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Pós-Graduação Lato Sensu FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS ESUDA ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO DAS EMERGÊNCIAS E DESASTRES ANDRÉ DE CASTRO SILVA PATOLOGIAS EM EDIFICAÇÕES DE ALVENARIA RESISTENTE EM JABOATÃO DOS GUARARAPES - PE RECIFE AGOSTO 2013

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Pós-Graduação Lato Sensu

FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS ESUDA

ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO DAS EMERGÊNCIAS E DESASTRES

ANDRÉ DE CASTRO SILVA

PATOLOGIAS EM EDIFICAÇÕES DE ALVENARIA

RESISTENTE EM JABOATÃO DOS GUARARAPES - PE

RECIFE

AGOSTO 2013

Pós-Graduação Lato Sensu

FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS ESUDA

ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO DAS EMERGÊNCIAS E DESASTRES

ANDRÉ DE CASTRO SILVA

PATOLOGIAS EM EDIFICAÇÕES DE ALVENARIA

RESISTENTE EM JABOATÃO DOS GUARARAPES - PE

Monografia desenvolvida pelo aluno ANDRÉ

DE CASTRO SILVA, orientada pelo Prof.

Esp. LUIZ GONZAGA DA SILVA DUTRA, e

apresentado ao Curso de Especialização em

Gestão das Emergências e Desastres da

Faculdade de Ciências Humanas ESUDA

como requisito final para obtenção do grau de

Especialista.

RECIFE

AGOSTO 2013

Pós-Graduação Lato Sensu

FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS ESUDA

ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO DAS EMERGÊNCIAS E DESASTRES

PATOLOGIAS EM EDIFICAÇÕES DE ALVENARIA

RESISTENTE EM JABOATÃO DOS GUARARAPES - PE

ANDRÉ DE CASTRO SILVA

Monografia submetida ao Corpo Docente do Curso de Especialização em Gestão

das Emergências e Desastres da Faculdade de Ciências Humanas ESUDA e

___________________ com _______ (_____________________) em ____ de

___________________ de 2013.

Banca Examinadora:

___________________________________________________________________________

Orientador: Luiz Gonzaga da Silva Dutra, Engenheiro, Especialista e Professor da Faculdade

de Ciências Humanas ESUDA.

___________________________________________________________________________

Examinador: Jarbas Esteves de Assis Filho - Especialista - UNICAP.

AGRADECIMENTOS

A Deus, que está presente em todos os momentos da minha vida, ajudando-me a superar

grandes adversidades e desafios.

Aos meus pais, Olívio e Asmir José de Castro, pelo amor e zelo com que conduziram a minha

educação e formação moral, para que eu pudesse chegar até esta etapa de minha vida e assim

conduzi-la com dignidade. Como também a minha irmã Patrícia de Castro e ao meu cunhado

José Nelson Laureano pelo exemplo inspirador de esforço, dedicação e vontade de vencer.

A minha avó Maria José que nas horas difíceis mostrou o caminho a ser seguido. As minhas

tias Edeilda de Castro e Eunice de Castro por sempre me apoiarem e sempre terem mostrado

interesse e preocupação com meus estudos. Aos meus primos Maurício de Castro e Marcone

de Castro que em muitas ocasiões deixaram seus afazeres, trabalho e lazer, para contribuir

com meus estudos. Ao meu primo in memoriam Marcos de Castro pela dedicação e

competência na profissão de Engenheiro.

A minha amada esposa Zélia Cristina Coimbra por estar ao meu lado sempre me

incentivando, principalmente, nas horas mais difíceis, e aos meus queridos filhos André

Petrônio e Renato Henrique por serem meu estímulo a sempre seguir em frente vencendo os

obstáculos que a vida oferece.

.

Ao meu orientador Cel. Bombeiro Luiz Gonzaga da Silva Dutra pelo incentivo e a confiança

depositada para realização desse estudo. Aos professores do Curso de Pós-Graduação em

Gestão das Emergências e Desastres da Faculdade ESUDA que ao longo de todo período

acadêmico foram incansáveis na transmissão de seus conhecimentos.

Aos abnegados companheiros da Defesa Civil do Município de Jaboatão dos Guararapes – PE

que com dedicação, profissionalismo e acima de tudo amor ao próximo, que superam os

obstáculos que a profissão impõe e fazem a diferença nesta profissão. A Albertina Farias pela

inestimável colaboração para a realização deste trabalho.

A todos vocês, meu muito Obrigado! Que Deus ilumine e abençoe a todos.

RESUMO

Este estudo buscou evidenciar as causas de insegurança estrutural nas edificações de alvenaria

resistente que têm levado aos múltiplos desabamentos dos prédios tipo caixão,

particularmente no Município de Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana do

Recife, Estado de Pernambuco, com o agravante de perdas de vidas humanas nos sinistros.

Como todo processo construtivo, existem erros na fase de projetos e execução que podem

acarretar a problemas futuros, entre esses, as chamadas patologias. O objetivo principal deste

estudo visou identificar e distinguir as patologias inerentes ao comportamento estrutural

(aspectos relacionados com concepção e construção) e patologias inerentes ao comportamento

da alvenaria como material. A metodologia de pesquisa teve caráter exploratório com análise

quali-quantitativa utilizando-se de diversos artigos publicados sobre as ocorrências de ruína

dessas edificações, com análises através de registros fotográficos das unidades habitacionais.

Como resultado considerou-se que a origem está na elaboração do projeto estrutural que não

prevê proteções aos sistemas estruturais e o processo construtivo que privilegia questões

econômicas em lugar da segurança da habitação. Dentre as patologias encontradas as fissuras

e infiltrações foram as mais detectadas decorrentes das condições de agressividade do solo, ar

e água, aliado a sobrecargas, deformações geradas por estruturas de concreto, recalques de

fundação. A solução apresentada é de reformulação dos projetos estruturais com base nas

normas específicas para projetos habitacionais de moradias populares seguindo todas as

recomendações e cuidados necessários descritos nas determinações no intuito de evitar o

aparecimento de anomalias, como forma de assegurar a saúde e segurança dos residentes,

eliminando os riscos de colapsos que já ceifaram tantas vidas.

Palavras-chave: Alvenaria Resistente. Patologias. Prédios-Caixão.

ABSTRACT

This study searched for highlight the structural causes of insecurity in resistant masonry

buildings that have led to multiple collapses of buildings coffin-like, particularly in the city of

Jaboatão Guararapes in the Metropolitan Region of Recife, State of Pernambuco, with the

further loss of life human in claims. Like any construction process, there are errors in the

design phase and execution that can lead to future problems, among these, the so-called

pathologies. The main objective of this study aimed to identify and distinguish the pathologies

inherent structural behavior (aspects of design and construction) and pathologies inherent in

the behavior of masonry as a material. The research methodology was exploratory in nature

with qualitative and quantitative analysis using several articles published on the occurrences

of ruin of these buildings, with analysis by photographic records of the housing units. As a

result it was considered that the origin is in the preparation of structural design which does not

provide protections for structural systems and construction process that favors economic

issues instead of housing security. Among the pathologies found cracks and leaks were

detected under the most aggressive conditions of soil, air and water, combined with overload,

deformations generated by concrete structures, foundation settlements. The solution presented

is to reformulate the structural designs based on specific standards for housing projects

housing following all the recommendations and precautions described in the determinations

required in order to avoid the appearance of anomalies, in order to ensure the health and

safety of residents, eliminating the risks of failures that have already claimed many lives

Key-words: Resistant Masonry. Pathologies. Buildings Coffin-like.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1.1 - Parede de Alvenaria Resistente de Tijolos e Argamassa .......................... 18

Figura 1.2 - Construção com Método Empírico ........................................................... 19

Figura 1.3 - Construção em Alvenaria Resistente (Portugal) ....................................... 21

Figura 2.1 - Prédio em Colapso (Maceió-AL) ………………………………………. 27

Figura 2.2 - Desabamento de Paredes (Maceió-AL) .................................................... 28

Figura 3.1 - Blocos Interditados no Conjunto Muribeca …………………………….. 37

Figura 3.2 - Recalque Edf. Ijuí …………………………………………………….... 39

Figura 3.3 - Ruínas ………………………………………………………………...... 39

Figura 3.4 - Edificio Areia Branca …………………………………………………... 40

Figura 3.5 - Escombros ……………………………………………………………… 41

Figura 3.6 - Regaste das Vítimas ……………………………………………………. 41

Figura 3.7 - Equipe de Resgate no Areia Branca ……………………………………. 42

Figura 3.8 - Bloco B do Edf. Sevilha ………………………………………………... 43

Figura 3.9 - Reformas Interna e Externa …………………………………………….. 46

Figura 3.10 - Muro na Área Externa ………………………………………………….. 46

Figura 3.11 - Danos à Estrutura ………………………………………………………. 47

Figura 3.12 - Fissuras …………………………………………………………………. 47

Figura 3.13 - Puxadinhas ……………………………………………………………… 48

Figura 3.14 - Infiltração ………………………………………………………………. 48

Figura 3.15 - Puxadinha para Comércio ……………………………………………… 49

Figura 3.16 - Fissura e Infiltração ……………………………………………………. 49

Figura 3.17 - Excesso de Carga ………………………………………………………. 50

Figura 3.18 - Ausência de Manutenção ………………………………………………. 51

Figura 3.19 - Pavimentos e Reservatório Superior …………………………………… 54

Figura 3.20 - Vão de Escada abaixo do Reservatório Superior ….…………………… 54

Figura 3.21 - Vão de Escadas com Danos …………………………………………….. 55

Figura 3.22 - Fissura Diagonal ……………………………………………………....... 55

Figura 3.23 - Argamassa de Assentamento …………………………………………… 57

Figura 3.24 - Infiltração ………………………………………………………………. 57

Figura 3.25 - Fachada com Infiltração ………………………………………………... 58

Figura 3.26 - Derrubada de Parede …………………………………………………… 58

Figura 3.27 - Reforma completa do Banheiro ………………………………………… 59

Figura 3.28 - Reforma da Sala ………………………………………………………... 60

Tabela 2.1 - Número e tipos de laudos de “Prédios de Tipo Caixão” de cinco

municípios da Região Metropolitana do Recife. ......................................

30

Tabela 2.2 - Resumo Parcial de Edifícios em Grau de Risco na RMR, em 2010 ................. 32

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABECE Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

AE Alvenaria Estrutural

AR Alvenaria Resistente

ASTM Standard Test Methods for Flexural Bond Strength of Masonry

BNH Banco Nacional da Habitação

CONDECIPE Coordenação de Defesa Civil de Pernambuco

CREA Conselho Regional de Engenharia. Arquitetura e Agronomia

EPU Expansão por Umidade

IBAPE Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia do estado de

São Paulo

IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

ITEP Instituto de Tecnologia de Pernambuco

NBR Norma Brasileira

PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

RMR Região Metropolitana do Recife

SEDEC Secretaria Executiva de Defesa Civil

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 11

CAPÍTULO 1 – EDIFICAÇÕES EM ALVENARIA ................................................. 16

1.1 Origem Histórica do Uso de Alvenaria em Edificações ............................................. 17

1.2 Construção em Alvenaria Resistente no Brasil e em Outros Países ........................... 18

1.3 Comportamento Estrutural das Edificações em Alvenaria Resistente ....................... 22

1.4 Colapsos da Alvenaria Resistente .............................................................................. 24

CAPÍTULO 2 – RUÍNAS DE PRÉDIOS EM ALVENARIA RESISTENTE ........ 27

2.1 Desabamento de Prédios-Caixão ................................................................................ 27

2.2 Tipos de Laudo Pericial .............................................................................................. 29

2.3 Acidentes por Falhas Estruturais em Prédios na Região Metropolitana do Recife .... 32

CAPÍTULO 3 – ACIDENTES EM PRÉDIOS-CAIXÃO EM JABOATÃO DOS

GUARARAPES ...............................................................................................................

36

3.1 Edifício Aquarela ........................................................................................................ 38

3.2 Edifício Ijuí ................................................................................................................. 39

3.3 Edifício Areia Branca ................................................................................................. 40

3.4 Edifício Sevilha .......................................................................................................... 42

3.5 Conjunto Residencial Muribeca ................................................................................. 43

3.5.1 Bloco 155 do Conjunto Muribeca ............................................................................ 44

3.5.2 Bloco 190 do Conjunto Muribeca ............................................................................ 49

CAPÍTULO 4 – PATOLOGIAS IDENTIFICADAS NAS EDIFICAÇÕES “TIPO

CAIXÃO” EM JABOATÃO DOS GUARARAPES ....................................................

52

4.1 Escadas e Caixa D’Água ............................................................................................. 53

4.2 Patologias das Fissuras ............................................................................................... 55

4.3 Modificações na Estrutura do Imóvel ......................................................................... 58

4.4 Causas para Interdição da Edificação ......................................................................... 60

CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 63

REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 65

ANEXO A – MODELO DO RELATÓRIO DE VISTORIA TÉCNICA .................. 69

ANEXO B – GLOSSÁRIO ............................................................................................ 70

11

INTRODUÇÃO

O bem social “moradia” é considerada um dos eixos, além da Educação e Saúde, de

constante preocupação dos órgãos governamentais a fim de satisfazer os anseios da sociedade.

O Brasil tem sistematicamente elaborado programas habitacionais objetivando solucionar o

déficit “moradia”, principalmente, para a classe econômica menos favorecida. No entanto, os

resultados ainda não são positivos, uma vez que a Pesquisa Nacional por Amostra de

Domicílios - PNAD de 2007 apontou déficit de 6,273 milhões de domicílios (IPEA, 2008).

Recentemente o Ministro Moreira Franco, da Secretaria de Assuntos Estratégicos do Governo

Federal, declarou que o déficit atual é de oito milhões de unidades habitacionais (MOREIRA

FRANCO, 2012).

Vale relembrar que na década de 70 houve uma explosão imobiliária para a construção

de edifícios populares de até quatro pavimentos, constituídos de apartamentos com 100 m² de

área construída, grande número deles sobre pilotis, onde a partir de uma grelha em concreto

armado erguia-se a estrutura em alvenaria resistente.

No entanto, crises financeiras no setor de construção civil levaram a remodelagem

desse padrão. Assim, a partir da década de 80 os apartamentos passaram a ocupar todo

pavimento térreo, e a diminuição da área construída que passou a ser inferior a 50 m².

