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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
ALÉM DE UM SIMPLES JALECO BRANCO: EXPERIÊNCIAS FEMININAS NA FÍSICA
Kariane Camargo Svarcz1
Resumo: Nos últimos 30 anos, a universalização da educação e o avanço da Ciência e da Tecnologia foram
extraordinários. No entanto, mesmo com a maior participação feminina nesses ramos, os créditos pelas vitórias
científicas têm sido reduto masculino. Por outro lado, a real inclusão das mulheres em algumas áreas científicas tem
acontecido de forma mais lenta do que em outras. Construída em alicerces exclusivamente masculinos, a Física fez-se
um dos campos científicos mais resistentes à participação feminina. Chamada de "ciência dura" dentre as Ciências
Exatas, desde sua formação, no século dezenove, a Física foi distinguida das demais ciências, sendo considerada
superior às outras. É evidente que esse termo pejorativo, "duro", passou a determinar também as relações de gênero nos
domínios da Física. Essa pesquisa constatou que a Física, em algumas das instituições tradicionais de ensino do Sul do
Brasil, ainda agrega pouquíssimas mulheres, não ultrapassando um limite de 20%. Preocupada em entender o porquê da
permanência de um padrão masculino na Física, me propus a realizar entrevistas com as estudantes e pesquisadores de
Física da Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC. Nessa apresentação, discorrerei sobre como algumas Físicas
sentem a masculinização da área, e, a seu ver, quais são os entraves que dificultam uma maior presença feminina nessa
esfera científica.
Palavras-chave: Ciência; Mulheres; Gênero, Física; Trabalho.
Se é para falar em gente que pisa em regras, que tal falarmos de mulheres cientistas? A
inserção das mulheres na Ciência foi sempre um pisar em regras. As mulheres na Física que o
digam. No Brasil, desde o primeiro momento em que decidiram que queriam fazer Ciência,
principalmente em certas ciências cujos porta-vozes são ainda homens, majoritariamente, as
cientistas se depararam com modelos, de ciência, de gênero e sociedade, e tentaram quebrá-los ou,
ao menos, torná-los mais flexíveis.
Os desafios para quem quer seguir uma carreira científica aumentaram no contemporâneo.
Nenhum cientista brasileiro negaria isso. As exigências para quem quer se destacar nesse mundo
cresceram formidavelmente, e disputas, traições, estabelecimentos de vínculos interesseiros, jogos
políticos, “jogos sujos” são apenas alguns detalhes que figuram a feição da ciência (não apenas no
Brasil, é claro). Porém, as barreiras enfrentadas pelas mulheres cientistas, em tempo presente, são
maiores para os homens, porque a elas, nas necessárias relações sociais que tecem a ciência, é posto
uma série de obstáculos: são tratadas como menos qualificadas; vêem a necessidade de provar sua
competência em todo momento para se afirmarem numa área que decidiu, tempos atrás, que
somente homens teriam capacidade mental para executar o que cabia a um Físico fazer; sofrem
diferentes tipos de assédios, violências simbólicas e pressões que têm como alvo nada mais que o
seu gênero.
1 Mestranda em História do Tempo Presente pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade do Estado
de Santa Catarina (PPGH/UDESC), orientanda da professora Dra. Marlene de Fáveri. Florianópolis, SC.
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O objetivo dessa pesquisa foi refletir sobre os persistentes baixos números de mulheres na
Física, mais perceptíveis nos níveis mais elevados da carreira, situação verificada não apenas na
UFSC, mas em outras universidades do país. Para trabalhar sobre essa questão foi preciso se
ancorar em apontamentos dos estudos de gênero e feministas, e mais, foi necessário considerar
outras questões que emperram no crescimento da Física no Brasil, e que tem desmotivado, mulheres
e homens, a investir na carreira de Físico/a.
