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popcom - informação e formação | O Prof. Adriano Moreira é o grande destaque da segunda edição do "popcom", a publicação online do Gabinete de Estudos Gonçalo Begonha. Para além desta entrevista exclusiva, encontrarás artigos de interesse sobre a situação caótica na Guiné-Bissau, sobe as mudanças políticas que estão a ocorrer na Europa, um dossier ideológico sobre a Escola Austríaca de Economia e uma peça sobre os problemas da educação em Portugal. Poderás ler ainda os apetecíveis textos de opinião, nomeadamente os de dois convidados muito especiais: Miguel Pires da Silva e Vera Rodrigues. Mais informação e melhor formação numa publicação que é igual a ti.

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Page 1: popcom #02

Page 2: popcom #02

Ano 1 | Número 2 | Maio de 2012

Tiago Loureiro

Diogo Pascoal

Francisco Ancede

Joana Martins Rodrigues

Lúcia Santos

Luís Pedro Mateus

Rafael Borges

Adriano Moreira

Guilherme Marques da Fonseca

Miguel Pires da Silva

Vera Rodrigues

O não está de acordo com

o novo acordo. Por isso, é escrito

segundo a antiga ortografia.

Lg. Adelino Amaro da Costa, nº 5

1149-063 Lisboa

goncalobegonha.org

popcom.blogs.sapo.pt

[email protected]

2 sumário

Adriano Moreira: “Se não é lisonjeiro ter chegado a esta situação de protectorado, o desonroso seria desistir de a vencer”.

A tragédia guineense Rafael Borges

Maré de mudança Rafael Borges

Escola Austríaca: o futuro da economia? Guilherme Marques da Fonseca

Educação modernaça, que desgraça! Lúcia Santos

Editorial Tiago Loureiro

Palavra de Presidente Miguel Pires da Silva

Depois da liberdade Rafael Borges

Diários de São Bento Vera Rodrigues

Ninja Generation Francisco Ancede

Sinais Luís Pedro Mateus

Page 3: popcom #02

A crise e a falência de uma ilusão

e é verdade que, por força das

circunstâncias, os portugueses nunca

tiveram tantas dificuldades em tolerar as

pesadas dificuldades impostas pelo estado e

pelos seus representantes e, por consequência,

um impulso tão grande para sair para a rua

protestar e reclamar direitos e oportunidades, a

verdade é que os sindicatos e as forças

partidárias que tradicionalmente usam a

indignação das pessoas e tentam federalizar

descontentamentos para daí tirar dividendos,

nunca viram a adesão popular às suas iniciativas

ser tão insignificante. É um bom sinal. Um

sinal de que as pessoas estão, hoje, mais

responsáveis e sabem que problemas sérios não

se resolvem com pretensas soluções que mais

não são do que arrebatamentos irresponsáveis.

S

Tiago Loureiro

editorial 3

responsáveis e sabem que problemas sérios não se

resolvem com pretensas soluções que mais não são

do que arrebatamentos irresponsáveis.

Foi precisamente isso que se verificou no último dia

1 de Maio, em que a mobilização sindical e da

esquerda retrógrada não conseguiu suplantar

a mobilização despertada pela oportunidade que o

Pingo Doce deu às pessoas.

De modo semelhante, no dia 13 de Maio, dia em

esquerda retrógrada não conseguiu suplantar a

mobilização despertada pela oportunidade que

o Pingo Doce concedeu às pessoas.

De modo semelhante, no dia 13 de Maio, dia em

que uma das novas organizações de indignados,

da qual não me lembro o nome (a moda é tal que

os movimentos proliferam e eu não tenho ritmo

para os acompanhar) convocou uma

manifestação para várias cidades do país. Em

Lisboa, segundo os noticiários, estiveram

reunidas cerca de 300 pessoas. No mesmo

dia, em Fátima, o número de pessoas que

preferiu uma manifestação de convicções

pessoais em vez de remar no sentido das

convicções obsoletas e fantasiosas de outros

ascendia a 300… mil.

Isto para dizer algo de muito simples. Não é que

as pessoas não experimentem neste momento

um sentimento de descontentamento com o

governo – mau seria se assim não fosse, já que

as medidas que estão a ser seguidas são

pesadíssimas, ainda que as possamos considerar

fundamentais. Mas as sucessivas derrotas destas

manifestações, indignações e paralisações, são,

em si mesmo, uma grande vitória: a esmagadora

maioria das pessoas, nomeadamente os

trabalhadores que os sindicatos e a esquerda

radical tanto se gaba de defender, e os jovens

que os grupelhos de indignados tanto gostam de

ter como propriedade, não vê necessariamente o

reflexo do seu descontentamento nas palavras e

nas atitudes anacrónicas e desligadas da

realidade dos Arménios Carlos e dos Louçãs

desta vida. E isso é um sinal de responsabilidade

e de realismo que se saúda.

Page 4: popcom #02

A actual Comissão Política da JP

Alcobaça, mesmo antes de ser

eleita, estabeleceu no seu manifes-

to eleitoral a vontade de efectivar o

Conselho Municipal da Juventude

(CMJ) no município.

De facto, foi necessário muito esforço

e mobilização para o conseguir.

Inicialmente, na tentativa de sensi-

bilizar a Câmara Municipal para o

cumprimento voluntário da lei

nº8/2009, que estabelece o regime

jurídico do CMJ, foram enviadas três

exposições escritas, sendo que duas

delas nunca chegaram a ter resposta.

Cerca de seis meses mais tarde, a JP

Alcobaça lançou a campanha “CMJ –

Why not?”, na qual angariou 444

assinaturas de jovens exclusivamente

dos 14-30 anos, exigindo a instau-

ração imediata daquele órgão cônsul-

tivo jovem no município.

Ademais, foi elaborado um vídeo com

empresários jovens, dirigentes associ-

ativos e jovens trabalhadores do

concelho de Alcobaça, no qual todos

realçaram as mais-valias que a

implementação do CMJ traria e

questionaram a posição do executivo

camarário local, à qual a JP local

apelidou de “inércia desencora-

jadora”.

Finalmente, com a excelente cober-

tura conseguida através dos órgãos de

imprensa locais e redes sociais, toda

esta pressão deu resultados: o

Presidente da Câmara anunciou o

início das diligências para a criação do

órgão.

António Querido

JP Alcobaça exige criação do Conselho Municipal de Juventude

4 notícias

No fim-de-semana de 24 e 25 de

Março de 2012, decorreu em

Terras de Bouro, no Auditório

Municipal da Vila do Gerês, o IV

Conselho Distrital de Braga da

Juventude Popular.

Esta iniciativa, em que a estrutura

se juntou novamente, revelou-se um

sucesso, quer pelos conteúdos apre-

sentados pelos oradores, quer pelo

número de militantes presentes e a

sua participação e a qualidade das

intervenções.

Com cerca de 83 participantes,

entre Conselheiros Distritais repre-

sentando os 14 concelhos do dis-

trito e alguns convidados, foi feito o

balanço de 2011 pela Comissão

Política Distrital e apresentou-se o

Plano de Acção para 2012 e as

novas medidas a implementar no

distrito. De salientar as principais,

relacionadas com o combate ao

desemprego, medidas essas já em

execução no munícipio de Fama-

licão através de uma proposta da

Juventude Popular, e também

medidas de aumento da estrutura

nos concelhos do distrito de Braga.

De seguida, o programa continuou

com uma acção de Formação

licão através de uma proposta da

Juventude Popular, e também

medidas de aumento da estrutura

nos concelhos do distrito de Braga.

De seguida, o programa continuou

com uma acção de Formação Polí-

tica que incidiu sobre a estrutura da

JP e novos meios de comunicação

política.

Ao fim da tarde, um workshop

dinâmico “Gerador de Ideias” foi a

actividade escolhida, no qual a

participação de todos enriqueceu

bastante os planos de acção das

concelhias.

Para encerrar o Conselho Distrital,

os participantes assitiram a um

debate com o tema: “O Turismo no

Minho: Estratégias de Integração

Económica” com a Presença do Dr.

José Pires, Presidente da Associação

Gerês Viver Turismo e do Deputado

da Assembleia da República e

Presidente da Distrital de Braga do

CDS/PP, Eng. Altino Bessa, que

encerrou o Conselho Distrital

salientando o orgulho que é no

distrito de Braga haver uma equipa

dinâmica, popular, cheia de valor e

força e que com o exemplo de

trabalho contribuem imenso para o

Page 5: popcom #02

notícias 5

Depois de mais de uma década

sem estrutura eleita no concelho

de Chaves, a Juventude Popular

(JP), está de volta ao activo! Salas

cheias para aquela que foi a sua

primeira actividade, enquanto

estrutura eleita. A “Jornada Popular”

decorreu no passado dia 14 de Abril e

contou com uma sessão de formação

política e com o jantar de tomada de

posse dos órgãos concelhios,

altamente participado.

A formação política esteve a cargo do

deputado da Nação e ex-Presidente

da Comissão Política Nacional da

Juventude Popular, Michael Seufert

que, perante o grande número de

novos militantes desta concelhia, teve

a preocupação de, num primeiro

momento, fazer uma retrospectiva da

história da JP e do CDS explicando a

génese do partido e o seu posicio-

namento no espectro político de

então. Foi ainda explanada a matriz

ideológica da JP e do CDS, bem como,

os pilares em que se sustentam.

Michael Seufert debruçou-se ainda

sobre os presidentes, as suas

características e peculiaridades que

indubitavelmente deixaram a sua

marca na história do partido, tendo

contribuído naturalmente para a

construção do CDS de hoje.

O entusiasmo manifestado pelo

grande número de novos militantes

foi especialmente notado por Michael

Seufert que, desafiou e alimentou o

debate e troca de ideias entre os

presentes.

A formação dos militantes é um

desígnio primeiro no distrito de Vila

Real que, tem ainda, naturalmente,

preocupação com a implantação e

com o apoio ao associativismo

estudantil.

Com a actividade e dinamismo das

concelhias, de que se destacam Vila

sobre os presidentes, as suas

características e peculiaridades que

indubitavelmente deixaram a sua

marca na história do partido, tendo

contribuído naturalmente para a

construção do CDS de hoje.

O entusiasmo manifestado pelo

grande número de novos militantes

foi especialmente notado por Michael

Seufert que, desafiou e alimentou o

debate e troca de ideias entre os

presentes.

A formação dos militantes é um

desígnio primeiro no distrito de Vila

Real que, tem ainda, naturalmente,

preocupação com a implantação e

com o apoio ao associativismo

estudantil.

Com a actividade e dinamismo das

concelhias, de que se destacam Vila

Real e Chaves por estarem entre as 4

maiores do país, o distrito de Vila

Real aposta no esforço, dedicação e

método dos dirigentes concelhios

para, em breve, operacionalizar a sua

estrutura distrital.

André Correia

Juventude Popular de

Chaves cresce apostando

na formação política

encerrou o Conselho Distrital Sali-

entando o orgulho que é no distrito

de Braga haver uma equipa

dinâmica, popular, cheia de valor e

força e que com o exemplo de

trabalho contribuem imenso para o

crescimento do CDS.

De acrescentar que a noite

continuou com o jantar de Tomada

de Posse da JP Terras de Bouro no

Restaurante do Hotel Águas do

Gerês, que acolheu os participantes.

Houve ainda tempo no 2º dia deste

Conselho Distrital para uma acti-

vidade radical organizada pela

Distrital de Braga, constituida por

trilhos de arborismo, slide e rapel.

O próximo Conselho Distrital será

em meados de Novembro, para o

qual a Distrital de Braga aproveita

desde já para convidar toda a

estrura para um espaço de

intervenção política aliado a muita

alegria e boa disposição.

Sérgio Lopes

Page 6: popcom #02

Foi no passado dia 31 de Março de

2012 que a Distrital do Porto da

Juventude Popular organizou o II

Conselho Distrital, sobe o lema

“somos pela autonomia”. O Conselho

Distrital realizou-se no auditório da

Junta de Freguesia da Senhora da

Hora, em Matosinhos.

Tal como o tema indica e sugere, este

Conselho Distrital focou-se fun-

damentalmente em promover o

debate sobre o futuro das infra-

estruturas da Região Norte, tema de

fulcral importância para esta

Comissão Política Distrital. Os

trabalhos iniciaram-se com um

debate entre a deputada da

Juventude Popular, Vera Rodrigues, e

o dirigente distrital da Juventude

Socialista, Tiago Barbosa Ribeiro.

Durante o debate, que durou largos

minutos, as posições e as opiniões

expressas pelos dois oradores foram

coincidentes no que diz respeito à

necessidade e à importância de

garantir a autonomia para a Região

Norte no que diz respeito à gestão de

infra-estruturas como o Porto de

Leixões e o Aeroporto Francisco Sá

Carneiro, contrariando o centralismo

asfixiante que o Estado

sistematicamente teima em impor.

As posições divergiram no que diz

respeito à forma em como deve ser

feita essa gestão: Vera Rodrigues, tal

como a Distrital do Porto, defende a

privatização das infra-estruturas,

mas nunca em pacote. Já a Juventude

Socialista não concorda com a

privatização das infra-estruturas e

defende que as mesmas sejam

mantidas sobre a responsabilidade

do Estado. A JP defende que a

privatização em pacote destas infra-

estruturas apenas iria servir para

coincidentes no que diz respeito à

necessidade e à importância de

garantir a autonomia para a Região

Norte no que diz respeito à gestão de

infra-estruturas como o Porto de

Leixões e o Aeroporto Francisco Sá

Carneiro, contrariando o centralismo

asfixiante que o Estado sistema-

ticamente teima em impor. As

posições divergiram no que diz

respeito à forma em como deve ser

feita essa gestão: Vera Rodrigues, tal

como a Distrital do Porto, defende a

privatização das infra-estruturas,

mas nunca em pacote. Já a Juventude

Socialista não concorda com a

privatização das infra-estruturas e

defende que as mesmas sejam

mantidas sobre a responsabilidade

do Estado. A JP defende que a

privatização em pacote destas infra-

estruturas apenas iria servir para

mascarar o fraco desempenho das

restantes infra-estruturas nacionais,

à custa do excelente desempenho das

infra-estruturas regionais e acabar

por “matar” a concorrência que a JP

defende dever existir, tanto no sector

portuário, como sector

aeroportuário.

Findo o debate, seguiram-se os

restantes pontos da Ordem de

Trabalhos que abordou temas como

as alterações estatutárias produzidas

no Congresso Nacional, a

implantação da JP no Distrito, as

Eleições Autárquicas de 2013, e

Tomada de Posse dos Órgãos

Concelhios da Juventude Popular de

Matosinhos.

No Conselho Distrital, para além da

presença de militantes e dirigentes

de várias concelhias do Distrito,

salienta-se a presença do Presidente

da Comissão Política Nacional da

restantes infra-estruturas nacionais,

à custa do excelente desempenho das

infra-estruturas regionais e acabar

por “matar” a concorrência que a JP

defende, tanto no sector portuário,

como sector aeropor-tuário.

Findo o debate, seguiram-se os

restantes pontos da Ordem de

Trabalhos que abordou temas como

as alterações estatutárias produzidas

no Congresso Nacional, a implan-

tação da JP no Distrito, as Eleições

Autárquicas de 2013, e Tomada de

Posse dos Órgãos Concelhios da

Juventude Popular de Matosinhos.

No Conselho Distrital, para além da

presença de militantes e dirigentes

de várias concelhias do Distrito,

salienta-se a presença do Presidente

da Comissão Política Nacional da

Juventude Popular, Miguel Pires da

Silva.

Pedro Carvalho

Debate sobre a autonomia do Porto de Leixões em foco no Conselho Distrital do Porto

6 notícias

Page 7: popcom #02

No passado fim-de-semana de 24

e 25 de Março. decorreu na

cidade italiana de Nápoles o 24º

Congresso do DEMYC - Democrat

Youth Community of Europe -, uma

organização que reúne as mais

diversas organizações partidárias

de juventude da Europa. Nesse

congress, o Presidente da Juventude

Popular, Miguel Pires da Silva, foi

eleito Vice-Presidente da orga-

nização. A apresentação da candi-

datura esteve a cargo do deputado e

ex-Presidente da Juventude Popular,

Michael Seufert, e foi fruto também

do trabalho que a Carolina Thiede,

responsável pela actividade

internacional da Juventude Popular

nos últimos anos, foi realizando

nesta organização europeia,

construindo o caminho para que

Michael Seufert, e foi fruto também

do trabalho que a Carolina Thiede,

responsável pela actividade

internacional da Juventude Popular

nos últimos anos, foi realizando

nesta organização europeia, cons-

truindo o caminho para que esta

eleição fosse possível. Com

esta eleição a JP vê reconhecido o

seu trabalho e a competência dos

seus elementos, e recebe um voto de

confiança de mais uma organização

internacional.

Tiago Loureiro

Miguel Pires da Silva eleito vice-presidente do DEMYC

No passado dia 27 de Abril, a JP

Tomar realizou no Anfiteatro do

Instituto Politécnico de Tomar a

cerimónia da Tomada de Posse

dos Núcleos de Estudantes

Populares (NEP) da Escola de

Santa Maria do Olival e do Instituto

Politécnico de Tomar. Com a

criação destas estruturas a JP

Tomar evidencia mais uma vez a

enorme preocupação com a

qualidade de ensino local e a

intenção de criar condições para

que os jovens se fixem neste

Concelho, com o intuito de dotá-lo

de um dinamismo que só a

juventude poderá oferecer.

De forma a que estas intenções se

materializem ambos os NEP’s terão

como principais objectivos a defesa

dos direitos dos estudantes e

funcionar como um elo de ligação

entre o Gabinete de Educação da JP

e os jovens das respectivas

instituições.