De acordo com Mota e Oliveira (2007) desse modo duplicou-se a oferta de moradia

mantendo-se a mesma área de terreno de antes, e ainda, esses autores pontuam que tenham

sido construídas seis mil unidades para 250.000 pessoas, na Região Metropolitana do Recife -

RMR, ou seja, uma média de 40 pessoas por unidade construída.

A Região Metropolitana do Recife é composta por quatorze municípios e os mais

populosos e carentes por unidades habitacionais com preços acessíveis (para população de

baixa renda) são: Jaboatão dos Guararapes, Olinda, Paulista, Moreno e Camaragibe, por esta

razão, cerca de 10% dessa população moram em edifícios em alvenaria resistente de até

quatro pavimentos. Esses prédios denominados regionalmente "edifícios tipo caixão" são

estruturados em elementos de alvenaria, utilizando blocos de vedação (tijolos furados) com a

função estrutural.

Essas edificações, entretanto, têm apresentado falhas estruturais que geraram nas

últimas décadas o registro de acidentes com desabamento, provocando óbitos e feridos. Além

da questão crítica e irreparável pela perda de vidas humanas e lesões corporais, a frequência

desses sinistros e a natureza brusca da ruptura, com colapso progressivo, têm gerado

12

inquietação à comunidade técnica e, principalmente, aos moradores dessas edificações, que

vivem em sobressalto pela incerteza das condições de segurança de suas residências e de suas

vidas (PIRES SOBRINHO, 2012).

Esta afirmativa tem respaldo nos estudos de Araújo et al. (2006) que declararam que a

Região Metropolitana do Recife apresenta um quadro alarmante que compromete a imagem

da construção civil brasileira. A dura afirmativa desses autores é decorrente da estatística que

aponta que de 1977 até 2004, 12 edifícios desabaram, deixando mais de 30 vitimas fatais e

dezenas de feridos, considerando que apenas no sinistro do Edifício Giselle, localizado em

Jaboatão dos Guararapes-PE, em 1º de junho de 1977 morreram 22 pessoas, é importante

destacar que nesse Município foram identificadas 6 edificações em risco (Quadro 1).

Quadro 1 – Unidades habitacionais da RMR em risco, no período de 1992-2009.

Ano Edifício Município Observações

1992 Baronatti Olinda Ruína na construção

1994 Bosque das Madeiras Recife Ruína na construção

1997 Aquarela Jaboatão Ruína

1999 Érika Olinda Ruína com 5 mortes

1999 Enseada do Serrambí Olinda Ruína com 7 mortes

2000 N. Sra

da Conceição Jaboatão Interditado e desocupado

2001 Ijui Jaboatão Ruína

2004 Bloco 190 - Muribeca Jaboatão Recalque da estrutura

Interditado e desocupado

2007 Sevilha Jaboatão

Ruína de um bloco

Os demais blocos foram

interditados e desocupados

2009 Bloco 155 - Muribeca Jaboatão Interditado e desocupado

Fonte: Pires Sobrinho, 2012.

E importante referir que, segundo Melo (2007), o Edifício Giselle além de desabar

levando a óbito 22 pessoas causou lesões em mais de 20 pessoas. O prédio que estava em fase

de acabamento, tinha 7 andares e 28 apartamentos, mas no pavimento térreo já funcionava

uma agência bancária, na época do desabamento o edifício passava pelo serviço de reforço de

uma das colunas.

13

A informação citada acima leva a considerar a precariedade da construção, pois, como

afirma Danielle Cavalcanti:

Dizer que um edifício foi construído em alvenaria estrutural significa que a

sua base de sustentação é feita pelas paredes e não por pilares de concreto.

Não há nada na engenharia civil que questione a aplicação desta técnica,

muito empregada por construtoras focadas em produtos para a classe C por

permitir que a obra seja executada em menos tempo, diminuindo custos. O

resultado é um preço mais competitivo no mercado (CAVALCANTI, 2012,

p. 1).

Sendo assim, considera-se relevante realizar um estudo exploratório em razão de seus

agravos e riscos para a população que habita os prédios “tipo caixão”. Neste sentido este

estudo justifica-se pelo argumento de que é fundamental identificar as patologias recorrentes a

fim de contribuir para a solução dos problemas encontrados nas edificações de alvenaria

resistente, em especial as construídas no Município de Jaboatão dos Guararapes-PE, como

ainda analisar as possíveis causas para os colapsos, estabelecendo parâmetros comuns entre as

edificações e as problemáticas que atingem este tipo de construção, propondo-se deste modo

servir de suporte aos meios acadêmicos e técnicos, embasando trabalhos futuros, face os

riscos iminentes de desastres.

Neste trabalho foi adotada pesquisa exploratória de caráter quali-quantitativo com o

propósito de contextualizar a situação dos referidos imóveis, através da sistematização dos

dados coletados na pesquisa de campo, incluindo registros fotográficos a fim de respaldar os

resultados e o objetivo proposto.

A opção por este tipo de pesquisa teve por base o fato de não requerer o uso de

técnicas e métodos estatísticos, mas sim, o ambiente como fonte direta dos dados e o

pesquisador como instrumento chave, como também envolver dados descritivos sobre os

processos construtivos pelo contato direto do investigador com a situação estudada, desta

forma o processo é o foco principal da abordagem, tendo como objetivo maior a interpretação

de fenômenos e a atribuição de resultados (MINAYO, 2003).

A coleta de dados foi realizada a partir de observações diretas do pesquisador com

registros fotográficos no período de 2010 a 2012, com base no Modelo de Vistoria (Anexo

A).

Os resultados obtidos foram analisados e comparados com a literatura de forma a

identificar as patologias existentes.

Vale destacar que o objetivo foi analisado sob a ótica de pesquisa descritiva e pesquisa

exploratória, pois de acordo com o entendimento de Gil (2008) a investigação exploratória é

14

usada quando a investigação descritiva “visa proporcionar uma visão geral de um

determinado fato, do tipo aproximativo” (ibidem p. 43) e a exploratória quando “envolver

levantamento bibliográfico, experiências práticas com o problema pesquisado e análise de

exemplos que estimulem a compreensão.” (ibidem, p. 46).

Seguindo as orientações de Lakatos e Marconi (2003), o delineamento deste estudo foi

realizado com o emprego de técnicas metodológicas através de um levantamento

bibliográfico, documental e pesquisa de campo.

Neste sentido, o principal objetivo foi o de analisar os processos que contribuem para

as causas das patologias nas edificações de alvenaria resistente, localizadas no município de

Jaboatão dos Guararapes, referido pela literatura como uma área crítica e que reúne o maior

número de sinistros, a fim de buscar soluções para essa problemática.

Para tanto, faz-se mister conhecer as patologias recorrentes nas edificações “tipo-

caixão”, relacionando os efeitos dos vícios construtivos que são predominantes nessas

edificações e que redundam em colapso estrutural, conjugados a influência que as

modificações estruturais realizadas pelos usuários facilitam a ocorrências de riscos à

segurança e saúde dos moradores.

Em relação ao processo construtivo, vale considerar os estudos de Gil (2008) quando

afirma que a ciência pode ser caracterizada como uma forma de conhecimento verificável

porque sempre possibilita demonstrar a veracidade das informações, como também é falível,

porque reconhece sua própria capacidade de errar. Pode-se acrescentar que a extensão do erro

é o limite de novo acerto em ciência, porquanto o conhecimento não é um fato estanque, é

evolutivo.

Para um melhor entendimento a estrutura deste trabalho foi dividida em quatro

capítulos, além da Introdução e das Considerações Finais.

Na Introdução relatou-se sobre a delimitação do tema e sua importância para este

estudo, além da justificativa que pontuou a necessidade de uma pesquisa de campo, e ainda,

os objetivos propostos que nortearam o desenvolvimento deste trabalho, conduzindo ao

resultado final.

No capítulo Edificações em Alvenaria iniciou-se com uma breve apresentação da

origem deste tipo de construção, em seguida abordou-se como esse processo construtivo é

usado no Brasil e em outros países, continuando, refere-se sobre o comportamento da

estrutura dessas edificações para compreender as causas para os colapsos da alvenaria

resistente.

15

Ruínas de Prédios em Alvenaria Resistente é o título do próximo capítulo, no qual

focalizou-se as formas de desabamento, a conduta pericial, e apresentação de formulários

utilizados para emissão de laudo da perícia, destacou-se ainda os sinistros ocorridos em

edificações no município em foco.

No capítulo seguinte, Acidentes em Prédios-Caixão em Jaboatão dos Guararapes,

tratou do campo de pesquisa, assim, analisou-se algumas edificações por suas características

de colapso, foram escolhidos os prédios: Aquarela, Areia Branca, Sevilha, Ijuí, e os blocos

155 e 190 do Conjunto Muribeca, considerou-se ainda, pertinente inserir algumas fotos a fim

de colaborar com as análises.

Complementando o estudo, no capítulo Patologias Identificadas nas Edificações “Tipo

Caixão” em Jaboatão dos Guararapes discorreu-se sobre aqueles elementos estruturais que são

mais frequentes e suas patologias, com o auxílio das afirmações expressas pela literatura

científica consultada e os resultados obtidos com a observação de campo permitiram uma

análise que identificou, entre outros determinantes, o agravo da falta de controle de qualidade

dos componentes e dos procedimentos construtivos, aliado a ausência do conhecimento dos

mutuários sobre os riscos de intervenção em seus imóveis, por fim, foram abordadas as causas

que levam a interdição de um prédio como forma de assegurar a segurança e saúde dos

residentes.

Com esses requisitos reunidos foi possível tecer as Considerações Finais

correlacionando-as com o objetivo proposto para este estudo, para assim apresentar

orientações destinadas a minimização do risco de desabamento em prédios “tipo caixão”, e

como consequência a não ocorrência de desabrigados, feridos e graves fatalidades (óbitos) de

seus moradores.

16

CAPÍTULO 1 - EDIFICAÇÕES EM ALVENARIA

Uma construção que utiliza alvenaria é aquela em que há um conjunto de tijolos,

blocos, pedras etc. (e ligantes, como argamassa) que resistem a esforços de compressão,

possuindo propriedades intrínsecas que possam compor elementos estruturais. Há ainda,

apesar de menos usadas, as alvenarias de pedras naturais ou artificiais e alvenarias adensadas,

maciços de argila ou concreto, moldadas em formas especiais.

De acordo com o seu uso e da forma como é feita, a alvenaria pode ter as seguintes

formas:

Alvenaria Armada: a alvenaria armada é reforçada devido a exigências estruturais. São

utilizadas armaduras passivas de fios, barras e telas de aço.

Alvenaria não Armada: nesse tipo de alvenaria, os reforços de aço (barras, fios e telas)

ocorrem apenas por necessidades construtivas.

Alvenaria Protendida: alvenaria reforçada por uma armadura ativa (pré-tensionada)

que submete a alvenaria a esforços de compressão.

Alvenaria Resistente: são as alvenarias construídas para resistirem a cargas outras

além do próprio peso.

Alvenaria Estrutural: no sistema convencional de construção, as paredes apenas

fecham os vãos entre pilares e vigas, encarregados de receber o peso da obra. Mas

existe outro método, o de alvenaria estrutural que diferencia-se da alvenaria resistente

por ser dimensionada empiricamente. Neste caso pilares e vigas são desnecessários,

pois as paredes (chamadas portantes) distribuem a carga uniformemente ao longo dos

alicerces (FRANCO, 2008, p. 4).

Nas alvenarias antigas, essas unidades eram compostas apenas de pedra ou o tijolo

cerâmico, eventualmente, reforçadas com estrutura interna de madeira.

Desde a mais remota antiguidade que o homem utiliza a alvenaria como método

construtivo, inicialmente através do empilhamento de pedras e em seguida através da

descoberta de técnicas que foram evoluindo ao longo dos séculos.

Para Valle (2008) a alvenaria estrutural resultou, em decorrência de processos

empíricos de aprendizagem, ou seja, por tentativa de acerto e erro, numa conjugação de

elementos resistentes nos quais a transferência das cargas se faz por percursos de tensões de

compressão. Apesar da aparente falta de ligação entre os elementos o fato é que, muitas destas

estruturas, deram provas da sua eficácia e mantiveram a sua forma durante séculos.

17

1.1 Origem Histórica do Uso de Alvenaria em Edificações

Na Antiguidade, os povos etruscos, egípcios e romanos, já construíam pontes em

arcos, monumentos e outras edificações e que permanecem até a atualidade como testemunhas

da importância da utilização da alvenaria como material de construção ao longo da história da

humanidade. Ao longo do tempo essas estruturas sofreram diversas alterações,

transformando-se das formas iniciais, pesadas e espessas, para formas mais delgadas e leves,

se tornando nos dias atuais um dos componentes, mais frequentemente, usado em quase todos

os tipos de edificações (VITÓRIO, 2003).

Alguns exemplos de edificações históricas, que atravessaram séculos, são destacadas

nos estudos de José Marlos Lunardi:

A história relata que as pirâmides do Egito, que datam de 2600 a.C., a de

Quéops, possuía 147m de altura e 2,3 milhões de blocos, com peso médio de

2500 kg. O Farol de Alexandria, do ano 280 a.C., era de mármore branco

com 134m de altura, porém, foi destruído por um terremoto no século XIV, e

sabe-se que dessa forma também foi construído o Coliseu romano, do ano 70

d.C., que tem 50m de altura e 500m de diâmetro (LUNARDI, 2010, p. 18).

De acordo com o site Comunidade da Construção (2012, p. 6)1 “o sistema construtivo

em alvenaria é utilizado no Brasil desde que os portugueses aqui desembarcaram no início do

século XV”. Contudo, na literatura não há referência de edificações daquela época, com esse

tipo de processo.

No entanto, os estudos de Ramalho e Corrêa (2003) apontam que a alvenaria estrutural

foi introduzida em 1966, quando foram construídos edifícios com apenas quatro pavimentos.

Em 1968, com o avanço das teorias de cálculo e projeto surgiu a primeira fábrica de blocos de

concreto no Brasil.

Vale considerar que, em 1972, foi construído o Condomínio Central Parque Lapa

formado de quatro blocos de doze pavimentos, nesse sentido, segundo Lunardi (2010, p. 18),

“até meados da década de 70, mais de dois milhões de unidades habitacionais já haviam sido

construídas no país através desse sistema de construção”.