Hoje, é verdade, temos em nosso país mais mulheres na Física do que já tivemos antes. Mas
o que isso significa? Que superemos os problemas de desigualdade entre homens e mulheres nos
espaços científicos? Não existem, é bem verdade, mais nenhuma lei que impeça as mulheres de
ingressarem na Física, na Engenharia, ou em qualquer outra profissão. Os caminhos, aparentemente,
estão livres. As portas estão abertas. Porém, é por baixo da superfície serena que as tempestades se
mostram. Nos bastidores da ciência dita hard, as lutas das mulheres para que sejam aceitas como
qualificadas para atuar na área e para serem consideradas e respeitadas como seres humanos se
tornam evidentes.
É sobre isso que se trata esse trabalho, fruto de uma pesquisa de mestrado em História que
se debruçou a analisar fontes quantitativas sobre a inserção de mulheres na Física da UFSC, no
período de 1980 a 2010, e fontes orais, por meio da realização de entrevistas com sete cientistas que
atuam e atuaram na Física, nessa instituição. As análises empreendidas ao longo desse texto
apontam para uma rede de mecanismos que se perpetuam no interior da Física, na e fora da UFSC, e
que corroboram para uma subalternização das mulheres na área, porém sinaliza para uma postura
resistente e contestadora das mulheres das novas gerações frente à situações onde o machismo
acadêmico se mostra.
II. A cultura história da Física e o problema de gênero:
A Física é uma das ciências consideradas dura, dentre as exatas. Alguns pesquisadores,
como Sandra Harding (1996), destacam os estereótipos que marcaram a área desde a sua formação,
no século XIX. Adjetivos como “ciência dura”, “ciência objetiva”, ou “ciência hard” distinguem a
Física de outras ciências, como as humanas, chamadas, em oposição, de “ciências moles”. São
termos pejorativos que determinaram estruturalmente as áreas, e evidentemente, as relações de
gênero que se desenvolveram nesses lugares, sendo formadas por eles, e conformando-os também.
(ROCHA, 2006).
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Os discursos não apenas nomeiam as coisas sociais. Eles instituem. Eles fundam, ao dar
sentido ao mundo. (FOUCAULT, 2006). Os discursos proferidos pelos cientistas da Ciência
Moderna instituíram a Física como carreira onde apenas os mais avantajados intelectualmente e de
espírito rígido poderiam adentrar. A concepção, no século XIX, de homem, determinava que apenas
esse era capaz mentalmente de fazer ciência. (MAFFIA, 2002).
É comum, entre os críticos da Ciência, considerar que o gênero figurou as diferentes áreas
científicas. No entanto, muitos são os comentários a respeito de uma suposta neutralidade na Física
e na Matemática: “Estar ou não na Física não é uma questão de gênero, e sim de talento e
capacidade intelectual”. Muita gente prossegue afirmando isso. Mas então eu pergunto: o que há
com a Física que exclui as mulheres? Se você duvida disso, e nunca se perguntou sobre isso, sugiro
que você dê uma olhada nos quadros docentes dos cursos de física de quaisquer universidades
brasileiras. Na química, por exemplo, encontramos hoje muito mais mulheres constituindo corpos
docentes em academias do que na Física. No campo de Física da UFSC, dentre 70 professores que
constituem o quadro docente hoje, há apenas 10 mulheres.
São poucos os trabalhos já escritos sobre a representatividade feminina na Física. A escassez
de mulheres na área isola a disciplina da crítica feminista, embora não se possa negar as importantes
contribuições de Evellyn Fox Keller, Helen Longino, dentre outras. (SHIENBINGER, 2001).
Sandra Harding (1996) questionou o prestígio moderno da física, que funciona como
ciência-modelo. Pesquisadores da área da Física também têm escrito sobre as questões de gênero no
campo, como Sharon Traweek (1988), que enfatiza a arrogância da Física em relação à presença e
atuação feminina. A física, segundo essa autora, é uma das ciências que mais silenciam as mulheres
que se situam ali. Outras, como Karen Barad (1996), tem ressaltado o estilo pedagógico que se
desenvolveu na física, ensinando os estudantes a valorizarem a diversão e a irresponsabilidade em
detrimento de valores como compreensão e compromisso. Ainda, ressalta que os vínculos militares
da própria física têm mantido as mulheres distantes dela.
