políticas de gestão de estoque

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COMO ELABORAR POLÍTICAS DE GESTÃO DE ESTOQUE Cezar Sucupira Ms.C www.cezarsucupira.com.br Felipe Oliveira Ms.C [email protected] 1 Introdução O gerenciamento da cadeia de suprimentos é uma estratégia de gestão que considera como um dos aspectos primordiais para sua implementação, a integração entre todas as áreas funcionais da empresa. Essa integração se dá tanto no ambiente interno quanto externo. Dentro deste contexto a gestão de estoques nas empresas tem grande importância para um fluxo de materiais enxuto, onde seja garantido o bom atendimento ao cliente final sem que haja desperdícios e estoques excedentes ao longo da cadeia. O estoque se destaca como alvo para reduções de custos porque, além de ser uma parcela relevante destes, tem um grande impacto sobre o retorno do investimento dos acionistas. Enquanto as taxas de juros e a escassez de recursos pressionam os estoques para baixo a incerteza da demanda força as empresas a manterem um estoque de segurança, a fim de evitar problemas com as rupturas de estoque. Por isso, as reduções de estoques devem ser feitas de forma criteriosa, mantendo o nível de serviço adequado a operação. Esta forma criteriosa de se empenhar pouco capital em estoque e manter o nível de serviço adequado aos clientes é o trade- off básico da gestão de estoques.

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Page 1: Políticas de gestão de estoque

COMO ELABORAR POLÍTICAS DE GESTÃO DE ESTOQUE Cezar Sucupira Ms.C www.cezarsucupira.com.br

Felipe Oliveira Ms.C [email protected]

1 Introdução

O gerenciamento da cadeia de suprimentos é uma estratégia de

gestão que considera como um dos aspectos primordiais para sua

implementação, a integração entre todas as áreas funcionais da

empresa. Essa integração se dá tanto no ambiente interno quanto

externo.

Dentro deste contexto a gestão de estoques nas empresas tem

grande importância para um fluxo de materiais enxuto, onde seja

garantido o bom atendimento ao cliente final sem que haja

desperdícios e estoques excedentes ao longo da cadeia.

O estoque se destaca como alvo para reduções de custos

porque, além de ser uma parcela relevante destes, tem um grande

impacto sobre o retorno do investimento dos acionistas.

Enquanto as taxas de juros e a escassez de recursos pressionam

os estoques para baixo a incerteza da demanda força as empresas a

manterem um estoque de segurança, a fim de evitar problemas com

as rupturas de estoque. Por isso, as reduções de estoques devem ser

feitas de forma criteriosa, mantendo o nível de serviço adequado a

operação. Esta forma criteriosa de se empenhar pouco capital em

estoque e manter o nível de serviço adequado aos clientes é o trade-

off básico da gestão de estoques.

Page 2: Políticas de gestão de estoque

A gestão de estoques contempla o cadastramento dos itens a

serem controlados, o planejamento dos estoques, o controle, e a

retroalimentação do planejamento. A seguir esses papéis serão

definidos.

• Cadastramento dos materiais: Esta atividade consiste

nos processos de identificação dos materiais a serem

controlados, na padronização de uma nomenclatura para

que todos os envolvidos, internos e externos à empresa

consigam se comunicar, na classificação de tais materiais

de maneira a permitir tratamentos das informações dos

itens de forma consolidada, na codificação dos materiais

para seu processamento através de sistemas eletrônicos e

na catalogação dos materiais utilizados na empresa. Esta

atividade será melhor discutida em outro artigo.

• Planejamento de estoques: consiste na determinação

dos valores que o estoque terá no decorrer do tempo.

Consiste ainda na determinação das datas e quantidades

de entrada e saída dos materiais e na determinação dos

pontos de reposição. Neste momento é que deverão ser

definidas as políticas de gestão de estoque.

• Controle de estoques: consiste no registro dos dados das

movimentações e mudanças de situação dos itens de

estoque.

• Retroalimentação: consiste na comparação dos dados de

controle com os dados estabelecidos no planejamento, a

fim de constatar desvios e investigar possíveis causas. É

papel dos gestores de estoques rever ou corrigir o

planejamento estabelecido a fim de tornar o planejamento

e o controle cada vez mais coincidentes.

Page 3: Políticas de gestão de estoque

Os objetivos de gestão são atingidos com a adoção das funções

descritas abaixo.

• Cálculo de estoque de segurança dos itens;

• Cálculo do lote de encomenda;

• Manutenção dos controles de estoque atualizados;

• Revisão dos parâmetros de planejamento quando houver

razões para modificações;

• Emissão de solicitações de compra ou produção, quando o

nível de estoque atingir o ponto de reposição, ou quando

houver necessidades futuras identificadas ou previstas;

• Recebimento e conferência dos materiais;

• Armazenagem;

• Conservação do material em condições adequadas;

• Expedição do material, para a produção ou para clientes;

Para Arozo (2002), o processo de gestão de estoques pode ser

decomposto em quatro aspectos básicos:

• As políticas e modelos quantitativos utilizados;

• As questões organizacionais envolvidas;

• Tipo de tecnologia utilizada;

• Monitoramento do desempenho do processo.

Os indicadores de desempenho na gestão de estoques podem

ser divididos em três grupos: custo, nível de serviço e conformidade

do processo. Onde custo e nível de serviço compõem o trade-off

básico da gestão de estoques. Já os indicadores de conformidade

mostram as razões que levaram ao desempenho alcançado.

Page 4: Políticas de gestão de estoque

Para Bowersox & Closs (1997), o termo política de estoques

consiste em normas sobre o que comprar e o que produzir, quando

comprar e produzir, e em quais quantidades. Inclui também decisões

sobre posicionamento e alocação de estoques em fábricas e centros de

distribuição.

