o caboclo boiadeiro: o ser dos pastos sujos por itamar pereira de aguiar
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Artigo do Prof. Dr. Itamar Pereira de Aguiar/UESB. Apresentado no XI Congresso Latino Americano Sobre Religião e Etinicidade - 2006.TRANSCRIPT
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O CABOCLO BOIADEIRO: o Ser dos pastos sujos
Itamar Pereira de Aguiar1
Parte da região compreendida como Sudoeste da Bahia (ou, mais especificamente,
como Planalto da Conquista) foi, no passado, chamada de Sertão da Ressaca. Por sua situação
privilegiada, a meio caminho entre o litoral (à altura da cidade de Ilhéus) e o rio São
Francisco (à altura de Bom Jesus da Lapa), Conquista constituiu-se, desde o início, em uma
cidade encruzilhada, por onde passavam boiadas e onde os vaqueiros pousavam para
descansar das longas viagens pelo sertão, na condução dos bois para venda em Salvador e
Recôncavo da Bahia; pelos caminhos do passado que a interligavam: a leste, com Ilhéus; ao
sul, com a região de mineração do estado de Minas Gerais; a oeste, com o rio São Francisco e
a Chapada Diamantina; a nordeste, com Cachoeira, Nazaré das Farinhas e Salvador.
Região que sofreu influência da cultura do Boi proveniente da bacia do rio São
Francisco e bacias adjacentes ao longo do Norte de Minas Gerais, Sudoeste e Oeste da Bahia,
literalizada por João Guimarães Rosa, sob a narração do personagem Riobaldo, o jagunço
Tatarana, falando de paisagens compostas por veredas e buritis, gerais e pastos mansos,
planaltos, montanhas e rios, matas fechadas e onças, caatingas e espinhos, homens cavalos e
Bois, mansos, selvagens, encantados. Coronéis, Vaqueiros, jagunços, jagunços-vaqueiros,
tropeiros, boiadeiros, padres, pregadores, videntes, benzedeiras e feiticeiros, negros,
indígenas, brancos e mestiços de vários matizes. Tudo isso e muito mais compondo a
imensidão sem fim, o Sertão.
O sertão está em toda parte [...]. O diabo na rua no meio do redemunho [...]: sertão é
onde o pensamento da gente se forma mais forte do que o poder do lugar. [...].
Sertão é isso, o senhor sabe: tudo incerto, tudo certo. Dia da lua. O luar que põe a
noite inchada [...]. Sertão é isso: o senhor empurra pra trás, mas de repente ele volta
a rodear o senhor dos lados. Sertão é quando menos se espera; [...]. O sertão é bom.
Tudo aqui é perdido, tudo aqui é achado [...]. O sertão é confusão em grande
demasiado sossego [...]. Sertão foi feito é pra ser sempre assim: alegrias! E fornos.
Terras muito deserdadas, desdoadas de donos, avermelhadas campinas. Lá tinha um
1 Itamar Pereira de Águiar, Doutor em Antropologia pela PUC/SP, vinculado à Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB, lotado no Departamento de Filosofia e Ciências Humanas – DFCH.
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caminho novo. Caminho de gado. Sertão é uma espera enorme [...]. Satanão! Sujo!
[...] e dele disse somente – S... – Sertão... Sertão... (ROSA, 1979, p. 9- 11- 22-121-
218-343, 380-436-448).
Ouvi de um pai-de-santo conquistense que, “O CABOCLO BOIADEIRO é o Ser dos
pastos sujos”. Os pastos sujos são lugares de diversidade da flora e fauna do Sertão, onde
depois de aberta uma clareira na mata, na mata-de-cipó e na caatinga, brotam diversas plantas,
algumas rasteiras como as gramíneas, a malícia, as malvas, os velames e muitas leguminosas,
outras arbustivas como o espinheiro preto, as unhas-de-gato, a mãe-ingraça, outras ainda,
árvores frondosas como a imburana, a baraúna, o canela-de-vei, o Pau-d’arco, o sete casca, a
madeira-nova, a aroeira, o juazeiro, o umbuzeiro, as palmeiras e muitas outras, lugares
apropriados para o gado pastar, como as veredas.
A Vereda recruza, reparte o plaino, de esguelha, da cabeceira-do-mato da Mata-
Pequena para a casa-de-fazenda, e é alegrante verde, mas em curtas curvas, como no
sucinto caminhar qualquer cobra faz. E tudo. O resto, céu e campo. Tão grandes,
como quando vi, quando no fim: que ouvi só, no estardalhal, gritos e os relinchos: a
muita poeira, de fugida, e os cavalos azulados... (ROSA, 1979, p. 414.)
No Sertão de Guimarães, imensas extensões de terras nas quais os bois, muitas vezes
de mansos ficavam bravos, quase selvagens, soltos sem donos, nas matas, caatingas, gerais,
planaltos, serras, e boqueirões. Lugares onde bois, cavalos, vaqueiros, jagunços, boiadeiros,
se tornam barbatões, mandingueiros, encantados. Uma complexa imensidão.
Arte que espiei arriba, levei os olhos. Aquelas estrelas sem cair. As Três-Marias, o
Carretão, o Cruzeiro, o rabo-de-tatú, o Carreiro-de-São-Tiago. Aquilo me criou
desejos. Eu tinha de ficar acordado firme. Depois, daí, vi o escuro tapar de nuvens.
Eu ia esperar, fazendo uma coisa ou outra, até o definitivo do amanhecer, para o sol
de todos. Ao menos achei de tirar, do tom da noite, esse de fim, canto de cantiga:
Remanso de rio largo. Deus ou o demo no sertão... (ROSA, 1979, p. 424).
Sabe-se que o boi chegou ao Brasil ainda no Período Colonial, durante o governo de
Tomé de Souza (1549-1552), através das capitanias da Bahia, de Pernambuco e de São
Vicente. Do recôncavo da Bahia nas terras da família Garcia de Ávila, conhecidos como da
casa da Torre, adentrou os Sertões: do norte da Bahia a Sergipe, ao vale do rio São Francisco
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e daí aos vários Estados do Nordeste até alcançar o Piauí e o Maranhão, terras dos “pastos
bons” (JÚNIOR, 1992, p.192-193).
Na transição para o século XVIII, haveria nos sertões da Bahia mais de 500
criatórios. Somente na borda direita do São Francisco encontravam-se 106 fazendas
de gado estabelecidas por Antônio Guedes de Brito e arrendatários de suas terras. Na
margem esquerda haveria muito mais, dos descendentes de Garcia d’Ávila e seus
rendeiros. Em toda a Bahia os rebanhos superavam a meio milhão de reses e em
Pernambuco, que nessa época incorporava o oeste da Bahia e os atuais estados de
Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte, a mais de 800 mil cabeças de gado
(NEVES, no prelo).