As Ciências Físicas foram significadas como epistemologicamente hards. São assim
chamadas porque produzem resultados duros ou firmes, embasadas em fatos passíveis de serem
reproduzidos. As hards são chamadas, em seu ethos, de imparciais, distantes, abstratas, em oposição
às softs, compassivas, qualitativas, introspectivas, e parciais. A Física é ainda pensada
ontologicamente como hard. Porque estuda coisas inanimadas, matéria em movimento, enquanto
que as ciências humanas estudam coisas vivas, organismos moles. É vista ainda didaticamente
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como hard, porque difícil, exige aptidão analítica e alto nível de abstração do aluno, bem como
disciplina e disponibilidade para longas horas de estudo e trabalho. (SHIENBINGER, 2001).
Essa concepção de “duro” e “mole” determinou uma hierarquia entre as disciplinas
cientificas. A dureza é determinada pelo grau no qual a ciência é entendida como construída a partir
de leis universais que explicam o mundo. A física teórica busca, sobretudo, o domínio do mundo
inteiro da experiência para subordiná-lo a uma estrutura teórica unificada (HOLTON, apud
SHIENBINGER, 2001, p. 298).
A noção aceita de que a Física é mais difícil do que outras áreas é parte de sua imagem
culturalmente construída. A física quântica, segundo a física e filósofa Karen Barad (1996), não é
mais hard que a História, pois os fenômenos chamados de particulares elementares dependem de
exaustiva interpretação teórica e instrumental. Essa noção está correlata à aceitação do pequeno
número de mulheres presentes na área. Por algum motivo, quanto mais se exige habilidade
matemática em uma função, menor a participação feminina, em termos quantitativos. Mas, quanto
mais soft é a área, maior a taxa de participação feminina, no entanto, menos prestígio social tem as
áreas. (SHIENBINGER, 2001).
Sharon Traweek (1988) discutia que no Japão, ainda que a física fosse baseada num modelo
de tarefa doméstica ampliada, as mulheres ali se davam pouco melhor na Física do que aquelas que
se encontram nas comunidades de Físicos em outras sociedades. Ressalta ainda que no Japão as
mulheres eram criticadas como muito competitivas e ambiciosas, incapazes de serem cooperativas,
ao contrário dos homens. Assim, as mulheres eram excluídas da física, pois “as virtudes de sucesso,
quaisquer que sejam seu conteúdo, são associadas aos homens”.
A porcentagem baixa das mulheres na física se dá, também, pela imagem construída em
torno da própria área. A física se tornou parte da “ciência grande” e as mulheres tendem a estar fora
das coisas grandes. Certos campos da física, como a da alta energia, requerem trabalho de uma
equipe grande, com a participação de personalidades bem conceituadas. E as mulheres não foram
consideradas candidatas preferenciais para dirigir projetos assim.
Dentro da Física, a Física Teórica é uma subárea que não tem sustentado historicamente
muitas mulheres, embora nessa não sejam necessários equipamentos pesados. Os atributos exigidos
vão além das habilidades matemáticas: força interior, ego, habilidade de ser verbal e agressivo. As
mulheres acabam operando em problemas de menor escala, enquanto os homens nos de maior
escala, e a razão para isso é que os homens têm, historicamente, mais segurança e financiamento
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necessário para problemas de grande escala, cujos resultados podem ultrapassar 15 anos para serem
obtidos. (SHIENBINGER, 2001).
A presença das mulheres na Física deu-se, quase sempre, de forma dicotômica. Pode-se
pensar numa segregação horizontal, com sua baixa participação quantitativa, e numa segregação
vertical, com a concentração delas em alguns guetos, rejeitados, na maioria das vezes, pelos
homens, e com sua penosa ascensão profissional. (AGRELLO, D. A; GARG, R, 2009).
Uma das principais críticas que feministas vêm tecendo à área, tange à essa imagem
construída, em torno da Física como ciência pura. Ela carrega uma pretensão antiga, entendendo a
Física como uma das ciências totalmente livres de valores, neutra em relação às questões sociais,
políticas, e de gênero. Reafirma a idéia de que a ciência não tem um gênero, e de que as relações de
gênero que configuram as práticas sociais não têm implicâncias nesse espaço. Logo, os sujeitos que
estão ali se constituem como cientistas independentes do seu gênero, não reproduzindo valores
sexistas no universo acadêmico. (MAFFIA, 2002).