A definição da política adequada, para cada grupamento de itens

controlados em cada empresa é a tarefa mais difícil da gestão de

estoques. Em resumo tais políticas buscam o equilíbrio representado

no quadro a seguir:

Quantidade

Cus

to ($

)

Custo da Falta Custo de Estoque Custo Total

Figura 1: Relação entre custo de manutenção dos estoques e o

custo da falta de estoques

Neste gráfico está representado o objetivo principal dos gestores

de estoques de qualquer ambiente empresarial. Por um lado quando

existe estoque em excesso, menor será a probabilidade de faltas e

Ponto de equilíbrio

Page 5: Políticas de gestão de estoque

consequentemente o custo da falta será menor, porém o custo com

estoques é alto. Por outro lado manter níveis de estoques abaixo do

necessário pode gerar muitas faltas, o que acarretará altos custos de

falta de estoques, apesar do custo de estoque ser menor. Para este

tipo de problema existe um ponto de equilíbrio, onde a quantidade em

estoque está equilibrada em relação a esses dois custos. Ou seja, onde

o custo total é o mínimo possível. Este é o chamado ponto de

equilíbrio perseguido pelos gestores de estoque.

É forçoso reconhecer a dificuldade em se determinar o custo da

falta. É possível, por exemplo, calcular o custo envolvido com uma

parada de produção causada pela falta de um componente do produto,

mas, qual o custo de uma falta do produto acabado? Como calcular o

impacto de custo de uma venda perdida? Este custo é somente igual a

média de demanda multiplicada pelo tempo em que o estoque esteve

em ruptura? E os impactos no comportamento do consumidor? Ele

mudará de fornecedor? Como calcular o custo exato de tais efeitos

danosos da ruptura do estoque?

Neste artigo o foco será em como determinar políticas sobre o

que, quando e quanto comprar e produzir. Serão vistos alguns

parâmetros para elaboração de uma política de estoques e todos os

fatores que devem ser considerados para determinação desses

parâmetros.

2 Principais parâmetros de Gestão de Estoques

Para melhor entendimento dos conceitos envolvidos com o tema

das políticas de gestão de estoques, em seguida serão descritos os

principais parâmetros envolvidos nos modelos matemáticos utilizados.

Page 6: Políticas de gestão de estoque

2.1 Lote de Encomenda (LE)

A decisão de quanto comprar ou fabricar baseia-se em equilibrar

o custo de colocação do pedido ou preparação de máquinas (set-up) e

o custo de manter itens em estoque. A abordagem mais comum busca

alcançar o equilíbrio entre as vantagens e desvantagens de se manter

estoques. Esta fórmula equilibra o custo de colocação de pedidos e o

custo de estocagem e tem como resposta a quantidade ótima (LEC)

que deve ser comprada a fim de se minimizar o Custo Relevante

Total (CRT). Esta abordagem pode ser utilizada tanto para definição

de lotes de produção, quanto para lotes de compra. A diferença está

no fato de que para lotes de compra utiliza-se o custo de emissão de

um pedido de compra, o frete pago e o posterior recebimento físico, e

para o lote de fabricação é utilizado o custo de preparação de

máquinas (set-up) para a produção de um novo lote. Segue a fórmula

do LEC:

Onde:

CP = Custo de emissão de pedido + fretes + recebimento ou no

caso de item produzido, custo de preparação de máquina;

D = Demanda anual do item (número de unidades);

CE = Custo anual do estoque (custo total com estocagem e

demais despesas de manutenção dos estoques).

LEC = √ 2CPD / CE

Page 7: Políticas de gestão de estoque

Na figura abaixo temos uma representação gráfica da variação

dos custos de estocagem no período e o custo de colocação do

pedido/set-up no período em função do LEC. O ponto de equilíbrio

entre esses custos, ou seja, a quantidade que minimiza o custo

relevante total é o chamado Lote de Encomenda Econômico.

Verifica-se que o Lote Econômico é o ponto de interseção entre a reta

do custo de colocação do pedido/set-up com a do custo de

manutenção dos estoques.

Quantidade do Pedido

Cus

to($

)

Custo do pedido Custo de Estocagem Custo Total

Figura 2 – Representação Gráfica do Lote de Encomenda

2.1.1 Críticas ao modelo do Lote de Encomenda

As críticas ao modelo dizem respeito aos pressupostos incluídos,

aos custos reais de estoques e ao uso do modelo como instrumento

prescritivo.

Page 8: Políticas de gestão de estoque

Quanto aos pressupostos assumidos no modelo, para manter o

modelo relativamente simples assume-se que as variáveis são fixas e

facilmente identificáveis e mensuráveis. Quanto ao custo do pedido ou

da preparação, quanto maior for este, maior a tendência de se

comprar maiores lotes em menor freqüência. Quanto aos custos de

manutenção dos estoques, à medida que eles aumentam, maior é a

tendência de comprar mais vezes, em quantidades menores.

Em relação ao uso do LEC como uma prescrição, os gestores tendem a

agir de forma reativa ao invés de buscarem mudanças em seus

processos que diminuam os níveis de estoques necessários. As

pessoas tendem a aceitar o LEC como uma verdade absoluta sem

buscar reduzir os custos envolvidos. Na seção a seguir é analisado

este fenômeno.

