popcom #05

50
, ,

Upload: gabinete-de-estudos-goncalo-begonha

Post on 27-Mar-2016

219 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

popcom - informação e formação | Esta edição conta com uma entrevista exclusiva de António Lobo Xavier, conhecido militante do CDS e uma das mais respeitadas figuras da política portuguesa. Poderás ler ainda as algumas notícias do que de melhor se vai fazendo na JP por todo o país, a melhor análise dos últimos acontecimentos a nível internacional, uma peça sobre o papel das IPSS no contexto de crise, um interessante dossier ideológico e muito mais!

TRANSCRIPT

Page 1: popcom #05

‘ ,

,

Page 2: popcom #05

Ano 2 | Número 5 | Janeiro de 2013

Tiago Loureiro

Diogo Pascoal

Francisco Ancêde

Joana Martins Rodrigues

Lúcia Santos

Luís Pedro Mateus

Rafael Borges

Miguel Pires da Silva

António Lobo Xavier

O não está de acordo com

o novo acordo. Por isso, é escrito

segundo a antiga ortografia.

Lg. Adelino Amaro da Costa, nº 5

1149-063 Lisboa

goncalobegonha.org

popcom.blogs.sapo.pt

[email protected]

2 sumário

Editorial Tiago Loureiro

Palavra de Presidente Miguel Pires da Silva

Sobre as Lajes Rafael Borges

Antes de reformar, é preciso ser-se Luís Pedro Mateus

Portugal no Mundo

Francisco Ancêde

António Lobo Xavier: “O CDS deve evitar, a todo o custo, uma crise política.”

Perto de casa Rafael Borges

Perigos de igualitarismos ocultos Luís Pedro Mateus

O papel das IPSS no contexto actual de crise Lúcia Santos

Page 3: popcom #05

‘Eu é que sou o Presidente da Junta’

e nada de extraordinário acontecer

entretanto, o ano que agora começa terá

o seu facto político mais relevante perto do

seu final. A menos de um ano de distância, as eleições

autárquicas começam a ganhar o lugar de protago-

nista na vida dos partidos e nas páginas dos jornais.

Mas desta vez, a rotina enfadonha de múltiplas

candidaturas, a milhares de orgãos, lançadas com

uma antecedência épica, terá a companhia de dois

novos e importantes factos: a aglomeração de fre-

guesias e lei de limitação de mandatos autárquicos.

No primeiro caso, o país vai testar um novo mapa

elaborado com critérios definidos centralizadamente,

que tomam o país como um todo uniforme, com as

mesmas características e as mesmas necessidades

em cada um dos seus cantos. Se é verdade que em

certos municípios não se justifica, sequer, a

existência de juntas de freguesia, outros há em que a

existência desses orgãos, verdadeiros oásis de

proximidade entre as populações e o estado e vários

dos seus serviços, são de uma importância premente

e justificam a sua manitenção, mesmo que

contrariem os padrões higiénicos definidos pelo

governo.

Para além de não acautelar estes pormenores, esta

reforma a régua e esquadro, feita em cima do joelho

para a Troika ver, acomula outro efeito perverso:

descredibiliza uma reforma urgente e necessária,

desde que bem feita. E essa, para além de ter olhado a

junção de freguesias com o cuidado que cada caso

merece, poria em cima da mesa a questão da

agregação de municípios, essa sim potencialmente

eficaz na hora de tirar dividendos em termos de

criação de pólos mais atractivos, tornar a

administração do território mais eficaz e racionalizar

despesa.

Quanto à à lei que se preparava para determinar a

extinção de vários dinossauros das nossas

S

Tiago Loureiro

editorial 3

Quanto à lei que se preparava para determinar a extinção de vários dinossauros das nossas autarquias, o instinto de sobrevivência da ralé politiqueira portuguesa vai-nos conduzindo a um 'não é bem assim'. Os dinossauros reduzir-se-ão à dimensão de galos e cantarão noutros poleiros.

No primeiro caso, o país vai testar um novo mapa

elaborado com critérios definidos

centralizadamente, que tomam o país como um todo

uniforme, com as mesmas características e as mesmas

necessidades em cada um dos seus cantos. Se é

verdade que em certos municípios não se justifica,

sequer, a existência de juntas de freguesia, outros há

em que a existência desses orgãos, verdadeiros oásis

de proximidade entre as populações e o estado e

vários dos seus serviços, são de uma importância

premente e justificam a sua manitenção, mesmo que

contrariem os padrões higiénicos definidos pelo

sequer, a existência de juntas de freguesia, outros

há em que a existência desses orgãos, verdadeiros oásis

de proximidahde entre as populações e o estado e

vários dos seus serviços, são de uma importância

premente e justificam a sua manitenção, mesmo que

contrariem os padrões higiénicos definidos

pelo governo.

Para além de não acautelar estes pormenores, esta

reforma a régua e esquadro, feita em cima do joelho

para a Troika ver, acomula outro efeito perverso:

descredibiliza uma reforma urgente e necessária,

desde que bem feita. E essa, para além de ter olhado a

junção de freguesias com o cuidado que cada caso

merece, poria em cima da mesa a questão da

agregação de municípios, essa sim potencialmente

eficaz na hora de tirar dividendos em termos de

criação de pólos mais atractivos, tornar a

administração do território mais eficaz e

racionalizar despesa.

Quanto à à lei que se preparava para determinar a

extinção de vários dinossauros das nossas autarquias,

o instinto de sobrevivência da ralé politiqueira

portuguesa vai-nos conduzindo a um conveniente

'não é bem assim'. Quando o espírito que conduziu à

elaboração da lei previa que a mesma tivesse um

carácter universal, uma lei mal feita (seguindo uma

bela tradição portuguesa) e um atento sentido de

oportunidade dos autarcas profissionais, protegidos

por uma tendência nacional para não mexer em

interesses instalados, promete encher as próximas

autárquicas de enganos e mentiras. A dança de

cadeiras começará. Os dinossauros reduzir-se-ão à

dimensão de galos e cantarão noutros poleiros.

E por isso, 2013 prolongará a discussão sobre

autárquicas até ao limite do entediante, como todos os

outros. E acrescentará uma nova cadeira ao curso de

espertice saloia d os donos da política em Portugal.

Page 4: popcom #05

A Juventude Popular do Porto

apresentou no dia 15 de

Dezembro aos seus militantes,

amigos e simpatizantes no Porto

de Honra de Tomada de Posse,

os novos órgãos concelhios, no

Rivoli Porto.

Neste evento houve ainda lugar a

uma acção solidária de recolha

de bens alimentares que foram

oferecidos à Caritas Diocesana do

Porto.

A estrutura passa, desta forma,

a ser liderada por Diogo Meireles

e terá Rishi Lakhani, Gustavo

Bonifácio e Maria Ramos como

Vice-Presidentes, enquanto que

Luísa Valério se manterá no cargo

de Secretária-Geral.

A líder cessante, Ana Castro,

assumirá agora as funções de Pre-

sidente da Mesa do Plenário.

Para além do discurso de Diogo

Meireles, o evento ficou marcado

pelas intervenções do Presidente

da Concelhia do Porto do CDS,

Pedro Moutinho, e dos Presidentes

das Distrital do Porto da JP e do

CDS, João Ribeirinho Soares e

Álvaro Castello-Branco, respec-

tivamente. O Presidente da

Comissão Política Nacional da JP,

Miguel Pires da Silva, também

dirigiu algumas palavras aos

presentes.

JP Porto

Marques, tendo sido eleito com o

apoio unânime dos congressistas

presentes.

A moção global apresentada pela lista

A, denominada “Pensar Setúbal,

Crescer Portugal”, encabeçada por

Hélder Rodrigues, foi ainda alvo de

discussão nos seus vários pontos ao

longo do dia, mostrando espírito

crítico por parte dos militantes, ainda

que apoiassem a referida. A concelhia

de Almada apresentou uma moção

sectorial sobre Ordenamento e

Planeamento do Território que foi

também aprovada por larga maioria,

e uma outra moção sectorial sobre a

Acção Social foi apresentada, tendo

como subscritores alguns membros

da Comissão Política Distrital, tendo

sido ela também aprovada.

Foi um dia marcado por muito

discursos, uns mais sentidos, outros

ideológicos, bem como pragmáticos.

Ainda que unânime no seu apoio à

nova equipa, o distrito de setúbal da

Juventude Popular mostrou-se com

sentido crítico, assente em várias

diferenças entre os militantes, mas

nunca esquecendo a importância da

unidade, mais ainda nos tempos de

crise em que vivemos.

JP Distrital Setúbal

No passado dia 18 de Novembro,

foi eleita a nova Comissão Política

Distrital da Juventude Popular

no V Congresso Distrital, realizado

em Setúbal.

Depois de ter recuperado e liderado

a Distrital de Setúbal durante três

anos, Francisco Soromenho-Marques

entendeu que estava na altura de dar

lugar a outros, visto que já tinha sido

estabelecida uma estrutura robusta

com membros empenhados e

competentes. No Congresso também

estiveram presentes os Srs. Presi-

dente e Secretário-Geral da Comissão

Política Nacional, Miguel Pires da

Silva e José Miguel Lello, res-

pectivamente, além do deputado

eleito pelo círculo eleitoral de

Setúbal, João Viegas.

O novo Presidente da Distrital,

Hélder Rodrigues, é já um membro

experiente da Juventude Popular e

tendo assistido à recente formação

da Distrital Setúbal, procurou

sempre ajudar e contribuir para a

expansão, manutenção e planea-

mento da estrutura distrital.

Os membros da Juventude Popular

do Distrito de Setúbal assim enten-

deram que seria um bom candidato à

sucessão de Francisco Soromenho-

4 notícias

Hélder Rodrigues eleito Presidente da Distrital de Setúbal

Nova equipa da JP Porto já tomou posse

Page 5: popcom #05

podem candidatar”, afirmou.

Para o líder da JP, esta proposta do

Governo “não faz sentido numa altura

destas”. “Não faz sentido dar mais

peso a estruturas intermédias e estar

criar mais estruturas”, considerou.

O Parlamento discute esta quarta-

feira à tarde a proposta de lei do

Governo que estabelece o regime

jurídico das autarquias locais e

aprova o estatuto das entidades

intermunicipais, além do regime

jurídico da transferência de

competências do Estado para as

autarquias locais e para as enti-dades

intermunicipais.

Público

criação de novos cargos”, afirmou

Miguel Pires da Silva.

O Presidente da Juventude Popular

referiu que esta proposta de lei

“acaba com cargos dirigentes nas

câmaras, de assessores e de

adjuntos”, mas “reforça o poder das

comunidades intermunicipais, au-

mentando os secretários executivos

das comunidades intermunicipais

de um para três, com vencimento de

vereador a tempo inteiro”.

“Esta reforma cria 60 novos cargos

dirigentes nas comunidades inter-

municipais, que eu espero que não

venham a ser ocupados por presi-

dentes de câmaras que já não se

podem candidatar”, afirmou.

Para o líder da JP, esta proposta do

Governo “não faz sentido numa

altura destas”. “Não faz sentido dar

mais peso a estruturas intermédias

e estar criar mais estruturas”,

considerou.

O Parlamento discute esta quarta-

feira à tarde a proposta de lei do

Governo que estabelece o regime

jurídico das autarquias locais e

aprova o estatuto das entidades

intermunicipais, além do regime

jurídico da transferência de

competências do Estado para as

autarquias locais e para as

entidades intermunicipais.

Juventude Popular critica Governo por “criar mais cargos” nas comunidades intermunicipais O presidente da Juventude

Popular, Miguel Pires da Silva,

criticou esta quarta-feira a

proposta do Governo sobre

autarquias locais por “criar mais

cargos” nas comunidades inter-

municipais, advertindo que estes

podem servir para autarcas “que já

não se podem candidatar”.

“O espírito desta reforma devia ser

totalmente ao contrário, com menos

cargos e menos gente. Numa altura

de sacrifícios enormes, com os

impostos que os portugueses vão

ter de pagar no próximo e com esta

crise que nos assola grave-

mente, ninguém compreende a

notícias 5

Page 6: popcom #05

No passado dia 5 de Janeiro, a

Juventude Popular de Penafiel

realizou as Jornadas da Agri-

cultura. A sessão de abertura foi

presidida pelo Vereador da

Juventude da Câmara Municipal de

Penafiel, Dr. Antonino de Sousa. As

jornadas foram compostas por dois

painéis de debate, em que no

primeiro se debateu “O Papel da

Agricultura no Orçamento de Estado

2013” tendo como oradores o

Deputado do CDS-PP, Abel Baptista

e o Deputado do PS, Fernando Jesus,

sendo o moderador o Secretário-

Geral da JP José Miguel Lello. Já no

segundo painel, cujo tema era

“Agricultura: Uma solução para a

crise?” contamos com a presença da

Vereadora da Câmara Municipal de

Penafiel, Dra. Susana Oliveira e o

Director Regional da Agricultura e

Pescas Norte, Dr. Manuel Cardoso,

importante momento de debate

sobre um tema pertinente e, tendo

em conta a actualidade política

económica e social urge um

diálogo sério e profícuo com a

sociedade civil. A nossa estru-

tura local decidiu dinamizar esta

iniciativa para sensibilizar a

população ao tema, já que

acreditamos que os jovens e as

famílias possam concretizar

na agricultura todo o seu espírito

empreendedor, tornando-o numa

solução para a crise e contri-

buindo desta forma para a

economia local. JP Penafiel

“Agricultura: Uma solução para a

crise?” contamos com a presença

da Vereadora da Câmara Municipal

de Penafiel, Dra. Susana Oliveira e o

Director Regional da Agricultura e

Pescas Norte, Dr. Manuel Cardoso,

estando a moderar o Vice Grão-

Mestre da Confraria Melão Casca de

Carvalho, Arq. Luís Costa. Na

sessão de encerramento tomou a

palavra o Presidente da Juventude

Popular, Dr. Miguel Pires da Silva, o

Presidente da JP Penafiel Pedro

Pinto Lopes e por fim o Presi-

dente da Cooperativa Agrícola

de Penafiel.