Não se trata, aqui, de negar que a capacidade intelectual seja relevante para “fazer ciência”.
Mas se trata de inserir a ciência na grande teia social, e reconhecer que ela é determinada por
relações de poder, sendo o gênero uma primeira forma dessas relações. Ademais, a física nunca
esteve livre de valores, sendo sempre determinada pelas pressões e jogos políticos de cada tempo.
(HARAWAY, 1995).
O aumento da participação feminina no mercado de trabalho, que se intensificou na década
de 1980 se refletiu no crescimento de sua presença no ensino superior. O número de mulheres nas
diferentes Ciências tornou-se, a partir de 2000, superior à presença masculina. Porém, na Física,
esse crescimento é menos perceptível. Se na graduação, a presença feminina obteve um crescimento
a partir de 2000, situando-se numa faixa de 20 a 30%, o que não acontecia nas décadas anteriores, a
situação não acontece nos níveis mais altos da carreira. Os números diminuem no mestrado, e no
doutorado, onde o número de mulheres é inferior a 10% do total.
Destaca-se um considerável aumento de mulheres na física da UFSC a partir da 1997,
acompanhando a ampliação do ingresso feminino na educação e no mercado de trabalho, que vinha
ocorrendo desde 1960, mas se tornava mais proeminente nesse momento, favorecida pelas
transformações sociais, econômicas, políticas e culturais que assolavam o Brasil. Os governos, por
sua vez, passaram a estimular um maior interesse dos jovens pela Ciência, visando tornar mais
densa a massa crítica de cientistas, especialmente na área de exatas. No que tange às questões de
gênero, e em prol de estimular o aumento da procura feminina pelas IES e pela Ciência, em 2005
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foi criado o programa Mulher e Ciência a partir do trabalho de um grupo interministerial composto
pela Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres - também criada durante o governo Lula -
pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, MCT, e pelo CNPq. O programa objetivava estimular a
produção científica e a reflexão acerca das relações de gênero no país, e promover a atuação das
mulheres no campo das ciências e das carreiras científicas. A partir de então, com o incentivo do
programa, a participação das mulheres nas diferentes ciências e nas IES tornou-se crescente, e, em
algumas áreas, dominante, o que não erradica, contudo, a sua exclusão de áreas mais arraigadas a
padrões de gênero.
Na Física, ainda que os números sejam maiores em relação às décadas passadas, a presença
delas permaneceu abaixo de 30%, sugerindo a existência de problemas não resolvidos na área,
sejam esses de gênero ou de outras ordens. Acredito que a baixa representatividade da Física no
Brasil, com a pequena incorporação de Físicos/as no mercado de trabalho fora da academia e do
ensino, e as dificuldades desses em obter aprovação da regulamentação da profissão tenha
desestimulado, historicamente, homens e mulheres a construírem carreira na área. O prestígio que a
Física possui em países cientificamente desenvolvidos, como Estados Unidos, alguns países da
Europa e da Ásia, não se tornou realidade no Brasil, onde, até pouco tempo atrás, a pesquisa,
realizada quase que majoritariamente em instituições de ensino superior, era somenos. (VIEIRA;
VIDEIRA, 2007).
III. Relações de Gênero na Física sob perspectiva feminina:
Para esse artigo selecionei três entrevistas, das quais levanto alguns aspectos destacados nas
falas dessas mulheres2, no que se refere à inserção feminina na Física na UFSC. Um deles é a
invisibilidade das Físicas na academia, que se reflete em sua baixa legitimidade em termos de
pesquisa e publicação, ou quando são descartadas de projetos de pesquisa que contam com os
melhores financiamentos, esquecidas em grandes premiações, e pouco lidas na academia; outros
dois é o silenciamento e a sensação de estarem sempre ameaçadas ou postas à prova pelos colegas.