2.1.2 Impactos do custo de pedido (CP) ou set-up sobre o Lote

de Encomenda (LE)

Para melhor entendimento do problema serão feitas algumas

simulações variando-se apenas o CP e analisando as variações sofridas

pelo LEC e pelo CRT. Veja tabela a seguir:

Page 9: Políticas de gestão de estoque

Custo do Pedido ($) CP

Lote de Encomenda(un) LEC

Custo Relevante Total ($) CRT

50 16 18.325

100 22 20.944

150 27 22.954

200 32 24.649

250 35 26.142

300 39 27.492

350 42 28.733

400 45 29.889

450 47 30.974

500 50 32.000 Tabela 1: Variação CP x LEC x CRT

Uma das críticas ao modelo é a de admitir que o CP seja fixo. Na

tabela podemos verificar o aumento do CRT em função do aumento do

CP. E por isso torna-se importante a busca para reduzir ao máximo

esse custo. Quanto mais custosa for a encomenda maior será a

tendência de geração de estoques, pois a empresa deverá comprar

menos vezes quantidades maiores. Comprando quantidades maiores

aumenta-se o estoque médio e conseqüentemente o custo de

estocagem. Ou seja, o CRT aumenta.

Tanto para o lote de produção ou lote de compra podem ser

tomadas providências. Para lotes de produção este custo está

intimamente ligado ao custo de preparação das máquinas que pode

ser reduzido buscando redução dos tempos de preparação através de

técnicas de Troca Rápida de Ferramentas que reduzem

significativamente o custo CP. É importante entender que neste custo

de preparação estão incluídos também os custos com matérias primas

e mão de obra perdidas durante o processo de ajuste do lote de

Page 10: Políticas de gestão de estoque

produção, até ser prodizida a primeira peça perfeita após a troca. Para

minimizar tais custos, devem ser aplicados esforços no sentido de

melhorar os processos e ferramentas para obter qualidade de produtos

logo na primeira ou primeiras peças.

Para itens comprados devemos buscar modalidades de aquisição que

reduzam os custos da colocação de uma ordem de compra, seja

através do uso das compras em aberto, seja através do uso de

aquisições através da internet.

Negociações com fornecedores que sejam capazes de fornecer a real

quantidade demandada na hora certa são fundamentais para a

redução do custo de compra. Importante ainda cuidar da utilização de

modais mais eficientes para transporte de pequenos lotes e conseguir

dos fornecedores processos de qualidade que permitam a certeza das

quantidades fornecidas para evitar contagens no momento do

recebimento.

A filosofia Just-is-Time (JIT) 1, prega entre outras coisas, lote de

encomenda igual a um. Ou seja, que o fornecedor para o lote de

compra, ou uma ordem para lote de produção seja capaz de atender a

quantidade real demandada, no menor espaço de tempo. Isto é, a

taxa de suprimento deve ser o mais semelhante possível à taxa de

demanda dentro de uma unidade de tempo.

Na seção seguinte será demonstrado o impacto que o LE tem

sobre o estoque médio do item, aumentando consideravelmente o

custo de estocagem para a empresa.

1 A filosofia JIT surgiu na TOYOTA na década de cinqüenta, criada por Taiichi Ohno. Tem como principais mandamentos a redução de perdas e desperdícios em todos os processos empresariais através da redução de tempos de espera, estoques, movimentações e inspeções desnecessárias.

Page 11: Políticas de gestão de estoque

2.2 Estoque Médio

Na literatura existente, o Estoque Médio (EM) é definido

simplesmente como a quantidade média em estoque de um ou mais

itens, em um determinado intervalo de tempo. Compreende a

quantidade de materiais, componentes, estoque em processo e

produtos acabados normalmente mantidos em estoque. Ao se definir

uma política, o nível de estoque adequado deve ser determinado para

cada instalação física.

A fórmula consagrada do estoque médio é mostrada a seguir:

Onde:

EM = Estoque médio do item

LE = Lote de Encomenda do item

ES = Estoque de Segurança do item

Para melhor entendimento do conceito, vejamos a seguir, em

um gráfico do tipo dente-de-serra (Quantidade X Tempo), o EM:

Figura 3: Gráfico “dente de serra” demonstrando o estoque médio

Tempo

LE

Quantidade

ES

EM

EM = LE/2 + ES

Page 12: Políticas de gestão de estoque

Como pode ser observado quanto menor o Estoque de

Segurança - ES, menor será o Estoque Médio – EM.

2.2.1 Outras formas de medição do Estoque Médio

É comum também o estoque médio ser medido tendo como base

o valor de estoque disponível em um determinado momento. Exemplo:

Uma empresa pode medir seu estoque em todos os dias de

fechamento mensal e calcular o estoque médio mensal. Ou calcular o

estoque médio diário utilizando os dados de estoque do final de cada

dia, somando-os e dividindo esse total pelo número de dias do mês.

2.2.2 Uso do Estoque Médio como indicador

O grande desafio da gestão de estoques é equilibrar o conflito

entre custo de estoques com um nível de serviço aceitável. Para isso,

dois indicadores são importantes para verificar este equilíbrio: Estoque

Médio e Nível de Serviço ao Cliente.

O que as empresas buscam é manter o nível de serviço ao

cliente aceitável com o menor estoque médio possível. Por isso a

importância de realizar medições constantes desses dois indicadores.

2.3 Estoque de Segurança

O estoque de segurança (ES) admite em sua formulação que a

partir do momento em que um pedido de reposição é efetuado, a

empresa está sujeita a dois riscos:

Page 13: Políticas de gestão de estoque

• A demanda poderá ser em uma quantidade maior do que a

esperada, e por isso o nível de estoque poderá atingir o nível

zero (nível de ruptura), sem que a demanda seja atendida

totalmente;

• O tempo de reposição (TR) pode ser também maior do que o

esperado, e por isso o nível de estoque pode atingir o nível zero,

sem que a demanda seja atendida totalmente.

O estoque de segurança é então, uma quantidade de estoque

projetada para atender:

• Um aumento na demanda, durante o tempo de reposição

esperado para o item.