A JP Penafiel acredita que foi um

importante momento de debate

sobre um tema pertinente e, tendo

em conta a actualidade política

económica e social urge um diálogo

sério e profícuo com a sociedade

civil. A nossa estrutura local

Juventude Popular de Penafiel organiza Jornadas da Agricultura

6 notícias

Page 7: popcom #05

O V Conselho Distrital de Braga,

realizado no fim-de-semana de 1

e 2 de Dezembro de 2012, em

Guimarães, ficou marcado com o

lançamento do Jornal GO –

Geração Online pelo recém-criado

Gabinete de Comunicação e Imagem

da Distrital de Braga de forma a ser

uma ferramenta de divulgação e

intervenção de âmbito regional. O

Presidente Distrital bracarense,

Sérgio Lopes, afirmou que “o

Geração Online surge como um

instrumento para aproximar os

jovens e a vida política e de trabalho

em prol da sociedade e da nossa

região. Queremos mostrar que com

o contributo de todos, conseguimos

fazer muito pelos nossos concelhos,

pelas nossas instituições e pelo

nosso tecido económico." A título

O final de 2012 foi particular-

mente agitado para a concelhia de

Lisboa da Juventude Popular.

No dia 28 de Novembro, o Auditório

S.0.11 da Universidade Lusófona

encheu para assistir ao debate entre

Juventudes Partidárias, organizado

pela concelhia lisboeta, subordinado

ao tema: "Juventudes Partidárias:

para que vos quero?". Mais de 60

jovens marcaram presença neste

evento e ficaram a conhecer as

diferenças e as semelhanças que

caracterizam a convivência política

entre estas organizações represen-

tativas dos jovens. Estiveram

presentes André O´Neill (JSD), Pedro

Saraiva (JS) e Joseh Silva (BE), assim

como o Presidente da Juventude

Popular de Lisboa, Francisco

Rodrigues dos Santos. A moderação

esteve a cargo de Hélder Santos

Correia.

Dois dias depois foi apresentado o

Manuel do Militante, editado pela JP

Lisboa. Mais iniciativas destas se

seguirão, por Lisboa, de modo a dar a

conhecer aos jovens os pilares

ideológicos da JP. Terminado esse

circuito de apresentação do Manual,

ele será disponibilizado na internet,

em formato digital.

JP Lisboa

de exemplo é o trabalho que temos

desenvolvido a ajudar as empresas

da nossa região no contacto com con-

sulados de outros países de forma a

incentivarmos a internacionalização

das nossas empresas”.

Este evento ainda contou com a

presença também do Deputado da

Assembleia da República e Presi-

dente da Distrital de Braga do

CDS/PP, Eng. Altino Bessa, que

encerrou o Conselho Distrital refe-

rindo, relativamente à indiferença

dos jovens pela política, que “no caso

concreto da Juventude Popular de

Braga, felizmente as coisas têm

corrido bastante bem, desde novas

filiações a uma intervenção politica e

cívica muito significativa, como é o

exemplo deste Jornal GO”.

JP Distrital Braga

Distrital de Braga lança o ‘Jornal GO’

notícias 7

JP Lisboa promove debate entre ‘jotas’ e Manual do Militante

Page 8: popcom #05

8 notícias

No final do passado mês de

Dezembro, o Gabinete de Estu-

dos Gonçalo Begonha levou a

cabo um passatempo, em forma

de questionário, através do qual os

militantes da Juventude Popular se

habilitaram a ganhar um exemplar

do livro ‘Grandes Discursos do

Século XX’, lançado recentemente.

‘Grandes Discursos do Século XX’ é

um livro da autoria da ex-

Coordenadora do Gabinete de

Estudos Gonçalo Begonha, María

Luísa Aldim, e Eduardo Pereira

Correia, e constitui uma inédita

antologia que reúne discursos com-

pletos e memoráveis, introduzidos

pelas mais proeminentes figuras da

política nacional, que através dos

seus escritos e ao longo do tempo,

marcaram o país.

O passatempo, que registou uma

adesão bastante significativa, teve

como vencedor o militante da

Juventude Popular de Alcobaça,

António Pedro Barreiro, a quem o

Gabinete de Estudos Gonçalo

Begonha endereça os maiores

parabéns.

O Gabinete de Estudos Gonçalo

Begonha levará a cabo mais ini-

ciativas do género no futuro, e

apela a que todos os militantes

populares que estejam atentos e

que participem.

GEGB

e correcção das chamadas falhas de

mercado. O peso concreto do Estado

na Economia ganhou principal relevo

na década de 1990 com a

descentralização administrativa

sendo que a enorme despesa pública,

aliado ao fraco crescimento do sector

privado que hoje assistimos, também

é disso resultado.

Se o Estado deve ou não investir

na Economia e o papel que as

empresas públicas (TAP, RTP e CP)

têm neste momento também foi

discutido ressalvando que o CDS

sempre teve uma posição crítica

quanto à privatização de mono-

pólios naturais e uma posição

ainda mais crítica sobre o monopólio

de facto, garantido, através do

Estado, entre a EDP e a REN. A

deputada classificou ainda o modelo

de Parcerias Público Privadas como

um descalabro que prejudica imenso

os contribuintes e ameaça as

gerações futuras.

As questões do público presente

giraram à volta da “refundação” do

Estado, do papel que a actual

Constituição assume neste processo e

nas posições do CDS sobre todos

estes temas.

JP Maia

No passado dia 14 de Janeiro, a

Juventude Popular da Maia

recebeu, mais uma vez, a presença

da Deputada do CDS eleita pelo

círculo do Porto e Presidente

da Mesa do Conselho Nacional

da Juventude Popular, Vera

Rodrigues. Mais do que uma nova

visita ao concelho da Maia e análise

da sua situação política, algo que os

deputados do CDS têm vindo a fazer

junto de todas as concelhias

do partido, o momento foi

aproveitado para uma formação

sobre o tema “A Economia e o Papel

do Estado”. Um tema que se impunha

pela sua actualidade no que diz

respeito à discussão de “refunda-

ção” do Estado, às privatizações

e clima económico.

Perto de 30 militantes, simpatia-

zantes e amigos ouviram da deputada

uma análise clara e objectiva do

modelo de Estado vigente em

Portugal. Vera Rodrigues começou

por definir o conceito de Estado e

como ele compreende vários

organismos realçando que este

intervém na Economia regulando

o sector privado mas

também com objectivos de redu-

ção de desigualdades, estímulos

e correcção das chamadas falhas

JP Maia promove tertúlia sobre ‘A Economia e o papel do Estado’

Passatempo ‘Grandes Discursos do Século XX’

Page 9: popcom #05

notícias 9

JP Almada apresenta Projecto Alerta Escolas a Secretário de Estado

duvidosas, desses mesmos funcio-

nários. Ao nível da segurança

existem escolas que são obrigadas,

por diversos motivas das suas infra-

estruturas, a desligar os alarmes

que de furto que de incêndios e

todas elas, com excepção da do

Monte de Caparica, não possuem o

plano de evacuação de emergência

aprovado devido ao custo dos

mesmos.

A JP Almada fez chegar estes

problemas, e outros, ao Secretário

de Estado do Ensino e Admi-

nistração Escolar, João Casanova de

Almeida, que deu toda a atenção a

este trabalho e agradeceu à

Juventude Popular de Almada pela

sua contribuição. Garantiu, ainda,

que enviaria o relatório para as

diversas Secretarias de Estado e

para a Direcção Geral de Educação,

de forma a poder-se encon-

trar uma forma económica-

mente sustentável de se ajudar

estas instituições sem se come-

ter os erros de despesismo

que se assistiu em anteriores

governos.

A JP Almada agradeceu ao Secre-

tário de Estado do Ensino e

Administração Escolar e ao depu-

tado Michael Seufert por terem

recebido a concelhia e por terem

abraçado este projecto.

JP Almada

No âmbito do projecto Alerta

Escolas, da sua iniciativa, a Juven-

tude Popular de Almada esteve

reunida com o Secretário de

Estado do Ensino e Admi-

nistração Escolar, João Casanova

de Almeida, no passado dia 14 de

Janeiro. Anteriormente, a concelhia

alma-dense já havia reunido com o

deputado do CDS e da Juventude

Popular, Michael Seufert.

O projecto Alerta Escolas iniciou-se

com a preparação de um conjunto

de propostas de alteração ao esta-

tuto do aluno, o que levou a JP

Almada ao terreno para conhecerem

as características e as necessidades

das escolas do concelho. Concluído o

levantamento das escolas e as suas

necessidades, a concelhia concluiu

que existem inúmeros problemas ao

nível das infra-estruturas, dos quais

os anteriores governos tomaram

conhecimento e da respectiva

gravidades para a segurança pública

e dignidade das próprias

instituições, e que nunca foram

resolvidos. Quanto ao quadro de

funcionários, as escolas queixaram-

se que o número que possuem não

corresponde ao do Ministério da

Educação e Ciência, nomeadamente

devido ao excesso de baixas, muitas

delas duvidosas, desses mesmos

funcionários. Ao nível da segurança

existem escolas que são obrigadas,

por diversos motivas das suas infra-

estruturas, a desligar os alarmes

que de furto que de incêndios e

todas elas, com excepção da do

Monte de Caparica, não possuem o

plano de evacuação de emergência

aprovado devido ao custo dos

das escolas do concelho. Concluído

o levantamento das escolas e as

suas necessidades, a concelhia

concluiu que existem inúmeros

problemas ao nível das infra-

estruturas, dos quais os anteriores

governos tomaram conhecimento e

da respectiva gravi-dades para a

segurança pública e dignidade das

próprias instituições, e que nunca

foram resolvidos. Quanto ao

quadro de funcionários, as escolas

queixaram-se que o número que

possuem não corres-ponde

ao do Ministério da Educação

e Ciência, nomeadamente devido ao

excesso de baixas, muitas delas

duvidosas, desses mesmos funcio-

nários. Ao nível da segurança

existem escolas que são obrigadas,

por diversos motivas das suas infra-

estruturas, a desligar os alarmes

que de furto que de incêndios e

todas elas, com excepção da do

Monte de Caparica, não possuem o

plano de evacuação de emergência

aprovado devido ao custo dos

mesmos.

Page 10: popcom #05

Palavra de Presidente

10 opinião

inaceitável assistir por parte de alguns Presidentes

de Câmara visados por esta reforma que, com

recurso a “chico espertice” aparecem agora como

candidatos a outras autarquias, invertendo tudo

aquilo que seriam os princípios da reforma. Cabe-

nos a nós, jovens livres e de pensamentos sólidos e

ideias claras, combater este tipo de políticos que

insiste em não soltar as amarras do poder,

prejudicando toda uma classe de gente que está e

quer estar na politica para servir as suas

populações.

Temos o dever de informar e alertar a população

para este tipo de manobras habilidosas e perigosas,

que prejudicam o nosso país!

Vamos de uma vez por todas mostrar que o tempo

dos “barões” já terminou, que uma nova geração

está pronta para assumir as responsabilidades, para

por em prática tudo aquilo em que firmemente

acredita e que, com certeza, irá de encontro aquilo

que são os anseios da população.

Acreditem ou não, as próximas eleições em Portugal

serão decisivas para o futuro da política. Ou

encaramos de uma vez por todas a mudança como

algo positivo e que nos ajuda a crescer, ou

estaremos condenados a viver num país onde as

artimanhas e as habilidades falam mais alto

que as leis.

Conto com todos os jovens que a nós se queiram

juntar para combater esta que é uma das maiores

vergonhas da nossa tão jovem e frágil democracia!

Miguel Pires da Silva

os últimos dias anda muito em voga a ideia

de uma reforma do estado, nada com que

eu não concorde ou que ache inoportuno.

É absolutamente essencial avançar com a dita

reforma, mas que seja de facto uma reforma e não

mais uma operação de charme. É certo que uma

reforma séria e eficaz será muito impopular,

mexeria, com certeza, com interesses há muito

instalados, mas temos que ser nós, os políticos, a dar

o exemplo, facilitando a implementação dessas

reformas, contribuindo para o seu sucesso, de forma

a que a sociedade civil volte a confiar e a acreditar

naquilo que são as boas intenções da politica, não

podemos tolerar mais o entrave a essas reformas

apenas porque nos toca directamente.