2 Com o propósito de proteger a integridade das entrevistadas, e até mesmo por uma questão de ética, optei por não
expor seus nomes, utilizando pseudônimos. As subáreas onde as cientistas atuam são: Física Nuclear (Física Teórica),
Física das Partículas Elementares (Física Experimental), Física da Matéria Condensada (Física Experimental) e
Educação Científica. Acrescento que, no Departamento de Física da UFSC, dentre 71 professores, havia até o momento
da pesquisa, realizada em 2016, apenas 11 mulheres. E dessas, cinco se dedicava à área de Ensino, sendo que dentre os
pesquisadores, apenas quatro atuavam nessa área. Os dados sugerem, portanto, segregação horizontal no interior da
Física, encontrando, as mulheres, um campo mais favorável de integração e atuação em áreas desprestigiadas na Física,
pois que as áreas de debate sobre ensino e educação são consideradas, nessa área, como de menor valor que outras.
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Sobre o problema da invisibilidade das mulheres cientistas na Física, Soraia destaca que:
Fiz um levantamento de importantes contribuições científicas de mulheres físicas
recentes, que nem são conhecidas na academia. Elas descobriram coisas que hoje os
homens ainda estão lá, pelhando. Sempre estão tentando inventar a roda, sabe?.
Quando poderiam estar muito a frente. Na ciência há muito jogo de poder, e é um
jogo bem sujo, viu? (Soraia. Entrevista concedida a Kariane Svartz, em 2016).
Diana ressaltou sobre a insistência que se tem em acobertar o problema de gênero existente
na área. Na Sociedade Brasileira de Física (SBF) há uma comissão de gênero que se debruça a
pensar sobre essas problemáticas que temos discutido em relação à baixa representatividade das
mulheres na Física, e Diana fazia parte dessa comissão. Em setembro de 2016, iria ocorrer em
Natal, no Rio Grande do Norte, um evento grande na área, denominado “Encontrão”, onde todas as
áreas da Física iriam se encontrar. O evento acontece de cinco em cinco anos, e agrega
aproximadamente 3000 pessoas. A Comissão de gênero estava solicitando para a comissão
organizadora do evento um espaço para uma mesa redonda para debater questões de gênero. Porém:
Nossa! Foi um embate! Não saia espaço para AA mesa redonda de jeito nenhum! E
por acaso, eu também faço parte da Comissão de Física Nuclear, e recebi um e-mail
do presidente da SBF solicitando uma indicação de alguém para um horário que
estava vazio. Aí eu escrevi para os que estavam na comissão do evento
questionando: “Como é que é essa história? Olha o e-mail que eu estou recebendo!
Estão pedindo para eu indicar um Físico da Física Nuclear, um horário está vago, e
eu estou implorando para você me dar um espaço que você está dizendo que não
tem?”. Aí ganhamos espaço para a mesa redonda para debater questões de gênero.
Mas eu não sei quantas pessoas vão estar lá assistindo! Vamos ver o que vai
acontecer. E aí começa em horário nobre! Inclusive vai ter homem junto. Eu falei
para esse cara da comissão: “Tem que ter homem!”Aí ele falou: “ué, Por que?” Eu
falei: “Ué, para não parecer que é nhenhenhém de mulher!”. Eu que falei assim,
porque né, juntar as mulheres enraivecidas que ficam de nhenhenhém. A gente quer
discutir um problema, eles são parte do problema, então tem que ter homens lá, no
grupo de trabalho. (Diana. Entrevista concedida a Kariane Svarcz em 2016).
As Físicas entrevistadas vêem as movimentações recentes de gênero na área muito favorável
às mulheres, já que gradualmente o porcentual feminino cresce na área. No entanto, passam uma
mensagem de que as mulheres devem ficar sempre a alerta, porque o lugar por elas recém-ocupado
sempre está ameaçado. Na visão de Amélia, a Física na UFSC foi e ainda é:
Muito machista. Tem mulheres que enfrentam mesmo, falam de igual para
igual. Tem hora que tem ser agressiva, é isso que eu queria te dizer, tem
horas que você precisa ser agressiva para ser ouvida, porque o
comportamento normal é de desconstruir. Desfazer daquilo que está sendo
feito, por melhor que esteja. Há uma tendência em olhar com o pior olhar
possível. Esse é um comportamento, que estou dizendo, que é uma cultura.