• A própria demanda normal, quando o suprimento deixa de

ser feito,por atraso do fornecedor ou da produção

A fórmula tradicional para cálculo do estoque de segurança é:

Onde:

ES = estoque de segurança expresso em unidades

K = fator K que corresponde a f(k), uma função da distribuição normal

acumulada que indica a probabilidade de haver uma demanda maior

que o estoque de segurança projetado, considerando-se um

determinado Nível de Serviço ao cliente. σC = desvio-padrão combinado, considerando-se incertezas de

demanda durante o tempo de reposição

ES = K x σC

Page 14: Políticas de gestão de estoque

A tabela de K para diversos níveis de serviço pode ser vista a seguir:

K (σC ) 0 0,68 0,84 1,04 1,28 1,41 1,56 1,65 1,75 1,88 2,05 2,33 2,58 3,08

NS (%) 50 75 80 85 90 92 94 95 96 97 98 99 99,5 99,9

Tabela 2: K em função do nível de serviço ao cliente desejado

O gráfico dente-de-serra, onde é representado o ES pode ser

verificado na seção sobre estoque médio.

2.3.1 Considerações sobre o estoque de segurança e a

distribuição normal

Como visto anteriormente, a definição do estoque de segurança

está diretamente ligada à distribuição normal. O gráfico a seguir

mostra duas curvas da distribuição normal. A previsão para o primeiro

dia tem uma média DP e um desvio-padrão σ e a previsão para o

segundo dia tem a mesma média DP e um desvio-padrão σ.

Figura 4: Erros de previsões para cada dia

Já a soma dos erros de previsão para dois dias, ou seja, se fosse

feita uma previsão de demanda para daqui a dois dias, considerando o

σ

10 dia 20 dia

DP DP

σ

Page 15: Políticas de gestão de estoque

erro acumulado, a nova distribuição teria o comportamento conforme

distribuição a seguir:

Figura 5: Erros de previsões para dois dias somados

O desvio-padrão da previsão para os dois dias somados seria

2σ. Isso quer dizer que quanto menor o número de dias abrangidos

pela previsão, menor será o erro acumulado da previsão. E

consequentemente menor será a necessidade de estoque de segurança

para o item, conforme o cálculo a seguir:

Previsão 1 dia:

ES (1 dia) = k x σ x TR

Previsão para dois dias somados:

ES (2 dias) = k x 2σ x TR

Como pode ser observado o estoque de segurança ES (2 dias) = 2

ES (1 dia) . O estoque de segurança é diretamente proporcional ao

desvio-padrão.

2 σ

Soma dos dois dias

Page 16: Políticas de gestão de estoque

O mesmo acontece em relação ao TR. O estoque de segurança é

diretamente proporcional ao TR. O mesmo item, com o mesmo perfil

de demanda, a mesma média DP, o mesmo desvio-padrão σ, com o

mesmo fator K (nível de serviço), porém comprado de dois

fornecedores distintos, um com tempo de reposição TR e outro com

tempo de reposição 2TR, sofrem o mesmo fenômeno, conforme o

cálculo do estoque de segurança a seguir.

Item 1:

ES (1 dia) = k x σ x TR

Item 2:

ES (2 dias) = k x σ x 2 TR

Portanto:

ES(1 dias) < ES (2 dias) ; ES (2 dias) = 2 ES(1 dias)

Ou seja, o efeito do TR sobre o estoque de segurança é o

mesmo efeito do σ. Em termos práticos, quanto maior o TR maior será

a incerteza da previsão da demanda prevista para o item. Quando a

empresa compra de um fornecedor com um TR de 2 dias, a previsão

utilizada considera a variação de dois dias somados, aumentando a

probabilidade de erro de previsão e consequentemente, como foi visto

anteriormente, a necessidade de dobrar o estoque de segurança, a fim

de se manter o mesmo nível de serviço. Esse assunto será também

explorado na seção a seguir.

Page 17: Políticas de gestão de estoque

2.3.2 Relação TR vs. ES

Como pode ser observado com a fórmula descrita anteriormente,

o ES sofre influência do Tempo de Reposição (TR) sob dois

aspectos: O primeiro relacionado à própria incerteza do tempo de

fornecimento, onde quanto maior esta incerteza maior será a

quantidade necessária para a proteção contra estas variações; O

segundo relacionado à incerteza da demanda, pois quanto maior for o

TR maior será a probabilidade de variações da demanda real em

relação à demanda prevista, dentro do tempo de reposição.

Esses dois aspectos mostram a importância que a redução do TR

e sua confiabilidade têm para a gestão de estoques.

O gráfico a seguir demonstra o comportamento do ES em função

do TR do fornecedor. Para este gráfico foi admitida uma amostra com

os seguintes dados de demanda realizada por dia:

Dia 1 2 3 4 5 6

Consumo(un) 14 16 11 13 12 15

Tabela 3: Consumo diário do item

Essa amostra gerou uma demanda média de 13,5 unidades diárias e

um desvio-padrão σd de 1,87. Para estes valores e utilizando um K =

3,08 (fator de multiplicação do desvio padrão a um nível de serviço ao

cliente de 99,9 %, conforme mostrado na Tabela1, variamos o valor

do TR de 0 a 60 dias, gerando o gráfico a seguir:

Page 18: Políticas de gestão de estoque

Figura 5: Gráfico do estoque de segurança em função do tempo de reposição

Neste gráfico pode ser verificado o impacto que o TR tem sobre o ES

pois, para um TR de 30 dias, o ES calculado foi de 175; para um TR

de 60 dias o ES calculado foi de 350 unidades. Para o cálculo com o

TR de 30 dias, substituindo na fórmula, teremos:

ES = K x σd x TR

ES = 3,08 x 1,87 x 30 = 175 unidades

Para o cálculo com o TR de 60 dias teremos:

ES = K x σd x TR

ES = 3,08 x 1,87 x 60 = 350 unidades

Isso nos mostra a importância que fornecedores rápidos e confiáveis

têm para uma boa gestão de estoques, através da redução do estoque

médio sem redução do nível de serviço projetado. Vale ressaltar que

neste modelo admitiu-se que o TR não sofre variações aleatórias.

