Download - popcom #02
“
”
Ano 1 | Número 2 | Maio de 2012
Tiago Loureiro
Diogo Pascoal
Francisco Ancede
Joana Martins Rodrigues
Lúcia Santos
Luís Pedro Mateus
Rafael Borges
Adriano Moreira
Guilherme Marques da Fonseca
Miguel Pires da Silva
Vera Rodrigues
O não está de acordo com
o novo acordo. Por isso, é escrito
segundo a antiga ortografia.
Lg. Adelino Amaro da Costa, nº 5
1149-063 Lisboa
goncalobegonha.org
popcom.blogs.sapo.pt
2 sumário
Adriano Moreira: “Se não é lisonjeiro ter chegado a esta situação de protectorado, o desonroso seria desistir de a vencer”.
A tragédia guineense Rafael Borges
Maré de mudança Rafael Borges
Escola Austríaca: o futuro da economia? Guilherme Marques da Fonseca
Educação modernaça, que desgraça! Lúcia Santos
Editorial Tiago Loureiro
Palavra de Presidente Miguel Pires da Silva
Depois da liberdade Rafael Borges
Diários de São Bento Vera Rodrigues
Ninja Generation Francisco Ancede
Sinais Luís Pedro Mateus
A crise e a falência de uma ilusão
e é verdade que, por força das
circunstâncias, os portugueses nunca
tiveram tantas dificuldades em tolerar as
pesadas dificuldades impostas pelo estado e
pelos seus representantes e, por consequência,
um impulso tão grande para sair para a rua
protestar e reclamar direitos e oportunidades, a
verdade é que os sindicatos e as forças
partidárias que tradicionalmente usam a
indignação das pessoas e tentam federalizar
descontentamentos para daí tirar dividendos,
nunca viram a adesão popular às suas iniciativas
ser tão insignificante. É um bom sinal. Um
sinal de que as pessoas estão, hoje, mais
responsáveis e sabem que problemas sérios não
se resolvem com pretensas soluções que mais
não são do que arrebatamentos irresponsáveis.
S
Tiago Loureiro
editorial 3
responsáveis e sabem que problemas sérios não se
resolvem com pretensas soluções que mais não são
do que arrebatamentos irresponsáveis.
Foi precisamente isso que se verificou no último dia
1 de Maio, em que a mobilização sindical e da
esquerda retrógrada não conseguiu suplantar
a mobilização despertada pela oportunidade que o
Pingo Doce deu às pessoas.
De modo semelhante, no dia 13 de Maio, dia em
esquerda retrógrada não conseguiu suplantar a
mobilização despertada pela oportunidade que
o Pingo Doce concedeu às pessoas.
De modo semelhante, no dia 13 de Maio, dia em
que uma das novas organizações de indignados,
da qual não me lembro o nome (a moda é tal que
os movimentos proliferam e eu não tenho ritmo
para os acompanhar) convocou uma
manifestação para várias cidades do país. Em
Lisboa, segundo os noticiários, estiveram
reunidas cerca de 300 pessoas. No mesmo
dia, em Fátima, o número de pessoas que
preferiu uma manifestação de convicções
pessoais em vez de remar no sentido das
convicções obsoletas e fantasiosas de outros
ascendia a 300… mil.
Isto para dizer algo de muito simples. Não é que
as pessoas não experimentem neste momento
um sentimento de descontentamento com o
governo – mau seria se assim não fosse, já que
as medidas que estão a ser seguidas são
pesadíssimas, ainda que as possamos considerar
fundamentais. Mas as sucessivas derrotas destas
manifestações, indignações e paralisações, são,
em si mesmo, uma grande vitória: a esmagadora
maioria das pessoas, nomeadamente os
trabalhadores que os sindicatos e a esquerda
radical tanto se gaba de defender, e os jovens
que os grupelhos de indignados tanto gostam de
ter como propriedade, não vê necessariamente o
reflexo do seu descontentamento nas palavras e
nas atitudes anacrónicas e desligadas da
realidade dos Arménios Carlos e dos Louçãs
desta vida. E isso é um sinal de responsabilidade
e de realismo que se saúda.
A actual Comissão Política da JP
Alcobaça, mesmo antes de ser
eleita, estabeleceu no seu manifes-
to eleitoral a vontade de efectivar o
Conselho Municipal da Juventude
(CMJ) no município.
De facto, foi necessário muito esforço
e mobilização para o conseguir.
Inicialmente, na tentativa de sensi-
bilizar a Câmara Municipal para o
cumprimento voluntário da lei
nº8/2009, que estabelece o regime
jurídico do CMJ, foram enviadas três
exposições escritas, sendo que duas
delas nunca chegaram a ter resposta.
Cerca de seis meses mais tarde, a JP
Alcobaça lançou a campanha “CMJ –
Why not?”, na qual angariou 444
assinaturas de jovens exclusivamente
dos 14-30 anos, exigindo a instau-
ração imediata daquele órgão cônsul-
tivo jovem no município.
Ademais, foi elaborado um vídeo com
empresários jovens, dirigentes associ-
ativos e jovens trabalhadores do
concelho de Alcobaça, no qual todos
realçaram as mais-valias que a
implementação do CMJ traria e
questionaram a posição do executivo
camarário local, à qual a JP local
apelidou de “inércia desencora-
jadora”.
Finalmente, com a excelente cober-
tura conseguida através dos órgãos de
imprensa locais e redes sociais, toda
esta pressão deu resultados: o
Presidente da Câmara anunciou o
início das diligências para a criação do
órgão.
António Querido
JP Alcobaça exige criação do Conselho Municipal de Juventude
4 notícias
No fim-de-semana de 24 e 25 de
Março de 2012, decorreu em
Terras de Bouro, no Auditório
Municipal da Vila do Gerês, o IV
Conselho Distrital de Braga da
Juventude Popular.
Esta iniciativa, em que a estrutura
se juntou novamente, revelou-se um
sucesso, quer pelos conteúdos apre-
sentados pelos oradores, quer pelo
número de militantes presentes e a
sua participação e a qualidade das
intervenções.
Com cerca de 83 participantes,
entre Conselheiros Distritais repre-
sentando os 14 concelhos do dis-
trito e alguns convidados, foi feito o
balanço de 2011 pela Comissão
Política Distrital e apresentou-se o
Plano de Acção para 2012 e as
novas medidas a implementar no
distrito. De salientar as principais,
relacionadas com o combate ao
desemprego, medidas essas já em
execução no munícipio de Fama-
licão através de uma proposta da
Juventude Popular, e também
medidas de aumento da estrutura
nos concelhos do distrito de Braga.
De seguida, o programa continuou
com uma acção de Formação
licão através de uma proposta da
Juventude Popular, e também
medidas de aumento da estrutura
nos concelhos do distrito de Braga.
De seguida, o programa continuou
com uma acção de Formação Polí-
tica que incidiu sobre a estrutura da
JP e novos meios de comunicação
política.
Ao fim da tarde, um workshop
dinâmico “Gerador de Ideias” foi a
actividade escolhida, no qual a
participação de todos enriqueceu
bastante os planos de acção das
concelhias.
Para encerrar o Conselho Distrital,
os participantes assitiram a um
debate com o tema: “O Turismo no
Minho: Estratégias de Integração
Económica” com a Presença do Dr.
José Pires, Presidente da Associação
Gerês Viver Turismo e do Deputado
da Assembleia da República e
Presidente da Distrital de Braga do
CDS/PP, Eng. Altino Bessa, que
encerrou o Conselho Distrital
salientando o orgulho que é no
distrito de Braga haver uma equipa
dinâmica, popular, cheia de valor e
força e que com o exemplo de
trabalho contribuem imenso para o
notícias 5
Depois de mais de uma década
sem estrutura eleita no concelho
de Chaves, a Juventude Popular
(JP), está de volta ao activo! Salas
cheias para aquela que foi a sua
primeira actividade, enquanto
estrutura eleita. A “Jornada Popular”
decorreu no passado dia 14 de Abril e
contou com uma sessão de formação
política e com o jantar de tomada de
posse dos órgãos concelhios,
altamente participado.
A formação política esteve a cargo do
deputado da Nação e ex-Presidente
da Comissão Política Nacional da
Juventude Popular, Michael Seufert
que, perante o grande número de
novos militantes desta concelhia, teve
a preocupação de, num primeiro
momento, fazer uma retrospectiva da
história da JP e do CDS explicando a
génese do partido e o seu posicio-
namento no espectro político de
então. Foi ainda explanada a matriz
ideológica da JP e do CDS, bem como,
os pilares em que se sustentam.
Michael Seufert debruçou-se ainda
sobre os presidentes, as suas
características e peculiaridades que
indubitavelmente deixaram a sua
marca na história do partido, tendo
contribuído naturalmente para a
construção do CDS de hoje.
O entusiasmo manifestado pelo
grande número de novos militantes
foi especialmente notado por Michael
Seufert que, desafiou e alimentou o
debate e troca de ideias entre os
presentes.
A formação dos militantes é um
desígnio primeiro no distrito de Vila
Real que, tem ainda, naturalmente,
preocupação com a implantação e
com o apoio ao associativismo
estudantil.
Com a actividade e dinamismo das
concelhias, de que se destacam Vila
sobre os presidentes, as suas
características e peculiaridades que
indubitavelmente deixaram a sua
marca na história do partido, tendo
contribuído naturalmente para a
construção do CDS de hoje.
O entusiasmo manifestado pelo
grande número de novos militantes
foi especialmente notado por Michael
Seufert que, desafiou e alimentou o
debate e troca de ideias entre os
presentes.
A formação dos militantes é um
desígnio primeiro no distrito de Vila
Real que, tem ainda, naturalmente,
preocupação com a implantação e
com o apoio ao associativismo
estudantil.
Com a actividade e dinamismo das
concelhias, de que se destacam Vila
Real e Chaves por estarem entre as 4
maiores do país, o distrito de Vila
Real aposta no esforço, dedicação e
método dos dirigentes concelhios
para, em breve, operacionalizar a sua
estrutura distrital.
André Correia
Juventude Popular de
Chaves cresce apostando
na formação política
encerrou o Conselho Distrital Sali-
entando o orgulho que é no distrito
de Braga haver uma equipa
dinâmica, popular, cheia de valor e
força e que com o exemplo de
trabalho contribuem imenso para o
crescimento do CDS.
De acrescentar que a noite
continuou com o jantar de Tomada
de Posse da JP Terras de Bouro no
Restaurante do Hotel Águas do
Gerês, que acolheu os participantes.
Houve ainda tempo no 2º dia deste
Conselho Distrital para uma acti-
vidade radical organizada pela
Distrital de Braga, constituida por
trilhos de arborismo, slide e rapel.
O próximo Conselho Distrital será
em meados de Novembro, para o
qual a Distrital de Braga aproveita
desde já para convidar toda a
estrura para um espaço de
intervenção política aliado a muita
alegria e boa disposição.
Sérgio Lopes
Foi no passado dia 31 de Março de
2012 que a Distrital do Porto da
Juventude Popular organizou o II
Conselho Distrital, sobe o lema
“somos pela autonomia”. O Conselho
Distrital realizou-se no auditório da
Junta de Freguesia da Senhora da
Hora, em Matosinhos.
Tal como o tema indica e sugere, este
Conselho Distrital focou-se fun-
damentalmente em promover o
debate sobre o futuro das infra-
estruturas da Região Norte, tema de
fulcral importância para esta
Comissão Política Distrital. Os
trabalhos iniciaram-se com um
debate entre a deputada da
Juventude Popular, Vera Rodrigues, e
o dirigente distrital da Juventude
Socialista, Tiago Barbosa Ribeiro.
Durante o debate, que durou largos
minutos, as posições e as opiniões
expressas pelos dois oradores foram
coincidentes no que diz respeito à
necessidade e à importância de
garantir a autonomia para a Região
Norte no que diz respeito à gestão de
infra-estruturas como o Porto de
Leixões e o Aeroporto Francisco Sá
Carneiro, contrariando o centralismo
asfixiante que o Estado
sistematicamente teima em impor.
As posições divergiram no que diz
respeito à forma em como deve ser
feita essa gestão: Vera Rodrigues, tal
como a Distrital do Porto, defende a
privatização das infra-estruturas,
mas nunca em pacote. Já a Juventude
Socialista não concorda com a
privatização das infra-estruturas e
defende que as mesmas sejam
mantidas sobre a responsabilidade
do Estado. A JP defende que a
privatização em pacote destas infra-
estruturas apenas iria servir para
coincidentes no que diz respeito à
necessidade e à importância de
garantir a autonomia para a Região
Norte no que diz respeito à gestão de
infra-estruturas como o Porto de
Leixões e o Aeroporto Francisco Sá
Carneiro, contrariando o centralismo
asfixiante que o Estado sistema-
ticamente teima em impor. As
posições divergiram no que diz
respeito à forma em como deve ser
feita essa gestão: Vera Rodrigues, tal
como a Distrital do Porto, defende a
privatização das infra-estruturas,
mas nunca em pacote. Já a Juventude
Socialista não concorda com a
privatização das infra-estruturas e
defende que as mesmas sejam
mantidas sobre a responsabilidade
do Estado. A JP defende que a
privatização em pacote destas infra-
estruturas apenas iria servir para
mascarar o fraco desempenho das
restantes infra-estruturas nacionais,
à custa do excelente desempenho das
infra-estruturas regionais e acabar
por “matar” a concorrência que a JP
defende dever existir, tanto no sector
portuário, como sector
aeroportuário.
Findo o debate, seguiram-se os
restantes pontos da Ordem de
Trabalhos que abordou temas como
as alterações estatutárias produzidas
no Congresso Nacional, a
implantação da JP no Distrito, as
Eleições Autárquicas de 2013, e
Tomada de Posse dos Órgãos
Concelhios da Juventude Popular de
Matosinhos.
No Conselho Distrital, para além da
presença de militantes e dirigentes
de várias concelhias do Distrito,
salienta-se a presença do Presidente
da Comissão Política Nacional da
restantes infra-estruturas nacionais,
à custa do excelente desempenho das
infra-estruturas regionais e acabar
por “matar” a concorrência que a JP
defende, tanto no sector portuário,
como sector aeropor-tuário.
Findo o debate, seguiram-se os
restantes pontos da Ordem de
Trabalhos que abordou temas como
as alterações estatutárias produzidas
no Congresso Nacional, a implan-
tação da JP no Distrito, as Eleições
Autárquicas de 2013, e Tomada de
Posse dos Órgãos Concelhios da
Juventude Popular de Matosinhos.
No Conselho Distrital, para além da
presença de militantes e dirigentes
de várias concelhias do Distrito,
salienta-se a presença do Presidente
da Comissão Política Nacional da
Juventude Popular, Miguel Pires da
Silva.
Pedro Carvalho
Debate sobre a autonomia do Porto de Leixões em foco no Conselho Distrital do Porto
6 notícias
No passado fim-de-semana de 24
e 25 de Março. decorreu na
cidade italiana de Nápoles o 24º
Congresso do DEMYC - Democrat
Youth Community of Europe -, uma
organização que reúne as mais
diversas organizações partidárias
de juventude da Europa. Nesse
congress, o Presidente da Juventude
Popular, Miguel Pires da Silva, foi
eleito Vice-Presidente da orga-
nização. A apresentação da candi-
datura esteve a cargo do deputado e
ex-Presidente da Juventude Popular,
Michael Seufert, e foi fruto também
do trabalho que a Carolina Thiede,
responsável pela actividade
internacional da Juventude Popular
nos últimos anos, foi realizando
nesta organização europeia,
construindo o caminho para que
Michael Seufert, e foi fruto também
do trabalho que a Carolina Thiede,
responsável pela actividade
internacional da Juventude Popular
nos últimos anos, foi realizando
nesta organização europeia, cons-
truindo o caminho para que esta
eleição fosse possível. Com
esta eleição a JP vê reconhecido o
seu trabalho e a competência dos
seus elementos, e recebe um voto de
confiança de mais uma organização
internacional.
Tiago Loureiro
Miguel Pires da Silva eleito vice-presidente do DEMYC
No passado dia 27 de Abril, a JP
Tomar realizou no Anfiteatro do
Instituto Politécnico de Tomar a
cerimónia da Tomada de Posse
dos Núcleos de Estudantes
Populares (NEP) da Escola de
Santa Maria do Olival e do Instituto
Politécnico de Tomar. Com a
criação destas estruturas a JP
Tomar evidencia mais uma vez a
enorme preocupação com a
qualidade de ensino local e a
intenção de criar condições para
que os jovens se fixem neste
Concelho, com o intuito de dotá-lo
de um dinamismo que só a
juventude poderá oferecer.
De forma a que estas intenções se
materializem ambos os NEP’s terão
como principais objectivos a defesa
dos direitos dos estudantes e
funcionar como um elo de ligação
entre o Gabinete de Educação da JP
e os jovens das respectivas
instituições.
Nota de destaque ainda para o
convidado de honra, o deputado da
Assembleia da República Michael
Seufert do CDS-PP, que esclareceu
uma plateia de cerca de meia
centena de jovens sobre Políticas
de Educação.
João Ribeiro
JP Tomar reforça
a sua presença
através da criação
de dois núcleos de
estudantes
notícias 7
8 notícias
No mês de Março, a Juventude
Popular de Coimbra realizou a
terceira edição do ciclo de
“mesas redondas”, desta vez
subordinada ao tema “9 meses
de Governo: que balanço?”. A
concelhia conimbricense contou
com a presença dos deputados da
Juventude Popular, Vera Rodri-
gues e Michael Seufert.