Nota de destaque ainda para o

convidado de honra, o deputado da

Assembleia da República Michael

Seufert do CDS-PP, que esclareceu

uma plateia de cerca de meia

centena de jovens sobre Políticas

de Educação.

João Ribeiro

JP Tomar reforça

a sua presença

através da criação

de dois núcleos de

estudantes

notícias 7

Page 8: popcom #02

8 notícias

No mês de Março, a Juventude

Popular de Coimbra realizou a

terceira edição do ciclo de

“mesas redondas”, desta vez

subordinada ao tema “9 meses

de Governo: que balanço?”. A

concelhia conimbricense contou

com a presença dos deputados da

Juventude Popular, Vera Rodri-

gues e Michael Seufert.

Mais uma vez a sala encheu-se de

militantes, convidados e amigos,

entre estes o deputado do CDS à

Assembleia da República eleito

pelo círculo eleitoral de Coimbra,

João Serpa Oliva, para ouvir falar

os dois oradores convidados.

Esta foi a terceira iniciativa de um

evento que a Juventude Popular de

Coimbra pretende que se continue

a realizar, sempre com diferentes

convidados e temas que marquem

a actualidade política.

Lúcia Santos

JP Coimbra debateu nove meses de Governo com a presença dos deputados JP

A propósito de mais um

aniversário de nascimento de

Adelino Amaro da Costa, no

passado dia 18 de Abril, o

Gabinete de Estudos Gonçalo

Begonha promoveu uma home-

nagem ao fundador do CDS e figura

inspiradora da Juventude Popular.

Ao longo de três dias, foram

divulgadas informações sobre a vida

de Adelino Amaro da Costa através

de dois vídeos – o primeiro relatava

de forma sucinta alguns dos

episódios mais marcantes da sua

vida privada e o segundo abordava

os acontecimentos mais relevantes

da sua actividade política – e de um

caderno biográfico mais pormeno-

rizado e que não deixou de fora

nenhum detalhe sobre a vida de

uma das figuras mais significativas

da vida política do Portugal

democrático.

rizado e que não deixou de fora

nenhum detalhe sobre a vida de

uma das figuras mais significativas

da vida política do Portugal

democrático.

As três partes do documentário

“Adelino, Corpo e Alma” podem ser

encontrados no website oficial e na

página de Facebook do Gabinete de

Estudos Gonçalo Begonha.

É intenção do Gabinete de Estudos

Gonçalo Begonha continuar com

este tipo de iniciativas de home-

nagem a grandes figuras nacionais,

com especial relevância para aque-

las que desenvolveram a sua acti-

vidade no interior do CDS ou da JP.

Tiago Loureiro

GEGB promove homenagem a Adelino Amaro da Costa

Page 9: popcom #02

Palavra de Presidente

queremos um futuro diferente, um futuro

que nos traga esperança e confiança!

O desafio que vos lanço é o da superação nas

tarefas diárias. E bem pode ser dado como

exemplo este “popcom” em que agora

escrevo. Exemplo de vontade de dar

contributo com propostas e divulgação de

opinião que pode, e estou certo que poderá,

ser bastante útil para ajudar a traçar um

caminho alternativo à crise a que o anterior

Governo nos condenou!

Conforta-me e sinceramente envaidece,

saber que lidero um Juventude que responde

sempre presente face às adversidades e

contratempos. Não posso assim deixar de

acreditar que esta geração vai estar à altura

deste enorme desafio e vai ser bem

sucedida!.

aros leitores,

Permitam-me, em primeiro lugar,

uma saudação especial a toda a equipa

que colabora na edição deste jornal! Este é

sem dúvida um contributo valioso para todos

os jovens que querem pensar o futuro de

Portugal. Aqui são expressas as mais diversas

opiniões sobre a actualidade e não só,

opiniões expressas de uma forma livre e

completamente solta, mas sem nunca

esquecer a responsabilidade que esta

intrinsecamente associada a todos os

militantes da Juventude Popular.

Vivemos hoje dias difíceis, dias esses que são

fruto de toda uma conjuntura internacional

que nos afecta de uma forma drástica, mas

acima de tudo uma consequência de falta de

orientação e competência do anterior governo

que não soube agir na altura certa, e tudo fez

para camuflar uma situação inevitável e

insustentável, iludindo o povo Português da

realidade.

Cabe-nos a nós, CDS e Juventude Popular, a

difícil, mas não impossível tarefa de ajudar a

salvar Portugal! E é nesse sentido que eu vos

dirijo esta mensagem, porque somos jovens,

porque queremos mais e acima de tudo

queremos um futuro diferente, um futuro que

nos traga esperança e confiança!

O desafio que vos lanço é o da superação nas

tarefas diárias. E bem pode ser dado como

exemplo este “popcom” em que agora escrevo.

Exemplo de vontade de dar contributo com

C

Miguel Pires da Silva

notícias 9

Page 11: popcom #02
Page 12: popcom #02

Rafael Borges

ncravada entre a República

da Guiné (Guiné-Conacri) e o

Senegal, a Guiné-Bissau não

é, ao contrário de outras nações

africanas, como Angola ou Moçam-

bique, um país de contrastes. Da

pobreza abjecta de Ziguinchor,

Bafatá ou Cacheu à igualmente

abjecta pobreza da capital, Bissau,

as disparidades não são grandes.

Entre a monotonia dos golpes

constantes, que se sucedem de ano a

ano e de mês a mês, e a inexistência

permanente de um Estado organi-

zado capaz de garantir aos seus

cidadãos o direito à segurança e à

justiça, a pequena República da

Guiné-Bissau voltou a surpreender

o mundo quando, a 18 de Abril, se

soube de um novo golpe de Estado

e, com ele, de uma nova violação da

legalidade democrática e

constitucional no país.

Justificando as suas acções com a

pretensa existência de um tratado

soube de um novo golpe de Estado

e, com ele, de uma nova violação da

legalidade democrática e constitu-

cional no país.

Justificando as suas acções com a

pretensa existência de um tratado

assinado, dizem, pelo primeiro-

ministro e candidato presidencial

José Gomes Júnior e a Angola de José

Eduardo dos Santos, de acordo com

o qual a capacidade das forças

militares da Guiné-Bissau de

defender a independência do país

ficaria comprometida, os militares

interromperam o processo eleitoral

e tomaram o poder. Entretanto, o

Presidente da República, o ainda PM

e parte significativa do Governo

guineense foram capturados e

presos em condições de que ainda

se sabe pouco mas que, conhecendo

o estilo comum dos golpes afri-

canos, dificilmente terão sido as

melhores. E, se o verdadeiro motivo

do golpe de estado parece ter sido

presença de um corpo militar

angolano de qualquer coisa como

200 militares – sim, apenas 200 -, o

Missang, também é verdade que, até

agora, nenhum dos golpistas ou dos

seus apoiantes se dignou a provar –

presença de um corpo militar

angolano de qualquer coisa como

200 militares – sim, apenas 200 -, o

Missang, também é verdade que, até

agora, nenhum dos golpistas ou dos

seus apoiantes se dignou a provar –

ou, sequer, a dar-se ao trabalho de o

tentar – a efectiva existência de um

acordo entre as autoridades guine-

enses agora depostas e o governo

angolano que pudesse, de alguma

forma, pôr em causa a soberania da

Guiné enquanto Estado autónomo.

Depois do golpe, e com Portugal, a

antiga potência colonizadora, a

assumir-se como principal opositor

ao golpe e a anunciar, inclusi-

vamente, o envio de meios militares

significativos para a região, porém,

os rebeldes começaram a ver-se na

necessidade de negociar. Disso ou

de o aparentar: com a presumível

oposição de uma maioria signifi-

cativa dos guineenses, o posici-

onamento de Portugal na vanguarda

da condenação internacional da

tentativa revolucionária e a posição

categórica, uniforme, por parte dos

países da Comunidade dos Países de

Língua Portuguesa em agir contra

os revoltosos, o Comando Militar viu

E

De Estado falhado a golpe vitorioso: a tragédia guineense

12 internacional

Page 13: popcom #02

internacional 13

Seguindo uma triste rotina, o povo

guineense enfrenta mais um desafio à

viabilidade da sua democracia.

Page 14: popcom #02

da condenação internacional da

tentativa revolucionária e a posição

categórica, uniforme, por parte dos

países da Comunidade dos Países de

Língua Portuguesa em agir contra

os revoltosos, o Comando Militar viu

a sua estratégia de acção

profundamente limitada. Com uma

raison d’être pouco credível e um

modus operandi ainda mais

questionável, o verdadeiro

catalisador do levantamento

dificilmente poderia ter-se tornado

mais claro: foi o medo da perda de

influência e a notória – e, já agora,

crescente – falta de paciência do

guineense médio com uma

preponderância dos militares na

vida política que já dura desde a

independência do país, em 1974.

Quando conquistou a indepen-

dência, em 1974, a Guiné-Bissau era

já um país potencialmente proble-

mático. Após a morte, em Conacri,

do líder histórico do PAIGC, o luso-

entusiasta Amílcar Cabral, às mãos

de um grupo de dissidentes da

organização, as intrigas e

rivalidades inter-tribais passaram a

desempenhar um papel central na

vida do partido e, com a saída dos

portugueses do território, do novo

país.

Depois da independência, o irmão

de Amílcar e primeiro presidente da

Guiné independente, Luís Cabral,

liderou o país rumo a uma

experiência socialista falhada – e de

dramáticas implicações para o povo

guineense. A Guiné, que, ainda com

os portugueses, tinha chegado à

categoria de ser um dos territórios

africanos em maior expansão

económica, caiu rapidamente no

abismo da indigência, da fome e da

miséria – isso à medida que os

de um grupo de dissidentes da

organização, as intrigas e rivali-

dades inter-tribais passaram a

desempenhar um papel central na

vida do partido e, com a saída dos

portugueses do território, do novo

país.

Depois da independência, o irmão

de Amílcar e primeiro presidente da

Guiné independente, Luís Cabral,

liderou o país rumo a uma expe-

riência socialista falhada – e de

dramáticas implicações para o povo

guineense. A Guiné, que, ainda com

os portugueses, tinha chegado à

categoria de ser um dos territórios

africanos em maior expansão

económica, caiu rapidamente no

abismo da indigência, da fome e da

miséria – isso à medida que os

grandiosos projectos de

industrialização do país do governo

comunista falhavam, um atrás do

outro. Cumere, a tentativa de

construir, na Guiné-Bissau, um

imenso complexo industrial, é bom

exemplo do insucesso estratégico

que atirou a pequena república

africana para a categoria de estado

falhado. O destino da Guiné

enquanto país e a inevitabilidade do

seu colapso, porém, só se tornaram

óbvios a partir do golpe de militares

revoltosos - e da guerra civil que se

lhe seguiu - contra o, na altura,

presidente Nino Vieira.

Regressado ao poder depois da sua

vitória nas Presidenciais de 2005,

Nino, um ex-guerrilheiro do PAIGC,

tenta devolver alguma estabilidade

ao país. O seu assassinato, todavia,

pôs definitivamente a Guiné rumo à

circunstância que hoje vive. Morto o

único homem capaz de unir

verdadeiramente os guineenses

num projecto comum de

(re)construção nacional, Bissau vê-

se esvaziada de um poder político

unificador ou, pelo menos,

apaziguador, apenas para voltar ao

miséria – isso à medida que os

grandiosos projectos de industri-

alização do país do governo

comunista falhavam, um atrás do

outro. Cumere, a tentativa de

construir, na Guiné-Bissau, um

imenso complexo industrial, é bom

exemplo do insucesso estratégico

que atirou a pequena república

africana para a categoria de estado

falhado. O destino da Guiné

enquanto país e a inevitabilidade do

seu colapso, porém, só se tornaram

óbvios a partir do golpe de militares

revoltosos - e da guerra civil que se

lhe seguiu - contra o, na altura,

presidente Nino Vieira.

Regressado ao poder depois da sua

vitória nas Presidenciais de 2005,

14 internacional

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óbvios a partir do golpe de militares

revoltosos - e da guerra civil que se

lhe seguiu - contra o, na altura,

presidente Nino Vieira.

Regressado ao poder depois da sua

vitória nas Presidenciais de 2005,

Nino, um ex-guerrilheiro do PAIGC,

tenta devolver alguma estabilidade

ao país. O seu assassinato, todavia,

pôs definitivamente a Guiné rumo à

circunstância que hoje vive. Morto o

único homem capaz de unir

verdadeiramente os guineenses

num projecto comum de (re)cons-

trução nacional, Bissau vê-se

esvaziada de um poder político

unificador ou, pelo menos,

apaziguador, apenas para voltar ao

que já tinha vivido nos anos 90 –

uma situação espelhada e simb-

olizada pelo estado de ruína em que

caiu a própria sede do poder

político, o Palácio Presidencial. Para

substituir Nino Vieira na chefia de

estado, os guineenses optaram por

mais uma personalidade ligada ao

PAIGC: Malam Bacai Sanhá. Sanhá,

um moderado que já antes havia

sido crítico tanto de Vieira como dos

que se lhe opunham, porém,

também não pôde concluir o seu

mandato. Foi a sua morte que

catapultou aquela que era uma

situação já de si problemática para

uma de puro e duro levantamento

militar, desafio à comunidade inter-

nacional e desrespeito pela lei

constitucional vigente.

O golpe deu-se no passado dia 12 de

Abril. Denunciado por fogo pesado

de morteiros e de armas auto-

máticas no centro da capital do país,

Bissau, rapidamente começaram a

chegar notícias ao exterior. De

acordo com as primeiras

informações que saíram de Bissau,

tanto o Primeiro-ministro e

candidato presidencial do PAIGC

Carlos Gomes Júnior como o

presidente interino do país,

para evitar a captura. Ao mesmo

tempo, o ministro guineense dos

negócios estrangeiros, que se

encontrava, por altura do golpe, em

Nova Iorque, seguiu para Lisboa

onde se juntou ao MNE português.

Quando, em plena campanha elei-

toral, se tornou evidente que a com-

fusão nas ruas de Bissau se devia a

mais um coup d’état, Portugal não

hesitou em assumir a vanguarda da

reacção internacional. Condenando

(mais uma) violação flagrante da lei

fundamental do país e exigindo a

reposição de legalidade demo-

crática, Lisboa chegou a enviar para

o país uma task force composta for

alguns aviões da Força Aérea

Portuguesa, vários navios da

Marinha e qualquer coisa como 200

soldados. A força, embora de

acordo com as primeiras

informações que saíram de Bissau,

tanto o Primeiro-ministro e cândi-

dato presidencial do PAIGC Carlos

Gomes Júnior como o presidente

interino do país, Raimundo Pereira,

se encontravam ou detidos pelos

militares revoltosos ou mortos.

Pouco depois, os autores do golpe

militar, assumiam os seus motivos e

objectivos: expulsar a missão militar

angolana, Missang, do país, inter-

romper o acto eleitoral e preparar

um período de transição durante o

qual o poder seria detido,

essencialmente, por eles. Quanto ao

governo, foi, na sua maioria, ou

capturado ou forçado a esconder-se

para evitar a captura. Ao mesmo

tempo, o ministro guineense dos

negócios estrangeiros, que se

encontrava, por altura do golpe, em

Nova Iorque, seguiu para Lisboa

onde se juntou ao MNE português.

internacional 15

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sabilidade de agir com uma coesão

que, por não ter havido ocasião para

isso, ainda não conhecia. Essa coesão,

essa unidade cujo aprofundamento

se apresenta como um desígnio

estratégico de Portugal, faz da actual

crise em Bissau um ponto de relevo

ou, mais que isso, de viragem, nas

normalmente insípidas relações

entre as nações da Portugalidade.

Esse aspecto, talvez o mais impor-

tante do coup guineense, tem, porém,

tanto de oportunidade como desafio.

Mas é precisamente a sua compo-

nente de possibilidade de acção, que,

por poder, como sugerem alguns

países, desbravar caminho para a

formação de uma força lusófona de

paz, deve ser vista com atenção por

Portugal e, em especial, pelo chefe da

sua diplomacia.

Ao mesmo tempo, a presente

circunstância da república guineense

não parece oferecer grandes

possibilidades de um

desenvolvimento pacífico que

conduza à restauração do Estado de

Direito – disso ou, pelo menos,

daquilo de mais próximo que dele

exista. De facto, embora Portugal

pudesse, juntamente com o Brasil,

ensaiar uma acção de cariz

eminentemente militar que se

dispusesse a repor a ordem

constitucional no país, a verdade é

que nenhum dos países tem efectiva

capacidade militar para isso. Na

melhor das hipóteses, Portugal

poderia tentar a evacuação de

algumas centenas de Portugueses

residentes no país africano – mais

que isso seria praticamente

impossível com os meios de que

Portugal dispõe. Assim sendo,

enquanto o autoproclamado

Comando Militar mantiver o apoio da

maioria dos efectivos das forças

armadas guineenses, não haverá

hipótese de um desfecho que

conduza a uma normalização da

crática, Lisboa chegou a enviar para

o país uma task force composta for

alguns aviões da Força Aérea

Portuguesa, vários navios da Mari-

nha e qualquer coisa como 200

soldados. A força, embora de

pequeno valor militar, deveria servir

para auxiliar na evacuação dos quase

6000 cidadãos portugueses resi-

dentes na Guiné-Bissau se uma

profunda alteração de circunstâncias

a isso obrigasse. E, embora isso não

tenha, de facto, acontecido, uma

coisa é certa: a unidade do mundo

lusófono consubstanciado na Comu-

nidade dos Países de Língua

Portuguesa, liderado por Portugal,

fez da organização algo que não era

há muito tempo: um grupo de países

com uma agenda comum. O golpe de

estado num dos seus estados-

membros obrigou a CPLP a apre-

sentar-se ao mundo como um bloco

sólido sem ser monolítico, seguro

sem saudosismos, unido sem

imposições. A incerteza na Guiné-

Bissau atirou para a CPLP a respon-

sabilidade de agir com uma coesão

que, por não ter havido ocasião para

isso, ainda não conhecia. Essa coesão,

essa unidade cujo aprofundamento

se apresenta como um desígnio

estratégico de Portugal, faz da actual

crise em Bissau um ponto de relevo

ou, mais que isso, de viragem, nas

normalmente insípidas relações

entre as nações da Portugalidade.