Já nos anos 80 são iniciadas construções de conjuntos habitacionais, de baixo custo,

para famílias de baixa renda, e concomitante, “o aparecimento de muitas patologias durante e

após a execução” (CORRÊA, 2010, p. 17).

1 Disponível em: <www.comunidadedaconstrucao.com.br/upload/ativos/.../07marcioc.p... > Acesso em: 18 dez

2012.

18

1.2 Construção em Alvenaria Resistente no Brasil e em Outros Países

Alvenaria resistente é uma técnica construtiva que se caracteriza pela utilização de

unidades de vedação (cerâmicas, concreto, sílico-calcáreo) com finalidade estrutural, ou seja,

com o objetivo de suportar cargas além do seu próprio peso. No processo de construção as

peças são industrializadas com dimensões e peso que as tornam manuseáveis, ligadas por

argamassa, tornando o conjunto monolítico (Figura 1.1).

Figura 1.1 - Parede de Alvenaria Resistente de Tijolos e Argamassa

Fonte: Maciel e Lourenço, 2007.

O comportamento estrutural dos prédios de alvenaria resistente é muito discutido por

diversos autores. Entre eles, destacam-se Gusmão et al. (2009) que referem um aspecto

primordial a ser inicialmente salientado, praticamente não se têm estudos que permitam o

conhecimento das formas pelas quais as paredes de alvenaria construídas com blocos

destinados a vedação, usadas com função estrutural, resistam aos esforços a que são

submetidas. Sabendo-se que há uma forte razão para isto, e que reside na contradição

intrínseca em se usar o componente de forma inadequada.

A análise desse panorama é feita por Pires Sobrinho et al. (2008) de que essas

edificações foram construídas sem embasamento técnico-normativo, onde as paredes,

construídas com blocos de pequena espessura, funcionam como elementos estruturais

recebendo as cargas das lajes e transmitindo-as aos elementos de fundação, sem

necessariamente existir outros elementos distribuidores das tensões.

E ainda, Gouveia et al. (2009) referem que a alvenaria é um material compósito

(constituído pela mistura e aglutinação de duas ou mais substâncias) que consiste em blocos e

19

juntas. Uma representação detalhada da alvenaria terá de incluir a modelação dos blocos,

argamassa e interfaces bloco/argamassa. Esta modelação é demasiado exigente para

aplicações correntes, quer em termos de necessidades de memória quer de tempo de execução.

Para esses autores uma abordagem mais simplificada em que a junta (de pequena

espessura) é substituída por um elemento de junta com espessura zero resulta mais vantajosa.

Este gênero de análise é apropriado para elementos estruturais constituídos por um número

não muito elevado de blocos e juntas, sujeitos a distribuições de tensões e extensões muito

heterogêneas, como observado na Figura 1.2.

Figura 1.2 - Construção com Método Empírico

Fonte: Maciel e Lourenço, 2007.

O comportamento da alvenaria é influenciado por inúmeros fatores, tais como: as

propriedades dos blocos e juntas que constituem a parede de alvenaria, a disposição das juntas

verticais e horizontais, as dimensões dos blocos de alvenaria, a qualidade da mão-de-obra, o

grau de cura, a idade e fatores atmosféricos. Devido a esta variabilidade, só recentemente a

comunidade científica internacional começou a concentrar esforços nas estruturas de

alvenaria. A importância reduzida que tem sido atribuída aos aspectos numéricos e

comprovada pela ausência de leis constitutivas bem estabelecidas. Por outro lado, as

dificuldades em adotar os modelos de outros campos científicos mais avançados, tais como a

mecânica das rochas, dos solos, são evidentes, dadas as características particulares da

alvenaria (MACIEL; LOURENÇO, 2007).

Acrescente-se a isso, de acordo com Vitório (2003, p. 5), “a agressividade ambiental, a

má utilização e a falta de conservação para que comecem a se manifestar os fenômenos

patológicos que tendem a comprometer a funcionalidade e a segurança do imóvel”.

20

É válido ainda referir os estudos de Melo (2007) quando afirma ser comum o

aparecimento de trincas em prédios caixão devido às movimentações térmicas, já que a

diferença de temperatura entre o ambiente interno e externo gera um gradiente que pode

causar tensões, como também provocar rupturas, ocorrendo principalmente nos contornos das

lajes de cobertas com as paredes do último pavimento. Essa patologia é agravada pela

ausência das cintas de amarração, que teria ainda a função de distribuir as cargas da laje e dar

mais rigidez a estrutura.

As patologias citadas levam a compreender os sinistros ocorridos nos prédios tipo

caixão, sendo assim, vale considerar os estudos de Parsekian et al. (2005) sobre as

características da edificação e dos critérios de projeto analisados, e que estão referidos abaixo,

podendo-se destacar:

presença ou não de cintas intermediárias e grautes verticais em paredes de alvenaria

estrutural;

escolha da família de blocos utilizada e as soluções adotadas na modulação;

utilização ou não de armadura negativa em lajes.

Esses autores alertam sobre a questão do orçamento versus a segurança estrutural, ao

afirmarem que na mesma empresa de projeto, percebe-se diferença na adoção de um critério

por influência da empresa construtora, que muitas vezes está visando à redução de consumo

de material. Ainda que muitas vezes a escolha de determinado critério não acarrete em

diminuição da segurança estrutural, essa postura às vezes aumenta o potencial de surgimento

de manifestações patológicas (PARKESIAN et al., 2005).

Para melhor entender o alerta desses autores vale referir que seus estudos

quantificaram e analisaram indicadores de projetos realizados em uma única empresa de

projeto, localizado na cidade de São Carlos-SP. Todas as edificações eram em alvenaria

estrutural não armada com fundação em estacas e vigas-baldrame. Sendo edifícios

residenciais de 4 e 5 pavimentos com as seguintes características:

Conjunto Residencial Palmares - composto por 10 edifícios de 5 pavimentos (térreo

mais 4 pavimentos-tipo). Grauteamento vertical nos encontros das alvenarias e nas

laterais de aberturas.

Conjunto Habitacional Francisco Morato - composto por 7 edifícios de 4 pavimentos

(térreo mais 3 pavimentos-tipo). Grauteamento vertical nos encontros das paredes.

Conjunto habitacional Felix Sahão - composto por 10 edifícios com 4 pavimentos

(térreo mais 3 pavimentos-tipo). Grauteamento vertical nos encontros das paredes

(PARSEKIAN et al., 2005).

21

Na análise de Gouveia et al. (2009) uma construção pensada, planificada e

economicamente avaliada permite reduzir tempos de execução na fase de construção, aplicar

novos materiais de funções mais apropriadas e aproveitar de forma mais eficaz os diversos

elementos de construção para o desempenho estrutural. Para edifícios de pequeno porte,

existem estudos que referem que a construção em alvenaria estrutural é competitiva face à

solução tradicional em estrutura reticulada de betão (concreto) armado, sendo referidas

reduções de custos entre 10% a 25% por alguns estudos. Por outro lado é igualmente possível

reduzir a percentagem de problemas associados ao comportamento das paredes de alvenaria

que atualmente se verifica.

E ainda, em vários países a utilização de paredes resistentes em alvenaria tem um peso

considerável, com o surgimento da regulamentação europeia, aliada a incorporação de novas

disciplinas nos planos de estudo das escolas de Engenharia e com a divulgação de

metodologias adequadas, é certo dizer que é possível implementar processos de construção de

edifícios em alvenaria estrutural, como exemplo, em Portugal (Figura 1.3), e fomentar a

ligação saber–fazer, ou seja a ligação ensino–indústria, de forma mais eficaz na obtenção dos

resultados pretendidos (GOUVEIA et al., 2009).

Figura 1.3 - Construção em Alvenaria Resistente (Portugal).

Fonte: Gouveia et al., 2009.

A literatura salienta que em vários países a utilização de paredes resistentes em

alvenaria tem um peso considerável, como, por exemplo, na Alemanha onde 45% das

construções de edifícios são em alvenaria estrutural, quando trata-se de aplicações a dois ou

três pisos, o que denota um maior equilíbrio entre diferentes soluções (GOUVEIA et al.,

2009).

22

Entretanto, de acordo com Maciel e Lourenço (2007, p. 1), “nesta situação

correspondem regulamentos europeus pouco adequados, quando comparados com os seus

congêneres para estruturas metálicas ou estruturas de betão”. A estrutura de betão (concreto)

ao receber uma armadura metálica resiste aos esforços de tração, enquanto o concreto em si

resiste a compressão.

As razões para o questionamento dos regulamentos europeus são encontradas na

afirmativa de Hendry (2002) quando refere que, muito embora entre os séculos 19 e 20

tivessem sido realizados testes de resistência dos elementos da alvenaria estrutural em vários

países, mesmo assim se elaborava o projeto de alvenaria estrutural de acordo com métodos

empíricos de cálculo, o que representou grandes limitações.

Neste contexto, considera-se que o desenvolvimento de alvenaria estrutural

representou um avanço tecnológico significativo para a indústria de construção e

consequentemente resultados econômicos que vão ao encontro das necessidades de cada País.

Ademais, pode-se dizer que a alvenaria resistente está sujeita às patologias que

usualmente acometem a alvenaria estrutural, pelo fato de estar submetida não apenas a

condições de carregamento como também a ações do meio ambiente.

1.3 Comportamento Estrutural das Edificações em Alvenaria Resistente

Vale referir a análise de Cavalheiro (2003) distinguindo a tipificação de Alvenaria

Estrutural e Alvenaria Resistente. De acordo com esse autor este tipo de construção, com uma

ou outra característica peculiar da região e maior ou menor arrojo, é encontrado de norte a sul

do Brasil. Não se trata na realidade de Alvenaria Estrutural (AE), mas de Alvenaria Resistente

(AR), para estabelecer, conceitualmente, uma primeira diferença entre os sistemas

construtivos. AE é um sistema racionalizado, que utiliza blocos modulares, com vazados

verticais (por onde passam as tubulações, em geral), de resistência à compressão variando de

4,5 a cerca de 30 MPa, na área bruta. Todo um conjunto de procedimentos é utilizado na AE,

respeitando-se normas brasileiras de cálculo, execução e controle de qualidade.

Já a Alvenaria Resistente (AR) é feita, na maioria das vezes, de forma empírica, como

o seu cálculo, empregando blocos de pouca precisão dimensional e baixa resistência,

caracterizados pela existência de furos horizontais (blocos de vedação). Ensaios mostram que

a resistência destes blocos oscila entre 0,5 a 2 ou 3 MPa, em quase todos os casos.

De acordo com os estudos de Pires Sobrinho et al. (2010, p. 3) as edificações com essa

tipologia não apresentam características construtivas em um padrão definido, “variam muito

23

desde os materiais, as técnicas construtivas e modelo estrutural”. As fundações, geralmente,

são construídas em alvenaria simples ou dobrada em continuidades às paredes da edificação

que podem estar assentadas sobre vigas “TÊ” invertido de concreto, sobre componentes de

fundação em pré-moldadas ou simplesmente sobre camada de concreto magro.

A alvenaria moderna de blocos industrializados, portanto, é definida por construções

formadas por blocos industrializados de diversos materiais, suscetíveis de serem projetadas

para resistirem a esforços de compressão única, ou ainda, a uma combinação de esforços

ligados entre si pela interposição de argamassa e podem ainda conter armadura envolta em

concreto ou argamassa no plano horizontal e/ou vertical (FRANCO, 2008).

Vale, no entanto, considerar que o interior das fundações pode estar preenchido e o

piso assentado diretamente sobre o solo ou seu interior pode não estar preenchido, utilizando

laje pré-moldada como piso, sendo esta caracterizada como caixão vazio ou perdido.

Neste tipo de edificação é possível não existir cintas-radier (Anexo B) na interface,

fundação-parede de elevação ou mesmo nas interfaces parede-laje em cada pavimento, bem

como ausência de vergas e contravergas nos vãos de janelas (PIRES SOBRINHO et al.,

2008).

Para Camacho (2006) a experiência tem demonstrado que o conveniente emprego da

alvenaria estrutural pode trazer as seguintes vantagens técnicas e econômicas:

Redução de custos: a redução de custos que se obtém está intimamente relacionada à

adequada aplicação das técnicas de projeto e execução, podendo chegar, segundo a

literatura, até a 30%, sendo proveniente basicamente da simplificação das técnicas de

execução; e da economia de formas e escoramentos.

Menor diversidade de materiais empregados: reduz o número de subempreiteiras na

obra, a complexidade da etapa executiva e o risco de atraso no cronograma de

execução em função de eventuais faltas de materiais, equipamentos ou mão-de-obra.

Redução da diversidade de mão-de-obra especializada: necessita-se de mão-de-obra

especializada somente para a execução da alvenaria, diferentemente do que ocorre nas

estruturas de concreto armado e aço.

Maior rapidez de execução: essa vantagem é notória nesse tipo de construção,

decorrente principalmente da simplificação das técnicas construtivas, que permite

maior rapidez no retorno do capital empregado.

24

Robustez estrutural: decorrente da própria característica estrutural, resultando em maior

resistência à danos patológicos decorrentes de movimentações, além de apresentar

maior reserva de segurança frente a ruínas parciais (CAMACHO, 2006).

Pode-se considerar então que a alvenaria resistente é uma técnica construtiva que

busca pela minimização dos custos, o que resulta na deficiência do controle de qualidade dos

componentes e dos procedimentos construtivos, o que conduziu a uma série de patologias e

acidentes (PIRES SOBRINHO et al, 2010).

1.4 Colapsos da Alvenaria Resistente

Com base no que asseguram Mota e Oliveira (2007, p. 1) “o cálculo da resistência à

compressão das paredes dos edifícios construídos com este tipo de alvenaria, são insuficientes

para resistir aos esforços a que se destinam, particularmente nos pavimentos inferiores”, pode-

se considerar o risco que essas edificações apresentam para os seus moradores, e ainda, a

necessidade de uma revisão técnica que formule uma prática de engenharia segura.

Neste sentido, segundo Melo (2007) a gravidade da patologia é variável, porém pode

levar a edificação à inviabilidade de uso ou até ao colapso. Entre os sintomas o mais comum é

o aparecimento de fissuras ou trincas, que originam-se devido a insuficiência nas propriedades

e características que os materiais possuem para resistirem às tensões a que estão expostos.

