política, favela, igreja e contenção territorial

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Política, favela, igreja e contenção territorial

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  • Revista Espacialidades [online]. 2013, v. 6, n. 5. ISSN 1984-817x.

    Assistncia social ou controle scio-espacial:

    uma anlise das espacialidades

    polticas da Fundao Leo XII

    sobre as favelas cariocas (1947-1962)

    Igor Martins Medeiros Robaina 1

    RESUMO

    O presente trabalho busca compreender as causas para o surgimento da Fundao Leo

    XIII, criada no dia 22 de janeiro de 1947 e sendo efetivamente a primeira interveno em

    polticas pblicas direcionada para atuar no interior das favelas e sobre seus habitantes no

    Brasil. Contudo, os precedentes de sua formao materializam-se como um conjunto

    complexo de elementos que se desdobraram a partir de mobilizaes polticas de mltiplas

    ideologias, a partir das quais a favela acaba-se tornando um espao de disputa e tenso

    entre os movimentos de esquerda, sobretudo, aqueles ancorados pelo Partido Comunista

    Brasileiro e por foras contrrias a este ativismo poltico-social, como foi o caso da

    articulao entre o Estado e a Igreja Catlica para promover um controle territorial desse

    Perigo Vermelho no interior das favelas no Rio de Janeiro.

    Palavras-chave: Favelas; Comunismo; Ativismo poltico; Polticas pblicas; Espao

    Urbano.

    ABSTRACT

    The present paper aims at understanding the origins of Leo XIII Foundation, which was

    created in January 22, 1947. Leo XIII was the first public policy intervention in Brazil

    designed to act inside the slums in favor of their inhabitants. However, the precedents of its

    constitution are embodied in a complex ensemble of elements that arose from political

    mobilizations and multiple ideologies, where the slum ends up as a space disputed between

    leftist movements, mostly anchored to the Brazilian Communist Party, and forces that are

    opposite to this sociopolitical activism. This is exemplified by the articulation between

    1 Mestre em histria social do territrio pela universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), doutorando

    em geografia pela universidade federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e professor auxiliar de geografia humana da

    universidade Castelo Branco.

    Recebido em agosto de 2013;Aprovado em outubro de 2013.

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    state and the catholic church in order to promote territorial control of this red danger inside the slums of Rio de Janeiro.

    Keywords: Slums; Comunism; Political Ativism; Public Policies and Urban Space.

    INTRODUO

    A Fundao Leo XIII foi criada na cidade do Rio de Janeiro, no dia 22 de Janeiro

    de 1947. Sua histria e, principalmente, sua atuao sistemtica no cenrio scio-poltico-

    espacial carioca diferenciaram-na, talvez, de todas as outras instituies de assistncia

    social brasileira do sculo XX por ter sido a principal instituio assistencial no tocante s

    intervenes para a melhoria nas favelas2 na cidade do Rio de Janeiro e no Brasil.

    Suas aes assistenciais, no perodo de 1947 at 1962, foram marcadas pela atuao

    concomitante em 33 favelas na cidade do Rio de Janeiro. Mesmo essas aes variando em

    nveis de interveno, garantiram algumas necessidades sociais jamais proporcionadas

    anteriormente pelo Estado nesses espaos, como as questes de educao, alimentao,

    sade, lazer, apoio jurdico e urbanidades.

    Contudo, cabe ressaltar que sua histria tambm foi demarcada por inmeras

    tramas polticas e espaciais que, por detrs da grandeza e da imponncia poltica e social de

    suas aes, vrios foram os conflitos, as disputas e os interesses. Nesse complexo jogo de

    foras opostas no cenrio poltico-espacial, a Igreja Catlica, o Partido Comunista do

    Brasil e o Estado fizeram-se presentes junto s populaes no interior das favelas,

    articulando-se e/ou (des)mobilizando-se, numa clara e histrica disputa pelo poder e suas

    dimenses espaciais.

    De fato, essa realidade materializada scio-espacialmente na cidade do Rio de

    Janeiro deve ser compreendida a partir de um acmulo de vulnerabilidades e precariedades

    sofridas por determinados grupos, por meio de processos contraditrios e desiguais na

    produo do espao geogrfico. Assim, houve o surgimento da favela, como resultado de

    2 Sabemos o quanto complexa a definio conceitual da favela. Esse espao social ganha essa

    nomenclatura, sobretudo, na cidade do Rio de Janeiro, a partir da segunda metade do sculo XIX. De fato,

    compreendemos o espao da favela, mas tambm outros espaos com similaridades scio-estruturais (Villas

    misrias, Barriadas, Bindovilles, Gecekondu, Guers, Slum etc) como materializaes scio-espaciais,

    principalmente no espao urbano, marcadas por dficits e/ou problemas de nveis estruturais, ou seja,

    resultado das contradies e desigualdades de uma determinada realidade, onde uma parte da populao

    desafortunada, pela impossibilidade de habitaes formais, seja por renda ou pela inao do Estado, constri

    suas habitaes de maneira precria.

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    mazelas e precariedades que se materializaram e foram materializadas sobre e pelos grupos

    desfavorecidos, para os quais a negao do direito de fazer plenamente parte da cidade,

    material e socialmente, desencadeou uma nova realidade no cenrio urbano carioca.

    Essas materializaes no Brasil so resultado das histricas concentraes

    fundirias e de renda, de um longo perodo escravista, assim como, de um sistema

    abolicionista conservador, que reforou as desigualdades no quadro social brasileiro.

    Outras questes intensificadoras se fizeram a partir da escala local. Inmeras reformas e

    intervenes urbansticas fortaleceram ainda mais a segregao; ou seja, todo um conjunto

    de aes ou melhor, de inaes de polticas pblicas sociais transformadoras e

    redistributivas no somente foram responsveis pelo surgimento das favelas na cidade do

    Rio de Janeiro, mas tambm por vrios outros quadros de problemas sociais no Brasil.

    DOS PRECEDENTES CRIAO: AS CONFIGURAES SCIO-ESPACIAIS

    PARA A CRIAO DA FUNDAO LEO XIII

    Construdas contra todos os preceitos de Hygiene, sem canalizao

    dgua, sem exgoto, sem servio de limpeza pblica, sem ordem, com material heterclito, as favellas constituem um perigo permanente de

    incndio e infeces epidmicas para todos os bairros atravs dos quaes

    se infiltram. A sua lepra suja a vizinhana das praias e os bairros mais

    graciosamente dotados pela natureza, despe os morros do seu enfeite

    verdejante e corri at as margens da mata da encosta das serras (...) (a

    sua destruio importante) no s sob o ponto de vista da ordem

    social e da segurana, como sob o ponto de vista da hygiene geral da

    cidade, sem falar da esthtica (PREFEITURA DO DISTRICTO

    FEDERAL, 1930, p.189-190).