Esse aspecto, talvez o mais

importante do coup guineense, tem,

porém, tanto de oportunidade como

desafio. Mas é precisamente a sua

componente de possibilidade de

acção, que, por poder, como sugerem

alguns países, desbravar caminho

para a formação de uma força

lusófona de paz, deve ser vista com

atenção por Portugal e, em especial,

pelo chefe da sua diplomacia.

Ao mesmo tempo, a presente

circunstância da república guineense

países, desbravar caminho para a

formação de uma força lusófona de

paz, deve ser vista com atenção por

Portugal e, em especial, pelo chefe da

sua diplomacia.

Ao mesmo tempo, a presente

circunstância da república guineense

não parece oferecer grandes possi-

bilidades de um desenvolvimento

pacífico que conduza à restauração

do Estado de Direito – disso ou, pelo

menos, daquilo de mais próximo que

dele exista. De facto, embora Portu-

gal pudesse, juntamente com o

Brasil, ensaiar uma acção de cariz

eminentemente militar que se dispu-

sesse a repor a ordem constitucional

no país, a verdade é que nenhum dos

países tem efectiva capacidade

militar para isso. Na melhor das

hipóteses, Portugal poderia tentar a

evacuação de algumas centenas de

Portugueses residentes no país

africano – mais que isso seria

praticamente impossível com os

meios de que Portugal dispõe. Assim

sendo, enquanto o autoproclamado

Comando Militar mantiver o apoio da

maioria dos efectivos das forças

armadas guineenses, não haverá

hipótese de um desfecho que

conduza a uma normalização da

situação política no país. E isso,

infelizmente, com ou sem pressão do

mundo lusófono.

sesse a repor a ordem constitucional

no país, a verdade é que nenhum dos

países tem efectiva capacidade militar

para isso. Na melhor das hipóteses,

Portugal poderia tentar a evacuação

de algumas centenas de Portugueses

residentes no país africano – mais que

isso seria praticamente impossível

com os meios de que Portugal dispõe.

Assim sendo, enquanto o

autoproclamado Comando Militar

mantiver o apoio da maioria dos

efectivos das forças armadas

guineenses, não haverá hipótese de

um desfecho que conduza a uma

normalização da situação política no

país. E isso, infelizmente, com ou sem

pressão do mundo lusófono.

16 internacional

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Sinais

18 opinião

vindo a verificar, como o dos passes dos transportes

públicos.

Obviamente que o que interessará analisar, muito para além

dos vícios que rodeiam toda a montagem de esta e de outras

notícias e muito para além do significado que dois euros e

meio por mês poderá ter no sacrifício de contenção de

despesa do comum estudante universitário, interessará

constatar o claro sinal deixado pelas opiniões dos estudantes.

Focando aí a análise, é desde logo fácil perceber que o valor

aparentemente supremo da redistribuição de riqueza por

forma coerciva - insofismável e dogmaticamente inscrito em

linhas douradas na Constituição - só é apreciável quando

imperceptível, só é tolerado quando camuflado, só é elogiado

quando feito, supostamente, à custa de outros.

Trespassa então que para o comum dos jovens universitários

e também para alguma comunicação social, a redistribuição

é, afinal, algo com carácter perverso quando faz ricochete.

Num contexto de moldura fiscal pesada e, essa sim, inibidora

de crescimento real, este é um sinal ao qual se deve prestar

futura atenção.

Outros sinais, porventura mais sérios, desde logo pela sua

teimosa persistência no espectro das preocupações

observáveis, surgem com as notícias das gestões danosas em

projectos dependentes de alguma forma do Estado. A recente

polémica relativa à Parque Escolar e as sórdidas declarações

de antigas titulares da pasta da Educação são, neste aspecto,

apenas mais um capítulo desta longa saga.

De facto, com os limites da paciência cívica constantemente

postos à prova, uma certa elite política parece focada em

testar o limite dos mesmos, aparentemente segura que está -

e com razões históricas para o estar - da inconsequência legal

de gestões descuidadas que, quando levadas à barra da

justiça, condenadas estão a se perderem por entre meandros

burocráticos coincidentemente sempre favoráveis aos

mesmos. Desta forma, sempre que escândalos de corrupção e

gestão danosa de dinheiro público vêm à superfície,

imediatamente são tratados por esta mesma elite como

tricas políticas, campanhas de difamação ou politização da

justiça. Paralelamente, a elite não se vai inibindo de, em todas

as campanhas eleitorais, clamar por reformas na mesma

justiça que parasiticamente infesta e influencia. Depois de

eleições, infelizmente, as reformas costumam ser as do

costume: de maquilhagem. A desconfiança intrínseca da

população no seu próprio sistema judicial adensa-se e

or entre casos politiqueiros recorrentes, que de

pouco ou nada interessam à definição, premente,

do futuro da nação, paira a inquietante sensação de

que, nesta secular leitura e escrita da nossa história, nos

temos, nas últimas décadas, perdido com notas de rodapé.

É certo que toda a dinâmica comercial dos media, aliada a

uma lógica de consumo sequioso pelo espectacular, pelo

imediato e pelo acessório, claramente associada a uma

ampla maioria da sociedade actual, contribui em larga

escala para este estado de espírito. No seu seguimento, os

políticos vêm-se obrigados a se adaptarem a estas regras

do jogo mediático, dependentes que estão dos media e do

que os mesmos entendem como matéria transmissível,

obedecendo ao que se considera que o público geral

quererá ver, ouvir e ler.

É numa conjuntura destas que nos compete tentar travar,

de uma forma realista, este ímpeto quase irresistível e ir

tomando conta de pequenos sinais que vão trespassando

da espuma das manchetes.

Um destes sinais chegou recentemente a propósito de

uma decisão dos reitores das universidades portuguesas

em aumentar as propinas em trinta euros para financiar o

fundo de apoio a estudantes necessitados. Na entrevista de

rua feita a estudantes universitários da zona de Lisboa,

pedindo impressões dos mesmos sobre esta decisão,

invariavelmente a pergunta foi conduzida de uma forma

hábil para o sempre tentador "soundbyte", tentando fazer

passar como ponto assente que os trinta euros em causa

irão fazer ainda mais estudantes desistir do ensino

superior por incapacidade de comportarem esse valor. No

estilo já conhecido e descrito, numa das entrevistas é o

próprio jornalista a acrescentar, em forma de sugestão, à

resposta da estudante, que esse aumento deverá ser

enquadrado no contexto de outros aumentos que se têm

vindo a verificar, como o dos passes dos transportes

públicos.

Obviamente que o que interessará analisar, muito para

além dos vícios que rodeiam toda a montagem de esta e de

P

Luís Pedro Mateus

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Page 21: popcom #02

justiça que parasiticamente infesta e influencia. Depois

de eleições, infelizmente, as reformas costumam ser as

do costume: de maquilhagem. A desconfiança intrínseca

da população no seu próprio sistema judicial adensa-se e

prossegue, ilesa, minando todo o regime político.

O clima de desconfiança consegue ser ainda mais

adensado quando se assiste, de forma recorrente, ao

curioso ressurgimento do dever de perscrutar que certas

instituições têm apenas depois de mudado o ciclo

político, provando que, de facto, os mecanismos de

regulação e prevenção só se activam - e perdoe-se a

vulgaridade da imagem - depois da borrada estar feita e

os borrões terem saído dos quartos de banho públicos.

Se o contexto pré-crise (ou de crise anterior à crise

actual) já era preocupante, no que toca aos sinais da

saúde de uma democracia - desde logo pelas taxas de

abstenção reflectoras da indiferença e descrença geral

dos cidadãos na política e nos políticos - no contexto

actual de crise aguda, onde o populismo e a demagogia

são tentação de muita gente desesperada facilmente

instrumentalizada por radicalismos, os tempos não

recomendam que as elites continuem a contar, ad

eternum, com o desinteresse passivo da maioria.

Se esse mesmo desinteresse se tem

revelado historicamente proveitoso a algumas

manigâncias, não é de ignorar que é sempre ele que

acaba por mais cedo ou mais tarde legitimar, na sua

passividade, devaneios de amanhãs que cantam.

Os sinais gregos, neste aspecto concreto, servem de aviso

à navegação no que toca a importância fulcral que

possuir um espectro político regrado e ciente de

responsabilidades assumidas constitui na estabilidade de

uma nação.

É, neste aspecto concreto, que os sinais de alguma

inconstância ocasionalmente acenados pelo Partido

Socialista assumem-se como focos de potencial

instabilidade que importa, de forma veemente, evitar. Da

parte dos partidos que suportam o governo, a tentação

de retirar fáceis dividendos políticos, extremando-se

posições, deve ser estancada com um sentido de

enquadramento de algumas intervenções da oposição, na

perspectiva de serem reflexo de uma redefinição de

projecto político de décadas, já impossível de executar -

por força da realidade - nos moldes que as palavras nos

discursos ainda propõem.

Ainda nesta linha, será importante enquadrar que,

independentemente dos partidos que coabitem o

espectro partidário nacional, praticamente todos os

intervenientes políticos e todos os quadrantes eleitorais

parecem ainda não ter abandonado a lógica da “cadeia de

comando” (abordada já muitas vezes pelo Professor

Adriano Moreira) tradicional e vigente na nação desde a

sua fundação. Nessa lógica, nos grandes conceitos

estratégicos nacionais, fomos do da independência para o

opinião 21

Adriano Moreira) tradicional e vigente na nação desde a

sua fundação. Nessa lógica, nos grandes conceitos

estratégicos nacionais, fomos do da independência para o

da reconquista. Do da reconquista para o do caminho para

a Índia e dele para o sonho de Marrocos, gorado,

juntamente com a soberania. Depois, a estratégia da

restauração, e do Brasil. Perdido esse, África. Este último

morre em 1974 e, depois dum breve período de

redefinição do alinhamento nacional na Europa e no

mundo, nasce a estratégia da plena integração Europeia,

alcançada em 1986. Depois, a concentração nacional para

o objectivo do Euro, também ele atingido.

Nesta dinâmica secular, ambos os lados do pêndulo se

acostumaram à praxis: governantes habituaram-se a

traçar grandes planos estratégicos nacionais e governados

habituaram-se a segui-los de forma exageradamente

distanciada e, não raramente, desinteressada. Aqui

mesmo residem, por um lado, sinais de recorrente

desorientação de políticos forçados a encarar a realidade

financeira que põe a nú a impossibilidade prática de

executar muitas das suas ideias, projectos e estratégias

centralizadas e, por outro lado, no que concerne os

governados, sentimentos latentes de falta de

representação ou de eficaz participação da sociedade civil

na coisa pública não têm estado na primeira linha do

debate político, o que muito tem contribuído na gradação

de alguns sinais que, se com atendimento eternamente

adiado, ameaçam tornar-se foco de uma instabilidade e

incerteza estrutural no sistema democrático.

Desde logo num panorama actual em que os próprios

conceitos de soberania nacional estão sujeitos a uma

constante redefinição, estes sinais de incerteza devem ser

objecto de análise profunda.

Quando passada mais uma de muitas tempestades na

longa história da nação, importará aproveitar a vitória do

alcance de outro grande objectivo nacional - que é o de

cumprir os acordos firmados e reconquistar a autonomia

financeira - para se lançarem novas bases de uma

lógica aparentemente desafiadora. Uma lógica de

“cadeia de comando” e de planos nacionais mais longe da

restrita esfera de influência das elites

governamentais, mais abrangente, mais nas mãos de cada

indivíduo e profundamente alicerçada nos seus próprios

anseios de realização e intrínseca compreensão da

interdependência entre o que o mesmo, como indivíduo,

providencia e recebe da sociedade e nação onde se insere,

e da mesma como garante final do seu direito à

persecução de um projecto de felicidade e sucesso

pessoal.

Que sinais poderiam trazer estas novas bases? Começar

por as pensar, já é um bom sinal.

Page 22: popcom #02

Rafael Borges

aiu o decano dos líderes

carismáticos europeus. Com a

vitória, em França, do soci-

alista François Hollande, começou

em força o colapso da Europa

austeritária. Em apenas duas sema-

nas, a Alemanha perdeu 2 aliados – a

França e os Países Baixos - e um dos

países intervencionados pela troika

cujo destino mais pode afectar o

rumo da crise europeia: a Grécia.

Quando decidiu disputar um segu-

ndo mandato, Sarkozy sabia que

vencer a corrida presidencial não

seria tarefa fácil. Confrontado com

uma dívida pública crescente – o

homem forte da Direita gaulesa

aumentou a dívida pública em

qualquer coisa como 600 mil

milhões de Euros -, com uma fraca

recuperação económica, um

desemprego galopante e o falhanço

da maior parte das suas iniciativas

na política externa de Paris, o ex-

presidente francês iniciou a

milhões de Euros -, com uma fraca

recuperação económica, um desem-

prego galopante e o falhanço da

maior parte das suas iniciativas na

política externa de Paris, o ex-

presidente francês iniciou a

campanha como o mais odiado

chefe de estado da V República.

François Hollande, por outro lado,

um homem saído directamente da

retaguarda política do Parti Socia-

liste, apresentava-se como um

candidato fraco: mau orador, pouco

confiante e sem um historial gover-

nativo para apresentar ao povo

francês, Hollande dificilmente pode-

ria ter sido um adversário digno

para a UMP – não fosse o candidato

da UMP, precisamente, Sarkozy.

Ainda assim, a verdade é que o

agora ex-presidente francês conse-

guiu reduzir substancialmente a

vantagem do candidato socialista.

Com sondagens que chegaram a

dar-lhe uma vantagem de 12%

sobre Sarkozy, Hollande acabou por

vencer as Presidenciais com o apoio

de apenas 51.63% dos franceses.

Sarkozy, embora se tenha ficado

pelos 48.37% dos votos conseguiu,

ainda assim, alcançar um resultado

sobre Sarkozy, Hollande acabou por

vencer as Presidenciais com o apoio

de apenas 51.63% dos franceses.

Sarkozy, embora se tenha ficado

pelos 48.37% dos votos conseguiu,

ainda assim, alcançar um resultado

bem melhor que o que lhe davam as

sondagens.

Mas, se a única grande surpresa que

houve na segunda volta das eleições

presidenciais francesas foi mesmo a

derrota, ainda que não tão má como

o esperado, de Nicolas Sarkozy, a

primeira volta foi mais rica em

acontecimentos dignos de nota.

Vencendo as sondagens que a pu-

nham entre o terceiro e o quarto

lutar com uma percentagem de

votos que ia dos 12% aos 16%,

Marine Le Pen, a presidente da

Frente Nacional, foi, ao alcançar

17.9% dos votos, uma das grandes

vencedoras da noite leitoral de 22

de Abril. E essa vitória eleitoral,

essencial para o crescimento sus-

tentado de que a Front National tem

gozado nos últimos anos foi, ao

mesmo tempo, determinante para a

derrota do candidato da UMP. Por

se recusar a apoiar Sarkozy, Marine

Le Pen roubou-lhe qualquer coisa

C

Mudança de maré

22 epecial

Page 23: popcom #02

Os recentes acontecimentos

ocorridos em França, na Holanda

e na Grécia ameaçam mudar o

rosto da Europa e trazer consigo

mudanças significativas.

especial 23

Page 24: popcom #02

tentado de que a Front National tem

gozado nos últimos anos foi, ao

mesmo tempo, determinante para a

derrota do candidato da UMP. Por

se recusar a apoiar Sarkozy, Marine

Le Pen roubou-lhe qualquer coisa

como 6.5 milhões de votos – votos

esses que, se tivessem ido para o

candidato incumbente, poderiam

ter-lhe garantido a vitória. Porém, a

verdade é que Marine preferiu o

jogo político ao apoio a um presi-

dente em que disse não confiar. E

isso até se compreende bem: com a

derrota, e subsequente morte

política do homem que dirigiu a

França durante os últimos 5 anos, a

filha de Jean Marie Le Pen tem tudo

para apostar num colapso da Union

pour un mouvement populaire e, com

isso, na sua consagração como líder

indiscutida da Direita gaulesa já nas

legislativas de 10 e 17 de Junho

deste ano. Se conseguir isso, a líder

da Frente Nacional poderá dar ainda

mais força para impor a sua agenda

de recuperação da soberania

nacional do seu país e de oposição à

União Europeia enquanto bloco

federalizador.

Essa pode, aliás, ser a segunda parte

do pesadelo francês de Merkel.

Deixada sozinha numa Europa em

que cresce, cada vez mais, a

contestação contra a hegemonia

germânica, uma radicalização do

discurso antieuropeu em França

pode fazer de um ex-aliado um

inimigo declarado do rumo alemão

que a Europa tem tomado. Se tiver

sucesso na sua tentativa de se

tornar a verdadeira líder da opo-

sição ao novo presidente socialista

François Hollande, Marine Le Pen

pode bem obrigá-lo a assumir, ele

próprio, uma postura mais

independente da da Alemanha e,

com isso, destruir o único bloco que,

até agora, se soube organizar para

combater a crise do euro: o eixo

Resignação porque já todos tinham

percebido ser impossível deter o

terramoto eleitoral que abalou a

Grécia e, com ela, o resto do

continente europeu; surpresa por-

que ainda ninguém se sentia

preparado para o pior dos cenários.