Um dos casos mais flagrantes de descredibilização

das reformas e dos políticos, são as próximas

eleições autárquicas, onde muitos Presidentes de

Câmara estariam impedidos de se recandidatar, fruto

de uma reforma levada a cabo pelo anterior governo,

que impede as recandidaturas de quem tenha feito

três mandatos consecutivos. Foi uma medida bem

vista pela população, já que tinha como intuito

principal a renovação de quadros políticos, entre

muitos outros factores que poderiam torna

prejudicial o exercício do poder, pelo que é

inaceitável assistir por parte de alguns Presidentes

de Câmara visados por esta reforma que, com

recurso a “chico espertice” aparecem agora como

candidatos a outras autarquias, invertendo tudo

aquilo que seriam os princípios da reforma. Cabe-nos

a nós, jovens livres e de pensamentos sólidos e ideias

claras, combater este tipo de políticos que insiste em

N

Page 11: popcom #05
Page 12: popcom #05

Rafael Borges

nquanto se celebrou por

todo o mundo o início de um

novo ano, manteve-se, na

buffer zone que rodeia a Europa,

uma guerra sem quartel, sem

hesitações, sem pausas e, acima de

tudo, sem tréguas. Na Síria, o regime

secular de Bashar al Assad vê-se

cada vez mais contestado, militar-

mente enfraquecido e abandonado

pelos países que, até agora, sempre

o apoiaram: a Rússia e a China. No

Mali, o avanço dos rebeldes

islamistas forçou um François

Hollande alarmado a enviar para o

país uma força de intervenção de

várias centenas de homens, num

conflito que pode bem, a prazo,

transformar-se num Afeganistão

francês. E, finalmente, a escala – e o

aviltante impacto – do atentado

terrorista de In Aménas, na Argélia,

relembrou os europeus de que o

terrorismo internacional está hoje,

talvez mais que nunca, perto das

francês. E, finalmente, a escala – e o

aviltante impacto – do atentado

terrorista de In Aménas, na Argélia,

relembrou os europeus de que o

terrorismo internacional está hoje,

talvez mais que nunca, perto das

suas casa. E com o potencial

aterrorizante de, em vez de

resumir-se a um ataque passageiro,

inconsequente, conseguir agora

tornar-se uma força permanente no

espaço imediatamente adjacente à

Europa. O mundo não parou du-

rante o primeiro mês do ano. E nós

também não.

Síria

Na Síria, onde continua a suportar-

se o sofrimento de uma guerra que

dura há já quase dois anos, há

poucos motivos para optimismo.

Depois da pesada derrota que as

forças leais ao Presidente sírio

conseguiram infligir aos rebeldes

que tentavam conquistar Damasco,

os últimos parecem ter conseguido

recuperar das pesadas baixas que

sofreram. E para isso contribuiu não

apenas o apoio do bloco ocidental,

mas também – e sobretudo – algo

que as próprias circunstâncias se

os últimos parecem ter conseguido

recuperar das pesadas baixas que

sofreram. E para isso contribuiu não

apenas o apoio do bloco ocidental,

mas também – e sobretudo – algo

que as próprias circunstâncias se

encarregaram de forçar ao campo

rebelde: cooperação e unidade. Se,

até há pouco tempo, os rebeldes

pouco mais eram que uma massa

heterogénea – e por vezes diver-

gente – de activistas e combatentes

anti-regime, o fulgor da resposta de

Assad obrigou-os a uma união que

poucos desejam. Primeiro, porque

aqueles que se opõem ao regime de

Damasco têm, efectivamente, pouco

em comum: aos islamistas sunitas

ligados à Irmandade Muçulmana,

juntam-se outros próximos da Al

Qaeda e sunitas seculares. Segundo,

porque a essa diversidade inicial se

junta, inevitavelmente, um cepti-

cismo de que todos parecem

partilhar. Os seculares duvidam das

intenções dos islamistas, da mesma

forma que os islamistas hesitam em

lutar ao lado de grupos armados

que, mais cedo ou mais tarde, terão

de combater.

A impossibilidade de parar a guerra

e o seu constante agravamento,

Perto de casa

12 internacional

E

Page 13: popcom #05

internacional 13

Page 14: popcom #05

forma que os islamistas hesitam em

lutar ao lado de grupos armados

que, mais cedo ou mais tarde, terão

de combater.

A impossibilidade de parar a guerra

e o seu constante agravamento,

porém, abrem caminho à concre-

tização de um cenário de pesadelo

para toda a região. Nunca o Médio

Oriente – e, em particular, o Estado

de Israel - se encontrou tão próximo

de um cenário de conflito total, sem

limites, fronteiras ou obstáculos.

Pressionado por todos os lados e

com os rebeldes à porta de

Damasco, Assad nunca esteve tão

perto de utilizar o imenso arsenal

de armas químicas de que dispõe

para pôr toda a região a ferro e fogo

e, com isso, salvar o regime a que

preside. E note-se, quanto a esse

aspecto, que os motivos do

presidente sírio ultrapassam agora

a simples sobrevivência do Estado

baathista que herdou do seu pai:

Assad não desconhece o que

aconteceu a Muammad al Gaddafi na

Líbia, da mesma forma que não

ignora o que sucedeu ao clã

Mubarak no Egipto. À medida que se

dificulta a situação na frente, o

regime, assim como os seus

responsáveis mais relevantes,

começaram a entender que lutavam

por mais que o seu estatuto, que

havia mais a defender que o sistema

cleptocrático de que beneficiaram

durante décadas. É pela própria

vida, assim como pela defesa dos

grupos étnico-religiosos de que é

originária – alguns dos quais, como

os cristãos e os alauítas, fortemente

minoritários – que luta a elite do

poder em Damasco.

Os últimos dias, todavia, vieram

reafirmar a componente de absoluta

imprevisibilidade do conflito sírio.

Com as forças do Exército Sírio

Livre às portas da maior base de

armazenamento de armamento

químico do regime sírio, optou o

presidente russo Vladimir Putin

químico desde a Guerra Irão-Iraque,

em que o também baathista Saddam

Hussein utilizou Armas de Destrui-

ção Maciça (WMDs) para chacinar

milhares de soldados iranianos. Mas

ajuda, pelo menos, a devolver um

mínimo de serenidade ao mundo

democrático: embora não haja

qualquer garantia de que o emprego

de WMDs esteja afastado, parece

certo que o Kremlin dificilmente

lhes permitiria a utilização. E isso

beneficia enormemente três das

facções envolvidas na guerra: a

Rússia, Israel e o próprio regime de

Bashar al Assad.

imprevisibilidade do conflito sírio.

Com as forças do Exército Sírio Livre

às portas da maior base de arma-

zenamento de armamento químico

do regime sírio, optou o presidente

russo Vladimir Putin reagir com a

tenacidade exigida pelo momento: de

acordo com o próprio Kremlin, a

Rússia – naturalmente, em

cooperação com Damasco – tomou

controlo das armas em disputa e

dispôs-se a protegê-las dos grupos

que se opõem ao clã Al Assad.

Isso não significa, naturalmente, que

a guerra civil síria não venha a

transformar-se no primeiro conflito

uímico desde a Guerra Irão-Iraque,

em que o também baathista Saddam

14 internacional

Nunca o Médio Oriente – e, em

particular, Israel – se encontrou

tão próximo de um cenário de

conflito total, sem limites,

fronteiras ou obstáculos.

Pressionado por todos os lados

e com os rebeldes à porta de

Damasco, Assad nunca esteve

tão perto de utilizar o imenso

arsenal de armas químicas de

que dispõe para pôr toda a

região a ferro e fogo e, com isso,

salvar o regime a que preside.

Page 15: popcom #05

Não é difícil compreender por que

está o Mali no centro do ressur-

gimento salafista pós-Bin Laden.

Primeiro, encontra-se às portas da

Europa, e afirma-se como ponto de

partida ideal para uma conquista do

norte de África. De um putativo

estado islâmico no Mali, os

guerrilheiros poderiam facilmente

avançar sobre uma Líbia enfra-

quecida pelo caos revolucionário e,

sobretudo, por uma Argélia para

quem o militantismo religioso não é

estranho. De facto, a República

norte-africana sofreu, até há pouco

tempo, o peso incomensurável do

fanatismo maometano: os anos 90,

em particular, trouxeram a eclosão

de um conflito maciço entre

seculares e islamistas que deixou o

país à beira do colapso. Em segundo

lugar, é a própria geografia do Mali

que torna fácil o desmembramento

do Estado: com um país de enormes

dimensões e baixíssima densidade

populacional, as autoridades de

Bamako sempre se debateram por

impor a sua autoridade aos pontos

mais recônditos da nação.

Finalmente, a existência de ódios e

ressentimentos inter-étnicos

fomentou, ainda mais, a eclosão da

guerra civil que presentemente

sangra o país.

Aquela que era a linha vermelha,

para o Ocidente em geral e para a

França – a antiga potência

colonizadora do Mali – em

particular, foi cruzada já em Janeiro.

Galvanizados pelo sucesso que

tiveram na conquista do norte do

país, os rebeldes islamistas do Ansar

Dine – em árabe, os “Amigos, ou

Ajudantes, da Fé” -, da Al Qaeda no

Maghreb Islâmico e do Movimento

pela Tawid e a Jihad na África

Ocidental – o grupo terrorista que

ocupa vastas porções da Somália –

lançaram-se na anexação do que

restava do Mali. E, se desde Junho

do ano passado controlam a

totalidade da metade norte do

Mali

Haverá quem tente dissociar o

presente conflito maliano da guerra

civil líbia que o antecedeu. Errada-

mente, parece-me: pouco mais de

um ano após a morte de Muammar

Gaddafi, o Ocidente começa a sentir

as consequências do vazio de poder

que se abateu sobre a região.

Desprovida de um caudillo pró-

Ocidente determinado a parar a

maré islamista, a Líbia do Conselho

Nacional de Transição, juntamente

com as milícias que causaram o

colapso da Jamahirya, são agora um

oásis de (ins)estabilidade para

aqueles que se dispõem a mergulhar

o norte de África na mais absoluta

anomia.

A primeira manifestação do

falhanço externo da actual Adminis-

tração Obama deu-se há uns meses,

em Benghazi. Ao maciço apoio

logístico, militar, diplomático e

financeiro prestado pelos Ociden-

tais, os ex-rebeldes líbios

responderam com o mesmo

militantismo anti-americano de

sempre – e a morte, por islamistas

financiados pela própria Casa

Branca, do embaixador norte-

americano John Christopher Stevens

foi disso esmagadora evidência. Mas

Benghazi não foi mais que o início

de uma renovada ofensiva contra o

Mundo Livre e seus Aliados. Lá, a Al-

Qaeda no Maghreb Islâmico

mostrou ao Pentágono que nenhum

alvo, nenhum interesse norte-ame-

ricano está a salvo das garras

ameaçadoras das hordas salafistas.

Mas ela não pode, ainda assim, ser

comparada ao verdadeiro centro

nevrálgico da investida do obscu-

rantismo islâmico: o Mali.

Não é difícil compreender por que

está o Mali no centro do

ressurgimento salafista pós-Bin

Laden. Primeiro, encontra-se às

portas da Europa, e afirma-se como

ponto de partida ideal para uma

do Estado: com um país de enormes

dimensões e baixíssima densidade

populacional, as autoridades de

Bamako sempre se debateram por

impor a sua autoridade aos pontos

mais recônditos da nação. Finalmente,

a existência de ódios e ressentimentos

inter-étnicos fomentou, ainda mais, a

eclosão da guerra civil que

presentemente sangra o país.

Aquela que era a linha vermelha,

para o Ocidente em geral e para a

França – a antiga potência coloni-

zadora do Mali – em particular, foi

cruzada já em Janeiro. Galvanizados

pelo sucesso que tiveram na

conquista do norte do país, os

rebeldes islamistas do Ansar Dine –

em árabe, os “Amigos, ou Ajudantes,

da Fé” -, da Al Qaeda no Maghreb

Islâmico e do Movimento pela

Tawid e a Jihad na África Ocidental –

o grupo terrorista que ocupa vastas

porções da Somália – lançaram-se

na anexação do que restava do Mali.

E, se desde Junho do ano passado

controlam a totalidade da metade

norte do Estado africano, agora

estavam apostados em estender o

seu controlo até Bamako e,

eventualmente, a todos os pontos da

República. À capital, apressaram-se

a chegar, em massa, as vítimas mais

óbvias da tirania islâmica: mulheres,

muçulmanos moderados e

tuaregues seculares. Subitamente, a

cidade encheu-se de mulheres

pouco interessadas em usar o véu

islâmico – o niqab, imposto pelos

novos senhores do norte -, de

homens contrários à Sharia e de

boatos inquietantes. Os refugiados

do Norte alertaram os seus

compatriotas sulistas para o que

vinha do Sahel: homens mutilados,

mulheres violadas, ilegalização de

produtos considerados não-

islâmicos – como as bebidas

alcoólicas, os cigarros ou,

simplesmente, filmes ocidentais -, e

lançaram a urbe num pânico que ela

já há muito não via.

internacional 15

Page 16: popcom #05

viragem no conflito. Mas tudo isso,

notou-se eventualmente, foi sol de

pouca dura.

Argélia

O mais recente capítulo do conflito

maliano escreveu-se, não no próprio

Mali, mas na vizinha Argélia.

Liderados por Mokhtar Belmokhtar,

um conhecido – e, compreensi-

velmente, temido – islamista arge-

lino, os rebeldes da Al Qaeda no

Maghreb Islâmico atacaram o

enorme complexo de extracção de

gás natural de In Aménas, tomando

centenas de civis – nacionais e

estrangeiros – como reféns.

O objectivo essencial do ataque cedo

se tornou óbvio: acossados pelos

franceses no Mali, os islamistas

tentavam agora comprar a retirada

gaulesa com a vida de centenas de

civis, ocidentais e árabes,

muçulmanos e cristãos. A ideia

criminosa de que na guerra não há

critérios foi levada a um novo

extremo pela argúcia impiedosa de

Belmokhtar. É, aliás, isso que sugere

a próxima meta dos terroristas: a

sua própria determinação

destruidora.

A conquista do espaço foi rápida.

Dotadas de parcas forças de

segurança, as instalações de In

Aménas - e, com elas, muitas

centenas de reféns, nacionais e

estrangeiros - não tardaram a cair

sob o controlo dos rebeldes

islâmicos. E, se os civis argelinos

foram imediatamente afiançados de

que não eram o alvo dos terroristas,

o mesmo não sucedeu com os

ocidentais presos na instalação.