    Dada a constituio espacial das favelas, muitas foram as tenses vivenciadas pelos

    seus moradores. A forma material da paisagem e, consequentemente, sua precariedade

    scio-espacial proporcionaram, em determinados grupos (no moradores das favelas), uma

    rejeio a essa nova realidade scio-espacial.

    Desse modo, os espaos das favelas foram bombardeados a partir de mltiplas

    direes, sendo ora pela invisibilizao dos problemas existentes, inclusive pelo prprio

    Estado, ora pela estigmatizao, especialmente nos discursos dos representantes polticos,

    dos grupos hegemnicos e/ou da prpria mdia, que reforavam as formas de violncia

    simblica sobre as favelas e seus habitantes.

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    A respeito dessa viso estereotipada e estigmatizada, Pelrman analisa os discursos

    sobre as populaes que habitavam as favelas:

    A favela uma aglomerao de vagabundos desempregados, mulheres e

    crianas abandonadas, ladres, bbados e prostitutas. Esses elementos marginais vivem em condies subumanas, sem gua encanada, esgoto, coleta de lixo, e outros servios urbanos bsicos, num ambiente

    sujo e insalubre. As favelas, feias como so, prejudicam o pitoresco

    panorama da cidade. Econmica e socialmente, constituem um dreno, um

    parasita, exigindo altos gastos em servios pblicos e dando pouca

    retribuio. Os favelados mantm-se -parte, no contribuem nem com

    aptides nem ao menos com poder aquisitivo para o bem geral, e so uma

    ameaa pblica. Ademais, as terras que ocupam so em geral muito

    valiosas, portanto, as favelas impedem que se lhes d uso mais lucrativo,

    alm de desvalorizarem as propriedades vizinhas (PERLMAN, 2002,

    p.42).

    Contudo, em meio a tantas adversidades, tanto fsicas, materiais e objetivas quanto

    na perspectiva simblica, as favelas buscaram, mnima e autonomamente, resolver suas

    questes, sobretudo, por conta da descrena em relao ao Estado como protetor e

    mantenedor das condies bsicas e garantias sociais.

    Com isso, o cenrio poltico no interior das favelas passar por vrias

    transformaes, principalmente com o fim da ditadura Varguista, no ano de 1945, quando

    retornar a ordem democrtica ao pas, estendendo-se, assim, a liberdade para toda a

    sociedade e todos os espaos sociais, inclusive para as favelas.

    Assim, os movimentos sindicais, sociais, trabalhistas e os partidos polticos que

    retomaram a liberdade tiveram uma nova chance de florescer e disputar projetos de

    sociedade no campo poltico e social.

    Nesse novo cenrio poltico-social tambm emerge o Partido Comunista do Brasil3,

    no qual se inicia um movimento de transformao e de autorressignificao de um partido

    de quadros para um partido de massas, aproximando-se, assim, das questes polticas

    locais e de seus respectivos problemas.

    diante dessas questes que surgem os Comits Democrticos Populares4 como

    um espao de construo de autonomia popular, funcionando no sentido de mobilizar as

    3 O Partido Comunista do Brasil foi criado no dia 25 de Maro de 1922. Sua histria foi marcada por

    permanentes movimentos cclicos de legalidade-ilegalidade e principalmente pela resistncia de continuar

    ativo junto s causas sociais. 4 Os Comits Democrticos Populares organizavam-se praticamente em duas vertentes: a primeira estava no

    campo das lutas trabalhistas, sobretudo nas bases espaciais das fbricas, sindicatos e outros setores laborais.

    A segunda mantinha uma relao espacial com o lugar, ou seja, na dimenso dos bairros, sendo eles

    principalmente localizados em espaos que apresentavam precarizaes infra-estruturais do urbano, como as

    favelas ou reas localizadas nos subrbios.

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    Revista Espacialidades [online]. 2013, v. 6, n. 5. ISSN 1984-817x.

    lutas por diretos e garantias sociais, alm de ser um espao de conscientizao poltica. A

    este respeito:

    Os Comits Democrticos Populares, que j se vo organizando por todo

    o pas, sero como que as clulas iniciais do grande organismo

    democrtico capaz de unir o nosso povo e de gui-lo no caminho da

    democracia e do progresso. Os Comits Populares falaro a voz do povo,

    diro de sua vontade, suas reivindicaes imediatas e permitiro que se

    revelem os verdadeiros lderes populares, homens e mulheres, jovens e

    velhos, que falem a linguagem do povo e sejam de fato os melhores na

    defesa dos seus interesses e na luta pelos direitos do prprio povo. E por

    isso, nesses organismos ser relativamente fcil o desmascaramento dos

    agentes do fascismo, dos demagogos e desordeiros inimigos da unio e da

    democracia (PRESTES, L,C. s/d. Discurso proferido no dia 15 de Julho

    de 1945, p.113-114).

    A proposta dos Comits Democrticos Populares fazia-se com bases vanguardistas

    e revolucionrias, pois eles caminhavam no sentido de proporcionar a presena e a

    integrao da populao no campo poltico, diferenciando-se das histricas e

    conservadoras manobras polticas de reproduo passiva, em que os sujeitos sociais nada

    eram alm de meros expectadores.

    Outra caracterstica dos Comits Democrticos Populares constitua-se em sua

    forma de organizao popular, pois, mesmo sendo criados pelo Partido Comunista do

    Brasil num anseio pela democracia e autonomia dos cidados como sujeitos polticos, os

    seus fundamentos tericos no deveriam estar atrelados a qualquer movimento poltico-

    partidrio. Assim, fugindo a rtulos governistas ou oposicionistas (PINHEIRO,

    2007), os comits funcionavam como uma estrutura neutra e direcionada para os

    interesses populares.

    Nesse sentido:

    O partido comunista, vanguarda esclarecida do proletariado, sempre

    marchou e marchar com o povo, e os comunistas participaro ativamente

    da organizao e desenvolvimento de Comits democrticos populares

    dentro dos quais se sentiro felizes ao lado de todos os democratas no

    comunistas, quaisquer que sejam suas opinies polticas, filosficas e

    religiosas, dignas tdas do maior respeito, como deve ser no Brasil

    progressista e democrata a que desejamos chegar (discurso proferido por

    Luis Carlos Prestes no estdio de So Janurio, no dia 23 de maio

    de1945).

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    Revista Espacialidades [online]. 2013, v. 6, n. 5. ISSN 1984-817x.

    De fato, vrios Comits Democrticos Populares surgiram pela cidade,

    especialmente nos espaos precarizados scio-espacialmente, tendo em vista a esperana

    dos prprios habitantes tentarem promover as melhorias das suas condies de vida.