No caminho da investigação Mota e Oliveira (2007) realizaram pesquisas através de

ensaios experimentais para identificar formas de ruptura em prismas de alvenaria de blocos

cerâmicos destinados a vedação, empregados com função estrutural e assentados com furos na

horizontal. Deste modo foram identificados resultados dos ensaios em prismas nas seguintes

condições:

Não revestidos, apenas chapiscados: as amostras dos prismas nus e apenas chapiscados

apresentaram rupturas bruscas em todos os casos. Foi observado que o ponto crucial

do processo de ruptura ocorre no instante em que se rompe o septo ligado à argamassa

de assentamento.

Resultados: nos prismas não revestidos e nos prismas apenas chapiscados ocorreram

rupturas bruscas; nos prismas de mesma espessura, não foi verificada diferença na

forma de ruptura quando se variou o traço da argamassa de revestimento; foi

registrado em todos os ensaios dos prismas com revestimento, que inicialmente houve

falência do bloco cerâmico, continuando as capas de revestimento resistindo como

chapas.

25

Nas duas faces e revestidos nas duas faces, com espessuras de 2 cm: os prismas

ensaiados apresentaram rupturas, na grande maioria dos casos, por tração dos septos

horizontais dos blocos cerâmicos. Os septos ligados à argamassa de assentamento

rompem-se por último completando o processo de colapso. Nesse caso, a argamassa

de assentamento deixou de estar triaxialmente comprimida passando a se deformar

substancialmente nas direções horizontais, gerando deslocamentos laterais provocando

a ruptura da camada da argamassa de revestimento nesta região e com consequente

colapso. Nos demais casos, verificaram-se rupturas generalizadas, geralmente bruscas;

Resultados: nos prismas revestidos com 2,0 cm de espessura foi observado

inicialmente as rupturas por tração dos septos horizontais, constatando-se que os

septos ligados à argamassa de assentamento romperam-se por último, com posterior

colapso da capa de revestimento.

Com espessuras de 3 cm: na maioria dos prismas ensaiados com revestimento de 3,0

cm de espessura, observou-se que após a ruptura dos septos horizontais dos blocos

cerâmicos por tração, ocorreu o rompimento por cisalhamento da capa de

revestimento. A maior rigidez da capa de revestimento com 3 cm de espessura, na

maioria dos casos, inibiu a deformação lateral excessiva após o desequilíbrio do estado

triaxial de confinamento da argamassa de assentamento com os blocos cerâmicos; com

dois tipos de traço em cada caso;

Resultados: nos prismas com revestimento de 3,0 de espessura, foram observados que,

após a ruptura dos septos horizontais dos blocos por tração, o rompimento por

cisalhamento da capa de revestimento.

Esses autores destacam como última observação, a ocorrência de vários estalos

durante o carregamento dos prismas, devidos aos rompimentos progressivos dos septos. Sons

semelhantes foram testemunhados por moradores de edifícios que colapsaram (MOTA;

OLIVEIRA, 2007).

Gusmão et al. (2009) também apresentam resultados semelhantes aos achados pelos

autores acima, seguindo a metodologia utilizada no estudo de alvenaria estrutural e de

vedação foram realizados ensaios de blocos, prismas e paredinhas em diversas composições

de argamassas de assentamento e de revestimento, objetivando a determinação de suas

propriedades e comportamentos estruturais.

Os resultados desses estudos permitiram determinar as razões pelas quais, apesar dos

cálculos indicarem que as paredes dos edifícios do tipo caixão sejam instáveis, milhares delas

encontram-se em “aparente” estabilidade. Alguns resultados obtidos são a seguir sumarizados:

26

Os blocos cerâmicos e de concreto pesquisados apresentaram importante variabilidade

dimensional denunciando um precário controle de qualidade no seu processo de

fabricação;

A resistência à compressão dos blocos ensaiados se mostrou excessivamente baixas –

da ordem de 2 MPa – aspecto que os caracteriza como blocos que deveriam ter

utilização restrita como elementos de vedação. Nenhum dos blocos ensaiados

apresentou resistência compatível para suportar cargas além do próprio peso da

parede;

Os ensaios de compressão realizados em componentes, prismas e paredinhas de blocos

cerâmicos mostraram ruptura brusca;

Os ensaios realizados em prismas e paredinhas indicaram que o chapisco e o

revestimento contribuem para o aumento da capacidade de carga destes elementos e a

sua existência pode ser um dos responsáveis pela “estabilidade” aparente de grande

parte das edificações em alvenaria resistente no Estado;

Apesar de ter sido constatada melhoria na capacidade de carga gerada pelos

revestimentos, a natureza brusca da ruptura dos elementos ensaiados ainda se constitui

em um problema a ser superado;

Os ensaios realizados em prismas e paredinhas indicaram, ainda, que a colocação de

armaduras no interior da camada de revestimento, desde que adotados critérios

adequados de disposição e fixação, pode contribuir para o incremento da capacidade

de carga dos elementos ensaiados, bem como promover ductilidade.

Uma das propostas para reforçar as edificações em alvenaria resistente é abordada por

Pires Sobrinho et al. (2010) que consiste em incorporar cantoneiras de aço intertravadas com

parafusos nos cantos e encontros de paredes. Para o reforço destas edificações, um princípio

que norteia o projeto é de fornecer ductilidade ao sistema, além de eliminar o colapso

progressivo, pois permite a transferência das cargas para a estrutura metálica definida pelas

cantoneiras.

Esses autores declararam que foram estudadas duas formas de reforço: utilizando

capas de argamassa armada intertravadas, com o uso de conectores de aço sobre o

revestimento existente; e com uso de cantoneiras intertravadas com conectores de aço no

encontro entre paredes e nas ligações das paredes com as lajes. Porém as cantoneiras

utilizadas nos encontros de paredes não se mostraram eficientes no incremento da capacidade

de carga destes encontros (PIRES SOBRINHO et al., 2010).

27

CAPÍTULO 2 - RUÍNAS DE PRÉDIOS EM ALVENARIA RESISTENTE

2.1 Desabamento de Prédios-Caixão

Neste tipo de edificação, de acordo com Gusmão et al. (2009), é frequente não se

disporem cintas de concreto armado na interface fundação-parede de elevação ou mesmo nas

interfaces parede-laje em cada pavimento. É comum também a ausência de vergas e

contravergas nos vãos de aberturas de portas e janelas. As paredes de elevação são construídas

em alvenaria singela de blocos cerâmicos ou de concreto, com espessura média de 9 cm, com

juntas verticais descontínuas, assentadas com argamassa mista de cimento, cal e areia, de

cimento saibro e areia ou simplesmente cimento e areia.

Um exemplo disto é apresentado pelas Figuras a seguir:

Figura 2.1 – Prédio em Colapso (Maceió-AL).

Fonte: www.alvenaria.net/maceio.html

Cavalheiro (2003) ao analisar a Figura 2.1 destaca que é perceptível a utilização de,

pelo menos dois tipos de blocos: 6 furos redondos e 6 furos quadrados (este, a princípio, de

maior resistência); as juntas horizontais de argamassa, parecem muito espessas (talvez

chegando a 20 mm). Ensaios mostram que a resistência da alvenaria à compressão cai cerca

de 15% a cada milímetro acima da espessura ideal de 10 mm; a figura não evidenciou a

existência de cintas de amarração no respaldo das paredes, pelo menos com rigidez suficiente,

indispensáveis para uma melhor distribuição de tensões na alvenaria e solidarizarão global das

paredes.

28

Esse autor comenta ainda que a Figura 2.2 revela a questão sobre a resistência da

parede (fpa), que muitas vezes é confundida com a resistência do bloco (fb). A relação fpa/fb

(denominada Fator de Eficiência) é da ordem de 0,50 para blocos (de vedação) tipo 6 furos

horizontais. Considerando um carregamento de 15 kN/m/andar para este tipo de prédio, e

bloco de 9cm de largura, a tensão de serviço no térreo será: (15.000 N x 4 andares)/(90 mm x

1000 mm) = 0,67 MPa. Admitindo fpa/fb = 0,50, a resistência mínima que o bloco deverá ter

à compressão, no térreo, será de 1,34 MPa, isto sem considerar nenhum efeito adicional

devido a excentricidade de carga, esbeltez da parede, características da argamassa e outros.

Então, com as hipóteses feitas, blocos de resistência inferior a 1,34 MPa, podem levar a

parede ao colapso (CAVALHEIRO, 2003).

Figura 2.2 – Desabamento de Paredes (Maceió-AL).

Fonte: www.alvenaria.net/maceio.html

O laudo expedido pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de

Alagoas (CREA-AL) citado por Cavalheiro (2003) refere que “a edificação caiu por não

apresentar um mínimo de estabilidade e por utilizar indevidamente tijolos sem qualidade para

paredes estruturais”, complementa esse autor que um coeficiente de segurança razoável a ser

aplicado neste caso é 5, o que levaria a necessidade de blocos de resistência média fb = 1,34 x

5 = 6,7 MPa. E aponta a solução definitiva para a não ocorrência desses eventos, que seria a

mudança de uma cultura construtiva para outra, ou seja, para a alvenaria estrutural.

Por esse motivo, durante a construção, recomendam Araújo et al. (2006), deve-se fazer

um controle de qualidade dos materiais utilizados para garantir a resistência da edificação.

Depois de terminada a obra, é ideal realizar laudos periódicos, atestando se há necessidade de

29

reparos preventivos ou corretivos e, imediatamente, tomar as providências cabíveis. Além

disso, o engenheiro deve está sempre atento à responsabilidade civil que lhe cabe e a

necessidade de sua constante atualização durante o exercício da sua vida profissional. Os

órgãos responsáveis pela fiscalização das obras devem apresentar procedimentos para um

controle mais rígido das construções e exigir dos responsáveis, no mínimo, a consciente

obediência às normas brasileiras.

2.2 Tipos de Laudo Pericial

Molinari (2008) define laudo como um documento que visa fornecer elementos

técnicos, objetivos, racionais e lógicos, fundamentados em princípios físicos e matemáticos, e

em aplicação em engenharia, como auxílio à apuração da verdade dos fatos..

Entretanto, Melo (2007) aponta a existência de laudos insuficientes que teriam como

características não esclarecer tudo o que dele se espera como meio de entendimento sobre

uma questão ou várias que tenham sido formuladas. Como por exemplo:

Pode ocorrer que um laudo não satisfaça o propósito a que se destina

Pode ocorrer que seja questionável e omisso.

Pode satisfazer uma parte e não satisfazer a outra.

As verificações podem ser incompletas.

Os exames podem omitir ou mal interpretar as patologias.

Um fato pode passar despercebido.

Analisando os desabamentos dos prédios tipo caixão na RMR Melo (2007) afirma que

no caso dos edifícios que ruíram, os laudos tiveram como objetivo investigar as causas que

deram origem aos sinistros. Esses laudos foram solicitados pelo CREA e pelo Ministério

Público Estadual.

As interdições, pelas competências das ações, foram determinadas pelos órgãos de

Defesa Civil de cada município, originadas de um laudo de vistoria que identificou os

problemas de cada edifício, analisou caso a caso, e procedeu a interdição de cada unidade que

não tinha condições adequadas de habitalidade, ou problemas estruturais que colocassem em

risco a vida de seus ocupantes, como exemplo, o requerimento de interdição impetrado junto

ao Ministério Público pela SEDEC, Jaboatão dos Guararapes (Anexo A).

É válido referir que existem diversos modelos de laudos, específicos para cada

investigação, como mostrado na Tabela 1, a seguir.

30

Tabela 1 - Número e tipos de laudos de “Prédios de Tipo Caixão” de cinco municípios da

Região Metropolitana do Recife.

Municípios

Laudos de

Prédios

Desabados

Laudos de

Perícias

Pareceres

Técnicos

Laudos de

Vistorias

Particulares

Laudos de

Vistorias

Prefeituras

Alvarás de

Interdição Totais

Olinda 02 02 05 15 483 01 511

Jaboatão 02 00 00 03 280 06 291

Paulista 00 00 00 05 07 00 12

Recife 00 01 00 01 00 00 02

Camaragibe 00 00 00 00 00 00 00

Total 04 03 05 24 775 07 813

Fonte: Melo, 2007 (adaptado)

De modo a esclarecer as diversas concepções de documentos destacados na Tabela 1,

Melo (2007) explica que:

- Laudo Técnico

Para avaliação das causas dos desabamentos, são os mais completos.

- Laudo de Vistoria

Para avaliação das condições de estabilidade e habitabilidade das construções.

Normalmente tem finalidades específicas, avaliando as condições momentâneas da obra, sem

fazer uma investigação mais aprofundada, mesmo tendo em vista evidências de outros

problemas (Anexo C).

Melo (2007) para ilustrar cita que houve casos em que foram feitas investigações nos

embasamentos de alguns edifícios, constatando-se a perda de resistência em alguns trechos,

mas não se pesquisou se estava ocorrendo problemas com os blocos ou com as argamassas de

assentamento.

- Laudo Pericial

Relatório técnico solicitado a um Perito, por um Juiz de Direito, que tem a finalidade

de elucidar as causas de desabamento ou interdição. Apresenta elementos esclarecedores e

conclusões. Desta forma pode ser instruído por ensaios tecnológicos, investigações, plantas,

desenhos, fotografia, ou quaisquer outros documentos elucidativos.

31

- Parecer Técnico

Opinião, conselho ou esclarecimento técnico emitido por um profissional legalmente

habilitado sobre assunto de sua especialidade, solicitado pelo Poder Público e pelas partes

interessadas.

Outros tipos de laudo existem nas diversas áreas profissionais.

Nas considerações que Melo (2007) analisa são explicitadas falhas detectadas nos

laudos dos edifícios da RMR. Entre essas, foram apontadas: a falta de padronização entre os

laudos técnico e de vistoria; as informações contidas nos laudos de vistoria mostram que

mesmo tendo os mesmos objetivos (investigar os riscos), sobre materiais idênticos (os prédios

caixão), a simples mudança do agente investigador (Engenheiro responsável) acarreta uma

dispersão considerável.

Diz ainda esse autor que as diferenças entre os resultados dos laudos devem ser

levadas em conta, quando se pensa em padronizar as informações mínimas a serem colocadas

nos laudos, em caráter obrigatório. Isso evitaria que esses documentos servissem para

distorcer informações sobre determinados fatos, por omissão ou direcionamento. Conclui esse

autor que se faz necessário padronizar o laudo, respeitando-se sua função ou natureza (se é

vistoria ou técnico, se a estrutura é de concreto ou alvenaria, ou outros), e que seja o mais

abrangente possível para cumprir de forma independente o seu papel (MELO, 2007).

