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Policiando a Polícia: a inserção dos jornais Diário Carioca, Diário da Noite, Diário de Notícias e Jornal do Brasil nos debates sobre a reforma do Departamento federal de Segurança Pública (1954). Caio César Cuozzo Pereira Resumo Durante o mandato de Getúlio Vargas (1951-54) a imprensa foi um dos atores mais envolvidos nas discussões políticas. Muitos dos jornais mantinham uma postura oposicionista a figura do presidente. Em 1954, a agressão a um repórter mobilizou o governo a encaminhar ao Congresso Nacional um projeto de reforma da Polícia Civil carioca. Tendo em vista este cenário, questionamos como a imprensa carioca se posicionou em relação ao projeto de reforma preconizado pela administração Vargas? Para responder este problema, analisaremos edições dos jornais Diário Carioca, Diário da Noite, Diário de Notícias e Jornal do Brasil. Os quatro veículos possuem históricos de disputas com Getúlio Vargas que remetem aos tempos do Estado Novo. Na parte um, discorremos sobre o cenário da imprensa nos anos 50 e seu exercício de poder simbólico. Em seguida, explicamos o caso Nestor Moreira, o crime que mobilizou os debates pela reforma da Polícia. Em terceiro lugar, pontuamos a atuação do jornal Última Hora veículo com ligações governistas na publicidade do projeto de reforma. Por fim, na parte quatro, discutiremos como os quatro jornais supracitados se inseriram nas discussões sobre a reforma da Polícia. I. As transformações estruturais na imprensa carioca (1950). Durante a década de 1950, o jornalismo experimentou um contexto de modificações em seu ofício. As alterações abarcavam os campos tecnológico, estrutural, profissional e identitário. Estes processos ocorridos em vários periódicos possuem especificidades de caso a caso. Mestrando do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (PPHR/UFRRJ). Pesquisador Bolsista da Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). E-mail: [email protected]

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Policiando a Polícia: a inserção dos jornais Diário Carioca, Diário da Noite, Diário

de Notícias e Jornal do Brasil nos debates sobre a reforma do Departamento

federal de Segurança Pública (1954).

Caio César Cuozzo Pereira

Resumo

Durante o mandato de Getúlio Vargas (1951-54) a imprensa foi um dos atores mais

envolvidos nas discussões políticas. Muitos dos jornais mantinham uma postura

oposicionista a figura do presidente. Em 1954, a agressão a um repórter mobilizou o

governo a encaminhar ao Congresso Nacional um projeto de reforma da Polícia Civil

carioca. Tendo em vista este cenário, questionamos como a imprensa carioca se

posicionou em relação ao projeto de reforma preconizado pela administração Vargas?

Para responder este problema, analisaremos edições dos jornais Diário Carioca, Diário

da Noite, Diário de Notícias e Jornal do Brasil. Os quatro veículos possuem históricos

de disputas com Getúlio Vargas que remetem aos tempos do Estado Novo. Na parte um,

discorremos sobre o cenário da imprensa nos anos 50 e seu exercício de poder simbólico.

Em seguida, explicamos o caso Nestor Moreira, o crime que mobilizou os debates pela

reforma da Polícia. Em terceiro lugar, pontuamos a atuação do jornal Última Hora –

veículo com ligações governistas – na publicidade do projeto de reforma. Por fim, na

parte quatro, discutiremos como os quatro jornais supracitados se inseriram nas

discussões sobre a reforma da Polícia.

I. As transformações estruturais na imprensa carioca (1950).

Durante a década de 1950, o jornalismo experimentou um contexto de

modificações em seu ofício. As alterações abarcavam os campos tecnológico, estrutural,

profissional e identitário. Estes processos – ocorridos em vários periódicos – possuem

especificidades de caso a caso.

Mestrando do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (PPHR/UFRRJ).

Pesquisador Bolsista da Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). E-mail: [email protected]

O produto do jornalismo – a notícia – sofreu alterações com a implementação de

novas técnicas. O lead, introduzido por Pompeu de Souza no Diário Carioca1, orientava

o jornalista a resumir os principais pontos da notícia na abertura do texto. O lead deveria

responder a seis perguntas: quem? Fez o quê? Quando? Onde? Como? Por quê?2 Em

proposta similar, o conceito de pirâmide invertida propunha a construção do texto

jornalístico através de uma ordem decrescente de importância3.

Além disso, as redações foram introduzindo a figura do copidesque. Estes

profissionais eram incumbidos de revisar os textos que iriam para a impressão nas oficinas

dos jornais. Junto ao texto, a fotografia ia se tornando um recurso muito valorizado pelos

editores. A Luta Democrática, em suas notícias policiais, tinha por característica publicar

fotos de cadáveres envolvidos em histórias criminais4. Prática esta que se estendia para

outros jornais: os repórteres disputavam para ver quem conseguiria ser o primeiro – ou o

único - a conseguir fotografar o morto5.

A valorização salarial dos jornalistas influenciou diretamente na

profissionalização da atividade. A Última Hora teve papel de destaque neste campo.

Quando criou a folha, Samuel Wainer ofereceu salários acima dos praticados pelo

mercado para contratar grandes nomes do jornalismo6. Repórter de carreira, Wainer pode

fazer estas ofertas graças aos financiamentos conseguidos junto ao Banco do Brasil para

a criação da Última Hora. Este cenário deflagrou um processo de incremento salarial em

outros periódicos que precisavam reter seus funcionários7.

Além da criação de curso superior em jornalismo8, há um processo de construção

identitária. Para demarcar fronteira com a imprensa das décadas anteriores, os periódicos

difundiram os ideais de objetividade e neutralidade. Através destas duas premissas,

buscavam se apresentar à sociedade como imparciais ou espelhos da realidade9. O

1 Em artigo, Albuquerque busca responder que espécie de modernização ocorreu no jornalismo do Brasil e como as modificações

impetradas no Diário Carioca contribuíram para esta. ALBUQUERQUE, Afonso. A modernização autoritária do jornalismo

brasileiro. Revista Alceu, PUC-RJ, v. 10, n. 20, p. 100 a 115, jan./jun. 2010. 2 RIBEIRO, Ana Paula Goulart. Jornalismo, literatura e política: a modernização da imprensa carioca nos anos 1950. Estudos

Históricos, Rio de Janeiro, n° 31, 2003, p. 147-160. 3 Idem. 4 SIQUEIRA, Carla Vieira de. Sexo, Crime e Sindicato: sensacionalismo e populismo nos jornais Última Hora, O Dia e Luta

Democrática durante o segundo governo Vargas (1951-1954. Tese de Doutorado – Rio de Janeiro: PUC, 2002. 5 Segundo Edmar Morel, na gíria dos jornalistas do período, esta imagem era chamada de “boneco”. MOREL, Edmar. Histórias de

um repórter. Rio de Janeiro: editora Record, 1999. 6 RIBEIRO, Ana Paula Goulart. Op. Cit. 2003. 7 Idem. 8 Ibidem. 9 BARBOSA, Marialva Carlos. História cultural da imprensa. Brasil 1900-2000. Rio de Janeiro: Mauad X, 2007.

jornalismo construía para si a imagem de fidelidade aos fatos, de instituição que

intermediava a relação entre o poder e o público10.