Para eles, o tratamento não poderia

ter sido pior: de acordo com os

primeiros relatos das Forças

Armadas Argelinas, cerca de 15

trabalhadores ocidentais foram

encontrados mortos com tiros na

cabeça, um sinal inequívoco da

ocorrência de execuções sumárias.

porções da Somália – lançaram-se

na anexação do que restava do Mali.

E, se desde Junho do ano passado

controlam a totalidade da metade

norte do Estado africano, agora

estavam apostados em estender o

seu controlo até Bamako e,

eventualmente, a todos os pontos da

República. À capital, apressaram-se

a chegar, em massa, as vítimas mais

óbvias da tirania islâmica: mulheres,

muçulmanos moderados e

tuaregues seculares. Subitamente, a

cidade encheu-se de mulheres

pouco interessadas em usar o véu

islâmico – o niqab, imposto pelos

novos senhores do norte -, de

homens contrários à Sharia e de

boatos inquietantes. Os refugiados

do Norte alertaram os seus

compatriotas sulistas para o que

vinha do Sahel: homens mutilados,

mulheres violadas, ilegalização de

produtos considerados não-islâ-

micos – como as bebidas alcoólicas,

os cigarros ou, simplesmente, filmes

ocidentais -, e lançaram a urbe num

pânico que ela já há muito não via.

Com o mal armado e comandado

exército do Mali à beira do colapso,

os rebeldes lançaram-se, furiosa e

indiscriminadamente, sobre a

cidade de Konna. A ocupação

seguiu-se brevemente. Mas não por

muito tempo: alertado pelo avanço

dos rebeldes, o presidente francês

François Hollande dispôs-se a

enviar para África uma força militar

francesa de várias centenas de

homens que, embora a grande custo,

forçaram os rebeldes a uma postura

defensiva. Dias após o início da

intervenção francesa, eram já

centenas as baixas do lado rebelde,

ao mesmo tempo que, em Bamako,

começava a vislumbrar-se uma

viragem no conflito. Mas tudo isso,

notou-se eventualmente, foi sol de

pouca dura.

a próxima meta dos terroristas:

a sua própria determinação

destruidora.

A conquista do espaço foi rápida.

Dotadas de parcas forças de

segurança, as instalações de In Amé-

nas - e, com elas, muitas centenas de

reféns, nacionais e estrangeiros -

não tardaram a cair sob o controlo

dos rebeldes islâmicos. E, se os civis

argelinos foram imediatamente

afiançados de que não eram o alvo

dos terroristas, o mesmo não

sucedeu com os ocidentais presos

na instalação. Para eles, o trata-

mento não poderia ter sido pior: de

acordo com os primeiros relatos das

Forças Armadas Argelinas, cerca de

15 trabalhadores ocidentais foram

encontrados mortos com tiros na

cabeça, um sinal inequívoco da

ocorrência de execuções sumárias.

Mas não foram, todavia, os

terroristas os responsáveis pela

maioria das baixas civis: com efeito,

a operação de resgate empreendida

pelos argelinos revelou-se ainda

mais mortifífera.

Quando ordenou um ataque das

forças especiais argelinas a In

Aménas, o primeiro-ministro do

país fê-lo sem consultar mais

ninguém. Embora mais de uma

dezena de Estados tivesse cidadãos

seus em cativeiro, Argel não se

dispôs a informar nenhum deles

sobre a operação militar que,

entretanto, se tinha tornado

iminente. E, quando os argelinos a

iniciaram, gerou-se o mais absoluto

caos. A autocarros cheios de civis –

e, naturalmente, alguns terroristas –

os Argelinos responderam com

helicópteros de ataque. O resultado,

não poderia ter sido mais óbvio:

tendo neutralizado alguns dos

criminosos, as forças especiais

argelinas deixaram também

dezenas de civis mortos – muitos

deles, estrangeiros.

Mas não se ficou por aí o falhanço

dos argelinos: com partes

Pouco mais de um ano após

a morte de Muammar Gaddafi,

o Ocidente começa a sentir,

com o conflito maliano,

as consequências do vazio

de poder que se abateu

sobre a região.

16 internacional

Page 17: popcom #05

forças especiais argelinas a In

Aménas, o primeiro-ministro do

país fê-lo sem consultar mais

ninguém. Embora mais de uma

dezena de Estados tivesse cidadãos

seus em cativeiro, Argel não se

dispôs a informar nenhum deles

sobre a operação militar que,

entretanto, se tinha tornado

iminente. E, quando os argelinos a

iniciaram, gerou-se o mais absoluto

caos. A autocarros cheios de civis –

e, naturalmente, alguns terroristas –

os Argelinos responderam com

helicópteros de ataque. O resultado,

não poderia ter sido mais óbvio:

tendo neutralizado alguns dos

criminosos, as forças especiais

argelinas deixaram também deze-

nas de civis mortos – muitos deles,

estrangeiros.

Mas não se ficou por aí o falhanço

dos argelinos: com partes subs-

tanciais do seu maior centro de

extracção de gás natural em chamas

e dezenas de trabalhadores – nacio-

nais e estrangeiros – mortos pela

própria força aérea do país, os

árabes permitiram ainda que vários

dos criminosos sobrevivessem,

fugissem e se preparassem para

uma segunda ronda de luta. Depois

da operação militar argelina, os

restantes terroristas retiram-se

para zonas fortemente arma-

dilhadas de In Aménas. Já lá,

decidiram-se a atribuir às suas

próprias vidas um preço tão elevado

quanto possível: desesperados,

cometeram contra os reféns que

ainda conservavam actos de loucura

e violência inimagináveis. Foi aí que

se deram as execuções sumárias.

O pesadelo dos muitos trabalha-

dores encarcerados em In Aménas

só terminou quando todos os

terroristas, à excepção dos três que

foram capturados, se renderam às

forças de segurança. Inicialmente,

eram 32. As consequências do

ataque, porém, far-se-ão sentir

durante décadas. Não é improvável

Mas In Aménas significa mais que

isso: lembra o Ocidente do quão

perto o fundamentalismo islâmico

está das suas fronteiras e, espe-

cialmente, dos seus interesses. Hoje,

são as minas de urânio francesas do

Mali e os campos de gás anglo-

noruegueses na Argélia que são

vítimas de uma violência cada vez

mais precisa, cada - vez mais

eficiente, cada vez mais meticulosa.

Hoje, o terrorismo internacional

dispõe-se a mudar de estratégia: a

visar, em vez de civis, alvos de

efectiva relevância estratégica; a

destruir, em vez de símbolos, as

instalações que possibilitam a

sobrevivência dos regimes seculares

árabes que ainda se associam aos

Estados Unidos. E aprontam-se,

sobretudo, para lutar um novo estilo

de guerra: um que, caso leve ao

colapso da buffer zone que rodeia a

Europa, porá o inimigo mais perto

de nós que nunca. E é para esse

futuro que devemos preparar-nos.

os terroristas, à excepção dos três

que foram capturados, se renderam

às forças de segurança. Inicialmente,

eram 32. As consequências do

ataque, porém, far-se-ão sentir

durante décadas. Não é improvável

que este tenha sido o primeiro de

muitos ataques a instalações de

extracção de gás e petróleo por todo

o mundo muçulmano. Embora

tenham subestimado a deter-

minação das forças argelinas, os

estrategos islamistas terão já

compreendido que, através de

apenas alguns ataques devas-

tadores, podem arrasar economias

e, com elas, regimes inteiros. Mais: a

própria espectacularidade do

ataque, em que enormes quanti-

dades de equipamento técnico,

cidadãos e trabalhadores estran-

geiros foram capturados por não

mais que algumas dezenas de

rebeldes islamistas, aumenta a

atractividade de um tipo de acção, já

de si, popular entre terroristas.

Mas In Aménas significa mais que

isso: lembra o Ocidente do quão

perto o fundamentalismo islâmico

Hoje, o terrorismo internacional

dispõe-se a mudar de estratégia:

a visar, em vez de civis, alvos de

efectiva relevância estratégica; a

destruir, em vez de símbolos, as

instalações que possibilitam a

sobrevivência dos regimes

seculares árabes que ainda se

associam aos Estados Unidos.

internacional 17

Page 18: popcom #05

Portugal no Mundo

18 opinião

quem a União Europeia será uma realidade difícil de

evitar. Angola, Moçambique, Brasil, Macau e todos os

países onde a língua Portuguesa seja falada deverão ser

vistos como prioritários para o renascer da nossa

economia. Tem de ser feito um esforço para maximizar a

nossa vantagem comparativa. É hoje inquestionável a

mais-valia económica que representa a língua inglesa para

todos os países que a utilizam como língua materna. Aliás

estou certo que hoje os britânicos agradecem aos seus

Homens da cultura essa divulgação universal que tão

rapidamente aniquilou a hegemonia da cultura Francesa

no mundo.

Esse esforço não deve ser feito unicamente entre os

Portugueses - aprendendo aliás com o caso Inglês que

soube beneficiar do desenvolvimento dos EUA e da India -

mas entre todos os Países representados na Comunidade

de Países de Língua Portuguesa. A CPLP deve caminhar

para a criação de um verdadeiro espaço económico e

social que promova a cultura e prosperidade dos seus

povos. Desde logo facilitando a circulação de pessoas,

capitais e bens, sem preconceitos ideológicos e sempre no

limite dos compromissos europeus, do mercosul e afins.

Analisando a história de Portugal facilmente concluímos

que esta aliança será bem mais pró natura do que aquela

que celebramos em 1986.

Parece ter chegado a altura de Portugal voltar a ter uma

política externa activa e a sua Diplomacia focada na defesa

dos interesses nacionais e da língua portuguesa e não

nos interesses quantas vezes difusos de membro da

União Europeia.

A diplomacia representará sempre a opção pelo

melhor resultado com o menor comprometimento. Essa

tem sido a nossa história e assim inevitavelmente terá

que voltar a ser.

Francisco Ancêde

oi desde do primeiro dia do ano de 1986, mais

uma vez a partir dos Jerónimos, que a nossa

política interna e externa se redefiniu. Desde

1974 que Portugal se encontrava dividido entre aqueles

que buscavam protecção no manto soviético e os que

defendiam um maior aprofundamento das relações

europeias e ocidentais. Qualquer uma das preferências

era inovadora se estudada a História de Portugal. A

nossa dimensão principiou por ser ibérica para se

transformar em transatlântica e mundial. Nunca como

até então Portugal sentiu necessidade de explorar a sua

condição de estado europeu ou se transformar num

estado satélite de um qualquer comité.

Consumada a entrada de Portugal na Comunidade

Económica Europeia, viveram-se anos de crescimento

económico, tendo sido constantemente alargadas as

áreas de dependências entre os Estados Membros. Foi

sem surpresa que se chegou à moeda única em 1999.

Depois dos Tratados de Maastricht, Amesterdão, Nice e

Lisboa, Portugal e os países da União tornaram-se

dependentes do sucesso do caminho que traçaram

conjuntamente. Existe hoje entre o povo europeu um

sentimento de inaptidão política dos seus líderes similar

à simbologia da torre de babel. A distância sentida entre

as populações e os centros de decisão torna-se a cada

dia que passa maior. Os sinais que nos chegam da

Catalunha, Escócia e Bélgica devem ser interpretados

com especial atenção.

E Portugal? O que será deste País que se atreveu a

colocar no centro do mapa Mundo?

Portugal tem a sua posição externa bastante mais

facilitada do que a maioria dos países europeus para

quem a União Europeia será uma realidade difícil de

evitar. Angola, Moçambique, Brasil, Macau e todos os

países onde a língua Portuguesa seja falada deverão ser

vistos como prioritários para o renascer da nossa

economia. Tem de ser feito um esforço para maximizar a

nossa vantagem comparativa. É hoje inquestionável a

F

Page 19: popcom #05
Page 20: popcom #05

Luís Pedro Mateus

ensando em igualitarismo,

instantaneamente e de

forma mais que expectável

somos arremessados para o com-

ceito de igualdade. A partir daí,

tomando como princípio de que o

objecto de análise é o Ser Humano,

poderemos começar a indagar sobre

o que se entende com igualdade

humana, sobre que igualdades

existem ou não, sobre se nos é

possível garanti-las e protegê-las e,

neste último ponto, sobre a forma

como o fazer.

Assumindo como verdadeira a pre-

missa de que nenhum indivíduo é

igual a outro, que cada um é um

acontecimento único e irrepetível

em toda a história, com as suas

próprias ideias, ambições e capa-

cidades, de imediato se constata que

um indivíduo, não sendo de facto

igual a qualquer outro, nunca o

passará a ser mesmo que uma

entidade ou pessoa o considere ou

decrete. Qualquer motivação de

alterar este facto esbarra,

um indivíduo, não sendo de facto

igual a qualquer outro, nunca o

passará a ser mesmo que uma

entidade ou pessoa o considere ou

decrete. Qualquer motivação de

alterar este facto esbarra, inevi-

tavelmente, na realidade objectiva

da própria natureza humana. Este é

um ponto de partida basilar e

definidor de qualquer pensamento

democrata-cristão, conservador,

personalista ou liberal e funda-

menta a consideração da pessoa, do

indivíduo, como ponto central para

toda a organização política. Poden-

do cada um destes pensamentos

diferir relativamente em relação à

maior ou menor importância das

estruturas intermédias (como a

família por exemplo), a pessoa - nos

seus direitos, liberdades e garantias

- é sempre o início e o fim de todas

as acções políticas e é isto mesmo

que os coloca em directo confronto

com o pensamento marxista, onde o

foco é colocado numa determinada

classe em oposição a outras e onde

as motivações políticas se dirigem

sempre às "massas", relativizando

profundamente e atropelando as

necessidades da pessoa humana e

sua componente transcendental.