    Assim, os espaos das favelas tambm conquistariam progressivamente um corpo

    expressivo de autonomia poltica ao promoverem processualmente autointervenes scio-

    espaciais, seja atravs dos Comits Democrticos Populares ou de outras formas de

    organizao e ativismos populares que surgiam na cidade5. Portanto, esses movimentos, a

    partir da prxis social, produziram um processo de reconhecimento e, em alguma medida, a

    autoconscincia de suas realidades, suas causas e o desejo de transformao. Essas

    questes puderam ser claramente detectadas a partir dos mltiplos aspectos da realidade

    social presentes nas reportagens do peridico A Tribuna Popular6.

    Sobre as questes habitacionais:

    No habitamos casas: superlotamos barraces de madeira e lata, que, em

    geral, ns mesmos construmos com os materiais que podemos arranjar:

    Caixas, tbuas, pregos, telhas, zinco e barro, raramente tijolos. Nos

    barraces no h espaos, nem gua, nem luz, nem esgotos e portanto,

    podemos dizer sem exagero, no ha higiene, nem sade, nem ar!.(...)

    (TRIBUNA POPULAR, 10 ago.1946, p.4).

    Sobre as questes educacionais:

    (...) Nossas numerosas crianas ressentem-se grandemente da falta de

    uma escola no local, pois quase nunca podem freqentar as existentes nas

    proximidades ou so delas afastadas prematuramente pela necessidade de

    trabalhar e pela completa impossibilidade em que se encontram os pais de

    fornece-lhes uniformes, calados, livros, material escolar e merenda (...)

    (TRIBUNA POPULAR, 10 ago.1946, p.4).

    Sobre as necessidades de gua:

    A falta de gua um dos principais problemas aqui no parque. Raro o

    dia em que a bica atende o nosso apelo. (...) As mulheres ficam em posio de sentido com a lata dgua na cabea. A falta dgua aqui to grande que ns somos obrigados a lavar a nossa roupa dentro de um

    pequeno rio, cujas guas recebem a sujeira dos canos de descarga...(...)

    (TRIBUNA POPULAR, 27 set.1946, p.4).

    5 Podemos destacar os espaos de Grmios Recreativos e o surgimento embrionrio das Associaes de

    Moradores, mesmo que no materializadas com esse nome especfico no perodo. 6 O peridico matutino foi criado no dia 22 de Maio de 1945. Sua criao estava diretamente ligada aos

    propsitos instrumentais do Partido Comunista do Brasil. Sua escala de atuao atingiu o nvel nacional e nos

    perodos de maior ressonncia o jornal chegou a circular 50.000 exemplares em um nico dia. Do ponto de

    vista das classes populares, estendeu-se desde as populaes precarizadas nos campos e subrbios, at as das

    reas favelizadas, nos quais explanavam seus problemas, reivindicaes e vitrias atravs dos Comits

    Democrticos populares ou outros espaos populares.

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    Revista Espacialidades [online]. 2013, v. 6, n. 5. ISSN 1984-817x.

    Sobre as questes de sade:

    A indigncia de assistncia mdica, dentria e hospitalar em que nos

    encontramos absoluta, carecemos de amparo moral para as gestantes;

    carecemos dos ensinamentos da profilaxia, da difuso das normas de

    higiene, dos servios de saneamento bsico local e principalmente, das

    condies materiais mnimas que possibilitem a aplicao dos princpios

    de uma medicina preventiva(...). (TRIBUNA POPULAR, 10 ago.1946,

    p.4).

    Dessa maneira, as reportagens revelam os nveis de precariedade e desproteo

    scio-espacial enfrentada pelos habitantes das favelas cariocas, ao mesmo tempo em que

    visibilizam o que deveria ser modificado. Contudo, muitas foram as tribulaes para a

    transformao desses espaos, devido, principalmente, falta de recursos materiais para o

    desenvolvimento das aes. Essa realidade pode ser constatada a partir da sede do Comit

    Democrtico Popular do Morro do So Carlos, mas tambm o poderia ser a partir de outros

    espaos populares:

    A sede do Comit Democrtico do Morro do S. Carlo, situada [...]

    Rebelo, n451, est instalada num barraco feito de tabuas, semelhante a

    milhares de outros barraces residncias existentes naquele morro. Um

    grupo dos moradores mais queridos, de S. Carlos, resolveu fundar comit

    para lutar pelo melhoramento do morro em que nasceram eles e

    continuam nascendo seus filhos. Teodoro Jos Luiz, Nilo dos Santos,

    Arnaldo Carvalho, Nequinha, Osvaldo Manoel da Luz, Joo Rabelo e

    outros foram os pioneiros. Eles sabiam e sentiam as necessidades do

    lugar. Todos se queixavam da falta dgua; era urgente o calamento das ruas principais e a cobertura dos esgotos; era imperioso estalar um posto

    mdico na redondeza; era indispensvel abrir uma escola para alfabetizar

    adultos e crianas (TRIBUNA POPULAR, 07 jul.1946, p.4).

    Contudo, por meio de permanentes e solidrias aes internas, ou seja, realizadas

    pelas prprias populaes moradoras das favelas, essas realidades foram sendo

    transformadas progressivamente, como pde ser constatado, por exemplo, na favela do

    Sampaio-Jacar, a qual foi reportada mais uma vez pelo peridico A Tribuna Popular:

    Os moradores do morro do Sampaio h anos vm lutando para conseguir

    a instalao de torneiras dgua no sop do morro, sem qualquer resultado. H cinco meses resolveram fundar a Unio Pr-melhoramentos

    do morro do Sampaio, para, juntos, trabalharem pelas reivindicaes de

    necessidades de mais imediata para a populao daquele morro. E dentre

    todas, sobrevalece a instalao de bicas onde pudesse o morador

    abastecer-se da gua indispensvel s suas necessidades e de suas

    famlias. Com a cooperao do Comit Democrtico progressista do

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    Sampaio-Jacar, do qual se tornou sub-comit a Unio Pr-

    melhoramentos conseguiu domingo passado a sua primeira grande

    vitria; foram inauguradas duas bicas no sop do morro. Correram por

    conta dos moradores as dispensas do material e de instalao. Dando lhes

    assim uma significativa prova que quanto pode o povo unido e coeso

    (TRIBUNA POPULAR. 25 out.1945, p.4).

    Assim, essas mobilizaes/organizaes polticas nas favelas se configuraram como

    espaos polticos funcionais, pois serviram frequentemente de rede de proteo, tanto do

    ponto de vista econmico quanto em relao aos riscos de dessocializao determinados

    pela pobreza (CASTEL, 1998, p.32). Essa relao, no caso das favelas, acabou, de certo

    modo, protegendo e auxiliando suas populaes, convergindo-se como um componente

    aglutinador contra a marginalidade, ou pelo menos na diminuio desta, pois a prpria

    relao entre os moradores das favelas promoveu, em alguma instncia, a reduo dos

    nveis de vulnerabilidades do/no corpo social, pois as intra-relaes scio-espaciais

    aumentavam as redes de solidariedade, e, consequentemente, a reduo das mazelas

    sociais.