Apesar de todos estes processos ocorridos ao longo da década de 1950, o

jornalismo carioca manteve suas interações com o campo político. Os ideais de

objetividade e neutralidade serviam, de fato, para a capitalização de poder simbólico para

a imprensa11. Dois jornais são casos basilares para exemplificar a relação entre jornalismo

e política: Tribuna da Imprensa e Última Hora12. Porém, este contexto não se limitava a

estes dois jornais. Além disso, cabe-nos ressaltar que estes processos de modernização –

ao contrário do que foi difundido por jornalistas – foram ações de longo prazo, se

estendendo até as primeiras décadas do século XX13.

Durante o mandato de Getúlio Vargas (1951-54) esta imprensa participou

ativamente dos debates políticos. Cada qual expressando suas críticas, elogios e posições

em relações a propostas, partidos e parlamentares. Entrementes, não só as pautas políticas

movimentavam as interações da imprensa com os campos legislativo e executivo. Um

crime poderia deflagrar discussões na imprensa que se direcionavam para a política.

II. Um crime perpetrado nas dependências policias.

Nestor Moreira era repórter policial há mais de vinte anos. Empregado do jornal

A Noite, era um dos responsáveis por rondar as delegacias do Rio de Janeiro em busca de

acontecimentos que poderiam virar notícias. No mês de maio de 1954, estava envolto na

cobertura do homicídio da francesa Renée Aboab, morta em seu apartamento localizado

nas cercanias da praia de Copacabana.

Na madrugada do dia 11 de maio, após o expediente no jornal A Noite, Moreira

embarcou em um táxi para o supracitado bairro. O carro era o instrumento de trabalho do

chofer Hermenegildo Alves Vizeu. Copacabana – bairro projetado para a classe

10 Idem. 11 Ibidem. 12 De um lado, Carlos Lacerda dirigia a Tribuna da Imprensa como um jornal de oposição à Getúlio Vargas e de propaganda de seu

próprio nome. Por outro, Samuel Wainer promoveu na Última Hora a defesa do governo Vargas, tanto que foi alvo de uma CPI para

explicar como havia conseguido dinheiro para criar o jornal. Sobre estes jornais, ver: LAURENZA, Ana Maria de Abreu. Lacerda x

Wainer: o Corvo e o Bessarabiano. São Paulo: editora SENAC, 1998. 13 BARBOSA, Marialva Carlos. Op. Cit. 2007.

média/alta carioca14 - contava com casas de diversões noturnas, as chamadas boites.

Chegando ao local, Moreira rumou a pé para a boite Drink Bar.

Na saída, o repórter foi abordado por Vizeu. O motorista lhe cobrava a corrida até

Copacabana (Cr$ 75,00) e argumentava que Moreira havia lhe pedido para aguardá-lo na

porta do Drink Bar. Entretanto, Moreira se negou tanto a saldar a dívida quanto que teria

pedido a Vizeu que o esperasse. O debate entre as partes foi apartado pelo guarda Celito

Ferreira Quitete que patrulhava aquela região. Tendo em vista o impasse, Quitete decide

conduzir ambos para o 2° Distrito Policial, situado na rua Hilário Gouveia.

A repartição policial – subordinada ao Departamento Federal de Segurança

Pública – estava sob responsabilidade do comissário Gilberto Alves Serqueira.

Entretanto, quem recebeu a ocorrência entre Moreira e Vizeu foi o guarda Paulo Ribeiro

Peixoto, também de plantão no 2° Distrito. Após tomar conhecimento das especificidades

do caso, Peixoto decide prender o jornalista por não pagar os Cr$ 75,00. Em meio ao

processo de prisão, Moreira e Peixoto discutiram, culminando em uma série de agressões

do guarda contra o repórter.

Moreira nunca chegou a ser recolhido ao xadrez do 2° Distrito Policial. Após as

sevícias, o repórter foi liberado pelo comissário Siqueira (que havia sido informado da

confusão) e rumou para casa. Porém, as queixas de dor levaram sua esposa – Antonieta

Moreira – a procurar ajuda médica. No hospital público Miguel Couto, os médicos

diagnosticaram as sequelas dos golpes e decidiram internar Moreira com um quadro de

saúde considerado grave.

Durante onze dias, Moreira sobreviveu no Miguel Couto graças à intervenção dos

médicos. Paralelamente a sua luta pela vida, os jornais do Rio de Janeiro noticiavam o

crime e exigiam punições para os envolvidos. As associações de profissionais do

jornalismo pressionaram o governo a demitir o Chefe de Polícia, general Morais Âncora.

Os periódicos reforçavam as críticas divulgando relatos de agressões policiais

averiguadas ou enviadas por leitores. A morte de Moreira foi manchete em vários dos

jornais impressos da cidade.

14 AMADO, Daniele Chaves. Nem tudo que reluz é ouro: a Última Hora, a Tribuna da Imprensa e a campanha de saneamento

moral de Copacabana. Dissertação de mestrado. Rio de Janeiro: UFF, 2012.

O jornalismo carioca explorou o caso Moreira em variadas frentes narrativas.

Moreira teria sido agredido por criticar a demora da polícia em resolver o homicídio da

francesa? Se o D.F.S.P. chegou ao ponto de agredir um jornalista, qualquer cidadão

poderia ser vítima da polícia? Qual era o grau de responsabilidade do governo no caso

Moreira? As questões se alongavam em editorias, reportagens, colunas e notícias. E a

Última Hora foi um dos protagonistas da discussão sobre a violência da polícia carioca.

III. O protagonismo de Última Hora.

O papel do jornal na representação do caso em notícias é essencial para as

discussões que propomos a seguir15. Cabe-nos, portanto, debater brevemente o

protagonismo do jornal na cobertura do crime do 2° Distrito.