Alguns autores utilizam a idéia de que é possível utilizar a média do TR

TR (Dias)

ES (un.)

60

350

175

30

Page 19: Políticas de gestão de estoque

encontrada nos fornecimentos anteriores de um item, o que não

recomendamos. É preciso trabalhar na gestão dos estoques com

tempos de reposição definidos em função dos tempos de

planejamento, produção e transportes considerados como objetivos. O

importante é manter constante vigilância sobre tais tempos e não usar

a simplificação da média para cobrir a nossa falta de gestão nas

compras ou na produção.

2.3.3 Estoque de Segurança – ES vs. Relação Incerteza da

demanda (σd)

O ES também sofre influência da incerteza da demanda, ou seja,

quanto mais incerta a demanda do item, maior será a quantidade de

segurança necessária para poder atender possíveis aumentos de

demanda. Em outras palavras, quanto maior a incerteza da demanda,

maior será o desvio padrão.

Esse aspecto pode ser impossível de ser controlado por ser uma

questão mercadológica e, por mais que sejam feitos esforços buscando

boas previsões de demanda, as previsões sempre terão o risco de

serem diferentes da realidade. Também pode ser impossível de ser

controlado quando estamos fazendo a gestão de itens utilizados no

ambiente de manutenção de equipamentos, sujeitos a demandas

aleatórias por quebra dos mesmos. Para lidar com a incerteza da

demanda é preciso desenvolver diversas habilidades na empresa

como: velocidade em todos os ciclos de processos, flexibilidade de

produção e compra, modularidade dos produtos para facilitar

montagens, postergação da produção ou compra, manutenção

preditiva, manutenção preventiva, etc..

Page 20: Políticas de gestão de estoque

O gráfico a seguir representa este conceito, agora fixando o TR=10

dias, variando o σd (desvio padrão da demanda) e mantendo o mesmo

K, ou nível de serviço de 99,9 %:

Figura 6: Gráfico do estoque de segurança em função do desvio padrão da demanda

2.3.4 Relação Estoque de Segurança – ES vs. Nível de Serviço

ao Cliente – NS

O Nível de serviço ao cliente é um objetivo fixado pela alta

direção da empresa. É um dos objetivos de desempenho que a gestão

de estoques deve atingir. O nível de serviço pode ser definido em

termos de tempo de atendimento de pedido ou em percentual de

quantidades atendidas.

A relação entre o estoque de segurança e o nível de serviço ao

cliente é representada pela curva descrita a seguir, onde podemos

verificar que quanto maior o ES maior será o NS ao cliente. Pois

quanto maior o ES, maior será a probabilidade de atendimento de

possíveis aumentos de demanda não previstos anteriormente.

σd

ES (un.)

3

92

46

1.5

Page 21: Políticas de gestão de estoque

Figura 7: Gráfico do nível de serviço em função do estoque de segurança

Este gráfico demonstra que a partir de certa quantidade, o ES já

não terá muita influência em relação ao ganho com nível de serviço. O

grande desafio da gestão de estoques é buscar esse equilíbrio, onde o

nível de serviço aceitável é atingido com a mínima quantidade de

estoque possível, pois como já foi visto o ES tem grande impacto

sobre o estoque médio e consequentemente sobre o custo total de

estocagem e a necessidade de investimento em ativos por parte da

organização.

2.3.4.1 Nível de Serviço ao cliente em ambientes de

atendimento por ordem (Make-To-Order – MTO)

As empresas que têm como estratégia produtiva o MTO são

aquelas que iniciam a produção apenas no momento em que existe

uma ordem colocada do cliente. Ou seja, só fabricam quando existe

um pedido de cliente colocado. Neste ambiente é muito comum o uso

ES

NS (%)

100 %

0 %

Page 22: Políticas de gestão de estoque

de indicadores de nível de serviço em função da data de entrega real

do produto em função da data de entrega prometida ao cliente.

Um dos indicadores poderia ser o percentual de pedidos com entregas

atrasadas. Esse indicador é calculado conforme a fórmula a seguir:

Pedidos atrasados (%) = Número de pedidos atrasados x 100

Número de pedidos prometidos no período

Outro indicador também utilizado é a média de dias atrasados, onde é

medida a quantidade média em dias dos pedidos com atraso de

entrega:

Atraso médio(dias)= Somatório dos atrasos dos pedidos (dias)

Numero total de entregas com atraso

2.3.4.2 Nível de Serviço ao cliente em ambientes de

atendimento do estoque (Make-to-Stock – MTS)

As empresas que têm como estratégia produtiva o MTS são

aquelas que produzem para estoque. Ou seja, fabricam quando o

estoque de produto acabado atinge o chamado ponto de reposição,

visando neste momento repor o estoque do item. O que importa é

sempre manter estoque aguardando a chegada de um pedido de

cliente.

Neste ambiente é comum o uso de indicadores de disponibilidade de

estoque. Um indicador simples de ser calculado é o que indica a fração

do tempo que o estoque de um determinado item ficou zerado em um

determinado período. A fórmula do nível de serviço para este indicador

pode ser vista a seguir:

Page 23: Políticas de gestão de estoque

Nível de Serviço (%) = Nº de dias de venda com estoque zero do item x 100

Nº total de dias de venda do período

Este indicador admite a existência de política de estoque para o item

determinando que sempre deve haver estoque para atender a um

cliente em qualquer momento que ele deseje.