    Portanto, as populaes das favelas que inicialmente estavam interessadas nas

    mobilizaes com o intuito de garantir melhorias infra-estruturais no plano da habitao,

    gua encanada, pavimentao, sistema de esgoto entre outros benefcios do componente

    urbanstico, passaram a galgar tambm melhorias em relao a outros aspectos polticos,

    como a educao.

    Sobre esse aspecto, sabemos que, historicamente, a educao constituiu-se como

    um importante instrumento diferencial nas dimenses do poder e, nesse perodo, no foi

    diferente. A constituio democrtica de 1946, em relao aos direitos polticos,

    estabelecia que o direito ao voto estaria associado diretamente condio de alfabetizado.

    Essa condio exclua uma grande parte da populao brasileira que se encontrava em

    situao de analfabetismo, situao que compreendia uma parte considervel da populao

    favelada, que se encontrava impedida de votar e exercer sua cidadania. Reafirmava-se sua

    marginalizao poltica na esfera formal-constitucional brasileira.

    Dessa forma, uma forte campanha de alfabetizao passou a fazer parte da

    realidade nas favelas cariocas. Isto se fazia necessrio para alm dos interesses das

    populaes das favelas, pois estava nos planos do Partido Comunista do Brasil a disputa do

    campo poltico municipal, sobretudo por conta das eleies municipais de 1947. Sobre as

    organizaes e mobilizaes no campo poltico, articulado s questes de educao-

    alfabetizao, convm citar a seguinte reportagem:

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    Revista Espacialidades [online]. 2013, v. 6, n. 5. ISSN 1984-817x.

    O Comit Democrtico Progressista Sampaio-Jacar (...) est

    desenvolvendo uma intensa propaganda de suas finalidades entre os

    moradores de Sampaio e Jacar, quer atravs de folheto, quer atravs do

    trabalho construtivo de seus debates nas reunies que realiza

    semanalmente.(...) Juntamente com seu curso de alfabetizao, o Comit

    Democrtico Progressista Sampaio-Jacar, levar tambm a efeito a

    realizao de palestras educativas e culturais, esclarecendo a seus filiados

    e aos moradores em geral dos dois subrbios como se vota; o que o

    voto; a necessidade da politizao para apressar a marcha democrtica

    dos nossos destinos, etc. (TRIBUNA POPULAR, 29 jul.1945, p.4).

    Assim, os avanos conquistados por meio de aes que progressivamente

    intensificavam os seus nveis de complexidade, faziam com que as favelas se

    transformassem radicalmente. Se antes as aes estavam circunscritas apenas relao de

    interveno infra-estrutural e depois s questes educacionais e de servios de um modo

    em geral, passavam agora a se projetar politicamente para alm do espao das favelas.

    Articulando com o Partido Comunista do Brasil uma (des)estruturao poltico-espacial, a

    favela conquistaria um espao que jamais havia possudo.

    De fato, a partir da organizao cada vez maior dos moradores das favelas, atravs

    dos Comits Democrticos Populares, o Partido Comunista do Brasil ou outros espaos

    polticos intensificaram aes e fortalecimentos. Assim, as populaes das favelas

    engajaram-se principalmente na esperana em relao possibilidade de mudana por

    meio das eleies e da fora do voto.

    Essa realidade pode ser verificada por meio das declaraes de alguns populares

    locais, como foi o caso de Nelson Moreira, ento funcionrio da Companhia Ferroviria

    Central do Brasil, Ex-Combatente da Fora Expedicionria Brasileira e morador do Morro

    da Mangueira; de Maria da Silva, moradora do morro de Torres Homem; e Joo Pereira,

    morador do Morro das Catacumbas, conforme as narrativas a seguir:

    Temos de nos organizar e lutar pacificamente, mas decididamente pelos

    nossos direitos. No possvel que continuemos a ser explorados desse

    jeito, sem um protesto sequer. E o governo tem o dever de olhar pela

    nossa situao (TRIBUNA POPULAR, 16 nov.1946, p.4).

    Temos aqui trs bicas. Existia uma nica, mas ns fizemos arrecadao e

    conseguimos obter um dinheiro para botar mais duas. Mas isso no

    nada. O que precisamos de casa. Estamos como bichos. O Sr. pode ver,

    famlias cheias de filhos vivendo num quarto. Ouvi dizer que o Partido

    Comunista tem um plano para isso. Eu s acredito nesse partido, se os

    candidatos forem eleitos, temos a certeza de que nesses terrenos

    abandonados a prefeitura construir casas para o povo. (TRIBUNA

    POPULAR, 17 nov.1946, p.4).

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    Revista Espacialidades [online]. 2013, v. 6, n. 5. ISSN 1984-817x.

    O povo do morro das catacumbas est bem esclarecido quanto aos

    candidatos que se apresentam (...) uns papagaios de promessas que no arranjaram nada. Surgiram de mos vazias e assim saram. Os problemas

    do povo j compreendemos, s podero ser resolvidos com trabalho e no

    com palavras. por causa disso que vamos votar nos candidatos

    comunistas, para que o conselho municipal de 1947 no seja nada

    parecido com o que foi outrora (TRIBUNA POPULAR, 27 dez.1947,

    p.4).

    Assim, os processos de aproximao e carisma entre o Partido Comunista do Brasil

    e as massas comearam a se expandir. Inmeras reportagens de apoio direto s propostas

    de vitria do Partido Comunista do Brasil passaram a ser marcas cotidianas do peridico

    Tribuna Popular, como por exemplo: Nas eleies de janeiro esto as esperanas do

    povo da mangueira(TRIBUNA POPULAR, 16 nov.1946); Capinzal de maracan

    confia nos candidatos populares (TRIBUNA POPULAR, 17 nov.1946), O povo do

    morro das accias aguarda confiante as eleies (TRIBUNA POPULAR, 10 dez.1946),

    Mangueira espera a vitria do partido de Prestes (TRIBUNA POPULAR, 12 jan.1947).

    Esses fatores propiciaram um progressivo fortalecimento do Partido Comunista no

    campo poltico nacional, principalmente se levarmos em considerao as anteriores

    eleies de 1945, quando o partido conquistou 9% do total dos votos e uma vaga no

    senador, com Luiz Carlos Prestes (CHILCOTE, 1982, p.57), resultando, na viso dos

    grupos hegemnicos, uma emergncia real da esquerda e dos grupos populares na disputa

    pelo poder.

    Desse modo, as favelas passaram a representar um novo risco, pois, se antes se

    constituam como um espao da marginalidade, onde o vagabundo e os pobres de um

    modo geral eram sujeitos apolitizados, o que caracterizava um espao de riscos sociais,

    transformavam-se num espao de riscos polticos pelas prprias articulaes perigosas

    com os movimentos radicais de esquerda.