Em sua linha editorial, Última Hora servia como um veículo de difusão dos feitos

governamentais e, também, de defesa deste contra as críticas publicadas pela imprensa

carioca. Através de uma confluência de políticos e empresários ligados ao presidente16,

Wainer conseguiu reunir o montante suficiente para suprir as necessidades de produção

de um jornal (maquinário, distribuição, sede, pessoal, entre outros). Paulatinamente, UH

se tornou um sucesso de tiragem.

No dia 13 de maio de 1954, a página n° 06 do primeiro caderno de Última Hora

foi dedicada quase inteiramente a cobertura do caso Moreira17. Foram publicadas duas

matérias. Em “UM INQUÉRITO FARSA PARA INOCENTAR OS TRUCIDADORES DE

NESTOR MOREIRA18”, o periódico reproduziu o depoimento de Hermenegildo Vizeu, o

motorista envolvido na discussão com Moreira:

[...] Peixoto mandou que Moreira tirasse a gravata e o cinto, pois ia ser

recolhido ao xadrez. No momento da arrecadação dos valores, conta

Hermenegildo que Moreira reclamou a falta de uma nota de mil cruzeiros que

estaria no seu bolso. Vi apenas que havia sido retirado de seus bolsos um lenço,

uma nota de dois cruzeiros e outras 2 de um cruzeiro. O guarda Peixoto, que já havia identificado o jornalista, tendo inclusive tomado seu nome, pois ia pô-lo

15 Em nossa dissertação de mestrado estamos desenvolvendo análise que busca evidenciar como o jornal Última Hora utiliza as notícias

policiais para capitanear um projeto político. Neste processo, UH irá relacionar o caso Moreira com o projeto de reforma da Polícia

idealizado pelo ministro Tancredo Neves e enviado para o Congresso por Vargas antes dos acontecimentos de agosto de 1954. 16 LAURENZA, Ana Maria de Abreu. Op. Cit. 1998. 17 São, ao todo, duas matérias jornalísticas sobre o caso e a coluna Coisas da Vida e da Morte. A coluna era a única que não tratava

do caso Moreira. 18 ÚLTIMA HORA, Rio de Janeiro. Ano: IV. Edição: 0891. 13 de Maio de 1954. P. 06. Disponível em:

http://memoria.bn.br/DocReader/386030/18688 Acesso em: 19/06/2019.

no xadrez, ao ser aventado o desaparecimento da cédula, partiu feroz para o

jornalista e começou a soqueá-lo de preferência nos rins19.

Ao lado desta notícia foi estampada uma reportagem feita por Edmar Morel,

redator do jornal. Adentrando no 2° Distrito Policial, Morel entrevistou uma série de

detentos que poderiam ter assistido as agressões. Em “O Repórter Nestor Moreira Foi

Espancado no Corredor, Com as Luzes Apagadas20”, o redator expôs o relato de Germano

dos Santos, preso naquele xadrez:

Pouco depois das 2 horas da madrugada ouvi algazarra no corredor, gritos

característicos de quem é surrado. Mas como os espancamentos aqui são

diários, não dei importância ao fato. [...] Depois o guarda Peixoto [...] apagou

as luzes do corredor e a pancadaria aumentou21. [Grifos meus].

A partir destas matérias, Última Hora desenvolveu uma cobertura extensa sobre

o Departamento Federal de Segurança Pública. Além dos desdobramentos do caso

Moreira, o periódico se dedicou a explorar a violência policial e a precariedade do sistema

prisional carioca. Almir Quintanilha, Antônio Evaristo de Moraes Filho, Edmar Morel e

Hélio Rocha foram alguns dos profissionais que assinaram reportagens neste viés para a

Última Hora.

Após o falecimento de Nestor Moreira, os editores do jornal publicaram, na

primeira página, três manchetes. Duas lado a lado e a terceira logo abaixo destas. Os

títulos foram:

MORREU O REPÓRTER NESTOR MOREIRA, NA MADRUGADA DE

HOJE!

O CRIME Que Revolta Uma Nação!

NO FUNDO DE UMA GAVETA BUROCRÁTICA A ESPERANÇA DE

SALVAÇÃO DOS PRESOS22.

O crime que, segundo o jornal, “revolta a nação” era a superlotação e precariedade dos

xadrezes policiais. A terceira manchete indicava o culpado por este cenário: a burocracia

estatal. Adentrando em diversos distritos policiais e delegacias especializadas, Edmar

19 Idem. 20 ÚLTIMA HORA, Rio de Janeiro. Ano: IV. Edição: 0891. 13 de Maio de 1954. P. 06. Disponível em:

http://memoria.bn.br/DocReader/386030/18688 Acesso em: 19/06/2019. 21 Idem. 22 ÚLTIMA HORA, Rio de Janeiro. Ano: IV. Edição: 0899. 22 de Maio de 1954. P. 06. Disponível em:

http://memoria.bn.br/DocReader/386030/18811 Acesso em: 19/06/2019.

Morel entrevistou presidiários e analisou a situação calamitosa do sistema carcerário.

Tudo isto somado com fotografias feitas por Jader Neves, fotógrafo de Última Hora.

Através destas reportagens, Última Hora capitaneou a luta por uma reforma

estrutural no Departamento Federal de Segurança Pública. Em editorias, o jornal se

posicionava a favor de duas demandas. Primeiro, um expurgo geral na Polícia. A falta de

critérios para o ingresso na corporação ocasionava a degradação da instituição policial.

Era preciso extirpar os maus elementos, melhorar os vencimentos dos policiais e

aprimorar a formação dos novos agentes. Em outra frente, defendia a reforma do sistema

prisional. Imediatamente, era necessário resolver a questão dos presidiários enfermos que

poderiam contagiar outros internos. Além disso, construir um novo presídio de grande

capacidade para então resolver a questão da superlotação.

Após a morte de Moreira, a campanha de Última Hora não arrefeceu,

principalmente na questão ligada ao sistema prisional. Paralelamente a isto, o Ministro da

Justiça Tancredo Neves – responsável pelo D.F.S.P. – encaminhou a Getúlio Vargas um

projeto de reforma da instituição. Acompanhado de uma mensagem do presidente, a

proposta foi enviada para discussão no Congresso Nacional.

A ação reformista do governo foi amplamente apoiada por Última Hora.

Entretanto, o debate sobre a reforma não se limitou ao periódico de Samuel Wainer. Os

diversos jornais que circulavam pela cidade também discutiram a questão da violência

policial. Quando o projeto de reforma se tornou público, outros jornais se posicionaram

em relação ao tema.