É que, afinal, a Grécia não se limitou

a dar ao Centrão helénico – que, em

conjunto, caiu quase 45% - o pior

resultado da sua história. Fez mais:

retirou aos partidos pró-Troika – e,

de facto, pró-Euro – a maioria no

parlamento, maioria essa sem a qual

não é possível formar um governo

que lidere o país massacrado pela

crise da dívida.

Igualmente impressionante foi o

crescimento meteórico da esquerda

radical. O Syriza, uma coligação

pode bem obrigá-lo a assumir, ele

próprio, uma postura mais indepen-

dente da da Alemanha e, com isso,

destruir o único bloco que, até

agora, se soube organizar para

combater a crise do euro: o eixo

franco-alemão.

Entretanto, foi com um misto de

resignação e de surpresa que a

Europa ocidental recebeu os

resultados das Legislativas gregas.

Resignação porque já todos tinham

percebido ser impossível deter o

terramoto eleitoral que abalou a

Grécia e, com ela, o resto do

continente europeu; surpresa

porque ainda ninguém se sentia

24 especial

Page 25: popcom #02

não é possível formar um governo

que lidere o país massacrado pela

crise da dívida.

Igualmente impressionante foi o

crescimento meteórico da esquerda

radical. O Syriza, uma coligação

formada por vários partidos gregos

de extrema-esquerda entre os quais

trotskistas, maoistas e comunistas

ortodoxos, subiu dos 4% que obteve

em 2009 para uns históricos

16.78%. De partido marginal na

cena política grega, a versão heléni-

ca do Bloco de Esquerda passou

para segunda força, tendo, inclusi-

vamente, chegado a ser convocado

pelo Presidente da República para a

formação de um governo maiori-

tário, logo após o falhanço dos

perdedores-vencedores do Nova

Democracia em formar um governo

de unidade nacional. É que, juntos,

os partidos de Antonis Samaras e

Evangelos Venizelos se ficam pelos

149 deputados – isto num

parlamento de 300. Para poderem

alcançar uma maioria absoluta, o

PASOK e o ND precisariam de 151

deputados. Mas, sem eles, e com as

forças opositoras ao Memorando de

ao MoU continuariam sem maioria

no parlamento. E isso porque, para

alcançarem uma maioria e, com isso,

formarem governo, precisariam

também do apoio dos neonazis da

Aurora Dourada, um partido famoso

na Grécia pelo radicalismo do seu

discurso e pelas incursões de

skinheads que organiza em bairros

de imigrantes – e ninguém está

disposto a isso.

Não tendo conseguido encontrar

terreno comum que permitisse a

formação de uma maioria, anti ou

pró-troika, o país encontra-se, como

antes, sem saída. Foi contra isso que

o presidente da república, Karolos

Papoulias, lutou, desesperadamente,

durante os 9 dias que duraram as

negociações para a formação de um

novo governo grego. Mas sem

sucesso: da possibilidade de uma

grande coligação que reunisse todos

os partidos presentes no parla-

mento – com a excepção do Aurora

Dourada - à ideia de um novo

executivo formado apenas por

tecnocratas independentes, nada

convenceu os líderes políticos

helénicos. Sem capacidade de

149 deputados – isto num

parlamento de 300. Para poderem

alcançar uma maioria absoluta, o

PASOK e o ND precisariam de 151

deputados. Mas, sem eles, e com as

forças opositoras ao Memorando de

Entendimento divididas entre

extrema-esquerda, direita e extre-

ma-direita, nenhum dos lados se vê

capaz de garantir à Grécia uma

solução governativa estável: a

própria natureza dos resultados

inviabiliza a formação de um

governo. Mesmo que Aleka

Papariga, líder do Partido

Comunista Grego (KKE), estivesse

disposta a entrar num governo com

os trotskistas do Syriza, mesmo que

os nacional-conservadores anti-

troika do Gregos Independentes

aceitassem juntar-se a um governo

esquerdista, mesmo que tudo isso

fosse possível, mesmo que tudo isso

acontecesse, as forças que se opõem

ao MoU continuariam sem maioria

no parlamento. E isso porque, para

alcançarem uma maioria e, com isso,

formarem governo, precisariam

também do apoio dos neonazis da

Aurora Dourada, um partido famoso

especial 25

Assim, sem esperança

de encontrar terreno

comum que permita a

formação de uma

maioria, anti ou pró-

troika, o país encontra-

se, como antes, sem

saída. Sem capacidade de

entendimento

circunstancial e, muito

menos, de consenso

duradouro, nunca houve,

em boa verdade, outro

caminho para a nação

mediterrânica que não

fosse a convocação de

novas eleições.

Page 26: popcom #02

mento – com a excepção do Aurora

Dourada - à ideia de um novo exe-

cutivo formado apenas por

tecnocratas independentes, nada

convenceu os líderes políticos helé-

nicos. Sem capacidade de enten-

dimento circunstancial e, muito

menos, de consenso duradouro,

nunca houve, em boa verdade, outro

caminho para a nação mediterrânica

que não fosse a convocação de

novas eleições. Mas nem isso dá

garantias à Zona Euro: é que, se o

hoje é mau, o amanhã tem tudo para

ser pior. E isso porque, com ou sem

medo de uma eternização do actual

vazio de poder, nada parece sugerir

que os gregos estejam interessados

em votar nos partidos do sistema.

Ou seja, mais provável que o cenário

de um regresso à política main-

stream, é a possibilidade de ainda

mais gregos se decidirem por

partidos radicais nas próximas elei-

ções – especialmente pelo Syriza,

que todas as sondagens dão como

vencedor do próximo acto eleitoral.

Mas a mudança de maré na Europa

foi (ainda) mais longe que isso.

Poderia, é certo, ter-se limitado aos

desastres grego e francês. Mas a

verdade é que não o fez. A insta-

bilidade política atacou também

num país que nem está no centro do

furacão que é a crise da dívida nem

se encontrava na lista de potenciais

países problemáticos: os Países

Baixos. Governados, desde 2010,

por uma coligação entre os

conservadores do Partido Popular

para o Progresso e a Democracia

(VVD) e os democratas-cristãos do

Chamamento Democrata-Cristão

(CDA), os Países Baixos puseram a

estabilidade política nas mãos dos

também conservadores do PVV, o

Partido da Liberdade. Sem outro

dade apresentado pelo gove-rno de

Rutte no parlamento, acabou por

forçar a demissão do governo.

Entretanto, a Holanda que foi, até

agora, um dos mais estáveis países

da Zona Euro, ficou sem governo. E,

pior que isso, ficou sem alguém

disposto a diminuir o seu crónico

défice orçamental.

É certo que a recusa de Wilders –

um conhecido crítico do Islão e da

UE que começou, entretanto, uma

campanha contra o Euro - em apro-

var o pacote de austeridade apre-

sentado não se deve a uma efectiva

oposição do seu partido - uma

formação liberal e conservadora - à

absoluta necessidade de controlar

as contas do seu país. Mas isso

pouco – ou nada - interessa.

Pressionado por sondagens que

mostravam uma queda na

popularidade do PVV ou não, com

(VVD) e os democratas-cristãos do

Chamamento Democrata-Cristão

(CDA), os Países Baixos puseram a

estabilidade política nas mãos dos

também conservadores do PVV, o

Partido da Liberdade. Sem outro

partido com quem pudesse fazer

uma coligação, e apesar da falta de

entusiasmo do PVV em assumir

funções governativas, não houve,

para o agora demissionário primei-

ro-ministro holandês Mark Rutte,

outra escolha que não fosse a de um

acordo de incidência parlamentar

com Geert Wilders, o líder do PVV.

Porém, a rejeição, pelo Partido da

Liberdade, de um pacote de

austeridade apresentado pelo

governo de Rutte no parlamento,

acabou por forçar a demissão do

governo. Entretanto, a Holanda que

foi, até agora, um dos mais estáveis

países da Zona Euro, ficou sem

26 especial

Page 27: popcom #02

de Rutte ter sido, com a França de

Sarkozy, um dos principais pontos

de equilíbrio no já de si complicado

xadrez europeu. Das três pernas

essenciais, o banco que é a Europa

da austeridade perdeu duas – neste

momento, só a Alemanha se mantém.

mantém.

Agora, há algo na presente conjun-

tura que, ninguém duvida, será

determinante para o futuro do velho

continente, da União Europeia

enquanto bloco regional unificado e

unificador e de Portugal enquanto

Estado. Isso tem tanto de inolvi-

dável como de inevitável. Depois de

duas noites eleitorais decisivas e de

uma resignação governamental

numa das poucas nações europeias

que ainda resistiam à instabilidade

política que varre a Europa,

percebe-se que o amanhecer trouxe

uma ordem política e um equilíbrio

de forças inteiramente diferentes.

Até agora, foi a Europa que olha

para si mesmo com o mesmo

entusiasmo que tinham Monnet,

Schuman, Kohl e Coundenhove-

Kalergi, a Europa que sonha com a

unidade política de si mesma que

lutou pela sobrevivência. E, para

isso, tinha uma receita única, uma

forma partilhada – ainda que por

imposição do eixo Paris-Berlim – de

o fazer. Agora, porém, tudo isso

mudou. E, embora o novo inquilino

do Eliseu seja tão – ou mais ainda –

europeísta como o seu antecessor,

parece fazer sentido temer que o

debate e a divisão, num momento

em que a UE precisaria, para evitar

o seu próprio colapso, de acção e

convergência, acabem por ser fatais

para uma União que só sobrevive

ligada às máquinas que são a

unidade dos líderes europeus. Até

porque, se Hollande é um

federalista convicto, Tsipras não o é,

certamente: e a Europa unida é um

carneiro que não lhe custará

absoluta necessidade de controlar

as contas do seu país. Mas isso

pouco – ou nada - interessa.

Pressionado por sondagens que

mostravam uma queda na popular-

idade do PVV ou não, com ou sem

aproveitamento político de um

momento delicado na vida da nação,

o que é relevante para a Europa do

Euro é que agora, também os Países

Baixos, se encontram sem governo.

E, pior para Merkel e para os que,

como Portugal, não vêem a oposição

entre crescimento e austeridade

como algo necessário, a receita que

escolheram perdeu um dos seus

principais aliados. O caso holandês

é, assim, não mais que um entre

muitos, uma situação de colapso

governamental entre várias, um

caso de perda de apoio entre

muitos: mas há, ainda assim, algo

que o faz especial. E isso é

precisamente o facto de a Holanda

de Rutte ter sido, com a França de

Sarkozy, um dos principais pontos

de equilíbrio no já de si complicado

xadrez europeu. Das três pernas

essenciais, o banco que é a Europa

da austeridade perdeu duas – neste

momento, só a Alemanha se

mantém.

Agora, há algo na presente

conjuntura que, ninguém duvida,

será determinante para o futuro do

velho continente, da União Europeia

enquanto bloco regional unificado e

unificador e de Portugal enquanto

Estado. Isso tem tanto de

inolvidável como de inevitável.

Depois de duas noites eleitorais

decisivas e de uma resignação

governamental numa das poucas

nações europeias que ainda

resistiam à instabilidade política

que varre a Europa, percebe-se que

o amanhecer trouxe uma ordem

política e um equilíbrio de forças

inteiramente diferentes. Até agora,

foi a Europa que olha para si mesmo

com o mesmo entusiasmo que

dável como de inevitável. Depois de

duas noites eleitorais decisivas e de

uma resignação governamental

numa das poucas nações europeias

que ainda resistiam à instabilidade

política que varre a Europa, perce-

be-se que o amanhecer trouxe uma

ordem política e um equilíbrio de

forças inteiramente diferentes. Até

agora, foi a Europa que olha para si

mesmo com o mesmo entusiasmo

que tinham Monnet, Schuman, Kohl

e Coundenhove-Kalergi, a Europa

que sonha com a unidade política de

si mesma que lutou pela sobrevi-

vência. E, para isso, tinha uma

receita única, uma forma partilhada

– ainda que por imposição do eixo

Paris-Berlim – de o fazer. Agora,

porém, tudo isso mudou. E, embora

o novo inquilino do Eliseu seja tão –

ou mais ainda – europeísta como o

seu antecessor, parece fazer sentido

temer que o debate e a divisão, num

momento em que a UE precisaria,

para evitar o seu próprio colapso, de

acção e convergência, acabem por

ser fatais para uma União que só

sobrevive ligada às máquinas que

são a unidade dos líderes europeus.

Até porque, se Hollande é um

federalista convicto, Tsipras não o é,

certamente: e a Europa unida é um

carneiro que não lhe custará

sacrificar no altar da demagogia.

vência. E, para isso, tinha uma receita

única, uma forma partilhada – ainda

que por imposição do eixo Paris-

Berlim – de o fazer. Agora, porém,

tudo isso mudou. E, embora o novo

inquilino do Eliseu seja tão – ou mais

ainda – europeísta como o seu

antecessor, parece fazer sentido

temer que o debate e a divisão, num

momento em que a UE precisaria,

para evitar o seu próprio colapso, de

acção e convergência, acabem por

ser fatais para uma União que só

sobrevive ligada às máquinas que

são a unidade dos líderes europeus.

Até porque, se Hollande é um

federalista convicto, Tsipras não o é,

certamente: e a Europa unida é um

carneiro que não lhe custará sacri-

ficar no altar da demagogia.

especial 27

Page 28: popcom #02

Ninja Generation

28 opinião

terminava na altura limite em que era tolerada a

dependência da família, era a data/vivência até ao

primeiro emprego, até ao casamento ou até à saída de

casa. Estávamos então na época fabril da produção em

maça de mão-de-obra estandardizada. Fará hoje sentido

esse conceito? Não, o mundo é absolutamente outro,

senão vejamos. Nos dias que correm, os jovens, a somar

às dificuldades inerentes à economia e às barreiras

laborais, têm de suportar custos intrínsecos ao

trabalho/investimento elevadíssimos, não têm mercado

de arrendamento e suportam através das suas

contribuições uma segurança social com a certeza que

não os servirá. São estes os quatro problemas

fundamentais para o nosso estado de coisas. O problema

não tem que ver, com falta de trabalho. Esse é o

argumento de quem ainda não compreendeu ou que

quer resistir aos desafios do mundo em que vivemos.

Basta visitar diariamente os jornais e páginas web de

referência, na procura de trabalho e verificamos que

existe bastante demanda de mão-de-obra. Será aquilo a

que os jovens ambicionam? Certamente que não, mas a

oferta dificilmente seria outra, num

País/Europa/Ocidente que se encontra numa situação

de grande dificuldade económica.

Dito isto, exclua-se a visão dos meninos mimados que,

uma vez licenciados em qualquer ciência oculta, apenas

nessa área toleram trabalhar. Não é essa a realidade. E

para os que assim pensam, existirá sempre o eterno

desemprego ou a solução altruísta da emigração.

As verdadeiras reivindicações dos jovens têm que ver

com a falta de liberdade que hoje se lhes oferece. Se

antes ninguém podia filosofar de barriga vazia, hoje nin-

guém pode ambicionar ser livre sem rendimento. E só

há duas formas de o obter, através de trabalho depen-

dente ou através de investimento. Este problema tem de

ser resolvido rapidamente, por duas vias. Por um lado,

estudar aprofundadamente – de uma vez por todas –

uma solução para a segurança social e por outro lado,

oferecer aos jovens empreendedores condições fiscais

especialíssimas nos primeiros anos de desenvolvimento

dos seus negócios.

o Income, no Job, no Assets?

Quando me comprometi a escrever este artigo

temi estar demasiado imbuído pelo espírito da

crítica fácil que se apoderou de todos nós. Ainda para

mais, o risco e a probabilidade era elevado, uma vez que

este tema diz directamente respeito a mim e à minha

geração, com quem, na maioria do meu tempo me

relaciono! Mas foi na busca de dados/notícias/opiniões

sobre as condições de vida dos jovens, que encontrei

justificação para todo o turbilhão de queixas que ouço!

Em boa verdade, têm de ser louvados aqueles que,

quase sempre com motivações e soluções erradas,

serviram como farol de Alexandria para o problema

geracional criado com a actual crise. Digo isto,

plenamente convencido que sem o alerta feito pelo

movimento Geração à Rasca, talvez ninguém em

Portugal se tivesse apercebido do problema. Feita esta

ressalva - tão digna do seu a seu dono – importa referir

que a nossa camisola, a camisola dos problemas da

nossa geração começa a ser vestida por aqueles que

podem ser parte da solução e não, felizmente, por

aqueles que viram neste tema um campo aberto para o

populismo e para a propagação de dogmas já

insatisfatoriamente testados com e em muros.

O que é um jovem?

Já todos fomos confrontados em conversa com pessoas

mais velhas, com a necessidade premente de

conquistarmos a nossa independência e sermos como as

gerações passadas que cedo atingiram aquilo com que

hoje apenas sonhamos. Somos repetidamente

lembrados que antigamente o conceito de jovem

terminava na altura limite em que era tolerada a

dependência da família, era a data/vivência até ao

primeiro emprego, até ao casamento ou até à saída de

casa. Estávamos então na época fabril da produção em

N

Francisco Ancede

Page 29: popcom #02
Page 30: popcom #02
Page 31: popcom #02

Será este o resultado da falta de coragem e capacidade

de decisão revelada. Mais uma vez, a troco da

estabilidadezinha balofa, dotamos inevitavelmente estas

empresas para regimes com consequências bem mais

gravosas para a sociedade e para as contas públicas.

Restará, para muitas, a insolvência ou soluções sempre

temporárias como o Layoff ou banco de horas.