Mais uma vez a sala encheu-se de
militantes, convidados e amigos,
entre estes o deputado do CDS à
Assembleia da República eleito
pelo círculo eleitoral de Coimbra,
João Serpa Oliva, para ouvir falar
os dois oradores convidados.
Esta foi a terceira iniciativa de um
evento que a Juventude Popular de
Coimbra pretende que se continue
a realizar, sempre com diferentes
convidados e temas que marquem
a actualidade política.
Lúcia Santos
JP Coimbra debateu nove meses de Governo com a presença dos deputados JP
A propósito de mais um
aniversário de nascimento de
Adelino Amaro da Costa, no
passado dia 18 de Abril, o
Gabinete de Estudos Gonçalo
Begonha promoveu uma home-
nagem ao fundador do CDS e figura
inspiradora da Juventude Popular.
Ao longo de três dias, foram
divulgadas informações sobre a vida
de Adelino Amaro da Costa através
de dois vídeos – o primeiro relatava
de forma sucinta alguns dos
episódios mais marcantes da sua
vida privada e o segundo abordava
os acontecimentos mais relevantes
da sua actividade política – e de um
caderno biográfico mais pormeno-
rizado e que não deixou de fora
nenhum detalhe sobre a vida de
uma das figuras mais significativas
da vida política do Portugal
democrático.
rizado e que não deixou de fora
nenhum detalhe sobre a vida de
uma das figuras mais significativas
da vida política do Portugal
democrático.
As três partes do documentário
“Adelino, Corpo e Alma” podem ser
encontrados no website oficial e na
página de Facebook do Gabinete de
Estudos Gonçalo Begonha.
É intenção do Gabinete de Estudos
Gonçalo Begonha continuar com
este tipo de iniciativas de home-
nagem a grandes figuras nacionais,
com especial relevância para aque-
las que desenvolveram a sua acti-
vidade no interior do CDS ou da JP.
Tiago Loureiro
GEGB promove homenagem a Adelino Amaro da Costa
Palavra de Presidente
queremos um futuro diferente, um futuro
que nos traga esperança e confiança!
O desafio que vos lanço é o da superação nas
tarefas diárias. E bem pode ser dado como
exemplo este “popcom” em que agora
escrevo. Exemplo de vontade de dar
contributo com propostas e divulgação de
opinião que pode, e estou certo que poderá,
ser bastante útil para ajudar a traçar um
caminho alternativo à crise a que o anterior
Governo nos condenou!
Conforta-me e sinceramente envaidece,
saber que lidero um Juventude que responde
sempre presente face às adversidades e
contratempos. Não posso assim deixar de
acreditar que esta geração vai estar à altura
deste enorme desafio e vai ser bem
sucedida!.
aros leitores,
Permitam-me, em primeiro lugar,
uma saudação especial a toda a equipa
que colabora na edição deste jornal! Este é
sem dúvida um contributo valioso para todos
os jovens que querem pensar o futuro de
Portugal. Aqui são expressas as mais diversas
opiniões sobre a actualidade e não só,
opiniões expressas de uma forma livre e
completamente solta, mas sem nunca
esquecer a responsabilidade que esta
intrinsecamente associada a todos os
militantes da Juventude Popular.
Vivemos hoje dias difíceis, dias esses que são
fruto de toda uma conjuntura internacional
que nos afecta de uma forma drástica, mas
acima de tudo uma consequência de falta de
orientação e competência do anterior governo
que não soube agir na altura certa, e tudo fez
para camuflar uma situação inevitável e
insustentável, iludindo o povo Português da
realidade.
Cabe-nos a nós, CDS e Juventude Popular, a
difícil, mas não impossível tarefa de ajudar a
salvar Portugal! E é nesse sentido que eu vos
dirijo esta mensagem, porque somos jovens,
porque queremos mais e acima de tudo
queremos um futuro diferente, um futuro que
nos traga esperança e confiança!
O desafio que vos lanço é o da superação nas
tarefas diárias. E bem pode ser dado como
exemplo este “popcom” em que agora escrevo.
Exemplo de vontade de dar contributo com
C
Miguel Pires da Silva
notícias 9
Rafael Borges
ncravada entre a República
da Guiné (Guiné-Conacri) e o
Senegal, a Guiné-Bissau não
é, ao contrário de outras nações
africanas, como Angola ou Moçam-
bique, um país de contrastes. Da
pobreza abjecta de Ziguinchor,
Bafatá ou Cacheu à igualmente
abjecta pobreza da capital, Bissau,
as disparidades não são grandes.
Entre a monotonia dos golpes
constantes, que se sucedem de ano a
ano e de mês a mês, e a inexistência
permanente de um Estado organi-
zado capaz de garantir aos seus
cidadãos o direito à segurança e à
justiça, a pequena República da
Guiné-Bissau voltou a surpreender
o mundo quando, a 18 de Abril, se
soube de um novo golpe de Estado
e, com ele, de uma nova violação da
legalidade democrática e
constitucional no país.
Justificando as suas acções com a
pretensa existência de um tratado
soube de um novo golpe de Estado
e, com ele, de uma nova violação da
legalidade democrática e constitu-
cional no país.
Justificando as suas acções com a
pretensa existência de um tratado
assinado, dizem, pelo primeiro-
ministro e candidato presidencial
José Gomes Júnior e a Angola de José
Eduardo dos Santos, de acordo com
o qual a capacidade das forças
militares da Guiné-Bissau de
defender a independência do país
ficaria comprometida, os militares
interromperam o processo eleitoral
e tomaram o poder. Entretanto, o
Presidente da República, o ainda PM
e parte significativa do Governo
guineense foram capturados e
presos em condições de que ainda
se sabe pouco mas que, conhecendo
o estilo comum dos golpes afri-
canos, dificilmente terão sido as
melhores. E, se o verdadeiro motivo
do golpe de estado parece ter sido
presença de um corpo militar
angolano de qualquer coisa como
200 militares – sim, apenas 200 -, o
Missang, também é verdade que, até
agora, nenhum dos golpistas ou dos
seus apoiantes se dignou a provar –
presença de um corpo militar
angolano de qualquer coisa como
200 militares – sim, apenas 200 -, o
Missang, também é verdade que, até
agora, nenhum dos golpistas ou dos
seus apoiantes se dignou a provar –
ou, sequer, a dar-se ao trabalho de o
tentar – a efectiva existência de um
acordo entre as autoridades guine-
enses agora depostas e o governo
angolano que pudesse, de alguma
forma, pôr em causa a soberania da
Guiné enquanto Estado autónomo.
Depois do golpe, e com Portugal, a
antiga potência colonizadora, a
assumir-se como principal opositor
ao golpe e a anunciar, inclusi-
vamente, o envio de meios militares
significativos para a região, porém,
os rebeldes começaram a ver-se na
necessidade de negociar. Disso ou
de o aparentar: com a presumível
oposição de uma maioria signifi-
cativa dos guineenses, o posici-
onamento de Portugal na vanguarda
da condenação internacional da
tentativa revolucionária e a posição
categórica, uniforme, por parte dos
países da Comunidade dos Países de
Língua Portuguesa em agir contra
os revoltosos, o Comando Militar viu
E
De Estado falhado a golpe vitorioso: a tragédia guineense
12 internacional
internacional 13
Seguindo uma triste rotina, o povo
guineense enfrenta mais um desafio à
viabilidade da sua democracia.
da condenação internacional da
tentativa revolucionária e a posição
categórica, uniforme, por parte dos
países da Comunidade dos Países de
Língua Portuguesa em agir contra
os revoltosos, o Comando Militar viu
a sua estratégia de acção
profundamente limitada. Com uma
raison d’être pouco credível e um
modus operandi ainda mais
questionável, o verdadeiro
catalisador do levantamento
dificilmente poderia ter-se tornado
mais claro: foi o medo da perda de
influência e a notória – e, já agora,
crescente – falta de paciência do
guineense médio com uma
preponderância dos militares na
vida política que já dura desde a
independência do país, em 1974.
Quando conquistou a indepen-
dência, em 1974, a Guiné-Bissau era
já um país potencialmente proble-
mático. Após a morte, em Conacri,
do líder histórico do PAIGC, o luso-
entusiasta Amílcar Cabral, às mãos
de um grupo de dissidentes da
organização, as intrigas e
rivalidades inter-tribais passaram a
desempenhar um papel central na
vida do partido e, com a saída dos
portugueses do território, do novo
país.
Depois da independência, o irmão
de Amílcar e primeiro presidente da
Guiné independente, Luís Cabral,
liderou o país rumo a uma
experiência socialista falhada – e de
dramáticas implicações para o povo
guineense. A Guiné, que, ainda com
os portugueses, tinha chegado à
categoria de ser um dos territórios
africanos em maior expansão
económica, caiu rapidamente no
abismo da indigência, da fome e da
miséria – isso à medida que os
de um grupo de dissidentes da
organização, as intrigas e rivali-
dades inter-tribais passaram a
desempenhar um papel central na
vida do partido e, com a saída dos
portugueses do território, do novo
país.
Depois da independência, o irmão
de Amílcar e primeiro presidente da
Guiné independente, Luís Cabral,
liderou o país rumo a uma expe-
riência socialista falhada – e de
dramáticas implicações para o povo
guineense. A Guiné, que, ainda com
os portugueses, tinha chegado à
categoria de ser um dos territórios
africanos em maior expansão
económica, caiu rapidamente no
abismo da indigência, da fome e da
miséria – isso à medida que os
grandiosos projectos de
industrialização do país do governo
comunista falhavam, um atrás do
outro. Cumere, a tentativa de
construir, na Guiné-Bissau, um
imenso complexo industrial, é bom
exemplo do insucesso estratégico
que atirou a pequena república
africana para a categoria de estado
falhado. O destino da Guiné
enquanto país e a inevitabilidade do
seu colapso, porém, só se tornaram
óbvios a partir do golpe de militares
revoltosos - e da guerra civil que se
lhe seguiu - contra o, na altura,
presidente Nino Vieira.
Regressado ao poder depois da sua
vitória nas Presidenciais de 2005,
Nino, um ex-guerrilheiro do PAIGC,
tenta devolver alguma estabilidade
ao país. O seu assassinato, todavia,
pôs definitivamente a Guiné rumo à
circunstância que hoje vive. Morto o
único homem capaz de unir
verdadeiramente os guineenses
num projecto comum de
(re)construção nacional, Bissau vê-
se esvaziada de um poder político
unificador ou, pelo menos,
apaziguador, apenas para voltar ao
miséria – isso à medida que os
grandiosos projectos de industri-
alização do país do governo
comunista falhavam, um atrás do
outro. Cumere, a tentativa de
construir, na Guiné-Bissau, um
imenso complexo industrial, é bom
exemplo do insucesso estratégico
que atirou a pequena república
africana para a categoria de estado
falhado. O destino da Guiné
enquanto país e a inevitabilidade do
seu colapso, porém, só se tornaram
óbvios a partir do golpe de militares
revoltosos - e da guerra civil que se
lhe seguiu - contra o, na altura,
presidente Nino Vieira.
Regressado ao poder depois da sua
vitória nas Presidenciais de 2005,
14 internacional
óbvios a partir do golpe de militares
revoltosos - e da guerra civil que se
lhe seguiu - contra o, na altura,
presidente Nino Vieira.
Regressado ao poder depois da sua
vitória nas Presidenciais de 2005,
Nino, um ex-guerrilheiro do PAIGC,
tenta devolver alguma estabilidade
ao país. O seu assassinato, todavia,
pôs definitivamente a Guiné rumo à
circunstância que hoje vive. Morto o
único homem capaz de unir
verdadeiramente os guineenses
num projecto comum de (re)cons-
trução nacional, Bissau vê-se
esvaziada de um poder político
unificador ou, pelo menos,
apaziguador, apenas para voltar ao
que já tinha vivido nos anos 90 –
uma situação espelhada e simb-
olizada pelo estado de ruína em que
caiu a própria sede do poder
político, o Palácio Presidencial. Para
substituir Nino Vieira na chefia de
estado, os guineenses optaram por
mais uma personalidade ligada ao
PAIGC: Malam Bacai Sanhá. Sanhá,
um moderado que já antes havia
sido crítico tanto de Vieira como dos
que se lhe opunham, porém,
também não pôde concluir o seu
mandato. Foi a sua morte que
catapultou aquela que era uma
situação já de si problemática para
uma de puro e duro levantamento
militar, desafio à comunidade inter-
nacional e desrespeito pela lei
constitucional vigente.
O golpe deu-se no passado dia 12 de
Abril. Denunciado por fogo pesado
de morteiros e de armas auto-
máticas no centro da capital do país,
Bissau, rapidamente começaram a
chegar notícias ao exterior. De
acordo com as primeiras
informações que saíram de Bissau,
tanto o Primeiro-ministro e
candidato presidencial do PAIGC
Carlos Gomes Júnior como o
presidente interino do país,
para evitar a captura. Ao mesmo
tempo, o ministro guineense dos
negócios estrangeiros, que se
encontrava, por altura do golpe, em
Nova Iorque, seguiu para Lisboa
onde se juntou ao MNE português.
Quando, em plena campanha elei-
toral, se tornou evidente que a com-
fusão nas ruas de Bissau se devia a
mais um coup d’état, Portugal não
hesitou em assumir a vanguarda da
reacção internacional. Condenando
(mais uma) violação flagrante da lei
fundamental do país e exigindo a
reposição de legalidade demo-
crática, Lisboa chegou a enviar para
o país uma task force composta for
alguns aviões da Força Aérea
Portuguesa, vários navios da
Marinha e qualquer coisa como 200
soldados. A força, embora de
acordo com as primeiras
informações que saíram de Bissau,
tanto o Primeiro-ministro e cândi-
dato presidencial do PAIGC Carlos
Gomes Júnior como o presidente
interino do país, Raimundo Pereira,
se encontravam ou detidos pelos
militares revoltosos ou mortos.
Pouco depois, os autores do golpe
militar, assumiam os seus motivos e
objectivos: expulsar a missão militar
angolana, Missang, do país, inter-
romper o acto eleitoral e preparar
um período de transição durante o
qual o poder seria detido,
essencialmente, por eles. Quanto ao
governo, foi, na sua maioria, ou
capturado ou forçado a esconder-se
para evitar a captura. Ao mesmo
tempo, o ministro guineense dos
negócios estrangeiros, que se
encontrava, por altura do golpe, em
Nova Iorque, seguiu para Lisboa
onde se juntou ao MNE português.
internacional 15
sabilidade de agir com uma coesão
que, por não ter havido ocasião para
isso, ainda não conhecia. Essa coesão,
essa unidade cujo aprofundamento
se apresenta como um desígnio
estratégico de Portugal, faz da actual
crise em Bissau um ponto de relevo
ou, mais que isso, de viragem, nas
normalmente insípidas relações
entre as nações da Portugalidade.
Esse aspecto, talvez o mais impor-
tante do coup guineense, tem, porém,
tanto de oportunidade como desafio.
Mas é precisamente a sua compo-
nente de possibilidade de acção, que,
por poder, como sugerem alguns
países, desbravar caminho para a
formação de uma força lusófona de
paz, deve ser vista com atenção por
Portugal e, em especial, pelo chefe da
sua diplomacia.
Ao mesmo tempo, a presente
circunstância da república guineense
não parece oferecer grandes
possibilidades de um
desenvolvimento pacífico que
conduza à restauração do Estado de
Direito – disso ou, pelo menos,
daquilo de mais próximo que dele
exista. De facto, embora Portugal
pudesse, juntamente com o Brasil,
ensaiar uma acção de cariz
eminentemente militar que se
dispusesse a repor a ordem
constitucional no país, a verdade é
que nenhum dos países tem efectiva
capacidade militar para isso. Na
melhor das hipóteses, Portugal
poderia tentar a evacuação de
algumas centenas de Portugueses
residentes no país africano – mais
que isso seria praticamente
impossível com os meios de que
Portugal dispõe. Assim sendo,
enquanto o autoproclamado
Comando Militar mantiver o apoio da
maioria dos efectivos das forças
armadas guineenses, não haverá
hipótese de um desfecho que
conduza a uma normalização da
crática, Lisboa chegou a enviar para
o país uma task force composta for
alguns aviões da Força Aérea
Portuguesa, vários navios da Mari-
nha e qualquer coisa como 200
soldados. A força, embora de
pequeno valor militar, deveria servir
para auxiliar na evacuação dos quase
6000 cidadãos portugueses resi-
dentes na Guiné-Bissau se uma
profunda alteração de circunstâncias
a isso obrigasse. E, embora isso não
tenha, de facto, acontecido, uma
coisa é certa: a unidade do mundo
lusófono consubstanciado na Comu-
nidade dos Países de Língua
Portuguesa, liderado por Portugal,
fez da organização algo que não era
há muito tempo: um grupo de países
com uma agenda comum. O golpe de
estado num dos seus estados-
membros obrigou a CPLP a apre-
sentar-se ao mundo como um bloco
sólido sem ser monolítico, seguro
sem saudosismos, unido sem
imposições. A incerteza na Guiné-
Bissau atirou para a CPLP a respon-
sabilidade de agir com uma coesão
que, por não ter havido ocasião para
isso, ainda não conhecia. Essa coesão,
essa unidade cujo aprofundamento
se apresenta como um desígnio
estratégico de Portugal, faz da actual
crise em Bissau um ponto de relevo
ou, mais que isso, de viragem, nas
normalmente insípidas relações
entre as nações da Portugalidade.
