto, ao se tratar demanejo integrado e, recentemente, deprodução integrada, deve-se ter em con-ta todo o pomar e os efeitos que umadeterminada prática terá sobre a espé-cie-alvo e sobre as outras espécies pre-sentes no pomar.

Há expectativas de que, a curto-médio prazo, algumas lacunas no co-nhecimento sobre as pragas da macieirasejam preenchidas. No caso da mosca-das-frutas, espera-se que se obtenhamatrativos específicos para o monitora-mento e a formulação de iscas. Além disso,técnicas que não agridam o ambiente, comoo controle biológico e a técnica do insetoestéril, podem vir a ser implementadas nasáreas de mata para, assim, prevenir a disper-são para os pomares.

O conhecimento sobre estrutura edinâmica populacional da lagarta-enroladeira e da grafolita será decisivopara o desenvolvimento de modelos queprevejam a ocorrência de picos popu-lacionais. As técnicas de controle base-adas em comportamento (confusão se-xual e aniquilação de machos) serãoutilizadas amplamente, principalmen-te em situações de baixa pressão daspragas. O controle biológico poderáaumentar a mortalidade na entressafra.

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Fig. 21. Situação das pragas da macieira no Brasil.

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A situação mais precária é a dasgrandes lagartas, das duas espécies dehemípteros e dos curculionídeos, paraos quais a única técnica de controleatualmente disponível é o controle quí-mico convencional em situações deemergência. O estudo da sua bioecologiae o desenvolvimento de técnicas demonitoramento possibilitarão um con-trole mais racional.

A carpocapsa, detectada no Brasilno início da década de 90, poderá sererradicada, por meio das técnicas deconfusão sexual e aniquilação de ma-chos. Conforme exposto anteriormen-te, existe um programa oficial do Minis-tério da Agricultura, da Pecuária e doAbastecimento, visando à sua erradi-cação. O sucesso do programa garantiráao Brasil o status de país livre dacarpocapsa, o que é promissor, conside-rando a tendência de aumento das ex-portações para mercados exigentes,

como o leste asiático e os Estados Unidosda América. O estabelecimento dacarpocapsa como uma nova praga nospomares comerciais teria conseqüênciassérias e poderia representar o desman-telamento do programa existente deMIP, além de comprometer a imagem donosso produto entre os importadores.

Finalmente, deve-se atentar para ofato de que a fitossanidade tem sido umapreocupação crescente não só no Brasil,mas em outras partes do mundo.Os órgãos regulamentadores queremmanter seus países livres de pragas exó-ticas e impõem cada vez mais exigênciasque garantam segurança quarentenária.Portanto, é fundamental que o Brasiltambém invista mais em um sistema defiscalização fitossanitária, por meio dacapacitação de técnicos, da instalação dearmadilhas para detecção e da implanta-ção de barreiras internas e externas.