P

Perigos de igualitarismos ocultos

20 ideologia

classe em oposição a outras e onde

as motivações políticas se dirigem

sempre às "massas", relativizando

profundamente e atropelando as

necessidades da pessoa humana e

sua componente transcendental.

O facto de todos os indivíduos

serem manifestamente diferentes e

únicos não invalida, no entanto, que

não partilhem semelhanças entre si:

uns podem partilhar traços físicos

ou género, outros podem partilhar

ambições ou religião, outros

ideologia, profissão, língua ou uma

lista infinita de possíveis pontos

coincidentes. Desta infinitude de

traços partilhados e na impossi-

bilidade de atribuir, categori-

camente, maior valor a uns do que a

outros (algo que o marxismo faz em

relação a profissões, por exemplo),

o único mínimo denominador

comum que é possível salientar,

porque todos identifica, é o de se ser

Humano.

Portanto, assumindo a diversidade

como um factor positivo e definidor

do que é ser-se Humano, a

igualdade que se pode pretender

entre o conjunto de indivíduos é a

de que todos possam ser iguais

perante as Leis instituídas nos

Page 21: popcom #05

ideologia 21

como um factor positivo e definidor

do que é ser-se Humano, a igual-

dade que se pode pretender entre o

conjunto de indivíduos é a de que

todos possam ser iguais perante as

Leis instituídas nos Estados. Aqui

começa, então, por consequência de

matéria de organização do Estado, a

questão política.

De um ponto de vista conservador

ou liberal, o igualitarismo é

entendido como um princípio que

unicamente postula a igualdade de

direitos entre todos os cidadãos e

que, quando levado para a esfera de

poder do Estado, trate de garantir

mais concretamente a salvaguarda

daquilo que normalmente se

consideram os direitos naturais de

cada indivíduo. Estes, definidos

brilhantemente por um dos mais

proeminentes filósofos ocidentais,

John Locke, são os que devem

constituir o contrato social entre

indivíduos de uma mesma

nação que, podendo organizarem-se

colectivamente para comandar os

destinos da sua nação, a governem

sempre garantindo o:

colectivamente para comandar os

destinos da sua nação, a governem

sempre garantindo o: - Direito à Vida: todos têm direito a

viver a partir do momento em que

são concebidos;

- Direito à Liberdade: todos têm

direito a fazer o que quiserem,

livres de coerção física ou psico-

lógica, enquanto tal não colidir com

o direito anterior;

- Direito à Propriedade: todos têm

direito a possuir tudo o que criem

ou ganhem através de oferta ou

troca enquanto tal não colidir com

os dois direitos anteriores.

- Direito à Propriedade: todos têm

direito a possuir tudo o que criem

ou ganhem através de oferta ou

troca enquanto tal não colidir com

os dois direitos anteriores.

Do que o Estado deve acima e antes

de tudo proteger, para conser-

vadores e liberais, são estas as

traves mestras. Tal significa que, de

modo muito concreto por parte da

acção do Estado, toda a acção

legislativa deve respeitar esses três

direitos. Poderemos questionar (o

que já fugiria do âmbito do tema)

sobre se qualquer imposto não

representa um atropelo directo do

direito à liberdade, porque exercido

sobre forma de coerção, e um

atropelo ao direito da propriedade,

porque uma apropriação de bens de

um indivíduo pelo Estado. Daí, ter-

se-ia que, em última instância,

questionar a existência do próprio

Estado que, de um ponto de vista

mais pragmático da organização

política do Homem, se apresenta

como única entidade que garante

esses mesmos direitos e, das suas

condições necessárias de existência,

integridade e funcionamento,

requer um contributo (mesmo que

exercido de uma forma não

Assumindo a diversidade como

um factor positivo e definidor do

que é ser-se Humano, a igualdade

que se pode pretender entre o

conjunto de indivíduos é a de que

todos possam ser iguais perante

as Leis instituídas nos Estados.

Page 22: popcom #05

legislativa deve respeitar esses três

direitos. Poderemos questionar (o

que já fugiria do âmbito do tema)

sobre se qualquer imposto não

representa um atropelo directo do

direito à liberdade, porque exercido

sobre forma de coerção, e um

atropelo ao direito da propriedade,

porque uma apropriação de bens de

um indivíduo pelo Estado. Daí, ter-

se-ia que, em última instância,

questionar a existência do próprio

Estado que, de um ponto de vista

mais pragmático da organização

política do Homem, se apresenta

como única entidade que garante

esses mesmos direitos e, das suas

condições necessárias de existência,

integridade e funcionamento, re-

quer um contributo (mesmo que

exercido de uma forma não

voluntária à partida) de todos os

cidadãos. Tal é o exemplo concreto

da Justiça, da Polícia, do Exército e

da Administração Pública, sendo

que outros braços se poderão

incluir, com recurso a diferentes

argumentações, gostos e contra-

gostos existentes já de longa data

entre conservadores e liberais.

Como imediatamente se percebe, o

conceito de igualitarismo é um que

atravessa a filosofia política de uma

forma totalmente diagonal,

acabando por abranger e explicar

fundamentações ideológicas total-

mente divergentes. Se para o

socialismo, o igualitarismo, num

pressuposto de igualizar os homens

em todas as vertentes possíveis e

impossíveis, é uma meta à qual um

Estado se deve propor e dedicar

com afinco, para o conservadorismo

ou o liberalismo, tal não pode

nem deve ser do seu âm-

bito porque tal inevitavelmente

um desrespeito do que se considera

como direitos naturais,

fundamentais e invioláveis. Estes

últimos direitos normalmente são

referidos como direitos negativos,

entendidos como uma obrigação de

De um ponto de vista

conservador ou liberal, o

igualitarismo é entendido como

um princípio que unicamente

postula a igualdade de direitos

entre todos os cidadãos e que,

quando levado para a esfera de

poder do Estado, trate de

garantir mais concretamente a

salvaguarda daquilo que

normalmente se consideram os

direitos naturais de cada

indivíduo.

engenharia social.

Apesar do discurso socialista de

luta entre classes com o objectivo

igualitário final ser facilmente

identificado, nem tudo o que é

dialéctica igualitária é veiculada por

canais políticos de índole marxista

mais concentrada ou diluída. De

facto, praticamente todo o discurso

político que se manifesta como com-

batente da discriminação assenta,

em grande parte, mesmo que de uma

forma mais encoberta, em

pressupostos igualitários marxistas

que levantam barreiras claras

no âmbito da protecção dos direi-

tos naturais e fundamentais

do indivíduo.

Tome-se como exemplo a questão

da discriminação baseada no sexo.

Nela, o enfoque é colocado no facto

implica, a priori, um desrespeito do

que se considera como direitos

naturais, funda-mentais e

invioláveis. Estes últimos direitos

normalmente são referidos como

direitos negativos, entendidos como

uma obrigação de inacção, ou seja,

que proíbem determinadas acções,

sendo que conservadores e liberais

fundamentalmente os

preferenciam e diferenciando-se

daqueles que são referidos como

direitos positivos, entendidos como

uma obrigação de acção, que são

naturalmente preferenciados por

socialistas por serem precisamente

os que mais poder de acção dão

ao Estado para intervenção e

engenharia social.

Apesar do discurso socialista de luta

entre classes com o objectivo

igualitário final ser facilmente

identificado, nem tudo o que é

dialéctica igualitária é veiculada por

22 ideologia

Page 23: popcom #05

posto do que um indivíduo B, é

preterido em relação a ele apenas

porque B é mulher.

Já no caso em que as mesmas são

estendidas à esfera privada de

empresas a questão passa a assumir

um directo confronto com o direito

à liberdade e propriedade privada.

Ou seja, é de todo incompatível com

as mesmas que um indivíduo que

decida criar o seu próprio negócio e

queira contratar pessoas para com

questão como dirigida a conselhos

de administração, levanta ainda

mais dúvidas do que as que

pretende resolver: se há menos

mulheres em conselhos de

administração e se tal se deve

resolver com quotas, deve-se

questionar, se a lógica é

exactamente a mesma, porque razão

o mesmo não é estendido a outras

profissões e cargos onde o número

de mulheres não é maioritário.

Deve-se igualmente questionar por

que razão, já havendo várias

mulheres em destacados lugares de

chefia (quer política, quer

empresarial) sem que nenhuma Lei

existente alguma vez o tenha

impedido, se diz que ocorre

discriminação e que tal é resolvido

por acção legislativa.

Face a estas questões, as omissões

no encadeamento lógico são

recorrentemente lidadas, não com

explicações que as corrijam, mas

com discursos de inevitabilidade

que estabeleçam paralelismos com

situações de antigas (e verdadeiras)

discriminações legislativas em

relação a mulheres ou negros,

ignorando com isso não só a

gritante discrepância legislativa de

um caso para outro mas também a

total diferença da realidade

Tome-se como exemplo a questão

da discriminação baseada no sexo.

Nela, o enfoque é colocado no facto

de ocorrer disparidade, em certos

cargos, entre o número de homens e

mulheres que os ocupam, argu-

mentando tratar-se de uma discri-

minação clara que exige intervenção

legislativa do Estado que, nesse

poder, deverá obrigar um

cumprimento de quotas para tra-

balhadores do sexo feminino. Esta é

uma lógica que tem recentemente

atravessado o espectro político e

que, por consequência, é diversas

vezes veiculada por intervenientes

ou organizações políticas que

supostamente se situam à direita e

se consideram de índole conser-

vadora. Note-se mais concretamente

o caso do Partido Social Democrata

que, assumindo-se como "refor-

mador, personalista e inter-

classista", exprime posições

públicas e oficiais favoráveis à

imposição de quotas de género a

empresas privadas, inserido num

Partido Popular Europeu (PPE) de

centro direita e influenciado por

uma Comissão Europeia de maioria

PPE que, pela mão de uma

comissária afiliada a este último,

propõe uma directiva europeia que

as implemente.

A questão de quotas de género, se

restrita a uma esfera pública da

administração, levanta dúvidas que

têm que ver com a eficiência de se

combaterem eventuais discrime-

nações, não toleradas pela Lei, com

discriminações por ela toleradas.

Também, e não menos importante,

levanta dúvidas quanto ao princípio

de meritocracia uma vez que um

indivíduo A, podendo ser mais

competente e indicado para um

posto do que um indivíduo B, é

preterido em relação a ele apenas

porque B é mulher.

Já no caso em que as mesmas são

estendidas à esfera privada de

empresas a questão passa a assumir

ele trabalharem, as escolhas tenham

que ter um rumo pré-definido por

interferência directa do Estado. O

facto de apenas se ter discutido a

questão como dirigida a conselhos

de administração, levanta ainda

mais dúvidas do que as que

pretende resolver: se há menos

mulheres em conselhos de admi-

nistração e se tal se deve resolver

com quotas, deve-se questionar, se a

lógica é exactamente a mesma,

porque razão o mesmo não é

estendido a outras profissões e

cargos onde o número de mulheres

não é maioritário. Deve-se igual-

mente questionar por que razão, já

havendo várias mulheres em

destacados lugares de chefia (quer

política, quer empresarial) sem que

nenhuma Lei existente alguma vez o

tenha impedido, se diz que ocorre

discriminação e que tal é resolvido

por acção legislativa.

Face a estas questões, as omissões

no encadeamento lógico são

recorrentemente lidadas, não com

explicações que as corrijam, mas

com discursos de inevitabilidade

que estabeleçam paralelismos com

situações de antigas (e verdadeiras)

discriminações legislativas em

relação a mulheres ou negros,

ignorando com isso não só a

gritante discrepância legislativa de

um caso para outro mas também a

total diferença da realidade

concreta observável.

Se a motivação para justificar este

tipo de discriminação (apelidada de

positiva), é a promoção da

igualdade entre a diversidade e o

combate àquilo que se chama de

discriminação, ter-se-á sempre de

explicar a montante, primeiro, o que

ideologia 23

A questão de quotas de género é um exemplo da tentativa socialista de promover a igualdade por via legislativa, arrastando consigo prejuízos sérios para mecanismos de afirmação como a meritocracia, mais de acordo com o pensamento conservador ou liberal.

Page 24: popcom #05

pensamento de inspiração

marxista, tão imbuído que está de

retórica igualitária onde, anu-

lando-se as garantias das mais

básicas e naturais igualdades entre

indivíduos, caberá ao Estado ditar

e fabricar aquelas que um grupo

restrito de pessoas considerem

porque razão o mesmo não é

estendido a outras profissões e

cargos onde o número de mulheres

não é maioritário. Deve-se igual-

mente questionar por que razão, já

havendo várias mulheres em

destacados lugares de chefia (quer

política, quer empresarial) sem que

nenhuma Lei existente alguma vez o

tenha impedido, se diz que ocorre

discriminação e que tal é resolvido

por acção legislativa. Face a

estas questões, as omissões no

encadeamento lógico são

recorrentemente lidadas, não com

explicações que as corrijam, mas

com discursos de inevitabilidade

que estabeleçam paralelismos com

situações de antigas (e

verdadeiras) discriminações legis-

lativas em relação a mulheres ou

negros, ignorando com isso não só

a gritante discrepância legislativa

de um caso para outro mas

também a total diferença da

realidade concreta observável.