Esse aspecto, talvez o mais
importante do coup guineense, tem,
porém, tanto de oportunidade como
desafio. Mas é precisamente a sua
componente de possibilidade de
acção, que, por poder, como sugerem
alguns países, desbravar caminho
para a formação de uma força
lusófona de paz, deve ser vista com
atenção por Portugal e, em especial,
pelo chefe da sua diplomacia.
Ao mesmo tempo, a presente
circunstância da república guineense
países, desbravar caminho para a
formação de uma força lusófona de
paz, deve ser vista com atenção por
Portugal e, em especial, pelo chefe da
sua diplomacia.
Ao mesmo tempo, a presente
circunstância da república guineense
não parece oferecer grandes possi-
bilidades de um desenvolvimento
pacífico que conduza à restauração
do Estado de Direito – disso ou, pelo
menos, daquilo de mais próximo que
dele exista. De facto, embora Portu-
gal pudesse, juntamente com o
Brasil, ensaiar uma acção de cariz
eminentemente militar que se dispu-
sesse a repor a ordem constitucional
no país, a verdade é que nenhum dos
países tem efectiva capacidade
militar para isso. Na melhor das
hipóteses, Portugal poderia tentar a
evacuação de algumas centenas de
Portugueses residentes no país
africano – mais que isso seria
praticamente impossível com os
meios de que Portugal dispõe. Assim
sendo, enquanto o autoproclamado
Comando Militar mantiver o apoio da
maioria dos efectivos das forças
armadas guineenses, não haverá
hipótese de um desfecho que
conduza a uma normalização da
situação política no país. E isso,
infelizmente, com ou sem pressão do
mundo lusófono.
sesse a repor a ordem constitucional
no país, a verdade é que nenhum dos
países tem efectiva capacidade militar
para isso. Na melhor das hipóteses,
Portugal poderia tentar a evacuação
de algumas centenas de Portugueses
residentes no país africano – mais que
isso seria praticamente impossível
com os meios de que Portugal dispõe.
Assim sendo, enquanto o
autoproclamado Comando Militar
mantiver o apoio da maioria dos
efectivos das forças armadas
guineenses, não haverá hipótese de
um desfecho que conduza a uma
normalização da situação política no
país. E isso, infelizmente, com ou sem
pressão do mundo lusófono.
16 internacional
Sinais
18 opinião
vindo a verificar, como o dos passes dos transportes
públicos.
Obviamente que o que interessará analisar, muito para além
dos vícios que rodeiam toda a montagem de esta e de outras
notícias e muito para além do significado que dois euros e
meio por mês poderá ter no sacrifício de contenção de
despesa do comum estudante universitário, interessará
constatar o claro sinal deixado pelas opiniões dos estudantes.
Focando aí a análise, é desde logo fácil perceber que o valor
aparentemente supremo da redistribuição de riqueza por
forma coerciva - insofismável e dogmaticamente inscrito em
linhas douradas na Constituição - só é apreciável quando
imperceptível, só é tolerado quando camuflado, só é elogiado
quando feito, supostamente, à custa de outros.
Trespassa então que para o comum dos jovens universitários
e também para alguma comunicação social, a redistribuição
é, afinal, algo com carácter perverso quando faz ricochete.
Num contexto de moldura fiscal pesada e, essa sim, inibidora
de crescimento real, este é um sinal ao qual se deve prestar
futura atenção.
Outros sinais, porventura mais sérios, desde logo pela sua
teimosa persistência no espectro das preocupações
observáveis, surgem com as notícias das gestões danosas em
projectos dependentes de alguma forma do Estado. A recente
polémica relativa à Parque Escolar e as sórdidas declarações
de antigas titulares da pasta da Educação são, neste aspecto,
apenas mais um capítulo desta longa saga.
De facto, com os limites da paciência cívica constantemente
postos à prova, uma certa elite política parece focada em
testar o limite dos mesmos, aparentemente segura que está -
e com razões históricas para o estar - da inconsequência legal
de gestões descuidadas que, quando levadas à barra da
justiça, condenadas estão a se perderem por entre meandros
burocráticos coincidentemente sempre favoráveis aos
mesmos. Desta forma, sempre que escândalos de corrupção e
gestão danosa de dinheiro público vêm à superfície,
imediatamente são tratados por esta mesma elite como
tricas políticas, campanhas de difamação ou politização da
justiça. Paralelamente, a elite não se vai inibindo de, em todas
as campanhas eleitorais, clamar por reformas na mesma
justiça que parasiticamente infesta e influencia. Depois de
eleições, infelizmente, as reformas costumam ser as do
costume: de maquilhagem. A desconfiança intrínseca da
população no seu próprio sistema judicial adensa-se e
or entre casos politiqueiros recorrentes, que de
pouco ou nada interessam à definição, premente,
do futuro da nação, paira a inquietante sensação de
que, nesta secular leitura e escrita da nossa história, nos
temos, nas últimas décadas, perdido com notas de rodapé.
É certo que toda a dinâmica comercial dos media, aliada a
uma lógica de consumo sequioso pelo espectacular, pelo
imediato e pelo acessório, claramente associada a uma
ampla maioria da sociedade actual, contribui em larga
escala para este estado de espírito. No seu seguimento, os
políticos vêm-se obrigados a se adaptarem a estas regras
do jogo mediático, dependentes que estão dos media e do
que os mesmos entendem como matéria transmissível,
obedecendo ao que se considera que o público geral
quererá ver, ouvir e ler.
É numa conjuntura destas que nos compete tentar travar,
de uma forma realista, este ímpeto quase irresistível e ir
tomando conta de pequenos sinais que vão trespassando
da espuma das manchetes.
Um destes sinais chegou recentemente a propósito de
uma decisão dos reitores das universidades portuguesas
em aumentar as propinas em trinta euros para financiar o
fundo de apoio a estudantes necessitados. Na entrevista de
rua feita a estudantes universitários da zona de Lisboa,
pedindo impressões dos mesmos sobre esta decisão,
invariavelmente a pergunta foi conduzida de uma forma
hábil para o sempre tentador "soundbyte", tentando fazer
passar como ponto assente que os trinta euros em causa
irão fazer ainda mais estudantes desistir do ensino
superior por incapacidade de comportarem esse valor. No
estilo já conhecido e descrito, numa das entrevistas é o
próprio jornalista a acrescentar, em forma de sugestão, à
resposta da estudante, que esse aumento deverá ser
enquadrado no contexto de outros aumentos que se têm
vindo a verificar, como o dos passes dos transportes
públicos.
Obviamente que o que interessará analisar, muito para
além dos vícios que rodeiam toda a montagem de esta e de
P
Luís Pedro Mateus
justiça que parasiticamente infesta e influencia. Depois
de eleições, infelizmente, as reformas costumam ser as
do costume: de maquilhagem. A desconfiança intrínseca
da população no seu próprio sistema judicial adensa-se e
prossegue, ilesa, minando todo o regime político.
O clima de desconfiança consegue ser ainda mais
adensado quando se assiste, de forma recorrente, ao
curioso ressurgimento do dever de perscrutar que certas
instituições têm apenas depois de mudado o ciclo
político, provando que, de facto, os mecanismos de
regulação e prevenção só se activam - e perdoe-se a
vulgaridade da imagem - depois da borrada estar feita e
os borrões terem saído dos quartos de banho públicos.
Se o contexto pré-crise (ou de crise anterior à crise
actual) já era preocupante, no que toca aos sinais da
saúde de uma democracia - desde logo pelas taxas de
abstenção reflectoras da indiferença e descrença geral
dos cidadãos na política e nos políticos - no contexto
actual de crise aguda, onde o populismo e a demagogia
são tentação de muita gente desesperada facilmente
instrumentalizada por radicalismos, os tempos não
recomendam que as elites continuem a contar, ad
eternum, com o desinteresse passivo da maioria.
Se esse mesmo desinteresse se tem
revelado historicamente proveitoso a algumas
manigâncias, não é de ignorar que é sempre ele que
acaba por mais cedo ou mais tarde legitimar, na sua
passividade, devaneios de amanhãs que cantam.
Os sinais gregos, neste aspecto concreto, servem de aviso
à navegação no que toca a importância fulcral que
possuir um espectro político regrado e ciente de
responsabilidades assumidas constitui na estabilidade de
uma nação.
É, neste aspecto concreto, que os sinais de alguma
inconstância ocasionalmente acenados pelo Partido
Socialista assumem-se como focos de potencial
instabilidade que importa, de forma veemente, evitar. Da
parte dos partidos que suportam o governo, a tentação
de retirar fáceis dividendos políticos, extremando-se
posições, deve ser estancada com um sentido de
enquadramento de algumas intervenções da oposição, na
perspectiva de serem reflexo de uma redefinição de
projecto político de décadas, já impossível de executar -
por força da realidade - nos moldes que as palavras nos
discursos ainda propõem.
Ainda nesta linha, será importante enquadrar que,
independentemente dos partidos que coabitem o
espectro partidário nacional, praticamente todos os
intervenientes políticos e todos os quadrantes eleitorais
parecem ainda não ter abandonado a lógica da “cadeia de
comando” (abordada já muitas vezes pelo Professor
Adriano Moreira) tradicional e vigente na nação desde a
sua fundação. Nessa lógica, nos grandes conceitos
estratégicos nacionais, fomos do da independência para o
opinião 21
Adriano Moreira) tradicional e vigente na nação desde a
sua fundação. Nessa lógica, nos grandes conceitos
estratégicos nacionais, fomos do da independência para o
da reconquista. Do da reconquista para o do caminho para
a Índia e dele para o sonho de Marrocos, gorado,
juntamente com a soberania. Depois, a estratégia da
restauração, e do Brasil. Perdido esse, África. Este último
morre em 1974 e, depois dum breve período de
redefinição do alinhamento nacional na Europa e no
mundo, nasce a estratégia da plena integração Europeia,
alcançada em 1986. Depois, a concentração nacional para
o objectivo do Euro, também ele atingido.
Nesta dinâmica secular, ambos os lados do pêndulo se
acostumaram à praxis: governantes habituaram-se a
traçar grandes planos estratégicos nacionais e governados
habituaram-se a segui-los de forma exageradamente
distanciada e, não raramente, desinteressada. Aqui
mesmo residem, por um lado, sinais de recorrente
desorientação de políticos forçados a encarar a realidade
financeira que põe a nú a impossibilidade prática de
executar muitas das suas ideias, projectos e estratégias
centralizadas e, por outro lado, no que concerne os
governados, sentimentos latentes de falta de
representação ou de eficaz participação da sociedade civil
na coisa pública não têm estado na primeira linha do
debate político, o que muito tem contribuído na gradação
de alguns sinais que, se com atendimento eternamente
adiado, ameaçam tornar-se foco de uma instabilidade e
incerteza estrutural no sistema democrático.
Desde logo num panorama actual em que os próprios
conceitos de soberania nacional estão sujeitos a uma
constante redefinição, estes sinais de incerteza devem ser
objecto de análise profunda.
Quando passada mais uma de muitas tempestades na
longa história da nação, importará aproveitar a vitória do
alcance de outro grande objectivo nacional - que é o de
cumprir os acordos firmados e reconquistar a autonomia
financeira - para se lançarem novas bases de uma
lógica aparentemente desafiadora. Uma lógica de
“cadeia de comando” e de planos nacionais mais longe da
restrita esfera de influência das elites
governamentais, mais abrangente, mais nas mãos de cada
indivíduo e profundamente alicerçada nos seus próprios
anseios de realização e intrínseca compreensão da
interdependência entre o que o mesmo, como indivíduo,
providencia e recebe da sociedade e nação onde se insere,
e da mesma como garante final do seu direito à
persecução de um projecto de felicidade e sucesso
pessoal.
Que sinais poderiam trazer estas novas bases? Começar
por as pensar, já é um bom sinal.
Rafael Borges
aiu o decano dos líderes
carismáticos europeus. Com a
vitória, em França, do soci-
alista François Hollande, começou
em força o colapso da Europa
austeritária. Em apenas duas sema-
nas, a Alemanha perdeu 2 aliados – a
França e os Países Baixos - e um dos
países intervencionados pela troika
cujo destino mais pode afectar o
rumo da crise europeia: a Grécia.
Quando decidiu disputar um segu-
ndo mandato, Sarkozy sabia que
vencer a corrida presidencial não
seria tarefa fácil. Confrontado com
uma dívida pública crescente – o
homem forte da Direita gaulesa
aumentou a dívida pública em
qualquer coisa como 600 mil
milhões de Euros -, com uma fraca
recuperação económica, um
desemprego galopante e o falhanço
da maior parte das suas iniciativas
na política externa de Paris, o ex-
presidente francês iniciou a
milhões de Euros -, com uma fraca
recuperação económica, um desem-
prego galopante e o falhanço da
maior parte das suas iniciativas na
política externa de Paris, o ex-
presidente francês iniciou a
campanha como o mais odiado
chefe de estado da V República.
François Hollande, por outro lado,
um homem saído directamente da
retaguarda política do Parti Socia-
liste, apresentava-se como um
candidato fraco: mau orador, pouco
confiante e sem um historial gover-
nativo para apresentar ao povo
francês, Hollande dificilmente pode-
ria ter sido um adversário digno
para a UMP – não fosse o candidato
da UMP, precisamente, Sarkozy.
Ainda assim, a verdade é que o
agora ex-presidente francês conse-
guiu reduzir substancialmente a
vantagem do candidato socialista.
Com sondagens que chegaram a
dar-lhe uma vantagem de 12%
sobre Sarkozy, Hollande acabou por
vencer as Presidenciais com o apoio
de apenas 51.63% dos franceses.
Sarkozy, embora se tenha ficado
pelos 48.37% dos votos conseguiu,
ainda assim, alcançar um resultado
sobre Sarkozy, Hollande acabou por
vencer as Presidenciais com o apoio
de apenas 51.63% dos franceses.
Sarkozy, embora se tenha ficado
pelos 48.37% dos votos conseguiu,
ainda assim, alcançar um resultado
bem melhor que o que lhe davam as
sondagens.
Mas, se a única grande surpresa que
houve na segunda volta das eleições
presidenciais francesas foi mesmo a
derrota, ainda que não tão má como
o esperado, de Nicolas Sarkozy, a
primeira volta foi mais rica em
acontecimentos dignos de nota.
Vencendo as sondagens que a pu-
nham entre o terceiro e o quarto
lutar com uma percentagem de
votos que ia dos 12% aos 16%,
Marine Le Pen, a presidente da
Frente Nacional, foi, ao alcançar
17.9% dos votos, uma das grandes
vencedoras da noite leitoral de 22
de Abril. E essa vitória eleitoral,
essencial para o crescimento sus-
tentado de que a Front National tem
gozado nos últimos anos foi, ao
mesmo tempo, determinante para a
derrota do candidato da UMP. Por
se recusar a apoiar Sarkozy, Marine
Le Pen roubou-lhe qualquer coisa
C
Mudança de maré
22 epecial
Os recentes acontecimentos
ocorridos em França, na Holanda
e na Grécia ameaçam mudar o
rosto da Europa e trazer consigo
mudanças significativas.
especial 23
tentado de que a Front National tem
gozado nos últimos anos foi, ao
mesmo tempo, determinante para a
derrota do candidato da UMP. Por
se recusar a apoiar Sarkozy, Marine
Le Pen roubou-lhe qualquer coisa
como 6.5 milhões de votos – votos
esses que, se tivessem ido para o
candidato incumbente, poderiam
ter-lhe garantido a vitória. Porém, a
verdade é que Marine preferiu o
jogo político ao apoio a um presi-
dente em que disse não confiar. E
isso até se compreende bem: com a
derrota, e subsequente morte
política do homem que dirigiu a
França durante os últimos 5 anos, a
filha de Jean Marie Le Pen tem tudo
para apostar num colapso da Union
pour un mouvement populaire e, com
isso, na sua consagração como líder
indiscutida da Direita gaulesa já nas
legislativas de 10 e 17 de Junho
deste ano. Se conseguir isso, a líder
da Frente Nacional poderá dar ainda
mais força para impor a sua agenda
de recuperação da soberania
nacional do seu país e de oposição à
União Europeia enquanto bloco
federalizador.
Essa pode, aliás, ser a segunda parte
do pesadelo francês de Merkel.
Deixada sozinha numa Europa em
que cresce, cada vez mais, a
contestação contra a hegemonia
germânica, uma radicalização do
discurso antieuropeu em França
pode fazer de um ex-aliado um
inimigo declarado do rumo alemão
que a Europa tem tomado. Se tiver
sucesso na sua tentativa de se
tornar a verdadeira líder da opo-
sição ao novo presidente socialista
François Hollande, Marine Le Pen
pode bem obrigá-lo a assumir, ele
próprio, uma postura mais
independente da da Alemanha e,
com isso, destruir o único bloco que,
até agora, se soube organizar para
combater a crise do euro: o eixo
Resignação porque já todos tinham
percebido ser impossível deter o
terramoto eleitoral que abalou a
Grécia e, com ela, o resto do
continente europeu; surpresa por-
que ainda ninguém se sentia
preparado para o pior dos cenários.
É que, afinal, a Grécia não se limitou
a dar ao Centrão helénico – que, em
conjunto, caiu quase 45% - o pior
resultado da sua história. Fez mais:
retirou aos partidos pró-Troika – e,
de facto, pró-Euro – a maioria no
parlamento, maioria essa sem a qual
não é possível formar um governo
que lidere o país massacrado pela
crise da dívida.