IV. Policiando a polícia: os jornais Diário Carioca, Diário da Noite, Diário de Notícias

e Jornal do Brasil no debate sobre a reforma do D.F.S.P.

A repercussão de um crime contra um jornalista não se limitaria ao cenário

nacional. Primeiro pelo local onde o acontecimento se desenrolou. Copacabana era um

bairro de classe média/alta recentemente projetado e em expansão. Além disso, o bairro

era o destino de muitos estrangeiros que desembarcavam no Rio de Janeiro.

Logo, a imagem internacional de Copacabana estava em xeque com a perpetração

do crime. Em 16 de maio, este foi o mote do Jornal do Brasil. Lamentando este cenário,

o periódico pontuou que “[...] não há suficiente garantia pela vida e pela liberdade dos

cidadãos23”. Para o jornal, as sevícias contra Moreira uniram a sociedade em um

movimento de revolta contra as práticas violentas do D.F.S.P.

Apesar de apresentar este cenário, o JB defende que os suspeitos sejam julgados

e punidos de acordo com o código processual vigente. Mas era preciso ir além. A

estratégia seria direcionar o foco para a instituição:

Esperemos que a indignação coletiva pela brutal agressão sofrida por Nestor

Moreira faça compreender às autoridades superiores a indispensabilidade de

adotar castigos exemplares contra os culpados e começar a depuração, sempre prometida, dos maus elementos que a polícia – especialmente a política –

infiltrados na organização policial24.

Dois dias após a publicação desta crítica, o Jornal do Brasil discutiria o projeto

de reforma policial encabeçado pelo Ministro da Justiça Tancredo Neves. O político

pessedista vinha sendo questionado diariamente pela imprensa carioca (o D.F.S.P. estava

sob sua autoridade). Tancredo prometeu punir os envolvidos no crime e também

reestruturar a polícia. Ele previa transformações para além dos quadros policiais:

modificar o sistema carcerário deficitário era o outro objetivo do pessedista.

A imprensa noticiava as aspirações de Tancredo e aguardava pelo projeto que seria

encaminhado ao Congresso Nacional. Em artigo, o Jornal do Brasil expressou sua

decepção com o texto da reforma preconizada pelo governo. O teor da crítica se encontra

expresso no título publicado: “A REFORMA INÚTIL25”:

Está certo que se pretenda modificar os métodos policiais, principalmente em

face de acontecimentos como esse que levantou uma classe em protesto uníssono

contra a violência de agentes da autoridade. Não se compreende, porém, que o

fato sirva de pretexto para levar a termo uma reforma cujo projeto apenas

aumenta repartições, cria cargos, mas não inaugura nenhum sistema de exercer

a função policial dentro dos limites do respeito à liberdade dos cidadãos. [...]

Conviria, pois, que o Governo meditasse antes de prometer uma reorganização

que pouco adiantará, pois não vem resolver o problema da vigilância

metropolitana nem impedir que ocorram em qualquer tempo condenáveis violências de autoridades26.

23 JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro. Ano: LXIV. Edição 0111 16 de maio de 1954. Disponível em:

http://memoria.bn.br/DocReader/030015_07/40315 Acesso em: 19/06/1954. P. 05. 24 Idem. 25 JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro. Ano: LXIV. Edição 0112 18 de maio de 1954. Disponível em:

http://memoria.bn.br/DocReader/030015_07/40387 Acesso em: 19/06/1954. P. 05. 26 JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro. Ano: LXIV. Edição 0112 18 de maio de 1954. Disponível em:

http://memoria.bn.br/DocReader/030015_07/40387 Acesso em: 19/06/1954. P. 05.

O projeto endossado por Vargas previa as seguintes medidas: criação do Conselho

Superior de Polícia (1), criação de Superintendências policiais (5), criação de Delegacias

Regionais (5) e ampliação do número de Distritos Policiais (de 30 para 40). Além disso,

preconizava modificações na estrutura de cargos e salários da instituição. Se

implementada, a reforma teria um custo adicional de Cr$ 57.000.000,00 aos cofres

públicos27.

Para o Jornal do Brasil, os tópicos da reforma não apresentavam um retorno real

para a sociedade carioca. Visando reforçar o argumento, o periódico citou a suposta

opinião de técnicos da Polícia sobre as modificações. Segundo o JB, estas fontes não

identificadas teriam afirmado que o projeto era “[...] absolutamente inidôneo28”. Sendo

assim, o jornal opina que “[...] a projetada transformação nada transforma, mantendo tudo

como dantes, introduzindo apenas modificações nos quadros, que ficam bastante

ampliados, permitindo a entrada de grande número de funcionários29”.

Poucos dias após tecer tais críticas, o JB propagandeou que um novo projeto de

reforma do D.F.S.P. seria encaminhado para a Câmara dos Deputados. A elaboração deste

novo projeto estava sendo capitaneada pelo deputado Heitor Beltrão (UDN) e pelo juiz

Cristóvam Breiner. O Jornal do Brasil não se furtou de comparar os projetos do governo

e da oposição:

Ora, uma reforma que não vai aos pontos nevrálgicos da atual organização, que

já evidenciou lacunas que a tornam incompatível com os postulados

democráticos, no centro dos quais se encontra o respeito devido à dignidade

do ser humano, não deve merecer a atenção do Parlamento. Paralelamente com

essa iniciativa infeliz, um outro projeto será apresentado pelo deputado Heitor Beltrão [...]. O projeto de iniciativa da própria Câmara tem o salutar propósito

de estender a alçada do Judiciário até a órbita até agora dominada pelo poder

policial. [...] As vantagens de uma reforma concebida nestes termos saltam aos

olhos de qualquer observador. Com sua execução teríamos o inquérito

presidido por um magistrado, que imporia sua autoridade, inclinando os

temperamentos impulsivos à consideração pela pessoa humana e ao respeito

pelos direitos do cidadão, consagrados pelo regime democrático30.

27 ÚLTIMA HORA, Rio de Janeiro. Ano: IV. Edição: 910. 03 de junho de 1954. Disponível em:

http://memoria.bn.br/docreader/386030/18970 Acesso em: 19/06/1954. P. 02. 28 JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro. Ano: LXIV. Edição 0120 27 de maio de 1954. Disponível em:

http://memoria.bn.br/DocReader/030015_07/40651 Acesso em: 19/06/1954. P. 05. 29 Idem. 30 JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro. Ano: LXIV. Edição 0129 06 de junho de 1954. Disponível em:

http://memoria.bn.br/DocReader/030015_07/40943 Acesso em: 19/06/1954. P. 05.