A criação do boi exerceu grande importância no povoamento de toda essa área, através
da implantação de fazendas, na realização das feiras de venda do gado “como a de Capoame,
entre os atuais municípios de Camaçari e Dias d’Ávila, nos séculos XVII e XVIII, e a de
Santana dos Olhos d’Água, hoje Feira de Santana, no XIX e no XX” (NEVES, no prelo). Na
construção de povoados que com o passar dos anos constituíram-se em cidades e, também na
abertura de caminhos que as interligavam ao recôncavo e à capital da colônia:
[...] entre 1612 a 1891, quando os colonizadores [...] abriram a estrada das boiadas,
ligando a capital da colônia ao alto sertão do São Francisco até o Piauí surgiu a
Fazenda Serrinha na Capitania da Bahia, como local de criação de gado e rancho
para descanso de homens e animais. Depois tornou-se centro comercial e
agropecuário, recebendo foros de cidade por ato assinado pelo governador José
Gonçalves da Silva, em 30 de junho de 1891 (FRANCO, 1996, p. 11).
Continuando a jornada o boi alcançou ainda pelas margens do São Francisco, parte do
que é hoje o Oeste da Bahia e o Norte de Minas Gerais, de onde em meados do século XVIII,
chega ao Sertão da Ressaca, fazendo surgir em torno do Arraial da Conquista grandes
fazendas de gado que se constituíram em principal atividade econômica, meio de vida dos que
habitavam o lugar, tornando-se o boi importante ícone da cultura local.
Estudos de corografia registram atos a partir dos quais, na primeira metade do século
XVIII, teve início a ocupação do Sertão da Ressaca e as origens da colonização da região, na
qual Vitória da Conquista encontra-se inserida, afinal,
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Para a conquista da região vizinha, Pedro Leolino Mariz, Superintendente das
Minas, formou uma bandeira, entregando a direção a André da Rocha Pinto, em 25
de junho de 1727, ao qual conferiu um ‘Regimento’ de caráter extremamente militar.
O objetivo da bandeira era explícito naquele regimento: conquistar o sertão entre os
rios de Contas, Pardo e São Mateus, encontrar metais preciosos, estabelecer
fazendas de gado, matar índios que se opusessem à conquista, estabelecer aldeias e
destruir quilombos que fossem encontrados (MEDEIROS; FONSECA, 1996, p. 90).
Não se sabe ao certo, qual foi a primeira fazenda de gado estabelecida no Médio São
Francisco, mas, segundo Neves “parece ter sido a Brejo Grande, latifúndio de Antônio
Gonçalves Figueira, na última década do século XVII”. Dai Figueira mudou-se para a região
dos vales do rio Pardo e Verde Grande, onde possuía as fazendas Itaquí, Olho d’Água e
Montes Claros, essas foram vendidas a Pedro Leolino Mariz que, por sua vez, as vendeu a
Matias João da Costa. Tudo indica que delas tenham chegado à Região de Vitória da
Conquista as primeiras cabeças de gado, pois, Matias João da Costa, tido por sogro de João
Gonçalves de Costa, possuiu também fazendas nessa área.
Natural do norte de Portugal, Matias João da Costa morreu com avançada idade em
Brejo das Carnaíbas, fazenda da qual pagava rendas a Joana da Silva Guedes de
Brito. [...]. Na fazenda Ressaca, borda do rio Gavião, criava 300 cabeças de gado, na
fazenda Conquista 300 reses e 42 éguas. Possuía ainda a fazenda Olho d’Água e os
sítios: Barra, Nossa Senhora da Vitória, Catolés, Espírito Santo, Santo Antônio e um
“na outra banda do rio Pardo”, “infestado de gentio”. Em todos criava muito gado
(NEVES, no prelo).
Além de Matias João da Costa, tem-se notícia de diversos outros fazendeiros e
pequenos proprietários de terra que, ocupavam as margens do rio Gavião, plantando algodão,
cultivando lavoura de subsistência e criando gado:
Em Candeal no rio Gavião, Francisco José Ribeiro, [...], pagava renda da terra onde
vivia, em 1789, numa casa coberta de palha, plantava roças e criava 17 eqüinos e 72
cabeças de gado. [...], Crispim da Rocha Pinto possuía, em 1792, casa, roça de
mandioca e de algodão, produto do qual armazenava duas cargas (12 arrobas)2, 30
eqüinos e gado3, [...]. Criadores do rio Gavião comercializavam muito gado.
Modesto Vaz da Costa, por exemplo, vendeu ao capitão Estevão Inácio da Costa
com suas posses de terras em Gavião e Santa Cruz da Canabrava, 100 reses, em
1799 (NEVES, no prelo).
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O naturalista Maximiliano Príncipe de Wied Neuwied, em sua obra Viagem ao Brasil,
descreve paginas magistrais sobre suas andanças, da Vila dos Ilhéus aos confins da Capitania
de Minas Gerais e, das fronteiras de Minas ao Arraial da Conquista, nas quais narra sobre
tudo que vê e sente: os climas, as doenças, as serras, os vales, os rios, os planaltos, as matas,
os Campos Gerais as Caatingas as tribos indígenas, os povoados, o Porto aduaneiro de Minas,
os tropeiros, os caminhos, as fazendas, a criação do gado no sertão, os cavalos os bois e os
vaqueiros. Dentre eles fala do vale de Barra da Vareda, cortado pelo rio Pardo no ponto em
que se encontra com o afluente ribeiro da Vareda que dá nome ao lugar.
O Sr. capitão Ferreira Campos, nascido na Europa, mandou abater as florestas do
local e fazer plantações em que cultiva mandioca, milho, algodão, arroz, café e todos
os demais produtos do país. [...]. A riqueza de um lavrador brasileiro consiste em
seus escravos, e as quantias que retira do produto de suas colheitas são logo
empregadas na compra de mais escravos. Êsses são tratados geralmente com doçura
e, em Barra-da-Vareda são muito bem alimentados. Na hora do maior calor do dia,
levam-lhes nas roças em que trabalham, grandes vasilhas do melhor leite, e dão-lhes
em abundância excelentes “melancias”, muito refrescantes. Nestas regiões, os
proprietários que possuem cento e vinte escravos, ou mais, moram comumente em
casas de barro, e, como as pessoas pobres, vivem de farinha, feijão preto e carne
sêca. Raramente pensam em melhorar o seu modo de vida, que os bens de fortuna
não tornam mais alegres (WIED NEUWIED, 1940, p. 375).