Igualmente impressionante foi o
crescimento meteórico da esquerda
radical. O Syriza, uma coligação
pode bem obrigá-lo a assumir, ele
próprio, uma postura mais indepen-
dente da da Alemanha e, com isso,
destruir o único bloco que, até
agora, se soube organizar para
combater a crise do euro: o eixo
franco-alemão.
Entretanto, foi com um misto de
resignação e de surpresa que a
Europa ocidental recebeu os
resultados das Legislativas gregas.
Resignação porque já todos tinham
percebido ser impossível deter o
terramoto eleitoral que abalou a
Grécia e, com ela, o resto do
continente europeu; surpresa
porque ainda ninguém se sentia
24 especial
não é possível formar um governo
que lidere o país massacrado pela
crise da dívida.
Igualmente impressionante foi o
crescimento meteórico da esquerda
radical. O Syriza, uma coligação
formada por vários partidos gregos
de extrema-esquerda entre os quais
trotskistas, maoistas e comunistas
ortodoxos, subiu dos 4% que obteve
em 2009 para uns históricos
16.78%. De partido marginal na
cena política grega, a versão heléni-
ca do Bloco de Esquerda passou
para segunda força, tendo, inclusi-
vamente, chegado a ser convocado
pelo Presidente da República para a
formação de um governo maiori-
tário, logo após o falhanço dos
perdedores-vencedores do Nova
Democracia em formar um governo
de unidade nacional. É que, juntos,
os partidos de Antonis Samaras e
Evangelos Venizelos se ficam pelos
149 deputados – isto num
parlamento de 300. Para poderem
alcançar uma maioria absoluta, o
PASOK e o ND precisariam de 151
deputados. Mas, sem eles, e com as
forças opositoras ao Memorando de
ao MoU continuariam sem maioria
no parlamento. E isso porque, para
alcançarem uma maioria e, com isso,
formarem governo, precisariam
também do apoio dos neonazis da
Aurora Dourada, um partido famoso
na Grécia pelo radicalismo do seu
discurso e pelas incursões de
skinheads que organiza em bairros
de imigrantes – e ninguém está
disposto a isso.
Não tendo conseguido encontrar
terreno comum que permitisse a
formação de uma maioria, anti ou
pró-troika, o país encontra-se, como
antes, sem saída. Foi contra isso que
o presidente da república, Karolos
Papoulias, lutou, desesperadamente,
durante os 9 dias que duraram as
negociações para a formação de um
novo governo grego. Mas sem
sucesso: da possibilidade de uma
grande coligação que reunisse todos
os partidos presentes no parla-
mento – com a excepção do Aurora
Dourada - à ideia de um novo
executivo formado apenas por
tecnocratas independentes, nada
convenceu os líderes políticos
helénicos. Sem capacidade de
149 deputados – isto num
parlamento de 300. Para poderem
alcançar uma maioria absoluta, o
PASOK e o ND precisariam de 151
deputados. Mas, sem eles, e com as
forças opositoras ao Memorando de
Entendimento divididas entre
extrema-esquerda, direita e extre-
ma-direita, nenhum dos lados se vê
capaz de garantir à Grécia uma
solução governativa estável: a
própria natureza dos resultados
inviabiliza a formação de um
governo. Mesmo que Aleka
Papariga, líder do Partido
Comunista Grego (KKE), estivesse
disposta a entrar num governo com
os trotskistas do Syriza, mesmo que
os nacional-conservadores anti-
troika do Gregos Independentes
aceitassem juntar-se a um governo
esquerdista, mesmo que tudo isso
fosse possível, mesmo que tudo isso
acontecesse, as forças que se opõem
ao MoU continuariam sem maioria
no parlamento. E isso porque, para
alcançarem uma maioria e, com isso,
formarem governo, precisariam
também do apoio dos neonazis da
Aurora Dourada, um partido famoso
especial 25
Assim, sem esperança
de encontrar terreno
comum que permita a
formação de uma
maioria, anti ou pró-
troika, o país encontra-
se, como antes, sem
saída. Sem capacidade de
entendimento
circunstancial e, muito
menos, de consenso
duradouro, nunca houve,
em boa verdade, outro
caminho para a nação
mediterrânica que não
fosse a convocação de
novas eleições.
mento – com a excepção do Aurora
Dourada - à ideia de um novo exe-
cutivo formado apenas por
tecnocratas independentes, nada
convenceu os líderes políticos helé-
nicos. Sem capacidade de enten-
dimento circunstancial e, muito
menos, de consenso duradouro,
nunca houve, em boa verdade, outro
caminho para a nação mediterrânica
que não fosse a convocação de
novas eleições. Mas nem isso dá
garantias à Zona Euro: é que, se o
hoje é mau, o amanhã tem tudo para
ser pior. E isso porque, com ou sem
medo de uma eternização do actual
vazio de poder, nada parece sugerir
que os gregos estejam interessados
em votar nos partidos do sistema.
Ou seja, mais provável que o cenário
de um regresso à política main-
stream, é a possibilidade de ainda
mais gregos se decidirem por
partidos radicais nas próximas elei-
ções – especialmente pelo Syriza,
que todas as sondagens dão como
vencedor do próximo acto eleitoral.
Mas a mudança de maré na Europa
foi (ainda) mais longe que isso.
Poderia, é certo, ter-se limitado aos
desastres grego e francês. Mas a
verdade é que não o fez. A insta-
bilidade política atacou também
num país que nem está no centro do
furacão que é a crise da dívida nem
se encontrava na lista de potenciais
países problemáticos: os Países
Baixos. Governados, desde 2010,
por uma coligação entre os
conservadores do Partido Popular
para o Progresso e a Democracia
(VVD) e os democratas-cristãos do
Chamamento Democrata-Cristão
(CDA), os Países Baixos puseram a
estabilidade política nas mãos dos
também conservadores do PVV, o
Partido da Liberdade. Sem outro
dade apresentado pelo gove-rno de
Rutte no parlamento, acabou por
forçar a demissão do governo.
Entretanto, a Holanda que foi, até
agora, um dos mais estáveis países
da Zona Euro, ficou sem governo. E,
pior que isso, ficou sem alguém
disposto a diminuir o seu crónico
défice orçamental.
É certo que a recusa de Wilders –
um conhecido crítico do Islão e da
UE que começou, entretanto, uma
campanha contra o Euro - em apro-
var o pacote de austeridade apre-
sentado não se deve a uma efectiva
oposição do seu partido - uma
formação liberal e conservadora - à
absoluta necessidade de controlar
as contas do seu país. Mas isso
pouco – ou nada - interessa.
Pressionado por sondagens que
mostravam uma queda na
popularidade do PVV ou não, com
(VVD) e os democratas-cristãos do
Chamamento Democrata-Cristão
(CDA), os Países Baixos puseram a
estabilidade política nas mãos dos
também conservadores do PVV, o
Partido da Liberdade. Sem outro
partido com quem pudesse fazer
uma coligação, e apesar da falta de
entusiasmo do PVV em assumir
funções governativas, não houve,
para o agora demissionário primei-
ro-ministro holandês Mark Rutte,
outra escolha que não fosse a de um
acordo de incidência parlamentar
com Geert Wilders, o líder do PVV.
Porém, a rejeição, pelo Partido da
Liberdade, de um pacote de
austeridade apresentado pelo
governo de Rutte no parlamento,
acabou por forçar a demissão do
governo. Entretanto, a Holanda que
foi, até agora, um dos mais estáveis
países da Zona Euro, ficou sem
26 especial
de Rutte ter sido, com a França de
Sarkozy, um dos principais pontos
de equilíbrio no já de si complicado
xadrez europeu. Das três pernas
essenciais, o banco que é a Europa
da austeridade perdeu duas – neste
momento, só a Alemanha se mantém.
mantém.
Agora, há algo na presente conjun-
tura que, ninguém duvida, será
determinante para o futuro do velho
continente, da União Europeia
enquanto bloco regional unificado e
unificador e de Portugal enquanto
Estado. Isso tem tanto de inolvi-
dável como de inevitável. Depois de
duas noites eleitorais decisivas e de
uma resignação governamental
numa das poucas nações europeias
que ainda resistiam à instabilidade
política que varre a Europa,
percebe-se que o amanhecer trouxe
uma ordem política e um equilíbrio
de forças inteiramente diferentes.
Até agora, foi a Europa que olha
para si mesmo com o mesmo
entusiasmo que tinham Monnet,
Schuman, Kohl e Coundenhove-
Kalergi, a Europa que sonha com a
unidade política de si mesma que
lutou pela sobrevivência. E, para
isso, tinha uma receita única, uma
forma partilhada – ainda que por
imposição do eixo Paris-Berlim – de
o fazer. Agora, porém, tudo isso
mudou. E, embora o novo inquilino
do Eliseu seja tão – ou mais ainda –
europeísta como o seu antecessor,
parece fazer sentido temer que o
debate e a divisão, num momento
em que a UE precisaria, para evitar
o seu próprio colapso, de acção e
convergência, acabem por ser fatais
para uma União que só sobrevive
ligada às máquinas que são a
unidade dos líderes europeus. Até
porque, se Hollande é um
federalista convicto, Tsipras não o é,
certamente: e a Europa unida é um
carneiro que não lhe custará
absoluta necessidade de controlar
as contas do seu país. Mas isso
pouco – ou nada - interessa.
Pressionado por sondagens que
mostravam uma queda na popular-
idade do PVV ou não, com ou sem
aproveitamento político de um
momento delicado na vida da nação,
o que é relevante para a Europa do
Euro é que agora, também os Países
Baixos, se encontram sem governo.
E, pior para Merkel e para os que,
como Portugal, não vêem a oposição
entre crescimento e austeridade
como algo necessário, a receita que
escolheram perdeu um dos seus
principais aliados. O caso holandês
é, assim, não mais que um entre
muitos, uma situação de colapso
governamental entre várias, um
caso de perda de apoio entre
muitos: mas há, ainda assim, algo
que o faz especial. E isso é
precisamente o facto de a Holanda
de Rutte ter sido, com a França de
Sarkozy, um dos principais pontos
de equilíbrio no já de si complicado
xadrez europeu. Das três pernas
essenciais, o banco que é a Europa
da austeridade perdeu duas – neste
momento, só a Alemanha se
mantém.
Agora, há algo na presente
conjuntura que, ninguém duvida,
será determinante para o futuro do
velho continente, da União Europeia
enquanto bloco regional unificado e
unificador e de Portugal enquanto
Estado. Isso tem tanto de
inolvidável como de inevitável.
Depois de duas noites eleitorais
decisivas e de uma resignação
governamental numa das poucas
nações europeias que ainda
resistiam à instabilidade política
que varre a Europa, percebe-se que
o amanhecer trouxe uma ordem
política e um equilíbrio de forças
inteiramente diferentes. Até agora,
foi a Europa que olha para si mesmo
com o mesmo entusiasmo que
dável como de inevitável. Depois de
duas noites eleitorais decisivas e de
uma resignação governamental
numa das poucas nações europeias
que ainda resistiam à instabilidade
política que varre a Europa, perce-
be-se que o amanhecer trouxe uma
ordem política e um equilíbrio de
forças inteiramente diferentes. Até
agora, foi a Europa que olha para si
mesmo com o mesmo entusiasmo
que tinham Monnet, Schuman, Kohl
e Coundenhove-Kalergi, a Europa
que sonha com a unidade política de
si mesma que lutou pela sobrevi-
vência. E, para isso, tinha uma
receita única, uma forma partilhada
– ainda que por imposição do eixo
Paris-Berlim – de o fazer. Agora,
porém, tudo isso mudou. E, embora
o novo inquilino do Eliseu seja tão –
ou mais ainda – europeísta como o
seu antecessor, parece fazer sentido
temer que o debate e a divisão, num
momento em que a UE precisaria,
para evitar o seu próprio colapso, de
acção e convergência, acabem por
ser fatais para uma União que só
sobrevive ligada às máquinas que
são a unidade dos líderes europeus.
Até porque, se Hollande é um
federalista convicto, Tsipras não o é,
certamente: e a Europa unida é um
carneiro que não lhe custará
sacrificar no altar da demagogia.
vência. E, para isso, tinha uma receita
única, uma forma partilhada – ainda
que por imposição do eixo Paris-
Berlim – de o fazer. Agora, porém,
tudo isso mudou. E, embora o novo
inquilino do Eliseu seja tão – ou mais
ainda – europeísta como o seu
antecessor, parece fazer sentido
temer que o debate e a divisão, num
momento em que a UE precisaria,
para evitar o seu próprio colapso, de
acção e convergência, acabem por
ser fatais para uma União que só
sobrevive ligada às máquinas que
são a unidade dos líderes europeus.
Até porque, se Hollande é um
federalista convicto, Tsipras não o é,
certamente: e a Europa unida é um
carneiro que não lhe custará sacri-
ficar no altar da demagogia.
–
especial 27
Ninja Generation
28 opinião
terminava na altura limite em que era tolerada a
dependência da família, era a data/vivência até ao
primeiro emprego, até ao casamento ou até à saída de
casa. Estávamos então na época fabril da produção em
maça de mão-de-obra estandardizada. Fará hoje sentido
esse conceito? Não, o mundo é absolutamente outro,
senão vejamos. Nos dias que correm, os jovens, a somar
às dificuldades inerentes à economia e às barreiras
laborais, têm de suportar custos intrínsecos ao
trabalho/investimento elevadíssimos, não têm mercado
de arrendamento e suportam através das suas
contribuições uma segurança social com a certeza que
não os servirá. São estes os quatro problemas
fundamentais para o nosso estado de coisas. O problema
não tem que ver, com falta de trabalho. Esse é o
argumento de quem ainda não compreendeu ou que
quer resistir aos desafios do mundo em que vivemos.
Basta visitar diariamente os jornais e páginas web de
referência, na procura de trabalho e verificamos que
existe bastante demanda de mão-de-obra. Será aquilo a
que os jovens ambicionam? Certamente que não, mas a
oferta dificilmente seria outra, num
País/Europa/Ocidente que se encontra numa situação
de grande dificuldade económica.
Dito isto, exclua-se a visão dos meninos mimados que,
uma vez licenciados em qualquer ciência oculta, apenas
nessa área toleram trabalhar. Não é essa a realidade. E
para os que assim pensam, existirá sempre o eterno
desemprego ou a solução altruísta da emigração.
As verdadeiras reivindicações dos jovens têm que ver
com a falta de liberdade que hoje se lhes oferece. Se
antes ninguém podia filosofar de barriga vazia, hoje nin-
guém pode ambicionar ser livre sem rendimento. E só
há duas formas de o obter, através de trabalho depen-
dente ou através de investimento. Este problema tem de
ser resolvido rapidamente, por duas vias. Por um lado,
estudar aprofundadamente – de uma vez por todas –
uma solução para a segurança social e por outro lado,
oferecer aos jovens empreendedores condições fiscais
especialíssimas nos primeiros anos de desenvolvimento
dos seus negócios.
o Income, no Job, no Assets?
Quando me comprometi a escrever este artigo
temi estar demasiado imbuído pelo espírito da
crítica fácil que se apoderou de todos nós. Ainda para
mais, o risco e a probabilidade era elevado, uma vez que
este tema diz directamente respeito a mim e à minha
geração, com quem, na maioria do meu tempo me
relaciono! Mas foi na busca de dados/notícias/opiniões
sobre as condições de vida dos jovens, que encontrei
justificação para todo o turbilhão de queixas que ouço!
Em boa verdade, têm de ser louvados aqueles que,
quase sempre com motivações e soluções erradas,
serviram como farol de Alexandria para o problema
geracional criado com a actual crise. Digo isto,
plenamente convencido que sem o alerta feito pelo
movimento Geração à Rasca, talvez ninguém em
Portugal se tivesse apercebido do problema. Feita esta
ressalva - tão digna do seu a seu dono – importa referir
que a nossa camisola, a camisola dos problemas da
nossa geração começa a ser vestida por aqueles que
podem ser parte da solução e não, felizmente, por
aqueles que viram neste tema um campo aberto para o
populismo e para a propagação de dogmas já
insatisfatoriamente testados com e em muros.
O que é um jovem?
Já todos fomos confrontados em conversa com pessoas
mais velhas, com a necessidade premente de
conquistarmos a nossa independência e sermos como as
gerações passadas que cedo atingiram aquilo com que
hoje apenas sonhamos. Somos repetidamente
lembrados que antigamente o conceito de jovem
terminava na altura limite em que era tolerada a
dependência da família, era a data/vivência até ao
primeiro emprego, até ao casamento ou até à saída de
casa. Estávamos então na época fabril da produção em
N
Francisco Ancede
Será este o resultado da falta de coragem e capacidade
de decisão revelada. Mais uma vez, a troco da
estabilidadezinha balofa, dotamos inevitavelmente estas
empresas para regimes com consequências bem mais
gravosas para a sociedade e para as contas públicas.
Restará, para muitas, a insolvência ou soluções sempre
temporárias como o Layoff ou banco de horas.
Talvez a cereja no topo do bolo em tanta falta de
coragem e de decisão, possa vir a ser a reforma do
mercado do arrendamento. Com tanta preocupação
social e aqui apostando na interminável capacidade de
subsidiação de rendas por parte dos proprietários, a
reforma apresentada, continua a arrastar os pés por
entre cedências àqueles que durante décadas não
contabilizaram por um só dia o custo com a habitação!