A literatura também referiu os requisitos para a elaboração de laudos, tais como os

relatórios de inspeção necessitam ser conduzido por profissionais devidamente habilitados

para realização deste tipo de investigação. São aspectos importantes:

detalhar todas as patologias encontradas no trabalho de campo;

descrever todos os procedimentos de ensaio empregados no trabalho de inspeção;

apresentar o diagnóstico de forma clara e objetiva, com a identificação das causas,

origens e mecanismos de ocorrências;

apresentar recomendações relativas às intervenções a serem efetuadas;

mencionar eventuais obstáculos encontrados que impediram ou dificultaram a

investigação, citando as causas e os nomes das pessoas que criaram obstáculos ao

trabalho, se for o caso;

apresentar o prognóstico da estrutura, indicando o que deve ocorrer no caso de não se

realizar as intervenções recomendadas.

32

2.3 Acidentes por Falhas Estruturais em Prédios na Região Metropolitana do Recife

Na Região Metropolitana do Recife (RMR), de acordo com o alerta de Silva Filho

(2010, p. 7) “o risco de desabamento de um prédio-caixão é 20 vezes maior do que em

qualquer outro lugar do mundo”. A relação entre o número de acidentes ocorridos, um total de

12 desabamentos desde 1992, e o número de edificações existentes, cerca de 6 mil unidades

na RMR, resulta em uma probabilidade de um desabamento para cada 500 prédios.

De acordo com Pires Sobrinho (2012) a aplicação da metodologia aos prédios tipo

caixão nos cinco municípios da RMR apresentou os seguintes resultados:

Tabela 2 - Resumo Parcial de Edifícios em Grau de Risco na RMR, em 2010.

MUNICÍPIO

N° DE UNIDADES POR

GRAU DE RISCO TOTAL INTERDITADOS

BAIXO MÉDIO ALTO MUITO

ALTO

CAMARAGIBE 0 29 1 0 30 0

JABOATÃO 0 459 523 28 1.010 19

OLINDA 273 91 70 52 486 54

PAULISTA 0 199 396 19 614 19

RECIFE 8 935 1.200 133 2.276 28

TOTAL DE

UNIDADES 281 1.713 2.190 232 4.416 120

Fonte: Pires Sobrinho (2012). Adaptado.

A partir da década de 90 os sinistros passaram a ser mais próximos. De acordo com

Araújo et al. (2006) em 1994 um desabamento aconteceu com um dos blocos de apartamento

do Conjunto Residencial Bosque das Madeiras, localizado no bairro de Engenho do Meio

(Recife) que ruiu ainda na fase de construção. Os autores explicitam que a alvenaria da

edificação era singela em blocos cerâmicos de oito furos e a fundação em caixão vazio. Não

houve vítimas.

O laudo de avaliação do acidente foi conduzido pelo Conselho Regional de

Engenharia e Arquitetura de Pernambuco (CREA-PE) e apontou como causa principal do

colapso a execução de rasgos horizontais para instalação de eletrodutos ao longo de toda

extensão de uma parede divisória central. A ruína foi demolida e reconstruíram o prédio. Para

33

Pires Sobrinho et al. (2008) as intervenções feitas pelos moradores como retirada de paredes

ou cortes horizontais extensos nas alvenarias deste tipo de edificação, agrava de sobremaneira

as tensões nas partes remanescentes e podem provocar a ruína da edificação.

Os estudos de Melo (2007) destacam que:

- No município de Olinda existem 511 prédios caixão, e segundo Melo (2007) em 52

deles foram constatados sérios problemas que comprometem a segurança do edifício, e em

2006 existiam 75 edifícios interditados e 21 desinterditados.

- Em Jaboatão dos Guararapes tem 972 prédios autoportante, sendo que 10 estão

interditados e 02 desinterditados.

- Em 2007, no município de Paulista existiam 608 edificações em alvenaria resistente,

dos quais 10 estavam interditados e apenas 01 desinterditado.

- E em Recife, o número era de 2.242 prédios contabilizados em 2006, não havendo

registro de interdição nem desinterdição, porém sabe-se que isto não corresponde a realidade.

A mesma situação foi encontrada no município de Camaragibe, que conta com 72 prédios

caixão e sem informações sobre interdição.

A primeira grande tragédia ocorreu com o Edifício Érika, localizado em Jardim

Fragoso, no município de Olinda, Gusmão et al. (2009) referem que a ruína aconteceu em

novembro de 1999 causando a morte de 5 pessoas e ferimentos em mais 11 moradores. O

edifício tinha 4 andares e 8 apartamentos e era construído em alvenaria singela mista,

envolvendo blocos cerâmicos e blocos de vedação em concreto. A fundação desta edificação

foi executada em caixão vazio e as paredes em alvenaria singela mista. Foram observados em

alguns pontos vazios de até 1,70 m, entre o solo natural e a laje de piso do pavimento térreo.

No mês seguinte, dezembro de 1999, colapsou também em Jardim Fragoso, o Bloco B

do Conjunto Enseada de Serrambi causando 7 vítimas fatais. O edifício também tinha 4

andares e 8 apartamentos e era construído em alvenaria singela de blocos cerâmicos vazados

assentados com furos na horizontal. A fundação deste prédio foi também executada em caixão

vazio com paredes em alvenaria singela e a laje de piso do pavimento térreo era do tipo

volterrana.

Nos dois sinistros o laudo de avaliação foi conduzido pela Coordenação de Defesa

Civil de Pernambuco (CODECIPE) e apontou o seguinte:

- Edifício Érika: A causa principal da ruína foi a perda de resistência decorrente da

degradação produzida pela ação contínua de íons de sulfatos sobre os componentes do

cimento.

34

- Bloco B do Conjunto Enseada de Serrambi: Identificada como causa principal da

ruína a falha dos blocos de fundação. O colapso da edificação mostrava a

fragmentação generalizada da mesma, decorrente da inexistência de cintas de concreto

armado nos níveis dos pisos (GUSMÃO et al., 2009).

Além do lapso de tempo entre esses eventos (45 dias) e o fato de estarem localizados a

cerca de 500 metros de distância entre eles, provocou pânico na população por entender que o

problema estava no solo, de acordo com Melo (2007).

Neste sentido, Araújo et al. (2006) analisam que no caso dos edifícios Érika e do

Bloco B do Serrambi, localizados cerca de mil metros do mar, possivelmente foram

negligenciadas precauções em relação à estrutura no que diz respeito às fundações, pois o

laudo cita como um fator de influência do desabamento a existência de um lençol freático a

cerca de 1,5 metro de profundidade do solo.

Em geral, antes da ocorrência de desabamentos observam-se modificações na estrutura

(feitas por moradores) e nas fundações do imóvel como trincas e rachaduras (patologias), mas,

esses autores ressaltam que nem sempre é possível prever a ocorrência de acidentes. Foi o que

ocorreu com o Edifício Érika, que nunca havia apresentado sinais como rachaduras ou outros

tipos de falhas na construção quando desabou. Mas, nem por isso deixam de alertar que a

maioria dos desabamentos foi provocada por problemas na fundação do prédio e, sobretudo,

pela falta de cuidados básicos na construção (ARAÚJO et al., 2006).

Outro ponto está presente nos estudos de Mota e Oliveira (2007) e também de Pires

Sobrinho et al. (2008) quando observam que nessas edificações, os materiais utilizados,

especialmente os blocos cerâmicos, não apresentam requisitos de desempenho necessários

para serem considerados estruturais. Esses estudos apontam que em vários desabamentos

ocorridos, nos quais foram empregados blocos cerâmicos, houve ruptura brusca nas fundações

e colapso progressivo, que se deram a partir das paredes de fundação, situadas entre as sapatas

corridas de concreto armado e o nível do pavimento térreo, os denominados embasamentos.

Devido as ocorrências de sinistros, e em alguns om óbitos, segundo Pires Sobrinho

(2012) coube ao Instituto de Tecnologia de Pernambuco (ITEP), por solicitação do Ministério

Publico Estadual e Federal, o desenvolvimento de uma metodologia de investigação e

avaliação de segurança estrutural para esses tipos de edificações na RMR. Deste modo,

devido ao grande número de edificações existentes, o não conhecimento da quantidade e

características dessas edificações em cada município e ao exíguo tempo arguido na ação, a

metodologia foi proposta para ser desenvolvida em três etapas.

35

1ª etapa denominada de cadastro e determinação de grau de risco potencial: consiste

em caracterizar e georeferenciar todas as edificações de três e quatro pavimentos

construídas em alvenaria resistente e determinar seu grau de risco potencial. Este grau

de risco é determinado segundo metodologia de investigação e modelo de cálculo

apresentados nos dois itens seguintes.

2ª etapa denominada de investigação e avaliação da segurança estrutural das

edificações: consiste na elaboração de laudos técnicos que concluam sobre a segurança

estrutural das edificações que apresentarem grau de risco elevado (alto e muito alto),

determinados na primeira etapa.

3ª e última etapa denominada de recuperação das edificações: consiste no

desenvolvimento de projetos e execução de reforços nos elementos das edificações,

determinados nos laudos técnicos, que apresentarem não conformidades com os

requisitos de segurança estrutural (PIRES SOBRINHO, 2012).

As pesquisas sobre os fatores que fragilizam as estruturas de alvenaria resistente

devem ter continuidade, porque não há interesse científico em se promover uma investigação

desta natureza se não houver uma forte motivação, como os sinistros mostrados até então.

No estado de Pernambuco, de acordo com Gusmão et al. (2009), existem razões

importantes para o desenvolvimento de pesquisas pelo fato de que existe um significativo

passivo de construções executadas dentro deste princípio, com altíssimas faixas de risco,

expondo cerca de 60.000 famílias a possibilidades de perdas de vida e/ou do seu patrimônio.

Este quadro se constitui num grave problema social a ser equacionado e resolvido, o que

justifica amplamente os esforços nesta direção.

É válido destacar que a construção de edifícios em alvenaria, vem desde os primórdios

coloniais no Brasil devido fundamentalmente, à herança dos portugueses em utilizar essa

prática construtiva, bem como à abundância de matéria prima para fabricação de tijolos

cerâmicos (MOTA; ROMILDE, 2007). E, mais recentemente, a partir da década de 1980,

quando o Governo lançou um plano habitacional para construir 100.000 unidades

habitacionais para famílias de baixa renda, através do BNH – Banco Nacional de Habitação,

como já referido, as construções de alvenaria resistente em prédios tipo “caixão” foram a

tônica do setor de construção civil, em Pernambuco, notadamente nas áreas populosas da

Região Metropolitana do Recife, e nesse contexto, o município de Jaboatão dos Guararapes,

localidade de grande ocorrência de sinistros.

36

CAPÍTULO 3 - ACIDENTES EM PRÉDIOS-CAIXÃO EM JABOATÃO DOS

GUARARAPES

A importância de estudar os sinistros no município de Jaboatão dos Guararapes é

reflexo dos registros mostrados na Tabela 2, que destaca o grau de risco por unidade como

nível médio com 459 unidades; nível alto com 523 unidades e nível muito alto com 28

unidades, totalizando mais de mil unidades que apresentavam riscos de colapsos. É expressivo

esses dados, além do que este pesquisador teve a oportunidade de visitar e registrar a situação

de alguns desses imóveis.

Entretanto, antes de iniciar a análise de algumas das unidades que apresentavam em

2012, escolhidas por mostrarem riscos eminentes de colapsos, é pertinente nesta abertura de

capítulo, considerar o que Camacho (2006, p. 16) refere em relação ao uso da argamassa,

quando discorre sobre esse elemento ao referir sua importância por ser “o agente ligante que

integra a alvenaria, deste modo a argamassa deve ser forte, durável e capaz de garantir a

integridade e estanqueidade da mesma, devendo também possuir certas propriedades elásticas,

trabalhabilidade e ser econômica”.

E ainda, complementando, esse autor que destaca que:

A argamassa deve ter capacidade de retenção de água suficiente para que

quando em contato com unidades de elevada absorção inicial, não tenha suas

funções primárias prejudicadas pela excessiva perda de água para a unidade.

É importante também que seja capaz de desenvolver resistência suficiente

para absorver os esforços que possam atuar na parede logo após o

assentamento (CAMACHO, 2006, p. 16).

A ocorrência de diversos acidentes com edifícios construídos em alvenaria resistente,

ou os reconhecidos “prédios caixão”, tem chamado a atenção da comunidade técnica local

para a necessidade de se estabelecer critérios de investigação, estudo e reabilitação desse tipo

de edificação, dentro de níveis de confiabilidade aceitáveis.

Diversas manifestações patológicas têm sido observadas nos prédios da Região

Metropolitana do Recife (RMR), como já referido neste estudo, em alguns casos,

desabamentos com vítimas fatais, deste modo não se trata de um problema somente técnico,

mas também social (GUSMÃO et al., 2009).

Nessa perspectiva a reportagem veiculado por Luiz Filipe Freire, da Folha de

Pernambuco, em 21 de maio de 2013, destaca o mapeamento que realizado pelo Instituto de

Tecnologia de Pernambuco (ITEP-PE) identificando que cerca de “cerca de 4,7 mil empre-

endimentos dessa natureza instalados na Região Metropolitana do Recife apresentam

37

problemas estruturais que os colocam numa situação de risco. Desses, 110 já passaram por

interdição.” (FREIRE, 2013, p. 1).

No texto o jornalista registrou o receio dos moradores do Conjunto Muribeca em

Jaboatão dos Guararapes, nas seguintes falas:

É o caso das vizinhas Cristina Viana e Neide Araújo, que moram há 31 anos

na quadra 3 do Conjunto Muribeca, em Jaboatão dos Guararapes. Os apar-

tamentos delas ficam num dos 69 edifícios que estão tendo a estrutura

avaliada na localidade. Ao redor, o cenário não é animador. “Vários prédios

atrás e na frente do nosso já foram desocupados porque os laudos apontaram

que eles tinham risco. O nosso é um dos poucos em que o pessoal ainda não

teve que sair”, diz Cristina. “No meu apartamento, não tem rachadura. Mas a

gente vive constantemente nesse medo: vemos os outros indo embora e fica-

mos na expectativa sobre o que o laudo do nosso prédio vai dizer”, disse

Neide (FREIRE, 2013, p. 1).