Talvez a cereja no topo do bolo em tanta falta de

coragem e de decisão, possa vir a ser a reforma do

mercado do arrendamento. Com tanta preocupação

social e aqui apostando na interminável capacidade de

subsidiação de rendas por parte dos proprietários, a

reforma apresentada, continua a arrastar os pés por

entre cedências àqueles que durante décadas não

contabilizaram por um só dia o custo com a habitação!

Mais uma vez, o medo, apenas justificável pela vontade

de agradar à maioria – aqui claramente composta pelos

arrendatários – influenciará mais uma lei dentro da

romântica máxima que prevê a necessidade de mudar

alguma coisa para que tudo fique na mesma.

Enquanto jovem, afectado por todas as realidades que

descrevi, devo alertar que não existe nada pior para o

destino de um País do que uma geração sem sonhos. É

alarmante visitar o olhar dos jovens que por todos os

fins-de-semana cantam, sem brio e orgulho qualquer,

musicas que lhes lembram que sendo sexta-feira é

altura de ir para a brincadeira sem um tostão! É

determinante que o novo começo que esta crise oferece

a este País, seja aproveitado para arriscar novas

soluções e aceitar de uma vez por todas que o

paradigma nacional tem de mudar! Ninguém está a

pedir colo, nem conforto balofo, mas aposta clara e

inequívoca naqueles que irão ser mais tarde ou mais

cerdo, mais uma Ínclita Geração! Assim seja!

uma solução para a segurança social e por outro lado,

oferecer aos jovens empreendedores condições fiscais

especialíssimas nos primeiros anos de desenvolvimento

dos seus negócios.

Quanto à segurança social é tempo de dizer basta. Não é

tolerável a hipocrisia com que sorridentemente nos

garantem que a nossa geração não terá dotação

orçamental que garanta o pagamento das suas reformas

e quem sabe subsídios. Estude-se com consequência e

sem pressão mediática a reforma encetada em vários

países como a que foi formalizada no Chile. Estou certo

que a nossa comunidade universitária sentir-se-á

orgulhosa e responderá com todo o seu valor e

conhecimento se for chamada a dar o seu contributo.

Em relação às condições especialíssimas a oferecer aos

jovens empreendedores, não pode existir o medo de

perda de receita fiscal. Verdadeiramente essa receita

ainda não existe e poderá nunca chegar a existir. Todos

aqueles com que falo, queixam-se não só da falta de

financiamento – contratempo que não basta para lhes

matar a ânsia de vencer – mas sobretudo da brutal carga

fiscal que incide sobre os seus negócios! É urgente a

criação de um pacote fiscal que possa aliviar estas

iniciativas. E não se tenha medo do tratamento desigual.

Tratamento esse que já está institucionalizado com

programas de estimulo à contratação apenas de jovens.

É preciso assumir que se nada for feito, aí sim, será

evidente que existem partes da população com

oportunidades e direitos desiguais.

Resta também uma crítica feroz e clara à reforma do

código de trabalho. É inexplicável e intolerável, que não

exista aplicação retroactiva das alterações previstas a

todos os contratos. Não se pode, desta vez, cair na

falácia dos direitos adquiridos. A consequência óbvia

desta opção consiste no adiar sine die, da reforma

laboral. Tudo ficará na mesma; As empresas, face à

incapacidade financeira, permanecerão impossibilitadas

de pagar as indemnizações calculadas segundo o regime

antigo e consequentemente continuarão

impossibilitadas de contratar novos trabalhadores.

Será este o resultado da falta de coragem e capacidade

de decisão revelada. Mais uma vez, a troco da

estabilidadezinha balofa, dotamos inevitavelmente estas

empresas para regimes com consequências bem mais

gravosas para a sociedade e para as contas públicas.

opinião 31

Page 32: popcom #02

Guilherme Marques da Fonseca

om o desenrolar da actual

crise económico-financeira,

tem-se verificado um forte e

constante hábito de se remeter a

linhas de pensamento político,

filosófico e económico diferentes

das habitualmente conhecidas

e já tão rebuscadas pelos média.

Uma coisa têm em comum as mais

graves crises vividas pelo Homem,

sejam elas de índole económica

ou não: as ideologias e os para-

digmas são revistos e questionados

com base na incerteza sentida

em relação àquilo que julgamos

serem dados adquiridos. Em suma,

tendemos a questionar a capacidade

de resolução de problemas por

parte dos nossos métodos

convencionais de análise dos

acontecimentos.

Desde o início da actual crise

económica mundial, tem-me

parecido óbvio que o debate central

parte dos nossos métodos conven-

cionais de análise dos aconte-

cimentos.

Desde o início da actual crise

económica mundial, tem-me

parecido óbvio que o debate

central não passa pelo fim do

Capitalismo, mas sim pela sua

reformulação: um novo pre-

ssuposto é necessário para tri-

unfarmos e prosperarmos neste

planeta. É por isto inevitável que

conheçamos a linha de pensa-

mento económico cujo número

de adeptos mais tem aumentado

exponencialmente ao longo dos

últimos anos: a Escola Austríaca

(também conhecida como “Escola

Psicológica” ou “Escola de Viena”).

Em poucas palavras poderíamos

afirmar que a Escola Austríaca é

uma escola económica de ideologia

liberal, mas na verdade a sua

“magia” vai muito para além do

liberalismo.

Os primeiros capítulos da Escola

Austríaca começaram a ser escritos

no início do século XV, quando os

seguidores de São Tomás de Aquino

que ensinavam na Universidade de

Salamanca se debruçaram sobre a

árdua tarefa de tentar explicar o

espectro da organização social e da

acção humana.

Esses escolásticos pensaram ter

descoberto a existência de leis

económicas, forças inevitáveis de

causa e efeito que operariam de

forma algo semelhante a tantas

outras leis naturais que nós

conhecemos.

Ao longo dos últimos séculos, eles

procuraram investigar e explicar

diversas leis económicas, desde a lei

da oferta e da procura até às causas

reais da inflação – razões pelas

quais vários intelectuais como

Joseph Schumpeter os consideraram

como sendo os primeiros

verdadeiros economistas da

História.

O nome “Escola Austríaca” deriva do

facto de terem nascido na Áustria e

no Império Austro-Húngaro alguns

C

Escola Austríaca: o futuro da Economia?

32 ideologia

Page 33: popcom #02

como sendo os primeiros verda-

deiros economistas da História.

O nome “Escola Austríaca” deriva do

facto de terem nascido na Áustria e

no Império Austro-Húngaro alguns

dos pensadores mais influentes da

respectiva linha intelectual, em

particular Carl Menger (1840-

1921), Eugen von Böhm-Bawerk

(1851-1914), Ludwig von Mises

(1881-1973) e o vencedor do

Prémio Nobel de 1974, Friedrich

Hayek (1899-1992).

Ao longo dos séculos, esta escola de

pensamento económico opôs-se a

todo o tipo de tiranias e forças

ditatoriais. Comprometido por ser

um fiel adepto das liberdades

individuais e da paz em geral,

Ludwig von Mises teve mesmo de

fugir da Áustria, sob risco iminente

de perseguição por parte de Hitler e

das forças nazis.

Hoje em dia, a Escola Austríaca

aproxima-se mais de ser uma

“Escola Americana” pela

percentagem de seguidores que

detém nos E.U.A., possuindo ainda

assim apoiantes em todos os cantos

do mundo.

“Escola Americana” pela percen-

tagem de seguidores que detém nos

E.U.A., possuindo ainda assim

apoiantes em todos os cantos do

mundo.

Hoje, os intitulados “economistas

austríacos” defendem afincada-

mente os direitos à propriedade e à

liberdade individual.

Os austríacos acreditam que a paz e

o direito à propriedade nos guiarão

à prosperidade enquanto povo, se

para isso negarmos actos

criminosamente estadistas como a

liberdade individual.

Os astríacos acreditam que a paz e o

direito à propriedade nos guiarão à

prosperidade enquanto povo, se

para isso negarmos actos crimi-

nosamente estadistas como a

tributação, o controlo de preços e as

acções governamentais que violem a

liberdade dos indivíduos, acredi-

tando assim na máxima de que a

liberdade de cada um acaba onde

começa a liberdade do outro. Já por

isto, Mises escrevera que “a

primeira tarefa de um economista é

dizer aos governantes aquilo que

eles não podem fazer”.

Qualquer “austríaco” acreditará no

ideologia 33

Page 34: popcom #02

começa a liberdade do outro. Já por

isto, Mises escrevera que “a

primeira tarefa de um economista é

eles não podem fazer”.

Qualquer “austríaco” acreditará no

conceito abstracto de “mercado” e

nas suas virtudes, vendo nele os

alicerces primordiais para a

estruturação da vida em sociedade.

É por isso fulcral que esse mesmo

“mercado” se mantenha livre e

genuíno, de modo a salvaguardar a

satisfação das necessidades dos

homens.

Deste modo, um “austríaco” vê nos

mercados o melhor distribuidor

possível de riqueza e condição

económica: o Homem, como o seu

agente mais elementar e

inseparável, com intenções de

satisfazer as necessidades de

terceiros em troca de algo que lhe

permita a si mesmo satisfazer

também as suas.

Qualquer “austríaco” acreditará no

conceito abstracto de “mercado” e

nas suas virtudes, vendo nele os

alicerces primordiais para a

estruturação da vida em sociedade.

É por isso fulcral que esse mesmo

“mercado” se mantenha livre e

genuíno, de modo a salvaguardar a

satisfação das necessidades dos

homens.

Deste modo, um “austríaco” vê nos

mercados o melhor distribuidor

possível de riqueza e condição

económica: o Homem, como o seu

agente mais elementar e

inseparável, com intenções de

satisfazer as necessidades de

terceiros em troca de algo que lhe

permita a si mesmo satisfazer

também as suas.

pensamento económico mais

respeitadas e seguidas mun-

dialmente por economistas e

políticos) às questões de estudo

económico passam por uma linha

que em toda a sua estrutura nos

lembrará o método de análise e

trabalho de um físico ou de um

químico. As metodologias levadas a

cabo por estas duas divisões do

“mainstream” são mecânicas e

extremamente matemáticas, fazen-

do uso incondicional de ferramentas

gráficas e moldando expressões

numéricas para “provar

irrefutavelmente” certos pontos de

vista do interesse dos autores.

Por um lado, os neoclássicos (como

Samuelson e Becker) vêem na sua

Mas no que difere o paradigma

austríaco dos paradigmas mais

reconhecidos mundialmente pela

maioria dos economistas? Que

marcas são essas que poderão fazer

a diferença no modo como olhamos

e tratamos o mundo que nos rodeia?

Em primeiro lugar devemos

entender que o tratamento dado

pelas Escolas Neoclássica e

Keynesiana (actuais escolas de

pensamento económico mais

respeitadas e seguidas

mundialmente por economistas e

políticos) às questões de estudo

económico passam por uma linha

que em toda a sua estrutura nos

34 ideologia

Page 35: popcom #02

então analisar essa mesma acção de

um modo igualmente dinâmico,

aberto e complexo. Dito de outro

modo, os economistas “austríacos”

defendem a tese de que só podemos

estudar o Ser Humano, se

analisarmos exaustivamente os

factores que levam as pessoas a

atingir certos fins. Para isto

devemos recorrer à “praxeologia”,

que mais não é para um “austríaco”

do que a ciência (ou teoria geral) da

acção humana.

Outra diferença primordial entre

ambas as escolas, é o facto de os

neoclássicos acreditarem ser

possível provar certa hipótese como

falsa através de testes empíricos

(algo semelhante a experiências de

laboratório como acontece na física

ou na biologia), enquanto que os

“austríacos” julgam que tal método

não fará grande sentido tendo em

conta que a economia é uma ciência

que estuda as acções e propósitos

dos homens (seres com mente e

desígnios próprios), e como tal é

impossível repor o cenário de

estudo exactamente igual ao que se

verificava à data a que se quer

reportar.

Já os keynesianos, apoiados pelo

trabalho do britânico John Maynard

Keynes – o tão aclamado salvador

dos E.U.A. no tempo da Grande

Depressão do século XX – e

actualmente liderados pelo

americano Paul Krugman (“honoris

causa” por três universidades

portuguesas, e que há alguns meses

atrás espezinhou Portugal nas

primeiras páginas da imprensa

norte-americana), defendem que os

défices são a cura para a própria

crise. Dito em poucas palavras, estes

escolásticos acreditam em algo que

habitualmente gosto de intitular por

“política da ressaca”. Eles acreditam

ainda que os impostos podem ser a

solução mais indicada para

gráficas e moldando expressões

numéricas para “provar irrefu-

tavelmente” certos pontos de vista

do interesse dos autores.

Por um lado, os neoclássicos (como

Samuelson e Becker) vêem na sua

própria concepção do Ser Humano o

seu tão aclamado “hommo

economicus”, um animal perfei-

tamente racional, e apto a escolher

infalivelmente de acordo com as

melhores opções existentes, assim

como a maximizar constantemente

os seus lucros individuais - como se

tal Ser existisse na realidade (!).

Para um austríaco, essa visão detida

pela Escola Neoclássica é extre-

mamente insuficiente e redutora

daquilo que é verdadeiramente o

Ser Humano, preferindo por isso a

ideia de que a acção humana é

dinâmica, e não havendo duas

pessoas iguais no mundo, devemos

neoclássicos acreditarem ser possí-

vel provar certa hipótese como falsa

através de testes empíricos (algo

semelhante a experiências de labo-

ratório como acontece na física ou

na biologia), enquanto que os

“austríacos” julgam que tal método

não fará grande sentido tendo em

conta que a economia é uma ciência

que estuda as acções e propósitos

dos homens (seres com mente e

desígnios próprios), e como tal é

impossível repor o cenário de estu-

do exactamente igual ao que se veri-

ficava à data a que se quer reportar.

Já os keynesianos, apoiados pelo

trabalho do britânico John Maynard

Keynes – o tão aclamado salvador

dos E.U.A. no tempo da Grande

Depressão do século XX – e

actualmente liderados pelo

americano Paul Krugman (“honoris

causa” por três universidades

portuguesas, e que há alguns meses

atrás espezinhou Portugal nas

primeiras páginas da imprensa

norte-americana), defendem que os

défices são a cura para a própria

crise. Dito em poucas palavras, estes

escolásticos acreditam em algo que

habitualmente gosto de intitular por

“política da ressaca”. Eles acreditam

ainda que os impostos podem ser a

solução mais indicada para

combater a inflação, e mais gritante

do que tudo, vêem no investimento

público algo como um

“multiplicador de riqueza”, pois

supostamente aumentaria a

quantidade de emprego existente

num dado país (semelhante em

algum modo às intenções de José

Sócrates com o TGV ou com o

hipotético segundo aeroporto de

Lisboa).

Por seu lado, a Escola Austríaca

repudia firmemente a ideia do gasto

e do endividamento, ainda para

mais com o intuito de atingir fins

efémeros de curto prazo,

ideologia 35

Já os keynesianos, apoiados pelo

trabalho do britânico John Maynard

Keynes – o tão aclamado salvador

dos E.U.A. no tempo da Grande

Depressão do século XX – e

actualmente liderados pelo

americano Paul Krugman (“honoris

causa” por três universidades

portuguesas, e que há alguns meses

atrás espezinhou Portugal nas

primeiras páginas da imprensa

norte-americana), defendem que os

défices são a cura para a própria

crise. Dito em poucas palavras, estes

escolásticos acreditam em algo que

habitualmente gosto de intitular por

“política da ressaca”. Eles acreditam

ainda que os impostos podem ser a

solução mais indicada para

combater a inflação, e mais gritante

do que tudo, vêem no investimento

público algo como um

“multiplicador de riqueza”, pois

supostamente aumentaria a

quantidade de emprego existente

num dado país (semelhante em

Page 36: popcom #02

do que tudo, vêem no investimento

público algo como um “multi-

plicador de riqueza”, pois

supostamente aumentaria a

quantidade de emprego existente

num dado país (semelhante em

algum modo às intenções de José

Sócrates com o TGV ou com o

hipotético segundo aeroporto de

Lisboa).

Por seu lado, a Escola Austríaca

repudia firmemente a ideia do gasto

e do endividamento, ainda para

mais com o intuito de atingir fins

efémeros de curto prazo,

acreditando que a virtude está na

prosperidade e no “crescimento

real”, ou seja, que para

prosperarmos enquanto nação

devemos cultivar a mentalidade do

“longo prazo”, gastando apenas

aquilo que temos, e dando mais

margem de manobra aos nossos

próprios cidadãos de seguirem os

seus desejos e sonhos

empreendedoras através de uma

política anti-tributação.

Embora pudesse apontar cerca de

trinta diferenças que separam a

metodologia dos “austríacos” dos

métodos utilizados pelas escolas de

pensamento mais badaladas, as

últimas pecam especialmente por se

esquecerem do elemento de estudo

central da economia: o Homem!

Muito a isto os nossos erros se têm

devido: tendemos a esquecer que a

economia é uma ciência social, não

uma ciência natural como a física ou

a química. Somos seres orgânicos,

não meras máquinas programadas,

ou simples objectos sem mente

cujos comportamentos possam ser

previstos por algum matemático

confiante nos seus dons para o

cálculo e para desenhar gráficos

não meras máquinas programadas,

ou simples objectos sem mente

cujos comportamentos possam ser

previstos por algum matemático

confiante nos seus dons para o

cálculo e para desenhar gráficos

pomposos com índices complexos e

de leitura técnica exigente.

Engraçado sem grande graça, é

pensarmos que o chamado “senso

comum” atribui uma culpa

mistificada acerca da actual crise

mundial aos mercados financeiros,

quando ao longo dos últimos quinze

anos, vários economistas austríacos

têm vindo a prever “baillouts”,

recessões, e estímulos económicos

perversos para a economia, levados

a cabo pelos governos de todo o

mundo, aliados a algo que tenho

vindo a denominar nas minhas

crónicas por “acto de ligar a

impressora”, que mais não consta

do que imprimir notas com

consequências agravantes nos

indicies de inflação (monetária) das

nações.