Mais uma vez, o medo, apenas justificável pela vontade
de agradar à maioria – aqui claramente composta pelos
arrendatários – influenciará mais uma lei dentro da
romântica máxima que prevê a necessidade de mudar
alguma coisa para que tudo fique na mesma.
Enquanto jovem, afectado por todas as realidades que
descrevi, devo alertar que não existe nada pior para o
destino de um País do que uma geração sem sonhos. É
alarmante visitar o olhar dos jovens que por todos os
fins-de-semana cantam, sem brio e orgulho qualquer,
musicas que lhes lembram que sendo sexta-feira é
altura de ir para a brincadeira sem um tostão! É
determinante que o novo começo que esta crise oferece
a este País, seja aproveitado para arriscar novas
soluções e aceitar de uma vez por todas que o
paradigma nacional tem de mudar! Ninguém está a
pedir colo, nem conforto balofo, mas aposta clara e
inequívoca naqueles que irão ser mais tarde ou mais
cerdo, mais uma Ínclita Geração! Assim seja!
uma solução para a segurança social e por outro lado,
oferecer aos jovens empreendedores condições fiscais
especialíssimas nos primeiros anos de desenvolvimento
dos seus negócios.
Quanto à segurança social é tempo de dizer basta. Não é
tolerável a hipocrisia com que sorridentemente nos
garantem que a nossa geração não terá dotação
orçamental que garanta o pagamento das suas reformas
e quem sabe subsídios. Estude-se com consequência e
sem pressão mediática a reforma encetada em vários
países como a que foi formalizada no Chile. Estou certo
que a nossa comunidade universitária sentir-se-á
orgulhosa e responderá com todo o seu valor e
conhecimento se for chamada a dar o seu contributo.
Em relação às condições especialíssimas a oferecer aos
jovens empreendedores, não pode existir o medo de
perda de receita fiscal. Verdadeiramente essa receita
ainda não existe e poderá nunca chegar a existir. Todos
aqueles com que falo, queixam-se não só da falta de
financiamento – contratempo que não basta para lhes
matar a ânsia de vencer – mas sobretudo da brutal carga
fiscal que incide sobre os seus negócios! É urgente a
criação de um pacote fiscal que possa aliviar estas
iniciativas. E não se tenha medo do tratamento desigual.
Tratamento esse que já está institucionalizado com
programas de estimulo à contratação apenas de jovens.
É preciso assumir que se nada for feito, aí sim, será
evidente que existem partes da população com
oportunidades e direitos desiguais.
Resta também uma crítica feroz e clara à reforma do
código de trabalho. É inexplicável e intolerável, que não
exista aplicação retroactiva das alterações previstas a
todos os contratos. Não se pode, desta vez, cair na
falácia dos direitos adquiridos. A consequência óbvia
desta opção consiste no adiar sine die, da reforma
laboral. Tudo ficará na mesma; As empresas, face à
incapacidade financeira, permanecerão impossibilitadas
de pagar as indemnizações calculadas segundo o regime
antigo e consequentemente continuarão
impossibilitadas de contratar novos trabalhadores.
Será este o resultado da falta de coragem e capacidade
de decisão revelada. Mais uma vez, a troco da
estabilidadezinha balofa, dotamos inevitavelmente estas
empresas para regimes com consequências bem mais
gravosas para a sociedade e para as contas públicas.
opinião 31
Guilherme Marques da Fonseca
om o desenrolar da actual
crise económico-financeira,
tem-se verificado um forte e
constante hábito de se remeter a
linhas de pensamento político,
filosófico e económico diferentes
das habitualmente conhecidas
e já tão rebuscadas pelos média.
Uma coisa têm em comum as mais
graves crises vividas pelo Homem,
sejam elas de índole económica
ou não: as ideologias e os para-
digmas são revistos e questionados
com base na incerteza sentida
em relação àquilo que julgamos
serem dados adquiridos. Em suma,
tendemos a questionar a capacidade
de resolução de problemas por
parte dos nossos métodos
convencionais de análise dos
acontecimentos.
Desde o início da actual crise
económica mundial, tem-me
parecido óbvio que o debate central
parte dos nossos métodos conven-
cionais de análise dos aconte-
cimentos.
Desde o início da actual crise
económica mundial, tem-me
parecido óbvio que o debate
central não passa pelo fim do
Capitalismo, mas sim pela sua
reformulação: um novo pre-
ssuposto é necessário para tri-
unfarmos e prosperarmos neste
planeta. É por isto inevitável que
conheçamos a linha de pensa-
mento económico cujo número
de adeptos mais tem aumentado
exponencialmente ao longo dos
últimos anos: a Escola Austríaca
(também conhecida como “Escola
Psicológica” ou “Escola de Viena”).
Em poucas palavras poderíamos
afirmar que a Escola Austríaca é
uma escola económica de ideologia
liberal, mas na verdade a sua
“magia” vai muito para além do
liberalismo.
Os primeiros capítulos da Escola
Austríaca começaram a ser escritos
no início do século XV, quando os
seguidores de São Tomás de Aquino
que ensinavam na Universidade de
Salamanca se debruçaram sobre a
árdua tarefa de tentar explicar o
espectro da organização social e da
acção humana.
Esses escolásticos pensaram ter
descoberto a existência de leis
económicas, forças inevitáveis de
causa e efeito que operariam de
forma algo semelhante a tantas
outras leis naturais que nós
conhecemos.
Ao longo dos últimos séculos, eles
procuraram investigar e explicar
diversas leis económicas, desde a lei
da oferta e da procura até às causas
reais da inflação – razões pelas
quais vários intelectuais como
Joseph Schumpeter os consideraram
como sendo os primeiros
verdadeiros economistas da
História.
O nome “Escola Austríaca” deriva do
facto de terem nascido na Áustria e
no Império Austro-Húngaro alguns
C
Escola Austríaca: o futuro da Economia?
32 ideologia
como sendo os primeiros verda-
deiros economistas da História.
O nome “Escola Austríaca” deriva do
facto de terem nascido na Áustria e
no Império Austro-Húngaro alguns
dos pensadores mais influentes da
respectiva linha intelectual, em
particular Carl Menger (1840-
1921), Eugen von Böhm-Bawerk
(1851-1914), Ludwig von Mises
(1881-1973) e o vencedor do
Prémio Nobel de 1974, Friedrich
Hayek (1899-1992).
Ao longo dos séculos, esta escola de
pensamento económico opôs-se a
todo o tipo de tiranias e forças
ditatoriais. Comprometido por ser
um fiel adepto das liberdades
individuais e da paz em geral,
Ludwig von Mises teve mesmo de
fugir da Áustria, sob risco iminente
de perseguição por parte de Hitler e
das forças nazis.
Hoje em dia, a Escola Austríaca
aproxima-se mais de ser uma
“Escola Americana” pela
percentagem de seguidores que
detém nos E.U.A., possuindo ainda
assim apoiantes em todos os cantos
do mundo.
“Escola Americana” pela percen-
tagem de seguidores que detém nos
E.U.A., possuindo ainda assim
apoiantes em todos os cantos do
mundo.
Hoje, os intitulados “economistas
austríacos” defendem afincada-
mente os direitos à propriedade e à
liberdade individual.
Os austríacos acreditam que a paz e
o direito à propriedade nos guiarão
à prosperidade enquanto povo, se
para isso negarmos actos
criminosamente estadistas como a
liberdade individual.
Os astríacos acreditam que a paz e o
direito à propriedade nos guiarão à
prosperidade enquanto povo, se
para isso negarmos actos crimi-
nosamente estadistas como a
tributação, o controlo de preços e as
acções governamentais que violem a
liberdade dos indivíduos, acredi-
tando assim na máxima de que a
liberdade de cada um acaba onde
começa a liberdade do outro. Já por
isto, Mises escrevera que “a
primeira tarefa de um economista é
dizer aos governantes aquilo que
eles não podem fazer”.
Qualquer “austríaco” acreditará no
ideologia 33
começa a liberdade do outro. Já por
isto, Mises escrevera que “a
primeira tarefa de um economista é
eles não podem fazer”.
Qualquer “austríaco” acreditará no
conceito abstracto de “mercado” e
nas suas virtudes, vendo nele os
alicerces primordiais para a
estruturação da vida em sociedade.
É por isso fulcral que esse mesmo
“mercado” se mantenha livre e
genuíno, de modo a salvaguardar a
satisfação das necessidades dos
homens.
Deste modo, um “austríaco” vê nos
mercados o melhor distribuidor
possível de riqueza e condição
económica: o Homem, como o seu
agente mais elementar e
inseparável, com intenções de
satisfazer as necessidades de
terceiros em troca de algo que lhe
permita a si mesmo satisfazer
também as suas.
Qualquer “austríaco” acreditará no
conceito abstracto de “mercado” e
nas suas virtudes, vendo nele os
alicerces primordiais para a
estruturação da vida em sociedade.
É por isso fulcral que esse mesmo
“mercado” se mantenha livre e
genuíno, de modo a salvaguardar a
satisfação das necessidades dos
homens.
Deste modo, um “austríaco” vê nos
mercados o melhor distribuidor
possível de riqueza e condição
económica: o Homem, como o seu
agente mais elementar e
inseparável, com intenções de
satisfazer as necessidades de
terceiros em troca de algo que lhe
permita a si mesmo satisfazer
também as suas.
pensamento económico mais
respeitadas e seguidas mun-
dialmente por economistas e
políticos) às questões de estudo
económico passam por uma linha
que em toda a sua estrutura nos
lembrará o método de análise e
trabalho de um físico ou de um
químico. As metodologias levadas a
cabo por estas duas divisões do
“mainstream” são mecânicas e
extremamente matemáticas, fazen-
do uso incondicional de ferramentas
gráficas e moldando expressões
numéricas para “provar
irrefutavelmente” certos pontos de
vista do interesse dos autores.
Por um lado, os neoclássicos (como
Samuelson e Becker) vêem na sua
Mas no que difere o paradigma
austríaco dos paradigmas mais
reconhecidos mundialmente pela
maioria dos economistas? Que
marcas são essas que poderão fazer
a diferença no modo como olhamos
e tratamos o mundo que nos rodeia?
Em primeiro lugar devemos
entender que o tratamento dado
pelas Escolas Neoclássica e
Keynesiana (actuais escolas de
pensamento económico mais
respeitadas e seguidas
mundialmente por economistas e
políticos) às questões de estudo
económico passam por uma linha
que em toda a sua estrutura nos
34 ideologia
então analisar essa mesma acção de
um modo igualmente dinâmico,
aberto e complexo. Dito de outro
modo, os economistas “austríacos”
defendem a tese de que só podemos
estudar o Ser Humano, se
analisarmos exaustivamente os
factores que levam as pessoas a
atingir certos fins. Para isto
devemos recorrer à “praxeologia”,
que mais não é para um “austríaco”
do que a ciência (ou teoria geral) da
acção humana.
Outra diferença primordial entre
ambas as escolas, é o facto de os
neoclássicos acreditarem ser
possível provar certa hipótese como
falsa através de testes empíricos
(algo semelhante a experiências de
laboratório como acontece na física
ou na biologia), enquanto que os
“austríacos” julgam que tal método
não fará grande sentido tendo em
conta que a economia é uma ciência
que estuda as acções e propósitos
dos homens (seres com mente e
desígnios próprios), e como tal é
impossível repor o cenário de
estudo exactamente igual ao que se
verificava à data a que se quer
reportar.
Já os keynesianos, apoiados pelo
trabalho do britânico John Maynard
Keynes – o tão aclamado salvador
dos E.U.A. no tempo da Grande
Depressão do século XX – e
actualmente liderados pelo
americano Paul Krugman (“honoris
causa” por três universidades
portuguesas, e que há alguns meses
atrás espezinhou Portugal nas
primeiras páginas da imprensa
norte-americana), defendem que os
défices são a cura para a própria
crise. Dito em poucas palavras, estes
escolásticos acreditam em algo que
habitualmente gosto de intitular por
“política da ressaca”. Eles acreditam
ainda que os impostos podem ser a
solução mais indicada para
gráficas e moldando expressões
numéricas para “provar irrefu-
tavelmente” certos pontos de vista
do interesse dos autores.
Por um lado, os neoclássicos (como
Samuelson e Becker) vêem na sua
própria concepção do Ser Humano o
seu tão aclamado “hommo
economicus”, um animal perfei-
tamente racional, e apto a escolher
infalivelmente de acordo com as
melhores opções existentes, assim
como a maximizar constantemente
os seus lucros individuais - como se
tal Ser existisse na realidade (!).
Para um austríaco, essa visão detida
pela Escola Neoclássica é extre-
mamente insuficiente e redutora
daquilo que é verdadeiramente o
Ser Humano, preferindo por isso a
ideia de que a acção humana é
dinâmica, e não havendo duas
pessoas iguais no mundo, devemos
neoclássicos acreditarem ser possí-
vel provar certa hipótese como falsa
através de testes empíricos (algo
semelhante a experiências de labo-
ratório como acontece na física ou
na biologia), enquanto que os
“austríacos” julgam que tal método
não fará grande sentido tendo em
conta que a economia é uma ciência
que estuda as acções e propósitos
dos homens (seres com mente e
desígnios próprios), e como tal é
impossível repor o cenário de estu-
do exactamente igual ao que se veri-
ficava à data a que se quer reportar.
Já os keynesianos, apoiados pelo
trabalho do britânico John Maynard
Keynes – o tão aclamado salvador
dos E.U.A. no tempo da Grande
Depressão do século XX – e
actualmente liderados pelo
americano Paul Krugman (“honoris
causa” por três universidades
portuguesas, e que há alguns meses
atrás espezinhou Portugal nas
primeiras páginas da imprensa
norte-americana), defendem que os
défices são a cura para a própria
crise. Dito em poucas palavras, estes
escolásticos acreditam em algo que
habitualmente gosto de intitular por
“política da ressaca”. Eles acreditam
ainda que os impostos podem ser a
solução mais indicada para
combater a inflação, e mais gritante
do que tudo, vêem no investimento
público algo como um
“multiplicador de riqueza”, pois
supostamente aumentaria a
quantidade de emprego existente
num dado país (semelhante em
algum modo às intenções de José
Sócrates com o TGV ou com o
hipotético segundo aeroporto de
Lisboa).
Por seu lado, a Escola Austríaca
repudia firmemente a ideia do gasto
e do endividamento, ainda para
mais com o intuito de atingir fins
efémeros de curto prazo,
ideologia 35
Já os keynesianos, apoiados pelo
trabalho do britânico John Maynard
Keynes – o tão aclamado salvador
dos E.U.A. no tempo da Grande
Depressão do século XX – e
actualmente liderados pelo
americano Paul Krugman (“honoris
causa” por três universidades
portuguesas, e que há alguns meses
atrás espezinhou Portugal nas
primeiras páginas da imprensa
norte-americana), defendem que os
défices são a cura para a própria
crise. Dito em poucas palavras, estes
escolásticos acreditam em algo que
habitualmente gosto de intitular por
“política da ressaca”. Eles acreditam
ainda que os impostos podem ser a
solução mais indicada para
combater a inflação, e mais gritante
do que tudo, vêem no investimento
público algo como um
“multiplicador de riqueza”, pois
supostamente aumentaria a
quantidade de emprego existente
num dado país (semelhante em
do que tudo, vêem no investimento
público algo como um “multi-
plicador de riqueza”, pois
supostamente aumentaria a
quantidade de emprego existente
num dado país (semelhante em
algum modo às intenções de José
Sócrates com o TGV ou com o
hipotético segundo aeroporto de
Lisboa).
Por seu lado, a Escola Austríaca
repudia firmemente a ideia do gasto
e do endividamento, ainda para
mais com o intuito de atingir fins
efémeros de curto prazo,
acreditando que a virtude está na
prosperidade e no “crescimento
real”, ou seja, que para
prosperarmos enquanto nação
devemos cultivar a mentalidade do
“longo prazo”, gastando apenas
aquilo que temos, e dando mais
margem de manobra aos nossos
próprios cidadãos de seguirem os
seus desejos e sonhos
empreendedoras através de uma
política anti-tributação.
Embora pudesse apontar cerca de
trinta diferenças que separam a
metodologia dos “austríacos” dos
métodos utilizados pelas escolas de
pensamento mais badaladas, as
últimas pecam especialmente por se
esquecerem do elemento de estudo
central da economia: o Homem!
Muito a isto os nossos erros se têm
devido: tendemos a esquecer que a
economia é uma ciência social, não
uma ciência natural como a física ou
a química. Somos seres orgânicos,
não meras máquinas programadas,
ou simples objectos sem mente
cujos comportamentos possam ser
previstos por algum matemático
confiante nos seus dons para o
cálculo e para desenhar gráficos
não meras máquinas programadas,
ou simples objectos sem mente
cujos comportamentos possam ser
previstos por algum matemático
confiante nos seus dons para o
cálculo e para desenhar gráficos
pomposos com índices complexos e
de leitura técnica exigente.
Engraçado sem grande graça, é
pensarmos que o chamado “senso
comum” atribui uma culpa
mistificada acerca da actual crise
mundial aos mercados financeiros,
quando ao longo dos últimos quinze
anos, vários economistas austríacos
têm vindo a prever “baillouts”,
recessões, e estímulos económicos
perversos para a economia, levados
a cabo pelos governos de todo o
mundo, aliados a algo que tenho
vindo a denominar nas minhas
crónicas por “acto de ligar a
impressora”, que mais não consta
do que imprimir notas com
consequências agravantes nos
indicies de inflação (monetária) das
nações.