O grande mérito da proposta udenista seria a alocação de juízes nos distritos

policiais. Assim, o magistrado, profissional de dignidade, coordenaria os inquéritos,

aceleraria as investigações e poria fim em possíveis violências praticadas por agentes do

D.F.S.P. O tema do respeito a liberdade individual – repetido nas publicações do JB sobre

a reforma – receberia a devida atenção com o emprego de juízes nos distritos policiais.

Assim, haveria um ganho real para os cidadãos cariocas: chegaria ao fim o cenário de

insegurança social que a polícia contribuía para perpetuar:

Se a reforma que propomos, e que coincide com a iniciativa que a Câmara

tomará através o deputado Heitor Beltrão, tiver seguimento rápido, teremos,

então, alguma coisa de cunho essencialmente democrático e que concorrerá

para maior eficiência na repressão sem prejuízo do respeito ao ser humano31.

Nesse ínterim, no dia 18 de maio de 1954 o Diário Carioca publicou, em aspas, a

manchete “É impossível moralizar nossa polícia32”. Abaixo, o jornal trazia uma análise

da entrevista coletiva dada por Tancredo Neves sobre o tema da violência policial.

Segundo o Diário Carioca, o Ministro da Justiça “[...] confessou ontem, na sua entrevista

aos jornalistas, que não possui meios para uma imediata moralização da polícia,

erradicando a violência e banindo a corrupção [...]33”.

Posteriormente, o Diário Carioca publicou o seguinte alerta na página n° 12: “A

REFORMA DA POLÍCIA NÃO É PARA MELHORAR34”. Na opinião do jornal, o projeto

de Tancredo Neves não significaria uma mudança no D.F.S.P, mas sim uma forma de

tornar a instituição uma arma eleitoral. Os novos policiais contratados – por intermédio

da verba solicitada pelo governo – formariam um grupo que acataria as orientações

políticas do Chefe de Polícia:

Ascenderá acerca de dez mil o número de cabos eleitorais e instrumentos de

coação que a polícia pretende incluir nos seus quadros, a pretexto de reformar

os seus processos, com piora evidente na execução do seu principal objetivo:

a defesa dos direitos e da segurança do povo. A grande maioria desses

servidores será de livre escolha e nomeação do Chefe de Polícia, que se

transforma, desse modo, numa das maiores forças eleitorais do Distrito

31 JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro. Ano: LXIV. Edição 0142 23 de junho de 1954. Disponível em:

http://memoria.bn.br/DocReader/030015_07/41439 Acesso em: 19/06/1954. P. 05. 32 DIÁRIO CARIOCA, Rio de Janeiro. Ano: Edição: 07933. 19 de maio de 1954. Disponível em: Acesso em:

http://memoria.bn.br/DocReader/093092_04/2370019/06/1954. P 01. 33 Idem. 34 DIÁRIO CARIOCA, Rio de Janeiro. Ano: 07938. 25 de maio de 1954. Disponível em:

http://memoria.bn.br/DocReader/093092_04/23791 Acesso em: 19/06/1954.

Federal, inclusive porque harmoniza, com a sua liberdade de dar empregos, o

arbítrio de coagir, utilizando os elementos que emprega, com a deturpação de

suas funções. [...] Entretanto, no momento de preocupações em que vive a

população do Distrito Federal, importa mais que tudo o fato de tais admissões

por simples ato de chefia tornarem-se do maior perigo para a segurança

pública, de vez que toda essa corte de apaniguados ganhará, sem preparação

prévia, uma autoridade que dificilmente saberá usar e servida por revólveres,

“casse-tetes” e imunidades que tem protegido até hoje, os agentes do DFSP35.

A crítica direcionada à Getúlio Vargas se tornou mais consistente no editorial

publicado pelo proprietário do Diário Carioca, José Eduardo Macedo de Soares. No

texto, o autor alça a imprensa ao posto de bastião dos costumes brasileiros. O jornalismo

seria a antítese do que representa Vargas e a Polícia. Sendo assim, a imprensa seria a

instituição que garantiria a manutenção da democracia:

A Imprensa tornou-se, na degradação dos costumes que está corrompendo

progressivamente o nosso meio social, uma espécie do anti-Polícia. Somente a

Imprensa pode assegurar as garantias da lei contra os atentados da violência

por isso considera-se o inimigo jurado de uma maneira de viver à sombra da

autoridade e à margem do Código Penal. [...] O culto da estupidez e da

barbaridade celebra-se quase ostensivamente quando a humildade das vítimas

garante a impunidade ou, então, quando os interessados no crime têm prestígio

e poderes para preservar os criminosos. Assim impõe-se, na Polícia, mais do

que em qualquer outro serviço, a separação do trigo do joio. Seria essa a tarefa

de um Governo habilitado por sua anormal duração e, portanto, pelas oportunidades que teve de prestar ao país tão relevante serviço. O último dos

ministros da Justiça no período da legalidade de 1934 apresentou, então, ao

Chefe do Governo dois planos completos para reforma do sistema

penitenciário e construção de nova Casa de Correção [...]. Nenhum desses

assuntos jamais interessou ao sr. Getúlio Vargas que ainda teve diante de si

oito anos de poderes discricionários durante os quais não se falou mais no

assunto. [...] Mais uma vez encontramos o sr. Getúlio Vargas embaraçado na

própria imagem do passado. Não se pode desmanchar antecedentes, que são

fatos indeléveis, para explicar as mistificações e os equívocos de um

personagem que não pode resistir ao próprio confronto. Essa é, também a

amargura dos tempos presentes. Quem nos governa é um fantasma de memória tenaz. Debate-se nos crimes do passado, perdendo-se nos erros do presente36.

Os argumentos de Macedo de Soares se estenderam para a Guarda Pessoal do

presidente, criada anos antes por Vargas. O noticiário do jornal formava, junto da opinião

do proprietário, um discurso de combate contra o projeto de reforma. O Diário Carioca

não era contra modificações na Polícia, mas era essencialmente contrário a esta

35 DIÁRIO CARIOCA, Rio de Janeiro. Ano: 07938. 25 de maio de 1954. Disponível em:

http://memoria.bn.br/DocReader/093092_04/23791 Acesso em: 19/06/1954. 36 DIÁRIO CARIOCA, Rio de Janeiro. Ano: 07940. 27 de maio de 1954. Disponível em:

http://memoria.bn.br/DocReader/093092_04/23804 Acesso em: 19/06/1954.

organização ser reformada nos moldes previstos pelo governo. A Polícia representava um

problema antigo, que precisava urgentemente de alguma solução política. Na página n° 8

do Diário Carioca, o colunista Epitácio Timbaúba condensou este ponto de vista:

A matéria está portanto bem esclarecida. O assunto está mais do que debatido.