Uma vez que você entrou, eu acho que você não tem que se intimidar com
esse tipo de coisa. Você tem que enfrentar para ser ouvida, para marcar seu
lugar, né? E seguir em frente, desempenhar o teu trabalho. (Amélia.
Entrevista concedida a Kariane Svarcz, em 2016).
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O assédio sexual, mais recorrente nas décadas anteriores, em tempo recente tem acontecido
pouco, no entanto, a discriminação de sexo ainda ocorre na forma de desconsideração de que as
mulheres são competentes, de que elas são tão capazes quanto os homens de fazer ciência. “Isso
você consegue fazer, é só mexer a panelinha”, e “pelo menos tem menina aqui para lavar a louça”
são comentários comumente ouvidos em laboratórios pelas garotas, especialmente da parte de
docentes mais velhos. Ana narrou alguns comentários feitos por homens, revestidos em tons de
brincadeira, muito comuns em laboratórios:
Eu já ouvi que “ah, a mulher para trabalhar em laboratório é muito
sentimental, se der algo errado, ela já vai chorar”, que “com homem tudo se
resolve mais fácil, porque tu fala isso e tu fala aquilo e todo mundo fica
bem”, “que onde tem mulher tem mimimi”. Eu mostro trabalhando, que eu
sou tão ou mais forte quanto qualquer um deles. Até sobre TPM tem
piadinhas que a gente escuta: “ah, deixa, tu ta na TPM”, mas tem homem
que tem bem mais TPM! É só porque a gente não fala isso. (Ana. Entrevista
concedida a Kariane Svarcz, em 2016).
As mulheres também denunciaram ocorrências de assédio moral que visavam ameaçar seu
trabalho e sua posição alcançada na universidade. Diana, que está no Departamento de Física já há
25 anos, precisou enfrentar uma situação de assédio moral em que o objetivo do autor da conduta
era nada mais do que abalar sua posição no departamento, tirando-lhe privilégios galgados com
muito custo. Isso ocorreu quando estava grávida do primeiro (e único) filho, há 22 anos atrás:
Hoje assédio é uma coisa muito mais explícita. Hoje se fala mais sobre isso. Mas
anos atrás era mais pesado. Quando você é pesquisador, você tem um numero x de
aulas, uma carga horária menor de quem não faz pesquisa. E eu, diferente das outras
duas colegas que tinha na época, já possuía, desde quando cheguei, um perfil de
pesquisador. Eu dava essas oito horas em sala de aula. Quando eu estava grávida
eles quiseram me dar uma carga horária de 16 horas, que é o equivalente a quem não
faz pesquisa. Aí eu questionei: “ué, mas o que aconteceu?” Aí o professor que era
responsável por distribuição de aulas disse “não, isso é pra você pagar a sua licença
maternidade”. Aí eu disse “vou te processar”. E eu estava com o documento escrito.
E aquele negócio durou só algumas horas, ainda mais que eu sou casada com
advogado, então durou só algumas horas. No final eles mudaram e voltaram atrás.
(Diana. Entrevista concedida a Kariane Svarcz, em 2016).
Saber como reagir diante das situações, e ter como reagir, ter os instrumentos necessários
para isso é muito importante para a sobrevivência dentro do ambiente, como ressaltaram as
entrevistadas. Claro que o fato de gostar da área, da profissão, faz com que todos os embaraços
pareçam mínimos. Por outro lado, é supra-essencial estabelecer relações, se esgueirar para dentro de
bons grupos, e ter jogo de cintura para lidar com as pressões, assédios de todos os tipos, e com a
própria inveja acadêmica.
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Traçando os currículos lattes dessas mulheres com as dos colegas, pôde ser possível
verificar que em média elas têm feito mais que os homens. Há uma maior cobrança por parte das
mulheres em relação à sua própria produção científica. (SHIENBINGER, 2001). Comparando o
lattes de Diana com o de um colega cuja idade profissional é praticamente a mesma da cientista, foi
constatado que a cientista estava muito à frente, em termos de produção, publicação, e formação.