Se a motivação para justificar este

tipo de discriminação (apelidada

de positiva), é a promoção da

igual-dade entre a diversidade e o

combate àquilo que se chama de

discriminação, ter-se-á sempre de

explicar a montante, primeiro, o

que se entende com diversidade e

que tipo - género, religião, cor de

pele, língua, ideologia ou qualquer

outra que ocorra pensar - tem

ascendente sobre outro na

pretensa salvaguarda estatal e,

segundo, o princípio paradoxal que

é, em nome da igualdade, tratar de

forma diferenciada perante a Lei

cidadãos que supostamente deve-

riam ter os mesmos direitos.

A eterna vertigem pela engenharia

social é um traço recorrente do

pensamento de inspiração

marxista, tão imbuído que está de

retórica igualitária onde, anu-

lando-se as garantias das mais

básicas e naturais igualdades entre

indivíduos, caberá ao Estado ditar

como únicas a atingir. Esta é uma

retórica que, mesmo quando assu-

mida de uma forma menos reflec-

tida, nunca deixará de evidenciar

as perversões de sempre que

devem, em nome dos direitos de

todos, ser constantemente reflec-

tidas e refutadas.

_______________

* Rui Albuquerque é Doutor em Ciência

Política e CEO do Grupo Lusófona Brasil.

Este artigo foi originalmente publicado

em 2010 em ordemlivre.org

Se para o socialismo,

o igualitarismo, num

pressuposto de igualizar os

homens em todas as vertentes

possíveis e impossíveis, é uma

meta à qual um Estado se deve

propor e dedicar com afinco,

para o conservadorismo ou o

liberalismo, tal não pode nem

deve ser do seu âmbito

porque tal inevitavelmente

implica, a priori, um

desrespeito do que se

considera como direitos

naturais, fundamentais e

invioláveis.

24 ideologia

Page 25: popcom #05

29,7

Page 26: popcom #05

Sobre as Lajes

26 opinião

norte-americana nos Açores foi justificada. Se, em 1943,

era a Alemanha nacional-socialista que forçava

Washington – e, nessa altura, Londres – a uma estreita

cooperação com Portugal, a partir de 1946 o motivo

passou a ser a cada vez mais constante presença de

submarinos soviéticos no Atlântico. Hoje, porém, eles

desapareceram: e nem mesmo a ambição militarista de

Putin parece ser capaz de fazer a Marinha Russa

aventurar-se, de novo, pelas águas que dividem a

América do continente europeu. Para as Lajes, foi esse o

principal significado da queda, em 1991, do império

soviético: o desmembramento da única coisa que

justificava o interesse americano na Terceira. E o pior é

que, agora que ele se foi, dificilmente regressará.

Na verdade, o ajustamento que o Pentágono está,

actualmente, a levar a cabo na sua política externa – e,

naturalmente, de defesa – apenas reflecte a própria

situação do mundo pós-Guerra Fria. Com a Rússia

reduzida ao estatuto de potência regional e a República

Popular da China a afirmar-se, cada vez mais, como

alternativa ao poder hegemónico de Washington, os

norte-americanos não têm outra escolha que não seja a

transferência de meios para o Oriente. E essa

transferência já começou: primeiro, com o aumento da

ajuda militar dos Estados Unidos às Filipinas; depois,

com o anúncio, em 2011, da construção de uma nova

base – para onde serão enviados 2500 marines – na

Austrália. O objectivo de ambos os movimentos

americanos é óbvio: e igualmente óbvio é que não há

muito que Portugal possa fazer para ajudar a conter o

crescente poderio chinês.

Nada disto – particularmente, a necessidade de

deslocação de meios, pelos Estados Unidos, de Ocidente

para Oriente – é surpreendente. Mas o mesmo não pode,

porém, dizer-se da postura de Portugal. Já deveria ter-se

tornado óbvio para Lisboa que o interesse do Pentágono

na Terceira está – e, de novo, compreensivelmente – a

desvanecer-se; da mesma forma que a relevância, para a

Terceira, da presença norte-americana deveria ter

significado um empenho político e diplomático que, na

verdade, não se verificou. Embora a base – e as centenas

Rafael Borges

uando, no passado mês de Dezembro, o

Secretário da Defesa norte-americano

anunciou a intenção de reduzir

substancialmente a presença militar dos

Estados Unidos na Base das Lajes, a notícia parece ter

apanhado Portugal de surpresa. Um pouco por todo o

lado, despontaram as reacções de choque: depois de

décadas a desempenhar um papel cimeiro na defesa da

superpotência americana, o arquipélago atlântico via a

sua importância ser relativizada. Mas a verdade é que

Portugal já deveria ter-se preparado para essa

eventualidade – coisa que, como sempre, preferiu adiar.

O crescente desinteresse norte-americano pelo

Atlântico não vem de hoje. Se, durante a maior parte da

sua história, foi a costa oriental dos Estados Unidos a

merecer maior atenção por parte do Pentágono, a

verdade é que, hoje, esse cenário não se verifica. A

Guerra de 1812 – a última em que houve combates no

território continental da República Americana -, teve

como principais teatros, precisamente, a costa oriental e

o Atlântico. Durante a Primeira Guerra Mundial, mais

que com as colónias alemãs do Pacífico, Washington

preocupou-se com os U-Boats da Kriegsmarine. E,

finalmente, a emergência do Império Soviético no pós-

Segunda Guerra Mundial trouxe, mais uma vez, o

Atlântico para o âmago das preocupações de defesa dos

Estados Unidos. Embora, como anteriormente, houvesse

inimigos a ocidente – a República Popular da China, por

exemplo, até à Cisão Sino-Soviética -, o principal perigo

vinha do Atlântico.

Foi sempre com esta realidade – a de um oriente

potencialmente problemático – que a presença militar

norte-americana nos Açores foi justificada. Se, em 1943,

era a Alemanha nacional-socialista que forçava

Washington – e, nessa altura, Londres – a uma estreita

cooperação com Portugal, a partir de 1946 o motivo

passou a ser a cada vez mais constante presença de

submarinos soviéticos no Atlântico. Hoje, porém, eles

Q

Page 27: popcom #05
Page 28: popcom #05
Page 29: popcom #05

a visita de Wen Jiabao aos Açores aparenta revelar algo

de bastante concreto: o interesse de Pequim pelas Lajes.

Não que tencione, com isto, defender – ou, com efeito,

sugerir – a concessão das Lajes à China. Sempre tive,

pela minha parte, a firme convicção de que é ao lado dos

seus aliados tradicionais – o Reino Unido e, mais

recentemente, os Estados Unidos – que Portugal deve

manter-se. Mas isso não me impele a tomar por meu o

mutismo que Portugal parece ter adoptado. Se é certo

que devemos conservar, tanto quanto possível, a relação

de extrema proximidade – proximidade essa que, em

boa parte, se deve precisamente às Lajes - que

mantemos com Washington, também o é que não

devemos vergar-nos a uma pretensa ditadura das

circunstâncias. Portugal pode, e deve, fazer todos os

possíveis para assegurar a continuação da presença

norte-americana na Terceira. E, para consegui-lo, talvez

seja necessário lembrar os seus parceiros atlânticos de

que a utilidade das Lajes advém, não da sua efectiva

necessidade militar, mas do imperativo estratégico de

manter a base fora da esfera de influência chinesa.

Como escreveu, na National Review, Gordon Chang

sobre a eventualidade de Portugal considerar o

arrendamento da base açoriana à República Popular,

“são várias as soluções que o Pentágono poderia

implementar. Nenhuma delas será perfeita, mas todas

elas seriam melhor que permitir a Pequim que

hasteasse a sua bandeira vermelha sobre o Atlântico – e

permitir a aeronaves chinesas que patrulhem as águas

que ligam a América à Europa.”

tornado óbvio para Lisboa que o interesse do Pentágono

na Terceira está – e, de novo, compreensivelmente – a

desvanecer-se; da mesma forma que a relevância, para a

Terceira, da presença norte-americana deveria ter

significado um empenho político e diplomático que, na

verdade, não se verificou. Embora a base – e as centenas

de militares americanos que lhe são inerentes – seja de

importância capital para a economia da ilha, pouco – ou

nada – foi feito para salvaguardá-la. Pela sua parte,

Portugal permitiu-se um luxo de que dificilmente

dispunha: aguardar, ociosa e pacientemente, por uma

definição definitiva da posição norte-americana. É certo

que as contrapartidas à redução do pessoal presente

na base acabaram por ser negociadas: mas parece

improvável que elas sejam capazes de compensar

os terceirenses pelas perdas que, inevitavelmente,

sofrerão.

Mas há, ainda assim, uma outra arma de que Portugal

dispõe – e que ainda não se atreveu a utilizar. Apesar de

as Lajes terem perdido importância estratégica para os

Estados Unidos, a verdade é que não a perderam para

outros países que, como a China, desejam hoje chegar ao

Atlântico. Portugal está ciente disso; a China e os

próprios Estados Unidos, também. Em Junho do ano

passado, de facto, o então primeiro-ministro da

República Popular, Wen Jiabao, visitou a base.

Oficialmente, fê-lo devido a problemas técnicos no seu

avião. Porém, a verdade é que a própria trajectória da

aeronave, que, oficialmente, se dirigia do Chile para a

China, parece suspeita. Longe de ter sido algo casuístico,

seus aliados tradicionais – o Reino Unido e, mais

recentemente, os Estados Unidos – que Portugal deve

opinião 29

Page 30: popcom #05

Lúcia Santos

s Instituições Particulares de

Solidariedade Social (IPSS)

são instituições constituí-

das sem finalidade lucrativa, por

iniciativa de particulares, com o

propósito de dar expressão orga-

nizada ao dever moral de

solidariedade e de justiça entre os

indivíduos. O percurso de cola-

boração entre o Estado e estas

entidades no âmbito do pacto de

cooperação para a solidariedade

social é já longo, no entanto, há ainda

lugar para muitas ambiguidades.

Acusadas por muitos de que são

fruto de uma tentativa de constante

desresponsabilização do Estado em

relação aos problemas de protecção

social e aceites por outros como o

natural resultado da crescente

responsabilização da sociedade civil

face aos problemas de pobreza e de

exclusão social, a pergunta que se

impõe é qual é o seu verdadeiro

papel e como ficaríamos se elas

desaparecessem?

A Constituição da República

face aos problemas de pobreza e de

exclusão social, a pergunta que se

impõe é qual é o seu verdadeiro

papel e como ficaríamos se elas

desaparecessem?

A Constituição da República

Portuguesa consagra Portugal como

uma República soberana, baseada

na dignidade da pessoa humana e

na vontade popular e empenhada na

construção de uma sociedade livre,

justa e solidária. A República Portu-

guesa é um Estado de direito

democrático, baseado na soberania

popular, no pluralismo de expressão

e na organização política demo-

crática, no respeito e na garantia de

efectivação dos direitos e liberdades

fundamentais e na separação e

interdependência de poderes,

visando a realização da demo-

cracia económica, social e cultural

e o aprofundamento da demo-

cracia participativa. De forma

a garantir a efectivação dos

direitos e liberdades fundamentais

dos cidadãos, cabe ao Estado um

conjunto de direitos e deveres

fundamentais, nomeadamente

económicos, sociais e culturais. De

acordo com os direitos e deveres

sociais todos têm direito à

dos cidadãos, cabe ao Estado um

conjunto de direitos e deveres

fundamentais, nomeadamente eco-

nómicos, sociais e culturais. De

acordo com os direitos e deveres

sociais todos têm direito à

segurança social, cabendo ao Estado

organizar, coordenar e subsidiar um

sistema de segurança social

unificado e descentralizado. O

sistema de segurança social protege

os cidadãos na doença, velhice,

invalidez, viuvez e orfandade, bem

como no desemprego e em todas as

outras situações de falta ou

diminuição de meios de

subsistência ou de capacidade para

o trabalho.

A Lei n.º 4/2007 de 16 de Janeiro

aprovou as bases gerais do sistema

de segurança social, definindo os

seus objectivos e princípios gerais.

Consti-tuem objectivos prioritários

do sistema de segurança social a

garantia da concretização do direito

à segurança social, a promoção da

melhoria sustentada das condições

e dos níveis de protecção social e o

reforço da respectiva equidade e a

promoção da eficácia do sistema e

da sua gestão. Constituem

princípios gerais do sistema de

A

O papel e a sustentabilidade das IPSS no actual contexto de crise

30 nacional

Page 31: popcom #05

nacional 31

Page 32: popcom #05

melhoria sustentada das condições

e dos níveis de protecção social e o

reforço da respectiva equidade e a

promoção da eficácia do sistema e

da sua gestão. Constituem princí-

pios gerais do sistema de segurança

social o princípio da universalidade,

da igualdade, da solidariedade, da

equidade social, da diferenciação

positiva, da subsidiariedade, da

inserção social, da coesão inter-

geracional, do primado da respon-

sabilidade pública, da complemen-

taridade, da unidade, da des-

centralização, da parti-cipação, da

eficácia, da tutela dos direitos adqui-

ridos e dos direitos em formação, da

garantia judiciária e da informação.

Mas a protecção dos cidadãos não

cabe apenas ao Estado, sendo a

prestação de serviços à população

por entidades colectivas não esta-

tais uma prática que atravessa os

séculos. Desde a fundação da nacio-

nalidade portuguesa, com clara

inspiração nos valores cristãos, que

se assiste ao desenvolvimento de

esforços tendentes a dar corpo ao

sentimento do dever moral de pro-

tecção contra situações de neces-

sidade nos planos individual e

familiar.