O que é necessário para solucionar o impasse é ação, energia, desejo de

resolver, vontade de trabalhar. [...]. O que é preciso é uma ação enérgica do

Governo, solicitando ao Congresso os recursos financeiros indispensáveis para

a construção de prédios para as delegacias, devidamente aparelhados, para sua

mais alta missão preventiva e repressiva, [...]. A reforma do DFSP, que acaba

de ser enviada à Câmara, somente visando aumento de pessoal e

desdobramento de serviços, onerará a despesa pública em quantia superior a

50 milhões anuais. [...] A Câmara, que conhece oficialmente o estado miserável em que se encontram os xadrezes policiais, que aproveite a

oportunidade e forneça ao Governo os elementos de que ele necessita para pôr

termo a um estado de coisas contra o qual todos falam demagogicamente mas

ninguém age criteriosamente37.

O Diário da Noite publicou em tom de ceticismo a notícia sobre o

encaminhamento de um projeto de reforma do DFSP. Assim como o Jornal do Brasil e o

Diário Carioca, o Diário da Noite historiou sobre a violência da polícia contra civis e as

tentativas fracassadas de se reformar a polícia carioca. Em 26 de maio, o periódico

imprimiu uma capa com quatro manchetes sobre o caso Moreira e a Reforma da Polícia.

No topo da página, acima das notícias destacadas, o jornal estampou a frase “Reforma

imediata da Polícia, até que esfrie tudo dentro de dias, como sempre38”.

Abaixo, o Diário da Noite trouxe uma fotografia ampliada do delegado Fernando

Bastos Ribeiro, titular do 2° Distrito Policial, acompanhada pelo título “Eis aqui, nesta

foto, o verdadeiro responsável pela chacina de Moreira39”. Ao lado, em um box, o

periódico comentava o projeto de reforma da polícia:

Está havendo verdadeira psicose de reforma da polícia em consequência do

bárbaro crime, cometido na delegacia do 2° Distrito, contra a vida do repórter

Nestor Moreira. Realmente se impõe completa reorganização do aparelho

policial, obsoleto e desacreditado. Esquecem-se, porém os que se batem com

maior ardor por essa providência de que existem tramitando pelos mais

diferentes canais competentes ou arquivadas, diversas reformas da polícia que

jamais foram efetivadas, saindo do papel para a realidade. A experiência, nesse

37 DIÁRIO CARIOCA, Rio de Janeiro. Ano: Edição: 07959. 18 de junho de 1954. Disponível em: Acesso em:

http://memoria.bn.br/DocReader/093092_04/24095 19/06/1954. P 08. 38 DIÁRIO DA NOITE, Rio de Janeiro. Ano: XXVI. Edição: 5789. 26 de maio de 1954. Disponível em:

http://memoria.bn.br/DocReader/221961_03/34057 Acesso em: 19/06/1954. P. 01. 39 Idem.

ponto, como em tantas outras da administração pública, é desconsoladora. [...]

Nossos votos são os que, passada esta onda de indignação pública [...] a

convicção da necessidade de aparelhar, limpar, e dignificar a polícia continue

no mesmo ímpeto40.

Para Carlos Cavalcante, colunista do jornal, a proposta de reforma seria apenas

mais uma. Na página n° 3, sob o título de Beira & Calçada, Cavalcante traçou uma crítica

à política e a civilização brasileira. Para o autor, propor reformas em uma instituição como

a polícia seria apenas um discurso teórico. Colocar em prática medidas que transformem

a estrutura policial só seria possível se a sociedade brasileira fosse outra:

A mais recente reforma da polícia que o governo encaminhará ao Congresso

deve ser uma obra prima no papel, como as outras muitas. Para fazer coisas no

papel somos os maiores. [...] Tudo, porém, ainda por muito tempo não sairá do

papel. Sairá o general Âncora, sairá Dr. Getúlio, entrará novo Âncora, novo

Getúlio e tudo ficará no papel, a espera de tempo. A bíblia aliás diz que tudo tem seu tempo. Estamos no tempo de gritar pelas reformas, mas ainda não no

tempo das reformas propriamente ditas. Quando estivermos atochados de

progresso e os papeis das reformas bem amarelinhos, começará a chegar uma

coisa sutil e agradável, com feito de flor, que só chega com o tempo: -

civilização41.

O diagnóstico pessimista de Cavalcante indica uma descrença nas instituições

brasileiras. Em tempos de largos debates sobre o desenvolvimento nacional, o colunista

enxergou um país ainda claudicante, sem a capacidade de mobilizar agentes e instituições

para ter êxito em reformar a polícia. Mesmo que indiretamente, o jornalista terminou por

relativizar o próprio poder da imprensa. A reforma do D.F.S.P. era uma pauta

recorrentemente noticiada pelos jornais. Porém, para Cavalcante, a pressão da imprensa

sobre o espectro político não obteria êxito.

Há um paralelo entre a visão do colunista e a frase impressa pelo Diário da Noite

na primeira página da edição anterior. Os editores do periódico, responsáveis por definir

a capa do dia42, já haviam expressado a descrença daquele jornal com o projeto de reforma

endossado por Tancredo Neves. Com estes argumentos, o Diário da Noite também estava

40 DIÁRIO DA NOITE, Rio de Janeiro. Ano: XXVI. Edição: 5789. 26 de maio de 1954. Disponível em:

http://memoria.bn.br/DocReader/221961_03/34057 Acesso em: 19/06/1954. P. 01. 41 DIÁRIO DA NOITE, Rio de Janeiro. Ano: XXVI. Edição: 5789. 27 de maio de 1954. Disponível em:

http://memoria.bn.br/DocReader/221961_03/34077 Acesso em: 19/06/1954. P. 03. 42 A primeira página como um espaço de protagonismo das notícias foi um dos conceitos implementados durante as reformas dos

jornais verificadas ao longo do século XX. Editores selecionavam um grupo de notícias que mereciam destaque e, com auxílio dos

diagramadores, as editavam na primeira página. Este espaço também detinha função comercial: atrair o leitor para a compra do

exemplar. Portanto, as notícias que estão na capa são expressões de um processo avaliativo, onde agentes dos jornais auferem valores

simbólicos para as matérias jornalísticas. Portanto, o valor da notícia é outorgado pelos editores que as avaliam.

tecendo uma crítica a Getúlio Vargas. Afinal de contas, resguardadas as especificidades

dos cenários políticos, o gaúcho esteve à frente do Executivo entre 1930-1945 e, naquele

momento, desde 1951, ou seja, mais três anos. Neste longo período, segundo o jornal,

somam-se projetos de reforma da polícia que nunca chegaram a ser postos em prática.