    Assim, pela lgica dos grupos hegemnicos, fez-se necessrio intervir, legitimando-

    se, sobretudo, como slogan principal, a seguinte frase: necessrio subir o morro antes

    que deles desam os comunistas (SAGMACS, 1960, p.38), conforme pode ser

    constatado, por meio do documento confidencial enviado do Palcio do Catete ao ento

    Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Jaime de Barros Cmara:

    Tenho pensado muito em vossa eminncia nestes ltimos dias. No

    desejei, porm interromper para uma palestra o tempo de vossa

    eminncia, devotado a to alto ministrio. O assunto, porm, de

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    Revista Espacialidades [online]. 2013, v. 6, n. 5. ISSN 1984-817x.

    relevncia. No domingo, realizam-se as primeiras eleies municipais, no

    estado do Rio de Janeiro. No estou interessado em poltica partidria,

    nem escreveria a vossa eminncia, mesmo que o estivesse. Trata-se,

    porm, de fato que transcende do pleno partidrio para se projetar no

    plano social. Os comunistas esto organizando o que chamam O Cinturo Vermelho em torno do Distrito Federal. Querem tomar conta das prefeituras de Petrpolis, Duque de Caxias, Nilpolis, So Gonalo,

    etc...etc. candidato na primeira delas Dr Yedo Fiza. Os Partidos esto

    entrando em acordo com os comunistas. Parece-me que no lcito a um

    catlico votar em candidatos bafejados pelos comunistas. H necessidade

    de uma palavra de advertncia. E s quem tenha autoridade, pode d-la

    (...) O senhor presidente da repblica reconhece a minha iniciativa. As

    primeiras eleies repito so no domingo, em Petrpolis. H candidatos comunistas, aliados dos comunistas e candidatos sem ligaes

    com les. Parece lcita uma ba escolha por partidos catlicos. Urge pois,

    uma orientao que estar nas mo da Igreja. Creia vossa eminncia na

    minha admirao e na minha confiana de Brasileiro. Jos Pereira Lima

    (Documento Confidencial Palcio do Catete. 26 out.1947).

    As ento eleies municipais de 1947 aconteceram conforme as expectativas, tanto

    da esperana das massas, quanto dos anseios e temores dos grupos hegemnicos. A

    consolidao da esquerda nos pleitos municipais teve, como ponto mximo, o Distrito

    Federal, onde 18 vereadores foram eleitos. Entretanto, cabe salientar que essa presena do

    Partido Comunista do Brasil seria impugnada em seus exerccios. Esse resultado acelerou o

    processo de retorno ilegalidade do Partido Comunista por movimentos autoritrios. E foi

    assim que fez o ento Presidente da Repblica e general do Exrcito Brasileiro Eurico

    Gaspar Dutra, perante o risco poltico na escala nacional, assim como diante de uma nova

    configurao geopoltica mundial, a Guerra Fria.

    Do mesmo modo, junto configurao interna territorial, sobretudo na cidade do

    Rio de Janeiro, instituiu-se, atravs de uma articulao entre a Igreja Catlica, na figura de

    Dom Jaime de Barros Cmara, e o Estado, na figura do prefeito do Distrito Federal,

    Hildebrando Gis, a Fundao Leo XIII7.

    Essa instituio, teoricamente, teria como ofcio intervir nos espaos das favelas

    para garantir melhorias nas condies materiais e objetivas das populaes existentes em

    situao de precarizao de vida. Sua criao foi fundamentada a partir de uma resposta

    direta ao processo de precarizaes existente no interior destes espaos, assim, como um

    processo de recuperao do poder espacial do Estado, por meio de sua interveno

    poltico-social.

    7 Instituda atravs do decreto presidencial n 22.498 de 22 de janeiro de 1947.

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    Conforme segue a reportagem do Peridico matutino O Globo:

    Instituda a Fundao Leo XIII

    O chefe do governo assinou decreto criando essa organizao de amparo

    s populaes dos morros e das favelas.

    O presidente da republica assinou um decreto instituindo uma fundao

    de assistncia social denominada LEO XIII. Nos considerando o decreto frisa o dever indeclinvel do governo em acudir as populaes

    localizadas nos morros e nas favelas cujas dificuldades topogrficas as privam dos servios assistenciais de que gozam outras zonas da capital

    federal. (...) (O GLOBO, 23 jan.1947, p.6).

    Desse modo, um conjunto de aes e prticas foi desenvolvido no interior das

    favelas cariocas, assim como profundas transformaes ocorreram mediante essas prticas,

    das quais a Igreja Catlica, sobretudo, ser a grande protagonista.

    AS AES DA FUNDAO LEO XIII E SUAS CONSEQUNCIAS SCIO-

    POLTICO-ESPACIAIS.

    O que, porm, o Estado e a sociedade no podem nem devem ignorar,

    essa condio de miserabilidade em que vive quase um tero da

    populao da nossa capital. Minorar-lhes os sofrimentos fsicos e morais,

    dar-lhes noes de higiene e educ-la para saber viver em outro ambiente

    social, e ser til sociedade, eis o nosso principal escopo (PROVNCIA

    ECLESISTICA, 1948, p.196).

    A Fundao Leo XIII significou um conjunto de suas aes no interior das favelas

    cariocas a partir dos Centros de Aes Sociais8. Estes Centros materializaram-se como os

    principais espaos de planejamento, organizao, administrao e principalmente, de

    realizao das atividades polticas e sociais no interior das favelas cariocas.

    Sobre os Centros de Aes Sociais e seus aspectos arquitetnicos, inmeras eram as

    dificuldades, tendo em vista a declividade topogrfica na maioria das favelas e as

    dificuldades na realizao das obras de engenharia, pois necessitavam de obras infra-

    estruturais, como era o caso das construes de muros de arrimo, sistemas de bombas

    8 Ao todo foram criados 6 Centros de Aes Sociais e 2 Agncias Sociais Provisrias, os quais se

    localizavam nas seguintes favelas: Centro de Ao Social 1 - Barreira do Vasco - Cardeal Jaime Cmara; Centro de Ao Social 2 - Morro de So Carlos - Presidente Eurico Gaspar Dutra; Centro de Ao Social 3 - Morro do Jacarezinho - Carmela Dutra; Centro de Ao Social 4 - Morro dos Telgrafos - Oswaldo Cruz; Centro de Ao Social 5 - Morro do Salgueiro Padre Anchieta; Centro de Ao Social 6 - Rocinha - So Jos; Agncia Social Provisria 1 - Praia do Pinto - Ana Nery e a Agncia Social Provisria 2 Cantagalo Machado de Assis.