Figura 14 Figura 25
Além da agricultura movida a braço escravo, o proprietário da Fazenda Vareda,
segundo Maximiliano, criava considerável quantidade de bois e cavalos, cuidados por
“rapazotes pretos” que no final da tarde os levavam para um grande curral, quando então,
ordenham as vacas e diz mais:
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Já aqui pude também travar conhecimento com [...] os “vaqueiros” [...], vestidos de
couro de veado da cabeça aos pés. [...]. A sua vestimenta consta de sete peças. [...]; o
“chapéu”, pequeno e arredondado com as abas estreitas, que se alarga e se alonga
para trás para formar uma pala que abriga o pescoço; o “gibão” ou jaqueta, aberto na
frente, por baixo do qual está o “guarda-peito”, [...]; as “perneiras” ou calções, por
debaixo das quais estão as botas munidas de esporas. [...]. O “vaqueiro”, montado
num bom cavalo sobre uma cela acolchoada, leva na mão uma longa vara cuja
extremidade é guarnecida por uma ponta de ferro rombuda, [...]; às vêzes leva
também um “laço” para pegar os animais mais bravios. [...]. Cada fazenda de gado
tem um número suficiente de vaqueiros, entre os quais vêem-se negros, mulatos,
brancos e algumas vezes índios. São geralmente bons caçadores, exercitados em
perseguir e combater, com grandes cães educados para isso, as onças, ou os grandes
felinos [...]. O proprietário da fazenda envia, [...] os seus vaqueiros aos diferentes
pontos de seus domínios onde [...] vivem separados do mundo, levando uma
verdadeira existência de solitários (WIED NEUWIED, 1940, p. 376).
Ao adentrar os Sertões pode-se dizer que o boi levou o negro pendurado no rabo e o
índio na ponta do chifre, seguidos pelo branco como dono da fazenda, montado a cavalo.
Vetor de relações entre raças e culturas.
As nações indígenas que ocupavam o território compreendido entre os rios de Contas
e Pardo naquele período eram os Aimorés, os Pataxós e os Mongoiós. Para ilustrar esta
afirmação, recorremos à classificação elaborada pelo pesquisador Ruy Medeiros, que se
baseia nas informações do lingüista Aryon Dall’lgna Rodrigues para os indígenas que
habitavam o Planalto da Conquista:
INDÍGENAS DO PLANALTO DA CONQUISTA
Tronco Macro – Jê
FAMÍLIA LÍNGUA DIALETO
Kamakã Kamakã Mongoyó
Aymoré Aymoré -
Maxacali Pataxó -
Fonte: Torres (1996:94)
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Figura 36 Figura 47
Também os viajantes Spix, Martius e como vimos o príncipe Maximiliano Wied-
Neuwied, visitaram a região no início do século XIX, registraram informações importantes
sobre os indígenas. Informa Maximiliano, que visitou a Imperial Vila da Vitória em 1817,
quando os Mongoiós se encontravam em situação de organização sócio-econômica distinta
dos Pataxós, estes vivendo de caça e coleta, dificilmente se fixando em algum lugar. Segundo
ele, eram os Mongoiós, entre os aborígenes, “os mais desconfiados e discretos”. Descreveu
muito dos seus hábitos e costumes após visita feita a uma de suas aldeias no lugar
denominado Jibóia.
Tendo avistado, na minha viagem através da floresta virgem, ‘Camacans’
completamente selvagens, tinha eu desejo de visitar a aldeia desses situada a um dia
de viagem do Arraial, nas grandes matas da Serra do Mundo Novo e que é
conhecida pelo nome de Jibóia. [...]. As choças dos índios são feitas de madeira e
barro e cobertas de cascas de árvores. Seus moradores são, alguns, mais ou menos
vestidos, outros ainda completamente nus; cultivam milho, banana, um pouco de
algodão e muita batata; contentes com os produtos que lhes dá a natureza, vão,
todavia, até hoje, buscar fora a farinha de que necessitam (WIED NEUWIED, 1940
p 411-412).
Figura 58 Figura 69
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Fez ainda referência a uma tribo de descendentes dos Camacãns, provavelmente já
miscigenados com negros, declarando que:
Tinha nas margens do Rio Grande de Belmonte o resto de uma tribo de índios que a
si mesmos dão o nome de Camacãns; os portugueses denominam-nos ‘Menian’.
Segundo aprendi, esses ‘Menians’ constituem realmente um ramo dos Camacãns,
porém degenerados; não são mais da raça indígena pura, tendo a maioria deles o
cabelo encarapinhado dos negros e também a cor escura, e com exceção de dois
velhos, não sabem mais a sua língua (VIANA, 1982, v.1, p. 26).
Os negros trazidos como escravos para a região eram oriundos de diversos lugares da
África e pertencentes a distintas etnias: Angolas, Minas, Benguelas, Hauçás, Nagôs, Congos,
Rebolos e outros de origem étnica não identificada, conforme mostram os dados apurados por
Neves em uma tabela da qual extraímos as informações (NEVES, 1994, p. 85-86) de que
existiam 64 africanos, 396 brasileiros e 63 sem identificação. No que diz respeito aos
AFRICANOS, apuramos que o maior contingente de escravos era de bantos (30),
contribuindo com o percentual de 46,88% do total e que dentre estes, predominavam os
angolanos (24), com 80% dos bantos e, 37,88% dos africanos. Os sudaneses (11),
representando apenas 17,19% do total.
No item, BRASILEIROS foram relacionados: os crioulos com 54,94%; os cabras com
27,34%; os mulatos com 10,13% e os pardos com 7,34%. Segundo a professora Josildeth
Gomes Consorte, que há muitos anos vem desenvolvendo pesquisa na cidade de Rio de
Contas, localizada na Chapada Diamantina, região vizinha a Vitória da Conquista, os mestiços
foram classificados num primeiro momento de acordo com os cruzamentos de que resultaram
segundo ela,
do cruzamento de africano com africano, resultou o crioulo; do cruzamento de
branco com africano, surgiu o mulato. De branco com índio, o caboclo ou
mameluco: Do cruzamento de índio com africano, resultou o cafuzo ou caboré; do
cruzamento de mulato com crioulo ou com africano, resultou o cabra. A
denominação mulato desapareceu dos registros oficiais no século XIX, dando lugar
ao termo genérico ‘pardo’; até hoje em vigor10.
Os SEM IDENTIFICAÇÃO foram divididos entre: não declarados, com 79,37% e
pretos, com 20,63%.
Frente ao exposto, necessário se faz apontar as marcas principais das culturas destes
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povos, para tanto, recorremos a abordagens ainda que genéricas sobre a sua vida na África,
entendendo que não obstante estas considerações são necessárias para compreender a natureza
das relações estabelecidas entre estes e os outros povos na construção de uma nova cultura.
Para uma visão de conjunto das áreas ocupadas pelos povos e culturas na África, vejamos o
que diz Gilberto Freyre, através das pesquisas de Melville J. Herskovits:
Por esse critério, deparamo-nos com as seguintes áreas principais: [...]; c) a área de
gado da África Oriental (Banto), caracterizada pela agricultura, com a indústria
pastoril superimposta; tanto que a posse de gado numeroso e não de terras extensas é
que dá ao indivíduo prestígio social; trabalhos em ferro e madeira; poligamia;
fetichismo; d) área do Congo (também de língua banto, ainda que na fronteira
ocidental se fale ibo, fanti, etc.) [...], traços que Herskovits acrescenta outros: a
economia agrícola, além da caça e da pesca; a domesticação da cabra, do porco, da
galinha e do cachorro; [...], etc.; a posse da terra em comum; fetichismo, [...]; e)
Horn Oriental – [...]; atividade pastoril; utilização de numerosos animais – vaca,
cabra, carneiro, camelo; organização social influenciada pelo islamismo; [...]; g)
Sudão Oriental – [...]: região de grandes monarcas ou reinos - Daomei, Benim,
Axamti, Haúça, Bornu, Ioruba; sociedades secretas de largos e eficientes domínios
sobre a vida política; agricultura, criação de gado e comércio; [...] trabalhos
artísticos de pedra, ferro, terracota e tecelagem; fetichismo e maometismo; [...]