Em outra coluna, intitulada “Ronda Policial” o Diário da Noite comentou a

alienação da sociedade do debate sobre a reforma ideal. Para o autor(a)43, a tramitação do

projeto deveria ocorrer após consultas aos segmentos sociais diretamente interessados nas

mudanças. Isto também incluía os próprios policiais, agentes que estavam no foco das

transformações ventiladas pelo governo Vargas. O colunista da “Ronda Policial” buscou

publicizar as demandas dos profissionais lotados nos cargos de menor remuneração do

D.F.S.P.:

A reforma da Polícia civil, ora em andamento, não teve a necessária

divulgação, para ser debatida em campo raso, diante da opinião pública, pelos

interessados, que, no caso, são os próprios servidores e mais o povo

contribuinte e beneficiário da segurança pública ou, paradoxalmente,

prejudicado pela falta de garantias, como acontece atualmente. [...] O que

sabemos, até agora, é que, quanto a restruturação dos quadros do pessoal, as

melhorias recaem apenas nos mais altos funcionários [...]. Para os detetives, ao

que fomos informados, a melhoria é de apenas uma letra, igual a mais 440

cruzeiros do que, atualmente, percebem, e, quanto a investigadores, estes nem são mencionados. Não se trata, portanto, da desejada, reclamada e exigida

reforma da Polícia Civil [...]. Não estamos depreciando o papel dos delegados,

comissários e escrivães de Polícia, [...] mas estamos situando atividades e

posições para que se faça justiça ao lado fraco da corda, à “carne de canhão”

que é a linha de frente do combate. Como está, a reforma não satisfaz, porque

não soluciona o grande problema da eficiência moral e material da Polícia44.

Com este argumento, o colunista evidenciou que a moralização da Polícia

dependeria de uma melhoria substancial nos vencimentos dos policiais. A pauta dos

salários já vinha sendo discutida pela imprensa desde a gestão de João Goulart (PTB) na

pasta do Ministério do Trabalho. Um mês antes da publicação desta coluna, o governo

implementava o aumento de 100% do salário mínimo, ação criticada por setores da UDN

e da imprensa45.

43 A coluna não contém assinatura ou iniciais de seu autor. 44 DIÁRIO DA NOITE, Rio de Janeiro. Ano: XXVI. Edição: 5802. 10 de junho de 1954. Disponível em:

http://memoria.bn.br/DocReader/221961_03/34322 Acesso em: 19/06/1954. P. 06. 45 LAURENZA, Ana Maria de Abreu. Op. Cit. 1998.

Dois dias antes, na edição n° 5800, o Diário da Noite noticiava “Nasceu no Catete

a corrida para o aumento. Civis militares e especialmente a magistratura fazendo

milagres para viver com dignidade46”. Portanto, o periódico já propagandeava as

demandas de alguns setores por novos vencimentos. Nesta linha, o colunista de “Ronda

Policial” criticou o projeto de reforma do D.F.S.P. por intermédio da alienação de setores

da Polícia das melhorias salariais previstas para agentes no topo da hierarquia

institucional.

Diferentemente do Diário Carioca, o Diário de Notícias comentou de forma

elogiosa a postura do ministro Tancredo Neves durante a sabatina com os jornalistas na

sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI). Sob o título de “EXPURGO

NECESSÁRIO47”, o periódico afirmou que o pessedista, frente as perguntas dos

repórteres, “manteve o debate”, “resistindo satisfatoriamente48”. Indo além, o Diário de

Notícias argumentou que, desde que Tancredo assumiu a pasta (na reforma ministerial de

1953), o político vinha trabalhando para reformar a instituição policial.

No dia seguinte, a página de notas políticas do jornal publicava a análise “A

REFORMA É OUTRA49”. Assim como alguns dos outros jornais, o Diário de Notícias se

colocou como porta-voz da sociedade. No texto, o periódico questiona se a reforma do

governo atenderia as reais demandas da população carioca. Indo além, o jornal criticou o

momento em que o projeto foi posto em tramitação pelo governo Vargas:

Ao governo pareceu oportuníssimo o momento para essa prova de seu desvelo

pela segurança da coletividade. Mas, porventura, o que a cidade reclama é uma

reorganização administrativa, no sentido de uma amplitude maior dos

serviços? Sem dúvida, ela clama contra a deficiência numérica do

policiamento, a bem dizer inexistente; mas sabe que, acima de tudo, há a

atender à formação moral da instituição. [...]. Majorar verbas, superlotar

quadros, não será reformar a Polícia. Se não se lhe der uma estrutura digna, ela

se tornará tanto mais perniciosa, quanto maiores sejam os seus recursos de coação, de perseguição, de violência. Antes viva uma comunidade

despoliciada, entregue a si mesma no tocante à sua segurança, do que à mercê

da sanha ou da cupidez de janízaros. A reforma da Polícia, portanto, não vai

depender do Congresso ou apenas dele. [...] deve o Executivo ir cumprindo o

que lhe cabe fazer, a menos que queira dar ao povo brasileiro a prova de sua

46 DIÁRIO DA NOITE, Rio de Janeiro. Ano: XXVI. Edição: 5800. 08 de junho de 1954. Disponível em:

http://memoria.bn.br/DocReader/221961_03/34282 Acesso em: 19/06/1954. P. 02. 47 DIÁRIO DE NOTÍCIAS, Rio de Janeiro. Ano: XXIV Edição: 9673. 19 de maio de 1954. Disponível em:

http://memoria.bn.br/DocReader/093718_03/32449 Acesso em: 19/06/2019. P. 06. 48 Idem. 49 DIÁRIO DE NOTÍCIAS, Rio de Janeiro. Ano: XXIV Edição: 9674. 20 de maio de 1954. Disponível em:

http://memoria.bn.br/DocReader/093718_03/32463 Acesso em: 19/06/2019. P. 04.

anuência, quando não da sua cumplicidade, a atentados da ordem desse que ora

repercute no seio da opinião nacional, como um toque de rebate50.

Em sua coluna, Magalhães Júnior comentou a reportagem de Edmar Morel

publicada por Última Hora. Segundo ele, as fotografias dos xadrezes e as entrevistas com

os presos – feitas por Morel e Jader Neves - se configurariam em mais um capítulo da

luta da imprensa em geral pela reforma da polícia. Após esta colocação, o colunista do

Diário de Notícias construiu uma narrativa similar àquela feita por Carlos Cavalcante no

Diário da Noite.