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    Revista Espacialidades [online]. 2013, v. 6, n. 5. ISSN 1984-817x.

    hidrulicas e encanamentos de gua para o deslocamento at o alto do morro. Por sua vez,

    sua constituio fsica era basicamente feita em madeira. A justificativa para que estes

    Centros fossem pr-moldados e sua construo em madeira e no em alvenaria era por

    conta de uma estratgia da prpria Fundao em esquivar-se das inmeras crticas

    relacionadas a um possvel papel de fixador das favelas no Rio de Janeiro.

    Em relao ao funcionamento dos Centros pela Fundao Leo XIII, estes

    procediam da seguinte maneira: inicialmente se promovia um cadastro num centro de

    triagem, onde se analisava o perfil individual e familiar de todos os moradores das favelas

    assistidas, aos quais eram posteriormente encaminhados, se necessrio, para os servios

    mantidos pela Fundao nos prprios Centros de Aes Sociais.

    A questo da sade, ou melhor, a falta dela no interior das favelas cariocas

    constituiu-se concomitante ao prprio processo histrico carioca. Questes como a falta de

    saneamento bsico (gua tratada e encanada, sistemas de esgoto, pavimentao e coleta de

    lixo), a dificuldade do acesso e a ausncia de unidades de sade mdico-hospitalares, assim

    como questes da desnutrio infantil, no eram desconhecidas pelos governantes e por

    isso foram os pontos fundamentais das respostas e das aes da Fundao Leo XIII

    atravs dos seus Centros de Aes Sociais. Nesses Centros foram implantados inmeros

    servios na esfera da sade, com a presena de profissionais especializados, como

    mdicos, farmacuticos, dentistas e dietistas9, que se encontravam presentes e que

    promoviam o atendimento das populaes nos morros e favelas assistidos pela Fundao.

    Nas favelas onde trabalha a Fundao Leo XIII, h no Centro Social, um

    servio mdico cuja extenso varia com o tamanho da favela. No

    Cantagalo, o Centro tem dois mdicos, embora no muito assduos, uma

    enfermeira, de tempo integral, e 5 visitadoras. Os mdicos encaminham

    ao posto clnico geral e aos servios mdicos j articulados com a

    Fundao. O centro tem telefone e o servio equipado com uma

    padiola. Para os casos urgentes, chamam o pronto socorro do Miguel Couto. No So Carlos, para uma populao de 28.000 favelados, s h o centro da Fundao e, em caso de urgncia o pronto socorro do Hospital

    Souza Aguiar. Na Rocinha, o servio mdico tem lactrio e farmcia;

    possui dois clnicos, um pediatra, dois dentistas, duas enfermeiras, uma

    dietista, dois auxiliares de dentista e um responsvel pela farmcia. Esse

    servio mdico atende a mais ou menos 15.000 pessoas, correspondendo

    s 3.000 famlias matriculadas no Centro (Relatrio SAGMACS, 1960,

    p.25).

    9 O que seria denominado atualmente como o profissional do campo da nutrio.

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    Revista Espacialidades [online]. 2013, v. 6, n. 5. ISSN 1984-817x.

    Cada Centro de Ao Social possua ambulatrios que promoviam consultas,

    exames, pequenas cirurgias e atestados mdicos para os adultos que viviam nos espaos

    das favelas. Alm dos atendimentos na escala local, os casos que estivessem para alm das

    condies infra-estruturais dos prprios Centros, eram encaminhados para internaes e

    cirurgias nos hospitais da rede pblica de sade e convnios previamente estabelecidos por

    um acordo institucional.

    Por ltimo e no menos importante, o servio de sade da Fundao Leo XIII

    disponibilizava assistncia mdico-dentria, o que, para o perodo, constitua-se como um

    avano, visto que graves eram os problemas de sade bucal, inclusive no tocante ao

    prprio relatrio em relao a inmeros casos de abscessos dentrios. Desse modo, a

    Fundao promovia extraes, obturaes, alm de programas de higiene dentria.

    Assim, as aes mdicas no interior das favelas configuraram-se de maneira

    significativa, tanto do ponto de vista qualitativo como do ponto de vista quantitativo, visto

    que, segundo os dados estatsticos da Fundao Leo XIII, no perodo compreendido entre

    1947 e 1954, por exemplo, foram atendidos 1.486.018 pessoas nos servios mdicos e

    distribudas 4.782.924 mamadeiras nos lactrios. Desse modo, podemos afirmar que aes

    da Fundao promoveram, significativamente, uma melhoria nas condies de vida e nos

    aspectos de sade das populaes moradoras dos morros e favelas assistidas.

    EDUCAO

    Pois estamos certos de que o problema da favela eminentemente o problema da falta de educao. Doenas, analfabetismo, ideologias

    exticas, crimes, contravenes, prostituies, etc., so males de um povo

    que vem vivendo, anos a fio, sem o benefcio de uma palavra

    esclarecedora e amiga, que s a escola, na sua mais alta concepo, pode

    dar (MORROS E FAVELAS como trabalha a Fundao Leo XIII: notas e relatrios de 1947 a 1954, 1955, p.31).

    A questo educacional, para a Fundao Leo XIII, era compreendida como a

    principal forma de resoluo dos problemas nas favelas cariocas. Sua concepo de

    educao consistia numa dimenso para alm da formalidade escolar, ou seja, uma

    compreenso complexa e articulada, direcionada amplamente para questes de uma

    educao do ponto de vista da moral e dos bons costumes, fsica e recreativa, e tambm

    uma configurao imprescindvel da educao religiosa. A grande proposta da Fundao

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    Revista Espacialidades [online]. 2013, v. 6, n. 5. ISSN 1984-817x.

    Leo XIII enquadrava-se principalmente na educao infantil, pois, segundo seus

    pressupostos, somente pelas novas geraes era possvel resolver os problemas das favelas

    e assim todas as aes eram inicialmente projetadas para a assistncia social das crianas e

    jovens. Os espaos educacionais da Fundao estavam localizados nos prprios Centros de

    Aes Sociais e eram basicamente divididos em Escola maternal, para crianas de 2 a 4

    anos; Jardim de Infncia, para crianas de 4 a 7 anos e Ensino Primrio, curso diurno para

    menores de 7 a 14 anos.

    A Fundao Leo XIII, atravs de unidades escolares nos Centros de Aes Sociais,

    buscou garantir todos os meios e condies de acesso ao direito educao nas favelas,

    alm de tentar estabelecer certa qualidade ou ao menos uma relao de equiparidade

    educacional para com as populaes das favelas. Assim, o projeto educacional

    desenvolvido nos seus centros seguia de maneira prescritiva o modelo desenvolvido pela

    Prefeitura do Distrito Federal, com o qual a Fundao se orgulhava em colaborar. Outro

    ponto importante para o modelo desenvolvido pela Fundao estava na questo da

    alimentao, na figura da merenda escolar.