(FREYRE, 1997, p.309-310).
Passemos, agora, a considerações quanto à religião e às crenças, ou melhor, quanto à
filosofia e religião africanas, desses povos dos quais tratamos:
As religiões africanas se apresentam neste quadro como uma ordenação de forças.
No topo desta hierarquia está à figura do criador ou Deus supremo o mais das vezes
inacessível, não lhe sendo inclusive prestada nenhuma forma de culto; abaixo dele
nesta hierarquia, uma série de forças, que são os intermediários ou intercessores
junto aos homens, tarefa que lhes foi delegada por este Ser supremo que por assim
dizer depois de dado o impulso inicial se desinteressou da obra (CONCONE, 1987,
p. 38).
Quanto aos europeus, apesar da presença de franceses, italianos e espanhóis que
chegaram à região a partir do final do século XVIII, predominaram numericamente os
portugueses, colonizadores, responsáveis pela administração da terra e que trouxeram padres
católicos os quais cuidaram do aldeamento missionário de índios. Como se pode notar:
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Representou papel de destaque nestas conquistas, entre outros bandeirantes, o mestre
de campo João da Silva Guimarães. Em 1734 ele enviou ao rei de Portugal um
relatório, dando-lhe conta de suas atividades como explorador, e solicitando-lhe
permissão para continuar a empresa. Penetrou, em seguida, após ordens expressas do
rei, na região do Rio Pardo e Rio de Contas. Em 1752 chegou à região de Vitória da
Conquista, conhecida por Sertão de Ressaca. Por essa época, já o acompanhava o
seu genro, João Gonçalves da Costa, nomeado em 1744 para o posto de Capitão do
Terço de Henrique Dias, pelo vice-rei do Brasil, André de Melo e Castro, conde de
Galvéias (TANAJURA, 1992, p.45-46).
Sobre João Gonçalves da Costa, consta que era português nascido na cidade de
Chaves, provavelmente nos anos vinte do século XVIII. Era preto forro, tendo ocupado o
posto de capitão-mor do terço de Henrique Dias, com patente concedida em 5 de março de
1744 (SOUZA, 1998, p.53).
Ele havia participado da expedição que partindo de Minas Novas, no norte de Minas
Gerais, penetrou na Bahia, adquirindo grande experiência como explorador das matas baianas.
No final do século XVIII, foi incumbido pelo desembargador e ouvidor de Ilhéus, Francisco
Nunes da Costa, de estabelecer uma nova povoação indígena, visando aldear os índios
Pataxós que fustigavam as vilas do sul da capitania, impediam a conclusão de estradas e, aos
lavradores, de cultivarem as suas roças, como atesta este trecho de uma carta do ouvidor: “até
o rio de Una abaixo do rio das Contas que sendo principiado a cultivar-se no tempo antigo, se
retiraram todos os portugueses, por conta das invasões, assaltos e destroços que lhe fazia o
dito gentio pataxó” 11.
Dois meses após, o capitão-mor destina ao desembargador um relatório dando-lhe
conta das suas atividades. Relata como chegou a descobrir cinco aldeias dos Mongoiós que,
na sua avaliação, somavam juntas mais de duas mil almas e que, apesar dos poucos soldados,
na sua expedição, não se intimidou diante das ameaças do chefe da aldeia conhecido por
“Capivara”, respondendo através do interprete, que não precisava de muita gente para brigar
com eles 12.
Temeroso de ser traído, João Gonçalves da Costa seguiu viagem prometendo voltar à
aldeia assim que conseguisse facões e outros objetos para lhes presentear, levando consigo
duas índias e um menino, os quais lhe serviram de guia. E adiante, o sagaz capitão explica:
Devo dizer a V.M. que em algumas destas aldeias se acham metidos alguns escravos
que fugiram lá debaixo e um mulato ladino que me dizem, é capitão de uma das
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aldeias [...] e esta foi uma das razões porque me não resolvi a fazer a paz, receoso de
que os ditos escravos me fizesse alguma traição, vendo-me com tão pouca gente 13.
A frase “escravos que fugiram lá debaixo”, provavelmente se refere a negros fugidos
do litoral da Capitania de Ilhéus e se abrigando em quilombos como o mocambo que existiu
Na própria barra do Rio de Contas a noticia de um mocambo em 1736, quaro anos
após a fundação da vila. De 1806, mesmo ano do Oitizeiro, há informações de que
nos caminhos da comarca de Ilhéus não eram seguros para viajantes solitários
devido à negros fugidos salteadores (REIS, 1996, p.340).
Após a conclusão dessa tarefa, João Gonçalves da Costa voltou para as suas atividades
de grande proprietário de terras e grande criador de gados nas imediações do Arraial da
Conquista. Esse sertanista constituiu-se personalidade importante no povoamento e
colonização do Sertão da Ressaca. Implantou juntamente com a sua família as grandes
fazendas da região e, principalmente, pelos caminhos abertos sob sua orientação que
possibilitaram a interligação do Arraial da Conquista à região litorânea de Ilhéus, à Chapada
Diamantina, à região do São Francisco, às áreas de mineração do Norte de Minas Gerais e ao
Recôncavo da Bahia. É o que registra uma correspondência enviada pelo Intendente Geral do
Ouro, João Ferreira Bittencourt e Sá, ao governo da Bahia, datada de 178214.
A Coroa Portuguesa, juntamente com as Ordens Religiosas estabeleceram no Brasil
vários aldeamentos, que eram por eles administrados (PARAISO, 1984, p.129). No Sertão da
Ressaca, a “concessão da sesmaria à família de João Gonçalves da Costa em 1803 e a
construção da estrada entre Minas Gerais e a Vila de Belmonte pelo rio Jequitinhonha”,
segundo Maria Hilda Paraíso, teve o efeito de uma “declaração de guerra aos Botocudos”,
iniciando-se a adoção de uma política sistemática de ocupação da terra, aldeamento e
catequese dos índios que habitavam a região sob o comando de Antônio Dias de Miranda, um
dos filhos de João Gonçalves da Costa, nos quais, geralmente, aldeavam negos e índios e
eram administrados, por padres (PARAISO, p. 263).
Esse relato sobre a formação histórica da região evidencia alguns elementos de cultura
que supomos tenham influenciado na definição do quadro das religiões afro-brasileiras
praticadas hoje por habitantes da Cidade. Foi através do processo de trocas simbólicas das
diversas tradições religiosas dos grupos: católicos, indígenas, africanos e seus descendentes
que, supomos foram inventadas tradições afro-brasileiras que, até o início dos anos 1970,
eram denominadas batuque, catiço, gira de caboclo e candomblé, a partir de quando passaram
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a ser chamadas umbanda, podendo ser classificadas como “candomblé de caboclos”, e que
guardam algumas diferenças de uma casa para outra, identificadas principalmente nos rituais
de festa pública.