O congressista americano Ron Paul -
único candidato republicano à Casa
Branca movido pelo trabalho da
Escola Austríaca - previu a crise
económica e financeira que estamos
a atravessar actualmente. No dia 10
de Setembro de 2003, através de
uma declaração à House Committee
on Financial Services, o médico de
76 anos escreveu que “para além do
dano a longo prazo à economia
infligido pelas interferências do
governo no mercado de habitação, a
política do governo, de desviar
capital para outros fins, cria um
‘boom’ a curto-prazo no mercado de
habitação. Como todas as bolhas
artificialmente criadas, o ‘boom’ nos
preços do mercado da habitação não
durará para sempre. Quando os
preços das casas caírem, os seus
donos irão sentir dificuldades
enquanto que a sua equidade é
margem de manobra aos nossos
próprios cidadãos de seguirem os
seus desejos e sonhos empre-
endedoras através de uma política
anti-tributação.
Embora pudesse apontar cerca de
trinta diferenças que separam a
metodologia dos “austríacos” dos
métodos utilizados pelas escolas de
pensamento mais badaladas, as
últimas pecam especialmente por se
esquecerem do elemento de estudo
central da economia: o Homem!
Muito a isto os nossos erros se têm
devido: tendemos a esquecer que a
economia é uma ciência social, não
uma ciência natural como a física ou
a química. Somos seres orgânicos,
não meras máquinas programadas,
ou simples objectos sem mente
cujos comportamentos possam ser
previstos por algum matemático
confiante nos seus dons para o
cálculo e para desenhar gráficos
pomposos com índices complexos e
de leitura técnica exigente.
Engraçado sem grande graça, é
pensarmos que o chamado “senso
comum” atribui uma culpa
mistificada acerca da actual crise
mundial aos mercados financeiros,
quando ao longo dos últimos quinze
anos, vários economistas austríacos
têm vindo a prever “baillouts”,
recessões, e estímulos económicos
perversos para a economia, levados
a cabo pelos governos de todo o
mundo, aliados a algo que tenho
vindo a denominar nas minhas
crónicas por “acto de ligar a
impressora”, que mais não consta
do que imprimir notas com
consequências agravantes nos
indicies de inflação (monetária) das
nações.
O congressista americano Ron Paul -
36 ideologia
O americano Ron Paul, congressista e candidato republicano à Casa Branca,
é a mais conhecida personalidade da política mundial a defender e divulgar
os princípios defendidos pela Escola Austríaca de Economia.
impressora”, que mais não consta
do que imprimir notas com
consequências agravantes nos
indicies de inflação (monetária) das
nações.
O congressista americano Ron Paul -
único candidato republicano à Casa
Branca movido pelo trabalho da
Escola Austríaca - previu a crise
económica e financeira que estamos
a atravessar actualmente. No dia 10
de Setembro de 2003, através de
uma declaração à House Committee
on Financial Services, o médico de
76 anos escreveu que “para além do
dano a longo prazo à economia
infligido pelas interferências do
governo no mercado de habitação, a
política do governo, de desviar
capital para outros fins, cria um
‘boom’ a curto-prazo no mercado de
habitação. Como todas as bolhas
artificialmente criadas, o ‘boom’ nos
preços do mercado da habitação não
durará para sempre. Quando os
preços das casas caírem, os seus
donos irão sentir dificuldades
enquanto que a sua equidade é
dizimada. Mais ainda, os credores
das dívidas geradas pelos
empréstimos hipotecários terão
perdas também. Essas perdas serão
maiores do que seriam se a política
do governo não tivesse encorajado o
investimento excessivo no mercado
da habitação.”
Esta previsão coincidiu perfei-
tamente com a crise de 2008, que
teve início numa bolha financeira
surgida do mercado de habitação
dos Estado Unidos da América.
De que estamos à espera para
mudarmos de uma vez por todas os
pressupostos que têm guiado os
nossos governantes?
Está na hora de abrirmos os nossos
horizontes e não raciocinarmos só
acerca daquilo que os economistas e
filósofos do “mainstream” nos
obrigam a digerir diariamente
O Capitalismo não falhou -
desiludam-se os pouco adeptos da
liberdade económica. Os cidadãos (e
os seus representantes) é que
falharam. E se errar é humano, o
que poderá ser mais humano do que
nos erguermos com uma nova força
libertária rejuvenescida? A nossa
próxima grande revolução será
intelectual, e cada vez mais me
convenço que os próximos impérios
serão os do pensamento.
Trabalhemos então todos juntos,
pois só em unidade poderemos
prosperar.
empréstimos hipotecários terão
perdas também. Essas perdas serão
maiores do que seriam se a
política do governo não tivesse
encorajado o investimento exces-
sivo no mercado da habitação.”
Esta previsão coincidiu perfei-
tamente com a crise de 2008,
que teve início numa bolha
financeira surgida do mercado de
habitação dos Estado Unidos da
América.
De que estamos à espera para
mudarmos de uma vez por todas os
pressupostos que têm guiado os
nossos governantes? Está na hora
de abrirmos os nossos horizontes
e não raciocinarmos só acerca
daquilo que os economistas e
filósofos do “mainstream” nos
obrigam a digerir diariamente
através dos mais diversos meios de
comunicação.
artificialmente criadas, o ‘boom’ nos
preços do mercado da habitação não
durará para sempre. Quando os
preços das casas caírem, os seus
donos irão sentir dificuldades
enquanto que a sua equidade é
dizimada. Mais ainda, os credores
das dívidas geradas pelos
ideologia 37
Depois da liberdade
38 opinião
servir; de quem se acha no direito de esquecer a
identidade do pequeno por preferir o vazio do grande
Numa altura em que, na Alemanha, se goza com a
“preguiça” dos gregos e em que, na Grécia, se queimam
bandeiras da Alemanha, sente-se bem o falhanço do
sonho europeu. Sessenta e um anos depois de se ter
dado o tiro de partida, a Europa continua a não ser uma
nação, sem um povo uno e, pior que isso, sem uma
identidade comum. Sessenta e um anos depois da
fundação do percussor directo da actual União Europeia,
os políticos continuam à espera da emergência do
sentimento europeu – ao mesmo tempo que ele teima
em não aparecer. Sessenta e um anos depois do início da
luta esquizofrénica de quem luta contra si mesmo,
contra aquilo que é, contra aquilo que o define, não é
difícil notar que a tentativa de homogeneizar o
heterogéneo e de unir o diferente criou a Europa mais
dividida desde 1939.
Foi com este pano de fundo que, dia 6, gregos e
franceses foram a votos. Povos diferentes em situações
diferentes, ambos se debatiam – e debatem – com o
mesmo problema essencial: a percepção de que os seus
sacrifícios não estão a ser feitos por eles mesmos, mas
por algo maior a que não sabem bem se querem
pertencer.
Depois da noite eleitoral em Paris e em Atenas, o
amanhecer foi, é certo, igual em toda a Europa. Mais do
que nunca, é óbvia a distância entre os povos europeus e
os seus líderes. Mas foi na Grécia, berço da civilização
ocidental e embrião da ideia de Liberdade que
adoptámos e que uma Europa unida deveria respeitar e
proteger que o paradoxo europeísta melhor se fez
sentir. Não, a manjedoura da democracia não escolheu a
estabilidade governativa para enfrentar os gravíssimos
problemas que enfrenta. Não, também não se decidiu
pelos partidos que estão dispostos a lutar pela
permanência do país na Zona Euro. E não, também não
fez o contrário, disse ao mundo o que queria e deu uma
izia Jean Monnet, o primeiro dos pensadores do
Europeísmo, principal arquitecto do federalismo
europeu e pai da Europa moderna que a
excepcionalidade da construção europeia vinha do facto
de, com ela, se procurar “formar não coligações de
Estados, mas a união dos homens”. E complementava:
“fazer os homens trabalhar juntos fá-los compreender
que, por detrás das diferenças que os dividem e das
fronteiras que os separam, há um interesse comum [a
todos]”. Olhando para ambas as frases, há algo que se
percebe, quase de imediato: que a Europa de hoje
espelha bem quão boas eram as intenções de Monnet,
mas também quão mal compreendeu e interpretou a
Europa e os problemas que fazem parte da sua génese
identitária.
Que ninguém se engane: esta Europa nasceu de um
espaço de liberdade com o objectivo honesto,
transparente e, infelizmente, ingénuo de gerar, em si,
um espaço de liberdade ainda maior. Nunca existiu
outra intenção que não essa. O pior é quando à falência
das intenções se junta a falência dos Estados e, com ela,
aparece a falência dos princípios. A sonhada “união dos
homens” feita continente de Monnet transfigurou-se
para apresentar, aos europeus de hoje, o pesadelo de
um continente dividido por mais que fronteiras, por
mais que aquilo a que Monnet chamaria “linhas em
mapas”: a Europa que os políticos uniram com
assinaturas, abraços, tratados e apertos de mão é a
mesma que atroçoaram, que rasgaram em pedaços com
o irrealismo arrogante de quem ignora aquilo que deve
servir; de quem se acha no direito de esquecer a
identidade do pequeno por preferir o vazio do grande.
Numa altura em que, na Alemanha, se goza com a
“preguiça” dos gregos e em que, na Grécia, se queimam
D
Rafael Borges
problemas que enfrenta. Não, também não se decidiu
pelos partidos que estão dispostos a lutar pela
permanência do país na Zona Euro. E não, também
não fez o contrário, disse ao mundo o que queria e
deu uma maioria fácil de formar aos profetas do
“crescimento”. Longe disso, os gregos optaram por
um “nim” com a não: recusando-se a dar uma
maioria seja a quem fosse e impossibilitando, por
isso, qualquer entendimento, os gregos votaram
maciçamente nos partidos que, em si, reúnem tudo
que mereceu e merece o desprezo dos pensadores
ocidentais cujo percurso intelectual se iniciou na eclésia
ateniense: do radicalismo chauvinista do Aurora Dourada
à cruzada de classe do Syriza, os gregos não votaram só
em partidos que não olham para a permanência na União
como uma prioridade. Fizeram mais que isso. Votaram em
forças políticas que são contra mais que a Europa política:
são contra a única Europa real, a única que nunca precisou
da engenharia de quem decide – a Europa dos valores, a da
democracia, do Estado de Direito, da Liberdade individual. E
é essa a Europa que, mercê do colapso anunciado do império
dos apparatchiks de Bruxelas, se encontra agora ameaçada.
É, claro, impressionante pensar que a tentativa de Monnet
de “formar não coligações de Estados, mas a união dos
homens” tenha levado a isto. Mas levou. Hoje, a Europa dos
princípios percebe que só a destruição da sua gémea
política e económica a pode salvar. Da Finlândia de Timo
Soini à Grécia de Tsipras e Michaloliakos, é a anti-Europa
que reage à Europa que impuseram aos povos do
continente. E é essa anti-Europa que, continuando-se o
sonho/pesadelo dos césares gaulo-germânicos e dos
apparatchiks que os seguem, acabará por engolir as
nações a oeste dos Urais. Isso até ao dia em que, depois da
liberdade, os europeus falem dela com nostalgia.
driano Moreira, 89 anos, é
Presidente da Academia
das Ciências de Lisboa.
Licenciado em Direito, foi
chamado por António de Oliveira
Salazar para ser subsecretário de
Estado da Administração Ultra-
marina e, mais tarde, Ministro do
Ultramar. As suas tentativas para
reformar a política ultramarina
portuguesa acabaram por originar
algumas divergências com o então
Presidente do Conselho que o
levaram a abandonar o governo.
Após o 25 de Abril de 1974
manteve a sua actividade política,
tendo chegado a deputado na
Assembleia da República em
representação do CDS, partido do
qual chegou a ser presidente.
Embora ainda seja filiado no CDS,
há muito que Adriano Moreira
deixou a política activa, tendo
desenvolvido uma prestigiada
actividade no meio académico
qual chegou a ser presidente.
Embora ainda seja filiado no CDS,
há muito que Adriano Moreira
deixou a política activa, tendo
desenvolvido uma prestigiada
actividade no meio académico
português.
Foi ministro no Estado Novo e
líder partidário no Portugal
democrático. De que forma viveu
a transição de regime?
Sabendo que Portugal nunca dis-
pensou um apoio externo, essa
preocupação foi desde logo
fundamental, para mobilizar quem
tivesse interesse pelo conceito
estratégico do país. A Europa, a
caminho da Unidade, embora depois
de ter perdido a sua larga definição
imperial, era a que podia opor-se a
uma nova deriva interna perigosa e
com sinais. Quanto à decisão
pessoal, tratei de cumprir os
deveres cívicos, e para com a
de ter perdido a sua larga definição
imperial, era a que podia opor-se a
uma nova deriva interna perigosa
e com sinais. Quanto à decisão
pessoal, tratei de cumprir os
deveres cívicos, e para com
a família, que eram impe-
rativos.
Referiu por várias ve-
zes as suas duas “que-
das no mundo”, que
terão sido dos mo-
mentos mais marcantes
da sua vida. A primeira
delas foi a visita que
fez a vários territó-
ri-os portugueses em
África e a segunda uma
visita às Nações Unidas no final
dos anos 1950. De que forma é
que essas experiências marcaram
a sua visão de Portugal no mundo
e enquanto potência
ultramarina?
A
Grande entrevista a Adriano Moreira
‘Se não é lisonjeiro ter chegado a esta situação de protectorado, o desonroso seria desistir de a vencer.’
40 entrevista
entrevista 41
sabemos isso depois de ter
acontecido.
Sem nunca ter criado essa
expectativa, entrou na vida
política ainda durante o Estado
Novo, tendo sido convidado para
o governo de forma surpre-
endente, uma vez que não tinha
ligações à União Nacional. Sendo
alguém a quem a vida política
surge quase por acaso, porque
optou por ter uma vida política
activa no pós-25 de Abril e
porquê fazer a sua actividade
partidária no CDS?
A questão, para mim, não era de
partidarismos, era de futuro
balismo, sem precedente. Foram
ambos desafios fundamentais e
estimulantes.
Considera que se o seu projecto
para África tivesse ido em frente
a situação daquele continente
hoje seria diferente?
Um escritor, que lembro chamar-se
Nassim (O Cisne Negro) creio que
escreveu que o futuro não é
adivinhável, e o mal é que apenas
sabemos isso depois de ter
acontecido.
Sem nunca ter criado essa
expectativa, entrou na vida
política ainda durante o Estado
visita às Nações Unidas no final
dos anos 1950. De que forma é
que essas experiências marca-
ram a sua visão de Portugal
no mundo e enquanto potência
ultramarina?
A expressão não é excessiva. Até à
primeira visita que fiz a África, na
década de 1950, para estudar a
Reforma do Regime Prisional, que
se chamou “Reforma Sarmento
Rodrigues”, as minhas obrigações
académicas estavam ligadas apenas
ao ensino do direito. Naquela visita,
verifiquei que havia uma distância
considerável entre esse direito e os
factos, o que me levou a encaminhar
a Escola para o que é hoje um
Instituto de Ciências Sociais e
Políticas. Em África, não apenas nos
territórios de soberania portuguesa,
o que existia não era uma
orientação democrática, antes, quer
fosse vice-rei, alto-comissário,
governador, quer se tratasse da
Inglaterra, da Bélgica, da França, de
Portugal, o que vigorava era o
modelo da concentração de poderes
em todas as parcelas do Império
Euromundista, e não da divisão de
poderes. O certo é que no terreno a
legalidade podia ser ultrapassada de
maneira grave. O livro recente de
Vargas Llosa, traduzido com o título
“O Segredo do Celta”, embora
romanceado, pode ser instrutivo.
Pelo que respeita à ONU, foi o lugar
onde pela primeira vez, na história
da humanidade, todas as áreas
culturais do mundo falaram com voz
própria, e isso, a quem fosse atento,
subitamente iluminava uma terra
casa comum dos homens, e uma
problemática, depois chamada glo-
balismo, sem precedente. Foram
ambos desafios fundamentais e
estimulantes.
Considera que se o seu projecto
para África tivesse ido em frente
42 entrevista
cessário para organizar soluções
políticas. Os sacrifícios exigíveis,
mesmo com esse objetivo, eram
inevitáveis, o que implicava andar
rapidamente, sem recusas, quando a
intervenção pessoal era solicitada.
Os factos da realidade política
interna interromperam o esforço, e
o tempo foi excedido. A gravidade
da situação interna depois do 25 de
Abril, com os riscos conhecidos, de
novo me obrigaram a voltar à
intervenção, a pedido dos
responsáveis do CDS, o único que
que se identificava com a doutrina
social da Igreja, na versão do
Concilio Vaticano II, que em África
foi representada, com excelência,
optou por ter uma vida política
activa no pós-25 de Abril e
porquê fazer a sua actividade
partidária no CDS?
A questão, para mim, não era de
partidarismos, era de futuro
nacional na comunidade interna-
cional em mudança, e numa
circunstância em que as Forças
Armadas, sabendo e declarando que
estas guerras não se ganham, só
assumiam ganhar o tempo ne-
cessário para organizar soluções
políticas. Os sacrifícios exigíveis,
mesmo com esse objetivo, eram
inevitáveis, o que implicava andar
rapidamente, sem recusas, quando a
intervenção pessoal era solicitada.
intervenção, a pedido dos respon-
sáveis do CDS, o único que se
identificava com a doutrina social
da Igreja, na versão do Concilio
Vaticano II, que em África foi
representada, com excelência, por
D. Sebastião de Resende, Bispo da
Beira.