    Alm da educao bsica de alfabetizao, a Fundao tambm promovia, como

    complementaridade, a educao profissional, denominada de ensino artesanal. Essas aulas

    funcionavam dentro dos prprios Centros e ofereciam oficinas de tecelagem, calado,

    madeira, cermica, estofamento, encadernao e de outras atividades leves, adequadas

    idade escolar (MORROS E FAVELAS como trabalha a Fundao Leo XIII: notas e relatrios

    de 1947 a 1954, 1955, p.32), sobretudo, para um encaminhamento da qualificao e o

    aprendizado para uma insero estvel no mercado de trabalho. Nesse sentido, o relatrio

    SAGMACS fez uma extensa observao a respeito dessas atividades no desenvolvimento

    dos trabalhos da Fundao Leo XIII:

    Um dos problemas mais graves da favela o encaminhamento dos

    menores na vida pelo aprendizado de uma profisso. A fundao Leo

    XIII mantm, em algumas favelas, escolas artesanais que visam a suprir

    essa deficincia. Tratando-se de importante experincia pedaggica,

    pareceu-nos interessante conhecer, pelo menos atravs de uma unidade, a

    maneira como est sendo feita. Na Barreira do Vasco, o Centro Social da

    Fundao mantm uma escola artesanal deste tipo para meninos e

    meninas.(...) A escola atende a duas turmas: a da manh, que funciona

    das oito s doze horas com um intervalo de meia hora, s dez, e a da

    tarde, que funciona das 13 s 17 horas, com um intervalo s 15.(...) O

    tempo mdio de permanncia na escola de um a dois anos (...)

    (Relatrio SAGMACS, 1960, p.30).

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    Revista Espacialidades [online]. 2013, v. 6, n. 5. ISSN 1984-817x.

    Outra prtica recorrente da Fundao Leo XIII era a educao fsica e recreativa, a

    qual seria um canal de sociabilidade, ou seja, para a Fundao, um meio de distrair

    educando. Para isso, a Fundao organizava inmeros eventos esportivos nos prprios

    centros, alm das Olimpadas da Fundao Leo XIII10

    . Anualmente, todas as favelas

    assistidas pela Fundao Leo XIII disputavam uma taa com o nome da instituio:

    A Olimpada Esportiva uma festa eminentemente popular que congrega,

    numa convivncia sadia, dirigentes e assistidos da Fundao Leo XIII. A

    esta festa, que geralmente se tem realizado em campo esportivo cedido

    amigvelmente (j utilizamos o campo do Fluminense, do Vasco da

    Gama, o do Corpo de Obuses e o da Light) tm comparecido todos os

    Centros Sociais e Agncias, com Flmulas, estandartes, bandeiras, numa

    demonstrao pblica do alto nvel cvico e educacional j atingido pelos

    moradores de favelas assistidas pela Fundao Leo XIII. Todo o

    conjunto desfila, garbosamente, ao som de uma marcha, sob os aplausos

    calorosos dos que assistem, inclusive o Sr. Cardeal Arcebispo do Rio de

    Janeiro (MORROS E FAVELAS como trabalha a Fundao Leo XIII: notas e relatrios de 1947 a 1954, 1955, p.49).

    URBANIDADES

    Outra preocupao da Fundao Leo XIII em relao s questes sociais balizava-

    se nos servios de melhoria urbana. O processo de urbanizao se constitua como um

    elemento fundamental em direo ao interior das favelas, visto que essa orientao era

    parte integrante da poltica de insero nos acessos e na transformao das favelas em

    espaos mais humanos. Para isso, fazia-se necessrio promover condies mnimas de

    sobrevivncia para as populaes, colocando-as em condies infra-estruturais como as

    existentes em outras reas da cidade.

    O desdobramento poltico no plano urbanstico da Fundao Leo XIII balizou-se

    atravs de duas propostas para a resoluo dos processos de favelizao. A primeira delas e

    que, consequentemente, tornou-se hegemnica, consistia em um plano de desenvolvimento

    urbano local (infra-estrutural), promovendo melhorias nas favelas de maneira gradual.

    Havia a conscincia da necessidade de um longo perodo de trabalho. A segunda vertente

    desdobrava-se na possibilidade da promoo de projetos para alm dos espaos das

    favelas, como a construo de conjuntos residenciais, articulados com rgos

    10

    Entre as atividades de competio destacavam-se: o futebol, o voleibol, boliche, pingue-pongue, malha,

    cabo de guerra, damas e futebol de salo.

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    Revista Espacialidades [online]. 2013, v. 6, n. 5. ISSN 1984-817x.

    governamentais, como foi o caso da Fundao Casa Popular e at mesmo por iniciativa de

    classes, como os Institutos de Assistncias e Penses.

    Dessa forma, por meio, principalmente, das aes, buscava-se resolver o problema

    da favelizao atravs das melhorias que acabavam conflitando com o prprio Estado e

    grupos hegemnicos, tendo em vista que a Fundao Leo XIII tinha seus pressupostos

    ideolgicos marcados pelo anti-remocionismo. Assim, essas condies de defesa aos

    espaos das favelas eram somente contrariadas quando existia em andamento um processo

    de complementao da poltica da ao social catlica11

    ou quando o peso das presses dos

    capitais imobilirios, especulativos e da interveno do Estado e/ou dos grupos

    hegemnicos se fazia presente e irreversvel:

    No adiantam certas solues simplistas, daqueles que julgam que s se

    podem acabar com as favelas do Rio de Janeiro, enviando-se todos os

    favelados para o campo, nem muito menos podem ser levadas em

    considerao as opinies dos que se referem s famlias que a desgraa

    levou para a vida miservel dos barracos dos nossos morros,

    subestimando o seu valor humano e sua condio crist de irmos nossos

    que devemos amar, de sade, educao, casos sociais, problemas de

    famlia (registro dos filhos, casamento, etc.) (MORROS E FAVELAS como trabalha a Fundao Leo XIII: notas e relatrios de 1947 a 1954,

    1955, p.7).

    Inmeras melhorias nos planos urbansticos foram desenvolvidas, sobretudo, na

    esfera do saneamento bsico. Essa questo, presente na histria da cidade do Rio de

    Janeiro, foi bastante problematizada pela prpria Fundao, pois, para ela, as precariedades

    se caracterizavam como um verdadeiro entrave para o desenvolvimento das favelas, alm

    do fato de que articulavam dimenses estticas, funcionais e, principalmente, questes de

    sade. Segundo a prpria Fundao Leo XIII:

    A falta permanente de gua, e a falta de escoamento apropriado para as

    guas pluviais, e os despejos domsticos de tda espcie, criam em trno

    das casas uma situao verdadeiramente insuportvel e, na favela, um

    ambiente pestilencial difcil de ser descrito (MORROS E FAVELAS

    11

    A cruzada So Sebastio foi criada em 1955. Sua proposta foi a de promover o processo de remoo de

    900 famlias da favela da Praia do Pinto localizada entre a Lagoa Rodrigo de Freitas, o bairro de Ipanema, do

    Leblon e da Gvea, todos na zona sul do Rio de Janeiro, rea de maior valorizao espao-imobilirio da

    cidade. A proposta constituiu na construo de conjunto de apartamentos na prpria rea, ou seja, uma viso

    anti-remocionista de grandes distancias geogrficas e suas relaes com a dimenso do trabalho, transportes e

    afetividades com o lugar, garantindo, assim, uma vida digna para as populaes marginalizadas das favelas

    cariocas. A Fundao Leo XIII inseriu-se neste processo para fazer a catalogao e fichamento das famlias

    envolvidas e, posteriormente, para intervir em algumas questes de assistncia social, como educao e

    sade.