Assim, até ao fim da Idade Média, a

par da beneficência individual e

familiar, foi-se desenhando uma

organização embrionária da assis-

tência privada sem fins lucrativos,

que conduziu à primeira grande

reforma da assistência, com a

criação de novas instituições, as

Santas Casas da Misericórdia, que se

multiplicaram por todo o país,

tornando-se no grande pólo da

assistência privada sem fins

lucrativos, a nível local, na saúde e

na acção social. Até ao século

XIX, com incidência e modalidades

diversas, o fulcro das respostas

sociais assentou na beneficência

individual e familiar e nas

Para muitos são fruto de uma

tentativa de constante

desresponsabilização do Estado

em relação aos problemas de

protecção social. Para outros,

o natural resultado da crescente

responsabilização da sociedade

civil face aos problemas de

pobreza e de exclusão social.

A pergunta que se impõe é qual

é: como ficaríamos se elas

desaparecessem? porária ou permanente para o

trabalho e a atribuição de subsídios

de funeral.

É assim que empresas, associa-

ções mutualistas e associações

cívicas fundam e gerem serviços e

equi-pamentos sociais a favor

dos seus empregados, dos seus

sócios e da comunidade. Nem o

advento da previdência e, depois, da

segurança social, no século XX,

alterou, até aos anos 70, o

panorama da rede e, como resultado

da dinâmica social então criada, a

partir da segunda metade desta

década começou a verificar-se o

aparecimento de um número assi-

nalável de iniciativas.

Mas se durante séculos as IPSS’s

foram a instância fundamental de

protecção social, com o

XIX, com incidência e modalidades

diversas, o fulcro das respostas

sociais assentou na beneficência

individual e familiar e nas orga-

nizações religiosas, mas ainda no

decorrer deste século, em especial

ao longo da segunda metade, come-

çaram a emergir outros actores

como entidades responsáveis por

respostas sociais. Foi então que se

assistiu ao aparecimento de um

importante movimento mutualista

que estimulou o rápido crescimento

do número de associações de

socorros mútuos, que tinham como

principais objectivos a prestação de

cuidados médicos e o fornecimento

de medicamentos, a atribuição

de prestações pecuniárias nas

situações de incapacidade tem-

porária ou permanente para o

trabalho e a atribuição de subsídios

de funeral.

É assim que empresas, associações

mutualistas e associações cívicas

fundam e gerem serviços e

32 nacional

Page 33: popcom #05

uma grande fatia das respostas

sociais existentes. Embora muitas

vezes vendo a sua atuação

manchada de estereótipos negativos

e ainda frequentemente acusada de

contribuir para um retrocesso

social, a acção da Igreja Católica no

combate à pobreza e à exclusão

social é inquestionável, repre-

sentando um alicerce fundamental

para muitos portugueses.

A acção destas entidades centra-se

no assegurar da protecção social aos

grupos mais desfavorecidos, nomea-

damente crianças e jovens, idosos,

pessoas em situação de dependência

e pessoas portadoras de deficiência,

bem como a outras pessoas em

situação de carência económica ou

social, sempre que as situações não

possam ser superadas através dos

regimes de segurança social, por

intermédio das prestações sociais.

Mas se o papel das IPSS’s na

sociedade portuguesa já era

incontornável, no contexto de

mudanças estruturais profundas

provocadas pela grave crise

económica e social que o nosso país

atravessa a sua importância ganhou

uma nova dimensão. As situações de

alarme social tornaram-se a cada

dia mais visíveis e estas entidades

são procuradas cada vez mais como

centros de recursos para as

resolver. Necessidades sociais

relacionadas com situações de

carência material, como pobreza,

pobreza envergonhada e fome, bem

como dificuldades em fazer face aos

compromissos financeiros,

aumentaram substancialmente nos

tempos mais recentes, não se

vislumbrando uma melhoria para os

tempos mais próximos, apesar dos

esforços do actual governo.

As IPSS’s, tanto de forma isolada,

como em colaboração, têm vindo a

protecção social, com o apare-

cimento da previdência e, poste-

riormente, da segurança social,

evoluíram para um papel diferente,

tendo, no entanto, mantido e até

aumentado as suas actividades. Esta

mudança deveu-se ao facto do

Estado ter assumido a respon-

sabilidade política pela protecção

social, mediante a consagração de

direitos e a prestação de serviços

diversos, mas para este novo papel

recorreu à participação destas

entidades, apoiando e regulando,

nos termos da lei, a sua actividade e

o seu funcionamento e asse-

gurando-lhes uma parte signi-

ficativa do finan-ciamento.

Desta realidade resultou um

estatuto que, parecendo ambíguo,

foi criativo para o desenvolvimento

da acção social: as IPSS sentem-se

contratadas pelo Estado para a

prestação de serviços que a este

competem e, ao mesmo tempo,

procuraram manter a sua iden-

tidade própria, radicada na

sociedade civil, independentemente

do papel do Estado. Com este reco-

nhecimento por parte do Estado do

papel primordial destas entidades

na gestão dos serviços e equipa-

mentos sociais, o desenvolvimento

da rede potenciou-se, quer pela

capacidade de mobilização de

meios, nomeadamente públicos,

quer pela motivação das insti-

tuições. Deste modo, as IPSS´s

afirmam-se, hoje, como uma reali-

dade multis-secular na sociedade

portuguesa e encontram-se disper-

sas por todo o país, representando a

Igreja, através das Misericór-

dias, dos Centros Sociais e

Paroquiais e de outras institui-

ções e organizações religiosas,

uma grande fatia das respostas

e pessoas portadoras de deficiência,

bem como a outras pessoas em

situação de carência económica ou

social, sempre que as situações não

possam ser superadas através dos

regimes de segurança social, por

intermédio das prestações sociais.

Mas se o papel das IPSS’s na

sociedade portuguesa já era

incontornável, no contexto de um-

danças estruturais profundas pro-

vocadas pela grave crise económica

e social que o nosso país atravessa a

sua importância ganhou uma nova

dimensão. As situações de alarme

social tornaram-se a cada dia mais

visíveis e estas entidades são

procuradas cada vez mais como

centros de recursos para as

resolver. Necessidades sociais

relacionadas com situações de

carência material, como pobreza,

pobreza envergonhada e fome, bem

como dificuldades em fazer face aos

compromissos financeiros,

aumentaram substancialmente nos

tempos mais recentes, não se

vislumbrando uma melhoria para os

tempos mais próximos, apesar dos

esforços do actual governo.

As IPSS’s, tanto de forma isolada,

como em colaboração, têm vindo a

empenhar-se no combate a estas

situações e é importante que se

perceba que certamente sem o

contributo destas entidades o

panorama de agravamento social

nestas matérias seria ainda mais

dramático. Através da sua rede de

serviços e equipamentos sociais

tentam fornecer resposta a todos

aqueles que dela necessitam,

objectivo difícil de alcançar, dada a

natureza evolutiva dos problemas e

necessidades, dos direitos e das

expectativas dos cidadãos.

Mas os desafios que se colocam à

nacional 33

Page 34: popcom #05

continuar a ser encarados como a

primeira e, em muitos casos, a

quase única fonte de financia-

mento. Deste modo, o grande

desafio à sua actuação é continu-

arem a responder às necessidades

sociais, antigas e novas, mas a

partir de uma base de apoios fi-

nanceiros mais diversificada onde

os recursos públicos sejam uma

Naturalmente, o Estado continuará

a ter um papel importante no

modelo de financiamento, mas

impõe-se o desafio de encontrarem

formas de sustentação alternativas

para este sector de vital

importância, o que obriga a uma

rápida mudança de mentalidades.

visíveis e estas entidades são

procuradas cada vez mais como

centros de recursos para as

resolver. Necessidades sociais

relacionadas com situações de

carência material, como pobreza,

pobreza envergonhada e fome,

bem como dificuldades em fazer

face aos compromissos finan-

ceiros, aumentaram substancial-

mente nos tempos mais recentes,

não se vislumbrando uma melho-

ria para os tempos mais próximos,

apesar dos esforços do actual

governo.

As IPSS’s, tanto de forma isolada,

como em colaboração, têm vindo a

empenhar-se no combate a estas

situações e é importante que se

perceba que certamente sem o

contributo destas entidades o

panorama de agravamento social

nestas matérias seria ainda mais

dramático. Através da sua rede de

serviços e equipamentos sociais

tentam fornecer resposta a todos

aqueles que dela necessitam,

objectivo difícil de alcançar, dada

a natureza evolutiva dos proble-

mas e necessidades, dos direitos e

das expectativas dos cidadãos.

Mas os desafios que se colocam à

actuação das IPSS’s aumentam a

cada dia, não só na resposta às

necessidades sociais crescentes,

mas também no seu modelo

de financiamento, uma vez que

a escassez de recursos públi-

cos actual e prevista para os

próximos anos tornam o sistema

actual irrealista e insustentável.

Está ainda muito enraizado

que as soluções passam quase

sempre e fundamentalmente pelo

reforço dos apoios financeiros

públicos, mas estes não podem

entre muitas outras fontes de

financiamento. Naturalmente, o

Estado continuará a ter um papel

importante no modelo de finan-

ciamento, mas impõe-se o desafio

de encontrarem formas de sus-

tentação alternativas para este

sector de vital importância, o

que obriga a uma rápida mudança

de mentalidades.

A protecção dos cidadãos não

cabe apenas ao Estado, sendo

a prestação de serviços à

população por entidades

colectivas não estatais uma

prática que atravessa os séculos.

Desde a fundação da

nacionalidade portuguesa, com

clara inspiração nos valores

cristãos, que se assiste ao

desenvolvimento de esforços

tendentes a dar corpo ao

sentimento do dever moral de

protecção contra situações de

neces-sidade nos planos

individual e familiar.

34 nacional

Page 35: popcom #05
Page 36: popcom #05

38 entrevista

22 entrevista

Page 37: popcom #05

Lobo Xavier António

O CDS deve evitar, a todo o custo, uma

crise política. Uma vez começado este caminho,

só circunstâncias que não sou capaz de

imaginar justificariam uma ruptura.

Page 38: popcom #05

ntónio Lobo Xavier

tem 53 anos e é

natural de Coimbra.

Licenciado em Direito e

mestre em Ciências Jurídico-

Económicas, iniciou a sua

carreira como assistente

da Faculdade de Direito da

Universidade de Coimbra.

Dedicou-se posteriormente

à advocacia, onde, entre

outras áreas, se destaca

como um das mais

proeminentes especialistas

portugueses em

Direito Fiscal.

É também um homem com

elevada e relevante

experiência no mundo

empresarial.

Fez parte da Juventude

Centrista e é militante do

CDS, partido pelo qual foi

deputado à Assembleia da

República, tendo chegado a

Presidente do Grupo

Parlamentar. Em 1992 foi

também candidato à

liderança do partido. Preside

à Assembleia Municipal de

Penafiel desde 2005 e é

comentador do programa

Quadratura do Círculo,

da SIC Notícias.

38 entrevista

A

qual os problemas do défice

orçamental e da dívida pública são

simples consequências. Por outro

lado, o nosso endividamento no

exterior equivale a quase três anos

de PIB. É natural que tenhamos que

mudar de vida, por isso: consumir

menos, poupar mais e trabalharmos

com mais produtividade e inovação.

Não são fáceis estes ajustamentos em

tempos muito curtos, sem auxílio de

taxa de câmbio, de política monetária

própria e com quase toda a Europa

O país vive uma grave crise

financeira que tem provocado

significativos problemas a nível

social. Parece-lhe inevitável que o

momento que vivemos provocará

profundas mudanças na nossa

forma de viver? Quais?

Para lá do debate político, o certo

é que vivemos uma década em que a

economia não cresceu e em que

gastámos sistematicamente cerca de

110% do que produzimos. Esse é o

facto mais importante, perante o

os problemas do défice orçamental

Page 39: popcom #05

v

em recessão. Mas, no essencial, o

caminho do ajustamento tem que se

fazer, gostemos ou não de cada

medida concreta.

O seu regresso à política activa é

um assunto recorrente. Há

tempos disse “talvez me falte um

cargo executivo no Governo”. Há

muito quem sugira o seu nome

como potencial 'refoço' para o

Governo, nomeadamente para a

pasta da Economia. O que tem a

dizer sobre essa possibilidade?

Essa possibilidade não existe

realmente neste momento, e eu não

contribuo para desestabilizar os que

estão a dar o seu melhor para

resgatar o país. Fora dos eixos

fundamentais do memorando, eu

não tenho percebido muito bem

algumas das decisões e comuni-

cações políticas do primeiro-

ministro, tenho sido crítico aqui e

ali, e o Governo não se compadece

com essas liberdades de espírito.

Globalmente, que avaliação faz

do trabalho do Governo PSD/CDS

até ao momento?

Acho que se fizeram mudanças

importantes, que seriam impen-

sáveis há dois anos, e que

contribuem para a competitividade

do País, como a reforma da

legislação laboral, a recapitalização

da banca, o acordo de concertação

social, por exemplo; acho que há

resultados animadores, nas expor-

tações, nos yelds da dívida

pública. Mas também acho

que houve erros políticos, erros

de estratégia e erros de

comunicação, e que ainda não se fez

o suficiente para preparar a época

pós-troika. Houve trapalhadas,

avanços e recuos, e isso vai

corroendo a credibilidade política,

entrevista 39

‘Não são fáceis estes

ajustamentos em tempos

muito curtos, sem taxa de

câmbio, política monetária

própria e com quase toda a

Europa em recessão. Mas,

no essencial, o caminho do

ajustamento tem que se

fazer, gostemos ou não de

cada medida concreta.’

Page 40: popcom #05

tão merecedor de críticas como os

que o antecederam.

Recentemente foi aprovado o

Orçamento de Estado para 2013.

Parece-lhe um Orçamento bom,

mau ou inevitável?