Questionei-a sobre isso, ao que ela respondeu:
Ah, acho que as mulheres sempre trabalham mais que os homens. Por exemplo,
essas três que estão comigo no CA do CNPq, nós sempre fizemos mais que os
homens na média. E demoramos mais pra subir na carreira. Acho que o que falta é
reconhecer que o problema existe, né? (Diana. Entrevista concedida a Kariane
Svarcz, em 2016)
Um último ponto a ser destacado é o do silenciamento das mulheres na ciência, quando
estão em minoria. O silenciamento tem sido percebido em muitas pesquisas, e ele se dá de diversas
formas, tanto em termos de piadas, quando se leva a pessoa ao descrédito, e esse segue sendo um
modo indireto de silenciar; em termos também do não reconhecimento do trabalho feminino,
quando as recompensas quase sempre são dadas ao masculino; e uma outra forma é aquela direta,
tenaz, e dura, a que deslegitima a fala das mulheres chamando-as de histéricas ou loucas. Na
percepção de Soraia:
As mulheres, eu sinto, especialmente a mais velhas que eu, têm que ser mais
impositivas, eu sinto que elas precisam forçar para serem ouvidas. E quando elas
forçam, daí são chamadas de histéricas. “Não, mas do jeito que tu fala daí ninguém
vai querer ouvir mesmo”. Tem uma colega minha que acabou de passar por uma
coisa assim. Aconteceu alguma coisa e ela acabou não entrando para uma comissão
de pesquisa, e quando ela foi perguntar pra comissão que estava elegendo a
comissão de pesquisa por que ela não foi chamada, eles falaram “ah, mas quem é
que vai votar em ti, olha o jeito que tu fala”. Então a gente sempre tem o contra-
ataque. Cada ganho, tu tem que estar preparada por que vai ter contra-ataque. Ou
você é chamada de ingênua ou de louca. Tu nunca é a neutralidade, cujo parâmetro
são eles mesmos. (Soraia. Entrevista concedida a Kariane Svarcz, em 2016).
A Ciência, sendo ela também um artefato cultural, foi construída embasada em valores
masculinos, a partir de oposições binárias (o dualismo cartesiano), tornando-se um campo, como
qualquer outro, marcadamente competitivo. No interior desse campo, muitas formas de relações de
poder estão imbrincadas, que se sobrepõe umas sobre as outras. Notadamente, as relações de
gênero, que nós entendemos como uma primeira forma de significar relações de poder (SCOTT,
1995), estão ali inseridas e também estruturam a ciência. Para as cientistas, a inveja que os homens
possuem de mulheres que se destacam no trabalho é muito forte na academia masculina, sendo
também responsável pelos obstáculos jogados nos caminhos por onde elas passam.
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Na Ciência, e em particular, na Física, o grupo estabelecido historicamente é o dos homens.
As mulheres conseguiram entrar nesse campo, com mais proeminência, muito recentemente,
embora já estivessem em outras profissões há muito tempo. Fazendo ciência em um sistema
científico excludente, machista e meritocrático, as Físicas seguem dependendo de outras mulheres
cientistas, especialmente de mulheres em posições de poder, para que seus direitos sejam protegidos
e para que elas tenham, realmente, chances de ascender na carreira e serem reconhecidas como
cientistas.
Observemos, portanto, que a nossa história não segue uma linha de evolução, tal como
costumamos pensar. As comemorações que fazemos em torno da presença e atuação feminina na
Ciência são feitas de forma acrítica e têm facilitado a negligência de um problema de gênero ainda
não resolvido, tanto na ciência, quanto na sociedade em geral. O que falta, como enfatiza a Física
Diana, é aceitarmos que o problema ainda existe, falar mais sobre ele, pensar sobre, atuar sobre.
IV. Considerações finais
Não houve ausência feminina na Física no Brasil. Embora de forma um pouco isolada e em
baixa proporção, elas sempre estiveram presentes nesse espaço. Falar de uma ausência é
desconsiderar as poucas que ali estiveram e que contribuíram de uma forma ou outra, para a ciência,
para a história das mulheres, e mais que isso, procuraram encontrar o seu lugar no mundo e a fazer
acontecer os seus sonhos.