A reportagem traz ainda uma foto mostrando a área que foi interditada (Figura 3.1)

Figura 3.1 – Blocos interditados no Conjunto Muribeca.

Fonte: Folha de Pernambuco, 2013.

E ainda, a explicação dos especialistas do ITEP-PE é de que erros de cálculo nos

projetos de edificação são motivos determinantes para as dificuldades constatadas nesses

empreendimentos. “Muitas vezes, esses edifícios foram feitos sobre um sistema não-

normatizado. Reformas indevidas, com a retirada de paredes, também comprometem a estru-

tura. Mas, enquanto não caírem, há chance de recuperação” (FREIRE, 2013, p. 1)

Analisando os casos mais graves observam-se os riscos a que estão submetidos os

moradores dos prédios caixão na RMR, principalmente no município do Jaboatão dos

Guararapes, objeto desta investigação.

38

O primeiro caso que registrou vítimas e causou repercussão na mídia aconteceu em

1977. Segundo Melo (2010) o Edifício Giselle, localizado no município, desabou matando 22

pessoas e ferindo mais de 20. O prédio tinha 7 andares e 28 apartamentos, estava em fase de

acabamento, mas no pavimento térreo já funcionava uma agência bancária, na época do

desabamento o prédio passava pelo serviço de reforço de uma das colunas. Para Pires

Sobrinho (2008) a retirada de paredes ou cortes horizontais extensos nas alvenarias deste tipo

de edificação agrava de sobremaneira as tensões nas partes remanescentes e podem provocar a

ruína da edificação.

A partir do final da década de 1990, os sinistros com prédios caixão no município de

Jaboatão dos Guararapes passaram a ser mais recorrentes, como se observa a seguir.

3.1 Edifício Aquarela

De acordo com Zarzar Junior et al. (2010) o Edifício Aquarela entrou em colapso em

virtude da ruptura brusca dos embasamentos das fundações. Estes elementos de fundações

correspondem às paredes que serviam de fundações para o edifício e que transmitiam as

cargas ao solo. O conjunto destas paredes definia muros sobre os quais se apoiavam as lajes

de piso, tendo o espaço delimitado pelo solo natural, paredes de fundação e lajes, um porão

que é geralmente designado como “caixão perdido”.

Discutem ainda Araújo et al. (2006) que a edificação precipitou em 1 metro na época

e, posteriormente em 2000, desabou. O colapso ocorreu onze anos após sua construção. A

estrutura da edificação era em alvenaria singela de blocos cerâmicos vazados, assentados à

galga na superestrutura com os furos na horizontal. As lajes eram pré-moldadas do tipo

volterrana apoiadas sobre cintas de concreto armado, corridas ao longo de todas as paredes.

A fundação deste edifício, em caixão vazio, foi construída em alvenaria singela de

blocos cerâmicos de seis furos (19cm x 11cm x 9cm) assentados ao chato, constituindo uma

trama de paredes. Os embasamentos então formados não foram aterrados em seu interior,

apresentando em alguns pontos vazios de até 1,40m do solo à laje de piso. Não houve vítimas.

O laudo de avaliação foi conduzido, pelo CREA-PE e indicou como causa principal da

ruptura a perda de resistência dos blocos de fundação decorrente da expansão por umidade.

Também foram observadas na edificação reduções das dimensões das alvenarias de

embasamento projetadas.

39

3.2 Edifício Ijuí

Em maio de 2001, o Edifício Ijuí, localizado em Candeias, também construído em

alvenaria resistente de blocos de concreto e fundação em caixão vazio, ruiu sem deixar

vítimas, pois o Corpo de Bombeiros previamente já havia evacuado o prédio em razão da

reclamação dos moradores de que no dia anterior haviam escutado vários “estalidos”.

Pires Sobrinho et al. (2008) analisa que a construção era em blocos de concreto para

vedação, possuindo blocos calha, parcialmente grauteados e armados com ferros finos com

diâmetro de 5.0mm, sob as lajes pré-moldadas nervuradas. Entende esse autor que esta

suposta cinta possibilitou a edificação aceitar pequeno recalque (Figura 3.2) decorrente da

falha da fundação durante cinco horas antes de colapsar bruscamente (Figura 3.3).

Figura 3.2 – Recalque

Fonte: Acervo do Pesquisador, 2013

Figura 3.3 – Ruínas

Fonte: Acervo do Pesquisador, 2013

40

A informação de Melo (2007) é que o laudo de avaliação foi conduzido pela SEDEC

da Prefeitura Municipal de Jaboatão dos Guararapes contando com a participação do ITEP e

CREA-PE, que concluíram que a ruptura se deu a partir dos embasamentos provocados pelo

descalçamento das sapatas corridas em decorrência da passagem das águas servidas e pluviais

somado com a inclinação do terreno natural e pelo fato da fundação não ser aterrada.

3.3 Edifício Areia Branca

Em 14 de outubro de 2004, o Areia Branca, situado em Piedade, edificado em

concreto, com 12 andares e 28 apartamentos (Figura 3.4), e com 28 anos de construído, ruiu

deixando 4 mortos (Figuras 3.5 e 3.6). Destaca Melo (2010) que a tragédia não foi maior

porque como o edifício apresentava problemas na sua estrutura, os moradores já tinham

abandonado o prédio poucas horas antes do sinistro.

Figura 3.4 – Edifício Areia Branca

Fonte: Acervo do Pesquisador, 2013.

41

Figura 3.5 – Escombros.

Fonte: Acervo do Pesquisador, 2013.

Figura 3.6 – Resgate das Vítimas.

Fonte: Acervo do Pesquisador, 2013.

42

Segundo Bernhoeft et al. (2013) o laudo oficial do CREA-PE elaborado por uma

equipe multidisciplinar nove meses após a tragédia (Figura 3.7), a causa principal do

desabamento seriam falhas executivas na estrutura (com grande destaque para as fundações),

e ainda ratifica que a ausência de uma cultura de manutenção preventiva e corretiva torna as

edificações vulneráveis.

Figura 3.7 – Equipe de Resgate no Areia Branca.

Fonte: Acervo do Pesquisador, 2013.

Este desmoronamento gerou algumas iniciativas na área da engenharia estrutural, com

grande destaque em 2005 para elaboração do “checklist para vistoria de edificações em

concreto armado” iniciativa da Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural -

ABECE, como objetivo de minimizar riscos e indicar formas de preservar a integridade dos

edifícios em concreto armado (ABECE, 2005).

3.4 Edifício Sevilha

Em dezembro de 2007, a parte posterior do Bloco B do Edifício Sevilha, como mostra

a Figura 3.8 abaixo, colapsou no nível das paredes que constituíam os embasamentos da

edificação. A fundação era também construída em caixão vazio em alvenaria singela formada

por blocos vazados de oito furos assentados ao chato (MELO, 2010). Novamente esse autor

informa que não foi disponibilizado o laudo técnico pericial.

43

Figura 3.8 – Bloco B do Edf. Sevilha

Fonte: Acervo do Pesquisador, 2013.

Outro ponto está presente nos estudos de Mota e Oliveira (2007) quando observam

que nessas edificações, os materiais utilizados, especialmente os blocos cerâmicos, não

apresentam requisitos de desempenho necessários para serem considerados estruturais. O

cálculo da resistência à compressão das paredes dos edifícios construídos com este tipo de

alvenaria, mostra que são insuficientes para resistir aos esforços a que se destinam,

particularmente nos pavimentos inferiores. Em vários desabamentos ocorridos, nos quais

foram empregados blocos cerâmicos, houve ruptura brusca nas fundações e colapso

progressivo, que se deram a partir das paredes de fundação, situadas entre as sapatas corridas

de concreto armado e o nível do pavimento térreo, os denominados embasamentos.

3.5 Conjunto Residencial Muribeca

O Conjunto Habitacional Muribeca, foi inaugurado em 1982, pela então Companhia

de Habitação de Pernambuco (COHAB-PE), na sua inauguração, segundo Silva Filho (2010)

o Conjunto era inicialmente composto por 72 blocos. Mas já em 1986, ou seja, quatro anos

após a construção do conjunto habitacional, bloco de n° 10 apresentou problemas de ordem

estrutural, sendo desocupado e posteriormente e demolido.

De acordo com esse autor, outro fenômeno natural foi o crescimento das famílias, o

tamanho reduzido dos apartamentos, que não comportavam mais os novos integrantes,

desencadeou a necessidade de fazer ocupações em torno do conjunto, pois as pessoas se

44

sentiam ligadas aos familiares e ao lugar (identidade familiar e comunitária). Surgiram assim,

novos problemas de urbanização não previstos no planejamento da cidade e

consequentemente, o aumento populacional do Conjunto Muribeca (SILVA FILHO, 2010).

Como resultado dessa desestruturação ocupacional, em dia 3 de maio de 2009, o

Conjunto Residencial Muribeca teve seis prédios interditados por técnicos da Defesa Civil.

Um desses prédios sofreu um processo conhecido como recalque. Afundou aproximadamente

dez centímetros e pendeu para o lado esquerdo. Na parte de cima do imóvel, as rachaduras

chegavam a cinco centímetros de largura (MELO, 2010).

Vale destacar a análise de Oliveira (2005), que concorda com os estudos de Bernhoeft

et al. (2013) sobre as causas dos desabamentos, quando resume os fatores de riscos de

construção: a insuficiente resistência da construção original; a adoção de materiais

inadequados; o uso de técnicas de construção incorretas; as alterações das construções; as

agressões ao meio ambiente e a falta de manutenção.

De acordo com Vitório (2003) a estrutura garante a estabilidade da edificação

submetida a cargas cujas diferentes direções e intensidades provocam conflitos que

necessitam ser equacionados. O projeto estrutural é o instrumento utilizado para solucionar

esses conflitos, fazendo com que as cargas atuantes e as tensões internas sejam mantidas sob

controle em sistemas de ação e reação interdependentes, que garantam o equilíbrio tanto de

cada componente individual, como da estrutura como um todo.

Estudos apontam que o Conjunto Residencial Muribeca, em Jaboatão dos Guararapes,

é o que representa o maior grau de risco de colapso na Região Metropolitana do Recife, como

destaca uma reportagem publicada no Diário de Pernambuco, em 2009, de que:

A proporção ultrapassa o máximo aceitável que é de um desabamento para

cada 10 mil construções. E está ainda mais distante do índice desejável de

um para cada 100 mil prédios. A constatação faz parte de uma pesquisa

desenvolvida por quatro instituições de ensino superior: a Universidade

Católica de Pernambuco (UNICAP), de Pernambuco (UPE), Federal de

Pernambuco (UFPE) e a Federal de Santa Catarina (UFSC), além do

Instituto de Tecnologia de Pernambuco (ITEP). O tamanho da conta para

reverter essa condição está avaliado em R$ 2 bilhões. Os recursos, que não

têm ainda fonte definida, seriam para corrigir as falhas construtivas ou de

manutenção nessas edificações que respondem pela moradia de 10% da

população da RMR ou 250 mil pessoas. Talvez nenhum outro conjunto

residencial, na RMR, seja mais emblemático para retratar os riscos

estruturais relacionados aos prédios do tipo caixão, do que o conjunto

Muribeca, em Jaboatão dos Guararapes. Para os especialistas, a "bomba-

relógio" em que se transformaram essas construções, que apresentam graus

de risco variados, teve início com a criação do Banco Nacional de Habitação

(BNH), a partir da década de 1970. A maior parte da construção dos

habitacionais de até quatro pavimentos, financiados pelo extinto BNH,

45

segundo o estudo, foi executada de forma empírica, sem atender aos

requisitos de normas técnicas. E o pior: com a utilização de material de baixa

qualidade para redução dos custos (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 2009).

Nesse sentido os pontos mais vulneráveis de cada estrutura devem sempre estar

perfeitamente identificados, tanto na fase de projeto quanto na fase de construção, para que

seja possível estabelecer, para estes pontos, um programa mais intenso de inspeções e um

sistema de manutenção particular.

É importante destacar que há mais de dez anos as edificações apresentam problemas

de estrutura e dos 71 blocos, 25 já foram desocupados e outros 13 estão sob avaliação. Os

números são bastante expressivos e colocam o Conjunto Residencial Muribeca como um

campo de estudo propício para o entendimento das falhas de engenharia na construção dessas

edificações que propiciam os colapsos nas unidades habitacionais.

Especialistas consideram que a ocorrência de tantos problemas no Recife e na RMR se

deve a uma parte da edificação chamada de embasamento, ou seja, da fundação do prédio até

o piso do térreo, que tem cerca de 70 centímetros de alvenaria e ao analisarem os colapsos

detectaram que todos os problemas com prédios-caixão tiveram origem no embasamento.

Além dos blocos do Conjunto Residencial Muribeca, referidos acima, a maior

gravidade foi encontrada nos Blocos 155 e 190 como mostrados a seguir.

3.3.1 Bloco 155 do Conjunto Muribeca

Em 03 de maio 2009, trinta e duas famílias do Bloco 155 da Quadra 02, abandonaram

às pressas seus apartamentos, pois perceberam que o prédio estava estalando muito e

apresentando várias rachaduras, mais uma vez a Defesa Civil é acionada e recomenda a

interdição imediata. Vale referir que esse bloco ruiu ainda em 2009.

É importante mostrar que várias interferências na estrutura e no layout do bloco foram

realizadas pelos moradores, como apresentam as figuras abaixo.

É recorrente a alteração do layout da edificação, entre elas a construção de muros, com

a justificativa de proteção ou mesmo definir uma área privada para lazer, hortas ou outros

fins. O condomínio do bloco em apreço edificou um muro na parte externa, além de outras

intervenções internas em alvenaria mostradas nas Figuras 3.9 e 3.10 abaixo.

46

Figura 3.9 – Reformas Interna e Externa.

Fonte: Acervo do Pesquisador, 2013.

Figura 3.10 – Muro na Área Externa

Fonte: Acervo do Pesquisador, 2013.

Em geral essas intervenções são praticadas por leigos ou profissionais de outras áreas

que não Engenharia Civil, frequentemente, são pedreiros contratados pelo condomínio para

levantar uma parede, e pelo desconhecimento técnico não alcançam o risco que pode causar a

estrutura, como observado na Figura 3.11 abaixo.