O congressista americano Ron Paul -

único candidato republicano à Casa

Branca movido pelo trabalho da

Escola Austríaca - previu a crise

económica e financeira que estamos

a atravessar actualmente. No dia 10

de Setembro de 2003, através de

uma declaração à House Committee

on Financial Services, o médico de

76 anos escreveu que “para além do

dano a longo prazo à economia

infligido pelas interferências do

governo no mercado de habitação, a

política do governo, de desviar

capital para outros fins, cria um

‘boom’ a curto-prazo no mercado de

habitação. Como todas as bolhas

artificialmente criadas, o ‘boom’ nos

preços do mercado da habitação não

durará para sempre. Quando os

preços das casas caírem, os seus

donos irão sentir dificuldades

enquanto que a sua equidade é

margem de manobra aos nossos

próprios cidadãos de seguirem os

seus desejos e sonhos empre-

endedoras através de uma política

anti-tributação.

Embora pudesse apontar cerca de

trinta diferenças que separam a

metodologia dos “austríacos” dos

métodos utilizados pelas escolas de

pensamento mais badaladas, as

últimas pecam especialmente por se

esquecerem do elemento de estudo

central da economia: o Homem!

Muito a isto os nossos erros se têm

devido: tendemos a esquecer que a

economia é uma ciência social, não

uma ciência natural como a física ou

a química. Somos seres orgânicos,

não meras máquinas programadas,

ou simples objectos sem mente

cujos comportamentos possam ser

previstos por algum matemático

confiante nos seus dons para o

cálculo e para desenhar gráficos

pomposos com índices complexos e

de leitura técnica exigente.

Engraçado sem grande graça, é

pensarmos que o chamado “senso

comum” atribui uma culpa

mistificada acerca da actual crise

mundial aos mercados financeiros,

quando ao longo dos últimos quinze

anos, vários economistas austríacos

têm vindo a prever “baillouts”,

recessões, e estímulos económicos

perversos para a economia, levados

a cabo pelos governos de todo o

mundo, aliados a algo que tenho

vindo a denominar nas minhas

crónicas por “acto de ligar a

impressora”, que mais não consta

do que imprimir notas com

consequências agravantes nos

indicies de inflação (monetária) das

nações.

O congressista americano Ron Paul -

36 ideologia

O americano Ron Paul, congressista e candidato republicano à Casa Branca,

é a mais conhecida personalidade da política mundial a defender e divulgar

os princípios defendidos pela Escola Austríaca de Economia.

Page 37: popcom #02

impressora”, que mais não consta

do que imprimir notas com

consequências agravantes nos

indicies de inflação (monetária) das

nações.

O congressista americano Ron Paul -

único candidato republicano à Casa

Branca movido pelo trabalho da

Escola Austríaca - previu a crise

económica e financeira que estamos

a atravessar actualmente. No dia 10

de Setembro de 2003, através de

uma declaração à House Committee

on Financial Services, o médico de

76 anos escreveu que “para além do

dano a longo prazo à economia

infligido pelas interferências do

governo no mercado de habitação, a

política do governo, de desviar

capital para outros fins, cria um

‘boom’ a curto-prazo no mercado de

habitação. Como todas as bolhas

artificialmente criadas, o ‘boom’ nos

preços do mercado da habitação não

durará para sempre. Quando os

preços das casas caírem, os seus

donos irão sentir dificuldades

enquanto que a sua equidade é

dizimada. Mais ainda, os credores

das dívidas geradas pelos

empréstimos hipotecários terão

perdas também. Essas perdas serão

maiores do que seriam se a política

do governo não tivesse encorajado o

investimento excessivo no mercado

da habitação.”

Esta previsão coincidiu perfei-

tamente com a crise de 2008, que

teve início numa bolha financeira

surgida do mercado de habitação

dos Estado Unidos da América.

De que estamos à espera para

mudarmos de uma vez por todas os

pressupostos que têm guiado os

nossos governantes?

Está na hora de abrirmos os nossos

horizontes e não raciocinarmos só

acerca daquilo que os economistas e

filósofos do “mainstream” nos

obrigam a digerir diariamente

O Capitalismo não falhou -

desiludam-se os pouco adeptos da

liberdade económica. Os cidadãos (e

os seus representantes) é que

falharam. E se errar é humano, o

que poderá ser mais humano do que

nos erguermos com uma nova força

libertária rejuvenescida? A nossa

próxima grande revolução será

intelectual, e cada vez mais me

convenço que os próximos impérios

serão os do pensamento.

Trabalhemos então todos juntos,

pois só em unidade poderemos

prosperar.

empréstimos hipotecários terão

perdas também. Essas perdas serão

maiores do que seriam se a

política do governo não tivesse

encorajado o investimento exces-

sivo no mercado da habitação.”

Esta previsão coincidiu perfei-

tamente com a crise de 2008,

que teve início numa bolha

financeira surgida do mercado de

habitação dos Estado Unidos da

América.

De que estamos à espera para

mudarmos de uma vez por todas os

pressupostos que têm guiado os

nossos governantes? Está na hora

de abrirmos os nossos horizontes

e não raciocinarmos só acerca

daquilo que os economistas e

filósofos do “mainstream” nos

obrigam a digerir diariamente

através dos mais diversos meios de

comunicação.

artificialmente criadas, o ‘boom’ nos

preços do mercado da habitação não

durará para sempre. Quando os

preços das casas caírem, os seus

donos irão sentir dificuldades

enquanto que a sua equidade é

dizimada. Mais ainda, os credores

das dívidas geradas pelos

ideologia 37

Page 38: popcom #02

Depois da liberdade

38 opinião

servir; de quem se acha no direito de esquecer a

identidade do pequeno por preferir o vazio do grande

Numa altura em que, na Alemanha, se goza com a

“preguiça” dos gregos e em que, na Grécia, se queimam

bandeiras da Alemanha, sente-se bem o falhanço do

sonho europeu. Sessenta e um anos depois de se ter

dado o tiro de partida, a Europa continua a não ser uma

nação, sem um povo uno e, pior que isso, sem uma

identidade comum. Sessenta e um anos depois da

fundação do percussor directo da actual União Europeia,

os políticos continuam à espera da emergência do

sentimento europeu – ao mesmo tempo que ele teima

em não aparecer. Sessenta e um anos depois do início da

luta esquizofrénica de quem luta contra si mesmo,

contra aquilo que é, contra aquilo que o define, não é

difícil notar que a tentativa de homogeneizar o

heterogéneo e de unir o diferente criou a Europa mais

dividida desde 1939.

Foi com este pano de fundo que, dia 6, gregos e

franceses foram a votos. Povos diferentes em situações

diferentes, ambos se debatiam – e debatem – com o

mesmo problema essencial: a percepção de que os seus

sacrifícios não estão a ser feitos por eles mesmos, mas

por algo maior a que não sabem bem se querem

pertencer.

Depois da noite eleitoral em Paris e em Atenas, o

amanhecer foi, é certo, igual em toda a Europa. Mais do

que nunca, é óbvia a distância entre os povos europeus e

os seus líderes. Mas foi na Grécia, berço da civilização

ocidental e embrião da ideia de Liberdade que

adoptámos e que uma Europa unida deveria respeitar e

proteger que o paradoxo europeísta melhor se fez

sentir. Não, a manjedoura da democracia não escolheu a

estabilidade governativa para enfrentar os gravíssimos

problemas que enfrenta. Não, também não se decidiu

pelos partidos que estão dispostos a lutar pela

permanência do país na Zona Euro. E não, também não

fez o contrário, disse ao mundo o que queria e deu uma

izia Jean Monnet, o primeiro dos pensadores do

Europeísmo, principal arquitecto do federalismo

europeu e pai da Europa moderna que a

excepcionalidade da construção europeia vinha do facto

de, com ela, se procurar “formar não coligações de

Estados, mas a união dos homens”. E complementava:

“fazer os homens trabalhar juntos fá-los compreender

que, por detrás das diferenças que os dividem e das

fronteiras que os separam, há um interesse comum [a

todos]”. Olhando para ambas as frases, há algo que se

percebe, quase de imediato: que a Europa de hoje

espelha bem quão boas eram as intenções de Monnet,

mas também quão mal compreendeu e interpretou a

Europa e os problemas que fazem parte da sua génese

identitária.

Que ninguém se engane: esta Europa nasceu de um

espaço de liberdade com o objectivo honesto,

transparente e, infelizmente, ingénuo de gerar, em si,

um espaço de liberdade ainda maior. Nunca existiu

outra intenção que não essa. O pior é quando à falência

das intenções se junta a falência dos Estados e, com ela,

aparece a falência dos princípios. A sonhada “união dos

homens” feita continente de Monnet transfigurou-se

para apresentar, aos europeus de hoje, o pesadelo de

um continente dividido por mais que fronteiras, por

mais que aquilo a que Monnet chamaria “linhas em

mapas”: a Europa que os políticos uniram com

assinaturas, abraços, tratados e apertos de mão é a

mesma que atroçoaram, que rasgaram em pedaços com

o irrealismo arrogante de quem ignora aquilo que deve

servir; de quem se acha no direito de esquecer a

identidade do pequeno por preferir o vazio do grande.

Numa altura em que, na Alemanha, se goza com a

“preguiça” dos gregos e em que, na Grécia, se queimam

D

Rafael Borges

Page 39: popcom #02

problemas que enfrenta. Não, também não se decidiu

pelos partidos que estão dispostos a lutar pela

permanência do país na Zona Euro. E não, também

não fez o contrário, disse ao mundo o que queria e

deu uma maioria fácil de formar aos profetas do

“crescimento”. Longe disso, os gregos optaram por

um “nim” com a não: recusando-se a dar uma

maioria seja a quem fosse e impossibilitando, por

isso, qualquer entendimento, os gregos votaram

maciçamente nos partidos que, em si, reúnem tudo

que mereceu e merece o desprezo dos pensadores

ocidentais cujo percurso intelectual se iniciou na eclésia

ateniense: do radicalismo chauvinista do Aurora Dourada

à cruzada de classe do Syriza, os gregos não votaram só

em partidos que não olham para a permanência na União

como uma prioridade. Fizeram mais que isso. Votaram em

forças políticas que são contra mais que a Europa política:

são contra a única Europa real, a única que nunca precisou

da engenharia de quem decide – a Europa dos valores, a da

democracia, do Estado de Direito, da Liberdade individual. E

é essa a Europa que, mercê do colapso anunciado do império

dos apparatchiks de Bruxelas, se encontra agora ameaçada.

É, claro, impressionante pensar que a tentativa de Monnet

de “formar não coligações de Estados, mas a união dos

homens” tenha levado a isto. Mas levou. Hoje, a Europa dos

princípios percebe que só a destruição da sua gémea

política e económica a pode salvar. Da Finlândia de Timo

Soini à Grécia de Tsipras e Michaloliakos, é a anti-Europa

que reage à Europa que impuseram aos povos do

continente. E é essa anti-Europa que, continuando-se o

sonho/pesadelo dos césares gaulo-germânicos e dos

apparatchiks que os seguem, acabará por engolir as

nações a oeste dos Urais. Isso até ao dia em que, depois da

liberdade, os europeus falem dela com nostalgia.

Page 40: popcom #02

driano Moreira, 89 anos, é

Presidente da Academia

das Ciências de Lisboa.

Licenciado em Direito, foi

chamado por António de Oliveira

Salazar para ser subsecretário de

Estado da Administração Ultra-

marina e, mais tarde, Ministro do

Ultramar. As suas tentativas para

reformar a política ultramarina

portuguesa acabaram por originar

algumas divergências com o então

Presidente do Conselho que o

levaram a abandonar o governo.

Após o 25 de Abril de 1974

manteve a sua actividade política,

tendo chegado a deputado na

Assembleia da República em

representação do CDS, partido do

qual chegou a ser presidente.

Embora ainda seja filiado no CDS,

há muito que Adriano Moreira

deixou a política activa, tendo

desenvolvido uma prestigiada

actividade no meio académico

qual chegou a ser presidente.

Embora ainda seja filiado no CDS,

há muito que Adriano Moreira

deixou a política activa, tendo

desenvolvido uma prestigiada

actividade no meio académico

português.

Foi ministro no Estado Novo e

líder partidário no Portugal

democrático. De que forma viveu

a transição de regime?

Sabendo que Portugal nunca dis-

pensou um apoio externo, essa

preocupação foi desde logo

fundamental, para mobilizar quem

tivesse interesse pelo conceito

estratégico do país. A Europa, a

caminho da Unidade, embora depois

de ter perdido a sua larga definição

imperial, era a que podia opor-se a

uma nova deriva interna perigosa e

com sinais. Quanto à decisão

pessoal, tratei de cumprir os

deveres cívicos, e para com a

de ter perdido a sua larga definição

imperial, era a que podia opor-se a

uma nova deriva interna perigosa

e com sinais. Quanto à decisão

pessoal, tratei de cumprir os

deveres cívicos, e para com

a família, que eram impe-

rativos.

Referiu por várias ve-

zes as suas duas “que-

das no mundo”, que

terão sido dos mo-

mentos mais marcantes

da sua vida. A primeira

delas foi a visita que

fez a vários territó-

ri-os portugueses em

África e a segunda uma

visita às Nações Unidas no final

dos anos 1950. De que forma é

que essas experiências marcaram

a sua visão de Portugal no mundo

e enquanto potência

ultramarina?

A

Grande entrevista a Adriano Moreira

‘Se não é lisonjeiro ter chegado a esta situação de protectorado, o desonroso seria desistir de a vencer.’

40 entrevista

Page 41: popcom #02

entrevista 41

Page 42: popcom #02

sabemos isso depois de ter

acontecido.

Sem nunca ter criado essa

expectativa, entrou na vida

política ainda durante o Estado

Novo, tendo sido convidado para

o governo de forma surpre-

endente, uma vez que não tinha

ligações à União Nacional. Sendo

alguém a quem a vida política

surge quase por acaso, porque

optou por ter uma vida política

activa no pós-25 de Abril e

porquê fazer a sua actividade

partidária no CDS?

A questão, para mim, não era de

partidarismos, era de futuro

balismo, sem precedente. Foram

ambos desafios fundamentais e

estimulantes.

Considera que se o seu projecto

para África tivesse ido em frente

a situação daquele continente

hoje seria diferente?

Um escritor, que lembro chamar-se

Nassim (O Cisne Negro) creio que

escreveu que o futuro não é

adivinhável, e o mal é que apenas

sabemos isso depois de ter

acontecido.

Sem nunca ter criado essa

expectativa, entrou na vida

política ainda durante o Estado

visita às Nações Unidas no final

dos anos 1950. De que forma é

que essas experiências marca-

ram a sua visão de Portugal

no mundo e enquanto potência

ultramarina?

A expressão não é excessiva. Até à

primeira visita que fiz a África, na

década de 1950, para estudar a

Reforma do Regime Prisional, que

se chamou “Reforma Sarmento

Rodrigues”, as minhas obrigações

académicas estavam ligadas apenas

ao ensino do direito. Naquela visita,

verifiquei que havia uma distância

considerável entre esse direito e os

factos, o que me levou a encaminhar

a Escola para o que é hoje um

Instituto de Ciências Sociais e

Políticas. Em África, não apenas nos

territórios de soberania portuguesa,

o que existia não era uma

orientação democrática, antes, quer

fosse vice-rei, alto-comissário,

governador, quer se tratasse da

Inglaterra, da Bélgica, da França, de

Portugal, o que vigorava era o

modelo da concentração de poderes

em todas as parcelas do Império

Euromundista, e não da divisão de

poderes. O certo é que no terreno a

legalidade podia ser ultrapassada de

maneira grave. O livro recente de

Vargas Llosa, traduzido com o título

“O Segredo do Celta”, embora

romanceado, pode ser instrutivo.

Pelo que respeita à ONU, foi o lugar

onde pela primeira vez, na história

da humanidade, todas as áreas

culturais do mundo falaram com voz

própria, e isso, a quem fosse atento,

subitamente iluminava uma terra

casa comum dos homens, e uma

problemática, depois chamada glo-

balismo, sem precedente. Foram

ambos desafios fundamentais e

estimulantes.

Considera que se o seu projecto

para África tivesse ido em frente

42 entrevista

Page 43: popcom #02

cessário para organizar soluções

políticas. Os sacrifícios exigíveis,

mesmo com esse objetivo, eram

inevitáveis, o que implicava andar

rapidamente, sem recusas, quando a

intervenção pessoal era solicitada.

Os factos da realidade política

interna interromperam o esforço, e

o tempo foi excedido. A gravidade

da situação interna depois do 25 de

Abril, com os riscos conhecidos, de

novo me obrigaram a voltar à

intervenção, a pedido dos

responsáveis do CDS, o único que

que se identificava com a doutrina

social da Igreja, na versão do

Concilio Vaticano II, que em África

foi representada, com excelência,

optou por ter uma vida política

activa no pós-25 de Abril e

porquê fazer a sua actividade

partidária no CDS?

A questão, para mim, não era de

partidarismos, era de futuro

nacional na comunidade interna-

cional em mudança, e numa

circunstância em que as Forças

Armadas, sabendo e declarando que

estas guerras não se ganham, só

assumiam ganhar o tempo ne-

cessário para organizar soluções

políticas. Os sacrifícios exigíveis,

mesmo com esse objetivo, eram

inevitáveis, o que implicava andar

rapidamente, sem recusas, quando a

intervenção pessoal era solicitada.

intervenção, a pedido dos respon-

sáveis do CDS, o único que se

identificava com a doutrina social

da Igreja, na versão do Concilio

Vaticano II, que em África foi

representada, com excelência, por

D. Sebastião de Resende, Bispo da

Beira.