Intercruzar as diferentes histórias dessas mulheres que falaram acerca de suas vivências no
mundo científico foi um desafio e tanto. No entanto, foi a partir dessa tarefa que pude compreender
questões acerca da inserção das mulheres em determinadas ciências donde, por muito tempo, e por
diversas razões, estiveram fora. O que pretendi nesse texto foi problematizar os discursos de
algumas Físicas entrevistadas, que trouxeram em suas falas um pouco dessa experiência do “ser
mulher” na Ciência Masculina.
Ser mulher na ciência, como elas demonstraram, é muito mais do que vestir um jaleco
branco todos os dias, é mais do que entrar e sair de um laboratório, é mais do que se esconder atrás
de livros, é mais do que todas essas adjetivações já construídas em torno da figura do cientista que
paira em nossa sociedade.
Se utilizo a categoria “mulher” no substantivo não o quero fazer por uma perspectiva
essencialista. Como pela questão do corpo, pela questão da sexualidade, as mulheres que entrevistei
acabaram sofrendo assédios e preconceitos de gênero e de raça no universo da Física, e como
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algumas delas entendem esse meio como ainda marcadamente masculino e machista, e precisam
lidar com as questões que emanam disso cotidianamente, optei pela frase “ser mulher na ciência”,
porque algumas experiências delas são similares e se encontram, especialmente no que tange à
sexualidade, à representatividade delas na academia e ao seu reconhecimento pelos colegas. No
entanto, esse “ser” é muito mais plural.
A pesquisa possibilitou compreender que uma maior quantidade de mulheres na Física nos
últimos anos, somada com uma nova “postura” das mulheres, que nutridas no Feminismo, têm
atacado e questionado atitudes masculinas carregadas de preconceito e valores antigos, tem
possibilitado talvez não uma erradicação das desigualdades de gênero na Física e na Ciência, mas
uma nova forma de relação entre os pares, mais fluida e mais possível do que já fora antes.
Entretanto, o machismo é latente, e é em horas de tensões ou de glórias que ele se manifesta.
Assim, ressalto que essas relações amistosas não são fixas, e em alguns momentos o descaso
com as mulheres, o desmerecimento em relação à capacidade intelectual delas, e ataques à sua
sexualidade, em situações de conflito, podem vir a ocorrer. Mas as mulheres não se silenciam, como
o faziam antes, e têm, à sua maneira e de diferentes modos, enfrentado situações de machismo e de
racismo na academia científica. O que comprova com o que algumas estudiosas de gênero e ciência
têm reforçado em suas teses (TABAK, 2002; LOMBARDI, 2006; SHIENBINGER, 2001; ROCHA,
2006), de que a presença das mulheres na Ciência pode quebrar com estereótipos de gênero e
contribuir para a construção de uma sociedade mais justa. Isso não é uma realidade ainda, mas está
sendo construído aos poucos. Ou talvez seja ingenuidade da minha parte. Pode ser.
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MORE THAN AN SIMPLE WHITE COAT: FEMALE EXPERIENCES IN PHYSICS
Abstract: In the lest thirty years, the universalization of the education and de progress of de
Science and the Technology has been extraordinary. However, even with the highest female
participation in these sectors, the credits for scientific victories have been male redoubt. In the other
side, the real inclusion of women in some scientific areas had happened more slowly than in others.
The Physics, built on male ground, has become a very tough field to female participation. Call of
“hard science” among the Exact Sciences, since its formation, in the nineteenth century, the Physics
was distinguished from other sciences, being considered superior to the others. It is evident that this
pejorative term, “hard”, began to determine the gender relations in the Physics. This research found
that Physics, in some of the traditional institutions of education of the South of Brazil, still
aggregates very few women, not exceeding a limit of 20%. Concerned to understand the reason for
the permanence of a male pattern in Physics, I set out to conduct interviews with the students and
researchers of Physics of the Federal University of Santa Catarina, UFSC. In this presentation, I will
discuss how some Physicists feel the masculinization of the area, and, in their view, what are the
obstacles that hamper a greater female presence in this scientific sphere.
Keywords: Science; Women; Gender; Physics; Work.