47

Figura 3.11 – Danos à Estrutura

Fonte: Acervo do Pesquisador, 2013.

A ocorrência de fissuras é o resultado mais frequente da intervenção da estrutura como

mostra a Figura 3.12.

Figura 3.12 – Fissuras

Fonte: Acervo do Pesquisador, 2013.

Nesse bloco foi ainda verificado outro agravo à estrutura, mais uma vez, bastante

corriqueiro nas unidades habitacionais, que é a construção da “puxadinha”, seja para fazer

uma garagem, seja para ampliar sua moradia, seja para comércio, entre outros fins. Como

mostra a Figura 3.13 abaixo.

48

Figura 3.13 – Puxadinhas

Fonte: Acervo do Pesquisador, 2013.

Observa-se ainda que a edificação apresentava infiltração como mostra a Figura 3.14

abaixo, neste caso a questão foi de embasamento como já referido neste estudo.

Figura 3.14 – Infiltração

Fonte: Acervo do Pesquisador, 2013.

Essas mesmas patologias foram encontradas no Bloco 190 do Conjunto Residencial

Muribeca, como analisado a seguir.

49

3.3.2 Bloco 190 do Conjunto Muribeca

De acordo com Vitório (2003) pelo fato de empregarem materiais diversos, com

parâmetros físicos diferenciados, tornam-se necessários cuidados especiais, especialmente na

junção entre paredes e de paredes com a estrutura, de modo a evitar que as diferenças de

comportamento provoquem danos à edificação. Analisando o Bloco 190 observa-se a

presença de “puxadinha” na Figura 3.15.

Figura 3.15 – Puxadinha para Comércio

Fonte: Acervo do Pesquisador, 2013.

Para Vitório (2003, p. 53) “basta observar que as fissuras mais comuns ocorrem

justamente na ligação das paredes com lajes, vigas e pilares, junto às aberturas de portas e

janelas e na ligação entre paredes”. É exatamente o que mostra a Figura 3.16.

Figura 3.16 – Fissura e Infiltração.

Fonte: Acervo do Pesquisador, 2013.

50

As fissuras ocupam o primeiro lugar na lista dos problemas mais comuns nas

alvenarias. Suas causas nem sempre são facilmente identificadas, porém, o conhecimento das

mesmas é de fundamental importância para a adoção dos procedimentos adequados de

correção. A infiltração de água nas fachadas e cobertas pode ser agravada pela intensidade e

direção dos ventos e da chuva (VITÓRIO, 2003).

Para esse autor as alvenarias também são muito sensíveis às movimentações

estruturais provocadas por recalques diferenciais nas fundações, excesso de sobrecarga nas

lajes (Figura 3.17) ou deformabilidade das peças estruturais, aliado a isso, é fundamental

destacar que a falta de manutenção acelera o episódio como na Figura 3.18 abaixo

(VITÓRIO, 2003).

Figura 3.17 – Excesso de Carga

Fonte: Acervo do Pesquisador, 2013.

Todas as anomalias identificadas e mostradas nas figuras poderiam ser controladas ou

até mesmo, evitadas se os condomínios realizassem algumas ações simples como manutenção

periódica das estruturas conforme a Figura 3.18 abaixo, observação da ocorrência de

anormalidade do layout da edificação, conscientização dos moradores para não realizarem

alterações estruturais em suas unidades, entre outros cuidados.

51

Figura 3.18 – Ausência de Manutenção.

Fonte: Acervo do Pesquisador, 2013.

A experiência mostra que parte considerável dos eventos que demandam a realização

de vistorias e perícias em edificações, decorrem de manifestações patológicas muitas vezes

identificadas através da simples observação do quadro de fissuração, o que facilita bastante o

diagnóstico dos problemas existentes (VITÓRIO, 2003).

Por outro lado, além destas atitudes, sabe-se que outros fatores contribuem para a

ocorrência de patologias em unidades habitacionais, tipo caixão, que serão abordadas no

próximo capítulo.

52

CAPÍTULO 4 – PATOLOGIAS IDENTIFICADAS NAS EDIFICAÇÕES “TIPO

CAIXÃO” EM JABOATÃO DOS GUARARAPES

O termo patologia (derivado do grego pathos, sofrimento, doença, e logia, ciência,

estudo) é o estudo das doenças em geral sob determinados aspectos e muito utilizado na área

médica, no entanto atualmente é empregado, também, na Engenharia Civil, fazendo uma

associação com a medicina, como sendo a parte da engenharia que estuda as anomalias

(doenças) das edificações (MATTOS, 2005 apud CORRÊA, 2010, p. 19).

Nessa perspectiva e com referência a questão da umidade, que pelas figuras estudadas

está presente em todas as edificações e que contaminam o embasamento das estruturas

habitacionais, vale considerar de início os estudos de Zarzar Junior et al. (2010) quando

destacam que apenas 20% da Região Metropolitana do Recife contam com sistema de

esgotamento sanitário e que boa parte das águas servidas se infiltra diretamente no subsolo,

contribuindo para acelerar os potenciais processos de deterioração das fundações e das partes

da estrutura que se encontram continuamente em contato com o solo.

A explicação é dada por Campos (2006) de que os elementos cerâmicos tais como

blocos para alvenaria, placas de revestimento de pisos e fachadas e louças sanitárias estão

suscetíveis ao fenômeno físico-químico da expansão por umidade (EPU). Nesse sentido,

cerâmicas porosas aquecidas a temperaturas inferiores a 1000ºC são propensas a expandirem,

ocorrendo três tipos de fenômenos: (a) absorção de água nos poros maiores; (b) adsorção nas

superfícies internas e externas dos corpos cerâmicos com redução da energia superficial que

os torna mais deformáveis, resultando em expansão e perda da resistência mecânica; (c)

combinação química irreversível da água em condições ambientais, resultando em expansão e

perda das propriedades mecânicas. Estudos sobre acidentes com obras de alvenaria atribuíram

como uma das causas a expansão por umidade (ZARZAR JÚNIOR et al., 2010).

Neste mesmo entendimento Vitório (2003) refere que a EPU só ganhou destaque no

meio técnico a partir de 1997, após a ocorrência de acidentes com edifícios de alvenaria

estrutural no Grande Recife. Na ocasião laudos apontaram o fenômeno como fator

determinante para a baixa resistência das alvenarias de embasamento que provocaram a

falência estrutural dos prédios, deste modo pode-se considerar que a EPU é um fenômeno

bastante complexo e implica sempre em consequências danosas e com riscos graves.

Outro ponto crítico é destacado por Juliana Valle ao analisar a estrutura que no caso

são as paredes, entende-se pois, como patologia não-estrutural aquela que:

53

[...] corresponde a paredes das quais não depende diretamente a estabilidade

de outros elementos construtivos. Esta opção resulta menos clara, do ponto

de vista da designação, para as situações em que os defeitos das paredes não-

estruturais resultam do deficiente desempenho ou interação dos elementos

estruturais confinantes ou de suporte e para as ações mecânicas externas ou

internas, a que está sujeita a parede, e que põem em causa a sua própria

estabilidade, sem que da sua eventual ruína resultem consequências para

outros elementos construtivos (VALLE, 2008, p. 13).

Na esteira desse entendimento Vitório (2003) explica que a EPU ocorre em razão de que

as cerâmicas porosas absorvem água (hidratação) e com o passar do tempo sofrem um

aumento de volume (expansão). Os problemas decorrentes podem variar de fissuras em

azulejos, descolamento de revestimentos e pisos cerâmicos até a graves lesões estruturais em

paredes de alvenaria de tijolos cerâmicos, podendo comprometer a estabilidade das

edificações construídas com alvenaria.

É válido destacar outra observação referida por Richter (2007) de que as fissuras

horizontais podem ser causadas também pelo fenômeno físico da retração, que ocorre com os

materiais de base cimentícia, no qual, o volume inicialmente ocupado pelo material no estado

plástico diminui de acordo com as condições de umidade do sistema e a evolução da matriz de

cimento.

Dentre os equipamentos que requerem atenção por sua falibilidade estrutural pode-se

referir pelas observações já consideradas neste estudo, os quais são analisados a seguir.

4.1 Escadas e Reservatório Superior

De acordo com Vitório (2003) os seis mil prédios tipo caixão construídos no Recife e

Área Metropolitana são compostos, em geral, de um pavimento térreo e três pavimentos

superiores, com estrutura de concreto armado apenas no trecho correspondente à escada e

reservatório superior conforme Figuras 3.19 e 3.20 abaixo, ficando a maior parte da

edificação funcionando de tal modo que todas as cargas são transmitidas diretamente para as

paredes que, por sua vez, as transmitem para as fundações, geralmente em sapatas corridas.

De acordo com Pires Sobrinho (2008) a caixa de escada, muitas vezes posicionada na

parte central do bloco, é geralmente estruturada em pórtico de concreto armado e serve como

sustentação da caixa d’água. Como ainda, pode ser encontrado bloco de escada sem pilares,

onde os degraus são engastados nas paredes de alvenaria.

54

Figura 3.19 – Pavimentos e Reservatório Superior.

Fonte: Acervo do Pesquisador, 2013.

Figura 3.20 – Vão de Escada abaixo do Reservatório Superior.

Fonte: Acervo do Pesquisador, 2013.

Outra constatação é que há casos de ser encontrado bloco de escada sem pilares, onde

os degraus são fixados apenas nas paredes de alvenaria à mercê de infiltração e consequentes

fissuras, como observado na Figura 3.21 abaixo.

55

Figura 3.21 – Vão de Escada com Danos.

Fonte: Acervo do Pesquisador, 2013.

As observações acima permitem entender que os elementos e componentes de uma

construção estão sujeitos a variações que repercutem numa variação dimensional dos

materiais de construção (dilatação ou contração), os movimentos de dilatação e contração são

tensões que poderão provocar o aparecimento de fissuras (VALLE, 2008).

4.2 Patologias das Fissuras

Em painéis de alvenaria as fissuras podem se apresentar nas direções horizontal,

vertical, diagonal (Figura 3.22), ou uma combinação destas. Segundo Valle (2008) quando

verticais ou diagonais, elas podem ser retas, atravessando unidades e juntas, ou podem ter

aspecto escalonado, passando apenas pelas juntas.

Figura 3.22 – Fissura Diagonal.

Fonte: Acervo do Pesquisador, 2013.

56

A forma da fissura é influenciada por vários fatores, incluindo a rigidez relativa das

juntas com relação às unidades, a presença de aberturas ou outros pontos de fragilidade, as

restrições da parede e a causa da fissura.

Essas anomalias são as patologias mais recorrentes nas edificações sob risco de

colapso, a literatura relaciona diversas causas desde a má fabricação do bloco cerâmico nas

olarias, passando pelas péssimas condições de transporte e estocagem, chegando até ao

cuidado na hora da execução (CORRÊA, 2010).

Observa-se que múltiplos fatores podem interferir na qualidade dos blocos cerâmicos,

deste modo, o engenheiro responsável pela obra deve estar atento na utilização desse material

durante a construção, promovendo testes de resistência dos mesmos por amostragem.

Os estudos de Ederson Corrêa analisam os fatores destacados por ele:

A falta de um controle de qualidade mais eficaz por parte dos fornecedores

ainda é um grande problema quando se trata de alvenaria estrutural.

Geralmente eles são fabricados em olarias artesanais que não apresentam as

mínimas condições técnicas de controle e muito menos pessoal especializado

para realização deste serviço. As condições de transporte e a estocagem

também são fatores que acarretam muitas trincas à alvenaria estrutural. O

transporte geralmente é feito em pequenos caminhões com péssimas

condições e sem meios seguros de fazer a acomodação dos blocos. Durante o

carregamento e o descarregamento e consequentemente a estocagem,

também percebe-se a falta de cuidado dos colaboradores que manuseiam os

blocos cerâmicos quanto à integridade física dos mesmos, gerando uma

imensa quantidade de tijolos fissurados e quebrados (CORRÊA, 2010, p. 23-

4).

Outro fator de contribuição para o aparecimento de fissuras é a falta de um controle

tecnológico eficaz com relação ao traço da argamassa de assentamento, como afirma Azevedo

(2009) de que as argamassas não devem ser altamente resistentes, eles devem ser capazes de

absorver pequenas deformações, pois se elas forem muito resistentes, não serão capazes de

deformarem junto com os blocos e acabarão trincando os mesmos, como mostra a Figura 3.23

abaixo.

E ainda, fissuras na alvenaria e argamassa de assentamento pouco consistente

contribuirão, também, para o aparecimento de infiltrações como pode-se observar na Figura

3.24 abaixo, segundo Bauer (2007) a umidade chega à alvenaria de forma líquida através da

absorção capilar e fluxo superficial de água, nos demais casos ela é absorvida na forma

gasosa.

57

Figura 3.23 – Argamassa de Assentamento.

Fonte: Acervo do Pesquisador, 2013.

Figura 3.24 – Infiltração.

Fonte: Acervo do Pesquisador, 2013.

De acordo com Bauer (2007) a sugestão seria que durante a fase de projeto vários

aspectos devem ser analisados no sentido de minimizar os problemas com as infiltrações.

Dentre esses aspectos esse autor cita a orientação das fachadas em relação aos ventos

predominantes, detalhes arquitetônicos e técnicos como rufos, platibandas, beirais, tipo de

cobertura, a intensidade e a duração das precipitações na região.

É válido referir que a localização do Conjunto Muribeca é próxima a faixa litorânea do

Estado e que os níveis de precipitação são altos, basicamente, grande parte do ano. A Figura

3.25 abaixo mostra a agressão sofrida na fachada pelo fenômeno da infiltração.

58

Figura 3.25 – Fachada com Infiltração.

Fonte: Acervo do Pesquisador, 2013.

4.3 Modificações na Estrutura do Imóvel

Os registros apresentados até agora neste estudo mostram que a maioria dos moradores

de alguns blocos residenciais realizaram intervenções externas em suas residências, com

destaque para as “puxadinhas”.

No entanto, este pesquisador teve acesso apenas a um imóvel em reforma completa,

que pode ser representativo de outras intervenções. Através do que mostra a Figura 3.26,

pode-se avaliar o grau de interferência na estrutura do imóvel, além disto, os trabalhadores

não eram qualificados para a execução do serviço de reforma.

Figura 3.26 – Derrubada de parede.

Fonte: Acervo do Pesquisador, 2013.