Como tem acompanhado o

percurso do partido de que foi

Presidente desde que abandonou

a política activa?

Desde que abandonei a intervenção

na política ativa, e mantendo a

filiação por convicção nos valores

que me orientam, recuso-me sem-

pre a fazer comentários públicos

sobre a intervenção de quem ali

sucede nas responsabilidades e tem

de atender às mudanças da

conjuntura.

Já por várias referiu que Portugal

está hoje sujeito a um regime de

“protectorado”. Como está a

encarar esta nova fase da vida

nacional?

Portugal, além de precisar tradicio-

nalmente de apoio externo, também

lhe aconteceu ser governado por

estrangeiros, e não apenas durante

a dinastia dos Filipes. Na minha

juventude, quando entrei na

Faculdade de Direito, tinha então 16

anos, a imagem externa de Portugal

era a de uma colónia de Inglaterra.

Nesta data, o programa de governo

não é um programa livremente

definido pelo país: vítima de

circunstâncias externas, mas

também do governo próprio, está

submetido a uma entidade a que

chamam Troica, representada por

tecnocratas, e a designação mais

apropriada para tal situação, numa

data em que a própria União

Europeia tem visto emergir um

Diretório (França – Alemanha) que

ultrapassa a organização

entrevista 43

Page 44: popcom #02
Page 45: popcom #02

tecnocratas, e a designação mais

apropriada para tal situação, numa

data em que a própria União

Europeia tem visto emergir um

Diretório (França – Alemanha) que

ultrapassa a organização institu-

cional, é a designação de protec-

torado. Uma situação que tem de ser

assumida, porque se não é lison-

jeiro ter chegado a tal situação, o

desonroso seria desistir de a vencer.

Abordou, diversas vezes, a

dependência histórica do país de

uma lógica de "cadeia de

comando" e de grandes objec-

tivos estratégicos mobilizadores.

Considera que esse factor

constitui um fardo, numa altura

em que parece não haver um

rumo para a prosperidade

claramente definido, ou se consti-

tui, pelo contrário, uma janela de

são, a 3.ª Dinastia da submissão, e

regimes internos, incluindo guerras

civis. De novo o regime saído do 25

de Abril lhe entregou a respon-

sabilidade democrática, e a experiê-

ncia já mostra exigências de

reformas, designadamente do siste-

ma eleitoral para a Assembleia da

República, e uma maior intervenção

e conhecimento da política euro-

peia, que tem sido mais política

furtiva do que participada pela

população.

Costuma dizer que Portugal

precisa de “vozes encantatórias”.

Nota alguma capacidade de en-

canto na voz dos que comandam

hoje, nesta situação particu-

larmente difícil, os destinos do

país?

Todo o Ocidente precisa de vozes

encantatórias, porque as lideranças

são frágeis. Basta lembrar os que

dirigiram a guerra de 1939-1945, e

a reconstrução, para notar a dife-

rença e a falta.

Como analisa o estado actual do

projecto europeu? Como consi-

dera ser possível um equilíbrio

entre o aprofundamento da União

e, por outro lado, a redefinição

dos significados das soberanias e

possíveis constrangimentos de

representatividade democrática?

A emergência do Diretório Franco-

Alemão, e as eleições que se

sucedem, rodeadas pela crise

financeira e económica, mostra que

o ideal de unidade europeia não está

suficientemente participado, e

portanto as versões ideológicas, que

a mudança global exige, são frágeis

e insuficientes. Nenhum país

europeu, isolado, tem suficiente

capacidade para ter projeção

mundial. É duvidoso que a

Inglaterra e a França devam ser

quem tem direito de veto no

Considera que esse factor

constitui um fardo, numa altura

em que parece não haver um

rumo para a prosperidade clara-

mente definido, ou se consti-tui,

pelo contrário, uma janela de

oportunidade para uma redefi-

nição do papel da sociedade civil,

mais "solta" das amarras do

Estado?

Não seria a primeira vez que a

sociedade civil exerceria o poder de

reformar o Estado, corrigindo o

regime de cadeia de comando em

que frequentemente viveu, designa-

damente durante a 1.ª Dinastia da

reconquista, a 2.ª Dinastia da expan-

são, a 3.ª Dinastia da submissão, e

regimes internos, incluindo guerras

civis. De novo o regime saído do 25

de Abril lhe entregou a respon-

sabilidade democrática, e a

experiência já mostra exigências de

‘Se a Europa não prosseguir e consolidar o ideal e prática da unidade, e ceder às tentações visíveis de abandonar o projecto, o provável é que o mundo se dispense de ouvir a voz da Europa’

entrevista 45

Page 46: popcom #02

e insuficientes. Nenhum país

europeu, isolado, tem suficiente

capacidade para ter projeção

mundial. É duvidoso que a

Inglaterra e a França devam ser

quem tem direito de veto no

Conselho de Segurança e não a

própria Europa. Se a Europa não

prosseguir e consolidar o ideal e

prática da unidade, e ceder às

tentações visíveis de abandonar o

projecto, o provável é que o mundo

se dispense de ouvir a voz da

Europa. O objetivo da unidade

europeia, que não é confundível

nem com a experiência americana,

nem com a experiência suíça,

implica uma redefinição da sobe-

rania para os novos tempos. De

resto já hoje não existe na Europa a

soberania absoluta do passado,

existe apenas a soberania funcional

ou cooperativa, que o eixo França-

Alemanha parece compreender mal.

Disse que “se o projecto europeu

falhar a viabilidade do país é

discutível”. Quão longe e difícil vê

esse falhanço?

Espero que o Projecto de unidade

europeia encontre solução. Mas

Portugal tem ainda, para além disso,

janelas de liberdade, em que se

inclui a CPLP, mal fortalecida até

hoje, e o mar com a plataforma

continental, riquíssima, e a maior do

mundo, que esperamos ver

reconhecida pela ONU até 2015. E

também esperamos que não seja

atingida por efeitos semelhantes aos

que produziu a Política Agrícola

Comum, nem pela desatenção com

que o Tratado de Lisboa entregou a

gestão dos recursos vivos do mar à

Comissão Europeia. Por fim, espero

que finalmente o ensino seja

considerado uma questão de

soberania e não de mercado.

Qual o futuro da Democracia-

tempo o relativismo, e a teologia de

mercado, enfraqueceram a patri-

mónio comum ético. Tem de ser

recuperado.

Que mensagem final deixa aos

nossos leitores, especialmente os

mais jovens?

Ninguém escolhe o país em que

nasce, nem pode receber o passado

desse país a benefício de inventário.

Mas decidir ficar, esse é um acto de

amor ao povo a que se pertence,

sobretudo em tempo de crise e

grande necessidade.

Comissão Europeia. Por fim, espero

que finalmente o ensino seja consi-

derado uma questão de soberania e

não de mercado.

Qual o futuro da Democracia-

Cristã europeia num contexto

global de crescente relativismo e

sacralização do laicismo e, por

outro lado, daquilo a que muitas

vezes apelida de "teologia de

mercado"?

A Democracia-Cristã, que liderou a

fundação da União Europeia, perdeu

a visibilidade que teve, e ao mesmo

‘Portugal tem janelas de liberdade como a CPLP, mal fortalecida até hoje, e o mar com a maior plataforma continental do mundo’

46 entrevista

Page 48: popcom #02

Lúcia Santos

um momento em que se

assiste à criação de uma so-

ciedade cognitiva, onde a

capacidade de produzir, trocar e

gerir conhecimento é determinante,

a educação assume cada vez mais

um papel decisivo.

A educação é o “passaporte para a

vida” que visa fornecer aos seres

humanos, através de instrumentos e

conteúdos educativos adaptados, os

meios de que estes necessitam para

desenvolver as suas faculdades,

adquirir uma capacidade crítica,

decidir e agir de forma esclarecida,

viver e trabalhar com dignidade,

exercer uma liberdade responsável,

participar no desenvolvimento e na

construção de um futuro colectivo e

melhorar a qualidade da sua

existência.

O desafio da educação é, assim,

através de todos os meios ao seu

alcance e com a colaboração dos

pais ou encarregados de educação e

melhorar a qualidade da sua

existência.

O desafio da educação é, assim,

através de todos os meios ao seu

alcance e com a colaboração dos

pais ou encarregados de educação e

da sociedade, a formação de

cidadãos conscientes, interventivos,

criativos e inovadores e a criação de

uma comunidade mais aberta e

informada.

O Estado assume aqui um papel

determinante, uma vez que a ele cabe

definir, globalmente, as orientações e

as metas a atingir, regular acções e

apoiar iniciativas, garantindo o

cumprimento do papel da educação,

enquanto bem individual e colectivo,

ao serviço de cada um, de todos e da

sociedade, no sentido de se aumentar

a qualidade do sistema educativo,

nomeada-mente no que respeita ao

processo de ensino e de apren-

dizagem e aos instrumentos e

materiais pedagógicos.

A pergunta que se impõe aqui é: tem

o Estado feito o seu papel?

Com o objectivo de melhorar o

estado da Educação em Portugal,

nos últimos trinta anos foram apre-

sentadas e implementadas um vasto

conjunto de medidas pelos suces-

sivos governos.

Estas medidas não têm seguido uma

missão comum. Cada partido faz

aquilo que entende melhor quando

está no poder e quando há uma

mudança de governo, este desfaz o

que foi feito pelo anterior e repõe os

seus próprios conceitos.

Todos os anos são aprovados novos

decretos-lei e as reformas que

modificam radicalmente o sistema

educativo do país sucedem-se e,

ainda assim, as críticas estão cada

vez mais duras. Isto deve-se à

ineficácia sistemática desses decre-

tos-lei e reformas em resolver os

problemas principais da educação e

dos quais ninguém parece lembrar-

se, talvez por serem demasiado

simples: a falha na cultura geral dos

alunos, a falta de conhecimentos de

base que permitam aos estudantes

aprender com eficácia a matéria

leccionada e a inadequação dos

N

Educação modernaça, que desgraça!

48 nacional

Page 49: popcom #02

Problemas diversos e

soluções falhadas, sempre

minaram o estado do ensino no

nosso país. Para onde caminha a

Educação em Portugal?

nacional 49

Page 50: popcom #02

se, talvez por serem demasiado

simples: a falha na cultura geral dos

alunos, a falta de conhecimentos de

base que permitam aos estudantes

aprender com eficácia a matéria

leccionada e a inadequação dos con-

teúdos lectivos ao mercado de

trabalho.

No meio disto tudo há ainda outro

grande problema, é que a principal

preocupação de todos os governos

parece ser a redução de custos,

enquanto alguns professores andam

mais preocupados com outras lutas

e a importância superior da edu-

cação perde-se no meio de tantos

interesses.

Senão vejamos…

Encerram-se os estabelecimentos de

ensino de pequena dimensão (com

menos de 10 alunos, num primeiro

momento, e com menos de 20

alunos, numa fase seguinte), sob o

chapéu da falta de viabilidade

educativa e, acima de tudo, da

viabilidade financeira, e propõe-se a

passagem dos alunos afectados por

esta medida para estabelecimentos

de ensino com melhores infra-

estruturas e recursos ou para

centros escolares que respondam às

exigências pedagógicas cada vez

mais complexas, de modo a garantir

melhores condições de ensino.

Esta reorganização do parque

escolar tem como objectivo a

criação de condições de igualdade

no acesso a um ensino de qualidade,

pondo fim às assimetrias existentes

no território nacional, e a redução

da dispersão de meios e recursos.

É sem dúvida um importante degrau

da tão necessária evolução do

sistema educativo português e é um

passo fundamental na adequação da

rede educativa ao momento

presente e, acima de tudo, no

lação concentrada numa faixa litoral

de cerca de quinze quilómetros e

boas acessibilidades em grande

parte do território nacional.

No início da década de 50 Portugal

apresentava uma pirâmide etária

jovem, reflexo de um país

manifestamente subdesenvolvido,

uma economia essencialmente

baseada na agricultura e uma rede

de acessibilidades profundamente

deficitária.

O elevado número de crianças e a

notória dificuldade de deslocação,

mesmo entre os diferentes lugares

de uma mesma freguesia, contribuiu

para uma expansão muito

significativa do número de

estabelecimentos de ensino, em

especial do 1º Ciclo do Ensino

Básico, apresentando a esmagadora

maioria apenas uma ou duas salas

de aula.

Em situação antagónica, actual-

mente o nosso país apresenta uma

pirâmide etária envelhecida, uma

economia maioritariamente

baseada nos serviços e uma rede de

acessibilidades que transformou

por completo a relação espaço-

tempo, encurtando distâncias e

tornando locais anteriormente

longínquos, hoje bastante mais

próximos.

A crescente diminuição das classes

etárias mais jovens e o aumentar

dos escalões etários mais idosos

reflecte-se, naturalmente, na

população escolar, que, como é bem

evidente na análise dos valores dos

nascimentos registados no

território nacional entre 2000 e

2010, regista uma forte tendência

de decréscimo.

É sem dúvida um importante degrau

da tão necessária evolução do

sistema educativo português e é um

passo fundamental na adequação da

rede educativa ao momento presen-

te e, acima de tudo, no perspetivar

do seu futuro.

Não nos podemos esquecer que

Portugal sofreu, nas últimas

décadas, profundas transformações

e que os atuais edifícios, na sua

esmagadora maioria herdados do

Plano dos Centenários, não respon-

dem aos crescentes desafios educa-

tivos.

No último meio século o país e o seu

território mudaram profundamente,

tendo-se passado de um país

profundamente rural, com uma

população distribuída pelo todo do

território nacional e acessibilidades

deficitárias, a um país predomi-

nantemente urbano, com a popu-

lação concen-trada numa faixa

litoral de cerca de 15 km e boas

acessibilidades em grande parte do

território nacional.

No início da década de 50 Portugal

apresentava uma pirâmide etária

jovem, reflexo de um país

manifestamente subdesenvolvido,

uma economia essencialmente

baseada na agricultura e uma rede

de acessibilidades profundamente

deficitária.

50 nacional

Page 51: popcom #02

Em situação antagónica, actual-

mente o nosso país apresenta uma

pirâmide etária envelhecida, uma

economia maioritariamente basea-

da nos serviços e uma rede de

acessibilidades que transformou

por completo a relação espaço-

tempo, encurtando distâncias e

tornando locais anteriormente

longínquos, hoje bastante mais

próximos.

A crescente diminuição das classes

etárias mais jovens e o aumentar

dos escalões etários mais idosos

reflecte-se, naturalmente, na

população escolar, que, como é bem

evidente na análise dos valores dos

nascimentos registados no

território nacional entre 2000 e

2010, regista uma forte tendência

de decréscimo.

vou-se também uma profunda

alteração dos padrões de mobi-

lidade e uma grande evolução ao

nível das práticas pedagógicas, quer

do ponto de vista dos conteúdos

educativos, quer do ponto de vista

das necessidades em termos de

espaço físico.

Todas estas transformações torna-

ram desajustada a rede educativa

deste princípio de século XXI e

deixaram bem evidente a

necessidade da reorganização do

parque escolar, no entanto, embora

não restem muitas dúvidas quanto

ao pressuposto que esteve na sua

base, a problemática reside na

forma em como todo este processo

foi conduzido pelo anterior governo

e não nas metas que se pretendiam

com ele atingir.

Não será que sob a máscara da

modernização dos estabelecimentos

de ensino e da rentabilização de

espaços e de profissionais não se

esqueceram outros alicerces

igualmente determinantes para o

desenvolvimento do nosso país?

É preciso perceber que o

encerramento das pequenas escolas

e a concentração da população

escolar em estabelecimentos de

ensino de maior dimensão não é

possível de ser aplicada de forma

cega e segundo os mesmos critérios

à totalidade do território nacional.

A dispersão geográfica, a deficiente

rede de acessibilidades, as barreiras

morfológicas e a falta de dinamismo

demográfico e socioeconómico que

caracterizam vastos sectores do

nosso país têm obrigatoriamente de

ser consideradas nas decisões a

tomar, sob pena de obrigar as

crianças com idade compreendida

entre os seis e os nove anos a

percorrer enormes distâncias

diariamente e de acentuar o

fenómeno da desertificação que

algumas regiões do território

A crescente diminuição das classes

etárias mais jovens e o aumen

-tar dos escalões etários mais

idosos reflecte-se, naturalmente,

na população escolar, que, como é

bem evidente na análise dos

valores dos nascimentos regis-

tados no território nacional entre

2000 e 2010, regista uma forte

tendência de decréscimo.

A par destas modificações obser-

vou-se também uma profunda

alteração dos padrões de

mobilidade e uma grande evolução

ao nível das práticas pedagógicas,

quer do ponto de vista dos

conteúdos educativos, quer do

ponto de vista das necessidades em

termos de espaço físico.

Todas estas transformações

tornaram desajustada a rede

educativa deste princípio de século

XXI e deixaram bem evidente a

necessidade da reorganização do

parque escolar, no entanto, embora

não restem muitas dúvidas quanto

ao pressuposto que esteve na sua

base, a problemática reside na

forma em como todo este processo

foi conduzido pelo anterior governo

e não nas metas que se pretendiam

com ele atingir.

Não será que sob a máscara da

modernização dos estabelecimentos

de ensino e da rentabilização de

espaços e de profissionais não se

esqueceram outros alicerces

igualmente determinantes para o

desenvolvimento do nosso país?

É preciso perceber que o

encerramento das pequenas escolas

e a concentração da população

escolar em estabelecimentos de

ensino de maior dimensão não é

possível de ser aplicada de forma

cega e segundo os mesmos critérios

à totalidade do território nacional.