Dos dias de grandes festas anuais, um é dedicado ao caboclo boiadeiro, em alguns
casos um sábado do mês de aniversário do pai-de-santo ou da mãe-de-santo, em outros, um
sábado do mês de agosto, mês da romaria a Bom Jesus da Lapa. Em Vitória da Conquista esse
arquétipo recebe um destaque especial, sendo incorporado por todos os pais e mães-de-santo
dos diversos terreiros, praticamente com a mesma importância dos orixás que compõem os
seus guias. Quando o boiadeiro incorpora, parece exercer a função de administrador de uma
fazenda, um líder patriarcal. Sério, circunspecto. Bebe, fuma, aconselha, orienta, estabelece
castigo, determina o que deve ser feito com ares de quem entende do riscado.
Os pais e mães-de-santo têm obrigação de freqüentar a romaria de Bom Jesus da Lapa,
cujo dia de festa é seis de agosto. Bom Jesus da Lapa é o santo católico com o qual o
boiadeiro é sincretizado. Conta uma lenda, que há muitos anos caiu, no buraco da gruta da
Lapa do Bom Jesus, um boi, um vaqueiro e seu cavalo e que, quando os boiadeiros da região
do São Francisco conduziam suas boiadas e se aproximavam da gruta, os bois empacavam e
ficavam por algum tempo girando em círculo e berrando, tendo os vaqueiros que aguardar a
sua disposição para seguir em frente, contam ainda que, nas paredes da gruta encontram-se
desenhados, pela própria natureza, os trajes de boiadeiro: Jaleco, chapéu, laço, jibão e
perneiras, feitos de couro.
Destaca-se que a cidade de Bom Jesus da Lapa, localizada à margem direita do Rio
São Francisco, se encontra cavada em rocha calcária, a gruta do “Bom Jesus”, transformada
em santuário da Igreja Católica, lugar de romaria das mais expressivas do Nordeste brasileiro
para a qual se deslocam pessoas de muitas regiões do Brasil. foi desde antes da Velha
Republica ponto de encontro de políticos e dos Coronéis do Sertão baiano e, antes disso, uma
grande fazenda de criação de gado.
Outro procurador da Casa da Ponte, Plácido de Souza Fagundes, proprietário de
Barra dos Araçás, Curralinho do Olho d’Água, Boa Vista e Lagoa Clara em
Macaúbas, adquiriu a fazenda Itaberaba, onde hoje se encontra a cidade de Bom
Jesus da Lapa, na qual criava, em 1862, 680 reses e 63 eqüinos (NEVES, no prelo).
Assim como João Guimarães Rosa literalizou o Alto São Francisco, o Médio recebeu
tratamento literário de Osório Alves de Castro, natural de Santa Maria da Vitória, cidade
- 13 -
localizada à margem esquerda do rio Corrente, afluente do São Francisco, autor de Porto
Calendário, Maria Fecha a Porta Praú Boi Não Te Pegar e Baiano Tietê que, com talento e
criatividade, usando a linguagem e o humor habitual aos moradores das barrancas do Velho
Chico compôs personagens tirados da vivência da população que habita o lugar: barqueiros,
carpinteiros, lenhadores, remadores, jagunços, coronéis, padres, vaqueiros, feiticeiras,
prostitutas e outros, entranhados nos seus modos de vida, sob a proteção do “Nosso Senhor
Bom Jesus da Lapa”.
No romance Porto Calendário romanceia a cultura dos habitantes do vale do Velho
Chico, os negros escravos, e quilombos, as fazendas os coronéis e seu jagunços e vaqueiros,
vida encantada descreve um diálogo entre São Francisco fazendo se passar por um beato e
Bom Jesus da Lapa disfarçado em vaqueiro, embarcados na canoa de um coronel:
A macha da barca acelerou-se e quando encostaram em uma coroa para o jantar, o
vaqueiro aproximou-se do beato e perguntou-lhe: - Por que, irmão, tu que és tão
compassivo para com as aves, os peixes e até as feras, não tem piedade dos nossos
irmãos,os remeiros, homens como nós, chicoteados e humilhados para satisfazer o
capricho de um poderoso? – Quem és tu que falas com tanta arrogância? Diz? O
vaqueiro nada lhe disse, e foi para a chumaceira pegar o remo e remar. [...]. – Por
que és dócil para os senhores e se mostra interessado com animais, irmão Francisco,
e se esquece dos fracos e desgraçados?[...]. – Por que me olhas assim, vaqueiro?
Quem és tu? Deixas teu posto para me enfrentar com tua ousadia? O vaqueiro tirou
pausadamente as mãos do bolso do gibão e mostrou-as. Estavam sangrando, abertas
pelos cravos da cruz. Era São Bom Jesus da Lapa. A tempestade tomou toda a noite
e a embarcação jogou-se sem parar sobre a tormenta até que o dia chegou e tudo
estava salvo. Estavam diante do Santuário. Era o milagre! Procuraram os dois e
notaram que tinham desaparecido, mas toda a romaria ficou sabendo do caso: eram
São Francisco e São Bom Jesus da Lapa andando disfarçados pelo mundo
(CASTRO, p.111 – 112).
Vimos que Bom Jesus da Lapa ates de passar à condição de Cidade e a de importante
Santuário, onde ocorre grande romaria, foi uma fazenda de criação de gado e, enquanto santo
da Igreja Católica povoando o imaginário dos habitantes da região andou pelo mundo
disfarçado de vaqueiro. Assim supomos que o significado atribuído ao arquétipo do caboclo
boiadeiro, nos terreiros de Umbanda de tradição local, em Vitória da Conquista, tem a ver
com toda essa trajetória cultural descrita e, decorre da importância que a atividade da
agropecuária, especialmente a criação do boi, exerceu e exerce na vida da sua população.
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O terreiro de Umbanda que escolhemos, para estudo mais aprofundado, parece ilustrar
bem o que afirmamos. Denomina-se “Centro de Umbanda Ogum Megê”, fundado em julho de
1979 por José Carlos Mendes Correia, “Pai Cely”, nascido em Vitória da Conquista a seis de
agosto de 1951, solteiro, com curso ginasial completo.
Figura 715 Figura 816
A iniciação de “Pai Cely” deu-se entre os treze e quatorze anos. Com vinte anos,
recebeu o decá e aos vinte e um começou a trabalhar. Abriu o próprio centro aos vinte e oito
anos de idade o qual funciona no mesmo endereço há mais de vinte anos. Seu ritual de
iniciação constou de ebó, limpeza-de-corpo, jogo de búzios, recolhimento ao roncó por sete
dias, bori, oferenda anual aos orixás por um período de sete anos e desenvolvimento na gira
do candomblé.