Como tem acompanhado o
percurso do partido de que foi
Presidente desde que abandonou
a política activa?
Desde que abandonei a intervenção
na política ativa, e mantendo a
filiação por convicção nos valores
que me orientam, recuso-me sem-
pre a fazer comentários públicos
sobre a intervenção de quem ali
sucede nas responsabilidades e tem
de atender às mudanças da
conjuntura.
Já por várias referiu que Portugal
está hoje sujeito a um regime de
“protectorado”. Como está a
encarar esta nova fase da vida
nacional?
Portugal, além de precisar tradicio-
nalmente de apoio externo, também
lhe aconteceu ser governado por
estrangeiros, e não apenas durante
a dinastia dos Filipes. Na minha
juventude, quando entrei na
Faculdade de Direito, tinha então 16
anos, a imagem externa de Portugal
era a de uma colónia de Inglaterra.
Nesta data, o programa de governo
não é um programa livremente
definido pelo país: vítima de
circunstâncias externas, mas
também do governo próprio, está
submetido a uma entidade a que
chamam Troica, representada por
tecnocratas, e a designação mais
apropriada para tal situação, numa
data em que a própria União
Europeia tem visto emergir um
Diretório (França – Alemanha) que
ultrapassa a organização
entrevista 43
tecnocratas, e a designação mais
apropriada para tal situação, numa
data em que a própria União
Europeia tem visto emergir um
Diretório (França – Alemanha) que
ultrapassa a organização institu-
cional, é a designação de protec-
torado. Uma situação que tem de ser
assumida, porque se não é lison-
jeiro ter chegado a tal situação, o
desonroso seria desistir de a vencer.
Abordou, diversas vezes, a
dependência histórica do país de
uma lógica de "cadeia de
comando" e de grandes objec-
tivos estratégicos mobilizadores.
Considera que esse factor
constitui um fardo, numa altura
em que parece não haver um
rumo para a prosperidade
claramente definido, ou se consti-
tui, pelo contrário, uma janela de
são, a 3.ª Dinastia da submissão, e
regimes internos, incluindo guerras
civis. De novo o regime saído do 25
de Abril lhe entregou a respon-
sabilidade democrática, e a experiê-
ncia já mostra exigências de
reformas, designadamente do siste-
ma eleitoral para a Assembleia da
República, e uma maior intervenção
e conhecimento da política euro-
peia, que tem sido mais política
furtiva do que participada pela
população.
Costuma dizer que Portugal
precisa de “vozes encantatórias”.
Nota alguma capacidade de en-
canto na voz dos que comandam
hoje, nesta situação particu-
larmente difícil, os destinos do
país?
Todo o Ocidente precisa de vozes
encantatórias, porque as lideranças
são frágeis. Basta lembrar os que
dirigiram a guerra de 1939-1945, e
a reconstrução, para notar a dife-
rença e a falta.
Como analisa o estado actual do
projecto europeu? Como consi-
dera ser possível um equilíbrio
entre o aprofundamento da União
e, por outro lado, a redefinição
dos significados das soberanias e
possíveis constrangimentos de
representatividade democrática?
A emergência do Diretório Franco-
Alemão, e as eleições que se
sucedem, rodeadas pela crise
financeira e económica, mostra que
o ideal de unidade europeia não está
suficientemente participado, e
portanto as versões ideológicas, que
a mudança global exige, são frágeis
e insuficientes. Nenhum país
europeu, isolado, tem suficiente
capacidade para ter projeção
mundial. É duvidoso que a
Inglaterra e a França devam ser
quem tem direito de veto no
Considera que esse factor
constitui um fardo, numa altura
em que parece não haver um
rumo para a prosperidade clara-
mente definido, ou se consti-tui,
pelo contrário, uma janela de
oportunidade para uma redefi-
nição do papel da sociedade civil,
mais "solta" das amarras do
Estado?
Não seria a primeira vez que a
sociedade civil exerceria o poder de
reformar o Estado, corrigindo o
regime de cadeia de comando em
que frequentemente viveu, designa-
damente durante a 1.ª Dinastia da
reconquista, a 2.ª Dinastia da expan-
são, a 3.ª Dinastia da submissão, e
regimes internos, incluindo guerras
civis. De novo o regime saído do 25
de Abril lhe entregou a respon-
sabilidade democrática, e a
experiência já mostra exigências de
‘Se a Europa não prosseguir e consolidar o ideal e prática da unidade, e ceder às tentações visíveis de abandonar o projecto, o provável é que o mundo se dispense de ouvir a voz da Europa’
entrevista 45
e insuficientes. Nenhum país
europeu, isolado, tem suficiente
capacidade para ter projeção
mundial. É duvidoso que a
Inglaterra e a França devam ser
quem tem direito de veto no
Conselho de Segurança e não a
própria Europa. Se a Europa não
prosseguir e consolidar o ideal e
prática da unidade, e ceder às
tentações visíveis de abandonar o
projecto, o provável é que o mundo
se dispense de ouvir a voz da
Europa. O objetivo da unidade
europeia, que não é confundível
nem com a experiência americana,
nem com a experiência suíça,
implica uma redefinição da sobe-
rania para os novos tempos. De
resto já hoje não existe na Europa a
soberania absoluta do passado,
existe apenas a soberania funcional
ou cooperativa, que o eixo França-
Alemanha parece compreender mal.
Disse que “se o projecto europeu
falhar a viabilidade do país é
discutível”. Quão longe e difícil vê
esse falhanço?
Espero que o Projecto de unidade
europeia encontre solução. Mas
Portugal tem ainda, para além disso,
janelas de liberdade, em que se
inclui a CPLP, mal fortalecida até
hoje, e o mar com a plataforma
continental, riquíssima, e a maior do
mundo, que esperamos ver
reconhecida pela ONU até 2015. E
também esperamos que não seja
atingida por efeitos semelhantes aos
que produziu a Política Agrícola
Comum, nem pela desatenção com
que o Tratado de Lisboa entregou a
gestão dos recursos vivos do mar à
Comissão Europeia. Por fim, espero
que finalmente o ensino seja
considerado uma questão de
soberania e não de mercado.
Qual o futuro da Democracia-
tempo o relativismo, e a teologia de
mercado, enfraqueceram a patri-
mónio comum ético. Tem de ser
recuperado.
Que mensagem final deixa aos
nossos leitores, especialmente os
mais jovens?
Ninguém escolhe o país em que
nasce, nem pode receber o passado
desse país a benefício de inventário.
Mas decidir ficar, esse é um acto de
amor ao povo a que se pertence,
sobretudo em tempo de crise e
grande necessidade.
Comissão Europeia. Por fim, espero
que finalmente o ensino seja consi-
derado uma questão de soberania e
não de mercado.
Qual o futuro da Democracia-
Cristã europeia num contexto
global de crescente relativismo e
sacralização do laicismo e, por
outro lado, daquilo a que muitas
vezes apelida de "teologia de
mercado"?
A Democracia-Cristã, que liderou a
fundação da União Europeia, perdeu
a visibilidade que teve, e ao mesmo
‘Portugal tem janelas de liberdade como a CPLP, mal fortalecida até hoje, e o mar com a maior plataforma continental do mundo’
46 entrevista
Lúcia Santos
um momento em que se
assiste à criação de uma so-
ciedade cognitiva, onde a
capacidade de produzir, trocar e
gerir conhecimento é determinante,
a educação assume cada vez mais
um papel decisivo.
A educação é o “passaporte para a
vida” que visa fornecer aos seres
humanos, através de instrumentos e
conteúdos educativos adaptados, os
meios de que estes necessitam para
desenvolver as suas faculdades,
adquirir uma capacidade crítica,
decidir e agir de forma esclarecida,
viver e trabalhar com dignidade,
exercer uma liberdade responsável,
participar no desenvolvimento e na
construção de um futuro colectivo e
melhorar a qualidade da sua
existência.
O desafio da educação é, assim,
através de todos os meios ao seu
alcance e com a colaboração dos
pais ou encarregados de educação e
melhorar a qualidade da sua
existência.
O desafio da educação é, assim,
através de todos os meios ao seu
alcance e com a colaboração dos
pais ou encarregados de educação e
da sociedade, a formação de
cidadãos conscientes, interventivos,
criativos e inovadores e a criação de
uma comunidade mais aberta e
informada.
O Estado assume aqui um papel
determinante, uma vez que a ele cabe
definir, globalmente, as orientações e
as metas a atingir, regular acções e
apoiar iniciativas, garantindo o
cumprimento do papel da educação,
enquanto bem individual e colectivo,
ao serviço de cada um, de todos e da
sociedade, no sentido de se aumentar
a qualidade do sistema educativo,
nomeada-mente no que respeita ao
processo de ensino e de apren-
dizagem e aos instrumentos e
materiais pedagógicos.
A pergunta que se impõe aqui é: tem
o Estado feito o seu papel?
Com o objectivo de melhorar o
estado da Educação em Portugal,
nos últimos trinta anos foram apre-
sentadas e implementadas um vasto
conjunto de medidas pelos suces-
sivos governos.
Estas medidas não têm seguido uma
missão comum. Cada partido faz
aquilo que entende melhor quando
está no poder e quando há uma
mudança de governo, este desfaz o
que foi feito pelo anterior e repõe os
seus próprios conceitos.
Todos os anos são aprovados novos
decretos-lei e as reformas que
modificam radicalmente o sistema
educativo do país sucedem-se e,
ainda assim, as críticas estão cada
vez mais duras. Isto deve-se à
ineficácia sistemática desses decre-
tos-lei e reformas em resolver os
problemas principais da educação e
dos quais ninguém parece lembrar-
se, talvez por serem demasiado
simples: a falha na cultura geral dos
alunos, a falta de conhecimentos de
base que permitam aos estudantes
aprender com eficácia a matéria
leccionada e a inadequação dos
N
Educação modernaça, que desgraça!
48 nacional
Problemas diversos e
soluções falhadas, sempre
minaram o estado do ensino no
nosso país. Para onde caminha a
Educação em Portugal?
nacional 49
se, talvez por serem demasiado
simples: a falha na cultura geral dos
alunos, a falta de conhecimentos de
base que permitam aos estudantes
aprender com eficácia a matéria
leccionada e a inadequação dos con-
teúdos lectivos ao mercado de
trabalho.
No meio disto tudo há ainda outro
grande problema, é que a principal
preocupação de todos os governos
parece ser a redução de custos,
enquanto alguns professores andam
mais preocupados com outras lutas
e a importância superior da edu-
cação perde-se no meio de tantos
interesses.
Senão vejamos…
Encerram-se os estabelecimentos de
ensino de pequena dimensão (com
menos de 10 alunos, num primeiro
momento, e com menos de 20
alunos, numa fase seguinte), sob o
chapéu da falta de viabilidade
educativa e, acima de tudo, da
viabilidade financeira, e propõe-se a
passagem dos alunos afectados por
esta medida para estabelecimentos
de ensino com melhores infra-
estruturas e recursos ou para
centros escolares que respondam às
exigências pedagógicas cada vez
mais complexas, de modo a garantir
melhores condições de ensino.
Esta reorganização do parque
escolar tem como objectivo a
criação de condições de igualdade
no acesso a um ensino de qualidade,
pondo fim às assimetrias existentes
no território nacional, e a redução
da dispersão de meios e recursos.
É sem dúvida um importante degrau
da tão necessária evolução do
sistema educativo português e é um
passo fundamental na adequação da
rede educativa ao momento
presente e, acima de tudo, no
lação concentrada numa faixa litoral
de cerca de quinze quilómetros e
boas acessibilidades em grande
parte do território nacional.
No início da década de 50 Portugal
apresentava uma pirâmide etária
jovem, reflexo de um país
manifestamente subdesenvolvido,
uma economia essencialmente
baseada na agricultura e uma rede
de acessibilidades profundamente
deficitária.
O elevado número de crianças e a
notória dificuldade de deslocação,
mesmo entre os diferentes lugares
de uma mesma freguesia, contribuiu
para uma expansão muito
significativa do número de
estabelecimentos de ensino, em
especial do 1º Ciclo do Ensino
Básico, apresentando a esmagadora
maioria apenas uma ou duas salas
de aula.
Em situação antagónica, actual-
mente o nosso país apresenta uma
pirâmide etária envelhecida, uma
economia maioritariamente
baseada nos serviços e uma rede de
acessibilidades que transformou
por completo a relação espaço-
tempo, encurtando distâncias e
tornando locais anteriormente
longínquos, hoje bastante mais
próximos.
A crescente diminuição das classes
etárias mais jovens e o aumentar
dos escalões etários mais idosos
reflecte-se, naturalmente, na
população escolar, que, como é bem
evidente na análise dos valores dos
nascimentos registados no
território nacional entre 2000 e
2010, regista uma forte tendência
de decréscimo.
É sem dúvida um importante degrau
da tão necessária evolução do
sistema educativo português e é um
passo fundamental na adequação da
rede educativa ao momento presen-
te e, acima de tudo, no perspetivar
do seu futuro.
Não nos podemos esquecer que
Portugal sofreu, nas últimas
décadas, profundas transformações
e que os atuais edifícios, na sua
esmagadora maioria herdados do
Plano dos Centenários, não respon-
dem aos crescentes desafios educa-
tivos.
No último meio século o país e o seu
território mudaram profundamente,
tendo-se passado de um país
profundamente rural, com uma
população distribuída pelo todo do
território nacional e acessibilidades
deficitárias, a um país predomi-
nantemente urbano, com a popu-
lação concen-trada numa faixa
litoral de cerca de 15 km e boas
acessibilidades em grande parte do
território nacional.
No início da década de 50 Portugal
apresentava uma pirâmide etária
jovem, reflexo de um país
manifestamente subdesenvolvido,
uma economia essencialmente
baseada na agricultura e uma rede
de acessibilidades profundamente
deficitária.
50 nacional
Em situação antagónica, actual-
mente o nosso país apresenta uma
pirâmide etária envelhecida, uma
economia maioritariamente basea-
da nos serviços e uma rede de
acessibilidades que transformou
por completo a relação espaço-
tempo, encurtando distâncias e
tornando locais anteriormente
longínquos, hoje bastante mais
próximos.
A crescente diminuição das classes
etárias mais jovens e o aumentar
dos escalões etários mais idosos
reflecte-se, naturalmente, na
população escolar, que, como é bem
evidente na análise dos valores dos
nascimentos registados no
território nacional entre 2000 e
2010, regista uma forte tendência
de decréscimo.
vou-se também uma profunda
alteração dos padrões de mobi-
lidade e uma grande evolução ao
nível das práticas pedagógicas, quer
do ponto de vista dos conteúdos
educativos, quer do ponto de vista
das necessidades em termos de
espaço físico.
Todas estas transformações torna-
ram desajustada a rede educativa
deste princípio de século XXI e
deixaram bem evidente a
necessidade da reorganização do
parque escolar, no entanto, embora
não restem muitas dúvidas quanto
ao pressuposto que esteve na sua
base, a problemática reside na
forma em como todo este processo
foi conduzido pelo anterior governo
e não nas metas que se pretendiam
com ele atingir.
Não será que sob a máscara da
modernização dos estabelecimentos
de ensino e da rentabilização de
espaços e de profissionais não se
esqueceram outros alicerces
igualmente determinantes para o
desenvolvimento do nosso país?
É preciso perceber que o
encerramento das pequenas escolas
e a concentração da população
escolar em estabelecimentos de
ensino de maior dimensão não é
possível de ser aplicada de forma
cega e segundo os mesmos critérios
à totalidade do território nacional.
A dispersão geográfica, a deficiente
rede de acessibilidades, as barreiras
morfológicas e a falta de dinamismo
demográfico e socioeconómico que
caracterizam vastos sectores do
nosso país têm obrigatoriamente de
ser consideradas nas decisões a
tomar, sob pena de obrigar as
crianças com idade compreendida
entre os seis e os nove anos a
percorrer enormes distâncias
diariamente e de acentuar o
fenómeno da desertificação que
algumas regiões do território
A crescente diminuição das classes
etárias mais jovens e o aumen
-tar dos escalões etários mais
idosos reflecte-se, naturalmente,
na população escolar, que, como é
bem evidente na análise dos
valores dos nascimentos regis-
tados no território nacional entre
2000 e 2010, regista uma forte
tendência de decréscimo.
A par destas modificações obser-
vou-se também uma profunda
alteração dos padrões de
mobilidade e uma grande evolução
ao nível das práticas pedagógicas,
quer do ponto de vista dos
conteúdos educativos, quer do
ponto de vista das necessidades em
termos de espaço físico.
Todas estas transformações
tornaram desajustada a rede
educativa deste princípio de século
XXI e deixaram bem evidente a
necessidade da reorganização do
parque escolar, no entanto, embora
não restem muitas dúvidas quanto
ao pressuposto que esteve na sua
base, a problemática reside na
forma em como todo este processo
foi conduzido pelo anterior governo
e não nas metas que se pretendiam
com ele atingir.
Não será que sob a máscara da
modernização dos estabelecimentos
de ensino e da rentabilização de
espaços e de profissionais não se
esqueceram outros alicerces
igualmente determinantes para o
desenvolvimento do nosso país?
É preciso perceber que o
encerramento das pequenas escolas
e a concentração da população
escolar em estabelecimentos de
ensino de maior dimensão não é
possível de ser aplicada de forma
cega e segundo os mesmos critérios
à totalidade do território nacional.