Se tenho que escolher um desses

adjectivos, prefiro o inevitável. Penso

realmente isso: ao nível do detalhe,

as medidas poderiam ser mais para

aqui ou mais para ali, mas os

ajustamentos essenciais tinham que

ser levados a cabo. Não vi nunca uma

alternativa digna desse nome,

designadamente para promover o

crescimento, essa espécie de mito

que anda na boca de todos mas que

ninguém concretiza.

encontram mais no passado do

que no presente?

Não foi sempre assim. Até ao Verão,

o Governo beneficiou de uma

enorme compreensão dos portu-

gueses. Agora não é assim, claro,

mas o Governo deve queixar-se

mais de si próprio do que dos

outros. Trata-se aliás de duas coisas

diferentes: a responsabilidade de

Sócrates é histórica, não muda, ficou

cristalizada no momento da ajuda

externa. Este Governo propõs-se

compor, de certa forma, o que

Sócrates ajudou a degradar. Se

falhar, se frustrar as expectativas

dos que confiaram ou dos que

sofrem, por culpa própria, por

inépcia ou teimosia política, será

tão merecedor de críticas como os

que o antecederam.

avanços e recuos, e isso vai

corroendo a credibilidade política,

que é o capital essencial para levar a

bom termo estes processos.

Como classifica o papel do CDS no

contexto da coligação

governamental? Acha que o

partido tem sido mal tratado pelo

PSD?

Mal tratado não diria. Admito que a

liderança do Governo não tem dado

o relevo adequado ao CDS, ao seu

líder e, por isso, há necessidade de

mater a coligação coesa e tranquila.

Isso parece-me um erro de avali-

ação que pode custar caro. Falta

condução política a este Governo,

sentido dos tempos, da

comunicação, falta sensibilidade, e

em tudo isto o Dr. Paulo Portas

poderia dar contributos que mais

ninguém pode dar nas actuais

circunstâncias.

Perante a possibilidade do

surgimento de uma crise política

com consequências imprevisíveis

para o país, que postura deverá

ter o CDS?

O CDS deve evitar, a todo o custo,

uma crise política. Uma vez

começado este caminho, só cir-

cunstâncias que não sou capaz de

imaginar justificariam uma ruptura.

O país não suporta e, em termos

eleitorais, o CDS também não o

suportaria.

Será justo para este governo que

a dimensão da crítica que lhe é

feita supere tantas vezes a que se

fez a José Sócrates, quando é mais

do que evidente que as

responsabilidades pela difícil

situação do país se

encontram mais no passado do

que no presente?

40 entrevista

‘Falta condução política a este Governo, sentido dos tempos, da comunicação, falta sensibilidade, e em tudo isto o Dr. Paulo Portas poderia dar contributos que mais ninguém pode dar nas actuais circunstâncias.’

Page 41: popcom #05

entrevista 27

Page 42: popcom #05

42 entrevista

Page 43: popcom #05

Que conselho deixaria a um

jovem que acaba neste momento

os seus estudos e pretende iniciar

a sua vida profissional?

Que não tenha preconceitos e seja

flexível; que procure completar os

seus estudos com experiência pro-

fissional, e que, se não encontra aqui

resposta às suas necessidades, não

hesite em procurá-las noutros locais.

Deixemo-nos de demagogias: é triste

e negativo para Portugal ver os seus

melhores partirem; mas é mais triste

ainda a indignação hipócrita dos que

vêm a emigração como uma espécie

de traição, ou uma coisa que está na

mão do Governo evitar no curto

prazo. As migrações no seio da União

são também factores de ajustamento,

e eu tenho esperança que um dia esse

capital de experiência internacional

dos portugueses, esse contacto com

as melhores práticas, possa ser usado

em benefício de Portugal.

paradigma do contribuinte-inimigo,

para aderir ao conceito do

contribuinte-cliente. Mas também

acho que a tributação das empresas

tem de ser internacionalmente mais

competitiva, temos de atrair o

investimento interno e externo com

simplicidade, estabilidade e

soluções competitivas.

Com o deteriorar da crise na

Europa e sem o vislumbre de

mecanismos ou pessoas capazes

de lhe dar a volta, considera que a

crise possa estar a ser potenciada

por deficiências da arquitectura

de governo da União Europeia?

Claro que sim! E, como as coisas na

União Europeia levam tempo a

decidir e a executar, ainda temos de

esperar pacientemente alguns anos

para ver o edifício institucional da

União completo, e corrigidos todos

os erros que nos trouxeram até aqui

Que conselho deixaria a um

jovem que acaba neste momento

os seus estudos e pretende iniciar

a sua vida profissional?

Que não tenha preconceitos e seja

flexível; que procure completar os

seus estudos com experiência

profissional, e que, se não encontra

aqui resposta às suas necessidades,

não hesite em procurá-las noutros

locais. Deixemo-nos de demagogias:

é triste e negativo para Portugal ver

os seus melhores partirem; mas é

mais triste ainda a indignação

hipócrita dos que vêm a emigração

como uma espécie de traição, ou

uma coisa que está na mão do

Governo evitar no curto prazo. As

migrações no seio da União são

também factores de ajustamento, e

Como observa o sistema fiscal

português na actualidade? Sente

que existe uma necessidade de

uma nova reformulação do

sistema? Se sim o que sugere?

Acho que o problema, em geral, não

é tanto no plano das normas

substantivas, é mais no plano das

atitudes culturais e do compor-

tamento da Administração Tribu-

tária. Existem hoje, nos tribunais

fiscais, conflitos que somam cerca

de 8% do PIB, não é aceitável, é

preciso olhar este problema de

frente. A pressão orçamental contí-

nua, a melhoria da eficiência da

máquina fiscal e o estabelecimento

de objectivos de cobrança muito

ambiciosos trouxeram-nos até aqui.

É preciso rebalancear o sistema,

acabar com os focos de conflito,

promover a adesão às normas

fiscais e à acção da Autoridade

Tributária, que tem de abandonar o

entrevista 43

‘Não vi nunca uma alternativa a estes ajustamentos digna desse nome, designadamente para promover o crescimento, essa espécie de mito que anda na boca de todos mas que ninguém concretiza.’

Page 44: popcom #05
Page 45: popcom #05
Page 46: popcom #05

32 especial

Antes de reformar, é preciso ser-se

opinião pública que em última instância faz gravitar

sobre si a atenção política.

Apesar das inúmeras ramificações na discussão sobre a

crise do Estado e o estado da crise, o ponto de onde

todas elas inevitavelmente partem tem-se, nos últimos

tempos e derivado da procura de rumos nacionais,

tornado mais claro e converge para a matéria de

conceito estratégico.

De conceito estratégico em conceito estratégico, e

sempre na secular lógica de "cadeia de comando",

chegamos ao conceito de nação entre nações na

estratégia de uma unida Europa. Deve ser, por isso, esse

mesmo conceito a ser debatido e revisto sem dogmas.

Dir-se-á, e bem, que o problema português é mais

estrutural do que conjuntural. De facto, parece claro que

as conjunturas apenas têm tendido para minimizar ou

maximizar as deficiências estruturais portuguesas já

existentes de antemão.

Por isso, a questão que se deve colocar é se este

conceito de Portugal numa Europa unida serve de

catalizador ou de empecilho à resolução do problema

estrutural português. Por onde começar?

Num contexto de intervenção financeira externa que

suspende, por cima das limitações prévias de política

europeia, o conceito de verdadeira soberania nacional, é

necessário cuidado no traçar de prioridades. Os pactos

de resgate não são agressões externas, nem são uma

inevitabilidade. São, isso sim, uma escolha consciente

por parte de um governo democraticamente eleito

quando os convoca e aceita cumprir. No entanto,

findado o prazo de intervenção externa, importa fazer

saldos e ter visão de futuro estratégico.

Identificando o problema estrutural português, por

exemplo, numa falta de competitividade nos preços do

trabalho quando em comparação com os seus

concorrentes directos, num sistema fiscal inimigo do

investimento e do trabalho e num modelo social que

gasta mais do que o que a economia produz, será

indispensável colocar a questão se a estratégia europeia

Luís Pedro Mateus

s tempos são de incerteza. Os tempos são de

uma dúvida enevoada.

Os tempos são de um futuro incerto que, quer

nos espíritos mais incautos quer nos mais despertos,

tem inevitavelmente marcado um sentimento de alerta

colectivo que, não obstante de ser por vezes gritado, é

maioritariamente murmurado em resignação, qual novo

e expectável capítulo a acrescentar ao longo Fado da

nação.

Somos estranhos, nesta nova geração depositária de

tantas (e por vezes tolas) expectativas, ao incerto que as

mancha ou destrói e que inevitavelmente, num contexto

de maior oferta externa do que nacional, nos tem

forçado a transportar a procura para fora das linhas,

ainda que imaginárias, de Portugal.

No entanto, um leve conhecimento da mais básica

história servirá para provar que não somos, como povo,

de todo estranhos ao conceito do incerto. Não

interessará redesenhar todos os momentos desde 1128

até 2012 que sustentam a tese de que a nação sempre

foi um barco de incertezas, mas interessa sim tomar

disso consciência, em alturas mais prementes, como

forma de nos assegurarmos que não somos geração

inédita nestas lides.

Aqui, a responsabilidade histórica serve de farol para o

futuro: é a esta geração que compete assumir o leme e

continuar o projecto sempre incerto a que se chama de

Portugal.

Reflectir, pensar e planear são eixos indispensáveis da

governação de um país e, de todos, os que mais ao

alcance estão do cidadão comum que, sem

responsabilidade governativa, tem o poder de fazer

opinião pública que em última instância faz gravitar

sobre si a atenção política.

Apesar das inúmeras ramificações na discussão sobre a

crise do Estado e o estado da crise, o ponto de onde

todas elas inevitavelmente partem tem-se, nos últimos

tempos e derivado da procura de rumos nacionais,

O

46 opinião

Page 47: popcom #05

especial 33

Page 48: popcom #05
Page 49: popcom #05

contínuos de maior abertura e representa-

tividade em relação aos eleitores que devem fazer

parte da acção diária dos mesmos, desde logo em

contexto de manifesta descrença no sistema político-

partidário.

Na representação parlamentar, a extrema esquerda

profundamente marxista, desde logo pela sua índole

revolucionária - seja ela estalinista, trotskista, maoísta

ou hoxhaísta - o debate do conceito estratégico é

posto em contraposição a uma estratégia europeia

unitária como a que tem vindo a ser tentada, não

obstante de privilegiar inevitavelmente também ela,

numa linha internacionalista, um centralismo de

maior proximidade e ainda mais asfixiante, no âmbito

das liberdades civis individuais, do que a mais

grotesca deformação do modelo europeu actual.

É, por isso, aos partidos moderados de representação

parlamentar que têm feito parte daquilo a que se

chama de "arco governativo" que compete

procurar soluções estruturais, desde logo por uma

necessidade estratégica interna de, num contexto

de crescente descontentamento com a arquitectura

de união europeia vigente, não permitirem a extrema-

esquerda captar e capitalizar toda a dialética crítica.

Será inevitável que, ao fazerem-no, se tenham de

pronunciar de forma clara sobre qual o modelo

europeu que mais se adequa às necessidades

internas portuguesas. Se é no contexto político

europeu que se joga a verdadeira liberdade de acção e

resposta nacional aos problemas pátrios, só nessas

circunstâncias será possível, finalmente, debater a tão

badalada "reforma do Estado".

Só um Estado com poder de manobra política

considerável é que se consegue verdadeiramente

reformar. Não sobram equívocos que,

actualmente, Portugal não é esse Estado. Saibamos,

então, recuperá-lo.

concorrentes directos, num sistema fiscal inimigo do

investimento e do trabalho e num modelo social

quegasta mais do que o que a economia produz, será

indispensável colocar a questão se a estratégia

europeia permite, ou não, a resposta incisiva em

relação aos mesmos.

A união monetária severamente limita as respostas à

falta de competitividade dos preços do trabalho, as

quotas europeias limitam fatalmente as respostas do

ponto de vista produtivo na agricultura e pescas e,

mesmo em matéria de política fiscal, a nação tem-se

vista negada da sua liberdade de decisão por

comissões em Bruxelas (bastará lembrar o recente

sucedido em relação a uma hipotética baixa de

imposto em sede de IRC para empresas recém-

criadas).

A reflexão sobre o que quereremos ser nesta União

Europeia, ou mesmo que União Europeia quereremos,

desde logo fica facilitada, pelo menos, na vertente de

política monetária. Apesar das altas instâncias

políticas, quer europeias quer nacionais, temerem e

evitarem o termo "Europa a duas velocidades", o facto

é que o mesmo é já uma realidade constatável pela

existência, na mesma União, de uma Europa do euro e

de uma Europa das moedas nacionais. O primeiro foco

de debate, num futuro próximo pós-troika, se não for

o de aprofundar ainda mais a união política (que

despoletará outro tipo de debate e sensibilidades),

deverá ser o do próprio euro. Aqui, seja qual for o

debate europeu de fundo, os partidos políticos terão

de tomar a dianteira e pronunciarem-se sobre

diferentes concepções.

Tomando o partido político como parte indispensável

da vida democrática do país, aglomeração que é (ou

deverá ser) de indivíduos que partilham concepções

políticas semelhantes, é nele que o debate deve tomar

forma mais sustentada, não obstante dos esforços

contínuos de maior abertura e representatividade em

relação aos eleitores que devem fazer parte da acção

diária dos mesmos, desde logo em contexto de

manifesta descrença no sistema político-partidário.

Na representação parlamentar, a extrema esquerda

profundamente marxista, desde logo pela sua índole

opinião 49

Page 50: popcom #05