As entidades donas da sua cabeça são: Ogum Megê e Oxum, que vem de frente e
Iansã que vem no juntó.
O calendário litúrgico compõe-se de um calendário semanal e de um calendário anual,
nos quais são realizadas as obrigações para as entidades, encerrando-se com uma festa
pública.
No calendário semanal, cada dia é consagrado a uma ou mais entidades. Destacamos
aqui apenas o que se refere ao caboclo boiadeiro:
Quinta-feira - Oxossi, sincretizado com São Jorge; os caboclos e o Boiadeiro.
O calendário anual apresenta várias datas de festa. Das festas mais importantes
destacamos a de 06 de agosto, já mencionada, dedicada ao Caboclo Boiadeiro.
Quando um destes dias acontece no meio da semana, a festa realiza-se no sábado.
Faremos a seguir, descrição de uma “festa a Iansã ou Santa Bárbara”.
A abertura: Com os filhos-de-santo presentes ao Centro, o pai-de-santo agradeceu a
presença de Mãe Madalena, líder do terreiro “Velha Africana”, visitante ilustre que veio
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prestigiar a festa e convidou a todos para orar e evocar a proteção de Deus recitaram: 1º a
prece de Cáritas; 2º o Pai-Nosso; 3º a Ave-Maria; 4º a Oração de Santa Bárbara.
Concluídas as orações, a Mãe Pequena chocalhou o ojá e os demais bateram palmas.
Com um vaso com brasa e incenso, lembrando um Turíbio. Um Ogan da Casa defumou o
altar, os atabaques, a porta, em seguida todo o salão e os filhos-de-santo, assim como os
visitantes. Durante a defumação e ao som ritmado dos atabaques, entoavam a zuela:
Dá licença meu pai Oxossi,
dá licença pra defumar,
eu defumo, eu defumo
essa aldeia real.
A palavra “Zuela” utilizada pelos terreiros de tradição local, significa música-de-
santo. Em seguida, cantaram para Catendê:
Ô Catendê, ô Catendê, ô Catendê, ô traz de Angola.
Ô Catendê, ô Catendê, ô Catendê, ô traz de Angola.
Cântico que revela a influência banto neste ritual, quando expressa claramente as
palavras “Angola” e “Catendê”. Continuando cantam pra Oxalá:
Acende a luz dessa casa Jesus está com nós,
acende a luz meu Deus pra clariá,
Terreiro santo meu Deus pai Oxalá,
Senhor Bom Jesus da Lapa,
Senhor Bom Jesus de Deus,
acende a luz dessa casa,
Ilumine a todos nós.
Continuando, cantam para Iansã e, revelam a sua ligação com Xangô, divindades de
povos iorubanos:
Iansã tem um leque de pena,
pra abanar dia de calor,
Iansã mora na pedreira,
Eu quero ver meu Pai Xangô.
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Após mais quatro zuelas para Santa Bárbara, encerra-se a fase de abertura e inicia a
evocação das forças da mata, cantando para o caboclo Sultão das Matas:
Ô bate o tambor bem alto,
que das matas se escuta,
sou eu Sultão caboco
das matas brutas.
Em seguida, cantam para o caboclo Juremeira, saudando a entidade e a sua terra,
usando a palavra “saravá”17, através da qual se revela mais uma faceta umbandista, de
umbanda cruzada com angola deste ritual:
Vermelho é a cor do sangue do meu pai,
verde é a cor das matas,
saravá, saravá seu Juremeira,
oi sarava a terra onde ele mora.
Após quatro cânticos ressaltando as qualidades do caboclo, sua origem e função,
entoam outro de chamada, que é o prenúncio da chegada de seu Boiadeiro:
Aldeia grande, aldeia real,
aldeia grande, aldeia real,
aldeia grande xê truê, xê truá.
No decorrer das 9 (nove) repetições dessa zuela, o Boiadeiro se anuncia aboiando o
gado. Com a chegada de Boiadeiro seu Juremeira anuncia a sua retirada, parecendo desocupar
o lugar para aquele que impera no terreiro, retirando-se para a sua aldeia, o lugar de origem
dos caboclos:
Mamãe ta me chamando ô menino eu já vou,
eu já vou menino para minha aldeia.
Com a retirada de seu Juremeira, Boiadeiro anuncia sua presença:
Há muito tempo que eu não venho no ganzuá ê,
vem cá meus filhos eu vou,
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seu Boiadeiro na aldeia chegou.
Todos batem palmas, repicam os atabaques, ajoelham com o joelho direito no chão, as
mãos no peito e a cabeça levemente inclinada para baixo, posição de reizeiro em porta de
igreja e rezam: o Pai Nosso, a Ave Maria e a Santa Maria. Ao final, seu Boiadeiro fala forte
“assim seja”.
Figura 918
Neste momento, a mãe-pequena e os cambones diligenciam os trajes especiais de
Boiadeiro: dobram as pernas da calça branca do pai-de-santo até o meio da canela; tiram-lhe a
camisa; colocam o colar de contas verdes, que é a cor de Oxossi, vermelhas, cor de Iansã,
brancas cor de Oxalá e amarelas, cor de Oxum. Amarram um pano vermelho cruzado da
direita para a esquerda no sentido do pescoço para a cintura, outro verde na direção oposta, da
esquerda para direita, e um amarelo por cima dos demais, circundando o tronco sendo
amarrado às costas, colocam o chapéu de couro, acendem um cigarro e seu Boiadeiro está
pronto para as funções; Soam os atabaques e recomeçam as zuelas:
Seu Boiadeiro gosta de minas,
peguei meu gado botei nas campinas pra descansar,
peguei meu gado botei na campina pra Iemanjá.
Em seguida, estabelecem a relação de identidade entre o Boiadeiro e o Messias:
Seu Boiadeiro nasceu em Roma,
em Roma nasceu Messias,
o nome que deram a ele,
é porque viu que ele merecia.
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À medida que vão repetindo as zuelas, escuta-se o aboio de seu Boiadeiro, aboiando o
gado. E, no desenvolver das funções, estabelece-se a identidade entre o Boiadeiro e os índios,
como a seguir:
Chama Boiadeiro na pisada,
chama Boiadeiro na pisada ô cacique,
chama Boiadeiro na pisada, ô cacique,
chama Boiadeiro na pisada ô cacique.
A palavra “pisada”, que aparece nesse cântico, é comumente utilizada na região para
designar a marcha ou o esquipar dos cavalos, que é também, o ritmo da dança de seu
Boiadeiro levando-nos a supor que, com ele, pretendem expressar simbolicamente as relações
sócio-culturais que integram os três elementos: o boiadeiro que é o fazendeiro, dono da
boiada, o índio como vaqueiro e o cavalo como instrumento de trabalho.
Continuando, seu Boiadeiro declara sua identidade, função e origem:
Sou eu Boiadeiro eu vendo a boiada,
a boiada é mineira que vem da chapada.
