poesia concreta -...

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Poesia Concreta Décio Pignatari , Haroldo de Campos e Augusto de Campos 1952 - Publicação da Revista Noigandres 1956 - Exposição Nacional de Arte Concreta (MASP)

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Poesia Concreta

Décio Pignatari , Haroldo de Campos e

Augusto de Campos

1952 - Publicação da Revista Noigandres

1956 - Exposição Nacional de Arte Concreta

(MASP)

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beba coca cola

beba coca cola

babe cola

beba coca

babe cola caco

caco

cola

c l o a c a

Décio Pignatari

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Coração cabeça

Augusto de Campos

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Viva vaia ( Augusto de Campos)

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Precursores : Oswald de Andrade e João Cabral

Poema-objeto

“crise do verso”

recursos

Acústico

Visual

Carga

semântica

Espaço

tipográfico

Disposição

geométrica

dos

vocábulos na

página

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Poesia marginal – anos 70

JOGOS FLORAIS

Cacaso

Minha terra tem palmeiras

onde canta o tico-tico.

Enquanto isso o sabiá

vive comendo o meu fubá.

Ficou moderno o Brasil

ficou moderno o milagre:

a água já não vira vinho,

vira direto vinagre.

Minha terra tem Palmares

memória cala-te já.

Peço licença poética

Belém capital Pará.

Bem, meus prezados senhores

dado o avançado da hora

errata e efeitos do vinho

o poeta sai de fininho.

(será mesmo com dois esses

que se escreve paçarinho?)

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RECEITA

Nicolas Behr

Ingredientes:

2 conflitos de gerações

4 esperanças perdidas

3 litros de sangue fervido

5 sonhos eróticos

2 canções dos beatles

Modo de preparar

dissolva os sonhos eróticos

nos dois litros de sangue fervido

e deixe gelar seu coração

leve a mistura ao fogo

adicionando dois conflitos de

gerações

às esperanças perdidas

corte tudo em pedacinhos

e repita com as canções dos beatles

o mesmo processo usado com os

sonhos eróticos mas desta vez deixe

ferver um pouco mais e mexa até

dissolver

parte do sangue pode ser substituído

por suco de groselha

mas os resultados não serão os

mesmos

sirva o poema simples ou com

ilusões

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SONETO

Ana Cristina César

Pergunto aqui se sou louca

Quem quer saberá dizer

Pergunto mais, se sou sã

E ainda mais, se sou eu

Que uso o viés pra amar

E finjo fingir que finjo

Adorar o fingimento

Fingindo que sou fingida

Pergunto aqui meus senhores

quem é a loura donzela

que se chama Ana Cristina

E que se diz ser alguém

É um fenômeno mor

Ou é um lapso sutil?

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Rápido e rasteiro

Vai ter uma festa

que eu vou dançar

até o sapato pedir pra parar.

aí eu paro

tiro o sapato

e danço o resto da vida.

Chacal

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Acordei bemol

acordei bemol

tudo estava sustenido

sol fazia

só não fazia sentido

Não Discuto

não discuto

com o destino

o que pintar

eu assino

A palmeira estremece

a palmeira estremece

palmas pra ela

que ela merece

Se

se

nem

for

terra

se

trans

for

mar

Paulo Leminski

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Eu

eu

quando olho nos olhos

sei quando uma pessoa

está por dentro

ou está por fora

quem está por fora

não segura

um olhar que demora

de dentro de meu

centro

este poema me olha

Incenso Fosse Música

isso de querer

ser exatamente aquilo

que a gente é

ainda vai

nos levar além

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Ali

ali

ali

se

se alice

ali se visse

quanto alice viu

e não disse

se ali

ali se dissesse

quanta palavra

veio e não desce

ali

bem ali

dentro da alice

só alice

com alice

ali se parece

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Cultura

O girino é o peixinho do sapo.

O silêncio é o começo do papo.

O bigode é a antena do gato.

O cavalo é o pasto do carrapato.

O cabrito é o cordeiro da cabra.

O pescoço é a barriga da cobra.

O leitão é um porquinho mais novo.

A galinha é um pouquinho do ovo.

O desejo é o começo do corpo.

Engordar é tarefa do porco.

A cegonha é a girafa do ganso.

O cachorro é um lobo mais manso.

O escuro é a metade da zebra.

As raízes são as veias da seiva.

O camelo é um cavalo sem sede.

Tartaruga por dentro é parede.

O potrinho é o bezerro da égua.

A batalha é o começo da trégua.

Papagaio é um dragão miniatura.

Bactéria num meio é cultura.

Arnaldo Antunes

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Cromossomos

Perder

Rio

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Caligrafias

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Instalações

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Tratado geral das grandezas do ínfimo

A poesia está guardada nas palavras — é tudo que eu sei.

Meu fado é o de não saber quase tudo.

Sobre o nada eu tenho profundidades.

Não tenho conexões com a realidade.

Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.

Para mim poderoso é aquele que descobre as

insignificâncias (do mundo e as nossas).

Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.

Fiquei emocionado.

Sou fraco para elogios.

Manoel de Barros

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Retrato do artista quando coisa

A maior riqueza

do homem

é sua incompletude.

Nesse ponto

sou abastado.

Palavras que me aceitam

como sou

— eu não aceito.

Não aguento ser apenas

um sujeito que abre

portas, que puxa

válvulas, que olha o

relógio, que compra pão

às 6 da tarde, que vai

lá fora, que aponta lápis,

que vê a uva etc. etc.

Perdoai. Mas eu

preciso ser Outros.

Eu penso

renovar o homem

usando borboletas.