A dispersão geográfica, a deficiente
rede de acessibilidades, as barreiras
morfológicas e a falta de dinamismo
deixaram bem evidente a neces-
sidade da reorganização do parque
escolar, no entanto, embora não
restem muitas dúvidas quanto ao
pressuposto que esteve na sua base,
a problemática reside na forma em
como todo este processo foi
conduzido pelo anterior governo e
não nas metas que se pretendiam
com ele atingir.
Não será que sob a máscara da
modernização dos estabelecimentos
de ensino e da rentabilização de
espaços e de profissionais não se
esqueceram outros alicerces igual-
mente determinantes para o desen-
volvimento do nosso país?
É preciso perceber que o encer-
ramento das pequenas escolas e a
concentração da população escolar
em estabelecimentos de ensino de
maior dimensão não é possível de
ser aplicada de forma cega e
segundo os mesmos critérios à
totalidade do território nacional.
A dispersão geográfica, a deficiente
rede de acessibilidades, as barreiras
nacional 51
para os adultos.
Não há dúvida de que o
desenvolvimento do nosso país nos
confronta com uma opção clara e
inadiável, a de apostar na qualifi-
cação da população portuguesa, mas
quando se olha para a forma como a
educação tem vindo a ser tratada
fica-se com a impressão de que para
elevar o nível de alfabetização e
atingir valores simpáticos nos
rankings se está a esquecer o seu
verdadeiro objectivo, o de ensinar e
o de aprender.
Não se trata de estar contra que as
pessoas tenham segundas oportuni-
dades, aquelas que revelam dificul-
dades no seguimento do percurso
escolar regular, mas que continuam
a desejar investir na sua formação,
ou aquelas que por diferentes
contrariedades impostas pela vida
não conseguiram concluir a
formação, cada vez mais se aperce-
bem que não precisam de trabalhar
para conseguir um resultado
positivo, porque alguém está lá para
o garantir por eles.
Trata-se, naturalmente, da Iniciativa
Novas Oportunidades, apresentada
em 2005 pelo anterior governo, com
o objectivo de dar resposta aos
baixos índices de escolarização dos
portugueses, tendo como principal
finalidade alargar o referencial
mínimo de formação até ao 12º ano
de escolaridade para jovens e
adultos e assente em dois pilares:
uma oportunidade nova para os
jovens e uma nova oportunidade
para os adultos.
Não há dúvida de que o
desenvolvimento do nosso país nos
confronta com uma opção clara e
inadiável, a de apostar na
qualificação da população
maior dimensão não é possível de
ser aplicada de forma cega e
segundo os mesmos critérios à
totalidade do território nacional.
A dispersão geográfica, a deficiente
rede de acessibilidades, as barreiras
morfológicas e a falta de dinamismo
demográfico e socioeconómico que
caracterizam vastos sectores do
nosso país têm obrigatoriamente de
ser consideradas nas decisões a
tomar, sob pena de obrigar as
crianças com idade compreendida
entre os seis e os nove anos a
percorrer enormes distâncias
diariamente e de acentuar o
fenómeno da desertificação que
algumas regiões do território
nacional têm vindo a sofrer de
forma crescente. É importante não
esquecer que há um país para além
do litoral e onde nem tudo é já ali ao
lado.
Convenceram-se as pessoas de que
como viveram muito já sabem muito
e por isso merecem um diploma, em
vez de lhes proporcionar uma
educação de qualidade, para
colmatar o facto de a ela não terem
tido acesso no passado. Isto é,
claramente, uma fraude. Não é que o
que aprenderam ao longo da vida
nos diferentes contextos não tenha
valor, porque o tem, mas por muito
honestas e trabalhadoras que sejam,
se não aprenderam português,
matemática, línguas estrangeiras ou
ciências, não merecem um diploma.
O mesmo se passa com os jovens,
que com uma tão grande diversi-
ficação das vias de educação e
formação, cada vez mais se
apercebem que não precisam de
trabalhar para conseguir um
resultado positivo, porque alguém
está lá para o garantir por eles.
Trata-se, naturalmente, da Iniciativa
52 nacional
visíveis. Falta qualidade e sobra indis-
ciplina quando medimos os resul-
tados através dos alunos e do nível
com que ingressam o Ensino
Superior. Dominam mal a língua ma-
terna, não só na sua expressão oral,
mas sobretudo na sua forma escrita, e
não sabem fazer cálculos simples.
É por isso urgente acabar com a
ideia de que tudo é igual e de que
não se pode avaliar com objecti-
vidade para não traumatizar as
criancinhas e, sobretudo, os maus
estudantes, sob pena de abalarmos
de forma irremediável o futuro do
nosso país. Ao preparar deficien-
temente as crianças para a vida
adulta, prepara-se uma sociedade
futura sem futuro.
Esqueceu-se a importância que a
qualidade do corpo docente assume
na qualidade da aprendizagem dos
alunos, mais do que qualquer infra-
estrutura, equipamento ou material.
A falta de qualidade do sistema
educativo já chegou ao Ensino
Superior e ter um curso superior
deixou de significar que essa pessoa
tem as competências para as quais
está certificada. A facilidade com
que hoje alguém consegue terminar
um curso superior, tirar um
mestrado e, não tarda muito, um
doutoramento é simplesmente
assustadora.
Claro é que a consequência deste
estado das coisas é que muitos deles
nem para si sabem, muito menos
para ensinar. É por isto tudo
necessário intervir rapidamente e
agir num primeiro nível de
actuação, para garantir que apenas
aqueles dotados das capacidades e
qualificações necessárias terminam
um curso superior e são
considerados aptos a exercer com
responsabilidade a difícil e essencial
dades no seguimento do percurso
escolar regular, mas que continuam
a desejar investir na sua formação,
ou aquelas que por diferentes
contrariedades impostas pela vida
não conseguiram concluir a
escolaridade obrigatória ou mesmo
dar continuidade aos estudos, mas
não podemos sob esse pretexto
simular aprendizagens e promover
o facilitismo e não o trabalho e o
esforço individual e das famílias e
dar oportunidades a quem não as
merece e que posteriormente vai
competir em igualdade de
circunstâncias com outros que aí
chegaram com mérito próprio e não
porque foram levados ao colo.
Diminuiu-se o grau de exigência do
ensino regular, pressionam a infla-
ção das notas, o que facilita a
transição de ano de alunos que
deviam ficar retidos, e acabam
tendencialmente com as reprova-
ções, em vez de manterem um
ensino de qualidade, certificado por
um sistema de avaliação justo,
alicerçado no mérito e que premeie
o sacrifício e o esforço.
Por todas estas razões, quando se
observam os resultados dos exames
nacionais de Matemática do 12º ano
dos últimos anos, que melhoraram
significativamente, não restam dúvi-
das em perceber que não se devem
a uma melhoria do nível de
conhecimentos dos alunos, mas,
sim, a uma maior facilidade do
exame.
E os resultados desta política não
tardaram a aparecer, sendo já bem
E os resultados desta política não
tardaram a aparecer, sendo já bem
visíveis. Falta qualidade e sobra
na qualidade da aprendizagem dos
alunos, mais do que qualquer infra-
estrutura, equipamento ou material.
A falta de qualidade do sistema
educativo já chegou ao Ensino
Superior e ter um curso superior
deixou de significar que essa pessoa
tem as competências para as quais
está certificada. A facilidade com
que hoje alguém consegue terminar
um curso superior, tirar um
mestrado e, não tarda muito, um
doutoramento é simplesmente
assustadora.
Claro é que a consequência deste
estado das coisas é que muitos deles
nem para si sabem, muito menos
para ensinar. É por isto tudo
necessário intervir rapidamente e
agir num primeiro nível de
actuação, para garantir que apenas
aqueles dotados das capacidades e
qualificações necessárias terminam
um curso superior e são consi-
derados aptos a exercer com
responsabilidade a difícil e essencial
tarefa de ensinar.
Mas se este primeiro nível de
actuação continuar a falhar, pois
não resta outra alternativa senão
implementar um exame de ingresso
na carreira, intenção já afirmada
pelo actual Ministro da Educação.
Deixemo-nos, portanto, de julgar os
docentes como uma classe especial
e protegida, há bons e maus
professores, como há bons e maus
profissionais em qualquer área.
nacional 53
transitar alunos sempre a pairar
sobre eles.
Este novo sistema parece quase
sugerir que a vítima conta menos que
o prevaricador e confunde liberdade
com desresponsabilização.
Devolvam a autoridade e liberdade
aos professores, o aluno não vale
tanto como o professor, e respon-
sabilizem os pais pela indisciplina
dos filhos. É no seio da família que
deve começar a educação. A escola
deve apenas dar continuidade e
consolidar esse trabalho e pro-
porcionar instrução.
Preocupa porque, ao renunciar a
uma das suas obrigações funda-
mentais, que é a de educar, o Estado
acaba com a igualdade de acesso a
uma educação de qualidade, pois as
escolas privadas não vão nestas
cantigas e talvez seja por isso que há
tanta procura nos colégios com
contrato de associação.
A continuar assim parece que
estamos a contribuir para a
formação de cidadãos pouco
preparados para as exigências
competitivas da sociedade actual e
apoio-dependentes, em vez de
promover o trabalho de cada um e
de valorizar o empreendedorismo.
Chega de facilitismos, tratem a
educação como um meio e uma
forma de chegar mais longe e de
desenvolver o potencial humano do
nosso Portugal, façam as pessoas
sentirem-se como tal e não meros
números nas estatísticas.
A verdade é que chegamos a um
estado em que ninguém gosta do
que tem mas também ninguém sabe
como deveria ser. E convençamo-
nos de uma coisa, uma casa não se
começa a construir pelo telhado. Por
esta razão, não há reforma
derados aptos a exercer com res-
ponsabilidade a difícil e essencial
tarefa de ensinar.
Mas se este primeiro nível de
actuação continuar a falhar, pois
não resta outra alternativa senão
implementar um exame de ingresso
na carreira, intenção já afirmada
pelo actual Ministro da Educação.
Deixemo-nos, portanto, de julgar os
docentes como uma classe especial
e protegida, há bons e maus profes-
sores, como há bons e maus profis-
sionais em qualquer área.
Retiram aos professores a autori-
dade dentro das salas de aula e
acabam com a liberdade de avaliar
justamente, com a pressão para
transitar alunos sempre a pairar
sobre eles.
Este novo sistema parece quase
sugerir que a vítima conta menos
que o prevaricador e confunde
liberdade com
desresponsabilização.
Devolvam a autoridade e liberdade
aos professores, o aluno não vale
tanto como o professor, e
responsabilizem os pais pela
indisciplina dos filhos. É no seio da
família que deve começar a
educação. A escola deve apenas dar
continuidade e consolidar esse
trabalho e proporcionar instrução.
mentais, que é a de educar, o Estado
acaba com a igualdade de acesso a
uma educação de qualidade, pois
as escolas privadas não vão nestas
cantigas e talvez seja por isso que
há tanta procura nos colégios com
contrato de associação.
A continuar assim parece que
estamos a contribuir para a
formação de cidadãos pouco
preparados para as exigências
competitivas da sociedade actual e
apoio-dependentes, em vez de
promover o trabalho de cada um e
de valorizar o empreendedorismo.
Chega de facilitismos, tratem a
educação como um meio e uma
forma de chegar mais longe e de
desenvolver o potencial humano do
nosso Portugal, façam as pessoas
sentirem-se como tal e não meros
números nas estatísticas.
A verdade é que chegamos a um
estado em que ninguém gosta do
que tem mas também ninguém sabe
como deveria ser. E convençamo-
nos de uma coisa: uma casa
não se começa a construir
pelo telhado. Por esta razão, não
há reforma educativa alguma que
tenha sucesso enquanto não
for decidido o que efectivamente
se pretende da Educação. Só a
partir daí se podem definir os
objectivos a atingir, posteri-
ormente os meios e recursos
necessários e, só depois… só
depois… o orçamento do Ministério
da Educação. Seria dese-jável mais
dinheiro? Talvez, mas na situação
de emergência que Portugal vive
têm de se conseguir mais com
menos. Este é o desafio, acredito
que é possível.
54 nacional
48
Vera Rodrigues
Assim, a dimensão e a evidência que estes dados
deixam transparecer, constituem o falhanço
indesmentível das políticas orçamentais
expansionistas que o PS sempre apoiou e que hoje,
paradoxalmente, ainda defende.
Pelo contrário, o CDS nunca ignorou que a dívida
crescente e os problemas inerentes dos sucessivos
défices, estão na base do agravamento da crise da
dívida soberana, dos constrangimentos que essa
mesma dívida coloca à banca portuguesa, do efeito
negativo no crédito da banca perante as nossas
empresas e também na base das consequências
inevitáveis sobre as taxas de desemprego e sobre a
fraca dinâmica económica. De facto, só o PS, por artes
mágicas ou pura irresponsabilidade, consegue
separar o crescimento e o emprego, da perigosa
dinâmica da dívida e do défice. Trata-se de um ciclo
vicioso de variáveis interdependentes, onde as
ultimas têm efeitos incontornáveis e previsíveis sobre
as primeiras.
O CDS alertou sucessivas vezes para os perigos da
dívida e de uma política orçamental expansionista,
que foi tolhendo a iniciativa privada, ao mesmo tempo
que exigia mais impostos às famílias e às empresas.
Foi um erro grave e condicionou perversamente o
investimento que devia ter sido essencialmente
privado, e não público, como acabou por acontecer
reiteradamente.
O estado intervencionista, como actor da economia,
desempenha um papel que definitivamente não vai de
encontro ao modelo de estado em que acredito, e se
mais não fosse por qualquer outra razão, seria a da
evidência da circunstância que o país hoje vive.
Infelizmente, o que temos hoje não é bom.
Infelizmente, o tempo veio dar-nos razão!
Porém, o rumo inverteu-se e a boa notícia é que
começamos a sentir os primeiros resultados da
política orçamental deste governo PSD/CDS. Por um
lado, temos sucessivas avaliações positivas da parte
de quem nos empresta dinheiro, que tem originado a
libertação das sucessivas “tranches” do empréstimo e
que permitem que continuemos a poder honrar os
política orçamental está na ordem do dia. Nunca
se debateram tanto e com tanto entusiasmo
teorias macroeconómicas e concepções mais ou
menos filosóficas do que deve ser a acção e/ou a
intervenção no governo na condução dos destinos do
país. Mas nunca os portugueses tiveram tão presentes e
tão óbvios, mais do que essas mesmas teorias, os
resultados práticos das erradas opções, que foram
sendo assumidas pela esquerda, na governação do
nosso país.
Afinal de contas, o que nos trouxe a política orçamental
expansionista, seguida nos últimos anos?
Resumidamente, trouxe défices orçamentais acima dos
3% (chegando aos 10% em 2011), níveis de
desemprego a superar os 8% a partir de 2009, dívida
pública num crescimento galopante e a incapacidade de
o estado pagar aos seus fornecedores. O fim da história
não podia ser feliz e a desconfiança por parte dos
mercados, em relação à capacidade de honrarmos os
nossos compromissos, acabou por traduzir-se no
inevitável pedido de ajuda financeira, que nos tolheu a
autonomia e a soberania do país. A título de exemplo, da
grandeza do descalabro do PS, em seis anos de governo
Sócrates, a dívida directa do estado cresceu tanto como
em 20 anos, se considerarmos o período de 1980 a
1999, e cresceu o dobro do que no período de 1999 a
2004. Estão em causa mais 61 mil milhões de euros. Foi
quanto aumentou a dívida com o PS no governo, o que
equivale a uma percentagem de 67% de aumento, no
período de “apenas” seis anos.
Assim, a dimensão e a evidência que estes dados deixam
transparecer, constituem o falhanço indesmentível das
políticas orçamentais expansionistas que o PS sempre
apoiou e que hoje, paradoxalmente, ainda defende.
A política orçamental
A
56 opinião
Vera Rodrigues
49
Vera Rodrigues
lado, temos sucessivas avaliações positivas da
parte de quem nos empresta dinheiro, que tem
originado a libertação das sucessivas “tranches”
do empréstimo e que permitem que continuemos
a poder honrar os nossos compromissos com
credores e fornecedores do estado.
Por outro lado, a execução orçamental do
primeiro trimestre, se excluídos os factores que
não dependem da acção directa deste governo
(mas de compromissos já assumidos no
passado), demonstra o controlo da despesa : o
corte da despesa primária em 4.3%, e da despesa
corrente primária em 3.8 %. O estado está
definitivamente a controlar os seus gastos e o
nível do défice está muito abaixo dos
compromissos do MoU para o primeiro trimestre
do ano. Deve ainda salientar-se que o impacto
das medidas de consolidação orçamental, ainda
não estão reflectidos nos dados que se conhecem
até hoje, em contabilidade pública.
Finalmente, todo o esforço que os portugueses
têm suportado, aliado ao trabalho de
credibilização que o governo tem estado a levar a
cabo a nível internacional, têm-se traduzido na
descida das yields no mercado secundário, o que
constitui um importantíssimo indicador sobre o
nosso país e sobre a nossa capacidade de
cumprir. Sente-se já algum alívio da pressão que
pairava sobre Portugal, por parte dos mercados
internacionais.
A política orçamental do actual governo, tem
como objectivo essencial a diminuição do
endividamento e das necessidades de
financiamento da economia portuguesa. Esta
pode não ser a “via verde” para o crescimento,
mas é inequivocamente, a única via possível, a
bem das novas gerações. Pelo menos, que nos
deem o benefício da dúvida…vai valer a pena!