Seu Boiadeiro segue incorporado, dando passes nos filhos-de-santo, bebendo cerveja,
aconselhando, chamando a atenção do filho que não tem procedido bem, castigando outro que
andou errado, enfim cumprindo as funções de administrador da boiada, enquanto os atabaques
continuam dando o tom. Mais uma zuela diz da origem brasileira dos caboclos e de suas
facetas nacionalistas:
Caboclo, selvagem, tu és a nação do Brasil,
tu és a nação brasileira caboclo,
das cores da nossa bandeira.
Tu és a nação do Brasil, tu és a nação brasileira,
tu és a nação do Brasil, ó caboclo,
das cores da nossa bandeira.
A Zuela seguinte firma a identidade brasileira de Boiadeiro:
Brasil, Brasil, Brasil, eu sou brasileiro,
Brasil, Brasil, Brasil, seu Boiadeiro, ele é brasileiro,
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brasileiro o que é que eu sou, eu sou brasileiro,
brasileiro imperador, eu sou brasileiro.
Cantam mais três vezes, ressaltando a identidade cabocla e a seguir uma que fala dos
cuidados que se deve ter com o ferrão do Boiadeiro:
É de taquari, oia meu gado, oia o meu ferrão auê,
oia meu gado, oia o meu ferrão auê.
Depois que Boiadeiro cumpre as suas funções, juntamente com as forças da mata, é a
vez das forças das águas manifestarem-se e as zuelas são dirigidas para Iansã, Iemanjá e
Oxum, respectivamente, entidades da água do mar e das águas dos rios. Encerra-se a festa,
com a presença de Seu Martim ou Martim Pescador, tipo boêmio de beira de cás de porto.
Nos vinte e um dias que antecedem à Sexta-feira da Paixão, todas as imagens, os
demais símbolos dos orixás e os atabaques são cobertos com panos brancos. Os filhos-de-
santo passam este período rezando e, no sábado de aleluia, as funções do Centro são
reiniciadas com uma festa dedicada aos orixás e demais entidades.
O povo-de-santo associa a cada encantado e orixá ferramentas, cores, animais, plantas,
bebidas e comidas, vejamos as associadas ao caboclo Boiadeiro.
A comida: carne de boi; a bebida: cerveja.
As “árvores sagradas” do Terreiro são: a aroeira branca e a madeira nova, esta última
identificada como “as folhas de Boiadeiro”, utilizadas para espalhar no piso do salão de
festas, para enfeitar o altar e nos rituais de benzeção. São plantas nativas da região e se
encontram nos matos e pastagens, lugares distantes do Centro.
As Cores de Boiadeiro são vermelho, verde, amarelo e branco. A ferramenta o laço de
couro. O Animal - o boi.
Exige-se dos filhos-de-santo o cumprimento das suas obrigações em relação ao
Centro, determinando-se que, nas segundas e sextas-feiras, é proibido comer carne vermelha,
ingerir bebidas alcoólicas e praticar sexo. Quando essas regras são quebradas, os filhos sofrem
as conseqüências. Não se proíbe que os filhos-de-santo assistam uma missa ou um culto de
qualquer religião.
A observação de vários rituais, principalmente de festas públicas, da estrutura,
organização e funcionamento do “Centro de Umbanda Ogum Mêge” comparada com estudos
feitos sobre Umbanda em outros centros, realizados por pesquisadores como Lísias Negrão
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(1996), Patrícia Birman (1985), Maria Helena Vilas Boas Concone (2001), e Ronaldo Senna
(1998), dentre outros, leva-nos a conclusão de que existem pontos em comum e muitos pontos
distintos entre as casas por eles estudadas e a casa de Pai Cely. Vejamos, por exemplo, o que
dizem sobre o Caboclo Boiadeiro.
Patrícia Birman, que estudou a umbanda carioca, apresenta um esquema geral e
hierarquizado do Panteão dos umbandistas, definido por divindades africanas às quais se
associam espíritos de diversas linhas de caboclos, pretos velhos, crianças etc.(BIRMAN,
1985, p. 32). Nota-se que na relação apresentada pela autora, não aparece citada a presença do
Caboclo Boiadeiro como componente do panteão.
Lísias Negrão apresenta um panteão, no qual aparecem os seguintes Guias: Caboclos,
Pretos Velhos, Baianos, Exus, Pombas Giras, Crianças, Boiadeiros, Oguns, Zés Pilintras,
Ciganos e Médicos (NEGRÃO. 1996, p. 237-239). Aqui o Caboclo Boiadeiro é apresentando
como qualquer das outras entidades, sem destaque especial.
Maria Helena Vilas Boas Concone, ao falar de qualidades e gestuais de baianos e
boiadeiros, assim se expressou:
Pensando primeiro nas qualidades e depois nos gestos, podemos montar as
oposições seguintes: Quanto às Qualidades: [...] boiadeiros Sisudez; Trabalho;
Braveza; Seriedade, Homens. Quanto ao gestual [...] boiadeiros. Postura ereta, tensa,
não falam, emite chamados de boiadeiros: É boi! Movimentos mais rígidos,
semelhantes aos dos caboclos; fazem movimentos com um laço imaginário. Usa um
chapéu de couro (independentemente do sexo do cavalo, a entidade é sempre
masculina). Fisionomia tensa, carregada, “boca para baixo” como caboclo. Não
fuma. Só dançam os pontos cantados, fazendo movimentos com o laço imaginário e
emitindo chamados. Não usam bebidas (i) (CONCONE. 2001, p. 289-290).
Francelino de Shapanan, assim se referiu aos “Boiadeiros: Para a mina, os boiadeiros
formam uma linhagem de caboclos, com maior presença nas casas de candomblé angola, onde
se identificam como brasileiros e dizem ser originários da Hungria, talvez uma Hungria
perdida na memória dos tempos. Assemelham-se a alguns encantados de mina da família de
Codó, também conhecida como família de Seu Légua Boji Buá ou família de Mata do Codó, e
misturam-se com os vaqueiros. Estes três grupos – boiadeiros, vaqueiros e codoenses –
estariam muito próximos entre si. A maioria dos terreiros de umbanda moderna já tem
boiadeiros, mas transformados. Têm poucas cantigas próprias e já usam botas em vez de ficar
descalços, como na angola. Aliás, a família do Codó não tolera ficar calçada. Boiadeiro é o
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caboclo chefe dos vaqueiros, é o fazendeiro. Usa roupa de couro, fuma cigarro de palha ou
charuto. É um aliado de índios e caboclos.
A umbanda também confunde os mestres da jurema (entendidas do catimbó),
chamando-os de boiadeiros e até mesmo de exus. E aí surge a figura conhecidíssima e
polêmica de Seu Zé Pilintra, que tem uma biografia real, verídica, é um grande mestre de
jurema pernambucana e aqui em São Paulo transformou-se algumas vezes em baiano e outras
em exu.
Vemos então a grande mistura do que seria o baiano e o caboclo, o caboclo e o
marinheiro, o caboclo e o cigano, o caboclo e o exu, o caboclo e o boiadeiro. ( SHAPANAN,
2001, p.324-325).