2.3.4.3 “Pedido Perfeito”

Na literatura existente sobre gestão de estoques também é

comum encontrar o indicador de nível de serviço ao cliente

denominado “Pedido Perfeito”. Este indicador é calculado conforme a

seguinte fórmula:

Pedido Perfeito (%) = % pedidos entregues pontualmente X % de

pedidos entregues na quantidade exata da encomenda X % de pedidos

entregues sem avarias X % da documentação entregue sem erros

Note que o cálculo do pedido perfeito conjuga vários indicadores, que

juntos definem a total satisfação do cliente final.

2.4 Tempo de Reposição (TR)

O Tempo de Reposição pode ser dividido em dois tipos

principais, são eles: TR para itens comprados e TR para itens

fabricados.

2.4.1 Tempo de Reposição para itens comprados

Page 24: Políticas de gestão de estoque

O Tempo de Reposição (TR) para itens comprados é o tempo

decorrido entre o momento de identificação da necessidade e o

momento em que o item será incorporado ao estoque após os devidos

exames de qualidade. Pode ser uma estimativa baseada em históricos

de compra ou definido em um contrato com o fornecedor. O TR

baseado em históricos das ocorrências de compra tem o grave

inconveniente de, por ser uma média, incorporar em seu cálculo os

diversos problemas que podem ter havido com o fornecedor isto é,

representa a média de sua administração das entregas. A área de

compras deve insistir em contratar fornecedores estabelecendo os

prazos de entrega e fazendo-os cumprir com o acordado.

Para medir corretamente esse tempo devem ser considerados

para itens comprados não-repetitivos os seguintes tempos:

planejamento, emissão de requisição, cotação, colocação do pedido,

prazo de fabricação do fornecedor, transporte, recebimento, inspeção.

Para itens comprados repetitivos, onde a empresa já estabelece

contratos de fornecimento em aberto, consideram-se os seguintes

tempos: comunicação ao fornecedor, prazo de entrega do fornecedor,

transporte, recebimento e inspeção.

2.4.2 Tempo de Reposição para itens fabricados

Para itens fabricados o TR é o tempo decorrido entre a data de

liberação da ordem de produção e a data em que o item será

incorporado ao estoque após a devida avaliação de qualidade. É

composto por três fatores: O tempo de fila, o tempo de preparação

(setup) e o tempo de operação (variável em relação ao número de

peças a fabricar).

Page 25: Políticas de gestão de estoque

Atualmente com o desenvolvimento dos softwares de

programação avançada de produção - APS2 os tempos de fila não são

mais arbitrados, ou predefinidos como parâmetros fixos do sistema;

estes dependem da ocupação momentânea dos centros de trabalho da

fábrica e da política de priorização de ordens de produção adotada

para as ordens existentes naquele momento.

2.4.3 Impacto do Tempo de Reposição sobre os estoques

Os tempos de reposição têm grande impacto sobre os estoques.

Isto está relacionado ao fato de que quanto maior o TR maior será a

probabilidade de erro nas previsões de demandas futuras. A figura a

seguir mostra essa questão:

Figura 8: Erros de previsão em função do tempo de reposição

Onde:

2 APS é a sigla correspondente a Advanced Production Schedule que são softwares baseados no conceito de capacidade finita que fazem programação da produção de bens e serviços, gerando planos de produção realistas e confiáveis possibilitando a tomada de decisões rápidas e seguras sobre seqüenciamento de operações e prazos de atendimentos

T0 Tn

Dp Dr

Ep

Quanto maior o intervalo T0 ... Tn

maior a diferença entre a demanda prevista Dp e a demanda realizada Dr

Page 26: Políticas de gestão de estoque

Ep = Erro de previsão

Dp = Demanda prevista no momento T0 para o momento Tn

Dr = Demanda real no momento Tn

Na seção sobre estoque de segurança os impactos do TR sobre o

estoque de segurança foram abordados com mais detalhes.

2.4.4 Algumas formas de redução de Tempo de Reposição

Nos últimos anos fornecedores e clientes buscam melhores

formas de integração ao longo da cadeia de suprimentos, visando

reduzir estoques e melhorar o serviço ao cliente. No âmbito fabricante-

varejista surgiram: ECR, CRP, VMI, CPFR, QR etc. Já no fabricante-

fornecedor surgiu o JIT (just-in-time). Estes tipos de relacionamentos

e processos possibilitam maior eficiência das empresas em seu

planejamento e tomada de decisões referentes a gestão de estoques

(Wanke, 2003).

É importante ressaltar que a redução do TR não é o único objetivo

deste programas que também buscam através de uma maior

integração entre os parceiros de uma mesma cadeia reduzir estoques,

custos, e garantir melhores níveis de serviço ao cliente.

2.4.4.1 Quick Response (QR):

Neste programa os fornecedores usam dados do ponto de venda

do cliente para melhorar suas previsões de demanda e programações

de produção. Os clientes continuam colocando pedidos de

ressuprimento. O QR surgiu no setor têxtil e de confecções dos EUA.

Além de impactos na produção também gera impactos na distribuição,

Page 27: Políticas de gestão de estoque

reduzindo-se a armazenagem e passando a existir estações de cross-

docking3, para que os produtos ao chegarem nos centros de

distribuição do varejo sejam encaminhados diretamente para as lojas.

Esse programa reduz ciclos de pedido e consequentemente os níveis

de estoque (Ver Figura 8).

Figura 9 – Representação do Fluxo de Produtos e de Informações no QR

Fonte: Adaptado de Wanke (2003)

2.4.4.2 Continuous Replenishment (CR)

Este programa é muito parecido com o QR; o fornecedor

também usa os dados do ponto de venda para manter os estoques em

níveis estáveis no cliente, sem muita flutuação, sempre entre níveis

3 Segundo o CSCMP (Council of Supply Chain Management Professionals) , a expressão cross-docking é utilizada quando um sistema de distribuição opera sem armazenagem. Os itens chegam ao centro de distribuição do varejista, são imediatamente separados e já são enviados para o cliente ou loja de destino. Esse modo de operação requer uma grande sincronização de todas as operações de distribuição. Como elimina a armazenagem este modo de operação reduz significativamente os custos de distribuição e aumenta a velocidade com que as mercadorias chegam às gôndolas dos pontos de venda.