A razão para a reforma policial não se tornar uma realidade se encontrava na

própria sociedade brasileira. Para Magalhães Júnior faltava para os brasileiros a vontade

necessária para conseguir a reforma do D.F.S.P. Indo além do seu colega do Diário da

Noite, Magalhães Júnior aponta as razões para este cenário:

Há prisão especial para o jornalista, para o militar, para o advogado. Prisão

especial para os que pertencem a uma elite social, os que figuram nas camadas

dirigentes da sociedade e que, por isso mesmo, fecham os olhos para a

condições vergonhosas e torpes como as que são agora denunciadas [...]. Ou

existe igualdade perante a lei e o Estado ou não existe. No dia em que o militar,

o jornalista, o advogado e o professor conhecerem, igualmente, a dureza de um

chão gelado de xadrez de delegacia, então essas condições mudarão. [...] Diz-se que o que é bom deve tocar a todos. O que é mau também devia tocar, para

que existisse um propósito unânime de modificação de condições que seriam

em tal caso tidas como intoleráveis51.

Além disso, a crítica de Magalhães Júnior se prolongou para o espectro político.

O jornalista recobrava que parlamentares já haviam investigado a situação prisional

carioca. Logo, legisladores e governistas eram os responsáveis pela inércia que imperava

sobre a necessidade de se reformar a polícia e as cadeias do Rio de Janeiro:

Onde estão esses deputados e esses senadores? Por que não reorganizam aquela

comissão? Por que não voltam a visitar de surpresa as delegacias? Por que não dão corretivo aos erros e vícios encontrados, através de um ou mais projetos

de lei? Por que o ministro da Justiça não procura saber o que se passa nos

domínios de sua pasta? Evidentemente, sua função não é ficar num gabinete, a

despachar papéis, dar vãs audiências e fazer mexidos políticos, visando a

sucessão nos grandes Estados e, por consequência, a sucessão presidencial52.

50 Idem. 51 DIÁRIO DE NOTÍCIAS, Rio de Janeiro. Ano: XXIV Edição: 9676. 22 de maio de 1954. Disponível em:

http://memoria.bn.br/DocReader/093718_03/32500 Acesso em: 19/06/2019. P. 03. 52 Idem.

Na mesma página da coluna de Magalhães Júnior, o Diário de Notícias publicou,

esporadicamente, matérias sobre a repercussão política do caso Nestor Moreira e o tema

da reforma da polícia. Entre os parlamentares citados pelo jornal, estavam: Frota Aguiar,

Hamilton Nogueira, José Bonifácio, Heitor Beltrão e Afonso Arinos, todos da União

Democrática Nacional (UDN). Os títulos de algumas matérias adaptavam trechos das

declarações dadas por algum destes parlamentares:

ALÉRGICO O SR. GETÚLIO VARGAS À TRANQUILIDADE PÚBLICA,

À LEGALIDADE E à ORDEM53.

EXPURGO NO PESSOAL, O PROBLEMA DA POLÍCIA CIVIL

CARIOCA54.

Portanto, o crime contra Nestor Moreira foi utilizado pela imprensa carioca para

exigir a reforma do Departamento Federal de Segurança Pública. Proprietários de jornal

e colunistas expunham posições sobre o tema e comentaram o projeto governista

encaminhado para o Congresso Nacional. Até mesmo repórteres expuseram análises

sobre figuras governistas e também acerca das violências praticadas pela polícia civil

carioca. Desta forma, a agressão contra um jornalista – deflagrada a partir de uma dívida

deste para com um motorista de táxi no valor de Cr$ 75,00 – inflamou debates políticos

que se prolongaram até os idos do Estado Novo. A polícia de Vargas, novamente,

simbolizava a violência estatal, só que naquele momento sob a égide da democracia.

V. Conclusão:

A princípio, são perceptíveis algumas similaridades entre as posições dos quatro

jornais. Apesar de todas as críticas ao projeto governista, estes jornais se mostraram

favoráveis a uma reforma que modificasse o então sistema policial carioca. O crime

contra um jornalista empenhou os jornais no debate por uma reforma da Polícia. Nesse

ínterim, Diário Carioca, Diário da Noite, Diário de Notícias e Jornal do Brasil buscaram

ser porta-vozes dos anseios da suposta opinião pública. Através desta estratégia discursiva

estes jornais apontavam as disparidades entre o projeto do governo Vargas e as

concepções que eles possuíam sobre qual seria a melhor reforma a ser implementada.

53 Ibidem. 54 DIÁRIO DE NOTÍCIAS, Rio de Janeiro. Ano: XXIV Edição: 9680. 27 de maio de 1954. Disponível em:

http://memoria.bn.br/docreader/093718_03/32615 Acesso em: 19/06/2019. P. 03.

Apenas o Jornal do Brasil saiu do campo das críticas ao projeto para propor, de

fato, outro caminho reformista. Com isso, o JB encampou o projeto de um parlamentar

udenista que coadunava com a opinião do jornal sobre a necessidade de maior penetração

do judiciário nas atividades policiais. Para o Diário Carioca, a reforma seria um artifício

eleitoral dos correligionários ligados à Vargas. O Chefe de Polícia era um funcionário

subordinado ao Ministro da Justiça que, em sequência, respondia ao presidente. Se se

aumentasse seu poder de contratar policiais aos milhares, haveria se formatado um quadro

de clientelismo eleitoral que favoreceria o presidente e o ministro.

O Diário da Noite orientou suas posições através do pessimismo. O jornal não

enfoca suas críticas ao projeto governamental, mas sim a sociedade brasileira. A falta de

mobilização pela moralização policial era a razão que perpetuava aquele cenário de

violências. Um projeto consistente só se implementaria em outro tempo, sob a égide de

uma outra geração de brasileiros. Já o matutino Diário de Notícias manteve uma posição

ambígua. O periódico conjugou críticas ao projeto de reforma com elogios a seu

idealizador, Tancredo Neves. Em linha similar ao Diário da Noite, o jornal culpou - em

parte – a sociedade pela violência policial.

Portanto, apesar de suas diferenças com o governo Vargas, os quatro jornais

concordavam sobre a necessidade de ser implementada uma reforma da polícia. Este

cenário evidencia que a violência praticada por policiais do D.F.S.P. havia atingido

patamares que mobilizavam até mesmo instituições oposicionistas pela reforma. A

questão era que tipo de reforma seria ideal para a Polícia Civil carioca.

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