Ronaldo Senna ao estudar o Jarê na cidade de Lençóis descreve uma festa pública
dessa tradição e no que diz respeito ao Caboclo Boiadeiro diz: “Sai a linhagem dos Velhos e
entra a de Boiadeiro que aparece quase com o clarear do dia”. Boiadeiro ou Vaqueiro, como é
chamado, é, na realidade, o “espírito encantado” de todo guia de boiada que ao morrer se
transforma em guia espiritual dos mortais. Por isso, existem vários boiadeiros. Boiadeiro
manifesta-se ao ritmo dos cânticos seguintes:
Primeiro Canto (Boiadeiro)
Meu vaqueirinho do norte
Eu vim boiar
Eu vim boiar meu gado
Eu vim boiar
Segundo Canto
O dia já amanheceu
Está na hora
Está na hora do gado chegar
Está na hora
Iansã mais uma vez mostra a sua força e importância ao marcar presença em qualquer
linhagem, como esta do Boiadeiro, no cântico que veremos em seguida, onde este encantado
transmuda-se em guerreiro por amor, respeito e defesa de Oiá.
Terceiro Canto
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Há de selar meu cavalo
Oiá de Deus e minha lança
Quarto Canto
Vamos arrudiar vaqueiro
O vosso santo cruzeiro
Vamos arrudiar vaqueiro
O vosso santo cruzeiro
Quinto Canto
Meu boiadeiro, meu catendeiro
Não deixe o gado passar
Sou filho de Mamãe da Lua
Sou neto de Oxalá
Sexto Canto
Vocês me chamaram boiadeiro
Não sou boiadeiro não
Eu sou tocador de gado
Boiadeiro é meu patrão
Fechando a ordem de linhagem, surgem os cânticos-despedidas dos caboclos
Boiadeiros. São os últimos que se manifestam no ritual de jarê (como é comum, aliás, entre os
candomblés de caboclo que cultuam este encantado), [...] ”(SENNA, 1998, p.154-155).
Ao observarmos o quanto foi apresentado pelos pesquisadores citados, percebe-se a
importância de estudos das tradições locais, cada vez mais acurados para entender a teia de
relações e as especificidades que marcam a cultura brasileira.
Francelino de Shapanan, que trata de caboclos e encantados passando por diversas
tradições religiosas, principalmente da Casa da Mina, da família do Codó, da jurema, do
candomblé de caboclo e de angola, fala das características do boiadeiro que, a nosso ver, mais
se aproximam das características do boiadeiro que se manifesta nos terreiros de tradição local
em Vitória da Conquista. Talvez isso se deva ao fato, dentre outros, de o boi que saiu do
recôncavo da Bahia e passou pelos demais estados do Nordeste ter alcançado o Maranhão,
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passado pelo norte de Minas e chegado ao Planalto da Conquista, trazendo no seu entorno os
elementos dessas tradições que foram re-significados.
Ronaldo Senna, ao estudar o Jarê, na Cidade de Lençóis nas Lavras Diamantinas, cuja
economia predominante foi a garimpagem de diamantes e carbonatos e, a agropecuária
insignificante, mas que se vincula à lugares vizinhos que plantam e criam gado, elementos
importantes na dieta dos garimpeiros, informa que o caboclo boiadeiro manifesta-se nos
terreiros de Jarê, não como dono da boiada, mas como vaqueiro, tipo social que algumas
vezes, temporariamente, também garimpa, principalmente os que moram mais próximo das
terás diamantíferas, na caatinga, onde plantam e criam gado que durante os períodos de secas
anuais, mês de julho a outubro, são levados a pastar nas terras úmidas e frescas das Lavas
Diamantinas.
Já em Vitória da Conquista, no Sertão da Ressaca, onde a pecuária foi desde a sua
origem a atividade econômica mais importante, onde as diversas etnias de indígenas,
africanos e europeus viveram nessas tradições, percebe-se que o arquétipo do caboclo
boiadeiro se apresenta de forma ampla, envolvendo as várias dimensões dessa atividade, da
cultura do boi, com toda força, com prestigio, parecendo ter sido ali inventado, se tal não
aconteceu, percebe-se que se apresenta com fortes marcas das tradições religiosas afro-
indígenas praticadas no local.
2 Uma arroba no Alto Sertão da Bahia correspondia a 16 quilogramas. 3 APEB, 03.1216.1685.07, inventário de Crispim da Rocha Pinto, São Bento, 22 set. 1792. 4 WIED NEUWIED. A caça da Onça (gravado por C. Rahl), 1940, p.21 5 WIED NEUWIED. Boi perseguido pelos vaqueiros (gravado por F. Meyer, Berlin), 1940, p.401. 6 WIED NEUWIED. Família de Botocudos em viagem (gravado por Seyffer e Kruger, Stuttgardt), 1940, p. 294. 7. WIED NEUWIED. Patachós do Rio Pardo (gravado por Rist Munich), 1940, p. 208. 8WIED NEUWIED. Festa dansante dos Camacãns (gravado por J. Lips, Zurich), 1940, p. 368. 9 WIED NEUWIED. Grupo de Camacãns na mata (panorama de Seyffer de Stuttgardt e figuras de Bitthauser de Wurzburg), 1940, p. 352. 10 Notas de aula de Antropologia ministrada pela Profa. Dra. Josildete Gomes Consorte, no Programa de Pós-
Graduação em Ciências Sociais da PUC-SP. 11 Cópia da Carta do Desembargador e Ouvidor de Ilhéus Francisco Nunes da Costa para o governo interino da Bahia. Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Brasil - Avulsos. (Cairu, 23 de fevereiro de 1782), p.
163. 12 Cópia da Carta do Desembargador e Ouvidor de Ilhéus aos Governadores. Arquivo Nacional da Torre do
Tombo. Brasil - Avulsos. (seis de agosto de 1783), p. 160/161. 13 Cópia da Carta do Desembargador e Ouvidor de Ilhéus aos Governadores. Arquivo Nacional da Torre do
Tombo. Brasil - Avulsos. (6 de agosto de 1783), p. 161. 14 Correspondência recebida pelo Governo da Bahia, Intendência do Ouro (1782). ASPEB. Seção de Arquivo
Colonial e Provincial. Março nº. 201/234. 15Pai Cely, jogo de búzios (fotografado por Itamar pereira de Aguiar, 1996). 16 Altar do terreiro “Ogum Megê” Pai Cely (fotografado por Itamar Pereira de Aguiar, 1996). 17 SARAVÁ (kwa) (LS) – v. Ver savalu. SAVALU (kwa) (LS) – v. prestar homenagem, saudar as divindades. Var. savará, savalu. CF. axé, sarava, tibuco. Fon savalu. In CASTRO, Yeda Pessoa de. FLARES AFRICANOS NA BAHIA: Um Vocábulo Afro-Brasileiro. Rio de Janeiro: TOPBOOKS, 2001. p. 336. 18 Caboclo Boiadeiro terreiro “Ogum Megê” Pai Cely (fotografado por Itamar Pereira de Aguiar, 1996).
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