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    Revista Espacialidades [online]. 2013, v. 6, n. 5. ISSN 1984-817x.

    como trabalha a Fundao Leo XIII: notas e relatrios de 1947 a 1954,

    1955, p.25).

    Contudo, a Fundao Leo XIII alm de promover a melhoria nas condies sociais

    e de intervir nas aes comunistas no interior das favelas, exercia o papel de impedir o

    crescimento desordenado, ou seja, a expanso fsica dos morros e favelas. Para isso, houve

    uma determinao imposta aos moradores das favelas, que deveriam comunicar toda e

    qualquer modificao ou reparos nas habitaes previamente Fundao Leo XIII, que

    daria a permisso de consertos e pinturas nos barracos existentes e, caso houvesse uma

    desobedincia por parte do morador infrator, ocorreriam inclusive punies que recairiam

    sobre a obra e sobre o prprio morador.

    Essas aes foram alvos da anlise no relatrio SAGMACS, que, diretamente em

    contato com as populaes dos morros e favelas, identificou essa postura autoritria e

    retrgrada, visto que toda e qualquer melhoria estaria unidirecionalmente centralizada nas

    mos da Fundao Leo XIII. Conforme se depreende do relatrio, essa postura

    desestimulava as aes individuais dos prprios moradores em relao s melhorias infra-

    estruturais de suas habitaes e, consequentemente, promovia a insatisfao dos moradores

    locais:

    As autoridades desejam que as favelas melhorem, se urbanizem; ao

    mesmo tempo probem que os favelados melhorem seus barracos; e como

    a administrao no possui recursos suficientes para a obra de tamanha

    envergadura, tudo fica na mesma (Relatrio SAGMACS, 1960, p.23).

    Desse modo, o conjunto de medidas da Fundao Leo XIII desdobrava-se de

    maneira extremamente complexa e, muitas vezes, contraditria. Suas prticas, ao mesmo

    tempo em que se constituram como um verdadeiro instrumento de controle e de coero

    nos espaos das favelas, ou seja, como mais um aparelho repressor do Estado, tambm

    proporcionavam e garantiam efetivamente melhorias nas condies sociais junto s favelas

    assistidas e ocupadas pela Fundao Leo XIII.

    CONSIDERAES FINAIS: AS CONSEQUNCIAS DAS AES DA FUNDAO

    LEO XIII

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    Revista Espacialidades [online]. 2013, v. 6, n. 5. ISSN 1984-817x.

    Ao longo deste artigo, buscou-se analisar e compreender a complexidade

    processual dos motivos que desencadearam a criao da Fundao Leo XIII, bem como as

    aes que tal instituio promoveu no interior das favelas na perspectiva de um

    ordenamento scio-territorial e de suas consequncias do ponto de vista poltico-espacial e

    das mobilizaes e organizaes sociais. Destaquemos sinteticamente alguns aspectos da

    reflexo empreendida e suas concluses.

    Como dito anteriormente, a Fundao Leo XIII, no perodo compreendido entre

    1947 e 1962, sob a orientao e gesto da Igreja Catlica sobretudo nas figuras de Dom

    Jaime Barros de Cmara e Dom Jos Tvora prestou assistncia a 33 favelas12 no Rio de

    Janeiro, atravs dos Centros de Ao Social, onde servios de sade, educao,

    alimentao, apoio jurdico e processos de urbanizao e urbanidades se fizeram presentes.

    Esses servios, de fato, promoveram melhorias e avanos significativos nas

    condies de vida das populaes dos morros e favelas, antes abandonadas scio-

    historicamente. No entanto, a presente pesquisa indica que, concomitantemente s

    melhorias proporcionadas pelas aes da Fundao Leo XIII, funcionaram

    estrategicamente, sob os auspcios da Fundao, diversos dispositivos de anulao dos

    ativismos polticos e sociais libertrios como foi o caso dos Comits Democrticos

    Populares e de outras formas de organizao que floresciam no interior das favelas. Tais

    movimentos inseridos em uma poltica de ruptura poltica por fora de uma lgica

    proposta ou imposta pelo Partido Comunista do Brasil, dentre outros agentes foram

    combatidos permanentemente no campo poltico.

    De fato, a Fundao Leo XIII destacou-se no processo scio-histrico-espacial

    carioca no perodo especfico da anlise, quando, diante de suas aes, orientadas pelas

    foras hegemnicas, modificou o espao das favelas e a realidade de milhares de pessoas

    na cidade do Rio de Janeiro.

    Contudo, em meio a todo um conjunto de transformaes nos espaos das favelas e

    diante das condies adversas, sendo elas materiais ou polticas, seus moradores jamais se

    calaram ou imobilizaram, exercendo sempre um forte papel no processo da produo do

    espao.

    12

    Segundo a Fundao Leo XIII em seu relatrio, a sua assistncia estava dirigida a 41 favelas, mas se

    contabilizarmos, segundo suas prprias informaes, conseguimos detectar somente 33. Alguns estudos,

    descuidados na contagem das favelas, esquecem-se de observar que na pgina 38 do relatrio, o Morro da

    Matriz, localizado no bairro do Engenho Novo, est repetido e, por este motivo, acabam afirmando que a

    Fundao Leo XIII promoveu assistncia em 34 favelas. No entanto, cabe ressaltar que a escolha das 33

    favelas assistidas pela Fundao Leo XIII levou em considerao aspectos estratgicos e polticos, como,

    por exemplo, grandes reas fsicas e demogrficas e principalmente as favelas que apresentavam

    efervescncia poltica e social.

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    Revista Espacialidades [online]. 2013, v. 6, n. 5. ISSN 1984-817x.

    REFERNCIAS

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    O globo, 1947.

    AGRADECIMENTO

    Agradeo ao professor Victor Valla pela possibilidade de dilogo, que me ajudou a

    compreender melhor o fenmeno em questo. Suas palavras to preciosas e sua vida

    dedicada em grande parte a analisar e transformar as favelas em lugares melhores e as

    cidades em um espao mais justo so, para ns, um exemplo. Por esses motivos, merece

    sem dvida, a nossa gratido.