Page 28: Políticas de gestão de estoque

pré-estabelecidos contratualmente, de máximos e mínimos. Apesar de

ter surgido antes do ECR – Efficient Consumer Response, alguns

autores apontam o CR como uma das cinco ações do ECR. Ele surgiu

nos EUA, e foi uma iniciativa da Pampers e do Wal-Mart para a

reposição de fraldas nas lojas.

2.4.4.3 Efficient Consumer Response (ECR)

A estratégia básica do ECR define que os fornecedores e clientes

devem obter melhorias em cinco áreas: o compartilhamento de

informações em tempo real, o gerenciamento de categorias em

conjunto com fornecedores, a reposição contínua, o custeio baseado

em atividades e a padronização (Ver figura 9). Segundo o próprio ECR

Brasil, “é uma estratégia na qual o varejista, o distribuidor e o

fornecedor trabalham muito próximos para eliminar custos excedentes

da cadeia de suprimentos e melhor servir ao consumidor”.

Figura 10 – Representação da Reposição Contínua em um Programa ECR entre

um varejista e um fabricante de cervejas Fonte: Adaptado de Wanke (2003)

Page 29: Políticas de gestão de estoque

2.4.4.4 Collaborative Planning, Forecasting and Replenishment

(CPFR)

O CPFR constitui uma extensão do CRP/ECR, e tem como

objetivo principal determinar previsões de venda e reposição mais

precisas para um determinado item, para um determina horizonte de

planejamento e em uma determinada região. Este programa foi uma

iniciativa da empresa de alimentos Nabisco, partindo do pressuposto

que apenas coletar informações no ponto de venda não era o

suficiente para obter uma boa utilização do CRP e todas as operações

da empresa. O relacionamento colaborativo entre fabricantes e

varejistas permite que sejam definidas táticas de estabelecimento de

mix de produtos, de promoções de venda e de reposição, de maneira a

conseguir estoques mais equilibrados, maior lucratividade e menor

risco de rupturas nas categorias de produto objeto do CPFR.

2.4.4.5 Vendor Managed Inventory (VMI)

O VMI ocorre quando o poder de barganha dos fornecedores é

maior em relação aos clientes. Os fornecedores gerenciam seus

estoques no cliente sendo assim capazes de gerenciar melhor suas

operações. Eles são motivados por altos custos de oportunidade de

manter estoques ou por altos custos fixos de distribuição. Caso o

poder de barganha do cliente seja maior que o do fornecedor pode

haver consignação dos produtos por parte dos fornecedores, que

permite o pagamento pelo comprador somente no momento da

reposição ou após o uso/venda (pay-on-demand).

Page 30: Políticas de gestão de estoque

Essa iniciativa não deixa de ser uma política de estoques

empurrada porém, a negociação entre fornecedor e comprador deve

ser feita com o estabelecimento de políticas de estoque médio que

sejam satisfatórias para o comprador. Nesse programa as revisões de

reposições são feitas periodicamente pelos fornecedores que fazem a

reposição dos itens consumidos entre as reposições. No VMI o controle

de estoques é feito pelo fornecedor, com base em informações do

cliente ou através de informações por equipamentos de medição e

comunicação eletrônica.

2.4.4.6 Just in Time (JIT)

Na evolução da utilização dos conceitos JIT, o fornecedor

disponibiliza um funcionário seu dentro da planta do cliente. Esse

funcionário participa do planejamento da produção e aquisição de

insumos, além de participar de projetos de engenharia simultânea.

Esta função pode substituir as funções do comprador e planejador do

cliente e o vendedor do fornecedor. Porém esta substituição tem de

ser precedida por um estudo das funções dentro da empresa. Essa

iniciativa foi primeiro utilizada pela Bose Corporation a fim de estreitar

a relação entre comprador e vendedor, eliminar esforços redundantes

e melhorar a resposta do fornecedor.

4) Como estabelecer as políticas de gestão de estoques

Boa maneira de determinar uma política de gestão de estoques é

utilizando a matriz de criticidade. Essa matriz servirá de regra para

determinação dos parâmetros descritos anteriormente, como lotes de

Page 31: Políticas de gestão de estoque

encomenda, intervalo de ressuprimento e revisão dos itens, e estoque

de segurança.

A matriz de criticidade busca aglutinar a criticidade de

suprimento de um item com sua criticidade de demanda, seja em

termos de previsão de utilização (caso de MRO), seja em termos de

previsão de venda, assim como levar em consideração a criticidade do

item em relação ao andamento das operações da empresa ou a

importância estratégica do item em relação ao mercado. Essa matriz

pode contar com mais atributos distintos dependendo do ambiente

onde é utilizada.

Em uma empresa varejista, por exemplo, os atributos podem

ser: margem de contribuição do item, tempo de reposição, incerteza

da demanda, incerteza do fornecimento, influência do item no

comportamento do consumidor, etc.. Já para itens de manutenção, os

atributos podem ser: criticidade do item para a fábrica, parque

instalado, incerteza do fornecimento, origem do item (nacional ou

importado), possibilidade de recuperação, entre outros.

Cada atributo deverá ter um grau de importância. E os itens

serão classificados em função de cada atributo. A combinação dessas

classificações determinará a criticidade de gestão do item. Quanto

mais crítico for o item, maior será a necessidade de aumento no seu

estoque de segurança e possivelmente, esse item terá que ser revisto

em períodos menores de tempo. O exemplo a seguir ilustra esse

assunto.