59

O estudo monográfico de Cláudio Jacques (2008) apresenta o resultado de uma

pesquisa em que as reformas realizadas contemplam, também, as instalações hidrossanitárias

e suas razões, o que revela que os moradores realizam essas reformas, também por questões

estéticas do seu imóvel:

Os moradores enfrentaram diversos problemas nas instalações

hidrossanitárias, tornando inevitável a intervenção nas instalações, seja para

correção, seja para acréscimos vinculados às reformas e aumentos da área

construída A manutenção foi necessária em razão de problemas nas

instalações, dos quais entupimentos e vazamentos foram os problemas com

maior incidência apresentados pelos entrevistados, sendo revelado que o

próprio morador tomou a si esta tarefa. Outro fator foi a simplicidade do

revestimento destinado aos banheiros – cimento alisado no piso e escaiola

nas paredes – ensejou aos moradores a substituição por material mais

moderno, uma vez que no período, a indústria da cerâmica aprimorou-se

vertiginosamente, dando opções variadas aos usuários, No entanto, outros

motivos foram determinantes para tal fato, uma vez que as patologias

surgidas nos banheiros, conforme os moradores, oportunizaram a

substituição dos revestimentos (JACQUES, 2008, p. 85)

Nessa perspectiva pode-se considerar que um dos cômodos em que mais são realizadas

reformas é o banheiro e de modo, amplo, como mostra a Figura 3.27.

Figura 3.27 – Reforma completa do Banheiro.

Fonte: Acervo do Pesquisador, 2013.

E ainda, para Jacques (2008) a preferência nas alterações internas, amplamente

realizadas pelos próprios moradores, recaiu pela manutenção do sistema construtivo em

alvenaria, também seguida nos casos de ampliações, como mostra a Figura 3.28 abaixo.

60

Figura 3.28 – Reforma da Sala.

Fonte: Acervo do Pesquisador, 2013.

Segundo Hendry et al. (2004) o objetivo básico do projeto estrutural é garantir que a

estrutura venha cumprir a função a que se destina ao longo de sua vida sem excessiva

deformação, fissuras ou colapso.

Em sendo assim, necessariamente um dos resultados do laudo, segundo determinação

da lei do Estado de Pernambuco nº 13032/2006, são indicações de ações não apenas

corretivas, mas também preventivas, visando a segurança, e durabilidade técnica, e funcional

da edificação.

4.4 Causas para Interdição da Edificação

Diz-se que uma estrutura é segura quando resiste às distintas ações que venham

solicitá-la durante a vida útil, preservando suas características originais. Neste contexto

quando o arquiteto ou engenheiro projeta uma estrutura, quatro aspectos são levados em

consideração: segurança, economia, conforto e durabilidade (BERNHOEFT et al., 2013).

É válido destacar que a lei pernambucana (13032/06) é fundamentalmente decisiva

para o sucesso da gestão de manutenção das edificações, afinal como afirma Pujadas (2007) a

Inspeção Predial deve ser empregada na avaliação da manutenção e conservação das

edificações. É através dessas vistorias que um leigo em engenharia, síndico ou administrador,

pode tomar decisões importantes e fundamentadas “terceirizando” o que não está a seu

alcance que é estabelecer prioridades de manutenção e mais importante, a gestão da

manutenção deve ser executada por profissional legalmente habilitado confirmando assim a

necessidade das vistorias técnicas.

61

Neste sentido pode-se definir como parâmetros para a interdição de unidades

habitacionais os seguintes requisitos que apresentam riscos para a segurança dos moradores,

segundo o Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia do estado de São Paulo

- IBAPE (2009):

- Crítico (impacto irrecuperável): é aquele que provoca danos contra a saúde e

segurança das pessoas, e meio ambiente, perda excessiva de desempenho e

funcionalidade causando possíveis paralisações, aumento excessivo de custo,

comprometimento sensível de vida útil e desvalorização acentuada.

- Regular (impacto parcialmente recuperável): é aquele que provoca a perda parcial de

desempenho e funcionalidade da edificação sem prejuízo à operação direta de

sistemas, deterioração precoce e desvalorização em níveis aceitáveis.

- Mínimo (impacto recuperável): é aquele causado por pequenas perdas de desempenho

e funcionalidade, principalmente quanto à estética ou atividade programável e

planejada, sem incidência ou sem a probabilidade de ocorrência dos riscos relativos

aos impactos irrecuperáveis e parcialmente recuperáveis.

Diante das orientações acima pode-se considerar a importância de uma avaliação

sistemática dos equipamentos que mais requerem atenção como fundações, super estrutura,

reservatórios e fachadas, assim, visando a identificação e caracterização do fenômeno patológico

essas podem ser conseguidas através de uma inspeção preliminar, que consiste em um exame

visual da estrutura, elemento por elemento, com o objetivo de identificar os sintomas e a

natureza do dano, e ainda, verificando sua repetição na estrutura.

Nesse sentido, Bernhoeft et. al. (2013) referem os resultados de alguns laudos dos

sinistros, destacando que o risco nas fundações trata-se de um item importantíssimo para

análise, uma vez que o diagnostico de causas de desabamentos na RMR sempre remete a

ligação com as fundações. Na super estrutura, o risco está associado a facilitadores como

infiltrações na estrutura de concreto armado, gera elevado índice de danos estruturais, quase sempre

corrosão de armaduras. Em relação aos reservatórios, possivelmente por se tratar de uma área de

difícil e restrito acesso, apesar de sua integridade ser fundamental para a salubridade,

economia e segurança dos usuários, as reais condições internas dos reservatórios muitas vezes

são negligenciadas, com a penetração de umidade a deterioração do concreto armado é

inevitável gerando comprometimento da segurança estrutural.

Os estudos de Bernhoeft et. al. (2013) contemplam ainda análise das fachadas, sendo

um elevado item de valorização do imóvel observado através da ótica arquitetônica, os revestimentos

62

de fachada tem a função majoritária de proteger a edificação e isso inclui sua estrutura, é necessário

destacar que penetração de água/umidade (vapor ou liquido) é a causadora, ou ao menos

desencadeadora de grande parte das tradicionais patologias que atingem as edificações.

Considera-se ainda, para efeito de laudo conclusivo, que o profissional perito tenha

embasamento quando das notificações de deformações, fissurações e outras falhas resultantes

das cargas de serviço e as deformações impostas ao edifício habitacional ou sistema a valores

que não causem prejuízos ao desempenho de outros elementos e não causem

comprometimento da durabilidade da estrutura.

A literatura também referiu os requisitos para a elaboração de laudos, tais como os

relatórios de inspeção necessitam ser conduzido por profissionais devidamente habilitados

para realização deste tipo de investigação. São aspectos importantes: detalhar todas as

patologias encontradas no trabalho de campo; descrever todos os procedimentos de ensaio

empregados no trabalho de inspeção; apresentar o diagnóstico de forma clara e objetiva, com

a identificação das causas, origens e mecanismos de ocorrências; apresentar recomendações

relativas às intervenções a serem efetuadas; mencionar eventuais obstáculos encontrados que

impediram ou dificultaram a investigação, citando as causas e os nomes das pessoas que

criaram obstáculos ao trabalho, se for o caso; apresentar o prognóstico da estrutura, indicando

o que deve ocorrer no caso de não se realizar as intervenções recomendadas (Anexo A).

63

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na abordagem das causas dos desabamentos dos prédios na RMR a literatura destaca,

entre outros, os edifícios Aquarela, Ijuí e Sevilha, em Jaboatão dos Guararapes. Nesses casos,

foram identificados pela primeira vez fenômenos de degradação nunca antes discutidos no

meio técnico local, muito embora não se constituam em temas inéditos sob o ponto de vista

do conhecimento técnico-científico, é o caso da Expansão por Umidade no Edifício Aquarela.

Este estudo analisou os processos que contribuíram para as causas das patologias em

edificações de alvenaria resistente no referido Município, tendo como meta propor soluções

para esta problemática.

Em resposta ao objetivo da investigação foram identificadas diversas patologias, que

não necessariamente todas se fizeram presentes nos sinistros, no entanto, observou-se que

dentre as causas a questão econômica foi comum a todas.

O que significa dizer que na tentativa de viabilizar economicamente as unidades,

elementos essenciais como cintas, pilaretes, vergas e contravergas, foram suprimidos, em

grande número de casos.

E ainda na linha da redução de custos, foram adotadas soluções tecnicamente

inadequadas, como é o caso do uso do piso não aterrado (caixão vazio). O que resultou em um

processo de degradação muito acelerado das obras, um envelhecimento precoce e inúmeras

manifestações patológicas, desde as mais simples até as mais complexas com

comprometimento da segurança das edificações. Além da falta de controle de qualidade dos

componentes e dos procedimentos construtivos.

Estudos destacaram que a relação entre o número de acidentes ocorridos e o número

de edificações existentes resulta numa probabilidade de falha de 1:500, e este é um valor

socialmente inaceitável, uma vez que o correspondente indicador para o caso em que envolve

riscos de vidas humanas é de no máximo 1:10.000, sendo 1:100.000 um valor desejável.

Em relação a estrutura foi observado que a espessura das paredes é responsável, em

grande parte, pela redução da já pequena capacidade de carga destes elementos resistentes

devido à sua elevada esbeltez. Para os valores de pé-direito usualmente empregados neste tipo

de construção, 2,60 m, tem-se uma esbeltez próxima de 30 que é consideravelmente superior

ao valor 20, admitido para construções em alvenaria estrutural.

Outro fato constatado refere que a argamassa de revestimento contribui para a

resistência de uma parede de alvenaria e a literatura internacional mostra através de

64

estimativas que a vida útil de rebocos é da ordem de vinte anos, razão pela qual não se pode

atestar a segurança da edificação que padece de falha congênita, ou seja, ter sido executada

com alvenaria de vedação com finalidade estrutural.

Em grande número de desabamentos, a ruptura não se deu necessariamente a partir da

parede mais carregada, daí, não se pode estabelecer coeficientes de segurança baseados

apenas em critérios de resistência mecânica, quando a deterioração dos materiais é que pode

ser determinante.

Com essa perspectiva pode-se reconhecer que os prédios construídos com alvenaria

resistente estão sujeitos a ruptura brusca e colapso progressivo. A solução para essa

problemática tem início com os projetos de recuperação que devem ter, para merecer esta

designação, necessariamente, capacidade de redistribuição de esforços decorrente de uma

possível ruína de um dos elementos estruturais.

Em sendo assim, considera-se que este estudo alcançou seu propósito ao sistematizar

os dados obtidos na literatura científica acolhidos pelas observações e registros fotográficos

realizados no campo da pesquisa, analisando as possíveis causas para os problemas e

estabelecendo parâmetros comuns entre as edificações e as problemáticas que atinge este tipo

de construção.

Por fim, reitera-se que a estrutura resultante não poderá ser suscetível à ruptura brusca,

nem ao colapso progressivo, mas para que assim seja o desempenho estrutural de qualquer

edificação deve ser verificado pelas normas brasileiras específicas para projeto estrutural e

devem prever condições de agressividade do solo, do ar e da água na época do projeto,

determinando as proteções aos sistemas estruturais e suas partes, assim como as sobrecargas

limitantes ao uso das edificações. É importante, ainda, relembrar a ausência do conhecimento

dos mutuários sobre os riscos de intervenção em seus imóveis como forma de assegurar a

segurança e saúde dos residentes.

Em suma, esta investigação pretendeu ainda servir de suporte aos meios acadêmicos e

técnicos, embasando trabalhos futuros, uma vez que este estudo não esgota a temática, e que

pela sua relevância são necessárias mais pesquisas em razão de que colapsos continuam

ocorrendo neste tipo de edificação, como acontecido com dois blocos do Condomínio

Residencial Eldorado, no bairro do Arruda, em Recife, em 24 de maio deste ano, interditados

pela Defesa Civil.

65

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2, 3 Y 4 junio 2010.

69

ANEXO A

MODELO DO RELATÓRIO DE VISTORIA TÉCNICA

SOLICITANTE: (pessoa responsável pela administração da edificação)

LOCAL DA VISTORIA: (endereço do imóvel)

MOTIVO DA SOLICITAÇÃO: (vistoria preventiva, corretiva, interdição, liberação, outros)

DATA DA VISTORIA: (término da vistoria)

AUTOR: (profissional responsável pela vistoria)

OBJETIVO: (razões para a vistoria: grau de risco, problemas edificantes, outros)

CARACTERIZAÇÃO DA EDIFICAÇÃO: (dados da edificação: tipo de alvenaria, nº de

pavimentos, nº de unidades, tempo de construção, tipo de fachada, tipo de calçamento, tipo de

coberta, tipo de fornecimento de água e energia, localização da caixa d’água, outros)

CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS: (informações sobre intervenções, danos

estruturais, outros)

CARACTERIZAÇÃO DO MEIO FÍSICO: (informações sobre localização, serviços

públicos, outros)

DETERMINAÇÕES: (informações sobre os serviços a serem feitos)

CONCLUSÃO: (Análise final da vistoria com informações complementares)

ENCAMINHAMENTO: (destinado ao solicitante, com esclarecimento sobre os

procedimentos a serem adotados)

OBS: (informações sobre as observações visuais, grau de risco detectado, necessidade de

desocupação, base legal para impedimento de modificação da estrutura original, outros)

Fonte: Secretaria Executiva de Defesa Civil. Prefeitura do Jaboatão dos Guararapes (2010).

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ANEXO B

GLOSSÁRIO

Alvenaria estrutural – Tipo de alvenaria que dispensa o uso de elementos estruturais, como

vigas e pilares, onde os próprios tijolos suportam a carga da estrutura.

Anomalias - O que se desvia da norma. Irregularidade. Deformidade.

Bloco estrutural de vedação – É o tijolo propriamente dito

Eflorescência – Aparecimento de machas esbranquiçadas na alvenaria decorrente de

depósitos salinos de metais alcalinos e alcalinos terrosos na superfície das alvenarias

provenientes da migração de sais solúveis dos materiais e dos componentes da alvenaria.

Higroscopia - É a propriedade que possuem certos materiais de absorver água.

Patologias – É a parte da engenharia que estuda as anomalias das edificações

Radier – Tipo de fundação rasa que consiste em uma placa de concreto armado colocado

sobre o solo como uma laje de piso.

Fonte: Corrêa 2010, p. 42.