A dispersão geográfica, a deficiente

rede de acessibilidades, as barreiras

morfológicas e a falta de dinamismo

deixaram bem evidente a neces-

sidade da reorganização do parque

escolar, no entanto, embora não

restem muitas dúvidas quanto ao

pressuposto que esteve na sua base,

a problemática reside na forma em

como todo este processo foi

conduzido pelo anterior governo e

não nas metas que se pretendiam

com ele atingir.

Não será que sob a máscara da

modernização dos estabelecimentos

de ensino e da rentabilização de

espaços e de profissionais não se

esqueceram outros alicerces igual-

mente determinantes para o desen-

volvimento do nosso país?

É preciso perceber que o encer-

ramento das pequenas escolas e a

concentração da população escolar

em estabelecimentos de ensino de

maior dimensão não é possível de

ser aplicada de forma cega e

segundo os mesmos critérios à

totalidade do território nacional.

A dispersão geográfica, a deficiente

rede de acessibilidades, as barreiras

nacional 51

Page 52: popcom #02

para os adultos.

Não há dúvida de que o

desenvolvimento do nosso país nos

confronta com uma opção clara e

inadiável, a de apostar na qualifi-

cação da população portuguesa, mas

quando se olha para a forma como a

educação tem vindo a ser tratada

fica-se com a impressão de que para

elevar o nível de alfabetização e

atingir valores simpáticos nos

rankings se está a esquecer o seu

verdadeiro objectivo, o de ensinar e

o de aprender.

Não se trata de estar contra que as

pessoas tenham segundas oportuni-

dades, aquelas que revelam dificul-

dades no seguimento do percurso

escolar regular, mas que continuam

a desejar investir na sua formação,

ou aquelas que por diferentes

contrariedades impostas pela vida

não conseguiram concluir a

formação, cada vez mais se aperce-

bem que não precisam de trabalhar

para conseguir um resultado

positivo, porque alguém está lá para

o garantir por eles.

Trata-se, naturalmente, da Iniciativa

Novas Oportunidades, apresentada

em 2005 pelo anterior governo, com

o objectivo de dar resposta aos

baixos índices de escolarização dos

portugueses, tendo como principal

finalidade alargar o referencial

mínimo de formação até ao 12º ano

de escolaridade para jovens e

adultos e assente em dois pilares:

uma oportunidade nova para os

jovens e uma nova oportunidade

para os adultos.

Não há dúvida de que o

desenvolvimento do nosso país nos

confronta com uma opção clara e

inadiável, a de apostar na

qualificação da população

maior dimensão não é possível de

ser aplicada de forma cega e

segundo os mesmos critérios à

totalidade do território nacional.

A dispersão geográfica, a deficiente

rede de acessibilidades, as barreiras

morfológicas e a falta de dinamismo

demográfico e socioeconómico que

caracterizam vastos sectores do

nosso país têm obrigatoriamente de

ser consideradas nas decisões a

tomar, sob pena de obrigar as

crianças com idade compreendida

entre os seis e os nove anos a

percorrer enormes distâncias

diariamente e de acentuar o

fenómeno da desertificação que

algumas regiões do território

nacional têm vindo a sofrer de

forma crescente. É importante não

esquecer que há um país para além

do litoral e onde nem tudo é já ali ao

lado.

Convenceram-se as pessoas de que

como viveram muito já sabem muito

e por isso merecem um diploma, em

vez de lhes proporcionar uma

educação de qualidade, para

colmatar o facto de a ela não terem

tido acesso no passado. Isto é,

claramente, uma fraude. Não é que o

que aprenderam ao longo da vida

nos diferentes contextos não tenha

valor, porque o tem, mas por muito

honestas e trabalhadoras que sejam,

se não aprenderam português,

matemática, línguas estrangeiras ou

ciências, não merecem um diploma.

O mesmo se passa com os jovens,

que com uma tão grande diversi-

ficação das vias de educação e

formação, cada vez mais se

apercebem que não precisam de

trabalhar para conseguir um

resultado positivo, porque alguém

está lá para o garantir por eles.

Trata-se, naturalmente, da Iniciativa

52 nacional

Page 53: popcom #02

visíveis. Falta qualidade e sobra indis-

ciplina quando medimos os resul-

tados através dos alunos e do nível

com que ingressam o Ensino

Superior. Dominam mal a língua ma-

terna, não só na sua expressão oral,

mas sobretudo na sua forma escrita, e

não sabem fazer cálculos simples.

É por isso urgente acabar com a

ideia de que tudo é igual e de que

não se pode avaliar com objecti-

vidade para não traumatizar as

criancinhas e, sobretudo, os maus

estudantes, sob pena de abalarmos

de forma irremediável o futuro do

nosso país. Ao preparar deficien-

temente as crianças para a vida

adulta, prepara-se uma sociedade

futura sem futuro.

Esqueceu-se a importância que a

qualidade do corpo docente assume

na qualidade da aprendizagem dos

alunos, mais do que qualquer infra-

estrutura, equipamento ou material.

A falta de qualidade do sistema

educativo já chegou ao Ensino

Superior e ter um curso superior

deixou de significar que essa pessoa

tem as competências para as quais

está certificada. A facilidade com

que hoje alguém consegue terminar

um curso superior, tirar um

mestrado e, não tarda muito, um

doutoramento é simplesmente

assustadora.

Claro é que a consequência deste

estado das coisas é que muitos deles

nem para si sabem, muito menos

para ensinar. É por isto tudo

necessário intervir rapidamente e

agir num primeiro nível de

actuação, para garantir que apenas

aqueles dotados das capacidades e

qualificações necessárias terminam

um curso superior e são

considerados aptos a exercer com

responsabilidade a difícil e essencial

dades no seguimento do percurso

escolar regular, mas que continuam

a desejar investir na sua formação,

ou aquelas que por diferentes

contrariedades impostas pela vida

não conseguiram concluir a

escolaridade obrigatória ou mesmo

dar continuidade aos estudos, mas

não podemos sob esse pretexto

simular aprendizagens e promover

o facilitismo e não o trabalho e o

esforço individual e das famílias e

dar oportunidades a quem não as

merece e que posteriormente vai

competir em igualdade de

circunstâncias com outros que aí

chegaram com mérito próprio e não

porque foram levados ao colo.

Diminuiu-se o grau de exigência do

ensino regular, pressionam a infla-

ção das notas, o que facilita a

transição de ano de alunos que

deviam ficar retidos, e acabam

tendencialmente com as reprova-

ções, em vez de manterem um

ensino de qualidade, certificado por

um sistema de avaliação justo,

alicerçado no mérito e que premeie

o sacrifício e o esforço.

Por todas estas razões, quando se

observam os resultados dos exames

nacionais de Matemática do 12º ano

dos últimos anos, que melhoraram

significativamente, não restam dúvi-

das em perceber que não se devem

a uma melhoria do nível de

conhecimentos dos alunos, mas,

sim, a uma maior facilidade do

exame.

E os resultados desta política não

tardaram a aparecer, sendo já bem

E os resultados desta política não

tardaram a aparecer, sendo já bem

visíveis. Falta qualidade e sobra

na qualidade da aprendizagem dos

alunos, mais do que qualquer infra-

estrutura, equipamento ou material.

A falta de qualidade do sistema

educativo já chegou ao Ensino

Superior e ter um curso superior

deixou de significar que essa pessoa

tem as competências para as quais

está certificada. A facilidade com

que hoje alguém consegue terminar

um curso superior, tirar um

mestrado e, não tarda muito, um

doutoramento é simplesmente

assustadora.

Claro é que a consequência deste

estado das coisas é que muitos deles

nem para si sabem, muito menos

para ensinar. É por isto tudo

necessário intervir rapidamente e

agir num primeiro nível de

actuação, para garantir que apenas

aqueles dotados das capacidades e

qualificações necessárias terminam

um curso superior e são consi-

derados aptos a exercer com

responsabilidade a difícil e essencial

tarefa de ensinar.

Mas se este primeiro nível de

actuação continuar a falhar, pois

não resta outra alternativa senão

implementar um exame de ingresso

na carreira, intenção já afirmada

pelo actual Ministro da Educação.

Deixemo-nos, portanto, de julgar os

docentes como uma classe especial

e protegida, há bons e maus

professores, como há bons e maus

profissionais em qualquer área.

nacional 53

Page 54: popcom #02

transitar alunos sempre a pairar

sobre eles.

Este novo sistema parece quase

sugerir que a vítima conta menos que

o prevaricador e confunde liberdade

com desresponsabilização.

Devolvam a autoridade e liberdade

aos professores, o aluno não vale

tanto como o professor, e respon-

sabilizem os pais pela indisciplina

dos filhos. É no seio da família que

deve começar a educação. A escola

deve apenas dar continuidade e

consolidar esse trabalho e pro-

porcionar instrução.

Preocupa porque, ao renunciar a

uma das suas obrigações funda-

mentais, que é a de educar, o Estado

acaba com a igualdade de acesso a

uma educação de qualidade, pois as

escolas privadas não vão nestas

cantigas e talvez seja por isso que há

tanta procura nos colégios com

contrato de associação.

A continuar assim parece que

estamos a contribuir para a

formação de cidadãos pouco

preparados para as exigências

competitivas da sociedade actual e

apoio-dependentes, em vez de

promover o trabalho de cada um e

de valorizar o empreendedorismo.

Chega de facilitismos, tratem a

educação como um meio e uma

forma de chegar mais longe e de

desenvolver o potencial humano do

nosso Portugal, façam as pessoas

sentirem-se como tal e não meros

números nas estatísticas.

A verdade é que chegamos a um

estado em que ninguém gosta do

que tem mas também ninguém sabe

como deveria ser. E convençamo-

nos de uma coisa, uma casa não se

começa a construir pelo telhado. Por

esta razão, não há reforma

derados aptos a exercer com res-

ponsabilidade a difícil e essencial

tarefa de ensinar.

Mas se este primeiro nível de

actuação continuar a falhar, pois

não resta outra alternativa senão

implementar um exame de ingresso

na carreira, intenção já afirmada

pelo actual Ministro da Educação.

Deixemo-nos, portanto, de julgar os

docentes como uma classe especial

e protegida, há bons e maus profes-

sores, como há bons e maus profis-

sionais em qualquer área.

Retiram aos professores a autori-

dade dentro das salas de aula e

acabam com a liberdade de avaliar

justamente, com a pressão para

transitar alunos sempre a pairar

sobre eles.

Este novo sistema parece quase

sugerir que a vítima conta menos

que o prevaricador e confunde

liberdade com

desresponsabilização.

Devolvam a autoridade e liberdade

aos professores, o aluno não vale

tanto como o professor, e

responsabilizem os pais pela

indisciplina dos filhos. É no seio da

família que deve começar a

educação. A escola deve apenas dar

continuidade e consolidar esse

trabalho e proporcionar instrução.

mentais, que é a de educar, o Estado

acaba com a igualdade de acesso a

uma educação de qualidade, pois

as escolas privadas não vão nestas

cantigas e talvez seja por isso que

há tanta procura nos colégios com

contrato de associação.

A continuar assim parece que

estamos a contribuir para a

formação de cidadãos pouco

preparados para as exigências

competitivas da sociedade actual e

apoio-dependentes, em vez de

promover o trabalho de cada um e

de valorizar o empreendedorismo.

Chega de facilitismos, tratem a

educação como um meio e uma

forma de chegar mais longe e de

desenvolver o potencial humano do

nosso Portugal, façam as pessoas

sentirem-se como tal e não meros

números nas estatísticas.

A verdade é que chegamos a um

estado em que ninguém gosta do

que tem mas também ninguém sabe

como deveria ser. E convençamo-

nos de uma coisa: uma casa

não se começa a construir

pelo telhado. Por esta razão, não

há reforma educativa alguma que

tenha sucesso enquanto não

for decidido o que efectivamente

se pretende da Educação. Só a

partir daí se podem definir os

objectivos a atingir, posteri-

ormente os meios e recursos

necessários e, só depois… só

depois… o orçamento do Ministério

da Educação. Seria dese-jável mais

dinheiro? Talvez, mas na situação

de emergência que Portugal vive

têm de se conseguir mais com

menos. Este é o desafio, acredito

que é possível.

54 nacional

Page 55: popcom #02
Page 56: popcom #02

48

Vera Rodrigues

Assim, a dimensão e a evidência que estes dados

deixam transparecer, constituem o falhanço

indesmentível das políticas orçamentais

expansionistas que o PS sempre apoiou e que hoje,

paradoxalmente, ainda defende.

Pelo contrário, o CDS nunca ignorou que a dívida

crescente e os problemas inerentes dos sucessivos

défices, estão na base do agravamento da crise da

dívida soberana, dos constrangimentos que essa

mesma dívida coloca à banca portuguesa, do efeito

negativo no crédito da banca perante as nossas

empresas e também na base das consequências

inevitáveis sobre as taxas de desemprego e sobre a

fraca dinâmica económica. De facto, só o PS, por artes

mágicas ou pura irresponsabilidade, consegue

separar o crescimento e o emprego, da perigosa

dinâmica da dívida e do défice. Trata-se de um ciclo

vicioso de variáveis interdependentes, onde as

ultimas têm efeitos incontornáveis e previsíveis sobre

as primeiras.

O CDS alertou sucessivas vezes para os perigos da

dívida e de uma política orçamental expansionista,

que foi tolhendo a iniciativa privada, ao mesmo tempo

que exigia mais impostos às famílias e às empresas.

Foi um erro grave e condicionou perversamente o

investimento que devia ter sido essencialmente

privado, e não público, como acabou por acontecer

reiteradamente.

O estado intervencionista, como actor da economia,

desempenha um papel que definitivamente não vai de

encontro ao modelo de estado em que acredito, e se

mais não fosse por qualquer outra razão, seria a da

evidência da circunstância que o país hoje vive.

Infelizmente, o que temos hoje não é bom.

Infelizmente, o tempo veio dar-nos razão!

Porém, o rumo inverteu-se e a boa notícia é que

começamos a sentir os primeiros resultados da

política orçamental deste governo PSD/CDS. Por um

lado, temos sucessivas avaliações positivas da parte

de quem nos empresta dinheiro, que tem originado a

libertação das sucessivas “tranches” do empréstimo e

que permitem que continuemos a poder honrar os

política orçamental está na ordem do dia. Nunca

se debateram tanto e com tanto entusiasmo

teorias macroeconómicas e concepções mais ou

menos filosóficas do que deve ser a acção e/ou a

intervenção no governo na condução dos destinos do

país. Mas nunca os portugueses tiveram tão presentes e

tão óbvios, mais do que essas mesmas teorias, os

resultados práticos das erradas opções, que foram

sendo assumidas pela esquerda, na governação do

nosso país.

Afinal de contas, o que nos trouxe a política orçamental

expansionista, seguida nos últimos anos?

Resumidamente, trouxe défices orçamentais acima dos

3% (chegando aos 10% em 2011), níveis de

desemprego a superar os 8% a partir de 2009, dívida

pública num crescimento galopante e a incapacidade de

o estado pagar aos seus fornecedores. O fim da história

não podia ser feliz e a desconfiança por parte dos

mercados, em relação à capacidade de honrarmos os

nossos compromissos, acabou por traduzir-se no

inevitável pedido de ajuda financeira, que nos tolheu a

autonomia e a soberania do país. A título de exemplo, da

grandeza do descalabro do PS, em seis anos de governo

Sócrates, a dívida directa do estado cresceu tanto como

em 20 anos, se considerarmos o período de 1980 a

1999, e cresceu o dobro do que no período de 1999 a

2004. Estão em causa mais 61 mil milhões de euros. Foi

quanto aumentou a dívida com o PS no governo, o que

equivale a uma percentagem de 67% de aumento, no

período de “apenas” seis anos.

Assim, a dimensão e a evidência que estes dados deixam

transparecer, constituem o falhanço indesmentível das

políticas orçamentais expansionistas que o PS sempre

apoiou e que hoje, paradoxalmente, ainda defende.

A política orçamental

A

56 opinião

Vera Rodrigues

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49

Vera Rodrigues

lado, temos sucessivas avaliações positivas da

parte de quem nos empresta dinheiro, que tem

originado a libertação das sucessivas “tranches”

do empréstimo e que permitem que continuemos

a poder honrar os nossos compromissos com

credores e fornecedores do estado.

Por outro lado, a execução orçamental do

primeiro trimestre, se excluídos os factores que

não dependem da acção directa deste governo

(mas de compromissos já assumidos no

passado), demonstra o controlo da despesa : o

corte da despesa primária em 4.3%, e da despesa

corrente primária em 3.8 %. O estado está

definitivamente a controlar os seus gastos e o

nível do défice está muito abaixo dos

compromissos do MoU para o primeiro trimestre

do ano. Deve ainda salientar-se que o impacto

das medidas de consolidação orçamental, ainda

não estão reflectidos nos dados que se conhecem

até hoje, em contabilidade pública.

Finalmente, todo o esforço que os portugueses

têm suportado, aliado ao trabalho de

credibilização que o governo tem estado a levar a

cabo a nível internacional, têm-se traduzido na

descida das yields no mercado secundário, o que

constitui um importantíssimo indicador sobre o

nosso país e sobre a nossa capacidade de

cumprir. Sente-se já algum alívio da pressão que

pairava sobre Portugal, por parte dos mercados

internacionais.

A política orçamental do actual governo, tem

como objectivo essencial a diminuição do

endividamento e das necessidades de

financiamento da economia portuguesa. Esta

pode não ser a “via verde” para o crescimento,

mas é inequivocamente, a única via possível, a

bem das novas gerações. Pelo menos, que nos

deem o benefício da dúvida…vai valer a pena!