Page 32: Políticas de gestão de estoque

Exemplo:

Imaginem a empresa de varejo ABC artigos esportivos. Ao elaborar

a sua política de gestão de estoques, os gestores da empresa

definiram os seguintes atributos e seus seguintes graus de importância

respectivamente.

Atributo Importância Dificuldade do suprimento 1

Incerteza da demanda 2 Influência no comportamento do

consumidor 3

Tabela 4: Grau de importância de cada atributo

Quanto maior o valor atribuído, maior será a importância do atributo.

Sendo assim o atributo de maior importância será estabelecido pela

influência do item no comportamento do consumidor isto é, a falta do

item pode ocasionar que o cliente desista de fazer outras compras na

loja. Cada atributo por sua vez terá suas classificações possíveis, em

muitos casos consideradas em termos de alta, média e baixa. Ou seja,

cada item a ser gerido será avaliado em função de sua criticidade para

o atributo. Cada item poderá ser classificado de acordo com a tabela a

seguir:

Tabela 4: Classificações possíveis dos itens por atributo

Criticidade por Atributo ALTA MÉDIA BAIXA

Dificuldade de suprimento (amplitude do tempo de reposição) 3 2 1

Incerteza da Demanda* (desvio padrão da demanda/média) 3 2 1

Influência no comportamento do consumidor

(item “carro-chefe”) 3 2 1

Page 33: Políticas de gestão de estoque

A ABC artigos esportivos vende entre outras coisas um tênis Mike

que foi classificado da seguinte forma em relação aos diferentes

atributos.

Dificuldade de Suprimento = 1

Incerteza da Demanda = 2

Influência no comportamento do consumidor = 3

Multiplicando-se o valor de cada atributo do item pelo grau de

importância de cada atributo teremos a Criticidade de Gestão do Item

para a área de Compras.

Determinação da Criticidade:

1 x 1 + 2 x 2 + 3 x 3 = 14

Após calcular a Criticidade de Gestão do item, definir o Estoque de

Segurança levando em consideração a regra a seguir:

Criticidade de Gestão Estoque de Segurança (dias) 6 – 10 15 11 - 14 30 15 - 18 45

Tabela 5: Intervalos de Criticidade x Estoque de Segurança

Portanto, para o exemplo citado anteriormente, o item Mike terá seu

estoque de segurança para 30 (trinta) dias de demanda, e

Dificuldade de Suprimento

Incerteza da Demanda

Influência no comportamento do consumidor

Criticidade de

Gestão

Page 34: Políticas de gestão de estoque

multiplicando-se pela demanda média teremos o estoque de segurança

em unidades. Esse estoque de segurança pode ser revisto

periodicamente. Os valores determinados para o estoque de segurança

de cada grau de criticidade de gestão são valores arbitrários e deverão

ser otimizados a medida que são monitorados os índices de nível de

serviço ao cliente e cobertura de estoques.

Como exemplo, podemos citar que se este item Mike que tem o

estoque de segurança de 30 dias de demanda média, tiver seu nível de

serviço ao cliente de 100% durante três ou quatro meses, isto indica

que deve ser tentada uma redução do estoque de segurança para

menos dias do que os 30 dias de demanda média estabelecidos.

A segunda parte do cálculo é estabelecer a periodicidade da colocação

de pedidos no fornecedor do item Mike. Para tal, temos que ver com

nosso fornecedor qual a quantidade que ele consegue nos entregar, a

cada vez que fazemos uma encomenda. Tal resposta irá levar em

consideração a quantidade média diária que vendemos daquele item.

Para efeito de nosso exemplo, vamos imaginar que nosso fornecedor

consegue nos fazer entregas econômicas no correspondente a nossa

demanda de 10 dias. Então, o nosso Lote de Encomenda corresponde

a 10 dias de demanda média.

Com estas duas etapas de cálculo, estoque de segurança e lote de

encomenda, podemos então dizer que a Política de Estoque do item

Mike é de 35 dias de demanda. Isto se deve ao fato da fórmula do

Estoque Médio (ver item 2.2) ser:

EM = LE/2 + ES

Page 35: Políticas de gestão de estoque

Então, para o nosso exemplo, podemos substituir na fórmula as

quantidades em dias de demanda do estoque de segurança e do lote

de encomenda:

35 = 10/2 + 30

Nosso item Mike, então teria um estoque médio de 35 dias de

demanda média!

4) Conclusão

No texto em questão fica clara a importância que o tema gestão

de estoques tem para o bom funcionamento das empresas e sua

competitividade.

O objetivo de equilíbrio entre os níveis de estoque e o nível de

serviço ao cliente é alcançado através da elaboração de políticas de

gestão de estoques aderentes à empresa em questão e aos itens

geridos. Estas políticas definirão as regras a serem seguidas para

definição dos parâmetros utilizados no sistema de gestão como visto

anteriormente.

Além da importância de uma política de gestão de estoques e

dos cálculos dos principais parâmetros envolvidos, é necessário que os

gestores estejam com a preocupação constante de aumentar a

confiabilidade de suas previsões de demanda, negociar com seus

fornecedores para a redução dos tempos de entrega e investir nos

programas de qualidade para assegurar uma gestão com menores

estoques e maiores níveis de serviço ao cliente.

Page 36: Políticas de gestão de estoque

Também é importante que os gestores desenvolvam estratégias e

métodos de fabricação que reduzam o tempo deste ciclo e aumentem

a flexibilidade produtiva, no sentido de conseguir proporcionar melhor

serviço ao cliente com menores estoques de matérias primas e

componentes comprados, materiais em processo, semi-acabados e

produtos acabados.

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